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Aula 3

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CIÊNCIA E TECNOLOGIA

DOS MATERIAIS

Aula 3 - Utilização de resíduos


sólidos em engenharia

JOÃO VICTOR MARQUES ZOCCAL


Objetivo

Entender os aspectos mais importantes sobre a


utilização de resíduos sólidos na engenharia.

Nesta aula

• Utilizações de resíduos sólidos inorgânicos da indústria


da construção civil

• Utilizações de resíduos sólidos gerados pela indústria


cerâmica

• Utilizações de resíduos de diversas aplicações industriais


Introdução
Resíduos sólidos são materiais heterogêneos,
(incluem materiais inertes, minerais e materiais orgânicos)
resultantes das atividades humanas e da natureza, os
quais podem ser parcialmente utilizados, gerando, entre
outros aspectos, proteção à saúde pública e economia de
recursos naturais. Os resíduos sólidos constituem
problemas sanitários, ambientais, econômicos e estéticos
(QUEZADO, 2010). Os resíduos apresentam-se nos
estados sólido, gasoso e líquido.

São considerados resíduos sólidos industriais os


resíduos sólidos e semissólidos que resultam da atividade
industrial. Ficam incluídos nessa definição os efluentes
dos sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em
equipamentos e instalações de controle de poluição, bem
como líquidos cujas particularidades tornem inviável seu
lançamento na rede pública de esgotos ou corpos d'água,
ou líquidos que exijam soluções técnicas e
economicamente viáveis para isso, de acordo com a
melhor tecnologia disponível (MASSUKADO, 2004).

As decisões técnicas e econômicas tomadas em


todas as fases do trato dos resíduos industriais (manuseio,
acondicionamento, armazenagem, coleta, transporte e
disposição final) deverão estar fundamentadas na
classificação destes. Com base nessa classificação, serão
definidas as medidas especiais de proteção necessárias
em todas as fases, bem como os custos envolvidos
(ALVARENGA, 2008).

Figura 1: Etapas do gerenciamento de resíduos sólidos urbanos: visão geral.


Fonte: http://protegeer.gov.br/rsu/etapas-do-gerenciamento.

De acordo com Massukado (2004), a reciclagem de


resíduos, seja qual for o tipo, tem vantagens em relação à
utilização dos recursos naturais, entre outras: redução do
volume de extração de matérias-primas, redução do
consumo de energia, menores emissões de poluentes e
melhoria da saúde e segurança da população. Por meio da
reciclagem, podemos preservar os recursos naturais,
prolongando sua vida útil e reduzindo a destruição da
paisagem, da fauna e da flora.
Figura 2: Reciclagem de resíduos sólidos
Fonte: http://campograndeambiental.com.br/noticias/o-que-sao-residuos-
solidos-34.

Utilizações de resíduos sólidos inorgânicos


da indústria da construção civil
A quantidade de resíduos sólidos inorgânicos
produzidos pela indústria da construção civil, comumente
denominados de entulho, tem causado problemas
urbanos que se agravaram nos últimos anos, de maneira
que o CONAMA editou em 2002, a Resolução nº 307
(modificada posteriormente), que trata do assunto.

De acordo com a Resolução CONAMA nº 307 (2002),


todas as atividades desenvolvidas na indústria da
construção civil geram descartes, e no aspecto de custos
e o alto índice de perdas têm chamado a atenção tanto
pela geração do resíduo, como pela perda econômica
associada. O trabalho de gestão na construção tem
reduzido essas perdas. Quando se trata de reformas,
geralmente não é aplicado o conceito de reutilizar, gerando
assim o descarte. Já em demolições, o descarte faz parte
do próprio processo.

Por outro lado, os resíduos industriais das várias


áreas da atividade econômica estão presentes no
cotidiano das empresas, e muitas vezes são descartados
em lixões ou em aterros adequados (o que sempre gera
custos adicionais) pela falta de informações ou
conhecimento sobre possibilidades de reutilização ou
reciclagem. O conhecimento desses descartes e algumas
aplicações possíveis já desenvolvidas, pensando sempre
na diminuição da disposição, podem fornecer subsídios
para o gerenciamento de outros resíduos com os quais o
profissional venha a ter contato no futuro (WEBER, 2010).

Quando falamos de entulho, devemos considerá-lo


como uma fonte de materiais de grande utilidade para a
construção civil. A reciclagem na área de construção civil
ocorre por meio da transformação dos resíduos de obras
e de demolição em novos materiais de construção ou na
geração de matérias-primas para aplicações dentro do
sistema.
O processo de reciclagem é realizado em usinas de
reciclagem, ocorrendo inicialmente uma triagem das
frações inorgânicas e não metálicas do resíduo, das quais
são excluídas madeira, plásticos e metais, que são
direcionados para outras empresas do setor de
reciclagem.

Figura 3: Usina de reciclagem de entulho e demolição fixa.


Fonte: https://cutt.ly/sfiamFm.

De acordo com Alves (2014), a reciclagem e o


reaproveitamento do entulho, assim como a diminuição
do desperdício de materiais de construção (mediante uma
gestão correta na obra), são fundamentais para a
mudança do cenário de degradação que os resíduos
causam, além da diminuição dos custos gerais
associados às obras.
Outras soluções para a redução de resíduos em obras
é a aplicação de novas tecnologias que utilizam elementos
pré-fabricados, diminuindo assim a geração, entretanto,
mesmo com essas alterações de processos e materiais, e
a gestão correta da obra, ainda ocorrerão descartes, se
bem que em volume muito reduzido. Sem qualquer
controle, o descarte em uma obra pode atingir 30% de
perdas, segundo estimativas, e com gestão adequada
pode chegar a 5% (QUEZADO, 2010).

Com a reciclagem, por meio do reaproveitamento do


material já retirado do meio ambiente, diminuímos o
impacto ambiental que seria causado pela retirada de
matérias-primas finitas, como pedras retiradas de
pedreiras ou areia em leito de rios. É fácil imaginar que o
ganho é duplo: uma quantidade do material deixa de ser
retirado da fonte natural (natureza) e a mesma quantidade
deixa de ser disposta em aterro (ALVES, 2014).

Ainda segundo Alves (2014), algumas das causas do


desperdício de materiais de construção, que geram
grandes quantidades de resíduos, são os projetos mal-
elaborados, as obras inacabadas e abandonadas, os
materiais de qualidade duvidosa, o transporte ou
armazenamento inadequado, a mão de obra inexperiente
e as reformas sem planejamento adequado.
Resíduos como cerâmica, blocos, concretos, pisos e
azulejos podem ser transformados em agregados
reciclados como areia, pedrisco, brita e bica corrida.
Extremamente vantajoso, o uso dos materiais reciclados
chega a gerar uma economia de até 30% em relação a
similares com matéria-prima não reciclada, dependendo
dos gastos indiretos e da tecnologia empregada nas
instalações de reciclagem (PEREIRA, 2012).

Em se tratando do entulho, a usina de reciclagem


pode produzir alguns itens que serão matéria-prima para
vários produtos. A partir do entulho, podem ser obtidos
então os agregados (termo que designa o material que vai
ser utilizado junto com o cimento e outros, para produzir
argamassas e concretos) de várias granulometrias (termo
que designa a distribuição de tamanho médio dos grãos
que constituem o material). Alguns usos indicados para os
agregados reciclados são (PEREIRA, 2012):

- Areia reciclada: material com dimensão máxima


característica inferior a 4,8 mm, isento de impurezas,
proveniente da reciclagem de entulho com predominância
de concreto e blocos de concreto. Indicado para
argamassas de assentamento de alvenaria de vedação,
contrapisos, solo-cimento, blocos e tijolos de vedação.
- Pedrisco reciclado: material com dimensão máxima
característica de 6,3 mm, isento de impurezas, proveniente
da reciclagem de entulho com predominância de concreto
e blocos de concreto. Indicado para a fabricação de
artefatos de concreto, como blocos de vedação, pisos
intertravados, manilhas de esgoto, entre outros.

- Brita reciclada: material com dimensão máxima


característica inferior a 39 mm, isento de impurezas,
proveniente da reciclagem de entulho com predominância
de concreto e blocos de concreto. Indicado para a
fabricação de concretos não estruturais e obras de
drenagens.

- Bica corrida: material proveniente da reciclagem de


resíduos da construção civil, livre de impurezas, com
dimensão máxima característica de 63 mm (ou a critério
do cliente). Indicado para obras de base e sub-base de
pavimentos, reforço e subleito de pavimentos, além de
regularização de vias não pavimentadas, aterros e acerto
topográfico de terrenos.

- Rachão: material com dimensão máxima característica


inferior a 150 mm, isento de impurezas, proveniente da
reciclagem de concreto e blocos de concreto. Indicado
para obras de pavimentação, drenagens e terraplenagem.
Figura 4: Resíduos reciclados mais comuns aplicados na construção civil.
Fonte: https://cutt.ly/Kfisa1O.

Utilização dos resíduos sólidos da indústria da construção


civil para a produção de argamassas e concretos

Muitas pesquisas já foram desenvolvidas para a


utilização do entulho na obtenção de agregados
reciclados, a fim de serem utilizados na confecção de
argamassas e concretos.

No trabalho de Costa, Martins e Baldo (2005), utilizou-


se o resíduo proveniente de uma usina de reciclagem de
entulho, em cuja constituição ocorre a predominância de
resíduos de argamassas para a produção de concretos.
Nas amostras obtidas e utilizadas, verificaram-se
diferenças significativas na quantidade de material
cerâmico e de pedras presentes, uma vez que isso pode
ter ocorrido, pois a usina não estaria aplicando um
processo de homogeneização no material produzido.

Também, de acordo com os valores obtidos pelos


autores mencionados, nos ensaios para a determinação
da composição granulométrica do agregado reciclado (ou
seja, variação do tamanho dos grãos do agregado
produzido), as amostras compõem-se de agregados de
tamanhos variados, compondo uma extensa faixa de
tamanhos, desde os maiores (graúdos) até os muito
pequenos (finos). Aparentemente, essa extensa variação
de tamanhos pode contribuir para a densificação do
material obtido, promovendo resistência mecânica, entre
outros fatores.

Com isso, os resultados do trabalho permitiram


concluir que o entulho pode ser utilizado como agregado
por meio da reciclagem, na confecção de concreto não
estrutural destinado à infraestrutura urbana: peças de
concreto utilizadas em drenagem superficial de estradas,
como sarjetas; elementos utilizados na construção de
passeios públicos, como guias e blocos para calçamento,
e blocos de concreto para alvenaria sem função estrutural
(paredes de vedação).
Além disto, a pesquisa conclui que, embora se
tratando de um material extremamente heterogêneo -
proveniente das mais diversas atividades da construção
civil - e, portanto, possível de incluir na sua composição,
elementos que não têm um bom comportamento como
agregado para o concreto (por exemplo, a própria terra), as
qualidades mecânicas do concreto mostraram valores
muito positivos. Dessa forma, supõe-se que, se houver um
controle do entulho que chega às usinas, de forma que os
materiais de qualidades diferentes não sejam misturados
antes de irem para os britadores, será obtido um agregado
com características superiores às oferecidas pelo resíduo
analisado.

Ainda segundo Costa, Martins e Baldo (2005), no caso


de concretos, a utilização como concreto estrutural ainda
não está bem estabelecida, a menos que os agregados
reciclados sejam obtidos de fontes homogêneas, por
exemplo, a partir da britagem de resíduos de concreto
proveniente de demolições. Ainda assim, para algumas
categorias ou classes de resistência, os agregados
reciclados não são utilizados em parte, porque não se
confia na homogeneidade do agregado, e muitas vezes
não se conhece exatamente a influência das
granulometrias na resistência e durabilidade do concreto.
Utilizações de resíduos sólidos gerados
pela indústria cerâmica
A possibilidade de uso dos descartes da indústria
cerâmica e do entulho, como fonte de agregados
reciclados para a indústria da construção civil, via
métodos eficientes de reciclagem, pode contribuir
efetivamente para a redução do volume disposto no meio
ambiente, e também contribuir para que agregados
naturais não sejam extraídos por mineração. A redução de
custos de componentes contendo o agregado reciclado é
possível, influenciando toda a cadeia da indústria da
construção civil (COSTA; MARTINS; BALDO, 2006).

Figura 5: Descartes de resíduos cerâmicos.


Fonte: http://minasfazciencia.com.br/2018/11/09/15437/.
Por outro lado, os descartes oriundos da indústria
cerâmica, que inclui a produção de cerâmica vermelha
(tijolos, telhas, lajotas, tubos), pisos e revestimentos
vidrados e não vidrados, louça sanitária e de mesa,
basicamente são sem contaminações do ponto de vista de
outros materiais misturados com os mesmos, já que
foram descartados devido a algum defeito, como trincas,
empenamentos, baixa resistência, deformações, ou
qualquer outro fator que impeça o uso dentro dos padrões
exigidos pela normalização técnica aplicada em cada
segmento (COSTA; MARTINS; BALDO, 2006).

Ainda segundo os autores, essa ausência de


contaminações, e a composição praticamente
homogênea dentro de cada setor, é a diferença marcante
e fundamental entre os descartes da indústria cerâmica do
entulho. Essa homogeneidade implica que podemos
esperar o comportamento sem muita variação, em relação
aos produtos fabricados com agregados reciclados
provenientes desses descartes.

Utilização de descartes da indústria cerâmica para a


obtenção de argamassas de assentamento e
revestimento
De acordo com Rufino (2018), a produção de
cerâmica vermelha está estimada em um total superior a
65 milhões de toneladas de material por ano, com sete mil
empresas participando. No Estado de São Paulo há nove
polos cerâmicos, com uma produção mensal superior a
125 milhões de peças, o que pode representar cerca de 75
milhões de peças descartadas por ano (na perda média de
5%). Isso significa que 150 mil toneladas de resíduo
industrial ao ano podem ser geradas só no Estado,
supondo peso médio de dois quilos por peça, já que os
dados incluem tijolos maciços, elementos vazados, lajes,
revestimentos, pisos e tubos cerâmicos.

No caso da indústria de pisos e revestimentos,


considerando a elevada produção nacional (superior a 500
milhões de m2/ano), embora as perdas médias de
produção sejam de pequena monta (2 a 3%), o volume
total de rejeitos gerados por esta indústria é considerável
(RUFINO, 2018). Em adição, os problemas ambientais
decorrentes do seu descarte não podem passar
despercebidos, mesmo que tais resíduos sejam
considerados inertes.

Ainda segundo o autor, as faces vidradas, que se


incorporam ao resíduo após a preparação, têm sido
consideradas como um aspecto negativo, quando
presentes em agregados graúdos utilizados na confecção
de concretos com entulho reciclado. Por outro lado,
existem relatos de que esse efeito não é significativo em
concretos contendo agregados reciclados de rejeitos
virgens de louça sanitária.

Já a indústria de louça sanitária é representada por


12 empresas do setor, com 19 fábricas no Brasil,
produzindo cerca de 19 milhões de peças grandes. Perdas
da ordem de 1% podem ser esperadas, de modo que o
volume total de descartes, imaginando a indústria como
um todo, é elevado (RUFINO, 2018).

Os descartes virgens da indústria são moídos


utilizando moinho de martelos, para conseguir um material
com a distribuição granulométrica similar à de uma areia
de rio, mas contendo teor de material fino em quantidade
maior. Por outro lado, os descartes foram britados e
separados em frações granulométricas similares àquelas
encontradas nas britas utilizadas para a produção de
concretos (RUFINO, 2018).

A conclusão geral do trabalho foi que é possível


substituir a areia utilizada na produção de argamassas
para assentamento e para revestimento, utilizando
qualquer um dos descartes mencionados, incluindo-se
misturas destes, desde que reciclados de maneira
conveniente. A obtenção de uma distribuição de tamanhos
similar à de areia de rio é possível com o uso de um
moinho de martelos, mas gera uma quantidade maior de
material fino que, dependendo da situação, pode não ser
desejável. Para isso, quando for o caso, é possível
adicionar uma operação a mais, a de peneiramento do
material para regular melhor essa distribuição de
tamanhos obtida.

Além disso, pode-se concluir que as propriedades


típicas desejadas para argamassas, como a facilidade de
aplicação, adesão ao substrato tanto na aplicação como
ao longo do tempo, resistência mecânica, permeabilidade
e durabilidade, foram semelhantes, e muitas vezes,
superiores àquelas encontradas nas argamassas
convencionais.

A pesquisa sobre a reciclagem de resíduos industriais


vem sendo intensificada em todo o mundo, e em muitos
países a reciclagem é vista, pela iniciativa privada, como
um mercado altamente rentável. Muitas empresas
investem em pesquisa e tecnologia, o que aumenta a
qualidade do produto reciclado e propicia maior eficiência
do sistema produtivo. A reciclagem de resíduos urbanos
está ganhando destaque em virtude do crescente volume
de rejeitos sólidos e da indisponibilidade cada dia maior de
locais para descarte desse material, em particular em
grandes centros urbanos, com elevada densidade
demográfica (MENEZES et al., 2002).

De acordo com Menezes et al. (2002), o


aproveitamento dos descartes das indústrias para uso
como material alternativo não é novo, e basicamente são
três as razões que motivam os países a reciclarem seus
rejeitos industriais; primeiro, o esgotamento das reservas
de matérias-primas confiáveis; segundo, o crescente
volume de resíduos sólidos, que põem em risco a saúde
pública, ocupa o espaço e degradam os recursos naturais;
e terceiro, a necessidade de compensar o desequilíbrio
provocado pelas altas do petróleo.

Embora não seja o foco da discussão, a indústria


cerâmica é uma das que mais podem atuar na reciclagem
de resíduos industriais e urbanos, em virtude do elevado
volume de produção. Isso possibilita o consumo de
grandes quantidades de descartes dos mais variados
tipos, desde aqueles que podem ser incorporados na
massa cerâmica, até os que podem ser utilizados como
fontes de energia. É uma área industrial que pode obter
vantagens no seu processo produtivo com a incorporação
de resíduos entre suas matérias-primas, gerando a
economia destas (normalmente argilas), cada dia mais
escassas e caras, além de poder conseguir a redução do
consumo total de energia, o que no final resulta na redução
de custos.

Utilização de resíduos sólidos provenientes da indústria de


corte de rochas de granito como matéria-prima cerâmica

A indústria da mineração e beneficiamento de


granitos é uma das mais promissoras áreas de negócio do
setor mineral, apresentando um crescimento médio da
produção mundial, estimado em 6% ao ano, nos últimos
anos. Todavia, esse setor industrial gera elevada
quantidade de rejeitos na forma de uma lama com
elevados teores de SiO2, Al2O3, Fe2O3 e CaO, que podem
provocar agressões ambientais, se a lama não for
adequadamente descartada (MOREIRA; FREIRE; HOLANDA,
2003).

De acordo com os autores, o Brasil é um dos maiores


produtores mundiais de granito, tanto na forma de blocos
como em produtos acabados. As indústrias brasileiras de
beneficiamento têm níveis altíssimos de perdas,
ocorrendo a formação da lama com 20% a 25% de pó em
massa, do total beneficiado, o que intensifica a quantidade
de rejeitos gerados e o perigo de danos ambientais.

A lama do beneficiamento geralmente é descartada


em córregos, ravinas, lagos e rios, havendo a formação de
grandes depósitos à céu aberto. Enquanto fluída, a lama
prejudica plantas e animais, e deprecia o solo, e quando
seca, a poeira se inspirada provoca à saúde de homens e
animais (MOREIRA; FREIRE; HOLANDA, 2003).

Em resumo, é possível adicionar esse material à


formulação que indústrias cerâmicas produtoras de
blocos e de revestimentos estejam usando, diminuindo
assim o uso de matérias-primas de valor maior, sem
prejuízo de propriedades e sem alteração significativa no
ciclo de produção. Desse modo o resíduo deixa de ser
descartado e a indústria deixa de minerar parte do material
utilizado.

Pelo panorama geral, podemos entender que


resíduos desse tipo, que sempre ocorrerão na exploração
desse ramo, podem ser perfeitamente introduzidos em
outros sistemas produtivos, eliminando o descarte no
meio, com possíveis ganhos para a indústria utilizadora.

Utilizações de resíduos de diversas


aplicações industriais

Utilização de resíduo sólido proveniente da indústria


siderúrgica

A indústria siderúrgica gera enormes quantidades de


resíduos durante os seus processos produtivos. Alguns
desses resíduos são pós de granulometria finos e ricos em
óxidos de ferro. O manuseio desses pós facilita a formação
de névoa e poeiras dificultando a sua reutilização no
processo produtivo. Assim, há necessidade de se buscar
alternativas para o reaproveitamento de tais resíduos de
forma a não agredir o meio ambiente (OLIVEIRA;
HOLANDA, 2004).

Figura 6: Resíduos industriais siderúrgicos.


Fonte: https://cutt.ly/Vfis5zh
Nesse contexto, um setor que apresenta enorme
potencial para contribuir na solução de problemas
ambientais originados nos mais diversos processos
industriais é o da cerâmica vermelha. De fato, trabalhos
reportados na literatura têm mostrado que é
perfeitamente possível a reciclagem de resíduos
industriais como constituintes de massas cerâmicas para
fabricação de produtos cerâmicos para construção civil.
De acordo com o trabalho de Oliveira e Holanda
(2004), os resultados demonstram claramente que o
resíduo sólido de siderurgia pode ser perfeitamente
reaproveitado como constituinte de massas cerâmicas
para fabricação de produtos de cerâmica vermelha, tais
como tijolos maciços, blocos cerâmicos e telhas,
empregados na construção civil. A cor de queima dos
corpos-de-prova também é adequada para uso em
cerâmica vermelha.

Reciclagem na indústria de curtume

O cromo é um elemento bioativo que, embora


presente no organismo em pequenas quantidades, realiza
importantes funções, particularmente no metabolismo da
glicose. No entanto, quando em concentrações elevadas,
e, sobretudo em estado de oxidação diferente de 3, é
potencialmente perigoso à saúde e ao equilíbrio ambiental.
Dada a toxicidade de seus compostos hexavalentes
(mais tóxicos e mais voláteis) e das formas trivalentes
(toxicidade essencial), o uso de cromo nas atividades
domésticas e industriais tem sido objeto de interesse
especial, em termos de sua circulação e de suas emissões
na atmosfera, assim como de seu transporte e
transformações (FREITAS; MELNIKOV, 2006).

Figura 7: Resíduos na indústria de curtume.


Fonte: https://www.quimica.com.br/wp-content/uploads/2001/11/%C2%A9QD-
Carlos-A.-Silva.jpg

De acordo com os autores, seus usos mais comuns,


e por conseguinte suas principais fontes no meio
ambiente, são a mineração e as indústrias de cromagem e
de curtimento de couro para confecção de bens de
consumo. Ressalta-se que a legislação brasileira impõe
uma série de regras rigorosas aos projetos industriais que
utilizam esse elemento.

Ainda segundo os autores, o cromo é usado em


grande escala para a transformação de peles de animais
em um produto que resiste à biodegradação: o couro. O
composto aplicado nesse processo é o sulfato de cromo
III (Cr2(SO4)3), comumente referido como sal de cromo. O
composto promove o enrijecimento da pele, garantindo a
preservação do produto final.

Vale ressaltar que a remoção completa de cromo III


ou sua redução até os níveis permitidos pela legislação
ambiental exigem necessariamente investimentos em
equipamentos, controle operacional e manutenção, o que
torna dispendioso o tratamento dos resíduos. Mesmo
assim, o tratamento dos efluentes vem sendo melhorado
com a escolha de métodos mais eficazes de remoção.

Constata-se que uma parcela significativa dos


efluentes líquidos pode ser reduzida ao se recorrer a um
melhor controle do processo. A carga poluidora dessa
atividade pode ser minimizada com a redução dos
insumos, com o combate às perdas nos processos e com
a reutilização dos efluentes. A reciclagem de cromo da
água dos banhos de curtimento é importante porque
permite reduzir a concentração do elemento nos efluentes
e atingir o nível permitido pelos padrões de emissão
(FREITAS; MELNIKOV, 2006).

Reciclagem de lixo eletrônico

No trabalho de Veit et al. (2008) foram estudadas as


Placas de Circuito Impresso (PCI), que fazem parte das
sucatas eletrônicas e que são encontradas nos
equipamentos eletroeletrônicos. As PCI são compostas de
polímeros, cerâmicos e metais, o que dificulta o seu
processamento.

Figura 8: Resíduos eletrônicos.


Fonte: https://bhrecicla.com.br/imagens/blogpost01.jpg.
Na primeira etapa desse trabalho, foi utilizado
processamento mecânico, como moagem, separação
granulométrica, magnética e eletrostática para se obterem
uma fração concentrada em metais (principalmente Cu) e
outra fração contendo polímeros e cerâmicos. Na segunda
etapa, a fração concentrada em metais foi dissolvida e
enviada para uma eletro-obtenção, a fim de recuperar o
cobre. No segundo estágio, as frações concentradas em
metais foram dissolvidas com ácidos e tratadas em um
processo eletroquímico, a fim de se recuperarem os
metais separadamente, especialmente o cobre.

Os resultados demonstram a viabilidade técnica para


se recuperarem o cobre usando processamento mecânico
seguido de uma técnica eletrometalúrgica.

Reciclagem de pneus

Os pneus usados estão se tornando um problema


mundial. O descarte de pneus cresce ano após ano em
todo o mundo. Pouca importância foi dada ao descarte de
tais produtos em muitos países. No Brasil, em 1999, foi
aprovada a Resolução no 258/99 do CONAMA que instituiu
a responsabilidade do produtor e do importador pelo ciclo
total do produto, ou seja, a coleta, o transporte e a
disposição final.

Desde 2002, os fabricantes e importadores de pneus


devem coletar e dar a destinação final para os itens
usados. Segundo essa lei, os distribuidores, revendedores,
reformadores e consumidores finais são corresponsáveis
pela coleta dos pneus servíveis e inservíveis, os quais
devem colaborar com a coleta.

No trabalho de Lagarinhos e Tenólio (2008) são


apresentadas as tecnologias utilizadas no Brasil para a
reutilização, reciclagem e valorização energética, além da
aplicação do processo de logística reversa dos pneus
novos e usados.

Figura 9: Usina de reciclagem de pneus.


Fonte: https://cutt.ly/FfigW7F
De acordo com os autores, em 2006, foram reciclados
240,62 mil toneladas de pneus inservíveis, o equivalente a
48,12 milhões de pneus de automóvel, cujas atividades de
laminação, trituração e fabricação de artefatos de
borracha representaram 50,02% do total destinado; o
coprocessamento em fornos de clínquer representou
35,73%; a regeneração de borracha sintética representou
13,22%; e a extração e tratamento de minerais, 1,03%.
Conclusão

A conclusão geral sobre esse aspecto é de que os


resíduos sólidos inorgânicos originados na indústria da
construção civil, se coletados corretamente (isentos de
descartes como gesso e terra, por exemplo), e reciclados
de maneira adequada por meio de seleção inicial,
britagem, moagem e homogeneização, podem substituir
com vantagem os agregados naturais utilizados na
produção de argamassas de assentamento e de
revestimento, além de substituírem os agregados graúdos
utilizados na confecção de concretos para muitos fins,
além de outros usos, como agregados para bases de
pavimentos e similares.

Além disso, como observado nesta aula, vimos que


diversos resíduos provenientes de diversos processos
industriais podem ser reciclados, recuperados e/ou
reutilizados, buscando minimizar o uso de recursos naturais,
minimizando impactos ambientais e reduzindo problemas de
qualidade de vida da população e do próprio meio ambiente.
Referências

ALVARENGA, L. A. Resíduos sólidos: sistema de gerenciamento de


resíduos sólidos da empresa Tyco Eletronics Brasil Ltda.
Universidade São Francisco – Bragança Paulista, 2008. Disponível
em:
<http://lyceumonline.usf.edu.br/salavirtual/documentos/1614.pdf>.
Acesso em: 16 ago. 2020.

ALVES, L. A. et al. Uma breve discussão do papel da gestão integrada


dos resíduos de construção e demolição (RCD) para transformá-los
em recursos. Para Onde!?, 8 (2): 123-136, 2014. Disponível em:
<https://www.seer.ufrgs.br/paraonde/article/view/61585/36417>.
Acesso em: 17 ago. 2020.

COSTA, J. S. DA; MARTINS, C. A.; BALDO, J. B. Argamassa de


alvenaria usando agregado reciclado da indústria de piso
cerâmico. Cerâmica Industrial, 10 (4), 2005. Disponível em:
<https://www.ceramicaindustrial.org.br/article/587657257f8c9d6e0
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em: 18 ago. 2020.

COSTA, J. S. DA; MARTINS, C. A.; BALDO, J. B. Análise da absorção


de água por imersão em argamassa com reciclado da indústria
cerâmica. In 17º CBECIMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e
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<https://pt.slideshare.net/PetianoCamiloBin/anlise-da-absoro-de-
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