Esg: Uma Revisão Integrativa: November 2021
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RICARDO PEREIRA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
TATIANA TAKIMOTO
Introdução
O termo ESG surgiu pela primeira vez em um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2004. Desde então as organizações buscam melhores
práticas ambientais, sociais e de governança para se adequarem ao conjunto de métricas e indicadores dessas áreas, visando gerar valor para acionistas e
vantagem competitiva no mercado em que atuam. O que antes era avaliado apenas por posições financeiras, atualmente é considerado por outros aspectos,
mormente com relação a forma como estas organizações lidam com as questões ambientais, sociais e de governança.
Problema de Pesquisa e Objetivo
O ESG pode ser analisado por pelo menos duas perspectivas. Como um conjunto de práticas que visa melhor adequar as questões ambientais, sociais e de
governança afetas à determinada organização. Assim, essas práticas são avaliadas por métricas e/ ou indicadores, que propiciará a geração de relatórios ESG,
indicando determinado desempenho daquela organização nessas áreas. O presente trabalho investigará o estado atual do conhecimento sobre ESG, buscando
tendências emergentes de estudos e identificar as principais lacunas de pesquisa que requeiram atenção para o desenvolvimento da área.
Fundamentação Teórica
ESG pode ser caracterizado como fatores ambientais, sociais e de governança usados para medir o desempenho sustentável das empresas (TRIPATHI;
BHANDARI, 2014; WATSON, 2015). Possui a governança como moderador, refletindo uma visão equilibrada de uma empresa nas áreas ambiental, social,
governança e desempenho econômico ao longo do tempo (NUBER et al, 2019). Os índices ESG refletem as iniciativas das empresas que geram impacto para
remediar os danos ambientais, injustiças sociais e melhorar as suas práticas de governança, seja a empresa pertencente ao Setor público ou Privado
(WALTER, 2020).
Metodologia
Este trabalho adota como método a revisão integrativa de literatura. Esse tipo de revisão é baseada no método proposto por Whittemore; Knafl (2005),
composto por cinco fases. Para responder ao problema de pesquisa, utilizou-se a equação booleana (“ESG" AND “organization*”) na base de dados Scopus,
filtrando por título; resumo e palavras-chave restringindo-se a artigos e revisões na língua inglesa, sem delimitação temporal, obtendo um conjunto de 48
publicações para análise, discussão e síntese.
Análise dos Resultados
A análise das publicações selecionadas foi realizada com o auxílio da análise temática proposta por Braun e Clarke (2016). O intuito dessa análise foi
identificar temas que respondessem à questão de pesquisa de como está o estado atual do conhecimento sobre ESG. A partir da análise dos artigos foram
identificados os quatro temas apresentados a seguir: • ESG como indicador de performance organizacional; • ESG como tomada de decisão para
investimentos; • ESG como investimento social e ambientalmente responsável e • ESG como prática nas organizações.
Conclusão
O ESG parte da premissa em que a prática e a conscientização dos tópicos relacionados às questões ambientais, sociais e de governança impactam os
resultados organizacionais e alimentam um conjunto de dados apresentados aos stakeholders e analistas financeiros. Nesse contexto, as informações
financeiras migrarão para uma abordagem integrada, em que o desempenho ambiental, social e econômico fará parte da avaliação da qualidade e desempenho
da empresa. Os relatórios provenientes dessas informações colocam os indicadores ESG como ponto focal da cadeia de investimentos nos mercados
financeiros.
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integrative review: updated methodology. Journal of advanced nursing, 52(5), 546-553, 2005. WALTER, I. Sense and Nonsense in ESG Ratings. Journal of
Law, Finance, and Accounting, , 5: 307–336, 2020.
Palavras Chave
ESG, Revisão de literatura, Revisão integrativa
ESG: uma revisão integrativa
1. INTRODUÇÃO
O termo ESG surgiu pela primeira vez em um relatório da Organização das Nações
Unidas (ONU), o Global Compact (2004) Who Care Wins: Connecting Financial Markets to a
Changing World. Segundo Eccles, Lee e Stroehle (2020), o ex-Secretário Geral da ONU propôs
uma iniciativa conjunta de instituições financeiras para "desenvolver diretrizes e
recomendações sobre como integrar melhor as questões ambientais (Environmental), sociais
(Social) e de governança corporativa (Governance).
Desde então as organizações buscam melhores práticas ambientais, sociais e de
governança para se adequarem ao conjunto de métricas e indicadores dessas áreas, visando
gerar valor para acionistas e vantagem competitiva no mercado em que atuam. O que antes era
avaliado apenas por posições financeiras, atualmente é considerado por outros aspectos,
mormente com relação a forma como estas organizações lidam com as questões ambientais,
sociais e de governança.
Considerando o exposto, é possível perceber que o ESG pode ser analisado por pelo
menos duas perspectivas, a primeira como um conjunto de práticas que visa melhor adequar as
questões ambientais, sociais e de governança afetas à determinada organização. Essas práticas
são avaliadas por métricas e/ ou indicadores, que propiciará a geração de relatórios ESG,
indicando determinado desempenho daquela organização nessas áreas.
Notadamente, o ESG é um tema de pesquisa abrangente, que necessita
aprofundamento e deliberação pela comunidade acadêmica.
Assim, o presente trabalho, por meio de uma revisão integrativa de literatura, visa
investigar o estado atual do conhecimento sobre ESG, buscando tendências emergentes de
estudos e identificar as principais lacunas de pesquisa que requeiram atenção para o
desenvolvimento da área.
O artigo apresenta cinco seções, incluindo esta introdução. A seção seguinte aborda o
referencial teórico sobre ESG. A terceira seção apresenta os aspectos metodológicos da pesquisa.
A quarta seção traz a análise e discussão dos resultados. A última seção expõe as considerações
finais do trabalho.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
ESG pode ser caracterizado como fatores ambientais, sociais e de governança usados
para medir o desempenho sustentável das empresas (TRIPATHI; BHANDARI, 2014; WATSON,
2015). Os fatores relacionados ao meio ambiente incluem emissões, uso da água, poluição da
água, resíduos, uso de recursos renováveis e não renováveis, etc. Questões como diversidade
no local de trabalho, saúde e segurança, greves trabalhistas, trabalho infantil, impacto das
operações na comunidade e na sociedade, etc., fazem parte do fator social. A governança, por
seu turno, inclui todas as questões relacionadas à gestão e ao conselho, como diversidade do
conselho, reuniões do conselho, questões de agenda, corrupção, compliance, etc.
Um indicador de mensuração para a sustentabilidade como o ESG (Environmental,
Social and Governance) é um proxy de desempenho importante que possui a governança como
moderador, incluindo uma pontuação geral, refletindo uma visão equilibrada de uma empresa
nas áreas ambiental, social, governança e desempenho econômico ao longo do tempo (NUBER
et al, 2019). Os índices ESG refletem as iniciativas das empresas que geram impacto para
remediar os danos ao meio ambiente, injustiças sociais e melhorar as suas práticas de
governança, seja a empresa pertencente ao setor público ou privado (WALTER, 2020). Trata-
se de um critério que guia investimentos com foco em sustentabilidade e foi criado como uma
métrica para avaliar o desempenho das empresas em relação às práticas ambientais, sociais e
de governança.
Conforme dados do Social Investment Forum´s (2006), os investimentos em empresas
com responsabilidade social cresceram 258% desde 1995, variação maior do que a dos ativos
administrados nos Estados Unidos. Os dados de 2006 da Mercer Investment Consulting
reportam que de todos os investimentos do Reino Unido cerca de 47% são investimentos
comprometidos com o Environmental, Social and Governance (ESG) Analysis (GOMES;
TORTATO, 2011).
E ainda, a prática ESG tem por objetivo aumentar a precisão do que é mensurável e
acionável em cada uma das três dimensões, para verificar os desvios que são toleráveis e
sustentáveis (WALTER, 2020).
Outro pilar fundamental do ESG envolve questões relativas aos direitos humanos. De
acordo com o Growth Report ESG e Inovação da ACE Cortex (2021), uma das maiores
empresas de inovação e investimentos da América Latina, são considerados fatores sociais
importantes: o desenvolvimento de relacionamentos humanos dentro e fora da empresa, a
capacidade de atrair e reter pessoas, bem como a garantia de desenvolvimento de talentos,
resultando em colaboradores mais capacitados e satisfeitos em suas funções.
Outro ponto importante citado pelo Growth Report é a adoção de políticas de
diversidade e inclusão, pauta que, segundo Oliveira et al (2021) alcançou grande repercussão
durante a pandemia da covid-19, uma vez que as desigualdades sociais ficaram mais evidentes.
Mudanças como políticas de equidade e ações afirmativas estão sendo cobradas das
empresas, uma vez que a meritocracia defendida e manifestada, conforme cita Almeida (2020,
p.81), através de mecanismos institucionais, como processos seletivos e concursos públicos,
não considera uma sociedade permeada por conflitos estruturais de classe, raça e gênero,
acarretando em falta de representatividade nos setores. Desse modo, no imaginário das pessoas,
a competência e o mérito ficam associados à branquitude, masculinidade, heterossexualidade e
cisnormatividade. Empresas que negam as desigualdades existentes no seu time devido à
construção social da sociedade com relação ao racismo, machismo, LGBTfobia, capacitismo e
outras formas de discriminação, expressam que a culpa é das próprias pessoas que não se
esforçaram o suficiente para serem contratadas ou ocuparem cargos de liderança, reforçando,
asim, a desigualdade.
Paralelamente ao avanço da questão social nas empresas, está a inovação como
resultado da diversidade. De acordo com Shook e Sweet (2019), a pesquisa Getting to Equal
2019: Creating a Culture that drives innovation (Chegando à igualdade 2019: criando uma
cultura que impulsiona a inovação), desenvolvida pela Accenture, empresa global de
consultoria, indica que empresas com diversidade e inclusão possuem mentalidade para
inovação 11 vezes maior, com colaboradores até 6 vezes mais criativos. Para as autoras,
inovação é sinônimo de sobrevivência, logo, os líderes precisam adaptar suas empresas para
uma cultura de inclusão e equidade.
Assim, uma empresa onde as vertentes ambiental e governamental estão bem
desenvolvidas, porém não há preocupação com a diversidade no seu quadro de colaboradores
e lideranças, está longe do ideal ESG e da inovação.
Para uma boa compreensão do tema, é importante que se responda a três questões: “o
que é governança corporativa? ”, “por que ela está inclusa no ESG? ” e “quais itens a tornam
um fator de destaque dentro do sistema?”
De acordo com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) (2015), a
governança corporativa é a forma como as instituições são geridas e incentivadas,
compreendendo os relacionamentos entre todos os stakeholders, como sócios, diretoria,
conselhos, colaboradores, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas. Uma
política de governança bem estabelecida faz com que todos esses grupos dialoguem e
determinem objetivos convergentes, tornando-se essencial para uma boa performance dos
negócios.
Um estudo realizado em companhias da Malásia relatou que existe uma grande
influência da governança corporativa na economia destas empresas (TARMUJO; MAELAH;
TARMUJI, 2016). Tal situação fica clara quando se considera o relato de Kahn (2019), no qual
ele declara que uma governança corporativa eficaz é importante para uma boa alocação,
preservação e aumento do capital. Isto se torna evidente ao pensar na definição do termo
governança e como esta é aplicada nas empresas, iniciando pela definição dos objetivos de cada
uma das partes interessadas, passando pela tomada de decisão e priorização das ações e
seguindo para as operações de uma companhia. Ao analisar cada um dos passos, é factível
compreender a importância deste tema dentro do sistema, bem como o impacto financeiro
gerado.
Apesar da facilidade em entender a relevância deste tópico, é necessário saber quais
aspectos de governança são interessantes para se ter bons resultados. Lagásio e Cucari (2019),
através de uma meta-análise, relataram que três fatores aumentam a exposição do ESG, sendo
estes: a autonomia e o tamanho do conselho, e a participação feminina na diretoria. Em
contraponto, a dualidade do CEO e o domínio do conselho não elevam este nível.
A partir dos pontos apresentados ratifica-se a imprescindibilidade de que os estudos
sobre este tema sejam direcionados à heterogeneidade dos inúmeros fatores de governança,
entre eles competências humanas consideradas únicas, estratégias organizacionais e qual o
impacto destes tópicos na criação de empresas competitivas e sustentáveis.
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Este trabalho adota como método a revisão integrativa. As revisões da literatura do tipo
integrativa abordam tópicos novos ou emergentes com o objetivo de obter “uma
conceitualização e síntese holística da literatura” (TORRACO, 2016, p. 410). As revisões
integrativas são o tipo mais amplo de revisão, pois permitem a inclusão simultânea de pesquisas
experimentais e não experimentais, a fim de compreender mais plenamente o fenômeno a ser
investigado. As avaliações integrativas podem combinar dados teóricos, bem como literatura
empírica (WHITTEMORE; KNAFL, 2005).
A revisão integrativa realizada nesta pesquisa é baseada no método proposto por
Whittemore; Knafl (2005), composto por cinco fases, apresentadas na Figura 1.
O presente estudo parte da identificação da necessidade da revisão e contextualização
do tema proposto para responder como está o estado atual do conhecimento sobre ESG (etapa
1).
Em sequência, na etapa 2, definiu-se a estratégia de busca, a definição da seleção de
fontes de informação (bases de dados), período de tempo e idioma, termos a serem pesquisados,
as ferramentas para coleta e organização das informações e a definição dos critérios de inclusão
e exclusão.
Figura 1: Etapas da revisão integrativa.
Nas etapas seguintes (3 e 4) foi realizada a leitura dos resumos, palavras-chave e títulos
das publicações, organizando os estudos relacionados com o objetivo do estudo. Em seguida
foi feita a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão. Nessa etapa foram rejeitados os artigos
que não se adequaram a responder à questão de pesquisa. Considerando os critérios adotados
nas etapas anteriores, foram selecionados 48 artigos para análise, discussão e síntese, a qual
será realizada na seção seguinte.
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A análise das publicações selecionadas foi realizada com o auxílio da análise temática
proposta por Braun e Clarke (2016). O intuito dessa análise foi identificar temas que
respondessem à questão de pesquisa de como está o estado atual do conhecimento sobre ESG.
Nesse sentido, foram realizadas as etapas de análise dispostas no quadro 1.
Quadro 1. Processo de análise temática das publicações
A partir da análise dos artigos foram identificados os quatro temas apresentados a seguir:
As empresas tendem a ser avaliadas por seus stakeholders em duas dimensões: (1) pelo
seu desempenho no mercado competitivo e (2) pelo seu desempenho em relação a conduta e
valores não financeiros. Esta última abrange as práticas ESG, cujas análises podem ser úteis no
diagnóstico de questões que irão antecipar o desenvolvimento da empresa nas esferas da
responsabilidade ambiental, social e de governança, diminuindo os custos e aumentando as
receitas. Por outro lado, o uso indevido da pontuação ESG pode desencadear pensamentos
críticos, frustrar a transparência e, portanto, a credibilidade da empresa. Assim, as questões
devem ser abordadas para reforçar as avaliações e torná-las defensáveis na alocação de capital
e gestão empresarial (WALTER, 2020).
Drempetic, Klein, Zwergel (2019) comprovaram que alguns números das empresas
estão direta ou indiretamente ligados com as métricas de ESG, como o tamanho da empresa, os
recursos para prover dados e a disponibilidade desses que, de acordo com os autores, acabam
por influenciar positivamente as métricas do ESG.
Existem inúmeras formas de medir a performance de uma organização, principalmente
no que tange a diversificação de setores e empresas vistos hoje no mercado, porém é unânime
que dentre estes indicadores, pelo menos um seja financeiro. Estes, que estão diretamente
relacionados ao desempenho econômico, podem ser entendidos como a tradução quantitativa
da estratégia corporativa (KOCMANOVÁ et. al., 2013).
Contudo, os indicadores não financeiros devem estar intimamente ligados às prioridades
institucionais, servindo como um reflexo da singularidade da organização, além de criar valor
tanto para a empresa como para suas partes interessadas. A teoria e a pesquisa elucidam que a
definição de metas específicas orienta o grau de esforço que as organizações investem, as
prioridades que estabelecem e a persistência que exibem na busca dos resultados pretendidos
(VEENSTRA; ELLEMERS, 2020).
Kocmanova e Simberova (2012), por sua vez, enfatizam que estes indicadores de
performance do ESG devem facilitar a tomada de decisão sobre investimentos em empresas,
por meio da utilização de parâmetros financeiros e não-financeiros, e ainda salientam que “a
integração de indicadores ESG é provavelmente a melhor forma de aumentar a participação de
mercado de investimentos socialmente responsáveis”.
Segundo Douglas, Van Hotl e Whelan (2017, citado por Walter, 2020), alguns exemplos
de indicadores ESG são: (1) esfera ambiental: consumo de energia, uso de água potável,
resiliência às mudanças climáticas, política ambiental, uso da terra, gestão de recursos naturais,
gestão de resíduos e materiais perigosos, dentre outros. (2) esfera social: direitos do consumidor,
filantropia corporativa, segurança dos dados e privacidade do cliente, questões sobre a
diversidade, engajamento dos funcionários, saúde e segurança de comunidades, direitos
humanos, gestão de pessoas responsável, gestão do capital humano. (3) espera da governança:
processo de contabilidade e consultoria, composição do conselho, ética nos negócios,
compliance, remuneração dos executivos, estrutura societária, transparência, governança de
fundos, contribuições políticas, relatórios e divulgações, planejamento de sucessão.
Importante salientar, ainda, que os indicadores de desempenho econômico fornecem
formas quantitativas de análise, que refletem os resultados das estratégias corporativas
(Kocmanová e Dočekalová, 2012). As métricas e os Key Performance Indicators (KPIs) não
financeiros dependerão das prioridades corporativas e refletirão a natureza da organização,
fornecendo também uma visão mais ampla do seu desempenho econômico.
4.2. ESG como tomada de decisão para investimentos
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