Contos Assomb
Contos Assomb
Contos Assomb
ª Camila de Carvalho
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Apresentação
Para tanto, planejou-se a ampliação das ações do Programa Ler e Escrever e Aprender
Sempre, materiais oferecidos pelo governo do Estado de São Paulo, incluindo experiências
de diferentes fontes e de autoria, numa coletânea que priorizou a aprendizagem e a
realidade dos estudantes do município.
As atividades aqui apresentadas foram pensadas para que o professor tenha acesso a uma
coletânea que permita o desenvolvimento de uma sequência que possa o ajudar no
processo ensino-aprendizagem dos gêneros previstos para o ano letivo, garantindo tanto a
exploração do contexto de produção, aspecto discursivo (estrutura do texto, coerência e
coesão) e linguísticos (ortografia, pontuação, entre outros).
Para a construção desse trabalho e verificação de sua eficácia de resultados (tanto práticos
para aplicação, como de melhora no desenvolvimento da escrita), foi contactado um grupo
de professores da Rede Municipal, que ministram aulas nos respectivos anos escolares do
fundamental I, que organizaram e aplicaram as atividades aqui propostas durante o ano de
2021, constatando a viabilidade de aplicação e resultados positivos na aprendizagem dos
alunos, articulados com o processo de desenvolvimento curricular.
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Secretaria de Educação do Município de Itatiba
Coletânea de atividades
Contos de Assombração
5º ano
2022
Administração
Thomás Antonio Capeletto de Oliveira
Mauro Delforno
Secretária da Educação
Sueli de Moraes Tuon
Professoras organizadoras:
Brigida Bredariol
Camila de Carvalho
Débora Aparecida Pereira
Eliana Maria Fattori Calza
Luciana Gotardo Canal
Milena Gava
Rafaela M. Dominici
Renata Correa Rocha
Vanessa Honório
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Sequência Didática 1: Contos de Assombração
1. Objetivos Gerais:
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lexicais (de substantivos por sinônimos) ou pronominais (uso de pronomes
anafóricos – pessoais, possessivos, demonstrativos) que contribuem para a
continuidade do texto.
(EF35LP07) Utilizar, ao produzir um texto, conhecimentos linguísticos e gramaticais,
tais como ortografia, regras básicas de concordância nominal e verbal, pontuação
(ponto final, ponto de exclamação, ponto de interrogação, vírgulas em enumerações)
e pontuação do discurso direto, quando for o caso.
(EF35LP08) Utilizar, ao produzir um texto, recursos de referenciação (por
substituição lexical ou por pronomes pessoais, possessivos e demonstrativos),
vocabulário apropriado ao gênero, recursos de coesão pronominal (pronomes
anafóricos) e articuladores de relações de sentido (tempo, causa, oposição,
conclusão, comparação), com nível suficiente de informatividade.
(EF35LP09) Organizar o texto em unidades de sentido, dividindo-o em parágrafos
segundo as normas gráficas e de acordo com as características do gênero textual.
(EF35LP12) Recorrer ao dicionário para esclarecer dúvidas sobre a escrita de
palavras, especialmente no caso de palavras com relações irregulares fonemas-
grafema.
(EF35LP14) Identificar em textos e usar na produção textual pronomes pessoais,
possessivos e demonstrativos, como recurso coesivo anafórico.
(EF35LP29) Identificar, em narrativas, cenário, personagem central, conflito gerador,
resolução e o ponto de vista com base no qual histórias são narradas, diferenciando
narrativas em primeira e terceira pessoas.
(EF35LP30) Diferenciar discurso indireto e discurso direto, determinando o efeito de
sentido de verbos de enunciação e explicando o uso de variedades linguísticas no
discurso direto, quando for o caso.
(EF05LP01) Grafar palavras utilizando regras de correspondência fonema-grafema
regulares, contextuais e morfológicas, e palavras de uso frequente com
correspondências irregulares.
(EF05LP02) Identificar o caráter polissêmico das palavras (uma mesma palavra com
diferentes significados, de acordo com o contexto de uso), comparando o significado
de determinados termos utilizados nas áreas científicas com esses mesmos termos
utilizados na linguagem usual.
(EF04LPCM02) Usar acento gráfico em oxítonas terminadas em a, e, o, em (ens).
(EF05LP03) Acentuar corretamente palavras oxítonas, paroxítonas e
proparoxítonas.
(EF05LP04 - Adaptado) Diferenciar, na leitura de textos, vírgula, ponto e vírgula,
dois pontos.
(EF05LP05) Identificar a expressão de presente, passado e futuro em tempos
verbais do modo indicativo.
(EF05LP06) Flexionar, adequadamente, na escrita e na oralidade, os verbos em
concordância com pronomes pessoais/nomes sujeitos da oração.
(EF05LP07) Identificar, em textos, o uso de conjunções e a relação que estabelecem
entre partes do texto: adição, oposição, tempo, causa, condição, finalidade.
(EF05LP08) Diferenciar palavras primitivas, derivadas e compostas, e derivadas por
adição de prefixo e de sufixo.
(EF35LP21) Ler e compreender, de forma autônoma, textos literários de diferentes
gêneros e extensões, inclusive aqueles sem ilustrações, estabelecendo preferências
por gêneros, temas e autores.
(EF35LP22) Perceber diálogos em textos narrativos, observando o efeito de sentido
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de verbos de enunciação e, se for o caso, o uso de variedades linguísticas no
discurso direto.
(EF35LP25) Criar narrativas ficcionais, com certa autonomia, utilizando detalhes
descritivos, sequências de eventos e imagens apropriadas para sustentar o sentido
do texto, e marcadores de tempo, espaço e de fala de personagens.
(EF35LP26) Ler e compreender, com certa autonomia, narrativas ficcionais que
apresentem cenários e personagens, observando os elementos da estrutura
narrativa: enredo, tempo, espaço, personagens, narrador e a construção do discurso
indireto e discurso direto.
(EF05LP26) Utilizar, ao produzir o texto, conhecimentos linguísticos e gramaticais:
regras sintáticas de concordância nominal e verbal, convenções de escrita de
citações, pontuação (ponto final, dois-pontos, vírgulas em enumerações) e regras
ortográficas.
(EF05LP27) Utilizar, ao produzir o texto, recursos de coesão pronominal (pronomes
anafóricos) e articuladores de relações de sentido (tempo, causa, oposição,
conclusão, comparação), com nível adequado de informatividade.
3. Justificativa
4. Metodologia
5. Desenvolvimento
1ª Etapa:
Professor
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conhecimento da turma sobre o assunto e valorizar o conhecimento tradicional
transmitido de pais para filhos.
Professor
Resumo da conversa
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2- Geralmente essas histórias falam sobre:
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3- Quem gosta de histórias de arrepiar acha que elas são:
2ª Etapa
Professor
Essa atividade propõe que os alunos façam uma pesquisa sobre o gênero ―Conto de
Assombração‖ e a forma que ele se apresenta ao leitor. É importante que, neste
momento, seja esclarecido que os contos que serão trabalhados e pesquisados
devem respeitar a faixa etária da criança, tendo uma linguagem sadia e que respeite
a relação da criança com o mundo em que vive.
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O conto é a forma narrativa, em prosa, que se organiza em torno de um único
problema. Esse gênero tem como objetivo causar um efeito no leitor: criar uma
tensão que prende a sua atenção da primeira à última linha. Ao escritor de contos
dá-se o nome de contista.
Esse gênero apresenta elementos que o diferenciam dos demais por causar
algumas sensações em quem ouve. Eles nunca começam com "era uma vez...",
mas com "certa noite", "em um local tenebroso" ou algo tão assustador quanto.
Sustos, fantasmas, seres misteriosos, esses são os componentes recorrentes nos
contos de assombração, além de apresentar cenários perfeitos e acontecimentos
inusitados para quem quer sentir uma pontinha de medo, como casas
abandonadas, arrastar de correntes, portas que rangem. Os contos de
assombração estão misturados aos contos de tradição oral, uma vez que muitos
desses contos são contados e recontados de geração a geração.
3ª Etapa
Professor
A coisa
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No que foi, voltou aos berros:
– Fantasma! Uma coisa horrível! Um monstro de cabelo vermelho e uma luz
medonha saindo da barriga.
Ninguém acreditou, está claro! Onde é que já se viu monstro com luz saindo
da barriga? Nem em filme de guerra nas estrelas!
Então o vovô foi ver o que havia. E voltou correndo, como o Alvinho.
– A Coisa! - ele gritava. – A Coisa! É pavorosa! Muito alta, com os olhos
brilhantes, como se fossem de vidro! E na cabeça uns tufos espetados pra todos os
lados!
Nessa altura a família toda começou a acreditar. E tio Gumercindo resolveu
investigar. E voltou, como os outros, correndo e gritando:
– A Coisa! É uma Coisa! Com uma cabeça muito grande, um fogo na boca. É
muito horrorosa!
O Alvinho já estava roendo as unhas de tanto medo. Dona Julinha, a avó de
Alvinho, era a única que não estava impressionada.
– Deixa de bobagem, Alvinho. Pra que este medo? Fantasmas não existem!
– Mas o meu existe! – disse Alvinho.
– Tá bem, tá bem, eu vou! – disse Dona Julinha. - Eu vou ver o que há…
–----------------------------------------------Parar aqui------------------------------------------------
E Dona Julinha foi tirar a limpo o que estava acontecendo. Foi descendo
as escadas devagar, abrindo as janelas que encontrava.
A família veio toda atrás, assustada, morrendo de medo do monstro,
fantasma, alma penada, fosse ele o que fosse. Até que chegaram lá embaixo e
Dona Julinha abriu a última janela.
Então todos começaram a rir, muito envergonhados.
A Coisa era... um espelho!
Dona Julinha tinha levado o espelho para baixo e tinha coberto com um
lençol (Dona Julinha não tinha medo de
fantasmas, mas tinha medo de raios...).
Um dia o lençol se desprendeu, caiu e se
transformou na... Coisa...
Cada um que descia as escadas, no
escuro, via uma coisa diferente no espelho. E
todos eles pensavam que tinham visto... a
Coisa.
A Coisa eram eles mesmos!
Não ria, não! Você já reparou como um
espelho no escuro é esquisito?
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Escola:_________________________________________________________
Nome:__________________________________________________________
Data: _____/_____/___________
A coisa
Texto retirado do livro ―As Aventuras de Alvinho‖, Ruth Rocha, ed. Melhoramentos .
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Professor
4ª Etapa
5ª Etapa
6ª Etapa
6. Avaliação:
1ª Atividade
Professor
ANTES DA LEITURA
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● Apresente títulos de outros autores, que abordam características
semelhantes, como pista para que os(as) estudantes possam ampliar
repertório sobre o gênero a ser trabalhado.
DURANTE A LEITURA
DEPOIS DA LEITURA
Texto 1-Teimosia
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Eu sempre fui alguém levada, teimosa e birrenta. Desde pequena, eu gostava
de brincar com tintas e claro, muita bagunça e lambança. Minha mãe às vezes ficava
maluca ao ver as coisas que eu fazia, quando, por exemplo, eu tirei terra do vaso e
espalhei pelo quintal com as minhas bonecas, fingindo que elas estavam saindo de
uma guerra. Mas o tempo passa, e já com dez anos eu comecei a desobedecer aos
mais velhos, principalmente quando pediam que eu fizesse coisas das quais eu não
gostava. Não foi à toa que eu era repreendida exaustivamente pela minha mãe,
Joana, e de vez em quando por meu pai, João, cuja presença em casa era diminuta,
visto que ele trabalhava a maior parte do tempo para nos alimentar.
Independente das broncas, a realidade era que eu jamais parei de ser
teimosa até os doze anos, quando finalmente meu irmão Lucas nasceu e eu me
tornei um tipo de guardiã, carregando-o para cima e para baixo enquanto nossa mãe
cuidava de casa. Em Rio Branco, no Acre, as casas eram muito longe uma das
outras, e para buscarmos alguns mantimentos, tínhamos que atravessar um
caminho de barro cercado de mato. Pelo menos uma vez por semana, lá ia eu com
meu irmão no colo para pegarmos os mantimentos e retornarmos logo depois.
Seguindo a cansativa rotina, houve um dia em que eu e Lucas tivemos que
buscar um bolo de milho que Dona Chica, do vilarejo, tinha prometido para nossa
mãe. O sol já estava se pondo quando estávamos no meio do caminho, mas
caminhar no escuro é algo que qualquer pessoa caipira se acostuma, e não seria
motivo de deixarmos de comer aquele delicioso bolo. Com Lucas em mãos, cheguei
ao vilarejo e peguei a marmita com Dona Chica, uma senhora com mais de setenta
anos que adorava cozinhar guloseimas de todos os tipos, que pediu para que eu não
abrisse o pote de bolo até que tivéssemos chegado em casa. Independente do
aviso, o cheiro era tão delicioso a ponto de eu ter que abrir e comer rapidamente
uma lasca úmida.
E novamente minha teimosia foi motivo para que eu fosse repreendida.
— Já tinha ouvido que você era teimosa, mas não desse jeito, menina! Você
não respeita os mais velhos, não ouve seus pais, é egoísta! Ah, eu já sei o que fazer
com você! – Enquanto falava, Dona Chica desapareceu na escuridão de sua sala e
então um rosnado grave passou a ecoar pela casa, como se cães estivessem juntos
a ela.
Dona Chica, do meio das sombras, surgiu com o rosto deformado, revelando
muitas presas e segurando em sua mão uma guia ligada a uma coleira, que por sua
vez flutuava no ar, como se estivesse segurando algo invisível.
— Vou te dar apenas esse recado, menina, pois eu sou a Senhora dos Cães!
E é melhor que corra, pois eu enviarei o mais obediente dos meus cães, o Cão dos
Indecentes, pois você só aprenderá com uma lição inesquecível!
Em meio àquela situação, Lucas começou a chorar e eu, abalada por ver
tamanha monstruosidade, só consegui sair correndo sob o céu coberto por nuvens
escuras, seguindo pelo caminho de barro enquanto ouvia o rosnado de um cão atrás
de mim. Naquele horário, por algum motivo, não havia mais pessoas, nem mesmo o
sinal de animais.
O vento que atravessava o matagal se fortificou. Em desespero, eu pedi
perdão por ter sido desobediente e segui pelo caminho, olhando de um lado para
outro. Foi quando eu ouvi um rugido e, ao olhar para frente, lá estava um cachorro
grande e preto, rosnando e mostrando dentes afiados. Seus olhos brilhavam em
carmesim quando ele abaixou a cabeça, aproximando-se lentamente de mim e de
Lucas. Tremendo, eu recuei lentamente, mas à medida que eu me distanciava, o
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cachorro também avançava. Comecei a perceber que quanto mais ele mostrava os
dentes, mais a boca se abria, como se estivesse sendo rasgada dos lados para
comportar tamanha quantidade de dentes, uns sobre os outros. Os olhos até então
avermelhados foram tomados pela cor preta e após uivar, uma sombra saiu de suas
patas e se lançou em todas as direções, paralisando meus pés. Eu pedi misericórdia
e implorei para que nada acontecesse comigo e com meu irmão. O cão então ficou
sobre as duas patas e de seu peito saiu mais uma boca, revelando caninos tão
afiados quanto os da boca original. Verti lágrimas de horror e me lembrei da
transformação de Dona Chica, afinal, o que seria a Senhora dos Cães?
Resoluta, abaixei minha cabeça e pedi perdão dezenas de vezes. Cobri os
olhos de Lucas, que permanecia chorando e me mantive firme diante do cão. As
patas dele sobre a terra pareciam propagar o som de batidas de um martelo contra
um prego. Eu sentia sua presença cada vez mais próxima e, quando percebi, seu
rosto já estava rente ao meu. Era possível sentir o hálito ácido e fétido, como se sua
boca fosse o próprio bueiro, e ouvir o som da sua ira.
— Você é uma criança teimosa, e pessoas teimosas não costumam se dar
bem. Eu vim direto das sombras, dos recônditos do lar daqueles que
desobedeceram às regras da vida, e te encontrei desobedecendo a um pedido de
alguém sábio. Mas sua esperteza parece se destacar em meio a tanta soberba, não
é mesmo? Acha-se dona de tudo e de todos. Acha que seus atos não possuem
consequências. Hoje, será somente um aviso, em respeito ao teu irmão, que ainda
não tem discernimento e está nos braços de alguém inconsequente. Mas, Marina, da
próxima vez eu te trarei muito mais do que o mais puro e aterrorizante medo.
Da próxima vez, você terá que arcar com as consequências com o mesmo
peso da sua desobediência. Siga em frente, e lembre-se que eu sempre estarei te
olhando, seja nas ruas, seja em casa e, quando eu não estiver, saiba que haverá
outros em meu lugar.
Terminando de falar, ele rugiu no meu rosto, fazendo com que até mesmo
minhas lágrimas chegassem ao ponto de congelar.
Desesperada, eu vi o corpo do cão desaparecer como fumaça,
e segui andando em linha reta. Meu corpo tremia e Lucas não
mais chorava. Foi pouco a pouco que chegamos em casa e
entregamos o bolo para minha mãe, que me percebeu pálida.
Eu poderia contar o que aconteceu, mas preferi dizer que tudo
estava bem, principalmente ao ver a imagem de Dona Chica
cercada de cães no meio das árvores para além da nossa
propriedade.
―Sabe quem sou eu, menina? Na verdade, acho que é
melhor você não entender quem é a Senhora dos Cães...‖, ouvi sua voz em
pensamento, deixando o pedaço de bolo cair de minhas mãos.
Fonte: Adaptado de https://br.freepik.com/vetores-gratis/um-garoto-assusta-fantasma_4543691.htm. Acesso em: 27
out. 2020.
Texto 2- O BICHO-HOMEM
Vovó Juvenalia sempre foi uma mulher peculiar. E eu, bom, eu nunca prestei
muita atenção nisso. A única coisa que me importava era estar na companhia dela
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para brincar, cantar e ouvir histórias. Sobre esse último, por mais que eu fosse
criança, Juvenalia jamais me poupou das lendas de sua terra natal, Itacarambi, em
Minas Gerais, geralmente, ou melhor, quase sempre norteadas por acontecimentos
sobrenaturais, confusos e inexplicáveis, mas que faziam algum sentido para os mais
velhos, inclusive para minha mãe Maria.
Em uma dessas ocasiões, tão logo o sol se pôs em uma aquarela de cores
quentes, não demorou muito para que a família se reunisse para saborear um
delicioso arroz com frango, feijão, mandioca cozida e, de sobremesa, doce de
abóbora, para que no fim restassem somente eu e minha vó fora da casa, sentados
em um banco de cimento batido, observando as estrelas cintilarem no céu destituído
de nuvens, como se de alguma maneira o tempo tivesse parado para nos
contemplar. Foi naquele instante que ela tirou suas sandálias e passou a planta dos
pés no chão, brincando com as graminhas que saiam dentre os vãos da calçada, por
mais que tal comportamento não fosse lá muito higiênico. Suspirando, ela sorveu o
ar fresco com cheirinho de terra e mato molhado, e segurou meu ombro bem forte.
— Sabe, Camilo, essa noite, desse jeito: fria e silenciosa; me faz lembrar de
quando eu morava lá em Itacarambi, com meus pais. Minha mãe sempre pediu para
que a gente não saísse à noite, porque tem muitas coisas misteriosas que andam
por aí e a gente nem sabe o que é. E teve uma criatura com a qual me encontrei,
que me dá calafrios até hoje.
— Você pode me contar, vó?
— Sim, mas peço que não tenha medo. O que eu irei contar foi meu encontro
com uma criatura assombrosa... o bicho-homem.
— Eu não terei medo... — confirmei, cruzando as pernas sobre o banco
enquanto ela tirava um pedaço de papel do bolso, onde estava desenhada uma
figura alta e peluda, de olhos vermelhos.
— Tudo começou numa madrugada fria. Minha mãe tinha acabado de fazer o
jantar e, como de costume, meu pai chegou cedo, trazendo uma trouxa com a
mistura do outro dia. Logo depois de comer, minha mãe fechou a porta e as janelas,
e deixou um pouco de comida para os cachorros que ficavam lá fora. Eles eram
dois: Tonin e Junin, dois vira-latas, um idoso e o outro mais jovem. Em seguida,
cada um foi pro seu quarto e nos deitamos para dormir. Porém, ninguém esperava
que aquela noite fosse a mais assombrosa de nossas vidas. Não me contendo de
tanta ansiedade, a interrompi imediatamente sem que ela ao menos pudesse
concluir:
— Por que vovó, o que houve? Ela, respirou profundamente como se aquela
lembrança lhe causasse algum desconforto, mas prosseguiu:
— Com um estrondo tão alto quanto um trovão, nossa porta foi esmurrada por
alguém, fazendo com que parte da dobradiça entortasse. Minha mãe, Joana, e meu
pai, João, pensaram que fosse um ladrão ou algo do tipo. Mas junto com as batidas,
um ruído estranho veio da porta, como se alguém estivesse se engasgando,
emitindo um som gultural e maligno.
— Num ímpeto, meu pai pegou a peixeira para nos defender, mas minha mãe
não deixou que ele abrisse a porta. Em vez disso, nós ficamos em silêncio até que
as batidas parassem, mas, logo depois, elas recomeçaram, agora, nas janelas.
Apesar das tentativas de invasão, o que mais trazia angústia era cogitar que algo de
ruim acontecesse com nossos cachorros, que ao perceberem a ameaça, não
pararam de latir sequer por um segundo. Mas meu pai, que era corajoso, e não ia
deixar que nada de ruim acontecesse com a gente. Por isso, ele desobedeceu a
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minha mãe e saiu.
— Quando a porta estava aberta, mamãe me segurou no colo e pediu para que
eu ficasse calada. E como se fôssemos sombras, esgueiramos a parede, quando de
repente vimos papai de frente para algo terrivelmente assustador: uma criatura alta,
de braços e pernas rígidas como se não tivesse juntas, de olhos grandes e
vermelhos; a pele toda coberta de pelos marrons e orelhas pontiagudas, estendendo
as mãos grandes e com unhas longas e afiadas. Nesse momento, percorreu-me um
calafrio pelo corpo todo como se alguém estivesse nos observando, porém tentei
manter a calma, para que vovó continuasse:
— Ao olharmos para o vão, vimos que somente Junin, o cão mais jovem,
estava latindo a um gemido de lamento, pois Tonin, o cão mais velho, encontrava-se
desfalecido no chão, aparentemente ferido pela criatura. Enquanto meu pai se
posicionava para enfrentar o bicho, Junin avançou e tentou morder as pernas do
monstro. Porém, antes que pudesse feri-lo, o cachorro mais novo também foi
atingido pelas mãos, ou melhor, pelas unhas da criatura, que se alongaram como se
fossem agulhas afiadas, jogando-o para o lado. Meu pai, desnorteado, empunhou a
peixeira e preparou-se para contra-atacar. Minha mãe, porém, largou-me no chão e
gritou, pedindo para que João recuasse. Meu pai, claramente nervoso, verteu
lágrimas ao ver seus cachorros daquela maneira, mas mesmo assim atendeu ao
pedido de Joana.
— Parado, o bicho-homem abriu um sorriso, revelando centenas de dentes
pontiagudos, como se estivesse feliz por tudo o que havia feito. Todavia, em vez de
continuar com as investidas, ele simplesmente virou de costas e começou a ir
embora, deixando pegadas escuras no chão, e rodeadas de pelos, até desaparecer
no meio da mata.
Muitas perguntas passavam a minha mente nesse momento:
— E agora vovó, o que aconteceu? Ele foi embora? O que ele queria?
— Ninguém entendeu ao certo o que havia acontecido, mas minha mãe, que
em algum momento da vida enfrentara o bicho-homem, tratou de esclarecer que ele
fora um escravo que morrera nas matas e que, salvo pela natureza, foi transformado
em uma criatura perigosa, cuja missão era expulsar aqueles que ousaram construir
casas onde só deveria haver a mais pura natureza.
— Desde aquele dia, Camilo, sempre que eu sinto esse cheiro de mato, lembro
daquela figura e de quão assombrosa ela era. Esse desenho aqui — ela me
entregou o papel —, eu fiz um dia depois do acontecido e sempre guardei comigo
para me lembrar que há mais coisas entre o céu e a terra do que as coisas que, de
fato, conhecemos.
— Mas, Vó, você viu o bicho-homem de novo depois que ele atacou a casa?
— Nunca mais. Mas dizem que ele anda por aí protegendo as matas. E de
alguma maneira, é questão de tempo para que qualquer um que tenha invadido um
pedaço esquecido da natureza se encontre com ele. Mas, acho que já chega.
Vamos entrar.
Ao entrarmos, Juvenalia fechou a porta e começamos a nos arrumar para
dormir.
Observando o desenho, fiquei imaginando como seria ver uma criatura tão
imponente, corpulenta e maligna. E em um estado de quase sono, mal fechei os
olhos e fui acordado por algumas batidas na porta. Meu coração, de prontidão,
acelerou e minha garganta secou, por alguns instantes fiquei paralisado de medo.
Aos poucos, desci da cama, abri a porta do quarto e lentamente fui caminhando em
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direção à entrada da casa.
Entrando na casa, meu Tio Cláudio foi recepcionado por minha vó. No entanto,
apesar de ser ele, como a porta ainda estava aberta, eu consegui enxergar uma
figura alta, de olhos vermelhos, saindo do matagal do outro lado da rua, a qual abriu
um largo e maligno sorriso do qual eu jamais me esqueci.
2ª Atividade
Professor
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2. Construa um esquema gráfico, em parceria com seu(sua) professor(a), contendo
as informações relevantes do texto ―Teimosia―. Utilize o espaço abaixo.
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3ª Atividade
Professor
CONTO 1 CONTO 2
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Marina, menina teimosa e
Camilo ouve uma história
desobediente que recebe
Qual é o enredo do texto? da sua avó sobre uma
uma lição da ―Senhora
criatura assombrosa.
dos cães‖.
O narrador participa da
Narrador personagem Narrador personagem
história ou observa os
(participa da história) ―Eu (participa da história) ―E
fatos? Justifique com
sempre fui levada.‖ eu, bom, eu nunca.‖
trechos do texto.
Por causa da
A avó de Camilo conta
Qual é o conflito da desobediência de Marina
uma história de uma fera
história? Como ele é ela recebe uma lição, mas
que desaparece sem dar
resolvido ganha uma segunda
explicações.
chance.
2. Após analisar os textos, escolha, junto com o(a) seu(sua) colega, um dos contos
apresentados pelo(a) professor(a) na atividade anterior. Escreva, nas linhas abaixo,
o parágrafo original com o desfecho original do conto escolhido.
Texto 1-―Sabe quem sou eu, menina? Na verdade, acho que é melhor você não
entender quem é a Senhora dos Cães...‖, ouvi sua voz em pensamento, deixando
o pedaço de bolo cair de minhas mãos.
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Texto 2- Entrando na casa, meu Tio Cláudio foi recepcionado por minha vó. No
entanto, apesar de ser ele, como a porta ainda estava aberta, eu consegui enxergar
uma figura alta, de olhos vermelhos, saindo do matagal do outro lado da rua, a qual
abriu um largo e maligno sorriso do qual eu jamais me esqueci.
Resposta Pessoal.
4ª Atividade
Professor
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• Conversar com os(as) estudantes para apresentação das finalidades da atividade.
• Planejar a atividade, de modo que os(as) estudantes possam colaborar um com o
outro; não se esqueça de analisar se a interação entre a dupla é efetivamente
produtiva.
• Propor a leitura dos textos pelos(as) estudantes e peça que destaquem os
elementos linguísticos que construíram o mistério no conto.
• Levantar os adjetivos que foram usados para caracterizar as personagens e os
objetos em cena. Ressaltar as descrições das ações nas quais foram usados
períodos curtos. Mostre também a presença dos diálogos, se houver, e o emprego
dos verbos no pretérito (passado).
• Solicitar aos(as) estudantes que registrem, em seu caderno, as expressões
levantadas coletivamente por vocês.
• Pedir aos(as) estudantes que se reúnam em duplas e complementem a lista de
expressões analisando também outros contos entre os que foram lidos até o
momento.
O quadro abaixo visa sintetizar e sistematizar algumas características recorrentes
desse gênero, que marcam o seu conteúdo temático (o que é possível ser dito em
um conto), a sua forma composicional (como se organiza o texto) e o seu estilo
(quais os recursos da língua usados para se transmitir a mensagem). Cabe destacar
que a separação desses elementos constitutivos do gênero tem finalidade didática,
visto que esses elementos interagem, dialogam entre si e confluem para a
construção do que chamamos de conto.
CONTEÚDO TEMÁTICO
O conto apresenta um conteúdo didático. Esse conteúdo pode vir organizado de
modo a enfocar a sequência narrativa estabelecendo a causalidade entre as partes.
FORMA COMPOSICIONAL
Em prosa, os contos se organizam como uma narrativa concisa: há uma ação que
se desenvolve por meio do estabelecimento de um conflito, em geral de natureza
misteriosa, de suspense. A ação do conto é episódica. Apresenta poucos episódios,
que se constituem em cenas misteriosas, inesperadas, surpreendentes, dinâmicas,
enigmáticas. O tempo reduzido constitui-se em um eixo relevante, que contribui para
o desenvolvimento do dinamismo da ação
ESTILO
A narração pode aparecer em 1ª ou 3ª pessoa. O narrador, com certa frequência, se
coloca pessoalmente em 1ª pessoa. A escolha das personagens colabora para o
clima de assombração e mistério. Nos contos as personagens podem ser fantasmas,
espíritos que criam atmosfera de medo, suspense e fatos sinistros cujas respostas
aos mistérios que circundam as personagens, pelas suspeições do leitor, recaem
sobre no limite entre o mundo conhecido e o mundo imaginário. Os ambientes são
sombrios e aparecem expressões como: no cair da noite, em: uma rajada de vento,
o canto da ave noturna, ruído de passos entre outros. A linguagem emprega a
variedade padrão da língua e os verbos no pretérito, adjetivação, advérbios e
locuções adverbiais, marcadoras do tempo. Frases curtas, discurso direto
predominantemente.
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Atividade 3D do livro Ler e Escrever - Contos de Assombração – AMPLIANDO
O REPERTÓRIO
Conto 1 Conto 2
Recursos usados para a Casas muito longe umas Fora de casa na calçada.
descrição do ambiente das ouras, caminho de
barro cercado de mato.
5ª Atividade
Professor
26
A lição da caveira
Há muito tempo, numa noite sem lua, ia um homem por uma estrada deserta
e assombrosa. Nela havia um cemitério muito velho. Tão velho e maltratado que
algumas ossadas estavam até à mostra, dando ao lugar um aspecto assustador.
Quando o homem passou pelo dito cemitério, avistou uma caveira quase à
beira do caminho. Teve uma ideia sem ver nem pra quê: resolveu testar sua
coragem diante do sobrenatural. Aproximou-se e, agachando-se, deu uma
pancadinha com o nó do dedo no crânio alvo, perguntando, em tom
de brincadeira:
- Caveira, quem a matou?
Como era de se esperar, não ouviu nenhuma resposta. Mas
ele continuou com o gracejo:
- Caveira, quem a matou?
Nada outra vez. Então ele a apanhou, levou à altura do rosto e,
dando vigorosas sacudidas, repetiu a pergunta.
Dessa vez, porém, foi diferente. Movendo a queixada
esbranquiçada, a caveira lhe respondeu num tom soturno:
- Foi minha líííííínguaaa!
Flávio Morais. Trecho extraído do livro: Sete contos de arrepiar. Rio de Janeiro. Rocco, 2006. p. 12-15.
Professor:
Caveira misteriosa.
Há muito tempo, numa noite sem lua, ia um homem por uma estrada deserta e
sombrosa. Nela havia um cemitério muito velho. Tão velho e maltratado que
algumas ossadas estavam até à mostra, dando ao lugar um aspecto assustador.
27
d) Você percebeu que a personagem principal da história não tem nome? Que nome
você daria para ele?
Resposta pessoal.
e) Na sua opinião, o que vai acontecer com o homem da história? Por quê?
Resposta pessoal.
Professor
O enredo é construído pela sequência de fatos que mantêm entre si uma relação
de causa e efeito e que tem como estrutura:
6ª Atividade
Professor
Aprendendo e compreendendo
Leia o texto com o seu professor e depois responda às questões.
A coisa
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medonha saindo da barriga.
Ninguém acreditou, está claro! Onde é que já se viu monstro com luz saindo
da barriga? Nem em filme de guerra nas estrelas!
Então o vovô foi ver o que havia. E voltou correndo, como o Alvinho.
– A Coisa! - ele gritava. – A Coisa! É pavorosa! Muito alta, com os olhos
brilhantes, como se fossem de vidro! E na cabeça uns tufos espetados pra todos os
lados!
Nessa altura a família toda começou a acreditar. E tio Gumercindo resolveu
investigar. E voltou, como os outros, correndo e gritando:
– A Coisa! É uma Coisa! Com uma cabeça muito grande, um fogo na boca. É
muito horrorosa!
O Alvinho já estava roendo as unhas de tanto medo. Dona Julinha, a avó de
Alvinho, era a única que não estava impressionada.
– Deixa de bobagem, Alvinho. Pra que este medo? Fantasmas não existem!
– Mas o meu existe! – disse Alvinho.
– Tá bem, tá bem, eu vou – disse Dona Julinha. Eu vou ver o que há...
E Dona Julinha foi tirar a limpo o que estava acontecendo. Foi descendo as
escadas devagar, abrindo as janelas que encontrava.
A família veio toda atrás, assustada, morrendo de medo do monstro,
fantasma, alma penada, fosse ele o que fosse. Até que chegaram lá embaixo e
Dona Julinha abriu a última janela.
Então todos começaram a rir, muito envergonhados.
A Coisa era... um espelho!
Dona Julinha tinha levado o espelho para baixo e tinha coberto com um lençol
(Dona Julinha não tinha medo de fantasmas, mas tinha medo de raios...).
Um dia o lençol se desprendeu e caiu e se transformou na... Coisa...
Cada um que descia as escadas, no escuro, via uma coisa diferente no
espelho. E todos eles pensavam que tinham visto... a Coisa.
A Coisa eram eles mesmos!
Não ria, não! Você já reparou como um espelho no escuro é esquisito?
Texto retirado do livro ―As Aventuras de Alvinho‖, Ruth Rocha, ed. Melhoramentos.
Família guardava tudo que ninguém sabe bem se quer ou não quer.
2) Por que Alvinho pegou uma lanterna? O que ele queria fazer?
Alvinho resolveu ir ao porão para procurar uns patins que ele não sabia onde é que
estavam. Pegou a lanterna, porque as lâmpadas do porão estavam queimadas.
4) Qual era a única pessoa da família que não ficou impressionada com o que
havia no porão?
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Dona Julinha, a avó de Alvinho.
A ―Coisa‖ era um espelho que dona Julinha havia guardado há muito tempo e
coberto com um lençol.
7ª Atividade
Professor
Um dicionário de arrepiar
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Observações
Verifique que os dicionários precisam levar em conta não só a primeira letra das
palavras, mas também organizar as palavras de acordo com a ordem da segunda,
terceira e até quarta letra.
Professor
8ª Atividade
Professor
O texto abaixo já foi utilizado por você em uma etapa anterior, porém, agora ele
está embaralhado, para que você teste seus conhecimentos sobre a estrutura do
conto de assombração.
Para isso, recorte as tiras e, sem olhar a história lida, coloque-as em ordem,
colando-as na folha a seguir.
Professor
Aproveite para circular pela sala e observe como os alunos estão organizando o
texto, faça as intervenções necessárias.
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A lição da caveira
Quando o homem passou pelo dito cemitério, avistou uma caveira quase à
beira do caminho. Teve uma ideia sem ver nem pra quê: resolveu testar sua
coragem diante do sobrenatural. Aproximou-se e, agachando-se, deu uma
pancadinha com o nó do dedo no crânio alvo, perguntando, em tom de brincadeira:
- Caveira, quem a matou?
Como era de se esperar, não ouviu nenhuma resposta. Mas ele continuou
com o gracejo:
- Caveira, quem a matou?
Nada outra vez. Então ele a apanhou, levou à altura do rosto e, dando
vigorosas sacudidas, repetiu a pergunta.
Há muito tempo, numa noite sem lua, ia um homem por uma estrada
deserta e sombrosa. Nela havia um cemitério muito velho. Tão velho e maltratado
que algumas ossadas estavam até à mostra, dando ao lugar um aspecto assustador.
A lição da caveira
Há muito tempo, numa noite sem lua, ia um homem por uma estrada deserta
e sombrosa. Nela havia um cemitério muito velho. Tão velho e maltratado que
algumas ossadas estavam até à mostra, dando ao lugar um aspecto assustador.
Quando o homem passou pelo dito cemitério, avistou uma caveira quase à
beira do caminho. Teve uma ideia sem ver nem pra quê: resolveu testar sua
coragem diante do sobrenatural. Aproximou-se e, agachando-se, deu uma
pancadinha com o nó do dedo no crânio alvo, perguntando, em tom de brincadeira:
- Caveira, quem a matou?
Como era de se esperar, não ouviu nenhuma resposta. Mas ele continuou
com o gracejo:
- Caveira, quem a matou?
Nada outra vez. Então ele a apanhou, levou à altura do rosto e, dando
vigorosas sacudidas, repetiu a pergunta.
Dessa vez, porém, foi diferente. Movendo a queixada esbranquiçada, a
caveira lhe respondeu num tom soturno:
- Foi minha líííííínguaaa!
32
9ª Atividade
Professor
Com a modificação que você e seu parceiro fizeram, o título do conto precisa ser
modificado, não é? Escreva, abaixo, o título que vocês consideram mais adequado
para o parágrafo que criaram.
Neste momento é importante que os alunos percebam o quanto o título tem relação
com a personagem ―assombroso‖ do conto, revelando algum aspecto sobre ele.
Professor
10ª Atividade
Professor
Vamos continuar a ler ―A lição da caveira‖, um dos contos de arrepiar escrito por
Flávio Morais. Será que o homem ficou muito assustado com a fala da caveira? O
que será que aconteceu?
Por aquilo o homem não esperava. Tomado pelo pavor, largou imediatamente o
macabro objeto e afastou-se impressionado com o que acontecera. Beliscou-se. Não
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estava louco; nem sonhando. A caveira realmente havia falado. Tinha certeza
daquilo. Olhou para trás e a avistou. Parecia encará-lo com aqueles enormes
buracos escuros. Um arrepio percorreu-lhe a espinha. Caminhou o resto da noite até
que, ao amanhecer, chegou a um lugarejo.
Professor
Professor
34
11ª Atividade
Professor
2- Agora, escreva nos espaços em branco as palavras da lista que podem substituir
o que aparece no texto original sem alterar o sentido.
35
maluco; nem sonhando. A caveira realmente havia falado. Tinha certeza daquilo.
Olhou para trás e a avistou. Parecia encará-lo com aqueles enormes buracos
escuros. Um calafrio percorreu-lhe a espinha. Caminhou o resto da noite até que, o
amanhecer, chegou a um vilarejo.
12ª Atividade
Professor
Leia o conto na íntegra para que os alunos possam conhecer como o autor dá
continuidade a ele e peça que os alunos sublinhem as palavras de arrepiar e copiem
no dicionário da atividade 5.
A LIÇÃO DA CAVEIRA
Há muito tempo, numa noite sem lua, ia um homem por uma estrada deserta
e sombrosa. Nela havia um cemitério muito velho. Tão velho e maltratado que
algumas ossadas estavam até à mostra, dando ao lugar um aspecto assustador.
Quando o homem passou pelo dito cemitério, avistou uma caveira quase à
beira do caminho. Teve uma ideia sem ver nem pra quê: resolveu testar sua
coragem diante do sobrenatural. Aproximou-se e, agachando-se, deu uma
pancadinha com o nó do dedo no crânio alvo, perguntando, em tom de brincadeira:
- Caveira, quem a matou?
Como era de se esperar, não ouviu nenhuma resposta. Mas ele continuou
com o gracejo:
- Caveira, quem a matou? – Nada outra vez. Então ele a apanhou, levou à
altura do rosto e, dando vigorosas sacudidas, repetiu a pergunta.
Dessa vez, porém, foi diferente. Movendo a queixada esbranquiçada, a
caveira lhe respondeu num tom soturno:
- Foi minha líííííínguaaa!
Por aquilo o homem não esperava. Tomado pelo pavor, largou imediatamente
o macabro objeto e afastou-se impressionado com o que acontecera. Beliscou-se.
Não estava louco; nem sonhando. A caveira realmente havia falado. Tinha certeza
daquilo. Olhou para trás e a avistou. Parecia encará-lo com aqueles enormes
buracos escuros. Um arrepio percorreu-lhe a espinha. Caminhou o resto da noite até
que, o amanhecer, chegou a um lugarejo.
Casebres espalhados, velhos e malcuidados; parecia que a vilazinha havia
parado no tempo, imersa numa atmosfera estranha. Naquela hora da manhã as
pessoas começaram a sair das casas para os seus afazeres diários. Ao notarem a
presença do desconhecido, dele se aproximaram, cheios de curiosidade.
Pois bem. Mal abriu a boca foi ele logo dizendo que tinha ouvido uma caveira
falar no velho cemitério. E o povo dali, muito influenciável, tornou aquilo a principal
notícia do dia. Tão impressionados ficaram que, certa manhã, formando uma
36
pequena multidão, foram pedir ao forasteiro que os levasse ao cemitério e repetisse
a façanha.
O homem, satisfeito com a fama que havia adquirido no seio daquele povo
simples e ingênuo que o tinha como um santo milagroso, e crente de que
conseguiria repetir o estranho feito, aceitou o pedido da comitiva. Partiram, então,
imediatamente para o lugar onde acorrera o fenômeno.
Era mais de meio-dia quando chegaram ao local.
Ali o forasteiro organizou todo o povo em círculo, no meio do cemitério.
Apanhou a mesma caveira que havia largado dias antes e, para impressionar a
excitada plateia, gritou com uma voz rouca e profunda.
- Caveira, quem a matou?
Nada.
- Caveira, quem a matou? – repetiu.
Outra vez, nenhuma resposta. O povo, inquieto, começou a se rebelar e o
homem, já nervoso, explicou que antes a caveira só lhe respondera quando havia
feito a pergunta pela terceira vez. Todos, então, se acalmaram aguardando cheios
de expectativas. Já suado e nervoso, tornou a gritar:
- Vamos, caveira, responda para esta gente! Quem a matou?
Mais uma vez, porém, o silêncio foi a resposta.
Dessa vez um silêncio mortal. O homem percebeu, assustado, a multidão que
se sentiu ludibriada caminhar em sua direção. Olhos vidrados, expressão furiosa nos
rostos, andavam lentamente, como uma turba de mortos-vivos. Pegavam o que
podiam no chão: paus, pedras, restos de cruzes, ossos. Enquanto fechavam o cerco
em redor do assombrado estranho, esbravejavam, em coro, chamando-o de
mentiroso, embusteiro e enganador.
O povo enfurecido parecia dominado por alguma força sobrenatural. Usando
os objetos como armas, investiu contra o forasteiro. Foi um massacre. Nada deteve
a multidão, que, a cada súplica do infeliz, parecia mais revoltada.
Depois do ataque, cada agressor retirou-se do local. Lá abandonaram aos
abutres o corpo do forasteiro.
Quando, ao cair do sol, o local voltou a ficar deserto e silencioso, a caveira,
então, soltou uma estridente gargalhada e disse:
- Eu não falei que a língua matava?
Flávio Moraes. Em: ―Sete contos de arrepiar‖.
Qual é a lição da caveira?
O que você achou da lição da caveira? Foi surpreendente ou você já esperava
um desfecho como este?
Afinal de contas, qual é a lição da caveira?
Dicionário de arrepiar
Das palavras de arrepiar que você sublinhou durante a leitura feita pelo
professor, copie em seu dicionário aquelas que ainda não estão lá.
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13ª Atividade
Professor
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Entendendo o texto:
06 – Se algum amigo lhe desafiasse, assim como no texto, você aceitaria? Justifique
sua resposta.
Resposta pessoal do aluno.
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09- O médico fantasma é uma história sobre medo, um ―Conto de assombração‖.
Descreva o momento mais assustador da história.
12- Por que o desafio era ter que ir ao cemitério à noite? Você aceitaria este
desafio? Por quê?
Resposta pessoal do aluno.
(A) ao velhinho.
(B) ao menino.
(C) ao cemitério.
(D) ao pai do menino.
14ª Atividade
Professor
Histórias de assombrar!
Nas atividades 14 e 15, vamos ler duas histórias que foram adaptadas do livro
histórias da avozinha, escrito por Figueiredo Pimentel. Acompanhe a leitura do
professor, seguindo-a com atenção, para depois responder as questões.
40
Texto 1
A casa mal-assombrada
41
No final das contas - Acompanhe a leitura que seu professor (a) irá fazer do
final do conto.
Professor
Depois de ler a história, que título você daria? Coloque sua sugestão na linha
abaixo:
Resposta pessoal
As palavras de arrepiar
42
Palavras e expressões como: ________________________________________
______________________________________, ____________________________
e _________________________________ são muito comuns nos contos de
assombração.
a) Como eram as pernas? Como e onde elas caíram? Que barulho fizeram ao
cair?
As duas pernas eram_____________________________________ e caíram
_________________________, fazendo um barulho _________________________.
Respostas pessoais.
15ª Atividade
Professor
Leia uma outra versão da história que você leu na atividade anterior.
GASPAR, EU CAIO!
43
Vem de sacola pendurada no ombro e, na mão, um pau de matar cobra.
Trovoada. Os pingos da chuva principiam a cair. O viajante aperta o passo.
Na curva, dá com uma casa abandonada. Cai um raio de despedaçar árvore. A
chuva aperta. Na porta da tapera tem uma cruz desenhada. O homem não quer
saber de nada. Mete o pé na porta e entra.
Dentro, um pouco de tudo. Pedaços de mobília, tigelas, troços e trecos
jogados no escuro.
O viajante faz fogo.
Agachado, tira um pedaço de carne da sacola e bota para assar. Está morto
de fome. Deita-se no chão e solta o corpo, esperando a comida ficar pronta.
A chuva vai minguando. O mato fica quieto.
De repente, o telhado range. De lá de cima, um gemido rabisca o ar:
- Gaspar!
O homem estremece. Aperta os dentes. A luz do fogo é fraca. Não dá para
ver nada.
A voz chama e chama.
- Gaspar!
Já passa da meia noite. Quem será? A voz insiste:
- Gaspar!
O viajante pensa em fugir. Mas, e a carne? E o frio? E a chuva ameaçando
cair? Encolhido num canto, o homem arrisca:
-Quem está aí?
A voz, no telhado, continua grossa:
- Gaspar!
- Quem está aí?
- Gaspar!
- Quem está aí? -pergunta o homem.
A voz então diz:
- Gaspar... Eu caio!
- Pois caia! – responde o viajante.
Estrondo. Espanto. Uma coisa despenca lá de cima - Catapram – e cai no
chão.
Os olhos do homem crescem de pavor.
É um pé. A ossada de um pé. E vem com os dedos mexendo!
A voz boia no ar:
- Gaspar!
O homem treme.
- Eu caio!
- Pois caia! – grita o homem de novo.
Catapram. Vem outro pé. Cai e vai se arrastando para junto do primeiro.
- Gaspar!
O viajante respira curto. A cada resposta sua, desabam do forro pernas,
coxas, tronco, braços e mãos de um esqueleto que vai se formando no chão.
O esqueleto começa a dançar.
A luz do fogo desenha sombras estranhas no casebre.
- Gaspar! Gaspar! Gaspar!
A voz grossa voa cada vez mais alto.
- Eu caio!
- Pois caia! – berra o viajante, sentindo sua hora chegar.
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E então – ploct – uma cabeça cai lá do alto.
Meio de medo, meio de raiva, o homem chuta a caveira longe.
O corpo desencarnado fica zangado. Para a dança, agacha e, cuidadoso,
enfia o crânio no pescoço. Depois, lambuza a carne que assa no fogo com seu
cuspe escuro.
O sangue do viajante ferve. Estava morto de fome. A carne era tudo o que
havia para comer. O homem cata o pau de matar cobra.
- Para mim chega! – De olhos fechados, mergulha sobre o esqueleto dando
soco e pancada. O morto gargalha. Os dois rolam atracados pelo chão da tapera.
A luta vara a noite. O homem bate, chora e sangra. O esqueleto range os
dentes.
Os dois quebram tudo, apagam o fogo com o corpo e vão parar do lado de
fora, rugindo na lama.
O tempo passa. Um golpe seco estala no mato. Silêncio.
O morto suspira e cai.
O viajante continua de pé, vitorioso. Passa o braço machucado sobre o rosto.
Do chão, a caveira pede para o homem cavar um buraco no pé de uma
árvore.
O homem responde:
- Nem nunca!
Em seguida, vai até a árvore e trepa num galho bem alto.
Abatido, o esqueleto pega e cavuca ele mesmo. Tira do buraco fundo um
tacho cheio de ouro e prata. Depois olhando para o homem pendurado na árvore,
solta um gemido e some no vento.
O viajante fica onde está. Manhã nascendo no mato. Seu peito mexe com
força, indo e vindo. Olha as mãos sujas de sangue. Estrada de terra sem uma alma.
A roupa rasgada. O suor. O sol avermelhado sopra a brisa quente entre as
folhagens. O homem sente o corpo doído e leve. Olha a tapera. Tem vontade de rir,
cantar, conversar com alguém. Salta aliviado do galho, junta as coisas se via
embora.
4)Cite algumas palavras que o autor utilizou no texto para caracterizar assombração:
Noite escura no mato Sem uma alma O vento gemendo
Nuvens passando nervosas Casa abandonada Uma cruz desenhada
O telhado range Um gemido rabisca o ar A voz chama e chama
Estrondo. Espanto pavor A ossada de um pé
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16ª Atividade
Professor
O fantasma da sorte
46
Em seguida, dirigindo-se ao capitão, explicou:
— Meu amigo, nossa família guarda um segredo há muitos séculos. Neste
castelo vive o fantasma de um menino. Seu quarto preferido é aquele em que você
dormiu. Mas não se preocupe. Trata-se de um fantasma alegre, um fantasma da
sorte. Todos os que o viram ganharam dinheiro e foram felizes.
E foi o que aconteceu. Uma semana depois, o capitão conheceu uma formosa
jovem, com quem se casou. Como ela era muito rica, ele acabou se tornando um
milionário também. E os filhos que tiveram foram fortes e felizes e tiveram sorte
durante toda a vida.
História do folclore inglês. Disponível em: https://eixodoleitorcrateus.blogspot.com/2015/04/o-fantasma-da-sorte.html 29/09/22
(A) preocupado.
(B) angustiado.
(C) amedrontado.
(D) aborrecido
17ª Atividade
Professor
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Texto para ser lido com os alunos:
Avaliação de Percurso
Nesse conto vamos observar que o desenvolvimento foi retirado e você deverá criar
momentos de tensão, que prendam a atenção do leitor, não esqueça de ler o
desfecho com atenção, é necessário seguir a história.
Recado de fantasma
Tudo começou quando nos mudamos para aquela casa. Era um antigo
sobrado, com uma grande varanda envidraçada e um jardim. Eu me sentia tão feliz
em morar num lugar espaçoso como aquele, que nem dei atenção aos comentários
dos vizinhos, com quem fui fazendo amizade. Eles diziam que a casa era mal-
assombrada. Alguns afirmavam ouvir alguém cantando por lá às sextas-feiras.
– Deve ser coisa de fantasma! - falavam.
– Se existe, nunca vi! – E então contava a eles que as casas antigas, como
aquela, com revestimentos e assoalho de madeira, estalam por causa das
mudanças de temperatura. Isso é um fenômeno natural, conforme meu pai havia me
explicado. Mas meus amigos não se convenciam facilmente. Apostavam que mais
dia menos dia eu levaria o maior susto.
Certa noite, três anos atrás, aconteceu algo impressionante. Meus pais tinham
saído e eu fiquei em casa com minha irmã, Beth. Depois do jantar, fui para o quarto
montar um quebra-cabeça de 500 peças, desses bem difíceis.
Faltava um quarto para a meia-noite. Eu andava à procura de uma peça para
terminar a metade do cenário quando senti um ar gelado bem perto de mim. As
peças espalhadas pelo chão começaram a tremer. Vi, arrepiado, cinco delas
flutuarem e depois se encaixarem bem no lugar certo. Fiquei tão assustado que nem
consegui me mexer. Só quando tive a impressão de ouvir passos se afastando é que
pude gritar e sair correndo escada abaixo. Minha irmã tentou me acalmar, dizendo
que tudo não passava de imaginação, mas eu insisti e implorei que ela viesse até o
quarto comigo. Uma segunda surpresa me esperava: o quebra-cabeça estava
montado, formando a imagem de uma casa com um jardim bem florido. No entanto,
meu jogo formava o cenário de uma guerra espacial, eu tinha certeza!
No dia seguinte, fui até a biblioteca pesquisar o tema. Eu e Beth encontramos
dúzias de livros que tratavam de fatos extraordinários e aparições. E a explicação
para eventos desse tipo foi a seguinte:
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----------------------------------------------Parar aqui------------------------------------------------
Hoje minha casa tem o jardim mais bonito da rua. Centenas de lindas
margaridas brancas florescem a maior parte do ano (para total espanto da
vizinhança). O fantasma? Nunca mais vi. Decerto passeia feliz pelo jardim, nas
noites de lua cheia.
Flávia Muniz. Recado de fantasma. Nova escola. São Paulo: Abril, ago. 2004. v.1 p. 13. Edição
especial: contos para crianças e adolescentes.
18ª Atividade
Professor
Escolha uma das produções para realizar a revisão coletiva. Durante a revisão,
o professor deverá sinalizar o que pode ser mudado, por exemplo, quando há muitas
repetições de verbos, nomes de personagens ou de reprodução de expressões orais
(―aí ela‖, ―daí ele‖), o professor pode perguntar a turma o que pode ser colocado no
lugar. Se há muita repetição do nome João, coloca-se ―ele‖ no local; verbos iguais,
coloca-se um sinônimo; as expressões orais poderão ser substituídas por ―então‖,
―logo‖, etc. Associado a essa análise do texto, o educador explica o uso do pronome,
a importância de se conhecer mais verbos, o uso dos conectivos textuais para maior
clareza etc.
Busque apresentar aos alunos o texto escolhido na íntegra, e fazer as
adequações conforme forem realizando a revisão. Chame a atenção para o clímax
no conto, questionando sobre o surgimento do conflito.
19ª Atividade
Professor
49
Recado de fantasma
50
daria a ele?
Resposta Pessoal.
b) O narrador do texto é:
( X ) personagem ( ) observador
20ª Atividade
Professor
Nesta atividade os alunos farão a análise dos aspectos discursivos do texto, para
isso, solicite que leiam silenciosamente e respondam individualmente às questões.
Durante a atividade, caminhe pela turma e observe os estudantes que estão
apresentando dificuldades, faça as intervenções necessárias.
A viúva estava na cozinha com o filho, contando feliz o dinheiro que tinha
51
encontrado debaixo do colchão, quando o marido, falecido fazia meses, apareceu e
veio sentar-se à mesa com eles.
A mulher não se intimidou:
- O que você está fazendo aqui, seu miserável?! Me dá paz! Você está morto!
Trate de voltar para debaixo da terra.
Entendendo o conto:
1) Por que a mulher ficou tão aborrecida com a chegada do finado marido?
Porque ele veio atrapalhar ela a contar o dinheiro que encontrou debaixo do colchão.
3) Ao olhar a sua imagem no espelho, o defunto alegou que estava meio abatido e
que era falta de exercícios, diante disso o que ele resolveu fazer?
Ordenou que o filho pegasse a sanfona, convidou a mulher para dançar, e como ela
não quis, resolveu dançar sozinho.
52
4)O que fez a mulher mudar de ideia e dançar com o morto?
A mulher viu que um dedo dele estava caindo, então pensou que logo outras partes
cairiam.
5) À medida que o morto imitava as piruetas da mulher, o que acontecia com ele?
Quanto mais rápido dançava, os pedaços da caveira iam caindo.
7) Ao final do texto o menino diz: ―- Uai, Mãe! Não era para guardar no baú tudo que
fosse dele?‖ Como a mãe pode ter ficado diante dessa fala? Por quê?
Resposta pessoal, porém, espera-se que os alunos percebam que ela pode ter
ficado muito triste ou aborrecida, porque era todo o dinheiro que eles tinham.
12) Retome o título da história. Que outro título poderia ser dado ao texto? Por quê?
Resposta pessoal do aluno.
14) Você acha que esse texto poderia acontecer na realidade? Explique.
Resposta pessoal do aluno.
21ª Atividade
Professor
53
do texto, para isso, solicite que leiam silenciosamente e respondam individualmente
às questões. Durante a atividade, caminhe pela turma e observe os estudantes que
estão apresentando dificuldades, faça as intervenções necessárias. Após toda a
turma finalizar, socialize as respostas.
Analisando o texto
54
o caminho que levava ao morro. Jacinto sentiu a angústia de Canijo e decidiu segui-
lo. Depois de se benzer várias vezes, começou a subir, deixando-se guiar pelo
cachorro, que não parava de ladrar e grunhir.
Pouco depois, ouviu um ruído: chuiss, chuiss, sibilava um facão derrubando
mamonas, sarças e samambaias. De longe, Jacinto avistou o Runcho, que,
aproveitando a escuridão, estava abrindo uma trilha até um lugar onde havia uns
cedros enormes que ele desejava derrubar. Com o vento, as folhas das árvores
rangiam, dando a impressão de que estavam chorando.
De súbito, a lua se escondeu detrás de uma nuvem e Jacinto não conseguiu
enxergar mais nada. Canijo parou. Cessou também o ruído do facão na folhagem. A
escuridão e o silêncio dominaram a floresta e um resplendor surgiu no meio da mata
espessa.
O Runcho, como que hipnotizado, deixou cair o facão e se levantou com os
olhos fixos no resplendor, o qual pouco a pouco foi tomando a forma de uma bela
mulher. Seus cabelos longos e escuros caíam-lhe sobre os ombros e cobriam-lhe
todo o corpo. Seus olhos grandes e muito pretos lançavam centelhas de fogo e seus
lábios delineavam um sorriso feroz. Uma voz repetia:
– Vem... vem... vem...
Tão logo o Runcho conseguiu tocar a mulher, esta soltou uma aguda
gargalhada, que retumbou no silêncio da noite. Rápida como um raio, sacudiu a
cabeça e imediatamente os seus longos cabelos se transformaram num espesso
musgo pardacento e em grossos cipós que, como serpentes, enroscaram-se no
pescoço, nos braços e nas pernas do moço.
Jacinto fechou os olhos. Seu coração saltava como louco e suas pernas
pareciam estar cravadas na terra. Alguns instantes depois, ele ouviu novamente os
latidos furiosos de Canijo e o ranger das folhas sacudidas pelo vento. Abriu os olhos
e aproximou-se do Runcho. Estava morto. Um cipó apertava-lhe o pescoço e, ao seu
lado, estendia-se um rastro de musgo pardacento que se perdia no matagal. Ao
longe, começou-se a escutar a água do rio que voltava a correr.
Jacinto jamais disse nada a ninguém. Da Marimonda, a mãe-da-mata, não
se deve falar.
Coletânea de contos de tradição oral. Contos de assombração. Co-edição latino americana. São Paulo: Ática, 1988, 4a ed.
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O tempo predominante é o passado, já que
Tempo- Quando se passa a história? o texto fala de uma história que ocorreu
quando Jacinto voltava à sua chácara, após
ir buscar água pra regar as laranjeiras.
Presença de diálogos- Há diálogos nos Sim, 9 diálogos, eles são introduzidos pelo
textos? Quantos? Como eles são sinal do travessão.
introduzidos no texto?
Para escrever uma história que narre um fato assustador, é preciso empregar
palavras que se associem a sensações como susto e o medo ou a fenômenos como
o sobrenatural.
Selecione as palavras de arrepiar que você encontrou no conto da Marimonda e
escreva-as neste quadro, em seguida, escolha aquelas que deverão fazer parte do
dicionário de arrepiar e procure os seus significados. Lembre se de anotar na
atividade 5.
Sugestões: Marimonda, calamidade, mau sinal, assustado, dá azar, ...
22ª Atividade
Professor
Vamos conhecer outro conto de assombração? Ouça com atenção a leitura do(a)
professor(a). Depois leia sozinho, assinalando as palavras de arrepiar que você
encontrar.
Trecho 1
Era uma vez dois grandes amigos que, de tanto que se queriam, haviam feito
um juramento: quem casasse primeiro deveria chamar o outro para padrinho,
mesmo que se encontrasse no fim do mundo.
Depois de algum tempo, um dos amigos morre. O outro, devendo casar-se,
não sabia como fazer e pediu conselhos ao confessor.
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— Negócio complicado — disse o pároco — você deve manter a sua palavra.
Convide-o mesmo estando morto. Vá até o túmulo e diga o que tem a dizer. Ele
decidirá se vem ou não.
O jovem foi até o túmulo e disse:
— Amigo, chegou o momento, vem para ser meu padrinho!
Abriu-se a terra e pulou fora o amigo.
Trecho 2
— Claro que vou, tenho que manter a promessa, pois se não a mantiver não
sei quanto tempo terei que ficar no purgatório.
Portanto, os amigos foram para casa e depois à igreja para o matrimônio. A
seguir veio o banquete de núpcias e o jovem morto começou a contar histórias de
todo tipo, mas não dizia uma palavra sobre o que vira no outro mundo. O noivo não
via a hora de lhe fazer umas perguntas, mas não tomava coragem. No final do
banquete, o morto se levanta e diz:
— Amigo, já que lhe fiz este favor, você tem que me acompanhar um
pouquinho.
— Claro, por que não? Porém, espere, só um momentinho, pois é a primeira
noite com minha esposa…
— Certamente, como quiser!
O marido deu um beijo na mulher.
— Vou sair um instante e volto logo — E saiu com o morto.
Falando de tudo um pouco, chegaram ao túmulo. Abraçaram-se.
O vivo pensou: "Se não lhe perguntar agora, não pergunto nunca mais",
tomou coragem e lhe disse:
— Escute, queria lhe perguntar uma coisa, a você que está morto: do outro
lado, como funciona?
— Não posso dizer nada — respondeu o morto.
— Se quiser saber, venha você também ao Paraíso.
O túmulo se abriu, e o vivo seguiu o morto. E logo se encontravam no
Paraíso. O morto o levou para ver um belo palácio de cristal com portas de ouro,
cheio de anjos que tocavam e faziam dançar os beatos, e São Pedro, que tocava
contrabaixo. O vivo estava de boca aberta e quem sabe quanto tempo teria ficado ali
se não tivesse de ver todo o resto.
— Agora, vamos a outro lugar! — disse-lhe o morto, e o levou a um jardim
onde as árvores, em vez de folhas, tinham pássaros de todas as cores que
cantavam. — Vamos em frente, o que faz aí encantado? — E o levou a um prado
onde os anjos dançavam, alegres e suaves como namorados.
— Agora vou levá-lo para ver uma estrela!
Não se cansaria nunca de admirar as estrelas; os rios, em vez de água, eram
de vinho e a terra era de queijo.
De repente, caiu em si:
— Ouça, compadre, já faz algumas horas que estou aqui em cima. Tenho que
voltar para minha esposa, que deve estar preocupada.
— Já está cansado?
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— Cansado? Sim, se pudesse…
— E muito mais haveria para descobrir!
— Tenho certeza, mas é melhor eu voltar.
— Como preferir. — E o morto o acompanhou até o túmulo e depois sumiu.
E agora? Será que o jovem vai conseguir voltar para sua noiva? Será que tudo
voltará ao normal? Conte aos seus colegas o que você acha que vai acontecer e
ouça o que eles pensam.
Trecho 3
O vivo saiu do túmulo e não reconhecia mais o cemitério. Estava todo cheio
de monumentos, estátuas, árvores altas. Saiu do cemitério e, no lugar daquelas
casinhas de pedra meio improvisadas, viu grandes palácios e bondes, automóveis,
aviões. "Onde é que vim parar? Terei errado o caminho?
Mas como está vestida esta gente!"
Pergunta a um velhinho:
— Cavalheiro, esta aldeia é…?
Sim, é esse o nome desta cidade.
— Bem, não sei por que, não consigo me situar. Saberia me dizer onde fica a
casa daquele que se casou ontem?
— Ontem? Estranho, trabalho como sacristão e posso garantir que ontem
ninguém se casou!
— Como? Eu me casei! — E lhe contou que acompanhara ao Paraíso um
padrinho seu que morrera.
— Você está sonhando — disse o velho. — Essa é uma velha história que
contam: do marido que acompanhou o padrinho até o túmulo e não voltou; e a
mulher morreu de desgosto.
— Não, senhor, o marido sou eu!
— Ouça, a única solução é que vá conversar com nosso bispo.
— Bispo? Mas aqui na aldeia só existe um pároco.
— Nada disso. Há muitos anos que temos um bispo. — E o levou até o bispo.
Estranho o que se passou com o rapaz, não é? o que vai acontecer com ele? Qual
será o fim desta história? Dê o seu palpite e escute os palpites de seus colegas.
Trecho 4
O bispo, quando o jovem lhe contou o que lhe acontecera, lembrou-se de uma
história que ouvira quando rapaz. Pegou os livros, começou a folheá-los: há trinta
anos, não; cinquenta anos, não; cem, não; duzentos, não. E continuava a folhear.
No final, numa folha toda rasgada e gordurosa, encontra justamente aqueles nomes.
Aconteceu há trezentos anos. O jovem desapareceu no cemitério e a mulher
dele morreu de desgosto. Leia aqui se não acredita!
— Mas sou eu.
— E você esteve no outro mundo? Conte-me como é!
Porém, o jovem ficou amarelo como a morte e caiu. Morreu assim, sem poder
contar nada do que vira.
CALVINO, Ítalo. Fábulas italianas. Tradução: Nilson Maulin, São Paulo, Companhia das Letras.
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1.Enumere os fatos na ordem em que aconteceram no texto:
2.Por que o amigo chamou o morto para ser padrinho de seu casamento?
Porque haviam feito um juramento: quem casasse primeiro deveria chamar o outro
para padrinho, mesmo que se encontrasse no fim do mundo.
3. O narrador do texto é:
5. Depois de algumas horas o morto resolveu voltar para sua noiva, mas ao sair viu
que estava tudo diferente. Se a localidade era a mesma, por que isso aconteceu?
Porque muitos anos já haviam se passado.
23ª Atividade
Professor
A casa do pesadelo
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A estrada pela qual eu seguia em meu carro passava por um campo aberto, e
deixava um bosque para trás. O sol estava se pondo. A fazenda mais próxima tinha
um caminho cinzento que a ligava à estrada. Acelerei o carro para chegar o quanto
antes à casa e entender o que estava acontecendo, mas corri demais: meu carro
derrapou e se estabacou contra uma árvore.
Levantei-me sem maior dificuldade e fui examiná-lo. Ficara imprestável. Já era
quase noite e eu já começava a ficar aflito quando apareceu um garoto correndo
pelo caminho da casa. Vestia, como era típico do lugar, uma camisa marrom aberta
no peito. Tinha uma expressão que me incomodava um pouco, porque seu lábio era
rasgado. Quando chegou ao local do acidente, ele não disse nada, mas logo lhe
perguntei:
— Onde fica a oficina mais próxima?
— A oito milhas daqui, senhor – respondeu com uma péssima pronúncia, por
causa do defeito no lábio. Como a noite já estava caindo, pedi-lhe:
— Posso passar a noite em sua casa?
— Claro, se o senhor quiser. Mas a casa está bem desarrumada, porque papai
não está e mamãe morreu há três anos. Tem pouca comida.
— Não tem importância. Trouxe algumas provisões. – Retruquei e fomos juntos
à sua casa. No caminho até a sua casa senti uma brisa estranha, um cheiro de
vegetação desagradável. Ao chegar vi que tudo estava mesmo muito largado.
O garoto me instalou amavelmente num quarto pegado à entrada. Como não
havia luz na casa toda, peguei três velas na minha mala. Serviram-me para iluminar
meu quarto e a cozinha. Mal me acomodei, acendi a lareira e comecei a preparar o
jantar com o que trazia. O garoto comentou que já havia jantado e não estava com
fome. Achei estranho para um garoto da sua idade, ainda mais com aquele aspecto
de quem passava necessidades, mas eu não quis dizer nada. Aproximou-se do fogo
e pôs-se a aquecer as mãos.
— Está com frio? – perguntei.
— Sempre estou.
Aproximou-se tanto das chamas da lareira que temi fosse se queimar, mas ele
parecia não sentir o fogo. Preparado o jantar, pus a mesa na cozinha mesmo e jantei
– sozinho e rápido. Conversamos um pouco, porque não era tarde, e o garoto me
acompanhou à varanda. Sentou-se no chão, enquanto eu me embalava
gostosamente numa cadeira de balanço.
— O que você faz quando seu pai não está? – perguntei.
— Nada, só deixo o tempo passar. Ninguém nunca vem nos visitar. A gente
daqui diz que essa casa é mal-assombrada.
— Você já viu algum fantasma? – perguntei intrigado.
— Ver, eu nunca vi. Mas posso senti-los.
De repente, senti como se um fino véu deslizasse suavemente pelo meu rosto.
Levantei-me de repente.
— Ei! Você viu? – exclamei confuso.
— Não vi nada. O que foi?
— Não sei... um véu. Roçou-me no rosto – expliquei.
— Não tenha medo. Deve ser um dos fantasmas que correm pela casa. Na certa
é minha mãe. – disse ele tranquilamente.
Naquele momento, achei que o garoto não regulava bem. Despedi-me dele,
desejei-lhe boa noite e fui dormir, agora já meio desconfiado. Caí num sono
profundo, mas, passado um bom tempo, um sonho arrepiante me acordou. Um
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pesadelo terrível: ali mesmo, no meu quarto, uma enorme fera, como que um javali
disforme, de presas ameaçadoras, grunhia diante de mim. Tinha uma atitude muito
agressiva e pusera suas patas na cama, a ponto de pular em cima de mim.
Acordei suando, apavorado. Não consegui mais dormir. Quis chamar o garoto, e
só então me dei conta de que não sabia seu nome. Não tinha pensado em perguntá-
lo e ele não tinha se apresentado. Gritei ‗oi‘ repetidas vezes, mas ninguém
respondeu. Só ouvi o eco dos meus gritos entre aquelas paredes vazias. Sentia meu
coração bater como se fosse sair pela boca.
Não estava gostando nada daquilo. Resolvi então ir embora daquela casa sem
perder nem mais um minuto. Para não ser mal-agradecido, deixei algum dinheiro em
cima da mesa da cozinha. Saí, segui a estrada a pé, decidido a encontrar a tal
oficina. O sol já tinha raiado quando cheguei à primeira fazenda. Um homem veio ao
meu encontro.
Contei-lhe meu acidente de automóvel da noite anterior e ele me perguntou
onde tinha passado a noite. Ao lhe explicar onde tinha dormido, olhou para mim
com cara de incredulidade.
— Como é que lhe passou pela cabeça entrar ali? Não sabe o que dizem dessa
casa?
— O garoto me levou – respondi.
— Que garoto?
— O do lábio rasgado – afirmei com segurança.
Com cara de quem havia compreendido tudo, me perturbou com suas palavras:
— Desta vez não há dúvida. Esse garoto que o levou até a casa é um fantasma.
Você não sabia, não é? Ele morreu há seis meses.
Texto de Edward White
Vamos compreender?
O texto ‘A Casa do Pesadelo’ é um conto de assombração e tem a intenção de
passar o sentimento de medo para os leitores. Ao ler este tipo de narrativa, o leitor
costuma se colocar no lugar do narrador e imaginar outras atitudes que teria tido ao
ser ele.
Escreva abaixo como você agiria nas seguintes situações sugeridas ao longo da
narrativa:
Resposta pessoal.
b) O narrador pede abrigo ao garoto. Você teria feito o mesmo? Justifique sua
resposta.
Resposta pessoal.
c) Agora é a sua vez: Escreva um final para essa história contando o que você faria
ao saber que o menino já havia morrido há seis meses.
Resposta pessoal.
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2) Leia as informações abaixo e classifique-as em V (verdadeiras) ou F (falsas):
24ª Atividade
Professor
MARIA ANGULA
Maria Angula era uma menina alegre e viva, filha de um fazendeiro de Cayambe.
Era louca por uma fofoca e vivia fazendo intrigas com os amigos para jogá-los uns
contra os outros. Por isso, tinha fama de leva-e-traz, linguaruda e era chamada de
moleca fofoqueira.
Assim viveu Maria Angula até os dezesseis anos, decidida a armar confusão
entre os vizinhos, sem ter tempo para aprender a preparar pratos saborosos.
Quando Maria Angula se casou, começaram seus problemas. No primeiro dia, o
marido pediu-lhe que fizesse uma sopa de pão com miúdos, mas ela não tinha a
menor ideia de como prepará-la.
Queimando a mão com uma mecha embebida em gordura, acendeu o carvão e
levou ao fogo um caldeirão com água, sal e colorau, mas não conseguiu sair disso:
não fazia ideia de como continuar.
Maria lembrou-se então de que na casa vizinha morava dona Mercedes,
cozinheira de mão-cheia, e, sem pensar duas vezes, correu até lá.
— Minha cara vizinha, por acaso a senhora sabe fazer sopa de pão com
miúdos?
— Claro, dona Maria. É assim: primeiro coloca-se o pão de molho em uma
xícara de leite, depois despeja-se este pão no caldo e, antes que ferva,
acrescentam-se os miúdos.
— Só isso?
— Só, vizinha.
— Ah – disse Maria Angula – mas isso eu já sabia!
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E voou para a sua cozinha a fim de não esquecer a receita.
No dia seguinte, como o marido lhe pediu que fizesse um ensopado de batatas
com toicinho, a história se repetiu:
— Dona Mercedes, a senhora sabe como se faz o ensopado de batatas com
toicinho?
E como da outra vez, tão logo sua boa amiga lhe deu todas as explicações,
Maria Angula exclamou:
— Ah! É só? Mas isso eu já sabia! – E correu imediatamente para casa a fim de
prepará-lo.
Como isso acontecia todas as manhãs, dona Mercedes acabou se enfezando.
Maria Angula vinha sempre com a mesma história: ―Ah, é assim que se faz o arroz
com carneiro? Mas isso eu já sabia! Ah, é assim que se prepara a dobradinha? Mas
isso eu já sabia!‖. Por isso, a mulher decidiu dar-lhe uma lição e, no dia seguinte...
— Dona Mercedinha!
— O que deseja, dona Maria?
— Nada, querida, só que meu marido quer comer no jantar um caldo de tripas e
bucho e eu...
— Ah, mas isso é fácil demais – disse dona Mercedes. E antes que Maria
Angula a interrompesse, continuou:
— Veja: vá ao cemitério levando um facão bem afiado. Depois, espere chegar o
último defunto do dia e, sem que ninguém a veja, retire as tripas e o estômago dele.
Ao chegar em casa, lave-os muito bem e cozinhe-os com água, sal e cebolas.
Depois de ferver uns dez minutos, acrescente alguns grãos de amendoim e está
pronto. É o prato mais saboroso que existe.
— Ah! – disse como sempre Maria Angula – É só? Mas isso eu já sabia!
E, num piscar de olhos, estava ela no cemitério, esperando pela chegada do
defunto mais fresquinho. Quando já não havia mais ninguém por perto, dirigiu-se em
silêncio à tumba escolhida. Tirou a terra que cobria o caixão, levantou a tampa e...
Ali estava o pavoroso semblante do defunto! Teve ímpetos de fugir, mas o próprio
medo a deteve ali. Tremendo dos pés à cabeça, pegou o facão e cravou-o uma,
duas, três vezes na barriga do finado e, com desespero, arrancou-lhe as tripas e o
estômago. Então voltou correndo para casa. Logo que conseguiu recuperar a calma,
preparou a janta macabra que, sem saber, o marido comeu lambendo os beiços.
Nessa mesma noite, enquanto Maria Angula e o marido dormiam, escutaram-se
uns gemidos nas redondezas. Ela acordou sobressaltada. O vento zumbia
misteriosamente nas janelas, sacudindo-as, e de fora vinham uns ruídos muito
estranhos, de meter medo em qualquer um.
De súbito, Maria Angula começou a ouvir um rangido nas escadas. Eram os
passos de alguém que subia em direção ao seu quarto, com um andar dificultoso e
retumbante, e que se deteve diante da porta. Fez-se um minuto de silêncio e logo
depois Maria Angula viu o resplendor fosforescente de um fantasma. Um grito surdo
e prolongado paralisou
— Maria Angula, devolva as minhas tripas e o meu estômago, que você roubou
de minha santa sepultura!
Aterrorizada, Maria Angula escondeu-se debaixo das cobertas para não vê-lo,
mas imediatamente sentiu umas mãos frias e ossudas puxarem-na pelas pernas e
arrastarem-na gritando:
— Maria Angula, devolva as minhas tripas e o meu estômago, que você roubou
de minha santa sepultura!
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Quando Manuel acordou, não encontrou mais a esposa e, muito embora tenha
procurado por ela em toda parte, jamais soube do seu paradeiro.
( * Extraído de:Contos de assombração,4 ª.ed.Co-edição Latino-Americana.São Paulo,Ática,1988.―Maria Angula‖ é um conto
da tradição oral equatoriana. Esta versão foi escrita por Jorge Renón de La Torre a partir de um relato que lhe fez Maria
Gomez, uma mulher de 70 anos, que vive no povoado de Otán)
Compreendendo o texto:
3) No trecho ―... sem ter tempo para aprender a preparar pratos saborosos.‖ a
palavra destacada significa:
(A) atrasados.
(B) queimados.
(C) salgados.
(D) deliciosos.
4) Na frase:
―... mas imediatamente sentiu umas mãos frias e ossudas puxarem-na pelas pernas
e arrastarem-na gritando...‖
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5) Na frase: ―Nessa mesma noite, enquanto Maria Angula e o marido dormiam,
escutaram-se uns gemidos nas redondezas. Ela acordou sobressaltada.‖ A palavra
sublinhada se refere:
(A) ao fantasma.
(B) a Dona Mercedes.
(C) a Maria Angula.
(D) ao marido.
25ª Atividade
Professor
GASPAR, EU CAIO!
Noite escura no mato. Estrada de terra sem uma alma. O vento gemendo pelos
galhos e as nuvens passando nervosas, querendo chover.
Um homem vem vindo lá longe. Devagarinho. Sem lua nem estrela para iluminar
a viagem.
Vem de sacola pendurada no ombro e, na mão, um pau de matar cobra.
Trovoada. Os pingos da chuva principiam a cair. O viajante aperta o passo. Na
curva, dá com uma casa abandonada. Cai um raio de despedaçar árvore. A chuva
aperta. Na porta da tapera tem uma cruz desenhada. O homem não quer saber de
nada. Mete o pé na porta e entra.
Dentro, um pouco de tudo. Pedaços de mobília, tigelas, troços e trecos jogados
no escuro.
O viajante faz fogo.
Agachado, tira um pedaço de carne da sacola e bota para assar. Está morto de
fome. Deita no chão e solta o corpo, esperando a comida ficar pronta.
A chuva vai minguando. O mato fica quieto.
De repente, o telhado range. De lá de cima, um gemido rabisca o ar:
- Gaspar!
O homem estremece. Aperta os dentes. A luz do fogo é fraca. Não dá para ver
nada.
A voz chama e chama.
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- Gaspar!
Já passa da meia noite. Quem será? A voz insiste:
- Gaspar!
O viajante pensa em fugir. Mas, e a carne? E o frio? E a chuva ameaçando cair?
Encolhido num canto, o homem arrisca:
-Quem está aí?
A voz, no telhado, continua grossa:
- Gaspar!
- Quem está aí?
- Gaspar!
- Quem está aí? - pergunta o homem.
A voz então diz:
- Gaspar... Eu caio!
- Pois caia! – responde o viajante.
Estrondo. Espanto. Uma coisa despenca lá de cima - Catapram – e cai no chão.
Os olhos do homem crescem de pavor.
É um pé. A ossada de um pé. E vem com os dedos mexendo!
A voz bóia no ar:
- Gaspar!
O homem treme.
- Eu caio!
- Pois caia! – grita o homem de novo.
Catapram. Vem outro pé. Cai e vai se arrastando para junto do primeiro.
- Gaspar!
O viajante respira curto. A cada resposta sua, desabam do forro pernas, coxas,
tronco, braços e mãos de um esqueleto que vai se formando no chão.
O esqueleto começa a dançar.
A luz do fogo desenha sombras estranhas no casebre.
- Gaspar! Gaspar! Gaspar!
A voz grossa voa cada vez mais alto.
- Eu caio!
- Pois caia! – berra o viajante, sentindo sua hora chegar.
E então – ploct – uma cabeça cai lá do alto.
Meio de medo, meio de raiva, o homem chuta a caveira longe.
O corpo desencarnado fica zangado. Para a dança, agacha e, cuidadoso, enfia o
crânio no pescoço. Depois, lambuza a carne que assa no fogo com seu cuspe
escuro.
O sangue do viajante ferve. Estava morto de fome. A carne era tudo o que havia
para comer. O homem cata o pau de matar cobra.
- Para mim chega! – De olhos fechados, mergulha sobre o esqueleto dando soco
e pancada. O morto gargalha. Os dois rolam atracados pelo chão da tapera.
A luta vara a noite. O homem bate, chora e sangra. O esqueleto range os
dentes.
Os dois quebram tudo, apagam o fogo com o corpo e vão parar do lado de fora,
rugindo na lama.
O tempo passa. Um golpe seco estala no mato. Silêncio.
O morto suspira e cai.
O viajante continua de pé, vitorioso. Passa o braço machucado sobre o rosto.
Do chão, a caveira pede para o homem cavar um buraco no pé de uma árvore.
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O homem responde:
- Nem nunca!
Em seguida, vai até a árvore e trepa num galho bem alto.
Abatido, o esqueleto pega e cavuca ele mesmo. Tira do buraco fundo um tacho
cheio de ouro e prata. Depois olhando para o homem pendurado na árvore, solta um
gemido e some no vento.
O viajante fica onde está. Manhã nascendo no mato. Seu peito mexe com força,
indo e vindo. Olha as mãos sujas de sangue. Estrada de terra sem uma alma. A
roupa rasgada. O suor. O sol avermelhado sopra a brisa quente entre as folhagens.
O homem sente o corpo doído e leve. Olha a tapera. Tem vontade de rir, cantar,
conversar com alguém. Salta aliviado do galho, junta as coisas se via embora.
Texto de Ricardo Azevedo
Noite escura no mato, sem uma alma, o vento gemendo, nuvens passando
nervosas, casa abandonada, uma cruz desenhada, o telhado range, um gemido
rabisca o ar, a voz chama e chama, estrondo. Espanto pavor, a ossada de um pé.
26ª Atividade
Professor
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A mulher não se intimidou:
- O que você está fazendo aqui, seu miserável?! Me dá paz! Você está morto!
Trate de voltar para debaixo da terra.
- Nem pensar – disse o morto. – Estou me sentindo vivinho.
A mulher mandou o filho buscar um espelho. Entregou ao morto para que ele
visse a sua cara de cadáver.
- É ... estou abatido. Deve ser falta de exercício – disse o falecido.
E mandou o filho buscar a sanfona, e convidou a mulher para dançar. Ela é
claro, não quis saber de dançar com o defunto, que cheirava pior que gambá.
O morto nem ligou. Começou dançar sozinho. De repente a mulher viu que um
dedo dele estava caindo, e ordenou:
- Toca mais rápido, menino!
Assim que o ritmo se acelerou, caiu outro pedaço.
- Mais que depressa, que eu também vou dançar – ela resolveu.
E começou a requebrar e saltar e jogou a perna para o alto e balançar a saia.
O marido, animado, tratava de acompanhar as piruetas da mulher, e enquanto
isso o corpo dele desmoronava. Até que só ficou a caveira pulando no chão,
batendo o queixo.
A mulher caprichou uma pirueta, a caveira imitou e o queixo desmontou.
Pronto.
Mais que depressa, a mulher mandou o filho buscar um baú para guardar os
pedaços do marido:
- Põe tudo que é dele, filho. Tudo. Que eu vou procurar uns pregos e um
martelo.
Dali a pouco ela voltou e caprichou nas marteladas, para que o morto nunca
mais escapulisse.
Enterraram o defunto de novo. Depois jogaram bastante cimento em cima.
Só no dia seguinte a viúva lembrou do dinheiro do marido, que ela tinha
deixado em cima da mesa.
- Cadê!?!
- Uai, Mãe! Não era para guardar no baú tudo que fosse dele?
Texto de Ângela Lago
Entendendo o conto:
1) Por que a mulher ficou tão aborrecida com a chegada do finado marido?
Porque ele veio atrapalhar ela a contar o dinheiro que encontrou debaixo do colchão.
3) Ao olhar a sua imagem no espelho, o defunto alegou que estava meio abatido e
que era falta de exercícios, diante disso o que ele resolveu fazer?
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4)O que fez a mulher mudar de ideia e dançar com o morto?
5) À medida que o morto imitava as piruetas da mulher, o que acontecia com ele?
7) Ao final do texto o menino diz: ―--- Uai, Mãe! Não era para guardar no baú tudo
que fosse dele?‖ Como essa frase deixou a mãe: Por quê?
9) Ao dizer: ―--- O que é que você está fazendo aqui seu miserável?‖
a) A mulher elogiou o marido.
b) Maltratou o marido.
c) Se expressou de forma muito feliz.
15) Você acha que esse texto poderia acontecer na vida real? Explique.
Resposta pessoal do aluno.
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27ª Atividade
Professor
Quando o texto estiver pronto, verifique se está adequado e faça uma revisão,
observando se há alguma mudança que pode ser feita (repetições, troca de termos,
vocabulário mais sombrio, entre outros).
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28ª Atividade
Professor
Analisando um conto
O tesouro no quintal
Era uma família grande a nossa: pai, mãe e cinco filhos. Grande e pobre. Papai,
pedreiro, mal conseguia nos sustentar. Mamãe ajudava como podia, fazendo faxinas
e costurando para fora, mesmo assim a vida era bastante difícil. Papai vivia bolando
formas de reforçar nosso orçamento doméstico ou de, pelo menos, diminuir as
despesas. Foi assim que lhe ocorreu a ideia da horta.
Morávamos numa minúscula casa de subúrbio, não longe de uma bela praia,
que, contudo, raramente frequentávamos: era lugar de ricos. Casa pobre, a nossa,
sem nenhum conforto. Mas, por alguma razão, tinha um quintal bastante grande. Do
qual, para dizer a verdade, não cuidávamos. O capim ali crescia viçoso e no meio
dele jaziam, abandonados, pneus velhos, latas, pedaços de tijolos e telhas. Papai
olhava para aquilo, pesaroso: parecia-lhe um desperdício de espaço e de terra. Um
dia chamou os dois filhos mais velhos, meu irmão Pedro e eu próprio, e anunciou:
vamos fazer uma horta neste quintal.
Proposta mais do que adequada. Nós quase não comíamos legumes e verduras,
porque eram muito caros. Mas, se plantássemos ali tomate, alface, agrião, cenoura,
teríamos uma fonte extra de alimento - e o mais importante, sem custo.
Sem custo, mas não sem trabalho. Para começar, teríamos de capinar aquilo
tudo e revirar a terra para depois plantar e colher. Meu pai não hesitou: vocês dois,
que são os mais velhos, vão fazer isso.
Não gostamos muito da determinação. Não éramos preguiçosos, mas preparar a
terra para fazer uma horta não era bem o nosso sonho e representaria um grande
esforço. Contudo, não tínhamos alternativa. Quando papai dava uma ordem, era
para valer. E, no caso, ele tinha decidido, apoiado pela mamãe, que era de uma
família de agricultores e gostava de plantar.
Quem prepararia a terra? Foi a pergunta que fiz ao Pedro, que, além de mais
velho, era o líder entre os irmãos. Pergunta para a qual ele já tinha a resposta:
- Isso é coisa para o Antônio.
Antônio era o irmão do meio. Com 9 anos, era um menino quieto, sonhador.
Mas não era muito do batente, de modo que fiquei em dúvida: como convencê-lo a
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fazer o trabalho?
- Deixa comigo - disse Pedro, que se considerava muito esperto. - Eu sei como
convencer o cara.
E sabia mesmo. Porque Pedro era dono de uma lábia fantástica, argumentava
como ninguém. Ah, sim, e sabia contar histórias - inventadas por ele, claro. Era com
uma história que pretendia motivar o Antônio a capinar o pátio.
Eu estava junto, quando ele contou a tal história. Era uma boa história: segundo
um famoso professor, séculos antes, piratas franceses haviam andado pela nossa
região, e ali haviam enterrado um tesouro. Expulsos pelos portugueses, nunca mais
tinham retornado, de modo que a arca com joias e moedas de ouro ainda estava no
mesmo lugar, que podia ser o pátio de nossa casa.
- O tesouro será a nossa salvação - concluiu Pedro, entusiasmado.
Antônio estava impressionado. Se havia coisa em que acreditava, era em
histórias. Aliás, estava sempre lendo - era o maior frequentador da biblioteca do
colégio.
- Quem sabe procuramos esse tesouro? - perguntou ele.
Era exatamente o que Pedro queria ouvir.
- Se você está disposto, eu lhe arranjo uma enxada...
Antônio mostrava-se mais do que disposto. No dia seguinte, um feriado, lá
estava ele, enxada em punho, cavando a terra, diante do olhar admirado da família.
Papai até perguntou o que tinha acontecido.
- Ele se ofereceu para fazer o trabalho - disse Pedro, dando de ombros.
Para encurtar a história: tesouro algum apareceu, mas, um mês depois,
tínhamos uma horta no quintal. Antônio acabou descobrindo a trama de Pedro, mas
não ficou zangado. Inspirado pelo acontecimento, escreveu uma história, com a qual
ganhou um prêmio literário da prefeitura. Uma boa grana, que ele usou para comprar
livros. Hoje é um conhecido jornalista e escritor. Acho que ele acabou, mesmo,
encontrando o tesouro.
Fonte do texto: www.revistaescola.abril.com.br
3- Por que o pai olhava para aquele enorme quintal da casa com tristeza?
Pois achava um desperdício de espaço e de terra, um quintal com pneus velhos,
latas, pedaços de tijolos e telhas.
5-O que fez Pedro para convencer Antônio a ajudar no trabalho com a horta?
A história sobre o tesouro enterrado.
72
6-O que acontece no desfecho da história?
Antônio acabou descobrindo a trama de Pedro, mas não ficou zangado. Inspirado
pelo acontecimento, escreveu uma história, com a qual ganhou um prêmio literário
da prefeitura. Uma boa grana, que ele usou para comprar livros. Hoje é um
conhecido jornalista e escritor. Acho que ele acabou, mesmo, encontrando o
tesouro.
7- Antônio é descrito como um grande leitor e há dois fatos que sustentam essa
ideia apresentada pelo narrador. Quais são elas?
8- A história contada por Pedro a Antônio possui alguns elementos básicos de uma
narrativa, como tempo, espaço, personagens e situação inicial. Defina qual é o
tempo, o espaço, as personagens e a situação inicial na história que Pedro conta a
Antônio.
Era uma boa história: segundo um famoso professor, séculos antes (tempo),
piratas franceses (personagens) haviam andado pela nossa região (espaço), e ali
haviam enterrado um tesouro (situação inicial). Expulsos pelos portugueses, nunca
mais tinham retornado, de modo que a arca com joias e moedas de ouro ainda
estava no mesmo lugar, que podia ser o pátio de nossa casa.
9- A princípio, o narrador e Pedro acham que a ideia de fazer uma horta era muito
boa, mas algo faz com que os garotos se incomodem com essa ideia. Por que os
garotos se incomodam com a proposta do pai em fazer a horta?
Os garotos acharam que iriam ter muito trabalho para cuidar da terra e plantar.
10-Este conto apresenta uma história que aconteceu com uma família, formada por
pai, mãe e cinco filhos. Eles são personagens da história. Quais desses
personagens recebem nome?
Os dois filhos mais velhos, Pedro e Antônio.
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um menino quieto,
sonhador e o maior
frequentador da biblioteca
do colégio.
29ª Atividade
Professor
Comparando contos
O tesouro enterrado
74
o pato, pois o fantasma da casa decidiu fazer das suas com ele: puxava-lhe o rabo,
as orelhas, e vivia empurrando o coitadinho. Dormisse dentro ou dormisse fora da
casa, à meia-noite Salguerito se punha a uivar de tal modo que dava medo.
Arqueava o lombo, se arrepiava todo e ficava com os olhos faiscando de medo. Só
dormia tranquilo na cozinha, ao pé do pilão.
As pessoas costumavam ir bisbilhotar para ver como era a tal costureirinha e
saber como aqueles três estavam se arrumando na casa mal-assombrada.
As duas mulheres não demonstravam em absoluto estar assustadas nem se davam
por vencidas. A única coisa é que tinham que dormir com a lamparina acesa e com o
cão na cozinha.
O fantasma acabou se cansando de infernizar o animal, mas começou então
a deixar suas marcas na oficina da costureira: o espelho entortava sem que ninguém
o tocasse; a máquina de costura começava a costurar sozinha; os carretéis caíam e
ficavam rolando no chão; desapareciam as tesouras, o alfineteiro, o dedal e o
caseador; as mulheres sentiam a presença de alguém que as seguia o tempo todo
e, às vezes, o espelho ficava embaçado, como se alguém estivesse se olhando
muito próximo dele.
Várias vezes o padre passou pela casa levando água benta, mas o copinho
onde ela ficava sempre aparecia misteriosamente entornado.
– Isso não é coisa do diabo – esclareceu o padre. – As coisas do diabo se
manifestam de outra maneira e acabam com água benta, invocações ou com a
santa missa.
Com isso, as mulheres ficaram mais tranquilas.
– O que eu acho é que deve haver alguma coisa enterrada por aí. Dinheiro ou
joias guardados em algum lugar. Talvez alguma alma penada queira mostrar a
vocês o lugar em que está o tesouro para poder repousar em paz e, neste caso, é
preciso ajudá-la – sentenciou o padre.
Havia, nessa época, pelas bandas de Huaraz, um homem que se dedicava a
procurar tesouros, cujo nome era Floriano. Era famoso e possuía uma larga
experiência nesse tipo de trabalho. Chamaram-no muito em segredo e, certo dia,
chegou sem que ninguém soubesse. Entrou na casa recitando rezas e súplicas,
fumando cigarros e queimando incenso:
– Alma abençoada, sabemos que estás aqui e que nos ouves. Se queres
alcançar o reino da paz, mostra-nos onde está enterrado o tesouro. Usa os sinais
que quiseres, mas comunica-te conosco.
O homem ia de canto em canto repetindo a mesma coisa. Salguerito olhava
para Floriano, latia e, em seguida, ia se deitar na cozinha, ao pé do pilão.
Floriano passou dois anos inteiros procurando o tal tesouro. A cada mudança
de lua, lá estava ele, mas nunca encontrava uma resposta. Removeu o piso da casa
inteira, bateu em todas as paredes, revistou as janelas e nada.
Salguerito fazia sempre a mesma coisa: olhava para ele, latia e corria até a cozinha
para atirar-se ao pé do pilão. Até que um dia Floriano se foi, dizendo que nessa casa
não havia nenhum tesouro enterrado.
Mas um domingo, quando Ildefonsa estava socando milho no pilão da cozinha
para fazer pamonhas, seus pés esbarraram numa espécie de alça enterrada.
Intrigada, a mulher foi cavoucando e cavoucando com uma faca, até que apareceu
não apenas a alça completa, mas a boca de uma panela de ferro. Era exatamente
no lugar em que Salguerito costumava se enfiar para dormir e onde se atirava
sempre que Floriano vinha procurar o tesouro.
75
Surpresa, Ildefonsa foi correndo chamar a costureira.
– Veja – disse-lhe –, há uma panela enterrada aí embaixo.
Imediatamente as duas mulheres empurraram o pilão e zás-trás! Apareceu o
tesouro: uma panela repleta de moedas antigas de ouro e prata, joias e pedras
preciosas dos tempos coloniais. Estava logo ali, à flor da terra, junto à pedra de
moer.
Dizem que à meia-noite, depois de benzerem a casa, a costureira e Ildefonsa
saíram da cidade levando consigo não apenas o tesouro encontrado, mas também
Salguerito, o cãozinho judiado que lhes deu o sinal preciso de onde estava enterrado
o tesouro.
Nunca mais se soube deles.
Conto do Peru, versão de Rosa Cerna Guardia. Coletânea de contos de tradição oral. Contos de assombração. Co-edição
latino-americana. São Paulo: Ática, 1988, 4a ed.
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escritor.
Salada de palavras
Preencha cada coluna com as palavras e expressões que estão de acordo com o
lugar descrito em cada conto.
Subúrbio. Lamparina.
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Horta Pilão.
Moedas Carretéis
Tilintar de sino
Lamentos
30ª Atividade
Professor
Descrevendo lugares
Agora que você já concluiu as listas na atividade anterior, elabore uma pequena
descrição da casa onde aconteceram os fatos narrados nesses contos. Você poderá
usar as palavras da lista ou empregar outras.
O tesouro enterrado
78
O que aprendemos até aqui?
31ª Atividade
Professor
79
Lembra-se do conto ―A lição da caveira‖? No primeiro parágrafo, Flavio Morais
escreve o seguinte:
―Há muito tempo, numa noite sem lua, ia um homem por uma estrada deserta e
assombrosa. Nela havia um cemitério muito velho. Tão velho e maltratado que
algumas ossadas estavam até à mostra, dando ao lugar um aspecto assustador.‖
Professor
- Locuções adverbiais Duas ou mais palavras com valor de advérbio, como "às
vezes", "em breve", "à noite", "à tarde", "de manhã", "de quando em quando".
- Conjunções Aquelas que dão a ideia de progressão na história que está sendo
contada, como "enquanto isso", "depois disso", "logo que", "assim que".
―Quando o homem passou pelo dito cemitério, avistou uma caveira quase à
beira do caminho. Teve uma ideia sem ver nem pra quê: resolveu testar sua
coragem diante do sobrenatural. Aproximou-se e, agachando-se, deu uma
pancadinha com o nó do dedo no crânio alvo, perguntando, em tom de brincadeira:‖
Observe que os verbos estão todos no tempo passado, para indicar que as
ações aconteceram em um momento anterior ao que estamos vivendo agora. Para
manter a coerência do texto e para que o leitor não se confunda, o autor mantém
todos os verbos ano passado.
80
Atividade
―Por aquilo o homem não esperava. Tomado pelo pavor, largou imediatamente o
macabro objeto e afastou-se impressionado com o que acontecera. Beliscou-se. Não
estava louco; nem sonhando. A caveira realmente havia falado. Tinha certeza
daquilo. Olhou para trás e a avistou. Parecia encará-lo com aqueles enormes
buracos escuros. Um arrepio percorreu lhe a espinha. Caminhou o resto da noite até
que, ao amanhecer, chegou a um lugarejo.‖
32ª Atividade
Professor
―[...] por uma estrada deserta e assombrosa. Nela havia um cemitério muito velho
tão velho. Tão velho e maltratado que algumas ossadas estavam até à mostra
dando ao lugar um aspecto assustador.‖
Atividade
81
33ª Atividade
Professor
Descrevendo personagens
sua direção. Olhos vidrados, expressões furiosas nos rostos, andavam lentamente,
como uma turba de mortos-vivos. Pegavam o que podiam no chão: paus, pedras,
enganador.‖
34ª Atividade
Professor
82
Praticando – Adicionando mais elementos na narrativa.
Encurtando caminho
Ângela Lago. Sete histórias para sacudir o esqueleto. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2008.
Resposta pessoal.
35ª Atividade
Professor
83
Produção Final
―Meia noite, cansado e com sono, lá estava eu, andando pelas ruas sujas e
desertas dessa cidade. Minhas únicas companhias eram a Lua e alguns animais de
vida noturna. Num canto havia um cão e um gato tentando encontrar alimentos,
revirando latas de lixo. Em outro ponto da rua, ratos entravam e saíam de um esgoto
próximo à padaria da esquina. Eu estava tentando lembrar por que havia saído tão
tarde do emprego, quando ouvi uns passos atrás de mim.‖
6. De que maneira ela se manifesta? Que problema ela causa? O que ela faz no
lugar e para as personagens?
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Agora, anote os pontos principais que colocará no conto:
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Escola:_________________________________________________________
Nome:__________________________________________________________
Data: _____/_____/___________
Título:____________________________________________
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quando ouvi uns passos atrás de mim.
PLANILHA DE AUTOAVALIAÇÃO
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