Resumo: Origem e Evolução Estrutural Do Sistema de Riftes Cenozóicos Do Sudeste Do Brasil
Resumo: Origem e Evolução Estrutural Do Sistema de Riftes Cenozóicos Do Sudeste Do Brasil
Resumo: Origem e Evolução Estrutural Do Sistema de Riftes Cenozóicos Do Sudeste Do Brasil
Origin and structural evolution of the Cenozoic Rift System of Southeastern Brasil
270 Origem e evolução estrutural do Sistema de Riftes Cenozóicos do Sudeste do Brasil - Zalán e Oliveira
Figura 1 – Mapa de distribuição dos quatro riftes do SRCSB: (A) Paraíba do Sul, Figure 1 — Map showing the distribution of the four rifts of the SRCSB: (A)
(B) Litorâneo, (C) Ribeira, e (D) Marítimo; de suas falhas limitantes, preenchi- Paraíba do Sul, (B) Coastal, (C) Ribeira, and (D); their border faults, localized
mentos sedimentares, intrusões/lavas alcalinas, charneira cretácea das bacias de sedimentary fills, alkaline igneous rocks, Cretaceous hingeline of the
Santos/Campos e o Rio Paraíba do Sul. Santos/Campos Basins, and the Paraíba do Sul river.
Szatmari et al. 2000; Cobbold et al. 2001; Mizu- Duas megalópoles (São Paulo e Rio de Janei-
saki et al. 2002; Thomaz Filho et al. 2005; Gue- ro), uma metrópole (Curitiba) e várias cidades in-
des et al. 2005). A descoberta de lavas alcalinas dustriais grandes localizam-se dentro de grábens
eocênicas intercaladas com sedimentos dos grá- cenozóicos (figs. 1 e 3). Cidades serranas de gran-
bens e no cume de algumas das intrusões evocou de potencial turístico e as últimas reservas signi-
imagens de um passado vulcânico relativamente ficativas de Mata Atlântica se encarapitam nas
recente em meio à região mais populosa do Brasil. encostas e planaltos das serras tectônicas. Adja-
Sismos de pequena magnitude têm sido reporta- centes a elas situam-se a mais importante bacia
dos nos últimos dois séculos, geralmente associa- petrolífera do Brasil (Campos) e a segunda em
dos às falhas que bordejam ou são paralelas aos potencial (Santos), cujos reservatórios arenosos
blocos altos e baixos (Hasui e Ponçano,1978; portadores de hidrocarbonetos são oriundos da
Riccomini et al. 1989; Hiruma et al. 2001). erosão dos maciços graníticos/gnáissicos pré-
272 Origem e evolução estrutural do Sistema de Riftes Cenozóicos do Sudeste do Brasil - Zalán e Oliveira
Figura 3
Imagem de satélite do
dos riftes maiores. O termo bacia será restrito tos/Campos) que receberam o material deles re- Sudeste do Brasil com o
para as pequenas e eventuais acumulações sedi- tirado. A ausência de sedimentos permite aos arcabouço estrutural
mentares que ocorrem dentro dos grábens. Será geólogos visões tridimensionais inigualáveis de regional do SRCSB inter-
pretado (Landsat 7, S-23-
feita a tentativa de demonstrar que a alternância dentro para fora, de baixo para cima, de enor-
20_2000.sid, webpage
de serras e vales/planícies intervenientes do Su- mes grábens despidos que servem de modelo Nasa Applied Sciences
deste do Brasil constitui uma notável sucessão para outros preenchidos. Directorate). Grábens
de horsts e grábens escalonados, assimétricos, O modelo genético evolutivo apresentado numerados como na figu-
ra 2. Notar a concen-
com bordas falhadas e flexurais, com zonas de para o SRCSB tenta concatenar vários eventos
tração de centros
acomodação e falhas transferentes segmentan- geológicos: o deslizamento para oeste da Placa urbanos (cores roxas)
do-os em sub-grábens. Será sugerido que tais Sul-Americana sobre uma anomalia térmica (não dentro dos grábens.
elementos tectônicos e as intrusões alcalinas intensa o suficiente para ser chamada de pluma Figure 3
continuam mar adentro, na plataforma conti- mantélica, espalhada demais para ser caracteri-
Satellite image of South-
nental da Bacia de Santos, até à sua linha de zada como um simples hot spot) durante o Neo- eastern Brazil with the
charneira. O não-aprisionamento de quantida- cretáceo, o conseqüente soerguimento contínuo interpreted structural
des significativas de sedimentos dentro destes e maciço do embasamento, a intrusão de stocks framework of SRCSB
(Landsat 7, S-23-20_2000.sid,
riftes cenozóicos intra-montanos deve-se prova- alcalinos, o entalhamento/aplainamento da Nasa Applied Sciences
velmente ao contínuo soerguimento regional Superfície Japi formando um megaplanalto ao Directorate webpage).
(mesmo dos blocos abatidos), à geração tectôni- final do Cretáceo, o quebramento/individualiza- Grabens numbered as
in figure 2. Notice high
ca de grandes relevos topográficos diferenciais e ção de blocos por instabilidade gravitacional,
concentration of urban
às intensas pluviosidade/erosão/drenagem; tudo a movimentação vertical diferencial destes e a areas (purple) within
isto ao lado de grandes bacias subsidentes (San- efusão de lavas alcalinas durante o Paleogeno; the grabens.
274 Origem e evolução estrutural do Sistema de Riftes Cenozóicos do Sudeste do Brasil - Zalán e Oliveira
e Thomaz Filho (2004) (K/Ar), Thomaz Filho et al. de, RJ). Eventualmente, dos cumes nivelados se
(2005) (K/Ar) e Guedes et al. (2005) (K/Ar e projetam picos de rochas mais resistentes a alti-
Ar/Ar). Este último define as três fases ígneas tudes destoantes de 1 400 m (ex.: batólito gra-
mais significativas que afetaram a parte terres- nítico do Pico do Couto e stock alcalino de Tin-
tre. Duas são eventos toleíticos (Jurássico/Eocre- guá, Serra do Couto, RJ). Na concepção deste
táceo) que antecedem o período coberto por estudo, a superfície extremamente plana do em-
este estudo. A terceira, a fase de magmatismo basamento cristalino sobre a qual repousa delga-
alcalino, apresenta um pulso inicial (82 Ma) e da capa de sedimentos cenozóicos na platafor-
dois episódios mais destacados (70-60 Ma e 55- ma continental da Bacia de Santos até à sua li-
40 Ma). nha de charneira, visível em linhas sísmicas desta
Torna-se mister explicitar o significado tectô- área (fig. 16, à frente) representa a SAJ rebai-
nico da SAJ e do uso dado por outros autores xada tectonicamente à sua cota mínima.
(vide histórico no capítulo de mesmo nome em Segundo Riccomini et al. (2004), os planaltos
Riccomini et al. 2004), já que a mesma será fun- representariam blocos tectonicamente soergui-
damental na análise de perfis morfo-estruturais, dos durante a tafrogênese cenozóica e os cumes
na definição da geometria dos grábens e na da- nivelados indicariam as posições originais resi-
tação de eventos de deformação. Trata-se, prati- duais. Trabalhou-se, aqui, com a hipótese de
camente, do único nível de correlação regional que as maiores altitudes estejam mais próximas
existente por todo o embasamento pré-cam- da posição original da SAJ ao final do Cretáceo
briano do Sudeste do Brasil. Supõe-se que a SAJ do que os cumes nivelados em torno de 1 000 m
tenha aplainado e nivelado toda a área estudada – 1 300 m. Tentativamente será demonstrado
ao final do Cretáceo, ao redor de 66-65 Ma, que o SRCSB é constituído por ombreiras de
como precisamente demonstrado por Riccomini riftes (serras) e vales tectônicos intervenientes
et al. (2004) (datação de lava alcalina derramada que foram colapsando e rotacionando gravita-
sobre a superfície em 65,65 ± 0,05 Ma). Segundo cionalmente, de oeste para leste, escalonando-
estes autores, “sua presença evidencia uma fase se verticalmente dos 2 000 m – 2 800 m dos pla-
de erosão generalizada, atuante até o limite Cre- naltos da Mantiqueira, para 1 000 m – 1 300 m,
táceo-Paleoceno, anterior à instalação dos riftes”. para 700 m - 800 m, para o litoral, até cerca de
Já se conhece a idade final da SAJ, neste estudo 1 000 m abaixo do nível do mar na charneira da
tentar-se-á datar o início da mesma. Bacia de Santos (fig. 2).
Desnivelada no presente, a SAJ pode ser
encontrada em: (1) restritos planaltos (altitudes
de 2 000 m – 2 200 m, serras da Bocaina e
Campos de Jordão, SP, no batólito granítico da
Serra dos Órgãos, RJ, e 2 400 m – 2 800 m sobre
delimitação e extensão
litologias mais resistentes como os stocks alcali-
nos de Passa Quatro e Itatiaia, SP/MG/RJ); (2) em
do sistema de riftes
extensos cumes planos e nivelados em torno de
1 000 m – 1 300 m de altitude nas serras do Mar
cenozóicos no continente
(localmente serras do Couto / Araras / Paraty, RJ, O entendimento dos vales intra-montanos e
Santos, SP, Marumbi / Graciosa / Capivari, PR) e planícies como depressões tectônicas, riftes assimé-
da Mantiqueira (localmente Serras de Mauá / Pe- tricos com bordas falhadas/flexurais, ou eventual-
dra Selada, RJ, Cantareira / Itaberá, SP); (3) nive- mente simétricos com ambas as bordas falhadas,
lando serras e elevações diversas em altitudes deu-se ao longo de anos através de observações de
menores, em torno de 700 m - 800 m (nos cimos campo, definição de superfícies de erosão, cons-
dos stocks alcalinos de Morro Redondo / Men- tatação de seus desníveis, construção de perfis
danha / Rio Bonito / Soeirinho / Tanguá / São João, morfo-estruturais, análise de padrões de drenagens
e no topo das serras da Carioca e da Ilha Gran- e emprego de critérios geomorfológicos (vide o
Figure 4
3D-view (W to E) of the
Paraíba do Sul Rift at the
Queluz Accommodation
Zone. Between the dot-
ted lines the rift presents
a symmetric profile with
two faulted borders.
Compare it to the asym-
metric profile displayed
by the Taubaté and
Resende-Volta Redonda
Grabens. V. E.: 5x, image
from Nasa site (world-
capítulo Introdução de Riccomini et al. 2004 e O Rifte do Paraíba do Sul encaixa completamente
wind.arc.nasa.gov). Almeida e Carneiro, 1998). o curso do rio homônimo. Assim que este nasce nas
Serão utilizados, aqui, modelos digitais de ter- encostas setentrionais da Serra do Mar seu fluxo
reno para análise da topografia do Sudeste do para norte é bruscamente capturado pelo Gráben de
Brasil, visualização tridimensional, perfis morfo- Taubaté na altura de Guararema (fig. 1). O rio só
estruturais, mapas geológicos, imagens de saté- consegue escapar do condicionamento tectônico
lite e trabalhos de campo. Na parte marítima, ENE-OSO das calhas do rifte, nucleado em estruturas
foram empregados mapas de gravimetria e aero- brasilianas reativadas no Cenozóico, a montante da
magnetometria de alta resolução, modelagens cidade de São Fidélis, onde se curva abruptamente
numéricas de perfis e linhas sísmicas. Todos os para sudeste e flui por cerca de 100 km até à sua foz,
dados foram interpretados à luz de modelos atravessando transversalmente os trends de estru-
geométricos de riftes conhecidos. Delimitaram-se turas preexistentes. De oeste para leste, o Rifte do
assim riftes de grandes dimensões, alguns con- Paraíba do Sul engloba os grábens de São Paulo,
tendo em áreas mais restritas pacotes/manchas Taubaté, Resende-Volta Redonda e do Baixo Paraíba
sedimentares aprisionadas (bacias de São Paulo / do Sul, este contendo o restante do curso retilíneo e
Taubaté / Resende / Volta Redonda / Macacu). encaixado do rio até São Fidélis (figs. 2 e 3).
Bordas falhadas/flexurais, zonas de acomodação, O Gráben de Taubaté é fortemente assimétrico,
falhas transferentes e compartimentos menores apresentando sua borda falhada no pé da Serra da
(grábens e sub-grábens) foram interpretados. Mantiqueira (escarpas de 1 000 m – 1 500 m) (figs.
Como resultado, definiram-se quatro grandes 2 a 5). A borda meridional da entidade maior, do
riftes ou corredores de grábens (figs. 1 a 3): rifte, é assumida no limite com a Serra do Mar (es-
Paraíba do Sul, Litorâneo, Ribeira e Marítimo carpas de 400 m - 500 m), também por falha (fig. 5).
(este contendo rombo-grábens sugeridos na pla- A bacia sedimentar apresenta inversões de depo-
taforma continental da Bacia de Santos). centros separados por altos transversais internos,
276 Origem e evolução estrutural do Sistema de Riftes Cenozóicos do Sudeste do Brasil - Zalán e Oliveira
Figura 5
Perfil morfo-estrutural
interpretado do Rifte do
Paraíba do Sul (Gráben
de Taubaté) e do Rifte
Litorâneo (Sub-Gráben de
Paraty). Perfil típico de
tectônica dominó, ambos
grábens assimétricos com
bordas falhadas a norte
(nas serras da
Mantiqueira e do Mar,
respectivamente). Por
uma questão de simplifi-
cação, nem todas as
falhas do mapa foram
indicadas no perfil. Linha
vermelha representa uma
interpretação da atitude
atual da SAJ.
Figure 5
Interpreted morpho-
structural profile from
the Paraíba do Sul Rift
(Taubaté Graben) and the
Coastal Rift (Paraty Sub-
Graben). Typical domino-
style tectonics, with
asymmetric cross-sections
(faulted margins to the
North). For the sake of
simplicity, not all faults
on the map were por-
trayed on the profile.
Red line represents the
interpreted present atti-
tude of the SAJ.
Figura 6 – Imagem de satélite (Landsat 7, S-23-20_2000.sid, webpage Figure 6 — Satellite image (Landsat 7, S-23-20_2000.sid, Nasa
Nasa Applied Sciences Directorate) com a interpretação estrutural Applied Sciences Directorate webpage) with detailed structural
detalhada do Gráben da Guanabara; subdividido em sub-grábens interpretation of the Guanabara Graben. Sub-grabens are Baía,
da Baía, Guandu-Sepetiba e Paraty, pelas Zona de Transferência Guandu-Sepetiba and Paraty, separated by the Tinguá-Tijuca
Tinguá-Tijuca e Zona de Acomodação de Ilha Grande-Sepetiba. Transfer Zone and the Ilha Grande-Sepetiba Accommodation Zone.
Figure 7
3D-view of the Guanaba-
ra Graben with: Baía (A),
Guandu-Sepetiba (B) and
Paraty (C) Sub-Grabens,
and Ilha Grande-Sepetiba
Accommodation Zone (D).
Notice the Resende-Volta
Redonda (E), Queluz (F,
Accommodation Zone)
and Taubaté (G) Grabens com alternância de bordas falhadas a norte e a sul Mohriak e Barros (1990), não possui depósitos se-
500 m higher to the left.
V. E.: 5x, image from
(sísmica de reflexão, Marques, 1990). Entre Cruzei- dimentares em terra (ocorrem sedimentos interpre-
Nasa website - (world- ro e Engenheiro Passos, o fundo do rifte transfor- tados como Grupo Barreiras restritos à zona
wind.arc.nasa.gov). ma-se em um mar de morros de embasamento, brechada da Falha do Pai Vitório, Heilbron et al.
não ocorrem terrenos sedimentares e o rifte torna- 2000) mas possui expressão em sísmica de reflexão
se grosseiramente simétrico (escarpas de 2 000 m na parte marítima. O Gráben da Guanabara foi
no norte, 1 000 m – 1 200 m no sul). Esta região é analisado estruturalmente por Ferrari (1990, 2001).
denominada de Zona de Acomodação de Queluz Zalán (2004a) subdivididiu-o nos sub-grábens da
(figs. 2 a 4). A leste desta, o Rifte do Paraíba do Sul Baía, Guandu-Sepetiba e Paraty; separados por um
desloca-se para sul cerca de 17 km (referente à bor- divisor de águas (Zona de Transferência Tinguá-
da norte), sua largura dobra (de 30 para 60 km) e Tijuca) e pela região rica em ilhas que separa as
sua geometria toma a expressão de um rabo-de- baías de Sepetiba e da Ilha Grande (Zona de
cavalo (figs. 1 a 4), típica forma terminal de riftes. Acomodação de Ilha Grande-Sepetiba) (figs. 6 e 7).
Neste segmento do rifte ocorrem o Gráben de Re- O perfil dos grábens é invariavelmente assimétrico
sende-Volta Redonda (contendo as pequenas ba- com a borda falhada sempre no pé da Serra do Mar
cias sedimentares homônimas) e do Baixo Paraíba (figs. 5 a 8), com desníveis variando de 1 200 m –
do Sul (figs. 2 e 8), este sem acumulações sedimen- 2 200 m (Guanabara), 1 000 m – 1 200 m (Uba-
tares. Em toda a sua extensão, o Rifte do Paraíba tuba), 600 m – 1 000 m (Santos), 0 m – 1 100 m
do Sul apresenta o estilo estrutural de tectônica (Ribeira do Iguape e Cananéia) a 800 m – 1 600 m
dominó e é predominantemente assimétrico para (Paranaguá). O estilo tectônico dominó predomina
norte (figs. 5, 8 e 9). nos perfis morfo-tectônicos (figs. 5, 8 e 9).
O Rifte Litorâneo engloba, de leste para oeste, O Rifte do Ribeira engloba os grábens de Sete
os grábens da Barra de São João, Guanabara, Barras e Alto Ribeira, o primeiro assimétrico com
Ubatuba, Santos, Ribeira do Iguape, Cananéia e borda falhada a norte (desníveis de 700 m - 900 m)
Paranaguá (figs. 2 e 3). O primeiro foi estudado por e o segundo totalmente simétrico (fig. 9). Interes-
278 Origem e evolução estrutural do Sistema de Riftes Cenozóicos do Sudeste do Brasil - Zalán e Oliveira
Figura 8
Perfil morfo-estrutural
interpretado do Gráben
da Guanabara, assimétri-
co com borda falhada
(Serra do Mar) e borda
flexural (Maciço da
Tijuca). Por uma questão
de simplificação, nem
todas as falhas do mapa
foram indicadas no perfil.
Linha vermelha no perfil
representa uma interpre-
tação da atitude atual da
SAJ.
Figure 8
Interpreted morpho-
structural profile of the
Guanabara Graben, an
asymmetric graben with
faulted margin adjacent
to Serra do Mar and flex-
ural margin at the Tijuca
Massif. For the sake of
simplicity, not all faults
on the map were por-
trayed on the profile. The
red line represents the
interpreted present atti-
tude of the SAJ.
sante notar que a Bacia de Curitiba, classicamente mente devido ao quebramento causado pelos inú-
considerada um gráben (Riccomini et al. 2004; meros diques do Alinhamento de Guapiara (Almei-
Salamuni et al. 2004), não aparece como tal em da e Carneiro, 1998) (figs. 2 e 15).
perfis morfo-tectônicos na escala regional utilizada
(fig. 9). Isto deve significar que a referida bacia
pode até ter um controle tectônico em suas bordas,
mas sua magnitude não é comparável aos dos ou-
delimitação e extensão
tros grábens aqui tratados. Ela se expressa mais
como uma mera depressão topográfica a meio ca-
do rifte marítimo na
minho de dois blocos de falha rotacionados diver-
gentemente (figs. 2, 3 e 9).
plataforma continental
Os riftes terrestres se interligam em alguns pon- Devido à pequena quantidade de dados sís-
tos isolados. O Rifte do Paraíba do Sul se une ao micos existentes próximos à costa, os dados de
Rifte Litorâneo através do patamar ou rampa de métodos potenciais revestem-se de grande
revezamento de Lídice (fig. 7), próximo a Angra dos importância na investigação do embasamento
Reis, que sobe do Sub-Gráben de Paraty para o adjacente. Inicialmente, mapas geológicos dos
Gráben de Resende-Volta Redonda. O Rifte Lito- estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e
râneo se conecta com o Rifte do Ribeira na planície Rio de Janeiro foram utilizados em conjunto com
litorânea do sul de São Paulo (Gráben da Ribeira do dados gravimétricos/magnéticos que recobriam
Iguape com o Gráben de Sete Barras), provavel- as porções terrestre e marítima (Oliveira e San-
tos, 2001) (figs. 10 e 11). Num segundo estágio, liminar percebe-se que as anomalias magnéticas
a análise concentrou-se em dados aeromagne- são causadas principalmente pelas variações lito-
tométricos de alta resolução (altura de vôo de lógicas do embasamento, pela charneira das ba-
150 m, espaçamento entre linhas com direção cias de Santos/Campos, e, secundariamente, pe-
N30O de 500 m) da Bacia de Santos. Além de ma- los diques do Arco de Ponta Grossa, por falhas e
pas da anomalia magnética do campo total, fo- por ocorrências pontuais de rochas ígneas alcalinas.
ram utilizadas filtragens diversas visando auxiliar O mapeamento da charneira foi baseado na
a interpretação (redução ao pólo, derivadas e resposta gravimétrica e magnética de diversos mo-
amplitude do sinal analítico). Numa análise pre- delos sintéticos bidimensionais. Nestes, procurou-
280 Origem e evolução estrutural do Sistema de Riftes Cenozóicos do Sudeste do Brasil - Zalán e Oliveira
Figura 10 – Mapa magnético reduzido ao pólo (terra), modificado de Oliveira e Figure 10 — Magnetic onshore map (reduced to the pole), modified from Oliveira
Santos (2001) com dados da CPRM/DNPM, e de batimetria (mar, Projeto Leplac) and Santos (2001) with data from CPRM/DNPM, and bathymetric offshore map
mostrando a charneira cretácea e a quebra atual da plataforma continental. Área (Leplac Project), depicting the Cretaceous hingeline and the current shelf
em branco indica ausência de dados. Áreas do embasamento pré-cambriano break. Blank areas are devoid of data. Selected areas from the Precambrian
ressaltadas: (1) Grupo Brusque, (2) Terreno Paranaguá, e (3) Rochas metassedi- basement: (1) Brusque Gp., (2) Paranaguá Terrain, and (3) Metasedimentary
mentares do Terreno Cabo Frio. rocks of the Cabo Frio Terrain.
se simular uma charneira associando-a com di- suas variações litológicas. Objetivando mini-
versos elementos geológicos adicionais: topogra- mizar esta ambigüidade, tentou-se acompanhar
fia residual, falhas subsidiárias e variações lito- a continuidade mar adentro dos domínios tectô-
lógicas do embasamento; observando-se as res- nicos mapeados em terra e suas respectivas assi-
pectivas respostas gravimétrica/magnética. Veri- naturas geofísicas para se analisar o comporta-
ficou-se que o desafio maior seria diferenciar mento do embasamento na área da plataforma
as anomalias magnéticas realmente causa- continental.
das pela mudança na profundidade do topo Nos mapas geológicos do Sudeste brasileiro
do embasamento daquelas associadas às (figs. 11 e 12) as extensas zonas de cisalhamen-
to de direção NE/SO no embasamento geram um Cabo Frio, Heilbron et al. 2000, ou Domínio
padrão geométrico rômbico/sigmoidal recorrente Tectônico Cabo Frio, DTCF, Schmitt et al. 2004).
entre as diversas unidades pré-cambrianas, e Esta situação auxilia a interpretação, pois propicia
que, por vezes, controlam a instalação dos riftes a extensão para a plataforma dos terrenos aflo-
cenozóicos. Esta estruturação, em sua maior par- rantes. Estes domínios (rochas supracrustais) têm
te, é paralela à linha de costa, exceto em duas re- um padrão textural magnético menos intenso
giões onde esta cruza o arcabouço do embasa- (amplitude e freqüência) que as unidades vizinhas,
mento: no litoral norte de Santa Catarina (meta- muito semelhante ao que se esperaria no caso do
morfitos do Grupo Brusque, Heilbron et al. 2004) abatimento de blocos de mesma natureza.
e na região de Maricá, no litoral fluminense Situação observada nos mapas e de difícil si-
(ortognaisses e rochas supracrustais do Terreno mulação (em perfil) foi a modificação no padrão
282 Origem e evolução estrutural do Sistema de Riftes Cenozóicos do Sudeste do Brasil - Zalán e Oliveira
Figura 12
Mapa da segunda deriva-
da vertical da anomalia
magnética reduzida ao
pólo (mar) e mapa
geológico da Província da
Mantiqueira (terra)
(CPRM 2001, CD-Rom):
A – não-interpretado,
B – possíveis grábens
cenozóicos na plataforma
continental rasa da Bacia
de Santos. Falhas ter-
restres extrapoladas para
o mar e que podem
constituir bordas de
grábens: 1 – Bertioga,
2 – Camburu, 3 – Santos.
Seta indica diques do
Arco de Ponta Grossa.
Figure 12
Map of the second verti-
cal derivative of the
magnetic anomaly
reduced to the pole
(offshore) and geologic
onshore map of the
Mantiqueira Province
(CPRM 2001, CD-Rom):
A – non-interpreted,
B – suggested Cenozoic
grabens in the continen-
tal shelf of Santos Basin.
Onshore faults extended
offshore that could rep-
resent border faults for
the grabens: 1 - Bertioga,
2 – Camburu, and 3 –
Santos. Arrow points to
dykes of the Ponta
Grossa Arch.
284 Origem e evolução estrutural do Sistema de Riftes Cenozóicos do Sudeste do Brasil - Zalán e Oliveira
Figura 13
Mapa da segunda deriva-
da vertical da anomalia
magnética reduzida ao
pólo (mar) e mapa geoló-
gico da Província da
Mantiqueira (terra)
(CPRM 2001, CD-Rom) nas
imediações de Cabo Frio:
A – não-interpretado,
B – interpretado, (1) Ter-
reno Oriental Orógeno
Ribeira, (2) Rochas supra-
crustais do Terreno Cabo
Frio, (3) calhas cenozóicas
sugeridas, (4) domínio
com magmatismo com
magnetização reversa,
(5) embasamento do Ter-
reno Cabo Frio, (6) domí-
nio semelhante com ro-
chas metassedimentares
e/ou magmáticas magne-
ticamente anômalas.
Seção sísmica modelada
na figura 14 (X). Y corres-
ponde à seção modelada
por Oliveira e Gomes
(inédito)
Figure 13
Map of the second verti-
cal derivative of the mag-
netic anomaly reduced to
the pole (offshore) and
geologic onshore map of
the Mantiqueira Province
(CPRM 2001, CD-Rom)
close to Cabo Frio: A –
non-interpreted, B –
interpreted, (1) Oriental
Orógeno Ribeira Terrain,
(2) Supracrustal rocks of
the Cabo Frio Terrain, (3)
suggested Cenozoic
grabens, (4) domain with
magmatic rocks present-
ing reverse magnetiza-
tion, (5) basement of
Cabo Frio Terrain,
(6) similar magnetically
anomalous domain with
metasedimentary rocks
and/or magmatic rocks.
Seismic section modeled
in figure 14 (X). Section Y
was modeled by Oliveira
and Gomes (unpublished)
Figure 14
Time seismic section
(upper frame, location on
figs. 11 and 13), gravi-
metric curves (measured
and calculated, middle)
and depth model (lower
frame). The interpreted
geometry of intercalated
more and less dense
lithologies coincide with
the tectonic vergence (to
West) mapped onshore.
The igneous body is mag-
netic domain number 4
outlined on fig. 13b.
Density in g/cm3.
Cruzando na direção NE/SO e aflorando nos Segundo Schmitt et al. (2004) as rochas metas-
dois lados do litoral fluminense o DTCF é com- sedimentares ocorrem intercaladas tectonica-
posto por duas unidades litotectônicas: o emba- mente com o embasamento, o que explicaria a
samento (ortognaisses, (unidades Região dos La- alternância de assinatura magnética observada
gos e Forte São Mateus) e seqüência supracrus- na borda sul. Na região de Búzios há uma pe-
tal (rochas metassedimentares/metavulcânicas, quena área de ocorrência destas rochas supra-
sucessões Búzios e Palmital). Em geral, os metas- crustais, porém exibindo uma resposta magnéti-
sedimentos Búzios/Palmital exibem uma respos- ca mais agitada, semelhante à dos ortognaisses
ta magnética “calma”, menos intensa (amplitude (área 6 da fig. 13b). Tal assinatura poderia ser de-
e conteúdo de freqüência) que os ortognaisses vido à: pequena espessura das rochas supracrus-
do embasamento, podendo ter sua área de ocor- tais, a intercalações de anfibolitos nas rochas me-
rência estendida para a plataforma rasa (fig. 13). tassedimentares, ou à presença de diques bási-
286 Origem e evolução estrutural do Sistema de Riftes Cenozóicos do Sudeste do Brasil - Zalán e Oliveira
cos semelhantes aos observados na região de cide com um período de instabilidade do campo
Arraial do Cabo (Bennio et al. 2003). magnético terrestre, onde diversas reversões
Importante também para o entendimento foram registradas (Cande e Kent, 1995). A per-
das anomalias magnéticas desta região foi a cepção deste fenômeno auxiliou na interpreta-
percepção de que o cone alcalino do Morro de ção de certas áreas onde a assinatura magnética
São João exibe magnetização reversa, aparecen- conflitava com os dados gravimétricos e a inter-
do como um baixo magnético nos mapas redu- pretação sísmica (áreas 4 da fig. 13b).
zidos ao pólo e de derivadas verticais. A faixa de Assim, nas águas rasas da Bacia de Campos,
idade absoluta deste corpo ígneo (59,7-61 Ma, existiriam duas entidades geológicas compro-
Peter Szatmari, 2002, comunicação oral) coin- vadas em superfície (rochas metassedimentares e
Figura 15 – Mapa integrado do Sudeste do Brasil, com a topografia drapeada por Figure 15 — Integrated map of Southeastern Brazil displaying the onshore topog-
imagem de satélite (cedida por João B. L. Françolin) (terra) e mapa aeromagne- raphy draped by a satellite image (provided by João B. L. Françolin) and high
tométrico de alta resolução (RDP e DRV2) (mar), ilustrando todos os grábens resolution aeromagnetometric map (offshore). All known Cenozoic grabens
cenozóicos e stocks alcalinos conhecidos previamente (terra) ou aqui identifica- and alkaline stocks, either previously known (onshore) or suggested herein
dos (mar). Grábens numerados como na figura 2, com adição de (15) - grábens (offshore) have been indicated. Grabens numbered as in Fig. 2, plus (15) –
do Rifte Marítimo. grabens of the Maritime Rift.
Figura 16
Seção sísmica proximal
(localização na fig. 12) da
Bacia de Santos ilustran-
do sua charneira, a oeste
da qual não ocorrem
sedimentos cretáceos.
O perfil aplainado do
topo do embasamento
é interpretado como
sendo a SAJ. O primeiro
refletor a se nivelar com
a charneira é do
Mesoeoceno.
Figure 16
Seismic section from the
Santos Basin (location in
fig. 12) displaying the
Cretaceous hingeline
(arrow) affected by key-
stone faulting. The flat
top of the shallow base-
ment is interpreted to
represent the SAJ.
The first reflector to
overlap the hingeline
is mid-Eocene.
288 Origem e evolução estrutural do Sistema de Riftes Cenozóicos do Sudeste do Brasil - Zalán e Oliveira
Figura 17
A – Reconstituição tenta-
tiva da SMC (área alaran-
jada). Relacionar à linha
de costa atual (linha
azul). B -Riftes (cinza)
desenvolveram-se
durante o Cenozóico por
colapso gravitacional da
SMC, segundo uma orien-
tação (S51E) oblíqua ao
alongamento N54E da
mesma. Esforços
transtensionais sinistro-
giros resultantes levaram
à orientação escalonada
à direita dos grábens
mais orientais.
Figure 17
A - Tentative reconstruc-
tion of the SMC (hot
colours). Current coast-
line is represented by a
thin blue line. B – Rifts
(gray) developed during
the Cenozoic gravitation-
al collapse of the SMC
along a S51E direction,
slightly oblique to its
overall elongation
(N54E). Left-lateral
transtension originated
right-stepping en échelon
grabens at the eastern-
most portion of the area.
290 Origem e evolução estrutural do Sistema de Riftes Cenozóicos do Sudeste do Brasil - Zalán e Oliveira
nal do Cretáceo, um megaplanalto amplo e coe- sar localmente no final do Paleoceno (falhamen-
so, invadido por intrusões de natureza alcalina, tos e sedimentos neopaleocênicos da Bacia de
aqui designado de Serra do Mar Cretácea (do- Itaboraí, Gráben da Guanabara) e mais abran-
ravante SMC), existia na região Sudeste do gentemente no início do Eoceno (brechas tec-
Brasil; aplainado pela SAJ em torno de uma alti- tônicas de 50 Ma no mesmo gráben, André L.
tude média estimada em 2 000 m (fig. 17). Ferrari, 2002, comunicação oral). Lavas ankara-
Os planaltos atuais foram considerados aqui co- míticas ocorrem nas bacias de Volta Redonda
mo as situações que mais se aproximam da po- (48 Ma, Ar/Ar, Riccomini et al. 2004) e Itaboraí
sição original da SAJ, soerguidos de algumas (53 Ma, K/Ar, Riccomini et al. 2004). Outras lavas
centenas de metros nas ombreiras dos riftes, alcalinas e depósitos piroclásticos identificados
durante o rifteamento cenozóico. Esta entidade nos cumes de stocks alcalinos no Gráben da
topográfica já havia sido reconhecida por Almei- Guanabara (Itaúnas, Tinguá e o vulcão de Nova
da e Carneiro (1998) e designada de Planalto Iguaçu no Mendanha, comunicação oral de An-
Atlântico (englobando tanto as regiões aplaina- dré L. Ferrari, 2002) são provavelmente desta
das pela SAJ ao final do Cretáceo como as re- idade. Nitidamente, os falhamentos do mega-
giões atuais encimadas pelos remanescentes planalto atingiram profundidades grandes sufi-
originais da superfície). cientes para trazer material mantélico juvenil à
Interessante notar que durante toda a época superfície, bem como afetaram câmaras mag-
de atuação da anomalia térmica, sob crosta con- máticas alcalinas cretáceas ainda não totalmente
tinental afinada nas bacias adjacentes à SMC, solidificadas. Estas idades reforçam a idéia de
abundante vulcanismo basáltico toleítico sub- que no Eoeoceno o afundamento de blocos ao
marino intercalou-se com os sedimentos santo- longo de falhas profundas já ocorria nas partes
nianos-campanianos no norte da Bacia de mais orientais da SMC.
Santos (José J. G. Rodrigues, 2003, comunicação O clímax do colapso gravitacional deu-se no
oral) (datação Ar/Ar de 82 Ma, Peter Szatmari, Mesoeoceno (Lutetiano, 48,6-40,4 Ma). Esta
2003, comunicação oral) e maastrichtianos no idade está presente em todas as bacias sedi-
sul da Bacia de Campos (Sérgio G. Oreiro, 2003, mentares marginais brasileiras sob a forma de
comunicação oral). Assim que a anomalia térmi- uma notável discordância. Conseqüentemente,
ca passou a atuar sob região de crosta continen- ela está associada a um evento de amplitude
tal afinada a leste de Cabo Frio, na Bacia de muito maior que o Sudeste brasileiro (ver dis-
Campos, erupções vulcânicas submarinas de cussão de Szatmari e Mohriak, 1995). Zalán
natureza alcalina (idades K/Ar de 55±11 a (2004b) sugeriu que há 45 Ma toda a Placa Sul-
44±1 Ma, Thomaz Filho et al. 2005) passaram a Americana sofreu uma significativa rotação para
se intercalar com turbiditos. Concomitantemen- se ajustar ao nascente atrito entre ela e a Placa
te, significativo soerguimento (cerca de 700 m) do Caribe. Nesta idade, a Placa do Caribe cessou
afetou a bacia no Paleoceno-Eoceno (Thomaz o cavalgamento sobre a Placa Norte-Americana,
Filho et al. 2005). encerrando a Orogenia Cubana e instalando a
O segundo pulso não foi de natureza ascen- Orogenia Caribenha ao longo da margem trans-
sional, mas sim de colapso. A SMC constituía um formante dextrogira oblíqua convergente da Ve-
imenso planalto maciço cujo flanco leste era pro- nezuela e Trinidad-Tobago. Este rearranjo cine-
vavelmente abrupto e tinha como parede livre mático sofrido por toda a Placa Sul-Ameri-
um desnível de cerca de 3 000 m para a Bacia de cana provavelmente serviu de catalisador
Santos (2 000 m acima do nível do mar, 1 000 m para o clímax do colapso vigoroso da instá-
adicionais, no mínimo, representados pelo talu- vel e parcialmente fraturada SMC.
de da bacia). Esta situação provavelmente tor- Logo após o abatimento acelerado do Meso-
nou-se instável gravitacionalmente à medida eoceno, iniciou-se o aprisionamento de depósi-
que a subsidência bacinal progredia. Sugere-se tos clásticos nos grábens formados. Sedimentos
que o megaplanalto começou a rachar e colap- basais do Neo-eoceno estão presentes em todas
as bacias capturadas no SRCSB (Riccomini et al. subverticais do Ciclo Brasiliano. A maioria dos
2004). O colapso gravitacional continuou vigoro- grábens destes riftes alongados é assimétrica e
samente pelo Neo-eoceno/Oligoceno/Eomioce- mergulha para NO em direção às falhas de bor-
no (idades da maioria dos depósitos sedimenta- da. O rebate elástico atuante nos blocos que não
res do SRCSB). O abatimento de blocos no inte- colapsaram, devido ao alívio de carga provocado
rior do megaplanalto falhado ocorreu em faixas pela rotação/escorregamento dos grábens, deve
lineares de direção NE-SO, escalonadas à direita ter sido suficiente para soerguê-los em centenas
(figs. 1 e 15), indicando distensão levemente oblí- de metros, elevando a SAJ para altitudes acima
qua, sinistrogira, segundo N51O-S51E (fig. 17b). de 2 000 m (planaltos atuais) e para influen-
As falhas delimitantes e as falhas transversais ciar os traços de fissão das apatitas das ro-
segmentadoras dos riftes são quase todas nucle- chas do embasamento. O rejeito do embasa-
adas em antigas zonas de cisalhamento dúcteis mento na borda norte da Bacia de Taubaté é da
292 Origem e evolução estrutural do Sistema de Riftes Cenozóicos do Sudeste do Brasil - Zalán e Oliveira
ordem de 2 500 m (1 500 m de escarpa da Serra plataforma continental agradacional com ambi-
da Mantiqueira mais 1 000 m de espessura sed- entes transicionais diversos (Formação Juréia), a
imentar), igual ao da Bacia de Resende (2 000 m partir da qual areias com evolução textural mais
de escarpa da Serra de Itatiaia mais 500 m de madura foram capturadas e transportadas para
espessura sedimentar). Na borda norte do batimetrias maiores (figs. 10, 11, 17a).
Gráben da Guanabara estima-se um rejeito de O abatimento gravitacional da SMC, causado-
2 200 m (desnível entre a Serra dos Órgãos e a ra do tectonismo distensional cenozóico, individua-
Baixada Fluminense). lizou riftes paralelos à costa, formando longos
A geração de intenso relevo vertical por aba- corredores de grábens nos quais a borda falhada,
timento seletivo de blocos criando grábens e mais profunda, se situava normalmente em dire-
ombreiras rejuvenesceu a erosão do embasa- ção ao continente (fig. 17b). Provavelmente, o
mento cristalino com conseqüente aumento da material erodido das ombreiras e bordas flexurais
carga de sedimentos clásticos nas drenagens dos grábens foi transportado longitudinalmente
que fluíam do interior dos riftes para as bacias por longevas e poderosas redes de drenagens até
marginais adjacentes. alcançarem as bacias marítimas. Foi a paleodre-
nagem linear e confinada do Rio Paraíba do Sul,
drenando o rifte de mesmo nome, a provável ali-
mentadora dos possantes turbiditos mesoeocê-
tema de Riftes Cenozóicos fig. 16), permitindo então o acúmulo das areias
em ambientes marinhos rasos de alta energia. Os
294 Origem e evolução estrutural do Sistema de Riftes Cenozóicos do Sudeste do Brasil - Zalán e Oliveira
No Cenozóico, o padrão de falhas retilíneas evolução do segmento central do seu Rift Conti-
delimitadoras de grandes depressões tectônicas nental do Sudeste do Brasil. Neste, com base em
subparalelas à costa e a distribuição das cotas estudos detalhados de geologia de campo, uma
altimétricas apontam para um quadro coerente distensão ortogonal NNO-SSE formou as bacias
de quebramento e colapso gravitacional da SMC no Eoceno-Oligoceno, sendo precedida por uma
(entre 58-20 Ma, clímax entre 48-40 Ma), esca- transcorrência sinistral no Neocretáceo/Paleoce-
lonado, da Serra da Mantiqueira até à linha de no, e seguida por uma tectônica deformadora
charneira cretácea da Bacia de Santos. A ocor- de natureza transtensional sinistral no Mioceno
rência de quatro grandes riftes subparalelos, con- (?). Por meio deste estudo postula-se uma dis-
tendo compartimentos menores (grábens e sub- tensão N51O-S51E, ligeiramente oblíqua, resul-
grábens), aponta para uma tectônica distensio- tando em uma transtensão sinistral, atuando por
nal típica, onde elementos estruturais familiares todo o período de 58-20 Ma.
tais como bordas falhada e flexural, perfis de blo- A evolução tectônica cenozóica assim recons-
cos planares rotacionados (tectônica dominó) e tituída permite uma explicação concatenada
grábens assimétricos/simétricos, comuns em ou- com a distribuição dos reservatórios turbidíticos
tros riftes bem estudados, podem ser reconheci- paleocênicos-miocênicos das bacias de Santos/
dos. Esta tectônica foi responsável pela reativação Campos.
de câmaras magmáticas alcalinas na parte terres-
tre (lavas ankaramíticas e diques de fonolitos,
55-40 Ma, Guedes et al. 2005). A esta altura a
Pluma de Trindade já atuava na parte marítima da
agradecimentos
Bacia de Campos (vulcões e lavas alcalinas de Ao desenhista Haroldo Moraes Ramos pelo
55-44 Ma, Thomaz Filho et al. 2005). esmero na preparação das figuras, ao geólogo
A interpretação de uma natureza puramente João Batista de Lellis Françolin pela cessão da
gravitacional deste tectonismo contrasta com imagem de satélite da figura 15, ao geofísico
hipóteses mais complexas elaboradas por auto- Osni Bastos de Paula pela discussão nas amar-
res anteriores (ex.: ação direta das orogenias an- rações dos refletores sísmicos, todos da Petro-
dinas na reativação do Sudeste brasileiro durante bras; e a Luiz Fernando Santana Braga, da Fugro
todo o Neocretáceo/Cenozóico, Cobbold et al. Airborne S.A., pela permissão para publicação
2001; Szatmari e Mohriak, 1995). A invocação de dos mapas dos levantamentos aeromagne-
agentes externos de tectônica de placas (ex.: re- tométricos de alta resolução da Bacia de Santos.
orientação da Placa Sul-Americana para ajuste O texto foi enormemente melhorado após as
de movimento conjunto com a Placa do Caribe) minuciosas revisões e excelentes sugestões dos
é aqui utilizada apenas como um catalisador do Drs. Webster Ueipass Mohriak, José Antonio
desabamento resultante de uma situação pos- Cupertino e Anderson Moraes, da Petrobras, e
sivelmente instável isostaticamente. O regime de um revisor anônimo.
tectônico atuante durante o Cenozóico foi o dis-
tensional predominantemente perpendicular
(mecanismo de deformação por cisalhamento
puro) a ligeiramente oblíquo (mecanismo de referências bibliográficas
deformação por cisalhamento simples de 15º),
ALMEIDA, F. F. M. de; CARNEIRO, C. D. R. Origem e
que acabou implantando uma suave transtensão
evolução da Serra do Mar. Revista Brasileira de Geo-
sinistral (fig. 17b) que moldou rombo-grábens e
ciências, São Paulo, v. 28, n. 2, p. 135-150, jun. 1998.
escalonou sutilmente à direita os grábens mais
orientais e mais offshore (fig. 15). ALMEIDA, F. F. M. de The system of continental rifts
Esta análise cinemática regional coincide bordering the Santos Basin, Brazil. Anais Academia
razoavelmente com o cenário paleotectônico Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro, v. 48, Supl. 1,
concebido por Riccomini et al. (2004) para a p. 15-26, 1976.
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298 Origem e evolução estrutural do Sistema de Riftes Cenozóicos do Sudeste do Brasil - Zalán e Oliveira
expanded abstract This study relied on the analysis of accurate topo-
graphic data (SRTM from USGS) coupled with the
Cenozoic sedimentary deposits of limited extension interpretation of satellite images and knowledge
and depths are common and widespread in obtained in past studies. Hundreds of morpho-tecton-
Southeastern Brazil, from the State of Paraná to the ic cross-sections were used to define active faults dur-
State of Rio de Janeiro. The Taubaté Basin, in the State ing the Paleogene and Neogene, bounding and seg-
of São Paulo - by far the largest of them all - has an menting the rifts. Three-dimensional visualization was
area of around 2 600 km2 and a maximum depth that used to confirm such interpretations. In the offshore
barely reaches 1 000 m. The stratigraphical and struc- area, gravimetric data and maps derived from high res-
tural aspects of such basins and their ages have been olution aeromagnetometric surveys helped to delin-
well studied by numerous authors for the last three eate areas suggestive of previously unknown Cenozoic
decades. They all agree that these sediments were grabens and Cretaceous alkaline intrusions. Seismic
deposited in strictly continental paleo-environments sections and numerical modeling were employed to
confined into hemi-grabens. Cenozoic basins are intra- decrease uncertainties inherent to the methods.
montane since they are surrounded by the Mantiqueira The southeastern region of Brazil did not consti-
and Serra do Mar Ranges that have average altitudes tute a typical passive margin as one would expect
of 1 200-1 400 m, up to 2 787 m (for the first) and from the premises of Plate Tectonics. After 25 m.y.
800-1 200 m, up to 2 200 m (for the second). Since that rifting (134-114 Ma) ceased and an uplift of
they run parallel to and are adjacent to two important epeirogenic nature of the continental crust started in
petroliferous basins - Santos and Campos - their origin response to the drifting of the South American Plate
has always been tentatively related to the evolution of over a thermal anomaly (Trindade hot spot). This Late
these passive margin basins. Moreover, three metropo- Cretaceous (89-65 Ma) uplift was accompanied by
lis (São Paulo, Rio de Janeiro and Curitiba) and heavily intense alkaline (over non-extended crust) and
populated and industrialized areas are concentrated basaltic (over thinned crust) magmatism. A marked
along the corridors of such grabens. absence of tectonism, however, also characterized
This work presents the results of a thorough study this event. The resulting highlands extended over
of the regional structural framework of Southeastern 300 000 km2 (Cretaceous Serra do Mar), and they
Brazil, both onshore and offshore, where four large were the main source area for coniacian-maastricht-
Cenozoic rifts (Paraíba do Sul, Coastal, Ribeira and ian sediments of the Santos, Campos and Paraná
Maritime), each containing several compartments Basins. By the end of the rising (exactly at the K/T
(grabens and sub-grabens) (figs 2, 3, 15), were defined boundary) a widespread erosional surface had devel-
and related in a novel approach to the Mesozoic and oped (Japi Erosional Surface, abbreviated as SAJ) and
Cenozoic geological evolution of the overall continen- leveled the top of the highlands at around 2 000 m
tal margin, hereinafter Cenozoic Rift System of (in relation to current sea level).
Southeastern Brazil (abbreviated as SRCSB). In our sce- This mega-plateau adjacent to the subsiding
nario, the rifts are much larger than the restricted sed- Santos and Campos Basins created an isostatically
imentary deposits, referred to as basins in this study. unstable situation. Gravitational collapse began
The mountain ranges that step down to sea level, the around 7 m.y. after the K/T boundary, towards the
intervening alluvial/fluvial and littoral plains, the shal- depocenters of the basins. From Late Paleocene to
low basement west of the cretaceous hingeline of the Early Miocene (58-20 Ma) the continental crust broke
Santos and Campos Basins, all represent a major up and collapsed into a series of grabens, thus form-
Cenozoic extensional domain developed by gravita- ing corridors (rifts) parallel to the current coastline.
tional collapse of a Late Cretaceous mega-plateau, The deduced orientation of extension ran along a
herein called Cretaceous Serra do Mar (abbreviated as S51E direction, slightly oblique to the overall elonga-
SMC). In order to understand the reasons for such fail- tion (N54E) of the plateau. Left-lateral transtension so
ure the evolution of the highlands had to be tracked developed originated right-stepping grabens at the
back to its beginnings in the Early Coniacian. From this easternmost portion of the area. The ancient eastern
point on, the entire continental crust of Southeastern edge of the SMC coincided with the present-day cre-
Brazil underwent epeirogenic uplift, and was intensive- taceous hinge line of the Santos and Campos Basins.
ly intruded by alkaline and basic magmatism, until it Nowadays the topographic remnants of the mega-
stopped at the K/T boundary. plateau form the highest parts of the Mantiqueira
autor author
300 Origem e evolução estrutural do Sistema de Riftes Cenozóicos do Sudeste do Brasil - Zalán e Oliveira