5 - Grego Arrogante - Aline Sant'Ana
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Assim que encarei nossos pais, percebi que tinha alguma coisa
errada. E não em um sentido de “estamos em guerra”. Era mais como:
“vamos aprontar com vocês”. Os dois estavam rindo e bebendo Uzo, uma
bebida típica do meu país com até 50% de índice alcoólico. Apesar da
dose em suas mãos ser pequena, eu pude ver que estavam comemorando
alguma coisa e a felicidade não tinha nada a ver com a quantidade de
álcool ingerido. Não estavam altos e nem bêbados. Era mesmo uma
comemoração.
Eles bateram um copo no outro e gritaram: Opa!, uma frase que dizia
que estávamos celebrando.
Cruzei os braços na frente do peito, irritado com aquilo, e me sentei
quando os dois pediram para nos acomodarmos no sofá de dois lugares,
de frente para eles. Meu braço roçou em Alexia quando ela se acomodou,
e senti que ela tentou ir mais para o lado e suspirou quando não
conseguiu.
Giannis, meu pai, estava sentado sobre sua mesa de madeira,
encarando-me como se tivesse um segredo a compartilhar. Petros, pai de
Alexia, estava com um semblante divertido enquanto olhava a filha.
— Certo, vocês vão dizer o que está acontecendo ou vai ser um
mistério?
— Sabe, filho. — Meu pai abandonou a pequeno copo de Uzo, já
vazio, e abriu um sorriso para mim. — Eu e Petros esperamos por isso
durante muitos anos e esse dia finalmente chegou.
— E que dia é esse, senhor Giannis? — Alexia questionou.
— O dia em que vocês dois vão ter responsabilidade — o pai de
Alexia esclareceu.
Comecei a rir.
— Sério? — Encarei meu pai. — Eu me formei com honras. Trabalhei
como um louco no hotel...
— Já sei tudo o que você fez, filho, e acho incrível, mas não é o
bastante. Você estudou, tirou notas razoáveis e recebeu um sete em seu
estágio final. Acho que estava ocupado demais com as festas na Suíça. É
triste dizer isso, mas você não é responsável. Não o bastante.
Senti os olhos de Alexia em mim, e travei o maxilar, me segurando
muito para não explodir. Meu pai me cobrava além da explicação, talvez
por isso havia uma veia competitiva em mim. Eu queria esfregar na cara
dele que conseguiria qualquer coisa. Apesar de amá-lo, Giannis era
exigente quanto com seu único herdeiro. Ele estreitou o olhar e isso me
fez apertar o braço do sofá.
— Alexia, digo o mesmo para você — Petros soltou.
Não olhei para ela, mas ouvi seu suspiro exasperado.
— Aproveitou muito a faculdade de Economia e me ajudou bastante,
mas falta algo. Se envolveu com um namorado que te distraiu e não era
bom o suficiente. Quando mais precisei de você, estava ocupada curtindo
shows, festas e saindo com suas amigas. Esse é o tipo de comportamento
que me mostra o quanto falta paixão pelo que faz.
— Eu amo os resorts!
— Não o bastante.
Ela começou a rir, sarcástica. Alexia tinha muitas risadas, mas essa
feria o ego de qualquer homem.
— Certo, então vocês nos chamam aqui, como duas crianças que
estão de castigo, para jogarem todos os nossos defeitos e o fato de não
sermos filhos bons o bastante? — Alexia agarrou a bolsa e se levantou. —
Estou caindo fora.
— Não vai ouvir nossa proposta até o fim? — Meu pai encarou
Alexia. — Nossa, Petros. Ela é mesmo sua filha.
O homem abriu um sorriso.
— Se é.
Isso fez Alexia bufar e se jogar no sofá. Ela cruzou as pernas e seu
salto bateu, por acidente, bem no osso da minha perna. Prendi a
respiração porque doeu pra caralho, mas não disse nada. Alexia, sem
olhar para mim, levou sua mão para onde havia batido, sobre a calça,
como se pedisse desculpas. Sua palma aqueceu o lugar e eu abri a boca,
em choque. Durou poucos segundos, e foi tão automático para Alexia que
ela nem se ligou do que tinha feito.
Senti os olhos dos nossos pais em nós.
Sua mão saiu da minha perna.
— Vocês dois têm um espírito competitivo maravilhoso. São como eu
e Giannis — Petros chamou a minha atenção, enchendo o copo com Uzo
mais uma vez. Serviu ao meu pai também e eles brindaram. — O
problema é que dois competiam de forma nada saudável há seis anos, o
que me faz pensar que agora, mais maduros, serão como eu e Giannis.
Não é, amigo?
— Ah, claro. Eu acredito neles.
— O que querem dizer? — perguntei.
— Que vocês dois deverão fazer uma atividade.
— E para que nos submeteríamos a isso? — Alexia rebateu.
— Porque vocês são os futuros donos das redes de resorts Leandros
e Konstantinos. Estamos velhos, não é, Petros? — Meu pai sorriu para o
amigo. — Temos que passar o trabalho para esses dois em uns dez anos.
— Eu quero viajar pelo mundo — o pai de Alexia desabafou.
— Espera. Nós vamos fazer uma atividade que nos dará,
separadamente, os direitos da rede de resorts de vocês em dez anos? —
Me levantei. — Pai, isso é uma loucura. Já sou o herdeiro por direito. Já
provei que sei administrar um hotel. O que mais quer que eu faça?
— Vamos por partes — meu pai esclareceu e puxou uma cadeira
para ele e outra para Petros. — Vocês não devem se preocupar com isso
agora. A única coisa que queremos que façam é...
— Ir para Mykonos — Petros completou.
— E comprar um resort. — Meu pai sorriu.
Eles queriam que...
— O quê? — Eu e Alexia quase gritamos ao mesmo tempo.
— O dono é um pouco...
— Excêntrico — Petros acrescentou.
— E a gente quer o resort dele. Íamos competir pela compra, claro,
oferecendo os recursos e apresentando as propostas — meu pai
continuou. — Mas lembramos do acordo que fizemos há alguns anos:
quando vocês passassem dos vinte, começaríamos a lhes delegar
responsabilidades, se já não fossem responsáveis o suficiente.
Alexia gargalhou.
— Isso é tão irracional e arcaico. O que vamos provar com isso?
— Provarão que são capazes, além de administrar os resorts, a
barganharem em busca de expansão e crescimento. O resort deste
homem, em Mykonos, já está falindo e ele só precisa enxergar isso. Quem
ganhar e oferecer a melhor proposta... — Petros explicou.
— Terá o resort — meu pai arrematou. — Vocês vão ter um resort só
para vocês, enquanto os dez anos não chegam. Vão ter seu dinheiro e
muito mais do que já ganharam até agora. Vão ter responsabilidade e
poderão fazer o que bem entenderem.
Me sentei no maldito sofá quando perdi o chão. Alexia ficou imóvel e
eu finalmente olhei para ela. Nossos pais estavam nos dando a chance de
lutar por algo nosso e, para isso, teríamos que competir. Já fazíamos isso
seis anos atrás, mas nunca nessa proporção. Nunca valendo tanto.
— Temos algumas regras — Petros disse. — Não é para falarem
profissionalmente mal um do outro para o dono do resort. Não podem
voltar para casa até que o dono dê uma resposta definitiva a vocês. É
para ser uma competição saudável e queremos êxito.
Meu sangue começou a circular mais rápido com todas as
informações. Eu ficaria um tempo afastado de tudo, em Mykonos, com
Alexia. Competiríamos pela compra de um resort que poderia ir para o
lado Leandros ou Konstantinos. Isso era quase como a Guerra Civil dos
Vingadores.
Alexia me encarou, os olhos arregalados, as bochechas vermelhas.
Realmente fodeu.
Ela olhou para frente e eu também.
Como não dissemos nada, eles interpretaram da forma que
quiseram.
— Isso significa que vocês estão dentro, certo? — Meu pai sorriu.
Eu não estava dentro de nada, mas Alexia se levantou e disse sim
antes que eu pudesse responder. Ela queria essa oportunidade e seu pai
entregou nossas passagens para Mykonos, lançando-me um olhar.
— Vocês serão ótimos competidores.
— Não podemos contestar essa ideia? — perguntei.
— Não se quiserem o resort. E tenho certeza de que, assim que
pisarem em solo firme... ah, aquele resort... — Meu pai suspirou. —
Amigo, eles trarão para um de nós. Acho que isso merece outro brinde.
— Estou dentro.
— Ótimo! — Giannis Konstantinos suspirou. Acho que, naquele
instante, eu odiei um pouco o meu velho. — Agora, vamos comer, porque
já estou faminto!
No que tínhamos nos metido?
Encarei Alexia e, em seu rosto, não havia nenhuma resposta. Apenas
a constatação do absurdo e o choque, assim como tinha certeza que
estava o meu.
— Como assim só tem um quarto? — praticamente gritei para a
recepcionista, espalmando as mãos sobre a bancada.
— Estamos em uma época de alta demanda. Vocês não fizeram
reserva e, sinto muito, se quiserem, terão que dividi-lo. Caso não
queiram, tem um resort a duzentos e cinquenta quilômetros daqui e
super indico...
— A informação que tive é que estava tudo acertado. Inclusive, o
senhor Alexandros, dono do resort, estava nos esperando.
— Um minuto, por favor.
A mulher pegou o telefone e pediu para conversar com Alexandros.
Eu fiquei, na noite anterior, tentando persuadir meu pai a me
oferecer outra oportunidade, que eu provaria o meu valor comprando
qualquer outro resort que ele quisesse, desde que eu não tivesse que
fazer isso ao lado de Adonis. Qual é, seis anos sem vê-lo, odiando-o por
tanto tempo, e agora teria que competir com ele e dividir uma suíte com
esse homem? Era palhaçada demais para vinte e quatro horas.
Tamborilei os dedos sobre a bancada.
Fora que a viagem até Mykonos foi extremamente esquisita. Eu e
Adonis trocamos farpas durante todo o voo de quarenta e cinco minutos.
E eu não conseguia imaginar nós dois coexistindo em um mesmo espaço.
A recepcionista me encarou e soltou uma notícia chocante:
Alexandros não fazia ideia de quem nós éramos e nada tinha sido
acertado antes.
Nossos pais não nos deram nem uma colher de chá.
Contive a vontade de pegar o celular para gritar com papai quando
senti a presença de Adonis.
— Querida, deixe-me te perguntar uma coisa. — Ele se recostou na
bancada e a mulher suspirou, provavelmente hipnotizada por Adonis. Ele
estava vestindo uma blusa da cor dos seus olhos e o perfume de limão e
pimenta, que parecia tomar cada centímetro quadrado, fechava o caos. —
Não existe outro lugar que eu possa ficar?
As bochechas da mulher ficaram vermelhas. O cretino estava
pedindo, de verdade, a cama dela para dormir? Senti uma espécie de
revolta pulsando em minhas veias. Como ele conseguia ser tão
descarado? Estava prestes a mandar Adonis calar a boca quando vi a
reação da mulher.
— Eu... eu...
— Pago o valor que você quiser.
Ela baixou os olhos e encarou a aliança em seu dedo.
Adonis se afastou.
Eu abri um sorriso tão largo por ele ter recebido uma recusa que
meu dia ficou cem vezes melhor.
— Eu sinto muito. Se quiserem o quarto...
— Teremos que dividi-lo — acrescentei.
Me afastei da bancada e puxei Adonis para um canto. Ele estava com
um sorriso divertido. Tentei focar no que tinha que falar com ele.
Esperava que esse choque pela beleza de Adonis passasse com algumas
horas de convivência.
— Vou pedir camas separadas — avisei.
— Claramente.
— E nossos pais pediram para a gente não falar mal
profissionalmente um do outro para o Alexandros, então, se comporte.
— Uhum.
— Outra regra: nada de andar pelado pelo quarto.
Adonis ergueu uma sobrancelha e assentiu em concordância, mas vi
malícia em seu olhar.
Revirei os olhos e nem respondi, embora meu corpo tenha se
rendido ao que meu cérebro criou. Adonis a alguns passos de mim, sem
cueca, andando pelo quarto, o corpo todo malhado, bronzeado e...
Você não odeia ele, Alexia?, uma parte do meu cérebro gritou. Mas o
beijo dele foi tão bom há seis anos... meu corpo cantou. Assumo, eu menti
para Adonis porque, sinceramente, naquela época, eu não queria que ele
saísse por cima.
Voltei para a bancada e respirei fundo umas duas vezes antes de
dizer:
— Eu quero o quarto que você tiver.
A recepcionista abriu um sorriso e senti Adonis chegar tão perto de
mim que seu peito colou no meu braço. Dei uma leve cotovelada nele, o
que o fez se aproximar ainda mais. Adonis estendeu seu cartão de
crédito.
— Passe o valor integral aqui, por favor.
— Quanto tempo vão ficar?
— Pode deixar em aberto? — Adonis quis saber.
— Claro.
Lancei um olhar para ele. E foi um erro imperdoável. Com Adonis
assim, eu podia ver bem o formato da sua boca e como a barba tornava
seus lábios ainda mais convidativos.
— Vamos ser companheiros de quarto agora— sussurrou.
— Por obrigação.
Ele soltou uma risada gostosa.
— É, Alexia. — A atenção de Adonis escorregou para os meus lábios.
— Eu não iria, por escolha, querer conviver com você.
Estreitei os olhos.
— Como se eu amasse estar na sua presença.
— Aqui, os cartões de acesso — a recepcionista nos ofereceu e eu
peguei prontamente. — Tenham uma excelente estadia. Podem deixar as
malas aqui. Levaremos até o quarto de vocês.
Caminhei na direção dos elevadores e apertei o botão repetidas
vezes, tentando abstrair a presença do Adonis. Durante o percurso,
pensei que eu teria um tempo antes de tentar marcar uma reunião com
Alexandros e elaborar uma estratégia. Talvez, mostrar que o ganho
financeiro compensaria a venda do resort.
Precisava me concentrar para fazer isso acontecer, não ter qualquer
distração, porque eu queria muito mesmo esse resort, eu queria poder
administrá-lo e viver disso por dez anos. Era uma tremenda chance que
meu pai estava me dando e, por mais que odiasse a forma como isso
começou, eu não era de deixar uma oportunidade passar.
Quando as portas dos elevadores se abriram, Adonis deu um passo
para frente, colando seu corpo nas minhas costas. Com a boca dele a
centímetros da minha orelha, fiquei arrepiada, enquanto trocava olhares
com ele pelo imenso espelho do elevador.
— Que comecem os jogos — murmurou.
A suíte era um palácio romântico. A sala de estar era imensa, o
banheiro, luxuoso pra caralho, toda a decoração branca e azul-clara, em
homenagem ao meu país. Abri um sorriso quando vi o quarto. As camas
de solteiro pareciam de casal. Assim que as malas foram entregues,
Alexia começou a desfazer a sua, colocando as peças no guarda-roupas.
Cruzei os braços na altura do peito e apoiei o peso do corpo no batente
da porta.
— Você acha que esse espaço todo é seu?
Ela me lançou um olhar por cima do ombro.
— Claro que é. Eu tenho vestidos que amassam.
— E eu, camisas que precisam ficar aí.
Alexia bufou e arrastou os cabides para a direita, me deixando um
micro espaço na esquerda, e voltou a olhar suas roupas. Espiei sua mala e
estreitei os olhos quando me deparei com uma necessaire transparente,
cheia de renda. Calcinhas... hum, que interessante.
— Isso é o que eu consigo para você.
— Eu quero mais. — Voltei a olhar para suas costas. O cabelo de
Alexia estava preso em um coque no alto da cabeça e ela estava de calça
jeans e camisa social branca. Sempre em seus saltos altos coloridos.
Dessa vez, de um amarelo neon.
— Que pena... — murmurou, teatralmente.
— Alexia, não começa assim que eu posso fazer da sua vida um
inferno. — Sorri, por mais que ela não pudesse ver.
Ela parou de mexer nos cabides e se virou para mim, com as mãos na
cintura. Se alguém nos visse agora, diria que estamos casados há pelo
menos uns cinco anos. Na adolescência, eram implicâncias bobas, mas na
convivência... o negócio aperta. Como eu dormiria esta noite sabendo que
Alexia Leandros estava tão perto de mim? A mulher que era o verdadeiro
significado da palavra caos, na mesma medida em que resumia a luxúria.
Tinha alguma coisa naqueles cabelos negros que brilhavam, naqueles
olhos que me puxavam para perto e na sua boca, que só sabia despejar
coisas que me provocavam.
Engoli em seco e Alexia abriu um sorriso.
— Tudo bem, Adonis. Você quer guerra? Teremos. A começar pelo
básico: já se programou para apresentar uma proposta ao Alexandros?
Ergui as sobrancelhas.
— Claro, na noite passada, assim que saímos da reunião.
Isso, de alguma forma, a deixou furiosa.
— Por quê? — joguei. — Não se preparou?
— Já estou tomando providências.
— O que significa que você não tem nada.
— Eu tenho tudo, Adonis.
Alexia virou de costas para mim, o que me deixou apreciar sua linda
bunda redonda e a cintura fina.
— Eu vou dar uma volta. Não esqueça de deixar um espaço para
mim.
— Já vai encontrar o Alexandros?
— Não te conto nem sob tortura.
Ela fechou as portas do guarda-roupas e virou-se para mim. Seu
sorriso me fez estagnar, porque aquele era um sorriso sincero. Um que
nunca a vi oferecer para mim, só para seus amigos e familiares. Alexia
colocou uma mecha do seu cabelo sexy para trás da orelha e começou a
caminhar até mim, movendo os quadris de um lado para o outro, como
modelos fazem na passarela. Talvez eu tenha ficado hipnotizado por um
minuto ou dois e não acreditei quando suas mãos espalmaram o meu
peito. Alexia subiu um pouco na ponta dos pés, mesmo de salto. Meu
coração trotou como um louco e obriguei-me a pensar que era a raiva
que sentia dessa mulher bipolar.
— Então, boa sorte. Eu vou acabar com você de qualquer maneira.
Me veio na cabeça a verdade: Alexia queria jogar sujo.
Me aproximei do seu rosto, e raspei meus lábios bem na maçã,
tomando um tempo ali.
— Não se eu acabar contigo antes.
Me afastei tão rápido que Alexia perdeu o equilíbrio. Ela apoiou a
mão no batente da porta, respirando fundo.
Pelo susto ou porque eu a afetava?
Semicerrei as pálpebras e virei as costas, saindo do quarto com meu
corpo ainda fervendo por aquela mulher.
Será que Alexia Leandros se sentia atraída por mim ou eu estava
enlouquecendo?
Horas mais tarde, depois de dar uma boa volta no resort, conversar
com muitos funcionários e analisar os pontos positivos e negativos, voltei
para o quarto e encontrei Alexia digitando rapidamente no notebook, os
óculos de grau na ponta do nariz. Ela nem se deu conta da minha
presença. Comecei a desabotoar a camisa assim que entrei e foi aí que ela
percebeu que não estava mais sozinha.
Alexia desviou os olhos da tela e focou em mim.
Tirou os óculos e me encarou de cima a baixo, descendo a atenção
quente por meu corpo. Minha respiração ficou suspensa. Terminei de
arrancar a camisa e caminhei até o guarda-roupa, abrindo um curto
sorriso quando vi que ela deixou uma parte um pouco maior para mim.
Pendurei a camisa e pensei em desfazer as malas, quando a voz de Alexia
cortou o silêncio.
— São dez horas da noite, Adonis. Onde esteve esse tempo todo?
Vida de marido e mulher. Eu disse.
— Andei e fiz contatos.
— Hum. — Ela voltou a digitar. Ficamos em um silêncio
surpreendentemente confortável enquanto eu desfazia a mala e Alexia
trabalhava no seu notebook. Assim que acabei, pegue uma boxer e fui até
o banheiro, pronto para tomar um banho. Alexia continuou digitando e
não disse mais nada.
Observei-a.
Acompanhei um pouco da vida de Alexia à distância ao longo do
tempo e, apesar de implicarmos um com o outro, parecia que algo entre
nós havia mudado. Talvez, não mais a birra adolescente, e sim a
consciência da vida adulta. Eu olhava para aquela mulher e isso me trazia
todas as memórias que tivemos desde pequenos. Era estranho conhecer
uma pessoa por anos, se afastar dela e, ainda assim, sentir como se tudo e
nada tivesse mudado.
— O que está olhando, Adonis? — Ela continuou a digitar, sem me
olhar.
— Você tem noção de que nos conhecemos a vida inteira?
Alexia parou de digitar, mas seus olhos se mantiveram fixos na tela.
— Sim.
— E que nos odiamos noventa por cento desse tempo?
Ela riu.
— É.
— Por quê?
Foi o momento de Alexia me encarar. Ela abriu um sorriso e deu de
ombros.
— Porque é assim que a gente faz, Adonis. É assim que somos. Achou
que íamos nos ver depois de seis anos e nos tratarmos com carinho?
Acabei rindo.
— É. Não ia acontecer.
— Jamais.
— E amanhã vamos começar a competir para valer. — Cruzei os
braços e ergui uma sobrancelha sugestivamente.
— Vamos sabotar um ao outro?
Que linda, puta merda.
— Ah, espere tudo de mim, Alexia.
— Vamos ver o que você tem de melhor, então.
Comecei a desabotoar a calça, e Alexia nem desviou os olhos para ver
se eu teria coragem de abaixar o zíper. Mordi o lábio inferior e abri um
sorriso preguiçoso.
— Veremos.
Entrei no banheiro e fechei a porta. Tomei uma ducha longa,
esfriando meus nervos. Era como se eu me sentisse atraído pela disputa
entre nós. Alexia era a única mulher que eu não conseguia dobrar. Fiquei
pensando nisso o tempo todo do banho e, assim que saí, de boxer e
enrolado em uma toalha, vi que Alexia continuava trabalhando no
notebook. Deixei a toalha cair, de propósito, e ela só desviou o olhar
rapidamente.
Suas bochechas ficaram quentes.
E aí estava: Alexia Leandros se sentia mexida por mim.
Ah, caralho. Aquilo foi com uma vitória e uma constatação de algo
que, quando adolescente, não tinha tanta certeza. Mas aquelas bochechas
ficando vermelhas e a olhadinha rápida... Alexia não faria isso a menos
que eu a afetasse de alguma forma.
Me joguei na cama sob o lençol e comecei a puxar a boxer, tirando-a.
Alexia escutou a movimentação e seu rosto se virou para o meu, o olhar
fixo no quadril e no movimento que fazia enquanto abaixava a única peça
de roupa que me impedia de estar nu.
Estiquei o braço e deixei a boxer na gaveta do criado-mudo.
Seu queixo caiu e eu espiei para ver se estava tudo coberto.
O lençol era de ótima qualidade, mas ele se ajustou exatamente no
meu comprimento relaxado. Encarei Alexia, esperando que ela dissesse
alguma coisa.
Alexia piscou umas cinco vezes, sem parar de me olhar ali.
Meu sangue começou a circular mais rápido, a proposta na ponta da
minha língua: quer resolver toda a raiva com uma foda deliciosa? Senti
minhas bolas se contraírem suavemente, e meu pau deu um espasmo
leve.
— O que eu pedi para você, Adonis? — Sua voz falhou.
— Que eu não andasse pelado pelo quarto — murmurei, rouco.
— E o que você está fazendo?
— Estou pelado deitado na cama. É bem diferente de andar pelado. E
eu gosto de dormir sem roupa.
Alexia suspirou fundo e me encarou.
Naquele instante, não houve dúvida.
O olhar de Alexia era lascivo e desejoso. O jeito que ela me encarou
dizia que, se fôssemos diferentes, se fôssemos dois desconhecidos, um já
teria pulado no corpo do outro, porque a atração existia.
Mas nós éramos Adonis e Alexia, competindo por um resort.
Molhei os lábios.
— Boa noite, Alexia.
Toquei o interruptor do abajur.
— Você vai me pagar por isso.
Sorri e mantive o dedo ali por um tempo, antes de desligá-lo.
— Se quiser ficar nua, fique à vontade.
Alexia gargalhou.
— Isso seria óbvio demais.
— Jamais vou privar a sua criatividade. Me surpreenda.
Alexia estreitou as pálpebras.
— Boa noite, Adonis.
Ela desligou o notebook e o colocou sobre o criado-mudo. Em
seguida, virou-se na cama, puxando o lençol até o queixo, cobrindo a
camisola comprida e toda fechada que escolheu para passar a primeira
noite comigo.
É... eu e Alexia éramos delicados. Não como uma rosa. Éramos mais
como uma arma nuclear prestes a ser detonada.
— Alexiaaa, porra! — Escutei o grito de Adonis do banheiro.
Abri um largo sorriso. Eu tinha substituído o papel higiênico por
uma fita adesiva prateada, daquelas que vemos em filmes policiais. Isso
era para, propositalmente, Adonis não saber da reunião que, com muito
custo, consegui marcar com Alexandros.
Adonis merecia isso depois de ficar pelado embaixo do lençol e me
fazer imaginar, nem que fosse por um segundo, como seria aquela parte
da sua anatomia rígida como ferro.
Delicioso e...
Mas, sobre o que eu queria falar mesmo?
Ah! Ontem, digitando no notebook, tive acesso às informações que eu
precisava com o contador do resort. Consegui isso porque descobri que o
contador do senhor Alexandros era o mesmo do meu pai. Enchíamos o
bolso dele de dinheiro e, por mais que fosse antiético da parte dele
oferecer dados tão particulares, bem, o dinheiro sempre ganha.
E, enquanto Adonis circulava pelo resort, eu adicionei o senhor
Alexandros no Facebook e conversei com ele a respeito da possibilidade
de marcarmos uma reunião. O homem era meio... excêntrico mesmo e
disse que, se eu realmente quisesse conversar com ele, que o encontrasse
às nove da manhã na recepção.
Era tudo ou nada.
Terminei de retocar o batom, ouvindo Adonis me xingar mais um
montão de vezes antes de bater a porta e deixá-lo lá, sem papel higiênico.
Alexia 1. Adonis 0.