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Deixe Que As Crianças Venham Até Mim

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«Deixem

que as crianças
venham a mim»

SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA

Mensagens bíblicas-teológicas para o


ministério com a infância e com a juventude
«Deixem que as crianças venham a mim» Lembremos o que nos ensinou nosso Mestre: «Deixem vir a mim as criancinhas. Não as
impeçam de vir a mim, porque o reino de Deus é dos que são como eles. Eu garanto que
SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA E AMPLIADA a pessoa que não confia em Deus como o faz uma criança, não poderá entrar no reino
de Deus». (Lucas 18:16-17).3
Este documento foi preparado pelo Movimento com a Infância e a Juventude (MIJ com
o propósito de proporcionar às igrejas, instituições teológicas, organizações cristãs e Enrique Pinedo
líderes eclesiásticos em geral, um recurso educativo para uma reflexão bíblica, teológica Coordenador do Movimento com a Infância e a Juventude
e pastoral sobre o ministério com as meninas, meninos, adolescentes e jovens. Não
pretende ser um documento conclusivo, senão um ponto de partida para posteriores Harold Segura
reflexões e, sobretudo, para assumir maiores e melhores compromissos em este Membro do Comitê Diretor e Coordenador da Mesa de Bíblia e Teologia
prioritário ministério.
São José, Costa Rica, março 1 de 2016
O processo de redação1 foi participativo: durante um ano, a Mesa da Bíblia e Teologia
do MJNJ trabalhou em diferentes versões do documento que depois pôs em mãos de
mais de 120 líderes de igrejas para que fosse discutido, corrigido e melhorado.2 Este
texto é o resultado de um longo processo no qual participaram pastores e pastoras,
teólogos e teólogas, docentes e outros líderes de diferentes igrejas do continente, entre
adolescentes, jovens e adultos.

Por sua parte, esta segunda edição é publicada um ano depois da primeira com algumas
mudanças gramaticais, com a ampliação de certos temas e maior coerência e ordem em
seu desenvolvimento.

Agora o documento será propriedade daqueles que desejem unir-se a este processo
participativo: lendo-o, discutindo-o e meditando-o. O texto está dividido em parágrafos e
cada parágrafo tem um número, isto com o objetivo de que seja possível fazer referências
(citar partes específicas) com maior facilidade no processo de estudo e reflexão. Nossa
oração radica em que o que começou como um texto escrito se converta, pela graça de
Deus e pelo compromisso do seu Povo, em um movimento que, juntos com a infância e a
juventude, faça possível uma Igreja inclusiva onde, aqueles que tenham sido considerados
por sempre pequenos passem hoje a ser protagonistas da Missão e foco central do
ministério.

1 A equipe de redação foi formada por Nicolás Panotto (Argentina), Edesio Sánchez (México), Ruth Alvarado (Peru), Ángel Manzo (Equador), Juan José Barreda (Peru - Argentina) e Harold Segura (Colômbia -
Costa Rica).Também participaram como leitores e corretores da primeira edição: Luciana Noya (Uruguai), Illich Avilés (Nicarágua) e Priscila Barredo (México - Costa Rica). O editor geral foi o Coordenador da
Mesa de Bíblia e Teologia: Harold Segura.
2 Foram tomados em conta as contribuições que surgiram do trabalho em grupo de mais de 100 participantes do Congresso Mesoamericano A Infância, Coração da Missão, celebrado em San Salvador, El
Salvador, em outubro de 2014 e convocado pelo Movimento Juntos com a Infância e a Juventude e também do encontro de teólogos, biblistas e pastores reunidos na Conferência Latino-americana sobre
Teologia da Infância, auspiciada por Child Theology Movement, em Quito, Equador, de 17 a 21 de agosto de 2015.
3 Todos os textos bíblicos foram pegos da Bíblia Tradução em Linguagem Atual,TLA, Sociedades Bíblicas Unidas, 2003.

2 «Deixem que as crianças venham a mim»


ÍNDICE
PRIMEIRA PARTE: Nossas meninas e meninos hoje
5
Infância em situação de risco social. Infância vulnerável e vulnerada
Um problema «de grandes»
O adulto centrismo nas nossas igrejas
Onde estão nossas meninas e meninos?

SEGUNDA PARTE: As meninas e os meninos no reino de Deus


8
O que é e o que pode ser
Os pequenos e as pequenas do reino
O reino e a família
Meninos e meninas: sujeitos teológicos do reino

TERCEIRA PARTE: Do Deus Patriarca ao Deus Família


11
Imagens de Deus
Sobre a comunidade do Deus Trinitário e a família

QUARTA PARTE: Eclesiologia desde a infância 14


Igrejas de meninos e meninas
Igrejas que aprendem a brincar
Meninos e meninas no centro
Teologia e brincadeiras
Missão desde a infância: conversão, evangelização, discipulado e pastoral

QUINTA PARTE: Desafios: transformar e ser transformados


18
Igreja serviçal e profética
Igreja sensível e disposta a aprender
Igreja intergeracional e inclusiva
Igreja gentil e promotora de justiça
Igreja formadora e protetora

Proposta de mediação pedagógica


21

3 «Deixem que as crianças venham a mim»


INTRODUÇÃO

0. Meninos, meninas e adolescentes representam os setores mais numerosos de nossas sociedades latino-americanas e, além disso, são os mais vulneráveis em contextos de
pobreza, injustiça e desproteção.4 Eles formam parte dos grupos mais afetados por diversas problemáticas como a violência, migração, HIV e AIDS, entre outros. Dito panorama
forma parte da realidade cotidiana em nossas comunidades e igrejas. Consequentemente, para enfrentar esta situação devemos indagar sobre as estatísticas e outros dados
quantitativos, especialmente em torno a suas causas. A partir daí, é nossa responsabilidade refletir em como podemos agir desde nossas perspectivas de fé. Como povo de Deus
devemos nos interrogar sobre o que nos ensinam as Escrituras, repensar nossa ética cristã, avaliar nossa missão e as possibilidades concretas com as que contamos para agir
como agentes de transformação.

4 Ver relatório 2014 de UNICEF: http://www.unicef.org/spanish/sowc2014/numbers/

4 «Deixem que as crianças venham a mim»


Nossas meninas e meninos hoje

5 «Deixem que as crianças venham a mim» 1


Infância em Rica e El Salvador. Esta situação também se reflete nas
igrejas, especialmente a partir de uma interpretação
errônea das Escrituras no que diz respeito ao
os meninos e meninas vulneráveis e em situação de
orfandade devido ao HIV e AIDS se enfrentam a um
maior risco de desnutrição, violência, exploração e

situação de
castigo físico. Estas, em muitos casos, servem como abuso.
motivadoras ou legitimadoras de situações de abuso 6. Um grupo que poucas vezes é visto dentro do círculo
e violência no seio de famílias cristãs. de vítimas ou em situação de risco são os meninos e as

risco social.
meninas envolvidas na delinquência. Em muitos casos,
3. Em uma investigação realizada no Peru e na Bolívia5 existem bandas ou «tribos urbanas» organizadas que
sobre as igrejas evangélicas e a violência doméstica, recrutam menores, alguns de muito pouca idade,

Infância
no parágrafo sobre crenças e práticas de castigo e que são influenciados para manter estilos de vida
disciplina dados aos meninos e meninas, é constatado impregnados pela violência. São diversos os fatores
que mais da metade das famílias evangélicas está de que contribuem para o envolvimento desses meninos

vulnerável e
acordo ou parcialmente de acordo com o castigo em estas bandas delitivas: casos de violência dentro
físico; mais da terceira parte afirma que o faz com da família das que eles querem fugir, discriminação
instrumentos como cintos, varas ou outros objetos. racial, pobreza extrema, anomalia social por migração,
Também foi comprovado que no Peru o castigo físico corrupção policial, ambição por obter certas posses

vulnerada em lares evangélicos é praticado com mais frequência


que em outras famílias da sociedade peruana, e na
Bolívia, apesar da diminuição no uso do castigo
influenciada pela sociedade de consumo, etc. Estes
grupos não somente se caraterizam pela delinquência,
senão que também por um forte sentido de
físico dentro do âmbito familiar, aumentou o castigo propriedade, comunidade de respeito e autonomia
psicológico. Em ambos os países são as meninas que que muitas vezes não sentem em suas famílias nem
mais sofrem com castigo físico. por parte do resto da sociedade.

1. As estatísticas e os estudos sobre a situação dos 4. Em esta mesma investigação foi demonstrado 7. Como outra cara de esta realidade, devemos
meninos, meninas e adolescentes na América Latina que o número de abusos sexuais feitos contra os reconhecer que existem cada vez mais políticas sociais
nos mostram uma imagem que deve nos preocupar meninos é alto: um 90% dos casos corresponde às e iniciativas de diversos atores em favor dos meninos
seriamente: a «infantilização da pobreza». O subgrupo meninas, sendo familiares ou pessoas conhecidas da e das meninas. Durante a última década vários
mais numeroso dentro dos setores empobrecidos e vítima os causadores desses abusos mais comuns. governos na América Latina vêm se aprofundando no
indigentes na nossa região são meninos e meninas. A esse respeito, as porcentagens de abuso sexual estabelecimento de políticas públicas comprometidas
A pobreza é entendida não somente como carência em adolescentes entre 15 e 19 anos alcançam um com este setor desde oportunidades mais igualitárias
econômica, mas também como falta de acesso a 20% em vários países do continente. Além disso, o em educação, saúde, gênero, justiça em casos de
serviços básicos de saúde, à educação formal, a problema do Tráfico6 de menores é crescente na violência doméstica até a geração de contextos de
espaços para participação e espaços de proteção. A região: na América Latina 2 milhões de meninos, igualdade de oportunidades para aqueles que estão
violência, o abandono, a discriminação, a exclusão, a meninas e adolescentes são vítimas de exploração em condição de pobreza. No entanto, as problemáticas
desproteção e a propagação de enfermidades, entre laboral e exploração sexual comercial. antes mencionadas persistem e os meninos, meninas,
outras problemáticas, se apresentam com maior adolescentes e jovens representam o setor de maior
magnitude em contextos de pobreza. 5. O impacto que a epidemia do HlV e AIDS está vulnerabilidade com respeito aos problemas sociais
tendo na infância é devastador. Mais de 2 milhões de de nossas sociedades.
2. Na América Latina, mais de seis milhões de meninos e meninos e meninas vivem com HIV e AIDS no mundo
meninas sofrem de abuso físico, incluindo o abandono. e se calcula que 47.000 estão na América Latina e no Um problema de «grandes».
Mais de 80.000 meninos e meninas menores de 18 Caribe. Apesar de que na Região tenham conseguido
anos morrem cada ano por abuso dos seus pais. Os avançar no cuidado e no tratamento das pessoas 8. As cifras citadas no parágrafo anterior mostram uma
5 países com porcentagens mais elevadas de violência adultas, não acontece a mesma coisa com os meninos realidade que vemos ao nosso redor dia a dia. Agora,
são Nicarágua, República Dominicana, Peru, Costa e meninas. Sem o entorno protetor de suas famílias a pergunta é: Por que os meninos e as meninas do

5 Relatório, Dentro de quatro paredes. Evangélicos e a violência doméstica no Peru e na Bolívia:


http://institutopaz.net/recursos/resumen-ejecutivo-dentro-de-las-cuatro-paredes http://institutopaz.net/recursos/resumen-ejecutivo-dentro-de-las-cuatro-paredes-bolivia
6 O Tráfico de pessoas representa o comércio ilegal de pessoas com fins de exploração sexual, trabalho forçado e outros tipos de escravidão.
6 «Deixem que as crianças venham a mim»
nosso continente são o grupo mais vulnerável? O que se apresenta «naturalizada», em outras palavras, pouco protagonismo que possuem nas atividades
que existe de particular com as circunstâncias deste desde compreensões e definições que são aceitas consideradas como exclusivas das pessoas adultas.
setor para ser considerado vítima de tais premências? porque estão – supostamente - inscrito em nossa Desde uma perspetiva ainda mais ampla vemos esta
As respostas a estas perguntas estão estreitamente condição humana - biológica e corporal -, em lugar dinâmica nas formas em que são compreendidas as
vinculadas às formas nas que compreendemos e de responder a cosmovisões sociais, culturais e doutrinas e as imagens de Deus, as quais respondem
definimos quem são nossos meninos e meninas, o temporais com respeito às determinações etárias a uma visão adulta e masculinizada que representam
qual se relaciona, ao mesmo tempo, com o lugar que transitórias e questionáveis. Esta divisão está baseada somente de maneira parcial a revelação bíblica.
têm nas sociedades latino-americanas. A maneira em em caracterizações de ambos os grupos. Também é possível mencionar algumas práticas, tais
que responderemos à pergunta básica do que significa c. Que rege uma distinção muito marcada entre as como o batismo, a Santa Ceia do Senhor, a liturgia,
ser menino e menina resultará em diversas formas «coisas que têm que ver com meninos e meninas» entre outras, onde a infância e a adolescência estão,
de agir, de entender a realidade e de reconhecer a e as «coisas dos adultos». Isto produz distinções nas em muitos casos, completamente excluídas.
infância em nossas comunidades. Diante das diferentes próprias relações de poder, de direito e de valor entre
compreensões sobre a infância corresponderão ambos os grupos onde os adultos são considerados 14. Mas, como já mencionamos, o adulto centrismo
certas maneiras de agir dirigidas a ela. superiores aos meninos e meninas. também é apresentado como uma forma de
d. Que há uma «lógica do adulto» e uma «lógica da compreender a vida e o mundo. Categorias como
9. Muitas vezes as práticas e circunstâncias de exclusão infância» com respeito a como ver a vida, que se força, domínio, controle, êxito, suspeita, rivalidade,
são dadas por naturalizar a condição dos meninos e contrapõem entre si e não encontram maneira entre outros, estão vinculadas a uma mirada adulta.
das meninas dentro de certos esquemas e estruturas alguma de vincular-se, onde a primeira é vista como Estas se contrapõem às categorias que são feitas com
rígidas e erradas. Daqui emergem muitas interrogantes aquela a que se deve aspirar a chegar e a segunda respeito à infância que estão ligadas a ideias como
cujas respostas necessitarão ser abordadas como uma etapa inicial que deve ser superada. entrega, confiança, brincadeira, companheirismo e
contextualmente e como diálogo entre distintas áreas abertura para as outras pessoas. A oposição destas
de estudos (sociais, médicas, psicológicas, teológicas, 11. Em resumo, um trabalho comprometido com a infância cosmovisões implica diversas definições sobre o lugar
entre outras), onde a definição de menino ou menina e com a adolescência implicará atender não só as dentro da igreja, formas de vinculação na comunidade,
não se reduza a categorias biológicas, e que, por outro consequências de certas práticas e contextos, senão práticas de espiritualidade, modos de exercer o poder,
lado, se pense desde nossa diversidade de realidades também as visões, ideários e discursos que permitem lugares dentro da hierarquia na estrutura eclesiástica,
latino-americanas. Por isso, ao longo deste documento ditas circunstâncias. Em outras palavras, necessitamos posicionamentos dentro do núcleo familiar, entre
nos perguntaremos: Que lugares têm as meninas e os questionar o adulto centrismo presente em nossas outros, que determinam a cada grupo em forma
meninos em nossas comunidades e igrejas? A partir sociedades, já que estes fenômenos dão lugar a que particular e as enfrenta de forma quase irreconciliável.
de quais contextos são definidos o que é ser menino os meninos e meninas sejam vítimas de maltrato,
ou menina? As compreensões que conhecemos deles, violência e exclusão a partir de um uso desmedido de Onde estão nossas meninas e meninos?
a que perspectivas respondem? É possível que as poder dos adultos, que se legitima a partir do suposto
mesmas legitimem sua condição de vulnerabilidade, lugar de superioridade que possuem. 15. Diante deste panorama uma proposta de mudança
ou ainda mais, que ponham os meninos e meninas em implica necessariamente ir ao fundo desta
situação de risco? O adulto centrismo em nossas igrejas problemática: as cosmovisões (sociais, culturais e
religiosas) que sustentam e fundamentam a posição
10. A situação de risco na que se encontram os meninos 12. O adulto centrismo afeta as nossas igrejas? de vulnerabilidade da infância. Em outros termos, os
e as meninas responde principalmente à cosmovisão Lamentavelmente a resposta é afirmativa. Podemos meninos e as meninas necessitam um novo lugar em
adulto cêntrico que forma parte de nossas sociedades. encontrar diversas cosmovisões que consideram nossas famílias, nossas comunidades, nossas escolas,
O que queremos dizer com isso? inferior o lugar da infância, agora fundamentadas nossas igrejas e nossos países. Por isso, hoje em dia
em leituras bíblicas e princípios doutrinais. Isto se se fala das meninas e dos meninos como sujeitos de
a. Que os meninos e meninas têm um lugar de vê refletido nos modos de organização ministerial, direito onde se reconhece sua capacidade de eleger,
inferioridade com respeito às pessoas adultas, o que práticas sociais e estruturas de liderança onde a de criar, de crescer, de participar, de acreditar e de ter
se reflete em carência de direitos, de espaços de exclusão dos meninos e meninas se faz evidente. voz.
inclusão, etc.
b. Que existe uma divisão entre adultos e meninos 13. Concretamente, podemos ver este adulto centrismo
no lugar secundário que têm os meninos, meninas
e adolescentes na organização da igreja e no

7 «Deixem que as crianças venham a mim»


As meninas e os meninos
no reino de Deus
«Então ele se sentou e chamou os doze e lhes disse: Se alguém quiser ser o primeiro, será o último de
todos, e o servidor de todos. E pegou um menino, e o pôs em meio deles; e pegando-o em seus braços,
lhes disse: aquele que receba em meu nome a uma criança como esta me receberá a mim; e aquele que
a mim me recebe, não me recebe a mim, mas sim Aquele que me enviou». (Marcos 9:35-37)

8 «Deixem que as crianças venham a mim» 2


O que é atender aos pobres, aos cativos, e lutar contra as
injustiças no âmbito social, político, econômico e
religioso (Mt 5:3, Lc 4.16-20). Para Jesus a vida no reino
implicou atos de amor e de justiça onde muitas vezes
sendo como meninos (18:3). A metáfora pequeno
faz menção à renúncia das categorias de poder e
domínio contemporâneas e é um chamado a assumir
uma opção de vida de serviço desde a vulnerabilidade

e o que rompeu com ideologias que legitimavam a exclusão às


mulheres, a marginalização dos doentes, o desprezo
aos estrangeiros, o abuso aos débeis e o menosprezo
como condição de confiança em Deus e de entrega
ao próximo. «Como esta menina» posta em frente
aos discípulos não é somente uma menor, é também

pode ser
aos meninos. Com respeito a este último, é chamativa uma camponesa, uma menina exposta a muitas
a aproximação que teve Jesus com meninas e meninos situações difíceis pelo simples fato de ser mulher e
como mostra o Evangelho de Marcos: ao jovem menor. Sua condição de fragilidade seria ainda maior
paralítico em 2:1-12; a filha de Jairo em 5:22-24; 35- se se tratasse de uma menina estrangeira ou órfã. É
43; a filha da mulher sírio fenícia em Mc 7:25-30; ao assim que os pequenos e pequenas do reino vêm a
jovem epiléptico em Mc 9:17-29, entre tantas outras ser metáfora de condição de vida desde a qual Jesus
alusões indiretas. Na incorporação destas histórias serve e convoca a seus seguidores a servir aos demais.
no Evangelho de Marcos, e nas histórias mesmas é
16. Jesus nos ensinou que o reino de Deus não está possível apreciar que os ensinamentos e as vivências O reino e a família
correspondido com as perspectivas de outros reinos. do reino de Deus estão estreitamente vinculados à
E o demonstra pondo uma menina ou um menino vida dos meninos. 21. O tema da família na Bíblia está incluído em esta
camponês em meio dos discípulos e mostrando-lhes proposta do reino de Deus como uma instância
que o Messias se identificava com ele ou com ela,7 Os pequenos e as pequenas do Reino central de identidade, educação, convivência, relação
vulnerável e cheio de esperanças e sustentada pelo e crescimento na fé. Deve-se em primeiro lugar,
amor de Deus. 19. Ao longo de toda a Bíblia existe um grupo de pessoas reconhecer que a Bíblia não apresenta nenhum
ao que se ordena cuidar: as viúvas, os órfãos e os modelo ou paradigma único do que poderia chamar-
17. A imagem de um reino de Deus se inspira nas estrangeiros (Ex 22:22; Dt 14:29; 24:17,19-20,21; se família ideal ou família cristã, como se costuma
esperanças do antigo Israel, especialmente em aquele 26:13; 27:19; Sal 68:5; Jer 49:11; Sant 1:18, cf. Jn 14:18). crer. Pelo contrário, descrevem diversas concepções
tempo em que os povos seriam diretamente guiados Estes representavam setores com muitos direitos e organizações de família vinculadas com seus
por ele. Para que isto sucedesse Deus faria surgir a negados, como o da herança, o trabalho justo, o voto contextos. As relações familiares e as famílias não
uma pessoa que o obedecesse em tudo e que seria nas decisões sociais, a dignidade social, etc. No caso foram iguais em contextos de guerra e de paz e houve
um fiel testemunho para os demais: o Messias. Assim, particular dos órfãos se refere não só a uma situação grandes diferenças entre âmbitos rurais e pequenas
em circunstâncias de crise moral, em situações de simples «filhos sem pais», senão a meninos e urbes. Por outro lado, a família não foi igual para quem
de grandes conflitos sociais, e ainda mais, quando meninas abandonados. Trata-se de aqueles cujos era livre que para quem tinha sido escravo, para as
sofriam a opressão de governos estrangeiros que parentes próximos não quiseram cuidar depois da grandes massas pobres que para os poucos ricos em
os maltratavam o povo fiel de Israel intensificava sua morte dos seus pais.Também, pode indicar a meninos tempo de Jesus. Pensar em um modelo, e em este
esperança na intervenção de Deus através de seu e meninas cujos pais e familiares foram assassinados na como único, é uma agressão à Bíblia com respeito ao
elegido e em prol do estabelecimento de um tempo guerra e vagam em busca de sustento, como também testemunho que ela dá.
de justiça, de arrependimento, de reconciliação, de pequenos e pequenas excluídos do grupo familiar
e de abundância; especialmente para aqueles que por motivos de «impureza», em outras palavras, por 22. No entanto, podemos encontrar, tanto no Antigo
confiam em Deus e em aqueles que praticam seus ter doenças contagiosas, alguma deformidade física Testamento como no Novo Testamento, alguns
ensinamentos. ou algum problema mental. elementos caraterísticos de como era entendida a
família guiada por Deus. Consistia em um lugar de
18. O reino praticado e proclamado por Jesus se inspira 20. Estes também são os pequenos e as pequenas por pertença e identidade (por exemplo, «fé de Israel»,
em esta esperança, especialmente sobre a realidade quem Jesus tem um especial interesse e que também «filho do carpinteiro», etc.). Em muitos casos a família
da ação de Deus sobre os povos e suas circunstâncias. são metáfora de vida no reino. Particularmente, em abrangia todo o clã (como as famílias de Abraão e
Em efeito, teve que ver com optar pelos mais Mateus 18 Jesus fala dos pequenos e das pequenas Lot), e em estas os meninos e meninas foram criados
desfavorecidos da sociedade daquele momento: fazendo uma alusão a aqueles que seguem a Jesus não somente pelos pais senão que também pelos
7 Historicamente sempre se pensou que Jesus escolher a um “menino ”, um rapazinho. Possivelmente esta crença na maioria das pessoas deve-se ao fato de que as traduções escolheram “menino ” em vez de
“menina ” apesar de que o texto grego usa o neutro para se referir ao menino ou menina . Em este sentido, é tão legítimo imaginar que se tratou de um menino como de uma menina.

9 «Deixem que as crianças venham a mim»


tios, primos mais velhos e avós, mesmo sem ter sido 26. Na mirada de Jesus e do Novo Testamento a família sujeitos teológicos, como chave de revelação.
reconhecidos pertencer à mesma linhagem. Familiares ocupará um lugar importante, mas será revisada
que não se conheciam se sentiram comprometidos a profundamente. Ela não a conforma gente unida 28. Jesus utiliza a imagem da infância como metáfora
ajudar-se mutuamente pelo fato de ter uma história por laços sanguíneos, senão por decisão pessoal do reino em várias ocasiões (Mt 18.1-2, 19.13-
em comum, e em certos casos, compartilhavam uma de irmanar-se mutuamente sob a guia de Deus Pai. 14, Mc 10.15-16, Lc 18.14-17). Esta afirmação foi
bênção familiar ou uma promessa. Apesar de ser certo, Jesus não chama a romper com interpretada de diferentes maneiras: como uma
a família sanguínea per se, sim convoca a se unir com atitude pessoal, um lugar social, uma característica de
23. Outro aspecto central é o da educação na fé. As pessoas e construir laços familiares com outros na atitude, entre outras. Mas, justamente é o contraste
famílias foram um espaço fundamental onde foi vida no reino. A este respeito, faz um chamado a levar que está explícito em esta mensagem o que nos
cultivada a fé em Israel e, posteriormente, a fé cristã. em consideração os mais vulneráveis entre nós e mostra uma melhor compreensão do seu significado.
No entanto, não foi o único lugar. Existiam também a construir uma vida solidária e unida. A vocação é Usar a imagem da infância é fazer uma inversão
espaços comuns de diálogo e reflexão que depois amar-se no cuidado de uns a outros (Jn 13:34-35), irônica da rigidez da Lei, a qual, como se estipulava
chegaram a ser o que conhecemos como Sinagoga ou assim como também, deixar-se amar pelos mais em esses tempos, não requer do seu seguimento
a própria Ekklesia (igreja). Sábios e mestres serviram vulneráveis como uma maneira de crescer com eles. ou cumprimento por parte dos meninos e meninas.
na educação do povo. No entanto, se esperava que Desde esta perspectiva podemos dizer que Jesus
o menino e a menina fossem instruídos na fé pelos Meninos e meninas: sujeitos teológicos do reino define o reino como uma realidade que vai mais além
anciãos e sábios do próprio grupo familiar, ou mais do cumprimento de um padrão religioso e de uma
particularmente, pelos pais. «Em aquela mesma hora Jesus se alegrou no Espírito, maneira particular de ver a Deus, mesmo centralizada
e disse: Eu Te louvo, Pai, Senhor do Céu e da Terra, na interpretação de adultos homens sábios da lei.
24. Vinculado a isto, a família foi entendida como uma porque escondestes estas coisas dos sábios e
construção de relações de cuidado mútuo. Em entendidos e as revelastes às crianças. Sim, Pai, porque 29. Como sabemos, os textos bíblicos não são somente
esta construção de relações e acordos chamado assim o quisestes». histórias que descrevem os fatos em uma forma
“família”, os mais fortes e com mais possibilidades lineal. Pelo contrário, são sucessos que possuem um
deviam cuidar dos mais vulneráveis e débeis. Assim, 27. Mc 9.35-37 reflete como Jesus coloca os meninos significado simbólico muito profundo. O que significa,
os cuidados sobre anciãos, doentes, os criados e os como metáfora do reino e o lugar ativo que eles têm então, ver a Deus desde os meninos e meninas e não
meninos e meninas são, particularmente importantes no mesmo. Tudo o que os seguidores de Jesus tinham desde aqueles que possuem a autoridade (moral,
e estão prescritos na Lei de Deus. vivido, tudo aquilo do que se alegravam e gloriavam, espiritual, institucional, acadêmica) para fazê-lo?
tinha sido escondido dos sábios, dos entendidos da Podemos afirmar que estas duas lógicas presentes na
25. Apesar de que em estes mandamentos também lei e dos líderes religiosos da época e foi revelado aos mensagem representam em si maneiras distintas de
estavam aqueles que se guiavam por outras meninos e meninas. Por isso, desde este contexto, ver a Deus. E não somente nos referimos a imagens
perspectivas ou aqueles que os aplicavam de forma temos que entender que os meninos e meninas ou discursos específicos senão, além disso, de formas
diferente. Não é possível negar, por exemplo, que o eram concebidos como «voz da divindade», tanto na diferentes de aproximar-se ao divino.
tratamento dado à mulher era bastante diferente ao tradição judia como na religiosidade da antiguidade
dado aos homens, pois elas eram tratadas, em muitos greco-romana. 30. Em Mc 9.35-37 o menino posto no centro como
casos, como uma posse e uma serva (cf. Ex 20:17). metáfora do reino tem vários sentidos: representa
O mesmo pode ser dito da relação com os meninos Em este relato Jesus contrapõe duas lógicas: a dos a afirmação de Jesus de que o reino implica um
e meninas, onde os adultos eram considerados mais sábios e entendidos – adultos, supostos conhecedores compromisso especial com aquelas pessoas que a
importantes. Somam-se os casos de pessoas que de todos os detalhes e intérpretes autorizados dos sociedade excluiu, cuja situação é de vulnerabilidade
pertenciam a uma família sem ter vínculo sanguíneo documentos religiosos - e a dos meninos e das meninas. e injustiça. Enquanto, existem aqueles que mantém
ou sendo estrangeiras. Em estes casos, a servidão Os primeiros representam a razão, a inteligência, o essas fronteiras injustas Deus atua para incluir e
e os escravos, embora fossem considerados parte cálculo, o controle; todos esses adjetivos que definem fazer justiça. Mas, também, essa ação de Jesus é uma
da família, recebiam um tratamento diferente. a cúspide da suposta maturidade que permite falarem afirmação de empoderamento onde as meninas e
Geralmente eram cometidos abusos contra eles, e com objetividade, determinação, integridade e direito; meninos simbolizam a metáfora da revelação de Deus
quando estes eram contra meninos ou meninas, as ou seja, de Deus mesmo. Mas, ao final, os eleitos em contraposição ao que se crê correto e verdadeiro
condições podiam ser piores. para receber os mistérios divinos são os meninos - buscas que caracterizam a maturidade.
e as meninas. Jesus os coloca como exemplo, como

10 «Deixem que as crianças venham a mim»


Do Deus Patriarca
ao Deus Família

11 «Deixem que as crianças venham a mim» 3


Imagens de que são chamados de filhos e filhas. Esta imagem não
está baseada na imposição de um título honorífico
nem na prerrogativa autoritária por sua condição
de progenitor. Sem perder suas virtudes e lugar
maneira de vincular-se e compreender a este Deus
Pai. Lamentavelmente, estão aqueles que concebem
a Deus como Pai e o veem como um ser castigador,
castrador, intransigente, autoritário, ou insensível.

Deus de exaltação, é importante observar que Deus é


Pai já que se relaciona como tal com seus filhos e
filhas. A práxis paterna de Deus representa também
Mas, é esta a maneira como as Escrituras apresentam
predominantemente a Deus como Pai? É possível que
na metáfora divina de Pai estejamos projetando ou
uma demanda de reciprocidade a seus seguidores incluindo características, papéis e sentimentos que
que queiram ser designados como filho ou filha. É correspondem a outras vivências e não precisamente
31. Existem distintas imagens de Deus de onde provém? chamativa a expressão: «para que sejam filhos do seu a aquela imagem expressada nas Escrituras, e a partir
Deus decide revelar-se através da história. E é em Pai» (Mt 5:45; cf. 1Jn 3:1.10; 4:15), onde se põe em do testemunho de Jesus Cristo (cf. Heb 1:1-2)? Uma
ela onde lhe damos nomes ao dizer-lhe Pai, Amigo, manifesto a ética e a vida daquele que por parecer-se clave fundamental para discernir o que Jesus quis dizer
Salvador ou lhe damos características como Amoroso, ao Pai é chamado seu filho ou filha. por Pai é saber sua vinculação, suas ações recíprocas
Misericordioso, Compassivo, Generoso e outros e seus ensinamentos sobre Deus.
mais. A compreensão de Deus e a forma em que O 34. A imagem de Deus como Pai está influenciada
descrevemos e conhecemos tem uma relação direta contextualmente, embora não subordinada, 36. A construção da imagem de Deus não deve estar
com como o experimentamos no dia-a-dia de nossa pelo vínculo que pai e filho/a estabelecia na baseada exclusivamente nos nomes que Lhe são
fé e no seguimento da Palavra. Mais ainda, as imagens época. Conservar a honra do chefe de família ou designados nas Escrituras. Eles são produto da
de Deus que utilizamos se vinculam com as práticas e paterfamílias pela obediência e o bom testemunho da revelação de Deus na história do seu povo, em outras
cosmovisões que promovemos. criação recebida era, sem dúvidas, uma das maneiras palavras, são designações que seu povo lhe dá com
mais importantes de honrar o pai. A honra como base em como ele interage com este. Assim, fazendo
32. As imagens de Deus são só expressões parciais construção social levava os pais a desempenharem justiça à revelação bíblica, também é importante
sobre o que é e como atua o divino; já que Deus todas suas tarefas de cuidados de seus filhos e filhas pensar em Deus através de suas ações culturalmente
é sempre mais do que possamos pôr em palavras: em termos de amor, justiça e dedicação. designadas como maternas. Este Deus cria seus filhos,
nenhum discurso pode descrevê-Lo de maneira os alimenta, é gentil com eles, compreensivo, próximo
final ou acabada. Consequentemente, ninguém pode Com as divergências que hoje podemos ter no que afetivamente, os ama enormemente. No atuar de
dizer que possui o conhecimento total de Deus. Os diz respeito ao significado e desenvolvimento do que Deus a favor de sua criação nos vemos obrigados
discursos religiosos tornam-se perigosos quando não é a paternidade, os ensinamentos e os testemunhos a dar-Lhe nomes e papéis que possivelmente não
reconhecem dita dinâmica.Nossa tendência é acreditar bíblicos sobre um Deus Pai que guia, ensina, cuida, estejam explícitos nas Escrituras, mas que estão
que nossas formas particulares de compreender e dialoga e acompanha de perto e livremente a inspirados em seus Testemunhos.
definir a Deus são absolutas, esquecendo-nos que seus filhos, não somente está vigente, senão que
nos encontramos sempre interpretando sua ação é muito necessária. Em testemunho de Jesus, seu 37. O que entendemos por “imagem de Deus” não
desde nossas leituras do texto bíblico e as diversas Filho, podemos ver a um Pai que rompe com alguns responde a um exercício neutro, senão que tem que
experiências que temos. Mais perigoso ainda é modelos históricos autoritários, violentos, e de ver com a interpretação que tenhamos da revelação
quando uma prática, um discurso, uma ação ou uma uma relação carregada de diferenças entre os filhos divina, bem como também, de nossas opções de vida.
cosmovisão particular tenta apresentar-se como e as filhas. O testemunho do Novo Testamento Quando pensamos em Deus com relação à infância
absoluta em nome de Deus, e por essa razão se vê continua no caminho aberto pelo Filho para superar devemos advertir centenas de detalhes e testemunhos
a si mesma isenta de todo questionamento. Por isso práticas machistas e paternalistas que desqualificam e bíblicos que possivelmente tenhamos colocado de
devemos nos perguntar: Que concepção de Deus menosprezam os meninos e meninas. lado, por razões ideológicas. Perceber a ação de
sustenta o adulto centrismo em nossas igrejas? A que Deus por seus múltiplos gestos históricos revelados
imagem de Deus nos referimos quando falamos do 35. Toda imagem é uma construção de sentido a em Jesus de Nazaré e pensar em sua maneira de
reino? partir de uma situação que tenha sido vivida, de aproximar-se a nós como menino, menino pobre.
um encontro com uma pessoa com a que se teve Como alguém perseguido, imigrante, trabalhador,
33. Uma das imagens mais utilizadas no mundo cristão uma relação ou com a qual se deseja compreender. filho maior, amigo, salvador, crucificado, ressuscitado.
para falar de Deus é a de Pai. Esta designação O Em esta direção, a concepção que se tenha da Porque Deus se revelou a nós, principalmente, através
descreve em seu vínculo com seus fiéis seguidores paternidade em cada cultura e pessoa, influenciará na do seu Filho, Jesus Cristo (Heb 1:1-2).

12 «Deixem que as crianças venham a mim»


Sobre a comunidade de Deus Trino e a família um menino de fraldas. Em essa mesma direção está
o relato já citado de Marcos 9:35-37 (e paralelos) no
38. Relacionado ao dito no ponto anterior surge outro que põe a uma menina de seus seguidores e os motiva
tema básico e essencial na teologia cristã que muitas a vê-la como metáfora de Deus encarnado. Este
vezes se deixa de lado: quando falamos de Deus detalhe teológico não é menor quando queremos
falamos de um Deus trino. As imagens com as que compreender o que Jesus nos diz como Filho do Pai,
o Novo Testamento expressa a relação entre as três e como irmão mais velho.
pessoas da Trindade são comunitárias. Sua comunhão
é expressa muitas vezes em termos de laços familiares: 40. A Trindade está vinculada aos laços familiares e em
comunidade de vida, amor profundo, cuidados mútuos, especial aos meninos e meninas quando Jesus é
uma visão e missão comum, incorporação de outros apresentado como o irmão mais velho. O Evangelho
a unir-se com vínculos familiares, entre outros traços. de João e as suas cartas utilizam o termo unigênito
No ministério de Jesus é dominante o papel de Pai para falar da natureza exclusiva e da relação particular
que Lhe designa a primeira pessoa da trindade. Ele de Jesus com o Pai (Jn 1:14, 18; 3:16, 18; 1 Jn 4:9).
se define e é definido como o Filho. O Espírito Santo Jesus é também chamado primogênito (Rom 8:29;
é o outro paráclito, em outras palavras, continua o Heb 1:6), termo que o vincula com seus irmãos e
ministério e vinculação de Jesus em harmonia perfeita filhos de Deus. Neste sentido, Jesus é o irmão mais
com o Pai. A importância que tem esta vinculação velho entre muitos irmãos e irmãs. Em Hebreus
entre Jesus e a Primeira Pessoa da Trindade a podemos 2:11-18 fala-se de Jesus sob a figura do sacerdócio
notar, por exemplo, no Evangelho de Mateus onde a como o líder entre outros irmãos. Em esta relação
Primeira Pessoa da Trindade é chamada 45 vezes Pai. de irmãos, e a diferença das comunidades sacerdotais,
as mulheres, os estrangeiros, e as meninas e meninos,
39. Pensar na trindade como família nos leva a abrir-nos não estão excluídos senão, pelo contrário, formam
a outras imagens e papéis familiares. Tanto no Antigo parte fundamental do ministério da família de Deus.
como no Novo Testamento podemos nos encontrar
com um Deus que está vinculado com seu povo 41. A proximidade de Deus com Jesus transmite a
seguindo papéis que em sua época foram estipulados mensagem de um Deus que está muito perto de nós;
como femininos ou maternais. Esta última observação é um Deus próximo, vinculado estreitamente com sua
vai depender muito do conceito de masculinidade criação e em especial com «os pequenos». Que Jesus
que se tenha, ainda hoje, e como se constrói a ideia seja o irmão mais velho implica sua vinculação como
de paternidade ou maternidade. O certo é que não tal com os irmãos menores onde nos encontramos
estão isentos da natureza divina, seu amor carinhoso novamente com a metáfora de menino. A Trindade
e sacrificado, sua dedicação à criação, e não só à como família é uma família aberta a somar a novos
criação, do seu povo como se fossem meninos e membros as suas relações de amor e compromissos.
meninas pequenos. A missão que Deus Pai encomenda a Seu Filho
é continuada pelo Espírito Santo que capacita os
Sua delicadeza e ternura podem ser percebidas em filhos e filhas de Deus para levar adiante o objetivo
sua pedagogia e no tratamento Misericordioso com de reconciliar o mundo consigo mesmo. É valioso
seu povo quando o mesmo Jesus fala em primeira que a missão dos filhos e filhas de Deus não seja
pessoa e diz em nome do Pai: «Jerusalém, Jerusalém, compreendida como uma tarefa paralela ao fato de
que matas os profetas e apedrejas os que te são ser família de Deus. Uma família na qual os meninos
enviados! Quantas vezes quis reunir os teus filhos, e as meninas são membros principais, e ainda mais,
como reúne a galinha os seus pintinhos embaixo das metáfora de vida.
suas asas, mas não quisestes! (Mt 23:37; Lc 13:34).
Esta mesma vulnerabilidade, teologicamente falando,
se expressa na segunda pessoa da Trindade encarnada.
Em Jesus podemos conhecer ao «Deus conosco» em

13 «Deixem que as crianças venham a mim»


Eclesiologia
desde a
infância

14 «Deixem que as crianças venham a mim» 4


Igrejas de fica excluída a possibilidade de que dita igreja seja
verdadeiro sinal da presença de Deus na terra. Por
isso, não há que confundir uma igreja na que haja
“meninos” com uma cujo ADN está constituído com
seu adulto centrismo, mas também, sua concepção de
adulto à luz dos ensinamentos do reino e sob a guia
de meninos e meninas que a reevangelizem.

meninos e ser como meninos, tal qual o ensinou Jesus.

44. Uma igreja que leve a sério as palavras de Jesus


Igrejas que aprendem a brincar

46. Uma das caraterísticas da infância é a brincadeira

meninas
necessitará abrir mão do seu adulto centrismo. Não (embora lamentavelmente muitas vezes isso não
se pretende ignorar o fato de que a metáfora do aconteça, já que inclusive o direito a brincar lhes
menino ou menina tem suas limitações como toda é arrebatado). Esta não é somente uma atividade
metáfora. Pensar em uma igreja de meninos não é recreativa senão a maneira em que aprendem a
falar de uma igreja «infantilizada» mas sim de uma sociabilizar-se e a compreender o mundo que os
42. Os meninos e as meninas como metáfora do reino
igreja que questione as perspectivas adulto cêntricas rodeia. A brincadeira se diferencia consideravelmente
não somente reformularam a vida dos primeiros
regidas, entre outros, por exemplo, por relações da maneira em que o adulto centrismo tenta
seguidores de Jesus, senão que também guiaram a
de domínio, por perspectivas éticas baseadas na compreender a realidade: o desfrute se posiciona
imaginação do que foi concebido como a igreja. O
desconfiança, pela exaltação da força e o menosprezo sobre o cumprimento, a espontaneidade por sobre
mesmo termo igreja foi um mais dentro de outros
da debilidade, por um sentido competitivo da vida e, as regras, o corpo e os afetos por sobre a razão, o
(corpo, casa, família, templo) para descrever e
literalmente, pela postergação dos meninos como estético por sobre o escrito.
compreender as relações e os acordos que o grupo
sujeitos «imaturos» ou «incompletos». Está claro que
de seguidores de Jesus defendia. No entanto, o uso de
não se quer ignorar o processo de «crescimento» 47. Em este sentido, as igrejas necessitam partir também
dito termo foi resignificado à luz dos ensinamentos
no qual se encontram os meninos e as meninas. O da lógica da brincadeira. O que queremos dizer com
de Jesus, por exemplo, quanto ao envolvimento de
que se questiona, mais bem, é que se entende por isto? Que o ser da igreja reflete mais abertamente
escravos, de mulheres, meninos e estrangeiros. Em
crescimento. Ou seja, devemos questionar a ideia de as caraterísticas das brincadeiras na liturgia, na
a ekklesia grega não participavam estes grupos de
«maturação» que inculcamos em meninos e meninas organização institucional, nos esquemas de liderança,
pessoas, embora a igreja cristã nos seus inícios tenha
que confiam em nós. Desde que lugar nos sentimos de predicação e ensinamento, entre outras. Isto
sido conformada em uma grande porcentagem por
capazes e capacitados para “formá-los” e como é que significa que o afetivo, o lugar da espontaneidade,
eles.
a relação de mutualidade entre adultos e meninos os movimentos do corpo, a flexibilidade, o
fica quebrada pelo adulto centrismo, a ponto de questionamento ao estabelecido, o uso da imaginação
43. Se os seguidores de Jesus deviam ser como meninos
comunicar uma mirada tergiversada do reino de e a pluralidade das formas de fazer as coisas – bem
para formar parte do reino de Deus, como deveriam
Deus. como a maioria dos nossos meninos e as meninas
ser as igrejas que formavam? A igreja foi pensada a si
o vivenciam dia a dia – tomem um lugar central
mesma desde a metáfora menino e também – embora
45. Enquanto em alguns setores há um despertar positivo em nossas comunidades eclesiásticas. Que sejamos
não exclusivamente - desde a realidade dos meninos.
respeito à relação dos meninos com o resto da igreja, originais e que usemos a criatividade em nossos
Se, como foi dito anteriormente, Marcos 9:35-37
lamentavelmente, a grande maioria das igrejas, e cultos, que as liturgias sejam mais inclusivas, que exista
ensina sobre a simplicidade e a vulnerabilidade como
das pessoas que criam opinião em estas, continuam maior participação da voz dos meninos e das meninas
qualidades centrais nos seguidores de Jesus, a igreja
anunciando uma visão anti-reino. Esta afirmação tão na tomada de decisões e nos projetos eclesiásticos,
que quer ser testemunho de vida no reino deverá
categórica está diretamente relacionada às palavras entre outros elementos que poderíamos mencionar.
constituir suas relações com base em ditas condições
de Jesus que nos disse que se não somos como um
de vida. Ela deve ser uma comunidade de meninos,
destes meninos, não poderemos entrar no reino Meninos e meninas no centro
de gente simples, que confia no seu Senhor e que se
dos céus (Mt 18:3). O adulto centrismo forma parte
entrega aos demais em amor que cria laços onde as
dessa visão anti-reino. Em certos espaços, ainda, a 48. De tudo que foi desenvolvido até aqui podemos
relações de poder circulam em busca de abençoar o
“evangelização” e o “discipulado” implica perder a fé dizer que uma igreja que caminha pelas veredas do
próximo e dar testemunho da presença de Deus. Pelo
no próximo, cuidar-se dos riscos de amar, obedecer reino de Deus põe a infância como um dos seus
contrário, quando uma igreja constrói seus vínculos
a cegas, proibir-se ou brincar e gozar sensorialmente, agentes principais. Com isto não queremos insinuar
em base ao poder de uns sobre os outros, os meninos
estruturar a vida e seguir a sequência do mandado que os meninos e as meninas sejam o único sujeito
e as meninas ficam iniludivelmente postergados ou
eclesiástico, entre outros aspectos onde se confunde a tomar em conta desde a perspectiva do reino. Os
ainda oprimidos. Mas também, com esta postergação
a missão com a religiosidade. A igreja deve questionar meninos e meninas necessitam de um lugar de maior

15 «Deixem que as crianças venham a mim»


centralidade. Mais ainda, compreender o reino em esta legitimando seu maltrato. Em este sentido, que os cf. “um Deus de ordem”), organizá-lo por categorias
premissa nos mostra a importância que possui um meninos “estejam no centro” implica advertir sua (líderes, convertidos, os do mundo, classes sociais,
compromisso com toda pessoa e toda circunstância vulnerabilidade como riqueza, mas também, advertir etnias), por níveis de êxito (excelência, objetivos de
que reflita a presença de injustiça e exclusão. que podemos fazer-lhe um grande dano. trabalho, conquistas), etc.

49. Como dissemos, falar de meninos e meninas no Teologia e brincadeira Em uma teologia desde a infância, a brincadeira
centro é outorgar maior protagonismo a um setor nos ajuda a experimentar a realidade desde outros
cuja vulnerabilidade provém da invisibilidade e da 51. Toda maneira de compreender a fé, a espiritualidade parâmetros, como por exemplo, desde o lado
exclusão. Isso implica dar-lhes poder, reconhecer sua e a igreja estão estreitamente vinculadas a uma das relações (amizade, companheirismo), desde a
capacidade criativa, seu direito a voz, entre outros. visão de Deus e a uma teologia. Em outras palavras, criatividade construtiva (brincadeira como construção
Para isto deveremos reimaginar nossas estruturas nossas compreensões e definições de Deus darão de acordos e lógicas imaginárias), desde os terrenos
eclesiásticas, tanto na teologia e na pastoral que a lugar, permitirão, tornarão possíveis (ou não!) certas da vida (não submetida a regras rígidas), bem como
sustentam, como na participação dos seus membros. práticas e cosmovisões. Com esta afirmação partimos também nos permite entender a centralidade da vida
Como permitir que estejam realmente “no centro” de que a teologia é uma prática que desenvolve todo humana desde o desfrute.
para que essa expressão deixe de ser somente um crente e toda igreja em sua vida diária ao ver suas
clichê? Como aprender a ouvir melhor sua voz, circunstâncias à luz da fé. Já vimos que existe uma 53. Com lógica descrevemos o processo vivencial pelo
aprender da sua condição, considerar profundamente imagem preponderantemente adulto cêntrico de qual organizamos nosso conhecimento e a realidade
suas perspectivas? A igreja deve ser reevangelizada Deus, o qual também legitima e promove certas da que formamos parte. Lógica não é o mesmo que
em termos de voltar a compreender a mensagem imagens, práticas, cosmovisões e dinâmicas. Por isso racionalismo. Na lógica teológica da brincadeira está
salvadora de Jesus que nos apresenta na condição de nos perguntamos: Como construir uma teologia que envolvida toda a vida humana, obviamente, também
pessoas. Temos que aprender a “ler vidas humanas”, seja mais sensível a nossos meninos e meninas? Como seu corpo e suas percepções. A lógica da brincadeira
o qual nos traz aos textos bíblicos onde Jesus desenvolver uma teologia na que os meninos também é diferente das lógicas controladoras racionalistas. Na
primeiramente “viu a pessoa” e discerniu a vontade sejam seus artífices e não seus meros receptores? brincadeira não se sabe tudo, nem se necessita sabê-
de Deus. lo. Sua busca é a vinculação com o outro como um fim
52. O caminho que necessitamos percorrer consiste em em si mesmo, não como meio. As relações utilitárias
50. Que os meninos estejam no centro, então, nos facilitar uma teologia desde a infância. Isto significa são superadas por uma noção de “nós” que se irmana
convoca a: construir espaços onde meninos e meninas sejam ao suprir-se mutuamente necessidades da alma como:
escutados sobre os assuntos da fé, da Bíblia e da ou divertir-se, ou imaginar novas realidades, ou fazer
a. Desprover do adulto centrismo que condiciona nossa Igreja. Logicamente que as pessoas adultas têm muito acordos mútuos, poder dedicar tempo a si mesmo,
maneira de vê-los e os menospreza; que ensinar. Mas também podemos criar espaços empoderar destrezas motoras que normalmente são
b. Revisar nossa concepção de infância e de maturidade, onde as apreciações e imagens da infância nos postergadas, etc.
especialmente desde sua vinculação, sem ver o ensinem mais de Deus. Ao vincular a teologia com a
segundo como a superação do primeiro; infância, a brincadeira surge como lugar e como lógica Na lógica da brincadeira se conhece a Deus desde
c. Observar que a vulnerabilidade e a vulneração são de encontro com Deus desde o próximo. Quando se todo o ser. O processo de conhecimento teológico
condições e práticas diferentes. A vulnerabilidade pensa em lugar, estamos falando do mundo do qual que se exercita envolve toda a vida humana e não
é uma condição que em si mesma não é negativa. formamos parte, assumimos nosso posicionamento e somente a racionalidade. Conhece-se a Deus a partir
Requer de um grande cuidado, mas também possibilita condição em frente a este. Pensar o mundo como do corpo, das emoções, dos sentidos, do comunitário,
a geração de relações de mútua entrega e cuidado uma brincadeira nos leva a reformular o mundo que desde as frustações, desde a imaginação.
que são difíceis de gerar quando se está à defensiva. ignoramos e do qual, ainda assim, formamos parte:
A vulneração é uma prática que faz indefensa a uma o mundo dos sentidos, da recreação, da não-ordem 54. Isto representa grandes mudanças em como a igreja
pessoa e a leva a sofrer os estragos de condições da imaginação libertadora ou da estrutura rígida que se reconhece a si mesma como uma comunidade de
pessoais e sociais hostis para sua pessoa. Assim, o aprisiona. O mundo do qual formamos parte está aprendizagem. Por isso nos perguntamos: Como são
adulto centrismo, por exemplo, torna vulneráveis os organizado pelo controle, pela competitividade, pela construídas as instâncias educativas nas igrejas? Têm
meninos e meninas porque o desqualifica, não adverte eficiência, pela superioridade, entre outros, onde os meninos e meninas possibilidade de fazer teologia,
de suas qualidades intrínsecas e pode coisificá-lo tudo requer ser ordenado (o primeiro, o segundo... de manifestar sua visão de quem é Deus e como

16 «Deixem que as crianças venham a mim»


atua ou somente são recipientes de ensinamento de transforma e muda constantemente dentro do restauradora das relações humanas desde a
uma pessoa adulta? Influenciam seus métodos para caminho da vida. Das poucas referências que temos da simplicidade e a vulnerabilidade que requer um amor
conhecer a Deus nos métodos que temos os adultos? infância de Jesus o evangelista Lucas faz uma menção maduro e uma grande fortaleza espiritual. Porque
particular ao dizer-nos que “O menino crescia e se somente dando se recebe, porque entregando a vida
Missão desde a infância: conversão, evangelização, fortalecia, e se enchia de sabedoria, e a graça de Deus esta será achada.
discipulado e pastoral repousava em Ele” (Lc 2.40). Uma descrição similar
acontece com relação a São João Batista (Lc 1.80). Igrejas que se fazem escutar
55. Considerar a missão desde os meninos e meninas
é mudar as lógicas tradicionais das nossas Igrejas. 58. Os meninos e meninas crescem de forma integral: 61. As igrejas devem ser voz profética da situação de
Nas práticas eclesiásticas costumam ser as pessoas física, emocional, social, espiritual e intelectualmente. risco e vulnerabilidade dos meninos e das meninas,
adultas que evangelizam os meninos e tratam de guiá- Partindo desta experiência a igreja poderia exercer mas não como um elemento externo a ela senão
los a Jesus, convertendo-os somente em recipientes seu trabalho evangelizador e discipular a partir de partindo do contexto dos meninos e das meninas
de evangelização e não em sujeitos de missão. Uma cada um de estes processos. Por isto devem ser da mesma comunidade de fé e seu contexto. Por
revisão da mensagem de Jesus partindo da teologia considerados agentes de transformação na sociedade isso, acreditamos que alguns compromissos que as
desde a infância nos deve levar a revisar nosso (Is 11.6). Em este sentido, o discipulado se transforma comunidades eclesiásticas podem assumir são os
conceito bíblico e as práticas de evangelização. em uma aventura de acompanhamento e cuidado da seguintes:
fé, o trabalho pastoral se atreveria à travessura de
56. Geralmente é concebida a conversão no marco mudar os esquemas de controle para “entreter” e a. Que a situação dos meninos e meninas tenha um lugar
da experiência adulto cêntrico e pragmática “acalmar” -aspectos típicos das liturgias tradicionais de maior importância nos momentos de predicação,
onde o menino ou a menina segue uma fórmula - incorporando a inclusão na vida comunitária e ensinamento e liturgia das comunidades.
predeterminada (levanta sua mão, faça a oração e sua participação na liderança e ministério e fazê-los b. Com base no aprendido desde os meninos e das
passe para o altar) para obter «a salvação» como visíveis no ministério da Igreja. Da mesma maneira, meninas, que a igreja se atreva a revisar suas estruturas
um objeto. Mas as Escrituras nos ensinam que a podemos pensar na liturgia e no culto como espaços e suas relações de poder internas. Ou seja, atrever-
evangelização é um processo onde a metáfora de de participação dos meninos e das meninas bem se a ser mais flexíveis, relacionais, transparentes,
“seguimento” (a Jesus) é uma das mais importantes no como sua inclusão em práticas tão centrais como a confiáveis, como uma ação onde se aceita “ao menino
tocante à apropriação da vida plena no reino de Deus administração e participação da Ceia do Senhor. ou menina no centro” tal qual o faria Jesus.
como estilo de vida. Em este sentido, a evangelização c. Que exista maior protagonismo dos meninos e
não é somente produto de uma decisão de fé pessoal 59. Conscientes da vulnerabilidade dos meninos e das meninas em diversas áreas da igreja como nos espaços
em um momento determinado, senão que também é meninas, que são parte de um mundo em pecado, de ensinamento, nos ministérios e nos momentos
o resultado de um contexto que permite que a boa devemos optar por uma evangelização que cuide suas litúrgicos.
nova se faça real na história. Dito isto, a evangelização vidas contra as estruturas e pessoas que lhes são d. Que incorporemos práticas e dinâmicas, geralmente
não é somente anunciar as “boas novas”, senão hostis. O trabalho pastoral da Igreja deve optar pelo aplicadas à infância, nas interações de toda a igreja
acompanhar à apropriação das mesmas. Vista assim, cuidado do bem-estar dos meninos e das meninas, e seus membros para revisar aquelas fronteiras que
se entenderá que se trata de um processo de toda a o que implica uma radical resistência e denúncia dividem tão veementemente os grupos de diferente
vida. em contra de toda prática que atenta contra a vida faixa etária. Aqui é central a inclusão da dimensão
plena: violência, desnutrição, tráfico, maltrato, abusos, estética (uso das imagens, do teatro), de um diálogo
Por tudo isto, observaremos que a evangelização não exploração e outras. Uma pastoral que cala estas participativo dentro da comunidade (o uso do
é uma ação baseada em uma decisão pessoal, senão realidades se faz cúmplice de ditas injustiças já que narrativo, pregações e ensinamentos construídos
que está relacionada também com as condições não cumpre com seu papel de assinalar o pecado e conjuntamente e não transmitidos em uma só
sociais que permitam que esta seja uma realidade na chamar ao arrependimento. direção) e a inclusão de atividades relacionadas com
integralidade da vida do crente. Ou seja, a evangelização o lúdico (jogo, dança, pintura, escultura, etc.).
é o processo de acompanhar as pessoas a viver a vida 60. A evangelização desde a infância oferece horizontes e. Que sejam abertos espaços de trabalho conjunto
plena e, em muitos casos, a romper os impedimentos mais amplos que a evangelização para a infância, já que com outras organizações sociais (religiosas ou não)
que o impedem de gozar completamente de dita vida. sugere à igreja novas pautas para o acionar da missão comprometidas com a situação de vulnerabilidade da
com os meninos e meninas, não somente velando infância nos bairros e nas comunidades da igreja.
57. A conversão pensada desde a infância nos convida por suas “almas”, senão seguindo o chamado de Jesus
a considerá-la como uma vivência de fé que nos a ser como eles, compartilhando uma mensagem

17 «Deixem que as crianças venham a mim»


Desafios:
transformar
e ser
transformados

18 «Deixem que as crianças venham a mim» 5


Ações da violência (incluída a violência de gênero, contra as
meninas), o abandono, a exploração sexual comercial,
o limitado acesso à educação, os problemas sanitários,
o HIV e a AIDS, entre muitos mais.
é que a temos explorado pouco e a desconhecemos
muito. Umas vezes consideramos que são seres
inferiores, outras (que são) como seres em vias de
«chegar a ser pessoas» ou como pequenos adultos

valentes e 65. O papel das igrejas na sociedade civil – especialmente


em espaços políticos, organismos e instituições que
que ainda não alcançaram os saberes e as condições
necessárias para chegar a sê-lo. Em esta percepção da
infância, os adultos somos superiores a ela.

valiosas
trabalham pela infância – é cada vez mais notório.
Vemos a ONG, municípios, escolas (privadas e 69. Não está por demais assinalar aqui os efeitos
públicas), organizações civis, entre outros que buscam negativos que estas percepções têm para nosso
comunidades eclesiásticas ou organizações baseadas ministério a favor da infância e também para o
na fé para desenvolver projetos, conformar grupos ministério que a infância deve desenvolver a favor das
consultivos, acompanhar casos de emergência, pessoas adultas. Por isso, como assinala o documento,
elaborar propostas legislativas a favor da infância, etc. necessitamos transformar as maneiras de como até
agora estamos compreendendo o mundo da infância.
66. Portanto, o desafio não consiste em iniciar algo que Desta compreensão dependem, em muito, as formas
até agora não tenhamos feito, senão em aprofundar e maneiras como atuemos em direção a ela e o lugar
62. A situação das meninas, meninos, adolescentes e
o que já estamos fazendo, em aprender das melhores que lhe concedamos em nossos contextos sociais.
jovens no nosso continente requer de ações valentes
experiências e em revisar a efetividade do realizado,
(proféticas) e coordenadas por parte das igrejas,
em dar-lhe, além do seu sentido social, o caráter 70. O diálogo interdisciplinar com as ciências da
instituições e organizações cristãs. A mensagem
político a essas ações e em assumir o papel que educação, da psicologia, da antropologia, da política,
de Jesus nos convoca a agir em um duplo sentido:
nossas igrejas podem cumprir no campo da incidência da teologia e outras mais é urgente em este
a envolver-nos com os meninos e meninas em
pública a favor dos direitos da infância. O ministério caminho de aprendizado. Necessitamos revisar, entre
processos que promovam seu bem-estar integral e,
focado na promoção e na defesa dos direitos da outros assuntos, nossas maneiras tradicionais de
por outra parte, a permitir que a infância confronte
infância é ainda um campo inexplorado para muitas compreender a infância, bem como nossas visões
nossos modelos de vida adulto cêntrico, e nos
igrejas. da infância, os discursos teológicos que estamos
conduza por caminhos de transformação humana. É
empregando e as formas de nos relacionar com as
um processo de transformação em dupla via: fazer
mais do que até agora fizemos a favor dos meninos 67. Os desafios que se apresentam com vistas a cumprir meninas e os meninos.
com maior fidelidade e pertinência o papel serviçal e
e meninas e deixar que a infância faça o muito que
profético (Prov 31.8-9), têm que ver com levantar a 71. Jesus, por exemplo, tinha uma compreensão da
pode fazer a favor do nosso mundo adulto. Em outras
voz junto aos diversos atores sociais comprometidos infância que nos ajuda a entender a forma em como
palavras, transformar e ser transformados.
com a situação da infância e da adolescência no que se a respeitava, valorizava e lhe concedia seu lugar na
refere à conscientização sobre a situação deste setor sociedade e no reino (Lc 10:21). Pôs os meninos
63. Os desafios de nossas igrejas, e dos cristãos e
social, a necessidade de criar mais políticas públicas, como exemplo diante dos discípulos adultos (Mt
cristãs em particular, são muitos; alguns deles foram
denunciar situações, discursos e práticas de abuso 18:1-2; 19:13-14), lhes serviu da mesma maneira que
enunciados com urgência pastoral no presente
e violência e, sobretudo, ser um agente de mudança o fazia com aqueles que os seguiam, mostrando com
documento. O seguinte é um breve resumo desses
através do acompanhamento pastoral e a atenção de isso que também eram seus discípulos sem distinção
desafios:
problemáticas específicas em nossas comunidades. alguma com o resto (Mc 10:15-16). Mas o gesto do
abraço com a menina ou menino que pôs no centro
Igreja serviçal e profética
Igreja sensível e aprendiz mostrou uma vinculação e identificação com eles que
teve com poucos. Isto nos faz pensar em uma igreja
64. O Senhor quer uma Igreja que dê testemunho de seu
68. Necessitamos reconhecer que nossas igrejas têm que se identifique com eles em suas estruturas e
amor entre as pessoas mais necessitadas e, como se
concepções erradas sobre a infância e o mundo ações.
afirmou na primeira parte deste documento, a infância
que conforma. Este é um desconhecimento que
não é uma, senão a primeira dessas populações. Mas
compartilhamos com a sociedade em geral. Falamos Igreja intergeracional e inclusiva
além da pobreza, bem conhecidas são as estatísticas
dela e acreditamos ter a última palavra, mas, a verdade

19 «Deixem que as crianças venham a mim»


empoderamento, os inclua e busque sua plenitude de
72. As igrejas, geralmente, estão integradas por pessoas vida. O desafio é ser igrejas inclusivas, que tenham em 78. O bom tratamento deveria ser a característica
jovens e adultas. Além dessa composição, também conta o valor da infância e validem seu lugar na igreja distintiva do ministério das igrejas para com a infância:
sabemos que a mentalidade que rege nossa cultura e na sociedade em geral. espaços seguros onde participem com liberdade,
eclesiástica, bem como a cultura em geral, é adulto onde aprendam sobre Deus e experimentem seu
cêntrico. Em outras palavras, que nos relacionamos, Igreja gentil e justa amor em um ambiente de respeito e de valorização,
vemos a sociedade e vivemos a espiritualidade «à onde seus direitos sejam reconhecidos, onde seu
maneira dos adultos». 76. As cifras de violência contra as meninas e os meninos valor seja considerado e onde suas contribuições
são alarmantes. Perante essa realidade lacerante, as sejam levadas em consideração como um dom de
73. Esse adulto centrismo se traduz em práticas igrejas devem desempenhar o papel de defensoras Deus para a transformação de todos.
eclesiásticas que apresentam a pessoa adulta como da infância não somente lutando por seus direitos
o modelo do acabado e completo e as meninas e e proteção senão também vivendo de tal maneira Igreja formadora e protetora
os meninos como pessoas que estão à espera de que deem testemunho de proteção, segurança e
«chegar a ser grandes». Assim, o mundo adulto se justiça. A proteção que buscamos lá, fora das igrejas, 79. A igreja tem como uma parte de sua missão a formação
entende como superior ao da infância e por isso e a fazemos patente aqui, dentro das igrejas (igual na fé. Mas essa formação não se limita à transmissão
são desenvolvidas relações assimétricas de poder podemos dizer da segurança, da ternura, da justiça dos ensinamentos doutrinais comumente resumidos
entre as pessoas adultas, consideradas superiores, e e do bem-estar pleno). As igrejas podem ser lugares nos credos confessionais ou nas declarações de fé,
a infância considerada inferior. Este adulto centrismo seguros de proteção amorosa e de cuidado gentil senão que abrange, entre outros, a educação para a
caracteriza a nossa cultura e delimita muitos de para as meninas e os meninos em ordem com o vida diária, para a responsabilidade cidadã e para a
nossos modelos de vida familiar, de organização social modelo que nos herdou o Amigo Jesus. prática dos valores do reino de Deus. É uma educação
e de espiritualidade cristã. orientada à formação de cidadãos e cidadãs do reino
77. Em este sentido, a igreja deve refletir sobre a relação de Deus que vivem sua fé com solidariedade e que
74. Possivelmente o anterior nos ajude a compreender entre diversas práticas de castigo físico aos meninos e reclamam com dignidade seus direitos.
as razões pelas quais a voz das meninas e dos meninas – legitimadas desde leituras reducionistas do
meninos não é escutada da mesma forma como se texto bíblico - e a promoção de contextos de abuso e 80. A formação é uma tarefa de toda a vida que começa
percebe a autoridade das pessoas adultas. Em muitos violência. É uma responsabilidade das comunidades de no círculo mais próximo que é, na maioria dos casos,
casos, nem sequer é escutada. Que diferente nosso fé o assumir a disciplina positiva e promover ou deixar a família. E a igreja cumpre com as famílias - e com
comportamento ao de Deus! Jesus mostrou o rosto atrás as práticas de castigo em qualquer uma das suas as demais pessoas cuidadoras das meninas e dos
inclusivo de Deus com os meninos e as meninas, formas. Aqui, é importante ressaltar que ter limites meninos um papel educativo primordial para que
reconheceu sua presença, escutou sua palavra e os é necessário e é um direito dos meninos e meninas, sejam espaços saudáveis, sanadores, formativos e
designou, como já foi dito antes, sinais do seu Reino o que implica formação e guia aos pais / mães para justos, de cuidado e aprendizado.8
(Mt 19.14). desenvolver seus próprios juízos, sua capacidade de
autocontrole, sua autoestima e sua autonomia bem
75. O desafio não é menor: que as igrejas escutem como comportamentos sociais adequados na cultura
a voz das meninas e meninos e que lhes permita em que vivem. Assim, a disciplina positiva, com base
ser protagonistas, sujeitos de ação e de direito no respeito à infância, permite o desenvolvimento de
como uma prática eclesiástica e social que lhes dê suas potencialidades.

8 As comunidades de fé e as organizações que desenvolvem programas, serviços ou têm contato direto com pessoas menores de 18 anos fariam bem em adotar uma política por escrito para mantê-
los protegidos. Isto é conhecido geralmente como política de proteção de meninos, meninas e adolescentes. Esta política deve ajudar a criar um ambiente seguro e positivo e demonstrar que a Igreja ou
Organização assume com seriedade sua responsabilidade de cuidá-los. Não devemos ignorar que, lamentavelmente, em meio de tantas pessoas genuinamente interessadas pelas meninas e pelos meninos
também se infiltram pessoas inescrupulosas e com más intenções (abusadores sexuais ou traficantes de meninos, meninas e adolescentes); é por esta razão que devem ser tomadas medidas contundentes
para reduzir a possibilidade de que estas pessoas se infiltrem.Visão Mundial publicou um caderno informativo a esse respeito, intitulado: Igrejas e organizações seguras para a infância e a adolescência, que
pode ser visto aqui: http://www.wvi.org/es/IglesiasSeguras

20 «Deixem que as crianças venham a mim»


Proposta de mediação
pedagógica

21 «Deixem que as crianças venham a mim»


A Equipe que forma a Mesa de Bíblia e Teologia, do Movimento Juntos com a Infância e a Juventude, preparou um valioso
material para promover a reflexão bíblica, teológica e pastoral sobre o ministério com meninas, meninos, adolescentes e jovens.
Esta é a segunda edição de essas Leituras bíblicas-teológicas para o ministério com a infância e a juventude e, da mesma forma
que na primeira edição, são oferecidos a seguir quatro workshops, e eles têm a finalidade de animar e introduzir pessoas de
igrejas, de instituições teológicas, de organizações cristãs e de líderes em geral, cujo trabalho esteja relacionado com o estudo
do material.

22 «Deixem que as crianças venham a mim»


1. A estrutura de cada um dos workshops está iluminada pelo texto bíblico de
Lucas 10:30-37. Propõe-se uma aproximação desde a visão da realidade da infância,
da adolescência e da juventude.

2. As ilustrações tentam plasmar, de forma gráfica, o que está exposto no documento. Através
das imagens busca-se trabalhar, de forma inclusiva, com aqueles que tenham dificuldade com a
leitura. Além disso, se busca explorar e integrar outras vias de conhecimento, como são a visual e a
memória emocional, e provocar uma conversação ainda mais rica em possibilidades para compartilhar
experiências e criar conhecimentos significativos. Deve ser levado em consideração que a proposta
gráfica não esgota o material escrito. Por essa razão é muito relevante a leitura compartilhada e comentada,
de todo o documento. Os workshops estão orientados a realizar a leitura de forma seccionada.

3. No primeiro workshop trabalha-se a partir de duas ilustrações; o segundo, terceiro e quarto workshop é iniciado com
a visualização de uma ilustração; no quinto workshop não se utiliza ilustração como ponto de arranque da reflexão. Todas
as ilustrações fazem referência aos conteúdos desenvolvidos no documento preparado pela equipe que conforma a Mesa
de Bíblia e Teologia do Movimento Juntos com a Infância e a Juventude.

Cada ilustração está acompanhada de umas perguntas geradoras. As perguntas têm a intenção de proporcionar o diálogo
com respeito aos conteúdos da ilustração correspondente ao workshop que está sendo desenvolvido.

Sugere-se ir fazendo um processo de reflexão acumulativo, de maneira que em cada workshop sejam integrados os
aspectos mais sobressalentes do workshop anterior. Esta tarefa deve ser especialmente assumida por parte da pessoa
coordenadora ou facilitadora dos workshops. Recomenda-se levar um caderno para fazer anotações e anotar as
contribuições das pessoas participantes e dar a retroalimentação ao processo de reflexão com as contribuições que as
mesmas vão fazendo. Estas anotações têm grande importância e seria conveniente que os façam chegar à equipe que forma
a Mesa de Bíblia e Teologia, do Movimento Juntos com a Infância e a Juventude para que lhes sirva de insumos para seu
trabalho no futuro.

4. No final de cada workshop é indicado o parágrafo do texto no qual encontrarão informação mais detalhada do conversado
e as pessoas são convidadas para ler a seção que tem relação com a ilustração e o workshop correspondente.

23 «Deixem que as crianças venham a mim»


PRIMEIRO
WORKSHOP:
1
A infância, a adolescência Introdução: No primeiro workshop vamos afirmar nossa postura de pessoas
crentes em Deus de Jesus Cristo que nos convida a seu projeto de amor,
e a juventude estão pelos
misericórdia e justiça. Também vamos reconhecer as situações pelas quais passam as
caminhos de nossas meninas, meninos, adolescentes e jovens na atualidade e que se contradizem com o
comunidades “nus, conceito de “ter vida em abundância”. A reflexão deve ser orientada a conectar os
espancados, meio mortos” dados “frios” das enquetes com histórias locais, próximas e conhecidas, com rostos
e nomes.
Lc. 10:30

1. Em pequenos grupos vamos ver a ilustração • Conhecemos casos parecidos aos expostos serão colocados sobre o piso ao redor
n° 1 e a compartilhar o que nos chame na ilustração n° 2? da ilustração n° 1. Serão acesas velas em
mais a atenção.Vamos nos regozijar no • Existe na nossa realidade outras situações sinal de compromisso por transformar as
projeto comunitário de amor, solidariedade de violência, risco social da infância, da condições nas quais vivem essas meninas,
e justiça ao que estamos convidadas e adolescência e da juventude que não estão meninos, adolescentes e jovens e serão
convidados. Depois vamos nos deter na expressadas na ilustração n° 2? convidados a viver no Projeto de Jesus,
segunda ilustração e pôr atenção a todas • Quais são essas outras situações? representado na ilustração.
as situações expostas na ilustração N° 2. • Como nos sentimos diante dessas situações
Podem anotar em um flipchart ou em um pelas quais passam muitas meninas, 3. Recomenda-se ler a primeira parte do
papelógrafo para deixá-las visíveis e retomá- meninos, adolescentes e jovens? documento, começando no numeral 1 até o
las depois. • Como nos questiona essa realidade a partir numeral 7.
da nossa identidade cristã?
2. Depois vamos conversar sobre nossas • Sugere-se um momento de devoção que
próprias experiências em relação com possa consistir nos seguintes passos:
as situações expressadas na ilustração. escrever sobre pedaços de papel os
Podemos nos interrogar sobre os seguintes nomes de meninas, meninos, adolescentes
aspectos: e jovens que estejam em situações de
risco, de violência, de desamparo. Estes

24 «Deixem que as crianças venham a mim»


25 «Deixem que as crianças venham a mim»
SEGUNDO
WORKSHOP:
2
Reconhecendo os vitimários Introdução: este segundo workshop faz referência às pessoas adultas, que são as
responsáveis pelo bem-estar da infância, da adolescência e da juventude; mas que
Lc. 31-32
não cumprem com sua tarefa.Vamos conversar sobre quem são os “assaltantes” e
quem são os que agem com indiferença e falta de compromisso.

1. Em pequenos grupos vamos ver a ilustração • Que papel desempenha a comunidade as pedras algumas flores, água sobre a terra
e a compartilhar aquilo que nos chama a eclesial nesta problemática? seca, sementes e frutas (que representem
atenção. É importante destacar as atitudes • O que se faz atualmente a nível eclesial a capacidade de transformação que temos
das pessoas adultas que aparecem na e civil para transformar as situações como pessoas cristãs sempre convidadas
ilustração. Pode-se fazer uma chuva de comentadas? a promover mudanças por meio de
ideias e anotá-las no flipchart. • Como podemos melhorar o que já está seguimento de Jesus Cristo).
sendo feito?
2. Depois vamos conversar sobre nossas • Sugere-se um momento de devoção que 3. Recomenda-se ler a primeira parte do
próprias experiências em relação com as possa consistir nos seguintes passos: documento, começando no numeral 8 até o
situações expressadas na ilustração n° 3. colocar sobre o piso elementos que numeral 15.
Podemos nos perguntar: representem as atitudes de egoísmo,
• Conhecemos casos parecidos? violência, falta de interesse, abandono,
• Existe em nossa realidade outras situações falta de amor, etc. que as pessoas adultas
onde as pessoas adultas agem de forma expressam a respeito da vida de meninas,
parecida as que aparecem na ilustração? meninos, adolescentes e jovens (podem
ser algumas espinhas, pedras, terra árida,
etc.). Depois podem ser colocadas sobre

26 «Deixem que as crianças venham a mim»


Lc. 10:30

NCIA
ISTÊ
ASS DICA

TE
S
HIV TE

PO
SIT
IVO

LIXO

27 «Deixem que as crianças venham a mim»


TERCEIRO
WORKSHOP:
3
Nosso compromisso pela Introdução: este terceiro workshop faz referência às iniciativas que são
promovidas para alcançar o bem-estar da infância, da adolescência e da juventude.
transformação das diferentes
formas de violência exercidas
contra a infância, a adolescência
e a juventude Lc. 10:33-37

1. Em pequenos grupos vamos ver a ilustração • Como pessoas crentes em Deus da Vida e exemplares de alguns documentos da
e compartilhar o que mais nos chama a seguidoras de Jesus e seu projeto libertador. legislação vigente a favor das pessoas
atenção. O que nos motiva a trabalhar pelo bem- menores de idade ou, em sua ausência,
estar da infância, da adolescência e da serão escritos seus nomes em pedaços
2. Depois vamos conversar sobre nossas juventude? de papel. Podemos, também, escrever o
próprias experiências em relação com • Que tanto conhecemos e integramos no nome de algumas instituições e projetos
as situações expressadas na ilustração. nosso cotidiano a legislação onde são que trabalhem pelo bem-estar das meninas,
Podemos nos perguntar: plasmados os direitos da infância e da meninos, adolescentes e jovens. Será feita
• Conhecemos experiências parecidas? adolescência? uma oração de ação de graças por essas
• Existe na nossa realidade iniciativas eclesiais • Sugere-se um momento de devoção que iniciativas e as pessoas darão suas mãos em
ou civis similares que apóiam a infância, a possa consistir nos seguintes passos: sinal de apoio e compromisso a favor dessas
adolescência e a juventude? Recomenda- colocar sobre o piso a ilustração n° 2 organizações e projetos.
se anotar o que for comentado para (utilizada no primeiro workshop), onde são
ter um mapa de atores envolvidos na expostas as situações pelas que atravessam 3. Recomenda-se ler o segundo parágrafo do
transformação da realidade. as meninas, meninos, adolescentes e jovens. documento, que inclui do numeral 16 ao
Ao redor da ilustração serão colocados numeral 30.

28 «Deixem que as crianças venham a mim»


Lc. 10:31-32

OS CASTIGOS
DO SENHOR!

ESPERE,
QUANDO VOCÊ
FOR ADULTA AS PESSOAS
PODERÁ ADULTAS
DECIDIR SOBRE SEMPRE TÊM
SUA VIDA! RAZÃO!
O
MEN E DA
MEN ITOS D

INA
INO
E
DIR

29 «Deixem que as crianças venham a mim»


QUARTO
TALLER:
4
Los niños, adolescentes y Introdução: este quarto workshop faz referência às capacidades próprias dos
meninos, adolescentes e jovens como pessoas e a necessidade de reconhecê-las,
jóvenes son personas activas
valorizá-las, legitimá-las e integrá-las no cotidiano pastoral, eclesial, familiar e social.
y propositivas.

1. Em pequenos grupos vamos ver a ilustração necessitam sempre e em todos os casos um pedaço de pão, um copo de leite, alguns
e compartilhar o que mais nos chama a dos bons critérios das pessoas adultas que brinquedos como sinal da alegria e da
atenção e por quê. os orientam” criatividade da infância. Estão convidados a
• São certas estas frases? pensar em meninas, meninos, adolescentes
2. Depois vamos conversar sobre nossas • Existe na nossa realidade eclesial ou civil e jovens que exalam energia, vitalidade,
próprias experiências em relação com experiências onde sejam valorizadas e inteligência, amor e que nutrem as famílias e
as situações expressadas na ilustração. integrem de forma respeitosa a infância, a comunidades com seus dons.
Podemos nos perguntar: população adolescente e jovem?
• Qual é a valoração que prevalece com • Que podemos fazer para reconhecer, 3. Recomenda-se ler a terceira, quarta e quinta
respeito à infância, a adolescência e a valorizar, impulsionar e integrar as parte do documento, que inclui do numeral
juventude? contribuições da infância, da adolescência e 31 até 61.
• Durante sua infância, adolescência e da juventude?
juventude escutaram frases como as • Sugere-se um momento de devoção
seguintes: “as meninas e os meninos, bem que pode consistir nos seguintes passos:
como as pessoas adolescentes e jovens colocar sobre o piso a ilustração utilizada
não sabem, não podem opinar, suas no desenvolvimento deste workshop.
contribuições não são valiosas, não têm Colocar ao redor da ilustração uma vela
experiência, não sabem o que lhes convêm, grande acesa, uma planta em crescimento,

30 «Deixem que as crianças venham a mim»


Lc. 10:33-37

DEUS É
UMA FAMÍLIA

AS
DOENÇ NTE
LME
SEXUA EIS
M SÍV
IS
TRANS

31 «Deixem que as crianças venham a mim»


QUINTO
WORKSHOP:
5
as pessoas menores de idade Introdução: este quinto workshop faz referência às capacidades próprias dos
meninos, adolescentes e jovens como pessoas e a necessidade de reconhecê-las,
são agentes do reino de Deus.
valorizá-las, legitimá-las e integrá-las no cotidiano pastoral, eclesial, familiar e social.

1. Organizados em grupos de três pessoas, participante uma silhueta de menina,


leem e comentam a quinta parte do menino, adolescente ou jovem desenhada
documento que inclui do numeral 62 até o em papel, de preferencia de várias cores,
, até o final do documento. para expressar a diversidade que nos
2. Nomeiem uma pessoa do grupo para que constitui. Cada pessoa escreverá ou
comente na plenária o que for conversado desenhará sobre a silhueta ou expressará
no subgrupo. de forma verbal um desejo que tem para
3. Sublinhem o que mais chama a atenção e a vida das pessoas menores de idade. A
escolham algumas ideias para compartilhar pessoa facilitadora segurará nas suas mãos
na plenária. a ilustração n° 1, utilizada no primeiro
4. Anote-se no flipchart ou no papelógrafo workshop. Previamente terá feito pequenas
os desafios que vamos descobrindo das aberturas e colocado neles fios de
leituras. diferentes cores de onde se amarrarão as
5. Comentem na plenária o conversado nos silhuetas que cada pessoa recebeu. Desta
grupos. maneira é possível expressar o desejo de
6. Sugere-se um momento de devoção que formar parte do projeto de amor a que
pode consistir nos seguintes passos: a Jesus nos convida sem importar a idade,
pessoa facilitadora entregará a cada pessoa nem a condição social ou origem étnica ou
qualquer elemento de nossa identidade.

32 «Deixem que as crianças venham a mim»


Lc. 10:33-37

CARINHO
TEMOS
DIREIT
BRINCADEIRA
OS
AL
IME
O NTA
UD ÇÃ
ST SA O
E ÚD SE
E M
AP V
RE IOLÊ
ND NC
EM IA
M OS
EL
HO
R

NÃO A
O
CASTI
ESTUDO
GO
FÍSICO
PORQUE QUERO
CONSEGUIR...

NÃO
M
BAT E
A!
EXIGIM
O
DE TOD S UMA VIDA
O TIPO L
DE VIO IVRE
LÊNCIA

33 «Deixem que as crianças venham a mim»


Materiais necessários para levar adiante
cada encontro:
Workshop N° 1 Workshop N° 2 Workshop N° 3 Workshop N° 4 Workshop N° 5
• Ilustrações n° 1 e n° 2. • Ilustração n° 3. Recomenda- • Ilustração n° 4. Recomenda- • Ilustração n° 5 para o • Flipchart ou papelógrafo
Recomenda-se ter pelo se ter pelo menos uma se ter pelo menos uma arranque da reflexão. • Marcadores coloridos
menos uma cópia das cópia da ilustração por cada cópia da ilustração por cada Recomenda-se ter pelo • Fita adesiva ou aderência
ilustrações por cada duas duas pessoas, o que dará a duas pessoas, o que dará a menos uma cópia da para sustentar os pedaços
pessoas, o que dará a oportunidade às pessoas oportunidade às pessoas ilustração por cada duas de papel no flipchart ou
oportunidade às pessoas participantes de observar participantes de observar pessoas, isto dará a papelógrafo
participantes de observar de perto cada detalhe e de perto cada detalhe e oportunidade às pessoas • Ilustração n° 1 fotocopiada
de perto cada detalhe e promoverá sua participação. promoverá sua participação. participantes de observar com pequenas aberturas
promoverá sua participação. Em caso de contar com Em caso de contar com de perto cada detalhe e perfuradas onde são
Em caso de contar com a equipe e as condições a equipe e as condições promoverá sua participação. colocados os fios coloridos
a equipe e as condições necessárias, é possível necessárias a ilustração Em caso de contar com • Silhuetas de meninas,
necessárias, a ilustração projetar a ilustração e será poderá ser projetada e será a equipe e as condições meninos, adolescentes e
pode ser projetada e será necessária somente uma necesária somente uma necessárias, a ilustração jovens desenhados sobre
necessária somente a ilustração impressa para a ilustração impressa para a pode ser projetada e será papéis coloridos e de vários
ilustração impressa para a atividade de devoção que é atividade de devoção que é necessária somente uma tamanhos
atividade de devoção. sugerida mais adiante. sugerida mais adiante. ilustração impressa para a • Tudo que for necessário para
• Flipchart ou papelógrafo • Flipchart ou papelógrafo • Flipchart ou papelógrafo atividade de devoção que é o lanche
• Marcadores coloridos • Marcadores coloridos • Marcadores coloridos sugerida mais adiante.
• Fita adesiva ou aderência • Fita adesiva ou aderência • Fita adesiva ou aderência • Flipchart ou papelógrafo
para sustentar os pedaços para sustentar os pedaços para sustentar os pedaços • Marcadores coloridos
de papel no flipchart ou de papel no flipchart ou de papel no flipchart ou no • Fita adesiva ou aderência
papelógrafo papelógrafo papelógrafo para sustentar os pedaços
• Tirinhas de papel, • Elementos para o momento • Ilustração n° 2 fotocopiada de papel no flipchart ou
marcadores e lápis de devoção (espinhas, para o momento da devoção papelógrafo
• Velas e fósforos pedras, terra árida que serão • Exemplares da legislação • Tudo que for necessário para
• Tudo que for necessário para utilizadas para expressar vigente, a favor dos direitos o lanche
o lanche as atitudes hostis das das pessoas menores de
pessoas adultas em contra idade ou, em sua ausência,
das meninas, meninos, tirinhas de papel com os
adolescentes e jovens. nomes dessas legislações
Também serão necessárias (pode ser A Convenção dos
algumas flores ou ramas Direitos da Infância)
verdes, recipiente com água, • Tudo que for necessário para
alguma fruta ou semente o lanche
• Tudo que for necessário para
o lanche

34 «Deixem que as crianças venham a mim»


Nossa identidade gráfica atual representa essa essência dinámica, criativa e contextual do
Movimento com a Infância e a Juventude. É demonstração da transformação, pertinência e
influencia que caracterizam nossos esforços e iniciativas com as igrejas e, especialmente,
com as meninas, meninos, adolescentes e jovens da América Latina e Caribe.

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Twitter: @MovimientoNJ

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