Historia 2
Historia 2
Historia 2
HISTÓRIA A 06
Mercantilismo
O conjunto de práticas econômicas dos Estados europeus – A principal intenção dessas práticas era garantir uma balança
principalmente das monarquias absolutistas – durante a comercial favorável aos países da Europa, uma vez que,
Idade Moderna recebe o nome de mercantilismo. Esse termo durante a Idade Moderna, pensava-se que todas as riquezas
foi cunhado a posteriori por economistas do século XIX que
do mundo estavam numa posição estática e constante,
criticavam tais medidas. As primeiras práticas mercantilistas
razão pela qual o comércio era tido como uma atividade em
tiveram origem em meados do século XV, quando a Europa
sofria com a escassez de metais preciosos, e atingiram seu que havia um ganhador e um perdedor, sendo o seu resultado
auge no século XVI. equivalente a uma soma zero. Nesse sentido, a nação que
A crença na intervenção do Estado na economia era um conseguisse um saldo positivo em suas transações comerciais
dos fundamentos do mercantilismo. Nesse contexto, com o garantiria sua superioridade em relação às demais.
objetivo de fortalecer os países europeus, os chefes de Estado
Para garantir o sucesso na acumulação de riquezas,
aprovavam leis que regulavam as atividades econômicas
era necessário, ainda, que houvesse a regulamentação do
em seu território, impondo limites ao livre mercado.
Tais medidas visavam, principalmente, à acumulação de comércio de produtos vindos do exterior. O aumento das
metais preciosos e à consequente sustentação dos Estados. tarifas alfandegárias foi o principal método para alcançar tal
O ouro e a prata, transformados em moeda, garantiram objetivo, uma vez que a taxação sobre produtos estrangeiros
a formação da burocracia estatal e a manutenção de um reduzia as chances da entrada destes em um Estado e, como
poderoso Exército e de uma frota naval. consequência, impedia a saída de metais preciosos.
PRÁTICAS MERCANTILISTAS
serão chamados a nos devolver apenas 150 000 libras e as
restantes lhes serão dadas como prêmio.
As práticas mercantilistas variaram com o passar HUBERMAN, Leo. História da Riqueza do Homem. 20. ed.
dos séculos e de um Estado para outro. Algumas Rio de Janeiro: Zahar, 1984. [Fragmento]
[Van Robais] e os trabalhadores estrangeiros sejam em uma potente Marinha mercante. O incentivo à produção
considerados súditos do rei e naturalizados [...]. Ele será naval garantia o controle dos mares, principal rota de
ainda isento de impostos, da corveia e de outros encargos comércio entre a América e a Europa. Uma poderosa Marinha
públicos durante a vigência da presente concessão [...]. de guerra também poderia significar a proteção das frotas
Permitimos a esse empresário e aos operários que continuem comerciais e vitórias nas inúmeras batalhas entre os recém-
a professar a religião reformada [...]. Proibimos a outras -formados Estados, já que muitas das disputas entre os
pessoas imitar ou falsificar a marca dos ditos tecidos, pelo
países foram, na época, resolvidas por meio da guerra.
prazo de vinte anos, bem como que se estabeleçam na cidade
de Abbeville e a dez léguas de seus arredores oficinas de
Apesar do esforço das metrópoles em manter
tecelagem semelhantes [...].
inabalável o exclusivo colonial, é válido ressaltar que
LUÍS XIV, ao autorizar o estabelecimento esse monopólio nem sempre foi tão rígido. Em maior ou
de manufatura em Abbeville, no ano de 1651. [Fragmento]
menor escala, as colônias de Portugal, da Espanha e da
Inglaterra desfrutaram de certa liberdade no interior
desse sistema.
O estabelecimento dos monopólios foi prática comum
entre as nações mercantilistas, pois a concessão do controle
de determinadas atividades econômicas a particulares MERCANTILISMO NA
garantia a presença do Estado na regulação da economia
PENÍNSULA IBÉRICA
e atendia aos interesses dos grandes comerciantes.
Tais restrições impostas à livre-circulação de mercadorias A conquista colonial determinou as características do
foram fundamentais para o enriquecimento dos comerciantes mercantilismo na Península Ibérica, pois as riquezas
durante parte da Idade Moderna. provenientes das colônias favoreceram a tendência
metalista de suas economias. O monopólio sobre o
Outra forma de enriquecimento dos comerciantes foi
comércio com a América foi fundamental para Portugal
a utilização do monopólio sobre as atividades coloniais,
e Espanha. Estima-se que 18 mil toneladas de prata e
conhecido como exclusivo colonial, que também fez parte
200 toneladas de ouro foram extraídas da América e levadas
desse conjunto de práticas. Teoricamente, a colônia
para a Europa. Também conhecido como bulionismo,
deveria oferecer melhores condições comerciais ao país
o mercantilismo ibérico caracterizava-se pela preocupação
a que estava submetida – a metrópole –, fornecendo
com o acúmulo de metais preciosos, o que levou ao
matéria-prima de maneira exclusiva e consumindo os
estabelecimento de uma rígida política colonial por parte
produtos manufaturados metropolitanos, como é exposto
das Coroas ibéricas.
no trecho a seguir.
A Espanha, privilegiada pela riqueza das suas colônias,
estabeleceu uma série de métodos para garantir os
O objetivo das colônias é o de fazer o comércio em melhores lucros com a exploração dos metais preciosos
condições [para as metrópoles] do que quando é praticado com os provenientes das minas do México e do Peru, como
povos vizinhos, com os quais todas as vantagens são recíprocas. o sistema de comboios anuais e o regime de porto
único, que visavam ao controle sobre o ouro e a prata.
4 Coleção 6V
Mercantilismo
O país contava, ainda, com a Casa de Contratação, com sede Durante o reinado de Elizabeth (1533-1603), o estímulo à
em Sevilha, que foi um poderoso órgão de regulamentação pirataria foi uma outra fonte de arrecadação para o Estado
do comércio colonial, e com uma forte Marinha de guerra, inglês. Os corsários recebiam autorização da Coroa para
conhecida como a Invencível Armada, que auxiliava a
pilhar galeões espanhóis carregados de riquezas coloniais.
Espanha na proteção das riquezas.
Além disso, os Atos de Navegação, editados anos mais
A Coroa portuguesa também se esforçou, embora de tarde, durante o processo revolucionário inglês do
forma menos organizada, no sentido de controlar a extração século XVII, dificultaram a entrada de navios estrangeiros
dos metais preciosos. No século XVIII, auge do período de
em seus portos, atacando, principalmente, os interesses
exploração aurífera nas Minas Gerais, uma série de impostos
holandeses. Tais estímulos ao fortalecimento da Marinha
foi criada visando a impedir os desvios e o contrabando do
foram fundamentais para o controle inglês sobre os
metal. Além disso, foi criada a Casa de Fundição e delimitado
oceanos, principalmente após as vitórias sobre a Invencível
o Distrito Diamantino, com o objetivo de ampliar o controle
na região das Minas. Armada espanhola e sobre as frotas holandesas.
HISTÓRIA
Além de consolidarem uma estrutura comercial na própria
Tanto na colonização espanhola quanto na portuguesa,
a excessiva dependência das riquezas coloniais provocou Europa, os ingleses atuaram também em outras partes
consequências negativas nas economias metropolitanas. do mundo. Nas Índias, a atuação inglesa era coordenada
Se entre os séculos XVI e XVII esses países viveram o seu pela Companhia das Índias Orientais. Já na América,
período áureo, nos séculos XVIII e XIX, sua força econômica a colonização das Treze Colônias e das Antilhas inglesas
foi reduzida. A pouca preocupação com o desenvolvimento garantiu o fornecimento de gêneros agrícolas e mercado
interno de suas economias levou a um cenário de consumidor para a Inglaterra.
dependência externa e pouco crescimento logo no início da
Idade Contemporânea.
ACUMULAÇÃO PRIMITIVA
MERCANTILISMO DE CAPITAIS
NA FRANÇA A s p r á t i c a s m e r c a n t i l i s t a s c o l a b o ra ra m p a ra o
desenvolvimento da economia capitalista, estando ligadas à
As medidas adotadas pela monarquia francesa, sua consolidação no século XIX, afinal, as riquezas originárias
principalmente no século XVII, receberam o nome de desse período permitiram a ocorrência do processo conhecido
industrialismo ou colbertismo graças ao ministro de
como acumulação primitiva de capitais. A pilhagem do mundo
Luís XIV, Jean-Baptiste Colbert, que foi o responsável pela
colonial e os lucros oriundos do tráfico de escravos também
aplicação de práticas de incentivo ao desenvolvimento
contribuíram para a chamada Revolução Comercial e para
das manufaturas francesas. O colbertismo, que se
caracterizou pela produção de artigos de luxo, tecidos o fortalecimento da classe burguesa. Esse acúmulo levou,
finos, tapeçaria, vidros e papel, visava a manter a balança no século XVIII, à eclosão e à expansão do capitalismo
comercial favorável. As conquistas coloniais também foram industrial cujo foco era a Inglaterra. De acordo com Karl Marx:
responsáveis pelo fortalecimento do Estado francês, que,
por meio do investimento na Marinha e na pirataria, atuou
sistematicamente na América, conquistando, assim, metais A descoberta de terras de ouro e prata na América,
preciosos e o fortalecimento do poder absolutista. o extermínio, escravização e enterramento da população
nativa nas minas, o início da conquista e pilhagem das
MERCANTILISMO NA
Índias Orientais, a transformação da África numa coutada
para a caça comercial de peles-negras assinalam a aurora
comercialismo.
D) Foi um conjunto de práticas e ideias econômicas que E) o protecionismo, o esforço de manter a balança
visava ao enriquecimento dos Estados europeus por comercial favorável e a crítica ao colonialismo.
meio, principalmente, do metalismo, da exploração
colonial, de práticas protecionistas e de uma balança 02. (FCI-SP) O mercantilismo não era um sistema em nosso
8NMR
comercial favorável. sentido da palavra, mas antes um número de teorias
E) Foi uma doutrina econômica desenvolvida na econômicas aplicadas num esforço para conseguir riqueza
Inglaterra e que defendia o livre-comércio, o fim das e poder.
barreiras alfandegárias, o desenvolvimento industrial HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem, 1983
e a abolição das relações escravistas de produção. (Adaptação).
6 Coleção 6V
Mercantilismo
Na prática econômica conhecida como mercantilismo, A) Estimula a concorrência entre produtos estrangeiros
a atuação do Estado e nacionais, reduzindo os tributos alfandegários.
A) é inexistente, uma vez que essa prática econômica é B) Permite a exportação de matérias-primas para obter
baseada na não intervenção do governo na economia.
superavit comercial.
B) é relativa, pois somente as colônias do continente
C) Pressupõe uma ampla intervenção do Estado na
americano são responsabilidade direta do Estado
nessa prática. economia.
HISTÓRIA
05. (PUC-Campinas-SP–2016) Retrato do Brasil: ensaio
processo. TVZH
sobre a tristeza brasileira, de Paulo Prado (escritor a
quem Mário de Andrade dedicou Macunaíma), é hoje um
03. (UFRN) Thomas Mun, pensador inglês do século XVII,
N2M7 livro quase esquecido. Quando saiu, porém, alcançou
analisando o conjunto de práticas e ideias econômicas
adotadas pelos Estados Modernos, afirmou: êxito excepcional: quatro edições entre 1928 e 1931.
O momento era propício para tentar explicações do
O recurso comum [...] para aumentar nossa riqueza
Brasil, país que se via a si mesmo como um ponto de
e tesouro é pelo comércio externo, no qual devemos
observar algumas regras rígidas. A primeira é vender interrogação. Terra tropical e mestiça condenada ao atraso
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Por mercantilismo designa-se o conjunto de ideias e práticas econômicas desenvolvidas pelos Estados Nacionais Modernos
entre os séculos XV e XVIII, que marcou a relação entre as metrópoles e suas colônias. Diante do exposto, explique como a
imagem apresentada remete
A) a um princípio do mercantilismo;
B) à relação entre as metrópoles e as colônias.
Este fluxo de prata é despejado em um país protecionista, barricado de alfândegas. Nada sai ou entra em Espanha sem o
consentimento de um governo desconfiado, tenaz em vigiar as entradas e as saídas de metais preciosos. Em princípio, a enorme
fortuna americana vem, portanto, terminar num vaso fechado. Mas o fecho não é perfeito [...] Ou dir-se-ia tão comumente
que os Reinos de Espanha são as “Índias dos outros Reinos Estrangeiros”.
BRAUDEL, Fernand. O Mediterrâneo e o mundo mediterrânico à época de Felipe II. Lisboa: Martins Fontes,
1983-1984. v. 1. p. 523-527.
08. (FGV–2015) O Estado era tanto o sujeito como o objeto da política econômica mercantilista. O mercantilismo refletia a concepção
a respeito das relações entre o Estado e a nação que imperava na época (séculos XVI e XVII). Era o Estado, não a nação, o
que lhe interessava.
HECKSCHER, Eli F. La epoca mercantilista. 1943. p. 459-461 apud MARQUES, Adhemar et al.
História moderna através de textos. 1989. p. 85 (Adaptação).
Segundo o autor,
A) as relações profundas entre o Estado absolutista e o nacionalismo levaram à intolerância e a tudo o que impedia o
bem-estar dos súditos, unidos por regulamentações e normas rígidas.
B) as práticas econômicas intervencionistas do Estado absolutista tinham o objetivo específico de enriquecer a nação,
em especial, os comerciantes, que impulsionavam o comércio externo, base da acumulação da época.
C) o mercantilismo foi um sistema de poder, pois o Estado absolutista implantou práticas econômicas intervencionistas, cujo
objetivo maior foi o fortalecimento do poder político do próprio Estado.
D) o Estado absolutista privilegiou sua aliada política, a nobreza, ao adotar medidas não intervencionistas, para preservar a
concentração fundiária, já que a terra era a medida de riqueza da época.
E) a nação, compreendida como todos os súditos do Estado absolutista, era o alvo maior de todas as medidas econômicas,
isto é, o intervencionismo está intimamente ligado ao nacionalismo.
8 Coleção 6V
Mercantilismo
09. (PUC Rio) Observe o gráfico das tendências econômicas Com base nos conhecimentos sobre as relações entre
de alguns países europeus (1500-1700): Estado e economia, pode-se afirmar que
A) as práticas mercantilistas durante a Idade Moderna
Inglaterra
caracterizavam-se pela atuação direta do Estado no
âmbito econômico.
Norte do Países Baixos
HISTÓRIA
Depressão Estagnação Expansão E) as relações entre Estado e economia foram
pautadas, desde a formação do mundo moderno, pela
CIPOLLA, Carlo M. História econômica da Europa
intervenção direta nos setores econômicos.
pré-industrial. Lisboa: Ed. 70, 2000. p. 278.
02. A ideia mercantilista de balança comercial – a crença
Sobre as causas dessas tendências, é correto afirmar que em que uma nação enriquece quando suas exportações
A) a prata americana deu à Espanha do século XVI excedem suas importações – tornou-se um conceito
um poder de compra que acabou provocando o central do pensamento econômico subsequente.
desenvolvimento manufatureiro holandês e inglês no Foi indubitavelmente influenciado pelo conceito de
equilíbrio da mecânica newtoniana, e era inteiramente
século seguinte.
compatível com a visão de mundo limitada das
B) as guerras religiosas incentivaram a produção de monarquias insuladas e escassamente povoadas desse
armas e permitiram o crescimento econômico dos tempo. Mas, hoje, em nosso mundo superpovoado e
principados luteranos da Europa Central, em meados interdependente, é óbvio que nem todas as nações
do século XVI. podem ganhar simultaneamente no jogo mercantilista.
O fato de muitas nações – o Japão é o exemplo recente
C) o afluxo dos tesouros americanos permitiu à Espanha
mais notório – ainda tentarem manter balanças comerciais
ter um período de enriquecimento e expansão no
inclinadas a seu favor pode redundar em guerras
século XVII.
comerciais, depressões e em um conflito internacional.
D) a estreita relação entre comércio externo e setor CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação.
manufatureiro e a manutenção da união com a São Paulo: Cultrix, 1993. [Fragmento]
Espanha foram as bases do “milagre” holandês do
A análise do trecho nos permite concluir que
século XVII.
A) se tornou extremamente importante repensar o
E) o controle dos mares, as grandes reservas de carvão
mercantilismo para a melhor compreensão dos
e o uso de energia a vapor para mecanizar a produção fenômenos econômicos contemporâneos.
manufatureira explicam a expansão constante da
B) o fato de o Japão não ter experimentado um sistema
economia inglesa entre 1550 e 1700.
mercantilista clássico durante a Idade Moderna
explica sua postura imprudente no cenário econômico
• 01. E
• 02. C
• 03. D
• 04. C
• 05. C
• 01. C
• 02. D
• 03. B
• 04. C
• 05. D
06.
• A) O incentivo à produção manufatureira, a partir da fácil aquisição de matérias-primas em áreas coloniais, foi um princípio
importante do mercantilismo, uma vez que ele garantia o abastecimento do mercado interno, além da exportação do
excedente produtivo.
• B) A imagem expõe a produção de açúcar, tabaco e ouro no Brasil, enviada exclusivamente à sua metrópole, Portugal, em
contrapartida ao escoamento de produtos manufaturados à colônia portuguesa. Identifica-se relação semelhante entre
Inglaterra e suas colônias, com relação à produção de peles e manufatura. O exclusivismo comercial foi prática recorrente
07.
• 2. O principal objetivo dessas práticas era o fortalecimento dos Estados Modernos. Tal fim seria obtido por meio da busca da
• 3. A frase demonstra a dificuldade da Espanha em manter as riquezas obtidas na América no interior de seu reino. Apesar de
um rígido sistema de fiscalização sobre as colônias, parte dos metais provenientes da América se direcionou, por meio de
• 08. C
• 09. A
• 01. A
10 Coleção 6V
FRENTE MÓDULO
HISTÓRIA A 07
Renascimento
O termo “Renascimento” designa um conjunto de Dessa forma, a Idade Média passou a ser vista como
transformações na mentalidade do homem europeu ocorrido a Idade das Trevas e a força da religião e da Igreja foi
entre o final da Idade Média e o início da Idade Moderna. associada ao atraso e ao irracionalismo. Nota-se, portanto,
Essas mudanças se refletiam na crescente valorização e no que foram os homens do Renascimento que criaram a
estudo das atividades humanas – o humanismo – e em uma imagem negativa a respeito do Período Medieval, uma
postura mais racional e individualista diante do mundo em vez que eles acreditavam estar retomando o momento de
que viviam aqueles homens. glória da humanidade: a Antiguidade Clássica.
Historiadores e pensadores do século XIX associaram Novas correntes historiográficas, no século XX,
essas transformações a uma ruptura radical em relação demonstraram, no entanto, que essa ruptura não teria
ao Período Medieval: Jacob Burckhardt, em seu livro sido assim tão radical, já que grande parte das raízes
A civilização do Renascimento na Itália, escreveu que, do Renascimento se encontravam no Período Medieval.
Além disso, a mentalidade do homem moderno estava
povoada de fortes traços das crenças medievais,
[no Período Medieval] a consciência humana […] repousava que valorizavam uma visão mística e religiosa sobre o
sonhadora ou semiacordada sob um véu comum. O homem mundo e sobre a sociedade. Para o historiador Peter Burke:
estava consciente de si próprio apenas como membro de
uma raça, povo, partido, família, ou corporação – apenas Esta ideia de Renascimento é um mito [...]. No caso da
através de uma qualquer categoria geral. [No Renascimento], descrição do Renascimento por parte de Burckhardt, estes
este véu evaporou-se […] o homem tornou-se um indivíduo historiadores opõem-se aos vincados contrastes que ele
estabelece entre o Renascimento e a Idade Média, entre a
espiritual e reconheceu-se a si mesmo como tal.
Itália e o resto da Europa. Consideram que são contrastes
BURCKHARDT, Jacob. A cultura do Renascimento na Itália. exagerados, uma vez que ignoram as muitas inovações
Brasília: Editora da UnB, 1991. [Fragmento] produzidas na Idade Média, a sobrevivência de atitudes
tradicionais no século XVI e mesmo mais tarde, e o interesse
italiano pela pintura e pela música de outros países,
Essa noção de ruptura com o mundo medieval foi uma em especial dos Países Baixos.
ideia muito difundida entre os renascentistas. Para eles,
BURKE, Peter. O Renascimento italiano: cultura e sociedade na
o que ocorria era um novo nascimento após um período
Itália. São Paulo: Nova Alexandria, 1999. [Fragmento]
de ignorância e de escuridão.
BUONARROTI, Michelangelo. A criação de Adão. Entre 1508 e 1515. Afresco, 280 x 570 cm. Detalhe do teto da Capela Sistina, Roma.
A Criação de Adão, afresco de Michelangelo, sintetiza alguns aspectos do Renascimento. A representação de uma passagem bíblica
demonstra a presença ainda marcante da religiosidade. O encontro entre as mãos de Deus e do homem exalta a capacidade criativa
e eleva o homem a uma condição quase divina. Já a representação do corpo humano remete à Antiguidade Clássica.
permitiu a expansão da cultura escrita com maior facilidade postura antropocêntrica. Buscando se opor ao teocentrismo
e velocidade. Além da Península Itálica,outras regiões, como medieval, o homem do Renascimento acreditava ser o centro
a dos Países Baixos, de forte desenvolvimento comercial, das atenções e o sujeito fundamental para a explicação dos
assistiram à expansão das artes em suas cidades. elementos que o rodeavam. Dessa maneira, somente ele
poderia decidir seu próprio destino e suas ações deveriam
Não se deve, no entanto, acreditar que as transformações
ser enaltecidas. Apesar desta convicção renascentista,
proporcionadas pelo Renascimento tenham tido ampla
não se deve acreditar em uma postura radical em relação
difusão no interior das sociedades. As mudanças do
ao teocentrismo medieval, uma vez que, ainda naquele
período não atingiram a todos os setores sociais, que eram
momento, a mentalidade religiosa se fazia muito presente.
majoritariamente analfabetos, mas ficaram restritas às
elites. Além disso, a Renascença foi um movimento urbano,
ficando a vida no mundo rural ainda regida pelos valores Racionalismo
medievais. De acordo com Laura de Mello e Souza:
A valorização da razão foi uma decorrência das
transformações observadas ao final do Período Medieval.
Na verdade, Ciência e Razão eram apenas uma face Fatores como o desenvolvimento do comércio e das atividades
de realidade bem mais complexa. Enquanto as elites financeiras na Baixa Idade Média trouxeram a necessidade dos
redescobriam Aristóteles ou discutiam Platão na Academia cálculos das distâncias, do tempo, dos lucros e dos prejuízos.
florentina, de Lourenço de Médicis, a quase totalidade da A postura humanista e antropocêntrica colaborou para isso
população europeia continuava analfabeta. Praticamente
ao considerar o uso da razão como a marca definidora do
alheia à matematização do tempo, tinha seu trabalho regido
homem. As verdades, antes buscadas principalmente a partir
ainda por galos e pelos sinos [...] a vida continuava pautada
do viés religioso, poderiam agora ser alcançadas por meio
por ritmos sazonais.
da análise racional que se opunha à rigidez dos dogmas
SOUZA, Laura apud FARIA, Ricardo; MARQUES, Adhemar;
da Igreja, gerando, assim, conflitos entre o clero e alguns
BERUTTI, Flávio. História. Belo Horizonte: Lê, 1993.
[Fragmento] estudiosos renascentistas.
Postura crítica
CARACTERÍSTICAS DO Oriundo do racionalismo, o crescimento da postura
O humanismo foi resgatado dos textos da Antiguidade e à realidade da época passaram a ser mais comuns, apesar
Clássica por estudiosos como Petrarca e Bocaccio. da repressão e censura típicas do período.
Até o século XIV, a leitura e a interpretação desses textos
estiveram, em grande parte, controladas pela Igreja, e a Individualismo
retomada deles proporcionou uma alteração da visão a
A postura individualista, típica do homem renascentista
respeito do papel do homem no mundo. A partir de então,
e oposta ao coletivismo medieval, pode ser associada ao
o estudo das atividades humanas passou a ser preponderante
nas universidades, que se afastavam do teocentrismo crescimento da atividade comercial e urbana ainda na Idade
medieval e assumiam uma postura cada vez mais laica. Média. O homem do Renascimento se via como distinto
O estudo das obras de Heródoto, Platão e Homero ampliou do coletivo e detentor de características específicas que o
o conhecimento sobre as línguas antigas, permitindo diferenciavam dos demais. Como exemplo dessa postura,
também um aprofundamento nos estudos bíblicos. Vários pode ser citado o fato de as obras de arte do Renascimento
humanistas se dedicaram às questões religiosas, como serem assinadas por seus autores. O nome, característica
Erasmo de Rotterdam, que fez uma importante tradução individual, presente no quadro chama a atenção para aquele
grega do Novo Testamento. que executou a obra.
12 Coleção 6V
Renascimento
Naturalismo
A valorização da natureza e do seu estudo também foi uma característica do Renascimento. Se para muitos homens medievais
a natureza era fonte de medo, para os renascentistas, ela deveria ser investigada. Por meio da observação dos fenômenos
naturais, portanto, os renascentistas puderam aguçar seus conhecimentos científicos, assim como o seu espírito crítico.
A natureza humana também foi alvo de preocupações, o que fez com que surgissem estudos mais aprofundados sobre o corpo
humano. Os estudos sobre o Universo e seu funcionamento também foram comuns, dando origens a teorias sobre a dinâmica
celeste, como o heliocentrismo.
HISTÓRIA
razão. Textos de Platão e de Aristóteles sofreram
novas interpretações que se afastavam daquelas
defendidas pela Igreja. É válido ressaltar que
essas obras não haviam sido completamente
abandonadas durante a Idade Média, tendo
sido preservadas nos mosteiros medievais.
O humanista Leonardo Bruni afirmou que seria
necessário “trazer à luz a antiga elegância de
estilo que se perdera e extinguira”.
A escola de Atenas, de Rafael Sanzio, reflete a
importância da Antiguidade para o Renascimento.
A referência a filósofos gregos, como Platão e
Aristóteles ao centro, demonstra a preocupação com
o racionalismo. O uso da perspectiva e a construção
SANZIO, Rafael. A Escola de Atenas. Entre 1509 e 1511. Afresco, 500 x 700 cm. geométrica do quadro são características das obras
Palácio Apostólico, Vaticano. do período.
Universalismo Hedonismo
A crença em sua capacidade fazia com que o homem do
A busca pelo prazer foi marca do homem moderno,
Renascimento se dedicasse às mais diversas atividades.
A especialização em uma determinada área, comum no mundo tendo a valorização do mundo temporal e da vida terrena
atual, se contrasta com a postura renascentista, que defendia incentivado a procura por prazeres intelectuais e materiais.
que o homem universal poderia se destacar em várias áreas Os prazeres mundanos foram colocados em destaque,
do conhecimento humano. Leonardo da Vinci, que era pintor, e a preocupação com o tempo humano passou a conviver
arquiteto, poeta, engenheiro e escultor, chegou a afirmar: com o enfoque sobre o tempo da eternidade, aquele posterior
à morte, vinculado ao cristianismo.
Já fiz planos de pontes muito leves [...] sou capaz de desviar a
água dos fossos de um castelo cercado [...]. Conheço os meios
de destruir seja que castelo for [...]. Sei construir bombardas
fáceis de deslocar [...] galerias e passagens sinuosas que Mecenato
se podem escavar sem ruído nenhum [...], carros cobertos,
inatacáveis e seguros, armados com canhões. Estou [...] O incentivo financeiro foi comum para a produção das obras
em condições de competir com qualquer outro arquiteto, do Renascimento. Diversos grupos sociais desejavam ver os
tanto para construir edifícios públicos ou privados como para
seus valores representados pelos artistas do período. Igreja,
conduzir água de um lugar para outro. E, em trabalhos de
pintura ou na lavra do mármore, do metal ou da argila, farei burguesia e nobreza financiavam pinturas e esculturas com
obras que seguramente suportarão o confronto com as de a intenção de exaltar seus hábitos e sua visão de mundo.
qualquer outro, seja ele quem for. No caso da burguesia, essa necessidade estava vinculada
VINCI, Leonardo da. apud DELUMEAU, Jean. A civilização do ao desejo dos burgueses de ascenderem a um novo status
Renascimento. Lisboa: Editorial Estampa, 1984. v. 1. p. 154. social em meio a uma Europa ainda marcada pela presença
[Fragmento]
de valores aristocráticos.
RENASCIMENTO ITALIANO
Para a maioria dos autores, o Renascimento atingiu seu
auge no norte da Península Itálica. Botticelli, Leonardo da
Vinci, Michelangelo e Rafael são apenas alguns dos nomes
ligados à grande expressão artística da região, tendo a
pintura, a escultura e a arquitetura alcançado o seu esplendor
nas cidades italianas.
14 Coleção 6V
Renascimento
Outro fator fundamental para o destaque das cidades • François Rabelais: Em Gargântua e Pantagruel,
italianas é o fato de estas se localizarem na região da Rabelais misturou elementos de diversos gêneros
antiga sede do Império Romano, que preservara parte narrativos com humor popular. Enaltecia os prazeres
do patrimônio greco-romano, o que facilitou a busca dos físicos, como a comida, a bebida e o sexo, e satirizava
HISTÓRIA
mundo, o exemplo dos animais.
LITERATURA SHAKESPEARE, William. Hamlet apud TESKE,
Ottmar (Coord.). Sociologia – textos e contextos.
2. ed. Canoas: Ed. ULBRA, 2005. p. 28.
Além das artes plásticas, a literatura também foi [Fragmento]
um segmento artístico beneficiado pelo pensamento
renascentista. Entre os séculos XIV e XVII, escritores de • Thomas Morus: Em seu livro Utopia, o autor descreve
várias regiões da Europa se destacaram com obras que uma ilha imaginária onde haveria uma sociedade ideal.
A noção de utopia (do grego, utopos, que significa
propagavam os valores antropocêntricos. Dentre eles,
“não lugar”) pode ser compreendida como uma crítica
pode-se destacar:
de Morus à sociedade europeia.
• Dante Alighieri: Em A Divina Comédia, Dante utilizou
o dialeto florentino e não o latim, como era comum
nas obras do período, abrindo espaço para a utilização
REVOLUÇÃO CIENTÍFICA
das línguas nacionais.
As transformações provocadas pelo Renascimento
• Luís de Camões: Em Os Lusíadas, poema épico, acarretaram o desenvolvimento de várias áreas do
Camões narra a saga expansionista dos portugueses conhecimento humano, sendo que, ao longo dos
pelos oceanos. A epopeia, datada do século XVI, séculos XVI e XVII, essas transformações deram forma
retrata as façanhas portuguesas igualando-as a às ciências modernas. Esse conjunto de mudanças ficou
outras grandes aventuras. conhecido como Revolução Científica. A valorização da
razão, da experiência e da observação favoreceu a expansão
As armas e os barões assinalados do conhecimento científico e a alteração de concepções
Que, da ocidental praia lusitana,
a respeito do funcionamento da natureza e da vida
em sociedade.
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana, A mais importante desmitificação ocorrida nesse período
Em perigos e guerras esforçados, se relacionou à concepção geocêntrica do Universo.
Mais do que prometia a força humana, De acordo com essa teoria, a Terra seria o centro do Cosmo
E entre gente remota edificaram
e os demais astros girariam ao seu redor. Essa noção foi
Novo reino, que tanto sublimaram.
defendida pela Igreja durante a Idade Média e baseava-se
CAMÕES, Luís Vaz de. Os Lusíadas. Disponível em: nas concepções do grego Ptolomeu. Ainda na Idade Moderna,
<http://www.dominiopublico.gov.br/download/
essa era a posição oficial da Igreja sobre o tema, o que gerou
texto/ua000178.pdf>. Acesso em: 09 out. 2018.
[Fragmento]
conflitos com estudiosos da época.
Para Galileu, a tradição e a autoridade dos antigos sábios É dele a máxima “Penso, logo existo”, assim como a elaboração
não eram fontes de conhecimento científico, pois, de acordo da noção de dúvida metódica. Os ingleses John Locke e
com ele, “o livro da natureza é escrito em caracteres Francis Bacon defendiam o empirismo e acreditavam que a
matemáticos”. Por suas ideias, Galileu foi perseguido pela experiência e a observação eram caminhos para a verdade.
Igreja, enquanto Giordano Bruno, por defender a noção de Já o físico Isaac Newton buscou leis universais para o
um Universo infinito, foi condenado e morto pela Inquisição. funcionamento do Universo a partir da observação de
fenômenos particulares.
OS VÁRIOS “RENASCIMENTOS”
Houve vários “Renascimentos” na Idade Média, manifestamente
no Oriente [...].
O mapa apresenta a concepção geocêntrica. Nele, os
astros do Sistema Solar aparecem orbitando a Terra, Houve de fato um Renascimento? Se descrevermos o
um corpo fixo. Renascimento em termos de púrpura e ouro, como um milagre
destacaram no contexto renascentista. Entre eles, certamente Esse vídeo apresenta características do Renascimento Cultural
está René Descartes, que foi um importante filósofo do e do Renascimento Científico na Europa da Baixa Idade Média.
16 Coleção 6V
Renascimento
APRENDIZAGEM
01. (UEG-GO) Conhecimento é a relação que se estabelece
entre o sujeito cognoscente e um objeto. Na Grécia Antiga
não havia fragmentação do conhecimento, e pensar sobre
um assunto envolvia a totalidade dos outros. Os filósofos
gregos da Antiguidade se preocupavam basicamente
com os problemas do ser e do não ser, da permanência
e do movimento, da unidade e da multiplicidade das
ideias e das coisas. Já para o pensador medieval,
o problema principal era a conciliação entre fé e razão. No
Renascimento, surgem as seguintes grandes modificações
A) a união entre fé e razão, o fideísmo e o positivismo.
HISTÓRIA
B) a união entre fé e razão, o teocentrismo e o interesse
Disponível em: <http://filosofiaemvideo.com.br/nicolau-
pela moral.
copernico>. Acesso em: 23 maio 2016.
C) a valorização da fé em detrimento da razão,
o cosmocentrismo e o fideísmo. A imagem representa a teoria de Nicolau Copérnico,
D) a separação entre fé e razão, o antropocentrismo e publicada em 1453, e que mais tarde influenciaria os
o interesse pelo saber ativo. estudos de Galileu Galilei e Kepler. Em 1616, essa teoria
foi condenada como herética pela Igreja Católica e a obra
02. (UFTM-MG) Leia a definição de renascença.
2OG4 de Copérnico entrou para o índice de obras proibidas,
1. Ato ou efeito de renascer; renascimento 2. Qualquer
movimento caracterizado pela ideia de renovação, porque
de restauração; retorno 3. Nova vida, nova existência. A) recusava os conhecimentos teológicos, ao negar as
DICIONÁRIO Houaiss da Língua Portuguesa. teorias bíblicas da criação do Universo.
O termo “renascença” é utilizado para caracterizar a arte B) rompia com a teoria geocêntrica, ao propor que a
no mundo ocidental, entre os séculos XIV e XVI. A escolha Terra não era o centro do Universo.
do termo pode ser explicada
C) rebatia a tese da Terra plana, ao demonstrar que a
A) pelo fato de a produção artística ocidental nascer, de
face habitada do planeta também era curvada ou
fato, neste período.
esférica.
B) pela revalorização de ideais estéticos vigentes na
Antiguidade Clássica. D) profanava as teorias religiosas, ao juntar elementos
científicos e sagrados na construção do saber
C) pela renovação da pintura, fruto da difusão dos ideais
protestantes. astronômico.
18 Coleção 6V
Renascimento
05. (UFSCar-SP)
HISTÓRIA
SANZIO, Rafael. (1483-1520). A Escola de Atenas. 1511.
A Escola de Atenas é uma pintura, executada com a técnica do afresco, que se encontra em um dos salões do Vaticano,
na Itália. A pintura é um modelo de arte do Renascimento italiano, na medida em que
A) expressa uma visão de mundo teocêntrica, com referência ao universo da sociedade da Idade Média europeia.
B) utiliza cores fortes e contrastantes, como recurso para denunciar as disputas permanentes entre principados e repúblicas.
C) mostra para os súditos os esplendores dos palácios reais, para garantir a lealdade aos soberanos absolutistas.
D) emprega conhecimentos de geometria na representação do espaço, com sugestão de profundidade em uma superfície
plana.
E) representa a vida cotidiana em uma cidade italiana, com destaque para a existência livre e descontraída de sua população.
I II
07. (Unicamp-SP–2016) A teoria da perspectiva, iniciada Sempre que se evoca o tema do Renascimento,
2BSA a imagem que nos vem à mente é a dos grandes artistas
com o arquiteto Filippo Bruneleschi (1377-1446),
e de suas obras mais famosas. Isso nos coloca a questão:
utilizou conhecimentos geométricos e matemáticos na
por que razão o Renascimento implica esse destaque tão
representação artística produzida na época. A figura grande dado às artes visuais? De fato, as artes plásticas
a seguir ilustra o estudo da perspectiva em uma obra acabaram se convertendo num centro de convergência de
desse arquiteto. É correto afirmar que, a partir do todas as principais tendências da cultura renascentista.
E mais do que isso, acabaram espelhando os impulsos
Renascimento, a teoria da perspectiva
mais marcantes do processo de evolução das relações
sociais e mercantis.
SEVCENKO, Nicolau. O Renascimento. São Paulo: Atual;
Campinas: Ed. Unicamp, 1984 (Adaptação).
A) foi aplicada nas artes e na arquitetura, com o uso de 09. (UFU-MG) Sempre que se evoca o tema do Renascimento,
proporções harmônicas, o que privilegiou o domínio a imagem que imediatamente nos vem à mente é a dos
técnico e restringiu a capacidade criativa dos artistas. grandes artistas plásticos e de suas obras famosas [...].
B) evidencia, em sua aplicação nas artes e na arquitetura, As artes plásticas acabaram se convertendo num centro de
que as regras geométricas e de proporcionalidade convergência de todas as principais tendências da cultura
auxiliam a percepção tridimensional e podem ser renascentista. E, mais do que isso, acabaram espelhando,
através de seu intenso desenvolvimento nesse período,
ensinadas, aprendidas e difundidas.
os impulsos mais marcantes do processo de evolução das
C) fez com que a matemática fosse considerada uma relações sociais e mercantis.
arte em que apenas pessoas excepcionais poderiam
SEVCENKO, Nicolau. O Renascimento.
usar geometria e proporções em seus ofícios.
São Paulo: Atual, 1994. p. 25.
D) separou arte e ciência, tornando a matemática uma
De acordo com o trecho anterior, o papel central das artes
ferramenta apenas instrumental, porque essa teoria
plásticas na cultura renascentista está relacionado aos
não reconhece as proporções humanas como base de
“impulsos mais marcantes do processo de evolução das
medida universal.
relações sociais e mercantis” porque
I. expressavam o caráter sacro e piedoso do humanismo,
08. (UERJ) revalorizando a tradição medieval e procurando
O casal Arnolfini reconciliar razão e fé, que se encontravam dissociadas
a partir do predomínio do racionalismo burguês nas
transações mercantis.
II. expressavam o desejo da nascente burguesia de
construir uma nova imagem da sociedade em que
ela teria papel central, contrapondo-se aos valores
da sociedade medieval que privilegiavam o clero e
a nobreza.
III. expressavam o ideal de beleza relacionado ao sentido
de permanência atemporal, imutável, tomado de
empréstimo às artes do mundo antigo e que serviam
como contraponto à velocidade e à intensidade
das inovações e das transformações vividas pelas
sociedades europeias modernas.
IV. expressavam como a cultura tornou-se um campo
de luta privilegiado, onde a produção artística
deveria transmitir valores e princípios importantes
para a consolidação da sociedade moderna, como o
antropocentrismo, a razão, a positividade da riqueza
EYCK, Jan van. (1389-1441). Disponível em: material, o desejo de conhecimento e o domínio sobre
<http://upload.wikimedia.org>. a natureza e sobre o espaço geográfico.
20 Coleção 6V
Renascimento
Assinale a alternativa que contém as afirmativas corretas. 02. (Enem) Acompanhando a intenção da burguesia
A) Apenas II e III renascentista de ampliar seu domínio sobre a natureza e
sobre o espaço geográfico, através da pesquisa científica
B) Apenas I e III
e da invenção tecnológica, os cientistas também iriam
C) Apenas III e IV se atirar nessa aventura, tentando conquistar a forma,
D) Apenas II e IV o movimento, o espaço, a luz, a cor e mesmo a expressão
e o sentimento.
10. (FUVEST-SP–2016) O grande mérito do sábio toscano SEVCENKO, N. O Renascimento. Campinas: Unicamp, 1984.
estava exatamente na apresentação de suas conclusões
O texto apresenta um espírito de época que afetou
na forma de “leis” matemáticas do mundo natural. Ele também a produção artística, marcada pela constante
não apenas defendia que o mundo era governado por relação entre
essas “leis”, como também apresentava as que havia
A) fé e misticismo.
“descoberto” em suas investigações.
B) ciência e arte.
CAMENIETZKI, Carlos Z. Galileu em sua órbita. 01 fev. 2014.
HISTÓRIA
C) cultura e comércio.
Disponível em: <www.revistadehistoria.com.br>.
D) política e economia.
Considerando que o texto se refere a Galileu Galilei E) astronomia e religião.
(1564-1642),
A) identifique uma das “leis” do mundo natural proposta 03. (Enem) O franciscano Roger Bacon foi condenado, entre
por ele; 1277 e 1279, por dirigir ataques aos teólogos, por uma
suposta crença na alquimia, na astrologia e no método
B) indique dois dos principais motivos pelos quais ele foi
experimental, e também por introduzir, no ensino, as
julgado pelo Tribunal da Inquisição. ideias de Aristóteles. Em 1260, Roger Bacon escreveu:
Pode ser que se fabriquem máquinas graças às quais
SEÇÃO ENEM os maiores navios, dirigidos por um único homem, se
desloquem mais depressa do que se fossem cheios de
remadores; que se construam carros que avancem a
01. (Enem) Assentado, portanto, que a Escritura, uma velocidade incrível sem a ajuda de animais; que se
em muitas passagens, não apenas admite, mas necessita fabriquem máquinas voadoras nas quais um homem [...]
de exposições diferentes do significado aparente das bata o ar com asas como um pássaro. [...] Máquinas que
palavras, parece-me que, nas discussões naturais, deveria permitam ir ao fundo dos mares e dos rios.
ser deixada em último lugar. BACON, Roger apud BRAUDEL, Fernand. Civilização material,
GALILEI, G. Carta a Dom Benedetto Castelli. In: Ciência e fé: economia e capitalismo: séculos XV-XVIII.
São Paulo: Martins Fontes, 1996. v. 3.
cartas de Galileu sobre o acordo do sistema copernicano
com a Bíblia. São Paulo: Unesp, 2009 (Adaptação). Considerando a dinâmica do processo histórico, pode-se
afirmar que as ideias de Roger Bacon
O texto, extraído da carta escrita por Galileu (1564-1642)
A) inseriam-se plenamente no espírito da Idade
cerca de trinta anos antes de sua condenação pelo
Média ao privilegiarem a crença em Deus como
Tribunal do Santo Ofício, discute a relação entre ciência
o principal meio para antecipar as descobertas
e fé, problemática cara no século XVII. A declaração de
da humanidade.
Galileu defende que
B) estavam em atraso com relação ao seu tempo
A) a Bíblia, por registrar literalmente a palavra divina, ao desconsiderarem os instrumentos intelectuais
apresenta a verdade dos fatos naturais, tornando-se oferecidos pela Igreja para o avanço científico
guia para a ciência. da humanidade.
B) o significado aparente daquilo que é lido acerca da C) opunham-se ao desencadeamento da Primeira
natureza na Bíblia constitui uma referência primeira. Revolução Industrial ao rejeitarem a aplicação da
matemática e do método experimental nas invenções
C) as diferentes exposições quanto ao significado das
industriais.
palavras bíblicas devem evitar confrontos com os
dogmas da Igreja. D) eram fundamentalmente voltadas para o passado,
pois não apenas seguiam Aristóteles, como também
D) a Bíblia deve receber uma interpretação literal porque,
baseavam-se na tradição e na teologia.
desse modo, não será desviada a verdade natural.
E) inseriam-se num movimento que convergiria mais
E) os intérpretes precisam propor, para as passagens tarde para o Renascimento, ao contemplarem a
bíblicas, sentidos que ultrapassem o significado possibilidade de o ser humano controlar a natureza
imediato das palavras. por meio das invenções.
• 01. D
• 02. B
• 03. A
• 04. B
• 05. A
• 01. A
• 02. C
• 03. B
• 04. B
• 06. E
• 07. B
• 09. D
10.
22 Coleção 6V
FRENTE MÓDULO
HISTÓRIA A 08
Reforma e Contrarreforma
O processo de divisão da cristandade ocidental ocorrido Diante do avanço das heresias, a Igreja decidiu institucionalizar
no século XVI, durante a Idade Moderna, recebe o nome de as formas de repressão. Assim, em 1229, durante o Concílio
Reforma Protestante. A formação dos Estados Modernos, de Toulouse, foi criado oficialmente o Tribunal do Santo Ofício.
o fortalecimento da classe burguesa, a crescente valorização Os dominicanos, que compunham uma importante ordem
da razão e do individualismo e o aperfeiçoamento da imprensa eclesiástica, possuíam papel destacado na organização da
foram fundamentais para o sucesso dos movimentos nova instituição, cabendo-lhes a tarefa de inquirir e condenar
de contestação à Igreja. O controverso comportamento os heréticos.
do clero católico e a dificuldade da Igreja em satisfazer
uma espiritualidade cada vez mais complexa também O processo movido contra o herético muitas vezes era
proporcionaram o ambiente para as críticas dos reformistas. feito de tal modo que o acusado ignorava o nome do
próprio acusador, sendo que mulheres, escravos ou crianças
A cisão com a Igreja Católica provocada pela Reforma podiam servir de testemunhas da acusação, mas nunca da
foi precedida por outras contestações, que, no entanto, defesa. Para obter a confissão podia-se utilizar métodos
não causaram um abalo definitivo na religiosidade da que não deixavam de ser, de certa forma, torturas, como,
por exemplo, a fadiga, propositalmente provocada, ou o
Europa Ocidental. É fundamental, portanto, a compreensão
enfraquecimento físico do acusado. Uma vez apurada a
dos fatores que permitiram a eclosão dos movimentos culpa, concedia-se ao réu um prazo para que se apresentasse
reformistas no século XVI. espontaneamente ao tribunal. Caso isso não ocorresse,
poderia ser denunciado pelo inquisidor e ser preso. Em caso
de confissão da culpa, dava-se ao acusado a oportunidade
Em 1377, por motivos políticos, o papa Gregório XI decidiu Entre os fatores que facilitaram a disseminação dos ideais
retornar para Roma, mas faleceu pouco tempo depois, sendo reformistas, destaca-se a postura renascentista do homem,
eleito, então, Urbano VI para ocupar o papado em Roma. afinal, a difusão do humanismo permitiu a expansão de
O novo papa, contudo, não foi capaz de apaziguar as disputas uma nova visão sobre o homem e o mundo que o cercava.
no interior do catolicismo, sendo logo rejeitado pelo clero e Essa nova perspectiva refletiu-se na relação entre os
eleito um novo papa em Avignon, Clemente VII, que se tornou homens e o sagrado e permitiu o surgimento de novas
conhecido como o antipapa. concepções religiosas. A postura crítica, principalmente em
Nesse período, portanto, a cristandade conviveu com a relação ao Período Medieval, dirigia-se também à Igreja
existência de dois papas, o romano e o francês, ameaçando e aos membros do clero. Crenças, como o geocentrismo,
a unidade da Igreja. Somente em 1417, ou seja, cerca de passaram a ser contestadas com base na valorização
70 anos após o início dos conflitos, durante o Concílio de da experiência e na observação, em oposição à crença
Constança (1414-1418), o Cisma foi superado. Naquele ano, exclusiva nas autoridades religiosas.
o papado foi restabelecido em Roma, anulando finalmente a
O individualismo, que também ganhava força na ocasião,
resistência francesa.
levava à percepção de que a relação entre o homem e
Ainda no século XIV, o professor da Universidade de Oxford, Deus poderia existir sem a mediação do clero. A postura
John Wycliffe (1324-1384), foi responsável pela primeira
individualista incentivou ainda a leitura da Bíblia e o
tradução da Bíblia para o inglês, o que representava, naquele
surgimento de novas interpretações dos textos sagrados.
período, uma ameaça ao monopólio dos textos sagrados pelo
clero. Seus seguidores, os lollardos, criticavam a hierarquia Membros do clero, como Erasmo de Rotterdam, influenciados
da Igreja e acreditavam que a salvação poderia ser obtida por essa postura, dirigiram suas críticas ao despreparo do
pela fé. Em reação à expansão das ideias de Wycliffe, mesmo clero e ao caráter belicoso de alguns papas.
após sua morte, a Igreja decretou que os textos escritos O desenvolvimento da imprensa de tipos móveis por
por ele fossem destruídos e que seus restos mortais fossem Gutenberg, ainda no século XV, também colaborou para a
exumados e queimados em cerimônia pública.
expansão das ideias reformistas. A ampliação do público
leitor, já que os livros anteriormente eram acessíveis a uma
minoria, facilitou o acesso aos textos bíblicos e aos textos dos
reformadores. Apesar dos altos índices de analfabetismo entre
os europeus, as leituras individuais se tornaram mais comuns,
reforçando, portanto, o individualismo e o surgimento de novas
interpretações religiosas.
Ainda no contexto de transição da Idade Média para a Idade
Moderna, verificou-se o fortalecimento do poder real, o que
representou um obstáculo ao poder supranacional exercido
pela Igreja na Idade Média. Se, em alguns casos, a Igreja
colaborou para tal fortalecimento, justificando o caráter divino
dos reis, em outros, a intervenção do papado nos assuntos dos
Exumação e cremação dos ossos de John Wycliffe. Autor
Estados e a cobrança do dízimo eram vistas como ameaças à
desconhecido. In: FOXE, John. Book of Martyrs. 1563.
soberania dos monarcas, favorecendo, assim, a proliferação
Por fim, vale ressaltar o Movimento Hussita, que foi de religiões reformadas. Vale ressaltar que as riquezas e as
influenciado pelas contestações de Wycliffe e deve o nome ao terras da Igreja eram alvos de cobiça dos reis e da nobreza
seu principal líder, Jan Huss. Nascido na região da Boêmia, europeia. Ao longo da Reforma, portanto, vários nobres
o padre criticava o luxo e a corrupção do clero, além de denunciar conseguiram se apropriar desses bens, que representavam
a venda de indulgências, ou seja, a concessão do perdão alternativas para o aumento de seu poder.
mediante o pagamento. A morte de Jan Huss na fogueira, em
1415, após a sua condenação pelo Concílio de Constança, deu Outro importante grupo social que se indispôs com a
início às chamadas Guerras Hussitas. Igreja foi a burguesia, afinal, os clérigos condenavam o
lucro exagerado e a usura. Tais práticas, consideradas
Como pode-se perceber, o alto clero cristão se mostrou
pecaminosas, expandiam-se desde a Baixa Idade Média e
intolerante diante daqueles que ameaçavam sua primazia.
foram fundamentais para o desenvolvimento do capitalismo.
Ainda assim, a repressão não se mostrou capaz de calar os
críticos, haja vista que, no século XVI, estes amadureceram A interferência clerical no mundo secular significava, desse
seus discursos. modo, um entrave às atividades dos comerciantes.
Por fim, a crítica que mais gerou repercussão entre os
CONTEXTOS DA REFORMA europeus se relacionava à venda das indulgências, que
despertou a fúria de alguns reformistas, como Martinho
PROTESTANTE Lutero. O monopólio da salvação pelo clero era contestado
e a venda do perdão era considerada inadmissível.
Os movimentos reformistas do século XVI aconteceram
em um ambiente propício para a divulgação de suas ideias. Diante de tanta pressão, as críticas se contrastavam com
As contestações produziram efeitos mais incisivos no interior o despreparo e os abusos dos membros do clero, afinal,
da cristandade e, ao contrário das anteriores, provocaram a o desconhecimento das escrituras, a quebra do celibato e a
divisão da Igreja Católica na Europa Ocidental. corrupção eram comuns no período.
24 Coleção 6V
Reforma e Contrarreforma
O Sacro Império Germânico decretada pelo papa Leão X com o objetivo de construir a
basílica de São Pedro, despertou a indignação do monge
O Sacro Império Germânico, situado em grande parte agostiniano Martinho Lutero. No mesmo ano, na véspera
na região da atual Alemanha, era marcado pela do dia de Todos os Santos, Lutero afixou nas portas da
descentralização política. Apesar da existência do imperador, Igreja de Wittenberg, na região da Saxônia, suas 95 teses
seu poder era limitado pela atuação dos príncipes que de oposição à venda de indulgências. O modo como foram
compunham a nobreza de origem germânica. Carlos V, tornadas públicas as insatisfações era o costume naquele
da dinastia dos Habsburgo, que também reinava na
período. No entanto, apesar do local público em que foram
Espanha, era o imperador e desejava concentrar o controle
fixadas, por terem sido escritas em latim tiveram a leitura
dos reinos germânicos nas suas mãos no contexto em que
restrita a um pequeno grupo. Nas teses, Lutero, além de
ocorreu a Reforma. Apesar da sua vontade, Carlos V
criticar a venda das indulgências, questionava a autoridade
HISTÓRIA
necessitava do consentimento dos demais nobres alemães
para intervir diretamente nos assuntos do Sacro Império. papal para conceder o perdão e defendia que a salvação só
poderia ser obtida pela fé.
Além da descentralização, persistiam, na região,
características do Período Medieval, como a servidão em
Tese 21
larga escala. Entre outras consequências, a fragmentação Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afirmam
política facilitava as interferências da Igreja, que, além de que a pessoa é absolvida de toda pena e salva pelas
cobrar impostos, era grande proprietária de terras na região. indulgências do papa.
A venda de indulgências também era comum e a influência
Tese 24
da Igreja tendia ao crescimento, já que Carlos V possuía
Por isso, a maior parte do povo está sendo necessariamente
fortes ligações com o papado. ludibriada por essa magnífica e indistinta promessa de
absolvição da pena.
Principados do Sacro Império
Romano-Germânico (1512)
A reação da Igreja ocorreu em 1520. Por meio de uma
N Dinamarca
Ma
r Bál
tico
bula papal, Lutero foi convocado a renegar suas ideias, sob
Mar
do
Pomerânia
pena de excomunhão. Ao receber a advertência, Lutero se
Norte Holstein
recusou a acatar as ordens do papa e queimou o documento
Mecklemburgo
que havia recebido. Assim, como fora estabelecido pela bula,
Holanda Brandenburgo Polônia
Münster Lutero foi punido com a excomunhão em 1521. Naquele
Brunswick-
Colônia Lüneburgo mesmo ano, o imperador Carlos V convocou a Dieta de
Flandres Worms, na qual compareceram os príncipes do Sacro Império
Saxônia Silésia
Brabante Hesse e Lutero, que foi convocado para desmentir suas 95 teses.
No entanto, na reunião, Lutero reafirmou as suas críticas.
Luxemburgo Bohêmia
Morávia
Se eu não estiver convencido de erro pelo testemunho das
Renânia-Palatinato
Würtenberg Escrituras ou pela razão clara não posso retratar-me nem me
Lorena Bavária Áustria
França retratarei de coisa alguma, pois não é seguro nem honesto
agir contra a própria consciência. Deus me ajude. Amém.
Burgúndia Salzburgo Estíria
Confederação Tirol Carínthia Martinho Lutero
Suíça
Saboia Trento
Carniola
Hungria
Rep. de Veneza Após reiterar sua posição, a Dieta decretou a expulsão
Milão
0 140 km de Lutero, que contou com o apoio de Frederico da Saxônia
e refugiou-se em suas terras. O apoio da nobreza alemã,
Austríaco Baixo-Saxônico interessada na redução do poderio da Igreja, bem como
Bávaro Suábio na apropriação das terras clericais, foi fundamental para
Burgúndio Alto-Renano o sucesso do movimento luterano. Os príncipes alemães
Renano Alto-Saxônico
colaboraram para a reforma financiando a divulgação
dos princípios luteranos. Isso permitiu que as propostas
Franco Nenhum círculo
reformistas circulassem e se fortalecessem em outras regiões
Baixo Renano-Vestfaliano
do Império.
• Era dever do verdadeiro cristão a realização do reino Em 1555, pressionado, Carlos V assinou a “Paz de Augsburgo”.
de Deus na Terra com a partilha de riquezas, mesmo Por esse documento, ficou estipulado que cada príncipe poderia
que fosse necessário utilizar a violência. definir a doutrina a ser seguida em seus domínios, devendo os
seus súditos obedecer ao que fosse determinado.
• A Igreja dos Apóstolos (cristianismo primitivo) fora
corrompida pela Igreja Católica e pelos príncipes. Apesar da trégua estabelecida, os conflitos religiosos
voltaram a ocorrer no século XVII, quando as disputas
Apesar da inspiração luterana, a rebeldia camponesa
internas levaram à deflagração de um conflito internacional,
sofreu a oposição de Lutero, que não tinha como objetivo
a Guerra dos Trinta Anos.
a realização de uma reforma social. Além disso, o apoio
aos camponeses poderia significar a perda do suporte dado
pela nobreza. O argumento utilizado para condenar tais
movimentos afirmava que o sujeito poderia transformar-se
A REFORMA CALVINISTA
a si mesmo, mas não ao mundo – cujo destino depende da Entre as doutrinas protestantes surgidas no contexto da
insondável vontade divina. Dessa forma, os movimentos Reforma, a calvinista pode ser considerada a mais radical.
camponeses foram duramente reprimidos pela nobreza Formulado pelo francês João Calvino e difundido primeiramente
alemã em um conflito que levou a, aproximadamente,
na Suíça, o calvinismo se expandiu rapidamente pela Europa.
100 mil mortes entre os trabalhadores rurais.
Essa difusão deu-se, principalmente, pela aproximação,
em termos éticos, entre sua doutrina e a economia capitalista,
A doutrina luterana até então em desenvolvimento.
Lutero sempre havia se mostrado angustiado com a presença A região da Suíça era formada por uma série de repúblicas
do mal e do pecado no mundo terreno. Para ele, o pecado independentes, nas quais o poder se concentrava na mão dos
original era marca indelével da vida do homem e não havia comerciantes. Esse poderio, no entanto, encontrava barreiras
possibilidade de redenção para o homem apenas pelas boas nas ações da Igreja na região. O movimento reformista
obras. Indigno, o homem só poderia alcançar salvação pela fé. já havia dado os seus primeiros passos com a atuação do
Suas preocupações também foram fruto do desenvolvimento luterano Ulrich Zwinglio, mas foi a partir da conversão de
do individualismo. A partir dessa perspectiva, a relação direta Calvino, em 1530, que o processo se consolidou.
com Deus e a consequente abolição da hierarquia eclesiástica
foram defendidas por Lutero. A defesa da tradução da Bíblia O calvinismo tem sua base na noção da predestinação
e do culto também foram reflexos do individualismo no absoluta. Para Calvino, os homens já nascem destinados
campo religioso. para a salvação ou para a danação:
26 Coleção 6V
Reforma e Contrarreforma
HISTÓRIA
A doutrina calvinista estabelecia para seus adeptos uma Clemente VII. Casado com Catarina de Aragão, tia de Carlos V
vida regrada, disciplinada, dedicada ao trabalho, afastada
da Espanha, o rei inglês se queixava do fato de não ter obtido
do ócio, dos vícios e da ostentação. Conformar-se a esse
herdeiros homens. A preocupação se justificava, já que esse
ideal de conduta não seria o caminho para a salvação,
mas seus resultados visíveis – o sucesso material – dariam fato poderia levar ao trono inglês um nobre ligado ao reino
ao eleito a confirmação do estado de graça. espanhol. Assim, no intuito de viabilizar seu casamento
com Ana Bolena, Henrique VIII rompeu com o papa e
Esses princípios do calvinismo, segundo o economista Max
fundou a Igreja Anglicana. Tal situação foi reconhecida pelo
Weber, favoreceriam o processo de acumulação capitalista.
Parlamento em 1534, por meio do Ato de Supremacia, que
Nesse sentido, a valorização do trabalho e do consequente
acúmulo de riquezas estaria diretamente relacionada ao tornou o monarca inglês chefe supremo da Igreja Anglicana.
processo de expansão do capitalismo. Teria sido, portanto,
Tal medida colaborou para o reforço do poder pessoal do rei,
essa a razão para a expansão do calvinismo pela Europa,
ao conceder-lhe o direito de nomear os ocupantes dos
por regiões como Inglaterra, com os puritanos; Escócia,
cargos eclesiásticos e de interferir nas questões dogmáticas.
com os presbiterianos; e França, com os huguenotes.
Os membros do antigo clero católico que resistiram às
A expansão das doutrinas protestantes mudanças foram expulsos, e as terras da Igreja em território
no continente europeu
inglês foram confiscadas. A venda dessas terras para setores
Luteranos Anglicanos da nobreza e para comerciantes garantiu o apoio político
Calvinistas Católicos desses grupos à religião reformada.
Fotos: Lucas Cranach the Elder / Hans Holbein the Younger / Domínio Público Arte: Rubens Lima
Dinamarca
movimentos reformistas, em especial do calvinismo.
ar
Mar do M
Norte
Irlanda É possível afirmar, portanto, que ocorrera a fusão de
Inglaterra Sacro Império
Polônia dogmas protestantes com o formalismo dos ritos católicos.
Romano-Germânico
Londres Países Wittenberg Isso não impedia, no entanto, a oposição dos calvinistas
Baixos
à religião anglicana. Os chamados puritanos se opunham
Suíça
ao modo como havia transcorrido a Reforma na Inglaterra.
Genebra
França
Henrique VIII
Veneza
Lutero
CONTRARREFORMA
Estados
Pontifícios
Portugal Roma
Preocupada com o avanço das chamadas “heresias
Espanha protestantes”, a Igreja Católica adotou um conjunto de
Nápoles
Ma r Me dit
medidas visando conter a expansão do protestantismo
er
râ
e reafirmar a doutrina e práticas católicas. A busca pela
ne
0 440 km
Calvino
(1545-1563), convocado pelo papa Paulo III.
28 Coleção 6V
Reforma e Contrarreforma
04. (UFMG) Todas as alternativas apresentam fatores que O texto anterior refere-se à Reforma Protestante, iniciada
permitiram o avanço do anglicanismo, exceto por Martinho Lutero, na Alemanha, em 1517. Sobre as
A) a fusão de dogmas protestantes ao formalismo dos teses afixadas na Catedral de Wittenberg, é correto
ritos católicos. afirmar que entre elas Lutero rejeitou:
HISTÓRIA
o indivíduo era responsável perante Deus. De acordo disposição do homem em adotar certos tipos de conduta
com suas possibilidades, devia tentar utilizar os meios racional prática [...]. As forças mágicas e religiosas e as
que Deus lhe dera para se aperfeiçoar, dar a seus ideias éticas de dever nelas baseadas têm estado sempre,
filhos chances de sucesso (principalmente por meio da no passado, entre as mais importantes influências
educação) e trabalhar de maneira a se tornar um exemplo formativas de conduta.
para seus próximos, seus vizinhos e sua congregação.
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo.
GARRISSON [s. d.]. p. 60. São Paulo: Pioneira, 1981. p. 09.
A concepção calvinista quanto à relação entre o homem Uma das mais conhecidas explicações sobre a origem
e os bens resultantes do esforço do trabalho propiciou, do capitalismo é a do sociólogo alemão Max Weber, que
de acordo com o texto, a postula a afinidade entre a ética religiosa e as práticas
A) superação do medo da acumulação de riquezas, vista capitalistas. Essa relação se mostra claramente na ética
anteriormente como pecado, e, a partir daí, como do
sinônimo de progresso.
A) Catolicismo romano, que por meio da cobrança
B) condenação do lucro resultante da circulação do de dízimos e vendas de indulgências estimulou a
capital usurário, incentivado pelas nascentes casas acumulação de capital.
bancárias da época.
B) Puritanismo calvinista, que concebe o sucesso
C) defesa do justo preço e do lucro limitado, como eram
econômico como indício da predestinação para a
praticados nas corporações de ofícios das cidades
salvação.
medievais.
C) Luteranismo alemão, que defendia que cada pessoa
D) queda dos antagonismos econômicos entre
devia seguir a sua vocação profissional para conseguir
comerciantes católicos e protestantes, na Europa
da época. a salvação.
E) valorização do ócio e do lazer, como sinais de riqueza, D) Anglicanismo britânico, que, ao desestimular as
prestígio e felicidade. esmolas, permitiu o incremento da poupança nas
famílias burguesas.
E) Catolicismo Ortodoxo, que, ao abrir mão dos luxos
EXERCÍCIOS nas construções arquitetônicas, canalizou capital para
A proposta educacional de Lutero, referida no comentário 06. (Unicamp-SP) Uma pobre mulher, enforcada em 1739
anterior, está diretamente relacionada IW9P
por ter roubado carvão, acreditava que não houvesse
A) à defesa, por parte dos reformadores, da liberdade de pecado nos pobres roubarem os ricos e que, de qualquer
interpretar a Bíblia, de modo que qualquer fiel tivesse forma, Cristo havia morrido para obter o perdão para tais
acesso às fontes da doutrina. pecadores.
B) ao desejo de facilitar para os fiéis a leitura da Vulgata, HILL, Christopher. A Bíblia Inglesa e as revoluções
tradução da Bíblia em latim, aceita como versão oficial do século XVII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
da Igreja Luterana. 2003. p. 608.
C) ao projeto de melhoria da instrução do povo para que
este pudesse compreender a doutrina luterana, cujo Considerando o trecho anterior, podemos afirmar, quanto
ensino era de competência exclusiva dos sacerdotes. à sociedade inglesa dos séculos XVII e XVIII, que
D) à proposta de difusão da leitura entre o povo, para A) a religião fornecia argumentos para diversos grupos
que este conhecesse os catecismos produzidos no sociais agirem de acordo com seus interesses e
Concílio de Trento. necessidades.
B) ainda dominava na sociedade inglesa a ideia da
04. (FGV-SP) Diversas tensões e diversos conflitos europeus necessidade da confissão intermediada pela Igreja
QS2U
ocorridos nos séculos XVI e XVII foram motivados ou para perdão dos pecados.
intensificados por questões de natureza religiosa. Dentre
eles, um dos mais conhecidos episódios é a “Noite de São C) a reforma anglicana, ao atacar a propriedade privada,
Bartolomeu”, de 24 de agosto de 1572. A esse respeito, distanciou-se das elites inglesas e tornou-se a religião
é correto afirmar: dos pobres.
A) Trata-se do massacre de judeus, em Amsterdã, por D) as revoluções Puritana e Gloriosa foram um obstáculo
católicos holandeses, que precedeu o estabelecimento ao desenvolvimento burguês da Inglaterra e
do Tribunal do Santo Ofício nas Províncias Unidas. contrapunham-se à relação entre religião e política.
B) Trata-se da noite de celebração, na França, do acordo
entre protestantes e católicos, que pôs fim a anos de 07. (UFJF-MG) No início do século XVI, a Igreja Católica
intensos conflitos entre seguidores das duas religiões. passou por um amplo processo de reformulação
C) Trata-se da cerimônia de encerramento do Concílio de doutrinal e administrativa, chamado de Reforma Católica
Trento, quando se decidiu pela condenação das ideias (ou Contrarreforma). Paralelamente, as Coroas de
luteranas e pela perseguição de seus seguidores. Portugal e Espanha ajudavam no fortalecimento da Igreja
Católica, mas também buscavam se transformar em
D) Trata-se da decisão tomada pelos monarcas
Habsburgos no sentido de banir os protestantes do instrumentos para a “salvação da humanidade”, através
território do império espanhol. da conquista e da colonização de novas terras. Qual dos
eventos a seguir não faz parte desse contexto?
E) Trata-se do massacre de cerca de 30 mil huguenotes,
que intensificou, na França, a animosidade entre A) O Concílio de Trento, que reuniu diversos religiosos
católicos e protestantes. com o objetivo de posicionar-se frente às críticas
protestantes e reafirmar os dogmas católicos.
05. (UFG-GO) No século XVI, com a ocorrência da Reforma B) A criação do Index Librorum Proibitorum, que se
e da Contrarreforma, católicos e protestantes, apesar constituía numa lista de livros proibidos por atacarem
de manterem o tronco comum no cristianismo, passam
os dogmas católicos ou atentarem contra eles.
a divergir quanto às práticas e às explicações para suas
crenças. Considerando as divergências, conclui-se que, C) A difusão do projeto colonizador, segundo o qual o
em relação à hierarquia religiosa, lucro era legítimo e o trabalho era uma vocação divina
e que possibilitava o acúmulo de riquezas, como sinal
A) os católicos aceitaram o poder temporal dos reis,
constituindo uma relação de submissão da Igreja em de predestinação.
relação ao Estado. D) O Padroado Real, através do qual os monarcas ibéricos
B) os luteranos aceitaram a relação direta entre Deus e eram autorizados a administrar os assuntos religiosos,
o fiel por meio da oração, sem dispensar a figura de tanto no reino como nas terras de Além-Mar.
um religioso. E) A fundação da Companhia de Jesus, uma vez que os
C) os católicos negavam a autoridade dos clérigos, jesuítas atuavam como educadores e catequizavam
indignados com o privilégio que eles tinham como os povos nativos nas colônias portuguesas
intérpretes das Escrituras. e espanholas.
D) os calvinistas conservaram o ritual litúrgico
determinado por Roma, mantendo o culto aos santos 08. (FGV-SP) John Wycliff (1320-1384) propunha o retorno
e à Virgem Maria. a uma Igreja pura, pobre, defensora de uma economia
E) os luteranos aboliram os sacramentos do batismo e coletiva. O inglês Wycliff era contra as propriedades
da eucaristia, rompendo com o ordenamento proposto da Igreja, o que também desagradava à burguesia
pelo cristianismo. nascente, defensora exatamente da propriedade.
30 Coleção 6V
Reforma e Contrarreforma
Suas ideias reformistas alimentaram as Insurreições Não queremos que nosso senhorio aumente suas exigências,
Camponesas de 1381, das quais participou pessoalmente. mas que se atenha ao acordo estabelecido entre ambas
Foi excomungado em 1382. as partes.
MANIFESTO dos camponeses. 1525. In:
As críticas de Wycliff deixaram marcas em seus
MARQUES, Adhemar Martins; BERUTTI, Flávio Costa; FARIA,
discípulos, sobretudo porque ele era contra as indulgências
Ricardo de Moura. História Moderna através de textos.
[...]. Mas ele era também contra os sacramentos, contra São Paulo: Contexto, 1990. p. 128 (Adaptação).
os santos e propunha ainda uma reforma dos costumes
O texto destacado consiste em trechos do manifesto
políticos [...].
elaborado pelo movimento camponês da Alemanha, no
Adepto de Wycliff, o tcheco Jan Hus (1369-1415) século XVI, durante a chamada Reforma Protestante.
atacou, em 1402, o clero católico, denunciando-o como A partir do documento e de seu contexto histórico,
um conjunto de “príncipes” não espirituais, verdadeiros explique
potentados terrestres. [...] Considerado herético, A) as críticas e as reivindicações do movimento
foi condenado à morte na fogueira (1415). camponês expressas no manifesto.
B) a reação de Martinho Lutero e da nobreza alemã
HISTÓRIA
MOTA, Carlos Guilherme.
diante da revolta camponesa.
História moderna e contemporânea. 1989.
02. A penetração das ideias de Lutero na Inglaterra teve A desvalorização do papel do clero como autoridade
importantes repercussões, que contribuíram para a mediadora e legitimadora reforçou a relevância da
criação do anglicanismo. Assim, com o apoio da nobreza centralidade das Sagradas Escrituras, designadamente na
e da burguesia, há muito desejosas de livrarem-se do relação direta com o crente, distanciada das componentes
sacramentais e devocionais e assente num caráter mais
pagamento de tributos à Igreja, o rei Henrique VIII
próximo da intimidade.
desencadeia a Reforma Religiosa no país. O conflito entre
o soberano e o papa, suscitado pela recusa deste em LEITE, Rita Mendonça. Representações do protestantismo na
anular o casamento de Henrique VIII com Catarina de sociedade portuguesa contemporânea: da exclusão à liberdade
de culto (1852-1911). Lisboa: FTC, 2009. [Fragmento]
Aragão, acabou resultando na criação da Igreja Anglicana.
Entre as teses de Lutero apresentadas a seguir, infere-se Qual dos princípios da religião protestante melhor
que a que influiu decisivamente na Reforma Religiosa na se enquadra na análise da autora a respeito das
Inglaterra foi: transformações propostas por Lutero?
03. Sem dúvida você está certo em conferir ao homem algum 09.
tipo de livre-arbítrio, mas imputar-lhe um arbítrio que
seja livre nas coisas de Deus é demais.
• A) Acreditando que Lutero criara uma nova doutrina
que se opunha aos abusos do clero e da nobreza, os
camponeses promoveram uma série de revoltas na
MARTINHO Lutero a Erasmo de Rotterdam. [16 – –].
Alemanha em 1524. Esse manifesto se insere nesse
Por decreto de Deus, para manifestação de sua glória, contexto de descontentamento geral. Nele, os
alguns homens são predestinados à vida eterna e outros camponeses criticam abertamente a exploração que
são predestinados à morte eterna. sofriam nas mãos de seus senhores, apresentando
preocupação com as obrigações e encargos que
CALVINO, João. [16 – –]. “aumentam dia a dia”. Nesse sentido, o manifesto
Há uma lei imanente que dirige o mundo; na verdade, reivindica que “esse assunto seja examinado”,
leis que se subordinam à Lei Primeira. Sair da ordem de forma a diminuir os deveres servis. Além disso,
há também uma clara insatisfação com a situação
natural, o que o homem pode, devido ao seu livre-arbítrio,
agrária, em que as terras comunais, cada vez mais,
é ser mau, e é ele por isso responsável.
eram tomadas pelos nobres e pela Igreja Católica,
AQUINO, Tomás de. [13 – –]. gerando uma forte concentração fundiária. Nesse
sentido, os camponeses exigiam uma distribuição
As ideias apresentas indicam que
de terra mais justo, com a devolução das
A) as posturas adotadas pelos reformadores eram terras comunais.
divergentes quanto à salvação.
B) a vontade de Deus é soberana, ainda que o homem
• B) Lutero se posicionou completamente contra as
rebeliões camponesas de 1524. Isso não apenas por
tenha sua parcela de autonomia. ser politicamente conservador, mas principalmente
porque precisava do apoio da nobreza para
C) Tomás de Aquino confirma os propósitos luteranos,
difundir a sua doutrina. Dessa maneira, repudiou
divergindo do radicalismo calvinista.
violentamente as ações dos revoltosos e passou a
D) a postura menos intransigente de Lutero quanto à defender a execução de todos eles. E os nobres,
salvação lhe permitiu a condução da Reforma. temerosos com os avanços dos camponeses,
E) o livre-arbítrio é o caminho mais adequado para a organizaram tropas para reprimir os motins. Cerca
de 100 mil camponeses foram mortos nos embates.
salvação, segundo os pensadores.
04. Lutero desenvolveu uma nova perspectiva sobre a Seção Enem Acertei ______ Errei ______
problemática salvífica, encetando simultaneamente
o processo de criação de um ambiente de discussão
• 01. C • 02. E • 03. B • 04. C
32 Coleção 6V
FRENTE MÓDULO
HISTÓRIA A 09
Revolução Inglesa
De acordo com o historiador Christopher Hill, “o século XVII
é decisivo na história da Inglaterra. É a época em que a
ECONOMIA INGLESA
Idade Média chega ao fim” (HILL, Christopher. O eleito de Existia na Inglaterra do século XVII uma estrutura
Deus. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. p. 13.). econômica que comportava, simultaneamente, resquícios
Essa afirmação está relacionada à ocorrência da Revolução feudais persistentes e elementos do sistema capitalista.
Inglesa, que aboliu os direitos feudais e submeteu o rei ao Embora a atividade mais dinâmica fosse o comércio,
poder do Parlamento. Abria-se, a partir daquele momento, a economia inglesa ainda se mantinha dependente,
o caminho para a consolidação das relações capitalistas e da em grande parte, das atividades agrícolas.
monarquia parlamentar como forma de organização política.
As transformações ligadas ao desenvolvimento da
Ao final do processo revolucionário, ocorreu a ascensão economia capitalista também podiam ser sentidas no
de novos grupos ao poder político e o fim das tentativas de mundo rural. Afinal, desde a Idade Média, vinha ocorrendo o
absolutização do poder real na Inglaterra. A burguesia e a processo de transformação da estrutura agrária na Inglaterra.
pequena nobreza, identificada com os valores burgueses, Conhecido como cercamento ou enclosures, esse processo,
a gentry, passaram, por meio da ação no Parlamento, que consistia na transformação das terras comuns em
a impor limites à atuação dos monarcas ingleses. O processo propriedades privadas, intensificou-se no século XVII.
de marginalização da Coroa em relação aos assuntos Em um primeiro momento, os campos comunais eram
políticos recrudesceu, fazendo com que os reis ingleses vinculados a uma relação tradicional com a terra. Nesses locais
desempenhassem um papel cada vez mais simbólico. pouco valorizados, os camponeses mais pobres podiam cortar
madeira, colher lenha para a construção, pescar e criar rebanhos.
A partir de então, assiste-se a um reforço dos rituais,
Em muitos casos, as terras eram ocupadas por trabalhadores
cada vez mais suntuosos, fundamentais para a construção
empobrecidos em busca de residência. Porém, com os
da imagem pública dos reis. O gradativo afastamento da
cercamentos, esses campos eram reunidos, transformados
atividade política foi compensado pelo incremento das
em propriedade privada, e sua produção era direcionada
manifestações públicas da monarquia inglesa.
para a economia de mercado.
34 Coleção 6V
Revolução Inglesa
HISTÓRIA
monopólios sobre produtos de largo consumo, como carvão,
Durante a dinastia Tudor (1485-1603), houve pouca
sabão, cerveja e manteiga.
oposição do Parlamento aos interesses dos monarcas
A política fiscal, somada à repressão religiosa e à política
ingleses. Os vários setores sociais beneficiados naquele
externa de Jaime I – que se aproximou da Espanha, católica e
contexto evitaram manifestar sua oposição por meio da ação
antiga rival inglesa –, provocou uma grande rivalidade entre o
no Parlamento. A descrição a seguir auxilia na compreensão
monarca e o Parlamento. As pressões persistiram até a morte
dessas relações:
do rei em 1625, quando seu filho Carlos I assumiu o poder.
Após algumas derrotas iniciais, as forças de oposição ao Ficou provado pela experiência que a função do rei neste
rei obtiveram vitória com o estabelecimento de uma nova país é inútil, onerosa e um perigo para a liberdade,
forma de organização militar. O Exército de Novo Tipo, a segurança e o bem-estar do povo; por isso, de hoje em
ou new model army, foi liderado por um puritano membro da diante, tal função fica abolida.
gentry chamado Oliver Cromwell. O Exército revolucionário
valorizou, em sua estrutura, o mérito e a capacidade
Fazendo cumprir a sentença, no dia 30 de janeiro de 1649,
individual, sendo, portanto, o merecimento, e não a distinção
Carlos I foi executado e, no mesmo ano, foi proclamada a
pelo nascimento, o critério para a ascensão militar.
República na Inglaterra.
36 Coleção 6V
Revolução Inglesa
RESTAURAÇÃO E EXERCÍCIOS DE
REVOLUÇÃO GLORIOSA APRENDIZAGEM
Após a morte de Oliver Cromwell em 1658, seu filho
Richard assumiu, mas a sua falta de habilidade política 01. (UFV-MG) Sobre as Revoluções Inglesas do século XVII,
inviabilizou a sua permanência no poder. A possibilidade de é correto afirmar que:
eclosão de novos conflitos e da emergência de novos grupos
radicais gerou um clima propício para que a dinastia Stuart, A) Oliver Cromwell evitou a centralização do poder
pudesse ser restaurada na Inglaterra. quando se tornou o Lorde Protetor da Inglaterra em
1653, pois repudiava o poder absolutista.
Com o apoio dos grupos conservadores à restauração
monárquica, Carlos II (1660-1685), filho de Carlos I, assumiu B) após a guerra civil da década de 1640, o rei Carlos I foi
o trono, marcando o retorno da dinastia Stuart ao trono executado e a República na Inglaterra foi estabelecida
inglês. Carlos II procurou manter relações menos tensas com temporariamente.
o Parlamento, temendo seguir o mesmo destino de seu pai.
C) Guilherme de Orange, um dos líderes do Exército
Em seu governo, no entanto, o monarca exigiu a exumação
Revolucionário que lutou na década de 1640 contra
do corpo de Cromwell e enforcou o cadáver em praça pública.
HISTÓRIA
Em seus 25 anos de reinado – marcados pela expansão comercial o poder absolutista do rei Carlos I, foi coroado como
inglesa –, Carlos II submeteu-se à maioria das imposições do o novo rei inglês.
Parlamento e foi sucedido por seu irmão, Jaime II. D) a Revolução Gloriosa (1688) representou a ascensão
Com uma postura diferente do seu antecessor, Jaime II ao poder dos grupos sociais mais radicais que
(1685-1688) estabeleceu uma política favorável à aristocracia, aboliram a propriedade privada.
que teve parte dos seus bens restituída. Jaime II, que havia
se convertido ao catolicismo, beneficiou também os católicos, 02. (FGV-SP) A história da monarquia inglesa foi marcada por
de forma que esse grupo passou a gozar de alguns benefícios
transformações decisivas nos séculos XVI e XVII.
fiscais e a ocupar importantes cargos políticos.
Sobre tais mudanças, é correto afirmar:
A tensão política gerada pela intransigência de Jaime II e
A) Pelo Ato de Supremacia de 1534, o monarca
a ameaça da eclosão de um novo movimento revolucionário
levaram parte da elite dominante e do clero anglicano a Henrique VIII regularizou o divórcio na Inglaterra
promover um golpe palaciano. O processo, denominado e dissolveu o Parlamento, consolidando assim seu
Revolução Gloriosa, por não ter levado a uma nova poder absoluto.
guerra civil, retirou Jaime II do trono. B) Pelo Ato de Sucessão de 1543, o direito ao trono inglês
A abdicação deu-se em favor de seu genro, Guilherme de tornava-se restrito exclusivamente aos herdeiros
Orange, nobre protestante de origem holandesa. Declarado masculinos.
rei pelo Parlamento, Guilherme I foi submetido à Declaração C) Em 1651, foram promulgados os Atos de Navegação,
dos Direitos, ou Bill of Rights, documento que estabeleceu
que condenavam o tráfico de escravos e legitimavam
a hegemonia do Parlamento sobre a monarquia e concedeu
as investidas inglesas contra navios negreiros.
tolerância religiosa aos puritanos.
D) A monarquia inglesa foi abolida em 1649, durante
Estavam estabelecidas, portanto, as bases para a monarquia
parlamentar e a consolidação da ordem liberal que passaria a revolução liderada por Oliver Cromwell, e foi
a vigorar na Inglaterra a partir de então. restaurada em 1660.
E) A Carta de Direitos de 1689 restabelecia os privilégios
Que é ilegal toda cobrança de impostos para a Coroa sem o B) o surgimento da monarquia absoluta e as guerras
concurso do Parlamento, sob pretexto de prerrogativa, ou em contra a França napoleônica.
época e modo diferentes dos designados por ele próprio.
C) o reconhecimento do catolicismo como religião oficial e o
[...]
fortalecimento da ingerência papal nas questões locais.
Que o ato de levantar e manter dentro do país um exército
em tempo de paz é contrário à lei, se não proceder autorização D) o fim do anglicanismo e o início das demarcações das
do Parlamento. terras comuns.
INGLATERRA. Bill of Rights. 1689. In: NEVES, J. R. de C. E) o fortalecimento do Parlamento e o aumento,
Como os advogados salvaram o mundo. Rio de Janeiro:
no governo, da influência dos grupos ligados às
Editora Nova Fronteira, 2018. [Fragmento]
atividades comerciais.
04. (FAMERP-SP–2016) O período de 1603 a 1714 foi C) envolveram conflitos religiosos que, juntamente com
talvez o período mais decisivo na história da Inglaterra. as disputas políticas e sociais, desembocaram na
[…] Jaime I e seu filho [na primeira metade do século retomada do poder pelos católicos e em perseguições
XVII] destituíram juízes que atuavam de forma muito contra protestantes.
independente, contrariando desejos da realeza; após D) geraram um Estado monárquico em que o poder
1701, os juízes só poderiam ser removidos de suas real devia se submeter aos limites estabelecidos
funções por meio de notificações de ambas as Casas do pela legislação e respeitar as decisões tomadas
Parlamento. pelo Parlamento.
HILL, Christopher S. O século das revoluções, E) precederam as revoluções sociais que, nos dois
1603-1714. 2012. séculos seguintes, abalaram França, Portugal e as
colônias na América, provocando a ascensão política
O excerto descreve transformações ocorridas na história do proletariado industrial.
inglesa no sentido
A) de extinção da monarquia e de proclamação da 02. (UFJF-MG) Leia o fragmento a seguir:
república parlamentarista. O século XVII é decisivo na história da Inglaterra.
B) de fortalecimento do feudalismo e de conquista do Os problemas desse país não lhe são privativos. Toda
parlamento pela nobreza. a Europa enfrentava uma série de conflitos, revoltas e
guerras civil. [...] Contudo, apenas na Inglaterra ocorreu
C) de ascensão do poder popular e de controle do
uma ruptura decisiva no século XVII.
parlamento pelos camponeses.
HILL, C. O eleito de Deus: Oliver Cromwell
D) de abolição do absolutismo e de reforço do poder
e a Revolução Inglesa.
do parlamento.
E) de ampliação dos direitos do Estado e de domínio do Essa ruptura ficou conhecida como Revolução Inglesa,
parlamento pelos juízes. um processo que se estendeu de 1640 a 1660. A respeito
desse processo, é incorreto afirmar que
05. (PUC-SP) O Ato de Navegação de 1651 foi editado por A) foi decisivo na derrocada do absolutismo na Inglaterra.
Oliver Cromwell, no contexto das chamadas Revoluções B) consolidou um mercado nacional, com um governo
Inglesas do século XVII. Era uma forma de que priorizava as questões comerciais.
A) assegurar mercado consumidor para produtos C) privilegiou os interesses dos setores agrários e da
ingleses e impedir a concorrência de novas potências Igreja Católica, que passaram a ser financiados
industriais, como a França e a Alemanha. pelo governo.
B) obter maior controle sobre a circulação marítima D) as decisões tomadas durante esse processo
comercial e, dessa forma, ampliar a presença britânica garantiram que a Inglaterra fosse governada por uma
sobre os mares. assembleia representativa.
C) beneficiar os interesses da nobreza britânica, que E) foi marcado por manifestações no campo contra as
finalmente conseguia se impor à burguesia nas lutas mudanças no regime de propriedade da terra, com
religiosas, sociais e políticas internas. destaque para grupos como os diggers e levellers.
38 Coleção 6V
Revolução Inglesa
C) foram um movimento que retardou a chegada da 06. (FGV-SP) A linha mais secular associa-se com os levellers
Revolução Industrial por terem levado a nação a Z8VN e os diggers, os quais, embora seus programas diferissem
afundar-se numa guerra civil sem fim. muito, ofereciam soluções políticas e sociais para os males
D) serviram para fortalecer a figura do rei e da monarquia terrenos. Tais grupos surgiram dos acalorados debates,
absolutista em detrimento do Parlamento e da gentry. realizados em Putney em 1647, entre oficiais do exército
(favoráveis aos grandes comerciantes e donos das
E) estabeleceram uma nova realidade política e religiosa,
propriedades rurais) e os “agitadores”, que representavam
pois o Parlamento consolidou seus direitos, e os não
as fileiras da tropa.
anglicanos tiveram garantia de tolerância religiosa.
RUDE, George. Ideologia e protesto popular apud MARUES,
Adhemar et al. História contemporânea através de textos.
04. (ESCS-DF) As primeiras revoluções burguesas tiveram
74PS lugar na Inglaterra, no século XVII, com a Revolução No contexto das revoluções inglesas do século XVII, os
Puritana (1649-1658) e a Revolução Gloriosa (1688), levellers se constituíam em um grupo
expressando um confronto entre o Parlamento, sob A) moderado, ligados à pequena nobreza rural,
a liderança da burguesia e da gentry, e os monarcas e defensores da articulação entre os interesses do
da dinastia Stuart com práticas absolutistas. Uma das rei Carlos I e do Parlamento, além de reivindicarem
consequências geradas por esses dois movimentos o poder religioso para os presbiterianos.
HISTÓRIA
revolucionários burgueses é: B) extremista, com representantes entre os camponeses
A) O fortalecimento da nobreza inglesa através da criação sem terra, aliados aos presbiterianos, defensores de
do sistema parlamentarista com a Revolução Gloriosa uma sociedade que abolisse a propriedade privada e
de 1688. o dízimo pago à Igreja Anglicana.
B) A total falência do sistema econômico inglês em C) moderado, ligados a médios proprietários rurais, e
função do favorecimento do Estado inglês ao sistema aliados ao Novo Modelo de Exército liderado por Oliver
manufatureiro da burguesia local. Cromwell, defendiam o controle sobre o poder real e
ampliação do poder do Parlamento.
C) O retorno da Igreja Católica como religião oficial dos
ingleses em função da aliança entre a burguesia e os D) radical, pertencentes à pequena burguesia urbana,
Estados Pontificiais na Revolução Puritana. que defendiam uma série de transformações sociais,
como a restrição às grandes propriedades e separação
D) O controle da política inglesa pela Câmara dos Lordes,
entre Igreja e Estado.
representando a vitória da nobreza local durante a
Revolução Gloriosa. E) conciliador, formado pela grande burguesia urbana,
aliados da gentry e dos independentes, eram
E) A consolidação da Inglaterra como potência econômica defensores da ampliação do poder do Parlamento e
após o fortalecimento da burguesia no poder inglês da liberdade econômica.
com a Revolução Gloriosa.
07. (UFMG) A Revolução Inglesa, no século XVII, foi longa
05. (Mackenzie-SP) A Revolução Gloriosa, na Inglaterra e bastante significativa para a consolidação do mundo
(1688-1689), marcou o início de uma época de grande político moderno. Nesse processo revolucionário, podem
prosperidade para o país, lançando as bases para o ser identificados dois grandes momentos: a Revolução
desenvolvimento capitalista, e permitiu que o país fosse o de 1640, ou Revolução Puritana, e a Revolução de 1688,
pioneiro na Revolução Industrial do século XVIII. Podemos ou Revolução Gloriosa.
estabelecer uma relação entre os dois eventos porque
1. O adjetivo utilizado para identificar, ou nomear, cada um
A) o governo passou a impor a religião anglicana, dando desses dois momentos da Revolução Inglesa é bastante
fim aos conflitos religiosos e aos massacres entre sugestivo para a caracterização deles. Explique o que,
católicos e protestantes, liberando mão de obra para em cada uma das duas fases, levou ao uso do
as novas técnicas de produção. respectivo adjetivo para a identificação do momento.
B) o poder real, com a retomada do absolutismo, não 2. Analise duas implicações políticas decorrentes do
encontra empecilhos para dar fim ao sistema feudal processo revolucionário inglês do século XVII.
e incentivar a prática capitalista para aumentar os
recursos do Tesouro Nacional.
C) o país, com o advento do Parlamentarismo, passou por SEÇÃO ENEM
transformações, como o acordo político e econômico
entre a burguesia e a nobreza rural que, juntas, 01. (Enem)
promoveram o desenvolvimento econômico.
Que é ilegal a faculdade que se atribui à autoridade
D) tanto a tolerância religiosa quanto uma maior real para suspender as leis ou seu cumprimento. Que
liberdade de expressão política por parte da sociedade é ilegal toda cobrança de impostos para a Coroa sem o
civil, características do despotismo esclarecido, concurso do Parlamento, sob pretexto de prerrogativa,
incentivaram o desenvolvimento econômico. ou em época e modo diferentes dos designados por ele
E) o desenvolvimento de uma monarquia, com próprio. Que é indispensável convocar com frequência os
características de um Estado liberal, permitiu a Parlamentos para satisfazer os agravos, assim como para
união de todas as classes sociais na Inglaterra, o corrigir, afirmar e conservar as leis.
que permitiu a modificação das relações trabalhistas Declaração de Direitos. Disponível em: <http://disciplinas.
no campo. stoa.usp.br>. Acesso em: 20 dez. 2011 (Adaptação).
No documento de 1689, identifica-se uma particularidade Os soldados eram tratados como homens e a regra
da Inglaterra diante dos demais Estados europeus na absoluta de promoção por méritos (que significavam
Época Moderna. A peculiaridade inglesa e o regime político distinção na batalha) produziu uma hierarquia simples
que predominavam na Europa continental estão indicados, de coragem. Por outro lado, o Exército era uma carreira
respectivamente, em como qualquer outra das muitas abertas ao talento pela
A) redução da influência do Papa – Teocracia. revolução burguesa, e os que nele obtiveram sucesso
tinham um interesse investido na estabilidade interna
B) limitação do poder do soberano – Absolutismo. como qualquer outro burguês.
C) ampliação da dominação da nobreza – República. HOBSBAWM, Eric. A Era dos extremos – O breve século XX
D) expansão da força do presidente – Parlamentarismo. (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
E) r e s t r i ç ã o d a c o m p e t ê n c i a d o c o n g r e s s o – A visão apresentada sobre o Exército em ambos os textos
Presidencialismo. corrobora a noção de que
A) os padrões aristocráticos de origem medieval serviam
02. como base para a formação até os momentos
retratados em ambos os textos.
B) as noções de promoção pelo valor pessoal e de
carreira aberta ao talento se chocavam com a
mentalidade burguesa.
C) as ideias liberais tiveram repercussão limitada,
sendo a sua presença restrita às relações entres os
burgueses na esfera econômica.
D) a bravura e a capacidade militar eram medidas de
acordo com a posição que os indivíduos ocupavam
na sociedade.
Domínio Público
40 Coleção 6V
FRENTE MÓDULO
HISTÓRIA A 10
Iluminismo
O Iluminismo, também conhecido como Ilustração,
foi o conjunto de ideias que, no século XVIII, serviu de base
CONTEXTO
teórica para as contestações que levaram à queda do Antigo O Iluminismo pode ser enquadrado em um processo
Regime. Os iluministas formularam uma série de propostas mais amplo que teve suas origens no final da Idade Média.
que abrangiam os campos da política, da sociedade, O Renascimento e, posteriormente, a Revolução Científica
da economia e da religião. teriam iniciado esse processo, no qual o conhecimento
Por meio da publicação de seus textos (muitas vezes de humano seria, gradativamente, afastado da influência da
forma clandestina) em livros, jornais e panfletos, os iluministas Igreja e da religião.
defendiam alguns temas que servem de fundamento,
Alguns importantes pensadores do século XVII serviam
ainda hoje, para a vida em sociedade. Apesar de esses
de inspiração para o Iluminismo, que viveu o seu auge
pensadores divergirem em vários pontos, podem-se definir
no século XVIII, também chamado de Século das Luzes.
algumas características comuns desse movimento.
Foi principalmente a partir da França que o pensamento da
As críticas dos iluministas se voltavam, principalmente, para Ilustração se irradiou para o restante do continente europeu
a organização do Estado absolutista e sua política econômica e do planeta.
mercantilista, tendo sido a Igreja também um dos alvos
O Iluminismo apresenta íntima relação com o fortalecimento
das contestações. Pode-se dizer, de modo geral, que esses
da burguesia, pois o desenvolvimento econômico desse
pensadores defendiam a liberdade de forma categórica, fosse
ela política, de comércio, de expressão ou religiosa. grupo, desde o final de Idade Média, não havia sido
acompanhado pela tomada do controle político dos Estados
De acordo com esses pensadores, o Estado absolutista
Modernos. Isso ocorreu porque a sociedade do Antigo Regime
e suas rígidas hierarquias sociais impediam a garantia
ainda era marcada por práticas que mantinham privilégios
dos direitos inalienáveis do homem. A persistência dessas
para o grupo menos produtivo da sociedade, a nobreza.
instituições se tornava inadmissível para os iluministas,
A defesa dos direitos inalienáveis passou a ser encampada
que acreditavam que os homens eram portadores de
pela burguesia e serviu de justificativa para a tomada do
direitos naturais dos quais não podiam ser privados, como
poder político por essa classe.
a liberdade, a igualdade e a propriedade privada. Desse
pensamento resulta o fato de as monarquias absolutistas e Associado ao individualismo burguês, o ideário iluminista,
a Igreja serem os principais alvos dos ataques. que defendia a liberdade política e econômica, serviu como
Como princípio do movimento, os iluministas reafirmavam base para os movimentos que destruíram as estruturas
a razão como a base do conhecimento, radicalizando, do Antigo Regime. As revoluções burguesas na Europa e
desse modo, as mudanças em relação ao pensamento as lutas por independência nas Américas são exemplos do
medieval provocadas pelo Renascimento e pela Revolução alcance e das transformações provocadas por essas ideias.
Científica. O predomínio da razão conduziria inevitavelmente Tais movimentos foram precedidos por uma transformação
ao progresso e asseguraria ao homem a liberdade para a na maneira do homem de enxergar o mundo e a sociedade
busca de sua felicidade. Em uma só frase, o filósofo Diderot, em que vivia.
em carta a Voltaire, sintetiza os pontos comuns desse vasto
Por fim, é importante lembrar a distância existente entre
conjunto de ideias que é o Iluminismo:
as teorias e os ideais defendidos pelos iluministas e sua
Nossa divisa é: sem quartel aos supersticiosos, aos fanáticos, efetiva realização. Tomado o poder pela burguesia, as ideias
aos ignorantes, aos loucos, aos perversos e aos tiranos [...] mais radicais foram relativizadas e, apesar da consolidação
será que nos chamamos de filósofos para nada? da ordem liberal burguesa, a participação política ficou
DIDEROT. Carta de Diderot a Voltaire, restrita à alta burguesia, que buscou meios de preservar a
em 29 de setembro de 1762. [Fragmento]
propriedade privada.
Pensador, matemático e filosofo francês, considerado um dos A influência das ideias de Locke é evidente, por exemplo,
pensadores mais influentes da História, Descartes concedeu na Declaração de Independência dos Estados Unidos,
uma importante colaboração para o desenvolvimento da na qual se lê:
Ciência, da Filosofia e da Matemática Moderna. Em sua obra
mais importante, Discurso sobre o método, ele defende Cremos como verdades evidentes por si próprias que todos os
homens nasceram iguais, que receberam de seu Criador alguns
o racionalismo como forma de conhecimento e ressalta
direitos inalienáveis; que entre esses direitos estão a vida, a
o método dedutivo como modo de acesso à verdade. liberdade e a procura da felicidade; que é para assegurar esses
Em Meditações Metafísicas afirmou que, por meio da dúvida direitos que os governos foram instituídos entre os homens e seu
metódica o homem seria capaz de alcançar verdades justo poder advém somente do consentimento dos governados;
incontestáveis, como a existência de Deus e o fato de o todas as vezes que uma forma de governo torna-se destruidora
desses fins, o povo está no direito de modificá-la ou aboli-la e
homem ser um animal pensante. Em meio a essas questões,
instituir um novo governo [...].
surge a frase mais célebre do filósofo: “Penso, logo existo”.
EUA. Declaração de Independência dos Estados Unidos da
John Locke (1632-1704) América. 4 jul. 1776. [Preâmbulo]. [Fragmento]
42 Coleção 6V
Iluminismo
FILÓSOFOS ILUMINISTAS Para que isso não ocorra, deveria haver, portanto,
um equilíbrio entre os poderes Executivo, Legislativo e
O Iluminismo encontrou seu apogeu na França durante Judiciário, independentes entre si, de forma a garantir a
o século XVIII, quando as contestações ao Antigo Regime liberdade e impedir que um dos poderes tenha força excessiva.
e a luta pela garantia dos direitos naturais e da busca pela
felicidade do homem se intensificaram. Nesse contexto, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)
destacam-se as obras dos seguintes filósofos: Considerado um dos mais radicais dos homens do Iluminismo,
o pensador de origem suíça se afastou, em alguns pontos,
Voltaire (1694-1778) das ideias de seus contemporâneos. Seus ideais serviram de
Voltaire era crítico ferrenho do absolutismo, da nobreza e inspiração para a radicalização política ocorrida na fase jacobina
da religião. Influenciado pelas ideias de Locke, com as quais da Revolução Francesa.
teve contato durante o seu exílio na Inglaterra, defendia que
HISTÓRIA
os direitos naturais do homem deveriam ser garantidos pelo
governo. Não era, contudo, um democrata, sendo suas ideias
seguidas pelos chamados déspotas esclarecidos.
44 Coleção 6V
Iluminismo
HISTÓRIA
florescera nos últimos séculos do período medieval. sociais, e na ética, com a noção de desespero humano.
C) pregava a importância dos sentimentos em detrimento D) no aparecimento da filosofia, com a desmoralização
da razão e da religião, caracterizando a legitimidade das verdades reveladas pelos sistemas religiosos.
do Romantismo como expressão humana.
E) na ideologia, com a oposição à liberdade individual,
D) defendia a retomada de ideias e valores característicos e na política, com o apoio aos movimentos
da Antiguidade Clássica, como o politeísmo, republicanos.
a estratificação social e a vida urbana.
E) procurava fortalecer os movimentos sociais das 05. (UFV-MG) Leia o texto a seguir:
minorias à luz de descobertas científicas que
As nossas esperanças quanto à condição humana
afirmavam a inexistência das raças humanas.
podem reduzir-se a estes três pontos importantes:
a destruição da desigualdade entre as nações;
02. (Unifor-CE–2016) O Iluminismo foi um movimento
os progressos da igualdade num mesmo povo; e,
intelectual ocorrido na Europa, no século XVIII, que
finalmente, o aperfeiçoamento real do homem. Irão
teve grande influência no desenvolvimento da ciência,
todas as nações aproximar-se um dia do estado de
da cultura, da política e da filosofia. Um dos pensadores
civilização a que chegaram os povos mais esclarecidos
iluministas foi Montesquieu, que, a partir da obra [...] tal como os franceses e os anglo-americanos?
O Espírito das Leis, defendeu Irá desaparecer [...] a distância que separa estes povos
A) a separação das funções estatais em quatro esferas: [...] da barbárie das tribos africanas, da ignorância dos
Poder Legislativo, Poder Executivo, Poder Judiciário selvagens? [...] Respondendo a estas três perguntas
e Poder Moderador. encontraremos [...] os motivos mais fortes para acreditar
B) a necessidade de haver uma única autoridade que a natureza não pôs nenhum limite às nossas
(o Leviatã) a qual todos os membros devem se esperanças.
render de forma inquestionável, para que se possa CONDORCERT. Esboço para um quadro histórico do
atingir a paz. progresso do espírito humano. In: GARDINER, P. Teorias
da história. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1995. p. 69-70.
C) a distribuição de renda de forma justa e equilibrada
e o fim do sistema capitalista. Com base no texto de Condorcet (1743-1794), um
D) a necessidade da divisão racional das funções estatais, escritor do Século das Luzes, é correto afirmar que os
como forma de proteção às liberdades individuais, iluministas
evitando abusos e a concentração do poder em um
A) acreditavam que todas as nações desfrutavam
único titular.
do mesmo nível de desenvolvimento intelectual e
E) a existência de uma “mão invisível”, que orienta a tecnológico.
economia.
B) defenderam o ideal de liberdade e de igualdade entre
os homens, assim como acreditavam que todas as
03. (Unicamp-SP) Para os pensadores do século XVII, nações se encontravam no mesmo nível de civilização.
precursores do Iluminismo, a busca do conhecimento
C) consideravam que a condição humana era marcada
deveria ser guiada pela razão. pela decadência moral, que impedia o progresso.
A) Aponte três características do pensamento científico D) acreditavam na ideia de progresso e foram otimistas
do século XVII. quanto à superação dos desafios intelectuais e
B) Cite dois precursores do Iluminismo. tecnológicos impostos à humanidade.
46 Coleção 6V
Iluminismo
Na relação entre Indivíduo e Governo, o Liberalismo de 06. (UFTM-MG) Leia os dois excertos a seguir.
John Locke, como expresso no texto, estabelece que a
Consideramos estas verdades como evidentes por si
A) legitimação do poder deva advir do estado de medo.
mesmas, que todos os homens são criados iguais, dotados
B) subordinação ao poder do governo deva ser limitado. pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre
C) separação dos poderes deva ser a base da igualdade. estes estão a vida, a liberdade e a procura da felicidade.
D) subjugação deva provocar desejos libertários de Que a fim de assegurar esses direitos, governos são
poder. instituídos entre os homens, derivando seus justos
E) ação soberana deva resguardar a segurança do poderes do consentimento dos governados; que, sempre
cidadão. que qualquer forma de governo se torne destrutiva de
tais fins, cabe ao povo o direito de alterá-la ou aboli-la
05. (UFPA) O texto a seguir recupera uma obra iluminista
236O e instituir novo governo, baseando-o em tais princípios
dirigida por Denis Diderot e Jean Le Rond d’Alembert,
em 1772, na França, intitulada de Enciclopédia ou e organizando-lhe os poderes pela forma que lhe pareça
Dicionário racional das ciências, das artes e dos ofícios. mais conveniente para realizar-lhe a segurança e a
No texto, afirma-se que: felicidade.
HISTÓRIA
Na Enciclopédia não havia área do engenho humano DECLARAÇÃO de Independência dos EUA.
que não tivesse sido coberta. Ali se observava a
Disponível em: <www.direitoshumanos.usp.br> (Adaptação).
confiança de que os homens eram, ou poderiam ser em
breve, senhores de seu próprio destino, que poderiam A Assembleia Nacional reconhece e declara, em
moldar o mundo e a sociedade de acordo com as suas presença e sob os auspícios do Ser Supremo, os seguintes
conveniências e vantagens. Era o poder da razão.
direitos do homem e do cidadão:
Por isso mesmo a Enciclopédia não foi universalmente
I. Os homens nascem e permanecem livres e iguais
aceita. Poderes absolutistas civis e religiosos foram
perante a lei; as distinções sociais não podem ser
seus combatentes.
fundadas senão sobre a utilidade comum.
DENT, N. J. H. Dicionário de Rousseau.
Rio de Janeiro: Zahar, 1996. p. 125 (Adaptação). II. A finalidade de toda associação política é a conservação
dos direitos naturais e imprescritíveis do homem.
A Enciclopédia proposta por homens iluministas como
Diderot e D’Alembert foi criticada no contexto francês Esses direitos são a liberdade, a propriedade,
do final do século XVIII, porque, nesse momento, a segurança e a resistência à opressão.
o absolutismo e razão significavam III. O princípio fundamental de toda autonomia reside,
A) modos de viver compatíveis, nos quais as novas e essencialmente, na nação; nenhuma corporação,
modernas ideias iluministas eram absorvidas pelo
nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela
reis absolutistas, que percebiam nelas as vantagens
não emane expressamente.
de se moldar o mundo à sua forma e maneira,
tal qual Diderot em sua Enciclopédia, o que possibilitou DECLARAÇÃO dos direitos do homem e do cidadão, aprovada em
o advento da monarquia constitucional. 26 de agosto de 1789, pela Assembleia Constituinte francesa.
B) maneiras de fazer política muito diversas. Para Disponível em: <www.direitoshumanos.usp.br> (Adaptação).
os racionalistas, a política absolutista deveria ser
reestruturada ou revolucionada, pois os novos saberes A partir dos excertos anteriores, é correto concluir que
deveriam vir das experiências e das novas ciências e A) ambos reconhecem um conjunto de direitos comuns
não de Deus e seus emissários.
a todos os seres humanos e fazem referência à
C) formas incompatíveis de fazer política, pois o povo participação dos cidadãos na vida política.
francês era governado por um velho monarca
autoritário que se mantinha no poder devido à B) os trechos se contradizem, uma vez que apresentam
ignorância do povo. Já livros como a Enciclopédia concepções diferentes em relação à forma de governo
seriam a base da nova sociedade revolucionária e e aos direitos dos cidadãos.
anarquista proposta por Diderot.
C) os ideais apresentados nos trechos não chegaram
D) formas de governo inconciliáveis, pois o absolutismo
aos séculos XX e XXI, dominados por valores
era autoritário e ultrapassado. Já os enciclopedistas,
nacionalistas, que não se pautam pela noção de
como Diderot e D’Alembert, desejavam a derrubada
do Rei pelos revolucionários comunistas, formadores igualdade de direitos.
de ideias socialistas vinculadas ao marxismo D) o direito à rebelião popular não é reconhecido, uma
contemporâneo. vez que a obediência aos poderes instituídos é um
E) maneiras de governar muito distintas, pois os dever inalienável dos cidadãos.
enciclopedistas eram homens de letras, que iniciavam
carreira política nas fileiras dos liberais exaltados, E) as ideias defendidas pelos norte-americanos propõem
e o monarca absolutista era do partido conservador uma democracia mais ampla que a francesa,
francês. ainda marcada pelo absolutismo.
07. (FGV–2016) “O gênero humano é de tal ordem que não 09. (FUVEST-SP–2019)
pode subsistir, a menos que haja uma grande infinidade
de homens úteis que não possuam nada.”
IGUALDADE. In: Dicionário filosófico.
C) Montesquieu, que se inspirou na organização social C) concentração do poder nas mãos de elites técnico-
dos indígenas para elaborar a famosa teoria dos -científicas.
“três poderes”. D) estabelecimento de limites aos atores públicos e às
D) Jacques Rousseau, que elaborou a teoria do “bom instituições do governo.
selvagem”, defendendo a pureza das sociedades E) reunião das funções de legislar, julgar e executar nas
primitivas. mãos de um governante eleito.
48 Coleção 6V
Iluminismo
02. (Enem) Os produtos e seu consumo constituem a meta D) perspectiva desenvolvimentista, que atrelava o
declarada do empreendimento tecnológico. Essa meta foi progresso ao meio ambiente e difundia amplamente
proposta pela primeira vez no início da Modernidade, como um entendimento da relação harmoniosa entre
expectativa de que o homem poderia dominar a natureza. sociedade e natureza.
No entanto, essa expectativa, convertida em programa E) crença nos poderes da ciência e do desenvolvimento
anunciado por pensadores como Descartes e Bacon e tecnológico, que contribuiu para tratar a natureza
impulsionado pelo Iluminismo, não surgiu “de um prazer como objeto de quantificação, manipulação e
de poder”, “de um mero imperialismo humano”, mas da dominação.
aspiração de libertar o homem e de enriquecer sua vida,
física e culturalmente. 04. (Enem) O homem natural é tudo para si mesmo;
é a unidade numérica, o inteiro absoluto, que só se
CUPANI, A. A tecnologia como problema filosófico: três
relaciona consigo mesmo ou com seu semelhante.
enfoques. Scientiae Studia, São Paulo. v. 2. n. 4, 2004
O homem civil é apenas uma unidade fracionária que se
(Adaptação).
liga ao denominador, e cujo valor está em sua relação
Autores da Filosofia Moderna, notadamente Descartes e com o todo, que é o corpo social. As boas instituições
HISTÓRIA
Bacon, e o projeto iluminista concebem a ciência como sociais são as que melhor sabem desnaturar o homem,
uma forma de saber que almeja libertar o homem das retirar-lhe sua existência absoluta para dar-lhe uma
relativa, e transferir o eu para a unidade comum, de sorte
intempéries da natureza. Nesse contexto, a investigação
que cada particular não se julgue mais como tal, e sim
científica consiste em
como uma parte da unidade, e só seja percebido no todo.
A) expor a essência da verdade e resolver definitivamente
ROUSSEAU, J. J. Emílio ou da educação.
as disputas teóricas ainda existentes.
São Paulo: Martins Fontes, 1999.
B) oferecer a última palavra acerca das coisas que
existem e ocupar o lugar que outrora foi da Filosofia. A visão de Rousseau em relação à natureza humana,
conforme expressa o texto, diz que
C) ser a expressão da razão e servir de modelo para
A) o homem civil é formado a partir do desvio de sua
outras áreas do saber que almejam o progresso.
própria natureza.
D) explicitar as leis gerais que permitem interpretar a
B) as instituições sociais formam o homem de acordo
natureza e eliminar os discursos éticos e religiosos.
com a sua essência natural.
E) explicar a dinâmica presente entre os fenômenos
C) o homem civil é um todo no corpo social, pois as
naturais e impor limites aos debates acadêmicos.
instituições sociais dependem dele.
D) o homem é forçado a sair da natureza para se tornar
03. (Enem)
absoluto.
A cultura ocidental acentuadamente antropocêntrica foi
E) as instituições sociais expressam a natureza humana,
marcada por processos convergentes de desenvolvimento
pois o homem é um ser político.
técnico-científico e acumulação de riquezas, propiciados
pela expansão colonial, que resultaram na revolução
05. (Enem) É verdade que nas democracias o povo parece
industrial, no fortalecimento da ideia de progresso e no
fazer o que quer; mas a liberdade política não consiste
processo de ocidentalização do mundo. nisso. Deve-se ter sempre presente em mente o que é
FERREIRA, L. C. Dilemas do século XX: independência e o que é liberdade. A liberdade é o direito
ideias para uma sociologia da questão ecológica. de fazer tudo o que as leis permitem; se um cidadão
In: SILVA, J. P. (Org.) pudesse fazer tudo o que elas proíbem, não teria mais
Por uma Sociologia do século XX. liberdade, porque os outros também teriam tal poder.
São Paulo: Annablume, 2007 (Adaptação). MONTESQUIEU. Do espírito das leis.
São Paulo: Nova Cultural, 1997 (Adaptação).
Esse processo de acumulação de riquezas no Ocidente,
por longos séculos, se fez à custa da degradação do meio A característica de democracia ressaltada por Montesquieu
natural. Do ponto de vista da cultura e do imaginário diz respeito
ocidental moderno, isso se deveu à A) ao status de cidadania que o indivíduo adquire ao
A) ideologia revolucionária burguesa, que pregava a tomar as decisões por si mesmo.
repartição igualitária do direito de acesso aos recursos B) ao condicionamento da liberdade dos cidadãos à
naturais e agrícolas. conformidade às leis.
B) ideia de Renascimento, que representava os benefícios C) à possibilidade de o cidadão participar no poder e,
técnicos de transformação da natureza como salutares nesse caso, ser livre da submissão às leis.
para a preservação de ecossistemas. D) ao livre-arbítrio do cidadão em relação àquilo que é
C) concepção sacralizada de que a natureza, enquanto proibido, desde que ciente das consequências.
obra da criação de Deus, devia servir à contemplação E) ao direito de o cidadão exercer sua vontade de acordo
estética e religiosa. com seus valores pessoais.
06. (Enem) Leia as duas afirmações de Montesquieu (1689- Do ponto de vista político, podemos considerar o texto
1755) a seguir, a respeito da escravidão: anterior como uma tentativa de justificar
A escravidão não é boa por natureza; não é útil nem A) a existência do governo como um poder oriundo
da natureza.
ao senhor, nem ao escravo: a este porque nada pode
fazer por virtude; àquele, porque contrai com seus B) a origem do governo como uma propriedade do rei.
escravos toda sorte de maus hábitos e se acostuma C) o absolutismo monárquico como uma imposição da
insensivelmente a faltar contra todas as virtudes morais: natureza humana.
torna-se orgulhoso, brusco, duro, colérico, voluptuoso, D) a origem do governo como uma proteção à vida,
cruel. aos bens e aos direitos.
Se eu tivesse que defender o direito que tivemos de E) o poder dos governantes, colocando a liberdade
tornar escravos os negros, eis o que eu diria: tendo os individual acima da propriedade.
povos da Europa exterminado os da América, tiveram que
escravizar os da África para utilizá-los para abrir tantas
terras. O açúcar seria muito caro se não fizéssemos que
GABARITO Meu aproveitamento
escravos cultivassem a planta que o produz.
MONTESQUIEU, B. Do espírito das leis.
Aprendizagem Acertei ______ Errei ______
São Paulo: Abril Cultural, 1979 (Adaptação). • 01. A
escravidão.
• 04. A
econômico.
Propostos Acertei ______ Errei ______
D) o convívio com os europeus foi benéfico para os
escravos africanos.
• 01. B • 03. C • 05. B • 07. A
50 Coleção 6V
FRENTE MÓDULO
HISTÓRIA B 05
Implantação do Sistema
Colonial no Brasil
COMUNIDADES INDÍGENAS Os povos indígenas viviam da caça, da pesca, da agricultura
e da coleta de frutas. Preparavam frequentemente o solo,
utilizando as queimadas. A economia era voltada para a
A chegada dos portugueses à costa brasileira representou, subsistência, sendo comum entre os nativos apenas a troca
assim como na América Espanhola, uma catástrofe para os de alguns bens valorizados, como penas e pedras para
povos nativos da região, que foram submetidos ao trabalho ornamento. As alianças entre os índios se concentravam nas
compulsório e retirados de suas estruturas socioculturais. atividades bélicas, que serviam para a captura de inimigos,
muitas vezes mortos em ações de canibalismo, prática
Calcula-se que mais de 3 milhões de índios viviam na
comum dos povos tupis e tapuias.
faixa que hoje se define como o Brasil. As comunidades
locais não apresentavam a complexidade das Altas Culturas A chegada dos portugueses foi tratada, pela maioria
da América Espanhola, como os incas e os astecas, mas dos grupos locais, com relativa resistência e, em alguns
eram observados dois grandes grupos de nativos na região casos, com enfrentamento armado. As alianças com as
comunidades mais afeitas aos lusos foram fundamentais
da América Portuguesa: os tupis-guaranis e os tapuias.
para a colonização, como no caso do apoio dos tupis ao
Os tupis, também chamados de tupinambás, ocupavam combate dos tamoios, que tentaram destruir os primeiros
praticamente toda a costa brasileira, concentrando-se, núcleos portugueses na região de São Paulo.
todavia, na região litorânea do Norte do Brasil até Cananeia,
Tal encontro de culturas possibilitou, além da violência e
no sul do atual estado de São Paulo. Os guaranis, por sua
do extermínio das populações indígenas, a integração de
vez, ocupavam o litoral Sul e a Bacia Paraná-Paraguai.
hábitos alimentares e culturais, bem como a apropriação
Mesmo presentes em uma região territorial tão extensa, de palavras do vocabulário nativo. A intensa miscigenação
esses povos falavam uma língua comum, o tupi-guarani, e também seria uma particularidade que distinguiu os povos
apresentavam semelhanças culturais. portugueses dos espanhóis durante os séculos seguintes
da colonização.
Porém, em algumas regiões da costa brasileira e,
majoritariamente, no interior, existiam povos indígenas que
não seguiam as características culturais e linguísticas dos OS PRIMEIROS PORTUGUESES
tupis-guaranis. Esses povos eram conhecidos por tapuias:
os aimorés, no sul da Bahia e no norte do Espírito Santo,
os goitacazes, na foz do Rio Paraíba, e os tremembés, na
faixa entre o Ceará e o Maranhão, representam algumas
dessas comunidades. Deve-se ressaltar que o termo
“tapuia” possui uma terminologia tupi, que simboliza, de
certa forma, a ideia do bárbaro, do forasteiro, do inimigo,
por não compartilharem da língua tupi-guarani. Assim, o
termo “tapuia” foi incorporado pelos portugueses sob a
perspectiva tupi-guarani. Isso explica a posição de muitos
historiadores que optam pelo termo “macro-jê” para designar
SILVA, Oscar Pereira da. Desembarque de Cabral em Porto
a população tapuia. Seguro. 1900. Tinta a óleo, 190 × 330 cm. Museu Paulista.
A chegada lusa ao solo sul-americano não assinalou a A presença estrangeira na costa da América Portuguesa
efetivação do processo de ocupação das terras americanas exigiu medidas de segurança por parte da Coroa, devido à
pelos portugueses. Isso ocorreu porque os lucros provenientes resistência dos países europeus às determinações do Tratado
das atividades comerciais no Oriente monopolizaram a de Tordesilhas. As duas expedições militares de Cristóvão
atenção do Estado português nos primeiros anos do século Jacques, em 1516 e 1526, foram determinantes para reprimir
XVI. Nessa região não foi necessária a montagem de um navios franceses exploradores no litoral da colônia.
sistema de produção, apenas de controle da exploração, A apreensão da nau francesa Pelèrine, com aproximadamente
sendo, portanto, mais atrativa para Portugal. Essa indiferença 300 toneladas de pau-brasil, no ano de 1532, demonstra a
parcial foi quebrada pelas viagens de reconhecimento da intensa presença estrangeira na costa colonial. Tal episódio
costa brasileira e pelos empreendimentos extrativistas, ilustra os constantes conflitos entre lusos e potências
empenhados na extração do pau-brasil. Em 1501 e 1503, europeias pelas novas terras durante os séculos seguintes
a Coroa portuguesa enviou duas expedições ao Brasil com de colonização.
o objetivo de reconhecer a costa brasileira e dimensionar a A presença francesa na costa estimulou o monarca
potencialidade da região. português João III (1502-1557) a redefinir os rumos da
Além da fundação das primeiras feitorias na América política lusitana para as terras da América. Concorreu para
Portuguesa, as viagens iniciais conseguiram identificar a mudança da postura portuguesa em relação à América
comercializada na região da Ásia, o pau-brasil foi encontrado devido à concorrência com outros países, como a Inglaterra,
de maneira abundante na região da Mata Atlântica, da faixa a Holanda e a Espanha, e à baixa de preços das especiarias
do Rio Grande do Norte até o Rio de Janeiro. O pau-brasil em consequência do aumento da oferta no mercado europeu.
era amplamente utilizado na Europa, desde a Idade Média, Além disso, a descoberta de metais preciosos na América
como base para a tintura de tecidos, com especial predileção Espanhola nesse período acendeu o interesse português pela
comercial, tendo permanecido com o direito de extração percorreu o litoral brasileiro combatendo os contrabandistas
52 Coleção 6V
Implantação do Sistema Colonial no Brasil
Martin Afonso recebeu duas das quinze capitanias distribuídas Capitanias hereditárias
pelo monarca João III. Além da Carta de Doação, documento
N
que garantia o direito de posse da capitania, os donatários
recebiam o Foral, documento responsável por determinar
direitos e deveres. Assim, o capitão donatário poderia: Maranhão
OCEANO
● distribuir sesmarias, lotes de terras que foram explorados Maranhão ATLÂNTICO
pelos primeiros lusos que chegaram ao Brasil; Ceará
Meridiano de Tordesilhas
de modo a obter lucros, mediante o pagamento dos
impostos. Ficava excluída apenas a exploração do Bahia
HISTÓRIA
pau-brasil, que permaneceu como monopólio real;
Ilhéus
Arquivo Bernoulli
A distribuição das sesmarias teve início em Portugal Santana
CONCILIAÇÃO ENTRE
GOVERNO-GERAL E COLONOS
O Regimento de 1548 e a Carta de Doação não superpõem,
Chegada de Tomé de Souza. Gravura. [Autor desconhecido]
senão que absorvem na autoridade do governador-geral a
Com o objetivo de se fazer mais presente no processo autoridade dos capitães donatários. Tomé de Souza, em nome
colonizatório, a Coroa estabelece o Governo-Geral. do rei, passou a subordinar os agentes coloniais, reduzidos
todos, mesmo se nomeados pelos donatários, em agentes do
A cidade de Salvador passou a ser o centro da nova
soberano, obrigados a prestar miúdas contas de seus encargos.
administração, que não eliminou o modelo das capitanias
O governador-geral cuidaria, sobretudo, da defesa contra
hereditárias, mas buscou incentivá-las para a plena ocupação
o gentio e da defesa contra o estrangeiro, com o cuidado
do território. Para atingir esse objetivo, Tomé de Souza
de vigiar o litoral. De outro lado, disciplinaria os donos de
chegou a visitar várias capitanias, buscando assegurar, embarcações, perturbadoras das relações entre as capitanias,
nessas regiões, o apoio formal da Coroa portuguesa ao ao abrigo das linhas oficiais. Ninguém, daí por diante, deveria
projeto colonizador. Além disso, durante o governo de construir e armar navios e caravelas sem licença, vedado
Tomé de Souza, ocorreu a fundação do primeiro bispado ao colono o comércio com os índios senão pelos cânones
na América Portuguesa, além da construção de prédios na aprovados pelo governo. Os moradores não podiam, também,
capital brasileira. entrar no sertão, sem a licença direta do soberano. Essas
diretrizes, no seu conjunto, indicam a consciente e deliberada
Nesse contexto, chegaram os primeiros jesuítas, sob
preocupação de reduzir o espaço econômico ao espaço
a liderança de Manuel da Nóbrega, responsável pelo
administrativo, mantendo o caranguejo agarrado à praia.
planejamento da catequese dos indígenas e pela fundação
O povoamento e a colonização deveriam estar ao alcance
de núcleos educacionais. Com o decorrer das décadas, dos instrumentos de controle e de repressão da metrópole,
iniciou-se um dos mais graves e duradouros conflitos do de seus navios e das suas forças obedientes da colônia.
Período Colonial: o atrito entre colonos, desejosos em A Coroa está atenta para “manter aquele mesmo sistema
explorar o índio como mão de obra para as mais variadas de povoamento litorâneo, permitindo contato mais fácil e
atividades, e os jesuítas, empenhados no projeto da direto com a metrópole e ao mesmo tempo previne, ou
evangelização dos gentios. Em várias regiões da colônia, essa chama exclusivamente a si, enquanto tem forças para fazê-lo,
questão desencadeou instabilidades e violência, exigindo as entradas ao sertão, tolhendo aqui, sobretudo, o arbítrio
intervenções constantes da Coroa portuguesa durante todo individual.” A real fazenda instala, pouco a pouco, seus mil
o Período Colonial. olhos, muitas vezes desnorteados com a extensão territorial,
denunciando o “cunho largamente mercantil da ação
A administração colonial ainda contava com uma colonial dos reis portugueses”. A centralização era o meio
estrutura regional de destaque: as Câmaras Municipais. adequado, já cristalizado tradicionalmente, para o domínio do
Fundamentais para o controle político local, cabia às Câmaras Novo Mundo.
a administração das vilas, a análise de assuntos alusivos FAORO, Raymundo. Os donos do poder.
ao cotidiano da população e a harmonização das regras do Rio de Janeiro: Globo. 1989. v. 1. p. 145-146.
[Fragmento]
Império português com as especificidades regionais da colônia.
54 Coleção 6V
Implantação do Sistema Colonial no Brasil
HISTÓRIA
brancos. católica. Não por acaso, os primeiros jesuítas chegaram
ficavam com medo de combater os antropófagos. VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Colonial
(Adaptação).
02. (UESPI) Portugal temia que as invasões de potências
O texto trata de um sistema conhecido como
estrangeiras ocupassem sua colônia, Brasil. De imediato,
A) Provedor-mor.
Portugal conseguiu
B) Capitanias hereditárias.
A) ganhar recursos valiosos com a descoberta de minas
C) Período pré-colonial.
de ouro no Sudeste.
D) Intendente das Minas.
B) centralizar a administração com sedes bem armadas
E) Governo-Geral.
nas regiões Norte e Nordeste.
C) explorar o pau-brasil com a ajuda de tribos indígenas
05. (PUC Rio) Eu, El-Rei, faço saber aos que este meu regimento
brasileiras.
virem, que sendo informado das muitas desordens que
D) fazer aliança política com a Espanha e fortalecer seu há no sertão do pau-brasil, e na conservação dele,
Exército nacional.
de que se tem seguido haver hoje muita falta, cada vez
E) montar o sistema de capitanias hereditárias com será o dano maior se não se atalhar e der nisso a ordem
auxílio da burguesia holandesa. conveniente [...]: mando que nenhuma pessoa possa cortar,
nem mandar cortar o dito pau-brasil, por si ou seus
03. (PUC-SP) O Brasil é uma criação recente. Antes da chegada
escravos, sem expressa licença do provedor-mor da
dos europeus [...] essas terras imensas que formam
minha Fazenda [...]; e quem o contrário fizer incorrerá
nosso país tiveram sua própria história, construída ao
em pena de morte e confiscação de toda a sua fazenda.
longo de muitos séculos, de muitos milhares de anos.
Uma história que a Arqueologia começou a desvendar FELIPE III. Regimento do pau-brasil. 1605.
Instrução: Leia o texto para responder às questões 02 e 03. 04. (Unicamp-SP) A história de São Paulo no século XVII
7BMZ
se confunde com a história dos povos indígenas.
Prova da barbárie e, para alguns, da natureza não
Os índios não se limitaram ao papel de tábula rasa dos
humana do ameríndio, a antropofagia condenava as tribos
missionários ou vítimas passivas dos colonizadores. Foram
que a praticavam a sofrer pelas armas portuguesas a
participantes ativos e conscientes de uma história que foi
“guerra justa”.
pouco generosa com eles.
Nesse contexto, um dos autores renascentistas que
MONTEIRO, John M. Sangue Nativo. Disponível em: <http://
escreveram sobre o Brasil, o calvinista francês Jean de
www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/sangue-nativo>.
Léry, morador do atual Rio de Janeiro na segunda metade
Acesso em: 14 jul. 2013.
da década de 1550 e quase vítima dos massacres do
Dia de São Bartolomeu (24.08.1572), ponto alto das Sobre a atuação dos indígenas no Período Colonial, pode-se
guerras de religião na França, compara a violência dos afirmar que:
tupinambás com a dos católicos franceses que naquele A) A escravidão foi por eles aceita, na expectativa de
dia fatídico trucidaram e, em alguns casos, devoraram sua proibição pela Coroa portuguesa, por pressão
seus compatriotas protestantes: dos jesuítas.
56 Coleção 6V
Implantação do Sistema Colonial no Brasil
B) Sua participação nos aldeamentos fez parte da A) A Espanha anexa os territórios amazônicos, o que
integração entre os projetos religioso e bélico de coloca em risco as possessões portuguesas na
domínio português, executados por jesuítas e América.
bandeirantes.
B) A Espanha realiza expedições nas capitanias
C) A existência de alianças entre indígenas e portugueses de Pernambuco e da Bahia como retaliação aos
não exclui as rivalidades entre grupos indígenas e acordos políticos assinados entre Portugal e os
entre os nativos e os europeus. Impérios andinos.
D) A adoção do trabalho remunerado dos indígenas nos C) A Espanha anula o Tratado de Tordesilhas à medida
engenhos de São Vicente contrasta com as práticas que assume o controle das minas do Alto Peru, o que
de trabalho escravo na Bahia e Pernambuco. exigiu de Portugal maiores cuidados na defesa dos
territórios conquistados.
05. (Unicamp-SP) Em carta ao rei D. Manuel, Pero Vaz de
D) As derrotas militares espanholas no Alto Peru
Caminha narrou os primeiros contatos entre os indígenas
motivam a Coroa portuguesa a organizar a política
e os portugueses no Brasil: “Quando eles vieram,
o capitão estava com um colar de ouro muito grande ao de colonização na América do Sul.
HISTÓRIA
pescoço. Um deles fitou o colar do Capitão, e começou E) A Espanha obtém o acesso aos metais preciosos da
a fazer acenos com a mão em direção à terra, e depois América após a conquista do império Asteca, enquanto
para o colar, como se quisesse dizer-nos que havia ouro os franceses permanecem ameaçando as conquistas
na terra. Outro viu umas contas de rosário, brancas, portuguesas.
e acenava para a terra e novamente para as contas e
para o colar do Capitão, como se dissesse que dariam 07. (Mackenzie-SP)
ouro por aquilo. Isto nós tomávamos nesse sentido, por
assim o desejarmos! Mas se ele queria dizer que levaria
as contas e o colar, isto nós não queríamos entender,
porque não havíamos de dar-lhe!”
ARROYO, Leonardo. A carta de Pero Vaz de Caminha.
São Paulo: Melhoramentos; Rio de Janeiro: INL,
1971. p. 72-74 (Adaptação).
08. (FUVEST-SP–2016) Eu por vezes tenho dito a V. A. aquilo 10. (Unicamp-SP) Desde o início da colonização, os
que me parecia acerca dos negócios da França, e isto por portugueses chamaram de tapuias os grupos indígenas
ver por conjecturas e aparências grandes aquilo que podia que julgavam bárbaros, por seus hábitos culturais
suceder dos pontos mais aparentes, que consigo traziam distintos dos que habitavam o litoral e por seu poder de
muito prejuízo ao estado e aumento dos senhorios de V. A. resistência aos portugueses.
E tudo se encerrava em vós, Senhor, trabalhardes com A) Contextualize historicamente os significados de
modos honestos de fazer que esta gente não houvesse Guerra Justa para os portugueses a partir do fim da
de entrar nem possuir coisa de vossas navegações, pelo Idade Média.
grandíssimo dano que daí se podia seguir. B) Indique duas práticas dos indígenas que os
LEITE, Serafim. Cartas dos primeiros jesuítas do Brasil, 1954. portugueses consideravam bárbaras.
58 Coleção 6V
Implantação do Sistema Colonial no Brasil
HISTÓRIA
B) percepção corrente de uma ancestralidade comum às em vossa terra?”
populações ameríndias. LÉRY, J. Viagem à Terra do Brasil. In: FERNANDES, F.
C) compreensão etnocêntrica acerca das populações dos Mudanças Sociais no Brasil. São Paulo: Difel, 1974.
territórios conquistados. O viajante francês Jean de Léry (1534-1611) reproduz
D) transposição direta das categorias originadas no um diálogo travado, em 1557, com um ancião tupinambá,
imaginário medieval. o qual demonstra uma diferença entre a sociedade
europeia e a indígena no sentido
E) visão utópica configurada a partir de fantasias de
riqueza. A) do destino dado ao produto do trabalho nos seus
sistemas culturais.
03. (Enem–2015) A língua de que usam, por toda a costa, B) da preocupação com a preservação dos recursos
ambientais.
carece de três letras; convém a saber, não se acha
nela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, porque C) do interesse de ambas em uma exploração comercial
assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei, e dessa maneira mais lucrativa do pau-brasil.
vivem desordenadamente, sem terem além disto conta, D) da curiosidade, reverência e abertura cultural
nem peso, nem medida. recíprocas.
GÂNDAVO, P M. A primeira história do Brasil: história da E) da preocupação com o armazenamento de madeira
província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil. para os períodos de inverno.
Rio de Janeiro: Zahar, 2004 (Adaptação).
06. (Enem) Os vestígios dos povos tupi-guarani encontram-se
A observação do cronista português Pero de Magalhães desde as missões e o Rio da Prata, ao sul, até o Nordeste,
de Gândavo, em 1576, sobre a ausência das letras F, com algumas ocorrências ainda mal conhecidas no sul
L e R na língua mencionada, demonstra a da Amazônia. A leste, ocupavam toda a faixa litorânea,
A) simplicidade da organização social das tribos desde o Rio Grande do Sul até o Maranhão. A oeste,
brasileiras. aparecem (no Rio da Prata) no Paraguai e nas terras
baixas da Bolívia. Evitam as terras inundáveis do Pantanal
B) dominação portuguesa imposta aos índios no início e marcam sua presença discretamente nos cerrados
da colonização. do Brasil Central. De fato, ocuparam, de preferência,
C) superioridade da sociedade europeia em relação à as regiões de floresta tropical e subtropical.
sociedade indígena. PROUS, A. O Brasil antes dos brasileiros.
D) incompreensão dos valores socioculturais indígenas Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
pelos portugueses. Os povos indígenas citados possuíam tradições culturais
E) dificuldade experimentada pelos portugueses no específicas que os distinguiam de outras sociedades
aprendizado da língua nativa. indígenas e dos colonizadores europeus. Entre as
tradições tupi-guarani, destacava-se
04. (Enem) O índio era o único elemento então disponível A) a organização em aldeias politicamente independentes,
para ajudar o colonizador como agricultor, pescador, guia, dirigidas por um chefe, eleito pelos indivíduos mais
conhecedor da natureza tropical e, para tudo isso, deveria velhos da tribo.
ser tratado como gente, ter reconhecidas sua inocência B) a ritualização da guerra entre as tribos e o caráter
e alma na medida do possível. A discussão religiosa e semissedentário de sua organização social.
jurídica em torno dos limites da liberdade dos índios se C) a conquista de terras mediante operações militares,
confundiu com uma disputa entre jesuítas e colonos. o que permitiu seu domínio sobre vasto território.
Os padres se apresentavam como defensores da D) o caráter pastoril de sua economia, que prescindia da
liberdade, enfrentando a cobiça desenfreada dos colonos. agricultura para investir na criação de animais.
CALDEIRA, J. A nação mercantilista. E) o desprezo pelos rituais antropofágicos praticados em
São Paulo: Editora 34, 1999 (Adaptação). outras sociedades indígenas.
07. (Enem) Formou-se na América tropical uma sociedade Ao comparar os quadros e levando-se em consideração
agrária na estrutura, escravocrata na técnica de a explicação dada, observa-se que
exploração econômica, hibrida de índio – e mais tarde de A) a influência da religião católica na catequização do
negro – na composição. Sociedade que se desenvolveria
povo nativo é objeto das duas telas.
defendida menos pela consciência de raça, do que
pelo exclusivismo religioso desdobrado em sistema de B) a ausência dos índios na segunda tela significa que
profilaxia social e política. Menos pela ação oficial do Portinari quis enaltecer o feito dos portugueses.
que pelo braço e pela espada do particular. Mas tudo isso C) ambas, apesar de diferentes, retratam um mesmo
subordinado ao espírito político e de realismo econômico e
momento e apresentam uma mesma visão do fato
jurídico que aqui, como em Portugal, foi desde o primeiro
histórico.
século elemento decisivo de formação nacional; sendo
que entre nós através das grandes famílias proprietárias D) a segunda tela, ao diminuir o destaque da cruz,
de terras e autônomas; senhores de engenho com altar nega a importância da religião no processo dos
e capelão dentro de casa e índios de arco e flecha ou descobrimentos.
negros armados de arcabuzes às suas ordens.
E) a tela de Victor Meirelles contribuiu para uma visão
FREYRE, G. Casa-Grande e senzala. romantizada dos primeiros dias dos portugueses
Rio de Janeiro: José Olympo, 1984.
no Brasil.
De acordo com a abordagem de Gilberto Freyre sobre a
formação da sociedade brasileira, é correto afirmar que
A) a colonização na América tropical era obra, sobretudo,
da iniciativa particular.
GABARITO Meu aproveitamento
B) o caráter da colonização portuguesa no Brasil era
exclusivamente mercantil. Aprendizagem Acertei ______ Errei ______
C) a constituição da população brasileira esteve isenta 01. B 03. B 05. B
de mestiçagem racial e cultural.
D) a metrópole ditava as regras e governava as terras 02. B 04. E
brasileiras com punhos de ferros.
E) os engenhos constituíam um sistema econômico e Propostos Acertei ______ Errei ______
político, mas sem implicações sociais.
01. B 03. A 05. B 07. B
08. (Enem) Distantes uma da outra quase 100 anos, as 02. D 04. C 06. E 08. A
duas telas seguintes, que integram o patrimônio cultural
brasileiro, valorizam a cena da primeira missa no Brasil, 09. No contexto da expansão do mercantilismo como
relatada na Carta de Pero Vaz de Caminha. Enquanto a
primeira retrata fielmente a Carta, a segunda – ao excluir sistema econômico, a ideia de acumulação de riqueza
a natureza e os índios – critica a narrativa do escrivão foi um dos motivos que fundamentou a colonização do
da frota de Cabral. Além disso, na segunda, não se vê a Brasil, expresso no trecho da Carta em que Caminha
cruz fincada no altar.
afirma: “Nela [na colônia], até agora, não pudemos
saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de
metal nem de ferro; nem lho vimos”. Outro objetivo
era a expansão da fé católica por meio da “salvação”
da gente encontrada, ideia expressa por Caminha em:
“Porém o melhor fruto, que nela [na colônia] se pode
fazer, me parece que será salvar esta gente. E esta
deve ser a principal semente que vossa alteza em ela
deve lançar.”
10.
MEIRELLES, Victor. Primeira missa no Brasil. 1861. A) Guerra Justa era um conceito cristão medieval
Disponível em: <http://www.moderna.com.br>. utilizado durante a Expansão Marítima para
Acesso em: 03 nov. 2008.
justificar a luta contra não cristãos, sobretudo
muçulmanos e indígenas.
60 Coleção 6V
FRENTE MÓDULO
HISTÓRIA B 06
Brasil Colônia:
Economia Açucareira
Ainda no século XVI, a América Portuguesa teve a A produção do açúcar exigia elevados investimentos, dada
sua principal vocação definida: a economia canavieira. a necessidade de se montar uma estrutura complexa para
Transportadas para o Brasil a partir da ilha da Madeira, as a obtenção de lucros. A unidade produtora desse sistema
primeiras mudas de cana-de-açúcar chegaram por meio do era conhecida por engenho e apresentava uma gigantesca
donatário Martim Afonso de Souza. A opção pela cultura da propriedade fundiária obtida por meio da doação de
cana-de-açúcar foi feita levando-se em consideração uma sesmarias. O engenho contava com a moenda, responsável
série de fatores, entre eles, a experiência lusa nas ilhas por extrair o caldo da cana-de-açúcar. Aqueles engenhos
da costa africana, o clima favorável das novas terras, que utilizavam energia hidráulica eram os mais valorizados,
a disponibilidade de terra com solo propício, além dos sendo classificados como engenhos reais. Já os engenhos
recursos econômicos oriundos de investidores de várias de trapiche usavam força animal ou humana para mover a
regiões da Europa. moenda. Também fazia parte da composição produtora a
casa das caldeiras, local onde havia enormes fornalhas
As áreas produtoras de maior destaque no Brasil foram
que engrossavam o caldo da cana até transformá-lo em
a Bahia e Pernambuco. Cabe destacar ainda que outras
melaço, e a casa de purgar, espaço de descanso do açúcar
regiões, como a capitania de São Vicente, também
depois de ser armazenado em grandes potes. Após alguns
empreenderam esforços para o desenvolvimento da
dias, a produção era retirada e os torrões, chamados de
lavoura açucareira.
pães de açúcar, eram encaixotados e enviados a Portugal.
A estrutura do engenho ainda contava com a casa-grande e
Engenhos no final do século XVI
a senzala, locais de descanso e convivência dos senhores –
junto aos seus agregados – e dos escravos, respectivamente.
N
A casa-grande e a senzala, em sua relação antagônica,
OCEANO
ATLÂNTICO simbolizavam a hierarquização social colonial.
Natal
alguns senhores de construírem o complexo sistema
produtivo para o processamento do açúcar. A solução, nessas
66 Paraíba
Meridiano de Tordesilhas
Porto Calvo
N
36
O FRA
Salvador
cachaça para o consumo interno ou mesmo para o comércio
IO
4 Ilhéus
R
Zonas de cultivo da cana-de-açúcar moviam todo o sistema do engenho, por meio de jornadas
de trabalho longas e exaustivas.
As atividades eram diversas, não ficando limitadas ao exercício da agricultura. A complexidade do engenho promoveu
um cenário de especialização, assumindo a feição de uma manufatura. Havia ainda alguns grupos intermediários,
como os mestres do açúcar, os comerciantes, os religiosos, os capitães do mato e muitos outros que intensificavam
a dinâmica social do período.
Feitor-mor padre
licenciados
cobrador de rendas
Apoio caixeiro da cidade
cirurgião
escrivão
1 carpinteiro
Barcas Carros de boi Moendas Cozinha Casa de Secagem e
purgar embalagem
Arquivo Bernoulli
15 escravos 2 caldeireiros de melar
1 caldeireiro de escumar
28 escravos
62 Coleção 6V
Brasil Colônia: Economia Açucareira
Porque engenhos há na Bahia que dão ao senhor quatro mil pães ESCRAVIDÃO NEGRA
de açúcar e outros pouco menos, com cana obrigada à moenda,
de cujo rendimento logra o engenho ao menos a metade, como A integração entre Brasil e África fundamentou-se no
de qualquer outra, que nem livremente se mói; e em algumas exercício do trabalho escravo realizado pelos africanos,
partes, ainda mais que a metade. […]
violentamente arrancados de suas comunidades e forçados
ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. a exercerem tarefas árduas em regiões longínquas.
Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1982.
O tráfico de escravos africanos teve início desde os
primeiros tempos da expansão portuguesa pela costa
ESCRAVIDÃO africana. Como vários reinos africanos já praticavam a
escravidão, principalmente dos prisioneiros de guerra, os
As relações de trabalho que predominaram na agricultura europeus se apropriaram dessa atividade, transformando-a
de exportação do Brasil foram orientadas pelo trabalho em um lucrativo comércio internacional. Os conflitos no
escravo. Vale ressaltar que esse tipo de trabalho representou continente eram incentivados pelos europeus, visando
garantir a rivalidade responsável pelo fornecimento de
HISTÓRIA
a base da economia brasileira até o final do século XIX,
numerosos escravos por chefes locais, conhecidos como
décadas após o processo de Independência.
sobas, que recebiam em troca tabaco, cachaça, armas ou
É curioso perceber que a escravidão nunca foi abandonada qualquer iguaria valorizada pelas comunidades locais.
durante a Idade Média, apesar da predominância da
Colocados em embarcações desumanas – os chamados
servidão na Europa. Dessa forma, a escravidão moderna tumbeiros –, muitos escravizados pereciam antes mesmo
foi ativada durante a Expansão Marítima, quando os de chegarem aos locais de destino. A viagem para o Brasil
navegantes portugueses iniciaram as incursões na costa chegava a durar mais de trinta dias, podendo alcançar
africana com o objetivo de empreender o périplo africano. até quatro meses, caso a região fosse muito distante.
O apoio da Igreja Católica a essa iniciativa veio por meio Alguns navios levavam mais de 500 pessoas em condições
absolutamente precárias. Calcula-se que, até o século XIX,
da bula papal Dum diversas, de 1452, que permitia aos
25 milhões de africanos foram submetidos à escravidão na
portugueses conquistar os sarracenos e pagãos, tomando
América, sendo explorados nas mais variadas atividades
suas posses e submetendo-os à escravidão perpétua. econômicas.
Outras bulas publicadas nas décadas seguintes vieram a
Os negros que vieram para a América Portuguesa
confirmar o apoio da Santa Sé a esse tipo de trabalho.
pertenciam aos seguintes grupos étnicos:
A escravidão desenvolveu-se no Brasil com o processo • Bantos: Região do Congo, Angola e Moçambique.
colonizador. Basta lembrar que o Foral, documento que
• Sudaneses: Nigéria, Daomé e Costa do Marfim.
determinava direitos e deveres dos capitães donatários,
concedia aos portugueses o direito de apresamento e a • Maleses: Sudaneses convertidos ao islamismo.
utilização dos índios como mão de obra. A oposição da Igreja O universo escravocrata não era homogêneo. Era comum
a esse tipo de exploração, inibidora do projeto de catequese, a distinção entre os escravos recém-chegados da África,
estimulou uma série de conflitos durante toda a história conhecidos por boçais, e os ladinos, ou seja, aqueles que
colonial, acabando por reduzir a exploração do indígena no já haviam se adaptado ao universo cultural português. Esses
decorrer da colonização. dois grupos eram tratados de modo distinto dos que haviam
nascido na América Portuguesa. A mestiçagem ampliou ainda
Os protestos de parte da Igreja e a mortandade mais essa distinção, subdividindo mulatos – quase sempre
generalizada dos nativos fez com que a mão de obra indígena originados da união entre brancos e negras, escravos de
fosse substituída pela escrava negra nas lavouras açucareiras. peles mais claras –, preferidos para as atividades domésticas,
em detrimento dos negros vindos da África, encarregados
No entanto, a introdução do trabalho escravo africano na
das tarefas mais pesadas.
América Portuguesa não foi um inibidor da utilização dos
indígenas, também chamados de “negros da terra”, durante A mão de obra escrava foi utilizada nas mais variadas
grande parte do Período Colonial. A sobrevivência econômica atividades da economia colonial, tanto no meio urbano
como no rural. O padre Antonil, importante cronista colonial,
de algumas regiões, como a capitania de São Vicente e as
definiu os cativos como “as mãos e os pés do senhor”.
áreas mais longínquas do Norte, somente foi garantida pelo
A opressão de todas as ordens buscava obter o controle
trabalho dos indígenas, que se refugiavam cada vez mais no da escravaria, com destaque para o capitão do mato,
interior da colônia para escaparem das violentas incursões responsável pela aplicação dos castigos e pela captura dos
dos lusos e seus descendentes. cativos que tentavam fugir.
64 Coleção 6V
Brasil Colônia: Economia Açucareira
EXERCÍCIOS DE
O negro no Brasil Colônia
APRENDIZAGEM
Nessa videoaula, você vai acompanhar como se 01. (UFC-CE) Por aproximadamente três séculos, as relações
deu a introdução da mão de obra escrava no Brasil de produção escravistas predominaram no Brasil, em
8ZYD especial nas áreas de plantation e de mineração. Sobre
colonial, bem como as dificuldades vividas pelos
esse sistema escravista, é correto afirmar que
africanos escravizados.
A) impediu as negociações entre escravos e senhores,
daí o grande número de fugas.
B) favoreceu ao longo dos anos a acumulação de capital
ALFORRIA em razão do tráfico negreiro.
C) possibilitou a cristianização dos escravos, fazendo
[...] desaparecer as culturas africanas.
Em geral, a escravidão poderia terminar pela morte natural D) foi combatido por inúmeras revoltas escravas, como
HISTÓRIA
a dos Malês e a do Contestado.
do escravo ou pela alforria. No caso da alforria, havia três
E) foi alimentado pelo fluxo contínuo de mão de obra
modos legais de um ex-escravo comprovar seu estado de forro:
africana até o momento de sua extinção em 1822.
a carta ou “papel da liberdade”, assinada somente pelo senhor
ou por outro, a seu rogo, algumas vezes registrada em cartório 02. (UFU-MG) Sobre os quilombos no Brasil Colonial,
em livros de notas, outras somente como um papel particular; é correto afirmar que
o testamento ou codicilo; a pia batismal. A) formaram-se quilombos em várias regiões do Brasil,
havendo o convívio entre populações escravas
Os estudiosos da escravidão, de maneira geral, têm como africanas e indígenas, tendo como principal exemplo
certa a vontade dos negros em deixar de serem escravos. o Quilombo dos Palmares, no atual estado de Alagoas.
Os mecanismos variavam, desde assumir maior carga de trabalho B) os quilombolas dependiam da permissão dos senhores
para juntar o equivalente a seu preço e pagar ao senhor, no caso das propriedades próximas para transitar pelas
das manumissões onerosas, até uma dedicação especial ao amo, cidades circunvizinhas, bem como para comercializar
os produtos de suas terras.
na esperança de obtê-la gratuitamente. No entanto, mesmo
C) todos os quilombos possuíam um exército próprio,
tendo o escravo a quantia equivalente ao seu valor, o senhor
de modo a proteger suas terras contra o avanço de
não estava obrigado a concedê-la. Herança do direito romano
inimigos, assim como uma complexa organização
presente no direito consuetudinário português, o ato de alforriar social.
era considerado uma concessão senhorial. [...] D) as maiores populações quilombolas no Brasil
formaram-se nas regiões de maior produção
É difícil o cálculo sobre o número de escravos que obtiveram
monocultora de exportação, como os estados do Rio
a liberdade por meio da alforria, pois são poucas as áreas que Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
dispõem de mapas estatísticos sobre a população. Alguns estudos
estimam, no entanto, que poucos eram os escravos capazes de 03. (Fatec-SP) A produção açucareira, limitada até o século XV,
HQØL pôde deslanchar com a conquista do novo mundo.
ter acesso à liberdade, sendo possível estimá-los entre 0,5% e
2% da população escrava. [...] CAMPOS, Flávio de; MIRANDA, Renan Garcia. A escrita da
história. São Paulo: Escala Educacional, 2005. p. 206.
Uma das poucas unanimidades entre os historiadores é a de
A explicação para a afirmação anterior está
ter sido privilegiada a mulher no acesso à alforria, apesar de ela
A) no sistema de plantation que foi implantado na
ser bem menos numerosa na população escrava. Em que pese
América, caracterizando-se pela produção em larga
a constatação empírica, as explicações sobre o fato variam. escala, pelo latifúndio, pela monocultura e pela mão
A primeira seria o seu preço, inferior ao do homem, por isso mais de obra assalariada.
fácil de ser pago. Outra explicação diria respeito à sua maior B) na implantação das capitanias hereditárias na América
possibilidade de estabelecer laços afetivos com seus senhores, Portuguesa, o que facilitou o cultivo da cana por todo
o território colonial.
pois atuavam como domésticas, amas de leite, prostitutas ou
C) na agricultura de subsistência, que foi largamente
amantes. Uma terceira pressuporia o fato de que, sendo ela a
utilizada nas colônias americanas e que impulsionou
responsável pela reprodução da escravidão, através do princípio o plantio da cana.
romano de partus sequitur ventrem, sua família (consanguínea D) nas mudas de cana-de-açúcar encontradas em solo
ou por via do compadrio) centraria mais esforços em libertá-la americano, que eram mudas de melhor qualidade do
do que ao homem. que aquelas encontradas no Oriente.
E) no clima quente e úmido da região tropical, na
VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Colonial.
fertilidade do solo e, principalmente, na disponibilidade
Rio de Janeiro: Objetiva, 2000. [Fragmento]
de imensas extensões de terra.
66 Coleção 6V
Brasil Colônia: Economia Açucareira
03. (PUC-SP–2016) Entre todos os moradores e povoadores 05. (UECE) A ocupação e colonização do Brasil estão, sem
9U6F dúvida, ligadas à economia açucareira desenvolvida
uns fazem engenhos de açúcar porque são poderosos
para isso, outros canaviais, outros algodoais, outros inicialmente no período colonial. Sobre esse lucrativo
mantimentos, que é a principal e mais necessária cousa produto, pode-se afirmar corretamente que
para a terra, outros usam de pescar, que também é A) nos séculos XIII e XIV, o açúcar era apreciado por
muito necessário para a terra, outros usam de navios suas qualidades medicinais e culinárias e, por ser
uma especiaria de elevado valor, era arrolada nos
que andam buscando mantimentos e tratando pela
testamentos e inventários de bens reais.
terra conforme ao regimento que tenho posto, outros
B) o açúcar foi um importante produto cultivado
são mestres de engenhos, outros mestres de açúcares,
pelos africanos. Porém, entre 60% e 100% dos
carpinteiros, ferreiros, oleiros e oficiais de formas e sinos
que sobreviveram às viagens nos navios negreiros
para os açúcares e outros oficiais que ando trabalhando terminaram sendo alocados em alguma fazenda de
e gastando o meu por adquirir para a terra, e os mando criação de gado.
buscar em Portugal, na Galiza e nas Canárias às minhas C) foi rápido e efêmero o sucesso da produção açucareira
custas, além de alguns que os que vêm fazer os engenhos no Brasil, pois as terras não eram férteis nem
trazem, e aqui moram e povoam, uns solteiros e outros apropriadas ao cultivo da cana, tampouco foram
casados, e outros que cada dia caso e trabalho por casar empenhados esforços no sentido de encontrar mão
HISTÓRIA
na terra. de obra adequada.
MELLO, José Antônio Gonsalves de; ALBUQUERQUE, D) a produção açucareira marcou profundamente a
história econômica do Brasil. Mesmo após a crise do
Cleonir Xavier de. Cartas de Duarte Coelho a El Rei.
século XX, a agromanufatura do açúcar continuou
Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 1997. p. 114.
a desempenhar um importante papel na economia
As observações do donatário de Pernambuco sobre suas colonial e imperial.
atividades à frente da Capitania expõem a
06. (PUC-Campinas-SP)
A) exclusividade da produção açucareira e a inexistência
A marcha do povoamento
de outras atividades produtivas no Brasil colonial.
B) destinação externa de toda a produção agrícola da N
colônia e a necessidade de importação de alimentos São Gabriel
para abastecer a população que vivia na colônia. da Cachoeira
X
São Luís
C) centralidade da produção açucareira e o esforço de
Belém
obtenção de mão de obra qualificada e de articulação
da empresa agrícola com outros setores da economia. Paraíba
Oeiras
D) carência de mercado interno para os produtos Olinda
agrícolas e a necessidade de rigoroso controle sobre Juazeiro
os escravos. Cuiabá Salvador
Goiás
Cidades
04. (UEFS-BA) O futuro conde de Cairu informa que um Vilas
Mariana
1YCA
proprietário que possuísse cinquenta escravos podia
Áreas provavelmente sob Cabo Frio
cultivar 100 tarefas de cana com a renda de 5:700$000 a influência das cidades Rio de Janeiro
e vilas São Paulo
(cinquenta contos e setecentos mil reis), mas as despesas OCEANO
com os escravos e as utilidades só eram equilibradas Áreas conhecidas e ATLÂNTICO
povoadas de maneira
quando ele possuía meeiros. Por isso, os lavradores mais ou menos estável,
de cana procuravam ter o maior número de lavradores mas sem nenhuma vila 0 750 km
ou cidade
“agregados”, forma de exploração que se desenvolveu
até os dias atuais. A meação aumentava “infinitamente VESENTINI, José William. Geografia: série Brasil.
o rendimento anual” de uma propriedade açucareira. São Paulo: Ática, 2003. p. 181 (Adaptação).
TAVARES, 2001. p. 199. No que se refere à faixa escura a leste, é correto afirmar
De acordo com o texto, além do trabalho do escravo, os que a ocupação e o povoamento dessa faixa
ganhos dos senhores de terras e engenhos ampliavam-se A) ocorrem desde a vinda das expedições exploratórias
com o produto do trabalho de no litoral e ligam-se à exploração econômica do
pau-brasil.
A) agregados pobres, parentes deserdados da família do
B) têm início em meados do século XVIII e associam-se
senhor. ao sucesso das capitanias do Nordeste e do Sudeste.
B) homens livres que não encontravam mercado de C) vêm desde a época colonial e expressam a ligação
trabalho nas cidades. econômica em relação aos centros mundiais do
C) camponeses livres vindos de Portugal em busca de capitalismo, desde sua formação.
trabalho na colônia. D) resultam da invasão do litoral pelos imigrantes
europeus e associam-se à desestruturação econômica
D) homens livres possuidores apenas de terras e do feudalismo.
escravos, mas não possuidores de engenhos.
E) têm origem econômica na indústria açucareira e
E) trabalhadores livres sazonais que se revezavam entre ligam-se à integração gradativa do índio e do negro
as lavouras de cana e de café. à sociedade brasileira.
07. (PUC Rio) Sobre as características da sociedade escravista 09. (FUVEST-SP) O tráfico de escravos africanos para o Brasil
colonial da América Portuguesa, estão corretas as A) teve início no final do século XVII, quando as primeiras
afirmações a seguir, à exceção de uma. Indique-a. jazidas de ouro foram descobertas nas Minas Gerais.
A) O início do processo de colonização na América B) foi pouco expressivo no século XVII, ao contrário do
Portuguesa foi marcado pela utilização dos índios – que ocorreu nos séculos XVI e XVIII, e foi extinto, de
denominados “negros da terra” – como mão de obra. vez, no início do século XIX.
B) Na América Portuguesa, ocorreu o predomínio da C) teve início na metade do século XVI, e foi praticado,
utilização da mão de obra escrava africana, seja em de forma regular, até a metade do século XIX.
áreas ligadas à agroexportação, como o Nordeste
D) foi extinto, quando da Independência do Brasil,
açucareiro a partir do final do século XVI, seja na
a despeito da pressão contrária das regiões auríferas.
região mineradora a partir do século XVIII.
E) dependeu, desde o seu início, diretamente do bom
C) A partir do século XVI, com a introdução da mão
sucesso das capitanias hereditárias, e, por isso, esteve
de obra escrava africana, a escravidão indígena concentrado nas capitanias de Pernambuco e de São
acabou por completo em todas as regiões da América Vicente, até o século XVIII.
Portuguesa.
D) Em algumas regiões da América Portuguesa, os 10. (PUC-SP) Os escravos são as mãos e os pés do senhor
BSTY
senhores permitiram que alguns de seus escravos de engenho, porque sem eles no Brasil não é possível
pudessem realizar uma lavoura de subsistência fazer, conservar e aumentar a fazenda, nem ter engenho
dentro dos latifúndios agroexportadores, o que os corrente. E ao modo com que se há com eles depende de
historiadores denominam de “brecha camponesa”. tê-los bons ou maus para o serviço.
E) Nas cidades coloniais da América Portuguesa, escravos ANTONIL. Cultura e opulência do Brasil (1711).
e escravas trabalharam vendendo mercadorias como São Paulo: Editora Nacional, 1967. p. 159.
doces, legumes e frutas, sendo conhecidos como
O texto, do início do século XVIII, trata da mão de obra
“escravos de ganho”.
escravista nos engenhos de açúcar. O autor
A) inquieta-se com a falta de trabalhadores assalariados
08. (Unicamp-SP) No século XVII, o Rio de Janeiro era um
e com o predomínio do trabalho compulsório na
dos principais polos econômicos do Império ultramarino
lavoura açucareira.
português. Na segunda metade do século, a região era
grande produtora e exportadora de açúcar e consumidora B) caracteriza o escravo como instrumento de produção
de escravos, sendo que seus comerciantes atuavam que precisa ser controlado rigorosamente para que
intensamente no tráfico negreiro com a África e no acesso não se rebele.
à prata das zonas espanholas na América, através do C) interessa-se pela possibilidade de expansão das
Rio da Prata. A despeito de tudo, seus moradores viviam plantações de cana e pelo decorrente aumento da
oprimidos com as pesadas taxações que eram obrigados remessa do açúcar para Portugal.
a pagar para a manutenção das tropas de defesa. D) revela sua disposição de defender o fim da escravidão
FIGUEIREDO, Luciano Raposo de Almeida. no Brasil e importar mão de obra estrangeira para ter
O Império em apuros: notas para o estudo das alterações trabalhadores mais qualificados.
ultramarinas e das práticas políticas no Império colonial E) preocupa-se em destacar a importância do trabalho
português. Séculos XVII e XVIII. In: Furtado, Júnia Ferreira. escravo na produção do açúcar e os cuidados que se
(Org.). Diálogos Oceânicos. Minas Gerais e as novas deve ter no seu trato.
abordagens para uma história do Império ultramarino
português. Belo Horizonte / São Paulo: UFMG / 11. (Albert Einstein-SP–2016) Na sua condição de propriedade,
Humanitas, 2001. p. 207. o escravo é uma coisa, um bem objetivo. [...] Daí ter sido
usual a prática de marcar o escravo com ferro em brasa
A) Identifique os principais polos que demarcam a
como se ferra o gado. Os negros eram marcados já na
extensão territorial do Império ultramarino português
África, antes do embarque, e o mesmo se fazia no Brasil,
no século XVII.
até no final da escravidão. [...] Seu comportamento e
B) Quais atividades desenvolvidas na América Portuguesa sua consciência teriam de transcender a condição de
sustentaram sua importância econômica durante o coisa possuída no relacionamento com o senhor e com os
século XVII? homens livres em geral. E transcendiam, antes de tudo,
C) Explique de que maneira o fisco era um problema na pelo ato criminoso. O primeiro ato humano do escravo é o
América Portuguesa. crime, desde o atentado contra o senhor à fuga do cativeiro.
68 Coleção 6V
Brasil Colônia: Economia Açucareira
Em contrapartida, ao reconhecer a responsabilidade Também ali não faltaram as canas, porque duas vezes
penal dos escravos, a sociedade escravista os reconhecia entraram na Paixão: uma vez servindo para o cetro de
como homens: além de incluí-los no direito das coisas, escárnio, e outra vez para a esponja em que lhe deram o fel.
submetia-os à legislação penal. A Paixão de Cristo parte foi de noite sem dormir, parte
GORENDER, Jacob. O escravismo colonial. foi de dia sem descansar, e tais são as vossas noites e os
São Paulo: Ática, 1992. p. 62-63. vossos dias. Cristo despido, e vós despidos; Cristo sem
O texto indica comer, e vós famintos; Cristo em tudo maltratado, e vós
colonial e imperial brasileira, da condição dos as chagas, os nomes afrontosos, de tudo isto se compõe
africanos escravizados, que se manifestava sobretudo a vossa imitação, que, se for acompanhada de paciência,
diante de algumas formas de resistência à exploração. também terá merecimento de martírio.
B) a precocidade da legislação brasileira contra crimes VIEIRA, A. Sermões. Porto: Lello & Irmão, 1951. Tomo XI
(Adaptação).
hediondos e contra o desrespeito, pelos africanos
HISTÓRIA
escravizados, às obrigações e aos deveres de todo O trecho do sermão do Padre Antônio Vieira estabelece
trabalhador rural. uma relação entre a Paixão de Cristo e
C) o reconhecimento, pelos governantes brasileiros na A) a atividade dos comerciantes de açúcar nos portos
colônia e no império, da necessidade de mediar e brasileiros.
controlar as relações dos proprietários rurais com o B) a função dos mestres de açúcar durante a safra de
amplo contingente de africanos escravizados. cana.
D) o descumprimento, pelos senhores de escravos no C) o sofrimento dos jesuítas na conversão dos
Brasil Colonial e Imperial, das leis que regulavam o ameríndios.
trabalho compulsório e que impediam a aplicação da
D) o papel dos senhores na administração dos engenhos.
pena de morte aos africanos escravizados.
E) o trabalho dos escravos na produção de açúcar.
Reprodução
com Nossa Senhora da Conceição, e Nanã Buruku, a
mais idosa das divindades das águas, foi comparada a
Sant’Ana, mãe da Virgem Maria.
VERGER, P. Orixás: deuses iorubás na África e no Novo Mundo. FREYRE, G. Casa-Grande & Senzala.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1958.
São Paulo: Corrupio, 1981.
O sincretismo religioso no Brasil colônia foi uma estratégia O desenho retrata a fazenda de São Joaquim da Grama com
utilizada pelos negros escravizados para a casa-grande, a senzala e outros edifícios representativos
de uma estrutura arquitetônica característica do período
A) compreender o papel do sagrado para a cultura
europeia. escravocrata no Brasil. Essa organização do espaço
representa uma
B) garantir a aceitação pelas comunidades dos
convertidos. A) estratégia econômica e espacial para manter os
escravos próximos do plantio.
C) preservar as crenças e a sua relação com o sagrado.
B) tática preventiva para evitar roubos e agressões por
D) integrar as distintas culturas no Novo Mundo.
escravos fugidos.
E) possibilitar a adoração de santos católicos.
C) forma de organização social que fomentou o
patriarcalismo e a miscigenação.
02. (Enem) Em um engenho sois imitadores de Cristo
D) maneira de evitar o contato direto entre os escravos
crucificado porque padeceis em um modo muito
e seus senhores.
semelhante ao que o mesmo Senhor padeceu na sua
cruz e em toda a sua paixão. A sua cruz foi composta E) particularidade das fazendas de café das regiões Sul
de dois madeiros, e a vossa em um engenho é de três. e Sudeste do país.
04. (Enem) Dos senhores dependem os lavradores que têm Os textos anteriores apresentam a economia agrícola
partidos arrendados em terras do mesmo engenho; brasileira em momentos históricos distintos. As duas
e quanto os senhores são mais possantes e bem situações revelam que
aparelhados de todo o necessário, afáveis e verdadeiros, A) o Brasil não rompeu com o modelo agrícola,
tanto mais são procurados, ainda dos que não têm a cana negligenciando alternativas econômicas nos séculos
cativa, ou por antiga obrigação, ou por preço que para que seguiram sua descoberta.
isso receberam.
B) a agricultura de exportação foi um caminho histórico
ANTONIL, J. A. Cultura e opulência do Brasil (1711).
e seguro para a colocação do Brasil no cenário
São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1967 (Adaptação).
econômico internacional.
Segundo o texto, a produção açucareira no Brasil C) a riqueza associada ao projeto agrícola mostrou-se
colonial era tradicionalmente vinculada a um quadro de exploração
A) baseada no arrendamento de terras para a obtenção e miséria do trabalhador.
da cana a ser moída nos engenhos centrais. D) o consumo de açúcar continua movendo a economia
B) caracterizada pelo funcionamento da economia de brasileira apesar dos séculos que nos separam do
livre mercado em relação à compra e venda de cana. Período Colonial.
C) dependente de insumos importados da Europa nas E) a justiça social brasileira está distante daquilo que
frotas que chegavam aos portos em busca do açúcar. ONGs e forças públicas desejam para o país.
D) marcada pela interdependência econômica entre os
senhores de engenho e os lavradores de cana.
E) sustentada no trabalho escravo desempenhado pelos GABARITO Meu aproveitamento
lavradores de cana em terras arrendadas.
Aprendizagem Acertei ______ Errei ______
05.
• 01. B • 03. E • 05. C
Texto I
• 02. A • 04. A
O plantio da cana-de-açúcar foi realizado em grandes
propriedades rurais denominadas de latifúndio monocultor Propostos Acertei ______ Errei ______
ou plantation. Essas propriedades também ficaram
conhecidas como engenhos, porque, além das plantações, • 01. D
com.br/2136_A+MORTE+POR+TRAS+DO+ETANOL/>.
Acesso em: 27 nov. 2019. [Fragmento] Total dos meus acertos: _____ de _____ . ______ %
70 Coleção 6V
FRENTE MÓDULO
HISTÓRIA B 07
Brasil Colônia: Atividades
Econômicas Complementares
Durante o Período Colonial brasileiro, a preocupação central Porém, cabe ressaltar que essas atividades econômicas
da Coroa portuguesa foi o desenvolvimento de atividades foram acompanhadas de outras de menor relevância para
econômicas que coincidissem com o ideal mercantilista, a Coroa portuguesa, mas que podem ser consideradas
ou seja, um projeto de acumulação de divisas que fundamentais para a estruturação do modelo colonial
atendessem ao Estado lusitano. proposto. Entre essas atividades, podem ser destacadas a
pecuária e a extração das drogas do sertão, por exemplo.
Principais atividades econômicas
do Brasil no século XVII
PECUÁRIA
N
Pecuária no Nordeste
Rio N
eg Belém
ro Transferida para o Brasil nas primeiras décadas do século
nas São Luís
azo
Ri o A m Fortaleza
XVI, a pecuária foi introduzida pelo governador Tomé de
ós
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Souza com o objetivo de suprir a alimentação dos colonos
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o Recife
isc meio da carne, do leite e da manteiga de garrafa, o gado
Rio Tocanti
Rio
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São Cristóvão
bovino contribuiu para a força motriz dos engenhos, sendo
São F
Salvador
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Rio
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Ilhéus
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Porto Seguro
Vitória
Rio Par
ATLÂNTICO
gua
0 650 km
notou a necessidade de separar a criação de gado e a
agricultura exportadora, ao decretar, na Carta Régia de 1701,
Principais produtos a proibição da criação de currais na faixa de 50 km da costa.
Área de ocorrência do pau-brasil Cana-de-açúcar
Porém, bem antes da notificação oficial, o gado teve seu
Pecuária Tabaco Mineração
caminho natural no interior da colônia, irradiando seu avanço
Drogas do sertão Limites atuais do território brasileiro
a partir das regiões da Bahia, Pernambuco e Maranhão.
As margens do Rio São Francisco se transformaram em
A opção pelo plantio da cana-de-açúcar e o estabelecimento
espaço ideal para a fundação de fazendas de gado, passando
do monopólio real na exploração do pau-brasil são alguns
inclusive a ser conhecido como o Rio dos Currais. No início
exemplos das ações mercantilistas empreendidas na área do século XVIII, a região de Pernambuco já apresentava
colonial. A mineração, que assumiu papel de destaque aproximadamente 800 mil cabeças de gado espalhadas em
nos interesses da metrópole no trato das questões mais de oitenta currais, que, somadas às 500 mil cabeças
coloniais, principalmente no século XVIII, também foi de gado da Bahia, garantiam o abastecimento dos núcleos
uma atividade muito rentável para os portugueses. urbanos e das fazendas em expansão.
Fortaleza
Ri Xingu
Natal
o
Olinda
DEBRET, Jean-Baptiste. Armazém de carne seca. 1835.
Linha do Tratado de Tordesilhas
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Rio Tocantin
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Rio
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Ilhéus atividade de mineração na região das Minas Gerais. A maioria
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Rio S
Área em que a pecuária foi No século XVIII, quando a mineração ganhou mais destaque
mais desenvolvida
que a lavoura açucareira, a pecuária do Sul superou em
importância a nordestina. Essa região apresentava condições
favoráveis para o desenvolvimento do gado, como o relevo
Pecuária do Sul suave, o clima ameno, numerosos rios e uma vegetação rasteira
para a pastagem. As chamadas estâncias, fazendas de criação,
O gado foi introduzido na região Sul da colônia foram incentivadas pela Coroa portuguesa, preocupada em
portuguesa pelos jesuítas, que utilizavam os animais para garantir a ocupação desses territórios e evitar as ameaças
a subsistência nas missões fundadas ainda no século XVI. nas fronteiras com a América Espanhola. Mesmo assim,
No contexto da União Ibérica, o Nordeste brasileiro e a intensificação das atividades de plantio de trigo e produção
do charque não evitou contendas e escaramuças com o
as praças africanas foram invadidos pelos holandeses,
Império Espanhol, e, posteriormente, com as nações platinas,
provocando a escassez do escravo negro nas regiões não
perdurando até a segunda metade do século XIX, já no Período
dominadas pelos flamengos, como a capital Salvador. Diante Imperial brasileiro.
dessa demanda, os paulistas perceberam a possibilidade
de enriquecimento e começaram a atacar as missões Importância da pecuária
jesuíticas do sul para capturar os índios que pudessem ser A pecuária brasileira foi uma atividade voltada para o
comercializados nas áreas sedentas de braços escravos. abastecimento e, como consequência, contribuiu para a
formação do mercado interno e para o progresso material
A destruição das missões acabou por provocar o surgimento da colônia, visto que os lucros obtidos com a comercialização
do gado selvagem, que se espalhou com facilidade pela da produção foram incorporados ao Brasil.
região em virtude da abundância de pastagem natural que as Além disso, a pecuária foi responsável pelo desbravamento
áreas do Rio Grande do Sul forneciam. Após a União Ibérica e ocupação do interior, desempenhando papel importante
(1640), enfim, portugueses e nativos notaram o próspero na formação do espaço geográfico do Brasil colonial, uma
vez que promoveu o povoamento gradual e contínuo de
cenário de lucratividade e, dessa forma, capturavam os
uma vasta região.
animais para a obtenção do couro, objeto de interesse dos
A presença da mão de obra livre era bastante comum
exportadores das cidades de Buenos Aires e Sacramento,
nessa atividade, geralmente de indígenas, mestiços e negros
cidade portuguesa fundada na margem posterior do Rio da
alforriados. Os vaqueiros, responsáveis por cuidar do gado dos
Prata e dedicada às atividades ilícitas em pleno território criadores, eram muitas vezes recompensados com algumas das
colonial espanhol. crias do rebanho, o que permitia uma relativa ascensão social.
72 Coleção 6V
Brasil Colônia: Atividades Econômicas Complementares
HISTÓRIA
para milhar cavalo, a peia para prendê-lo em viagem, as consumidores europeus, dificultando a regularidade do
bainhas de faca, as bruacas e surrões, a roupa de entrar no comércio desses produtos.
mato, os banguês para curtume ou para apurar sal; para os
Essa atividade valia-se da mão de obra indígena recrutada
açudes, o material de aterro era levado em couros puxados
por juntas de bois que calcavam a terra com seu peso; em
pelos jesuítas, responsáveis pela fundação de dezenas de
couro pisava-se tabaco para o nariz. missões ou reduções na Bacia do Rio Amazonas. Nesse sentido,
a ocupação religiosa da região foi de extrema importância
ABREU, Capistrano de. Capítulos de história colonial &
para garantir, no século XVIII, a expansão das fronteiras
Os caminhos antigos e o povoamento do Brasil.
Brasília: Ed. da Univ. de Brasília, 1963. p. 149. [Fragmento] luso-brasileiras para além do Tratado de Tordesilhas,
reconhecidas por meio do Tratado de Madri de 1750.
Toló
Conri Olinda
Trocano *(Borba)
Arquivo Bernoulli
Salvador
Forte
Missão 0 440 km
Cabe ainda ressaltar que o estímulo à extração desses produtos da região amazônica se vinculava ao interesse europeu
pelas folhas exóticas do Novo Mundo, diante da precariedade dos conceitos medicinais na Europa Moderna. Sendo assim,
a extração das drogas do sertão atendia aos interesses mercantilistas portugueses, afinal, o alto preço atribuído a esses
produtos beneficiava os metropolitanos.
principal atividade agrícola em solo brasileiro, perdendo outras atividades que a complementavam. Essas atividades
apenas para o cultivo da cana-de-açúcar. A Coroa portuguesa atendiam à demanda do mercado interno, da própria lavoura
chegou a criar a Junta do Tabaco em 1674 com o intuito de açucareira, além de também se inserirem no contexto do comércio
proibições papais. O vasto mercado e as vantagens na possuíam menos hectares, mas raramente empregavam mais do
exportação, o baixo custo para obtenção do fumo - de modo que vinte escravos.
geral, os investimentos eram reduzidos se comparados com Além disso, o baixo custo da lavoura de fumo (em torno de
a atividade canavieira – e a facilidade da produção foram um terço do de cana) permitiu a participação de portugueses
elementos determinantes para o surgimento de grandes e brasileiros com baixos recursos financeiros. O percentual de
fazendas fumageiras. brancos com lavoura de tabaco foi se reduzindo, até que, “por
volta de 1780, mulatos e negros livres já constituíam cerca
Gradativamente, as lavouras fumageiras se espalharam
de 30% dos produtores”. (Nizza da Silva, Maria Beatriz (Org.),
por toda a América Portuguesa, mas se mantiveram
op. cit, pág. 778.)
concentradas na região do Recôncavo Baiano, pois salvador
era o porto colonial que recebia o maior número de escravos. Diferentemente do açúcar, o tabaco procurou combinar-se
com a criação de gado, pois o esterco era utilizado comumente
de São Vicente até o Ceará. Até a capitania de Minas Gerais, como importante e rentável produto nas exportações,
no contexto da decadência da mineração, desenvolveu a principalmente após a abertura dos portos, em 1808, favorecendo
atividade produtora de algodão como alternativa em meio o comércio direto com mercados europeus, eliminando a
74 Coleção 6V
Brasil Colônia: Atividades Econômicas Complementares
Souza, introduziu o gado na capitania de São Vicente. B) ser responsável pelo surgimento de uma nova classe
de proprietários que se opunham à escravidão.
Desta, foi levado para a Bahia por Tomé de Souza. Inicialmente,
o gado encontrava-se estreitamente vinculado à produção C) ter estimulado a exportação de carne para a metrópole
e a importação de escravos africanos.
açucareira, com o proprietário rural assumindo a posse sobre
D) ter-se desenvolvido, em função do mercado interno,
HISTÓRIA
os rebanhos.
em diferentes áreas no interior da colônia.
A criação de gado estava dirigida para atender à alimentação
E) ter realizado os projetos da Coroa portuguesa para
dos engenhos, fornecer tração animal para a moenda e à utilização intensificar o povoamento do interior da colônia.
do couro no vestuário. Com a mineração, o gado ampliou sua
área de atuação, atravessando o sertão nordestino, os campos 02. (UECE) A peculiaridade da pecuária sertaneja no Brasil
vicentinos e integrando o sul da colônia ao mercado interno. do século XVIII esteve ligada principalmente às relações
de trabalho nela estabelecidas. Acerca dessas relações,
Entretanto, no próprio século XVI, o gado havia sido obrigado
é correto afirmar-se que
a buscar novas áreas de pasto em virtude da expansão da lavoura
A) predominava o trabalho escravo em larga escala,
canavieira, que demandava maiores extensões de terras livres semelhante ao sistema aplicado nos grandes
para o cultivo. Com isso, os criadores de gado foram levados a engenhos de açúcar.
buscar novos pastos no interior da colônia, em geral, seguindo o B) havia predominância do trabalho de negros libertos,
curso de grandes rios, como o São Francisco. [...] mestiços livres, brancos pobres e, em pequena escala,
escravos africanos.
A mandioca, uma raiz tropical conhecida como cassava e
aipim, tornou-se a principal fonte de alimentação na colônia, C) a mão de obra negra e escrava na pecuária era maioria
em relação a outros trabalhadores, mas diferenciava-se
em especial para os escravos e colonos portugueses empobrecidos.
pelo fato de o trabalho ser mais brando.
Para atender ao mercado interno, surgiram zonas especializadas
D) nas fazendas de gado, o percentual de livres e
na produção da mandioca, por exemplo, Maragogipe, Jaguaripe,
escravos era em torno de cinquenta por cento para
Cairu e Camamu, localizadas no litoral e nos recôncavos baianos,
cada categoria, uma vez que era um trabalho que
que abasteciam Salvador e cidades próximas. exigia um grande número de trabalhadores.
Apesar disso, a fome fez parte do cotidiano da população no
03. (UFRN) Na colônia portuguesa da América (Brasil),
Brasil Colônia. Visando a reduzir os gastos com a alimentação dos
o gado era fundamental para a produção açucareira que
escravos, alguns proprietários liberavam uma pequena parcela
se expandia pelo litoral nordestino. Todavia, uma Carta
da terra para que os mesmos cultivassem alimentos para si. Régia de 1701 proibiu a criação de gado em uma faixa
A chamada brecha camponesa permitiu aos escravos produzirem de oitenta quilômetros da costa para o interior.
alimentos para a sua subsistência e também um excedente O objetivo dessa medida régia era
negociado no próprio engenho, ou mesmo nos mercados urbanos. A) garantir o cultivo da cana-de-açúcar no litoral e, ao
Os ganhos arrecadados pelos escravos permitiam “a compra da mesmo tempo, estimular a colonização dos sertões
liberdade. A própria Igreja encorajava a compra da liberdade com a pecuária.
pelos negros, com o que poupassem vendendo excedentes. B) proibir o desenvolvimento de atividades produtivas no
O dinheiro recebido era empregado na compra de outros escravos”. litoral, com o intuito de dificultar a invasão da colônia
(CARDOSO, Ciro Flamarion Santana. Escravo ou camponês? por outros povos.
O protocampesinato negro nas Américas. São Paulo: Editora C) estimular a pecuária nos sertões, almejando impedir
Brasiliense, 1987. pág. 100.) [...] a proliferação da produção açucareira, que se tornara
economicamente inviável.
AQUINO, Rubim Santos Leão de. Sociedade Brasileira:
D) impedir a pecuária no litoral, onde era mais rentável
uma história através dos movimentos sociais.
que o açúcar, como forma de favorecer os interesses
Rio de Janeiro: Record, 2000. p. 152-155. [Fragmento]
dos senhores de engenho.
04. (FUVEST-SP) Os que trazem [o gado] são brancos, B) A aquisição de gado baiano mostra que a pecuária
mulatos e pretos, e também índios, que com este trabalho foi uma prática econômica importante para o
procuram ter algum lucro. Guiam-se indo uns adiante desenvolvimento da mineração. Afinal, foi o trânsito
do gado que impulsionou as primeiras descobertas
cantando, para serem seguidos pelo gado, e outros vêm
de metais preciosos no território colonial.
atrás das reses, tangendo-as, tendo o cuidado que não
saiam do caminho e se amontoem. C) O crescente comércio de gado destacado no trecho
se relaciona com um dos efeitos da instalação da
ANTONIL. Cultura e opulência do Brasil. 1711. atividade mineradora. No caso, o rápido e volumoso
O texto expressa uma atividade econômica característica incremento da população localizada no interior do
território colonial.
A) do sertão nordestino, dando origem a trabalhadores
D) O comércio de gado, apesar de volumoso, era uma
diferenciados do resto da colônia.
atividade ilegal durante o período colonial. A Coroa
B) de regiões canavieiras onde se utilizava mão de obra Portuguesa exigia que esse tipo de mercadoria fosse
disponível na entressafra do açúcar. exclusivamente importada da metrópole.
C) de todo o território da América portuguesa onde era E) Muitos estudiosos colocam em dúvida a dimensão
fácil obter mão de obra indígena e negra. dada à criação bovina feita “ao longo do Rio
São Francisco”. Isso porque a região Nordeste é
D) das regiões do Nordeste, produtoras de charque, que
historicamente conhecida por seus graves problemas
empregavam mão de obra assalariada. ligados à seca.
E) do sul da colônia, visando abastecer de carne a região
açucareira do Nordeste. 02. (ESPM-SP) O último quartel do século XVIII constitui uma
nova etapa de dificuldades para a colônia. No Maranhão,
05. (UFRN) Os estudos históricos sobre a formação do espaço entretanto, ocorreu uma euforia em virtude do aumento
norte-rio-grandense mostram que o povoamento do da produção do algodão.
interior do Rio Grande do Norte intensificou-se a partir da FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil.
segunda metade do século XVIII, época em que estava
Quanto à produção de algodão no Maranhão nas últimas
consolidado o povoamento português no litoral e a Europa décadas do século XVIII, é correto afirmar:
entrava no processo da Revolução Industrial.
A) Teve origem exclusivamente em fatores internos,
Nesse período, na capitania do Rio Grande, a organização tais como a formação de uma indústria têxtil apoiada
socioeconômica das áreas do sertão foi marcada pela metrópole.
A) pelo estabelecimento de uma economia monocultora, B) Não contou com nenhum investimento metropolitano,
em que o algodão conquistou as áreas antes tendo sido a cotonicultura declarada ilegal pelo
destinadas à pecuária. Marquês de Pombal.
EXERCÍCIOS 03. (PUC RS) Responda à questão com base no mapa a seguir,
sobre a criação de gado no Período Colonial brasileiro.
PROPOSTOS
01. (IFGO) O artigo mais importante do intercâmbio com as
PENV
Minas era o gado bovino. Os currais baianos exportavam
para as Gerais boiadas e mais boiadas. Esse negócio era
muito vantajoso para os criadores que tinham currais ao
longo do Rio São Francisco. Gado
Vacum
ZEMELLA, Mafalda. O abastecimento da capitania das Minas
CAMPOS DE PARANAPANEMA
Gerais no século XVIII. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1990. p. 72. CURITIBA
GUARAPUAVA Área de Mineração
Assinale a alternativa correta.
LAGES Sorocaba
A) O trecho demonstra o equívoco dos estudos históricos PALMAS
que apontavam o século XVIII como o “século do VIAMÃO
ouro” na economia colonial e que o grande produto VACARIA
76 Coleção 6V
Brasil Colônia: Atividades Econômicas Complementares
HISTÓRIA
proporcionando uma integração econômica com a
região mineradora.
Relacione a agroindústria açucareira com a pecuária, no
D) a pecuária só se desenvolveu no Brasil Colonial em Nordeste brasileiro, considerando
função do ciclo canavieiro, tendo por único objetivo A) a mão de obra utilizada.
abastecer de carne e couro a população litorânea, B) o papel social na vida da colônia.
carente desses produtos.
E) o gado criado no Rio Grande do Sul não tinha boa 06. (ESPM-SP) As primeiras atividades econômicas praticadas
aceitação no mercado interno colonial, por seu alto pela colonização portuguesa no Brasil tiveram por cenário
custo, devido à enorme distância que separava o Sul apenas o litoral do leste-nordeste brasileiros, sem que de
do Sudeste minerador, além da concorrência da carne modo sensível penetrassem no vago e misterioso sertão,
estrangeira, de melhor qualidade. ainda ocupado por tribos selvagens. Determinava essa
situação o desinteresse econômico por qualquer tentativa
de fixação de povoadores em regiões mais afastadas
04. (Unicamp-SP) Segundo Caio Prado Jr., o extenso território
IITP do mar.
brasileiro foi responsável por tornar as comunicações
Assim, enquanto sob os Reis Filipes penetravam os
difíceis e morosas. Havia vias fluviais extensas e
Vicentinos pelo sul na caça ao índio, ao mesmo tempo
navegáveis, como nas bacias Amazônica e Platina, mas
em que se sucediam as conquistas litorâneas em todo
os demais grandes cursos, como o São Francisco, Doce e o nordeste, a solução encontrada para o povoamento
Araguaia, tinham a navegação naturalmente dificultada. do sertão forneceu-a [...], atividade econômica
Grande parte dos investimentos ligados ao transporte se essencialmente fixadora de população, mesmo escassas.
VIANA, Hélio. História do Brasil.
concentrou, assim, nas vias terrestres. Carroças de bois e
tropas foram em geral os principais meios de transporte N
das mercadorias para as cidades e para os portos até Belém São Luís
como significado de “droga”, “todo o gênero de especiaria D) a economia açucareira foi marcada por uma expansão
aromática, tintas, óleos, raízes oficinais de tinturaria e contínua entre os século XVI e XVIII.
botica”. As “drogas do sertão” ficaram conhecidas, na E) a mineração não se caracterizou por um sistema de
historiografia, como os produtos nativos ou aclimatados, ciclo econômico, visto a sua constante expansão.
do Amazonas, Pará e Maranhão, muito procurados na
Europa como drogas medicinais, temperos ou tinturaria.
VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Colonial.
GABARITO Meu aproveitamento
Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2000. [Fragmento]
Aprendizagem Acertei ______ Errei ______
A exploração das drogas do sertão pelos jesuítas na
região amazônica, no Período Colonial, nos permite
• 01. D
05.
2 • A) Na lavoura açucareira, empregava-se o trabalho
escravo; na pecuária, predominava o trabalho livre
de mestiços, negros e índios.
1
• B) A sociedade do engenho caracterizou-se pela divisão
simbolizada na “casa-grande e senzala”, constituída
pela família do senhor de engenho que exercia total
1 650 1 700 1 750 1 760 1 800
autoridade, alguns poucos trabalhadores livres e os
Exportações (em libras esterlinas)
escravos negros. Complementarmente, a feição
Açúcar da sociedade era pautada pelo patriarcalismo, por
uma ordem aristocrática e maior rigidez social.
Ouro
Na sociedade do couro, os vaqueiros desfrutavam
Outros (pau-brasil, couro, tabaco, algodão, etc.) de relativa mobilidade social por receberem
pagamentos em crias, experimentando um maior
A economia colonial brasileira foi orientada sobre dois grau de flexibilização na organização social.
78 Coleção 6V
FRENTE MÓDULO
HISTÓRIA B 08
Brasil Colônia:
Invasões Estrangeiras
Durante o erguimento do Império Português no além-mar, O auge desses atritos na França ocorreu em 24 de agosto
muitos países europeus reagiram às excessivas aquisições de 1572, na famosa Noite de São Bartolomeu, quando
territoriais dos povos ibéricos em vários continentes. três mil protestantes foram massacrados após uma
O Tratado de Tordesilhas (1494) não era considerado válido fracassada tentativa de pacificação entre as duas religiões
por nações como Inglaterra, França e Holanda, que se por meio do casamento entre a princesa católica Margot de
Valois e o príncipe protestante Henrique de Navarra.
dispuseram, por meio de ações bélicas e diplomáticas, a ferir
seus fundamentos e a tentar povoar as terras americanas, Um dos reflexos desses atritos religiosos foi a opção de
asiáticas e africanas controladas por Portugal e Espanha. um grupo de calvinistas em migrar para as áreas americanas
com o objetivo de professar a fé protestante e fugir dos
Assim, a América Portuguesa, desde as primeiras décadas
conflitos religiosos que se intensificavam na França. O grupo
do século XVI, enfrentou a constante ameaça estrangeira.
estava sob a liderança do almirante Coligny, contando com
Destacam-se, nesse sentido, as invasões francesas e as
o apoio do capitão Nicolas Durand de Villegagnon. A opção
holandesas na região. pela América Portuguesa se fundamentou no contato dos
franceses com a região devido ao comércio do pau-brasil.
Canárias
Havana
O
Manila
AMÉRICA ÁFRICA
O
Filipinas
O OCEANO Lagos
Malaca
AN
Quito ATLÂNTICO
O
Lima Ascensão
Salvador
Moçambique CO
I
80 Coleção 6V
Brasil Colônia: Invasões Estrangeiras
A posse do reino de Portugal pela Espanha, chamada de O sucesso da empreitada estimulou a criação da Companhia
União Ibérica (1580-1640), veio acompanhada de uma das Índias Ocidentais em 1621, que seria responsável pela
prerrogativa legal: a manutenção da integridade territorial invasão do Nordeste brasileiro, área também controlada pela
do reino português por meio do Juramento de Tomar. Espanha em virtude da União Ibérica. O boicote espanhol,
Assim, não ocorreu uma união verdadeira entre os dois imposto aos holandeses, à comercialização do açúcar produzido
na América Portuguesa já havia provocado muitos prejuízos
países, mas uma apropriação do trono português por Filipe
aos holandeses desde o início da União Ibérica. Caberia à
II, que passou a ser conhecido como Filipe I no reino que
Companhia das Índias Ocidentais, portanto, organizar a
conquistara. Na prática, porém, o Juramento de Tomar teve
ocupação do Brasil para retomar o lucrativo comércio do açúcar
validade restrita, já que o controle de todas as áreas era
e recuperar investimentos anteriormente realizados na região.
realizado pela Corte castelhana.
Esse controle do reino português pela Espanha Invasões holandesas
acabou por consolidar um mito que ficou conhecido
como sebastianismo, ou seja, a esperança da sociedade N
OCEANO
portuguesa no retorno do jovem monarca que ATLÂNTICO
HISTÓRIA
desaparecera no norte da África. Durante a União Ibérica, São Luís
Arquivo Bernoulli
Atritos com a Holanda Zona de influência
holandesa Salvador 0 240 km
82 Coleção 6V
Brasil Colônia: Invasões Estrangeiras
HISTÓRIA
farsas e nem sempre do gosto mais delicado... está provado
Oliver Cromwell. Os Atos definiam que qualquer mercadoria
o seu conluio em contrabandos...”. Hélio Vianna completa:
que entrasse na Inglaterra ou dela saísse deveria ser
“Não foi, como o demonstram seus atos, o extraordinário
transportada por navios ingleses ou de seu país de origem.
Essa situação prejudicava substancialmente os holandeses, administrador que se quer apresentar. Não se sustenta a tese
já que eles dependiam do comércio, em especial, marítimo. de que tentou instalar Câmara de Escabinos, equivalente à
Em segundo lugar, cabe ressaltar que o sucesso da Insurreição de Vereadores usual em Portugal, nem foi liberal em matéria
Pernambucana ocorreu por meio do apoio português que, religiosa quanto proclamam admiradores”. Salienta Hélio
rompendo com a trégua dos 10 anos assinada com os Vianna que Nassau expulsou franciscanos, beneditinos,
flamengos, enviou navios de guerra ao território colonial.
carmelitas para inviabilizar o culto católico e insinua que, se
Além de intencionar retomar o controle das regiões
beneficiou a pregação calvinista, o fez por ter como amante
gerenciadas pelos holandeses, o novo governo português
temia que a luta dos pernambucanos pudesse culminar em a filha do pastor. Poderia fazê-lo, e à larga, porém sem tornar
um processo emancipatório. A vitória final dos luso-brasileiros a relação uma prática confessional.
ocorreu na chamada batalha de Campina do Taborda. Algumas verdades lhe são favoráveis. Trouxe,
no séquito, 46 cientistas, artistas, artífices, eruditos,
o que levou alguns admiradores a imaginar que entre as suas
intenções figurava a de instalar no Recife uma universidade
aberta. Chamou ao Brasil de “belo país que não tem igual
sob o céu.”
03. (ESPM-SP)
Quando o domínio espanhol sobre Portugal chegou ao
fim, no ano de 1640, o processo de decadência das duas
EXERCÍCIOS
antigas potências ibéricas se acelerou. PROPOSTOS
Para se recuperar da crise decorrente do domínio
espanhol, a coroa portuguesa fortaleceu a política
mercantilista. Em julho de 1642, Portugal criava o 01. (FGV-SP) Nascido da dor, nutrindo-se da esperança, ele
Conselho Ultramarino. é na história o que é na poesia a saudade, uma feição
PEDRO, Antonio. História do Brasil.
inseparável da alma portuguesa.
Desta maneira, o historiador português João Lúcio de
Quanto ao Conselho Ultramarino e sua relação com o Azevedo dimensionou a importância do sebastianismo
Brasil, é correto afirmar que para a cultura e para a história de seu país. Acerca desse
A) afrouxou o controle econômico português sobre o fenômeno, é correto afirmar:
Brasil.
A) Trata-se de uma tendência literária vinculada à poesia
B) afrouxou o controle político português sobre o Brasil. barroca, que influenciou fortemente a cultura lusitana
C) contribuiu para uma descentralização administrativa desde o início do século XVI.
que proporcionava maior autonomia aos donatários. B) Trata-se de uma corrente da ilustração portuguesa
D) determinou a criação do cargo de governador-geral desenvolvida no século XVIII e ligada a Sebastião
com o intuito de centralizar a administração. José de Carvalho e Melo, marquês de Pombal.
E) promoveu um arrocho metropolitano sobre a colônia C) Trata-se de uma vertente do pensamento liberal
incrementando um maior controle econômico e português contemporâneo baseada nas obras do
político. matemático José Sebastião e Silva.
84 Coleção 6V
Brasil Colônia: Invasões Estrangeiras
D) Trata-se de uma heresia protestante desenvolvida Esse ataque da companhia holandesa WIC pode ser
em Portugal, no século XVII, e muito difundida interpretado como
nas possessões coloniais, baseada no culto a São A) uma demonstração da importância da América
Sebastião. portuguesa, graças ao pau-brasil e ao café,
E) Trata-se de uma crença messiânico-milenarista mercadorias valiosas ao comércio holandês.
vinculada ao desaparecimento do rei Dom Sebastião
B) uma expressão da disputa, entre as potências
no norte da África, em 1578.
europeias, pelas minas de ouro, prata e diamantes
da América portuguesa.
02. (FGV-SP) A presença da Companhia das Índias Ocidentais
JGG8 C) um resultado da fragilidade da defesa na América
no nordeste da América Portuguesa, especialmente durante
a administração de Maurício de Nassau (1637-1644), portuguesa, devido ao maior interesse no comércio
caracterizou-se pelo de produtos orientais.
A) oferecimento de privilégios aos pernambucanos D) uma consequência direta do domínio britânico sobre
que se convertessem ao judaísmo, como a isenção Portugal e suas possessões coloniais, que os tornou
tributária e a possibilidade de obter empréstimos inimigos da Holanda.
bancários. E) um esforço holandês para manter e ampliar os lucros
HISTÓRIA
B) incentivo à utilização do trabalho livre, considerado no comércio internacional de açúcar, no período de
pelos holandeses mais produtivo, em detrimento do união das coroas ibéricas.
trabalho compulsório dos africanos.
C) favorecimento à participação dos proprietários 05. (UFG-GO) No período da União Ibérica (1580-1640),
luso-brasileiros nas instâncias de poder no Brasil o domínio espanhol sobre Portugal provocou também
holandês, como na Câmara dos Escabinos. mudanças político-econômicas importantes no Império
colonial português. Explique uma das mudanças ocorridas
D) confisco das propriedades dos cristãos-novos
na América Portuguesa, resultante da dominação
pernambucanos que lutaram contra a presença
espanhola.
holandesa, assim como de todos os bens da Igreja
Católica.
06. (UFT-TO) “Eu gostaria de ver a cláusula do testamento
E) processo de reorganização das atividades econômicas 6Z4A de Adão em que ele divide o mundo entre portugueses e
em Pernambuco, sobretudo com a troca da produção
espanhóis.”
de algodão pela de manufatura.
Essa frase, atribuída ao rei francês Francisco I, mostra a
determinação dos outros reinos europeus em participar
03. (Unesp) O artista holandês Albert Eckhout (c.1610-c.1666)
na colonização das regiões atlânticas como a América e a
esteve no Brasil entre 1637 e 1644, na comitiva de
Maurício de Nassau. A tela foi pintada nesse período e África. Foi o caso da Holanda, que separada da Espanha
pode ser considerada exemplar da forma como muitos em 1579, lançou-se ao mar. Sobre a relação entre Holanda
viajantes europeus representaram os índios que aqui e Portugal, durante o chamado Período Colonial, é correto
viviam. afirmar que:
A) A primeira expedição holandesa à América Portuguesa
conquistou Salvador, então capital da Colônia, em
1624. Os holandeses permaneceram na cidade até
1654, quando foram expulsos por uma expedição
portuguesa organizada em Luanda e apoiada por
indígenas e quilombolas locais.
B) Como parte da tentativa de se apropriar das colônias
portuguesas, os holandeses invadiram Olinda e Recife
em 1630 e Luanda em 1641, conquistando o principal
porto fornecedor de escravos e duas importantes
zonas produtoras de açúcar.
C) Como parte da estratégia holandesa, a Companhia
das Índias Ocidentais, depois de conquistar Recife e
ECKHOUT, Albert. Índia Tarairiu (tapuia). 1641. Olinda, também conquistou a cidade de Luanda em
1641. Seu objetivo era vender o açúcar americano
Identifique e analise dois elementos da imagem que
expressem esse “olhar europeu” sobre o Brasil. no aquecido mercado africano.
D) O português Domingos Fernandes, o Calabar, o herói
04. (FAMECA-SP) Na escolha do Brasil como alvo do ataque de Guararapes, liderou a Insurreição Pernambucana
empresado pela WIC pesou uma variedade de motivos. que, depois de muitos combates, expulsou os
A América portuguesa constituiria o elo frágil do sistema holandeses em 1654, pondo fim ao projeto holandês
imperial castelhano, em vista da sua condição de de produzir açúcar nas Américas.
possessão lusitana, o que conferia à sua defesa uma E) Os holandeses, por meio das ações de Maurício de
posição subalterna na escala de prioridades militares do Nassau, abandonaram Luanda em 1641 e se lançaram
governo de Madri. Contava-se também com a obtenção à conquista do Grão-Pará e Maranhão em 1644, que
de lucros fabulosos a serem proporcionados [...]. funcionou a partir de então como importante ponto
MELLO, Evaldo Cabral de. O Brasil holandês. 2010. de produção de açúcar para o mercado europeu.
07. (UFRJ) [...] Assim, antes de partir de França, Villegagnon 08. (FADI–2015) A segunda metade do século XVII em
prometeu a alguns honrados personagens que o Portugal parecia promissora. Afinal, em 1640 tinha-se
acompanharam fundar um puro serviço de Deus no dado a Restauração (o fim da União Ibérica, com a
lugar em que se estabelecesse. E depois de aliciar os autonomia de Portugal perante a Coroa espanhola). Oito
marinheiros e artesãos necessários, partiu em maio de anos depois, Angola seria recuperada aos holandeses e,
1555, chegando ao Brasil em novembro, após muitas em 1654, o mesmo aconteceria com o Nordeste brasileiro.
tormentas e toda a espécie de dificuldades. O Atlântico sul português, e com ele Lisboa, podia agora
Aí aportando, desembarcou e tratou imediatamente respirar mais livremente. Logo, entretanto, viriam os
de alojar-se em um rochedo na embocadura de um pesadelos.
braço de mar ou rio de água salgada a que os indígenas FRAGOSO, João; FLORENTINO, Manolo; FARIA, Sheila.
chamavam Guanabara e que (como descreverei A economia colonial brasileira.
oportunamente) fica a 23° abaixo do equador, quase
Um desses “pesadelos” foi
à altura do Trópico de Capricórnio. Mas o mar daí o
A) a invasão francesa ao Rio de Janeiro, centro político-
expulsou. Constrangido a retirar-se avançou quase uma
-administrativo da colônia, a fim de formar um império
légua em busca de terra e acabou por acomodar-se
no Novo Mundo.
numa ilha antes deserta, onde, depois de desembarcar
B) a queda do preço do açúcar, resultado da concorrência
sua artilharia e demais bagagens, iniciou a construção de
das Antilhas, após a expulsão dos holandeses do
um forte, a fim de garantir-se tanto contra os selvagens
Nordeste brasileiro.
como contra os portugueses que viajavam para o Brasil
C) o esgotamento das minas de ouro, devido à exploração
e aí já possuem inúmeras fortalezas.
desenfreada pelos ingleses, que detinham as técnicas
LÉRY, Jean. De viagem à terra do Brasil. de extração do metal.
Rio de Janeiro: Bibliex, 1961. p. 51.
D) o monopólio espanhol sobre o tráfico negreiro, após
[...] Por esse tempo, agitava-se importante controvérsia a conquista das áreas fornecedoras até então sob
Ocidentais), a qual se travou principalmente entre as E) o aumento da dívida externa, a fim de custear a
câmaras da Holanda e da Zelândia. Versava sobre se seria guerra de Restauração e a instalação do sistema de
proveitoso à Companhia franquear o Brasil ao comércio capitanias na colônia.
Ao longo dos séculos XVI, XVII e início do XVIII, várias C) a holandesa, em Pernambuco, foi favorecida pelo
potências europeias invadiram a América Portuguesa. constante reforço vindo da Holanda, o auxílio de
Houve breves invasões e atos de pirataria ao longo do cristãos-novos residentes na região e por estarem
seus soldados mais bem armados e mais experientes.
litoral no início do século XVI. Posteriormente, outras
invasões iriam adquirir características diferenciadas. D) a resistência luso-brasileira à invasão pernambucana
As formas de invasão e ocupação, assim como estratégias foi organizada em grupos de guerrilha e contou com
a liderança de Domingos Fernandes Calabar, morto
e interesses econômicos seriam diversos.
lutando contra os holandeses.
A) Aponte duas razões para a invasão e o estabelecimento
E) embora a resistência luso-brasileira em Pernambuco
colonial de franceses (a França Antártica) no litoral
contasse com a vantagem do fator surpresa e melhor
do Rio de Janeiro entre 1555 e 1567.
conhecimento do terreno, os holandeses acabaram
B) Identifique o principal interesse da Cia. das Índias por conquistar o Nordeste, onde se estenderam desde
Ocidentais na invasão de Pernambuco, em 1634. o Maranhão até a Bahia.
86 Coleção 6V
Brasil Colônia: Invasões Estrangeiras
10. (FASM-SP) Examine a foto que mostra arquitetura Pra buscar lagosta
com características da cultura holandesa em Recife, Pra levar pra festa
Pernambuco, em 2004. Em Jaboatão
Vamos preparar
Lindos mamulengos
Esse é um trecho do samba-enredo “Onde o Brasil
aprendeu a liberdade”, da escola de samba Unidos de
Vila Isabel, de 1972, que foi escrito por Martinho da Vila,
Rodolpho e Graúna. O samba-enredo faz referência à luta
contra a presença holandesa, no período colonial brasileiro.
Considerando o contexto da dominação holandesa na
Projeto Araribá: História. 2007.
América Portuguesa, pode-se afirmar corretamente que
Tal legado na arquitetura de Recife pode ser explicado
HISTÓRIA
A) os holandeses invadiram a colônia portuguesa,
A) pelo acordo firmado entre Portugal e Holanda, no porque Portugal proibiu que a Companhia das Índias
século XVI, que concedia às companhias mercantis Ocidentais holandesas continuasse a comprar o açúcar
holandesas o monopólio do comércio do açúcar produzido no Brasil para ser revendido na Espanha.
produzido no Nordeste brasileiro desde o início da B) o início da ocupação holandesa na América Portuguesa
colonização. se deu pela Bahia, sede do governo colonial e principal
B) pelo intercâmbio técnico e comercial, estabelecido no produtora de açúcar no século XVII, e se estendeu
século XVII, entre colonos holandeses das Antilhas e até a Capitania do Maranhão.
senhores de engenho do Nordeste brasileiro, a fim de C) durante o governo de Maurício de Nassau, a
aumentar a produtividade da economia açucareira. insatisfação dos nordestinos atingiu seu cume, pois,
C) pela atuação de judeus holandeses, descendentes de nessa época, os holandeses começaram a cobrar os
portugueses, que fugiram das perseguições religiosas empréstimos anteriormente feitos aos senhores de
e estabeleceram-se no Nordeste brasileiro, onde engenho e puniam com severidade aqueles que não
começaram a financiar a instalação dos engenhos. os pagassem.
americanos.
• 09. C
• 10. D
B) revela-se constrangido por ter de recorrer a um
invento de “selvagens”.
• 11. D
C) reconhece a superioridade das sociedades indígenas Seção Enem Acertei ______ Errei ______
americanas com relação aos europeus.
• 01. E
D) valoriza o patrimônio cultural dos indígenas • 02. E
americanos, adaptando-o às suas necessidades. • 03. D
E) valoriza os costumes dos indígenas americanos porque
eles também eram perseguidos pelos católicos. Total dos meus acertos: _____ de _____ . ______ %
88 Coleção 6V