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MICROECONOMIA

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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DE MANICA

CURSO CONTABILIDADE E AUDITORIA


MICROECONOMIA

Impacto das manifestações pós eleitorais no mercado de procura em Moçambique

Benildo Andrade

Chimoio, Novembro de 2024

1
INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DE MANICA

CURSO CONTABILIDADE E AUDITORIA

Benildo Andrade

Trabalho de pesquisa da cadeira de Microeconomia sobre


Impacto das manifestações pós eleitorais no mercado de
procura em Moçambique a ser entregue no ISPM, sob
orientação da Dr. Denise Alexandre

Chimoio, Novembro de 2024

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Índice Pág.

Capitulo 1 .................................................................................................................................. 1

1.1.Introdução ............................................................................................................................. 1

1.2.Objectivos ............................................................................................................................. 1

Gerais: ......................................................................................................................................... 1

Específicos:................................................................................................................................. 1

1.3. Metodologias ................................................................................................................... 1

Capitulo 2-Impacto das manifestações pós eleitorais no mercado de procura em Moçambique


.................................................................................................................................................... 2

2.1. Conceito de manifestações .................................................................................................. 2

2.2. Impacto das manifestações pós eleitorais no mercado de procura em Moçambique .......... 3

I. Queda na confiança dos consumidores ............................................................................... 4

Interrupção das cadeias de abastecimento .................................................................................. 5

II.Impacto no sector informal ..................................................................................................... 6

III.Perda de investimentos .......................................................................................................... 6

IV.Mudança nos hábitos de consumo ......................................................................................... 7

2.3. Estratégias de mitigação ...................................................................................................... 9

Capitulo 3 ................................................................................................................................ 11

3.1. Conclusão .......................................................................................................................... 11

3.2. Referências bibliográficas ................................................................................................. 12

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Capitulo 1

1.1.Introdução

A dinâmica política e social de Moçambique, especialmente em períodos eleitorais e pós-


eleitorais, tem impactado directamente a economia do país. Este trabalho fala dos impactos
das manifestações pós eleitorais no mercado de procura em Moçambique, com um foco
particular nas consequências para os consumidores, os comerciantes e os investidores. No
Capítulo 1, a introdução apresenta o tema e os objectivos do estudo, delineando a importância
de compreender como as manifestações políticas afectam o comportamento de consumo e a
estabilidade do mercado e a metodologia adoptada. No Capítulo 2, o trabalho analisa o
impacto das manifestações pós-eleitorais no mercado de procura, começando com uma
definição do conceito de manifestações.
No Capítulo 3, encontram-se as referências bibliográficas, nas quais são citados os autores
mencionados ao longo do trabalho. Este capítulo apresenta de forma organizada todas as
fontes consultadas, incluindo livros, artigos académicos e outros materiais relevantes, que
sustentam e embasam as análises e discussões realizadas nos capítulos anteriores...

1.2.Objectivos

Gerais:

Saber quais os impactos das manifestações pós eleitorais no mercado de procura em


Moçambique.

Específicos:

Definir manifestações,
Compreender os impactos das manifestações pós eleitorais no mercado de procura em
Moçambique,
Descrever as estratégias de mitigação das manifestações pós eleitorais no mercado de
procura em Moçambique.
1.3.Metodologias

O método bibliográfico foi utilizado para conduzir a pesquisa que consistiu na colecta e
leitura de algumas obras literárias que tratavam de tema sobre impacto das manifestações pós
eleitorais no mercado de procura em Moçambique.
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Capitulo 2-Impacto das manifestações pós eleitorais no mercado de procura em
Moçambique

2.1. Conceito de manifestações

De acordo com Rosário, D. (2012) define as manifestações como "expressões colectivas que
visam a reivindicação de direitos sociais, económicos ou políticos, emergindo como uma
resposta às desigualdades e à exclusão vivenciada por determinados grupos sociais". Para o
autor, as manifestações em Moçambique estão profundamente enraizadas no contexto
histórico e político do país, marcado por períodos de autoritarismo, desigualdades sociais e
fragilidades institucionais.

Rosário argumenta que as manifestações são, muitas vezes, motivadas por factores
económicos, como o aumento do custo de vida e a falta de acesso a serviços básicos, que
impactam directamente as populações mais vulneráveis. Ele também destaca que, em um
ambiente democrático em construção, as manifestações desempenham um papel importante
na conscientização social e na mobilização da opinião pública em torno de questões de
interesse colectivo. A análise de Rosário ressalta a necessidade de compreender as
manifestações como um reflexo das desigualdades estruturais existentes, sendo essas acções
colectivas uma resposta natural ao descontentamento social. Ele observa que o impacto das
manifestações pode variar de pequenas mudanças locais a reformas mais amplas nas políticas
públicas, dependendo da articulação entre os atores sociais e políticos. Para Serra, (2010), vê
as manifestações como "práticas colectivas que expressam a insatisfação popular em relação à
governança e às condições sociais, frequentemente marcadas por tensões entre os cidadãos e
as instituições do Estado" Sua abordagem enfatiza o papel das manifestações como um
termómetro das relações entre a população e o governo, bem como das desigualdades
persistentes no país. As manifestações em Moçambique não são apenas resultado de questões
económicas imediatas, mas também de factores históricos e culturais, incluindo a forma como
a sociedade percebe e responde às decisões governamentais, Serra, (2010).

Ele aponta que o Estado, por vezes, encara as manifestações como uma ameaça à ordem
pública, resultando em repressão, o que amplifica as tensões sociais. Um exemplo prático
dessa dinâmica é o caso das manifestações de 2010, quando o aumento do preço do pão gerou
protestos significativos em Maputo e outras cidades., Serra, (2010) analisa esses eventos

2
como um símbolo das limitações da capacidade do governo em lidar com as demandas
populares, bem como da força das manifestações como ferramenta de contestação política.

Essas análises são particularmente relevantes para entender o contexto moçambicano, onde a
transição para a democracia e o desenvolvimento económico ainda enfrentam desafios
significativos. As manifestações, nesse sentido, representam tanto uma resposta às condições
existentes quanto uma oportunidade para fortalecer a participação cidadã e a
responsabilização governamental.

2.2. Impacto das manifestações pós eleitorais no mercado de procura em Moçambique

Moçambique, que até recentemente era visto como um exemplo de sucesso nos mercados
africanos por liderar cortes nas taxas de juro, está agora a enfrentar uma crise de confiança. A
situação política instável, provocada pelas tensões antes dos resultados das eleições de 2024,
está a gerar grande incerteza nos mercados financeiros. Os títulos soberanos moçambicanos,
com vencimento em 2031, caíram significativamente, com rendimentos a atingirem quase
13%, reflectindo o aumento do risco associado ao país, Rosário, D. (2012).

O clima político deteriorou-se depois das eleições de Outubro de 2024, com o candidato da
oposição, Venâncio Mondlane, a chamar a uma “revolução”, alegando fraude eleitoral. A
escalada de protestos, incluindo o uso de gás lacrimogéneo pela polícia para dispersar
manifestantes, trouxe mais instabilidade. A morte de um advogado ligado à campanha de
Mondlane e as alegações de irregularidades eleitorais alimentaram ainda mais as tensões,
enquanto os resultados oficiais da eleição ainda não foram totalmente divulgados, Rosário, D.
(2012).

A queda nos títulos de dívida de Moçambique, como reportado pela Bloomberg, ocorre no
momento em que o país enfrenta uma série de desafios críticos. O escândalo dos “tuna
bonds”, a insurgência em Cabo Delgado e os atrasos nos projectos de gás natural em parceria
com a TotalEnergies e ExxonMobil têm pesado sobre a economia. Com a falta de uma
transição política tranquila, os grandes projectos de gás, que são cruciais para o crescimento
económico do país, estão em risco de novos adiamentos, o que pode afectar ainda mais a
confiança dos investidores.

De acordo com especialistas do mercado, a recente queda nos preços dos títulos
moçambicanos é preocupante e pode continuar se a situação política não se estabilizar. Além
3
disso, o impacto da incerteza eleitoral pode dificultar os esforços do governo para atrair novos
investimentos no sector de gás, visto como a principal fonte de crescimento económico a
longo prazo. A IATA Clearing House suspendeu a LAM (Linhas Aéreas de Moçambique) por
não pagamento de dívidas, reflectindo os problemas económicos mais amplos que o país
enfrenta, Rosário, D. (2012).

Moçambique é uma jovem democracia que ainda enfrenta desafios no fortalecimento das suas
instituições. Desde as primeiras eleições multipartidárias em 1994, os períodos pós-eleitorais
têm sido marcados por tensões, especialmente entre os principais partidos, FRELIMO e
RENAMO. Segundo Rosário, D. (2012), essas tensões frequentemente se traduzem em
manifestações públicas, que, embora legítimas em um Estado democrático, têm gerado
instabilidade social e económica.

As manifestações pós-eleitorais em Moçambique estão geralmente associadas a


reivindicações de transparência e justiça. Para Carlos Serra (2010), essas manifestações
reflectem uma desconfiança estrutural entre a população e as instituições do Estado, agravada
pela percepção de que os processos eleitorais favorecem o partido no poder.

O mercado de procura, que envolve a demanda por bens e serviços, é directamente afectado
por crises sociais e políticas. As manifestações pós-eleitorais influenciam esse mercado de
várias maneiras:

I. Queda na confiança dos consumidores

De acordo com Elísio M. (2006), as crises políticas exercem um impacto directo e


significativo sobre a confiança dos consumidores, especialmente em contextos de
instabilidade social e económica como o de Moçambique. Esse impacto se manifesta
principalmente na retracção do consumo, já que as famílias, diante da insegurança e da
incerteza geradas por manifestações pós-eleitorais, tendem a adoptar um comportamento mais
conservador em relação aos seus gastos. Essa retracção ocorre porque, em situações de
instabilidade, os consumidores priorizam a satisfação de necessidades básicas, como
alimentação e saúde, enquanto reduzem ou eliminam despesas com bens e serviços
considerados supérfluos ou de longo prazo, como artigos de luxo, electrodomésticos e
viagens.

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O sector comercial é particularmente afectado, uma vez que a diminuição da procura por
produtos não essenciais leva a uma queda acentuada nas vendas. Pequenos e médios
comerciantes, que frequentemente dependem de um fluxo constante de consumo, enfrentam
desafios significativos para manter seus negócios em funcionamento. A redução no consumo
também se reflecte no turismo, um sector que já enfrenta dificuldades devido à percepção de
insegurança associada às manifestações. Durante esses períodos, tantos turistas nacionais
quanto internacionais evitam viajar, o que reduz ainda mais a receita das empresas que
operam nesse sector, incluindo hotéis, restaurantes e agências de viagens.

II. Interrupção das cadeias de abastecimento

Carlos S. (2010) destaca que as manifestações pós-eleitorais em Moçambique frequentemente


levam ao bloqueio de estradas e à interrupção do transporte de mercadorias, gerando impactos
significativos na dinâmica económica. Esses bloqueios afectam directamente a oferta de
produtos no mercado, especialmente itens de primeira necessidade, como alimentos e
combustíveis, que dependem de cadeias logísticas para abastecerem as diversas regiões do
país. A interrupção no fluxo de mercadorias causa escassez de bens, um problema
particularmente preocupante em comunidades mais isoladas, onde o abastecimento já é
limitado.

Com a diminuição da oferta, os preços desses produtos tendem a subir rapidamente, fenómeno
conhecido como inflação, que afecta de maneira desproporcional as famílias de baixa renda.
Essas famílias, que já enfrentam dificuldades para suprir suas necessidades básicas, vê seu
poder de compra ainda mais reduzido, sendo obrigadas a fazer escolhas difíceis entre
diferentes itens essenciais. Esse cenário não só amplia as desigualdades sociais como também
intensifica o descontentamento da população, muitas vezes agravando o ciclo de instabilidade.

A inflação pós-eleitoral é um problema recorrente em Moçambique, reflexo da fragilidade


estrutural do sistema logístico e do impacto directo das manifestações na economia. Além
disso, a percepção de instabilidade económica afecta as decisões de consumo, com muitas
famílias optando por estocar produtos básicos durante os períodos de crise, o que agrava ainda
mais a escassez e pressiona os preços. Por outro lado, os comerciantes enfrentam desafios
significativos para manter estoques regulares, lidando com custos operacionais mais altos e a
redução no volume de vendas. A paralisação das cadeias de transporte também afecta a
confiança dos investidores, pois a previsibilidade é um factor crucial para os negócios.
5
Sectores como o agronegócio, que dependem de transporte contínuo para escoar a produção,
sofrem grandes perdas, prejudicando ainda mais o desempenho económico do país. Assim, os
bloqueios de estradas e a consequente paralisação do transporte de mercadorias tornam-se um
dos aspectos mais prejudiciais das manifestações pós-eleitorais, com efeitos profundos e
duradouros na economia moçambicana.

III. Impacto no sector informal

Segundo Domingos do Rosário (2012), os trabalhadores informais são particularmente


vulneráveis durante períodos de instabilidade política e social, como os causados por
manifestações pós-eleitorais. A natureza desse sector, caracterizada pela ausência de
contractos formais e pela dependência directa do fluxo diário de clientes, torna-o altamente
susceptível a interrupções externas.

Durante os protestos, os trabalhadores informais enfrentam uma combinação de desafios que


comprometem sua sobrevivência económica. Bloqueios de estradas e interrupções nos
transportes dificultam o abastecimento de mercadorias, enquanto a insegurança generalizada
afasta os consumidores dos mercados. Como resultado, muitos pequenos comerciantes
observam quedas drásticas nas vendas ou são forçados a interromper suas actividades
temporariamente. Essa situação tem um impacto imediato na renda dessas famílias, que
muitas vezes dependem exclusivamente do sector informal para sua subsistência.

O impacto desproporcional das manifestações no sector informal também evidencia as


desigualdades estruturais da economia moçambicana. Enquanto empresas formais têm maior
capacidade de resistir a períodos de instabilidade devido a reservas financeiras ou redes de
apoio, os trabalhadores informais geralmente não possuem essa resiliência. Como resultado,
as manifestações não apenas interrompem suas actividades, mas ampliam a precariedade em
que esses trabalhadores já vivem.

IV. Perda de investimentos

Elísio M. (2006), afirma que a incerteza política figura como um dos principais factores que
desestimulam os investimentos no sector produtivo, criando um ciclo prejudicial de
estagnação económica. Quando o ambiente político é marcado por tensões, manifestações e
conflitos pós-eleitorais, os investidores estrangeiros tendem a avaliar o país como um local de

6
alto risco para seus capitais, preferindo direccionar seus recursos para mercados mais estáveis
e previsíveis.

Esse cenário tem consequências directas para a economia local. A redução nos investimentos
estrangeiros implica menor expansão do sector produtivo, o que limita a criação de novos
postos de trabalho. Sem um fluxo contínuo de investimentos, a diversificação da economia é
prejudicada, dificultando o fortalecimento de áreas como a indústria, a agricultura de grande
escala e os serviços, sectores que têm potencial para gerar empregos em larga escala. A
escassez de oportunidades no mercado de trabalho, por sua vez, restringe o poder de compra
da população, resultando em menor capacidade de consumo e em uma desaceleração no
crescimento económico.

A falta de investimentos compromete o desenvolvimento de infra-estrutura essencial, como


estradas, energia e comunicações, elementos fundamentais para aumentar a competitividade
económica do país. Essa carência também reforça a dependência de Moçambique em relação
a produtos importados, agravando o desequilíbrio comercial e elevando os custos de vida para
os cidadãos. Assim, a instabilidade política não apenas afasta os investidores, mas também
enfraquece as bases para um crescimento económico sustentável.

Em um contexto de incertezas políticas recorrentes, o país enfrenta dificuldades em projectar


uma imagem de segurança e confiabilidade, o que desestimula ainda mais os investimentos de
longo prazo. Para reverter essa situação, é essencial adoptar políticas que promovam a
estabilidade institucional, aumentem a transparência nos processos governamentais e
fortaleçam a confiança tanto dos investidores estrangeiros quanto da própria população. Dessa
forma, seria possível criar um ambiente mais atractivo para o capital estrangeiro,
impulsionando o desenvolvimento económico e a geração de empregos em Moçambique..

V. Mudança nos hábitos de consumo

Carlos S. (2010) observa que, durante períodos de instabilidade política, como os vivenciados
durante manifestações pós-eleitorais em Moçambique, as famílias tendem a alterar
significativamente seus padrões de consumo. A incerteza económica gerada por esses
períodos de crise faz com que as pessoas adoptem comportamentos mais conservadores e
cautelosos em relação aos seus gastos. Com a insegurança geral e o aumento dos preços de
bens essenciais, as famílias passam a buscar alternativas mais económicas e acessíveis para
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suprir suas necessidades básicas. Esse fenómeno resulta em mudanças duradouras nos hábitos
de consumo, que podem ter impactos profundos nas dinâmicas do mercado e nas estruturas
económicas do país.

Em momentos de crise, a prioridade das famílias se volta para os itens mais essenciais, como
alimentos e produtos de primeira necessidade, enquanto bens duráveis e supérfluos são
deixados de lado. Além disso, a diminuição do poder de compra e a necessidade de reduzir
despesas fazem com que muitas famílias migrem para alternativas mais acessíveis, como os
mercados informais, feiras e pequenos comércios locais. Essa mudança nos padrões de
consumo enfraquece directamente os sectores formais da economia, como supermercados,
grandes redes de varejo e lojas de produtos não essenciais, que tradicionalmente atendem a
uma classe média mais ampla e consumidores com maior poder aquisitivo, Rosário, D.
(2012).

A migração para o sector informal não é uma simples mudança temporária, mas sim uma
transformação estrutural nos hábitos de consumo. O sector informal, composto principalmente
por pequenos comerciantes e vendedores ambulantes, acaba se tornando uma opção mais
viável e acessível durante crises políticas e económicas. Isso ocorre porque os mercados
informais frequentemente oferecem produtos a preços mais baixos e com maior flexibilidade
de pagamento, além de estarem mais próximos das comunidades locais, o que facilita o acesso
da população. Assim, os consumidores buscam essas alternativas não apenas por uma questão
de preço, mas também pela conveniência e a percepção de que o mercado informal oferece
uma maior adaptação às suas necessidades imediatas, Rosário, D. (2012).

Esse deslocamento de consumo tem um efeito negativo sobre os sectores formais da


economia. Supermercados e grandes redes de varejo, que dependem de volumes maiores de
vendas e de uma base de consumidores com maior capacidade de compra, sofrem quedas
significativas nas vendas. Em muitos casos, esses estabelecimentos podem ser forçados a
reduzir seus estoques ou até mesmo a encerrar temporariamente suas actividades, o que gera
uma crise adicional no sector. Para as grandes empresas, essa mudança de comportamento do
consumidor pode ser difícil de recuperar, especialmente se a instabilidade política persistir por
longos períodos. Além disso, a diminuição no consumo formal pode resultar em menos
arrecadação de impostos, afectando negativamente as finanças públicas e limitando a
capacidade do governo de investir em áreas essenciais como saúde, educação e infra-
estrutura, Rosário, D. (2012).

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Em longo prazo, a transformação nos padrões de consumo provocada por períodos de
instabilidade pode ter efeitos duradouros na estrutura económica de Moçambique. O
fortalecimento do sector informal pode criar uma dependência maior de actividades não
regulamentadas, o que dificulta a implementação de políticas públicas eficazes para o
desenvolvimento económico. Para que o país possa garantir um crescimento sustentável, é
fundamental que o governo implemente medidas que não só garantam a estabilidade política e
económica, mas também criem condições para que o sector formal seja mais resiliente e capaz
de competir com as alternativas informais, promovendo um ambiente de negócios mais
equilibrado e seguro para todos os agentes económicos, Rosário, D. (2012).

2.3. Estratégias de mitigação


Macamo, E. (2006) afirma que para reduzir os impactos das manifestações pós-eleitorais no
mercado de procura em Moçambique, diversas estratégias têm sido propostas e discutidas por
estudiosos. Uma das abordagens é o fortalecimento das instituições, que envolve a promoção
da transparência nos processos eleitorais. Esse fortalecimento busca garantir que os cidadãos
confiem no sistema eleitoral, diminuindo o potencial de tensões e conflitos no período pós-
eleitoral. Quando as instituições se mostram confiáveis e legítimas, a população tende a
expressar menos descontentamento por meio de manifestações, o que contribui para a
estabilidade económica e social.

A implementação de políticas de apoio ao sector informal, considerando que este é o mais


vulnerável durante períodos de instabilidade. O sector informal é essencial para a economia
moçambicana, pois garante subsistência a uma grande parcela da população. No entanto,
durante manifestações, os trabalhadores informais frequentemente enfrentam interrupções em
suas actividades, resultando em perdas de renda. Mecanismos que ofereçam suporte
financeiro, capacitação ou incentivos para manter essas actividades em funcionamento podem
minimizar os danos económicos, permitindo que o mercado de procura mantenha algum grau
de equilíbrio mesmo em tempos de crise.

O investimento em educação cívica e a promoção de fóruns de diálogo social são estratégias


fundamentais para prevenir conflitos. A educação cívica tem o papel de informar os cidadãos
sobre seus direitos e deveres, além de fortalecer a consciência colectiva em relação aos
processos democráticos. Os fóruns de diálogo, por sua vez, possibilitam que diferentes atores
da sociedade discutam e resolvam disputas de forma pacífica, promovendo uma cultura de
negociação e consenso, em vez de confrontação. Essas acções ajudam a reduzir as tensões

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sociais e promovem um ambiente mais propício à estabilidade económica, Macamo, E.
(2006).

As manifestações pós-eleitorais em Moçambique têm impactos profundos no mercado de


procura, comprometendo a confiança dos consumidores, interrompendo o fluxo de
mercadorias e fragilizando sectores económicos importantes, como o informal. Esses efeitos
são intensificados por fragilidades institucionais e pela percepção de falta de justiça nos
processos eleitorais. Contudo, a adopção de estratégias como fortalecimento institucional,
apoio ao sector informal e incentivo ao diálogo social pode mitigar os efeitos negativos dessas
manifestações, favorecendo a estabilidade e o crescimento económico em médio e longo
prazo, Macamo, E. (2006).

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Capitulo 3

3.1. Conclusão

Chegado este ponto, conclui-se que o estudo sobre o impacto das manifestações pós-eleitorais
no mercado de procura em Moçambique revela a profunda interligação entre a instabilidade
política e o desempenho económico do país. As manifestações, que surgem como respostas ao
descontentamento popular com a governança e as condições socioeconómicas, têm
implicações directas no comportamento dos consumidores, na interrupção das cadeias de
abastecimento, na vulnerabilidade do sector informal e na perda de investimentos.

As crises pós-eleitorais, impulsionadas por tensões políticas e acusações de fraude,


desencadeiam uma retracção do consumo e uma queda na confiança dos consumidores,
principalmente em momentos de incerteza política. A insegurança e os bloqueios nas estradas
impactam o fluxo de mercadorias essenciais, gerando escassez e elevando os preços, o que
afecta de forma desproporcional as famílias de baixa renda. A inflação resultante e a
paralisação das cadeias logísticas agravaram ainda mais o cenário económico, prejudicando
especialmente os pequenos e médios comerciantes, que enfrentam sérias dificuldades para
manter suas operações durante essas crises.

O sector informal, que é altamente dependente da estabilidade política e da circulação


constante de clientes, mostra-se ainda mais vulnerável durante os períodos de protestos e
manifestações. A falta de contractos formais e a precariedade das condições de trabalho
tornam os trabalhadores informais menos resilientes diante de tais desafios, aumentando suas
dificuldades económicas e sociais.

Portanto, as manifestações pós-eleitorais em Moçambique não apenas evidenciam as


fragilidades institucionais e a desconfiança popular nas eleições e no sistema político, mas
também têm consequências económicas duradouras que afectam diversos sectores da
sociedade. A instabilidade política e social torna-se um obstáculo significativo ao
desenvolvimento económico, limitando a criação de empregos, o fortalecimento da economia
local e o bem-estar da população.

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3.2. Referências bibliográficas

Rosário, D. (2012). Democratização e Sociedade Civil em Moçambique. Maputo:


Universidade Eduardo Mondlane.

Serra, C. (2010). Coisas do Género. Maputo: Promédia.

Macamo, E. (2006). Culturas Políticas na África: O Caso de Moçambique. Basileia:


Universidade de Basileia.

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