Contribuições Do Materialismo Histórico-Dialético para Aspesquisas em Mestrados Profissionais Na Área de Ensino de Humanidades
Contribuições Do Materialismo Histórico-Dialético para Aspesquisas em Mestrados Profissionais Na Área de Ensino de Humanidades
Contribuições Do Materialismo Histórico-Dialético para Aspesquisas em Mestrados Profissionais Na Área de Ensino de Humanidades
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Priscila de Souza Chisté Leite
Resumo. O artigo tem como objetivo apresentar as contribuições do materialismo histórico-dialético para as
pesquisas em mestrados profissionais na área de ensino de humanidades. Para tanto, evidencia os
pressupostos do materialismo histórico-dialético estabelecendo diálogo entre esse método e os
pressupostos das pesquisas aplicadas, em especial, aquelas de cunho participativo. Discorre também sobre
as especificidades dos mestrados profissionais no Brasil exemplificando esta abordagem a partir de algumas
pesquisas desenvolvidas em um mestrado profissional na área de ensino de humanidades.
Palavras-chave: Materialismo histórico-dialético; Pesquisa Participante; Mestrado Profissional; Ensino de
Humanidades.
1 Introdução
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Na história da educação brasileira, a Educação Profissional foi pensada com a finalidade de treinar
uma parcela da população para o desempenho de atividades manuais consideradas de nível
intelectual inferior. Visava também atender às demandas da indústria e beneficiar os grupos sociais
desfavorecidos economicamente. No início, as políticas educacionais para educação profissional
buscavam contemplar os níveis mais básicos do ensino. Contudo, recentemente, ampliaram os seus
1 A área de ensino foi constituída por decisão do Conselho Superior da Capes pela Portaria nº 83, de 6 de junho de 2011. De
acordo com o Comunicado Conjunto nº 001/2013 das áreas de Ensino e de Educação: perspectivas de cooperação e
articulação, publicado em 28 de junho de 2013, existem delimitações entre essas duas áreas de pesquisa na pós-graduação
stricto sensu no Brasil. Conforme esse documento os Programas da Área de Educação da Capes se organizam em diferentes
propostas, constituindo linhas de pesquisa específicas e priorizando a produção de conhecimento educacional. Já os
programas da Área de Ensino focam as pesquisas em ensino de determinado conteúdo, buscando integração com as áreas
geradoras dos conteúdos a serem ensinados. Seus cursos de pós-graduação têm como objeto a mediação do conhecimento
científico, a integração entre conhecimento disciplinar e conhecimento pedagógico, construir pontes entre diferentes áreas
e processos educativos. Destinam-se principalmente a professores da educação básica e/ou profissionais de ensino formal
ou não formal vinculados a diferentes campos de conhecimento. No caso do Mestrado Profissional em Ensino de
Humanidades do Instituto Federal do Espírito Santo, Brasil, o público-alvo são professores das áreas de Ciências Humanas,
Letras e Artes.
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objetivos iniciais ao avançarem para o nível superior e atingirem o nível stricto sensu, sob a forma do
mestrado profissional. Segundo Melo (2002), a criação dos mestrados profissionais possui influência
internacional e aproxima-se da estrutura norte-americana de pós-graduação, que visa à aplicação e à
extensão de conhecimentos a finalidades profissionais ou vocacionais, tais como a Master of Business
Administration, Master of Arts in Education, Master of Engineering e Master of Arts in Teaching. Ao
mesmo tempo, acata regulamentações de agências internacionais de financiamento, como o Banco
Interamericano de Desenvolvimento (Bird). Em 1995, essa instituição apresentou documento
intitulado “O ensino superior: as lições derivadas da experiência” que expunha orientações para
políticas educacionais que reforçavam a necessidade dos governos redefinirem suas funções relativas
ao ensino superior; propunham a implementação de programas de cooperação interinstitucionais e
pós-graduações à distância, bem como a aproximação da Universidade e setor produtivo, com
prioridade na criação de cursos stricto sensu, atendendo à nova dinâmica de mercado; e sugeriam a
flexibilização do sistema de pós-graduação, tornando-o receptivo a novas formas de capacitação de
recursos humanos. Diante das demandas associadas à experiência americana e às políticas de
articulação internacional, os mestrados profissionais foram instituídos no Brasil em 1995, pela
Portaria nº 47, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes2), e pela
subsequente regulamentação feita pela Portaria nº 80/1998, do Ministério da Educação. O
argumento desses documentos respalda-se na necessidade de flexibilização do modelo de pós-
graduação stricto sensu diante das demandas sociais oriundas das mudanças tecnológicas, das
transformações econômico-sociais e do aumento da procura por profissionais com perfis de
especialização distintos dos tradicionais. Conforme Ribeiro (2005), a principal diferença entre o
mestrado acadêmico e o profissional é o resultado almejado. No mestrado acadêmico, pretende-se a
imersão na pesquisa, isto é, formar, a longo prazo, um pesquisador. Já no mestrado profissional, o
objetivo é formar alguém que, no campo profissional externo à academia, saiba localizar,
reconhecer, identificar e, sobretudo, utilizar a pesquisa de modo a agregar valor a suas atividades
pessoais ou sociais. Outra peculiaridade do mestrado profissional refere-se à preocupação com a
formação especializada para profissionais “em serviço”. Barros, Valentim e Melo (2005) ressaltam
que o mestrado profissional é destinado a um público externo à academia e se volta para a gestão,
produção e aplicação do conhecimento orientado para a pesquisa aplicada, a solução de problemas,
a proposição de novas tecnologias e o aperfeiçoamento tecnológico. As autoras destacam que os
mestrados profissionais possuem como alvo a capacitação de recursos humanos para a prática
profissional e transformadora, preservando a vinculação ensino versus pesquisa. Sobre a relação
teoria e prática nos mestrados profissionais e acadêmicos, Ostermann e Rezende (2009) apontam
que o mestrado acadêmico forma pesquisadores e docentes, enquanto o profissional qualifica para o
mercado de trabalho. É forte a dicotomia que sustenta todos os níveis de formação profissional no
Brasil: de um lado os que pensam e, do outro, os que executam. Esse fato fica evidenciado na própria
orientação trazida pela Capes, na Portaria Normativa nº 17/2009, que dispõe sobre os objetivos do
mestrado profissional voltados para questões da prática profissional. Em seu artigo 4°, regulamenta
que um dos objetivos do mestrado profissional é capacitar profissionais qualificados para o exercício
da prática profissional, visando ao atendimento das demandas sociais, organizacionais ou
profissionais e do mercado de trabalho. Compreendemos que os mestrados profissionais não
precisam estimular à utilização do conhecimento de modo pragmático. Ao contrário disso,
necessitam promover a relação indissociável entre teoria e prática. Sabemos que na antiguidade
grega a filosofia ignorou e repeliu o mundo prático, considerado como indigno aos homens livres e
próprio dos escravos. Essa ideia perdurou por vários séculos, mesmo que travestida em outras
2 Fundação vinculada ao Ministério da Educação (MEC) do Brasil que atua na expansão e na consolidação da pós-
graduação stricto sensu em todos os estados do país.
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aparências.
Contudo, a dicotomia teoria e prática toma nova forma a partir da concepção marxiana de práxis. A
práxis é para Marx uma prática sempre fundamentada teoricamente. Desse modo, para a prática se
desenvolver, necessita da teoria e precisa ser iluminada por ela. A práxis é uma atividade material
humana transformadora do mundo e do próprio homem. Uma atividade real, objetiva e ao mesmo
tempo, ideal, subjetiva e consciente (Vázquez, 1968). Ela é teórica e prática - prática, na medida em
que a teoria, como guia da ação, molda a atividade do homem - e teórica, na medida em que essa
relação é consciente. Portanto, podemos pensar que, apesar de serem inseparáveis, a prática tem
primado sobre a teoria, na medida em que é ela que se constitui como origem, e a teoria é dela
originada. Mesmo que as normativas apresentadas pela Capes regulamentem que o objetivo é a
modificação da prática do aluno do mestrado profissional, é inviável afirmar que isso ocorrerá sem
colocar em evidência a relação indissociável entre teoria e prática, pois, alijando um aspecto em
detrimento do outro, impossibilitamos a melhoria do trabalho profissional e o aprofundamento do
objeto em estudo, visto que passariam a se distanciar do princípio que rege as mediações humanas:
a práxis. Por isso, cabe aos Programas de Pós-Graduação voltados aos mestrados profissionais
colocar em foco essa discussão de modo a pressionar os órgãos legisladores a modificarem suas
normativas e a contemplarem em suas leis as relações intrínsecas entre teoria e prática. No caso
específico da metodologia de pesquisa, a teoria pode colaborar para que a ação do pesquisador seja
mais aprofundada. Assim, entendemos que as teorias relacionadas com o campo das metodologias
de pesquisa tendem a colaborar com a ação do pesquisador, de modo a orientar a sua atividade de
pesquisa e dando um novo sentido à prática, principalmente nas pesquisas aplicadas que demandam
participação coletiva.
A partir do exposto, consideramos que o materialismo histórico-dialético possa contribuir com o
entendimento epistemológico que abarca as investigações sobre práticas e espaços educativos, pois
suas dimensões ontológicas, axiológicas e gnosiológicas integram uma filosofia da transformação que
visa, por meio da análise histórica e dialética da realidade, alcançar sínteses que retomem, em outra
dimensão, o conhecimento inicial e que visem, em última estância, a transformação social e coletiva.
De acordo com Martins (2008) poucos são os escritos de Marx que dizem respeito diretamente aos
pressupostos do materialismo histórico-dialético. Esse sociólogo alemão não se dedicou muito a essa
delimitação, apesar de reconhecer a importância de fazê-lo, pelo fato de estar convencido que era
mais urgente empregar o seu método científico-filosófico na análise e compreensão da estrutura do
capitalismo, buscando “[...] elucidar sua gênese e desenvolvimento, para conhecer as suas
tendências imanentes e também para lhe imprimir outros desdobramentos [...]”, que pudessem lhe
determinar novas perspectivas econômicas, sociais, políticas e culturais (Martins, 2008, p. 18).
Segundo Vázquez (1968), o materialismo histórico-dialético é uma concepção, um modelo de
interpretação e de ação no mundo vinculado conscientemente a práxis revolucionária, ou seja, a uma
filosofia que pode guiar uma transformação humana radical ao desvendar contradições e evidenciar
mecanismos de dominação. Nesse sentido, compreende que o conhecimento é social, pressupõe o
outro, sendo sua apropriação necessária para a constituição do sujeito. Diferente das abordagens
pós-modernas que consideram a realidade como um texto com múltiplas possibilidades
interpretativas, o materialismo histórico-dialético reconhece que a realidade não pode ser explicada
de infinitas formas, pois compreende que a essência do objeto não muda, à medida em que a
matéria conserva sua propriedade independente do sujeito (Rodriguez, 2014). Por consequência, o
que faz o mundo ser como é, o que o produz em todas as dimensões, são as relações materiais que
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se estabelecem em sua dinâmica cotidiana. É por causa dessas relações que a sociedade, e o homem
individualmente em seu interior, desenvolve-se e, mediante a um processo histórico, pode ser
superada por um novo modelo que comporta um novo tipo de homem. Por meio desse humanismo-
materialista, o materialismo histórico-dialético considera que o homem é o maior artesão da
realidade que se constitui a partir das relações que a humanidade estabelece entre si e entre a
natureza. Por meio da crítica ao idealismo, o materialismo histórico-dialético afirma que o mundo
não é fruto exclusivo do pensamento, nem obra de um ser transcendental que por bondade intervém
na realidade ou inspira o homem a agir sobre ela. Tal método parte dos dados empíricos que se
apresentam na realidade de forma global e difusa, para logo realizar uma desagregação desses dados
e estabelecer diferentes relações que permitem fazer uma interconexão, possibilitando verificar as
múltiplas determinações que se estabelecem entre os dados singulares e os universais. O real
concreto, por conseguinte, só terá sentido quando a análise a ser realizada sobre ele identificar suas
múltiplas determinações. Desse modo, os fatos sociais não estão isolados, há uma relação dinâmica e
dialética entre o singular, o universal e o particular. Para Martins (2006), o fenômeno revela, em sua
expressão singular, o que é imediato; já em sua expressão universal, revela suas complexidades, suas
conexões internas e a sua totalidade histórico-social. Contudo, Martins (2006) infere que nenhum
fenômeno se expressa apenas de maneira singular ou universal. Ele se manifesta também em sua
configuração particular, assumindo especificidades de uma dada realidade. Desse modo, é impossível
construir qualquer conhecimento objetivo sobre indivíduos ou sobre a totalidade social sem a análise
dialética dessas três dimensões do fenômeno (objeto de conhecimento). Em diálogo com Martins
(2006), Oliveira (2005) destaca a importância de se caracterizar a relação singular-particular-universal
no âmbito da investigação científica, afirmando tal relação como requisito para a compreensão do
objeto em suas múltiplas relações e, acima de tudo, para a superação de falsas dicotomias (do tipo
indivíduo-sociedade), muito presentes nas ciências humanas. Martins (2008) propõe que devam ser
percorridos três passos para se alcançar o conhecimento do objeto estudado de modo a desvelar a
realidade: (1) a tomada de consciência das partes da totalidade a ser conhecida, abstraindo-as do
todo; (2) o conhecimento detalhado dessas partes pelo processo da análise; (3) a superação da visão
analítica, buscando conhecer as mediações que se estabelecem entre as partes, das partes com o
todo e deste para as partes, de modo a produzir uma síntese da realidade, que reproduz no
pensamento o concreto, o real, com todos os seus movimentos, suas determinações e significações,
tornando-se um concreto pensado. Martins (2008, p. 137) explica esses três passos ao apontar que o
conhecimento do real ocorre processualmente, “[...] passa pela abstração do que empiricamente se
apresenta de forma desorganizada, avançando para a análise das suas partes constituintes,
decompondo o todo caótico, até chegar à síntese [...]”, quando se volta o olhar sobre a totalidade da
realidade, mas tendo dela uma visão de suas articulações internas, de suas contradições, de suas
determinações mais complexas e das mediações que aí se estabelecem, produzindo no pensamento
uma representação daquilo que é a realidade. Portanto, para se conhecer o real é preciso dar conta
de todos os nexos que atravessam o fenômeno estudado, cercar o objeto de tal forma que se consiga
compreendê-lo em sua concretude, em seu movimento de gênese e de desenvolvimento em suas
relações reais. Além desses pressupostos, é importante ressaltar que o materialismo histórico-
dialético concebe o objeto do conhecimento não como algo dado, estático, somente limitado ao
tempo presente em sua análise, mas como um elemento dinâmico, caracterizado pela diacronia do
tempo histórico e que mantém múltiplas relações com o que está a sua volta. Inserido em uma
realidade dinâmica o conhecimento não pode ser traduzido como resultado de um processo
acabado, mas de um processo incorporado em uma realidade que é sempre mais rica do que a ideia
que construímos dela e que pressupõe não apenas interpretar o mundo de diferentes maneiras
conforme teorias pós-modernas defendem, mas transformá-lo. Assim, o materialismo histórico-
dialético constitui-se como uma abordagem teórica imprescindível no trato metodológico-
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investigativo, pois impulsiona o pesquisador a analisar de modo aprofundado seu objeto de pesquisa
e a buscar, de modo coletivo, transformar, mesmo que de forma sútil e processual, a realidade.
A partir do que colocamos, consideramos que cabe apresentarmos, na seção que segue,
pressupostos da metodologia de pesquisa participante, pois consideramos que dentre suas
diferentes abordagens existem aquelas que se embasam no materialismo histórico-dialético e, de
certo modo, sistematizaram modos coletivos de investigação que podem, em tese, contribuir para a
conscientização e a transformação social de coletivos subjugados pela sociedade desigual em que
vivemos.
Diante dos pressupostos apontados é possível inferir que metodologias de pesquisas que
possibilitam a participação coletiva podem favorecer o desvelamento do real e, de certo modo,
contribuir com o seu processo de transformação. Porém, é necessário ter em mente os limites que
toda investigação possui, pois sabemos que muitas são as interferências que incidem sobre ela. Feita
essa ressalva, compreendemos que o materialismo histórico-dialético influenciou a sistematização de
alguns métodos de investigação, dentre eles a pesquisa participante. Faz-se necessário ressaltar que
existem vários tipos de pesquisa participante e alguns deles se distanciam dos pressupostos do
materialismo histórico-dialético. De acordo com Brandão (2015) as teorias e ações de estudiosos
como Mahatma Gandhi, Franz Fanon, Paulo Freire, Camilo Torres, Gustavo Gutierrez, João Bosco
Guedes Pinto, Leonardo Boff e Orlando Fals Borda, difundiram algumas propostas de participação
popular como formas originais e contestatórias, diante das diferentes propostas de desenvolvimento
social agenciadas pela Europa e pelos Estados Unidos da América que, na maioria das vezes,
implementavam investigações ditas participantes, mas que, na verdade, funcionavam apenas como
versões de antigas práticas sociais de vocação neocolonizadora. Na América Latina, em fins da
década de 1960, a pesquisa participante manteve-se ligada a ideias e ações sociais de tendência
emancipatória, ao mesmo tempo que fundamentavam e instrumentalizavam a educação popular, a
teologia da libertação e os movimentos sociais populares. Brandão (2015) aponta que a pesquisa
participante surgiu à margem das universidades e de seu universo científico, embora parte de seus
principais teóricos e praticantes provenha delas e nelas trabalhem. Paulatinamente e com
resistências, algumas teorias e práticas da pesquisa participante ingressaram no mundo universitário
latino-americano pela via de estudantes, professores ativistas de causas sociais, os chamados
militantes da educação popular. Para Brandão (2015, p. 08), a pesquisa participante na América
Latina buscava, em sua origem, a transformação de ações sociais populares a partir de uma
elaboração sistemática de conhecimentos pela via de pesquisas sociais postas “[...] a serviço de
experiências coparticipadas de criação solidária de saberes, a partir do enlace entre profissionais
e/ou militantes agenciados e as pessoas, grupos e comunidades populares”. O autor ainda considera
que a pesquisa participante não se relaciona, desde sua origem, às totalizações complexas e
holísticas dos paradigmas emergentes pós-modernos, representados por autores que seguem essa
tendência. Quanto as origens da pesquisa participante, “[...] sua fonte é marxista e, em vários
documentos, ela aparece como uma abordagem dialética” (Brandão, 2015, p. 15). Contudo, sabemos
que atualmente essa abordagem metodológica vem sendo apropriada por vários pesquisadores,
independente da base epistemológica que sustenta suas propostas de pesquisas. As pesquisas
participantes desenvolvidas no Brasil na década de 1980 acompanharam o movimento de
redemocratização desse país. A volta de Paulo Freire ao Brasil após o exílio, contribuiu para a
sistematização de vários eventos relacionados à educação, como, por exemplo, a Conferência
Brasileira de Educação. Tais ações ampliaram as discussões sobre métodos de pesquisa participativos
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3 Os dados referentes as ações, os cursos, os textos e os integrantes do Gepech podem ser acessados em
https://gepech.wordpress.com/integrantes-2/.
4 O Parque Moscoso foi inaugurado em 1912 e é um parque urbano característico da cidade de Vitória.
5 A Companhia Vale do Rio Doce foi criada em 1942 como empresa estatal. Atualmente, é uma multinacional e uma das
maiores produtoras de minério de ferro do mundo. Em 2015 a empresa foi responsável por crime ambiental que destruiu
um importante rio responsável pelo abastecimento de água nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. No Espírito Santo
a Companhia está sediada na orla da Praia de Camburi em Vitória e é responsável pela emissão de excessivos poluentes no
ar da região chamada de Grande Vitória que abarca vários municípios do estado do Espírito Santo.
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Considerações Finais
Como apontamos, o objetivo deste artigo foi apresentar as contribuições do materialismo histórico-
dialético para as pesquisas em mestrados profissionais na área de ensino de humanidades. Além de
discorremos sobre os pressupostos deste método e da pesquisa participante, comentamos as
especificidades dos mestrados profissionais no Brasil e reafirmamos a importância de se contribuir
com a indissociabilidade entre teoria e prática nesse tipo de mestrado. Elencamos também ações do
Gepech como forma de exemplificarmos algumas atividades de pesquisa realizadas a partir do
materialismo histórico-dialético e da pesquisa participante.
Inferimos que a pesquisa participante, sob a luz do materialismo histórico-dialético, pode se
constituir como um método contra-hegemônico, um caminho investigativo que potencializa
pesquisadores e demais participantes a ampliarem suas consciências, visando a transformação social.
Entendemos que desvelar as condições de reprodução social impostas pelo capital incide na
ampliação do olhar dos participantes da pesquisa, estimulando a compreensão de sua classe social,
de seus direitos e de suas potencialidades. Vislumbramos que tais métodos teórico-investigativos
possam favorecer a sistematização de processos educativos que favoreçam a criação de projetos
emancipadores e reveladores dos mecanismos opressores adotados pela classe dominante com
vistas a instigar a participação coletiva no processo de construção de uma sociedade igualitária.
Referências
Barros, E. C., Valentim, M. C., & Melo, M. A. A. (2005). O debate sobre o mestrado profissional na
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>>Atas CIAIQ2017 >>Investigação Qualitativa em Educação//Investigación Cualitativa en Educación//Volume 1
Fals Borda, O. (1984). Aspectos teóricos da pesquisa participante: considerações sobre o significado e
o papel da ciência na participação popular. In C. R. Brandão (Ed), Pesquisa participante. São
Paulo: Brasiliense.
Fals Borda, O. (1986). Conocimiento y poder popular: lecciones con campesinos de Nicaragua, México
y Colombia. Bogotá: Siglo XXI.
Freire, P. (1984). Criando métodos de pesquisa alternativa: aprendendo a fazê-la melhor através da
ação. In C. R. Brandão (Ed.), Pesquisa participante. São Paulo: Brasiliense.
Martins, M. F. (2008). Marx, Gramsci e o conhecimento: ruptura ou continuidade? São Paulo: Autores
Associados.
Ribeiro, R. J. (2005). O mestrado profissional na política atual da Capes. Revista Brasileira de Pós-
Graduação, Brasília, 2, 08-15. Acedido junho 7, 2016, em http://ojs.rbpg.capes.
gov.br/index.php/rbpg/article/view/72/69.
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Game Three of the Invertebrates: an experience in mediation of science concepts with psychics and
students with low vision
Abstract. In the present investigation, the objective was to develop and verify the effectiveness of a
pedagogical resource designed to teach elementary school students concepts related to the Realm of
Invertebrate Animals to both low vision students and sighted students of a public school system.
Municipality of Formosa / GO. The methodology used was the qualitative research and the data
construction procedure took place in four stages: (i) construction of the game; (Ii) testing the size of the
source and images, (iii) applying the game "Invertebrate Crack" and (iv) verifying the viability of the game.
The results demonstrated that the resource developed played an important role in mediating with sighted
students and students with low vision for creating teaching-learning conditions focused on valuing diversity
and engaging all participants, promoting a principled and biased view of prejudices Ethics, favoring the
continuous development of students.
Keywords: Science Teaching, Inclusion, Invertebrate Tripping Game.
1 Introdução
A escola para a diversidade é aquela que possibilita contextos de aprendizagem, inspirados nos
princípios da celebração das diferenças, porque compreende o desenvolvimento humano como um
processo sociocultural de transformação que é enriquecido pela convivência com diferentes pessoas,
considerando suas características individuais e sociais. A partir desta concepção e atuação, a escola
compreende que pessoas com ritmos diferentes de aprendizagem podem requerer atuações
coletivas e individuais que favoreçam, tanto, o desenvolvimento de suas potencialidades e o
atendimento de suas especificidades. Para tanto, é preciso uma atuação focada, ao mesmo tempo,
na pessoa, no grupo e nos seus diversos contextos socioculturais.
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>>Atas CIAIQ2017 >>Investigação Qualitativa em Educação//Investigación Cualitativa en Educación//Volume 1
No campo educacional, a inclusão da pessoa com deficiência traz desafios que dizem respeito a sua
acessibilidade aos recursos pedagógicos, especialmente, no ensino de ciências, que é uma área do
conhecimento que aborda fenômenos abstratos, cujas grandezas ou são muito macro ou muito
micro. Neste contexto, o desafio do ensino de biologia perpassa a construção de recursos
pedagógicos adaptados que permitam os alunos com deficiência visual terem acesso a estes
recursos: “muitas vezes é preciso realizar as adaptações necessárias para a participação e inclusão de
todos” (Brainer; Telles; Leal & Cavalcante, 2012, p. 7).
Entendendo por recursos didáticos aqueles que trazem alternativas capazes de contribuir para o
processo ensino e aprendizagem, focamos neste artigo a construção e avaliação do uso do jogo
Trincas de Invertebrados para a mediação de conceitos relativos ao Reino dos Animais Invertebrados
tanto para alunos com baixa visão, como para alunos videntes.
O jogo foi escolhido, porque, enquanto recurso didático pode ser considerado importantes aliados
no processo educativo, ampliando a construção do conhecimento e a elaboração de conceitos por
meio da interação entre os jogadores e entre eles e o objeto de conhecimento. Segundo Cunha
(2012), os jogos nos contornos educacionais podem ser classificados em jogo educativo e jogo
didático sendo assim definidos:
O primeiro envolve ações ativas e dinâmicas, permitindo amplas ações na
esfera corporal, cognitiva, afetiva e social do estudante, ações essas
orientadas pelo professor, podendo ocorrer em diversos locais. O segundo
é aquele que está diretamente relacionado ao ensino de conceitos e/ou
conteúdos, organizado com regras e atividades programadas e que mantém
um equilíbrio entre a função lúdica e a função educativa do jogo, sendo, em
geral, realizado na sala de aula ou no laboratório (Cunha, 2012, p. 95).
Neste estudo, defendemos o jogo na perspectiva do jogo didático devido ao caráter tendencioso de
proporcionar a formação de conceitos acerca do conteúdo Reino dos Animais Invertebrados. Os
animais são estudados pela zoologia – campo da ciência cujo nome origina-se da língua grega: zoon
significa “animal”, e logia, “estudo” (Pereira; Santana & Waldhelm, 2009, p.119).
Os animais compõem um reino com mais de um milhão de espécies. Portanto, para estudá-los, foi
preciso dividi-los em classificações, como: animais vertebrados e invertebrados O grupo dos animais
invertebrados é formado por aqueles que não possuem coluna vertebral (Pereira; Santana &
Waldhelm, 2009) e foi o tema escolhido para investigação devido à grande variedade de espécies
conhecidas, “de cada 100 espécies animais conhecidas, mais de 95 são de invertebrados” (Canto,
2009, p. 107) e também por ser um conteúdo que envolve conceitos abstratos, por se tratar de
organismos que, na maioria, não fazem parte do cotidiano dos alunos.
Caixeta (2007) explica que as atividades lúdicas geram zona de desenvolvimento proximal, ou seja,
constroem espaços de aprendizagem. Nessa concepção, compreendemos que o jogo gera
possibilidades de ser e de atuar no mundo a partir da interação social com os outros jogadores e com
o próprio jogo que poderiam não ser possíveis sem a mediação do jogo e da interação social
construída no contexto da sua aplicação.
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Para Sampaio (2013, p. 6), “entende-se por deficiente visual (DV) os indivíduos que têm dificuldade
de perceber estímulos luminosos, sendo divididos em cegos e pessoas com baixa visão. Mais
importante que identificar o que uma pessoa DV não consegue perceber, é identificar suas
capacidades residuais”. Para o Ministério da Educação, os alunos com Baixa visão são aqueles que:
Considerando, portanto, a ideia de compensação (Vygotsky, 2011), isto é, que os deficientes devem
compensar suas limitações, utilizando os sentidos remanescentes, a escola tem a importante função
de possibilitar a participação da pessoa deficiente visual no contexto escolar e, portanto, deve prever
a mediação através dos outros sentidos e do desenvolvimento deles, além do estímulo da visão
residual, em caso de baixa visão. Para tanto, a equipe da escola deve estar atenta às possibilidades
residuais dos estudantes com baixa visão: no contexto educacional, caracteriza-se como baixa visão
a capacidade potencial de utilização da visão prejudicada para atividades escolares e de locomoção,
mesmo que após tratamento ou máxima correção óptica específica, tenha necessidade, de utilização
de recursos educacionais adaptados (Raposo & Carvalho, 2011).
Os recursos educativos adaptados também conhecidos como recursos de tecnologias assistivas são
todo e qualquer tipo de instrumento ou estratégia que permite a acessibilidade da pessoa com
deficiência aos bens culturais, artísticos, científicos e/ou sociais. De acordo com Cavalcante (2012, p.
10), as tecnologias assistivas “são recursos ou estratégias que auxiliam na promoção de
acessibilidade às pessoas com deficiência”. Em outras palavras, são instrumentos que facilitam a
vivência plena do indivíduo na sociedade.
O jogo é composto por trinta e duas (32) cartas impressas em papel NogPel A-4, gramatura de 140
g/m, o tamanho da fonte utilizado foi quarenta e oito (48), destacado em negrito e as imagens
tiveram medidas de 14cm/16cm, sendo que para obter melhor resultado na cor das imagens usou-se
lápis de cor preto para reforçar a tonalidade das gravuras.
As regras do jogo foram impressas em duas versões, sendo que uma teve o tamanho da fonte
ampliada para a fonte quarenta e oito (48), destacada em negrito e a outra versão, tamanho doze
(12), ambas com fonte Times New Roman (ver figura 1).
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3 Pressupostos Metodológicos
Tomando por base os objetivos desta investigação, optou-se pela pesquisa de abordagem qualitativa
por entender que esta permite, por meio do tripé: pesquisadores-participantes-fenômeno
investigado, interpretar e construir os significados nas e pelas interações sociais (Sampieri, Collado, &
Lucio, 2013; Minayo, 2010).
Nesse sentido, fenômenos sociais investigados por meio da pesquisa qualitativa permitem ao
pesquisador propor trabalhos com enfoques diversos, explorando a capacidade de imaginação e de
criatividade, não sendo, portanto, uma proposta rigidamente estruturada (Godoy, 1995), o que a
nosso ver, permite profundidade na interpretação dos fenômenos investigados.
A técnica utilizada para coleta de dados foi a observação sistemática que se “caracteriza pelo contato
mais direto com a realidade e é utilizada para obter informações sobre determinados aspectos a
serem estudados de forma planejada, estruturada e realizada em condições controladas”
(Mendonça, 2008, p. 49).
3.1 Participantes
Participaram dessa investigação quatro (4) alunos do 7º ano do Ensino Fundamental, com faixa etária
de 13 anos de idade, sendo que um estudante tinha baixa visão e três eram videntes. Entendemos
por videntes aquelas pessoas capazes de perceber estímulo visual, ou seja, capazes de ver com seus
próprios olhos ou com ajuda de óculos convencionais.
Para a construção dos dados da pesquisa, que ocorreu em uma escola da rede pública do município
de Formosa/GO, inicialmente, pediu-se autorização à diretora da escola, que foi prontamente
concedido.
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Para analisar os dados, optou-se pela Metodologia de Análise de Conteúdo com recorte para a
análise temática proposta por Bardin (2009), que consiste em um conjunto de técnicas sistemáticas e
objetivas empregadas com a finalidade de identificar os significados manifestados nas comunicações
através da presença ou a frequência que as unidades de significado aparecem levando em
consideração o objetivo delimitado. Para a mesma autora, “fazer uma análise temática consiste em
descobrir os “núcleos de sentido” que compõem a comunicação e cuja presença, ou freqüência de
aparição, pode significar alguma coisa para o objetivo analítico escolhido” (Bardin, 2009, p. 135).
Os dados foram obtidos mediante a aplicação do jogo que ocorreu em uma sala de aula com a
presença da pesquisadora e dos alunos participantes. A ação pedagógica, que incluiu a aplicação do
jogo gravação de vídeos e os diálogos entre os estudantes e entre estudantes e pesquisadora, foi
cuidadosamente observada e registrada em diário de campo “que nada mais do que um caderninho
de notas, em que o investigador, dia por dia, vai anotando o que observa e que não é objeto de
nenhuma modalidade de entrevista (Minayo, 2010, p. 295). Em seguida, os dados foram organizados
em categorias.
4 Resultados
Os resultados evidenciaram que o jogo “Trinca dos Invertebrados” é um recurso viável para a
promoção da interação entre alunos videntes e alunos com baixa visão e eficaz no processo de
construção do conhecimento no que se refere às características marcantes de cada grupo que
compõe o Reino dos Animais Invertebrados. Desta forma, temos as seguintes categorias:
Interações possíveis
A utilização do jogo Trinca dos vertebrados permitiu vislumbrar dois tipos de interações: a) interação
aluno com baixa visão-alunos videntes e b) alunos e professora-pesquisadora. Para uma melhor
compreensão da descrição dos resultados, serão utilizados nomes fictícios para nomear os
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participantes da pesquisa: Beatriz, Marcos, Laryssa e Ronaldo, sendo este último o aluno com baixa
visão.
Apesar de ser um jogo em que cada participante determinava suas próprias estratégias para formar
as trincas, a aplicação do jogo evidenciou o diálogo entre aluno com baixa e alunos videntes e vice-
versa para: a) pedir ajuda acerca da confirmação se as trincas formadas no ato do jogo realmente
designavam o mesmo filo. Exemplo desta interação pode ser comprovado no episódio A:
EPISÓDIO A:
Aluno Marcos: Beatriz me ajuda aqui, essas cartas forma a trinca dos
equinodermos?
Aluna Beatriz: Forma aí é do grupo dos animais marinhos, da estrela-do-
mar.
Aluno: Ronaldo: Deixa eu ver, legal, formo um a trinca.
Aluno Marcos: Valeu.
Houve também a interação dos alunos participantes e a professora investigadora: b) essa interação
pôde ser evidenciada por meio da gravação dos vídeos e descrita no episódio B, quando o aluno
Marcos pergunta a colega Laryssa se as cartas que estão na mão realmente formavam a trinca dos
anelídeos.
EPISÓDIO B:
Aluno Marcos: Laryssa, com essas cartas eu formei a trinca dos anelídeos
né?
Aluna Laryssa: Acho que formou, mas estou com dúvida nessa aqui,
pergunta pra professora.
Aluno Marcos: Professora, com essas cartas forma essa trinca?
Professora: Tem alguém no grupo que pode tirar a dúvida do colega?
Aluno: Ronaldo: Calma aí, vamos lembrar das características dos animais
desse grupo.
Tá certo, formou.
Aluno: Marcos: Legal, formou professora.
Professora: Muito bem.
Nesta dimensão, a interação entre os participantes foi uma das possibilidades que o recurso testado
mostrou ser eficaz. Do ponto de vista do uso do jogo como recurso pedagógico, este resultado era
esperado, considerando a utilização dos jogos favorece a compreensão dos conteúdos envolvendo-
os em uma atmosfera de entretenimento.
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5 Discussão
Os resultados obtidos corroboram com as diferentes teorias que sustentam a apropriação dos jogos
educacionais como instrumentos potencializadores dos processos educativos. Nas palavras de
Kishimoto (1996, p. 37) “a utilização do jogo potencializa a exploração e a construção do
conhecimento, por contar com a motivação interna típica do lúdico”. O jogo cria um ambiente de
motivação e entretenimento conforme explicita o aluno Marcos: A gente nem precisa estudar para
aprender, aprende brincando e fica mais fácil aprender a matéria.
É importante salientar sobre o que nos informa Mrech (2008), citado em Brainer & Teles (2012, p.
23), “brinquedos, jogos e materiais pedagógicos não são objetos que trazem em seu bojo um saber
pronto e acabado. Ao contrário, eles são objetos que trazem um saber em potencial. Este saber em
potencial pode ou não ser ativado pelo aluno”. Nesse caso, a mediação do professor no processo de
construção do conhecimento é indispensável para que os objetivos propostos sejam alcançados ao
escolher um jogo para trabalhar um conteúdo específico. Essa mediação também se faz necessário
ao utilizar o jogo didático Trinca dos Invertebrados.
Em síntese, pontua-se que o jogo por si não permite a aprendizagem, mas, mediado, adaptado para
as necessidades de todos os alunos é um recurso que favorece a consolidação e a apropriação de
novos conhecimentos.
6 Conclusões
A investigação visou à construção e análise da viabilidade do jogo Trinca dos Invertebrados como um
recurso didático adaptado que pudesse ser usado na mediação de conceitos básicos sobre o Reino
dos Animais Invertebrados tanto para alunos videntes quanto para alunos com deficiência visual.
Para isso, o jogo foi aplicado para quatro estudantes, um com baixa visão e três videntes. Todos do
7º ano do Ensino Fundamental.
Os resultados evidenciaram que o jogo é viável para ser utilizado em sala de aula para mediar
conceitos de animais invertebrados, por que: a) permite que o aluno com deficiência visual tenha
acesso às cartas do jogo; b) permite que alunos videntes e alunos com deficiência visual joguem
juntos; c) favorece a interação social entre os alunos videntes e deficiente visual para a resolução do
problema proposto para o jogo: construção de filos de animais invertebrados. Isto se dá por meio de
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diálogos entre os alunos entre si sobre os conceitos evocados e construídos a partir da ação de jogar
a Trinca dos Invertebrados; d) permite a interação entre alunos e professora, na medida em que,
como jogo, fomenta o diálogo e a troca de saberes, inclusive, com a confirmação sobre o
desenvolvimento de trincas certas ou a problematização de trincas que foram feitas
inadequadamente e e) permite a sistematização do conhecimento relacionado a alguns filos do reino
animal invertebrado a partir da organização das cartas, que contêm imagens, exemplos dos animais e
suas características.
Com estes resultados, assume-se que o jogo Trinca dos Invertebrados, adaptado para pessoas com
deficiência visual, apresenta-se como um recurso didático rico para o processo de ensino-
aprendizagem de animais invertebrados, podendo ser modificado para a mediação de outros
conteúdos em zoologia, biologia ou outras áreas das ciências da natureza. O fato de as cartas
conterem informações variadas sobre o conceito a ser trabalhado, juntamente com o fato de elas
serem adaptadas, permite o acesso delas a diferentes alunos, que tenham ou não deficiência visual
ou intelectual ou múltipla, gerando possibilidades interacionais no ato do jogo que, para Vygotsky
(1994) tem a ver com o processo de construção de conhecimentos e de conceitos, neste caso, em
ciências.
Por fim, a utilização da metodologia de abordagem qualitativa contribuiu para o entendimento de
que a utilização dos jogos adaptados aconteçam sempre que necessários, para permitir o
protagonismo dos estudantes na construção de conceitos em biologia, nas ciências e nas diferentes
áreas do conhecimento científico, afinal, o protagonismo implica em participação na construção de
hipóteses, na observação dos fenômenos, na comparação dos elementos, no diálogo possível em sala
de aula e na sistematização do conhecimento.
Referências
Brainer, M.; Teles, R. (2012). Qualquer maneira de jogar e brincar vale a pena? O que fazer para
ajudar as crianças a aprender? In: Brasil. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à
Gestão Educacional. Pacto nacional pela alfabetização na idade certa: ludicidade na sala de
aula: ano 01 unidade 04/ Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de
Apoio à Gestão Educacional. Brasília: MEC, SEB.
Brainer, M.; Telles, R.; Leal, T. F.; Cavalcante, T. C. F. (2012). Ser cuidado, brincar e aprender: direitos
de todas as crianças. In: Brasil. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão
Educacional. Pacto nacional pela alfabetização na idade certa: ludicidade na sala de aula: ano
01 unidade 04/ Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio à
Gestão Educacional. Brasília: MEC, SEB.
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Canto, E. L. (2009). Ciências Naturais: Aprendendo com o cotidiano. 3. Ed. São Paulo: Moderna.
Cavalcante, T. C. F. (2012). A pessoa com deficiência motora frente ao processo de alfabetização In:
Brasil. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Caderno de
educação especial: a alfabetização da pessoa com deficiência: uma proposta inclusiva/
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio à Gestão
Educacional. Brasília: MEC, SEB.
Cunha, M. B. (2012). Jogos no ensino de química: considerações teóricas para sua utilização em sala
de aula. Revista Química Nova, v. 34, n. 2.
Godoy, A. S. (1995). Pesquisa Qualitativa: Tipos Fundamentais. Revista de Administração de
Empresas. São Paulo, v. 35, n°3, 20-29.
Minayo, M. C. Z. (2010). O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 12. ed. São
Paulo: Hucitec.
Pereira, A. M.; Santana, M.; Waldhelm, M. (2009). Ciências, 7º ano: v. 02, São Paulo: Editora do
Brasil. (Coleção perspectiva).
Raposo, P. N. Carvalho, E. N. S. (2010). A Pessoa com deficiência visual na escola. In: Maciel, D. A;
Barbato, S. (orgs). Desenvolvimento Humano, e educação e inclusão escolar. Brasília: EdUnB.
Sampaio, F. L. (2013). A sala de recursos para deficientes visuais: um estudo de caso. [Monografia].
Licenciatura em Ciências Naturais, Faculdade UnB Planaltina, Planaltina.
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Fútbol Callejero:
Processos Educativos Des-Velados A Partir De Uma Sistematização
De Experiências Em Interface Com A Fenomenologia
Ddo. Maurício Mendes Belmonte1, Dr. Luiz Gonçalves Junior1, Dr. José M Pazos-Couto2
Resumo. O Fútbol Callejero surgiu na Argentina, na província de Buenos Aires, em meados de 2001. Sua
prática consiste na realização de uma partida de futebol que é sustentada por três princípios. A saber:
Respeito, Cooperação e Solidariedade. Para o desenvolvimento da presente investigação utilizamos o método
investigativo de orientação qualitativa, a Sistematização de Experiências. Para tanto, após inserção junto à
comunidade participante do projeto de extensão Vivências em Atividades Diversificadas de Lazer e a
respectiva aprovação junto ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, demos início à coleta de
dados, por meio de notações em Diários de Campo. Para a análise dos dados buscamos aportes de inspiração
fenomenológica, procedendo à identificação de unidades de significados e posterior formação de Categorias.
Por ora, enquanto uma análise preliminar são apresentadas e descritas três categorias: A) Cuidados com
outrem; B) É divertido!; C) Ecologia das Motricidades.
Palavras-Chave: Processos Educativos; Fútbol Callejero; Educação Popular; Motricidade Humana
Abstract. Fútbol Callejero appeared in Argentina, in the province of Buenos Aires, in the middle of 2001. Its
practice consists in the accomplishment of a football match that is sustained by three principles. Namely:
Respect, Cooperation and Solidarity. For the development of the present research hand in method of
qualitative research, the Systematization of Experiences. To do so, after insertion with the participant
community of the project Experiences in Diversified Activities of Leisure and the respective approval to the
Committee of Ethics in Research with Human Beings, we began to collect data, through notations in Field
Journal For the analysis of the data we looked for contributions of phenomenological inspiration, proceeding
to the identification of units of meanings and later formation of Categories. For the moment, while a
preliminary analysis is presented and described three categories: A) Care of others; B) It's fun !; C) Ecology of
Motricity.
Keywords: Educational Processes; Fútbol Callejero; Popular Education; Human Motricity
Introdução
No presente artigo nos debruçamos na apresentação e análise de uma prática de Educação Popular
denominada como “Fútbol Callejero” que vem sendo desenvolvida no contexto das ações da parceria
intitulada “Vivências em Atividades Diversificadas de Lazer e Mais que Futebol” (VADL/MQF) junto à
crianças e adolescentes com idade entre 7 e 17 anos. Esta prática educativa foi originalmente
concebida no contexto latino-americano e busca, através de sua vivência, desencadear nos/nas jovens
praticantes processos educativos ligados a assunção de uma postura dialógica e proativa para que
possam protagonizar a luta por seus direitos e interesses na/para transformação de suas realidades
(Rossini, Serrani, Welbel & Wainfeld. 2012). Nossa investigação parte da inquietação por saber quais
os processos educativos emergem da prática do Fútbol Callejero que é desenvolvido no contexto da
parceria VADL/MQF?. Diante desta problemática, nosso objetivo central é de identificar e compreender
os processos educativos que emergem da prática do Fútbol Callejero que é desenvolvida no contexto
da parceria VADL/MQF. Cumpre destacar que os dados apresentados ao longo deste artigo decorrem
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uma análise preliminar de pesquisa de doutorado que está em desenvolvimento1 junto ao Programa
de Pós-Graduação em Educação da UFSCar (PPGE/UFSCar), realizada em colaboração com a Facultad
de Ciências de la Educación y del Deporte da Universidade de Vigo (UVigo – Campus Pontevedra)
possibilitada pelo Programa Doutorado Sanduíche no Exterior e com o aporte financeiro do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). Iniciaremos pela apresentação da
origem e a didática do Fútbol Callejero, de modo a apresentar também o contexto da parceria no qual
são desenvolvidas suas ações. Em seguida detalhamos nossa trajetória metodológica, alicerçada na
perspectiva qualitativa, cujos preceitos da Sistematização de Experiência (Jara-Holliday, 2006) em
sinergia com a Fenomenologia (Garnica, 1997 & Bicudo, 2011; Merleau-Ponty, 2015), iluminaram
nossa inserção, registro e análise dos dados, respectivamente. Esta trajetória metodológica culminou
com a identificação e formação de 3 categorias temáticas que serão devidamente descritas. Por fim,
marcando o encerramento de um ciclo preliminar de investigação e contemplando os preceitos da
Sistematização de Experiências, comunicamos nossas considerações decorrentes da análise e
interpretação crítica da experiência sistematizada, de modo a trazer para o bojo das discussões
científico-políticas o Fútbol Callejero, bem como nossa própria práxis de investigação implementada
na busca por identificar e compreender os processos educativos emergentes da prática de Fútbol
Callejero que é desenvolvida no contexto da parceria VADL/MQF.
1
A referida pesquisa está com o título provisório de “Fútbol Callejero e Educação Popular: processos educativos
desvelados a partir de uma sistematização de experiências”, foi iniciada em Março de 2015 e possui aprovação
junto ao Comitê de Ética de Pesquisa em Seres Humanos (CEP/UFSCar) com parecer nº 1.565.644. A pesquisa
conta com apoio financeiro da Capes, atribuído ao pesquisador/autor Maurício Mendes Belmonte/Programa
Doutorado Sanduíche no Exterior/Processo Nº 88881.133888/2016-01.
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