1 Semestre - IFPC
1 Semestre - IFPC
1 Semestre - IFPC
Objetivos
Módulo 1 Módulo 2
Introdução
A presença dos direitos humanos nos mais diversos espaços sociais da
contemporaneidade não é uma novidade e muito menos uma estratégia
limitada aos juristas e seu campo acadêmico profissional.
Mas qual razão leva os direitos humanos a terem um alcance tão amplo na
sociedade contemporânea, ao mesmo tempo em que geram debates
muitas vezes tão polarizados que trazem a impressão de termos vitoriosos
e derrotados pautados no mesmo conteúdo?
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Comentário
Sim, o mundo jurídico tem seu próprio vocabulário escrito e falado, criado nem
sempre à imagem e semelhança da melhor técnica.
E ainda mais se o desafio for tratar de direitos humanos, que são entendidos
como aplicáveis a todos os seres humanos. Vamos adentrar agora esse campo
para conhecermos as divergências terminológicas, teorias e classificações dos
direitos humanos que impactam as relações cotidianas, seja qual for a sua área
de atuação profissional ou interesse pessoal.
Assim, se você acredita em algo e busca aquilo que reforça o seu olhar –
independentemente do grau de absurdo –, isso é suficiente para que a crença se
torne verdade. Veja um exemplo!
Não são casos de disputas ou rixas individuais por culpa ou dolo dos
protagonistas da cena em si, mas, sim, batalhas orquestradas e executadas com
propósitos coletivos, normalmente associados a liderança de um povo, estado
ou coletivo menor que intenta impor suas ideias a força para os demais; ou
castiga, quando percebe que não conseguiu seu objetivo primário.
Largo
As transformações da história impactam o direito. Elas não ocorrem de forma
direta, mas como o direito é social, por consequência atingem em maior ou menor
grau as concepções jurídicas. Por isso, se diz “ao largo”.
Tirania do rei Leopoldo II da Bélgica, na África
Holocausto judaico
Massacre de Armênios
Para evitar lágrimas, queremos apenas que você perceba que fala-se em direitos
humanos quando os sujeitos percebem o que suas ideias e verdades são
capazes de fazer com o outro. Negar ou justificar qualquer tipo de massacre faz
com que você esteja reproduzindo exatamente as ideias que nos levaram a tais
massacres. Pense nisso! Vamos continuar.
Comentário
Igreja Católica
A religião judaico-cristã, filosoficamente falando, tende a propor instrumentos de
proteção da pessoa humana. Sim, o texto possui exceções e interpretações que
foram utilizadas de outra forma ao longo do tempo.
(MELLO, 2021)
Já imaginou o conflito? Para não irmos muito além, podemos aqui apontar duas
atuações em especial veja!
Anchieta e Nóbrega na cabana de Pindobuçu, Benedito, Calixto, 1927.
Uma família brasileira do século XIX sendo servida por escravizados. O jantar. Passatempos
depois do jantar, Jean-Baptiste Debret, 1830.
1888
Declarações de León
1215
1628
Petição de Direitos
1649
1659
Toleration Act
1689
Bill of Rights
1776
Declaração de Independência
dos Estados Unidos da América
1787
1789
1791
Declaração de Direitos
1864
Convenção de Genebra
1888
1919
1963
Reside aí, talvez, a primeira e maior violação contra o ser humano, que afeta a
própria ideia de um standard (padrão ou modelo) mínimo refletido em alguns
países como o Brasil, no Princípio Fundamental da Dignidade da Pessoa
Humana (CRFB 88, art. 1º, III).
I. a soberania;
II. a cidadania;
III. a dignidade da pessoa humana;
IV. os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V. o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Nosso hábito de voltar muito no tempo para explicar uma sociedade é uma
invenção. Os processos que se aportam no passado são de interesse de um
grupo em afirmar que nós pertencemos a ele. Por isso, no Brasil vivemos com a
ideia de ter um passado tão europeu.
Não será difícil você perceber o ponto de conexão entre as duas expressões.
Partindo, inclusive de um conceito mais jurídico, é possível ver no detalhe como
a conexão ocorre.
Os direitos fundamentais são conceituados
como direitos subjetivos, assentes no
direito objetivo, positivados no texto
constitucional, ou não, com aplicação nas
relações das pessoas com o Estado ou na
sociedade.
(MORAES, 2000)
Sanção
A parte da punição que cada ato deve conter. Como neste caso, são marcantes e
diferentes das demais bases da legislação.
Ulysses Guimarães segurando uma cópia da Constituição de 1988.
Vamos então ratificar nossas conceituações sobre o tema, para facilitar ainda
mais a nossa compreensão, entenda!
Direitos humanos
Direitos fundamentais
Público
A forma de acesso à lei e sua aplicação são internas e seguem as normas de cada
país.
Exemplo
É o caso da Comissão Interamericana de direitos humanos, criada para observar
casos de violação. Os procedimentos começam com uma denúncia e podem
culminar com sanções econômicas aos países signatários (OEA, 2021).
Tudo isso deve ser assegurado às pessoas durante todo o seu tempo de vida.
Aliás, no caso dos bebês, até antes, pois nosso Código Civil põe a salvo os
direitos do nascituro.
Nascituro
Passa a ser considerado protegido e com direitos mesmo durante a gestação.
Naturalização
Fenômeno em que ocorre a compreensão coletiva de que algo é necessário e
socialmente natural.
Considerações sobre a
teorização e classificação dos
direitos humanos
Após tratarmos da terminologia e dos espaços dos direitos humanos e
fundamentais, vamos trabalhar com a teorização e classificação dos direitos
humanos, pois, dependendo do referencial de partida, a abrangência e aplicação
prática deles pode variar muito. É preciso entender que base teórica e critério de
classificação vamos seguir para o escopo de nossos objetivos.
Comentário
Dualidade
Apresenta-se nas normas positivas (o que as pessoas fazem e está dando certo)
em vigor, que devem ser consideradas boas, válidas e legítimas (justas). Essa
dualidade faz com que a doutrina do direito natural provoque um tensionamento
constante na relação entre direito e justiça.
Jusnaturalista Positivismo Jurídico
Caso 2
Tal realidade sustenta a tese de que a matriz orientadora dos direitos humanos
tem natureza mais subjetivista, sendo que a maior prova disso é o que se coloca
em parâmetros e compromissos em documentos internacionais (declarações,
cartas, tratados ou convenções), e o mesmo vale para os sistemas jurídicos
internos dos países, como vimos há pouco.
E que fique claro que não temos aqui o propósito de convencer sobre qual
alinhamento matricial é o certo ou errado.
Tais matrizes vêm sustentando cada vez mais direitos humanos na sociedade
contemporânea e, certamente, também dentro do direito positivo, que se pratica
principalmente desde a consagração do movimento constitucionalista do século
XX e os importantes apontamentos feitos no período após a Segunda Guerra
Mundial.
Classificação dos direitos
humanos: critérios
diferenciados e Teoria do Status
A classificação de um instituto em qualquer área da ciência pressupõe a eleição
de um ou mais critérios que possam isolar quantitativa e qualitativamente partes
ou o todo de um elemento já conceituado. Estamos falando sobre os direitos
humanos que já tratamos nos itens anteriores. Sabemos já importantes
questões terminológicas a seu respeito, juntamente com os chamados direito
fundamentais, e conhecemos as matrizes orientadoras de sua origem e
sustentação ao longo dos séculos até os dias atuais. Agora, aprenderemos a
classificá-los e dividi-los para, na sequência, melhor entendê-los.
Antes de iniciarmos, vamos deixar claro que já contamos com alguns modelos e
critérios tradicionais de classificação. Podemos classificar os direitos humanos
a partir de 3 importantes critérios e planos de identificação.
Plano Plano de Plano
segundo a gerações ou internacional
Teoria do momentos e nacional
Status
(Georg
Jellinek)
A seguir, iremos apresentar cada plano de maneira aprofundada, vamos lá!
Passivo
Ativo-negativo
Positivo-pretensão
Ativo-acessibilidade
Karel Vasakos
Importante jurista tcheco-francês, com contribuições excepcionais a respeito dos
direitos humanos, especialmente no tocante aos modos de classificação e
categorização deles no tempo e no espaço.
Saiba mais
A OIT está disponível nas redes. Ela atua na lógica da proteção, mais uma vez
marcada pelo tempo com a mudança nas formas de trabalho e a necessidade de
regulação da superioridade do empregador diante do quadro desfavorável do
trabalhador.
Ele é tido como coletivo, numa linguagem mais universal, e “difuso”, no Brasil.
Segundo as nossas leis, o direito ao meio ambiente pode e deve ser tutelado por
qualquer um do povo e, em especial, pela figura do Ministério Público por todos
os entes federativos em competência concorrente. Sendo assim, há campo de
fiscalização e legislação para todos.
Dessa forma, atualmente podemos afirmar que proteger nossa fauna e flora de
um modo geral são atitudes que tutelam os direitos fundamentais e despertam
discussões ferrenhas no campo social, econômico, político e até jurídico, na
esfera nacional e internacional. Em compensação, há poucas décadas o ideal de
progresso defendia ocupação, distribuição de terras e abertura de estradas
como forma de proteção e de levar o melhor do mundo a todos.
Países
As nações ou países não são os únicos atores envolvidos. Setores públicos,
privados e terceiro setor devem ser pensados nesse conjunto, sendo “países” uma
maneira de se referir a todos.
Questão 1
Questão 2
O texto acima trata sobre o conceito de civilização que é abordado pelo autor
em sua obra, demonstrando claramente que tal conceito é variável no tempo
e no espaço. A respeito do trecho, assim como da classificação e teorização
dos direitos humanos, é correto afirmar que
apesar de haver um decurso temporal considerável desde a
A Antiguidade Clássica, os direitos humanos não sofreram
grandes alterações em sua classificação.
Nominata
Nominata, ou seja, nomes atribuídos. Quer dizer que a literatura internacional e a
maturidade dos direitos humanos impactam mais na sua aplicação do que aquilo
que é referenciado na lei como direito humano.
Infraconstitucionais
Embora os direitos humanos estejam previstos como fundamentais, a sua aplicação
e leitura estão dipostas em leis dispersas abaixo da Constituição, como Estatuto do
Idoso, ECA, entre outras.
O alcance dos direitos humanos não é excludente de qualquer ser humano por
qualquer razão ligada à pessoa humana. Outros fatores locais e normativos
podem fazê-los não chegar até o indivíduo, mas sendo possível chegar, toda
pessoa humana é agraciada.
Essencialidade
Corolário da característica anterior, a essencialidade confirma a universalidade e
vice-versa. Só é universal pois é essencial à existência e sobrevivência de todo
ser humano.
Inalienabilidade
Não se pode renunciar elemento ou parte integrante de seu todo, sob pena de
esvaziamento do todo. É uma incoerência lógica e jurídica. Visa, em última
análise, a evitar uma forma diversa da inalienabilidade negativa. Agora é a vez de
pensarmos o direito ao trabalho sob a perspectiva dos direitos humanos. Vamos
ouvir!
Inviolabilidade
Não é preciso se esforçar muito para constatar uma violação direta ou indireta. O
fato é que, apesar de haver trocas de responsabilidade entre os juridicamente
responsáveis, percebemos violações constantes há algum tempo. Isso necessita
ser revisto, sob risco de termos um sistema eternamente tolerante às violações
legais e constitucionais do tema.
Historicidade
São construções históricas, derivadas de marcos importantes e normalmente
associados a eventos com grandes perdas humanas e violações de outros
direitos correlatos. A característica geral da historicidade ratifica a percepção a
respeito das origens e possível caracterização de novos direitos na linha do
tempo e do espaço.
Mas está no meu livro, na minha liberdade de culto, este povo sempre teve direito
a esta terra: ouça um debate sobre Israel e Palestina.
Interdependência
Os direitos fundamentais estão interligados, conectados entre si nos
importantes documentos jurídicos internacionais e na legislação interna de cada
país.
São aqueles destinados ao maior equilíbrio de vida social, tais como paz,
bem-estar social, meio ambiente saudável, solidariedade, diversidade,
respeito às características étnicas, entre outros.
Ocorre que essa visão geracional está muito ligada à noção predominante de
período/tempo e a um movimento mais positivista do direito, tendente a
regulações mais específicas, o que acaba gerando um “fatiamento” legislativo
dos direitos humanos e criando barreiras práticas para sua aplicação.
Refugiados venezuelanos buscando acesso a outros países da América Latina, fugindo da crise de
segurança e liberdade em seu país de origem, 2018.
Na medida que tal acesso pode ser realizado por qualquer um do povo,
pessoa jurídica de direito privado ou público, interna ou estrangeira.
Social
Fraterna
Questão 1
Questão 2
De acordo com o sociólogo Domenico de Masi, vivemos um novo
“paradigma”, girando em torno de uma sociedade desorientada no tempo e no
espaço, diante da velocidade de incrementos tecnológicos iniciados por uma
revolução pós-industrial, com ênfase nos costumes e práticas sociais desde
o final do século passado até os nossos dias.
Considerações finais
Neste conteúdo, conhecemos as divergências terminológicas, teorias e
classificações que impactam as relações sociais e a compreensão da realidade
dos direitos humanos na atualidade. A base teórica é importante, considerando
que os sistemas jurídicos dos países não necessariamente utilizam a linguagem
universal dos documentos e compromissos internacionais, gerando assim uma
lacuna na racionalidade lógica para o direito e áreas afins.
Explore +
Leia o artigo Vaticano sabia que ex-cardeal dos EUA era acusado de assédio
sexual, na página da Gazetaweb.
Referências
HOBSBAWN, E.; RANGER, T. J. A Invenção das Tradições. São Paulo: Paz e Terra,
2012.
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DESCRIÇÃO
PROPÓSITO
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
MÓDULO 3
Por vezes, também falamos em minorias para nos referirmos a esses grupos.
Nesses casos, não significa que tais grupos sejam numericamente menores na
sociedade — o que não seria o caso, por exemplo, de mulheres e pessoas negras
no Brasil. Esses grupos são minoritários nos espaços de poder. Portanto, são
minorias políticas ou sociais, mas não necessariamente numéricas.
MÓDULO 1
Definir o conceito de grupo vulnerável e os fundamentos da proteção
aos povos indígenas
ATENÇÃO
Em nossa análise, vamos verificar como esse grupo vem sendo percebido e
tratado pelo Poder Judiciário. Tradicionalmente, referimo-nos ao Poder Judiciário
como um fórum importante de efetivação dos direitos de grupos vulneráveis,
porque, diferentemente de outros poderes, o Judiciário não estaria sujeito às
reações da política majoritária. Juízes são independentes e, por isso, podem
decidir contra a vontade da maioria, protegendo direitos e minorias.
No entanto, nem sempre é assim: juízes e juízas também são pessoas inseridas
na sociedade, de modo que, se a sociedade é marcada por desigualdades
estruturais (como racismo, machismo e etarismo), juízes e juízas também estão
sujeitos a reproduzir essas desigualdades, por vezes perpetuando discriminações.
Ainda assim, muitas vezes a Justiça é capaz de exercer seu papel fundamental
de avançar nos direitos dos grupos vulneráveis.
ETARISMO
EM SEGUNDO LUGAR
Mais que isso: a exploração de recursos hídricos pelo Estado — por exemplo,
para construir uma hidrelétrica — não só depende de um processo mais difícil,
exigindo a autorização do Congresso Nacional, como também da oitiva das
comunidades indígenas.
No entanto, precisamos lembrar que a terra, para povos indígenas (e para povos
quilombolas, de que a Constituição trata em outros momentos) não tem um
significado puramente econômico, apesar de também ser fonte de subsistência. A
terra também tem um sentido existencial: há uma conexão intrínseca entre a
comunidade e sua identidade e a terra que ela habita.
2º – DIREITO À MORADIA
A terra indígena também é o local onde os povos indígenas vivem e reproduzem
seus saberes e sua cultura.
É por essa razão que a própria Constituição dispõe, no art. 231, parágrafo 4º, que
as terras indígenas são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos que
repousam sobre elas são imprescritíveis. Em outros termos, os povos
indígenas, que possuem direito de posse e de usufruto sobre suas terras, não
podem vendê-las a outras coletividades ou a outros indivíduos.
Ainda que essa afirmação não seja totalmente precisa — ou seja, que haja
indivíduos ou mesmo grupos de indígenas que vislumbram um caráter
eminentemente econômico em suas terras —, o fato é que a tutela constitucional
do direito à terra de povos indígenas reveste-se dessa característica existencial.
Tal caráter existencial das terras indígenas fica ainda mais claro se repararmos o
que afirma o parágrafo 5º do art. 231 da Constituição.
O dispositivo veda que grupos indígenas sejam removidos de suas terras, salvo
na hipótese de catástrofe ou epidemia. Mesmo no caso de interesse da soberania
do país, a remoção só pode ser temporária e depende sempre de deliberação do
Congresso Nacional.
TERRAS TRADICIONALMENTE
OCUPADAS PELOS INDÍGENAS
Historicamente, a maior parte (senão toda) das terras brasileiras foi ocupada por
indígenas, expulsos delas desde o processo de colonização portuguesa. No
entanto, esta não pareceu ser a reivindicação dos movimentos dos povos
indígenas abarcada pela constituinte.
O que se pretendeu, de fato, foi tutelar os povos indígenas que havia em 1988 e
que viam suas terras sujeitas a constantes investidas advindas do Estado e de
particulares. Ainda assim, foi necessário que o Supremo Tribunal Federal
definisse os parâmetros para o reconhecimento do direito a tais terras.
Foi o que ocorreu no caso Raposa Serra do Sol (Petição nº 3.388), em que o
Tribunal estabeleceu que a definição de “terras tradicionalmente ocupadas” pelos
indígenas tem como marco temporal a promulgação da Constituição, ou seja, 5 de
outubro de 1988. Isso significa que eventuais aldeamentos indígenas que já
não existiam à data de promulgação da Constituição não mais teriam
reconhecidos direitos às terras que, no passado, ocupavam.
Fonte: Agencia Brasil/ Creative Commons Atribuição 3.0 Brasil
Figura 1- Índio no Tribunal
EXEMPLO
O que acontece no caso de, por exemplo, um aldeamento indígena haver sido
violentamente expulso de suas terras alguns anos antes da promulgação da
Constituição?
RESPOSTA
A resposta é negativa. Para o Supremo Tribunal Federal, estes casos — o
chamado “esbulho renitente” — são uma exceção à exigência de que os povos
indígenas ocupassem as terras à data da Constituição de 1988.
Essas terras são definidas de acordo com o dia 5 de outubro de 1988: os povos
que ocupavam terras naquela data tiveram seu direito assegurado pela
Constituição, mas também aqueles povos que se encontrassem em disputa sobre
terras — judicializada ou não — teriam seus direitos reconhecidos. Ficaram de
fora tão somente aquelas coletividades indígenas que, muito antes da
Constituição de 1988, haviam deixado de ocupar as terras ou mesmo aquelas que
haviam desaparecido ao longo dos anos.
É por isso que não basta a mera previsão textual de direitos para que eles sejam
assegurados. Direitos fundamentais também exigem a existência de organizações
e procedimentos capazes de protegê-los tanto de ofício quanto mediante
provocação dos interessados.
DE OFÍCIO
LEGITIMIDADE
EXEMPLO
Uma relevante discussão surge a partir dessa previsão. Apesar de não trazer
grandes controvérsias nas instâncias judiciais de primeiro grau, o dispositivo pode
gerar certas dúvidas com relação aos casos trazidos diretamente ao Supremo
Tribunal Federal.
RESPOSTA
A dúvida surge, porque o ajuizamento de ações de controle de
constitucionalidade é limitado aos legitimados previstos no art. 103 da
Constituição Federal. Em uma primeira leitura, os povos indígenas não estão
previstos nessa lista de legitimados ativos. A questão foi solucionada pelo
Supremo Tribunal Federal em 2020, no julgamento da Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental nº 709 (ADPF nº 709).
AÇÕES DE CONTROLE DE
CONSTITUCIONALIDADE
A ADPF foi ajuizada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) diante
da inércia do Poder Executivo Federal no combate à pandemia da Covid-19 em
comunidades indígenas. Afinal, a pandemia gerou impacto desproporcional sobre
esses grupos, causando níveis altíssimos de mortes sem uma resposta adequada
do governo federal.
BRASIL, 2020.
O especialista Wallace Corbo fala sobre O direito à terra dos povos indígenas:
propriedade ou identidade?
VERIFICANDO O APRENDIZADO
GABARITO
MÓDULO 2
QUESTÕES DE GÊNERO
ABARCADAS NA CONSTITUIÇÃO
No entanto, como vimos no caso dos indígenas, não basta a previsão textual de
direitos para que eles sejam assegurados ou mesmo para que saibamos de
antemão o que significam os dispositivos constitucionais. É apenas a partir da
interpretação que conferimos sentido ao texto constitucional, transformando texto
em norma.
TIPOS DE DISCRIMINAÇÃO
Um dos mais importantes casos julgados pelo Supremo Tribunal Federal em
matéria de gênero foi a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.946 (ADI nº
1.946), julgada em 2003. O caso não parecia, a princípio, ter qualquer relação
com o tema da discriminação de gênero. O que se questionava ali era o
estabelecimento de um teto de benefícios do regime geral de Previdência Social
estabelecido pela Emenda Constitucional nº 20/1998.
Discriminação direta
Discriminação indireta
Quando uma lei ou uma prática não nega expressamente direitos a um grupo,
mas, aplicada de fato, acaba produzindo efeitos semelhantes aos que produziria
se discriminasse expressamente.
Foi exatamente isso que o Supremo Tribunal Federal entendeu que aconteceria
quando da aplicação do art. 14 da Emenda Constitucional nº 20/1998 à licença-
maternidade.
A lógica, antevista pelo STF, é bastante clara: caso o empregador fosse obrigado
a arcar com todo valor que exceda R$1.200,00, inclusive da licença-maternidade,
um incentivo à discriminação de gênero no mercado de trabalho seria criado.
Afinal, para qualquer função cuja remuneração excedesse o teto, o custo do
empregador com relação a uma trabalhadora seria potencialmente superior ao de
trabalhadores homens.
FETO ANENCÉFALO
Em termos mais amplos, a questão do aborto foi levada ao STF em dois casos
que já são paradigmáticos.
À cidadania.
À não discriminação.
À inviolabilidade da vida.
À liberdade.
À igualdade.
Até o final de 2020 o caso não havia sido julgado. É certo que caberia ao
STF analisar se a legislação editada em 1940 ainda é adequada à proteção
dos bens jurídicos constitucionais fundamentais, ou se ela revela uma
incompatibilidade, total ou parcial, com o novo ordenamento constitucional
brasileiro.
Fonte: ananaline/Shutterstock.com
PESSOAS TRANS
Pessoas cuja identidade de gênero não converge com seu sexo biológico ou
com o sexo que lhes foi atribuído no nascimento.
HOMENS TRANSEXUAIS
MULHERES TRANSEXUAIS
Outros grupos que não se identificam nem como homens nem como mulheres.
PESSOA CISGÊNERO
Quando a pessoa adota, ao longo de sua vida, um apelido público notório, pelo
qual, por vezes, é mais conhecida do que por seu prenome real.
Foi o que aconteceu, por exemplo, com a apresentadora Xuxa e com o político
Lula.
Disso resulta o fato de que, para pessoas trans, o nome registral sempre tenha
sido uma lembrança constante do não reconhecimento pelo Estado e pela
sociedade de suas identidades e de sua dignidade.
NOME SOCIAL
Ao passo que pessoas trans começaram a obter maior visibilidade social, também
tornou-se mais exposta a discriminação sofrida por elas — ora uma discriminação
que se produz no campo da negação de acesso a espaços, ora uma
discriminação que se converte até mesmo em casos de homicídio que afetam
desproporcionalmente essa população.
Para lidar com isso, o STF julgou a Ação Direta de Inconstitucionalidade por
Omissão nº 26 (ADO nº 26). Nesta, argumentou-se que a Constituição de 1988
impunha o dever do legislador no sentido de criminalizar não apenas o
racismo como também toda forma de discriminação, nos termos do art. 5º,
incisos XLI e XLII, da Constituição Federal.
HOMOFOBIA
BIFOBIA
TRANSFOBIA
Discriminação contra pessoas trans.
DISCRIMINAÇÃO E DESIGUALDADE
DE GÊNERO
Antes de concluirmos a análise da abordagem do Supremo Tribunal Federal com
relação a questões de gênero, não podemos deixar de tratar de outro conjunto de
casos que recebeu a análise da Corte.
Assim, na ADPF nº 457, o Supremo entendeu que leis desse tipo, as quais
buscam impedir o debate sobre gênero nas escolas — essencial para a formação
de novas gerações capazes de respeitar a diferença e o outro — violam à
Constituição sob duas perspectivas:
Não cabe aos Estados e municípios editar normas gerais sobre o currículo escolar
— e a ação versava sobre lei municipal.
Com isso, vimos como são diversas as questões de gênero trazidas ao Supremo:
desde casos envolvendo a discriminação de gênero no mercado de trabalho, a
(in)constitucionalidade do crime de aborto até a proteção dos direitos de pessoas
trans.
São muitos os temas nos quais o Supremo Tribunal Federal atua, tomando
decisões — todas, até então, em favor da proteção dos grupos vulneráveis:
mulheres (transgênero e cisgênero) e pessoas trans. Mais uma vez percebemos
como a atuação do STF é capaz de conferir maior especificidade e densidade
normativa ao texto constitucional, assegurando o objetivo constitucional de
inclusão, de promoção da igualdade e de combate à discriminação.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
GABARITO
MÓDULO 3
CONCEITO DE IDOSO
Vamos voltar nossa atenção para um terceiro grupo vulnerável que, por
vezes, é negligenciado em seu tratamento jurídico e constitucional: as
pessoas idosas.
O fato é, sem prejuízo disso, que as pessoas idosas estão sujeitas a uma forma
específica de vulnerabilidade social: muitas vezes, são acometidas por problemas
de saúde diretamente relacionados à idade, mas também por doenças
psicológicas que as afetam desproporcionalmente.
Fora do campo da saúde, a pessoa idosa também encontra dificuldades ora para
ser incluída no mercado de trabalho, quando assim deseja, ora para gozar de seu
direito à vida em um momento precioso que coroa toda uma existência ao longo
de décadas.
Perceba, a este respeito, como estamos, aqui, diante de uma situação na qual a
Constituição nos apresenta um conceito jurídico indeterminado, que depende
da atuação legislativa para sua concretização. Assim, poderíamos considerar
como idosos pessoas acima de 80, de 70 ou de 60 anos, e todas essas
alternativas poderiam estar corretas.
ATENÇÃO
Aqui, surge um ponto importante: uma lei não poderia definir como idoso, por
exemplo, os maiores de 30 anos, porque sabemos, com segurança, que pessoas
com mais de 30 anos não são idosas. Da mesma forma, a lei não poderia
restringir o conceito de idoso às pessoas acima de 100 anos. Afinal,
pouquíssimos brasileiros chegam a essa idade, e implementar uma classificação
desse tipo esvaziaria o princípio constitucional da proteção da pessoa idosa.
Um primeiro direito assegurado à pessoa idosa está previsto no art. 203, inciso V,
da Constituição. Trata-se da garantia de um salário-mínimo de benefício mensal à
pessoa idosa que não possua meios de prover a própria manutenção nem tenha
família que possa provê-lo. Esse benefício, denominado “benefício de prestação
continuada”, foi regulado pela Lei Orgânica da Assistência Social (Lei nº
8.742/1993), que o limitou a pessoas idosas com 65 (sessenta e cinco) anos ou
mais. Mais uma vez, diante do silêncio do texto constitucional, é razoável que a
legislação estabeleça determinado parâmetro para definir quem é a pessoa idosa
tutelada pelo benefício.
Igualmente, o art. 230, em seu parágrafo 2º, estabelece o direito dos maiores de
65 anos à gratuidade dos transportes coletivos urbanos. Apesar da previsão
constitucional expressa, a matéria chegou a ser levada ao Supremo Tribunal
Federal em ação que impugnava o art. 39 do Estatuto do Idoso, que reproduzia
este dispositivo.
DIREITO PREFERENCIAL DE
RECEBIMENTO DE PRECATÓRIOS
Outro importante direito assegurado pela Constituição à pessoa idosa diz respeito
à preferência no recebimento de precatórios.
ART. 100.
§ 2º OS DÉBITOS DE NATUREZA ALIMENTÍCIA
CUJOS TITULARES, ORIGINÁRIOS OU POR
SUCESSÃO HEREDITÁRIA, TENHAM 60
(SESSENTA) ANOS DE IDADE, OU SEJAM
PORTADORES DE DOENÇA GRAVE, OU
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, ASSIM
DEFINIDOS NA FORMA DA LEI, SERÃO PAGOS
COM PREFERÊNCIA SOBRE TODOS OS
DEMAIS DÉBITOS, ATÉ O VALOR
EQUIVALENTE AO TRIPLO FIXADO EM LEI
PARA OS FINS DO DISPOSTO NO § 3º DESTE
ARTIGO, ADMITIDO O FRACIONAMENTO PARA
ESSA FINALIDADE, SENDO QUE O RESTANTE
SERÁ PAGO NA ORDEM CRONOLÓGICA DE
APRESENTAÇÃO DO PRECATÓRIO.
Poder Legislativo
Poder Executivo
B) Nos termos do Estatuto do Idoso, considera-se pessoa idosa aquela com idade
igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
GABARITO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Supremo Tribunal Federal tem abordado o tema dos direitos de grupos
vulneráveis. Descobrimos como, por vezes, é em sede judicial que muitos direitos
podem ser conquistados, a despeito das resistências que enfrentam no campo da
política majoritária.
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e
primeira desembargadora negra do TJRJ, discorre sobre o compromisso que a
Justiça deveria ter com a redução das desigualdades sociais.
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e
primeira desembargadora negra do TJRJ, discorre sobre o compromisso que a
Justiça deveria ter com a redução das desigualdades sociais.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil
de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2020].
CONTEUDISTA
Wallace Corbo
CURRÍCULO LATTES
DESCRIÇÃO
A fundamentação histórica dos Direitos Humanos e sua estruturação e efetivação no cenário nacional e
internacional.
PROPÓSITO
Compreender o que são os Direitos Humanos e quais são seus objetivos para uma formação
profissional plena que respeita os indivíduos permitirá que sua atuação contribua para a manutenção do
bem-estar social.
PREPARAÇÃO
Para esse módulo, o uso de um dicionário jurídico facilitará o entendimento de termos específico da
área.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
MÓDULO 3
MÓDULO 4
INTRODUÇÃO
Os Direitos Humanos são um conjunto de direitos considerados essenciais para que qualquer ser
humano, independentemente de sua condição, origem, seu credo, sua raça ou orientação política, viva
com dignidade. A existência desse conjunto é de conhecimento geral e não é raro vermos referências
aos Direitos Humanos em reportagens ou conversas cotidianas. No entanto, ainda não são
compreendidos pelas pessoas.
Poucos entendem o que eles representam realmente e o que procuram fazer. Diversas informações
equivocadas sobre o assunto circulam e, muitas vezes, a mensagem tem distorções propositais para
questionar a importância dos Direitos Humanos e fazer que eles sejam negados a um determinado
grupo de pessoas.
A Ciência prega que um profissional entenda do assunto para além do senso comum e que tenha o
conhecimento suficiente para utilizar de forma correta a informação.
Este conteúdo tem o objetivo de propor um debate sobre os Direitos Humanos, dividindo o assunto em
quatro módulos, que abordarão a construção ética e histórica do conceito, procurando definir quais são
esses direitos e como eles foram moldados; as críticas e atualizações sobre seus preceitos básicos; a
discussão sobre seu caráter universal e a necessidade de que ele atenda a diferentes grupos; sua
formação jurídica e, finalmente, seu desenvolvimento no Brasil. Com esse debate, poderemos
compreender seus fundamentos, suas críticas e sua funcionalidade no Brasil e no mundo.
GLOSSÁRIO
MÓDULO 1
Direitos Humanos são direitos básicos que devem ser garantidos a todo ser humano independentemente
de sua condição. O significado parece simples, mas definir o que são condições mínimas para que
qualquer ser humano, em qualquer lugar do planeta, viva de forma digna é uma tarefa complexa, mais
ainda se pensarmos que essas condições se modificam ao longo do tempo.
Geralmente, quando falamos desse assunto, nos referimos aos Direitos Humanos criados recentemente
pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, escrita em 1948, pela Organização das Nações
Unidas, popularmente conhecida como ONU.
ATENÇÃO
Não se pode ignorar que, antes dessa declaração ser escrita, existiu um longo caminho de construção
de direitos básicos, com interesses que se modificam com o passar do tempo. Para compreendermos o
que são os Direitos Humanos, no século XXI, precisamos observar o desenvolvimento das necessidades
dos seres humanos ao longo do tempo e as lutas que foram travadas para desenvolver esse conceito.
É certo que, se observarmos cada sociedade, desde os primeiros povos, veremos que cada um teve as
suas urgências e que, em alguns momentos, foi preciso estabelecer um conjunto de leis, de regras ou
de ideias para garantir o mínimo de dignidade e condições de sobrevivência para todos.
Ao longo do tempo, as guerras aconteceram e deixaram alguns grupos mais interessados em garantir a
sua integridade do que outros, tecnologias foram sendo criadas e vistas como fundamentais para uma
condição digna de vida.
À medida em que o tempo passa e fatos acontecem, outras dificuldades aparecerão e nos farão
repensar o que consideramos essencial para viver.
EXEMPLO
Após a pandemia de coronavírus, é possível que o acesso universal à vacinação seja muito mais
valorizado como um direito básico e reivindicado do que em outros tempos.
As primeiras referências ao termo Direitos Humanos datam dos séculos XVII e XVIII, na Europa
Ocidental, quando se vivia a chamada crise do absolutismo, ou seja, no momento em que a ideia de um
governante soberano com todos os direitos concentrados em suas mãos perdia força.
SAIBA MAIS
A historiadora Lynn Hunt afirma que, em um primeiro momento, a expressão não tinha o mesmo
conteúdo político e legal que conhecemos atualmente e que, naquele tempo, “direitos humanos” era
uma expressão usada apenas como um contraponto aos direitos divinos. (HUNT, 2009)
Sobre o assunto, o filósofo Norberto Bobbio afirmou que esse período pode ser conhecido também
como “era dos direitos”, pois foi naquele tempo que as ideias dos filósofos do Iluminismo inspiraram
os liberais a lutarem contra os absolutistas, criando um “Estado de direito”, ou seja, um Estado que
tinha sua organização determinada pelo uso das leis (BOBBIO, 1992).
ILUMINISMO
Movimento intelectual do século XVIII que questionou os princípios políticos e religiosos da época.
Ainda segundo Hunt, foi o Iluminismo que materializou a noção de direitos básicos para todos,
principalmente por meio de dois documentos que vamos analisar a partir de agora: a Declaração de
Independência, dos Estados Unidos; e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, escrita
durante a Revolução Francesa.
Esse documento foi resultado da insatisfação dos estadunidenses, naquele momento conhecidos como
as Treze Colônias Inglesas da América, com a metrópole Inglaterra.
Na época, os colonos viviam com uma relativa independência política e econômica até que foram
convocados pela Inglaterra a se envolver numa guerra contra os franceses, a Guerra dos Sete Anos.
Mesmo indo à batalha e garantindo a vitória inglesa no conflito, os americanos se viram, ao final da
Guerra dos Sete Anos, obrigados a pagar dívidas inglesas e a obedecer a ordens autoritárias da
metrópole.
Insatisfeitos, os colonos se reuniram e escreveram uma carta ao rei e ao parlamento inglês em que
declaravam sua fidelidade à Inglaterra, mas reclamavam das medidas adotadas. A carta não teve a
resposta esperada e, em 1776, os colonos americanos voltaram a se reunir no Segundo Congresso da
Filadélfia, onde redigiram a Declaração de Independência, na qual informavam à metrópole os motivos
pelos quais os colonos estavam rompendo com a Inglaterra e não fariam mais parte do reino inglês.
Essa declaração americana anuncia que todos os homens são criados iguais por Deus e que recebem
Dele direitos que não lhes deveriam ser retirados: a vida, a liberdade e a busca da felicidade. Esses
direitos são vistos pelos autores do documento como verdades “autoevidentes”, ou seja, direitos que são
natos a todos os seres humanos e que, caso não sejam respeitados pelo governo, o povo tem o direito e
o dever de substituir o governante ou de mudar as regras da política até que possa ser possível
desfrutar dos direitos com segurança.
O que podemos entender a partir dessa declaração é que a finalidade do documento não era
estabelecer direitos básicos, até porque eles são autoevidentes e estariam naturalmente disponíveis em
uma nação justa, mas que esses direitos são citados para argumentar a necessidade de rompimento
com a metrópole pela falta de respeito a eles, criando as bases da nova nação que iria surgir.
Com isso, a declaração demonstrou as intenções daquele momento, mas ainda não estava tornando
oficiais esses direitos, isso só iria acontecer posteriormente, em 1787, quando foi assinada a
Constituição dos Estados Unidos.
Neste novo documento, nota-se que alguns daqueles direitos autoevidentes não foram respeitados: as
leis estadunidenses, por exemplo, permitiam que a escravidão permanecesse legal nos Estados Unidos,
recusando-se aos trabalhadores escravizados ao menos dois dos três direitos básicos apresentados na
Declaração de Independência, como a liberdade e a busca pela felicidade.
Esse documento também foi resultado de um conflito que teve início com a insatisfação do povo com o
seu governante. Dessa vez, o descontentamento era dos franceses com o rei absolutista Luís XVI.
Após o envolvimento da França para apoiar os americanos na Guerra de Independência dos Estados
Unidos, o monarca francês tentou controlar uma crise econômica aumentando os impostos cobrados da
população, mas manteve as classes privilegiadas isentas de contribuição.
Em 1789, com todas as classes reunidas, a Assembleia francesa aprovou a Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão.
O documento francês defendeu que a ignorância, a negligência ou o menosprezo aos direitos dos
homens eram a razão da difícil situação em que o povo se encontrava e que, para mudar a situação, era
necessário defender de forma solene os direitos considerados naturais, inalienáveis e sagrados do
homem.
ATENÇÃO
Aqui, podemos observar que, apesar de acreditar que existem direitos que são naturais aos homens,
diferentemente da ideia americana, eles não são evidentes por si só e precisam ser ditos e defendidos.
Como confirmação, podemos indicar o primeiro direito da declaração francesa, que afirma que os
homens não só nascem, como devem permanecer livres e iguais, ou seja, não é uma condição
provisória que pode ser retirada em algum momento, mas inerente ao ser humano.
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DECLARAÇÃO FRANCESA
Documento legal escrito por uma Assembleia reconhecida pelo Estado, base da Constituição que seria
aprovada posteriormente e que repercutiu em direitos legais que tiveram atuação real.
Imagem: Shutterstock.com
DECLARAÇÃO AMERICANA
Apontou para a existência de alguns direitos básicos para defender um outro propósito, a
independência.
Documento no qual um comitê, representando as Treze Colônias, localizadas na América do Norte, foi
nomeado pelo Congresso para redigir a declaração.
Essas duas declarações alimentaram o início de um debate sobre os Direitos Humanos e serviram
de exemplo durante todo o século XIX para a criação de novos regimes políticos, incentivando os
processos de independência das colônias americanas, criando um novo mundo.
No século XX, os valores do mundo se transformaram mais uma vez, agora não por meio de processos
revolucionários, mas por duas conhecidas guerras que se iniciaram na Europa, envolveram países de
todos os continentes e deixaram um rastro de barbárie e mortes.
Foto: Everett Collection / Shutterstock.com
Primeira Guerra Mundial – Batalha de Verdun (abril – junho, 1916).
Vamos acompanhar como as duas guerras mundiais influenciaram a criação dos direitos humanos como
existem atualmente e como essa declaração foi criada.
Em janeiro de 1919, pouco depois de acabar a Primeira Guerra Mundial, as nações vitoriosas se
reuniram na Conferência de Paz de Paris e assinaram o Tratado de Versalhes que, entre outras
decisões, criou a Liga das Nações, um órgão internacional que tinha como objetivo interceder pela paz.
SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Apesar dos esforços dessa organização, poucos anos depois, ou como descreve a Carta das Nações
Unidas “no espaço de uma vida humana”, um novo conflito de proporções ainda maiores viria acontecer,
a Segunda Guerra Mundial. O mundo se chocou ao viver o horror do uso de novas tecnologias de
guerra, de campos de concentração e de extermínio em massa, pelos dois lados do conflito.
Assim como na Primeira, no final desta Guerra, em 1945, os países vitoriosos se reuniram e assinaram
acordos para restabelecer a paz no mundo. Entre as decisões tomadas, criou-se uma organização
internacional neutra para substituir a Liga das Nações, a chamada Organização das Nações Unidas
(ONU).
O objetivo desse novo órgão foi descrito na Carta das Nações Unidas, produzida e assinada na cidade
de São Francisco, nos Estados Unidos, ainda no ano de 1945. Nesse documento, determina-se que a
ONU representa um pacto entre as nações que devem se observar e procurar juntas mediar as ações e
decisões tomadas por todos, a fim de “preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra” e reafirmar
a “fé nos direitos fundamentais do homem e no valor da pessoa humana; na igualdade de direitos dos
homens e das mulheres, assim como das nações, grandes e pequenas”. Também eram objetivos desse
documento manter a justiça, o respeito, promover o progresso social, melhores condições de vida e a
liberdade. Para alcançar esses objetivos, três anos depois, em 1948, a ONU produziu a Declaração
Universal dos Direitos Humanos.
A Assembleia Geral da ONU desejava que essa Declaração fosse um ideal comum a ser buscado por
todos os povos e nações e anunciou trinta artigos que compreendem direitos como a proteção e
segurança pessoal, a abominação à escravatura ou servidão, à tortura, ao reconhecimento de todos os
indivíduos como seres jurídicos, ao casamento e ao fim dele, ao trabalho e ao repouso, entre outros.
Esse documento tornou-se extremamente importante na busca pelos direitos básicos, pois ele não foi
um documento regional, como as declarações americana e francesa, mas um tratado internacional, que
trabalhou e ainda atua para que esses direitos estejam mais perto de todos os seres humanos.
Nela são reconhecidos como direitos inalienáveis a liberdade, a justiça e a paz e é criado um conceito
importante para envolver todos os seres humanos em um patamar de igualdade, a ideia de que todos
fazemos parte de uma mesma família, a família humana. Essa ideia declara que não há diferença entre
os seres humanos, pois todos os indivíduos são parentes e têm a mesma origem, trazendo um
sentimento de afeto para reforçar que devemos respeitar o próximo e ter empatia por ele.
Foto: Neptuul/Wikimedia Commons/ CC BY 3.0.
Nobel da Paz de 2001 – diploma na entrada da Sede da ONU
em Nova York.
SAIBA MAIS
A Declaração das Nações Unidas de 1948 é o maior documento legal de direitos humanos produzido e,
para chegar a todos os seres humanos, essa declaração se tornou o texto mais traduzido no mundo.
Com sua grande tradução para vários idiomas e com um grande esforço de circulação, a declaração foi
e é analisada e estudada intensivamente por juristas de todas as nacionalidades, que identificam três
características que se tornam seus três pilares fundamentais.
UNIVERSALIDADE
A primeira característica desses direitos é que eles são universais, como indica o próprio nome. Isso
significa dizer que eles devem estar disponíveis ao acesso de todos os membros da família humana
igualmente, não podendo ser restringidos a ninguém.
Por essa condição, se alguém não puder gozar de algum desses direitos, todos os demais membros da
família humana estão ameaçados, pois eles não estão em pleno funcionamento. Assim, não é permitido
que algum direito seja aplicado a apenas uma pessoa ou grupo.
EXEMPLO
Vamos pensar no direito à liberdade: se em algum lugar do mundo for permitido que algum ser humano
seja submetido a condições de trabalho escravo, isso significa que todos os outros seres humanos
correm o mesmo risco. Se vale para um, vale para todos.
INTERDEPENDÊNCIA
Outra característica é que esses direitos são interdependentes, ou seja, um direito complementa o
outro, a existência de um está condicionada à existência de todos os demais. Aqui entendemos que
nenhum direito é mais importante do que os demais. Eles se apoiam, como em um castelo de cartas. Se
um for ameaçado, todo o conjunto pode ruir.
EXEMPLO
Se alguém estiver passando fome, ou seja, se tiver o seu direito de ter uma alimentação adequada
ameaçado, é possível que essa pessoa não consiga exercer a seu direito à liberdade, pois a essa
pessoa nada mais interessará, e todos os seus esforços estarão focados em alimentar-se, e ela pode
acabar aceitando qualquer condição imposta. Sua liberdade dependerá do acesso à alimentação. Assim,
podemos dizer que um direito só funciona se o outro também funcionar.
INDIVISIBILIDADE
A última característica é a indivisibilidade, que significa que não pode haver uma divisão desses
direitos em categorias. É preciso entender e respeitá-los como um todo, enxergando que os direitos
individuais, políticos, sociais e econômicos interagem e não podem ser afastados uns dos outros.
EXEMPLO
Não é possível que uma nação mova esforços para garantir apenas os direitos políticos da sua
população sem garantir os direitos individuais dela, pois esses dois direitos não estão separados.
Vamos pensar nos primeiros anos da República no Brasil, no final do século XIX e o início do século XX.
Naquele momento, novos direitos políticos foram criados, permitindo que alguns homens votassem e
escolhessem seus governantes. No entanto não foram criadas condições para que o direito individual
fosse respeitado e, assim, esses eleitores eram ameaçados para que o voto fosse dado a um candidato
específico.
AMEAÇADOS
A essa prática de manipulação eleitoral demos o nome de voto de cabresto. Aqui entendemos que
o direito político e o direito individual não estão divididos e separados, ou seja, um direito não
existe sem o outro.
FASES DOS DIREITOS HUMANOS
Ao acompanhar a trajetória dos Direitos Humanos, entendemos que seus objetivos e suas
características foram construídas ao longo do tempo.
PRIMEIRA GERAÇÃO
As declarações americana e francesa integram a primeira geração, que buscou a liberdade ao rejeitar o
controle do Estado absolutista e procurar limitar poderes autoritários, já que esses interferiam
diretamente no livre arbítrio de decisões individuais.
SEGUNDA GERAÇÃO
A segunda geração, no século XX, com as declarações e os tratados internacionais das Nações Unidas,
reafirmou a liberdade da primeira geração e buscou a igualdade, criando a ideia de família humana, em
que todos os seres humanos foram postos no mesmo patamar.
TERCEIRA GERAÇÃO
A partir dos anos de 1960, a última geração avançou sobre os direitos coletivos e difusos, ou seja, os
direitos que representam os indivíduos, mas que são do interesse de todos e que só podem ser exigidos
por todos juntos.
Para concluir, podemos entender que a questão dos direitos demanda atualização e esforço por sua
manutenção. Apesar da intenção de colaborar com a criação de direitos básicos, nenhuma das três
declarações citadas teve valor constitucional, isto é, nenhuma teve valor de lei, foi capaz de garantir os
direitos universais ou de impedir regressos.
SAIBA MAIS
Pouco depois da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, a França voltou a ter um rei no
poder e depois da produção da Declaração dos Direitos Humanos, o mundo voltou a vivenciar diversas
guerras, genocídios e ditaduras.
Entendemos que esses direitos não são garantias, e, sim, um trabalho em progresso. Por isso,
precisamos estar sempre vigilantes para não retrocedermos em nenhuma conquista.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. AO ACOMPANHAR A HISTÓRIA DAS DECLARAÇÕES DE DIREITOS
PRODUZIDAS AO LONGO DO TEMPO COMPREENDEMOS QUE:
A) A Declaração de Direitos Humanos da ONU superou todas as demais declarações, pois todos os
direitos defendidos eram inéditos na história.
B) O conjunto de Direitos Humanos que compreendemos atualmente é fruto de uma construção histórica
que se expandiu por vários países e está em constante evolução.
C) As declarações dos Direitos Humanos são documentos criados espontaneamente por cada
sociedade quando seus regimes estão estáveis e maduros.
E) A Declaração de Independência foi uma vitória dos americanos, pois, a partir do seu processo de
independência, teve início o poder americano no mundo.
A) Todos os direitos são independentes, ou seja, cada um tem sua importância e são debatidos isolados.
B) Todos os direitos são indiscutíveis, ou seja, sua importância é tão grande que eles deveriam ser
compreendidos por si só.
C) Todos os direitos são capacitistas, ou seja, determinam que os seres humanos devem ser exaltados
pelas suas melhores habilidades.
D) Todos os direitos são indivisíveis, ou seja, precisam ser respeitados como um todo.
E) Todos os direitos são jurídicos, a serem discutidos em espaços das leis, sem foco social.
GABARITO
A Declaração Universal de Direitos Humanos da ONU reuniu alguns direitos que já haviam sido
debatidos em outras declarações com o objetivo de defender todos os integrantes da família humana.
Os direitos são indivisíveis, pois nenhum é mais importante que o outro ou pode ser interpretado
sozinho.
MÓDULO 2
FUNDAMENTAÇÃO E RECONSTRUÇÃO DE
DIREITOS HUMANOS
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Ao acompanhar a trajetória dos Direitos Humanos, entendemos que eles são frutos de um processo
histórico que combinou ideias, pensamentos e necessidades de muitos momentos e grupos.
Atualmente, rejeitamos as ideias de um rei com todo o poder concentrado em suas mãos e de uma
sociedade que define nosso lugar social desde o nascimento sem chances de definirmos nossas
próprias vidas, mas nem sempre foi assim.
Para que direitos como a limitação de poder e o princípio de igualdade se efetivassem como tratados ou
leis, foi preciso construir uma grande argumentação teórica baseada em tradicionais correntes jurídicas
filosóficas.
Para entender a sustentação teórica dos Direitos Humanos, vamos analisar essas correntes e entender
sua argumentação e suas críticas. Os Direitos Humanos podem ser justificados por, pelo menos, três
correntes filosóficas: jusnaturalista, positivista e moral.
JUSNATURALISMO
No jusnaturalismo, o direito é visto como algo intrínseco e natural ao ser humano e às leis, como
resultados desse pensamento, funcionando antes mesmo de serem legalizadas pelas constituições ou
pelo Estado.
Segundo essa corrente, eles existem, pois haveria uma demanda natural da sociedade por certos
princípios, sendo os direitos uma consequência natural da organização dos homens e mulheres,
existindo independentemente de qualquer constituição ou diploma legal.
EXEMPLO
Para compreensão do pensamento jusnatural temos o direito à vida. Os jusnaturalistas acreditavam que
se as pessoas têm naturalmente a ideia de que tirar a vida de outro ser humano é um ato injusto, seria
desnecessário uma lei para impedir que as pessoas se matem.
ATENÇÃO
O uso do argumento jusnatural para defender os Direitos Humanos, no entanto, sofre uma crítica, pois,
acompanhando o seu desenvolvimento histórico, entende-se que os Direitos Humanos não são pré-
existentes ou uma necessidade natural da vida em sociedade.
Como nos mostra a história, os Direitos Humanos seriam fruto da evolução, da necessidade e do
entendimento de um grupo. Na crítica ao fundamento jusnaturalista, podemos ressaltar o
questionamento feito pela professora Lynn Hunt sobre a natureza “autoevidente”, definida pela
Declaração de Independência dos Estados Unidos; se esses são direitos tão óbvios por que eles
precisam ser reafirmados de tempos em tempos?
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POSITIVISMO
A corrente jurídica do positivismo entende que os direitos não são elementos naturais numa
sociedade. Eles seriam o resultado de discussões e entendimentos do Estado, que decide pela
oficialização e pela legalização de uma certa norma.
Segundo essa corrente, o direito só existe por determinação legal, ou seja, os Direitos Humanos só
passam a existir quando são institucionalizados e recebem o reconhecimento em forma de lei, em
constituições ou em tratados internacionais.
Para os positivistas não existem direitos como ideias, e os Direitos Humanos são apenas o que a lei
determina que são Direitos Humanos. Se estão representados apenas por declarações, eles não
existem e ninguém tem a obrigação de segui-los.
Imagem: Autor desconhecido/ Wikimedia Commons/ Domínio Público.
Auguste Comte, formulador do positivismo.
ATENÇÃO
A crítica acusa que a interpretação literal do que é um direito enfraquece a proteção dos Direitos
Humanos, pois deixa de fora uma série de direitos de grande importância, que são reconhecidos pela
comunidade ou que ainda estão sendo discutidos, antes de ser inscritos em alguma legislação.
Considerar apenas o que está previsto em lei implica numa redução de direitos.
MORALISMO
A corrente moralista, como a jusnaturalista, defende que os direitos são normas que não precisam
da sua oficialização em leis e constituições para ter validade; sua importância está diretamente
relacionada às necessidades e aos valores da sociedade em que estão inseridos. Mas, diferentemente
do jusnaturalismo, o direito moral não acontece naturalmente na sociedade, ele se baseia nas
necessidades e nos valores específicos morais e éticos de um determinado grupo.
EXEMPLO
Não há uma lei que obrigue que as pessoas precisam respeitar uma fila que tenha se formado, ninguém
será preso por furar uma fila. Em algumas culturas, essa regra é importantíssima, e você pode até
mesmo se ausentar da fila por algum motivo que, ao retornar terá seu lugar garantido, enquanto, em
outros grupos, passar à frente de uma pessoa que estava desatenta não é um grande problema, e é até
normal.
ATENÇÃO
A crítica a essa corrente aponta também para uma limitação que põe em risco os direitos, pois, se
cada sociedade possui seu próprio conjunto de valores e tem um entendimento moral, vários direitos
humanos diferentes seriam reivindicados pelo mundo, e o conjunto se enfraqueceria como um direito
universal.
É importante lembrar que a Declaração Universal de Direitos Humanos e os demais tratados da ONU
são declarações de intenção, ou seja, não são leis válidas por si só. Eles estão baseados nas teorias
moral e jusnatural e precisam do esforço e das estruturas legais dos países inscritos nas Nações Unidas
para que se positivem, ou seja, que se tornem legais e, de fato, possam ser acessados com mais
efetividade por todos.
Entretanto, sem o entendimento jusnatural e sem uma base moral e os esforços das Nações Unidas, os
defensores desses direitos não têm argumentos no debate, a fim de conseguir valor legal em todos os
lugares do mundo e, assim, alcançar toda a família humana.
Para refletirmos, se os direitos humanos fossem somente de natureza jusnatural, sem apoio moral, ou
seja, se não estivessem de acordo com os valores da sociedade, não haveria um entendimento da sua
urgência e eles não teriam aplicação prática na sociedade. Da mesma forma, se os direitos humanos
não tivessem uma argumentação baseada nos valores morais da sociedade, dificilmente eles
conseguiriam se transformar em discussões e, posteriormente, em leis, e não seriam positivados.
Vejamos o direito defendido pelo artigo 5º da declaração de 1945, que diz que “ninguém será submetido
à tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes”. Pela doutrina jusnatural,
ninguém deveria ser submetido à tortura, pois isso é um direito autoevidente, é um entendimento natural
que isso não deve acontecer, mas, se o ato não for ilegal naquela nação, ou se aquele valor não estiver
inscrito também na moral daquela sociedade em questão, corre-se o risco de que se ignore o senso
comum e a tortura, de fato, aconteça.
Foto: Shutterstock.com
Para entendermos a complexidade dessas correntes, também podemos pensar nas discussões do
Tribunal de Nuremberg, uma corte internacional formada ao final da Segunda Guerra Mundial para julgar
os oficiais de alta patente do regime nazista alemão pela acusação dos crimes contra a humanidade.
Na ocasião, a defesa dos militares nazistas foi montada sob o argumento de que seus atos eram legais
dentro do sistema de leis alemãs vigente no momento das ações, ou seja, quando os crimes foram
cometidos, nos locais em que foram cometidos, eles não infringiram nenhuma lei.
Essa corrente ficou abalada e foi amplamente questionada por ter dado respaldo legal a ações dessa
natureza, legitimando atuações com indiferença aos valores éticos.
A filósofa alemã Hannah Arendt produziu importantes reflexões sobre o tema já que parecia que, apesar
do debate político e teórico que havia sobre direitos universais até a primeira metade do século XX, todo
o esforço político e filosófico não produzira efeitos práticos na sociedade.
Analisando os acontecimentos daquela época, Arendt, que escreveu seus estudos na metade do século
XX, propôs que havia acontecido uma ruptura nos Direitos Humanos, não somente por parte dos
regimes totalitários, de direita ou de esquerda – incluindo-se o regime stalinista na União Soviética -,
mas também por conta das políticas imperialistas praticadas naquela época, quando alguns países
impuseram políticas racistas de exploração e domínio sobre diversos povos africanos e asiáticos.
Se, após anos de debate sobre o assunto, o mundo vivenciou tais políticas bárbaras de desrespeito à
vida, era necessário refletir e criar novas condições para uma reconstrução dos direitos universais.
Segundo a filósofa, uma questão para se reconstruir esses direitos era dar atenção aos homens e
mulheres que perderam seu lugar na sociedade e na política, sejam por eles serem minorias ou por
terem tido necessidade de sair de seu local de origem, tornando-se apátridas ou refugiados.
Esse foi o problema fundamental que se agravou no período entreguerras. Após a dissolução dos
impérios ao final da Primeira Guerra Mundial, alguns grupos, como os armênios, os húngaros e os
romenos, perderam sua nacionalidade e se tornaram apátridas.
Outros grupos tiveram de sair e se refugiar em outros países, como milhares de judeus alemães, que
fugiram das políticas antissemitas do regime nazista (neste grupo encontra-se a própria Hannah Arendt
e seus familiares). Houve, ainda, aqueles que sofreram perseguições por suas escolhas religiosas, de
afetividade ou por convicções políticas, como os anarquistas e os comunistas.
Houve, nesse período, um grande deslocamento geográfico de pessoas pela Europa. Ao fugir de suas
terras, elas entraram como imigrantes em outros países, perdendo a proteção legal do Estado.
Para Arendt, o grupo dos apátridas foi o que teve a situação mais angustiante e o que mais precisava de
atenção, pois, além de terem perdido seus direitos, eles não eram reconhecidos como iguais perante a
lei, já que a lei nem existia mais para eles.
Ao ser expulso da sua comunidade, o apátrida se vê isolado e destituído da sua humanidade. Com
tantas pessoas sem proteção de um Estado, surge a necessidade de uma política internacional que
garanta o atendimento dos direitos a essas pessoas independentemente da sua situação.
A ideia central de Hannah Arendt para a reconstrução dos direitos humanos é a de que o primeiro direito
a ser defendido tem de ser o direito a se ter direitos. Se há lugares no mundo onde indivíduos não têm
acesso a nenhum direito ou lhes é negado até mesmo o direito a participar dos debates políticos; não
tendo acesso a todo esse sistema internacional, ele está excluído.
Em outras palavras, seria necessário garantir que todos os homens e mulheres sem condições ou
exceções obtenham proteção jurídica na mesma medida que todos os demais. O indivíduo deveria ser
reconhecido como cidadão do mundo ou, como foi dito na declaração da ONU, integrante da família
humana, sem diferença entre nativo e estrangeiro.
Se o indivíduo precisa ter direitos acima do Estado, ele também necessita de um Estado para
transformar o princípio dos Direitos Humanos em lei na sociedade onde vive.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. SEGUNDO A FILÓSOFA HANNAH ARENDT, APESAR DOS ESFORÇOS PARA A
CONSTRUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS, ALGUNS ACONTECIMENTOS DO
FINAL DO SÉCULO XIX E DO INÍCIO DO SÉCULO XX CAUSARAM UMA RUPTURA
DESSES DIREITOS E, POR CONTA DISSO, A AUTORA DEFENDE UMA
RECONSTRUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS. SOBRE O ASSUNTO, ASSINALE A
ALTERNATIVA CORRETA:
A) O ponto-chave na teoria da autora é a luta pelo direito a se ter direitos, pois muitas pessoas se
encontram totalmente desprotegidas e sem possibilidade de recorrer a ajuda de nenhum Estado.
B) O período mais tenso que a humanidade já passou foi durante a Guerra Fria, quando a iminência de
uma nova guerra mundial fragilizou a constituição dos países e muitos indivíduos ficaram sem
assistência jurídica.
C) A teoria da autora sofre diversas críticas internacionais, pois, ao apontar os problemas enfrentados
pelos Direitos Humanos sem indicar soluções, a filósofa estaria fragilizando a fundamentação dos
direitos.
D) A teoria de Hannah Arendt encontra-se totalmente superada nas discussões jurídicas, pois os
problemas apontados pela filósofa foram resolvidos ao final da Guerra Fria, quando os países socialistas
aceitaram fazer parte das Nações Unidas.
E) O argumento de Arendt, judia que viveu os horrores da Guerra, é considerado literário e emocional,
sendo adaptado pelos intelectuais, à lógica da defesa dos Direitos Humanos do cidadão.
A) O jusnaturalismo é a corrente filosófica que possui menos reconhecimento no mundo jurídico, pois
seus argumentos são baseados em regras locais que não são aceitas por todos os grupos.
B) O positivismo é a corrente mais importante para a consolidação dos Direitos Humanos, pois somente
essa corrente defende que o direito se transforma em lei e passa a ter validade.
C) A corrente moralista é a corrente que menos recebe críticas, pois baseia-se na moral que é um
conceito universal e compreendido por todos os seres humanos.
D) Não há como determinar que corrente teórica é mais importante para a consolidação dos Direitos
Humanos, pois todos os argumentos reforçam a importância desses direitos.
E) A corrente educacional dos Direitos Humanos defende que a única possibilidade é pensar o direito
das crianças. Para os adultos já não teria mais sentido.
GABARITO
1. Segundo a filósofa Hannah Arendt, apesar dos esforços para a construção dos direitos
humanos, alguns acontecimentos do final do século XIX e do início do século XX causaram uma
ruptura desses direitos e, por conta disso, a autora defende uma reconstrução dos Direitos
Humanos. Sobre o assunto, assinale a alternativa correta:
Segundo Hannah Arendt, na primeira metade do século XX, muitos indivíduos ficaram desprotegidos
judicialmente e os Direitos Humanos deveriam ocupar justamente esse espaço e servir a todos
independentemente da ação dos Estados.
2. Para se consolidarem os Direitos Humanos, foi preciso basear sua argumentação em diversas
correntes filosóficas jurídicas. Sobre a fundamentação dos direitos humanos, podemos afirmar
que:
Todas as argumentações teóricas possuem o mesmo peso, pois todas recebem críticas e juntas elas se
complementam.
MÓDULO 3
O ano de 1948 se tornou um marco na história dos Direitos Humanos Naquele ano, as Nações Unidas
proclamaram sua declaração, propondo que este recurso estivesse à disposição de todas as pessoas da
família humana.
Esta declaração pretendia servir de base para a garantia de direitos em todos os lugares do mundo. No
entanto, não foi denominada como uma declaração internacional, mas autointitulada de declaração
universal.
A escolha do seu nome atendia à ideia de que esses direitos deviam estar acima de um ou outro país e
proclamava que esses direitos pertencem a todo mundo sem nenhuma condição ou exceção.
Ao pensar sobre a universalidade, surgiu um novo questionamento: seria possível criar um direito básico
que atendesse a todas as demandas, independentemente do gênero, da religião, da nacionalidade ou
qualquer outra característica da pessoa? Os Direitos Humanos deviam ou podiam ser universais?
A ideia de ser um recurso legal básico disponível para o mundo inteiro parecia ideal e irrecusável. Se
direitos são vistos como benefícios, não haveria razão para ser rejeitada por alguém, mas, apesar da
boa intenção, a ideia não foi aceita unanimemente.
SAIBA MAIS
Há anos, a questão vinha sendo discutida e a universalidade desses direitos vinha sendo contestada,
principalmente pelos países não europeus, que não concordavam que essa declaração atendesse a
todas as culturas. Eles enxergavam que a proposta foi produzida a partir dos princípios ocidentais, com
fortes tendências eurocêntricas, e que ela impôs o que devia ser acolhido por todos, sem levar em
consideração que, em outras partes do globo, existem culturas diferentes, outras demandas sociais,
outras religiões além do cristianismo e de outras formas de organização política.
CRÍTICAS AO UNIVERSALISMO
Para os críticos da universalidade dos Direitos Humanos, a ideia de se criar um conjunto de direitos
básicos capazes de atender a todos se mostra até mesmo soberba, se levarmos em consideração que
ela foi escrita por um grupo, e não por todas as nações.
A partir dessa ideia, poderia ser criada a noção de que existe um grupo que é capaz de entender
sozinho as necessidades de todo o mundo e que pode decidir por todos o que é necessário para se ter
uma vida digna sem consultar aqueles que irão usufruir desse modo de vida.
Dessa maneira, reforça-se a ideia de hierarquia e desigualdade, segundo a qual um grupo ou uma
cultura é superior a outro e que pode ter a tutela do mundo.
Por esse ponto, surge também uma acusação de que, ao se fazer dessa declaração universal, pode-se
chegar ao efeito de uma prática imperialista, pois são impostas políticas de um grupo sobre os demais.
Pensar a universalidade dos Direitos Humanos como uma prática imperialista é um ponto
especificamente interessante, pois, segundo Hannah Arendt, foram justamente as políticas imperialistas
praticadas pela Europa no final do século XIX que romperam os Direitos Humanos no passado e deram
origem aos grandes conflitos do século XX. Assim, a universalidade acabou tornando-se um objetivo
contraditório, pois, ao mesmo tempo em que procura garantir direitos a todos, acaba ocasionando sua
própria ruptura.
Imagem: Shutterstock.com
MULTICULTURALISMO
Diante de tantas críticas, surge o multiculturalismo, uma corrente em contestação à visão universalista e
que amplia as possibilidades de inclusão desses direitos em todo o mundo. Essa corrente tem como um
de seus principais apoiadores o sociólogo Boaventura de Souza Santos que, apesar de ser português,
critica a visão eurocêntrica da Declaração e procura discutir as diferenças culturais existentes no mundo
para contribuir com uma declaração mais plural.
O sociólogo afirma que é natural que todas as culturas enxerguem os seus princípios como os valores
mais corretos, que deveriam ser adotados pelos demais — ou não cultivariam aqueles hábitos. A
questão é que os ocidentais são os únicos que ultrapassam os limites, buscando se expandir e
se impor a todo o restante do mundo.
Ele diz que quando se assume a ideia da universalidade dos Direitos Humanos, tenta-se impor as
vontades locais ao todo, e que a solução para tal problema seria aceitar as diferenças existentes no
mundo e mudar a qualificação desses direitos, de universais para multiculturais. Caso contrário, a
Declaração acaba se tornando um instrumento que põe as civilizações em choque umas com as outras.
ATENÇÃO
É importante reconhecer esses problemas para não cairmos na armadilha de relativizar todas as
atitudes em nome dos valores locais. Boaventura combate a ideia de relativizar as culturas ao extremo e
justificar todas as ações cometidas sem questioná-las.
O que dizer de se assistir a uma sociedade que provoca o mutilamento genital de meninas e mulheres
sem questionar, permitindo que atrocidades sejam cometidas em nome da cultura? Assumir as
imperfeições e os limites da cultura é o melhor caminho para a construção de direitos humanos
multiculturais.
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Devemos reconhecer as diferenças entre os seres humanos, mas essa diferença não pode provocar
nem desigualdade e tampouco uma hierarquia, definindo pessoas em condições superiores ou inferiores
umas às outras, ou determinando quem deve mandar e quem deve obedecer, quem deve ser respeitado
e quem deve se submeter.
DIVERSIDADE CULTURAL
É preciso procurar, por meio do diálogo intercultural, atitudes que possam ser assumidas em diversos
grupos ou que sejam praticadas de formas diferentes, mas que tenham o mesmo objetivo de não
inferiorizar o outro.
ATENÇÃO
Nunca se deve assumir um valor que classifique uma cultura ou um grupo como mais correto que outro.
Sobre essa relação de diferença e igualdade, podemos pensar no seguinte exemplo: homens e
mulheres são diferentes, mas isso não é, ou não deveria ser, motivo de tratamento desigual pela
sociedade.
As doutrinas cristã e judaica oferecem visões religiosas distintas, mas, para a sociedade, essa questão
não deveria ser hierarquizante nem gerar disputa entre seus praticantes.
Outro ponto que deve ficar claro a respeito das culturas é que elas são dinâmicas e que igualdade não é
sinônimo de uniformidade: apesar de serem originários do mesmo continente, norte-americanos,
brasileiros e argentino têm características bastante diferentes.
As versões de uma mesma cultura precisam ser também avaliadas e entendidas separadamente para
não se criar falsas generalizações.
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Dentro do grupo dos islâmicos, existem os xiitas, os sunitas e outras correntes. As ideias de cada um
desses grupos podem ser iguais em certo aspecto e radicalmente contrastantes em outros. Todas as
diferenças devem ser aceitas pela sociedade desde que nenhum valor inferiorize ou ameace o
outro. A burca utilizada pelas mulheres mulçumanas deve ser compreendida como um hábito cultural,
mas debatida quando mulheres que não a desejam, sejam obrigadas a vesti-la.
A aceitação das diferenças é importante até mesmo para que se garanta que os Direitos Humanos
sejam atendidos. Em cada sociedade, um direito irá repercutir de uma maneira. Um princípio contrário
às práticas cotidianas locais pode levar ao descumprimento contínuo de um direito, seja ou não seja lei.
Sem aceitação da comunidade, o direito não tem efetividade.
É preciso lembrar que os Direitos Humanos estão em constante debate e evolução e que, há anos, as
Nações Unidas assumem a missão de mediar os interesses de todos e promover debates acerca do
assunto para reorganizar os direitos universais.
A sociedade deve seguir aprendendo a tratar todas as pessoas com igualdade e a compreender
as diferenças da família humana.
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O primeiro artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas assinado em 1948
afirma: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos”.
O Brasil, que participa da ONU e que firmou o compromisso de garantir os direitos humanos a seus
indivíduos, positivou essa ideia na Constituição de 1988, que está em vigor.
Também no primeiro artigo da nossa Carta Magna, registra-se que a “República Federativa do Brasil (...)
tem como fundamentos: I – a soberania; II – a cidadania; III – a dignidade da pessoa humana”.
A importância da dignidade é tratada em outros momentos, como no Artigo 170, no qual consta que toda
ação econômica tem como finalidade garantir uma existência digna. O artigo 230 define que é dever da
família, da sociedade e do Estado defender a dignidade das pessoas idosas.
Dignidade da pessoa humana são as condições mínimas necessárias para que uma pessoa viva uma
vida justa, em condições adequadas e sem depreciação. Este é um valor absoluto, regulador de todos
os objetivos do ser humano, pois nada é mais importante do que a garantia das condições vitais para a
sobrevivência nesse mundo.
É uma noção incomensurável, insubstituível e que não permite equivalente, ou seja, é um valor que não
tem como ser medido de forma quantitativa ou qualitativa. A dignidade humana não pode ser trocada por
nenhuma outra coisa, possui um valor que não é comparável a nenhum outro.
Não há uma definição legal única que determine que condições são essas, pois elas variam em cada
cultura ou sociedade. Veja os dois exemplos a seguir:
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Para um homem europeu, ateu e inserido no mundo capitalista, essa noção pode estar completamente
baseada nas conquistas financeiras e na possibilidade de desenvolvimento da sua carreira ou do seu
negócio.
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Já uma mulher, árabe e praticante do islamismo pode ter essa noção amparada na possibilidade de
constituir uma família e de criar seus filhos dentro dos princípios da sua religião.
Seja como for, mesmo variando, é certo que todos os grupos e culturas nutrem valores básicos que
formam seu conceito de dignidade humana.
Nas sociedades ocidentais, podemos reconhecer as condições da dignidade da pessoa humana como
as que foram trazidas na Declaração dos Direitos Humanos da ONU, pois, se a declaração foi escrita
por representantes da cultura ocidental como os valores mínimos necessários para todas as pessoas, é
lá que estão descritos os seus pilares. Porém, apesar de serem direitos universais, eles não refletem as
condições da dignidade humana em todas as culturas do mundo.
COMENTÁRIO
Segundo o sociólogo Boaventura de Souza Santos, para que os direitos humanos alcancem o maior
número de pessoas da família humana e se tornem multiculturais, é fundamental ter clareza de que
todas as culturas possuam sua concepção de dignidade da pessoa humana e que nem todas
enxergarão a sua noção de dignidade contemplada nos termos da declaração das Nações Unidas.
Para o melhor consenso, já que nem todas as concepções de dignidade humana conseguirão ser
contempladas, por serem opostas ou contraditórias, uma solução seria procurar atender ao maior
número possível de seres humanos, buscando uma versão mais aberta do conceito, ou seja, a visão da
dignidade humana que melhor será aceita dentro das particularidades das outras culturas.
ATENÇÃO
Dentro de uma mesma cultura, pode haver diversas correntes, umas mais conversadoras que outras e
nenhuma concepção de direitos humanos seria capaz de agradar a todas elas. Dentro dos regimes
políticos ocidentais, por exemplo, há regimes democráticos e autoritários, e mais inflexíveis e o diálogo é
sempre bem-vindo.
Neste vídeo, vamos entender os conceitos e transformações pelos quais os direitos humanos passaram.
TRANSFORMAÇÕES NO CONCEITO
Também é necessário compreendermos que, assim como os direitos humanos são um conceito
construído a partir das demandas históricas que se modificam na medida em que novos acontecimentos
surgem, a noção de dignidade da pessoa humana de cada grupo e de cada época também é mutável.
Uma significativa transformação desse conceito aconteceu no momento após a Segunda Guerra
Mundial, quando houve a chamada “virada kantiana”, que rejeitou qualquer espécie de coisificação e
instrumentalização dos homens e mulheres. A dignidade da pessoa humana passou a ser considerada
um fim para a humanidade e não um meio para a construção do mundo.
Atualmente, não são mais as pessoas que precisam se esforçar para construírem uma sociedade
agradável, mas o contrário, o mundo é que precisa ser agradável para que as pessoas possam viver em
plenitude, seguras e felizes.
ESTRUTURAÇÃO DOS DIREITOS UNIVERSAIS
É quando se inverte a lógica e se assume que a sociedade deve acolher as pessoas, e não o contrário,
que a carta de Direitos Humanos universais das Nações Unidas é escrita.
A partir daquele momento, segundo o professor Fernando Quintana (1999), podemos separar os
esforços da ONU com os Direitos Humanos Universais em três fases de composição:
PRIMEIRA FASE
SEGUNDA FASE
TERCEIRA FASE
PRIMEIRA FASE
SEGUNDA FASE
Período de promoção e estabelecimento desses direitos pelo mundo, quando foram realizados
congressos, publicações e diversos debates e estudos.
TERCEIRA FASE
Para garantir o sucesso dessa declaração e o acesso aos direitos fundamentais a toda a “família
humana”, também foi necessário comprometer os países, fazendo com que assumissem compromissos
e tratados e construíssem um sistema que possibilitasse seu funcionamento.
Dessa forma, desde 1966 até os dias atuais, já foram assinados nove tratados que devem ser
observados e implementados pelos países membros e que levam em consideração temas específicos
como a tortura, os imigrantes, as crianças, as pessoas com deficiências e a discriminação racial e contra
a mulher, entre outros.
Foto: Shutterstock.com
Além disso, constituiu-se uma estrutura chamada Sistema Internacional de Proteção dos Direitos
Humanos, por órgãos como os comitês regionais; o Sistema Interamericano de Direitos Humanos; o
Sistema Europeu de Direitos Humanos e o Sistema Africano de Direitos Humanos.
É papel dos comitês regionais se responsabilizar pela proteção de pessoas cujos países não têm um
órgão similar. Ou seja, cabe a esses comitês ultrapassarem sua esfera e prestarem auxílio a países e
cidadãos de países sem comitê regional que necessitem de acolhimento e de proteção, fazendo valer o
princípio de que antes de o indivíduo ser pertencente a um país, ele é integrante da família humana.
A) Visa atender a todos os seres humanos sem nenhum critério de distinção, mas recebe críticas pois
não abre espaço para as diferenças culturais.
B) É a forma mais correta de se criar direitos humanos, impondo que sejam aceitos por todas as
culturas, pois algumas são extremamente fechadas e não garantem direitos aos indivíduos.
C) É um conceito ultrapassado que foi levantado durante a Revolução Francesa, mas que atualmente foi
substituído pelo relativismo cultural.
D) Visa fazer uma campanha mundial para que todos os países encontrem um ponto em comum das
suas culturas e reduzam o relativismo cultural.
E) Defende a unidade do mundo, criando uma ideia de igualdade em uma grande aldeia global.
A) Apesar de toda a estrutura criada pela ONU, o continente africano encontra-se sem nenhuma
fiscalização dos Direitos Humanos e, por isso, existem graves violações.
B) Foram criados diversos comitês para defender os Direitos Humanos, mas eles ainda não cobrem
todos os continentes, entretanto, isso não significa que aquelas pessoas estão desassistidas.
C) A ONU possui atualmente uma estrutura em remodelação já que, após o fim da Guerra Fria, as
estruturas políticas mundiais se transformaram.
D) Não há uma estrutura permanente para a defesa dos Direitos Humanos pela ONU. As Assembleias
para a discussão de novas pautas são convocadas de acordo com a necessidade e, a cada nova
reunião, um novo país se apresenta como sede.
E) As Nações Unidas assumem uma função política, redistribuindo para a Unesco e outras agências os
debates de Direitos Humanos.
GABARITO
1. A universalidade é uma característica que levanta um amplo debate sobre a forma como os
direitos humanos se apresentam ao mundo. Sendo assim, é correto afirmar que a universalidade
dos direitos humanos:
Críticos defendem que não há possibilidades de um direito ser aplicável a todas as culturas, a única
forma de se fazer isso é entendendo as diferenças e criando um direito multicultural.
2. Sobre a estrutura criada pelas Nações Unidas para debater, fiscalizar e garantir o acesso dos
Direitos Humanos a todos os membros da família humana, é correto afirmar que:
Apesar da Ásia e da Oceania não terem comitês regionais, isso não significa que os cidadãos daqueles
países estão desassistidos pois, em uma situação de violação de direitos, todos os comitês precisam
romper seu caráter regional e garantir a proteção dos seus vizinhos.
MÓDULO 4
Se a Segunda Guerra Mundial foi o fator-chave para que, ainda na primeira metade do século XX, a
Europa Ocidental e a América do Norte começassem a pensar na atual ideia de direitos humanos, o
Brasil, que não teve participação direta no conflito e tem outra história, outra sociedade com outros
problemas e outras questões sociais, percorreu um caminho diferente na construção e na garantia
desses direitos.
Participamos do esforço inicial das Nações Unidas, mas suspendemos nossos trabalhos por algumas
décadas e, só no final dos anos de 1980, conseguimos positivá-los em nossa Constituição de 1988.
Consequentemente, se aderimos aos Direitos Humanos mais tarde, isso significa que ainda estamos
trabalhando no seu desenvolvimento e, pensando na situação atual do país e da população brasileira,
ainda teremos muitos desafios para consolidá-los. Muitos questionamentos podemos fazer:
Como desenvolver leis que tenham por princípio que todas as pessoas são iguais em um país de
extrema desigualdade?
O ano de 1500 foi marcante para os povos que aqui habitavam, pois, depois do primeiro contato dos
nativos com os portugueses, não demorou muito para que os interesses dos europeus dominassem a
dinâmica local e se sobrepusessem às necessidades dos povos indígenas.
Imagem: Museu Nacional de Belas Artes, RJ/ Wikimedia Commons/ Domínio Público.
A partir daquele momento, houve silenciamento e uma brutal transformação cultural, política e social.
Por bastante tempo, fomos colônia de Portugal. Inicialmente, houve pouco interesse da metrópole em
explorar nosso território. As primeiras políticas implementadas aqui tiveram o objetivo de ocupar as
terras para que não fossem tomadas por franceses e holandeses.
Imagem: Acervo Artístico do Ministério das Relações Exteriores - Palácio Itamaraty/ Wikimedia
Commons/ Domínio Público.
A intensa produção de açúcar tinha como estrutura uma pequena elite administrando os engenhos e
bastante uso de mão-de-obra escrava indígena e africana trabalhando arduamente nas engrenagens.
Com a descoberta do ouro em Minas Gerais, a população cresceu, mas a sociedade continuou dividida
entre uma pequena elite que enriquecia e trabalhadores escravizados que suavam nas minas.
Imagem: Museu Paulista/ Wikimedia Commons/ Domínio Público.
Em 1822, o Brasil se torna oficialmente independente de Portugal, mas continua com boa parte da
estrutura colonial. Ao contrário de outros países, o presidencialismo não substituiu a monarquia,
tampouco o trabalho escravo foi interrompido.
O governo imperial retardou a abolição da escravidão até quando não foi mais possível, e o Brasil
acabou sendo o último país a assinar a abolição da escravatura. Quando a Lei Áurea libertou os
escravizados, nenhuma política foi criada para dar assistência aos libertos, que abandonados pelo poder
público, encontraram muitas dificuldades para sobreviver.
Imagem: Arquivo Nacional/Wikimedia Commons/Domínio Público.
Um ano depois da abolição, em 1889, foi proclamada a República no Brasil. Nos primeiros anos, a
participação política se manteve limitada a uma pequena parcela da sociedade. Somente ao longo do
tempo que conseguimos conquistar a ampliação dos direitos políticos para todos.
Nas primeiras décadas desse regime, mulheres, indígenas e analfabetos não podiam votar para eleger
um representante e tampouco se candidatar para lutar pelos seus direitos.
Foto: Arquivo da Agência Brasil/Wikimedia Commons/ CC BY 3.0 BR.
A nossa República é considerada um regime político muito frágil. Ao longo dos anos, passamos por
alguns processos de impeachment e por dois longos períodos de ditadura em que o Congresso Nacional
foi fechado, a Constituição deixou de ter poder legal e o povo teve uma série de direitos suspensos.
Foi somente em 1988, ao final do regime militar, que conquistamos uma nova Constituição, garantindo
amplos direitos para o povo, em vigor até os dias atuais. Pela grande quantidade de direitos garantidos
ao povo, essa Constituição recebeu o apelido de Constituição Cidadã.
CONSTITUIÇÃO DE 1988
A Constituição de 1988 é a oitava Constituição escrita no nosso país, um número considerado muito
alto. Alguns países, como os Estados Unidos, usam a mesma Constituição desde o início de sua
formação jurídica, ou precisaram passar por poucas renovações.
ATENÇÃO
A necessidade de reescrever a Constituição várias vezes demonstra nossa instabilidade política e como,
no passado, o nosso conjunto de leis não era adequado para garantir direitos a todos nem atendia às
demandas da nossa sociedade.
A nossa atual Constituição foi escrita para superar a suspensão de direitos que passamos durante o
regime militar, para restabelecer a democracia no país e para caminhar para uma redução da
desigualdade social e o combate à corrupção.
A elaboração dessa Carta foi discutida por mais de um ano e meio por deputados e senadores eleitos
democraticamente em 1986. É importante destacar que, dos mais de 500 congressistas participantes,
menos de 30 eram mulheres, sendo que nenhuma delas ocupava uma cadeira do Senado Federal, o
que mostra ainda a gritante desigualdade de gênero na representação dos brasileiros no setor
legislativo.
Nessa Carta, foram garantidos os princípios fundamentais do Brasil como a igualdade em direitos e
obrigações dos homens e mulheres na sociedade, a liberdade de expressão e a divisão de poderes, que
garante que não teremos um poder concentrado nas mãos de uma única pessoa, como nos regimes
absolutistas. Também foram assegurados uma série de direitos sociais, como o acesso permanente à
educação, à saúde, ao trabalho e ao lazer.
Foto: Shutterstock.com
Forte em Saint Tropez ao por do sol
Além de ampliar os direitos dos brasileiros, essa Constituição também se compromete com os direitos
em nível universal e, logo nos primeiros artigos, determina que o Brasil deve prezar nas relações
internacionais pelo predomínio dos direitos humanos.
SAIBA MAIS
É compromisso da nação fazer parte de tribunais internacionais que discutam tais direitos. Determinou-
se, também, que a Defensoria Pública tem a função de promover e defender os direitos humanos em
todo o país.
É importante destacarmos que apesar de termos uma Constituição escrita de forma democrática e que
prevê muitos direitos sociais para o povo, somente ela não é suficiente para garantir uma vida digna
aos brasileiros. As determinações nela feitas preveem princípios que devem ser implementados no
país, mas, para que isso aconteça, é preciso que uma série de políticas e dispositivos sejam feitas para
que funcione.
Os poderes Executivo e Legislativo precisam trabalhar juntos. Por exemplo, não basta que a
Constituição determine que as pessoas tenham acesso gratuito à saúde, pois, se o poder Executivo não
planejar uma estrutura de hospitais e médicos para o atendimento de todos esses direitos, a
Constituição passa a ser mero documento de intenção.
Foto: Fabio Venni/Wikimedia Commons/CC BY-SA 2.0.
Detalhe da favela da Rocinha, a maior do Brasil.
O Brasil foi um dos países fundadores das Nações Unidas em 1945, mas, apesar da contribuição com a
elaboração da Declaração Universal no início da década de 1960, o país interrompeu a consolidação
desses direitos quando atravessou duas décadas em um regime militar que suspendeu a Constituição e
boa parte de direitos civis e políticos.
Imagem: Shutterstock.com
Logo das Nações Unidas.
Nos últimos anos, tornamo-nos bastante ativos na participação das Nações Unidas. Além de retificar
tratados, acompanhamos a agenda de debates, integramos, por algumas vezes, o Conselho de
Segurança da ONU, e, atualmente, temos participação permanente na Assembleia Geral. Em 2011,
nossa então presidenta Dilma Rousseff foi a primeira mulher da história a abrir os debates dessa
reunião.
A Constituição e as políticas públicas são as principais ferramentas para a aplicação dos Direitos
Humanos dentro de uma nação. Se essas estruturas não estiverem sendo suficientes para garantir os
direitos básicos e a dignidade da pessoa humana, qualquer pessoa ou organização pode e deve cobrar
do governo a fiscalização e a execução deles.
Entenda o processo:
Uma vez que o Estado não atenda aos seus cidadãos temos ainda a possibilidade de acionar os
sistemas internacionais de proteção dos Direitos Humanos. No caso do Brasil, podemos recorrer ao
Sistema Interamericano de Direitos Humanos.
No momento em que forem acionados, os órgãos competentes irão investigar e podem condenar o país
por violação dos Direitos Humanos. Essas condenações acontecem quando se identifica que os direitos
foram fortemente descumpridos e que somente uma decisão judicial ou uma indenização não seria
suficiente para reparar aquele problema.
Quando uma sentença internacional é dada, ela tem como objetivo pressionar o Estado a debater o
problema, revisar os sistemas que estejam provocando essas violações e desenvolver leis e políticas
públicas que evitem novas violações dos Direitos Humanos.
Em nossa história, o Brasil foi condenado por oito vezes pela Corte Interamericana. Uma dessas
condenações foi sobre o caso conhecido como Maria da Penha. Em 1983, Maria da Penha sofreu uma
tentativa de homicídio pelo seu marido e o processo que deveria condená-lo foi tão extenso e
inconclusivo que se passaram 15 anos sem que o culpado fosse preso.
O caso foi levado à Comissão Interamericana que, em 2001, quase 20 anos depois, responsabilizou o
Estado brasileiro por negligência, omissão e tolerância à violência contra as mulheres. O caso repercutiu
na nossa sociedade e, atualmente, temos uma lei com o nome da vítima, cujo objetivo é estipular
punição adequada e coibir a violência contra as mulheres.
Foto: Antonio Cruz/ABr/Wikimedia Commons/ CC BY 3.0 BR.
A farmacêutica Maria da Penha,
que dá nome à lei contra a violência doméstica.
Na nossa sociedade, é comum vermos pessoas relativizando o uso dos Direitos Humanos e
desacreditando de sua importância. Isso é prova de que vivemos em um Estado de constante violação
dos direitos humanos, onde o desrespeito por direitos básicos é comum e pouco se faz para que seja
garantida a dignidade da pessoa humana.
No cenário atual do país, ainda é preciso reforçar as instituições democráticas, produzir muito debate,
criar políticas públicas e buscar a conscientização popular para que esse conjunto de direitos seja
respeitado e a nossa comunidade possa viver com mais dignidade e menos desigualdade.
ATIVIDADE
RESPOSTA
O conjunto de condições mínimas que devem ser garantidas a uma pessoa que varia de uma cultura para
outra.
Comentário:
Cada cultura possui seu conjunto de características culturais que considera essencial para a manutenção de
uma vida digna, e a preservação dessas condições é o principal objetivo dos Direitos Humanos.
Neste vídeo, o professor Rodrigo Rainha aprofundará o conceito de dignidade da pessoa humana, tendo
como base a Constituição brasileira.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) É considerada uma constituição fraca, pois, apesar de apresentar a preocupação com muitos Direitos
Humanos, não conseguiu se estruturar na nossa sociedade e um novo projeto já é pensado para
substituí-la.
B) Preocupa-se em observar vários Direitos Humanos, mas ainda é considerada incompleta, pois
impede que o Brasil se comprometa com órgãos internacionais nos deixando isolados e sem estrutura
para defesa dos direitos universais.
C) Se tornou um exemplo mundial a ser seguido, pois observou os Direitos Humanos sugeridos pela
ONU e criou a sua própria Declaração de Direitos Humanos que já é seguida por vários países da
América Latina.
D) Ficou marcada pela quantidade de direitos garantidos à população e por positivar diversos, além de
criar estruturas para a sua promoção.
E) Foi marcada pela ausência de normativas acerca da supressão e ameaça aos Direitos Humanos.
A) Desde a criação da Constituição de 1988, estamos pleiteando uma vaga na cúpula da ONU, porém
os índices de desigualdade no país nos impedem de ocupar algumas cadeiras no conselho das Nações
Unidas.
B) Temos uma ampla participação na ONU, ratificamos a maior parte dos tratados e integramos o
Sistema de Internacional de Proteção dos Direitos Humanos, mas, apesar disso, ainda estamos em
processo de consolidação dos direitos universais no nosso país.
C) Apesar dos esforços para cumprir a Declaração Universal na nossa Constituição, as constantes
violações de Direitos Humanos no país nos fizeram perder espaço dentro das Nações Unidas e,
atualmente, estamos suspensos pelo grande número de processos que respondemos.
E) Não tem sido de interesse do Estado brasileiro e dos sucessivos governos instalados no controle do
Estado a participação sistemática na ONU.
GABARITO
1. Depois da criação da Declaração dos Direitos Universais da ONU, o Brasil passou por um
longo período de suspensão dos Direitos Humanos. Após a superação do regime militar, que
suspendeu a Constituição, foi necessário criar um conjunto de leis para o país. Sobre a
Constituição de 1988, assinale a alternativa correta:
Conhecida também como Constituição Cidadã, é um exemplo na garantia de direitos e está em exercício
até os dias atuais, apesar de que mesmo depois de 30 anos ainda observamos alguns direitos que não
são observados pelo Governo.
2. Após o restabelecimento dos direitos no Brasil com a Constituição de 1988, retomamos nossa
participação na ONU. Sobre nosso comprometimento atual com os Direitos Humanos e os
demais tratados das Nações Unidas, assinale a alternativa correta:
Apesar de participar de diversas estruturas da ONU, nossa sociedade ainda se mantém com muitas
desigualdades e, constantemente, observamos a violação de Direitos Humanos no país.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos reforçando a ideia de que os Direitos Humanos se constituem em um constante processo de
aperfeiçoamento e de descoberta de novas necessidades. Ao longo da história, muitas vezes, os direitos
básicos não foram respeitados e o mundo precisou sair em defesa daqueles que não tinham sua
dignidade humana considerada.
A Declaração Universal de Direitos Humanos da ONU é um dos documentos mais importantes para se
garantir o debate e a defesa desses direitos, mas esse documento não é unânime e sofre diversas
críticas que reforçam que esse documento nunca estará concluído.
No Brasil, tivemos uma história marcada pela escravidão que enraizou uma sociedade extremamente
desigual e com diversos problemas sociais. Apesar de fazermos parte das Nações Unidas desde os
primórdios e termos colaborado com a constituição da declaração universal, passamos por um bom
período de interrupção de garantia desses direitos no país.
Foi somente no final da década de 1980 que conseguimos garantir a responsabilidade do Estado no
cumprimento desses direitos. E, se a nossa adesão a esses direitos aconteceu tardiamente, isso
significa que temos uma estrutura menos firme para sua manutenção, uma adesão menor pela
sociedade e maiores desafios para concretizá-los. Nossa organização política ainda é recente e frágil, e
o comprometimento da atual Constituição com os Direitos Humanos é uma conquista para a garantia
dos direitos dos brasileiros.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ARENDT, Hannah. As origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das letras, 2004.
CARVALHO, Jose Sérgio (Org.). Educação, Cidadania e Direitos Humanos. Petrópolis: Vozes, 2004.
DANTAS, João Marcelo B. R. Ruptura e reconstrução dos Direitos Humanos em Hannah Arendt.
Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 24, n. 5671. Consultado na internet em: abril 2021. Teresina, 2021.
HUNT, Lynn. A invenção dos Direitos Humanos. São Paulo: Companhia das letras, 2009.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Uma concepção multicultural de Direitos Humanos. Lua Nova
[online], 1997, nº 39, p. 105-124.
EXPLORE+
Que tal conhecer um pouco mais dos documentos:
Declaração Universal dos Direitos Humanos
CONTEUDISTA
Marina Contin Ramos
CURRÍCULO LATTES
04/02/24, 14:32 Disciplina Portal
Para estudarmos a sistemática da investigação e suas ramificações com aplicabilidades será importante aprofundar
algumas noções sobre conflito e a finalidade contemporânea com que os juristas compreendem a investigação na pós-
modernidade.
https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_12171088/temas/1/conteudos/1 1/12
04/02/24, 14:32 Disciplina Portal
OBJETIVOS
Compreender o significado do conflito como fenômeno social e o direito como mecanismo de seu controle;
Esclarecer que a investigação não deixa de ser um mecanismo de busca para a solução de conflitos, por meio da
descoberta da verdade.
https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_12171088/temas/1/conteudos/1 2/12
04/02/24, 14:32 Disciplina Portal
Nesse contexto surge o Estado. Os homens renunciam parcela de sua liberdade com o fim de criar esse ente fictício
chamado Estado, com seus três elementos: povo, território e governo. Este conceito foi extraído da obra o ilustre
filósofo e teórico político Jean-Jacques Rousseau. (glossário)
Saiba Mais
, Tourinho Filho, lecionando sobre o tema, afirma: “visando à continuidade da vida em sociedade, à defesa das liberdades
individuais, em suma, ao bem-estar geral, os homens organizaram-se em Estado. Desde então eles se submeteram às ordens dos
governantes, não mais fazendo o que bem queriam e entendiam, mas o que lhes era permitido ou não proibido”.
É certo que a criação do Estado e a reunião do homem em sociedade não têm o condão de eliminar as intempéries
externas por completo, mas podem reduzi-las para níveis controláveis. Contudo, a própria evolução da sociedade,
acompanhada da evolução científica e do domínio do homem sobre a natureza, fizeram nascer novos fatores de risco à
sobrevivência do ser humano, enquanto raça humana. Foi o que o sociólogo Ulrich Beck chamou de “sociedade de
risco”. (glossário)
CONFLITO DE INTERESSES
No entanto, não foram apenas os riscos externos que atemorizaram os homens no viver em sociedade. A própria
convivência gera conflitos internos que ameaçam sua própria existência. Aqui sobressai a relevância ao que os
processualistas chamam de conflito de interesses.
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Frequentemente, surge no âmbito social conflitos entre seus integrantes. O sentido comum do vocábulo interesse nos
remete à ideia de desejo, anseio, aspiração, cobiça, ambição, ou seja, a coisa que o homem quer. Não raro duas
pessoas desejam o mesmo bem, ou seja, possuem interesse pelo mesmo objeto, inclusive acreditando terem direito a
tal bem.
Atenção
, Entretanto, os bens são limitados à porção do mundo exterior e que possam satisfazer a necessidade do homem, enquanto esta
mesma necessidade é ilimitada, fazendo surgir um conflito de interesses, pois um depende do outro, há uma ligação entre esses
dois termos, daí a decorrência do conflito. E sendo os bens limitados e a vontade humana ilimitada, a sociedade precisou
disciplinar tal conflito que surgiam em torno dos bens.
Surge o conflito de interesses quando a situação favorável à satisfação de uma necessidade excluir a situação
favorável à satisfação de uma necessidade distinta. Isso é vislumbrado quando uma pessoa possuir mais de um
interesse que se sobrepõe ao interesse do outro.
Quando uma das partes envolvidas nesse conflito resiste à pretensão da outra, diz-se que existe o conflito de
interesses ou litígio.
Pois bem, o conflito está intimamente ligado à ideia de interesse, uma vez que deste decorre. Cada ser humano possui
a sua necessidade e procura a sua satisfação. Ocorre que muitas vezes a busca por essa satisfação se dá por meio de
um bem, confrontando ao interesse de outrem, pois os bens são limitados. Segundo orientação de Schnitman (1999):
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Para a solução de conflitos, os homens desenvolveram, ao longo da história, inúmeras formas de resolução de
conflitos, inicialmente relegadas ao próprio particular, conhecida como justiça privada.
A primeira delas e, talvez, a mais usual, era o uso da força, conhecida tecnicamente como autodefesa ou autotutela.
Dito de outra forma, quando a decisão do conflito depende da força dos competidores, o mais forte sempre terá a
razão ao seu lado.
A autodefesa sempre apresentou graves inconvenientes, pois a solução do conflito estaria ligada diretamente à
superioridade de forças de uma das partes.
Considerando os inconvenientes da justiça privada e da autotutela, nasceu a necessidade de que a solução dos
conflitos na sociedade fosse realizado de forma pacífica e justa, e que o ato de decidir ficasse a cargo de uma terceira
pessoa, não interessada diretamente no litígio, pois assim poderia solucioná-lo com equidade e justiça. Mas não
poderia ser qualquer terceira pessoa. Haveria a necessidade de termos um terceiro forte o suficiente para que pudesse
ter sua decisão aceita espontaneamente ou imposta coercitivamente, principalmente aos integrantes do conflito.
Dessa necessidade, surgiu o monopólio da administração da justiça (glossário) pelo Estado. A tutela pelo Estado.
Nesta feita, ele avoca para si a tarefa de compor os conflitos da sociedade, afastando a possibilidade da vingança
privada, que somente passa a ser possível de forma excepcional.
Atenção
, O Estado detém, portanto, o monopólio da administração da justiça , cabendo a ele, na pessoa do Juiz, dizer o direito no caso
concreto de maneira definitiva. Para tanto, se utiliza do processo, visto como instrumento que dispõe o Juiz e as partes para
reconstruírem os fatos objeto do conflito, possibilitando que o Juiz possa aplicar a lei ao caso concreto, ou seja, solucionar os
conflitos.
Nesta linha, a investigação criminal e a consequente instrução processual passam a ser instrumentos para a busca da
verdade, possibilitando ao julgador (juiz) decidir o conflito.
Aqui utilizaremos a investigação criminal como norte já que foi desta espécie de investigação que se ramificou as
demais investigações que estudaremos nesta disciplina.
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Por exemplo, na Alta Idade Média (século V a X) a composição do conflito se dava por meio da denominada justiça
privada, pelo mecanismo da autodefesa; pelo duelo; ordálios ou juízos de Deus.
Já na Baixa Idade Média (séculos XI a XIV) o conflito ocorria pela sujeição e submissão do suserano ao vassalo, com
fortes influências da Igreja, período denominado de Feudalismo. Na Idade Moderna, o Estado absolutista (séculos XV a
XVIII) substitui pela ideia dos contratualistas a dominação por uma pessoa na figura de um ente fictício, qual seja o
Estado, como acumulando todos os poderes de legislar, executar e julgar, até os dias de hoje com a idade
Contemporânea (século XIX até hoje), na qual esses poderes são divididos em três.
A ideia de verdade surge no Estado absolutista como mecanismo de substituição de forças. Substitui-se a força
privada e do mito pela força do Estado, e futuramente pelas ideias de fé, que até hoje norteiam alguns paradigmas
jurídicos, como o denominado senso comum teórico, que é objeto de desconstrução das ciências sociais aplicadas,
como é o caso do Direito e sua interdisciplinariedade.
A verdade que se quer comprovar, por muito tempo se afirmou ser uma verdade real, capaz de reconstruir com
absoluta perfeição os fatos exatamente como aconteceram. Por isso, se afirmava que adotávamos o princípio da
verdade real no processo penal.
Contudo, esse conceito, ao longo do tempo, foi sendo alterado, pois se percebeu que a busca por essa verdade tida
como real acabava por cegar o caminho da investigação, que se preocupava apenas em alcançá-la a qualquer custo.
Naquela época os fins justificavam os meios, e tanto é verdade essa afirmação que a tortura era aceita, pois era um
instrumento eficaz para se conseguir a confissão.
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A prova obtida por meio da confissão era a que possuía maior valor, com efeito, satisfatória para dar por reconstruído
os fatos exatamente com aconteceram. Acreditava ser possível reconstruir, em especial com a confissão, os fatos
exatamente como aconteceram em uma “verdade” absoluta, por isso tida como real.
Esse período em que se buscava a verdade real não mais vigora em tempos atuais, sendo necessário reconhecer que a
verdade que se alcança é uma versão verossímil dos fatos.
Atenção
, Nesse diapasão, por hora, precisamos assimilar que é impossível reconstruir os fatos exatamente como aconteceram na
realidade se o meio para fazer isso é o processo, logo devemos nos contentar e aceitar que a verdade que se comprova em juízo é
uma verdade caracterizada pelo princípio da verossimilhança, que é a construção de uma versão fundamentada, que seja
razoável, conforme os elementos de informação colhidos., , Contudo, a comprovação dos fatos com a apresentação de uma
versão verossímil necessitará, muitas vezes, de uma investigação. Essa necessidade tanto se aplica aos aspectos criminais como
civis. A investigação, que na sua essência é uma pesquisa sobre os acontecimentos da vida humana (no aspecto do processo
Penal ou Civil de relevância jurídica), tem incidência em qualquer fato da vida humana que desperte interesse a outra pessoa.
Por isso, podemos fazer a ilação de que a solução de um conflito de interesse, muitas vezes será decidido por quem
melhor investigar e conseguir construir uma versão verossímil dos fatos como por exemplo:
Construção de uma versão verossímil e com isso comprovar uma união estável para posterior solicitação de
divisão de bens.
Comprovar uma fraude de um funcionário para justificar a demissão com justa causa.
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Comprovar a infidelidade de um dos cônjuges para lhe imputar a culpa da separação e ulterior indenização
por danos morais se for o caso.
Essa atividade de investigar dependerá, para ter sucesso, da competência de quem realiza a tarefa. Logo, saber quais
competências profissionais o investigador deve possuir é muito importante.
A teoria do conflito social se origina com o pensamento de Karl Marx, um conhecido filósofo e teórico político. Marx
estudou a maneira como os conflitos dirigem os comportamentos humanos e de um grupo, indo do nível individual ao
governamental. Existem vários tipos de teoria de conflito social. Cada um deles parte de um ângulo ou de uma
abordagem específicos para discutir o conflito, a luta pelo poder e a alocação de recursos.
Teoria crítica
A teoria crítica é um tipo de teoria do conflito que procura explicar o conflito por meio das
humanidades e das ciências sociais, incluindo áreas como a literatura, a política e outras
tendências sociais. A teoria crítica enfatiza a mudança social, em vez de simplesmente se
concentrar em observações e descobertas sobre uma determinada classe social,
movimento ou geração.
Teoria feminista
A teoria feminista é um tipo de teoria do conflito que vai mais longe do que os movimentos
feministas que procuram entender e explicar as tendências da sociedade. Teóricos
feministas examinam as desigualdades de gênero e buscam atribuir determinados males
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Pós-moderna
Cada uma apresenta uma abordagem diferente para a ideia fundamental de conflito-luta entre duas classes para
alcançar riqueza, poder ou um bem desejado.
Esse aspecto de lutas traz reflexos em alguns teóricos ao abordar a educação, como por exemplo, a visão de Max
Weber que demonstra, atualmente, não mencionando a luta de classes, mas denominando como racionalização do
conhecimento pela educação, uma forma de burocratizar o acesso de controle do Estado.
Em outras palavras, será pela educação que o Estado realizará o controle da sociedade.
Saiba Mais
, As reflexões de Weber sobre a educação pode ser compreendida no âmbito de sua Sociologia Política e de sua Sociologia da
Religião e que influenciaram decididamente no modo de vida das pessoas. A Educação é, segundo Weber, o instrumento que
propicia ao homem a preparação necessária para o exercício de atividades funcionais adequadas às exigências das mudanças
ocasionadas pela racionalização que o homem irá se deparar socialmente.
O fundamento da racionalidade, da submissão à lei, e da preparação de indivíduos para gerenciar as atividades
burocráticas do estado foi lentamente se difundindo. Na constituição do Estado e do capitalismo moderno esses
elementos são indissociáveis.
• A constituição pautada no Direito Racional (um dos sustentáculos do processo de racionalização da vida).
• A constituição da Administração Racional (embasada no modelo burocrático).
Saiba Mais
, A Educação, para Weber, na medida em que a sociedade se racionaliza historicamente, não é mais a preparação para que o
indivíduo compreenda seu papel no conjunto harmônico do contexto social. E nem é vista como meio de libertação. Torna-se o
meio determinante de estratificação social, uma maneira distinta em que se busca obter privilégios sociais., , A Educação
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sistemática, na análise de Weber, tornou-se um conjunto de conteúdos e regras direcionadas para a qualificação de pessoas que
demonstrassem reais possibilidades de gerenciar o Estado, as empresas e a política, de maneira racional.
Um dos pressupostos básicos na formação do Estado moderno é a constituição de uma administração burocrática
racional. Esse processo só ocorreu na sua totalidade no Ocidente, com a substituição gradual de trabalhadores sem
qualificação, por trabalhadores qualificados, e com orientação política fundamentada em normas racionais.
Esses aspectos influenciarão a formação do sistema jurídico de controle social, quando a educação não é focada para
o evitamento do conflito, mas para a preparação de pessoas para manipular o sistema e manter aqueles que não se
adequam a esta sistemática fora da comunidade, pela ideia autoritária do encarceramento em massa.
QUESTÃO 1
Para compreendermos a noção de conflito nos dias atuais podemos realizar um pequeno exercício sobre o tema e sua
contextualização histórica e suas políticas do modelo de investigação criminal. Nesse sentido, qual período histórico
mais adequando para a charge a seguir?
Resposta Correta
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Glossário
FELICIDADE
Para um aprofundamento filosófico sobre o tema ler: FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. São Paulo: Companhia das
Letras, 2011.
JEAN-JACQUES ROUSSEAU
JEAN-JACQUES ROUSSEAU
O conceito de sociedade de risco foi originariamente desenvolvido pelo sociólogo alemão Ulrich Beck, em 1986, quando publicou
seu livro Risikogesellschaft: Auf dem Weg in eine andere Moderne, traduzido para o português como Sociedade de Risco: rumo a
uma outra modernidade. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2011. Beck, ao realizar uma análise entre o capitalismo e a evolução
tecnológica, conclui que vivemos em um momento de ruptura da sociedade moderna, que passa a assumir novos contornos de
uma sociedade de risco. O advento dessa nova modernidade opera, nos dizeres de Beck, mudanças radicais na política, na
economia e no comportamento, na medida em que a produção social de riquezas se faz acompanhar, cada vez mais, de uma
produção social de riscos da instabilidade dos mercados às catástrofes ambientais e ao terrorismo, por exemplo.
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Art. 5º, inciso XXXV, da CRFB. A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.
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A investigação no direito brasileiro pode ser empreendida por vários instrumentos, mas tem-se no inquérito policial a
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Regulamentado pelo art. 4º do Código de Processo Penal, de 1941 (glossário), o inquérito policial é, se não o principal,
talvez o mais conhecido instrumento de apuração de fatos criminosos.
A investigação busca uma reconstrução histórica dos fatos no sentido de se determinar a verdade dos acontecimentos
objetos de investigação.
Bons estudos!
OBJETIVOS
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INVESTIGAÇÃO CRIMINAL
Lopes Jr. (2013, p.224) afirma que “O CPP de 1941 denomina a investigação preliminar de inquérito policial em clara
alusão ao órgão encarregado da atividade. O inquérito policial é realizado pela polícia judiciária, que será exercida pelas
autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições, e terá por fim a apuração das infrações penais e
de sua autoria (art. 4º)”.
Segue o texto do art. 4º do Código de Processo Penal para uma melhor análise:
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Por essa leitura do art. 4º do Código de Processo Penal, temos uma clara alusão ao propósito do inquérito policial, que
pode ser estendido para o próprio fim de toda investigação criminal: a determinação de indícios de autoria e prova da
materialidade do delito.
Bettiol (1973, p.250), já ensinava que o fim de todo processo será a busca da verdade (glossário) dos fatos, para que
sejam provados em sua subsistência histórica. A busca dessa verdade, no contexto da investigação criminal, seria, nos
termos do art. 4º do Código de Processo Penal, a reconstrução histórica dos fatos, demonstrando-se quem foi o autor
do fato criminoso (indícios de autoria) e a própria existência desse fato criminoso (materialidade do delito).
Nesse momento, já podemos delimitar um breve conceito sobre inquérito policial, que passará pela análise de sua
natureza jurídica. Veja a seguir:
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O inquérito, embora seja doutrinariamente o principal instrumento utilizado na investigação, não é o único e,
atualmente, talvez seja o menos prestigiado. Pelo seu excessivo formalismo, produto de uma legislação datada de
1941 (glossário), a sociedade moderna demandou novos instrumentos investigativos.
Uma dessas inovações foi a edição da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995 (glossário), que, entre outros institutos,
criou os chamados Termos Circunstanciados de Ocorrências, com o objetivo de desburocratizar as investigações e
substituir o inquérito policial.
Essa maneira de investigação (procedimento investigativo) encontrava-se restrita às infrações penais de menor
gravidade chamadas de pequeno potencial ofensivo, ou de menor potencial ofensivo (glossário). Nesses casos, o
inquérito policial era substituído por outro procedimento investigatório, menos formal, chamado Termo
Circunstanciado de Ocorrência (TCO).
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Fonte:
Embora o inquérito policial e o Termo Circunstanciado apresentem peculiaridades procedimentais distintas, ambos
preservam sua finalidade como princípio reitor: a busca pela reconstrução história da verdade dos fatos (autoria e
materialidade do delito).
Esse tema será melhor estudado no conteúdo da disciplina de Processo Penal, mas necessitamos desenvolver
antecipadamente algumas dessas características. Veja, a seguir.
Unidirecional
Essa é a característica do inquérito policial (e de todas as outras formas de investigação). Nicolitt (2014, p. 185), ao
estudar essa característica, afirmou:
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Em razão desse raciocínio, o delegado de polícia não poderia realizar nenhum juízo de valor sobre os elementos
informativos do inquérito, o que na prática não ocorre, já que para o delegado aplicar a lei é necessário realizar uma
análise jurídica sobre os fatos. E cada fato ou ocorrência policial possui peculiaridades do caso concreto, o que
forçosamente exige a aplicação do conhecimento jurídico deste profissional para aplicar a lei ao caso concreto, sejam
as normas penais ou processuais penais.
Em algumas ocasiões, a própria lei já deixa essa necessidade de forma expressa, como ocorre no art. 52, I da Lei
11.343/06 (glossário):
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A investigação, com base nessa perspectiva controvertida, portanto, tem como seu principal destinatário o Ministério
Público (glossário), órgão com atribuição constitucional para a propositura da ação penal pública em juízo (glossário),
ou o próprio ofendido (vítima do crime), nos casos de ação penal privada.
, Essa concepção não é tão clara assim em relação ao delegado de polícia. No entanto, na 6ª edição de seu livro, Nicolitt (2016, p.
201) alterou seu entendimento com base na doutrina do professor e Delegado Henrique Hoffmann: “nas edições anteriores
afirmávamos que o inquérito era unidirecional, no intuito de demonstrar que sua função é exclusivamente direcionada a formar a
opinião do MP sobre a propositura ou não da ação penal. No entanto, a doutrina tem vinculado que o sentido de tal característica
seria a impossibilidade do delegado de polícia fazer juízo de valor no âmbito do inquérito policial. Certo é que, no curso da
investigação, a autoridade policial emite inúmeros juízos de valor.”
Inquisitorial ou inquisitivo
O inquérito policial também é inquisitivo ou inquisitório, se contrapondo ao processo que, por previsão expressa na
Constituição, deve respeitar o princípio do contraditório (art. 5º, inciso LV, CRFB).
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O inquérito, bem como as demais formas de investigação, é um procedimento. E como tal, não se encontra abrangido
pelo princípio do contraditório, visto como a organização dialética entre as partes (acusação e defesa). Assim, temos:
Por ser inquisitivo e unidirecional, o inquérito policial objetiva unicamente que o órgão acusador promova a acusação
em juízo, ou seja, proponha a ação penal.
Nessa linha, outra característica que se relacionará com o modelo inquisitivo é o sigilo da investigação. Vejamos a
seguir.
Sigiloso
O modelo inquisitivo sigiloso é previsto no art. 20 do Código de Processo Penal. Observe:
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Desde a edição do Código de Processo Penal, o sigilo do inquérito sofreu grande mitigação, inclusive ganhando novos
contornos e funções.
Por uma leitura exclusiva do art. 20 do CPP, tem-se um sigilo absoluto, visto sob uma “função utilitarista”, ou seja, com
o fim de assegurar a eficácia da investigação no interesse da sociedade.
Além disso, com a promulgação do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil, Lei 8.906, de 4 de julho de 1994
(glossário), restou mitigado o sigilo do Inquérito, na medida em que o art. 7º, inciso XIV, concedeu a prerrogativa
funcional ao advogado ter acesso à procedimentos de investigação.
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O aparente conflito entre o direito de acesso do advogado a investigações em curso e o sigilo do inquérito policial
acabou chegando ao Supremo Tribunal Federal, que pacificou o tema com a edição da Súmula Vinculante nº 14,
permitindo o acesso do advogado aos elementos de prova já documentados na investigação, no interesse do exercício
de defesa do investigado. Observe:
Escrito
O inquérito policial também possui como característica o fato de ser escrito, conforme dispõe o art. 9º do Código de
Processo Penal.
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Indisponível
O inquérito policial pode ser, ainda, indisponível, pois uma vez instaurado não pode a Autoridade Policial determinar seu
arquivamento, conforme art. 17 do Código de Processo Penal.
Dispensável
O inquérito policial também pode ser dispensável, pois o titular da ação penal poderá utilizar outras fontes de
informação para a propositura da ação penal.
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A investigação criminal é procedimento normalmente conduzido por delegado de polícia, servidor público integrante
das Polícias Civis, no âmbito estadual, ou da Polícia Federal, no âmbito federal.
Contudo, a função de investigar não é monopólio das polícias, conforme interpretação do parágrafo único, art. 4º do
CPP e art. 144 da CRFB. Veja a seguir.
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O monopólio da investigação penal pela polícia é tema que já chegou aos Tribunais brasileiros. Nesse sentido, o
Supremo Tribunal Federal decidiu que ao cuidar das funções de polícia judiciária e investigações criminais atribuídas
às Polícias Civis, o texto constitucional do §4º do art. 144 não utiliza o termo exclusividade (glossário).
Ministério Público
Possui atribuição para praticar atos de investigação por força de interpretação de vários
dispositivos legais e constitucionais esparsos.
Possui competência expressa para realizar investigações criminais por força do art. 58, § 3º,
da CRFB.
Tribunais
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O vocábulo prova não possui um único sentido, podendo ser entendido de duas maneiras:
Desse binômio entre objeto de prova e meio de prova é que ganhará relevância o tema das perícias, vista como um dos
meios de prova mais relevantes na investigação e no processo judicial.
ATIVIDADE
Após compreender os modelos e formas de investigação criminal no Brasil realize a atividade a seguir:
Analise a charge e indique a forma e o órgão mais adequados para realizar a investigação criminal.
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Resposta Correta
a) O sistema processual penal, na qual as funções de investigar, acusar, defender e julgar são exercidas por órgãos distintos.
b) O sistema processual penal, na qual as funções de investigar, acusar, defender e julgar são exercidas um mesmo órgão.
c) O sistema processual penal, na qual as funções de investigar, acusar, defender e julgar são exercidas pela Polícia Judiciária,
Ministério Público e o Judiciário.
d) O sistema processual penal, na qual as funções de acusar, defender e julgar são exercidas pelo Ministério Público e o
Judiciário.
e) Sistema processual penal exercido pelo poder judiciário.
Justificativa
Pelos estudos do nosso sistema processual penal e uma breve leitura do artigo 26 do Código de Processo Penal:
“Art. 26. A ação penal, nas contravenções, será iniciada com o auto de prisão em flagrante ou por meio de portaria
expedida pela autoridade judiciária ou policial.”, podemos concluir:
d) Que se trata de uma permissão para que o juiz ou delegado possam dar início a ação penal pública, porém, não mais
constitucional porque a ação penal pública é privativa do Ministério Público.
e) Como está na lei deve ser cumprido.
Justificativa
Sobre os estudos do modelo brasileiro de sistema acusatório previsto na Constituição da República, assinale a opção
mais adequada, que explique a redação do art. 155 do Código de Processo Penal:
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“Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo
fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas
cautelares, não repetíveis e antecipadas”.
Justificativa
Glossário
VERDADE
Essa concepção de verdade dos fatos, embora seja amplamente dominante na doutrina jurídica brasileira, vem sendo criticada,
cada vez mais, frente à impossibilidade de se utilizar o método analítico-científico das ciências naturais nas ciências sociais.
Para um aprofundamento no tema, ver KHALED JR., Salah. A busca da verdade no processo penal: para além da ambição
inquisitorial. São Paulo: Atlas, 2013.
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O inquérito policial encontra-se previsto principalmente no Código de Processo Penal, promulgado pelo Decreto-Lei nº 3.689, de 3
de outubro de 1941.
O próprio legislador definiu as infrações de pequeno potencial ofensivo como sendo todas as contravenções penais e os crimes
cuja pena máxima cominada em abstrato não fosse superior a 2 anos, conforme art. 61 da Lei 9.099/95:
“Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a
que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.” (Redação dada pela Lei nº 11.313, de
2006).
MINISTÉRIO PÚBLICO
O Ministério Público, por força constitucional, é o órgão responsável pela propositura da ação penal nos crimes de ação pública,
conforme art. 129, inciso I, da CRFB: São funções institucionais do Ministério Público: I - promover, privativamente, a ação penal
pública, na forma da lei; [...].
Somente para uma breve contextualização, necessitamos antecipar alguns conceitos. A doutrina processual penal classifica a
ação penal como sendo: crime de ação pública (incondicionada e condicionada) e crimes de ação privada. Nos primeiros (crimes
de ação pública), caberá ao próprio Estado, mediante a atuação do Ministério Público, a propositura da ação penal, mediante uma
peça técnica chamada de “denúncia”. Já nos crimes de ação privada, cabe à própria vítima do crime, chamada de querelante, a
propositura da ação penal, mediante a peça técnica chamada de “queixa-crime”. A repercussão social do crime, definida na
própria lei, é que determinará se o crime é de ação penal pública (quando o interesse lesado atinge, além da vítima do crime, a
sociedade/Estado/coletividade) ou de ação penal privada (quando o interesse lesado atinge apenas a vítima).
CONSTITUIÇÃO DE 1988
A Constituição de 1988 prevê no art. 1º a dignidade da pessoa humana como fundamento da República.
Art. 1º, CRFB. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
[...]
III - a dignidade da pessoa humana; [...].
EXCLUSIVIDADE
O tema restou pacificado no julgamento do RE 593727 (18.05.15), com repercussão geral reconhecida.
ATOS DE INVESTIGAÇÃO
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04/02/24, 14:34 Disciplina Portal
A possibilidade do Ministério Público realizar investigações criminais decorreria da interpretação conjunta do art. 129, VIII, CRFB;
Art. 7º e 8º da LC 75/83; art. 26 da Lei 8.625/93; e aplicação da chamada teoria dos poderes implícitos, reproduzido no brocado
“quem pode o mais, pode o menos”, na medida em que se o Ministério Público pode realizar a propositura da ação penal, por ser o
titular da ação penal pública, poderia, também, realizar investigação criminal.
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04/02/24, 14:35 Disciplina Portal
Os países da América Latina dos anos 1980 em diante realizaram diversas alterações em seus ordenamentos, frutos
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04/02/24, 14:35 Disciplina Portal
Por essa razão se faz necessário compreender a investigação criminal inserida em um contexto político com essa
perspectiva e quais os efeitos colaterais dessa transição no Brasil.
OBJETIVOS
Conhecer as consequências das alterações, advertindo para uma mudança no sistema brasileiro.
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04/02/24, 14:35 Disciplina Portal
NECESSIDADE DE MUDANÇA
Estudiosos partiram de algumas premissas para a construção de um sistema processual penal democrático,
fundamentalmente, em uma instrução processual penal informada pelos seguintes corolários:
Em uma tentativa de sistematização, os países da comunidade ibero-americana serão agrupados em três categorias
básicas:
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04/02/24, 14:35 Disciplina Portal
Observe-se que os dois primeiros modelos se enquadram no sistema misto, também denominado de instrução formal,
em que a etapa de instrução pode ser confiada, dependendo de cada sistema, ao juiz de instrução ou ao Ministério
Público.
A diferença entre os dois tipos não se fez pela autoridade inquirente, mas sim pela circunstância de existir, ou não,
contraditório nessa etapa. O terceiro modelo é o da denominada citação direta, em que o Ministério Público apresenta
sua acusação, na base dos elementos colhidos na investigação prévia, correndo todo o processo por audiências,
suprimida a etapa prévia de instrução.
Em alguns países, a etapa do sumário não é regida pelos princípios da concentração, da imediação, da identidade
física da autoridade inquirente; em outros, apenas pela imediação (México) ou pela imediação e concentração
(Venezuela), ou ainda pela identidade física (Uruguai).
O sumário pode ser dirigido por um juiz (Venezuela, Uruguai) ou pelo Ministério Público (México), mas em qualquer
caso não existe a separação entre as funções de acusar, defender e julgar, havendo apenas o inquirente e o inquirido.
O sumário desenvolve-se inteiramente sem contraditório (no Uruguai, para o pré-sumário), ou em contraditório limitado
(como na Venezuela e no sumário uruguaio em que, na prática, o inquirido pode requerer a produção de provas e o
tribunal pode deferi-las, não lhe sendo dado, porém, intervir na prova; ou como no México, limitadamente a certos atos,
como o interrogatório).
O direito de defesa, na instrução, não é assegurado no pré-sumário do Uruguai; é fortemente limitado no México, na
Venezuela e no sumário uruguaio, sendo que, neste último sistema, a assistência técnica pode tomar conhecimento
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04/02/24, 14:35 Disciplina Portal
As medidas cautelares (prisão, busca e apreensão, sequestro, interceptações telefônicas etc.) são determinadas pela
própria autoridade inquirente, com controle interno, pelos recursos aos tribunais superiores (Venezuela, Uruguai); e no
México existe um juiz para as medidas cautelares, uma vez que a etapa de instrução é presidida pelo Ministério
Público.
Os direitos constitucionais não são observados na etapa de instrução do sistema uruguaio, inteiramente divorciado das
garantias constitucionais e onde a prisão preventiva é a regra geral. No México, os direitos e garantias constitucionais
atuam de forma bastante limitada, estando o sumário sujeito ao poder discricionário do Ministério Público, embora
com possibilidade de recursos; na Venezuela, há direitos e garantias constitucionais asseguradas para o sumário mas,
na prática, é permanente a luta contra as violações cometidas sobretudo pela polícia. Contudo, importantes inovações
relativas às garantias constitucionais e à liberdade do acusado submetido a processo foram introduzidas neste país
pela legislação mais recente.
A etapa da instrução pode ser precedida por uma fase investigativa prévia, conduzida pela polícia, no Uruguai e na
Venezuela. Esta fase prévia não existe no México.
A forma é escrita no México e no Uruguai; também é escrita na Venezuela, ressalvado o "acto de cargos", oral. É oral
nos demais países pesquisados.
O princípio observado na etapa do juízo é o da imediação, no México e na Venezuela. Não se observam a concentração
e a identidade física do juiz, exceto no sentido de que é o juiz da etapa do sumário que preside a dos debates, na
Venezuela e no Uruguai.
As provas colhidas na etapa do sumário ingressam livremente na do juízo, no México e no Uruguai; na Venezuela
também, embora sejam submetidas a contraditório na etapa do juízo.
O juiz pode formar seu convencimento, embasando-se livremente nas provas produzidas na etapa do sumário, no
México e no Uruguai; na Venezuela, só pode apoiar-se nas provas produzidas na fase de instrução, se elas forem
submetidas a contraditório posterior.
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04/02/24, 14:35 Disciplina Portal
Assim podem ser indicadas as características desse sistema, pelos países pesquisados:
A instrução é dirigida pelo juiz instrutor, ressalvada a previsão do art. 785 bis LECRIM espanhola, em que a instrução,
nos procedimentos abreviados, pode excepcionalmente, e sob certas condições, ser dirigida pelo Ministério Público.
A forma da instrução é escrita na Espanha, Peru, e no Anteprojeto do Uruguai, ressalvados, evidentemente, os atos
processuais orais por natureza, como os depoimentos; e é mista (escrita e oral) em El Salvador e no Brasil, quanto aos
procedimentos de competência do Júri.
A instrução é sigilosa no Peru, sendo regida pela publicidade restrita às partes na Espanha (salvo nos casos em que
seja declarado, especial e limitadamente, o sigilo), em El Salvador e no Anteprojeto do Uruguai. A publicidade é ampla
no Brasil, na instrução dos processos de competência do Tribunal do Júri.
Os princípios que regem a instrução são, no Peru, a concentração, a imediação e a identidade física do juiz; no
Anteprojeto do Uruguai e em El Salvador, a identidade física do juiz. Na Espanha e no Brasil (para a instrução
preparatória do Júri) os princípios mencionados não se aplicam à etapa da instrução.
Em todos os países analisados, as funções de acusar, defender e julgar, na instrução, são separadas e atribuídas a
órgãos distintos.
Com exceção do Peru e de El Salvador, onde o contraditório é limitado a certos atos, nos demais sistemas estudados, a
instrução desenvolve-se em contraditório pleno. Na Espanha, prevê-se expressamente a produção antecipada da prova,
em incidente processual, para os casos legalmente contemplados. Todavia, há hipóteses em que a prática do ato pode
ser acompanhada apenas pelo Ministério Público e ainda casos de sigilo nas diligências, declarado pelo juiz.
O direito de defesa é plenamente observado em todos os países analisados, tendo sido extraordinariamente
potenciado pela Constituição, na Espanha.
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04/02/24, 14:35 Disciplina Portal
Quanto às medidas cautelares, pessoais e reais, são elas de competência do juiz da instrução em todos os países
pesquisados. Na Espanha, o ordenamento permite excepcionalmente a expedição de provimentos cautelares por parte
do Ministério Público e da Polícia Judiciária, com controle posterior e imediato do juiz da instrução. Os provimentos
cautelares, em todos os países, estão submetido ao controle jurisdicional, pelos recursos ordinários ou por habeas
corpus.
Os direitos e garantias constitucionais, amplamente assegurados na etapa da instrução, são efetivamente operantes e
sua observância é submetida ao controle dos tribunais superiores, em todos os países. A Espanha ressalta o avanço da
Constituição de 1978, que incorporou diversas garantias processuais. O Anteprojeto do Uruguai reafirma todas as
garantias oriundas da Constituição e da Convenção Americana sobre Direitos Humanos. Há instrumentos processuais
adequados, em todos os países - incluindo, em alguns deles, o habeas corpus - para assegurar a efetiva
operacionalidade dos direitos e garantias fundamentais na fase de instrução. O habeas corpus brasileiro é utilizado
não somente em relação à privação da liberdade, mas também como controle sobre o procedimento, que deve ser
pautado pelas garantias do devido processo legal.
A etapa da instrução é precedida por uma fase investigativa prévia, necessária no Peru, em El Salvador e no Brasil
(neste país, no tocante aos crimes da competência do Tribunal do Júri); e eventual na Espanha e no Uruguai. A
investigação prévia é conduzida pelo Ministério Público, com o auxílio da Polícia Judiciária, no Peru. Nos demais
países, é levada a cabo diretamente pela Polícia, normalmente a Polícia Judiciária, com exceção do Uruguai, que não
conta com essa instituição. Na Espanha, a Polícia Judiciária é órgão auxiliar do Poder Judiciário e do Ministério
Público, trabalhando sob as ordens destes. Se os fatos investigados se caracterizam como infrações penais, a fase
investigativa incorpora-se à fase judicial de instrução. Se os fatos não constituírem delitos, a fase conserva caráter
administrativo.
No CPP uruguaio é expressa a determinação de que as informações administrativas da fase investigativa policial só
podem ter valor de indicação para a instrução, carecendo de qualquer força probatória. No Brasil, a Polícia Judiciária
integra o Poder Executivo, mas é submetida ao controle externo do Ministério Público (órgão considerado como
exercendo funções essenciais à Justiça e contemplado fora do capítulo do Poder Judiciário e do Poder Executivo,
tendo asseguradas todas as garantias da magistratura).
O juízo desenvolve-se perante um juiz monocrático - que é o mesmo da instrução - no Anteprojeto uruguaio; perante um
juiz unipessoal ou um tribunal colegiado, conforme o caso, na Espanha; sempre perante um tribunal colegiado, no Peru
e em El Salvador. E, no Brasil, perante o Tribunal do Júri, pois só a instrução dos processos da competência deste
submetem-se ao regime bifásico.
Em todos os países pesquisados, a etapa do juízo é pública, sendo regida pelos princípios da concentração, da
imediação e da identidade física do juiz. A oralidade é plena na maioria dos países, com exceção de alguns atos
preparatórios escritos no Anteprojeto Uruguaio (acusação e defesa), prosseguindo depois o processo por audiências.
Também no Brasil, para os atos preparatórios do julgamento do Tribunal do Júri, embora o juízo seja essencialmente
oral, há alguns atos escritos.
A atividade probatória da etapa do juízo destina-se à formação do convencimento judicial sobre a pretensão punitiva,
em todos os países. Mas duas questões devem ser realçadas: há que saber-se, em primeiro lugar, se, na etapa do juízo,
podem ser aproveitadas as provas produzidas na etapa de instrução; e, em segundo lugar, se o juiz ou tribunal, para
julgar o mérito, pode apoiar-se nas provas produzidas durante a instrução. E aqui as respostas divergem.
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04/02/24, 14:35 Disciplina Portal
- Quanto ao aproveitamento, na etapa do juízo, das provas produzidas durante a instrução: No Anteprojeto uruguaio,
todas as provas que tenham sido submetidas a contraditório na etapa da instrução ingressam livremente na fase do
juízo. É o mesmo sistema do Júri brasileiro, que incorpora perante os Jurados as provas produzidas durante a
instrução, todas submetidas a contraditório nesta fase. No Peru, todas as provas lícitas, relevantes e pertinentes,
produzidas na instrução, ingressam livremente na fase do juízo, sendo submetidas a contraditório nesta. El Salvador
não admite o ingresso, na fase do juízo, das provas produzidas na etapa de instrução, com exceção das irrepetíveis.
Também na Espanha, somente são consideradas provas as produzidas na fase do juízo, não podendo ser aproveitadas
as da instrução, salvo quando se tratar de prova antecipada, em incidente probatório, que se desenvolve segundo os
mesmos princípios que regem o juízo oral. A informação recebida, porém, também se refere à "leitura de diligências
sumariais, sob pressupostos estritos".
- Quanto à formação do convencimento do juiz ou tribunal do mérito poder basear-se, ou não, nas provas produzidas na
instrução: O Uruguai, pelo Anteprojeto, admite que na etapa do juízo o juiz do debate forme seu convencimento com
base nas provas produzidas em contraditório na fase da instrução.
O mesmo ocorre no Brasil, onde, porém, o veredicto dos jurados - que julgam sobre os fatos - é de consciência, não
sendo motivado. No Peru, as provas da instrução, desde que submetidas a contraditório na etapa do juízo, embasam o
convencimento do juiz ou tribunal do mérito. Em El Salvador, o tribunal não pode apoiar-se em provas produzidas
apenas na fase de instrução, salvo no que respeita às irrepetíveis. Na Espanha, coerentemente com a linha segundo a
qual só as provas produzidas antecipadamente em incidente probatório, regido pelas mesmas regras aplicáveis ao
debate oral, podem ingressar na etapa do juízo, somente nestas, entre as colhidas durante a instrução, pode
fundamentar-se a decisão do juiz ou tribunal do mérito, observada, porém, a possibilidade de leitura das diligências
sumariais, sob certos pressupostos, que também podem embasar a formação do convencimento do juiz ou tribunal.
Filiam-se a esse sistema, que é o do Código de Processo Penal, Portugal, Bolívia, Brasil - para os crimes que não sejam
da competência do Tribunal do Júri - Chile, Costa Rica, Guatemala, Honduras e Paraguai. Seguem o mesmo modelo os
códigos argentinos das Províncias de Tucumã, de Córdoba e de Santiago del Estero.
A Espanha poderia ser incluída neste sistema somente com relação à hipótese excepcionalíssima do art. 785 bis
LECRIM, relativa a casos muito restritos atinentes aos procedimentos abreviados (semelhantes aos juizados especiais
criminais aqui no Brasil).
São as seguintes as características fundamentais do processo, nos países agrupados nesse sistema:
A finalidade desta etapa é a de colher elementos informativos para a formação do convencimento do acusador, a fim
deste poder, oportunamente, acusar ou não, na base de sua opinio delicti.
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04/02/24, 14:35 Disciplina Portal
Durante a investigação, o juiz intervém necessariamente para autorizar as medidas cautelares requeridas pelo
Ministério Público, bem como para presidir à colheita das provas antecipadas, em contraditório.
O juiz das medidas cautelares é um juiz diverso daquele do processo, no Código Modelo na Bolívia, na Costa Rica, no
Chile, na Guatemala, em Honduras e no Paraguai; mas é o mesmo juiz da futura instrução e julgamento, em Portugal e
no Brasil.
A etapa das investigações é dirigida pelo Ministério Público, com o auxílio da Polícia Judiciária, ou a Polícia Judiciária
investigando diretamente como ocorre no sistema inglês da Europa Continental, submetida ao controle externo do
Ministério Público, que pode a qualquer momento intervir nas investigações.
ATIVIDADES
Leia atentamente os artigos e a pergunta a seguir:
Art. 26. A ação penal, nas contravenções, será iniciada com o auto de prisão em flagrante ou por meio de portaria
expedida pela autoridade judiciária ou policial.
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo
fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas
cautelares, não repetíveis e antecipadas.
Esses artigos do CPP brasileiro são adequados a que modelo de investigação criminal?
Resposta Correta
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04/02/24, 14:35 Disciplina Portal
Glossário
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04/02/24, 14:35 Disciplina Portal
É possível encontrarmos diversos parâmetros científicos para a abordagem da verdade e seus reflexos no processo
penal, que vai desde a Bíblia, Jo: 18, 38, O que é verdade?, passando pela filosofia de Aristóteles na Ética a Nicômaco,
Habermas, na obra Teoría de la Acción Comunicativa ou Hanna Arendt na obra Verdade e Política, cujo reflexo direta ou
indiretamente surge no conceito do justo como igualdade ou neutralidade, ou até mesmo em relação de dominação por
https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_12171088/temas/4/conteudos/1 1/8
04/02/24, 14:35 Disciplina Portal
lutas entre poderes, como ocorre na abordagem do sociólogo Michel Foucault na obra A verdade e as formas jurídicas,
com reflexos diretos no sistema processual penal por toda a história da humanidade.
OBJETIVOS
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04/02/24, 14:35 Disciplina Portal
No direito feudal germânico, na Idade Média, a prova recaía na estratégia pela vitória e não na revelação de uma verdade, ou seja,
não havia uma sistematização comunicacional em busca de uma verdade, no período aproximado dos séculos V a X.
Séculos XI ao XII
Quando alcançamos os séculos XI ao XII surgiu o sistema de provas denominado ordálios, que era um sistema de provas de
cunho social, como critério de solução de conflito, revelando-se a importância dos membros da sociedade como um mecanismo
de autopreservação, consequentemente, um mecanismo excludente.
Século XIII
A partir do século XIII surgiu o procurador do Rei associado à Igreja (clero) que passaram a balizar ideologias da fé cristã como
paradigma de controle social, inclusive punindo seus opositores como hereges.
Séculos XIV e XV
A opressão desse sistema fez surgir nos séculos XIV e XV formas de estabelecimento da verdade por testemunhos, geralmente
pessoas com conhecimentos científicos, que perduraram até o XVIII, sofisticando-se as regras sobre provas, através da disputatio,
que consistia em um resultado do processo como elementos de confirmação e refutação.
Século IX
No século IX, a sofisticação iluminista influenciou o desenvolvimento do método da verdade como forma de pesquisa, origem da
Sociologia, da Psicologia, da Criminologia no contexto social da Idade Moderna.
Sedimentou-se, na doutrina hodierna, que o processo como meio heterogêneo de composição de conflitos sociais,
entre outras finalidades, visa à reconstrução de determinado fato pretérito, tendo como resultado final a aplicação de
uma regra jurídica adequada (glossário), prevista no ordenamento positivo.
Se esse pensamento tradicional é correto, não se deve esquecer que essa suposta reconstrução fática ocorre,
inevitavelmente, em termos de linguagem (comunicação entre os sujeitos processuais), pois, no processo, de acordo
com lições de Taruffo, os fatos são representados pelo que se diz dele.
Decerto, o juiz, para dar o direito no caso concreto a quem tem razão, precisa de meios que
o possibilitem alcançar a veracidade dos enunciados levados pelos demais sujeitos
https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_12171088/temas/4/conteudos/1 3/8
04/02/24, 14:35 Disciplina Portal
Sucede que, atualmente, a controvérsia doutrinária consiste em saber se a verdade almejada no processo penal,
principalmente após a Constituição de 1988, que assegurou direitos e garantias fundamentais ao acusado, continua
sendo absoluta ou assumiu a conotação de relativa, diante da proibição da prova obtida por meio ilícito.
Todavia, a reflexão inadvertida sobre o assunto teve como efeito colateral a consagração da dicotomia verdade
absoluta/verdade relativa.
Segundo esta classificação, no processo civil predominaria a verdade relativa ou também denominada de formal,
porquanto, além da disponibilidade da relação jurídica deduzida em juízo, fenômenos como o das presunções legais,
inexigibilidade de prova sobre fatos incontroversos, preclusão e outros, impediriam o desvelamento da verdade real
(glossário), que, por sua vez, corresponderia ao processo penal, já que, em nome da tutela de interesses indisponíveis
(defesa social), não se toleraria o menor obstáculo para alcançá-la.
“por razão do ideal que persegue - averiguar a verdade objetiva, real ou material -, no
Direito Processual Penal, toda a regulação jurídica da prova, como método para alcançar esse objetivo,
é favorável à investigação do caso, em uma medida muito superior a prevista por outros procedimentos
judiciais. Este é, precisamente, um dos aspectos que caracteriza o Direito Processual Penal, que alguns
autores tem elevado à categoria de princípio” (tradução livre).
E complementa que:
“é preciso aclarar, em princípio, que, como sucede com a persecução penal, o interesse público pela pena
estatal está destituído do interesse particular, inclusive em matéria probatória. De tal maneira, o próprio Estado,
por intermédio de seus órgãos competentes, é interessado em averiguar a verdade acerca da existência ou
inexistência de um direito, para aplicar suas regras penais e, eventualmente, fazer atuar a consequência jurídica,
prescindindo do interesse particular” (Julio Maier, 1999, p. 860 tradução livre).
Comentário
, Alguns doutrinadores chegam a mencionar a denominada verdade eticamente construída ou verdade processual, pois o juiz
decide de acordo com as argumentações representativas dos fatos postos em juízo, o que não necessariamente representará a
verdade, mas os fatos conforme a visão argumentativa de cada um, que também poderá ser diferente da verdade compreendida
pelo juiz.
https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_12171088/temas/4/conteudos/1 4/8
04/02/24, 14:35 Disciplina Portal
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04/02/24, 14:35 Disciplina Portal
Diante disso jamais, no processo, pode assegurar o juiz ter alcançado a verdade objetiva, aquela que corresponde
perfeitamente com o acontecido no plano real.
Assim, pelo princípio da livre investigação das provas, a verdade material ou real é a que mais se aproxima da
realidade, tendo o legislador facultado ao juiz ir além da iniciativa das partes na colheita das provas, devendo, se for o
caso, agir de ofício, esgotando todas as possibilidades para alcançar a verdade real sobre os fatos para fundamentar a
sentença.
STJ. RHC 1806/RJ 6ª Turma DJ 02.05.2006, já se posicionou nesse sentido “ A busca da verdade real constitui
princípio que rege o Direito Processual Penal. A produção de provas, porque constitui garantia constitucional, pode ser
determinada, inclusive, pelo Juiz, de ofício, quando julgar necessário.
Ressalte-se que na esfera penal a investigação trilha caminho diverso da esfera civil, na qual o tratamento da verdade
obedece a regras distintas, quando em regra de direitos disponíveis ou transacionáveis, permitindo a admissão da
parte contrária quando não impugna determinado fato trazido pelo autor na petição inicial, incidindo o princípio da
eventualidade e da impugnação especificada, trazendo efeitos materiais ao que ocorre em um dos efeitos materiais da
revelia, também no processo civil.
Em outras palavras, no processo civil, vige a verdade formal, em se tratando de algumas hipóteses, em sua maioria
admissíveis nos direitos disponíveis, e por assim o serem, atribui-se à parte inteira disposição sobre seu próprio direito
material, regulamentando como um ônus processual determinadas posturas do réu, que ao ferirem preceitos e
princípios (como os citados anteriormente) inerentes a esta disponibilidade, têm como consequência processual,
reflexo de ordem material, como tornar incontroversa matéria não impugnada ou presumirem verdadeiros aquilo, que
para o réu, não interessava impugnar.
https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_12171088/temas/4/conteudos/1 6/8
04/02/24, 14:35 Disciplina Portal
ATIVIDADE
Será que estamos aptos a realizar um exercício de reflexão sobre o tema? Vamos tentar?
Analisando a figura a seguir qual o aspecto da verdade que poderá prevalecer em nossa realidade jurídica?
Resposta Correta
Glossário
https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_12171088/temas/4/conteudos/1 7/8
04/02/24, 14:35 Disciplina Portal
“As exposições clássicas costumam apresentar o mecanismo do julgamento sob a forma de um silogismo, em que a premissa
maior seria a norma, e a menor o enunciado fático. Essa explicação um tanto simplista desfigura em certa medida a dinâmica do
ato de julgar, mas não sofre dúvida que norma e fato serão sempre dois pontos básicos de referência no processo mental do
julgador” (MOREIRA, 1988, p. 73).
TARUFFO, Michel. Ob. Cit., p. 45. Quanto à impossibilidade prática de desvelar a verdade absoluta, Michele Taruffo registra que:
“[...] o juiz não dispõe de instrumentos cognoscitivos nem de tempo e da liberdade de investigação que dispõe o cientista ou
historiador. Diferentemente da atividade desses dois últimos, o processo deve se desenvolver em um tempo limitado, dado que
tanto o interesse público quanto privado pressionam para que o final do litígio seja alcançado rapidamente, e este é um grande
obstáculo para a busca da verdade.”
https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_12171088/temas/4/conteudos/1 8/8
04/02/24, 14:36 Disciplina Portal
O termo prova vem do latim probatio que significa ensaio, verificação, inspeção, exame, argumento, razão, aprovação
ou confirmação.
https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_12171088/temas/5/conteudos/1 1/9
04/02/24, 14:36 Disciplina Portal
Daí vem o verbo provar - probare - significando ensaiar, verificar, examinar, reconhecer por experiência, aprovar, estar
satisfeito com algo, persuadir alguém a alguma coisa ou demonstrar.
Para Adalberto José Q. T. Camargo Aranha, prova, no sentido jurídico, representa os atos e meios usados pelas partes e
reconhecidos pelo juiz como sendo a verdade dos fatos alegados.
Paulo Rangel define a prova como o meio instrumental de que se valem os sujeitos processuais (autor, juiz e réu) de
comprovar os fatos da causa, ou seja, os fatos deduzidos pelas partes como fundamento do exercício dos direitos de
ação e de defesa.
Bons estudos!
OBJETIVOS
https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_12171088/temas/5/conteudos/1 2/9
04/02/24, 14:36 Disciplina Portal
Ao iniciar esta aula você conheceu o significado do termo prova. No entanto, esse tema traz alguns questionamentos
que necessitam ser respondidos.
https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_12171088/temas/5/conteudos/1 3/9
04/02/24, 14:36 Disciplina Portal
Atenção
, Desse modo, desde que os meios de prova não sejam indignos, imorais, ilícitos ou ilegais, respeitando a ética e o valor da pessoa
humana, poderão ser admitidos no processo, mesmo que não sejam legalmente relacionados no Código de Processo Penal.
https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_12171088/temas/5/conteudos/1 4/9
04/02/24, 14:36 Disciplina Portal
Fonte:
Saiba Mais
, No entanto, quanto à titularidade, não se pode dizer que a prova é de uma ou de outra parte, ou seja, não existem provas da
acusação e da defesa, mas sim, provas do processo, do juízo, conforme se verá no estudo do princípio da comunhão da prova.
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Toda prova produzida servirá a ambas as partes e ao juiz, já que é colhida no interesse da
justiça e da busca da verdade.
O ônus de produzir a prova pertence a cada parte que tenha interesse, mas, uma vez
produzida a prova, existirá sua comunhão.
Audiência Contraditória
Toda prova admitirá uma contraprova. A audiência, portanto, é bilateral sob pena de
nulidade, por força do princípio da bilateralidade da audiência.
Oralidade
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04/02/24, 14:36 Disciplina Portal
Concentração
Deflui do princípio da oralidade que obriga a uma maior concentração das provas em
audiência, com celeridade na sua coleta. Não obstante, é possível abrir exceções quando for
imprescindível fracionar a audiência.
Publicidade
A regra é que a produção da prova, assim como qualquer ato judicial, seja pública, somente
podendo ser restringida a publicidade em casos expressamente previstos em lei.
As provas não são previamente valoradas. Não vigora em nosso processo penal o critério da
prova tarifária em que cada prova tem um valor previamente fixado em lei, pois o julgador
tem liberdade de valorar as provas de acordo com sua consciência e convencimento, desde
que motivadamente e não extrapolando o que consta do processo.
Também chamado de encargo, é uma faculdade que o sujeito processual pode suportar consigo mesmo, ou seja, por
conta e risco, pois se não praticar o ato na qual a lei processual imputa um ônus, em especial, a prova, correrá o risco
de não obter a vantagem pretendida no processo. Portanto, não se trata de mera faculdade, pois, nesta nada é exigido.
O ônus é uma faculdade na qual o sujeito do processo suporta uma desvantagem que pode-lhe acarretar prejuízo, no
entanto, não poderia alegar nulidade pois o disposto no art. 565 do Código de Processo Penal, incide o princípio do
nemo turpitudinem suam allegare potest, na qual ninguém pode se beneficiar de sua própria torpeza.
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04/02/24, 14:36 Disciplina Portal
No dever jurídico há sempre uma sanção prevista para o seu descumprimento, situação que não ocorre quando se está
diante de um simples ônus processual.
No Processo Penal Brasileiro, a regra é a de que quem alega um fato tem o ônus (ou encargo) de prová-lo, sob pena de
não obter a pretendida vantagem. É o que se extrai da leitura do artigo 156 do CPP.
De acordo com o dispositivo supramencionado, o ônus da prova é, em regra, da acusação, que apresenta a imputação
em juízo através da denúncia ou queixa-crime. Entretanto, o réu pode chamar a si o interesse de produzir prova quando
alega em seu benefício algum fato que propicie a exclusão da ilicitude ou da culpabilidade.
O Autor deve fazer prova da ocorrência do fato e de sua autoria, o que inclui o elemento subjetivo (dolo ou culpa),
embora parte da doutrina entenda que o dolo é presumido (entendimento minoritário). Por outro lado, o réu deve fazer
prova da inexistência do fato ou da existência de excludentes de ilicitude, culpabilidade ou punibilidade, bem como, de
qualquer circunstância que lhe traga algum benefício.
Fonte:
Cabe à defesa, na verdade, fazer prova dos fatos impeditivos (exclusão do dolo ou da culpabilidade), modificativos
(excludentes de ilicitude) e extintivos (extinção da punibilidade).
No entanto, não se pode esquecer que, no processo penal, em virtude do princípio da presunção de inocência, o ônus
da defesa não deve ser analisado de forma tão rigorosa, pois, o descumprimento do ônus de provar fato impeditivo,
modificativo ou extintivo por parte do réu não acarretará, necessariamente, a procedência do pedido acusatório em
razão do princípio do in dubio pro reo.
O Código de Processo Penal permite que, havendo dúvida que não tenha sido dirimida pela produção probatória das
partes, possa o juiz determinar diligências ou a produção de provas de ofício.
É preciso frisar, entretanto, que o juiz somente deve determinar a produção de provas de ofício quando se tratar de
ação penal pública, pois, na ação penal de iniciativa privada vigora o princípio da disponibilidade.
Atenção
, Entretanto, como no Brasil o sistema processual é acusatório, o juiz só deve agir na busca de provas de forma supletiva e,
quando isso for necessário, a ação do juiz pode ocorrer mesmo antes de iniciada a ação penal (art. 156, incisos I e II, do CPP).
Por fim, existem alguns autores que entendem que a inovação do art. 156, inciso I, do CPP, trazida pela Lei 11.690/08
(glossário), ofende o princípio acusatório e, portanto, o dispositivo deve ter interpretação conforme a Constituição no
sentido de somente ser admissível ao juiz determinar a produção de provas na fase investigatória quando houver
pedido de uma das partes.
ATIVIDADE
Chegou a hora de testar os seus conhecimentos! Responda à questão, abaixo:
Resposta Correta
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Glossário
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A perícia legal é um dos diversos meios de prova possíveis, ou seja, formas de se reconstruir faticamente algo,
possibilitando uma tomada de decisão.
OBJETIVOS
Examinar que o perito e as perícias estão inseridas na legislação pelo Código de Processo Penal;
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04/02/24, 14:36 Disciplina Portal
Perito e Natureza
Jurídica
Perito é auxiliar da Justiça, trata-se de pessoa física
que presta serviços à Justiça, sem funções
judicantes. Exige-se dele que preste compromisso e
que seja equidistante das partes. Além disso, deve
ter conhecimento técnico especializado acerca do
objeto da perícia.
Anteriormente, exigia-se a realização da perícia por dois peritos oficiais, mas, com a mudança operada pela Lei
11.690/08, permite-se a perícia realizada por um único perito. Tal inovação visou simplificar e tornar mais ágeis as
perícias.
a) O exame será realizado por duas pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior, preferencialmente na
área específica relativa ao exame;
1. A reforma a formulação de quesitos e a indicação de assistentes técnicos pelo Ministério Público, pelo assistente de
acusação, pelo ofendido, pelo querelante e pelo acusado.
2. A atuação dos assistentes técnicos se dará após a conclusão do trabalho do perito oficial. Assim, admitidos pelo
juiz, os assistentes técnicos devem aguardar o término do exame feito pelo perito oficial para, então, poderem atuar.
3. Durante o processo, as partes poderão requerer a oitiva dos peritos, desde que sejam estes intimados e recebam os
quesitos com antecedência mínima de dez dias da audiência. Além disso, poderão também, a qualquer tempo, indicar
assistentes técnicos.
4. Em se tratando de perícia complexa, abrangendo mais de uma área de conhecimento especializado, será possível
designar mais de um perito oficial e a parte indicar mais de um assistente.
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Perícia legal
Perícia legal é o gênero que comporta duas
espécies: perícia criminal e medicina legal (ou
perícia médico-legal).
Observa-se, portanto, que a perícia é uma análise técnica realizada por profissional capacitado, sobre os elementos
materiais do fato (criminoso), com o fim de demonstrar algo. Entretanto, se estes vestígios estiverem relacionados
com o corpo humano, estaremos diante do ramo da medicina legal, portanto, será exercida pelos profissionais da
medicina e ciências auxiliares.
, Importante apresentar, neste momento, a definição, as funcionalidades, as áreas de atuação e os meios de ação dessa
importante ferramenta de trabalho, cuja aplicação na investigação, seja ela criminal ou não, consideramos de fundamental
importância, em alguns casos, para o êxito de qualquer ação.
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04/02/24, 14:36 Disciplina Portal
VOCÊ SABIA?
A aplicação da ciência e da técnica à busca, análise e interpretação dos vestígios decorrentes de atos que se pretende
investigar, é o objeto da criminalística, lembrando que esses atos podem ser criminosos ou não.
A perícia criminal, nessa esteira, é a disciplina que tem por objetivo o reconhecimento e a interpretação dos indícios
materiais extrínsecos relativos ao fato investigado, ficando a Medicina Legal responsável pelos exames dos vestígios
intrínsecos na pessoa.
Contudo, a compreensão do presente estudo, em que pese o respeito a outras posições, é no sentido de que o ramo
principal, o troco que deve receber a definição de perícia legal, é mais abrangente, permitindo assim, a inclusão de
ramificações mais específicas como a perícia criminal e medicina legal como suas espécies.
Assim, a perícia criminal se utiliza da aplicação de técnica e ciência na investigação dos vestígios (glossário) que não
derivam do corpo humano. Evidentemente, algumas vezes, com adaptações e outras desenvolvendo ferramentas
específicas da nova ciência. Por exemplo, para análise de drogas, utiliza-se a química. Para análise de grafismos, a
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04/02/24, 14:36 Disciplina Portal
criminalística se utiliza em parte, da física, mas precisa desenvolver ferramentas específicas para tal análise, como a
grafotecnia.
Em apertada síntese, pode-se dizer que esses métodos são a pesquisa e descoberta dos vestígios, o seu
reconhecimento, coleta, defesa e interpretação visando à conclusão, por meio das técnicas científicas que forem
necessárias.
PRINCÍPIO DA UNIVERSALIDADE
As técnicas usadas em Criminalística são de conhecimento e aplicação universal. Isso quer dizer que as técnicas e os métodos
usados aqui no Brasil devem ser as mesmas usadas em outros países e reconhecidas pela comunidade científica internacional.
De acordo com esse princípio, a ciência se comporta como sistema uniforme em toda comunidade científica.
PRINCÍPIO DA INTERCOMUNICABILIDADE
Ninguém entra em um local sem levar para o mesmo as marcas da sua presença e nem sai sem levar sobre si, marcas deste
local. O princípio da intercomunicabilidade implica que qualquer ação que gere resultados, gerará também vestígios, que podem
ficar gravados, impressos, tanto na pessoa que pratica a ação, como no local onde foi praticada: Onde quer que pise, tudo em que
toque, tudo que deixe, até mesmo inconscientemente, servirá como evidência silenciosa contra ele.
Não só suas impressões digitais ou pegadas, mas também cabelo, as fibras das roupas, o copo que ele quebra, a marca de
ferramenta que ele deixa, a pintura que ele arranha, o sangue ou sêmen que ele deposita ou coleta, todos estes e outros são
testemunhas ocultas contra ele. Esta é a evidência que não se esquece. Não fica confusa pela excitação do momento. Não é
ausente, porque testemunhas humanas são. É a evidência efetiva.
Evidência física não pode estar equivocada; não pode se perjurar; não pode estar completamente ausente. Só a sua
interpretação poderia estar errada. Só o fracasso humano em encontrá-la, estudá-la e entendê-la pode diminuir o seu
valor.
Geralmente, os vestígios materiais são perpetuados, por meio do laudo pericial. Em Criminalística, vale a máxima: “Não
adianta saber, é preciso provar com convicção por meio dos vestígios materiais”.
Nessa esteira de raciocínio, o produto dessa análise realizada por esse especialista denomina-se perícia. Esse
profissional detém uma capacidade cognitiva sobre determinados aspectos dos vestígios que se sobrepõem à média
do ser humano e, principalmente, muitas vezes, das próprias partes envolvidas no litígio em questão.
, Importante destacar que para servir na solução do conflito, com o viés de promoção de justiça como dito anteriormente, o
profissional da perícia deve ser imparcial, pois só assim realizará seu labor com isenção e focará única e exclusivamente na
apresentação dos vestígios perceptíveis, independentemente de quem sua conclusão beneficie ou prejudique.
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04/02/24, 14:36 Disciplina Portal
Engana-se quem imagina que a atividade de perícia é exclusiva de servidores públicos, pois há espaço para realização
de perícia por pessoas com grande conhecimento sobre a ação que se quer perpetuar com a perícia. Importante
destacar o trabalho de peritos ad hoc ou seja, nomeados para aquele ato, bem como a possibilidade de pessoas com
conhecimentos técnicos específicos atuarem como assistentes do perito em um processo, com a finalidade de avaliar
o trabalho do perito.
Não se pode negar que a ação de perícia se confunde com a própria ação de investigar em relação à conduta de
pesquisar. Entretanto, possui metodologia própria. A perícia apresenta vários segmentos, podendo colaborar com uma
investigação de várias formas possíveis conforme veremos em disciplinas específicas sobre o tema.
O exame de corpo de delito é indispensável nos crimes que deixam vestígios, também
chamados de crimes não transeuntes - exemplo: um homicídio, um furto mediante
arrombamento, um estupro etc.
O corpo de delito constitui, no conjunto, a soma de todos os vestígios e sinais deixados por
um delito não transeunte. É o conjunto de elementos sensíveis do fato criminoso, toda a
substância formada de elementos sensíveis, isto é, aqueles que podem afetar os sentidos,
que podem ser percebidos pela visão, audição, tato, paladar ou olfato.
Por outro lado, os instrumentos do crime são os instrumentos usados como causa eficiente
para a realização do delito, os objetos materiais dos quais o agente se serviu para delinquir e
nos quais se procurará verificar a natureza, a eficiência, a potencialidade danosa etc.
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04/02/24, 14:36 Disciplina Portal
Desse modo, o exame no cadáver perfurado por projéteis de arma de fogo é um exame de
corpo de delito, pois visa verificar qual foi a causa da morte, mas, o exame feito na arma
apreendida com o suspeito é exame em instrumento do crime, pois visa saber se o projétil
causador da morte foi disparado por ela, se havia potencial lesivo etc.
SISTEMA VINCULATÓRIO
Pelo sistema vinculatório, o julgador está vinculado à perícia, subordinando o juiz à opinião do perito, o que dá a este um relevo
bastante acentuado.
SISTEMA LIBERATÓRIO
No sistema liberatório atribui-se ao juiz uma liberdade, maior ou menor, conforme o caso, de modo a ser subordinada a opinião do
perito.
O sistema liberatório deve ser analisado sob um tríplice aspecto:
Quanto à conveniência;
Quanto ao procedimento;
Quanto à avaliação da prova pericial.
, Não obstante a adoção do sistema liberatório, fica evidente pela redação do art. 158, do CPP, uma reminiscência do sistema da
prova legal ou tarifária, posto que, se o crime deixar vestígios, a perícia passa a ser obrigatória não podendo ser suprida nem pela
confissão do acusado., , Tamanha é a importância da prova pericial que a sua ausência nos crimes que deixam vestígios é causa
de nulidade absoluta, conforme determina o art. 564, III, b, do CPP., , Tais regras, segundo muitos autores, atentam contra o
sistema do livre convencimento motivado e, de acordo com a previsão legal e constitucional de que devem ser aceitas no
processo todas as provas que não sejam proibidas por lei, já decidiu o STJ que a parte final do art. 158, do CPP, teria sido
derrogada, ou seja, mesmo que a perícia não seja realizada nos crimes não transeuntes, a confissão do acusado pode embasar
decreto condenatório, desde que respeitadas as regras previstas nos arts. 197 a 200, do CPP.
O exame indireto é realizado por meio de um raciocínio dedutivo sobre um fato retratado por testemunhos, por não se
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04/02/24, 14:36 Disciplina Portal
Assim, ao examinar o corpo lesionado, o perito estará fazendo um exame direto; ao ler um relatório, fichas hospitalares,
ouvir médicos e enfermeiros que atenderam a vítima, elaborará um exame indireto.
Para ler mais sobre o Exame de corpo de delito, clique aqui (glossário).
ATIVIDADES
A criminalística é uma ciência autônoma?
Resposta Correta
Glossário
VESTÍGIOS
Vestígios podem ser definidos como sendo qualquer modificação no mundo exterior perceptível pelos sentidos humanos.
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04/02/24, 14:37 Disciplina Portal
Antes de ingressarmos na apresentação de alguns ramos da perícia é importante identificarmos onde se situa seu
estudo.
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04/02/24, 14:37 Disciplina Portal
As espécies de perícias podem existir dentro de um ramo da perícia. Por exemplo, na medicina legal, ciência que
compõe a criminalística, podem ser realizados diversos tipos de perícias como o exame cadavérico, laboratoriais de
DNA, toxicologia etc.
Bons estudos!
OBJETIVOS
Identificar que os exames periciais possuem finalidades específicas previstas no Código de Processo Penal e estão
inseridas em uma organização sistematizada com o princípio acusatório;
Estabelecer que a prova pericial na verdade é um documento resultante do exame ou constatação que se realiza sobre
um objeto ou pessoa.
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04/02/24, 14:37 Disciplina Portal
CIÊNCIAS FORENSES
Ciência Forense é a aplicação de um conjunto de técnicas científicas para responder
a questões relacionadas ao Direito e, por isso, forense, podendo se aplicar à análise
científica de fatos com reflexos no âmbito criminal, civil e administrativo.
O esclarecimento de crimes é a função de destaque na criminalística. Através da análise
dos vestígios deixados na cena do crime, os peritos, especialistas nas mais diversas
áreas, conseguem chegar à análise científica e resultado demonstrável a afirmável pela
ciência, consequentemente, angaria credibilidade, permitindo ao investigador,
coordenado pelo Delegado de Polícia, a reunir as evidências e afirmar a existência do
crime, que denomina-se materialidade, e os indícios de autoria.
Algumas das áreas científicas que estão relacionadas à Ciência Forense são a Antropologia, Biologia, Computação,
Matemática, Química, e várias outras ligadas à Medicina, como por exemplo, a Psiquiatria e Psicologia Forense.
Poderíamos representar o texto na seguinte representação:
CRIMINALÍSTICA
A Ciência Forense pode descambar na criminalística, que se direciona para a seara criminal e consiste na observação,
análise, interpretação, descrição, documentação da prova ou evidências, traduzidos no local do crime que, por sua vez,
possuem elementos subjetivos e objetivos (vestígios, evidências e indícios). É possível que, no local do crime, a ação
criminosa tenha recaído sobre uma pessoa e o exame tenha que ser realizado sobre ela e, neste momento, entra em
cena a Medicina legal, que consiste, em linhas gerais, no exame intrínseco da pessoa.
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04/02/24, 14:37 Disciplina Portal
CRIMINOLOGIA
Outra área que contribui significativamente para a Ciência Forense é a criminologia.
A criminologia é a ciência que estuda as causas e as concausas da criminalidade e
da periculosidade como ambiente propício à ocorrência da criminalidade, bem como
as manifestações e os efeitos da criminalidade, incluindo-se a política criminal de
prevenção ou reação aos perigos ocasionados pela criminalidade, suas manifestações
e seus efeitos.
Ela irá auxiliar na Ciência Forense na medida em que os fenômenos da criminalidade
possam intuir ao investigador qual poderia ter sido, por exemplo, a causa da prática
do crime que se investiga. Consequentemente, auxilia na investigação criminal.
FÍSICA FORENSE
A importância dessa ciência é imensa. Passa pelos conhecimentos de Mecânica, aplicados, por exemplo, a acidentes
de trânsito e morte por projeção de grande altura; balística; engenharia, aplicada, por exemplo, à acústica para
identificação de vozes. Veja:
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04/02/24, 14:37 Disciplina Portal
DOCUMENTOSCOPIA
Estuda a questão da falsidade documental e tem como subdivisão a grafoscopia, que examina, especificamente, a
escrita, a fim de determinar a sua autenticidade ou não, sua origem e sua autoria.
PAPILOSCOPIA
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04/02/24, 14:37 Disciplina Portal
BALÍSTICA FORENSE
Estuda armas e munições, faz confrontos para se determinar as evidências a respeito dos indícios de autoria de um
disparo.
TOXICOLOGIA FORENSE
Trata-se do conhecimento sobre a química, farmacologia e bioquímica para identificação de tóxicos em geral, como
elementos de crimes por envenenamento, por exemplo.
QUÍMICA FORENSE
Consiste na análise de alimentos e bebidas, exame de manchas orgânicas, de pelos e cabelos, análise de componentes
de artefatos explosivos, cargas propelentes de projéteis de armas de fogo, química de cosméticos, de tintas.
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04/02/24, 14:37 Disciplina Portal
Exemplo
, Como exemplo, podemos citar o tráfico de drogas e, ainda mais grave, o art. 273 do Código Penal:, , “Art. 273: Falsificar,
corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais: (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)
Pena: reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)”
BIOLOGIA FORENSE
Apresenta uma estreita relação com a Medicina Legal, estudo da morte que compreende também a Entomologia
Forense (glossário) e a genética forense, por intermédio de exames de DNA.
GENÉTICA FORENSE
É a ciência que estuda a utilização dos conhecimentos e das técnicas de genética e de biologia molecular no auxílio à
justiça, seja na seara criminal ou civil. A Genética Forense também é conhecida como DNA Forense.
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04/02/24, 14:37 Disciplina Portal
ENTOMOLOGIA FORENSE
Fonte da Imagem:
A ciência passou a ser capaz de fornecer dados suficientes para indicar vestígios de um crime e supostos criminosos.
A credibilidade das provas vem crescendo com a aplicação da entomologia forense. Apesar de essa técnica ser de
grande importância, ainda é pouco utilizada no Brasil, devido às condições climáticas. Entretanto, esta modalidade de
estudo vem crescendo e progredindo de forma satisfatória no âmbito policial.
A seguir, veja um gráfico que demonstra a espécie de inseto relacionada a fase de decomposição cadavérica,
demonstrando uma das informações importantes para análise dos vestígios do crime.
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04/02/24, 14:37 Disciplina Portal
FRAUDE PROCESSUAL
Esse é um tema bastante relevante para a Ciência Forense.
As evidências colhidas no local do crime, por intermédio dos ramos da perícia que hora se identificou em alguns dos
exemplos que pudemos citar, de nada podem ser úteis se o criminoso ou os agentes investigadores contaminam o
local com elementos que não fazem parte da cena, de maneira que tal conduta pode vir a ser criminalizada, por
consistir em uma fraude processual.
Em se tratando de crimes de trânsito, quando o local é adulterado propositadamente, ou seja, com dolo, corresponde
ao art. 312 da Lei 9.503/97 (glossário), aplicando-se este diploma ao revés do Código Penal, em razão do princípio da
especialidade.
ATIVIDADE
1 - Qual a natureza jurídica do depoimento do perito em juízo?
Resposta Correta
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04/02/24, 14:37 Disciplina Portal
Justificativa
3 - Nos estudos sobre as ciências forenses, assinale a alternativa que possa explicar o significado da papiloscopia:
b) Ciência responsável pela coleta, exame e análise dos indícios deixados nas papilas gustativas.
Justificativa
4 – Imagine que em um crime a perícia necroscópica determinou que a morte ocorreu decorrente de paralisação dos
órgãos em razão de ação de substância considerada “veneno”, indique qual ciência forense é responsável por este
estudo e identificação desta circunstância:
a) Toxicologia forense.
b) Hematologia forense.
c) Medicina legal.
d) Biologia forense.
e) Genética forense.
Justificativa
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04/02/24, 14:37 Disciplina Portal
Glossário
ENTOMOLOGIA FORENSE
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04/02/24, 14:38 Disciplina Portal
Conceito de Corpo de Delito é a verificação da prova da existência do crime, feita por peritos, diretamente ou por
intermédio de outras evidências, quando os vestígios, ainda que materiais, desapareceram.
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04/02/24, 14:38 Disciplina Portal
OBJETIVOS
Definir que os ramos das perícias são ramos científicos de conhecimento específico;
Registrar que esses conhecimentos específicos, em razão da complexidade, podem se subdividir em outras
especialidades.
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04/02/24, 14:38 Disciplina Portal
• Esse exame é indispensável nos crimes que deixam vestígios, como homicídio, roubo, entre outros;
• Há diferença entre corpo de delito e instrumento do crime: O exame no cadáver perfurado por projéteis de arma de
fogo é um exame de corpo de delito; o exame feito na arma apreendida com o suspeito é exame em instrumento do
crime;
• Quanto ao juiz, as legislações penais relativas à perícia estabelecem dois sistemas: o vinculatório e o liberatório;
• O sistema liberatório deve ser analisado sob um tríplice aspecto: Quanto à conveniência, ao procedimento e à
avaliação da prova pericial.
• A prova pericial é tão importante, que sua sua ausência nos crimes que deixam vestígios é causa de nulidade
absoluta, conforme determina o art. 564, III, b, do CPP;
• Exame de Corpo de Delito pode ser Direto e Indireto: ao examinar o corpo lesionado, o perito estará fazendo um
exame direto; ao ler um relatório, fichas hospitalares, ouvir médicos e enfermeiros que atenderam a vítima, elaborará
um exame indireto;
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04/02/24, 14:38 Disciplina Portal
• A prova pericial não poderá ser suprida quando os vestígios desaparecerem por inércia dos organismos estatais
responsáveis pela persecução penal;
• Há delitos nos quais a prova pericial não pode ser suprida por nenhuma outra. Um exemplo é o porte de substância
entorpecente, quando, não havendo a apreensão da droga ficará bastante difícil sustentar a acusação apenas com
base em prova testemunhal.
EXAME GRAFOTÉCNICO
Trata-se do chamado reconhecimento de escritos, previsto no art. 174, do CPP,
que busca certificar, admitindo como certo, por comparação, que a letra inserida em
determinado escrito pertence à pessoa investigada.
O procedimento previsto no dispositivo mencionado pode ser utilizado também para
perícias de escritos envolvendo datilografia ou impressão por computador.
VOCÊ SABIA?
Consoante o art. 174, incisos II e III, do CPP, justamente para contornar a falta de colaboração do interessado, prevê a
lei processual penal que a delegado de polícia se valha de outros documentos emanados do punho do investigado, cuja
autenticidade já tenha sido evidenciada em juízo ou por qualquer outro meio de prova em direito admitido. Poderá,
ainda, haver requisição de documentos constantes de arquivos ou estabelecimentos público ou privados para proceder
à comparação.
• Documento em sentido amplo é qualquer coisa que represente um fato ou realização do homem;
• Documento em sentido estrito é o objeto material em que se insere uma expressão de conteúdo intelectual, por meio
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04/02/24, 14:38 Disciplina Portal
O CPP, ao tratar dos documentos como meios de prova, refere-se a eles em seu sentido estrito, conforme se percebe da
leitura do art. 232 do CPP. Assim, o referido dispositivo não considera documentos, no sentido estrito do termo, as fitas
gravadas, as fotografias e os desenhos.
No entanto, o próprio CPP, em algumas passagens, faz alusão a documentos gráficos e diretos:
• Os gráficos são representados por outra forma que não a escrita, como pinturas, esquemas, desenhos, entre outros;
• Os diretos são as fotografias e gravações, quando o fato é representado diretamente, com espeque nos arts. 170 e
479, do CPP.
Atenção
, Para fins penais e processuais penais, basta que o documento seja formalmente público para que tenha o caráter de documento
público.
A perícia é esse exame sob o corpo de delito. O Código de Processo Penal elenca algumas espécies de corpo de delito.
Vamos ver a seguir:
Alguns autores criticam o nome autópsia, pois seria equivalente a fazer o exame em si
mesmo, mas outros discordam afirmando que não tem relação alguma com o autoexame.
Essa evidência pode ser em razão dos equipamentos dos peritos ou pelo tipo de morte,
como uma morte violenta por decaptação, por exemplo.
Tratando-se de uma morte violenta é necessário que se faça o exame. Em uma morte
natural não é necessário a necropsia, uma vez que não houve delito.
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04/02/24, 14:38 Disciplina Portal
Portanto, só haverá a necessidade de necropsia se tiver que ser analisado algum elemento
interno.
Pode ocorrer a dispensa em razão da morte natural (doença ou senelidade) e morte violenta.
162, parágrafo único, CPP. Ex: decapitação. Em outras palavras, a morte violenta que não
precisa de necropsia é aquela que se evidencia a causa morte.
Não deixa de ser uma variação da necropsia. Há exames que precisam ser feitos no cadáver
após o sepultamento, porque durante a investigação se constatou que aquela pessoa foi
vítima de um erro médico, por exemplo.
Esse exame vai fornecer a extensão do dano causado na lesão corporal. Há lesões leves e
graves. Pode ser necessário o tempo para se constatar algumas lesões.
Crimes que deixam vestígios precisam de prova pericial, não podendo a testemunhal suprir
tal requisito. A exceção da prova pericial nos crimes que deixam vestígios ocorre quando for
evidente tal lesão. Os crimes que deixam vestígios são hipóteses de prova tarifada. Não
pode o juiz ter iniciativa probatória na investigação.
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04/02/24, 14:38 Disciplina Portal
Geralmente, é o exemplo dado pela doutrina de que o investigado não é obrigado a produzir
prova contra si mesmo. Acaba, portanto, sendo discutido como inconstitucional se o
investigado for compelido a realizar, no entanto, não há impedimento se realizado
voluntariamente.
Se fizermos uma interpretação literal, o citado artigo determina que todos os instrumentos
do crime sejam periciados.
No âmbito do crime de roubo, o STJ já decidiu que o emprego de arma de fogo não
precisaria de perícia, pois, o art. 157, §2º, I, CP, se refere apenas em emprego de arma de
fogo. Segundo o STJ, a eficácia da arma na situação é de causar maior perigo para a vítima
e não de efetuar disparos.
No porte ilegal de arma de fogo, o ideal é que haja o exame pericial de que tipo de arma é
aquela. Entretanto, é um crime de perigo abstrato, ou seja, o perigo é presumido.
Não são intervenções corporais. A revista não é intervenção corporal, uma vez que não há
intervenção no corpo, como a introdução de objetos por nenhuma cavidade corporal.
Intervenções corporais
Extração de sangue é uma intervenção corporal. Desnude, intervenções anais e vaginais por
se tratarem de ato invasivo, também caracterizam intervenção corporal.
Atenção
, A título de exemplo trazemos um caso concreto (galeria/aula8/docs/caso_concreto.pdf) decidido por nossos Tribunais.
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04/02/24, 14:38 Disciplina Portal
ATIVIDADES
1 - Uma pessoa pode ser objeto de prova? E a dignidade da pessoa humana prevista no art. 1º, III da CR/88?
Resposta Correta
2 - Com relação a quem possui legitimidade para exumação do cadáver, podemos afirmar que poderá(ão) determiná-la:
a) Somente o juiz.
b) Somente o delegado.
c) O perito.
d) Juiz ou delegado.
e) Parentes da vítima.
Justificativa
3 - Em se tratando do estudo da finalidade da necropsia conforme o código de processo penal, podemos afirmar que se
presta à:
b) Identificação da causa da morte, após seis horas após o óbito, ou antecipado em razão da evidência da morte.
c) Identificação da causa da morte imediatamente após o óbito, ou antecipado em razão da evidência da morte.
d) Identificação da causa da lesão corporal, após seis horas do crime, ou antecipado em razão da evidência do crime.
e) Identificação da causa do estupro, após seis horas do crime, ou antecipado em razão de sua evidência.
Justificativa
4 - Sobre os estudos do exame de corpo de delito podemos afirmar que a necropsia pode ser dispensada quando
houver:
Justificativa
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04/02/24, 14:38 Disciplina Portal
Glossário
ART. 174, INCISOS I E IV, DO CPP
Prevê a intimação da pessoa interessada a fim de que possa reconhecer documentos provenientes de seu punho, que servirão
como padrão para a comparação, ou para que forneça diretamente à autoridade o material emanado de seu punho, conforme lhe
for ditado.
Não se pode olvidar que, segundo nosso sistema constitucional, ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo e,
portanto, o suspeito não será obrigado a fornecer material para comparação e isso não caracterizará crime de desobediência e
nem poderá ser interpretado em seu desfavor.
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04/02/24, 14:40 Disciplina Portal
A investigação na área empresarial é mais um viés de trabalho, cuja responsabilidade deve ser atribuída àquele
profissional com possui perfil determinado, incansável para a busca dos fatos, com capacidade de resolução de
problemas e boa observação.
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04/02/24, 14:41 Disciplina Portal
Em razão da legislação atual, e por força da compliance há a necessidade das empresas contratarem profissionais
para investigações privadas, transformando esse mercado em expansão.
Ser hábil com a comunicação escrita também é importante porque o produto final que será entregue ao cliente é um
relatório investigativo escrito.
OBJETIVOS
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04/02/24, 14:41 Disciplina Portal
INVESTIGAÇÃO EMPRESARIAL
A investigação empresarial é amplamente utilizada atualmente por pessoas com experiência
na área da investigação criminal, em geral, policiais aposentados.
Suas tarefas geralmente são cobradas quando há suspeita de má-fé de algum funcionário que
utiliza o networking para seu próprio benefício. Como exemplo, podemos citar o uso indevido da
mala direta da empresa por sócio, concorrente ou um cliente, que tenha se apropriado do banco
de dados da empresa.
Em alguns países essa atividade é regulamentada, como nos Estados Unidos da América, em alguns Estados.
Atenção
, Para descobrir desvios de conduta e atos ilícitos praticados contra uma empresa, a investigação deve lançar mão de diversos
mecanismos operacionais e táticos para monitorar e acompanhar os alvos investigados, bem como deve saber que tipo de perícia
deverá precisar para saber apontar um assistente técnico para analisar documentos, como uma perícia contábil da empresa., ,
Após a averiguação, o investigador deve saber elaborar um relatório detalhado para fornecer ao cliente, apontando, inclusive, as
provas necessárias para a utilização judicial (processo criminal) ou extrajudicial (inquérito policial).
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04/02/24, 14:41 Disciplina Portal
Saiba Mais
, Existem diversas maneiras de realizar essa empreitada, como por exemplo, a utilização de disfarces, se fazendo passar por um
novo funcionário da empresa, da mesma forma que ocorre com o instituto do agente infiltrado. Isso permite a ação nas
dependências da empresa sem despertar suspeitas, conversar com funcionários e até mesmo simular ações ilegais por meio de
oferecimento de dinheiro ou vantagens em troca de informações, o que demonstraria o envolvimento do funcionário suspeito em
atividades criminosas.
As investigações sobre pessoas físicas são menos complexas comparadas às investigações em empresas,
que costumam ser mais delicadas e muito minuciosas, uma vez que a imagem e a reputação da organização
podem ser afetadas. Isso pode ocorrer quando há irregularidades e problemas na gestão, em razão de atividades
ilícitas de um sócio ou diretor.
Não há dúvidas de que se as falhas na empresa são causadas dolosamente por seus funcionários ou empregados,
o empregador tem todo o direito de investigar e até mesmo de entrar com uma ação contra o funcionário, seja uma
ação na Justiça do Trabalho, apresentação de uma notícia-crime na delegacia de polícia, ou ação civil para reparação
dos danos, visando bloquear eventuais enriquecimentos ou aquisições de bens, oriundos da atividade ilícita desenvolvida.
As investigações podem ser sobre um funcionário que apresentou atestado médico falso,
ou possui qualquer outro comportamento suspeito. Podem também ser por situações de perigo,
como é o caso de espionagem de concorrência ou concorrentes desleais.
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04/02/24, 14:41 Disciplina Portal
Em geral, será mais comum encontrar problemas de ordem econômica como desvios de verbas,
desvios ou subtrações de informações, por exemplo. As investigações precisam ser realizadas
sob sigilo absoluto e as provas podem ser obtidas através de gravações em ambientes internos
e externos, com a utilização de micro câmeras escondidas, associados aos disfarces na infiltração.
Saiba Mais
, As empresas que adotarem esses recursos como métodos de prevenção poderão assegurar menos prejuízos e diminuirão os
riscos, além de evitar que suas reputações sejam atingidas com a divulgação de funcionários envolvidos em escândalos de
corrupção., , Os planos de investigação devem ter por fim a execução e o desenvolvimento estratégico de inteligência e
contrainteligência, estabelecendo as medidas necessárias para proteger o cliente, sejam pessoas físicas ou jurídicas, de direito
público ou privado, de ameaças internas e externas.
Entre as atividades ilícitas empresariais, não raras vezes praticadas por funcionários e prepostos, estão a divulgação
de informações sigilosas, sabotagens, fraudes, roubos, furtos, pirataria etc. Além disso podemos destacar a
especificadamente:
Fonte da Imagem:
A atividade de investigação empresarial deve atuar na área de Transportes de bens, furto e desvio de carga, bem como
na averiguação cadastral de motoristas e auxiliares, na análise do perfil civil e criminal de funcionários, prestadores e
clientes, efetuando pesquisas em banco de dados como do SERASA, SPC, sites dos tribunais, em busca de ações civis
e criminais.
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04/02/24, 14:41 Disciplina Portal
Deve realizar exame técnico de local, em casos de crime de incêndio em grandes proporções, e atuar no levantamento
de informações sobre sua origem, causas, motivos e possível autoria, executando a coleta de informações nas
violações de direitos autorais, tais como: denúncia de fraude no uso indevido de nome empresarial, marca e patente,
oposição arbitrária de nome próprio em mercadoria de outro produtor, utilização fraudulenta de recipiente ou invólucro
de outro produtor, cópia de programas piratas etc.
Atenção
, Paralelamente aos exames de locais, é imprescindível a realização de investigação de evidências digitais armazenadas ou
transmitidas através da internet ou rede de computadores, para a elucidação de um amplo contingente de atividades ilegais e
criminosas como: homicídios, estupros, sequestros, abuso de crianças, aliciamento de menores, pornografia infantil, assédio,
fraudes, culto ou apologia a atividades criminosas ou racistas, roubo, trafico de drogas, invasão de computadores, espionagem e
terrorismo.
Essa análise pericial poderá ser de exames em sistemas de segurança, peças e componentes de veículos,
reconstituição de acidentes por computação gráfica, croqui para levantamento topográfico de locais, exame de
veículos oriundos de colisão, abalroamento, atropelamento, entre outros, incluindo os eventos de fraudes de acidentes,
de furtos ou roubos entre diversos outros crimes como:
Desabamentos e desmoronamentos
Estelionato
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04/02/24, 14:41 Disciplina Portal
a) Bancos;
b) Comércio em geral;
c) Rede hoteleira.
Fraude em cheque, cartões de crédito, documentos de identificação etc.
Contra o patrimônio
a) Colégios e universidades;
b) Rede hospitalar;
c) Edifícios e condomínios.
Crimes como dano, furto e roubo.
Tráfico
Crimes que deixam vestígios precisam de prova pericial, não podendo a testemunhal suprir
tal requisito. A exceção da prova pericial nos crimes que deixam vestígios ocorre quando for
evidente tal lesão. Os crimes que deixam vestígios são hipóteses de prova tarifada. Não
pode o juiz ter iniciativa probatória na investigação.
Pirataria
a) Colégios e universidades;
b) Comércio em geral;
Atividade artística.
COMPLIANCE
São normas que trazem diversos deveres às empresas para que não sejam sancionadas pela prática de crimes
realizados por seus funcionários ou membros, ou por seus dirigentes, denominadas lei anticorrupção, lavagem de
dinheiro e lei ambiental.
Em especial a lei anticorrupção e lavagem de dinheiro trazem o instituto da Compliance, que anuncia um “conceito que
provém da economia e que foi introduzido no direito empresarial, significando a posição, observância e cumprimento
das normas, não necessariamente de natureza jurídica.”
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Anteção
, Saliente-se, inclusive, que os setores de compliance de determinadas empresas servem como verdadeiros órgãos investigativos
e de produção probatória relativamente à verificação de irregularidades., , Assim, ante a confirmação de uma nova estrutura e
complexidade social, a figura do Compliance adquire relevo cada vez mais acentuado, circunscrevendo sua atuação e utilização a
diversas outras áreas do saber, entre elas a ciência jurídica e, em medida crescente, o direito penal. Aliás, justamente nesta
interseção, com o direito penal e a criminologia, é que reside aspecto relevante.
QUESTÃO 1
As pessoas jurídicas podem cometer crimes?
Resposta Correta
Glossário
ALTERAÇÃO DE LIMITES
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04/02/24, 14:41 Disciplina Portal
Atualmente para até mesmo analisar furto de abigeato, por força de Lei 13.330/16, danos simples e qualificados, adulterações,
exames de cofres e caixas fortes, exames de áudio e vídeo, depuração e filtragem de fitas de áudio, falsificações de documentos
e assinaturas, avaliações judiciais, processos físicos, químicos e bioquímicos, perícia médica, reconstituição de acidentes
pessoais.
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INTRODUÇÃO
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04/02/24, 14:41 Disciplina Portal
A cientificidade da ação investigativa exige uma nova metodologia de construção do perfil profissional do investigador,
hoje não é mais concebível ter como referência apenas o conhecimento empírico - que é o conhecimento adquirido
através da observação. É uma forma de conhecimento resultante do senso comum, por vezes baseado na experiência,
sem necessidade de comprovação científica - desassociado de um conhecimento técnico-científico.
A abordagem sobre o perfil do profissional adequado que pretende exercer essa atividade de investigação está
diretamente relacionada ao processo de formação que busque responder: O que este profissional precisa saber? O que
ele irá fazer? Que atitude deverá ter?
Bons estudos!
OBJETIVOS
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04/02/24, 14:41 Disciplina Portal
PERFIL DO INVESTIGADOR
O perfil do profissional de investigação deve ser balizado de acordo com a natureza
dos direitos e garantias fundamentais previstos na constituição, exigindo-se de seus
executores atributos e habilidades específicas, adequadas ao propósito de busca da
verdade de um determinado acontecimento da vida humana que desperte interesse
de outrem.
Quando se fala em atributos e habilidades específicas, vislumbramos a conclusão de que devemos direcionar nossa
análise sobre a competência profissional. Segundo define o educador francês Perrenoud (2000):
, Observe que não há como desvincular o perfil profissional do investigador das competências profissionais, que serão formatadas
pela educação profissional do indivíduo, baseada em um modelo de pensamento crítico e reflexivo, de atitude reflexiva e de
organização do pensamento.
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04/02/24, 14:41 Disciplina Portal
A seguir, tem-se uma relação de características, exemplificativas, que revelam atitudes necessárias aos integrantes
dessa atividade:
Podemos compreender que o profissional de investigação deve possuir uma gama de atributos para poder executar
seu mister com eficiência e qualidade, pois só assim irá se destacar.
Com esse perfil, podemos afirmar que o profissional possuirá habilidades para desenvolver-se nas seguintes
atividades:
1
Assessoria jurídica em segurança;
2
Assessoria em administração de segurança;
3
Assistente técnico;
4
Assistente técnico de auditoria;
5
Assistente de acusação;
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04/02/24, 14:41 Disciplina Portal
6
Assistente de defesa;
7
Assessoramento de inteligência;
8
Atividade policial.
ATIVIDADE
Vamos, agora, exercitar os seus conhecimentos.
Resposta Correta
2 - No âmbito da investigação forense, é possível encontrarmos mercado de trabalho para o desenvolvimento das
seguintes situações, fora do âmbito do concurso público:
Justificativa
São atributos do profissional de investigação identificados pelos estudos técnicos sobre o tema desenvolvido na aula:
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04/02/24, 14:41 Disciplina Portal
a) Curiosidade e interatividade.
b) Proatividade, flexibilidade e propensão a mudanças.
c) Passividade e reflexão.
Justificativa
4 - Ao se afirmar que “o processo de investigação tem data de começo, mas o final depende de uma série de fatores,
que poderão até ser previsíveis, mas, muitas vezes, estão fora do controle do investigador”, estamos diante de qual
característica do investigador?
a) Paciência
b) Resiliência
c) Tolerância
d) Bondade
e) Astúcia
Justificativa
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04/02/24, 14:41 Disciplina Portal
Glossário
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DESCRIÇÃO
PROPÓSITO
Compreender como funcionam os vários sistemas internacionais de proteção dos
direitos humanos existentes na atualidade é de absoluta importância nos âmbitos
nacionais e internacional, considerando um mundo cada vez mais globalizado e
internacionalizado.
PREPARAÇÃO
Antes de iniciar este conteúdo, tenha em mãos um dicionário jurídico para
entender determinados termos específicos da área. Tenha, também, a Convenção
Europeia de Direitos Humanos e a Convenção Americana de Direitos Humanos.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
MÓDULO 3
MÓDULO 1
(CASSIN, 1951)
É nesse contexto que nasce a Organização das Nações Unidas (ONU), criada
por meio da Carta das Nações Unidas (ou Carta de São Francisco), um tratado
internacional assinado em São Francisco (EUA), em 26 de junho de 1945, por
ocasião da Conferência de Organização Internacional da Nações Unidas.
Imagem: FDRMRZUSA/Wikimedia commons/Domínio Público
Bandeira da ONU.
A Carta das Nações Unidas dispôs que uma das principais finalidades da
organização é a promoção dos direitos humanos e sua efetivação em nível global,
assim como a manutenção da paz e da segurança internacional (arts. 1º; 13.1, b;
55, c; 62, 2; 68 e 76, c). Desse modo, logo após a sua instituição, a ONU passou
a desenvolver trabalhos específicos para o alcance de tais objetivos. O primeiro
resultado desses esforços foi a proclamação da Declaração Universal dos Direitos
Humanos (DUDH), adotada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações
Unidas (Resolução 217 A III) em 10 de dezembro de 1948.
Nas palavras de René Cassin (1951, p. 277, tradução nossa, grifo nosso), um
dos grandes juristas responsáveis pela redação do texto final, a DUDH teve como
mérito constituir o “pórtico de entrada do grande templo dos direitos humanos
que foi construído a partir dela”.
O ARCABOUÇO NORMATIVO DE
PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO
ÂMBITO DA ONU
Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados (1951).
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a
Mulher (CEDAW) (1979).
Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou
Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes (2002).
Outras regras que não são juridicamente vinculantes, mas que servem de
diretrizes e princípios para a atuação dos Estados-membros da ONU no tocante à
proteção dos direitos humanos são:
A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DE
PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO
ÂMBITO DA ONU
Foto: Vassil/Wikimedia commons/CC BY-SA 1.0
Palácio das Nações, escritório das Nações Unidas em Genebra (Suíça)
O que os une tais órgãos é a atuação da ONU, quer diretamente, por meio
daqueles da própria organização; ou indiretamente, mediante a atuação de
organismos independentes, previstos em tratados elaborados sob seu patrocínio
e que recebem apoio técnico e administrativo da organização. Vamos conferir
quais são os principais deles.
Sua principal função é promover o respeito universal aos direitos humanos por
meio da supervisão do cumprimento dos compromissos internacionais celebrados
pelos entes estatais na matéria. É composto por 47 Estados-membros, escolhidos
por votação secreta da Assembleia Geral da ONU, para um mandato de três
anos. Tem competência para promover e fiscalizar a observância da proteção de
direitos humanos pelos Estados da ONU e fazer, atualmente, a gestão do Sistema
de Procedimentos Especiais e do Mecanismo da Revisão Periódica Universal
(RPU), que são instrumentos pelos quais fiscaliza o cumprimento e a proteção
dos direitos humanos por parte dos Estados-membros da ONU.
Foto: Kjetil r/Wikimedia commons/CC BY-SA 3.0
Sala usada pelo Conselho Econômico e Social
das Nações Unidas, em Nova York (EUA).
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
SISTEMAS REGIONAIS DE
PROTEÇÃO DE DIREITOS HUMANOS
Por sua vez, no continente asiático não existe até o presente momento qualquer
documento relevante sobre a proteção dos direitos humanos e sequer uma
expectativa de conclusão de uma convenção regional ou sub-regional de direitos
humanos.
Junto à CEDH e aos seus protocolos, o sistema europeu conta atualmente com
mais de 185 instrumentos internacionais de proteção dos direitos humanos, todos
adotados pelo Conselho da Europa. Dentre eles, merecem destaque a
Convenção Europeia para a Prevenção da Tortura e de Tratamentos Desumanos
e Degradantes (1987), a Carta Europeia para as Línguas Regionais ou de
Minorias (1992) e a Convenção para a Proteção de Minorias Nacionais (1995).
OS ÓRGÃOS COMPONENTES DO
SISTEMA
Enquanto um dos órgãos inicialmente criados pela CEDH, a Comissão tinha uma
competência política e “semijudicial”. Sua função era analisar as queixas ou
comunicações apresentadas pelos Estados-membros do sistema europeu e
também pelos indivíduos (ONGs ou grupos de indivíduos), acerca de uma
violação da Convenção, buscando resolver o problema de uma maneira mais
informal e conciliatória, privilegiando-se a busca pela solução rápida.
Nesse contexto, vale ressaltarmos que o sistema europeu também se destaca por
ser o único sistema regional de proteção dos direitos humanos que permite o
acesso direto de indivíduos, ONGs e grupos de indivíduos ao TEDH (jus standi),
a fim de que possam, por meio do exercício do direito de petição (CEDH, art.
34), exigir uma reparação devido à violação de direitos por um Estado-parte na
CEDH. Essa alteração ocorreu por meio do Protocolo n.º 11; antes dele, somente
Estados e a extinta Comissão eram legitimados para provocar a Corte.
JUS STANDI
O SISTEMA REGIONAL
INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO
DOS DIREITOS HUMANOS
O sistema interamericano de proteção dos direitos humanos está arquitetado no
âmbito da OEA, uma organização de vocação regional, criada pela Carta da
Organização dos Estados Americanos (ou Carta da OEA), aprovada na IX
Conferência Internacional Pan-Americana, realizada em Bogotá, em 1948. Pode-
se afirmar que tal sistema foi “inaugurado” formalmente por esse tratado, que
destacou em seu preâmbulo a necessidade de contemplar um sistema capaz de
garantir o respeito aos direitos humanos no continente americano.
O ARCABOUÇO NORMATIVO
OS ÓRGÃOS COMPONENTES DO
SISTEMA
No tocante à sua composição, conforme dispõe o art. 52.1 da CADH, a Corte IDH
é composta de sete juízes, nacionais dos Estados membros da OEA, eleitos a
título pessoal, que devem ser pessoas de alta autoridade moral e de reconhecida
competência em matéria de direitos humanos, reunindo as condições requeridas
para o exercício das mais elevadas funções judiciais, de acordo com a lei do
Estado do qual sejam nacionais, ou do Estado que os propuser como candidatos.
Seus juízes são eleitos por um período de seis anos e só poderão ser reeleitos
uma vez (art. 54.1). A eleição ocorre por meio de votação secreta e pelo voto da
maioria absoluta dos Estados-partes da Convenção, na Assembleia Geral da
OEA, de uma lista de candidatos propostos pelos mesmos Estados (CADH, art.
53.1). Cada governo pode propor até três candidatos, nacionais do Estado que os
propuser ou de qualquer outro Estado membro da OEA. Quando for proposta uma
lista de três candidatos, pelo menos um deles deverá ser nacional de Estado
diferente do proponente (CADH, art. 53.2). Não deve haver dois juízes da mesma
nacionalidade compondo a Corte simultaneamente (CADH, art. 52.2).
De acordo com a CADH, a Corte IDH pode exercer uma função consultiva (art.
64), segundo a qual emite pareceres ou opiniões em resposta às consultas que
lhe são dirigidas pelos Estados, bem como uma função contenciosa (arts. 61, 62
e 63), de acordo com a qual analisa e julga os casos de violações de direitos
humanos que lhe são submetidos.
As sentenças proferidas pela Corte IDH são de cumprimento obrigatório por parte
dos Estados-partes na CADH em todo caso em que forem partes, conforme
disposto no art. 68.1 da CADH. O art. 67 da CADH determina que a sentença é
definitiva e inapelável, sendo que no caso de divergência sobre o sentido ou
alcance da decisão, a Corte deverá interpretá-la, a pedido de qualquer das partes.
Desde o ano de 2006, a Corte IDH já julgou dez casos envolvendo o Brasil, sendo
que apenas em um deles o país não foi condenado. São eles: Caso Ximenes
Lopes vs. Brasil (2006); Caso Nogueira de Carvalho e outros vs. Brasil (2006);
Caso Escher e outros vs. Brasil (2009); Caso Garibaldi vs. Brasil (2009); Caso
Gomes Lund e outros (“Guerrilha do Araguaia”) vs. Brasil (2010); Caso
Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde vs. Brasil (2016); Caso Cosme Rosa
Genoveva, Evando de Oliveira e outros (“Favela Nova Brasília”) vs. Brasil (2017);
Caso do Povo Indígena Xucuru e seus membros vs. Brasil (2018); Caso Herzog e
outros vs. Brasil (2018); e Caso Empregados da Fábrica de Fogos de Santo
Antônio de Jesus e seus familiares vs. Brasil (2020).
Além dos casos já julgados, até o presente momento outros três casos
envolvendo o país encontram-se pendentes de julgamento. São eles: Caso
Barbosa de Souza e outros vs. Brasil (2019), Caso Barbosa de Souza e outros vs.
Brasil (2020) e Caso Tavares Pereira e outros vs. Brasil (2021).
A execução forçada das decisões da Corte IDH, em sentido próprio, não existe.
Os casos de não cumprimento dessas decisões por parte de um Estado
condenado podem ser levados ao conhecimento da Assembleia Geral da OEA por
meio de um relatório anual. Desse modo, é ativado um shaming mechanism
(mecanismo da vergonha), visando motivar o Estado envolvido à execução da
decisão.
O ARCABOUÇO NORMATIVO
OS ÓRGÃOS COMPONENTES DO
SISTEMA
A Comissão é composta por onze membros, que devem ser escolhidos entre
personalidades africanas que gozem da mais alta consideração, conhecidas pela
sua alta moralidade, sua integridade e sua imparcialidade, e que possuam
competência em matéria dos direitos humanos e dos povos (art. 31). São eleitos,
a título individual (para uma atuação com independência), por escrutínio secreto
pela Conferência dos Chefes de Estado e de Governo, de uma lista de pessoas
apresentadas para esse efeito pelos Estados-partes na Carta ADHP (art. 33). Os
membros da Comissão são eleitos para um mandato de seis anos, sendo
renovável (art. 36).
A Comissão ADHP exerce sua função de proteção dos direitos humanos mediante
aceitação (i) de petições individuais, que lhe são enviadas por indivíduos ou
ONGs, denunciando violações de direitos previstos na Carta ADHP, bem como (ii)
de comunicações estatais, feitas pelos Estados-partes da Carta, nas quais
igualmente denunciam tais violações.
A Corte ADHP foi criada pelo Protocolo à Carta Africana dos Direitos
Humanos e dos Povos (art. 1º), adotado em 10 de junho de 1998, por ocasião
da 34ª Sessão Ordinária da Conferência dos Chefes de Estado e de Governo da
Organização de Unidade Africana (atual União Africana), reunida em
Ouagadougou, no Burkina Faso. O Protocolo entrou em vigor internacional em 25
de janeiro de 2004 e a Corte foi oficialmente inaugurada em 2006, tendo a sua
sede permanente em Arusha, República Unida da Tanzânia.
A Corte é composta por onze juízes, que devem ser nacionais dos Estados-
membros da UA. São eleitos por sua capacidade individual e devem ter elevada
reputação moral e reconhecida competência em matéria de direitos humanos e
dos povos, não podendo haver dois juízes nacionais do mesmo Estado
(Protocolo, art. 11). Os juízes são eleitos para um mandato de seis anos e podem
ser reeleitos uma única vez (Protocolo, art. 15.1).
Podem submeter casos à Corte ADHP: (i) a Comissão ADHP; (ii) o Estado-parte
que submeteu o caso perante a Comissão; (iii) o Estado-parte contra o qual o
caso na Comissão foi submetido; e, (iv) as organizações africanas
intergovernamentais (Protocolo, art. 5.1).
Tal como ocorre com a Corte IDH, a Corte ADHP tem uma competência
consultiva e também contenciosa.
COMPETÊNCIA CONSULTIVA
No exercício de sua competência consultiva, a pedido de um Estado-membro da
União Africana, da própria UA, de um de seus organismos ou de uma organização
africana reconhecida pela UA, a Corte ADHP pode emitir pareceres ou opiniões
consultivas sobre a interpretação da Carta ADHP ou de outro instrumento de
direitos humanos (Protocolo, art. 4º).
COMPETÊNCIA CONTENCIOSA
No tocante à sua competência contenciosa, a Corte ADHP tem competência por
todos os casos e litígios que lhe forem apresentados relativos à interpretação e
aplicação da Carta ADHP, do Protocolo sobre o estabelecimento da Corte e de
outros instrumentos de direitos humanos que tenham sido ratificados pelos
Estados envolvidos (Protocolo, art. 3º).
VERIFICANDO O APRENDIZADO
D) Que esses sistemas não guardam nenhuma relação com o sistema onusiano
de proteção dos direitos humanos, não atuando de maneira complementar a este
último.
B) Que juízes da Corte Interamericana são eleitos por um período de sete anos e
só poderão ser reeleitos uma única vez.
GABARITO
A alternativa A está incorreta, pois o sistema europeu tem hoje apenas um órgão,
que é o TEDH. A alternativa C está incorreta, visto que o sistema africano tem
como tratado regente a CADHP; a alternativa D está incorreta, pois os sistemas
regionais e onusiano são complementares e não excludentes; a alternativa E está
incorreta, dado que o indivíduo não pode acessar diretamente a Corte, apenas a
Comissão Interamericana.
MÓDULO 3
Descrever finalidade, competência, composição e atuação do Tribunal
Penal Internacional na proteção dos direitos humanos.
O TRIBUNAL PENAL
INTERNACIONAL E O DIREITO PENAL
INTERNACIONAL
O ESTATUTO DE ROMA DO
TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL E
A CRIAÇÃO DO TRIBUNAL PENAL
INTERNACIONAL (TPI)
O TPI foi criado pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, um
tratado internacional adotado pela Conferência das Nações Unidas de
Plenipotenciários para o Estabelecimento de um Tribunal Penal Internacional, em
17 de julho de 1998. Entrou em vigor em 1° de julho de 2002, conforme
estabelecido em seu art. 126, e somente os Estados que expressaram
formalmente o seu consentimento são obrigados a se submeter às previsões do
TPI.
Foto: Hypergio/Wikimedia commons/CC BY-SA 4.0
Edifício do Tribunal Penal Internacional, em Haia, na Holanda.
I – Criação do Tribunal
VI – O julgamento
VII – As penas
X – Execução da pena
XII – Financiamento
PRINCIPAIS ASPECTOS DO
TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL
Instalado oficialmente em 11 de março de 2003, em Haia, na Holanda, o TPI foi
criado (Estatuto, art. 1º) mediante o reconhecimento pelos Estados de que
“milhões de crianças, homens e mulheres têm sido vítimas de atrocidades
inimagináveis que chocam profundamente a consciência da humanidade”, e que
“os crimes de maior gravidade, que afetam a comunidade internacional no seu
conjunto, não devem ficar impunes e que a sua repressão deve ser efetivamente
assegurada através da adoção de medidas em nível nacional e do reforço da
cooperação internacional”, conforme dispõe o Preâmbulo do Estatuto.
ATENÇÃO
COMPETÊNCIA
CRIME DE GENOCÍDIO
Extermínio
Escravidão
Tortura
Crime de apartheid
Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
CRIMES DE GUERRA
O Estatuto determina que, no caso de conflitos armados que não sejam de índole
internacional, também são considerados crimes de guerra as graves violações do
artigo 3º comum às quatro Convenções de Genebra, consistentes nos atos
descritos no art. 8.2(c) do Estatuto, cometidos contra pessoas que não participem
diretamente nas hostilidades, incluindo os membros das forças armadas que
tenham deposto armas e os que tenham ficado impedidos de continuar a
combater devido à doença, lesão, prisão ou a qualquer outro motivo, assim como
outras graves violações das leis e costumes aplicáveis aos conflitos armados que
não têm caráter internacional, no quadro do Direito Internacional, conforme os
atos enumerados no art. 8.2(e) do Estatuto.
CRIME DE AGRESSÃO
Inicialmente, não havia no Estatuto de Roma uma definição do que seria o crime
de agressão. Previa-se somente que o Tribunal poderia exercer a sua
competência em relação a tal crime desde que, nos termos dos arts. 121 e 123 do
Estatuto, fosse aprovada uma disposição definindo o crime em questão —
obrigatoriamente compatível com as disposições pertinentes da Carta das Nações
Unidas (art. 5.2) — e que se enunciassem as condições em que o Tribunal teria
competência relativamente a esse crime.
COMPOSIÇÃO E FUNCIONAMENTO
O TPI é composto atualmente por 18 juízes, eleitos pela Assembleia dos Estados-
partes no Estatuto. Seus membros devem ser pessoas de elevada idoneidade
moral, imparcialidade e integridade, que reúnam os requisitos para o exercício
das mais altas funções judiciais nos seus respectivos países, e têm mandatos de
nove anos não renováveis (Estatuto, art. 36). No âmbito de suas atividades,
garantem julgamentos justos e proferem suas sentenças, emitem mandados de
prisão ou intimações para o comparecimento perante o Tribunal, autorizam as
vítimas a participar dos julgamentos e ordenam medidas de proteção às
testemunhas, dentre outras atividades. Também elegem, entre si, o presidente do
Tribunal e dois vice-presidentes.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) Seus juízes são eleitos para mandatos de nove anos, permitida uma reeleição.
B) Seus juízes são eleitos para mandatos de cinco anos, não renováveis.
C) Seus juízes são eleitos para mandatos de nove anos, não renováveis.
D) Seus juízes são eleitos para mandato de seis anos, permitida uma reeleição.
E) Seus juízes são eleitos para mandato de seis anos, não renováveis.
GABARITO
Os juízes são eleitos para o exercício de um mandato de nove anos que não é
renovável, nos termos do art. 36.9(a) do Estatuto de Roma.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final deste estudo, podemos concluir que os direitos humanos atualmente não
apenas são tutelados pelos ordenamentos jurídicos internos dos países, mas
também contam com sofisticados esquemas de proteção no âmbito internacional.
REFERÊNCIAS
AMBOS, K. A construção de uma parte geral do Direito Penal Internacional.
In: AMBOS, K.; JAPIASSÚ, C. E. A. Tribunal Penal Internacional: possibilidades e
desafios. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, p. 1-31.
EXPLORE+
Que tal aprofundar o seu estudo sobre direitos humanos e os sistemas que os
protegem?
Ainda sobre a proteção dos direitos humanos no continente europeu, leia o artigo
de autoria de Luciano Meneguetti Pereira e Ana Paula Grossi, intitulado A
Proteção dos Direitos Humanos no Continente Europeu: Breves Apontamentos,
disponível na Revista Fides.
Por fim, para complementar os seus estudos, acesse o material sobre os sistemas
internacionais de proteção dos direitos humanos, desenvolvido pela Procuradoria
Federal dos Direitos do Cidadão.
CONTEUDISTA
Luciano Meneguetti Pereira
CURRÍCULO LATTES