Cowboy Indomavel - Duologia Indo - Juliana Souza
Cowboy Indomavel - Duologia Indo - Juliana Souza
Cowboy Indomavel - Duologia Indo - Juliana Souza
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meios existentes sem a autorização por escrito da autora.
1ª Edição
Inocência, Brasil
Maio de 2021
Cinco anos antes...
primeira pessoa que vejo é dona Clarisse. Vou direto em sua direção e deixo um
beijo na bochecha da mulher que se tornou minha segunda mãe.
— Vai tomar um banho, menino, daqui a pouco o jantar vai estar pronto. —
Ela diz e aponta a colher de pau na minha direção, o que me faz rir.
— Tudo bem, capitão... Sabe se a Carol está em casa? — pergunto, já com
— Larga de drama homem, você já tem 25 anos nas costas. Não é mais o
garotinho que vi nascer. — Ela diz, e eu olho para ela com os olhos apertados.
— Ah, então porque cresci você não me ama mais? — pergunto com a mão
no coração e ela revira os olhos para mim. — Onde você aprendeu a revirar os
olhos assim, babá? Está muito evoluída pro meu gosto, hein! — falo rindo, e ela
ameaça me bater com a colher de pau que tem na mão.
— Eu ainda te amo, satisfeito agora? — pergunta com uma sobrancelha
concentrada na leitura, então sigo em passos lentos até ela. Assim que estou
perto, deixo um beijo em seu pescoço, só assim a fazendo notar minha presença
no quarto.
— Oi, amor... não te escutei entrar. — Ela diz com um sorriso e em seguida
me puxa para um beijo. Aproveito nosso beijo, sentindo seu gosto tão
característico em minha boca e me sinto mais uma vez o homem mais sortudo
desse mundo.
— Claro que não me ouviu, estava toda distraída aí lendo. Sério, eu ainda
não descobri qual a graça que tem de ler livros — falo e ela revira os olhos para
mim, como sempre faz quando faço esse comentário.
— Não vou nem perder meu tempo com você — diz de forma superior, e eu
não aguento segurar minha risada.
— Tudo bem, senhora D'Ávila, mas agora me conte que surpresa você tem
para mim? — pergunto e ela faz uma cara de quem não sabe de nada. — Nem
adianta me olhar assim, Clarisse já abriu a boca, sabe como ela é — falo com
um sorriso e vejo ela concordar com a cabeça.
— Pior que sei, mas antes vai tomar um banho. Esse seu cheiro de gado
está me deixando enjoada — Carol diz e me afasta um pouco com a mão, mas
mas assim que vejo o conteúdo, um sorriso idiota chega ao meu rosto, assim
como sinto algumas lágrimas nascer em meus olhos.
— Isso é sério? — pergunto, ainda sem acreditar, e olho para ela, que
afirma com a cabeça, ostentando um sorriso tão grande quanto o meu.
minha ficha começa a cair. Eu vou ter um filho, um filho da mulher que eu amo.
— Obrigado por isso. — Deixo o papel de lado e puxo o rosto dela para
perto do meu. — Esse sempre foi meu sonho — falo com minha testa encostada
na dela.
— Agora ele vai se tornar real. — Ela diz com um sorriso, e nossas bocas
se encontram em um beijo doce.
Eu me afasto do nosso beijo e começo a dar vários selinhos por seu rosto,
enquanto falo vários “Eu te amo” para ela, que só consegue rir com meu ataque.
Me deito na cama e puxo ela comigo, a mantendo abraçada comigo, curtindo
e finalmente essa hora chegou, e eu não vejo a hora de poder ter meu pequeno ou
pequena nos braços. Nossa, parece que eu estou vivendo um sonho... só espero
meus irmãos e dou a notícia que deixa eles felizes, assim como a babá quando
soube.
Logo chegamos ao restaurante da Nona e vendo alguns amigos por ali,
aproveitei para contar a novidade. Nos divertimos bastante e quando estava por
perto das 23hr, resolvemos ir embora.
em algum momento eu dou uma cochilada rápida e desperto com o grito de Carol
ao meu lado, ao mesmo tempo que com um clarão na minha frente. Piso no freio
com força e giro totalmente o volante, tentando evitar uma batida, mas o que eu
escuridão em seguida.
***
Tento abrir meus olhos para ver onde estou, mas assim que eles se encontram
com a luz forte, voltam a se fechar. Faço mais algumas tentativas e assim que me
acostumo um pouco com a claridade, consigo manter meus olhos abertos.
Fico mudo por um tempo, apenas observando os dois que estão em silêncio,
arranhar.
— Me digam... cadê a Carol? Cadê a minha mulher? Ela ‘tá bem, não tá?
Ela está viva me esperando, sua morte não é real... é apenas algo da minha
imaginação que cria pesadelos que parecem ser reais, mas não são!
Dois anos e seis meses antes...
quis e hoje é meu namorado. Sinto seu braço apertar ainda mais minha cintura, e
após alguns segundos seus olhos se abrem.
— Bom dia! — falo sorrindo e deixo um selinho rápido em sua boca.
— Bom dia, ruivinho... dormiu bem? — pergunta e deixa um beijo em
minha testa.
— Dormi sim, essa foi a melhor noite da minha vida —falo, ainda sorrindo,
e ele me acompanha.
— Para mim também foi. — Ele responde e me puxa para um beijo.
Ficamos um tempo juntos na cama, até eu ver a hora no relógio e perceber
que tinha que ir para casa. Minha mãe ainda não sabe do meu namoro com Alan e
eu tive que inventar que iria dormir na casa do meu melhor amigo Ângelo. Mas
ainda bem que meu aniversário de 17 anos está chegando e logo vou poder
— Fala então, não me deixa curioso. Só espero que não seja notícia ruim.
— Ele diz sério e eu acabo rindo. Ângelo é um caso perdido.
— Não é notícia ruim, Angie. Lembra que ontem eu fui dormir na casa do
***
***
da notícia.
Você: Precisamos conversar, estou indo na sua casa. (14:05)
***
Vejo ele olhar para mim em dúvida e logo começa a ler o papel. Sua
expressão começa a se modificar e ele me olha sério.
— Isso aqui não pode ser verdade — diz e se senta no sofá.
— Mas é verdade, Alan, e agora eu estou grávido de um filho seu — falo e
ele nega com a cabeça.
— E quem garante que esse filho é meu? — Ele pergunta e eu olho para ele
incrédulo.
— O quê? Quem garante que esse filho é seu? Eu perdi minha virgindade
com você, seu cretino! — grito com raiva e soco seu ombro.
— Ok... então se esse filho for meu, você vai tirar essa criança. Eu não
posso e nem quero assumir filho nenhum. — Ele fala e eu olho para ele sem
reação. Como eu pude gostar de um monstro?
— Eu não vou abortar meu filho — falo, firme.
— Então se vira, porque eu não vou assumir responsabilidade nenhuma. Eu
não quero e não vou ser pai de nenhum bastardo. — Ele diz e sinto meu peito
doer com suas palavras, mas não deixo ele ver o quanto elas me afetaram.
— Tudo bem, você não tem nenhum filho, Alan. Esse filho é só meu e eu
vou fazer de tudo para protegê-lo até mesmo de quem deveria cuidar dele — falo
e dou as costas para ele.
— Ainda bem que nunca assumi você para ninguém, pelo menos isso —
escuto ele dizer antes de sair e sinto como se uma faca fosse cravada em meu
peito.
Enquanto ando para casa, não consigo conter as lágrimas de decepção que
caem sem parar por meu rosto. Eu nunca na vida pensei que me decepcionaria
tanto com uma pessoa. Para mim, Alan era um príncipe encantado, mas se
mostrou um verdadeiro monstro. Alguém que só me usou e depois jogou fora
quando não tenho mais serventia.
Chego em casa e seco minhas lágrimas como posso antes de entrar. Assim
que passo pela sala, vejo minha mãe na cozinha e decido falar com ela de uma
vez. Mais cedo ou mais tarde vou ter que fazer isso mesmo.
— Mãe? — Chamo ela, que logo se vira pra mim.
— O quê? — Ela responde um pouco ríspida. Desde que meu pai se
separou da minha mãe, há alguns anos, ela se tornou uma mulher muito fechada e
até amargurada, mas acho que é só uma casca.
— Preciso falar com você, uma coisa muito séria — falo, sentindo
novamente o medo tomar conta de mim.
— Fala então, menino, está me deixando nervosa. — Ela diz séria e se senta
na cadeira que está próxima a mesa.
Olho para o rosto sério da minha mãe e a insegurança se apossa de mim,
mas não posso adiar essa conversa.
— Eu estou grávido — falo de uma vez e vejo uma expressão dura tomar
conta de seu rosto.
— Grávido? Você está grávido com menos de 17 anos? — Ela pergunta me
fitando e parece que seu olhar dispara adagas contra mim.
— Eu... me desculpa, mãe! Eu nunca pensei que isso fosse acontecer, eu não
queria, mas agora não dá para fazer nada — falo já chorando, e ela se levanta
chegando perto de mim. Ela não diz nada e em seguida sinto um tapa em meu
rosto, o que me faz chorar ainda mais.
— Você nunca ouviu falar em camisinha? Cadê o outro pai? Ele já sabe? —
pergunta, mas eu não consigo olhar para ela.
— Ele disse que não vai assumir — falo baixo e escuto ela soltar uma
risada amarga.
— Ah, ele não vai assumir. Aí vai sobrar para a trouxa aqui ficar com um
filho grávido em casa. Já não basta que seu pai nos abandonou e agora você acha
que eu vou sustentar você e um bastardo? — Ela grita e me dói ouvir ela
chamando meu filho dessa forma. — Só vou te dizer uma vez... Quero que arrume
suas coisas e suma daqui. Eu não vou te ajudar nessa merda que você se meteu.
Se vira! — grita, e eu olho para ela em súplica.
— Mãe, eu não tenho para onde ir! — falo desesperado.
— Pensasse nisso antes de agir como um qualquer. Agora faça o favor de ir
pra bem longe, não quero ouvir fofocas sobre você. — Ela fala e me sentindo
despedaçado por dentro, subo as escadas, indo para o meu quarto.
Entro em meu quarto e fecho a porta atrás de mim. Eu me sento no chão e
deixo meu choro sair livre. Como todos que deveriam me apoiar me viram as
costas? Será que sou uma pessoa tão ruim assim? Meu filho não tem culpa pelos
meus erros.
Levo minhas mãos para minha barriga ainda lisa e faço uma promessa para
mim mesmo e ao meu filho.
— Eu vou cuidar de você, meu anjinho, e ninguém nunca vai te machucar e
nem a mim novamente.
Olho mais uma vez para meu pequeno, dormindo em seu berço, e solto um
suspiro cansado. Eu simplesmente não sei o que vou fazer da minha vida agora
que perdi meu emprego, minha única fonte de renda para sustentar a mim e meu
filho. Minha avó me ajuda no que pode, mas não é o suficiente e isso está me
deixando a cada dia mais aflito. Quando eu decidi ter meu filho, sabia que tudo
ia ser muito difícil para mim, ainda mais sem a ajuda de ninguém que deveria me
ajudar. Só que eu sou muito grato a Deus pelos três anjos que Ele colocou em
minha vida... Ângelo, tio Giovani e minha avó Clarisse. Se não fosse por essas
pessoas, eu sinceramente não sei o que teria sido de mim e meu filho. Eles me
ajudaram tanto que eu nunca vou poder pagar por tudo que fizeram por nós dois.
A gravidez de Evan foi algo muito delicado e quase que nós dois não resistimos
e o quanto eu faria de tudo por ele. Se eu puder dar o melhor para o meu filho,
então pra mim isso já é o suficiente e nada mais me importa.
— Mama! — Evan resmunga e eu caminho para fora do quarto com ele
eu até penso em dizer que tudo está bem, mas infelizmente não está.
— Perdi meu emprego, vó, e eu não sei o que fazer — falo com a voz
cansada.
— Oh, meu Deus! Como isso aconteceu? — Ela pergunta, preocupada.
— Venderam o Café e todos que trabalhavam lá foram despedidos. Já fui
em alguns lugares e entreguei meu currículo, mas não tive muita sorte. Quem vai
querer alguém que mal terminou o ensino médio e nem uma faculdade tem? —
falo com amargura.
— Eu já te chamei tantas vezes para morar comigo, meu amor, por que não
aproveita e vem de uma vez? — pergunta e eu solto um suspiro.
— Não quero te dar trabalho, vó, a senhora já me ajuda tanto. Não é justo
que a senhora assuma a responsabilidade sobre Evan e eu — repito o que eu já
disse para ela umas mil vezes.
— Você sabe que não é trabalho, meu filho, e eu vou ficar bem mais
tranquila tendo vocês dois aqui. Além do mais, eu te liguei exatamente para te
fazer uma proposta. — Ela diz e isso me deixa curioso.
— Que proposta? — pergunto interessado.
— Adrian está precisando de alguém para o ajudar na administração da
fazenda e como eu sei que você é ótimo com números e tudo mais, pensei em
você. — Ela responde e eu fico surpreso.
— Nossa, vó, isso é uma oportunidade e tanto, mas eu nem tenho faculdade.
Não sei se seu patrão vai querer alguém sem uma graduação — falo, sincero.
— Não se preocupe com isso, já falei com ele sobre você. Agora é só você
parar de inventar caso e vir de uma vez para cá. Eu tenho minha casinha aqui na
fazenda e ela tem espaço suficiente para nós três. Sem contar que quando estiver
trabalhando, Evan pode ficar com você. Aqui é um lugar tão bom para se criar
uma criança. Longe de toda a poluição e essa bagunça da cidade. — Ela diz e eu
acabo sorrindo com sua fala final.
— Não sei, vó, aqui também está o Ângelo e não quero deixá-lo sozinho
agora que o tio Giovani não está mais aqui — falo, pensando no meu melhor
amigo. Ele sempre me ajudou e esteve ao meu lado, não é justo eu o deixar
quando ele não tem mais a pessoa que mais amava no mundo.
— Faz assim... pensa um pouco em tudo. Eu pedi uma folga a Adrian e estou
indo te ver, e então você me dá uma resposta. — Ela fala e eu acho uma boa
saída.
— Tudo bem, agora me conta como a senhora está? — pergunto e passo
meus próximos trinta minutos conversando com minha querida avó.
Quando encerro minha ligação com ela, fico um bom tempo olhando para a
parede em minha frente, pensando na proposta que ela me fez. Não posso mentir
e dizer que não gostei, mas ainda tenho que pensar um pouco mais. Só que talvez
seja isso que eu precise no momento... de novos ares e boas oportunidades para
meu filho.
***
Coloco mais uma dose de vodca em meu copo e continuo vendo a chuva
cair lá fora, sentado na cadeira do meu escritório. A chuva traz consigo uma
melancolia que resume perfeitamente o meu estado de espírito. Fecho meus olhos
com força e mais uma vez a cena de anos atrás volta a minha cabeça. Não
consigo entender como eu pude ser tão idiota ao ponto de cometer uma tragédia
tão grande. Às vezes me pergunto por que não fui eu quem morreu naquele
acidente? Deveria ter sido eu e não ela, mas parece que a vida quis me punir
pelo que eu fiz.
Abro meus olhos e ao ver o copo de bebida em minha mão, a raiva aumenta
duplamente dentro de mim. Eu sou mesmo um fraco que se afundou na bebida,
que não conseguiu lidar com a culpa que me consome todos os dias. Só que a
cada gole que eu tomo de bebida, a culpa aumenta ainda mais, pois foi por causa
da bebida que tudo aconteceu. E como um castigo para mim, eu não consigo ficar
um dia sequer sem beber desde que voltei daquele velório em que foi enterrada a
minha razão para viver.
Escuto a porta se abrir, mas não me viro para ver quem é e continuo do
mesmo jeito.
— Adrian, dona Clarisse mandou te chamar para almoçar. — A voz de
Maurício soa e eu reviro os olhos para o que ele fala.
Depois da morte da minha mulher, meu irmão Marcos e Clarisse acharam
que seria uma boa ideia Maurício vir morar comigo, mas sinceramente? Ele não
faz a menor diferença aqui. Não é que eu não ame meu irmãozinho, eu amo, mas
tudo o que eu queria era estar sozinho, sem ninguém ao meu redor me lembrando
do que eu perdi.
— Fala para ela que estou sem fome — falo em tom seco e escuto ele soltar
um suspiro.
— Tudo bem. — Ele diz com a voz cansada e logo em seguida escuto a
porta se fechar.
Jogo o copo que segurava com força na parede e me amaldiçoo mais uma
vez por tudo o que fiz comigo mesmo.
Olho para todas as minhas coisas já embaladas e em caixas e solto um
suspiro. Nunca pensei que acabaria indo embora dessa cidade. Sei que essa é
uma oportunidade incrível, tanto para mim quanto para meu filho, mas bate uma
tristeza de deixar tudo para trás... principalmente meu Ângelo. Aquele garoto é
meu irmãozinho e vai doer ficar longe dele, mas vou tentar me acostumar a isso.
— Pode tirar essa cara de velório do rosto, Angie — falo assim que chego
Ele me ajudou tanto quando eu estava grávido, fez tudo o que podia por mim —
falo e respiro fundo, começando a limpar minhas lágrimas. — Mas eu sei que
sempre posso vir aqui e o ver... chega de chorar — digo e abro um sorriso
pequeno.
— Isso mesmo! — Ela sorri para mim e começa a dirigir, tendo o caminhão
da mudança atrás de nós.
Olho para o banco de trás do carro e vejo Evan dormindo em sua
cadeirinha, o que me faz sorrir, sentindo um pouco de paz.
***
Nossa viagem até o interior demorou quase cinco horas e assim que
chegamos a Fazenda Rosa Branca, fico impressionado com a beleza do lugar,
mesmo não dando para ver muita coisa por estar escuro.
— Aqui é lindo, vó! — falo, sorrindo impressionado, e ela sorri de volta
para mim.
— Você ainda nem viu tudo, meu amor. — Ela responde.
Seguimos por uma pequena estrada de terra e passamos pela casa principal,
que é enorme e bem bonita, e seguimos até a casa da minha avó que fica a alguns
metros dali. A casa dela é a primeira de outras três, que também ficam no terreno
a uma distância de trinta metros uma da outra.
— Bem-vindo a sua nova casa! — Ela diz assim que estaciona o carro em
frente à casa de tamanho médio.
— Obrigado, vó! — sorrio para ela e abro a porta do carro, saindo logo em
seguida.
Ando até a porta traseira do carro e pego meu filhote ainda dormindo em
meus braços. Minha avó segue até a porta da casa e a abre para nós. Eu nunca
havia vindo visitar minha avó nos anos todos que ela trabalha aqui, sempre foi
ela vir até mim, o que me faz sentir um pouco mal, já que ela sempre esteve ao
meu lado quando eu precisava.
Assim que entro na casa e vejo a arrumação, acho a cara da minha avó
Clarisse. A decoração é delicada e cheia de objetos pequenos, o que ela sempre
gostou de colocar em vários cantos.
— A casa tem três quartos, então você e Evan vão poder ter um quarto para
cada.
— Nem precisa, vó, nós podemos dormir no mesmo quarto — falo, olhando
para ela, que nega.
— Claro que não, vai que arruma um namorado? Você precisa de
privacidade e Evan precisa do quartinho dele. — Ela diz incisiva e eu reviro
meus olhos.
— Sabe que não penso em ter ninguém, vó — falo e é a vez dela revirar
seus olhos para mim.
— Por enquanto, meu querido neto. Agora venha ver seu quarto, vou pedir
para os meninos da mudança deixarem as caixas aqui na sala, amanhã nós
arrumamos tudo. — Ela diz e me guia até onde será meu quarto. O cômodo está
sóbrio, somente com uma cama e guarda roupa e ela deixou claro que é para mim
decorar como eu bem entender. Já no quarto de Evan, o cômodo já estava todo
decorado para receber meu filho, o que eu acabei achando ruim com minha vó,
não queria que ela gastasse ainda mais com a gente.
A pouca mudança que eu tenho foi deixada na sala e logo após os homens
irem embora, ajudei minha avó a preparar o jantar para nós. Eu irei conhecer
Adrian somente amanhã, por já estar bem tarde. Então, assim que terminamos de
comer, eu fui diretamente para o meu quarto depois de checar Evan mais uma vez
e cai na cama já exausto do dia de hoje.
***
Acordo no dia seguinte me sentindo um pouco nervoso por saber que vou
conhecer meu patrão. Quero muito que esse trabalho dê certo e eu possa
continuar aqui com minha avó, mas também não posso criar muitas expectativas,
já que sou uma pessoa totalmente sem experiência.
Eu me levanto da cama e em poucos minutos já estou pronto para sair. Passo
no quarto do meu pequeno e o arrumo também, já que ele irá comigo.
Assim que chego na cozinha, esperando encontrar minha avó, encontro tudo
vazio e vejo apenas um bilhete junto com o café da manhã já feito. Leio o bilhete
e nele ela diz que já foi para a casa principal preparar o café da manhã para os
patrões. Preparo o leite do meu bebê e depois dele já estar alimentado, eu me
alimento também.
Saio da casa da minha avó faltando apenas um minuto para as sete da manhã
e sigo até a casa principal. Enquanto caminho pela estrada estreita, vejo ao longe
um campo enorme de rosas brancas e então eu entendo o nome dado a fazenda.
Depois de uma caminhada de cinco minutos, chego ao meu destino e subo os
degraus, entrando na casa. Olho ao redor e não vejo ninguém à vista, então
resolvo procurar por alguém, mas paro assim que escuto um pigarreio atrás de
mim.
Assim que me viro, vejo um homem parado me olhando com atenção em
seus olhos azuis. Ele é alto, uns dois metros de altura, musculoso, possui cabelos
loiros, grandes na altura dos ombros, e ostenta uma barba por fazer.
— Eu sou Castiel... me desculpa entrar assim, já estava indo procurar por
alguém. — Eu explico com calma, olhando para seu rosto impassível.
— Está atrasado em seu primeiro dia... e sabe de uma coisa? Eu odeio
atrasos. — Ele diz sério, e eu não gosto do jeito arrogante que ele fala comigo.
— Me desculpe, é q... — Tento me explicar, mas ele me interrompe.
— Não quero suas desculpas, ainda mais se for usar seu filho para isso.
Odeio quando usam crianças para justificar os erros de adultos. — Ele fala e
isso faz subir uma raiva dentro de mim.
— Olha aqui, senhor, eu não admito que falem de mim sem saber e ainda
mais falar que uso meu filho. Você não me conhece e não sabe da minha vida.
Não aceito você falar de mim e eu não me importo se você é o patrão aqui ou
não — falo exaltado e escuto o resmungo choroso de Evan.
— Você acha que é quem para falar assim comigo, garoto? Eu posso te
mandar embora desse lugar, sabia? Eu sou o dono aqui. — Ele diz com
arrogância.
— Não precisa se dar ao trabalho... eu mesmo vou embora, seu imbecil! —
grito com raiva e saio da casa sem olhar para trás.
Evan começa a chorar por causa da agitação toda e eu tento acalmar meu
filho, enquanto sigo até a casa da minha avó, com a intenção de pegar minhas
coisas e ir embora daqui.
Ando a passos apressados de volta para casa da minha avó e por estar com
a cabeça um pouco baixa, acabo não vendo uma pessoa que vem de encontro ao
meu e levo um encontrão. Tomo uma respiração profunda para não explodir e
primeiramente checo meu filho para ver se está tudo bem com ele.
— Não olha para onde anda, não? — pergunto irritado e levanto minha
cabeça, vendo um homem parado a minha frente.
Ele diz apressado e eu suspiro. O homem não tem culpa do que aquele escroto
disse para mim.
— Não, tudo bem. Eu também não estava olhando o caminho. Me desculpa
ser grosso com você, não é nada contigo — falo a ele, e Evan começa a
resmungar em meu colo e se remexe, querendo ir para o chão.
— Quieta, filho, você não vai descer — falo sério e ele faz beicinho para
chorar.
assim mesmo.
***
Continuo olhando para a porta por onde o cabelo de fogo acabou de sair e
me pergunto se fui rude demais. Mas não fui, só disse a verdade e o que eu
estava pensando. Odeio atrasos e eu não iria passar a mão na cabeça dele só
porque é neto de dona Clarisse.
Escuto passos apressados e logo dona Clarisse e Maurício entram na sala.
Eles me olham por alguns segundos e meu irmão é o primeiro a falar:
— O que você fez, Adrian? Ouvimos os gritos de uma pessoa na cozinha.
— Ele diz preocupado e me olha como se eu fosse um monstro. Até parece!
— Nada demais, só fui dizer que odeio atrasos para o neto da Clarisse e ele
se revoltou — falo simples e me sento na poltrona perto da janela, sentindo o sol
da manhã em minha pele.
— Até parece que foi só isso, tenho certeza que você disse mais coisas,
Adrian — Maurício diz bravo e eu reviro meus olhos para ele.
— Eu vou ver Castiel — dona Clarisse diz e sai pela porta com uma
expressão um pouco chateada.
— Acho que ela ficou chateada — falo, olhando para o lugar onde ela saiu.
— Ah, você acha? Você sabe que o neto dela só veio para cá por insistência
dela e porque ele precisa de emprego. Aí você vem com esse seu jeito arrogante
e já ferra com tudo. Poxa, para pra pensar um pouco nos outros e não só em
você. Pelo o que eu ouvi de Clarisse, o neto dela já sofreu demais para você
também perturbar o menino. Não é só você que sofre na vida, Adrian, as outras
pessoas também vivem com sua própria dor. — Ele diz sério e por mais que eu
não queira, suas palavras mexem comigo.
— Não precisa pisar — falo com raiva e aperto minhas mãos com força.
— Jamais faria isso com você, só quero que entenda o mundo a sua volta,
pois já tem anos que parou de viver. — Ele diz e escuto seus passos se afastando
para longe.
Fecho meus olhos com força e solto um suspiro forte. Me levanto da
poltrona e sigo até o pequeno bar que há na sala. Pego um copo e me sirvo de
uma dose de conhaque. Bebo o líquido devagar e assim que termino, pego meu
notei, percebi que ele estava distante da realidade e fiquei intrigado quando vi
uma lágrima escorrer por seu rosto.
— Já que vou ficar aqui, é melhor eu desarrumar as malas — falo, após
algum tempo em silêncio, e deixo Evan no chão, vendo meu pequeno dar alguns
passinhos.
— Boy! — Evan fala com entusiasmo e agarra as pernas de Adrian.
— Boy? — Ele pergunta sem entender e fica olhando para meu filho com
um brilho nos olhos que me deixa sem muita reação.
— Ele quis dizer cowboy — respondo e aponto para seu chapéu.
— Tudo bem — respondo simples e ele dá mais uma olhada em nós antes
de sair porta a fora.
— É, filho, parece que essa será nossa nova casa por algum tempo — falo
— Eu vou adorar, mas não posso ficar muito tempo fora. O patrão pediu
para eu ir até ele depois do almoço — falo e reviro meus olhos, escutando uma
curta risada de Antônio.
— Pode deixar, prometo te trazer antes do almoço. Aliás, dona Clarisse me
chamou para almoçar aqui, ela disse que você cozinha muito bem. — Ele diz
sorrindo.
— Não acredito que ela te convidou para que eu faça a comida! — falo
incrédulo e ele assente com a cabeça.
Sei muito bem o que dona Clarisse está tentando fazer, mas ela está muito
enganada se acha que isso irá funcionar.
Desisto de falar qualquer coisa e coloco uma roupa leve em meu pequeno,
já que ele estava apenas de fralda.
Saímos da casa da minha avó e ela já não estava mais lá. Antônio me
mostrou alguns lugares da fazenda e eu me apaixonei pelo campo enorme de
demais. Por um segundo, eu senti como se estivesse pegando meu próprio filho
no colo, o filho que eu jamais pude segurar em minha vida. E ao mesmo tempo
em que me senti feliz com Evan em meus braços, eu também me senti muito triste.
Eu hoje poderia ter meu filho em meus braços, assim como também minha
mulher, mas não... por minha culpa eles não estão mais aqui e nem nunca mais
vão estar.
Abro meus olhos e a foto dos meus pais entra em meu campo de visão. Pego
o porta-retrato em minha mão e sinto vergonha de mim mesmo enquanto olho
para o retrato. Eles devem estar sentindo vergonha por verem o que o filho deles
se tornou... um homem fraco que conseguiu destruir tudo de bom que tinha na
vida.
Sinto uma lágrima solitária escorrer por meu rosto e pergunto a mim mesmo
se algum dia eu ainda terei a chance de ser feliz como era antes?
***
Entro novamente na casa sede da fazenda e dessa vez não encontro o Shrek
mal humorado, mas sim um garoto que parece ter mais ou menos minha idade.
— Oi? — falo, chamando a atenção dele que para de ler o livro e me olha.
— Ah, oi! Você deve ser o Castiel, é um prazer conhecer o neto tão amado
de dona Clarisse. — Ele diz sorrindo e logo se levanta, estendendo sua mão para
eu apertar.
— Nossa, não sabia que tinha esse título. Mas é um prazer te conhecer
também... — falo, deixando espaço para ele dizer seu nome.
— Maurício, mas pode me chamar de Má ou Mau — diz, ainda tendo o
grande sorriso no rosto.
— Se é assim, pode me chamar de Cas.
— Ok! Fiquei empolgado com sua chegada, sabia? Aqui na fazenda não há
ninguém da minha idade e me sinto um pouco isolado, já que meu irmão mal fala
comigo às vezes. — Ele diz meio triste e isso me faz comprovar o quão ogro
Adrian é.
— Fico feliz por poder te fazer companhia então. Eu estava com um pouco
de medo de vir, já que não conhecia ninguém além da minha avó, mas ainda bem
que já comecei a fazer novas amizades.
— Ah, já fez amizade com mais alguém? — Ele pergunta curioso.
— Com Antônio, ele foi bem legal comigo mais cedo — cito meu novo
amigo e vejo uma pequena mudança em sua expressão facial.
— Humm... Antônio é legal mesmo, mas não temos tanta amizade. — Ele
diz e noto uma pequena tristeza em seu olhar, mas resolvo deixar de lado.
— Quem sabe no futuro possam ser amigos? Agora eu tenho que encontrar
seu irmão, antes que briguemos igual de manhã — falo e ele sorri para mim com
compreensão.
— Eu adorei que você o enfrentou, já subiu no meu conceito por isso.
Adrian é muito autoritário e isso me dá nos nervos às vezes. Mas vem, vou te
levar até o escritório dele. — Ele diz e se aproxima mais de mim. — Ah, esse é
seu filho? — pergunta, apontando para o bebê dormindo dentro do carrinho.
— Sim, meu Evan.
— Ele é lindo e parece muito com você — fala e eu sorrio ainda mais, pois
amo saber isso, que ele se parece comigo... apenas comigo.
— Obrigado! — agradeço sincero.
Ele fica admirando meu bebê por mais alguns segundos, até acordar e me
guiar finalmente até o escritório do seu irmão. Ele bate na porta e demora um
pouco para que alguém responda.
— Boa sorte com ele, nos vemos mais tarde — Maurício sorri e se afasta
de mim.
Respiro fundo e entro na sala, encontrando Adrian sentado em sua cadeira,
ostentando uma expressão séria.
— Sua mesa vai ser aquela ali — diz e aponta para uma mesa no canto da
sala, igual a sua. — Se quiser deixar seu filho mais confortável, você pode o
deixar no quarto de hóspedes que fica aqui ao lado. A partir de amanhã você
também pode almoçar aqui, se quiser — continua e eu concordo com um aceno.
— Tudo bem, o que exatamente eu vou fazer? — pergunto e me mantenho
também com uma postura séria.
— Eu sou formado em administração, mas ultimamente está difícil tomar
conta de tudo sozinho. Maurício não pode me ajudar, pois ele faz faculdade e eu
priorizo os estudos dele, já que é isso que meus pais fariam. Também tenho meu
irmão Marcos, mas ele é médico e foge totalmente de tudo isso. Sua função é
basicamente me auxiliar, vou te ensinar tudo que não sabe e que precisa saber.
Você entra às sete da manhã e sai às quatro. Seus fins de semana são livres e
você pode fazer o que quiser. Em algumas ocasiões você vai ter que me auxiliar
em reuniões com compradores e empresários do ramo, assim como em viagens,
mas isso não é sempre. Estou te contratando, pois eu não posso ficar somente
aqui no escritório, também preciso auxiliar na fazenda. É isso... entendeu? — Ele
pergunta, me olhando com intensidade, e sinto um estranho arrepio percorrer meu
corpo, mas tento não dar muita atenção a isso.
— Entendi perfeitamente — falo e sorrio com ironia.
— Bom, vamos começar! — fala ele com sua voz rouca.
Pelos minutos que se seguem, eu escuto Adrian me explicar tudo o que eu
tenho que fazer, tendo que aguentar ele muito próximo a minha pessoa, coisa que
eu odiei... só para constar.
Acabei por colocar Evan no quarto ao lado e deixei a babá eletrônica
ligada, sou prevenido e trouxe tudo dele.
Não trocamos muitas palavras que não fossem referentes ao trabalho e eu
me senti mais confortável com isso. Até porque, eu e ele não temos muito o que
conversar a mais que não seja isso.
***
Escuto o choro vindo da babá eletrônica e peço licença para Adrian, para
poder ir pegar meu filho.
Saio do cômodo e entro no quarto ao lado, vendo meu ruivinho com o
rostinho amassado e uma carinha de choro tão fofa, que me dá vontade de morder
ele todo.
— Papa! — Evan diz manhoso e estende seus pequenos braços em minha
direção.
— Oi, meu amor, papai está aqui — falo suave e pego ele em meus braços,
deixando um beijo em seu pescoço.
Ele encosta sua cabecinha em meu ombro e permanece desse jeito. Pego o
carrinho de bebê e saio em direção a cozinha da casa, querendo encontrar minha
vó.
Acho a cozinha e encontro minha vó conversando com Maurício.
— Olha quem veio ver a bisa — falo e logo a atenção da minha vó segue
para mim e meu filho.
— Oh, amorzinho da vóvó! — Minha vó diz e rapidamente Evan olha em
sua direção, abrindo um sorriso gostoso.
— Vou deixá-lo aqui com a senhora e daqui a pouco volto para buscar ele,
já está quase no meu horário — falo e ela vem até mim, pegando o bebê em seus
braços.
— Pode deixar que eu ajudo a cuidar dessa fofura — Maurício fala e
começa a brincar com o bebê, que parece gostar dele.
— Olha o jeito que fala comigo, seu escroto... por acaso sabe com quem
está falando? — pergunta irritada e eu solto um riso de deboche.
— Tenho certeza que não é com a rainha Elizabeth, ela tem mais classe que
você e mais beleza também — falo e ela fica vermelha de raiva.
— Seu idiota! Eu sou a futura senhora D'Ávila e exijo que me respeite. —
Ela responde e minha vontade é gargalhar.
— E eu sou o futuro presidente do Brasil. Acho que também mereço
respeito, não? Ah, esqueci... você não sabe o que é isso — debocho e vejo nos
seus olhos que ela quer voar em meu pescoço.
Ah, garota, você escolheu uma pessoa muito errada para mexer.
Continuo olhando fixamente para a mulher em minha frente e minha vontade
é de rir da cara que ela está fazendo.
— Olha aqui, coisinha, eu exigi que me trate com mais respeito. Você sabe
com quem está falando? — Ela pergunta, como se isso fosse fazer a maior
diferença na humanidade ou para mim... coitada, tão iludida!
— Não sei e nem quero, de pessoas como você eu quero é distância — falo
com um sorriso cínico no rosto.
— Mas...
— Nada de mas, vem comigo que eu tenho mesmo que falar com você. E
Castiel, volte ao seu trabalho. — Ele diz sério e pega no braço da tal Débora, a
— Aí meu Deus, não devia ter aberto a boca, meu irmão odeia quando eu
conto sobre isso. Mas sim, ele é viúvo há cinco anos e por favor, não diga a ele
que te contei isso. — Ele praticamente implora.
— É claro que não, Mau, pode ficar tranquilo — falo e olho para trás. —
Hum, deixa eu voltar para o trabalho, antes que seu irmão venha chamar minha
atenção e nós dois brigarmos.
— Tudo bem! — responde e também segue uma direção diferente.
Volto para o escritório de Adrian e encontro o mesmo vazio. Me sento em
minha mesa e retomo o meu trabalho de onde parei.
Alguns minutos se passam e a porta se abre, revelando Adrian, que entra e
vai diretamente para sua mesa sem dizer uma palavra. E os minutos se passam
assim, no mais absoluto e completo silêncio, até o momento de eu ir embora.
— Já deu meu horário, posso ir? — pergunto, assim que vejo o relógio
marcar cinco horas da tarde.
— Claro, até amanhã! — Ele fala, mas não levanta os olhos do computador
para me ver.
— Até! — falo sem muita vontade e pego meu celular, saindo do cômodo
em seguida.
Passo pelo corredor que leva até a cozinha e vejo novamente o quadro que
havia me chamado atenção mais cedo e me fez esbarrar na nojentinha.
Paro meus passos diante dele e meus olhos se prendem na fotografia
enorme. Há um casal de dois homens, um tem a cor de pele um pouco queimada
pelo sol e o outro branca como porcelana, assim como seus olhos também
formam um bonito mesclar, pois um possui olhos azuis como o mar e outro
verdes como um campo verdejante. O sorriso e o olhar dos dois para um ao
outro é algo extremamente lindo de se ver e por um momento, eu desejo poder
receber um olhar assim de alguém. Também há mais dois meninos na fotografia,
um de cada lado do casal, os abraçando. Mas o que me chama a atenção mesmo,
é ver a barriga grávida do homem de pele de porcelana. A mão dos dois está
sobre a barriga, como se estivessem tocando um bem muito precioso... uma
perfeita representação de família feliz.
Olho por mais um tempo a foto, mas logo acordo do meu transe e entro na
cozinha. Assim que entro no cômodo, vejo minha avó colocando um bolo no
centro da mesa e Maurício sentado em uma das cadeiras com o carrinho de Evan
ao seu lado, tendo meu filho dormindo nele.
— Cheguei, pessoas! — anuncio e dou uma olhada rápida em meu bebê,
antes de me sentar em uma das cadeiras.
— Como foi? — Minha avó pergunta, se referindo ao trabalho, e eu lhe dou
um sorriso mais ou menos.
— Bem — respondo simples. — Quero bolo! — falo pidão e ela revira os
olhos para mim.
— Já tem um filho, mas ainda é uma criança — diz rindo e eu mostro língua
para ela.
Dona Clarisse me serve um pedaço de bolo de cenoura e eu como satisfeito,
enquanto converso com ela e Maurício sobre coisas aleatórias.
Eu me despeço deles poucos minutos depois e sigo para a casa da minha
avó, muito a fim de tomar um banho relaxante para me desestressar do dia de
hoje.
***
Já fazem quase três semanas desde que me mudei para a fazenda Rosa
Branca e já estou bem familiarizado com tudo. Minha amizade com Maurício e
Antônio evoluíram bastante e eu fico muito satisfeito com isso, já que eles são
boas pessoas e me fazem companhia sempre.
Mas nem tudo é perfeito. Eu estou voltando para a capital, para passar
alguns dias. Ângelo está enfrentando um momento muito difícil em sua vida e eu
não poderia deixar meu melhor amigo sozinho nesse momento. Por isso pedi uma
liberação a Adrian e, por um milagre, ele estava de bom humor e concordou com
meu pedido.
Infelizmente vou ter que deixar meu filho aqui, pois não acho que seja bom
ele ir comigo nesse momento. Ângelo acabou de perder um filho e não acho que
ver uma criança tão perto irá lhe fazer bem.
Solto um suspiro e fecho minha pequena mala de viagem. Saio do quarto
com a mesma e a deixo no corredor, entrando no quarto de Evan que agora está
todo decorado com o tema de floresta, já que ele ama animais.
Assim que entro no cômodo, já posso ouvir as gargalhadas gostosas dadas
por meu filho e levo um pequeno susto ao ver Adrian com ele em seu colo.
Minha avó está sentada na pequena cama do quarto e olha para a cena com
um sorriso. Ela vira seu rosto em minha direção e olho para ela em
questionamento, mas ela se limita a apenas continuar sorrindo.
— Hum... Oi! — falo e logo os olhos azuis dele se viram em minha direção.
— Oi, sua avó me pediu para te levar até à rodoviária e enquanto esperava
vim brincar um pouco com ele. Espero que não tenha problema — diz com a voz
séria, mas também com certa calma.
— Ah, ela não me disse isso — falo e olho para minha avó, que finge nem
me ver. — Mas não tem problema nenhum você brincar com ele, Evan gosta de
você — falo sincero e como se para confirmar minha fala, meu filho deita a
cabecinha no ombro de Adrian.
Até que esse cowboy é uma pessoa legal quando quer. Até que eu o suporto
quando não estamos discutindo por algo extremamente idiota.
— Eu também gosto dele. — Ele responde e vejo a sombra de um sorriso
totalmente frustrado. Por que tudo em relação a esse garoto me tira fora do ar?
Ele tem o poder de me irritar como nenhuma outra pessoa e ainda me faz dar
apelidos a ele. O que esse cabelo de fogo tem para me deixar assim? Nem eu sei
o que ele faz comigo.
Balanço minha cabeça algumas vezes para afastar esses pensamentos da
não ter mais meus pais aqui conosco, eu tenho a obrigação de sempre estar
pronto para os ajudar em qualquer situação. Só que nesses cinco anos que se
passaram, acho que foram os dois que assumiram esse papel.
Lembrar dos meus pais me causa um aperto no peito muito grande. Eu daria
tudo o que tenho para os ter aqui comigo novamente e poder desfrutar do amor
que eles me davam. Eles eram as melhores pessoas que já conheci em minha
vida e me fazem uma falta muito grande. Meu pai Felipe era a pessoa mais doce
e corajosa que eu conhecia, ele lutou tanto por nós junto ao meu pai Victor. Eles
sofreram muito preconceito no início, ainda mais pai Felipe que podia
engravidar. Mas ele nunca ligou para a maldade do ser humano e fez de tudo para
nos educar para sermos bons, e eu sou tão grado a Deus por ter dado eles para
serem nossos pais.
Sinto uma lágrima solitária escorrer por meu rosto e a enxugo com minha
mão.
Respiro fundo e tento afastar a dor da saudade do meu peito.
Eu me foco no caminho até a casa de Marcos e não demora muito para eu
estar estacionando em frente a sua grande casa. Desço do carro e toco o
interfone, logo me identificando para a moça que me atende. Em poucos
segundos o portão se abre para mim e eu entro na propriedade, passando pelo
enorme jardim até chegar à porta da casa, que se abre quando subo os três
degraus.
— Até que enfim veio me visitar — Marcos fala da porta, com seu leve tom
dramático.
— Quem vê assim acha que tem décadas que não nos vemos — falo e puxo
ele para um abraço.
— Quase isso mesmo, Ana Clara está morrendo de saudades de você. —
Ele fala sorrindo e deixa espaço para que eu passe.
— Também estou com saudades daquela pequena. Cadê ela e a Mel? —
pergunto, mas sou respondido assim que vejo minha cunhada descer as escadas
com minha sobrinha no colo.
— Já não era sem tempo de aparecer, hein, Adrian? — Melissa fala e eu
sorrio para ela, indo pegar minha sobrinha e deixo um beijo na bochecha dela.
— Vocês fazem drama demais, podem ir a fazenda me ver também —
respondo e me sento no sofá com Ana Clara, sentindo suas mãozinhas baterem
com força em meu rosto. — Calma aí, lindinha, não precisa deixar seus dedinhos
marcados em mim — falo rindo e ela gargalha também. Deixo um beijo em sua
bochecha gorducha e a aperto em meus braços.
— É isso aí, filha, desconta sua frustração da saudade que sentiu do seu tio
ingrato — Marcos fala e eu reviro meus olhos.
— Idiota, nem parece ser um médico de renome — falo e olho para minha
cunhada que nos observa rindo. — Me diz como uma mulher linda igual a você
foi se casar com um cara como esse? — pergunto e é a vez de Marcos revirar os
olhos para mim.
— Nem eu sei — Melissa responde, fingindo estar séria, e meu irmão olha
para ela ofendido.
— Nossa, pensei que me amasse. — Ele diz emburrado e parece uma
criança fazendo birra.
— Oh modeuzo, tadinho do meu maridinho. Te amo, bobo! — Mel fala e
vai até meu irmão, deixando um beijo em sua boca.
Fico feliz em os ver desse modo, mas ao mesmo tempo sinto uma dor em
meu peito. Olho para minha sobrinha brincando com suas mãos em meu colo e é
impossível não sentir a culpa que cresce em meu peito a cada dia. Eu poderia ter
tudo isso hoje... poderia ser Carolina aqui comigo junto com nosso filho ou filha,
mas por minha causa eles não estão aqui.
— Adrian? — escuto a voz do meu irmão me chamar e saio do meu transe,
olhando para ele em seguida.
— Oi? — falo, após encontrar minha voz novamente.
— Está tudo bem? — Ele pergunta preocupado e eu apenas aceno com a
cabeça.
— Eu vou levar a Aninha para mamar... fique à vontade, Adrian — Melissa
fala com um sorriso compreensivo no rosto e pega a filha dos meus braços.
Vejo ela se afastar com a bebê no colo e me encosto no sofá, ficando em
silêncio. Não dizemos nada por alguns minutos, até sentir meu irmão se sentar ao
meu lado.
— Como você está? — Ele pergunta após um tempo e eu olho para ele por
um segundo, antes de desviar meus olhos novamente.
— Estou bem, não está vendo? — respondo e acabo sendo um pouco rude.
— Você sabe muito bem do que estou falando, Adrian, não tente me enganar
— faz uma pausa. — Sabe que já está mais do que na hora de seguir em frente,
Adrian. Carolina não ia querer que você parasse de viver como está fazendo.
Você só fica na fazenda e não sai quase para lugar algum, além de ficar se
afundando na bebida. O máximo que faz é ficar com umas e outras por aí sem
compromisso, pessoas que nem de longe querem o seu bem. Você ainda fica com
a Débora? — pergunta e me sinto desconfortável com o rumo dessa conversa.
— Não, eu nem gosto dela, só ficava para tentar... sei lá! — falo, perdido.
— Viu? Você só está se afundando ainda mais. Cadê aquele cara alegre de
antes, o homem que tinha sonhos e lutava pelas coisas que acreditava?
— Ele morreu naquele acidente, junto com minha mulher e meu filho —
respondo e escuto ele soltar um suspiro frustrado.
— Tudo bem, se você quer continuar vivendo desse modo eu não posso
fazer nada... tudo depende de você. Eu só espero que encontre um motivo para
querer viver novamente.
Fixo meus olhos na parede e sentindo o silêncio pesado que paira entre nós,
me levanto do sofá.
— Eu já vou indo, tenho muitas coisas a fazer na fazenda — falo e não olho
em sua direção.
— Tudo bem, qualquer dia desses nós aparecemos por lá. — Ele fala e eu
concordo com a cabeça, indo até a porta.
****
Meu caminho de volta é silencioso e sinto meu peito cheio de emoções
conflitantes. Passo pela porteira que dá acesso a minha fazenda e assim que
chego perto de casa, consigo ver um pouco ao longe dona Clarisse sentada em
baixo de uma árvore, brincando com Evan.
Estaciono minha caminhonete e fico os observando por um tempo. Sinto
uma emoção diferente toda vez que estou perto daquele pequeno menino e
também, às vezes, com seu pai... e eu só queria entender o que é isso tudo.
Fecho meus olhos com força e nesse gesto só consigo enxergar em minha
mente dois pares de olhos claros me olhando com sorrisos no rosto e cabelos
lindos na cor do fogo.
Eu me encontro nesse momento abraçado ao meu melhor amigo e me sinto
um inútil por não conseguir tirar a dor que ele está sentindo. Eu não sei como é a
dor de perder um filho, mas eu consigo imaginar. Deve ser horrível e cruel, pois
você perde uma parte de si mesmo. Acho que se algo acontecesse com meu filho,
eu não conseguiria suportar. Evan é tudo de mais importante que eu tenho em
minha vida e só a ideia de não o ver mais, me destrói. E imagino que é dessa
forma que Ângelo está se sentindo nesse momento. Sei que apesar de ainda novo,
Ângelo sempre sonhou em ser pai, poder gerar seu filho, sentir os primeiros
chutes e pegá-lo em seus braços. Mas infelizmente esse sonho teve que ser
adiado mais um pouco.
Eu somente não entendo como pode haver pessoas tão cruéis no mundo.
Luci passou completamente fora dos limites da insanidade. Armar para matar
uma pessoa é muito cruel e sem perdão. Juro que se eu pudesse, faria essa vadia
pagar por tudo o que fez ao meu maninho, mas infelizmente agora eu tenho que
confiar na justiça, o que sinceramente, não vale muita coisa.
— Me conta sobre a fazenda — Ângelo pede, quebrando nosso silêncio e
isso me faz sair do meu estado pensativo.
— Já te disse que ela se chama Rosa Branca? — pergunto e ele assente com
a cabeça. — Pois bem, isso se deve ao imenso campo de rosas brancas que há na
fazenda, garanto que você iria amar. O lugar é muito lindo, confesso que estou
gostando de morar lá.
— E sua relação com o seu Shrek? — Ele pergunta e me dá um sorriso
pequeno, que já me deixa imensamente feliz.
— Ele não é meu Shrek... que mania de fantasiar nós dois! Não quero nada
com aquele ogro e nem com ninguém — falo emburrado. Será que é tão difícil
entender?
— Se você pensa assim, tudo bem então, mas eu ainda acho... — Ele não
termina de falar, pois eu tapo sua boca com minha mão.
— Chega disso, vamos falar d... Aí, está doido, Angie? — resmungo e tiro
minha mão rapidamente da sua boca, já que ele havia me mordido.
— Sabe que detesto que façam isso comigo. — Ele se defende e eu reviro
meus olhos, mas ao mesmo tempo fico feliz por ver meu amigo se soltando e
voltando ao que é.
— E precisa me morder? — pergunto, passando minha outra mão pela
marca dos seus dentes que ficou em minha pele.
— Ehhh... sim, você estava me atrapalhando a falar. Mas como eu ia
dizendo... não adianta você ver o Alan em todos os homens. Eu sei que ele te
magoou e te feriu muito, mas nem todos são assim, Cas. Veja pelo Enzo, eu tive
uma sorte tão grande em poder o encontrar. Ele é tudo pra mim, Cas, ele me ama,
me protege, me trata como se somente eu fosse o mundo para ele. E você sabe
que eu também poderia ter desacreditado do amor, já que o garoto por quem eu
fui apaixonado no colégio tentou fazer sexo comigo a força, além de me drogar.
Mas pelo contrário, eu continuei acreditando que sim, eu podia encontrar alguém
que poderia me amar como eu sou e eu também amaria de volta. — Ele diz e
pega em minha mão. — Só não deixe a sua chance de ser feliz passar por diante
dos seus olhos e você nem perceber.
hóspedes, onde estou por esses dias. Assim que entro no cômodo, fecho a porta
atrás de mim e pego meu celular para ligar pra minha avó e saber como está meu
filhote.
— Oi, meu amor! — Dona Clarisse fala assim que me atende.
— Oi, vó... como está meu pequeno? — pergunto sem rodeios e escuto a
risada dela do outro lado.
— Está ótimo, nem sente sua falta — fala brincando e eu reviro meus olhos.
— Sei... — falo e me deito na cama.
— Estou falando sério, ele brincou praticamente o dia todo com Adrian e
nem reclamou por você. — Ela fala e isso me faz sentar na cama em um pulo.
— Como? Por que ele ficaria praticamente o dia todo com meu filho? —
pergunto na defensiva e não me reconheço nesse momento.
— Até parece que você não vê o quanto ele já é apaixonado por Evan.
— Não sei se essa aproximação é uma boa coisa. Ele é apenas meu patrão e
não tem que ficar assim com meu filho. Por que ele não se casa com aquela
gralha e tenha os próprios filhos? — falo e nem sei porque essa ideia me irrita
tanto.
— Por que isso agora, Castiel? Não vejo problema algum de Adrian ficar
um pouco com Evan, já que o seu filho mesmo já o ama e gosta dele como um
pai. — Ela fala e isso me irrita ao extremo agora.
— Mas ele não é pai dele, vó! Está vendo aí o problema? Não quero que
meu filho se apegue a alguém que no futuro nem vai mais fazer parte da vida dele
— falo, um pouco exaltado.
— Talvez, se desse uma chance para a vida novamente, esse problema
estaria resolvido. — Ela diz após alguns segundos e eu respiro fundo.
— Eu vou desligar, amanhã estou aí — aviso e encerro a ligação.
Deixo meu celular na mesinha de cabeceira e me deito na cama novamente.
Fecho meus olhos e sinto meu peito se apertar.
Será que é tão difícil das pessoas entenderem o meu lado?
Fico mais alguns minutos deitado, mas resolvo deixar minhas coisas prontas
para partir amanhã cedo. Não trouxe muitas coisas, por isso é fácil deixar tudo
pronto.
Após terminar tudo, tomo um banho rápido e me deito na cama. E após rolar
de um lado para o outro, consigo finalmente pegar no sono.
***
sorriso e termino de entrar, mas acabo parando ao ver a cena de Evan todo feliz
no colo de Adrian.
Adrian brinca de aviãozinho com meu filho e olha para ele como se fosse
algo realmente importante, enquanto ostenta um sorriso no rosto. E Evan
demonstra sua felicidade soltando suas gargalhadas gostosas, mostrando sua
confiança nele.
Sinto algo crescer dentro do meu peito e me sinto estranhamente com medo.
E eu não gosto de me sentir dessa forma, mas, infelizmente, toda vez que Adrian
está por perto eu me sinto exatamente dessa forma.
Ouço as risadas alegres de Evan e isso aquece meu peito de uma maneira
única. Nunca achei que um serzinho tão pequeno fosse me causar tanta felicidade.
Eu sei que ele não é nada meu, não temos laço algum, mas eu me sinto tão em paz
quando tenho a presença dele ao meu redor. Bem diferente dos sentimentos
conflitantes que sinto em relação a Castiel.
— Oi! — escuto a voz que persegue meus pensamentos há alguns dias e
assim que me viro, vejo Castiel parado perto do sofá, nos olhando com
intensidade.
Paro minha brincadeira com o pequeno e sigo apenas com ele em meus
braços.
— Oi, dona Clarisse está fazendo o almoço e ela disse que não teria
de centro.
— Já que está aqui, fique para almoçar... até porque se minha vó não fizer a
comida você morre de fome, não é? — Ele fala com seu humor ácido de sempre.
— Acho que não sou tão dependente assim de dona Clarisse, mas obrigado
pelo convite. Só que hoje você não terá minha presença, já tenho compromisso
— respondo e coloco o chapéu na cabeça, seguindo até a porta.
— Espera, quero falar uma coisa com você. — Ele diz e isso me faz parar e
que fica em minha propriedade. Sigo pela trilha que leva até meu lugar preferido
e sinto uma paz tomar conta de mim quando vejo o lugar que marcou minha
infância junto aos meus pais.
Desço do cavalo e o deixo livre para pastar. Ando a passos lentos até a
areia branca e tiro meus sapatos para poder a sentir abaixo dos meus pés. Eu me
sento na areia fofa e fecho meus olhos.
Por que ele me pedir para se afastar me incomodou tanto? Droga! Evan não
é seu filho, Adrian e nem Castiel é nada seu... mais cedo ou mais tarde eles vão
embora.
***
Vejo Adrian sumir montado em seu cavalo negro e solto um suspiro
cansado. Olho para Evan e vejo ele ressonar baixinho em meu ombro. Me viro
para ir para meu quarto e encontro minha avó parada no corredor.
— Por que fez isso? — Ela pergunta e me olha com o rosto sério.
— Isso o quê? Ele nem é nada do meu filho — falo na defensiva e começo a
ir em direção ao quarto de Evan.
— Você está afastando-o pensando no bem estar do seu filho mesmo, ou por
que está com medo? — Ela pergunta e isso me irrita.
— Medo de que, vó? Nós mal nos conhecemos — falo irritado e entro no
quartinho de Evan, colocando-o no berço.
Ligo o climatizador e fecho as cortinas, deixando o quarto mais escuro.
— Acho que você está começando a sentir alguma coisa por ele, por isso
está com medo. Está com medo de se apaixonar e por isso quer o afastar, mas
está fazendo de modo errado, já que seu filho ama Adrian e vai sentir falta dele.
Caminho até a cômoda no canto do quarto e pego uma muda de roupa para
Evan, já que assim que ele acordar precisa de um banho. Deixo as pequenas
roupas sobre a pequena cama e me sento na mesma, me sentindo cansado de toda
essa conversa.
está sentindo sua falta e teve até febre, o que me deixou bem preocupado. Só que
eu, de verdade, só estava pensando no melhor para meu filho, mas vejo que me
equivoquei. Infelizmente Adrian já se tornou alguém importante para meu filho.
Evan nunca foi de se apegar com as pessoas, a não ser aquelas que estão
realmente bem próximas, mas com Adrian foi e é diferente... Eu posso ver o
Não deveria, mas a cena deles se beijando na minha frente me irrita mais do
que tudo e para não pensar coisas que não devo, decido seguir meu caminho.
Ando a passos apressados até a cozinha e quando chego ao local, vejo
minha avó batendo uma massa de bolo na mão enquanto conversa com Evan que
está sentado em seu carrinho.
— Olha quem chegou, foguinho... e parece não estar de bom humor —
minha avó diz assim que me vê e eu reviro meus olhos.
— Para de o chamar assim, vó, não sei porque o Angie colocou esse
apelido no meu filho — falo, fingindo irritação, mas no fundo até que eu gosto do
apelido.
— Porque combina com ele e pare de reclamar. E que cara é essa? Viu algo
que não gostou? — Ela pergunta sugestiva e eu odeio essa mania que minha avó
tem.
— E o que eu veria que não iria gostar? — pergunto e vou até meu filho,
pegando-o em meus braços, dando um beijo em seu narizinho em seguida.
— Ah, não sei! Talvez um certo cowboy com uma mulher sem sal lá na sala.
— Ela sugere e me olha com atenção, esperando uma reação minha, mas não vou
dar esse gostinho para ela.
— E por que eu estaria espiando os outros? Tenho mais o que fazer, tipo
trabalhar — respondo e pego um copo com água no pote de barro.
— Se você diz... — Ela volta a trabalhar em seu bolo.
— É... eu digo! Evan já mamou? — pergunto, mudando de assunto, e dou um
pouco de água para o meu filho.
— Ainda não, eu ia fazer daqui a pouco a mamadeira dele. — Ela diz e olha
para além de mim.
Eu me viro para a entrada da cozinha e vejo o “casal vinte”. Oh vontade que
me dá de revirar os olhos, mas me seguro.
— Pode deixar que eu faço — falo, ignorando a presença dos outros dois.
Evan assim que vê Adrian começa a se mexer para ir pro colo dele e como
não deixo, ele começa a chorar. Tento acalmar meu filho, mas não funciona muito
e minha avó vem pegar ele.
Pego as coisas para preparar o leite de Evan e tento não prestar atenção no
choro do meu bebê.
— Você quer alguma coisa, Adrian? — escuto minha vó perguntar com a
voz alta.
— Não, só vim avisar que vou levar Débora até a casa dela... qualquer
coisa pode me ligar.
— Pode deixar, mas não se preocupe... demore o tempo que precisar — fala
e posso sentir que ela diz isso para jogar em mim, mas eu não sei o porquê
exatamente.
Termino de preparar o leite de Evan e pego ele do colo da minha avó.
— A-boy! — Evan fala soluçando e olha para Adrian que ainda está parado
na porta.
***
Maurício passa por mim na varanda, mas nem “oi” me dá, o que eu acho
estranho, mas não perco meu tempo para perguntar. Não tenho culpa de as
pessoas ficarem mal humoradas e virem descontar em mim... odeio isso.
Sigo para casa vendo o sol se pôr entre as montanhas que cercam a fazenda
e acho perfeito o espetáculo da natureza. Chego em casa em poucos minutos e
sigo direto para o quarto de Evan, colocando-o para dormir em seu berço, mas
ele acaba acordando durante o processo, então resolvo dar banho nele. Separo a
roupa dele e o levo comigo para o banheiro no corredor.
Tranco a porta e coloco ele sentado no chão do banheiro enquanto eu tiro
minhas roupas e fico apenas de cueca. Deixo-o andar com seus passinhos lentos
até o box e ligo o chuveirinho na água morna, começando a dar banho nele.
— Agá! — Ele exclama feliz, sentindo a água em seu corpinho. Evan
sempre adorou a hora do banho, o que eu agradeço a Deus por isso.
— Sim, amor, água. Você gosta? — pergunto com a voz calma e passo um
pouco de shampoo infantil em seus cabelinhos.
— Agááá! — fala mais alto e bate as mãozinhas, como se para dizer sim a
minha pergunta.
Sorrio para ele e termino de dar seu banho. O enrolo em uma toalha felpuda
de orelhinhas e levo ele de volta para seu quarto, nem ligando para o fato de eu
estar apenas de cueca. O deito na cama e assim que tiro a toalha dele para
colocar a fralda, Evan faz xixi em mim.
— Filho! — reclamo alto e ele solta uma gargalhada feliz. — Está achando
engraçado, seu projeto de gente? — falo e faço cosquinhas em sua barriga
gordinha, ouvindo-o rir ainda mais.
Limpo ele novamente com um lencinho umedecido e coloco sua fralda,
colocando uma roupa em seguida.
— Vó? — chamo por ela e pego Evan em meu colo, saindo com ele do
quarto e vejo minha avó surgir no corredor.
— Isso é jeito de andar pela casa, menino? — Ela pergunta, se referindo a
eu estar só de cueca.
— Sim, a senhora já me viu mesmo. Toma que o neto é seu e eu preciso
tomar banho... Esse projeto de gente fez xixi em mim — falo, entregando Evan
para ela.
— Bem feito! Ele está só te castigando. — Ela diz e se vira de costas para
mim, sumindo do meu campo de visão.
Reviro meus olhos para o que ela disse e volto para o banheiro. Tomo um
banho caprichado e saio em seguida com a toalha na cintura. Eu me visto no meu
quarto e vou atrás dos meus amores.
Ajudo minha avó com o jantar, enquanto Evan brinca feliz com seus
bichinhos de pelúcia no tapete da sala. Assim que jantamos, lavo a louça e
ficamos assistindo TV por um tempo. Minha avó vai dormir primeiro e leva
Evan com ela, me deixando sozinho, vendo filme.
Não sei quanto tempo se passa, até que escuto uma batida forte na porta, o
que me faz levar um susto. As batidas ficam mais altas e eu corro até a porta para
abri-la e não acordar minha avó e meu filho que dormem.
Assim que abro a porta, tenho uma surpresa ao ver quem está na minha
frente.
— Adrian? O que faz aqui? — pergunto a ele, que cambaleia um pouco para
trás. Ele está bêbado?
— Você é... é um idiota! Eu a-amo o Evan. Ele é um fi-filho pra mim — diz
embolado e aponta o dedo em minha direção.
— Ah, eu sou o idiota aqui? Não sou eu que estou bêbado no meio da noite
perturbando as pessoas — falo irritado e cruzo meus braços em frente ao peito.
— N-não tira ele de mim! — Ele pede e começa a chorar do nada. Aí meu
Deus, eu mereço!
— Adrian, pare já com isso! — mando e chego mais perto dele, o que faz
com que ele me puxe pela cintura. Mas o quê?
— Me solta, Adrian — peço com calma e olho para ele.
— Não! Você... você tem que prometer não tirar Evan de mim e nem você
— faz uma pausa. — Eu gosto de você, cabelo de fogo. — Ele diz e seu rosto vai
se aproximando do meu.
Ah, Deus! Não, não, não!
— Não é assim que funciona, Adrian — falo e tento me distanciar, mas é
algo impossível.
— É sim... quer ver? — Ele pergunta e eu olho para ele sem entender.
Levo um susto quando sua boca toma a minha em um beijo selvagem. Mas o
que me destrói, é que ao invés de me afastar... eu correspondo da mesma
maneira.
Acordo sentindo minha cabeça latejar e solto um resmungo inaudível. Abro
meus olhos devagar para os fechar em seguida, devido a claridade que entra no
Resolvo deixar isso de lado por enquanto e faço minha higiene bucal,
saindo do banheiro logo em seguida. Pego uma cueca boxer, calça jeans simples,
uma camisa de botões branca e meu cinto. Me visto e calço minhas botas,
pegando meu chapéu em seguida. Saio do quarto e desço as escadas, indo
diretamente para a cozinha... desejando mais que tudo um café bem forte e
amargo.
Entro na cozinha e sinto meu coração acelerar em meu peito quando vejo
Ele não diz nada e apenas passa por mim, seguindo pelo corredor. Solto um
suspiro e olho mais uma vez para Clarisse.
— Me deseje sorte — peço a ela, que solta uma risada.
— No caso de vocês, precisam bem mais que isso. — Ela ri e eu balanço a
cabeça.
Respiro fundo e também sigo pelo corredor, indo até meu escritório. Passo
pelo retrato dos meus pais na parede e peço que eles me ajudem nesse momento.
Entro no escritório e vejo Castiel de pé em frente a janela, no mais
completo silêncio. Fecho a porta atrás de mim e me aproximo dele. O silêncio
reina por mais alguns minutos, até que eu encontre novamente minha voz para
falar.
— Quero começar te pedindo desculpas pelo papelão que fiz ontem na casa
da sua avó. Eu sei que errei e não irei colocar a culpa na bebida — falo e me
viro de frente para a janela também, vendo minha fazenda como principal
paisagem.
— Isso é bom.
— Eu sei que foi errado, mas tudo o que falei sobre Evan é verdade. Eu
sinto a falta dele, sei que não gosta da nossa aproximação, mas me dói muito não
ter mais contato com ele.
— Não é que não goste, só tenho medo de no futuro ele sofrer por sua
causa. Você namora, pode muito bem se casar com Débora e ter seus próprios
filhos. E depois? Meu filho fica como? Sempre foi só eu e ele, sempre fiz de
tudo para o manter bem e só quero que ele continue assim. — Ele fala e o olho.
— Eu não tenho nada com Débora — falo rápido, tendo a necessidade de
explicar isso a ele.
— Não é o que parece. — Ele diz sério e mal humorado.
— Mas é a verdade! Sim, eu fico com ela de vez em quando, mas não é esse
o ponto. O que está em jogo aqui é outra coisa — faço uma pausa para respirar.
— Sei que só quer o melhor para Evan, mas eu sei que ele também está sofrendo.
Não dói em você ver ele dessa maneira? — pergunto e sei que toquei em seu
ponto fraco.
Vejo ele morder o lábio inferior que está trêmulo e uma lágrima escorrer
por seu rosto.
— Eu também só quero o melhor para ele, e eu sei que posso ser presente
na vida dele. Evan é importante pra mim e eu jamais o abandonaria... ele é como
um filho pra mim — digo e Castiel vira o rosto para me olhar.
— Esse é o problema... ele não é seu filho! Não quero que assuma uma
responsabilidade que não é sua. — Ele diz e noto cansaço em sua voz.
— Mas e se eu quisesse? — pergunto e me aproximo dele.
— Por que faria isso? — pergunta me olhando fixamente.
— Eu amo aquele menino, assim como eu gosto de você — falo de uma vez
e ele dá um passo para trás, se afastando de mim.
— O quê? — Ele pergunta desnorteado.
— Eu não sei como e não pergunte porque, mas eu gosto de você, Castiel.
Achei que jamais gostaria de alguém novamente, mas você despertou algo em
mim no momento em que pisou nessa fazenda — respondo e ele balança a cabeça
em negação.
— E por isso agora quer brincar de família feliz comigo e meu filho? Me
desculpa, mas isso não funciona na vida real — diz de forma amarga.
— Diga que não sente nada por mim também... — falo baixo e me aproximo
mais dele, que continua dando passos para trás, até parar em minha mesa.
— Eu não... — Pego em sua cintura e o beijo como na noite de ontem, só
que dessa vez tendo consciência dos meus atos.
Nossas línguas se entrelaçam uma na outra e posso sentir seu gosto se
misturar ao meu... bem melhor que noite passada. Sinto a entrega de Castiel e
isso me deixa satisfeito... mostra que ele não é indiferente a mim.
Mas nosso beijo é quebrado por Castiel, que se afasta de mim e deixa um
sonoro tapa em meu rosto.
— Nunca mais faça isso, seu ogro! — Ele diz irritado e viro meu rosto para
o olhar novamente, sentindo o tapa que ele me deu arder em minha face.
— Deixa eu provar que gosto de você — peço e olho em seus olhos.
— Isso não dá certo! O amor não funciona para mim... só sairei machucado
como no passado. — Castiel diz e sinto sua vulnerabilidade no momento.
— Eu não sou ele — falo com calma.
— E você quer provar que gosta de mim como? Se pegando com aquele
despacho pela casa? — Ele pergunta com raiva e me empurra, conseguindo sair
do meu aperto.
— Já disse que não tenho nada com Débora — falo exasperado e me viro
para ele.
— E por que ficam se beijando aqui? — pergunta e cruza os braços em
cima do peito.
Fico em silêncio e não falo nada por um tempo, até que ele volta a falar.
— Olha, eu vou permitir que veja Evan novamente. Sei que ele também
gosta muito de você e não quero mais ver meu filho chorando a todo momento
por sentir sua falta. Mas é isso, Adrian, eu não posso me entregar novamente a
alguém. Eu estou muito bem dessa forma e creio que assim será melhor para
ambos. — Ele fala por fim e eu fecho meus olhos em frustração.
— Melhor para quem? Para você por ser covarde? — pergunto e ele
permanece em silêncio, se desviando do meu olhar. — Eu vou provar que gosto
de você, Castiel. Não sou e nem nunca serei a pessoa que destruiu você — falo
por fim e passo por ele, o deixando sozinho para trás.
Continuo parado no lugar, tentando processar tudo o que Adrian me disse.
Solto um suspiro frustrado e me sento em minha mesa, querendo tirar esse peso
enorme das minhas costas. Estava tudo tão bem, mas aí foi só eu conhecer esse
ogro e ele mudou toda a minha vida. Por que eu não posso simplesmente ficar
sozinho? Será que as pessoas não entendem que eu não quero sofrer e nem errar
outra vez, como eu fiz com o traste do Alan?
segundos.
— Oi, Cas... está tudo bem? Sua voz está estranha. — Ele observa e eu
solto um suspiro.
— Quando eu vim para essa fazenda, não achei que minha vida fosse mudar
tanto — falo cansado e apoio minha bochecha em minha mão.
— Adrian novamente? — Ele pergunta, pois sempre essa pessoa está
presente em nossas conversas. Acho que ele tomou um pedaço de minha vida
sem eu ao menos perceber.
— Sim, acredita que ele me beijou a força? Aquele Shrek falsificado! —
falo sem paciência, e escuto a risada de Angie do outro lado.
— Ah, eu acredito! Mas por que está com raiva? Deveria estar feliz por
isso, Cas — diz, e isso me deixa indignado.
— Até você, Angie? Já não basta minha avó me enchendo o saco todos os
dias? Eu não quero ninguém, Angie, não quero alguém que vá me destruir como
Alan fez. Eu ainda tenho ódio daquele cara — falo, frustrado.
— Eu sei, Cas, mas...
— Nem todos são iguais, eu sei! Mas não consigo... não agora.
— Tudo bem, você sabe o que é melhor para você, mas não foi para isso
que liguei — diz e faz uma pausa. — Farei minha festa de dezoito anos e preciso
de sua presença aqui.
— Vou estar, Angie, quero comer bolo mesmo — respondo rindo.
— Nossa, obrigado pela parte que me toca... insensível. — Ele resmunga e
isso me faz rir ainda mais.
— Oh, meu bebê, também quero ver você... não fique com ciúmes. Mas
agora eu tenho que voltar ao trabalho, maninho, mais tarde nos falamos mais —
falo enquanto ligo o computador, para começar meu dia de trabalho.
— Tudo bem! Ah, se quiser trazer Adrian, vou adorar conhecer seu par,
Fiona — Angie diz debochado e eu me seguro para não lhe dar uma mal
resposta.
— Tchau, Angie! — Eu me despeço e escuto ele rir, antes de encerrar a
ligação.
Coloco o aparelho em cima da mesa, e passo a fazer algumas planilhas do
mês.
***
Não vejo Adrian pelo resto da manhã, e lá no fundo eu agradeço por isso.
Faço uma pausa para o almoço e vou até a cozinha, e acabo levando um pequeno
susto ao ver um casal junto a uma bebê sentados à mesa.
Assim que entro, vejo todos os pares de olhos se voltando para mim e me
sinto constrangido por isso.
— Oi! — falo sem graça e vou para perto de minha avó, pegando Evan em
meus braços.
— Papa! — Evan fala e deita sua cabecinha em meu ombro. Sorrio com
isso e deixo um beijo em seus cabelos. Posso sentir o olhar de Adrian
queimando em mim, mas não o olho.
— Esse é o meu neto Castiel, está morando aqui na fazenda comigo e
ajudando Adrian no trabalho de administração — minha avó diz sorrindo,
olhando para os convidados.
***
Sinto Evan passar sua mão suja de creme de milho em meu rosto, e a única
coisa que posso fazer é rir. Ele também solta uma gargalhada gostosa e eu deixo
um beijo em sua bochecha gorducha. Fiquei muito feliz quando Castiel me deu
permissão para estar com ele de novo, confesso que estava doendo a falta que
Evan estava me causando. Nunca achei que fosse amar tanto uma criança dessa
forma. Eu sou apaixonado por Ana Clara, minha sobrinha, mas com Evan é um
sentimento diferente... é como se ele fosse realmente meu filho, enquanto eu
também sou seu pai.
A única coisa que me preocupa é Castiel, acho que fui um pouco duro em
minhas palavras, mas eu realmente quero que ele entenda que eu só quero o
fazenda.
— Eu sei, tudo o que eu não quero é que ela atrapalhe meus planos. Eu
estou mesmo gostando dele, Marcos, e eu nem sei como isso foi possível. Achei
que não fosse mais ter sentimentos por ninguém depois de Carolina, mas eu
simplesmente amo Evan e quero ter Castiel comigo. Isso é estranho, pois eu
nunca gostei de nenhum homem... não tenho preconceito algum, só nunca
imaginei, mas não ligo para isso agora — falo e escuto meu irmão rir.
— É... você está mesmo apaixonado e eu fico feliz. Vi o quanto gosta
daquele pequeno, e ele também te ama. Espero que consiga conquistar Castiel,
pois parece que aquele ruivo é duro na queda.
— Nem me fale, ele foi o único até hoje que teve coragem de me desafiar.
No começo eu queria estrangular ele, mas com o tempo passei o ver de uma
maneira diferente. Castiel é forte, e isso me admira muito... ele é alguém que vai
além da compreensão — falo, e faço meu cavalo parar próximo ao rio.
— Só de te ver desse jeito novamente, gosto muito desse rapaz. Não desista
dele, pois acho que terá muitos frutos bons no futuro. Se quer ele realmente, lute
por ele, Adrian, não o deixe escapar e viva sua vida da melhor forma possível.
— Ele diz e eu sorrio pro meu irmão.
— Obrigado, Marcos! Não irei desistir de Castiel, nem de Evan... de
alguma forma, sinto que eles já são uma parte minha.
***
vez.
— Te trocando? Eu nunca tive nada com você... não se sinta tão importante.
Agora, vá embora!
— Isso não vai ficar assim, vocês vão me pagar por essa humilhação. —
Ela diz e sai batendo a porta em seguida.
Eu me sento no sofá, me sentindo frustrado e espero para conversar com
Castiel, mas os minutos se passam e só então me dou conta de que ele deve ter
saído pela porta dos fundos.
— Droga! — grito com raiva e arremesso a primeira coisa que vejo pela
frente na parede. Vejo os estilhaços de vidro do vaso cair no chão e sinto que
minha vida está exatamente como esse vaso.
Agora será ainda mais difícil fazer com que Castiel confie em mim e não me
veja como um homem qualquer.
Saio pela porta dos fundos sem olhar para trás, e só consigo ver a cena de
Adrian beijando aquela jararaca se repetindo várias vezes na minha cabeça.
para que eu visse que ele é igualzinho a todos. Com certeza queria só me usar e
depois me descartar, exatamente como o filho de uma puta do Alan fez.
Paro de andar e fecho meus olhos, tomando uma respiração profunda em
seguida. Não vou me abalar por causa de alguém como Adrian, tenho prioridades
muito maiores em minha vida e uma delas é meu filho.
Deixo todos os pensamentos que envolvem Adrian de lado e sigo até a casa
da minha avó.
Assim que entro em casa, vejo Evan sentado no tapete, brincando com seus
bichinhos de pelúcia.
Deixo a mamadeira em cima do balcão, que separa a cozinha da sala, e vou
até meu filho, me sentando ao seu lado. Evan me nota e logo sobe em meu colo
com uma vaquinha de pelúcia em suas mãos pequenas.
que sofri com Alan. Depois daquela grande decepção, minha prioridade sempre
foi meu filho. E agora aparece esse homem em minha vida, bagunçando todas as
minhas barreiras. E o pior de tudo é que eu sinto algo... não sei o que, mas sinto.
***
Pego mais uma dose de conhaque e bebo de uma só vez, sentindo o líquido
descer queimando por minha garganta. Olho para o porta-retrato em minha mão,
contendo a foto de Carolina, e me sinto um lixo de pessoa.
Eu achei de verdade que estava conseguindo dar um novo rumo para minha
vida, só que mais uma vez eu estraguei tudo.
— Esse é meu destino, não é? Ficar sozinho? Primero eu fui responsável
por tirar você e nosso filho da minha vida, e agora eu estrago tudo com Castiel.
Pelo menos ainda posso ver meu ruivinho, acho que seria pior se não fosse ele
— falo para a foto, como se realmente tivesse alguém aqui comigo.
Deixo o copo e o porta-retrato sobre a mesinha de centro da sala e me deito
no sofá. Fico um bom tempo remoendo tudo, até que apago ali mesmo.
***
Sinto uma claridade incomoda sobre mim e isso me faz abrir os olhos só
para os fechar em seguida, devido a dor de cabeça que sinto.
— Quem foi a peste que abriu essa cortina? — pergunto em um resmungo.
— Está me chamando de peste, Adrian? — escuto a voz de dona Clarisse e
no mesmo momento abro meus olhos novamente.
— Nunca! Desculpa! — peço e me sento no sofá, colocando minhas mãos
na cabeça.
— Não desculpo, não! Agora vem tomar café. — Ela diz e sai logo em
seguida.
Fecho meus olhos novamente e escuto passos descendo as escadas.
— Bebendo de novo, Adrian? Quando vai parar e perceber que isso só
acaba mais com a sua vida? — escuto a voz decepcionado de Maurício e nem
abro meus olhos para o ver, pois sei que não vou gostar de sua cara de decepção.
— Quando as coisas começarem a dar certo — respondo baixo.
— E por que não estão dando certo? — Ele pergunta e sinto que se
aproxima de mim.
— Se apaixonar é difícil, não é? — respondo ele com outra pergunta, e
dessa vez o olho.
— Você está apaixonado, Adrian? Só não vai me dizer que é pela Débora.
— Ele diz e faz uma cara de nojo que me faz rir.
— Não! É outra pessoa... — falo e ele me olha com curiosidade.
— Quem? Me fala. — Ele pede com um sorriso no rosto. Gosto de ver meu
irmãozinho assim.
— Castiel — respondo e vejo seu sorriso murchar. — O que foi? Não gosta
dele? Achei que fossem amigos.
— Somos... eu acho. Mas não sei se é uma boa ideia gostar dele.
— Por quê?
— Acho que ele e Antônio tem alguma coisa. — Ele diz e vejo sua
expressão um pouco triste.
— Não pode ser! — falo mais para mim mesmo do que para ele.
Será mesmo que Castiel gosta dele? Mas isso não pode ser verdade...
Eu me levanto do sofá e sigo apressado até a cozinha, vendo apenas
Clarisse ali.
— Castiel tem alguma coisa com Antônio? — pergunto sem rodeios, e vejo
ela se virar para me olhar.
— Eu não sei, meu neto é bem reservado quanto aos seus assuntos. — Ela
diz neutra, sem esboçar qualquer reação.
— Mas a senhora deve saber de algo.
— Mas não sei, Adrian. E se tiverem? Antônio é um bom rapaz e meu neto
merece um homem que seja forte para ele. — Ela diz e isso me deixa irritado.
— Eu sou esse homem, não o Antônio!
— É? Então mostre para ele, não é a mim que você deve dizer isso. — Ela
diz calma e volta a fazer suas coisas.
— Ok! — falo e viro as costas para ela.
***
Termino de fazer meu chá e me sento na mesa pra tomar café, aproveitando
que Evan ainda está dormindo.
Assim que tomo o primeiro gole de chá, escuto baterem na porta e solto um
suspiro frustrado. Deixo minha xícara de porcelana sobre à mesa e me levanto da
cadeira, indo atender a porta. Quando abro a mesma, tenho uma pequena surpresa
ao ver Adrian parado, me olhando.
— Precisamos conversar. — Ele diz sério, entrando sem minha permissão.
Quem ele acha que é?
— Ei! Não é porque você é dono da fazenda que pode ir entrando assim na
casa dos outros — falo indignado e fecho a porta. — E nós não temos nada para
conversar, Adrian.
— Olha, tudo o que eu te falei ontem foi e é verdade, eu não tive culpa da
Débora me beijar a força. — Ele diz, me olhando em súplica.
— E um homem de dois metros de altura não consegue impedir uma galinha
de empoleirar nele? Ah, me poupe! — falo com deboche e cruzo meus braços em
meu peito.
— Mais que merda! Eu não a beijei porque eu quis, se quisesse eu faria
isso todos os dias, mas eu não a quero... eu quero você! Qual a parte de que eu
estou apaixonado por você, cê ainda não entendeu? — Ele diz exaltado e cerro
meus olhos em sua direção.
— Evan está dormindo, acho bom que ele não acorde por causa da sua
loucura — alerto.
— É você quem me deixa louco... cabelo de fogo do caramba! — Ele faz
uma pausa, dando um passo para perto de mim. — Você gosta do Antônio, não é?
Por isso não me dá uma chance — diz, e eu acabo rindo. Sim, solto uma
gargalhada.
— Está rindo de que? — Ele pergunta sério, me olhando com indignação.
— Da sua cabeça doida. Quem te falou isso? Eu não gosto do Antônio, ou
melhor, gosto sim... — falo e vejo sua expressão endurecer. — Só que é como
um irmão, Antônio me acolheu desde o dia em que cheguei aqui e se tornou um
grande amigo... então não diga besteiras.
— Então por que não me dá uma chance? Eu posso ser diferente, eu sou
diferente! Juro que não vai se arrepender disso. Eu amo Evan e estou apaixonado
por você... me dá uma chance de fazer vocês felizes, e me fazer feliz também. —
Ele pede e, apesar de tudo, sinto sinceridade em suas palavras.
Continuo olhando para ele e um silêncio pesado recai sobre nós.
— Tudo bem, você quer uma chance? Eu vou te dar essa chance, mas saiba
que vai ser apenas uma... então não me faça se arrepender depois — falo
olhando para ele, que abre um sorriso e se aproxima de mim.
— Eu juro que não vai. — Ele diz ainda sorrindo e seu rosto se aproxima
do meu, mas eu dou um passo para o lado.
— Nada de beijo. Primeiro ganhe minha confiança — falo e me viro de
costas para ele, voltando para cozinha, para tomar meu chá que ficou esquecido.
Observo Adrian se sentar em minha frente na mesa e continuo bebendo meu
chá de mate, pensando se realmente tomei a decisão certa.
— Posso tomar café com você? — Ele pergunta após alguns minutos em
silêncio.
— Claro, mas antes você vai no banheiro lavar essa cara de zumbi e vai
escovar os dentes, pois eu sei que bebeu — falo olhando para ele e pego um pão
Ele logo segue até Evan e o pega em seus braços, o enchendo de beijos,
fazendo meu pequeno rir com vontade.
— Aproveita e troca ele — falo e Adrian me olha assustado.
— Eu não sei fazer isso — diz apavorado e Evan deixa um tapinha em seu
rosto, puxando seus cabelos que batem em seu ombro.
— Aprende! Não quer cuidar dele? — pergunto com uma sobrancelha
levantada e ele assente com a cabeça.
— Hum... tudo bem, mas você tem que me ajudar. — Ele diz me olhando e
minha vontade é rir da cara que ele faz. Um homem desse tamanho com medo de
trocar uma fralda.
Pego as coisas para Adrian e peço para ele colocar Evan no trocador. Ele
faz o que eu falo e vai seguindo minhas instruções para poder colocar uma
fralda. Evan se diverte com tudo e isso me deixa feliz por ver meu filho dessa
forma.
— Acho que consegui — Adrian diz sorrindo e eu solto uma gargalhada.
— Acho que não... a fralda está dos avessos, ogro — falo ainda rindo e
afasto ele um pouco. Tiro a fralda de Evan e a coloco novamente, de forma certa.
— Essa é a forma certa — mostro, olhando para ele.
— Eu estou tentando, ok? Nunca fiz isso na vida. — Ele diz e eu pego Evan
em meus braços.
— Ah, jura? Nem havia percebido — debocho dele, que me olha e solta um
bufo irritado.
— Você me irrita, sabia? Deus me livre! — Ele resmunga e sai do quarto
junto comigo.
— Quer desistir? — pergunto, olhando para ele de relance.
— Jamais, cabelo de fogo — responde e reviro meus olhos.
— Não me chame assim. — Aponto para ele e Evan tenta imitar meu gesto,
o que me faz rir.
— Por que, cabelo de fogo? — Adrian me provoca e eu me seguro para não
dar uma mal resposta a ele.
— Porque eu posso mudar de ideia quanto a minha decisão — respondo e
ele para de andar.
— Mas você não vai fazer isso porque também gosta de mim... só é
orgulhoso demais para admitir.
— Acha mesmo? — pergunto olhando para ele, que assente com a cabeça.
— Hum... fica com ele, vou fazer a mamadeira. — Entrego Evan para ele.
***
em sua testa.
— Tchau, meus amores... não tenham juízo! — Ela diz e isso me deixa
morto de vergonha.
— Vó! — chamo a sua atenção, mas ela nem liga comigo.
Balanço a cabeça em negação e saio de casa junto com Adrian, encontrando
dois lindos cavalos a nossa espera. Um deles tem o pelo preto, que chega até
brilhar, e o outro me faz apaixonar... ele é ruivo!
— Não vai me dizer que aquele é o meu? — pergunto rindo e aponto para o
os dias. Cas é tão novo, mas já tem uma bagagem tão grande que o fez
amadurecer antes do tempo.
— Está feliz? — pergunto a alguns metros de distância dele, que está calmo
em meio a água.
— É... estou. Fazia tempo que não me divertia. — Ele diz e olha para mim
rapidamente.
— Fico feliz em te proporcionar isso então.
Castiel sorri e volta a boiar na água. Não consigo tirar meus olhos dele, e
me sinto grato por ele ter aceitado vir comigo.
Ficamos mais um tempo na água, até que, um pouco cansados, saímos. Pego
duas toalhas que trouxe e entrego uma a ele, que me agradece. Nos sentamos
novamente na toalha xadrez em cima da grama e eu me deito, vendo as copas das
árvores acima de nós.
— Me conta sobre você — peço sem olhar para ele.
— O que quer saber? — Ele pergunta e viro minha cabeça em sua direção.
— Tudo o que quiser me contar — respondo.
— Tudo bem... Aos dezesseis anos conheci um cara, que eu achava ser meu
príncipe encantado, mas só foi um pesadelo. Acabei engravidando na minha
primeira vez e quando fui contar a ele, achando que ele ficaria ao meu lado, ele
simplesmente me mandou abortar a criança e disse que nunca seria filho dele —
Castiel conta e sinto raiva crescer dentro de mim.
— Que babaca! Se eu ver esse cara um dia, pode apostar que vou dar uma
surra nele — falo com raiva.
— Ele merece mesmo, mas não vale a pena — Castiel responde e seu olhar
fica um pouco perdido. — Acho que o pior nem foi o Alan me virar as costas. O
pior de tudo foi que minha mãe me expulsou de casa sem nem pensar duas vezes.
Ela me disse que não criaria filho de ninguém, mas eu nunca pedi isso. Eu só
queria ter o apoio dela, ter alguém que pudesse me ajudar, pois eu não sabia de
nada e tive que aprender tudo sozinho. — Ele diz e posso sentir a dor em suas
palavras.
— E seu pai? — pergunto e me sento novamente, prestando mais atenção
nele.
— Ele saiu de casa quando eu tinha dez anos para viver com uma amante.
Se o vi depois disso, foi umas duas vezes no máximo e eu sei que ele não me
ajudaria. Um pai que abandona um filho pequeno em casa, não iria ajudar esse
mesmo filho com uma criança na barriga — diz com amargura e isso me deixa
indignado. Sei que meus pais, se ainda estivessem vivos, fariam de tudo por mim
e meus irmãos.
— E por que não veio procurar sua avó?
— Não queria trazer problemas a ela, não queria ser um peso para ninguém.
— Ele faz uma pausa. - Mas graças a Deus eu tenho um irmão que não é de
sangue, mas que Deus colocou em meu caminho. Ângelo me ajudou muito durante
a minha gravidez. Na época, tio Giovani ainda era vivo e me acolheu em sua
casa, até que eu comecei a trabalhar e pude alugar um apartamento pequeno para
mim. Não foi nada fácil, perdi as contas de quantas vezes eu chorei sozinho
durante a noite, mas no final valeu a pena. Quando peguei Evan em meus braços
pela primeira vez, tudo valeu a pena para mim, o amor que eu senti e sinto por
ele, supera absolutamente tudo — diz emocionado, mas há um sorriso em seu
rosto. — Depois que Evan nasceu, minha vó começou a me ajudar também,
sempre me mandando dinheiro e indo me visitar quando podia. Acho que se não
fosse por esses três anjos em minha vida, eu estaria sem rumo. Mas eu também
sei que sempre fiz de tudo por meu filho, sempre pensei apenas nele, e eu
consegui criar ele sozinho até hoje... e sei que consigo fazer isso por muitos anos
ainda.
— Não tenho dúvidas de que consiga isso, Castiel, até porque você é forte e
eu vejo isso — falo e me aproximo dele. — Mas ter alguém com quem contar
também ajuda, e eu quero ser esse alguém. Sei que ainda está machucado com
tudo isso, mas eu quero poder curar suas feridas, assim como você está curando
as minhas mesmo sem saber. Eu prometo que vou esperar o tempo que for, mas
não vou desistir de você — digo, olhando para ele, e pego em sua mão, sentindo
seu toque quente. — Eu não sou esse Alan, e vou te provar isso. Quero ser tudo
aquilo que você e Evan vão precisar, quero muito ser alguém com quem você
possa contar. — Castiel olha para mim e nossos olhares ficam fixos um no outro.
— Eu espero que sim, Adrian. Quando vim para cá, eu não tinha a menor
pretensão de gostar de alguém, mas você desperta algo em mim. Eu ainda tenho
medo de tudo, mas espero não me arrepender de te dar essa chance.
— Não vai... eu prometo! — falo baixo e deixo um beijo em sua testa.
O vejo sorrir e em seguida ele me abraça, o que me deixa surpreso, mas
igualmente feliz por seu gesto. O puxo ainda mais para meus braços e o abraço
apertado.
Ficamos assim por alguns minutos, em completo silêncio, até que nos
separamos.
Voltamos a conversar, mas dessa vez sobre outros tipos de assuntos, mais
leves, e devoramos toda a comida feita por dona Clarisse.
— Tenho um convite para te fazer, mas não se ache demais — diz de
repente.
— Oxe! E por que eu faria isso? — pergunto rindo.
— Você é exibido, simples assim. — Ele diz. — Mas então, meu amigo
Ângelo irá fazer aniversário no próximo sábado e se quiser, pode ir comigo.
— Você quer que eu vá? — pergunto, olhando para ele.
— Para mim, tanto faz. — Ele responde e isso me faz revirar os olhos.
Castiel não deixa passar uma, Deus me livre!
— Já que insiste tanto por mim, eu vou — falo para o irritar.
Ele revira os olhos, mas posso ver um sorrisinho brincar em sua boca.
Esse cabelo de fogo ainda me mata.
***
Infelizmente minha avó não vai poder ir, pois está com um problema sério na
coluna e andar de carro por horas não vai ser bom para ela. Então será apenas
Adrian, Evan e eu em uma viagem de cinco horas.
Estando os dois prontos, minutos depois, vamos esperar por Adrian. E ele
não demora para aparecer em minha casa.
ver uma cadeirinha nova para Evan. Coloco meu filho nela e o prendo direitinho,
deixando-o confortável.
Adrian volta dois minutos depois com nossas malas e as coloca na parte de
trás da caminhonete.
— Obrigado pela cadeirinha, ele nem tinha uma — falo, olhando para ele.
— Não precisa agradecer, faço de tudo pelo conforto do ruivinho. — Ele
diz sorrindo, e eu sorrio junto.
Entramos na caminhonete e logo pegamos a estrada para a capital. Observo
Evan a cada cinco minutos, e estamos em um silêncio confortável. Adrian liga o
rádio e o coloca em um volume baixo para não atrapalhar o sono de Evan.
Nossa viagem é um pouco longa e paramos uma vez no caminho quando
Evan acordou e tive que me sentar ao seu lado no banco de trás.
Chegamos um pouco depois das dez da manhã e seguimos diretamente para
a casa em que Ângelo está morando agora. Encontramos alguns seguranças na
entrada, mas logo fomos liberados para entrar, assim como um carro que vinha
bem atrás de nós.
Vejo Ângelo sair para a frente da casa e já sinto meu peito se apertar de
saudades do meu melhor amigo.
Adrian estaciona o carro e eu saio primeiro, deixando que ele pegue Evan.
Praticamente corro até meu amigo e o envolvo em um abraço apertado,
sentindo um pouco da saudade diminuir.
— Aí que saudade, Cas... parece que faz anos desde a última vez em que
nos vimos — Ângelo diz e sorrio.
— Também estava, maninho... morrendo, na verdade — falo e os olhos de
Ângelo vão para algo atrás de mim. Eu me viro um pouco e vejo Adrian se
aproximar com Evan nos braços.
— Aquele ali, por acaso, é seu Shrek? — Ele pergunta com um grande
sorriso no rosto.
— Não é nada meu... ainda — respondo e vejo o olhar de felicidade que
Ângelo me dá.
— Ainda bem que sabe — diz rindo e me puxa novamente para um outro
abraço.
— Cala boca, Angie! Feliz aniversário, maninho, crie juízo e seja um bom
adulto — falo e ele solta uma risada.
— Obrigado! — Angie agradece e me solta.
Ele se afasta de mim e vai até Adrian, que está com Evan em seu colo.
Assim que meu filho vê seu amado padrinho, estende os bracinhos para ser pego.
— Ti' Angi! — Evan diz e Angie falta morrer de fofura.
— Oi, foguinho, sentiu minha falta? — Ele pergunta e começa a distribuir
beijos pelo rosto de Evan.
— Oi, Ângelo, prazer em conhecê-lo — Adrian diz simpático e aperta a
mão de Angie.
— Prazer em o conhecer também, Adrian... Castiel fala muito bem de você
— Angie diz, claramente uma mentira. ‘Tá, às vezes eu falo bem também... às
vezes.
— Imagino o quanto — Adrian responde e me lança um olhar, mas faço
questão de ignorar.
Angie vai receber duas mulheres que chegaram junto com a gente e nós nos
apresentamos também. Em seguida ele nos leva para dentro, para nos mostrar
nossos quartos.
Entramos na casa e vejo Enzo vindo em nossa direção com um sorriso
contido no rosto. E assim que ele nos vê, seu olhar vai diretamente para Adrian
ao meu lado.
— Adrian? — Enzo pergunta em dúvida.
— Enzo? — Adrian devolve.
— Sim, meu Deus... quanto tempo! — Enzo fala e vai até Adrian, lhe dando
um abraço.
— Cara, eu achei que nunca mais te veria novamente — Adrian diz e olho
para eles sem entender.
— Vocês se conhecem? — Angie faz a pergunta que eu queria fazer.
— Sim, nós estudamos juntos na faculdade — Enzo responde sorrindo.
— Ótimo! Vão tirar o atraso nas fofocas... vou levar o resto para os quartos
— Angie diz sorrindo e rapidamente os dois somem por um corredor com meu
filho.
— Ei! Meu filho! — falo alto, mas Adrian nem se vira. Filho de um bom
pai!
— Perdeu, amore — Angie debocha e mostro língua para ele.
Nós subimos para o segundo andar e Angie mostra primeiro o quarto em
que as meninas vão ficar. Assim que as duas estão instaladas, ele me leva até o
quarto ao lado.
— Fique à vontade, a casa é sua.
O quarto é decorado em tons neutros, possui uma cama de casal e Angie fez
questão de colocar um berço ali também.
— Angie, não precisava do berço... só vamos ficar por um dia, amigo —
falo, olhando para ele.
— Mesmo assim, meu afilhado merece conforto. — Ele diz e eu nego com a
cabeça.
— Evan vai ficar tão minado com você e Adrian — falo suspirando e ele
sorri.
— Essa é a intenção. — Ele pisca para mim.
— E onde Adrian vai dormir? — pergunto e ele sorri com malícia.
— Com você, oras, onde mais seria? — Ele pergunta com falsa inocência.
— Você não fez isso, Angie... eu vou matar você! — falo entredentes.
— Ah, não adianta fingir... sei que gostou. — Ele diz rindo e sai do quarto,
fechando a porta em seguida.
Aí que vontade de matar esse garoto!
***
Passo o dia no spa com Angie, as meninas, Maju e Lucio, que adorei
conhecer. Foi bem legal poder me cuidar um pouco, sem ter que ficar de olho em
Evan a todo instante. Claro que não reclamo em ficar com meu filho, amo isso,
mas às vezes é bom ter um tempo só nosso.
Voltamos para a mansão Miller já no fim da tarde.
Entro no quarto de hóspedes e meus olhos se focam na cena em minha
frente. Adrian dorme na cama e tem Evan dormindo em cima dele, com a cabeça
em seu peito.
Não sei porque, mas sinto uma sensação tão boa vendo essa cena, que me
aquece por dentro.
Fecho a porta novamente e deixo eles dormirem em paz. Sigo para o fim do
corredor e bato na porta do quarto de Angie, logo vendo-a se abrir.
— Está sozinho? — pergunto e ele assente, me dando passagem para entrar.
— Sinto que vou enlouquecer — falo, passando por ele.
— Por que? — Ele pergunta e pega em minha mão, nos guiando até à sacada
do quarto.
— Adrian — respondo e me sento em uma das cadeiras ali, vendo o sol
começar a se por.
— Você está apaixonado, isso é inegável. — Ele diz e isso me deixa mais
aflito.
— Eu sei, Angie, e isso que me apavora. Eu dei uma chance a ele para a
gente se conhecer, mas tenho medo desse sentimento ficar maior.
— Tem medo de ama-lo? — pergunta com calma e eu concordo.
— Sim e sei que sou um covarde por isso — respondo, frustrado.
— Não, você não é! Você foi machucado, Cas, é normal sentir medo de se
entregar novamente. Só que você não pode deixar esse medo controlar sua vida.
— Ele diz e pega em minha mão. — É nítido que Adrian faz de tudo por você, se
dê uma chance de verdade, amigo... não deixe o medo dominar você.
— Estou tentando.
— Não está, não. Você está esperando a primeira oportunidade de correr de
tudo e voltar para sua zona de conforto. Quero que tente de verdade, de
coração... pois essa é sua chance de ser feliz. — Ele diz e sei que está dizendo a
verdade, afinal, Ângelo me conhece mais que ninguém.
— Juro que eu vou, Angie — prometo e abraço meu amigo.
***
***
feliz e prometo honrar com isso, mostrando a ele que sou diferente. Vejo em seus
olhos que ele ainda tem medo, mas quero que aos poucos ele confie em mim e me
aceite de verdade. Claro, eu não sou a melhor pessoa do mundo, mas serei o
melhor para ele e Evan, pois os dois são importantes em minha vida, Evan
levanto da cama e sigo até o berço, pegando Evan que deita sua cabeça em meu
ombro.
— Que preguiça, meu Deus — sussurro e deixo um beijo em seus cabelos
ruivos que tanto amo.
— Mama — Evan resmunga e suas mãozinhas puxam meu cabelo, o que é
bem doloroso.
— Isso dói, ruivinho, não pode — falo com a voz baixa e tiro sua mão do
meu cabelo.
Troco a fralda dele como Castiel me ensinou e depois de escovar os dentes
e fazer um coque no cabelo, saio do quarto com as coisas para fazer a mamadeira
de Evan.
A casa está em completo silêncio, mas também ainda é cedo e a festa de
Ângelo terminou bem tarde.
Uma coisa que gostei bastante foi conhecer Ângelo, agora eu entendo
porque meu cabelo de fogo gosta tanto dele. Angie não para de falar e está
sempre alegre, o que eu acho legal em alguém... apesar de não ser assim.
Outra coisa que me deixou feliz foi reencontrar meu amigo Enzo. Conheci
alguma forma muito boa, me deixa feliz. Mesmo sabendo que Evan não é meu
filho de sangue, eu não tenho coragem de desmentir o que ela diz... até porque, eu
sinto como se Evan fosse realmente uma parte mim, meu filho.
— Obrigado! — agradeço novamente, com um sorriso grande em meu rosto.
— De nada! Eu já vou pôr a mesa, se quiser pode ir comer. — Ela diz e sai
da cozinha.
Espero Evan terminar e quando ele o faz, o coloco no chão e lavo sua
mamadeira.
— Olha quem eu acho perdido — escuto uma voz masculina e quando me
viro, vejo Enzo com um Evan agarrado a sua perna.
— Enzi! Peda! — Evan estende os braços e Enzo faz o que ele pede.
Deixando um beijo em sua bochecha.
— Esse ruivinho ama um colo, Deus me livre — falo rindo e me aproximo
dos dois.
— E você nem gosta, né? Dá para ver que ama o exibir com você — Enzo
diz — Fiquei surpreso por ser você o Shrek de Castiel.
– Ah, então é assim que ele me chama? Bem que ele disse isso uma vez,
mas achei que era só naquele dia – falo, achando graça.
— Ângelo me contou apenas esse apelido carinhoso mesmo. Mas pensa
pelo lado bom... ele é sua Fiona, não? — pergunta rindo e eu vou junto.
— Pelo menos isso. Mas admito que gostei, Castiel é bem criativo — falo e
Enzo me olha com mais atenção.
— Gosta dele, não? — Ele pergunta mais sério agora.
— Muito! Eu achei que depois da Carolina, não iria mais me apaixonar por
ninguém, mas me enganei. Castiel mudou minha vida desde o momento em que
pisou os pés na fazenda — falo sincero.
— Então não o deixe escapar, meu amigo. Sei o quanto ele já sofreu, Castiel
precisa conhecer o amor de verdade... mostre isso a ele, igual Ângelo fez
comigo.
— Farei isso, quero amar Castiel e quero que ele me ame também —
respondo.
***
Abro a porta de casa e não encontro minha avó em nenhum lugar que eu
possa ver, então sigo diretamente para meu quarto. Deixo a bolsa de Evan em
cima da cômoda e deito seu corpo pequeno em minha cama, colocando alguns
travesseiros a sua volta.
Vejo Adrian entrar poucos segundos depois e deixar nossas malas em um
cantinho perto da porta.
— Posso dar um beijo nele, para que eu possa ir? — Ele pergunta acanhado
isso tão fofo e fico feliz que meu filho tenha mais alguém que se importe tanto
com ele, como Adrian o faz.
— Eu já vou indo, nos vemos amanhã? — Adrian pergunta quando se
aproxima de mim.
— Claro, Shrek — sorrio e vejo ele cerrar os olhos em minha direção.
— Por que me chama assim? Já sei que não é de hoje. — Ele diz e se
aproxima ainda mais de mim, passando seus braços ao redor da minha cintura.
— Ah... sabe como é, né? Você é um ogro, mas um ogro do bem... igualzinho
ao Shrek — explico e nossos rostos ficam ainda mais próximos.
— Eu sei como é... você também é um príncipe, mas às vezes se transforma
em um ogro. Igualzinho a Fiona. — Ele diz rindo e quando nossas bocas estão a
um centímetro uma da outra, ele me solta, quase me fazendo cair.
— Seu idiota! — soco seu braço, mas ele continua rindo.
— Queria me beijar, é? Calma que eu deixo. — Ele diz e se aproxima de
mim, mas eu desvio.
— Nunca quero beijar você, é você quem sempre me agarra. Agora vai
logo embora, quero dormir. — Tento empurrar ele para fora, mas é quase
impossível fazer isso com essa muralha de músculos na minha frente.
— Nossa, isso é porque é apaixonado por mim, hein? Imagina se não fosse.
— Ele ri ainda mais, sem se mover um centímetro.
— Cala boca, seu cowboy sem graça... agora vai! — aponto para a porta e
ele me olha com uma sobrancelha arqueada.
— Eu vou, mas antes quero uma coisa — fala sorrindo e é minha vez de
arquear uma sobrancelha para ele.
— O quê? — pergunto.
— Isso — Adrian me puxa para perto dele, me roubando um beijo ao qual
eu também retribuo, mas logo o empurro para longe.
— Pronto, agora eu vou! Tchau, cabelo de fogo! — Ele pisca um olho para
mim e sai logo em seguida.
Coloco minha mão em cima do meu peito e posso sentir meu coração
acelerado.
— Que merda esse ogro fez comigo? — pergunto a mim mesmo e solto um
suspiro.
***
— Adrian pediu para avisar que teve que ir em uma cidade vizinha negociar
com alguns compradores. — Ele fala sem me olhar e acho isso estranho. Na
verdade, ele está estranho comigo há dias.
— Tudo bem — falo e ele começa a sair. — Maurício? — chamo ele, que
se vira e me olha novamente.
— Sim?
— O que aconteceu? Eu te fiz alguma coisa, porque está me ignorando há
dias? — pergunto e me levanto.
— Você tem alguma coisa com o Antônio? — Ele pergunta direto e fico
estático. “De novo isso, Deus? O que esses irmãos tomam na água?”
— Por que essa pergunta? — Encaro ele, que está sério e aperta as mãos
com força.
— Só me responde, caramba! Vocês têm alguma coisa, não tem? Sempre
vejo os dois juntos, conversando, se abraçando. — Ele fala exaltado e só então
começo a entender as coisas.
Eu saio da minha mesa e me aproximo dele.
— Você gosta do Antônio, é isso? — pergunto, mas ele me dá o silêncio em
troca.
— Mau, eu não tenho nada com Antônio a não ser uma bela amizade. Ele é
como um irmão para mim e também não me vê com outros olhos. E se eu
soubesse que era esse o motivo de ter se afastado de mim, eu já teria te contado
há muito tempo — falo e pego em suas mãos. — Seu irmão não falou sobre nós?
— pergunto e ele balança a cabeça em negação.
— Tem alguma coisa a dizer? — Ele pergunta e me olha.
— Resolvi dar uma chance a Adrian, juro que não queria me apaixonar, mas
foi mais forte que eu. Então saiba que eu não estou com Antônio e se você gosta
dele, mostre a ele, não se esconda — falo e ele nega.
— Ele nunca sequer olhou pra mim. Talvez até goste de mulheres, não sei.
— Ele fala e uma lágrima desce por seu rosto.
— Você não vai saber se não tentar — falo sorrindo e puxo meu amigo para
um abraço. — Você é meu amigo, Mau, não quero que se afaste de mim sem antes
saber o que está acontecendo de verdade.
— Me desculpa, fiquei cego pelo ciúmes. — Ele diz e se afasta. — Mas
fico feliz por você e meu irmão, ele merece alguém como você. — Ele sorri para
mim em seguida deixa a sala.
— É... eu também mereço alguém como ele — falo comigo mesmo e olho
para meu filho se divertindo no chão. — Nós merecemos.
O dia se passou bem devagar sem ter Adrian aqui, para que eu pudesse
implicar com ele. Confesso que é uma das coisas que mais gosto... pegar no pé
cedo junto com Evan, então só estamos Maurício e eu aqui, mas ele nem conta
muito, já que passou o dia no quarto.
Saio da casa e encosto a porta atrás de mim, seguindo para a casa da minha
avó. No caminho acabo encontrando Antônio e, aproveitando a oportunidade,
resolvo sondar o ambiente para meu amigo Maurício.
— E então, Tony... já se resolveu com aquela pessoa que você falou esses
dias? — pergunto, olhando de relance para ele e vejo sua expressão murchar.
— Já te disse que nós não daríamos certo, somos de mundos diferentes. —
Ele diz e arqueio uma sobrancelha. Odeio ver pessoas tão boas se
menosprezando.
— O que quer dizer com isso? — pergunto, não deixando minha indignação
transparecer.
— Ele é rico, Cas... lindo e cheio de vida, não deve nem pensar em um
peão pobre igual a mim. Além do mais, ele merece bem mais que um cara que
não sabe se comportar no meio de pessoas do meio dele, e... eu nem sei ler e
escrever. O que alguém vai querer comigo? Um analfabeto? — Ele pergunta com
tristeza na voz e me sinto mal por meu amigo.
Paro de andar e pego na mão de Antônio, fazendo ele olhar para mim.
— Primeiro... ser analfabeto não é vergonha, Antônio, você deve ter tido
seus motivos para tal coisa. Segundo, não pense que você é menos que alguém
apenas por causa da sua conta bancária. E terceiro, jamais se rebaixe dessa
maneira. Você é um homem maravilhoso, qualquer pessoa que seja ao menos
inteligente se apaixonaria por você. Pode ter certeza que se fosse o caso, já
estaria caidinho aos seus pés — falo, rindo na última parte, e ele me acompanha,
o que me deixa um pouco aliviado.
— Obrigado, Cas! Você é o melhor amigo que alguém pode ter. — Ele diz e
isso faz meu ego crescer um pouquinho.
— É... Eu sei! — falo rindo. — Mas agora, me dá um abraço — sorrio e me
aproximo dele, o abraçando com força. — Você é especial, Antônio, e a pessoa
que tem seu coração é bem sortuda. Aliás, quero saber quem é.
Vejo ele ficar um pouco vermelho e percebo que está ponderando se me
conta ou não quem é.
— Ok, mas você tem que me prometer não dizer a ele — Antônio fala e
vejo que está morrendo de vergonha.
— Calma! Eu conheço? — pergunto sorrindo e ele assente. — Então
desembucha, homem!
— É o... — Ele começa, mas sua fala é interrompida.
— Atrapalho alguma coisa? — escuto a voz inconfundível de Adrian e
quando me viro para trás, vejo ele nos olhando com uma expressão séria em seu
rosto.
— Ah, oi! — falo para ele, mas não estou gostando de como ele está me
olhando.
— Senhor D'Ávila — Antônio o cumprimenta e Adrian apenas o olha sem
esboçar qualquer reação, o que me irrita. — Bem... eu já vou indo. — Ele diz
sem jeito e começa a se afastar.
— Ei! Você ainda tem que me dizer quem é a pessoa — falo e me viro para
Antônio, me esquecendo por um instante de Adrian atrás de mim.
— Depois eu te falo... tchau, Cas! Manda um beijo pro Evan. — Ele sorri
pequeno e se vira, seguindo seu caminho.
Fico olhando-o se afastar e quando Antônio some do meu campo de visão,
me viro para Adrian novamente.
— Pode me dizer o porquê de ter tratado Antônio dessa maneira tão hostil?
Seus pais não te deram educação? Ou você gosta mesmo de ser esse cavalo que
sai distribuindo coices? — pergunto com indignação e cruzo meus braços.
— Está tão incomodado pelo modo como eu trato seu amiguinho? Ou ele
deve ser algo a mais? — Ele pergunta e eu não acredito no que meus ouvidos
escutam.
— Como é? — pergunto incrédulo e sinto a raiva crescer dentro de mim.
— Eu chego aqui louco pra ver você e te encontro quase agarrado com
Antônio. — Ele diz sério, como se tivesse algum direito sobre mim e com quem
eu falo.
Solto uma risada sem humor e encaro ele o mais sério possível.
— Eu não sou sua propriedade, Adrian, e não serei nunca. Eu posso falar
com quem eu quiser e você não tem direito de ficar puto com o modo que trato
meus amigos. Sim, Antônio é meu amigo! Se você não sabe a cumplicidade que
traz essa palavra, eu sinto muito por você — falo e dou alguns passos para trás.
— Eu achei que estava fazendo o certo quando te dei uma chance, mas parece
que você não sabe o que isso significa de verdade. Eu já sofri demais para que
eu entre em um relacionamento em que a pessoa não sabe respeitar a outra... eu
não nasci para isso — solto um suspiro e tento manter minha voz firme para as
próximas palavras. — Enquanto você não souber o que significa ter respeito
pelas pessoas, fique bem longe de mim. Eu não sou e nunca serei submisso a
ninguém. — Termino de dizer e viro minhas costas para ele, seguindo para casa.
— Castiel! — Ouço ele me chamar uma vez, mas não me viro para o olhar e
nem espero para que ele se aproxime.
Sinto um peso em meu peito, mas eu não poderia ser diferente. Eu entendo o
ciúmes, acho até bom de uma forma saudável, mas não quando ele ultrapassa
esse limite e machuca as pessoas.
Adrian quis dizer o que? Que eu estava com outra pessoa quando ele não
estava por perto? Que eu sou um qualquer que fica com várias pessoas ao mesmo
tempo, sem me importar para os sentimentos?
Eu posso estar apaixonado por ele, posso sentir uma dor em meu peito por
causa de tudo, mas jamais serei conivente com essas atitudes.
Sinto uma lágrima escorrer por meu rosto e tento a limpar rápido, mas
acaba vindo mais outras para a fazer companhia. Quando chego em casa, sigo
direto para meu quarto, me deitando na cama, deixando que o choro saia
livremente.
Era para ele ser diferente, não?
Escuto passos se aproximando e isso me faz sentar na cama rapidamente e
secar meu rosto. E não demora muito para que eu veja minha avó entrar em meu
quarto, trazendo um Evan sonolento em seu colo.
Ela me olha por um tempo quando nota meus olhos vermelhos, mas não falo
nada e me aproximo dela, pegando meu filho em meus braços.
— Papa! — Ele resmunga manhoso e sua cabeça se deita em meu ombro.
— Estou aqui, meu pequeno anjo — sussurro e balanço meu corpo,
passando minha mão livre por suas costas pequenas, vendo seus olhinhos se
fechar.
O quarto fica em completo silêncio enquanto nino Evan e quando vejo que
ele já está em um sono mais profundo, o deito em minha cama, fazendo uma
barreira de travesseiros ao seu redor.
Eu me deito na cama ao lado dele e solto um suspiro ao constatar que minha
avó ainda está ali ao meu lado, me olhando com atenção.
— Vai me contar o que aconteceu? — Ela pergunta após mais alguns
minutos de completo silêncio entre nós.
— Briguei com Adrian... na verdade, pedi para ele se afastar de mim
enquanto não refletir seus atos — falo e sinto aquela dorzinha no peito ao me
lembrar de tudo.
— E o que ele fez? — Ela me questiona com calma e eu continuo com meus
olhos presos em meu filho.
— Teve uma crise de ciúmes quando me viu conversando com Antônio.
Provavelmente ele nos viu se abraçando e sua mente já criou várias situações
que não são reais — respondo cansado.
— Você não gostou de ele ter ciúmes? — pergunta e desvio meus olhos para
ela.
***
Vejo Castiel sumir a minha frente e só então me dou conta da burrada que
acabei de fazer.
— Porra! — exclamo com raiva e me sento no chão, nem me importando se
só há terra e grama abaixo de mim.
Por que eu sempre tenho que estragar tudo? Por que não consigo controlar
meus impulsos?
Droga! Quando eu vi Antônio abraçando Castiel, eu só pude sentir raiva e o
ciúmes me dominou completamente. E naquele momento eu tive medo de estar
perdendo-o. Mas percebi da pior maneira que só estou perdendo-o por causa das
minhas atitudes nada a ver.
Era para eu mostrar a ele que sou diferente, mas infelizmente estou fazendo
tudo de modo errado.
Solto um suspiro e soco o chão com raiva. Me levanto após alguns minutos
e resolvo ir para casa, não vai adiantar eu ir falar com ele agora. Conhecendo
Castiel um pouco, sei que ele deve estar com muita raiva no momento e isso só
vai piorar tudo.
Volto para casa e no caminho vou pensando em alguma forma de consertar
meu erro e fazer com que Castiel não desista de mim.
Assim que entro em casa, vejo as várias garrafas de bebidas no bar no canto
da sala e a vontade de beber é grande, mas sei que isso só vai piorar tudo no
momento. Respirando fundo, passo direto pela sala e subo às escadas para meu
quarto, querendo apenas dormir e no dia seguinte poder ter a chance de fazer
tudo diferente.
Os dias desde que briguei com Adrian se arrastaram completamente de uma
forma lenta e incomoda. Pois é, já se passaram alguns dias... cinco, mais
precisamente. A única vez que Adrian falou comigo depois do episódio, foi para
me avisar que estava novamente indo viajar a negócios. Eu deveria ir com ele,
como ele já havia me explicado, mas acho que devido ao clima, ele pensou
melhor.
Não posso dizer que essa situação toda não me causa uma dor no peito, pois
causa sim, mas eu não podia ter tomado uma atitude diferente da qual tomei. Eu
sou assim, esse é meu jeito, meus ideais, e não posso mudar a minha forma de
ver o mundo.
Eu me levanto da cama em pleno sábado de manhã, não querendo de fato
fazer isso, mas preciso. Solto um bocejo e me sento na cama, coçando meus
olhos em seguida. Minha visão entra em foco poucos segundos depois, assim
como minha audição, e é então que escuto os gritinhos animados de Evan. Sorrio
com isso e me levanto da cama. Pego minha bermuda em cima da cômoda e a
visto em seguida, já que estava apenas de cueca e uma camiseta grande.
Saio do quarto e vou até o banheiro, logo fazendo minha higiene matinal.
Sigo para a sala quando termino e já posso ver meu filho sentado no chão,
— Já estou indo, projeto de gente — falo ainda rindo e caminho até ele, me
sentando ao seu lado.
Pego alguns blocos de montar e começo a fazer algumas figuras
geométricas. Evan logo larga o boneco que estava brincando e se coloca de pé,
se jogando em cima de mim e passa seus bracinhos por meu pescoço.
— Meu Deus, que abraço mais gostoso! — sorrio e deixo as coisas em
minha mão caírem no chão, para que eu abrace meu filho com o mesmo amor.
Evan solta uma risada gostosa e deixa um beijo todo babado em minha
bochecha, o beijo mais gostoso desse mundo. Mas logo sua energia parece sumir
e vejo ele ficar um pouco tristinho.
— Ei, meu anjo! O que foi? O papai está aqui — falo baixinho e acaricio
seu rostinho.
— Ad boy — Ele diz sem muita animação, como se respondesse minha
pergunta.
— Você está com saudades dele, né? O papai também está — falo baixo e
beijo seus cabelos.
Começo a cantar uma música baixinho e Evan deita sua cabeça em meu
peito. Percebo aos poucos seus olhinhos se fechar e deixo mais um beijo em meu
filho quando a música termina.
Fico alguns minutos ali, sentado no chão com ele, até me levantar e levar
ele para seu quarto. Sei o quanto Evan é apegado à Adrian, então é claro que
vejo que ele está com saudades do Shrek... assim como eu também estou.
Deixo Evan em seu berço e saio do quarto dele, levando a babá eletrônica
comigo.
Assim que entro na cozinha, vejo minha avó sentada, bebendo uma xícara se
chá.
— Bom dia, vó — falo e me sento à mesa.
— Bom dia, querido! Como está? — pergunta e dou um sorriso pequeno a
ela.
— Bem, só estou preocupado com Evan. A senhora sabe o quanto ele é
apegado ao Adrian e nem sei quando ele chega dessa viagem. Era para ter sido
ontem, mas não sei o que aconteceu — falo e não posso mentir que estou um
pouco preocupado com esse fato.
— Logo ele está de volta, não se preocupe.
— Não estou preocupado — respondo e corto um pedaço do pão caseiro
quentinho.
— Até parece! Não nasci ontem, meu amor... já faz uns bons anos que estou
nessa terra. — Ela fala rindo e reviro meus olhos.
Entramos em um silêncio confortável enquanto comíamos. Terminamos
nosso café pouco tempo depois e lavei a louça. Aproveitei que não estava
fazendo nada e fiquei conversando através de mensagens com Ângelo, que está
ficando meio doido com todos os preparativos para o casamento dele.
Quando se aproximou do meio dia, fiz o almoço para dar um descanso a
minha avó e não demorou muito para Evan estar desperto novamente.
Depois do almoço, peguei Evan e me sentei com ele na pequena varanda,
vendo a imensidão verde ao nosso redor. De longe pude ver alguns outros
funcionários da fazenda cuidando do gado, que é a principal fonte de renda dessa
fazenda.
Estava tão distraído conversando com Evan em meu colo, que nem notei
alguém se aproximando de nós.
— Podemos conversar? — escuto a voz grave, que me traz arrepios, e
quando levanto minha cabeça, vejo Adrian parado no último degrau da pequena
escada que dá acesso para a varanda.
Fico olhando para ele por algum tempo em silêncio, ainda processando vê-
lo na minha frente, até que sou interrompido por Evan.
— Adi! — Ele exclama feliz e estende os braços na direção de Adrian, em
um pedido para ir pros braços dele.
Adrian me olha, como se pedisse permissão e eu concordo com um aceno. E
ele não perde tempo, logo vindo até nós e pegando um Evan muito feliz em seus
braços.
— Oi, ruivinho! Estava com saudade de mim? — Ele pergunta com um
sorriso direcionado para Evan, que me aquece por dentro.
Apesar de qualquer coisa, eu vejo o amor entre os dois... vejo o amor que
Adrian tem por meu filho. É nítido ver que ele o considera como se fosse seu e
isso me traz uma sensação estranha, mas ao mesmo tempo muito boa.
— E então, podemos? — Adrian volta a me perguntar.
— Claro — respondo, pois eu quero mesmo falar com ele.
— Podemos dar uma volta? — Ele me olha e a intensidade do seu olhar
sobre mim me causa arrepios.
— Tudo bem — concordo e espero ele ir primeiro.
Caminho em silêncio ao lado de Adrian enquanto ele ainda tem Evan em
seus braços, babando em sua bochecha e exclamando algumas coisas sem o
menor sentido às vezes.
Presto atenção na paisagem que vai se seguindo enquanto andamos, até que
poucos minutos depois chegamos em um lugar que eu ainda não havia ido na
fazenda antes... o campo de rosas brancas.
— Do tempo em que estou aqui, acho que esse é o único lugar que nunca
tinha visto de perto — falo de repente, olhando para a imensidão de rosas que se
estende por metros e mais metros.
— Lindo, não? Meu pai Victor mandou plantar para meu pai Felipe. Ele
fazia de tudo por ele, até plantar rosas que ele não achava muita graça — Adrian
fala e solta uma risada baixa.
— Parece que eles tiveram uma história linda de amor — falo, para não
ficar um clima estranho entre nós. E eu de fato me interesso pela história deles,
me instiga.
— Uma história além da vida, creio eu. Sempre achei lindo os dois e daria
tudo o que eu tenho para ter eles comigo novamente. Eles se foram muito cedo na
minha opinião, mereciam viver muitos anos ainda. — Ele conta e sinto a tristeza
em sua voz.
— Eu sinto muito! Pelo que vejo, eles eram pessoas maravilhosas — falo e
sorrio verdadeiramente para ele.
O silêncio volta a reinar entre nós, só sendo interrompido pelas falas
desconexas de Evan.
— Eu quero te pedir perdão — Adrian começa após algum tempo e isso me
faz olhar para ele. — Me arrependi no instante seguinte e vi que te magoei, assim
como não fui justo com Antônio, eu só fui irracional. Porque sim, eu morro de
medo de perder você e Evan... morro de medo de não ter mais os dois na minha
vida.
— Você só vai me perder por suas atitudes, Adrian, não o contrário. Eu me
apaixonei por você, não por Antônio ou qualquer outro homem — falo sem medir
minhas palavras, pois essa é a verdade.
— Eu sei! — Ele fala e deixa Evan ir para o chão. — Pude pensar bastante
nesses dias e refleti sobre minhas atitudes que foram erradas. Eu sinto ciúmes de
você, mas sei que aquilo não foi uma forma saudável de expressar. E me sinto um
idiota por isso, mas peço que não desista de mim.
— Quando te dei uma chance, foi para que você me mostrasse que é
diferente, Adrian, mas infelizmente algumas atitudes suas me fazem pensar o
contrário. Fazer eu me apaixonar por você foi fácil, mas eu quero, eu preciso
saber, se posso mesmo confiar em você. Se posso me entregar de corpo e alma a
alguém novamente. Uma pessoa que vai me compreender, ser meu amigo, me
amar, e, principalmente, vai me apoiar e não me fará ser submisso as suas
vontades. Eu ter amizade com outros homens, não significa que os quero para
algo a mais. É somente isso, Adrian... amizade — falo, olhando profundamente
em seus olhos.
— Eu juro de verdade que vou mudar, eu estou aos poucos aprendendo com
você e deixando meu jeito bronco de lado, mas não se muda do dia para a noite.
Eu preciso de você ao meu lado, me ajudando e me dando puxões de orelha
quando eu errar novamente. — Ele diz e acabo sorrindo com o que ele diz por
último.
— Não quero que mude seu jeito, Adrian, jamais, pois foi por ele que me
apaixonei. Mas sim suas atitudes retrógradas, apenas isso — respondo sincero.
— Eu vou. — Ele diz e sinto confiança em suas palavras.
— Fico feliz — sorrio e vou até Evan, o pegando em meus braços, já que
ele estava se aproximando muito das rosas cheias de espinhos.
— Ganho um abraço pelo menos? — Adrian pergunta quando me aproximo
dele novamente.
— Sim — sorrio e ele logo vem até mim, me abraçando apertando, tendo
Evan no nosso meio.
— Eu realmente quero ficar com você, Adrian... não me decepciona, por
favor! — peço quando ele se afasta minimamente de mim e encosta sua testa na
minha.
— Eu prometo. — Ele responde e em seguida junta seus lábios nos meus em
um beijo calmo e lento... que é prontamente interrompido por Evan batendo em
nossos rostos.
— Acho que temos um ciumento aqui — Adrian fala rindo quando se afasta
e Evan está com um biquinho em seus pequenos lábios.
— Agora resta saber de quem ele tem ciúmes — falo, entrando na
brincadeira.
Nós rimos e eu me aconchego aos braços de Adrian, tendo ele abraçando
Evan e eu com carinho e amor.
Poder estar numa boa com Castiel novamente me deixa aliviado. Eu sei que
errei com ele e não quero cometer esse deslize de novo. Eu sou bem possessivo
e ciumento sim, mas sei que tenho que aprender a controlar esse lado meu. Mas o
que mais me importa no momento é estar com ele e Evan em meus braços. Eu
sinceramente não sei mais viver sem esses dois na minha vida. Eles se tornaram
tudo para mim em tão pouco tempo, que eu ainda me assusto com a intensidade
desses sentimentos. Eu não tenho dúvidas de que amo Evan como meu filho e
estou começando a amar Castiel também como homem... meu homem.
Eu só estive apaixonado dessa forma uma única vez, que foi por Carolina. E
depois de tudo eu não imaginava sentir isso novamente por alguém, ainda mais
por Castiel. Esse cabelo de fogo que me tira do sério, mas que também me faz
sentir coisas únicas. Quando percebi minha atração por ele, o meu interesse, eu
fiquei relutante no começo, afinal de contas eu nunca havia me envolvido com
outro homem e também ainda havia uma escuridão dentro de mim. Mas eu
percebi uma coisa... quando é algo de verdade, algo que vai te fazer bem, não
importa mais nada a não ser o sentimento que envolve você e essa pessoa. E eu
me sinto feliz por ter aceitado e corrido atrás dele, pois tudo só melhorou depois
que Castiel e meu ruivinho entraram em minha vida. Agora eu posso dizer que
comecei a ser o Adrian de antes, bem, não exatamente, mas quem sabe eu chego
lá?
— O que tanto pensa? — Castiel pergunta e isso me faz sair do meu mundo
imaginário.
— Ah, nada demais. Só estou feliz por estarmos bem novamente — sorrio e
deixo um beijo em seus cabelos cor de fogo.
— Também estou. — Ele diz e vejo um sorriso pequeno em seu rosto.
— O que acha de irmos naquela cachoeira que te levei? Acho que Evan vai
amar tomar banho — sugiro e acaricio os cabelos do ruivinho, que está muito
concentrado em puxar a camiseta de Castiel.
— Mas é longe e não acho seguro nós irmos montados em um cavalo com
Evan. — Ele responde.
— Podemos ir de caminhonete, cabelo de fogo — falo e ele revira os olhos.
— Por que insiste com esse apelido? — Ele pergunta, tentando fingir
irritação.
— Por que insiste em fingir que não gosta? — rebato e ele cerra os olhos
para mim.
— Adi... boy! — Evan nos interrompe, querendo vir para o meu colo e eu o
pego sem reclamar.
— Ei, seu traíra! Está preferindo o colo dele ao meu? — Castiel pergunta,
fingindo indignação para Evan, que apenas solta uma gargalhada e gruda suas
pequenas mãos em meu chapéu, logo o tirando da minha cabeça.
— Fazer o que, né? Ele ama o cowboy aqui — falo convencido e Castiel
me olha com desdém.
— Humm... Eu vou pegar uma troca de roupa para ele, te espero em cinco
minutos na casa da minha avó. Se demorar, eu desisto. — Ele diz e se vira, indo
em direção à casa. E não sei porque, mas tenho a impressão de que ele vai
rebolando só para me provocar.
— Seu pai ainda vai me matar, pequeno ruivo — falo e olho para Evan, que
está alheio ao meu drama. — E eu amo você — sorrio e coloco o chapéu na
cabeça dele, que fica enorme e faz ele rir de alegria.
— Ama! Adi! — Ele diz empolgado e isso me faz sorrir de imediato,
sentindo meu coração explodir de amor por esse pequeno ser.
— Você me ama também, é? Papai fica feliz em ouvir isso — falo e
sussurro a última parte.
Evan apenas sorri e deixa um beijo babado em minha bochecha, o beijo
mais gostoso desse mundo. Deixo esse momento fofo de lado e vou até em casa
pegar minha caminhonete, antes que Castiel desista mesmo de ir a cachoeira.
Aquele ruivo é fogo... literalmente.
***
Meia hora depois já estamos na cachoeira com um Evan eufórico por ver
***
Vejo Adrian ainda abraçado com Evan e só posso sentir alegria. No começo
eu sentia muito medo dessa relação entre os dois, mas hoje eu vejo que era
besteira. Esse Shrek ama meu filho, independentemente de qualquer coisa. E sei
que, mesmo nós dois não dando certo juntos, ele não irá o abandonar. Aliás, foi
por Evan que Adrian se apaixonou primeiro e eu só vim depois disso tudo. Então
só posso me sentir grato por ele ver meu filho como dele também. Sei que Evan
precisa de outra presença paterna em sua vida e também sei que Adrian já é um
pai maravilhoso para ele.
— Também quero abraço — falo após um tempo e me junto aos dois, sendo
abraçado por Adrian e ganho um beijo babado em seguida.
Ficamos assim por um tempo, até que Evan se irrita pelo aperto e quer
brincar novamente. Isso me faz rir, já que ele nos proporciona um momento fofo
e depois nos abandona.
Olho para Adrian, que ainda está sentado ao meu lado, e pego em sua mão,
entrelaçando-a na minha. Vejo que ele ainda está com o rosto molhado pelas
projeto de gente? — falo sorrindo e pego ele, fazendo seu pequeno corpo ficar
suspenso sobre mim.
— Mama! — Evan repete e eu mordo sua barriga, fazendo ele gargalhar.
— Ok! Não precisa se estressar, já vou fazer seu mama — falo
dramaticamente e ele ri de mim.
Chego à cozinha e não encontro minha avó ali. Coloco Evan em seu
cadeirão e começo a preparar o leite dele. Assim que termino, deixo ele pegar a
mamadeira com suas pequenas mãos e vejo ele se esbaldar com seu leite. Sorrio
com isso e começo a preparar uma salada de frutas para mim. Eu me sento ao
lado do meu filho e começo a comer, mas compartilho um pouco de frutas com
ele, que me olha com seus olhos pidões.
Meia hora depois, vejo minha avó passar pela porta da cozinha com uma
— Não disse nada demais. — Ela diz cínica. — Mas, mudando de assunto...
como você está com essa história de Evan chamar Adrian de pai também?
— Ah, eu estou feliz... de verdade. Confesso que antes, eu tinha medo da
aproximação deles e do sentimento que Evan já desenvolvia por ele. Mas agora
eu sei que mesmo se nós dois não dermos certo, Adrian vai continuar amando o
Evan. Eu não queria que Adrian assumisse uma responsabilidade que não era sua
por direito, mas eu sei que isso para ele também é importante. E é bom saber que
Evan tem outra pessoa além de mim que o ame e faça de tudo pelo seu bem estar
— respondo e minha avó se aproxima, pegando em minha mão livre, que não está
segurando Evan.
— Eu fico feliz que tenha entendido isso, meu amor. Pois eu vejo que
Adrian é o pai que Evan merece, assim como um companheiro que você também
merece. Tenho certeza que Evan sentirá muito orgulho de vocês no futuro,
principalmente de Adrian, que o acolheu e o amou, mesmo não tendo nenhum
laço de sangue com ele. Mas você sabe que o sangue não importa, pai é quem
cria e família é aquela que te ama acima de tudo. — Ela fala e eu sinto meus
olhos arderem. Afinal de contas, eu sei muito bem que às vezes o nosso sangue
não significa nada.
— Eu sei, vó... é por isso que hoje eu posso me sentir feliz com tudo isso.
Eu nunca tive um pai de verdade, ele me abandonou em todos os momentos. E
quem representou mais esse papel foi o tio Giovani, que não tinha obrigação
alguma, mas me acolheu também — falo com a voz embargada.
— Você sempre terá a mim, meu anjo. E você já está construindo uma nova
família. — Ela diz com doçura e beija minha mão.
Sorrio para ela e abraço meu filho em meu colo, sentindo uma lágrima
descer por meu rosto.
É doloroso pensar na minha família às vezes. Uma mãe que me abandonou
quando mais precisei e nunca me deu o verdadeiro amor, uma irmã que nunca foi
minha amiga e era como se não tivéssemos nenhum laço de irmandade. E um pai
que me deixou ainda pequeno e nunca mais voltou, assim como também me virou
as costas quando o pedi ajuda uma única vez.
Mas, pelo menos, eu também tive pessoas maravilhosas em minha vida.
Minha avó me acolheu desde o princípio, meu melhor amigo/irmão esteve
sempre ao meu lado, me ajudando e dando apoio. E quando tio Giovani ainda era
vivo, ele fez muito mais que meus próprios pais por mim e meu filho.
E agora eu tenho novas pessoas em minha vida, tenho um homem que estou
apaixonado e que também gosta de mim, amigos verdadeiros e a chance de
recomeçar. Talvez minha avó esteja certa e eu esteja mesmo começando uma
nova família para se juntar a que eu já ganhei nesses anos.
***
Angie manda a última mensagem e isso me deixa intrigado, mas não tenho
tempo de responder quando vejo um gigante passando pela porta aberta.
— Posso entrar? — Adrian pergunta sorrindo e vejo Maurício bem atrás do
irmão.
— Já entrou — falo para implicar e ele revira os olhos para mim.
— Nossa... que recepção. — Ele fala e termina de adentrar na sala.
— A melhor para o meu amor — falo com ironia e ele solta uma risada.
— Me sinto lisonjeado — Adrian debocha e se aproxima mais de mim.
Eu me levanto do sofá e fico a centímetros dele, o olhando em desafio. Não
demora muito e Adrian me puxa pela cintura, fazendo nossas bocas ficarem
quase grudadas.
— A propósito, amei o vídeo do nosso filho. — Ele diz, me embriagando
com seu hálito de menta e logo depois nossas bocas estão coladas uma na outra.
Eu me deixo levar por seu toque e me agarro mais a ele, mas logo me
lembro de que não estamos sozinhos e me separo dele.
— Wow! Isso foi quente — escuto Maurício dizer e isso me faz empurrar
Adrian para longe de mim e passar as mãos por minha roupa.
Adrian me dá um sorriso de canto de boca e minha vontade é socar sua cara
bonita, que está ainda mais sexy com seus cabelos soltos emoldurando seu rosto
másculo.
— Ei, ruivinho! Não vai me dizer “oi”? — Adrian vai para perto de Evan,
chamando sua atenção, e não demora para Evan estar correndo até ele com
passos desengonçados e se esquecer do resto do mundo.
Puxo Maurício comigo para a cozinha e engatamos em uma conversa com a
minha avó. O almoço logo fica pronto e ele me ajuda a pôr a mesa. E quando
estamos todos nos acomodando na mesa, Antônio aparece na porta com timidez.
— Toni, não sabia que vinha também. Senta aí — falo, sorrindo para meu
amigo.
— Obrigado! — Ele agradece sem graça e se senta ao lado de Maurício.
Percebo que meu amigo falta perder o ar quando Antônio se senta ao seu
lado e acabo rindo com isso. E ao olhar melhor para os dois, vejo que Toni
também tem um pouco das bochechas vermelhas.
Ah, meu Deus! Como não pensei nisso antes? Maurício é a pessoa que ele
gosta.
Essa constatação me faz querer me bater, como pude ser tão tapado? Tá, eu
não tinha como saber, já que nem eles se dão conta de que estão apaixonados um
pelo outro.
— Vocês também vão ao parque de diversões mais tarde? — minha avó
pergunta a Mau e Antônio.
— Ah, não! Não tenho ninguém pra me acompanhar — Maurício responde
com o rosto vermelho de vergonha.
— Você pode ir com a gente — Adrian fala simples. — Sei que ama esses
lugares.
— Ah, não. Não vou segurar vela, deixa o Evan fazer isso para os papais.
— Ele diz rindo.
— Antônio te leva então... não é, meu querido? — minha avó pergunta e o
coitado do meu amigo se engasga com o suco que estava bebendo.
Prendo meus lábios para não rir e observo Maurício bater nas costas de
Antônio, na tentativa de ajudar.
— Eu disse alguma coisa errada? — Dona Clarisse pergunta com a cara
mais cínica que existe e isso me faz querer rir ainda mais.
— Não — Antônio diz quando se recupera, mas ainda está vermelho. — Se
Maurício quiser, eu posso levá-lo. — Ele diz e olha rapidamente para o meu
amigo, que não esconde o sorriso.
— Ah, sim! — Mau fala, tímido.
— Ótimo! Problema resolvido... querem sobremesa? — minha avó sorri e
se levanta da mesa.
O clima no almoço se torna ainda mais leve e vejo a expectativa no olhar
dos meus amigos, o que me deixa feliz.
***
Minha cabeça gira e não consigo assimilar muito bem as coisas. Por que
essa cobra acabou de chamar de pai o homem que também é responsável pela
minha existência?
Continuo olhando fixamente para o homem à minha frente, assim como ele
também me retribui um olhar surpreso e cheio de questionamentos. Mas ele não
tem o direito de questionar nada na minha vida, já que não sou eu quem deve
explicações aqui.
Eu me levanto com rapidez da cadeira e me ponho ao lado de Adrian,
levando minha mão a sua e a aperto com força, o que faz ele me olhar em dúvida.
baixinho, já que a chave está com ele. Frustrado, eu me encosto na porta e ajeito
Evan em meu colo, que resmunga com manha. Olho para ele e vejo seus olhos
pequenos de sono. Deito sua cabeça em meu ombro e começo a me balançar,
tentando fazê-lo dormir enquanto espero o idiota do cowboy aparecer.
Eu estava tão bem com minha nova vida aqui, e então me aparece um
fantasma do passado... uma pessoa que eu não faço a mínima questão de ter sua
presença por perto. E agora mais essa... como Débora pode ser minha irmã? Ela
é bem mais velha do que eu, e eu não consigo encontrar uma explicação para isso
nesse momento. Na verdade, eu queria que esse encontro nunca tivesse
acontecido, queria me ver longe dessas duas pessoas. Assim como quero me ver
um suspiro.
— Vai me explicar o que houve? — Ele pergunta após alguns segundos e eu
concordo com um aceno.
Ainda em silêncio, pego em sua mão e saio do quarto de Evan, seguindo
para o meu. Fecho a porta atrás de mim e ligo a babá eletrônica em cima da
cômoda.
— Senta aqui — peço quando estou sentado na cama e sem muita
cerimônia, Adrian também se senta.
— Eu não entendi nada do que aconteceu hoje, Castiel. Você conhece o
Alessandro? — Ele pergunta e posso ver a confusão em seu olhar.
Solto uma risada amarga e aperto minhas mãos juntas, respirando fundo.
— Ele é o meu pai, ou melhor... é apenas o homem responsável por eu
existir — respondo com amargura.
— O quê? Como assim? — vejo que ele não entende muito bem e sei que
deve ser confuso mesmo.
— É isso que ouviu... Alessandro é meu pai — repito e sinto essas palavras
causarem um gosto azedo em minha boca.
— Mas como? Pensei que ele não tivesse mais filhos além da Débora. —
Ele diz e isso me causa ainda mais raiva.
— Ah, tem essa parte também. A cobra é minha irmã... só não sei como.
Débora é mais velha que eu, então ele deveria trair a mãe dela com a minha —
falo e isso me faz sentir ainda mais repulsa por aquele homem.
— Quanto a isso, acho que você vai ficar feliz em saber que ela não é filha
de sangue dele. Ele se casou com a mãe dela quando ela já tinha dez anos —
Adrian diz, mas não... isso não me deixa feliz.
Eu me levanto da cama e caminho até a janela aberta do quarto. Olho para a
escuridão lá fora e sinto a raiva crescer em meu peito, coisa que eu não acho
saudável sentir, mas não consigo evitar.
— Não consigo me sentir feliz e sabe por que? — pergunto, mas não espero
de fato uma resposta sua. — Alessandro preferiu ser pai de uma criança que não
dependia dele, enquanto os filhos dele precisavam. Sabe quantas vezes eu já
chorei porque não tinha pai? Ouvia as piadinhas dos colegas na escola, vi minha
mãe se tornar uma mulher mesquinha e amarga por causa de um homem que não
deu valor a família que tinha — falo e sinto uma lágrima descer por meu rosto,
mas a seco com rapidez.
— Eu sinto muito, Cas — escuto Adrian dizer e sinto ele chegar perto de
mim.
— Não sinta, acho que isso só me fez ser mais forte. Não vou dizer que não
me importo, pois dói sim, mas eu não quero deixar isso se tornar uma fraqueza
— confesso e sinto seu corpo grande abraçar o meu.
— Eu imagino que deve sim doer, e sei que é por isso que você sempre dá o
seu melhor para criar o Evan. — Ele diz e eu assinto.
— Eu quero que meu filho tenha orgulho de mim, quero poder fazer por ele,
aquilo que os meus pais não fizeram e não foram pra mim. — Conto e me viro
para ele. — Quando fui expulso pela minha mãe, a primeira pessoa para quem eu
fui pedir ajuda foi ele. Sabe o que Alessandro me disse? — pergunto e ele nega
com cabeça, olhando fixamente em meus olhos. — “O problema é seu, não posso
fazer nada por você” ... e desligou o telefone na minha cara. Naquele dia eu jurei
que ele não fazia mais parte da minha vida, na verdade, ele já não fazia há muito
tempo. Só que então ele aparece aqui, bem quando eu estou recomeçando e traz
os fantasmas do passado junto — falo e sinto meus olhos arderem pelas lágrimas
de raiva que querem cair.
— Eu não imagino a dor que você passou, ainda mais estando grávido e
precisando de alguém para o amparar. Só que agora você tem muitas pessoas por
você, inclusive eu, que vou estar aqui para o que você precisar. Sei que o
fantasma do abandono ainda ronda você, mas eu jamais vou te deixar. E sabe por
que? — Ele pergunta e segura meu rosto em suas mãos.
— Não — sussurro e nossos corpos se aproximam ainda mais.
— Porque você e Evan se tornaram uma razão para eu viver. E porque eu
amo você. — Ele diz e sinto o ar fugir dos meus pulmões por alguns segundos.
— Adrian... — falo, desnorteado, e levo minhas mãos até as suas que estão
em meu rosto.
— Eu amo seu jeito teimoso, amo o jeito como me desafia, amo seu amor
pelo nosso filho, amo sua força... eu amo tudo em você, Castiel. — Ele diz em
tom baixo e encosta sua testa na minha.
Sinto meu coração acelerar em meu peito e as batidas se tornam frenéticas.
Sinto tantas coisas nesse momento, tantos sentimentos passam pelo meu peito,
mas o que prevalece é o de gratidão e amor.
— Eu também amo você, e tinha medo de admitir isso. Mas hoje eu sei que
é o certo... É certo amar você — falo e sorrio, sentindo sua respiração se
misturar a minha nesse momento.
— Você não imagina o quanto é bom ouvir isso. Eu pensei que jamais
amaria novamente, mas você chegou e mudou tudo por aqui... e em mim. —
Adrian solta uma pequena risada e suas mãos descem para minha cintura. — Eu
te amo, cabelo de fogo — sussurra com a boca a centímetros da minha e isso me
faz rir.
Talvez eu goste desse apelido.
— Amo você, Shrek — respondo, também em um sussurro, e a próxima
coisa que eu sinto é a sua boca na minha.
Passo meus braços por seu pescoço e me entrego ao nosso beijo, podendo
sentir nele que todas as palavras de Adrian foram verdadeiras.
Ainda tenho Castiel em meus braços e não poderia estar me sentindo mais
aquecido nesse momento. Poder dizer que o amo foi libertador e muito bom... e
ouvi-lo dizer o mesmo foi maravilhoso também. Depois que Carolina morreu, eu
achei que jamais amaria alguém novamente, mas Castiel chegou para transformar
tudo e mudar muitas coisas em mim. E hoje, eu não me imagino mais sem ele
perto de mim, implicando comigo ou simplesmente sorrindo pra mim. Evan
também é uma peça fundamental nessa história. Aquele pequeno ser já se tornou
tudo pra mim, ele é uma parte minha, mesmo que não tenha meu sangue em suas
veias. Mas há uma coisa mais importante entre nós... existe amor e nada supera
isso. Evan me escolheu para ser pai dele, assim como eu o escolhi para ser meu
filho.
de pau que ele tem. Não admito que façam mal aos meus dois cabelos de fogo.
Evan e Castiel são minha vida e não vou deixar mais ninguém machucar os bens
mais preciosos que conquistei em minha vida.
Escuto Castiel soltar um bocejo alto e isso me faz sair dos meus
pensamentos e voltar minha atenção para ele. Vejo seus olhos pequenos e sua
expressão denúncia o cansaço.
— Acho que já está na hora de eu ir embora — falo com um sorriso
— Está mesmo, mas você está com sono, amor — falo e vejo ele abrir um
sorrisinho quando eu o chamo de amor.
— Dorme aqui comigo. — Ele diz e isso me pega um pouco de surpresa.
“Cadê meu Castiel?”
— Eu? Dormir aqui? — pergunto pra ter certeza e ele resmunga.
— Não, minha vó! — Ele responde do jeito de sempre. “Ah, ele voltou!”
— Nossa, que romântico — falo com deboche e ele se afasta do meu peito,
para me olhar.
— O melhor para o meu amor. — Ele diz com graça e reviro meus olhos.
Sorrio de lado para ele e volto a trazê-lo para perto de mim novamente.
Subo uma das minhas mãos até o seu cabelo ruivo e acaricio os fios, até eu
abaixar minha boca na direção do seu ouvido.
— Já que insiste tanto, eu fico — sussurro em seu ouvido e deixo uma
mordida em sua orelha. Vejo os pelos do seu pescoço se arrepiarem e isso me
deixa sorrindo em vitória.
— Idiota! — Ele fala assim que se recupera e se afasta de mim.
Solto uma risada baixa e mando um beijo para ele.
— Mas sério agora... sua avó não se importa que eu durma aqui? —
pergunto preocupado, pois não quero desrespeitar Castiel e nem sua avó.
— Adrian, eu já tenho dezoito anos e pode ter certeza de uma coisa... dona
Clarisse não se importa nenhum pouco com isso. Acha que ela deu um quarto
somente para o Evan por quê? — Ele pergunta rindo e começa a tirar os tênis.
— Pra dormir — respondo com graça.
— Humrum! — Ele resmunga e vai até a cômoda e pega uma muda de
roupa. — Vou tomar banho, fica à vontade. — Cas diz e sai do quarto em
seguida.
Acompanho ele com meus olhos, até ele sumir e solto um suspiro. Tiro
minhas botas e me sento na cama.
Não esperava esse convite de Castiel, pois eu sei o quanto ele ainda tem
dificuldade em confiar nas pessoas. E quem não teria depois de tudo o que ele
passou? Mas confesso que gostei disso, vai ser bom poder dormir sentindo seu
calor. Pois eu sei que é isso que vamos fazer... dormir. Tenho a plena consciência
de que ele ainda não está pronto para algo a mais e hoje também não é o
momento. Ainda mais depois das últimas emoções que tivemos.
Fico imerso em meus pensamentos por um tempo, até que Castiel volta para
o quarto usando apenas uma camiseta enorme. Ok! Eu sei que não vai acontecer
nada hoje, mas assim fica difícil, Deus.
Castiel é o primeiro e único homem com quem já tive um relacionamento e
nunca pensei que poderia achar um homem tão sexy dessa forma. Eu nunca fui
muito ligado nesse negócio de ser hetero ou gay, apenas quis ficar com quem me
interessasse. E Castiel me conquistou desde o primeiro momento, e agora ele
está me fazendo quase ter um infarto o vendo dessa forma.
Sua pele branca está exposta e posso ver que é muito macia. Suas coxas
grossas me chamam e o cheiro de hidratante que emana dele é mais que
convidativo.
Sinto um desconforto em meio às minhas pernas e pego o travesseiro mais
próximo, o colocando em cima do meu colo. Acho que Castiel não precisa ver
minha ereção nesse momento. “Caralho! Ele com certeza fez isso pra me
provocar.”
— Está tudo bem? — Cas pergunta e isso me faz olhar para ele, vendo que
um mínimo sorriso se abre em seu rosto. “Ah, ele ainda vai me pagar.”
— Estou ótimo! Podemos dormir? Nossa, bateu um sono — falo e finjo um
bocejo.
— Claro! — Ele responde e deixa a toalha que usou para secar o cabelo
pendurada na cadeira que fica ao lado da cômoda.
Ele anda alguns passos e vai até a janela, fechar as cortinas. Mas assim que
se vira, esbarra no abajur e deixa o objeto cair no chão em um baque surdo. O
problema nem é esse, o problema é ele se abaixando para pegar o abajur
enquanto empina a bunda na minha direção.
Parece que demora uma eternidade para ele pegar o objeto do chão e voltar
a posição normal, e enquanto isso eu tenho um caso de bolas azuis.
— Vamos dormir. — Ele se vira sorrindo e me olha com cinismo.
Sem dizer nada, eu me levanto e deixo o travesseiro na cama. Saio do
quarto e vou até o banheiro, permanecendo lá até a minha situação melhorar. Eu
me recuso a me aliviar por uma situação dessas.
Quando volto para o quarto minutos depois, encontro Cas já deitado. Ele me
lança um sorriso e me chama com um dedo. Balanço a cabeça em negação e tiro
minha camisa, ficando apenas de calça jeans. Ando a passos lentos até a cama e
me deito ao seu lado, trazendo-o para perto de mim.
Castiel passa um braço por meu corpo e se deita com a cabeça no meu
peito.
— Quando chegar a hora, você vai me pagar pela provocação... diabinho —
falo com a voz baixa e deixo um beijo em seus cabelos.
Castiel não me responde, mas posso sentir quando ele sorri em meu peito. E
assim, logo pegamos no sono.
***
disso depois da noite cheia de emoções de ontem. E confesso que amei provocar
ele um pouquinho antes de dormir.
Abro meus olhos e me surpreendo ao ver um par de belos olhos azuis me
olhando fixamente. Sinto um arrepio gostoso passar por meu corpo e isso me faz
sorrir. Olhar para Adrian me traz tantas coisas boas, assim como me traz vontade
também... principalmente ao ver esse cabelo dele todo bagunçado.
— Bom dia, Shrek — falo com a voz um pouco rouca pelo sono e vejo ele
sorrir.
— Bom dia, cabelo de fogo! — Ele responde e confesso que estou
começando a gostar desse apelido, mas ele não precisa saber... por isso eu
reviro meus olhos só para não sair da rotina.
— Já disse que odeio esse apelido? — implico com ele e me sento na
cama.
— Sim e eu não estou nem aí. — Adrian responde com graça e me puxa
para ele novamente, o que me faz cair deitado por cima de seu corpo.
— Idiota! — falo e deixo um soco fraco em seu peito, mas ao invés de falar
alguma coisa, ele apenas pega meu rosto e gruda sua boca na minha.
***
***
Pego meu celular e vejo que já são 19hr, coloco o aparelho em meu bolso e
seco minhas mãos suadas na calça jeans que estou usando. Adrian e eu já somos
namorados, mas estou me sentindo um idiota nesse momento e não sei porque.
Solto um suspiro e saio do quarto, depois de dar mais uma olhada para o
espelho. Assim que chego na sala, vejo minha avó assistindo um filme antigo
enquanto tem Evan nos braços, dormindo.
Olho pro meu filho mais um tempo e penso se vou ou não ao jantar. Evan
passou o dia enjoado e com febre, o que deixou ele inquieto.
— A febre passou? — pergunto e me sento ao lado dela, passando minhas
mãos no cabelo dele.
— Já sim, não se preocupe e vá curtir seu jantar. Eu já cuidei de muita
criança.
— Ok, mas a senhora vai me ligar se alguma coisa acontecer — falo e ela
assente com a cabeça, mas sei que ela não vai fazer isso por qualquer coisa.
Eu me encosto no sofá e não se passam nem dois minutos, até Adrian
aparecer. Ele cumprimenta minha vó e deixa um beijo na cabeça de Evan.
E logo estamos saindo de casa, a mão de Adrian se entrelaça a minha por
Adrian nos serve com strogonoff, arroz branco, batata palha e salada
tropical. Não perdemos muito tempo e atacamos a comida a nossa frente.
— Humm... por que não me disse que Evan vai fazer aniversário em breve?
— Ele pergunta após alguns minutos e se serve mais uma vez.
— Foram tantas coisas que acabei esquecendo, mas temos sempre a minha
avó para lembrar — falo irônico.
— Ela é minha salvadora. — Adrian brinca e reviro meus olhos.
— Sei... — falo e afasto o prato vazio de mim.
— O que acha de fazermos uma festinha para ele? Seria muito bom e eu iria
adorar participar de um momento como esse na vida dele. — Ele propõe e vejo
que seus olhos transmitem um brilho quando fala.
— Pode ser, mas não quero nada extravagante — aviso e ele assente com a
cabeça.
— Ok, prometo! - Ele responde, mas não sinto firmeza em suas palavras.
***
— Ah, meu diabinho! — Ele fala como um rosnado e logo suas mãos
grandes me seguram com firmeza e me leva mais próximo a ele.
Nossas bocas se encontram em um beijo voraz e totalmente apaixonado. Há
uma batalha entre nossas línguas, como se alguém quisesse assumir o poder.
próximas.
— Talvez eu tenha vindo preparado. — Ele fala com um sorriso malicioso
seu corpo, podendo sentir seus gominhos perfeitos da barriga. Nossas bocas se
afastam novamente, para que eu possa passar a camiseta por sua cabeça.
Meus olhos se prendem na imagem de Adrian sem nada cobrindo seu tronco
e sinto minha boca salivar por ele. Deixo minha boca se aproximar de seu
mamilo durinho e passo minha língua pelo mesmo, ouvindo-o gemer. Suas mãos
aumentam o aperto em minhas nádegas e isso me faz balançar em seu colo,
— Então tira elas pra mim — peço e sinto ele ficar cada vez mais duro em
baixo de mim.
— Com prazer, amor — Adrian diz rouco e nos vira no cobertor, ficando
por cima de mim.
Logo suas mãos grandes e calejadas estão passeando por meu corpo, me
despindo de todas as peças de roupa. Sua boca também começa a brincar comigo
em sua boca e me chupar com vontade. Não seguro meus gemidos e aperto o
cobertor com força, tentando conter todas as sensações que se apossa de mim.
Estou prestes a gozar em sua boca, mas Adrian para de me chupar e isso me
faz querer xingá-lo. Só que eu esqueço completamente tudo quando sinto sua
boca descer para minha entrada e começar a brincar ali, me causando arrepios.
A língua dele brinca comigo e quando sinto um dedo seu me penetrar, sinto
que posso gozar a qualquer momento. Pego meu membro em minha mão e
começo a me masturbar enquanto ainda sinto Adrian me preparar.
— Agora, Adrian... antes que eu te deixe aqui sozinho — falo com raiva e
ele sorri ainda mais.
— Sei que não faria isso. — Ele responde e tira seus dedos de dentro de
mim, me fazendo sentir falta.
Ainda sorrindo com malícia, ele se põe de pé e tira a calça e a cueca que
ainda vestia, me dando a visão de seu corpo nu. E quando vejo seu membro nada
modesto, resolvo retribuir o que ele fez por mim. Eu me levanto e fico na frente
dele, pegando seu pau em minha mão. Passo minha língua por sua extensão e
escuto ele gemer rouco. Faço um pouco de tortura com ele, até o colocar em
minha boca. Chupo com ânsia enquanto mantenho nossos olhares conectados e
vejo o fogo crescer neles.
— Não vou gozar na sua boca — Adrian fala após alguns minutos e se
afasta de mim.
unhas arranham seu peito enquanto sinto ele ir cada vez mais fundo e sua mão se
aperta na carne da minha bunda.
Enrolo minhas mãos em seus cabelos e puxo eles com vontade, cavalgando
nossos corpos. Suas investidas se tornam ainda mais fortes e logo sinto ele
atingir meu ponto de prazer, me fazendo ir à loucura.
Cada vez mais nossos gemidos vão se fundindo, assim como nossos corpos
que emanam prazer. E eu gozo entre nós dois sem ao menos me tocar. Minhas
mãos se apertam em seus cabelos e sinto ele gozando, gemendo rouco contra meu
pescoço.
aninhar nele com rapidez. Em seguida ele puxa um cobertor sobre nós e nos
cobre.
— Obrigado por essa noite... ela foi mais que especial — falo e no mesmo
momento vejo uma estrela cadente passar no céu. Isso me faz sorrir e sentir que
pois até hoje Adrian já me deu algumas provas do quanto eu sou importante para
ele, assim como Evan. Confesso que comecei a me apaixonar por ele no
momento em que notei o seu grande amor pelo meu filho. Ele sempre tratou Evan
de uma maneira extraordinária e isso me trazia felicidade, e me assustava
também. Mas hoje sei que nada poderia ser diferente e, apesar de todas as nossas
desavenças, tudo culminou para estarmos juntos agora.
Nunca pensei que fosse me apaixonar novamente depois de Alan, mas eu
estive errado. Apesar de todas as nossas diferenças de jeito e pensamentos, sei
que não teria pessoa melhor para mim do que Adrian. Tentei negar de todas as
formas a minha atração por ele, mas percebi que seria uma batalha perdida. Mas
ainda bem que me deixei ganhar, pois foi uma das minhas melhores escolhas.
Quando nós somos machucados por alguém que gostamos, ou amamos, isso
nos destrói aos poucos e pensamos não ser mais capazes de amar. Mas eu fui, eu
estou sendo capaz de amar novamente e sou imensamente feliz por isso. Sei que a
vida não é um conto de fadas, sou prova disso, mas também sei que nós
escrevemos nossa própria história e cabe a nós decidir. Eu decidi escrever uma
— Também estou. — Ele diz e seus olhos se focam no céu estrelado acima
de nós. Seguindo seu gesto, também guio meus olhos para o céu e fico admirado
pela linda paisagem que se estende diante dos meus olhos. É tão louco olhar para
algo que não tem fim, é uma sensação diferente.
— Ah, esqueci de te contar uma coisa — falo ao me lembrar de algo.
— O quê? — Ele pergunta curioso.
— Angie está grávido novamente — conto feliz.
Descobri a novidade há alguns dias e não poderia estar mais feliz por meu
amigo. Eu vi o quanto Angie sofreu quando perdeu o bebê há alguns meses e
espero que essa nova gravidez só traga felicidade e muito amor.
— Nossa, Enzo deve estar eufórico — Adrian fala com um sorriso
carinhoso no rosto.
— Ainda não — respondo e ele me olha confuso. — É que o Angie ainda
não disse a ninguém além de mim e Lucio. Ele ainda está com medo de algo
acontecer e só vai contar ao Enzo depois do casamento. Então... nada de abrir a
boca para o Enzo — aviso com os olhos cerrados para ele.
— Juro que não vou falar nada. — Ele diz e cruza os dedos em frente à
boca, o que me faz revirar os olhos.
— Afff... você é tão bobão — falo rindo e ele arqueia uma sobrancelha pra
mim.
— Mas você ama o bobão aqui — diz convencido e rola seu corpo, ficando
por cima de mim.
— Quem disse? Não faço caridade — respondo com graça e ele me olha
com os olhos brilhantes de diversão.
— Ah, é? Acho que vou ter que usar alguns métodos para fazer você
confessar seu amor por mim... — diz com malícia.
— E quais seriam? Duvido que vá alcançar sucesso — desafio e vejo seus
olhos ganharem um tom mais escuro de azul.
— Não me provoca, Castiel. — Ele avisa e isso me faz sorrir.
— Por que, se eu amo fazer isso? — pergunto com deboche e enfio minhas
mãos em seus cabelos.
— Seu diabinho! — Ele rosna e em seguida sua boca devora a minha em um
beijo muito mais que necessitado.
Passo minhas pernas ao redor de Adrian e isso faz com que seu pau encoste
em minha entrada, me fazendo ansiar para ter ele dentro de mim novamente.
Solto um gemido baixo ao sentir a fricção entre nossos corpos e ao perceber
isso, Adrian começa a passar seu pau na minha entrada, mas sem me penetrar.
— Fala que me ama e te dou o que você quer. — Ele sussurra com nossas
bocas ainda bem próximas e sinto minha entrada pulsar.
— Não! — respondo, tentando manter minha voz firme.
— Você não me quer aqui? — Ele pergunta com a voz rouca e desliza dois
dedos seus para dentro de mim.
Prendo meus lábios entre os dentes, para não soltar um gemido alto e fecho
meus olhos com força.
Esse cretino, filho de um bom pai!
— Você não vai conseguir — falo ofegante e sinto ele sorrir em meu
pescoço.
— Sério? Acho que estou quase lá. — Ele diz e mexe com seus dedos
dentro de mim, alçando minha próstata, o que me faz quase gozar.
Deus me ajuda a aguentar a tentação, por favor!
— É só confessar, amor, não é difícil — Adrian continua com a voz perto
do meu ouvido, o que me faz perder a sanidade aos pouquinhos.
Ah, dane-se!
— Eu te amo, seu cretino! Agora me fode! — falo de uma vez e abro meus
olhos, encontrando um sorriso convencido em seus lábios.
— Com prazer, diabinho.
Adrian tira seus dedos de dentro de mim e se afasta por um segundo, indo
pegar uma nova camisinha. Não demora muito e sinto ele entrando em mim
novamente, só que dessa vez de uma forma mais bruta que me faz gemer em
contentamento.
Ele vai cada vez mais forte dentro de mim e isso me faz perder o restinho
de sanidade que me resta e me entrego de corpo e alma ao momento.
***
Acabamos por dormir ali mesmo e acordamos bem cedinho no dia seguinte,
sentindo os primeiros raios de sol bater em nossos rostos.
Não sei como, mas encontramos uma cesta de café da manhã prontíssima
para nós dois. E só de pensar que alguém veio nos trazer isso, e que esse alguém
é meu cunhado, eu sinto todo meu rosto queimar de vergonha.
Tomamos café devagar, conversando sobre assuntos banais e trocando
alguns beijos de vez em quando. Quando já era próximo das 8hr da manhã,
Adrian e eu arrumamos tudo e voltamos para casa.
— Pode liberar o Antônio para me levar a cidade hoje? Preciso comprar
algumas coisas — pergunto enquanto vejo Adrian concentrado na estrada.
— Eu posso te levar. — Ele oferece e me olha de relance.
— Eu sei pode, mas também sei que tem várias coisas para fazer e eu
preciso conversar com meu amigo — falo e espero que ele não crie caso com
isso.
— Tudo bem — responde após pensar um pouco. — Mas por que não
dirige? — Ele pergunta e me olha por um instante.
— Ah, eu não sei dirigir. Nunca tive tempo para aprender e acabou não se
tornando uma prioridade para mim — respondo com um meio sorriso.
— Posso te ensinar, se quiser. — Ele oferece com um sorriso bonito no
rosto.
— Podemos conversar sobre isso depois, amor — falo e vejo o sorriso
crescer em seu rosto.
Logo chegamos e Adrian estaciona em frente à casa da minha avó. Saio
primeiro e ele vem em seguida.
Entramos em casa e as falas desconexas de Evan chegam aos nossos
ouvidos. Isso me faz sorrir e vejo que Adrian tem o mesmo sorriso no rosto. E
não demora muito para o nosso pequeno projeto de gente nos notar.
— Papa! Papai! — Evan chama empolgado e vem andando até nós dois.
Eu me abaixo no chão e espero ele vir até mim, de braços abertos, mas levo
um grande “olé” quando Evan passa por mim e vai até Adrian.
Olho indignado para meu filho e só escuto a gargalhada debochada de
Adrian, me olhando com diversão.
— Muito bem, senhor Evan. Eu te carreguei por nove meses, seu ingrato.
Dei de mamar, troquei fralda de madrugada e é assim que você me retribui? Me
troca por esse aí? — falo com uma expressão brava e meu filho somente ri de
mim.
— Mama, papa! — Evan pede e deita a cabeça no ombro de Adrian, que
deixa um beijo em seus cabelos.
— Vai pedir pra esse aí... quem sabe ele cria leite e te dá — falo
emburrado e me sento no sofá.
— Credo, amor, ele só estava com saudades — Adrian fala com um sorriso
pequeno.
— Humrum! Vai lá fazer o leite dele — falo e faço um gesto de “chô” com
as mãos.
— Ruivo ciumento! — Adrian resmunga e vejo ele ir em direção à cozinha
junto com Evan.
Ciumento? Eu? Nunca!
***
Pego minha carteira e celular e coloco dentro da bolsa de fraldas de Evan.
Saio do quarto e no mesmo instante escuto a buzina do carro de Antônio. Me
despeço da minha avó e pego Evan em meus braços, saindo de casa.
— Oi, Toni! — falo com um sorriso e beijo o rosto do meu amigo.
— Naaa! — escuto Evan resmungar e reviro meus olhos.
— Que isso, ruivinho? ‘Tá ficando igual seu pai? — Antônio pergunta com
graça e pega ele do meu colo, deixando beijos por sua bochecha, o que faz ele
tirar o pequeno bico dos lábios.
— Deus me livre de dois Adrian’s — falo e escuto a risada exagerada do
meu amigo.
Antônio coloca Evan na cadeirinha e entro no carro também, e seguimos
viagem até à cidade.
— E você e Maurício, algum avanço? Meu Deus, eu não fazia ideia de que
você gostava dele.
— Não sei, acho que ele gostou de quando fomos ao parque, mas não sei
exatamente. — Ele diz envergonhado, mas vejo um sorriso pequeno em seu rosto.
— Amigo, vai fundo... investe nele, mostre a Maurício que você gosta dele.
— Mas e se ele não me corresponder? — pergunta e me olha rapidamente,
antes de voltar os olhos para a estrada.
— Você nunca vai saber se não tentar — respondo e ficamos em silêncio.
Nosso caminho demora um pouco e o fazemos em silêncio. Antônio
estaciona em frente ao grande mercado, minutos depois, e saio do carro indo
pegar Evan que está dormindo.
— Vou te esperar aqui — Toni diz e assinto com a cabeça.
Entro no mercado e pego um carrinho com assento para criança. Coloco
Evan no mesmo e sigo até os produtos que preciso.
Termino de pegar tudo que preciso e sigo até o caixa. Sorrio, vendo que
Evan acorda e entrego um pacote a ele, para o entreter.
Estou prestes a chegar ao caixa quando sinto um toque em meu braço e isso
me faz virar para trás.
— Podemos conversar? — O homem que me olha pergunta e minha vontade
é apenas de sair correndo.
— Não temos nada para conversar — falo com seriedade e me afasto de
seu toque.
— Por favor, Castiel... só me escuta. Se depois você ainda não quiser me
ver, eu vou me afastar — Alessandro diz e isso me faz pensar por um segundo.
— Tudo bem, mas depois eu te quero bem longe de mim — respondo com
frieza.
Pago minhas compras e ligo rapidamente para Antônio vir me ajudar com
elas, já que é difícil com Evan em meus braços. Não demora muito e vejo meu
amigo entrando no mercado. Ele vem até nós sorrindo, mas seu sorriso some ao
ver a pessoa ao meu lado. Como é próximo a mim, Antônio acabou sabendo da
nossa história e assim como todos, não ficou feliz em saber dos detalhes.
— Ele ‘tá te incomodando, Castiel? — pergunta assim que chega perto de
nós e seus olhos ficam fixos em Alessandro, que não esboça nenhuma reação.
— Não... na verdade, nós vamos ter uma conversa definitiva — falo sério e
olho para o homem ao meu lado por um momento. — Pode levar as compras para
mim? Eu prometo não demorar.
— Não acho que isso seja uma boa ideia... Adrian vai arrancar meu fígado
— Seja rápido, não quero perder meu tempo mais que o necessário — falo
sério e olho para ele sem qualquer expressão em meu rosto.
Se há algo que aprendi com todo o abandono e os anos que se passaram, foi
Sinto o vento bater em meu rosto enquanto mantenho um ritmo bom em cima
do cavalo. Adoro esses momentos em que me sinto livre, parecendo que não
existe um mundo imenso lá fora que só te causa dores.
Aos poucos vou deixando o cavalo desacelerar, até que ficamos parados
diante a visão dos amores da minha vida. A poucos metros de mim, Castiel está
sentado na grama alta, coberta por um cobertor, junto com Evan que se diverte
correndo desengonçado atrás de algumas borboletas que voam ao seu redor.
Sorrio vendo essa visão que traz um sentimento bom ao meu peito.
É tão bom ver o sorriso na face dos dois, isso me deixa em paz, ainda mais
depois que descobri sobre o pai de Castiel. Graças a Deus, Alessandro não
voltou a se aproximar dele e nem tentou contato. O que eu fiquei grato, pois não
acho que ele mereça estar perto do filho. Sei que não sou ninguém para julgar,
também já fiz algumas merdas nessa vida, mas quando se trata das pessoas que
amo, as coisas se tornam diferentes. Eu percebi que Cas ficou abalado depois de
tudo, mesmo querendo parecer forte.
Só que agora as coisas estão melhores. Há uma semana atrás foi o
ao meu filho.
— Oi, ruivinho! — falo sorrindo e pego Evan em meus braços quando ele
se aproxima mais de mim. Deixo beijos por seu rosto e sinto suas mãozinhas
puxarem minha barba.
— Belo, belo — diz, sorrindo enquanto puxa os fios da minha barba... e
nem preciso dizer que isso dói.
— É, filho, cabelo. E eles doem, sabia? Não pode puxar — falo com uma
careta e tiro sua mãozinha que estava me massacrando. — Não sei o que você
viu nos meus cabelos, seu papa também tem — digo, olhando em seus olhinhos
azuis que me fitam com atenção.
Evan solta uma risada e depois de deixar um beijo babado em meu rosto,
ele deita sua cabeça em meu ombro.
Ando em direção a Castiel e vejo ele deitado no cobertor, tendo os olhos
parcialmente fechados. Assim que ele nos percebe, abre totalmente seus olhos e
sorri para nós dois, o que faz meu coração acelerar em meu peito. Não sei como
é possível, mas a cada dia que passa, eu amo ainda mais esse diabinho dos
cabelos cor de fogo. Ah, Evan também não escapa desse amor, já que ele foi o
primeiro a me laçar.
— Pensei que não ia se juntar a nós dois. — Ele diz enquanto Evan se
debate para sair do meu colo.
Deixo Evan novamente no chão e me sento no cobertor, ao lado de Castiel.
— Só estava aproveitando um pouco — sorrio e puxo ele para mais perto,
deixando um beijo casto em sua boca de lábios extremamente macios.
Eu me afasto dele aos poucos e me deito ao seu lado. Solto uma risada
quando Evan se deita na minha barriga e leva uma mamadeira à boca.
— Ele está crescendo tão rápido, parece que foi ontem que eu descobri que
estava grávido — Cas fala enquanto tem seus olhos fixos em nosso filho.
— O tempo realmente passa muito rápido e temos que aproveitar cada
segundo — falo e nesse momento entrelaço meus dedos nos dele, ainda mantendo
meus olhos no pequeno ser que está deitado em cima de mim.
— Isso é verdade, por isso eu não quero perder nenhum segundo com vocês
dois e com nenhuma das pessoas que eu amo. — Castiel responde e deixa um
beijo em minha bochecha.
— Eu também não. Já perdi tempo demais na minha vida — respondo e
beijo a ponta do seu nariz.
— Falando em tempo... nós temos que decidir as últimas coisas do
aniversário do Evan, já que você quem deu a ideia. — Ele diz e eu suspiro.
— Mas você não aceita minhas ideias para a festa — reclamo e ele me olha
com uma sobrancelha arqueada.
— Claro que não, você queria alugar um clube. E, Adrian, é uma festa para
poucas pessoas. — Ele reclama e eu reviro os olhos.
— Só queria o melhor pro nosso filho — falo e viro meu rosto.
— Para de birra, Adrian, olha o seu tamanho. — Ele reclama e solta uma
risada. — Além do mais, o melhor para Evan vai ter todas as pessoas que amam
ele ao seu redor, nada mais importa.
Solto um suspiro e me levanto com cuidado, pegando o corpo adormecido
de Evan, que acabou dormindo enquanto tomava o leite. Deito sua cabeça em
meu peito e olho para seu rostinho adormecido que me traz uma paz enorme.
— Me desculpa! Eu ainda estou aprendendo a ser pai, ter Evan na minha
vida... é um sonho. Só quero que ele tenha sempre o melhor — falo depois de um
tempo e sinto Castiel me abraçar, consequentemente abraçando Evan também.
— Você é o melhor pai que Evan poderia ter. Ninguém no mundo pode
substituir o que você é para ele. E o mais importante, Adrian, é o amor que você
dá a ele... isso é o melhor que você vai dar a ele. Evan já tem muito orgulho de
você e aposto que no futuro, ele terá muito mais — Castiel diz e apoia sua
cabeça em meu ombro.
— Ele tem mesmo? — pergunto, me sentindo um pouco bobo, e sinto uma
lágrima escorrer por meu rosto.
— Tem sim, amor, você é o herói dele. Não pense que ele precisa de bens
materiais, pois ele só precisa de nós dois, o amando e apoiando em todos os
momentos da sua vida. — Ele responde e posso sentir o sorriso em sua voz.
Viro minha cabeça e acabo deixando nossos rostos próximos um do outro.
— Eu amo vocês. São tudo o que eu tenho de mais precioso em minha vida
— falo sincero, olhando em seus olhos, e vejo seu sorriso crescer.
— E nós dois te amamos muito. Você foi aquele que nos devolveu a
esperança de uma vida melhor. — Ele responde e nossas bocas se aproximam,
onde se conectam em um beijo doce e cheio de amor.
Sinto meu peito se encher de felicidade e ainda mais amor. Tudo o que eu
sempre sonhei e achei um dia não poder mais ter, está aqui em meus braços. E eu
vou fazer de tudo para manter as pessoas que eu amo seguras e felizes.
***
***
— Oi, amor... o que foi? — vejo Adrian se aproximar com Evan em seus
braços e sua expressão é de um cãozinho sem dono. Ah, mas eu não caio nessa!
— Pode me explicar o que é tudo isso? — pergunto a ele e faço um gesto
para tudo ao nosso redor. — Você contratou um buffet, Adrian D'Ávila? —
Minhas mãos vão para minha cintura e meu pé direito bate freneticamente no
chão.
— Hum... ficou bonito, não? Evan amou... não é, filho? — Ele diz com um
sorriso nervoso no rosto e se dirige ao nosso filho, que está com um sorriso no
rosto.
— Nito! — Evan responde, confirmando a resposta do pai e só então eu
presto atenção em meu filho.
Evan está todo vestido de cowboy, com direito até a espora nas pequenas
botas. E bem, isso deve ser para combinar com toda a decoração do aniversário
que é fazenda. Há uma mesa enorme no centro da sala, cheia de doces e um bolo
enorme. Sem contar nos vários animais de pelúcia espalhados ao redor.
Respiro fundo e balanço minha cabeça em negação.
— Desisto de vocês dois! — falo com drama e ouço a risada coletiva das
pessoas ao nosso redor que acompanharam meu chilique.
— Para com isso, Cas. A decoração está linda e Evan merece — Angie fala
com um sorriso e olho para ele, como se o mesmo tivesse acabado de me trair.
— Obrigado, Angie. Pelo menos tenho alguém do meu lado — Adrian fala,
— Esse seu sorriso não esconde o quanto está feliz. — A voz da minha avó
soa ao meu lado, mas mantenho meus olhos fixos em Evan que corre
desengonçado com outras crianças.
— É impossível não estar, vó. Vou ser eternamente grato por Adrian ter
entrado em nossas vidas — respondo e meus olhos se desviam para meu homem,
sentado em uma das mesas conversando com Enzo e seu irmão Marcos.
— Era algo inevitável. Você pode não acreditar em destino, mas eu sim. E
vocês já estavam destinados a estarem juntos. — Ela diz e só então a olho.
— A senhora acha mesmo? — pergunto e seu sorriso me confirma isso.
— Claro que sim. Agora deixa eu ir ali falar com a Emília, estamos
combinando uma saída das garotas. — Ela diz e olho incrédulo para minha avó.
— Não quero nem imaginar o que vai virar a saída de vocês duas — falo
rindo e ela finge não me escutar, logo se afastando.
Balanço a cabeça em negação, mas mantenho um sorriso em meu rosto, pois
tenho uma avó incrível.
Olho para meu redor e me sinto satisfeito em ver todos felizes, mas logo o
sorriso se esvai do meu rosto quando vejo uma pessoa ao longe.
— Mas que merda é essa? — pergunto a mim mesmo e sem esperar por
algo, marcho em direção a Adrian.
Escuto suas risadas junto aos outros homens na mesa e percebo que ele
ainda não percebeu a pessoa que acabou de chegar.
— Olha para trás — falo assim que chego na mesa, chamando a atenção de
todos para mim.
— O que foi, amor? — Adrian pergunta confuso e vejo seu rosto sério ao
ver minha expressão.
— O que a Demônia está fazendo aqui? — pergunto e aceno para trás dele.
Adrian não me responde e vira seu rosto para trás a tempo de ver Débora
vindo em nossa direção. Agora o que esse projeto de Barbie mal feito está
fazendo aqui, eu não sei.
— Droga! Deixa que eu resolvo. — Ele fala e se levanta, mas logo eu já
estou ao seu lado.
— Ah tá, que você vai lá sozinho — falo emburrado e vejo um sorrisinho
em seu rosto.
— Com ciúmes, diabinho? — Ele pergunta com deboche e reviro meus
olhos para o ser ao meu lado.
— Cala a boquinha, amor — respondo e apresso meus passos.
Logo nós chegamos até a presença indesejada da festa e o sorriso de
deboche no rosto do despacho a minha frente me tira do sério.
— Não me lembro de ter mandado convite a você, querida. Aliás, aqui
ainda não é o inferno — falo com um sorriso e vejo sua confusão na minha última
frase.
— Ah, não se preocupe com sua falha, maninho. Família não precisa de
convite, não é mesmo? — Ela pergunta com escárnio e minha vontade é de sair
arrastando essa cara plastificada dela na grama.
Respiro fundo e dou um passo à frente, ficando a centímetros de seu rosto.
— Eu vou falar uma única vez e quero que preste bem atenção — falo e
praguejo internamente por ser alguns centímetros mais baixo que essa girafa. —
Você nunca mais se refira a mim como família, pois isso eu nunca serei seu. Eu
tenho uma família de verdade e você jamais saberá o que é isso, pois você
destrói tudo ao seu redor. Mas se veio para a festa, fique à vontade — sorrio
para ela e dou um passo para o lado, deixando espaço para ela passar.
Vejo Débora me olhar com ódio, mas isso não me abala e eu só a retribuo
sorrindo ainda mais.
— Presente para o pirralho, estou achando lindo vocês brincando de
casinha. — Ela diz com raiva e joga o embrulho contra mim, depois de dar uma
encarada em Adrian que ainda permanece perto de mim.
— Obrigado! Aproveite a festa, só não vá confundir as pessoas com suas
amiguinhas. As galinhas estão em outro lugar, mas eu te levo até lá se quiser —
de Adrian. Eu nunca de fato dormi aqui com ele, só vim ao seu quarto algumas
vezes. E às vezes que dormimos juntos foram sempre na casa da minha avó. Ele
nunca havia me convidado e nem liguei para isso, mas hoje foi diferente.
Assim que todos os convidados foram embora e ficamos somente nós dois
com Evan entre nós, ele me pediu para dormir com ele aqui. E bem, eu aceitei.
Confesso que eu amo dormir sentindo seu perfume amadeirado e seus braços
possessivamente ao meu redor... é como se estive em casa. Adrian tem o poder
de me deixar seguro e isso me aquece por dentro.
Respiro fundo e entro no quarto, encontrando-o vazio, mas o barulho no
banheiro me alerta que Adrian está presente. Fecho a porta atrás de mim e tiro os
tênis dos meus pés. Deixo-os em um cantinho e me jogo na cama confortável de
seu quarto.
Fico alguns minutos apenas curtindo o silêncio e a paz, mas assim que
escuto o barulho da porta do banheiro se abrindo, meus olhos acompanham esse
ato. Meu olhar se perde em Adrian, que acabou de sair do banho e está
deliciosamente enrolado apenas por uma toalha branca em sua cintura. Seus
cabelos longos estão presos em um coque desajeitado e me perco no caminho
que as gotinhas de água fazem por seu tronco até se infiltrarem na sua toalha que
mostra um pouco de sua v-line.
“Como se respira, Deus?”
Meus olhos se encontram com os de Adrian e vejo um sorrisinho tomar
conta de seus lábios.
— Gosta do que vê, diabinho? — Sua pergunta sai com um tom de malícia e
deboche que me levam a revirar os olhos.
— Você nem é tudo isso — falo e ele solta uma risadinha e me olha com
beijo sua boca rapidamente. Ainda com os olhos fixos nos seus, vou me
abaixando lentamente em sua frente, logo ficando em frente ao seu pau, o
pegando em minha mão.
Acaricio ele lentamente, ouvindo alguns gemidos baixos saírem de sua
boca.
— Porra, Castiel! — Ele geme, quase que rosnando, e isso me excita ao
extremo. — Me chupa — pede e sorrio, vendo-o tão entregue aos meus toques.
— Com prazer — respondo e em seguida seu membro está em minha boca.
Passo a língua por sua glande inchada e nesse momento sua mão pega em
meus cabelos, os puxando um pouco. Coloco seu pau o máximo que consigo em
minha boca e masturbo o que não consigo chupar. Seus gemidos roucos chegam
com mais intensidade aos meus ouvidos e isso faz com que eu feche minhas
pernas com força, tentando buscar algum alívio para meu próprio pau
necessitado.
Chupo seu pau com mais força, massageando suas bolas no processo e sinto
sua mão se fechar com mais força em meus cabelos, me causando uma dor
prazerosa. E quando percebo que ele está prestes a gozar, o tiro da minha boca e
apenas o masturbo com minha mão, mas Adrian me impede de continuar e olho
para ele confuso.
— Não vou gozar na sua mão... vai ser em outro lugar, diabinho. — Ele
sorri e me puxa para cima.
Sem dizer mais nada, ele me puxa para mais perto, apertando suas mãos em
minha cintura e logo seus lábios estão junto aos meus em um beijo voraz. Minhas
mãos grudam em suas costas e deixo minhas unhas o arranhar de leve.
Suas mãos apertam ainda mais meu corpo junto ao seu, mas em certo
momento elas me abandonam para fazerem outra coisa. Adrian começa a tirar
peça por peça minha enquanto distribui beijos por meu corpo, me fazendo gemer
baixinho e fechar meus olhos em puro deleite. E assim que me encontro
totalmente nu, ele me pega pelas coxas, me fazendo subir em seu colo e
entrelaçar minhas pernas em sua cintura. Sinto a parede gelada em minhas costas,
mas isso é a última coisa que me importo no momento.
Sua boca volta a beijar a minha por alguns segundos, mas ela logo me
abandona. Sinto ele descer seu rosto por meu pescoço e choramingo baixinho
quando sua barba roça por minha pele, me causando uma sensação tão boa de
prazer. E para me enlouquecer de vez, sua boca captura meu mamilo esquerdo,
me fazendo gemer alto, pois sempre fui muito sensível nessa região.
— Amor, n-não para — Falo, mas sai meio arrastado por eu estar mais
gemendo que tudo.
Suas mãos passeiam ainda mais por meu corpo, me marcando com seus
dedos. E minutos depois, quando ele passa a chupar meu outro mamilo e coloca
dois dedos seu em minha boca, sinto que estou indo para a minha perdição.
Sua boca deixa algumas mordidinhas em meu mamilo e solto gemidos
abafados por seus dedos estarem em minha boca. Eles são retirados e mordo
meus lábios com força, podendo sentir o gosto metálico em minha boca. E não
demora para que eu sinta um dos seus dedos lambuzados de saliva sondando
minha entrada, que nesse momento está pulsando. Seu dedo me penetra
lentamente, no mesmo instante em que sua boca abandona meu mamilo e isso me
faz fechar meus olhos com força por um momento. Eu me sinto contrair em volta
de seu dedo e ele se afunda ainda mais em mim. Adrian volta a passar a barba
agora em meu peito nu e vai subindo até minha bochecha.
E quando seu segundo dedo se junta ao outro, puxo seus cabelos com certa
força, desfazendo por completo seu coque, deixando seus cabelos caírem como
uma moldura em seu rosto. Aperto meu corpo mais ao dele, fazendo meu membro
esfregar em seu abdômen, me causando uma ótima sensação. Não sei quanto
tempo ficamos nisso, mas eu só percebo algo diferente quando sinto meu corpo
sobre o colchão. Adrian me olha por alguns segundos e sorri, deixando um beijo
casto em meus lábios.
— Você é lindo. — Ele sussurra contra meus lábios, mas sua doçura vai
embora com a frase seguinte: — Fica de quatro pro seu cowboy — diz, me
fazendo gemer.
Não perco tempo falando, pois a necessidade do meu corpo fala mais alto.
Logo estou na posição que ele pediu, apoiado em minhas mãos e joelhos. E não
demora muito para eu estar gemendo novamente quando sinto sua boca em
contato com minha entrada. Sua língua brinca naquela região e chega a me
penetrar algumas vezes. Aperto com força os lençóis abaixo de mim e sinto meu
pau escorrer ainda mais líquido pré-gozo. Seus dedos voltam a me penetrar e
minha vontade é chorar de prazer e implorar para ele me foder de uma vez.
— Eu não aguento mais... me fode logo! — falo sem paciência, sentindo
minha entrada contrair cada vez mais e tenho que prender meus lábios para não
gemer mais alto.
— Olha, o diabinho sabe implorar. — A voz debochada de Adrian ecoa e
minha vontade é socar sua cara, mas antes quero seu pau em mim. — Você quer
meu pau aqui, amor? — Ele pergunta, sussurrando em meu ouvido, e sinto sua
glande molhada passando por minha entrada.
— Cala a boca e me fode de uma vez — falo sem paciência e escuto ele rir
baixo.
E antes que eu possa reclamar ou implorar novamente, sinto seu pau
entrando de uma só vez em mim, me fazendo perder o ar e gemer sem som algum.
Fecho meus olhos com força e sinto uma lágrima escorrer por meu rosto pela dor
que sinto. As mãos de Adrian tomam minha cintura e sinto ele deixar alguns
beijos por minhas costas. Alguns segundos se passam até que ele começa a se
mover lentamente dentro de mim e isso me faz sorrir em satisfação. E apesar de
ainda sentir um pouco de dor, aos poucos o prazer vai se fazendo presente e
***
Sinto beijos babados por meu rosto e isso me faz sorrir, mesmo ainda de
olhos fechados.
— Mama! — A exclamação me faz abrir os olhos e fico indignado, olhando
o projeto de gente em cima de mim.
— Ah, eu só sirvo para isso, senhor Evan? Para te alimentar? Cadê o amor?
— faço as perguntas com drama e em troca recebo as risadas do meu filho como
resposta.
Sorrio e beijo suas bochechas gorduchas. Agradeço mentalmente por ter
acordado de madrugada e ter tomado um banho, me vestindo com uma camisa de
Adrian.
— Você é tão dramático, cabelo de fogo — escuto a voz de Adrian e isso
me faz olhar em sua direção, podendo contemplar seu rosto sendo iluminado
pelos raios de sol que entram pela janela do quarto.
— Não sou dramático, só quero amor — falo e faço um bico, o que leva
Evan a pegar meus lábios com suas mãozinhas.
— Amô! Papa... amô! — meu filho diz feliz, me deixando com o peito
transbordando de amor.
— Papa também te ama muito, meu projeto de gente — sorrio e o beijo
mais algumas vezes, deixando uma mordida de leve em sua bochecha.
— Também quero amor — Adrian fala brincando e se aproxima mais de
nós dois, nos envolvendo em um abraço.
— Olha isso, um homem desse tamanho carente — falo rindo, mas deixo um
beijo em sua bochecha. — Te amo, cowboy! — declaro e vejo um brilho em seus
olhos.
Evan também me escala para poder deixar um beijo todo babado em seu pai
e isso me faz querer morrer de tanta fofura. Juro que não aguento esses meus dois
homens.
Continuo sorrindo para eles, até que vejo os olhos de Adrian me encarando
como se quisesse falar algo.
— O que foi, amor? — pergunto a ele e me encosto na cabeceira da cama,
vendo Evan deitado com a cabeça em sua barriga.
— Em dois dias eu preciso estar na capital, para uma reunião e preciso que
vá comigo. Desculpa não ter falado antes, mas é que me enrolei com o
aniversário do nosso filho. — Ele diz e me olha com uma expressão culpada. —
Acha que pode ir? Sei que Evan é nossa prioridade, mas é que como você me
ajuda nas coisas do escritório, vou precisar de você. — Ele diz e me faz sorrir
pela sua maneira fofa de falar tudo.
— É claro que eu vou, amor... Evan vai ficar muito bem com minha vó —
respondo e deixo um selinho em seus lábios.
— Isso é bom... são apenas dois dias.
Fico mais alguns minutos na cama com Evan e Adrian, até nosso filho
“brigar” conosco por querer seu mamá.
Nos arrumamos e descemos, encontrando todos já tomando café. Faço o
leite de Evan e aproveito ao máximo meu tempo com Angie e Enzo, que logo vão
embora com as mulheres da família Miller.
E pelo resto do domingo que se segue, nós aproveitamos nosso tempo junto
da nossa família e amigos.
***
Entro no quarto de hotel que Adrian reservou para nós e fico satisfeito por
não ser nada muito luxuoso, já que vamos ficar por aqui apenas dois dias. Angie
e Enzo queriam que ficássemos em sua casa, mas recusamos achando melhor
ficar em um hotel.
Acabamos de chegar na capital e me sinto um pouco cansado pela viagem,
já que viemos de carro.
— Quer pedir comida aqui ou ir a algum restaurante? — Adrian pergunta
entrando no quarto, trazendo nossa única mala.
— Podemos sair, estou com saudades dessa cidade — sorrio para ele que
concorda com aceno.
— Tudo bem, a reunião com os compradores de gado é só amanhã, então
podemos aproveitar hoje. Aliás, podemos aproveitar muito essa cama mais
tarde. — Ele diz com um sorriso malicioso e se aproxima de mim, me puxando
pela cintura e colando meu corpo ao seu.
— Posso pensar no seu caso — sorrio para ele e deixo um selinho em sua
boca, tirando seu chapéu de sua cabeça e colocando na minha em seguida.
Eu me afasto dele e dou uma voltinha com um sorriso em meu rosto.
— E então, como fico de cowboy? — pergunto e ele sorri ainda mais.
— Eu vou te ter cavalgando em mim com esse chapéu. — Adrian diz e sua
fala baixa arrepia todo meu corpo. — Mas, respondendo sua pergunta... você
está lindo, cabelo de fogo.
— Ok! Vamos antes que eu desista de ir comer — falo e pego em sua mão,
nos guiando para fora do quarto.
— Eu adoraria ficar aqui e você sabe... — Ele diz com malícia e arregalo
meus olhos.
— Adrian, cala a boca! — falo com vergonha, procurando para ver se
ninguém o ouviu, mas o corredor está vazio.
— Ora, seu diabinho... quando está gemendo em baixo de mim v... — Tapo
sua boca antes que ele possa continuar e lhe lanço um olhar mortal.
— Se não parar de falar essas coisas para todo mundo ouvir, juro que não
vai mais me ter gemendo por um bom tempo — ameaço e ele levanta as mãos em
rendição, mas vejo um sorriso de deboche em seu rosto.
Reviro meus olhos para ele e me afasto, sussurrando um “ogro”.
***
Assim que saímos, decidimos vir ao shopping, por isso agora estamos de
mãos dadas, caminhando enquanto tentamos escolher um bom lugar para almoçar.
— O que acha de comida mexicana? — pergunto e ele faz uma careta.
— Não, obrigado! Quero uma picanha mal passada — Adrian responde e é
a minha vez de fazer cara de nojo.
— Virou vampiro, foi? — pergunto para implicar e ele me olha com um
sorrisinho.
— Que eu gosto de chupar algumas coisas é verdade, mas ainda não
arranquei sangue de ninguém. — Ele diz e reviro meus olhos.
— Desisto! — reclamo e viro meu rosto, logo vendo um restaurante de
comida baiana e resolvo que vamos comer ali. — Já decidi onde vamos comer
— falo e aponto em direção ao restaurante.
Começamos a caminhar em direção ao restaurante, mas meus passos param
quando vejo um casal ao longe. Sinto meu estômago embrulhar vendo essa cena.
E quando penso que nada poderia ser pior, tenho os olhos deles em minha
direção.
— Amor, o que foi? — A voz preocupada de Adrian chega aos meus
ouvidos, mas não consigo o responder, minha voz não sai.
A única coisa que presto atenção, é no casal a poucos metros de mim. Nas
mãos entrelaçadas de Alan e Vitória e isso me faz querer vomitar, por ver minha
irmã e o desgraçado que me abandonou grávido juntos.
Continuo com meus olhos fixos no casal a alguns metros de mim e aperto a
mão de Adrian quando percebo que eles se aproximam. Vitória tem um sorriso
no rosto e Alan me olha como se eu fosse um fantasma, mas também vejo raiva
contida em seu olhar. E sinceramente, eu não sei porque já que quem tem o
direito de sentir raiva aqui sou eu.
— Quem são eles? — A voz de Adrian me desperta, mas a minha boca
— Aí eu parei de ser seu irmão desde então? Bem, na verdade nunca fui,
não é? Pois se fosse você na situação em que eu estava, eu teria te ajudado de
alguma forma. Mas acontece que é muito fácil virar as costas para as pessoas —
respondo com raiva e então olho para Alan, que desvia o olhar. — Não é, Alan?
Foi fácil virar as costas pra mim, não foi? — pergunto e sinto o olhar de Adrian
queimar em mim.
— Castiel, o que está acontecendo aqui? — Adrian pergunta e pelo seu tom
uma só vez.
— Nada demais... Vitória é minha irmã e, ao que parece, o namorado dela é
o babaca que me engravidou e me abandonou — falo e na mesma hora a
expressão de Adrian muda, se tornando totalmente raivosa e sua mão solta a
minha.
— O quê? Você está louco, Castiel? Isso é impossível! — Vitória diz
exaltada e olha para o canalha ao seu lado que continua inabalável.
— Vi, ele está mentindo — Alan diz pela primeira vez e eu solto uma risada
sem humor.
— Nós estávamos juntos quando meu irmão engravidou, então não pode ser.
— Ela diz baixo, mas eu posso ouvir e isso deixa minhas pernas bambas.
Sinto meu estômago embrulhar. Eu não posso acreditar que esse babaca fez
isso, não só comigo, mas com ela também.
— Você é nojento — falo e olho para Alan, que ainda me olha superior. —
Eu não acredito que estava comigo e com a minha irmã ao mesmo tempo.
— Eu não estava com você, eu tinha um caso e te fodia quando tinha
vontade. Você era apenas um adolescente idiota e apaixonado. — Ele diz com
deboche e no segundo seguinte vejo Alan ir ao chão.
***
impedir de sentir essa dor — diz tão baixinho, que se não houvesse um silêncio
sepulcral no quarto, eu não o teria ouvido.
— E você nem deve, nós precisamos sim sentir a dor. Ela é essencial em
nossas vidas. Mas quando sentir essa dor, lembre-se do quanto você foi forte por
Evan. De tudo o que sempre fez por ele, desde o momento em que descobriu que
ele estava aí dentro de você. A dor precisa ser sentida sim, mas aquele merda
não tem mais o direito de te ferir — falo e pego com cuidado em seu rosto,
fazendo ele se virar para mim e abrir seus olhos. — Você conseguiu meu amor,
você pôde fazer tudo o que estava ao seu alcance por nosso filho e nunca
precisou recorrer a ele. Acredito que tudo aconteça por um propósito e por mais
que tudo tenha sido doloroso, hoje você tem os melhores frutos. Você tem ao
nosso filho, que é muito orgulhoso pelo papai diabinho. Você tem nossa família e
amigos e você tem a mim. Não gosto de promessas, pois elas sempre podem ser
quebradas, mas tenha a absoluta certeza de que sempre pode contar comigo, pois
meu amor por você é muito maior do que qualquer maldade que possa haver no
mundo — falo, olhando em seus olhos que se tornam um pouco brilhantes pelas
lágrimas que estão sendo presas ali.
Castiel sorri com doçura e se levanta um pouco, ficando com o rosto na
mesma altura do meu.
— Quem diria que o ogro podia ser tão sensível? — Ele brinca e algumas
lágrimas conseguem se desprender de seus olhos. — Obrigado por tudo,
principalmente por sempre estar ao meu lado. Eu jamais vou conseguir ser grato
o suficiente por tudo o que você representa para mim. Nunca vou me arrepender
de ter ido para aquela fazenda e ter te conhecido, pois isso foi a melhor coisa da
minha vida — Castiel suspira e se senta em meu colo, o que me faz enlaçar sua
cintura com meus braços.
— Sou muito grato por ter um homem como você na minha vida, o meu
homem. Como disse, a dor precisa ser sim sentida, mas pode ter certeza que ela
diminuiu muito desde que eu te conheci e sei que daqui um tempo ela nem vai
mais existir. Há coisas mais importantes na vida e você e Evan são umas delas.
Obrigado por ter assumido uma responsabilidade que nem era sua, mas que fez
por amor. Posso dizer com certeza que meu amor por você só cresce a cada dia
mais. Eu posso não ser o cara docinho a maioria do tempo, mas eu te amo. —
Ele diz e um sorriso se abre em meu rosto, ao mesmo tempo que sinto meu peito
se aquecer por suas palavras.
— Eu amo você e amo ainda mais Evan. Nunca foi uma obrigação e jamais
vai ser. A família de verdade, a que nosso coração escolhe, nós apenas amamos
e nada mais — respondo e encosto minha testa na sua, ainda mantendo nossos
olhares conectados.
Cas me lança um sorriso e isso me deixa feliz. Seu sorriso é a coisa mais
linda desse mundo e ele apenas direciona os verdadeiros a quem importa.
— Meu anjo Castiel — sussurro e fecho meus olhos, levando minhas mãos
até seu rosto, podendo sentir a maciez da sua pele.
— Meu cowboy indomável. — Ele sussurra de volta e isso me faz rir. Pois
se eu sou indomável, ele conseguiu me domar na maior perfeição.
Estou deitado no peito de Adrian e ouvir seus batimentos cardíacos me
acalma. Confesso que o encontro de horas atrás me abalou, mas já estou tratando
de arquivar isso e em seguida deletar da minha vida. Alan não tem nenhuma
ligação na minha vida e nem na de Evan, ele é alguém inexiste e totalmente
descartável para nós. Alguém que não tem a mínima importância.
— Meu Deus, eu vou morrer de amor — Adrian fala e isso me faz o olhar.
Levanto minha cabeça de seu peito e vejo ele sorrindo para a tela do
celular. Logo ele me percebe e arqueio uma sobrancelha em sua direção.
— Maurício me mandou isso. — Ele diz sorrindo e vira o celular para mim.
Um sorriso se abre em meu rosto ao que vejo uma foto de Evan. Na foto ele
está virado de costas e encostado em uma cerca, usando apenas uma calça jeans,
feliz por isso — falo sincero e enrolo um dos meus dedos em seus cabelos
longos.
— Eu espero saber educar ele bem, ensinando tudo aquilo que meus pais
um dia passaram para mim. — Ele diz e vejo uma nuvem de tristeza passar por
seu olhar ao lembrar de seus pais.
— Eles fazem falta, né? — pergunto a ele, que assente em silêncio.
Deixo um beijo em sua testa e ouço ele suspirar profundamente.
— Eles se foram muito cedo, Maurício foi quem mais sofreu. Marcos e eu
já estávamos homens formados, mas ele ainda era um adolescente e isso acabou
ainda mais comigo. Eles eram incríveis e iam te amar, pai Felipe seria seu
melhor amigo.
— E eu ia amar conhecê-los... Evan então, nem se fala — sorrio e o beijo
mais uma vez.
Adrian me aperta em seus braços e afundo meu rosto em seu pescoço,
podendo sentir seu cheiro incrível.
— Você pensa em ter mais filhos no futuro? — Ele pergunta de repente e
isso me faz ficar em silêncio.
Eu sei que o sonho de Adrian é ter filhos... sim, Evan já é para ele, mas sei
que ele quer mais. Só que eu não me sinto ainda preparado para isso. Eu amo
meu filho mais que tudo e amaria outra criança também, mas ainda não é o
momento.
— Claro que quero, mas não acho que seja por agora. Sabe, eu sempre
sonhei em ter uma gravidez daquelas que você acompanha cada momento. E
infelizmente com Evan não foi assim. Claro que fiz de tudo pelo meu filho, mas
também havia tristeza e mágoas junto a felicidade. Eu só quero em uma gravidez
futura poder viver toda a magia do momento — respondo a ele, depois de pensar
bastante.
— Eu entendo... vamos dormir um pouquinho? — Ele pergunta em tom
baixo.
— Vamos sim — respondo igualmente baixo e me aconchego ainda mais em
seu abraço.
***
Entro na sala de reuniões junto com Adrian no dia seguinte e posso ver
algumas cabeças se virando em nossa direção. Estamos em uma das salas sociais
de um hotel de luxo e há cinco homens na sala e apenas uma mulher, todos
sentados ao redor de uma mesa ampla de vidro.
— Bom dia, senhores! — Adrian cumprimenta a todos e eu apenas aceno
com a cabeça.
— É bom receber o senhor aqui. — Um dos homens diz e se levanta para
pegar na mão de Adrian.
***
burrada que estão fazendo, mas não poder fazer nada. Até porque a vida é deles
e são eles que devem tomar as rédeas de tudo.
— Você é quem sabe, se acha que isso é o melhor... siga em frente — falo e
me levanto. — Mas não quero que se arrependa no futuro — digo por fim e deixo
um beijo em sua testa.
— Eu não vou. — Ele diz convicto e eu quero mesmo acreditar em suas
palavras.
— Eu espero mesmo que não... nenhum dos dois — falo, mas acabo
sussurrando a última parte.
***
aceitado me mudar definitivamente para a casa de Adrian, que será nossa casa
agora, eu sinto que tenho a obrigação de contar a Dona Clarisse primeiro. Aliás,
minha avó é uma parte importante da minha vida e sempre esteve ao meu lado,
nada mais justo do que ela estar presente nas decisões que eu tomo em relação a
— Oi Cas! — Ele diz com um sorriso pequeno assim que chega até mim.
— Oi, Toni, hum... Eu queria te perguntar uma coisa — falo e ele logo
desce do cavalo, ficando da mesma altura que eu.
— Pode falar, Cas. — Ele diz e isso me faz hesitar um pouco.
Eu não quero ser invasivo com a vida do meu amigo, mas quero saber se ele
realmente está tendo algo com o Joaquim.
me faz ficar um pouquinho feliz. — E não, eu não superei minha paixão por
Maurício, pois é bem mais que isso.
— E por que ainda não disse isso a ele? — pergunto sem entender.
Tudo é tão mais fácil com diálogo, por que as pessoas simplesmente pulam
isso?
— Porque eu não posso. Nós não somos compatíveis e ele merece alguém
melhor que eu. — Ele diz sério, mas há mágoa e tristeza na sua voz.
— Isso de novo, Antônio? Pelo amor de Deus, quantas vezes eu vou ter que
te dizer que classe social não importa? Eu também sou pobre e ainda com um
filho na bagagem, mas Adrian me ama mesmo assim — falo, já cansado dessa
sua fala. Eu sei que não é algo fácil de aceitar, mas para o amor isso não existe.
— Você pelo menos terminou os estudos, sabe ler, escrever e se comportar
bem diante as pessoas. Eu não, Castiel, eu perdi muita coisa na minha vida e não
vou envergonhar ninguém assim. O que um futuro professor vai querer comigo?
— Ele pergunta e isso me faz suspirar.
Respiro fundo e fecho meus olhos com força.
— Então é isso, vai deixá-lo ir embora sem saber que você o ama? —
pergunto e quando abro meus olhos novamente, vejo surpresa em seu olhar.
— Ele vai embora? — Antônio pergunta baixo e eu assinto com a cabeça.
— Em uma semana... Ele decidiu aceitar fazer um curso de literatura nos
***
Entro em casa e escuto barulho na cozinha, o que me faz seguir até lá. Assim
que entro no cômodo, posso ver dona Clarisse acabando de colocar um bolo de
fubá em cima da mesa.
— Cheguei na hora boa — falo chamando sua atenção e ela logo sorri para
mim.
— Pensei que nem te veria tão cedo, quase não vem mais em casa. — Ela
diz com um pouco de deboche na voz e isso me faz revirar os olhos. “Isso é tão
dona Clarisse.”
— Sei que a senhora estava morrendo de saudades — falo convencido e
vou até ela, deixando um beijo em sua bochecha.
— Até parece. — Ela retruca.
Eu me sento na mesa e me sirvo com uma xícara de chá de erva cidreira e
pego um pedaço de bolo. Olho para minha avó por alguns instantes e tento
imaginar qual será a sua reação quando souber que vou me mudar.
Confesso que o pedido de Adrian ontem me pegou muito de surpresa, mas
admito que me senti especial com ele. Adrian, Evan e eu já somos uma família e
nada mais justo do que estarmos juntos. Meu único receio era por causa da
falecida esposa dele, mas depois de sua declaração, eu tive certeza da minha
decisão.
— Vó... eu preciso te contar uma coisa — falo e vejo seu olhar sobre mim.
— Estou ouvindo. — Ela responde e volta a comer.
Deixo meu bolo de lado e tomo mais um gole de chá, respirando fundo.
— Eu vou me mudar para a casa de Adrian... nossa casa a partir de agora
— falo e o silêncio toma conta do ambiente.
Sinto meu coração acelerado dentro do meu peito e fico com meus olhos
fixos nela. Só espero que ela não me ache um ingrato por isso.
— Até que enfim, não? Já deveria ter ido há muito tempo. — Ela responde
após alguns segundos e eu escancaro minha boca em descrença.
— Vó! Eu achei que a senhora fosse brigar comigo... sei lá! — falo quando
me recupero e ouço ela gargalhar.
— Até parece que você não me conhece, Castiel. Você e Adrian já possuem
uma família juntos e esse passo é importante para vocês. Desde que chegou, eu
sabia que não ficaria aqui comigo por muito tempo. Viva sua vida, querido, eu
estou feliz por você. — Ela diz sorrindo e suas palavras me aquecem por dentro.
— Obrigado vó, a senhora é demais — falo rindo e ela faz um gesto de
desdém com a mão.
— Eu sei. — Ela diz convencida e isso me faz rir ainda mais.
Nem sei porque senti um pouco de medo de falar com ela. De todas as
pessoas no mundo, minha avó é a que mais me apoia e fica feliz com minhas
decisões.
Termino de tomar meu café, jogando conversa fora com a minha avó. Até
que ligo para Adrian e peço para ele me ajudar a empacotar minhas coisas e de
Evan.
***
Olho para as caixas que estão sendo colocadas em meu quarto e isso me
traz um sentimento bom. Quando fiz o pedido para Castiel vir morar comigo, eu
achei por um momento que receberia um “não”, mas foi bem diferente disso.
Saber que vou ter ele e nosso filho por perto me deixa muito feliz e
completo, pois eles são minha família agora. Às vezes eu paro para pensar e nem
acredito em todas as coisas que aconteceram em minha vida. Em sete meses a
minha vida mudou por completo. Ganhei um filho que para mim é todo meu
universo e ganhei também um companheiro que não leva desaforo para casa e
***
***
***
— Eu não consigo superar aquele filme, amor — Castiel diz com a voz
embargada, enquanto estamos no carro seguindo para casa.
Ele está assim desde que o filme terminou, há quase uma hora atrás. Cas
ficou louco para ver o filme A cinco passos de você e não para de chorar. Ok,
confesso que até eu senti meu peito se apertar com aquele filme, mas parece que
meu namorado se afetou muito mais.
— Foi uma história linda, e olha que não gosto muito de filmes assim —
falo e ele me olha ofendido.
— Romance é o melhor. — Ele diz convicto e enxuga o rosto com um lenço
de papel. — O amor deles era tão bonito, mas eles não podiam nem se tocar.
Deve ser uma dor horrível. — Ele continua falando e suas palavras me fazem
refletir.
— Isso é verdade, nós devemos dar valor as pequenas coisas da vida.
Quantas vezes deixamos de abraçar alguém e só vamos sentir falta disso quando
não pudermos mais o fazer?
— Sim... eu te amo, tá? — Ele diz e isso me faz sorrir.
— Eu também te amo, meu cabelo de fogo — sorrio para ele e entrelaço sua
mão na minha, deixando um beijo nela em seguida.
Seguimos nosso caminho em meio a conversas e consigo fazer Castiel se
distrair um pouco do assunto filme.
Chegamos em casa por volta de umas onze horas da noite e vejo somente a
me expulsou de casa com um filho na barriga. Eu devo ser uma pessoa muito
ruim mesmo, sabia? Já que nunca tive um pai e uma mãe de verdade, pelo menos
não os que deveriam ter esse papel na minha vida — falo com amargura e tento
me manter o mais firme possível.
— Eu me arrependo por isso, tudo bem? E você está muito bem pelo que
estou vendo. — Ela diz e aponta com a cabeça em direção a Adrian e faz um
gesto para a casa.
Olho para ela incrédulo e só então começo a entender o porquê de ela estar
aqui.
— É dinheiro, não é? Tenho certeza que Vitória te falou alguma coisa e
— O que ela está fazendo aqui? — Sua pergunta é direcionada a mim e isso
me faz perceber que minha avó também está com mágoa.
— É uma longa história, vó. Mas a senhora pode abriga-la por essa noite?
Lá em casa já está cheio — minto na cara dura mesmo, pois por enquanto eu
quero manter distância dela e deixar meu filho longe também.
Minha avó me olha por bons minutos e eu imploro a ela com o olhar. Dona
Clarisse solta um longo suspiro após um tempo e sei que ela já tomou sua
decisão.
— Tudo bem, seu antigo quarto está vago mesmo. — Ela diz sem muito
entusiasmo.
Sorrio pequeno em sua direção e vou até ela, lhe dando um forte abraço.
— Obrigado vó, eu já vou indo — falo quando me afasto dela e deixo um
beijo em sua testa.
Recebo um beijo da minha avó também e olho mais uma vez para Glória,
antes de sair da casa e fechar a porta.
Paro por alguns segundos na varanda e fecho meus olhos, tentando
processar tudo o que houve nos últimos minutos.
Balanço a cabeça em negação e afasto momentaneamente tudo o que
envolve a minha família. Sigo meu caminho para casa e assim que entro em meu
quarto junto com Adrian e o vejo deitado na cama com Evan, eu sinto todo o
peso do mundo sair das minhas costas.
Abro um sorriso vendo os dois abraçados na enorme cama e fecho a porta
devagar. Tiro meus sapatos e minha calça jeans, ficando apenas de camiseta e
boxer, caminhando até eles.
Adrian acorda do seu pequeno cochilo e me aconchega ao seu outro lado,
tendo Evan e eu em seus braços.
— Eu te amo, ok? — Ele sussurra sonolento e deixa um beijo em meus
cabelos.
— Okay! — sussurro de volta e deixo um beijo em seu peito descoberto,
deixando um também em Evan que dorme tranquilamente nos braços do pai.
E estando assim com a minha família, as pessoas que realmente me amam,
eu esqueço tudo por um momento e foco apenas nesse amor que eu sei ser maior
que tudo.
Abro os olhos um pouco assustado pela movimentação na cama e percebo
Adrian acabando de se levantar. Solto um suspiro e acompanho ele com olhar,
até que ele entre no banheiro. Meus olhos se desviam para Evan e vejo meu filho
ainda dormindo calmamente. Vejo às horas no relógio em cima da mesinha de
cabeceira e percebo que ainda está bem cedo para uma manhã de domingo.
Fecho meus olhos novamente e automaticamente me lembro da visita que
está a poucos metros aqui de casa. É estranho e incômodo saber que Glória está
tão perto depois de tantos anos. Eu só queria poder estar em paz com a minha
família, sem que fantasmas do passado me atormentassem sempre.
Tento dormir mais um pouco, mas minha cabeça cheia de pensamentos me
impede de fazer qualquer coisa. Então apenas me sento na cama em meio aos
lençóis e velo pelo sono de Evan, até que vejo Adrian sair do banho já vestido
em uma calça jeans.
— Ei, bom dia! — Ele fala com um sorriso e isso é suficiente para que eu
me sinta bem melhor.
— Bom dia, amor — respondo de volta e observo ele jogar a toalha que
estava em suas mãos em cima de uma poltrona e caminhar em minha direção, se
sentando ao meu lado na cama.
E nem sei se um dia serei capaz de os perdoar, digo, ao meu pai e minha mãe,
pois Alan não merece nada e nunca terá um sentimento bom vindo de mim — falo
com frustração e sinto suas mãos acariciando meus cabelos com calma.
— Eu entendo como deve ser frustrante ter que conviver com pessoas que
simplesmente esqueceram da sua existência em algum momento, mas você é mais
forte que isso anjo. Se sua mãe não te faz bem, deixe isso bem claro a ela, faça o
mesmo que fez com Alessandro. Você não é obrigado a conviver e nem perdoar
ninguém, muito menos pessoas que viraram as costas para você quando precisou.
— Ele fala com calma e mantém seu tom baixo para não acordar Evan.
— É isso que vou fazer. Eu realmente não preciso dela e tenho certeza que
nem ela de mim — falo por fim e fecho meus olhos, apenas aproveitando os
carinhos de Adrian em mim.
Fico mais um tempo com meu namorido, apenas aproveitando estar em seus
braços, até Evan acordar e nos fazer viver para ele. Nossa, fui bem dramático
agora.
Descemos juntos para tomar café da manhã e quando chegamos a cozinha,
minha avó já estava com tudo pronto. E agradeço a Deus por não ver Glória ali
junto.
— Vó, acho que a senhora precisa de descanso — falo quando já estamos
todos na mesa e assim que as palavras saem da minha boca, um silêncio se
instala no cômodo.
Sinto os olhos da minha avó sobre mim e até busco o ar mais rápido, mas
me mantenho firme e olho de volta para ela.
— O que disse? — Ela se faz de desentendida e isso quase me faz rir.
— A senhora entendeu — falo e solto um suspiro. — Desde quando cheguei
aqui, nunca vi a senhora parar por um minuto sequer, sei que gosta de estar
sempre fazendo as coisas, mas tudo tem seu limite. Até nos fins de semana a
senhora está aqui em casa preparando as refeições, o que é ótimo, pois amamos
sua comida, mas acho que está na hora de diminuir o ritmo. Eu posso muito bem
fazer as tarefas aqui da casa, que agora é minha. Trabalho junto com o Adrian,
mas ainda tenho tempo e acho que posso te ajudar nisso. A senhora, sei lá... não
pensa em viajar ou curtir a aposentadoria? — pergunto por fim e vejo a
expressão de dona Clarisse séria para mim.
Eu sei que minha avó sempre foi independente e cheia de vida, mas acho
que está na hora dela curtir a própria vida. Trabalhou a vida inteira e nunca teve
um descanso digno.
— Está me chamando de velha, Castiel? — Ela pergunta de volta e eu quase
me engasgo com o ar.
— Oxe mulher, não! Eu só quero que a senhora aproveite a sua vida. Já
trabalhou a vida toda e ainda o faz, está na hora de curtir e quem sabe achar um
namorado — falo e sorrio sugestivo com a última parte.
— Ainda me parece que quer me ver pelas costas. — Ela diz e olho para
ela incrédulo.
— Vó! — falo e ela solta uma risada.
— Eu entendi, Cas. Prometo que vou pensar, mas por enquanto você vai me
ver por aqui. — Ela diz e por enquanto já me sinto satisfeito.
— Que bom — falo e me sinto feliz por ainda estar vivo depois dessa
conversa com ela.
Nosso café se passa sem mais grandes emoções e Adrian ainda fez algumas
piadinhas comigo depois.
***
Eu me sento nos degraus da varanda enquanto escuto Angie falando do outro
lado da linha e observo Adrian brincando com nosso filho na grama.
Solto uma risada ao ver meu namorido fingindo ser um touro enquanto Evan
quase se acaba de rir pulando nas costas do pai.
— Está rindo do quê? — Angie questiona e ele está sorrindo pelo tom de
voz.
— Adrian e Evan estão brincando de montaria, agora imagina a cena —
falo para meu amigo e ouço ele rir.
— Eu imagino. Nossa, não vejo à hora de ser Enzo brincando com nossos
filhos. — Ele diz e isso me faz sorrir.
— Aposto que ele vai ser um pai babão e super protetor, Enzo faz de tudo
por você e pelos bebês.
— Sim e eu o amo tanto por isso, às vezes nem parece real tudo o que
estamos vivendo. Passamos por tantas coisas, mas estamos firmes. — Ele diz e
ouço sua voz embargar.
— É porque existe amor entre vocês, Angie, e isso que importa. E a partir
de agora será somente felicidade pra vocês.
— Pra você também, Cas. Você merece tudo o que está vivendo, não deixe
que essas pessoas do passado estraguem tudo. — Ele diz se referindo a Glória,
já que contei a ele sobre ela estar aqui.
— Não vou... aliás, tenho uma família para me apoiar sempre.
— Tem sim. — Ele confirma e isso já é mais do que suficiente para que eu
me sinta amado.
Converso mais um pouco com Angie, até que ele me abandona para ir
comer sorvete... coisas de grávido.
Meus olhos se voltam para os meus dois amores se divertindo no quintal,
até que noto uma sombra parar ao meu lado.
Glória olha fixamente para Evan e isso me deixa um pouco incomodado.
— É ele? — Ela pergunta com a voz baixa e em seguida se vira para mim.
— Sim, ele é meu filho.
— Se parece muito com você. — Ela observa e isso me deixa satisfeito.
— Eu amaria meu filho de qualquer forma, pois ele é tudo para mim, mas é
bom saber que ele não tem nenhum traço daquele que ajudou a conceber ele. E
fico feliz que aos poucos, os traços que ele está ganhando sejam do verdadeiro
pai dele. Não digo na questão física e sim do jeito de ser, pois o caráter é o mais
importante — falo e vejo que ela fica surpresa com minhas palavras.
— É bom saber que você encontrou alguém que te aceitou com um filho de
outro. — Ela diz e isso me faz rir.
— Não, Adrian quem me aceitou junto com Evan. Em nenhum momento meu
filho foi algo a ser aceitado, ele simplesmente foi amado por Adrian desde o
princípio — digo simples e me levanto.
E perceber isso me deixa com raiva, pois ela ainda ama um homem que a
traiu e abandonou. Só que ela nunca teve a decência de ser um pouco mais
flexível com quem realmente precisava dela.
— Ele mora na cidade, está casado com uma mulher que tem alguns
negócios com meu namorado. Eu não sei muito da vida dele e nem faço questão.
— Sou duro em minhas palavras e percebo o impacto delas em Glória. — Mas
continuando... Eu não sei porque veio e não acredito no que me disse ontem.
Você teve quase três anos para poder me pedir perdão e não o fez, mas acha que
está no direito agora. Eu não te odeio, que isso fique bem claro, mas também não
te quero na minha vida — falo e vejo ela tentar me dizer algo, mas prossigo.
— Eu tenho uma família de verdade, pessoas que me acolheram nos
momentos em que mais precisei. E essa família não é você, não é Alessandro e
também não é a Vitória. Na verdade, acho que nunca foram — solto um suspiro
cansado e entrelaço minhas mãos, olhando fixamente em seus olhos. — Eu não
estou pronto para te perdoar agora e nem sei se um dia vou estar. E acredito que
sua vontade por perdão não é verdadeira, talvez quando você souber o real
significado dessa palavra, nós possamos conversar novamente. Só que agora eu
te quero longe e quero poder viver em paz com a minha família. E mais uma
coisa, Glória... acho que não é a mim que você deve pedir perdão de verdade, eu
realmente já superei tudo o que me fez, mas minha vó não — digo e vejo seus
olhos brilharem pelas lágrimas, talvez ela ainda tenha sentimentos.
— Aquela mulher sempre fez de tudo por você quando ainda era mais nova
e eu me lembro disso, pois acompanhei desde criança. Ela não merecia o
abandono, não merecia que você a esquecesse da forma que fez. Você se tornou
uma mulher amarga e vazia por um homem que nem vale a pena, pois ele te
trocou por dinheiro. E você trocou sua família pela amargura. Talvez ainda haja
tempo para vocês duas, antes que seja tarde e você se arrependa. Não estou te
convidando para vim visitar ela sempre, pois eu não quero mesmo sua presença,
mas você pode dar um jeito na situação e pedir perdão para a pessoa que mais te
ama no mundo, mesmo você não merecendo.
Quando termino de falar, seu rosto está repleto de lágrimas e isso é bom,
mostra que ela está acordando para a realidade.
— Eu vou tentar... Adeus, Castiel! — Ela fala após alguns segundos em
silêncio e se vai.
Observo ela caminhando até a entrada da fazenda e em seguida entrando em
um carro popular simples. E enquanto vejo ela indo embora, eu me sinto em paz.
Infelizmente nós temos que enfrentar algumas pessoas e situações do
passado, basta a gente saber como lidar com elas. Eu só espero que de agora em
diante, eu possa viver em paz... somente com o meu presente.
Coloco as coisas de Maurício na caminhonete e me sinto como se estivesse
deixando um filho meu ir embora. Algumas semanas se passaram e infelizmente
hoje é o dia em que meu irmão embarca para os EUA. Eu ainda não entendi o
porquê de ele ter mudado de opinião tão rápido em relação a esse curso fora.
Pois há alguns meses atrás ele disse que não iria de forma alguma, mas de
repente mudou de ideia.
— Calma, deixa eu me despedir direito... vou ficar um ano fora. — Ele diz
rindo e volta a abraçar um Evan sonolento que estava nos braços de Castiel. —
Aí, vou morrer de saudades do meu foguinho — diz e enche Evan de beijos, que
solta algumas risadinhas.
— É só não ir — Castiel diz sério, olhando em sua direção, e vejo meu
irmão colocar uma expressão triste no rosto.
— Sabe que eu preciso, Cas. — Ele diz e solta um suspiro, entregando
Eu realmente não sei se é uma boa ideia ele ir morar fora logo agora, mas
também não posso o impedir de ir. Apesar de me sentir muito responsável por
ele, Mau já tem a capacidade de decidir sobre a sua vida e eu só posso aceitar
esse fato.
Chegamos ao aeroporto quase duas horas depois e acabamos por encontrar
Marcos e Melissa junto com a pequena Ana. Teve mais uma sessão de
despedidas e lágrimas, já que Marcos também se sente na obrigação de proteger
nosso irmão mais novo.
Esperamos pacientemente até o voo de Maurício ser chamado e quando isso
acontece, realmente cai a ficha de que meu irmãozinho está me deixando.
— Tem certeza que vai ficar bem lá? — Melissa é quem pergunta, como
uma boa mãe preocupada.
— Vou sim, Mel, o Victor também está indo e não estarei tão sozinho. —
Ele responde e eu reviro os olhos.
— Não confio nesse seu amigo — falo a contragosto e Marcos solta uma
risada, o que faz Ana Clara imitar o pai.
— Você morre de ciúmes, isso sim — Marcos debocha e faço uma careta,
***
Antônio, basta você querer — falo por fim e vejo que ele parece estar em uma
luta interna.
— Eu vou pensar, amanhã te dou a resposta. — Ele responde e caminha até
a porta, saindo do escritório.
Volto a me sentar na cadeira e solto um suspiro.
— Agora as coisas fazem sentindo — falo comigo mesmo e abro meu
notebook, tentando me inteirar de algumas coisas da fazenda.
Muitas emoções para um só dia.
***
As mãos de Adrian apertam minha cintura e me leva para mais perto dele.
Nós aproveitamos nosso beijo devagar, até que a fome falou mais alto e nós nos
afastamos.
Terminamos de montar nossa mesa para o jantar e comemos em meio a
conversas e alguns planos para o futuro.
Meses depois...
não imaginamos que eles estariam conosco em tão pouco tempo. E muito menos
que Angie e Enzo iriam nos convidar para sermos padrinhos de Otávio. Foi uma
surpresa para todos quando Angie entrou em trabalho de parto no meio da festa,
mas agora só há sorrisos bobos nos rostos de todos que veem os gêmeos.
É incrível ver como cada um deles puxou características de um dos pais.
Otávio tem a pele negra igual Angie, os olhos castanhos iguais aos da avó
materna e os cabelos também acastanhados. Já Giovani tem a pele clara, os olhos
azuis idênticos aos dos pais e os cabelos loiros como de Enzo. Mas mesmos não
sendo iguais na aparência, já se pode ver que há uma conexão incrível entre os
dois bebês.
— Amor? Quer segurar ele também? — A voz de Castiel me desperta dos
meus pensamentos e me aproximo dele, que está sentado em uma poltrona no
quarto de hospital.
— Tenho medo de machucar ele — confesso e Castiel sorri pra mim.
— Você não vai. — Ele diz com convicção e se levanta com o bebê em seus
braços.
E tenho que confessar... a imagem de Castiel com um bebê nos braços é a
coisa mais linda que existe. E a vontade de poder ter mais filhos com ele só
aumenta em meu peito. Evan já é uma parte importante da minha vida, meu
primogênito. Mas ainda há um desejo enorme em mim de ser pai mais vezes.
Poder acompanhar todas as fases de uma gravidez que seja de um fruto cheio de
amor.
— Faça com os seus braços o mesmo que estou fazendo com os meus —
Cas fala suavemente e eu faço o que ele me pede. Em seguida ele passa o
pequeno corpo frágil para meus braços e mesmo com muito medo de machucar
Otávio, eu acabo o pegando com o máximo de cuidado, o ajeitando em meus
braços.
Eu me sento na poltrona que Cas estava antes e logo sinto um peso em
minha perna. Sorrio ao ver Evan com o rostinho encostado em minha coxa,
enquanto olha fixamente para o bebê em meus braços.
— Nené me? — Evan pergunta e isso me faz rir.
— Não, ruivinho... o bebê é seu priminho, mas não é seu — falo ainda rindo
e escuto mais algumas risadas no quarto.
— Quem sabe no futuro, foguinho? - Angie provoca e vejo Enzo formar uma
careta enquanto segura Giovani em seus braços, sentado ao lado de Angie na
cama hospitalar.
— Nosso filho acabou de nascer, anjo... não me faça perder os cabelos
desde já — Enzo resmunga e isso nos faz rir ainda mais.
— Nené du Eva! — Evan resmunga e faz um bico nos lábios, o que deixa
ele ainda mais fofo.
ele.
Ficamos mais um tempo junto com Enzo, Angie e as crianças, até que o
horário de visitas acabou. E como nós temos que voltar para a fazenda hoje
ainda, acabamos por nos despedir deles ali mesmo, prometendo voltar em breve.
Evan faltou perder os olhos de tanto chorar quando dissemos que íamos
embora. Ele queria por toda lei levar Otávio junto com ele, dizendo que o bebê
era seu... nas palavras emboladas dele. E com muita força de vontade e canseira,
conseguimos ir embora com um Evan chorando em meus braços.
***
ainda mais lubrificada e aberta para me receber. Quando me dou por satisfeito,
tiro meus dedos e minha boca dele, o ouvindo protestar. Eu me levanto, ficando
de pé novamente e viro seu corpo de frente para o meu, tomando sua boca na
minha. Devoro seus lábios com os meus e pego em suas coxas, fazendo ele
levantar e passar as pernas por meu quadril.
Passo uma de minhas mãos por sua coxa, deixando um aperto na mesma, até
encontrar seu pau pedindo por um pouco de atenção. Masturbo ele lentamente,
sentindo-o morder meu ombro para conter seus gemidos. O aperto ainda mais
contra a parede e levo meu pau até sua entrada, o penetrando lentamente, fazendo
rir.
Abraço ele mais forte e deixo um beijo em seus cabelos suados, não tendo
mais meu chapéu ali, que acabou indo ao chão.
— Acho que você deve usar esse chapéu mais vezes.
— Vou pensar no seu caso, senhor D'Ávila. — Ele responde e fecha os
olhos, parecendo cansado.
— O que acha de um banho e dormir um pouco? — pergunto calmo e passo
minha mão por suas costas, em um carinho.
— Claro, mas você vai me dar banho... se estou assim a culpa é sua. — Ele
exige e eu reviro meus olhos.
E mesmo o achando muito exigente, acabo fazendo o que ele disse com o
maior prazer.
Sinto meu corpo inteiro reclamar e solto um gemido por sentir minha
dormir. Sigo até o banheiro e faço minha higiene matinal. Termino alguns minutos
uma careta ao sentar na cadeira ao seu lado. Reviro meus e deixo um beliscão
em seu braço cheio de músculos.
— Cadê minha vó? Milagre ela ainda não estar aqui — falo e pego um
pedaço de bolo, começando a comer.
— Falando de mim pelas costas, Castiel? — Eu levo um susto ao ouvir a
voz da minha avó, que acabo dando um pulo na cadeira e me engasgado com o
pedaço de bolo.
do meu filho.
— Du Eva... — Ele diz com um beicinho e seus olhinhos estão cheios de
lágrimas que se formam.
Oh meu Deus, que maravilha!
— Desculpa bebê, papai vai fazer outro pra você — falo e deixo a
mamadeira vazia na mesa, me levantando em seguida. Pego Evan em meus
braços e deixo alguns beijos por seu rosto, o que faz ele me abraçar e afundar o
rosto em meu pescoço.
Escuto a risada de Adrian e olho para ele com meus olhos cerrados, o que
faz ele parar de rir na mesma hora.
— Para de ser uma hiena e vai fazer leite pro seu filho — falo e ele me olha
com uma sobrancelha arqueada.
— Mas foi você quem bebeu, a culpa não é minha. — Ele diz e reviro meus
olhos.
— A culpa é da dona Clarisse que chega igual a um fantasma — falo e
recebo um olhar nada agradável da minha avó, o que me faz calar a boca e
desviar o olhar. — Vai logo, Shrek... o filho também é seu — argumento e a
— Tudo bem, se a senhora não quiser eu quero! Até chamo o Angie para ir
comigo — falo sem mais paciência e pego o café de Adrian, tomando um gole.
— Ei, isso é meu! — Ele diz, mas não dou a mínima.
Terminamos de tomar nosso café, tendo um silêncio imenso como
companhia, sendo quebrado apenas pelos resmungos de Evan.
Adrian acaba pegando Evan e eles seguem em direção à sala, para a sessão
de desenhos matinal. Virou uma rotina de domingo para eles, o que eu acho muito
legal entre os dois.
Ficamos somente minha avó e eu, mas não ouso abrir minha boca para dizer
nada. É realmente ruim você querer o bem de alguém e essa pessoa não querer
ver. Tudo bem, eu sei que ela ama ser útil para alguma coisa, mas o que custa
curtir a vida um pouco? Ela já fez tanto pelos outros, fez tanto por mim.
Sinto uma mão segurar a minha por cima da mesa e quando levanto meus
olhos, encontro minha avó me olhando com carinho, o que me faz suspirar.
— Eu estava brincando, tudo bem? Eu sei que você só quer o melhor para
mim, mas eu não posso deixar de me sentir um pouco inútil às vezes. Eu sei que a
idade chega para todos e ela já chegou para mim há um tempo, mas quando estou
aqui na fazenda trabalhando, eu me sinto útil para algo. — Ela diz suavemente e
eu entendo o que ela quer dizer.
— Vó, eu te entendo, mas a senhora merece viver sua vida. E isso não vai
fazer a senhora ser menos. Você pode continuar fazendo as coisas que gosta, mas
também pode aproveitar o máximo de tudo. A senhora já fez tanto por mim, me
deixa fazer por você também? — peço com a voz um pouco embargada.
— Oh meu amor, eu te amo tanto, sabia? Agradeço a Deus pelo homem
maravilhoso que você se tornou. — Ela diz e se levanta em seguida, me puxando
para seus braços. — O que acha de me ajudar a fazer as malas? Acho que Emília
vai adorar ir para um spa. — Sua voz sussurra em meu ouvido e isso me faz rir.
— Ajudo, sim, mas quero minha torta — falo e recebo um tapa na bunda,
quase me levando a chorar.
— Aí não, vó! — choramingo e ouço sua risada gostosa, o que me faz
esquecer momentaneamente da dor.
***
ombro, sentindo seu cheiro. Deixo um beijo em seu pescoço e vejo seus pelos se
arrepiar, o que me faz sorrir.
— Humm... fomos convidados para um jantar. — Ele diz de repente e isso
me faz olhá-lo.
— Jantar? — pergunto confuso, pois eu ainda não conheço muitas pessoas
nessa região.
— Na verdade, é leilão que vai ter essa noite e após tem o jantar. Toda a
verba arrecadada vai para o orfanato da cidade. Eu até doei dois cavalos para
serem leiloados. — Ele explica e acho uma boa ação.
— Isso é bom, por que não me disse antes? — meus olhos se focam nos
seus e vejo um pouco de apreensão neles.
— Desculpa, é que não achei que iria gostar muito de quem será o anfitrião.
— Ele diz e só isso é o suficiente para que eu possa compreender a situação.
— Alessandro? — pergunto e Adrian assente.
— Ele e a esposa Jaqueline fazem isso todos os anos.
— Pelo menos ele faz caridade — falo e respiro fundo. — Você podia ter
me falado desde o começo, amor, eu jamais vou deixar de fazer algo por causa
dele. E quer saber? Nós vamos nesse jantar — digo por fim e ele me olha por
alguns segundos, me analisando.
— Tem certeza? Você realmente não precisa ir comigo se não quiser. — Ele
começa, mas eu nego com a cabeça.
— Isso é para ajudar as crianças, certo? — pergunto e ele concorda. —
Ótimo, nós vamos por elas e não por eles — falo por fim e vejo um sorriso se
abrir no rosto do meu homem.
As mãos de Adrian vão até meu rosto e o toque delas em minha pele me
deixam arrepiado.
— Já disse que você é o homem mais incrível que existe? — Ele pergunta e
eu nego com um sorriso.
— Disse não, mas pode começar... — brinco e ele ri, deixando um beijo
demorado em meus lábios.
— Você é incrível, diabinho! — Ele diz olhando em meus olhos e é bom
ouvir essas palavras. Mas não por questão de vaidade, é bom ouvir porque eu
sei que elas são ditas com o coração.
— Não, amor... você que é incrível — sorrio para ele, pois essa é a
verdade.
Eu jamais poderia imaginar alguém como Adrian entrando na minha vida.
Não achei que fosse possível eu ser agraciado com alguém tão bom, mas a vida
me deu ele e eu sou imensamente feliz por isso.
Termino de ajeitar meu cabelo de frente ao espelho e gosto do resultado que
eu tenho. Adrian acabou me surpreendendo mais cedo quando me presenteou com
várias sacolas de roupas. Isso só me fez confirmar que ele já sabia que eu iria
com ele nesse jantar, e que meu namorado é muito exagerado.
— Está lindo, diabinho — ouço a voz sussurrada em meu ouvido, que me
faz suspirar e arrepiar.
confortáveis. — Ele resmunga e isso me faz sorrir, apontando para o meus vans.
— Eu vou de tênis mesmo, não sou obrigado a nada — respondo e deixo
mais um beijo em sua boca.
Eu estou usando calça jeans na cor bege, camisa social branca com uma
jaqueta jeans por cima e meus vans brancos. Eu não nasci para usar esses trajes
muito engomadinhos e não vou mudar meu jeito de ser por causa das pessoas.
Elas que se adaptem ao meu jeito.
— Por isso você é meu orgulho, não está nem aí para as pessoas — Adrian
diz e isso me faz sorrir de forma verdadeira.
— Ok, Shrek, para de ser fofo e vamos logo para esse leilão. Estou a fim de
gastar o que eu não tenho — falo rindo e entrelaço minha mão na sua, nos
guiando até a porta do quarto.
— Se você gostar de alguma coisa, eu compro pra você. — Ele diz
enquanto andamos e eu reviro meus olhos.
— Amor, eu estava só brincando — falo e ele assente com a cabeça, mas
não sei se ele realmente entendeu.
Adrian e eu saímos de casa e seguimos até seu carro, pegando a estrada em
seguida. Pelo que eu entendi, o leilão vai acontecer em uma fazenda próxima
daqui que pertence à família de Alessandro. Nós decidimos não levar Evan
conosco, tanto porque vai haver muitas pessoas por lá e também pelo horário.
Por isso ele ficou com a bisa, que deve estar assistindo suas séries nesse
momento enquanto ele dorme.
Nosso caminho não demora muito, já que a fazenda é bem próxima da
nossa. E assim que Adrian estaciona em um pátio lotado de carros, percebo a
grandiosidade do lugar. Há uma estrutura grande montada no lugar e lá é onde
será feito o leilão.
— Olha, se você não quiser, nós podemos voltar para casa — Adrian diz
assim que nota meu silêncio absoluto desde que chegamos aqui.
— Não, está tudo bem... vamos? — Olho para ele e lhe ofereço um sorriso
calmo.
— Vamos! — Ele diz e pega em meu rosto, deixando um breve beijo em
meus lábios.
Adrian é o primeiro a sair do carro e depois de respirar fundo, eu também
imito seu gesto. Ele logo está ao meu lado e sua mão se entrelaça na minha, nos
guiando até nosso destino.
Vejo muitas pessoas bem vestidas pelo lugar, mas não conheço nem um por
cento delas. Desde que cheguei a essa cidade, a minha vida sempre foi na
fazenda, então meu maior contato são com as pessoas que moram lá e eu até
prefiro assim. Pois, por mais que esse evento seja para ajudar crianças que
precisam, vejo que a maioria está aqui apenas por status, o que é muito comum
em nossa sociedade.
Assim que colocamos nossos pés na tenda montada, vejo uma mulher muito
elegante vir em nossa direção com um sorriso e ela não está sozinha.
— Adrian, fico feliz que tenha vindo... já faz alguns anos que não nos
agraciava com sua presença. — A mulher diz e o cumprimenta brevemente com
um beijo no rosto.
— Apesar de não ter vindo nos outros anos, sempre fiz questão de
contribuir para a causa. Mas esse ano eu quis vir para mostrar ao Castiel, ele
gosta de tudo o que envolve ajudar o próximo — Adrian responde e os olhos da
mulher se voltam para mim.
— Já ouvi falar bastante de você, eu sou Jaqueline Campos... é um prazer te
conhecer, querido. — Ela também me cumprimenta com um beijo na bochecha.
E bem, eu acabei de conhecer a minha madrasta. Nada como começar a
noite bem.
— O prazer é meu, Jaqueline — sorrio para ela, mas meus olhos se voltam
para o homem ao lado dela, vulgo meu “pai”. — Tudo bem, Alessandro? —
Forço meu sorriso para ele, que me olha sem jeito.
— Tudo sim, e você como está? — Ele pergunta de volta e passa o braço
pela cintura da mulher.
— Ótimo, obrigado pelo convite. Eu amei saber que algumas pessoas têm
atitudes tão nobres com relação aos órfãos. Essas crianças realmente merecem
muito o apoio da sociedade, já que são esquecidas por algumas pessoas — falo,
olhando em seus olhos e vejo que ele engole em seco. Bom que ele entenda todo
o sentindo em minhas palavras.
— Não sabia que vocês se conheciam, achei que fosse apenas a Débora sua
amiga — Jaqueline diz e arqueio uma sobrancelha em sua direção.
Aquela vaca disse que somos amigos? Ah, mas não somos mesmo!
Sinto a mão de Adrian apertar levemente minha cintura, como se me pedisse
calma e eu apenas sorrio.
— Acho que você está um pouco desatualizada, Jaqueline, mas tudo bem...
eu vou te contar — sorrio calmamente para ela e vejo que Alessandro quase
perde a cor. — Primeiro de tudo, não sou amigo da Débora, não sei o que ela te
disse sobre mim, mas isso é uma mentira. Ela é somente uma mulher muito sem
noção que vive correndo atrás do homem dos outros e não aceita um não como
resposta. Segundo, Alessandro e eu nos conhecemos, pois foi ele o responsável
pela minha existência. É, ele é meu pai, mas me abandonou quando eu precisava
dele, assim como ele abandonou a família também há alguns anos atrás para ficar
com você. E terceiro, você me parece uma boa pessoa, sinto muito pela filha e o
marido que você tem — falo sem qualquer tipo de arrependimento e vejo sua
expressão perplexa para mim.
Pego na mão de Adrian e sorrio uma última vez para eles.
— Agora se me dão licença, vamos achar nossa mesa. — E sem qualquer
reação deles, nós saímos dali.
Solto um suspiro quando já estamos longe dos dois e me sinto de alma
lavada. Alessandro é tão cara de pau, que nem a mulher sabia que ele tem outros
dois filhos. É desse jeito que ele quer perdão?
Andamos por alguns minutos pelo salão, até que achamos a mesa com o
nome de Adrian, tendo somente dois lugares.
Noto muitos olhares sobre nós dois enquanto nos sentamos, mas não me
permito ligar para isso, já que há coisas mais importantes.
Adrian não toca no assunto de minutos atrás e eu agradeço muito por isso, já
que não quero falar sobre. E ao invés disso, nós embarcamos em uma conversa
sobre os animais que serão leiloados essa noite.
— Ei, por que ela disse que você não vinha antes? Achei que participasse
todos os anos desse evento — falo e olho curioso para o homem ao meu lado,
que está com um dos braços por cima dos meus ombros.
— Eu participava doando alguns animais, mas não comparecendo. Depois
que Carolina morreu, há quase seis anos, eu parei de fazer certas coisas,
principalmente as que envolvia ela também. — Ele explica e super entendo seu
ponto.
— Fico feliz que tenha querido vir novamente — sorrio para ele e entrelaço
nossas mãos.
— Amor, eu tenho querido muitas coisas depois que você e nosso filho
surgiram em minha vida. — Ele sorri e sinto meu peito se aquecer com suas
palavras.
Continuamos em nossa bolha, até que o leilão se dá início. Fico chocado
com o valor de alguns lances, mas também feliz que algumas pessoas podem
pagar e ajudar outras.
Se eu quase surtei quando Adrian comprou um pônei para nosso filho?
Sem pensar muito eu me levanto da cama e vou até ele, me abaixando ao seu
lado.
— Pode voltar a dormir, eu estou bem. — Ele resmunga e dá descarga no
vaso, e se senta no chão.
— Claro que está — falo com ironia e observo seu rosto pálido.
— Não é nada, agora me deixa dormir. — Ele diz baixo e nem tenho tempo
de retrucar, pois logo noto sua respiração suave.
Balanço minha cabeça em negação e me dando momentaneamente por
vencido, também acabo pegando no sono.
***
isso me faz sorrir. — Dia! — sinto sua outra mão bater em meu rosto e isso é o
suficiente para que eu abra os olhos.
— Quanto amor, senhor Evan — resmungo e me viro na cama, colocando-o
em cima do meu abdômen.
— Papai, dia! — Ele exclama feliz e bate palminhas, o que me faz deixar
um beijo em sua bochecha gorducha.
— Bom dia, ruivinho! Cadê o papa? — pergunto, mas minha resposta logo
chega quando Cas passa pela porta com uma mamadeira em mãos. — Bom dia,
amor... está tudo bem? — meus olhos o analisam e ele sorri para mim.
— Tudo certo, sem vômito. — Ele brinca e sobe na cama, entregando a
mamadeira para Evan, que começa a beber o leite como se nada mais
importasse. E para ele não importa mesmo.
— Isso é bom, eu tenho que ir na cidade e não gostaria de deixar você
sozinho — falo sincero e ele se deita ao meu lado.
— Não se preocupe, Antônio vai vir aqui mais tarde e me faz companhia.
— Ele diz e eu deixo um beijo em sua bochecha.
— Vou levar Evan comigo então, tudo bem? Vou encontrar o Marcos —
acaricio seus cabelos e sorrio quando Evan se joga sobre nós, para fazer o
mesmo com sua mãozinha livre.
— Evan vai adorar passar um tempo com vocês — Cas sorri e isso me
deixa satisfeito.
Esperamos Evan terminar sua mamadeira e descemos para tomar nosso café
da manhã. É até estranho não estar vendo dona Clarisse aqui esses dias, já que
ela aceitou a viagem que Castiel e eu demos a ela. Mas é bom ver ela
descansando, pois ela merece isso.
— Pode me trazer um pote de sorvete? — Cas pergunta quando eu já estou
pronto para sair.
— Aqui tem sorvete, cabelo de fogo — falo, estranhando, e ajeito o
pequeno boné na cabeça de Evan.
— Sim, mas quero de pistache. — Ele diz e isso me faz o olhar com uma
careta.
Já faz algum tempo que venho pensando em pedir meu cabelo de fogo em
casamento, mas confesso que o medo estava falando mais alto. Ainda tenho um
pequeno medo dele me dizer não, mas sei que não posso mais adiar isso. Quero
muito poder chamar Castiel de meu marido, quero ver ele indo até o altar junto
ao nosso filho... Quero poder solidificar ainda mais nossa família. Eu sei que um
pedaço de papel e uma aliança no dedo não diz muita coisa, e sim o sentimento,
mas isso é muito importante para mim.
— Isso é bom, irmão... fico muito feliz por isso. Você sabe que não falo
muito isso, mas eu te amo e só quero o melhor para você. Sei que Castiel e Evan
são muito importantes para você e vocês são uma família linda. Sou muito
orgulhoso pelo homem que você é, e tenho certeza que nossos pais também estão
muito orgulhosos — meu irmão diz e sinto meu peito se aquecer com suas
palavras.
— Eu sou o mais velho aqui, não me faça chorar — brinco e ele revira os
olhos.
— Idiota! Mas e então? Quando vamos ver esse anel? — Ele pergunta
entusiasmado e me questiono se foi uma boa ideia pedir ajuda para meu irmão.
Terminamos de comer em alguns minutos e saímos em busca de uma boa
joalheria. Evan observava tudo ao redor com os pequenos olhos brilhantes e
apontava algumas vezes para algo que gostava. Acabamos entrando em uma
joalheria bem conhecida e rapidamente uma funcionária veio nos atender. A
escolha foi difícil e no fim foi Evan quem acabou escolhendo o anel de noivado
para o papa.
— Bilo, bilo! — Evan diz, olhando encantado para uma das alianças que é
feita em ouro rose e é toda adornada por pequenos diamantes.
— É, filho, brilho... acha que o papa vai gostar? — pergunto olhando para
ele, que bate palmas como se para dizer “sim”. — É... eu também acho — sorrio
e deixo uma mordida leve em sua bochecha.
— O senhor vai ficar com esse par, então? — A funcionária pergunta com
um grande sorriso, já pensando na boa comissão que vai receber pela venda.
— Sim, são essas — confirmo.
— Bela escolha, seu companheiro vai amar. — Ela diz e nos deixa para
embrulhar as alianças.
— Eu espero que sim — sussurro para mim mesmo e sinto uma mão em meu
ombro.
— Castiel te ama, tenho certeza que ele vai adorar esse pedido, ainda mais
no aniversário dele — Marcos fala, percebendo o meu medo. Sorrio para meu
irmão e acredito em suas palavras.
Poucos minutos depois, a funcionária volta com minha compra e depois de
pagar, nós deixamos a loja. Ainda passamos mais um tempo no shopping, já que
Evan ficou louco pelo playground que havia ali. E quando fomos embora,
levando o bendito sorvete para Castiel, eu estava me sentindo mais leve e
confiante na minha decisão.
Pego o último enfeite da árvore de Natal na caixa e penduro na mesma,
contemplando meu trabalho de alguns minutos. Eu me levanto do tapete em um
movimento um pouco rápido e tenho que me segurar no sofá para não cair.
Respiro fundo e quando me sinto melhor, caminho até a tomada e ligo o pisca-
pisca.
Perco alguns minutos admirando a árvore no canto da sala de estar e
percebo o quanto minha vida mudou nos últimos tempos. Há mais de um ano
atrás eu jamais me imaginaria morando com um homem, tendo ele como pai do
meu filho... tendo uma família. A vida prega muitas peças na gente, algumas boas
e outras nem tanto. Eu já passei pelos dois, mas agora estou tendo a chance de
estar vivendo somente coisas boas com as pessoas que amo.
Sinto braços ao meu redor e sorrio quando o cheiro tão conhecido chega até
mim.
— Nosso filho virou literalmente o segurança de Otávio — Adrian diz e
deixa um beijo em meu pescoço.
Solto uma risada e me viro de frente para ele, passando meus braços ao seu
redor.
— Estou começando a ficar com ciúmes de todo esse amor — brinco e ele
logo se focam em minha avó e dona Emília que parecem duas garotas enquanto
preparam algo juntas. É perceptível que a amizade entre elas está maior e isso
me deixa feliz.
— Gente, eu estou apaixonado por essa criança! — escuto a voz alta de
Maurício e meus olhos o encontram segurando um Giovani de quase dois meses
em seus braços.
— Se apaixone à vontade, mas o filho é meu — Angie brinca e ele lhe
mostra língua.
Vejo que eles estão se tornando mais amigos com o tempo, já que antes um
tinha ciúmes do outro por causa de mim.
Ah, Maurício está passando alguns dias no Brasil, já que estamos nas festas
de fim de ano e estou feliz por ver meu amigo depois de tantos meses. Dá para
notar que há uma diferença nele, mas ainda é possível ver os mesmos olhos
apaixonados de sempre... um pouco apagados agora.
— Estou pensando em ter um bebê também — Maju fala, chamando atenção
de todos e fazendo seu irmão se engasgar com o ar.
— Está louca, menina? Você vai é terminar sua faculdade — Enzo diz sério
***
Estamos todos reunidos na grande sala, tendo gorros de Papai Noel na
cabeça enquanto um coro de “parabéns para você” se forma ao meu redor.
Sorrio para todos e para o bolo enorme que está a minha frente. Evan está
em meu colo e bate palmas animado enquanto olha encantado para as velas
acesas no bolo.
— Faça um pedido — Melissa fala sorrindo, assim que chega o momento
de soprar as velinhas.
Olho ao meu redor e não há nada que eu queira de fato pedir, já que tenho
tudo. Mas olhando para Adrian e Evan nesse momento, algo se passa em minha
cabeça.
Continuar sendo feliz com as pessoas que amo...
Assopro as velinhas, tendo Evan me “ajudando”.
Logo minha avó assume o papel de cortar o bolo e pego o primeiro pedaço
para mim, claro, dividindo-o com Evan e Adrian.
— Sálio, papa? — Evan me olha todo lambuzado de bolo e sorrio.
— Sim, amor, papa está fazendo aniversário. — Deixo um beijo em sua
bochecha, sentindo o gosto de creme de avelã.
Deixo Evan no chão e logo ele se junta a Ana Clara no tapete, passando a
mão lambuzada de bolo na prima.
— Ei, tenho que te parabenizar, não? — A voz de Maurício chama a minha
atenção e vejo meu cunhado ao meu lado.
— Acho que sim — solto uma risada e me levanto do sofá onde estou
sentado.
— Quero te parabenizar por esse dia tão especial e te agradecer por ter
entrado em nossas vidas. Você só trouxe luz para esse lugar, Cas. A cada vez que
eu vejo o sorriso no rosto do meu irmão, eu sou ainda mais agradecido por você
e pelo Evan também. Você foi um presente em nossas vidas. — Ele diz e me puxa
para um abraço.
— Não vale me fazer chorar justo hoje — reclamo e aperto ele ainda mais
em meus braços.
— Só um pouquinho — brinca e nós rimos.
Logo após Maurício, sou agraciado por mais abraços, não que eu já não
tenha recebido muitos hoje, mas é bom esse contato com as pessoas que amo. Ah,
tem a melhor parte também... poder ganhar dois presentes de cada um. Como é
bom fazer aniversário na véspera de Natal. E estando perto da meia-noite, todos
nós paramos de conversar quando Adrian chama a nossa atenção, batendo em
uma taça.
— Eu só quero aproveitar esse momento para dar meu presente para o Cas,
que na realidade nem é só dele. — Ele diz e o olho intrigado. — Amor, vem aqui
— pede ele e eu sigo em sua direção.
— Achei que já havia me dado um presente, que foi um carro por sinal —
falo e escuto algumas pessoas rir.
— Não, ele era só um — Adrian sorri e pega em minhas mãos, me fazendo
ficar de frente para ele. — Cas, meu cabelo de fogo, você não faz ideia do
quanto eu sou grato por Deus ter me mandado você. Há mais de um ano atrás, eu
era um homem que apenas sobrevivia e não via mais a beleza nas pequenas
coisas, mas tudo mudou quando um garoto atrevido entrou na minha vida. E ele
não estava sozinho, havia um pequeno anjo ruivo com ele. — Seus olhos vão em
direção à Evan e sinto meus olhos arderem pelas lágrimas. É tão bom ver o amor
que ele tem por nosso filho, que somente isso é o suficiente para me fazer feliz.
— Você me trouxe luz, Cas... você é a minha luz. Desde o princípio, eu senti
algo diferente por você e fico feliz que nós dois pudemos ir descobrindo esse
amor aos poucos. E o melhor de tudo isso é que você não me trouxe só o amor,
mas também me ensinou muitas coisas, muitas lições. E a cada dia que passa, eu
me apaixono e tenho mais orgulho pelo homem que você é. Um homem que cuida
da sua família, é um pai maravilhoso e um namorido incrível. — Ele diz e seu
último elogio me faz rir, assim como todos. — Nós já temos uma família perfeita
e já somos mais que unidos, mas há um passo que eu ainda quero dar com você.
E é por isso que eu te pergunto... Castiel Almeida, você aceita se casar comigo?
— Seus olhos estão focados nos meus e ele se ajoelha em minha frente
Sinto meu coração acelerado no peito e tudo piora quando vejo ele tirar
uma caixinha branca do bolso. Ela tem o formato de uma rosa e tenho certeza que
ele a mandou fazer. Mas isso são mínimos detalhes quando ele a abre e me deixa
de cara com o par de alianças brilhantes.
Respiro fundo algumas vezes e não sei porque, mas todo meu corpo começa
a ficar leve e minha cabeça lateja. Pisco algumas vezes ao que vejo alguns
pontinhos pretos em minha visão, mas é algo inútil quando eu perco a
consciência, sentindo meu corpo desabar em direção ao chão.
Acompanho o momento exato em que Castiel perde a consciência e seu
corpo vai de encontro ao chão. Sem pensar em nada mais, deixo a caixinha cair
da minha mão e vou de encontro a ele, impedindo que ele bata a cabeça na
cadeira logo atrás. Sinto meu coração acelerado no peito e tudo piora ao ver a
palidez em seu rosto.
Ouço vozes preocupadas ao meu redor, mas não presto atenção nisso e
pressa e chego até meu quarto, colocando Castiel com cuidado na cama.
Olho para seu rosto pálido e tento entender o que acabou de acontecer. Eu
estava o pedindo em casamento em um segundo e no outro ele estava indo rumo
ao chão. Deus, só com a gente para acontecer essas coisas.
Escuto barulho de passos e quando olho em direção à porta, vejo meu irmão
Marcos carregando sua maleta em uma das mãos.
cabeça. Ele teve também algumas tonturas. Insisti para ele ir ao médico, mas
sabe como Castiel é — respondo e solto um suspiro frustrado.
— Isso diz muita coisa — Marcos fala com um sorriso pequeno e olho para
ele confuso. Sério que meu irmão está rindo da desgraça alheia?
— Por que está rindo? Isso não tem graça — falo com irritação e meu irmão
somente me ignora.
Observo ele levantar a blusa que Castiel veste e pressionar sua barriga
algumas vezes. E se dando por satisfeito, ele abaixa a peça de roupa e se levanta,
indo até o banheiro do quarto.
Fico em silêncio, ainda tentando entender tudo e vejo meu irmão voltando
com um vidro de álcool e uma toalha de rosto nas mãos. Ele volta a se sentar na
beirada da cama e molha o pano com um pouco de álcool, levando até o nariz de
Castiel em seguida.
Demora alguns segundos, mas vejo que Castiel começa a voltar a si e abre
seus olhos devagar. Um alívio enorme toma conta de mim e me aproximo dele,
me abaixando ao lado da cama e pego em sua mão.
— Como se sente, Castiel? — Marcos pergunta com a voz calma e mantém
***
Alan e que eu não sou mais um garoto de dezesseis anos, eu não pude impedir as
lembranças de tomarem conta da minha mente.
Eu sofri muito na gravidez de Evan e os fantasmas disso me atormentam até
hoje. Mas eu sei que nada é como antes e vou tratar de afastar tudo isso de mim.
Essa gravidez será totalmente diferente e darei a esse filho o que eu não pude
quando esperava por Evan.
— Tem certeza que já está bem para descer? Você pode ficar aqui deitado e
eu dou uma desculpa a todos — Adrian diz preocupado e eu reviro meus olhos.
— Querido cowboy, eu estou grávido, não doente — sorrio para ele e pego
em sua mão, nos guiando até a porta do quarto.
Já faz quase uma hora desde que Marcos me deu a notícia e nos deixou
sozinhos no quarto. E bem, acho que está na hora de tranquilizar a todos sobre
mim.
— Estou vendo que você vai me fazer morrer de preocupação nessa
gravidez — meu noivo diz e eu acabo soltando uma risada.
Noivo, Deus! Eu estou noivo... muita emoção para uma noite só.
Há mais de um ano atrás eu era apenas um garoto sozinho e com um filho
nos braços. Eu não almejava muitas coisas na vida, a não ser o que fosse melhor
para meu filho. Evan sempre foi a prioridade em minha vida. Só que hoje eu não
me encontro mais sozinho. Tenho uma família, amo e sou amado por um homem
maravilhoso, meu filho tem um pai incrível e em pouco tempo outro membro da
família estará conosco e serei um homem casado.
Sorrio com meus pensamentos, mas os deixo de lado assim que chegamos à
sala. Todos os olhares se voltam para mim, mas não dou atenção a eles, já que
vejo um pequeno ser ruivo vindo correndo em minha direção.
— Papa! — Evan diz com um biquinho que eu acho extremamente fofo, e eu
me abaixo para o pegar em meus braços.
Sinto o olhar reprovador de Adrian sobre mim, mas apenas reviro meus
olhos e volto minha atenção ao meu pinguinho de gente.
— Oi, amor... papa te assustou, foi? — pergunto olhando para ele, que
apenas me abraça como resposta.
— Está melhor, Cas? Nos deu um susto enorme. — A voz de Angie me
chama atenção e noto seu olhar preocupado sobre mim.
— Sim, está tudo bem — sorrio para ele.
— Acho que esse desmaio foi para fugir do pedido de casamento — Enzo
brinca e leva um tapa do marido, mas arranca risadas de alguns.
— Idiota! — Adrian retruca e os dois parecem duas crianças quando se
juntam. — Ele disse sim.
— Ah, pelo menos isso! — Maurício fala rindo e entrega algo para o irmão.
— Ei, eu não tive culpa. — Me defendo e beijo os cabelos de Evan, que
ainda está me abraçando.
— É... a culpa foi do novo membro da família — Adrian diz com um
hora, sendo que em dois dias é “ano novo”. Na verdade, eu até sei, mas prefiro
nem pensar nisso. E por um lado é até bom estar aqui para ver como está meu
bebê.
Meu bebê, é tão estranho estar falando isso não sendo referido ao Evan,
mas também é maravilhoso. Eu tinha sim a vontade de ter mais filhos, ainda mais
com Adrian que é um pai incrível. Só que eu não achei que fosse tão cedo, ou tão
de repente. Mas independente de qualquer coisa, eu já amo meu filho mais do
que tudo e farei qualquer coisa por ele, assim como fiz por Evan.
— Ansioso? — A voz de Adrian me desperta e viro meu rosto em sua
direção.
— Não tanto quanto você — sorrio e aperto a bochecha de Evan, que está
entretido em um desenho no celular do pai.
— Não me culpe, eu esperei esse momento tipo a minha vida inteira. — Ele
diz ansioso e sua voz sai até um pouco nervosa.
— Eu sei, amor. Não se preocupe — peço.
Alguns minutos se passam, até que sou chamado para minha consulta.
Adrian caminha pacientemente ao meu lado, enquanto Evan está em seu colo e
sua mão está entrelaça a minha... e é dessa forma que entramos no consultório.
— Bom dia, eu sou o doutor Alexandre. — Um homem de uns trinta anos
nos saúda com um sorriso no rosto.
— Bom dia, doutor! Eu sou o Castiel, meu noivo Adrian e nosso filho Evan
— falo sorrindo e aponto cada um.
Noto que Adrian analisa o médico por alguns segundos a mais e isso me faz
revirar os olhos. O cowboy ficou com ciúmes.
— Família completa, isso é bom... sentem -se! — Ele indica as cadeiras em
frente à sua mesa e nós nos sentamos. — Trouxe os exames que Marcos indicou?
— Ele pergunta e eu afirmo, o entregando os dois envelopes.
O médico fica em silêncio por alguns minutos, analisando os exames e
aperto a mão de Adrian em um gesto involuntário.
— O seu exame de sangue aponta uma gravidez de dois meses. — Ele diz e
nos olha, mas há algo a mais.
— Tem alguma coisa de errado? — pergunto e tento não me preocupar atoa.
— Você está um pouco anêmico, mas podemos controlar isso. Vou te
encaminhar para uma nutricionista. — Ele deixa os exames de lado e junta as
mãos em cima da mesa. — Antes de irmos para o exame de ultrassom, eu tenho
algumas perguntas a fazer... tudo bem?
— Sim — concordo com um aceno.
— Como foi sua primeira gravidez? — Sua pergunta me faz suspirar um
pouco.
— Conturbada. Eu tinha dezesseis anos e aconteceram muitas coisas. Tive
pressão alta a gravidez inteira e quase o perdi por duas vezes, mas deu tudo
certo. Acho que tudo foi uma consequência do estresse que sofri na época e por
estar com um princípio de depressão — explico e ele acena.
me ajuda a subir na maca e fica ao meu lado com Evan em seu colo.
Sinto o gel frio em minha barriga e isso me faz arrepiar. Meu coração
também bate descompassado em meu peito e tenho que respirar fundo para me
acalmar. Desvio meus olhos rapidamente para Adrian e vejo seus olhos fixos no
pequeno monitor, estando tão ansioso quanto eu. E até Evan está na expectativa
por algo.
O aparelho começa a deslizar por meu ventre e uma imagem borrada se
forma na tela. O médico faz algumas medições e analisa se está tudo certo.
— Esse aqui é o bebê de vocês, estão vendo? — Ele nos olha rapidamente
enquanto circula algo na tela e nós afirmamos com um aceno, pois as palavras
fugiram nesse momento.
— Dá pra ouvir o coraçãozinho? — A pergunta vem de Adrian e vejo seus
olhos brilhantes por algumas lágrimas.
— Dá sim — doutor Alexandre responde e alguns segundos depois, o som
rápido começa a ecoar pelo lugar.
Sinto meus olhos transbordarem pelas lágrimas e a mesma alegria, mesmo
amor de três anos atrás me toma. Quando ouvi o coração de Evan pela primeira
vez, eu tive certeza de que faria tudo pelo meu filho. E agora essa certeza me
toma novamente, pois meus filhos são o que tenho de mais precioso na vida.
A mão de Adrian se solta da minha e quando miro seu rosto novamente,
vejo lágrimas descendo por ele. E é impossível não sorrir com Evan tentando
enxugar as lágrimas do pai, enquanto deixa beijos por sua bochecha.
Nossos olhares se encontram e vejo todo o amor que eu sinto nesse
momento sendo refletido nos olhos do homem que eu amo e que me deu uma
família.
— Obrigado por ter me dado a oportunidade de ter dois filhos com você —
Adrian diz com a voz embargada, se abaixando um pouco ao meu lado.
— Eu que agradeço, amor... Eu amo vocês — falo, também emocionado.
— Amo vocês a cada dia mais. — Ele sorri e deixa um beijo em minha
testa.
— Eva ama! — Evan diz com um biquinho, participando prontamente do
nosso momento em família.
***
que comigo — contesto e vejo um sorriso bobo surgir no rosto do meu noivo.
Adrian fica alguns segundos olhando para Evan e depois seus olhos se
voltam para mim.
— Você acha? — Ele pergunta incerto e eu afirmo com um aceno.
— Com toda a certeza... a cada dia ele pega mais de você, amor. Mas isso
me deixa muito feliz, pois o exemplo que ele tem de pai é o melhor. — Sou
sincero em minhas palavras.
— Obrigado! Eu ainda não sei como eu tive a sorte de ter um noivo
maravilhoso e marrento como você... — Ele diz e finjo uma careta indignada. —
Um filho perfeito e outro que está a caminho. — Suas palavras saem com puro
amor e sinto meu peito se aquecer.
— Falando nisso... o que você acha que é? Eu estou curioso — falo e apoio
meu queixo em minhas mãos.
— Não sei, mas eu vou amar de qualquer jeito... sendo um foguinho, ou
foguinha. — Ele diz rindo e eu o acompanho.
— Como sabe que será ruivo? — Questiono e ergo uma sobrancelha.
— Intuição de pai. — Ele diz convencido e reviro meus olhos.
Nossa conversa segue nesse rumo e logo nossos pedidos são trazidos.
Passamos um bom tempo por ali, mas logo decidimos ir embora, já que nossa
família e amigos ainda estão na fazenda para a virada do ano.
E assim que chegamos em casa, somos cercados por uma pequena multidão
louca pelas cópias do ultrassom que trouxemos conosco.
— Sério que você não vai me acompanhar nessa de ter gêmeos? — Angie
pergunta com um bico enquanto está sentado no sofá vendo o ultrassom.
— Está ótimo só um bebê, Angie — falo rindo e ele faz um gesto de desdém
com a mão.
— É porque você não sabe a maravilha que é carregar dois, tudo em dobro.
— Ele diz brincando, mas sei como ele amou todos os momentos de sua
gravidez.
— Por mim ele teria trigêmeos — Adrian diz com um sorriso e eu olho
cético para ele.
— Mas é claro, não é você quem vai parir eles — reclamo e ouço a risadas
de todos ao meu redor.
— Um é pouco, dois é bom... três é demais! — minha avó diz rindo ao meu
lado e me abraça. — Mas até que seria lindo ter três miniaturas correndo pela
casa junto com o Evan. Nossa, eu estou tão velha! — Dona Clarisse divaga e
isso me faz rir.
— Velha, onde? Estamos na flor da idade, minha amiga — Dona Emília diz
com um sorriso sapeca que me dá até medo. Deus abençoe que eu chegue na
idade delas com essa animação.
— Concordo, quero curtir muito quando chegar nessa idade — Mau fala
rindo e Angie concorda, dando um high-five com ele.
Balanço a cabeça em negação e mantenho um sorriso no rosto enquanto vejo
minha família louca.
***
Saio pela porta dos fundos e abro um sorriso ao ver toda uma parte do
amplo terreno decorada. Há uma mesa enorme posta no meio do gramado,
luzinhas penduradas nos galhos das árvores e duas mesas cheias de comidas e
doces.
Nossa família está toda espalhada pelo quintal, vestidos de branco e roupas
claras. Abro um sorriso ao ver Evan sentado em uma manta, brincando com
Giovani e Otávio, ou melhor, apenas vigiando os dois que estão deitados.
Enquanto Angie e Maurício os vigiam de perto em meio a conversas.
Involuntariamente minhas mãos pousam sobre minha barriga coberta pela
camisa branca e solto um longo suspiro. Definitivamente eu estou encerrando um
ano que começou de forma inesperado, mas o próximo vai começar com muito
amor ao meu redor e também dentro de mim.
Sinto braços ao meu redor e fecho meus olhos, aspirando o perfume de
Adrian, que jamais vai me causar enjoo, somente calma. Suas mãos são postas
em cima das minhas e sorrio ainda mais com esse gesto.
— No começo desse ano eu nunca imaginaria que minha vida mudaria tanto.
E eu te agradeço por isso, assim como ao nosso filho e a Deus. Me desculpa se
às vezes sou ciumento demais, ogro demais, mas saiba que acima de tudo eu amo
vocês. — Suas palavras soam baixas e calmas aos meus ouvidos. E eu sinto a
sinceridade de cada uma delas.
Abro meus olhos e enquanto olho para Evan, tenho a certeza que tomei a
decisão certa ao me mudar para cá. Eu me viro em seus braços e sorrio para meu
noivo, o abraçando.
— E nós amamos você, meu amor... eu, nosso Evan e nosso pinguinho de
amor que está crescendo. Eu posso também ser marrento às vezes, mas jamais
duvide do meu amor, e do quanto sou feliz pela vida que tenho com você. Vir
para cá foi a melhor decisão da minha vida — falo enquanto tenho minha cabeça
penumbra do quarto e quando viro para o lado, vejo Adrian roncando baixo
enquanto dorme na santa paz de Deus... por pouco tempo.
Eu me coloco sentado na cama e respiro fundo antes de começar a
chacoalhar meu noivo freneticamente. Adrian solta alguns resmungos, mas não
Adrian ainda me olha por alguns segundos, até que parece recuperar a
capacidade de falar.
— Tá! E onde acha que vou encontrar amoras uma hora dessas da
madrugada? Mais precisamente, duas horas da manhã? — Ele diz assim que dá
uma olhada no relógio em cima da mesinha de cabeceira.
— Estamos em uma fazenda, amor... Não tem um pé de amoras por aqui? —
pergunto e acabo fazendo um bico involuntário nos lábios. — Eu estou com tanta
vontade, até posso sentir o gosto delas... aquelas bem maduras e roxinhas — falo
e fecho meus olhos por um momento, sentindo minha boca salivar ao imaginar as
pequenas frutas suculentas.
amoras.
Acompanho a caminhonete de Adrian sumir na penumbra da noite e entro
novamente em casa. E aproveitando que perdi o sono, me deito em um dos sofás
da sala e ligo a TV.
Fico completamente sozinho por alguns minutos, até que escuto passos na
escada e Maurício se faz presente. Ele ainda está passando mais alguns dias aqui
na fazenda, aproveitando que suas aulas ainda não voltaram.
— Perdeu o sono também? — Ele pergunta com um sorriso e junta a mim,
se deitando no outro sofá.
— Meu primeiro desejo depois que descobri a gravidez — respondo e há
um sorriso em meu rosto.
É tão bom sentir essa felicidade por um único desejo, sabendo que meu
companheiro está junto comigo em todos esses pequenos momentos. Com Evan,
infelizmente, eu não tive isso, mas sei que agora é diferente.
— Que fofo! — Ele fala e aperta as próprias bochechas.
***
***
Assim que guardo o celular no bolso da calça jeans, vejo o veterinário que
cuida dos meus animais chegar. Cumprimento doutor Pedro com um aperto de
mão e logo ele vai fazer seu trabalho.
— Me desculpa por isso, senhor... Eu nunca ia imaginar algo assim —
Antônio fala ao meu lado e balanço a cabeça em negação.
— A culpa não é sua, Antônio. Isso está com cara de envenenamento, só não
sei quem faria isso — falo e tento imaginar alguém que queira me prejudicar,
mas nenhum nome me vem à cabeça. Não porque eu não tenha inimigos, acho que
todos temos alguém que queira nosso mal, mas é que realmente não consigo
pensar em alguém agora.
— Eu pensei o mesmo, mas não acho que o pessoal aqui faria alguma coisa.
Até porque muitos dependem desse trabalho e são pessoas honestas. — Ele diz e
concordo.
— Também não acho que seja alguém daqui... É alguém de fora. Só ainda
não sei quem, mas vou descobrir — solto um suspiro e desvio meus olhos do
pasto, pois me entristece ver a cena.
— Eu vou indo, me mantenha informado sobre tudo e peça ao doutor Pedro
um laudo urgente sobre a causa das mortes — falo e olho na direção de Antônio.
— Vou falar com a empresa de segurança e ver as câmeras que tem no celeiro e
na entrada da fazenda, talvez a gente tenha alguma coisa.
— Por que alguém faria uma maldade dessas? — Antônio pergunta um
pouco perdido e eu não tenho resposta para ele.
— Não faço ideia — respondo por fim e ponho meu chapéu na cabeça,
andando até onde deixei minha caminhonete.
Nesse momento o que me abala não é nem o prejuízo que vou ter com a
perda desses animais, mas sim a crueldade de alguma pessoa, ou pessoas. Não
faço ideia de quem quer me prejudicar, mas sei que isso não vai ficar assim.
***
***
com atenção.
— Então diga, pois estou surpreso de te ver aqui. — Ele diz e se põe de pé,
rodeando a mesa e se encosta nela.
Cruzo meus braços em cima do peito e respiro fundo, colocando meus
pensamentos em ordem.
— Não sei se soube, mas alguém envenenou boa parte do meu gado e eles
estão mortos — começo e vejo ele pronto para responder, mas prossigo. — Não
estou dizendo que foi você, mas sim que pode ter sido uma pessoa que você
conhece bem.
Ele franze o cerro, mas logo um olhar de reconhecimento passa por sua
face.
— Você está acusando minha filha? Débora não seria capaz disso. — Ele a
defende e reviro meus olhos.
— Não estou a acusando, pois ainda não tenho provas, mas logo saberei
quem foi. Eu só vim avisar que ela vai pagar, se caso for a responsável — falo e
mantenho meu olhar firme no dele. — Desde que eu disse que não teria nada com
ela, Débora me jurou vingança, principalmente a Castiel. E eu não me importo de
perder algumas cabeças de gado, mas garanto que as coisas serão diferentes caso
ela faça algo com as pessoas que eu amo.
Vejo ele vacilar um pouco e continuo.
— Eu só espero que você saiba tomar a decisão certa se algo acontecer. Sei
que considera Débora sua filha, mas quem tem seu sangue e um dia precisou de
você, não foi ela — falo e vejo que minhas palavras o atingem. — Bem, é só
isso que vim te dizer, e eu espero de verdade que não tenha que tomar decisões
drásticas.
Alessandro fica em silêncio e essa é minha deixa para ir embora, mas antes
que eu saia, escuto seu chamado.
Eu me viro em sua direção e vejo um olhar determinado em seu rosto.
— Se foi ela que fez isso, garanto que ela vai pagar. E quanto a Castiel, eu
não a deixarei fazer nada contra ele. Sei que ele não me quer por perto, mas eu
realmente amo meu filho. — Ele diz enquanto olha em meus olhos e sinto que
suas palavras são verdadeiras.
Aceno em sua direção e saio de sua sala em seguida, sabendo que meu
aviso foi dado.
***
Escuto o sinal do intervalo e saio da sala de aula, sentindo uma leve dor de
cabeça. Olho para a aglomeração de pessoas no corredor e caminho entre as
pessoas, tentando não esbarrar em ninguém.
Faz exatamente uma semana que eu comecei a faculdade de ciências
contábeis. Havia pensado em administração antes, mas acabei mudando de ideia
na hora de fazer a matrícula, mas tenho certeza de que é isso que eu quero.
Ainda não fiz nenhuma amizade, mas isso nem me preocupa tanto, já que
estou aqui para estudar.
Sinto meu celular vibrar no bolso da calça e quando o pego, abro um
sorriso ao ver o nome de Adrian brilhando na tela.
— Oi, Shrek! — falo sorrindo e vejo algumas pessoas me olhar estranho ao
dizer o apelido, faço careta para elas. Intrometidos.
— Como está por aí? Já comeu? Sabe que não pode ficar sem comer pela
manhã e você não tomou café. — Ele diz em seu tom preocupado de sempre s
sorrio.
— Estou indo para a cantina agora e prometo comer algo saudável —
respondo sorrindo e viro em um corredor, descendo as escadas para o térreo.
— Estou de olho, hein!?
— Você não está aqui, então não está, não — brinco e sei que ele está
revirando os olhos nesse momento. — E Evan? Ainda não me ligaram dizendo
que ele está chorando.
— E nem vão, ele amou aquela creche. Nem deve nos querer mais, já que
arranjou um amiguinho. — Ele diz dramático, o que acaba me arrancando uma
risada.
Assim que comecei minhas aulas, nós matriculamos Evan em uma creche.
Pra mim, já estava na hora dele socializar mais com crianças da idade dele e é
apenas meio período. Quando saio daqui às 11hr da manhã, Adrian me busca e
nós pagamos nosso projeto de gente. E, consequentemente, agora eu também
trabalho apenas meio período com Adrian.
— Você é tão dramático — falo rindo e paro de andar, vendo que há uma
fila enorme na cantina. — Alguma novidade sobre aquele assunto?
Infelizmente ainda não sabemos quem foi o responsável pelo
envenenamento do gado, que foi feito através de uma substância chamada
cianeto. A única pista foi um frasco que acharam lá, já que nenhuma câmera
gravou nada. E agora estamos esperando o laudo final da perícia.
— Ainda não, mas sinto que estamos perto de saber quem foi. — Ele fala e
assinto, mesmo sem ele estar vendo. — Vou voltar ao trabalho, às onze estou aí.
Beijo, amo vocês!
Sorrio e passo minha mão livre em minha barriga que ainda não há muita
evidência de gravidez, apenas quando uso camisetas mais apertadas.
— Nós também te amamos. — Eu me despeço dele e guardo o celular no
bolso.
Desisto de ficar ali e sigo até à frente da faculdade, onde há alguns
vendedores. Eu me sento em uma das barraquinhas e peço um sanduíche natural e
suco de abacaxi com hortelã.
Acabo me distraindo e levo um susto quando alguém se senta em minha
frente. Foco meus olhos na pessoa a poucos centímetros de mim e a surpresa me
toma ao ver Alan.
— Que merda você está fazendo aqui? — pergunto, um pouco agitado, e
faço menção de me levantar, mas ele segura em meu braço. — Me solta, senão eu
começo a gritar. — Encaro seu rosto com raiva, mas ele não faz o que eu mando.
— Fica quieto e me escuta, juro que é do seu interesse. — Ele diz sério e
acabo soltando meu braço do seu aperto com um movimento brusco.
— Não há nada que venha de você que possa despertar meu interesse.
— Nem seu filho? — Ele diz e isso me faz arrepiar.
— O que tem Evan? — pergunto com raiva. — Se veio aqui com alguma
intenção, pode tirar seu cavalinho da chuva. Ele não tem nada com você.
— Eu não quero nada com seu filho, mas também não quero o mal dele...
querendo ou não, ele tem meu sangue. — Ele diz e mesmo não querendo, confio
em suas palavras.
— O que quer aqui, então? — pergunto e me sento novamente.
— Vim te avisar que tem uma pessoa planejando mal a ele. Uma tal de
Débora veio me procurar, dizendo que estava planejando uma vingança contra
você. Eu posso não ter querido e ainda não querer esse filho, mas jamais ia
deixar que alguém prejudicasse vocês dois, sendo que eu poderia impedir. —
Ele conta e suas palavras me deixam tonto.
Fecho meus olhos e respiro fundo.
— O que ela planeja? — pergunto e minha voz sai muito baixa.
— Não sei exatamente, já que ela não quis dizer o resto quando recusei,
mas me lembro dela dizer que ia te dar um susto usando uma crise alérgica. —
Ele diz e quase sinto meu coração sair pela boca.
— Filha da puta! — É a única coisa que consigo dizer, antes de sair
correndo em direção à creche onde Evan está estudando.
Continuo correndo sem pensar em nada além de chegar logo onde está meu
filho. Sinto um pouco de falta de ar, mas nem isso me faz parar. Não consigo
— Entra, você não vai chegar lá vivo correndo assim. — Ele diz, mas não
movo um músculo.
— Como sei que posso confiar em você? Há alguns meses atrás você disse
coisas horríveis sobre meu filho e eu, por que quer nos ajudar agora? — acabo
expondo minha desconfiança, mesmo que agora não seja o momento para isso.
— Quer mesmo discutir isso agora? Acha que eu sairia da capital atoa? —
Suas perguntas me fazem refletir.
E mesmo não acreditando totalmente nele, eu respiro fundo e entro no carro.
— Vamos, a creche fica no centro — falo e pego meu celular no bolso da
calça.
Alan volta a dirigir e enquanto isso eu ligo para Adrian, querendo a ajuda
dele nesse momento.
Sinto meu coração bater acelerado em meu peito e minha garganta seca. A
chamada cai algumas vezes na caixa-postal e isso me deixa ainda mais agoniado,
até que ele me atende.
— Oi, amor! — A voz rouca dele chega ao meu ouvido e solto um suspiro
de alívio.
— Eu preciso de você, agora! Débora está querendo fazer alguma coisa
com Evan — falo tudo de uma só vez, pois não há tempo para enrolação.
desespero a um nível extremo. Sinto lágrimas descerem por meu rosto e tento
raciocinar por um segundo, o que me faz lembrar do refeitório. Limpo as
lágrimas e volto a correr, seguindo até o pequeno refeitório. Assim que chego ao
local, sinto um alívio enorme ao ver Evan sorrindo empolgado com as outras
crianças ao seu redor.
Não penso em mais nada e sigo até meu filho, o pegando em meus braços. O
abraço com força e sinto as lágrimas voltarem ao meu rosto, acabando por o
assustar um pouco.
— Papa! — Sinto seus bracinhos ao meu redor, como se estivesse me
consolando e sorrio.
— Oi, amor... papa está tão feliz de te ver. — Deixo alguns beijos por seu
rostinho e sinto suas pequenas mãozinhas limpando minhas lágrimas.
— Chola naum. — Há um biquinho em seus lábios e sorrio o beijando mais
uma vez.
***
aliviado.
Fecho meus olhos, mas me lembro do meu outro bebê e abro meus olhos
assustados.
— Evan? — Minha fala sai mais como uma pergunta e Adrian pega em
minha mão, querendo me acalmar.
— Ele também está bem, Cas. Melissa está com ele aqui — responde com a
voz calma e só então me sinto melhor. — Você me deu um susto e tanto, sabia que
não era boa ideia ter ido até Débora. — Sua voz sai séria e reviro meus olhos.
— Eu não fiz nada do que eu queria realmente. Minha vontade era dar uns
belos tapas naquela cara plastificada, mas ela ainda não está imune a isso — falo
— Nós podíamos ter o perdido, Adrian... nosso filho, ele... — Não consigo
continuar, pois só de pensar tudo fica ainda pior.
— Mas não o perdemos e nunca vamos. Débora não vai mais nos
atormentar, meu amor, e não ligo de usar meios sujos de mantê-la na cadeia. —
Ele diz e sinto sua boca em meus cabelos. — Só não vamos mais pensar nisso,
vamos apenas amar nosso filho como ele merece. E vamos também cuidar desse
serzinho que está em sua barriga, pois é somente isso que importa.
Concordo com um aceno silencioso e me agarro ainda mais a ele. Adrian
está certo, nós devemos apenas seguir em frente e deixar aquela cobra no
passado. Mas eu sei que ainda vou ter a minha chance de estar frente a frente
com ela.
***
Recebo alta depois de saber que está tudo bem com meu bebê, já que foi
tudo causado pelo estresse de mais cedo. Mas antes que eu possa sair do quarto,
sou surpreendido pela presença de Alessandro.
— Posso entrar? — Ele olha diretamente para mim e mesmo não querendo,
assinto com a cabeça.
— Eu vou buscar Evan, ele está na sala do Marcos — Adrian fala, mas
antes me direciona um olhar, querendo saber se está tudo bem. Assinto com a
cabeça e ele deixa um beijo em minha testa antes de sair e fechar a porta.
Eu Me ajeito na cama e encaro Alessandro, esperando para ele começar a
falar.
— Quero pedir desculpas pelo que houve e por tudo o que ela causou. Juro
que se pelo menos imaginasse tudo isso, nada teria acontecido. — Ele diz e solto
uma risada irônica.
— É pra você ver o monstro que criou — falo, não impedindo que essas
palavras saiam da minha boca.
— Sei que nunca vai me perdoar por isso. — Ele suspira e se aproxima
mais um pouco da cama. — Eu a considero sim uma filha, Castiel, mas ela não é
mais que você e Vitória. Você pode não acreditar, mas eu te amo e hoje me
arrependo muito por ter jogado a minha chance de ser seu pai no lixo. Não fui
honesto com você várias vezes e me sinto um lixo por isso.
— Ainda bem que reconhece seus erros, mas me dizer “Eu te amo” não vai
mudar nada o que aconteceu. Só espero que você abra os olhos com a Débora,
pois eu não desejo seu mal, já que ela é capaz de muitas coisas — falo e encaro
minhas mãos.
— Eu sei, infelizmente percebi isso tarde demais. — Ele suspira. —
Qualquer coisa que precisar eu estou aqui, e Castiel... você ainda é meu filho.
Não digo nada e em seguida escuto a porta ser aberta e fechada. Solto um
suspiro e fecho meus olhos.
Não posso mentir e dizer que não sinto nada quando ele vem falar comigo,
mas isso não apaga nada... nunca vai apagar.
Balanço a cabeça e afasto todos esses pensamentos. Eu me levanto da cama
e saio do quarto à procura dos meus meninos.
Encontro Evan e Adrian vindo até mim e sorrio para eles, os abraçando
com força. Nada mais me importa além da minha verdadeira família.
***
Saio dos meus pensamentos e ao abaixar meu olhar, sorrio ao ver Evan agarrado
as minhas pernas.
É tão bom ver meu filho assim... bem. Confesso que depois de tudo meu
cuidado com ele se tornou ainda maior e não é somente eu que estou assim,
Adrian também está. Acho que é impossível não se tornar pais superprotetores
depois de tudo.
— Eva dumi! — Ele diz com manha e encosta o rostinho em minha perna.
— Você quer dormir, amor? Mais? — sorrio e o pego em meus braços,
deixando um beijo em sua bochecha.
— Evan Almeida D'Ávila! Eu preciso te dar banho! — Adrian aparece
gritando no closet e nosso filho apenas fecha os olhos e me abraça mais
apertado.
Olho para meu noivo parado na porta e solto uma risada. Eu não sei porquê,
mas Adrian jamais consegue dar banho em nosso filho... E o engraçado é que
Evan ama tomar banho.
— Perdeu, cowboy... de novo! — debocho e ele revira os olhos para mim.
— Eu desisto! — Ele solta um suspiro dramático e tira a camisa, me
deixando um pouco sem fôlego. “Que saúde, Deus!”
— Aproveita e toma banho, pois estamos atrasados — falo e começo a sair
do quarto com Evan nos braços.
— Mas somos os anfitriões da festa, podemos nos atrasar. — Ele diz alto e
solto uma risada.
Sigo até o quarto de Evan e nem ligo de estar apenas de cueca. Com um
pouco de dificuldade dou banho em Evan, que havia voltado a dormir, e poucos
minutos depois ele está pronto.
Quando volto ao quarto, deixo Evan com Adrian, que também já está
pronto, e vou terminar de me arrumar. Meia hora depois, estamos saindo de casa
e indo até a casa de Marcos que é onde acontecerá a revelação do sexo do bebê.
Infelizmente Maurício não pôde vir e fiquei muito triste no começo, mas
depois me conformei com isso, já que ele vai estar presente através de vídeo
chamada.
— Ansioso? — pergunto em direção a Adrian, que dirige concentrado.
— Muito, tanto que faz uma semana que não durmo. — Ele responde e isso
me faz rir.
— Eu também.
Chegamos à casa de Marcos quase uma hora depois e sorrio ao ver que
quase todos estão ali. Somos recebidos com muitos abraços e ganho muitos
carinhos na barriga. A decoração do lugar está toda feita em azul e rosa e há uma
cortina enorme no canto da sala, que tampa completamente o painel com o nome
do bebê.
Sim, nós já decidimos o nome do bebê, sendo menino ou menina. Adrian foi
quem escolheu o de menina e eu o de menino. Ambos tendo significados muito
importantes para nós. Agora só falta saber qual dos dois será o nosso pequeno
pedacinho de felicidade.
— Eu preciso saber logo qual o sexo desse bebê. Apostei mil reais com seu
irmão - Enzo fala para Adrian e olho indignado para ele.
— Você apostou o meu bebê? — grito com ele, que arregala os olhos e se
enfia atrás de Adrian que está prendendo o riso.
— Não, eu apostei o sexo dele... é diferente. E só pra constar, não foi só
eu... a família toda está no bolão do bebê furacão — Enzo se defende e eu olho
indignado para todos.
— Ah, para de enrolação e vamos saber isso logo! — minha avó diz mau
humorada e reviro meus olhos.
— Ok, todos prontos? Já ligaram para o Mau? — Melissa pergunta e como
resposta Maurício manda um tchauzinho pela tela do celular na mão de Marcos.
— Eu vou parir de ansiedade aqui! — anuncio e ouço as risadas ao nosso
redor.
Adrian me abraça de lado enquanto Evan está em seu colo e tem um
bracinho ao redor do meu pescoço.
— Ok, vamos lá! — Melissa diz empolgada e bate palmas, sendo imitada
por Ana Clara que está nos braços da minha avó.
Sinto meu coração ficar cada vez mais acelerado em meu peito e sei que as
pessoas ao nosso redor também estão tão ansiosas quanto. A contagem
regressiva começa e dez segundos depois a cortina caí no chão, revelando o sexo
do nosso bebê. E o nome Helena parece reluzir no centro do painel.
Sinto as lágrimas descerem por meu rosto, lágrimas de completa felicidade
e me viro, abraçando Evan e Adrian com força.
— Nosso pequeno raio de sol, amor. — Ele sussurra em meu ouvido e
assinto com a cabeça.
Uma mão minha vai até minha barriga e Adrian também coloca a sua por
cima da minha, transmitindo em nosso toque todo o amor que há em nós dois por
nossa pequena.
Adrian se abaixa na minha frente e deixa Evan ao seu lado. Ele levanta
minha camiseta e deixa alguns beijos pela minha barriga exposta, e vendo o gesto
do pai, Evan pede para fazer o mesmo. O sorriso permanece intacto em meu
rosto e apenas as lágrimas de felicidade continuam descendo por minha face.
Luz, ou raio de sol... esse é o significado do nome Helena e é exatamente
isso que ela é em nossas vidas. Ela marca nosso novo recomeço. Ela significa
tantas coisas, tanto para mim, como para Adrian. Ela é a forma mais pura do
amor que nos une.
— Eu nem acredito nisso, é como se eu já soubesse — Adrian diz feliz e se
levanta, deixando um selinho em minha boca.
— Papa! — Evan resmunga puxando a minha calça e me afasto
— Ainda bem que você sabe que nossa família se unirá ainda mais no futuro
— Adrian o provoca enquanto me abraça por trás.
— Quero só ver quando for a hora da Helena — Enzo retruca e ouço meu
Minhas palavras saem com sinceridade, pois ele foi sim meu pai por um
tempo. Mesmo que só por dez anos da minha vida. Ainda dói muito pensar em
tudo, mas sinto que a cada dia essa dor diminui e as mágoas também. É claro que
eu não vou esquecer tudo... Isso é impossível, mas eu quero viver sem ter um
peso enorme em minhas costas. Não quero viver com assuntos mal resolvidos e
nem com mágoas de ninguém, isso não vai acrescentar em nada na minha vida.
— Eu me arrependo do jeito que deixei vocês. Me arrependo de ter
abandonado as pessoas que realmente precisavam de mim. Mesmo eu não
amando mais sua mãe, vocês ainda eram meus filhos e sempre vão ser, mesmo
que não me vejam mais assim. Só que agora não adianta mais chorar pelo leite
derramado. Eu só quero que saiba que pode contar comigo sempre e que eu te
amo. Pode parecer tarde para ser seu pai agora, mas dizem que nunca é tarde
para muitas coisas. E eu nunca vou te cobrar nada, eu sei de tudo que fiz e a
gravidade de tudo isso. Mas me conforta saber que você é um pai bem melhor do
que eu. — Ele diz e sua voz sai um pouco falha.
Também sinto meus olhos marejados e respiro fundo para não chorar.
— Posso te dar um abraço? — Sua pergunta me pega de surpresa e fico até
sem fala.
Penso por alguns segundos e mesmo depois de tudo, acho que eu posso dar
isso a ele. Afinal de contas, a vida é curta demais e talvez amanhã eu possa me
arrepender daquilo que não fiz.
Assinto com a cabeça e abro meus braços para ele. Logo seu corpo grande
toma o meu em um abraço apertado, mas ele toma cuidado para não apertar
minha barriga. Fecho meus olhos e seu perfume chega até meu nariz... o mesmo
de sempre. E quantos anos eu não ansiei por esse mínimo toque, por essa
demonstração de afeto?
***
— Ei! Podem parar de segredinhos aí... eu quero saber que lugar é esse —
Angie diz e balanço a cabeça em negação.
— Eu também sei — minha avó provoca, o deixando ainda mais atiçado.
E ficamos assim pelos próximos minutos, até que Angie decidiu que iríamos
brincar de acertar os presentes. O que para constar, eu não apoiei.
Até Evan entrou na brincadeira e também foi pintado nos nossos erros, o
que foram muitos. Adrian saiu de lá com os cabelos todo enfeitado por pequenas
presilhas brilhantes, que todos afirmaram ser seu futuro com Helena. Eu tive toda
a minha barriga pintada de batom e tinta guache. E meu pequeno furacão estava
com o rostinho parecendo um palhaço. Super estilosos, eu sei.
Nos despedimos de todos no começo da noite e agradeci muito o que eles
fizeram por nós. A cada dia que se passa, tenho certeza que essa é a melhor
família do mundo.
***
Eu me sento no sofá da sala, tendo em minhas mãos um pratinho cheio de
doces da festa de mais cedo. Confesso que fiquei apaixonado por um brigadeiro
de paçoca que nunca tinha comido antes, mas virou minha paixão.
Vejo Adrian descendo as escadas, usando apenas com uma bermuda de pano
mole, e ele balança a cabeça em negação quando me vê com os doces. Aperto o
pratinho contra meu peito e cerro meus olhos em sua direção.
— Sabe que não pode exagerar. — Ele alerta e se senta ao meu lado, me
puxando para seu colo em seguida.
— É só hoje — insisto e ele assente.
— Só mesmo, depois os doces vão ser cortados. — Ele diz e olho para ele
horrorizado.
— Você não pode dizer isso a um grávido... é um crime! — falo em puro
drama e ele solta uma risada.
Adrian deixa um beijo rápido em minha boca e em seguida sinto sua mão
em minha barriga.
— Acredita que sonhei com uma garotinha? Mas não quis dizer nada para
não criar expectativa. Estou tão feliz, amor... é um sonho meu se tornando
realidade. — Ele diz e posso ver a emoção em seu olhar.
— É o nosso sonho — pego em seu rosto e olho em seus olhos. — Ela vai
ser a nossa luz, amor, ela está marcando um novo recomeço em nossas vidas.
Nós já sofremos tanto, mas encontramos o amor nos braços um do outro. Evan e
Helena são os nossos maiores laços — falo, também emocionado, e ele concorda
com um aceno.
— São sim e amo nossa pequena família. — Ele responde e deixa mais
alguns beijos em minha boca.
Eu me aconchego ainda mais em seus braços e termino de comer meus
doces enquanto Adrian coloca em um filme qualquer na TV.
Sinto um aperto no peito de repente e no mesmo instante meu celular
começa a tocar. Pego o aparelho e vejo minhas mãos trêmulas. Aparece um
número diferente na tela e antes de pensar em atender, respiro fundo.
— Alô?
— Cas, sou eu... Vitória. — A voz chorosa dela chega até meus ouvidos e
sinto um arrepio percorrer meu corpo.
— O que foi, Vitória? Por que está chorando? — Saio dos braços de Adrian
e me sento no sofá. Sinto o olhar dele em mim, mas presto atenção na conversa
com minha irmã.
— É a nossa mãe. — Ela diz em meio aos soluços e isso me deixa ainda
mais nervoso.
— O que tem ela? Me diz! — Peço com a voz mais firme.
— Ela está morrendo, Cas. — Suas palavras me pegam totalmente de
surpresa e o telefone acaba caindo da minha mão.
Eu me sinto tão atordoado nesse momento, que não sou capaz de escutar o
que Adrian fala para mim. Sinto minhas mãos trêmulas e respiro fundo, tentando
me acalmar. Não posso me estressar, mas... é minha mãe. E ela está morrendo?
Não sei quanto tempo fico nesse estado vegetativo e só acordo quando sinto
o toque de Adrian em meu rosto. Ele me faz olhar em seus olhos e só então sou
capaz de ouvir o que ele fala.
— Calma, ok? Você quer ir até ela? — Ele pergunta com a voz calma e eu
assinto com a cabeça.
— Sim... ela é minha mãe apesar de tudo — falo com a voz falha e ele
concorda, deixando um beijo em minha testa em seguida.
— Tudo bem. Você acha que consegue arrumar algumas roupas para a gente
levar? Vou avisar sua avó sobre tudo e pedir para Melissa cuidar do Evan. Não
acho que seja bom ele ir conosco — Adrian diz e eu concordo com tudo.
Em poucos minutos eu consigo arrumar uma bolsa com poucas roupas para
mim e Adrian. Tomo um banho rápido e sigo até o quarto de Evan, preparando
uma bolsa para ele. Adrian aparece após alguns minutos e vai trocar de roupa, já
que ele estava apenas com uma bermuda.
Meus movimentos ficam totalmente no automático e não consigo pensar em
nada direito. Tanto que quando me dou conta de algo novamente, nós já estamos
no carro junto a minha vó, seguindo para a cidade.
A pior parte é deixar Evan longe de mim, mas sei que não é bom ele ir
conosco nesse momento.
— Me liga qualquer coisa, qualquer mesmo, que eu volto no mesmo instante
— falo, olhando para Melissa que agora segura Evan ainda dormindo.
Acho que depois que tudo aconteceu, eu me sinto muito nervoso em me
separar dele, mesmo que eu saiba que nada vai acontecer. Mas o trauma de tudo
aquilo vai permanecer em mim e o cuidado sempre será maior.
— Eu prometo, mas fica calmo, Castiel. Evan está seguro aqui. — Ela diz
***
E assim que desço da caminhonete junto com eles e fico de frente ao grande
hospital, sinto meu coração acelerar em meu peito.
— Está tudo bem, Cas. Não vamos sofrer por antecipação — minha avó diz
e me abraça de lado.
Concordo com um aceno e pego na mão de Adrian enquanto seguimos até à
entrada. Passamos pela recepção e pergunto em qual quarto a paciente Glória
Almeida está e logo somos encaminhados até lá.
Em poucos minutos estamos em frente à uma porta de madeira. Quem abre a
mesma é minha avó, já que eu não tive coragem para isso. E assim que entro no
quarto, sinto uma sensação ruim ao ver Glória deitada na cama de hospital,
ligada à vários aparelhos. Seu rosto está tão pálido, que ao redor de seus olhos
possui uma cor arroxeada. Ela está bem mais magra do que quando a vi há alguns
meses atrás e parece extremamente frágil.
Aperto a mão de Adrian que está junto a minha e sinto ele me envolver em
um abraço.
Vitória está sentada ao lado dela na cama e assim que percebe nossa
presença, se levanta, olhando para cada um de nós.
— Vó! — Ela vai direto até nossa avó, que a recebe com um abraço.
E é impressionante como lembramos das pessoas que deveriam ser mais
importantes apenas quando estamos em situações ruins. Mas não quero pensar
nisso nesse momento, pois é capaz de eu virar as costas e ir embora, e eu não
quero isso.
Apesar de tudo, elas ainda são minha família de sangue. Mesmo que tenham
esquecido disso por alguns anos... eu nunca esqueci.
— O que ela tem? — minha voz sai um pouco rouca, mas não me importo
com isso.
Vitória se afasta após alguns segundos da minha avó e me olha, o que me faz
perceber seus olhos vermelhos e inchados.
— Leucemia. — Ela responde com a voz falha e eu paro de respirar por
alguns segundos.
— Mas... — Não consigo falar mais nada, pois sinto minha garganta se
fechar.
— Como? — minha avó pergunta e vejo seus olhos se encherem de
lágrimas.
— Eu só descobri faz algumas semanas, ela não disse a ninguém, até que
passou mal em casa e eu a trouxe ao hospital. Ela estava carregando tudo sozinha
e eu não pude fazer nada. Aí ontem ela teve uma piora e eu tive que ligar, mesmo
ela não querendo — minha irmã diz chorando e sinto meus próprios olhos
arderem pelas lágrimas.
— E qual a situação dela? — Adrian é quem pergunta, já que nem eu e
minha avó temos voz para isso.
— Eu ainda não sei, o médico responsável pelo caso dela não veio dar
notícias — Vitória responde com a voz ainda embargada.
Adrian me aperta ainda mais em seus braços e eu agradeço por isso. E
como se soubesse a hora exata de aparecer, a porta do quarto é aberta, revelando
um homem de uns quarenta anos com um jaleco branco e uma prancheta em mãos.
— Bom dia a todos! — O médico diz assim que vê todos e nós o
respondemos em uníssono.
— Alguma mudança? — Ele pergunta e Vitória é quem o responde com uma
negativa.
— Qual é o estado dela? — pergunto, tentando manter minha voz firme,
mesmo com o nó em minha garganta.
— Não sei se sabem, mas no câncer existem cinco estágios e ela já está no
quatro. — Ele explica e segue até ela na cama, verificando os aparelhos. —
Glória começou a se tratar um pouco tarde, já no estágio três e infelizmente não
vem respondendo muito bem ao tratamento.
— Mas há uma chance para ela, não? — pergunto e minha voz sai um pouco
desesperada.
— Sempre há chances, mas infelizmente as dela são pequenas. Estamos
tentando achar um doador de medula que seja compatível com ela, mas está
sendo uma busca difícil. — Ele explica e seus olhos me fitam com pesar.
— Eu não sou compatível — Vitória diz em um sussurro e sinto as lágrimas
descerem por meu rosto.
Mesmo com tudo o que ela fez para mim, é difícil saber que minha mãe está
quase morrendo. Ela tem o mesmo sangue que eu, me carregou por nove meses e
mesmo por poucos anos eu fui amado por ela. Existiu sim um grande abismo
entre nós, existem mágoas, mas ainda é minha mãe e eu jamais vou poder apagar
isso.
— Eu posso doar? — pergunto com a voz embargada e limpo as lágrimas
que descem por meu rosto.
Os olhos do médico se voltam em minha direção e depois de me analisar
por alguns segundos, ele volta a falar:
— Você está grávido de quantos meses?
— Quatro — respondo.
nesse momento.
— Ótimo, me acompanhem então. Quanto mais rápido, melhor. — A voz do
médico me faz afastar de Adrian e deixar ele ir.
Vejo ele e minha avó saírem do quarto e torço em silêncio para que um dos
dois sejam compatíveis com ela. Glória pode não ter sido a melhor mãe do
mundo, mas jamais vou desejar a morte dela. Só de pensar nisso, eu já sinto meu
peito se apertar e uma dor quase física toma conta de mim.
— Quer ir comer alguma coisa? Eu fico com ela — falo para Vitória e
ajeito a blusa de frio em meu corpo.
Ela me olha por alguns segundos sem dizer nada e depois se aproxima de
mim, me abraçando de surpresa.
— Obrigada por estar aqui. — Ela diz com a voz falha e sem pensar muito,
acabo a abraçando de volta.
— Não precisa me agradecer... ela é minha mãe também — respondo.
Ela assente e em seguida se afasta de mim, seguindo até a porta.
Logo eu estou sozinho no quarto gelado e com o forte cheiro de antisséptico
que me causa ânsia. Respiro fundo e me sento na poltrona ao lado da cama.
Aperto minhas mãos umas nas outras e sinto minhas palmas suadas. Respiro
fundo mais algumas vezes, tentando manter minha calma. Mando uma mensagem
para Melissa, perguntando como Evan está, mas sei que ela não irá me responder
agora, já que ainda está muito cedo.
Ouço um resmungo baixo ao meu lado e ao voltar meus olhos para a cama,
vejo Glória de olhos abertos. Ela parece estar um pouco perdida, mas poucos
segundos depois seu olhar se encontra com o meu.
— Oi! — falo com a voz baixa e vejo seus olhos ficarem marejados.
— Não queria preocupar você. — Sua voz sai baixa e um pouco rouca.
— Você ainda é minha mãe, mesmo depois de tudo. Querendo ou não, eu me
preocupo — falo e me levanto da poltrona, me sentando na cama, ao seu lado. —
Você já estava doente quando foi à fazenda? — faço a pergunta que vem
martelando em minha cabeça há alguns minutos.
Ela me olha por um tempo em silêncio e desvia os olhos.
— Sim, tinha descoberto há alguns dias. Eu tinha a certeza de que iria
morrer e queria te ver uma última vez. Eu sei que não tinha esse direito, perdi ele
há muito tempo. — Ela conta e algumas lágrimas descem por meu rosto, assim
como no dela.
Respiro fundo para afastar as lágrimas e pego em sua mão, notando o quão
gelada ela está.
— Não é porque está doente que vou te perdoar por tudo que fez, ainda
existe muita mágoa dentro de mim, mas estou lutando contra isso. Mas não vou te
virar as costas e tudo o que puder fazer a você, eu vou fazer. Você ainda continua
sendo a minha mãe e isso conta muito para mim — falo e ela me olha novamente.
— Eu me arrependo muito pelo que fiz, Castiel... de verdade. Você e Vitória
mereciam uma mãe melhor que eu, mas infelizmente eu não posso mudar o
passado.
— Mas pode mudar o futuro... — interrompo.
— É, talvez... — Ela diz e sorri minimamente, o que deixa os ossos de suas
maçãs do rosto mais proeminentes. — Você é um homem maravilhoso e fico feliz
por isso. Não foi graças a mim, mas me sinto orgulhosa de você. Eu falhei tanto
com você, Castiel.
— Sim, mas esse não é o momento para isso. Vamos pensar apenas na sua
recuperação, que vai acontecer, e depois vemos com tudo vai ficar — mudo de
assunto, pois esse não é o momento para trazer à tona o passado.
— Obrigada por estar aqui. — Sinto o aperto de sua mão na minha e acabo
retribuindo.
Seus olhos então percebem minha barriga e vejo um pouco de surpresa
neles, mas um sorriso se abre em seu rosto.
— Parabéns pelo bebê, ele terá um pai maravilhoso. — Ela diz e eu sorrio.
— É ela... Helena — conto.
— Lindo nome. — Ela elogia e eu agradeço com um aceno.
E pelos próximos minutos nós conversamos sobre vários assuntos diferente,
até ela dormir novamente por causa dos remédios. E eu jamais imaginaria que
teria uma conversa civilizada com a minha mãe depois de tantos anos.
***
— Uma em um milhão? — Ele responde, mas sai mais como uma pergunta.
— Pode ser, mas vou tentar — falo e me afasto dele.
Pego meu celular no bolso do moletom que estou vestindo e procuro pelo
número de telefone do meu pai. A cada toque da chamada, sinto meu coração se
acelerando ainda mais e isso piora quando escuto sua voz do outro lado da linha.
— Castiel?
— Eu preciso de você.
Acompanho o tic-tac do relógio e sinto os olhos reprovadores de Adrian
sobre mim. Já faz algumas horas desde que liguei para Alessandro e ele disse
que viria para capital. Meu noivo quis me arrastar para a casa de Angie, já que
vamos ficar lá durante o tempo aqui, mas eu não me sinto confortável em ir
agora. Mesmo que minhas costas estejam reclamando muito pelas horas sentado
nessa cadeira.
— Oi, cunhadinha... tudo bem com meu ruivinho? — falo assim que atendo
a ligação e como resposta ouço um gritinho de Evan.
— Está sim, por isso te liguei... ele quer falar com os papais. — Ela diz
rindo e isso me faz sorrir.
— Coloque ele para falar — peço e espero alguns segundos até ouvir sua
voz.
— Papa, Eva fico! — Ele diz, claramente emburrado, e isso me faz rir.
***
em sua voz.
— Sinceramente? Eu nem sei mais o que pensar... só não posso ficar parado
vendo-a morrer. Apesar de tudo, Glória ainda é minha mãe — respondo e ele
assente.
— Sei como se sente. Quando Estela morreu, eu me senti triste, sabe?
Mesmo que ela tenha me abandonado por anos. Eu a odiei, mas bem lá no fundo
ainda existia o amor que sentia por ela. E quando a vi morrer na minha frente, foi
pior do que eu poderia imaginar, pois doeu muito. Claro que não se compara a
dor da falta que meu pai me faz, ele foi e é meu herói, mas mesmo assim, ainda
dói e eu queria que tivesse sido diferente. — Ele diz e vejo uma lágrima
escorrer.
— Por isso eu vim correndo, Angie. Apesar de toda mágoa, eu ainda amo
ela, assim como meu pai. Não me perdoaria se soubesse que ela estava morrendo
e eu nem dei um adeus. Eu sei que essa doença não é obrigação para que eu a
perdoe, e isso não vai acontecer tão cedo, mas pelo menos eu sei que estou aqui.
Sei que fiz minha parte — falo, colocando para fora tudo o que estou sentindo.
— Então sinta-se em paz, Cas. Independentemente do que aconteça, você
fez sua parte e foi um filho muito melhor do que ela merecia.
— Vou tentar.
— Não, você vai fazer. E vamos começar com uma bela distração — Angie
diz e se levanta rapidamente do sofá, indo pegar seu notebook em cima da
mesinha de centro. — Então, eu andei pesquisando algumas coisas para o
casamento. E acho que a empresa que fez o meu, é ótima. Já até vi se eles têm
disponibilidade para fazer um casamento na fazenda. — Ele diz e o olho
incrédulo.
— Você não fez isso — falo, tentando parecer sério, mas não funciona
muito.
— Fiz e não reclame, sei que se depender de você, esse casamento só sai
em 2050. Então aquieta o facho e me diga o que você imagina, vamos montar
pelo menos um esboço. — Ele fala despreocupado e como não tenho muitas
escolhas, faço o que ele diz.
E no fim acaba sendo uma ótima ideia, já que passamos o resto da tarde
vendo coisas para o casamento, só parando para fazer um lanche de vez em
quando e checar os bebês.
***
Abro meus olhos um pouco assustado e minha boca forma quase um “O”
perfeito. Pisco meus olhos algumas vezes e ofego, levando minhas mãos até
minha barriga já com um tamanho bem maior. Algumas lágrimas se formam em
meus olhos ao que sinto o movimento agitado em minha barriga... Helena está se
mexendo.
Solto uma risada baixa e me viro para o lado, vendo Adrian dormir
tranquilamente. Eu me coloco sentado na cama, apoiado com as costas na
cabeceira, e começo a mover o corpo dele.
— Shrek, acorda! — balanço seu corpo com mais força e ele solta um
resmungo e se vira para o outro lado, dando as costas para mim. Que abusado!
— Só mais cinco minutos... o gado vai ser entregue amanhã. — Ele
resmunga e reviro meus olhos.
— Você viu que eu tentei, filha — falo em direção à minha barriga e no
segundo seguinte empurro o corpo de Adrian para fora da cama.
Um baque surdo chega até meus ouvidos e ouço um gemido de dor vindo
que ela está fazendo na minha barriga, mas você não ajuda. — Eu me defendo.
Adrian abre a boca para retrucar, mas então minhas palavras parecem fazer
sentido para ele. Seus olhos prontamente se focam em minha barriga e vejo um
— Ela está muito feliz também — falo e acaricio seu rosto, sentindo sua
barba pinicar minha mão.
— Eu te amo, pequeno raio de sol. — Ele deixa vários beijos em minha
barriga desnuda, já que estou apenas com uma boxer. — E te amo mais ainda por
ter me dado esse presente maravilhoso — Adrian aproxima seu rosto do meu,
sorrindo amplamente. — Não só por Helena, mas por Evan também... os dois são
partes essenciais de mim.
Eu me emociono com suas palavras e pego seu rosto em minhas mãos,
deixando um longo selinho em seus lábios.
— Nós também te amamos muito e agradecemos o homem e pai incrível que
você é — sussurro contra seus lábios.
Fecho meus olhos e encosto minha testa na sua, sentindo meu peito se
aquecer ainda mais com esse momento. Ficamos em absoluto silêncio, apenas
ouvindo nossas respirações e nossa pequena ainda se mexer dentro de mim... um
dos nossos frutos de amor.
***
Termino de calçar meus sapatos e solto um suspiro, sabendo que logo vou
ter eles ainda mais inchados. Eu me levanto da cama e pego minha bolsa carteiro
em cima da cama. Saio do quarto e já posso ouvir as risadas de Adrian e Evan. É
incrível ver a conexão que esses dois possuem. Confesso que fui um babaca no
começo, por achar que Adrian abandonaria Evan na primeira oportunidade. Mas,
como sempre, esse cowboy dos infernos me provou o contrário e ainda me laçou
junto.
Chego até a cozinha e vejo a mesma cena de todos os dias. Minha avó está
sentada do outro lado da mesa, Adrian na outra cabeceira enquanto Evan está
sentado na mesa em sua frente.
Paro no batente da porta e sorrio ao ver Evan alimentando o pai com
“pequenos” pedaços de rosca caseira.
— Quero receber comida na boca também — falo chamando a atenção de
todos e me aproximo deles, deixando um beijo em cada um.
— Não sabia que tinha voltado a ser um bebê — minha avó diz e faço um
bico nos lábios.
— Mas o Adrian está recebendo — aponto na direção dele e escuto sua
risada.
— Sabe como é, né? Eu sou especial. — Ele provoca e mostro língua para
ele, o que eu me arrependo.
No segundo seguinte Evan está imitando meu gesto e arregalo meus olhos.
— Filho, não pode! — aponto para ele, que forma um biquinho.
— Belo exemplo! — Dona Clarisse diz provocante e reviro meus olhos.
— Amor, senta e come — Adrian diz e pega delicadamente em minha
cintura, me fazendo sentar ao seu lado.
Solto um suspiro e pego um pão, enchendo de doce de leite. Começo a
tomar meu café da manhã e uma conversa se inicia, onde aproveito para contar a
minha avó que Helena se mexeu. Evan fica curioso quanto a isso e pede para ir
ao chão, vindo até mim em seguida. Ele fica de frente para mim, em seu tamanho
mínimo, e estende suas pequenas mãos até minha barriga. E como mágica,
Helena começa a se mexer dentro de mim. Solto uma risada baixa ao ver os
olhinhos de Evan arregalados e sua boquinha aberta. Suas mãozinhas logo me
abandonam e ele me olha assustado.
— Bixo, papa! — Ele aponta e ouço a gargalhada dos outros dois junto
comigo.
Nego com a cabeça e rio também.
— Não, amor... é sua maninha mexendo aqui na barriga do papa — explico,
mas ele ainda me olha desconfiado.
— Ninha? — Ele pergunta e assinto.
— Isso, amor... pode tocar — sorrio para ele e depois de alguns segundos,
ele faz isso.
E nosso café da manhã se passa nesse clima agradável, já que minha avó
também se junta a Evan para sentir sua mais nova bisneta.
Assim que termino de comer, eu me despeço de Adrian e minha avó, e Evan
e eu seguimos até a cidade. Já faz alguns dias que consegui minha habilitação,
então Adrian não precisa mais perder tanto tempo nos levando. Sem contar que
posso aproveitar o carro que ele me deu de presente. O que foi exagerado... só
para constar.
Durante nosso caminho para a cidade, Evan e eu mantemos uma “conversa”
bem animada. Até que meu celular começa a tocar, conectado ao sistema de som
do carro. Olho para o visor digital e vejo o nome de Glória escrito no contato.
— Oi, Glória! — falo quando atendo a ligação e escuto ela suspirar do
outro lado.
— Cas, espero que não seja uma má hora. — Ela diz apreensiva.
— Não, estou a caminho da faculdade — respondo e dou uma olhada em
Evan, que está entretido com seus brinquedos no banco de trás.
— Oh, é bom saber que está realizando um dos seus sonhos. — Ela diz e
sua voz demonstra alegria.
— Depois que vim para essa cidade e conheci Adrian, estou realizando
muitos sonhos... alguns que havia até me esquecido — falo sincero. — Mas e
você, está bem? — pergunto preocupado.
— Estou sim, o tratamento está dando certo. — Ela responde e isso me faz
sorrir verdadeiramente.
— Isso me deixa feliz — respondo, pois é o que sinto.
Graças a Deus o transplante de medula deu certo e o resultado do
tratamento está sendo muito bom. E bem, eu não posso deixar de agradecer a
Alessandro por isso. Muitos podem pensar que seria uma obrigação dele, mas
não é. Ele fez porque quis e acho que no fundo também por se sentir em dívida
com minha mãe. Mas o importante é que ele fez algo muito importante.
— Obrigada por tudo. — Ela diz após alguns segundos e eu suspiro.
— Eu só fiz minha parte, jamais te abandonaria em um momento como esse
— falo e minha intenção não é jogar nada na cara, é apenas o que penso.
— O que prova que você foi diferente de mim. — Ela diz e escuto sua voz
embargada. — Eu jamais vou me...
— Ma... Glória, não precisa ficar se culpando por nada. Vamos esquecer
isso por enquanto. Ficar relembrando mágoas não faz bem a ninguém, nem a você
e nem a mim — falo, a interrompendo.
— Me desculpa — pede e nego com um aceno, mesmo sabendo que ela não
pode me ver.
— Só vamos esquecer — peço e aperto ainda mais o volante.
Converso mais um tempo com Glória e nossa ligação se encerra quando já
estou chegando na creche onde Evan estuda. Depois de tudo o que houve, a
segurança do local melhorou muito e isso me deixou mais aliviado em relação a
várias coisas. Pego Evan e sua bolsa, seguindo até a entrada da creche. Meu
filho já apresenta uma animação extrema ao ver as outras crianças entrando no
local também.
— Ei, já quer ficar longe de mim? — brinco com ele, que nega e beija
minha bochecha.
O deixo com sua professora e me despeço do meu filho com um beijo. Sigo
para o carro, indo em direção à minha faculdade.
***
pessoas olham para meu amigo maluquinho, mas ele nem liga e assim que me vê,
começa a acenar loucamente. Solto uma risada e sigo até meu amigo.
— Você é maluquinho, tadinho dos meus sobrinhos — falo rindo e abraço
meu amigo apertado, mesmo que minha barriga me impeça um pouco.
— Ei, meus filhos me amam assim. — Ele diz, fingindo indignação, e solta
um gritinho em seguida. — Sua barriga está tão linda! — sorrio e sinto ele fazer
uma leve carícia em minha barriga.
— Eles são bebês, né?! — implico e ele me mostra língua.
Eu me abaixo de frente ao carrinho e admiro que os gêmeos ainda estejam
assente.
Ainda incrédulo, entro novamente na faculdade e sigo até o estacionamento.
Entro no carro e coloco minha bolsa no banco de trás, logo dando partida no
veículo. Encontro Angie no mesmo lugar e saio do carro para ajudá-lo. O
segurança que o trouxe traz os bebês conforto dos gêmeos e acomodamos os
dorminhocos no banco de trás. Ajudo Angie a desmontar o carrinho e o
colocamos no porta-malas espaçoso do carro. E com todos acomodados,
— Então... — Ele começa e olho incrédulo para meu amigo. — ... é claro
que sabe, bobão! — Ele ri e respiro aliviado.
— Sério, Angie... você me mata às vezes — suspiro.
— Que exagero! Anda logo, vai... temos que pegar meu futuro genro e
terminar de organizar seu casamento. Daqui uns dias você vai estar parindo e não
casou. — Ele fala e balanço a cabeça em negação.
— Deixa só seu marido ouvir isso — aviso e ele apenas ri.
— Enzo é ciumento demais, meu Deus! Tadinho dos meus bebês quando
crescerem. — Ele diz em falsa tristeza e isso me faz rir.
O resto do caminho até a creche de Evan é feito entre conversas bem
produtivas com meu doidinho favorito. Assim que estaciono o carro, Angie
permanece no veículo com os bebês enquanto eu saio e vou buscar meu pequeno.
Passo pelo porteiro, acenando para o mesmo e sigo até a sala de Evan. E
não demora muito, estou abraçando meu foguinho.
— Papa! — Ele diz animado e seus bracinhos apertam ao redor do meu
pescoço.
— Oi, meu bebê — sorrio e deixo beijos em sua bochecha, arrancando
risadas dele.
***
***
Duas semanas depois...
andam juntos, não? Com nós dois não foi muito diferente.
E o que dizer de Evan? Aquele pequeno ruivo fofo que me fez cair de
amores desde o primeiro momento. Confesso que no começo eu fiquei com medo
de me apegar demais, mas nós não podemos planejar o futuro. E quando ele me
chamou de papai pela primeira vez, eu sabia que meu coração tinha feito o certo
em o amar incondicionalmente. Pois não foi eu quem o escolhi como filho... Evan
me escolheu como pai.
Ouço barulho de passos na escada e quando me dou conta, vejo que a
bebida em meu copo já foi esvaziada. Encosto minhas costas no estofado da
poltrona e no segundo seguinte vejo Castiel aparecer na sala. Sua face está um
pouco amassada pelo travesseiro e ele fica fofo usando uma camiseta minha e
meias nos pés. Sua barriga avantajada se destaca, o deixando ainda mais lindo
do que já é. Ele coça os olhos e quando me vê, vem em passos lentos em minha
direção.
Abro meus braços e o aconchego em meu peito quando ele se senta de lado
em meu colo, como um bebê em busca de conforto e carinho.
— Por que não está na cama e está com cheiro de bebida? — Ele pergunta
baixinho e sorrio com sua manha.
Já disse que amo meu cabelo de fogo manhoso?
— Não conseguia dormir, então resolvi beber alguma coisa para o sono vim
— respondo e deixo um beijo em seus cabelos que estão um pouco maiores
agora.
— Sabe que não pode beber muito. — Ele avisa e assinto.
— Eu sei — concordo. Eu não sou considerado alcoólatra, mas prometi a
mim mesmo depois que Castiel entrou em minha vida, que não deixaria mais a
bebida me controlar. Antes eu a via como uma válvula de escape, mas percebi
que isso só estava estragando ainda mais a minha vida.
— Por que não consegue dormir? — Ele pergunta e levanta seu olhar para o
meu.
— Nem sei direito, só comecei a pensar em tudo o que me aconteceu nos
últimos anos — respondo sincero. — Sabe aquela sensação de viver um sonho?
É assim que me sinto.
Cas me olha por alguns segundos em silêncio, até se ajeitar em meu colo,
ficando de frente para mim.
— Sei sim como é. — Ele responde e entrelaça nossas mãos. — Vivemos
episódios tão traumáticos, que às vezes não aceitamos que estamos sim felizes e
realizados. Acho que isso faz parte do ser humano... viver com medo. Mas você
não precisa sentir isso, amor, pois nós somos reais e a nossa felicidade também.
Tudo o que conquistamos juntos não é um sonho, é apenas a recompensa do
nosso amor.
Sorrio diante suas palavras e beijo ambas as suas mãos.
— Acho que isso é porque nosso casamento é em uma semana — falo, rindo
um pouco.
— Agradeça a Ângelo por isso. — Ele brinca e deixo um selinho rápido em
seus lábios.
Eu me abaixo um pouco e beijo sua barriga.
— Está vendo isso, Lena? Seu papa queria me enrolar, mas ainda bem que
temos o tio Angie em nossas vidas — falo sorrindo e Cas deixa um beliscão em
meu braço. — Ai, amor!
— Não jogue minha filha contra mim. — Ele diz fingindo raiva e reviro
meus olhos.
— Ela nem sabe o que é isso. — Eu me defendo.
— Você é um ogro. — Ele reclama, mas me abraça e deita a cabeça em meu
ombro.
— Sou o seu Shrek e você minha Fiona — falo rindo e ganho um tapa fraco
em troca.
— Cowboy idiota... te amo! — Ele sussurra com a voz de sono.
— Amo você, cabelo de fogo. — Deixo um beijo em seus cabelos.
E sentindo ele próximo a mim, tenho certeza de que realmente não estou
vivendo um sonho. Nosso amor, nossa família... nós somos reais.
“Sua mão se encaixa na minha
Como se tivesse sido feita só pra mim
Mas coloque isso na cabeça
Era para ser assim
E estou ligando os pontos
também. Respiro fundo algumas vezes e pego as flores que comprei, saindo do
veículo em seguida. Ando a passos lentos até o local que desejo e sinto meu
peito ficar cada vez mais apertado. Paro de frente à lápide já um pouco mais
desgastada pelo tempo e me ponho de joelhos. A foto de Carolina parece me
encarar de volta e isso deixa minha respiração presa por alguns segundos.
Coloco as flores em um vaso que se encontra ali e não sei exatamente o que mais
fazer.
Em mais de seis que ela se foi, eu nunca tive coragem de vir até o lugar
onde ela foi enterrada junto ao nosso filho. Parecia que se eu viesse, a perda
dela se tornaria ainda mais real, mas isso é apenas bobagem, pois a perda foi e
ainda é real. Ainda me dói muito pensar que eu a matei. Que pela minha
irresponsabilidade, tirei a vida da minha mulher e meu filho que não havia
sequer nascido. Sei que a culpa é sim em parte minha, mas aprendi que se ela
não está mais aqui, é porque Deus quis assim. E por mais que eu quisesse que as
E nossa família vai aumentar agora, já que Helena chega em três meses. Eu
jamais me imaginei vivendo tudo isso novamente, mas a vida nos surpreende de
várias formas e agradeço muito a ela por isso. Assim como sou grato por todos
os anos que tive com você... amo vocês, sempre e para sempre.
Deixo um beijo em sua foto e me coloco de pé. Permaneço parado em frente
à lápide por mais alguns minutos, até me sentir totalmente em paz.
Olho mais uma vez para o lugar, antes de virar as costas e seguir até à
saída. Agora sim, eu me sinto realmente tendo um novo recomeço.
***
Paro de frente ao espelho no quarto de hóspedes e ainda não acredito em
tudo o que está acontecendo. Passo minhas mãos pela roupa branca em meu
corpo e sinto meu coração acelerado em meu peito. Eu vou me casar com o ruivo
mais lindo do mundo!
mais certo em minha vida. E não sei, mas acho que esperei por esse momento
com Castiel minha vida inteira.
***
grávido.
— Eu estou com sono — reclamo enquanto acaricio minha barriga, sentindo
Helena quietinha dentro de mim.
— Logo passa, é só pensar que você vai casar em poucos minutos. — Ele
responde e nesse momento minha avó entra no quarto.
— Aí eu vou sentir vontade de vomitar, pois meu estômago já está
revirando desde cedo — falo e Angie solta uma risada, se afastando de mim.
— Desde que não seja em nós — minha avó dá de ombros. — Levanta,
quero te ver — faço o que ela pede, me apoiando na cadeira para isso.
Sorrio e dou uma voltinha, mas acho uma má ideia quando me sinto tonto.
“Ótima ideia, Castiel!”
— Estou bonito? — pergunto para os dois, que me olham emocionados.
— Você já nasceu bonito, puxou a mim, garoto — minha avó diz e isso me
faz rir. Dona Clarisse sendo ela mesma, como sempre.
Olho para Ângelo em expectativa, esperando por sua resposta, mas o que
ganho é um abraço apertado.
— Eu estou tão feliz por estar te vendo assim, maninho. — Ele diz com a
voz embargada e sinto meus olhos arderem. — Acompanhei de perto tudo o que
você passou desde o início e nossa... te ver aqui hoje é incrível. Você merece
tudo o que está acontecendo em sua vida, pois você é uma das melhores pessoas
que existe. A sua força, é a minha força. Você sempre foi o meu espelho, Cas... a
pessoa em quem me inspiro até hoje. Então aproveite cada segundo da sua
felicidade, pois você é mais do que merecedor de tudo isso.
Sinto lágrimas descerem por meu rosto e solto um muxoxo, pois terei que
passar pó novamente. Abraço meu amigo mais uma vez, sendo eternamente grato
por ele ter entrado em minha vida. Além de ser meu irmão de alma, Angie é a
pessoa que sempre esteve ao meu lado em todos os momentos. Ele enxugou
minhas lágrimas, segurou minha mão quando tive medo e comemorou cada uma
das minhas vitórias comigo. Então se há uma pessoa que também sou grato na
vida, é a ele. E bem, acho que todos mereciam ter um Ângelo em suas vidas.
Com certeza as deixariam mais felizes e completas.
— Eu te amo tanto, Angie... obrigado por tudo — agradeço e me afasto,
para poder olhar em seus olhos. — Se eu sou o seu espelho, te garanto que você
também é o meu, pois você é tão forte quanto eu. Acho que Deus jamais poderia
me dar um irmão melhor que você, que não veio de sangue, mas sim do amor —
sorrio para ele e enxugo suas lágrimas, assim como ele faz com as minhas.
— Eu te amo, meu maninho ruivo. — Ele sorri e ouço uma fungada baixa.
Olho para a cama e vejo minha avó chorando, o que nos faz rir.
— Eu sou uma velha, não podem me deixar tão emocional assim. — Ela
reclama, mas se levanta e vem até nós. — Vocês são os melhores netos do mundo
— diz sorrindo e nos abraça.
Fecho meus olhos e me sinto acolhido e amado pelas pessoas que mais
estiveram presentes em minha vida.
***
Olho pela janela do quarto e vejo o sol já pronto para se pôr, e bem... é
hora de ir. Eu me olho mais uma vez no espelho e depois de meia hora, estou
lindo novamente. Sorrio, vendo a roupa branca perfeitamente em meu corpo, com
a camisa mais larga na barriga, evidenciando minha gravidez.
Solto um suspiro e respiro fundo antes de deixar o quarto. Desço às escadas
com cuidado, segurando firmemente no corrimão, já que minha barriga está bem
grandinha e às vezes atrapalha a visão.
Assim que chego à sala, encontro minha avó e Ângelo. E assim como no
casamento dele, ele entrará comigo dessa vez, como fiz com ele. Até porque não
existem pessoas melhores para isso. Sorrio para os dois e entrelaço meus braços
nos deles, saindo de casa. Seguimos em silêncio até o local montado a poucos
metros.
Tudo ao nosso redor está em tons neutros e o que se evidencia são as rosas
brancas, assim como o imenso campo florido atrás do local da cerimônia.
Sempre soube que nosso casamento seria aqui na fazenda, e não existiria lugar
melhor para celebrar nossa união do que o lugar que foi feito com muito amor
pelos pais de Adrian. Acho que isso é uma forma de homenagear os dois e sentir
eles aqui conosco no dia de hoje.
Paro assim que chegamos à entrada da cerimônia. Sinto minhas mãos frias e
me obrigo a me acalmar. Estou prestes a me casar com o homem da minha vida e
somente isso importa.
Vejo Ana Clara ser posiciona a minha frente e deixo um beijo em sua
bochecha antes que a música comece. A música é calma e em cada palavra
reflete amor. Sorrio quando Ana começa a andar em pequenos passos, jogando
flores pelo caminho, vestida em seu vestido de noivinha.
Respiro fundo e levanto meus olhos, sentindo eles serem conectados aos
azuis de Adrian, que se encontra no pequeno altar. Sinto meu coração acelerado
em meu peito, assim como borboletas em meu estômago. Meus passos são lentos
e meus olhos se mantêm fixos no meu homem, só desviando um momento quando
vejo meus pais em meio aos convidados. Sorrio para os dois e me sinto feliz por
vê-los aqui. Chego ao altar após alguns minutos e consigo ver uma lágrima
descendo pelo rosto do meu ogro favorito. Abraço minha avó e Ângelo, que
tomam seus lugares no altar e em seguida Adrian pega em minha mão. Nossos
dedos se entrelaçam e ele deixa um beijo em minha testa antes de me guiar até o
altar. Sua mão faz um carinho leve em minha barriga e como uma resposta,
Helena chuta em sua mão. Nós rimos e nos voltamos para o juiz.
— Estamos aqui hoje reunidos para celebrar a união de Adrian D'Ávila e
Castiel Almeida, dois homens que decidiram unir suas vidas em uma só. — O
juiz começa e aperto ainda mais a mão de Adrian que está na minha. — Muitos
podem achar o que está havendo aqui errado, mas são pessoas que não conhecem
o amor. Pois o verdadeiro amor, ele não escolhe raça, gênero, religião, nem
classe social... ele escolhe a sua metade, sua alma gêmea. E é isso que vemos
aqui hoje, duas pessoas que se amam incondicionalmente e estão formando uma
família, passando esse amor para frente. E como diz aquela famosa passagem
bíblica... “O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata
com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os
seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas
folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” — Então,
mesmo que haja dificuldades, lembrem-se disso... do amor que une vocês. — Ele
diz e assinto, deixando uma lágrima cair por meu rosto, que é capturada pela mão
do meu futuro marido. — Agora passo a palavra aos noivos, para dizerem seus
votos.
Olho para Adrian um pouco desesperado, pois minha língua parece presa. E
rindo, ele faz sinal de que será o primeiro a falar.
— Castiel, meu cabelo de fogo. — Ele diz e ouço algumas risadinhas ao
nosso redor. — O que dizer sobre nós? Bem, posso começar pelo fato de que
quis te enforcar quando nos conhecemos. Você é irritante quando quer, amor...
principalmente comigo. Mas isso não importa muito, pois logo me vi apaixonado
por você, pelo homem maravilhoso que você é. A sua força, sua coragem e sua
língua afiada me encantaram e isso fez florescer um sentimento em mim. Eu não
achava mais que coisas boas poderiam acontecer em minha vida, por isso passei
cinco anos perdido, mas isso mudou quando você apareceu. Não só você, mas
também Evan... nosso filho. Vocês me fizeram ver que existia sim um recomeço e
uma vida melhor para nós dois. Nós pudemos curar as feridas um do outro e
cultivar um sentimento lindo. Isso nos trouxe coisas maravilhosas, como a nossa
pequena que está crescendo aqui. — Ele diz e coloca as mãos em minha barriga
estufada. — Eu amo vocês com tudo o que há em mim, obrigado por ter chegado
em minha vida e mudado tudo.
Sinto as lágrimas descerem como uma cascata por meu rosto e agradeço
quando Melissa me entrega um lenço.
— Você não pode me fazer chorar assim... eu estou grávido! — finjo
indignação e ouço risadas de todos.
— Essa sua desculpa está ultrapassada. — Adrian arqueia uma sobrancelha
em provocação e reviro meus olhos.
Levo alguns segundos para me recompor e me sentindo melhor, consigo
dizer algo.
— Há dois anos atrás, eu estava desacreditado de muitas coisas e somente
Evan me importava. Não acreditava mais no amor e nem que poderia ser
plenamente feliz, mas eu estava errado. Jamais vou cansar de agradecer a minha
avó por ter insistido tanto para eu vim pra cá. Confesso que relutei muito contra
a minha paixão por você, mas percebi ser algo inútil — solto minha mão da sua e
acaricio seu rosto, sentindo sua barba pinicar minha palma. — Você me deu tudo
o que um dia eu sonhei e acabei esquecendo. Você é um pai incrível, um homem
bom e que preza sempre pela família. Eu jamais poderia pedir alguém melhor,
mesmo você sendo um ogro. Mas você é o meu Shrek, e eu te amo muito por ter
me dado esse conto de fadas.
Sorrio ainda mais ao ver ele chorando e limpo suas lágrimas. Fico nas
pontas dos pés e deixo um beijo em sua testa.
— Depois dessas lindas palavras, vamos aos votos — ouço o juiz e nós nos
viramos novamente para ele. — As alianças, por favor. — Ele pede e nesse
momento nós nos viramos novamente para o arco de flores.
Meu peito se enche de amor ao ver meu pequeno caminhando em nossa
direção. Ele segura uma almofada em suas mãozinhas e sorri para nós dois.
Assim que Evan chega até nós, nos abaixamos em sua frente, pegando as
alianças, e deixamos beijos por seu rostinho.
— Amamos você, bebê — sussurro e beijo seu nariz, fazendo ele rir.
Logo Maurício vem o pegar e nós damos continuidade à cerimônia.
— Adrian D'Ávila, é de livre e espontânea vontade que você aceita Castiel
Almeida como seu legítimo esposo? Prometendo o amar e respeitar por todos os
seus dias? — Ele pergunta e olho fixamente nos olhos do meu homem.
— Sim, eu aceito! — Adrian responde e isso faz um arrepio passar por meu
corpo.
Ele pega a aliança na almofadinha e a desliza por meu dedo anelar,
seus dias?
— Aceito! — respondo e pego a aliança de Adrian, deixando um beijo nela
ainda mais.
Sinto as mãos de Adrian pousar delicadamente em minha cintura, me
Nosso beijo é lento e casto, apenas para saborear o sabor do nosso amor e nossa
união.
E, Deus, estou casado com o cowboy indomável!
A vida é realmente uma vadia, em um dia ela está zombando da sua cara e
no outro ela te presenteia com oportunidades incríveis. Eu já estive em situações
bem difíceis, mas hoje vejo que tudo valeu a pena. Valeu a pena para estar aqui,
colhendo os bons frutos que a vida resolveu me dar. Há dois anos atrás, eu
jamais imaginaria que me casaria, que estaria grávido novamente e que meu filho
teria um pai de verdade. Mas sempre podemos nos surpreender de uma forma
entramos na grande tenda montada para a festa. Sorrio ao ver a linda decoração
do local e me sinto satisfeito por ter escolhido cada detalhe. Há pequenas luzes
pendendo do teto, flores nos tons de branco e um rosa bem claro. Uma pista de
dança rodeada por mesas e cadeiras. Assim como a mesa do bolo bem no canto,
cheia de doces e um bolo enorme ao centro, rodeada por alguns arranjos de
flores.
Sinto meu coração acelerado no peito quando vejo todos nos olhando com
sorrisos nos rostos, deixando claro que estão felizes por nós dois. Aqui estão as
pessoas que mais são importantes para nós. Família, amigos e alguns
funcionários da fazenda que também fazem parte da nossa história. Os aplausos
preenchem meus ouvidos e é impossível não sentir meu peito transbordar de
amor. E isso se torna ainda maior quando Evan vem correndo em nossa direção,
sendo acolhido pelos braços do pai. Deixo um beijo nos cabelos do meu filho e
me sinto completo por um instante. Coloco minha mão livre em minha barriga,
se fecha por um segundo. Após alguns minutos eu tenho que me sentar, já que
começo a sentir um pouco de dor nas costas. Assim que eu me sento na mesa
reservada para os noivos, vejo meus pais se aproximarem. Ao que parece,
depois que Alessandro doou medula óssea para minha mãe, eles tiveram uma
conversa definitiva, coisa que já deveria ter acontecido há anos. Mas antes tarde
do que nunca.
— A festa está linda, Castiel — Glória diz com um sorriso sincero, que eu
retribuo. É bom vê-la com saúde novamente.
— Obrigado! Não é nada muito exagerado, mas é do jeito que eu gosto —
respondo e faço sinal para eles se sentarem.
— Você está lindo também, nem acredito que já se passou tanto tempo e
você está casado — Alessandro diz.
— Por isso temos que aproveitar cada segundo, o tempo e a vida se passam
muito rápidos — respondo e solto um suspiro baixo. Olho atentamente para meus
pais e tomo uma decisão que já venho pensando há muito tempo.
Estendo minhas mãos para os dois e vejo que eles me olham confusos, mas
colocam suas mãos nas minhas.
quando há um problema que não conseguem lidar. E também espero que vocês
mesmos se perdoem, pois só o meu perdão não adianta de nada — falo sério,
mas com muita sinceridade.
— Nunca mais vamos cometer o mesmo erro — minha mãe diz e eu espero
que isso seja verdade.
Eu me coloco de pé e os dois fazem o mesmo. Me aproximo lentamente dos
meus pais e logo sou envolvido em um abraço que eu senti falta durante anos da
minha vida. Não sei em que momento exatamente Vitória se junta a nós, mas ela
só deixa tudo melhor.
Eu não posso ser hipócrita. Sofri muito com tudo o que meus pais fizeram,
mas bem lá no fundo meu maior desejo era ter minha família unida novamente.
Não tendo meus pais juntos novamente e uma família de comercial de margarina,
mas sim uma família de verdade. Aquelas que tem sim seus problemas, mas
sabem superar eles juntos e com o apoio um dos outros.
***
Noto a expressão emburrada de Maurício em minha direção, logo depois
dele ter “acidentalmente” pegado o buquê que eu joguei. Sorrio cínico para ele e
desço do pequeno palco com a ajuda de Adrian.
— Você não presta, marido. — Ele sussurra em meu ouvido e isso me causa
um arrepio delicioso.
A palavra marido fica tão bem na voz dele.
— O que eu fiz? — pergunto inocente, piscando meus cílios no processo.
— Acha que não vi que era proposital o buquê ir até o Mau? — Ele
pergunta com uma sobrancelha arqueada e dou de ombros.
— Imagina, isso foi somente o destino — sorrio para ele e nos guio para a
pista de dança que já foi liberada.
Vejo toda nossa família e amigos aproveitando bastante, e até as crianças
pequenas. Evan está no chão dançando do seu jeitinho desengonçado enquanto
tem suas mãozinhas seguradas com as de Giovani e Otávio que estão no colo dos
pais.
Sinto Adrian envolver meu corpo com seus braços e me aproximo dele o
máximo que posso, passando meus braços ao redor do seu pescoço.
— Agora você é o senhor D'Ávila. — Ele diz, rente aos meus lábios, tendo
um sorriso imenso no rosto.
— É, eu gosto como soa... Castiel Almeida D'Ávila — sorrio e deixo um
selinho em seus lábios.
Deito minha cabeça em seu ombro e o deixo conduzir meu corpo ao ritmo
da música calma.
— O que acha de nos despedirmos de todos e ir para nossa lua de mel?
Algo me diz que essa é a melhor parte, meu diabinho — Adrian sussurra
novamente e é impossível não me arrepiar.
Seguro um gemido que fica preso em minha garganta e puxo seus cabelos
com um pouco a mais de força.
— Ainda não me disse para onde vamos — falo e me afasto um pouco dele,
para olhar em seus olhos.
— Surpresa. — Ele diz apenas e reviro meus olhos.
— Okay, vamos nos despedir de todos e podemos ir — aviso e ele assente
com um sorriso.
Não demora muito e estamos rodeados de pessoas, nossa família, em frente
ao carro que nos levará para não sei onde.
— Espero que se divirtam... muito! — Angie diz com um sorriso malicioso
e reviro meus olhos.
— E eu espero que cuidem bem do meu filho — aviso e quem revira os
olhos para mim é minha avó.
— Está insinuando alguma coisa, garoto? — Ela pergunta e me olha de cara
amarrada.
Busco forças de todo o universo para não enforcar meu marido e ficar viúvo
no meu primeiro dia de casado. Solto um suspiro pesado e pego Evan em meus
braços como posso.
— Filho, não pode dizer isso. É feio e vai fazer o Evan ficar feio também.
Você é um menino feio? — pergunto a ele, que balança a cabeça com um
biquinho. — Então, meninos bonitos não falam essas coisas, tudo bem?
— Bem — Evan responde, mas sei que essa palavra vai demorar muito
tempo para abandonar a cabecinha dele.
— Ótimo, agora dê um beijo no papa. O papai e eu vamos ficar alguns dias
fora e você vai ficar com a vovó Clarisse e os titios. — Deixo um beijo em sua
bochecha gorducha.
— Eva fica? — Ele pergunta claramente emburrado e ouço algumas
risadas.
— Sim, mas...
— Mas os papais tem que se divertir, se não rolar uma greve depois disso.
E o Tatá vai ficar com você, anjo — Angie me interrompe e faço uma careta para
ele.
Mas ele não está tão errado em relação à greve. Esse cowboy me paga.
— Não estou gostando de fazer meu filho como moeda de troca, hein? —
Enzo implica e nós rimos.
Passando toda a tensão de minutos atrás, conseguimos nos despedir de
todos e entramos no carro a nossa espera. Evan manda tchauzinho para nós dois e
isso me faz sorrir, mesmo com o coração um pouco apertado pôr o deixar.
E assim que saímos da fazenda, deixo um soco no ombro de Adrian, usando
toda a minha força.
— Oxe! Está maluco, Cas? — Ele pergunta bravo, mas não tem esse direito.
— Se eu estou maluco? Você está! — falo com raiva. — Você ouviu o que
nosso filho está dizendo?
— Sim e não queria que tivesse acontecido. Você sabe que eu jamais xingo
na frente dele, mas eu não percebi... desculpa! — Ele diz arrependido, mas não
será assim tão fácil.
— Hm... — resmungo e cruzo meus braços, olhando para a janela.
Adrian não diz nada por alguns minutos e vejo que o motorista que está
dirigindo claramente prende uma risada.
— É bom rir da desgraça dos outros, né? — falo na direção dele e o vejo
ficar vermelho de vergonha. Ele fica sem graça e mantém seus olhos fixos na
estrada depois disso.
Volto meu olhar para a janela e encosto minha cabeça ali, olhando fixamente
para a paisagem que se desenrola ao meu redor. Não quero ficar brigado com
Adrian justamente no dia do nosso casamento, mas me deixa irritado que ele
tenha cometido um deslize desse com Evan. Eu sempre fui muito chato com
relação a isso, pois acho horrível crianças que aprendem tão cedo alguns modos
sem acordo com sua idade.
Sinto sua mão se entrelaçar a minha e sua barba percorrer meu pescoço,
pinicando o local.
— Me desculpa, de verdade. Eu também não quero que nosso filho aprenda
essas coisas e prometo que vou prestar mais atenção a partir de agora. — Ele diz
baixo.
Por que ele tem que me ganhar tão fácil? Isso não é justo, Deus!
— Promete? — pergunto e me viro em sua direção, ficando de cara com
ele.
— Prometo, meu cabelo de fogo. — Sua resposta vem acompanhada de um
longo beijo.
Sorrio e deixo ele me abraçar, me aconchegado em seus braços.
***
Demora mais ou menos duas horas até chegarmos no local que Adrian
escolheu e percebo ser uma espécie de resort. Já é de madrugada quando o carro
estaciona em frente à entrada e nós saímos do veículo. Adrian pega nossas malas
no carro e vamos fazer o check-in, o que não demora muito. Somos guiados por
um caminho de pedras até nosso quarto, que mais se parece uma cabana. E
confesso que gosto do estilo.
Agradecemos ao funcionário e assim que entramos, fico impressionado. O
quarto mais se parece com uma pequena casa. Há uma sala, cozinha e o quarto,
que é uma suíte. A única divisão é entre o quarto e o resto dos cômodos. Noto
uma pequena varanda e vou até a mesma, abrindo a porta de vidro que dá acesso
até lá. Fecho meus olhos ao sentir a brisa fresca bater contra meu rosto e abro um
sorriso.
— Gostou? — A voz de Adrian pergunta atrás de mim e me viro em sua
direção.
— Eu amei, amor! — sorrio e vou até ele, lhe dando um selinho. — Vou
tomar um banho rápido, estou me sentindo muito suado — aviso e ele assente.
Deixo-o para trás e sigo até a suíte, ficando impressionado com a cama
***
— Acho que já te perdoei depois dessa cena. — Ele sussurra e morde meu
pescoço.
lua de mel — dou ênfase na última frase e ouço ele soltar uma risadinha.
— Tem certeza? — Ele pergunta e pisca os olhos para mim.
Passo meus braços por baixo de seu bumbum e faço ele passar suas pernas
ao meu redor. Saio do banheiro e sigo de volta para cama, sem desgrudar nossas
bocas. Deito seu corpo com cuidado sobre a cama e afasto minha boca da sua,
vendo um fio de saliva acompanhar nosso ato. Meus olhos percorrem seu corpo
ainda nu e sorrio. Saio da cama por um segundo, e sigo até minha mala. Procuro
por algo que possa ser útil para o que eu quero e encontro uma camisa de pano
Amarro suas mãos acima de sua cabeça com a camisa em um aperto firme,
mas que não o machuque.
— Eu quero que me implore para te tocar e que te foda bem forte, do jeito
que você gosta — sussurro em seu ouvido e fico satisfeito ao ver o arrepio
ofegante e suas mãos presas dão um charme a mais. Deixo um beijo em sua
barriga avantajada, implorando para que nossa filha esteja dormindo nesse
lábios, sentindo o gosto adocicado. Ouço ele gemer e isso me deixa satisfeito.
Tomo sua boca na minha, aproveitando que ele cede à minha língua. Nosso beijo
dura por alguns poucos minutos, já que o ar se faz necessário. Não deixo minhas
mãos encostarem nele, já que vou cumprir minha promessa de não o tocar... pelo
menos não com as mãos. Continuo meu trabalho e desço minha boca por seu
pescoço, deixando algumas mordidas de leve no local. Vou abaixando ainda mais
seus mamilos. Deixo minha língua percorrer o biquinho rosado, ouvindo seus
gemidos que me fazem ficar ainda mais duro do que há minutos atrás.
beijos em sua barriga, que a cada dia fica ainda mais linda. Chego onde quero e
deixo um beijo em sua glande inchada e vazando pré-gozo. Derramo uma boa
quantidade de champanhe em seu membro e o coloco em minha boca. Sugo sua
carne com vontade e ouço os gemidos dele ficarem ainda mais altos. Percebo
que ele está louco para soltar suas mãos e isso me deixa mais que satisfeito.
por um momento para chupar suas bolas pesadas. Passo a língua por meus lábios,
os sentindo inchados, e desço ainda mais em seu corpo.
Seu rosto está corado, sua boca inchada de tanto morder a mesma e seus
cabelos desgrenhados. Uma linda e perfeita bagunça ruiva. Sorrio e volto ao meu
trabalho. Vejo sua entrada se contrair, antes mesmo que eu possa começar a fazer
algo. Passo minha língua pelo local, sentindo o músculo se contrair mais uma
vez. E para deixar tudo melhor, nada como mais uma dose de champanhe.
Acompanho o líquido escorrer por sua entrada, vendo-o se contrair loucamente.
Isso me faz rir e me aproximo dele mais uma vez. Minha língua percorre toda sua
entrada e deixo algumas mordidas leves em suas nádegas. Tento o penetrar com
assente.
Castiel fica na posição em que pedi e me levanto da cama, logo ficando por
detrás dele. Minhas mãos seguram firme em seus quadris e posiciono meu pau
em sua entrada. Vou o penetrando aos poucos, vendo meu membro sumir em sua
entrada apertada. Não espero muito e saio dele completamente, entrando com
tudo. Ouço ele gritar e sua mão ir diretamente até seu pau. Deixo um tapa em sua
ritmo. Fico satisfeito quando encontro sua próstata e passo a ir cada vez mais
fundo, deixando minha glande tocar esse ponto. Sinto Castiel se contrair ainda
mais ao meu redor, me fazendo sentir dor e prazer ao mesmo tempo. Suas mãos
se agarram fortemente aos lençóis da cama e ele joga a cabeça para trás,
completamente entregue a mim. E não demora para que eu veja uma pequena
poça de gozo se formar na cama. Ele praticamente esmaga meu pau dentro de si e
eu também gozo em sua entrada quando atinjo meu limite.
deitar na cama. Castiel não está muito diferente de mim. Seu rosto está
completamente vermelho e alguns resquícios de lágrimas estão por sua face
também.
— Você implorou — provoco, mas ele apenas ri, sem forças.
Sorrio e pego seu corpo com cuidado. O deito no sofá que há no quarto e
corro para trocar os lençóis da cama. Assim que faço tudo, pego ele novamente e
o coloco confortável sobre o colchão. Também me deito ao seu lado e deixo ele
gemido que escapa por meus lábios. Meus olhos lutam para se abrir, já que o
sono ainda me consome, mas tudo se torna esquecido quando algo molhado
envolve meu membro.
Abro meus olhos, um pouco alarmado, e quase engasgo com a visão que eu
tenho a minha frente. Bem, pelo menos o que eu posso ver com minha barriga já
grande. Adrian está no meio das minhas pernas e sua boca está envolvida em
meu pau enquanto suga com vontade. Outro gemido escapa por meus lábios e
fecho meus olhos novamente, mordendo meus lábios no processo. Minhas mãos
agarram os lençóis da cama e me sinto cada vez mais louco de prazer a cada vez
que meu membro desliza mais fundo em sua boca. Meu corpo inteiro começa a
tremer e sinto algumas lágrimas se desprender dos meus olhos, tamanho o prazer
que sinto nesse momento. Sem contar o fato de estar ainda muito sensível pela
madrugada que tivemos. E juntando todos esses fatos, e ainda a gravidez que
aumenta minha libido, não demora muito para que eu esteja gozando na boca do
meu marido enquanto um gemido muito alto sai da minha boca.
Adrian se joga na cama ao meu lado e sorri para mim, mas tudo o que eu
— Ah, é? Não vai rolar nenhuma greve mais? — Ele debocha e o empurro
de cima de mim.
— Idiota! Se bem que eu fui fraco mesmo, mas na próxima não serei —
hóspedes do lugar.
— Aqui é lindo. Temos que trazer o Evan da próxima vez — falo sorrindo e
dou uma olhada para o homem ao meu lado.
— Sim, ele vai amar isso aqui — Adrian diz e vejo seus olhos brilharem,
como sempre acontece quando nos referimos aos nossos filhos. E são nesses
momentos que eu tenho a absoluta certeza de que escolhi a pessoa certa para
amar e construir uma família.
Tomamos nosso café em uma mesa ao ar livre e assim que terminamos,
fomos curtir nosso dia. Infelizmente eu não pude fazer as coisas mais radicais,
pois meu marido com certeza teria um infarto, então me contentei em apenas
passar o dia na piscina, tomando drinks sem álcool.
— Você é lindo, sabia? — escuto uma voz ao meu lado e ao me virar,
encontro um cara de uns vinte e poucos anos com um sorriso em minha direção.
— É, eu sei — falo sem muito entusiasmo e olho para o bar, já que Adrian
foi buscar mais um drink para nós. Vejo que meu marido está voltando e olha
***
risada e sinto meu peito se aquecer ao ver Evan batendo palminhas e dando
alguns pulinhos ao ver o pai e eu. Pego meu filho em meus braços assim que
chego até ele e beijo seu pescoço, sentindo seu cheirinho de bebê. É incrível
como podemos amar tanto uma pequena criatura como essa.
— Eva tiste da sodade. — Ele diz com um biquinho que me faz derreter de
amor.
Olho pra minha avó e vejo ela segurar uma risada com a fala do bisneto.
— Oh, meu Deus! O Evan ficou triste por causa da saudade? — pergunto e
ele assente. — Desculpa, bebê, o papai e eu também estávamos morrendo de
saudades de você — falo e encho sua bochecha de beijos, vendo ele soltar uma
risadinha.
E assim que Adrian chega ao nosso lado, eu fico totalmente esquecido, já
que o papai Ad está presente. Evan faz uma festa do colo do pai e isso se torna
melhor quando ele ouve a palavra presente.
Balanço a cabeça em negação e sigo até minha avó, a abraçando.
— Olha essa pele, deve ter curtido muito essa lua de mel. — Ela diz
pegando em meu rosto e me sinto corar de vergonha.
— Vó! — falo com um bico, já que ela ainda aperta minhas bochechas nas
mãos.
— E todos apostando que você faria uma greve. — Ela diz e isso me faz
arregalar os olhos e me afastar.
— Eles o que? Eu não acredito nisso! — falo indignado e ela faz apenas um
gesto de desdém com a mão.
— Até parece que você não conhece a família que tem. — Ela diz sem
muita importância.
Deus, cadê as pessoas normais desse mundo?
— E onde está o Maurício? — pergunto e entro em casa, tirando meus
sapatos no processo, já sentindo meus pés inchados.
— Ah, ele está tirando o atraso de um ano. — Ela responde e eu paro de
andar, me virando lentamente para trás.
Eu vou surtar se ela me disser o que eu acho que ela vai dizer...
— Não me diga que... — começo, mas ela me interrompe.
— Que ele e o Antônio se acertaram? Digo, sim! Já estava na hora, não sei
como foram tão idiotas. — Ela diz e isso me faz dar alguns pulinhos, mas paro
quando vejo Adrian passar pela porta e cerrar os olhos em minha direção.
— Ah, eu estou tão feliz por eles — falo e ela assente.
— Pois, é... já que chegaram, eu me vejo livre do posto de babá. Agora eu
vou assistir meu vampiro bonitão... beijo, crianças! — minha avó acena e sai
pela porta logo em seguida. Ah, dona Clarisse... como não te amar?
Ainda com um sorriso no rosto, eu me sento no sofá e coloco meus pés na
mesinha de centro.
— Por que estava pulando e com o sorriso do Coringa no rosto? — Adrian
questiona com uma sobrancelha arqueada e coloca Evan no chão.
Reviro meus olhos, mas solto uma risada.
— Finalmente Maurício e Antônio se acertaram. Isso não é bom? —
pergunto feliz e vejo uma careta no rosto do meu marido.
Ele solta um suspiro e se joga ao meu lado com uma cara de velório.
— Meu caçula não! — Ele diz em um muxoxo e reviro meus olhos.
— Para amor... Mau está feliz agora — falo e deito minha cabeça em seu
colo, observando Evan subir no sofá e ligar a TV. É, essas crianças ainda me
surpreendem.
— Eu sei, mas o Antônio ainda vai ter uma conversinha comigo. — Ele
reclama e isso me faz rir.
Mas eu entendo o lado dele. Adrian se sente responsável pelo irmão. Até
porque, é assim desde que os pais se foram, mas sei que Maurício está feliz
agora. Afinal de contas, isso é tudo o que ele sempre quis.
***
— Vem comigo. — Adrian estica sua mão para mim, assim que terminamos
de jantar.
Arqueio uma sobrancelha em questionamento, mas pego em sua mão. Evan
está no colo do pai e assim nós saímos da cozinha, seguindo até o corredor que
leva às escadas. Meu marido não diz nada enquanto subimos para o segundo
andar e isso me deixa confuso. Eu me sinto um pouco ansioso e meu coração
acelera no peito quando paramos em frente à uma porta, mais precisamente, no
quarto em que será de Helena. Olho para Adrian, mas ele não diz nada e apenas
sorri. Sua mão se solta da minha e vai em direção à maçaneta da porta, a abrindo
em seguida. Levo minha mão até a boca assim que tenho a visão perfeita do
quarto já completamente montado e sinto às lágrimas descerem por meu rosto.
— Entra — Adrian diz com calma e ainda sem muita reação, dou mais
alguns passos para frente.
Paro no centro do quarto e meus olhos ficam atentos em cada detalhe. As
paredes estão pintadas em um tom clarinho de nude. Os móveis são todos em
madeira, um carpete de cor clara no chão e uma poltrona de amamentação no
canto do quarto. Há alguns ursinhos e miniaturas de cavalos em uma prateleira e
cada detalhe faz meu coração se encher de amor. Está tudo lindo, do jeitinho que
um dia sonhei.
— Como... — começo, mas não consigo terminar a frase, já que minha voz
embarga ainda mais.
— Como fiz tudo sem você perceber? — Ele pergunta e assinto. — Angie
me ajudou muito. Ele me indicou uma decoradora que fez o quarto dos gêmeos e
faz um mês que começamos o projeto. Já estava tudo pronto há uma semana e
eles vieram montar enquanto estávamos fora. Queria que fosse uma surpresa —
diz com um sorriso.
— Obrigado, está lindo! — falo com a voz falha e sigo até ele, o abraçando
com força junto a Evan.
— É bom saber que gostou. — Ele diz e deixa um beijo em minha testa.
Eu me solto dele alguns segundos depois e começo a andar pelo quarto,
passando minha mão em cada detalhe. Ver tudo isso é incrível e me deixa tão
feliz. Infelizmente eu não pude fazer a metade disso para Evan, mas sei que agora
Helena pode ter o que o irmão não teve por um tempo. Sei que coisas materiais
não são importantes e pude dar muito amor ao meu filho, mas me doía muito não
poder lhe dar certas coisas.
— É do Eva? — A vozinha do meu pequeno me tira dos meus devaneios e
solto uma risada.
Eu me viro e vejo Evan com um dos ursinhos em mãos.
— Não, filho, esse é o quarto da sua maninha Helena. Você já tem o seu —
Adrian explica com calma.
— Lena? — Ele questiona e aperta o ursinho contra o peito pequeno.
— Isso, lembra que você escolheu uma roupinha para ela? — meu marido
fala com um sorriso e deixa um beijo na bochecha dele.
— Ah, é? Vocês compraram roupas sem mim? — pergunto e limpo algumas
lágrimas, cruzando meus braços.
Adrian sorri e pega na mãozinha de Evan, indo até a cômoda no quarto. Ele
pega algo lá dentro e entrega para meu pequeno, que em seguida vem correndo
me entregar. Solto uma risada e pego o pequeno conjunto de suas mãozinhas,
deixando um beijo nele em seguida.
Olho para a roupinha em minhas mãos e é inevitável não sorrir com o que
leio ali. O conjunto é composto por um body branco escrito little sister e uma
calcinha/short na cor marrom claro. E mal tenho tempo de me recuperar quando
Adrian me mostra outro conjuntinho quase do mesmo jeito, só que nesse está
escrito a frase daddy's princess.
— Vocês querem me matar — reclamo ao sentir mais lágrimas escorrerem
por meu rosto.
— Não, papa! — Evan diz, quase horrorizado, e isso me faz rir.
Deixo as roupinhas em cima da cômoda e volto até meus amores. Pego Evan
em meus braços e abraço Adrian como posso, me sentindo mais que completo
com a minha pequena família.
— Amo vocês — sussurro com a voz rouca e sinto os braços fortes do meu
marido ao meu redor.
— E nós amamos você. — Ele responde e sinto um beijo seu ser depositado
em meus cabelos, ao mesmo tempo em que Evan também beija minha bochecha.
Sorrio, sabendo que não preciso de mais nada para ser feliz.
Guardo meus materiais assim que a aula termina e me levanto com um
pouco mais de dificuldade agora. Com sete meses de gravidez eu já me sinto uma
bola, e não quero nem pensar quando chegar aos nove. Helena está a cada dia
mais agitada e não vejo a hora de tê-la aqui comigo. Na verdade, acho que todos
da nossa família querem isso, principalmente o papai babão.
Abro um sorriso ao me lembrar de cada reação de Adrian em relação a
minha gravidez. É lindo ver como seus olhos brilham com cada mínimo detalhe e
é maravilhoso sentir o amor dele por todos nós.
Ando meio distraído até a saída da faculdade e me assusto quando sinto
mãos ao meu redor. Meu corpo chega a pular e escuto uma risada conhecida atrás
de mim. Coloco a mão em cima do meu peito acelerado e cerro meus olhos
— Eu sou platinado, sem graça. — Ele resmunga, mas logo sorri quando vê
algo atrás de mim. — Tchauzinho, meu peão chegou! — Ele diz animado e sai
praticamente correndo.
Eu me viro novamente e vejo Antônio parado encostado ao seu carro,
esperando pelo namorado. Sorrio e aceno para meu amigo. Eu me sinto
imensamente feliz em ver meus dois amigos juntos, não perdendo mais tempo
com bobagens. E como um imã, quando eu desvio meus olhos dos dois, sou
atraído pela visão do meu lindo cowboy. Ele estaciona a caminhonete em frente à
faculdade e me procura com o olhar por alguns segundos, até que me encontra.
Sorrio e sigo em sua direção, notando alguns olhares para o meu marido. É, eu
nosso afilhado como genro, não? — brinco com ele, que solta uma risada
gostosa.
— Definitivamente, mas melhor seria ver o Enzo morrendo de ciúmes.
Otávio e Giovani são os príncipes intocados do papai — Adrian provoca.
— Até parece que você não é igual. Fica aí brincando, mas morre de
ciúmes do Evan. Helena nem nasceu e sei que ela sofrerá também — acuso e ele
solta um muxoxo.
— Eles são meus bebês. — Ele se defende e isso o deixa fofo.
— Eu sei — sorrio e beijo sua mão que está entrelaçada a minha. — Já
vamos para a consulta? — pergunto, mudando de assunto, e ele assente.
— Sim, aí podemos almoçar no shopping. Vamos aproveitar e terminar o
enxoval da Helena, o que acha? — Ele me olha rapidamente e assinto.
— Perfeito, cowboy — concordo.
Nosso caminho até a clínica é feito em meio a conversas aleatórias e
aproveito esse momento para observar meu marido. Seu rosto concentrado
enquanto dirige, as mãos grandes, os cabelos presos em um coque, a barba um
pouco grande e os lábios rosados que me atraem a cada segundo. É, eu
definitivamente tenho um marido lindo. Até porque não é só a beleza externa de
Adrian que me atrai... é tudo, principalmente seu coração.
Chegamos à clínica em pouco tempo e ficamos alguns minutos na sala de
espera, até que sou chamado. Doutor Alexandre nos cumprimenta quando
entramos e como já é de costume, ele me faz algumas perguntas sobre o mês,
mede minha pressão, peso e tudo mais. Em seguida somos guiados para o
ultrassom e mesmo tendo feito o exame algumas vezes, é sempre uma emoção
poder ouvir o coração da minha filha e vê-la também. O exame se passa
rapidamente para o meu gosto e quando percebo, estamos de volta ao
consultório.
— Quero saber se já decidiu a maneira como vai querer o parto, Castiel —
doutor Alexandre diz com calma e aperto a mão de Adrian que está na minha,
pois acabei nem pensando muito nesse assunto.
— Pra ser sincero, eu nem pensei sobre — falo e solto uma risada.
— Eu entendo, isso varia muito de paciente a paciente. Tem alguns que já
decidem quando descobrem a gravidez e outros deixam para a hora mesmo. —
Ele diz com um sorriso calmo. — Mas há algum que chame sua atenção?
Acabo ficando em silêncio por alguns minutos, pensando.
— Bem, na gravidez do Evan eu não pude ter um parto normal. Na verdade,
eu nem vi o momento em que ele nasceu, pois acabei desmaiando e isso me
marcou de certa forma. Dessa vez, eu queria poder sentir tudo, cada emoção. E
de certa forma, acho que o parto natural proporcione isso melhor — falo após
um tempo e olho rapidamente para Adrian, que sorri pra mim. — Tudo bem? —
pergunto a ele.
— O corpo é seu, meu amor. O que você decidir pra mim será o melhor. O
importante é o seu bem estar e da nossa filha. — Ele diz com carinho e isso me
deixa mais seguro.
Volto minha atenção ao médico e ele assente.
— Se é isso que quer, assim será. Sua saúde está boa, a pressão estável e
Helena também está saudável. E como médico, eu sempre sou a favor do parto
natural, pois é o mais saudável para os dois... pai e filho. Sei que alguns tem
medo da dor e tudo o mais, assusta um pouco. Mas seu corpo vai se adaptar e
estar pronto na hora certa e tudo ocorrerá da melhor forma possível. — Ele diz
de forma tranquila e isso me faz sorrir.
— Obrigado! — agradeço, me sentindo ainda mais seguro com a minha
decisão.
Infelizmente eu não pude viver muitas coisas na gravidez do Evan, e agora
eu quero poder aproveitar ao máximo tudo isso. Até porque, as dores também
fazem parte da nossa felicidade. Ninguém será imune a ela, pois é uma coisa que
sempre estará presente em nossas vidas. Algumas infelizmente são ruins, mas
outras são um passo para algo bom e fazem parte de uma evolução.
***
pessoas acenam para mim, por eu estar aqui todos os dias e sorrio brevemente.
Ouço uma pequena gritaria vinda de uma das salas ali e isso me faz sorrir ainda
mais. E não demora muito para que eu chegue à sala de Evan. Bato na porta e em
poucos segundos ela é aberta por uma das cuidadoras. Assim que me vê, ela
apenas sorri e caminha até meu filho que está concentrando desenhando em um
papel em branco. O sorriso ainda permanece em meu rosto e ele se torna ainda
maior quando meu ruivinho me avista e vem correndo até mim. Eu me abaixo
para o receber e logo ele está em meus braços.
— Estava com saudades, ruivinho? — pergunto com um sorriso e deixo um
algumas dancinhas desajeitadas. Solto algumas risadas, mas logo volto minha
atenção para a estrada.
Pego a estrada direto para a fazenda, já que Castiel não veio para a
faculdade hoje, reclamando de algumas dores nas costas. Como ele já está
entrando no oitavo mês, eu queria que ele ficasse mais tempo em casa, mas quem
disse que ele me escuta? Além de ainda continuar estudando, ele também
continua trabalhando junto comigo. Demoro mais ou menos uma hora para chegar
até a fazenda e antes que eu possa estacionar o carro na garagem ao lado, Evan já
está pulando no banco de trás e gritando vários “papa”.
— Wow! Calminha aí, ruivinho furacão — brinco e estaciono o veículo,
saindo em seguida.
Pego Evan no banco de trás e o coloco no chão, vendo-o sair correndo. O
alcanço em alguns passos e tenho que o ajudar a subir os pequenos degraus da
varanda. Ele solta minha mão novamente e entra em casa, já que a porta está
aberta.
— Papa! — escuto a voz infantil gritar empolgada e isso me faz rir.
— Nossa, me sinto até especial assim. — A voz de Castiel diz e sei que
está sorrindo.
Assim que chego à sala, vejo meu marido deitado no sofá enquanto o corpo
pequeno de Evan o abraça.
costas em meu peito. Acaricio seus braços e minhas mãos acabam pousando em
sua barriga.
— Mais tarde eu vou fazer uma massagem em você, tudo bem? — pergunto
e deixo um beijo em seu pescoço.
Ele assente em silêncio e se aconchega mais a mim. Nossos olhares vão
para Evan, que acabou de ligar a TV e está sentado no sofá. O desenho do Bob
Esponja começa a passar e vejo os olhos do ruivinho concentrados ali.
E dessa forma eu passo um bom tempo com minha pequena/grande família.
***
***
sabe das coisas boas. — Ele diz com bico nos lábios, realçando seu rosto um
pouquinho inchado pela gravidez.
Solto uma risada, pois é impossível me manter sério quando ele me
compara a um ogro. Mais precisamente ao Shrek.
— Você é a coisa boa na minha vida — falo com um sorriso e pisco um dos
meus olhos, vendo-o também sorrir.
— Eva é boa — meu pequeno diz sorrindo, estando todo lambuzado de
brigadeiro, já que ele mais passa nele mesmo do que faz alguma coisa.
— Sim, ruivinho... você é a coisa mais boa da minha vida — falo e beijo
sua mão melecada de chocolate.
— Vocês são tão lindos! — Mau diz em um suspiro e isso me faz rir.
Ele está com o rosto apoiado em uma das mãos e nos observa com uma
expressão de bobo apaixonado. É, eu realmente tenho que admitir que Antônio
faz muito bem ao meu irmão, além de ser um homem que o respeita acima de
tudo. Maurício nos contou toda a história deles há uns meses atrás quando voltou,
e confesso que minha vontade era dar uma surra naquele Victor. Mas acho que o
maior castigo dele é não estar mais com meu irmão.
cadeira que há ali e me aproximo de Castiel, pegando em sua mão que está
estendida para mim. Eu me sento na beirada da maca e deixo um beijo em sua
mão.
— Eu escolhi o parto normal, lembra? Sempre soube que seria assim e isso
não me aborrece, amor. Sei que no final tudo isso valerá a pena quando nossa
filha estiver aqui. — Ele diz com calma e concordo com um aceno.
Não sei como é possível, mas parece que eu amo ainda mais esse homem
nesse momento.
são a maior riqueza que eu posso ter — falo, olhando em seus olhos cansados.
— Eu te amo... obrigado. — Ele sussurra e nesse momento nós desviamos
nossos olhares para a enfermeira que traz Helena até nós.
— Tem uma menininha afoita pelos papais. — Ela diz com um sorriso e
acomoda a bebê no peito de Castiel.
Ela está enrolada em uma manta e presto atenção em cada pequeno detalhe
de seu rosto delicado. Os olhinhos permanecem fechados e sorrio ao ver os fios
acobreados em sua cabeça. Nossa foguinho. Observo meu marido pegar Helena
com o maior cuidado do mundo, tendo seus olhos cheios de amor sobre ela.
Nossa filha ainda chora por mais alguns segundos, até que vai se acalmando com
os toques do papa sobre ela. E meu peito se enche de amor quando Cas a encaixa
para dar de mamar a ela, que suga avidamente o bico de seu peito.
— Feliz aniversário, papai! — Cas diz baixinho, olhando para mim, e é
impossível não sorrir e chorar ao mesmo tempo.
Com toda a correria, eu me esqueci completamente do meu aniversário, mas
não poderia ter recebido melhor presente na vida.
Olho para o pequeno ser em meus braços e sinto meu peito se encher de
amor. É incrível como podemos amar alguém sem ao menos a ver na vida, e esse
amor só multiplica quando damos um rosto a tal pessoa e podemos a sentir junto
a nós. Eu amei Helena desde o primeiro segundo em que descobri a gravidez.
Claro, houve um momento de desespero por minha parte, mas não porque não a
queria... pelo contrário, Helena tem um significado enorme em minha vida, assim
como Evan.
Evan me deu forças quando eu fui deixado de lado pelas pessoas que
amava. Se eu aguentei tudo aquilo foi por causa dele, porque eu queria ser o
melhor para ele. E quando o segurei em meus braços pela primeira vez, tudo
valeu a pena. E com Helena não é diferente. Ela é o símbolo de uma nova vida, o
fruto de um amor que eu jamais pensei em ter. Tanto pra mim quanto para Adrian,
ela realmente significa a luz.
Sou tirado dos meus pensamentos quando vejo Helena se mexer em meus
braços e aos poucos seus olhos vão se abrindo, me dando a linda visão deles.
Abro um sorriso e sinto o braço de Adrian passar ao meu redor enquanto ele
também está olhando apaixonado para nossa pequena.
— Verdes... os olhos dela são verdes — meu marido diz ao meu lado,
é pequena. — Ele diz, levando isso realmente a sério e reviro meus olhos.
— Para de ser bobo, Shrek... você não vai machucar nossa filha. Você é pai
dela também, amor, é seu direito a pegar e sentir ela junto de você, ainda mais
hoje que é um dia duplamente feliz — falo com calma e sorrio para ele, deixando
um beijo em seu ombro coberto pela camiseta.
Adrian me olha por mais alguns segundos e desvia os olhos para nossa
pequena. Ele solta um suspiro e estende seus braços para pegá-la. Prendo meus
lábios para não rir, já que é muito fofo ver meu marido de dois metros de altura
segurando um bebê tão pequeno em seus braços, tendo medo de fazer qualquer
gesto mais brusco e machucá-la.
Observo os dois juntos, com Adrian andando calmamente pelo quarto
enquanto fala bem baixinho com a bebê. Sinto meu peito se apertar, mas é algo
bom. Eu sei o quanto esse momento significa para ele, o quão especial e lindo
está sendo.
Somos tirados momentaneamente desse momento quando uma enfermeira
entra em meu quarto, trazendo o almoço e junto com ela está Marcos, vestido
com um jaleco branco por cima da roupa.
— Oh, aqui está a nova integrante da família D'Ávila — Marcos diz
animado e deixa um beijo em minha bochecha antes de seguir até o irmão que
está segurando Helena.
Sorrio por um momento, mas em seguida dou atenção para a minha comida,
já que estou morrendo de fome. Desde que entrei em trabalho de parto, às onze
horas da noite, eu não comi mais nada.
— Obrigado! — agradeço a enfermeira que coloca a bandeja em cima de
uma mesa própria. Ela sorri e avisa que volta minutos depois. — Você bem que
poderia me trazer uma quentinha do restaurante que tem na esquina, né,
cunhadinho? — falo com uma careta em direção a Marcos, logo após provar a
comida insossa do hospital.
Meu cunhado solta uma risada alta e isso acaba assustando Helena, que
solta alguns pequenos resmungos, estando agora no colo do tio.
— Infelizmente eu não posso, Cas. Mas me diz, como está se sentindo? —
Ele pergunta, um pouco preocupado agora.
assustada com toda a falação ao seu redor e isso serve para que eles morram
ainda mais de amor por minha pequena. É, eu sei... ela é muito linda mesmo, mas
vamos combinar, não é? Os papais são lindos também, então tinha a quem puxar.
— Ela é linda, Cas! — Angie diz em um suspiro ao meu lado e me abraça.
Sorrio e abraço meu amigo mais forte, deitando minha cabeça em seu
ombro.
— Só que eu ainda estou bravo com você... como pôde ter me deixado de
fora? — Ele pergunta chateado.
— Desculpa, Angie. As últimas horas passaram como um borrão para mim
e tudo o que me importava era Helena. Sabe que você faz parte de tudo isso, é
minha família, jamais te deixaria de fora — falo sincero e ele parece considerar
minhas palavras.
— Só vou perdoar porque sou uma pessoa evoluída e te amo. — Ele
resmunga e isso me faz sorrir.
— Eu também te amo — falo e deixo um beijo em sua bochecha.
antecipação.
— O que, Angie? — pergunto, incentivando seus planos.
— Vamos distrair o Evan com Otávio, óbvio! É só o Tatá dele aparecer que
ele esquece do mundo — Angie responde e ele não está muito errado.
Solto uma risada e vejo os olhos questionadores de Enzo e Adrian sobre
nós dois.
— Ok, mas tem o maior problema... e o Adrian? — pergunto ainda rindo e
ele revira os olhos.
— Aí o trabalho é seu, meu amigo. — Ele fala com pouco caso.
Deus, minha filha acabou de nascer e meu amigo maluquinho já está
planejando o futuro dela.
— Vou fingir que nem estou ouvindo as ideias horríveis de vocês — Adrian
chama nossa atenção e mordo meus lábios para não rir ainda mais.
— Ainda por cima usando meu filho com uma isca — Enzo acrescenta,
balançando a cabeça em negação.
— Não se preocupem, meninos — minha avó fala com um sorriso e abraça
Enzo e Adrian pelo pescoço. — Eu mesma me encarrego de ajudar meus bisnetos
a namorar. — Ela provoca e é impossível não soltar uma risada quando vejo as
caras emburradas dos nossos maridos.
— Vó, já disse que a senhora é a melhor? — Angie pergunta enquanto faz
um coração com as mãos em sua direção.
— Eu sei que sou, querido. — Ela diz com desdém.
Balanço a cabeça em negação e deixo meus olhos se desviarem deles. Abro
um sorriso ao ver Maurício segurando Helena, enquanto Antônio está ao seu
lado. Os dois sorriem igual bobos para a bebê e dizem algumas palavras
baixinho.
— Ei cambada, silêncio! — chamo a atenção das pessoas no quarto, daqui a
pouco serão todos expulsos, até eu se duvidar. — Queremos fazer um anúncio —
falo e chamo Adrian com a mão.
Meu marido vem até mim e Angie se levanta, deixando-o se sentar ao meu
lado. Olho para ele rapidamente, que entende o que eu quero fazer e sorri.
— Mau, Toni, vocês podem trazer Helena até aqui? — pergunto aos dois,
***
Acordo algumas horas mais tarde, ouvindo uma conversa baixa ao meu
redor. Abro meus olhos com um pouco de preguiça, que entram em foco após
alguns segundos. Vejo meus pais, Jaqueline e Vitória.
Fico em silêncio, apenas os observando. Minha mãe está com Helena nos
braços e sorri carinhosamente para a bebê. Sinto uma sensação nova em meu
peito, estando feliz que eles estão aqui. Meu pai e Jaqueline são os primeiros a
me notarem acordado. Eles sorriem e vem até mim.
— Parabéns, filho, ela é linda — meu pai diz sorrindo e eu sorrio também.
— Obrigado, pai — agradeço a ele, que me olha sem qualquer reação.
Essa é a primeira vez que o chamo de pai em anos e somente sinto que é a
coisa certa a se fazer. Eu já perdoei meus pais, estamos construindo uma nova
história, então vamos fazer tudo direito.
— Os cabelos ruivos são bem fortes nessa família, não? — Jaqueline diz
com graça, notando o silêncio que se instalou entre nós.
— A genética é forte.
— Hmm... nós trouxemos uma roupinha para ela — meu pai diz após alguns
segundos.
— Não precisava, de verdade. — Olho para ele, que apenas sorri.
— Nem adianta falar, Cas. Seu pai se apaixona em cada roupa de bebê que
vê. Não se assuste quando receber ainda mais — Jaqueline diz e só há humor em
sua voz.
— Estou vendo que terei bastante trabalho em parar os avós, tios e pai
babão que Helena tem — acuso, mas não estou realmente chateado. É bom ver o
amor deles sobre ela.
Logo minha mãe também me nota, junto a minha irmã, e elas vem até mim.
Sorrio para elas e recebo Helena em meus braços, que começa a chorar. Pego
meu pequeno embrulho de amor nos braços e sorrio para ela, a balançando
levemente para a acalmar. Lena ainda solta mais alguns murmúrios, mas isso
acaba quando sua pequena boca entra em contato com meu peito. Deixo-a mamar
o quanto quiser enquanto a observo. Se tem uma sensação que é maravilhosa, é
poder alimentar seu filho. É um momento só seu e do seu bebê, uma conexão
incrível.
— Estou feliz por vocês, Castiel. Sua família a cada dia fica ainda mais
linda e é possível sentir o amor — ouço a voz da minha mãe e levanto minha
cabeça, a olhando.
— Vocês também são minha família, mãe — respondo e vejo seus olhos se
encherem de lágrimas.
***
Estaciono o carro em frente nossa casa e olho de relance para Cas, antes de
descer. Dou a volta no veículo e ajudo meu marido a descer e em seguida abro a
porta traseira, tirando o bebê conforto com Helena. Sorrio ao ver minha pequena
dormindo tranquilamente e abaixo o protetor para o sol da manhã não bater em
seu rosto sereno. Cas e Helena receberam alta hoje, depois de dois dias de
internação.
Entrelaço minha mão livre com a do meu marido e subimos os pequenos
degraus da varanda, entrando em casa. Nossos amigos, mãe e irmã de Castiel
foram embora ontem, então a casa está calma. É possível ouvir o barulho da TV
ligada e é para a sala que vamos. Assim que chegamos, vejo dona Clarisse e
Evan sentados no sofá, sendo que meu filho está deitado com a cabeça no colo da
bisa.
— E essa é a recepção que temos — Castiel diz em drama e solto uma
risada, o que acaba chamando a atenção dos dois seres na sala.
— Papa! Papai Ad! — Evan diz animado e começa a pular no sofá.
Sorrio e deixo o bebê conforto em cima do sofá livre.
— A Helena também, ruivinho — falo para ele, que arregala os olhinhos.
Em poucos segundos Evan desce do sofá, meio desajeitado, e corre até a
irmã, se debruçando sobre o bebê conforto.
— Cuidado, amor, ela ainda é muito pequena — Cas diz com calma e
coloca Evan sentado no sofá, bem ao lado da irmã.
— Ninha du Eva — meu pequeno diz sorrindo e meu peito se enche de
amor.
— Isso aí, filho... maninha do Evan — sorrio pra ele e deixo um beijo em
sua bochecha.
— Aí, vocês me matam de amor — escuto dona Clarisse resmungar e isso
me faz rir. — Se juntem, vou tirar a primeira foto da família. — Ela diz
entusiasmada e não há como dizer não.
E atendendo ao pedido de dona Clarisse, Cas pega Helena do bebê conforto
e se senta ao lado de Evan no sofá. Pego meu filho no colo e me junto a Castiel,
o abraçando de lado. E dessa forma nós sorrimos para a câmera do celular,
escutando o som da captura da foto em seguida.
E eu não poderia pedir nada mais na vida, já que ela me deu bem mais do
que um dia imaginei ter.
Duas semanas depois...
sento em uma das duas cadeiras postas ao redor de uma mesa ao centro da sala.
Há um guarda bem ao lado da porta e sua expressão é impassível, como se não
existisse mais ninguém no ambiente. Aperto minhas mãos para conter o suor e a
tremedeira que se instala, mas isso não adianta muito quando ouço o barulho da
porta do outro lado da sala se abrir.
tenho certeza que Débora sempre soube muito bem as consequências dos seus
atos. Sei que ela está aqui apenas porque Adrian quis isso, foi como uma
vingança por tudo o que ela nos fez.
— Irmãozinho, que surpresa. — Ela diz com puro deboche na voz e é posta
sentada em minha frente pela guarda que a acompanha.
— Imagino que seja, mas te garanto que não vim porque senti sua falta —
sorrio para ela, demonstrando o mesmo deboche e frieza.
— Assim você me magoa, Cas. — Ela finge uma expressão triste e coloca
uma das mãos em cima do peito.
Reviro meus olhos e me ajeito melhor na cadeira, mesmo que tudo aqui me
deixe desconfortável.
— Por que fez tudo aquilo, Débora? Por que tentou matar o meu filho? Você
não pode ser tão sem sentimentos assim, pode? — faço as perguntas a ela, que
apenas me observa.
Ela não diz nada por um tempo, mas eu observo seus olhos que demonstram
um brilho de maldade.
— Por que eu não faria? Você e aquele garoto chegaram estragando tudo.
Primeiro Adrian, que deveria estar comigo, e depois meu pai também. Eles são
meus, você não deveria aparecer e estragar tudo! — Ela diz e sua voz se eleva
alguns tons por causa da raiva.
— Seus? Eles não são objetos, nem meu pai e muito menos Adrian. Você
acha mesmo que o que você sente é amor? Pelo menos não ao meu marido, isso é
apenas uma obsessão de uma garota mimada que sempre teve tudo o que quis —
falo e seus olhos parecem inflamar de raiva.
— Como seu marido? Você não... — Ela começa, mas eu nego.
— Sim, meu marido. As pessoas se casam quando se amam, quando possui
um amor muito forte para uni-las. E não me venha dar seus ataques de pelanca.
Você sempre soube que Adrian não te amava, mas ao invés de seguir sua vida
com seu amor próprio, resolveu se vingar por um motivo bobo. Eu realmente não
entendo como você se tornou essa pessoa, nem te conheço há tanto tempo, mas já
sei o quanto você não presta. Você sempre teve de tudo, Débora, enquanto meu
pai te dava amor, carinho e educação... minha irmã e eu estávamos sozinhos com
minha mãe.
— Pelo menos algo você sofreu, não é? Seu pai preferiu a mim do que
você. — Ela diz maldosa, mas isso não me abala.
— Pode até ser por um tempo, mas isso não me abala mais. Eu posso ter
passado anos da minha vida sem o amor do meu pai, mas resolvi dar uma chance
para ele novamente, assim como minha mãe. Tenho minha família de volta
enquanto você está presa aqui dentro e ainda vai permanecer por um bom tempo.
— Olho em seus olhos e se olhar matasse, eu já estaria em um caixão.
— E qual é sua intenção vindo aqui, jogar na minha cara tudo o que
conseguiu? — Ela zomba e solta uma risada sem humor algum.
— Não, não sou assim. Eu só vim aqui, pois precisava encerrar a página em
aberto que você era na minha vida. Durante esses meses, minha maior vontade
era que você se ferrasse das piores formas possíveis, minha vontade era te dar a
surra que você sempre mereceu na vida..., mas do que isso ia adiantar? Se você
não aprendeu recebendo o amor, acho difícil que aprenda na dor. Ou até aprenda,
eu espero que aprenda. Eu quero que em alguns anos, você olhe para o passado e
se arrependa pelo tempo que perdeu fazendo mal aos outros, quero que se sinta
culpada por cada coisa. Só que você não terá ninguém para te perdoar quando
estiver sufocando pela liberdade novamente... pelo menos o meu perdão você
não terá. Há certos limites na vida e você ultrapassou a todos.
Jogo as palavras sobre ela e me levanto em seguida, ainda ouvindo seu
silêncio.
— Tenha uma boa vida, Débora... a minha está sendo incrível — sorrio em
sua direção e caminho até à saída.
Eu me sinto mais leve após sair da sala de visitas, e finalmente esse
capítulo ruim da minha vida foi encerrado. Eu realmente não esperava que
Débora estivesse arrependida, eu só precisava olhar na cara dela depois de tudo.
— Tudo bem? — A voz do meu marido me desperta e vejo ele se
desencostando da parede, vindo em minha direção.
— Sim, tudo ótimo — sorrio para ele e o abraço sem dizer nada.
Fecho meus olhos por alguns segundos e inspiro seu cheiro, me sentindo em
casa.
— Espero que não queira voltar aqui novamente. — Ele me repreende e
isso me faz rir.
Quando disse que queria vim aqui, Adrian foi super contra, mas depois de
explicar meus motivos, ele finalmente cedeu.
— Não mesmo, quero distância — respondo e me afasto dele. — Vamos?
Quero conhecer meu avô postiço — sorrio para ele, que balança a cabeça em
negação.
— Vamos, meu cabelo de fogo. — Adrian entrelaça nossos dedos e saímos
desse lugar horrível.
***
Assim que entro em casa, sinto o cheiro incrível da comida que só dona
Clarisse sabe fazer. Sorrio e caminho em direção à cozinha, ouvindo algumas
vozes por lá. E assim que entro no cômodo, vejo Maurício sentado em uma das
cadeiras da mesa enquanto tem Helena dormindo ao seu lado no bebê conforto.
Minha avó está concentrada em suas panelas e Evan está no cantinho, sentado em
um tapete, estando rodeado por lápis de cores e papéis em branco.
— Cheguei, família! — falo, chamando a atenção de todos, e vou até meu
pequeno, deixando um beijo em sua bochecha gorducha.
Sigo até onde Maurício está sentado e me sento ao seu lado, dando uma
olhada em Helena que está tranquila em seu sono.
— Ela acordou em algum momento? — pergunto e me viro para meu
cunhado.
— Não, Helena é um amor... só dorme essa menina. — Ele diz rindo.
— Faz cocô, mama e dorme novamente... mundo lindo dos bebês — minha
avó se manifesta e isso arranca risadas nossas.
— Melhor fase, vó.
— E eu não sei? Queria estar nessa fase novamente. — Ela resmunga e
balanço a cabeça em negação.
— Onde está meu irmão? — Mau pergunta enquanto faz desenhos
imaginários no tampo da mesa de madeira.
— Foi ver uma cerca que estragou, daqui a pouco ele já está aí novamente
— respondo e desvio os olhos para minha avó. — E então, dona Clarisse, que
horas seu boy chega? — A provoco, mesmo sabendo que corro risco de vida
com ela segurando uma faca.
— O meu boy, senhor Castiel, já está chegando junto com o boy desse aí. —
Ela responde e aponta para Maurício, que solta um risinho.
— Fiquei sabendo que ele é milionário — Mau compartilha a informação.
— Olha a dona Clarisse, foi arranjar logo o que tem dinheiro — falo rindo,
mas não por muito tempo, já que farinha de trigo atinge a minha cara. — Vó! —
resmungo contrariado.
— Mais respeito, garoto... eu não tenho culpa se Oscar é rico. E não se
esqueça que seu marido também é. — Ela adverte e faço um biquinho.
— Eu só ‘tava brincando. — Me defendo e levanto minhas mãos em
rendição.
— Papa banco! — ouço meu filho rir ao olhar para minha cara e me sinto
derrotado.
— Isso mesmo, pode tirar sarro à vontade, senhor Evan — finjo irritação,
mas isso só serve para o fazer rir ainda mais.
Levanto uma sobrancelha e pego um pouco de farinha de trigo na mão e
corro até meu filho, passando um pouco em seu rostinho, ouvindo seus gritinhos
desesperados que servem para acordar Helena. Deixo um beijo no meu
fantasminha camarada e sigo até minha pequena, a pegando no colo... e quase
solto uma gargalhada quando Helena chora ainda mais ao ver meu rosto branco.
Deus, eu vou traumatizar meus filhos.
***
Desço às escadas meia hora depois, estando de banho tomado e também
com meus bebês prontos. Ouço uma voz diferente vinda do andar de baixo e abro
um sorriso. Parece que meu avô postiço chegou.
Assim que chego à sala, vejo meu marido sentado em sua poltrona,
Maurício e Antônio estão sentados em um dos sofás, enquanto minha avó e seu
namorado estão no outro. Logo todos os olhares vêm até nós e sinto Evan ficar
um pouco envergonhado pela nova presença... até parece que fica assim por
muito tempo.
— Até que enfim eu posso conhecer o homem que conquistou o coração
zangado da dona Clarisse — falo com um sorriso e vejo minha avó revirar os
olhos para mim.
Evan sai correndo do meu lado e vai até o pai, pulando no colo dele. E eu
aproveito isso para me aproximar deles e deixar Helena nos braços do dindo
Toni.
— É um prazer poder te conhecer, Castiel... sua avó fala muito de você —
senhor Oscar diz com um sorriso e se levanta, estendendo sua mão para mim, a
qual eu ignoro e o abraço.
— Vixe, ela deve ter me detonado então — brinco e ouço as risadas ao meu
redor. — Bem-vindo à família, Oscar! — falo sorrindo quando me afasto dele.
— Muito obrigado. — Ele agradece e volta a se sentar ao lado da minha
avó, entrelaçando sua mão a dela.
Ah, eu vou morrer de amor!
— Vocês são lindos juntos — elogio e me sento no braço da poltrona em
que Adrian está.
— Eu sei — minha avó diz convencida e sinceramente, eu desisto!
— Seu amor próprio é um soco na minha cara, vó — falo a ela, que apenas
sorri.
E nesse clima descontraído nós passamos bons minutos conversando e se
conhecendo melhor. Descobri que Oscar é um empresário de sucesso na capital e
que não possui nenhuma família, fato que me deixou triste. Mas fiquei feliz ao
ver o brilho nos olhos dele ao olhar para minha avó. Dona Clarisse merece ser
muito feliz e vejo que a pessoa que ela arranjou a fará se sentir assim. Ao que eu
vejo, os dois estão fazendo bem um ao outro e nada poderia me deixar mais
realizado.
***
— Seu irmão é um pequeno folgado, amor — falo baixo para Helena, que
me olha com suas esmeraldas.
Dou a volta na cama e chamo por Castiel, que bate na minha mão quando o
chacoalho e se vira para o outro lado.
— Ah, é assim? Chegou a hora da minha vingança, diabinho — sorrio e
com minha mão livre puxo seu corpo fora da cama.
Ouço o baque surdo quando seu corpo cai no chão e me seguro para não rir.
Como é doce o sabor da vingança.
— Mas que p...
— Temos crianças no quarto, amor — sorrio para ele, que foca seus olhos
em mim e falta me matar com o olhar. — Estamos quites — pisco para ele,
vendo-o levantar e soltar um gemido de dor.
Castiel bufa contrariado e volta a se sentar na cama, estendendo os braços
para mim. Sorrio e entrego Helena em seus braços, que logo agarra a camiseta
do papa com sua mãozinha. Olho para Evan na cama e percebo que ele está
dormindo... nem viu o show.
— Você é um ogro! — Castiel sussurra/grita.
— Eu sei — respondo e me sento à sua frente, passando meu dedo
indicador pelos cabelos ralos de Helena. — Mas sou o seu ogro e você me ama
assim.
Ele não me responde nada, mas sinto seu olhar sobre mim. Castiel e eu
podemos nos implicar o tanto que for, brigar e virar a cara um para o outro, mas
no final do dia é para os braços um do outro que nós voltamos.
Levanto meu olhar e nossos olhares se cruzam. Sorrio ao ver todos os meus
sentimentos sendo espelhados.
— Eu te amo, cabelo de fofo — sussurro e deixo um beijo em sua testa.
— Mesmo você sendo um ogro... eu te amo, Shrek. — Ele responde de
volta e isso me faz sorrir.
É incrível como poucas palavras podem fazer diferença em nossas vidas. E
é ainda mais incrível perceber que apenas uma pessoa pode mudar totalmente a
sua vida.
Sinto uma mãozinha completamente babada tocar em meu rosto e solto um
pequeno resmungo, podendo ouvir uma risadinha sapeca. Ainda permaneço de
olhos fechados, esperando para ver até onde vai a pequena, literalmente,
paciência de Helena. E não demora muito, eu sinto dois tapinhas em meu rosto,
acompanhados de resmungos nada contentes.
Tinha que ser minha filha mesmo!
— Buu! — Abro meus olhos de uma vez e quase solto uma gargalhada ao
ver os olhinhos arregalados da minha filha.
Fico alguns segundos esperando o choro da pequena a minha frente, mas ao
invés disso ela ri e bate palminhas. Muito bom, já se acostumou com o pai que
tem.
“indignado”.
— Ei, mais respeito com meu maninho! Ele é doidinho? É, mas é um
doidinho cheio de amor — respondo e ele assente, mesmo rindo.
— Tá! — Ele diz apenas e sai do quarto em seguida, deixando Helena e eu
a sós.
— Gaga... bu! — ouço Helena “falar” e olho para ela, vendo-a entretida
com a minha camiseta.
— É, ela é linda, não? — respondo e ela solta uma risada gostosa, deitando
sua cabeça em meu peito.
***
Saio do quarto quase uma hora depois, já que foi uma luta arrumar Helena,
que não parava quieta um só minuto. Sinceramente, eu não sei a quem esse
projeto de gente puxou.
Assim que chego ao fim das escadas, já posso ouvir uma pequena algazarra
do lado de fora e sei que minha família acabou de chegar. Passo pela porta de
entrada e recebo o sol da manhã quando piso na varanda. Sorrio ao ver Angie e
toda sua família, e no mesmo segundo sinto Helena se agitar em meus braços
para se juntar a festa.
— Cas! — Angie praticamente grita quando me nota e vem correndo até
mim, me abraçando. — Deus, que saudade! — Ele resmunga e isso me faz rir.
— Angie, nos vimos tem três semanas — aviso quando nos afastamos e ele
revira os olhos.
— Detalhes! — diz e faz um gesto de desdém com a mão. — E você,
foguinha, olha que coisa mais linda. — Ele fala sorrindo e pega Helena, que fica
toda derretida nos braços do tio.
Deixo os dois ali e vou até os outros, os cumprimentando com abraços e
beijos. Só que o meu auge do dia é quando sinto um pequeno ser de um ano e
poucos meses puxar a barra da minha calça. Abaixo meu olhar e sorrio ao ver
Otávio.
— Oi, meu anjo! — falo com um sorriso e pego meu afilhado nos braços,
deixando alguns beijos em sua bochecha.
***
Ajudo minha avó a arrumar os últimos detalhes do almoço que será servido
em alguns minutos e não consigo parar de sorrir. Hoje Adrian e eu completamos
um ano de casados, então decidimos celebrar um dos dias mais importantes de
nossas vidas. Por isso todas as pessoas mais importantes para nós estão reunidas
aqui hoje conosco. Montamos uma mesa em frente ao campo de rosas brancas,
local que também foi palco do nosso casamento. Querendo ou não, essa é a
maneira mais próxima que Adrian tem de estar perto dos pais, é uma lembrança
linda deles e que farei de tudo para manter assim por muito tempo. Eu não pude
conhecer meus sogros, mas sei que eles foram pessoas incríveis em vida e que
devem estar felizes com os filhos.
— Nem parece que já faz um ano que estou casado — falo em direção à
minha avó, que sorri.
— O tempo passa rápido quando estamos felizes.
— E a senhora, ansiosa para o casamento? — pergunto com um sorriso e
me aproximo ainda mais dela.
— Um pouco, eu nem achei que um dia me casaria novamente. Depois que
seu avô morreu, eu achei que não amaria mais ninguém. — Ela responde e a
abraço de lado. — Mas Oscar me conquistou, mesmo com esse jeito parado
dele. — Ela resmunga e isso me faz rir.
— Só ele para te aguentar, dona Clarisse — brinco e recebo um beliscão
como agradecimento. — Ai, vó! — Eu me afasto dela e passo minha mão por
meu braço.
Ela não me responde nada e sigo seu olhar, podendo ver Antônio chegando
com Oscar. Sorrio e minha vontade é fazer uma daquelas piadinhas apaixonadas,
mas tenho amor a minha vida.
Após alguns minutos, todos os nossos convidados chegam e podemos nos
reunir ao redor da grande mesa montada. Adrian e eu nos sentamos em uma
ponta, enquanto os irmãos dele na outra e o resto ao nosso redor. Helena passa
de colo em colo, coisa que ela quase não gosta, e Evan está sentadinho ao meu
lado. Assim que todos estão acomodados, Adrian se levanta e pega em minha
mão para eu fazer o mesmo.
— Primeiro, eu quero agradecer a cada um de vocês que estão aqui hoje,
todos são importantes em nossa vida e fizeram parte da nossa história de alguma
maneira. Então, obrigado! — Ele começa e todos sorriem. — E agora eu quero
agradecer ao meu lindo marido Castiel... nós não começamos da maneira certa,
ou pelo menos não da maneira certa para os outros, mas acho que foi a maneira
certa para nós dois. Você me tirou do sério desde o primeiro momento, mas eu
não mudaria nada, pois ser desafiado por um ruivo boca dura foi a melhor coisa
que aconteceu na minha vida. Nossa história já teve alguns altos e baixos, mas
sempre prevaleceu o nosso amor e isso nada pode tirar de nós, mesmo que
venham muitos obstáculos pela nossa frente. Hoje faz um ano desde um dos dias
mais importantes da minha vida, mas nossa história é marcada por vários desses
dias. — Ele diz e aponta para nossos filhos. — Evan e Helena são prova disso.
Então, para celebrar esse dia, eu quero te dar um presente.
Adrian solta minha mão e pega algo em seu bolso. Vejo uma caixinha em
sua mão e quando ele a abre, posso ver outra aliança.
— Adrian... — começo, mas ele me interrompe.
— Sei que nós já temos alianças, mas essa é especial. — Ele sorri e desliza
a joia pelo meu dedo anelar.
E observando o pequeno objeto, vejo uma única pedrinha, bem pequena, no
centro dela.
— Essa pedrinha representa nosso primeiro ano juntos como casados, e a
cada ano que passar, uma nova vai ser acrescentada nela para marcar essa data
na nossa vida. — Ele explica e sinto uma lágrima escorrer por meu rosto.
Sorrio e me jogo nos braços do meu marido, o abraçando apertado. Ouço
algumas falas da nossa família e solto algumas risadas com as falsas indignações
de alguns, alegando que somos muito fofos juntos.
— Bem... — começo a dizer quando nos afastamos e pego o envelope que
estava comigo desde o momento que viemos para cá. — Meu presente não tem
valor em dinheiro, mas creio que isso não importa entre nós... o que vale é o
valor sentimental e esse aqui, eu creio que tem um enorme — falo e pego na mão
do meu marido, entrelaçando nossos dedos. — Adrian, eu nunca achei que fosse
amar novamente, mas fui sortudo o bastante por ter conhecido você... Um homem
incrível, marido respeitoso e pai maravilhoso. Esse presente aqui não tem muito
a ver com nosso dia de hoje, mas não achei outra ocasião melhor para te entregar
ele. E, eu só espero que se sinta ainda mais parte de tudo com ele, pois você é
isso e muito mais para ele. — Termino de falar e ele me olha um pouco confuso,
mas apenas sorrio e entrego o envelope.
A mesa entra em silêncio e só é possível ouvir nossas respirações. Eu me
sinto um pouco nervoso e meu coração também bate acelerado em meu peito. Só
que o sorriso permanece em meu rosto e ele fica ainda maior quando vejo às
lágrimas descerem pelo rosto do meu marido. Ele fica bons minutos olhando
para a certidão de nascimento em suas mãos, até que me entrega o documento e
solta minha mão, indo até nosso filho. Evan não parece entender muito bem tudo
o que acontece, mas retribui com muito amor o abraço carinhoso de seu pai.
Eu sei que uma certidão de nascimento não diz nada, é apenas um
documento. Pois o que vale é a pessoa que está ali ao lado da criança, a criando
com amor e carinho. Mas Adrian é o pai do meu filho e queria comprovar isso
mais uma vez.
— Ok, eu sou velha demais para tantas emoções — minha avó resmunga e
todos rimos, mesmo que a maioria também tenha os olhos cheios de lágrimas.
Pego Helena e vou até meus meninos, os abraçando também.
— Obrigado — ouço Adrian sussurrar.
— Você sempre foi o pai dele — sussurro de volta.
Aproveitamos nosso abraço em família por alguns minutos, até nossas
crianças se cansarem do momento amor e nos separar. E olhando para minha
família nesse momento, eu sei que não há um dia em que não me sentirei feliz,
mesmo nos dias não tão bons. Pois, mesmo nas dificuldades, é bom saber que
você tem com quem contar e para quem lutar.
Quatro anos depois...
Abro meus olhos e solto um bocejo, coçando meus olhos em seguida. Deus,
como é bom acordar em paz, sem os gritos dos pequenos furacões que eu chamo
de filhos.
Eu me viro na cama e sorrio ao ver meu marido dormindo tranquilamente,
tendo seus cabelos longos e loiros espelhados pelo travesseiro. Dou uma olhada
rápida no relógio do quarto e vejo que ainda são oito da manhã... dá tempo de
fazer um agrado.
Com cuidado, eu me coloco sentado sobre suas coxas e enfio minha mão
por dentro de sua cueca. Seu pau rapidamente começa a responder aos meus
estímulos, ficando mais duro em minha mão. Mordo meu lábio inferior e me
abaixo, deixando minha boca ir de encontro com a cabecinha de seu pênis. Ouço
Adrian soltar um gemido sôfrego e seu corpo se contorce um pouco. Isso me faz
rir baixinho e sem perder mais tempo, coloco todo seu comprimento em minha
boca, o chupando com vontade. E ao fazer isso, os olhos de Adrian se abrem de
uma só vez, estando arregalados.
Minha vontade é rir, mas minha boca está ocupada no momento, então
apenas me contento em manter contato visual com ele, enquanto minha boca
engole seu pau.
— Porra! Quer me matar, cabelo de fogo? — Ele pergunta, mais gemendo
do que falando e apenas pisco meus olhos em uma falsa inocência.
Meu marido solta quase um rosnado e sua mão esquerda agarra meus
cabelos enquanto ele fode minha boca. Sinto ele ir fundo em minha garganta e
meus olhos chegam a lacrimejar, mas isso não me faz parar. E cerca de quinze
minutos depois, ele está gozando em minha boca. Sinto meus lábios inchados
quando seu pau escapa por minha boca, mas não me importo.
— Feliz aniversário, cowboy! — sorrio para ele e no instante seguinte, sua
colocando outro junto em seguida. E quando penso que não posso enlouquecer
mais, sua boca engole meu pau e seus dedos me fodem sem dó. Fecho meus
olhos, sentindo algumas lágrimas se acumularem nos cantinhos. Mordo meus
lábios com força, em uma tentativa falha de não gemer alto demais e acordar
meus filhos.
— Uma pergunta... a porta está trancada? — pergunto e abro meus olhos.
— Com certeza — meu marido responde, abandonando meu pau e isso
quase me faz chorar.
Mas não tenho tempo para reclamar, já que em poucos segundos seus dedos
saem de dentro de mim e ele me penetra de uma só vez, arrancando meu fôlego.
Minhas unhas vão até seu peito, o arranhando com força, nem ligando para o
machucar ou não. Ele estoca rápido e forte dentro de mim, me fazendo senti-lo
por inteiro. Puxo ele para mais perto, grudando nossas bocas, com a tentativa de
conter meus gemidos. Em certo momento sua glande acerta minha próstata, me
fazendo chorar, literalmente, de prazer. E não demora muito para que eu esteja
olhos.
— Para com isso, Enzo — Angie diz, revirando os olhos, e puxa o marido
pela gola da camiseta.
— Papai, eu quero abraça o Tatá também — Helena diz emburrada e
Adrian solta uma risada.
— Tenta a sorte, pequena — meu marido responde e vira às costas,
entrando em casa, ainda com Giovani no colo.
Solto uma risada e afago os cabelos da minha pequena, tentando a confortar.
Lena cruza os braços e marcha para dentro enquanto Otávio e Evan nem estão se
importando com o resto de nós. E quando os dois finalmente se separam, entram
em casa de mãos dadas.
***
Aos poucos todo o resto da família também chega e a farra está completa.
Até minha avó, que se mudou há alguns anos com o marido, veio para comemorar
conosco. Há uma mesa enorme montada no meio do quintal, onde está todo
mundo. Sorrio ao ver toda minha família reunida, me sentindo extremamente
feliz.
— Já teve algum pedido estranho? — Dona Clarisse pergunta, chegando ao
meu lado.
— Comer terra molhada que parece chocolate? — respondo, mas sai mais
como uma pergunta.
— Que nojo, os grávidos de hoje em dia são estranhos. — Ela diz, bebendo
despreocupadamente um gole de seu refrigerante.
— Vó!
— O quê? Eu só disse a verdade. — Ela dá de ombros.
Balanço a cabeça em negação e tomo meu lugar na mesa.
— Papa? Eu tenho um pedido. — Evan chega ao meu lado, tendo Otávio
bem atrás.
“Deus, eles não se separam nunca?”
— Fale, criança. — Olho atentamente para ele, que toma fôlego antes de
falar.
— Posso passar às férias com o Tatá e o Gio? — Ele pergunta empolgado.
— Hum... deixa eu ver, o que eu ganho em troca? — pergunto de
brincadeira e vejo os dois de olhos arregalados.
— Um beijinho? — Otávio tenta e isso me faz rir.
— Ok! Esse pode ser meu pagamento — falo e os dois batem com as mãos.
Recebo meu beijo duplo e em seguida vejo os dois saindo de perto, pulando
igual dois grilos. Adrian chega ao meu lado e então todos se acomodam em seus
lugares devidamente.
— Antes de vocês atacarem a comida, obrigado por vocês estarem aqui,
tanto os de longe como os de perto. Hoje é um dia duplamente feliz para mim,
pois há cinco anos atrás eu ganhei o melhor presente de aniversário que poderia
imaginar. Muitos podem não gostar de dividir essa data com ninguém, mas eu sou
grato todos os dias pelo meu pequeno furacão — meu marido diz sorrindo e pega
Helena no colo, deixando um beijo em sua bochecha.
— Só espero que o José Victor nasça no aniversário do Castiel — Maurício
diz rindo e cerro meus olhos em sua direção.
— Eu amo meu filho, mas não força — respondo em brincadeira,
arrancando risos de todos.
Mas na realidade, nada me faria mais feliz. Cada um de nossos filhos veio
em um momento importante de nossas vidas. Evan veio para me manter firme e
com esperanças. Helena veio para marcar o meu recomeço e de Adrian. Agora
vem José Victor, apenas para completar nossa felicidade.
E é nesse clima de família e amor que nós comemoramos mais uma data
especial de nossas vidas.
Sinto um cheiro nada agradável da pequena criatura em meus braços e faço
uma careta. Meus olhos se abaixam para o rostinho sapeca de Helena, com agora
três meses de vida e balanço à cabeça em negação. E minha filha apenas sorri
banguela, como se não tivesse acabado de fazer uma das maiores catástrofes do
planeta.
— Adrian! — chamo por meu marido, que em poucos segundos aparece,
— Ah, eu que vou? — Ele pergunta irônico, afastando a bebê de sua roupa.
— Sim, eu já a carreguei por nove meses, dou banho de manhã, dou mama,
ajudei com a beleza. Sua parte agora, não? — sorrio cínico para ele e deixo um
selinho em seus lábios. — Vou lá ajudar minha avó com a ceia. Divirtam-se!
Ainda ouço Adrian resmungando, mas não ligo e sigo até à cozinha, onde
encontro dona Clarisse e Maurício com a mão na massa.
— Vocês viram meu filho? — pergunto, chamando a atenção dos dois para
mim.
Mau apenas balança à cabeça em negação e minha avó finge nem me ouvir,
sinceramente, de muita serventia. Mas como se soubesse sua hora de entrar, Evan
aparece correndo, vindo do lado de fora, tendo um celular nas pequenas mãos.
— Por que o celular do seu pai está com você, senhor Evan? — pergunto
sério e meu pequeno de três anos e meio para de correr.
— Evan liga Tatá — meu filho responde e assim que pego o aparelho, vejo
Angie do outro lado da tela, com Otávio nos braços.
— Sinceramente, Angie, você também faz parte disso? — pergunto ao meu
amigo, que revira os olhos para mim.
— Só estava ajudando os pombinhos a se comunicar. E nem me venha, pois
seu marido ajudou. — Ele aponta e Otávio solta uma risada, não entendendo
muita coisa.
— Eva? — meu afilhado chama e logo meu filho se coloca em minha frente,
colocando sua face em frente à câmera.
— Calma aí, meu amor... só quero falar com seu pai um minutinho e dizer o
quanto ele é um ingrato, que preferiu o outro lá a mim — falo e ouço Angie rir.
Abusado!
— Pensei que gostasse do Lucio. — Ele diz e eu solto um bufo irritado.
— Gosto, até o momento em que ele rouba meu irmão de mim, para passar
Natal com ele — falo com drama.
— Sabe que esse ano é especial, Cas. É o primeiro Natal com toda a
família reunida com Apolo depois do coma. Enzo está tão feliz por estar junto ao
irmão, finalmente. — Ele diz mais sério e confesso que me emociono um pouco,
***
Observo minha sala cheia por nossa família e isso me faz sorrir. Maurício
está sentado em um sofá, abraçado com Antônio e também Leonardo, que veio
passar esses dias com eles. Minha avó e Oscar estão em outro sofá, como um
casal de namorados que mal se importam com o mundo lá fora. Melissa e
Marcos, que chegaram há pouco, também estão em sua bolha. Evan e Ana Clara
brincam com alguns brinquedos no chão e Helena ainda dorme na Santa Paz de
Deus.
Ouço uma batida na porta e então sorrio ainda mais, indo abrir a mesma.
Estava tão entretido, que nem ouvi mais ninguém chegando, mas eu sei quem está
ali. E assim que abro à porta, vejo minha mãe e minha irmã ali. Não perco tempo
e abraço as duas, matando um pouco da saudade. E me vendo nesse momento
com elas, eu mal consigo acreditar no quanto evoluímos. Há anos atrás as duas
estavam mortas para mim, mas hoje fazem parte da minha família novamente e
esperar por ajuda. Aliás, pensa em um gato que ajudou a gente — Vitória diz
sorrindo safada e minha mãe nega com um aceno.
— Aquieta o facho, menina!
— Ah, vai me dizer que a senhora não reparou? — Ela retruca e minha mãe
cora.
— Pelo menos algo de bom... Entrem, todos já estão aí.
Elas assentem e vão até os outros, cumprimentando todo mundo.
Sinto meu celular vibrando em meu bolso e ao pegar o aparelho, vejo o
nome do meu pai na tela. Saio em direção à varanda e então atendo a ligação.
— Oi, pai! — falo sorrindo.
— Filho, tudo bem?
— Tudo sim, mas por que não veio? — pergunto, me sentindo um pouco
triste por isso.
É o primeiro Natal em anos que eu tenho minha família reunida novamente,
mas infelizmente meu pai não veio.
— Me desculpa, mas Jaqueline não quis aparecer aí depois de tudo que
Débora fez e confesso que também me sinto envergonhado. — Ele responde e
isso me faz suspirar.
— Isso já é passado, vocês são bem-vindos.
— Eu sei, por isso vim te dar um abraço pessoalmente. — Ele diz e isso me
deixa confuso.
— O quê? — pergunto e me viro, olhando para a estrada que dá acesso à
fazenda.
Abro um sorriso ao ver o carro dele se aproximando e então encerro a
ligação, correndo até lá. E poucos minutos depois eu estou abraçando meu pai.
— Feliz Natal, ruivinho! — Ele diz e isso me faz sorrir, me lembrando da
minha infância.
— Feliz Natal, pai! — desejo e recebo um beijo na testa. — Vem, aproveita
e abraça Vitória também.
— Ela veio? Tentei ligar para ela, mas não deu certo. — Ele diz enquanto
puxo ele comigo.
— Veio sim, o celular devia estar fora de área.
Meu pai entra comigo em casa e deixa um abraço em Vitória e nos netos.
Ele também cumprimenta os outros, mas não fica muito tempo, já que Jaqueline
estava sozinha em casa. Mas nossa noite continua e enquanto não se aproxima a
hora da ceia, nós fazemos a troca do amigo secreto, que foi bem divertido.
E assim que o relógio se aproxima da meia-noite, Adrian me puxa para
longe de todos. Fico sem entender sua atitude, até que estamos fora de casa e
seus lábios atacam os meus com paixão e muito amor. Passo meus braços ao
redor de seu pescoço e me deixo ser envolvido pelo momento, aproveitando
cada segundo do nosso contato.
— Algum motivo especial para essa fugidinha? — pergunto sorrindo, assim
que nossas bocas se separam.
— Nada, só queria beijar o amor da minha vida. — Ele diz, fazendo meu
coração acelerar em meu peito.
Incrível como esse homem ainda pode me deixar de pernas bambas, mesmo
depois de todo esse tempo.
— O senhor sabe ser romântico, senhor D'Ávila — implico.
— O melhor para meu cabelo de fogo. — Ele pisca para mim e me beija
novamente.
E eu confesso, tenho o melhor ogro do mundo.
Ficamos bons minutos ali fora, como dois adolescentes apaixonados, até
que ouvimos gritos por nós dois. E assim que voltamos para dentro, foi no exato
momento em que o Natal foi anunciado com toda sua magia. Helena acabou
acordando com toda a barulheira e a peguei em meus braços, sorrindo
apaixonado para ela. E bem em seguida, fomos engolidos por um abraço de
Adrian, estando com Evan em seus braços.
E sinceramente, eu não necessito de mais nada em minha vida, a não ser
todas essas pessoas que estão reunidas aqui.
E estamos aqui reunidos em mais um livro, hein? Minha satisfação é enorme
em trazer mais histórias a vocês. Agradeço a Deus por mais essa oportunidade
de estar publicando mais um e-book, dessa vez com esses personagens tão
marcantes para mim. Shrek e cabelo de fogo deram o que falar, não é?
Também agradeço a vocês, Jujubas, pois se não fosse o apoio diário que
recebo de vocês, seria difícil estar aqui hoje. Obrigada por fazerem parte de
momentos tão importantes para mim, vocês são demais!
Deixo também meu agradecimento ao Rafa, que sempre está comigo em