Projectoo de Monografia 2021
Projectoo de Monografia 2021
Projectoo de Monografia 2021
Universidade Rovuma
2021
2
Supervisor
__________________________
Mouzinho M. L. Manhalo
Universidade Rovuma
2021
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Índice
Introdução........................................................................................................................................3
1. Tema............................................................................................................................................4
1.3. Problematização........................................................................................................................5
1.4. Justificativa...............................................................................................................................6
1.5. Hipóteses...................................................................................................................................7
2. Metodologia.................................................................................................................................8
4. Quadro teórico...........................................................................................................................10
4.1. Contextualização.....................................................................................................................10
4.4. Análise da distribuição geográfica do voto (em Cabo Delgado): sentido de voto.................33
4.5. Análise da distribuição do voto por partido (em Montepuez) no ano 2013 e 2018...............34
5. Orçamento..................................................................................................................................35
Referências Bibliográficas.............................................................................................................37
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Introdução
1. Tema
Comportamento eleitoral no município de Montepuez: uma análise sócio histórica das eleições
de 2013-2018.
De forma a alcançar as metas pretendidas com a escolha do tema em estudo, foram traçados os
objectivos, sendo o primeiro geral e a posterior os específicos.
Explicar a tendência do voto dos munícipes de Montepuez dos actos eleitorais de 2013 e
2018 numa perspectiva sócio histórica e comparada.
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1.3. Problematização
Não obstante, a implementação da referida democracia eleitoral, Nohlen, Krennerich, & Thibaut
(1999, p. 1) sustentam que as eleições passaram a ser parte da tradição política e democrática
africana após os processos das independências políticas desde a década de 1950 à de 1990. Para
aqueles autores, a África registou nesse momento mais de 18 eleições para as assembleias
constitucionais, 186 para as eleições presidenciais, 311 eleições parlamentares e foram
registadas, 115 referendos. Neste estudo empírico, os autores mostram como é que as eleições
nos países africanos se realizam com uma grande frequência e em situações políticas muito
difíceis. Consideram que o carácter competitivo e a função política das eleições variam bastante,
de país para país e de acordo com as políticas de desenvolvimento de cada Estado.
permanente e continua tendência do eleitorado depositar seu voto a favor de um único partido,
que esta no poder.
1.4. Justificativa
A ousadia da escolha deste tema surge pelo facto do autor ter um profundo interesse de acrescer
os estudos existentes que de certa forma concernem na temática do comportamento eleitoral na
literatura Moçambicana, mas partindo da conjuntura sociopolítica e histórica. Tendo em conta a
insuficiência de estudos que analisam com profundidade o comportamento eleitoral dos cidadãos
em Moçambique, particularmente na Província de Cabo Delgado, onde a FRELIMO tem
ganhado todas as eleições, com maioria qualificada. Neste contexto, pretende-se desenvolver um
estudo, que análise, em parte, os determinantes do comportamento eleitoral dos cidadãos, numa
perspectiva sócio histórica e económica, e por outro, o estudo pretende enriquecer a literatura
existente. Dado que, a pouca literatura que existe, no caso do estudo de Terenciano não aborda a
tendência do voto nas eleições autárquicas, o presente estudo ira analisar a tendência do voto nas
eleições autárquicas de Montepuez. No entanto, a realização do estudo neste município ira
contribuir significamente na percepção das dinâmicas no que refere ao comportamento eleitoral
em Moçambique.
Além da motivação académica, a outra motivação é histórica, ou seja, a escolha deste tema
prende-se, fundamentalmente, ao papel histórico que as eleições desempenham enquanto direito
cívico dos cidadãos, como uma das vias mais privilegiada que os cidadãos têm para elegerem os
seus representantes de forma democrática e há que aliar a estes factores o poder que as eleições
têm na manutenção do poder político na sociedade moçambicana e na cidade de Montepuez em
particular. Neste caso, interessa-nos, sobretudo destacar os factores que determinam o
comportamento eleitoral dos cidadãos eleitorais em Montepuez numa perspectiva histórica.
do voto, esta abordagem parte de um princípio que um assunto pouco explorado, precisa ser
analisado com uma amostra relativamente menor (Della Porta, 2008).
Em relação o período em estudo escolheu-se por uma questão metodológica, ou seja, pretende-se
aprofundar o objecto de estudo, tendo em conta, como refere Della Porta (2008) um assunto
pouco explorado precisa ser analisado com uma amostra não muito extensiva. Não menos
importante, pretendemos analisar os dois mandatos governados por um único presidente Cecílio
Chabane.
1.5. Hipóteses
H2: Outra variável do voto tem sido influenciada pelas condições socioeconómicas dos
indivíduos, privilegiando, sobretudo, o aspecto educacional e renda. A escolarização bem
como a renda tem sido apontada como factores que predispõe favoravelmente aos eleitores
na escolha dos seus representantes em Montepuez. A questão da renda, a literatura defende
como uma questão de sobrevivência, tendo em conta que, maior parte dos eleitores na cidade
de Montepuez são funcionários públicos, estes querem garantir o seu pão fornecido por
Partido-Estado1.
1
O entendimento sobre Estado-Partido em Moçambique resulta da forte influência partidária do partido no poder
sobre os órgãos do Estado, bem assim, sobre os órgãos de administração da justiça.
8
H3: A escolha racional tem sido um dos elementos da dispersão do voto em Montepuez.
Neste contexto, a avaliação do desempenho do Governo na economia é determinante na
escolha do eleitorado. Esta abordagem é inspirada pela teoria da escolha racional, que
considera a decisão do voto como produto de uma acção racional individual orientada por
cálculos de interesse, que levam o eleitor a se comportar em relação ao voto como um
consumidor no mercado.
H4: A bipolarização das negociações do acordo de paz contribuiu para que o eleitorado
continuasse polarizado em torno da clivagem de guerra. O que em parte explica os padrões
geográficos de voto, onde a Renamo é mais forte nas províncias centrais do país e nas áreas
rurais onde teve maior apoio no período da guerra civil, e a Frelimo imbatível no sul e norte
do pais Província de Cabo Delgado. Além de influenciar o padrão de competição entre os
partidos, o passado de guerra também tem efeitos no envolvimento dos cidadãos na vida
política do país.
2. Metodologia
Como nos referimos, pela natureza do estudo, o método de investigação será “Histórico” que
parte do princípio de que as actuais formas de vida e de agir na vida social, as instituições e os
costumes têm origem no passado, por isso é importante pesquisar suas raízes para compreender
sua natureza e função, no entanto, o método histórico nos permitira recolher informações sobre a
formação dos partidos políticos parlamentares em Moçambique e sobre tudo a formação do
partido FRELIMO, para analisar a conexão que existe entre este e os eleitores da província de
Cabo Delgado e da cidade de Montepuez em particular.
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Essa análise através de perspectivas históricas tornara, importante para compreender a lealdade
contínua dos eleitores do município de Montepuez ao depositar o seu voto ao partido no poder e
seus candidatos autárquicos em todos pleitos eleitorais.
Também será usado o método estatístico, que consistira na análise estatística de dados dos
resultados das eleições autárquicas de 2013 e 2018, a fim de representá-los em gráfico, indicando
a sua distribuição por partidos e por candidato e por assembleia de voto. De frisar que, os dados
serão extraídos das bases de dados, do portal do governo moçambicano e da comissão nacional
de eleições, ao nível do Distrito.
Será também usado o método comparativo este que consistira em investigar os actos eleitorais e
explicá-los segundo suas semelhanças e suas diferenças. Com este método o autor pretende fazer
uma análise comparativa do comportamento eleitoral na cidade de Montepuez nas eleições
autárquicas de 2013 e 2018, afim de perceber as variáveis do comportamento dos munícipes nos
dois pleitos eleitorais que por sinal foram governados por um único candidato Cecílio Chabane.
Portanto, ao nível da análise de dados iremos recorrer a abordagem qualitativa em que consistira
na análise da variável independente, isto é, o “comportamento eleitoral” dos eleitores do
município de Montepuez e das variáveis dependentes, nomeadamente: a variável étnico-regional,
socioeconómica (o nível de escolaridade, índice de pobreza e as fontes da renda), cultural,
histórica e clivagem de guerra, para compreender se as referidas variáveis são significativas nos
comportamentos dos eleitores.
De igual modo iremos recorrer na análise de dados a abordagem quantitativa que consistira na
análise de variáveis quantitativas discretas no que diz respeito o número total dos inscritos nos
cadernos eleitorais, o número dos votantes, votos válidos, votos em branco, e votos nulos, bem
como a distribuição de votos por partido e por candidatos.
Quanto as técnicas de recolha de dados, serão usadas duas técnicas, nomeadamente o inquérito
por questionário e análise documental. No entanto, será conduzido um inquérito para os cidadãos
eleitores do município de Montepuez, de idade compreendida entre 18-60 anos, este intervalo de
anos por se compreender que, os cidadãos com 18 anos estão aptos em votar. No entanto, esta
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técnica foi escolhida com objectivo de abranger maior número possível do grupo alvo de
pesquisa.
Esta técnica ira permitir extrairmos do documento toda a sua substância através da “análise
externa”, como uma das técnicas em Ciência Política, dado que o objecto do estudo esta
ancorado nesta área científica, tal significa, “a análise externa, orientar-se-á para o
esclarecimento do contexto em que surgiu o documento e do impacto social que veio a ter”
(Fernandes, 2010, p. 60).
De acordo com trabalho em destaque o universo, vai-se basear com os eleitores inscritos nos
cadernos eleitorais de 2013 e 2018.
Do número estimado, será conduzido um inquérito por questionário para duzentos e cinquenta
(250) cidadãos eleitores do município de Montepuez.
4. Quadro teórico
4.1. Contextualização
Nesta parte pretende-se fazer a contextualização do comportamento eleitoral sob o ponto de vista
da literatura internacional, de seguida no contexto Africano e por último no contexto
Moçambicano, sem descartar a conceptualização do termo comportamento eleitoral.
comunicação política transmitida pela imprensa ou propaganda eleitoral ou ainda por meio das
interacções sociais (Limeira & Maia, 2010, p. 45).
A primeira etapa é o processo de formação de opinião, que se inicia quando o eleitor passa a
ficar atento às informações sobre os partidos políticos, que são transmitidas na mídia ou na
propaganda eleitoral ou, ainda, nas conversas entre amigos. O resultado desse processo é o
eleitor com opinião formada, o que pode ocorrer rapidamente, mas, em alguns casos, pode ser
que o eleitor não forme sua opinião até o dia da eleição. À medida que o eleitor vai recebendo
mais informações ao longo da campanha, ele pode formar, manter ou mudar sua opinião diversas
vezes.
Na etapa seguinte, à medida que se aproxima o dia da eleição, os eleitores decidem em que
partidos vão votar. Esta decisão, no entanto, nem sempre é mantida, podendo ser alterada até no
dia da votação. Ou, em alguns casos, o eleitor se mantém indeciso ao longo da campanha
eleitoral e somente se decide quando está na urna de votação.
Na última etapa, que é a do exercício do voto, são variados os comportamentos: há eleitores que
mantêm sua decisão e votam no partido previamente escolhido; há aqueles que mudam de
decisão e votam em outro partido; outros se mantêm indecisos e escolhem o partido na hora da
votação; outros decidem anular o voto; e, ainda, há outros que decidem não votar (abstenção)
(Limeira & Maia, 2010, p. 46).
Dentro dessa abordagem, Cavallari (2009), explicou que o processo de formação da opinião
pública ocorre ao longo do tempo e é influenciado pelos argumentos que os eleitores recebem de
cada candidato. As relações interpessoais são também importantes para a tomada de decisão
final. Por meio de conversas com familiares e amigos, a população vai reunindo argumentos para
formar a sua opinião (Idem).
O comportamento eleitoral, são atitudes políticas que se expressam sob forma de opinião
(Terenciano, 2014, p. 29) que se resume pelo interesse na política, identificação partidária, o tipo
de participação eleitoral e o sentido do voto (Antunes, 2008, p. 115).
A literatura sugere que as decisões eleitorais dos cidadãos seguem a dois pólos,
nomeadamente a racionalidade avaliativa (escolha baseada na avaliação de desempenho
governamental) e a não-avaliativa (escolha baseada em afinidades e identidades”. sobre
estes dois pólos assentam-se as três correntes teóricas clássicas ou modelos teóricos que
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A perspectiva sociológica utiliza uma abordagem de tipo macro para explicar o comportamento
político dos indivíduos, enfocando as condições sociais que constituem o contexto no qual as
instituições, as práticas, as ideologias e os objectivos políticos se formam e actuam. O
fundamental para a perspectiva sociológica é o contexto em que os indivíduos actuam, no qual as
principais variáveis são as socioeconómicas, as demográficas e as ocupacionais, e sua
preocupação central está em mostrar como tais variáveis possuem relações com o
comportamento eleitoral (Castro, 1992).
Entretanto, a conclusão mais geral a que chegaram é que a influência do grupo ao qual pertence o
eleitor é importante para explicar sua escolha partidária. Eleitores que trabalham ou vivem juntos
votam mais provavelmente nos mesmos candidatos. Indivíduos em situação social semelhante
têm mais probabilidade de interagir; se vivem juntas, e em condições externas equivalentes, as
pessoas provavelmente desenvolvem necessidades e interesses semelhantes, tendem a ver o
mundo da mesma maneira e a dar interpretações parecidas a experiências comuns. Mais ainda:
na decisão de votarem determinado partido ou candidato, parece mais importante a influência do
"líder de opinião", que se comunica com cada eleitor dentro de seu grupo, do que os
instrumentos formais de campanha política através dos meios de comunicação de massas (Idem).
Modelo psicossocial tem a sua origem nos estudos conduzidos pelo Survey Research I Centre da
Universidade de Michigan durante as eleições presidenciais americanas de 1948, cujos resultados
foram analisados por Campbell e Kahn (1952) em The People Elect a President; nas eleições de
1952. Estes trabalhos marcam o inicio de uma longa serie de estudos conduzidos pelo Survey
13
Nesta perspectiva, a identificação partidária não é vista como a variável que nos diz de forma
directa e inequívoca qual a opção de voto de um sujeito. Campbell et al. (1960) descrevem a
identificação partidária como um filtro perceptivo, através do qual os eleitores valorizam aquilo
que é favorável à orientação do seu partido e ignoram ou desvalorizam aquilo que lhe e
desfavorável.
Esta tentativa teórica e epistemológica de reduzir o eleitor a um mero juiz que busca punir e
recompensar seus representantes é uma forma quase frágil de analisar o comportamento político
e eleitoral (Figueiredo, 2008). Contudo, a partir desta lógica, é possível associar o exercício do
voto, não o mero sentido julgador, mas como uma acção que pretende ser instrumental, ou
estratégica de ponto de vista do eleitor.
Em África ainda não se desenvolveu teorias próprias adequadas ao contexto das suas
democracias e aos contextos políticos, económicos e sociais. Sem um quadro teórico próprio,
estudiosos de comportamento eleitoral em África recorrem a empréstimos de modelos teóricos
das democracias consolidadas para a interpretação do fenómeno de escolha eleitoral em África
(Keulder, 2000).
Bratton, Bhavnanib e Chena (2012), são os mais cotados que fizeram uma referência clara ao
facto de as condições económicas desempenharem um papel preponderante na determinação das
escolhas eleitorais e defendem que o papel da economia na determinação da votação em África é
ainda maior do que nas democracias mais consolidadas (p. 28).
15
Na África Austral, por exemplo nos países anglófonos, como é o caso de Botsuana, Lesoto,
Namíbia, África do Sul, Suazilândia, Zâmbia e Zimbabué, Rule denota que o voto é motivado
pelas características socioeconómicas, ainda que se valorize o contexto espacial em que se dá a
socialização política dos votantes. Além disso, o autor constatou que é notável a influência
geográfica, étnica regional e urbana como factores fundamentais na decisão do voto naqueles
países (Rule, 2000, p. 1).
De facto, é notório que estudos eleitorais em África tendem a incluir etnicidade, a pertença a um
determinado grupo tribal, o clientelismo, as relações interpessoais, as clivagens regionais, rurais
ou urbanas, como variáveis mais comuns para a explicação do voto em África (Lindberg &
Morrison, 2008).
Quanto ao vínculo entre etnia e preferência partidária, a alegação de que a etnia é um factor
importante para o comportamento eleitoral foi originalmente inferida a partir dos resultados das
eleições. Isso se baseia na observação de que a maioria das pessoas de um distrito ou região
específica - principalmente povoada por um grupo étnico específico - vota no mesmo partido em
uma eleição após a outra. Isso também está relacionado ao discurso político local, que pode
identificar um partido político em particular com um grupo étnico específico (Basedau et al,
2011, p. 463).
do governo que mobilizam amplo apoio por toda a sociedade e partidos da oposição que tendem
a depender fortemente de bases étnicas ou regionais de apoio. Essa distinção sugere duas
conclusões. Primeiro, é necessário questionar como os partidos étnicos comuns realmente são se
os grandes partidos no poder são diferentes. Segundo, partidos e sistemas partidários são
fenómenos diferentes (Basedau & Stroh, 2012, p. 6-7).
Segundo Cahen (2006) apud Sanches (2014, p. 61), o Estado pós-colonial em África enfrentou a
tarefa quase impossível de forjar um discurso moderno e legitimador de um projecto de
unificação do território. No entanto, este projecto não coincidiu com a realidade e as identidades
das populações, que eram diversas. O “centralismo democrático” adoptado pelos partidos nas ex-
colónias portuguesas pretendeu desde o início ser o produtor da homogeneidade interna dos
movimentos nacionais, e legitimar a fórmula de partido único.
Quanto ao clientelismo, Osei (2012, p. 86) sugere que é impossível falar sobre partidos políticos
na África sem falar sobre clientelismo. Acredita-se amplamente que as relações patrono-cliente
são uma característica persistente da política africana desde o advento da independência até
recentemente.
Um problema básico é que a ligação clientelista entre partidos e eleitores é difícil de medir. Isso
ocorre em parte porque os eleitores e os políticos têm fortes incentivos para reter informações,
seja para impedir concorrentes, evitar opróbrio social ou evitar processos judiciais. Em um dos
trabalhos mais influentes sobre o clientelismo na África, Clapham (1982), definiu o clientelismo
como uma relação entre desiguais, marcada por regularidade e persistência (p. 4-7). De acordo
com essa definição, a entrega de dinheiro para um eleitor não é necessariamente clientelismo,
porque pode ser uma interacção singular e não recorrente (Osei, 2012, p. 88).
No contexto Moçambicano, a Frelimo é o partido do Estado desde 1975 e isto tem-lhe permitido,
através da figura do presidente, controlar os principais canais de acesso à esfera económica e
política, sem os devidos freios e contrapesos. Ainda Sanches (2014), apresenta alguns
fenómenos apresentados por alguns testemunhos, estes que realçam que:
O partido no poder é o Estado e o Estado é o maior empregador. Mesmo que eu não
queira, enquanto funcionário do Estado, se me trazem a ficha: é preciso preencher. Ter
um cartão do partido no poder. Assim, eu vou preencher mesmo que não queira para
poder garantir a minha sobrevivência. Se não o fizer eu tenho o meu emprego meio
tremido.
Não obstante, o controlo das nomeações e o preenchimento das posições do Estado são
mecanismos que permitem ao partido no poder criar e conservar clientela. E, mais uma vez, esta
é uma forma autoritária de impor as regras da elite dominante às elites periféricas, na medida em
que o acesso aos benefícios do Estado moderno é determinado pela lealdade ao partido
18
simbolicamente representado pelo cartão do partido. Além disso, esta acção mina as bases de
apoio dos partidos menores. Vários líderes entrevistados durante o trabalho de campo referiram
ter perdido os seus quadros mais importantes para o partido no poder, porque estes são obrigados
a ter o cartão do partido caso pretendam ter um emprego no sector público (Sanches, 2014, p. 69-
70).
A autora apresenta outra prática neopatrimonial, esta que tem a ver com a forma como o partido
faz a alocação dos recursos através das suas políticas públicas. Em 2006 foi criando o Orçamento
de Investimento de Iniciativa, conhecido como o “7 milhões” este programa visa reduzir a
pobreza através do financiamento de projectos individuais. No entanto, este programa tem
alimentado redes clientelares entre Estado, partido e sociedade. Nestes moldes, Forquilha (2010),
defende que, o “7 milhões” tornou-se mais um mecanismo usado pelo partido do poder para
aumentar e manter a sua clientela; já que na prática, os fundos foram distribuídos para os
membros do partido, ou indivíduos e grupos de cidadãos que simpatizam com o partido.
Nesta linha de ideias, Pereira (2008), mostra um outro factor de alinhamento do voto em
Moçambique, o autor defende o modelo-padrão do voto económico postula que os votantes
tomam decisões eleitorais com base nas suas percepções do desempenho económico. Os eleitores
punem os partidos governantes que se revelam incapazes de produzir resultados económicos
aceitáveis e recompensam aqueles que satisfazem as suas expectativas. O sucesso ou fracasso de
um partido governante está directamente relacionado com a mudança (real ou percepcionada) das
condições económicas antes das eleições (p. 419-20).
Todavia, partindo das discussões levadas a cabo a título de exemplo por Brito, Pereira e outros
estudiosos no contexto Moçambicano, nos convidam claramente à aceitar que o eleitorado
Moçambicano esta fragmentado e que cada ângulo compõe características próprias. Assim, por
um lado encontramos o eleitor das zonas urbanas e por outro lado encontramos o eleitor das
zonas rurais e que cada um desses possui suas características e posições diferenciadas sobre o
campo político (Terenciano, 2020, p. 23).
Não obstante, houve divergências baseadas nas motivações étnicas e regionais nestas três
organizações. Esta fragmentação serviu de motivação aos presidentes Július Nyerere da Tanzânia
e o Kwame N’krumah do Gana respectivamente, que conseguiram ajudar a unir os três
movimentos para criar um só, de carácter nacional. A Frente de Libertação de Moçambique
(FRELIMO) foi fundada, em 25 de Junho de 1962, em Dar-Es-Salaam, República de Tanzânia,
por Uria Temóteo Simango, um pastor presbiteriano, Eduardo Chivambo Mondlane e outros.
continua num mistério, começou a expor ainda mais o conflito já existente entre as diferentes
concepções nacionalistas. Estas divergências políticas internas atingiram altas figuras do quadro
da FRELIMO e ditaram o abandono de Uria Simango, um dos membros da comissão
presidencial, sob fortes acusações dele a direcção, composta por Samora Machel e Marcelino dos
Santos. Este conflito baseava-se nas ideologias e estratégias de uma visão do processo
emancipatório que inclui a separação entre as funções dos políticos e militares (Cabaço Apud
Mango, 2016, p. 36).
De acordo com AfriMap e Osisa (2009), “no início dos anos 1970, dos vários movimentos de
libertação, somente a Frente de Libertação de Moçambique, a FRELIMO, mantinha-se
verdadeiramente activa” (p. 25).
Entretanto, em 1974, a guerra já se arrastava por anos, e o seu final parecia próximo. As guerras
de libertação em África já repercutiam negativamente na legitimidade do governo português em
Portugal, e eventos na capital portuguesa catalisaram o processo de independência em
Moçambique.
Malgrado o apoio maciço dos governos ocidentais, as guerras coloniais tornaram-se muito
rapidamente um fardo demasiado pesado para Portugal. Por volta do fim dos anos 1960, elas
absorviam cerca da metade do seu orçamento anual e, enquanto os elementos conservadores, o
estado-maior do exército, assim como os dirigentes financeiros eram favoráveis ao
prosseguimento da guerra, a opinião pública, por sua vez, perdera o entusiasmo. O general
António Spinola preconizava, em seu livro “Portugal e o Futuro”, a emancipação das colónias
portuguesas na África. Em 25 de Abril de 1974, o exército derrubava o governo do presidente
Caetano e nomeava Spinola chefe da junta de governo (Chanaiwa, 2010, p. 320).
Ainda neste processo Brito (2009), sustenta que, embora alguns grupos políticos se tenham
formado, ou reaparecido, na cena moçambicana logo depois do 25 de Abril, os seus esforços no
sentido de participarem no processo de descolonização foram vãos. A independência seria
proclamada pela Frelimo, partido único consagrado na primeira Constituição como “força
dirigente do Estado e da sociedade” (p. 19).
Ainda durante o período do governo de transição, a Frelimo, cuja implantação pouco excedia a
sua presença nas “zonas libertadas” situadas nas regiões mais remotas de Cabo Delgado e
Niassa, viu-se obrigada a responder à necessidade de garantir a sua presença efectiva em todo o
território nacional. Para tal, foi lançado um movimento de formação de Grupos Dinamizadores,
compostos por militantes e simpatizantes da Frelimo, abrangendo tanto os locais de residência
como os locais de trabalho. Dependentes das sedes distritais do partido, estes tornaram-se os
órgãos de base da Frelimo fora das “zonas libertadas” (Brito, 2009, p. 19).
Depois da independência, a Frelimo viu-se confrontada com dois grandes desafios intimamente
ligados entre si: por um lado, assegurar a gestão e a transformação da economia colonial e, por
outro, enfrentar a reacção dos poderes brancos da Rodésia e da África do Sul, que se sentiam
ameaçados pelo avanço das forças de libertação, agora instaladas directamente nas suas
fronteiras.
A saída rápida da maior parte dos colonos, empresários, gestores e quadros qualificados,
ou simplesmente trabalhadores e funcionários públicos, imediatamente antes e logo
depois da independência, desarticulou o funcionamento da economia moçambicana, um
processo que foi reforçado pela redução drástica das receitas dos serviços de portos e
caminhos-de-ferro e das transferências de trabalhadores migrantes. A própria agricultura
camponesa foi afectada pela saída dos colonos que asseguravam, através de uma ampla
rede de pequenos estabelecimentos comerciais (as cantinas), a comercialização rural
(Brito, 2009, p. 21).
posteriormente da África do Sul, a Renamo conduziu uma guerra que se espalhou rapidamente a
todo o país, agravando a situação económica e destruindo uma parte da infra-estrutura económica
e social, sendo as aldeias comunais, as cooperativas, as escolas, os centros de saúde, as fábricas,
as estradas e as pontes, os alvos privilegiados dos ataques da guerrilha (Idem).
Porém, se a guerra foi no início um processo exógeno, rapidamente ela serviu para a expressão
interna de clivagens e conflitos sociais, o que lhe acrescentou uma dimensão de guerra civil. Em
particular nas regiões do Centro e do Centro Norte do país, pôde-se observar que a polarização
das populações, entre a subordinação ao Estado da Frelimo e a adesão à guerrilha da Renamo,
era em grande medida condicionada por dois elementos históricos: de um lado, as divisões entre
grupos relacionadas com o processo de intervenção do Estado independente no seio das
comunidades rurais, particularmente simbolizado pelas aldeias comunais, e de outro lado, as
clivagens entre grupos na sua relação histórica com o Estado (numa primeira fase, o Estado
colonial e, depois, o Estado da Frelimo) (Brito, 2009, p. 22).
O autor ainda sustenta que, depois de várias tentativas para cessar o conflito, nomeadamente com
a celebração do Acordo de Nkomati em 1984 e depois com várias ofertas de amnistia aos
combatentes da Renamo, a solução da guerra acabaria por ser negociada directamente entre os
dois protagonistas, que viriam a assinar o Acordo Geral de Paz, em Roma, a 4 de Outubro de
1992.
obtido a maioria dos votos em qualquer um dos 148 distritos que formavam os onze círculos
eleitorais (Brito, 1995, p. 484).
Em 1994, foi aprovada a Lei 3/94, de 13 de Setembro que estabeleceu o quadro institucional dos
distritos municipais. Depois das primeiras eleições gerais e multipartidárias realizadas em 1994,
a Lei 3/94 foi revogada, através de uma emenda à Constituição, feita através da Lei 9/96, em
1997, foi aprovada a Lei 2/97, de 18 de Fevereiro que estabeleceu o quadro jurídico para
implementação das autarquias locais. Em 2018, foi aprovada a lei 6/2018, de 3 de Agosto que
altera a Lei 2/97, de 18 de Fevereiro, que estabelece o quadro jurídico-legal para a implantação
das autarquias locais, ainda em 2018, foi aprovada a lei 7/2018, que altera a Lei 7/2013, de 22 de
25
Fevereiro, republicada pela Lei 10/2014, de 23 de Abril, relativa à eleição dos titulares dos
Órgãos das Autarquias Locais.
Como indicado atrás, as eleições municipais também deram a oportunidade a grupos de cidadãos
de se organizarem e de competirem por votos. Vários grupos de cidadãos foram registados e
concorreram às primeiras eleições municipais de sempre no país. Em consequência disto, houve
grupos de cidadãos que conquistaram um número limitado de lugares em quatro cidades,
incluindo as duas maiores cidades do país, Maputo e Beira.
Os analistas atribuem a baixa afluência às urnas nas eleições municipais de 1998 em parte à falta
de competição, uma vez que a Frelimo concorreu às eleições praticamente sozinha, bem como à
desigualdade nas condições dos concorrentes, devido ao mau e contestado desempenho da
Comissão Nacional de Eleições (CNE). Também é possível que a afluência às urnas tenha siso
afectada não só pela falta de competição como também pela campanha de abstenção levada a
cabo pela Renamo. Enquanto a Frelimo fez uma campanha pela participação maciça nestas
eleições nas duas semanas destinadas à campanha eleitoral, a oposição liderada pela Renamo fez
campanha pela abstenção como forma de boicote eleitoral (Idem).
26
Em relação a este período, a literatura denota que a principal clivagem que influenciou no
comportamento dos eleitores foi a clivagem histórica. Os munícipes teriam sido movidos pelo
contexto histórico do país, desde a formação da Frelimo e o seu papel na luta de libertação
nacional.
Enquanto, em 1998, a Frelimo ocupou todos os mandatos dos lugares para PCM e Assembleia
Municipal, para todas as 33 autarquias, em 2003, ela ganha 28 eleições para as Presidências
Municipais e 29 maiorias absolutas nas Assembleias Municipais. Por seu turno, a Renamo-UE
ganhou 5 Autarquias para a Presidência Municipal e a maioria de lugares em 4 Assembleias
Municipais. Desta forma, a Renamo-UE teria, pela primeira vez, o poder executivo formal em
Moçambique nos seguintes Municípios: Nacala Porto, Ilha de Moçambique, Angoche (em
Nampula), Beira e Marromeu (Sofala). Três destes municípios são da Província de Nampula
(todos situados na região costeira da Província) e dois em Sofala. Nota a destacar vai para o
Município de Marromeu, onde o PCM da Renamo-UE teve que partilhar o poder com uma
maioria da Frelimo na Assembleia Municipal (Osório & Macuácua, 2014, p. 231).
Em 2003 houve um aumento da afluência às urnas pelo facto de a oposição ter deixado de fazer
boicote e, mais positivamente, à existência de competição eleitoral, uma vez que a oposição,
sobretudo a Renamo, participou plenamente no processo eleitoral. Além disso, diz-se que a forte
competição entre os dois maiores oponentes, Frelimo e Renamo, nas eleições gerais de 1999,
com a Renamo a perder a corrida presidencial por uma margem estreita, se reflectiu nas eleições
municipais e fez subir a afluência às urnas (Nuvunga, 2008, p. 286).
Verifica-se que, desde que a política municipal ficou dominada pelos dois maiores partidos com
plataformas nacionais, a partir de 2003, os poucos lugares conquistados por grupos de cidadãos
em assembleias municipais são cada vez mais entendidos pelos potenciais eleitores como votos
27
desperdiçados, uma vez que os detentores desses lugares são politicamente marginalizados e não
estão ligados a redes clientelistas nacionais ou locais firmemente estabelecidas.
Nas eleições, os cidadãos devem, de cinco em cinco anos, recompensar o bom
desempenho ou punir o mau desempenho. Nesta perspectiva, houve três casos
interessantes e pertinentes nas eleições de 2003, nomeadamente os de Nacala, Dondo e
Beira. Os dois primeiros foram casos do que se entendia, no geral, ter sido uma boa
prestação, ao passo que o terceiro foi um caso de má prestação. Curiosamente, todos estes
casos foram em zonas dominadas pela Renamo. Nos casos do Dondo e de Nacala, a
questão era se os eleitores compensariam o êxito da liderança municipal que não era do
seu partido habitual (Nuvunga, 2008, p. 294).
Entretanto, o comportamento eleitoral dos munícipes nestas eleições foi influenciado pela
clivagem económica, Além da variável económica, outra clivagem que influenciou o
comportamento dos munícipes nestas eleições foi a clivagem de guerra, a literatura denota que
Beira sempre foi um território dominado Renamo.
O caso da Beira é um pouco diferente. A Frelimo reconheceu que o então presidente do conselho
municipal, Chivavice Muchangage, tinha tido um mau desempenho e, por isso, não o apoiou na
sua tentativa de se recandidatar. Um novo candidato foi chamado a concorrer a presidente do
conselho municipal, contra um candidato da Renamo que era desconhecido nessa altura. O
candidato da Frelimo sofreu uma enorme derrota, mas nunca ficou claro se os eleitores estavam a
castigar a Frelimo pela má prestação do seu anterior presidente do conselho municipal ou se
estavam a ser partidários ao votar no candidato da Renamo, dado que a Beira era um bastião da
Renamo nesta altura (Idem).
Em relação a este período, de acordo com Luis de Brito (2013), a conquista de várias
autarquias pela oposição parece ter sido o elemento catalizador de uma nova dinâmica eleitoral
nos municípios, como se vai verificar nas eleições seguintes. A alternância na governação local
terá provavelmente contribuído, por um lado, para uma tendência dos cidadãos de exigirem um
28
melhor desempenho das novas autoridades, e, por outro, para uma maior mobilização do
eleitorado.
Cinco anos depois em 2008, foram criadas mais 10 municípios, nas vilas de Marrupa, Mueda,
Ribaué, Alto Molocué, Angónia, Gondola, Gorongosa, Massinga, Macia e Namaacha,
concorreram para um total de 43 municípios, na qual foram disputados por muitos partidos
políticos, além dos principiais partidos nacionais (FRELIMO e RENAMO). As eleições
ocorreram num contexto em que uma oposição esteve enfraquecida (RENAMO) e ainda mais
dividida, de que é exemplo de destaque a candidatura independente de Deviz Simango na Beira,
pelo recém-criado Movimento Democrático de Moçambique (MDM), no seguimento da sua
expulsão da RENAMO. Com o efeito, a FRELIMO recuperou o poder na maior parte dos
municípios que tinha anteriormente perdido, excepto na Beira, pois esta foi arrancada
poderosamente pelo novo partido (MDM), surgindo assim uma nova maior oposição nacional.
Partindo deste pressuposto, Sérgio Chichava, (2010, p. 9), realça que a Beira foi o único dos
anteriores cinco municípios da Renamo que, nas eleições locais de 2008, permaneceu nas mãos
da oposição (de Daviz Simango), apesar de todo o esforço feito pela Frelimo para recuperar a
considerada segunda capital do país.
Na verdade, Sofala é apenas um dos símbolos de contestação das elites do Centro e Norte contra
o que consideram discriminação por parte das elites do Sul, sentimento que teve como um dos
pontos mais altos os conflitos surgidos no seio da Frelimo e que levaram não só à expulsão e à
deserção de muitos dos seus militantes oriundos destas regiões, mas também ao surgimento de
movimentos regionalistas, reclamando apenas a independência destas parcelas do país, tudo isto
durante a guerra colonial (Chichava, 2010, p. 10).
Em suma, fazendo uma análise nestas eleições, podemos inferir que houve duas clivagens
que moldaram o comportamento dos eleitores nestas eleições, nomeadamente, a clivagem
económica e étnica. Quanto a clivagem económica, os eleitores recompensaram com êxito o
desempenho dos seus governantes na Beira e Dondo. Por outro lado a clivagem étnica, é
provável que esta tenha contribuído de igual modo no comportamento dos munícipes na Beira,
que segundo Chicava (2010, p. 9), a família Simango goza uma simpatia nesta região, não só por
se ter destacado na resistência ao colonialismo, mas também pelo facto de simbolizar o conflito
com a elite “tribalista” da Frelimo.
Assim, quando se olha para a história política da província, fica claro que as questões de
etnicidade e as relações entre as populações do interior e do litoral são elementos definidores das
relações que se desenvolvem entre os actores a nível local, assim como destes com o partido no
poder, o Estado e as estruturas governamentais centrais, com implicações na governação local.
30
A afluência às urnas a 20 de Novembro passado foi muito diferente nas 52 Autarquias (excepto
Nampula onde a eleição foi repetida). É provável que a razão que explica a diferença da
participação eleitoral entre os diferentes municípios tenha a ver com o facto de que, o contexto
político-eleitoral nas Autarquias esteja cada vez mais a ser influenciado por factores políticos
localizados, mesmo tendo em conta que o contexto nacional e as estratégias partidárias
centralizadas influenciam os comportamentos eleitorais em todas as Autarquias (Osório &
Macuácua, 2014, p. 242).
Isto é, se os resultados na Beira podem ter que ver com a melhoria do desempenho do município
(daí a grande afluência às urnas como resposta ao apelo do então Presidente candidato à sua
sucessão), provavelmente em Nampula (aonde muitos eleitores preferiram se abster por falta de
motivação), a situação foi resultado da avaliação que os eleitores fizeram do mandato da Frelimo
e a projecção do MDM, a nível nacional, como alternativa política. Na realidade, o trabalho
desenvolvido no Município da Beira pelo MDM e por Daviz Simango constitui um capital
político utilizado por outros candidatos, como exemplo de boa governação (Idem).
Por sua vez, o boicote da Renamo, o maior partido da oposição no país a estas eleições teve
impacto, sobretudo em Nacala-Porto e outros municípios da província de Nampula. É que em
resposta aos apelos do partido, os seus membros não se recensearam e os que se recensearam não
foram votar. Em Nacala, a Renamo ganhou 48% dos votos em 2008, mas o MDM ganhou apenas
11% este ano. Na Ilha de Moçambique, Renamo tinha ganho 34%, enquanto MDM ganhou
apenas 14%. Porém, em outros lugares, há indicações de os apoiantes da Renamo terem votado
no MDM (Cip & Awepa, 2013).
31
No cerne desta analise, aliando me a literatura de Osório & Macuácua, (2014), precisa-se
ainda de uma análise mais profunda para se compreender os contornos do alinhamento do voto
para o MDM. Por exemplo, tal análise deveria esclarecer se os resultados do MDM estariam a
beneficiar do desalinhamento de eleitores da Renamo (dada facto de o MDM ter surgido de uma
divergência com a Renamo), ou mesmo do desalinhamento do voto da Frelimo (dentro da
hipótese de descontentamento).
Em Montepuez, a FRELIMO saiu vitoriosa tendo obtido 85,7% de votos, seguido de MDM com
11,8% e o partido PAHUMO tendo ocupado em terceiro lugar com 2,3% (Idem).
Uma breve análise dos resultados conclui-se que a Renamo teve um desempenho assinalável
comparativamente aos anos anteriores. Devido ao seu boicote nas autárquicas de 2013, a
Renamo não controlava nenhum município no início deste ano. Nestas eleições a Renamo passa
a controlar oito municípios, incluindo três grandes cidades, nomeadamente Nampula, Quelimane
32
e Nacala. Também fez alguns progressos nas autarquias que anteriormente eram consideradas
como sendo zonas de influência da Frelimo no extremo norte de Moçambique, vencendo em
Chiúre na província de Cabo Delgado e Cuamba no Niassa (Idem).
Em termos de votos, a Frelimo ganhou 51,95 por cento que é o pior resultado de todas as
eleições. A Renamo conquistou 38,71 por cento dos votos, o MDM 8,5 por cento e os restantes
partidos da oposição 0,84 por cento.
O MDM sofreu uma pesada derrota. Em 2013, quando era a única formação política a disputar
com a Frelimo, controlava quatro municípios e tinha uma forte presença em muitas das
assembleias municipais. Agora, controla apenas uma cidade e sua presença nas assembleias
municipais foi drasticamente reduzida (Portal Do Governo, 2018).
Não obstante, a principal clivagem que moldou o comportamento eleitoral nestas eleições
foi a clivagem de guerra, como se pode ver a distribuição regional do voto, de lembrar que
Renamo tem uma presença dominante nas zonas das províncias Centro e Centro-Norte do país.
Luís de Brito (2019), considera que, apesar das variações que se registam de eleição para eleição,
cada um dos partidos tem um território próprio, relativamente bem definido, que não registou
mudanças profundas desde o início das eleições multipartidárias até hoje. Partindo desta
premissa, é provável explicar a vitória da Renamo em Quelimane, Nampula e Nacala, que
segundo Sanches, (2014, p. 67), a Renamo tem sido incapaz de se desligar da clivagem de guerra
e ainda mantém a “velha forma” de fazer política. Recorrentemente, a Renamo ameaça boicotar
as eleições, desvincular-se das instituições políticas e mais recentemente, de levar a cabo acções
armadas.
Enquanto que, a vitória do MDM na Beira esta associado a clivagem económica pelo
desempenho do Daviz Simango e clivagem étnica, por causa da forte ligação que este tem com o
povo daquela região. No cerne desta análise, segundo Luis de Brito (1995, p. 488), o voto nunca
é determinado por um factor isolado, mas sempre resultado de interacção de múltiplos factores
de diversa ordem, que só é possível distinguir a partir de uma análise metodológica.
Cabo Delgado) que se desenvolveu durante muito tempo a luta de libertação. Portanto, recordar
que a Renamo nas eleições legislativas de 1999 ficou como a força dominante em Niassa e nas
eleições de 2014 ficou na segunda posição com uma ligeira diferença com o partido no poder. Já
em Chiúre, a literatura denota uma lacuna, o que é essencial para o presente estudo para aferir as
clivagens dos munícipes que moldaram a vitória da Renamo bem como a derrota da Frelimo.
4.4. Análise da distribuição geográfica do voto (em Cabo Delgado): sentido de voto
Ao que tange a distribuição geográfica do voto, pretende-se fazer uma referência dos factores
regionais. Esta variável é de grande relevo, uma vez que tem uma influência forte na
determinação do voto em cabo delgado.
Na visão de Brito (1995), “a distribuição regional do voto parece mesmo entrar em contradição
no que refere ao propósito da clivagem entre cidade e o campo. A verdade é que o voto nunca é
determinado por um factor isolado, mas sempre resultado de interacção de múltiplos factores de
diversa ordem, que só é possível distinguir a partir de uma análise metodológica” (p. 488).
Neste contexto, quando se observa a expressão do voto no espaço territorial do país, constata-se
imediatamente que há uma distribuição marcadamente regional em favor de cada um dos
partidos.
A maioria dos principais dirigentes históricos e numerosos quadros da FRELIMO são oriundos
das provinciais do Sul e relativamente do Norte do País, o que favorece o processo de
identificação das respectivas populações com este partido. Por outro lado, foi nas duas províncias
do Norte do País (Niassa e Cabo Delgado) nas chamadas (zonas libertadas) que se desenvolveu
durante muito tempo a luta de libertação, isto em 25 de Setembro de 1964 onde a presença
político-militar da FRELIMO mais se fez sentir (Brito, 1995, p. 490).
partido FRELIMO obteve nas eleições de 1994 à 2009 a seguinte votação: 1994 (92%), 1999
(86%), 2004 (94%) e 2009 (96%) ”.
Por sua vez, segundo os dados apurados pela comissão nacional de eleições (CNE), o partido
FRELIMO no poder em Moçambique desde a independência, foi o vencedor no conselho
autárquico de Montepuez (Sapo, 2018).
4.5. Análise da distribuição do voto por partido (em Montepuez) no ano 2013 e 2018
Neste item, será apresentado a distribuição do voto por partido em dois pleitos eleitoras
nomeadamente, 2013 e 2018. Será de igual modo analisado o número de eleitores inscritos nos
cadernos eleitorais, número de votantes, votos validos, votos nulos, votos em branco.
De acordo com os dados apurados pela Cip & Awepa (2013-2018) “ a distribuição de voto por
partido no ano 2013 e 2018 em Montepuez”.
2013 2018
Portanto, em 2013 a FRELIMO saiu vitoriosa tendo obtido 85,7% de votos, seguido de
MDM com 11,8% e o partido PAHUMO tendo ocupado em terceiro lugar com 2,3%, o partido
RENAMO não concorreu nesse escrutínio em protesto contra a lei eleitoral, que supostamente
favorecia a Frelimo. Enquanto que nas eleições autárquicas de 2018 a FRELIMO ocupou em em
primeiro lugar tendo obtido 51.71% de votos, a RENAMO com 43.89% e MDM com 4.40%.
35
O politólogo Luís de Brito defende que a Frelimo tem um domínio marcado nas provinciais do
Sul (Maputo, Gaza e Inhambane) e nalgumas regiões das províncias do extremo Norte (Cabo
Delgado e Niassa), enquanto que a Renamo tem uma presença dominante em amplas zonas das
províncias de Manica, Sofala, Zambézia e Nampula; embora haja um relativo equilíbrio entre
estes dois partidos que dominam a cena política moçambicana, com uma ligeira vantagem para a
Frelimo. Luís de Brito considera que, apesar das variações que se registam de eleição para
eleição, cada um dos partidos tem um território próprio, relativamente bem definido, que não
registou mudanças profundas desde o início das eleições multipartidárias até hoje (Txopela,
2019).
Em suma, fazendo uma breve análise, podemos inferir que a FRELIMO perdeu em
alguns municípios nas eleições de 2018 devido a participação da RENAMO. O motivo dessa
derrota é a clivagem regional, visto que todos os municípios que a FRELIMO perdeu, foram
regiões onde a RENAMO sempre teve forte domínio. Nestas eleições, a RENAMO passa agora a
controlar municípios que antes eram controlados pelo MDM (Quelimane, Nampula e conquistou
também Nacala). A FRELIMO também perdeu nas zonas onde tinha maior influência no
extremo norte de Moçambique, Chiúre (Cabo Delgado) e Cuamba (Niassa). Porém, é a primeira
vez que a oposição ganha em município da Província de Cabo Delgado.
Entretanto, o comportamento dos munícipes nas eleições de 2018 foi influenciado pelo
factor regional. De acordo os estudos feitos por Luis de Brito, a demarcação regional do voto
reflecte, em grande medida, a história do país, das suas clivagens e das oposições entre grupos,
que por vezes remontam aos finais do século XIX (Txopela, 2019).
5. Orçamento
01 Constatação do problema
02 Elaboração do projecto
03 Apresentação do projecto
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