Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                
0% acharam este documento útil (0 voto)
50 visualizações43 páginas

Projectoo de Monografia 2021

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1/ 43

1

Luís Nobre Vicente Gabriel Chabuca

Comportamento eleitoral no município de Montepuez: uma análise sócio histórica das


eleições de 2013-2018.

Licenciatura em ensino de História com Habilitação em Documentação

Universidade Rovuma

Extensão de Cabo Delgado

2021
2

Luís Nobre Vicente Gabriel Chabuca

Comportamento eleitoral no município de Montepuez: uma análise sócio histórica das


eleições de 2013-2018.

Projecto de pesquisa a ser entre no


Departamento de Letras e Ciências Sociais
para apresentação nas Jornadas Científicas
Estudantis.

Supervisor

__________________________

Mouzinho M. L. Manhalo

Universidade Rovuma

Extensão de Cabo Delgado

2021
3

Índice

Introdução........................................................................................................................................3

1. Tema............................................................................................................................................4

1.1. Objecto de estudo.....................................................................................................................4

1.2. Objectivos do estudo.................................................................................................................4

1.2.1. Objectivo geral.......................................................................................................................4

1.2.2. Objectivos específicos...........................................................................................................4

1.3. Problematização........................................................................................................................5

1.4. Justificativa...............................................................................................................................6

1.5. Hipóteses...................................................................................................................................7

2. Metodologia.................................................................................................................................8

3. Universo e amostra da pesquisa.................................................................................................10

3.1. Universo da População...........................................................................................................10

3.2. Amostra da pesquisa...............................................................................................................10

4. Quadro teórico...........................................................................................................................10

4.1. Contextualização.....................................................................................................................10

4.1.1. Comportamento eleitoral no contexto internacional............................................................10

4.1.1.1. Perspectiva Sociológica....................................................................................................12

4.1.1.2. Perspectiva Psico-sociológica...........................................................................................12

4.1.1.3. Perspectiva de Escolha Racional......................................................................................13

4.1.2. Comportamento eleitoral no contexto africano...................................................................14

4.1.3. Comportamento eleitoral no contexto Moçambicano..........................................................18

4.2. Caracterização histórico-política de Moçambique desde 1975 – 1990 e de 1998-2018.......19

4.3. Eleições autárquicas em Moçambique....................................................................................24


4

4.3.1. Primeiras eleições autárquicas de 1998...............................................................................24

4.3.2. Segunda eleição autárquica de 2003....................................................................................26

4.3.3. Terceira eleições autárquicas de 2008.................................................................................28

4.3.5. Quintas eleições autárquicas de 2018..................................................................................31

4.4. Análise da distribuição geográfica do voto (em Cabo Delgado): sentido de voto.................33

4.5. Análise da distribuição do voto por partido (em Montepuez) no ano 2013 e 2018...............34

4.5.1. Distribuição do voto por partido..........................................................................................34

5. Orçamento..................................................................................................................................35

6. Cronograma das Actividades.....................................................................................................36

Referências Bibliográficas.............................................................................................................37
3

Introdução

O projecto em destaque versa sobre: Comportamento eleitoral no município de Montepuez: uma


análise sócio histórica das eleições de 2013-2018.

As eleições representam o cerne do processo de participação política democrática. Embora


Moçambique não tenha presenciado os casos de extrema violência e fraude que têm afectado
certos países africanos, seus processos eleitorais têm, contudo, sido marcados por acusações de
fraude, alto nível de desconfiança entre os partidos políticos e alguns incidentes graves, o que
sinaliza para a fragilidade das instituições democráticas no país. Ao longo dos anos,
Moçambique tem enfrentado sérias dificuldades no estabelecimento de um governo estável e
democrático no país. O país conquistou sua independência somente em 1975, quinze anos depois
da maioria dos países africanos, tendo o poder colonial deixado poucos recursos para trás. Na
sequência, o país foi quase imediatamente envolvido numa sangrenta guerra civil, em grande
parte financiada pelos regimes brancos minoritários da Rodésia e, depois, África do Sul.

Entretanto, em 1990, quando já se iniciavam as negociações de paz, o Estado Moçambicano


outorgou uma nova constituição, a qual simbolizou mudanças radicais nas instituições do país.
Moçambique deixou para trás, ao menos formalmente, a sua experiência com o sistema político
monopartidário para assumir e consagrar as regras de um regime democrático, de feições liberais
e pluripartidário.

O multipartidarismo é um fenómeno bastante recente em Moçambique e, desde as primeiras


eleições multipartidárias em 1994, a vida política do país tem sido dominada pela FRELIMO e a
RENAMO, constituindo desde já uma bipolarização política. Isto é, o sistema político partidário
é capturado por estes dois partidos, mas, com uma tendência hegemónica por parte da
FRELIMO.

O presente projecto comporta a seguinte estrutura: Capitulo I – Introdução (Tema, Objecto de


estudo, Objectivos, Problematização, Justificativa, Hipóteses,), Capitulo II – Metodologia,
Capitulo III – Referencial teórico, Capitulo IV – Orçamento e Capitulo V – Cronograma de
actividades.
4

1. Tema

Comportamento eleitoral no município de Montepuez: uma análise sócio histórica das eleições
de 2013-2018.

Delimitação Espacial: A pesquisa será realizada no município de Montepuez;

Delimitação Temporal: A pesquisa pretende estudar o acto eleitoral de 2013 e 2018.

1.1. Objecto de estudo

O objecto de estudo cinge-se sobre o comportamento eleitoral dos munícipes da cidade


de Montepuez.

1.2. Objectivos do estudo

De forma a alcançar as metas pretendidas com a escolha do tema em estudo, foram traçados os
objectivos, sendo o primeiro geral e a posterior os específicos.

1.2.1. Objectivo geral

Compreender o comportamento eleitoral dos munícipes da cidade de Montepuez nas


eleições autárquicas de 2013 e 2018, numa perspectiva comparada.

1.2.2. Objectivos específicos

Identificar os determinantes do voto dos eleitores da cidade de Montepuez do ano 2013 e


2018;

Descrever os determinantes do voto nas eleições autárquicas de 2013 e 2018, numa


perspectiva comparada;

Explicar a tendência do voto dos munícipes de Montepuez dos actos eleitorais de 2013 e
2018 numa perspectiva sócio histórica e comparada.
5

1.3. Problematização

A democracia em Moçambique emerge com os processos históricos de transição política


relacionada com o fim da guerra civil de 16 anos que opôs entre o governo e o movimento
político Renamo que se oponha as políticas do governo da Frelimo e com a institucionalização
da nova Constituição da República de Moçambique de 1990. Estes processos contribuíram para a
implementação da democracia multipartidária, que coincide com a “terceira onda de
democratização” (Huntington, 1991) em que a maior parte dos estados africanos estiveram
envolvidos nesses processos. Neste contexto, adoptou-se o regime democrático multipartidário,
em que os estudos apelidam da “democracia eleitoral” (Diamond, 2002). Um regime que garante
aos cidadãos direitos civis e políticos, nomeadamente: o direito de votar e de ser eleito, a
liberdade de se organizarem em associações e em partidos políticos.

Não obstante, a implementação da referida democracia eleitoral, Nohlen, Krennerich, & Thibaut
(1999, p. 1) sustentam que as eleições passaram a ser parte da tradição política e democrática
africana após os processos das independências políticas desde a década de 1950 à de 1990. Para
aqueles autores, a África registou nesse momento mais de 18 eleições para as assembleias
constitucionais, 186 para as eleições presidenciais, 311 eleições parlamentares e foram
registadas, 115 referendos. Neste estudo empírico, os autores mostram como é que as eleições
nos países africanos se realizam com uma grande frequência e em situações políticas muito
difíceis. Consideram que o carácter competitivo e a função política das eleições variam bastante,
de país para país e de acordo com as políticas de desenvolvimento de cada Estado.

Esta tendência, também, é observada em relação ao comportamento eleitoral, pois os estudos


referem que, o mesmo varia de região por região. Para o caso de Moçambique no geral a
literatura denota, uma tendência de voto sob influência de variáveis: regional, étnico, social,
histórico, geográfico e económico. Para o nosso estudo, caso da cidade de Montepuez em
particular, tem como foco a analise das tendências do voto sob as influências das clivagens sócio
históricas e económicas. É um tópico que, ainda não se fez um estudo aprofundado para
compreender os determinantes do voto dos eleitores, em todos actos eleitorais, sobre tudo as
autárquicas desde o primeiro ano das eleições 1998 até 2018, onde os resultados de acordo com
estudo recente de Terenciano (2014), indicam que na Província de Cabo Delgado há uma
6

permanente e continua tendência do eleitorado depositar seu voto a favor de um único partido,
que esta no poder.

Nesta óptica, levanta-se a seguinte questão de investigação: quais as variáveis explicativas do


comportamento eleitoral dos cidadãos eleitorais na Autarquia de Montepuez em 2013 e 2018?

1.4. Justificativa

A ousadia da escolha deste tema surge pelo facto do autor ter um profundo interesse de acrescer
os estudos existentes que de certa forma concernem na temática do comportamento eleitoral na
literatura Moçambicana, mas partindo da conjuntura sociopolítica e histórica. Tendo em conta a
insuficiência de estudos que analisam com profundidade o comportamento eleitoral dos cidadãos
em Moçambique, particularmente na Província de Cabo Delgado, onde a FRELIMO tem
ganhado todas as eleições, com maioria qualificada. Neste contexto, pretende-se desenvolver um
estudo, que análise, em parte, os determinantes do comportamento eleitoral dos cidadãos, numa
perspectiva sócio histórica e económica, e por outro, o estudo pretende enriquecer a literatura
existente. Dado que, a pouca literatura que existe, no caso do estudo de Terenciano não aborda a
tendência do voto nas eleições autárquicas, o presente estudo ira analisar a tendência do voto nas
eleições autárquicas de Montepuez. No entanto, a realização do estudo neste município ira
contribuir significamente na percepção das dinâmicas no que refere ao comportamento eleitoral
em Moçambique.

Além da motivação académica, a outra motivação é histórica, ou seja, a escolha deste tema
prende-se, fundamentalmente, ao papel histórico que as eleições desempenham enquanto direito
cívico dos cidadãos, como uma das vias mais privilegiada que os cidadãos têm para elegerem os
seus representantes de forma democrática e há que aliar a estes factores o poder que as eleições
têm na manutenção do poder político na sociedade moçambicana e na cidade de Montepuez em
particular. Neste caso, interessa-nos, sobretudo destacar os factores que determinam o
comportamento eleitoral dos cidadãos eleitorais em Montepuez numa perspectiva histórica.

Pretende-se desenvolver a investigação na cidade de Montepuez como um estudo de caso, com


perspectiva de aprofundar as preferências políticas dos eleitores, e por conseguinte a dispersão
7

do voto, esta abordagem parte de um princípio que um assunto pouco explorado, precisa ser
analisado com uma amostra relativamente menor (Della Porta, 2008).

Este tema é relevante na sociedade no geral na medida em que ao procurarmos entender as


razões que determinam o comportamento do eleitorado no município de Montepuez, que para
além deste município estes factores podem ser verificados em outros pontos do país. Por sua vez,
este tema ira consciencializar a sociedade em geral sobre a importância da escolha dos seus
representantes, para que estes sirvam de porta-vos dos interesses dos cidadãos. E esta equação
constituí um factor vital para o bem-estar e próprio desenvolvimento socioeconómico do País.

Em relação o período em estudo escolheu-se por uma questão metodológica, ou seja, pretende-se
aprofundar o objecto de estudo, tendo em conta, como refere Della Porta (2008) um assunto
pouco explorado precisa ser analisado com uma amostra não muito extensiva. Não menos
importante, pretendemos analisar os dois mandatos governados por um único presidente Cecílio
Chabane.

1.5. Hipóteses

H1: O comportamento eleitoral dos eleitorados da Autarquia de Montepuez, seja para as


eleições de 2013 bem como 2018 é associado a forte ligação histórica com o partido
FRELIMO devido ao seu papel na luta de libertação nacional de Moçambique, onde a
província de Cabo Delgado é o berço da mesma, como resultado disso eleitores do município
de Montepuez se identificam com o partido.

H2: Outra variável do voto tem sido influenciada pelas condições socioeconómicas dos
indivíduos, privilegiando, sobretudo, o aspecto educacional e renda. A escolarização bem
como a renda tem sido apontada como factores que predispõe favoravelmente aos eleitores
na escolha dos seus representantes em Montepuez. A questão da renda, a literatura defende
como uma questão de sobrevivência, tendo em conta que, maior parte dos eleitores na cidade
de Montepuez são funcionários públicos, estes querem garantir o seu pão fornecido por
Partido-Estado1.

1
O entendimento sobre Estado-Partido em Moçambique resulta da forte influência partidária do partido no poder
sobre os órgãos do Estado, bem assim, sobre os órgãos de administração da justiça.
8

H3: A escolha racional tem sido um dos elementos da dispersão do voto em Montepuez.
Neste contexto, a avaliação do desempenho do Governo na economia é determinante na
escolha do eleitorado. Esta abordagem é inspirada pela teoria da escolha racional, que
considera a decisão do voto como produto de uma acção racional individual orientada por
cálculos de interesse, que levam o eleitor a se comportar em relação ao voto como um
consumidor no mercado.

H4: A bipolarização das negociações do acordo de paz contribuiu para que o eleitorado
continuasse polarizado em torno da clivagem de guerra. O que em parte explica os padrões
geográficos de voto, onde a Renamo é mais forte nas províncias centrais do país e nas áreas
rurais onde teve maior apoio no período da guerra civil, e a Frelimo imbatível no sul e norte
do pais Província de Cabo Delgado. Além de influenciar o padrão de competição entre os
partidos, o passado de guerra também tem efeitos no envolvimento dos cidadãos na vida
política do país.

2. Metodologia

A pesquisa será explicativa: A preocupação central é identificar os factores determinantes do


voto nas eleições autárquicas de 2013 e 2018, numa perspectiva comparada. A razão da escolha
deste tipo de pesquisa é por ser a que mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque
explica a razão, o porquê das coisas.

Neste pressuposto, pela natureza do objecto de estudo do projecto em destaque, a metodologia


será mista, isto é, usar-se-á diferentes métodos e técnicas de recolha de dados, baseado em dados
quantitativos e qualitativos.

Como nos referimos, pela natureza do estudo, o método de investigação será “Histórico” que
parte do princípio de que as actuais formas de vida e de agir na vida social, as instituições e os
costumes têm origem no passado, por isso é importante pesquisar suas raízes para compreender
sua natureza e função, no entanto, o método histórico nos permitira recolher informações sobre a
formação dos partidos políticos parlamentares em Moçambique e sobre tudo a formação do
partido FRELIMO, para analisar a conexão que existe entre este e os eleitores da província de
Cabo Delgado e da cidade de Montepuez em particular.
9

Essa análise através de perspectivas históricas tornara, importante para compreender a lealdade
contínua dos eleitores do município de Montepuez ao depositar o seu voto ao partido no poder e
seus candidatos autárquicos em todos pleitos eleitorais.

Também será usado o método estatístico, que consistira na análise estatística de dados dos
resultados das eleições autárquicas de 2013 e 2018, a fim de representá-los em gráfico, indicando
a sua distribuição por partidos e por candidato e por assembleia de voto. De frisar que, os dados
serão extraídos das bases de dados, do portal do governo moçambicano e da comissão nacional
de eleições, ao nível do Distrito.

Será também usado o método comparativo este que consistira em investigar os actos eleitorais e
explicá-los segundo suas semelhanças e suas diferenças. Com este método o autor pretende fazer
uma análise comparativa do comportamento eleitoral na cidade de Montepuez nas eleições
autárquicas de 2013 e 2018, afim de perceber as variáveis do comportamento dos munícipes nos
dois pleitos eleitorais que por sinal foram governados por um único candidato Cecílio Chabane.

Portanto, ao nível da análise de dados iremos recorrer a abordagem qualitativa em que consistira
na análise da variável independente, isto é, o “comportamento eleitoral” dos eleitores do
município de Montepuez e das variáveis dependentes, nomeadamente: a variável étnico-regional,
socioeconómica (o nível de escolaridade, índice de pobreza e as fontes da renda), cultural,
histórica e clivagem de guerra, para compreender se as referidas variáveis são significativas nos
comportamentos dos eleitores.

De igual modo iremos recorrer na análise de dados a abordagem quantitativa que consistira na
análise de variáveis quantitativas discretas no que diz respeito o número total dos inscritos nos
cadernos eleitorais, o número dos votantes, votos válidos, votos em branco, e votos nulos, bem
como a distribuição de votos por partido e por candidatos.

Quanto as técnicas de recolha de dados, serão usadas duas técnicas, nomeadamente o inquérito
por questionário e análise documental. No entanto, será conduzido um inquérito para os cidadãos
eleitores do município de Montepuez, de idade compreendida entre 18-60 anos, este intervalo de
anos por se compreender que, os cidadãos com 18 anos estão aptos em votar. No entanto, esta
10

técnica foi escolhida com objectivo de abranger maior número possível do grupo alvo de
pesquisa.

A análise documental consistira no levantamento de actas das assembleias de voto e os


respectivos editais, para aferir o valor percentual e a distribuição do voto de cada partido político
e dos candidatos autárquicos, naqueles pleitos eleitorais.

Esta técnica ira permitir extrairmos do documento toda a sua substância através da “análise
externa”, como uma das técnicas em Ciência Política, dado que o objecto do estudo esta
ancorado nesta área científica, tal significa, “a análise externa, orientar-se-á para o
esclarecimento do contexto em que surgiu o documento e do impacto social que veio a ter”
(Fernandes, 2010, p. 60).

3. Universo e amostra da pesquisa

3.1. Universo da População

De acordo com trabalho em destaque o universo, vai-se basear com os eleitores inscritos nos
cadernos eleitorais de 2013 e 2018.

3.2. Amostra da pesquisa

Do número estimado, será conduzido um inquérito por questionário para duzentos e cinquenta
(250) cidadãos eleitores do município de Montepuez.

4. Quadro teórico

4.1. Contextualização

Nesta parte pretende-se fazer a contextualização do comportamento eleitoral sob o ponto de vista
da literatura internacional, de seguida no contexto Africano e por último no contexto
Moçambicano, sem descartar a conceptualização do termo comportamento eleitoral.

4.1.1. Comportamento eleitoral no contexto internacional

O comportamento eleitoral refere-se a um processo social que se desenvolve ao longo do tempo


e se desdobra em três etapas, sendo que cada uma dessas etapas sofre influências da
11

comunicação política transmitida pela imprensa ou propaganda eleitoral ou ainda por meio das
interacções sociais (Limeira & Maia, 2010, p. 45).

A primeira etapa é o processo de formação de opinião, que se inicia quando o eleitor passa a
ficar atento às informações sobre os partidos políticos, que são transmitidas na mídia ou na
propaganda eleitoral ou, ainda, nas conversas entre amigos. O resultado desse processo é o
eleitor com opinião formada, o que pode ocorrer rapidamente, mas, em alguns casos, pode ser
que o eleitor não forme sua opinião até o dia da eleição. À medida que o eleitor vai recebendo
mais informações ao longo da campanha, ele pode formar, manter ou mudar sua opinião diversas
vezes.

Na etapa seguinte, à medida que se aproxima o dia da eleição, os eleitores decidem em que
partidos vão votar. Esta decisão, no entanto, nem sempre é mantida, podendo ser alterada até no
dia da votação. Ou, em alguns casos, o eleitor se mantém indeciso ao longo da campanha
eleitoral e somente se decide quando está na urna de votação.

Na última etapa, que é a do exercício do voto, são variados os comportamentos: há eleitores que
mantêm sua decisão e votam no partido previamente escolhido; há aqueles que mudam de
decisão e votam em outro partido; outros se mantêm indecisos e escolhem o partido na hora da
votação; outros decidem anular o voto; e, ainda, há outros que decidem não votar (abstenção)
(Limeira & Maia, 2010, p. 46).

Dentro dessa abordagem, Cavallari (2009), explicou que o processo de formação da opinião
pública ocorre ao longo do tempo e é influenciado pelos argumentos que os eleitores recebem de
cada candidato. As relações interpessoais são também importantes para a tomada de decisão
final. Por meio de conversas com familiares e amigos, a população vai reunindo argumentos para
formar a sua opinião (Idem).

O comportamento eleitoral, são atitudes políticas que se expressam sob forma de opinião
(Terenciano, 2014, p. 29) que se resume pelo interesse na política, identificação partidária, o tipo
de participação eleitoral e o sentido do voto (Antunes, 2008, p. 115).
A literatura sugere que as decisões eleitorais dos cidadãos seguem a dois pólos,
nomeadamente a racionalidade avaliativa (escolha baseada na avaliação de desempenho
governamental) e a não-avaliativa (escolha baseada em afinidades e identidades”. sobre
estes dois pólos assentam-se as três correntes teóricas clássicas ou modelos teóricos que
12

procuram perceber a formação de ideias que levam à decisão eleitoral, designadamente a


Sociológica, a Psico-sociológica (Identificação Partidária) e a Escolha Racional
(Lindberg & Morrison, 2008).

Entretanto, apesar de baseadas em diferentes pressupostos, as três teorias estão intelectualmente


ligadas na sua explicação do voto; umas são originadas a partir de outras em forma de
complementaridade (Evans, 2004; Anderson & Heath, 2000).

4.1.1.1. Perspectiva Sociológica

A perspectiva sociológica utiliza uma abordagem de tipo macro para explicar o comportamento
político dos indivíduos, enfocando as condições sociais que constituem o contexto no qual as
instituições, as práticas, as ideologias e os objectivos políticos se formam e actuam. O
fundamental para a perspectiva sociológica é o contexto em que os indivíduos actuam, no qual as
principais variáveis são as socioeconómicas, as demográficas e as ocupacionais, e sua
preocupação central está em mostrar como tais variáveis possuem relações com o
comportamento eleitoral (Castro, 1992).

Entretanto, a conclusão mais geral a que chegaram é que a influência do grupo ao qual pertence o
eleitor é importante para explicar sua escolha partidária. Eleitores que trabalham ou vivem juntos
votam mais provavelmente nos mesmos candidatos. Indivíduos em situação social semelhante
têm mais probabilidade de interagir; se vivem juntas, e em condições externas equivalentes, as
pessoas provavelmente desenvolvem necessidades e interesses semelhantes, tendem a ver o
mundo da mesma maneira e a dar interpretações parecidas a experiências comuns. Mais ainda:
na decisão de votarem determinado partido ou candidato, parece mais importante a influência do
"líder de opinião", que se comunica com cada eleitor dentro de seu grupo, do que os
instrumentos formais de campanha política através dos meios de comunicação de massas (Idem).

4.1.1.2. Perspectiva Psico-sociológica

Modelo psicossocial tem a sua origem nos estudos conduzidos pelo Survey Research I Centre da
Universidade de Michigan durante as eleições presidenciais americanas de 1948, cujos resultados
foram analisados por Campbell e Kahn (1952) em The People Elect a President; nas eleições de
1952. Estes trabalhos marcam o inicio de uma longa serie de estudos conduzidos pelo Survey
13

Research Centre e, mais recentemente, pelo Center of Political Studies da Universidade de


Michigan, que se prolongam ate aos nossos dias (Antunes, 2008, p. 28).

Porém, conceito central deste modelo do comportamento eleitoral é o de identificação partidária,


que é concebida como uma afinidade psicológica, estável e duradoura em relação a um partido
político, que não se traduz necessariamente numa ligação concreta, designadamente, inscrição,
militância ou votação consistente e sistemática nesse partido.
A noção de identificação partidária, introduzida no estudo do comportamento eleitoral
por Campbell et al. (1960), foi influenciada pelo conceito de grupo de referência (Hyman
& Singer, 1968) e tem analogias com a ideia de socialização antecipatória introduzida por
Merton e Kitt (1950) para definir as situações em que os sujeitos escolhem um grupo de
referência ao qual não pertencem e começavam a agir de acordo com aquilo que
percepcionam como sendo as normas desse grupo (Idem).

De acordo com estes autores, a identificação partidária adquire-se através de um processo de


socialização, por influência dos valores e atitudes da família, dos colegas e dos pares, num
processo que Miller el Shanks (1996) consideram semelhante aquele que leva os sujeitos a
identificarem-se com uma religião.

Nesta perspectiva, a identificação partidária não é vista como a variável que nos diz de forma
directa e inequívoca qual a opção de voto de um sujeito. Campbell et al. (1960) descrevem a
identificação partidária como um filtro perceptivo, através do qual os eleitores valorizam aquilo
que é favorável à orientação do seu partido e ignoram ou desvalorizam aquilo que lhe e
desfavorável.

4.1.1.3. Perspectiva de Escolha Racional

Os pressupostos teóricos para uma explicação económica do comportamento eleitoral foram


apresentados por Anthony Downs (1957) na obra "An Economic Theory of Democracy". Esta
teoria é habitualmente referenciada como teoria da escolha racional (rational choice theory).
Trata-se de uma tentativa de explicar o comportamento político tendo como ponto de
partida os trabalhos realizados no âmbito da economia política por Kenneth Arrow (1951;
1986) em que se relacionam parâmetros económicos, recursos, bens e tecnologia - com
um resultado ou escolha. O Pressuposto é simples: se as hipóteses de escolha racional são
capazes de explicar o funcionamento do mercado, então também podem explicar o
funcionamento político. Estabelece-se uma analogia directa entre consumidores e
votantes e entre empresas e partidos políticos (Antunes, 2008, p. 33).
14

Portanto, se as empresas procuram maximizar os ganhos e os consumidores agem no sentido de


maximizar a utilidade podemos, então, teorizar no sentido de que os eleitores procuram
maximizar a utilidade do seu voto enquanto os partidos agem no sentido de maximizar os ganhos
eleitorais obtidos com as suas propostas políticas.

Os estudos sobre as teorias do voto racional, partem da premissa, que é: se o crescimento


económico vai bem, os representantes ganham os votos; em contrapartida, se o crescimento
económico vai mal, os indivíduos podem alienar seu voto ou votar em novos representantes
(Key, 1966).

Esta tentativa teórica e epistemológica de reduzir o eleitor a um mero juiz que busca punir e
recompensar seus representantes é uma forma quase frágil de analisar o comportamento político
e eleitoral (Figueiredo, 2008). Contudo, a partir desta lógica, é possível associar o exercício do
voto, não o mero sentido julgador, mas como uma acção que pretende ser instrumental, ou
estratégica de ponto de vista do eleitor.

4.1.2. Comportamento eleitoral no contexto africano

Neste item, serão identificadas as variáveis que determinam o comportamento eleitoral no


continente africano, a partir destas clivagens analisar as que têm o maior impacto na
determinação do voto.

Em África ainda não se desenvolveu teorias próprias adequadas ao contexto das suas
democracias e aos contextos políticos, económicos e sociais. Sem um quadro teórico próprio,
estudiosos de comportamento eleitoral em África recorrem a empréstimos de modelos teóricos
das democracias consolidadas para a interpretação do fenómeno de escolha eleitoral em África
(Keulder, 2000).

Bratton, Bhavnanib e Chena (2012), são os mais cotados que fizeram uma referência clara ao
facto de as condições económicas desempenharem um papel preponderante na determinação das
escolhas eleitorais e defendem que o papel da economia na determinação da votação em África é
ainda maior do que nas democracias mais consolidadas (p. 28).
15

Na África Austral, por exemplo nos países anglófonos, como é o caso de Botsuana, Lesoto,
Namíbia, África do Sul, Suazilândia, Zâmbia e Zimbabué, Rule denota que o voto é motivado
pelas características socioeconómicas, ainda que se valorize o contexto espacial em que se dá a
socialização política dos votantes. Além disso, o autor constatou que é notável a influência
geográfica, étnica regional e urbana como factores fundamentais na decisão do voto naqueles
países (Rule, 2000, p. 1).

Em quanto na África Ocidental, sobre tudo na Guiné-Bissau, Zeverino (2003), chegou a


conclusão que as características étnicas e religiosas são muito significativas na direcção do voto.
A Teoria de Clivagens Sociais de Lipset & Rokkan (1967), o primeiro desafio que os
investigadores encaram na sua aplicação é que as clivagens sociais tradicionais referidas
por esta teoria como sendo as que influenciam grandemente a escolha eleitoral e sistemas
partidários. Num esforço frenético, investigadores africanos têm-se empenhado na
adaptação da teoria de clivagens sociais para a sua empregabilidade em África com a
consideração ou integração de etnicidade como uma das clivagens (semelhante à de
centro vs. periferia) para explicar o comportamento eleitoral e formação de partidos
políticos (Erdmann, 2007).

De facto, é notório que estudos eleitorais em África tendem a incluir etnicidade, a pertença a um
determinado grupo tribal, o clientelismo, as relações interpessoais, as clivagens regionais, rurais
ou urbanas, como variáveis mais comuns para a explicação do voto em África (Lindberg &
Morrison, 2008).

Quanto ao vínculo entre etnia e preferência partidária, a alegação de que a etnia é um factor
importante para o comportamento eleitoral foi originalmente inferida a partir dos resultados das
eleições. Isso se baseia na observação de que a maioria das pessoas de um distrito ou região
específica - principalmente povoada por um grupo étnico específico - vota no mesmo partido em
uma eleição após a outra. Isso também está relacionado ao discurso político local, que pode
identificar um partido político em particular com um grupo étnico específico (Basedau et al,
2011, p. 463).

Em relação aos sistemas partidários africanos, o trabalho seminal de Horowitz (1985)


sobre grupos étnicos em conflito teve um grande impacto na discussão académica. Ele reforçou
fortemente a sugestão pós-colonial de que os partidos africanos eram melhor conceituados como
"partidos étnicos". Segundo Horowitz, um "partido étnico" recebe pelo menos 85% de seu apoio
de um único grupo étnico. Para a África francófona, Fomunyoh (2001) distingue entre partidos
16

do governo que mobilizam amplo apoio por toda a sociedade e partidos da oposição que tendem
a depender fortemente de bases étnicas ou regionais de apoio. Essa distinção sugere duas
conclusões. Primeiro, é necessário questionar como os partidos étnicos comuns realmente são se
os grandes partidos no poder são diferentes. Segundo, partidos e sistemas partidários são
fenómenos diferentes (Basedau & Stroh, 2012, p. 6-7).

Segundo Cahen (2006) apud Sanches (2014, p. 61), o Estado pós-colonial em África enfrentou a
tarefa quase impossível de forjar um discurso moderno e legitimador de um projecto de
unificação do território. No entanto, este projecto não coincidiu com a realidade e as identidades
das populações, que eram diversas. O “centralismo democrático” adoptado pelos partidos nas ex-
colónias portuguesas pretendeu desde o início ser o produtor da homogeneidade interna dos
movimentos nacionais, e legitimar a fórmula de partido único.

No contexto Moçambicano, este modelo alimentou a rivalidade dentro dos movimentos


anticoloniais e afectou a população, na medida em que o projecto de modernização da Frelimo
reprimiu todas as formas de divisão territorial (étnica, religiosa e linguística) e política
(constituição monopartidária), e isso sedimentou uma clivagem centro vs periferia baseada numa
clivagem entre a elite dominante (urbana e do sul do país) e a elite periférica (rural do centro e
norte do país) (Sanches, 2014, p. 61).

Em relação a isso, muitos estudiosos argumentaram que a politização da etnia prejudica a


democracia: quando partidos ou grupos políticos se organizam de acordo com linhas étnicas, os
mecanismos de superação étnica ameaçam aprofundar as divisões culturais, e essas divisões, por
sua vez, estimulam as emoções e aumentam os riscos do jogo. As minorias culturais podem ser
marginalizadas e / ou excluídas do poder político e, portanto, recorrer a meios violentos e extra-
constitucionais, o que aumenta o risco de conflito (Basedau et al, 2011, p. 471).

Quanto ao clientelismo, Osei (2012, p. 86) sugere que é impossível falar sobre partidos políticos
na África sem falar sobre clientelismo. Acredita-se amplamente que as relações patrono-cliente
são uma característica persistente da política africana desde o advento da independência até
recentemente.

Entretanto, diante dessa relação, Clapham (1982) chamou de "clientelismo da representação". No


cerne dessa ideia está a suposição de que os votos são trocados por favores e benefícios
17

materiais. Ainda existem poucas evidências empíricas de como o clientelismo realmente


funciona na era da política multipartidária e alguns dos estudos mais recentes destinados a
desafiar o “grande paradigma do homem” argumenta que as relações personalistas entre
deputados e eleitores têm apenas uma importância limitada para o comportamento eleitoral.

Um problema básico é que a ligação clientelista entre partidos e eleitores é difícil de medir. Isso
ocorre em parte porque os eleitores e os políticos têm fortes incentivos para reter informações,
seja para impedir concorrentes, evitar opróbrio social ou evitar processos judiciais. Em um dos
trabalhos mais influentes sobre o clientelismo na África, Clapham (1982), definiu o clientelismo
como uma relação entre desiguais, marcada por regularidade e persistência (p. 4-7). De acordo
com essa definição, a entrega de dinheiro para um eleitor não é necessariamente clientelismo,
porque pode ser uma interacção singular e não recorrente (Osei, 2012, p. 88).

O presidencialismo e o clientelismo moldam decisivamente o desenvolvimento dos sistemas


partidários em África. Na maioria dos países, afirmam, a presidência é a instituição principal dos
processos de tomada de decisão e devido a essa excessiva centralização do poder político o
acesso aos recursos do Estado está altamente dependente de uma única instituição política. Este
desenho institucional afecta o sistema partidário por desvalorizar tanto o papel das eleições
legislativas como dos partidos políticos e por levar a uma personalização do sistema político
(Van De Walle, 2003 apud Sanches, 2014, p. 68-69).

No contexto Moçambicano, a Frelimo é o partido do Estado desde 1975 e isto tem-lhe permitido,
através da figura do presidente, controlar os principais canais de acesso à esfera económica e
política, sem os devidos freios e contrapesos. Ainda Sanches (2014), apresenta alguns
fenómenos apresentados por alguns testemunhos, estes que realçam que:
O partido no poder é o Estado e o Estado é o maior empregador. Mesmo que eu não
queira, enquanto funcionário do Estado, se me trazem a ficha: é preciso preencher. Ter
um cartão do partido no poder. Assim, eu vou preencher mesmo que não queira para
poder garantir a minha sobrevivência. Se não o fizer eu tenho o meu emprego meio
tremido.

Não obstante, o controlo das nomeações e o preenchimento das posições do Estado são
mecanismos que permitem ao partido no poder criar e conservar clientela. E, mais uma vez, esta
é uma forma autoritária de impor as regras da elite dominante às elites periféricas, na medida em
que o acesso aos benefícios do Estado moderno é determinado pela lealdade ao partido
18

simbolicamente representado pelo cartão do partido. Além disso, esta acção mina as bases de
apoio dos partidos menores. Vários líderes entrevistados durante o trabalho de campo referiram
ter perdido os seus quadros mais importantes para o partido no poder, porque estes são obrigados
a ter o cartão do partido caso pretendam ter um emprego no sector público (Sanches, 2014, p. 69-
70).

A autora apresenta outra prática neopatrimonial, esta que tem a ver com a forma como o partido
faz a alocação dos recursos através das suas políticas públicas. Em 2006 foi criando o Orçamento
de Investimento de Iniciativa, conhecido como o “7 milhões” este programa visa reduzir a
pobreza através do financiamento de projectos individuais. No entanto, este programa tem
alimentado redes clientelares entre Estado, partido e sociedade. Nestes moldes, Forquilha (2010),
defende que, o “7 milhões” tornou-se mais um mecanismo usado pelo partido do poder para
aumentar e manter a sua clientela; já que na prática, os fundos foram distribuídos para os
membros do partido, ou indivíduos e grupos de cidadãos que simpatizam com o partido.

4.1.3. Comportamento eleitoral no contexto Moçambicano

Em Moçambique, o primeiro estudo sobre o comportamento eleitoral é atribuído ao politólogo


Luís de Brito, este que fez uma análise sobre o comportamento eleitoral das primeiras eleições
multipartidárias de 1994 em Moçambique. Desde então, a literatura denota outros estudos no
cerne do comportamento eleitoral na qual são cotados João Pereira, Fidel Terenciano entre
outros.
No contexto Moçambicano, comportamento eleitoral nas eleições de 1994, foram
marcadas por várias clivagens nomeadamente: bipolarização (somente dois partidos
recolheram um conjunto de 82% dos votos validos, sendo 44,3% para a Frelimo e 37,8%
para a Renamo). Todavia, isto reflecte a génese do sistema partidário moçambicano, as
forças e fraquezas dos vários partidos que entraram na competição; Um segundo factor,
foram as diferenças significativas entre cidade e o campo, a Frelimo obteve a maioria do
voto urbano a nível nacional, recolhendo 59%, a Renamo apenas atingiu ai 29%. Já no
voto rural, a Renamo obteve 41% dos votos a nível nacional e a Frelimo cerca de 40%;
Um terceiro factor, foi demarcado pela clivagem regional, onde a Frelimo ganhou nos
quatro círculos eleitorais do Sul (Maputo Cidade, Maputo-Província, Gaza e Inhambane)
e no extremo Norte (Niassa e Cabo Delgado), enquanto a Renamo ganhou nas províncias
do Centro e Centro-Norte (Sofala, Manica, Tete, Zambézia e Nampula); Um último
factor explicativo do alinhamento dos eleitores é factor étnico, uma vez que o sentido do
voto em território maconde e changana beneficiou a Frelimo, que atingiu as votações
variando entre 75% e 88% (Brito, 1995, p. 484-94).
19

Nesta linha de ideias, Pereira (2008), mostra um outro factor de alinhamento do voto em
Moçambique, o autor defende o modelo-padrão do voto económico postula que os votantes
tomam decisões eleitorais com base nas suas percepções do desempenho económico. Os eleitores
punem os partidos governantes que se revelam incapazes de produzir resultados económicos
aceitáveis e recompensam aqueles que satisfazem as suas expectativas. O sucesso ou fracasso de
um partido governante está directamente relacionado com a mudança (real ou percepcionada) das
condições económicas antes das eleições (p. 419-20).

Não obstante, na avaliação da influência das condições económicas sobre o comportamento


político verifica-se uma distinção crucial entre a percepção económica e a realidade económica.
Um número considerável de provas sugere que os eleitores acreditam que uma das
responsabilidades centrais do governo é apresentar um desempenho económico de nível elevado.
Uma vez que o desempenho económico é avaliado por meio de critérios colectivos (sócio
trópicos) e não individuais (egocêntricos), as percepções populares sobre a economia são
moldadas sobretudo pelos meios de comunicação social e mediante uma avaliação das condições
económicas nacionais, e não tanto das circunstâncias económicas individuais.

Todavia, partindo das discussões levadas a cabo a título de exemplo por Brito, Pereira e outros
estudiosos no contexto Moçambicano, nos convidam claramente à aceitar que o eleitorado
Moçambicano esta fragmentado e que cada ângulo compõe características próprias. Assim, por
um lado encontramos o eleitor das zonas urbanas e por outro lado encontramos o eleitor das
zonas rurais e que cada um desses possui suas características e posições diferenciadas sobre o
campo político (Terenciano, 2020, p. 23).

O comportamento eleitoral em Moçambique reflecte uma combinação de factores conjunturais e


factores históricos, estes últimos mais estruturantes. Apelando ainda para o peso de factores
conjunturais onde argumenta-se que alguns eleitores optaram pela FRELIMO como uma medida
destinada a manter o partido dentro do circuito do sistema democrático e assim evitar qualquer
desmoronamento deste partido (Baloi, 2001 apud Terenciano, 2020, p. 23).

4.2. Caracterização histórico-política de Moçambique desde 1975 – 1990 e de 1998-2018

Moçambique foi um dos países africanos a conquistar a sua independência em 25 de Junho de


1975, e teve que pegar em armas para consegui-lo. Portugal, das primeiras potências europeias a
20

explorar o continente, mostrou-se bastante resistente a abandonar as suas políticas coloniais.


Entre 1964 e 1974, o governo português resistiu aos esforços dos movimentos de libertação da
então província portuguesa de Moçambique (AfriMap & Osisa, 2009, p. 25).
Em Moçambique houve inicialmente três movimentos, todos baseados no carácter étnico
e regional: a Mozambique African National Union (MANU), com a sigla em inglês,
criada na cidade de Mombasa (Quénia) em 1961, liderada por Mateus Mole e Malinga
Milinga e suportada pela etnia Maconde que se situava na região norte, a União
Democrática Nacional de Moçambique (UDENAMO) dirigida por Adelino Gwambe e
criada em 1960 na cidade de Salisbúria (Harare) na Rodésia do Sul (actual Zimbabwe), e
estava sendo suportado pela região sul e finalmente a União Nacional Africana de
Moçambique Independente (UNAMI), fundada em 1961 na Niassalândia actual Malawi,
liderada por Baltazar da Costa Chagonga, com base em Tete na região centro do
território. Estes três movimentos foram dirigidos fora do país por nacionalistas no exílio,
o que dificultou as suas actividades dentro de Moçambique (Mango, 2016, p. 36).

Não obstante, houve divergências baseadas nas motivações étnicas e regionais nestas três
organizações. Esta fragmentação serviu de motivação aos presidentes Július Nyerere da Tanzânia
e o Kwame N’krumah do Gana respectivamente, que conseguiram ajudar a unir os três
movimentos para criar um só, de carácter nacional. A Frente de Libertação de Moçambique
(FRELIMO) foi fundada, em 25 de Junho de 1962, em Dar-Es-Salaam, República de Tanzânia,
por Uria Temóteo Simango, um pastor presbiteriano, Eduardo Chivambo Mondlane e outros.

Mesmo assim, a FRELIMO apresentava-se estruturalmente e ideologicamente muito fraco no


que tange a sua coesão política, pois sua criação tinha sido pressionada externamente por outros
movimentos e países já independentes. Foi algo que pode ter reflectido muito na escolha do seu
primeiro presidente Eduardo Mondlane, educado nos Estados Unidos e antigo funcionário das
Nações Unidas. Apesar disso, na verdade, Mondlane era a pessoa mais preparada para assumir a
liderança do movimento na altura (Macqueen apud Mango, 2016, p. 36).

Em Moçambique, a FRELIMO tornou-se rapidamente mestre dos distritos setentrionais de Tete,


Niassa e Cabo Delgado. Os portugueses responderam, reforçando o sistema dos “povoados
protegidos” e recorrendo a métodos brutais: torturas, massacres, deportações e assassinatos. Foi
assim que o Doutor Mondlane foi assassinado, em Fevereiro de 1969. Ele foi substituído por
Samora Machel (Chanaiwa, 2010, p. 302).

Depois da morte de Eduardo Mondlane, o carismático líder da FRELIMO e símbolo da


unificação nacionalista moçambicana, em 1969, através de uma carta bomba cuja origem
21

continua num mistério, começou a expor ainda mais o conflito já existente entre as diferentes
concepções nacionalistas. Estas divergências políticas internas atingiram altas figuras do quadro
da FRELIMO e ditaram o abandono de Uria Simango, um dos membros da comissão
presidencial, sob fortes acusações dele a direcção, composta por Samora Machel e Marcelino dos
Santos. Este conflito baseava-se nas ideologias e estratégias de uma visão do processo
emancipatório que inclui a separação entre as funções dos políticos e militares (Cabaço Apud
Mango, 2016, p. 36).

De acordo com AfriMap e Osisa (2009), “no início dos anos 1970, dos vários movimentos de
libertação, somente a Frente de Libertação de Moçambique, a FRELIMO, mantinha-se
verdadeiramente activa” (p. 25).

Entretanto, em 1974, a guerra já se arrastava por anos, e o seu final parecia próximo. As guerras
de libertação em África já repercutiam negativamente na legitimidade do governo português em
Portugal, e eventos na capital portuguesa catalisaram o processo de independência em
Moçambique.

Malgrado o apoio maciço dos governos ocidentais, as guerras coloniais tornaram-se muito
rapidamente um fardo demasiado pesado para Portugal. Por volta do fim dos anos 1960, elas
absorviam cerca da metade do seu orçamento anual e, enquanto os elementos conservadores, o
estado-maior do exército, assim como os dirigentes financeiros eram favoráveis ao
prosseguimento da guerra, a opinião pública, por sua vez, perdera o entusiasmo. O general
António Spinola preconizava, em seu livro “Portugal e o Futuro”, a emancipação das colónias
portuguesas na África. Em 25 de Abril de 1974, o exército derrubava o governo do presidente
Caetano e nomeava Spinola chefe da junta de governo (Chanaiwa, 2010, p. 320).

Não obstante, a guerra de libertação forçara os portugueses a voltarem-se criticamente sobre si


mesmos, em relação ao seu próprio subdesenvolvimento, a sua própria dependência económica e
a ditadura política de Salazar e do seu sucessor Caetano. Enquanto os problemas de política
interna passavam ao primeiro plano e o custo humano e económico da guerra apresentava-se de
mais em mais pesado, não restava aos portugueses outra escolha senão negociar para colocar um
ponto final, o mais rapidamente possível, na dominação colonial. Em 7 de Setembro de 1974,
eles assinavam, com os movimentos de libertação, os acordos de Lusaka que concediam
22

provisoriamente a autonomia interna a Moçambique, implantando os mecanismos passíveis de


organizar eleições gerais no país (Chanaiwa, 2010, p. 320). Por meio dos Acordos de Lusaka, foi
definido um governo de transição, e a FRELIMO proclamaria a sua independência a 25 de Junho
de 1975 (AfriMap & Osisa, 2009, p. 25).

Ainda neste processo Brito (2009), sustenta que, embora alguns grupos políticos se tenham
formado, ou reaparecido, na cena moçambicana logo depois do 25 de Abril, os seus esforços no
sentido de participarem no processo de descolonização foram vãos. A independência seria
proclamada pela Frelimo, partido único consagrado na primeira Constituição como “força
dirigente do Estado e da sociedade” (p. 19).

Ainda durante o período do governo de transição, a Frelimo, cuja implantação pouco excedia a
sua presença nas “zonas libertadas” situadas nas regiões mais remotas de Cabo Delgado e
Niassa, viu-se obrigada a responder à necessidade de garantir a sua presença efectiva em todo o
território nacional. Para tal, foi lançado um movimento de formação de Grupos Dinamizadores,
compostos por militantes e simpatizantes da Frelimo, abrangendo tanto os locais de residência
como os locais de trabalho. Dependentes das sedes distritais do partido, estes tornaram-se os
órgãos de base da Frelimo fora das “zonas libertadas” (Brito, 2009, p. 19).

Depois da independência, a Frelimo viu-se confrontada com dois grandes desafios intimamente
ligados entre si: por um lado, assegurar a gestão e a transformação da economia colonial e, por
outro, enfrentar a reacção dos poderes brancos da Rodésia e da África do Sul, que se sentiam
ameaçados pelo avanço das forças de libertação, agora instaladas directamente nas suas
fronteiras.
A saída rápida da maior parte dos colonos, empresários, gestores e quadros qualificados,
ou simplesmente trabalhadores e funcionários públicos, imediatamente antes e logo
depois da independência, desarticulou o funcionamento da economia moçambicana, um
processo que foi reforçado pela redução drástica das receitas dos serviços de portos e
caminhos-de-ferro e das transferências de trabalhadores migrantes. A própria agricultura
camponesa foi afectada pela saída dos colonos que asseguravam, através de uma ampla
rede de pequenos estabelecimentos comerciais (as cantinas), a comercialização rural
(Brito, 2009, p. 21).

Foi nesse contexto de tentativa de construção de um poder político monopartidário, de crise


económica interna e de confrontação política regional que surgiu a Renamo logo depois da
proclamação da independência. Organizada inicialmente com o apoio da Rodésia e
23

posteriormente da África do Sul, a Renamo conduziu uma guerra que se espalhou rapidamente a
todo o país, agravando a situação económica e destruindo uma parte da infra-estrutura económica
e social, sendo as aldeias comunais, as cooperativas, as escolas, os centros de saúde, as fábricas,
as estradas e as pontes, os alvos privilegiados dos ataques da guerrilha (Idem).

Porém, se a guerra foi no início um processo exógeno, rapidamente ela serviu para a expressão
interna de clivagens e conflitos sociais, o que lhe acrescentou uma dimensão de guerra civil. Em
particular nas regiões do Centro e do Centro Norte do país, pôde-se observar que a polarização
das populações, entre a subordinação ao Estado da Frelimo e a adesão à guerrilha da Renamo,
era em grande medida condicionada por dois elementos históricos: de um lado, as divisões entre
grupos relacionadas com o processo de intervenção do Estado independente no seio das
comunidades rurais, particularmente simbolizado pelas aldeias comunais, e de outro lado, as
clivagens entre grupos na sua relação histórica com o Estado (numa primeira fase, o Estado
colonial e, depois, o Estado da Frelimo) (Brito, 2009, p. 22).

O autor ainda sustenta que, depois de várias tentativas para cessar o conflito, nomeadamente com
a celebração do Acordo de Nkomati em 1984 e depois com várias ofertas de amnistia aos
combatentes da Renamo, a solução da guerra acabaria por ser negociada directamente entre os
dois protagonistas, que viriam a assinar o Acordo Geral de Paz, em Roma, a 4 de Outubro de
1992.

Não obstante, em 1989 a Frelimo decidiu abandonar oficialmente o marxismo-leninismo e, na


mesma dinâmica, foi iniciado o processo de revisão constitucional que acabaria por resultar, em
1990, na aprovação de uma constituição multipartidária. O acordo de Roma, ao estabelecer a paz
e as regras de incorporação da Renamo na sociedade moçambicana, significou a possibilidade
prática de aplicar os novos princípios constitucionais, nomeadamente a realização de eleições
multipartidárias e, nesse sentido, foi um avanço sem precedentes para a possibilidade da
construção de uma sociedade democrática pluralista (Brito, 2009, p. 23).

Em 1994 foram realizadas as primeiras eleições multipartidárias. Nestas eleições legislativas,


dois partidos recolheram, em conjunto, 82% dos votos válidos, sendo 44,3% para a Frelimo e
37,8% para a Renamo. Uma das evidências que decorrem deste resultado é a bipolarização da
vida política moçambicana, confirmada também pelo facto de nenhuma outra força política ter
24

obtido a maioria dos votos em qualquer um dos 148 distritos que formavam os onze círculos
eleitorais (Brito, 1995, p. 484).

Em relação ao comportamento eleitoral nestas eleições, partindo da premissa de Brito


(1975), Um primeiro factor, foi a bipolarização (clivagem de guerra), este reflecte a génese do
sistema partidário moçambicano, as forças e fraquezas dos vários partidos que entraram na
competição; Um segundo factor, foram as diferenças significativas entre cidade e o campo.
Enquanto a Frelimo obteve a maioria do voto urbano a nível nacional, recolhendo 59%, a
Renamo apenas atingiu ai 29%. Já no voto rural, a Renamo obteve 41% dos votos a nível
nacional e a Frelimo cerca de 40%; Um terceiro factor, foi demarcado pela clivagem regional,
onde a Frelimo ganhou nos quatro círculos eleitorais do Sul (Maputo Cidade, Maputo-Província,
Gaza e Inhambane) e no extremo Norte (Niassa e Cabo Delgado), enquanto a Renamo ganhou
nas províncias do Centro e Centro-Norte (Sofala, Manica, Tete, Zambézia e Nampula); Um
último factor explicativo do alinhamento dos eleitores é factor étnico. Neste Contexto, com base
nas análises de Brito (1975), o sentido do voto em território maconde e changana beneficiou a
Frelimo, que atingiu as votações variando entre 75% e 88%.

4.3. Eleições autárquicas em Moçambique

Neste item, serão apresentados os resultados das eleições autárquicas em Moçambique.


Entretanto, esses resultados serão analisados partindo das primeiras eleições em 1998 até as
últimas de 2018, onde a partir desta, será possível identificar as diferentes clivagens que
moldaram o comportamento eleitoral dos munícipes em cada pleito eleitoral. Isto é, perceber as
dinâmicas do comportamento eleitoral em Moçambique.

4.3.1. Primeiras eleições autárquicas de 1998

Em 1994, foi aprovada a Lei 3/94, de 13 de Setembro que estabeleceu o quadro institucional dos
distritos municipais. Depois das primeiras eleições gerais e multipartidárias realizadas em 1994,
a Lei 3/94 foi revogada, através de uma emenda à Constituição, feita através da Lei 9/96, em
1997, foi aprovada a Lei 2/97, de 18 de Fevereiro que estabeleceu o quadro jurídico para
implementação das autarquias locais. Em 2018, foi aprovada a lei 6/2018, de 3 de Agosto que
altera a Lei 2/97, de 18 de Fevereiro, que estabelece o quadro jurídico-legal para a implantação
das autarquias locais, ainda em 2018, foi aprovada a lei 7/2018, que altera a Lei 7/2013, de 22 de
25

Fevereiro, republicada pela Lei 10/2014, de 23 de Abril, relativa à eleição dos titulares dos
Órgãos das Autarquias Locais.

Em 1998 verificou-se as primeiras eleições autárquicas em Moçambique, nos 33 municípios, em


que apenas disputava os partidos políticos FRELIMO e RENAMO, porém nesta época, as
eleições acabaram de ser boicotadas pela RENAMO, pois esta alegava a falta de transparência do
processo eleitoral. Nisto, verificou-se que todos municípios (33) ficaram na posse ou sob
governação da FRELIMO (TVI24, 2008).

O boicote de 1998 significou que os candidatos da Frelimo à presidência dos municípios


concorreram sem oposição em 19 das 33 cidades. As eleições para as assembleias municipais
foram disputadas em apenas seis cidades. Com uma afluência às urnas de 15% dos cerca de 2
milhões de eleitores registados, os candidatos da Frelimo venceram as eleições para a presidência
dos municípios e conquistaram a maioria dos assentos nas assembleias de todas as 33 cidades e
vilas. As dimensões do eleitorado nos municípios variam grandemente, desde uma pequena
escala de cerca de seis mil em vilas pequenas como Metangula e Manjacaze até uma escala
elevada de meio milhão em Maputo e de um quarto de milhão na Beira e na Matola (Nuvunga,
2008, p. 285).

Como indicado atrás, as eleições municipais também deram a oportunidade a grupos de cidadãos
de se organizarem e de competirem por votos. Vários grupos de cidadãos foram registados e
concorreram às primeiras eleições municipais de sempre no país. Em consequência disto, houve
grupos de cidadãos que conquistaram um número limitado de lugares em quatro cidades,
incluindo as duas maiores cidades do país, Maputo e Beira.

Os analistas atribuem a baixa afluência às urnas nas eleições municipais de 1998 em parte à falta
de competição, uma vez que a Frelimo concorreu às eleições praticamente sozinha, bem como à
desigualdade nas condições dos concorrentes, devido ao mau e contestado desempenho da
Comissão Nacional de Eleições (CNE). Também é possível que a afluência às urnas tenha siso
afectada não só pela falta de competição como também pela campanha de abstenção levada a
cabo pela Renamo. Enquanto a Frelimo fez uma campanha pela participação maciça nestas
eleições nas duas semanas destinadas à campanha eleitoral, a oposição liderada pela Renamo fez
campanha pela abstenção como forma de boicote eleitoral (Idem).
26

Em relação a este período, a literatura denota que a principal clivagem que influenciou no
comportamento dos eleitores foi a clivagem histórica. Os munícipes teriam sido movidos pelo
contexto histórico do país, desde a formação da Frelimo e o seu papel na luta de libertação
nacional.

4.3.2. Segunda eleição autárquica de 2003

As segundas eleições municipais foram realizadas em 2003, concorreram por um total de 33


municípios, e contaram com a participação de todos os principais partidos políticos, incluindo da
RENAMO, em que a FRELIMO venceu com cerca de 87.87% dos municípios contra 9.09% da
RENAMO (Noé, s/a).

Enquanto, em 1998, a Frelimo ocupou todos os mandatos dos lugares para PCM e Assembleia
Municipal, para todas as 33 autarquias, em 2003, ela ganha 28 eleições para as Presidências
Municipais e 29 maiorias absolutas nas Assembleias Municipais. Por seu turno, a Renamo-UE
ganhou 5 Autarquias para a Presidência Municipal e a maioria de lugares em 4 Assembleias
Municipais. Desta forma, a Renamo-UE teria, pela primeira vez, o poder executivo formal em
Moçambique nos seguintes Municípios: Nacala Porto, Ilha de Moçambique, Angoche (em
Nampula), Beira e Marromeu (Sofala). Três destes municípios são da Província de Nampula
(todos situados na região costeira da Província) e dois em Sofala. Nota a destacar vai para o
Município de Marromeu, onde o PCM da Renamo-UE teve que partilhar o poder com uma
maioria da Frelimo na Assembleia Municipal (Osório & Macuácua, 2014, p. 231).

Em 2003 houve um aumento da afluência às urnas pelo facto de a oposição ter deixado de fazer
boicote e, mais positivamente, à existência de competição eleitoral, uma vez que a oposição,
sobretudo a Renamo, participou plenamente no processo eleitoral. Além disso, diz-se que a forte
competição entre os dois maiores oponentes, Frelimo e Renamo, nas eleições gerais de 1999,
com a Renamo a perder a corrida presidencial por uma margem estreita, se reflectiu nas eleições
municipais e fez subir a afluência às urnas (Nuvunga, 2008, p. 286).

Verifica-se que, desde que a política municipal ficou dominada pelos dois maiores partidos com
plataformas nacionais, a partir de 2003, os poucos lugares conquistados por grupos de cidadãos
em assembleias municipais são cada vez mais entendidos pelos potenciais eleitores como votos
27

desperdiçados, uma vez que os detentores desses lugares são politicamente marginalizados e não
estão ligados a redes clientelistas nacionais ou locais firmemente estabelecidas.
Nas eleições, os cidadãos devem, de cinco em cinco anos, recompensar o bom
desempenho ou punir o mau desempenho. Nesta perspectiva, houve três casos
interessantes e pertinentes nas eleições de 2003, nomeadamente os de Nacala, Dondo e
Beira. Os dois primeiros foram casos do que se entendia, no geral, ter sido uma boa
prestação, ao passo que o terceiro foi um caso de má prestação. Curiosamente, todos estes
casos foram em zonas dominadas pela Renamo. Nos casos do Dondo e de Nacala, a
questão era se os eleitores compensariam o êxito da liderança municipal que não era do
seu partido habitual (Nuvunga, 2008, p. 294).

Entretanto, o comportamento eleitoral dos munícipes nestas eleições foi influenciado pela
clivagem económica, Além da variável económica, outra clivagem que influenciou o
comportamento dos munícipes nestas eleições foi a clivagem de guerra, a literatura denota que
Beira sempre foi um território dominado Renamo.

Porém, no caso do Dondo, os eleitores compensaram o êxito do presidente do conselho


municipal, ao passo que em Nacala, embora José Caetano, o então presidente do conselho
municipal, fosse visto por muitos observadores dentro e fora de Nacala como um dos mais
competentes presidentes do conselho municipal na primeira experiência de administrações
municipais, os eleitores parecem ter sido partidários, já que, ceteris paribus, votaram contra José
Caetano (Nuvunga, 2008, p. 294).

O caso da Beira é um pouco diferente. A Frelimo reconheceu que o então presidente do conselho
municipal, Chivavice Muchangage, tinha tido um mau desempenho e, por isso, não o apoiou na
sua tentativa de se recandidatar. Um novo candidato foi chamado a concorrer a presidente do
conselho municipal, contra um candidato da Renamo que era desconhecido nessa altura. O
candidato da Frelimo sofreu uma enorme derrota, mas nunca ficou claro se os eleitores estavam a
castigar a Frelimo pela má prestação do seu anterior presidente do conselho municipal ou se
estavam a ser partidários ao votar no candidato da Renamo, dado que a Beira era um bastião da
Renamo nesta altura (Idem).

Em relação a este período, de acordo com Luis de Brito (2013), a conquista de várias
autarquias pela oposição parece ter sido o elemento catalizador de uma nova dinâmica eleitoral
nos municípios, como se vai verificar nas eleições seguintes. A alternância na governação local
terá provavelmente contribuído, por um lado, para uma tendência dos cidadãos de exigirem um
28

melhor desempenho das novas autoridades, e, por outro, para uma maior mobilização do
eleitorado.

Em relação ao cenário de Montepuez, a principal clivagem que moldou o comportamento


dos eleitores foi a clivagem de guerra, porém, como podemos ver a tragédia de 2000, quando um
grupo de cerca de cem pessoas foi massacrado por asfixia até à morte numa pequena cela de
prisão, depois de participar num protesto organizado pela Renamo para contestar os resultados
eleitorais. Entretanto, este incidente teria influenciado no comportamento dos munícipes nas
eleições de 2003, uma vez que o eleitorado continua polarizado em torno da clivagem de guerra,
que segundo Edalina Sanches (2014), além de influenciar o padrão de competição entre os
partidos, o passado de guerra também tem efeitos no envolvimento dos cidadãos na vida política
do país.

4.3.3. Terceira eleições autárquicas de 2008

Cinco anos depois em 2008, foram criadas mais 10 municípios, nas vilas de Marrupa, Mueda,
Ribaué, Alto Molocué, Angónia, Gondola, Gorongosa, Massinga, Macia e Namaacha,
concorreram para um total de 43 municípios, na qual foram disputados por muitos partidos
políticos, além dos principiais partidos nacionais (FRELIMO e RENAMO). As eleições
ocorreram num contexto em que uma oposição esteve enfraquecida (RENAMO) e ainda mais
dividida, de que é exemplo de destaque a candidatura independente de Deviz Simango na Beira,
pelo recém-criado Movimento Democrático de Moçambique (MDM), no seguimento da sua
expulsão da RENAMO. Com o efeito, a FRELIMO recuperou o poder na maior parte dos
municípios que tinha anteriormente perdido, excepto na Beira, pois esta foi arrancada
poderosamente pelo novo partido (MDM), surgindo assim uma nova maior oposição nacional.

Portanto, nas eleições de 2008, os eleitores recompensaram claramente o bom desempenho de


Deviz Simango na Beira. A reeleição do presidente do Conselho Municipal do Dondo pode
legitimamente associar-se também a um bom desempenho. A nomeação de Pio Matos, em
Quelimane, para concorrer a um terceiro mandato sugere que, nas circunstâncias actuais da
política local, o mau desempenho pode não ser castigado. O esmagador domínio da Frelimo na
política nacional significa que, com poucas excepções, os seus candidatos têm a certeza, à
partida, de que a vitória está bastante certa (Nuvunga, 2008, p. 295).
29

Partindo deste pressuposto, Sérgio Chichava, (2010, p. 9), realça que a Beira foi o único dos
anteriores cinco municípios da Renamo que, nas eleições locais de 2008, permaneceu nas mãos
da oposição (de Daviz Simango), apesar de todo o esforço feito pela Frelimo para recuperar a
considerada segunda capital do país.

Na verdade, Sofala é apenas um dos símbolos de contestação das elites do Centro e Norte contra
o que consideram discriminação por parte das elites do Sul, sentimento que teve como um dos
pontos mais altos os conflitos surgidos no seio da Frelimo e que levaram não só à expulsão e à
deserção de muitos dos seus militantes oriundos destas regiões, mas também ao surgimento de
movimentos regionalistas, reclamando apenas a independência destas parcelas do país, tudo isto
durante a guerra colonial (Chichava, 2010, p. 10).

Em suma, fazendo uma análise nestas eleições, podemos inferir que houve duas clivagens
que moldaram o comportamento dos eleitores nestas eleições, nomeadamente, a clivagem
económica e étnica. Quanto a clivagem económica, os eleitores recompensaram com êxito o
desempenho dos seus governantes na Beira e Dondo. Por outro lado a clivagem étnica, é
provável que esta tenha contribuído de igual modo no comportamento dos munícipes na Beira,
que segundo Chicava (2010, p. 9), a família Simango goza uma simpatia nesta região, não só por
se ter destacado na resistência ao colonialismo, mas também pelo facto de simbolizar o conflito
com a elite “tribalista” da Frelimo.

Nas eleições autárquicas de 2008, a Frelimo conquistou todos os municípios de Nampula,


embora tenha havido uma segunda volta em Nacala e o processo da Ilha de Moçambique tenha
sido considerado por alguns observadores eleitorais como tendo sido manipulado. Ate 2004, a
cartografia eleitoral de Nampula revelava a existência de um forte padrão de voto favorável a
Frelimo no interior e a Renamo no litoral, o que remete para os aspectos históricos e culturais
(Macuane et al, 2012, p. 256).

Assim, quando se olha para a história política da província, fica claro que as questões de
etnicidade e as relações entre as populações do interior e do litoral são elementos definidores das
relações que se desenvolvem entre os actores a nível local, assim como destes com o partido no
poder, o Estado e as estruturas governamentais centrais, com implicações na governação local.
30

4.3.4. Quartas eleições autárquicas de 2013

As eleições autárquicas de 2013 de 20 de Novembro saldaram-se em vitória do partido Frelimo,


ganhou a presidência e a maioria dos assentos na assembleia municipal de 50 dos 53 municípios.
Mas também foram marcadas por grande ascensão do MDM que conquistou três cidades
importantes: Nampula, Quelimane e Beira e ganhou 30% dos assentos nas assembleias
municipais a nível nacional. Em Maputo e Matola, o MDM (Movimento Democrático de
Moçambique) ganhou 40% e 42% dos votos respectivamente, contra 14% e 9% respectivamente,
ganhos pelas Renamo em 2008 (Cip & Awepa, 2013).

A afluência às urnas a 20 de Novembro passado foi muito diferente nas 52 Autarquias (excepto
Nampula onde a eleição foi repetida). É provável que a razão que explica a diferença da
participação eleitoral entre os diferentes municípios tenha a ver com o facto de que, o contexto
político-eleitoral nas Autarquias esteja cada vez mais a ser influenciado por factores políticos
localizados, mesmo tendo em conta que o contexto nacional e as estratégias partidárias
centralizadas influenciam os comportamentos eleitorais em todas as Autarquias (Osório &
Macuácua, 2014, p. 242).

Isto é, se os resultados na Beira podem ter que ver com a melhoria do desempenho do município
(daí a grande afluência às urnas como resposta ao apelo do então Presidente candidato à sua
sucessão), provavelmente em Nampula (aonde muitos eleitores preferiram se abster por falta de
motivação), a situação foi resultado da avaliação que os eleitores fizeram do mandato da Frelimo
e a projecção do MDM, a nível nacional, como alternativa política. Na realidade, o trabalho
desenvolvido no Município da Beira pelo MDM e por Daviz Simango constitui um capital
político utilizado por outros candidatos, como exemplo de boa governação (Idem).

Por sua vez, o boicote da Renamo, o maior partido da oposição no país a estas eleições teve
impacto, sobretudo em Nacala-Porto e outros municípios da província de Nampula. É que em
resposta aos apelos do partido, os seus membros não se recensearam e os que se recensearam não
foram votar. Em Nacala, a Renamo ganhou 48% dos votos em 2008, mas o MDM ganhou apenas
11% este ano. Na Ilha de Moçambique, Renamo tinha ganho 34%, enquanto MDM ganhou
apenas 14%. Porém, em outros lugares, há indicações de os apoiantes da Renamo terem votado
no MDM (Cip & Awepa, 2013).
31

Em relação ao comportamento eleitoral neste período, na Beira, os munícipes foram


influenciados pela clivagem económica, isto é, recompensaram o bom desempenho do presidente
do MDM. Por sua vez, em Nampula houve uma alta taxa de abstenção, esta explicação pode
estar aliada ao boicote da Renamo e/ por mau desempenho da Frelimo, como resultado disso os
eleitores alinharam seu voto para o MDM como a segunda alternativa. Enquanto que a derrota da
Frelimo em Quelimane, deve estar associado ao mau desempenho, o que levou os eleitores a
punirem o seu governante.

No cerne desta analise, aliando me a literatura de Osório & Macuácua, (2014), precisa-se
ainda de uma análise mais profunda para se compreender os contornos do alinhamento do voto
para o MDM. Por exemplo, tal análise deveria esclarecer se os resultados do MDM estariam a
beneficiar do desalinhamento de eleitores da Renamo (dada facto de o MDM ter surgido de uma
divergência com a Renamo), ou mesmo do desalinhamento do voto da Frelimo (dentro da
hipótese de descontentamento).

Em Montepuez, a FRELIMO saiu vitoriosa tendo obtido 85,7% de votos, seguido de MDM com
11,8% e o partido PAHUMO tendo ocupado em terceiro lugar com 2,3% (Idem).

Em relação a este período, o comportamento eleitoral na autarquia de Montepuez, a


literatura denota uma lacuna, o que é essencial para a presente pesquisa.

4.3.5. Quintas eleições autárquicas de 2018

A Comissão Nacional de Eleições de Moçambique (CNE) anunciou os resultados das quintas


eleições realizadas em 53 cidades e vilas autárquicas a 10 de Outubro, que confirmam a vitória
da Frelimo, partido no poder. Os resultados indicam que a Frelimo venceu em 44 cidades e vilas,
cabendo a Renamo, o maior partido da oposição oito municípios. O Movimento Democrático de
Moçambique (MDM), o segundo maior partido da oposição, reteve o controlo do município da
cidade portuária de Beira (Portal Do Governo, 2018).

Uma breve análise dos resultados conclui-se que a Renamo teve um desempenho assinalável
comparativamente aos anos anteriores. Devido ao seu boicote nas autárquicas de 2013, a
Renamo não controlava nenhum município no início deste ano. Nestas eleições a Renamo passa
a controlar oito municípios, incluindo três grandes cidades, nomeadamente Nampula, Quelimane
32

e Nacala. Também fez alguns progressos nas autarquias que anteriormente eram consideradas
como sendo zonas de influência da Frelimo no extremo norte de Moçambique, vencendo em
Chiúre na província de Cabo Delgado e Cuamba no Niassa (Idem).

Em termos de votos, a Frelimo ganhou 51,95 por cento que é o pior resultado de todas as
eleições. A Renamo conquistou 38,71 por cento dos votos, o MDM 8,5 por cento e os restantes
partidos da oposição 0,84 por cento.

O MDM sofreu uma pesada derrota. Em 2013, quando era a única formação política a disputar
com a Frelimo, controlava quatro municípios e tinha uma forte presença em muitas das
assembleias municipais. Agora, controla apenas uma cidade e sua presença nas assembleias
municipais foi drasticamente reduzida (Portal Do Governo, 2018).

Não obstante, a principal clivagem que moldou o comportamento eleitoral nestas eleições
foi a clivagem de guerra, como se pode ver a distribuição regional do voto, de lembrar que
Renamo tem uma presença dominante nas zonas das províncias Centro e Centro-Norte do país.
Luís de Brito (2019), considera que, apesar das variações que se registam de eleição para eleição,
cada um dos partidos tem um território próprio, relativamente bem definido, que não registou
mudanças profundas desde o início das eleições multipartidárias até hoje. Partindo desta
premissa, é provável explicar a vitória da Renamo em Quelimane, Nampula e Nacala, que
segundo Sanches, (2014, p. 67), a Renamo tem sido incapaz de se desligar da clivagem de guerra
e ainda mantém a “velha forma” de fazer política. Recorrentemente, a Renamo ameaça boicotar
as eleições, desvincular-se das instituições políticas e mais recentemente, de levar a cabo acções
armadas.

Enquanto que, a vitória do MDM na Beira esta associado a clivagem económica pelo
desempenho do Daviz Simango e clivagem étnica, por causa da forte ligação que este tem com o
povo daquela região. No cerne desta análise, segundo Luis de Brito (1995, p. 488), o voto nunca
é determinado por um factor isolado, mas sempre resultado de interacção de múltiplos factores
de diversa ordem, que só é possível distinguir a partir de uma análise metodológica.

Em relação a Cuamba, o comportamento dos eleitores pode estar associado a clivagem


histórica ligado a clivagem de guerra, isto é, foi nas duas províncias do Norte do País (Niassa e
33

Cabo Delgado) que se desenvolveu durante muito tempo a luta de libertação. Portanto, recordar
que a Renamo nas eleições legislativas de 1999 ficou como a força dominante em Niassa e nas
eleições de 2014 ficou na segunda posição com uma ligeira diferença com o partido no poder. Já
em Chiúre, a literatura denota uma lacuna, o que é essencial para o presente estudo para aferir as
clivagens dos munícipes que moldaram a vitória da Renamo bem como a derrota da Frelimo.

4.4. Análise da distribuição geográfica do voto (em Cabo Delgado): sentido de voto

Ao que tange a distribuição geográfica do voto, pretende-se fazer uma referência dos factores
regionais. Esta variável é de grande relevo, uma vez que tem uma influência forte na
determinação do voto em cabo delgado.

Na visão de Brito (1995), “a distribuição regional do voto parece mesmo entrar em contradição
no que refere ao propósito da clivagem entre cidade e o campo. A verdade é que o voto nunca é
determinado por um factor isolado, mas sempre resultado de interacção de múltiplos factores de
diversa ordem, que só é possível distinguir a partir de uma análise metodológica” (p. 488).

Neste contexto, quando se observa a expressão do voto no espaço territorial do país, constata-se
imediatamente que há uma distribuição marcadamente regional em favor de cada um dos
partidos.

A maioria dos principais dirigentes históricos e numerosos quadros da FRELIMO são oriundos
das provinciais do Sul e relativamente do Norte do País, o que favorece o processo de
identificação das respectivas populações com este partido. Por outro lado, foi nas duas províncias
do Norte do País (Niassa e Cabo Delgado) nas chamadas (zonas libertadas) que se desenvolveu
durante muito tempo a luta de libertação, isto em 25 de Setembro de 1964 onde a presença
político-militar da FRELIMO mais se fez sentir (Brito, 1995, p. 490).

Como resultado disso, sustenta Terenciano (2014), “o comportamento eleitoral em Moçambique


é associado a maior afluência do voto favorável a FRELIMO, assentou-se nestas regiões, ou seja,
os melhores resultados eleitorais da FRELIMO situam-se precisamente nos distritos onde a
FRELIMO tem grande influência, como é o caso do distrito de Mueda/nas zonas do planalto de
Mueda que é um berço histórico da FRELIMO, donde advém muitos quadros militares, onde o
34

partido FRELIMO obteve nas eleições de 1994 à 2009 a seguinte votação: 1994 (92%), 1999
(86%), 2004 (94%) e 2009 (96%) ”.

Por sua vez, segundo os dados apurados pela comissão nacional de eleições (CNE), o partido
FRELIMO no poder em Moçambique desde a independência, foi o vencedor no conselho
autárquico de Montepuez (Sapo, 2018).

4.5. Análise da distribuição do voto por partido (em Montepuez) no ano 2013 e 2018

Neste item, será apresentado a distribuição do voto por partido em dois pleitos eleitoras
nomeadamente, 2013 e 2018. Será de igual modo analisado o número de eleitores inscritos nos
cadernos eleitorais, número de votantes, votos validos, votos nulos, votos em branco.

De acordo com os dados apurados pela Cip & Awepa (2013-2018) “ a distribuição de voto por
partido no ano 2013 e 2018 em Montepuez”.

4.5.1. Distribuição do voto por partido

2013 2018

Partido Votos % Votos %

FRELIMO 12 153 85,7 13,641 51.71

MDM 1 684 11,8 1,162 4.40

PAHUMO 332 2,3

RENAMO 11,577 43.89

Tabela 1: Distribuição do voto por partido

Portanto, em 2013 a FRELIMO saiu vitoriosa tendo obtido 85,7% de votos, seguido de
MDM com 11,8% e o partido PAHUMO tendo ocupado em terceiro lugar com 2,3%, o partido
RENAMO não concorreu nesse escrutínio em protesto contra a lei eleitoral, que supostamente
favorecia a Frelimo. Enquanto que nas eleições autárquicas de 2018 a FRELIMO ocupou em em
primeiro lugar tendo obtido 51.71% de votos, a RENAMO com 43.89% e MDM com 4.40%.
35

O politólogo Luís de Brito defende que a Frelimo tem um domínio marcado nas provinciais do
Sul (Maputo, Gaza e Inhambane) e nalgumas regiões das províncias do extremo Norte (Cabo
Delgado e Niassa), enquanto que a Renamo tem uma presença dominante em amplas zonas das
províncias de Manica, Sofala, Zambézia e Nampula; embora haja um relativo equilíbrio entre
estes dois partidos que dominam a cena política moçambicana, com uma ligeira vantagem para a
Frelimo. Luís de Brito considera que, apesar das variações que se registam de eleição para
eleição, cada um dos partidos tem um território próprio, relativamente bem definido, que não
registou mudanças profundas desde o início das eleições multipartidárias até hoje (Txopela,
2019).
Em suma, fazendo uma breve análise, podemos inferir que a FRELIMO perdeu em
alguns municípios nas eleições de 2018 devido a participação da RENAMO. O motivo dessa
derrota é a clivagem regional, visto que todos os municípios que a FRELIMO perdeu, foram
regiões onde a RENAMO sempre teve forte domínio. Nestas eleições, a RENAMO passa agora a
controlar municípios que antes eram controlados pelo MDM (Quelimane, Nampula e conquistou
também Nacala). A FRELIMO também perdeu nas zonas onde tinha maior influência no
extremo norte de Moçambique, Chiúre (Cabo Delgado) e Cuamba (Niassa). Porém, é a primeira
vez que a oposição ganha em município da Província de Cabo Delgado.

Entretanto, o comportamento dos munícipes nas eleições de 2018 foi influenciado pelo
factor regional. De acordo os estudos feitos por Luis de Brito, a demarcação regional do voto
reflecte, em grande medida, a história do país, das suas clivagens e das oposições entre grupos,
que por vezes remontam aos finais do século XIX (Txopela, 2019).

5. Orçamento

N º de ordem Material Quantia Preço Sub total

01 Bloco de nota 1 50 50,00mt


02 Resma 1 250 250,00mt
03 Impressão 1 200 200,00mt
04 Encadernação 1 50 50,00mt
05 Esferográfica 2 25 50,00mt
06 Transporte _____________ 500 500,00mt
36

07 Alojamento _____________ 5000 5.000,00mt


08 Alimentação _____________ 2000 2.000,00mt
09 Revisão linguística _____________ 2000 2.000,00mt
Total _____________ ____________ _____________ 10.100,00mt
Tabela 2: Orçamento

6. Cronograma das Actividades

No de Actividades 2019 - Meses


ordem
Março Abril à Agosto Setembro

01 Constatação do problema

02 Elaboração do projecto

03 Apresentação do projecto

Tabela 3: Cronograma de actividades


37

Referências Bibliográficas

AfriMap &, Osisa. (2009). Moçambique: Democracia e Participação Política. Johannesburg:


AfriMAP & Open Society Initiative for Southern Africa.

Andersen, R. & Heath, A. (2000). Social cleavages, attitudes and voting patterns: a comparison
of Canada and Great Britain. Working Paper, 81.Edimburgo: Centre for Research into
Elections and Social Trends.

Antunes, Rui J. Silva. (2008). Identificação partidária e Comportamento Eleitoral, Factores


Estruturantes e Mudanças no Sentido de Voto. Coimbra: UC.

Basedau, M. & Stroh, A. (2012). How ethnic are African parties really? Evidence from four
Francophone countries. International Political Science Review 33 (1). Pp. 5-24.

Basedau, M. et al. (2011). Ethnicity and party preference in sub-Saharan Africa.


Democratization, 18 (2). Pp. 462-489.

Bratton, M. Bhavnanib, R., & Chena, T.-H. (2012). Voting intentions in Africa: ethnic economic
or partisan? Commonwealth & Comparative Politics. Pp. 27-52.

Brito, L, De. (1995). O Comportamento Eleitoral nas Primeiras Eleições Multipartidárias em


Moçambique. In Mazula, Brazão. Moçambique, Eleições, Democracia e Desenvolvimento.
Maputo, Elo Gráfica Lda. 1995.

Brito, Luís, De. (2009). O sistema eleitoral: Uma dimensão crítica da representação política em
Moçambique. In Brito, Luís et al. (Org.). Desafios para Moçambique 2010. Maputo: IESE. 2010.
Pp. 17-29.

Castro, M. M. (1992). Sujeito e estruturas do comportamento eleitoral. Revista Brasileira de


Ciências Sociais, n. 20.

Chanaiwa, David. (2010). A África Austral. In Mazrui, Ali A. História geral da África VIII:
África desde 1935. Brasil: Unesco. 2010. Pp. 295-334.
38

Chichava, Sérgio. (2010). Movimento Democrático de Moçambique: uma nova força política na
democracia moçambicana? Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE) Maputo,
Moçambique.

Cip & Awepa. (2013). Boletim sobre o processo político em Moçambique: Resultados finais das
eleições autárquicas de 2013, Nº 54 - Parte 2, 23 de Dezembro de 2013.

Cip & Awepa. (2013). Frelimo ganha 50 municípios e MDM se impõe. Maputo: Centro de
Integridade Pública (CIP). Disponível em: Boletim sobre o processo político em Moçambique –
Número 54 – parte-1-de-2 - 23 de Dezembro de 2013.

Diamond, Larry Jay. (2002). Thinking About Hybrid Regimes. Journal of Democracy, Volume
13, Number 2.Johns Hopkins University Press. Pp. 21-35.

Erdmann, G. (2007). The cleavage model, ethnicity and voter alignment in Africa: Conceptual
and methodological problems revisited. GIGA Working Paper, No. 45.

Evans, J.A. (2004). Voters and Voting: an introduction. Londres: SAGE Publications.

Fernandes, J. António. (2010). Introdução à Ciência Política: Teorias, métodos e técnicas.


Porto: Porto Editora.

Gil, António Carlos. (2002). Como elaborar projectos de pesquisa. 4ªed, Atlas, São Paulo.

Huntington, S. (1991).The Third Wave: democratization in the late twentieth century. Oklahoma:
University of Oklahoma Press.

Keulder, C. Voting behavior in Namibia. (2000). In: C. Keulder (ed.), State, Society and
Democracy: A Reader in Namibian Politics. Windhoek: Namibian Institute for Democracy.
2020.

Key, V.O. (1966). The Responsible Electorate: Rationality in Presidential Voting 1936-1960.
Cambridge, Mass: Harvard University Press.

Lakatos, E, Maria; Marconi, Marina de Andrade. (2003). Fundamentos de Metodologia


Científica. 5a ed. São Paulo. Editora Atlas.
39

Limeira, Tânia & Maia, Tânia. (2010). Comunicação política e decisão de voto: o que as
pesquisas revelam. Artigo publicado na revista Ponto e Vírgula. Pp: 42-55.

Lindberg, S.I. & Morrison, M.K. Are African voters really ethnic or clientelistic? Survey
evidence from Ghana. Political Science Quarterly. 2008.

Lipset, M. & Rokkan, S. (1967). Cleavage structures, party systems, and voter alignments: an
introduction. In M. Lipset & S. Rokkan (eds.), Party Systems and Voter Alignments: Cross-
national perspectives. Nova Iorque: Free Press.

Macuane, José Jaime. et al. (2012). Entre o Estado, Amakhas, Ampamelas, Landins e ONGs:
relações sociais, história, política, centralização e descentralização em Nampula. In Weimer,
Bernhard. Moçambique: Descentralizar O Centralismo: Economia Politica, Recursos e
Resultados. Maputo: IESE. 2012. Pp. 238-276.

Mango, Calido. (2016). As Lutas de libertação e os processos de descolonização nos países


africanos de língua oficial portuguesa (1955-1975). São Francisco do Conde.

Noé, F. G. (S/a). Manual de Gestão e Administração Autarquica. Beira: UCM-CED.

Nuvunga, Adriano. (2008). Tendências nas Eleições Municipais de 1998, 2003 e 2008. Maputo:
Noticias.

Osei, A. (2012). Party-voter linkage in Africa: Ghana and Senegal in Comparative Perspective.
Springer VS, Wiesbaden.

Osório, Conceição; Macuácua, Ernesto. (2014). Eleições Autárquicas de 2013. Participação e


representação de mulheres e homens. Maputo, Editora: Maria José Arthur.

Pereira, J.C. (2007). Onde é que os eleitores moçambicanos adquirem as suas informações
políticas? In Conferência Inaugural do IESE. Maputo.

Pereira, João C. G. (2008). “Antes O ‘Diabo’ Conhecido Do Que Um ‘Anjo’ Desconhecido: As


Limitações Do Voto Económico Na Reeleição Do Partido Frelimo.” Análise Social XLIII: 419–
42.
40

Portal Do Governo. (2018). Moçambique /Autárquicas 2018: CNE confirma vitória da


FRELIMO. Maputo. Disponível
em:<<http://www.portaldogoverno.gov.mz/por/Imprensa/Noticias/Mocambique-Autarquicas-
2018-CNE-confirma-vitoria-da-FRELIMO>> acesso dia 05/09/2019 pelas 16:42.

Rule, S. (2000). Electoral Terrritoriality in Southern Africa. England: Ashgate.

Sanches, Edalina. R. (2014). Novo contexto, mas velha política”: a evolução do sistema
partidário moçambicano entre 1994 e 2014. In Oppenheimer, J.; Leite, J. P.; Mah, L. Espaços
lusófonos (1994-2014): trajectórias económicas e políticas. Lisboa: Centro de Estudos sobre
África, Ásia e América Latina (CESA). 2014. Pp. 34-83.

Sapo. (2018). Montepuez: Renamo acusada de vender votos à Frelimo. Disponivel em:
<<http://noticias.sapo.mz>>acesso dia 05/09/2019 pelas 16:42.

Shenga, C. (2008). The influence of ethnicity on electoral processes in Mozambique. In:


Opening Societies Through Advocacy. Open Society Initiative for Southern Africa.

Silva, A. (2017). Conselho de Ministros moçambicano marca autárquicas para 10 de outubro de


2018. Disponivel em: <<http://observador.pt/2017/04/04/conselho-de-ministros-mocambicano-
marca-autarquicas-para-10-de-outubro-de-2018/>>acesso dia 05/09/2019 pelas 16:42.

Silva, B. I. (2012). Noções do direito administrativo: Origem do Direito Administrativo. São


Paulo: UFSP.

Terenciano, Fidel. (2014). O comportamento Eleitoral no Distrito de Mueda: Análise do voto


leal a persistência do eleitorado de Mueda a favor da Frelimo (1994-2009). Maputo: UEM.

Tse. (2005). Breve apresentação sobre as eleições de 2005 para a Assembleia Legislativa de
Macau. Macau: MAJEA.

TVI24. (2008). Eleições autárquicas em Moçambique. TVI24 Internacional.

Txopela, Jornal. (2019). A geografia do voto em Moçambique: Renamo domina a região Centro
e a Frelimo a região Sul. Disponível em: https://www-jornaltxopela-com. cdn.ampproject.
org/v/s/www. jornaltxopela.com/2019/12/a-geografia-do-voto-em mocambique-renamo-domina-
41

a-regiao-centro-e-a-frelimo-a-regiaosul/amp/?usqp=mq331AQCKAE%3D&amp_js_v=0.1#aoh=
15761483753386&referrer=https%3A%2F%2Fwww.google.com&amp_tf=De
%20%251%24s&ampshare=https%3A%2F%2 Fwww.jornaltxopela.com%2F2019%2F12%2Fa-
geografia-do-voto-em-mocambique-renamo-domina-a-regiao-centro-e-a-frelimo-a-regiao-sul
%2F.

Zeverino, G. J. (2003). O Conflito Político-Militar na Guiné-Bissau. (I. P. Informação, Ed.)


Lisboa: Editorial do Ministério da Educação.

Legislação:

Moçambique, Lei n.º 3/94: Aprova o quadro institucional dos distritos municipais, B.R., 13 de
Setembro de 1994, 2.º Suplemento, I Série - Nº 37.

Moçambique, Lei n.º 2/97: Aprova o quadro jurídico para implementação das autarquias locais,
B.R., 18 de Fevereiro de 1997, 2.° Suplemento, I Série – N.° 7.

Moçambique, Lei n.º 6/2018: Altera a Lei n.º 2/97, de 18 de Fevereiro, que estabelece o quadro
jurídico-legal para a implantação das autarquias locais.

Moçambique, Lei n.º 7/2018: Altera a Lei n.º 7/2013, de 22 de Fevereiro, republicada pela Lei
n.º 10/2014, de 23 de Abril, relativa à eleição dos titulares dos Órgãos das Autarquias Locais.

Você também pode gostar