Iii Enebio & Iv Erebio - Regional 5 V Congreso Iberoamericano de Educación en Ciências Experimentales
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Iii Enebio & Iv Erebio - Regional 5 V Congreso Iberoamericano de Educación en Ciências Experimentales
Introdução
O Microscópio no Livro Didático de Biologia, este título revela claramente qual é o
principal objetivo deste trabalho, analisar criticamente como os livros didáticos estão explorando
o conteúdo sobre o microscópio. Mas, por que analisar esse assunto e por que analisá-lo nos
livros didáticos? As respostas para essas perguntas são reveladas quando se conhece a
importância do microscópio e como ele tem influenciado o ensino de ciências/biologia.
O microscópio óptico, em meados do século XVII, ganhou conotação científica nas
mãos de Antonie van Leeuwenhoek e Robert Hooke (HERRERA, 2001, PELCZAR, REID e
CHAN, 1980 e GEST, 2004). A partir deles, o microscópio passou a ser usado para investigar um
mundo tido como invisível ao olho humano, o mundo microscópico. Este mundo passou a ser
visto através de um conjunto de lentes que possibilitou uma série de descobertas de
microrganismos e de detalhes nunca antes vistos pelos seres humanos.
Não se ocupa (ao menos não tem se ocupado) de elaborar e provar teorias,
mas despertar o interesse pelo que está sendo estudado, convencer sobre a
necessidade de determinado conceito e seu poder explicativo para fatos
cotidianos, mostrar modelos teóricos usando experimentos [...]. (WUO,
2000, p. 27).
Diante disso, os autores de livros didáticos perceberam que o microscópio poderia servir
de instrumento didático para que o aluno pudesse construir o seu próprio conhecimento acerca do
mundo microscópico. O fantástico mundo microscópico, que era observado exclusivamente por
cientistas tornou-se visível aos alunos por meio de esquemas, de desenhos e principalmente de
imagens. Reforçando esta nova atribuição do microscópio, os Parâmetros Curriculares Nacionais
apontam que uma das competências e habilidades a serem desenvolvidas em biologia, na área da
representação e comunicação, é “descrever processos e características do ambiente ou de seres
vivos, observados em microscópio ou a olho nu” (BRASIL, 1999, p.21). Também podemos
encontrar o microscópio como um recurso fundamental em temas estruturadores do ensino de
biologia segundo as Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares
Nacionais. Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias (BRASIL, 2002), vulgo PCN’s
Mais.
Acompanhando essa tendência, apresentamos como justificativa para a realização deste
processo de análise, o seguinte argumento: o microscópio é um importante instrumento técnico-
científico e, portanto diversas descobertas, ligadas principalmente à área biomédica, foram feitas
devido ao seu uso. Estes avanços, por constituírem parte dos saberes da humanidade, passaram a
fazer parte do seu ciclo de transmissão de conhecimento, e assim foram incluídos no processo de
ensino-aprendizagem escolar tendo como principal veículo de transferência os livros didáticos.
“Estes não são os únicos recursos utilizados na prática docente, mas continuam sendo o mais
importante, para a grande maioria dos professores” (AMARAL, 2006, p. 85). Daí a necessidade
de se saber que conhecimentos e informações sobre o microscópio chegam aos professores por
meio desses livros.
Metodologia
Para cumprir os objetivos deste trabalho, primeiramente, selecionamos três livros
didáticos de biologia, incluindo coleções completas e volumes únicos. Em seguida, elaboramos
alguns critérios que direcionaram uma análise de conteúdo (RICHARDSON, 2008) dos livros
didáticos selecionados.
Utilizamos dois critérios para a seleção dos livros didáticos que foram analisados:
indicação pelo Biologia: Catálogo do Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio
(PNLEM) de 2009 (BRASIL, 2008) e disponibilidade de material e de espaço/tempo. A seguir
descreveremos como esses critérios influenciaram na nossa seleção.
Indicação pelo Biologia: Catálogo do PNLEM de 2009: adotamos este critério devido
ao peso que este catálogo possui para a orientação do professor na escolha do livro didático com
quem ele irá trabalhar durante o ano letivo no ensino médio. O principal fator que atribui
importância ao catálogo é o fato de que as obras listadas por ele são as únicas recomendas, pelo
Ministério da Educação, para aquisição pelas escolas públicas por meio do PNLEM, além de sua
grande utilização no meio escolar. Com base nessa fundamentação, pudemos direcionar a nossa
seleção em nove livros didáticos. Poder-se-ia realizar a análise de todas as nove obras, mas
devido ao segundo critério, esse número foi reduzido para um terço de seu valor.
Disponibilidade de material e de espaço/tempo: nem todos os livros listados no catálogo
de biologia do PNLEM foram facilmente encontrados, por isso selecionamos as obras que
estavam prontamente disponíveis e que permitissem consultas a qualquer momento. Devemos
também revelar que neste processo de seleção, apenas os dados bibliográficos (título, autor,
edição etc.) das obras listadas no catálogo foram lidos. Procedeu-se dessa forma para que as
resenhas contidas nesse material não influenciassem o processo de seleção.
Depois dessas duas etapas eliminatórias, restaram três obras didáticas para serem
analisadas. São elas: Biologia – volumes 1, 2 e 3 de José Mariano Amabis e Gilberto Rodrigues
Martho (2004a, 2004b, 2004c, respectivamente); Biologia – volume único de J. Laurence
(2005); Biologia – volumes 1, 2 e 3 de César da Silva Júnior e Sezar Sasson, (2005a, 2005b,
2005c, respectivamente). Nos próximos itens deste trabalho, os autores supracitados, serão
identificados de acordo com as normas da ABNT para referência.
Resultados
A análise de cada livro está dividida em três partes: a análise do conteúdo didático, a
análise do conteúdo complementar e a análise do conteúdo para o professor. A seguir será
descrito o que cada uma dessas análises aborda.
A análise do conteúdo didático: é a análise dos temas propriamente ditos. Aqui,
avaliamos as informações relacionadas com o microscópio que os autores apresentaram em seus
livros. Buscamos averiguar, segundo os nossos critérios, se os autores apresentaram informações
coerentes e corretas sobre a história do microscópio, o seu funcionamento, a importância desse
instrumento para a ciência/biologia e a sua utilização como instrumento didático explorador do
mundo microscópico.
A análise do conteúdo complementar: detém-se à análise dos materiais complementares
que os livros didáticos trazem para enriquecer o conteúdo trabalhado. Aqui foram investigadas as
leituras complementares, os “boxes” e os quadros com curiosidades ou informações
complementares e as atividades sugeridas pelos autores que se relacionam com a microscopia.
A análise do conteúdo para o professor: a última análise. Como foram consultados
apenas os livros do professor, resolvemos analisar quais orientações, sobre o microscópio, os
autores destinaram aos professores.
As tabelas, abaixo, resumem os resultados obtidos em nossa análise.
A análise do conteúdo • As leituras complementares não contribuem com o que foi dito
complementar sobre o microscópio;
eletrônico;
• Não comentam sobre técnicas de observação.
Descrição da Destacam que o microscópio é fundamental para a visualização de
importância do células que não são vistas a olho nu.
microscópio na
ciência/biologia e da
sua empregabilidade.
TABELA 2: ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO DE LAURENCE (2005) SEGUNDO
CRITÉRIOS DA PESQUISA (CONTINUAÇÃO)
A análise do conteúdo • Há um texto complementar sobre os múltiplos e
complementar submúltiplos do metro, mas sem exemplos biológicos relacionados
com essas medidas;
• Existem apenas exercícios tradicionais sobre o
microscópio. Não há situações problemas envolvendo esse
instrumento;
• Uma única atividade experimental é sugerida.
A análise do conteúdo Não há nenhuma orientação ou conteúdo extra sobre o
para o professor microscópio.
Emprego dos elementos Na legenda, não aparece o aumento dado ao objeto que está sendo
gráficos utilizados nas visualizado.
imagens
Coerência histórica Os aspectos relacionados à história do microscópio encontram-se
sobre a evolução do como conteúdo complementar.
microscópio.
Coerência técnica sobre • Descrevem o funcionamento do microscópio;
o funcionamento do • Não explicam como se dá um aumento total;
microscópio. • Comentam sobre a importância da coloração na
preparação de uma amostra;
• Falam sobre o poder de resolução, relacionando-o com
exemplos biológicos;
• Comentam sobre os tipos de microscópios eletrônicos;
• Comentam sobre os múltiplos e submúltiplos do metro e
comparam exemplos biológicos por meio de uma escala;
Descrição da Comentam sobre a importância do microscópio eletrônico para a
importância do citologia.
microscópio na
ciência/biologia e da sua
empregabilidade.
A análise do conteúdo • Há um texto complementar sobre os primeiros usos
complementar “científicos” do microscópio por Hooke e Leeuvenhoek;
• Há um texto complementar sobre a necessidade de se fixar
um material biológico;
• Há um texto complementar sobre a diferença entre a
ampliação de uma imagem e o poder de resolução;
• Existem apenas exercícios tradicionais sobre o
microscópio. Não há situações problemas envolvendo esse
instrumento;
Revista da SBEnBio – Número 03. Outubro de 2010. 883
III ENEBIO & IV EREBIO – Regional 5
V Congreso Iberoamericano de Educación en Ciências Experimentales
Comentários finais
A nossa análise sobre o microscópio nos três livros didáticos de biologia revelou que
este conteúdo não está recebendo o devido destaque que merece. Detectamos que nesses livros o
microscópio não passa de um assunto usado para introduzir outros conteúdos, apesar de este
instrumento científico ter sido (e ainda ser) responsável por grandes avanços na ciência/biologia.
Quanto ao aspecto técnico, percebemos que estes livros não apresentam, de forma
suficientemente clara, o funcionamento de um microscópio. Também não há uma preocupação
dos autores em apresentar um significado prático sobre essas informações na vida dos estudantes.
Além disso, em alguns momentos, os principais conceitos técnicos, que estão relacionados ao
processo de visualização de uma imagem através do microscópio, estão incorretos ou não estão
bem explicados. Também observamos que os livros didáticos analisados possuem um fraco teor
histórico. Dos vários pesquisadores que realizaram descobertas científicas com o microscópio,
apenas dois ganharam destaque nesses livros, Leeuwenhoek e Hooke. E sobre eles ainda há muita
informação imprecisa. A história do microscópio, quando apresentada, ainda segue a tradicional
exposição de conteúdos, pois é considerada como conteúdo complementar e isolada do conteúdo
“científico”.
Enfim, concluímos que os livros analisados não exploraram o potencial que o
microscópio tem enquanto conteúdo propriamente dito e nem como um recurso didático
colaborador para um ensino de ciências/biologia.
Referências
AMABIS, J. M; MARTHO, G. R. Biologia das células. 2 ed. São Paulo: Moderna, 2004a.
_____; _____. Biologia dos organismos. 2 ed. São Paulo: Moderna, 2004b.
_____; _____. Biologia das populações. 2 ed. São Paulo: Moderna, 2004c.