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Costa Larissasaitoda M

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LARISSA SAITO DA COSTA

ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO EM UNIDADE DE TERAPIA


INTENSIVA: IMPACTO DA FARMÁCIA CLÍNICA NO
ACOMPANHAMENTO DA TERAPIA MEDICAMENTOSA

Campinas
2014

i
ii
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS

LARISSA SAITO DA COSTA

Atuação do farmacêutico em unidade de terapia intensiva:


impacto da Farmácia Clínica no acompanhamento da terapia
medicamentosa

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Priscila Gava Mazzola

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação


em Ciências Médicas da Faculdade de Ciências Médicas
da Universidade Estadual de Campinas para obtenção do
título de Mestra em Ciências Médicas, área de
concentração em Ciências Biomédicas.

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA


DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA LARISSA SAITO DA
COSTA E ORIENTADA PELA PROFª DRª PRISCILA GAVA
MAZZOLA.

---------------------------------
Assinatura do Orientador

Campinas
2014
iii
iv
v
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, que incansavelmente continuam ao meu lado.

vi
AGRADECIMENTOS
A Deus, que cuida, guia, zela e dá forças.

Ao meu pai, Antonio Terto da Costa e à minha mãe, Lourdes Akemi Saito,
meus exemplos de vida. Agradeço pelo amor incondicional, compreensão pela
minha falta de tempo e ansiedade, pela amizade, dedicação, tempo e
financiamentos investidos em mim. Obrigada pelo incentivo, pelo apoio e pelas
alegrias compartilhadas nos momentos de sucesso alcançados.

À minha família, pelo amor e incentivo, essenciais para mim.

Ao meu melhor amigo, companheiro e namorado, Marcio Keiiti Yoshida.


Obrigada pelo amor, cuidado, carinho, estímulo e principalmente pela
compreensão nos momentos difíceis. Agradeço também à sua família pelo apoio e
receptividade.

À minha orientadora Prof.ª Dr.ª Priscila Gava Mazzola, que me aceitou


como aluna e proporcionou a realização deste projeto, colaborando fortemente
para o meu crescimento pessoal, acadêmico e profissional, sendo também um
exemplo de vida para mim. Obrigada pela paciência, apoio, incentivo e amizade,
indo além de seu papel como orientadora.

À Aline Teotônio Rodrigues, amiga que auxiliou e se dedicou muito na


execução deste projeto. Agradeço também pela ajuda, amizade, apoio e carinho
em todos os momentos, bons e de necessidade.

À Aline Aparecida da Cruz, amiga com quem compartilho diversas horas


difíceis e de alegria. Obrigada pela ajuda, pelo companheirismo, força e ouvidos.

À Amanda Canato Ferracini, aluna de iniciação científica da Prof.ª Priscila


que, mais do que uma companheira de trabalho, tornou-se uma amiga para todas
as horas. Agradeço por toda a ajuda e dedicação na realização deste projeto.

À equipe de Farmácia do Hospital Professor Dr. José Aristodemo Pinotti –


Centro de Atenção Integrada à Saúde da Mulher – CAISM (UNICAMP),

vii
principalmente às farmacêuticas, que me auxiliaram em toda a execução deste
projeto.

À equipe multiprofissional da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital


Professor Dr. José Aristodemo Pinotti – Centro de Atenção Integrada à Saúde da
Mulher – CAISM (UNICAMP) pela receptividade e acolhimento. Agradeço em
especial ao Dr. Antonio Francisco de Oliveira Neto, que contribuiu para a
realização deste projeto com apoio e encorajamento, proporcionando com seus
conhecimentos um aprendizado diário.

Ao grupo de pesquisa em Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica da


UNICAMP, pelo companheirismo e amizade.

Ao Prof. Dr. Diogo Pilger e à Prof.ª Dr.ª Maria Heloisa Souza Lima Blotta,
que aceitaram o convite de participação desta banca de defesa de tese, e à Prof.ª
Dr.ª Patrícia Moriel. Agradeço por todas as sugestões apresentadas no exame de
Qualificação para melhorias neste projeto.

Agradeço também à Prof.ª Dr.ª Patrícia de Carvalho Mastroianni e ao Prof.


Dr. Erich Vinicius de Paula, por aceitarem o convite de participação desta banca.

Ao serviço de Estatística da Faculdade de Ciências Médicas, por realizar a


análise estatística do meu projeto.

À secretaria do Departamento de Patologia Clínica e à secretaria da Pós


Graduação em Ciências Médicas.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior


(CAPES), que financiou este projeto por meio de concessão de bolsa de estudos.

viii
“...It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll.
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.”
William Ernest Henley

ix
RESUMO

Durante tratamentos oncológicos, ginecológicos e obstétricos, a mulher


pode desenvolver complicações que requerem a sua admissão em uma Unidade
de Terapia Intensiva (UTI). Neste contexto, a atuação do farmacêutico clínico nas
reuniões à beira leito da equipe intensivista e a realização de intervenções
farmacêuticas contribui para a otimização da terapia medicamentosa, a redução
de erros de prescrição e consequentemente, para a segurança da paciente. Este
estudo objetivou avaliar o impacto que a incorporação da Farmácia Clínica à
equipe multidisciplinar de uma UTI especializada em saúde da mulher pode gerar
na terapia medicamentosa de pacientes internadas neste local. Foram realizadas
intervenções farmacêuticas por meio da análise de prescrições e da discussão de
casos clínicos durante as visitas à beira leito junto à equipe multidisciplinar. Estas
intervenções, bem como os erros de prescrição identificados, foram
documentados, quantificados e classificados. Foram acompanhadas 222
pacientes ao longo do estudo, com uma média de 5,89 ± 6,44 prescrições por
paciente. Foram identificados 101 erros de prescrição, dos quais 87 foram
prevenidos. Os mais prevalentes foram dosagem maior que a correta
(22[21,78%]), medicamento não seguro por presença de interação medicamentosa
(IM) (20[19,80%]) e medicamento não seguro na lactação (15[14,85%]). Foram
realizadas 127 intervenções, das quais 113 foram aceitas, 5 parcialmente aceitas
e 9 não aceitas. As mais prevalentes foram ajuste de dose (30[23,62%]),
interações medicamentosas (20[15,74%]) e informações sobre medicamentos
(17[13,39%]). Pode-se concluir que a implementação da Farmácia Clínica
contribuiu para a redução de riscos provenientes da terapia medicamentosa na
área de terapia intensiva na saúde da mulher.

Palavras-chave: Farmácia Clínica, Saúde da mulher, Terapia Intensiva

x
ABSTRACT

During gynecological, oncological and obstetrical treatments, a woman may


develop complications requiring her admission to an Intensive Care Unit (ICU). In
this context, the role of the clinical pharmacist in multidisciplinary meetings at
bedside visits contributes to patient safety by performing pharmacy interventions.
This study aimed to evaluate the impact that the incorporation of Clinical Pharmacy
in the multidisciplinary team of a specialized ICU in women’s health can generate
in drug therapy of hospitalized patients in that place. Pharmacy interventions were
performed through the analysis of patient’s prescriptions and clinical case
discussions during bedside visits. These interventions and prescription errors
found in prescriptions were documented, quantified and classified. We followed
222 patients throughout the study, with an average of 5.89 ± 6.44 prescriptions,
most prevalent were dosage higher than the correct (22 [21.78%]), unsafe drug for
drug interaction (DI) presence (20 [19.80%]) and unsafe drug during lactation (15
[14.85%]). A total of 127 interventions were performed, of which 113 were
accepted, 5 partially accepted and 9 not accepted. The most prevalent were dose
adjustment (30 [23.62%]), drug interactions (20 [15.74%]) and drug information (17
[13.39%]). We can conclude that Clinical Pharmacy implementation contributed to
reduce risks from drug therapy in intensive care in women’s health area.

Keywords: Clinical Pharmacy, Women’s health, Intensive care

xi
LISTA DE ABREVIATURAS

ACCP: American College of Clinical Pharmacy


ATC: Anatomic Therapeutic Chemical Code
ANVISA: Agência Nacional de Vigilância Sanitária
BRCA: breast cancer antigen
CAISM: Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher
CEV: carcinoma escamoso vulvar
CIM: Centro de Informações sobre Medicamentos
ClCr: Clearance de creatinina
CRF-SP: Conselho Regional de Farmácia de São Paulo
DNA: deoxyribonucleic acid
DP: desvio padrão
EA: evento adverso
EAM: evento adverso a medicamento
EUA: Estados Unidos da América
ESCP: European Society of Clinical Pharmacy
FAST HUG: Feeding, Analgesia, Sedation, Thromboprophylaxis, Head up position,
Ulcer prophylaxis, Glucose control
GNFC: Grupo Nacional de Farmácia Clínica
HAC: Hospital Amigo da Criança
HLA: human leucocyte antigens
HPV: human papillomavirus
HUOL: Hospital Universitário Onofre Lopes
IMC: índice de massa corpórea
IMP: interação medicamentosa potencial
IOM: Institute of Medicine
JT: Jonckheere Terpstra
NCCMERP: National Coordinating Council for Medication Error Reporting and
Prevention
NIC: neoplasia intraepitelial cervical
OPAS: Organização Pan Americana da Saúde
xii
PTEN: phosphatase and tensin homolog
RAM: reação adversa a medicamentos
RDC: Resolução da Diretoria Colegiada
SAS: Statistical Analysis System
SBRAFH: Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar
SUS: Sistema Único de Saúde
UFRN: Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UNICAMP: Universidade Estadual de Campinas
UTI: Unidade de Terapia Intensiva

xiii
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Classificação dos erros de prescrição ................................................. 45


Tabela 2 – Classificação das intervenções farmacêuticas realizadas ................... 45
Tabela 3 – Significância clínica dos erros de prescrição prevenidos .................... 47
Tabela 4 – Significância clínica das intervenções farmacêuticas aceitas .............. 47
Tabela 5 – Grupos anatômicos e terapêuticos de acordo com o primeiro nível de
classificação ATC .................................................................................................. 49
Tabela 6 – Características da população de estudo. ............................................ 51
Tabela 7 – Principais motivos de internação na UTI ............................................. 52
Tabela 8 – Tipos de erros de prescrição encontrados .......................................... 54
Tabela 9 – Erros de prescrição não prevenidos .................................................... 55
Tabela 10 – Tipos de intervenções farmacêuticas realizadas ............................... 57
Tabela 11 – Significância clínica dos erros prevenidos ......................................... 58
Tabela 12 – Significância clínica das intervenções aceitas ................................... 58
Tabela 13 – Classificação ATC dos medicamentos mais envolvidos por
significância clínica dos erros prevenidos ............................................................. 59
Tabela 14 – Associação estatística entre os tipos de erros e as classes de
medicamentos mais envolvidos............................................................................. 59
Tabela 15 – Estudos relatando internações de pacientes em UTI ........................ 62
Tabela 16 – Estudos relacionando erros de medicação em pacientes obstétricas
.............................................................................................................................. 65
Tabela 17 – Indicadores gerados pelo serviço de Farmácia Clínica em hospitais 66
Tabela 18 – Tipos de intervenções mais realizadas em hospitais......................... 67
Tabela 19 – Recorrência de erros de prescrição durante o período de estudo ..... 70

xiv
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Intervenções farmacêuticas e erros de prescrição por mês ................. 60

xv
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 19

1.1. A FARMÁCIA CLÍNICA ........................................................................... 19

1.1.1. A atuação do farmacêutico clínico na Farmácia Hospitalar ........ 19

1.1.2. A Farmácia Clínica no mundo e no Brasil ..................................... 20

1.1.3. Intervenções farmacêuticas e erros de prescrição ...................... 23

1.1.4. A Farmácia Clínica em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ......... 25

1.2. A SAÚDE DA MULHER........................................................................... 26

1.2.1. Gestação e puerpério: pré-eclâmpsia e outras desordens


hipertensivas ................................................................................................. 26

1.2.2. O câncer de mama ........................................................................... 29

1.2.3. O câncer do colo do útero e o câncer endometrial ...................... 32

1.2.4. O câncer de ovário .......................................................................... 34

1.2.5. O câncer de vulva ............................................................................ 36

1.3. FARMÁCIA CLÍNICA EM SAÚDE DA MULHER .................................... 37

1.3.1. O papel do farmacêutico clínico em UTI especializada em saúde


da mulher....................................................................................................... 37

2. JUSTIFICATIVA ............................................................................................. 39

3. OBJETIVOS ................................................................................................... 41

3.1. OBJETIVO GERAL.................................................................................. 41

3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................... 41

4. MÉTODOS...................................................................................................... 42

4.1. LOCAL DE ESTUDO ............................................................................... 42

4.2. PERÍODO DE ESTUDO ........................................................................... 43

xvi
4.3. ASPECTOS ÉTICOS ............................................................................... 43

4.4. POPULAÇÃO DE ESTUDO .................................................................... 44

4.5. DESENHO DO ESTUDO ......................................................................... 44

4.6. COLETA DE DADOS............................................................................... 44

4.6.1. Erros de prescrição e intervenções farmacêuticas ...................... 44

4.6.2. Significância clínica ........................................................................ 46

4.6.3. Medicamentos envolvidos nos erros ............................................. 48

4.7. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E ANÁLISE ESTATÍSTICA .... 49

5. RESULTADOS ............................................................................................... 50

5.1. CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO DE ESTUDO ........................... 50

5.2. ERROS DE PRESCRIÇÃO IDENTIFICADOS ......................................... 52

5.3. INTERVENÇÕES FARMACÊUTICAS REALIZADAS ............................. 56

5.4. SIGNIFICÂNCIA CLÍNICA DOS ERROS E DAS INTERVENÇÕES ....... 57

5.5. CLASSIFICAÇÃO ATC DOS MEDICAMENTOS ENVOLVIDOS NOS


ERROS DE PRESCRIÇÃO ............................................................................... 59

5.6. INTERVENÇÕES FARMACÊUTICAS E ERROS DE PRESCRIÇÃO AO


LONGO DO TEMPO .......................................................................................... 60

6. DISCUSSÃO .................................................................................................. 61

6.1. ANÁLISE DAS CARACTERÍSTICAS DAS PACIENTES ESTUDADOS 61

6.2. ANÁLISE DOS INDICADORES GERADOS PELA FARMÁCIA


CLÍNICA... ......................................................................................................... 64

6.3. COMPORTAMENTO DAS INTERVENÇÕES FARMACÊUTICAS


REALIZADAS E ERROS DE PRESCRIÇÃO IDENTIFICADOS AO LONGO DO
TEMPO .............................................................................................................. 69

7. LIMITAÇÕES DO ESTUDO ........................................................................... 72

xvii
8. CONCLUSÃO ................................................................................................. 73

9. REFERÊNCIAS .............................................................................................. 74

10. ANEXOS ..................................................................................................... 89

10.1. PARECER DO CEP ................................................................................. 89

10.2. PROTOCOLO DE DOSAGEM DA ENOXAPARINA ............................... 91

xviii
1. INTRODUÇÃO

1.1. A FARMÁCIA CLÍNICA

1.1.1. A atuação do farmacêutico clínico na Farmácia Hospitalar

Nos últimos anos, os serviços de saúde em todo o mundo têm sofrido uma
série de alterações para se adequar às expectativas de melhor assistência aos
pacientes, o que estimulou os hospitais a proporem um cuidado caracterizado por
mudanças no papel dos profissionais da saúde, que passaram de gerenciadores
de doença para gerenciadores de saúde (1). Dentro desta nova proposta do
cuidado ao paciente o farmacêutico torna-se um membro de importância dentro da
equipe de saúde, ocupando o papel na assistência à terapêutica e envolvendo-se
em diversas áreas dentro dos hospitais: prevenção de doenças, primeiros
cuidados, cuidados subagudos e urgências, uso racional de medicamentos,
sistemas de informação, assistência ambulatorial, entre outras. O farmacêutico
necessita exercer sua função aplicando seus conhecimentos clínicos para
favorecer a prática de uma terapia segura e racional, minimizando riscos e
contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes (1).

A Farmácia Hospitalar é definida pela Sociedade Brasileira de Farmácia


Hospitalar (SBRAFH) como “unidade clínica, administrativa e econômica, dirigida
por farmacêutico, ligada hierarquicamente à direção do hospital e integrada
funcionalmente às demais unidades administrativas e de assistência ao paciente”
(2). Tal definição demonstra o caráter integrativo dessa área, podendo ser
considerada estratégica para a promoção da segurança do paciente e da
qualidade de sua terapêutica. Neste contexto, muitas mudanças vêm sendo
discutidas para a solidificação deste serviço com foco no cuidado ao paciente;
entre elas destaca-se a integração da Farmácia Clínica nas atribuições dos
serviços de Farmácia Hospitalar (3;4).

A Farmácia Clínica transforma-se dentro da Farmácia Hospitalar,


agregando às muitas funções desse serviço a intervenção farmacêutica baseada
no paciente e na melhor maneira de lhe dispensar os cuidados farmacêuticos com
19
os menores riscos possíveis, demonstrando o caráter amplo dessa área. O
farmacêutico se torna um membro ativo da equipe clínica, acompanhando
diretamente o paciente nos serviços, prestando apoio contínuo à equipe de saúde.
Para tal, ele é envolvido em uma série de atividades, realizando o
acompanhamento e monitoramento da prescrição médica para otimizar a
terapêutica e reduzir custos para os hospitais (5).

Incorporar o farmacêutico clínico na equipe assistencial está entre as


recomendações das organizações internacionais responsáveis pela certificação de
qualidade dos serviços de Farmácia Hospitalar, classificando essa medida como
uma ação preventiva de eventos adversos evitáveis e de problemas relacionados
a medicamentos (3).

1.1.2. A Farmácia Clínica no mundo e no Brasil

Após a industrialização no setor de medicamentos ocorreram mudanças


que proporcionaram o distanciamento do farmacêutico de suas atividades
tradicionais: a manipulação de medicamentos e o atendimento ao paciente (6).
Embora a aquisição, o armazenamento e a distribuição de medicamentos
prescritos envolvessem uma significativa responsabilidade em termos de
segurança e eficácia da terapia medicamentosa, uma convicção se desenvolveu
dentro da profissão farmacêutica: que o conhecimento profissional não era
utilizado em seu pleno potencial. Atividades para garantir o uso seguro e
adequado dos medicamentos tornaram-se um novo alvo, levando a ações
relacionadas com a terapia medicamentosa de pacientes (7). Essa percepção se
apresentou aproximadamente ao mesmo tempo na Europa e na América do Norte,
principalmente por farmacêuticos hospitalares e, nos Estados Unidos da América
(EUA), também por farmacêuticos envolvidos na educação (8). Foi com este
pensamento que uma nova prática surgiu dentro do âmbito farmacêutico,
denominada “Farmácia Clínica”, ou seja, toda atividade executada pelo
farmacêutico voltada ao paciente através do contato direto ou através da
orientação a outros profissionais da equipe clínica (9).

20
A Farmácia Clínica teve seus primeiros relatos em 1930, com a criação de
um curso na Faculdade de Farmácia da Universidade de Washington que inseria
os alunos em atividades de contato direto com os pacientes e diminuía o tempo de
atividades na área de vendas e dispensação de medicamentos. O curso foi
descontinuado, porém a discussão do tema voltou a entrar em destaque na
década de 1960, quando diversos estudos apontaram que a profissão
farmacêutica deveria afastar-se de funções estritamente distributivas e voltar seu
foco à área assistencial e de cuidado ao paciente. Foi nessa época, na farmácia
da universidade de Kentucky, que a prática da Farmácia Clínica se consolidou
com o primeiro serviço formal de informações sobre medicamentos em um
hospital norte-americano. Em 1979 foi fundada a American College of Clinical
Pharmacy (ACCP), que se tornou a organização oficial responsável por garantir
educação, defesa e recursos para os farmacêuticos clínicos na prática e pesquisa
(10). O desenvolvimento dessa área foi impetuoso nos Estados Unidos e teve um
enorme impacto sobre a educação, garantindo a imagem do farmacêutico voltada
ao cuidado ao paciente no hospital, e mais tarde também no ambulatório e na
comunidade.
Atualmente, a Farmácia Clínica nos EUA é considerada referência mundial,
e em seu modelo o farmacêutico é um membro ativo da equipe multidisciplinar,
que acompanha as visitas médicas para contribuir com as discussões terapêuticas
no cuidado ao paciente. O farmacêutico aplica seus conhecimentos para garantir o
uso racional de medicamentos, avaliando a terapia medicamentosa e sendo a
principal fonte de informações válidas relativas à segurança, ao uso apropriado e
ao custo-benefício dos medicamentos (11).
Na Europa, simultaneamente à criação da ACCP, foi fundada a European
Society of Clinical Pharmacy (ESCP), que promove a expansão e difusão dessa
prática na comunidade europeia. A ESCP pretendia demonstrar que, se o
farmacêutico desejasse manter um papel fundamental no sistema de saúde, ele
deveria se afastar da simples função de balconista e dispensador, para assumir
uma responsabilidade ativa como gerenciador de cuidado ao paciente (12). Na
Europa – com exceção do Reino Unido, que por razões históricas e linguísticas é
21
mais fortemente influenciado pelos EUA, a difusão da prática do cuidado ao
paciente pelo farmacêutico foi bastante lenta e muitas vezes limitada a alguns
visionários. O atraso no desenvolvimento do novo papel do farmacêutico
aconteceu em decorrência dos diferentes sistemas de ensino e idiomas que
separam os numerosos países europeus uns dos outros, e também por parte dos
professores das universidades, que perderam contato com a nova realidade da
profissão (12). Se as iniciativas de nível acadêmico quase não foram adotadas
para implementar uma nova orientação da profissão, farmacêuticos hospitalares
diretamente confrontados com o impacto negativo da farmacoterapia inadequada
reconheceram a importância da adoção do conceito de Farmácia Clínica na
prática. Nos últimos anos, tem acontecido na Europa, portanto, uma propagação
de atividades que podem ser integradas ao âmbito do termo “Farmácia Clínica”,
como: centros de informação sobre medicamentos, formulários de medicamentos,
elaboração de diretrizes terapêuticas, farmacoepidemiologia, farmacoeconomia,
nutrição parenteral, preparação centralizada de citostáticos, programas de
misturas intravenosas, monitoramento de drogas terapêuticas, e claro, a presença
do farmacêutico nos diferentes departamentos e unidades do hospital, prestando
serviços de Farmácia Clínica diretamente ao paciente (8).
No Brasil, o primeiro serviço de Farmácia Clínica e o primeiro Centro de
Informações sobre Medicamentos (CIM) foram instalados em 1979, no Hospital
Universitário Onofre Lopes (HUOL), da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN). A partir daí, novas iniciativas deram continuidade à expansão desta
área: em 1981, foi realizado o 1º Seminário Brasileiro de Farmácia Clínica, com
111 participantes de 14 Estados da Federação; em 1983, foi aberto o 1º Curso
Brasileiro de Farmácia Clínica, com a participação de 18 farmacêuticos de sete
Estados. Entre 1985 e 1992 foram realizados oito cursos de especialização em
Farmácia Hospitalar para o Controle de Infecção Hospitalar, dos quais
participaram 191 farmacêuticos de todo o país (13). Em 2009, o Conselho
Regional de Farmácia de São Paulo (CRF-SP) passou a participar dessa nova
iniciativa no âmbito farmacêutico, criando a Comissão Assessora de Farmácia
Clínica e o Grupo Nacional de Farmácia Clínica (GNFC), que tem por finalidade o
22
aprimoramento da Farmácia Clínica e a geração de conhecimento, estimulando e
contribuindo para a melhoria da qualidade do atendimento farmacêutico,
realizando pesquisas e promovendo o desenvolvimento da prática clínica
farmacêutica. Em 2011, o CRF-SP também promoveu o I Encontro Nacional de
Farmácia Clínica.
Atualmente, ainda são poucos os cursos brasileiros de graduação em
Farmácia que oferecem a disciplina de Farmácia Clínica, indicando que o Brasil
enfrenta o desafio em transportar os conceitos e ferramentas teóricas para o dia a
dia do profissional, passando pela mudança cultural dos próprios farmacêuticos,
pela valorização da profissão perante a sociedade, os demais profissionais de
saúde, e principalmente pelos administradores de sistemas de saúde e órgãos
governamentais (14).

1.1.3. Intervenções farmacêuticas e erros de prescrição

Durante a última década estudos apontaram o elevado número de


pacientes que apresentaram problemas relacionados a medicamentos em
ambiente ambulatorial e hospitalar (15, 16), tornando-se evidente a necessidade
de modificar o sistema de trabalho dos profissionais da saúde, incluindo a criação
de sistemas de segurança que pudessem minimizar ou bloquear os erros
humanos nos processos envolvidos na terapia de pacientes. O relatório publicado
pelo Institute of Medicine (IOM) em 2000 indica que erros de utilização de
medicamentos são significativos e que, na maioria dos casos, tais erros são
passíveis de prevenção (16).
O termo “erro de medicação” é definido como um evento evitável, ocorrido
em qualquer fase da terapia medicamentosa, que pode ou não causar danos ao
paciente (17). Nesse contexto, de acordo com um estudo conduzido por Lee et al.
(18), as intervenções do farmacêutico clínico contribuindo para a redução de erros
de medicação em um centro médico do Veteran Affairs nos EUA evitaram danos
ao paciente em 90% dos casos; em outro estudo, realizado por Lada e Delgado
(19), a participação do farmacêutico clínico na equipe multidisciplinar de uma
unidade de emergência reduziu erros de medicação, o que evitou custos

23
potenciais de US$ 3.089.328,00. Os erros de medicação podem ser classificados
em cinco tipos: (i) erros de prescrição, (ii) erros de transcrição, (iii) erros de
dispensação, (iv) erros de preparação e (v) erros de administração (20). Os erros
de prescrição, principal objeto de estudo deste trabalho, são definidos como
aqueles que ocorrem durante a inserção do medicamento na prescrição da
terapia. Esses erros são facilmente detectáveis pelo farmacêutico, devido à
facilidade de acesso e monitoramento das prescrições eletrônicas.
Cabe ressaltar que a implantação de sistemas de detecção e prevenção de
erros de prescrição deve ser um dos objetivos das ações de Farmácia Clínica
realizadas nas instituições de saúde. É preciso estabelecer uma avaliação para
que não só seja possível diminuir a incidência de erros, como também contribuir
para identificação e relato de novas possibilidades, até então consideradas,
equivocadamente, como reações adversas. O trabalho do farmacêutico torna-se,
portanto, de grande importância para a melhoria na terapia medicamentosa dos
pacientes em uma unidade hospitalar (21).
O serviço de Farmácia Clínica pode reduzir significativamente os erros de
prescrição por meio da realização de intervenções farmacêuticas, que são
definidas como “o ato planejado e documentado, realizado junto ao usuário e
profissionais de saúde, que visa resolver ou prevenir problemas que interferem ou
podem interferir na farmacoterapia, sendo parte integrante do processo de
acompanhamento/seguimento farmacoterapêutico” (22). Um método que poderia
ser implementado pelos serviços de farmácia consiste em reconhecer e analisar,
de uma forma sistematizada, as intervenções farmacêuticas que se relacionam
com os erros de prescrição, incluindo aquelas em que a incorporação do
farmacêutico à equipe clínica permite a intervenção antes da elaboração da
prescrição médica, ou durante sua análise na farmácia, evitando que o erro atinja
o paciente e melhorando o processo de prescrição.
Um estudo realizado em uma UTI de um hospital universitário brasileiro
demonstrou que a presença do farmacêutico clínico analisando as prescrições
médicas na farmácia antes da administração dos medicamentos identificou um
grande número de interações medicamentosas potenciais (IMPs), que eram
24
sinalizadas à equipe médica de acordo com a sua gravidade e necessidade de
manejo clínico (23). O trabalho de Rossignoli et al. (24), também realizado em
uma unidade de terapia intensiva, apontou que 76 interações medicamentosas
distintas foram detectadas em 53% das prescrições, totalizando 384 ocorrências.
Tais relatos demonstram a importância do farmacêutico inserido na equipe
multidisciplinar, para contribuir na diminuição de riscos provenientes da terapia
medicamentosa.
A análise dos erros de prescrição inclui fundamentalmente os seguintes
aspectos: gravidade de suas possíveis consequências para o paciente,
medicamentos envolvidos, tipos de problemas e causas e fatores que tenham
contribuído para o aparecimento do erro (25).

1.1.4. A Farmácia Clínica em Unidade de Terapia Intensiva (UTI)

Com um reduzido contingente de profissionais farmacêuticos capacitados


para exercer atividades clínicas em grande parte dos serviços de saúde, uma das
alternativas para o desenvolvimento da Farmácia Clínica dentro do serviço de
Farmácia Hospitalar é a condução de projetos em grupos de pacientes
específicos. Na unidade de terapia intensiva (UTI), dada a complexidade dos
casos e a terapia com inúmeros medicamentos, a contribuição do farmacêutico
clínico representa inúmeras possibilidades, tais como estudos sobre erros de
medicação e reações adversas a medicamentos (RAM), os quais, normalmente
apresentam-se aumentados devido à politerapia utilizada (1). Em estudo
controlado conduzido por Leape et al. em 1999, sugere-se que a presença do
farmacêutico nas visitas em Unidade de Terapia Intensiva reduz a incidência de
eventos adversos (EA) em dois terços.

A atuação do farmacêutico clínico em Unidade de Terapia Intensiva já é


internacionalmente considerada eficaz e significativa na redução dos erros
relacionados a medicamentos, representando maior segurança nos serviços de
saúde (3). No Brasil, diante dessa crescente necessidade foi criado em 2008 o
Departamento de Farmácia da Associação de Medicina Intensiva Brasileira,
reconhecendo a importância da participação deste profissional na equipe
25
intensivista (26). Em 2010, a Anvisa lançou a RDC 7, que dispõe sobre as
condições gerais de atendimento em UTI e visa garantir, entre outras, a
assistência farmacêutica à beira-leito (27).

A Farmácia Clínica pode ser aplicada em diversas áreas, incluindo a saúde


da mulher, contribuindo para a segurança e o uso racional de medicamentos neste
grupo.

1.2. A SAÚDE DA MULHER

1.2.1. Gestação e puerpério: pré-eclâmpsia e outras desordens


hipertensivas

Cerca de 800 mulheres no mundo morrem de complicações relacionadas


com o parto e a gestação a cada dia, totalizando 287.000 óbitos em 2010 (28). No
Brasil, entre 1990 e 2010, houve uma redução de 141 para 68 óbitos maternos por
100.000 nascidos vivos, o que representa uma queda de 52% (29). Porém, esse
número é ainda alto quando comparado com países desenvolvidos, em que
ocorrem aproximadamente 16 óbitos por 100.000 nascidos vivos (28).

As síndromes hipertensivas representam atualmente a terceira causa de


mortalidade materna no mundo (28) e a primeira no Brasil (29). De acordo com o
National High Blood Pressure Education Program (30), essas síndromes podem
ser classificadas em: hipertensão gestacional, hipertensão crônica, pré-eclâmpsia
isolada ou superposta e eclâmpsia, que variam segundo a época de surgimento
da hipertensão e sua relação com a gestação, presença de proteinúria e gravidade
do quadro (30).

A hipertensão gestacional é definida pela elevação da pressão arterial


detectada pela primeira vez após metade do período gestacional, sem presença
de proteinúria nos resultados dos exames laboratoriais. Esse termo inclui
mulheres com a síndrome de pré-eclâmpsia que ainda não tenham manifestado
proteinúria, bem como mulheres que não possuem a síndrome. A diferenciação
final é realizada somente após o parto. Se a pré-eclâmpsia não se desenvolveu e
a pressão arterial foi normalizada em 12 semanas após o parto, o diagnóstico de
26
hipertensão gestacional pode ser atribuído. Se a elevação da pressão arterial
persistir, a mulher é diagnosticada como portadora de hipertensão crônica (30).

A hipertensão crônica é definida como aquela que está presente e


observável antes da gravidez ou que é diagnosticada antes da 20 a semana de
gestação, com uma pressão sanguínea igual ou maior do que 140 mm Hg
(sistólica) ou 90 mm Hg (diastólica). A hipertensão diagnosticada pela primeira vez
durante a gravidez e que não se resolve após o parto também é classificada como
hipertensão crônica (30).

A pré-eclâmpsia (isolada ou superposta), síndrome específica da gravidez,


geralmente ocorre após 20 semanas de gestação (ou previamente, com doenças
trofoblásticas tais como a mola hidatiforme ou hidropisia). Ela é determinada pelo
aumento da pressão sanguínea (elevação gestacional da pressão arterial) e
proteinúria. Na ausência de proteinúria, a doença é foco de alta suspeita quando o
aumento da pressão é acompanhado de sintomas como dor de cabeça, visão
turva e dor abdominal, ou de testes laboratoriais anormais, especificamente baixa
contagem de plaquetas e enzimas hepáticas anormais. A pré-eclâmpsia é
considerada superposta quando ocorre em mulheres já hipertensas (isto é, que
apresentam hipertensão crônica), sendo o prognóstico para a mãe e o feto pior do
que em cada condição isoladamente (30).

A eclâmpsia corresponde a um agravamento da pré-eclâmpsia, definida


pela presença de convulsões que não podem ser atribuídas a outras causas (30).

Em países desenvolvidos a pré-eclâmpsia corresponde a 2-5% das taxas


de incidência de desordens hipertensivas na gestação (31; 24), enquanto nos
países em desenvolvimento, as formas graves da pré-eclâmpsia e eclâmpsia são
mais comuns, variando de um mínimo de 4% até 18% de todos os partos em
algumas regiões da África (31). Estima-se que 10 milhões de mulheres
desenvolvam pré-eclâmpsia a cada ano em todo o mundo, das quais cerca de 76
mil morrem por ano (32). No Brasil, a doença representa 37% das causas de
morte obstétricas (33).

27
Embora o conhecimento científico tenha avançado com o decorrer do
tempo, a pré-eclâmpsia ainda é considerada uma síndrome que leva a graves
complicações maternas e fetais, conhecendo-se pouco a respeito de sua etiologia.
Diversas teorias propostas para solucionar o quadro clínico foram criadas. Dentre
elas, alguns estudos sugeriram o envolvimento dos genes da síntese do óxido
nítrico e do sistema HLA (human leucocyte antigens), considerados pontos iniciais
no processo fisiopatológico. As modificações gestacionais poderiam influenciar
esses fatores genéticos, bem como o endotélio, para a ativação da cascata
inflamatória normal na gravidez (34; 35; 36). A partir dessas alterações a má
adaptação placentária é favorecida, havendo falha da remodelação e da infiltração
de células trofoblásticas nas arteríolas espiraladas e subsequente hipoperfusão do
leito placentar (36). A isquemia ocasionada na circulação entre o útero e a
placenta resulta na liberação de substâncias vasoativas na circulação materna,
promovendo dano endotelial e consequente alteração de sua função. Essa lesão
gera uma série de alterações no sangue e no tecido, como agregação plaquetária
(36), ativação do sistema de coagulação (37) aumento da permeabilidade da
parede do vaso e aumento da reatividade e do tono do músculo liso vascular (36).
O resultado final é o vasoespasmo arteriolar generalizado, que leva a mudanças
funcionais e morfológicas em diversos órgãos, ocasionando a pré-eclâmpsia (37).

O tratamento para essa síndrome deve ser individualizado, visando redução


dos elevados riscos de mortalidade materna e fetal por meio da prevenção das
complicações (38), especialmente durante o puerpério (39). O parto é o tratamento
definitivo da pré-eclâmpsia, sendo indicado após avaliação do risco-benefício de
fatores relacionados a: idade gestacional, gravidade, bem-estar fetal e presença
ou não de complicações. Porém, a ocorrência prévia da síndrome eleva a chance
de prematuridade com subsequente incremento da morbimortalidade perinatal
(40). Desse modo, várias alternativas para evitar essas complicações são
indicadas quando não é recomendado realizar o parto: corticoterapia para
aceleração da maturidade pulmonar fetal (41), expansão do volume plasmático
(42), hospitalização com repouso materno (43), terapia anticonvulsivante com
sulfato de magnésio (44) e tratamento anti-hipertensivo (45).
28
1.2.2. O câncer de mama

O câncer de mama é caracterizado por uma neoplasia maligna que começa


quando há perda do controle da divisão celular na mama, na qual as células
cancerosas presentes nesta região do corpo podem crescer e invadir tecidos
circundantes, ou espalhar-se (metástase) para áreas distintas do organismo. A
doença ocorre quase exclusivamente em mulheres, mas os homens também
podem apresentá-la (46).

Geralmente o câncer de mama não apresenta sintomas no início. A partir


do momento em que começa a ser palpável, pode estar associado a um nódulo na
mama. Também pode ser representado por áreas de abaulamentos, retrações ou
manchas de pele. Ainda pode apresentar saída de líquido do bico da mama,
geralmente sanguinolento (46).

Este câncer é o segundo tipo mais frequente no mundo e o mais comum


entre as mulheres, respondendo por 22% dos casos novos a cada ano (47).
Estima-se que, em todo o mundo, mais de 508.000 mulheres morreram em 2011
devido ao câncer de mama (28). Embora ele seja considerado uma doença do
mundo desenvolvido, quase 50% dos casos de câncer de mama e 58% das
mortes ocorrem em países emergentes (48).

Relativamente raro antes dos 35 anos, acima dessa faixa etária sua
incidência cresce rápida e progressivamente (47). As taxas de incidência variam
de 19,3 por 100.000 mulheres na África Oriental para 89,7 por 100.000 mulheres
na Europa Ocidental, e é elevada (superior a 80 por 100.000) em regiões
desenvolvidas do mundo (exceto Japão) e baixa (menos de 40 por 100.000) na
maior parte das regiões em desenvolvimento (48). As diferenças na incidência de
câncer de mama entre os países desenvolvidos e emergentes podem ser
parcialmente explicadas por hábitos alimentares incorretos combinados com
fatores como o primeiro parto tardio, número reduzido de partos e menor tempo de
amamentação (49). Como resultado, esta doença é classificada como a quinta
causa de morte por câncer em geral (458.000 mortes), sendo ainda a causa mais

29
frequente de óbito por câncer em mulheres, tanto em países emergentes como em
países desenvolvidos (49).

As taxas de sobrevida após o diagnóstico de câncer de mama variam muito


em todo o mundo. Em países desenvolvidos, apesar das altas taxas de incidência
cerca de 80% das mulheres diagnosticadas com câncer de mama ainda estão
vivas cinco anos após o diagnóstico, devido à detecção precoce e ao sucesso no
tratamento (50). Essas taxas caem para cerca de 60% em países de média renda
e abaixo de 40% em países de baixa renda (51). As baixas taxas de sobrevida em
países menos desenvolvidos podem ser explicadas, principalmente pela falta de
programas de detecção precoce, resultando em uma alta proporção de mulheres
que apresentam a doença em estadiamento avançado, bem como pela falta de
acesso ao diagnóstico e a tratamento adequados.

No Brasil, o câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais incidente


(49.000 casos em 2010) e o mais prevalente no sexo feminino (52). Em 2010, o
número de mortes correspondeu a aproximadamente 12.852 casos, sendo 147
homens e 12.705 mulheres.

Os fatores de risco para o câncer de mama têm sido bem documentados,


no entanto para a maioria das mulheres que apresentam esta doença não é
possível identificar os fatores de risco específicos (53; 54). A história familiar de
câncer pode aumentar o risco de sua manifestação de duas a três vezes. Já
algumas mutações, particularmente nos genes BRCA1, BRCA2 e p53 resultam em
um risco elevado para câncer de mama. No entanto, essas mutações são raras e
representam uma pequena porção da carga total deste tipo de câncer. Fatores
reprodutivos associados com a exposição prolongada aos estrogênios endógenos,
como menarca precoce, menopausa tardia, idade tardia em primeiro parto estão
entre os fatores de risco mais importantes para o câncer de mama. Hormônios
exógenos também podem representar um maior risco para a apresentação desta
patologia. Usuárias de terapia de reposição hormonal e anticoncepcionais orais
estão em maior risco do que as não usuárias. Já a amamentação possui um efeito
protetor (53; 54).

30
A contribuição de diversos fatores de risco modificáveis, excluindo fatores
reprodutivos, para a carga global de câncer de mama foi calculado por Danaei et
al. (55). Eles concluiram que 21% de todas as mortes por câncer de mama em
todo o mundo são atribuíveis ao consumo de álcool, excesso de peso, obesidade
e inatividade física. Esta proporção foi maior nos países de alta renda (27%),
sendo a contribuição mais importante relacionada ao excesso de peso e à
obesidade. Nos países de renda baixa e média a proporção de cânceres de mama
atribuíveis a estes fatores de risco foi de 18%, e a inatividade física foi o
determinante mais importante (10%).

A prevenção dessa doença pode ser realizada por meio do controle dos
fatores de risco modificáveis do câncer de mama, como a promoção de uma
alimentação saudável, atividade física e controle da ingestão de álcool. A longo
prazo esse controle pode eventualmente ter um impacto na redução da incidência
do câncer de mama (56).

Embora haja certa redução do risco com a prevenção, estas estratégias não
podem eliminar completamente a incidência do câncer. Portanto, a detecção
precoce a fim de melhorar o desfecho da doença e aumentar a sobrevida das
pacientes continua sendo a principal forma de controle do câncer de mama (57).
Existem dois métodos de detecção precoce: o conhecimento prévio dos sinais e
sintomas em populações sintomáticas, a fim de facilitar o tratamento precoce; e a
triagem, que é a aplicação sistemática de um teste de triagem em uma população
presumivelmente assintomática (58). A mamografia é o único método que tem
provado ser eficaz, mas outras alternativas, como o autoexame da mama, têm
aumentado a conscientização da população, e o exame clínico das mamas vem
sendo avaliado quanto à eficácia como uma abordagem de triagem de baixo custo
para países emergentes (58).

O tratamento do câncer de mama varia de acordo com o estadiamento da


doença, suas características biológicas, bem como as condições da paciente
(idade, status menopausal, comorbidades e preferências). O prognóstico depende
da extensão da doença: com o diagnóstico precoce o tratamento tem maior

31
potencial curativo; quando há evidências de metástases o tratamento tem por
objetivos principais prolongar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida das
pacientes. As modalidades de tratamento do câncer de mama podem ser divididas
em tratamento local (cirurgia e radioterapia) e tratamento sistêmico (quimioterapia,
hormonioterapia e terapia biológica) (59).

1.2.3. O câncer do colo do útero e o câncer endometrial

O câncer do colo do útero, também conhecido como câncer cervical, ocorre


quando as células no colo do útero começam a crescer e replicar-se de uma forma
anormal e descontrolada, formando uma massa tumoral. Os tumores malignos no
colo do útero podem se disseminar para outras partes do corpo, aglomerando-se e
destruindo as células normais (60).

Este tipo de câncer muitas vezes se desenvolve lentamente ao longo de


anos. As alterações iniciais nas células do colo do útero (neoplasia intraepitelial
cervical – NIC) podem levar à doença, embora não sejam cancerosas e muitas
mulheres que as possuem não desenvolvam câncer. Estas células são por vezes
referidas como pré-cancerosas, o que indica que apresentam um potencial de
evolução para câncer se não tratadas (61).

A NIC geralmente resulta de uma infecção viral pelo papilomavírus humano


(HPV) (60), comumente transmitido por contato sexual. Estudos demonstram que
este vírus está presente em mais de 90% dos casos de câncer cervical (61).

Os sintomas mais comuns incluem sangramento anormal entre períodos


menstruais ou após o coito. Pode haver ainda secreção vaginal e desconforto
durante a relação sexual. Em mulheres na menopausa pode ocorrer um novo
sangramento (62; 63).

Este é o terceiro tipo de câncer mais frequente entre mulheres e o sétimo


para a população em geral. Em 2008 foram relatados 530.000 novos casos. Mais
de 85% deles ocorreram em países emergentes, respondendo por 13% de todos
os cânceres femininos (48).

32
Em 2008 o câncer do colo do útero foi responsável por 275.000 mortes.
Destas, 88% ocorreram em regiões em desenvolvimento: 53.000 na África, 31.700
na América Latina e no Caribe, e 159.800 na Ásia (48). No Brasil é o segundo
tumor mais frequente na população feminina e a quarta causa de morte de
mulheres por câncer no Brasil. Por ano é responsável por 4.800 óbitos e
apresenta 18.430 novos casos (64).

Os fatores de risco relacionados ao câncer cervical incluem idade precoce


da primeira relação sexual, ter múltiplos parceiros sexuais e apresentar períodos
de baixa imunidade. Ele é mais frequentemente diagnosticado em mulheres com
idade superior a 30 anos, embora possa acometer mulheres mais jovens (65).

A prevenção desse tipo de câncer pode ser realizada pelo uso de


preservativos durante a relação sexual, para evitar o contágio pelo HPV. Existe
uma fase assintomática do câncer do colo do útero em que a detecção de lesões
precursoras (que antecedem o aparecimento da doença) pode ser feita através do
exame preventivo (Papanicolaou). Quando diagnosticado na fase inicial, as
chances de cura do câncer cervical são de 100% (66).

A maioria dos cânceres que ocorrem no corpo do útero são cânceres de


endométrio, principalmente adenocarcinomas (67). Existem dois tipos de tumores
endometriais. No tipo 1, o estrogênio é responsável por estimular a proliferação
das células uterinas que já possuem mutações no DNA, além de aumentar as
chances de desenvolver novas mutações espontâneas. Esse tipo representa cerca
de 80% a 90% dos cânceres do endométrio, e tem um prognóstico favorável (68).
Eles seguem uma via de desenvolvimento claro, e são relativamente bem
diferenciados, iniciando-se pela hiperplasia endometrial. Os tumores tipo 2 são
menos comuns, respondendo por cerca de 10% dos cânceres do endométrio. A
maioria está associada à atrofia do endométrio, tendem a causar metástase e têm
um prognóstico menos favorável (67). Alguns estudos têm demonstrado que a
síndrome do ovário policístico e a insensibilidade à insulina, dois componentes da
síndrome metabólica, podem ter um papel na patogênese do câncer de
endométrio, possivelmente através da ruptura hormonal (69). O gene supressor de

33
tumor PTEN também está envolvido no desenvolvimento de cânceres do
endométrio (68).

O câncer endometrial é o décimo segundo mais comum no mundo e o sexto


tipo de câncer que mais acomete mulheres. Cerca de 290 mil novos casos foram
registrados em 2008, respondendo por quase 5% de todos os novos casos de
câncer em mulheres (48). Este é um tipo de câncer mais presente nos países de
alta renda, sendo sua maior incidência na América do Norte, Europa Central e
Oriental, e sua menor incidência na África Ocidental (48). O risco de manifestação
da doença aumenta com a idade, sendo a maioria dos casos diagnosticados após
a menopausa. No Brasil o risco estimado é de quatro casos a cada 100.000
mulheres (64).

O câncer endometrial geralmente apresenta sintomas em estágios iniciais,


por isso pode ser diagnosticado precocemente. A taxa de sobrevida global em
cinco anos é relativamente alta, embora seja menor em países de média e baixa
renda do que nos de alta renda (70; 71). Ele é responsável por pouco menos de
1% de todas as mortes causadas por câncer (2% de mortes por câncer em
mulheres) (48).

O tratamento tanto para o câncer de endométrio como para o câncer do


colo do útero deve ser individualizado. Entre as formas mais comuns de
tratamento está a cirurgia, que consta de histerectomia total associada a
linfadenectomia pélvica e retroperitoneal, omentectomia (retirada de tecido
gorduroso sobre o intestino grosso) e lavado peritoneal (coleta de líquido para
análise de presença de células malignas). Após a paciente ser devidamente
estadiada pela cirurgia, avalia-se a necessidade ou não de tratamento
complementar, que poderá ser realizado com radioterapia e/ou quimioterapia (72).

1.2.4. O câncer de ovário

O câncer de ovário, embora pouco frequente, é o tumor ginecológico que


apresenta maior dificuldade de diagnóstico e menor chance de cura. Cerca de 3/4

34
dos cânceres desse órgão apresentam-se em estágio avançado no momento do
diagnóstico (64).

Há três principais tipos de tumores ovarianos: epiteliais, de células


germinativas e de células estromais. Os tumores epiteliais começam a partir de
células que cobrem a superfície externa do ovário, sendo o tipo mais frequente de
câncer de ovário. Os tumores de células germinativas começam a partir das
células que produzem os óvulos, e os tumores estromais começam a partir de
células dos tecidos estruturais que unem os ovários e produzem os hormônios
femininos estrogênio e progesterona. A maioria destes tumores é benigna e nunca
se espalha para além do ovário (73).

A mais recente estimativa mundial apontou que ocorreriam 225 mil casos
novos de câncer do ovário no ano de 2008, com um risco estimado de 6,3 casos a
cada 100 mil mulheres. As mais altas taxas de incidência foram observadas nas
partes ocidental e norte da Europa e na América do Norte. Entretanto, a incidência
permanece estável (48). No Brasil, o risco estimado é de 6 casos a cada 100 mil
mulheres (64).

O fator de risco mais importante para o desenvolvimento do câncer do


ovário é a história familiar de câncer de mama ou do ovário. Mulheres que já
desenvolveram câncer de mama e são portadoras de mutações nos genes BRCA1
e BRCA2 possuem um risco aumentado para desenvolver câncer de ovário. Outra
condição genética que também apresenta um risco aumentado para o
desenvolvimento dessa neoplasia é o câncer do cólon hereditário não polipoide
(síndrome de Lynch). Outros fatores de risco são a terapia de reposição hormonal
pós-menopausa, o tabagismo e a obesidade. Além disso, alguns estudos reportam
uma relação direta entre o desenvolvimento do câncer ovariano e a menopausa
tardia (73).

Diversas modalidades terapêuticas podem ser oferecidas (cirurgia,


radioterapia e quimioterapia). A escolha está relacionada principalmente ao tipo
histológico do tumor, ao estadiamento da doença, à idade e às condições clínicas
da paciente e à característica – inicial ou recorrente – do tumor. Se a doença for
35
detectada no início, especialmente nas mulheres mais jovens, é possível remover
somente o ovário afetado (64).

1.2.5. O câncer de vulva

O carcinoma escamoso vulvar (CEV) ou câncer de vulva é uma neoplasia


maligna responsável por cerca de 4% de todos os cânceres ginecológicos e afeta
mais frequentemente mulheres em com mais de 75 anos (74).

Estudos indicam a existência de duas categorias de CEV: uma relacionada


ao papilomavírus humano (HPV) e outra não relacionada à presença do HPV (75).
O risco de desenvolvimento do câncer vulvar relaciona-se a aspectos
comportamentais, reprodutivos, hormonais e genéticos. Fatores que aumentam
este risco incluem outros carcinomas genitais, doenças inflamatórias crônicas
vulvares, fumo, história de verrugas genitais e carcinomas vulvares incipientes,
atualmente denominados neoplasias intra-epiteliais vulvares (76; 77).

O principal sintoma deste câncer é uma ferida que não cicatriza e que pode
começar como um pequeno caroço, uma coceira ou uma mancha que tende a
aumentar (78).

Entre as neoplasias malignas próprias do sexo feminino, o câncer de vulva


apresenta-se como uma das mais raras, com incidência mundial de
aproximadamente 1,8/100.000 mulheres, aumentando para até 20/100.000 após a
idade de 75 anos. O tipo histológico mais frequente, representando cerca de 90%
dos tumores vulvares, é o carcinoma de células escamosas ou epidermoide (75).

A incidência do carcinoma escamoso vulvar (CEV) no Brasil é uma das


mais altas do mundo (53). A cidade com maior incidência da doença é Recife, com
5,6 casos para 100 mil mulheres (78).

A prevenção requer a avaliação ginecológica regular, para que o médico


possa fazer o exame visual do órgão genital externo feminino (78). O tratamento é
cirúrgico e se dá em dois locais: a vulva e a região da virilha (inguinal). Ele implica
em retirar o tumor com margens de segurança e, de acordo com o estadiamento

36
em que se encontra, pode ser necessária a radioterapia anterior ou posterior ao
procedimento cirúrgico (79).

1.3. FARMÁCIA CLÍNICA EM SAÚDE DA MULHER

1.3.1. O papel do farmacêutico clínico em UTI especializada em saúde


da mulher

Em grupos de risco específicos como a população feminina, atenção


especial é requerida principalmente durante o ciclo gravídico-puerperal, em que a
mulher pode desenvolver uma série de complicações que necessitam de
internação em UTI (80). Estima-se que 0,1% a 0,9% das gestantes desenvolvam
complicações, sendo as principais: hipertensão, hemorragia, insuficiência
respiratória e sepse (81; 82; 83; 80).

Essas pacientes possuem alterações fisiológicas específicas da gestação,


distintas de outros adultos, com inúmeras condições clínicas afetadas e variações
na interpretação de testes diagnósticos e valores laboratoriais. As complicações
exclusivas da gravidez (como a pré-eclâmpsia e a eclâmpsia) podem não ser
familiares aos clínicos. Dessa forma, uma UTI voltada exclusivamente para o
tratamento de pacientes obstétricas, em vez de se operar com a transferência
dessas para unidades gerais de terapia intensiva, é de extrema relevância. Em
1990, Mabie e Sibai (83) descreveram os resultados da implementação de uma
UTI obstétrica na Universidade do Tennessee, em Memphis, identificando uma
série de benefícios, tais como o reconhecimento e tratamento precoce das
complicações, em decorrência da observação intensiva, e a melhora da
continuidade da assistência, tanto antes como depois do parto.

Pacientes onco-ginecológicas submetidas a extensos procedimentos


citoredutores, histerectomias radicais, ou com comorbidades médicas
significativas tais como doença cardíaca e respiratória, muitas vezes também
necessitam de internação em unidade de terapia intensiva (UTI) especializada em
saúde da mulher. A grande maioria das pacientes no pós-operatório necessita de

37
terapias específicas com volume de ressuscitação, ventilação mecânica, ou
ambos.

Durante o período de internação de uma paciente obstétrica na UTI, a


utilização de medicamentos pode sujeitar a terapia a erros de medicação,
incluindo erros de prescrição. É necessário investigação detalhada do grau de
risco dos medicamentos para o feto durante a gestação (84) e do grau de risco
para o recém-nascido durante a lactação, já que certos medicamentos podem ser
excretados no leite materno (85); é necessário também atenção à utilização de
grande quantidade de medicamentos prescritos para o manejo da dor durante e
após o parto (86).

Pacientes onco-ginecológicas internadas em UTI também requerem


monitoramento contínuo, devido à elevada quantidade de medicamentos
prescritos e ao consequente risco de danos causados por interações
medicamentosas, ao risco de toxicidade renal e outras comorbidades que exigem
ajuste na dosagem de medicamentos (87, 88).

Um estudo realizado nos EUA em dezembro de 1996 a novembro de 2001


identificou 164 erros de medicação em um hospital de especialidade obstétrica, a
maioria envolvendo antibióticos e analgésicos (89). Outro estudo, publicado no
Canadá, envolvendo 425 pacientes obstétricas identificou um risco de 2% para
ocorrência de um evento adverso a medicamento, comumente associado à falha
na administração de medicamentos. Este estudo concluiu que os problemas na
qualidade dos serviços de saúde são comuns e devem ser alvos de melhoria (90).

Junto à equipe multidisciplinar da UTI, o farmacêutico clínico tem o papel de


acompanhar as visitas beira-leito da equipe intensivista e analisar as prescrições
médicas, realizando intervenções sobre os erros detectados (91).

38
2. JUSTIFICATIVA

É sabido que o índice de pacientes que apresentam algum evento adverso


a medicamento durante sua internação pode ser associado a um aumento no
tempo de internação, assim como aumento de morbidade e mortalidade (92). Em
1997, Bates et al. estimaram um custo adicional anual associado aos pacientes
hospitalizados com eventos adversos a medicamentos (EAMs) evitáveis de US$
2,8 milhões para um hospital de ensino de 700 leitos (93).

O paciente crítico encontra-se mais exposto à ocorrência de EAMs, fato


atrelado a fatores como o número de medicamentos ministrados, a complexidade
dos esquemas terapêuticos e suas vias de administração, a gravidade de seu
estado clínico, entre outros (94).

Atualmente há uma crescente valorização de programas e iniciativas em


saúde que promovam a prevenção de danos e a melhoria da qualidade dos
serviços oferecidos a pacientes hospitalizados. Esta tendência global passa
invariavelmente pela discussão de medidas que visem diminuir a ocorrência de
eventos adversos a medicamentos e falhas na terapia medicamentosa (95).

A presença de um farmacêutico clínico pode representar uma economia


significativa aos sistemas de saúde, como demonstrou o American College of
Clinical Pharmacy (ACCP) (11) ao estimar que, para cada US$ 1,00 investido em
um profissional farmacêutico, a instituição de saúde ganha US$ 16,70 (96).

A Farmácia Clínica em UTI é comprovadamente eficaz na redução dos


eventos adversos a medicamentos (EAM), ampliação da segurança nos serviços
de saúde, otimização da farmacoterapia e consequente redução de custos com a
farmacoeconomia, em países europeus e nos EUA (97; 98). No Brasil, a
importância desta atividade também vem ganhando reconhecimento pelos órgãos
de saúde (27).

No entanto, não existem estudos que relatem sobre a atuação do


farmacêutico clínico em terapia intensiva para grupos de risco específicos como a
população feminina. A terapia de pacientes internadas em UTI especializada em

39
saúde da mulher exige monitoramento diferenciado pelo farmacêutico clínico,
quando comparado ao monitoramento da terapia de pacientes internados em UTI
geral (83), o que demonstra ser urgente a necessidade de pesquisas que
contribuam para o seu desenvolvimento, auxiliando na promoção do uso racional
de medicamentos por meio de análises críticas de risco e benefício das terapias
propostas e análise de prescrições de medicamentos, antes de sua dispensação e
consequente utilização pelas pacientes deste grupo.

O desenvolvimento de um modelo de serviço de Farmácia Clínica


efetivamente viável e aplicável à realidade de uma UTI especializada em saúde da
mulher é importante para garantir a segurança na terapia das pacientes,
justificando iniciativas como esta, que visa avaliar a atuação do farmacêutico
clínico nos cuidados deste grupo de risco específico.

40
3. OBJETIVOS

3.1. OBJETIVO GERAL

Avaliar o impacto da participação do farmacêutico clínico na terapia


medicamentosa e na segurança de pacientes internadas em UTI especializada em
saúde da mulher por meio de análise, quantificação e classificação de erros de
prescrição observados e intervenções farmacêuticas realizadas nesta unidade.

3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Quantificar e classificar os erros de prescrição observados na unidade de


estudo durante a realização da pesquisa.
 Quantificar e classificar as intervenções farmacêuticas realizadas,
identificando-as como aceitas ou não pela equipe médica durante o período
de estudo.

41
4. MÉTODOS

4.1. LOCAL DE ESTUDO

O estudo foi realizado na UTI do Hospital da Mulher Professor Dr. José


Aristodemo Pinotti – CAISM (UNICAMP). Este hospital é universitário, público
(100% das pacientes atendidas são provenientes do Sistema único de Saúde -
SUS), e credenciado pela Rede Sentinela da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA). Ele é uma das unidades hospitalares pertencentes
à Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp). O CAISM nasceu de uma proposta de docentes da
Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, particularmente do Departamento de
Tocoginecologia. Idealizado para ser o “Hospital da Mulher” da Unicamp, foi
inaugurado em março de 1986 e hoje é referência nacional em complexidade
terciária e quaternária na assistência à saúde da mulher e do recém-nascido,
inclusive para casos de emergência. Pelo pioneirismo, consolidou-se como
referência nacional para o tratamento de câncer ginecológico e mamário. Ele
atende exclusivamente através do SUS, prestando assistência multiprofissional e
interdisciplinar, além de promover o ensino, a pesquisa e a extensão. Instalado no
complexo hospitalar da área de saúde da Unicamp, é formado por um conjunto de
oito prédios, que totalizam cerca de 15 mil m² de área construída.

Considerado a maior unidade hospitalar de atenção à saúde da mulher do


Estado de São Paulo, o CAISM dispõe de 139 leitos distribuídos entre as
subespecialidades da Obstetrícia, Neonatologia, Ginecologia, Oncologia
Ginecológica e Mastologia. Possuindo um quadro de pessoal com cerca de 1.100
funcionários, atende uma média de 250 partos e 7.000 consultas ambulatoriais por
mês, entre outros procedimentos. Por sua excelência em atividades de
assistência, ensino e pesquisa conquistou títulos importantes como Hospital
Amigo da Criança – HAC, em 2003. Em 2004 foi recertificado pelo Ministério da
Saúde e da Educação como hospital de ensino e atualmente integra a Rede
Nacional de Hospitais Sentinela do Ministério da Saúde (99).

42
A UTI em estudo possui 6 leitos e atende pacientes agudamente doentes,
que necessitam de suporte intensivo de vida. Em geral, essas pacientes possuem
quadros clínicos mais homogêneos (complicações obstétricas, ginecológicas e
oncológicas), em que todas são monitoradas constantemente por uma equipe
multiprofissional composta por médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, técnicos de
enfermagem e farmacêuticos quanto a: dieta, analgesia, sedação, prevenção de
tromboembolismo, decúbito elevado, profilaxia de úlcera de estresse e controle de
glicemia (FAST HUG).

A prescrição médica é digital e o sistema de distribuição de medicamentos


é individualizado direto. O hospital possui uma relação de medicamentos
selecionados adquiridos de forma programada e disponíveis para uso, e
medicamentos não selecionados que necessitam passar por um processo de
compra específico.

O tempo médio de internação das pacientes no ano anterior ao estudo


(2011) foi de aproximadamente 3,4 dias. Embora as ações de Farmácia Clínica e
as intervenções farmacêuticas tenham se desenvolvido principalmente com a
realização deste trabalho, o farmacêutico já era parte integrante da equipe
multidisciplinar intensivista desde 2011, acompanhando as visitas
multidisciplinares e monitorando as interações medicamentosas potenciais
encontradas nas prescrições das pacientes internadas nesta unidade hospitalar.

4.2. PERÍODO DE ESTUDO

Este trabalho foi desenvolvido em 1 mês de estudo piloto e 12 meses de


execução. Todos os resultados obtidos durante este período, incluindo os do
estudo piloto, foram analisados.

4.3. ASPECTOS ÉTICOS

Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade


de Ciências Médicas da UNICAMP, pelo protocolo número 1285/2011 (CAAE:
1187.0.146.000-11) (Anexo 3). Os dados coletados foram tratados de forma
confidencial, sem identificação das pacientes.

43
4.4. POPULAÇÃO DE ESTUDO

Foram incluídas todas as pacientes maiores de 18 anos de idade,


internados na UTI em estudo durante o período de coleta de dados. Pacientes
com período de internação na UTI inferior a 24h ou restrito a um final de semana
foram excluídas. Pacientes que foram a óbito durante a realização do estudo
foram descontinuadas, pois, nestes casos, não seria possível avaliar o resultado
das intervenções (100).

4.5. DESENHO DO ESTUDO

Estudo intervencionista, não controlado, de caráter longitudinal e


prospectivo.

4.6. COLETA DE DADOS

4.6.1. Erros de prescrição e intervenções farmacêuticas

Após analisar os resultados de exames laboratoriais e os prontuários


disponíveis para consulta na UTI adulto do hospital, o farmacêutico avaliava as
prescrições emitidas pelo sistema eletrônico da farmácia central. Todas as
prescrições feitas durante o período de permanência das pacientes incluídas no
estudo foram avaliadas e validadas, sendo uma prescrição por dia de internação
de cada paciente.

Os erros identificados nas prescrições (variáveis dependentes) foram


quantificados e classificados (tabela 1) de acordo com uma adaptação do National
Coordinating Council for Medication Error Reporting and Prevention (NCCMERP)
(101). A adaptação foi caracterizada de modo a abranger erros de prescrição que
são considerados frequentes em uma UTI adulto especializada em saúde da
mulher.

44
Tabela 1 – Classificação dos erros de prescrição

Erros de prescrição
Frequência do tratamento maior que a correta
Frequência do tratamento menor que a correta
Dosagem maior que a correta
Dosagem menor que a correta
Medicamento incorreto por contraindicação, alergia ou reação adversa
Medicamento incorreto (sem efeito terapêutico)
Forma farmacêutica incorreta
Medicamento administrado sem necessidade
Duplicação terapêutica
Medicamento não seguro na lactação
Medicamento não seguro na gestação
Medicamento não seguro por presença de interação medicamentosa

Para evitar que os erros encontrados atingissem as pacientes o


farmacêutico elaborava intervenções farmacêuticas (variáveis independentes). As
intervenções foram posteriormente quantificadas e classificadas de acordo com
uma adaptação do estudo de Leape et al. (102) (tabela 2). A adaptação foi
caracterizada da mesma forma que os erros de prescrição, de modo a abranger as
intervenções farmacêuticas consideradas frequentes em uma UTI adulto
especializada em saúde da mulher.

Tabela 2 – Classificação das intervenções farmacêuticas realizadas


Intervenções farmacêuticas
Indicação
Ajuste de dose
Forma de administração
Interações medicamentosas
Efeitos adversos
Duplicações terapêuticas
Ajuste de frequência
Uso na lactação
Informações sobre medicamentos
Sugestão de troca por ineficácia
Uso na gestação
Via intravenosa para via oral

As intervenções ‘interações medicamentosas’ foram cuidadosamente


avaliadas pelo farmacêutico para identificar os medicamentos cujo benefício não
45
superasse os riscos e que fossem considerados realmente inseguros para a
paciente, por meio de consulta à base de dados Micromedex® (103). As
interações medicamentosas cujo benefício superasse o risco não eram
consideradas erros.

Após o acompanhamento da reunião multidisciplinar, as intervenções


levadas ao corpo clínico foram divididas em aceitas, parcialmente aceitas ou não
aceitas pela equipe médica. As parcialmente aceitas foram aquelas cuja
intervenção do farmacêutico foi acatada, porém a equipe médica decidiu tomar
uma medida terapêutica diferente da sugerida. Os erros de prescrição foram
divididos em prevenidos (quando a intervenção farmacêutica realizada para
prevenir o respectivo erro era considerada aceita) ou não (quando a intervenção
era parcialmente aceita ou não aceita). As intervenções ‘Via intravenosa para via
oral’ e ‘Informações sobre medicamentos’ não foram consideradas para a
contabilização dos erros de prescrição.

4.6.2. Significância clínica

A significância clínica da gravidade dos erros de prescrição prevenidos e do


impacto das intervenções farmacêuticas aceitas foram analisados por um método
adaptado de Overhage et al. (104) modificado por Fernández-Llamazares et al.
(100) (Tabelas 3 e 4).

46
Tabela 3 – Significância clínica dos erros de prescrição prevenidos

Gravidade do Erro Descrição


 Alto risco de eventos fatais;
 Medicamento que poderia salvar a vida do paciente, mas
A. Potencialmente está prescrito em uma dosagem insuficiente para a
letal doença tratada;
 Dose alta (> 10 vezes a dose normal) de um medicamento
com um índice terapêutico estreito.
 Via de administração que pode conduzir a uma toxicidade
grave;
 Dosagem insuficiente do medicamento utilizado para tratar
uma doença grave em um doente em sofrimento agudo;
 Alta dosagem (4 a 10 vezes a dose normal) de um
medicamento com índice terapêutico estreito;
 A dosagem pode resultar em concentrações
B. Séria potencialmente tóxicas; O medicamento pode exacerbar a
condição do paciente (efeitos adversos ou
contraindicações); Erros de ortografia ou de interpretação
que podem levar o medicamento errado a ser dispensado;
Alergia a medicamento documentada;
 Dose alta (> 10 vezes a dose normal) de um medicamento
com índice terapêutico normal;
 Falta de um pré-teste de medicamentos que podem
causar risco de uma reação de hipersensibilidade.
 Alta dosagem (1,5 a 4 vezes a dose normal) de um
medicamento com índice terapêutico estreito;
 Dose insuficiente para a condição do paciente;
 Alta dosagem (1,5 a 10 vezes a dose normal) de um
C. Significante
medicamento com índice terapêutico normal;
 Duplicação terapêutica;
 Intervalo de dose inadequada;
 Medicamento omitido da prescrição.
 Informações incompletas sobre a prescrição;
 Forma de dosagem inadequada ou inexistente;
 Medicamento não incluído entre os padronizados do
D. Menor
hospital;
 Não cumprimento das políticas do hospital;
 Abreviaturas ilegíveis, ambíguas ou não padronizadas.
 Pedido de mais informações ou esclarecimentos de
E. Sem erro prescrição;
 Motivos financeiros.
Tabela 4 – Significância clínica das intervenções farmacêuticas aceitas

Impacto da
Descrição
intervenção
47
 A recomendação resolve uma situação que poderia ter
1.Extremamente
consequências extremamente graves, ou uma situação com
significante
risco de vida.
 A recomendação previne um dano real ou potencial para
um órgão vital;
2.Muito
 A recomendação impede efeitos adversos graves
significante
resultantes de uma interação medicamentosa ou
contraindicação.
 A recomendação melhora a qualidade de vida do paciente
3.Significante
(práticas padronizadas definidas pelo hospital).
 A recomendação tem um efeito neutro, dependendo de
4.Pouco como ela é interpretada pelo profissional envolvido (isto
significante difere das recomendações significantes, em que a prática
padronizada do hospital apoia a recomendação).
 Apenas para propósitos informativos;
5.Insignificante  Intervenções gerais, não específicas para um único
paciente.
6.Intervenção  Recomendações inadequadas que podem levar a um
prejudicial agravamento da condição do paciente.

4.6.3. Medicamentos envolvidos nos erros

Os medicamentos mais envolvidos nos erros de prescrição foram


classificados segundo a classificação Anatomic Therapeutic Chemical Code
(ATC), que consiste em classificar os fármacos em diferentes grupos e sub-grupos
(níveis). A tabela 5 apresenta os grupos anatômicos e terapêuticos de acordo com
o primeiro nível da classificação ATC (105).

48
Tabela 5 – Grupos anatômicos e terapêuticos de acordo com o primeiro nível de
classificação ATC

Classificação ATC
A Aparelho digestivo e metabolismo
B Sangue e órgãos hematopoiéticos
C Aparelho cardiovascular
D Medicamentos dermatológicos
G Aparelho genito-urinário e hormonas sexuais
H Preparações hormonais sistémicas, excluindo hormonas sexuais e insulinas
J Anti-infecciosos gerais para uso sistémico
L Agentes antineoplásicos e imunomoduladores
M Sistema músculo-esquelético
N Sistema nervoso
P Produtos antiparasitários, inseticidas e repelentes
Q Uso veterinário
R Aparelho respiratório
S Órgãos dos sentidos
V Vários

4.7. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E ANÁLISE ESTATÍSTICA

Foi realizada a análise descritiva com apresentação de frequência absoluta


e percentual para as variáveis categóricas, além de médias e desvio padrão para
variáveis numéricas. Para comparação dos indicadores numéricos entre meses foi
utilizado o teste de Jonckheere-Terpstra (JT) - teste para tendência linear. Para
verificar associação entre as classes dos medicamentos e a significância clínica
dos erros de prescrição; entre os tipos de erro e as classes de medicamentos;
entre as especialidades médicas das pacientes internadas e as classes de
medicamentos, a significância clínica dos erros, e os tipos de erros; foi utilizado o
teste exato de Fisher. O nível de significância adotado para os testes estatísticos
foi 5% (p<0,05). Todas as análises foram realizadas por meio do programa The
SAS System for Windows (Statistical Analysis System), versão 9.2 (106)

49
5. RESULTADOS

5.1. CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO DE ESTUDO

A equipe de Farmácia Clínica acompanhou 224 das 375 pacientes que


estiveram internados na UTI durante o período de pesquisa, o que representa 60%
da população atendida. Isto se deve ao fato de 40% das pacientes terem se
encaixado em algum dos critérios de exclusão do estudo. Duas pacientes foram a
óbito, sendo descontinuadas, totalizando 222 ao final do trabalho. Dentre elas,
14,87% foram admitidas durante a gestação, 29,74% no pós-parto (puerpério),
4,05% no pós-aborto, 14,42% com câncer de mama, 21,62% com câncer de útero,
6,30% com câncer de ovário, 0,45% com câncer de vulva e, 8,55% por motivos
ginecológicos (tabela 6).

50
Tabela 6 – Características da população de estudo.

Pacientes
Obstétricas
Características

Ginecológicas
Gestantes Oncológicas

Pós-aborto
Puérperas

Total
Trimestre

Trimestre

Trimestre
1º Câncer Câncer de Câncer


endométrio Câncer
de de
e colo de de vulva
mama útero ovário

No. 1 6 26 66 9 32 48 14 1 19 222
Idade (anos) 28,17 ± 30,48 ± 30,07 ± 28,25 ± 61,38± 56,83 ± 56,43 ± 54,37 ± 44,50 ±
23,00 76,00
(média ± DP*) 6,27 7,09 7,64 5,28 14,05 13,42 14,45 18,73 8,40
Dias de internação 4,33 ± 4,77 ± 5,79 ± 7,88 ± 4,59 ± 8,42 ± 5,79 ± 5,37 ± 5,89 ±
6,00 6,00
(média ± DP*) 1,03 2,58 4,37 8,77 3,73 5,36 4,35 3,09 6,44
Prescrições avaliadas 4,33 ± 4,77 ± 5,79 ± 7,88 ± 4,59 ± 8,42 ± 5,79 ± 5,37 ± 5,89 ±
6,00 6,00
(média ± DP*) 1,03 2,58 4,37 8,77 3,73 5,36 4,35 3,09 6,44
Prescrições avaliadas
0,92 ± 0,94 ± 1,00 ± 0,27 ± 0,57 ± 0,45 ± 0,24 ± 0,44 ±
com intervenções 0,00 0,00 0,00
0,28 0,55 0,00 0,45 0,67 0,69 0,44 0,36
(média ± DP*)
N° de medicamentos
12,17 ± 11,85 ± 12,75 ± 13,88 ± 15,15 ± 13,70 ± 17,73 ± 19,68 ± 14,56 ±
por prescrição 12,83 15,83
1,44 3,64 5,29 8,41 5,70 7,62 5,36 9,43 6,23
(média ± DP*)
*Desvio Padrão

51
Os motivos gerais de internação foram pré-eclâmpsia, monitoramento pós-
operatório e sepse/choque séptico (tabela 7).

Tabela 7 – Principais motivos de internação na UTI

Pacientes
Obstétricas
Gestantes Oncológicas

Ginecológicas

Total* (n)
Pós-aborto
Características

Puérperas
1º Trimestre

2º Trimestre

3º Trimestre

endométrio
Câncer de

Câncer de

Câncer de

Câncer de
e colo do
mama

ovário

vulva
útero
Pré-eclâmpsia/
0 2 16 66 1 0 - - - - 85
eclâmpsia
Monitoramento
0 0 0 0 0 12 22 5 1 9 49
(pós-operatório)
Complicações
0 0 0 0 0 13 15 3 0 4 35
cardiovasculares
Sepse/ choque séptico 0 0 2 3 6 2 3 5 0 4 25
Insuficiência renal 0 0 1 3 0 0 8 0 0 2 14
Complicações
0 0 3 0 0 0 2 2 1 0 8
respiratórias
Complicações hormonais
1 1 1 1 0 0 2 0 0 0 6
e metabólicas
Infecção 0 3 0 1 0 0 2 0 0 0 6
Choque hemorrágico 0 0 0 1 2 0 0 0 0 3 6
Choque hipovolêmico 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 2
Insuficiência hepática 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1
Outras causas 0 0 3 6 0 4 5 6 0 3 27
Total (n) 1 6 27 81 9 32 60 21 2 25 264
* As pacientes podem ter mais de um diagnóstico na internação

5.2. ERROS DE PRESCRIÇÃO IDENTIFICADOS

Foram identificados 101 erros de prescrição em 1259 prescrições, obtendo-


se uma média de 0,50±0,80 erros por paciente. Os mais prevalentes foram
dosagem maior que a correta (22[21,78%]), medicamento não seguro por
presença de interação medicamentosa (IM) (20[19,80%]) e medicamento não

52
seguro na lactação (15[14,85%]). Destes erros, 87 foram prevenidos (0,40±0,70
erros por paciente) e os mais frequentes foram dosagem maior que a correta
(19[18,81%]), medicamento não seguro por presença de interação medicamentosa
(17[16,83%]) e medicamento não seguro na lactação (14[13,86%]) (tabela 8). A
média de erros de prescrição não prevenidos / nº de pacientes acompanhadas foi
0,04±0,87. Nas prescrições das gestantes no 2º trimestre da gestação e da
paciente com câncer de vulva não foram identificados erros nas prescrições.

53
Tabela 8 – Tipos de erros de prescrição encontrados
Desfecho Total
Erros Prevenidos Erros não prevenidos
n (%)***
n (%)* n (%)**
1º trimestre da gestação
Medicamento não seguro na gravidez 1 (100,00%) 0 (0,00%) 1 (0,99%)
3º trimestre da gestação
Dosagem maior que a correta 3 (21,43%) 0 (0,00%) 3 (2,97%)
Dosagem menor que a correta 3(21,43%) 0 (0,00%) 3 (2,97%)
Outros 7 (50,00%) 1 (7,13%) 8 (7,92%)
Puérperas
Medicamento não seguro na lactação 14 (45,16%) 1 (3,23%) 15 (14,85%)
Medicamento não seguro por presença de interação
4 (12,90%) 1 (3,23%) 5 (4,95%)
medicamentosa (IM)
Outros 11 (80,65%) 0 (0,00%) 11 (24,75%)
Pós-aborto
Dosagem menor que a correta 1 (100,00%) 0 (0,00%) 1 (0,99%)
Câncer de mama
Medicamento não seguro por presença de IM 5 (50,00%) 1 (10,00%) 6 (60,00%)
Frequência do tratamento maior que a correta 2 (20,00%) 0 (0,00%) 2 (1,98%)
Outros 1 (10,00%) 1 (10,00%) 2 (1,98%)
Câncer de útero
Dosagem maior que a correta 11 (33,34%) 2 (6,06%) 13 (39,40%)
Medicamento incorreto por contraindicação, alergia ou
6 (18,20%) 1 (3,03%) 7 (21,21%)
reação adversa
Outros 9 (27,30%) 4 (12,12%) 13 (39,40%)
Câncer de ovário
Dosagem maior que a correta 1 (20,00%) 0 (0,00%) 1 (0,99%)
Dosagem menor que a correta 1 (20,00%) 0 (0,00%) 1 (0,99%)
Medicamento não seguro por presença de IM 1 (20,00%) 0 (0,00%) 1 (0,99%)
Medicamento incorreto por contraindicação, alergia ou
1 (20,00%) 0 (0,00%) 1 (0,99%)
reação adversa
Medicamento administrado sem necessidade 1 (20,00%) 0 (0,00%) 1 (0,99%)
Ginecológicas
Medicamento não seguro por presença de IM 2 (33,33%) 0 (0,00%) 2 (1,98%)
Outros 2 (33,33%) 2 (33,33%) 4 (3,96%)
Total
Dosagem maior que a correta 19 (18,81%) 3 (2,97%) 22 (21,78%)
Medicamento não seguro por presença de IM 17 (16,83%) 3 (2,97%) 20 (19,80%)
Medicamento não seguro na lactação 14 (13,86%) 1 (0,99%) 15 (14,85%)
Outros 37 (36,63%) 7 (6,93%) 44 (43,56%)
*Porcentagem de erros prevenidos em relação ao total de erros por especialidade
**Porcentagem de erros não prevenidos em relação ao total de erros por especialidade
***Porcentagem de erros em relação ao total de erros pelo total de pacientes

Os erros de prescrição não prevenidos (n=14) foram aqueles detectados e


cujas intervenções foram comunicadas durante a participação do farmacêutico nas
visitas beira-leito. Porém, estas intervenções não foram aceitas após avaliação do
risco-benefício da terapia pelo corpo clínico. Todas as pacientes foram
monitoradas quanto à possibilidade de eventos adversos decorrentes da não
aceitação das intervenções. Seus respectivos desfechos foram relatados na tabela
9.
54
Tabela 9 – Erros de prescrição não prevenidos
Medicamento
Tipo de erro Paciente Desfecho
envolvido
Interação MAIOR e MODERADA com outros medicamentos da prescrição; foi sugerido substituir por lorazepam, cuja
diazepam meia-vida é menor e pode ser administrado em horários separados, diminuindo o risco de interação. O clínico
Câncer de mama
(n=1) responsável esclareceu que a troca não era necessária ja que a paciente iria tomar diazepam por período muito
Medicamento não curto de tempo. A paciente foi monitorada para sinais de toxicidade do medicamento.
seguro por
presença de metoclopramida Câncer de endométrio e Contraindicada em uso com amitriptilina. Foi relatado pelo clínico que a dose de amitriptilina era baixa,, não havendo
interação (n=1) colo do útero risco. A paciente foi monitorada em caso de efeitos adversos da possível interação.
medicamentosa
Interação moderada com digoxina e carbamazepina (risco de toxicidade de ambos os medicamentos); sugeriu-se
omeprazol
Câncer de mama troca por ranitidina, porém, foi decidida a manutenção da terapia pelo médico porque a paciente estava com
(n=1)
hemorragia digestiva alta (HDA), A frequência foi diminuída de 12/12h para 8/8h para diminuir o risco da interação.

Ginecológica Paciente com ClCr<40ml/min, sugeriu-se ajuste de dose de 10mg para 5mg a cada 8h, de acordo com os guidelines.
metoclopramida
Câncer de endométrio e Como a paciente apresentava sintomas de náusea muito fortes, o médico optou por ajuste da freqüência para
(n=2)
Dosagem maior colo do útero 12/12h.
que a correta
Paciente com baixo peso (30kg), foi sugerido diminuir a dose de 4000mg para a metade devido ao risco de
dipirona sódica Câncer de endométrio e
toxicidade da dipirona. A médica explicou que não poderia diminuir a dose devido à alta necessidade de analgesia
(n=1) colo do útero
da paciente, mas ela foi monitorada em caso de haver sinais de toxicidade da dipirona.
Medicamento não Medicamento não indicado na lactação por excretar metabólitos no leite materno, foi sugerida troca por paracetamol.
dipirona sódica
seguro na Puérpera (lactante) O médico preferiu manter a dipirona e explicou que a paciente a utilizaria por poucos dias. O bebê foi monitorado em
(n=1)
lactação caso de sintomas de toxicidade pela dipirona.
Medicamento Câncer de endométrio e
incorreto (história colo do útero
Contraindicado em insuficiência renal com ClCr<30mL/min, foi sugerida troca por heparina ou por enoxaparina com
prévia de alergia, fondaparinux sódico
ajuste. Médico preferiu manter o fondaparinux, no entanto, no dia seguinte o fondaparinux foi suspenso pelo médico
contraindicação (n=2)
Câncer de mama responsável do dia e foi introduzida a heparina.
ou reação
adversa)

Gestante (3º trimestre) Paciente com insuficiência renal (ClCr <50mL/min); era necessário diminuir a frequência (de 8h/8h para 24/24h) ou
ranitidina substituir por omeprazol. Porém, médico explicou que a função renal estava melhorando, então não seria necessário
(n=2) Câncer de endométrio e ajuste. A paciente foi monitorada em caso de piora da função renal e sinais de eventos adversos provocados pela
colo do útero ranitidina.
Frequência do
tratamento maior Paciente com insuficiência renal (ClCr <30mL/min) necessita diminuir a frequência (de 6/6h para 12/12h). Porém,
ampicilina / sulbactam Câncer de endométrio e
que a correta médico explicou que a função renal estava melhorando, então não seria necessário ajuste. A paciente foi monitorada
(n=1) colo do útero
em caso de piora da função renal e sinais de eventos adversos do medicamento.
cloridrato de tramadol Câncer de endométrio e Paciente apresentava insuficiência renal aguda, o tramadol necessitava de ajuste de frequência de 6/6h para 12/12h.
(n=1) colo do útero Médico afirmou que a paciente era muito pesada, e que por este motivo diminuiria a frequência aos poucos.
Medicamento A permetrina não estava tendo resultados, sugeriu-se troca por ivermectina. O médico responsável preferiu manter a
permetrina
incorreto (sem Ginecológica permetrina por mais tempo e verificar se teria resultado. A paciente foi transferida da UTI para a enfermaria sem
(n=1)
efeito terapêutico) haver sinais de melhora.

55
5.3. INTERVENÇÕES FARMACÊUTICAS REALIZADAS

Durante os meses de estudo, 38,29% das pacientes internadas na UTI


monitorados pela equipe de farmácia clínica necessitaram de pelo menos uma
intervenção em algum momento do seu período de internação. Foram realizadas
127 intervenções entre as pacientes acompanhadas, obtendo-se uma média de
0,57±0,88 intervenções por paciente e 0,50±0,71 intervenções por dia. As mais
prevalentes foram ajuste de dose (30[23,62%]), interações medicamentosas
(20[15,74%]) e informações sobre medicamentos (17[13,39%]). Destas
intervenções, 113 foram aceitas, 5 parcialmente aceitas e 9 não aceitas (tabela
10). As intervenções aceitas mais frequentes foram dosagem (29[22,83%]),
interações medicamentosas (17[13,39%]) e informações sobre medicamentos
(17[13,39%]). Todas as intervenções não aceitas foram relatadas ao corpo clínico,
que decidiu manter a terapia inalterada após avaliação do risco-benefício.
Pacientes cujas intervenções não foram aceitas foram monitoradas rigorosamente,
e nenhuma apresentou complicações resultantes da não aceitação. Não foram
realizadas intervenções nas pacientes do 2º trimestre da gestação e nas pacientes
com câncer de vulva.

56
Tabela 10 – Tipos de intervenções farmacêuticas realizadas
Desfecho
Total****
Aceitas* Parcialmente aceitas** Não aceitas***
1º trimestre da gestação
Uso na gestação 1 (100,00%) 0 (0,00%) 0 (0,00%) 1 (0,79%)
3º trimestre da gestação
Ajuste de dose 6 (37,50%) 0 (0,00%) 0 (0,00%) 6 (4,72%)
Interações
2 (12,50%) 0 (0,00%) 0 (0,00%) 2 (1,57%)
medicamentosas (IM)
Informações sobre
2 (12,50%) 0 (0,00%) 0 (0,00%) 2 (1,57%)
medicamentos
Outras 5 (31,25%) 0 (0,00%) 1 (6,25%) 6 (4,72%)
Puérperas
Uso na lactação 14 (37,84%) 0 (0,00%) 1 (2,70%) 15 (11,81%)
Ajuste de dose 7 (18,92%) 0 (0,00%) 0 (0,00%) 7 (5,51%)
Outras 14 (37,85%) 0 (0,00%) 1 (2,70%) 15 (11,81%)
Pós-aborto
Ajuste de dose 1 (50,00%) 0 (0,00%) 0 (0,00%) 1 (0,79%)
Informações sobre
1 (50,00%) 0 (0,00%) 0 (0,00%) 1 (0,79%)
medicamentos
Câncer de mama
IM 5 (33,33%) 0 (0,00%) 1 (6,66%) 6 (40,00%)
Informações sobre
5 (33,33%) 0 (0,00%) 0 (0,00%) 5 (33,33%)
medicamentos
Outras 3 (20,00%) 0 (0,00%) 1 (6,66%) 4 (26,66%)
Câncer de útero
Ajuste de dose 12 (27,90%) 1 (2,33%) 1(2,33%) 14 (11,02%)
Informações obre
7 (16,28%) 0 (0,00%) 0 (0,00%) 7 (5,51%)
medicamentos
Outras 17 (39,53%) 3 (6,98%) 2 (4,66%) 22 (17,33%)
Câncer de ovário
Ajuste de dose 2 (33,33%) 0 (0,00%) 0 (0,00%) 2 (1,57%)
Outras 4 (66,67%) 0 (0,00%) 0 (0,00%) 4 (3,15%)
Ginecológicas
IM 2 (28,57%) 0 (0,00%) 0 (0,00%) 2 (1,57%)
Outras 3 (42,86%) 1 (14,29%) 1 (14,29%) 5(3,94%)
Total
Ajuste de dose 29 (22,83%), 2 (1,57%) 1 (0,79%) 32 (25,20%)
IM 17(13,39%) 0 (0,00%) 3 (2,36%) 20 (15,75%)
Informações sobre
17(13,39%) 0 (0,00%) 0 (0,00%) 17 (13,39%)
medicamentos
Outras 50 (39,37%) 3 (2,36%) 5 (39,37%) 58 (45,67%)
*Porcentagem de intervenções aceitas em relação ao total de intervenções por especialidade
**Porcentagem de intervenções parcialmente aceitas em relação ao total de intervenções por especialidade
***Porcentagem de intervenções não aceita sem relação ao total de intervenções por especialidade
****Porcentagem de intervenções em relação ao total de intervenções pelo total de pacientes

5.4. SIGNIFICÂNCIA CLÍNICA DOS ERROS E DAS INTERVENÇÕES

Os erros prevenidos mais frequentes foram significantes (66[75,86%]),


sérios (19[21,84%]) e menores (2[2,30%]) (tabela 11). Já as intervenções aceitas

57
mais frequentes foram significantes (68[60,18%]), muito significantes (17[15,04%])
pouco significantes (16[14,16%]) e insignificantes (12[10,62%]) (tabela 12).

Tabela 11 – Significância clínica dos erros prevenidos


Pacientes
Obstétricas
Gestantes Oncológicas

Ginecológicas

Total (n)
Pós-aborto
Puérperas
Tipo de erro
1º Trimestre

2º Trimestre

3º Trimestre

endométrio e
colo de útero
Câncer de
Câncer de

Câncer de

Câncer de
mama

ovário

vulva
Potencialmente
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
letal
Séria 0 0 3 4 0 4 5 2 0 1 19
Significante 1 0 9 24 1 6 20 3 0 2 66
Menor 0 0 0 0 0 0 2 0 0 0 2
Total 1 0 12 28 1 10 27 5 0 3 87

Tabela 12 – Significância clínica das intervenções aceitas


Pacientes
Obstétricas
Gestantes Oncológicas

Ginecológicas

Total (n)
Tipo de
Pós-aborto
Puérperas
1º Trimestre

2º Trimestre

3º Trimestre

intervenção
endométrio e
colo de útero
Câncer de

Câncer de

Câncer de

Câncer de
mama

ovário

vulva

Extremamente
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
significante
Muito significante 0 0 3 1 0 6 4 2 0 1 17
Significante 1 0 9 27 1 4 21 3 0 2 68
Pouco significante 0 0 2 5 0 0 6 1 0 2 16
Insignificante 0 0 2 2 1 3 4 0 0 0 12
Prejudicial 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Total 1 0 16 35 2 13 35 6 0 5 113

58
5.5. CLASSIFICAÇÃO ATC DOS MEDICAMENTOS ENVOLVIDOS NOS
ERROS DE PRESCRIÇÃO

A classe de medicamentos mais envolvida nos erros de prescrição


prevenidos foi a referente ao aparelho digestivo e metabolismo (n=33) e a
relacionada ao sistema nervoso (n=19) (tabela 13).

Tabela 13 – Classificação ATC dos medicamentos mais envolvidos por


significância clínica dos erros prevenidos

Significância
Classificação ATC Total
Menor Significante Séria
A Aparelho digestivo e metabolismo 1 25 7 33
B Sangue e órgãos hematopoiéticos 0 14 1 15
Anti-infecciosos gerais para uso
J 0 11 3
sistêmico 14
N Sistema nervoso 1 15 3 19
- Outros 0 1 5 6
Total 2 66 19 87

Houve associação estatística significativa (p<0,05) entre alguns tipos de


erro e as classes de medicamentos (tabela 14), por análise pelo teste exato de
Fisher. Para os demais tipos de erros não contidos na tabela, não houve
associação significativa (p>0,05).

Tabela 14 – Associação estatística entre os tipos de erros e as classes de


medicamentos mais envolvidos

Classificação ATC mais o


Tipo de erro Valor p n casos
envolvida
Sangue e órgãos
Dosagem menor que a correta <0,0001 10
hematopoiéticos

Sistema nervoso 7
Medicamento não seguro na lactação 0,0060
Trato digestivo e metabolismo 6
Medicamento não seguro por presença
0,0106 Sistema nervoso 8
de interação medicamentosa

59
Houve associação entre o tipo de erro dosagem menor que a correta e a
especialidade médica oncológica (p=0,0328). Para os demais tipos de erros e
especialidades, não houve associação significativa. Também não houve
associação significativa entre as especialidades e as classes de medicamentos e
a significância clínica dos erros.

5.6. INTERVENÇÕES FARMACÊUTICAS E ERROS DE PRESCRIÇÃO AO


LONGO DO TEMPO

A quantidade de erros de prescrição (totais e repetidos) e de intervenções


farmacêuticas ao longo do tempo é demonstrada na figura 1. Análise estatística
por meio do teste de Jonckheere-Terpstra demonstrou que não houve tendência
linear ao longo dos meses de estudo.

O número maior de intervenções em relação aos erros é resultado de que


as intervenções do tipo ‘informações sobre medicamentos’ e ‘via intravenosa para
via oral’ também ocorreram nesse período.

intervenções/paciente erros/paciente erros repetidos/paciente

1,20

1,00 1,00
0,86
0,80
0,75
0,79 0,72 0,71 0,67 0,67
0,58 0,64 0,62
0,60
0,50 0,62
0,56 0,53
0,47 0,45 0,38 0,50
0,40 0,38
0,33 0,31 0,33 0,33
0,33 0,27 0,29
0,25 0,24 0,25
0,20 0,19 0,17
0,11 0,11
0,05
0,00 0,00 0,00 0,00
fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev

Figura 1 – Intervenções farmacêuticas e erros de prescrição por mês

60
6. DISCUSSÃO

6.1. ANÁLISE DAS CARACTERÍSTICAS DAS PACIENTES ESTUDADAS

A média de idade, o tempo de estadia e os principais motivos de internação


encontrados neste trabalho foram comparados com outros estudos realizados em
pacientes obstétricas, ginecológicas e oncológicas internadas em UTIs (tabela 15).

61
Tabela 15 – Estudos relatando internações de pacientes em UTI
Tipos de Média de idade Tempo de
N° de N° de Principal motivo de
Estudo País Características da UTI pacientes (anos) internação (dias)
leitos pacientes internação
incluídas (média ± DP*) (média ± DP*)
Obstétricas
UTI especializada em saúde
CAISM Brasil 6 ginecológicas e 222 44,50 ± 8,40 5,89 ± 6,44 Pré-eclâmpsia/ eclampsia
da mulher
oncológicas

Hazelgrove et al. (80) Inglaterra 14 utis gerais - Obstétricas 210 30 1 Desordens hipertensivas

UTI especializada em saúde


Oliveira neto et al. (107) Brasil 6 Obstétricas 673 28 ± 7.2 5,00 ± 5,90 Pré-eclâmpsia
da mulher (CAISM)

Amorim et al. (108) Brasil UTI obstétrica 12 Obstétricas 933 24,8 + 6,9 5,13 ± 4,28 Pré-eclâmpsia

Bouvier-colle et al. (109) França 4 utis gerais - Obstétricas 375 20-34** - Doenças hipertensivas

Chawla et al. (110) Índia UTI geral 18 Obstétricas 35 20-30** - Pré-eclâmpsia

Demirkiran et al. (111) Turquia UTI geral - Obstétricas 125 28 ± 6 4±5 Pré-eclâmpsia

Karnad et al. (112) Índia UTI neuro-médica 17 Obstétricas 453 25.2 ± 4.4 4 Pré-eclâmpsia

Keizer et al. (113) Holanda UTI geral 30 Obstétricas 142 30 4,5 Pré-eclâmpsia

Obstétricas
Rios et al. (114) Argentina 4 utis médico-cirúrgicas - 242 32 ± 7 2 Pré-eclâmpsia
(gestantes)

Zwart et al. (115) Holanda Utis obstétricas - Obstétricas 847 32 3 Desordens hipertensivas

Arábia Obstétricas e 30 ± 10 (obstétricas) e Sangramento incontrolável


Al-Jabari et al. (116) UTI cirúrgica - 83 1
Saudita ginecológicas 43 ± 14 (ginecológicas) por causas placentárias

Heinonen et al. (117) Finlândia UTI médico-cirúrgica 22 Ginecológicas 23 55.4 ± 16.9 4.97 ± 9.28 Hemorragia pós-operatória

Ñamendys-silva et al. UTI medico-cirúrgica


México 6 Oncológicas 52 56.5 + 12.8 3 Cuidados pós-operatórios
(118) especializada em oncologia

Complicações
Van-Le et al. (119) EUA UTI cirúrgica - Oncológicas 45 62 57
cardiovasculares

Leath et al. (120) EUA UTI geral - Oncológicas 185 60 1 Ressucitação volêmica

Ruskin et al. (121) EUA UTI geral - Oncológicas 255 64 - Reposição de fluidos
*DP: desvio padrão
**O estudo não apresenta média de idade, somente a faixa etária da maior parte das pacientes incluídas

62
O trabalho de Oliveira Neto et al. (107) é um estudo retrospectivo que
incluiu apenas pacientes obstétricas e foi realizado na UTI do CAISM. A elevada
quantidade de pacientes incluídas comparada à deste trabalho é decorrente de um
maior período de realização (agosto/2002 a setembro/2007). Os resultados estão
de acordo com os encontrados neste trabalho referentes às pacientes obstétricas,
já que a maioria das pacientes incluídas foram puérperas (51,5%), o principal
motivo de internação foi a pré-eclâmpsia, e a média de idade e de tempo de
internação na UTI foram semelhantes. É necessário ressaltar que Oliveira Neto et
al. (107) não diferencia o tempo médio de internação entre as pacientes
obstétricas, enquanto este estudo demonstrou que as pacientes pós-aborto
permaneceram por um maior período na UTI do que as puérperas e gestantes.

Segundo informações obtidas do serviço de estatística do hospital, o tempo


médio de internação das pacientes na UTI no ano anterior ao início deste estudo
foi de 3,4 dias, tempo inferior ao encontrado em ambos os trabalhos realizados no
CAISM. Esta diferença pode ter ocorrido devido à inclusão de pacientes
internadas por menos de 24h no serviço, contribuindo para a diminuição geral do
tempo médio de internação.

O estudo brasileiro (108) em uma UTI obstétrica obteve resultados


semelhantes em ambos os estudos realizados no CAISM, no qual a maior parte
das pacientes incluídas foram puérperas (87%) e o principal motivo de internação
foi a pré-eclâmpsia. O tempo médio de internação foi similar e também não é
diferenciado entre os tipos pacientes obstétricas. A média de idade foi um pouco
menor do que a média dos dois trabalhos no CAISM.

Nos demais estudos realizados com pacientes obstétricas em outros países


(80; 109; 110-115), a média de idade foi semelhante (20-35 anos) e o motivo de
internação foi o mesmo (desordens hipertensivas e pré-eclâmpsia). Somente o
estudo de Al-Jabari et al. (116), que incluiu pacientes ginecológicas e obstétricas,
teve como principal motivo sangramento incontrolável por causas placentárias.

63
O estudo de Heinonen et al. (117), que incluiu pacientes ginecológicas de
uma UTI na Finlândia, apresentou hemorragia pós-operatória como principal
motivo de internação. O principal motivo das pacientes ginecológicas deste estudo
foi monitoramento pós-operatório, que poderia ou não incluir hemorragia pós-
operatória como complicação resultante da internação, mas esta não foi
diferenciada no trabalho. A média de idade e de tempo de internação em ambos
os estudos é semelhante.

Este trabalho apresentou como principais motivos de internação de


pacientes oncológicas o monitoramento pós-operatório e complicações
cardiovasculares, motivos principais também presentes em dois estudos (118;
119). Os demais trabalhos envolvendo pacientes oncológicas apresentaram como
principais motivos de internação reposição de fluidos e ressuscitação volêmica
(120; 121).

Nos estudos de Ruskin et al. (121) e de Ñamendys-Silva et al. (118), o


principal diagnóstico das pacientes incluídas foi o câncer de útero, o mesmo
resultado encontrado neste trabalho. Nos estudos de Leath et al., (120) e de Van-
Le et al. (119), no entanto, o principal diagnóstico foi o câncer de ovário.

6.2. ANÁLISE DOS INDICADORES GERADOS PELA FARMÁCIA CLÍNICA

A análise dos dados das intervenções farmacêuticas realizadas e dos erros


de prescrição encontrados permitiu gerar indicadores relacionados às atividades
da equipe de Farmácia Clínica.

Os resultados obtidos relacionados aos erros de prescrição encontrados


foram comparados com os resultados de estudos envolvendo erros de medicação
em pcientes obstétricas e ginecológicas (tabela 16). Não foram encontrados
relatos de erros de medicação em pacientes oncológicas.

64
Tabela 16 – Estudos relacionando erros de medicação em pacientes
obstétricas

Tipos de Total de Principal tipo de


N° de N° de Período de
Estudo País Características do setor pacientes erros de erro de
leitos pacientes estudo
incluídas medicação medicação

Obstétricas,
UTI especializada em Dosagem maior
CAISM Brasil 6 222 2012-2013 ginecológicas 101
saúde da mulher que a correta
e oncológicas

Kanaan et Setor de Obstétricas e Dose incorreta e


EUA - - 1998-2002 245
al (122) obstetrícia/ginecologia ginecológicas alergia

Medicamento
Pocock e Centro de referência incorreto, dose
EUA - 50 2004-2005 Obstétricas -
Chen (123) terciário incorreta e horário
inadequado
Kandil et Erros de
Egito Ala de emergência - 10.000 2010 Obstétricas 1976
al. (124) administração
Omissão e horário
Little et al.
EUA Hospital geral - - 1996-2001 Obstétricas 164 incorreto de
(89)
administração
Medicamento
Bilal et al.
Arábia Saudita Hospital maternidade - - 2001 Obstétricas - incorreto e dose
(125)
incorreta
Obs.: os outros estudos não distinguem erros de prescrição dos demais tipos de erros de medicação, não sendo adequado utilizar o termo
‘erro de prescrição’ nesta tabela

No presente trabalho, destaca-se a prevalência de erros de ajuste de dose


e por presença de interações medicamentosas em quase todas as especialidades,
excetuando-se, como esperado, os erros por medicamento não seguro na
gravidez e medicamento não seguro na lactação para as pacientes em primeiro
trimestre da gestação e puérperas, respectivamente. Igualmente significativa é a
prevalência de erros sérios e significantes para a maioria das especialidades.

A maioria dos estudos apresentados na tabela 16, embora não realizados


em UTI, apresentaram resultados semelhantes a este trabalho, sendo dosagem
incorreta um dos erros mais prevalentes (122; 123; 125).

Em relação às intervenções, no total foram realizadas mais intervenções


farmacêuticas nas pacientes com câncer de útero do que nas demais, sendo que
as mais comuns foram relacionadas à dosagem e a informações sobre
medicamentos. Estas intervenções também foram as mais prevalentes na maioria
das especialidades.

Os resultados obtidos pela atuação do farmacêutico clínico foram


comparados com os resultados das UTIs de três hospitais norte-americanos (126;

65
102; 127), de um hospital canadense (128), dos setores de ginecologia e
obstetrícia de um hospital terciário espanhol (100) de mesma especialidade que o
CAISM (Tabela 17 e Tabela 18) e de um hospital na Tailândia (129) e um na
Malásia (130).

Tabela 17 – Indicadores gerados pelo serviço de Farmácia Clínica em hospitais


Fernández- Baldinger Kopp Zaidi
Leape et al. Montazeri Saokaew
Indicador CAISM Llamazares et al. et al. et al.
(102) et al. (128) et al. (129)
et al. (100) (126) (127) (130)
Malás
País Brasil Espanha EUA EUA EUA Canadá Tailândia
ia
2003-
Período 2012-2013 2007-2009 1993-1995 1994 1994 2005 2001
2004
UTI
Características do Setor de
especializada UTI UTI UTI
local das ginecologia e UTI médica UTI médica UTI geral
em saúde da geral médica geral
intervenções obstetrícia
mulher
Farmácia Clínica Em
implementada no Não Sim Sim implementa Sim Sim Sim Sim
local? ção
Leitos 6 138 17 12 16 15 20 -
Intervenções
farmacêuticas /
0,06 0,006 - - - - - -
prescrições
analisadas
Intervenções
farmacêuticas /
0,58 0,016 0,46 - - - 1,95 0,34
pacientes
acompanhadas
Intervenções
farmacêuticas / 0,50 0,66 1,42 4,83 0,96 10,7 2,05 1,90
dia
Erros de
medicação* não
prevenidos / nº de 0,04 - 0,005 - - - - -
pacientes
acompanhadas
Erros de
medicação* não
0,11 0,08 0,01 - - - - -
prevenidos /
intervenções
*Os hospitais dos outros estudos não distinguem erros de prescrição dos demais tipos de erros de medicação, não sendo adequado utilizar o
termo ‘erro de prescrição’ nesta tabela

66
Tabela 18 – Tipos de intervenções mais realizadas em hospitais
Sistema de
Estudo Tipos de intervenção mais realizados
classificação
Fernández-
Llamazares et al. ‘Ajuste de frequência’ (390[54,5%]) e ‘dosagem’ (119[16,6%]) Próprio
(100)
Leape et al. (102) ‘Correção de prescrição’ (178[45,8%])* Próprio
Baldinger et al. ‘Descontinuação de medicamento’ (33[16,9%]) e ‘alteração de frequência’
Próprio
(103) (30[15,4%]);
Kopp et al. (127) ‘Informação sobre medicamentos’ (51[39,5%]) Próprio
Montazeri et al. ‘Aconselhamento terapêutico’ (257[44,7%]) e ‘informações sobre medicamentos‘
Próprio
(128) (224[39,0%]);
Saokaew et al. ‘Pedido para completar as informações da prescrição’ (33[26,0%]) e ‘informações
Próprio
(129) sobre medicamentos’ (27[21,3%]);
Zaidi et al. (130) ‘Descontinuação de medicamento’ (22[39,0%]) e ‘dosagem’ (9[16,0%]). Próprio
Adaptado de
CAISM ‘Dosagem’ (22[19,6%]) e ‘interações medicamentosas’ (17[15,2%])
Leape.et.al.
*A intervenção inclui ‘duplicações terapêuticas’, ‘correção de dose’, ‘frequência errada’, ‘escolha de tratamento inadequada’ e ‘prescrição de
medicamento incompleta’

A intervenção mais realizada neste trabalho (dosagem) também foi uma das
mais prevalentes no estudo de Fernández-Llamazares et al. (100) (119[16,6%]) e
no de Leape et al. (102) (178[45,8%]), sendo ela quantificada neste último estudo
dentro de uma intervenção denominada ‘correção de prescrição’, que inclui
também ‘duplicações terapêuticas’, ‘correção de dose’, ‘frequência errada’,
‘escolha de tratamento inadequada’ e ‘prescrição de medicamento incompleta’. As
intervenções referentes a ‘interações medicamentosas’ realizadas neste estudo
foram identificadas somente no estudo de Leape et al. (102) (14[4,0%]),
possivelmente nos outros trabalhos elas podem estar incluídas em outra
denominação, já que cada um dos estudos possui sistemas próprios de
classificação.

O tipo de intervenção ‘risco na lactação’ não foi encontrado em nenhum dos


estudos. Embora existam trabalhos que relatem sobre a segurança da utilização
de medicamentos durante a lactação (85;131-135) e trabalhos que evidenciem a
importância das intervenções farmacêuticas na segurança do paciente crítico (102;
126-130), existem poucos estudos que relatem sobre intervenções farmacêuticas
em saúde da mulher (100), não sendo encontrado nenhum relato sobre a atividade
de Farmácia Clínica em terapia intensiva especializada em saúde da mulher,
demonstrando o ineditismo deste trabalho.

67
Os indicadores gerados nas tabelas 17 e 18 demonstram a importância da
presença do farmacêutico clínico atuando junto à equipe multiprofissional da UTI,
pois este realizou intervenções em momentos muito próximos àqueles em que os
problemas ocorriam, contribuindo para evitar que tais problemas pudessem
implicar em danos para as pacientes. Ao comparar estes indicadores com a média
dos três hospitais norte-americanos e do hospital canadense, nota-se que há um
menor número de intervenções farmacêuticas realizadas diariamente no CAISM.
Ao comparar com o hospital espanhol, há um maior número de intervenções por
prescrição no CAISM. Estes fatos podem estar relacionados à diferença entre os
locais estudados. A UTI onde este estudo foi realizado, contendo apenas 6 leitos e
especializada em saúde da mulher, dificulta a comparação quantitativa dos dados.

Nos hospitais tailandês e malasiano foram realizadas mais intervenções


farmacêuticas por dia do que no CAISM e até mesmo do que em dois dos
hospitais norte-americanos comparados (102; 127). Nestes países, embora a
Farmácia Clínica já fosse implementada, ainda não era completamente
consolidada e, possivelmente, mais intervenções foram realizadas devido ao corpo
clínico não estar familiarizado com essa atividade. Provavelmente, a partir do
momento em que ela começar a se consolidar, como ocorreu nos EUA e na
Europa, muitas das intervenções não serão mais necessárias, pois a equipe já
terá incorporado protocolos e intervenções ao serviço.

Outro ponto importante foi a quantidade de erros de prescrição não


prevenidos, maior na UTI do CAISM do que na UTI do hospital de estudo de
Leape et al. (102). Os erros de prescrição não prevenidos neste estudo foram
resultado da não aceitação das intervenções por parte da equipe médica. Eles não
resultaram em nenhum dano grave para as pacientes e todas elas foram
monitoradas cautelosamente pela equipe médica após a conscientização das
possíveis consequências da não prevenção após relato das intervenções. No
entanto, o número de erros de prescrição prevenidos foi elevado, o que ressalta o
caráter de segurança como uma das ações em destaque da Farmácia Clínica.

68
6.3. COMPORTAMENTO DAS INTERVENÇÕES FARMACÊUTICAS
REALIZADAS E ERROS DE PRESCRIÇÃO IDENTIFICADOS AO
LONGO DO TEMPO

Neste estudo, esperava-se que o número de erros de prescrição e de


intervenções farmacêuticas realizadas diminuiria ao longo do tempo com a
contínua participação do farmacêutico clínico nas visitas beira-leito. No entanto,
ocorreram oscilações. A implementação da Farmácia Clínica ainda no início, com
a informação de cada intervenção farmacêutica isolada a ser assimilada pelo
corpo clínico necessita a longo prazo, de um processo de educação continuada.
Estratégias como a instituição de protocolos têm demonstrado resultados
satisfatórios na diminuição de erros de prescrição (102). Intervenções pontuais
sem essas medidas complementares podem não conseguir atingir sozinhas uma
redução significativa de erros. A rotatividade de médicos durante a semana (2
médicos assistentes por dia, de sexta a terça; 1 médico supervisor e 1 médico
assistente por dia, de quarta a quinta) também pode ter contribuído para estas
oscilações, já que a intervenção farmacêutica não era do conhecimento de toda a
equipe em um mesmo momento. Deste modo, não é possível explicar a evolução
dos erros e das intervenções encontrada ao longo do tempo, já que este estudo
não isolou todas as possíveis causas que podem tê-la influenciado (fatores
comportamentais relacionados a intervenções realizadas e erros identificados por
profissional médico). Duas situações confirmam as oscilações: (i) ocorrência de
novos erros de prescrição, nos quais o farmacêutico ainda não havia realizado
intervenções e (ii) recorrência de erros de prescrição prevenidos anteriormente
(n=42) (Tabela 19).

69
Tabela 19 – Recorrência de erros de prescrição durante o período de estudo

Mês

Desfecho
(-1ºcaso)
Total
Tipos de erros

2013

2013
Ago

Nov
Jun

Dez
Mar

Jan
Fev

Fev
Abr

Out
Mai

Set
Jul
Interação medicamentosa potencial do diazepam (moderada e maior) com 1 caso não
1º caso 4 1 5
demais medicamentos prescritos: sugeriu-se troca por lorazepam) prevenido

A ranitidina apresenta risco 1 na lactação (metabólitos são excretados no leite Todos


1º caso +1 1 1 1 4
materno) sugeriu-se troca por omeprazol (risco 0) prevenidos
Paciente apresenta ClCr¹<50mL/min; ranitidina deve ter reajuste de frequência
2 casos não
ou ser trocada por omeprazol, que não necessita de reajuste em insuficiência 1º caso 1 2 3
prevenidos
renal
A dipirona apresenta risco 1 na lactação (metabólitos são excretados no leite 1 caso não
1º caso 1 1 1 3
materno): sugeriu-se troca por paracetamol (risco 0) prevenido
Paciente apresenta IMC* maior que 45; enoxaparina necessita reajuste de 40mg Todos
1º caso 3 1 2 6
para 60mg prevenidos
A metoclopramida necessita de ajuste de dose de 10mg para 5mg em 2 casos não
1º caso 2 1 1 1 5
insuficiência renal com ClCr¹<40mL/min prevenidos
O tramadol necessita de ajuste de frequência de 6/6h ou 8/8h para 12/12h em 1 caso não
1º caso 1 1 2
insuficiência renal com ClCr¹<30 prevenido
Todos
Duplicação terapêutica: metoclopramida e bromoprida prescritas juntas 1º caso 1 1
prevenidos
O fondaparinux é contraindicado em insuficiência renal c/ ClCr¹<30mL/min; 2 casos não
1º caso 1 1
sugeriu-se troca por enoxaparina com ajuste de dose, ou trocar por heparina prevenidos
O diazepam apresenta risco 2 na lactação: sugeriu-se trocar por lorazepam (risco Todos
1º caso 3 1 4
1) prevenidos
Todos
Superdosagem da enoxaparina: ajuste de dose em insuficiência renal 1º caso 2 2
prevenidos
A bromoprida necessita de ajuste de dose de 10mg para 5mg em insuficiência Todos
1º caso 1 1 1 3
renal com ClCr¹<40mL/min prevenidos
Ampicilina/ sulbactam deve ter ajuste de frequência em paciente com 1 caso não
1º caso 1 1
insuficiência renal com ClCr¹<30mL/min prevenido
Paciente com plaquetopenia, ranitidina pode piorar o quadro por ser um possível
Todos
evento adverso, foi indicado trocar por omeprazol, medicamento que não 1º caso 1 1 2
prevenidos
apresenta tal risco
* IMC: Índice de massa corpórea
1
ClCr: Clearance de creatinina

70
Foi realizada uma análise sobre os erros que se repetiram ao longo do
período de estudo. Dentre eles, foi observado que frequentemente ocorreram
ajustes na dosagem da enoxaparina (tabela 19) devido ao peso e à função renal
das pacientes (2,5 erros por mês) até o 2º mês de estudo. A partir do terceiro mês,
o farmacêutico pesquisador desenvolveu um protocolo com as dosagens corretas
para estes casos (anexo 1), o que resultou na diminuição de erros de prescrição
desta natureza até o décimo mês (0,5 erros por mês); no entanto, no último mês
de estudo ocorreram 2 erros relacionados a este medicamento. Este fato
demonstra que o desenvolvimento de protocolos que padronizem sistemas de
dosagem é uma ferramenta eficaz para contribuir na diminuição de erros de
prescrição, pois facilita o acesso e disponibiliza o conhecimento para todo o
hospital, porém é sujeito a falhas, já que não pode controlar fatores
comportamentais ligados ao ato de não consultar o protocolo previamente.

À procura de minimizar outros erros de prescrição identificados foi iniciada a


criação de um protocolo de ajuste de dosagem de antibióticos por função
renal/hemodiálise. Não foi possível instituir protocolos para todos os
medicamentos relacionados aos erros. No entanto, todos esses erros foram
analisados, com o intuito de criar futuramente planos de ação que evitem novas
ocorrências pela equipe de Farmácia do CAISM.

Por meio da educação continuada junto à Farmácia do CAISM, um


processo de implementação do serviço de Farmácia Clínica se mantém na
instituição, com a participação da equipe farmacêutica no monitoramento das
prescrições das pacientes internadas na UTI e no acompanhamento das visitas
beira-leito.

71
7. LIMITAÇÕES DO ESTUDO

Uma das principais limitações desse estudo foi a quantificação de erros e


intervenções sem determinação do profissional médico envolvido, para possível
identificação dos fatores comportamentais relacionados às oscilações encontradas
ao longo do estudo.

É necessário observar que a falta de dados específicos relacionados à


Farmácia Clínica em Saúde da Mulher, resultou em alterações na metodologia
aplicada para o projeto ao longo do tempo, após o farmacêutico se adaptar aos
conhecimentos exigidos em Farmácia Clínica para esta área e em adaptações
necessárias para que o trabalho se adequasse ao serviço em que foi
desenvolvido. Este mesmo fato dificultou a comparação dos resultados
encontrados, devido à ausência de resultados semelhantes em literatura. A
classificação das intervenções e dos erros, portanto, pode não ter contemplado de
maneira precisa todas as intervenções e erros relacionadas a uma UTI
especializada em saúde da mulher, por conta das adequações feitas e da
ausência de referências prévias, no entanto, estas limitações destacam a
característica de ineditismo deste estudo.

72
8. CONCLUSÃO

As intervenções realizadas e aceitas pela equipe médica demonstram a


possível contribuição deste tipo de trabalho para a segurança das pacientes por
meio da redução de riscos provenientes da terapia medicamentosa. Estas
intervenções permitiram a detecção e prevenção de erros de prescrição, o que
demonstra o caráter da intervenção farmacêutica como ferramenta eficaz na
detecção e prevenção de eventos adversos, bem como na promoção da
integração da equipe de farmácia atuando junto à equipe multiprofissional. Não foi
possível estabelecer uma diminuição dos erros de prescrição encontrados ao
longo do tempo, sendo esta uma limitação do estudo, já que existe a influência de
fatores comportamentais envolvidos que não foram mensurados. Um processo de
educação continuada foi estabelecido inicialmente e se mantém após a finalização
deste projeto pela equipe de Farmácia do CAISM.

73
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88
10. ANEXOS

10.1. PARECER DO CEP

89
90
10.2. PROTOCOLO DE DOSAGEM DA ENOXAPARINA

Enoxaparina

Profilaxia Tratamento
Padrão -
40 mg SC 24/24h 1 mg/kg SC 12/12h
CrCl ≥ 30 ml/min 40 mg SC 24/24h 1 mg/kg SC 12/12h
Insuficiência renal
CrCl < 30 ml/min 20mg SC 24/24h 1 mg/kg SC 24/24h
IMC<45 40mg 24/24h 1mg/kg SC 12/12H
Obesidade
IMC≥45 60mg 24/24h 1mg/kg SC 12/12H
Manter a dose usual, monitorar cuidadosamente
Baixo peso <45kg
em caso de sinais e sintomas de sangramento.

Referências:
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College of Chest Physicians evidence-based clinical practice guidelines (8th edition). Chest
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Protocol For Venous Thromboembolism Prophylaxis in Obese Surgical Intensive Care Unit
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Lovenox® online prescribing information (acessado em 26/03/2012).

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