O Cone Do Amazonas
O Cone Do Amazonas
O Cone Do Amazonas
Geociências
Geosciences
O Cone do Amazonas,
bacia da Foz do Amazonas -
uma nova discussão
The Amazon Fan, Foz do Amazonas
basin - a new discussion
The Amazon Fan, located in the deep-sea Foz do Amazonas Basin on the Brazilian
Equatorial Margin, is one of the largest submarine fan systems in the world. It´s
most important features are shale diapirism and a linked extensional-compressional
system on a basal detachment. In this paper, we re-interpreted six seismic reflection
lines to provide new insights into the gravity tectonics of controversial age. On
seismostratigraphic data, we recognized the acoustic basement and six sedimentary
units. Extensional faults rooting into a detachment revealed seaward decreasing age,
pre- to syn-tectonic with respect to the gravity sliding, and rare activity in the faults
at present. For basal detachment became active during Mioceno Superior. Suggested
is the basal portion of the paleocenic Travosas Formation that in consequence of an
overload caused by the deposition of the Pará Group.
1. Introdução
A bacia da Foz do Amazonas Cone Superior a uma instabilidade gra- seriam altas taxas de sedimentação e
localiza-se no extremo norte da Mar- vitacional, que teria sido causada pelo deformação, associadas à movimenta-
gem Equatorial Brasileira (Figura 1) e declive da borda da plataforma e pela ção de argilas sobrepressurizadas. Reis
ocupa uma área total de 268.000 km2 ocorrência de argilas sobrepressuriza- et al. (2007) analisaram cerca de 9.000
(Brandão & Feijó, 1994). Segundo Bru- da. A interpretação foi, posteriormen- km de dados 2D de sísmica multicanal
no (1987), 55% dessa área corresponde te, balizada por Bruno (1987) e Silva e identificaram duas superfícies de des-
à plataforma continental, que se estende e Maciel (1998). Enquanto o primeiro colamento. Os autores, no entanto, des-
até a cota batimétrica de 200 m, e 45%, sugere que o deslizamento gravitacional crevem apenas o descolamento superior
à região de águas profundas, conhecida estaria associado às camadas argilosas e confirmam o modelo de Bruno (1987)
como o Cone do Amazonas. Segundo Fi- da Formação Orange, plio- a pleistocê- de que um processo de deslizamento
gueiredo et al. (2007), o Cone do Ama- nicas, Silva e Maciel (1998) relacionam gravitacional teria ocorrido, como re-
zonas contém mais de 50%, em volume, o processo, ao topo da Formação Limo- sultado de sobrecarga sedimentar dife-
dos sedimentos pós-rifte, provenientes eiro, de idade cretácica. Tese diferente é rencial (progradação sedimentar), em
da cadeia montanhosa dos Andes, após apresentada por Cobbold et al. (2004), um nível móvel de argilas sobrepressu-
o seu soerguimento e a formação do rio a qual exclui a tectônica gravitacional rizadas (folhelhos) do cone deltáico.
Amazonas, no Mesomioceno. Os sedi- como causa da configuração estrutu- Apesar das inúmeras pesquisas
mentos teriam sido depositados em cerca ral do leque submarino. Esses autores científicas já efetuadas na área em foco
de 10% do tempo da fase pós-rifte. também interpretam o principal desco- e do grande interesse econômico da re-
Segundo Damuth e Kumar (1975), lamento na seqüência cretácica (Forma- gião da bacia do Cone do Amazonas, o
o Cone do Amazonas é dividido, no ção Limoeiro), no entanto o descrevem estágio atual dos conhecimentos ainda
sentido da planície abissal, em três do- como superfície suborizontal. As es- é insatisfatório. As principais questões
mínios estruturais: um interno, o Cone truturas distensionais estariam relacio- controversas são o posicionamento do
Superior, junto à quebra da plataforma nadas a processos de sobrepressuriza- descolamento basal e a relação crono-
carbonática, caracterizado por falha- ção de sedimentos areníticos. Segundo lógica entre sedimentação e tectônica.
mentos normais, soterrados; um inter- Zalán (2005), o Cone do Amazonas Com o intuito de contribuir para o co-
mediário, o Cone Médio e, um externo, constitui um típico cinturão de do- nhecimento dessas questões, seis linhas
o Cone Inferior, que se distingue pela bras e falhas gravitacionais, nos quais sísmicas de reflexão regionais foram
presença de diápiros de argila. os sistemas distensivos e compressivos reinterpretadas e construíram-se mapas
Schaller e Dauzacker (1986) atri- são conectados entre si por um desco- de contorno estrutural e de isópacas das
buem as estruturas distensionais do lamento basal. Outras características principais unidades.
A B
Figura 1
A) Mapa de localização da bacia
da Foz do Amazonas, sem escala
(modificado de Bruno, 1987).
1- Cone do Amazonas (domínio interno);
2- Cone do Amazonas (domínio externo);
3- Calhas oligocênicas;
4- Plataforma carbonática;
B) Mapa de localização das seis linhas
sísmicas utilizadas nesse trabalho.
2. Geologia e litoestratigrafia
No presente trabalho, adotou-se, processo de rifteamento da bacia da Foz Médio e do Mioceno Médio ao Holoceno.
para a bacia da Foz do Amazonas, a li- do Amazonas se inicia no Jurássico (fase A Seqüência do Cretáceo Superior
toestratigrafia proposta por Brandão e rifte I) e se estende ao Cretáceo Inferior ao Paleoceno é representada pela Forma-
Feijó (1994), que também é empregada na (fase rifte II), no qual, durante o Aptiano/ ção Limoeira, que foi estudada em de-
nova carta estratigráfica de Figueiredo et Albiano, ocorre a separação dos continen- talhe por Schaller et al. (1971). Trata-se
al. (2007). No entanto, a ausência de da- tes no Atlântico Equatorial. A partir do de sedimentos fluviais, intercalados com
dos de poços impediu uma caracterização Cretáceo Superior, desenvolve-se a bacia depósitos flúvio deltáicos, neríticos e ba-
completa das seqüências, o que levou a da Foz do Amazonas, durante a tectônica tiais. Em estudo recente, Figueiredo et
apresentação de uma nomenclatura sim- drift, como uma bacia de margem pas- al. (2007) descrevem para esta sequência
plificada (Tabelas 1 e 2 e Figura 2), base- siva. Nessa bacia, ocorre a deposição de uma predominância de folhelhos e silti-
ada apenas em características sismoestra- três seqüências sedimentares distintas: as tos. A seqüência do Paleoceno Superior
tigráficas. seqüências do Cretáceo Superior ao Paleo- ao Mioceno Médio caracteriza um sis-
Segundo Brandão e Feijó (1994), o ceno, do Paleoceno Superior ao Mioceno tema flúvio-deltaico, com clásticos finos
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Figura 2
Linha sísmica 239-40, da região do Cone
do Amazonas, mostrando as seqüências
interpretadas nesse trabalho.
As linhas amarelas representam falhas
normais pós-rifte e as vermelhas, falhas
normais sin-rifte e do embasamento.
Os números 1, 2 e 3 indicam depocentros
nas seqüências Sin-Cone I e II.
a grosseiros (a Formação Marajó), com lacionada com a Orogenia Andina carac- fas e carbonatos terrígenos; a Formação
uma plataforma carbonática, com carbo- teriza um enorme leque submarino. Essa Pirarucu, constituída por arenitos finos
natos de água rasa (a Formação Amapá) seqüência deltaica compõe o Grupo Pará e argilitos prodeltáicos de leques subma-
e com um sistema de folhelhos de talude (Schaller et al., 1971) com três formações: rinos (argilitos, arenitos muito finos, sil-
com calcilutitos (a Formação Travosas). a Formação Tucunaré, representada por titos e folhelhos); e a Formação Orange,
A seqüência deposicional mais nova da arenitos grosseiros de origem fluvial, gra- um espesso pacote pelítico constituído
bacia da Foz do Amazonas que está re- dando para arenitos finos de costa, tur- por folhelhos, siltitos e argilitos.
3. Metodologia de trabalho
Seis seções sísmicas de reflexão de ganho para cada amostra do dado, zados pela presença de grandes falhas
(Figura 1) foram reinterpretadas, utili- tendo como base uma média estatística normais lístricas, com geometria pre-
zando-se o software SeisWorks da Lan- de amplitudes dentro de uma janela de dominantemente sintética, no domínio
dmark Graphics. Por falta de dados de tempo ao redor da amostra. O objetivo proximal, e sintética e antitética, no
poços, as seções sísmicas estudadas não geral do AGC é a normalização da mé- domínio central (por exemplo, Figura
foram migradas para a profundidade e dia das amplitudes dentro de uma jane- 5B). No domínio distal, falhas reversas
não se efetuou uma discussão sobre a la para o valor de um. Esse procedimen- e diápiros, de geometria cilíndrica ca-
morfologia da base do descolamento da to foi realizado utilizando o PostStack racterizam uma região compressiva do
região do Cone do Amazonas. da Landmark. Cone do Amazonas.
A interpretação do dado sísmico A interpretação sísmica baseou- No programa SeisWorks da Lan-
consistiu na análise da imagem obtida se na identificação de configurações dmark Graphics, confeccionaram-se,
pelo processamento das informações internas e externas do traço sísmico também, mapas de isópacas e de con-
adquiridas, para entendimento do con- para análise de padrões estratigráficos torno estrutural. No entanto, no pre-
texto geológico da bacia sedimentar. erosionais, deposicionais e geométricos, sente trabalho, esses mapas ilustrarão
Com o intuito de melhorar a visualiza- conforme descrito por Macurda (2005). apenas a Seqüência Pré-Cone II. As se-
ção dos dados sísmicos 2D, foi aplicado Para a descrição das seções sísmi- ções sísmicas e os mapas encontram-se
um filtro de ganho, o Automatic Gain cas, elas foram divididas em três domí- em ms (milisegundos) TWT (Two Way
Control (AGC), utilizando-se uma nor- nios estruturais: proximal (região SW, Time - tempo duplo). Com exceção da
malização do valor médio e uma janela da quebra da plataforma carbonática), linha 239-56, a única em posição strike,
operacional de 500 ms, em todas as se- central e distal (região NE, dos diápi- todas as seções são apresentadas com
ções sísmicas. O AGC aplica um valor ros). Os dois primeiros são caracteri- respectiva interpretação na Figura 5.
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O Cone do Amazonas, bacia da Foz do Amazonas - uma nova discussão
A grande profundidade do emba- nica, apresenta-se mais visível na Figu- et al. (1989), os refletores da crosta tran-
samento dificultou o reconhecimento ra 4A (detalhe da seção sísmica 239-41, sicional refletem a presença de material
de seu topo a partir dos critérios nor- da Figura 5C). A crosta continental foi mantélico dos estágios que precederam
malmente empregados, de maneira que reconhecida a partir da análise da am- a formação e o espalhamento da crosta
a sua delimitação se baseou não apenas plitude do dado sísmico e pelos padrões oceânica. O topo da crosta oceânica foi
em conceitos de sismoestratigrafia, mas, dos refletores, do tipo ondulado e con- reconhecido pela presença de refletores
também, em estudos prévios (Olivei- torcido (Tabela 2). Os padrões ondula- paralelos e subparalelos na unidade que
ra, 2003 e Rodarte, 2001). O topo da dos e subparalelos indicam a presença corresponde à sua cobertura sedimentar
crosta continental, de transição e oceâ- de crosta transicional. Segundo Sperle (Fowler, 1990).
Refletores sísmicos
Nomenclatura
Padrões estratigráficos, erosionais Figuras
simplificada Padrões geométricos
e deposicionais
Downlaps em direção à
Sin-Cone II X 4G
porção distal
Seqüência Rifte
A Seqüência Rifte (formações Calço- 4B e 5). Às vezes, observa-se, também, um A oeste, na região da crosta continental,
ene e Caciporé) é caracterizada, nas seções padrão geométrico ondulado. a seqüência é cortada por falhas normais
sísmicas, por refletores de padrão parale- Essa seqüência constitui em todas de pequeno rejeito, que se estendem até
lo a subparalelo a ondulado e sucessões as seções sísmicas uma unidade de espes- o embasamento subjacente e, freqüente-
de sinais de alta variação de impedância sura relativamente constante que acunha mente, também, até a unidade sobreja-
acústica, em quase toda a região (Figuras e desaparece sobre a crosta transicional. cente, do Pré-Cone I.
Sequência Pré-Cone I
Os refletores da Seqüência Pré- nica e lenticulares sobre a crosta conti- mente forte, é reconhecida nas linhas
Cone I (Formação Limoeiro) são ca- nental (Figura 4C). 239-40, 239-121,122,123 e 239-41
racterizados por fortes variações locais Em todas as seções sísmicas, ob- (Figuras 5A, B e C), que sugere um
de impedância acústica. No topo dessa serva-se que essa unidade sofre ligeiro processo de ascensão de material sob
seqüência, os refletores se apresentam espessamento no domínio distal. Uma blocos da lapa de falhas normais, so-
paralelos/subparalelos na porção oceâ- outra variação de espessura, relativa- brejacentes.
Sequência Pré-Cone II
A Seqüência Pré-Cone II (Forma- cas por um sinal com amplitude bastan- zonas (Figuras 4D e 5B). Os refletores
ções Marajó, Amapá e Travosas - porção te forte, mais facilmente identificável na possuem padrão paralelo a subparalelo,
inferior) é reconhecida nas seções sísmi- parte central da região do Cone do Ama- contorcido e segmentado.
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Figura 3
Mapas da Sequência Pré-Cone II
A) de Contorno Estrutural (topo) e
B) de Isópacas. Escala em ms TWT
(tempo duplo). A B
Um grande número de feições es- de espessura caracterizam essa seqüên- da posição exata da base dos diápiros.
truturais e estratigráficas é observado cia. Em todas as linhas sísmicas se ob- Os diápiros furam as seqüências
nessa seqüência. Assim, por exemplo, as serva um espessamento da Seqüência sobrejacentes ou as empurram no sen-
falhas normais lístricas que caracterizam Pré-Cone II na região distal. Na seção tido ascendente, formando estruturas
o arcabouço estrutural da região proxi- 239-121,122,123 (Figura 5B), um forte antiformais (Figuras 4A - D). Esse fato,
mal e central do Cone do Amazonas ter- afinamento se reconhece nos domínios associado à presença de onlaps, até na
minam na região basal dessa unidade. proximal e central, onde essa seqüência base da sequência Sin-Cone I (Figuras
Essas falhas, de rejeitos variáveis, nas- quase desaparece. A variação de espes- 4E e F), sugere ascensão contínua de ma-
cem no interior da seqüência Sin-Cone sura sugere ter ocorrido fluxo sedimen- terial móvel da Seqüência Pré-Cone II
II, mas raramente se estendem até o topo tar, no sentido offshore. O aumento de até o Recente.
dessa unidade. No domínio distal, ocor- espessura e as falhas reversas, na porção No mapa de contorno estrutural
rem falhas reversas nucleadas na base distal, indicam desaceleração do proces- (Figura 3A), reconhece-se, na porção
dessa seqüência. Flexões antiformais so de fluxo, em um ambiente compressi- distal do cone, um alto alongado, na
podem ocorrer acima das falhas reversas vo, possivelmente associado à ligeira as- direção NW-SE, e estruturas circulares.
(por exemplo, na porção distal da seção censão do topo da Seqüência Pré-Cone I, Essas feições corroboram, em planta, o
239-46, Figura 5E) e indicam ligeiro que teria agido como obstáculo. espessamento da seqüência e os diápiros,
deslocamento ascendente dos blocos da A análise cuidadosa do domínio respectivamente. Além disto, observa-se,
capa (possivelmente pequenos fault-pro- distal de todas as seções sísmicas per- na porção central, um baixo alongado,
pagation folds). A confluência das falhas mite reconhecer um conjunto de feições também na direção NW-SE, que pode
normais e reversas à base da Seqüência do tipo onlaps, que caracteriza estrutu- ser correlacionado ao afinamento da se-
Pré-Cone II sugere que o descolamento ras diapíricas ascendendo do interior da qüência. O mapa de isópacas (Figura 3B)
principal da região, em estudo, se situe Seqüência Pré-Cone II. A presença de confirma a interpretação, mostrando es-
nessa posição. pull-ups nos refletores da Seqüência Pré- pessamento e afinamento da seqüência
Além das falhas, fortes variações Cone II impossibilitou a determinação em posições equivalentes.
A B
C D
Figura 4
Detalhes das seis seqüências
sedimentares e do embasamento E F
(localização nas seções
sísmicas da Figura 5).
A) Embasamento; B) Seqüência Rifte;
C) Seqüência Pré-Cone I; D) Seqüência
Pré-Cone II; E) Seqüência Pré-Cone III;
F) Seqüência Sin-Cone I e G) Seqüência G
Sin-Cone II. Em (E) e (F), o traço verme-
lho representa o topo de um diápiro.
As setas indicam em (A) o topo do
embasamento; em (B), (C), (D) e (G),
fortes variações de impedância
acústica; e, em (E) e (F), onlaps na
base da Sequência Sin-Cone I.
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Figura 5
As seções sísmicas interpretadas
(escala vertical em ms TWT).
A) Seção sísmica: 239-40.
B) Seção sísmica: 239-121, 239-122, 239-123.
Esta linha foi obtida através da junção
automática (Point to Point) do Seisworks.
C) Seção sísmica: 239-41
D) Seção sísmica: 239-42
E) Seção sísmica: 239-46
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As seções sísmicas mostram a Se- no sentido offshore (Figuras 5A, B e C). tral, não possuem causas claras. A prin-
qüência Pré-Cone III (Formações Marajó, Nessa seqüência, muitas falhas nor- cípio, poderiam ser atribuídas à rotação e
Amapá e Travosas – porção superior) ca- mais ainda exibem rejeito significativo, o ao arqueamento de estratos, configuran-
racterizada por um sinal com fortes varia- que sugere sedimentação pré-tectônica. do anticlinais de roll-over, ou constituir
ções de impedância acústica (Figura 5B). As fortes flexões antiformais, que carac- o resultado da acomodação da seqüência
Ao contrário da seqüência subjacente, esta terizam algumas regiões do topo dessa fruto da forte afinamento da unidade
apresenta espessura levemente decrescente seqüência, nos domínios proximal e cen- subjacente.
Seqüência Sin-Cone I
A sedimentação da Seqüência Sin- qüência Sin-Cone I apresentam um pa- to a sua base quanto o seu topo (região
Cone I (Grupo Pará - porção inferior) re- drão de grande variação lateral de im- central da Figura 5A). Além disto, obser-
presenta o início do desenvolvimento do pedância acústica e é possível observar vam-se, nessa seqüência, falhas de cresci-
pacote sedimentar do Cone do Amazo- toplaps em seu topo e onlaps na base mento com estratos da capa rotacionados
nas (Brandão & Feijó 1994). A seqüência (Figura 4F). (na Figura 2, indicado pelos números 1 e
deposicional é relacionada à expressiva A análise cuidadosa das seções sís- 2), indicando sedimentação sintectônica.
carga sedimentar siliciclástica oriunda micas revela que as falhas normais, no in- As seções sísmicas revelam, também,
da bacia Amazônica, durante a Orogenia terior dessa seqüência, possuem compor- que os diápiros do Pré-Cone II, ainda fu-
Andina. Esta causou a inversão do rio tamento diferenciado: algumas deslocam ram ou deslocam o topo da seqüência Sin-
Amazonas e, em conseqüência, a cons- apenas a sua superfície basal (extremo Cone I (Figuras 5A e D). O fato demonstra
trução de um leque submarino. sudoeste, do domínio proximal, Figura que essas estruturas eram ativas até o final
Os refletores que compõem a Se- 5A) e outras cortam (e deslocam) tan- da deposição da Seqüência Sin-Cone II.
Seqüência Sin-Cone II
Essa seqüência, mais nova do Cone normais não se estende até o topo da 2), onde ocorre uma flexão sinformal.
do Amazonas, mostra padrões de down- Seqüência Sin-Cone II (Figuras 5A-C), o Uma evidência para esse espessamento é
laps em direção à região distal do leque que sugere que a atividade dessas falhas visível apenas na seção 239-121,122,123
(Figura 4G). diminuiu com o tempo. É interessante (Figura 5B), onde esse espessamento está
No sentido da plataforma con- notar, ainda, que a espessura dessa se- associado ao forte rejeito de uma falha
tinental, um grande número de falhas quência cresceu na região central (Figura normal, subjacente.
A análise estrutural das seis seções mostram rejeito apenas em sua porção domínio distal. Esta teria ocorrido em
sísmicas revela uma nítida diferença nos inferior, quando deslocam o topo das decorrência de um obstáculo no antepa-
estilos estruturais entre o conjunto em- Seqüências Pré-Cone I, II e, ocasional- ís, possivelmente, o leve espessamento da
basamento/Seqüência Rifte e a seqüência mente, o topo da Seqüência Pré-Cone III unidade Pré-Cone I, subjacente.
drift do Pré-Cone I, II e III e Sin-Cone I (região sudoeste das Figuras 5A, B e C). As unidades das Seqüências Pré- e
e II. Além disto, nota-se um comporta- É interessante notar, no entanto, que, no Sin-Cone se diferenciam entre si pela for-
mento diferenciado entre as unidades do domínio central, região das falhas sin- ma como ocorre a variação da espessura.
Pré- e do Sin-Cone. téticas e antitéticas, o deslocamento das Nas Seqüências Sin-Cone I e II, existem
Todas as seções sísmicas expõem, falhas afeta, também, as seqüências so- três domínios de altas espessuras (Figura
na Seqüência Rifte e no Embasamento, brejacentes, mais novas (Sin-Cone I e II). 2). Apesar de a relação com falhas nor-
falhas normais de baixo rejeito, relativas O fato sugere que a idade relativa das es- mais só ser evidente na linha sísmica da
à fase rifte da bacia. Apesar de a Seqüên- truturas distensivas decresce do domínio Figura 5B, sugere-se aqui a ocorrência de
cia Pré-Cone I mostrar, em sua base, proximal à região central e que as falhas três depocentros, formados progressiva-
ainda, estruturas da tectônica rifte, a es- mais velhas são pré-tectônicas em relação mente. Já, nas sequências do Pré-Cone,
truturação das Seqüências Pré-Cone II e ao processo de deslizamento gravitacio- especialmente, no Pré-Cone II, há de-
III e Sin-Cone I e II não sugere qualquer nal, que caracteriza a área de estudo. créscimo de espessura na região central
controle da tectônica do embasamento No domínio distal, falhas reversas e aumento na porção distal (Figura 5B).
na sua configuração. e diápiros, de geometria cilíndrica, carac- A configuração do sistema de fa-
A Seqüência drift é caracterizada, terizam a região do Cone do Amazonas. lhas, cujas estruturas ou convergem para
nos domínios proximal e central, pela Para a formação das falhas reversas e a base do Pré-Cone II (as falhas normais)
presença de grandes falhas normais lís- dos diápiros, as seções sísmicas estuda- ou dela divergem (as falhas reversas),
tricas, sintéticas e antitéticas. Na região das permitem sugerir desaceleração de sugere que, nessa região, ocorra a zona
proximal, as falhas normais sintéticas fluxo sedimentar de um nível móvel, no de descolamento basal. A principal ati-
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O Cone do Amazonas, bacia da Foz do Amazonas - uma nova discussão
vidade tectônica do descolamento basal A Formação Travosas (da Seqüên- do Cone do Amazonas, os autores lhe
é relacionada a um processo de mobili- cia Pré-Cone II) foi descrita por Brandão conferem a mesma composição das ba-
zação de folhelhos, na base do Pré-Cone e Feijó (1994) como um sistema de folhe- cias vizinhas. A predominância de folhe-
II. Esta teria ocorrido em decorrência à lhos de talude com calcilutitos, de sedi- lhos na Seqüência Pré-Cone II (Formação
progressiva sobrecarga causada pela de- mentação regressiva. Apesar de não ter Travosas), fato confirmado por Figueire-
posição das Seqüências do Sin-Cone. sido atingida por nenhum poço na região do et al. (2007), baliza a referida tese.
A diferença básica entre o modelo Além disto, reconheceu-se uma idade de- de diápiros na região distal da bacia e a
de Bruno (1987) e a interpretação aqui crescente das falhas normais, no sentido sua relação estrutural com o sistema de
apresentada diz respeito ao posiciona- distal, de pré- a sin-tectônico em relação falhas compressivas e distensivas, todas
mento do descolamento basal no Cone à tectônica gravitacional. Isto significa as estruturas conectadas entre si, consti-
do Amazonas e à origem dos diápiros de que o descolamento basal se formou em tuem forte indício de que o descolamento
argila. Segundo o autor, a instabilidade uma unidade rochosa mais antiga que o basal tenha se desenvolvido em camadas
gravitacional foi induzida pela deposição Sin-Cone I. de folhelhos. Além disto, tanto as seções
do Grupo Pará, sobre uma espessa seção Cobbold et al. (2004) posicionam sísmicas quanto o mapa de localização
de argilas mal-compactadas da Forma- o descolamento basal próximo ao topo (Figuras 5 e 1, respectivamente) mostram
ção Orange, no Mioceno Superior. da seqüência cretácica (Formação Limo- que as seqüências sedimentares da região
No presente trabalho, a atividade eira), portanto próximo à posição aqui do Cone do Amazonas se situam sobre
tectônica da região do Cone do Amazo- interpretada. No entanto, os autores ca- uma superfície em declive.
nas é, também, relacionada a um desli- racterizaram o descolamento basal como É importante lembrar, ainda, que
zamento gravitacional. No entanto, não uma superfície horizontal, de compor- o sistema compressivo aqui descrito
se encontraram evidências para o posi- tamento dúctil, formada em sedimentos revelou a presença de diápiros e falhas
cionamento do descolamento na camada areníticos sobrepressurizados. reversas simples, sem nenhuma com-
basal do cone, como também preconi- Os dados disponíveis, no presente plexidade, o que, segundo Zalán et al.
zam Schaller e Dauzacker (1986) e Reis trabalho, não permitem uma discussão (2005), caracteriza processos argiloci-
et al. (2007). No presente estudo, uma mais detalhada sobre as características néticos, induzidos por sobrecarga sedi-
mobilização de folhelhos foi reconheci- composicionais e de reologia do desco- mentar, deslizamento do pacote sobre-
da no interior da Seqüência Pré-Cone II. lamento basal. No entanto, a presença jacente e compressão.
6. Conclusões
As principais conclusões sobre a região do Cone do Amazonas se ori- ciou após a deposição da Seqüência
análise do conjunto de dados levanta- ginaram na Seqüência Pré-Cone II Pré-Cone II, foi intensa durante a se-
dos na região do Cone do Amazonas em decorrência do espessamento do dimentação da Seqüência Sin-Cone
são as seguintes: material argiloso, no domínio dis- I e diminuiu na época da deposição
a) O descolamento basal se formou na tal, quando sua movimentação foi do Sin-Cone II.
porção basal da Formação Travosas barrada por uma ligeira ascensão da f) O deslizamento gravitacional ocorreu
(Sequência Pré-Cone II), possivel- seqüência subjacente. no Mioceno Superior, em decorrên-
mente em camadas de argilitos so- d) Os diápiros foram ativos até o fi- cia da sobrecarga exercida pelas se-
brepressurizadas. nal da deposição da Sequência Sin- qüências sedimentares do Sin-Cone.
b) Na Sequência Pré-Cone II, ocorre Cone II. g) Uma variação de espessura, nas se-
uma variação de espessura que pode e) O sistema de falhas distensivas, das qüências do Sin-Cone, caracteriza
ser relacionada a uma tectônica de regiões proximal e central, possui um processo deposicional, de migra-
deslizamento gravitacional. idade decrescente no sentido off- ção de depocentros, da região proxi-
c) Os diápiros e as falhas reversas da shore. A formação das falhas se ini- mal à distal.
7. Agradecimentos
Os autores expressam os seus since- ções e pessoas: à Universidade Federal de ANP (pela liberação das linhas sísmicas)
ros agradecimentos às seguintes institui- Ouro Preto, à Halliburton/Landmark, à e ao revisor anônimo.
8. Referências bibliográficas
REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 64(4), 429-437, out. dez. | 2011 437