Livro Unico
Livro Unico
Livro Unico
Aquisição e
desenvolvimento
da linguagem
Aquisição e
desenvolvimento da
linguagem
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer
modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo
de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e
Distribuidora Educacional S.A.
Presidente
Rodrigo Galindo
Conselho Acadêmico
Alberto S. Santana
Ana Lucia Jankovic Barduchi
Camila Cardoso Rotella
Cristiane Lisandra Danna
Danielly Nunes Andrade Noé
Emanuel Santana
Grasiele Aparecida Lourenço
Lidiane Cristina Vivaldini Olo
Paulo Heraldo Costa do Valle
Thatiane Cristina dos Santos de Carvalho Ribeiro
Revisora Técnica
Claudia Dourado de Salces
Editoração
Adilson Braga Fontes
André Augusto de Andrade Ramos
Cristiane Lisandra Danna
Diogo Ribeiro Garcia
Emanuel Santana
Erick Silva Griep
Lidiane Cristina Vivaldini Olo
ISBN 978-85-8482-654-4
2016
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário
Seção 4.1 - A fala da mãe (ou figura de mãe) com a criança 169
Seção 4.2 - Funções da linguagem aplicada à aquisição (1ª parte) 181
Seção 4.3 - Funções da linguagem aplicada à aquisição (2ª parte) 193
Seção 4.4 - O uso social da linguagem 205
Palavras do autor
A primeira parte do livro trará conceitos básicos, por exemplo, o que diferencia
os seres humanos de outros animais em termos de linguagem e qual sua evolução
histórica, passando pela contribuição do grande linguista Saussure. Em seguida,
você será convidado a descobrir como as concepções teóricas foram evoluindo,
descrevendo de forma cada vez mais aprofundada o processo de aquisição da
linguagem e a importância do convívio social para a realização e o aprimoramento
desta competência. Na terceira parte, você conhecerá os processos de linguagem
empregados na infância e seu desenvolvimento. Por fim, conhecerá os diferentes
usos da linguagem no convívio social e sua importância para a aprendizagem.
Caros, este é um belíssimo percurso! O estudo da linguagem é um campo
fantástico, pois a linguagem é uma competência transformadora! Você é nosso
convidado de honra. Leia com atenção, estude com entusiasmo, participe
efetivamente, você só tem a ganhar!
Unidade 1
Convite ao estudo
Seção 1.1
Diálogo aberto
Agora, mãos à obra! Faça a leitura da próxima etapa, amplie seus conhecimentos
pesquisando as referências indicadas e outras que sejam complementares, visite sites
e assista a filmes e vídeos, realize os exercícios e, por fim, elabore sua produção escrita
para concorrer ao processo seletivo da tão sonhada oportunidade!
Pesquise mais
FONTE: PINKER, Steven. O instinto da linguagem. São Paulo: Martins
Fontes, 2004.
Imagine que na evolução do ser humano existiram outros avanços, não apenas os
de linguagem. Por exemplo, criaram artefatos e armas. As mãos e os braços ficaram
ocupados. Não podiam mais gesticular com tanta frequência. Imagine também que
em situação de perigo ou quando estavam caçando, não podiam se mexer com muita
desenvoltura. Assim, a necessidade e o desafio acabaram exigindo o desenvolvimento
da linguagem. Veja as vantagens: para se comunicar através da linguagem, mesmo
que rudimentarmente, o homem primitivo não precisa ficar de frente um para o
outro (necessário para comunicação gestual), não precisa ficar próximo, pois o som
percorre o ar e pode ocupar suas mãos com outras coisas, pois a linguagem oral é
produzida pelo aparelho fonador, que inclui os pulmões, a traqueia, a laringe, os lábios,
os dentes, os palatos, a língua, sem necessariamente usar mãos, braços, dedos, corpo
e expressões faciais. Outra ideia associada é que as mães primitivas emitiam sinais
sonoros para acalmar seus bebês, que aprenderam e continuaram emitindo estes
sons, bem como ampliaram o repertório conforme cresciam. Tal como o homem
primitivo construiu sua linguagem, os bebês e as crianças modernas parecem passar
por essas mesmas fases, porém de forma mais rápida.
Vocabulário
Sociointeracionismo: abordagem que procura explicar que a
aprendizagem do ser humano ocorre na inter-relação dos contextos
históricos (determinados lugares e tempo), sociais (determinados grupos
de pessoas) e culturais (determinada sociedade). Assim, o grupo e sua
experiência prévia são fatores determinantes para que a aprendizagem
ocorra, de forma que esta aprendizagem estará sempre relacionada com
estes fatores. Ao se incorporar novos elementos, a aprendizagem também
corresponderá ao novo contexto.
Os golfinhos emitem assobios e sons que não somos capazes de assimilar. Cada
golfinho emite um tipo de assobio, que representa a si mesmo. Os outros golfinhos
conseguem repetir este som, portanto, parece que cada golfinho atribui a si um
“nome” e é identificado por este “nome”. No entanto, não conseguem, por exemplo,
atribuir um nome ao humano que cuida deles. Nós somos capazes de atribuir nomes
a tudo e em vários idiomas.
Os papagaios possuem um aparato fonador que lhes permitem que falem algumas
palavras e até mesmo frases. Essas palavras são aprendidas em contato com seres
humanos e são utilizadas fora de contexto. Um papagaio pode aprender a falar
“bom dia” e fazer isso com muita graça e ênfase. Ele pode continuar falando “bom
dia” no período da tarde, da noite e a madrugada inteira! Os seres humanos, além de
aprenderem um volume infinito de palavras (o papagaio não consegue), conseguem
empregá-las no contexto correto.
Estudos realizados com chipanzés mostraram que eles são capazes de aprender
centenas de palavras, conseguem aprender a linguagem de sinais (a mesma utilizada
por surdos e deficientes auditivos), mas isso só ocorre com treinamento específico
realizado por seres humanos. Além disso, os macacos não se mostraram capazes de
iniciar uma conversa, ou seja, eles se aproximam, se tocam, demonstram afeto, mas
não perguntam: “como foi o seu dia hoje?” ou “a banana está saborosa?”. Os macacos,
assim como os outros animais, possuem linguagem própria, mas ela é compreendida
como um conjunto de sons (cantos, latidos, trinados, uivos etc.), expressões faciais e
corporais, mudanças físicas (troca de plumagem, formato do corpo – um baiacu incha
seu estômago quando sente uma ameaça, assim, parece três vezes maior e afasta o
predador). Além disso, nenhum animal é capaz de transmitir um mesmo conteúdo de
maneira diferente, como fazemos, por exemplo, ao dizer: 1. A árvore foi cortada pelo
homem 2. O homem cortou a árvore. 3. Cortou-se a árvore.
Assimile
Entre outras, a linguagem humana é a principal característica que nos
diferencia das outras espécies de animais, porque nossa linguagem possui um
infinito número de símbolos que, associados a um infinito número de regras
gramaticais, nos permite gerar infinitos resultados de comunicação. Assim, a
linguagem é considerada um componente central da natureza humana.
a desenvolvê-la, ao passo que estar imerso em um grupo social que não utiliza a
linguagem não permitirá que a desenvolvamos. Lembre-se do caso das meninas-lobo
encontradas na selva em 1920, na Índia. Amala estava com 1 ano e meio e Kamala
aparentava ter 8 anos. Não se sabe exatamente como, mas essas meninas foram
criadas por lobos e foram encontradas por um pastor, que as levou para seu orfanato.
As meninas andavam em quatro apoios, não falavam nada, só uivavam. Amala faleceu
rapidamente, mas Kamala sobreviveu por 8 anos em sociedade. Precisou de 6 anos
para aprender a andar e ao falecer possuía um vocabulário de cerca de 50 palavras.
Desenvolveu afeto e certo comportamento social. Assim, percebe-se que o fato de ter
o aparelho fonador em perfeitas condições, é a condição de vivência em grupos que
empregam a linguagem humana que nos torna capazes de utilizá-la.
Assimile
A capacidade de desenvolver a linguagem é inata ao ser humano, mas seu
desenvolvimento não é. Depende do estímulo do grupo social humano no
qual a criança se desenvolverá.
No final desta seção, precisamos ainda abordar facetas da linguagem, para que
você tenha todas as condições de resolver a situação-problema. Lembra-se dela? A
situação-problema (SP) proposta nesta seção é escrever uma página do documento
solicitado pela Escola dos Sonhos, em que se defenda que a linguagem é, de fato,
a principal forma de desenvolvimento da aprendizagem, enfocando: a diferenciação
entre a comunicação animal e a linguagem humana, a natureza da linguagem humana
e suas práticas e as características e as propriedades da linguagem humana. Estes são
os pontos importantes para você resolver a primeira SP.
a entonação. Analise o diálogo: uma criança pergunta: “mãe, a comida está pronta?”
e a mãe responde: “não, está no fogo”. Observe que a palavra fogo provavelmente
foi pronunciada em tom normal, sem alteração de voz. Agora imagine que uma casa
se incendiou. As pessoas gritam: “FOGO! FOGO!”. Obviamente não será na mesma
entonação do primeiro diálogo. A capacidade de variar a intensidade para exprimir
maior ou menor urgência é chamada descontinuidade.
Assimile
Há quatro propriedades que diferenciam a linguagem humana da
linguagem animal: arbitrariedade, dualidade, descontinuidade e
produtividade.
Viu como nosso sistema de comunicação é belo e elaborado? A cada vez que
entramos em contato com um novo conhecimento, ou ainda, com um novo
instrumento ou uma nova palavra, todo nosso sistema de significados é alterado,
ampliado e melhorado, resultando em aprendizagem.
Pesquise mais
Descubra de forma simples os conceitos mais complexos da linguagem
humana. O livro indicado a seguir aborda a pronúncia dos sons, as mudanças
linguísticas mais recentes e a linguagem emocional, entre outros temas
tratados pelo autor.
Você pode escrever um primeiro parágrafo ressaltando que uma das principais
características que diferenciam os seres humanos de outros animais é justamente
a capacidade especializada de usar a linguagem como fazemos. Dê um exemplo,
comentando sobre uma ou duas espécies de animais que possuem sistemas de
linguagem, porém não possuem a mesma capacidade que os seres humanos.
Explique que a linguagem tal como a empregamos faz parte da natureza humana e
não de outros animais.
Por fim, você pode apontar que a linguagem humana está intrinsecamente
relacionada com o desenvolvimento social. Disserte sobre o processo de
aprendizagem da linguagem, que tem início desde a infância (fase do bebê) e que
não é interrompido. Explique que cada vez que entramos em contato com um novo
conhecimento ou ainda com um novo instrumento ou uma nova palavra, todo
nosso sistema de significados é alterado, ampliado e melhorado, resultando em
aprendizagem.
Atenção
É muito importante que você entenda que o funcionamento da linguagem
humana é extremamente elaborado e diferenciado de outras espécies de
animais. Ainda causa enorme surpresa o fato de crianças muito pequenas,
que mal conseguem se vestir sozinhas, serem capazes de empregar a
linguagem de uma forma bastante elaborada já aos dois anos de idade,
bem como o fato de ver que essa capacidade se desenvolve muito mais
rapidamente que outras.
Avançando na prática
Linbar
Descrição da situação-problema
Procure no texto da Seção 1.1 o motivo ou os motivos que podem ter levado a
criança a criar e usar o verbo “linbar” no lugar de lamber e como está ocorrendo sua
aprendizagem.
Lembre-se
Resolução da situação-problema
Aos dois anos e meio de idade, a criança já possui um vasto vocabulário e começa
a empregar a linguagem oral de forma muito parecida com as pessoas que fazem
parte do seu convívio social. Se esta criança está imersa em um contexto em que as
pessoas utilizam o verbo inexistente “linbar”, é possível que ela repita tal como ouviu,
mas esta é uma explicação simplória para a complexidade da nossa linguagem.
O que pode ter acontecido? Tal como o homem primitivo, a criança que fala
“linbar” sentiu a necessidade de criar uma nova palavra para expressar sua vontade.
Acontece que esta palavra não surge aleatoriamente, apesar da propriedade arbitrária
da linguagem em associação de sons a significados. Imagine que para consumir
este sorvete, a criança precisará usar a língua e fazer certos movimentos com ela.
Imagine também que criança já tenha ouvido as palavras lamber, língua e tenha certo
conhecimento de gêneros (feminino: a menina, a boneca / masculino: o menino,
o boneco). É muito provável que ela tenha tentado dizer que queria lamber com a
língua, fazendo a seguinte construção:
Lin – de língua, ao mesmo tempo que faz uma derivação da sílaba lam (de lamber)
Bar – derivação da sílaba ber (de lamber), porém usando o feminino – porque a
ideia é lamber com a língua (palavra feminina).
Como a criança ainda não está com a linguagem formal estruturada, ela brinca
com as palavras, buscando um termo que expresse melhor sua vontade, assim como
os homens primitivos começaram a derivar os sons para articular palavras e frases.
É muito comum este tipo de expressão na linguagem informal, como quando, por
exemplo, criamos termos particulares para nomear objetos e situações.
Caso as demais crianças adotem o verbo “linbar”, pode ser que se inicie uma
transgressão da linguagem e da língua formais e se adote um novo vocábulo, ou pode
ser que a criança, ao ouvir o verbo lamber usado regularmente em sua comunidade,
vá deixando aos poucos de empregar o verbo “linbar”.
3. Considere:
I – A linguagem é uma capacidade apenas humana, outros animais não
possuem nenhum tipo de linguagem.
II – Cada espécie animal emprega seu próprio tipo próprio de linguagem.
III – A linguagem, tal como a empregamos, é um atributo exclusivo da
natureza humana.
Seção 1.2
Diálogo aberto
b) Uma explicação sobre signo linguístico e sua importância nos estudos sobre
linguagem humana.
Para você conseguir resolver esta situação-problema, nesta seção, você irá
conhecer o trabalho do suíço Ferdinand de Saussure, considerado o pai da Linguística
moderna, reconhecido principalmente pela estruturação do campo da linguística
como a ciência que estuda os fenômenos relativos à língua. Assim, você aprenderá
sobre a diferença entre linguagem, língua e fala, e sobre o conceito de signo linguístico.
Agora, mãos à obra! Faça a leitura desta seção, amplie seus conhecimentos
pesquisando as referências indicadas e outras que sejam complementares, visite sites
e assista a filmes e vídeos, realize os exercícios e, por fim, elabore sua produção escrita
para concorrer ao processo seletivo da tão sonhada oportunidade!
Exemplificando
“Você” é um pronome e é uma das palavras mais comuns que
Pesquise mais
Fernanda Mussalim preparou um livro interessantíssimo, trazendo muitas
informações sobre a linguagem e a linguística. Você encontrará quatro
capítulos dedicados aos estudos saussurianos. Veja: MUSSALIM, Fernanda.
Linguística I. 1. ed. Curitiba: IESDE Brasil SA, 2009. v. 1. 152p.
Você sabe que o ser humano possui a capacidade de se comunicar por meio
de uma língua. A essa capacidade inata, com a qual todos nascemos, damos o
nome de linguagem. Para viver em sociedade, é preciso que essa linguagem seja
inteligível para o grupo social, ou seja, que os participantes possam compreender e
ser compreendidos. Assim, cria-se uma língua, ou seja, um conjunto organizado de
palavras, que segue uma determinada norma para um coletivo de pessoas, permitindo
que um enunciado seja manifestado claramente, de forma objetiva e com precisão.
A língua torna a linguagem oral efetiva e, apesar de apresentar variações, não sofre
mudanças que a descaracterizem, já que precisa se manter estável para permitir a
comunicação. Acredita-se que existam de 4.000 a 6.000 línguas no mundo, entre
elas a Língua Portuguesa. E este número já foi maior. Nossa língua é riquíssima! É uma
verdadeira aventura descobrir a origem das palavras e as transformações pelas quais
elas passaram.
Reflita
Você sabe o que aconteceu quando a tecnologia começou a fazer parte
do nosso cotidiano? Incorporamos novas palavras. Veja o caso da palavra
“deletar”. Ela vem do inglês delete e foi aportuguesada, usada no sentido
de suprimir, remover, excluir. Digitar indica que você vai datilografar no
computador. Você consegue pensar em outras palavras recentemente
incorporadas à nossa linguagem? E outras palavras que desapareceram
ou estão em vias de desaparecer? Chumbrega é uma delas! Este é um
estudo de ordem sincrônica, pois analisa as características de uma língua
em um determinado momento do tempo, fazendo um recorte.
necessário que as palavras tenham um significado, ou seja, que cada palavra represente
um conceito. Desta forma, Saussure estabelece o conceito de signo linguístico como
a combinação entre a palavra escrita ou falada e o conceito. O signo linguístico é
utilizado para representar um conceito (que pode ser uma ideia, um objeto, um
sentimento etc.) e é formado por um significado associado a um significante.
Vamos dar um exemplo. Pense em uma maçã. Em sua mente, aparece a imagem
de uma maçã, correto? No entanto, não é só a imagem da maçã que está na sua
mente. Você é capaz de associar o cheiro, o sabor, o fato de uma maçã ser o fruto da
macieira e, inclusive, o fato de saber que existem vários tipos de maçãs, correto? Você
pode até lembrar de memórias associadas à maçã, como uma bala de maçã que tenha
ganhado de seu colega há anos. Perceba que, ao pensar em “maçã”, nós recuperamos
um conjunto de associações, portanto “maçã” não é apenas uma imagem, mas um
conceito complexo, um conjunto articulado de conhecimentos e sentidos. A este
conjunto articulado de conhecimentos e sentidos chamamos de significado.
Observe: o conjunto de sons empregados para falar a palavra “maçã” também está
armazenado em sua memória. Ao ver a maçã em sua mente, você é capaz de associar
essa imagem a um conjunto de sons, correto? Observe que interessante: mesmo que
ninguém esteja falando em voz alta, você é capaz de “ouvir” sons como se estivesse
falando “maçã” dentro de sua cabeça. Isso é uma imagem sonora. Veja: quando alguém
fala para você: “Por favor, traga para mim a maçã que está dentro da geladeira”, você
sabe exatamente o que precisa pegar: a maçã. Você sabe disso porque o conjunto
de sons que formam “maçã” já estão armazenados na sua memória (imagem sonora),
e isso impede, por exemplo, que você pegue água ou uma cebola. Chamamos de
significante o conjunto de sons que representam um conceito.
Felicidade
Utilize quantas setas quiser, mas tente esgotar tudo o que você conseguir
associar à ideia de felicidade. Quando tiver esgotado as associações,
observe o resultado. Veja que “felicidade” não é apenas uma palavra ou
Assimile
Signo linguístico = significado + significante.
Pesquise mais
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix,
2016.
que cadeira deveria ser chamada de “cadeira”?). Esta é, portanto, uma importante
característica do signo linguístico: a arbitrariedade.
Pesquise mais
VIARO, Mário Eduardo. Manual de etimologia do português. São Paulo:
Globo Livros, 2013.
Saussure aponta que foi a propriedade da arbitrariedade que tornou o signo linguístico
tão resistente às mudanças. Se aprendemos desde bebês que um determinado animal
se chama passarinho e toda a sociedade à qual pertencemos chama este determinado
animal de passarinho, não temos força individual para questionar esta construção. Não
há força individual capaz de modificar uma língua. Assim, a língua de uma sociedade
também tem as características de imutabilidade e durabilidade. E é bom que seja assim,
pois não podemos pensar em uma comunicação eficaz se tivermos que negociar o
sentido dos conceitos o tempo todo.
Reflita
Em 1997, foi proposta uma nova nomenclatura para a termologia
anatômica (partes do corpo). Desde então, devemos chamar o “ouvido”
de orelha, a “amídala do céu da boca” de tonsila, a “rótula do joelho” de
patela. Você já ouviu essa nova nomenclatura? Ela existe há quase 20
anos e ainda não foi incorporada. Consegue perceber que é muito difícil
produzir mudanças na língua? Saussure afirma que só após um bom
tempo e com um grande grupo de falantes (até mesmo por gerações,
após um período de 100 anos, aproximadamente!) é que se produz uma
alteração na língua. Pelo jeito, ainda vai demorar um bom tempo para que
a nova terminologia médica seja incorporada em nosso cotidiano!
b) Uma explicação sobre signo linguístico e sua importância nos estudos sobre
linguagem humana.
Uma boa forma de você começar esta segunda página é ressaltar que os estudos
acadêmicos e científicos sobre a linguagem só foram melhor estruturados a partir do
século XX, quando se procurou definir claramente a diferença entre linguagem, língua e
fala. É importante que você explicite o significado de cada um destes conceitos, apontando
que um bebê, ao nascer, já possui a capacidade de desenvolver a linguagem e que essa
linguagem é expressa na forma de uma língua, manifestação da cultura de um grupo social.
Junte a segunda página à sua produção inicial e guarde-as para dar continuidade
na Seção 1.3!
Atenção
Neste momento, é muito importante que você entenda que o sistema de
comunicação que empregamos mais comumente – a língua – é a base
de toda a aprendizagem humana. Sem ela, não conseguimos aprender
conceitos, explicar teorias, compreender e ser compreendido. Mesmo as
pessoas que nascem surdas precisam de uma língua para se comunicar,
e, para isso, usam a língua de sinais.
Avançando na prática
Signo linguístico?
Descrição da situação-problema
Sua turma acabou de estudar a Seção 1.2, intitulada Teoria linguística de Ferdinand
de Saussure. Você compreendeu bem a importância de Saussure e sua contribuição
para a definição dos conceitos de linguagem, língua e fala. Você até compreendeu
muito bem o que quer dizer um signo linguístico, o que representa um significado e
o que é um significante. Porém, o mesmo não ocorreu com todos os seus colegas e
um deles, em particular, pediu sua ajuda. Você não vai se furtar a ajudá-lo, até porque
sabe que, quanto mais se exercitar, mais aprenderá sobre a linguagem, língua e fala,
bem como signo linguístico, significado e significante.
Seu amigo tem um pedido muito específico: que você comece com um exemplo
e daí derive a teoria explicativa. Além disso, pede que você crie um exercício para
que possa fixar seu conhecimento. Seu desafio é explicar para seu colega o que é
linguagem, língua e fala e o que é signo linguístico, significante e significado a partir de
exemplos. Você pode criar uma apresentação, fazer um esboço, escrever um texto.
Lembre-se
Resolução da situação-problema
Uma forma simples de você resolver este desafio é apresentar um ditado popular
em vários formatos. Observe esta brincadeira e tente descobrir o ditado popular,
expresso pela combinação das quatro figuras:
A B C D
Você já deve ter entendido que o ditado expresso nas imagens é: “Em terra de
cego, quem tem um olho é rei”, que quer dizer, no meio de ignorantes, quem tem um
pequeno conhecimento acaba dominando a situação.
Agora, veja só: pense na imagem da coroa, cujo significado, neste contexto, é
“rei”. Rei é um signo linguístico composto por um significado (conceito: poder, dono,
dominante, rico, chefe etc.) e por um significante (imagem sonora – sons exclusivos
associados a este conceito). Não fica mais simples entender assim? E o olho? Não é
a mesma ideia?
A B C D
“Cavalo dado, não se olha os dentes”
não
“Em boca fechada não entra mosquito”
1. Considere:
I – Linguagem é a capacidade que o ser humano tem de se comunicar
por meio de uma língua.
II – Língua é a forma culta desta expressão.
III – Fala é a forma coloquial desta expressão.
a) I, II, V.
b) I, II, IV, V.
c) I, III, IV, V.
d) III, IV, V.
e) Todas estão corretas.
a) V – V – V.
b) V – V – F.
c) F – V – F.
d) V – F – V.
e) F – F – V.
Seção 1.3
Funções da linguagem
Diálogo aberto
Nas seções anteriores, você redigiu duas páginas. Nesta aula, a situação-problema
(SP) proposta é escrever a terceira página do documento solicitado pela Escola
dos Sonhos, em que você defenda que a linguagem é, de fato, a principal forma
de desenvolvimento da aprendizagem. Aqui, seu objetivo é preparar uma página
apresentando o modelo de comunicação mais estudado e mais utilizado, de modo a
explicitar que mesmo crianças muito pequenas empregam este modelo, utilizando as
funções de linguagem desde cedo.
uso destas habilidades por crianças desde muito cedo e perceber a importância destes
conhecimentos para o professor. Este são os pontos importantes para você resolver
a terceira SP.
Agora, mãos à obra! Faça a leitura desta seção, amplie seus conhecimentos
pesquisando as referências indicadas e outras que sejam complementares, visite sites
e assista a filmes e vídeos, realize os exercícios e, por fim, elabore sua produção escrita
para concorrer ao processo seletivo da tão sonhada oportunidade!
Muito bem! Agora você deve estar se perguntando como é que as pessoas
conseguem estabelecer diálogo? De que forma o ser humano é capaz de estabelecer
um processo de comunicação? Basta ter a capacidade de desenvolver a linguagem
e empregar o signo linguístico? Isto é suficiente para transmitir uma informação e é
certo que a informação transmitida será compreendida pela outra pessoa?
Assimile
Há duas modalidades de linguagem: a linguagem verbal e a linguagem
não verbal. A linguagem verbal emprega palavras e pode ser escrita ou
falada. A linguagem não verbal emprega imagens, sons, gestos, sinais,
desenhos, expressões faciais, entre outras formas de expressão.
Contexto
Canal
Código
Exemplificando
Contexto: ESTUDO
DA ÁREA DE
LINGUAGEM
Mensagem: COMO
Emissor: Receptor:
ESCREVER UMA
PROFESSOR ALUNO
RESENHA
Canal: APRESENTAÇÃO
ELETRÔNICA e AULA
Código: LÍNGUA
PORTUGUESA
Reflita
O esquema proposto por Jakobson é o esquema mais simples, envolvendo
apenas duas pessoas ou dois extremos (emissor e receptor). O que
você acha que acontece quando há um emissor e vários receptores? O
esquema pode ser mantido?
Apesar de o esquema ter sido elaborado para um processo muito simples, onde
exista apenas um emissor e um receptor, não há diferença, caso os receptores sejam
um grupo, bem como não há diferença se houver mais de um emissor. Porém, é
preciso que o contexto, o canal e o código sejam comuns.
Roman Jakobson foi mais longe e aprofundou sua construção. Ele entendeu que
não existe comunicação sem uma intenção. Se não há nada para ser apresentado,
discutido, negado, negociado, apreciado, não há necessidade de comunicação.
Portanto, todo o processo comunicacional tem uma função. As funções
comunicacionais são ligadas a um dos componentes do esquema de comunicação
proposto. Vamos conhecê-las?
Contexto: Função
Referencial
Código: Função
Metalinguística
Função fática: são mensagens utilizadas para abrir, manter, fechar e até mesmo
verificar se o canal está em funcionamento. Chama a atenção do receptor e o deixa
em alerta. Veja exemplos: “1 2 3, testando” – para testes de microfone; “Alô? Está me
ouvindo?” – Atendendo ou falando ao telefone. As chamadas televisivas para início
e fim de programação (novelas, jornal etc.) também são exemplos dessa função: “O
jornal iniciará em alguns segundos”.
Pesquise mais
Em 1960, Roman Jakobson escreveu seu livro mais famoso, chamado
“Linguística e comunicação”. Aborda a relação entre linguagem e
comunicação, passando pelas artes e pela poética. Aqui você encontrará
um detalhamento sobre as funções da linguagem.
Você pode perceber que usamos a linguagem com diferentes propósitos: para
expressar o que estamos sentindo, para convencer o outro, para manter o canal de
comunicação aberto, para trabalhar a linguagem, explorando recursos que afetem os
nossos sentidos. Logo, não podemos afirmar que o único objetivo da linguagem é
transmitir informações, pois como você acabou de estudar, realizamos muito mais,
dependendo do modo como a utilizamos. Vale a pena ressaltar que um texto pode
apresentar mais do que uma função de linguagem, mas sempre há a predominância
de uma determinada função.
Uma boa forma de você começar esta terceira página é ressaltar que a capacidade
dos seres humanos de desenvolver a linguagem só se concretiza quando há uma
comunicação estabelecida ou a ser estabelecida. Assim, é fundamental compreender
os elementos que compõem o processo de comunicação e a intencionalidade
subjacente, expressa com o nome de funções de linguagem.
Agora, você deve começar a explicar que a criança utiliza a linguagem para
aprender, não só porque faz perguntas, mas porque é capaz de compreender as
Junte a terceira página à sua produção inicial e guarde-as para dar continuidade na
Seção 1.4!
Atenção
O conhecimento aqui tratado deve ser empregado com ética e seriedade.
Conhecer os estilos de cada função de linguagem dá ao emissor o poder
de coibir, constranger ou inferiorizar o receptor. Fique atento para não
empregar equivocadamente este conhecimento. Hoje há leis que proíbem o
uso indiscriminado de propagandas comerciais para crianças, por exemplo.
Avançando na prática
Arroba
Descrição da situação-problema
Toca o telefone.
CLIENTE: Eu apertei a letra “a”. Como é que eu faço o circulozinho em volta dela
para fazer o tal arroba?
Supondo que você seja o suporte técnico, como ajudaria o cliente a resolver o
problema, empregando o modelo de comunicação e as funções de linguagem
apresentados nesta seção?
Lembre-se
Resolução da situação-problema
Contexto: Problema na
área da informática
Mensagem: Não
Emissor: Cliente Receptor: atendente
consegue fazer o arroba
Código: LÍNGUA
PORTUGUESA
Fonte: elaborada pela autora.
a) Função emotiva: fiquei triste agora por você não conseguir fazer o arroba. Se eu
estivesse bem na sua frente, poderia apontar uma tecla específica do seu teclado, que é o
próprio arroba. Como não estou aí ao seu lado, eu entendo que você deve apagar a letra
“a” e apertar o arroba.
b) Função conativa: você é capaz de resolver isso! Preste atenção! Apague este “a” e
procure o arroba no teclado. Ele já existe em seu teclado, é só olhar com atenção, localizar
e apertar!
c) Função referencial: para usar o arroba, é só apertar a tecla correta, que fica no
Seção 1.4
Diálogo aberto
Agora, seu objetivo é preparar uma página em que consiga apresentar como
se dá o processo de comunicação através do discurso. Assim, a última página do
documento deverá conter:
Agora, mãos à obra! Faça a leitura desta seção, amplie seus conhecimentos
pesquisando as referências indicadas e outras que sejam complementares, visite sites
e assista a filmes e vídeos, realize os exercícios e, por fim, finalize sua produção escrita
para concorrer ao processo seletivo da tão sonhada oportunidade!
Esta é a última seção da unidade que aborda os conceitos básicos dos estudos
sobre a linguagem. Você aprendeu que a linguagem é uma capacidade do ser humano
e que, embora outros animais sejam capazes de se comunicar, apenas a linguagem
humana possui as características de arbitrariedade, dualidade, descontinuidade e
produtividade. Você também conheceu um pouco das descobertas de Saussure, como
a diferenciação entre linguagem, língua e fala, e o conceito de signo linguístico como
a combinação entre a palavra escrita ou falada e o conceito. Em seguida, conheceu os
estudos sobre trabalho de Jakobson, que explicou o modelo básico de comunicação.
Sua maior contribuição, no entanto, foi definir que a linguagem não tem apenas a
função de transmitir informações; fazemos muito mais por meio da linguagem. Assim,
ele sistematizou seis funções de linguagem: emotiva, poética, conativa, referencial,
fática e metalinguística.
Agora, nesta seção, o nosso foco é o discurso, que pode ser definido como toda
atividade comunicativa entre interlocutores; atividade produtora de sentidos que se dá
na interação entre falantes. O falante/ouvinte, escritor/leitor são seres situados num
tempo histórico, num espaço geográfico; pertencem a uma comunidade, a um grupo
e por isso carregam crenças, valores culturais, sociais, enfim a ideologia do grupo,
da comunidade de que fazem parte. Essas crenças, ideologias são veiculadas, isto é,
aparecem nos discursos. Assim, “(...) não há discurso neutro, todo discurso produz
sentidos que expressam as posições sociais, culturais, ideológicas dos sujeitos da
linguagem” (BRANDÃO, 2009, p. 3).
Vamos entender isso melhor. Você sabe que a língua se desenvolve a partir
do signo linguístico, mas você se lembra do conceito de signo linguístico? Signo
linguístico é a combinação entre o conceito e a palavra escrita ou falada (ou seja, signo
linguístico = significado + significante). Um signo linguístico é criado sempre dentro
de uma comunidade. O signo linguístico expressa uma ideia de uma determinada
comunidade. Veja o exemplo do signo “pão”. Na comunidade de padeiros, “pão”
significa o produto alimentar criado a partir da mistura de farinha, ovos, sal, água
(podendo ter mais ingredientes), que é sovado e assado. Para outra comunidade,
religiosa, o “pão” significa o corpo de Cristo. Para as moças de antigamente, um “pão”
era um rapaz bonito.
Exemplificando
Algo muito semelhante acontece com “gato”: representa um animal
felino, para a maior parte das pessoas; mas para os antigos egípcios, o
gato era uma encarnação divina; porém, também pode representar um
namorado ou, na forma feminina: uma gata, pode representar uma moça
bonita. Para os astutos, “dar um gato” significa falsificar algo, tornar algo
ilegal e até mesmo roubar.
Por outro lado, há estudos que ressaltam a dualidade do discurso: tanto pode ser
utilizado como uma condição de perpetuação da ideologia em vigor, mas também
pode ser empregado para revolucionar a sociedade, visto que o ser humano não é
passivo, é capaz de lutar contra a ideologia das classes opressoras, utilizando o próprio
discurso para despertar a consciência crítica dos integrantes da sociedade, como
podemos ver no seguinte ditado popular (que se contrapõe ao ditado apresentado no
parágrafo acima): “O sol nasceu para todos”, indicando que todos podem ter direitos a
oportunidades, não apenas os integrantes das classes sociais dominantes.
Pesquise mais
Este livro apresenta a análise da prática do discurso através da ótica
de várias áreas do conhecimento, como linguística e sociologia. Sua
abordagem é clara e sistemática e destaca que, ainda que o discurso
reproduza a ideologia dominante, ele também pode ser empregado
como enfrentamento desta mesma ideologia, servindo, portanto, como
agente de mudança social. Esta é uma leitura transformadora!
Assimile
O discurso é a forma de comunicação e é expresso na língua própria de uma
sociedade, através da fala e/ou da escrita. Cada indivíduo organiza a própria
linguagem para veicular o discurso. Assim, o discurso é a linguagem em ação.
Pesquise mais
Nesta obra, Bakhtin discute o conceito de signo linguístico composto por
um aspecto social e um aspecto ideológico (de certa forma contrariando
a compreensão de Saussure), alertando-nos que o pensamento individual
não é capaz de criar uma ideologia (é preciso um grupo social), mas que
a ideologia é capaz de criar o pensamento individual.
Considerar que somos controlados pela ideologia de uma camada social dominante
é bastante limitante e traz uma perspectiva sem alternativa para os participantes
da sociedade. A história da humanidade é marcada por conflitos e grupos sociais
emergentes, que criam sua própria ideologia e a disseminam. Portanto, o discurso
empregado em práticas sociais tem uma característica dupla: ao mesmo tempo que
serve para fazer a manutenção da ideologia dominante, também tem a força e o poder
de contrariar esta ideologia, a partir da intervenção de outro grupo social, que criará
uma nova ideologia e lutará para implantá-la, disseminá-la e mantê-la no poder, pois é
considerada melhor do que a anterior.
Reflita
Você já parou para refletir sobre como uma ideologia nasce e é veiculada?
Há três etapas: a primeira ocorre quando um grupo de pensadores entram
em acordo sobre uma determinada ideia ou postura; em seguida, ela é
veiculada massivamente e, por fim, começa a fazer parte do senso comum.
O exemplo mais clássico ocorreu na Revolução Francesa, quando a
burguesia implantou e começou a pregar a ideia de igualdade de direitos a
todos os homens e o livre-comércio, contrariando a ideologia de poder da
época, concentrada nas mãos da nobreza e do clero. A burguesia utilizou-
se de comícios e da divulgação nas escolas que controlava. E hoje? O
que conhecemos atualmente como burguesia pratica os princípios de
igualdade, liberdade e fraternidade que pregou na época da Revolução
Francesa? A burguesia mudou de papel nos tempos atuais? Quem é a
burguesia atualmente e qual é a sua ideologia?
Vamos chegando ao final desta seção e também ao final dos conceitos básicos dos
estudos da linguagem. Você descobriu que a linguagem não é neutra, o pensamento
é estruturado de acordo com as ideologias impostas ao longo da vida do indivíduo e
que o discurso, realizado em práticas sociais diversas, representa esta ideologia, sendo
utilizado para manter as estruturas de poder da classe dominante. Como isso tem a ver
com o desafio: explicar o(s) motivo(s) pelo(s) qual(is) a linguagem é, de fato, a melhor
forma de desenvolvimento da aprendizagem?
Pesquise mais
No livro Pedagogia do oprimido, Freire aponta que a educação é a única
forma do analfabeto enfrentar as condições de opressão impostas pelas
Bem, agora você conheceu os conceitos básicos dos estudos da linguagem e tem
elementos para resolver a quarta situação-problema.
Agora você deve conduzir sua produção para o fechamento, ou seja, deve defender
o motivo pela qual a linguagem é considerada a melhor forma de desenvolver a
aprendizagem. Você pode explicar que ao exercitar a linguagem, principalmente a
oral e a escrita, o indivíduo (desde criança) aprende a lidar com argumentos e criar
mecanismos de enfrentamento à ideologia vigente, contestando suas raízes, seus
objetivos e seus impactos. A escola, como espaço de transmissão cultural e de novas
produções de conhecimento, é o ambiente propício para a valorização da linguagem
e para a transformação social decorrente de novas práticas e descobertas, bem como
para o enfrentamento da ideologia dominante. Neste sentido, procure finalizar a sua
redação valorizando a perspectiva da Escola dos Sonhos.
Atenção
O discurso é regido por um princípio fundamental: o dialogismo. Tal
palavra vem de diálogo, conversa, interação verbal, isto é, supõe pelo
menos dois falantes. Além disso, ao falar ou escrever, dialogamos com
outros discursos já realizados, trazendo a fala do outro para o nosso
próprio discurso.
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
– Meu avô diz: ‘Estuda bastante para tirar nota dez’, mas o professor só coloca
pegadinha na prova. Não adianta nada estudar.
– Meu professor diz: ‘Preste atenção que este assunto cai na prova’, mas nunca
cai tudo, vou é bagunçar!
Você entendeu que essa postagem estava relacionada com os assuntos tratados
na Seção 1.4 - O funcionamento discursivo da linguagem -, e resolveu trazê-la para
discutir com seus colegas.
O desafio de vocês é:
Lembre-se
Resolução da situação-problema
Isto só não basta, é preciso reverter essa visão de abandono e desmotivação. Uma
possibilidade de resolver a segunda questão da SP é reescrever as frases, mudando
seu contexto:
– Minha mãe diz: ‘O poder da criança está em estudar’, pois ela acredita que a
– Meu avô diz: ‘Estuda bastante para não ser explorado’, assim, mesmo que o
professor só coloque pegadinhas na prova, sei que tenho condições de superar!
– Meu professor diz: ‘Preste atenção que este assunto cai na prova’, e eu vou
prestar mesmo, não porque vai cair na prova, mas porque aprender me faz ser mais
inteligente e permite que eu melhore minhas condições!
Referências
MORAES, Vinicius de. A casa. Rio de Janeiro: VM Cultural, 1970. Disponível em: <http://
www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/poesia/poesias-avulsas/casa>. Acesso em: 20
mar. 2016.
MUSSALIM, Fernanda. Linguística I. Curitiba: IESDE Brasil, 2009. v. 1, p. 152.
PINKER, Steven. O instinto da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
RODRIGUES, Rômulo da Silva Vargas. Saussure e a definição da língua como objeto
de estudos. ReVEL, edição especial n. 2, 2008. Disponível em: <http://www.revel.inf.br/
files/artigos/revel_esp_2_saussure_e_a_definicao_de_lingua.pdf>. Acesso em: 13 mar.
2016.
SANTEE, Nellie Rego; TEMER, Ana Carolina Rocha Pessoa. A Linguística de Roman
Jakobson: contribuições para o estudo da comunicação. Unopar Científica Ciências
Humanas e Educação. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A, v. 12, n. 1, p.
73-82, 2011. Disponível em: <http://www.pgsskroton.com.br/seer/index.php/humanas/
article/viewFile/2890/2762>. Acesso em: 5 mar. 2016.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 2016.
VEJA CIÊNCIA. A evolução da linguagem. Youtube, 6 fev. 2012. Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=S5D9AJ__ZHA>. Acesso em: 15 fev. 2016.
VIARO, Mário Eduardo. Manual de etimologia do português. São Paulo: Globo Livros,
2013.
Convite ao estudo
Seção 2.1
Diálogo aberto
3. Identificar as ideias principais das duas teorias e refletir sobre exemplos que
esclareçam cada uma delas.
Para apoiar sua aprendizagem, vamos retomar a SGA e apresentar uma situação-
problema:
A SGA proposta diz respeito ao estágio curricular, parte significativa na sua formação
profissional. Suponha que é o seu momento de realizar o estágio, onde vivenciará
situações relacionadas à aquisição e ao desenvolvimento da linguagem, pois a etapa
inicial ocorrerá em uma escola de educação infantil, com crianças de 0 a 6 anos.
O objetivo desta fase do estágio é fazer uma reflexão teórica acerca das situações
práticas observadas. Nesta seção, você elaborará parte do relatório de estágio que
exemplifique e explique (à luz da teoria estudada) fatos observados e relativos ao
comportamento verbal das crianças no processo de aquisição e desenvolvimento da
linguagem.
Assimile
Abordagem empirista: parte do princípio de que todo o conhecimento
provém única e exclusivamente da experiência do ser humano com o
meio ambiente. Este conhecimento é limitado ao que pode ser captado
pelos órgãos dos sentidos ou deduzido por reflexão pessoal (introspecção)
a partir das experiências vividas.
Por outro lado, nos anos 1940-1950, a Psicologia vinha tentando se afirmar como
teoria científica e procurando uma metodologia de pesquisa que sustentasse esse
status. Neste período, os estudos iniciados por John B. Watson e aprofundados
por Ivan P. Pavlov chamaram a atenção. A modalidade de estudo e as premissas
defendidas por esses cientistas foi chamado behaviorismo (também conhecido como
comportamentalismo) e parte do princípio que o comportamento humano é o objeto
mais adequado para o estudo da Psicologia, pois pode ser observado e descrito de
forma objetiva e rigorosa.
Exemplificando
Você já deve ter ouvido a seguinte frase: “Na minha época, eu já sabia o que
tinha que fazer apenas com o olhar do meu pai ou da minha mãe”. Como
isso se processou? A hipótese mais provável é que esta pessoa, quando
criança, teve um comportamento social reprovável e foi castigada por isso,
sendo que, ao receber o castigo, o pai ou a mãe lançava um determinado
olhar. Após algumas vezes sendo castigada e submetida a tal olhar, a
criança aprendeu a interpretar o olhar dos progenitores, reprimindo o
comportamento não aceito, não havendo mais a necessidade de castigo.
sentido: ganhar uma estrelinha quando acerta a lição (observe que a preocupação
não está em acertar a lição, mas sim em ganhar uma estrelinha), entregar o objeto
desejado apenas se a criança disser “por favor”, cor negra associada à morte, tristeza e
depressão... e assim outros tantos exemplos.
Vocabulário
Operante verbal são atributos controladores de respostas verbais, ou seja,
um conjunto específico de variáveis que procuram estabelecer algum tipo
de resposta.
Por fim, o operante verbal intraverbal indica que um estímulo verbal (oral ou escrito)
implica em uma resposta arbitrária (ou seja, ao ter acesso a um estímulo, a pessoa
decide como vai dar a resposta). É assim que lemos um poema escrito e escolhemos
recitá-lo ou copiá-lo. O operante intraverbal é utilizado em provas e exercícios
matemáticos.
Assim, para B. F. Skinner, a aquisição da linguagem ocorre a partir das relações que
a criança estabelece com a língua utilizada pela comunidade na qual convive. Esta
aquisição é determinada pela qualidade e quantidade de uso da língua e, principalmente,
pelos estímulos (operantes verbais) e reforços que as pessoas oferecem a essa criança.
Pesquise mais
Se você quiser conhecer mais sobre o Behaviorismo e a aquisição de
linguagem, sugerimos a leitura do livro Bloomfield e Skinner - Língua e
Comportamento Verbal.
O livro trata das bases teóricas empregadas por Skinner para escrever
sua maior obra: Verbal behavior. O livro de Passos também apresenta a
contribuição de Leonard Bloomfield, um dos maiores linguistas norte-
americanos fortemente influenciado pelo Behaviorismo.
Reflita
Será que esta teoria consegue abarcar toda a complexidade relacionada
à aquisição da linguagem? Pense: se a aquisição da linguagem se dá por
reforço, o que acontece com reforços contrários? Veja este exemplo: a
criança diz “eu cumi todo arroz bife”. E a mãe responde: “muito bem, muito
bem mesmo!”. Apesar do verbo estar em forma diferente da forma como
é empregado por adultos e da ausência do conectivo “E” entre arroz-bife,
a mãe utilizou um reforço positivo. Em outra situação, a criança vê uma
motocicleta e diz: “olha, mãe, uma bicicleta!” e a mãe responde: “não, filho,
não é uma bicicleta.”, a construção verbal da criança está correta, porém
recebeu um reforço negativo. Assim, a teoria Behaviorista claramente
não consegue explicar que apenas os reforços positivos e negativos são
suficientes para que a criança adquira a linguagem. Aparentemente, o
adulto está mais preocupado em ensinar a criança do que em fazer que
ela aprenda a língua e suas regras. Porém, é fato que tanto no convívio
familiar quanto escolar, utilizamos frequentemente os reforços positivos
e negativos.
Unidades Unidades
de entrada de saída
Fonte: elaborada pela autora.
Pesquise mais
Para conhecer mais sobre o Conexionismo, leia o livro Rumo à
psicolinguística conexionista de ROSSA Adriana; ROSSA, Carlos (orgs.).
Rumo à psicolinguística conexionista. Porto Alegre: Edipucrs, 2004.
Este interessante material trata da criação de sistemas computacionais
utilizados para modelar a cognição humana, mais especificamente os
processos linguísticos.
Estas situações podem ser diálogos entre duas crianças, diálogo individual (fala
da criança com ela mesma) ou diálogo entre uma criança e um adulto. Você não
precisa trazer as quatro situações da mesma criança, mas deve contextualizar a idade
da criança e alguma informação específica sobre o que está ocorrendo (por exemplo:
disputando um brinquedo, fazendo lição, horário de lanche etc.). Numere cada uma
das quatro situações, descreva o exemplo e explique teoricamente o processo de
aquisição e desenvolvimento da linguagem subjacente a cada situação.
Considerando que talvez você ainda não esteja realizando seu estágio real, as
situações solicitadas nesta situação-problema podem ser retiradas da internet, criadas
por você ou obtidas a partir de suas experiências pessoais. Certifique-se de que todas
as situações descritas remetam à aquisição e ao desenvolvimento da linguagem e
estejam relacionadas às teorias estudadas nesta seção.
Para resolver esta situação-problema, você deverá saber que as duas teorias
apresentadas nesta seção correspondem a uma abordagem específica que explica os
processos de aquisição de linguagem, chamada Empirista.
Atenção
A abordagem empirista da aquisição da linguagem parte do princípio que
todo o conhecimento nesta área provém da experiência da criança com
o ambiente.
É importante lembrar dos operantes verbais que, na teoria behaviorista, são: Mando,
Tato, Ecoico, Textual, Transcrição e Intraverbal. Você pode escolher dois e apresentar
duas situações de comportamento verbal, como quando a professora diz para suas
crianças: “Bom dia!” e as crianças respondem: “Bom dia!” (ecoico) ou ainda quando
a professora mostra uma letra e as crianças dizem: “Letra A, é a letra A, professora!”
(tato). Claro que você deve explicar o que está ocorrendo do ponto de vista da teoria
Behaviorista.
Avançando na prática
Bigo
Descrição da situação-problema
- É bigo, mãe. O nome é bigo. – A - Ele cai depois que nasce, aí fica o
criança enfia o dedo no umbigo da buraquinho do UMbigo (pronunciando
mãe. com força a sílaba UM).
Seu amigo pede ajuda. Como você faria para ajudá-lo? Este é seu novo desafio!
Lembre-se
Skinner aponta que a linguagem pode ser aprendida apenas por imitação,
como acontece com outras espécies. Nós, seres humanos, além de
aprendermos por imitação, somos capazes de dizer aos outros o que
eles devem fazer. Assim, recebemos conselhos, obedecemos às regras,
damos atenção quando sofremos advertências. Para este cientista, somos
ajudados a desenvolver a linguagem, pois apenas a exposição ao ambiente
não seria suficiente para que desenvolvêssemos um rico, extenso e
complexo repertório como o nosso.
Resolução da situação-problema
“Eu acho que as coisas deviam ter nome mais apropriado. Cadeira, por
exemplo. Devia chamar sentador, não cadeira, que não quer dizer nada. E
travesseiro? Devia chamar cabeceiro, lógico! Também, agora, eu só vou
falar assim.
Seção 2.2
Olá! Esperamos que esteja bem e animado para continuar seus estudos!
Para apoiar a sua aprendizagem, vamos retomar a SGA e apresentar uma situação-
problema: A SGA proposta diz respeito ao estágio curricular, parte significativa da sua
formação profissional. Suponha que é o seu momento de realizar o estágio, onde
vivenciará situações relacionadas à aquisição e ao desenvolvimento da linguagem,
pois a etapa inicial ocorrerá em uma escola de educação infantil, com crianças de
0 a 6 anos. O objetivo desta fase do estágio é fazer uma reflexão teórica acerca das
situações práticas observadas. Nesta seção, você elaborará parte do relatório de estágio
que exemplifique e explique (à luz da teoria estudada) fatos observados e relativos ao
comportamento verbal das crianças no processo de aquisição e desenvolvimento da
linguagem.
Nesta aula, você conhecerá a teoria inatista defendida por Noam Chomsky (1928) e
conhecerá um pouco do trabalho deste grande pesquisador, que é um autor polêmico,
porém, bastante produtivo, pois, em idade avançada, continua ministrando palestras,
escrevendo artigos e livros. Você também perceberá a diferença entre a abordagem
empirista e a racionalista, compreendendo onde as duas abordagens se distinguem.
Você precisará destes conhecimentos para resolver a segunda situação-problema.
Então, mãos à obra! Tenha uma boa e agradável leitura, aproveitem para refletir
bastante e aprender como vão se construindo novas teorias!
A linguagem, nesta abordagem, é vista como uma capacidade inata do ser humano,
ou seja, a criança já nasce com uma capacidade inata de adquirir e desenvolver a
linguagem, sendo que as experiências e o meio social apenas funcionam como
catalisadores desta capacidade. Ora, isto é bem diferente da abordagem empirista,
que entende que o ser humano é uma tábula rasa e só com as experiências do meio
social é que consegue adquirir e desenvolver a linguagem.
Assimile
A abordagem racionalista afirma que a razão é a única via possível
para explicar os fenômenos da natureza. O conhecimento empírico é
entendido como um conhecimento passível de erro. Nesta abordagem,
o ideal é empregar as representações da razão, pois ela utiliza a lógica
como processo de explicação da realidade. A razão e a lógica iluminam
a realidade e permitem que se enxerguem as conexões e as relações
existentes entre os objetos do conhecimento. Portanto, todas as pesquisas,
todas as explicações e todas as ações devem seguir os pressupostos
lógicos, pois são universalmente válidos.
Reflita
Até agora descobrimos que Chomsky criticou a teoria Behaviorista defendida
por Skinner. O que levou Chomsky a ser tão revolucionário? Chomsky é
judeu e conheceu profundamente os horrores da guerra. Além disso, viveu a
“cortina de ferro” (embargo político-econômico dos Estados Unidos contra
os países socialistas) e, apesar de vivenciar todas as catástrofes oriundas das
políticas econômicas, jamais desistiu de acreditar no potencial criativo do
homem e na humanidade como um valor de nossa espécie. Para conhecer
mais sobre Chomsky, acesse o site mantido pelo próprio autor. Disponível
em: <https://chomsky.info/>. Acesso em: 5 jul. 2016.
Noam Chomsky considera que a competência para a aquisição e o desenvolvimento
da linguagem é uma condição genética herdada, fruto da evolução da espécie humana
(Chomsky partilhava das ideias de Darwin). Embora não pudesse dizer com precisão
como isso ocorre e nem em qual área do cérebro ocorre, via, como única explicação
racional para que a criança aprendesse a falar, a existência de uma base biológica
preparada para isso, despertada por meio do convívio social. Desta forma, Chomsky
consegue explicar porque uma criança criada por lobos não aprende uma linguagem,
porém quando inserida na sociedade, consegue aprendê-la.
Assimile
Inatismo é corrente teórica que parte do pressuposto de que há ideias inatas
(ou predeterminadas) que não podem ser explicadas por experiências
de ordem sensorial ou puramente criativas. Uma ideia inata, portanto, é
universal, está presente em todos os seres humanos. É desta forma que
Chomsky explica que todo o ser humano aprende uma linguagem natural,
aquela que é predominante na sociedade em que nasceu.
Exemplificando
O uso criativo da linguagem é uma característica da essência humana,
conforme Chomsky aponta, e só essa característica pode explicar que
o ser humano é capaz de compreender e até mesmo produzir uma
sentença nunca ouvida anteriormente. O uso criativo da linguagem pode
aparecer da seguinte forma: “Maria fez gelatina” e “A gelatina foi feita por
Maria”. Obviamente, as frases são construídas de forma diferente, porém
expressam a mesma ideia. Neste exemplo, entende-se que a criança já
teve acesso a algumas regras da língua local e também aprendeu um bom
número de palavras, o que favorece a ela utilizar de forma criativa seu
conhecimento, tendo a liberdade de se expressar como preferir.
Pesquise mais
CHOMSKY, Noam. A ciência da linguagem: conversas com James
McGilvray.São Paulo: Unesp, 2014.
Nesta obra, Chomsky trata sobre sua visão sobre a relação entre
linguagem e mente. Faz também uma profunda reflexão sobre a
amplitude da natureza humana em seus aspectos biológico, linguístico,
político e filosófico.
Período Pré-Linguístico
Estágio de balbucio: aos três dias de vida, o bebê já diferencia sons e esse
desenvolvimento só progride ao longo das semanas. Antes dos seis meses, o bebê
emprega algumas vogais e emite alguns sons guturais, porém, aos seis meses, o
bebê começa a usar consoante + vogal (papapa, bububu etc.). Aos 10 meses, esse
balbucio torna-se seletivo, ou seja, o bebê decide os sons que quer emitir. Essa emissão
rapidamente se torna cadenciada como uma fala e antes dos 12 meses, os bebês
emitem sons muito similares ou iguais às palavras do mundo adulto.
Período Linguístico
Estágio de duas palavras: no segundo ano de vida, a criança começa a usar duas ou
mais palavras. Quando esse processo se inicia, a criança já observa a ordem em que
se fala a língua portuguesa (no caso do nosso país), onde se usa mais frequentemente
sujeito seguido de verbo e o complemento, respectivamente. A criança também
começa a entender o que é uma sentença afirmativa, negativa e interrogativa. Assim que
a criança começa a usar duas palavras, o processo vai atingindo formas mais complexas
de aquisição e desenvolvimento da linguagem.
Estágio das múltiplas combinações: por volta dos 3 anos, a criança já possui um
vocabulário de aproximadamente 1.200 palavras. A criança começa a usar preposições
(até, de, desde, entre, com, contra, para, sem etc.) e advérbios (aqui, ali, agora, depois,
antes, assim, sim, não, muito, pouco etc.). Por volta dos 4 anos, a criança é capaz de
usar sentenças com mais de uma oração (por exemplo: “Mariana tentou pular a corda,
mas não conseguiu”). Com cerca de 5 anos, a criança possui um vocabulário de 1.900
palavras e já utiliza orações subordinadas (por exemplo: “Meu amigo não foi à festa
porque estava com febre e foi ao médico e depois tomou remédio”).
Reflita
Aqui apresentamos a proposta chomskyana sobre aquisição e
desenvolvimento da linguagem. De acordo com esta teoria, o ser humano
nasce com um sistema de linguagem inato, ou seja, ao ser exposta a um
ambiente comunicativo, a criança precisará acessar este sistema para
ativar a sua gramática, entendida aqui como uma Gramática Universal (de
ordem genética, existente em todos os seres humanos). Assim é possível
explicar como crianças, já por volta dos 5 anos de idade, sejam capazes
de adquirir um sistema tão complexo de comunicação como o nosso. A
partir da exposição às regras da linguagem de uma determinada sociedade
e a um determinado número de palavras, as crianças conseguem produzir
expressões que nunca ouviram.
Vamos lá?
Com estes conhecimentos, você já consegue realizar a segunda SP. Entretanto, para
apoiar sua aprendizagem, vamos indicar um caminho para sintetização.
Atenção
É muito importante que você considere os dois períodos para a aquisição
da linguagem e respectivos estágios, propostos por Chomsky:
Considerando que talvez você ainda não esteja realizando seu estágio real, as
situações solicitadas nesta SP podem ser retiradas da internet, criadas por você ou obtidas
a partir de suas experiências pessoais. Certifique-se de que todas as situações descritas
remetam à aquisição e ao desenvolvimento da linguagem e estejam relacionadas às
teorias estudadas nesta seção.
Avançando na prática
Dessubir
Leia o seguinte diálogo entre uma criança de 3 anos e sua mãe, que se mudaram
- Sim.
- Mãe, como chama esse negócio que a gente usa para dessubir do apartamento?
a) O que a criança quer dizer com “dessubir”? Raciocine sobre o que está
acontecendo.
Lembre-se
Resolução da situação-problema
É correto afirmar que, apesar de jovem, a criança está no Estágio das Múltiplas
Combinações, pois, neste estágio, a criança já possui um vocabulário de aproximadamente
1.200 palavras e começa a usar preposições (até, de, desde, entre, com, contra, para,
sem etc.) e advérbios (aqui, ali, agora, depois, antes, assim, sim, não, muito, pouco etc.).
Posteriormente, por volta dos 4 anos, a criança é capaz de usar sentenças com mais de
uma oração (por exemplo: “Mariana tentou pular a corda, mas não conseguiu”). Com
cerca de 5 anos, a criança possui um vocabulário de 1.900 palavras e já utiliza orações
subordinadas (por exemplo: “Meu amigo não foi à festa porque estava com febre e foi
ao médico e depois tomou remédio”).
Seção 2.3
Para apoiar a sua aprendizagem, vamos retomar a SGA e apresentar uma situação-
problema:
A SGA proposta diz respeito ao estágio curricular, parte significativa da sua formação
profissional. Suponha que é o seu momento de realizar o estágio, onde vivenciará
situações relacionadas à aquisição e ao desenvolvimento da linguagem ocorridas
em uma escola de educação infantil, com crianças de 0 a 6 anos. O objetivo desta
fase do estágio é fazer uma reflexão teórica acerca das situações práticas observadas.
Nesta seção, você elaborará a terceira parte do relatório de estágio que exemplifique
e explique (à luz da teoria estudada) fatos observados e relativos ao comportamento
verbal das crianças no processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem.
O seu terceiro desafio é apresentar e explicar à luz da teoria estudada, três situações
específicas observadas no estágio:
Estas situações podem ser diálogos entre duas crianças, diálogo individual (fala da
criança com ela mesma) ou diálogo entre uma criança e um adulto. Você não precisa
trazer as três situações da mesma criança, mas deve contextualizar a idade da criança
e alguma informação específica sobre o que está ocorrendo (por exemplo: brincando,
fazendo lição, horário de lanche etc.). Numere cada uma das três situações, descreva
o exemplo e explique teoricamente o processo de aquisição e desenvolvimento da
linguagem subjacente a cada situação.
Considerando que talvez você ainda não esteja realizando seu estágio real, as
situações solicitadas nesta situação-problema podem ser retiradas da internet, criadas
por você ou obtidas a partir de suas experiências pessoais. Certifique-se de que todas
as situações descritas remetam à aquisição e ao desenvolvimento da linguagem e
estejam relacionadas à teoria estudadas nesta seção.
Agora vamos estudar a abordagem cognitivista, que tem como objetivo principal o
estudo da mente. Cognitivismo deriva da palavra cognoscere (conhecer, em latim) e
parte da investigação sobre o pensamento e sobre a resolução de problemas. Para os
cognitivistas, o pensamento causa impacto no comportamento das pessoas. Por esse
motivo, o pensamento deveria ser o objeto de estudo mais relevante à psicologia do
que o comportamento (nota-se aí uma crítica ao behaviorismo).
Assimile
Abordagem cognitivista: parte do princípio que o conhecimento é fruto
do pensamento e tem como objetivo estudar a cognição (o ato de
Vocabulário
Recentemente, procura-se recuperar o termo estádio para a identificação
dos períodos de desenvolvimento cognitivo propostas por Piaget. A
maior parte dos materiais publicados, entretanto, adota a palavra estágio.
Estágio é uma fase, é um período específico. O conceito de estádio é bem
interessante: remete ao espaço físico onde ocorriam diversos esportes
(do latim stadium). É assim que Piaget compreende a mente: um local
onde ocorrem vários “esportes” concomitantes, ou seja, o pensamento
é formado por várias estruturas constituídas a partir das várias interações
entre a criança e o meio.
Desta forma, é fácil perceber que os estudos cognitivistas se preocupam com o que
ocorre na mente, sem descartar a influência do meio em que a criança está imersa.
Para os cognitivistas, é importante ressaltar que a aquisição da linguagem ocorre
concomitantemente com outras frentes de desenvolvimento, como a motricidade e
o raciocínio lógico, por exemplo.
Assim, tanto a teoria Behaviorista quanto a Inatista não são suficientes para explicar
o processo de aprendizagem, pois não consideram aspectos de interação mental (ou
cognitiva) para a aquisição e o desenvolvimento da linguagem.
Reflita
Ao longo das duas seções anteriores, percebeu-se a oposição entre
o Behaviorismo (considera o meio como fator predominante para a
aquisição da linguagem) e o Inatismo (considera a programação genética
inata como fator predominante para a aquisição da linguagem). Pode-
se dizer que o Cognitivismo nasce do encontro entre as duas teorias.
Assim, o Cognitivismo parte do elemento orgânico (corpo e cérebro) em
funcionamento com o ambiente social onde a criança está imersa.
Assimile
Cognitivismo ou Epistemologia Genética se preocupa com a gênese
(nascimento) do conhecimento científico (epistemê, em grego), e busca
revelar os processos pelos quais as diferentes estruturas do conhecimento
são constituídas.
Exemplificando
Uma criança que está aprendendo sobre frutas, já possui um esquema
para cada fruta do cotidiano (por exemplo: a maçã tem a casca
vermelha, é um fruto da macieira, é doce, é saborosa, é suculenta). Em
dado momento, apresentam a esta criança uma cereja. Como ela não
conhece a cereja, provavelmente vai classificá-la como uma maçã, dada
à similaridade. No entanto, ao tocar e experimentar a cereja, perceberá
que há algumas diferenças: em aspectos visuais (a cereja é menor), em
percepção motora (a cereja pesa menos), no tato (a casca é diferente, é
mais mole do que a maçã), no sabor. Estará, no momento que manipula e
experimenta a cereja, fazendo novas assimilações (recepção e integração
de novas informações). Em dado momento, alguém lhe diz que o nome
desta nova fruta é cereja. As novas assimilações feitas se fundirão em um
novo complexo de conhecimentos (processo de acomodação), gerando
um novo esquema (para cereja) e modificando o esquema anterior (da
maçã), pois ao incluir as novas informações, também foi feita uma nova
assimilação no esquema da maçã (uma maçã NÃO é uma cereja – este é
um dado novo, que será acomodado!).
Exemplificando
Ao dar início à fala, a criança pode empregar um termo de forma genérica,
por exemplo: falar “tchau” quando está indo embora, mas também quando
sai de um cômodo, quando chega na casa de alguém, quando vai tomar
banho. Neste caso, o termo ainda não adquiriu significado e precisará de
mais tempo e mais experiências para que o conceito seja internalizado
como um signo linguístico.
O símbolo é compreendido como uma cópia ativa do real. Como estes símbolos
estão subordinados ao funcionamento cerebral, é possível ordená-los, classificá-los e
modificá-los. É assim, portanto, que a criança consegue criar um repertório interno de
conhecimento que permite a ela imaginar, fantasiar e antecipar.
Pesquise mais
Lançado inicialmente em 1945, Piaget estuda neste livro a comunicação
da criança, revelando a inter-relação entre imitação e jogo, bem como a
imagem e sua representação interna.
Piaget aponta que, desde os primeiros meses de vida, o bebê manipula objetos
para saciar sua curiosidade intelectual, criando diversas situações agrupadas sob o
nome de brincadeira. Por exemplo, o bebê gosta de levar objetos à boca; é uma forma
eficiente de descobrir o objeto, pois, em função da mamada, o bebê tem a região
bucal muito mais desenvolvida como órgão do sentido do que as mãos e os olhos.
Posteriormente, o bebê bate os objetos, produzindo sons. Também atira objetos,
fazendo outros tipos de “testes” e aprendendo com os resultados. Mais à frente, a
criança executa várias outras manipulações: puxa, estica, atira, senta em cima, bate e
vai adquirindo novos esquemas a partir da experiência em manipular estes objetos. A
todas essas experiências chamamos brincadeira, visto que a criança não tem intenção
de quebrar nada, apenas de descobrir o que se pode fazer com esses objetos.
Piaget chamou de fala egocêntrica a fala que ocorre nos primeiros anos de vida,
desde o início das vocalizações até os monólogos. Nesta categoria estão inseridas:
a) Fala repetitiva: a criança repete palavras, mas ainda não atribui sentido a
elas, bem como usa sílabas sem função social definida (balbucio) ou repetições sem
compreensão por parte da criança.
c) Monólogo social: a criança fala em voz alta com outra ou outras crianças,
como se estivesse em uma conversa social, porém não há relação com a frase
que a outra ou outras crianças estão falando (você já observou crianças pequenas
conversando entre si, porém cada qual com seu tema, sem se importar se as demais
estão compreendendo ou interagindo? Este é o monólogo social, onde não há
preocupação com o interlocutor).
Na fala egocêntrica, a criança não percebe que a outra pessoa pode ter um ponto
de vista diferente do seu, o que indica que a criança ainda não se adaptou ao meio.
Porém, conforme a inteligência e o pensamento vão amadurecendo, a linguagem
acompanha esse movimento interno.
Vocabulário
Adaptação: processo de organização do conhecimento, onde as crianças
passam de um nível mais simples de conhecimento para um nível mais
complexo. O conceito de adaptação também é conhecido como
equilibração. Desenvolve-se em duas etapas:
Olá, estudante! Agora vamos refletir sobre a Abordagem Cognitivista e sobre a teoria
da Epistemologia Genética ou Cognitivista, proposta por Jean Piaget, retomando a
situação-problema.
Por fim, o último exemplo solicita especificamente uma situação em que apareça
o jogo simbólico.
Atenção
O jogo simbólico não é qualquer tipo de jogo ou brincadeira. No jogo
simbólico ocorre a representação de um objeto ausente, a partir da
comparação entre o objeto existente e o objeto imaginado. Por esse
motivo, a criança utiliza alguns objetos, atribuindo-lhes outras características
enquanto brinca. Isso ocorre em alguns tipos de brincadeiras, mas não
ocorre em jogos de tabuleiro, por exemplo, nem em brincadeiras como
pular corda ou pega-pega.
Para auxiliar a construir o terceiro exemplo, você pode pesquisar vídeos sobre o
período de faz de conta ou mesmo jogo simbólico. Este talvez seja o exemplo mais
simples, aquele que você pode imaginar, afinal você já possui a função imagética
bastante elaborada, não é mesmo?
Avançando na prática
Encenando o jogo simbólico
Descrição da situação-problema
Seu professor trouxe a situação a seguir descrita por Piaget. Trata-se de uma
colaboração entre crianças, onde a função do jogo simbólico aparece. As crianças são
Lev (menino, 5 anos e 11 meses), Ari (menino, 4 anos e 1 mês), Den (menina, 4 anos e
5 meses), Arn (menino, 5 anos e 9 meses):
Lembre-se
Seu professor solicitou que você forme (com seus colegas) um grupo com 4
integrantes, juntos elaborem uma situação fictícia de jogo simbólico, descrevam a
situação e encenem para a sala. Ainda apresentou o seguinte desafio: “vocês podem
usar qualquer objeto que tenham em sua bolsa ou mochila como elemento da
brincadeira”.
Resolução da situação-problema
Aqui não é importante se preocupar com os objetos que vocês possuem. No jogo
simbólico, a origem do objeto que assumirá nova função não é importante (afinal,
como um ser humano pode ser areia, na situação proposta acima?). Concentrem-se
na situação que podem propor e depois atribuam o valor simbólico dos objetos. As
crianças entre 4 e 7 anos (estádio pré-operatório) costumam brincar de escolinha,
de casinha, de família, de super-herói, de trabalhar... São situações de faz de conta.
Decidida a brincadeira, atribua os papéis dos integrantes (nem todos precisam
encenar), criem o desenvolvimento da situação e selecionem os objetos que utilizarão
(por exemplo, uma folha de papel pode ser a capa do super-herói, um estojo pode ser
um secador de cabelo etc.)
d) Parte do princípio de que a mente deve ser estudada, o que não foi
realizado em outras abordagens. Assim, procura-se explicar como a
mente funciona, bem como o processo de raciocínio para a resolução
de problemas encontrados no cotidiano. A razão é apenas uma das
possibilidades de funcionamento da mente, não esquecendo do
aspecto emocional.
e) Parte do princípio de que a aprendizagem do ser humano ocorre na
inter-relação dos contextos históricos (determinados lugares e tempo),
sociais (determinados grupos de pessoas) e culturais (determinada
sociedade). Assim, tanto a razão, quanto a mente, quanto o grupo
social são fatores determinantes para que a aprendizagem ocorra.
Seção 2.4
Prezado estudante! Seja bem-vindo à última seção desta unidade! Ao final desta
unidade, chegaremos à metade do livro-didático! Já percorremos um bom caminho,
não? Bem, vamos aos estudos!
Para apoiar a sua aprendizagem, vamos retomar brevemente a SGA e apresentar uma
nova situação-problema: a SGA proposta que elaboramos trata do estágio curricular,
parte significativa na sua formação profissional. Suponha que é o seu momento
de realizar o estágio, onde você vivenciará situações relacionadas à aquisição e ao
desenvolvimento da linguagem, pois a etapa inicial do estágio, nesta SGA, ocorrerá
em uma escola de educação infantil, com crianças de 0 a 6 anos. O objetivo desta
fase do estágio é fazer uma reflexão teórica acerca das situações práticas observadas.
Nesta seção, você elaborará parte do relatório de estágio que exemplifique e explique
(à luz da teoria estudada) fatos observados e relativos ao comportamento verbal das
crianças no processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem.
Assimile
A Abordagem Interacionista: parte do princípio que todo conhecimento é
construído a partir da mediação realizada por outros indivíduos e pelo uso
Vocabulário
Objeto de conhecimento: aquilo que se pretende aprender. Pode ser
um objeto propriamente dito, como um cubo, um brinquedo, um jogo.
Porém, se refere mais a um tema ou assunto que se pretende estudar ou
analisar. Assim, para um linguista, o objeto de conhecimento é a língua e
todas as relações necessárias para compreendê-la. Para o pedagogo, o
objeto de conhecimento é a educação e todas as relações decorrentes
de processos educacionais.
Assimile
Sociointeracionismo: esta teoria parte do princípio de que a aprendizagem
do ser humano ocorre na inter-relação dos contextos históricos
(determinados lugares e tempo), sociais (determinados grupos de pessoas)
e culturais (determinada sociedade). Assim, o grupo e sua experiência
prévia são fatores determinantes para que a aprendizagem ocorra, de
forma que esta aprendizagem será sempre mediada por estes fatores. Ao
se incorporar novos elementos, a aprendizagem também corresponderá
ao novo contexto.
Vygotsky acredita que a linguagem é adquirida por crianças a partir da relação que
se estabelece entre elas e outros indivíduos do mesmo grupo no ambiente em que
está imersa. Porém, a linguagem não é apenas uma aprendizagem adquirida. Entre
a linguagem e o pensamento há uma relação fundamental de interdependência. E a
linguagem, na perspectiva vygotskyana, é um instrumento intelectual complexo que
permite a comunicação e a vida em sociedade, humanizando o indivíduo.
PENSAMENTO LINGUAGEM
PENSAMENTO LINGUAGEM
PENSAMENTO
VERBAL
Reflita
Piaget, quando desenvolve a teoria Cognitivista ou Epistemologia Genética
(Seção 2.3), também propõe uma fase chamada de “fala egocêntrica”.
Para Piaget, a fala egocêntrica precede a fala social e depois desaparece.
Para Vygotsky, é exatamente o contrário. Veja:
Linguagem
Exemplificando Linguagem social Linguagem interior
egocêntrica
Pesquise mais
Para conhecer a fundo a pesquisa de Vygotsky, sua explicação sobre o
processo de aquisição e o desenvolvimento da linguagem, você deve ler
seu livro:
Exemplificando
Digamos que você acordou pela manhã e, antes mesmo de se levantar,
fez uma lista mental de suas atividades ao longo do dia:
Quem nunca passou por algo semelhante? Você já percebeu como pensa
utilizando os recursos da linguagem e, no nosso caso particular, da língua
portuguesa? Você já se ouviu dando conselhos a si mesmo? “Ih, não vai
por aí que é fria! ”.
Criança com 3-4 anos: - Mamãe disse para não colocar a mão na tomada
porque dá choque (fala oralizada, linguagem egocêntrica).
Criança com 5-6 anos: Não vou colocar a mão na tomada porque dá
choque (lembrando que esta fala pode ser oralizada ou internalizada).
Concluindo: Vygotsky propõe que a função inicial da fala é o contato social, pois
a vivência em sociedade é fundamental para o ser humano. Porém, quando o bebê
sente a necessidade de se comunicar com o ambiente e com outras pessoas, o
desenvolvimento da linguagem é impulsionado, e o bebê chora, balbucia, gesticula.
Estes são os princípios que organizarão a aquisição e o desenvolvimento da linguagem.
Conforme entra em contato com outros adultos ou indivíduos mais experientes
que ela em termos de linguagem, a criança vai aprendendo a nomear objetos e a
estabelecer novas relações e novas situações de manipulação destes objetos que lhe
permitirão construir significados a partir da mediação que ocorrerá entre a criança
e o grupo sociocultural. Desta forma, a linguagem é mais e mais empregada para
construir uma rede de significados densa que funciona como um instrumento do
pensamento, sendo utilizada cada vez mais para organizar ideias, resolver problemas,
explicar fenômenos naturais etc.
Estas situações podem ser diálogos entre duas crianças, diálogo individual (fala
da criança com ela mesma) ou diálogo entre uma criança e um adulto. Você não
precisa trazer todas as situações da mesma criança, mas deve contextualizar a idade
da criança e alguma informação específica sobre o que está ocorrendo (por exemplo:
disputando um brinquedo, fazendo lição, horário de lanche etc.). Numere cada
Considerando que talvez você ainda não esteja realizando seu estágio real, as
situações solicitadas nesta SP podem ser retiradas da internet, criadas por você ou
obtidas a partir de suas experiências pessoais. Certifique-se de que todas as situações
descritas remetam à aquisição e ao desenvolvimento da linguagem e estejam
relacionadas às teorias estudadas nesta seção.
Para resolver esta SP, você deverá saber que a teoria Sociointeracionista
compreende que a linguagem é adquirida e desenvolvida a partir da interação da
criança com outras pessoas que vão se influenciando mutuamente, portanto, em um
determinado contexto sócio-histórico.
Atenção
A Abordagem Interacionista: parte do princípio de que todo conhecimento
é construído a partir da mediação realizada por outros indivíduos e pelo
uso de sistemas simbólicos.
Agora você tem todos os elementos para resolver esta situação-problema. Lembre-
se de explicar teoricamente os exemplos que você apresentar! Desejo a vocês um
bom trabalho!
Avançando na prática
Cálculo mental
Descrição da situação-problema
Lembre-se
Resolução da situação-problema
Por incrível que pareça, crianças com 3 anos de idade já são capazes de resolver este
tipo de problema, sabia? Pois bem, Marina tem 6 anos e já apresenta uma capacidade
de raciocínio bastante elaborada. Ao ser estimulada a resolver um problema usando
cálculo mental (sem usar lápis nem papel), Marina sente a necessidade de manter um
diálogo interno, conhecido na teoria Sociointeracionista como linguagem interior. A
linguagem interior serve para organizar o pensamento e também para estruturar as
ações que serão tomadas.
X: “Tem bastante lápis aqui. Não vou dar de um em um porque demora muito. Vou
dar logo três para cada um e ver quanto sobra. Se faltar, eu pego de volta ”.
Percebendo que ainda sobraram vários lápis, mas a quantidade caiu pela metade,
ela provavelmente pensou:
Y: “Bom, agora acho que não dá para dar 3 lápis para cada um, então vou dar 2. Se
faltar, eu pego 1 de volta”.
Z: “Bom, agora tenho 5 lápis na mão. Não posso mais dar 2 para cada um, pois
seriam 6, mas posso dar 1 para cada um.”.
Você pode ter criado um diálogo completamente diferente, que é válido, sem
dúvida, desde que demonstre a sequência de passos e a quantidade correta de lápis
empregada.
Por fim, pense se alguma vez você fez um gesto ou “caras e bocas” e isso
foi interpretado de forma diferente do que você queria expressar. Deve ter
sido bem engraçado! Conte para seus colegas e professor. Este exemplo
pode ser considerado uma fala social.
a) Sociointeracionista.
b) Conexionista.
c) Cognitivista.
d) Inatista.
e) Behaviorista.
Referências
Aquisição e o desenvolvimento
da linguagem infantil
Convite ao estudo
Para apoiar sua aprendizagem nesta unidade, vamos propor uma nova
Situação Geradora de Aprendizagem (SGA).
U3
Seção 3.1
Diálogo aberto
Acreditamos que, a partir da leitura deste livro didático, você deva estar se
perguntando: Como, efetivamente, as crianças adquirem a linguagem? Quais
situações práticas evidenciam a aquisição e o desenvolvimento da linguagem? Como
a criança começa a falar, quais suas primeiras experiências vocais? Como essas
experiências vocais evoluem até o desenvolvimento completo da linguagem? Esta
seção é dedicada ao estudo dos estágios de desenvolvimento da linguagem infantil e
tem como objetivo:
linguagem infantil.
Anote todas as referências utilizadas. Lembre-se que nesta situação-problema você está
iniciando um percurso no campo da pesquisa científica e acadêmica e, portanto, precisa
tomar notas de todas as leituras e pesquisas que fizer, para sustentar suas descobertas!
Você já deve ter percebido que, para adquirir a linguagem humana, a criança
precisa, em primeiro lugar, aprender a controlar o conjunto de sons que é capaz de
produzir. O desenvolvimento do sistema de sons da criança ocorre desde bebê.
O primeiro estágio refere-se aos primeiros meses de vida, que vai de 0 aos 6 meses,
aproximadamente. Você sabia que o bebê nasce com dois reflexos: o da sucção e o
do choro? Pois é, chorar é, inicialmente, uma manifestação inata do bebê e não quer
dizer que há algo errado com ele. Chama-se Reflexo de Moro a sequência motora de
fechar os olhos, movimentar os braços como se estivesse agarrando alguma coisa
no ar e chorar. O Reflexo de Moro é uma das manifestações do bebê que indica
que seu cérebro está funcionando conforme esperado para a idade. Portanto, até
os 2 meses de vida, o bebê chora não necessariamente porque está com fome ou
sono ou porque precisa de uma troca de fraldas. O choro é apenas uma manifestação
inata. Mas essa é uma manifestação sonora, talvez a primeira manifestação sonora
do bebê, portanto deve ser considerada no nosso estudo acerca dos estágios de
aquisição e desenvolvimento da linguagem. Outra manifestação que ocorre durante
os 2 primeiros meses de vida são os sons vegetativos. Neste grupo estão os arrotos e
os espirros. Porém, percebe-se que os bebês desde muito cedo são extremamente
sensíveis às propriedades e estruturas da sua língua materna, percebendo, inclusive,
quando se emprega uma outra língua.
Exemplificando
Agora você deve ter sentido curiosidade em saber como os pesquisadores
sabem que bebês são capazes de diferenciar a língua materna de outra
língua. Para saber se o bebê diferencia uma língua e outra, os pesquisadores
costumam medir alguns índices, por exemplo, a taxa de sucção na mamada
e o ritmo cardíaco. Assim, um bebê mama normalmente enquanto escuta
a língua materna (mede-se a taxa de sucção por minuto), porém quando
o bebê é exposto a uma nova língua no momento da mamada, sua taxa
de sucção cai, indicando que ele está prestando atenção em alguma coisa
nova, no caso uma nova língua. Não é à toa que dizem que os bebês
devem ser amamentados em lugar tranquilo! Agora, pasme: a mudança
desses índices pode ser observada desde os 4 dias de vida de um bebê!
O segundo estágio compreende o período que vai dos 6 aos 10 meses de vida.
Neste estágio, as crianças começam a balbuciar sílabas que são repetidas por um
longo período (“ba” “ba” “ba” “ba”...). Chama-se “balbucio reduplicado”. Algumas
pesquisas indicam que, independentemente de onde a criança tenha nascido, elas
costumam balbuciar as mesmas sílabas e até bebês surdos balbuciam nesta idade.
Observe que estes dois fatos nos indicam que o balbucio não depende de um input
externo (isto quer dizer que o fato de ouvir palavras ou mesmo não as ouvir é pouco
significativo para o balbucio). Por este motivo é que os linguistas acreditam que há um
comportamento interno da criança guiado para a aquisição e desenvolvimento da
linguagem, que se inicia de forma inata. Lembra-se da Teoria Inatista ou Gerativa de
Noam Chomsky? Pois apenas esta teoria pode explicar este fato, por este motivo é a
mais aceita pelos linguistas modernos.
Vocabulário
Input: significa entrada. No caso da linguagem, um input linguístico são
dados da linguagem aos quais a criança é exposta (fonemas, palavras,
orações, entre outros).
Até este momento, a criança não tem total consciência da estrutura fonológica da
linguagem, ou seja, ela não compreendeu que a língua falada pode ser segmentada,
de forma que a frase pode ser segmentada em palavras, as palavras podem ser
segmentadas em sílabas e as sílabas, por sua vez, podem ser segmentadas em
fonemas. Mas, também não se pode dizer que a consciência fonológica se inicia em
um período específico, já que bebês com cerca de 4 dias de vida percebem diferença
de ritmo na fala do idioma nativo com relação a um idioma estrangeiro, como vimos
logo no início do texto.
Vocabulário
Fonema: é a menor unidade sonora do sistema de uma língua. O fonema
é de fundamental importância para distinguir palavras. Observe, por
exemplo faca X vaca: as pronúncias são parecidas, apenas os fonemas /f/
e /v/ é que diferenciam uma palavra da outra.
O quarto estágio ocorre entre 1 ano e 1 ano e meio. Nesta idade, o desenvolvimento
da linguagem passa por um processo de refinamento e a criança começa a pronunciar
as primeiras palavras. Normalmente, estas primeiras palavras nomeiam objetos e
pessoas comuns em seu ambiente, como: “papai”, “mamãe”, “pepeta”. Nesta idade, a
criança emprega uma palavra com sentido de uma frase. Estas palavras são chamadas
holófrase, conforme estudamos na unidade anterior. Por exemplo, ao falar “aua”, pode
ser que a criança esteja falando “quero água”, ou ainda “está chovendo”.
Nesta idade, elas utilizam gestos que complementam sua intenção comunicacional,
por exemplo, levantando os braços ao mesmo tempo que diz: “colo”, indicando que
querem ser pegas no colo.
Pesquise mais
Este livro defende a teoria Inatista, segundo a qual os bebês nascem
biologicamente preparados para adquirir e desenvolver a linguagem.
O livro também expõe as fases de desenvolvimento da linguagem,
explicando os comportamentos dos bebês e das crianças. Trata-se de
uma leitura simples e objetiva, que você aproveitará muito!
COSTA, João.; SANTOS. Ana. Lúcia. A falar com bebês. Lisboa: Caminho,
2003.
O quinto estágio inicia com 1 ano e meio e nesta idade a criança já consegue
combinar duas palavras, que ainda não representam uma sentença, porém são
empregadas com uma pausa entre elas (palavras isoladas). Por exemplo: “nenê água”.
É surpreendente perceber que a criança, nesta idade, já tem a capacidade de utilizar
as palavras na sequência adequada de um enunciado compreensível (no exemplo,
podemos entender: “o nenê quer água”). Assim, as formas mais comuns de emprego
de duas palavras são:
Criança: - Comi.
Criança: - Pegui.
Ou:
Criança: - Eu di.
A criança apenas não aprendeu que existem verbos irregulares, tais como trazer,
fazer, entre outros, cuja formação do tempo passado é diferente dos verbos regulares,
tais como comer, correr, dormir, entre outros. Assim, os verbos regulares finalizados
em “er” e “ir” possuem, no tempo passado, a terminação “ i ” (comer/comi; correr/
corri; dormir/dormi, entre outros) diferente dos verbos irregulares, que precisam
ser aprendidos um a um (trazer/trouxe; pôr/pus, entre outros). Muitas vezes ocorre
também a confusão com os regulares terminados em “ar”: pegar/pegui; dar/di.
É importante frisar que nesta idade não podemos dizer que as crianças estão
errando a conjugação verbal, pois, aos 3 anos, elas estão testando hipóteses para
verificar se a regra aprendida (primeira pessoa do tempo passado dos verbos regulares
finalizados em “er”) se aplicam a quaisquer outros verbos no passado. Dizemos que,
neste caso, as crianças ampliam seu repertório produzindo novas formas que nunca
foram ouvidas (pois os adultos não utilizam: “pegui”, “di”, “trazi”, “fazi”). Na verdade, a
criança se baseia na regularidade da língua para testar sua hipótese e, aos poucos,
descobre que sua forma de empregar os verbos irregulares no tempo passado precisa
mudar para se assemelhar à linguagem do adulto.
Assimile
Consciência fonológica é uma capacidade do ser humano que lhe permite
refletir de forma consciente sobre a estrutura da linguagem oral, analisando
sua composição e segmentação. Divide-se nos níveis: noção de palavra,
noção de rima, aliteração (capacidade de identificar e repetir a sílaba ou
fonema inicial de uma palavra), consciência silábica e consciência fonêmica
(capacidade de isolar e manipular as unidades sonoras constituintes da
palavra). A partir da compreensão da segmentação de orações e palavras
a criança poderá compor novas palavras e novas orações, dominando a
organização da linguagem utilizada por sua comunidade.
Este estágio diz respeito às crianças com mais de 3 anos de idade. Após completar
3 anos de idade, o vocabulário da criança atingiu 1.200 palavras e ela começa a
empregar preposições (antes, depois, para, até, entre outras). Com 4 anos, seu
vocabulário atingiu 1.900 palavras. Com 5 anos, as crianças já adquiriram praticamente
todas as possibilidades de construção de orações da língua materna, tais como:
• Orações clivadas: “Foi na festa que a Maria caiu” (duas orações partidas com
um verbo em cada – uma variação que denota intensidade no predicado e não no
sujeito; no caso deste exemplo, poder-se-ia dizer simplesmente: “Maria caiu na festa”).
• Orações passivas: “O bolo foi comido pelas crianças” (neste caso, o sujeito “o
bolo” sofre a ação do verbo “foi comido”. Poder-se-ia simplesmente dizer: “As crianças
comeram o bolo” – oração ativa).
Reflita
Percebeu como a aquisição e o desenvolvimento da linguagem humana
ocorre em uma velocidade impressionante? Aos 5 anos a criança já é
capaz de utilizar as formas mais arrojadas da língua materna e nem sempre
conseguiu se desenvolver com tamanha desenvoltura em outros campos,
por exemplo, na motricidade e na escrita.
Para tanto, você preencherá uma tabela para sistematizar as ideias principais, de
forma que:
Neste sentido, você pode dar um título à sua produção, por exemplo:
Porém, você deve ficar atento(a) para contemplar outras ideias importantes, como:
o papel da prosódia e o desenvolvimento da consciência da estrutura fonológica da
linguagem.
Atenção
Tanto a prosódia quanto a estruturação da consciência fonológica são
elementos centrais para explicar a aquisição e o desenvolvimento da
linguagem das crianças. São marcadores significativos que apontam a
intenção da criança em aproximar as suas emissões sonoras da linguagem
dos adultos.
Bom trabalho!
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
O site http://br.guiainfantil.com/dialogo-na-familia/326-a-linguagem-entre-pais-e-
filhos.html traz o artigo intitulado. Como estimular a fala do bebê. Adaptamos o trecho
final:
- Converse com o bebê e diga o que você está fazendo no momento, mesmo
quando o bebê for bem pequeno.
- Aproveite ao jogar com elas para ensinar novo vocabulário (cores, animais...).
Lembre-se
Resolução da situação-problema
É muito importante que você ressalte, em sua resposta, alguns aspectos principais,
tais como a existência prévia de um aparato biológico (herança genética) que permite
a aquisição e desenvolvimento da linguagem, predispondo a criança a aprender e
utilizar a língua utilizada na comunidade da qual faz parte. Desta forma, o estímulo
(input) constante favorece que a aquisição e desenvolvimento da linguagem ocorra
de forma gradual e harmônica. As orientações fornecidas no texto trazem inputs
diversos para que o bebê ou a criança tenha acesso a um grande repertório que vai,
aos poucos, reforçando o emprego da entonação e da acentuação na linguagem.
Por volta dos 10 meses de idade, o bebê modifica seu balbucio, tornando-o mais
próximo da linguagem humana e emprega a prosódia (dar entonação e acentuação
próprias da linguagem de sua comunidade) para assemelhar suas produções vocais
à fala dos adultos. Ao mesmo tempo, o bebê vai adquirindo consciência da estrutura
fonológica da língua (sonorização das palavras e das segmentações de palavras) o que
lhe permitirá, mais à frente, utilizar palavras e frases que nunca ouviu antes.
Seção 3.2
Diálogo aberto
Desenvolva um texto dissertativo que dialogue com o quadro que você produziu
na primeira SP. Para apoiar sua aprendizagem, estudaremos nesta seção: a aquisição
do léxico, a emergência da sintaxe e a composição do sentido.
Por fim, anote todas as referências utilizadas. Lembre-se que nesta SP você está
iniciando um percurso no campo da pesquisa científica e acadêmica e, portanto,
precisa tomar notas de todas as leituras e pesquisa que fizer, para sustentar suas
descobertas!
Agora, leia o Não pode faltar e aprofunde seus estudos no fantástico campo da
Aquisição e Desenvolvimento da Linguagem!
Vocabulário
Léxico: nada mais é do que o conjunto de palavras de um idioma.
b) Descobre que há um item léxico específico para designar este objeto (“bôbô”
só serve para designar o vovô; para mamãe se usa outra palavra, para bola se usa outra
palavra e assim sucessivamente);
c) Percebe que o item léxico (palavra) que designa o objeto não muda, mesmo
que o objeto mude de contexto (o “bôbô” = vovô é a mesma pessoa se estiver na sala,
no quintal, brincando ou dormindo);
d) Percebe também que o sentido do item léxico utilizado também não muda,
mesmo que se mude o contexto (“bôbô” pai da mamãe, de cabelo branco, que cuida
de mim na sala, no quarto, no quintal);
É possível observar essas capacidades por volta dos 9 ou 10 meses de vida de uma
criança.
A hipótese mais aceita é que a holófrase empregada pela criança tem uma força
primitiva e é uma expressão rudimentar da fala dos adultos, visto que a criança, neste
momento de seu desenvolvimento, usa uma palavra única para nomear, repetir,
praticar, chamar, solicitar, responder, saudar, rotular e protestar, de forma que o
adulto acaba usando frases completas para parafrasear a palavra isolada da criança,
demonstrando sua força de comunicação.
Exemplificando
Imagine a seguinte situação: uma criança olha para sua mãe e para um
par de meias e diz: “meia”. Ela pode estar apenas nomeando o objeto.
Em seguida, vai brincar com outra coisa. Volta para o quarto e pega o
par de meias. Entrega para a mãe e diz: “meia”. A mãe segura o par e diz:
“Isso mesmo, meia!”. Coloca em cima da mesa. A criança estica o braço
para pegar as meias e diz: “meia” (agora, pode estar pedindo o par de
meias de volta). A mãe entrega. A criança estica o braço segurando as
meias e diz novamente: “meia”. A mãe entende que a criança quer vesti-
las e fala: “Ah, o nenê quer vestir as meias!”. E tenta calçá-las na criança.
A criança pega o par novamente e diz: “Meia!” com entonação mais forte
e os braços levantados. Então a mãe fala: “ah, você quer que guarde as
meias na gaveta?” e se dirige para o armário, abrindo a gaveta, seguida
pela criança que entrega o par de meias para a mãe, para que guarde na
No exemplo acima, se a criança dissesse: “meia gaveta” seria muito mais simples
compreender sua intenção. Por volta dos 18 meses e até os 24 meses, a criança
entra no estágio chamado Duas Palavras, onde ela começa a usar duas palavras que
se relacionam. Curiosamente, ainda não conseguimos esclarecer totalmente esse
mecanismo. Sabe-se que a criança estabelece uma relação entre as duas palavras que
começa a usar, mas não há uma definição clara sobre a sintaxe ou semântica...
Reflita
Ao falar “meia gaveta” a criança pode estar tentando expressar: “guarde
a meia na gaveta” estabelecendo, aí sim, uma relação sintática entre as
palavras. Mas ela pode apenas estar nomeando: “meia” e “gaveta”. Na
verdade, enquanto a criança não utilizar as preposições (de, em, a, o,
desde, com, até, para...) não temos como ter certeza da relação que ela
estabelece entre duas palavras.
- A bola é grande!
- A bola tá pulando!
(pois provocam uma grande alteração) do que menos, pouco e pequeno (que
provocam pequena alteração). Assim, menos, pouco e pequeno não são construídos
em relação às experiências da criança, mas por oposição de conceitos, demonstrando
uma reestruturação de suas estratégias de linguagem.
Pesquise mais
Neste interessante livro, a autora discorre sobre o processo da produção
articulada do som até a elaboração completa do discurso, detalhando a
emergência da linguagem em crianças a partir de 4 anos, onde o contexto
social do qual fazem parte é destacado. Esta leitura complementa o
assunto da Seção 3.2!
indica um outro aspecto bem sutil da linguagem. Há princípios universais que regem
todas as línguas, portanto que favorecem a emergência da linguagem da criança
(o que nos sugere novamente que a hipótese que melhor sustenta a aquisição e o
desenvolvimento da linguagem é a Inatista, criada por Noam Chomsky, que defende
a Gramática Universal). Posteriormente, a criança aprende os itens lexicais e os
parâmetros da língua materna (que podem diferir de uma língua para outra).
Para encerrar esta seção, é preciso apenas pontuar que há duas correntes explicativas
para a aquisição da linguagem do ponto de vista inatista. Uma é a maturacionista, que
afirma que nem todos os princípios da linguagem e os possíveis parâmetros da língua
estão disponíveis quando a criança nasce. Dependem da maturação cerebral e se
consolidam até os 5 anos de idade. Já a corrente continuísta aponta que princípios e
parâmetros estão disponíveis, porém, o desenvolvimento deles depende da aquisição
dos itens lexicais e da semântica, que não ocorre de forma automática e instantânea,
pelo contrário, depende da vivência social.
Assimile
Nesta seção estudamos o desenvolvimento lexical, sintático e semântico
da linguagem. Descobrimos que as crianças dependem da exposição à
linguagem dos adultos para que sua linguagem emerja e que a construção
desta linguagem ocorre no crescimento da tríade lexical-semântica-
sintática. Descobrimos também que há princípios básicos que regem
todas as línguas (por exemplo, o uso de sujeito seguido de verbo), porém
há parâmetros de variação que só são compreendidos e empregados
após uma maior experiência de utilização da língua, por exemplo, frases
na voz passiva.
que explique o que é o léxico e como ele é adquirido pela criança, outra seção que
explique o que é a semântica e como ela é associada à aprendizagem dos itens do
léxico e, por fim, pode escrever uma última seção onde explique o que é sintaxe e
como a ela emerge a partir da vivência social.
Atenção
O léxico é o conjunto de palavras que compõem uma língua e as primeiras
palavras que a criança emprega estão relacionadas a objetos ou pessoas
do seu convívio e de sua afeição. Ao ouvir e repetir palavras, a criança vai
compreendendo e construindo seu sentido (semântica). Vai também, ao
mesmo tempo, compreendendo e aplicando as regras da linguagem dos
adultos, por exemplo, usar sujeito e verbo.
Aproveite para trazer exemplos que possam ilustrar a construção teórica de sua
situação-problema, como as holófrases e algumas falas iniciais. Isso deixará sua
produção mais rica!
Avançando na prática
Nenê dormir
Descrição da situação-problema
Lembre-se
Resolução da situação-problema
b) da sintaxe
c) da consciência fonológica
d) da semântica
e) do léxico
Seção 3.3
Esta ficha será anexada ao material preparado anteriormente, pois, nesta SGA, você
está realizando um estudo para elaborar seu projeto de iniciação científica e precisará,
posteriormente, optar por um dos métodos de coleta de dados (o segundo método
será estudado na próxima seção).
Pesquise mais
Neste livro, organizado por Alessandra Del Ré, você encontrará uma leitura
muito interessante e pertinente ao estudo que estamos realizando agora.
Indicamos a leitura do primeiro capítulo, que se chama A pesquisa em
aquisição de linguagem: teoria e prática, onde você terá a oportunidade
de ver os dados de uma pesquisa real.
Assim, qualquer pessoa pode fazer a coleta de dados espontâneos: basta decidir o
tempo de gravação (a sessão de gravação pode durar quinze minutos, meia hora ou
até mais, porém é importante verificar a quantidade de tempo adequado para a criança
não se sentir cansada). Deve-se decidir a periodicidade com que será realizada, pois é
preciso constância na coleta de dados para investigar a aquisição e desenvolvimento
da linguagem infantil. A periocidade pode ser semanal, quinzenal ou mensal. Também
é preciso decidir a duração da coleta de dados espontâneos: um ano, dois, três... até
cinco anos ou mais.
Também não é interessante gravar a criança enquanto ela come, pois, além
de poder distrair-se, o fato de mastigar pode comprometer a produção vocal e a
articulação da fala da criança. Outro cuidado que o(a) pesquisador(a) deve tomar é
nunca expor a criança, por este motivo ela nunca pode ser gravada enquanto dorme,
Numa sessão, você pode permitir que a criança utilize brinquedos diversos, livros,
objetos da casa, roupas, entre outros elementos, de forma que ela possa manipulá-los
e falar sobre eles.
O(a) pesquisador(a) deve prestar atenção à sua conduta. Em primeiro lugar, não
deve demonstrar emoções ou expressões que possam conduzir a produção oral da
criança. Claro que deve estimular a criança a falar, mas não deve interferir. Quando
a criança estiver no meio de uma frase, não deve interrompê-la, deve esperar que
termine para só depois dirigir a palavra a ela.
Por outro lado, o pesquisador pode optar por trabalhar com um programa
desenvolvido especificamente para transcrição e análise de dados da linguagem infantil,
que é bem particularizada em termos de entonação e estruturação fonológica, se
comparada com a linguagem de um adulto. Este programa se chama CHILDES (Child
Language Data Exchange System) e foi criado por Brian MacWhinney, da Carnegie
Mellon University, disponível no site: <http://childes.psy.cmu.edu>. Este programa
sugere uma forma única de codificação da fala infantil, assim fica mais simples
parametrizar os dados coletados. Além disso, com o crescimento de utilização, o
programa se transformou numa plataforma e é possível acessar e comparar dados de
outras crianças na mesma faixa etária, que utiliza a mesma ou outra língua.
criança não emitir um tipo de frase durante o tempo da pesquisa, pode-se erroneamente
concluir que ela não adquiriu a estrutura deste tipo de frase.
Exemplificando
Imagine a seguinte situação: você iniciou uma pesquisa com uma criança,
coletando os dados espontâneos de sua fala. Fez isso durante um ano, no
período em que a criança estava com idade entre 4 e 5 anos. Ao longo
deste período, a criança não emitiu nenhuma frase na voz passiva, por
exemplo: “A boneca foi molhada pela minha amiguinha”. Normalmente,
a criança diria: “Minha amiguinha molhou a boneca”, utilizando voz ativa,
pois é muito mais comum. Mas, durante sua pesquisa, como não houve
nenhuma frase na voz passiva, é fácil concluir que a criança ainda não
adquiriu este esquema, correto? Não, não é correto. Uma criança com 5
anos já possui a capacidade de produzir frases na voz passiva (conforme
estudamos na Seção 3.2), mas é mais raro utilizá-la. Desta forma, a coleta
de dados espontânea pode ser enganosa.
Com dados espontâneos, não conseguimos dizer com certeza se a criança ainda
não adquiriu a estrutura em questão ou se apenas preferiu não a utilizar, porém
permitem uma análise da frequência de uso das construções linguísticas da criança.
Os dados espontâneos permitem analisar como se dá a aquisição e análise das
construções gramaticais da linguagem da criança, trazendo um grande número de
informações significativas, permitindo aos pesquisadores descobrirem tendências
gerais de desenvolvimento da linguagem humana.
Assimile
Dados espontâneos são colhidos em sessões específicas nas quais as
crianças podem se expressar oralmente de forma livre. Essas expressões
são gravadas e posteriormente transcritas, classificadas e quantificadas,
o que permite tanto obter informações sobre tendências gerais a
respeito da aquisição e desenvolvimento da linguagem bem como para
comparar as emissões individuais com as tendências gerais. Ao mesmo
tempo que permite investigar um grande volume de informações e a
riqueza da produção linguística infantil, este método deve ser observado
com cuidado, pois pode induzir a equívocos, por exemplo, concluir
que a criança em determinada faixa etária não tem condições de emitir
determinada construção gramatical, quando, na verdade, ela possui essa
capacidade, apenas preferiu não utilizá-la ou não ocorreu momento
oportuno para demonstrá-la.
Reflita
Toda a forma de pesquisa trará algum dado significativo para análise. No
caso de crianças, é preciso tomar muito cuidado, pois seu desenvolvimento
está relacionado ao meio social onde está inserida. Então, ao colher
dados espontâneos, o(a) pesquisador(a) deve refletir sobre os fatores
externos, como o estímulo linguístico ao qual a criança está submetida, à
frequência de uso de determinadas construções gramaticais por adultos
que convivem com a criança, ao ambiente, se a criança frequenta a escola
ou não, pois todos esses fatores podem influenciar a produção dos dados
espontâneos.
Características:
Alcances:
Limitações:
Atenção
Dados espontâneos são aqueles obtidos através da observação e escuta
das falas de crianças, onde não há uma orientação específica por ordem
do(a) pesquisador(a). Esses dados permitem organizar tendências gerais
a respeito da aquisição e desenvolvimento da linguagem. Note que estes
dados devem ser observados com cuidado, pois pode induzir a equívocos.
Para ajudar a preencher este quadro, você pode se orientar pelas seguintes
perguntas:
• E, por fim, quais são as potenciais restrições relacionadas a este tipo de coleta
de dados?
Avançando na prática
Brincando sozinha
Descrição da situação-problema
− Nossa, é tarde, é hora de Jéssica ir para casa tomar lanche e fazer lição de casa.
Pelos dados observados, quais são as conquistas que a criança já apresentou? Estas
conquistas estão apropriadas à faixa etária?
Lembre-se
Resolução da situação-problema
Observando a fala da criança, que foi transcrita, observa-se que o discurso está
apropriado à faixa etária. Nota-se que a prosódia e a sintaxe já correspondem à
linguagem utilizada por adultos, embora a criança ainda esteja na fala egocêntrica, ou
seja, fala sozinha, sem considerar a presença do(a) pesquisador(a). Apresenta traços de
animismo (atribui características humanas a objetos inanimados – no caso, a boneca).
Seção 3.4
Olá! Estamos chegando ao final da Unidade 3 e você já aprendeu muita coisa até
aqui! Esta unidade é destinada à aquisição e desenvolvimento da linguagem infantil e
anteriormente enfocamos as produções e discriminações vocais na primeira infância,
o papel da prosódia, a consciência da estrutura fonológica, a aquisição do léxico, a
emergência da sintaxe, a composição do sentido. Por fim, estudamos uma metodologia
de estudo em aquisição da linguagem baseada na coleta de dados espontâneos. Nesta
seção, estudaremos outra metodologia de estudo em aquisição da linguagem, agora
baseada em dados experimentais, que ocorre quando o pesquisador emprega uma
forma de guiar a fala da criança para verificar o estágio em que se encontra.
Reflita
Antes de atingir a fala tipicamente adulta, a criança passa por fases ou
hipóteses tipicamente infantis. Por exemplo, quando começa a construir
frases, a criança tende a conjugar os verbos irregulares como regulares,
portanto falas como “eu gosti”, “eu trazi”, “eu sabo”, entre outras, são bem
comuns. Aos poucos, a criança compreende que alguns verbos possuem
a conjugação diferente e abandonam a forma tipicamente infantil para
adotar a fala do adulto. A criança atravessa estágios intermediários antes
de alcançar as construções consideradas lícitas na língua. Muitas vezes,
em pesquisas com dados espontâneos, a fala tipicamente infantil não
aparece. É preciso criar um experimento especialmente dedicado a este
tipo de investigação. Para isso, se utiliza a metodologia de coleta de dados
experimentais.
Vocês devem estar sentindo curiosidade para entender melhor como funciona
este método.
Exemplificando
“Em um estudo sobre aquisição de perguntas no português brasileiro,
formulamos um contexto em que seria adequado que a criança fizesse
perguntas a um fantoche. O contexto era o seguinte: um fantoche, um
sapinho de pelúcia chamado Caco, achava que sabia todas as coisas
do mundo. Ele dizia à criança que ela podia perguntar a ele o que ela
quisesse, e ele acertaria a resposta. Ficava combinado com a criança que,
se ele acertasse, a criança daria um inseto (de plástico) para ele comer,
pois essa era sua comida preferida. Se ele errasse, a criança daria uma
comida amarga que ele não gostava, como punição [...].
Criança: Vamos.
Criança: Chocolate.
Pesquisadora: E beber?
Criança: Leite.
Pesquisadora: E abraçar?
Criança: A Minnie.
Criança: Caco!!
Criança: O que você acha que o Super-Homem prefere comer? [grifo das
autoras].
Fantoche: Chocolate!!
• É preciso que algum comitê de ética em pesquisa aprove a pesquisa, pois esta
deve estar de acordo com a Resolução 196/1996 do Conselho Nacional da Saúde,
que trata dos aspectos éticos da pesquisa envolvendo seres humanos.
Pesquise mais
Conheça a Resolução 196/1996 do Conselho Nacional da Saúde,
disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/1996/reso196.
doc>. Acesso em: 15 jul. 2016.
• É ideal que o plano de ação seja testado previamente com adultos e com crianças
mais velhas (se estes grupos tiverem dificuldades, as crianças menores também terão).
Este tipo de pesquisa é direcionado a crianças com mais de 3 anos de idade. Há duas
formas mais comuns de pesquisa: estudar como as crianças produzem determinadas
construções gramaticais e estudar como elas compreendem as estruturas. Para tanto,
são elaboradas “tarefas”, ou seja, um plano de ação para levar as crianças a construírem
sentenças (no caso de tarefas de produção) ou responderem se conseguem
compreender (ou não) determinadas sentenças preparadas pelos pesquisadores
(tarefas de compreensão). Os pesquisadores decidem por um tipo de tarefa (tarefa de
produção ou tarefa de compreensão) de acordo com os dados que desejam coletar.
Normalmente, as tarefas de produção são mais interessantes do que as tarefas de
compreensão, pois nas tarefas de compreensão as crianças respondem “sim” ou “não”
para indicar se entenderam ou não determinadas sentenças, mas isso pode gerar
dados incorretos (por exemplo, quando a criança afirma que compreendeu uma
determinada sentença, mas não é verdade).
Assimile
Tarefas de produção são planos de ação investigativos organizados que
guiam a fala da criança dentro de um contexto preparado para verificar
se ela é capaz de produzir uma dada estrutura (isso indica que ela tem
conhecimento desta estrutura). Tarefas de compreensão são perguntas
realizadas pelo(a) pesquisador(a) para as quais a criança responde sim ou
não. Também pode-se expressar uma determinada construção e solicitar
que a criança encene aquilo que ouviu (através da encenação percebe-se
se a criança compreendeu ou não o que foi apresentado). As tarefas de
produção são mais complexas do que as tarefas de compreensão.
Vocabulário
Eliciar: significa “fazer emergir”. No caso de tarefas de produção eliciada,
o(a) pesquisador(a) elabora um determinado plano de ação que procura
guiar a fala da criança, para verificar se ela adquiriu ou desenvolveu
determinada construção gramatical. Desta forma, a condução do
experimento “faz emergir” a construção gramatical pesquisada. Caso
a criança não tenha desenvolvido esta competência, a construção não
aparecerá em sua fala ou aparecerá uma construção diferente da esperada
Não se pode esquecer que, nesse tipo de teste, a criança que estiver cansada pode
começar a dar respostas evasivas, o que atrapalharia os resultados. Assim, ao longo
do teste, costuma-se colocar as chamadas “sentenças distratoras” que não estão
relacionadas ao teste, tais como: “o que você prefere assistir na TV?” – caso a criança
responda prontamente seu programa preferido (ela pode citar vários, comentar sobre
eles e até comparar um com o outro) indica que ela ainda está atenta e pode-se
dar continuidade ao teste. Caso a criança responda: “Sei lá”, “Não lembro” ou traga
respostas evasivas, pode-se suspeitar de que ela esteja cansada e é interessante
interromper o teste. A tarefa de produção eliciada é um método de pesquisa bastante
eficiente e largamente utilizado na investigação sobre a aquisição e desenvolvimento
da linguagem infantil.
- Tarefa de encenação: a criança escuta uma sentença e pede-se que ela encene
o que entendeu (um exemplo da tarefa de encenação seria: “Temos aqui o sapinho
Caco e o Super-Homem. Mostre o ele dando banho no Super-Homem”; caso a criança
encene corretamente, significa que ela já compreendeu o uso do pronome ele).
- TEF: após ouvir uma sentença, a criança escolhe uma entre duas ou mais figuras
que represente o que ouviu (um exemplo de TEF seria: “Nessas figuras temos o Caco
e o Super-Homem. Escolha a figura em que ele limpa o Super-Homem”. Pode-se
apresentar três figuras, uma onde o Caco limpa o Super-Homem, uma onde o Super-
Homem se limpa e outra onde o Super-Homem limpa o Caco).
Pesquise mais
No livro organizado por Alessandra Del Ré, você encontrará várias seções
dedicadas à pesquisa em aquisição e desenvolvimento da linguagem:
Definição:
Tarefas de compreensão:
Alcances:
Limitações:
Atenção
Dados experimentais são obtidos através de planos de ação que
guiam as falas de crianças, com orientação específica por ordem do(a)
pesquisador(a).
Para ajudar a preencher este quadro, você pode se orientar pelas seguintes
perguntas:
• Quais são e como funcionam os dois tipos de tarefas associados aos dados
experimentais?
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
Experimentador: Shrek quer muito saber onde Fiona foi. A Fiona foi para algum
lugar e ele não sabe. Você é capaz de perguntar a ela?
Experimentador: Shrek está muito faminto, mas ele não sabe onde está a comida.
A Fiona guardou a comida em algum lugar e ele quer que você pergunte a ela.
(Adaptado de: GROLLA, Elaine.; SILVA, Maria Cristina Figueiredo. Para conhecer
aquisição de linguagem. São Paulo: Contexto, 2014. p. 105-107).
Neste experimento foi possível observar que a criança é capaz de deslocar a palavra
interrogativa para o meio ou fim da sentença.
4. Crie mais uma etapa do experimento, levando a criança a fazer uma pergunta à
Fiona.
Lembre-se
Resolução da situação-problema
Você deve estar se preocupando como é possível fazer uma pesquisa com dados
experimentais. Analisar uma pesquisa já realizada e refletir sobre se ela é um bom
caminho. Veja só algumas possibilidades de resposta para as perguntas desta nova SP:
com as crianças que participarão do teste, para que haja familiaridade. Você pode
acrescentar outros cuidados!
4. Crie mais uma etapa do experimento, levando a criança a fazer uma nova
pergunta a Fiona.
Experimentador: Shrek já comeu, mas agora ficou com sede. Shrek realmente
está com muita sede e gostaria de beber um suco, mas não sabe onde Fiona guardou.
Você é capaz de perguntar a ela?
Referências
O contexto comunicativo da
aquisição da linguagem
Convite ao estudo
Você deve estar curioso e curiosa para saber como a comunicação vai
se constituindo a partir da convivência da criança com a família, com outras
crianças e com outros adultos. É o que estudaremos nesta unidade.
Parabéns por chegar até aqui, você pode se considerar na etapa final!
Seção 4.1
Esta apresentação não deve ser muito longa, pois ela deve ocupar apenas uma
parte da reunião de pais e mestres. Nessa primeira parte da apresentação, você se
dedicará a explicar o que são os primeiros estímulos relacionados à linguagem (input),
a sua importância e o seu funcionamento para a aquisição e desenvolvimento da
linguagem.
Portanto, o desafio inicial é elaborar três primeiros slides da apresentação que será
realizada no dia da reunião de pais e mestres (estes slides podem ser feitos em um
programa de apresentações eletrônicas, no próprio editor de texto ou até no formato
de três pequenos cartazes).
2º. – como a linguagem que a mãe (ou figura de mãe) emprega ao cuidar do bebê
influencia a aquisição e desenvolvimento da linguagem e como a escola age com
relação a esta situação.
Nesta seção, estudaremos especificamente fala da mãe (ou figura de mãe) com a
Cada objetivo encerra o conteúdo de cada um dos slides que você preparará.
Agora, mãos à obra e bons estudos!
Vocabulário
Língua-meta: a criança, imersa em um contexto social, está exposta à
língua praticada pelos integrantes da família ou dos adultos que cuidam
dela. Desta forma, é esta língua que a criança procura compreender e
empregar. A língua-meta (meta = objetivo) é aquela que a criança irá
desenvolver em função do contexto social ao qual pertence.
Um fato curioso é que os adultos tendem a falar com crianças de forma muito
diferente da que falam com adultos. Já percebeu isso? Os adultos não têm o hábito
de comentar com as crianças as complexidades da vida, por exemplo, a forma de
se calcular juros compostos na parcela do carnê. Também não esperam que elas
tenham capacidade de compreender longas explicações. Além disso, é comum
empregar expressões mais fortes, como grandes exaltações quando algo que a
criança faz nos agrada, por exemplo: “Nossaaaaa!!!! Que GRANDE e LINDO SORRISO
você deu agora!!!!!”. Muitos adultos empregam um vocabulário especial quando falam
com crianças, por exemplo: “Que gudi-gudi do titio!!!”.
este nome é dado em função da interação entre a mãe e a criança nos primeiros
tempos de vida do bebê. Você também encontrará este conjunto de habilidades com
o nome de “maternalês”, “manhês” e “motherese” (em inglês).
Reflita
A concepção mais aceita sobre a aquisição e desenvolvimento da
linguagem é a concepção inatista, desenvolvida por Noam Chomsky
(Seção 2.2 deste livro didático). Para Chomsky, a linguagem é uma
capacidade biológica humana, inata, de forma que os seres humanos
possuem uma prontidão natural para desenvolver a língua da comunidade
onde estão inseridos. Porém, ao avançar nas pesquisas sobre aquisição
e desenvolvimento da linguagem infantil, principalmente a partir de
1970, começou-se a perceber que as experiências sociais possuem forte
influência neste processo. Ainda que a concepção sociointeracionista
(estudada na Seção 2.4) não seja exclusivamente aceita, sua contribuição
não pode mais ser minimizada.
- A pessoa que cuida da criança (mãe ou figura de mãe) tende a enfatizar as palavras
mais importantes da frase, facilitando assim a compreensão da criança.
Assimile
É importante compreender que nem sempre a mãe biológica é a pessoa
que pode cuidar da criança. Pode ocorrer que esta criança seja adotada
por uma nova família, pode ser que a mãe esteja impossibilitada de cuidar
da criança, pode ser que a mãe tenha que trabalhar a maior parte do tempo
e deixou a criança sob os cuidados de outra pessoa. Chamamos de figura
Exemplificando
Observe este exemplo. Imagine uma mãe ou mesmo uma berçarista se
dirigindo a um bebê: “O bebê está feliz? Tá feliz? Tá feliz sim!!!”. Imagine
a entonação que a pessoa adulta utiliza ao se dirigir à criança. Pois bem,
agora, observe os marcadores acima: algumas palavras tendem a ser
enfatizadas (“bebê” e “feliz”, posteriormente o “sim”); a frase é simples;
o vocabulário é simples; a comunicação é rápida e trata do estado da
criança no presente; o fato de se dirigir diretamente à criança provocará
algum tipo de resposta da criança (uma agitação das pernas, um arrulho,
um sorriso – serão compreendidos como interação).
Após iniciar uma comunicação com o bebê, a mãe tende a esperar uma
resposta, e isso ocorre através de gestos, expressões faciais, balbucio, vocalizações
simples, agitação das pernas e/ou braços, arrulhos. Estas respostas são facilmente
compreendidas pelo adulto que está interagindo com o bebê e isso propicia que se
estabeleça um tipo de conversa. Em dado momento, o bebê desenvolve a capacidade
de dar respostas com vocalizações simples, bastante aceitas pelos adultos. Chamamos
este período de protoconversação ou protolinguagem.
Pesquise mais
Para conhecer a fundo a pesquisa de Vygotsky, sua explicação sobre o
processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem, bem como a
definição de zona de desenvolvimento proximal, recomendamos a leitura
do livro:
- atenção conjunta: momento em que mãe realiza alguma tarefa junto com a
criança, como brincar ou jogar.
Por outro lado, ausência de feedback de reformulações parece ser um fator que
inibe ou atrasa a aquisição da linguagem. Da mesma forma, os inputs linguísticos
relacionados à diretividade (ordens, comandos, instruções) usados em exclusividade
ou em demasia podem vir a ocasionar atraso ou dificuldade na aquisição e
desenvolvimento da linguagem.
Assimile
Maternês é uma forma específica de interação linguística que ocorre entre
a criança e o adulto que cuida dela. Normalmente, este adulto é a própria
mãe (mas pode ser qualquer pessoa que ocupe o lugar de mãe), de onde
deriva o nome do conjunto de características empregadas especialmente
em dado momento do desenvolvimento infantil, favorecendo de forma
implícita ou explícita a aquisição e desenvolvimento da linguagem.
Você percebeu como este estudo é riquíssimo? Agora, de posse desse novo
conhecimento, você já pode resolver o desafio proposto nesta seção. Vamos lá?
O primeiro slide (ou outro recurso) deve conter apenas um título para a sua
apresentação e o seu nome. Você pode colocar uma imagem relacionada a aspectos
da interação linguística entre um adulto e uma criança (ou bebê). Você também pode
escolher um outro elemento sugestivo, como um brinquedinho de bebê ou o trecho
de uma cantiga. Tome cuidado para não banalizar seu trabalho, escrevendo BLÁ-BLÁ-
BLÁ ou colocando uma imagem de criança chorando, por exemplo. Lembre-se de
apontar a referência de onde retira a imagem e os trechos.
Agora você deve estar se perguntando como introduzir o assunto do segundo slide
(ou outro recurso), que trata da linguagem que a mãe (ou figura de mãe) emprega
com o bebê.
Atenção
A partir desse momento, é muito importante você se referir sempre à mãe
acompanhando sua fala da figura de mãe. Lembre-se que hoje as mães
trabalham muito e às vezes a criança é cuidada a maior parte do tempo
por uma avó, por um professor ou professora, mas pode ser também pelo
pai ou um cuidador. Reforce que, mesmo havendo a figura de mãe, esta
pessoa nunca ocupará o lugar da mãe, apenas é a pessoa que tem mais
contato com a criança naquele momento.
Viu como ficou mais simples? Para aprofundar seus conhecimentos, faça a leitura
do material sugerido, tanto no livro didático quanto na webaula. E bom trabalho!
Avançando na prática
Interação
Descrição da situação-problema
Cabeça, ombro, joelho e pé (Head, shoulders, knees & toes) – M. Cook/J. Fatt/ A.
Field/ G. Page
Cantar é uma prática muito comum no maternês. Em geral, adultos adoram cantar
para crianças, que, por sua vez, adoram ouvir entonações diferentes, alegram-se e
acalmam-se. A música citada - uma conhecida música infantil (Cabeça, ombro, joelho
e pé) - costuma ser cantada com gestos (apontando ou tocando a parte do corpo
mencionada) para crianças com mais de 1 ano. Para crianças menores, os adultos
costumam tocar na parte do corpo mencionada ou levar a mãozinha do bebê até
as partes do corpo, conforme cantam a música. Leia a música atentamente e faça
uma associação com os assuntos estudados nesta seção. Focalize particularmente o
maternês e os inputs linguísticos.
Lembre-se
Resolução da situação-problema
• A mãe estimula o bebê a tocar a parte do corpo enquanto canta ou, no caso
de bebês mais velhos, estimula a repetição das palavras principais.
1) Vocabulário especial.
2) Vocalizações claras.
3) Contingência da fala materna.
4) Atenção conjunta.
5) Repetição do que diz.
6) Fazer solicitações à criança para que tente falar.
7) Sintonia entre mãe (ou figura de mãe) e criança.
8) Frases curtas e objetivas.
9) Apresentar feedback à criança.
10) Atenção conjunta.
Seção 4.2
Diálogo aberto
Muito bem! Iniciamos a Seção 4.2, que vai estudar parte das funções da linguagem
aplicada à aquisição da linguagem. Esta seção tem como objetivo conhecer os usos
afetivo, lúdico e prático da linguagem, especialmente no contexto da linguagem
infantil.
Esta apresentação não deve ser muito longa, pois deve ocupar apenas uma parte
da reunião de pais e mestres. Você já desenvolveu o início dessa apresentação e agora
fará mais uma parte.
Você não precisa apresentar os slides na ordem sugerida, pode invertê-los, mas
deve se certificar de que os três slides estejam presentes na apresentação.
Faça a leitura do livro didático, leia as indicações sugeridas na webaula bem como
pesquise mais sobre o assunto.
Porém esse processo não é tão simples. O bebê não compreende imediatamente
o que lhe é dito, ao mesmo tempo que não possui as estruturas fonológicas
amadurecidas o suficiente para iniciar uma comunicação. Essas estruturas
amadurecem com o tempo, assim como a compreensão sobre a linguagem, que
com o passar do tempo, fica mais clara para o bebê. Inicialmente, as manifestações
do bebê não podem ser compreendidas claramente pelo adulto, que acaba
interpretando essa fala. Desta forma, dizemos que, até certo momento, a fala da
criança é “externa”. O que queremos dizer com isso? Até por volta dos 16 meses de
idade, a fala da criança é interpretada pelos adultos que a acompanham. Podemos
dizer, inclusive, que a influência da linguagem é feita do social – por isso externa
– para o intrapsíquico, ou seja, até que a criança fale de forma inteligível para os
adultos, são os adultos que darão o sentido para a fala da criança.
Exemplificando
Se a criança balbucia “Bá Bá Bá” ela pode ter uma intenção comunicacional,
ela pode estar solicitando ser pega no colo, por exemplo. Porém, o adulto
pode interpretar que ela está pedindo a chupeta e dar a chupeta a ela. Assim,
a criança que possuía uma intenção comunicacional prévia “aprende” que
quando falar “Bá Bá Bá” ganhará a chupeta. Embora a criança não tenha a
sua intenção atendida, o fato de receber a chupeta traz conforto suficiente
para que aceite a conduta do adulto. Desta forma, entendemos que a
compreensão externa acaba determinando a fala da criança.
Pesquise mais
No livro indicado seguir, Inês Sim-Sim desenvolve temas marcantes, como
capacidade de aprendizagem, cognição, comunicação, desenvolvimento
da criança e da linguagem bem como psicolinguística e psicologia da
criança. Você encontrará várias menções aos usos afetivo, lúdico e prático
da linguagem.
Assimile
Normalmente, o maternês é acompanhado de contatos físicos e visuais,
cuidados, atenção e carinho, o que se torna uma espécie de estimulo para
o bebê se interessar pela linguagem-meta. Assim, o maternês estimula
a criança a adquirir e desenvolver os usos afetivo, lúdico e prático da
linguagem.
O uso da linguagem afetiva é mais amplo que a linguagem verbal, pois inclui a
gesticulação do corpo e as expressões faciais que acompanham a verbalização. O
termo “afetivo” é empregado na linguagem acadêmica e científica como a expressão e
controle das emoções, portanto, estamos tratando aqui de sensações internas, como
medo, alegria, tristeza, dor, excitação, entre outras.
Veja que o uso afetivo da linguagem está presente desde as primeiras emissões vocais
da criança, por isso dizemos que é o uso mais primitivo da linguagem. O choro, por
exemplo, é um uso afetivo da linguagem, bem como os gritinhos de alegria ou de cólica.
Por fim, temos o uso prático da linguagem, que funciona como um facilitador do
processo de ação da criança, durante a aquisição da linguagem. Trata-se de chamados,
ordens, orientações, concordâncias, censuras, desculpas, indicações de objetos ou
de gestos, queixas de si para si, os esforços, fracassos e sucessos que ocorrem no
momento em que as crianças brincam ou interagem com outras crianças e com
adultos. É um uso da linguagem muito comum.
Exemplificando
Um exemplo de uso prático da linguagem seria um diálogo da criança
consigo mesma:
“ – Mãe?
- Quero bolacha.
- Já peguei.
Reflita
Você consegue perceber que cada uso da linguagem engloba os usos
anteriores? Ou seja, quando a criança desenvolve um processo mais
elaborado de linguagem, os usos anteriores são englobados e passam a
fazer parte do novo esquema. Observe no Exemplificando o uso afetivo e
lúdico ao mesmo tempo que prático.
O quarto slide (ou outro recurso) refere-se ao uso afetivo da linguagem e você
pode estruturar esse slide com imagens ou sons capturados da internet. Imagens de
um bebê chorando ou rindo são capazes de esclarecer o conceito do uso afetivo da
linguagem, porém é preciso aprofundar retomando aspectos da fala, por exemplo,
gritinhos de satisfação ou manifestações corporais de emoções. Construa esse slide
de forma criativa!
O quinto slide trata do uso lúdico da linguagem. Você pode trabalhar com
exemplos de balbucio: “DAPABA” e balbucio reduplicado: “PÉPÉPÉPÉ”. Pense
em outras possibilidades que remetam ao uso lúdico da linguagem, conforme
apresentamos nesta seção.
Por fim, o sexto slide trará exemplos do uso prático da linguagem, quando a
criança já é capaz de expressar uma intenção com a linguagem, tratando de algum
aspecto como: chamados, ordens, orientações, concordâncias, censuras, desculpas,
indicações de objetos ou de gestos, queixas de si para si, os esforços, fracassos e
sucessos. Veja como você pode colocar um exemplo de fala da criança: “Bola!” – no
sentido de: “Quero brincar com a bola”. Que tal?
Atenção
Conhecer os usos da linguagem permite que o adulto possa interagir com
o bebê de forma mais assertiva. A cada slide, procure refletir e apresentar
formas de como os adultos podem desenvolver a comunicação com
bebês, estimulando-os a adquirir e desenvolver a linguagem.
Viu como ficou mais simples? Para aprofundar seus conhecimentos, faça a leitura
do material sugerido tanto no livro didático quanto na webaula. E bom trabalho!
Avançando na prática
Consultoria
Descrição da situação-problema
Você foi contratado(a) para fazer uma consultoria em uma creche. Nesta creche,
a diretora solicitou que você elaborasse um material para orientar os professores ou
as professoras a estimular a aquisição e o desenvolvimento da linguagem das crianças
até 2 anos de idade.
11:40 - Almoço.
15:30 - Lanche.
18:00 - Encerramento.
Se preferir consultar um material, veja que proposta interessante foi criada por Lígia
Ebner Melchiori e Julio Pérez-López, intitulado Linguagem de bebês – manual de
estimulação (Curitiba: Juruá Editora, 2013). No site: https://www.jurua.com.br/shop_
item.asp?id=23036, você consegue folhear algumas páginas.
Lembre-se
Resolução da situação-problema
Esta é uma atividade muito importante, pois uma das competências que você deve
desenvolver ao longo de sua formação acadêmica é aprender a apoiar e estimular o
desenvolvimento da linguagem. Nada melhor do que começar com os bebês. Uma
atividade relacionada ao uso afetivo pode ser feita no horário do repouso, quando
os professores ou as professoras podem acarinhar os bebês ao mesmo tempo que
pronunciam palavras suaves, tais como: “que gostoso!”, “que soninho!”, “macio!”,
“tranquilo”, “muito bem”.
a) Uso típico.
b) Uso moral.
c) Uso prático.
d) Uso representativo.
e) Uso lúdico.
f) Uso moderado.
g) Uso dialético.
h) Uso cognitivo.
i) Uso afetivo.
Seção 4.3
Funções da linguagem aplicada à aquisição (2ª
parte)
Diálogo aberto
Prezado graduando, seja bem-vindo a mais uma seção que estuda o contexto
comunicativo da aquisição da linguagem. Chegamos ao terceiro desafio da situação
da realidade profissional (SR). Como você viu anteriormente, a coordenadora
pedagógica da escola onde você trabalha pediu que você fizesse uma apresentação
sobre o contexto comunicativo da aquisição de linguagem de crianças até 3 anos de
idade, para ser apresentada na próxima reunião de pais e mestres e você já preparou
seis slides desta apresentação.
Você já deve ter percebido que é por meio da interação comunicativa da criança
com outras pessoas que ela adquire a língua da comunidade à qual pertence. As
trocas comunicacionais são determinantes no processo de desenvolvimento da
linguagem da criança. E a criança vai aprendendo sobre a linguagem a partir dos usos
comunicacionais que ela faz.
Assimile
Os dois últimos usos da linguagem empregados pela criança ainda em
situação de aquisição são os usos representativo e dialético. Estes dois
usos da linguagem só são possíveis quando a criança atinge uma idade
maior e está mais madura. Os usos representativo e dialético também são
estimulados com processos de interação entre os adultos e a criança.
Exemplificando
O uso representativo da linguagem aparece quando, por exemplo, a
criança fala: “Os astronautas estão no céu”, mesmo sem tê-los visto.
Por volta dos 2 anos de idade, a criança desenvolve a função simbólica, que lhe
permite representar na mente os esquemas de ação, como jogar, desenhar, imaginar,
criar histórias e aprimorar cada vez mais a linguagem. No jogo simbólico ocorrem
exemplos significativos do uso representativo da linguagem. Leia o trecho destacado
da Seção 2.3 deste livro didático para retomar a ideia de jogo simbólico:
Para que o uso representativo da linguagem ocorra, é preciso que a criança consiga
recorrer a símbolos para expressar seus pensamentos, intenções, questionamentos. A
capacidade representativa surge com gestos, palavras e objetos que são empregados,
mas não estão presentes no momento.
Reflita
Você já pensou como os adultos ou os professores nas escolas de
educação infantil estimulam o uso representativo da linguagem? Sempre
que se refere a algo que não está presente, utiliza-se a representação,
como no diálogo:
Vocabulário
Dialética: trata-se de um processo de diálogo e debate, onde se busca
a verdade para que o conhecimento supere as aparências superficiais e
alcance a essência.
Exemplificando
Veja um exemplo de uso dialético da linguagem, no qual uma professora
conversa com alguns alunos de três anos de idade sobre os acontecimentos
mais significativos do fim de semana.
Menino: Não, tem que colocar água antes e depois de tampar o buraco.
Criança: Mas este casaco é feio! Vou colocar o outro, que é mais bonito.
Reflita
Você já pensou em como os adultos ou os professores nas escolas de
educação infantil estimulam o uso dialético da linguagem? Sempre que
ocorre um debate sobre pontos de vista diversos, utiliza-se a dialética,
como no diálogo:
Pesquise mais
Neste interessante artigo, a autora explica o processo de aquisição e
desenvolvimento da linguagem com o uso de determinadas funções de
linguagem, que ocorrem a partir da relação interacionista dos adultos
com a criança.
9º. – uma breve apresentação sobre como a escola incorpora, em sua forma de
interagir com as crianças, os usos representativo e dialético no contexto comunicativo
da aquisição da linguagem.
Um bom caminho para resolver esta SP é voltar ao texto e definir o que é o uso
representativo e o uso dialético da linguagem no contexto comunicativo, resumindo
estas definições ao máximo.
Você pode fazer isso para o uso representativo e para o uso dialético, nos 7º e 8º
slides, respectivamente.
Já para o 9º slide, que deve trazer uma breve apresentação sobre como a escola
incorpora em sua forma de interagir com as crianças os usos representativo e dialético
no contexto comunicativo da aquisição da linguagem, você pode apresentar uma
série de ações que a escola adota, dividindo em dois quadros:
Ação 1 Ação 1
Ação 2 Ação 2
Ação 3 Ação 3
... ...
Atenção
Observe que o livro didático traz duas listas com diversas possibilidades
de estimular e apoiar o uso representativo e o uso dialético em contexto
de comunicação. Você pode escolher algumas opções destas listas bem
como pode apresentar outras, fruto de sua reflexão e de suas pesquisas.
Agora, mãos à obra! Elabore os três slides solicitados. Lembre-se de que o formato
de apresentação organizado em slides não é adequado para o desenvolvimento de
grandes textos dissertativos, portanto procure utilizar esquemas ou frases de impacto
que possam organizar logicamente sua apresentação.
Avançando na prática
Compreendendo o contexto comunicativo da aquisição da linguagem e refletindo
Descrição da situação-problema
1. Uso representativo
2. Uso dialético
Lembre-se
Resolução da situação-problema
“Filho, sabe quando uma pessoa tem dois filhos, um menino e uma menina? Essa
pessoa fala: olha os meus filhos. O que você acha disso?”
Ou ainda:
“Filho, vamos ler o comunicado da escola para entender direitinho o que estão
propondo?”
Ou ainda:
“Na escola, você não tem professores e professoras? Mas quando falamos de
todos, não dizemos só os professores? O que você acha disso?”
Seção 4.4
Diálogo aberto
Parabéns, estudante!
É com muito orgulho que você chega à última seção deste livro didático!
Nesta aula, você vai estudar o uso social da linguagem, especificamente no campo
das interações sociais. Esta seção tem como objetivo compreender o contexto
comunicativo da criança em sua interação com outras crianças e com adultos.
Esta apresentação não deve ser muito longa, pois deve ocupar apenas uma parte
da reunião de pais e mestres. Você já desenvolveu a maior parte desta apresentação e
agora fará a finalização.
Faça a leitura do livro didático, leia as indicações sugeridas na webaula bem como
pesquise mais sobre o assunto.
Este é seu último exercício, portanto finalize-o com total dedicação e empenho,
coroando sua aprendizagem!
Pois bem, você já deve ter percebido que as mães utilizam uma forma muito
especial de falar com os bebês, chamada maternês. O maternês é uma simplificação
da fala que permite e estimula o bebê a adquirir e desenvolver a linguagem do grupo
social. Então, é comum ouvir as mães usando frases curtas, enfatizando algumas
palavras ou algumas sílabas, fazendo expressões orofaciais que podem ser copiadas
pela criança, estimulando a oralidade da criança. Junto a tudo isso normalmente há o
toque carinhoso, a intimidade, os sorrisos, a brincadeira e gestos.
Exemplificando
A expressão orofacial é utilizada sempre, significa que a expressão de
nosso rosto, juntamente com os movimentos dos lábios, acompanham
os sons emitidos em nossa fala. Veja o exemplo: a mãe, olhando para a
criança, levanta a sobrancelha, abre bem os olhos e articula os lábios para
falar um alto e longo “OOOOOOOO”. Consegue imaginar a cena? Isso
pode ser facilmente imitado pelo bebê. Outas sílabas que normalmente
são acompanhadas de uma forte expressão orofacial são: “MÃMÃMÔ,
“VÓVÓVÓ”, “PÁPÁPÁ”. Você consegue pensar em algumas outras?
Por este motivo, os estudos realizados por Vygotsky e sua equipe se tornaram
significativos. O conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) é extremamente
valioso, pois com ele podemos explicar claramente como a interação da criança
com outras crianças e com adultos permitem a aquisição e o desenvolvimento da
linguagem.
Vamos conhecer melhor este conceito. A ZDP é definida como a capacidade que
o indivíduo tem de realizar alguma tarefa acima da sua competência real com a ajuda
de uma pessoa mais experiente. Você consegue pensar em situações em que isso
ocorre?
Assimile
Os estudos de Vygotsky se dirigiram às funções mentais superiores
(pensamento, raciocínio, memória, atenção, lembrança, planejamento,
entre outras). A linguagem também é uma função mental superior e é
entendida como um instrumento do pensamento, já que a forma como
pensamos passa a ser estruturada de forma linguística, bem como
nossos pensamentos podem ser expressos oralmente. A linguagem, para
Vygotsky, exerce o papel de ferramenta cognitiva, pois é por meio dela
que nos apropriamos de novos conhecimentos, ampliamos nosso saber,
divulgamos nosso pensamento e novas descobertas.
Muito bem. Já descobrimos que é a interação social, por meio de inputs linguísticos,
uma potencializadora de elementos atuantes na Zona de Desenvolvimento Potencial
da criança (ZDP). É chegada a hora de refletir sobre quem emite os inputs linguísticos
que irão estimular a aquisição e desenvolvimento da linguagem das crianças. Demos
muito destaque à mãe e à figura de mãe, que são os elementos clássicos nos
processos de interação com o bebê. Porém, a família moderna vem passando por
grandes transformações, se comparada à clássica família correspondente ao modelo
pai-mãe-vários filhos.
Reflita
Você já parou para pensar nas mudanças ocorridas na família? Hoje as
famílias não se constituem de tantos filhos. A dinâmica social e econômica
proporcionou o ingresso das crianças em berçários e creches desde
meses de vida. Isto é um fenômeno mundial, não apenas brasileiro. Assim,
a interação social das crianças modernas saiu do âmbito familiar e foi
ampliada para o círculo de colegas da escola e para os(as) professores(as)
da educação infantil, ocasionando novos processos de interação.
Deve-se dar especial atenção ao momento da brincadeira, que pode ser dirigido
pela professora, quando, por exemplo, a professora seleciona os objetos da brincadeira
Por volta dos dois anos, as crianças começam um processo de interação maior
com outras crianças e tentam se expressar através da fala. O jogo simbólico ou a
brincadeira simbólica aparece com muita ênfase a partir desta idade. No processo de
aquisição e desenvolvimento da linguagem, a interação com outras crianças permite
que os conhecimentos linguísticos sejam expandidos, devido à diversidade cultural
propiciada à criança por seus pares infantis. Assim, ao desenvolver uma brincadeira,
mesmo que muito simples, a linguagem se faz presente e pode ser estimulada com a
intervenção da professora. Observe este exemplo:
O mesmo pode ocorrer quando a criança brinca com outras crianças. Como dito
anteriormente, por volta dos 2 anos de idade, a brincadeira ou jogo simbólico começa
a aparecer com muita frequência e observa-se que a criança gosta de representar
papéis, como mamãe e filhinha, professora e alunos, vovô e netinho, entre outros. O
simples fato de precisar conversar com as demais crianças (interação), para apresentar
seu ponto de vista (ou seja, a brincadeira que quer desenvolver) já é um processo de
desenvolvimento da linguagem. Em seguida, normalmente se negociam os papéis,
ou seja, quem vai ser quem e quais situações serão representadas. Novamente, a
linguagem entra em ação, pois tudo precisa ser explicado e negociado. Durante a
brincadeira, que geralmente segue um roteiro previamente estabelecido pelas próprias
crianças, a professora pode fazer intervenções, de forma a lançar pequenos desafios
que levarão as crianças a fazerem uso da linguagem. Por exemplo, em um momento
onde as crianças estão brincando de organizar um piquenique, a professora pode
aparecer como uma repórter do noticiário informando que dali a poucos minutos
haverá muita chuva na cidade toda. O que as crianças farão? Como decidirão os
novos rumos da brincadeira? Como negociarão o sentido e o significado de tudo isso?
Pesquise mais
Este importante manual de orientações para a educação infantil traz uma
grande contribuição para a compreensão do uso social da linguagem no
contexto comunicativo da criança em interação com outras crianças e
com adultos. Esta é uma leitura fundamental!
da escola em que você trabalha solicitou que você fizesse uma breve apresentação para
os pais dos alunos de sua turma, explicando como o ocorre o processo de aquisição e
desenvolvimento da linguagem de crianças até 3 anos de idade.
Aqui você encontrará algumas sugestões e orientações para desenvolver a quarta SP.
Por fim, o último slide serve para encerrar a apresentação e sugerimos que você
utilize uma frase significativa de um dos autores que estudamos nesta seção (Lev
Vygotsky ou Noam Chomsky). Veja um exemplo interessante: "A criança nasce inserida
num meio social, que é a família, e é nela que estabelece as primeiras relações com a
linguagem na interação com os outros.". Esta frase é atribuída a Vygotsky e é preciso
conferir se a origem está correta. Veja esta, atribuída a Chomsky: “O ensino deve inspirar
os estudantes a descobrir por si mesmos, a questionar quando não concordarem,
a procurar alternativas se acham que existem outras melhores, a revisar as grandes
conquistas do passado e aprender porque algo lhes interessa”. Novamente, é preciso
conferir a veracidade da frase.
Atenção
Você enfrentará um aspecto delicado, que ocorre quando uma pessoa
substitui a mãe e se torna a figura de mãe, como é o caso da professora
do berçário. É preciso compreender que os adventos da vida moderna
empurram a mulher para o mercado de trabalho, motivo pelo qual as crianças
são direcionadas ao berçário desde muito cedo. É importante ter uma fala
cuidadosa com os pais, não emitindo nenhum julgamento negativo sobre
sua escolha de deixar os pequenos na escola desde muito cedo.
Avançando na prática
Intervenção para o desenvolvimento da linguagem
Descrição da situação-problema
Lucas: “Vamos!”.
Helena: “Lucas, alguém vaite(r)que ser o pai, outro vaite(r)que ser o filho.”
Reflita e responda:
1. O que parece que está ocorrendo aqui? Por que Helena fala sempre “vaite(r)que”?
3. Você, como responsável por esta sala, como conduziria uma intervenção para
tentar reconstruir o uso dos verbos IR e TER (que)?
Lembre-se
Resolução da situação-problema
Respondendo às perguntas:
1. Que parece que está ocorrendo aqui? Por que Helena fala sempre “vaite(r)que”?
Lucas também está aprendendo sobre a linguagem e a língua a partir dos inputs
linguísticos que recebe. Neste caso, ele acabou ouvindo várias vezes o termo “vaite(r)
que”, portanto usou suas estruturas cognitivas para acomodar a nova informação, ainda
que não seja uma forma de expressão oral convencional.
3. Você, como responsável por esta sala, como conduziria uma intervenção para
tentar reconstruir o uso dos verbos IR e TER (que)?
A melhor forma nunca é fazer uma correção direta ou pedir que a criança repita a
forma correta. O melhor é fazer uma intervenção na brincadeira, se aproximando das
crianças e dizendo:
“Oi, eu vou brincar aqui também. Eu posso ser a filhinha. O que eu vou ter que fazer?”
Se Helena disser: “Você vaite(r)que fingir que está dormindo”, você pode dizer: “Ah,
então eu vou ter que fingir que estou dormindo e o Lucas vai ter que ser o papai, é isso?”
“E, você, Helena, você vai ter que fazer o quê?”, e assim estruturar um diálogo dentro da
brincadeira, introduzindo a forma convencional de flexão dos verbos.
Referências