Protegida Pelo Cowboy Intensa Tentação Thatyanne Tenório
Protegida Pelo Cowboy Intensa Tentação Thatyanne Tenório
Protegida Pelo Cowboy Intensa Tentação Thatyanne Tenório
FICHA TÉCNICA:
REVISÃO: T. T. Editorial
DESIGN CAPA: Designer T. Tenório
@autorathatyanne
autorattenorio@gmail.com
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos
descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais, é mera coincidência.
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.
Todos os direitos reservados.
É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa
obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o
consentimento escrito da autora.
Esse é o primeiro livro que escrevo em primeira pessoa, então virou meu
mais novo amor. Espero que a história conquiste seus corações, assim como
conquistou o meu.
Protegida pelo Cowboy – Intensa Tentação, é proibida para menores de
18 anos, por conter: violência explícita, gatilhos, conteúdo sexual e palavrões.
Após ler deixe uma avaliação, é muito importante para que outras pessoas
vejam e se sintam incentivadas a fazer o mesmo.
Àqueles que se aventuram nas páginas deste livro, que encontrem nas
linhas e entrelinhas um refúgio, uma paixão e, acima de tudo, uma jornada
inesquecível pelo coração humano. À Jessica D. Santos que de coração imenso,
me ajudou quando me vi perdida. Muito obrigada!
Com carinho e gratidão, Thatyanne Tenório.
NOTA DA AUTORA
DEDICATÓRIA
SINOPSE
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
EPÍLOGO
Aos 23 anos, Isobelle Monteiro é uma jovem professora recém-formada
que ainda morava com a mãe e o padrasto, mas desde criança sentia a
indiferença que a mãe tem por ela, e mesmo assim, por ter um coração bondoso,
tentava ter a aprovação dela para uma boa convivência.
Ela sempre notou os olhares maldosos do homem que a criou e que sempre
a quis controlar, jamais imaginou que a sua vida poderia desmoronar.
Uma fuga.
Uma nova cidade.
Ele prefere cuidar dos animais e lidar com eles, do que com pessoas, e
principalmente ter o controle de tudo ao seu redor. Porém, a chegada de uma
jovem em suas terras pode mudar todos os seus ideais, e sem que percebesse, o
instinto protetor surgiu de uma maneira como nunca havia acontecido.
Isobelle
Do meu quarto conseguia ouvir as vozes abafadas dos amigos do marido
da minha mãe. Todo domingo era sempre o mesmo: eles se reuniam aqui em
casa, bagunçavam tudo e depois iam embora deixando a sujeira de presente.
Assim que saí do quarto, pude ouvir melhor a gritaria dos primatas. Ao
parar no topo da escada vi a minha mãe ir à cozinha, enquanto segurava algumas
latas de cervejas vazias. Soltei um rápido suspiro e me dirigi a ela.
Já na cozinha, ela abriu quatro cervejas com um sorriso bobo. No fogão
havia algumas panelas e na mesa petiscos.
— Leve essas cervejas para eles – mandou minha mãe assim que me viu.
— Rápido!
— Mãe, eu estava pensando em...
— Márcia! – Ao olhar para trás vi o meu padrasto e os amigos olhando em
nossa direção. — Cadê as cervejas?
— Já está indo, meu amor. – O sorriso da minha mãe era o mais
apaixonado que eu já tinha visto. — Isobelle!
Ao ouvir o tom de bronca, peguei as quatros cervejas e me encaminhei
para a sala. Assim que os amigos do meu padrasto me encararam de cima a
baixo, me senti constrangida. Parecia que eles podiam me despir somente com os
olhos e aquela sensação não era legal. Entreguei as cervejas para cada um e
quando estendi a de Jorge, os seus dedos tocaram nos meus. Recolhi a mão com
rapidez e, antes de desviar o olhar, vi o sorriso de lado que ele mantinha.
Apressadamente saí da sala e me dirigi para a cozinha.
Podia ser coisa da minha cabeça, mas não era a primeira vez que Jorge
fazia aquilo, sempre que podia ele me tocava de alguma forma ou me olhava tão
intensamente que eu me sentia invadida.
— Me ajude no almoço. Você só passa o dia naquele quarto.
Sem responder, fui até a panela. Ao destampá-la senti o aroma delicioso
do feijão.
Eu trabalhava a semana inteira, sem descanso, em uma butique no
shopping, mas como minha mãe falava dava a entender que eu não fazia nada.
— Prepare as fatias para assar na churrasqueira – mandou e logo
continuou: — Depois vá trocar esse short, estamos com homens em casa.
Assim que ouvi aquilo, parei o que fazia para olhar minha mãe.
— E não me olhe desse jeito – disse se aproximando, o dedo em riste na
minha direção. — Quando você estiver morando sozinha na sua casa, pode andar
até pelada, mas não quero que use esses tipos de roupas perto do Jorge.
— E o que tem as minhas roupas, mãe? – questionei, observando-a colocar
as mãos na cintura.
— O que tem? – repetiu incrédula. — Anda feito uma qualquer, se
exibindo... eu não quero isso!
Incrédula, balancei a cabeça e desviei o olhar.
Talvez eu devesse mesmo ir embora, morar em minha casa, ter minha
privacidade. Voltei a minha atenção para a pia e busquei os pedaços de frango.
Eu trabalhava há cinco meses na butique, tinha juntado um pouco de dinheiro
que poderia me ajudar caso eu decidisse alugar um apartamento. Um que fosse
barato. Na verdade, bem barato.
— Se os jovens escutassem os pais evitariam muitas coisas – minha mãe
voltou a falar me tirando do devaneio. — Por que acha que tanta desgraça
acontece nas famílias? Principalmente com essas jovens sem nada na cabeça.
Um pouco nervosa com aquele pensamento da minha mãe, me virei para
ela e cruzei os braços.
— O que está querendo insinuar? Que a culpa por essas coisas
acontecerem são das vítimas? Mãe, pelo amor de Deus! Como pode pensar dessa
forma?!
— Como se o que eu estivesse falando fosse mentira – retrucou abrindo a
geladeira. — No meu tempo essas coisas não aconteciam, sabe por quê? Porque
cada um sabia o seu devido lugar. Cada mulher sabia se valorizar, mas hoje?
Muitas estão aí se envolvendo com quem não presta, se vestindo dessa forma...
como se respeita uma mulher que não se veste mais composta?
— No tempo da senhora tudo era encoberto, mãe. Os maridos podiam trair
sem serem julgados e nós mulheres tínhamos que ficar caladas e submissas. Mas
hoje os tempos são outros. Estamos lutando para sermos ouvidas e respeitadas.
Nós...
— Isso é besteira! Não vem com essa ladainha de sempre.
Cansada demais, lavei as minhas mãos na torneira e logo em seguida
passei por minha mãe.
— Para onde vai?! – perguntou-me indo até a entrada da cozinha. —
Isobelle, volte aqui! Isobelle!
— Isobelle!
Ao ouvir a voz de Jorge, parei no meio da escada e me virei em direção à
sala. Estava amedrontada com a forma que ele me encarava, mas não
demonstraria.
— Não está ouvindo a sua mãe falar com você?
Olhei para a minha mãe e a vi com uma expressão furiosa.
— Eu não sou surda – respondi.
E percebi que os amigos dele riram, fazendo-o respirar fundo.
— Volte agora mesmo e peça desculpas para a sua mãe.
Revirei os olhos ao ouvir aquela frase e continuei andando em direção ao
meu quarto. Eu poderia estar sendo infantil? Sim, mas quando a minha mãe
começava com aqueles pensamentos tão machistas, eu preferia sair de perto,
antes que uma briga maior acontecesse. Já no quarto fechei a porta e suspirei.
Qual era o meu problema? Eu tinha vinte e três anos, e estar naquela casa não
era tão saudável como antes.
Eu não gostava de brigar com a minha mãe, nem quando Jorge se
intrometia nessas discussões achando que tinha algum poder sobre mim. Então,
certa do que eu deveria fazer, fui até meu guarda-roupa e busquei a minha
mochila. Assim que parei em frente as gavetas, respirei fundo e comecei a pegar
algumas peças.
Em um rompante minha porta foi escancarada.
— O que está fazendo?
Ignorando minha mãe, voltei ao guarda-roupa e peguei minhas calcinhas e
sutiãs.
— Eu vou embora – falei e me xinguei ao sentir que estava soando
infantil. — Eu a amo muito, mas parece que faz de tudo para que eu a odeie.
— Você me odeia? – indagou incrédula. — Como pode dizer isso?
Nervosa, deixei a mochila na cama e me virei totalmente para a minha
mãe.
— Mãe, eu não a odeio – digo e balanço a cabeça —, mas a senhora faz
tudo parecer que eu sou a culpada de alguma coisa. Como se as roupas que eu
visto fosse para me exibir para alguém. Eu visto o que eu gosto, o que eu me
sinto bem.
— Você se veste como uma putinha! Isso lá é short de se vestir em uma
casa onde há um homem? Um que não é o seu pai?
Com o cenho franzido e sentindo meus olhos arderem, voltei minha
atenção para a mochila.
— Éramos mais felizes quando o Jorge não estava aqui – disse me
sentando na cama. — A senhora está completamente diferente.
De cabeça baixa, vi pelo canto do olho minha mãe ir até o guarda-roupa.
— Se quer ir embora, pode ir! – exclamou jogando algumas roupas em
mim. — Eu não vou deixar o homem que me dá o que preciso e que me ama, por
um capricho malcriado seu! Não consegue ver que eu estou feliz com ele?! Por
que insiste em ser como o maldito do seu pai?
— O meu pai não era um maldito!
— Não. – Negou com a cabeça apontando o dedo para mim. — O seu pai
foi um desgraçado que arruinou a minha vida quando me engravidou! Não era
para eu estar aqui, Isobelle, se eu estou é por culpa dele.
Magoada com o que tinha escutado, desviei o olhar e senti as minhas
lágrimas caírem livremente. Não queria mais falar, eu só queria ficar sozinha e
pensar para onde eu iria. Saber que fui um erro na vida de alguém, me
machucava bastante.
— Então se quiser, pode ir! Não dou dois dias você volta com o rabinho
entre as pernas. Não consegue viver sozinha, não vai conseguir se manter
sozinha, sabe por quê? Porque sabemos que você é fraca, Isobelle. E ser fraca
desse jeito está no gene do seu pai.
Meu coração doía e as minhas lágrimas caíam sem eu impedir. Não era
justo minha mãe falar aquelas coisas do meu pai. Ele sempre fez de tudo para
nos dar conforto e, foi pelo esforço do trabalho dele que tínhamos essa casa. Ao
ficar sozinha, encarei a mochila com as roupas. Cansada demais, deixei meu
corpo cair para trás, e fechei os olhos. Amanhã mesmo procuraria um lugar para
ficar, minha mochila não seria desfeita, porque se eu fizesse isso não teria
coragem para fazê-la novamente.
Na intenção de esquecer um pouco o mundo, busquei meu celular no
móvel ao lado da cama e meus fones. Havia perdido a fome e não queria ver
mais ninguém. Ao abrir o aplicativo de música, procurei o álbum que me
acalmava e me ajudava a dormir relaxada. Assim que dei play e ouvi a voz calma
ao fundo de um toque relaxante, respirei fundo.
— Sinto tantas saudades, pai – murmurei baixinho. — O melhor pai do
mundo.
Automaticamente, virei para o lado e me encolhi em posição fetal.
Assim que desci do segundo ônibus, bufei e segurei minha bolsa com a
força do ódio enquanto andava rapidamente até a entrada do shopping. Por
pouco não o havia perdido, e se isso tivesse acontecido eu com certeza teria que
ir andando. Enquanto andava, senti o celular dentro da minha bolsa vibrar, mas
sem dar muita atenção para aquilo, praticamente corri até o meu trabalho. Ao
estar próxima, avistei o segurança parado em frente a fachada.
Educadamente sorri e o cumprimentei.
Dentro da butique, minha gerente estava em pé ao lado do balcão. A
expressão era a costumeira seriedade, em todos os quatro meses que trabalhava
ali, nunca presenciei um sorriso em Gabriela. Ao passar por ela, vi o dedo de
unha vermelha apontar para o relógio de parede. Eram quase 8:20.
— Bom dia, Isabelle.
Quando meu nome foi proferido errado, segurei a vontade de revirar os
olhos. Não era complicado demais falar meu nome corretamente, mas não
entendia como ainda, sim, erravam.
— Bom dia, Gabriela.
Me encaminhei até os fundos onde no quartinho dos funcionários trocaria
as sapatilhas pelos saltos. Assim que entrei, vi Bruno e Michele com expressões
de seriedade. Sem entender, acenei e me aproximei.
— Bom dia, que caras são essas?
— Está rolando um boato de que a butique vai demitir alguns
funcionários.
Após o susto inicial, balancei a cabeça e o encarei.
— O quê? – franzi o cenho. — Por quê? Quem disse isso?
Bruno no mesmo instante levantou o dedo.
— Eu ouvi a Gabriela falando com dono da loja – respondeu me deixando
tensa. — Corte da empresa.
Sem acreditar naquilo, neguei com a cabeça e observei os dois. Aquilo não
poderia ser verdade, se eu perdesse aquele emprego seria o meu fim. Eu teria
como me manter nos primeiros dias, mas o dinheiro não duraria para sempre e eu
já estava convicta de que iria, sim, embora. Antes que eu pudesse falar, Michele
fechou a portinha do armário dela e alisou o vestido que usava.
— Bom, isso é uma merda – proferiu e ajeitou os cachos negros —, mas se
for verdade mesmo pelo menos vamos receber nossos direitos. Me entregando
tudo o que é meu, não causo briga.
Em silêncio fui até o meu armário, guardei minhas coisas e peguei meus
saltos.
— Eu tenho uma sorte enorme – falei irônica. — Quero me mudar e isso
acontece?
— Por que quer se mudar? – Bruno quis saber parado próximo da porta. —
Sua mãe? Ou seu padrasto?
Michele e Bruno sabiam das minhas discussões com minha mãe e
padrasto, eles eram meus amigos. O que não havia contado eram as investidas
que recebia de Jorge.
— Eu quero morar sozinha – respondi por fim. — Não quero passar o
resto da minha vida na casa da minha mãe. Eu sinto que ela quer ficar sozinha
com o Jorge.
— Que merda Belle – Michele lamentou enquanto se aproximava de mim
—, mas eu tenho certeza que se você sair hoje desse trabalho, você consegue
outro. Quando algo assim acontece, é para que outra melhor possa surgir. Minha
avó sempre fala isso.
— Espero que sim.
Sorri um pouco esperançosa.
— Agora vamos trabalhar.
Concordei e fechei meu armário.
Assim que saímos vi Gabriela no telefone, e alguns clientes ao redor.
Sorridente me encaminhei até uma senhora que me chamou, precisava focar no
meu trabalho e deixar os problemas de lado.
— Minha querida, preciso que me ajude na escolha de um vestido – a
senhora falou com um pequeno sorriso. — É um presente para minha neta.
— Claro. – Sorri acompanhando-a. — Qual o estilo da sua neta?
Assim que ouvi a resposta, a levei até uma seção onde havia lindos
vestidos. Cada um ali valia metade do meu salário, e outros mais caros que isso.
Com a sensação de que iria cair, eu abri meus olhos. Ainda sonolenta
rodei para o outro lado da cama e surpresa encarei a porta que se encontrava
entreaberta. Sentindo o coração disparar, me sentei lentamente e notei alguém
parado me olhando em meio a escuridão. Ao olhar para o chão vi uma poça de
sangue se formar e aquilo me assustou ainda mais. Prestes a me levantar, a porta
foi aberta com ignorância e dela, Jorge adentrou correndo em minha direção.
Paralisada de medo, não tive nenhuma ação quando ele se jogou sobre mim.
As mãos ensanguentadas exerciam forças em meu pescoço, fazendo o ar
faltar em meus pulmões.
— Fernanda!
Em desespero, tentei me soltar, mas não consegui.
— Menina! Acorde!
Então, em um susto, eu me sentei com as mãos em frente ao corpo. Tremia
com a respiração irregular, fitei Demétria e percebi que ela me encarava de
forma preocupada.
— Calma - pediu sentando-se ao meu lado. — Foi um pesadelo. Meu Deus,
olhe o seu estado. Venha cá.
Quando Demétria me abraçou, não consegui segurar o choro. O pesadelo
tinha sido tão real, que por um momento eu pensei que Jorge tinha me
encontrado. Abraçando-a mais intensamente, senti um carinho em meus cabelos.
— Shh, você deve ter passado por mal bocados. Está tudo bem, agora está
tudo bem.
— O-Obrigada.
Com delicadeza, ela colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e
sorriu.
— Vá se arrumar para o café - me pediu e um pouco confusa olhei para a
janela, o sol estava radiante. — Eu vim ontem à noite te chamar, mas você virou
para o outro lado da cama e continuou dormindo.
Apesar de ela sorrir descontraída, eu me senti envergonhada.
— Me desculpe, eu estava muito cansada. Eu saí pela madrugada e, apesar
do ônibus ser confortável, não é como uma cama.
— Você saiu pela madrugada?
Tensa, me xinguei mentalmente por falar demais. O olhar era de extrema
curiosidade, era como se eu conseguisse ler os questionamentos.
— Sim.
— Você está fugindo de alguém? – me perguntou enquanto me analisava,
talvez para descobrir se o que eu iria responder era verdade ou não.
— Sim – concordei por fim —, mas não quero falar sobre isso.
Após concordar, Demétria inclinou o corpo para o lado e pegou um par de
botas que eu não tinha visto.
— Tomei a liberdade de pegar os seus sapatos e lavá-los. Estavam muito
sujos.
— Obrigada, mas não precisava ter trabalho com isso – disse secando os
vestígios de lágrimas do meu rosto. — A senhora deve ter tanto o que fazer.
— Imagina – deu de ombros e me entregou as botas. — Tome, pode ficar
com esses.
— Mesmo? – indaguei os segurando. Eram botas bem bonitas, um pouco
pesadas, mas ainda, sim, bonitas. — Muito obrigada. Bem, acha que o Sr.
Menzzotti se importaria de me levar até a cidade?
— Não pense nisso agora – pediu ficando de pé. — Estarei na cozinha
esperando você para o café.
Antes de sair, ela me sorriu fazendo com que eu retribuísse. Após ficar
sozinha no quarto, olhei ao redor à procura da minha mochila. Ao encontrá-la
meio aberta próxima à janela, franzi o cenho e fui até ela. Com uma sensação
ruim se alastrando em meu corpo, abri o zíper e fucei por dentro. Parecia que
tudo estava por ali, mas ainda assim me senti um pouco estranha.
Soltei um suspiro e fitei além da janela.
Alguns trabalhadores estavam por ali e, mais afastado, estava Ernesto. Ele
mantinha os braços cruzados enquanto falava com os peões. Me aproximei mais
um pouco do vidro, e tentei encontrar Benício, mas não o vi.
Se eu tinha a intenção de ir cedo, precisava agir agora. Então, com a
mochila em mãos, fui até o banheiro. Após escovar os dentes e molhar o corpo,
vesti a mesma roupa que tinha ido dormir, e já no quarto calcei os pés com a
bota que tinha ganho.
Ao fechar a porta atrás de mim, ouvi uma música antiga soar pelo
ambiente. Curiosa, andei até a origem do som. Próxima da entrada da cozinha,
ouvi a voz de Demétria cantarolar a canção que tocava no rádio. Ela não tinha
percebido minha presença, pois estava empenhada em cantar afinadamente a
melodia. Parecia transportada para o passado, talvez em um bom momento que a
marcou de uma forma boa. Fiquei a observando sem saber se a interrompia, ou
não.
— Na minha juventude tinha o sonho de ser cantora.
Com aquela deixa, me aproximei com a alça da mochila no ombro.
— A senhora canta bem – comentei me sentando. — Imagino que tenha
sido difícil abrir mão desse sonho.
— Demais. – Concordou aproximando-se com o bule de café. — Se eu
fosse um homem poderia até andar sem as calças pelas ruas – brincou enquanto
me entregava uma xícara —, mas como deve saber tudo era mais complicado
para a gente.
— Sim.
— Me casei nova, acho que eu tinha quinze anos. Meu pai arranjou meu
partido.
— Quinze anos? – Mesmo sabendo que naquela época era normal casar
com essa idade, ouvir de Demétria, me deixou incomodada. — Como a senhora
se sentiu?
Assim que ela me deu um sorriso, me endireitei na cadeira. Dessa vez, ela
tinha colocado uma fatia de bolo na minha frente.
— Você é muito educada. Estou curiosa – murmurou sentando-se ao meu
lado — o que achou do Sr. Menzzotti?
— Como assim? – perguntei recebendo um sorriso contido. — Fiquei
agradecida pela hospitalidade. Ele poderia ter me mandado embora ontem.
— Poderia, e, aliás, se fosse outra pessoa, ele faria. O Sr. Menzzotti não
gosta de forasteiros por aqui, mas eu acho que ele ficou interessado.
Nervosa com aquele assunto, eu neguei com a cabeça, fazendo-a parar de
sorrir.
— Eu não estou interessada.
— E por que não? – franziu o cenho, ela parecia não ter gostado da minha
resposta. — Ele é bonito, viúvo, tem muito dinheiro, tem algumas mulheres por
aí, mas se ele se casar com a mulher certa talvez mude.
— Eu não quero soar rude – falei tentando controlar as batidas
desenfreadas do meu coração —, mas eu não quero me envolver com ninguém.
Por uns segundos ela me observou, mas logo anuiu e se afastou.
— Você não pensa em casar? É tão nova e bonita.
— Não, eu só quero recomeçar a minha vida. – Assim que eu disse, ela me
olhou e sorriu. — Eu não estou pronta para casamento.
— Eu compreendo. – Sorriu indo até o fogão, onde tinha algumas panelas.
— Você poderia me ajudar aqui? Os meninos comem bastante no almoço.
Ao terminar a fatia de bolo, bebi um gole do café e me levantei. Demétria
tirou a tampa de uma das panelas, e na mesma hora senti o perfume delicioso do
feijão.
— Acha que depois do almoço um deles poderia me levar à cidade?
— Você quer muito ir – falou e me olhou. — Por que não fica? O Sr.
Menzzotti não vai te mandar embora.
Surpresa com aquele convite, a observei atentamente.
— Eu não posso ficar. Já incomodei demais, e meu destino é Valença.
— Você mesmo disse que não tem família por lá – disse enquanto mexia a
panela de galinha. — Você não conhece ninguém, não sabe onde vai ficar ou
comer. Aqui você tem um quarto, pode comer à vontade. Aqui é seguro.
Assim que ela finalizou, senti meus olhos arderem.
— Por quê?
Demétria parou o que estava fazendo e voltou-se para mim. Com carinho
segurou minhas mãos e deu um pequeno sorriso.
— Porque você precisa de ajuda – murmurou e por dentro me senti
emocionada. — Então por que não fica e deixa ser ajudada? Não custa nada.
— O Sr. Menzzotti...
— Se você tivesse no jantar, saberia que ele concorda comigo.
Envergonhada, desviei o olhar, e ouvi Demétria rir.
— Eu não sei se posso ficar, não quero ser um incômodo.
— Fique pelo menos alguns dias. – Retrucou gentilmente. — A fazenda é
imensa, você pode conhecê-la se quiser. Tem um rio depois do pasto, ele é muito
bonito. A água pelo dia chega ser cristalina, mas a noite muda totalmente. –
Sorriu, e logo segurou uma das minhas mãos. — Fique, você vai gostar.
Após alguns segundos, a encarei e sorri.
— Se não for mesmo problema eu fico.
Me sentia aliviada, talvez aquilo fosse um sinal para que eu ficasse. No
entanto, minha mente me lembrou de que a qualquer momento a polícia poderia
me encontrar. Se eu explicasse a situação para Demétria, ela poderia me ajudar.
— Ótimo! Vou colocar no seu quarto algumas roupas para você, antes que
me esqueça – disse empolgada. — Tem uns vestidos no fundo do baú, que tenho
certeza de que cabem em você.
Sem saber o que responder, apenas sorri enquanto a observava ir.
Demétria sem dúvidas era uma boa pessoa, havia algo nela que me transmitia
bondade e me fazia sentir bem. Com a colher de pau que achei próximo ao
fogão, mexi o feijão fazendo o aroma delicioso se espalhar pela cozinha. De
forma curiosa destampei as outras panelas e vi que havia arroz, galinha, mais
feijão de outro tipo e macarrão.
— Dia!
Com o susto levei a mão ao peito, e tentando me acalmar vi Ernesto
parado na porta da cozinha. Segurava uma bituca de cigarro, nos lábios mantinha
um pequeno sorriso. Hoje ele não usava o chapéu de cowboy.
— Bom dia.
Após colocar a colher onde tinha pegado, me dirigi a cadeira.
— Vai hoje? – me questionou enquanto empurrava a porta. — Se quiser
carona pode vir comigo. Vou até a cidade comprar uns remédios pra os cavalos.
Encostado a porta, ele me observou à espera de uma resposta. O cigarro
que antes ele segurava, foi jogado por cima do ombro, mas ainda assim o fedor
do fumo ficou por alguns minutos no ar. Sua atenção não saía de mim, então
cruzei os braços e o encarei.
— Vou passar uns dias na fazenda, mas obrigada pelo convite.
— Mesmo? – perguntou interessado. — Sr. Menzzotti te convidou?
Antes que eu pudesse respondê-lo, Demétria voltou com um pequeno
sorriso de lado. Ao ver Ernesto ali, franziu o cenho e se aproximou da mesa.
— O que faz na minha cozinha?
— Tô indo à cidade – respondeu finalmente desviando os olhos de mim. —
Vim ver se a Fernanda aceitava carona pra ir embora.
— Ela não vai mais embora – disse e se encaminhou para o fogão. — E eu
já disse que não quero esse fedor de cigarro na minha cozinha.
Sentada onde estava, vi Ernesto suspirar e voltar a me olhar. Parecia
querer me desvendar, e eu até conseguia perceber os questionamentos. Então, em
silêncio, ele acenou em minha direção e foi embora. Com a saída dele, respirei
mais aliviada e fitei Demétria.
— A senhora tem filhos?
— Tenho cinco – respondeu me deixando surpresa —, mas eles estão na
capital. Resolveram ganhar a vida na cidade grande, quase ninguém prefere a
roça. – Assim que terminou de falar, me observou. — Fico feliz que tenha
aceitado passar esses dias por aqui.
— Espero que o Sr. Menzzotti não se incomode – disse e quando vi
Demétria juntando os pratos sujos me levantei. — Eu ajudo a senhora.
— Você era acostumada a fazer os serviços domésticos?
— Sim, desde a minha adolescência. – Falei enquanto colocava os pratos
sujos na enorme pia. — Eu trabalhava fora, mas sempre ajudei minha mãe.
— É dela que você está fugindo? – Demétria me observava e um pouco
nervosa engoli em seco. — Só estou curiosa, porque, não é sempre que uma
jovem tão linda como você aparece por essas bandas.
— Bem... a minha mãe se casou de novo – comecei a falar um pouco
relutante. — E aparentemente ela não me vê como filha.
— Oh querida, eu sinto muito. E o seu pai?
— Ele faleceu quando eu ainda era pequena – respondi sentindo a tristeza
se apossar de mim. — Eu não me lembro muito bem dele, mas eu sinto saudades
todos os dias.
— Eu sinto muito – repetiu e logo me sorriu. — Verá que esses dias aqui
vão te fazer muito bem.
Assim que ela terminou de falar, me virei a pia começando a lavar os
pratos. O rádio, que antes tocava canções antigas, deu espaço para as notícias do
que acontecia. Em alerta esperei que algo sobre o acontecido a Jorge fosse
noticiado, mas os minutos se passavam e nada foi comentado. Talvez Jorge não
tivesse morrido, e a polícia não sabia do que eu tinha feito.
No entanto, mesmo assim, eu não poderia voltar.
Minha mãe me odiava, e provavelmente Jorge se vingaria. Voltar para
Marsilac seria minha sentença de morte.
Olhei para Demétria e notei que ela falava sobre estar feliz por eu estar
ali. Queria poder desabafar sobre meus pensamentos, mas me sentia travada.
Queria poder ouvir de outra pessoa que eu não seria presa e que tudo ficaria
bem. Como uma confirmação para que os maus pensamentos fossem embora.
— Alguns são casados e moram em pequenas terras que o Sr. Menzzotti
deu. – Sorriu e me olhou. — Ele tem um bom coração.
— Bem generoso da parte dele.
— Os solteiros que não moram com os pais, moram nas casinhas que
ficam depois do celeiro.
Eu me sentia péssima.
Demétria queria manter uma conversa, mas eu queria poder me afundar em
pensamentos, na tentativa de traçar um plano para o que eu faria para
sobreviver. Mesmo com o convite de passar uns dias ali, não era como seu
pudesse ficar minha vida toda. Eu precisava ir, precisava arrumar um emprego,
um lugar para dormir. Quem sabe alugar uma casa? Eu ainda não sabia. Não
sabia se ficava nessa cidade, ou tentaria a sorte em outra.
Por um momento parei o que fazia.
Por que Rio de Janeiro? Por que não tentei ir para outro estado mais
distante?
— Fernanda?
Ao ouvir a voz de Demétria a olhei.
— Sim?
— O que foi? Ficou com uma carinha de preocupada. Ainda tem alguma
coisa que você queria falar?
Assim que coloquei a esponja na pia, e me virei para Demétria pronta para
falar. Travei ao ver que logo atrás dela, Benício me encarava. Não sabia dizer se
ele tinha chegado agora, ou se já estava há alguns minutos me observando. Seu
olhar de intensa seriedade me fez encolher os ombros e engolir em seco. Benício
era intimidante demais, e isso me deixava desconfortável. Ao olhar para o que
ele trazia em mãos, me questionei por que ele andava com um chicote.
Rapidamente Demétria virou em direção a ele.
— Onde está o Ernesto?
— Ele disse que iria na cidade, já deve estar lá.
— Espero que ele não se esqueça dos antibióticos – falou enquanto se
sentava à mesa. — Não posso perder mais nenhum puro-sangue.
— Puro-sangue? – perguntei um pouco confusa. — São os seus cavalos?
— Sim – concordou e após colocar o chicote em cima da mesa, acenou
para Demétria. — Ainda tem café?
— Sim senhor.
Peguei novamente a esponja e voltei ao que fazia antes dele chegar. Não
arrisquei a olhá-lo, mas era como se eu pudesse sentir o olhar penetrante em
minha nuca.
— Senhor, ela aceitou passar uns dias aqui.
No mesmo instante virei a cabeça em direção a Benício. Ele me olhava por
cima da xícara de café, não tinha esboçado nenhuma reação, me deixando sem
saber o que ele achava. Já Demétria não conseguia disfarçar a felicidade.
— Faz tanto tempo desde que tive uma companhia aqui – Demétria
continuou: — Eu disse que ela poderia andar pela fazenda para conhecer os
caminhos.
— Só tome cuidado com o velho poço – Benício murmurou chamando
minha atenção. — Não vai querer ir lá.
Ao finalizar os pratos, franzi o cenho, mas em seguida acenei e olhei para
Demétria.
— Bom... – falou após beber o café em um gole. — Preciso resolver uns
assuntos no escritório, não quero ser incomodado.
— Claro senhor – Demétria concordou, em seguida pegou a xícara suja. —
Quando o almoço estiver pronto o chamo.
Benício anuiu com a cabeça e se retirou da cozinha. Voltei meu olhar para
Demétria, que agora guardava alguns temperos usados na preparação do almoço,
e me imaginei contando o que tinha acontecido. No entanto, eu já tinha mentido
o meu nome e sobre o motivo de ter me levado até ali. Não aguentaria caso eu
contasse, e ela não acreditasse e colocasse a culpa em mim como minha mãe
havia feito. Talvez eu estivesse me precipitando nos julgamentos, mas eu não
queria arriscar.
Após suspirar e analisar bem o que eu faria, vi quando Demétria me
observou.
— O que te deixa aflita, menina? – quis saber aproximando-se. —
Continua com fome? – Quando neguei, o olhar mudou para um mais preocupado.
— Aquele cabeça de vento do Ernesto fez alguma coisa com você quando eu
estava fora?
— Não. – Neguei rapidamente, o olhar dela era minucioso. — Não estou
com fome e o Ernesto não fez nada. São só uns pensamentos.
— Pensando na sua mãe?
Assim que ouvi aquela pergunta, travei. Minha mãe àquela altura não
queria me ver nem em sonhos, e por mais que eu condenasse a decisão dela em
apoiar o marido, eu só queria a minha mãe. A minha mãe de anos atrás, de
quando eu ainda era criança e pelo menos ela se importava um pouco comigo.
— Pensando em como irei trabalhar – respondi me sentindo cansada
mentalmente. Pois, mesmo após uma noite de sono, eu me sentia destruída. —
Eu não posso ficar parada.
— Fale com o Sr. Menzzotti. – Sorriu de forma esperançosa. — Eu garanto
que ele te ajuda.
— Eu não quero abusar – balancei com a cabeça. — Ele já está sendo bem
generoso me deixando ficar uns dias e não me sentiria confortável.
— Não seja boba – proferiu carinhosa. — Você disse que é professora, vez
outra sempre aparece vaga na escolinha próxima à igreja. O Sr. Menzzotti pode
falar com o diretor de lá, eles são conhecidos. – Antes que eu pudesse falar, ela
gesticulou com a mão. — Não pense nisso agora, aproveite que está aqui. Vá dar
uma olhada por aí, mas depois volte para o almoço.
— Tudo bem.
No instante que recebi um sorriso, acenei e fui para o lado de fora. Mesmo
sendo dia, senti o vento frio me tocar a pele. Abraçando-me, parei na soleira da
porta e observei os trabalhadores espalhados pela fazenda. Alguns trabalhavam
concentrados em seus serviços, mas outros ao me verem ali lançavam olhares
questionadores.
Um pouco incomodada comecei a andar pela estradinha de pedra, parecia
levar para algum lugar. O ar era totalmente diferente ao da cidade grande, o
cheiro de terra e estrume eram predominantes. Enquanto caminhava vi uma parte
do pasto com alguns cavalos, e a outra com muitas vacas. Queria poder me
aproximar, mas não sabia se teria problemas em ir até eles. Em minha divagação,
vi ao longe dois trabalhadores segurarem um grande saco marrom e o jogar em
um carrinho de mão. Um deles gesticulou e guiou rapidamente o caminho para o
outro colega.
Por um momento parei e os observei.
O lugar que eles saíram parecia ser o celeiro, curiosa para saber o que
tinha dentro me encaminhei até lá. Já próxima da entrada, notei vários sacos –
talvez de rações – e na outra parede no chão muitos fenos. Pronta para voltar em
minha exploração à fazenda, senti um cheiro diferente, como se fosse algo
podre. Observei atentamente na tentativa de encontrar a origem do fedor, e
quando finalmente encontrei parei tentando entender.
No chão, ao lado de uns sacos empilhados, havia uma corda
ensanguentada e uma mancha avermelhada.
— O que faz aqui?
Assustada com aquela voz, me virei e vi Benício parado na entrada do
celeiro. Trazia em mãos o chicote.
— N-Nada! Eu só...
— Estava bisbilhotando. – Me interrompeu com seriedade enquanto se
aproximava. — Não quero você procurando o que não perdeu.
Envergonhada com aquela chamada, engoli em seco e desviei o olhar.
— Me desculpe, eu não estava bisbilhotando. É que eu nunca vi um
celeiro.
Quando ele não me respondeu rapidamente, voltei a encará-lo. Benício
estava parado em minha frente, tão perto que eu conseguia sentir o perfume forte
emanando dele. Automaticamente dei um passo para trás e olhei para o chão
manchado.
— Então você matou?
— O quê?
Meu olhar assustado foi diretamente nas íris negras, aquele olhar intenso
me deixou mais nervosa.
— Sua curiosidade sobre o celeiro – murmurou e olhou para onde minutos
atrás eu estava encarando. — Aqui não é um lugar para visitas. Poderia ter um
animal perigoso, como a sucuri que os peões encontraram bem ali.
Ele apontava para o chão manchado.
— Uma sucuri?
Como resposta ele me sorriu e por um instante fiquei surpresa, era a
primeira vez que o via sorrir. Um pouco incomodada por estar sozinha com ele,
dei um passo para frente na intenção de Benício me dar passagem. No entanto,
ele continuou parado me olhando. Meu coração estava frenético, mas decidi não
demonstrar o nervosismo que eu estava tendo.
— Em uma fazenda tão grande como essa – voltou a falar, a voz era rouca.
— Seria estranho não aparecer de vez em quando uma dessas. Elas vêm na
intenção de comer alguma coisa que se mova.
— Deve ser complicado então – respondi sem saber o que dizer. — Elas
são perigosas.
Ele sorriu e cruzou os braços.
— Estou curioso para conhecê-la – disse sem tirar os olhos de mim. — De
qual cidade você disse que veio?
— Eu não disse – murmurei e engoli em seco ao vê-lo franzir o cenho. —
Eu não quero atrapalhá-lo. Vou voltar para a cozinha.
Benício ainda me encarava quando deu um passo para o lado. Agradecida,
me encaminhei em direção à saída, mas antes vi um dos peões se aproximarem.
Por dentro me sentia envergonhada pela bronca que Benício me deu, afinal, eu
não estava procurando nada. Apenas conhecendo o lugar.
Ao chegar na entrada da cozinha, olhei uma última vez para trás e vi
Benício andar rapidamente ao lado do peão.
— Já voltou?
Demétria estava próxima do armário.
— É, eu fui ao celeiro – falei e por um momento vi o olhar assustado em
minha direção. — Tinha uma poça de sangue no chão.
— Não se preocupe – disse enquanto me olhava. — Foi do potro que
nasceu, o parto foi complicado.
Um pouco confusa me aproximei da mesa, Demétria me sorria, mas logo
desviou o olhar.
— O Benício me disse que tinha sido uma sucuri – retruquei e percebi
quando ela parou em frente ao fogão, mas logo me olhou. — Ele disse que os
peões a encontraram lá. Acho que está morta, pela quantidade de sangue que vi
no chão.
— Sim, que cabeça a minha. – Sorriu ao me encarar. — Foi uma sucuri, às
vezes recebemos essas visitas perigosas.
— Eu nunca vi uma, deve ser assustador.
— Muito, então tenha cuidado.
Acenei e sorri, em seguida a observei trabalhar.
Quando deu o horário do almoço, ajudei Demétria a levar as panelas para
fora, aonde tinha uma mesa enorme de madeira. Os peões logo se aproximaram
para comer, após terminar de ajudar naquela parte, voltei para a cozinha onde
Demétria e eu comemos. Benício não estava na fazenda, tinha saído com o peão
e não tinha retornado.
No fim da tarde, já com o céu escurecendo, ele adentrou a cozinha. Seu
olhar foi em minha direção, mas logo andou em direção ao corredor.
— O senhor vai querer jantar?
— Sim – respondeu enquanto passava por ela. — Vou me refrescar, depois
leve o jantar para a sala de jantar. Fernanda e eu comeremos lá.
— Claro senhor. – Sorriu, em seguida me fitou. — Vá, ande! Vá lavar o
corpo e desça rápido.
Nervosa, me levantei e andei até ela.
— A senhora também vai estar lá, não é?
— O convite só foi para você – era nítido o olhar de apreciação em dizer
aquilo. — Use um dos vestidos, ficará tão linda. Não demore, por favor. Vá.
Mesmo querendo negar, fui em direção ao quarto. Assim que entrei nele,
me encostei à porta e respirei fundo. Eu sabia que era apenas um jantar normal,
mas tinha plena noção de que Benício me faria perguntas que eu não estava
disposta a responder. Ao olhar para cama, vi alguns vestidos dobrados. Me
aproximei e peguei um deles, era de renda branca, apesar de estar guardado no
baú – como Demétria me disse – ele estava cheiroso.
Coloquei de volta a cama, e em seguida prendi meus cabelos. Amanhã com
mais calma eu formaria um plano para poder organizar a minha vida, mas por
uns segundos imaginei como seria minha vida se meu pai estivesse vivo, talvez
eu estivesse morando com ele e sendo mais feliz. Afinal, se fui tão indesejada
como ela deu a entender, acho que minha mãe me entregaria ao meu pai. Com
aquele pensamento me encaminhei até o banheiro e sem pressa me lavei. Não
queria jantar com Benício, porque não queria mais mentir, mas não queria fazer
mais uma desfeita com as pessoas que me ajudaram.
Quando finalmente terminei o banho, busquei a toalha e me sequei. No
quarto coloquei o vestido e acarinhei o tecido macio. Após respirar fundo, calcei
meus pés com o par de botas e me encaminhei para a sala de jantar.
Benício estava adentrando a sala quando me viu e parou. Seu olhar
iluminou, como tivesse recordado de algo, mas rapidamente ele pigarreou e se
aproximou de mim. O perfume masculino instantaneamente adentrou meu
olfato.
— Sente-se, por favor – murmurou enquanto puxava a cadeira para mim,
um gesto um tanto cavalheiro.
— Obrigada – agradeci um pouco nervosa, estava preparada para as
perguntas dele. — Noite passada eu dormi, estava muito cansada. Por isso não
apareci, não foi por querer.
— Tudo bem – me respondeu sentando-se à ponta da mesa. — Ontem eu
não estava muito bem, não seria uma boa companhia de qualquer forma. –
Acenei e olhei em direção à cozinha. — Soube que não tem parentes por perto, é
uma jovem professora... o que a trouxe para cá?
Tentando manter a calma, eu concordei levemente com a cabeça.
— Sou professora. – Ao perceber que ele ainda esperava mais de mim,
voltei a falar. — Bom, sempre quis conhecer algumas cidades. Eu estava de
passagem, na verdade, eu errei em ter vindo para cá. Eu confundi as duas pistas,
quando eu desci do ônibus não tinha percebido que ele tinha feito um desvio.
— Você desceu do ônibus no meio da estrada? Tão longe de tudo –
comentou, o olhar era analítico. — Veio com alguém?
— Não.
Benício me encarou, mas logo concordou. Em seguida, Demétria apareceu
na sala de jantar empurrando um carrinho com os dois pratos já preparados.
Após servir o patrão, se dirigiu até mim e depositou o prato em minha frente.
— Senhor, não pude deixar de ouvir. A Fernanda está em busca de
emprego, talvez o senhor pudesse falar com o diretor da escola.
— Não precisa se preocupar com isso – falei rapidamente. — Eu não
quero incomodar o senhor de forma alguma.
— Não é incomodo – retrucou, em seguida cortou um pedaço da carne. —
Quantos anos tem?
— Vinte e três.
— E a sua família? De onde é?
— Da capital – respondi e em seguida coloquei um pouco de carne na
boca. Uma boa desculpa para pensar em uma resposta, ou impedir que ele
continuasse com o assunto.
— Qual capital? – indagou, e pelo tom de voz dele, eu percebi que não
tinha gostado da minha resposta. — Não avisou a sua mãe ou seu pai sobre onde
está. Acho que eles estão preocupados, ou estou enganado?
O olhar dele era intenso, me deixando acanhada e com vontade de ir.
— O meu pai faleceu quando eu era pequena e a minha mãe... – parei
lembrando-me da cena dela ajudando Jorge todo ensanguentado. — Bom, tem a
vida dela com o novo marido.
— Entendo, tem irmãos?
— Não, filha única. – Ao perceber que ele diria mais alguma coisa,
encarei o jantar. — A comida está uma delícia. Demétria deveria ter um
restaurante só dela, faria sucesso.
Benício concordou comigo e voltou a comer, talvez entendendo que eu não
queria mais falar de mim. Já no fim do jantar, Ernesto apareceu na entrada da
sala. As mãos seguravam o chapéu de cowboy preto, o olhar era cauteloso.
— Boa noite, senhor. Aconteceu um imprevisto com – pigarreou um pouco
tenso — um dos cavalos.
Assim que terminou de falar, me encarou, mas logo voltou a atenção para
o patrão.
Sem entender, olhei Benício que já se levantava com uma expressão
furiosa.
— Boa noite, Fernanda, obrigado por jantar comigo. Foi bem esclarecedor.
Então rapidamente ele saiu com Ernesto em seu encalço. Ainda sem
compreender, mas um pouco curiosa, me levantei e fui em direção a uma das
janelas. Benício caminhava pela estradinha de pedra, enquanto arregaçava as
mangas da camisa social preta. Encostei-me mais um pouco no vidro e vi que a
luz do celeiro estava acesa.
— O que está fazendo?
No susto me virei para dona da voz e vi Demétria se aproximar com um
olhar de repreensão.
— Nada, eu só...
— Estava espiando o patrão?! – indagou um pouco nervosa. — Vamos saia
daí.
Mesmo sem entender me afastei da janela, Demétria balançava a cabeça
em negação. Aquilo me deixou desconfiada.
— Eu não estava espiando, foi curiosidade.
Demétria suspirou e se aproximou pegando em minhas mãos.
— Me desculpe, não quero te assustar. Eu... – parou ao perceber meu olhar
confuso. — Vamos esquecer isso. – Sorriu e me tocou na bochecha. — Você
ficou tão linda com esse vestido. Muito linda. Ele falou alguma coisa?
Ainda tentando entender o comportamento dela de segundos atrás,
balancei a cabeça.
— Não disse nada – murmurei recebendo um aceno. — Eu vou ajudar a
senhora com os pratos.
— Não precisa, vá descansar – mandou me empurrando em direção ao
corredor. — Eu demoro para pegar no sono, sou acostumada. Tenha uma boa
noite, menina.
— Tudo bem. – Sorri minimamente, querendo mesmo me afastar. — O
jantar estava uma delícia. – Demétria me sorriu ainda parada. — Boa noite.
Me virei e andei até o corredor, mas uma última vez voltei meu olhar para
Demétria. Ela me encarava, parecia tensa, no entanto, me sorriu e acenou.
Devolvi o aceno e em alerta me encaminhei para o quarto. Ao adentrá-lo fechei a
porta, e antes que pudesse me afastar a tranquei com a chave.
Eu não sabia explicar o motivo, mas aquilo tinha sido um pouco
assustador. De braços cruzados, parei no meio do quarto e o observei
atentamente. Não sei bem o que eu procurava, mas tudo estava exatamente igual,
nada parecia fora do lugar. Andei até a janela, e olhei em direção ao celeiro no
momento em que um dos peões fechavam a grande porta de madeira. Com o
cenho franzido, me afastei e fui em direção à cama. Me sentei na beirada e
retirei o par de botas.
Talvez eu estivesse imaginando coisas onde não existia. Pois, por um
momento, senti que aceitar ficar ali tinha sido um erro.
Isobelle
Ainda sonolenta, abri os olhos e vi que ainda estava onde Benício tinha
me deixado. Ali, sozinha, analisei minuciosamente o recinto e vi que além do
grande guarda-roupa, tinha uma porta em frente a cama, que poderia ser do
banheiro. Sentando-me com uma pequena dificuldade, tentei mover os braços.
Eles estavam doloridos demais, e a mochila que ainda estava comigo, fazia um
peso extra.
Ao ouvir que alguém abria a porta, olhei com medo para a entrada. No
entanto, deixando-me surpresa, vi Demétria entrar com uma bandeja.
Calmamente a colocou em cima da escrivaninha e me encarou.
— Por favor, me ajuda!
Antes de falar, Demétria em encarou e suspirou. Não parecia assustada por
me ver naquela situação, o que me deixou sem compreender.
— O que você queria fazer? Por que não ficou na cozinha?
Não acreditando, balancei a cabeça e a observei fechar a porta.
— Eu não queria fazer nada! Por favor, me solta!
— Eu não posso fazer isso – me respondeu sentando-se do meu lado. —
Por que mentiu o seu nome? Fiquei profundamente magoada quando soube da
verdade.
Ainda incrédula, a observei respirar fundo e levar a mão aos meus cabelos
na tentativa de fazer um carinho. Repudiando aquele toque, percebi a mágoa e
compreensão ser direcionada a mim.
— Seja sincera com ele – comentou e ficou de pé. — E talvez ele a solte.
Eu acredito que isso tudo possa ser um mal-entendido, mas suas ações trouxe a
desconfiança para o patrão. Isso de ficar xeretando o celeiro, o poço velho, ter
mentido sobre o seu nome.
De súbito tive vontade de retrucar com raiva, aquela situação estava me
levando ao limite. Mas o medo que eu sentia por estar naquele quarto, amarrada
e indefesa, me fez tentar agir de outra forma.
— Eu fui sincera, não quero problemas com ninguém. Só quero recomeçar
em paz.
Demétria sorriu parecendo bem satisfeita com o que eu tinha dito.
— Aqui é um bom lugar para isso. – Afirmou pegando um prato que
parecia ter mingau dentro. — Agora coma, já está quase na hora da janta e fui
encarregada de lhe alimentar. Você não pode sair do quarto.
— Meus braços doem e eu quero fazer xixi. Por favor!
— Não posso soltá-la.
Mesmo com dificuldade segurei a vontade de chorar, e com medo daquela
ser minha última refeição, abri lentamente a boca para a primeira colherada. Ao
me lembrar que na semana passada estava junto aos meus amigos, totalmente
despreocupada e feliz. Permiti que algumas lágrimas escapassem.
— Não chore – pediu secando meu rosto. — Vai perceber que Benício
pode ser um bom homem.
— Ele me bateu e me deixou amarrada. Não quer me deixar ir e não sei o
que pretende me mantendo nesse quarto.
Parecendo envergonhada, Demétria apenas desviou o olhar e continuou me
alimentando.
Alguns minutos se passaram e a porta foi aberta. A primeira coisa que
notei, foi o costumeiro chicote na mão de Benício. Meu corpo automaticamente
se tensionou, e acompanhei o caminhado dele, que só parou ao ficar em frente a
cama.
— Ela já está alimentada, Demétria. Pode ir e não quero ser incomodado.
Com o olhar suplicante, balancei a cabeça e a vi sair rapidamente do
quarto. Voltei a encarar Benício que me analisava enquanto apertava o chicote.
— Você disse que errou o caminho, que, na verdade, queria voltar para a
cidade. Mas o que você fazia na estrada a pé?
— E-Estava voltando para a cidade.
O sorriso de escárnio veio assim que terminei de falar.
— Parece que você não quer colaborar – murmurou dando a volta na cama
—, mas eu gosto de amansar uma égua desobediente. Até prefiro.
Assim que ele parou bem próximo de mim, encostou o chicote na minha
bochecha no lugar que tinha me batido e sorriu.
— Estou curioso para saber quem de fato a enviou para cá – comentou sem
tirar os olhos do meu rosto —, mas caso esteja mesmo falando a verdade sobre
errar o caminho, não vai adiantar de nada. Você viu demais, tem a língua solta e
afiada. Não gosto disso.
— Então vai me manter presa aqui? – quis saber sentindo os dedos dele
me tocar o queixo. — Eu exijo que me deixe ir! Você não tem o direito de me
privar a liberdade.
— Não, não tenho. Mas, você está na minha fazenda e pelo que me
lembro, eu mando em todos aqui. Incluindo você.
— Desgraçado! Você é um maldito desgraçado!
No instante em que recebi outro tapa, senti um gosto estranho na boca. E
ao notar o sangue em meu lábio, procurei o rosto de Benício. Ele parecia não
ligar para o que estava fazendo comigo, então, naquele momento, permiti que
minha raiva tomasse conta de mim. Eu não tinha escapado de Jorge, para que
Benício pudesse fazer o que quiser comigo. Em meu excesso de fúria, o chutei
com todas as minhas forças e por um momento ele ficou surpreso. Mas em
seguida me colocou de bruços e se deitou por cima de mim.
— Você é uma égua chucra – sussurrou em meu ouvido —, mas eu vou
adorar amansá-la. – Ao dizer aquilo pressionou o corpo pesado no meu. —
Cheirosa.
Apavorada, era como me sentia. Benício me cheirava e deixava que curtos
beijos passeassem por meu pescoço.
— Por favor, não! Por favor!
— Por favor, não o quê? – Ele riu enquanto juntava meus cabelos para o
lado, expondo meu pescoço por completo. — Não estou fazendo nada que você
não queira, ou estou errado?
— E-Eu não me sinto bem – disse sentindo o corpo dele diminuir a
pressão no meu. — Eu vou vomitar.
Com um suspiro exasperado, ele se afastou e começou a soltar as minhas
mãos. Ao ter meus braços livres, respirei mais aliviada, sentindo a dormência
aos poucos irem sumindo.
— Não quero que vomite na cama. Vá se banhar, irei esperar aqui. Não
tente fugir, você não tem chances.
Me afastei da cama e quase cai por me sentir um pouco tonta. Já de pé, o
encarei com raiva e o vi sorrir. Rapidamente corri para o banheiro, ali sozinha
eu pensaria como faria para fugir daquele lugar. Dentro do banheiro tranquei a
porta e me sentei na privada, com as mãos trêmulas, peguei a mochila e a abri.
Procurei meus documentos e fiquei aliviada ao encontrá-los.
Olhei ao redor e não notei nada que pudesse usar em minha defesa. Não
deixaria que Benício encostasse em mim, não sem lutar com todas as minhas
forças. Então, após respirar fundo, fui até o chuveiro e o liguei. Em seguida fui
a pia e procurei alguma coisa dentro das gavetas. Tentava fazer o mínimo de
barulho para que não pudesse chamar a atenção de Benício.
Foi então que fitei o lixeiro e mesmo com nojo, me abaixei e joguei todo o
conteúdo no chão. Em meio aos papéis vi uma lâmina pequena, mas que já me
ajudaria. Antes que eu pudesse me levantar, Benício bateu com força na porta.
— Saia logo daí! – Vociferou me fazendo pular de susto. — Não vai
querer que eu coloque essa porta abaixo!
Me recompus e tentei manter a respiração normal, não queria demonstrar
que estava com medo. Enquanto segurava a lâmina entre os dedos, com a outra
mão a molhei e passei no cabelo. Ao tomar mais uma respiração, abri a porta e o
vi em pé em frente a porta. Em movimento, Benício puxou minha mochila e a
jogou no chão próximo da cama. Apertava a lâmina entre os meus dedos, com
medo de perdê-la.
— Tomou banho ou só molhou os cabelos? – questionou e me encarou
atentamente. — Você é muito bonita, Isobelle. E acho que sabe disso, e tenta
usar isso ao seu favor.
— Não sei do que está falando – respondi. Benício logo me puxou para
junto do corpo dele e por um momento deixei, até que eu pudesse agir. — Eu não
fiz nada.
Os dedos traçaram o contorno do meu rosto, e mesmo querendo afastá-lo,
deixei que continuasse.
— Eu percebi que tentou me seduzir. Usando aquele vestido que não é seu,
como me olhava... eu sou um homem vivido, eu sei entender bem o seu
joguinho.
O aperto em minha cintura aumentou, e amedrontada vi o rosto de Benício
bem próximo do meu. Conseguia sentir o hálito de álcool sair dos lábios dele,
me trazendo ânsia. Agi rapidamente, segurei a lâmina firmemente e avancei no
pescoço a minha frente.
No susto, Benício me afastou e levou a mão ao pequeno corte. Ao ver o
sangue nos dedos, o rosto se contorceu em uma careta. E como um animal, me
atingiu com um tapa que me fez cair desorientada. Meu rosto doía, e quando
senti um chute em minhas costelas foi como se o ar estivesse se esvaindo de
mim completamente. Ao sentir mais um chute, me curvei de dor.
— Vagabunda! Vai se arrepender por ser desobediente.
E dizendo isso me puxou pelos cabelos, sob meus protestos e gritos. Sem
delicadeza nenhuma, voltou a me jogar na cama. Só que dessa vez ficando entre
minhas pernas, me deixando sentir sua ereção contida pela calça jeans. As mãos
puxaram o tecido da minha blusa e sutiã, rasgando-os como se fossem nada.
Com apenas uma mão, ele agarrou meus braços para o lado e com a outra
puxou o cós do meu jeans para baixo. Não sei como consegui me soltar, mas
assim que pude, ergui o braço com a lâmina em direção ao rosto dele. O sangue
respingou em mim, e Benício caiu para o lado com a mão ensanguentada no olho
esquerdo. Em câmera lenta, o observei se curvar enquanto gritava. Então me
senti como no dia em que esfaqueei Jorge.
Sai da cama rapidamente e busquei minha mochila. A porta do quarto se
abriu e Demétria parou horrorizada olhando Benício, que ainda se contorcia na
cama.
— O que você fez? – gritou e avançou em mim.
Utilizando uma força que eu mal sabia ter, a empurrei, fazendo-a se
desequilibrar e cair perto da cama.
Então, em disparada, corri em direção a uma das janelas da sala de
descanso. Aquela era minha oportunidade e não deixaria escapar.
Isobelle
Ao rolar para o lado choraminguei assim que senti a dor na minha costela.
No entanto, mesmo com aquela dor, me abracei e me encolhi. Conseguia notar o
vento frio, mas diferente um pouco do frio da noite.
— Não, Brutus – ao ouvir aquela voz infantil, abri meus olhos
rapidamente e me sentei ignorando a dor. Uma menina loirinha me encarava com
os olhinhos arregalados, mas o que me assustou mesmo foi o grande cachorro ao
lado dela. — Ele não vai te morder não, viu?
O sorriso tão lindo e inocente sendo direcionado para mim, me deixou sem
reação. Porém, antes que eu pudesse pensar em falar algo. Ouvi outra criança
gritando “ela está aqui tio”, e um menino – que lembrava a menina – apontar em
minha direção. Totalmente assustada, vi o tal tio parar ao lado das crianças e me
encarar com o cenho franzido. Usava uma camisa azul xadrez, calça jeans e
botas meladas de lama. Os cabelos loiros estavam desarrumados, como se ele
tivesse passado as mãos várias vezes nele. Os braços descobertos, me dava uma
visão dos músculos e algumas veias salientes. Ele parecia no mínimo ter uns
1,90 de altura.
— Quem é você? – perguntou com a voz grossa, e quando me viu puxar a
mochila agiu rapidamente e me segurou me levantando como se eu fosse um
pedaço de papel. — Ow, calminha aí.
— Me solta! – exigi, e com medo de que ele fizesse algo o estapeei no
rosto fazendo-o me xingar. — Me solta! – mandei novamente, e sem que eu
conseguisse me conter, comecei a chorar.
— Mattias, meu filho! O que está fazendo? Largue a mulher.
Abraçada a minha mochila, me afastei do tal Mattias e continuei o
encarando até sentir minhas costas baterem na madeira. Sendo empurrado para o
lado, vi quando ele resmungou e passou a mão no rosto. A mulher de meia-idade
me olhou assustada, e se aproximou lentamente.
— Por favor! Não me machuca.
— Oh, meu Deus. Não, ninguém vai te machucar. – Assim que disse
aquilo, se voltou para o homem ao lado e o estapeou no braço. — Você a
assustou!
— Ela ia pegar alguma coisa na mochila – retrucou com a expressão
zangada, mas ao receber outro tapa abaixou a cabeça. — Para de me bater.
— Bato sim! Foi assim que criei você? Para assustar mulheres?
— O tio ainda apanha da vovó – o menino riu fazendo a outra menina
também rir. — Vovó coloca ele de castigo também, que nem a mamãe faz com a
gente. Né Maria?
— É vovó, sem tomar suco de morango. Só depois de pedir desculpa.
Por um breve segundo me deixei sorrir, mas logo voltei a atenção para
Mattias que me encarava de braços cruzados.
— Você não está bem – a avó murmurou se aproximando lentamente de
mim. — Você está um caos. Venha, vamos até a casa. Você vai poder ligar para
polícia se quiser.
— Não, a polícia não. Eu só p-preciso ir.
— Tudo bem – anuiu e me tocou na bochecha. Ao sentir aquele carinho
senti mais lágrimas caírem. Aquela senhorinha parecia ser tão boa, mas Demétria
também era assim e no fim mostrou ser horrível. — Não quer limpar esse rosto?
Tirar esse sangue, essa sujeira.
Olhei as crianças que me observavam agora curiosas, eu deveria estar
assustadora. Encarei Mattias e ele parecia preocupado, talvez com a mãe tão
próxima de mim.
— Não quero incomodar, e-eu só preciso ir.
— É bem capaz de você assustar outras pessoas – riu e me fitou, eu
poderia estar louca, mas era como se eu conseguisse ver a bondade genuína em
seus olhos. — Venha, não tenha medo. Ninguém vai te machucar aqui. Me chamo
Maria Rosalinda Ferreira, esses são os meus netos João Pedro e Maria Alice.
Esse paspalho que te assustou se chama Mattias.
— Me chamo Isobelle – respondi e fiquei assustada quando falei meu
nome verdadeiro.
— Seu nome é lindo – Elogiou e passou um braço em minha cintura, mas
logo me esquivei gemendo de dor. — Me perdoe, te machuquei?
— Minhas costelas doem.
Rosalinda confirmou como se pudesse compreender e me guiou para fora.
Olhei para trás e vi Mattias pegando João Pedro e o colocando nos braços de
cabeça para baixo. As risadas nos seguiram até que saímos do celeiro, e do lado
de fora, vi alguns peões se afastarem pela estrada de terra e outros me encararem
com curiosidade.
— Está segura aqui, Isobelle – falou enquanto me afagava o braço. —
Moramos apenas eu e meu filho Mattias. Tenho mais dois que são casados,
Matheus e Marcos. Os dois pequenos são filhos do Marcos.
— Eles são lindos.
O sorriso que Rosalinda me direcionou, me fez retribuir.
— Eles são os meus tesouros, foi com muita felicidade que descobri que
seria avó. Na verdade, meu filho e nora não sabiam da gravidez. – Sorriu
subindo as escadinhas que dava acesso à varanda. — Mas eu sou bem sagaz,
descobri rápido.
Ao abrir a porta, observei a sala com dois sofás e uma tv. Ao lado vi uma
pequena parede que dividia a sala da cozinha. Andamos por um corredor, e ao
pararmos em uma porta vi que era o banheiro.
— Pode se limpar e não tenha medo. Ninguém vai te machucar, se precisar
ir até a cidade o Mattias vai te levar.
Sem conseguir formular uma boa resposta, apenas concordei e entrei no
banheiro. Ao me olhar no espelho, vi alguns respingos de sangue pelo meu rosto
e sujeira do chão do celeiro. Meu rosto estava com alguns hematomas pelos
tapas. Em meus cabelos, removi algumas palhas que estavam agarradas. Eu
parecia um zumbi.
Abri a torneira e enchi as mãos com água. Lavei meu rosto, pescoço e
braços. Queria poder tomar um banho, mas não iria me demorar assim. Antes de
sair, levantei as blusas e notei os hematomas das botas em meu corpo. Levei os
dedos ao local e apertei, doeu um pouco, mas não parecia que tinha quebrado
nada.
Um pouco melhor pela minha aparência não estar tão assustadora, saí do
banheiro. Enquanto andava conseguia ouvir as vozes infantis perguntando quem
eu era, e se poderiam comer mais do bolo. Ao chegar na sala vi Mattias parado
na porta, me analisava sem falar nada. Com medo dele, e me sentindo péssima
por isso, fui até a cozinha. Rosalinda tinha um prato com comida em mãos,
minha barriga logo roncou.
— Tome, coma antes que vá – falou colocando na mesa. — Já que você
tem intenção de ir, vou preparar algumas marmitas para você levar.
— Obrigada.
Eu não queria mais chorar, mas ver aquele cuidado, como se fosse uma
mãe para com o filho. Me deixou abalada, e o que me restou foi chorar.
— Titia, não chora não – Maria Alice falou enquanto abraçava as minhas
pernas. — Vovó, eu acho que ela quer o bolo também. Quando eu tô chorando
assim a mamãe dá bolo. Né João?
Em meio as lágrimas encarei João que estava sentado à mesa, os olhos não
saíam do bolo coberto.
— E dá suco também.
Não consegui evitar o riso.
— A corda e a caçamba – Rosalinda murmurou rindo comigo. — Vamos
sente-se, quando você terminar vamos conversar um pouco. Tudo bem?
Meu olhar automaticamente seguiu para a sala, onde Mattias estava. Ao
perceber meu medo, Rosalinda me segurou a mão.
— Meu filho não vai te machucar – Garantiu com sinceridade. — Mattias
você já pode ir, está tudo bem.
Olhei novamente para ele e o vi bufar e pegar um chapéu de cowboy que
estava pendurado atrás da porta. Com a saída dele, me senti mais a vontade e me
sentei pronta para comer.
— A senhora não vai comer também?
— Eu já comi – respondeu ao mesmo tempo que separava algumas fatias
de bolo. — Comemos cedo, já são quase 13h. Eles chegaram com o nascer do
sol, Marcos foi para a plantação e a Alessandra foi a cidade.
— É a mãe deles?
— Sim. – Concordou e me encarou com preocupação. — Tem certeza de
que não quer chamar a polícia? Você parece que foi assaltada, ou... – No meio da
frase ela parou e fitou os netos. Os pequenos estavam entretidos no bolo. — Vão
comer na sala, podem ligar a TV, mas não em desenhos feios. – Quando ficamos
sozinhas, voltou a me olhar. — Alguém machucou você?
Meus olhos se encheram de lágrimas novamente, e eu acenei.
— Certo. Foi alguém da cidade? Algum pretendente?
— Eu não sei se posso dizer – murmurei sincera. — Eu também o
machuquei, eu não sei quando ele vai me achar. – Dei de ombros me sentindo
cansada. — Eu não sei se quando eu voltar para a cidade ele vai estar lá me
esperando. Eu não sei.
— Tudo bem – proferiu com carinho. — Não precisa falar agora. Se você
quiser um lugar para dormir, podemos nos arrumar aqui. A casa não é grande,
mas é bem aconchegante. – Ao perceber meu olhar incerto continuou: — Meu
filho vai te respeitar, ele não é um cafajeste. Criei meus três meninos sozinha
depois que meu marido morreu, criei e ensinei os três a respeitar as mulheres.
Nunca tive problemas em relação a isso. O Marcos se casou com a primeira
namorada, e o Matheus casou tem uns meses. Se bem que o Marcos tinha um
bocado de assanhadas atrás dele, todo mulherengo. Mas não agressivo.
— Ele é o mais velho?
— É. – Sorriu sentando-se ao meu lado. — Matheus é o meu caçula.
Minha gravidez dele foi diferente dos outros, fiquei adoentada. Tempos difíceis,
tinha a roça toda para ajeitar, mas quase não conseguia parar em pé. Marcos e
Mattias me ajudaram muito. Trabalham desde pequenos, mas eu disse que eles
precisavam estudar.
— E eles estudaram? – quis saber me sentindo mais a vontade e curiosa
para saber mais sobre eles.
— O Marcos e o Matheus só estudaram em colégio, mas o Mattias sempre
gostou dos animais, então estudou para ser médico deles.
— Medicina veterinária? – indaguei e recebi um sorriso enorme. Um
sorriso orgulhoso. — É uma profissão tão linda.
— É, meu menino trabalha em algumas fazendas vizinhas. Na do
Forasteiro, Albuquerque e...
— Menzzotti? – arrisquei por curiosidade, mas logo vi o olhar dela mudar.
— Jamais! Aquele maldito! Tal pai, tal filho. O velho Menzzotti não
prestava nada, o filho piorou. Família de gente ruim, que não se importam de
pisar em outras pessoas para conseguir o que quer.
Ao ouvir aquilo senti meu sangue gelar, e por uns instantes encarei o
prato. Eu precisava mesmo ir, na intenção de falar aquilo parei ao ouvir gritos e
barulhos de cavalos se aproximando. Assustada, vi Rosalinda me pedir para ficar
ali e ir em direção à entrada da casa. Me levantei lentamente e observei o lado
de fora. Então foi quando vi Ernesto se aproximando em galopadas rápidas.
No mesmo instante me escondi ao lado do sofá.
Olhei pela cortina e vi outros peões com ele. Eu tinha que fugir, mas
minhas pernas não me obedeciam.
— Boa tarde, Sra. Ferreira.
— Tarde – ouvi Rosalinda responder, de onde eu estava podia ver que ela
estava com os braços cruzados. — Posso saber o que perderam nas minhas
terras?
— Estamos atrás de uma moça, ela está fugida das terras do patrão –
Ernesto falou em voz alta. — Parece que ela surrupiou algumas coisas da
fazenda. Estamos atrás dela.
Por um momento não ouvi a resposta de Rosalinda e isso me assustou.
— É melhor vocês saírem das minhas terras.
Não consegui ver a expressão no rosto de Ernesto, mas podia jurar que ele
não tinha gostado da resposta. Estava morrendo de medo deles invadirem a casa
e me arrastarem de volta para a fazenda. Então vi Mattias se aproximando com
Brutus ao lado e outros peões. O cachorro ao se aproximar dos cavalos começou
a latir ferozmente, nem parecia o mesmo dócil que estava no celeiro ao lado da
pequena Maria Alice.
— Tudo bem, mãe? – questionou ficando ao lado dela. Meu coração logo
se acalmou, pois eu sabia que Mattias não deixaria Ernesto avançar. Afinal,
Mattias protegeria a mãe e os sobrinhos.
— Eles estão procurando não sei quem e decidiram invadir nossas terras.
— É melhor irem – mandou com a voz imponente. — Quem quer que seja
não está aqui.
— Acho que meu patrão gostaria que olhássemos por aí – Ernesto
retrucou. — Se não se importarem...
— Nos importamos sim – Mattias o interrompeu. — Não vamos nas terras
daquele maldito, por que acha que deixaria vocês entrarem aqui? Da próxima
vez que aparecerem sem serem convidados, serão recebidos de outra forma.
— Está nos ameaçando?
Meu coração no mesmo instante errou uma batida, e eu tive mais medo
daquilo tudo se transformar em algo maior. Eu precisava ir, mas minhas pernas
não me obedeciam.
— Não fui claro?
— Mattias! – Rosalinda o agarrou pelo braço. — Vão logo embora, e por
favor, não voltem.
Ao ver que os peões e Ernesto davam meia volta, respirei aliviada e deixei
que meu corpo desabasse no chão. Eu estava oficialmente em sérios apuros! Eu
não sabia se a polícia estava atrás de mim, então não tinha como ir pedir ajuda a
eles. Não tinha ninguém em que eu pudesse confiar, que pudesse me ajudar a
ficar em segurança.
Como um furacão, Rosalinda adentrou a residência e andou até a cozinha.
Mas ao me ver junta a parede, chorando, correu até mim e se abaixou, ficando na
mesma altura.
— É do Menzzotti que você está fugindo? – questionou, e eu logo acenei.
Mattias parou na sala e me encarou. — Você roubou alguma coisa dele?
— Não. – Neguei recebendo um aceno. — Eu estava fugindo e acabei
parando na fazenda dele – contei tendo a atenção de todos em mim. — Eu vi... –
Parei sem saber exatamente o que dizer. Afinal, eu não tinha visto nada, apenas
suspeitas de que algo grave acontecia por lá. — Eu passei dois dias lá, e quando
eu quis ir, ele não deixou.
— Foi ele que te machucou? – a voz de Mattias soou grave, me fazendo
engolir em seco. O modo como ele me olhava, me deixava com um frio na
barriga e envergonhada.
— Foi – respondi e voltei a olhar a matriarca. O olhar dela era
compreensível. — Ele me deixou trancada no quarto dele.
Sussurrei essa última frase, não queria que as crianças ouvissem.
— Aquele filhote de coisa ruim! – Rosalinda esbravejou e me segurou as
mãos. — Venha, você precisa de um banho. Se está muito machucada, precisa de
remédios.
— E-Eu não posso ficar – murmurei me sentindo amedrontada. — A
senhora disse que ele não se importava em pisar nas pessoas para conseguir o
que quer.
— Mas você precisa de ajuda – falou como se fosse óbvio. — Se Ernesto e
os outros vieram até aqui a sua procura, pode ter certeza de que na cidade os
peões dele também estão.
Cansada demais, fechei os olhos e me permiti chorar. Ultimamente era o
que eu mais fazia, e não gostava de me mostrar tão fraca assim.
— Eu sinto muito, querida. Mas se quer tanto ir, o Mattias pode te levar
até a rodoviária. Talvez a noitinha, na hora do jantar.
— Obrigada.
— Até lá preparo mais algumas coisas para você levar.
— Muito obrigada!
Rosalinda sorriu e me abraçou. Um abraço tão quentinho, que transmitia
tanta segurança. Eu nunca tinha experimentado tal sensação com um simples
abraço.
Ao me afastar, ela enxugou meu rosto e me puxou para cima.
— Vem, você pode tomar banho e descansar no meu quarto. É bem
simples, mas vai dar para você dormir até a hora de ir.
— Obrigada.
Eu me sentia totalmente agradecida. Quando chegasse na rodoviária, eu
poderia comprar uma passagem para a cidade mais longe que tivesse. E seria
adeus Benício, adeus Jorge e minha mãe. Lá, aonde quer que fosse, eu compraria
um carregador e falaria com Michele. Talvez, para ela, eu poderia confidenciar o
que tinha acontecido na fazenda e minhas suspeitas.
Agarrada a Rosalinda, andei em direção ao outro corredor e observei as
paredes que tinha alguns quadros antigos.
— São parentes da senhora?
Ao seguir meu olhar, ela parou em frente a um quadro e sorriu.
— São os pais da minha mãe – murmurou sorrindo. — Eles estão mortos,
mas viveram até os noventa anos. Pelo menos minha avó sim.
— Ela era tão linda – falei com sinceridade. — A senhora lembra um
pouco a sua avó.
Rosalinda concordou e voltamos a caminhar. Assim que paramos em um
quarto, observei a cama de casal com os lençóis bordados. O grande guarda-
roupa estava na parede oposta, e além dele tinha um espelho na penteadeira.
— Aqui é o meu quarto – disse e me sorriu. — Vou pegar uma toalha
limpa e um sabonete para você. Quando você tomar banho, se você deixar, posso
dar uma olhada nos seus machucados.
— E-Ele só me chutou nas costelas – respondi olhando-a. — Ele
aproveitou quando caí no chão e me chutou.
O olhar que recebi me deixou acanhada, e um pouco sem jeito desviei o
olhar. Mas ao sentir a mão quente sobre a minha, voltei a atenção para
Rosalinda.
— Não precisa se envergonhar. O único que tem que ter vergonha, é
aquele crápula. Foi uma pena você ter topado no caminho dele.
Assim que falou foi até o guarda-roupa, e eu fiquei no meio do quarto.
— Eu não queria ter ido até a fazenda, mas o Ernesto me achou na pista e
disse que o Benício poderia me ajudar. A Demétria também confirmou, então
fiquei na esperança de ser ajudada. No outro dia ela me convidou para ficar lá, e
eu só aceitei.
— Não culpo você, filha. Eles agiram de má-fé. Nem quero imaginar o que
aquele homem fez com você, ele é muito covarde.
Sem querer responder, apenas fiquei em silêncio. Em seguida fui até o
banheiro e tomei um banho por completo. Não demorei muito, pois queria
dormir um pouco antes de ir. Rosalinda, com um bom coração, cuidou dos meus
hematomas no corpo. Era estranho demais, mas eu sentia que ela era diferente de
Demétria e por um momento lamentei por não ter a encontrado primeiro. Quando
me deitei na cama, abraçada a minha mochila, senti meu corpo todo relaxar e
antes de pegar no sono vi Rosalinda fechando as cortinas do lugar.
Antes de acordar, senti uma carícia nos cabelos. Ao abrir meus olhos
lentamente, vi Maria Alice em pé com um pequeno sorriso em minha direção.
Automaticamente retribuí o sorriso e me sentei. Em pé na porta, Rosalinda me
sorria.
— Titia, eu peguei essa flor que tava nas outras flores da vovó.
— É para mim? – perguntei, em seguida recebi um aceno. Carinhosamente
peguei a flor, e me inclinei dando um beijo em sua bochecha. — Ela é tão linda,
muito obrigada.
Envergonhada, a pequena correu até a avó e pediu colo.
— Vamos, Isobelle. Mattias vai te levar até a rodoviária.
Meu estômago na mesma hora começou a doer. Talvez por medo, ou parte
do nervosismo em sair dali. Mesmo sem coragem, me levantei e passei a mão
nos cabelos. Eu queria chorar, mas tinha prometido ali sozinha no quarto, que
não faria mais isso. Demonstrar fraqueza. Eu era uma jovem de 23 anos, que
tinha feito minhas escolhas e precisava lidar com as consequências.
Ao sair do quarto junto a Rosalinda e a pequena, tentei manter a mente
positiva. Se eu conseguisse passar despercebida na cidade, seria um passo para a
fuga perfeita.
Na sala vi Mattias de braços cruzados enquanto assistia o sobrinho brincar
com o cachorro. Quando ele me notou ali, mudou a postura e me encarou dos pés
a cabeça. De perto, ele era ainda mais intimidador. A barba loira adornava boa
parte do rosto dele, e mesmo não querendo, notei detalhadamente os lábios
carnudos.
— Isobelle – Me virei para olhar a matriarca que me olhava preocupada.
— Se você notar que não consegue ir, por favor, pense em voltar para cá. Será
mais que bem-vinda, tudo aqui é simples. Mas o essencial não vai faltar, tudo
bem?
— Obrigada – agradeci sentindo-me tão vulnerável. — Isso tudo que a
senhora está fazendo – engoli em seco. — Eu sinto que agradecer é tão pouco.
— Não pense assim. – Sorriu e pegou uma bolsa de pano. — Tome, aqui
tem algumas frutas, água e comida.
— Obrigada.
Rosalinda me sorriu, logo após voltou-se para o filho.
— Cuide dela no trajeto e não seja mal-educado.
— Tá bom, mãe. Volto logo.
Abraçada a bolsa o observei, pegar o chapéu de cowboy, um casaco e sair
da sala deixando a porta aberta.
— Vá com ele e não fique com medo do meu filho. Mattias é um bom
homem.
Concordei, e tentei sorrir. A passos rápidos saí sem olhar para trás, não
queria perder a coragem e ficar. Mattias já estava acomodado no lugar do
motorista em uma caminhonete prata, me olhava sem falar nada. Não querendo
atrapalhá-lo, corri até o carona e me acomodei. Ao ver Rosalinda parada na
porta me dando adeus, senti meus olhos se encherem de lágrimas e sem me
importar chorei.
Minha mãe tinha razão.
Eu era fraca.
Ainda abraçada a bolsa, observei a janela e repassei meu plano pela
vigésima vez na mente. Mattias dirigia ao meu lado em pleno silêncio, com a
feição séria. Talvez por não querer estar me levando à cidade aquele horário, ou
por toda a situação que eu estava causando.
— Me desculpe pelos tapas – pedi e o olhei. — Eu só estava com medo.
Ele me olhou e balançou a cabeça.
— Tudo bem – respondeu atento a pista. — Eu te assustei, normal sua
reação. – Após alguns segundos voltou a falar. — Aliás, você tem a mão muito
pesada.
— Que bom para mim.
Com a minha resposta ele me olhou com o cenho franzido, mas em seguida
deixou um sorriso de lado escapar. Muito breve.
Ficamos em silêncio, e eu tentava perceber se estava muito longe da
cidade. No entanto, tudo parecia igual para mim.
— Se você usar a mão fechada assim – Mattias falou enquanto mostrava o
punho fechado. — Pode machucar ainda mais. Um soco no nariz, talvez não dê
para desmaiar, mas te dá tempo para escapar.
Por um breve segundo fiquei sem saber o que dizer, mas logo concordei.
— Acho que posso fazer isso. Obrigada.
Um pouco surpresa encarei Mattias, mas desviei assim que ele me olhou
de volta. O comichão em minha barriga novamente se fez presente e eu
imediatamente exigi que aquilo sumisse. Me sentia uma adolescente
envergonhada na presença do popular, e aquilo não era hora de ter aquelas
sensações. Pelo canto de olho percebi a forma largada que Mattias dirigia, com
apenas uma mão no volante e a outra tamborilando na parte de cima do lado fora
do carro.
Ele era realmente um homem bonito. E pensar nisso, me fez lembrar das
coisas que a mãe dele me falou.
— Sua mãe me disse que você é médico veterinário.
— Conversaram somente uns minutos e você já sabe sobre minha vida?
Totalmente sem graça, mordi o lábio e balancei a cabeça.
— Não é como se eu tivesse perguntado sobre você.
— Até porque seria estranho demais – retrucou e me olhou —, mas
adiantando: não estou disponível.
Pega de surpresa, o olhei e esperei que ele sorrisse para demonstrar que
aquilo era uma brincadeira. Porém, Mattias me encarou com o ar confuso.
— E o que faz achar que eu quero saber essa informação?
— Não sei – deu de ombros. — Por que falava de mim com a minha mãe?
— Não falávamos de você.
Voltei meu olhar para a janela e notei a fazenda de Benício ao longe. As
luzes estavam acesas, mas só a da mansão. Por um momento quis saber se
Benício estava muito machucado, e ter a noção de que ele estava enfurecido
comigo. Me deixava com as estruturas abaladas.
Quando finalmente vi as cercas que tinha no caminho da cidade, senti
minhas esperanças se renovarem. Até ali tudo tinha dado certo, e eu esperava
conseguir comprar a passagem. As casas apareceram em meu campo de visão,
fazendo meu sorriso aumentar. Havia poucas pessoas na rua, mas contanto que
eu fosse rápida nada daria errado. Agarrada a minha mochila e a bolsa de pano,
esperei que Mattias estacionasse para que eu pudesse sair.
Assim que parou, olhou ao redor, em seguida destravou a porta.
Com uma respiração profunda, olhei a rodoviária. Aquele era meu
momento, e eu precisava ser ágil. Fitei Mattias, e sorri agradecida por ter me
levado até ali. Eu tinha noção de que ele só estava fazendo isso, porque a mãe o
tinha obrigado.
— Muito obrigada.
— Tudo bem.
Acenei, e saí da caminhonete. Ele rapidamente foi embora.
A noite estava tão fria, que me xinguei novamente por esquecer meu
casaco no trabalho. Com a mochila nas costas, e a bolsa de pano em mãos. Me
encaminhei para dentro da rodoviária. Ao ver tantas pessoas ali, me senti mais
aliviada. Pois, sabia que seria mais complicado me achar no meio da multidão.
Assim que vi uma farmácia, lembrei-me de que precisava comprar alguns
produtos de higiene básica.
Após guardar as compras na mochila, fui rapidamente até as cabines onde
vendiam as passagens. Enquanto estava na fila, observava em volta para me
certificar de que não estava sendo seguida. Quando finalmente chegou minha
vez, decidi escolher uma cidade mais distante da qual estava. Naquela altura eu
só tinha medo do Benício me encontrar, voltar para Marsilac poderia ser um
risco, então não voltaria.
Com a passagem em mãos, me dirigi ao guinche informado.
Assim que entrei onde esperava os ônibus, vi Ernesto com alguns peões
andarem pela plataforma. No instante que ele me viu, apontou em minha direção
e correu. Rapidamente voltei pelo mesmo caminho, desesperada para escapar.
Enquanto corria, e esbarrava em outras pessoas, sentia meus olhos se encherem
de lágrimas.
Benício me mataria com toda a certeza se me pegasse.
Na intenção de despistá-los, atravessei o salão e corri para uma das lojas
que tinha ali. Meu coração estava aos pulos, e mais ainda quando entrei e me
joguei no chão. Encostando-me a parede, vi a atendente me olhar sem
compreender e se afastar com medo.
Tentando acalmar meu choro e respiração, fechei os olhos com força.
Parecia que eu estava em um pesadelo sem fim, então eu ouvi as botas pesadas
entrarem na loja. Sem coragem de me mexer ou abrir os olhos, só esperei a
violência.
— Ei, está tudo bem agora.
Ao ouvir aquela voz abri meus olhos e me senti aliviada. Mattias estava
agachado em minha frente, parecia preocupado. Sem conseguir me conter o
abracei, e meio surpresa, senti os braços dele em minha volta. O perfume que
exalava dele, o abraço, tudo me transmitia segurança. Eu não queria me afastar,
mas precisava. E assim que o fiz, encarei o rosto tão próximo do meu. Ali eu
percebi que os olhos dele eram azuis, mas estavam escuros.
— Vamos embora – murmurou enquanto me olhava. — Dona Rosalinda vai
me matar se eu te deixar aqui.
Sem esperar por uma resposta minha, ele retirou o casaco e me fez vestir
por cima da mochila, em seguida colocou o chapéu de cowboy em minha cabeça.
Delicadamente me fez levantar, e pegou a bolsa de pano das minhas mãos. Antes
de sair, me conferiu pela última vez e acenou.
Ao sairmos da loja agarrei sua cintura e olhei para Mattias.
— Calma, não precisa ter medo.
Já do lado de fora vi a caminhonete estacionada logo a frente.
Rapidamente Mattias abriu a porta do carona e me acomodou. Olhei uma última
vez para a entrada da rodoviária, e vi quando ele entregou a bolsa com comida a
um senhor que estava sentado no chão. Coloquei meu cinto de segurança e
observei Mattias correr até o lugar do motorista.
Pelo espelho retrovisor observei a rodoviária enquanto nos afastávamos.
Sequei minhas lágrimas, e encarei Mattias que dirigia com o semblante sério.
Ele deveria estar me odiando por estar levando tanta confusão para casa, e eu me
sentia péssima por ser tão fraca e dependente assim.
— Obrigada por me salvar – falei chamando a atenção para mim. — Eu sei
que é culpa minha toda essa situação e que você não queria me ajudar. Também
não quero que haja um mal-estar entre você e sua mãe. Então...
— Então no seu entendimento eu sou um canalha desgraçado da espécie do
Menzzotti?
— O quê? – questionei sem entender. — E-Eu não o igualei a ele.
— Se eu não quisesse te ajudar, não tinha ajudado – respondeu e me olhou
com raiva. — Porque teria um mal-estar entre minha mãe e eu?
— Por que ela praticamente o obrigou a me ajudar?
Com o ar de ofendido, Mattias balançou a cabeça.
— Tenho trinta e quatro anos, não preciso seguir as ordens de minha mãe.
Voltei a olhar para o retrovisor, sem coragem para retrucar. Eu me sentia
exausta, mentalmente e fisicamente. Não tinha sido minha intenção ofender
Mattias, só queria dar uma solução para aquele problema. No fundo, eu me
sentia culpada, porque estava aliviada.
A volta, a meu ver, parecia estar mais longa. Mattias não tinha falado mais
nada, e eu tinha respeitado aquele silêncio. Talvez no outro dia, quando ambos
estivessem mais calmos, eu poderia me desculpar pelo mal-entendido. A
caminhonete entrou em um caminho de lama e terra, mais a frente vi a casa.
Tinha outra caminhonete estacionada em direção à saída. Então Rosalinda saiu
na companhia de um casal que seguravam os pequenos.
Quando me viu saindo da caminhonete, Rosalinda com preocupação em
seu olhar se aproximou da gente.
— Oh, minha filha – murmurou e me tocou no rosto. — Você voltou.
— Ernesto me encontrou e eu fugi dele – falei e fui abraçada. — Mattias
me salvou e me trouxe.
Ao terminar de falar olhei para a varanda onde o casal me encarava. O
homem que segurava João Pedro, lembrava Mattias. Então aquele só poderia ser
Marcos.
— Venha, vamos entrar e sair desse sereno. – Com cuidado me levou para
dentro, mas antes de entrar vi Maria Alice levantar a cabeça e me olhar.
— Titia – a voz soou sonolenta. — Mamãe, ela é a titia que eu disse.
Sorri ao ouvir “titia”. Olhei para os pais dos pequenos e enderecei um
pequeno sorriso. Não queria soar mal-educada.
— Oi, me chamo Alessandra. – Sorriu e me estendeu a mão. A
cumprimentei, em seguida acarinhei os cabelos loiros de Maria Alice. — Assim
que cheguei, ela só falou de você.
— Ela é uma linda.
— Obrigada. Esse é o meu marido, Marcos. É o irmão do Mattias.
Recolhi a mão que ainda alisava os cabelos da pequena e observei João
Pedro. Esse dormia agarrado ao pescoço do pai.
— É um prazer te conhecer, Isobelle.
Acenei e fitei Rosalinda que me sorria.
— Bom, agora vocês vão indo que eu vou arrumar um lugar para Isobelle
dormir. Ela precisa desse descanso.
Alessandra e o marido acenaram e se encaminharam para a caminhonete.
Olhei Mattias que acenava para o irmão e cunhada, quando ele se desencostou da
caminhonete e andou em minha direção, desviei o olhar.
— Vamos entrar – Rosalinda me puxou pela mão. — Quer me dizer o que
aconteceu lá?
Nos sentamos no sofá, e eu suspirei.
— Eu comprei uma passagem para Minas Gerais – falei e notei a surpresa
no olhar dela. — Estava indo para a plataforma quando vi Ernesto com alguns
peões. Ele me viu e correu atrás de mim.
Ao ouvir a porta ser fechada, me virei e fitei Mattias.
— Aquele desgraçado – Rosalinda praguejou. — Precisamos ir à polícia
e...
— Não – a interrompi, estava começando a ficar nervosa. — Eu... – parei
sem saber se falava a verdade. Eu já tinha dito meu nome, mas ainda me sentia
receosa em dizer o motivo da fuga até aqui. — Não quero envolver a polícia, eu
acho que o Benício vai me esquecer e me deixar em paz.
Era mentira, mas talvez se fosse dito em voz alta se tornasse verdade.
— Quando se sentir mais confiante, pode conversar comigo. – Sorriu me
fazendo retribuí-la. — Agora, vejamos. Você dorme no quarto do Mattias e ele
dorme aqui na sala.
Rapidamente encarei Mattias, no mesmo instante que ele olhou para mãe.
Não tinha dito nada, mas era óbvio que não tinha gostado.
— Não, não precisa disso. Eu posso me virar aqui na sala. Durmo nesse
sofá se não for problema.
— Então você fica no meu quarto, e eu...
— Não! Por favor – neguei segurando-a pelas mãos —, eu fico aqui na
sala. O sofá é grande para mim. Só da senhora ter me ajudado e me deixado ficar
aqui hoje, já é de imensa ajuda.
— Pode ficar quantos dias quiser e quando decidir ir de novo o Mattias te
leva. Ele se comportou?
Quase ri da pergunta.
A frase que ele havia dito sobre ter trinta e quatro anos, e não precisar
seguir as ordens da mãe, me vieram a mente. Olhei para ele, e parecia que
pensávamos o mesmo. O olhar dele era do tipo “Não diz o que falei”.
— Ele foi bem respeitoso.
Rosalinda sorriu orgulhosa, e me acariciou os cabelos.
— Vou buscar uns lençóis para você – disse enquanto ficava de pé. —
Aqui faz um baita frio. Você tem roupa de frio?
— Não – respondi um pouco envergonhada.
— Volto já.
Após dizer isso foi em direção ao corredor. Sentada no sofá, retirei o
casaco de Mattias e o chapéu que ainda estavam comigo. Suspirei e relanceei
p a r a a cozinha, ele assim que me viu encará-lo, desviou o olhar. Imitando-o,
encarei minhas mãos sobre as coxas. Talvez se eu fosse amanhã, poderia arriscar
encontrar Ernesto mais uma vez. Ao me lembrar da passagem comprada, quase
chorei. Tinha me sobrado, acho que uns R$ 700,00. No entanto, eu tinha
dinheiro em uma conta. Eu só precisava sacá-lo.
— Prontinho. – Rosalinda murmurou enquanto se aproximava com alguns
lençóis bem grossos. — Você pode trocar sua roupa por essas – me entregou uma
calça e blusa de moletom. — Era do Matheus, mas não se preocupe, estão
limpas. Era para doar, ele não usa mais.
— Obrigada.
— Que isso – deu de ombros e foi até o sofá. — Vou deixar seu cantinho
aqui bem confortável.
Agradecida, peguei a roupa de frio e me dirigi ao banheiro. Assim que
entrei, tranquei a porta e suspirei. Por uns minutos me observei no espelho. A
mancha ao lado do meu rosto estava começando a sumir, e lembrar de como a
adquiri, me deixou enjoada. Benício teria mesmo a coragem de me violentar? Ao
perceber que sim, engoli em seco e retirei a roupa que estava.
Estar trancada no quarto e amarrada, me deixou amedrontada demais.
Talvez, se eu não tivesse agido e fugido. A essa hora estaria morta, ou ainda
sofrendo nas mãos daquele homem sem que ninguém me ajudasse.
A calça e blusa ficaram grandes em mim, mas logo me senti aquecida.
Com cuidado, dobrei minhas roupas e a coloquei dentro da mochila. Abraçando-
me a mochila fui em direção à sala, ao chegar lá, vi as janelas fechadas e
Mattias fechando a porta da frente. Me olhou dos pés a cabeça, em seguida foi
até a mãe, a beijou na cabeça e sussurrou alguma coisa.
— Deus o abençoe meu menino.
Sem falar comigo, passou em direção ao corredor.
Rosalinda, ao me ver, sorriu e apontou para o sofá.
— Veja se está bom para você – me pediu, e rapidamente obedeci. Assim
que me deitei no sofá, senti meu corpo relaxar e sorri minimamente. — Quer
mais um travesseiro?
— Não precisa. – Sorri me aconchegando entre os lençóis. — Assim está
ótimo, obrigada.
— Por nada, tenha bons sonhos. Amanhã conversamos mais.
Antes de ir, e de forma carinhosa, Rosalinda me cobriu bem e sorriu.
Quando a luz da sala foi apagada, fechei os olhos e não foi difícil de
dormir.
Isobelle
Assim que saí do banheiro já pronta para começar o dia, coloquei minha
mochila no lugar de sempre e fui até a cozinha. Olhei ao redor procurando a
chaleira para o preparo do café, quando Rosalinda acordasse tudo já estaria
pronto.
— Acordou antes das galinhas?
Com o susto me virei e vi Rosalinda parada na entrada da cozinha. Usava
uma camisola composta e um casaco.
— Bom dia. – Sorri e a vi se aproximar. — Não quis ficar dormindo até
tarde como ontem, quero poder ajudar a senhora quando estiver aqui.
— Oh, minha querida. – Sorriu surpresa. — Mas está muito cedo ainda, e
não tem problema você acordar no seu tempo.
— Não tem problema – disse observando-a pegar a chaleira e enchê-la de
água. — Quando eu ia para o meu trabalho, acordava às 4h10. Se eu demorasse
um pouco, perdia o ônibus.
— Mesmo? E com o que você trabalhava?
— Eu era vendedora em uma butique no shopping – respondi encostada a
pia. Rosalinda agora buscava o pote de café. — Mas eu sou uma professora, me
formei há um tempo. Só não consegui um emprego na área. É um pouco
complicado.
— Eu imagino, filha. Se está difícil para quem não tem estudo, imagine
para quem tem.
Concordei um pouco surpresa. Minha mãe não pensava daquela forma, e
ver que aquela mulher a minha frente compreendia o meu dilema, me deixou com
o coração confortado.
— Posso preparar o café – falei ficando ao lado de Rosalinda. — Enquanto
a água esquenta, o que posso fazer para adiantar o serviço?
Rosalinda me sorriu e apontou para a geladeira.
— Guardei uma massa de pão para preparar hoje – disse e logo me virei
abrindo a geladeira. — Você sabe fazer pão?
— Não, mas eu posso aprender.
— Ótimo. – Sorriu e me olhou. Parecia realmente feliz. — A massa fica
descansando um pouco, e quando a água ferver você prepara o café?
— Sim, não se preocupe.
— Eu vou me banhar, assim podemos começar a preparar os pães.
Concordei e a vi se afastar.
No relógio de parede marcavam 4:55. Mesmo após meu banho, sentia um
leve frio arrepiar toda minha pele. Me abracei e me aproximei mais do fogão, a
água aos poucos começava a ferver. Olhei o corredor que levava aos quartos e
pensei quando Mattias iria acordar. Só de saber que daqui a algumas horas, eu o
veria, senti meu baixo ventre formigar.
Ao ouvir a chaleira apitar, sai do devaneio e desliguei o fogo. Em seguida
busquei a garrafa de café e o coador. Faria da mesma forma que eu tinha
aprendido, e esperava que Rosalinda não se importasse. Após terminar o preparo
do café, fechei bem a garrafa e a coloquei em cima da mesa. Voltei a pia e lavei
o que tinha sujado, estava ansiosa para preparar os pães.
Com a volta de Rosalinda, colocamos a mão na massa.
A todo momento mantínhamos uma boa conversa, e ela sempre me
explicava algo que eu não entendia. Descobri que já na próxima semana,
começariam com as festividades em homenagem à paróquia da igreja que
completava cento e cinquenta anos. Rosalinda também me falou sobre o prefeito
que havia sumido, e o deram como morto.
— Mas como sabem que ele está morto?
— Ele desapareceu tem alguns meses – Rosalinda murmurou enquanto
colocava um pouco de café para si. — Não pediram resgate e a primeira-dama se
nega a pensar que ele fugiu com outra. O carro foi todo quebrado a machadada.
— E a polícia não fez nada? – indaguei e enrolei a massa deixando-a em
um formato de pão. — Ele era o prefeito.
— A polícia passou boa parte procurando ele, mas não encontraram.
— Não pensaram na possibilidade de ele estar machucado e sem condições
de pedir ajuda?
Rosalinda me olhou e sorriu minimamente balançando a cabeça.
— São três meses procurando. A viúva merece um fim para poder
descansar e seguir a vida.
Entendendo, eu apenas concordei e finalizei com o último pedaço de
massa.
— Prontinho. – Sorri observando meu belo trabalho, me senti uma
padeira. — Estou ansiosa para comer esses.
Levantei-me e fui até o forno. Sob as indicações de Rosalinda, acertei a
temperatura do forno e cronometrei o tempo.
— Mãe, eu... – Assim que me virei para a entrada, vi Mattias só de botas e
calça jeans. Me olhava surpreso, enquanto eu fazia o mesmo. O peitoral todo
descoberto me deixou hipnotizada, e ainda o olhando engoli em seco sem
conseguir disfarçar. Mattias tinha uma fileira de pelos loiros que iam do umbigo
para dentro da calça. Em mãos trazia uma camisa social listrada. — Bom dia,
Isobelle, pensei que ainda estava dormindo.
— Ela acordou mais cedo, preparou o café e me ajudou com os pães. –
Olhei para Rosalinda que me sorria. — Mas o que foi com a sua blusa?
— Caiu dois botões e eu não achei a agulha e linha.
— Não achou ou você não procurou? – indagou com a sobrancelha
arqueada já ficando de pé. — Você tem outras camisas.
— Poderia dar um jeito nessa aqui? – perguntou quando a mãe parou em
frente a ele. — Por favor? – Sorriu e entregou.
Ao me ver sozinha com ele na cozinha, olhei para os grandes braços
musculosos e suspirei. Lembrei do dia que fui abraçada protetoramente por ele,
do perfume que ele exalava. Eu sabia que estava sendo boba com aqueles
pensamentos, mas era quase impossível não ter. Não querendo mais cobiçá-lo
como estava fazendo, encarei seu rosto e notei o olhar intenso em minha
direção.
Acanhada, me virei de costa e fingi lavar as mãos.
— Aceita um café?
— Se eu estiver permitido – a voz soou irônica, o que me fez encará-lo. —
Eu aceito.
— Então pode se servir. – Sorri, e logo o vi se apoiar na cadeira, nunca
desviando o olhar do meu. — Ou espera que eu coloque na xícara para você?
Mattias me sorriu e andou até mim.
Ao ficar na minha frente, prendi a respiração e o encarei nos olhos. Ver
aqueles azuis tão de perto me deixou enebriada, e com o coração acelerado.
Então o braço dele passou por mim, e eu acompanhei. Quando a mão agarrou
uma xícara, mordi o lábio inferior e voltei a observá-lo.
— Parece nervosa.
— Estou normal – retruquei e recebi um aceno. — É impressão sua.
No instante em que ele se afastou, Rosalinda apareceu com uma agulha já
fincada no tecido. Olhou o filho, em seguida a mim.
— Está tudo bem?
— Sim – falamos ao mesmo tempo. Na intenção de mudar o assunto,
continuei: — Após o café, o que eu posso fazer para ajudar?
— Hum – Rosalinda parou o que fazia com uma expressão pensativa. —
Você pode ir alimentar as galinhas. Um dos peões vai aumentar o chiqueiro, e
trocar a comida deles. Então não precisa se preocupar com eles.
— Você poderia ver se elas botaram ovos – Mattias comentou e sorriu
enquanto bebericava o café.
— Certo – concordei desconfiada. — Eu vi que estavam colocando o
cercado.
— É pra proteger as vacas – murmurou concentrada. — Afasta outros
bichos. – Ao terminar de costurar, suspirou e entregou ao filho. — Pronto, agora
coloque logo essa camisa.
— Obrigado, mãe. Hoje vou ao Sebastião e na fazenda do Albuquerque.
Vou ver se a égua melhorou.
— Tá bem. Leve a Isobelle – mandou, e surpresa olhei para os dois. —
Assim ela conhece os lugares.
— Não, dona Rosalin...
— Talvez eu demore, mãe. – Mattias me interrompeu. — Acho que não
seria um bom passeio para ela.
Olhei para Mattias, mas assim que ele virou para mim, desviei o olhar.
— Por que não perguntamos o que ela quer? – Rosalinda propôs e me
fitou. — Então filha, você quer ir?
Sem graça, engoli em seco e logo neguei.
— Eu não quero atrapalhar, acho que é melhor eu ficar.
Após um suspiro, Mattias terminou de abotoar a camisa e me encarou.
— Se quiser ir, por mim tudo bem. Eu vou ao curral e quando voltar
podemos ir.
E assim, sem esperar uma resposta minha, saiu da cozinha. Por uns
segundos fiquei parada olhando para onde ele esteve, eu não queria mesmo ser
um incômodo para Mattias. Atrás de mim, o forno apitou me tirando do
devaneio. Com um pano de prato em mãos, abri a tampa e vi os pães crescidos.
— Acho que eles já estão bons – murmurei, ao meu lado, Rosalinda
apareceu com uma faca e começou a espetar as massas. — Estão bons, né?
— Sim, pode tirar. E estão com boa aparência.
Sorri e os coloquei em uma cesta que tinha em cima da mesa.
Esperei que eles esfriassem, e depois experimentei um. Estava tão macio,
e gostoso. Me sentia orgulhosa, e parecia que Rosalinda também. Após isso, fui
até o lado de fora e olhei para cima. Já tinha amanhecido por completo, o sol ao
tocar em minha pele me deixou mais aquecida.
Os peões já estavam ali prontos para começarem os trabalhos.
Com a cesta vazia e um balde com alguns legumes em mãos, fui até o
galinheiro. Ao entrar, fechei rapidamente a portinha e observei as galinhas se
juntarem. Me aproximei de onde estavam os ninhos, mas logo parei ao ver uma
galinha avançar em mim.
— Se você as alimentar primeiro vai conseguir pegar os ovos.
Me virei e vi Mattias parado do outro lado da tela.
— Eu ia fazer isso – menti e o vi levantar as mãos em desculpa.
Em cada gesto meu, sentia que Mattias me observava e mesmo tímida com
sua presença. Eu mostraria que sabia o que estava fazendo. Ao jogar o que tinha
no balde no chão, e trocar a água por uma mais limpa. Fui até as caixas do
ninho, e comecei a pegar os ovos.
Assim que terminei, peguei o balde com uma mão e segurei a cesta cheia
de ovos com a outra. Ao passar pela portinha, Mattias a fechou para mim e me
acompanhou de volta para a casa.
— Mattias – o chamei fazendo-o me olhar. — Eu realmente não quero ser
um incômodo para você. Não precisa aceitar eu ir se não quiser.
— Por que na sua visão eu obedeço a tudo o que minha mãe impõe? –
arqueou uma sobrancelha.
— Eu não quis ofendê-lo, Mattias.
Parei na escada e o encarei. Ele estava no chão de terra, e eu um degrau a
mais que ele. Estávamos na mesma altura, e ali sob a luz do dia, eu conseguia
perceber alguns questionamentos nos olhos dele.
— Você quer um convite para ir comigo?
Surpresa com aquela resposta, ponderei no que responder. O que fez
Mattias respirar fundo.
— Isobelle irei passar boa, parte do tempo de hoje fora da fazenda –
começou de braços cruzados. — Caso queira me fazer companhia, será bem-
vinda.
— Isso é um convite? – indaguei, mas ao vê-lo me fuzilar com os olhos,
sorri. — Tudo bem, se não for mesmo problema, eu te faço companhia.
Sorri de forma doce, e o vi engolir em seco, desviando os olhos. Mattias
pigarreou e apontou para a caminhonete.
— Vou manobrar e te espero. Não demore.
Concordei e o observei ir.
Com pressa para não o atrasar, fui até Rosalinda que estava na cozinha.
Depositei a cesta em cima da mesa, e o balde no chão.
— Eu estou indo com o Mattias – comentei e vi Rosalinda sorrir e
concordar. — Ele disse que vai passar o dia todo fora. Então não sei se voltamos
para o almoço.
— Tudo bem, tome. Leve esses pães para o Sebastião. Ele sempre gosta
deles.
— Certo. – Sorri segurando o embrulho. — Até depois.
Ao sair novamente, vi Brutus se aproximar e se deitar na varanda. Desci
com cuidado as escadas e me encaminhei até a caminhonete. Já acomodada no
banco do passageiro, coloquei o cinto e fitei Mattias. Após buzinar para a mãe
que estava na varanda, deu a partida em direção a saída.
— O que é isso aí? – perguntou com o cenho franzido. — Cheiro bom.
Sorri orgulhosa.
— São pães para o Sebastião – respondi e recebi uma olhada. — Sua mãe
que mandou.
— É, dona Rosalinda adora paparicar aquele paspalho.
Ao ouvir aquele xingamento, ri e o observei mais atentamente.
— Você tem ciúmes da sua mãe?
Mattias riu e balançou a cabeça. Quando percebeu que eu ainda esperava
uma resposta, confirmou.
— Não diria ciúmes, mas sim cuidado.
Desviei o olhar para a janela e mesmo sem querer me lembrei de Benício.
Desde que Mattias tinha me salvado na estrada, eu não tive a oportunidade para
agradecer. Talvez porque lá, no fundo, me sentia envergonhada por toda a
situação.
— Eu sinto muito por você ter se envolvido – disse e o notei confuso. —
Sobre o Benício e eu. Agora ele sabe onde estou, e provavelmente vai atrás de
mim. Na verdade, quando você apareceu com aquela espingarda, e eu fingi que
não te conhecia. Esperei que você só aceitasse e fosse embora.
— Você achou mesmo que eu não te ajudaria?
— É que por onde eu ando só levo o caos – falei um pouco cansada. — E
vocês são boas pessoas, a sua mãe é maravilhosa. – Sorri com sinceridade e
carinho. — Se algo acontecer, vou me sentir muito culpada.
Meus olhos no mesmo instante arderam, mas eu não queria mais chorar.
— Não se preocupe – murmurou com firmeza. — Não é como se, eu e ele
fôssemos amigos. Não estamos indefesos, e não temos medo dele e de ninguém
da laia dele. – Concordei, mas algo em meu olhar denunciou como eu me sentia.
Então ele continuou: — A única coisa que o mantém protegido, são os capachos
que ele chama de peões. Tirando isso dele, só o que sobra é um homem covarde
e ladrão.
— Ladrão?
— A fortuna que ele esbanja não foi por mérito – proferiu e negou com a
cabeça. — O pai dele era um ladrão, que se aproveitava das outras pessoas. Foi
assim que ele ficou rico.
— Eu não sabia.
— Aquela fazenda ao qual ele mora, era do meu pai. – Ao terminar de
dizer adentrou outra estrada. — A fazenda onde moramos, foi um presente do
meu avô materno.
— Mas como isso aconteceu?
Mattias suspirou e crispou os lábios. Logo a frente eu vi uma grande
porteira, e do outro lado dela, um peão. Mattias buzinou e acenou, rapidamente a
passagem foi aberta. Voltei meu olhar para ele, eu queria saber o que tinha
acontecido. Mas não queria insistir no assunto.
— Meu avô paterno era um homem ignorante – falou e me olhou. — Ele
não pensava no futuro, ou no que ele poderia deixar para o filho, ou seus netos.
Acho que nunca passou pela cabeça dele, de que a fazenda poderia ser um bem
que traria tranquilidade ao meu pai. Então certo dia, ele apostou com o velho
Menzzotti que conseguiria capturar o filho do diabo e colocá-lo em uma garrafa.
Caso não conseguisse, o Menzzotti poderia pedir o que quisesse.
— O quê? – franzi o cenho sem acreditar no que tinha escutado. — O filho
do diabo? Em uma garrafa?
— Os dois estavam bêbados.
— Então o pai do Benício pediu a fazenda? E o seu avô aceitou?
— Não tente entender a cabeça de um velho ignorante.
Olhei para frente e fiquei pensando no que tinha escutado. Perder uma
fazenda assim, por ignorância, era algo que eu não conseguia compreender. Mas
eu sabia que poderia ser mesmo verdade.
— Por que o Menzzotti não queria te deixar sair? – perguntou e me olhou.
— Se não for me intrometer muito.
Neguei e respirei fundo.
Mattias acreditaria em mim caso eu contasse o que tinha visto pela
fazenda?
— Eu estava indo para Valença, mas aconteceu um imprevisto e eu fui
parar na fazenda dele. Eu menti o meu nome para eles – falei e notei a surpresa
em Mattias. — E o Benício descobriu. Achou que alguém me enviou para lá. Ele
disse uns nomes... Alvaréz e Tibério. Ele achou que um desses me mandou até
lá.
— Alvaréz e Tibério? – repetiu e quando concordei, ele respirou fundo. —
Você mentiu o seu nome para a gente também?
— Não! Eu me chamo Isobelle Monteiro.
— Monteiro – falou e me encarou com o cenho franzido. Em seguida
voltou a prestar atenção na estrada. — Ainda não entendo. Só por causa disso ele
te prendeu?
— Ele é homem desconfiado demais – respondi. — E muito agressivo,
mesmo eu explicando que ninguém tinha me mandado, que, na verdade, eu tinha
parado ali por acaso – parei para tomar uma respiração. — Ele me bateu e me
deixou presa na cama dele. Foi assustador.
Ao terminar de falar sequei algumas lágrimas que escaparam e olhei para
a janela.
— Como eu disse antes, não precisa se preocupar. Está segura na minha
fazenda.
Sorri para ele agradecida e olhei para frente. Finalmente vi a fazenda ao
longe, pelo enorme pasto vi muitas vacas e bezerros. Me acomodei melhor no
assento e voltei meu olhar a Mattias. Ele estava com a feição séria, parecia
zangado e eu fiquei sem entender. Até alguns minutos atrás ele estava normal,
teria eu dito algo que o zangou?
— Estamos na fazenda do Albuquerque. Eu ando tratando dos animais
dele, semana passada a égua se machucou em uma armadilha. Uma ferida bem
feia.
— Coitada – murmurei e olhei o grande jardim a frente. — Ela deve ter
sofrido muito.
— É – respondeu e estacionou o carro em uma vaga. — Eu volto logo.
— Tudo bem.
Após pegar a maleta, o observei ir pelo caminho de cascalho. Retirei o
cinto, e coloquei o embrulho de pães no banco de trás. Em seguida, abri mais a
janela e fiquei olhando a paisagem dali. Dava para ver o extenso pasto, e
montanhas com o grande céu azul. Aproveitando a sensação boa de estar ali,
fechei os olhos e encostei a cabeça na porta. O vento forte assoprava em meu
rosto, deixando meus cabelos um emaranhados de fios castanhos.
— Bom dia. – Ao ouvir o recém-chegado, me assustei e me sentei ereta. —
Tudo bem?
O senhor parecia ter uns sessenta e poucos anos. Se vestia todo arrumado,
parecia ter saído de um filme de cowboy.
— Bom dia. Tudo bem, e com o senhor?
— Bem, esse é a caminhonete do Mattias. Ou estou errado?
O olhar dele era de curiosidade.
— É, eu vim o acompanhando. Ele veio ver uma égua do Sr. Albuquerque,
só estou o esperando aqui.
Eu queria ficar ali sozinha, mas não queria soar tão rude. Então, sem eu
esperar, ele se apoiou na janela e me observou por inteira.
— Vamos até ele, não sabe se ele vai demorar lá.
— Não, obrigada. Vou esperar aqui, e eu também não quero irritar o dono
da casa. Entrar assim, sem a permissão dele.
— Não se incomode – murmurou com um grande sorriso, e abriu a porta
para mim. — Vamos indo, eu insisto.
Não querendo ser mal-educada, concordei e desci da caminhonete. Sorri
para o senhor que me encarava e começamos a andar pelo mesmo caminho que
Mattias tinha ido. Enquanto andava, percebia que o senhor me analisava.
— Gosta de fazenda? Morar no interior?
— Está sendo uma boa experiência – respondi e rezei para chegar logo
onde Mattias estava. — Sempre morei na cidade, então estou gostando bastante
da roça.
Sorri e fui retribuída.
Ao chegar em um pátio enorme, vi Mattias ao lado de uma égua.
Acariciava a crina negra, enquanto conversava com uma mulher ruiva. Me
aproximei deles, e ao ver os sorrisos sendo trocados. Senti uma sensação ruim.
— Mattias, meu rapaz – o senhor ao meu lado o chamou, fazendo os dois
nos encarar. — Conheci essa bela moça, estava sozinha na sua caminhonete.
— Bom dia, Sr. Albuquerque – proferiu, e surpresa o encarei. — É a
Isobelle, ela está hospedada na minha casa.
— Ela é um achado – Albuquerque afirmou e me fez olhá-lo. — Você é
uma jovem muito bonita.
— Bondade do senhor.
— Essa é a minha filha, Carolina Albuquerque.
Assim que fomos apresentadas, Carolina me olhou dos pés a cabeça e
arqueou uma sobrancelha. Não sei se foi pela forma como me olhou, com
desdém puro, ou por ainda estar tão próxima de Mattias, que me fez retribuir o
mesmo olhar.
Quando ela percebeu que eu não diria nada, sorriu e cruzou os braços.
— Meu pai quando quer ser simpático acaba exagerando demais. – Riu,
mas logo fez uma expressão de culpa. — Não que eu esteja dizendo que você é
feia. Espero que não tenha se ofendido.
— Imagina, não fiquei.
Sorri e olhei Mattias que me encarava risonho.
— Não fui simpático, só sincero. – Sorriu e concordei. — Então Mattias,
Isobelle é alguma parente? Amiga? Namorada?
Envergonhada era como me sentia com aquele questionamento todo. Não
queria que Mattias dissesse sobre Benício.
— É uma amiga da família – respondeu e começou a juntar os materiais.
— Sr. Albuquerque, sobre a égua, ela ainda vai precisar ficar de repouso. Não
pode fazer esforço.
— Eu estou cuidando dela, Mattias – Carolina falou e sorriu para ele. —
Me preocupo muito com a saúde da Flora. Ela é especial para mim.
— Certo – respondeu e colocou o chapéu na cabeça. — Daqui a duas
semanas eu voltarei para ver a égua.
— Obrigado, Mattias. Se não fosse por você, talvez teríamos que
sacrificar o animal. Seria uma grande perda.
— Para tudo tem um jeito, Sr. Albuquerque – disse e deu dois tapinhas no
ombro dele. — Vamos, Isobelle?
— Sim – concordei e sorri para o dono da fazenda. — Foi um prazer
conhecer o senhor.
— Igualmente, minha jovem.
Então andei até ficar ao lado de Mattias.
No final da tarde, quase noitinha, estava sentada no sofá com Maria Alice
ao meu lado e João Pedro deitado na ponta do sofá. Os pequenos tinham acabado
de tomar banhos, e assistíamos a um desenho quando da janela vi Mattias
retornar. Respirei fundo e o observei descer da caminhonete e começar a retirar
algumas coisas da carroceria.
Após guardar tudo no celeiro, o vi se aproximar da varanda, e isso foi
motivo para sentir um comichão na barriga. Tentei não ligar para sua presença,
mas foi impossível quando ele parou na soleira da porta e bateu as botas.
Nossos olhares se cruzaram, e por mais que eu quisesse desviar. Mantive o
contato, fazendo com que ele desviasse. Atenta a ele, o olhei tirar o chapéu e o
casaco, pendurando-os no gancho atrás da porta. Em silêncio foi até a cozinha
onde Rosalinda estava, e a abraçou.
Era tão nítido o carinho que ele tinha pela mãe, sorri para a cena.
Ouvi ele falando que tinha ido a um depósito e demorado mais que o
necessário. Pega pelo olhar dele, desviei para a TV e tentei manter a respiração
normal. Pela visão periférica vi Mattias ir até o corredor, talvez para tomar
banho. Já tínhamos jantado por conta das crianças, e estávamos demorando ali
para ir dormir.
Morar no campo era tão diferente, e eu preferia mil vezes a tranquilidade
da roça à cidade grande.
Maria Alice se espreguiçou ao meu lado.
— Titia, eu posso sentar no seu colo?
— Claro – respondi e a puxei para mais perto. — Está com uma carinha de
sono.
— Mas eu não tô com sono não – retrucou sonolenta. Olhei para João
Pedro e o notei cochilando. — Eu só vou dormir quando você for.
Enquanto a conchegava no meu colo, vi Rosalinda me sorrir e gesticular
que arrumaria a cama para colocá-los. Os dois iriam dormir com a avó, pois a
cama dela cabiam os três. Delicadamente comecei a balançar Maria Alice e após
alguns minutos ela já dormia nos meus braços. Sorri e a toquei na bochecha.
Lembrei-me sobre o que ela tinha dito sobre a mãe, e, no fundo, esperava
que tudo se resolvesse. Eles eram tão pequenos, que senti medo por eles.
Me levantei com cuidado, ao mesmo tempo que Mattias aparecia na sala.
Os cabelos loiros estavam molhados, e ele usava uma roupa limpa. Rosalinda se
aproximava logo atrás dele.
— Mattias, pegue o João Pedro – mandou enquanto o tocava no braço. —
Vem Isobelle, já arrumei o cantinho deles.
Anuí e andei atrás dela.
Ao chegar no quarto, fitei surpresa uma rede que protegia a cama. Sem
entender, olhei para Rosalinda, aquilo não estava ali antes.
— É pra proteger dos mosquitos. – Sorriu e abriu espaço para eu adentrar.
Coloquei Maria Alice deitada, e me afastei. Em seguida, Mattias fez o mesmo.
Cruzei meus braços e sorri observando-os. Eles eram tão lindinhos
dormindo calmos como agora. Notando que Rosalinda cobria aos dois com o
lençol, me afastei indo até a sala. Mattias passou por mim e foi direto para a
cozinha. Querendo entender o que tinha acontecido com ele, fui em sua direção.
— Você desapareceu hoje. Sua mãe se preocupou com você.
Sim, menti descaradamente e tentei parecer que tinha sido apenas um
comentário para puxar assunto.
Ele me olhou e sem responder observou meu vestido novo. Rosalinda tinha
uma máquina de costura e tecidos de sobra para me fazer alguns vestidos. Falei
que não precisava, mas ela insistiu. Diferente do que usei pela manhã, aquele
era da cor preta com pequenas girassóis.
— O curral vai ser aumentado – respondeu e foi até o armário. — Fui
comprar os materiais e acabei não notando a hora.
Concordei e o vi ir até as panelas para se servir.
A cozinha era pequena, e Mattias ali dava a impressão de ocupar muito do
espaço. Fiquei uns segundos observando os braços fortes, mas logo parei com
aquilo e me aproximei da mesa. Peguei a garrafa, uma xícara e assim que a
enchi, ofereci para Mattias que sorriu de lado.
— Obrigado pela gentileza.
Não sei o motivo, mas a voz soou sarcástica, o que me fez cruzar os
braços. Então, antes que ele pudesse beber, peguei a xícara de volta e levei aos
lábios. Ele me encarou surpreso, mas logo arqueou uma das sobrancelhas.
— Achei que era minha.
— Achou errado. – Dei de ombros e o observei pegar outra xícara e se
servir. Atrás de mim ouvi um suspiro e me virei. Rosalinda se aproximava,
aparentemente cansada.
— Esses dois até dormindo brigam – comentou e foi até a porta. — Puxou
ao pai. Cadê o Brutus?
Da cozinha ouvi Rosalinda assobiar, e minutos depois o cachorro latiu e
apareceu correndo.
— Ele estava na porta do galinheiro.
— É bom deixar ele pra dentro – Rosalinda falou para o filho. — Bom, eu
vou tomar banho. Esse vestido ficou tão lindo em você, filha. Não perdi a mão,
fazia tanto tempo que não costurava um assim.
— Ele poderia ser maior.
Nós duas olhamos para Mattias. Rosalinda foi a primeira a falar.
— E o que você entende de vestidos? Por acaso já usou algum? Você sabe
fazer? Num tô dizendo mesmo. Folgado.
Com a saída dela, voltei meu olhar para Mattias que comia enquanto me
olhava.
— Isso foi rude da sua parte – disse e o vi encostar na cadeira. — Sua mãe
fez para mim com muito carinho.
— Só quis dizer que está muito curto.
— Ele é um vestido normal, Mattias. Só recebi elogios dele.
— Deixa eu adivinhar – murmurou de braços cruzados, o imitei. — Do
Sebastião?
— Na verdade, sim. Ele disse que fiquei bem bonita como uma fazendeira.
Mattias respirou fundo.
— Que doce da parte dele.
— Sim, muito gentil. Ele sabe ser bem-educado.
Não esperando uma resposta, peguei minha xícara e fui para a sala. Brutus
ao me ver se aproximou e se deitou aos meus pés. Olhei para a cozinha, e neguei
com a cabeça. Mattias era mesmo o chucro que Sebastião dissera. Enquanto
bebericava meu café, observei o jornal que tinha começado. Nada de anormal era
noticiado, e por dentro eu me perguntava o que estava acontecendo.
Desde que tinha chegado ali, não liguei para Michele. E eu sabia que
deveria, mas ainda não tinha feito. Talvez porque eu não quisesse que aquele
meu mundo que eu tinha criado, desmoronasse.
Brutus, que estava deitado próximo, levantou a cabeça e rosnou baixinho.
Sem entender o observei ir até a porta que estava fechada, e ficar meio
escondido olhando alguma coisa. Curiosa para saber o que era, me levantei e
olhei pela janela. Tudo parecia normal para mim. O galinheiro fechado, o celeiro
e o chiqueiro recém-reformado do mesmo jeito. Prestes a me sentar, vi um bicho
esguio correr de quatro em direção à saída.
Não consegui distinguir o que era, mas logo lembrei do chupa-cabra.
Com o coração aos pulos, corri até a cozinha, Mattias lavava o que tinha
sujado.
— Mattias! – o chamei fazendo-o virar em minha direção. — Eu o vi!
— O quê? – perguntou se aproximando com a expressão preocupada. —
Viu o quê?
— O chupa-cabra! – falei, e então o vi rir. — É sério, ele correu para a
pista. O Brutus também viu.
Por ele perceber meu medo, ele anuiu e foi até a entrada. Antes que
abrisse a porta, o agarrei pelo braço e neguei com a cabeça. O que ele estava
pensando? Ir enfrentar o chupa-cabra assim sem mais nem menos?
— Só vou dar uma olhada.
— É perigoso.
— Isobelle – parou e sem eu esperar, agarrou delicadamente meu rosto. —
Chupa-cabra não existe.
Engoli em seco e fitei seus olhos.
O polegar, em minha pele, fazia um leve carinho. O que me fez fechar os
olhos, mas logo abri-los. Mattias conseguia prender minha atenção apenas me
olhando daquele jeito. Lentamente ele levou a carícia até meu lábio inferior, e o
tocou. As borboletas em meu estômago se agitaram, e por uns segundos fiquei
com medo do que fazer caso ele me beijasse.
Eu era praticamente virgem de beijos e outras coisas. Minha primeira vez
nem deveria contar como uma boa experiência. Afinal, eu estava praticamente
inconsciente. Não gostava de tentar lembrar, não eram boas lembranças.
Delicadamente pousei minha mão sobre a de Mattias e movi o polegar em
uma carícia. Ele estava tão próximo, os lábios tão pertos dos meus, que se eu
inclinasse um pouco. Poderia beijá-lo, e eu queria muito.
A porta do banheiro foi aberta e Rosalinda murmurou algo.
Me afastei lentamente e o vi engolir em seco. Mas logo esfregar a mão na
barba. Assim que me virei, vi Rosalinda aparecer já vestida com o casaco em
mãos. Primeiro ela olhou para mim, em seguida o filho.
— O que foi?
Encarei Mattias, mas logo me afastei por completo.
— Eu vi um chupa-cabra – respondi olhando-a se aproximar com o cenho
franzido. — Ele passou para a pista, mas ele estava por perto.
— Chupa-cabra não existe – Mattias voltou a falar. — Eu ia dar uma
olhada.
— Mas nem pensar – Rosalinda cruzou os braços. — Vai enfrentar um
bicho daqueles assim?
— Mãe...
— Vá dormir, não quero saber de você lá fora.
Contrariado, Mattias cruzou os braços e respirou fundo.
— Mãe, eu...
— Para o quarto – o interrompeu. — Tenha uma boa noite.
O olhei e cruzei os braços.
Mattias claramente queria retrucar, mas apenas suspirou e a beijou na
testa.
— Sua benção, mãe.
— Deus o abençoe. – Sorriu e o beijou na bochecha. — Vá descansar,
amanhã é um novo dia.
Antes de sair, ele me olhou e acenou com a cabeça.
As borboletas no meu estômago ainda estavam ali, eufóricas. Me fazendo
ter arrepios pelo corpo, pois eu sabia que se Rosalinda não tivesse aparecido.
Teríamos nos beijado.
— E você também – Rosalinda me abraçou pela cintura. — Descanse bem,
hoje o dia foi puxado. Os gêmeos não te deram sossego.
— Eu gosto de crianças – falei e me dirigi ao sofá. — Uma vez fiz estágio
em uma escola, foi bem desafiador. As crianças me chamavam de Tia Belle.
Rosalinda sorriu e me cobriu quando eu me deitei no sofá.
— As crianças daqui teriam sorte de ter você como professora – murmurou
e eu sorri. — Boa noite.
— Boa noite.
Suspirei e me aconcheguei mais entre as cobertas. Meu olhar seguiu até a
janela, dava para ver o céu estrelado e se não fosse o chupa-cabra lá fora, eu
bem ficaria alguns minutos sentada na varanda olhando as estrelas.
Automaticamente a voz de Mattias falando que aquilo não existia surgiu em
minha mente, e eu sorri. Talvez não fosse mesmo um chupa-cabra, mas o que
poderia ser?
E com aquele questionamento, fechei os olhos e decidi dormir.
Isobelle
Assim que senti uma das mãos descerem até o meu traseiro o beijei com
mais afinco, e quando ele o estapeou com força em seguida de um aperto; gemi
rente aos lábios de Mattias. Rapidamente fui pega no colo e agarrada a ele soltei
um gemido dengoso quando a mão se moveu sob o meu vestido; parando sobre a
minha calcinha.
— Se você ficar rasgando as minhas calcinhas, eu vou ser obrigada a
andar nua por aí.
No mesmo instante ele franziu o cenho, e como se eu não pesasse nada.
Andou calmamente para dentro de casa.
— Então vamos fazer assim – respondeu retirando o chapéu, o jogando no
sofá sem parar de andar até o banheiro. — A cada calcinha que eu rasgar, te dou
duas de presente.
Ri daquilo e vi Brutus passar correndo para a sala.
— Então você já me deve quatro.
Já dentro do banheiro fui colocada no chão, e sob meu olhar de pura
cobiça, Mattias desabotoou por completo a camisa, e sem me conter passei
minha mão por seu peitoral. Ao vê-lo colocar as mãos no cinto, o parei e
continuei com aquela tarefa. Eu me sentia extremamente ousada e poderosa.
Joguei o cinto no chão e após respirar fundo, abri o botão da calça. Era tão
visível a ereção sob o tecido.
— Vai me dar banho também?
— Vou! – Afirmei pegando-o de surpresa. — Hoje vou colocar em prática
algumas coisas que quero fazer.
Mattias acariciou minha bochecha.
— Me dar banho é uma delas?
Sorri ao notar o sorriso dele.
— Eu vou comandar nessa noite – falei e o vi arquear uma sobrancelha. —
E espero que você não atrapalhe. Ou será castigado.
— Uau! Não sabia desse seu lado agressiva – murmurou, então o olhei.
Seu sorriso era malicioso. — Eu gostei.
Puxei a calça para baixo e engoli em seco ao ver a ereção sob a cueca
preta. O toquei por cima, mas logo enfiei a mão e o segurei. Olhei para Mattias
que me observava, e mordi o lábio. O semblante era de puro desejo, e querendo
aumentar as sensações para ele, comecei a fazer os movimentos de vai e vem.
Da ponta vi quando um líquido incolor saiu, então o apertei fazendo
Mattias gemer mais alto. O soltei alarmada, mas ele logo pegou minha mão e a
fez segurá-lo repetindo os mesmos movimentos. Enquanto o masturbava, o puxei
para um beijo que Mattias prontamente retribuiu. As nossas línguas se
esfregavam eroticamente, e a cada vez que os lábios se fechavam no meu, o
arrepio no meu corpo aumentava.
— Você está muito vestida, Bel...
Ao término daquela frase, retirei as botas, a calcinha e puxei meu vestido
o retirando. Com expectativa observei Mattias me imitar e retirar os restos das
peças de roupas. O banheiro era pequeno, mas aquilo não impediria de nós dois
nos enfiarmos embaixo do chuveiro.
De frente para Mattias, o vi esticar o braço e ligar o chuveiro. Assim que
a água caiu em mim, fechei os olhos e desci as mãos pelo meu corpo. Eu sabia
que estava sendo analisada, e mesmo que estivesse envergonhada, continuei.
Apertei meus seios, e no momento que abri os olhos, percebi que Mattias se
tocava.
— Assim você vai me matar, Bel.
Sorri e saí de baixo do chuveiro colocando Mattias no meu lugar.
— Eu gosto quando me chama de Bel. – Avisei o fazendo sorrir. — Vou
pensar em um para te chamar, você gosta?
— Se for você, eu aceito qualquer um.
Meu coração no mesmo instante bateu mais forte.
Talvez ele não soubesse como me deixava, mas cada fala carinhosa que ele
soltava, fazia o misto de sentimentos ficarem ouriçados e tudo o que eu queria
era dizer como eu me sentia. Dizer que eu estava completamente apaixonada,
pelo chucro Mattias Ferreira. Ao final do pensamento, deixei um mínimo sorriso
escapar. Estava sendo um pouco injusta, Mattias era um completo príncipe.
Olhei para o seu pau, e senti um súbito desejo de prová-lo.
Mas antes eu queria que ele implorasse, pois eu estava muito má. Então
peguei a barra de sabonete e comecei a esfregar no peito largo, em seguida desci
até sua ereção.
— Você realmente vai me dar banho?
— Não está gostando? – indaguei e deixei que ele pegasse o sabonete.
— Vê como estou completamente duro? – questionou enquanto retirava o
sabão de si. — O que eu mais quero nesse momento é ter você.
— Então peça – falei pegando de volta o sabonete, passando-o
sinuosamente por todo o meu corpo. — Por favor, Bel. Me deixe tê-la.
Mattias riu, mas ao ver que eu falava sério me puxou para de baixo do
chuveiro. A água retirava o sabão de nossos corpos, e aproveitando aquilo me
virei de costas sentindo as mãos alisarem minha cintura, e descerem até o meio
das minhas pernas.
— Bel, Bel... – Murmurou rouco em meu ouvido. — Por favor, me deixe
tê-la. Aqui no banheiro, no sofá, e em minha cama. Eu vou ficar louco se eu não
sentir seu corpo no meu.
Enebriada com as sensações, abri um pouco as pernas, e empinei me
esfregando descaradamente em Mattias. Enfiei o braço entre nossos corpos, e
forcei a ereção em minha entrada. Gemi e empinei mais, ficando quase nas
pontas dos pés.
— Droga!
— O que foi? – Olhei para trás, ele fechou rapidamente o registro.
— Eu esqueci da caixa de camisinhas na caminhonete.
Fiquei surpresa, e logo me lembrei que ele tinha ido comprar algo na
farmácia. O certo seria me afastar e pedir para que ele fosse buscar. No entanto,
meu corpo não me obedecia.
— Fazemos sem – propus sentindo os dedos longos esfregarem em meu
clitóris —, mas na hora de gozar... – minha voz saiu completamente manhosa. —
Você goza fora como ontem.
Vi que Mattias pensou a respeito, e enquanto esperava por uma resposta
remexi o quadril, sentindo-o entrar mais um pouco. As mãos logo exerceram
força em minha cintura, e com um impulso fui penetrada por completo. A
sensação de preenchimento me tomou fazendo com que eu fechasse meus olhos e
gritasse.
— Você me deixa completamente louco! – proferiu e com a outra mão
livre agarrou meus cabelos molhados, puxando-os para trás.
Mordi o lábio e quando os movimentos foram retomados, gemi mais alto
sem conseguir me segurar. Os nossos quadris se chocavam com selvageria, e a
cada minuto a pressão nos meus cabelos aumentavam. Assim como as deliciosas
sensações pelo meu corpo.
Atrás de mim eu ouvia perfeitamente os suspiros, e as respirações pesadas
de Mattias. Meu baixo ventre formigava, e eu conseguia sentir que meu primeiro
orgasmo estava próximo. Então abri mais minhas pernas, e me agarrei ao braço
que envolvia minha cintura. Eu a todo momento gemia sem me preocupar com a
exposição, afinal estávamos apenas eu e Mattias.
— Que boceta gostosa – o sussurro chegou em meu ouvido. — Eu disse
que você aguentava.
Sem conseguir formular uma frase, peguei a mão dele e coloquei entre
minhas dobras encharcadas. No instante que meu clitóris foi esfregado com
habilidade, minhas pernas fraquejaram e só não caí porque fui segurada. Em
questão de segundos, os lábios de Mattias se fecharam no meu pescoço, onde ele
mordeu ao mesmo tempo, em que aumentou as estocadas.
O arrepio percorreu meu corpo, e quando senti o acumulo de tensão e
excitação. Finquei as minhas unhas nos braços de Mattias e contraí a ereção que
ainda se movia, me arrancando as últimas forças naquele momento.
Amoleci nos braços de Mattias, sentindo os espasmos e sensibilidade pelo
corpo. Tentei acalmar meu coração que batia desenfreadamente, mas era uma
tarefa difícil quando eu o tinha me acariciando os seios.
Por um segundo ele separou nossos corpos.
— N-Não... – gemi manhosa tentando puxá-lo para perto. — Eu quero
mais...
— Vamos para o quarto – falou com a voz risonha, e em um movimento
inesperado me pegou no colo. — Quero você gemendo na minha cama.
Como resposta o abracei pelo pescoço e com fome o beijei nos lábios. Os
novos estímulos estavam sendo enviados por cada pedacinho do meu corpo, me
deixando completamente cheia de desejo.
Saímos do banheiro rapidamente, e molhados do jeito que estávamos,
Mattias me deitou na cama ficando por cima. Os olhos azuis me encaravam tão
profundamente, que a impressão que me dava era de que ele queria falar alguma
coisa. No entanto, quando ele não disse nada, eu apenas o toquei no rosto de
forma carinhosa.
Nos beijamos mais uma vez, um beijo mais lento.
— Fica de bruços?
— O quê? – indaguei confusa e o vi sair de cima de mim. — O que
pretende?
— Minha vez de cavalgar – disse sorrindo e me ajudou a virar no colchão.
— Agora fique bem empinada.
Mordi o lábio envergonhada, mas obedeci. Joguei os meus cabelos para o
lado e me abracei ao travesseiro. Olhei por cima do ombro e gemi quando os
dedos me tocaram no clitóris. Mattias acariciava a ereção, mas não tirava os
olhos das minhas dobras. Ainda o encarando, fiquei em expectativa ao vê-lo
puxar meu quadril mais um pouco e inclinar o corpo para frente.
Senti primeiro uma lenta lambida em minha entrada, o que me fez gemer e
remexer o quadril em busca de mais. Em seguida, inesperadamente, um dos
dedos me estimulou na outra entrada. Assustada, tentei me virar, mas Mattias
segurou meu quadril com mais firmeza.
— Mattias...
— Calma... – pediu e me lambeu mais uma vez. — Eu só...
— E-Eu nunca fiz assim – o interrompi totalmente alarmada. — Não estou
p-pronta.
Então, como se querendo me deixar mais tranquila, ele beijou o caminho
das minhas costas e em um movimento se deitou por cima de mim.
— Serei paciente em relação a isso – murmurou rouco em meu ouvido,
automaticamente empinei em sua direção. Ele esfregava o pau entre minhas
dobras, às vezes forçava a entrada, mas não continuava —, mas espero que pense
a respeito. No seu tempo.
— Você é... – Parei ao senti-lo entrar completamente. Ele era tão grande e
grosso. — Muito safado.
Os movimentos eram longos e lentos, nossos corpos estavam tão
conectados que pareciam um só. Com a sensação de sufocamento, tirei o
travesseiro de baixo de mim e o joguei no chão. Os braços de Mattias se
mantinham apoiados ao lado de minha cabeça, e mesmo enebriada de desejo
percebi as veias tão salientes pelo esforço.
— Por favor... mais...
A minha voz saiu sussurrada e manhosa. O suor de Mattias se misturava
com o meu, deixando nossos corpos mais escorregadios. Com um pequeno
esforço, consegui apoiar os joelhos trêmulos no colchão e gemi ao senti-lo bem
fundo.
— Você é muito corajosa – me elogiou em um sussurro. — A forma como
sua boceta aperta o meu pau... me leva a loucura!
O apertei propositalmente; fazendo-o gemer e agarrar os meus cabelos
firmemente. Mattias se afastou, e quando ouvi a cama ranger pelo peso; apoiei
os braços no colchão e me virei em direção a ele. As pernas torneadas estavam
em cada lado do meu corpo, e a ereção de Mattias ainda permanecia dentro de
mim. A visão que eu enxergava me deixou mais molhada só de saber que eu
conseguia com perfeição mantê-lo acolhido entre minhas pernas.
Ele sorriu malicioso e após uma palmada em minha bunda começou a se
mover como se estivesse galopando. Gemi formando um perfeito “o” com os
meus lábios, e levei uma das minhas mãos até meu traseiro o agarrando.
Eu não conseguia falar; meu corpo estava quente e suado. A cada segundo
a chama do desejo aumentava, espalhando-se e enviando fagulhas no centro de
minhas pernas, seios e nuca. Os bicos intumescidos, quando eram friccionados
no colchão, me arrancavam os gemidos que mesmo se eu quisesse contê-los não
conseguiria.
Ficamos alguns bons minutos naquela posição – que sem dúvidas alguma
era uma das minhas preferidas agora –, mas logo ele mudou ficando em pé ao
lado da cama. Meu corpo reclamava em busca de um descanso, minha cintura e
quadril estavam doloridos pelos inúmeros apertões que recebi. No entanto, assim
que fitei a ereção com a ponta rosada; lambi os lábios faminta para prová-lo.
Eu não me reconhecia realmente.
Lentamente me sentei sobre os joelhos e estendi a mão até agarrar o
membro a minha frente. Mattias se aproximou, e me acariciou no rosto. Encarei
seus olhos, e sem desviar movi minha mão e aproximei meus lábios de sua
glande. Primeiro o chupei, e deixei minha língua conhecer aquela parte; me
surpreendendo por ser macia. Com as duas mãos segurei o comprimento grosso e
o masturbei. Nossos olhares nunca se desviavam, e ser observada daquela forma
estava me deixando envergonhada.
— Use a língua – Mattias mandou e prontamente o obedeci. — Isso... –
gemeu, em seguida agarrou os meus cabelos em um rabo de cavalo. — Você me
surpreende sempre, Bel.
Lhe enderecei um rápido sorriso, mas logo voltei a chupá-lo. O fato de
não conseguir colocá-lo por completo em meus lábios; me instigava a continuar
até que ele gozasse. Não sabia muito bem como agiria depois, só tinha certeza
de que seguiria meus instintos. Enquanto o mantinha entre os lábios, senti uma
pressão insuportavelmente prazerosa em meu clitóris; o que me fez gemer mais
alto.
O afastei e deixei que uma mão descesse em minha intimidade.
— Vem cá. – Olhei para Mattias que tinha os braços abertos e prontamente
me levantei, o abraçando. — Não quero gozar nos seus lábios – murmurou
enquanto passava um braço por debaixo do meu joelho, me deixando exposta. —
Melhor se segurar em mim.
Meus braços arrodearam o pescoço dele, e pega de surpresa fui beijada ao
mesmo tempo que o membro teso me invadiu. Gemi manhosa rente aos lábios
dele, e fitei os olhos azuis.
— Você é tão lindo.
Mattias sorriu e com um impulso para cima, segurou a minha outra perna
juntando nossos corpos. Eu me sentia em combustão, e pronta para o orgasmo
que se construía em meu ventre.
— Você é mil vezes mais linda – falou mantendo o ritmo forte. Eu mal
conseguia sentir minhas pernas. — Linda e gostosa.
Mordi o lábio ao fim do elogio, e quando Mattias gemeu rouco e me
penetrou forte uma última vez. Senti as explosões; meu corpo ficar rígido, mas
logo dar lugar ao êxtase.
Fui colocada rapidamente na cama, e de pernas abertas fitei Mattias se
masturbar com rapidez e finalmente gozar entre minhas dobras – totalmente
sensíveis – me arrancando um arrepio. Após um suspiro, ele pincelou o pau por
toda minha intimidade e me encarou. Eu mal conseguia ficar de olhos abertos
tamanho meu cansaço, mas ainda sorri quando Mattias se aproximou e me tocou
na bochecha de forma carinhosa.
E antes de fechar os olhos para descansar alguns minutos, vi os lábios que
antes eu beijava se mover em uma frase.
Quando por fim acordei, me sentei sonolenta na cama e esfreguei os olhos.
O lençol cobria minha nudez, e no quarto não havia nenhum sinal de Mattias.
Relanceei para a janela e percebi que já era noite. Bocejei completamente
cansada, mas curiosa para saber onde Mattias estava; me levantei.
Após pegar um vestido feito por Rosalinda e uma calcinha, me encaminhei
ao banheiro. A casa estava em um completo silêncio, nem se quer ouvia Brutus
andar pelo assoalho como de costume. Com certa calma escovei os dentes,
depois lavei meus cabelos e ensaboei meu corpo; as lembranças tão vivas em
minha memória me fez sorrir.
No fim de tudo, e já devidamente pronta; procurei Mattias. Não fui muito
longe, pois assim que apareci na varanda o vi sentado em uma cadeira. Ele
bebericava uma caneca de café, mas assim que me viu sorriu e estendeu uma
mão.
A segurei no mesmo instante e sorri de lado.
— Achei que só acordaria amanhã – Mattias murmurou enquanto eu me
sentava em seu colo. — Posso jurar que ouvi você roncar.
— Eu não ronco – retruquei recebendo um carinho na bochecha. — O que
faz aqui fora? – indaguei e vi Brutus se aproximar.
Olhei para o céu e vi as estrelas por toda a extensão do azul-escuro.
— Estava pensando – respondeu e me olhou por alguns segundos, mas
logo desviou. — Fazendo alguns planos.
Meu coração no mesmo momento falhou uma batida, e sem entender muito
bem eu senti um pouco de medo. Queria muito saber quais esses planos, e se eu
fazia parte de algum. No entanto, decidi ficar calada. Talvez a reposta não seria
a que eu estava esperando.
— Isso é bom – disse por fim, por dentro tentava me manter calma. —
Naquela hora eu consegui ligar para a minha amiga, ela disse que viria me ver.
— Fico feliz. – Sorriu minimamente. — A casa não é tão grande, mas
daremos um jeito para que ela fique confortável.
— O Bruno também vem.
— Ele dorme na sala comigo.
Sorri com a resposta rápida, parecia até que ele já tinha pensado nisso
antes. Ainda o observando, senti um comichão no pé da barriga quando Mattias
se inclinou em minha direção e me beijou nos lábios. Em primeiro momento foi
apenas um selinho, mas logo a língua dele pediu passagem entre os meus lábios.
O abracei e permiti que o beijo fosse aprofundado.
Mattias inclinou o corpo para o lado, em seguida me circundou com os
dois braços. Uma mão desceu até o meu traseiro, e o apertou. Me afastei
minimamente e gemi, dando a deixa para os beijos descerem por meu pescoço.
Eu já conseguia sentir meu corpo ficar quente de desejo, e quando os lábios
pararam a um centímetro do meu seio; meu estômago roncou.
— Acho melhor alimentar você antes de qualquer coisa.
— Isso foi embaraçoso – comentei o vendo sorrir. — Eu vou preparar
alguma coisa.
— Eu já preparei – avisou e ao me ver surpresa, arqueou uma sobrancelha.
— O quê? Eu sou um bom dono de casa.
— A sua mãe me disse que você sabe cozinhar.
Desconfiado, ele inclinou o corpo para o lado novamente e pegou a
caneca.
— O que mais ela disse?
Sorri com a pergunta.
— Bom, ela me disse que você é organizado – disse recebendo total
atenção. — Um pouco chucro, mandão, ciumento...
— Fiquei tocado com tantos bons adjetivos. – Interrompeu me fazendo rir.
— Ela só sabe falar bem do Sebastião.
Balancei a cabeça.
— Você nem me deixou terminar – retruquei, então ele levantou uma das
mãos como desculpa. — Um pouco chucro, mandão, ciumento – repeti
observando a careta dele —, mas com um bom coração. E não era preciso ela ter
me falado isso, porque eu já tinha percebido. Não vou mentir, mas no início eu
fiquei com um pouco de medo de você.
— Eu percebia, por isso me mantinha afastado.
O olhei surpresa, mas logo continuei.
— Você me salvou duas vezes, se expondo. Lá na estrada, se você não
tivesse ido atrás de mim, eu não o teria julgado.
— Eu não deixaria que te levassem – afirmou com seriedade, os dedos
tocando meu queixo. — Ninguém nesse mundo nunca mais vai te machucar.
A certeza na voz dele, me deixou emocionada. Meu coração estava tão
reconfortado, cuidado... amado. Sem que eu conseguisse me controlar, deixei
algumas lágrimas caírem. Rapidamente Mattias as secou, e me beijou
carinhosamente.
— Agora vamos comer – falou e eu prontamente desci do seu colo. — Já
passam da meia-noite.
— Eu dormi tanto assim?
— Você estava cansada – respondeu me abraçando pelos ombros. — Foi
por isso que roncou.
Ri mais uma vez, e o encarei que tinha o ar risonho.
— Eu já falei que não ronco, mas estava cansada.
— Acho que peguei muito pesado com você.
O observei parar ao lado da mesa e depositar a caneca. Apoiei minhas
mãos no encosto da cadeira, e respirei fundo ao analisá-lo. Ele usava uma
camisa branca; por cima uma de xadrez, calça jeans gasta e os coturnos.
— Na verdade – comecei fazendo-o me olhar —, eu gosto quando você é
mais... intenso.
Mattias sorriu.
— Muito bom saber.
Também sorri, mas logo desviei o olhar. Em cima da mesa havia arroz,
feijão, carne assada, purê e suco. Um verdadeiro banquete, e saber que o próprio
Mattias tinha preparado tudo; deixava tudo ainda mais especial.
Comemos e conversamos sobre alguns assuntos. Ele me falou sobre a vaca
que perdeu o filhote, quando ela estava junto das outras apresentava
comportamento agressivo. Por isso ele a mantinha longe, mas ainda não sabia o
que fazer. Mattias não queria sacrificá-la. No fim do jantar, o ajudei com os
pratos e depois demoramos um pouco na sala. Em meio a conversa, falei mais
um pouco sobre os meus amigos e em seguida o questionei sobre os amigos dele.
— Meus colegas de faculdade estão casados, alguns se mudaram daqui e
estão na cidade. Outros vivem por aqui, mas não tenho contato.
— E o Sebastião? – indaguei me aconchegando mais nele.
— Conhecemos ele há um bom tempo. As nossas mães eram amigas – após
falar aquilo pigarreou. — Sabe, há uns três anos eu comprei um bom terreno em
um leilão.
— Sério? Para plantar?
— Também – respondeu e me tocou nos cabelos. — Estava por um bom
preço, eu achei que poderia ser algo bom. Afinal, isso tudo aqui é da minha mãe.
Esperei que ele continuasse, mas Mattias simplesmente parou e quando o
olhei. A feição estava indecisa.
Por alguns segundos fiquei sem entender.
— E então? – questionei e naquele momento eu consegui ver a guerra
interna em seus olhos. — Você está pensando em se mudar?
— Não. – Negou por fim, mas ele ainda estava indeciso. — Deixa para lá,
foi só... é que lembrei dele. Antes de pensar em morar, a casa precisa ser
reformada. Eu diria que derrubada para ser construída do zero.
Concordei e voltei a apoiar minha cabeça em seu peito. Tentava
compreender o que ele queria ter dito de verdade, mas nada passava por minha
cabeça. No entanto, eu imaginava que aquele investimento poderia ser para um
planejamento do futuro. Talvez um casamento? Ou quem sabe, apenas morar
sozinho.
Com aqueles pensamentos, deixei que minha mão descesse pelo tecido da
camisa branca.
— O que eu posso esperar da festividade?
— Shows ao vivo – respondeu e me encarou. — Bebidas, muitas pessoas.
Geralmente o pessoal das cidades vizinhas vem aproveitar por aqui.
Em um movimento rápido me sentei em seu colo, com as pernas em cada
lado dele. Vi quando seus olhos fixaram em meus seios, mas logo focaram em
meu rosto.
— Faz muito tempo que não saio assim – falei com sinceridade. Afinal, a
última vez que saí para uma festa não tinha sido uma boa ideia. — O vestido
ficou muito lindo.
— Eu aposto que sim.
— Estou curiosa para te ver todo arrumado.
As mãos de Mattias desceram por minha cintura, então ele me puxou para
mais perto, deixando meus seios esmagados contra o peitoral maciço. Me
aconcheguei mais em cima dele, e lentamente me remexi na tentativa de aplacar
a inquietação. No mesmo instante, Mattias abriu mais as pernas, e desferiu uma
palmada em meu traseiro.
— Eu não consigo tirar da mente a imagem de você me chupando lá no
quarto.
A frase dita em voz alta me deixou completamente envergonhada, mas, ao
mesmo tempo, excitada.
— Você gostou? – indaguei e assim que ele assentiu, senti os dedos
adentrarem minha calcinha e esfregarem entre os grandes lábios. — Foi a minha
primeira vez. – Mattias sorriu, e em resposta revirei os olhos.
Homens.
— Fico feliz em saber essa informação.
— Aposto que sim – retruquei. O dedo logo me penetrou, me arrancando
um gemido. — N-No quarto você não me deixou terminar.
— Posso deixar agora – falou e levou os lábios ao meu pescoço. —
Prometo que não vou pará-la.
Mordisquei o lábio inferior e rebolei sentindo o arrepio pelo meu corpo.
Extasiada pelas sensações, o empurrei com as duas mãos e saí do colo dele. Sob
o olhar de pura cobiça, me ajoelhei entre as pernas de Mattias e comecei a
desafivelar o cinto. Me sentia tão ansiosa que minhas mãos tremiam enquanto
abria o botão, e logo em seguida descia o zíper da braguilha.
Ao ver o contorno do membro semi ereto, lambi os lábios e puxei a cueca.
Com a ajuda dele desci a calça jeans até a metade das coxas, fazendo o
mesmo com a cueca.
Minhas mãos percorreram pelas coxas torneadas, e após uma rápida
verificada em Mattias, notei que ele me encarava fixamente. Sorri sendo
retribuída, e sem mais enrolação o segurei. Meus movimentos eram acanhados, e
totalmente fascinada percebi que quanto mais eu o masturbava; mais a ereção
ficava aparente. Aproximei meus lábios, e o lambi fazendo-o arquear o quadril.
Agarrei a ereção com mais firmeza e comecei a chupar a ponta, como se fosse
um delicioso pirulito. A todo momento eu sentia a necessidade de abocanhá-lo
mais, no entanto, me sentia frustrada por não conseguir por completo.
— Estira a língua.
Assim que o obedeci, Mattias segurou os meus cabelos com apenas uma
mão e com a outra esfregou a glande ritmadamente; para logo em seguida
adentrar em minha boca. Firmei minha mão em seu entorno, e voltei a movê-la
rapidamente. Os gemidos que Mattias soltava, me instigava a continuar até ele
gozar.
Eu queria saber como era. Pois descobrir aquelas coisas com Mattias,
tornava tudo aquilo especial.
Fiquei alguns minutos o chupando, e quando ele impulsionou o quadril
para cima; eu soube que ele estava próximo de gozar. Então soltei um gemido
dengoso, e o encarei enquanto movia a mão para cima e para baixo. A mão em
meus cabelos forçou o agarre, e segundos após; senti os jatos fortes em meu
rosto me deixando lambuzada.
Mattias tinha o cenho totalmente franzido, a respiração descompassada e
dos lábios carnudos saíam fortes suspiros que só de ver a cena; me senti mais
molhada. Toquei em meu clitóris por cima da calcinha, e soltei um gemido
estrangulado. Eu estava tão sensível, necessitava com certa urgência que Mattias
saciasse meu desejo.
Ao me ouvir, ele me olhou, sorriu preguiçosamente e retirou a camisa
xadrez. Delicadamente limpou meu rosto, e quando o deixou limpo; me puxou
para cima.
Os dois braços fortes circundaram minha cintura.
— Tudo bem se eu a fizer minha mais uma vez?
Acenei freneticamente e sorri em antecipação.
— Estou um pouco dolorida, mas quero de novo. Espera – pedi e removi
minha calcinha. Não arriscaria perder mais uma peça. — Não vai rasgar essa.
Nossos olhares estavam conectados, o ar denso pelo desejo sexual estava
impregnado na sala. Os lábios de Mattias tocou os meus, e em ato totalmente
erótico; senti a língua adentrar os meus lábios. O retribuí da mesma forma, em
seguida a chupei. Meu corpo foi erguido, e compenetrada nos lábios de Mattias;
gemi quando a glande foi esfregada em minha entrada.
— Sabe o que eu acho incrível? – questionou enquanto se enfiava em mim.
— O q-quê? – Arfei sentindo-o bem fundo.
Em um movimento calculado, Mattias desceu mais o corpo no sofá me
deixando ereta em cima dele.
— A forma como sua boceta – murmurou e me lambeu o pescoço. — Se
encaixa com perfeição no meu pau.
Sorri com aquela fala, e apoiei as duas mãos no peito largo; empurrando-o
até o encosto do sofá. Assim que movi o quadril para frente, fechei os olhos,
tamanho o prazer que se alastrou por toda a minha pele. O vestido que eu ainda
usava estava me deixando inquieta, mas assim que levei as mãos a barra para
retirá-lo; Mattias me impediu.
— Fica com ele – pediu ao mesmo tempo que elevava o quadril. — Não
sabe como é a intensa tentação de te ver assim.
— Achei que você não gostava dele por ser curto demais.
Ele sorriu, e após lamber os dedos; os levou até o meu clitóris, começando
uma carícia. Segurei a barra do vestido e olhei a cena. Os dedos lambuzados de
saliva se misturavam com os nossos fluidos.
— Quem disse que você poderia parar? – quis saber com a voz rouca,
depois me estapeou o traseiro. — Rebola!
Com cuidado, mas cheia de tesão, apoiei minhas mãos para trás em suas
coxas e o obedeci. Joguei a cabeça e gemi completamente excitada com os
estímulos que recebia. Fitei Mattias que mantinha uma expressão de puro desejo
– e mordi o lábio quando ele removeu a camisa branca. Sem conseguir me
conter, levei as unhas até o peitoral dele e o arranhei. Após alguns segundos as
marcas vermelhas apareceram, e eu sorri.
Já Mattias me agarrou pela cintura como resposta, juntando nossos corpos,
e me esbofeteou com força no traseiro. Gemi mais alto e finquei as unhas em seu
abdômen.
— Você gosta quando sou mais intenso, não é? – perguntou e apertou no
mesmo lugar que tinha batido. — Gosta quando faço isso?
Para demonstrar me bateu mais uma vez, só que do outro lado. Apostaria
com toda certeza, que no outro dia eu estaria completamente vermelha e
dolorida.
— S-Sim, mais...
Após falar, baixei meu decote me expondo para ele. Prontamente Mattias
entendeu o que eu queria, e ainda sorrindo abocanhou um seio. A sequência de
lambidas, mordidas e sucções estava me levando ao delírio. E tudo se
intensificou quando a mão pesada começou a me esbofetear, intercalando de um
lado para o outro.
Passados alguns minutos, meus gemidos ficaram mais altos e não
querendo fazer tanto barulho; tomei os lábios de Mattias para mim e o abracei.
Quando eu finalmente gozei, senti as explosões se alastrarem por todo o meu
corpo, e um arrepio delicioso no pé da barriga.
— Gostosa! – gemeu e puxou rapidamente a ereção para fora. Segundos
depois senti quando ele gozou em meu traseiro.
Eu me sentia completamente exausta e com partes do corpo sensíveis. Ao
ouvir Mattias soltar um riso, me afastei lentamente e notei que ele olhava para
algo acima do meu ombro. Me virei e vi Brutus sentado olhando nós dois.
— Ele ficou esse tempo todo parado aí?
— Eu não sei – respondeu e puxou uma longa respiração. — Preciso me
deitar um pouco, você acaba comigo. – Assim que ele disse aquilo, arqueei uma
sobrancelha. — Toma um banho comigo?
— Somente banho?
— Por enquanto só.
Sorri e juntos nos encaminhamos ao banheiro. Lá trocamos alguns beijos,
mas não nos demoramos. Já no quarto nos deitamos na cama, e de forma
manhosa me aconcheguei nos braços de Mattias. Dentro de mim havia uma
felicidade, que me fazia querer sorrir e compartilhar o que sentia. No entanto,
quando pensava em falar, me sentia impedida. Estava prestes a fechar os olhos
quando me recordei de algo.
— Mais cedo aqui no quarto – comecei fazendo-o me olhar. — Você falou
alguma coisa para mim?
Ele me olhou por alguns segundos.
— Você não ouviu?
— Não – neguei envergonhada. — Eu estava exausta, mal conseguia ficar
com os olhos abertos. Desculpa. O que era?
Delicadamente os dedos tocaram em meu rosto, e após engolir em seco,
ele balançou a cabeça negativamente.
— Não era nada.
— Tem certeza? – retruquei e sorri ao notar o sorriso dele. — Eu acho que
você está mentindo.
— Estou muito cansado – falou fechando os olhos. — Deveria fazer o
mesmo.
O encarei, e notando isso, ele abriu os olhos em minha direção e sorriu
minimamente. Suspirei, vencida pelo cansaço, e após o beijar nos lábios me
aninhei em seu abraço.
Rosalinda
Tentei não o encarar, e não o encorajar a nada. No entanto, assim que ele
parou de baixo da tenda, andou em minha direção. Sorria de lado, enquanto
passava a mão entre os fios negros. Vestia uma blusa branca desabotoada, os 3
botões, uma calça jeans e coturnos.
— Ora, ora, nos encontramos de novo – a voz saiu arrastada. — Por que
não abre essa jaqueta e me deixa ver melhor o vestidinho sexy que está usando?
O olhar junto do sorriso malicioso me deixou enojada. Ele tinha dito alto
suficiente, fazendo algumas pessoas próximas olharem em nossa direção.
— Por que você não some daqui? – retruquei começando a entender o
motivo do Mattias não gostar daquele playboy. — Eu não quero conversar com
você.
— Nossa! Isso foi um pouco rude, princesa.
— Vai embora.
O playboy sorriu e deu mais um passo em minha direção, quando ele
invadiu meu espaço pessoal o parei com a mão em sua barriga.
— Não quer me tocar em outro lugar?
— Você está me incomodando.
Voltei a cruzar os braços, torcendo para que ele fosse antes que Mattias
aparecesse. Porém, assim que olhei para o caminho que ele tinha pegado, o vi se
aproximar com uma expressão nada boa. Assim que ele ficou na minha frente, o
segurei pelo braço na tentativa de contê-lo. Mesmo sabendo que se ele quisesse
se soltar, e começar uma briga ali, eu não conseguiria pará-lo.
— Se eu pegar você de novo perto dela – murmurou sem vacilar. — Eu
vou fazer você se arrepender de ter cruzado o nosso caminho. Está me ouvindo?
— Calma, peão! Às vezes eu acho que você esquece com quem está
falando. Eu só vim me apresentar formalmente.
— Eu acho que você se esquece de que eu não me importo com isso.
Quebro a sua cara sem nenhum pingo de remorso. Entre no meu caminho, e sofra
as consequências. – Mesmo não sendo direcionado para mim, senti uma pontinha
de medo pelo tom usado. — Agora se manda.
Os dois ficaram se encarando por alguns segundos, mas logo o playboy
sorriu e olhou em minha direção.
— Me chamo Javier Alvaréz, princesa. Agora sei de quem aprendeu ser tão
malcriada assim, mas isso é fácil de corrigir. – Quando ele terminou de falar,
segurei com mais força o braço de Mattias. — Até logo.
Então, rapidamente, Javier atravessou a rua sem ao menos olhar para os
lados, ou se importar com a chuva. No instante em que ele sumiu de nossas
vistas, Mattias se virou em minha direção.
— Eu achei que vocês iriam brigar aqui.
— Eu bem queria – falou e me ofereceu uma garrafinha —, mas para o
azar dele, prometi a uma pessoa que tentaria manter a calma.
Automaticamente sorri.
— Uau, ela deve ser bem importante – murmurei tirando a tampa. — Para
você conseguir manter a promessa. Logo você, sendo tão brigão.
Mattias sorriu e me tocou no queixo.
— Ela é muito importante para mim, e muito respondona. Mas eu aprecio
isso.
Arqueei uma sobrancelha, e permiti que ele me beijasse. Nos separamos
minimamente, e Mattias deslizou o polegar pelo meu queixo. A chuva ainda caía
sem demonstrar que cessaria, mas de qualquer forma eu já tinha tido bons
momentos naquela noite. Mattias se declarando para mim, em seguida me
pedindo em namoro, tinha me deixado surpresa e feliz.
Falamos que estávamos apaixonados, mas eu sabia que também o amava e
aquilo tudo era bem louco. Pois não esperava sentir aqueles sentimentos, não
agora. Não quando minha vida tinha se transformado em um caos. Mas eu
poderia viver aquele amor em paz? Tinha medo de tudo ruir, mas eu faria dar
certo.
Tomei um gole da água, e o observei beber metade da garrafinha em
poucos segundos. O pomo de adão se movia a cada gole, e não sei explicar, mas
achei tão sexy aquela cena. Em silêncio, desci meu olhar para o peitoral, e me
lembrei de quando o usava de apoio para cavalgá-lo. Ele era tão duro e gostoso
ao mesmo tempo. A mão que segundos atrás me tocava tão carinhosamente, fazia
um belo trabalho quando me batia no traseiro.
Ao perceber que ele me analisava, desviei o olhar e tomei mais um gole.
— Às vezes queria saber o que se passa na sua mente.
Sorri e dei de ombros.
— Se passam muitas coisas, mas diferente de você – falei fazendo-o
apoiar um braço na parede ao lado. — Eu consigo mantê-los seguros, e só falar
no momento certo.
— Qual momento certo?
Me abracei mais na jaqueta e me encolhi quando percebi a chuva
engrossar.
— Um momento em que esteja apenas nós dois – respondi e senti mais um
carinho na bochecha. — Eu acho que não vai mesmo parar de chover.
— E aqui não tem um lugar para se sentar – murmurou olhando ao redor.
As pessoas se espremiam para se manterem secas. — É o que dá ser o melhor da
região.
Assim que ele sorriu, meu corpo inteiro ficou ouriçado. Lentamente deixei
meu dedo descer pelo peitoral e só parar na fivela do cinto. Mattias me
observou, e lambeu o lábio.
— Acho então que podemos ir, quando parar um pouco – afirmei com
segundas intenções. — E está tão frio.
Mattias sorriu e concordou.
— Posso deixar você quentinha – falou bem próximo do meu rosto. No
mesmo instante mordi o lábio, Mattias não tinha jeito. — O que me diz?
— Para isso precisamos estar sozinhos.
Sensualmente deixei que meu dedo percorresse o cós da calça jeans que
ele usava, e fixei meu olhar em seu rosto. Quando ele percebeu as intenções em
meus gestos, me beijou rapidamente, em seguida levantou um dedo em um
pedido para eu esperar. Sorri e o encarei correr até onde a caminhonete estava
estacionada. Mordisquei o lábio e esperei pacientemente enquanto Mattias
manobrava para deixar o lado do passageiro virado para a calçada.
Finalmente conseguindo, ele parou e abriu a porta para mim. Antes que ele
pudesse descer, retirei a jaqueta e protegi a cabeça. Corri com cuidado e quando
me sentei no banco ri sem conseguir me segurar.
— Parecemos dois adolescentes – murmurei não perdendo o olhar
malicioso que recebi.
Coloquei a minha garrafinha no suporte que tinha ao lado e em seguida
ajustei o cinto de segurança.
— Agora que estamos juntos, vamos poder ficar no mesmo quarto –
proferiu dando a partida, e logo saindo dali. — O que acha?
Fiquei um pouco surpresa porque até então não tinha pensado nisso, mas
logo balancei a cabeça.
— Eu não sei – falei recebendo um olhar surpreso. — Eu acho que vou
ficar sem graça.
— Sério? – indagou com um sorriso de lado. — Ficamos todas as noites,
mas você vai ficar sem graça agora que estamos juntos?
— A sua mãe vai saber o que fazemos no quarto.
Ok, eu poderia estar soando muito hipócrita, mas só em saber que a
Rosalinda tinha descoberto minha relação com Mattias, tudo mudava. E sim, eu
estava muito sem graça. O olhei e ele sorria sem se conter.
Virei em direção à janela e observei o caminho de volta. No entanto, achei
estranho quando não reconheci a estrada.
— Não estamos indo para a fazenda?
— Eu queria te mostrar um lugar – respondeu e me sorriu. — Vai valer a
pena.
Sorri e fiz um carinho em seu rosto. Mattias em seguida pegou minha mão
e a beijou. Meu coração bombeava freneticamente, um sentimento intenso que
aquecia meu peito e fazia com que as borboletas em meu estômago ficassem
agitadas. Pelo para-brisa vi que a chuva começava a acalmar, e conseguia ver
também a estrada coberta de lama.
O cheiro de terra molhada era predominante.
Após alguns minutos a caminhonete adentrou um caminho, mais a frente
vi a porteira fechada e uma enorme casa. Retirei o cinto e observei Mattias parar
em frente, ajeitar o chapéu na cabeça, descer e correr até a porteira. Quando ele
voltou e tomou o lugar do motorista, sorri, pois eu já imaginava onde estávamos.
Enquanto nos aproximávamos vi que algumas janelas estavam quebradas,
e ao redor da casa havia muitos matos. No instante em que Mattias estacionou a
caminhonete dentro da garagem aberta, não esperei um convite e de forma
curiosa desci.
— O que achou?
Me voltei para Mattias e sorri.
— É uma casa bem grande – comentei e ao lado dele me dirigi a porta. —
Foi esse o terreno que você comprou?
— Foi – confirmou com um pequeno sorriso. — É como eu disse, talvez
será preciso demolir tudo e construir do zero.
Assim que entrei senti um pouco do fedor de mofo. A casa precisava
realmente de um trato, uma boa reforma, limpeza e tintura. Ao chegar na sala
percebi que ela era extremamente espaçosa, me aproximei da porta que dava
visão para a entrada da propriedade.
— Ela é realmente bem grande – murmurei para Mattias. — Quantos
quartos têm?
— Quatro – respondeu e eu o olhei surpresa. — Quatro quartos, essa sala,
tem a cozinha que também é bem espaçosa, dois banheiros e a garagem. Aqui era
uma pousada.
— Nossa. – Sorri e andei em busca dos quartos. — Por que não se mudou
com a sua mãe para cá?
— Aos poucos eu estou reformando a fazenda da minha mãe – respondeu.
Então me segurou pela mão, tendo a minha atenção. Ele estava ansioso, era tão
nítido. — Em breve eu vou reformar a casa dela, deixar mais aconchegante para
a minha mãe.
— Você é um bom filho, Mattias. Tenho orgulho de você, assim como a
sua mãe também tem.
Ele sorriu, e juntou lentamente os nossos lábios. Ao se afastar, colocou
uma mecha minha atrás da orelha, e continuou com a mão em meu rosto. Ele ser
tão carinhoso assim comigo, só aumentava mais o meu sentimento por ele.
— Eu não me mudei para cá, porque eu estava esperando o momento certo.
Eu quero que essa casa seja um lar, com a minha futura esposa e com os meus
filhos correndo por aqui. Uns quatro ou cinco.
Sorri minimamente, e por dentro senti um aperto no peito. Eu não estava
incluída nesses planos?
— Para isso você vai precisar de uma esposa – falei quase em um
sussurro.
Mattias franziu o cenho, mas logo sorriu como se soubesse de algo
engraçado.
— Na verdade, eu já tenho uma, mas parece que ela ainda não se deu
conta disso. – O sorriso nunca o abandonava, e eu já não conseguia segurar a
vontade de chorar. — Você realmente não entendeu?
— Que você quer uma esposa? – perguntei e sequei a lágrima que caiu. —
Eu entendi, e espero que encontre. Você é uma boa pessoa, merece alguém legal
e que queira ter quatro ou cinco filhos com você. – Quando terminei de falar, ele
começou a rir. — E qual a graça?
— Bel – Mattias proferiu assim que parou de rir, os dedos secavam as
minhas lágrimas. — Por que está chorando? Quem você acha que eu quero como
esposa?
— Eu não sei – funguei e sequei as novas lágrimas, eu parecia uma boba
na frente dele. — Não ri de mim.
— Me desculpe – pediu e me beijou os lábios. — Bel, a única que eu
quero é você. É você que eu quero como esposa. – Assim que ele falou, o olhei
sem acreditar. Em seguida, eu sorri e o abracei. — Foi para você que eu me
declarei, você tem o meu coração. Por que achou que seria outra?
— Você não disse meu nome, achei que eu não estava inclusa nesses
planos.
Em um movimento rápido, Mattias me pegou nos braços, e sorriu.
— E eu aqui nervoso com medo de você falar que estou indo rápido
demais – Mattias disse sincero, ainda me segurando como se eu fosse leve. —
Então, o que me diz?
— Sobre o quê?
Mattias riu e começou a andar pelo corredor.
— Sobre ser minha esposa, quatro ou cinco filhos? Ou agora estou indo
rápido demais?
No mesmo momento senti um comichão no baixo ventre. Antes de o
responder, mordisquei o lábio inferior e o analisei.
— Você nem me pediu em noivado.
Então Mattias parou com o cenho franzido.
— O seu anel provisório me diz outra coisa.
— Achei que era de namoro – falei surpresa, Mattias me colocou no chão
e apontou para atrás de mim. Me virei e encarei o espaço vago, no outro lado
tinha uma porta. Talvez o banheiro. — Uau, é enorme.
Os braços fortes logo me abraçaram, e quando a voz rouca soou em meu
ouvido fechei os olhos automaticamente.
— Se você aceitar, esse será o nosso quarto. O lugar que vou fazer você
gemer todas as noites das nossas vidas.
Ainda de olhos fechados, imaginei com perfeição a cena, e aquilo me fez
sorrir. Eu sentia meu corpo febril, e uma vontade louca de fazer amor
exatamente onde estávamos. Sensualmente me virei para Mattias, e deixei que
minhas mãos alisassem o corpo dele.
— Eu aceito – sussurrei e o puxei para mim. — Eu serei a mulher mais
feliz do mundo.
— E eu vou proteger você e não vou deixar que nunca te falte nada.
Ao final daquela fala sorri, mas por dentro ainda tinha o medo de algo der
errado. Não querendo pensar tão negativamente, juntei os nossos lábios e gemi
ao ter o seio apertado. Delicadamente Mattias jogou os meus cabelos para trás, e
depois puxou meu decote para baixo. Assim que meu seio ficou amostra, me
encolhi com frio.
Com expectativa observei Mattias abocanhar meu seio e o chupar. Sem
forças me segurei nos braços fortes como pude, e gemi com a língua lambendo
meu bico intumescido.
— Mattias...
Entre as minhas pernas eu tinha minha calcinha ensopada, junto a uma
inquietação que só aumentou quando Mattias intercalou entre mordidas e
sugadas.
— Gostosa! Você não sabe como eu me segurei hoje a noite. Esse vestido
te deixa extremamente sexy.
Sorrindo de lado, me afastei dele e me virei. Mattias me olhava cheio de
desejo, e ao me ver apoiar as mãos na parede e empinar sedutoramente. Ele
soube na mesma hora o que eu queria, e sem perder tempo levantou meu vestido
e espalmou a mão no meu traseiro. Gemi de forma dengosa com a força exercida
e empinei mais ainda. O olhar que ele me lançava me deixava a beira do ápice.
E sem desviar, Mattias arredou minha calcinha para o lado e se abaixou.
— Mat... – Ao sentir a língua me lamber profundamente, deixei o nome
dele morrer em meus lábios. Automaticamente abri as pernas e inclinei mais o
quadril querendo sentir mais das sensações.
A língua esfregava lentamente em meu clitóris, descendo por entre meus
pequenos lábios. As duas mãos agarravam com força cada lado do meu traseiro,
expondo cada vez mais para as investidas da língua quente. Meu orgasmo estava
tão próximo, que eu mal conseguia falar, apenas gemia encorajando Mattias a
continuar.
Inconscientemente eu rebolava como podia na língua dele, e então após
alguns segundos meu corpo entrou em combustão. Minhas pernas tremiam sem
forças para se manterem de pés, mas já sabendo disso Mattias me segurou com
um braço. Ainda tremia e latejava quando senti a cabeça robusta forçar a entrada
entre minhas dobras.
— Apertada – gemeu enquanto me penetrava mais um pouco. — Estou te
machucando?
— Não... – Praticamente choraminguei, ao mesmo tempo que forçava meu
quadril para trás. — Mais... Por favor!
Meu coração bombeava freneticamente, era como se eu conseguisse sentir
a eletricidade do desejo percorrer por minhas veias. Chovia lá fora, mas ali com
Mattias eu pegava fogo e só cessaria quando os nossos desejos estivessem
saciados.
Ao ser penetrada por completo, gemi e finquei minhas unhas no braço que
me circundava.
— Abra mais as pernas.
Obedecendo-o no mesmo instante, mordi o lábio com a primeira estocada.
Voltei a apoiar as duas mãos na parede e baixei a cabeça. No chão sujo eu
conseguia ver alguns pingos de fluidos meus, e aquilo me excitou. Pois o
culpado de tudo era Mattias, só ele conseguia me deixar naquele estado tão
caótico.
Mesmo tão frágil de desejo, tentei me virar para Mattias e ele notando
minha intenção. Abriu as próprias pernas para ter equilíbrio, segurou com uma
mão minha cintura e a outra segurou minha perna colocando-a apoiada no ombro
dele. Eu estava extremamente exposta, e sensível; a qualquer momento eu sentia
que explodiria.
Embargada de desejo, aproximei nossos rostos e tomei os lábios
masculinos. Mesmo enquanto me beijava, ele não parava de se mover. Tão
rápido, tão forte e intenso. Ao sentir o meu gosto na língua dele não senti nojo,
mas sim uma luxúria que me acometeu com força, fazendo com que eu chegasse
ao ápice. Meu corpo todo ficou tenso, e Mattias notando isso, afastou nossos
lábios e sorriu.
— Você fica tão linda gemendo manhosa desse jeito.
— Mattias... – o chamei e mordi o lábio. — Eu gosto quando você me dá
umas palmadas.
Ele me olhou surpreso, mas logo sorriu maliciosamente.
— Então quando você disse que gostava quando eu era mais intenso –
murmurou cessando os movimentos, e delicadamente soltou minha perna. —
Você se referia a isso?
— T-Também.
Eu estava completamente envergonhada, mas não desviei nossos olhares.
Eu queria que ele notasse que eu estava segura no que eu dizia, para que assim
ele não tivesse dúvidas.
— Você é uma mulher muito safada.
— Você é mais safado! – o acusei recebendo um grande sorriso. — Eu
queria uma coisa, mas aqui não tem cama e não quero que você se suje nesse
chão.
Sem demora, agarrei o pau, que ainda estava ereto, e comecei a acariciá-
lo.
— Tudo o que você quiser eu dou. – Afirmou e me puxou para um beijo.
Ao se afastar, tocou em meu queixo. — Me diga.
Mesmo sem jeito e morrendo de vergonha, me aproximei de sua orelha e
sussurrei: — Eu quero cavalgar.
No instante em que tentei me afastar, senti os braços ao meu redor e ser
impulsionada para cima. Minhas pernas se entrelaçaram ao redor de Mattias, e
sorrindo observei o caminho que seguíamos. Ao chegar no lado de fora, olhei ao
redor preocupada com medo de que alguém pudesse nos ver, mas logo me
acalmei quando Mattias me colocou no chão e abriu a porta detrás da
caminhonete.
Rapidamente entrei e sorri quando o vi se sentar e fechar a porta. Sob o
olhar faminto, retirei as sandálias, e esperei que ele puxasse a roupa de baixo
até deixá-los na altura dos joelhos. Lentamente me aproximei dele, e o aguardei
enquanto ele se sentava melhor no assento. Como agora que ele tinha as pernas
separadas, e o corpo descido, deixando-o quase deitado.
— Sou todo seu.
Apesar da caminhonete ser grande, Mattias ocupava um bom espaço. Sorri
e cuidadosamente o montei. Aproveitando que os nossos rostos estavam
próximos, o beijei e segurei a ereção pela base, levando-a para onde eu mais
precisava. Para me ajudar, Mattias afastou minha calcinha para o lado, e assim
que a glande esfregou entre minhas dobras, forçando a entrada, a agarrei com
mais vontade e desci com força, arrancando um gemido de Mattias.
— Caralho!
— Te machuquei? – perguntei assustada, mas logo relaxei quando notei o
sorriso malicioso.
— Você me levou ao inferno e ao céu ao mesmo tempo – respondeu e eu o
olhei confusa, mas com um pequeno sorriso. — Agora nada de moleza, você
queria cavalgar, então é melhor começar.
As grandes mãos, no instante em que me acertaram dois tapas, me
arrancaram um longo gemido. Foi inevitável meu sorriso safado, e querendo
mais comecei a subir e descer com força. Sempre quando chegava ao limite com
ele dentro de mim, sentia uma dorzinha fina, mas não era algo que me impedia
de continuar. Em meio ao desejo, senti os lábios se fecharem em meu seio e as
palmadas aumentarem.
Como podia aquelas combinações ser tão gostosas?
— M-Mais forte!
Após eu mandar, Mattias sorriu e me abraçou a cintura com um braço. O
quadril, que até então estava inerte, começou a acompanhar meus movimentos
com mais força e rapidez. Ao sentir as sensações multiplicarem, gemi e joguei a
cabeça para trás, expondo meu pescoço para os lábios de Mattias.
A caminhonete inteira balançava, e o calor sexual tomava conta de nós
dois. Os barulhos das nossas pélvis se encontrando, e das palmadas que eu ainda
recebia eram como músicas para os meus ouvidos. Olhei Mattias e me deliciei
com uma expressão genuína de prazer, e sem conseguir me segurar deixei que o
orgasmo tomasse conta do meu corpo. Enquanto contraía, ouvi Mattias gemer de
forma rouca e me apertar com força a cintura.
Parei de me mover e senti o pau latejar ainda dentro de mim.
Respirávamos como se tivéssemos corrido uma maratona, e após os
espasmos abandonar meu corpo, encostei nossas testas e sorri.
— Eu não sinto o meu corpo.
Mattias sorriu e encostou a cabeça no encosto do assento.
— Fiz um bom trabalho então? – Acenei extremamente cansada, soltei um
suspiro e o abracei. — Gostou da cavalgada?
Sorri e me afastei para olhá-lo nos olhos.
— Sim, e mal posso esperar para a próxima.
— Que insaciável – brincou e me deu mais uma palmada seguida de um
apertão. — Vamos voltar para a fazenda?
— Podemos ficar mais alguns minutinhos aqui? – indaguei recebendo um
sorriso e aceno. — Preciso digerir todos os acontecimentos dessa noite.
Me ajeitei ainda sentada em Mattias deixando o pau sair lentamente.
De namorada passei a ser noiva, e aquilo me enchia de alegria. Em
nenhum momento achei que tudo estava precipitado, mas tinha medo de algo dar
errado. Pois, tudo estava indo bem demais.
Carinhosamente ele me tocou a bochecha, e me olhou minuciosamente.
— Você se arrependeu em ter aceitado o meu pedido de casamento?
— Não. – Neguei com um pequeno sorriso. — Eu quero me casar com
você. – Assim que respondi, Mattias sorriu abertamente. — E você? Tem certeza
de que me quer como esposa?
Sem demora, ele buscou minha mão e a colocou em seu peito. Eu sentia
perfeitamente o coração acelerado.
— Eu fico assim toda vez que você está por perto – murmurou, nunca
desviando os nossos olhares. — Eu nunca tive tanta certeza na minha vida, como
eu tenho agora. Eu quero você para sempre, Bel.
Eu sentia meu peito aquecido, e sem forças para segurar as lágrimas
deixei que elas caíssem. Mattias notando isso as secou e juntou nossos lábios.
Então um beijo romântico se iniciou, primeiro apenas um encostar de lábios,
mas logo a língua dele me pediu passagem. Automaticamente concedi, e gemi
assim que nossas línguas se tocaram. O abracei mais sentindo um arrepio se
alastrar pelo meu corpo, e quando o percebi endurecendo, me remexi em busca
de mais contato.
— E depois eu sou insaciável – brinquei quando paramos o beijo, Mattias
esfregava a ereção entre meu traseiro. — Não é mesmo?
Ele riu e forçou entre as minhas dobras, mas logo voltou a esfregar como
antes.
— Sabe o que poderíamos tentar agora?
A forma maliciosa e sugestiva me fez morder o lábio.
— O quê? – indaguei, e no mesmo instante senti a glande fazer pressão na
outra entrada. — De jeito algum. – Neguei, sentindo o comichão e uma vontade
louca para ele continuar. — Você já viu o seu tamanho? É loucura.
— Só um pouquinho? – pediu e eu neguei sorrindo nervosa. Toda vez que
ele forçava na outra entrada, meu corpo arrepiava por completo e eu fechava
meus olhos. — Não seja medrosa.
— Eu nunca fiz nada aí – avisei e em seguida recebi vários beijos pelo
pescoço.
— Então vamos fazer na nossa lua de mel? – perguntou e eu o encarei. —
Promete pensar a respeito?
— Vamos ter uma lua de mel? – questionei surpresa, e ele sorriu
acenando. — Vamos nos casar na igreja?
— Mas é claro, vestida de noiva com véu e grinalda.
Sorri, mas notei que ele falava sério.
— Eu nem sou mais virgem.
— O padre não vai saber disso – retrucou e me puxou para mais perto.
Ainda sem desviar nossos olhos, senti os dedos me tocarem entre as dobras. — E
eu quero te receber no altar. Você não quer?
— Quero! – Afirmei e assim que segurei sua espessura o levei para dentro
de mim. Ao ser penetrada, gemi e aproximei nossos rostos. — Eu quero muito,
Mattias.
O beijei enquanto nos movíamos, e sem desgrudar nossos lábios, comecei
a abrir a camisa que ele ainda usava. Em meio a minha tarefa, Mattias puxou
meu vestido para cima e assim que fiquei sem ele, consegui finalmente abrir os
botões. Rapidamente juntei nossos corpos, e arfei com o calor emanando do
peitoral maciço. Despudoradamente esfregava meus seios em Mattias, ao mesmo
tempo que remexia o quadril.
Em um movimento rápido, Mattias me segurou pela cintura e mudou a
nossa posição. De forma desajeitada, ele me colocou deitada no banco e ao
tentar ficar por cima, ri quando ele praguejou. Ele estava completamente torto,
mas assim que conseguiu uma posição que favorecesse me puxou para mais perto
e sorriu.
Pelo visto não sairíamos dali tão cedo.
Mattias
Quando acordei no outro dia, Michele, assim que bateu os olhos em mim,
viu as marcas que Mattias tinha deixado em meu pescoço. Após algumas
perguntas constrangedoras como “você transou com o loiro gostoso aqui na casa
com todo mundo dormindo?” e “não acredito que não ouvi vocês ontem”, ela me
ajudou a esconder os chupões. Já estava constrangedor demais Michele ver e
soltar os comentários, se Rosalinda visse e soubesse o que tinha acontecido, eu
com certeza morreria de vergonha.
Ajudamos na cozinha, e quando olhamos o relógio, estava quase na hora
dos meus amigos irem.
Entretida com Rosalinda, Bruno e Michele, ouvimos quando Mattias
retornou. Para minha surpresa, a barba que antes grande agora estava aparada.
Ele me encarou e sorriu se aproximando.
— Bom dia.
— Bom dia, meu filho. Não se esqueça que daqui a pouco você vai levar
Michele e Bruno até a cidade.
— Tudo bem. – Sorriu e me chamou. — A senhora vai querer carona para
ir até a casa do Marcos?
Me aproximei dele e o segurei pela mão.
— Vou sim – respondeu e me olhou. — Vou passar uns dias com o Marcos
até ele conseguir dar conta de tudo sozinho, tem muita coisa que precisa ser
colocada no lugar.
— Que bom que tudo ficou bem no fim – falei e a vi sorrir concordando.
Mattias acenou para os meus amigos e me puxou para fora. Assim que
paramos na varanda, longe da porta da frente, senti os braços ao redor da minha
cintura.
— Voltou com os vestidos?
Ri e me aproximei mais dele.
— Você quase chorou quando me viu de calça – respondi com uma
sobrancelha arqueada. — E como eu sou uma boa noiva, decidi usar esse
vestido. Foi o mesmo do nosso primeiro beijo.
Ele olhou para o meu decote e sorriu de lado.
— Viu que teremos a casa só pra gente hoje?
— Estou ansiosa – revelei e o toquei pela mandíbula. — Você ficou mais
charmoso assim. – O elogiei e ri quando ele passou a mão na barba loira. —
Então, queria me dizer alguma coisa?
— Só queria um beijo. – Riu e levantou a aba do chapéu. — Nunca está
sozinha, nunca posso te beijar onde te encontro.
— Que chorão – brinquei e o puxei pela camisa. — Nem parece o ogrinho
chucro brigão que eu conheço.
— Quando vai entender que eu estou rendido por você?
Sem o responder, juntei os nossos lábios e o beijei com amor. Eu queria
tanto que ele entendesse que eu o amava, mas já tinha notado que eu precisaria
falar. No entanto, se eu falasse agora e depois dissesse minhas suspeitas. Ele
poderia confundir e achar que eu estava falando por falar? Não. Mattias sabia
que o que eu sentia por ele era algo verdadeiro, mesmo sem ter dito exatamente
o eu te amo.
Ao finalizar o beijo, encostei nossas testas.
— Mattias, eu tenho uma coisa para falar.
— Pode falar.
Respirei fundo e antes que eu pudesse dizer algo, ouvimos os galopes
virem da entrada. Era Leôncio, e assim que ele parou perto da varanda retirou o
chapéu.
— Dia, patrão, patroa – saudou com um pequeno sorriso, sorri de volta. —
O Sr. Herculino pediu para o senhor dar uma passada lá, um dos cavalos tá com
uma ferida perto do casco.
— Certo, Leôncio. Eu já vou indo. – Após avisar, se voltou para mim e me
beijou os lábios. — Eu prometo que na volta vamos conversar, ou você quer
falar agora?
— Pode ser na volta. – Sorri e fitei aqueles lindos olhos azuis. Eles me
transmitiam carinho. — Não tem problema.
— Diga a minha mãe que volto para dar a carona, vou ver que ferida é
essa.
Acenei, e antes de me afastar o beijei de novo.
O observei correr até a caminhonete que estava perto do celeiro, tomar o
lugar do motorista, em seguida buzinar e ir. Toquei com as pontas dos dedos os
lábios e me encaminhei para dentro. Meu pensamento estava longe, mas assim
que parei na entrada da cozinha, estranhei quando vi os três me encararem em
silêncio.
— O que foi?
— Você está com cólica ou dor de barriga? – Michele perguntou, então
percebi que minha mão estava no ventre. Retirei rapidamente e neguei. — Dor
de barriga, então?
— Não, e não estou com cólica. O Mattias foi até a fazenda do Sr.
Herculino, mas ele disse que vem para levar vocês.
— Tudo bem, dá tempo de sobra para terminar o pudim – Rosalinda falou
para Michele que sorriu. — Quando vocês vêm de novo? Precisam passar mais
dias aqui, eu gosto quando a casa está cheia. Em breve não vou ter mais ninguém
morando comigo.
— Mas ainda vamos morar com a senhora – afirmei e ela sorriu contida.
— Não vai estar sozinha.
— Oh, meu bem, vocês vão casar e vão querer o cantinho de vocês. O que
é o normal de recém-casados.
— A senhora só teve três meninos? – Michele perguntou enquanto
observava o que Rosalinda fazia. — Me dá medo pensar em ter um filho,
imagina três.
Rosalinda riu e balançou a cabeça.
— Eu também fiquei com medo, é normal sentir medo. Afinal, ser mãe é
algo totalmente novo – murmurou e então me encarou —, mas quando você
descobre, você se sente tão maravilhada e agraciada. Uma junção sua e da
pessoa que você escolheu para a vida. Meu falecido ficou tão eufórico, eu me
senti tão feliz. Ele queria muito ser pai, foram os melhoras anos da minha vida.
— E como a senhora descobriu que estava grávida? Naquele tempo não
existia teste de farmácia, né?
No mesmo instante Rosalinda voltou a me fitar interessada, então com
medo dela conseguir me ler, desviei o olhar para a xícara a minha frente.
— Eu não sangrei nos dias que deveria, e eu já tinha notado algumas
mudanças. Quando engravidei do Marcos, senti enjoos e fraqueza nas vistas.
Fiquei um bom tempo sem conseguir andar de carroça, aquele movimento todo
me deixava enjoada. Do Mattias e Matheus o mesmo, mas eu já estava
acostumada.
— Eu já fiquei enjoada quando adoeci – Michele voltou a falar. — Não foi
legal.
Quando a minha mãe me ligou, eu passei mal, mas poderia ser emocional e
não hormonal. Ainda na minha divagação, lembrei que no jantar eu me senti
enjoada, só que eu tinha comido bastante. Talvez tudo não passasse de ansiedade
e estresse pelas descobertas. Após um suspiro levantei o olhar e vi Rosalinda me
analisando. Sorri e comecei a limpar a mesa para colocar os pratos do almoço.
Eu precisava falar realmente com Mattias, precisava saber se realmente
estava grávida. Meu coração dizia que sim, mas minha consciência implantava a
dúvida.
As horas se passaram e Mattias retornou. Almoçamos e conversamos mais
um pouco, então chegou a hora de todos irem. No quarto, eu estava sentada na
cama enquanto Michele terminava de se aprontar.
— Não fica triste, Belle. Quando marcar o casamento, ou antes, disso, eu
volto. Agora que você está bem, e eu estou vendo isso, me sinto mais tranquila.
— Vou sentir saudades.
— Eu também. – Afirmou e se sentou do meu lado. — Se cuida bastante, e
você sabe que se precisar de mim é só me ligar que eu venho correndo. Já
decorei como chegar.
Sorri e a abracei.
Automaticamente o choro veio, e eu não consegui pará-lo. Ficamos
abraçadas por alguns minutos, mas logo nos afastamos. Sorrimos e nos
levantamos. Na sala, Bruno conversava com Mattias e eu queria muito saber o
que tanto eles cochichavam.
— Estou pronta, vamos?
Bruno ficou de pé, e eu rapidamente o abracei.
— Fica bem, Belle. Qualquer coisa você sabe que estaremos aqui por
você.
— Obrigada, Bruno. Fica bem também, e tenha paciência com a Michele.
Como resposta, Michele fez uma careta e pegou a mochila indo para fora.
Mattias se aproximou de mim, e sorriu.
— Você não vem?
— Não, vou te esperar aqui. Não quero me despedir deles por lá. – Antes
que ele se afastasse, o puxei de novo. — Me traz bolovo?
— Bolovo? – indagou confuso. Após um aceno, ele sorriu e me beijou. —
Tudo bem, eu volto logo.
Concordei e o vi caminhar até o lado do motorista. Rosalinda parou em
minha frente e sorriu.
— Vou tentar não demorar tantos dias, mas lá no Marcos tudo deve estar
tão bagunçado – avisou e me tocou no rosto. — Se você estiver precisando de
algo, é só me falar. Depois peça para que o Mattias te leve lá. Você vai gostar.
— Está bem, obrigada. Eu vou cuidar de tudo para a senhora.
— Eu sei, meu bem. Bom, vou indo. Não volto hoje para casa, então...
juízo.
Acenei um pouco tímida e sorri ao ver Brutus sentado no banco da frente.
— Qualquer coisa me liga, Belle! A gente te ama! – Michele gritou, e eu
chorei em meio ao sorriso.
Fiquei em pé na varanda até que a caminhonete saiu pela porteira.
Suspirei e enxuguei as lágrimas, em seguida fui para a cozinha. Lavaria os
pratos sujos, e quando Mattias voltasse conversaríamos. Após também secar e
guardar os utensílios, tive o pensamento de ir até o quarto.
— Patrão!
Ao ouvir a voz do Leôncio, andei rapidamente até a varanda.
— Oi Leôncio, ele foi até a cidade e depois vai levar a mãe até a casa do
Marcos.
— Ah, então vou esperar ele voltar lá no curral com os outros. A senhora
pode dizer a ele que vim aqui?
— Claro, pode deixar. – Afirmei e olhei para a entrada, ao ver a picape
vermelha respirei fundo. Era como Mattias havia dito uma vez, deixar as
porteiras abertas era um convite para qualquer um entrar. Me voltei para
Leôncio, que olhava a recém-chegada, mas logo me encarou e acenou.
A picape parou em frente a varanda, e de braços cruzados encarei a
visitante.
— Oi Isobelle – Carolina murmurou com um pequeno sorriso, e só o fato
dela ter acertado meu nome, me deixou inquieta. — Vim falar com você, está
sozinha?
— O que você quer? – indaguei sem conseguir disfarçar meu desconforto.
Carolina sorriu e se aproximou. Usava uma calça jeans de lavagem escura,
botas, a blusa era uma regata colada, os cabelos ruivos estavam soltos e em seu
rosto trazia uma maquiagem leve. Sem disfarçar, ela olhou por cima do meu
ombro e logo me encarou.
— Eu acho que começamos errado – comentou e eu a olhei surpresa. —
Vim te convidar para dar uma volta.
— Dar uma volta?
— É. – Sorriu e olhou ao redor. — Quase não tenho companhia da minha
idade, seria interessante você vir comigo.
Mais uma vez ela olhou ao redor, e quando me olhou dessa vez parecia
impaciente. Me senti mais desconfortável ainda, então dei um passo para trás e
respondi.
— O Mattias está no curral, foi falar uma coisa com um dos peões, mas já
está voltando. Porque não espera mais um pouco, assim você pergunta da sua
égua.
Carolina cruzou os braços e sorriu.
— Está com medo?
— Medo? De você?
Ri, então ela continuou.
— É, se está mentindo, é porque está com medo. – Deduziu e eu a imitei
cruzando os braços. — Eu sei que o Mattias não está em casa, eu vi quando ele
passou com a mãe e mais alguém na caminhonete.
Fiquei momentaneamente surpresa e com um pouco de medo, então tentei
passar tranquilidade.
— Se sabia disso porque perguntou se eu estava sozinha? Quis confirmar?
Por quê?
Carolina respirou fundo.
— Você se acha esperta, não é? Aparentemente fisgou um bom partido,
não é daqui e sabe-se lá quem é de verdade. Pode ser uma fugitiva, ou uma
prostituta. Eu acho que é os dois.
— É melhor você sair daqui, antes que eu te jogue naquele chiqueiro e
acredite, eu jogo sem esforço algum.
Ela me olhou de cima a baixo e sorriu.
— Vai se arrepender.
O tom de ameaça em sua voz me deixou levemente arrepiada. Era só o que
me faltava, ter problemas com Carolina também. Adentrei novamente na casa,
fechei a porta e fui até o quarto. Ao chegar lá peguei minha mochila e a abri, o
pacote de absorvente permanecia no fundo da bolsa e estava intacto. Se eu
comprei era porque sabia que em algum momento ele iria descer, e já era para
ter acontecido. Guardei o pacote novamente, e ouvi quando a porta da sala foi
aberta.
O barulhinho típico dela era como um alarme.
Não poderia ser Mattias, pois não tinha escutado a caminhonete se
aproximar. Poderia ser o Leôncio? Mas ele nunca tinha entrado assim, ele
sempre chamava. Cautelosamente abri a porta do quarto e olhei para o corredor,
não ouvi nenhum barulho. Então veio a dúvida, eu tinha realmente fechado a
porta ou encostado?
Caminhei rapidamente até a porta e a fechei, dessa vez passando a chave.
No instante em que me virei, vi Ernesto sair da cozinha e avançar em mim.
Gritei, mas ele rapidamente me tapou a boca e nos jogou com agressividade
contra a parede.
— O patrão quer dar algumas palavrinhas com você.
Sem chances de me mover, vi com desespero ele tirar um pano do bolso e
colocar em meu nariz. O cheiro forte de alguma substância invadiu meu olfato.
Aos poucos minhas forças se esvaíram, e antes de fechar os olhos vi o sorriso do
capataz.
Dirigia de volta para a fazenda ansioso para encontrar Isobelle. No banco
do carona estava Brutus que mantinha um pouco da cabeça para fora da janela.
Havia demorado mais algumas horinhas na cidade, pois o bolovo estava sendo
preparado e enquanto estava lá, ouvia a novidade do chupa-cabra-onça que
estava na boca do povo.
Passados alguns minutos me aproximei da fazenda, e assim que entrei,
olhei com o cenho franzido para a casa. Tudo estava fechado.
Estacionei em frente a varanda e deixei Brutus sair, logo o segui. Ao abrir
a porta da frente, estranhei o silêncio.
— Bel?
A chamei e fui até a cozinha depositar o saco de bolovo. Voltei e fui em
direção ao banheiro, a porta estava aberta, no quarto não tinha ninguém.
— Isobelle? – chamei mais uma vez e fui até o quarto da minha mãe,
estava vazio.
Impaciente, andei para fora e me dirigi até a caminhonete. Peguei o
caminho do curral, totalmente nervoso. Ao chegar em frente a cerca, desci e
olhei ao redor. Isobelle não estava lá.
— Patrão, eu...
— Você viu a Isobelle?
— A patroa está na casa – respondeu confuso. — Eu fui até lá falar com o
senhor, e ela me disse que tinha ido até a cidade e na casa do seu irmão.
— A Isobelle não está lá – falei nervoso. — Ela me disse que esperaria em
casa.
Retirei o chapéu da cabeça e esfreguei meus cabelos.
— A menina do Albuquerque veio até a casa do senhor.
— A Carolina? – repeti totalmente confuso. — O que ela queria?
— Eu não sei senhor, antes de eu sair eu vi o carro da menina do
Albuquerque entrar pelas porteiras.
Soltei um suspiro e acenei.
— Eu vou até o Albuquerque, talvez ela esteja lá. O que não faz nenhum
sentido. Eu volto logo.
Rapidamente subi no lugar do motorista e dei a partida. Ao passar de volta
no caminho da casa, vi Brutus cheirando o chão da entrada. Não me liguei nisso,
e acelerei até a fazenda do Albuquerque. Passados alguns minutos adentrei a
propriedade, os peões assim que me viram permitiram minha entrada.
Albuquerque estava fumando um charuto em um banquinho branco. Ao me ver
sorriu.
— Mattias, que surpresa sua visita. Veio ver a égua? Ela já está bem
melhor.
Confuso, neguei e olhei para a mansão.
— Eu vim buscar a Isobelle.
— Isobelle? – indagou também confuso, o que me fez respirar fundo. —
Ela não está aqui.
— A Carolina está?
— Está lá dentro – respondeu e ficou de pé. — Vamos entrar, você parece
nervoso. – Fiquei em silêncio tentando manter a calma, mas não estava
conseguindo. — Glória, vá chamar minha filha.
Após um aceno, a governanta subiu as escadas de forma apressada.
Segundos depois, vi Carolina aparecer no topo da escada. Ela assim que me viu
não conseguiu disfarçar a surpresa.
— Mandou me chamar, pai?
— Bom...
— Cadê a Isobelle?
Albuquerque me encarou com o cenho franzido, talvez por não gostar da
interrupção.
— Quem é Isobelle? – Carolina perguntou e cruzou os braços.
Travei a mandíbula engolindo uma resposta atravessada, e tentei mais uma
vez soar calmo.
— Isobelle, a minha noiva. Você estava lá com ela, deveria saber.
— Não sei sobre o que está falando, Mattias – retrucou, mas seu olhar
dizia outra coisa. — Não tenho motivos algum para ir conversar com a sua
noiva.
Fiquei alguns segundos a encarando.
— Meu peão disse que viu você chegando na minha fazenda.
— Então ele mentiu – deu de ombros, e com descaso observou as unhas.
— Já parou para pensar que ela pode ter ido embora?
Sem dar importância para o que ela dizia, me virei para o Albuquerque
que encarava a filha.
— Sinto muito pelo inconveniente, Sr. Albuquerque. Peço que se
souberem de alguma coisa me avisem
— Podemos procurá-la com você.
— Não precisa senhor, vou até a casa do pai dela. Talvez ela possa estar
lá.
— O pai dela? – Carolina perguntou confusa. — Quem é o pai dela? Achei
que ela não fosse daqui.
— Ela é filha do Alvaréz – falei e a vi ficar pálida. — Eu não sabia, foi
uma surpresa.
— Não imaginava que ela era filha dele. – Sr. Albuquerque murmurou. —
Se eu puder ajudar, por favor, não hesitem em me chamar. Devo muito ao
Antônio.
— Certo, eu vou indo.
Sai de lá sem olhar para trás, começava a sentir uma pressão no peito, um
pressentimento ruim. A culpa logo me atingiu por ter a deixado sozinha. Com
raiva soquei o volante assim que me sentei, em seguida dei a partida e me dirigi
até a fazenda do Alvaréz.
Sentia meu corpo pesado, mas em algo macio, minha cabeça parecia que
iria explodir e quando tentei mover os braços, não consegui. Mesmo ainda tonta,
abri meus olhos e tentei me situar. No entanto, assim que reconheci a janela e os
móveis, senti o choro vir. Totalmente amedrontada, neguei com a cabeça e tentei
me sentar. Foi então que percebi que meus pés também estavam amarrados.
— Meu Deus! Por favor, meu Deus, não! Eu não posso ter voltado para cá.
Ao final do meu lamento, a porta foi aberta.
Benício adentrou o quarto e em suas mãos trazia o chicote de antes. A face
estava retorcida de raiva, e naquele momento eu esqueci como se respirava,
tremia sem conseguir disfarçar. Estava um pouco mais magro, e no lugar que eu
o tinha machucado, usava um tapa olho.
— Não sabe o quanto eu esperei por esse momento – murmurou e se
aproximou. — Você quase me deixou cego, sua vagabunda! Mas teremos
bastante tempo para você me pagar por tudo. – Assim que terminou, olhou
lentamente meu corpo e sorriu. — E dessa vez, vou ter mais cuidado com você.
Eu te subestimei uma vez, mas isso não vai se repetir.
— E-Eu só me defendi – falei baixinho, meu corpo estava completamente
amedrontado. Era como se eu sentisse o ódio emanando dele. — Se você não
tivesse tentado me machucar...
Em um movimento rápido, Benício agarrou o meu pescoço com apenas
uma mão e apertou. Desesperada, tentei me debater, pois não conseguia respirar.
Então, da mesma forma que ele agiu antes, me soltou.
— Eu acho melhor você ficar calada, ou da próxima vez vai levar uma
cintada na boca para aprender a me respeitar.
Fechei os olhos deixando mais lágrimas caírem. Eu tentaria manter a
calma, pois quando Mattias retornasse e percebesse que eu havia sumido, com
certeza iria me procurar aqui.
— Eles vão me encontrar.
Benício respirou fundo, mas logo franziu o cenho. Então, me deixando
completamente confusa, ele começou a rir. Andou para o outro lado da cama, e
do chão puxou minha mochila.
— Tem certeza de que vão mesmo? – Debochou e se sentou bem próximo
de mim. — Eles podem te encontrar, mas até lá, sua carne estará apodrecida.
Assim como dos outros curiosos que viram o que não deviam. – A mão subiu por
minha barriga e parou no decote do vestido. — Ernesto me disse que você estava
na fazenda do Mattias, interessante. Você o seduziu assim como fez comigo? –
indagou e com agressividade agarrou meu seio. — Pelas marcas no seu pescoço
eu acho que sim. Me fale Isobelle... você deu para ele?
— Não encoste em mim!
Meus cabelos foram agarrados, e sem esperar senti a mão pesada em meu
rosto. O tapa me deixou um pouco desnorteada, e Benício parecia se divertir
com o que fazia. Não se importando com a minha recusa, ele ficou por cima de
mim, começando a beijar meu pescoço. Em meio ao meu desespero de fazê-lo
parar, ouvi um celular tocar, mas não era o toque do meu. A contragosto, Benício
saiu de cima de mim, e puxou o aparelho do bolso.
A expressão do rosto foi de desagrado, e mesmo achando que ele
encerraria a chamada, ele atendeu.
— Eu disse para não me ligar! – retrucou assim que atendeu, ficou alguns
segundos em silêncio, mas rapidamente continuou: — Eu não a obriguei a me
ajudar! Você foi porque você quis! – No instante que ouvi aquilo franzi o cenho,
com ele estava falando? Quem o ajudou? Então, após alguns minutos pensando,
minha ficha caiu: Carolina tinha o ajudado. Por isso tinha aparecido por lá, e as
perguntas se eu estava sozinha. — O que foi que você disse? Você tem certeza
disso? – Benício me encarou e sem se despedir, encerrou a chamada. — Você
não cansa de surpreender! Ninguém me mandou aqui, eu errei o caminho. – Me
imitou com nojo, e sem cuidado me puxou pelos cabelos. Gritei de dor, e com
brutalidade foi jogada no chão. — Você é a filha do Alvaréz?
— P-Por favor, eu não sabia. – Neguei me sentindo com medo. Assim que
o olhei, vi quando a mão do chicote pegou impulso e me atingiu na perna. A dor
foi dilacerante, eu nunca tinha sentido aquela dor. — Por favor!
— Você não sabia que ele era seu pai? - gritou descontrolado e me atingiu
na outra perna. Me encolhi tentando me proteger. — Você não cansa de mentir?
Pois vai apanhar pra aprender.
Em posição fetal, tentava proteger minha barriga e cabeça. Meu corpo
estava dolorido, e Benício só parou quando a porta do quarto foi aberta.
Do chão, vi quando Demétria apareceu, e me olhou sem demonstrar
qualquer sentimento. Eu chorava em silêncio, sentindo algumas partes do corpo
arderem.
— Peça para que o Ernesto arrume a acomodação dela no celeiro. Sinto
que em breve teremos visitas.
Após um aceno, Rosalinda saiu e Benício me agarrou pelos cabelos. Em
seguida me jogou na cama, meus braços estavam doloridos, assim como partes
do meu corpo ardiam. Chorei mais, e quando Benício se deitou por cima de mim.
Prendi a respiração e desviei o olhar.
— Sabia que você é muito bonita – a voz soou tão maliciosa que me deu
ânsia. — Pele macia, você é a personificação do que os homens mais desejam.
— Você me dá nojo! Nojo e raiva! – proferi sentindo uma força vir de
dentro. — Você, Benício, é a personificação do que há de ruim nos homens
maus.
Ele levantou a mão para me bater, mas no mesmo instante parou e respirou
fundo. Ficou alguns segundos me encarando, e sorriu.
— E hoje serei aquele que te marcará pelo resto da sua vida – falou e eu
engoli em seco. — Espero que esteja preparada, porque você vai se tornar minha
puta.
Neguei com a cabeça.
Eu jamais deixaria que ele me tocasse daquela forma. Ainda sorrindo,
Benício buscou um pedaço de pano e tapou os meus lábios. Chorei em desespero,
e quando ele me puxou para fora da cama e me jogou nos ombros feito um saco
de babatas, comecei a me debater. Não conseguia ver para onde estávamos indo,
mas reconhecia o chão ao qual ele pisava. Parecia sair da casa e ir para algum
lugar.
Os minutos se passaram e notei o caminho de pedra, o mesmo que levava
até o celeiro. Ele me esconderia lá? Ou estaria me levando para o poço
fedorento? Com medo comecei a resmungar e debater.
— Que potranca arisca – aquela era a voz de Ernesto. — Pelo que vi,
aproveitou bem com aquele peão metido.
— Ela vai ficar calminha quando chegarmos – Benício riu. — Deu as
ordens aos peões?
— Sim, senhor.
No fim da conversa, percebi quando as portas do celeiro foram abertas,
mas logo fechadas. Com certa ignorância, Benício me tirou dos ombros e me
segurou pelo braço. Alarmada, olhei ao redor e vi que era realmente o celeiro.
Caminhamos até o fundo dele, no mesmo lugar onde antes tinha a poça de
sangue.
Sem compreender, observei Ernesto empurrar o feno do chão e puxar uma
espécie de alçapão. Quase no mesmo momento ouvi um barulho estranho.
— Se eu fosse você não faria barulho – Benício sorriu e me empurrou para
frente. — Ou isso pode deixá-lo agitado, e fazer o sedativo passar.
Ernesto rapidamente me pegou e com brutalidade me indicou o caminho. O
alçapão dava acesso a uma pequena escada, e mesmo sem querer comecei a
descer.
— Ele está uns bons-dias sem comer – Ernesto sussurrou rente ao meu
ouvido. — Então é melhor seguir o conselho do patrão, ou vai acabar como o
prefeito.
Meu corpo estava travado, assim como os meus olhos não saíam da onça-
preta que estava acorrentada e deitada mais a frente. Ernesto me colocou sentada
no fim da escada e sorriu quando bateu as botas no chão, fazendo a onça abrir os
olhos e me encarar. O medo me deixou estática, e quando fiquei sozinha com a
onça, chorei em silêncio.
Mattias
Assim que estacionei de qualquer jeito em frente a casa, corri até meu
quarto. Empurrei a porta com força e observei atentamente ao redor. A mochila
tinha sumido, mas o celular de Isobelle estava na estante. Abri as gavetas e vi
alguns dos vestidos e peças íntimas. Se ela tivesse ido, não teria deixado o
celular e aquelas roupas para trás.
Com a raiva e preocupação assolando meu peito, saí do quarto e fui buscar
a espingarda. Verifiquei as balas que tinham e me dirigi para o lado de fora.
Desci as escadinhas da varanda e antes que pudesse entrar na caminhonete, vi o
forasteiro aparecer na 4x4.
Mostrei a espingarda, e recebi um aceno. Sem falar nada, tomei o lugar do
motorista e segui o forasteiro. Ele assim que soube do sumiço da filha, afirmou
com toda certeza de que tinha sido Benício e eu concordava com aquilo.
Afinal, ele era o único que tinha um problema com Isobelle. Mal prestava
atenção no caminho, meu pensamento era única e exclusivamente em Isobelle.
Me sentia um idiota por ter a deixado sozinha, e confiado de que nada daria
errado.
— Se ele encostar em você, meu amor. Eu prometo que vou matá-lo.
Com raiva soquei o volante e fitei a espingarda. Eu faria questão de usá-la
em Benício.
Quando a 4x4 adentrou finalmente as propriedades do maldito, acelerei
mais. Para minha surpresa, alguns peões estavam pelos pastos e quando paramos
perto da casa, vi quando uma senhora saiu com um pano de prato em mãos. Ela
nos olhava com seriedade, e quando menos esperei vi Benício passar pela porta.
Usava um tapa olho, e estava mais magro.
Alvaréz rapidamente se aproximou, ficando cara a cara com ele. Meu
olhar seguiu até o celeiro.
— Que surpresa desagradável – Benício murmurou enquanto cruzava os
braços. — O que perderam em minha fazenda?
— Você sabe muito bem, seu crápula! – Alvaréz proferiu com a voz
raivosa. Benício respirou fundo. — Não é inteligente me ter como um inimigo,
você sabe muito bem disso.
— Eu vou dar uma olhada no celeiro.
Assim que avisei, Ernesto e mais dois peões se colocaram em minha
frente. Um deles retirou um revólver que estava por baixo da camisa, e me
encarou. Sem me deixar intimidar, segurei a espingarda e dei mais um passo.
— É melhor ficar onde está, Ferreira – Ernesto aconselhou, mas ao invés
de parar, continuei a andar. Vi quando Benício gesticulou com a mão, e os peões
se afastaram.
— Poderiam pelo menos me informar o motivo dessa invasão hostil, antes
que eu chame a polícia?
No instante que ouvi a voz debochada, lembrei que aquele homem foi
responsável por causar dor em Isobelle. Em um movimento rápido me virei e o
acertei no nariz com o cabo da espingarda. Quase logo em seguida Ernesto
avançou em mim, mas foi impedido por um dos peões do Alvaréz.
— Chame a polícia e vamos ver o que tanto você teme! Seu desgraçado!
A passos largos me encaminhei até o celeiro, e com nervosismo abri a
porta. Caminhei até o final do recinto, e respirei fundo quando não a encontrei.
— Cadê a minha filha? – Ouvi quando o forasteiro perguntou.
— Você tem uma filha?
Ao ouvir a voz debochada, e em um excesso de fúria, apontei a espingarda
em direção a Benício e engatilhei. Alvaréz rapidamente me olhou com seriedade.
— Eu preciso de você ao meu lado para encontrar a minha filha – falou
com calma me encarando, mas eu não conseguia tirar os olhos do Menzzotti. —
Se você for preso por matar esse desgraçado, não vai me ajudar de nada!
Precisamos encontrar a Isobelle.
Fiquei alguns minutos em silêncio, mas logo praguejei, e olhei mais uma
vez ao redor. Só havia alguns materiais e fenos. Respirei fundo, e no instante
que inspirei, senti o perfume característico de Isobelle. Puxei mais uma vez o ar,
e tive a certeza de que era dela.
— Mande os peões revistarem a casa – mandei tentando controlar a raiva.
— Ela esteve aqui, eu sinto o perfume dela.
— Isso é ridículo! Não conheço quem vocês procuram! E se vocês querem
revistar minha casa – Benício murmurou ao mesmo tempo que limpava o nariz
de sangue. — Então arrumem um mandado, já fui muito receptivo em deixar que
invadam minhas propriedades. Se eu quisesse poderia atirar em vocês, mas não
sou eu quem quer briga aqui.
— Se você quiser chamar a polícia, fique à vontade! – rugi o encarando
com raiva. — Eu só saio daqui quando eu revistar a casa, e se alguém tentar me
impedir, vai levar um tiro.
Benício sorriu e buscou o celular no bolso da calça.
Após bufar passei por ele, e antes de sair do celeiro ouvi Benício falar
com o que parecia ser a polícia. Corri de volta para a casa do maldito, e a
senhora de antes tentou me barrar. Não foi tão difícil passar por ela, e quando
consegui ignorei os xingamentos.
— Isobelle! – gritei. Abri a primeira porta, e não a encontrei. Empurrei as
seguintes portas e nada de encontrá-la. — Isobelle!
— Ela não está aqui! – a senhora murmurou, me olhava com uma raiva
genuína. — Agora saia da casa!
— Eu não quero ser grosseiro com a senhora! – Deixei claro fazendo-a
parar. — Então, por favor! Não se envolva nisso!
Invadi um dos quartos e fui até uma porta que havia ali. Ao abrir vi que
era o banheiro, e nada de Isobelle. Olhei para a saída do quarto e vi Alvaréz
analisando o ambiente.
— Ela não está aqui – avisou e eu respirei fundo. — Os peões já olharam
nos outros quartos, nenhum sinal dela.
Me aproximei rapidamente dele.
— Eu senti o perfume dela no celeiro, ela está aqui! Precisamos olhar o
poço, vasculhar cada centímetro desse lugar.
Alvaréz me observou um pouco confuso, mas logo acenou. Ainda sob o
olhar atento, me abaixei para procurar embaixo da cama e bufei quando não a
encontrei. Saí do quarto e me encaminhei para fora da mansão. Alguns dos peões
do Benício me encaravam, e minha vontade era de interrogar todos eles.
— A polícia já está vindo – Benício avisou, o olhar de superioridade fazia
com minha vontade de socá-lo voltasse. — Saibam que vou prestar queixas
contra vocês. Não pago impostos para me sentir ameaçado em minha própria
moradia.
Com raiva, passei os dedos entre meus cabelos e olhei o caminho que ia
depois do celeiro. Sem falar nada, fui até minha caminhonete e coloquei a
espingarda no banco da frente. Alvaréz me chamava ao lado da porta do
motorista, mas eu não queria ouvir. Eu queria Isobelle!
Dei partida e segui o caminho de pedra que levava até outra porteira. Ao
me aproximar da porteira fechada avancei destruindo tudo. Me guiando pelas
lembranças do que Isobelle me falou, cheguei ao caminho íngreme, e mais a
frente um pouco vi o tal poço. Estacionei perto, e desci. Encostado na boca do
buraco tinha uma porta redonda de madeira, talvez para fechá-la. Apoiei minhas
mãos na beirada e inclinei o corpo para frente.
Até onde eu conseguia ver estava tampada de cimento e entulhos.
— Caralho! Cadê você, Bel?
Puxei a respiração e tentei pensar com mais calma.
Isobelle não sabia onde Marcos morava, então não tinha uma possibilidade
de ela estar por lá e caso isso acontecesse, algum dos peões seriam avisados. Ela
não sairia sem avisar, afinal ela estava me esperando, pois queria me falar
alguma coisa. Então ao notar isso franzi o cenho. O que ela queria me falar? Se
passaram alguns minutos e ouvi alguns veículos se aproximarem.
Olhei para trás e vi uma viatura da polícia, a 4x4 do forasteiro e outra
caminhonete. Cruzei os braços observando cada um dos recém-chegados. Um dos
policiais passou pela minha caminhonete e notou a espingarda.
— Ferreira, vou me aproximar, então não faça movimentos bruscos. – O
olhar percorreu por meu corpo. — Está armado?
— Só estou com a espingarda na caminhonete.
— Certo – murmurou e caminhou em minha direção, ao parar ao lado
pediu para eu levantar a camiseta. Após obedecer, encarei Benício que sorria. —
O senhor quer se explicar? Invasão e ameaça são acusações sérias.
— Precisamos vasculhar essa fazenda, a minha noiva sumiu e eu tenho
certeza de que ela está aqui.
O policial me olhou surpreso, em seguida encarou os outros.
— Podemos conversar com mais calma? Vamos até...
— A cada minuto que passa – o interrompi com grosseria. — A minha
mulher está presa, sabe-se lá onde, correndo perigo. Não me peça para ter
calma! Esse desgraçado – apontei para Benício — já a machucou uma vez e ele
fez de novo!
— Invasão, ameaça e calúnia – Benício sorriu de braços cruzados. — Seus
crimes só aumentam, Ferreira.
Com um gesto de mão, o policial pediu silêncio e me encarou.
— Vamos conversar, eu preciso entender o que está acontecendo. Ou então
não vou poder ajudar adequadamente.
No fim da fala, ele inclinou o corpo e franziu o cenho ao ver o poço.
Concordei e ao lado de Alvaréz comecei a relatar desde o começo. No fim
do meu “depoimento”, o mesmo policial foi falar com Benício. Os dois
conversaram por 3 minutos, e quando o vi falar pelo rádio preso a roupa,
respirei em alívio. Ele pedia para que os outros policiais checassem o perímetro.
Estranhamente Benício tinha adotado uma expressão neutra, já Ernesto se
mantinha inquieto com o olhar para a fazenda.
Quase no fim da tarde, os policiais se reuniram e para o meu desespero;
Isobelle não tinha sido encontrada. Era como se ela nunca esteve por lá, mas eu
sabia que ela estava.
Contrariado e sob ameaça de passar uma noite na prisão, voltei para a
minha fazenda. Alvaréz me acompanhou em silêncio, não tinha falado
absolutamente nada desde que a polícia tinha chegado.
Passei pelas porteiras e vi minha mãe e meus irmãos em pé na varanda.
Leôncio e José estavam parados por perto. Assim que desci, peguei a espingarda
e fechei a porta da caminhonete com força. Minha mãe me olhou alarmada e
correu até mim. Ao me abraçar, começou a chorar me deixando mais nervoso.
— Meu Deus! O que aconteceu? Onde está Isobelle, meu filho?
— Eu não sei, mãe. Quando cheguei ela não estava mais, nem a mochila
dela. Ela não foi embora, mãe. Eu tenho certeza disso! Ela não me deixaria.
— Meu amor! – Se afastou de mim e encarou Alvaréz ao meu lado. — E
onde vocês estavam? E essa espingarda?
— Estávamos na fazenda do maldito! Ela esteve lá. Eu não a achei, mas
ela esteve lá. Eu senti o perfume, era Isobelle.
Ao lado de minha mãe me dirigi para dentro de casa. Ao chegar na sala
estranhei quando não vi os gêmeos, e talvez notando isso, Marcos falou.
— A Liliane ficou com eles, como você está?
— Com raiva de mim! Com ódio do Benício! Eu deixei que isso
acontecesse, eu não deveria ter a deixado sozinha. Não deveria! Eu prometi e
falhei.
— Você não tem culpa. Ela não disse nada se iria sair? – Matheus
perguntou de braços cruzados. — Talvez ela tenha saído.
— Ela não saiu! – esbravejei, mas logo suspirei. — Ela não saiu, ela
queria falar comigo. Me pediu para trazer bolovo, disse que quando eu chegasse
iríamos conversar.
— Sobre o quê? – Dessa vez foi Alvaréz a questionar. — Você não me
falou isso. Você não tem ideia sobre o que ela queria falar?
Respirei fundo e me joguei no sofá. Eu me sentia cansado, culpado e com
uma sensação ruim no peito.
— Talvez... – minha mãe começou, mas logo parou. Então levou a mão ao
peito.
— O quê? Ela disse algo para a senhora?
Minha mãe ficou de pé e se encaminhou até a porta para olhar para fora.
— Eu não sei, meu filho, mas eu acho que...
— Que o quê? – indaguei nervoso, ficando de pé, quando ela parou. —
Pelo amor de Deus, mãe. O quê?
— Talvez ela esteja grávida? – falou rápido, aquilo foi como um golpe em
mim. — Você acha que isso é possível? Que ela estava com essa dúvida? Hoje no
almoço estávamos conversando sobre isso, e eu notei ela um pouco aérea, bem
pensativa.
Me sentei novamente no sofá, e de repente não sabia mais o que pensar.
Eu via Alvaréz exclamar para mim alguma coisa com a face raivosa, enquanto
meus irmãos também gesticulavam. Minha mãe se aproximou de mim, e me
tomou as mãos. No entanto, eu só conseguia ouvir a palavra gravidez em minha
mente. Havia grandes chances de aquilo acontecer, transávamos sempre e em
nenhum momento lembrei da camisinha. Apoiei meus cotovelos nas coxas e
franzi o cenho.
Eu não queria acreditar que Isobelle tinha me deixado por causa disso.
— Ela não me deixou, mãe.
— Não, meu amor. Ela te ama demais.
Ao ouvir aquilo, não consegui segurar as minhas lágrimas. As minhas
forças estavam se esvaindo, meu coração estava totalmente devastado. Eu me
sentia tão pequeno e indefeso. Eu não gostava de me sentir assim.
— Eu também a amo – murmurei e minha mãe sorriu em meio as lágrimas.
— Eu a amo demais! E eu não disse isso, eu falei que estava apaixonado, mas eu
a amo. Eu não sei viver sem ela.
— Vamos encontrá-la, e você vai poder dizer tudo isso a ela. – Afirmou e
sorriu enquanto secava as lágrimas. — Precisamos ir até a polícia.
— Já falamos com a polícia, e, aliás, Mattias está proibido de se
aproximar da fazenda do desgraçado. Se ele fizer isso será preso. Era tudo o que
precisávamos.
Minha mãe franziu o cenho e me encarou em dúvida.
— Eu não fiz nada de mais!
— Eu vou entrar em contato com um amigo da capital – Alvaréz falou com
o celular em mãos. — Ele é da polícia e vai saber nos auxiliar com mais
precisão. Por favor! Não faça nenhuma besteira! E quando isso tudo passar,
vamos conversar sobre você ter engravidado minha filha.
Eu o olhei e percebi que ele falava sério, como se não tivesse gostado de
saber daquela novidade.
O observei ir, e quando ficamos apenas nós, fechei os olhos e esfreguei o
rosto.
— Meu filho, o Leôncio disse que você foi até a fazenda do Albuquerque.
O que eles disseram?
Ao lembrar daquele detalhe, fiquei de pé rapidamente e corri até o lado de
fora. José e Leôncio ainda estavam por perto, conversavam entre si.
— Leôncio! – o chamei fazendo-o me encarar. — Você tem certeza de que
a Carolina veio aqui?
— Tenho patrão, eu reconheço aquela picape, a cor chamativa. A patroa
até pareceu não gostar da visita.
— Ela disse que não veio aqui.
— Então ela mentiu, patrão. Não tem ninguém nessa região com aquele
carro. Só ela mesmo.
Totalmente confuso com as informações, fui até a varanda e apoiei os
braços na madeira. Se Carolina veio mesmo aqui, por que mentiria? Com
desgosto olhei para o céu que já se tornava escuro e praguejei.
Eu já não sabia mais quanto tempo fiquei ali embaixo do celeiro com
aquela onça. Desde que ouvi a voz de Mattias, meu pai e Benício, ninguém veio
me buscar. Eu me sentia culpada, pois eu deveria ter feito algum barulho, algo
que chamasse a atenção. Estava com tanto medo da onça fazer força e se soltar,
que enquanto Mattias estava no celeiro e as vozes alteradas se faziam presente,
eu fechei os olhos deixando as lágrimas caírem. Um choro sofrido e repleto de
medo. O que Benício faria comigo?
Tentei mexer minha perna que estava dormente, e no instante que fiz, a
onça mudou a posição. O rabo enorme e negro balançava de um lado para outro,
o olhar penetrante não saía de mim. Lentamente olhei para a corrente, e percebi
que ela era curta. Talvez a onça não conseguisse avançar, mas se ela estivesse
com muita fome, aquilo seria um empecilho para ela? Em meu devaneio lembrei
da fala de Ernesto.
Benício foi o culpado da morte do prefeito? Eram tantos os
questionamentos, que por um momento esqueci da onça e tentei me virar para
olhar a escada. Então foi quando tudo aconteceu muito rápido. A onça rosnou
alto e tentou avançar, mas antes que pudesse pular em mim, a corrente a
impediu. Gritei mesmo com a mordaça na boca, senti meu corpo tremer e sem
que eu conseguisse me segurar, fiz xixi na calcinha.
Me encolhi contra a parede de barro, ao mesmo tempo que ouvia a onça
rosnar junto aos barulhos das correntes. Os minutos se passaram, a talvez pela
exaustão e medo, adormeci. Quando abri os olhos novamente, tudo estava
completamente escuro, meu corpo reclamava de frio, e o fedor da minha urina no
chão de terra começava a me incomodar. Prestes a fechar novamente os olhos,
ouvi vozes ao fundo de forma abafada. Me sentindo mais desperta, olhei para o
final da escada e engoli em seco.
Com a porta aberta, vi Benício se agachar e sorrir.
— Como passou a noite? – indagou e eu fiquei confusa. — Você foi tão
obediente ontem que merece um presente.
Ernesto desceu as escadas de madeiras, e quando me puxou pelos braços
amarrados, franziu o nariz.
— Ela está fedendo – avisou, em seguida começou a rir enquanto cortava
as cordas dos meus pés, em seguida removeu a mordaça. — Parece que ela se
mijou.
Benício me olhou surpreso, mas logo riu.
Eu me sentia completamente humilhada, amedrontada, com raiva. Eram
tantos sentimentos, eu queria conseguir xingar e exigir que me soltassem. Mas,
eu só consegui chorar mais. De forma bruta fui arrastada para dentro do celeiro,
ao sentir o chão de madeira abaixo de mim, respirei em alívio.
— Vamos indo, temos muito o que conversar.
Após isso me deu as costas e começou a caminhar para fora. Minhas
pernas tremiam, e a cada fraquejada que eu dava, Ernesto apertava o meu braço.
Já do lado de fora, consegui ver quatro peões que me observavam sem conseguir
disfarçar os olhares maliciosos. Em meio a eles, vi um que parecia não estar
muito confortável. Como se não concordasse com o que estavam fazendo.
— Por favor! – gritei para ele, que me olhou assustado. — O meu pai é o
forasteiro! Eu...
Rapidamente fui puxada e recebi um tapa forte que me fez cair. Um pouco
desorientada, e dolorida, senti quando algo escorreu por meu nariz. Olhei para o
chão e vi que era sangue. Fui puxada novamente com grosseria, ato que me fez
gemer de dor. Meus braços doíam, assim como meu corpo todo. O vento
ricocheteava minha pele parecendo agulhas finas, o céu ainda estava escuro e
isso me deixou em dúvidas sobre se era o mesmo dia que Mattias tinha ido até
ali.
Ao chegar dentro de casa vi Demétria saindo de outro quarto. No instante
em que me viu, cruzou os braços e redirecionou o olhar para Benício.
— Demétria, dê um banho nela. Depois a deixe na minha cama.
— Sim, senhor. – Sorriu e observou Ernesto me levar até o banheiro. —
Separei a camisola que o senhor me pediu.
— Ótimo, quando terminar me chame.
Fui colocada em cima de uma cadeira, e enquanto tentava me manter
calma, vi Demétria se aproximar. Meu rosto doía, e assim que abaixei a cabeça,
o enjoo me atingiu, fazendo minha boca encher de saliva. Meus olhos se arderam
em lágrimas, e por ainda sentir os braços doloridos, comecei a chorar.
— Não precisa fazer cena – Demétria murmurou ao fechar a porta do
banheiro. — Não vou machucar você.
Balancei a cabeça, olhei em seus olhos.
— Meus braços estão doloridos – Ela me olhou e suspirou. — Por favor,
eu...
— Dá última vez que confiei em você, me empurrou e eu machuquei a
coluna. Sem falar que o patrão ficou internado, perdeu um pouco da visão.
Baixei novamente a cabeça e após alguns segundos senti meus cabelos
serem acariciados. Sem falar nada, ela começou a me soltar. Não consegui falar,
mas o alívio em ter os braços livres me fez chorar. Demétria agarrou meu
vestido e o puxou para baixo. Eu poderia tentar sair dali, mas eu tinha plena
certeza de que não conseguiria dar um passo para fora.
Eu me sentia fraca, dolorida, cansada, com medo. Então apenas aceitei o
banho, mal conseguia me mexer, mas parecia que Demétria não se incomodava
com isso. Quando ela finalmente terminou, a segurei pela mão, os olhos se
fixaram em meu rosto.
— Por favor... Por favor, me ajuda.
— Não percebe que está sendo boba, menina? – murmurou enquanto me
enrolava com a toalha. — Sabe quantas matariam para estar em seu lugar? O
patrão é um bom partido, você só precisa ser mais obediente. Ele está com raiva,
mas acredito que tudo vai se acalmar.
Com medo de cair, me agarrei a Demétria e a passos hesitantes andei até o
quarto. Ao chegar na cama fui colocada sentada, minhas pernas tremiam e eu só
queria ir. Olhei para baixo e encarei as marcas do chicote em minha pele.
Demétria pareceu ler meus pensamentos, pois com cuidado passou a toalha nos
machucados.
— Isso vai sumir – comentou, em seguida pegou a camisola rendada da
cor branca. — Agora essas manchas no seu pescoço, não são de agora.
— Demétria... me ajuda, por favor. Eu não posso ficar aqui, o Benício vai
me...
— Você não sabe obedecer – me interrompeu com um pouco de
impaciência. — A antiga esposa do patrão também era assim, um gênio difícil.
Foi isso que separou os dois. Se você obedecer, ele não vai te machucar.
— Eu acho que estou grávida! – falei rápido, fazendo-a me olhar
assustada. — Se ele me machucar... o meu bebê...
— Grávida?
Concordei com a cabeça e engoli em seco.
Sem falar mais nada, Demétria me vestiu e segurou a toalha junto ao
peito.
— O bebê é do Benício? – Confusa, neguei e a observei ir até a porta. —
Você tem certeza? Porque você e o Benício...
— O pai do meu bebê é o Mattias! Nunca me deitei com o Benício.
Demétria negava com a cabeça, e me encarava sem conseguir esconder a
felicidade. Então, sem falar mais nada, saiu do quarto e trancou a porta por fora.
No instante em que fiquei sozinha, me levantei e andei até a janela. Ao olhar
pelo vidro, vi que era noite e alguns peões estavam espelhados pela área externa.
Tentei ver o caminho da porteira, mas não consegui. Como eu iria escapar?
Mattias já tinha vindo até aqui, e talvez por não me encontrar ali, não voltaria
mais. Sem saber o que fazer, levei a mão ao peito, eu me sentia tão nervosa, com
medo. Olhei meu anel que ainda estava comigo e deixei algumas lágrimas
caírem.
Atrás de mim a porta se abriu, ainda encostada no vidro da janela, vi
Benício entrar com o chicote em mãos. Ele ia me bater de novo? Enquanto ele se
aproximava, eu me afastava indo em direção do banheiro.
— Pelo que vejo já está ótima – comentou e me olhou dos pés a cabeça. —
Essa camisola foi feita para você.
— O que pretende me mantendo aqui? – indaguei e sutilmente olhei para o
lado, estava próxima do banheiro. — O meu pai e o Mattias não vão descansar
até me encontrar. Não vê o problema enorme que está causando?
— Mattias Ferreira – murmurou e começou a desabotoar a camisa que
usava. — Me diga... você gostou de ter se deitado com ele? – me ignorou
completamente, na mesma hora respirei fundo.
As mãos desceram para o cinto, e aproveitando aquela deixa tentei correr
para dentro do banheiro, mas antes Benício conseguiu me agarrar e com extrema
violência me jogou na cama.
— Por favor! Não me toca!
— Isobelle – balançou a cabeça, ficando com a calça pendurada no
quadril. — Por sua causa eu quase morri, tive uma infecção forte. Fiquei boa
parte dormindo, internado, e esse tempo todo, eu não tive uma mulher.
Me encolhi na cama e me abracei ao travesseiro.
— Eu não quero que me toque!
Benício riu e deu a volta na cama, a mão agarrou minha perna e não
querendo ser tocada, comecei a me debater. Meus braços foram contidos, e ao
sentir o perfume masculino tão perto de mim foi inevitável o enjoo.
— Ele te provou – sussurrou perto do meu ouvido. — O que custa ser
minha puta por hoje antes que eu te mate?
Ao fim da pergunta não consegui evitar o enjoo, e sem me importar com
nada vomitei em Benício. Ele rapidamente saiu de cima de mim, e era nítido o
nojo em sua face. Trêmula, o vi gritar para Ernesto, que rapidamente abriu a
porta. Ao lado dele, Demétria apareceu e ficou calada.
— Parece que ela gostou de ficar com a onça – Benício murmurou
enquanto se limpava com a camisa. — Se ainda não deram o sedativo, nem
façam. Vamos ver até quando essa desobediência de Isobelle continua.
— Sim senhor.
— Patrão! – Demétria finalmente falou, parecia nervosa. — A Isobelle me
contou que está grávida. – Assim que ela disse, os olhos raivosos de Benício
caíram sobre mim. — Talvez, por hoje, o senhor tenha piedade e a deixe dormir
aqui na casa.
— Grávida? – Repetiu, e como se só agora percebesse, fitou meu anel na
mão direita.
— Isso senhor – Demétria continuou, em seguida deu um passo a frente.
— Sabe como essas jovens são cabeças de vento, gostam de contrariar. Ela deve
ter passado mal, não comeu nada desde que chegou. Eu sou mulher e entendo
como esses enjoos são terríveis e incontroláveis.
Me encolhi na cama ainda recebendo o olhar de Benício, e para minha
surpresa ele apenas maneou com a cabeça e gesticulou com a mão. No mesmo
momento, Ernesto me agarrou pelo braço, e me arrastou para fora. Demétria
passou em nossa frente como um foguete, e enquanto caminhava pelo corredor
tentei analisar para onde estávamos indo.
Uma porta foi aberta, e me sentindo mais aliviada vi que era um quarto.
Ernesto me colocou sentada na cama, e sem cuidado apertou meu rosto com uma
das mãos.
— Você tem muita sorte! Mas saiba que estou de olho, e pode ter certeza
que se você aprontar algo, vai se arrepender amargamente.
Com ignorância soltou meu rosto, e esticou a mão até pegar um pedaço de
corda que Demétria segurava. O observei amarrar minhas mãos, e logo após sair
do quarto.
— Eu poderia trocar essa roupa suja, mas vou deixar que passe essa noite
assim como forma de castigo. Espero que pense bem no que está fazendo. Onde
já se viu? Vomitar no patrão? Perdeu mesmo o juízo, menina?
Querendo apenas ignorá-la, encarei o teto. Demétria se comportava como
se eu fosse a grande culpada de tudo, e mesmo não querendo, me fazia lembrar
de minha mãe. Não conseguia notar diferença entre as duas.
Como não a respondi, ela apenas suspirou e antes de sair removeu a chave
de dentro. Enquanto ouvia a porta ser trancada, chorei me sentindo realmente
amedrontada.
Mattias
Assim que acordei pela segunda vez, eu estava sozinha no quarto. Tentei
me sentar, mas não consegui. Foi então que ouvi uma descarga ser acionada, e
após uns segundos a porta – que eu só percebi agora dentro do quarto – abrir.
Mattias enxugava as mãos na blusa que usava, e no instante que me viu
acordada, andou rapidamente até mim.
— Oi. – Acenei um pouco tímida. — Pensei que você tinha ido.
— Não, meu amor – respondeu e, no fundo, me derreti quando ele me
chamou de meu amor. — Eu passei a noite toda por aqui velando seu sono, mas
acho que em algum momento eu dormi.
Sorri, permitindo que ele pegasse minha mão e levasse aos lábios.
— Eu acordei antes, ainda estava tudo escuro. Você dormiu sentado.
Ele me olhou surpreso, mas logo acenou e levou carinhosamente os dedos
ao meu rosto.
— Eu passei boa parte do tempo, pensando sobre tudo. – Falou e se sentou
no colchão. — Eu sinto muito, Bel. Me desculpe, por favor.
— Pelo quê?
Mattias suspirou e parecia sem jeito.
— Eu prometi que nada aconteceria a você – murmurou, ele olhava nossas
mãos. — Me descuidei e tudo isso aconteceu. Eu nunca vou me perdoar.
— Não, Mattias! Não foi sua culpa, eu não quero que fique falando isso.
— Bel...
— Não foi sua culpa, Mattias. – O interrompi fazendo-o me encarar. — Se
você for pensar assim, então eu sou culpada pelo Ernesto ter me levado, porque
eu não fui quando você me chamou. Eu que decidi ficar.
— Não, é lógico que não foi sua culpa, Bel.
— Então, nada de culpados aqui – falei e o vi acenar ainda incerto. —
Tudo bem? Eu quero recomeçar com você, Mattias. Esquecer Benício, Ernesto e
Demétria. Só a gente e... bom, tem uma coisa que eu queria falar. – Mattias me
olhou atento. — Eu queria ter falado antes, mas eu não sabia bem como começar.
Não era bem assim que eu queria falar.
— Você não sabia como começar porque não tinha certeza? Ou estava com
medo?
Sem compreender bem, tentei me sentar, mas dessa vez Mattias me ajudou.
— Eu não tinha certeza, e eu fiquei com medo da sua reação – respondi e
ele me olhou surpreso. — Sei lá, por achar muito cedo. Ou não sei, eu...
— Bel, o que você está sentindo em relação a isso?
Fiquei alguns segundos calada, e levei lentamente a mão dele até meu
ventre. Mattias não esboçou nenhuma reação de surpresa, então ele já deveria
estar sabendo.
— Eu não sabia se estava mesmo grávida, não sabia qual seria sua reação.
Se você ia ficar feliz, porque conversamos sobre ter filhos, mas talvez você
pudesse querer só depois de alguns anos de casados. – No instante que terminei,
ele sorriu. — Quando cheguei aqui, eu fiquei com medo de ter perdido o nosso
bebê. Eu não sabia que queria tanto ele, eu quero, Mattias.
O sorriso dele aumentou, e aquilo me deixou mais calma.
— Construir uma família com você é tudo o que eu mais quero, Bel. Não
sabe o tamanho da minha felicidade ao ouvir de você que está de acordo com o
nosso bebê.
Acenei com a cabeça e me permiti chorar. Mattias rapidamente me
abraçou, e de olhos fechados senti o perfume tão característico dele.
— Aquilo que falei é verdade – murmurei, e então ele se afastou para me
olhar. — Eu amo você, eu percebi antes, mas com a possível gravidez fiquei
receosa em falar e você achar que...
Delicadamente ele tocou o meu lábio, e carinhosamente me deu um
selinho.
— Eu também amo você, Bel. Amo você, mais que tudo. Lá na cozinha,
quando eu disse que você era incrível – relembrou, foi no mesmo dia que ele
avisou a mãe que estávamos juntos. — Eu também queria ter dito que eu amo
você, mas eu queria que fosse um momento especial, talvez em um jantar ou um
momento só nosso..., mas eu não disse e quase te perdi...
O olhar dele de dor atingiu meu coração, e sem saber o que falar voltei a
chorar. Os braços logo me abraçaram de forma protetora, e ali agarrada a ele, foi
inevitável não lembrar das cenas que passei. Eu só queria esquecer tudo e
recomeçar.
— Bom dia! – Ao ouvir a voz estiquei o pescoço para ver quem era. Em pé
na entrada estava uma enfermeira com um carrinho. — O seu café da manhã,
quando você terminar de comer, eu voltarei para te examinar.
Enxuguei as lágrimas e me separei de Mattias.
— Sabe informar se o médico está por aqui? – Ele indagou indo até ela. —
Ele disse que ela passaria a noite apenas.
— Vou dar uma verificada para o senhor.
— Obrigado.
Assim que ficamos sozinhos de novo, Mattias se aproximou e posicionou a
bandeja a minha frente.
— Você tomou café? – quis saber enquanto o observava me entregar a
colher e um pratinho com frutas picadas. — Tem suficiente para nós dois aqui.
Sorri e dei uma colherada generosa. Os sabores das frutas juntas me
deixou levemente extasiada, a maçã era o sabor que mais se sobressaía.
— Eu tomei um café que a enfermeira ofereceu.
No mesmo instante o encarei. Mattias estava sentado na poltrona, o corpo
todo inclinado para frente.
— Ela ofereceu?
— É, os acompanhantes ganham um café da manhã mais cedo.
— Ah! – balbuciei, e quando ele sorriu fiquei levemente constrangida.
— Não me olha assim!
Mattias sorriu mais.
— Ciumenta.
Neguei com a cabeça e fitei meu pé com aquela bota preta. Na minha
tentativa de fuga torci o tornozelo, e lembro muito bem de alguém ter dito que
ficaria com o pé imobilizado por algumas semanas.
— E sua mãe? Ela vem hoje? O meu pai? – Continuei comendo, foi então
que o vi pensar a respeito. — O que aconteceu depois que eu sumi?
— Bom, eu cheguei e não te encontrei. Fui até o curral, a sua procura, e o
Leôncio me disse que você estava na casa, que a Carolina tinha passado lá.
— Ela o ajudou – falei e o vi respirar fundo. — Ela apareceu na fazenda e
me convidou para sair. Ela sabia que você tinha saído... e quando eu estava no
quarto do Benício, ela ligou para ele e depois... – Parei quando percebi a feição
dele mudar. — Mattias, eu sei que o Sr. Albuquerque é um cliente seu, e eu não
quero de forma alguma prejudicar a relação de vocês. Então...
— Não! Se ela ajudou o Benício, então vai responder na justiça. Você é
minha prioridade, Bel. Não eles.
Acenei lentamente.
Após alguns minutos terminei de comer a salada de frutas, tomei um gole
do suco de laranja e deixei que meu olhar observasse o quarto por completo,
tudo era tão chique, parecia ser um hospital muito caro.
— Ainda estamos em Vassouras, né?
— É, aqui é quase no limite da cidade. É um bom hospital, foi o forasteiro
que pediu para te trazer para cá.
No fim daquela fala, Mattias olhou ao redor e respirou fundo. Parecia
incomodado com alguma coisa, mas assim que seus olhos me fitaram, ele deu um
mínimo sorriso.
— Eu ainda quero me casar com você. – Avisei. — E eu não trocaria o que
a gente tem por nada.
Ao ver o sorriso aumentar, eu senti meu corpo relaxar.
— Mal posso esperar para tê-la como minha esposa. Futura Sra. Ferreira.
Sorri totalmente boba, e deixei que ele me tocasse de forma carinhosa na
bochecha. De olhos fechados apreciei o toque em meu rosto, tive tanto medo de
não ter mais aquele contato. Abri novamente os olhos e levei a minha mão ao
rosto dele. Alisei a barba por fazer, e quando pensei em lhe dar um beijo, vi
Rosalinda aparecer na entrada. Trazia uma bolsa de pano, e logo atrás dela vi
meu pai junto a uma mulher muito bonita.
Mattias ao perceber a presença de mais pessoas, ficou de pé.
Aquela mulher só poderia ser a Agnes: usava um vestido até a altura dos
joelhos, saltos, e poucas joias. Os cabelos cacheados e pretos, chegavam até os
ombros. Os olhos eram verdes, e ela me sorria de forma tímida. Mesmo sem jeito
por não estar tão apresentável, retribuí.
Rosalinda foi a primeira a me abraçar.
— Oh, minha querida! Eu senti tanto medo, que bom que você voltou.
Você dormiu bem?
Nos afastamos do abraço e eu percebi que ela chorava. Sem conseguir me
segurar também chorei, eu estava tão sensível.
— Dormi, estou ansiosa para voltar para casa. Acho que não gosto de
hospital.
— Deixei tudo pronto pra você. – Comentou, em seguida encarou o filho.
— E você comeu ou vou ter que falar pra Isobelle que você não come direito e
nem dorme?
Mattias tinha os braços cruzados, não tinha dito nada e eu bem devia ter
desconfiado. Ele parecia que não dormia a um bom tempo. Voltei o meu olhar
para meu pai que também não tinha falado nada, nem se quer um bom dia. Algo
tinha acontecido entre eles.
— Oi Isobelle, sou a Agnes – se apresentou e sorriu. — Eu sei que esse
pode não ser o momento ideal para a gente se conhecer, mas eu fiquei
preocupada com você. Posso te abraçar?
— C-Claro. – Afirmei e quase no mesmo segundo fui abraçada. — A
senhora é muito bonita.
— Você também é muito bonita.
Sorri de forma simpática e observei meu pai. Ele ainda em silêncio me
abraçou, e acarinhou meus cabelos.
— Eu pensei que tinha te perdido mais uma vez. Estou tão mais calmo
agora.
— Finalmente o Benício vai nos deixar em paz – respondi e olhei
rapidamente Mattias que tinha a feição séria. — Foi tudo tão aterrorizante.
— Imagino, meu bem – Agnes murmurou com um pequeno sorriso. —
Você precisa de descanso, relaxar e esquecer tudo isso. O seu quarto está a sua
espera, caso você queira passar uns dias na nossa fazenda.
— Ah... – balbuciei, e então vi meu pai encarar Mattias de uma forma não
tão amigável. — Eu agradeço, mas nesse momento eu quero ficar com o Mattias
e a dona Rosalinda.
— Filha – meu pai se sentou na beirada do colchão. — Você não está mais
sozinha, eu estou aqui para você. Para cuidar e proteger.
Em seguida, ele buscou minha mão e me olhou no fundo dos olhos.
— Eu posso conversar com o senhor a sós?
Isobelle
Quando acordei não sabia que horas eram, e um pouco sonolenta olhei ao
redor. O quarto estava escuro, mas a fresta da janela invadia o ambiente: era
noite. Esfreguei os olhos e com um pouco de preguiça me sentei no colchão.
Assim que vi meu pé sem a bota de antes, franzi o cenho. Não lembrava de ter
tirado, ou tinha sido o Mattias?
— Mattias? – o chamei, então ouvi a porta ser aberta lentamente. No
mesmo instante me senti nervosa, e quando fiz menção de chamá-lo novamente,
parei quando mais da porta foi aberta.
De onde eu estava consegui ver a porta ser aberta por completo,
mostrando o corredor completamente escuro. Eu não conseguia me mexer, minha
respiração estava lenta como se o simples fato dela sair mais forte fosse algo
perigoso, tentava entender o que estava acontecendo, mas parecia que minha
mente estava em pane.
Da escuridão do corredor, eu vi quando um olhar brilhante fixou em mim.
Engoli em seco e sem perceber inclinei o corpo para frente na tentativa de
enxergar melhor. O som de algo afiado sendo riscado no chão me fez franzir o
cenho, e no instante que coloquei uma perna para fora da cama, na tentativa de
ir fechar a porta: eu a percebi.
O rugido rasgou a noite tão rápido quanto o ataque da onça, e quando ela
pulou em cima de mim, eu acordei.
Ao sentir uma mão descer por meu peito e parar no cós da bermuda que eu
usava, me deixou em alerta. Abri rapidamente os olhos, e vi que Isobelle ainda
dormia com praticamente metade do corpo em cima do meu. Algumas mechas lhe
cobriam o rosto, e caíam espalhadas por meu peito. Acarinhei com delicadeza a
bochecha macia, e respirei fundo. A sensação de tê-la em meus braços, era
indescritível. Com cuidado para não a acordar, me desvencilhei e sorri quando
ainda dormindo, Isobelle tateou o colchão e buscou meu travesseiro o abraçando
logo em seguida.
Do quarto eu conseguia ouvir o som da TV ligada, e as vozes do Leôncio e
os outros. Antes de sair do quarto, dei uma última olhada em Isobelle, e apreciei
a visão dela dormindo tão serena.
Já no corredor a voz de minha mãe cantando uma música antiga me fez
sorrir. Parei no batente da cozinha e cruzei os braços.
— Bom dia, mãe.
— Bom dia, meu filho. – Sorriu em minha direção. — E a Isobelle?
Dormiu bem a noite? – o olhar dela era de preocupação. — Teve pesadelos?
— Ela dormiu bem – respondi e me virei para a porta da sala que estava
aberta. — Tudo certo por aqui? Eu ouvi umas vozes passando do lado de fora.
— Foi o fofoqueiro do Leôncio – riu e pegou a água quente para passar no
café. — Ele veio avisar que ouviu por aí que a fazenda do Benício vai ser
leiloada. Não sei quem disse isso a ele, mas já tem compradores de olho.
— Entendi – comentei pensando a respeito. — Vou tomar banho antes que
a Isobelle acorde.
Recebi um aceno, em seguida fui até meu quarto buscar roupa limpa. No
banheiro, escovei os dentes e logo após fui para de baixo do chuveiro. Tomava o
banho de forma pensativa no casamento e nas consultas que Isobelle precisava
fazer. Após o casamento eu já começaria a reformar a casa ao qual moraria com
Isobelle e nossos filhos. E depois que ela estivesse pronta para morar,
conversaria com minha mãe, e já engataria na reforma que essa casa sofreria.
Trabalharia dobrado, mas valeria a pena.
Assim que finalizei o banho, vesti a cueca, calça e em seguida fui em
direção ao quarto de minha mãe. Abri a porta lentamente e para minha surpresa,
Isobelle estava sentada na cama, retirava a bota. Franzi o cenho com aquela
cena, e ela me sorriu como se soubesse que estava aprontando.
— Meu pé coçou – falou e demonstrou. — Essa bota incomoda muito,
sabia?
— Mas é necessário – respondi indo até a cômoda onde estava o
desodorante. — Uma vez eu desloquei o ombro, precisei ficar de tipoia por uns
dias.
— Sério? E quando foi isso?
Acenei e comecei a vestir a blusa.
— Foi na faculdade. Eu namorava uma colega, e uma vez fui subir na
árvore que dava acesso à janela dela. – Falei enquanto fechava os botões. — Eu
me desequilibrei e caí. Perdi algumas provas práticas, mas no fim deu certo.
Quando terminei de falar, e voltei minha atenção para Isobelle. Não
entendi quando a vi de braços cruzados, com um olhar confuso.
— “No fim deu certo?”. Você conseguiu subir na janela dela?
— Não, eu...
— Imagino que vocês aproveitaram bastante – falou me interrompendo.
Fiquei alguns segundos em silêncio tentando entender o que eu tinha dito de
errado. — Mas que bom que deu tudo certo.
Isobelle prendeu os cabelos e se preparou para descer da cama.
— Eu falei alguma coisa errada? – indaguei indo até ela.
— Não – Balançou a cabeça e sem a minha ajuda ficou de pé —, por que
acha isso?
— Ei, espera – pedi e a puxei para junto. — A minha intenção não foi
deixar você chateada. Eu só comentei algo que aconteceu comigo, porque
também precisei usar um desses para ficar bom logo.
A toquei no queixo, e soltei um suspiro ao ver as lágrimas.
— Eu sei, só fui boba. Talvez eu tenha ficado com um pouco de ciúmes,
eu acho – murmurou baixinho, me fazendo sorrir, e secar as teimosas lágrimas.
— E estou com fome, quero um pedaço do pudim que sua mãe fez para mim.
— Bel – a fiz me encarar. — Não importa com quem eu já estive, hoje e
para sempre serei completamente seu.
Sorri e quando fui retribuído, me aproximei para beijá-la, mas logo fui
parado.
— Só não fala mais coisas assim – me pediu e eu acenei. — Eu não fui
namoradeira na faculdade, então não posso fazer esses ciúmes.
— Justo.
— A não ser que os flertes que eu recebia conte – voltou a falar, no
mesmo instante eu a olhei com seriedade. — Porque eu recebia muitos. De
alunos e professores.
— Você gosta de tripudiar, não é? – questionei e a abracei pela cintura. —
Merece umas boas palmadas.
Isobelle sorriu, desviou o olhar e ficou em silêncio. Engoli em seco, eu
estava respeitando o tempo que ela precisava, e não queria que ela pensasse que
eu estava sendo insensível. Ainda em silêncio, a ajudei a escolher uma roupa e
caminhamos até o banheiro.
— Mattias... – me chamou assim que parou em frente a porta do banheiro.
A olhei um pouco tenso, então estreitei levemente os olhos quando a vi sorrir de
forma sapeca. — Os professores não davam em cima de mim, eram só os alunos.
O sorriso que ela me lançava era o de quem sabia exatamente como atiçar
o meu ciúme. Neguei com a cabeça enquanto escorava a mão no batente da porta
do banheiro.
— Agora fico mais tranquilo com essa informação – falei de forma irônica
fazendo-a sorrir mais —, mas preciso dizer que você está sendo muito maldosa.
— Talvez eu precise levar aquelas palmadas – murmurou, me deixando
surpreso. — Eu saio já.
Sem esperar uma resposta minha, ela apenas fechou a porta. Com aquela
frase dela na mente, andei até a cozinha. Aquilo era um sinal de que eu não tinha
sido tão insensível? Antes de chegar no meu destino, vi a caminhonete tão
conhecida adentrar pelas porteiras. Com um suspiro me direcionei a porta, e de
braços cruzados observei Alvaréz descer sendo seguido pela esposa.
— Bom dia, Mattias! – Agnes me sorriu, em mãos trazia uma caixa
pequena com um laço delicado. — Vim ver a Isobelle, espero que não se
importe.
— Bom dia, Sra. Alvaréz. Não, imagina. A Isobelle está no banho. Podem
entrar.
Dei espaço para ela passar e esperei que Alvaréz também passasse. No
entanto, ele ficou parado me olhando.
— Vamos conversar, Mattias.
Concordei e olhei para trás. Minha mãe e Agnes cochichavam algo,
estavam sorridentes. Voltei a olhar para frente e indiquei o caminho do curral.
Ficamos em silêncio, estava curioso para saber quais mais acusações ele faria
contra mim.
— Eu conheço você há bastante tempo, Mattias. Sei que você é um
trabalhador, uma boa pessoa, é honesto e nesses dias que tudo aconteceu... eu sei
que não fui justo com você.
— Alvaréz, eu...
— Me chame de Antônio – pediu e parou a minha frente. — Eu fui muito
injusto com você, egoísta... não me orgulho disso, mas espero que me perdoe. Eu
não quero ficar longe da minha filha, e nem dos meus netos. Já perdi muitos
anos da vida dela, e nessa etapa eu quero estar presente – enquanto ele dizia, eu
percebia que estava sendo sincero —, mas para isso preciso que me perdoe por
tudo o que falei.
De braços cruzados, o encarei por alguns segundos, mas por fim eu
concordei com a cabeça. Não valia a pena prolongar aquela situação.
— Tudo bem, estávamos de cabeça quente e sem pensar direito. O senhor
falou o que pensava, eu quis socar a sua cara. – No instante que falei aquilo, ele
franziu o cenho, mas logo sorriu. — Só que isso já passou, e eu não quero que se
afaste de Isobelle, ela o ama muito.
Antônio respirou em alívio, e me deu um breve sorriso.
— Obrigado, Mattias.
— Não precisa agradecer – falei e dei meia volta. — É verdade o que
estão dizendo? Que a fazenda do Benício será leiloada?
— Você já soube? – indagou confuso. — É, parece que o Benício tinha
uma dívida enorme com a receita federal. O falecido prefeito também estava no
meio disso tudo, pobre viúva. Mas, por que a pergunta? Você estava interessado
nas terras? Pretendia comprar? Aliás, já sabe onde vai morar com a minha filha?
— Sim, sobre isso não tenho preocupação – respondi e encarei a entrada
da varanda. Isobelle estava parada olhando em nossa direção. Usava um vestido,
os cabelos molhados. — Eu comprei aquela terra que antes era a pousada bem
conhecida. Ela vai precisar ser reformada, mas farei isso depois do casamento.
— Entendo. Pretendem se casar na igreja? – Questionou, e eu acenei. —
Ótimo, o casamento e a festa são por minha conta. – Avisou, e quando viu que eu
diria algo, continuou: — É o casamento da minha única filha, Mattias. Eu faço
questão de pagar tudo. Certo?
Após terminar de falar, estendeu a mão para mim.
Olhei novamente para a varanda, e vi Isobelle se aproximar pulando até
encostar na grade.
— Certo. Obrigado.
Sorrimos e voltamos a andar.
Já próximos da escadinha da sacada, Isobelle sorriu mais e nos encarou.
— Conversaram rápido hein – Isobelle falou, meu olhar foi para o pé
machucado sem a bota. — Se resolveram?
— Sim, filha. Me desculpe por deixá-la preocupada, isso não vai se
repetir.
Os dois se abraçaram, segundos depois se afastaram e ela me encarou.
— A Agnes nos trouxe uns presentes – riu e me puxou pela mão.
Rapidamente a abracei pela cintura, evitando que ela pisasse no chão com o pé
machucado. — Na verdade, os presentes não são para a gente.
Ao chegarmos na sala vi minha mãe sentada no sofá segurando alguns
sapatinhos de crochê. Ela sorria emocionada, assim como Agnes. Indo até o sofá,
ajudei Isobelle a se sentar.
— Eu fiquei tão feliz quando soube da sua gravidez – falou sorridente. —
O meu filho, Javier, tem trinta e cinco anos e até agora não me deu esse
presente. Ele está noivo há dois anos, e nada de casamento.
Antônio se sentou ao lado da esposa e pegou um dos sapatinhos.
— A Isobelle tinha um assim – comentou e sorriu. — Toda vez que eu
colocava, ela parecia uma boneca... – Após um suspiro, vi quando ele ficou
emocionado. Encarei Isobelle e ela chorava contida. — Você era tão pequena
filha, e hoje está formando sua família.
— Amore – Agnes sussurrou de forma carinhosa. — Ultimamente está tão
chorão.
— Eu não estou chorando – retrucou e soltou um suspiro. — Bom, sobre o
casamento, vocês já têm uma data?
— Ainda não, pai. Preciso começar meu pré-natal, mas quero me casar
antes que a barriga fique muito grande.
— Como eu disse ao Mattias, o casamento e a festa ficam por minha
conta.
— Pai... – Isobelle murmurou surpresa, me olhou, mas logo voltou a
atenção para Antônio. — Eu nem sei o que dizer.
— Não precisa dizer nada! – Agnes gesticulou, parecia contente. — A
Débora, a noiva do Javier, ela trabalha com eventos. Vou conversar com ela
quando chegar em casa, ela veio com uma amiga que tem uma bebê. Como a
menina se chama? – questionou ao marido que deu de ombros. — Ela é coreana,
mas ela consegue falar nossa língua perfeitamente.
— Quero conhecer as três – Isobelle respondeu com um pequeno sorriso.
— E se a Débora concordar em ajudar, ficaríamos muito felizes. Não sabemos
por onde começar.
— Eu aposto que ela vai, a Débora é um amor de pessoa. – Ao falar
aquilo, tocou o braço do marido e sorriu. — Vamos indo?
— Já vão? – Minha mãe questionou com o cenho franzido. — Mas mal
chegaram e nem tomaram um cafezinho.
— É que vamos até a cidade resolver uns assuntos – Antônio respondeu já
ficando de pé. — Você não estava com o pé imobilizado?
Aproveitando aquela pergunta, cruzei os braços e encarei Isobelle.
— É que meu pé ficou coçando – respondeu e deu um pequeno sorriso —,
mas eu nem estou forçando ele. O Mattias me carrega no colo.
Ao ser encarado por todos, fixei meu olhar em Antônio.
— Estou cuidando dela.
O observei ir até a filha e a beijar na testa. Agnes a abraçou logo em
seguida.
— Eu sei, Mattias. Vou indo, e não se preocupem com nada do casamento
ou festa.
— Obrigada, pai. – Isobelle sorriu e acenou observando-os irem. — Está
tudo bem para você? Sobre meu pai pagar por tudo?
Soltei um suspiro e me sentei ao seu lado.
— Ele foi bem convincente – respondi e apontei para o pé. — Você
deveria usar a bota. Por que é tão teimosa?
— Eu não sou teimosa – retrucou e ficou de pé. Rapidamente a ajudei. —
Só é um pouco chato de ficar usando.
Ao chegarmos na cozinha, em cima da mesa estava a fatia do pudim no
prato e uma xícara de café. Olhei para trás e vi minha mãe com a caixa em mãos
ir em direção do quarto. Com Isobelle sentada, e já comendo, peguei uma xícara
para mim.
— Meu pai se desculpou mesmo com você?
— Sim, ele não quer ficar longe de você. Ele perdeu muitos anos da sua
vida, acho que ele guarda muita culpa sobre isso.
Isobelle pareceu pensativa, e quando terminou a fatia se encostou na
cadeira. Minha mãe apareceu logo em seguida.
— Agnes caprichou no presente – falou assim que encarou Isobelle. — É
uma pena eu não ter mais nenhuma roupa do Mattias bebê. Ele tinha um
conjuntinho branco, ele ficava parecendo um anjinho.
— Eu acho que vi uma foto dele assim – Isobelle sorriu. Elas conversavam
como se eu não estivesse ali. — Ele chorava muito quando bebê?
— Se o meu neto puxar ao pai, vai ser dengoso e chorão. O tamanho do
dengo do Mattias, era maior que ele.
Com o cenho franzido, beberiquei o café. Isobelle me sorriu, eu apenas
neguei com a cabeça.
— Eu nem era dengoso.
— Mas é claro que era – minha mãe retrucou. — Só queria saber de estar
nos braços, até na rede chorava.
— Dengoso – Isobelle me chamou e sorriu. — Estou tão ansiosa para ser
mãe, acho que mais nervosa. Eu nunca nem segurei um bebê, nem nunca dei
banho.
— Eu vou estar aqui, filha. Vou te ajudar no que for preciso, mas tenho
certeza de que vai se sair muito bem.
Sorri agradecido para minha mãe, e quando encarei Isobelle estranhei ao
vê-la segurar o choro. Apertava as mãos, em um ato totalmente nervoso.
— Ei, vai ficar tudo bem – sussurrei chamando a atenção dela. — Eu
também vou estar do seu lado, sempre. Vamos aprender juntos.
— Obrigada.
Lentamente me aproximei e a beijei de leve nos lábios.
— Vai dar tudo certo, meu amor – repeti fazendo-a sorrir mais. — Então,
o que quer fazer hoje?
Isobelle segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos.
— Você não tem que sair?
— Não, sou completamente seu, Bel – falei e a vi sorrir tímida. Talvez por
minha mãe presenciar tudo. Eu ficaria em casa, pois os fazendeiros para quem
trabalho souberam do que aconteceu, e entenderam quando avisei que ficaria
algumas semanas em casa. — Então?
— Podemos fazer um piquenique e depois nadar no lago?
Sorri e olhei para minha mãe que concordava com a cabeça. Me voltei
para Isobelle e acenei. Olhei atentamente para o seu rosto e soltei um suspiro, as
manchas dos machucados estavam sumindo e mesmo não querendo me lembrei
dela relatando tudo ao policial.
Eu faria questão de que todos pagassem por aquilo.
Saí do meu devaneio quando ouvi uns galopes, junto ao barulho de uma
moto. Isobelle que bebia o café, parou e olhou para trás. Alguns segundos
depois, ouvi as vozes do Sebastião e Matheus.
Meu irmão foi o primeiro a entrar, sendo seguido por Sebastião.
— Bom dia.
— Sebastião – minha mãe murmurou com um sorriso. — Por onde você
andou meu filho? Nunca mais apareceu.
— Da última vez fui praticamente expulso – brincou e parou ao meu lado.
— Como vocês estão? Eu precisei viajar para Massambará, e pela TV eu soube o
que aconteceu.
— Pela TV? – Isobelle indagou, a expressão era de surpresa. — Então
todo mundo sabe?
— Não disseram seu nome e nem divulgaram foto sua – respondeu, e eu
fiquei mais calmo. Isobelle também. — Só falaram dos crimes do Benício, e que
ele mantinha uma adolescente em cárcere privado. Imaginei que fosse você.
— Adolescente? – Matheus repetiu um tanto confuso. — Você é
adolescente?
Após a pergunta, Isobelle negou com a cabeça.
— É, acho que quem passou essa informação achou que Isobelle era
adolescente. – Sebastião puxou uma cadeira ao lado de Isobelle e se sentou. — E
você como está se sentindo? Fiquei preocupado com você.
De braços cruzados e tentando maneirar no meu ciúme. Observei Isobelle
sorrir educada. Matheus se sentou do outro lado, e começou a se servir enquanto
cochichava com a nossa mãe.
— Bem, meu tornozelo está um pouco machucado – falou e apontou para
ele —, mas estou bem. E você? Alguma novidade?
— Que bom que perguntou – respondeu pegando uma xícara. — Eu
conheci alguém, só que ela é de Massambará.
— E onde vocês se conheceram? – Minha mãe questionou curiosa
enquanto enchia o prato dele de comida. — Qual o nome dela?
— Ela tava no festival – ele sorriu. — Dançamos agarradinhos, e como
esperado, ela não aguentou meu charme. – Riu, olhei para Isobelle que tinha um
pequeno sorriso. — Ela se chama Olívia.
— Espero que vocês deem certo, Sebastião. Você é um bom homem. – Ao
terminar de falar com ele, Isobelle focou em meu irmão. — E a Liliane? Como
ela está?
— Ela queria vir, mas o Marcos foi até a cidade. Então ela ficou com os
pestinhas. – Assim que falou, soltou um suspiro e em seguida bebeu um gole de
café e a encarou. — Eu vim ver como estava e me desculpar com você.
Ainda de braços cruzados, eu sorri.
Eu sabia como aquilo estava sendo difícil para Matheus, ele não era de
pedir desculpas e aquele gesto me deixou reconfortado. Olhei para Isobelle que
estava surpresa.
— Não precisa, Matheus. Você só estava preocupado com a sua mãe, eu
entendo.
— Só me desculpe.
— Está bem – concordou e logo me encarou. — Já que estão aqui, temos
duas coisas para dizer. Não é Mattias?
— Sim. – Confirmei e beberiquei o café. Isobelle ainda me observava, e
indicou sutilmente com a cabeça. — Ah, vamos nos casar e ter um bebê.
— Você está grávida? – Sebastião pareceu surpreso, e após Isobelle
concordar, ele sorriu maliciosamente. — Vocês são dois coelhos?
— Nossa, como você é sutil – Matheus debochou olhando diretamente
para ele. — Os dois transaram e qual o problema?
— Nenhum problema, senhor simpatia – Sebastião retrucou e riu. — E eu
que não sei ser sutil.
Isobelle naquele momento parecia querer sumir. O rosto levemente corado,
evitava olhar para os dois linguarudos.
— Vocês estão deixando a Bel sem jeito – falei e inclinei o corpo para
frente. — E sim, ela está grávida. Ainda não sabemos a data do casamento, mas
espero que você vá Sebastião.
— Então já superou o seu ciúme? – indagou, rapidamente o olhei com
seriedade. — Eu tô brincando. Eu vou, sim, amigo. Estou feliz por vocês.
Sorri.
Sebastião em primeiro momento teve, sim, o interesse em Isobelle, mas ali
eu percebi que ele estava sendo sincero. Voltamos a conversar, e após
terminamos o café, Matheus e Sebastião foram embora. Isobelle e minha mãe
engataram em uma conversa sobre bebês, e eu aproveitei aquele momento para ir
até o lado de fora.
Já que Antônio havia dito que o casamento e festa seriam por conta dele.
Eu poderia começar com a reforma na minha futura casa com Isobelle.
Isobelle
Após tentar lavar os pratos sob os protestos de Rosalinda, que dizia que
eu precisava ir descansar, me sentei e a observei ir até a geladeira. Ela iria
começar a preparar o almoço. Olhei rapidamente para trás e Mattias estava na
varanda parado. Me voltei para frente e Rosalinda agora tinha alguns pedaços de
carne em cima da tábua.
— Tem certeza de que a senhora não quer ajuda?
— Tenho. Você deveria estar descansando, já que daqui a pouco vai sair.
— É que não quero ficar deitada – respondi e tentei pisar com pé que
deveria estar com a bota. No mesmo instante senti uma dor leve, mas suportável.
— É cansativo não fazer nada.
— Quando o bebê nascer você vai querer de volta esse tempinho para se
deitar. – Ao terminar de falar, ela me olhou e sorriu. — Não quero assustá-la,
mas o bebê troca o dia pela noite.
Assim que ela falou, eu deixei um suspiro escapar. Já desconfiava que não
seria fácil. No entanto, sempre quando pensava sobre, meu receio era outro.
Fiquei uns segundos calada, mas logo coloquei a angústia para fora.
— Eu só estou com medo de não ser boa mãe – falei com sinceridade. — É
que eu tenho medo de ser como a minha. Porque teve um tempo que ela até me
tratava bem, mas depois tudo mudou. Eu não quero ser como ela.
Rosalinda parou o que fazia, lavou as mãos e em seguida se aproximou.
— Oh, meu bem, nem se preocupe com isso. – Sorriu de forma carinhosa.
— Você tem um coração bom, trata tão bem a Maria Alice e o João Pedro. Não
pense nisso, não tem nem comparação.
Pegando-a de surpresa, a puxei para um abraço.
— Obrigada, muito obrigada.
— Não precisa agradecer – murmurou e se afastou. — Quer mais do
pudim? – indagou e eu neguei incerta. O pudim era uma delícia. — Tem certeza?
– Sorri sem me segurar quando ela arqueou a sobrancelha. — Vou colocar um
pouquinho.
— Obrigada.
— Bel – me virei e vi Mattias se aproximar. Já do meu lado, ele se
abaixou e me sorriu. — Pensei em limpar aquele matagal perto da nossa casa e
depois começar finalmente a reforma. O que acha? Recém-casados e já na nossa
casa.
Sorri e acenei. De forma carinhosa, ele me tocou a bochecha, e tocou
brevemente os nossos lábios. Sem me conter, me aproximei mais uma vez e o
beijei. Adorando como a barba foi friccionada no meu rosto. Mattias me afastou
e sorriu. De repente me senti tão inquieta por dentro, mordisquei sutilmente o
lábio inferior e tentei me acalmar.
Eu queria mais.
— Vou lá falar com o Leôncio e o José – avisou e quando Rosalinda
colocou a fatia na minha frente, Mattias pegou um pedaço generoso. — Depois
do almoço a gente sai. Tudo bem?
— Sim, estou ansiosa.
O toquei na barba, Mattias era tão bonito.
— Eu amo você, Bel. – Assim que ele falou, meu sorriso aumentou. — Ou
prefere meu amor?
Ri de forma tímida, afinal Rosalinda nos ouvia.
— Gosto dos dois – repeti e desci minha mão até o pescoço dele. — Eu
também amo você, Mattias.
Assim que terminei de falar, ele me deu mais um beijo e ficou de pé. O
observei ir, em seguida me voltei para o pudim. Mattias tinha comido metade
dele.
— Eu acho tão lindo vocês dois – Rosalinda falou e me sorriu. — Me
sinto tão feliz por vocês.
— O Mattias é bem carinhoso comigo – respondi, mas rapidamente me
lembrei de algo. — Quando ele era pequeno, ou na adolescência, ele tinha algum
apelido?
— O Mattias não gosta de apelido – avisou, então a olhei surpresa. —
Quando menor, eu dizia que ele era meu anjinho. Porque ele se parecia com um.
Sorri com aquela afirmação, Mattias realmente parecia um anjinho quando
era menor. Assim que ela voltou a se ocupar, eu apoiei meus braços na mesa e
suspirei.
— Não sabia que ele não gostava de apelido.
No dia em que ficamos sozinhos ali na casa, ele disse que não se
importava se eu arranjasse um apelido para ele. Fiquei ali por alguns segundos,
mas logo me coloquei de pé e com cuidado andei até a porta da frente. Ventava
bastante, e enquanto sentia meus cabelos dançarem com o vento, me sentei na
cadeira da varanda.
Meu olhar foi até a porteira, e me recordei das coisas que passei até
chegar ali. Por um momento tentei imaginar o que teria acontecido caso eu não
descesse do ônibus. Eu teria encontrado algum lugar? Conheceria boas pessoas?
E o mais importante: eu teria a chance de conhecer Mattias?
Ter a certeza de que não o conheceria, me deixou com uma sensação
estranha e sem conseguir me conter deixei algumas lágrimas caírem.
Do caminho oposto do curral, vi Mattias, Leôncio, José e mais 3 peões se
aproximarem. Sequei as teimosas lágrimas, e observei Mattias andar em minha
direção. Já Leôncio e os outros se dirigiram até o celeiro.
— Ei, está tudo bem? – perguntou preocupado, ficando agachado em
minha frente. — Está sentindo alguma dor?
— Estou bem.
— Tem certeza? – indagou e me tocou na bochecha. — Quer alguma coisa?
– O olhei interessada, e mordisquei sutilmente o lábio. — Pode me pedir o que
quiser, Bel.
Levei minha mão até a barba dele, e soltei um suspiro.
— Eu quero um beijo. – Mattias me olhou surpreso, mas logo sorriu.
Então, sem falar nada, primeiro ele me deu um selinho e quando pensei que
continuaria, ele ficou de pé. — Mattias...
— Amanhã vamos até a cidade – me interrompeu, a mão segurava a minha.
— Vamos marcar a sua consulta, e depois se tudo bem para você, podemos ver
algumas coisas para nossa casa. – Minha mente ainda estava processando o fato
de o Mattias ter claramente desconversado. Ele não queria me beijar como
antes? Ao perceber que ele esperava uma resposta, eu apenas acenei e tentei
sorrir. — Ótimo, eu volto já.
Sozinha novamente, o observei caminhar até os outros e parar em frente a
porta do celeiro. Se ele estivesse me evitando mesmo, eu deveria saber o motivo.
Talvez eu devesse falar para ele que Benício não me tocou como deu a entender,
porque apesar de tudo, eu lutei para que aquilo não acontecesse. Me sentindo um
pouco enjoada, me levantei e me dirigi até o quarto.
Rosalinda tinha razão, eu deveria descansar um pouco, e aquilo me
ajudaria a parar de pensar aquelas coisas.
Já dentro do quarto, deixei a porta aberta e fui até a cama. Me deitei no
meio do colchão e busquei o travesseiro do Mattias. O perfume dele estava
impregnado na fronha branca, e aquilo me transmitia segurança. Encolhida e
agarrada ao travesseiro, fechei os olhos e me permiti descansar por alguns
minutos.
Dormi, e quando despertei meu corpo inteiro estava preguiçoso. Olhei em
direção a porta, que estava encostada, e tentei ouvir alguma coisa. No entanto,
tudo estava em silêncio e mesmo com uma certa preguiça, me levantei e fui em
busca do Mattias. Antes de chegar na cozinha ouvi a voz do Marcos que
conversava baixinho com a mãe. Ele parecia preocupado com alguma coisa, e
naquele instante fiquei sem saber se ia até eles ou se dava a privacidade.
Prestes a voltar para o quarto, parei quando Rosalinda apareceu no
corredor. Ela me olhou surpresa, mas logo sorriu.
— Acordou. O almoço continua nas panelas – murmurou e se aproximou
de mim. — Estava começando a ficar preocupada. Dormiu bem?
— Sim, é que eu acho que comi demais. Me deu moleza – respondi e assim
que parei na entrada da cozinha, Marcos me olhou de cima a baixo. — Oi, eu
não queria atrapalhar a conversa.
— Não atrapalhou. – Ele respondeu e cruzou os braços. — Como está?
Um pouco surpresa com aquela pergunta dele, me aproximei e me sentei
na cadeira vaga.
— Bem, esperando que meu tornozelo sare logo. – Sorri educada, mas ele
apenas acenou com a cabeça. — E os gêmeos? Como estão?
Marcos respirou fundo e encarou a mãe, mas logo voltou a atenção em
minha direção. Aquela reação me deixou preocupada.
— Agora estão bem. Ontem a Maria Alice teve um pouco de febre, estava
chorosa, mas hoje está bem melhor. Ela não para de perguntar por você. O João
Pedro chora quando vê a irmã chorando.
No mesmo instante senti um peso no coração, e uma vontade absurda de
abraçar e dar muito carinho aos pequenos. Olhei Rosalinda e era nítido a
preocupação em seu rosto.
— Se tudo bem para você, Marcos. Peço para o Mattias me levar até a sua
casa, assim eu visito os dois. Eu estou com saudade deles.
— Eu agradeceria, Isobelle.
Sorri minimamente, e em seguida olhei para Rosalinda.
— E eu agradeço por todo o cuidado comigo, dona Rosalinda. – Sorri
sendo retribuída por ela. — Só que os gêmeos precisam da senhora, e eu sei que
está preocupada. Eu também fiquei.
— Oh, minha filha. Eu me preocupo com você.
— Agora eu estou bem e não tem mais perigo. – Afinal, Benício estava
morto. — Eu posso fazer a comida sem problemas, cuidar de tudo. Assim
mantenho até minha mente ocupada.
— Você tem certeza? Estou tão preocupada com eles, mas não quero
deixar você sozinha.
Rosalinda me encarou indecisa. Então sorri e acenei com a cabeça.
— Absoluta! – Afirmei com um pequeno sorriso. — Não se preocupe com
nada, vou cuidar de tudo e vou ficar bem.
Assim que terminei de falar, Rosalinda me abraçou.
— O Mattias já deve tá voltando – falou no instante em que nos
separamos. — Ele foi com os rapazes até a casa de vocês.
— A casa? Vocês não vão ficar aqui após casados?
Marcos parecia confuso.
— É claro que não, meu filho. Eles vão querer a privacidade deles.
— Mas e a senhora? Vai ficar aqui sozinha?
Olhei para Rosalinda. Ela já era uma senhora, não deveria ficar sozinha.
— E por acaso eu estou doente que eu não posso ficar sozinha na minha
própria casa? – Retrucou com o cenho franzido, Marcos apenas cruzou os
braços. — Mas é cada uma que vocês falam.
— A senhora poderia ficar lá na fazenda por um tempo.
Enquanto os dois conversavam, eu observei o Marcos. Ele era o filho mais
velho, e pelo que Rosalinda tinha me dito, foi o primeiro a se casar. Eu nunca
tinha perguntado, mas estava curiosa para saber o que tinha acontecido para
Alessandra ter ido. Afinal, ele não parecia ser uma pessoa ruim, e eu duvidava
muito que ele fosse um homem violento. A pele era bronzeada pelo sol
constante, os cabelos loiros – maiores que o de Mattias – estavam desgrenhados.
A barba estava por fazer, e ele parecia concentrado demais no que a mãe falava.
Quando o olhar dele me pegou o encarando, eu rapidamente desviei e me
levantei. Fui até as panelas e verifiquei uma a uma.
— Eu vou arrumar minha bolsa e depois tomar um banho enquanto é cedo
– Rosalinda falou. — Antes da gente ir, quero falar com o Mattias.
Com o prato em mãos, comecei a colocar um pouco do almoço. Após a
refeição colocada, peguei um garfo e fui me sentar à mesa. Assim que olhei para
Marcos, ele ainda estava de braços cruzados e me encarava.
— O almoço está cheirando tão bem – comentei e ele acenou lentamente.
— Tenho que tomar cuidado e não comer demais – ri para descontrair. — Não
que eu me importe com isso.
— E você está grávida, precisa comer mesmo. – Respondeu, e por dentro
me senti mais calma. — A minha filha gosta muito de você, Isobelle.
— Eu também gosto muito dela, Marcos. Ela é uma criança muito esperta,
e muito fofa.
Então pela primeira vez ele sorriu. Aquilo me deixou um pouco surpresa,
nunca tinha visto Marcos sorrir.
— Ela me disse que pediu para você ser a mamãe dela.
Balancei a cabeça, e encarei o prato.
— O Mattias quando soube ficou com ciúmes. Ele é um pouco ciumento.
— Sério? – O tom usado no questionamento me fez encará-lo. Marcos
sorria. — Bom saber, mas então. Não vai perguntar?
— Perguntar o quê? – indaguei sem compreender.
— Você pareceu curiosa com alguma coisa – murmurou e se encostou mais
na cadeira. — Somos da mesma família, não temos segredos.
Após uma colherada, pensei se eu fazia mesmo minha pergunta. Não
queria de forma alguma chateá-lo, ou criar uma situação desnecessária. Então,
após engolir, respirei fundo e o observei.
— Eu queria que os gêmeos entrassem na igreja como minha daminha e
meu pajem. Se você deixar, é claro.
Marcos me encarou por alguns segundos, mas logo acenou.
— Por mim tudo bem.
Sorri e em seguida continuei a comer. Em meio ao silêncio, ouvimos
quando a caminhonete se aproximou e segundos depois Mattias apareceu. Seu
olhar foi em minha direção, mas logo focou no irmão que estava sentado a minha
frente.
— Cadê a mãe? – perguntou enquanto ia até a pia onde ele lavou as mãos.
— No banho – Marcos respondeu. — Ela disse que você estava na sua
futura casa. Precisa de ajuda com alguma coisa?
— Não. Consegui falar com o mestre de obra, amanhã vamos até a casa. E
aí? Estavam conversando?
Mattias perguntou ao mesmo tempo que puxava uma cadeira ao meu lado.
O olhei e sorri quando percebi o ciúme junto a curiosidade.
— Ele deixou que os gêmeos sejam nossa daminha e pajem.
Então ele sorriu e me tocou na bochecha.
— Obrigado irmão, Isobelle ficou bastante empolgada só de imaginar. –
Confidenciou. — Mas me fala como estão as coisas?
Voltei a comer, sem prestar atenção na conversa dos dois. Já que
Rosalinda ficaria alguns dias na casa do Marcos, eu teria esse tempo para estar
com Mattias. Perdida no meu mundo, terminei de comer bem na hora que
Rosalinda apareceu já arrumada.
— Você já chegou, meu filho. Seu irmão já deve ter contado, né?
— Sim, mãe, a senhora pode ir tranquila – Mattias sorriu recebendo um
abraço dela. — Vou cuidar da Isobelle.
— E eu vou cuidar dele – falei fazendo-a sorrir. — Então a senhora pode
ir sem preocupação alguma.
— Depois a leve até lá – mandou enquanto alisava meus cabelos. —
Isobelle nunca foi pra aquelas bandas.
— Certo mãe, não se preocupe.
Minha ansiedade só aumentava esperando o momento em que estaríamos
sozinhos.
— Na geladeira eu separei uns sanduíches, frutas e uma jarra de suco.
Tudo pra o piquenique de vocês, só não voltem muito tarde. Não é bom ficar no
sereno.
Sorri concordando, e fitei Mattias. No instante em que a mão dele pousou
em minha coxa sob a mesa, eu senti meu coração bater mais rápido. Eu estava
completamente carente. Olhei sua grande mão deslizar por minha coxa, mas
rapidamente ele tirou.
— Vamos indo, mãe? – Marcos perguntou já de pé. — Esses dias tive que
deixar os gatos e o Brutus dormirem no quarto da Maria Alice. Aliás, muito
obrigado Mattias pelo presente.
O tom usado foi totalmente irônico, tentei prender o riso, mas em vão. Os
dois me olharam.
— Não precisa agradecer, irmão – Mattias falou com um sorriso. — Estou
aqui para dar essa força, mas o Brutus não é seu e os filhotes não foram
presentes.
Marcos devolveu o sorriso e segurou a bolsa de Rosalinda.
— Tchau Isobelle.
Acenei e sorri para Rosalinda que me olhou pela última vez. Assim que
eles se foram, encarei o prato, a minha frente, mas logo respirei fundo e me
levantei.
— Ainda vamos fazer o piquenique? – questionei começando a lavar o que
tinha sujado.
— É claro – Mattias respondeu e segundos depois me abraçou por trás. —
Mudou de ideia?
— Não, eu quero ir. – Lentamente o senti se afastar. — Eu acho que
amanhã ou depois eu já posso ver os gêmeos. Não imaginei que a Maria Alice
fosse sentir minha falta.
— Ela gosta de você, Bel.
Terminei de lavar, e me virei em direção a ele. Mattias colocava o que
iríamos levar em cima da mesa.
— Ela falou para o seu irmão que pediu para eu ser a mamãe dela.
No mesmo minuto, Mattias me olhou. Agora eu tinha a atenção dele.
— Ele disse isso? – Indagou e eu prontamente acenei. — Vocês estavam
falando sobre isso?
— Falávamos sobre os pequenos, aí eu pedi para que eles fossem nossa
daminha e pajem. Ele aceitou, aí você chegou.
— Só falaram isso? – questionou de braços cruzados.
— Eu disse que você ficou com ciúmes, ele riu.
Ainda encostada a pia, o observei se aproximar e apoiar as duas mãos ao
lado das minhas.
— É impressão minha – sussurrou lentamente, meu corpo ficou
automaticamente arrepiado. Mattias estava tão perigosamente perto. Eu sentia
falta dos beijos, e de estar nos braços dele. — Ou você está querendo me deixar
com ciúmes?
Engoli em seco e desci meu olhar por seus lábios, barba, pescoço e
peitoral. A camisa que ele usava estava aberta o primeiro botão, e mesmo que
pouco eu conseguia ver alguns cabelos loiros por algumas partes.
— Eu não faço isso – menti e ele sorriu. — Você ficou?
— O que você acha? – Questionou e me beijou perto dos lábios. — Fico
possesso só de imaginar.
Levei minhas mãos pelos braços dele, e parei em seu peitoral.
— Eu sou completamente sua, Mattias – falei e o puxei para mais perto. —
Para sempre.
— E eu sou seu.
Cheia de desejo, fiquei nas pontas dos dedos e o beijei. Ao ter o corpo
abraçado, relaxei e abri mais os lábios, deixando a língua quente tocar a minha.
Em um movimento rápido, Mattias me pegou no colo, me deixando na mesma
altura que ele. Os lábios tomavam os meus com fome, do jeito que eu queria e
necessitava. Enquanto uma mão me sustentava para não cair, a outra estava
emaranhada entre meus fios castanhos. Quando o ar nos faltou, ele desceu os
beijos pelo meu pescoço, e sendo mais selvagem, me mordeu.
Me arrancando um gemido mais alto.
— Mattias…
— Porra! – Assim que ele praguejou, eu o encarei sem entender. A
respiração estava visivelmente sôfrega, era tão óbvio que ele me queria. — Me
desculpe, Bel. Vamos logo para o nosso piquenique?
Mesmo não querendo, eu me senti rejeitada. Meu corpo estava em chamas,
os bicos dos meus seios quando friccionados no tecido do vestido, enviavam
faíscas por todo o meu corpo. Automaticamente me abracei e feito uma chorona,
deixei algumas lágrimas caírem.
— Bel…
— Você não quer me tocar mais? – O interrompi e quando ele foi me
responder continuei: — O Benício não me tocou. – Mattias parou e engoliu em
seco. — Eu não deixei que ele fizesse isso.
Sem esperar uma resposta, me afastei e andei a passos rápidos para o
quarto. No entanto, eu ouvia as pisadas do Mattias atrás de mim.
— Bel! Ei, Isobelle. – Meu braço foi segurado. — Olha para mim –
mandou, e mesmo não querendo eu o fiz. — Não estou te evitando porque não
quero te tocar, estou respeitando o seu tempo porque eu nunca vou colocar os
meus desejos acima dos seus.
As íris azuis me encaravam com firmeza, então me senti uma completa
tola. Eu deveria ter percebido que era apenas zelo da parte dele, ele era tão
protetor e cuidadoso comigo, mas minha mente não pensou naquela
possibilidade. Talvez porque Mattias tinha me visto nos braços daquele monstro,
e eu me senti envergonhada, mesmo que a culpa não fosse minha.
— Me desculpa.
— Ei, não – negou segurando meu rosto com carinho. — Não precisa se
desculpar, não pensei que precisávamos conversar sobre isso. Erro meu. Eu amo
você, Bel, sempre vou querer você. Nunca duvide disso.
— Eu me senti rejeitada.
Avisei, e em troca recebi um mínimo sorriso.
— Bel, Bel… Não sabe como estou me segurando nesse exato momento –
falou e me puxou para os braços dele. — Minha vontade é de te jogar naquela
cama, e fazer você gemer meu nome até ficar rouca.
Mordi o lábio e deixei um sorriso escapar.
— E minhas palmadas? – questionei fazendo-o sorrir maliciosamente.
— Claro, você vai levar umas palmadas – murmurou com a voz rouca. —
Ficou me fazendo ciúmes o dia todo. Sendo muito malvada comigo.
Meu sorriso aumentou, eu realmente estava.
— Vamos para o quarto? – o puxei pela camisa, mas ele nem se quer se
moveu. — Mattias…?
— Vamos para o nosso piquenique e a noite prometo lhe dar suas
palmadas. – Propôs, eu ponderei um pouco. Afinal, eu queria ir ao piquenique,
mas também queria me entregar a Mattias. — Você vai gostar. Será o nosso
terceiro encontro.
Ele sorriu e me beijou uma última vez.
— Tudo bem, e eu quero nadar no rio.
— Vou arrumar nossa comida. Te encontro aqui em 3 minutos, ok?
Concordei e em seguida o observei ir. Não querendo demorar tanto, me
direcionei até o quarto. Eu não tinha biquíni, nem se quer pensei em trazer um
quando fugi. Já dentro do quarto peguei outro vestido e uma calcinha. A que eu
estava usando era um pouco velha.
Em frente ao espelho soltei os cabelos e observei meu rosto que aos
poucos estava melhor. Desci o olhar até meu ventre e fiquei de lado. Em breve a
gravidez estaria em evidência, e só de pensar sentia uma ansiedade de
experienciar aquela fase. Meus pés estavam descalços, até pensei em colocar a
bota, mas por fim continuei sem. Eu iria nadar afinal.
Antes de sair, peguei uma toalha de mesa para forrar o chão, e mais duas
para nos secarmos.
Ao chegar na entrada da cozinha vi Mattias segurar uma cesta e a jarra de
suco. Rapidamente peguei a jarra, e nos encaminhamos para fora.
— O mestre de obra já vai começar a reforma?
— Não – negou enquanto colocava as coisas no banco de trás. — Vamos
falar com ele primeiro, não sei como você quer nossa casa. Se mantemos a
mesma planta, ou com alterações.
— Alterações? – repeti e me aconcheguei no banco do carona. Assim que
Mattias se acomodou no lugar do motorista o encarei. — O que você pensou?
— Não sei, mas sei que quero os quartos para os nossos filhos.
Sorri e me encostei mais no assento.
— Os quartos para os nossos filhos, o nosso e um para a sua mãe. –
Respondi e o encarei. — No quarto dela e no nosso podemos manter os
banheiros, as crianças dividem os deles.
Mattias sorriu em apreciação.
Voltei meu rosto em direção à janela, e fechei os olhos. Sentia a brisa
tocar meu rosto, e a caminhonete chacoalhar na estrada de terra. Abri novamente
meus olhos e observei o pasto imenso. Diferente da outra estrada, ali não tinha
cercas protegendo ao redor. Aquele era o mesmo caminho que Mattias tinha me
levado na primeira vez a cavalo. Quando vi a árvore e o rio, esperei em
expectativa a caminhonete estacionar, para logo em seguida descer. Assim que
meu olhar bateu na cachoeira, e na água cristalina, senti a vontade de mergulhar
naquele instante.
Então, enquanto Mattias arrumava o nosso cantinho, retirei o vestido e
somente de calcinha me encaminhei ao rio. O vento assoprava em minha pele
fazendo-a ficar arrepiada. Lentamente entrei na água, mas já acostumada com a
temperatura: mergulhei.
Voltei para a superfície e vi Mattias parado. As mãos estavam na cintura,
o olhar não saía de mim.
— Não vem?
Ele começou rapidamente a desabotoar a camisa, ao mesmo tempo que
com os pés retirava os coturnos. Em seguida a calça seguiu o mesmo destino, e
com uma cueca preta ele andou em minha direção. Os cabelos do peitoral
estavam maiores, mas não de uma forma feia e assim que ele ficou a minha
frente, eu o abracei. Só de ter aquele contato dos nossos corpos molhados senti o
meu desejo me queimar por dentro.
Gemi baixinho e encostei nossos narizes.
— Eu amo tanto você, Bel. Nunca imaginei amar alguém assim.
Sorri ainda de olhos fechados, e o beijei. As grandes mãos passearam por
minhas costas, mas logo uma se posicionou em minha nuca e a outra me abraçou
a cintura. Mattias me beijava de forma lenta, fomentando ainda mais minha
libido.
— Amor... – sussurrei após meus lábios serem libertos. — Eu também
nunca imaginei amar alguém assim. Pensava que ficaria sozinha para sempre.
No mesmo instante meu corpo foi abraçado com mais vontade.
— Acho difícil – retrucou e me beijou o canto dos lábios.
O contato sensual dos meus seios em Mattias, me fez fechar os olhos para
apreciar mais a sensação. Lentamente levei minhas mãos ao peitoral dele, e
tateei por toda a pele.
— Você é tão lindo, Mattias. – Comentei e recebi um sorriso. — Falo
sério. Acho que nunca conheci um homem tão bonito assim.
— Vai me deixar sem jeito – respondeu e me tocou a bochecha. —
Também nunca conheci uma mulher tão bonita como você.
Encostei minha cabeça em seu ombro e ficamos rodopiando dentro da
água. Às vezes Mattias beijava do meu ombro até a curva do meu pescoço, ele
era sempre tão carinhoso comigo, e sussurrava palavras carinhosas. Olhei por
cima do ombro dele, e visualizei o pano estirado no chão e a cesta por cima. Era
quase o fim da tarde, o céu ainda estava azul, mas seria questão de poucas horas
e ele se tornaria alaranjado.
Agarrada nos braços de Mattias, fechei meus olhos e me deixei imaginar
como seria nossa vida ali em diante na roça.
Mattias
Mesmo com Isobelle ali em meus braços, não tirava a atenção ao nosso
redor. A caminhonete estava estacionada ao lado da árvore, impossibilitando
minha visão da estrada. Não queria ter que estragar aquele momento com
Isobelle, ela parecia bem relaxada, mas não daria brechas de alguém nos pegar
pelados ali.
Sutilmente a toquei no queixo, e sorri quando os lindos olhos castanhos
me encararam. Isobelle sorria contida, e eu tentava a todo custo não pensar nos
seios sendo esfregados em mim. A pele molhada deslisava com facilidade junto
ao meu corpo, e o perfume que desprendia dela me deixava totalmente
embriagado.
— Vamos nos secar? Alguém pode aparecer.
Ela rapidamente olhou ao redor, mas logo voltou a me encarar.
— Tudo bem – concordou e se afastou minimamente. — A gente poderia
vir mais vezes aqui, né?
— Claro.
Saímos da água e encarei automaticamente o corpo só de calcinha a minha
frente. Enquanto nos enxugávamos me lembrei do choro dela na sala de casa,
nunca passou por minha cabeça que ela estava guardando tanta insegurança
dentro de si. Afinal, como eu interpretei os olhares dela quando eu a tocava, ou
nas minhas falas, não eram de medo ou hesitação como eu imaginava.
“Eu me senti rejeitada.”
Sem conseguir me segurar, deixei um sorriso escapar, ela logo me
encarou. Quando eu achava que já conseguia compreender um pouco Isobelle,
ela me provava que não.
— Está rindo de mim? – Questionou enquanto ajeitava o vestido no corpo.
Neguei com a cabeça. — Estava sim.
— Eu não faria isso – retruquei observando-a se sentar. — Quando
voltarmos você vai colocar a bota e não vai tirá-la tão cedo.
— Todo mandão.
Em silêncio a observei pegar um pedaço do sanduíche e dar uma generosa
mordida. Sem nem me dirigir o olhar, Isobelle apoiou a mão no tecido da toalha
e inclinou o corpo para a minha apreciação. Enquanto comia, mantinha os olhos
fechados, e aproveitando, deixei que meu olhar deslisasse pelo decote dos seios
medianos, em seguida pelo ventre liso. Saber que ela estava gerando um bebê
nosso, me fez sorrir como um bobo.
Busquei a calça e a vesti.
Ao mesmo tempo que me sentia feliz, me pegava pensando como seria
minha vida se eu não tivesse conhecido Isobelle. Provavelmente eu ainda estaria
sozinho, focado no trabalho, sendo ranzinza o tempo todo e sem perspectiva de
nada.
Como era possível ela me mudar tanto assim? Como era possível eu estar
tão entregue e totalmente nas mãos dela?
— Sabe... agora pensando sobre o nosso primeiro bebê – Isobelle sorriu
envergonhada. Logo me deitei ao lado dela. — Eu fico feliz por ele crescer por
aqui na roça.
— Eu também, sendo sincero, nunca imaginei saindo daqui. Cidade grande
não é para mim.
— E nem para mim – respondeu e me encarou. — Quando vocês me
acolheram, e eu fiquei por aqui, eu me senti tão bem. Quando nos beijamos e
ficamos juntos, foi como se tudo fizesse sentido. Como se aqui fosse o meu
lugar, e eu quero que os nossos filhos se sintam em casa.
No instante que terminou de falar, vi as lágrimas caírem teimosas.
— Que chorona.
— Só um pouco – riu e secou rapidamente o rosto. — Não vai comer?
Sorri e peguei uma maçã.
— Já pensou em um nome?
Isobelle me sorriu e assentiu.
— Se for menina Maria Isadora, se for menino José Guilherme... – Os
olhos dela brilhavam enquanto dizia os possíveis nomes. — Ou talvez Júlia,
Lara, Mariana, Marina, Sophia, gosto de Alina também. O que você acha?
— Podemos fazer um filho para cada nome.
Assim que ela riu abertamente, eu a acompanhei. O corpo se moveu
rapidamente, e Isobelle ficou deitada de bruços. Meus olhos desceram até o
traseiro arrebitado, mas logo tratei a voltar para seu rosto.
— Falamos para os gêmeos que estou grávida? – Após a pergunta, ela
buscou uma banana e começou a comer. — Queria saber a reação deles.
— Podemos falar essa semana – respondi e em seguida dei uma mordida
na maçã. — Acho que eles vão gostar em saber que terão um priminho.
— Acha que é um menino? – O sorriso direcionado em minha direção, me
fez sorrir. Isobelle era linda. — Vicente – falou e ainda me olhando, engatinhou
até ficar com o corpo por cima do meu. Minhas mãos automaticamente foram
para baixo do tecido do vestido, apertei o traseiro macio fazendo Isobelle
morder os lábios. — Se for menino ele se chamará Vicente, João Vicente.
Assenti e inclinei meu rosto em sua direção, nossos lábios se tocaram
levemente. Me sentei em um movimento rápido e levei uma mão até o rosto a
minha frente. Isobelle fechou os olhos e inclinou a cabeça em direção a minha
mão.
— João Vicente Ferreira – murmurei e sorri em apreciação. — Nosso filho
mais velho – disse e a vi acenar sorrindo de forma carinhosa. — Obrigado, Bel.
Sou um homem realizado, e ficarei ainda mais quando me disser sim no altar.
— Eu te amo, Mattias. Ser sua mulher e mãe dos seus filhos é tudo o que
mais quero nesse mundo.
O meu sorriso aumentou, e lentamente a senti se remexer me abraçando
mais.
— Está com uma carinha de quem quer aprontar – murmurei, e recebi um
sorriso sapeca. — Bel, Bel...
— Vamos para casa? – pediu e em sequência me beijou os lábios. — Eu
sinto sua falta, Mattias. Dos beijos, das palmadas... – Lentamente ela sorriu
parecendo sem jeito. — Não me faz esperar até a noite.
— Pedindo desse jeito, toda manhosa, não tem como negar.
Sem me responder, Isobelle me beijou e rebolou em meu colo. No mesmo
instante senti um arrepio subir em minha espinha, e agarrei automaticamente a
cintura fina, forçando-a para baixo. Aos poucos meu pau começava a ficar duro,
e meu único desejo era entrar fundo no calor de Isobelle. Ainda me beijando, ela
se afastou por dois segundos, mas logo voltou a me abraçar e ali eu senti os
seios em contato com meu peitoral. Separei os nossos lábios e olhei para baixo,
o vestido estava embolado abaixo dos seios medianos.
— Você vai me matar, Bel...
— Eu quero tanto você, Mattias... Por favor... Me faça sua.
Olhei ao redor e tudo o que eu via era vegetação. O céu estava banhado
pelo laranja do pôr do sol.
— Alguém pode ver.
— Fazemos rápido – propôs com um sorriso de lado, e um pouco surpreso
a encarei. — Não me olha assim – reclamou e me empurrou até ficar deitada
sobre meu corpo. — Ninguém vai aparecer.
Olhei mais uma vez ao redor e quando constatei que não tinha perigo,
espalmei com força no traseiro macio, recebendo um gemido desejoso. Isobelle
enfiou uma das mãos por dentro da minha cueca e puxou minha ereção. Com ela
ainda em cima de mim, desci minha calça e sem desgrudar nossos olhares levei
as duas mãos a calcinha de renda.
O som do rasgo se misturou com as nossas respirações, e com um sorriso
de lado a observei apoiar uma mão em meu peito e a outra agarrar meu pau.
Isobelle mordia o lábio inferior enquanto se esfregava e me fazia entrar
lentamente. Já eu me recusava a fechar os olhos e perder aquela visão deliciosa.
Assim que entrei por completo, a vi puxar uma respiração e franzir o cenho.
— Estou te machucando? – indaguei enquanto me deitava por completo.
— N-Não – gemeu e levou os dedos ao clitóris. — É que eu t-te sinto tão
fundo. É tão gostoso, amor.
Sorri com a forma carinhosa que ela havia usado comigo, e sem perder
tempo a segurei pela cintura. A ajudei a se mover para frente e para trás, mas
logo ela voltou a apoiar as duas mãos no meu peito e começou a cavalgar.
Primeiro lentamente, como se saboreasse o momento – que para mim era uma
tortura gostosa –, e rapidamente em seguida aumentou o ritmo.
Querendo mais, abri as pernas, planei os pés no chão e a segurando pelo
quadril, tomei conta dos movimentos. A atingia com força, ouvindo os gemidos
aumentarem, e os seios pularem para o meu deleite. Isobelle sem se conter,
começou a me arranhar, e, ao mesmo tempo que ardia os arranhões, eu levava
aquilo como um incentivo para continuar da forma que fazia: forte e rápido.
Com uma estocada mais rigorosa, Isobelle gemeu mais alto e levantou o
quadril. A olhei preocupado por talvez ter a machucado, mas logo me acalmei
quando a vi sorrir.
— Foi demais para você? – perguntei e como resposta ela se deitou por
cima de mim. Com cuidado a segurei pela cintura e virei o corpo ficando por
cima dela. — Se quiser podemos terminar em casa.
As pernas circundaram minha cintura, e ainda dentro dela, a abracei,
deixando nossos corpos colados. Isobelle me beijou os lábios, e incentivou que
eu continuasse a me mexer.
— Quero agora e em casa também – ao ouvir aquilo a olhei e sorri. — Ou
é demais para você?
No mesmo instante a olhei torto, recebendo um grande sorriso. Ela estava
brincando comigo?
— Esteja preparada porque essa noite você não vai dormir.
Lentamente forcei meu quadril no dela, sentindo-a mais molhada, e meu
pau ser apertado. Gemi rente aos lábios doces, e sem perder tempo chupei o
lábio inferior de Isobelle. Eu estava com tantas saudades daqueles gemidos, dos
beijos, de tudo.
Iniciando um novo beijo, comecei a me mover como antes. Engolia com
desejo os gemidos manhosos, suspiros e palavras desconexas que Isobelle
soltava. Me afastei minimamente dela, e encostei nossas testas enquanto
continuava a me mover com precisão.
— Eu te amo, amor! Eu te amo!
Voltei a beijá-la, a língua enroscando a minha de maneira sensual e ávida.
Como eu amava aquela mulher! A apertei em meus braços, e continuei no mesmo
ritmo. No instante em que senti meu pau ser apertado, ataquei o pescoço esguio
com mordidas, chupões e beijos. Isobelle gemeu alto e me abraçou com força.
Gemi e quando finalmente gozei fiquei parado sentindo os espasmos por
meu corpo. Olhei para Isobelle e recebi um lindo sorriso satisfeito.
Assim que a caminhonete parou, não demorou muito para que Maria Alice
aparecesse na entrada da casa. Estava descalça, os cabelos molhados e de
calcinha. Rapidamente desci, e me abaixei abrindo os braços. Logo atrás dela vi
Brutus correr e latir.
— Titia! – gritou e correu em minha direção. — Eu chorei sempre porque
eu não te vi mais.
Ri e a apertei em meu abraço. Os cabelos cheiravam a shampoo, e eu tinha
quase certeza de que ela tinha tomado banho.
— Eu fiquei dodói, mas já estou melhor – falei me afastando
minimamente. — E cadê a sua roupa?
— Eu tomei banho depois e o papai lavou assim. – Para demonstrar, ela
esfregou os cabelos. — Vem ver meu vestido.
— E eu não ganho um abraço ou beijo? – Mattias questionou parado ao
nosso lado. Então ela sorriu e correu até ele. — Cadê o seu pai que deixou você
sair sem roupa?
— O papai saiu! Ele não deixou o Brutus tomar banho comigo. Não foi
Brutus? – Olhei para Maria Alice que tirava os fios de cabelos dos olhos, a
atenção nunca saía do cachorro que ficava em pé em busca de carinho. — E o
Brutus fez cocô bem ali, o papai brigou.
Segui o dedinho apontado, a área era próxima de uma cerca. De forma
curiosa percebi o celeiro ao lado da casa, e a cerca branca protegendo o
perímetro. Não vi o galinheiro, ou o chiqueiro como na fazenda do Mattias. No
entanto, mais afastado, vi uma enorme plantação. Voltei meu olhar para Mattias
que sorria ouvindo as fofocas, ao mesmo tempo que acarinhava entre as orelhas
do cachorro.
Subi na grande varanda, e por a porta estar aberta vi a enorme sala, tudo
tão diferente da outra casa. Assim que entrei, sorri para Rosalinda que se
aproximava com um vestido florido em mãos e acenei para João Pedro no sofá.
— Ah, já chegaram – falou com um pequeno sorriso. — Pensei que não
vinham hoje.
— Fomos até a cidade – Mattias respondeu sentando-se ao lado do
sobrinho. Maria Alice rapidamente desceu do colo e foi até a avó. — Cadê o
Marcos?
— Foi até o cartório – respondeu soltando um sorriso triste. — Assim
termina logo tudo isso.
Acenei e observei Maria Alice que se vestia sozinha.
— A gente veio da fazenda do meu pai – falei tentando mudar o assunto.
— Eu conheci a Débora, a Nana e a Kim. Ela é uma bebê fofa.
— Bebês são umas benção de Deus.
— E eu vovó? – João perguntou curioso.
— Você também.
— E eu? – Maria Alice quis saber. Sorri me sentando no sofá. — Da vovó,
do papai, da titia e do titio?
— Você com toda certeza é uma benção – Rosalinda riu. — Agora vá se
sentar que eu vou buscar o seu suco.
A pequena correu e se sentou ao lado do tio. Brutus não parava um
minuto, e Mattias feito um bobo sorria para ele enquanto o acariciava. Comemos
um delicioso almoço, conversamos sobre o casamento, e quando por fim percebi
já era final de tarde. Com o início da noite, senti meu tornozelo doer,
automaticamente me lembrei da bota que o Mattias pediu para que eu usasse e eu
neguei, afirmando que já estava boa. Tentei não demonstrar, porque eu sabia que
levaria uma bronca. Após o jantar, quando estávamos saindo, Marcos chegou,
nos cumprimentou e disse que tomaria um banho. A feição não parecia de
tristeza, mas sim cansaço.
Nos despedimos e fomos embora.
Quando por fim chegamos em casa, meu corpo estava pesado, parecia que
eu tinha corrido uma maratona. Me espreguicei assim que desci da caminhonete
e caminhei lentamente para dentro de casa. Pega de surpresa, dei um gritinho
quando Mattias me pegou nos braços.
— Você vai tomar banho e colocar a bota no pé – murmurou enquanto me
levava sem esforço. — Você só vai tirá-la no dia do nosso casamento. Fui claro?
— Todo mandão.
Sorri quando ele me encarou com a sobrancelha arqueada.
Tomamos banho, e no quarto ganhei uma massagem no tornozelo. Parecia
que Mattias sabia exatamente onde tocar, sem machucar ou deixar
desconfortável. Por fim, ele me deu um beijo suave e se deitou comigo. Já na
próxima semana começaríamos meus exames e os preparativos para o casamento.
Isobelle
Daqui a um mês!
Em um mês eu seria uma mulher casada, e aquilo tudo estava mexendo
com o meu emocional. Nesse tempo que havia passado, dois meses para ser mais
exata, Débora já tinha boa parte de tudo organizado. E eu estava realmente
surpresa por tudo estar se encaminhando tão bem, sem muitas dores de cabeça. A
festa aconteceria na fazenda de meu pai, por ser maior comparado a de Mattias.
Não tinha muita gente para convidar que eu conhecesse, mas a pedido do meu
pai eu permiti que alguns familiares nossos – que eu não conhecia – fossem
convidados. Seria uma oportunidade, afinal de contas.
Os familiares do Mattias também tinham sido convidados, e Rosalinda
estava ansiosa para me apresentar a todos.
No começo do novo mês eu havia ligado para os meus amigos e noticiado
quase tudo o que tinha acontecido. Não me sentia à vontade para falar sobre o
assunto Benício, minha decisão era que aquilo seria um passado que eu não
citaria mais. Na ligação, Michele se mostrou ansiosa e mais ainda quando a
convidei formalmente para ser minha madrinha, junto a Bruno. Eles eram meus
melhores amigos, e tê-los por perto nesse momento seria importante para mim.
Soltei um suspiro e me aconcheguei mais no sofá. Tinha me livrado da
bota, pois meu tornozelo já estava cem por cento. Era um alívio não a usar mais.
Mattias tinha voltado a trabalhar, mas não demorava muito para voltar para casa.
Rosalinda havia ido à casa do Matheus, isso pela manhã, e já estávamos quase
no horário do almoço.
— Patroa! – Olhei rapidamente para a porta que estava aberta e sorri.
Leôncio segurava o chapéu contra o peito, e sorria educado. — Já estou
pronto pra levar a senhora.
Sorri agradecida e concordei.
Mattias mesmo que fosse até o curral, me queria por perto e quando não
estávamos juntos, um dos peões ficava próximo. O modo protetor estava ativado,
e eu não reclamava, gostava de ser cuidada. Levei as mãos ao ventre e o
acariciei. Nosso bebê estava bem, e tudo o que eu mais queria era poder segurá-
lo nos braços. Todas as noites Mattias beijava o meu ventre que já estava com
uma elevação, e ficava horas o acariciando e conversando com o nosso filho.
Eu ficava boba completamente com aquilo, era tão visível que Mattias
estava feliz em ser papai.
Fiquei rapidamente de pé, coloquei o celular no bolso e tranquei a porta
após sair. Eu iria até a fazenda do meu pai, Débora havia contratado um ateliê
para ir até lá. Seria a terceira e última prova do vestido de noiva, um vestido
feito especialmente para mim. A ideia era ir até a outra cidade, mas meu pai
pediu para que tudo fosse feito por lá na fazenda.
Ele e Mattias eram dois protetores.
Andei até a caminhonete que Mattias havia deixado, e sorri para Leôncio,
que chupava uma laranja já no lugar do motorista.
— Espero encontrá-lo no casamento e na festa – murmurei para ele que me
olhou sem jeito. — O senhor e sua esposa.
— Nem roupa eu tenho pra casamento, patroa, mas a mulher ficou alegre
com o convite.
— Quero conhecê-la, fiz questão que Mattias convidassem todos. Os
convites não chegaram, mas quando estiver com eles em mãos eu vou fazer isso.
— Obrigado, patroa.
Sorri, observei a paisagem já fora da fazenda e me permiti divagar.
Matheus e Liliane, com Michele e Bruno, seriam meus padrinhos. Já
Sebastião, Olívia e Marcos seriam os padrinhos de Mattias. Por um momento
pensei em chamar a Débora para ser par do Marcos, mas ela era noiva do Javier
e ficaria estranho o pedido. Conversei com Mattias e perguntei se ele se
importaria se eu convidasse a Nana. Como ele havia negado, só precisava de
uma oportunidade para falar com ela. Eu sabia que escolher os padrinhos do
casamento era algo importante, mas apesar de tê-la conhecido há pouco tempo,
eu sentia que Nana era uma boa pessoa.
O pedido foi feito há duas semanas na cozinha do meu pai, e depois de
duas recusas, na terceira tentativa ela aceitou. Parecia surpresa e, ao mesmo
tempo, sem jeito, mas feliz. Agora só faltava avisar ao Marcos que ele teria uma
acompanhante.
Peguei meu celular e visualizei o horário, 13h20, o céu estava sem
nuvens. No entanto, o clima estava agradável, pela visão periférica vi Leôncio
jogar o bagaço da laranja e em seguida apoiar o braço na janela. Guardei o
celular no porta-luvas e voltei minha atenção para a janela.
Demorou alguns minutos, e quando finalmente chegamos, Leôncio
estacionou perto das escadas. Retirei o cinto e saí.
— Obrigada Leôncio. – Sorri educada. — Pode voltar para a fazenda, aí
não precisa ficar por aqui me esperando.
— O patrão disse que era pra ficar por perto – respondeu sem jeito. —
Caso a senhora precise voltar antes.
— Ah! – exclamei e olhei por cima do ombro. Débora estava parada na
entrada. — Então vamos entrar, o senhor espera lá dentro.
— Não, patroa. – Riu e se encostou na lataria. — Eu espero por aqui, não
se preocupe.
Soltei um suspiro e acenei. Me encaminhei até onde Débora estava e sorri,
mas achei estranho quando ela apenas deu espaço para eu passar. No centro da
sala, havia muitas caixas e eu bem podia ouvir algumas vozes vindo do outro
recinto.
— Está tudo bem, Débora? Não está com uma cara boa.
— Não é nada. – Negou tentando sorrir. — Vamos ver seu vestido de
noiva.
Concordei e a acompanhei. Na outra sala vi três mulheres conversando
entre si, mas assim que nos percebeu, sorriram. Olhei ao redor e estranhei por
não ver Nana. Afinal ela também provaria o vestido de madrinha. Cumprimentei
o pessoal do ateliê, e de forma ansiosa observei as duas moças abrirem uma
caixa; meu vestido.
Ele era lindo, e naquele momento me sentia como na primeira vez que o
vi. O tecido tão macio e bonito me deixava completamente apaixonada.
— Então, o que achou? – A voz da moça do ateliê me chamou a atenção.
— Vamos provar?
— Sim – acenei e enquanto prendia os cabelos, observei as duas moças
ajeitarem o vestido para eu provar. — Ele parece um sonho.
— O seu sonho que vai se realizar. – Sorriu e me ajudou. — E o seu
noivo? Ele já provou o terno?
— Ainda não, ele vai com os padrinhos.
Soltei os cabelos, que estavam maiores, e me analisei.
— O meu vestido quero bem esplêndido, Fiorella – Débora brincou
sentando-se na poltrona perto. — Fih, não acha que o vestido está marcando
muito a barriga dela?
Preocupada por não estar bonita, alisei o tecido. Em seguida, olhei para
trás, Fiorella fechava o zíper do vestido. O olhar dela era confuso, mas assim
que me encarou, deixou um sorriso escapar.
— Imagina, nem dá para perceber que você está grávida se você não
disser. O caimento do tecido disfarça, você fica a cerimônia e depois muda para
aquele outro que escolheu.
Me virei na direção do espelho colocado a minha frente e fiquei de lado.
Na parte do busto, o decote era comportado em “v”, o espartilho de tecido
rendado moldava com perfeição minha cintura. Nos ombros as alças eram caídas,
e rendadas. Eu estava me sentindo muito linda, e realmente, conseguia disfarçar
a barriga. Bom que o padre não me julgaria.
Antes que eu pudesse falar algo, ouvi baterem na porta, Débora
rapidamente foi até ela. Voltei a me olhar no espelho enorme, a saia longa me
fazia lembrar dos vestidos das princesas.
— Perdoe minha demora, Isobelle – A voz suave da Nana me fez encará-
la, ela era uma fofa. — Eu estava fazendo a Kim dormir, ela mamou e depois
cochilou, mas sempre chorava quando eu a colocava na cama.
— Por que não a trouxe?
— Porque esse não é o momento para bebês – Débora retrucou, olhei para
Nana que parecia um pouco desconcertada. — Bebês só sabem chorar, e tirar a
paciência.
— Nossa, você está bem, Débora? – perguntei sem entender o motivo
daquilo. — Parece nervosa.
Abri os braços a pedido de Fiorella, mas sem mudar meu foco. Então a vi
soltar um suspiro e balançar a cabeça.
— Desculpe Nana, Isobelle... É o Javier! – proferiu sentando-se
novamente na poltrona. — Ele só enrola para marcar a data do nosso casamento,
às vezes parece que não quer se casar, mas então eu o vi segurando a Kim e...
— Ele segurou a minha filha? – Dessa vez foi a Nana a interrompê-la. Eu
só observava a interação estranha das duas. — Ela estava com a Sra. Alvaréz.
— Ele é responsável, Nana, não a deixaria cair.
Esperei uma resposta dela, mas ao invés disso ela ficou em silêncio e
subiu na espécie de base de madeira, uma igual ao que eu estava. Olhei para as
duas tentando entender se era um bom momento para perguntar se tinha
acontecido algo. No entanto, decidi mudar o rumo da conversa.
— A minha amiga está ansiosa para vir logo – murmurei, Débora mantinha
os braços cruzados. — Se ela pudesse viria hoje mesmo, tudo do casamento está
tão lindo. Muito obrigada!
Ela sorriu e concordou.
— Você não é muito exigente, e tem um bom gosto.
Olhei para Nana que segurava a frente do vestido, Fiorella cochichava
algo que eu não ouvi. Os segundos se passaram, e então percebi que era algo
com o zíper. Quando deu certo, Fiorella sorriu e questionou enquanto ajeitava o
caimento dos ombros:
— O busto está muito apertado?
— Um pouco – respondeu e sorriu para o espelho. Dava para ver que ela
estava feliz em fazer parte daquilo. — É que a minha bebê não mamou muito.
Ela estava um pouco agitada.
— Se quiser posso dar uma folga nos lados.
Voltei a prestar atenção em mim, e neguei quando a secretária de Fiorella
perguntou se eu precisaria apertar, ou folgar em algum lugar. O vestido estava
perfeito, tudo tão lindo como nunca imaginei. Era um sonho que se realizava.
Após alguns minutos, e eu dar meu okay a Fiorella, o tirei com cuidado e o
observei ser guardado. Me sentei no sofá próximo à janela, e fiquei ouvindo as
meninas conversarem.
A casa ao qual iríamos morar estava sendo reformada, e pelas contas do
chefe de obra, ainda demoraria de quatro a seis meses para que tudo fosse
finalizado. Olhei para a janela que ficava logo atrás de mim, e deixei que meu
pensamento fosse além. Meu pai não estava na fazenda, soube na noite anterior
de que ele tinha viajado a negócios para São Paulo. No fundo, eu temia que os
“negócios”, na realidade, fosse outra coisa. Ou melhor, fosse uma pessoa.
Mesmo com os preparativos do casamento, e a gravidez, eu pensava no
que ele tinha me dito. Sobre minha mãe me pagar um aluguel. Uma parte minha
se sentia péssima por fazer isso, e a outra me corroía por eu ainda me preocupar
com ela.
— Olha Belle – Débora me chamou, em mãos trazia algumas revistas. —
Vamos dar uma olhada nos penteados?
Acenei e peguei a primeira revista. Assim passamos o dia, e no começo da
noite quando eu estava na cozinha comendo, Mattias apareceu. Usava a camisa
preta com os dois botões do peitoral abertos, a calça jeans de lavagem escura, a
mesma roupa que ele tinha saído pela manhã. O olhar foi diretamente para mim,
e como estava morrendo de saudades dele, praticamente corri em sua direção.
Me joguei em seus braços, e o beijei.
— É até um pecado quando você usa calça jeans.
Falou no fim do beijo, e sem me segurar eu ri. Um dos braços me segurou
pela cintura e o outro na coxa.
— Me quer só de vestidos?
— E sem calcinha, por favor.
Alarmada, olhei por cima do ombro dele e não vi ninguém.
— Depois eu que sou a safada.
Como resposta ele sorriu, em seguida me beijou e me deixou no chão.
— Por que está sozinha aqui?
O puxei até onde eu estava sentada.
— Por nada. A Nana está com a Kim, a Débora está conversando com o
Javier e a Agnes eu não sei.
— Ela está lá fora, foi ela que me avisou que estava aqui e deixou entrar –
comentou e observou a fatia do bolo que estava comendo. — E o seu vestido?
Você gostou?
Sorri e acenei.
— Ele é muito lindo! Parece um sonho.
Mattias ficou me olhando, e após uma última garfada me puxou para mais
perto.
— Vamos para casa? Você precisa descansar, esses dias você trabalhou
muito com a Débora.
— Trabalhamos – o corrigi enquanto fazia um carinho por sua barba. —
Você ficou aqueles dias comigo, e só atrapalhou o seu serviço.
Ele negou rapidamente com a cabeça, e me beijou os lábios.
— Você nunca me atrapalhou em nada.
Sorri de forma apaixonada, e lhe beijei uma última vez antes de ir lavar o
prato e garfo que tinha sujado. Por fim que terminei, o acompanhei em direção à
saída e ao chegar na sala acenei para Débora, Javier e Agnes. A conversa dos
três parecia séria, e como não queria me intrometer, apenas me despedi. Ao
chegar na caminhonete, me sentei no carona e esperei Mattias ir para o
motorista.
Após colocar o cinto de segurança, encostei a cabeça no assento e fechei
os olhos.
Antes de sair do quarto já pronto para começar o dia, olhei para Isobelle
deitada seminua no colchão. O lençol cobria parte da cintura, deixando os seios
a mostra. Ainda sonolenta, ela virou me dando uma visão do traseiro empinado e
vermelho por conta dos apertões que dei na noite passada.
Só de lembrar, senti meu corpo vibrar em buscar de mais.
Atrás de mim ouvi quando Brutus se aproximou, e minha mãe o chamou.
Fechei a porta para não acordar Isobelle e caminhei até a cozinha.
— Bom dia, meu filho! – Ela falou assim que me viu. — Isobelle está
dormindo ou no banho? – sussurrou olhando em direção do corredor.
— Dormindo.
— Ótimo! Agora me explique como vamos fazer a surpresa para ela.
O aniversário de Isobelle seria no fim de semana, e nosso casamento daqui
a um mês. Me sentei enquanto a observava encher uma xícara de café. Desde que
Bruno havia me dito sobre a data, eu planejei mentalmente tudo o que faríamos.
— Os amigos dela vem na sexta e vão ficar na casa do Marcos até o outro
dia – comentei recebendo um aceno. — Ela acha que eles só vem três dias antes
do casamento. No início da semana eu consegui falar com a Sra. Alvaréz,
expliquei e ela concordou em levar a Isobelle até a cidade no dia. Então teremos
algumas horas para organizar tudo.
Minha mãe me encarava sorridente.
— Ela vai ficar tão feliz, meu filho.
Concordei e tomei um gole do café. Após o café passaria na obra para ver
o andamento, e se precisavam de mais alguma coisa. Em seguida iria até a
fazenda do Tibério, terminaria minha vistoria nos animais e passaria algumas
orientações para os funcionários.
Enquanto comia ouvia minha mãe falar sobre Marcos, e sobre a
possibilidade de passar um tempo na fazenda com ele. Ela não falava com todas
as letras, mas eu sabia que ela estava preocupada com ele e os gêmeos. Tive a
oportunidade de conversar com ele, no dia em que me acompanhou até a obra,
mas como esperado ele desconversou o tempo todo. Marcos nunca foi de
lamentar, era um pouco fechado, mas eu sabia que lá, no fundo, ele estava
magoado.
Suspirei e acenei quando minha mãe falou algo sobre ir até o galinheiro.
Com pressa de sair, terminei de comer e lavei o que tinha sujado. Me dirigi uma
última vez até o quarto, abri uma fresta da porta e deixei um sorriso escapar.
Isobelle ainda dormia.
Fechei novamente a porta e busquei meu chapéu atrás da porta. Desci as
escadas da varanda e me encaminhei até a caminhonete. Minha mãe saía do
galinheiro com Brutus em seu encalço. Acenei e tomei rapidamente o lugar do
motorista.
A primeira parada foi na obra, e logo fui informado que alguns dos
materiais não foram entregues. Avisei que daria um jeito naquilo, e entrei para
vistoriar o que já tinha sido feito e o que faltava. Como esperado, tudo estava
uma bagunça, mas sabia que valeria a pena no final. Me despedi do encarregado,
e voltei para a caminhonete.
Quando por fim saí da fazenda do Tibério, o sol já estava alto no céu.
Adentrei rapidamente a caminhonete e parti em direção à casa. Estava com fome,
e com saudades de Isobelle, era naquelas horas que eu pensava em ter um
celular. Seria muito útil. Liguei o rádio em uma música qualquer e tomei
destino.
Assim que passei por minhas porteiras, vi minha mãe com as mãos na
cintura enquanto olhava para os lados. Parei em frente a varanda, e quando desci
ela abriu a boca para falar, mas ao olhar por cima do meu ombro suspirou. Olhei
para trás, Isobelle se aproximava pela estradinha de terra, segurava um filhote
com cuidado.
— Minha filha, que susto você me deu! – Minha mãe falou, e me encarou.
— Estava na cozinha quando chamei por ela e não tive respostas.
— Desculpe dona Rosalinda. Eu vi quando esse gatinho estava subindo no
galinheiro, fui pegar ele e o ingrato correu. Só que consegui pegar ele. – Ao
terminar, sorriu e me mostrou o tal filhote. — Olha que lindinho, ele rosnou com
medo, mas depois ronronou.
Um pouco confuso peguei o filhote que tremia levemente. Observei o
focinho, as orelhas curtas, a pelagem que lembrava uma onça-pintada.
— Bel, isso é um gato-do-mato – murmurei, Isobelle me olhou surpresa.
— Ele é um animal silvestre, não podemos ficar com ele. Ele estava subindo no
galinheiro?
— Sim – confirmou, em seguida soltou um suspiro. — Sério que não
podemos mesmo ficar com ele? Ele é um filhote e está sozinho.
O sondei por completo, e não encontrei nenhum machucado aparente.
— Ele vai crescer e ficar quase do tamanho do Brutus – respondi ainda
analisando o filhote. — E se ele conseguiu chegar tão perto assim, significa que
a mãe pode estar próximo e com mais filhotes.
— Queria ficar com ele.
Dessa vez olhei para Isobelle e sorri de lado. A feição emburrada a
deixava mais fofa, mas eu não gostava do olhar triste.
— Quer um filhote de gato? Podemos adotar um, mas esse carinha aqui
não podemos ficar. Ele precisa estar na mata, não pode ser domesticado.
Como resposta, ela o acariciou entre as orelhas e sorriu quando ouviu o
miado.
— Ele é tão fofo – murmurou e o pegou com cuidado. — E o que vamos
fazer com ele? Ele é tão pequeno.
Olhei para minha mãe que sorria, mas logo nos deu as costas.
— Você comeu? – perguntei, e prontamente ela acenou. — Vou almoçar e
depois o levamos até a cidade, lá as autoridades saberão o que fazer com ele.
— Tudo bem.
Levei as mãos a cintura e encarei os dois. Eu queria o sorriso que
iluminava meu dia de volta, como podia estar tão rendido por uma mulher?
— Posso comprar bolovo para você.
Então dessa vez ela sorriu em minha direção.
— Quer me comprar com bolovo?
— Vai funcionar?
Sem me responder, e ainda com o filhote nos braços, ela passou sinuosa
por mim. Me olhou por cima do ombro e piscou lentamente. A acompanhei para
dentro de casa, e fui comer. Da cozinha, eu via Brutus em frente a Isobelle, que
sentada no sofá conversava com os dois como se estivesse apresentando-os.
Por fim, quando saímos da fazenda rumo a cidade, já eram quase 17h. O
caminho foi feito em silêncio, o filhote que agora dormia enrolado em uma
manta, seria entregue a polícia local que faria a ponte entre as pessoas
responsáveis por esses animais. Poderíamos ter o soltado onde Isobelle o
encontrou, mas ele seria provavelmente pego por algum caçador, e como o gato-
do-mato é um animal raro que está ameaçado de extinção.
Não podíamos fechar os olhos.
Na cidade, entregamos o filhote a polícia e avisamos o local que ele foi
encontrado. Aproveitando que estávamos ali, a levei até a praça e apontei para o
banco.
— Ficou chateada comigo?
— Não, por quê? – Riu enquanto entrelaçava nossos dedos. — Eu só estou
pensativa com tudo.
Me virei para olhá-la e a toquei na bochecha.
— Ansiosa para o nosso grande dia?
Isobelle sorriu abertamente e inclinou o rosto em direção a minha mão.
— Também – confidenciou, e dessa vez me encarou. — Esses dias foram
corridos demais. Meu pai foi para São Paulo.
— Ele comentou comigo que iria.
Após respirar fundo, Isobelle observou nossas mãos entrelaçadas, mas
logo desviou o olhar. Ela estava preocupada com alguma coisa, era visível em
sua feição. Antônio havia me dito na última vez que o encontrei, em sua sala
com Tibério, de que iria até São Paulo resolver uns assuntos com a mãe de
Isobelle.
Me perguntava se ela sabia sobre isso, mas não me arriscaria em
questionar.
— Eu acho que ele foi atrás da minha mãe – falou sem rodeios. — Acha
que sou boba em não a odiar e ficar preocupada com ela?
— Você tem um coração bom, é diferente. – Respondi, e a toquei no
queixo. Os olhos estavam cheios de lágrimas. — Não gosto de te ver triste
assim.
Uma lágrima escapou, mas foi rapidamente enxugada.
— Ela me ligou duas vezes hoje.
A olhei surpreso.
— O que ela queria?
— Eu não atendi, ai eu desliguei o celular e fui para o lado de fora. Foi
quando vi o gatinho subindo no galinheiro e você chegou. Eu acho que, talvez,
eu precise mudar de número.
— Tudo bem, podemos fazer isso – murmurei e a senti se aconchegar em
mim. — Aproveitamos e compramos um celular para mim.
— Já estava na hora – retrucou abraçada a mim, eu ri e a trouxe mais para
perto. — Vou ficar mandando mensagens para você.
— Não vou reclamar.
Ficamos por ali sentados no banco por mais alguns minutos. As luzes da
praça estavam acesas, e pelas estradinhas que iam até o chafariz, muitas crianças
corriam e brincavam. Em breve seria nosso filho correndo e brincando. Ter a
certeza daquilo me fez sorrir abertamente.
Beijei o topo da cabeça de Isobelle.
— Quando vamos comprar o bolovo que você me prometeu?
Em um movimento rápido, ela ficou de pé e me puxou pela mão. Antes de
acompanhá-la, me deixei observar o sorriso lindo e sem que eu pudesse me
segurar, a puxei para um beijo. Nossos lábios se encontraram, e meu corpo
vibrou com o contato. Querendo aprofundá-lo, enlacei a cintura com um braço e
a puxei. No entanto, Isobelle me parou e sorriu.
— O que foi? – indaguei sem entender.
— Aqui não, Sr. Insaciável. A igreja está bem atrás de você.
Olhei por cima do ombro e suspirei. Me voltei para Isobelle e arqueei uma
sobrancelha. Ela, sem se importar, me puxou em direção ao restaurante do
Constantino. Compramos dois salgados, e duas bebidas. Não tínhamos pressa de
voltar para a casa, afinal minha mãe sabia que Isobelle estava comigo e meu
expediente já havia encerrado.
Conversamos sobre mais alguns detalhes do casamento e ela me lembrou
sobre a prova dos ternos. Falamos sobre a lua-de-mel, e nosso destino escolhido
seria Maragogi. Passaríamos uma semana, e Isobelle estava extremamente
empolgada.
— Ah, nesse fim de semana podemos ir até a cachoeira? – questionou de
repente. — Faz um tempo desde a última vez.
— Nesse fim de semana? – repeti para ganhar tempo. — Eu acho que não
vou poder, Bel – falei e em troca recebi um aceno. — Preciso adiantar algumas
coisas, mas podemos ir outro dia. O que acha?
— Claro, tudo bem.
Sorri para disfarçar e andamos até a caminhonete. Assim que nos
aconchegamos, a olhei de relance. Ela colocava o cinto, mas em seu rosto trazia
uma tristeza. Talvez eu pudesse concordar, no entanto, se na hora da arrumação
da surpresa eu precisasse resolver alguma coisa?
— Podemos sair no sábado a noite, então? Tem lugares por aqui que não
conheço.
Riu e me olhou de forma ansiosa.
— Não sei – murmurei, me sentindo péssimo, mas não estragaria a
surpresa. — Posso te responder no dia?
Ela me olhou surpresa, mas concordou. Ficamos em silêncio enquanto
tomava caminho pela estrada de terra, pelo canto de olho vi que ela mantinha a
atenção na janela.
— Se a gente não puder sair, podemos fazer um jantar só nosso. O que
acha?
— É alguma ocasião especial? – questionei mesmo sabendo que sim, era
algo especial. — Eu não sei que horas eu volto, eu tenho algumas consultas com
alguns fazendeiros. Na verdade, com os animais, não com os fazendeiros. Eu não
atendo pessoas, e sim os bichos.
Parei de falar na mesma hora e respirei fundo.
Que idiotice foi essa que acabei de falar?
Tentei relaxar no banco e encostei o braço já janela. Não arriscaria olhar
para Isobelle e dar a certeza a ela que eu estava mentindo. Após alguns minutos
chegamos na fazenda, minha mãe estava na varanda com uma caneca e Brutus
deitado ao lado. Isobelle desceu em silêncio, mas ao passar por minha mãe a
cumprimentou.
Parei na entrada e a observei ir. Minha mãe avisou que as panelas estavam
em cima do fogão, mas eu não estava com fome. Decidido a contornar aquela
situação, mas sem colocar tudo a perder, fui até o quarto.
Empurrei a porta e vi Isobelle em pé em frente a cômoda.
— Podemos sair no domingo, serei completamente seu.
— Tudo bem – tentou sorrir, em seguida pegou uma calcinha e um vestido.
— Se não der não tem problema.
— Bel... – A chamei e ela me encarou. — Eu amo você.
Então quando ela sorriu, o peso que estava em meus ombros sumiram.
— Eu também amo você.
Me aproximei e a beijei nos lábios.
— Quer ajuda no banho?
— Não com a sua mãe acordada – negou, mas seu olhar percorreu meu
corpo. — Mas caso você tenha tempo, a porta vai estar destrancada.
Ri com aquela alfinetada, e rapidamente a segui até o banheiro. Ao passar
pela porta a tranquei e observei Isobelle retirar as peças de roupas de forma
sinuosa. A imitei retirando minhas roupas e fui para de baixo do chuveiro. A
abracei carinhosamente e rezei para que o fim de semana chegasse rápido, eu
não aguentaria mentir por muito tempo.
Isobelle
De braços cruzados, eu observava Agnes conversar animadamente com
uma conhecida. Sutilmente busquei meu celular, e abri o aplicativo de
mensagens, nem Michele ou Bruno me enviaram nada. Eu sei que aniversário era
só uma data, mas eles nunca tinham esquecido. Passeamos por algumas lojas, e
no horário do almoço comemos em um restaurante que fica no centro da cidade.
Estava fora de casa desde cedo, tudo o que eu queria era um banho e ficar o dia
todo na cama.
Passar o sábado, em um salão de beleza deveria ser sinônimo de alegria.
Afinal, Agnes pagou nossas unhas, tratamento de pele e cabelos. No entanto, eu
me sentia triste.
Talvez porque ninguém se lembrou que hoje era meu aniversário, nem
mesmo meu pai.
— Isobelle – olhei para Agnes e tentei sorrir. — Antes de voltarmos,
preciso passar em uma loja que fica aqui na frente. Tudo bem?
— Sim.
— Parece triste – comentou com o cenho franzido. — Não gostou de sair
comigo? Eu falo muito, né?
— Não! Não é isso, é que eu estou com dor de cabeça. Esses dias, por
conta do casamento... tudo está uma loucura.
Agnes anuiu e segurou minha mão.
— Vai passar quando chegar em casa – falou e eu sorri educada. — Vamos
rapidinho, assim não demoramos mais.
Concordei e a segui até o outro lado da rua.
A loja era uma butique, o que me fez lembrar do meu antigo emprego. Os
vestidos eram lindos, porém os valores eram absurdos de altos. Agnes já estava
no balcão e quando a atendente buscou uma caixa mediana com um laço, eu
franzi o cenho. Tão rápido como entramos, logo saímos.
A caminhonete da Agnes estava em um estacionamento próximo, então não
demorou muito para chegarmos lá. Me acomodei no carona e observei a caixa ser
colocada no banco de trás.
— Ansiosa?
— Com o quê? – perguntei sem compreender bem a pergunta. Ela se
referia ao casamento que já estava próximo por estarmos quase no final do mês?
— Acho que um pouco, antes estava mais. Eu não esperava.
— Ele te ama demais – comentou enquanto saía da vaga. — Ele também
estava ansioso.
Sorri educada, afinal eu não estava entendendo o que ela queria dizer, mas
não queria me estender na conversa. Mattias também estava ansioso? Olhei
novamente o horário e suspirei, eram quase 15h. Hoje antes de sair eu nem se
quer vi Mattias, ele estava tão atarefado que saiu sem se despedir. Rosalinda
aproveitou que eu estava saindo e foi para a casa do Marcos. Queria ter ido com
ela, mas eu já havia aceitado o convite de Agnes.
Sentia tantas saudades dos gêmeos, lembrar deles me fez sorrir. Maria
Alice de vestidinho branco e o João Pedro de terninho ficaram tão lindinhos
juntos. Mal podia esperar para vê-los entrando na igreja, eu me derreteria em
lágrimas com certeza.
No caminho de volta, vez ou outra Agnes falava alguma coisa e eu
respondia com palavras curtas. Não queria ser mal-educada, mas não me sentia
na vibe de socializar. Na estrada que era caminho da fazenda de Mattias,
estranhei quando Agnes parou e me olhou.
— O que foi?
— Fecha os olhos – pediu com um pequeno sorriso. Talvez por ver minha
expressão de confusão, ela abriu o porta-luvas e tirou uma venda. — Vai, coloca
isso.
— Por qu...?
— É surpresa! – riu e me entregou a venda.
A obedeci e segurei um sorriso.
Ali vendada, eu sentia um comichão no baixo ventre. Quando a
caminhonete parou pela segunda vez, tudo estava em silêncio. A porta foi aberta,
e mesmo sem ver, por instinto olhei para o lado.
— Se divertiu na cidade? – Ao ouvir a voz do Mattias, eu sorri e levei
minha mão ao seu rosto.
— Estava com saudades, saiu pela manhã e nem se despediu. – Ele riu e
me ajudou a descer. — O que está acontecendo? Já posso tirar a venda?
Falando baixinho, ele me pediu para esperar, mas assim que paramos ouvi
quando alguém no fundo, fez “shh”.
— Pode tirar.
Rapidamente removi a venda. Num misto de felicidade e surpresa, vi todo
mundo segurando balões de aniversário, ao mesmo tempo que gritavam
“surpresa!”.
— Feliz aniversário, meu amor.
Sem acreditar que ele sabia, me joguei em seus braços e o beijei.
— Me enganou direitinho – falei deixando algumas lágrimas escaparem.
— Vou dizer a sua mãe que me fez chorar.
Mattias riu e me deu um último beijo.
— Ela também sabia, todo mundo sabia.
Sorri e me afastei dele indo abraçar os meus amigos que estavam ali.
— Parabéns, Belle! Que saudades, amiga. Não briga com a gente, foi ideia
do seu cowboy. Você está tão linda!
— Achei que tivessem esquecido meu aniversário.
— Imagina – Bruno retrucou me puxando para um abraço. — Tudo já
estava esquematizado desde a nossa última visita.
Assim que me separei dele, balancei a cabeça. Eu nunca teria pensado
naquela possibilidade, afinal, eu quase havia esquecido. Abracei os gêmeos, que
estavam em pé nas cadeiras e em seguida os outros convidados. Havia mesas e
cadeiras espalhadas próximo da varanda, assim como os enfeites que eu tinha
certeza de que era ideia de Michele.
Me voltei para Agnes que tinha os braços cruzados.
— Parabéns minha flor – falou e me abraçou. — Eu já estava me sentindo
péssima com a sua carinha de tristeza. Você merece ser muito feliz, tudo só está
começando.
— Obrigada! – Nos afastamos e eu olhei ao redor. — Cadê o meu pai?
— Ele vem daqui a pouco – respondeu e me fez um carinho na bochecha.
— Ele e o Javier foram para uma reunião importante. As meninas já devem estar
chegando.
Acenei de forma compreensível, eu me lembrava que a Débora havia dito
que precisaria ir para algum lugar no fim de semana. Feliz com aquela surpresa,
abracei Mattias novamente e ri quando os braços me puxaram para cima.
— Belle, minha amiga, depois você beija o bonitão – Michele falou em
voz alta arrancando risos dos convidados. — Vamos socializar.
Dei um último beijo em Mattias e fui me sentar com minha amiga. A mesa
tinha muitos docinhos, salgadinhos e bebidas. Eu me questionava como não
tinha percebido que Mattias planejava aquela surpresa. O olhei completamente
apaixonada, ele conversava com os irmãos enquanto os gêmeos disputavam o
colo dele. A certeza de que eu tinha escolhido o homem da minha vida me
atingiu.
Pega pelo olhar dele, sorri sendo retribuída.
Minha felicidade era tanta naquele momento.
— Toda apaixonadinha... – Ouvi Michele murmurar, a encarei ainda com
um sorriso.
Iniciamos a conversa sobre os preparativos do casamento, mesmo que já
estivéssemos falando por mensagem, tudo era diferente pessoalmente. Comentei
que meu pai havia conseguido uma data na igreja, e falei sobre nossa casa que
estava sendo reformada. Algumas horas depois meu pai, Javier, Débora, Nana e
Kim chegaram.
Apresentei quem não se conheciam, e em especial Nana e Marcos. Ao
notar as bochechas da Nana coradas, a achei uma graça. Marcos pareceu não se
importar quando falei que ela seria a par dele, ou eu que realmente não tinha
conseguido decifrar o olhar quando eu contei.
Marcos era uma incógnita.
Meu pai me presenteou com um colar, mesmo eu tendo dito que ele não
precisava gastar comigo. Afinal, o casamento e a festa seria por conta dele.
Apesar de Mattias e Javier não se darem bem, naquele momento, os dois foram
até educados. Nenhuma piadinha foi dita, ou um comentário desnecessário, e eu
me sentia grata. O tempo passou, e em algum horário da noite, cantamos os
parabéns e repartimos o bolo.
Marcos não demorou muito e logo foi embora com os gêmeos sonolentos.
Em seguida dele, Matheus e Liliane. Agnes antes de ir com meu pai, me
entregou a caixa da butique, fiquei sem acreditar.
— É só uma lembrancinha – comentou enquanto eu abria meu presente.
O vestido era da cor azul-turquesa, tão macio ao toque. Agradeci e a
abracei, meu pai que estava ao seu lado me sorriu e se despediu. Quando
sobraram apenas nós, me virei para Michele que mantinha os braços cruzados e
um pequeno sorriso.
Bruno e Mattias ajudavam dona Rosalinda a limpar as mesas. Rapidamente
Michele agarrou meu braço e entramos na casa rumo ao quarto. Assim que
passamos da porta, coloquei meu presente em cima do móvel.
— Belle sabe que eu tenho a impressão de que você não me contou tudo?
Com aquela pergunta a olhei sem compreender, e quando ela ficou em
silêncio, eu engoli em seco.
— O quê?
— Você já vai se casar no próximo mês – falou como se fosse óbvio. —
Da última vez que estive aqui o assunto casamento foi uma hipótese.
Antes de responder, eu a analisei.
O olhar era desconfiado, de braços cruzados ela esperava uma resposta.
Então eu percebi que eu não tinha dito sobre a gravidez. Pois, quando ela foi
embora, eu só tinha suspeitas e tudo aquilo aconteceu. Com os preparativos eu
nem se quer me lembrei que ela não sabia, eu era uma péssima amiga.
— Eu estou grávida.
Michele na mesma hora me olhou surpresa. Talvez aquele não fosse o
modo correto de avisar, e como se querendo confirmar minhas suspeitas, ela
abriu os braços.
— Assim na lata?
Dei um sorriso sem jeito e esperei uma ação dela, que não demorou muito.
Michele me abraçou e começou a falar sobre como estava surpresa, mas muito
feliz em saber que seria titia. Retribuí o abraço, e segurei a vontade de chorar.
— É que foram tantos acontecimentos.
— O seu pai ameaçou o Mattias? – questionou com um tom de
preocupação, neguei e ela franziu rapidamente o cenho. — Então por que
decidiram? Pela gravidez?
Balancei a cabeça.
— Ele é o homem da minha vida – falei convicta. — Não queríamos
esperar mais. Nossa casa está em obra, porque quando voltarmos da lua-de-mel
queremos nosso lar.
— Nossa Belle – Michele arfou levando uma mão ao peito. — Um bebê...
eu nunca pensei que te veria ser mãe.
— Eu vou ser uma boa mãe.
— Não tenho dúvidas quanto a isso. – Sorriu agarrada as minhas mãos. —
Um bebê...
O olhar carinhoso foi para o meu ventre.
— O primeiro de cinco.
— Meu Deus, que safada! Quem é você e o que fez com minha amiga
santinha? – Ri e peguei a caixa para guardar no guarda-roupa. — Aí Belle, sinto
sua falta no trabalho. Lá é até legal, mas sinto falta das nossas conversas.
— Eram bons momentos – comentei e me virei em direção a ela. — Sabe,
depois que vim parar aqui, e conheci o Mattias e a família dele, me senti
finalmente parte de alguma coisa. – Quando Michele franziu o cenho, eu
continuei. — Não que eu não me sentisse com você e o Bruno, mas é diferente
com...
— Eu entendo, Belle – ela me interrompeu com um pequeno sorriso. — E
está tudo bem, sério. Nem precisa se explicar. Você passou um mal bocado com
sua mãe e o traste daquele coisa ruim. É bom saber que finalmente sente que tem
mais pessoas que te amam. Mesmo.
A abracei apertado.
Eu me sentia tão péssima por não contar sobre Benício, mas eu já tinha me
decidido que não voltaria mais a citar sobre. Nos separamos, e voltamos para o
lado de fora. Ao parar na porta, fitei Mattias que tinha uma cerveja em mãos, e
conversava com Bruno. Michele rapidamente foi até ele e falou sobre minha
gravidez. Meu amigo ficou surpreso, e me abraçou me dando os parabéns. Era
tão nítido que ele estava feliz com a notícia, eu me sentia tão radiante. Me
sentei no colo de Mattias e o abracei. O braço rodeou a minha cintura, e a mão
que antes segurava a cerveja, agora descansava em minha coxa. Ficamos até a
madrugada conversando, mas logo o cansaço nos venceu.
Após meu corpo limpo pelo banho, me aconcheguei na cama com Mattias
que me esperava e o abracei. Michele e Bruno dormiriam na sala, apesar de dona
Rosalinda querer ceder o quarto para eles, meus amigos negaram.
— Obrigada, amor – murmurei fazendo Mattias me encarar. — Eu nem
esperava por nada disso.
— Eu quase estraguei a surpresa – falou risonho. — Não gostei de negar
os seus convites.
Sorri, e inclinei meu corpo por cima dele. Nossos lábios se encostaram, e
em um movimento Mattias me puxou.
— Eu quase chorei quando você, claramente, ficou inventando desculpas.
Mattias sorriu, em seguida me beijou e levou a mão para detrás do
travesseiro. Segurava uma caixinha comprida da cor preta, o olhei sem acreditar.
— Mattias...
— Abre – mandou me interrompendo. Me sentei no colchão, sendo
imitada. Assim que abri a caixinha, sorri ao ver a pulseira prateada coberta por
pequenas pedras brilhantes. Era tão delicada e linda. — Gostou?
— Eu amei! Mas não deveria gastar comigo – falei ainda observando a
joia. Assim que vi a marca o olhei alarmada. — Mattias! Isso foi caro, não
deveria mesmo ter gasto comigo. A nossa casa, e...
— Não se preocupe – pediu com o dedo nos meus lábios. — Você é minha
mulher, merece tudo o que eu posso fazer por você.
— Vai me deixar tão mimada – brinquei segurando a pulseira. — Ela é
realmente linda, Mattias.
Coloquei a pulseira e deixei que ele fechasse. Antes de se afastar, os
lábios tocaram meu pulso.
— Prefiro quando me chama de amor – murmurou e beijou meu pescoço.
O arrepio percorreu meu corpo fazendo com que eu mordesse o lábio. — E eu
não ligo em mimar você.
— Amor... – gemi ao sentir os beijos descerem por meu colo. — Você é
tão carinhoso – sussurrei, em seguida o fiz me encarar. — Não muda comigo,
por favor.
Mattias me olhou confuso.
— Como assim?
Dei de ombros e baixei os olhos, mas ele logo me fez observá-lo.
— É que você me trata com carinho e amor – falei, eu parecia uma boba.
— Só não quero que você se canse de mim. Eu invadi sua vida, e... Tem certeza
de que quer se casar comigo? Não é pelo bebê, né? Ou...
— Bel – as mãos tocaram meu rosto. — Se pudéssemos casaríamos agora
mesmo. – Assim que ele disse aquilo, eu sorri. — Eu tenho certeza de que quero
você, e quero formar uma família enorme nossa.
— Cinco filhos.
— Isso. – Sorriu me fazendo-o o acompanhar. — Você me trouxe um novo
propósito de vida, Bel. A possibilidade de não ter você perto é sufocante. Eu
saio para o trabalho contando os minutos de voltar para os seus braços.
O abracei na intenção de esconder minhas lágrimas, eu parecia uma
bobona chorona. Fiquei alguns minutos agarrada a ele, e quando decidi me
afastar, sequei os rastros das lágrimas. Mattias me olhava entre confuso e
preocupado.
— Desculpa.
— Não precisa se desculpar. – Sorriu me fazendo um carinho na bochecha.
— Se sente melhor? – Acenei, então ele continuou: — Posso fazer alguma coisa
por você? O que você quiser.
De repente o sorriso se tornou malicioso, e apesar de querer repetir a
nossa noite passada, eu queria outra coisa.
— Vamos dormir de conchinha? – Indaguei um pouco tímida. Ele
rapidamente acenou, e sem perder tempo me aconcheguei nele.
Mattias usava apenas uma cueca samba canção, e apesar da noite fria,
Mattias estava quente. Senti o braço arrodear minha cintura, e uma das pernas
entrar no meio das minhas. Um beijo foi depositado no meu pescoço, e como
retribuição, esfreguei meu traseiro em Mattias.
— Que malvada.
Sorri me esfregando uma última vez.
— Boa noite, amor.
Fechei os olhos e junto a Mattias deixei que a inconsciência me tomasse.
Isobelle
Antes mesmo de abrir os olhos, senti uma mão segurar a minha e aquele
toque eu sabia de quem era. Mattias estava sentado ao meu lado, a gravata
afrouxada, quando percebeu que acordei, me presenteou com um sorriso.
— Oi, Sra. Ferreira.
Sorri e agarrei a mão dele.
— Oi... Desculpe por aquilo na sala.
— Não se desculpe, não foi culpa sua. – Falou e em seguida beijou minha
mão. — Fiquei orgulhoso pelo que disse a ela. O intuito foi te magoar, mas ela
que saiu magoada. Porque ela sabe que o que você disse foi apenas a verdade. A
partir de hoje é nova vida para a gente, e os nossos cinco filhos.
Concordei e recebi um beijo nos lábios. Ainda deitada olhei ao redor, eu
estava no quarto da mansão e lá fora a festa continuava. Me voltei para Mattias
e toquei na aliança grossa em seu dedo.
— Eu disse ao padre que teríamos cinco filhos.
Mattias riu e me acarinhou a bochecha.
— Eu quis rir muito naquela hora – confessou. — Por que se entregou
daquela forma?
— Fiquei nervosa – respondi sem tirar os olhos dele. — Não trabalho bem
sob pressão. – Com a ajuda dele, me sentei. — Por quanto tempo estou por aqui?
— Alguns minutos. Se quiser podemos ir agora.
— E perder a nossa festa? – indaguei e neguei com a cabeça. — Não,
quero conhecer nossos convidados, dançar com você, com o meu pai. Quero ver
a sua mãe, ela ficou nervosa lá na sala e eu acabei desmaiando. Ela deve estar
preocupada.
— Ela ficou bastante. Nenhum dos convidados viram a cena, a Débora deu
um jeito nisso.
Respirei em alívio.
— Que bom! Não teria coragem de enfrentar os olhares deles. O que
disseram sobre o nosso sumiço.
— Que você quis antecipar a lua de mel. – No mesmo instante eu o olhei
alarmada, mas então ele riu. — Brincadeira.
— Você é tão engraçadinho – alfinetei fazendo-o sorrir mais. Me levantei
da cama, e Mattias logo me pegou nos braços. — Amor? – Ele me olhou com um
pequeno sorriso. — Eu te amo demais.
Nos beijamos, ali parados na entrada da porta, e eu quase pedi para
voltarmos para cama. No entanto, eu queria aproveitar minha festa e convidados.
Parei o beijo com um selinho e em seguida o abracei pelo pescoço. Assim que
aparecemos na escada, vi Rosalinda entrar pela porta da frente. Ela rapidamente
andou em nossa direção.
— Oh, minha filha – murmurou aflita. Mattias me colocou no chão, e eu
recebi de bom agrado o abraço acalentador de Rosalinda. — Como você está? Se
sente melhor?
— Sim, obrigada por ter me defendido. Por um momento eu fiquei sem
saber o que falar.
— Não precisa me agradecer – falou assim que nos separamos do abraço.
— Só sinto muito por você ter visto quando dei aquele tapa na cara dela. Eu sei
que não devia, mas não me aguentei. Eu já estava na vontade desde que você me
falou dela, e hoje de manhã você estava chorando por conta dela, então tudo
ficou um rebuliço dentro de mim.
— Eu não estava chorando hoje de manhã.
— Não? – franziu o cenho. — Mas a Débora me disse que você estava
chorando.
A olhei sem entender, mas logo compreendi.
— Eu fiquei enjoada e... – Parei e olhei para Mattias que nos encarava.
— Vomitei um pouco. Eu comi muito, aí passei mal.
Rosalinda balançou a cabeça em entendimento e me segurou a mão.
— Mas agora você está bem mesmo? – Perguntou e eu confirmei. —
Ótimo! Vamos espairecer um pouco? Tem muita gente que quer te conhecer.
Preparada?
— Sim, por favor.
Era tudo o que eu queria: esquecer do episódio de mais cedo.
No lado de fora os convidados festejaram assim que aparecemos. Em uma
mesa enorme, eu vi meus amigos com as pessoas mais próximas de mim e
Mattias. Acenei para Michele que me sorriu carinhosa, Alice estava em seu colo.
Rosalinda me apresentou as madrinhas do Mattias e irmãos, os tios e uns
conhecidos. Conheci também a esposa do Leôncio, e a do José. As duas eram
simpáticas e bem-educadas.
Fiquei um bom tempo conversando com todos, mas logo junto a Mattias
fui conhecer a parte da família paterna. Fiquei surpresa ao descobrir duas irmãs
do meu pai, e algumas primas. Eu, que nunca se quer tinha visto uma foto delas.
— Isobelle, como você cresceu! Ficamos felizes em saber que finalmente
se acertou com o seu pai.
Fiquei alguns minutos em silêncio, pega de surpresa. Então elas não
sabiam o que tinha acontecido?
— É, eu sentia muitas saudades dele.
— Adolescência não é fácil, que bom que estamos juntos de novo.
Moramos na capital do Rio, depois vá conhecer. Alguns dos nossos parentes
moram por lá, uns não conseguiram tirar uma folga, mas enviaram presentes.
— Não precisavam se incomodar.
— Não é incômodo! – Sorriu e me abraçou. Aquela se parecia com o meu
pai, se chamava Andreia. — Me fala vão morar por aqui mesmo? Ou na cidade
grande?
— Por aqui mesmo, nem eu ou o Mattias pensa em sair da roça.
— Gostam mesmo daqui! E você, Mattias, com o que trabalha?
— Sou médico veterinário – respondeu o que tirou um grande sorriso da
minha tia. — Trabalho em algumas fazendas da redondeza.
— Além de lindo, gosta dos bichos! – Andreia falou sorridente, olhei para
Mattias e sorri. — Porque só encaram essa área se gostar bastante.
— Realmente, nunca tive dúvidas do que eu queria.
De onde eu estava parada, olhei para o lado e vi meu pai andar
furiosamente para dentro da mansão sendo seguido por Agnes. Pedi licença e
andei atrás deles. Ao chegar na entrada, percebi que eles seguiam para a
biblioteca.
— Pai! – O chamei fazendo-o parar no corredor. — O senhor saiu? Foi
atrás da minha mãe?
— Não vamos falar dela, filha. Hoje não é dia para isso.
Agnes, que estava ao lado, cruzou os braços e soltou um suspiro.
— Eu sei que é difícil, Isobelle, mas você precisa realmente se afastar da
sua mãe. Ela não te faz bem, e você está grávida, não pode estar passando por
estresses.
— Eu sei – falei em um sussurro. — Eu... – parei por uns segundos, mas
logo voltei a falar. — A senhora tem razão.
Com um pequeno sorriso, Agnes se aproximou e me deu um abraço.
— Conheceu os nossos parentes? – perguntou e eu acenei. — Conheceu a
Andreia? Irmã do seu pai?
— Sim, estávamos falando com ela.
— Cuidado que ela faz perguntas um pouco fora de hora.
— Agnes – Meu pai franziu o cenho. Como resposta, Agnes revirou os
olhos. — Ela só gosta de conversar.
— Ela me perguntou o que eu faria para você na nossa lua-de-mel.
Sem jeito, eu dei um pequeno sorriso e olhei para trás. Mattias estava
parado na sala, me esperava com as mãos nos bolsos.
— Eu vou voltar para a festa – avisei para ninguém em especial, já que
meu pai e Agnes se encaravam sem falar nada. Dei meia volta, e andei até parar
junto a Mattias. — Vamos aproveitar, Sr. Ferreira?
Ele logo sorriu e me puxou para junto do corpo dele. A barba roçava em
meu rosto, me instigando a procurar por mais contato. O toque carinhoso
deslizando por meu braço me deixou pegando fogo, era tão inevitável não sentir
assim.
— Titia! Titia! – Me afastei de Mattias e olhei para o lado. Maria Alice
corria descalça. — Eu segurei a Kimbi no colo, e ela sorriu pra mim.
— Segurou quem? – Indaguei me abaixando, ficando na altura dela. —
Quem é Kimbi?
— A bebezinha da Tia Nana – falou como se fosse óbvio e me puxou pela
mão. — Vamos titia, vem segurar ela também.
Olhei para Mattias que sorria e segui Alice. Nos sentamos na mesa que
estavam todos os meus conhecidos, e começamos uma divertida conversa. Os
únicos que não estavam ali era Javier e Débora, eles se sentaram em outra mesa.
Ali, em meio aos meus amigos, comi uns docinhos e ri porque Michele tinha
escutado quando eu disse sobre os cinco filhos para o padre. Ela não me faria
esquecer aquele episódio.
No fim da tarde cortamos o bolo, tiramos muitas fotos e em seguida foi a
hora da dança. Meu pai me tirou primeiro, estava emocionado, se segurava para
não chorar. No entanto, as lágrimas desciam teimosas, sorri para ele.
— Se a Agnes me pega assim me chama de chorão, mas eu não sou.
— Não é – concordei também emocionada. — Eu não conto para ela.
Após um último rodopio, ele me abraçou e me deu um beijo na testa. Atrás
dele, Mattias esperava por sua vez, e pela segunda vez naquele dia meu pai deu
minha mão ao meu marido.
O trouxe para mais perto e começamos nossa valsa. Eu sorria sem segurar
minha felicidade, e Mattias não estava diferente. Nossos lábios se encontraram
em um beijo cheio de sentimento e amor. Me afastei minimamente dele e percebi
que outras pessoas estavam dançando ao nosso redor.
— Amor... – O chamei baixinho, ele sorriu em minha direção. — Acho que
já está na hora da gente ir.
— Minha mala já está no carro – confidenciou e eu ri. — O que ainda falta
fazer?
— Jogar o buquê. – Avisei e o puxei para fora da pista de dança. —
Pessoal! Eu vou jogar o buquê!
Débora e as meninas rapidamente se juntaram em uma parte ao lado da
mesa dos doces. As únicas que não tinham levantado foi minha sogra, que
segurava a Kim, Michele e Nana. Vi que Bruno até tentou encorajar Michele,
mas ela apenas negava com a cabeça. A música estava em um volume baixo,
permitindo que ouvíssemos a mulherada falando alto e rindo umas com as
outras.
Me virei de costa e após contar até três, joguei o buquê. Ansiosa para
saber quem pegou, olhei e ri um pouco surpresa. O buquê tinha caído no colo da
Nana. Foi uma graça ver o rosto, mesmo maquiado, ficar vermelho de vergonha.
Acenei para ela que me sorriu tímida e em seguida peguei o caminho de volta
para a mansão.
Ao chegar no meu quarto fui em direção ao banheiro, eu queria tomar um
banho, mas esperaria até chegar no hotel no Rio.
Fiz minhas necessidades, e após terminar lavei as mãos e olhei meu
reflexo no espelho. Meu sorriso ainda estava ali, minha maquiagem não estava
tão ruim, apesar de ter chorado antes. Com o que tinha por ali, retoquei em
algumas partes borradas, e sem perder mais tempo saí do banheiro. O vestido
que eu usaria na viagem estava estirado na cama. Antes que eu pudesse começar
a tirar o meu de noiva, ouvi Michele me chamar da porta.
— Entra! – Assim que permiti a entrada, ela abriu a porta e me sorriu. —
Me ajuda a descer o zíper? – Pedi e ela se aproximou. — Daqui vamos para o
hotel e amanhã cedo vamos para o aeroporto. Nossa lua-de-mel vai ser em
Maragogi, fica no Nordeste.
— Aí amiga, fico tão feliz por vocês! – Disse ainda com um sorriso. — Na
volta quero ver as fotos, então tire bastante.
Acenei e peguei o outro vestido que era mais soltinho.
— Você vai ficar por aqui?
— A Tia Rosalinda me convidou para passar mais dois dias com ela –
avisou de braços cruzados. — O Bruno vai precisar voltar antes. Belle... – No
mesmo instante ela me abraçou apertado. — Você é minha melhor amiga.
— Você também, Michele. Obrigada por tudo.
Nos afastamos entre chorando e rindo.
— Eu trouxe uma mala para você, e a recheei de tudo o que você vai
precisar usar nesses dias de lua-de-mel.
A olhei surpresa, mas ao ver o sorriso malicioso fiquei um pouco
apreensiva.
— O que tem na mala?
— Você vai saber em breve – retrucou e me ajudou a subir o zíper do novo
vestido. — Agora vamos embora, seu marido está lá na sala se despedindo de
todo mundo.
“Meu marido”.
Sorri e ao lado de Michele nos dirigimos para a sala.
Após nos despedir, Mattias entrelaçou os nossos dedos e rumamos até o
carro que nos levaria até o hotel no Rio. Acenei para todo mundo, e com a ajuda
de Mattias, me aconcheguei no lugar atrás.
— Podemos ir? – O motorista perguntou do banco da frente.
— Sim, obrigado. – Mattias respondeu já do meu lado. — Muito cansada?
Seu olhar me analisou detalhadamente.
— Louca para esticar as pernas – falei sorrindo. — Super ansiosa para
conhecer o resort.
— Se quiser pode dormir, quando chegarmos no hotel te acordo.
Encostei minha cabeça em seu ombro e entrelacei nossos dedos. Com o
balançar do carro na estrada de terra, senti o sono, que até então não tinha. Do
caminho até o nosso destino, dormi sem me preocupar com nada e após algumas
horas de viagem finalmente chegamos no hotel.
Um pouco sonolenta, abri os olhos, vi o motorista retirar as malas e
entregar ao funcionário do hotel. Mattias desceu e me ajudou a fazer o mesmo. A
fachada do hotel era enorme e bem iluminada, parecia ter saído de um filme.
Entramos no hall e logo fomos recepcionados por um funcionário que avisou ser
o gerente. Fizemos o check-in e seguimos para o nosso quarto. Antes que eu
pudesse entrar sozinha, Mattias me pegou nos braços e entrou com o pé direito.
— Enfim sós!
Sorri e quando fui colocada em cima da cama, me espreguicei
completamente.
Voltei meu olhar para Mattias, ele estava na porta e nossas malas do lado.
A mala ao qual Michele tinha dito estava em cima de outra, era bem pequena. De
forma curiosa me levantei e fui até ela.
— Tem uma banheira aqui – Mattias avisou parado na porta da suíte. —
Me acompanha?
O olhei e ele me sorria maliciosamente.
Ainda mantendo os olhos em mim, ele retirou a camisa e se aproximou. Os
braços rodearam minha cintura e num impulso fui puxada para cima. Enebriada
com o momento o beijei, e me esfreguei como pude nele. Após alguns minutos
de beijo, separei os lábios em busca de ar, e apreciei quando os beijos desceram
por meu pescoço.
— Amor... – o chamei de forma dengosa. — Eu aceito o banho primeiro.
Mattias me olhou e deu um sorriso.
— Vou encher a banheira.
Dito isso, fui colocada no chão e o observei ir.
Sozinha no quarto, peguei a mala e fui até a cama. Me sentei no colchão e
abri o zíper. Por cima vi alguns biquínis de várias cores, cangas e protetor solar.
Sorri com aquele cuidado. Retirei os itens e coloquei em cima da cama. Abri um
bolso interno da mala e no mesmo instante me senti constrangida.
Havia vários plugs anais de diferentes tamanhos, vibradores, lubrificantes
e uma algema de pelúcia.
Mordisquei o lábio e balancei a cabeça. Em um momento na minha
despedida de solteira, eu havia pedido algumas dicas a ela sobre aquele tipo de
sexo, afinal ela era minha melhor amiga, e como uma enciclopédia ambulante
tudo me foi explicado tintim por tintim.
— Quer muita espuma? Ou... – Num impulso tentei esconder o interior da
mala com as mãos. — O que foi?
— Nada! – Neguei um pouco assustada, como eu explicaria todos aqueles
acessórios? — Muita espuma.
O olhar desconfiado foi na mala, em seguida em mim.
— Certo, eu vou entrando.
— Está bem, vou só guardar os biquínis e vou. – Apontei para as peças em
cima da cama e recebi um aceno. Quando ele se foi, peguei um dos plugs que era
mais discreto e o tirei da caixa. — Meu Deus do céu.
Ele era pequeno, metálico e na ponta tinha uma pedra brilhante. O
coloquei de volta na caixa e peguei o lubrificante. Os dois seriam usados
naquela noite, mas então veio o meu questionamento. Eu mesmo colocava ou
pedia ajuda? Com aquilo em mente, guardei os dois na gaveta do móvel ao lado
da cama e fiquei de pé. Juntei as peças, colocando-as novamente na mala e
rapidamente fui para a suíte.
Da porta, vi Mattias já dentro da banheira cheia de espuma. Os braços
musculosos estavam apoiados na borda da banheira, seu olhar era totalmente
malicioso. Entrei e parei em frente a ele. Sem tirar os olhos dele, desci o zíper
lentamente e quando ele caiu em meus pés, foi a vez da calcinha.
Prendi os cabelos no alto da cabeça e sinuosamente coloquei uma perna
dentro da banheira. Mattias rapidamente me estendeu a mão e me ajudou a
entrar. Me sentei na outra ponta de frente para ele e juntei um pouco da espuma,
esfregando em meus seios.
— Está gostando?
Acenei com a cabeça e sorri de lado.
— Eu tenho uma surpresa para você – falei e o parei com o pé quando ele
fez menção de se aproximar. — Tente adivinhar primeiro.
As duas mãos seguraram meu pé e quando ele iniciou uma massagem, eu
fechei os olhos para apreciar.
— A surpresa está naquela mala? – indagou, então o encarei e acenei. — É
de vestir?
Ri sapeca e confirmei meio incerta.
— Eu vou precisar da sua ajuda para colocar.
Mattias parou a massagem um pouco confuso e me puxou pela perna. Fui
até ele, e quando me fez sentar em seu colo, senti a ereção cutucar entre as
minhas pernas. A banheira era espaçosa, o que me permitiu me aconchegar mais
em cima dele.
— É uma fantasia?
— Quase.
A mão desceu por meu traseiro, onde ele deu um apertão me fazendo
gemer.
— É uma roupa?
— Não! – Ri de nervosa. Estava com vergonha, mas queria que ele
descobrisse sozinho. — É outra coisa.
— Vai precisar da minha ajuda para colocar? – Ele perguntou como se
querendo confirmar. Acenei. — E não é um tipo de roupa? Não consigo pensar
em nada.
Sensualmente desci minha mão pelo peitoral dele, e quando agarrei sua
ereção comecei os movimentos de vai e vem. Aproximei nossos lábios e o beijei
lentamente, às vezes passando a língua, ou o mordendo.
— Vou deixar que pense um pouco – murmurei e o beijei pela mandíbula.
— Enquanto isso... – o afastei e fiquei de pé na banheira. — Eu estou faminta,
vamos pedir nosso jantar?
— O quê? – indagou me puxando pela mão, me fazendo sentar novamente
em seu colo. — Vai me deixar de pau duro? Quando ficou tão malvada assim?
Eu ri e o abracei.
— Eu prometo que vou recompensá-lo – disse de forma confiante —, mas
agora seu filho e eu estamos com fome.
Assim que terminei, sua mão tocou o meu ventre.
Com a ajuda dele saí da banheira, e fomos para o chuveiro, teríamos mais
tempo depois para usar a banheira. De todas as formas.