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Cowboy Indomavel - Duologia Indo - Juliana Souza

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Copyright © 2021 by JULIANA SOUZA

Todos os direitos reservados

É PROIBIDA A REPRODUÇÃO, TOTAL OU PARCIAL, DESTA


OBRA. PLÁGIO É CRIME, NÃO COPIE. CRIE!

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos


descritos são produto da imaginação do autor. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Nenhuma parte deste conto pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer
meios existentes sem a autorização por escrito da autora.

Capa: © Ester Capista


Preparação de texto: Juliana Souza
Diagramação: Bravo Editorial

1ª Edição
Inocência, Brasil
Maio de 2021
Cinco anos antes...

Abro a porta de casa depois de mais um dia cansativo aqui na fazenda e a

primeira pessoa que vejo é dona Clarisse. Vou direto em sua direção e deixo um
beijo na bochecha da mulher que se tornou minha segunda mãe.

— Cansado? — Ela pergunta com um sorriso, enquanto mexe em uma das


panelas do fogão a lenha.

— Um pouco, alguns bois quebraram a cerca com o vizinho e tivemos que


buscar eles — falo em um suspiro e pego uma maçã em cima da mesa, logo
dando uma mordida.

— Vai tomar um banho, menino, daqui a pouco o jantar vai estar pronto. —
Ela diz e aponta a colher de pau na minha direção, o que me faz rir.
— Tudo bem, capitão... Sabe se a Carol está em casa? — pergunto, já com

um sorriso bobo no rosto.


— Está lá em cima te esperando com uma surpresa. — Ela sorri para mim e
pisca um olho.

— Surpresa? Que surpresa? — pergunto curioso e vejo ela balançar a


cabeça em negação.
— Se eu te contar deixa de ser surpresa, agora sobe logo — diz meio

debochada, e eu me pergunto cadê a senhora fofa que eu conheço?


— A senhora já foi mais amorosa, dona Clarisse — falo, meio dramático, e
escuto sua risada.

— Larga de drama homem, você já tem 25 anos nas costas. Não é mais o
garotinho que vi nascer. — Ela diz, e eu olho para ela com os olhos apertados.
— Ah, então porque cresci você não me ama mais? — pergunto com a mão

no coração e ela revira os olhos para mim. — Onde você aprendeu a revirar os
olhos assim, babá? Está muito evoluída pro meu gosto, hein! — falo rindo, e ela
ameaça me bater com a colher de pau que tem na mão.
— Eu ainda te amo, satisfeito agora? — pergunta com uma sobrancelha

levantada e a mão na cintura.


— Muito! Agora eu vou subir e ver a surpresa que minha linda mulher tem
para mim — falo rindo, e deixo mais um beijo em sua bochecha.
Jogo o resto da maçã que comia no lixo e saio da cozinha em seguida,
subindo as escadas em direção ao meu quarto. Assim que abro a porta do quarto,
um sorriso instantâneo surge em meu rosto ao ver a mulher da minha vida
sentada na poltrona perto da janela, lendo um livro. Vejo que ela está

concentrada na leitura, então sigo em passos lentos até ela. Assim que estou
perto, deixo um beijo em seu pescoço, só assim a fazendo notar minha presença
no quarto.
— Oi, amor... não te escutei entrar. — Ela diz com um sorriso e em seguida
me puxa para um beijo. Aproveito nosso beijo, sentindo seu gosto tão
característico em minha boca e me sinto mais uma vez o homem mais sortudo

desse mundo.
— Claro que não me ouviu, estava toda distraída aí lendo. Sério, eu ainda
não descobri qual a graça que tem de ler livros — falo e ela revira os olhos para
mim, como sempre faz quando faço esse comentário.
— Não vou nem perder meu tempo com você — diz de forma superior, e eu
não aguento segurar minha risada.

— Tudo bem, senhora D'Ávila, mas agora me conte que surpresa você tem
para mim? — pergunto e ela faz uma cara de quem não sabe de nada. — Nem
adianta me olhar assim, Clarisse já abriu a boca, sabe como ela é — falo com
um sorriso e vejo ela concordar com a cabeça.
— Pior que sei, mas antes vai tomar um banho. Esse seu cheiro de gado
está me deixando enjoada — Carol diz e me afasta um pouco com a mão, mas

mantém um sorriso no rosto.


— Oxe, mas você bem que gostava desse cheiro, viu! — falo e deixo mais
um beijo em sua boca, me levantando em seguida.
— Eu até aguentava, mas agora é diferente. E vai logo tomar um banho...
quero aproveitar meu marido depois. — Ela fala e me olha com um sorriso

malicioso nos lábios.


Não perco mais nem um segundo ali e entro logo no banheiro. Alguns

minutos depois já me encontro de banho tomado e saio do banheiro, vestindo

apenas uma cueca boxer.


— O que é isso na sua mão? — pergunto assim que volto para o quarto e

encontro Carolina deitada na cama com um envelope em mãos.


— Sua surpresa... — Ela diz com um sorriso enigmático e eu largo a toalha

em cima da poltrona, indo até ela.


Eu me sento na cama ao seu lado e sem dizer mais nada, ela me entrega o

envelope. Estranho um pouco ao ver que se trata de um exame de laboratório,

mas assim que vejo o conteúdo, um sorriso idiota chega ao meu rosto, assim
como sinto algumas lágrimas nascer em meus olhos.

— Isso é sério? — pergunto, ainda sem acreditar, e olho para ela, que
afirma com a cabeça, ostentando um sorriso tão grande quanto o meu.

Volto a ler novamente o POSITIVO que está destacado na folha e só então

minha ficha começa a cair. Eu vou ter um filho, um filho da mulher que eu amo.
— Obrigado por isso. — Deixo o papel de lado e puxo o rosto dela para

perto do meu. — Esse sempre foi meu sonho — falo com minha testa encostada
na dela.

— Agora ele vai se tornar real. — Ela diz com um sorriso, e nossas bocas
se encontram em um beijo doce.

Eu me afasto do nosso beijo e começo a dar vários selinhos por seu rosto,

enquanto falo vários “Eu te amo” para ela, que só consegue rir com meu ataque.
Me deito na cama e puxo ela comigo, a mantendo abraçada comigo, curtindo

esse momento feliz das nossas vidas.


Desde que nós nos casamos, há três anos atrás, sempre quisemos ter filhos

e finalmente essa hora chegou, e eu não vejo a hora de poder ter meu pequeno ou
pequena nos braços. Nossa, parece que eu estou vivendo um sonho... só espero

que ele nunca acabe.

— O que acha de jantar na cidade, para comemorar? — pergunto após


alguns segundos e viro meu rosto para olhá-la.

— Acho perfeito, podemos ir no restaurante da Nona, quero muito comida


italiana agora — responde e meu sorriso se amplia.

— Podemos contar isso como o primeiro desejo da gravidez? — pergunto

contente e vejo ela rir, mas logo confirma.


— Bem, sim... só não é daqueles loucos. — Ela ri e eu também.

Algum tempo depois, Carolina e eu já estamos prontos para sair e pedimos


desculpas a Clarisse por ela ter feito comida à toa. No caminho eu ligo para

meus irmãos e dou a notícia que deixa eles felizes, assim como a babá quando
soube.
Logo chegamos ao restaurante da Nona e vendo alguns amigos por ali,

aproveitei para contar a novidade. Nos divertimos bastante e quando estava por
perto das 23hr, resolvemos ir embora.

— Quer que eu vá dirigindo? Você bebeu um pouquinho demais, amor —


Carol fala, assim que chegamos no estacionamento, mas eu nego com a cabeça.

— Não precisa, já estou acostumado... e eu nem bebi tanto assim — falo e

abro a porta do carro para ela.


Assim que já estamos os dois acomodados, começo a dirigir e pego a

estrada de volta para à fazenda. Quando já estou na metade do caminho, começo


a sentir um sono forte tomar conta de mim e luto para me manter acordado. Mas

em algum momento eu dou uma cochilada rápida e desperto com o grito de Carol
ao meu lado, ao mesmo tempo que com um clarão na minha frente. Piso no freio

com força e giro totalmente o volante, tentando evitar uma batida, mas o que eu

vejo em seguida é meu carro batendo na barreira e capotando ribanceira a baixo.


Sinto minha cabeça bater com força no vidro da janela e sou tomado pela

escuridão em seguida.

***

Três dias depois...


Acordo ouvindo vários bips ao meu redor e tomo consciência do meu
corpo, sentindo a dor se apoderar por todas as partes, principalmente na cabeça.

Tento abrir meus olhos para ver onde estou, mas assim que eles se encontram

com a luz forte, voltam a se fechar. Faço mais algumas tentativas e assim que me
acostumo um pouco com a claridade, consigo manter meus olhos abertos.

Olho ao meu redor e vejo um quarto totalmente branco, com vários


aparelhos, e vejo também meu irmão Marcos e Clarisse sentados em duas
cadeiras. Assim que eles me notam acordado, um sorriso surge no rosto de cada

um, mas posso ver em seus olhos uma grande tristeza.

Fico mudo por um tempo, apenas observando os dois que estão em silêncio,

até que as lembranças começam a surgir em minha cabeça.

Carol me contando que vamos ter um filho, nós dois comemorando no


restaurante da Nona e... o acidente na estrada.

— Cadê ela? — pergunto com dificuldade, pois sinto minha garganta

arranhar.

Os dois continuam em silêncio e isso me deixa cada vez mais agoniado e

em desespero. Escuto os barulhos das máquinas ficarem mais rápidos e


constantes, e minha cabeça começa a latejar.

— Me digam... cadê a Carol? Cadê a minha mulher? Ela ‘tá bem, não tá?

— faço as perguntas novamente, mas tudo o que tenho é Clarisse chorando na

minha frente, o que faz meu coração se afundar no peito.


Olho para meu irmão em súplica e a única coisa que ele faz é balançar a

cabeça negativamente pra mim.


Sinto meu peito doer como se estivesse pegando fogo, assim como minha

garganta fechar e a falta de ar tomar conta de mim, enquanto as lágrimas descem

grossas pela minha face. E tudo o que eu penso antes de encontrar a

inconsciência novamente, é que tudo não passa de um pesadelo.

Ela está viva me esperando, sua morte não é real... é apenas algo da minha
imaginação que cria pesadelos que parecem ser reais, mas não são!
Dois anos e seis meses antes...

Acordo e vejo o corpo adormecido de Alan ao meu lado, e um sorriso


idiota se abre em meu rosto. Eu nem acredito que perdi minha virgindade com o
cara que sou apaixonado há mais de um ano. Por ele ser mais velho, nunca
imaginei que fosse querer alguma coisa comigo, mas para a minha felicidade ele

quis e hoje é meu namorado. Sinto seu braço apertar ainda mais minha cintura, e
após alguns segundos seus olhos se abrem.
— Bom dia! — falo sorrindo e deixo um selinho rápido em sua boca.
— Bom dia, ruivinho... dormiu bem? — pergunta e deixa um beijo em
minha testa.

— Dormi sim, essa foi a melhor noite da minha vida —falo, ainda sorrindo,
e ele me acompanha.
— Para mim também foi. — Ele responde e me puxa para um beijo.
Ficamos um tempo juntos na cama, até eu ver a hora no relógio e perceber
que tinha que ir para casa. Minha mãe ainda não sabe do meu namoro com Alan e
eu tive que inventar que iria dormir na casa do meu melhor amigo Ângelo. Mas
ainda bem que meu aniversário de 17 anos está chegando e logo vou poder

mostrar ele como meu namorado.


Me despeço de Alan e vou para casa. Assim que chego em casa e falo com
minha mãe, subo as escadas e ligo para meu melhor amigo/irmão Ângelo.
— Bom dia, Cas... por que me ligou tão cedo? — Ele pergunta e eu reviro
meus olhos.
— Tenho uma coisa pra te contar — falo com um sorriso no rosto e começo
a balançar minhas pernas no ar.

— Fala então, não me deixa curioso. Só espero que não seja notícia ruim.
— Ele diz sério e eu acabo rindo. Ângelo é um caso perdido.
— Não é notícia ruim, Angie. Lembra que ontem eu fui dormir na casa do

Alan? — pergunto e espero por uma resposta sua.


— Lembro e só para constar... ainda não acho que isso foi uma boa ideia.
Não deveria ficar sozinho com ele, mas você sabe o que faz — diz e eu solto um
suspiro.
— Para de ser tão minha mãe, Angie, eu também não estava muito confiante,
mas queria muito. E é sobre isso que eu quero falar com você — falo e agora me
sinto um pouco apreensivo.
— Pode falar. Apesar de não concordar com você, sabe que sempre vou
estar te apoiando. — Ele diz e me sinto mais aliviado.
— Obrigado, Angie, mas então... Euperdiminhavirgindadeontem — falo
rápido e fecho meus olhos com força.
— Calma aí, repete! Ainda não sou o Flash para ouvir as coisas na
velocidade da luz, mas eu queria ser. — Ele diz e eu acabo rindo.
Solto um suspiro e respiro fundo, tomando novamente coragem para falar.
— Eu perdi minha virgindade ontem — falo e espero ele dizer algo, mas a
linha fica muda por alguns, muitos, segundos. — Angie? Você ‘tá aí? Fala alguma
coisa! — digo, agoniado.
— Eu... nossa! Não esperava por essa... ou melhor, esperava sim, mas... não

sei, pensei que iria esperar mais um tempo.


— Eu também queria esperar, mas aconteceu e foi bom, Angie. Ele me
tratou super bem e eu não me arrependo — falo convicto.
— Se foi bom para você, então está tudo bem. Sabe que sempre vou estar
do seu lado e eu sei que você sabe o que é melhor para você. — Ele diz e eu
abro um sorriso.
— Obrigado, amigo, ter seu apoio é muito importante pra mim.
— Sempre terá... amo você, Cas! — diz e meu sorriso se amplia ainda
mais.
— Eu também te amo, Angie! — respondo, feliz.
Fico mais um tempo conversando com meu amigo e assim que encerro a
ligação, começo a trocar mensagens com Alan, que me deixava mais apaixonado
a cada mensagem trocada.
Perco um pouco da noção do tempo e só volto a realidade quando vejo

minha irmã entrando no meu quarto.


— Mamãe está chamando para o almoço, Cas — Vitória fala e eu me
levanto da cama, logo seguindo com ela até a cozinha.

***

Dois meses depois...

Saio da sala de aula e corro desesperado até o banheiro, sentindo a ânsia


vir cada vez mais forte. Assim que abro a porta de uma das cabines, me abaixo
rápido e todo meu café da manhã está sendo jogado para fora. Sinto todo meu
corpo trêmulo, assim como moleza pelo mesmo e minha cabeça começa a doer.
Fico mais alguns segundos abaixado e quando noto que não tenho mais nada
a pôr para fora, me levanto e sigo até a pia. Lavo minha boca, tentando ao
máximo tirar o gosto horrível de vômito e passo um pouco de água no rosto.
Eu me olho por alguns segundos no espelho e me espanto um pouco com a
palidez que está presente em meu rosto.
Já fazem duas semanas que venho passando mal e infelizmente só uma coisa
se passa pela minha cabeça, mas eu imploro a Deus que não seja isso. Sinto
algumas lágrimas descendo por meu rosto e logo as seco com a mão, tentando
afasta-las. Solto um suspiro e decido que assim que sair da aula, vou tirar minha
dúvida a limpo.

***

Assim que as aulas se acabam, me despeço de Ângelo e invento qualquer


mentira para ele, que estava querendo saber o que está acontecendo comigo. Não
encontro minha irmã e dou graças a Deus por isso. Pego um ônibus na porta da
escola e sigo até o laboratório mais próximo. Assim que entro no local, sinto
minhas mãos trêmulas e a minha dor de cabeça aumenta ainda mais.
Fico alguns minutos parado na entrada até criar coragem e seguir para o
balcão, onde uma mulher de mais ou menos quarenta anos se encontra.
— Boa tarde, em que posso ajudar? — Ela pergunta com um sorriso e isso
me deixa ainda mais nervoso.
— Eu preciso de um teste de gravidez — falo com a voz baixa e vejo ela
me olhar com compaixão agora, o que me deixa irritado.
— Eu preciso de alguns dados seus e logo podemos colher o material para
o exame — diz e começa a fazer algumas perguntas para preencher a ficha.
Assim que ela termina, pago o exame e ela me encaminha até uma salinha para
colher meu sangue.
O exame demora 1hr para ficar pronto e eu espero todo esse tempo sentado
na sala de espera, sentindo a aflição ficar maior a cada minuto. E quando a moça
da recepção me entrega o exame, sinto meu corpo inteiro gelar.
Saio da clínica a passos lentos, criando coragem para abrir o envelope em
minha mão. Vejo uma praça bem em frente e sigo até lá, me sentando em um dos
bancos.
Com as mãos trêmulas e uma sensação de frio na barriga, eu abro o
envelope, podendo ver o resultado. Sinto as lágrimas cair em meu rosto e um
soluço escapa da minha boca.
POSITIVO
Eu estou grávido! E não sei se fico triste ou feliz. Sempre sonhei em casar e
ter filhos, mas não tão novo. Eu não sei cuidar nem de mim, como vou cuidar de
uma criança?
Várias perguntas e dúvidas rondam minha mente, mas quando minha mão
direita toca a minha barriga, eu sei que vou fazer de tudo pelo pequeno ser que
está crescendo dentro de mim.
Pego meu celular dentro da bolsa e mando uma mensagem para Alan, tenho
que contar para ele que nós vamos ter um filho. Tenho certeza que ele vai gostar

da notícia.
Você: Precisamos conversar, estou indo na sua casa. (14:05)
***

Chego em frente à casa de Alan e tomo uma respiração profunda antes de


tocar a campainha. Logo ele abre o portão para mim e me dá um beijo.
— O que aconteceu? — Ele pergunta assim que já estamos dentro de casa.
— Isso aqui — falo e entrego o papel do exame para ele.

Vejo ele olhar para mim em dúvida e logo começa a ler o papel. Sua
expressão começa a se modificar e ele me olha sério.
— Isso aqui não pode ser verdade — diz e se senta no sofá.
— Mas é verdade, Alan, e agora eu estou grávido de um filho seu — falo e
ele nega com a cabeça.
— E quem garante que esse filho é meu? — Ele pergunta e eu olho para ele
incrédulo.
— O quê? Quem garante que esse filho é seu? Eu perdi minha virgindade
com você, seu cretino! — grito com raiva e soco seu ombro.
— Ok... então se esse filho for meu, você vai tirar essa criança. Eu não
posso e nem quero assumir filho nenhum. — Ele fala e eu olho para ele sem
reação. Como eu pude gostar de um monstro?
— Eu não vou abortar meu filho — falo, firme.
— Então se vira, porque eu não vou assumir responsabilidade nenhuma. Eu
não quero e não vou ser pai de nenhum bastardo. — Ele diz e sinto meu peito
doer com suas palavras, mas não deixo ele ver o quanto elas me afetaram.
— Tudo bem, você não tem nenhum filho, Alan. Esse filho é só meu e eu
vou fazer de tudo para protegê-lo até mesmo de quem deveria cuidar dele — falo
e dou as costas para ele.
— Ainda bem que nunca assumi você para ninguém, pelo menos isso —
escuto ele dizer antes de sair e sinto como se uma faca fosse cravada em meu
peito.
Enquanto ando para casa, não consigo conter as lágrimas de decepção que
caem sem parar por meu rosto. Eu nunca na vida pensei que me decepcionaria
tanto com uma pessoa. Para mim, Alan era um príncipe encantado, mas se
mostrou um verdadeiro monstro. Alguém que só me usou e depois jogou fora
quando não tenho mais serventia.
Chego em casa e seco minhas lágrimas como posso antes de entrar. Assim
que passo pela sala, vejo minha mãe na cozinha e decido falar com ela de uma
vez. Mais cedo ou mais tarde vou ter que fazer isso mesmo.
— Mãe? — Chamo ela, que logo se vira pra mim.
— O quê? — Ela responde um pouco ríspida. Desde que meu pai se
separou da minha mãe, há alguns anos, ela se tornou uma mulher muito fechada e
até amargurada, mas acho que é só uma casca.
— Preciso falar com você, uma coisa muito séria — falo, sentindo
novamente o medo tomar conta de mim.
— Fala então, menino, está me deixando nervosa. — Ela diz séria e se senta
na cadeira que está próxima a mesa.
Olho para o rosto sério da minha mãe e a insegurança se apossa de mim,
mas não posso adiar essa conversa.
— Eu estou grávido — falo de uma vez e vejo uma expressão dura tomar
conta de seu rosto.
— Grávido? Você está grávido com menos de 17 anos? — Ela pergunta me
fitando e parece que seu olhar dispara adagas contra mim.
— Eu... me desculpa, mãe! Eu nunca pensei que isso fosse acontecer, eu não
queria, mas agora não dá para fazer nada — falo já chorando, e ela se levanta
chegando perto de mim. Ela não diz nada e em seguida sinto um tapa em meu
rosto, o que me faz chorar ainda mais.
— Você nunca ouviu falar em camisinha? Cadê o outro pai? Ele já sabe? —
pergunta, mas eu não consigo olhar para ela.
— Ele disse que não vai assumir — falo baixo e escuto ela soltar uma
risada amarga.
— Ah, ele não vai assumir. Aí vai sobrar para a trouxa aqui ficar com um
filho grávido em casa. Já não basta que seu pai nos abandonou e agora você acha
que eu vou sustentar você e um bastardo? — Ela grita e me dói ouvir ela
chamando meu filho dessa forma. — Só vou te dizer uma vez... Quero que arrume
suas coisas e suma daqui. Eu não vou te ajudar nessa merda que você se meteu.
Se vira! — grita, e eu olho para ela em súplica.
— Mãe, eu não tenho para onde ir! — falo desesperado.
— Pensasse nisso antes de agir como um qualquer. Agora faça o favor de ir
pra bem longe, não quero ouvir fofocas sobre você. — Ela fala e me sentindo
despedaçado por dentro, subo as escadas, indo para o meu quarto.
Entro em meu quarto e fecho a porta atrás de mim. Eu me sento no chão e
deixo meu choro sair livre. Como todos que deveriam me apoiar me viram as
costas? Será que sou uma pessoa tão ruim assim? Meu filho não tem culpa pelos
meus erros.
Levo minhas mãos para minha barriga ainda lisa e faço uma promessa para
mim mesmo e ao meu filho.
— Eu vou cuidar de você, meu anjinho, e ninguém nunca vai te machucar e
nem a mim novamente.
Olho mais uma vez para meu pequeno, dormindo em seu berço, e solto um
suspiro cansado. Eu simplesmente não sei o que vou fazer da minha vida agora

que perdi meu emprego, minha única fonte de renda para sustentar a mim e meu
filho. Minha avó me ajuda no que pode, mas não é o suficiente e isso está me
deixando a cada dia mais aflito. Quando eu decidi ter meu filho, sabia que tudo
ia ser muito difícil para mim, ainda mais sem a ajuda de ninguém que deveria me

ajudar. Só que eu sou muito grato a Deus pelos três anjos que Ele colocou em
minha vida... Ângelo, tio Giovani e minha avó Clarisse. Se não fosse por essas
pessoas, eu sinceramente não sei o que teria sido de mim e meu filho. Eles me
ajudaram tanto que eu nunca vou poder pagar por tudo que fizeram por nós dois.
A gravidez de Evan foi algo muito delicado e quase que nós dois não resistimos

ao processo, mas graças a Deus estamos aqui hoje. E agora eu só preciso


encontrar uma solução para o meu grande problema. Eu sempre consegui me
virar e agora não será diferente.
Escuto o choro manhoso de Evan e quando olho para o berço, vejo ele em
pé me olhando com um rosto pidão. Tão fofo esse meu filhote.
— Oi, meu amor! Pra que essa manha? Papai já está indo até você — falo

com a voz mansa enquanto me aproximo do seu berço.


Pego meu bebê em meus braços e ele logo encosta sua cabecinha em meu
pescoço. E são nesses momentos que eu vejo que fiz a melhor escolha da minha
vida ao escolher meu filho. Na verdade, eu sempre o escolherei acima de
qualquer coisa. Quando se é pai e mãe de verdade, a prioridade sempre irá ser o
seu filho e eu aprendi isso quando peguei Evan em meus braços pela primeira
vez. Quando eu vi aquele pequeno ser, eu percebi o quanto ele precisava de mim

e o quanto eu faria de tudo por ele. Se eu puder dar o melhor para o meu filho,
então pra mim isso já é o suficiente e nada mais me importa.
— Mama! — Evan resmunga e eu caminho para fora do quarto com ele

aconchegado em meu colo.


— Papai já vai fazer seu mama, bebê manhoso —falo com um sorriso e
entro na pequena cozinha do apartamento.
Coloco Evan sentado no seu cadeirão e começo a preparar o leite dele, que
é um leite especial por ele ter alergia a alguns leites em pó e leite de vaca.
Termino de fazer a mamadeira e pego meu filho para lhe dar o leite. Me sento no
sofá e ajeito ele em meu colo, colocando a mamadeira em sua boca logo em
seguida.
Enquanto Evan bebe seu leite, seus olhos ficam grudados em mim e abro um
sorriso doce para ele. Passo meus dedos por seu rostinho, fazendo um carinho, e
logo vejo seus olhinhos se fecharem novamente. Tiro a mamadeira da sua boca
quando ele termina de mamar e o levo novamente para o seu berço.
Volto para a cozinha e começo a lavar as louças que estão sujas, até que
escuto meu celular tocando. Corro até o aparelho e o atendo rapidamente para
não acordar o bebê dorminhoco que está no quarto.
— Oi, vó! — falo, assim que atendo a ligação e me sento no sofá.
— Oi, meu anjo, como está tudo por aí? — Ela pergunta com a voz mansa e

eu até penso em dizer que tudo está bem, mas infelizmente não está.
— Perdi meu emprego, vó, e eu não sei o que fazer — falo com a voz
cansada.
— Oh, meu Deus! Como isso aconteceu? — Ela pergunta, preocupada.
— Venderam o Café e todos que trabalhavam lá foram despedidos. Já fui
em alguns lugares e entreguei meu currículo, mas não tive muita sorte. Quem vai
querer alguém que mal terminou o ensino médio e nem uma faculdade tem? —
falo com amargura.
— Eu já te chamei tantas vezes para morar comigo, meu amor, por que não
aproveita e vem de uma vez? — pergunta e eu solto um suspiro.
— Não quero te dar trabalho, vó, a senhora já me ajuda tanto. Não é justo
que a senhora assuma a responsabilidade sobre Evan e eu — repito o que eu já
disse para ela umas mil vezes.
— Você sabe que não é trabalho, meu filho, e eu vou ficar bem mais

tranquila tendo vocês dois aqui. Além do mais, eu te liguei exatamente para te
fazer uma proposta. — Ela diz e isso me deixa curioso.
— Que proposta? — pergunto interessado.
— Adrian está precisando de alguém para o ajudar na administração da
fazenda e como eu sei que você é ótimo com números e tudo mais, pensei em
você. — Ela responde e eu fico surpreso.
— Nossa, vó, isso é uma oportunidade e tanto, mas eu nem tenho faculdade.
Não sei se seu patrão vai querer alguém sem uma graduação — falo, sincero.
— Não se preocupe com isso, já falei com ele sobre você. Agora é só você
parar de inventar caso e vir de uma vez para cá. Eu tenho minha casinha aqui na
fazenda e ela tem espaço suficiente para nós três. Sem contar que quando estiver
trabalhando, Evan pode ficar com você. Aqui é um lugar tão bom para se criar
uma criança. Longe de toda a poluição e essa bagunça da cidade. — Ela diz e eu
acabo sorrindo com sua fala final.
— Não sei, vó, aqui também está o Ângelo e não quero deixá-lo sozinho
agora que o tio Giovani não está mais aqui — falo, pensando no meu melhor
amigo. Ele sempre me ajudou e esteve ao meu lado, não é justo eu o deixar
quando ele não tem mais a pessoa que mais amava no mundo.
— Faz assim... pensa um pouco em tudo. Eu pedi uma folga a Adrian e estou
indo te ver, e então você me dá uma resposta. — Ela fala e eu acho uma boa
saída.
— Tudo bem, agora me conta como a senhora está? — pergunto e passo
meus próximos trinta minutos conversando com minha querida avó.
Quando encerro minha ligação com ela, fico um bom tempo olhando para a
parede em minha frente, pensando na proposta que ela me fez. Não posso mentir
e dizer que não gostei, mas ainda tenho que pensar um pouco mais. Só que talvez
seja isso que eu precise no momento... de novos ares e boas oportunidades para
meu filho.

***

Coloco mais uma dose de vodca em meu copo e continuo vendo a chuva
cair lá fora, sentado na cadeira do meu escritório. A chuva traz consigo uma

melancolia que resume perfeitamente o meu estado de espírito. Fecho meus olhos
com força e mais uma vez a cena de anos atrás volta a minha cabeça. Não
consigo entender como eu pude ser tão idiota ao ponto de cometer uma tragédia
tão grande. Às vezes me pergunto por que não fui eu quem morreu naquele
acidente? Deveria ter sido eu e não ela, mas parece que a vida quis me punir
pelo que eu fiz.
Abro meus olhos e ao ver o copo de bebida em minha mão, a raiva aumenta
duplamente dentro de mim. Eu sou mesmo um fraco que se afundou na bebida,
que não conseguiu lidar com a culpa que me consome todos os dias. Só que a
cada gole que eu tomo de bebida, a culpa aumenta ainda mais, pois foi por causa
da bebida que tudo aconteceu. E como um castigo para mim, eu não consigo ficar
um dia sequer sem beber desde que voltei daquele velório em que foi enterrada a
minha razão para viver.
Escuto a porta se abrir, mas não me viro para ver quem é e continuo do
mesmo jeito.
— Adrian, dona Clarisse mandou te chamar para almoçar. — A voz de
Maurício soa e eu reviro os olhos para o que ele fala.
Depois da morte da minha mulher, meu irmão Marcos e Clarisse acharam
que seria uma boa ideia Maurício vir morar comigo, mas sinceramente? Ele não
faz a menor diferença aqui. Não é que eu não ame meu irmãozinho, eu amo, mas
tudo o que eu queria era estar sozinho, sem ninguém ao meu redor me lembrando
do que eu perdi.
— Fala para ela que estou sem fome — falo em tom seco e escuto ele soltar
um suspiro.

— Tudo bem. — Ele diz com a voz cansada e logo em seguida escuto a
porta se fechar.
Jogo o copo que segurava com força na parede e me amaldiçoo mais uma
vez por tudo o que fiz comigo mesmo.
Olho para todas as minhas coisas já embaladas e em caixas e solto um
suspiro. Nunca pensei que acabaria indo embora dessa cidade. Sei que essa é

uma oportunidade incrível, tanto para mim quanto para meu filho, mas bate uma
tristeza de deixar tudo para trás... principalmente meu Ângelo. Aquele garoto é
meu irmãozinho e vai doer ficar longe dele, mas vou tentar me acostumar a isso.
— Pode tirar essa cara de velório do rosto, Angie — falo assim que chego

perto de Ângelo, e ouço ele soltar um suspiro.


— Não posso, isso está sendo um velório para mim — fala, fazendo drama,
e eu sorrio.
— Drama não combina com você, Angie. Mas confesso que vou sentir falta
da metralhadora que é você — falo e ele me olha confuso.

— Metralhadora? Eu? Como assim? Tá me xingando, Cas? — Ele estreita


os olhos para mim e solto uma gargalhada.
— Estou falando que você fala demais — respondo, rindo.
— Ah tá, mas que culpa eu tenho se gosto de interagir com as pessoas?
Vocês que falam de menos, por isso não acompanham meu ritmo — fala ele com
ar superior.
— Eu sei, meu anjinho, vou sentir sua falta — falo e abraço ele, o

apertando em meus braços.


— Também vou sentir muito a sua, mas espero que tudo dê certo nessa sua
nova jornada. Quem sabe você não encontra um cara legal, que te dê valor. —
Ele diz e eu me afasto, balançando minha cabeça em negação.
— Você sabe que não, Angie. Eu sei que nem todos são iguais ao Alan, mas
eu simplesmente não consigo.
— Você acha que não consegue, mas quando encontrar o homem certo, isso

vai mudar — fala, convicto.


— A única coisa que me importa é meu filho, que é a razão por eu estar
indo embora. Quero dar uma vida boa a ele e se eu conseguir isso, já estou

realizado — digo sincero e ele sorri para mim.


— Quando eu tiver um filho, eu espero ser um pai igual a você. Tenho
certeza de que Evan terá muito orgulho de você no futuro. Na verdade, aquele
bebê morre de orgulho do papa dele — Angie fala sorrindo, e sinto meus olhos
marejados.
— Isso é tudo o que eu mais quero. Acho que mesmo passando pela
humilhação e sofrimento que passei, faria tudo novamente para ter meu filho
comigo. Ele é a minha razão de existir, ele é tudo para mim — falo com a voz
embargada de emoção.
— Eu te amo, meu maninho ruivo, vou morrer de saudades. Não deixe de
me ligar um dia sequer. — Ele fala baixo e me abraça novamente.
— Eu também te amo muito, irmãozinho mais novo. E pode deixar que irei
te ligar todos os dias e quando der irei vir te visitar — falo meio abafado por
estar com a boca próxima ao seu pescoço.
Assim que se afasta de mim, Ângelo vai até Evan que está nos braços da
minha avó.
— Ei, meu amor... titio vai sentir tanta falta de você, meu foguinho. — Ele
diz e meu filho solta uma risada gostosa quando Angie começa a distribuir beijos

por seu rostinho.


— Não chame meu filho assim — aviso, fingindo indignação.
— Nem vem, ele sempre será meu foguinho. Olha esses cabelos de fogo
como são lindos! — fala ele fazendo graça e bagunça os cabelos de Evan.
— Ti' Angi! — Evan fala alegre e eu quase me derreto com tanta fofura.
— Sim, amor, tio Angie. Titio te ama! — Ângelo diz sorrindo e deixa um
beijo na bochecha gordinha do meu pequeno.
— Ama! — Evan grita rindo e nós rimos juntos.
Fico mais um tempo junto com Angie, até o caminhão da mudança chegar. E
na hora que entrei no carro da minha avó, não consegui segurar as lágrimas ao
ver meu irmãozinho ficar para trás.
— Você não vai deixá-lo para sempre, meu amor, Ângelo estará sempre
aqui para você, como você sempre estará lá para ele. — Minha avó diz com um
sorriso doce e deixa um beijo em meu rosto.
— Eu sei, vó, mas ainda é difícil. Ângelo foi e é tão importante para mim.

Ele me ajudou tanto quando eu estava grávido, fez tudo o que podia por mim —
falo e respiro fundo, começando a limpar minhas lágrimas. — Mas eu sei que
sempre posso vir aqui e o ver... chega de chorar — digo e abro um sorriso
pequeno.
— Isso mesmo! — Ela sorri para mim e começa a dirigir, tendo o caminhão
da mudança atrás de nós.
Olho para o banco de trás do carro e vejo Evan dormindo em sua
cadeirinha, o que me faz sorrir, sentindo um pouco de paz.

***

Nossa viagem até o interior demorou quase cinco horas e assim que
chegamos a Fazenda Rosa Branca, fico impressionado com a beleza do lugar,
mesmo não dando para ver muita coisa por estar escuro.
— Aqui é lindo, vó! — falo, sorrindo impressionado, e ela sorri de volta
para mim.
— Você ainda nem viu tudo, meu amor. — Ela responde.
Seguimos por uma pequena estrada de terra e passamos pela casa principal,
que é enorme e bem bonita, e seguimos até a casa da minha avó que fica a alguns
metros dali. A casa dela é a primeira de outras três, que também ficam no terreno
a uma distância de trinta metros uma da outra.
— Bem-vindo a sua nova casa! — Ela diz assim que estaciona o carro em
frente à casa de tamanho médio.
— Obrigado, vó! — sorrio para ela e abro a porta do carro, saindo logo em
seguida.
Ando até a porta traseira do carro e pego meu filhote ainda dormindo em
meus braços. Minha avó segue até a porta da casa e a abre para nós. Eu nunca
havia vindo visitar minha avó nos anos todos que ela trabalha aqui, sempre foi
ela vir até mim, o que me faz sentir um pouco mal, já que ela sempre esteve ao
meu lado quando eu precisava.
Assim que entro na casa e vejo a arrumação, acho a cara da minha avó
Clarisse. A decoração é delicada e cheia de objetos pequenos, o que ela sempre
gostou de colocar em vários cantos.
— A casa tem três quartos, então você e Evan vão poder ter um quarto para
cada.
— Nem precisa, vó, nós podemos dormir no mesmo quarto — falo, olhando
para ela, que nega.
— Claro que não, vai que arruma um namorado? Você precisa de
privacidade e Evan precisa do quartinho dele. — Ela diz incisiva e eu reviro
meus olhos.
— Sabe que não penso em ter ninguém, vó — falo e é a vez dela revirar
seus olhos para mim.
— Por enquanto, meu querido neto. Agora venha ver seu quarto, vou pedir
para os meninos da mudança deixarem as caixas aqui na sala, amanhã nós
arrumamos tudo. — Ela diz e me guia até onde será meu quarto. O cômodo está
sóbrio, somente com uma cama e guarda roupa e ela deixou claro que é para mim
decorar como eu bem entender. Já no quarto de Evan, o cômodo já estava todo
decorado para receber meu filho, o que eu acabei achando ruim com minha vó,
não queria que ela gastasse ainda mais com a gente.
A pouca mudança que eu tenho foi deixada na sala e logo após os homens
irem embora, ajudei minha avó a preparar o jantar para nós. Eu irei conhecer
Adrian somente amanhã, por já estar bem tarde. Então, assim que terminamos de
comer, eu fui diretamente para o meu quarto depois de checar Evan mais uma vez
e cai na cama já exausto do dia de hoje.

***

Acordo no dia seguinte me sentindo um pouco nervoso por saber que vou
conhecer meu patrão. Quero muito que esse trabalho dê certo e eu possa

continuar aqui com minha avó, mas também não posso criar muitas expectativas,
já que sou uma pessoa totalmente sem experiência.
Eu me levanto da cama e em poucos minutos já estou pronto para sair. Passo
no quarto do meu pequeno e o arrumo também, já que ele irá comigo.
Assim que chego na cozinha, esperando encontrar minha avó, encontro tudo
vazio e vejo apenas um bilhete junto com o café da manhã já feito. Leio o bilhete
e nele ela diz que já foi para a casa principal preparar o café da manhã para os
patrões. Preparo o leite do meu bebê e depois dele já estar alimentado, eu me
alimento também.

Saio da casa da minha avó faltando apenas um minuto para as sete da manhã
e sigo até a casa principal. Enquanto caminho pela estrada estreita, vejo ao longe
um campo enorme de rosas brancas e então eu entendo o nome dado a fazenda.
Depois de uma caminhada de cinco minutos, chego ao meu destino e subo os
degraus, entrando na casa. Olho ao redor e não vejo ninguém à vista, então
resolvo procurar por alguém, mas paro assim que escuto um pigarreio atrás de
mim.
Assim que me viro, vejo um homem parado me olhando com atenção em
seus olhos azuis. Ele é alto, uns dois metros de altura, musculoso, possui cabelos
loiros, grandes na altura dos ombros, e ostenta uma barba por fazer.
— Eu sou Castiel... me desculpa entrar assim, já estava indo procurar por
alguém. — Eu explico com calma, olhando para seu rosto impassível.
— Está atrasado em seu primeiro dia... e sabe de uma coisa? Eu odeio
atrasos. — Ele diz sério, e eu não gosto do jeito arrogante que ele fala comigo.
— Me desculpe, é q... — Tento me explicar, mas ele me interrompe.
— Não quero suas desculpas, ainda mais se for usar seu filho para isso.
Odeio quando usam crianças para justificar os erros de adultos. — Ele fala e
isso faz subir uma raiva dentro de mim.
— Olha aqui, senhor, eu não admito que falem de mim sem saber e ainda
mais falar que uso meu filho. Você não me conhece e não sabe da minha vida.
Não aceito você falar de mim e eu não me importo se você é o patrão aqui ou
não — falo exaltado e escuto o resmungo choroso de Evan.
— Você acha que é quem para falar assim comigo, garoto? Eu posso te
mandar embora desse lugar, sabia? Eu sou o dono aqui. — Ele diz com
arrogância.
— Não precisa se dar ao trabalho... eu mesmo vou embora, seu imbecil! —
grito com raiva e saio da casa sem olhar para trás.
Evan começa a chorar por causa da agitação toda e eu tento acalmar meu
filho, enquanto sigo até a casa da minha avó, com a intenção de pegar minhas
coisas e ir embora daqui.
Ando a passos apressados de volta para casa da minha avó e por estar com
a cabeça um pouco baixa, acabo não vendo uma pessoa que vem de encontro ao

meu e levo um encontrão. Tomo uma respiração profunda para não explodir e
primeiramente checo meu filho para ver se está tudo bem com ele.
— Não olha para onde anda, não? — pergunto irritado e levanto minha
cabeça, vendo um homem parado a minha frente.

— Me desculpa, eu não queria machucar vocês não. — O cara diz,


aparentemente preocupado.
— Então olhasse por onde anda, cara, você poderia ter machucado meu
filho — falo irritado.
— Eu juro que não quis, só ‘tava olhando para o outro lado e não te vi. —

Ele diz apressado e eu suspiro. O homem não tem culpa do que aquele escroto
disse para mim.
— Não, tudo bem. Eu também não estava olhando o caminho. Me desculpa
ser grosso com você, não é nada contigo — falo a ele, e Evan começa a
resmungar em meu colo e se remexe, querendo ir para o chão.
— Quieta, filho, você não vai descer — falo sério e ele faz beicinho para
chorar.

— Cê não é daqui, nunca te vi. Tá perdido ou precisa de ajuda? — O


homem pergunta gentil e eu penso em recusar, mas quero sair desse lugar e
preciso que alguém me ajude.
— Você tem carro? — pergunto e ele assente com a cabeça. — Ótimo, vai
me dar uma carona até a rodoviária da cidade — falo e pego ele pela mão, o
levando comigo.
— Hum... tudo bem! — Ele diz sem entender muito, mas me segue. Gosto

assim mesmo.

***

Continuo olhando para a porta por onde o cabelo de fogo acabou de sair e
me pergunto se fui rude demais. Mas não fui, só disse a verdade e o que eu
estava pensando. Odeio atrasos e eu não iria passar a mão na cabeça dele só
porque é neto de dona Clarisse.
Escuto passos apressados e logo dona Clarisse e Maurício entram na sala.
Eles me olham por alguns segundos e meu irmão é o primeiro a falar:
— O que você fez, Adrian? Ouvimos os gritos de uma pessoa na cozinha.
— Ele diz preocupado e me olha como se eu fosse um monstro. Até parece!
— Nada demais, só fui dizer que odeio atrasos para o neto da Clarisse e ele
se revoltou — falo simples e me sento na poltrona perto da janela, sentindo o sol
da manhã em minha pele.
— Até parece que foi só isso, tenho certeza que você disse mais coisas,
Adrian — Maurício diz bravo e eu reviro meus olhos para ele.
— Eu vou ver Castiel — dona Clarisse diz e sai pela porta com uma
expressão um pouco chateada.

— Acho que ela ficou chateada — falo, olhando para o lugar onde ela saiu.
— Ah, você acha? Você sabe que o neto dela só veio para cá por insistência
dela e porque ele precisa de emprego. Aí você vem com esse seu jeito arrogante
e já ferra com tudo. Poxa, para pra pensar um pouco nos outros e não só em
você. Pelo o que eu ouvi de Clarisse, o neto dela já sofreu demais para você
também perturbar o menino. Não é só você que sofre na vida, Adrian, as outras
pessoas também vivem com sua própria dor. — Ele diz sério e por mais que eu
não queira, suas palavras mexem comigo.
— Não precisa pisar — falo com raiva e aperto minhas mãos com força.
— Jamais faria isso com você, só quero que entenda o mundo a sua volta,
pois já tem anos que parou de viver. — Ele diz e escuto seus passos se afastando
para longe.
Fecho meus olhos com força e solto um suspiro forte. Me levanto da
poltrona e sigo até o pequeno bar que há na sala. Pego um copo e me sirvo de
uma dose de conhaque. Bebo o líquido devagar e assim que termino, pego meu

chapéu pendurado perto da porta e saio de casa.


Caminho com calma até a casa de Clarisse e cumprimento alguns
funcionários que vejo pelo caminho. Olho ao redor e me sinto um filho ingrato
por não cuidar tão bem da fazenda quanto antes. Meus pais deixaram isso aqui
para mim e meus irmãos, mas o maior responsável sempre fui eu, só que há
alguns anos eu não faço meu papel tão bem.
Afasto esses pensamentos da minha cabeça e logo paro em frente à casa de
Clarisse. Vejo que a porta está aberta e Antônio sai de lá de dentro carregando
duas malas grandes.
— Clarisse e o neto estão aí? — pergunto para ele, que toma um leve susto
quando falo.
— Estão sim, senhor. — Ele responde e deixa as malas na varanda.
— Obrigado — agradeço e entro na casa.
— Dona Clarisse? — chamo pela mesma e demora alguns segundos para
que eu a veja entrar na sala.
— Oi, Adrian... quer alguma coisa? — Ela pergunta, solicita como sempre.
— Seu neto... digo, quero falar com ele — falo, meio sem jeito.
— Não sei se é uma boa ideia, ele está bem irritado agora e está pensando
em ir embora.
— Eu sei, mas será que posso? — pergunto mais uma vez e ela assente com
a cabeça.
— Pode, ele está no último quarto do corredor — responde e eu assinto,
seguindo na direção que ela mandou.
Assim que paro em frente a porta aberta, vejo Castiel de costas
conversando com seu filho que está só de fralda, deitado na cama.
— Vamos voltar para a nossa casinha lá perto do tio Angie, meu amorzinho.
— Ele diz com um sorriso triste e passa o nariz pela barriguinha do bebê.
— Papa... ama! — O bebê grita feliz e ele sorri maior.
— Eu também te amo, meu anjinho ruivo. — Ele fala doce e deixa vários
beijos pelo rostinho do bebê, que solta gritinhos animados.
Olhando essa cena, eu sinto raiva de mim mesmo por não ter podido viver
isso com Carolina. Era para nós dois termos esses momentos com nosso filho
que estava vindo, mas tudo acabou no momento em que eu tirei a vida dos dois.
Sinto uma lágrima escorrer por meu rosto e logo a limpo. Balanço minha cabeça
e tento voltar para a minha realidade nesse momento.
— O que está fazendo aí? — escuto uma voz irritada e quando meus olhos
se focam em Castiel, vejo ele me olhar com raiva.
— Calma, eu não vim brigar com você novamente — falo e levanto meus
braços em sinal de rendição.
— Então por que está aqui, senão me insultar novamente? — pergunta
mantendo sua pose séria.
Solto um suspiro, pois eu sei que mereço isso dele.
— Não estou aqui para ser seu amigo, mas vim te pedir desculpas. Sei que
passei dos limites com você. Não precisa ir embora, quero que fique aqui, pois
preciso mesmo de alguém para me ajudar na administração. Só me desculpa
mesmo — falo e espero por uma resposta sua, mas admito que não é nada fácil
estar aqui.
Ele me olha por alguns segundos em silêncio.
— Olha, se eu estou aqui na sua fazenda é só porque eu preciso mesmo. Eu
tenho um filho e faria qualquer coisa por ele, até aguentar uma pessoa como
você. Mas já que veio aqui me pedir desculpas, eu posso ficar, mas saiba que eu
não vou abaixar minha cabeça para você. Uma coisa é você ser meu patrão, outra
muito diferente é você querendo mandar em mim. Já fique ciente de que isso não
vai rolar. — Ele diz e me olha com o rosto sério.
— Quem sabe um dia, não é? — pergunto com deboche e nesse momento,
eu percebo o quanto vai ser difícil a estadia desse cabelo de fogo na minha
Fazenda.
Algo me diz que ainda vai rolar muitos desentendimentos entre nós.
Quando vi Adrian parado na porta, não imaginei que fosse para me pedir
desculpas, mas fiquei satisfeito com esse seu ato. Quando olhei para a porta e o

notei, percebi que ele estava distante da realidade e fiquei intrigado quando vi
uma lágrima escorrer por seu rosto.
— Já que vou ficar aqui, é melhor eu desarrumar as malas — falo, após
algum tempo em silêncio, e deixo Evan no chão, vendo meu pequeno dar alguns

passinhos.
— Boy! — Evan fala com entusiasmo e agarra as pernas de Adrian.
— Boy? — Ele pergunta sem entender e fica olhando para meu filho com
um brilho nos olhos que me deixa sem muita reação.
— Ele quis dizer cowboy — respondo e aponto para seu chapéu.

— Ah sim, humm... será que posso o pegar no colo? — pergunta, olhando


fixamente para mim, e parece com medo da resposta.
Demoro alguns minutos para o responder, mas concordo com a cabeça.
Eu me sento na cama e vejo ele pegar meu filho no colo. Adrian olha para
ele como se Evan fosse uma preciosidade e meu filho o olha com um belo
sorriso no rosto, levando suas pequenas mãos até o chapéu que Adrian usa.
— Ele se parece com você — fala após alguns segundos e faz cócegas na

barriguinha de Evan, fazendo ele gargalhar.


— Fico feliz em saber disso — falo sincero. — E o senhor, tem filhos? —
pergunto naturalmente e no mesmo momento vejo seu rosto mudar de expressão.
— Não. — Ele diz sério e acho estranho seu jeito, mas não falo nada. — Eu
vou indo, te espero após o almoço, pode conhecer a fazenda agora pela manhã se
quiser — diz e coloca Evan novamente no chão, fazendo meu filho formar um
biquinho nos lábios e eu logo o pego para ele não chorar.

— Tudo bem — respondo simples e ele dá mais uma olhada em nós antes
de sair porta a fora.
— É, filho, parece que essa será nossa nova casa por algum tempo — falo

baixo e Evan me olha sem entender muita coisa.


Coloco Evan sentado no tapete do quarto e ponho alguns brinquedos a sua
volta, para o manter entretido.
— Acho que mudou de ideia, estou certa? — escuto a voz da minha vó e ao
me virar para a olhar, a vejo parada na porta.
— É, parece que o Shrek sabe pedir desculpas — falo irônico e ela solta
uma risada.
— Pare de implicar tanto com Adrian, ele no fundo é uma boa pessoa. —
Ela diz e eu acabo rindo.
— Bem lá no fundo mesmo, né? — Pisco para ela, que gargalha com meu
comentário.
— Vou pedir para o Antônio trazer suas malas novamente.
— Coitado dele, tenho que pedir desculpas pelo trabalho — falo e vejo ela
assentir com a cabeça.
Alguns minutos depois Antônio aparece em meu quarto, trazendo minhas
coisas, e eu peço desculpas para ele pelo transtorno que causei.
— É... se você quiser, eu posso te mostrar um pouco da fazenda. — Ele diz
com um pouco de vergonha na voz e acho isso fofo.

— Eu vou adorar, mas não posso ficar muito tempo fora. O patrão pediu
para eu ir até ele depois do almoço — falo e reviro meus olhos, escutando uma
curta risada de Antônio.
— Pode deixar, prometo te trazer antes do almoço. Aliás, dona Clarisse me
chamou para almoçar aqui, ela disse que você cozinha muito bem. — Ele diz
sorrindo.
— Não acredito que ela te convidou para que eu faça a comida! — falo
incrédulo e ele assente com a cabeça.
Sei muito bem o que dona Clarisse está tentando fazer, mas ela está muito
enganada se acha que isso irá funcionar.
Desisto de falar qualquer coisa e coloco uma roupa leve em meu pequeno,
já que ele estava apenas de fralda.
Saímos da casa da minha avó e ela já não estava mais lá. Antônio me
mostrou alguns lugares da fazenda e eu me apaixonei pelo campo enorme de

rosas brancas. Evan ficou completamente eufórico quando viu os grandes


cavalos correndo pelo campo e eu fico muito feliz por poder ver o sorriso no
rosto do meu filho.
— Você mora aqui há muito tempo? — pergunto para Antônio quando
paramos de baixo de uma árvore enorme.
— Sim, desde que os senhores D'Ávila eram vivos. — Ele responde e fico
um pouco intrigado por sua resposta.
— Os pais de Adrian eram dois homens? — pergunto, um pouco surpreso.
— Sim, foram ótimas pessoas em vida, mas sofreram muito preconceito
também.
— É tão difícil viver no mundo de hoje, posso dizer isso por experiência
própria — falo e solto um suspiro.
Ajeito Evan melhor em meu colo, que acabou dormindo há poucos minutos.
— Deve ser difícil ser um homem que pode engravidar, né? — Ele pergunta
sem maldade e eu concordo.
— Você nem imagina o quanto. O pior é quando todos te viram as costas.
— Sei como é isso, fui abandonado pelas pessoas que deveriam cuidar de
mim, mas acho que estou melhor sem eles. — Ele diz com uma expressão
distante no rosto e eu fico tocado.
— Mas vamos deixar essas conversas tristes de lado... Aliás, Antônio, eu
gostei bastante de conversar com você, acho que posso contar você como um
amigo? — pergunto sorrindo e ele logo assente com a cabeça.
— Claro que sim, não tenho muitos amigos por aqui, sempre fui mais
sozinho. E você pode me chamar Toni.
— Ok, Toni, pode me chamar de Cas — falo e ele sorri.
Ficamos mais um tempo olhando a bela paisagem ao nosso redor, até que
me senti cansado com Evan no colo e voltamos para a casa da minha avó.
Assim que chegamos, coloquei meu filho em minha cama e fui para cozinha
preparar o almoço. Toni quis ajudar e eu não reclamei. Acabou que almoçamos
somente nós dois, em meio a conversas bobas.
Sinto que ganhei um amigo valioso por aqui. Claro que ninguém nunca vai
substituir o lugar de Ângelo em minha vida, mas é bom não estar sozinho.
Depois do almoço, Toni se despediu de mim e eu aproveitei o tempo que
faltava para ligar para meu maninho Ângelo.
— Olha, ele lembrou que eu ainda existo — Angie diz assim que atende à
ligação e eu acabo rindo do seu drama.
— Para Angie, sabe que eu cheguei ontem aqui e ainda não tinha tido tempo
— falo para ele, que suspira.
— Eu sei, Cas, mas é que já estou morrendo de saudades de você — sorrio.
— Também estou, Angie, vai ser difícil não ter você por perto e Evan
também irá sentir muito a sua falta — respondo e me deito na cama ao lado de
Evan, que ressona baixinho.
— E como está tudo por aí? — pergunta com curiosidade.
— Agora está tudo bem, mas você nem imagina o que aconteceu mais
cedo...
— Não imagino, mas você vai me contar agora. — Ele diz apressado e eu
solto uma risada um pouco alta e olho para meu filho para ver se ele acordou,
mas ainda bem que continua dormindo.
Começo a contar o que aconteceu mais cedo entre mim e Adrian e Ângelo
fica indignado com o que eu falo a ele.
— Que ogro, acho que não teria essa sua coragem, viu? Você sempre foi
mais forte que eu, Cas. — Ele diz e eu solto um suspiro.
— Claro que não, Angie, se eu pude ser forte hoje em dia foi por sua causa
— falo sincero e escuto ele fungar do outro lado.
— Não me faça chorar, Cas... sabe que sou uma manteiga derretida.
Fico mais um tempo conversando com meu amigo e acabo contando sobre
Antônio. Angie sente ciúmes no começo, mas volta ao normal depois de eu
prometer que não o trocaria por ninguém.
Encerro a ligação e olho para o visor do meu celular, vendo que já está na

hora de ir encontrar Adrian.


Tomo um banho rápido e depois de pronto, monto o carrinho de bebê de
Evan e coloco seu corpo adormecido nele. Pego a bolsa dele e meu celular e
saio de casa, pedindo a Deus que não haja mais nenhum desentendimento entre
Adrian e eu... pelo menos por enquanto.
Entro em meu escritório e pego a primeira garrafa de bebida que vejo pela
frente, bebendo direto da garrafa. Sinto minha garganta queimar pelo líquido que

desce e fecho meus olhos com força.


Praticamente me jogo na minha cadeira e solto um suspiro cansado e
totalmente frustrado.
Pegar aquele menino no colo me trouxe muitas lembranças dolorosas

demais. Por um segundo, eu senti como se estivesse pegando meu próprio filho
no colo, o filho que eu jamais pude segurar em minha vida. E ao mesmo tempo
em que me senti feliz com Evan em meus braços, eu também me senti muito triste.
Eu hoje poderia ter meu filho em meus braços, assim como também minha
mulher, mas não... por minha culpa eles não estão mais aqui e nem nunca mais

vão estar.
Abro meus olhos e a foto dos meus pais entra em meu campo de visão. Pego
o porta-retrato em minha mão e sinto vergonha de mim mesmo enquanto olho
para o retrato. Eles devem estar sentindo vergonha por verem o que o filho deles
se tornou... um homem fraco que conseguiu destruir tudo de bom que tinha na
vida.

Sinto uma lágrima solitária escorrer por meu rosto e pergunto a mim mesmo
se algum dia eu ainda terei a chance de ser feliz como era antes?

***

Entro novamente na casa sede da fazenda e dessa vez não encontro o Shrek
mal humorado, mas sim um garoto que parece ter mais ou menos minha idade.
— Oi? — falo, chamando a atenção dele que para de ler o livro e me olha.
— Ah, oi! Você deve ser o Castiel, é um prazer conhecer o neto tão amado
de dona Clarisse. — Ele diz sorrindo e logo se levanta, estendendo sua mão para
eu apertar.
— Nossa, não sabia que tinha esse título. Mas é um prazer te conhecer
também... — falo, deixando espaço para ele dizer seu nome.
— Maurício, mas pode me chamar de Má ou Mau — diz, ainda tendo o
grande sorriso no rosto.
— Se é assim, pode me chamar de Cas.
— Ok! Fiquei empolgado com sua chegada, sabia? Aqui na fazenda não há
ninguém da minha idade e me sinto um pouco isolado, já que meu irmão mal fala
comigo às vezes. — Ele diz meio triste e isso me faz comprovar o quão ogro
Adrian é.
— Fico feliz por poder te fazer companhia então. Eu estava com um pouco
de medo de vir, já que não conhecia ninguém além da minha avó, mas ainda bem
que já comecei a fazer novas amizades.
— Ah, já fez amizade com mais alguém? — Ele pergunta curioso.
— Com Antônio, ele foi bem legal comigo mais cedo — cito meu novo
amigo e vejo uma pequena mudança em sua expressão facial.

— Humm... Antônio é legal mesmo, mas não temos tanta amizade. — Ele
diz e noto uma pequena tristeza em seu olhar, mas resolvo deixar de lado.
— Quem sabe no futuro possam ser amigos? Agora eu tenho que encontrar
seu irmão, antes que briguemos igual de manhã — falo e ele sorri para mim com
compreensão.
— Eu adorei que você o enfrentou, já subiu no meu conceito por isso.
Adrian é muito autoritário e isso me dá nos nervos às vezes. Mas vem, vou te
levar até o escritório dele. — Ele diz e se aproxima mais de mim. — Ah, esse é
seu filho? — pergunta, apontando para o bebê dormindo dentro do carrinho.
— Sim, meu Evan.
— Ele é lindo e parece muito com você — fala e eu sorrio ainda mais, pois
amo saber isso, que ele se parece comigo... apenas comigo.
— Obrigado! — agradeço sincero.
Ele fica admirando meu bebê por mais alguns segundos, até acordar e me

guiar finalmente até o escritório do seu irmão. Ele bate na porta e demora um
pouco para que alguém responda.
— Boa sorte com ele, nos vemos mais tarde — Maurício sorri e se afasta
de mim.
Respiro fundo e entro na sala, encontrando Adrian sentado em sua cadeira,
ostentando uma expressão séria.
— Sua mesa vai ser aquela ali — diz e aponta para uma mesa no canto da
sala, igual a sua. — Se quiser deixar seu filho mais confortável, você pode o
deixar no quarto de hóspedes que fica aqui ao lado. A partir de amanhã você
também pode almoçar aqui, se quiser — continua e eu concordo com um aceno.
— Tudo bem, o que exatamente eu vou fazer? — pergunto e me mantenho
também com uma postura séria.
— Eu sou formado em administração, mas ultimamente está difícil tomar
conta de tudo sozinho. Maurício não pode me ajudar, pois ele faz faculdade e eu
priorizo os estudos dele, já que é isso que meus pais fariam. Também tenho meu
irmão Marcos, mas ele é médico e foge totalmente de tudo isso. Sua função é
basicamente me auxiliar, vou te ensinar tudo que não sabe e que precisa saber.
Você entra às sete da manhã e sai às quatro. Seus fins de semana são livres e
você pode fazer o que quiser. Em algumas ocasiões você vai ter que me auxiliar
em reuniões com compradores e empresários do ramo, assim como em viagens,
mas isso não é sempre. Estou te contratando, pois eu não posso ficar somente
aqui no escritório, também preciso auxiliar na fazenda. É isso... entendeu? — Ele
pergunta, me olhando com intensidade, e sinto um estranho arrepio percorrer meu
corpo, mas tento não dar muita atenção a isso.
— Entendi perfeitamente — falo e sorrio com ironia.
— Bom, vamos começar! — fala ele com sua voz rouca.
Pelos minutos que se seguem, eu escuto Adrian me explicar tudo o que eu
tenho que fazer, tendo que aguentar ele muito próximo a minha pessoa, coisa que
eu odiei... só para constar.
Acabei por colocar Evan no quarto ao lado e deixei a babá eletrônica
ligada, sou prevenido e trouxe tudo dele.
Não trocamos muitas palavras que não fossem referentes ao trabalho e eu
me senti mais confortável com isso. Até porque, eu e ele não temos muito o que
conversar a mais que não seja isso.

***

Escuto o choro vindo da babá eletrônica e peço licença para Adrian, para
poder ir pegar meu filho.
Saio do cômodo e entro no quarto ao lado, vendo meu ruivinho com o
rostinho amassado e uma carinha de choro tão fofa, que me dá vontade de morder
ele todo.
— Papa! — Evan diz manhoso e estende seus pequenos braços em minha
direção.
— Oi, meu amor, papai está aqui — falo suave e pego ele em meus braços,
deixando um beijo em seu pescoço.
Ele encosta sua cabecinha em meu ombro e permanece desse jeito. Pego o
carrinho de bebê e saio em direção a cozinha da casa, querendo encontrar minha
vó.
Acho a cozinha e encontro minha vó conversando com Maurício.
— Olha quem veio ver a bisa — falo e logo a atenção da minha vó segue
para mim e meu filho.
— Oh, amorzinho da vóvó! — Minha vó diz e rapidamente Evan olha em
sua direção, abrindo um sorriso gostoso.
— Vou deixá-lo aqui com a senhora e daqui a pouco volto para buscar ele,
já está quase no meu horário — falo e ela vem até mim, pegando o bebê em seus
braços.
— Pode deixar que eu ajudo a cuidar dessa fofura — Maurício fala e
começa a brincar com o bebê, que parece gostar dele.

— Obrigado gente, volto já! — deixo um beijo no ar para eles.


Saio da cozinha e sigo em direção ao escritório, mas ao virar minha cabeça
para olhar em um quadro que me chama a atenção, acabo esbarrando em algo ou
alguém.
— Ei garoto, não olha por onde anda, não? É cego por acaso? — escuto
uma voz irritada dizer e me viro com raiva para a pessoa.
— Talvez seja você a cega, não? Já que me viu e não desviou — falo com
ironia para a mulher parada em minha frente.

— Olha o jeito que fala comigo, seu escroto... por acaso sabe com quem
está falando? — pergunta irritada e eu solto um riso de deboche.
— Tenho certeza que não é com a rainha Elizabeth, ela tem mais classe que
você e mais beleza também — falo e ela fica vermelha de raiva.
— Seu idiota! Eu sou a futura senhora D'Ávila e exijo que me respeite. —
Ela responde e minha vontade é gargalhar.
— E eu sou o futuro presidente do Brasil. Acho que também mereço
respeito, não? Ah, esqueci... você não sabe o que é isso — debocho e vejo nos
seus olhos que ela quer voar em meu pescoço.
Ah, garota, você escolheu uma pessoa muito errada para mexer.
Continuo olhando fixamente para a mulher em minha frente e minha vontade
é de rir da cara que ela está fazendo.

— Posso saber o que está acontecendo aqui? — escuto a voz grossa de


Adrian e o vejo se aproximar de nós dois.
— A rainha da cocada preta está dando um show — falo com desdém e
aponto para a mulher na minha frente, que falta bufar de raiva.

— Olha aqui, coisinha, eu exigi que me trate com mais respeito. Você sabe
com quem está falando? — Ela pergunta, como se isso fosse fazer a maior
diferença na humanidade ou para mim... coitada, tão iludida!
— Não sei e nem quero, de pessoas como você eu quero é distância — falo
com um sorriso cínico no rosto.

— Seu... — Ela ia falar algo, mas a voz irritada de Adrian a interrompe:


— Parem os dois, não quero essa discussão aqui na minha casa — diz e eu
reviro meus olhos. Se não queria, por que deixa uma pessoa desse tipo entrar
aqui?
— Acho que deve filtrar melhor as pessoas que visitam sua casa... está
muito mal frequentada — falo casualmente e prendo meus lábios para não rir da

cara de bosta da mulher.


— Amor, você vai deixá-lo falar assim comigo? — Ela diz com a voz
extremamente fina e super irritante.
Calma aí? Ele tem alguma coisa com essazinha? Meu Deus, quanto mau
gosto!
— Castiel, para de provocar e Débora... já disse para não me chamar dessa
forma, nós não temos nada — diz com irritação.

— Mas...
— Nada de mas, vem comigo que eu tenho mesmo que falar com você. E
Castiel, volte ao seu trabalho. — Ele diz sério e pega no braço da tal Débora, a

levando para longe.


— Castiel, volte ao seu trabalho — imito o jeito dele falar e escuto uma
gargalhada atrás de mim.
— Ótima imitação do meu irmão... só que não! — escuto a voz de Maurício
dizer entre gargalhadas e me viro para o olhar.
— Seu irmão me estressa, agora tem essa mulherzinha aí... nojenta — falo
com desgosto e ele ri ainda mais.
— Eu ouvi a briga de vocês dois e cara, eu gosto mais ainda de você.
Sempre quis falar umas boas para aquela lá.
— Só disse a verdade, mulherzinha mais sem noção — falo, indignado. —
Mas me diz, ela tem mesmo alguma coisa com seu irmão? — pergunto com um
pouco de curiosidade.
— Graças a Deus não... bem, não de verdade. Eles já ficaram algumas
vezes depois que minha cunhada morreu, mas ele a dispensou faz um tempo. Só
que ela vive correndo atrás dele, mas ainda bem que não teve sucesso —
responde e eu me apego em uma coisa que ele diz.
— Adrian é viúvo? — pergunto e ele arregala os olhos, como se só agora
estivesse se tocado do que disse.

— Aí meu Deus, não devia ter aberto a boca, meu irmão odeia quando eu
conto sobre isso. Mas sim, ele é viúvo há cinco anos e por favor, não diga a ele
que te contei isso. — Ele praticamente implora.
— É claro que não, Mau, pode ficar tranquilo — falo e olho para trás. —
Hum, deixa eu voltar para o trabalho, antes que seu irmão venha chamar minha
atenção e nós dois brigarmos.
— Tudo bem! — responde e também segue uma direção diferente.
Volto para o escritório de Adrian e encontro o mesmo vazio. Me sento em
minha mesa e retomo o meu trabalho de onde parei.
Alguns minutos se passam e a porta se abre, revelando Adrian, que entra e
vai diretamente para sua mesa sem dizer uma palavra. E os minutos se passam
assim, no mais absoluto e completo silêncio, até o momento de eu ir embora.
— Já deu meu horário, posso ir? — pergunto, assim que vejo o relógio
marcar cinco horas da tarde.
— Claro, até amanhã! — Ele fala, mas não levanta os olhos do computador

para me ver.
— Até! — falo sem muita vontade e pego meu celular, saindo do cômodo
em seguida.
Passo pelo corredor que leva até a cozinha e vejo novamente o quadro que
havia me chamado atenção mais cedo e me fez esbarrar na nojentinha.
Paro meus passos diante dele e meus olhos se prendem na fotografia
enorme. Há um casal de dois homens, um tem a cor de pele um pouco queimada
pelo sol e o outro branca como porcelana, assim como seus olhos também
formam um bonito mesclar, pois um possui olhos azuis como o mar e outro
verdes como um campo verdejante. O sorriso e o olhar dos dois para um ao
outro é algo extremamente lindo de se ver e por um momento, eu desejo poder
receber um olhar assim de alguém. Também há mais dois meninos na fotografia,
um de cada lado do casal, os abraçando. Mas o que me chama a atenção mesmo,
é ver a barriga grávida do homem de pele de porcelana. A mão dos dois está
sobre a barriga, como se estivessem tocando um bem muito precioso... uma
perfeita representação de família feliz.
Olho por mais um tempo a foto, mas logo acordo do meu transe e entro na
cozinha. Assim que entro no cômodo, vejo minha avó colocando um bolo no
centro da mesa e Maurício sentado em uma das cadeiras com o carrinho de Evan
ao seu lado, tendo meu filho dormindo nele.
— Cheguei, pessoas! — anuncio e dou uma olhada rápida em meu bebê,
antes de me sentar em uma das cadeiras.
— Como foi? — Minha avó pergunta, se referindo ao trabalho, e eu lhe dou
um sorriso mais ou menos.
— Bem — respondo simples. — Quero bolo! — falo pidão e ela revira os
olhos para mim.
— Já tem um filho, mas ainda é uma criança — diz rindo e eu mostro língua
para ela.
Dona Clarisse me serve um pedaço de bolo de cenoura e eu como satisfeito,
enquanto converso com ela e Maurício sobre coisas aleatórias.
Eu me despeço deles poucos minutos depois e sigo para a casa da minha
avó, muito a fim de tomar um banho relaxante para me desestressar do dia de
hoje.

***

Duas semanas e meia depois...

Já fazem quase três semanas desde que me mudei para a fazenda Rosa
Branca e já estou bem familiarizado com tudo. Minha amizade com Maurício e
Antônio evoluíram bastante e eu fico muito satisfeito com isso, já que eles são
boas pessoas e me fazem companhia sempre.
Mas nem tudo é perfeito. Eu estou voltando para a capital, para passar
alguns dias. Ângelo está enfrentando um momento muito difícil em sua vida e eu
não poderia deixar meu melhor amigo sozinho nesse momento. Por isso pedi uma
liberação a Adrian e, por um milagre, ele estava de bom humor e concordou com
meu pedido.
Infelizmente vou ter que deixar meu filho aqui, pois não acho que seja bom
ele ir comigo nesse momento. Ângelo acabou de perder um filho e não acho que
ver uma criança tão perto irá lhe fazer bem.
Solto um suspiro e fecho minha pequena mala de viagem. Saio do quarto
com a mesma e a deixo no corredor, entrando no quarto de Evan que agora está
todo decorado com o tema de floresta, já que ele ama animais.
Assim que entro no cômodo, já posso ouvir as gargalhadas gostosas dadas
por meu filho e levo um pequeno susto ao ver Adrian com ele em seu colo.
Minha avó está sentada na pequena cama do quarto e olha para a cena com
um sorriso. Ela vira seu rosto em minha direção e olho para ela em
questionamento, mas ela se limita a apenas continuar sorrindo.
— Hum... Oi! — falo e logo os olhos azuis dele se viram em minha direção.
— Oi, sua avó me pediu para te levar até à rodoviária e enquanto esperava

vim brincar um pouco com ele. Espero que não tenha problema — diz com a voz
séria, mas também com certa calma.
— Ah, ela não me disse isso — falo e olho para minha avó, que finge nem
me ver. — Mas não tem problema nenhum você brincar com ele, Evan gosta de
você — falo sincero e como se para confirmar minha fala, meu filho deita a
cabecinha no ombro de Adrian.
Até que esse cowboy é uma pessoa legal quando quer. Até que eu o suporto
quando não estamos discutindo por algo extremamente idiota.
— Eu também gosto dele. — Ele responde e vejo a sombra de um sorriso

passar por seus lábios.


Fico observando seu rosto por alguns segundos, até acordar do meu transe e
endireitar minha postura.
— Bem, então vamos já que vai me levar, não quero perder o ônibus — falo
sério e escuto ele resmungar alguma coisa baixinho. — Disse alguma coisa? —
pergunto e olho para ele com uma sobrancelha arqueada.
— Nada! — diz mal humorado e deixa um beijo na cabeça do meu filho,
antes de o entregar a mim.
— Papa! — Evan grita feliz quando vem para meus braços e suas
mãozinhas batem em meu rosto.
— Sou eu, amor... papai vai sair um pouquinho e você vai ficar com a vovó.
Não pode fazer birra, hein? Papai te ama! — falo com calma, mesmo sabendo
que ele não vai entender tudo.
— Pode ir tranquilo, querido, eu vou cuidar direitinho desse mocinho aqui
— minha avó diz sorrindo e eu olho para ela agradecido.
— Obrigado, vó... eu não vou demorar, ficarei no máximo uns três dias.
Quero muito estar com Ângelo nesse momento, mas não posso deixar meu
anjinho sem mim — falo e deixo um beijo na bochecha gordinha do meu filho.
— Eu sei, meu amor. Diga ao Ângelo que assim que puder, irei vê-lo. Mas
agora vá, já está quase na hora do ônibus sair. — Ela fala e vem até mim, me
abraçando em seguida.
Deixo mais um beijo e um abraço apertado em meu pequeno e saio do
quarto acompanhado por Adrian.
Ele insiste em levar minha mala, mas não deixo e eu mesmo levo até nós
chegarmos a sua caminhonete.
Ele tira a mala das minhas mãos e olho para ele com indignação enquanto
vejo ele a colocar no banco de trás.
— Eu poderia ter feito isso — falo e abro a porta do carona, entrando em
seguida.
— Poderia, mas eu quis fazer. — Ele diz e entra na caminhonete, se
sentando no lugar do motorista. Reviro meus olhos com sua fala e decido ficar
em silêncio, para não brigarmos.
Não sei onde minha avó estava com a cabeça quando pediu para ele me
levar até à cidade. Não poderia ter chamado o Antônio ou Maurício? Ah, dona
Clarisse!
Boa parte do nosso caminho é feita em silêncio, até que ele quebra o
silêncio entre nós.
— Você e esse tal Ângelo parecem ser bem próximos. Ele é mesmo seu
irmão? — pergunta e eu olho para ele de relance.
— Não de sangue, mas de coração. Eu sempre o chamei dessa forma,
maninho. Nos conhecemos desde pequenos e ele sempre esteve ao meu lado
quando precisei de alguém, assim como eu estive ao seu lado também. Ângelo
não tem mais o pai, que era sua única família de sangue, então faço de tudo por
ele. Foi bem difícil o deixar lá, mas eu tive que pensar em Evan primeiro e não
nele e em mim — respondo e meus olhos voltam a olhar pela janela.
— Você e Evan, era apenas vocês dois? — Ele pergunta e eu aceno com a
cabeça, já me preparando para a próxima pergunta. — Mas, e o outro pai dele?
— Ele não existe, apenas eu sou o pai de Evan. Eu o carreguei por nove
meses, eu que trabalhei e fiz de tudo por ele até hoje... então somente eu sou pai
— falo, tentando manter a calma, pois todas as vezes que tocam nesse assunto,
me sinto muito irritado.
— Entendo, você está certo. — Ele diz e nós entramos novamente no
silêncio.
Não demora muito e ele estaciona na rodoviária da cidade. Desço do carro
e Adrian também faz o mesmo. Ele se adianta e pega minha mala novamente,
logo a entregando para mim.
— Obrigado! — agradeço.
— De nada, faça uma boa viagem. — Ele deseja, me olhando
profundamente, e eu desvio meus olhos dos seus.
— Tchau! — Dou as costas para ele.
— Tchau, cabelo de fogo — escuto ele dizer, mas continuo andando até
chegar ao meu destino.
Vejo Castiel se afastar de mim e caminhar em direção ao seu ônibus,
entrando nele em seguida. Fico parado ainda por alguns minutos, até que vejo o

ônibus sair e entro em minha caminhonete. Coloco o cinto de segurança e olho


meu rosto por alguns segundos no espelho retrovisor. E me pergunto o porquê de
eu ter dado um apelido a aquele ruivo?
Solto um suspiro e passo minhas mãos pelo meu rosto, me sentindo

totalmente frustrado. Por que tudo em relação a esse garoto me tira fora do ar?
Ele tem o poder de me irritar como nenhuma outra pessoa e ainda me faz dar
apelidos a ele. O que esse cabelo de fogo tem para me deixar assim? Nem eu sei
o que ele faz comigo.
Balanço minha cabeça algumas vezes para afastar esses pensamentos da

minha cabeça e coloco meu carro em movimento.


Aproveito que estou na cidade e sigo até a casa de meu irmão Marcos. Já
faz alguns dias que não o vejo e estou com saudades dele e de sua família.
Apesar de ter me afastado muito dele nesses anos, eu amo muito meu irmão,
assim como todos da minha família. E mesmo deixando muito a desejar, eu ainda
me sinto responsável por Marcos e Maurício. Por ser o irmão mais velho e por

não ter mais meus pais aqui conosco, eu tenho a obrigação de sempre estar
pronto para os ajudar em qualquer situação. Só que nesses cinco anos que se
passaram, acho que foram os dois que assumiram esse papel.
Lembrar dos meus pais me causa um aperto no peito muito grande. Eu daria
tudo o que tenho para os ter aqui comigo novamente e poder desfrutar do amor
que eles me davam. Eles eram as melhores pessoas que já conheci em minha
vida e me fazem uma falta muito grande. Meu pai Felipe era a pessoa mais doce

e corajosa que eu conhecia, ele lutou tanto por nós junto ao meu pai Victor. Eles
sofreram muito preconceito no início, ainda mais pai Felipe que podia
engravidar. Mas ele nunca ligou para a maldade do ser humano e fez de tudo para

nos educar para sermos bons, e eu sou tão grado a Deus por ter dado eles para
serem nossos pais.
Sinto uma lágrima solitária escorrer por meu rosto e a enxugo com minha
mão.
Respiro fundo e tento afastar a dor da saudade do meu peito.
Eu me foco no caminho até a casa de Marcos e não demora muito para eu
estar estacionando em frente a sua grande casa. Desço do carro e toco o
interfone, logo me identificando para a moça que me atende. Em poucos
segundos o portão se abre para mim e eu entro na propriedade, passando pelo
enorme jardim até chegar à porta da casa, que se abre quando subo os três
degraus.
— Até que enfim veio me visitar — Marcos fala da porta, com seu leve tom
dramático.
— Quem vê assim acha que tem décadas que não nos vemos — falo e puxo
ele para um abraço.
— Quase isso mesmo, Ana Clara está morrendo de saudades de você. —
Ele fala sorrindo e deixa espaço para que eu passe.
— Também estou com saudades daquela pequena. Cadê ela e a Mel? —

pergunto, mas sou respondido assim que vejo minha cunhada descer as escadas
com minha sobrinha no colo.
— Já não era sem tempo de aparecer, hein, Adrian? — Melissa fala e eu
sorrio para ela, indo pegar minha sobrinha e deixo um beijo na bochecha dela.
— Vocês fazem drama demais, podem ir a fazenda me ver também —
respondo e me sento no sofá com Ana Clara, sentindo suas mãozinhas baterem
com força em meu rosto. — Calma aí, lindinha, não precisa deixar seus dedinhos
marcados em mim — falo rindo e ela gargalha também. Deixo um beijo em sua
bochecha gorducha e a aperto em meus braços.
— É isso aí, filha, desconta sua frustração da saudade que sentiu do seu tio
ingrato — Marcos fala e eu reviro meus olhos.
— Idiota, nem parece ser um médico de renome — falo e olho para minha
cunhada que nos observa rindo. — Me diz como uma mulher linda igual a você
foi se casar com um cara como esse? — pergunto e é a vez de Marcos revirar os
olhos para mim.

— Nem eu sei — Melissa responde, fingindo estar séria, e meu irmão olha
para ela ofendido.
— Nossa, pensei que me amasse. — Ele diz emburrado e parece uma
criança fazendo birra.
— Oh modeuzo, tadinho do meu maridinho. Te amo, bobo! — Mel fala e
vai até meu irmão, deixando um beijo em sua boca.
Fico feliz em os ver desse modo, mas ao mesmo tempo sinto uma dor em
meu peito. Olho para minha sobrinha brincando com suas mãos em meu colo e é
impossível não sentir a culpa que cresce em meu peito a cada dia. Eu poderia ter
tudo isso hoje... poderia ser Carolina aqui comigo junto com nosso filho ou filha,
mas por minha causa eles não estão aqui.
— Adrian? — escuto a voz do meu irmão me chamar e saio do meu transe,
olhando para ele em seguida.
— Oi? — falo, após encontrar minha voz novamente.
— Está tudo bem? — Ele pergunta preocupado e eu apenas aceno com a
cabeça.
— Eu vou levar a Aninha para mamar... fique à vontade, Adrian — Melissa
fala com um sorriso compreensivo no rosto e pega a filha dos meus braços.
Vejo ela se afastar com a bebê no colo e me encosto no sofá, ficando em
silêncio. Não dizemos nada por alguns minutos, até sentir meu irmão se sentar ao
meu lado.
— Como você está? — Ele pergunta após um tempo e eu olho para ele por
um segundo, antes de desviar meus olhos novamente.
— Estou bem, não está vendo? — respondo e acabo sendo um pouco rude.
— Você sabe muito bem do que estou falando, Adrian, não tente me enganar
— faz uma pausa. — Sabe que já está mais do que na hora de seguir em frente,
Adrian. Carolina não ia querer que você parasse de viver como está fazendo.
Você só fica na fazenda e não sai quase para lugar algum, além de ficar se
afundando na bebida. O máximo que faz é ficar com umas e outras por aí sem
compromisso, pessoas que nem de longe querem o seu bem. Você ainda fica com
a Débora? — pergunta e me sinto desconfortável com o rumo dessa conversa.
— Não, eu nem gosto dela, só ficava para tentar... sei lá! — falo, perdido.
— Viu? Você só está se afundando ainda mais. Cadê aquele cara alegre de
antes, o homem que tinha sonhos e lutava pelas coisas que acreditava?
— Ele morreu naquele acidente, junto com minha mulher e meu filho —
respondo e escuto ele soltar um suspiro frustrado.
— Tudo bem, se você quer continuar vivendo desse modo eu não posso
fazer nada... tudo depende de você. Eu só espero que encontre um motivo para
querer viver novamente.
Fixo meus olhos na parede e sentindo o silêncio pesado que paira entre nós,
me levanto do sofá.
— Eu já vou indo, tenho muitas coisas a fazer na fazenda — falo e não olho
em sua direção.
— Tudo bem, qualquer dia desses nós aparecemos por lá. — Ele fala e eu
concordo com a cabeça, indo até a porta.
****
Meu caminho de volta é silencioso e sinto meu peito cheio de emoções
conflitantes. Passo pela porteira que dá acesso a minha fazenda e assim que
chego perto de casa, consigo ver um pouco ao longe dona Clarisse sentada em
baixo de uma árvore, brincando com Evan.
Estaciono minha caminhonete e fico os observando por um tempo. Sinto
uma emoção diferente toda vez que estou perto daquele pequeno menino e
também, às vezes, com seu pai... e eu só queria entender o que é isso tudo.
Fecho meus olhos com força e nesse gesto só consigo enxergar em minha
mente dois pares de olhos claros me olhando com sorrisos no rosto e cabelos
lindos na cor do fogo.
Eu me encontro nesse momento abraçado ao meu melhor amigo e me sinto
um inútil por não conseguir tirar a dor que ele está sentindo. Eu não sei como é a

dor de perder um filho, mas eu consigo imaginar. Deve ser horrível e cruel, pois
você perde uma parte de si mesmo. Acho que se algo acontecesse com meu filho,
eu não conseguiria suportar. Evan é tudo de mais importante que eu tenho em
minha vida e só a ideia de não o ver mais, me destrói. E imagino que é dessa

forma que Ângelo está se sentindo nesse momento. Sei que apesar de ainda novo,
Ângelo sempre sonhou em ser pai, poder gerar seu filho, sentir os primeiros
chutes e pegá-lo em seus braços. Mas infelizmente esse sonho teve que ser
adiado mais um pouco.
Eu somente não entendo como pode haver pessoas tão cruéis no mundo.

Luci passou completamente fora dos limites da insanidade. Armar para matar
uma pessoa é muito cruel e sem perdão. Juro que se eu pudesse, faria essa vadia
pagar por tudo o que fez ao meu maninho, mas infelizmente agora eu tenho que
confiar na justiça, o que sinceramente, não vale muita coisa.
— Me conta sobre a fazenda — Ângelo pede, quebrando nosso silêncio e
isso me faz sair do meu estado pensativo.
— Já te disse que ela se chama Rosa Branca? — pergunto e ele assente com

a cabeça. — Pois bem, isso se deve ao imenso campo de rosas brancas que há na
fazenda, garanto que você iria amar. O lugar é muito lindo, confesso que estou
gostando de morar lá.
— E sua relação com o seu Shrek? — Ele pergunta e me dá um sorriso
pequeno, que já me deixa imensamente feliz.
— Ele não é meu Shrek... que mania de fantasiar nós dois! Não quero nada
com aquele ogro e nem com ninguém — falo emburrado. Será que é tão difícil

entender?
— Se você pensa assim, tudo bem então, mas eu ainda acho... — Ele não
termina de falar, pois eu tapo sua boca com minha mão.

— Chega disso, vamos falar d... Aí, está doido, Angie? — resmungo e tiro
minha mão rapidamente da sua boca, já que ele havia me mordido.
— Sabe que detesto que façam isso comigo. — Ele se defende e eu reviro
meus olhos, mas ao mesmo tempo fico feliz por ver meu amigo se soltando e
voltando ao que é.
— E precisa me morder? — pergunto, passando minha outra mão pela
marca dos seus dentes que ficou em minha pele.
— Ehhh... sim, você estava me atrapalhando a falar. Mas como eu ia
dizendo... não adianta você ver o Alan em todos os homens. Eu sei que ele te
magoou e te feriu muito, mas nem todos são assim, Cas. Veja pelo Enzo, eu tive
uma sorte tão grande em poder o encontrar. Ele é tudo pra mim, Cas, ele me ama,
me protege, me trata como se somente eu fosse o mundo para ele. E você sabe
que eu também poderia ter desacreditado do amor, já que o garoto por quem eu
fui apaixonado no colégio tentou fazer sexo comigo a força, além de me drogar.
Mas pelo contrário, eu continuei acreditando que sim, eu podia encontrar alguém
que poderia me amar como eu sou e eu também amaria de volta. — Ele diz e
pega em minha mão. — Só não deixe a sua chance de ser feliz passar por diante
dos seus olhos e você nem perceber.

Angie termina e eu fico pensativo com suas palavras.


— Fico feliz que voltou a ser a metralhadora de sempre — falo e ele solta
uma risada.
— Não tente fugir do assunto — diz e eu balanço a cabeça em negação.
— Eu ainda não consigo confiar, Angie, mas quem sabe com o tempo eu
consiga? — falo e ele concorda.
— Tudo bem, mas independente de qualquer coisa, você sabe que eu
sempre vou estar aqui por você.
— Assim como eu também sempre estarei aqui por você — falo e puxo ele
para os meus braços.
Ficamos mais um tempo juntos, conversando sobre outros assuntos e às
vezes relembrando sobre a nossa infância, que foi o momento que mais nos
trouxe boas recordações.
Logo depois eu deixei Angie em seu quarto com Enzo e fui para o quarto de

hóspedes, onde estou por esses dias. Assim que entro no cômodo, fecho a porta
atrás de mim e pego meu celular para ligar pra minha avó e saber como está meu
filhote.
— Oi, meu amor! — Dona Clarisse fala assim que me atende.
— Oi, vó... como está meu pequeno? — pergunto sem rodeios e escuto a
risada dela do outro lado.
— Está ótimo, nem sente sua falta — fala brincando e eu reviro meus olhos.
— Sei... — falo e me deito na cama.
— Estou falando sério, ele brincou praticamente o dia todo com Adrian e
nem reclamou por você. — Ela fala e isso me faz sentar na cama em um pulo.
— Como? Por que ele ficaria praticamente o dia todo com meu filho? —
pergunto na defensiva e não me reconheço nesse momento.
— Até parece que você não vê o quanto ele já é apaixonado por Evan.
— Não sei se essa aproximação é uma boa coisa. Ele é apenas meu patrão e
não tem que ficar assim com meu filho. Por que ele não se casa com aquela
gralha e tenha os próprios filhos? — falo e nem sei porque essa ideia me irrita
tanto.
— Por que isso agora, Castiel? Não vejo problema algum de Adrian ficar
um pouco com Evan, já que o seu filho mesmo já o ama e gosta dele como um
pai. — Ela fala e isso me irrita ao extremo agora.
— Mas ele não é pai dele, vó! Está vendo aí o problema? Não quero que
meu filho se apegue a alguém que no futuro nem vai mais fazer parte da vida dele
— falo, um pouco exaltado.
— Talvez, se desse uma chance para a vida novamente, esse problema
estaria resolvido. — Ela diz após alguns segundos e eu respiro fundo.
— Eu vou desligar, amanhã estou aí — aviso e encerro a ligação.
Deixo meu celular na mesinha de cabeceira e me deito na cama novamente.
Fecho meus olhos e sinto meu peito se apertar.
Será que é tão difícil das pessoas entenderem o meu lado?
Fico mais alguns minutos deitado, mas resolvo deixar minhas coisas prontas
para partir amanhã cedo. Não trouxe muitas coisas, por isso é fácil deixar tudo
pronto.
Após terminar tudo, tomo um banho rápido e me deito na cama. E após rolar
de um lado para o outro, consigo finalmente pegar no sono.

***

Deixo um último aceno para Ângelo e Enzo e entro no ônibus. Me sento no


lugar marcado na passagem, que é um assento bem ao lado da janela. Coloco
meus fones de ouvido e fecho meus olhos, querendo que a viagem ocorra rápido.
E por incrível que pareça, não demora muito para que eu chegue ao meu destino
final.
Assim que desço do ônibus, vejo Antônio me esperando e abro um sorriso
ao vê-lo. Logo ele me avista também e vem em minha direção.
— Oi, como foi a viagem? — Ele pergunta assim que chega perto de mim e
pega a mala pequena da minha mão.
— Ocorreu tudo bem, só não gostaria de ter ido visitar meu amigo por um
motivo tão triste — respondo e ele faz um aceno de concordância com a cabeça.
— Entendo, mas imagino que ele deva ter ficado feliz por te ver.
— Sim, assim como eu também — respondo e logo chegamos em seu carro.
Nós dois nos acomodamos no carro e ele pegou a estrada para a fazenda.
Como ainda não temos muitos assuntos em comum, Antônio ligou o rádio e nosso
caminho foi feito enquanto ouvíamos música.
Depois de quase uma hora de estrada, Antônio para em frente à casa da
minha avó e eu desço rapidamente.
— Obrigado, Antônio! - agradeço assim que já estou fora do veículo.
— De nada, precisando é só chamar — diz e se afasta com o carro.
Subo os degraus da varanda e deixo minha mala no batente da porta. Mal
entro em casa e já posso ouvir as risadas de Evan vindas da sala. Abro um

sorriso e termino de entrar, mas acabo parando ao ver a cena de Evan todo feliz
no colo de Adrian.
Adrian brinca de aviãozinho com meu filho e olha para ele como se fosse
algo realmente importante, enquanto ostenta um sorriso no rosto. E Evan
demonstra sua felicidade soltando suas gargalhadas gostosas, mostrando sua
confiança nele.
Sinto algo crescer dentro do meu peito e me sinto estranhamente com medo.
E eu não gosto de me sentir dessa forma, mas, infelizmente, toda vez que Adrian
está por perto eu me sinto exatamente dessa forma.
Ouço as risadas alegres de Evan e isso aquece meu peito de uma maneira
única. Nunca achei que um serzinho tão pequeno fosse me causar tanta felicidade.

Eu sei que ele não é nada meu, não temos laço algum, mas eu me sinto tão em paz
quando tenho a presença dele ao meu redor. Bem diferente dos sentimentos
conflitantes que sinto em relação a Castiel.
— Oi! — escuto a voz que persegue meus pensamentos há alguns dias e

assim que me viro, vejo Castiel parado perto do sofá, nos olhando com
intensidade.
Paro minha brincadeira com o pequeno e sigo apenas com ele em meus
braços.
— Oi, dona Clarisse está fazendo o almoço e ela disse que não teria

problema em eu ficar com ele por alguns minutos — falo, me sentindo


estranhamente inseguro.
— Tudo bem. — Ele responde simples e logo pega o filho dos meus braços,
que fica feliz ao ver o pai.
— Ei, meu amor, papai estava morrendo de saudades de você. — Ele fala
sorridente e deixa vários beijos no filho.
— Bem, eu vou indo — falo e pego meu chapéu em cima da pequena mesa

de centro.
— Já que está aqui, fique para almoçar... até porque se minha vó não fizer a
comida você morre de fome, não é? — Ele fala com seu humor ácido de sempre.
— Acho que não sou tão dependente assim de dona Clarisse, mas obrigado
pelo convite. Só que hoje você não terá minha presença, já tenho compromisso
— respondo e coloco o chapéu na cabeça, seguindo até a porta.
— Espera, quero falar uma coisa com você. — Ele diz e isso me faz parar e

olhar em sua direção.


— Pode falar — respondo e vejo ele ajeitar Evan em seu colo, que já
começa a dar sinais de cansaço.

— Olha, eu já percebi que você gosta bastante de Evan e eu sinceramente


não tenho nada contra isso, mas um dia nós vamos embora. Sei que ele também
gosta muito de você e aos poucos está associando sua presença a de um pai e eu
não quero isso. Não quero que meu filho crie uma ilusão e sentimentos por você.
Ele ainda pode ser bem pequeno, mas sente e vai ser terrível para ele quando
você se afastar por conta dos seus próprios filhos. Eu sempre o criei sozinho e
vou continuar fazendo isso, pois minha prioridade sempre será ele — Castiel
fala sério e suas palavras me pegam de surpresa.
— Se você quer que eu me afaste dele, tudo bem, como você disse ele é seu
filho e você que sabe o melhor para ele. Mas eu te garanto que jamais
abandonaria Evan. Tem pouco tempo que conheço vocês, mas já gosto bastante
desse garotinho — falo e sem ter mais o que dizer, viro minhas costas para ele e
saio da casa.
Solto um suspiro e desço os degraus da varanda. Caminho até meu cavalo
que está amarrado em uma árvore próxima. Desato o nó que o prendia a árvore e
monto no animal, logo dando um comando para ele começar a caminhar.
Mantenho um ritmo não tão rápido e quando percebo, já estou perto da cachoeira

que fica em minha propriedade. Sigo pela trilha que leva até meu lugar preferido
e sinto uma paz tomar conta de mim quando vejo o lugar que marcou minha
infância junto aos meus pais.
Desço do cavalo e o deixo livre para pastar. Ando a passos lentos até a
areia branca e tiro meus sapatos para poder a sentir abaixo dos meus pés. Eu me
sento na areia fofa e fecho meus olhos.
Por que ele me pedir para se afastar me incomodou tanto? Droga! Evan não
é seu filho, Adrian e nem Castiel é nada seu... mais cedo ou mais tarde eles vão
embora.

***
Vejo Adrian sumir montado em seu cavalo negro e solto um suspiro
cansado. Olho para Evan e vejo ele ressonar baixinho em meu ombro. Me viro
para ir para meu quarto e encontro minha avó parada no corredor.
— Por que fez isso? — Ela pergunta e me olha com o rosto sério.
— Isso o quê? Ele nem é nada do meu filho — falo na defensiva e começo a
ir em direção ao quarto de Evan.
— Você está afastando-o pensando no bem estar do seu filho mesmo, ou por
que está com medo? — Ela pergunta e isso me irrita.
— Medo de que, vó? Nós mal nos conhecemos — falo irritado e entro no
quartinho de Evan, colocando-o no berço.
Ligo o climatizador e fecho as cortinas, deixando o quarto mais escuro.
— Acho que você está começando a sentir alguma coisa por ele, por isso
está com medo. Está com medo de se apaixonar e por isso quer o afastar, mas
está fazendo de modo errado, já que seu filho ama Adrian e vai sentir falta dele.
Caminho até a cômoda no canto do quarto e pego uma muda de roupa para
Evan, já que assim que ele acordar precisa de um banho. Deixo as pequenas
roupas sobre a pequena cama e me sento na mesma, me sentindo cansado de toda
essa conversa.

— Por que acha que gosto dele? — pergunto cansado.


— Posso ver em seus olhos... Acha que me engana com esse seu jeito
ácido? Eu te conheço desde que nasceu, Castiel. — Ela fala e se senta ao meu
lado na cama.
— Pois está enganada, só vai fazer um mês que estou aqui e é impossível eu
já estar gostando de alguém. Se eu quisesse é claro, pois não estou interessado.
O amor só nos deixa cegos e fracos, e eu prometi a mim mesmo nunca mais cair
nessa armadilha.
— Acha Evan algo ruim? — Ela pergunta e olho para ela incrédulo.
— É claro que não, meu filho é a melhor coisa que já me aconteceu —
respondo rápido.
— Então o amor que sentiu não foi uma armadilha tão grande, afinal ele te
trouxe Evan. — Ela diz e eu olho para meu filho dormindo tranquilo em seu
berço.
— Mas trouxe muita dor também e quase me fez perder meu filho, assim
como quase me fez morrer também — falo e sinto meus olhos queimarem com a
vontade de chorar, mas me seguro e me mantenho firme.
— Tudo bem, você sabe o que faz. O almoço já está pronto. — Ela diz e se
levanta, indo em direção a porta.
Fecho meus olhos com força e sinto uma lágrima escorrer por meu rosto,
mas logo a enxugo. Eu me levanto e vou até o berço de Evan, me abaixo e deixo
um beijo em sua testa.
— Papai te ama muito, meu amor — falo baixinho e deixo mais um beijo
nele.
Saio do quarto de Evan e vou para o meu. Pego uma troca de roupa e minha
toalha e sigo até o banheiro no corredor. Tomo um banho na água morna e tento
relaxar um pouco. Eu só queria poder chegar e descansar, mas parece que o
destino quis algo diferente para mim.
Termino meu banho e volto para meu quarto, me deito na cama e resolvo
dormir um pouco, já que não estou muito a fim de comer... acabei perdendo a
fome depois de tudo. Fecho meus olhos e é impossível não visualizar a imagem
de um par de olhos azuis e cabelos selvagens me olhando.
Uma semana depois...

Os dias se passaram e com eles eu vi que Adrian realmente se afastou de


mim e principalmente de Evan. Ele até evita ficar muito tempo no escritório
comigo e só fala o que é realmente essencial sobre o trabalho.
Eu não devia, mas me arrependi pelo que eu disse a ele. Evan nesses dias

está sentindo sua falta e teve até febre, o que me deixou bem preocupado. Só que
eu, de verdade, só estava pensando no melhor para meu filho, mas vejo que me
equivoquei. Infelizmente Adrian já se tornou alguém importante para meu filho.
Evan nunca foi de se apegar com as pessoas, a não ser aquelas que estão
realmente bem próximas, mas com Adrian foi e é diferente... Eu posso ver o

quanto os dois se apegaram em tão pouco tempo, e isso me preocupa muito.


Solto um suspiro e paro de teclar no computador a minha frente. Me
espreguiço na cadeira e me levanto com a intenção de ir até a cozinha. Escuto
algumas vozes na sala e quando paro pra olhar de quem são, logo me bate o
arrependimento. Vejo Adrian agarrado a lambisgóia da Débora. Oh homem que
tem mal gosto.

Não deveria, mas a cena deles se beijando na minha frente me irrita mais do
que tudo e para não pensar coisas que não devo, decido seguir meu caminho.
Ando a passos apressados até a cozinha e quando chego ao local, vejo
minha avó batendo uma massa de bolo na mão enquanto conversa com Evan que
está sentado em seu carrinho.
— Olha quem chegou, foguinho... e parece não estar de bom humor —
minha avó diz assim que me vê e eu reviro meus olhos.

— Para de o chamar assim, vó, não sei porque o Angie colocou esse
apelido no meu filho — falo, fingindo irritação, mas no fundo até que eu gosto do
apelido.

— Porque combina com ele e pare de reclamar. E que cara é essa? Viu algo
que não gostou? — Ela pergunta sugestiva e eu odeio essa mania que minha avó
tem.
— E o que eu veria que não iria gostar? — pergunto e vou até meu filho,
pegando-o em meus braços, dando um beijo em seu narizinho em seguida.
— Ah, não sei! Talvez um certo cowboy com uma mulher sem sal lá na sala.
— Ela sugere e me olha com atenção, esperando uma reação minha, mas não vou
dar esse gostinho para ela.
— E por que eu estaria espiando os outros? Tenho mais o que fazer, tipo
trabalhar — respondo e pego um copo com água no pote de barro.
— Se você diz... — Ela volta a trabalhar em seu bolo.
— É... eu digo! Evan já mamou? — pergunto, mudando de assunto, e dou um
pouco de água para o meu filho.
— Ainda não, eu ia fazer daqui a pouco a mamadeira dele. — Ela diz e olha
para além de mim.
Eu me viro para a entrada da cozinha e vejo o “casal vinte”. Oh vontade que
me dá de revirar os olhos, mas me seguro.
— Pode deixar que eu faço — falo, ignorando a presença dos outros dois.

Evan assim que vê Adrian começa a se mexer para ir pro colo dele e como
não deixo, ele começa a chorar. Tento acalmar meu filho, mas não funciona muito
e minha avó vem pegar ele.
Pego as coisas para preparar o leite de Evan e tento não prestar atenção no
choro do meu bebê.
— Você quer alguma coisa, Adrian? — escuto minha vó perguntar com a
voz alta.
— Não, só vim avisar que vou levar Débora até a casa dela... qualquer
coisa pode me ligar.
— Pode deixar, mas não se preocupe... demore o tempo que precisar — fala
e posso sentir que ela diz isso para jogar em mim, mas eu não sei o porquê
exatamente.
Termino de preparar o leite de Evan e pego ele do colo da minha avó.
— A-boy! — Evan fala soluçando e olha para Adrian que ainda está parado
na porta.

Me corta o coração ver meu filho assim, mas eu só estou pensando no


melhor para ele, será bem pior no futuro.
Ando para fora da cozinha e me sento em um dos bancos de madeira na
varanda dos fundos. Com um pouco de calma e paciência, faço Evan parar de
chorar e depois de tomar todo seu leite, ele acaba dormindo em meus braços.
Eu nem percebo, mas vejo uma lágrima cair do meu rosto e molhar a
roupinha de Evan. Não aguento segurar e o choro vem com força, e eu choro em
silêncio por todo o peso que está sobre mim nesse momento.
Não é fácil saber que você tem a responsabilidade de criar uma criança,
sendo você ainda tão jovem, e às vezes eu me sinto cansado demais. Não
cansado do meu filho, jamais! Mas de todos os julgamentos e tudo que eu tenho
que enfrentar a cada dia.
Eu posso ter sido precipitado ao pedir que Adrian se afastasse, sim eu fui.
Só que eu só estava pensando no melhor... Eu sempre quero o melhor pro meu
filho.
Escuto passos próximos de mim e quando levanto minha cabeça, vejo
Antônio andando pela grama, vindo em minha direção.
— Ei, por que está chorando? - pergunta preocupado e eu rapidamente
limpo as lágrimas do meu rosto.
— Nada demais, só cansaço — respondo e volto a olhar pro meu filho
dormindo.
— Cê não me engana, mas não vou te encher. — Ele diz e eu agradeço por
isso.
— Obrigado! E então, por onde andou esses dias? — pergunto e olho para
ele de relance.
— Tive que levar um rebanho até a outra fazenda do seu Adrian. — Ele
responde e o vejo olhar ao longe.
— O que foi? — pergunto curioso.
— Nada, só ‘tô pensando em umas coisas aqui. — Ele faz uma cara
estranha.
— Coisas de homem apaixonado? — pergunto brincando e ele me olha
sério.
— Talvez, mas isso não importa mesmo — fala desanimado e eu estranho
seu comportamento.
— Por que não? É bom se apaixonar, não? — pergunto e me sinto um
hipócrita.
— No meu caso não, sei que não vai dar certo — diz e solta um suspiro,
tirando o chapéu da cabeça em seguida.
— Nossa, achei que só eu fosse desacreditado no amor. Mas não pense
assim, talvez seja bom... você é um cara tão legal, Antônio, qualquer um teria
sorte te ter você — falo e bagunço seus cabelos, o que faz ele rir um pouco.
— Acho que não é o caso dessa pessoa, ele é bem melhor que eu em todos
os sentidos... jamais ia querer um cara caipira como eu.
— Então ele é um idiota, pois você é bem mais do que isso que acabou de
dizer aí — falo e me levanto com Evan ainda dormindo em meu peito. — Vou
colocar Evan no carrinho e voltar a trabalhar... nos vemos por aí. — Eu me
despeço dele com um sorriso.
Entro na cozinha e sinto cheiro de bolo assando. Deixo a mamadeira vazia
de Evan na pia e coloco ele deitado em seu carrinho, que já está ficando pequeno
para ele. Minha avó não está em nenhum lugar da cozinha, então levo Evan de
volta comigo para o escritório.

***

Meu horário de trabalho termina e eu deixo alguns relatórios em cima da


mesa de Adrian para ele ler no dia seguinte. Pego meu celular em cima da mesa e
vou até o carrinho de Evan, começando a empurrar ele até a saída. Apago as
luzes e fecho a porta atrás de mim.

Maurício passa por mim na varanda, mas nem “oi” me dá, o que eu acho
estranho, mas não perco meu tempo para perguntar. Não tenho culpa de as
pessoas ficarem mal humoradas e virem descontar em mim... odeio isso.
Sigo para casa vendo o sol se pôr entre as montanhas que cercam a fazenda
e acho perfeito o espetáculo da natureza. Chego em casa em poucos minutos e
sigo direto para o quarto de Evan, colocando-o para dormir em seu berço, mas
ele acaba acordando durante o processo, então resolvo dar banho nele. Separo a
roupa dele e o levo comigo para o banheiro no corredor.
Tranco a porta e coloco ele sentado no chão do banheiro enquanto eu tiro

minhas roupas e fico apenas de cueca. Deixo-o andar com seus passinhos lentos
até o box e ligo o chuveirinho na água morna, começando a dar banho nele.
— Agá! — Ele exclama feliz, sentindo a água em seu corpinho. Evan
sempre adorou a hora do banho, o que eu agradeço a Deus por isso.
— Sim, amor, água. Você gosta? — pergunto com a voz calma e passo um
pouco de shampoo infantil em seus cabelinhos.
— Agááá! — fala mais alto e bate as mãozinhas, como se para dizer sim a
minha pergunta.
Sorrio para ele e termino de dar seu banho. O enrolo em uma toalha felpuda
de orelhinhas e levo ele de volta para seu quarto, nem ligando para o fato de eu
estar apenas de cueca. O deito na cama e assim que tiro a toalha dele para
colocar a fralda, Evan faz xixi em mim.
— Filho! — reclamo alto e ele solta uma gargalhada feliz. — Está achando
engraçado, seu projeto de gente? — falo e faço cosquinhas em sua barriga
gordinha, ouvindo-o rir ainda mais.
Limpo ele novamente com um lencinho umedecido e coloco sua fralda,
colocando uma roupa em seguida.
— Vó? — chamo por ela e pego Evan em meu colo, saindo com ele do
quarto e vejo minha avó surgir no corredor.
— Isso é jeito de andar pela casa, menino? — Ela pergunta, se referindo a
eu estar só de cueca.
— Sim, a senhora já me viu mesmo. Toma que o neto é seu e eu preciso
tomar banho... Esse projeto de gente fez xixi em mim — falo, entregando Evan
para ela.
— Bem feito! Ele está só te castigando. — Ela diz e se vira de costas para
mim, sumindo do meu campo de visão.
Reviro meus olhos para o que ela disse e volto para o banheiro. Tomo um
banho caprichado e saio em seguida com a toalha na cintura. Eu me visto no meu
quarto e vou atrás dos meus amores.
Ajudo minha avó com o jantar, enquanto Evan brinca feliz com seus
bichinhos de pelúcia no tapete da sala. Assim que jantamos, lavo a louça e
ficamos assistindo TV por um tempo. Minha avó vai dormir primeiro e leva
Evan com ela, me deixando sozinho, vendo filme.
Não sei quanto tempo se passa, até que escuto uma batida forte na porta, o
que me faz levar um susto. As batidas ficam mais altas e eu corro até a porta para
abri-la e não acordar minha avó e meu filho que dormem.
Assim que abro a porta, tenho uma surpresa ao ver quem está na minha
frente.
— Adrian? O que faz aqui? — pergunto a ele, que cambaleia um pouco para
trás. Ele está bêbado?
— Você é... é um idiota! Eu a-amo o Evan. Ele é um fi-filho pra mim — diz
embolado e aponta o dedo em minha direção.
— Ah, eu sou o idiota aqui? Não sou eu que estou bêbado no meio da noite
perturbando as pessoas — falo irritado e cruzo meus braços em frente ao peito.
— N-não tira ele de mim! — Ele pede e começa a chorar do nada. Aí meu
Deus, eu mereço!
— Adrian, pare já com isso! — mando e chego mais perto dele, o que faz
com que ele me puxe pela cintura. Mas o quê?
— Me solta, Adrian — peço com calma e olho para ele.
— Não! Você... você tem que prometer não tirar Evan de mim e nem você
— faz uma pausa. — Eu gosto de você, cabelo de fogo. — Ele diz e seu rosto vai
se aproximando do meu.
Ah, Deus! Não, não, não!
— Não é assim que funciona, Adrian — falo e tento me distanciar, mas é
algo impossível.
— É sim... quer ver? — Ele pergunta e eu olho para ele sem entender.
Levo um susto quando sua boca toma a minha em um beijo selvagem. Mas o
que me destrói, é que ao invés de me afastar... eu correspondo da mesma
maneira.
Acordo sentindo minha cabeça latejar e solto um resmungo inaudível. Abro
meus olhos devagar para os fechar em seguida, devido a claridade que entra no

quarto. Espero alguns minutos e abro meus olhos novamente, me acostumando


com a luz que ultrapassa as cortinas. Sinto um gosto horrível na boca e faço uma
careta.
Olho ao meu redor e vejo que estou em meu quarto na fazenda. Sinto minha

cabeça um pouco zonza e confusa e espero um tempo até me levantar da cama.


Assim que já estou de pé, sigo até meu banheiro e tiro minhas roupas, entrando
debaixo da água fria do chuveiro. Estremeço de frio no começo, mas logo me
acostumo com a temperatura da água. Começo a me lavar e aos poucos flashes de
ontem retornam a minha mente e algo me faz paralisar no lugar.

— Droga! Que merda eu fiz?


Solto um suspiro e termino de tomar banho. Saio do box com uma toalha
enrolada na cintura e paro em frente a pia, olhando meu reflexo no espelho.
Penso em ontem à noite e só consigo me sentir envergonhado pelo papel que fiz.
“Caralho! Eu o beijei!” Esse fato me vem e me arrependo mais uma vez por ter
deixado a bebida me encorajar mais do que deveria.

Resolvo deixar isso de lado por enquanto e faço minha higiene bucal,
saindo do banheiro logo em seguida. Pego uma cueca boxer, calça jeans simples,
uma camisa de botões branca e meu cinto. Me visto e calço minhas botas,
pegando meu chapéu em seguida. Saio do quarto e desço as escadas, indo
diretamente para a cozinha... desejando mais que tudo um café bem forte e
amargo.
Entro na cozinha e sinto meu coração acelerar em meu peito quando vejo

Castiel e Evan juntos com Clarisse e Maurício.


— Bom dia! — falo entrando e me sento em uma das cadeiras de madeira
vaga.

— Bom dia, menino! Quer café? — Clarisse é a única a me responder.


— Por favor! — peço e ela me estende uma xícara com o líquido quente.
Olho para Evan, dormindo em seu carrinho, e sinto um vazio no peito. Não
sei como é possível que eu ame tanto esse garotinho em pouco tempo. Às vezes
sinto até que ele é meu próprio filho e sei que isso é errado, mas quem diz isso
ao meu coração?
Olho para meu irmão sentado em silêncio na mesa e estranho seu
comportamento.
— Está tudo bem, Maurício? — pergunto preocupado e ele me olha de
forma emburrada.
— Perfeitamente! Eu estou indo pra faculdade e não venho almoçar em
casa. — Ele fala sério e logo em seguida se levanta e sai sem olhar para trás.
Sinto um vinco se formar em minha testa e olho para Clarisse, que balança a
cabeça em negação.
Termino de tomar meu café em silêncio.
— Castiel, pode me acompanhar? Preciso falar com você — falo com
calma e olho para ele por um segundo.

Ele não diz nada e apenas passa por mim, seguindo pelo corredor. Solto um
suspiro e olho mais uma vez para Clarisse.
— Me deseje sorte — peço a ela, que solta uma risada.
— No caso de vocês, precisam bem mais que isso. — Ela ri e eu balanço a
cabeça.
Respiro fundo e também sigo pelo corredor, indo até meu escritório. Passo
pelo retrato dos meus pais na parede e peço que eles me ajudem nesse momento.
Entro no escritório e vejo Castiel de pé em frente a janela, no mais
completo silêncio. Fecho a porta atrás de mim e me aproximo dele. O silêncio
reina por mais alguns minutos, até que eu encontre novamente minha voz para
falar.
— Quero começar te pedindo desculpas pelo papelão que fiz ontem na casa
da sua avó. Eu sei que errei e não irei colocar a culpa na bebida — falo e me
viro de frente para a janela também, vendo minha fazenda como principal
paisagem.

— Isso é bom.
— Eu sei que foi errado, mas tudo o que falei sobre Evan é verdade. Eu
sinto a falta dele, sei que não gosta da nossa aproximação, mas me dói muito não
ter mais contato com ele.
— Não é que não goste, só tenho medo de no futuro ele sofrer por sua
causa. Você namora, pode muito bem se casar com Débora e ter seus próprios
filhos. E depois? Meu filho fica como? Sempre foi só eu e ele, sempre fiz de
tudo para o manter bem e só quero que ele continue assim. — Ele fala e o olho.
— Eu não tenho nada com Débora — falo rápido, tendo a necessidade de
explicar isso a ele.
— Não é o que parece. — Ele diz sério e mal humorado.
— Mas é a verdade! Sim, eu fico com ela de vez em quando, mas não é esse
o ponto. O que está em jogo aqui é outra coisa — faço uma pausa para respirar.
— Sei que só quer o melhor para Evan, mas eu sei que ele também está sofrendo.
Não dói em você ver ele dessa maneira? — pergunto e sei que toquei em seu
ponto fraco.
Vejo ele morder o lábio inferior que está trêmulo e uma lágrima escorrer
por seu rosto.
— Eu também só quero o melhor para ele, e eu sei que posso ser presente
na vida dele. Evan é importante pra mim e eu jamais o abandonaria... ele é como
um filho pra mim — digo e Castiel vira o rosto para me olhar.
— Esse é o problema... ele não é seu filho! Não quero que assuma uma
responsabilidade que não é sua. — Ele diz e noto cansaço em sua voz.
— Mas e se eu quisesse? — pergunto e me aproximo dele.
— Por que faria isso? — pergunta me olhando fixamente.
— Eu amo aquele menino, assim como eu gosto de você — falo de uma vez
e ele dá um passo para trás, se afastando de mim.
— O quê? — Ele pergunta desnorteado.
— Eu não sei como e não pergunte porque, mas eu gosto de você, Castiel.
Achei que jamais gostaria de alguém novamente, mas você despertou algo em
mim no momento em que pisou nessa fazenda — respondo e ele balança a cabeça
em negação.
— E por isso agora quer brincar de família feliz comigo e meu filho? Me
desculpa, mas isso não funciona na vida real — diz de forma amarga.
— Diga que não sente nada por mim também... — falo baixo e me aproximo
mais dele, que continua dando passos para trás, até parar em minha mesa.
— Eu não... — Pego em sua cintura e o beijo como na noite de ontem, só
que dessa vez tendo consciência dos meus atos.
Nossas línguas se entrelaçam uma na outra e posso sentir seu gosto se
misturar ao meu... bem melhor que noite passada. Sinto a entrega de Castiel e
isso me deixa satisfeito... mostra que ele não é indiferente a mim.
Mas nosso beijo é quebrado por Castiel, que se afasta de mim e deixa um
sonoro tapa em meu rosto.
— Nunca mais faça isso, seu ogro! — Ele diz irritado e viro meu rosto para
o olhar novamente, sentindo o tapa que ele me deu arder em minha face.
— Deixa eu provar que gosto de você — peço e olho em seus olhos.
— Isso não dá certo! O amor não funciona para mim... só sairei machucado
como no passado. — Castiel diz e sinto sua vulnerabilidade no momento.
— Eu não sou ele — falo com calma.
— E você quer provar que gosta de mim como? Se pegando com aquele
despacho pela casa? — Ele pergunta com raiva e me empurra, conseguindo sair
do meu aperto.
— Já disse que não tenho nada com Débora — falo exasperado e me viro
para ele.
— E por que ficam se beijando aqui? — pergunta e cruza os braços em
cima do peito.
Fico em silêncio e não falo nada por um tempo, até que ele volta a falar.
— Olha, eu vou permitir que veja Evan novamente. Sei que ele também
gosta muito de você e não quero mais ver meu filho chorando a todo momento
por sentir sua falta. Mas é isso, Adrian, eu não posso me entregar novamente a

alguém. Eu estou muito bem dessa forma e creio que assim será melhor para
ambos. — Ele fala por fim e eu fecho meus olhos em frustração.
— Melhor para quem? Para você por ser covarde? — pergunto e ele
permanece em silêncio, se desviando do meu olhar. — Eu vou provar que gosto
de você, Castiel. Não sou e nem nunca serei a pessoa que destruiu você — falo
por fim e passo por ele, o deixando sozinho para trás.
Continuo parado no lugar, tentando processar tudo o que Adrian me disse.
Solto um suspiro frustrado e me sento em minha mesa, querendo tirar esse peso

enorme das minhas costas. Estava tudo tão bem, mas aí foi só eu conhecer esse
ogro e ele mudou toda a minha vida. Por que eu não posso simplesmente ficar
sozinho? Será que as pessoas não entendem que eu não quero sofrer e nem errar
outra vez, como eu fiz com o traste do Alan?

Balanço minha cabeça para afastar todos esses pensamentos de mim, e me


concentro em meu trabalho. Aliás, foi para isso que eu vim para cá... trabalhar.
Escuto meu celular tocar e pego o aparelho em meu bolso, abrindo um
sorriso ao ver que é Ângelo ligando.
— Oi, Angie! — falo atendendo a ligação e fecho meus olhos por alguns

segundos.
— Oi, Cas... está tudo bem? Sua voz está estranha. — Ele observa e eu
solto um suspiro.
— Quando eu vim para essa fazenda, não achei que minha vida fosse mudar
tanto — falo cansado e apoio minha bochecha em minha mão.
— Adrian novamente? — Ele pergunta, pois sempre essa pessoa está

presente em nossas conversas. Acho que ele tomou um pedaço de minha vida
sem eu ao menos perceber.
— Sim, acredita que ele me beijou a força? Aquele Shrek falsificado! —
falo sem paciência, e escuto a risada de Angie do outro lado.
— Ah, eu acredito! Mas por que está com raiva? Deveria estar feliz por
isso, Cas — diz, e isso me deixa indignado.
— Até você, Angie? Já não basta minha avó me enchendo o saco todos os

dias? Eu não quero ninguém, Angie, não quero alguém que vá me destruir como
Alan fez. Eu ainda tenho ódio daquele cara — falo, frustrado.
— Eu sei, Cas, mas...

— Nem todos são iguais, eu sei! Mas não consigo... não agora.
— Tudo bem, você sabe o que é melhor para você, mas não foi para isso
que liguei — diz e faz uma pausa. — Farei minha festa de dezoito anos e preciso
de sua presença aqui.
— Vou estar, Angie, quero comer bolo mesmo — respondo rindo.
— Nossa, obrigado pela parte que me toca... insensível. — Ele resmunga e
isso me faz rir ainda mais.
— Oh, meu bebê, também quero ver você... não fique com ciúmes. Mas
agora eu tenho que voltar ao trabalho, maninho, mais tarde nos falamos mais —
falo enquanto ligo o computador, para começar meu dia de trabalho.
— Tudo bem! Ah, se quiser trazer Adrian, vou adorar conhecer seu par,
Fiona — Angie diz debochado e eu me seguro para não lhe dar uma mal
resposta.
— Tchau, Angie! — Eu me despeço e escuto ele rir, antes de encerrar a
ligação.
Coloco o aparelho em cima da mesa, e passo a fazer algumas planilhas do
mês.

***

Não vejo Adrian pelo resto da manhã, e lá no fundo eu agradeço por isso.
Faço uma pausa para o almoço e vou até a cozinha, e acabo levando um pequeno
susto ao ver um casal junto a uma bebê sentados à mesa.
Assim que entro, vejo todos os pares de olhos se voltando para mim e me
sinto constrangido por isso.
— Oi! — falo sem graça e vou para perto de minha avó, pegando Evan em
meus braços.
— Papa! — Evan fala e deita sua cabecinha em meu ombro. Sorrio com
isso e deixo um beijo em seus cabelos. Posso sentir o olhar de Adrian
queimando em mim, mas não o olho.
— Esse é o meu neto Castiel, está morando aqui na fazenda comigo e
ajudando Adrian no trabalho de administração — minha avó diz sorrindo,
olhando para os convidados.

— Prazer Castiel, meu nome é Marcos, sou irmão de Adrian. — O homem


se apresenta e sorri para mim. — Essa é minha mulher Melissa e nossa filha Ana
Clara. — Ele aponta para as outras duas e sorrio para elas.
— O prazer é meu em conhecer vocês... Ana Clara é linda — falo, me
aproximando, e passo a mão pelo rostinho da bebê, sentindo sua pele macia.
— Evan não fica atrás, já estou apaixonada por esse pequeno ruivo —
Melissa diz sorrindo.
— Ele agradece — falo sorrindo.
— Senta e almoça com a gente, Castiel — Adrian diz e indica a cadeira ao
seu lado, que infelizmente é a única vazia.
— Tudo bem — concordo, forçando um sorriso, e me sento ao seu lado.
Evan logo faz seu drama para ir pro colo dele e eu deixo, já que eles
ficaram muito afastados nos últimos dias. Adrian o trata como se ele fosse o ser
mais especial do mundo e isso aquece meu coração, mas da mesma forma me
deixa com medo.
— Ele gosta mesmo do Adrian, não? — Melissa fala, olhando para os dois,
e eu concordo com um aceno.
— Como se fossem pai e filho — falo, e essas palavras trazem um gostinho
amargo a minha boca.

***

Sinto Evan passar sua mão suja de creme de milho em meu rosto, e a única
coisa que posso fazer é rir. Ele também solta uma gargalhada gostosa e eu deixo
um beijo em sua bochecha gorducha. Fiquei muito feliz quando Castiel me deu
permissão para estar com ele de novo, confesso que estava doendo a falta que
Evan estava me causando. Nunca achei que fosse amar tanto uma criança dessa
forma. Eu sou apaixonado por Ana Clara, minha sobrinha, mas com Evan é um
sentimento diferente... é como se ele fosse realmente meu filho, enquanto eu
também sou seu pai.
A única coisa que me preocupa é Castiel, acho que fui um pouco duro em
minhas palavras, mas eu realmente quero que ele entenda que eu só quero o

melhor para ele e Evan.


Sei que com ele as coisas serão mais difíceis, mas eu não vou desistir tão
fácil. Resolvi me dar uma chance e voltar a viver, e não será a sua resistência
que me fará desistir.
— Sua gravidez foi tranquila, Castiel? — Melissa pergunta em certo
momento do almoço, e eu paro de comer para prestar atenção na conversa. Tenho
uma curiosidade muito grande sobre o passado de Castiel e espero que aos
poucos ele vá se revelando um pouco mais.
— Não muito, sofri com pressão alta quase a gestação inteira e quase morri
junto com Evan no parto. — Ele responde sério, olhando fixamente para ela.
— Nossa, imagino que foi difícil.
— Um pouco, mas graças a Deus estamos aqui. — Ele diz e olha para Evan
em meu colo, se divertindo com a comida. Nossos olhares se prendem por alguns
segundos, mas logo ele desvia.
Trocamos de assunto e nosso almoço se passou de forma rápida. Assim que
terminamos, Castiel pegou Evan e foi dar banho nele, já que ele parecia bem
cansadinho, querendo dormir. Melissa o acompanhou até a casa de dona Clarisse
e ficamos apenas Marcos e eu para trás.
— Quer dar uma volta na fazenda? — pergunto e ele logo concorda
Pego meu chapéu e saímos de casa, indo em direção aos estábulos. Peço
para um dos funcionários ajeitar meu cavalo e o do Marcos. Logo eles estão
selados e nós montamos nos animais, começando a andar devagar pela extensão
da fazenda.
— Eu notei seus olhares para Castiel, está acontecendo alguma coisa entre

vocês? — Marcos pergunta e eu olho para ele.


— Da parte dele não — respondo e ele solta uma risada.
— Mas você quer. E a Débora nessa história? — Reviro os olhos com sua
pergunta.
— Nunca tive nada sério com ela, só ficamos de vez em quando. O que me
interessa agora é conquistar a confiança de Castiel.
— Só que ela não vai te deixar em paz, irmão. Aquela mulher sempre foi
louca por você desde quando Carolina ainda era viva... então toma cuidado com
ela. — Ele me alerta, e nós pegamos o caminho para o rio que corta minha

fazenda.
— Eu sei, tudo o que eu não quero é que ela atrapalhe meus planos. Eu
estou mesmo gostando dele, Marcos, e eu nem sei como isso foi possível. Achei
que não fosse mais ter sentimentos por ninguém depois de Carolina, mas eu
simplesmente amo Evan e quero ter Castiel comigo. Isso é estranho, pois eu
nunca gostei de nenhum homem... não tenho preconceito algum, só nunca
imaginei, mas não ligo para isso agora — falo e escuto meu irmão rir.
— É... você está mesmo apaixonado e eu fico feliz. Vi o quanto gosta
daquele pequeno, e ele também te ama. Espero que consiga conquistar Castiel,
pois parece que aquele ruivo é duro na queda.
— Nem me fale, ele foi o único até hoje que teve coragem de me desafiar.
No começo eu queria estrangular ele, mas com o tempo passei o ver de uma
maneira diferente. Castiel é forte, e isso me admira muito... ele é alguém que vai
além da compreensão — falo, e faço meu cavalo parar próximo ao rio.
— Só de te ver desse jeito novamente, gosto muito desse rapaz. Não desista
dele, pois acho que terá muitos frutos bons no futuro. Se quer ele realmente, lute
por ele, Adrian, não o deixe escapar e viva sua vida da melhor forma possível.
— Ele diz e eu sorrio pro meu irmão.
— Obrigado, Marcos! Não irei desistir de Castiel, nem de Evan... de
alguma forma, sinto que eles já são uma parte minha.

***

Marcos e Melissa ficaram à tarde toda na fazenda e pude aproveitar um


tempo bom com meu irmão. Hoje em dia não temos muito tempo um com o outro,
então sempre aproveito quando temos.
Volto para casa quando o sol está se pondo e vejo Castiel saindo com Evan
caminhando lentamente ao seu lado. Toda vez que vejo esses dois juntos, sinto
uma emoção diferente tomar meu peito e me sinto um completo idiota
apaixonado. É, eu sou apaixonado. Eu estou apaixonado por esses dois e não
adianta negar.
— Já vai? — pergunto chegando perto deles, o que faz Castiel dar um
pequeno pulo de susto.
— Credo! Quer me matar de susto, fala — diz sarcástico e sorrio para ele.
— Sim, já vou indo... deixei todas as planilhas do mês na sua mesa. Tchau! —
Ele diz, mas Evan vem com passinhos lentos até mim, me pedindo colo, o que faz
ele ter que esperar.
Pego meu ruivinho no colo e deixo um beijo em sua bochecha.
— Ad! — Ele diz e isso me faz rir.
— Ad sou eu, ruivinho? Gostei disso — falo e deixo mais beijos em seu
rosto, fazendo ele rir.
— Tchau Castiel, até amanhã! — Eu me despeço e entrego Evan para ele.
— Até! Ah, tem uma visita para você. — Ele diz sério e começa a se
afastar.
Aceno uma última vez para Evan que ainda me vê e entro em casa.
Mal entro e já me sinto frustrado em ver Débora sentada no sofá da sala.
— Está fazendo o que aqui, Débora? — pergunto sem paciência e ela se
levanta sorrindo, vindo em minha direção.
— Vim te ver, amor. — Ela diz e passa seus braços por meu pescoço.
— Acontece que não pode vir aqui quando bem entender, Débora — falo e
tiro seus braços do meu pescoço, me afastando dela.
— Mas já que veio, vamos deixar algumas coisas claras — digo e faço uma
pausa. — Primeiro, nós não temos nada, Débora, só ficamos algumas vezes.
Segundo, eu não irei mais ficar com você, pois não é justo nem comigo e nem
com você. E terceiro, não me chama de amor, você não tem esse direito.
— Você não pode fazer isso comigo, Adrian, eu gosto de você e sabe disso.
Eu só quero uma chance. — Ela fala e se aproxima.
— Eu não posso te dar essa chance, Débora, eu gosto de outra pessoa —
falo sincero e ela me olha com raiva.
— Não, você não gosta! — Ela diz e avança em mim, me beijando a força.
Fico sem reação por alguns segundos e isso faz com que ela aprofunde o
beijo.
— Eu vim... — escuto uma voz atrás de mim e me afasto rapidamente dela,
que está com um sorriso nos lábios.
Eu me viro e vejo Castiel nos olhando sem demonstrar qualquer emoção.
— Não parem por minha causa, só vou pegar a mamadeira do meu filho que
esqueci. — Ele diz e começa a andar rumo à cozinha.
— Castiel! — Tento, mas ele não me dá ouvidos.
— Porra! ‘Tá vendo o que você fez? — explodo de raiva e Débora se
encolhe um pouco. — Vai embora daqui e por favor não volte. Eu nunca quis e
não quero nada com você, Débora — falo com raiva, nem ligando se minhas
palavras vão a ferir ou não.
— É dele que você gosta? De um homem? Está me trocando por aquela
coisa? — Ela pergunta com raiva e me seguro para não perder a paciência de

vez.
— Te trocando? Eu nunca tive nada com você... não se sinta tão importante.
Agora, vá embora!
— Isso não vai ficar assim, vocês vão me pagar por essa humilhação. —
Ela diz e sai batendo a porta em seguida.
Eu me sento no sofá, me sentindo frustrado e espero para conversar com
Castiel, mas os minutos se passam e só então me dou conta de que ele deve ter
saído pela porta dos fundos.
— Droga! — grito com raiva e arremesso a primeira coisa que vejo pela
frente na parede. Vejo os estilhaços de vidro do vaso cair no chão e sinto que
minha vida está exatamente como esse vaso.
Agora será ainda mais difícil fazer com que Castiel confie em mim e não me
veja como um homem qualquer.
Saio pela porta dos fundos sem olhar para trás, e só consigo ver a cena de
Adrian beijando aquela jararaca se repetindo várias vezes na minha cabeça.

— E ainda diz que gosta de mim... vagabundo, sem vergonha! — falo


comigo mesmo, sentindo uma raiva enorme tomar conta de mim.
Por que merda eu me importo tanto com aquele ogro? Ver aquele beijo não
deveria me incomodar, mas incomodou muito..., mas quer saber? Isso foi bom

para que eu visse que ele é igualzinho a todos. Com certeza queria só me usar e
depois me descartar, exatamente como o filho de uma puta do Alan fez.
Paro de andar e fecho meus olhos, tomando uma respiração profunda em
seguida. Não vou me abalar por causa de alguém como Adrian, tenho prioridades
muito maiores em minha vida e uma delas é meu filho.

Deixo todos os pensamentos que envolvem Adrian de lado e sigo até a casa
da minha avó.
Assim que entro em casa, vejo Evan sentado no tapete, brincando com seus
bichinhos de pelúcia.
Deixo a mamadeira em cima do balcão, que separa a cozinha da sala, e vou
até meu filho, me sentando ao seu lado. Evan me nota e logo sobe em meu colo
com uma vaquinha de pelúcia em suas mãos pequenas.

— Mu mu! — Ele imita o som, querendo dizer que animal se trata.


— Mu mu é a vaquinha que faz, amor? — pergunto, olhando para ele que
apenas sorri para mim e deita sua cabeça em meu peito.
Abraço meu filho e tento aliviar todos os sentimentos que estão dentro de
mim. Parece que estou vivendo no meio de um furacão e eu só queria a calmaria
que eu vivia antes de vir para cá.
Eu tinha realmente decidido não me envolver com ninguém, não depois do

que sofri com Alan. Depois daquela grande decepção, minha prioridade sempre
foi meu filho. E agora aparece esse homem em minha vida, bagunçando todas as
minhas barreiras. E o pior de tudo é que eu sinto algo... não sei o que, mas sinto.

Escuto um estalar de dedos ao meu lado e isso me tira dos meus


pensamentos, me fazendo acordar. Olho para o lado e vejo minha avó me
olhando atentamente.
— Por que está tão pensativo? — Ela pergunta e se senta no sofá, ficando
em um nível um pouco mais elevado que eu.
— Pensando na bagunça da minha vida — falo e deixo Evan sair do meu
colo, para ir até seus outros brinquedos.
— Então ajeita tudo, meu amor... isso não é difícil. — Ela fala me olhando,
mas eu rapidamente desvio meu olhar.
— É sim, vó, mais do que a senhora imagina — falo e me levanto do chão.
— Pode olhar ele para eu tomar banho?
— Claro! — Ela responde e eu os deixo para trás após sua confirmação.
Sigo a passos lentos até meu quarto e pego uma troca de roupa para levar
comigo para o banheiro.
Assim que entro debaixo da água gelado do chuveiro, deixo as primeiras
lágrimas caírem por meu rosto. Choro por tudo o que vivi nos últimos anos,
choro pelas decepções, choro pelo abandono que sofri das pessoas que deveriam
me apoiar... e choro por não saber o que eu estou sentindo nesse momento. Há

uma confusão de sentimentos dentro de mim e isso me deixa completamente


confuso, o que eu odeio estar.

***

Pego mais uma dose de conhaque e bebo de uma só vez, sentindo o líquido
descer queimando por minha garganta. Olho para o porta-retrato em minha mão,
contendo a foto de Carolina, e me sinto um lixo de pessoa.
Eu achei de verdade que estava conseguindo dar um novo rumo para minha
vida, só que mais uma vez eu estraguei tudo.
— Esse é meu destino, não é? Ficar sozinho? Primero eu fui responsável
por tirar você e nosso filho da minha vida, e agora eu estrago tudo com Castiel.

Pelo menos ainda posso ver meu ruivinho, acho que seria pior se não fosse ele
— falo para a foto, como se realmente tivesse alguém aqui comigo.
Deixo o copo e o porta-retrato sobre a mesinha de centro da sala e me deito
no sofá. Fico um bom tempo remoendo tudo, até que apago ali mesmo.

***

Sinto uma claridade incomoda sobre mim e isso me faz abrir os olhos só
para os fechar em seguida, devido a dor de cabeça que sinto.
— Quem foi a peste que abriu essa cortina? — pergunto em um resmungo.
— Está me chamando de peste, Adrian? — escuto a voz de dona Clarisse e
no mesmo momento abro meus olhos novamente.
— Nunca! Desculpa! — peço e me sento no sofá, colocando minhas mãos
na cabeça.
— Não desculpo, não! Agora vem tomar café. — Ela diz e sai logo em
seguida.
Fecho meus olhos novamente e escuto passos descendo as escadas.
— Bebendo de novo, Adrian? Quando vai parar e perceber que isso só
acaba mais com a sua vida? — escuto a voz decepcionado de Maurício e nem
abro meus olhos para o ver, pois sei que não vou gostar de sua cara de decepção.
— Quando as coisas começarem a dar certo — respondo baixo.
— E por que não estão dando certo? — Ele pergunta e sinto que se
aproxima de mim.
— Se apaixonar é difícil, não é? — respondo ele com outra pergunta, e
dessa vez o olho.
— Você está apaixonado, Adrian? Só não vai me dizer que é pela Débora.
— Ele diz e faz uma cara de nojo que me faz rir.
— Não! É outra pessoa... — falo e ele me olha com curiosidade.
— Quem? Me fala. — Ele pede com um sorriso no rosto. Gosto de ver meu
irmãozinho assim.
— Castiel — respondo e vejo seu sorriso murchar. — O que foi? Não gosta
dele? Achei que fossem amigos.
— Somos... eu acho. Mas não sei se é uma boa ideia gostar dele.
— Por quê?
— Acho que ele e Antônio tem alguma coisa. — Ele diz e vejo sua
expressão um pouco triste.
— Não pode ser! — falo mais para mim mesmo do que para ele.
Será mesmo que Castiel gosta dele? Mas isso não pode ser verdade...
Eu me levanto do sofá e sigo apressado até a cozinha, vendo apenas
Clarisse ali.
— Castiel tem alguma coisa com Antônio? — pergunto sem rodeios, e vejo
ela se virar para me olhar.
— Eu não sei, meu neto é bem reservado quanto aos seus assuntos. — Ela
diz neutra, sem esboçar qualquer reação.
— Mas a senhora deve saber de algo.
— Mas não sei, Adrian. E se tiverem? Antônio é um bom rapaz e meu neto
merece um homem que seja forte para ele. — Ela diz e isso me deixa irritado.
— Eu sou esse homem, não o Antônio!
— É? Então mostre para ele, não é a mim que você deve dizer isso. — Ela
diz calma e volta a fazer suas coisas.
— Ok! — falo e viro as costas para ela.

***

Termino de fazer meu chá e me sento na mesa pra tomar café, aproveitando
que Evan ainda está dormindo.
Assim que tomo o primeiro gole de chá, escuto baterem na porta e solto um
suspiro frustrado. Deixo minha xícara de porcelana sobre à mesa e me levanto da
cadeira, indo atender a porta. Quando abro a mesma, tenho uma pequena surpresa
ao ver Adrian parado, me olhando.
— Precisamos conversar. — Ele diz sério, entrando sem minha permissão.
Quem ele acha que é?
— Ei! Não é porque você é dono da fazenda que pode ir entrando assim na
casa dos outros — falo indignado e fecho a porta. — E nós não temos nada para
conversar, Adrian.

— Olha, tudo o que eu te falei ontem foi e é verdade, eu não tive culpa da
Débora me beijar a força. — Ele diz, me olhando em súplica.
— E um homem de dois metros de altura não consegue impedir uma galinha
de empoleirar nele? Ah, me poupe! — falo com deboche e cruzo meus braços em
meu peito.
— Mais que merda! Eu não a beijei porque eu quis, se quisesse eu faria
isso todos os dias, mas eu não a quero... eu quero você! Qual a parte de que eu
estou apaixonado por você, cê ainda não entendeu? — Ele diz exaltado e cerro
meus olhos em sua direção.
— Evan está dormindo, acho bom que ele não acorde por causa da sua
loucura — alerto.
— É você quem me deixa louco... cabelo de fogo do caramba! — Ele faz
uma pausa, dando um passo para perto de mim. — Você gosta do Antônio, não é?
Por isso não me dá uma chance — diz, e eu acabo rindo. Sim, solto uma
gargalhada.
— Está rindo de que? — Ele pergunta sério, me olhando com indignação.
— Da sua cabeça doida. Quem te falou isso? Eu não gosto do Antônio, ou
melhor, gosto sim... — falo e vejo sua expressão endurecer. — Só que é como
um irmão, Antônio me acolheu desde o dia em que cheguei aqui e se tornou um
grande amigo... então não diga besteiras.
— Então por que não me dá uma chance? Eu posso ser diferente, eu sou
diferente! Juro que não vai se arrepender disso. Eu amo Evan e estou apaixonado
por você... me dá uma chance de fazer vocês felizes, e me fazer feliz também. —
Ele pede e, apesar de tudo, sinto sinceridade em suas palavras.
Continuo olhando para ele e um silêncio pesado recai sobre nós.
— Tudo bem, você quer uma chance? Eu vou te dar essa chance, mas saiba
que vai ser apenas uma... então não me faça se arrepender depois — falo
olhando para ele, que abre um sorriso e se aproxima de mim.
— Eu juro que não vai. — Ele diz ainda sorrindo e seu rosto se aproxima
do meu, mas eu dou um passo para o lado.
— Nada de beijo. Primeiro ganhe minha confiança — falo e me viro de
costas para ele, voltando para cozinha, para tomar meu chá que ficou esquecido.
Observo Adrian se sentar em minha frente na mesa e continuo bebendo meu
chá de mate, pensando se realmente tomei a decisão certa.

— Posso tomar café com você? — Ele pergunta após alguns minutos em
silêncio.
— Claro, mas antes você vai no banheiro lavar essa cara de zumbi e vai
escovar os dentes, pois eu sei que bebeu — falo olhando para ele e pego um pão

de forma, passando maionese.


— Está dizendo que estou com bafo? — Ele pergunta incrédulo.
— Sim — respondo e mordo um pedaço do meu pão.
— Credo! Sua sinceridade ainda vai me enlouquecer. — Ele diz e se
levanta resmungando.

Vejo ele ir até o corredor e entrar na porta do meio, que é o banheiro.


Solto uma risada baixa e termino de comer meu pão. Alguns minutos se
passam e escuto um choro baixo vindo do quarto de Evan. Me levanto para ir até
lá e no mesmo momento Adrian também sai do banheiro.
— Aconteceu alguma coisa com ele? — pergunta preocupado e quase
reviro os olhos, mas acho fofa sua preocupação.

— Ele apenas acordou, Adrian, relaxa! — falo e entro no quarto em frente


ao banheiro, vendo Evan de pé no berço com um biquinho nos lábios.
Adrian vem atrás de mim e quando Evan o vê, abre um sorriso de dentinhos
pequenos.
— Adi... boy! — Ele diz feliz e suas perninhas não ficam mais quietas.
— Oi, ruivinho! — Adrian sorri e me olha como se pedisse uma permissão
para mim e eu concordo com a cabeça.

Ele logo segue até Evan e o pega em seus braços, o enchendo de beijos,
fazendo meu pequeno rir com vontade.
— Aproveita e troca ele — falo e Adrian me olha assustado.

— Eu não sei fazer isso — diz apavorado e Evan deixa um tapinha em seu
rosto, puxando seus cabelos que batem em seu ombro.
— Aprende! Não quer cuidar dele? — pergunto com uma sobrancelha
levantada e ele assente com a cabeça.
— Hum... tudo bem, mas você tem que me ajudar. — Ele diz me olhando e
minha vontade é rir da cara que ele faz. Um homem desse tamanho com medo de
trocar uma fralda.
Pego as coisas para Adrian e peço para ele colocar Evan no trocador. Ele
faz o que eu falo e vai seguindo minhas instruções para poder colocar uma
fralda. Evan se diverte com tudo e isso me deixa feliz por ver meu filho dessa
forma.
— Acho que consegui — Adrian diz sorrindo e eu solto uma gargalhada.
— Acho que não... a fralda está dos avessos, ogro — falo ainda rindo e
afasto ele um pouco. Tiro a fralda de Evan e a coloco novamente, de forma certa.
— Essa é a forma certa — mostro, olhando para ele.
— Eu estou tentando, ok? Nunca fiz isso na vida. — Ele diz e eu pego Evan
em meus braços.
— Ah, jura? Nem havia percebido — debocho dele, que me olha e solta um

bufo irritado.
— Você me irrita, sabia? Deus me livre! — Ele resmunga e sai do quarto
junto comigo.
— Quer desistir? — pergunto, olhando para ele de relance.
— Jamais, cabelo de fogo — responde e reviro meus olhos.
— Não me chame assim. — Aponto para ele e Evan tenta imitar meu gesto,
o que me faz rir.
— Por que, cabelo de fogo? — Adrian me provoca e eu me seguro para não
dar uma mal resposta a ele.
— Porque eu posso mudar de ideia quanto a minha decisão — respondo e
ele para de andar.
— Mas você não vai fazer isso porque também gosta de mim... só é
orgulhoso demais para admitir.
— Acha mesmo? — pergunto olhando para ele, que assente com a cabeça.
— Hum... fica com ele, vou fazer a mamadeira. — Entrego Evan para ele.

Pego o leite de Evan no armário e esquento a água para o preparar.


— Por que o leite dele é diferente?
— Ele tem alergia a certos tipos de leite, antes eu podia o amamentar com
meu leite, mas agora não mais. Então ele toma esse especial, pois leite de vaca e
outros tipos de leite em pó ele é intolerante — explico e pego a água já morna,
colocando na mamadeira e coloco a medida de leite, chacoalhando em seguida
para misturar.
— Isso é grave? — Adrian pergunta, preocupado.
— Sim, ele quase morreu quando ainda não sabíamos. Meu leite havia
secado, então comprei leite de vaca para dar a ele, só que Evan começou a ficar
vermelho e a respiração ficou fraca, foi horrível — conto e entrego a mamadeira
para Evan, que pega com suas mãozinhas e ponha na boca. Ele já consegue
mamar sozinho desde um ano e meio.
— Imagino! E ele tem alergia a mais coisas? Não quero correr o risco de
errar. — Ele fala preocupado e isso mexe comigo. É bom saber que tem mais
alguém que está disposto a fazer tudo pelo meu bem mais precioso.
— Ele não pode tomar Paracetamol, nem Dipirona. De resto ele pode
comer de tudo, menos nozes e morango... ele é super alérgico — respondo e me
sento novamente à mesa, deixando Evan grudar seus dedinhos em minha mão.
— Juro que nunca vou deixá-lo chegar perto dessas coisas — Adrian diz e
sorrio para ele.
— Eu sei — respondo sincero e sinto seu olhar sobre mim.
O silêncio reina ao nosso redor e o único som que escuto é Evan sugando o
bico da mamadeira com avidez. Mantenho meus olhos fixos em meu filho, mas
sinto o olhar de Adrian queimar sobre mim.
— O que acha de um passeio a cavalo mais tarde? Dona Clarisse pode ficar
com Evan. — Adrian diz, quebrando o silêncio, e olho para ele.
— Não sei...
— Vamos, por favor! Eu quero te conhecer melhor e você me prometeu uma
chance — diz me olhando fixamente e isso me faz suspirar.
— Tudo bem — respondo e ele abre um grande sorriso, que me faz sentir
um frio na barriga.

***

Eu me olho no espelho mais uma vez, e me sinto um idiota por estar me


importando tanto com um encontro... Bem, acho que é um encontro.
Solto um suspiro e me jogo na cama, fechando meus olhos em seguida.
— Está fazendo o que aí, que ainda não se arrumou? — escuto a voz
questionadora da minha vó.
— Eu não vou, vó! Nem tenho roupa pra isso — falo e sinto um tapa em
minha perna.
— Não me faça perder a cabeça com você, Castiel. Vocês vão andar de
cavalo e não ir a um desfile de moda! — Ela fala indignada e isso me faz rir.
— Mesmo assim, eu nem tenho botas... nunca usei — reclamo e olho para
ela.
— Não se preocupe, seu crush te mandou um par novinho. — Ela fala e me
mostra uma caixa grande.
— O que a senhora disse? — pergunto, sem prestar muita atenção no que
ela tem em mãos, mas sim no que ela falou há poucos segundos.
— Você é surdo? O seu crush mandou, agora se arrume logo! — Ela manda
e me entrega a caixa, saindo do quarto em seguida.
Como assim minha vó está mais atualizada do que eu?
Suspiro e volto a procurar uma roupa. Acabo vestindo calça jeans simples,
camiseta de algodão e as botas novas que ganhei, e devo confessar... são lindas.
Termino de me arrumar e saio do quarto, vendo Adrian conversando com
minha vó na sala, enquanto observa Evan dormir.
— Vamos? Não quero chegar muito tarde depois — falo, chamando a
atenção dele para mim.
— Claro! Tchau, dona Clarisse! — Adrian diz a minha avó e deixa um beijo

em sua testa.
— Tchau, meus amores... não tenham juízo! — Ela diz e isso me deixa
morto de vergonha.
— Vó! — chamo a sua atenção, mas ela nem liga comigo.
Balanço a cabeça em negação e saio de casa junto com Adrian, encontrando
dois lindos cavalos a nossa espera. Um deles tem o pelo preto, que chega até
brilhar, e o outro me faz apaixonar... ele é ruivo!
— Não vai me dizer que aquele é o meu? — pergunto rindo e aponto para o

animal de pelagem ruiva.


— Pois eu digo, ele é a sua cara — responde e aponta entre nós dois.
— Ah, eu bem vejo isso — falo irônico e reviro meus olhos para ele, mas
achei o cavalo lindo.
Caminho até os cavalos amarrados em uma árvore próxima e acaricio
primeiro o de pelagem preta. Em seguida vou para o de pelagem vermelha e
branca.
— Você é lindo, sabia? — falo com o animal e sinto que ele gosta dos meus
carinhos.
— Quer ajuda para subir nele? — Adrian pergunta, bem perto de mim, e me
arrepio com sua voz próxima.
— Não precisa, eu consigo — respondo.
— Tudo bem, cê que sabe. — Ele diz e solta a corda de seu cavalo, subindo
nele com uma facilidade de dar inveja. Exibido!
Também desfaço o nó da corda do meu cavalo e subo nele, não com tanta
facilidade assim, mas consigo.
Começamos a andar devagar e em completo silêncio, até que resolvo
acabar com isso.
— Vai me levar onde? Acho que já conheço tudo por aqui — falo, olhando
para a paisagem linda e calma ao meu redor.
— Pode apostar que ainda não, ainda há alguns lugares — Adrian diz com
um sorriso e ajeita o chapéu em sua cabeça. “Oh droga! Isso o deixa... Não,
Castiel, mantenha o foco!”
— Exibido! — resmungo e dou comando para o cavalo ir mais rápido.
— Você não viu nada, cabelo de fogo. — Ele diz alto e logo vem atrás de
mim.
Começamos a galopar, e sentir o vento em meu rosto me dá a sensação de
liberdade que me agrada e me deixa em paz.
Adrian me fala para ir mais devagar e o acompanhar até nosso destino. Nos
afastamos bastante da sede da fazenda e ao nosso redor só há vegetação.
Entramos no meio das árvores e então posso escutar o barulho de água caindo.
Abro um sorriso e fico curioso para chegarmos logo. E assim que chegamos ao
nosso destino, fico maravilhado com tudo.
— Uau! Aqui é lindo, Adrian.
— Bem-vindo ao meu lugar secreto. — Ele diz e desce do seu cavalo,
deixando-o livre para pastar na grama que há antes de chegar à linda cachoeira a
nossa frente.
— Seu lugar secreto, é? Então por que me trouxe? — pergunto, olhando
fixamente para ele.
— Quero compartilhar ele com você — diz simples e isso faz meu coração
acelerar.
— Obrigado! — agradeço e ele se aproxima de mim.
Sem ao menos eu dizer nada, Adrian me pega pela cintura e me coloca no
chão em seguida.
— Eu podia fazer isso — falo, mas na verdade até que gostei..., mas ele não
precisa saber.
— Eu só queria ajudar. O cavalo é alto, vai que você caísse quando
descesse? — Ele diz e eu assinto com a cabeça.
— Se tivesse me dito que iriamos vir aqui, não teria vindo de calça jeans
— falo, desviando o assunto, e começo a andar até à beira da cachoeira.
— Entra assim mesmo, aproveita — diz e olho para ele por um segundo,
logo desviando meus olhos.
Noto uma toalha forrada ao chão e uma cesta de piquenique em cima da
mesma.
— O que é aquilo? — aponto a cesta com meu queixo.
— Ah, eu queria fazer algo legal... então pensei em um piquenique à beira
da cachoeira. — Ele responde e coça a nuca, claramente com vergonha.
— Gostei! Já tem um ponto ao seu favor — falo e tiro minhas botas,
deixando meus pés entrar em contato com a grama.
— Isso é bom, já tenho alguma coisa pelo menos. — Ele sorri. — Vamos
comer? Quero conversar mais com você.
— Ok! — falo e nós seguimos até onde está a cesta.
Nos sentamos em cima da toalha e Adrian começa a tirar as coisas da cesta.
Há bolo de cenoura com cobertura de chocolate, suco de laranja, torta de frango
e sanduíche de presunto e queijo.
— Foi minha vó, não foi? — pergunto, apontando para tudo.
— Foi, eu não sei cozinhar. — Adrian ri, e acho bonito o som da sua risada.
“Aff! Foco, Castiel!”
— Já imaginava — falo e ele me olha ofendido. — O quê? Não menti. —
Ele dá risada.
— Você é bem diferente de todas as pessoas que já conheci. Nunca fica por
baixo.
— Não é bem isso, eu apenas não aceito ninguém me rebaixar, ou me achar
menos. Todos nós temos nosso valor e eu sei o meu — respondo sincero.

— Admiro isso em você, apesar de ter querido te enforcar no primeiro dia.


— Ele diz, e é minha vez de rir.
— Então estamos quites, senhor arrogante — respondo e pego um pedaço
de torta de frango, dando uma mordida em seguida.
— Desculpa por aquilo, eu nem sempre fui assim. — Ele diz e o olho com
atenção. — Mas depois que Carolina morreu, eu não tive mais motivos para ser
o mesmo de antes.
— Carolina era sua mulher? — pergunto interessado, quero muito saber
mais sobre ele.
— Sim, nós nos conhecemos na faculdade e ficamos quase dez anos juntos,
até eu estragar tudo. — Ele conta e vejo dor em seu olhar.
— O que quer dizer?
— Há cinco anos atrás, nós descobrimos que íamos ser pais. Saímos para
comemorar e eu, como idiota, fiquei muito bêbado e mesmo assim quis dirigir.
No meio da estrada eu peguei no sono por alguns segundos, mas foi suficiente
para matar minha mulher e meu filho. Quando acordei, dias depois no hospital,
não tinha mais nenhum dos dois. Sabe o sentimento de culpa? Eu o sinto até hoje,
e sei que ainda vou me culpar pelo resto da vida — Adrian conta e me sinto
tocado.
— Não vou dizer que você não tem culpa, pois infelizmente tem sim. Mas
você não queria fazer isso, os amava e tudo foi um acidente. O sentimento de
culpa e perda vai continuar, mas você não pode deixá-los controlarem sua vida...
seja mais forte que isso — falo e sem pensar, toco em sua mão.
— Estou tentando, e devo confessar que Evan e você são os grandes
culpados por essa mudança. — Ele diz e sinto que suas palavras são sinceras.
— Fico feliz por isso — sou sincero e sorrio para ele.
— O que acha de um mergulho? — Ele pergunta e penso por alguns
segundos.
— É... pode ser — respondo e ele logo fica de pé.
Adrian tira o chapéu da cabeça e o coloca na grama. Suas botas também são
eliminadas e ele começa a tirar a camisa.
— Ei! O que está fazendo? — pergunto e posso sentir meu rosto pegando
fogo.
— Vou tomar banho, ué, acha que vou entrar de roupa? — Ele pergunta e
joga a camisa no chão. E para meu desespero ele tira a calça, ficando apenas de

cueca boxer preta.


Tento não focar meus olhos nele, mas é impossível não admirar sua barriga
trincada, seus braços fortes, graças ao trabalho pesado na fazenda, e por fim... o
volume nada pequeno que tem sua cueca.
Desvio meus olhos, me sentindo quente, e enfio um pedaço inteiro de bolo
na boca, tentando me acalmar com a comida.
— Vamos? — Ele pergunta sorrindo e me estende sua mão.
Respiro fundo e pego em sua mão, o acompanhando. Não tenho coragem de
ficar apenas de cueca como ele, então vou de roupa mesmo.
Começamos a entrar na água, sentindo-a morna. Ainda seguro sua mão, até
chegar em um ponto em que a água me cobre até o peito. Adrian ainda continua
bem por ser grande e isso me dá um pouquinho de inveja.
Ele sorri para mim e joga água na minha cara, me deixando indignado.
— Você não fez isso — Falo, olhando para ele que apenas ri.
— Ah, fiz sim!
— Shrek, você me paga! — falo com os olhos cerrado e começamos uma
guerra na água, igual duas crianças.
Nossas risadas se misturam e isso me deixa feliz.
Vejo o sorriso no rosto de Castiel e isso me deixa extremamente feliz. Ele
parece uma criança feliz, bem diferente do homem sério que eu vejo quase todos

os dias. Cas é tão novo, mas já tem uma bagagem tão grande que o fez
amadurecer antes do tempo.
— Está feliz? — pergunto a alguns metros de distância dele, que está calmo
em meio a água.

— É... estou. Fazia tempo que não me divertia. — Ele diz e olha para mim
rapidamente.
— Fico feliz em te proporcionar isso então.
Castiel sorri e volta a boiar na água. Não consigo tirar meus olhos dele, e
me sinto grato por ele ter aceitado vir comigo.

Ficamos mais um tempo na água, até que, um pouco cansados, saímos. Pego
duas toalhas que trouxe e entrego uma a ele, que me agradece. Nos sentamos
novamente na toalha xadrez em cima da grama e eu me deito, vendo as copas das
árvores acima de nós.
— Me conta sobre você — peço sem olhar para ele.
— O que quer saber? — Ele pergunta e viro minha cabeça em sua direção.
— Tudo o que quiser me contar — respondo.

— Tudo bem... Aos dezesseis anos conheci um cara, que eu achava ser meu
príncipe encantado, mas só foi um pesadelo. Acabei engravidando na minha
primeira vez e quando fui contar a ele, achando que ele ficaria ao meu lado, ele
simplesmente me mandou abortar a criança e disse que nunca seria filho dele —
Castiel conta e sinto raiva crescer dentro de mim.
— Que babaca! Se eu ver esse cara um dia, pode apostar que vou dar uma
surra nele — falo com raiva.

— Ele merece mesmo, mas não vale a pena — Castiel responde e seu olhar
fica um pouco perdido. — Acho que o pior nem foi o Alan me virar as costas. O
pior de tudo foi que minha mãe me expulsou de casa sem nem pensar duas vezes.

Ela me disse que não criaria filho de ninguém, mas eu nunca pedi isso. Eu só
queria ter o apoio dela, ter alguém que pudesse me ajudar, pois eu não sabia de
nada e tive que aprender tudo sozinho. — Ele diz e posso sentir a dor em suas
palavras.
— E seu pai? — pergunto e me sento novamente, prestando mais atenção
nele.
— Ele saiu de casa quando eu tinha dez anos para viver com uma amante.
Se o vi depois disso, foi umas duas vezes no máximo e eu sei que ele não me
ajudaria. Um pai que abandona um filho pequeno em casa, não iria ajudar esse
mesmo filho com uma criança na barriga — diz com amargura e isso me deixa
indignado. Sei que meus pais, se ainda estivessem vivos, fariam de tudo por mim
e meus irmãos.
— E por que não veio procurar sua avó?
— Não queria trazer problemas a ela, não queria ser um peso para ninguém.
— Ele faz uma pausa. - Mas graças a Deus eu tenho um irmão que não é de
sangue, mas que Deus colocou em meu caminho. Ângelo me ajudou muito durante
a minha gravidez. Na época, tio Giovani ainda era vivo e me acolheu em sua

casa, até que eu comecei a trabalhar e pude alugar um apartamento pequeno para
mim. Não foi nada fácil, perdi as contas de quantas vezes eu chorei sozinho
durante a noite, mas no final valeu a pena. Quando peguei Evan em meus braços
pela primeira vez, tudo valeu a pena para mim, o amor que eu senti e sinto por
ele, supera absolutamente tudo — diz emocionado, mas há um sorriso em seu
rosto. — Depois que Evan nasceu, minha vó começou a me ajudar também,
sempre me mandando dinheiro e indo me visitar quando podia. Acho que se não
fosse por esses três anjos em minha vida, eu estaria sem rumo. Mas eu também
sei que sempre fiz de tudo por meu filho, sempre pensei apenas nele, e eu
consegui criar ele sozinho até hoje... e sei que consigo fazer isso por muitos anos
ainda.
— Não tenho dúvidas de que consiga isso, Castiel, até porque você é forte e
eu vejo isso — falo e me aproximo dele. — Mas ter alguém com quem contar
também ajuda, e eu quero ser esse alguém. Sei que ainda está machucado com
tudo isso, mas eu quero poder curar suas feridas, assim como você está curando

as minhas mesmo sem saber. Eu prometo que vou esperar o tempo que for, mas
não vou desistir de você — digo, olhando para ele, e pego em sua mão, sentindo
seu toque quente. — Eu não sou esse Alan, e vou te provar isso. Quero ser tudo
aquilo que você e Evan vão precisar, quero muito ser alguém com quem você
possa contar. — Castiel olha para mim e nossos olhares ficam fixos um no outro.
— Eu espero que sim, Adrian. Quando vim para cá, eu não tinha a menor
pretensão de gostar de alguém, mas você desperta algo em mim. Eu ainda tenho
medo de tudo, mas espero não me arrepender de te dar essa chance.
— Não vai... eu prometo! — falo baixo e deixo um beijo em sua testa.
O vejo sorrir e em seguida ele me abraça, o que me deixa surpreso, mas
igualmente feliz por seu gesto. O puxo ainda mais para meus braços e o abraço
apertado.
Ficamos assim por alguns minutos, em completo silêncio, até que nos
separamos.
Voltamos a conversar, mas dessa vez sobre outros tipos de assuntos, mais
leves, e devoramos toda a comida feita por dona Clarisse.
— Tenho um convite para te fazer, mas não se ache demais — diz de
repente.
— Oxe! E por que eu faria isso? — pergunto rindo.
— Você é exibido, simples assim. — Ele diz. — Mas então, meu amigo
Ângelo irá fazer aniversário no próximo sábado e se quiser, pode ir comigo.
— Você quer que eu vá? — pergunto, olhando para ele.
— Para mim, tanto faz. — Ele responde e isso me faz revirar os olhos.
Castiel não deixa passar uma, Deus me livre!
— Já que insiste tanto por mim, eu vou — falo para o irritar.
Ele revira os olhos, mas posso ver um sorrisinho brincar em sua boca.
Esse cabelo de fogo ainda me mata.

***

Voltamos para casa quase no final da tarde, apreciando o pôr do sol.


— Esse cavalo tem nome? — Castiel pergunta, se referindo ao cavalo que
ele está montado.
— Cabelo de fogo — respondo sério, mas ao ver sua cara, solto uma
risada.
— Hahaha! Nossa, estou morrendo de rir, idiota! — Ele diz bravo e eu amo
o deixar assim.
— Desculpa, mas não resisti — falo, ainda rindo, e ele me mostra o dedo
médio. — Que agressivo — provoco.
Ele se irrita ainda mais e sai correndo com o cavalo a minha frente.
— Castiel! — grito por ele e o sigo na mesma velocidade. — Não corra
tanto, ele ainda não está bem treinado — alerto, querendo chamar sua atenção,
mas ele não para.
Castiel nem liga para mim e continua correndo sem olhar para trás.
— Droga! — falo comigo mesmo e faço meu cavalo correr ainda mais até
ele.
Consigo me aproximar dele e quando chego perto o suficiente, passo meu
braço por seu corpo, o tirando do cavalo. Seguro Castiel com força e vejo seu
cavalo sumir a minha frente. Vou parando aos poucos e deixo ele ir para o chão.
— Está doido em correr assim? Você não tem experiência em estar em cima
de um cavalo todos os dias... E se você cai e quebra alguma coisa? — pergunto
irritado e desço também.
— A culpa é sua por me irritar. — Ele diz e toca meu peito com o
indicador. — Você é um ogro, homem das cavernas, que me tira do sério! — fala
irritado.
— Ah, e por isso você quer se matar? — pergunto, olhando sério para ele.
— Quero matar é você... seu neandertal! — Ele diz com raiva e ficamos
ainda mais próximos.
— Duvido que queira isso realmente — falo e coloco minhas mãos em sua
cintura.

— Paga pra ver... e me solta! — Ele diz bravo.


— Eu vou te acalmar...
— Duvido que possa — diz em desafio.
— Não duvide disso, meu amor — falo e em seguida grudo minha boca na
sua.
Penso que ele vai me empurrar e me xingar, mas ao invés disso Castiel
gruda suas mãos em meus cabelos, fazendo meu chapéu cair e me beija com
vontade.
Uma semana depois...

Fecho minha mala em cima da cama e saio do quarto, entrando no quarto de


Evan em seguida. Ele ainda está dormindo e aproveito isso para pegar umas
últimas coisas dele.
Hoje é o aniversário de Angie e nós estamos indo ao seu encontro.

Infelizmente minha avó não vai poder ir, pois está com um problema sério na
coluna e andar de carro por horas não vai ser bom para ela. Então será apenas
Adrian, Evan e eu em uma viagem de cinco horas.
Estando os dois prontos, minutos depois, vamos esperar por Adrian. E ele
não demora para aparecer em minha casa.

— Vó, já estamos indo... a senhora vai ficar bem? — pergunto, olhando


para ela que está deitada no sofá.
— Claro que sim e há várias pessoas aqui também. Não se preocupe, se
divirtam e mande um beijo para Ângelo. — Ela sorri e eu concordo.
— Tudo bem — falo e vou até ela, lhe dando um abraço.
— Vão com Deus, te amo! — Ela diz e eu sorrio, lhe dando um beijo na
bochecha em seguida.

— Também te amo, vó — respondo e dou tchau para ela, saindo de casa.


Adrian vem em minha direção e deixa um beijo em meu rosto e outro em
Evan, que ainda dorme em meu colo.
— Oi! Cadê as malas de vocês?
— Estão na sala — falo e ele assente com a cabeça, entrando em casa logo
depois.
Abro a porta traseira da caminhonete de Adrian e solto uma risada baixa ao

ver uma cadeirinha nova para Evan. Coloco meu filho nela e o prendo direitinho,
deixando-o confortável.
Adrian volta dois minutos depois com nossas malas e as coloca na parte de

trás da caminhonete.
— Obrigado pela cadeirinha, ele nem tinha uma — falo, olhando para ele.
— Não precisa agradecer, faço de tudo pelo conforto do ruivinho. — Ele
diz sorrindo, e eu sorrio junto.
Entramos na caminhonete e logo pegamos a estrada para a capital. Observo
Evan a cada cinco minutos, e estamos em um silêncio confortável. Adrian liga o
rádio e o coloca em um volume baixo para não atrapalhar o sono de Evan.
Nossa viagem é um pouco longa e paramos uma vez no caminho quando
Evan acordou e tive que me sentar ao seu lado no banco de trás.
Chegamos um pouco depois das dez da manhã e seguimos diretamente para
a casa em que Ângelo está morando agora. Encontramos alguns seguranças na
entrada, mas logo fomos liberados para entrar, assim como um carro que vinha
bem atrás de nós.
Vejo Ângelo sair para a frente da casa e já sinto meu peito se apertar de
saudades do meu melhor amigo.
Adrian estaciona o carro e eu saio primeiro, deixando que ele pegue Evan.
Praticamente corro até meu amigo e o envolvo em um abraço apertado,
sentindo um pouco da saudade diminuir.

— Aí que saudade, Cas... parece que faz anos desde a última vez em que
nos vimos — Ângelo diz e sorrio.
— Também estava, maninho... morrendo, na verdade — falo e os olhos de
Ângelo vão para algo atrás de mim. Eu me viro um pouco e vejo Adrian se
aproximar com Evan nos braços.
— Aquele ali, por acaso, é seu Shrek? — Ele pergunta com um grande
sorriso no rosto.
— Não é nada meu... ainda — respondo e vejo o olhar de felicidade que
Ângelo me dá.
— Ainda bem que sabe — diz rindo e me puxa novamente para um outro
abraço.
— Cala boca, Angie! Feliz aniversário, maninho, crie juízo e seja um bom
adulto — falo e ele solta uma risada.
— Obrigado! — Angie agradece e me solta.
Ele se afasta de mim e vai até Adrian, que está com Evan em seu colo.

Assim que meu filho vê seu amado padrinho, estende os bracinhos para ser pego.
— Ti' Angi! — Evan diz e Angie falta morrer de fofura.
— Oi, foguinho, sentiu minha falta? — Ele pergunta e começa a distribuir
beijos pelo rosto de Evan.
— Oi, Ângelo, prazer em conhecê-lo — Adrian diz simpático e aperta a
mão de Angie.
— Prazer em o conhecer também, Adrian... Castiel fala muito bem de você
— Angie diz, claramente uma mentira. ‘Tá, às vezes eu falo bem também... às
vezes.
— Imagino o quanto — Adrian responde e me lança um olhar, mas faço
questão de ignorar.
Angie vai receber duas mulheres que chegaram junto com a gente e nós nos
apresentamos também. Em seguida ele nos leva para dentro, para nos mostrar
nossos quartos.
Entramos na casa e vejo Enzo vindo em nossa direção com um sorriso
contido no rosto. E assim que ele nos vê, seu olhar vai diretamente para Adrian
ao meu lado.
— Adrian? — Enzo pergunta em dúvida.
— Enzo? — Adrian devolve.
— Sim, meu Deus... quanto tempo! — Enzo fala e vai até Adrian, lhe dando
um abraço.
— Cara, eu achei que nunca mais te veria novamente — Adrian diz e olho
para eles sem entender.
— Vocês se conhecem? — Angie faz a pergunta que eu queria fazer.
— Sim, nós estudamos juntos na faculdade — Enzo responde sorrindo.
— Ótimo! Vão tirar o atraso nas fofocas... vou levar o resto para os quartos
— Angie diz sorrindo e rapidamente os dois somem por um corredor com meu
filho.
— Ei! Meu filho! — falo alto, mas Adrian nem se vira. Filho de um bom
pai!
— Perdeu, amore — Angie debocha e mostro língua para ele.
Nós subimos para o segundo andar e Angie mostra primeiro o quarto em
que as meninas vão ficar. Assim que as duas estão instaladas, ele me leva até o
quarto ao lado.
— Fique à vontade, a casa é sua.
O quarto é decorado em tons neutros, possui uma cama de casal e Angie fez
questão de colocar um berço ali também.
— Angie, não precisava do berço... só vamos ficar por um dia, amigo —
falo, olhando para ele.
— Mesmo assim, meu afilhado merece conforto. — Ele diz e eu nego com a
cabeça.
— Evan vai ficar tão minado com você e Adrian — falo suspirando e ele
sorri.
— Essa é a intenção. — Ele pisca para mim.
— E onde Adrian vai dormir? — pergunto e ele sorri com malícia.
— Com você, oras, onde mais seria? — Ele pergunta com falsa inocência.
— Você não fez isso, Angie... eu vou matar você! — falo entredentes.
— Ah, não adianta fingir... sei que gostou. — Ele diz rindo e sai do quarto,
fechando a porta em seguida.
Aí que vontade de matar esse garoto!

***

Passo o dia no spa com Angie, as meninas, Maju e Lucio, que adorei
conhecer. Foi bem legal poder me cuidar um pouco, sem ter que ficar de olho em
Evan a todo instante. Claro que não reclamo em ficar com meu filho, amo isso,
mas às vezes é bom ter um tempo só nosso.
Voltamos para a mansão Miller já no fim da tarde.
Entro no quarto de hóspedes e meus olhos se focam na cena em minha

frente. Adrian dorme na cama e tem Evan dormindo em cima dele, com a cabeça
em seu peito.
Não sei porque, mas sinto uma sensação tão boa vendo essa cena, que me
aquece por dentro.
Fecho a porta novamente e deixo eles dormirem em paz. Sigo para o fim do
corredor e bato na porta do quarto de Angie, logo vendo-a se abrir.
— Está sozinho? — pergunto e ele assente, me dando passagem para entrar.
— Sinto que vou enlouquecer — falo, passando por ele.
— Por que? — Ele pergunta e pega em minha mão, nos guiando até à sacada

do quarto.
— Adrian — respondo e me sento em uma das cadeiras ali, vendo o sol
começar a se por.
— Você está apaixonado, isso é inegável. — Ele diz e isso me deixa mais
aflito.
— Eu sei, Angie, e isso que me apavora. Eu dei uma chance a ele para a
gente se conhecer, mas tenho medo desse sentimento ficar maior.
— Tem medo de ama-lo? — pergunta com calma e eu concordo.
— Sim e sei que sou um covarde por isso — respondo, frustrado.
— Não, você não é! Você foi machucado, Cas, é normal sentir medo de se
entregar novamente. Só que você não pode deixar esse medo controlar sua vida.
— Ele diz e pega em minha mão. — É nítido que Adrian faz de tudo por você, se
dê uma chance de verdade, amigo... não deixe o medo dominar você.
— Estou tentando.
— Não está, não. Você está esperando a primeira oportunidade de correr de
tudo e voltar para sua zona de conforto. Quero que tente de verdade, de
coração... pois essa é sua chance de ser feliz. — Ele diz e sei que está dizendo a
verdade, afinal, Ângelo me conhece mais que ninguém.
— Juro que eu vou, Angie — prometo e abraço meu amigo.

***

Termino de me vestir no banheiro e saio quando já estou pronto. Vejo Evan


em cima da cama, já arrumado, brincando com alguns Legos que ele mais morde.
E vejo Adrian saindo do closet, já pronto também.
Meus olhos se prendem nele, e confesso que ele está lindo. Nunca o havia
visto em trajes mais sociais e isso combina muito com ele. Ainda mais com esses
cabelos longos. Meu Deus!
— Você está lindo, cabelo de fogo — diz com um sorriso e me esforço para
não brigar com ele dessa vez.
— Obrigado! Você não está nada mal também — falo e caminho até Evan,
pegando-o em meus braços.
— Olha... me elogiando. — Ele diz e reviro meus olhos.
— Posso falar que está feio também, não me importo. — Sorrio e vou até a
porta do quarto.
— Credo! Até para elogiar, você é difícil. — Ele diz e isso me faz rir.
Saímos do quarto de hóspedes e seguimos para o salão de festas da casa.
Assim que chegamos à entrada do salão, Adrian coloca sua mão no fim das
minhas costas e seguimos para nossa mesa, junto da família Miller.
Há muitas pessoas aqui que não faço a mínima ideia de quem são, mas não
me importo muito.
Não demorou muito e Angie chegou acompanhado de Enzo, sendo aplaudido
por todos. E só de ver o sorriso no rosto do meu amigo, eu me sinto feliz.
A festa começa e a pista de dança é liberada.
Aproveito bastante a festa e acho lindo o pedido que Enzo faz a Angie.
Adrian ficou sentado a maior parte do tempo, alegando não saber dançar,
até que me cansei disso e puxei ele comigo.
— Você parece um velho — falo por cima da música e ele solta uma risada.
— Pode apostar que não sou velho para outras coisas. — Ele pisca para
mim e desvio meu olhar ao entender o que ele quer dizer, me sentindo com
vergonha.
— Idiota! — resmungo e ele me puxa para mais perto.
— Sou o seu idiota, cabelo de fogo. — Ele sussurra em meu ouvido e em
seguida junta sua boca na minha.
Droga! Por que beijar ele é tão bom?
Passo meus braços por seu pescoço e retribuo seu beijo, sentindo o leve
gosto de vinho em sua boca.
Nos beijamos por um bom tempo... e pelo resto da noite também. Sou jovem
e tenho que saber aproveitar. Já que dei uma chance a ele, tenho que me entregar
de verdade.

***

Saímos da festa já de madrugada com um Evan manhoso em meus braços.


Subimos para nosso quarto e a primeira coisa que fiz, foi dar banho em meu
filho, colocando-o para dormir em seguida.
Pego uma troca de roupa e também tomo banho, tirando a canseira do corpo.
Assim que saio do banheiro, Adrian entra e eu me deito na cama.
Não demora muito e sinto o sono chegar para mim, mas acabo acordando
quando sinto Adrian deitar ao meu lado. Fico um pouco tenso com sua
aproximação, ainda mais quando ele me puxa para perto dele, mas relaxo e me
aconchego ainda mais em seus braços, tendo uma boa noite de sono.
Acordo primeiro que Castiel e aproveito esse tempo para ficar o
observando em silêncio. Ele ter aceitado me dar uma chance me deixou mais que

feliz e prometo honrar com isso, mostrando a ele que sou diferente. Vejo em seus
olhos que ele ainda tem medo, mas quero que aos poucos ele confie em mim e me
aceite de verdade. Claro, eu não sou a melhor pessoa do mundo, mas serei o
melhor para ele e Evan, pois os dois são importantes em minha vida, Evan

principalmente. Esse menininho quebrou todas as barreiras que eu tinha feito em


mim mesmo com os anos.
Por falar no mesmo, escuto um barulho vindo do berço no quarto e quando
olho para lá, vejo Evan sentado com as mãos nos olhos. Sorrio com essa cena
fofa e tiro Castiel dos meus braços, com cuidado para não o acordar. Eu me

levanto da cama e sigo até o berço, pegando Evan que deita sua cabeça em meu
ombro.
— Que preguiça, meu Deus — sussurro e deixo um beijo em seus cabelos
ruivos que tanto amo.
— Mama — Evan resmunga e suas mãozinhas puxam meu cabelo, o que é
bem doloroso.
— Isso dói, ruivinho, não pode — falo com a voz baixa e tiro sua mão do

meu cabelo.
Troco a fralda dele como Castiel me ensinou e depois de escovar os dentes
e fazer um coque no cabelo, saio do quarto com as coisas para fazer a mamadeira
de Evan.
A casa está em completo silêncio, mas também ainda é cedo e a festa de
Ângelo terminou bem tarde.
Uma coisa que gostei bastante foi conhecer Ângelo, agora eu entendo

porque meu cabelo de fogo gosta tanto dele. Angie não para de falar e está
sempre alegre, o que eu acho legal em alguém... apesar de não ser assim.
Outra coisa que me deixou feliz foi reencontrar meu amigo Enzo. Conheci

ele na faculdade de administração e fizemos amizade logo, mesmo ele sendo


fechado. Só que quando terminei o curso, nós acabamos perdendo contato, já que
fui morar novamente no interior para cuidar dos negócios da minha família. Eu
nunca fui de ter muitos amigos, então encontrar ele me deixou satisfeito. Ainda
mais sabendo que Castiel e Ângelo são melhores amigos, acho que vamos ter
bastante oportunidades de nos vermos.
Chego à cozinha e encontro uma senhora de uns sessenta anos, junto com
uma mais nova de uns quarenta. As duas estão concentradas em suas tarefas,
incluindo café da manhã.
— Bom dia! — falo ao entrar no cômodo e sinto Evan agarrar novamente
meu cabelo. “Mas o que esse menino tem com meu cabelo?”
— Bom dia! Posso ajudar em alguma coisa? — A senhora mais velha
pergunta com um sorriso no rosto.
— Sim, por favor! Eu quero fazer a mamadeira dele e preciso esquentar a
água — respondo sorrindo e deixo as coisas de Evan em cima do balcão.
— Pode deixar que eu faço, é só me dizer a quantidade certa. — Ela fala e
pega as coisas no balcão.

— Ah, obrigado — agradeço e digo a ela a quantidade que vejo Castiel e


dona Clarisse fazerem.
Coloco Evan sentado em cima do balcão e deixo alguns beijos em sua
barriga coberta por uma camiseta de pijama. Ele solta risadas gostosas e pega
em meu rosto. Deixo um beijo em sua bochecha e ele imita meu gesto, deixando
um beijo babado em minha bochecha.
— Que delícia! — falo rindo.
— Lícia! — Ele imita, tentando falar o mesmo que eu, me fazendo rir.
— Prontinho! — A senhora fala após alguns minutos e me entrega a
mamadeira dele.
— Obrigado, dona...
— Ana — responde.
— Obrigado então, dona Ana, eu sou o Adrian e esse pequeno é o Evan —
falo sorrindo e o ruivinho pega a mamadeira, colocando na boca em seguida.
— Seu filho é lindo, se parece muito com o outro pai. — Ela diz e isso, de

alguma forma muito boa, me deixa feliz. Mesmo sabendo que Evan não é meu
filho de sangue, eu não tenho coragem de desmentir o que ela diz... até porque, eu
sinto como se Evan fosse realmente uma parte mim, meu filho.
— Obrigado! — agradeço novamente, com um sorriso grande em meu rosto.
— De nada! Eu já vou pôr a mesa, se quiser pode ir comer. — Ela diz e sai
da cozinha.
Espero Evan terminar e quando ele o faz, o coloco no chão e lavo sua
mamadeira.
— Olha quem eu acho perdido — escuto uma voz masculina e quando me
viro, vejo Enzo com um Evan agarrado a sua perna.
— Enzi! Peda! — Evan estende os braços e Enzo faz o que ele pede.
Deixando um beijo em sua bochecha.
— Esse ruivinho ama um colo, Deus me livre — falo rindo e me aproximo
dos dois.
— E você nem gosta, né? Dá para ver que ama o exibir com você — Enzo
diz — Fiquei surpreso por ser você o Shrek de Castiel.
– Ah, então é assim que ele me chama? Bem que ele disse isso uma vez,
mas achei que era só naquele dia – falo, achando graça.
— Ângelo me contou apenas esse apelido carinhoso mesmo. Mas pensa
pelo lado bom... ele é sua Fiona, não? — pergunta rindo e eu vou junto.
— Pelo menos isso. Mas admito que gostei, Castiel é bem criativo — falo e
Enzo me olha com mais atenção.
— Gosta dele, não? — Ele pergunta mais sério agora.
— Muito! Eu achei que depois da Carolina, não iria mais me apaixonar por
ninguém, mas me enganei. Castiel mudou minha vida desde o momento em que
pisou os pés na fazenda — falo sincero.
— Então não o deixe escapar, meu amigo. Sei o quanto ele já sofreu, Castiel
precisa conhecer o amor de verdade... mostre isso a ele, igual Ângelo fez
comigo.
— Farei isso, quero amar Castiel e quero que ele me ame também —
respondo.

***

Sinto meu peito se apertar novamente, só de pensar que ficarei um tempo


sem ver Ângelo. Queria poder o ter novamente morando a poucos metros de
mim, podendo o ter comigo a qualquer momento.
Solto um suspiro e deixo todos se despedirem primeiro, mas infelizmente
chega a minha vez.
— Promete que logo vai me visitar na fazenda? — pergunto, sentindo as
lágrimas se acumular em meus olhos.
— Vou sim, agora que nossos homens são amigos fica mais fácil. — Ele diz
com a intenção de me provocar e reviro meus olhos para ele.
— Você não tem jeito! — falo sorrindo e o abraço.
— Claro que não. Agora eu quero que me prometa dar uma chance a
Adrian. Aquele homem gosta de você de verdade, não deixe sua chance de ser
feliz ir embora — diz baixo e eu concordo com um aceno.
— Eu não vou deixar — respondo e ele sorri.
— Assim que eu gosto — diz rindo e me abraça novamente.
Angie me solta e entro no carro, deixando ele e os outros para trás.
— Nós podemos voltar quando você quiser, e eles também podem passar
alguns dias na fazenda — Adrian fala ao ver eu enxugando meus olhos.
— Obrigado! — Sorrio para ele e encosto minha cabeça no vidro.
Dou uma olhada rápida para Evan no banco de trás e vejo que ele já dorme.
Carro é um santo remédio para as crianças.
— Eu quero tentar — falo de repente e Adrian me olha por um momento,
antes de voltar seus olhos para a estrada.

— Tentar o que? — Ele pergunta confuso.


— Eu disse que te dava uma chance, mas não estava sendo sincero... eu
ainda tinha medo, mas não quero mais deixar esse sentimento me dominar. Eu
quero ter você na minha vida, quero aprender a amar, quero ser amado e quero
dar uma família ao meu filho — solto um suspiro e aperto minhas mãos juntas. —
Eu ainda tenho medo, pois não é algo que eu tenha controle, mas quero mesmo te
dar uma chance de verdade... sem barreiras, sem nada. Eu só peço calma comigo,
pois nunca estive em um relacionamento de verdade. — Termino de dizer tudo e

fecho meus olhos.


O silêncio reina no carro por alguns minutos e isso me deixa nervoso... até
que sinto uma mão se entrelaçar a minha e isso me deixa mais calmo.
Abro meus olhos e percebo que estamos parados no acostamento. Olho para
Adrian e seus olhos estão fixos em mim.
— Ouvir essas palavras vindas de você era tudo que eu queria. Prometo
que vou estar sempre ao seu lado, protegendo você e Evan. Eu vou te mostrar
como é amar de verdade e o medo não vai mais existir. — Ele diz e encosta sua
testa na minha. — Você é importante pra mim, cabelo de fogo... nunca duvide
disso — sussurra e sinto verdade em suas palavras.
— Eu não vou — falo baixo e, pela primeira vez, tomo a iniciativa de o
beijar, mas, diferente das outras vezes, esse beijo está cheio de sentimentos da
minha parte também.
Chegamos na fazenda pouco antes do pôr do sol e tudo o que eu queria fazer
é dormir. A caminhonete de Adrian estaciona em frente à casa da minha vó e isso

me faz soltar um pequeno suspiro.


— Cansado?
— Um pouco, viagens rápidas cansam mais que as outras — respondo e
solto um bocejo.

— Vá descansar então, amanhã tem trabalho cedo. — Ele sorri e eu reviro


os olhos.
— Você é um patrão tão chato — falo para o irritar e solto o cinto de
segurança, abrindo a porta em seguida.
— Como é? — Ele pergunta incrédulo e isso me faz rir.

— Não sabe o significado da palavra chato? — pergunto com falsa


inocência e vejo ele bufar de raiva.
— Você não existe, sabia?! — diz indignado.
— Existo, sim, e preciso que pegue minhas malas... por favor — sorrio de
forma doce a ele e saio do veículo.
Abro a porta traseira e tiro Evan ainda dormindo da cadeirinha. Pego a
bolsa dele e fecho a porta, seguindo para casa.

Abro a porta de casa e não encontro minha avó em nenhum lugar que eu
possa ver, então sigo diretamente para meu quarto. Deixo a bolsa de Evan em
cima da cômoda e deito seu corpo pequeno em minha cama, colocando alguns
travesseiros a sua volta.
Vejo Adrian entrar poucos segundos depois e deixar nossas malas em um
cantinho perto da porta.
— Posso dar um beijo nele, para que eu possa ir? — Ele pergunta acanhado

e nem parece o Adrian de sempre quando se trata de Evan.


— Claro que pode — respondo sorrindo e dou espaço para ele.
Adrian se debruça sobre a cama e deixa um beijo na testa de Evan. Acho

isso tão fofo e fico feliz que meu filho tenha mais alguém que se importe tanto
com ele, como Adrian o faz.
— Eu já vou indo, nos vemos amanhã? — Adrian pergunta quando se
aproxima de mim.
— Claro, Shrek — sorrio e vejo ele cerrar os olhos em minha direção.
— Por que me chama assim? Já sei que não é de hoje. — Ele diz e se
aproxima ainda mais de mim, passando seus braços ao redor da minha cintura.
— Ah... sabe como é, né? Você é um ogro, mas um ogro do bem... igualzinho
ao Shrek — explico e nossos rostos ficam ainda mais próximos.
— Eu sei como é... você também é um príncipe, mas às vezes se transforma
em um ogro. Igualzinho a Fiona. — Ele diz rindo e quando nossas bocas estão a
um centímetro uma da outra, ele me solta, quase me fazendo cair.
— Seu idiota! — soco seu braço, mas ele continua rindo.
— Queria me beijar, é? Calma que eu deixo. — Ele diz e se aproxima de
mim, mas eu desvio.
— Nunca quero beijar você, é você quem sempre me agarra. Agora vai
logo embora, quero dormir. — Tento empurrar ele para fora, mas é quase
impossível fazer isso com essa muralha de músculos na minha frente.

— Nossa, isso é porque é apaixonado por mim, hein? Imagina se não fosse.
— Ele ri ainda mais, sem se mover um centímetro.
— Cala boca, seu cowboy sem graça... agora vai! — aponto para a porta e
ele me olha com uma sobrancelha arqueada.
— Eu vou, mas antes quero uma coisa — fala sorrindo e é minha vez de
arquear uma sobrancelha para ele.
— O quê? — pergunto.
— Isso — Adrian me puxa para perto dele, me roubando um beijo ao qual
eu também retribuo, mas logo o empurro para longe.
— Pronto, agora eu vou! Tchau, cabelo de fogo! — Ele pisca um olho para
mim e sai logo em seguida.
Coloco minha mão em cima do meu peito e posso sentir meu coração
acelerado.
— Que merda esse ogro fez comigo? — pergunto a mim mesmo e solto um
suspiro.

Fecho a porta do meu quarto e troco de roupa, colocando uma mais


confortável. Deixo o quarto um pouco escuro e me deito na cama com minha
pequena preciosidade. Acaricio o rosto macio de Evan e deixo um beijo em sua
bochecha, pegando no sono logo em seguida.

***

Escuto meu despertador tocar no dia seguinte e solto um resmungo, me


virando na cama. Não vejo Evan comigo, então lembro que o coloquei em seu
quarto ontem à noite. Rolo na cama e desligo a merda do alarme, me encolhendo
em meio aos lençóis.
Solto um bocejo e depois de tomar coragem, eu me levanto da cama. Pego
minha toalha pendurada ao lado da porta e abro a mesma em seguida, indo até o
banheiro no corredor. Faço minha higiene matinal e tomo um banho na água
morna.
Saio do banheiro com a toalha na cintura e vou até o quarto de Evan, vendo-
o acordado no berço.
— Papa! — Ele diz com um sorriso que mostra seus pequenos dentinhos
pra mim.
— Oi, meu anjinho ruivo — sorrio e ele estende seus braços para mim.
Pego ele e deixo um beijo em sua bochecha, logo sentindo ele deixar um
beijo babado em mim também.
— Ad... boy! — Evan diz feliz e acabo sorrindo.
— Você quer ver o cowboy Adrian? — pergunto e deixo um beijo em sua
barriga gordinha. Deito Evan no trocador e começo a tirar sua roupa.
— Ad! — diz como uma confirmação.
— Logo vamos vê-lo, projeto de gente — falo e ele solta uma risada
gostosa. — Você é meu projetinho de gente, né? — faço cosquinhas nele.
Pego Evan e o enrolo na toalha, saindo do quarto em seguida.
— Vamos procurar a vovó, ela vai dar banho em você hoje. Não é uma
delícia? — falo e ando até a cozinha, sabendo que vou encontrar dona Clarisse
lá.
— Lícia! — Evan repete.
Entro na cozinha e vejo minha avó acabando de tirar um bolo do forno, o
cheiro está maravilhoso e reconheço ser de milho.
— Oi, vó linda! — falo, chamando sua atenção e ela me olha com uma
sobrancelha erguida.
— Quer o que? — Ela pergunta e coloca o bolo em cima da mesa.
— Credo, vó..., mas quero mesmo! Aqui seu bisneto, a coisa mais linda do
mundo, para a senhora dar banho — sorrio e entrego Evan a ela, que vai rindo.
— Só vou fazer isso porque deixou de ser idiota e deu uma chance ao meu
outro menino. — Ela fala e a olho incrédulo.
— Como é? — pergunto sem acreditar.
— Não se faça de besta, Castiel, já basta o tempo que ficou aí moscando.
— Dona Clarisse diz e deixa a cozinha com Evan, me deixando igual uma estátua
para trás.
Balanço a cabeça em negação e nem tento entender minha avó, que com
certeza não bate bem às vezes... ou sou eu que sou doido mesmo.
Volto para meu quarto e troco de roupa. Depois de pronto, arrumo a bolsa
de Evan e faço a mamadeira dele. Tomo café e dou o leite do meu filho, saindo
com ele de casa logo depois. Deixo-o ir andando um pouco comigo, por isso
leva uma eternidade até chegarmos à casa de Adrian.
Pego Evan no colo quando chegamos na varanda e entro na casa. Sigo até o
escritório, mas não vejo Adrian. Ajeito um cantinho para Evan brincar e deixo
ele entretido com os vários brinquedos que Adrian, bajulador, comprou para ele.
Ligo meu computador e começo a trabalhar. Alguns minutos se passam, até
que vejo a porta se abrir e Maurício passar por ela. Ele me olha por alguns
segundos sem dizer nada, mas se aproxima de mim.

— Adrian pediu para avisar que teve que ir em uma cidade vizinha negociar
com alguns compradores. — Ele fala sem me olhar e acho isso estranho. Na
verdade, ele está estranho comigo há dias.
— Tudo bem — falo e ele começa a sair. — Maurício? — chamo ele, que
se vira e me olha novamente.
— Sim?
— O que aconteceu? Eu te fiz alguma coisa, porque está me ignorando há
dias? — pergunto e me levanto.
— Você tem alguma coisa com o Antônio? — Ele pergunta direto e fico

estático. “De novo isso, Deus? O que esses irmãos tomam na água?”
— Por que essa pergunta? — Encaro ele, que está sério e aperta as mãos
com força.
— Só me responde, caramba! Vocês têm alguma coisa, não tem? Sempre
vejo os dois juntos, conversando, se abraçando. — Ele fala exaltado e só então
começo a entender as coisas.
Eu saio da minha mesa e me aproximo dele.
— Você gosta do Antônio, é isso? — pergunto, mas ele me dá o silêncio em
troca.
— Mau, eu não tenho nada com Antônio a não ser uma bela amizade. Ele é
como um irmão para mim e também não me vê com outros olhos. E se eu
soubesse que era esse o motivo de ter se afastado de mim, eu já teria te contado
há muito tempo — falo e pego em suas mãos. — Seu irmão não falou sobre nós?
— pergunto e ele balança a cabeça em negação.
— Tem alguma coisa a dizer? — Ele pergunta e me olha.
— Resolvi dar uma chance a Adrian, juro que não queria me apaixonar, mas
foi mais forte que eu. Então saiba que eu não estou com Antônio e se você gosta
dele, mostre a ele, não se esconda — falo e ele nega.
— Ele nunca sequer olhou pra mim. Talvez até goste de mulheres, não sei.
— Ele fala e uma lágrima desce por seu rosto.
— Você não vai saber se não tentar — falo sorrindo e puxo meu amigo para
um abraço. — Você é meu amigo, Mau, não quero que se afaste de mim sem antes
saber o que está acontecendo de verdade.
— Me desculpa, fiquei cego pelo ciúmes. — Ele diz e se afasta. — Mas
fico feliz por você e meu irmão, ele merece alguém como você. — Ele sorri para
mim em seguida deixa a sala.
— É... eu também mereço alguém como ele — falo comigo mesmo e olho
para meu filho se divertindo no chão. — Nós merecemos.
O dia se passou bem devagar sem ter Adrian aqui, para que eu pudesse
implicar com ele. Confesso que é uma das coisas que mais gosto... pegar no pé

daquele cowboy que me tira do sério.


Assim que dá o horário do fim do meu expediente, desligo meu computador
de trabalho e depois de organizar mais uma vez os papéis que Adrian tem que
assinar, saio do seu escritório, fechando a porta. Minha avó já foi para casa mais

cedo junto com Evan, então só estamos Maurício e eu aqui, mas ele nem conta
muito, já que passou o dia no quarto.
Saio da casa e encosto a porta atrás de mim, seguindo para a casa da minha
avó. No caminho acabo encontrando Antônio e, aproveitando a oportunidade,
resolvo sondar o ambiente para meu amigo Maurício.

— E então, Tony... já se resolveu com aquela pessoa que você falou esses
dias? — pergunto, olhando de relance para ele e vejo sua expressão murchar.
— Já te disse que nós não daríamos certo, somos de mundos diferentes. —
Ele diz e arqueio uma sobrancelha. Odeio ver pessoas tão boas se
menosprezando.
— O que quer dizer com isso? — pergunto, não deixando minha indignação
transparecer.

— Ele é rico, Cas... lindo e cheio de vida, não deve nem pensar em um
peão pobre igual a mim. Além do mais, ele merece bem mais que um cara que
não sabe se comportar no meio de pessoas do meio dele, e... eu nem sei ler e
escrever. O que alguém vai querer comigo? Um analfabeto? — Ele pergunta com
tristeza na voz e me sinto mal por meu amigo.
Paro de andar e pego na mão de Antônio, fazendo ele olhar para mim.
— Primeiro... ser analfabeto não é vergonha, Antônio, você deve ter tido

seus motivos para tal coisa. Segundo, não pense que você é menos que alguém
apenas por causa da sua conta bancária. E terceiro, jamais se rebaixe dessa
maneira. Você é um homem maravilhoso, qualquer pessoa que seja ao menos

inteligente se apaixonaria por você. Pode ter certeza que se fosse o caso, já
estaria caidinho aos seus pés — falo, rindo na última parte, e ele me acompanha,
o que me deixa um pouco aliviado.
— Obrigado, Cas! Você é o melhor amigo que alguém pode ter. — Ele diz e
isso faz meu ego crescer um pouquinho.
— É... Eu sei! — falo rindo. — Mas agora, me dá um abraço — sorrio e me
aproximo dele, o abraçando com força. — Você é especial, Antônio, e a pessoa
que tem seu coração é bem sortuda. Aliás, quero saber quem é.
Vejo ele ficar um pouco vermelho e percebo que está ponderando se me
conta ou não quem é.
— Ok, mas você tem que me prometer não dizer a ele — Antônio fala e
vejo que está morrendo de vergonha.
— Calma! Eu conheço? — pergunto sorrindo e ele assente. — Então
desembucha, homem!
— É o... — Ele começa, mas sua fala é interrompida.
— Atrapalho alguma coisa? — escuto a voz inconfundível de Adrian e
quando me viro para trás, vejo ele nos olhando com uma expressão séria em seu
rosto.

— Ah, oi! — falo para ele, mas não estou gostando de como ele está me
olhando.
— Senhor D'Ávila — Antônio o cumprimenta e Adrian apenas o olha sem
esboçar qualquer reação, o que me irrita. — Bem... eu já vou indo. — Ele diz
sem jeito e começa a se afastar.
— Ei! Você ainda tem que me dizer quem é a pessoa — falo e me viro para
Antônio, me esquecendo por um instante de Adrian atrás de mim.
— Depois eu te falo... tchau, Cas! Manda um beijo pro Evan. — Ele sorri
pequeno e se vira, seguindo seu caminho.
Fico olhando-o se afastar e quando Antônio some do meu campo de visão,
me viro para Adrian novamente.
— Pode me dizer o porquê de ter tratado Antônio dessa maneira tão hostil?
Seus pais não te deram educação? Ou você gosta mesmo de ser esse cavalo que
sai distribuindo coices? — pergunto com indignação e cruzo meus braços.
— Está tão incomodado pelo modo como eu trato seu amiguinho? Ou ele

deve ser algo a mais? — Ele pergunta e eu não acredito no que meus ouvidos
escutam.
— Como é? — pergunto incrédulo e sinto a raiva crescer dentro de mim.
— Eu chego aqui louco pra ver você e te encontro quase agarrado com
Antônio. — Ele diz sério, como se tivesse algum direito sobre mim e com quem
eu falo.
Solto uma risada sem humor e encaro ele o mais sério possível.
— Eu não sou sua propriedade, Adrian, e não serei nunca. Eu posso falar
com quem eu quiser e você não tem direito de ficar puto com o modo que trato
meus amigos. Sim, Antônio é meu amigo! Se você não sabe a cumplicidade que
traz essa palavra, eu sinto muito por você — falo e dou alguns passos para trás.
— Eu achei que estava fazendo o certo quando te dei uma chance, mas parece
que você não sabe o que isso significa de verdade. Eu já sofri demais para que
eu entre em um relacionamento em que a pessoa não sabe respeitar a outra... eu
não nasci para isso — solto um suspiro e tento manter minha voz firme para as
próximas palavras. — Enquanto você não souber o que significa ter respeito
pelas pessoas, fique bem longe de mim. Eu não sou e nunca serei submisso a
ninguém. — Termino de dizer e viro minhas costas para ele, seguindo para casa.
— Castiel! — Ouço ele me chamar uma vez, mas não me viro para o olhar e
nem espero para que ele se aproxime.
Sinto um peso em meu peito, mas eu não poderia ser diferente. Eu entendo o
ciúmes, acho até bom de uma forma saudável, mas não quando ele ultrapassa
esse limite e machuca as pessoas.
Adrian quis dizer o que? Que eu estava com outra pessoa quando ele não
estava por perto? Que eu sou um qualquer que fica com várias pessoas ao mesmo
tempo, sem me importar para os sentimentos?
Eu posso estar apaixonado por ele, posso sentir uma dor em meu peito por
causa de tudo, mas jamais serei conivente com essas atitudes.
Sinto uma lágrima escorrer por meu rosto e tento a limpar rápido, mas
acaba vindo mais outras para a fazer companhia. Quando chego em casa, sigo
direto para meu quarto, me deitando na cama, deixando que o choro saia
livremente.
Era para ele ser diferente, não?
Escuto passos se aproximando e isso me faz sentar na cama rapidamente e
secar meu rosto. E não demora muito para que eu veja minha avó entrar em meu
quarto, trazendo um Evan sonolento em seu colo.
Ela me olha por um tempo quando nota meus olhos vermelhos, mas não falo
nada e me aproximo dela, pegando meu filho em meus braços.
— Papa! — Ele resmunga manhoso e sua cabeça se deita em meu ombro.
— Estou aqui, meu pequeno anjo — sussurro e balanço meu corpo,
passando minha mão livre por suas costas pequenas, vendo seus olhinhos se
fechar.
O quarto fica em completo silêncio enquanto nino Evan e quando vejo que
ele já está em um sono mais profundo, o deito em minha cama, fazendo uma
barreira de travesseiros ao seu redor.
Eu me deito na cama ao lado dele e solto um suspiro ao constatar que minha
avó ainda está ali ao meu lado, me olhando com atenção.
— Vai me contar o que aconteceu? — Ela pergunta após mais alguns
minutos de completo silêncio entre nós.
— Briguei com Adrian... na verdade, pedi para ele se afastar de mim
enquanto não refletir seus atos — falo e sinto aquela dorzinha no peito ao me
lembrar de tudo.
— E o que ele fez? — Ela me questiona com calma e eu continuo com meus
olhos presos em meu filho.
— Teve uma crise de ciúmes quando me viu conversando com Antônio.
Provavelmente ele nos viu se abraçando e sua mente já criou várias situações
que não são reais — respondo cansado.
— Você não gostou de ele ter ciúmes? — pergunta e desvio meus olhos para
ela.

— O ciúmes não é o problema, vó, o problema é como cada pessoa lida


com ele. E infelizmente Adrian não soube lidar. Se ele chegasse e conversasse
numa boa, mas não... ele chegou me acusando. E ainda tratou Antônio como se
ele fosse pior que uma doença contagiosa.
— Entendo. Você está certo, querido, não podemos aceitar algumas atitudes,
por mais que gostamos da pessoa. Creio que ser conivente com algo que está
errado, só piora tudo. — Ela fala e se levanta em seguida.
— Também penso dessa maneira. Eu não sou submisso a ninguém, vó, e não
vou deixar meus amigos de lado por uma pessoa que não sabe nem o que a

amizade significa — falo e respiro fundo.


— Mas eu espero que ele possa refletir e vocês possam conversar
novamente. Até porque, os poucos defeitos não podem se sobressair as
qualidades. Cabe a nós nos moldar a cada dia que se passa. — Ela sorri e sai do
meu quarto, deixando apenas Evan e eu ali.
Penso um pouco nas palavras da minha avó e me deito melhor na cama.
Fecho meus olhos e suspiro pesadamente, sentindo um vazio dentro de mim que
não me agrada nenhum pouco.

***

Vejo Castiel sumir a minha frente e só então me dou conta da burrada que
acabei de fazer.
— Porra! — exclamo com raiva e me sento no chão, nem me importando se
só há terra e grama abaixo de mim.
Por que eu sempre tenho que estragar tudo? Por que não consigo controlar
meus impulsos?
Droga! Quando eu vi Antônio abraçando Castiel, eu só pude sentir raiva e o
ciúmes me dominou completamente. E naquele momento eu tive medo de estar
perdendo-o. Mas percebi da pior maneira que só estou perdendo-o por causa das
minhas atitudes nada a ver.
Era para eu mostrar a ele que sou diferente, mas infelizmente estou fazendo
tudo de modo errado.
Solto um suspiro e soco o chão com raiva. Me levanto após alguns minutos
e resolvo ir para casa, não vai adiantar eu ir falar com ele agora. Conhecendo
Castiel um pouco, sei que ele deve estar com muita raiva no momento e isso só
vai piorar tudo.
Volto para casa e no caminho vou pensando em alguma forma de consertar
meu erro e fazer com que Castiel não desista de mim.
Assim que entro em casa, vejo as várias garrafas de bebidas no bar no canto
da sala e a vontade de beber é grande, mas sei que isso só vai piorar tudo no
momento. Respirando fundo, passo direto pela sala e subo às escadas para meu
quarto, querendo apenas dormir e no dia seguinte poder ter a chance de fazer
tudo diferente.
Os dias desde que briguei com Adrian se arrastaram completamente de uma
forma lenta e incomoda. Pois é, já se passaram alguns dias... cinco, mais

precisamente. A única vez que Adrian falou comigo depois do episódio, foi para
me avisar que estava novamente indo viajar a negócios. Eu deveria ir com ele,
como ele já havia me explicado, mas acho que devido ao clima, ele pensou
melhor.

Não posso dizer que essa situação toda não me causa uma dor no peito, pois
causa sim, mas eu não podia ter tomado uma atitude diferente da qual tomei. Eu
sou assim, esse é meu jeito, meus ideais, e não posso mudar a minha forma de
ver o mundo.
Eu me levanto da cama em pleno sábado de manhã, não querendo de fato

fazer isso, mas preciso. Solto um bocejo e me sento na cama, coçando meus
olhos em seguida. Minha visão entra em foco poucos segundos depois, assim
como minha audição, e é então que escuto os gritinhos animados de Evan. Sorrio
com isso e me levanto da cama. Pego minha bermuda em cima da cômoda e a
visto em seguida, já que estava apenas de cueca e uma camiseta grande.
Saio do quarto e vou até o banheiro, logo fazendo minha higiene matinal.
Sigo para a sala quando termino e já posso ver meu filho sentado no chão,

cercado por pelúcias e alguns blocos de montar.


Fico parado, olhando meu filho por alguns segundos, e nem parece que ele
já vai fazer dois anos de vida. Parece que foi ontem que peguei ele em meus
braços pela primeira vez e hoje ele já está cada vez maior, o que me causa uma
aflição... quero que ele seja esse bebê para sempre.
— Papa... qui! — Evan fala entusiasmado quando me vê, e parece me
chamar para ir até ele, o que me faz soltar uma risada.

— Já estou indo, projeto de gente — falo ainda rindo e caminho até ele, me
sentando ao seu lado.
Pego alguns blocos de montar e começo a fazer algumas figuras

geométricas. Evan logo larga o boneco que estava brincando e se coloca de pé,
se jogando em cima de mim e passa seus bracinhos por meu pescoço.
— Meu Deus, que abraço mais gostoso! — sorrio e deixo as coisas em
minha mão caírem no chão, para que eu abrace meu filho com o mesmo amor.
Evan solta uma risada gostosa e deixa um beijo todo babado em minha
bochecha, o beijo mais gostoso desse mundo. Mas logo sua energia parece sumir
e vejo ele ficar um pouco tristinho.
— Ei, meu anjo! O que foi? O papai está aqui — falo baixinho e acaricio
seu rostinho.
— Ad boy — Ele diz sem muita animação, como se respondesse minha
pergunta.
— Você está com saudades dele, né? O papai também está — falo baixo e
beijo seus cabelos.
Começo a cantar uma música baixinho e Evan deita sua cabeça em meu
peito. Percebo aos poucos seus olhinhos se fechar e deixo mais um beijo em meu
filho quando a música termina.
Fico alguns minutos ali, sentado no chão com ele, até me levantar e levar
ele para seu quarto. Sei o quanto Evan é apegado à Adrian, então é claro que

vejo que ele está com saudades do Shrek... assim como eu também estou.
Deixo Evan em seu berço e saio do quarto dele, levando a babá eletrônica
comigo.
Assim que entro na cozinha, vejo minha avó sentada, bebendo uma xícara se
chá.
— Bom dia, vó — falo e me sento à mesa.
— Bom dia, querido! Como está? — pergunta e dou um sorriso pequeno a
ela.
— Bem, só estou preocupado com Evan. A senhora sabe o quanto ele é
apegado ao Adrian e nem sei quando ele chega dessa viagem. Era para ter sido
ontem, mas não sei o que aconteceu — falo e não posso mentir que estou um
pouco preocupado com esse fato.
— Logo ele está de volta, não se preocupe.
— Não estou preocupado — respondo e corto um pedaço do pão caseiro

quentinho.
— Até parece! Não nasci ontem, meu amor... já faz uns bons anos que estou
nessa terra. — Ela fala rindo e reviro meus olhos.
Entramos em um silêncio confortável enquanto comíamos. Terminamos
nosso café pouco tempo depois e lavei a louça. Aproveitei que não estava
fazendo nada e fiquei conversando através de mensagens com Ângelo, que está
ficando meio doido com todos os preparativos para o casamento dele.
Quando se aproximou do meio dia, fiz o almoço para dar um descanso a
minha avó e não demorou muito para Evan estar desperto novamente.
Depois do almoço, peguei Evan e me sentei com ele na pequena varanda,
vendo a imensidão verde ao nosso redor. De longe pude ver alguns outros
funcionários da fazenda cuidando do gado, que é a principal fonte de renda dessa
fazenda.
Estava tão distraído conversando com Evan em meu colo, que nem notei
alguém se aproximando de nós.
— Podemos conversar? — escuto a voz grave, que me traz arrepios, e
quando levanto minha cabeça, vejo Adrian parado no último degrau da pequena
escada que dá acesso para a varanda.
Fico olhando para ele por algum tempo em silêncio, ainda processando vê-
lo na minha frente, até que sou interrompido por Evan.
— Adi! — Ele exclama feliz e estende os braços na direção de Adrian, em
um pedido para ir pros braços dele.
Adrian me olha, como se pedisse permissão e eu concordo com um aceno. E
ele não perde tempo, logo vindo até nós e pegando um Evan muito feliz em seus
braços.
— Oi, ruivinho! Estava com saudade de mim? — Ele pergunta com um
sorriso direcionado para Evan, que me aquece por dentro.
Apesar de qualquer coisa, eu vejo o amor entre os dois... vejo o amor que
Adrian tem por meu filho. É nítido ver que ele o considera como se fosse seu e
isso me traz uma sensação estranha, mas ao mesmo tempo muito boa.
— E então, podemos? — Adrian volta a me perguntar.
— Claro — respondo, pois eu quero mesmo falar com ele.
— Podemos dar uma volta? — Ele me olha e a intensidade do seu olhar
sobre mim me causa arrepios.
— Tudo bem — concordo e espero ele ir primeiro.
Caminho em silêncio ao lado de Adrian enquanto ele ainda tem Evan em
seus braços, babando em sua bochecha e exclamando algumas coisas sem o
menor sentido às vezes.
Presto atenção na paisagem que vai se seguindo enquanto andamos, até que
poucos minutos depois chegamos em um lugar que eu ainda não havia ido na
fazenda antes... o campo de rosas brancas.
— Do tempo em que estou aqui, acho que esse é o único lugar que nunca
tinha visto de perto — falo de repente, olhando para a imensidão de rosas que se
estende por metros e mais metros.
— Lindo, não? Meu pai Victor mandou plantar para meu pai Felipe. Ele
fazia de tudo por ele, até plantar rosas que ele não achava muita graça — Adrian
fala e solta uma risada baixa.
— Parece que eles tiveram uma história linda de amor — falo, para não
ficar um clima estranho entre nós. E eu de fato me interesso pela história deles,
me instiga.
— Uma história além da vida, creio eu. Sempre achei lindo os dois e daria
tudo o que eu tenho para ter eles comigo novamente. Eles se foram muito cedo na
minha opinião, mereciam viver muitos anos ainda. — Ele conta e sinto a tristeza
em sua voz.
— Eu sinto muito! Pelo que vejo, eles eram pessoas maravilhosas — falo e
sorrio verdadeiramente para ele.
O silêncio volta a reinar entre nós, só sendo interrompido pelas falas
desconexas de Evan.
— Eu quero te pedir perdão — Adrian começa após algum tempo e isso me
faz olhar para ele. — Me arrependi no instante seguinte e vi que te magoei, assim

como não fui justo com Antônio, eu só fui irracional. Porque sim, eu morro de
medo de perder você e Evan... morro de medo de não ter mais os dois na minha
vida.
— Você só vai me perder por suas atitudes, Adrian, não o contrário. Eu me
apaixonei por você, não por Antônio ou qualquer outro homem — falo sem medir
minhas palavras, pois essa é a verdade.
— Eu sei! — Ele fala e deixa Evan ir para o chão. — Pude pensar bastante
nesses dias e refleti sobre minhas atitudes que foram erradas. Eu sinto ciúmes de

você, mas sei que aquilo não foi uma forma saudável de expressar. E me sinto um
idiota por isso, mas peço que não desista de mim.
— Quando te dei uma chance, foi para que você me mostrasse que é
diferente, Adrian, mas infelizmente algumas atitudes suas me fazem pensar o
contrário. Fazer eu me apaixonar por você foi fácil, mas eu quero, eu preciso
saber, se posso mesmo confiar em você. Se posso me entregar de corpo e alma a
alguém novamente. Uma pessoa que vai me compreender, ser meu amigo, me
amar, e, principalmente, vai me apoiar e não me fará ser submisso as suas
vontades. Eu ter amizade com outros homens, não significa que os quero para
algo a mais. É somente isso, Adrian... amizade — falo, olhando profundamente
em seus olhos.
— Eu juro de verdade que vou mudar, eu estou aos poucos aprendendo com
você e deixando meu jeito bronco de lado, mas não se muda do dia para a noite.
Eu preciso de você ao meu lado, me ajudando e me dando puxões de orelha
quando eu errar novamente. — Ele diz e acabo sorrindo com o que ele diz por
último.
— Não quero que mude seu jeito, Adrian, jamais, pois foi por ele que me
apaixonei. Mas sim suas atitudes retrógradas, apenas isso — respondo sincero.
— Eu vou. — Ele diz e sinto confiança em suas palavras.
— Fico feliz — sorrio e vou até Evan, o pegando em meus braços, já que
ele estava se aproximando muito das rosas cheias de espinhos.
— Ganho um abraço pelo menos? — Adrian pergunta quando me aproximo
dele novamente.
— Sim — sorrio e ele logo vem até mim, me abraçando apertando, tendo
Evan no nosso meio.
— Eu realmente quero ficar com você, Adrian... não me decepciona, por
favor! — peço quando ele se afasta minimamente de mim e encosta sua testa na
minha.
— Eu prometo. — Ele responde e em seguida junta seus lábios nos meus em
um beijo calmo e lento... que é prontamente interrompido por Evan batendo em
nossos rostos.
— Acho que temos um ciumento aqui — Adrian fala rindo quando se afasta
e Evan está com um biquinho em seus pequenos lábios.
— Agora resta saber de quem ele tem ciúmes — falo, entrando na
brincadeira.
Nós rimos e eu me aconchego aos braços de Adrian, tendo ele abraçando
Evan e eu com carinho e amor.
Poder estar numa boa com Castiel novamente me deixa aliviado. Eu sei que
errei com ele e não quero cometer esse deslize de novo. Eu sou bem possessivo

e ciumento sim, mas sei que tenho que aprender a controlar esse lado meu. Mas o
que mais me importa no momento é estar com ele e Evan em meus braços. Eu
sinceramente não sei mais viver sem esses dois na minha vida. Eles se tornaram
tudo para mim em tão pouco tempo, que eu ainda me assusto com a intensidade

desses sentimentos. Eu não tenho dúvidas de que amo Evan como meu filho e
estou começando a amar Castiel também como homem... meu homem.
Eu só estive apaixonado dessa forma uma única vez, que foi por Carolina. E
depois de tudo eu não imaginava sentir isso novamente por alguém, ainda mais
por Castiel. Esse cabelo de fogo que me tira do sério, mas que também me faz

sentir coisas únicas. Quando percebi minha atração por ele, o meu interesse, eu
fiquei relutante no começo, afinal de contas eu nunca havia me envolvido com
outro homem e também ainda havia uma escuridão dentro de mim. Mas eu
percebi uma coisa... quando é algo de verdade, algo que vai te fazer bem, não
importa mais nada a não ser o sentimento que envolve você e essa pessoa. E eu
me sinto feliz por ter aceitado e corrido atrás dele, pois tudo só melhorou depois
que Castiel e meu ruivinho entraram em minha vida. Agora eu posso dizer que

comecei a ser o Adrian de antes, bem, não exatamente, mas quem sabe eu chego
lá?
— O que tanto pensa? — Castiel pergunta e isso me faz sair do meu mundo
imaginário.
— Ah, nada demais. Só estou feliz por estarmos bem novamente — sorrio e
deixo um beijo em seus cabelos cor de fogo.
— Também estou. — Ele diz e vejo um sorriso pequeno em seu rosto.

— O que acha de irmos naquela cachoeira que te levei? Acho que Evan vai
amar tomar banho — sugiro e acaricio os cabelos do ruivinho, que está muito
concentrado em puxar a camiseta de Castiel.

— Mas é longe e não acho seguro nós irmos montados em um cavalo com
Evan. — Ele responde.
— Podemos ir de caminhonete, cabelo de fogo — falo e ele revira os olhos.
— Por que insiste com esse apelido? — Ele pergunta, tentando fingir
irritação.
— Por que insiste em fingir que não gosta? — rebato e ele cerra os olhos
para mim.
— Adi... boy! — Evan nos interrompe, querendo vir para o meu colo e eu o
pego sem reclamar.
— Ei, seu traíra! Está preferindo o colo dele ao meu? — Castiel pergunta,
fingindo indignação para Evan, que apenas solta uma gargalhada e gruda suas
pequenas mãos em meu chapéu, logo o tirando da minha cabeça.
— Fazer o que, né? Ele ama o cowboy aqui — falo convencido e Castiel
me olha com desdém.
— Humm... Eu vou pegar uma troca de roupa para ele, te espero em cinco
minutos na casa da minha avó. Se demorar, eu desisto. — Ele diz e se vira, indo
em direção à casa. E não sei porque, mas tenho a impressão de que ele vai
rebolando só para me provocar.

— Seu pai ainda vai me matar, pequeno ruivo — falo e olho para Evan, que
está alheio ao meu drama. — E eu amo você — sorrio e coloco o chapéu na
cabeça dele, que fica enorme e faz ele rir de alegria.
— Ama! Adi! — Ele diz empolgado e isso me faz sorrir de imediato,
sentindo meu coração explodir de amor por esse pequeno ser.
— Você me ama também, é? Papai fica feliz em ouvir isso — falo e
sussurro a última parte.
Evan apenas sorri e deixa um beijo babado em minha bochecha, o beijo
mais gostoso desse mundo. Deixo esse momento fofo de lado e vou até em casa
pegar minha caminhonete, antes que Castiel desista mesmo de ir a cachoeira.
Aquele ruivo é fogo... literalmente.
***

Meia hora depois já estamos na cachoeira com um Evan eufórico por ver

um monte de água a sua frente.


— Calma, filho, você já vai tomar banho — Castiel fala, tendo um pequeno
ruivo esperneando em seu colo.
— Pode deixar que eu entro com ele primeiro — falo e começo a tirar
minha roupa, ficando apenas de cueca.
Percebo o olhar de Cas sobre meu corpo e isso me faz sorrir de canto,
gostando da atenção dele em mim.
— Gosta do que vê? — pergunto para provocar e ele logo desvia o olhar de
mim.
— Já vi melhores, agora vai lá. — Ele diz superior e me entrega Evan.
— Vamos lá, ruivinho — falo rindo e deixo um beijo em sua barriga
descoberta, fazendo ele gargalhar.
— Agááá... Licía! — Evan diz empolgado e eu rio do seu vocabulário que é
uma fofura de se ouvir.
Ando devagar com Evan em meu colo e logo entramos na água que está um
pouco gelada. Fico em uma parte mais rasa, que não cobre todo meu corpo, para
deixar Evan brincar à vontade enquanto joga água por todos os cantos, inclusive
em meu rosto.
Pouco tempo depois Castiel se junta a nós e isso me faz sentir a sensação de
estar completo. Evan se anima ainda mais quando vê seu pai e nossa festa fica
completa e animada.
Quando já estamos um pouco cansados da água, saímos e Evan logo é
enrolado em uma toalha. Nos sentamos no lençol forrado no chão e pego um
sanduíche que dona Clarisse insistiu para trazer. Cas dá a mamadeira de Evan e
quando ele já está cheio, começa a brincar na areia com algumas coisas que
trouxemos também.
— Tem um parque de diversões na cidade, o que acha de irmos amanhã? —
pergunto e olho para Castiel.
— Sério? Nunca fui em um. — Ele diz com um sorriso pequeno no rosto.
— Então vou ficar feliz em te proporcionar isso — falo sincero e deixo um
beijo rápido em sua boca.
— Obrigado! — Castiel sorri e voltamos a olhar Evan brincando.
Ficamos assim, nesse clima agradável... como uma verdadeira família.
— Papai! — Ouço Evan falar com um sorriso no rosto e sinto meu coração
quase sair do peito quando vejo ele vindo em minha direção.
— O quê? — pergunto baixo e como se para confirmar o que eu parecia
estar imaginando, Evan se joga em meus braços e diz novamente:
— Papai! — Ele fala feliz e eu abraço seu pequeno corpo, sentindo meus
olhos se encherem de lágrimas.
Meio hesitante, olho na direção em que Castiel está e ele nos olha
fixamente, como se analisando algo. Fico com medo dele não gostar disso, mas
sinto alívio quando vejo um sorriso se formar em seu rosto e percebo que é
sincero.
— Você é o pai que ele escolheu. — Ele diz e vejo que em seus olhos
também se formam algumas lágrimas.
Sorrio e abraço Evan mais forte... abraço meu filho mais forte.
— Meu coração também te escolheu... meu filho — sussurro e deixo um
beijo em sua testa, vendo-o sorrir com inocência e amor para mim.

***

Vejo Adrian ainda abraçado com Evan e só posso sentir alegria. No começo
eu sentia muito medo dessa relação entre os dois, mas hoje eu vejo que era
besteira. Esse Shrek ama meu filho, independentemente de qualquer coisa. E sei
que, mesmo nós dois não dando certo juntos, ele não irá o abandonar. Aliás, foi
por Evan que Adrian se apaixonou primeiro e eu só vim depois disso tudo. Então
só posso me sentir grato por ele ver meu filho como dele também. Sei que Evan
precisa de outra presença paterna em sua vida e também sei que Adrian já é um
pai maravilhoso para ele.
— Também quero abraço — falo após um tempo e me junto aos dois, sendo
abraçado por Adrian e ganho um beijo babado em seguida.
Ficamos assim por um tempo, até que Evan se irrita pelo aperto e quer
brincar novamente. Isso me faz rir, já que ele nos proporciona um momento fofo
e depois nos abandona.
Olho para Adrian, que ainda está sentado ao meu lado, e pego em sua mão,
entrelaçando-a na minha. Vejo que ele ainda está com o rosto molhado pelas

lágrimas e eu entendo o quanto esse momento foi único para ele.


— Você está feliz? — pergunto e continuo olhando para ele, que olha para
Evan com adoração.
— Muito! Eu nunca mais pensei que ouviria isso... foi uma sensação tão
boa. — Ele sorri bobamente e eu limpo as lágrimas de seu rosto.
— Eu também estou feliz por isso. Eu sei que no começo quis afastar vocês
por medo, mas hoje eu vejo que era uma besteira. Vocês têm uma ligação incrível
e eu fico grato por ver o seu amor por ele. Sempre fui muito independente e fiz
de tudo por Evan, mas estou feliz que tem mais alguém que também se preocupa
com o bem dele — falo e só então Adrian se vira para me olhar.
— Estou aliviado com isso, também estava com medo de você não gostar
dele me chamar assim. E saiba que eu já o considero meu filho há muito tempo. E
eu faço de tudo por ele... assim como por você também, Castiel. Os dois são
importantes para mim. — Ele diz e posso ver a sinceridade em seu olhar, o que
me deixa com o coração mais leve e contente.
— É muito bom ouvir isso, sabia? Pois apesar de todos os seus e os meus
defeitos, eu sei que isso que estamos tendo é algo verdadeiro e espero que siga
adiante — falo sincero e ele sorri.
— Isso é exatamente o que eu quero também. — Ele fala e solta minha mão,
para pegar sua calça que está jogada a alguns centímetros de nós.
Olho rapidamente para checar Evan e vejo que ele ainda está entretido com
seu baldinho de areia. E quando volto a olhar para Adrian, ele segura uma
caixinha em sua mão direita, o que faz meu coração se acelerar em meu peito.
— Durante minha viagem, eu pensei bastante em meu erro, mas também
tomei a decisão de que se você me aceitasse novamente, eu faria tudo certo.
Então nada melhor do que firmar um compromisso com você. Quero que você
saiba que não é só alguém passageiro em minha vida, você é alguém que eu
quero que fique... de preferência para sempre, mas não vamos apressar as coisas.
— Ele fala e solta uma risada antes de continuar. — Sei que dar uma aliança a
alguém muitas vezes não significa nada, mas quero que saiba que essa tem um
enorme significado, tanto de união, quanto de sentimento. Quando pensei em te
pedir em namoro, eu queria algo especial para dar a você e então lembrei desse
anel. — Adrian então abre a pequena caixa azul, revelando um lindo anel. —
Esse anel era do meu pai Felipe, então você pode imaginar o valor que ele tem
para mim. Quero que aceite ele como um símbolo da minha promessa a você.
Então... você quer ser meu namorado, cabelo de fogo? — Ele pergunta por fim e
sinto que meu coração vai sair pela boca.
Ouvir essas palavras dele foi como ouvir a melhor das canções. Eu sempre
tive medo de me entregar novamente para alguém, mas sinto que com Adrian é
diferente. Sinto que mesmo com nossas brigas, mesmo com nossos defeitos e
erros, nós podemos contar um com o outro. Eu prometi que irei recomeçar
novamente, então nada melhor que fazer isso por completo, com um homem que
eu sei que não vai me enganar e que vai estar ao meu lado e do meu filho, não
importa o que aconteça.
— Claro que sim, Shrek idiota — sorrio e pego em seu rosto, trazendo sua
boca até a minha.
Deixo sua língua invadir minha boca e me entrego ao beijo maravilhoso que
ele me proporciona, em que eu posso sentir que não sou o único a ter sentimentos
crescendo cada vez mais fortes em mim.
— Naaaaaaa! — escutamos um grito zangado e quando nos afastamos,
vemos um Evan com um bico enorme olhando para nós dois.
— Assim não dá, filho... você tem que me deixar beijar o papai — Adrian
diz e sinto um arrepio bom ao ouvir ele chamar Evan de filho.
— Naaa! Me! — Evan responde e isso nos faz rir.
— Tá bom, ruivinho — Adrian fala, mas me beija mais uma vez para o
provocar. “Tão adulto.”
— Não sei porque ele está tão ciumento — falo rindo. — Deve ter
aprendido com você — aponto para Adrian, que me olha ofendido.
— Nunca! Agora... isso aqui é seu. — Ele diz sorrindo e coloca o anel em
meu dedo anelar da mão direita e beija logo em seguida. — Temos uma
promessa, não se esqueça — fala, olhando em meus olhos.
— Não vou — respondo e o abraço com força.
Sinto uma movimentação ao meu lado na cama e logo em seguida uma
pequena mão babada bater de leve em meu rosto. Abro um sorriso e depois meus

olhos, vendo um pequeno ser de cabelos ruivos sobre mim.


— Papa! Mama... — Evan fala e faz um pequeno bico em seus lábios, o
que me faz rir.
— Bom dia para você também, filho. Só pensa em encher a barriga, né,

projeto de gente? — falo sorrindo e pego ele, fazendo seu pequeno corpo ficar
suspenso sobre mim.
— Mama! — Evan repete e eu mordo sua barriga, fazendo ele gargalhar.
— Ok! Não precisa se estressar, já vou fazer seu mama — falo
dramaticamente e ele ri de mim.

Coloco Evan na cama novamente e me levanto em seguida, dando um


ursinho para ele se manter entretido. Pego uma fralda limpa e lenços
umedecidos, voltando para onde ele está. Troco a fralda de Evan e saio do
quarto com ele em seguida.
Solto um bocejo no meio do caminho, por ter acordado relativamente cedo
em pleno domingo. Mas quando se tem um projeto de gente que depende de você,
é impossível se dar ao luxo de dormir até muito tarde.

Chego à cozinha e não encontro minha avó ali. Coloco Evan em seu
cadeirão e começo a preparar o leite dele. Assim que termino, deixo ele pegar a
mamadeira com suas pequenas mãos e vejo ele se esbaldar com seu leite. Sorrio
com isso e começo a preparar uma salada de frutas para mim. Eu me sento ao
lado do meu filho e começo a comer, mas compartilho um pouco de frutas com
ele, que me olha com seus olhos pidões.
Meia hora depois, vejo minha avó passar pela porta da cozinha com uma

cesta cheia de hortaliças.


— Bom dia, meus amores! — Ela sorri quando nos vê e eu retribuo seu
sorriso.

— Bom dia, vó! Estava na horta? — pergunto e deixo o pote já vazio em


cima da mesa, tirando Evan da sua cadeira em seguida.
— Sim, fui pegar alguns temperos para o almoço e umas folhas para a
salada. Afinal, temos convidados hoje. — Ela diz sorridente e coloca a cesta
sobre a pia.
Olho intrigado para minha avó e sei que ela está aprontando alguma coisa.
— Quem são esses convidados? — pergunto com uma sobrancelha
arqueada e solto um gemido dolorido quando as pequenas mãos de Evan se
infiltram em meus cabelos. — Ai, filho, não pode... faça isso com os cabelos do
seu papai — falo e tiro a mão dele da minha cabeça.
— Que coisa feia, Castiel, ensinando isso ao menino. Não foi assim que te
criei — minha avó diz, mas vejo um sorriso divertido no rosto dela.
— O cabelo dele é maior. — Eu me defendo. Além de deixá-lo sexy pra
caramba. “Para Castiel, não pense nele assim!”
— O que deixa você caidinho por ele. — Ela diz e começa a lavar as
verduras dentro da cesta.
— Vó! — repreendo e sinto meu rosto pegar fogo de vergonha.

— Não disse nada demais. — Ela diz cínica. — Mas, mudando de assunto...
como você está com essa história de Evan chamar Adrian de pai também?
— Ah, eu estou feliz... de verdade. Confesso que antes, eu tinha medo da
aproximação deles e do sentimento que Evan já desenvolvia por ele. Mas agora
eu sei que mesmo se nós dois não dermos certo, Adrian vai continuar amando o
Evan. Eu não queria que Adrian assumisse uma responsabilidade que não era sua
por direito, mas eu sei que isso para ele também é importante. E é bom saber que
Evan tem outra pessoa além de mim que o ame e faça de tudo pelo seu bem estar
— respondo e minha avó se aproxima, pegando em minha mão livre, que não está
segurando Evan.
— Eu fico feliz que tenha entendido isso, meu amor. Pois eu vejo que
Adrian é o pai que Evan merece, assim como um companheiro que você também
merece. Tenho certeza que Evan sentirá muito orgulho de vocês no futuro,
principalmente de Adrian, que o acolheu e o amou, mesmo não tendo nenhum

laço de sangue com ele. Mas você sabe que o sangue não importa, pai é quem
cria e família é aquela que te ama acima de tudo. — Ela fala e eu sinto meus
olhos arderem. Afinal de contas, eu sei muito bem que às vezes o nosso sangue
não significa nada.
— Eu sei, vó... é por isso que hoje eu posso me sentir feliz com tudo isso.
Eu nunca tive um pai de verdade, ele me abandonou em todos os momentos. E
quem representou mais esse papel foi o tio Giovani, que não tinha obrigação
alguma, mas me acolheu também — falo com a voz embargada.
— Você sempre terá a mim, meu anjo. E você já está construindo uma nova
família. — Ela diz com doçura e beija minha mão.
Sorrio para ela e abraço meu filho em meu colo, sentindo uma lágrima
descer por meu rosto.
É doloroso pensar na minha família às vezes. Uma mãe que me abandonou
quando mais precisei e nunca me deu o verdadeiro amor, uma irmã que nunca foi
minha amiga e era como se não tivéssemos nenhum laço de irmandade. E um pai
que me deixou ainda pequeno e nunca mais voltou, assim como também me virou
as costas quando o pedi ajuda uma única vez.
Mas, pelo menos, eu também tive pessoas maravilhosas em minha vida.
Minha avó me acolheu desde o princípio, meu melhor amigo/irmão esteve
sempre ao meu lado, me ajudando e dando apoio. E quando tio Giovani ainda era
vivo, ele fez muito mais que meus próprios pais por mim e meu filho.
E agora eu tenho novas pessoas em minha vida, tenho um homem que estou
apaixonado e que também gosta de mim, amigos verdadeiros e a chance de
recomeçar. Talvez minha avó esteja certa e eu esteja mesmo começando uma
nova família para se juntar a que eu já ganhei nesses anos.

***

Termino de me vestir depois de tomar um longo banho relaxante. Acabei


nem sabendo quem virá almoçar com a gente, mas pelo que conheço da minha
avó, deve ser Adrian. Dona Clarisse faz de tudo pra que eu e ele estejamos
sempre juntos.
Abro um sorriso e analiso minha roupa no espelho. Passo perfume e arrumo
meus cabelos. E fazendo isso, meus olhos se vão para o anel em meu dedo. Giro
o anel em meu dedo anelar e sinto meu coração se aquecer novamente ao me
lembrar das palavras de Adrian ontem. Só de saber que esse anel tem um
significado muito grande para ele, me faz me sentir ainda mais especial.
Confesso que não me achava capaz de me apaixonar novamente, mas eu fui.
E tudo graças àquele Shrek, que me faz odiar e amar ele ao mesmo tempo... É,
amar. O que eu sinto por Adrian é bem forte e eu jamais senti isso por alguém,
por isso ainda existe um pequeno medo dentro de mim, mas estou lutando contra
ele a cada dia. Quero poder fortalecer esse sentimento, estando junto com ele.
Quero conhecer Adrian a cada dia mais e ser tudo aquilo que ele precisa, assim
como ele está começando a ser tudo o que eu preciso. Sei que nós dois temos
muitos defeitos ainda, mas com o tempo vamos aprender a nos moldar.
Solto um suspiro e me afasto do espelho, saindo do quarto. Chego à sala e
vejo Evan no meio de vários brinquedos enquanto dança ao som de galinha
pintadinha, que está passando na TV. Sinto meu peito inflar de amor ao ver essa
cena e pego meu celular do bolso, gravando um pequeno vídeo dele. Solto uma
risada baixa e envio o vídeo para Ângelo e Adrian.
Balanço a cabeça e me sento no sofá ainda assistindo Evan, que ao me
notar, sorri para mim.
Meu celular apita com uma mensagem e quando vejo o nome da pessoa,
abro um sorriso.
Maninho ❤ : Oh modeuzo! Que coisa mais fofa da minha vida ����
(12:02)
Você: Eu sei... fui eu que fiz �� (12:02)
Maninho ❤ : Convencido! Estou com saudades e preciso te contar uma
coisa (12:03)

Angie manda a última mensagem e isso me deixa intrigado, mas não tenho
tempo de responder quando vejo um gigante passando pela porta aberta.
— Posso entrar? — Adrian pergunta sorrindo e vejo Maurício bem atrás do
irmão.
— Já entrou — falo para implicar e ele revira os olhos para mim.
— Nossa... que recepção. — Ele fala e termina de adentrar na sala.
— A melhor para o meu amor — falo com ironia e ele solta uma risada.
— Me sinto lisonjeado — Adrian debocha e se aproxima mais de mim.
Eu me levanto do sofá e fico a centímetros dele, o olhando em desafio. Não

demora muito e Adrian me puxa pela cintura, fazendo nossas bocas ficarem
quase grudadas.
— A propósito, amei o vídeo do nosso filho. — Ele diz, me embriagando
com seu hálito de menta e logo depois nossas bocas estão coladas uma na outra.
Eu me deixo levar por seu toque e me agarro mais a ele, mas logo me
lembro de que não estamos sozinhos e me separo dele.
— Wow! Isso foi quente — escuto Maurício dizer e isso me faz empurrar
Adrian para longe de mim e passar as mãos por minha roupa.
Adrian me dá um sorriso de canto de boca e minha vontade é socar sua cara
bonita, que está ainda mais sexy com seus cabelos soltos emoldurando seu rosto
másculo.
— Ei, ruivinho! Não vai me dizer “oi”? — Adrian vai para perto de Evan,
chamando sua atenção, e não demora para Evan estar correndo até ele com
passos desengonçados e se esquecer do resto do mundo.
Puxo Maurício comigo para a cozinha e engatamos em uma conversa com a
minha avó. O almoço logo fica pronto e ele me ajuda a pôr a mesa. E quando
estamos todos nos acomodando na mesa, Antônio aparece na porta com timidez.
— Toni, não sabia que vinha também. Senta aí — falo, sorrindo para meu
amigo.
— Obrigado! — Ele agradece sem graça e se senta ao lado de Maurício.
Percebo que meu amigo falta perder o ar quando Antônio se senta ao seu
lado e acabo rindo com isso. E ao olhar melhor para os dois, vejo que Toni
também tem um pouco das bochechas vermelhas.
Ah, meu Deus! Como não pensei nisso antes? Maurício é a pessoa que ele
gosta.
Essa constatação me faz querer me bater, como pude ser tão tapado? Tá, eu
não tinha como saber, já que nem eles se dão conta de que estão apaixonados um
pelo outro.
— Vocês também vão ao parque de diversões mais tarde? — minha avó
pergunta a Mau e Antônio.
— Ah, não! Não tenho ninguém pra me acompanhar — Maurício responde
com o rosto vermelho de vergonha.
— Você pode ir com a gente — Adrian fala simples. — Sei que ama esses
lugares.
— Ah, não. Não vou segurar vela, deixa o Evan fazer isso para os papais.
— Ele diz rindo.
— Antônio te leva então... não é, meu querido? — minha avó pergunta e o
coitado do meu amigo se engasga com o suco que estava bebendo.
Prendo meus lábios para não rir e observo Maurício bater nas costas de
Antônio, na tentativa de ajudar.
— Eu disse alguma coisa errada? — Dona Clarisse pergunta com a cara
mais cínica que existe e isso me faz querer rir ainda mais.
— Não — Antônio diz quando se recupera, mas ainda está vermelho. — Se
Maurício quiser, eu posso levá-lo. — Ele diz e olha rapidamente para o meu
amigo, que não esconde o sorriso.
— Ah, sim! — Mau fala, tímido.
— Ótimo! Problema resolvido... querem sobremesa? — minha avó sorri e
se levanta da mesa.
O clima no almoço se torna ainda mais leve e vejo a expectativa no olhar
dos meus amigos, o que me deixa feliz.

***

Adrian estaciona em um local reservado aos carros e em seguida descemos


do veículo. Minha mão se entrelaça a dele enquanto Evan está em seu colo, todo
maravilhado com as luzes que vem do parque de diversões.
Compramos nossas entradas e logo já estamos passeando entre as várias
barracas espalhadas pelo local e os brinquedos enormes.
Maurício e Antônio não quiseram vir junto com a gente e eu amei isso, pois
quero que eles tenham um tempo a sós, e quem sabe possam ver o amor que une
os dois.
— Boo! — Evan diz empolgado e aponta para os vários ursos de pelúcia
pendurados em uma barraca de tiro ao alvo.
— Você quer um, ruivinho? — Adrian pergunta sorrindo e beija a bochecha
dele.
— Eu também quero. — Eu me pego falando e isso me faz ficar vermelho
de vergonha.
— Ah, quer? — Adrian pergunta com diversão.
— Não! — respondo e pego Evan de seu colo.
— Mas vou conseguir um pra você também. — Ele responde e pisca um
olho para mim.
Reviro meus olhos e vejo ele ir comprar fichas. Observo Adrian pegar a
arma de pressão e mirar nos alvos com total atenção. E eu não deveria, mas acho
isso tão sexy, ainda mais ele estando usando aquele chapéu de cowboy.
Mas que droga, esse Shrek de uma figa... por que tem que ser tão bonito?

Sem nenhum esforço Adrian consegue atingir todos os alvos e ganha o


primeiro ursinho de pelúcia, fazendo Evan bater palminhas animadas.
— Papai! — Ele diz feliz e isso faz com que eu sorria também.
— É, amor, papai conseguiu. Qual você quer? — Adrian pergunta com
carinho para Evan.
— Chu-chu! — Evan fala como resposta e Adrian olha para ele sem
entender nada.
— O quê? — Ele pergunta e me olha em súplica.
— Pikachu — respondo rindo e aponto para o bichinho amarelo.
— Ah, tá! — Ele responde e vai pegar o urso, o entregando em seguida para
Evan.
— Agora é o seu — Adrian diz convencido e volta a pegar a arma.
Não queria, mas não deixo de sorrir com seu gesto. E não demora muito
para ele conseguir a segunda pelúcia. E para o irritar, eu escolho o Shrek gigante,
deixando para ele carregar enquanto caminhávamos pelo parque.
Depois disso nós fomos em brinquedos no qual Evan poderia participar, e
já um pouco cansados, resolvemos comer alguma coisa.
Estamos agora sentados em uma mesa de uma das barracas de comida,
enquanto devoramos os cachorros-quentes.
Evan está no colo de Adrian e se lambuza com ketchup e maionese.
— Adrian... quanto tempo — escuro uma voz masculina atrás de mim e
Adrian olha para a pessoa com um sorriso contido.
— Alessandro... nem faz tanto tempo. — Ele diz e se levanta para
cumprimentar o homem.
Deixo o lanche sobre o prato de plástico e limpo minha boca, antes de me
virar para ver o tal homem. Mas me arrependo ao fazer isso, pois meus olhos
logo se encontram com uma pessoa que eu pensei que jamais veria novamente.
Os olhos do homem também se prendem em mim e ele abre a boca uma vez,
mas nada sai dela. O que não faz diferença alguma, já que não faço a mínima
questão de ouvir sua voz.
E antes que alguém possa dizer mais alguma coisa, uma outra pessoa se
aproxima para deixar tudo ainda melhor.
— Pai, eu quero ir embora — Débora diz ao homem e seus olhos me olham
como se quisesse me lançar facas. — Cansei dessas pessoas. — Ela continua e
nos olha com nojo, mas ainda vejo raiva quando ela vê Evan nos braços de
Adrian.

Minha cabeça gira e não consigo assimilar muito bem as coisas. Por que
essa cobra acabou de chamar de pai o homem que também é responsável pela
minha existência?
Continuo olhando fixamente para o homem à minha frente, assim como ele
também me retribui um olhar surpreso e cheio de questionamentos. Mas ele não

tem o direito de questionar nada na minha vida, já que não sou eu quem deve
explicações aqui.
Eu me levanto com rapidez da cadeira e me ponho ao lado de Adrian,
levando minha mão a sua e a aperto com força, o que faz ele me olhar em dúvida.

— Castiel... — O homem começa, mas com o olhar que eu lanço em sua


direção, ele para de falar.
— Eu quero ir embora — falo e olho para Adrian que me lança um olhar
preocupado agora.
— Por que? Ainda está cedo, está sentindo alguma coisa? — Ele pergunta e

sua atenção se volta totalmente a mim.


— Raiva... agora vamos — falo sério e pego Evan de seu colo, saindo sem
olhar para trás.
— Cas, espera! — escuto Adrian gritar, mas não paro.
Caminho depressa com Evan em meu colo e após uns cinco minutos, eu
chego até onde a caminhonete de Adrian está estacionada. Solto um palavrão

baixinho, já que a chave está com ele. Frustrado, eu me encosto na porta e ajeito
Evan em meu colo, que resmunga com manha. Olho para ele e vejo seus olhos
pequenos de sono. Deito sua cabeça em meu ombro e começo a me balançar,
tentando fazê-lo dormir enquanto espero o idiota do cowboy aparecer.
Eu estava tão bem com minha nova vida aqui, e então me aparece um
fantasma do passado... uma pessoa que eu não faço a mínima questão de ter sua
presença por perto. E agora mais essa... como Débora pode ser minha irmã? Ela

é bem mais velha do que eu, e eu não consigo encontrar uma explicação para isso
nesse momento. Na verdade, eu queria que esse encontro nunca tivesse
acontecido, queria me ver longe dessas duas pessoas. Assim como quero me ver

longe de todas as pessoas que já me causaram mal ou me abandonaram no


passado.
Saio dos meus pensamentos quando escuto o barulho do alarme sendo
destravado. Olho para o lado e vejo Adrian vindo em nossa direção. Sem dizer
nada, abro a porta traseira e coloco o corpo já adormecido de Evan na
cadeirinha. Fecho a porta com cuidado e logo me sento no banco do carona.
Adrian coloca nossas coisas no banco de trás e toma seu assento no banco do
motorista, dando partida em seguida. Percebo que seu rosto está sério e pelo que
eu conheço, ele não deve ter gostado da forma como sai do parque. Mas eu não
poderia fazer nada, não iria suportar ficar mais tempo na presença daqueles dois.
Nosso caminho para casa é feito em absoluto silêncio e fico aliviado
quando Adrian estaciona em frente à casa da minha avó. Eu me apresso em sair
do carro e pego Evan, entrando em casa em seguida. Sinto Adrian me seguir e
vou para o quarto de Evan.
Deito meu filho em seu berço e tiro os pequenos tênis e a calça jeans,
deixando-o mais confortável. Cubro ele com uma pequena coberta e ligo o ar-
condicionado em uma temperatura que não vá o prejudicar.
Assim que me viro, vejo Adrian me olhando fixamente em silêncio e solto

um suspiro.
— Vai me explicar o que houve? — Ele pergunta após alguns segundos e eu
concordo com um aceno.
Ainda em silêncio, pego em sua mão e saio do quarto de Evan, seguindo
para o meu. Fecho a porta atrás de mim e ligo a babá eletrônica em cima da
cômoda.
— Senta aqui — peço quando estou sentado na cama e sem muita
cerimônia, Adrian também se senta.
— Eu não entendi nada do que aconteceu hoje, Castiel. Você conhece o
Alessandro? — Ele pergunta e posso ver a confusão em seu olhar.
Solto uma risada amarga e aperto minhas mãos juntas, respirando fundo.
— Ele é o meu pai, ou melhor... é apenas o homem responsável por eu
existir — respondo com amargura.
— O quê? Como assim? — vejo que ele não entende muito bem e sei que
deve ser confuso mesmo.

— É isso que ouviu... Alessandro é meu pai — repito e sinto essas palavras
causarem um gosto azedo em minha boca.
— Mas como? Pensei que ele não tivesse mais filhos além da Débora. —
Ele diz e isso me causa ainda mais raiva.
— Ah, tem essa parte também. A cobra é minha irmã... só não sei como.
Débora é mais velha que eu, então ele deveria trair a mãe dela com a minha —
falo e isso me faz sentir ainda mais repulsa por aquele homem.
— Quanto a isso, acho que você vai ficar feliz em saber que ela não é filha
de sangue dele. Ele se casou com a mãe dela quando ela já tinha dez anos —
Adrian diz, mas não... isso não me deixa feliz.
Eu me levanto da cama e caminho até a janela aberta do quarto. Olho para a
escuridão lá fora e sinto a raiva crescer em meu peito, coisa que eu não acho
saudável sentir, mas não consigo evitar.
— Não consigo me sentir feliz e sabe por que? — pergunto, mas não espero
de fato uma resposta sua. — Alessandro preferiu ser pai de uma criança que não
dependia dele, enquanto os filhos dele precisavam. Sabe quantas vezes eu já
chorei porque não tinha pai? Ouvia as piadinhas dos colegas na escola, vi minha
mãe se tornar uma mulher mesquinha e amarga por causa de um homem que não
deu valor a família que tinha — falo e sinto uma lágrima descer por meu rosto,
mas a seco com rapidez.
— Eu sinto muito, Cas — escuto Adrian dizer e sinto ele chegar perto de
mim.
— Não sinta, acho que isso só me fez ser mais forte. Não vou dizer que não
me importo, pois dói sim, mas eu não quero deixar isso se tornar uma fraqueza
— confesso e sinto seu corpo grande abraçar o meu.
— Eu imagino que deve sim doer, e sei que é por isso que você sempre dá o
seu melhor para criar o Evan. — Ele diz e eu assinto.
— Eu quero que meu filho tenha orgulho de mim, quero poder fazer por ele,
aquilo que os meus pais não fizeram e não foram pra mim. — Conto e me viro
para ele. — Quando fui expulso pela minha mãe, a primeira pessoa para quem eu
fui pedir ajuda foi ele. Sabe o que Alessandro me disse? — pergunto e ele nega
com cabeça, olhando fixamente em meus olhos. — “O problema é seu, não posso
fazer nada por você” ... e desligou o telefone na minha cara. Naquele dia eu jurei
que ele não fazia mais parte da minha vida, na verdade, ele já não fazia há muito
tempo. Só que então ele aparece aqui, bem quando eu estou recomeçando e traz
os fantasmas do passado junto — falo e sinto meus olhos arderem pelas lágrimas
de raiva que querem cair.
— Eu não imagino a dor que você passou, ainda mais estando grávido e
precisando de alguém para o amparar. Só que agora você tem muitas pessoas por
você, inclusive eu, que vou estar aqui para o que você precisar. Sei que o
fantasma do abandono ainda ronda você, mas eu jamais vou te deixar. E sabe por
que? — Ele pergunta e segura meu rosto em suas mãos.
— Não — sussurro e nossos corpos se aproximam ainda mais.
— Porque você e Evan se tornaram uma razão para eu viver. E porque eu
amo você. — Ele diz e sinto o ar fugir dos meus pulmões por alguns segundos.
— Adrian... — falo, desnorteado, e levo minhas mãos até as suas que estão
em meu rosto.
— Eu amo seu jeito teimoso, amo o jeito como me desafia, amo seu amor
pelo nosso filho, amo sua força... eu amo tudo em você, Castiel. — Ele diz em
tom baixo e encosta sua testa na minha.
Sinto meu coração acelerar em meu peito e as batidas se tornam frenéticas.
Sinto tantas coisas nesse momento, tantos sentimentos passam pelo meu peito,
mas o que prevalece é o de gratidão e amor.
— Eu também amo você, e tinha medo de admitir isso. Mas hoje eu sei que
é o certo... É certo amar você — falo e sorrio, sentindo sua respiração se
misturar a minha nesse momento.
— Você não imagina o quanto é bom ouvir isso. Eu pensei que jamais
amaria novamente, mas você chegou e mudou tudo por aqui... e em mim. —
Adrian solta uma pequena risada e suas mãos descem para minha cintura. — Eu
te amo, cabelo de fogo — sussurra com a boca a centímetros da minha e isso me

faz rir.
Talvez eu goste desse apelido.
— Amo você, Shrek — respondo, também em um sussurro, e a próxima
coisa que eu sinto é a sua boca na minha.
Passo meus braços por seu pescoço e me entrego ao nosso beijo, podendo
sentir nele que todas as palavras de Adrian foram verdadeiras.
Ainda tenho Castiel em meus braços e não poderia estar me sentindo mais
aquecido nesse momento. Poder dizer que o amo foi libertador e muito bom... e

ouvi-lo dizer o mesmo foi maravilhoso também. Depois que Carolina morreu, eu
achei que jamais amaria alguém novamente, mas Castiel chegou para transformar
tudo e mudar muitas coisas em mim. E hoje, eu não me imagino mais sem ele
perto de mim, implicando comigo ou simplesmente sorrindo pra mim. Evan

também é uma peça fundamental nessa história. Aquele pequeno ser já se tornou
tudo pra mim, ele é uma parte minha, mesmo que não tenha meu sangue em suas
veias. Mas há uma coisa mais importante entre nós... existe amor e nada supera
isso. Evan me escolheu para ser pai dele, assim como eu o escolhi para ser meu
filho.

E pensar nisso me faz lembrar de Alessandro. Ainda não me caiu a ficha de


que ele é pai de Castiel. Como ele pôde virar as costas para o filho de uma
maneira tão cruel? Com certeza esse Alessandro que eu conheço não é o mesmo
que foi pai de Castiel. Sempre vi ele sendo carinhoso com Débora, a tratando
como uma boneca de porcelana. Enquanto quem realmente precisava dele, ele
não dava a mínima. Minha visão desse homem mudou completamente, e espero
que ele não apareça na minha frente tão cedo, pois sou capaz de quebrar a cara

de pau que ele tem. Não admito que façam mal aos meus dois cabelos de fogo.
Evan e Castiel são minha vida e não vou deixar mais ninguém machucar os bens
mais preciosos que conquistei em minha vida.
Escuto Castiel soltar um bocejo alto e isso me faz sair dos meus
pensamentos e voltar minha atenção para ele. Vejo seus olhos pequenos e sua
expressão denúncia o cansaço.
— Acho que já está na hora de eu ir embora — falo com um sorriso

pequeno e deixo um selinho demorado em sua boca.


— Ah não, está tão gostoso aqui. — Ele fala com manha e se aconchega
mais em meus braços. Meu cabelo de fogo também sabe ser fofo.

— Está mesmo, mas você está com sono, amor — falo e vejo ele abrir um
sorrisinho quando eu o chamo de amor.
— Dorme aqui comigo. — Ele diz e isso me pega um pouco de surpresa.
“Cadê meu Castiel?”
— Eu? Dormir aqui? — pergunto pra ter certeza e ele resmunga.
— Não, minha vó! — Ele responde do jeito de sempre. “Ah, ele voltou!”
— Nossa, que romântico — falo com deboche e ele se afasta do meu peito,
para me olhar.
— O melhor para o meu amor. — Ele diz com graça e reviro meus olhos.
Sorrio de lado para ele e volto a trazê-lo para perto de mim novamente.
Subo uma das minhas mãos até o seu cabelo ruivo e acaricio os fios, até eu
abaixar minha boca na direção do seu ouvido.
— Já que insiste tanto, eu fico — sussurro em seu ouvido e deixo uma
mordida em sua orelha. Vejo os pelos do seu pescoço se arrepiarem e isso me
deixa sorrindo em vitória.
— Idiota! — Ele fala assim que se recupera e se afasta de mim.
Solto uma risada baixa e mando um beijo para ele.

— Mas sério agora... sua avó não se importa que eu durma aqui? —
pergunto preocupado, pois não quero desrespeitar Castiel e nem sua avó.
— Adrian, eu já tenho dezoito anos e pode ter certeza de uma coisa... dona
Clarisse não se importa nenhum pouco com isso. Acha que ela deu um quarto
somente para o Evan por quê? — Ele pergunta rindo e começa a tirar os tênis.
— Pra dormir — respondo com graça.
— Humrum! — Ele resmunga e vai até a cômoda e pega uma muda de
roupa. — Vou tomar banho, fica à vontade. — Cas diz e sai do quarto em
seguida.
Acompanho ele com meus olhos, até ele sumir e solto um suspiro. Tiro
minhas botas e me sento na cama.
Não esperava esse convite de Castiel, pois eu sei o quanto ele ainda tem
dificuldade em confiar nas pessoas. E quem não teria depois de tudo o que ele
passou? Mas confesso que gostei disso, vai ser bom poder dormir sentindo seu
calor. Pois eu sei que é isso que vamos fazer... dormir. Tenho a plena consciência

de que ele ainda não está pronto para algo a mais e hoje também não é o
momento. Ainda mais depois das últimas emoções que tivemos.
Fico imerso em meus pensamentos por um tempo, até que Castiel volta para
o quarto usando apenas uma camiseta enorme. Ok! Eu sei que não vai acontecer
nada hoje, mas assim fica difícil, Deus.
Castiel é o primeiro e único homem com quem já tive um relacionamento e
nunca pensei que poderia achar um homem tão sexy dessa forma. Eu nunca fui
muito ligado nesse negócio de ser hetero ou gay, apenas quis ficar com quem me
interessasse. E Castiel me conquistou desde o primeiro momento, e agora ele
está me fazendo quase ter um infarto o vendo dessa forma.
Sua pele branca está exposta e posso ver que é muito macia. Suas coxas
grossas me chamam e o cheiro de hidratante que emana dele é mais que
convidativo.
Sinto um desconforto em meio às minhas pernas e pego o travesseiro mais
próximo, o colocando em cima do meu colo. Acho que Castiel não precisa ver
minha ereção nesse momento. “Caralho! Ele com certeza fez isso pra me
provocar.”
— Está tudo bem? — Cas pergunta e isso me faz olhar para ele, vendo que
um mínimo sorriso se abre em seu rosto. “Ah, ele ainda vai me pagar.”
— Estou ótimo! Podemos dormir? Nossa, bateu um sono — falo e finjo um
bocejo.
— Claro! — Ele responde e deixa a toalha que usou para secar o cabelo
pendurada na cadeira que fica ao lado da cômoda.
Ele anda alguns passos e vai até a janela, fechar as cortinas. Mas assim que
se vira, esbarra no abajur e deixa o objeto cair no chão em um baque surdo. O
problema nem é esse, o problema é ele se abaixando para pegar o abajur
enquanto empina a bunda na minha direção.
Parece que demora uma eternidade para ele pegar o objeto do chão e voltar
a posição normal, e enquanto isso eu tenho um caso de bolas azuis.
— Vamos dormir. — Ele se vira sorrindo e me olha com cinismo.
Sem dizer nada, eu me levanto e deixo o travesseiro na cama. Saio do
quarto e vou até o banheiro, permanecendo lá até a minha situação melhorar. Eu
me recuso a me aliviar por uma situação dessas.
Quando volto para o quarto minutos depois, encontro Cas já deitado. Ele me
lança um sorriso e me chama com um dedo. Balanço a cabeça em negação e tiro
minha camisa, ficando apenas de calça jeans. Ando a passos lentos até a cama e
me deito ao seu lado, trazendo-o para perto de mim.
Castiel passa um braço por meu corpo e se deita com a cabeça no meu
peito.
— Quando chegar a hora, você vai me pagar pela provocação... diabinho —
falo com a voz baixa e deixo um beijo em seus cabelos.
Castiel não me responde, mas posso sentir quando ele sorri em meu peito. E
assim, logo pegamos no sono.

***

Acordo sentindo um aperto forte em minha cintura e abro um sorriso por


saber quem está comigo. Não sei de onde tirei coragem para chamar Adrian para
dormir aqui, mas confesso que amei ter dormido em seus braços. Eu precisava

disso depois da noite cheia de emoções de ontem. E confesso que amei provocar
ele um pouquinho antes de dormir.
Abro meus olhos e me surpreendo ao ver um par de belos olhos azuis me
olhando fixamente. Sinto um arrepio gostoso passar por meu corpo e isso me faz
sorrir. Olhar para Adrian me traz tantas coisas boas, assim como me traz vontade
também... principalmente ao ver esse cabelo dele todo bagunçado.
— Bom dia, Shrek — falo com a voz um pouco rouca pelo sono e vejo ele
sorrir.
— Bom dia, cabelo de fogo! — Ele responde e confesso que estou
começando a gostar desse apelido, mas ele não precisa saber... por isso eu
reviro meus olhos só para não sair da rotina.
— Já disse que odeio esse apelido? — implico com ele e me sento na
cama.
— Sim e eu não estou nem aí. — Adrian responde com graça e me puxa
para ele novamente, o que me faz cair deitado por cima de seu corpo.
— Idiota! — falo e deixo um soco fraco em seu peito, mas ao invés de falar
alguma coisa, ele apenas pega meu rosto e gruda sua boca na minha.

Eu me entrego ao beijo e nem me importo que acabamos de acordar...


continua gostoso do mesmo jeito. Sinto as mãos de Adrian passar por meu corpo
e de repente tudo começa a ficar quente ao meu redor. Mas o encanto se acaba
logo.
— Ora, não sabia que tínhamos hóspede hoje — escuto a voz da minha avó
e isso me faz sair de cima de Adrian mais rápido que o Flash.
— Vó! Cadê minha privacidade? — pergunto e sinto meu rosto esquentar.
Vou parecer um pimentão daqui a pouco.
— Acabou no momento em que seu lindo filho fez coco... presente pra
vocês! — Ela sorri e coloca Evan na cama, o que faz ele engatinhar sorridente
até nós dois.
— A senhora não podia limpar? — pergunto e a vejo sorrir.
— Preguiça, amor... achei melhor os papais cuidarem dele. — Ela pisca um
olho e sai do quarto em seguida.
— Papai! — Evan diz animado e se joga nos braços de Adrian que
sorrindo pega ele, mas logo faz uma careta.
— Meu Deus, ruivinho! O que você andou comendo? — Ele pergunta com
uma careta de nojo e isso faz Evan gargalhar.
Rio dos dois e me aproximo de Evan, mas me arrependo ao sentir o cheiro
que vem dele.
— Filho, que horror! Acho que nem os urubus te querem — falo e Evan
continua rindo sem parar.
Sinto o olhar de Adrian sobre mim e isso me faz levantar e balançar a
cabeça em negação.
— Nem me olha com essa cara, vai lá, papai... limpar a bundinha do seu
ruivinho — sorrio para ele.
— Você é mau. — Ele diz e forma um bico pequeno.
— Jamais, eu amo vocês — falo e saio do quarto, deixando os dois para
trás.
Ainda escuto os resmungos de Adrian e isso me faz rir mais ainda.

***

Uma semana depois...


Os dias se passaram rápido desde o dia no parque e eu agradeço a Deus por
Alessandro não ter dado as caras por aqui. Eu contei tudo a minha avó e ela me
confessou que já sabia que ele morava aqui, mas não quis me contar para não me
chatear. Admito que não gostei de ela ter me escondido isso e fiquei um tempinho
sem falar com ela, mas agora tudo está normal novamente entre nós dois.
— Um beijo pelos seus pensamentos — escuto uma voz rouca em meu
ouvido e isso me faz dar um pulinho no sofá.
— Que susto! — falo com a mão no peito.
—Desculpa amor, mas vim te fazer um convite. — Adrian fala sorrindo e
se senta ao meu lado.
— Que convite? — pergunto e deito minha cabeça em seu ombro.
— Aceita jantar comigo hoje? — pergunta e eu me viro um pouco para vê-
lo melhor.
— Tipo um encontro? — pergunto rindo e não sei porque, mas sinto
borboletas em meu estômago.
— É... tipo isso. Acho que pulamos essa etapa — fala rindo.
— Ok então, só aviso que quero tudo o que tenho direito — aviso e ele
balança a cabeça em negação.
— Tão exigente. — Ele resmunga, mas em seguida me puxa para um beijo.

***
Pego meu celular e vejo que já são 19hr, coloco o aparelho em meu bolso e
seco minhas mãos suadas na calça jeans que estou usando. Adrian e eu já somos
namorados, mas estou me sentindo um idiota nesse momento e não sei porque.
Solto um suspiro e saio do quarto, depois de dar mais uma olhada para o
espelho. Assim que chego na sala, vejo minha avó assistindo um filme antigo
enquanto tem Evan nos braços, dormindo.
Olho pro meu filho mais um tempo e penso se vou ou não ao jantar. Evan
passou o dia enjoado e com febre, o que deixou ele inquieto.
— A febre passou? — pergunto e me sento ao lado dela, passando minhas
mãos no cabelo dele.
— Já sim, não se preocupe e vá curtir seu jantar. Eu já cuidei de muita
criança.
— Ok, mas a senhora vai me ligar se alguma coisa acontecer — falo e ela
assente com a cabeça, mas sei que ela não vai fazer isso por qualquer coisa.
Eu me encosto no sofá e não se passam nem dois minutos, até Adrian
aparecer. Ele cumprimenta minha vó e deixa um beijo na cabeça de Evan.
E logo estamos saindo de casa, a mão de Adrian se entrelaça a minha por

um momento e sorrio para ele. Entramos em sua caminhonete e em poucos


segundos ela está em movimento, mas estranho o caminho que Adrian toma.
— Pensei que fossemos jantar — falo a ele, vendo o carro seguir por uma
estrada por dentro da fazenda.
— E vamos, mas será em um lugar especial. — Ele responde com um
sorriso sapeca no rosto.
Mesmo curioso, eu fico em silêncio pelo caminho e deixo ele nos levar até
onde quer.
Não sei quanto tempo exatamente se passa, mas em algum momento meus
olhos ficam impressionados com a imagem que eu vejo através do vidro do
carro. O veículo para e Adrian desce, vindo abrir minha porta.
— Espero que goste. — Ele fala, assim que me ajuda a descer.
— Isso é lindo, Adrian! — falo maravilhado, olhando para a espécie de
monte que estamos.
As luzes vêm de pequenas velas espalhadas pelo chão e pequenas luzinhas
penduradas nas árvores. Vejo um cobertor aberto no chão com várias almofadas
por cima e a alguns metros de distância há uma mesa de jantar montada, bem
abaixo de uma árvore completamente iluminada.
— Uau! Você fez tudo sozinho? — pergunto impressionado e ele me olha um
pouco envergonhado.
— Ah, não! Maurício me ajudou um pouco — responde e coça a nuca.
— Obrigado por ter pensando em mim dessa forma, eu adorei tudo — falo e
pego em sua mão, deixando um beijo na mesma.
— Sempre farei o melhor para você — Adrian responde e deixa um beijo
em minha testa.
Sorrio e abraço seu corpo com força, me sentindo muito amado e querido
nesse momento.
Após alguns minutos apenas abraçados, Adrian nos guia até a mesa posta e
afasta a cadeira para mim. Nos sentamos e em seguida ele tira as tampas das
panelas de barro em cima da mesa.
O cheiro de strogonoff de frango chega ao meu nariz e sinto meu estômago
reclamar de fome.
— Sua vó que fez. — Ele diz, rindo.
— Reconheci o cheiro — respondo, também rindo.

Adrian nos serve com strogonoff, arroz branco, batata palha e salada
tropical. Não perdemos muito tempo e atacamos a comida a nossa frente.
— Humm... por que não me disse que Evan vai fazer aniversário em breve?
— Ele pergunta após alguns minutos e se serve mais uma vez.
— Foram tantas coisas que acabei esquecendo, mas temos sempre a minha
avó para lembrar — falo irônico.
— Ela é minha salvadora. — Adrian brinca e reviro meus olhos.
— Sei... — falo e afasto o prato vazio de mim.
— O que acha de fazermos uma festinha para ele? Seria muito bom e eu iria
adorar participar de um momento como esse na vida dele. — Ele propõe e vejo
que seus olhos transmitem um brilho quando fala.
— Pode ser, mas não quero nada extravagante — aviso e ele assente com a
cabeça.
— Ok, prometo! - Ele responde, mas não sinto firmeza em suas palavras.

***

Eu me encontro agora deitado nos braços de Adrian, no cobertor aberto no


chão. Seus dedos acariciam meu cabelo e sinto calma com isso. Nunca me senti
tão bem assim com uma pessoa... eu posso realmente me esquecer de todas as
coisas ruins quando estou com ele.
Sorrio com meus pensamentos e me viro nos braços de Adrian, ficando por
cima de seu corpo. Vejo ele me olhar com surpresa e me sento em cima de seu
quadril.
— O que está fazendo, diabinho? — Ele pergunta com a respiração um
pouco ofegante.
— Você não disse que iria me fazer pagar por aquela provocação? Quero
meu castigo agora — falo com um sorriso e ele me olha fixamente.

— Castiel... não brinca comigo. — Ele alerta e para o provocar, rebolo em


seu colo.

— Eu quero você, Adrian, quero agora — falo com minha boca a


centímetros da sua.

— Ah, meu diabinho! — Ele fala como um rosnado e logo suas mãos
grandes me seguram com firmeza e me leva mais próximo a ele.
Nossas bocas se encontram em um beijo voraz e totalmente apaixonado. Há
uma batalha entre nossas línguas, como se alguém quisesse assumir o poder.

Agarro os cabelos grandes de Adrian e adoro sentir a textura deles em meus


dedos enquanto eu os aperto. Suas mãos descem por meu corpo e as sinto apertar

minha bunda com força, o que me faz gemer em sua boca.


— Me fala que trouxe camisinha — peço, ainda com nossas bocas

próximas.
— Talvez eu tenha vindo preparado. — Ele fala com um sorriso malicioso

no rosto e isso me faz voltar a beijá-lo.


Passo minhas mãos por de baixo de sua camiseta e começo a subir ela por

seu corpo, podendo sentir seus gominhos perfeitos da barriga. Nossas bocas se
afastam novamente, para que eu possa passar a camiseta por sua cabeça.

Meus olhos se prendem na imagem de Adrian sem nada cobrindo seu tronco
e sinto minha boca salivar por ele. Deixo minha boca se aproximar de seu

mamilo durinho e passo minha língua pelo mesmo, ouvindo-o gemer. Suas mãos
aumentam o aperto em minhas nádegas e isso me faz balançar em seu colo,

friccionando nossos corpos em uma doce sensação.


— Você está com roupas demais. — Ele geme e me faz tirar a boca dele.

— Então tira elas pra mim — peço e sinto ele ficar cada vez mais duro em
baixo de mim.

— Com prazer, amor — Adrian diz rouco e nos vira no cobertor, ficando
por cima de mim.
Logo suas mãos grandes e calejadas estão passeando por meu corpo, me
despindo de todas as peças de roupa. Sua boca também começa a brincar comigo

e quando sinto ele lamber meu membro, solto um suspiro de contentamento e


levo minhas mãos ao seu cabelo. Ele ri, mas logo se ocupa em me colocar inteiro

em sua boca e me chupar com vontade. Não seguro meus gemidos e aperto o
cobertor com força, tentando conter todas as sensações que se apossa de mim.

Estou prestes a gozar em sua boca, mas Adrian para de me chupar e isso me
faz querer xingá-lo. Só que eu esqueço completamente tudo quando sinto sua

boca descer para minha entrada e começar a brincar ali, me causando arrepios.
A língua dele brinca comigo e quando sinto um dedo seu me penetrar, sinto

que posso gozar a qualquer momento. Pego meu membro em minha mão e
começo a me masturbar enquanto ainda sinto Adrian me preparar.

Eu me perco em meio a todas essas sensações e acabo gozando em pouco


tempo. Mas o que eu realmente quero ainda não tive.

— Eu preciso de você dentro de mim — falo ofegante e vejo um sorriso se


abrir no rosto dele.

— Castiel Almeida está implorando? — Ele perturba e seus dedos vão


mais fundo dentro de mim.

— Agora, Adrian... antes que eu te deixe aqui sozinho — falo com raiva e
ele sorri ainda mais.

— Sei que não faria isso. — Ele responde e tira seus dedos de dentro de
mim, me fazendo sentir falta.
Ainda sorrindo com malícia, ele se põe de pé e tira a calça e a cueca que

ainda vestia, me dando a visão de seu corpo nu. E quando vejo seu membro nada
modesto, resolvo retribuir o que ele fez por mim. Eu me levanto e fico na frente

dele, pegando seu pau em minha mão. Passo minha língua por sua extensão e
escuto ele gemer rouco. Faço um pouco de tortura com ele, até o colocar em

minha boca. Chupo com ânsia enquanto mantenho nossos olhares conectados e
vejo o fogo crescer neles.

— Não vou gozar na sua boca — Adrian fala após alguns minutos e se
afasta de mim.

Adrian pega sua calça e tira de lá alguns preservativos.


— Deixa que eu coloco — falo e puxo ele para baixo, o fazendo deitar.

Monto em suas pernas e ainda o masturbo antes de desenrolar a camisinha


em seu membro ereto. Olho para Adrian e aos poucos vou encaixando seu pau

em mim, descendo lentamente nele, fazendo nós dois gemer em sintonia.


Espero um momento e começo a me movimentar com a ajuda dele. Minhas

unhas arranham seu peito enquanto sinto ele ir cada vez mais fundo e sua mão se
aperta na carne da minha bunda.

— Ahh! — solto um gemido em seu ouvido quando ele deixa um tapa em


minha bunda.

Enrolo minhas mãos em seus cabelos e puxo eles com vontade, cavalgando

com ainda mais intensidade.


Em certo momento, Adrian nos faz trocar de posição e assume o controle de

nossos corpos. Suas investidas se tornam ainda mais fortes e logo sinto ele
atingir meu ponto de prazer, me fazendo ir à loucura.

Cada vez mais nossos gemidos vão se fundindo, assim como nossos corpos
que emanam prazer. E eu gozo entre nós dois sem ao menos me tocar. Minhas

mãos se apertam em seus cabelos e sinto ele gozando, gemendo rouco contra meu
pescoço.

Seus movimentos cessam e nossas respirações cansadas se misturam. Sinto


ele beijar minha testa suada e minhas mãos deixam seus cabelos. Adrian sai de

dentro de mim e em seguida tira a camisinha, dando um nó na mesma, a deixando


de lado. Ele se deita ao meu lado e me puxa para seus braços, o que me faz

aninhar nele com rapidez. Em seguida ele puxa um cobertor sobre nós e nos
cobre.

— Obrigado por essa noite... ela foi mais que especial — falo e no mesmo
momento vejo uma estrela cadente passar no céu. Isso me faz sorrir e sentir que

estou vivendo nos contos de fadas que eu tanto amava.


— Foi mais que especial para mim também — Adrian responde e levanto

meu olhar para ele.


— Amo você — sussurro e ele entrelaça nossas mãos, deixando um beijo

nas costas da minha.


— Amo você — responde e pisca um olho para mim.
Sinto os braços de Adrian se apertarem ainda mais ao meu redor e isso me
faz sentir seguro. Ele me traz segurança e sei que posso confiar nesse sentimento,

pois até hoje Adrian já me deu algumas provas do quanto eu sou importante para
ele, assim como Evan. Confesso que comecei a me apaixonar por ele no
momento em que notei o seu grande amor pelo meu filho. Ele sempre tratou Evan
de uma maneira extraordinária e isso me trazia felicidade, e me assustava

também. Mas hoje sei que nada poderia ser diferente e, apesar de todas as nossas
desavenças, tudo culminou para estarmos juntos agora.
Nunca pensei que fosse me apaixonar novamente depois de Alan, mas eu
estive errado. Apesar de todas as nossas diferenças de jeito e pensamentos, sei
que não teria pessoa melhor para mim do que Adrian. Tentei negar de todas as

formas a minha atração por ele, mas percebi que seria uma batalha perdida. Mas
ainda bem que me deixei ganhar, pois foi uma das minhas melhores escolhas.
Quando nós somos machucados por alguém que gostamos, ou amamos, isso
nos destrói aos poucos e pensamos não ser mais capazes de amar. Mas eu fui, eu
estou sendo capaz de amar novamente e sou imensamente feliz por isso. Sei que a
vida não é um conto de fadas, sou prova disso, mas também sei que nós
escrevemos nossa própria história e cabe a nós decidir. Eu decidi escrever uma

nova história em minha vida e me dar uma nova chance.


Ainda mais agora, estando nos braços do homem que eu amo depois de
fazer amor de uma forma que eu ansiava há muito tempo. Nunca fui amado dessa
maneira e amei cada segundo da nossa primeira vez juntos. Eu não sou mais
virgem há muito tempo, mas nada se compara ao momento que acabei de viver
com Adrian. Nós podemos sentir quando é algo verdadeiro... e o que tivemos foi
completamente de verdade.

— No que tanto pensa? — A voz de Adrian me tira dos meus pensamentos e


olho para ele.
— Nada demais, só estou feliz por estar aqui — respondo e sorrio.

— Também estou. — Ele diz e seus olhos se focam no céu estrelado acima
de nós. Seguindo seu gesto, também guio meus olhos para o céu e fico admirado
pela linda paisagem que se estende diante dos meus olhos. É tão louco olhar para
algo que não tem fim, é uma sensação diferente.
— Ah, esqueci de te contar uma coisa — falo ao me lembrar de algo.
— O quê? — Ele pergunta curioso.
— Angie está grávido novamente — conto feliz.
Descobri a novidade há alguns dias e não poderia estar mais feliz por meu
amigo. Eu vi o quanto Angie sofreu quando perdeu o bebê há alguns meses e
espero que essa nova gravidez só traga felicidade e muito amor.
— Nossa, Enzo deve estar eufórico — Adrian fala com um sorriso
carinhoso no rosto.
— Ainda não — respondo e ele me olha confuso. — É que o Angie ainda
não disse a ninguém além de mim e Lucio. Ele ainda está com medo de algo
acontecer e só vai contar ao Enzo depois do casamento. Então... nada de abrir a
boca para o Enzo — aviso com os olhos cerrados para ele.
— Juro que não vou falar nada. — Ele diz e cruza os dedos em frente à
boca, o que me faz revirar os olhos.

— Afff... você é tão bobão — falo rindo e ele arqueia uma sobrancelha pra
mim.
— Mas você ama o bobão aqui — diz convencido e rola seu corpo, ficando
por cima de mim.
— Quem disse? Não faço caridade — respondo com graça e ele me olha
com os olhos brilhantes de diversão.
— Ah, é? Acho que vou ter que usar alguns métodos para fazer você
confessar seu amor por mim... — diz com malícia.
— E quais seriam? Duvido que vá alcançar sucesso — desafio e vejo seus
olhos ganharem um tom mais escuro de azul.
— Não me provoca, Castiel. — Ele avisa e isso me faz sorrir.
— Por que, se eu amo fazer isso? — pergunto com deboche e enfio minhas
mãos em seus cabelos.
— Seu diabinho! — Ele rosna e em seguida sua boca devora a minha em um
beijo muito mais que necessitado.

Passo minhas pernas ao redor de Adrian e isso faz com que seu pau encoste
em minha entrada, me fazendo ansiar para ter ele dentro de mim novamente.
Solto um gemido baixo ao sentir a fricção entre nossos corpos e ao perceber
isso, Adrian começa a passar seu pau na minha entrada, mas sem me penetrar.
— Fala que me ama e te dou o que você quer. — Ele sussurra com nossas
bocas ainda bem próximas e sinto minha entrada pulsar.
— Não! — respondo, tentando manter minha voz firme.
— Você não me quer aqui? — Ele pergunta com a voz rouca e desliza dois
dedos seus para dentro de mim.
Prendo meus lábios entre os dentes, para não soltar um gemido alto e fecho
meus olhos com força.
Esse cretino, filho de um bom pai!
— Você não vai conseguir — falo ofegante e sinto ele sorrir em meu
pescoço.
— Sério? Acho que estou quase lá. — Ele diz e mexe com seus dedos
dentro de mim, alçando minha próstata, o que me faz quase gozar.
Deus me ajuda a aguentar a tentação, por favor!
— É só confessar, amor, não é difícil — Adrian continua com a voz perto
do meu ouvido, o que me faz perder a sanidade aos pouquinhos.
Ah, dane-se!
— Eu te amo, seu cretino! Agora me fode! — falo de uma vez e abro meus
olhos, encontrando um sorriso convencido em seus lábios.
— Com prazer, diabinho.
Adrian tira seus dedos de dentro de mim e se afasta por um segundo, indo
pegar uma nova camisinha. Não demora muito e sinto ele entrando em mim
novamente, só que dessa vez de uma forma mais bruta que me faz gemer em
contentamento.
Ele vai cada vez mais forte dentro de mim e isso me faz perder o restinho
de sanidade que me resta e me entrego de corpo e alma ao momento.

***

Acabamos por dormir ali mesmo e acordamos bem cedinho no dia seguinte,
sentindo os primeiros raios de sol bater em nossos rostos.
Não sei como, mas encontramos uma cesta de café da manhã prontíssima
para nós dois. E só de pensar que alguém veio nos trazer isso, e que esse alguém
é meu cunhado, eu sinto todo meu rosto queimar de vergonha.
Tomamos café devagar, conversando sobre assuntos banais e trocando
alguns beijos de vez em quando. Quando já era próximo das 8hr da manhã,
Adrian e eu arrumamos tudo e voltamos para casa.
— Pode liberar o Antônio para me levar a cidade hoje? Preciso comprar
algumas coisas — pergunto enquanto vejo Adrian concentrado na estrada.
— Eu posso te levar. — Ele oferece e me olha de relance.
— Eu sei pode, mas também sei que tem várias coisas para fazer e eu
preciso conversar com meu amigo — falo e espero que ele não crie caso com
isso.
— Tudo bem — responde após pensar um pouco. — Mas por que não
dirige? — Ele pergunta e me olha por um instante.
— Ah, eu não sei dirigir. Nunca tive tempo para aprender e acabou não se
tornando uma prioridade para mim — respondo com um meio sorriso.
— Posso te ensinar, se quiser. — Ele oferece com um sorriso bonito no
rosto.
— Podemos conversar sobre isso depois, amor — falo e vejo o sorriso
crescer em seu rosto.
Logo chegamos e Adrian estaciona em frente à casa da minha avó. Saio
primeiro e ele vem em seguida.
Entramos em casa e as falas desconexas de Evan chegam aos nossos
ouvidos. Isso me faz sorrir e vejo que Adrian tem o mesmo sorriso no rosto. E
não demora muito para o nosso pequeno projeto de gente nos notar.

— Papa! Papai! — Evan chama empolgado e vem andando até nós dois.
Eu me abaixo no chão e espero ele vir até mim, de braços abertos, mas levo
um grande “olé” quando Evan passa por mim e vai até Adrian.
Olho indignado para meu filho e só escuto a gargalhada debochada de
Adrian, me olhando com diversão.
— Muito bem, senhor Evan. Eu te carreguei por nove meses, seu ingrato.
Dei de mamar, troquei fralda de madrugada e é assim que você me retribui? Me
troca por esse aí? — falo com uma expressão brava e meu filho somente ri de

mim.
— Mama, papa! — Evan pede e deita a cabeça no ombro de Adrian, que
deixa um beijo em seus cabelos.
— Vai pedir pra esse aí... quem sabe ele cria leite e te dá — falo
emburrado e me sento no sofá.
— Credo, amor, ele só estava com saudades — Adrian fala com um sorriso
pequeno.
— Humrum! Vai lá fazer o leite dele — falo e faço um gesto de “chô” com
as mãos.
— Ruivo ciumento! — Adrian resmunga e vejo ele ir em direção à cozinha
junto com Evan.
Ciumento? Eu? Nunca!

***
Pego minha carteira e celular e coloco dentro da bolsa de fraldas de Evan.
Saio do quarto e no mesmo instante escuto a buzina do carro de Antônio. Me
despeço da minha avó e pego Evan em meus braços, saindo de casa.
— Oi, Toni! — falo com um sorriso e beijo o rosto do meu amigo.
— Naaa! — escuto Evan resmungar e reviro meus olhos.
— Que isso, ruivinho? ‘Tá ficando igual seu pai? — Antônio pergunta com
graça e pega ele do meu colo, deixando beijos por sua bochecha, o que faz ele
tirar o pequeno bico dos lábios.
— Deus me livre de dois Adrian’s — falo e escuto a risada exagerada do
meu amigo.
Antônio coloca Evan na cadeirinha e entro no carro também, e seguimos
viagem até à cidade.
— E você e Maurício, algum avanço? Meu Deus, eu não fazia ideia de que
você gostava dele.
— Não sei, acho que ele gostou de quando fomos ao parque, mas não sei
exatamente. — Ele diz envergonhado, mas vejo um sorriso pequeno em seu rosto.
— Amigo, vai fundo... investe nele, mostre a Maurício que você gosta dele.
— Mas e se ele não me corresponder? — pergunta e me olha rapidamente,
antes de voltar os olhos para a estrada.
— Você nunca vai saber se não tentar — respondo e ficamos em silêncio.
Nosso caminho demora um pouco e o fazemos em silêncio. Antônio
estaciona em frente ao grande mercado, minutos depois, e saio do carro indo
pegar Evan que está dormindo.
— Vou te esperar aqui — Toni diz e assinto com a cabeça.
Entro no mercado e pego um carrinho com assento para criança. Coloco
Evan no mesmo e sigo até os produtos que preciso.
Termino de pegar tudo que preciso e sigo até o caixa. Sorrio, vendo que
Evan acorda e entrego um pacote a ele, para o entreter.
Estou prestes a chegar ao caixa quando sinto um toque em meu braço e isso
me faz virar para trás.
— Podemos conversar? — O homem que me olha pergunta e minha vontade
é apenas de sair correndo.
— Não temos nada para conversar — falo com seriedade e me afasto de
seu toque.
— Por favor, Castiel... só me escuta. Se depois você ainda não quiser me
ver, eu vou me afastar — Alessandro diz e isso me faz pensar por um segundo.
— Tudo bem, mas depois eu te quero bem longe de mim — respondo com
frieza.
Pago minhas compras e ligo rapidamente para Antônio vir me ajudar com
elas, já que é difícil com Evan em meus braços. Não demora muito e vejo meu

amigo entrando no mercado. Ele vem até nós sorrindo, mas seu sorriso some ao
ver a pessoa ao meu lado. Como é próximo a mim, Antônio acabou sabendo da
nossa história e assim como todos, não ficou feliz em saber dos detalhes.
— Ele ‘tá te incomodando, Castiel? — pergunta assim que chega perto de

nós e seus olhos ficam fixos em Alessandro, que não esboça nenhuma reação.
— Não... na verdade, nós vamos ter uma conversa definitiva — falo sério e
olho para o homem ao meu lado por um momento. — Pode levar as compras para
mim? Eu prometo não demorar.
— Não acho que isso seja uma boa ideia... Adrian vai arrancar meu fígado

quando souber. — Ele diz e me olha suplicante.


— Para de ser molenga, Toni... e pode deixar que eu me resolvo com
Adrian. Agora me ajuda, por favor? — pergunto, olhando em seus olhos, e
depois de um suspiro ele vem até o carrinho e pega as sacolas de compra. —
Obrigado! — agradeço e ele apenas balança a cabeça em concordância.
— Eu vou ‘tá te esperando lá fora, qualquer coisa me chama. — Ele avisa e

sai depois de lançar um olhar mortal para Alessandro.


— Bem, vamos logo... não quero demorar muito — aviso e começo a andar
em direção à lanchonete que fica dentro do mercado.
Alessandro nada diz, mas sei que ele me segue e sinto seu olhar em minhas
costas. Encontro uma mesa vaga e me sento em uma das cadeiras, ajeitando Evan
melhor em meus braços, que já se encontra dormindo novamente. Deixo um beijo
suave na testa do meu filho e espero Alessandro se sentar.

— Seja rápido, não quero perder meu tempo mais que o necessário — falo
sério e olho para ele sem qualquer expressão em meu rosto.
Se há algo que aprendi com todo o abandono e os anos que se passaram, foi

a ser indiferente a certas pessoas.


— Sei que me odeia, mas eu realmente me arrependo de tudo o que te fiz.
Principalmente quando virei as costas para você, estando precisando de ajuda.
— Ele diz e seus olhos vão para Evan.
Inconscientemente eu aperto meu filho ainda mais em meus braços,
querendo o proteger de qualquer um que possa o atingir.
— Se arrependeu um pouco tarde, não? Eu não preciso mais de você... esse
tempo já passou — falo indiferente e vejo que ele sente o impacto das minhas
palavras.
— Sabe o que me dá mais raiva de você? — pergunto, mas não dou tempo
para ele responder. — É que você preferiu uma criança que não era sua, a seus
filhos de sangue. Ah, ainda tem o fato de que você ainda era casado com a minha
mãe quando se meteu com a mãe da Débora. E quer saber? A criação que deu a
ela foi horrível. Aquela mulher não tem amor ao próximo e só pensa em si
mesma. Para ela, só existe ela mesma e foda-se o resto. E olha, eu me sinto grato
por não ter ganhado isso de você. Porque foi por isso que você nos deixou, não
foi? Por dinheiro? O dinheiro falou mais alto pra você e o fez se afastar das

pessoas que precisavam realmente de você — falo amargamente, olhando


profundamente em seus olhos. — Não queira agora vir recuperar o tempo
perdido, pois isso não vai acontecer. Eu tive um pai, e ele não foi você. Giovani
foi mais presente na minha do que você, foi ele quem me acolheu quando eu
estava grávido e sem teto para morar. Porque a sua ex-mulher ficou tão amarga
depois que você a deixou, que ela se tornou igual a você, mal se importando com
a família e com o próprio filho. Eu estive sozinho por muito tempo, mas hoje eu
tenho uma família de verdade e não preciso de pessoas como vocês na minha
vida.
Termino de dizer e vejo uma lágrima escorrer por seu rosto, mas isso não
me faz sentir compaixão dele, nem nada mais.
— Eu fui sim ganancioso e me arrependo amargamente por isso. Apesar de
ter tudo, eu ainda me sinto vazio e entendi o porquê quando te vi há alguns dias.
Eu sei que errei muito com você, sua mãe e irmã. Eu só queria poder ter a chance
de fazer tudo diferente e conviver com você... com vocês. — Ele fala a última

parte olhando para Evan.


— Me desculpa, mas não será assim. Eu estive por anos abandonado por
você e não é só porque te reencontrei agora que as coisas mudam. Elas não
mudam! E não queira vir agora querer fazer parte da minha vida e da vida do
meu filho, não é assim que funciona. Além de tudo, você deve aprender o
verdadeiro significado da palavra amor, pois infelizmente você não sabe qual é
— falo e começo a me levantar. — Não é por maldade, nem vingança, eu só não
posso te perdoar agora. Quem sabe um dia eu esteja pronto para isso, quem saiba
um dia você mereça realmente o meu perdão? Por enquanto isso não vai
acontecer.
E tendo seus olhos fixos sobre mim, eu me viro, dando as costas para ele.
Eu me sinto sufocado nesse momento e também angustiado, não posso negar
que tudo isso mexe comigo, mas eu não posso perdoar ele. Não é assim que as
coisas funcionam na vida real. Você não pode simplesmente fazer a merda e vir
querer consertar depois. Às vezes, nem tudo tem conserto.
***
O caminho de volta para a fazenda é feito em total silêncio, comigo imerso
em meus pensamentos.
Uma hora depois, nós estacionamos em frente à casa da minha avó. Nem sai
do carro direito e Adrian já estava a minha espera na varanda de casa com uma
expressão séria.
Reviro meus olhos e olho para Antônio que me lança um olhar de
desculpas. Pego Evan no banco de trás e sigo até em casa.
— Já que vai me dar um sermão, ajuda Antônio com as compras pelo menos
— falo ao passar por Adrian e entro em casa.
Evan acaba acordando com a agitação e sigo com ele até meu quarto.
Deixo-o ir para o chão, mas ele permanece parado no mesmo lugar, ainda meio
sonolento para fazer algo. Tiro meus sapatos e tiro a calça, colocando um short
de pano mole. Pego Evan em meu colo e tiro sua pequena calça jeans, deixando-
o apenas de cueca e camiseta, já que está bem calor.
Quando volto para a sala, encontro todas as compras no balcão da cozinha e
Adrian sentado no sofá. Evan, assim que o vê, já se remexe em meus braços e eu
o solto, deixando ele ir de encontro ao pai que abre um sorriso ao pegar ele no
colo e deixa um beijo em sua bochecha.
— Pode começar — falo e me sento no tapete felpudo da sala.
— Por que foi conversar com ele? Ainda mais depois de tudo? Juro que
teria quebrado a cara daquele homem, o odeio pelo que ele fez a você. — Ele
fala e deixa Evan brincar com seu chapéu.
— Não se resolve as coisas com violência, amor, e eu queria ouvir o que
ele tinha a me dizer — falo e pego um dos brinquedos de Evan que estão
espalhados pela sala, o observando.
Escuto Adrian soltar um suspiro e ele deixa Evan entretido, vindo até mim,
se sentando ao meu lado.
— Eu sei que você se faz de forte, mas isso tem te afetado. — Ele diz e me
puxa para seus braços.
— Eu não consigo o perdoar, não me sinto preparado para isso. Ainda me
dói muito tudo e eu acabei de o encontrar novamente. Não posso esquecer tudo
do dia para a noite — falo frustrado e deito minha cabeça em seu peito, sentindo
alguns fios de seus cabelos longos fazerem cócegas em minha bochecha.
— Eu sei, amor, e nem deve. Alessandro ainda precisa aprender com tudo.
E você não tem a obrigação de o perdoar e nem esquecer — diz e deixa um beijo
em meus cabelos.
— Eu só quero viver a minha vida em paz com você, nosso filho... minha
família de verdade — falo e me viro um pouco para olhá-lo.
— E nós vamos. Mesmo que haja tribulações, eu sempre vou estar aqui por
você, assim como nossos amigos e sua avó. Eles são nossa família e isso que
importa. — Ele fala olhando em meus olhos e sinto meu coração se aquecer com
suas palavras.
— Eu te amo — falo, olhando na imensidão azul de seus olhos e deixo um
beijo em sua boca.

— E eu amo você, diabinho — Adrian responde e isso me faz rir.


Adrian me aperta em seus braços e me sinto seguro ali. E quando Evan se
junta a nós dois e se aconchega em meus braços, eu sei que as pessoas que
realmente me importam estão aqui. Eu não preciso de mais ninguém, já tenho as
mais importantes... que me amam sem pedir nada em troca.
Três semanas depois...

Sinto o vento bater em meu rosto enquanto mantenho um ritmo bom em cima
do cavalo. Adoro esses momentos em que me sinto livre, parecendo que não
existe um mundo imenso lá fora que só te causa dores.
Aos poucos vou deixando o cavalo desacelerar, até que ficamos parados

diante a visão dos amores da minha vida. A poucos metros de mim, Castiel está
sentado na grama alta, coberta por um cobertor, junto com Evan que se diverte
correndo desengonçado atrás de algumas borboletas que voam ao seu redor.
Sorrio vendo essa visão que traz um sentimento bom ao meu peito.
É tão bom ver o sorriso na face dos dois, isso me deixa em paz, ainda mais

depois que descobri sobre o pai de Castiel. Graças a Deus, Alessandro não
voltou a se aproximar dele e nem tentou contato. O que eu fiquei grato, pois não
acho que ele mereça estar perto do filho. Sei que não sou ninguém para julgar,
também já fiz algumas merdas nessa vida, mas quando se trata das pessoas que
amo, as coisas se tornam diferentes. Eu percebi que Cas ficou abalado depois de
tudo, mesmo querendo parecer forte.
Só que agora as coisas estão melhores. Há uma semana atrás foi o

casamento de Enzo e Ângelo e isso serviu para o distrair bastante, já que o


casamento de seu “irmão” foi bem esperado por ele. Uma surpresa muito boa
daquele dia, foi Castiel ter pegado o buquê, mesmo que ele estivesse longe da
multidão eufórica por ele. Confesso que eu amei ver aquela cena e pude imaginar
ele perfeitamente no dia do nosso casamento, que se Deus quiser e Castiel
também, vai acontecer.
— Papai! — escuto a voz infantil me chamar e automaticamente um sorriso

se abre em meu rosto.


Vejo Evan andando em minha direção com o sorriso mais lindo do mundo.
Solto uma risada e desço do cavalo, deixando-o pastar livre, e vou de encontro

ao meu filho.
— Oi, ruivinho! — falo sorrindo e pego Evan em meus braços quando ele
se aproxima mais de mim. Deixo beijos por seu rosto e sinto suas mãozinhas
puxarem minha barba.
— Belo, belo — diz, sorrindo enquanto puxa os fios da minha barba... e
nem preciso dizer que isso dói.
— É, filho, cabelo. E eles doem, sabia? Não pode puxar — falo com uma
careta e tiro sua mãozinha que estava me massacrando. — Não sei o que você
viu nos meus cabelos, seu papa também tem — digo, olhando em seus olhinhos
azuis que me fitam com atenção.
Evan solta uma risada e depois de deixar um beijo babado em meu rosto,
ele deita sua cabeça em meu ombro.
Ando em direção a Castiel e vejo ele deitado no cobertor, tendo os olhos
parcialmente fechados. Assim que ele nos percebe, abre totalmente seus olhos e
sorri para nós dois, o que faz meu coração acelerar em meu peito. Não sei como
é possível, mas a cada dia que passa, eu amo ainda mais esse diabinho dos
cabelos cor de fogo. Ah, Evan também não escapa desse amor, já que ele foi o

primeiro a me laçar.
— Pensei que não ia se juntar a nós dois. — Ele diz enquanto Evan se
debate para sair do meu colo.
Deixo Evan novamente no chão e me sento no cobertor, ao lado de Castiel.
— Só estava aproveitando um pouco — sorrio e puxo ele para mais perto,
deixando um beijo casto em sua boca de lábios extremamente macios.
Eu me afasto dele aos poucos e me deito ao seu lado. Solto uma risada
quando Evan se deita na minha barriga e leva uma mamadeira à boca.
— Ele está crescendo tão rápido, parece que foi ontem que eu descobri que
estava grávido — Cas fala enquanto tem seus olhos fixos em nosso filho.
— O tempo realmente passa muito rápido e temos que aproveitar cada
segundo — falo e nesse momento entrelaço meus dedos nos dele, ainda mantendo
meus olhos no pequeno ser que está deitado em cima de mim.
— Isso é verdade, por isso eu não quero perder nenhum segundo com vocês

dois e com nenhuma das pessoas que eu amo. — Castiel responde e deixa um
beijo em minha bochecha.
— Eu também não. Já perdi tempo demais na minha vida — respondo e
beijo a ponta do seu nariz.
— Falando em tempo... nós temos que decidir as últimas coisas do
aniversário do Evan, já que você quem deu a ideia. — Ele diz e eu suspiro.
— Mas você não aceita minhas ideias para a festa — reclamo e ele me olha
com uma sobrancelha arqueada.
— Claro que não, você queria alugar um clube. E, Adrian, é uma festa para
poucas pessoas. — Ele reclama e eu reviro os olhos.
— Só queria o melhor pro nosso filho — falo e viro meu rosto.
— Para de birra, Adrian, olha o seu tamanho. — Ele reclama e solta uma
risada. — Além do mais, o melhor para Evan vai ter todas as pessoas que amam
ele ao seu redor, nada mais importa.
Solto um suspiro e me levanto com cuidado, pegando o corpo adormecido
de Evan, que acabou dormindo enquanto tomava o leite. Deito sua cabeça em
meu peito e olho para seu rostinho adormecido que me traz uma paz enorme.
— Me desculpa! Eu ainda estou aprendendo a ser pai, ter Evan na minha
vida... é um sonho. Só quero que ele tenha sempre o melhor — falo depois de um
tempo e sinto Castiel me abraçar, consequentemente abraçando Evan também.
— Você é o melhor pai que Evan poderia ter. Ninguém no mundo pode
substituir o que você é para ele. E o mais importante, Adrian, é o amor que você
dá a ele... isso é o melhor que você vai dar a ele. Evan já tem muito orgulho de
você e aposto que no futuro, ele terá muito mais — Castiel diz e apoia sua
cabeça em meu ombro.
— Ele tem mesmo? — pergunto, me sentindo um pouco bobo, e sinto uma
lágrima escorrer por meu rosto.
— Tem sim, amor, você é o herói dele. Não pense que ele precisa de bens
materiais, pois ele só precisa de nós dois, o amando e apoiando em todos os
momentos da sua vida. — Ele responde e posso sentir o sorriso em sua voz.
Viro minha cabeça e acabo deixando nossos rostos próximos um do outro.
— Eu amo vocês. São tudo o que eu tenho de mais precioso em minha vida
— falo sincero, olhando em seus olhos, e vejo seu sorriso crescer.
— E nós dois te amamos muito. Você foi aquele que nos devolveu a
esperança de uma vida melhor. — Ele responde e nossas bocas se aproximam,
onde se conectam em um beijo doce e cheio de amor.
Sinto meu peito se encher de felicidade e ainda mais amor. Tudo o que eu
sempre sonhei e achei um dia não poder mais ter, está aqui em meus braços. E eu
vou fazer de tudo para manter as pessoas que eu amo seguras e felizes.
***

Desço as escadas da casa de Adrian assim que escuto o barulho de um


veículo se aproximando. Encontro Evan com seu pai na sala e eles me seguem
quando me veem. Abro a porta da casa e abro um sorriso ao ver o carro de Enzo
se aproximando, sendo acompanhado por mais dois SUV's.
O aniversário de Evan é amanhã e eu fiz de tudo para que Angie e Enzo
viessem antes, já que quero aproveitar meu amigo.
— Ti' Angi! — Evan fala entusiasmado e bate palminhas, estando encostado

nas pernas de Adrian.


— É, amor, tio Ângelo e tio Enzo — falo sorrindo. — Ah, seus priminhos
também — solto uma risada.
Os carros estacionam e Ângelo é o primeiro a sair, portando um sorriso
enorme em seu rosto. Não perco tempo e corro até meu amigo, o abraçando com
vontade. Fazem apenas algumas semanas desde que nos vimos pela última vez,
mas a saudade sempre permanece em mim.
— Estava com tantas saudades — Angie fala fungando e percebo que ele
está chorando.
— Angie, não chora — falo e me afasto dele, secando suas lágrimas com
meus dedos.
— Ah, são os hormônios... só choro ultimamente. — Ele reclama e isso me
faz rir.
— Eu sei como é — respondo.
Angie se afasta de mim e vai até o pequeno ser que está entusiasmado para
ver o tio. Abraço Enzo também e logo ele vai cumprimentar Adrian.

— E o resto da família? — pergunto a eles quando já estamos entrando


dentro de casa.
— Vão vir amanhã cedo... viemos hoje, pois Angie não parava de falar
nisso — Enzo responde com um sorriso.
— E eu estou feliz por ter vocês aqui — Adrian é quem responde e eu
concordo com um aceno.
Assim que entramos, o cheiro de bolo se fez presente e sem cerimônia
alguma, Angie foi procurando a cozinha até achá-la.
— Vó! Eu te amo! — escutamos sua fala e isso nos faz rir.
Logo chegamos à cozinha também e nem foi surpresa ver Angie com um
belo pedaço de bolo de chocolate em sua mão.
— Nem abraço eu ganhei, já foi direto no bolo — minha avó resmunga e
Angie sorri, logo deixando um beijo de chocolate em seu rosto.
— Não me culpem, eu como por três. — Ele se justifica e recebe um beijo
apaixonado de Enzo, nem se importando que ele está todo lambuzado.
Logo todos nós estávamos reunidos em volta da mesa, apreciando um belo
café da manhã. Maurício se juntou a nós no fim do café, e ele e Angie já se
tornaram bons amigos.
Assim que terminamos, Adrian e Evan levaram Enzo para andar com eles
pela fazenda e ficamos sozinhos na cozinha junto com minha avó.

***

Vejo o sol começar a se pôr no horizonte, formando uma verdadeira pintura


feita pela natureza e isso traz um sorriso ao meu rosto.
— Esse lugar é lindo, Cas. Agora entendo porque está amando viver aqui
— Angie fala de repente.
Estamos sentados na varanda da casa de Adrian, apenas nós dois, enquanto
contemplamos a natureza e apreciamos a paz que está nos rodeando.
— Acho que aqui é o meu lugar... ou melhor, Adrian é o meu lugar —
respondo e vejo ele sorrir.
— Você, mais do que ninguém nesse mundo, merece muito ser feliz. Eu
sabia que iria encontrar o homem certo, mais cedo ou mais tarde.
— Confesso que já duvidei muito disso e tive medo, mas sou muito feliz por
ter me dado uma nova chance. Adrian tem seus defeitos, assim como eu, mas nós
nos completamos de uma maneira única e eu amo demais aquele homem. Não
achei que isso fosse realmente possível, mas foi e eu me sinto grato pelo que a
vida me deu — falo e meus olhos vão para a aliança de compromisso que Adrian
me deu. — Adrian me amou e amou Evan sem pedir nada em troca, é um amor
verdadeiro e puro... algo que eu pensei que jamais ninguém sentiria por nós. Mas
vejo que somos importantes para alguém e temos um lar para nos acolher.
— Eu vejo o quanto vocês três se amam e são uma família linda. Creio que
ainda há muitas coisas boas para vocês no futuro. Só viva esse amor
intensamente — Angie diz e sorrio para ele.
— Eu vou viver — falo sincero. — Obrigado por estar aqui — sorrio para
ele e abraço seu corpo de lado, deixando um carinho rápido em sua pequena
barriga de dois meses.
— Eu sempre estarei aqui por você, assim como esteve por mim. — Ele
responde e isso me aquece ainda mais por dentro.
Tenho certeza que não poderia ter pessoas melhores em minha vida.
— Adrian! — meu grito ecoa por toda a casa e logo vejo nossa família e
amigos todos na sala, assim como o dito cujo do meu namorado.

Meus olhos se perdem na decoração extremamente exagerada da sala de


estar e através da grande janela de vidro, posso ver ainda mais do exagero lá
fora. Por que mesmo eu o deixei responsável por planejar o aniversário do nosso
filho?

— Oi, amor... o que foi? — vejo Adrian se aproximar com Evan em seus
braços e sua expressão é de um cãozinho sem dono. Ah, mas eu não caio nessa!
— Pode me explicar o que é tudo isso? — pergunto a ele e faço um gesto
para tudo ao nosso redor. — Você contratou um buffet, Adrian D'Ávila? —
Minhas mãos vão para minha cintura e meu pé direito bate freneticamente no

chão.
— Hum... ficou bonito, não? Evan amou... não é, filho? — Ele diz com um
sorriso nervoso no rosto e se dirige ao nosso filho, que está com um sorriso no
rosto.
— Nito! — Evan responde, confirmando a resposta do pai e só então eu
presto atenção em meu filho.

Evan está todo vestido de cowboy, com direito até a espora nas pequenas
botas. E bem, isso deve ser para combinar com toda a decoração do aniversário
que é fazenda. Há uma mesa enorme no centro da sala, cheia de doces e um bolo
enorme. Sem contar nos vários animais de pelúcia espalhados ao redor.
Respiro fundo e balanço minha cabeça em negação.
— Desisto de vocês dois! — falo com drama e ouço a risada coletiva das
pessoas ao nosso redor que acompanharam meu chilique.

— Para com isso, Cas. A decoração está linda e Evan merece — Angie fala
com um sorriso e olho para ele, como se o mesmo tivesse acabado de me trair.
— Obrigado, Angie. Pelo menos tenho alguém do meu lado — Adrian fala,

me olhando com um sorriso de deboche no rosto. — Os convidados já vão


chegar, amor, está pronto? — Ele pergunta por fim.
— Estou, cowboy sem noção — respondo e vou até ele, pegando Evan de
seus braços.
Deixo beijos pelo rostinho do meu filho e vejo melhor os detalhes de sua
roupa. E é impossível não me encher de amor ao ver que ele usa uma réplica do
chapéu de Adrian. Posso estar errado, mas sinto que no futuro Evan será uma
cópia de Adrian. Mesmo não tendo o mesmo sangue que o dele, é impossível não
ver o quanto os dois se parecem em seus modos. E saber disso me deixa feliz,
pois o pai do meu filho é maravilhoso e se Evan for parecido com ele no futuro,
já estarei agradecido.
— Está lindo, cabelo de fogo. — A voz rouca de Adrian no meu ouvido me
desperta e me faz arrepiar.
— Eu sei, querido — falo convencido e vejo ele revirar os olhos para mim.
— Mas não venha com esse seu papinho não, combinamos que seria algo simples
— falo, ainda inconformado.
— Mas está tudo simples. — Ele responde e olho para ele exasperado.
Solto um suspiro profundo e coloco Evan no chão, já que ele se remexe sem

parar em meu colo.


— Ok! Vamos! — falo e pego na mãozinha de Evan, seguindo para a grande
varanda que cerca a casa.
Vejo que aqui fora há alguns brinquedos e mesas decoradas para os
convidados. Não convidamos muitas pessoas, já que eu não conheço quase
ninguém e acho importante estar presente as pessoas que gostamos. Por isso só
convidamos nossa família, amigos e os funcionários aqui da fazenda junto com
seus filhos, já que a festa é mais para as crianças.
Não demora para todos os convidados estarem presentes. Adrian e eu
cumprimentamos a todos e agradecemos a presença de cada um.
Apesar de ter brigado um pouquinho com Adrian, é muito importante para
mim estar vivendo esse momento hoje. Ver a felicidade no rosto do meu filho,
ver o amor nos olhos de Adrian, é uma coisa que me traz paz e me faz perceber
que fiz a escolha certa.

— Esse seu sorriso não esconde o quanto está feliz. — A voz da minha avó
soa ao meu lado, mas mantenho meus olhos fixos em Evan que corre
desengonçado com outras crianças.
— É impossível não estar, vó. Vou ser eternamente grato por Adrian ter
entrado em nossas vidas — respondo e meus olhos se desviam para meu homem,
sentado em uma das mesas conversando com Enzo e seu irmão Marcos.
— Era algo inevitável. Você pode não acreditar em destino, mas eu sim. E
vocês já estavam destinados a estarem juntos. — Ela diz e só então a olho.
— A senhora acha mesmo? — pergunto e seu sorriso me confirma isso.
— Claro que sim. Agora deixa eu ir ali falar com a Emília, estamos
combinando uma saída das garotas. — Ela diz e olho incrédulo para minha avó.
— Não quero nem imaginar o que vai virar a saída de vocês duas — falo
rindo e ela finge não me escutar, logo se afastando.
Balanço a cabeça em negação, mas mantenho um sorriso em meu rosto, pois
tenho uma avó incrível.
Olho para meu redor e me sinto satisfeito em ver todos felizes, mas logo o
sorriso se esvai do meu rosto quando vejo uma pessoa ao longe.
— Mas que merda é essa? — pergunto a mim mesmo e sem esperar por
algo, marcho em direção a Adrian.
Escuto suas risadas junto aos outros homens na mesa e percebo que ele
ainda não percebeu a pessoa que acabou de chegar.
— Olha para trás — falo assim que chego na mesa, chamando a atenção de
todos para mim.
— O que foi, amor? — Adrian pergunta confuso e vejo seu rosto sério ao
ver minha expressão.
— O que a Demônia está fazendo aqui? — pergunto e aceno para trás dele.
Adrian não me responde e vira seu rosto para trás a tempo de ver Débora
vindo em nossa direção. Agora o que esse projeto de Barbie mal feito está
fazendo aqui, eu não sei.
— Droga! Deixa que eu resolvo. — Ele fala e se levanta, mas logo eu já
estou ao seu lado.
— Ah tá, que você vai lá sozinho — falo emburrado e vejo um sorrisinho
em seu rosto.
— Com ciúmes, diabinho? — Ele pergunta com deboche e reviro meus
olhos para o ser ao meu lado.
— Cala a boquinha, amor — respondo e apresso meus passos.
Logo nós chegamos até a presença indesejada da festa e o sorriso de
deboche no rosto do despacho a minha frente me tira do sério.
— Não me lembro de ter mandado convite a você, querida. Aliás, aqui
ainda não é o inferno — falo com um sorriso e vejo sua confusão na minha última
frase.
— Ah, não se preocupe com sua falha, maninho. Família não precisa de
convite, não é mesmo? — Ela pergunta com escárnio e minha vontade é de sair
arrastando essa cara plastificada dela na grama.
Respiro fundo e dou um passo à frente, ficando a centímetros de seu rosto.
— Eu vou falar uma única vez e quero que preste bem atenção — falo e
praguejo internamente por ser alguns centímetros mais baixo que essa girafa. —
Você nunca mais se refira a mim como família, pois isso eu nunca serei seu. Eu
tenho uma família de verdade e você jamais saberá o que é isso, pois você
destrói tudo ao seu redor. Mas se veio para a festa, fique à vontade — sorrio
para ela e dou um passo para o lado, deixando espaço para ela passar.
Vejo Débora me olhar com ódio, mas isso não me abala e eu só a retribuo
sorrindo ainda mais.
— Presente para o pirralho, estou achando lindo vocês brincando de
casinha. — Ela diz com raiva e joga o embrulho contra mim, depois de dar uma
encarada em Adrian que ainda permanece perto de mim.
— Obrigado! Aproveite a festa, só não vá confundir as pessoas com suas
amiguinhas. As galinhas estão em outro lugar, mas eu te levo até lá se quiser —

falo solicito e vejo seus olhos inflamarem de raiva.


Quando a Debônia se afasta pisando duro, eu não consigo segurar a minha
risada e quase choro de rir.
— Senti falta da pipoca para o show — Adrian fala rindo e deixo um tapa
fraco em seu peito.
— Idiota! Vamos voltar, espero que ela não apronte nada — falo e Adrian
enlaça minha cintura, nos guiando para onde está rolando a festa.
— Fica tranquilo, eu não vou deixá-la estragar um dia que está sendo muito

especial para mim.


Deixo um beijo em seu rosto, sentindo sua barba me pinicar e voltamos a
andar.
Adrian volta para a mesa onde estão nossos amigos e familiares e eu entro
na casa, jogando o presente que Débora trouxe no primeiro lixo que eu vejo.
Nem se eu estivesse louco daria aquilo ao meu filho, vai saber o que ela colocou
lá dentro.
Volto minutos depois para a festa e me junto com Angie, Maurício e Melissa
em uma mesa. Mas faço questão de manter meus olhos bem abertos em Débora.
— Que cara é essa? — pergunto ao ver a expressão azeda no rosto de Mau.
— Aquela espiga de milho dando em cima do homem dos outros. — Ele diz
estressado e isso me faz rir.
Sigo seu olhar e vejo Antônio sentado a poucos metros de nós, conversando
com um rapaz loiro. Os dois sorriem e parecem estar em uma boa conversa.
— Não adianta ficar aí bravo. Já te disse várias vezes e repito, se você ama
o Antônio, tem que falar isso para ele — falo para ele e pego um salgadinho no
prato que está na mesa.
— Isso é verdade, cunhado. Quase perdi o Marcos por bobeira. Nós dois
estávamos apaixonados, mas não tínhamos coragem de dizer um ao outro —
Melissa fala e isso me faz rir. Que irônico, não?
— Não é fácil, mas é a melhor solução. Eu confessei primeiro estar
apaixonado por Enzo e não me arrependo por isso — Angie fala e em seguida
coloca um brigadeiro na boca. Só não sei como ele conseguiu doces antes da
hora.
Maurício desvia o olhar dos dois rapazes e solta um suspiro frustrado, o
que me dá dó dele, mas eles têm que se resolver. E não serei eu a fazer isso
pelos dois.
— Eu sei, gente, só tenho medo de ser rejeitado. — Ele diz e quase reviro
meus olhos. Ah, se ele soubesse...
— Só vai saber se tentar — falo e me levanto. — Agora deixa de
melancolia e vamos cantar os “parabéns” para o meu filhote.
Aviso a todos sobre os “parabéns” e logo Adrian aparece com um Evan
suado nos braços. Vamos para dentro, onde está a mesa do bolo, e assim que
acendo as velinhas do bolo, vejo o rostinho do meu filho se iluminar. Um coro de
vozes começa a cantar e Evan bate palminhas animado.
Na hora de apagar as velinhas, Adrian e eu o ajudamos e então posamos
para algumas fotos. Fotos da nossa família.
— E o primeiro pedaço vai para quem? — Marcos pergunta, chamando a
atenção de todos.
Sorrio e pego o primeiro pedaço que eu acabei de cortar.
— Infelizmente Evan não conseguiria expressar essa sua decisão — falo e
todos riem. — Mas eu sei que ele vai concordar comigo. Esse primeiro pedaço
de bolo, ele vai para uma pessoa muito especial da pequena vida de Evan. Uma
pessoa que o ama incondicionalmente, que sempre está preocupado com seu
bem-estar... e que é o melhor pai do mundo — falo, olhando fixamente para
Adrian que ainda está com nosso filho em seus braços e sorrio ao vê-lo
emocionado.
— Papai! — Evan diz no momento em que entrego o pratinho com bolo
para Adrian, e isso só confirma ainda mais a decisão.
— Obrigado! — Adrian agradece com um sorriso e deixa um selinho em
meus lábios, logo depois de beijar a bochecha de Evan.
O bolo e os doces começam a serem servidos e antes de me juntar a minha
família, faço uma boa ação.
— Você pode entregar esse bolo para aquela moça sentada sozinha? Dê
esse refrigerante também — sorrio para o garçom e coloco as coisas em cima da
sua bandeja.
— Sim, senhor. — Ele responde e sai para fazer o que eu falei.
E com um sorriso no rosto volto para a mesa. Eu me sento ao lado de
Adrian e me apaixono na cena dele e de Evan compartilhando o pedaço de bolo.
Meus olhos seguem em direção à Débora e presto atenção no momento em
que ela coloca o primeiro pedaço de bolo na boca. Rio quando ela começa a
tossir e gritar desesperada por água, mas acaba pegando o refrigerante e isso me
faz gargalhar.
Seus olhos cheios de raiva me encontram e isso só me faz rir ainda mais.
— Você me paga, seu bastardo! — Ela grita com a voz rouca e pega a bolsa,
saindo em passos duros.
Sinto as lágrimas correrem por meu rosto e com muito custo vou parando de
rir, vendo que todos ao meu redor me olham com uma interrogação no rosto.
— O que foi, gente? — pergunto e bebo um gole do meu refrigerante de
laranja.
— O que você fez, Castiel? — minha avó é quem pergunta e eu me encolho
com seu tom de voz.
— Euuuu? Nada não, vózinha. Só entreguei um pedaço de bolo recheado
com pimenta e refrigerante de cachaça — falo simples e escuto uma explosão de

risadas ao meu redor.


— Pena que eu não pensei nisso antes — minha avó responde e olho para
ela perplexo.
— Meu Deus, vó! — falo rindo e ela dá de ombros.
— O quê? Não suporto aquela mulher.
Nossas risadas vão cessando aos poucos. Sinto Adrian me abraçar de lado,
o que me faz deitar a cabeça em seu ombro. Vejo que Evan começa a ficar
sonolento e tem seu rostinho deitado no peito do pai.
— Você é mesmo um diabinho, cabelo de fogo — Adrian sussurra com um
sorriso em seus lábios.
— E você me ama desse jeito — respondo e deixo um beijo em seu
pescoço, sentindo seu cheiro amadeirado.
— Amo, sim.
— E eu amo você — falo de volta e guio minha boca até a sua, sentindo o
gosto de chocolate que se mistura em nossos lábios.
Saio do quarto de Evan, aqui na casa de Adrian, e fecho a porta, deixando-a
um pouquinho aberta. Dou apenas três passos e fico de frente a porta do quarto

de Adrian. Eu nunca de fato dormi aqui com ele, só vim ao seu quarto algumas
vezes. E às vezes que dormimos juntos foram sempre na casa da minha avó. Ele
nunca havia me convidado e nem liguei para isso, mas hoje foi diferente.
Assim que todos os convidados foram embora e ficamos somente nós dois

com Evan entre nós, ele me pediu para dormir com ele aqui. E bem, eu aceitei.
Confesso que eu amo dormir sentindo seu perfume amadeirado e seus braços
possessivamente ao meu redor... é como se estive em casa. Adrian tem o poder
de me deixar seguro e isso me aquece por dentro.
Respiro fundo e entro no quarto, encontrando-o vazio, mas o barulho no

banheiro me alerta que Adrian está presente. Fecho a porta atrás de mim e tiro os
tênis dos meus pés. Deixo-os em um cantinho e me jogo na cama confortável de
seu quarto.
Fico alguns minutos apenas curtindo o silêncio e a paz, mas assim que
escuto o barulho da porta do banheiro se abrindo, meus olhos acompanham esse
ato. Meu olhar se perde em Adrian, que acabou de sair do banho e está

deliciosamente enrolado apenas por uma toalha branca em sua cintura. Seus
cabelos longos estão presos em um coque desajeitado e me perco no caminho
que as gotinhas de água fazem por seu tronco até se infiltrarem na sua toalha que
mostra um pouco de sua v-line.
“Como se respira, Deus?”
Meus olhos se encontram com os de Adrian e vejo um sorrisinho tomar
conta de seus lábios.

— Gosta do que vê, diabinho? — Sua pergunta sai com um tom de malícia e
deboche que me levam a revirar os olhos.
— Você nem é tudo isso — falo e ele solta uma risadinha e me olha com

uma sobrancelha arqueada.


— Não? Então por que você está de pau duro? — Ele pergunta e isso me
faz corar de vergonha. — Com vergonha, amor?
Eu me levanto, ficando sentado na cama e de frente para ele. Nossos olhares
ficam presos por alguns segundos, sem que nós precisemos dizer nada. Sorrio
para ele e me levanto, mas ao invés de ir até ele, sigo até a porta, a trancando.
— Acho que você pode me ajudar com meu problema, não? — pergunto
após alguns segundos e desço minha mão lentamente até meu membro, gemendo
quando meus dedos fazem uma leve fricção por cima da calça jeans.
Vejo que seus olhos se escurecem de desejo e sua expressão se torna um
pouco mais séria. Há uma ereção marcando a toalha que ele ainda tem na cintura,
mas que em poucos segundos está no chão. Adrian fica totalmente nu em minha
frente e me delicio com sua imagem, vendo o quanto ele está tão necessitado
como eu.
— Você nem imagina como. — Ele responde e isso me faz sorrir.
Eu me desencosto da porta e sigo em passos lentos até onde ele está parado.
Assim que estou em sua frente, deixo um sorriso maior preencher meus lábios e

beijo sua boca rapidamente. Ainda com os olhos fixos nos seus, vou me
abaixando lentamente em sua frente, logo ficando em frente ao seu pau, o
pegando em minha mão.
Acaricio ele lentamente, ouvindo alguns gemidos baixos saírem de sua
boca.
— Porra, Castiel! — Ele geme, quase que rosnando, e isso me excita ao
extremo. — Me chupa — pede e sorrio, vendo-o tão entregue aos meus toques.
— Com prazer — respondo e em seguida seu membro está em minha boca.
Passo a língua por sua glande inchada e nesse momento sua mão pega em
meus cabelos, os puxando um pouco. Coloco seu pau o máximo que consigo em
minha boca e masturbo o que não consigo chupar. Seus gemidos roucos chegam
com mais intensidade aos meus ouvidos e isso faz com que eu feche minhas
pernas com força, tentando buscar algum alívio para meu próprio pau
necessitado.
Chupo seu pau com mais força, massageando suas bolas no processo e sinto

sua mão se fechar com mais força em meus cabelos, me causando uma dor
prazerosa. E quando percebo que ele está prestes a gozar, o tiro da minha boca e
apenas o masturbo com minha mão, mas Adrian me impede de continuar e olho
para ele confuso.
— Não vou gozar na sua mão... vai ser em outro lugar, diabinho. — Ele
sorri e me puxa para cima.
Sem dizer mais nada, ele me puxa para mais perto, apertando suas mãos em
minha cintura e logo seus lábios estão junto aos meus em um beijo voraz. Minhas
mãos grudam em suas costas e deixo minhas unhas o arranhar de leve.
Suas mãos apertam ainda mais meu corpo junto ao seu, mas em certo
momento elas me abandonam para fazerem outra coisa. Adrian começa a tirar
peça por peça minha enquanto distribui beijos por meu corpo, me fazendo gemer
baixinho e fechar meus olhos em puro deleite. E assim que me encontro
totalmente nu, ele me pega pelas coxas, me fazendo subir em seu colo e
entrelaçar minhas pernas em sua cintura. Sinto a parede gelada em minhas costas,
mas isso é a última coisa que me importo no momento.
Sua boca volta a beijar a minha por alguns segundos, mas ela logo me
abandona. Sinto ele descer seu rosto por meu pescoço e choramingo baixinho
quando sua barba roça por minha pele, me causando uma sensação tão boa de
prazer. E para me enlouquecer de vez, sua boca captura meu mamilo esquerdo,
me fazendo gemer alto, pois sempre fui muito sensível nessa região.
— Amor, n-não para — Falo, mas sai meio arrastado por eu estar mais
gemendo que tudo.
Suas mãos passeiam ainda mais por meu corpo, me marcando com seus
dedos. E minutos depois, quando ele passa a chupar meu outro mamilo e coloca
dois dedos seu em minha boca, sinto que estou indo para a minha perdição.
Sua boca deixa algumas mordidinhas em meu mamilo e solto gemidos
abafados por seus dedos estarem em minha boca. Eles são retirados e mordo
meus lábios com força, podendo sentir o gosto metálico em minha boca. E não
demora para que eu sinta um dos seus dedos lambuzados de saliva sondando
minha entrada, que nesse momento está pulsando. Seu dedo me penetra
lentamente, no mesmo instante em que sua boca abandona meu mamilo e isso me
faz fechar meus olhos com força por um momento. Eu me sinto contrair em volta
de seu dedo e ele se afunda ainda mais em mim. Adrian volta a passar a barba
agora em meu peito nu e vai subindo até minha bochecha.
E quando seu segundo dedo se junta ao outro, puxo seus cabelos com certa
força, desfazendo por completo seu coque, deixando seus cabelos caírem como
uma moldura em seu rosto. Aperto meu corpo mais ao dele, fazendo meu membro
esfregar em seu abdômen, me causando uma ótima sensação. Não sei quanto
tempo ficamos nisso, mas eu só percebo algo diferente quando sinto meu corpo
sobre o colchão. Adrian me olha por alguns segundos e sorri, deixando um beijo
casto em meus lábios.
— Você é lindo. — Ele sussurra contra meus lábios, mas sua doçura vai
embora com a frase seguinte: — Fica de quatro pro seu cowboy — diz, me
fazendo gemer.
Não perco tempo falando, pois a necessidade do meu corpo fala mais alto.
Logo estou na posição que ele pediu, apoiado em minhas mãos e joelhos. E não
demora muito para eu estar gemendo novamente quando sinto sua boca em
contato com minha entrada. Sua língua brinca naquela região e chega a me
penetrar algumas vezes. Aperto com força os lençóis abaixo de mim e sinto meu
pau escorrer ainda mais líquido pré-gozo. Seus dedos voltam a me penetrar e
minha vontade é chorar de prazer e implorar para ele me foder de uma vez.
— Eu não aguento mais... me fode logo! — falo sem paciência, sentindo
minha entrada contrair cada vez mais e tenho que prender meus lábios para não
gemer mais alto.
— Olha, o diabinho sabe implorar. — A voz debochada de Adrian ecoa e
minha vontade é socar sua cara, mas antes quero seu pau em mim. — Você quer
meu pau aqui, amor? — Ele pergunta, sussurrando em meu ouvido, e sinto sua
glande molhada passando por minha entrada.
— Cala a boca e me fode de uma vez — falo sem paciência e escuto ele rir

baixo.
E antes que eu possa reclamar ou implorar novamente, sinto seu pau
entrando de uma só vez em mim, me fazendo perder o ar e gemer sem som algum.
Fecho meus olhos com força e sinto uma lágrima escorrer por meu rosto pela dor
que sinto. As mãos de Adrian tomam minha cintura e sinto ele deixar alguns
beijos por minhas costas. Alguns segundos se passam até que ele começa a se
mover lentamente dentro de mim e isso me faz sorrir em satisfação. E apesar de
ainda sentir um pouco de dor, aos poucos o prazer vai se fazendo presente e

meus gemidos vão se tornando música novamente. A mão grande de Adrian


aperta a carne em minha bunda com força e sinto ele desferir um tapa no local, o
que me faz gemer ainda mais alto, quase gozando. Seus movimentos se tornam
mais rápidos e jogo meu quadril contra ele, sentindo-o ir cada vez mais fundo e
consequentemente achando minha próstata no caminho. Sinto lágrimas de prazer
se formando no canto dos meus olhos e quase choro enquanto sinto ele surrar
minha próstata com sua glande inchada. Levo minha mão ao meu pau e o
masturbo no ritmo de suas estocadas, gemendo cada vez mais durante o processo.
Meu corpo todo treme e não demora mais nem um segundo para que eu esteja
gozando forte contra os lençóis. Sinto todo meu corpo mole, mas os braços de
Adrian me sustentam enquanto ele ainda estoca fortemente dentro de mim,
prolongando ainda mais a minha sensação de prazer. E poucos minutos depois o
sinto tirar seu membro de dentro de mim, gozando em minha bunda com um
gemido alto e rouco.
Deixo meu corpo cair em cima do colchão, sentindo minha respiração
ofegante. Fecho meus olhos e sem força para mais nada, continuo ali quietinho.
E não demora muito para que eu seja arrastado para o peito de Adrian e
possa sentir seu corpo quente e suado contra o meu, me fazendo me agarrar a ele.
E sem me importar muito para mais alguma coisa, deixo o sono me levar
enquanto sinto os carinhos de Adrian em meus cabelos, ouvindo um “eu te amo”
baixinho.

***

Sinto beijos babados por meu rosto e isso me faz sorrir, mesmo ainda de
olhos fechados.
— Mama! — A exclamação me faz abrir os olhos e fico indignado, olhando
o projeto de gente em cima de mim.
— Ah, eu só sirvo para isso, senhor Evan? Para te alimentar? Cadê o amor?
— faço as perguntas com drama e em troca recebo as risadas do meu filho como
resposta.
Sorrio e beijo suas bochechas gorduchas. Agradeço mentalmente por ter
acordado de madrugada e ter tomado um banho, me vestindo com uma camisa de
Adrian.
— Você é tão dramático, cabelo de fogo — escuto a voz de Adrian e isso
me faz olhar em sua direção, podendo contemplar seu rosto sendo iluminado
pelos raios de sol que entram pela janela do quarto.
— Não sou dramático, só quero amor — falo e faço um bico, o que leva
Evan a pegar meus lábios com suas mãozinhas.
— Amô! Papa... amô! — meu filho diz feliz, me deixando com o peito
transbordando de amor.
— Papa também te ama muito, meu projeto de gente — sorrio e o beijo
mais algumas vezes, deixando uma mordida de leve em sua bochecha.
— Também quero amor — Adrian fala brincando e se aproxima mais de
nós dois, nos envolvendo em um abraço.
— Olha isso, um homem desse tamanho carente — falo rindo, mas deixo um
beijo em sua bochecha. — Te amo, cowboy! — declaro e vejo um brilho em seus
olhos.
Evan também me escala para poder deixar um beijo todo babado em seu pai
e isso me faz querer morrer de tanta fofura. Juro que não aguento esses meus dois
homens.
Continuo sorrindo para eles, até que vejo os olhos de Adrian me encarando
como se quisesse falar algo.
— O que foi, amor? — pergunto a ele e me encosto na cabeceira da cama,
vendo Evan deitado com a cabeça em sua barriga.
— Em dois dias eu preciso estar na capital, para uma reunião e preciso que
vá comigo. Desculpa não ter falado antes, mas é que me enrolei com o
aniversário do nosso filho. — Ele diz e me olha com uma expressão culpada. —
Acha que pode ir? Sei que Evan é nossa prioridade, mas é que como você me
ajuda nas coisas do escritório, vou precisar de você. — Ele diz e me faz sorrir
pela sua maneira fofa de falar tudo.
— É claro que eu vou, amor... Evan vai ficar muito bem com minha vó —
respondo e deixo um selinho em seus lábios.
— Isso é bom... são apenas dois dias.
Fico mais alguns minutos na cama com Evan e Adrian, até nosso filho
“brigar” conosco por querer seu mamá.
Nos arrumamos e descemos, encontrando todos já tomando café. Faço o
leite de Evan e aproveito ao máximo meu tempo com Angie e Enzo, que logo vão
embora com as mulheres da família Miller.
E pelo resto do domingo que se segue, nós aproveitamos nosso tempo junto
da nossa família e amigos.

***

Dois dias depois...

Entro no quarto de hotel que Adrian reservou para nós e fico satisfeito por
não ser nada muito luxuoso, já que vamos ficar por aqui apenas dois dias. Angie
e Enzo queriam que ficássemos em sua casa, mas recusamos achando melhor
ficar em um hotel.
Acabamos de chegar na capital e me sinto um pouco cansado pela viagem,
já que viemos de carro.
— Quer pedir comida aqui ou ir a algum restaurante? — Adrian pergunta
entrando no quarto, trazendo nossa única mala.
— Podemos sair, estou com saudades dessa cidade — sorrio para ele que
concorda com aceno.
— Tudo bem, a reunião com os compradores de gado é só amanhã, então
podemos aproveitar hoje. Aliás, podemos aproveitar muito essa cama mais
tarde. — Ele diz com um sorriso malicioso e se aproxima de mim, me puxando
pela cintura e colando meu corpo ao seu.
— Posso pensar no seu caso — sorrio para ele e deixo um selinho em sua
boca, tirando seu chapéu de sua cabeça e colocando na minha em seguida.
Eu me afasto dele e dou uma voltinha com um sorriso em meu rosto.
— E então, como fico de cowboy? — pergunto e ele sorri ainda mais.
— Eu vou te ter cavalgando em mim com esse chapéu. — Adrian diz e sua
fala baixa arrepia todo meu corpo. — Mas, respondendo sua pergunta... você
está lindo, cabelo de fogo.
— Ok! Vamos antes que eu desista de ir comer — falo e pego em sua mão,
nos guiando para fora do quarto.
— Eu adoraria ficar aqui e você sabe... — Ele diz com malícia e arregalo
meus olhos.
— Adrian, cala a boca! — falo com vergonha, procurando para ver se
ninguém o ouviu, mas o corredor está vazio.
— Ora, seu diabinho... quando está gemendo em baixo de mim v... — Tapo
sua boca antes que ele possa continuar e lhe lanço um olhar mortal.
— Se não parar de falar essas coisas para todo mundo ouvir, juro que não
vai mais me ter gemendo por um bom tempo — ameaço e ele levanta as mãos em
rendição, mas vejo um sorriso de deboche em seu rosto.
Reviro meus olhos para ele e me afasto, sussurrando um “ogro”.

***

Assim que saímos, decidimos vir ao shopping, por isso agora estamos de
mãos dadas, caminhando enquanto tentamos escolher um bom lugar para almoçar.
— O que acha de comida mexicana? — pergunto e ele faz uma careta.
— Não, obrigado! Quero uma picanha mal passada — Adrian responde e é
a minha vez de fazer cara de nojo.
— Virou vampiro, foi? — pergunto para implicar e ele me olha com um
sorrisinho.
— Que eu gosto de chupar algumas coisas é verdade, mas ainda não
arranquei sangue de ninguém. — Ele diz e reviro meus olhos.
— Desisto! — reclamo e viro meu rosto, logo vendo um restaurante de
comida baiana e resolvo que vamos comer ali. — Já decidi onde vamos comer
— falo e aponto em direção ao restaurante.
Começamos a caminhar em direção ao restaurante, mas meus passos param
quando vejo um casal ao longe. Sinto meu estômago embrulhar vendo essa cena.
E quando penso que nada poderia ser pior, tenho os olhos deles em minha
direção.
— Amor, o que foi? — A voz preocupada de Adrian chega aos meus
ouvidos, mas não consigo o responder, minha voz não sai.
A única coisa que presto atenção, é no casal a poucos metros de mim. Nas
mãos entrelaçadas de Alan e Vitória e isso me faz querer vomitar, por ver minha
irmã e o desgraçado que me abandonou grávido juntos.
Continuo com meus olhos fixos no casal a alguns metros de mim e aperto a
mão de Adrian quando percebo que eles se aproximam. Vitória tem um sorriso

no rosto e Alan me olha como se eu fosse um fantasma, mas também vejo raiva
contida em seu olhar. E sinceramente, eu não sei porque já que quem tem o
direito de sentir raiva aqui sou eu.
— Quem são eles? — A voz de Adrian me desperta, mas a minha boca

ainda continua imóvel, impedindo que eu fale qualquer coisa.


— Cas! Meu Deus, quanto tempo! — ouço a voz de Vitória e então percebo
que ela está em minha frente, me olhando como se realmente sentisse minha falta.
Olho nos olhos de Alan e todos os sentimentos negativos que tenho por ele
voltam nesse momento. Meu olhar vai para as mãos entrelaçadas dos dois e sinto

vontade de rir. E é o que eu faço, começo a gargalhar.


— Sério, Vitória? Não venha me dizer que estava com saudades, acho que
você nem chegou a sentir isso, não é mesmo? — falo com deboche e meus olhos
se focam nela que me olha chocada.
— Não fale assim comigo, foi você que fez burrada e sumiu. — Ela diz e
fico incrédulo com isso.

— Aí eu parei de ser seu irmão desde então? Bem, na verdade nunca fui,
não é? Pois se fosse você na situação em que eu estava, eu teria te ajudado de
alguma forma. Mas acontece que é muito fácil virar as costas para as pessoas —
respondo com raiva e então olho para Alan, que desvia o olhar. — Não é, Alan?
Foi fácil virar as costas pra mim, não foi? — pergunto e sinto o olhar de Adrian
queimar em mim.
— Castiel, o que está acontecendo aqui? — Adrian pergunta e pelo seu tom

de voz, sei que ele está sério e sem paciência.


Eu me viro em sua direção e respiro fundo, fechando meus olhos com força.
Eu não queria estar nessa situação, mas já que estamos aqui, vamos falar tudo de

uma só vez.
— Nada demais... Vitória é minha irmã e, ao que parece, o namorado dela é
o babaca que me engravidou e me abandonou — falo e na mesma hora a
expressão de Adrian muda, se tornando totalmente raivosa e sua mão solta a
minha.
— O quê? Você está louco, Castiel? Isso é impossível! — Vitória diz
exaltada e olha para o canalha ao seu lado que continua inabalável.
— Vi, ele está mentindo — Alan diz pela primeira vez e eu solto uma risada
sem humor.
— Nós estávamos juntos quando meu irmão engravidou, então não pode ser.
— Ela diz baixo, mas eu posso ouvir e isso deixa minhas pernas bambas.
Sinto meu estômago embrulhar. Eu não posso acreditar que esse babaca fez
isso, não só comigo, mas com ela também.
— Você é nojento — falo e olho para Alan, que ainda me olha superior. —
Eu não acredito que estava comigo e com a minha irmã ao mesmo tempo.
— Eu não estava com você, eu tinha um caso e te fodia quando tinha
vontade. Você era apenas um adolescente idiota e apaixonado. — Ele diz com
deboche e no segundo seguinte vejo Alan ir ao chão.

Meus olhos se arregalam e percebo Adrian perto dele, o olhando em


completa raiva. Alan segura o nariz que nesse momento está jorrando sangue.
— Você é um merda. Lave sua boca pra falar do meu Castiel — Adrian diz
com raiva e o puxo pela cintura, tentando trazer ele para perto, mas é algo
impossível.
Alan solta uma risada e cospe sangue no chão, olhando para nós em
seguida.
— Arrumou outro trouxa, foi? Eu sabia que você não valia nada, Castiel, e
aposto que aquele bastardo nem era meu. Espero que tenha seguido meu conselho
e tirado aquela coisa. — Ele diz e em seguida grunhe de dor por receber um
chute de Adrian nas costelas.
— Amor, para! Não vale a pena. — Tento afastar Adrian, que um pouco
relutante se afasta e ao longe vejo alguns seguranças do shopping vindo em nossa
direção.
Olho uma última vez para minha irmã e vejo ela ainda petrificada no lugar.

E apesar de tudo, eu tenho pena dela.


— Espero que se afaste dele enquanto há tempo, você não terá nada de bom
— aviso e me viro para o monte de merda de Alan no chão. — E você tem razão,
aquele filho nunca foi seu. Você foi apenas um doador para a existência dele.
Mas ele tem um pai de verdade, que o ama e o protege acima de tudo. E eu
espero de verdade que você se arrependa de tudo. Espero que sofra a cada
segundo que se lembrar de tudo o que me fez, pois você só merece isso...
sofrimento — falo por fim e agarro a mão de Adrian quando vejo os seguranças
mais próximos.
— Fique longe pro seu próprio bem — Adrian avisa e sua expressão reflete
exatamente o que ele disse.
E então nós damos as costas para as duas pessoas atrás de nós e seguimos
rumo à saída do shopping.
Toda a fome que eu sentia antes, evaporou depois desse encontro. Ainda
posso sentir toda a ânsia por ver como uma pessoa pode ser tão nojenta e sem
caráter.
Fecho meus olhos com força, apenas sentindo o toque da mão de Adrian na
minha. Solto um suspiro e só então agradeço a Deus por ter me livrado de um
cara como Alan. E apesar de ter sofrido muito, tudo valeu a pena para que hoje
meu filho tenha um pai de verdade.

***

O caminho de volta para o hotel se dá todo em silêncio. Cada um com seus


próprios pensamentos e posso jurar que vejo algumas lágrimas caírem no rosto
de Castiel, mas não me atrevo a falar nada.
Ainda estou tentando processar os últimos minutos e me controlando para
não voltar naquele shopping e acabar com a raça daquele monte de merda. É
surreal imaginar que Evan tem o mesmo DNA dele. Mas eu sei que isso não
importa, pois eu sou o pai dele de verdade e ninguém pode mudar isso. Acredito
que o laço de amor vale muito mais que um laço de sangue, que muitas vezes não
vale de nada.
Fico imerso em meus pensamentos e assim que chegamos ao hotel,

estaciono a caminhonete na vaga cedida a mim e saímos do veículo em silêncio.


Aciono o alarme do veículo e vejo Castiel seguir na frente.
Solto um suspiro pesado e me apresso em o alcançar, logo passando meus
braços ao seu redor. Ele para de andar e me abraça com força, o que me faz
retribuir seu gesto. Eu sei que Cas se faz de forte a maior parte do tempo, e ele é,
mas eu sei que ele também se abala.
Tenho a absoluta certeza que ele não sente mais nada de bom em relação a
aquele traste, mas sei que descobrir que ele o traía com sua irmã, não foi nada
fácil. Você acha que é especial para uma pessoa, mas descobre da pior forma que
não passou de uma diversão e nada mais.
Deixo um beijo suave em seus cabelos e após alguns segundos me afasto
dele, o pegando pela mão e nos guiando até o elevador. Em poucos minutos nós
chegamos ao nosso quarto e assim que entramos, Cas tira seus sapatos com
pressa e se joga na cama, se agarrando a um dos vários travesseiros.
Fecho a porta e também tiro meus sapatos, ficando apenas de meias. Deixo
meu chapéu em cima de uma mesinha que tem no quarto e me junto a ele na cama.
Encosto minhas costas na cabeceira acolchoada da cama e puxo o corpo de Cas
para junto do meu, fazendo ele me abraçar e deitar a cabeça em meu peito.
Ficamos em silêncio por bons minutos, até que eu resolvo o quebrar.
— Quer falar do que aconteceu? — pergunto com cautela e a voz baixa.
Ele solta um suspiro profundo e me aperta ainda mais em seus braços,
fechando seus olhos em seguida.
— Eu não sinta mais nada de bom por Alan há anos, mas ainda dói muito.
Eu sei que foi melhor do jeito que as coisas aconteceram, mas não posso me

impedir de sentir essa dor — diz tão baixinho, que se não houvesse um silêncio
sepulcral no quarto, eu não o teria ouvido.
— E você nem deve, nós precisamos sim sentir a dor. Ela é essencial em
nossas vidas. Mas quando sentir essa dor, lembre-se do quanto você foi forte por
Evan. De tudo o que sempre fez por ele, desde o momento em que descobriu que
ele estava aí dentro de você. A dor precisa ser sentida sim, mas aquele merda
não tem mais o direito de te ferir — falo e pego com cuidado em seu rosto,
fazendo ele se virar para mim e abrir seus olhos. — Você conseguiu meu amor,
você pôde fazer tudo o que estava ao seu alcance por nosso filho e nunca

precisou recorrer a ele. Acredito que tudo aconteça por um propósito e por mais
que tudo tenha sido doloroso, hoje você tem os melhores frutos. Você tem ao
nosso filho, que é muito orgulhoso pelo papai diabinho. Você tem nossa família e
amigos e você tem a mim. Não gosto de promessas, pois elas sempre podem ser
quebradas, mas tenha a absoluta certeza de que sempre pode contar comigo, pois
meu amor por você é muito maior do que qualquer maldade que possa haver no
mundo — falo, olhando em seus olhos que se tornam um pouco brilhantes pelas
lágrimas que estão sendo presas ali.
Castiel sorri com doçura e se levanta um pouco, ficando com o rosto na
mesma altura do meu.
— Quem diria que o ogro podia ser tão sensível? — Ele brinca e algumas
lágrimas conseguem se desprender de seus olhos. — Obrigado por tudo,
principalmente por sempre estar ao meu lado. Eu jamais vou conseguir ser grato
o suficiente por tudo o que você representa para mim. Nunca vou me arrepender
de ter ido para aquela fazenda e ter te conhecido, pois isso foi a melhor coisa da
minha vida — Castiel suspira e se senta em meu colo, o que me faz enlaçar sua
cintura com meus braços.
— Sou muito grato por ter um homem como você na minha vida, o meu
homem. Como disse, a dor precisa ser sim sentida, mas pode ter certeza que ela
diminuiu muito desde que eu te conheci e sei que daqui um tempo ela nem vai
mais existir. Há coisas mais importantes na vida e você e Evan são umas delas.
Obrigado por ter assumido uma responsabilidade que nem era sua, mas que fez
por amor. Posso dizer com certeza que meu amor por você só cresce a cada dia
mais. Eu posso não ser o cara docinho a maioria do tempo, mas eu te amo. —
Ele diz e um sorriso se abre em meu rosto, ao mesmo tempo que sinto meu peito
se aquecer por suas palavras.
— Eu amo você e amo ainda mais Evan. Nunca foi uma obrigação e jamais
vai ser. A família de verdade, a que nosso coração escolhe, nós apenas amamos
e nada mais — respondo e encosto minha testa na sua, ainda mantendo nossos
olhares conectados.
Cas me lança um sorriso e isso me deixa feliz. Seu sorriso é a coisa mais
linda desse mundo e ele apenas direciona os verdadeiros a quem importa.
— Meu anjo Castiel — sussurro e fecho meus olhos, levando minhas mãos
até seu rosto, podendo sentir a maciez da sua pele.
— Meu cowboy indomável. — Ele sussurra de volta e isso me faz rir. Pois
se eu sou indomável, ele conseguiu me domar na maior perfeição.
Estou deitado no peito de Adrian e ouvir seus batimentos cardíacos me
acalma. Confesso que o encontro de horas atrás me abalou, mas já estou tratando

de arquivar isso e em seguida deletar da minha vida. Alan não tem nenhuma
ligação na minha vida e nem na de Evan, ele é alguém inexiste e totalmente
descartável para nós. Alguém que não tem a mínima importância.
— Meu Deus, eu vou morrer de amor — Adrian fala e isso me faz o olhar.

Levanto minha cabeça de seu peito e vejo ele sorrindo para a tela do
celular. Logo ele me percebe e arqueio uma sobrancelha em sua direção.
— Maurício me mandou isso. — Ele diz sorrindo e vira o celular para mim.
Um sorriso se abre em meu rosto ao que vejo uma foto de Evan. Na foto ele
está virado de costas e encostado em uma cerca, usando apenas uma calça jeans,

botas e chapéu de cowboy.


— Estou vendo que no futuro ele será uma cópia sua — falo e vejo o
sorriso quase rasgar seu rosto.
— Você acha? — Adrian pergunta com um pouco de insegurança na voz.
Deixo o celular de lado e planto um beijo suave em sua boca.
— Eu tenho certeza, e se ele tiver metade do seu caráter eu já serei muito

feliz por isso — falo sincero e enrolo um dos meus dedos em seus cabelos
longos.
— Eu espero saber educar ele bem, ensinando tudo aquilo que meus pais
um dia passaram para mim. — Ele diz e vejo uma nuvem de tristeza passar por
seu olhar ao lembrar de seus pais.
— Eles fazem falta, né? — pergunto a ele, que assente em silêncio.
Deixo um beijo em sua testa e ouço ele suspirar profundamente.

— Eles se foram muito cedo, Maurício foi quem mais sofreu. Marcos e eu
já estávamos homens formados, mas ele ainda era um adolescente e isso acabou
ainda mais comigo. Eles eram incríveis e iam te amar, pai Felipe seria seu

melhor amigo.
— E eu ia amar conhecê-los... Evan então, nem se fala — sorrio e o beijo
mais uma vez.
Adrian me aperta em seus braços e afundo meu rosto em seu pescoço,
podendo sentir seu cheiro incrível.
— Você pensa em ter mais filhos no futuro? — Ele pergunta de repente e
isso me faz ficar em silêncio.
Eu sei que o sonho de Adrian é ter filhos... sim, Evan já é para ele, mas sei
que ele quer mais. Só que eu não me sinto ainda preparado para isso. Eu amo
meu filho mais que tudo e amaria outra criança também, mas ainda não é o
momento.
— Claro que quero, mas não acho que seja por agora. Sabe, eu sempre
sonhei em ter uma gravidez daquelas que você acompanha cada momento. E
infelizmente com Evan não foi assim. Claro que fiz de tudo pelo meu filho, mas
também havia tristeza e mágoas junto a felicidade. Eu só quero em uma gravidez
futura poder viver toda a magia do momento — respondo a ele, depois de pensar
bastante.
— Eu entendo... vamos dormir um pouquinho? — Ele pergunta em tom

baixo.
— Vamos sim — respondo igualmente baixo e me aconchego ainda mais em
seu abraço.

***

Entro na sala de reuniões junto com Adrian no dia seguinte e posso ver
algumas cabeças se virando em nossa direção. Estamos em uma das salas sociais
de um hotel de luxo e há cinco homens na sala e apenas uma mulher, todos
sentados ao redor de uma mesa ampla de vidro.
— Bom dia, senhores! — Adrian cumprimenta a todos e eu apenas aceno
com a cabeça.
— É bom receber o senhor aqui. — Um dos homens diz e se levanta para
pegar na mão de Adrian.

— Espero que possamos fazer bons negócios — Adrian diz e há um sorriso


contido em seu rosto.
Meu Deus, adoro o Adrian de negócios.
Meu namorado puxa uma cadeira para mim e se senta ao meu lado. Nossa
reunião começa e eles discutem preços de mercadoria. Os homens são
representantes internacionais e isso me dá um pouco da dimensão do que Adrian
faz. Sempre soube que ele é rico, mas não imaginava que ele tinha tanto, até estar
trabalhando com ele. A família D'Ávila é uma das maiores produtoras de gado
de corte e possui várias fazendas voltadas apenas para essa criação, sem contar
algumas outras.
— O preço que o senhor está propondo é muito abaixo do que podemos
concordar. Nossa proposta continua sendo a primeira que apresentei —
interrompo um dos homens que me olha com desdém.
— Pensei que fosse o senhor D'Ávila quem decidisse isso. — Ele diz com
deboche e eu estou prestes a responder, mas Adrian o faz antes.
— Tudo que tem relação a nossas negociações, Castiel está apto a opinar e
propor o que será melhor para mim. Ele trabalha junto comigo e merece o devido
respeito, pois do contrário, nós acabamos nossa reunião agora — Adrian diz de
forma dura e o homem fecha a expressão. — E o preço que o senhor está
propondo é realmente baixo e tenho propostas melhores, então decida — diz por
fim e isso me faz rir discretamente.
Nossa reunião dura por mais uma hora e no final acabamos por fechar
contrato com eles. Eu me despeço de todos e faço questão de ignorar o babaca
de mais cedo.
Saio de mãos dadas com Adrian do local e seguimos até um restaurante
para comemorar nossos contratos.
Acabamos fazendo uma visita a Angie e Enzo, e logo depois seguimos para
casa, já sentindo a saudade do nosso pequeno bater.

***

Três meses depois...

Desço as escadas da casa de Adrian e assim que chego no andar de baixo,


prestes a seguir meu caminho até o escritório, vejo Maurício entrar correndo em
casa chorando. Ele bate à porta com força e sobe as escadas sem olhar para trás.
Fico bons segundos parado no mesmo lugar, tentando saber o que aconteceu.
Respiro fundo e subo as escadas novamente, seguinte até seu quarto. Deixo
algumas batidas na porta, mas não obtenho resposta, o que me faz abrir a porta e
entrar no quarto.
Logo meus olhos capturam a imagem de Mau deitado na cama, chorando
abraçado a um travesseiro. Fecho a porta atrás de mim e caminho até ele, me
sentando no chão ao lado dele.
Levo minha mão até seus cabelos platinados e passo a acariciar eles,
tentando lhe dar algum tipo de conforto. Permaneço em silêncio, até que seu
choro vai cessando aos poucos e restam apenas alguns soluços.
— Quer me contar o que houve? — pergunto e seus olhos se abrem, e fico
triste em vê-los inchados e vermelhos.
— Ele estava beijando aquela espiga de milho — Maurício responde com a
voz falha e logo eu entendo o que quer dizer.
— Pensei que estivessem quase se acertando — falo e solto um suspiro.
— Eu também, ele me beijou ontem, mas parece que não significou nada.
Antônio prefere aquele varapau a mim. — Ele diz ressentido e isso me aperta o
peito.
— Você tem certeza mesmo que eles estavam se beijando? Pode ser um mal
entendido. — Tento, mas ele nega.
— Não é, Cas... eu vi! — Ele diz e volta a chorar. — Eu fui um idiota por
me iludir, se ele não me quis em todos esses anos, não seria agora.
— Ele beijar o Joaquim não quer dizer nada, eu acredito que Antônio
também sinta algo por você — falo, mas ele volta a negar com um aceno.

— Não sente, não. E quer saber? Eu desisto! — Ele diz e enxuga as


lágrimas do seu rosto com fúria.
Olho para ele com o cenho franzido e me preocupo com sua fala.
— O que quer dizer com isso? — pergunto a ele que se põe sentado na
cama.
— Tem um curso de literatura que sempre quis fazer, é nos EUA e eu vou.
Estou quase terminando minha faculdade e isso vai contar muito no meu diploma.
— Ele diz decidido e isso me faz suspirar.
Como duas pessoas que se amam podem ser tão cegas? O pior é ver a

burrada que estão fazendo, mas não poder fazer nada. Até porque a vida é deles
e são eles que devem tomar as rédeas de tudo.
— Você é quem sabe, se acha que isso é o melhor... siga em frente — falo e
me levanto. — Mas não quero que se arrependa no futuro — digo por fim e deixo
um beijo em sua testa.
— Eu não vou. — Ele diz convicto e eu quero mesmo acreditar em suas
palavras.
— Eu espero mesmo que não... nenhum dos dois — falo, mas acabo
sussurrando a última parte.

***

Eu me aconchego ainda mais nos braços de Adrian e abraço Evan, ajeitando


o cobertor em cima de nós. Estamos em uma sessão família enquanto assistimos
Rei Leão, um clássico que fez Evan simplesmente se apaixonar.
— Auugui! — Evan fala alto, tentando imitar o rugido de um leão e isso nos
faz rir.
— Meu Deus, amor... temos um leãozinho em casa — falo e aperto Evan
que solta uma gargalhada gostosa.
— Claro que temos, nosso reizinho ruivo — Adrian diz e bagunça os
cabelos do nosso filho, o que deixa ele irritado.
Continuo rindo dos meus dois meninos e logo voltamos a prestar atenção ao
filme. Evan acaba dormindo na metade e quando terminamos, nós subimos para o
colocar na cama. Nos últimos dias, Evan e eu acabamos mais aqui na casa de
Adrian do que na casa da minha vó. E nesses momentos parecemos uma
verdadeira família.
Ajeito Evan em seu berço e deixo um beijo em sua testa, vendo Adrian fazer
o mesmo logo depois. Ligo a babá eletrônica e saímos do quarto dele, seguindo
até o de Adrian que é bem em frente.
Troco de roupa, colocando uma camiseta enorme do meu namorado e logo
me junto a ele na cama.
— Estava pensando em uma coisa esses dias, mas estou com medo de falar
— Adrian diz e isso me faz rir.
— Medo do que, amor? É só falar — digo e volto a me deitar em seu peito,
sentindo seus pelos roçar em minha bochecha.
— Nos últimos meses nós dormimos juntos todos os dias e quando não
fazemos por algum motivo, sentimos falta um do outro. Você e Evan estão sempre
aqui em casa e tudo mais. Eu só queria que isso fosse permanente, entende?
Queria que vocês morassem comigo. — Ele fala e isso me pega de surpresa.
Eu me levanto do seu peito, ficando sentado na cama e fito seu rosto.
— Está falando sério? — pergunto, olhando fixamente para ele.
— Claro que sim, Cas... você e Evan são minha família. — Ele diz e isso
aquece meu coração.
— Mas essa foi a casa que você viveu por anos com ela — falo e vejo que
sua expressão muda um pouco. — Não pense que eu sinto ciúmes ou algo do
tipo, não é isso. É só que parece que estou invadindo algo, até dormir aqui com
você no começo era meio complicado para mim — confesso e ouço ele suspirar,
logo se sentando na cama também.
— Carolina sempre terá um espaço na minha vida, mas ela não está mais
aqui... você está. Eu quero continuar dividindo minha vida com você, Cas. E se
algo aqui te incomoda, nós podemos mudar e até reformar a casa. Eu só quero
que você e Evan estejam comigo. Vocês são minha família e essa casa também é
de vocês.
Sorrio para ele e pego em suas mãos, entrelaçando nossos dedos.
— Não precisa mudar nada, eu só queria saber que não estou tomando o
lugar de ninguém aqui — falo por fim.
— Não está e nunca esteve. O lugar em meu coração sempre foi seu. — Ele
diz e sinto meus olhos arderem com sua declaração.
Eu me guio até ele e me sento em seu colo, passando meus braços por seu
pescoço.
— Eu aceito... Até porque o meu também sempre pertenceu a você, mesmo
sem saber — falo baixo e encosto minha boca na sua, ainda mantendo meus olhos
conectados aos seus.
Suas mãos apertam minha cintura e seus lábios se juntam aos meus.
E com isso selamos um novo passo em nossas vidas.
Desço os pequenos degraus da varanda e sigo até a casa da minha avó.
Ainda é bem cedo e aproveito desse fato para a encontrar lá. Apesar de já ter

aceitado me mudar definitivamente para a casa de Adrian, que será nossa casa
agora, eu sinto que tenho a obrigação de contar a Dona Clarisse primeiro. Aliás,
minha avó é uma parte importante da minha vida e sempre esteve ao meu lado,
nada mais justo do que ela estar presente nas decisões que eu tomo em relação a

minha nova vida.


Caminho mais alguns passos e meus olhos avistam Antônio de longe,
montado em um cavalo. Solto um longo suspiro e paro no lugar, esperando que
ele me veja. E isso não demora muito a acontecer, o que me faz acenar em sua
direção, o chamando até mim.

— Oi Cas! — Ele diz com um sorriso pequeno assim que chega até mim.
— Oi, Toni, hum... Eu queria te perguntar uma coisa — falo e ele logo
desce do cavalo, ficando da mesma altura que eu.
— Pode falar, Cas. — Ele diz e isso me faz hesitar um pouco.
Eu não quero ser invasivo com a vida do meu amigo, mas quero saber se ele
realmente está tendo algo com o Joaquim.

— Você não precisa responder se não quiser. Eu só queria saber se você e


Joaquim estão juntos? — pergunto e olho para ele, que levanta uma sobrancelha
para mim. — É que vocês estão bem amigos ultimamente, pensei que talvez você
já tenha superado sua paixão pelo Maurício — falo como quem não quer nada e
ouço ele suspirar profundamente.
— Joaquim e eu não temos nada, ele gosta de mim, mas eu não sinto o
mesmo. Ontem ele até me beijou, mas eu não senti nada. — Ele responde e isso

me faz ficar um pouquinho feliz. — E não, eu não superei minha paixão por
Maurício, pois é bem mais que isso.
— E por que ainda não disse isso a ele? — pergunto sem entender.

Tudo é tão mais fácil com diálogo, por que as pessoas simplesmente pulam
isso?
— Porque eu não posso. Nós não somos compatíveis e ele merece alguém
melhor que eu. — Ele diz sério, mas há mágoa e tristeza na sua voz.
— Isso de novo, Antônio? Pelo amor de Deus, quantas vezes eu vou ter que
te dizer que classe social não importa? Eu também sou pobre e ainda com um
filho na bagagem, mas Adrian me ama mesmo assim — falo, já cansado dessa
sua fala. Eu sei que não é algo fácil de aceitar, mas para o amor isso não existe.
— Você pelo menos terminou os estudos, sabe ler, escrever e se comportar
bem diante as pessoas. Eu não, Castiel, eu perdi muita coisa na minha vida e não
vou envergonhar ninguém assim. O que um futuro professor vai querer comigo?
— Ele pergunta e isso me faz suspirar.
Respiro fundo e fecho meus olhos com força.
— Então é isso, vai deixá-lo ir embora sem saber que você o ama? —
pergunto e quando abro meus olhos novamente, vejo surpresa em seu olhar.
— Ele vai embora? — Antônio pergunta baixo e eu assinto com a cabeça.
— Em uma semana... Ele decidiu aceitar fazer um curso de literatura nos

EUA — respondo e vejo ele perder o foco por alguns segundos.


Antônio não diz nada por um tempo, até subir em seu cavalo novamente.
Ouço ele respirar fundo e em seguida ajeita o chapéu em sua cabeça.
— É o melhor para ele. — Ele diz por fim e o vejo sumir galopando em seu
cavalo.
Solto um suspiro e volto a andar até a casa da minha vó. Agora só me resta
esperar que a vida dê um jeito nesses dois cabeças dura.

***
Entro em casa e escuto barulho na cozinha, o que me faz seguir até lá. Assim
que entro no cômodo, posso ver dona Clarisse acabando de colocar um bolo de
fubá em cima da mesa.
— Cheguei na hora boa — falo chamando sua atenção e ela logo sorri para

mim.
— Pensei que nem te veria tão cedo, quase não vem mais em casa. — Ela
diz com um pouco de deboche na voz e isso me faz revirar os olhos. “Isso é tão
dona Clarisse.”
— Sei que a senhora estava morrendo de saudades — falo convencido e
vou até ela, deixando um beijo em sua bochecha.
— Até parece. — Ela retruca.
Eu me sento na mesa e me sirvo com uma xícara de chá de erva cidreira e
pego um pedaço de bolo. Olho para minha avó por alguns instantes e tento
imaginar qual será a sua reação quando souber que vou me mudar.
Confesso que o pedido de Adrian ontem me pegou muito de surpresa, mas
admito que me senti especial com ele. Adrian, Evan e eu já somos uma família e
nada mais justo do que estarmos juntos. Meu único receio era por causa da
falecida esposa dele, mas depois de sua declaração, eu tive certeza da minha
decisão.
— Vó... eu preciso te contar uma coisa — falo e vejo seu olhar sobre mim.
— Estou ouvindo. — Ela responde e volta a comer.
Deixo meu bolo de lado e tomo mais um gole de chá, respirando fundo.
— Eu vou me mudar para a casa de Adrian... nossa casa a partir de agora
— falo e o silêncio toma conta do ambiente.
Sinto meu coração acelerado dentro do meu peito e fico com meus olhos
fixos nela. Só espero que ela não me ache um ingrato por isso.
— Até que enfim, não? Já deveria ter ido há muito tempo. — Ela responde
após alguns segundos e eu escancaro minha boca em descrença.
— Vó! Eu achei que a senhora fosse brigar comigo... sei lá! — falo quando
me recupero e ouço ela gargalhar.
— Até parece que você não me conhece, Castiel. Você e Adrian já possuem
uma família juntos e esse passo é importante para vocês. Desde que chegou, eu
sabia que não ficaria aqui comigo por muito tempo. Viva sua vida, querido, eu
estou feliz por você. — Ela diz sorrindo e suas palavras me aquecem por dentro.
— Obrigado vó, a senhora é demais — falo rindo e ela faz um gesto de
desdém com a mão.
— Eu sei. — Ela diz convencida e isso me faz rir ainda mais.
Nem sei porque senti um pouco de medo de falar com ela. De todas as
pessoas no mundo, minha avó é a que mais me apoia e fica feliz com minhas
decisões.
Termino de tomar meu café, jogando conversa fora com a minha avó. Até
que ligo para Adrian e peço para ele me ajudar a empacotar minhas coisas e de
Evan.
***

Olho para as caixas que estão sendo colocadas em meu quarto e isso me
traz um sentimento bom. Quando fiz o pedido para Castiel vir morar comigo, eu
achei por um momento que receberia um “não”, mas foi bem diferente disso.
Saber que vou ter ele e nosso filho por perto me deixa muito feliz e
completo, pois eles são minha família agora. Às vezes eu paro para pensar e nem
acredito em todas as coisas que aconteceram em minha vida. Em sete meses a
minha vida mudou por completo. Ganhei um filho que para mim é todo meu
universo e ganhei também um companheiro que não leva desaforo para casa e

jamais se cala diante das situações mais difíceis.


Porra! Eu tenho tanto orgulho do meu namorado. Castiel é incrível em
vários sentidos e a cada dia que se passa, eu aprendo mais com ele.
— Ei, no que tanto pensa? Temos que arrumar as coisas aqui, cowboy. — A
voz macia de Cas chega aos meus ouvidos e isso me faz acordar para a
realidade.
Eu me viro para ele e abro um sorriso em sua direção, logo o puxando pela
cintura, o trazendo até mim.
— Você não faz ideia do quanto eu estou feliz — falo sorrindo enquanto
olho em seus olhos.
— Eu também estou, amor... muito! — Ele confessa e me sinto satisfeito.
Aproximo meu rosto do seu e deixo um beijo suave em seus lábios, mas que
logo se transforma em um beijo mais necessitado e com nossas línguas se
entrelaçando.
— Naaaaa... papai! — Uma vozinha brava nos chama atenção e isso nos
faz se afastar.
Assim que abro meus olhos, vejo um mini Castiel vindo em nossa direção

com um bico enorme nos lábios.


— Desculpa, ele queria os papais — Mau fala rindo e isso me leva a sorrir.
— Tudo bem, nós cuidamos dele agora, maninho — Falo para ele, que
assente e nos dá as costas.
Cas pega nosso filho em seus braços e acho essa a imagem mais linda do
mundo. Ok, eu sou louco por esses ruivos.
— Ei, ruivinho... você tem ciúmes é? — pergunto a ele e deixo uma
mordida suave em sua bochecha gorducha.
— Papa me. — Evan responde e eu solto uma risada.
— Ah, o papa é só seu? — pergunto e encaro ele que ainda está com um
biquinho. — Ele é meu também — falo e para o provocar, deixo um selinho em
Castiel que somente ri de nós dois.
Evan afasta nós dois e abraça forte Castiel. Balanço a cabeça em negação e
só consigo rir disso.
— Ok, vamos trabalhar.
Eu amei que ele veio, mas me dá uma preguiça em pensar em arrumar tudo.
Tomo coragem e vou ajudar Castiel com suas coisas. Evan também
“ajudou” a sua maneira, que era pegar as coisas e jogar no chão, o que fazia ele
rir, achando a coisa mais engraçada do mundo.

***

Coloco o corpo adormecido de Evan no berço e depois de deixar um beijo


em sua testa, saio do quarto com a babá eletrônica.
Entro em meu quarto e fecho a porta, podendo escutar o barulho do
chuveiro. Sorrio e deixo a babá eletrônica em cima da cama, e começo a tirar
minhas roupas em seguida. E assim que entro no banheiro, tenho a visão perfeita
de Castiel nu dentro do box.
— Aceita companhia? — pergunto, parado a centímetros dele.
Castiel se vira em minha direção e logo tenho um sorriso seu para mim.
— Se for a sua... sempre. — Ele responde e isso me faz sorrir.
Entro no box junto com ele e abraço seu corpo, sentindo a água morna cair
em nossos corpos. Deixo um beijo em sua testa e em seguida pego o sabonete
líquido, o derramando na esponja de banho.
— O que acha de cinema? — pergunto e começo a passar a esponja
lentamente por seu corpo.
— Hoje? — Ele pergunta e seus olhos fitam os meus.
— Sim. Maurício está em casa e podemos deixar o Evan com ele.
Aproveitar que temos babá grátis por mais alguns dias — falo e isso o faz rir.
— É, pode ser. — Ele diz e se vir de costas para mim. — Mas o que você
está achando de toda essa história do Mau ir para longe? — Castiel pergunta de
repente e isso me pega um pouco de surpresa.
— Sinceramente? Eu não queria, mas é a vida dele e ele é maior de idade.
Eu só tenho medo, pois me sinto responsável por ele, mas Maurício também tem
que aprender a viver e lidar com as próprias decisões — respondo sincero e
vejo ele assentir de leve.
— É! — Ele diz apenas e isso me deixa um pouco intrigado.
Esse assunto fica esquecido e nós terminamos nosso banho juntos, apenas
trocando alguns beijos e toques carinhosos.
Nos arrumamos rapidamente e depois de pedir para Maurício ficar com
Evan, nós saímos de casa.

***

Chegamos até que rápido na cidade e seguimos diretamente até o pequeno


shopping que há aqui. E assim que entramos no cinema, deixo Cas na fila para
comprar nossos ingressos e vou comprar pipoca e refrigerante.
Fico uns quinze minutos esperando por causa das pessoas a minha frente,
até que sou atendido e vou encontrar Castiel. Mas assim que estou chegando
perto dele, vejo um cara se aproximar com um sorriso idiota.
— Bem que dizem que os ruivos são a perfeição. — O cara chega falando e
isso me faz trincar os dentes com raiva, mas resolvo parar e ver até onde o idiota
chega com suas cantadas imbecis.
— Pois é, mas ninguém pediu sua opinião — Castiel responde com ironia e
isso me faz rir.
— Que isso, querido? Mais amor. — O cara diz ainda sorrindo e reviro
meus olhos. — Está sozinho? — Ele pergunta e seu olhar percorre o corpo de
Castiel como se ele fosse um pedaço de carne.
— Primeiro, eu não sou seu querido e segundo, não importa se estou
sozinho ou não, só quero você longe de mim — Castiel responde sério e isso faz
o sorriso do cara desaparecer.
— Está se achando demais, você nem é tudo isso. — O cara diz e isso me
faz rir e voltar a andar até eles.
— E por que está aqui ainda? — Castiel pergunta e seus olhos me
encontram.
— Algum problema? — pergunto assim que chego até eles e meus olhos se

fixam no cara à minha frente, que dá um passo para trás.


— Não, amor, vamos? — Cas pergunta, fingindo que o ser ao nosso lado
nem existe.
— Vamos — respondo e passo meu braço ao redor da sua cintura, nos
guiando para longe do babaca.
Enquanto seguimos até a sala de cinema, eu acabo rindo e Castiel faz o
mesmo, pois eu sei que ele me viu parado olhando para eles. E eu me sinto tão
orgulhoso de não ter feito uma cena, pois o Adrian de antes faria isso, mas eu
confio em meu namorado e sei que ele sabe lidar muito bem com situações como
essa.
Mas o babaca fica esquecido assim que entramos na sala de cinema e
ficamos em um mundo completamente nosso.

***

— Eu não consigo superar aquele filme, amor — Castiel diz com a voz
embargada, enquanto estamos no carro seguindo para casa.
Ele está assim desde que o filme terminou, há quase uma hora atrás. Cas
ficou louco para ver o filme A cinco passos de você e não para de chorar. Ok,
confesso que até eu senti meu peito se apertar com aquele filme, mas parece que
meu namorado se afetou muito mais.
— Foi uma história linda, e olha que não gosto muito de filmes assim —
falo e ele me olha ofendido.
— Romance é o melhor. — Ele diz convicto e enxuga o rosto com um lenço
de papel. — O amor deles era tão bonito, mas eles não podiam nem se tocar.
Deve ser uma dor horrível. — Ele continua falando e suas palavras me fazem
refletir.
— Isso é verdade, nós devemos dar valor as pequenas coisas da vida.
Quantas vezes deixamos de abraçar alguém e só vamos sentir falta disso quando
não pudermos mais o fazer?
— Sim... eu te amo, tá? — Ele diz e isso me faz sorrir.
— Eu também te amo, meu cabelo de fogo — sorrio para ele e entrelaço sua
mão na minha, deixando um beijo nela em seguida.
Seguimos nosso caminho em meio a conversas e consigo fazer Castiel se
distrair um pouco do assunto filme.
Chegamos em casa por volta de umas onze horas da noite e vejo somente a

luz da sala acesa. Estaciono a caminhonete em frente à varanda e saio do veículo


junto com Castiel. Pego em sua mão e subimos os pequenos degraus, logo
entrando em casa.
Passamos pelo corredor e escutamos o absoluto silêncio pela casa.
— Maurício? — chamo pelo meu irmão, pensando que ele pode estar
dormindo.
— Na sala — escuto sua voz baixa responder e seguimos até lá.
Só que assim que entramos no cômodo, eu fico surpreso ao ver uma pessoa
diferente sentada em uma das poltronas.
Sinto a mão de Castiel apertar a minha com força e ao olhar para seu rosto,
não vejo mais nenhum rastro da felicidade de poucos minutos atrás.
Meus olhos se voltam para a mulher sentada que logo se levanta ao nos ver,
e sei que ele é a mãe de Castiel.
— O que você está fazendo aqui? — A voz baixa de Castiel pergunta e
posso sentir a mágoa e raiva contida ali.
— Eu precisava te ver, filho. — Ela diz e dá um passo em nossa direção,
mas para quando Cas faz um gesto com a mão.
Ele se solta de mim e da alguns passos para frente, ficando a poucos metros
da mulher.
— Filho? Eu não sou seu filho, eu deixei de ser há muito tempo. Assim
como você deixou de ser minha mãe. — Ele responde e suas palavras parecem
sair como lâminas de sua boca.
Olho para a mulher a minha frente e minha vontade é de rir. Quero rir do
destino sacana que vem trazendo todos os meus fantasmas à tona. Primeiro vem o

homem que é responsável pela minha existência e me abandonou ainda criança.


Segundo aparece o traste do homem que me engravidou e me descartou como
lixo. E agora essa mulher vem aqui como se ainda pudesse exigir algo de mim.
— O que você está fazendo aqui, Glória? — repito a pergunta e mantenho

minha expressão séria.


— Eu ainda sou sua mãe, Castiel. Você me deve respeito. — Ela responde e
isso me faz rir. Sim, eu solto uma risada nesse momento, mas não há nenhum
pingo de humor nela.
— Você quer respeito? — pergunto, mas não espero por uma resposta sua e

me aproximo dela. — Quando queremos respeito, primeiro respeitamos o nosso


próximo e você jamais fez isso. E sobre ser minha mãe, eu já disse e repito...
você não é minha mãe — falo e nem importo que minhas palavras saiam
cortantes e sem qualquer pingo de compaixão.
Glória me olha por um tempo, mas não diz nada e aproveito isso para
continuar falando.
— Minha mãe se chama Clarisse, foi ela quem me deu suporte quando você

me expulsou de casa com um filho na barriga. Eu devo ser uma pessoa muito
ruim mesmo, sabia? Já que nunca tive um pai e uma mãe de verdade, pelo menos
não os que deveriam ter esse papel na minha vida — falo com amargura e tento
me manter o mais firme possível.
— Eu me arrependo por isso, tudo bem? E você está muito bem pelo que
estou vendo. — Ela diz e aponta com a cabeça em direção a Adrian e faz um
gesto para a casa.

Olho para ela incrédulo e só então começo a entender o porquê de ela estar
aqui.
— É dinheiro, não é? Tenho certeza que Vitória te falou alguma coisa e

você veio correndo atrás de algo.


— Como pode pensar uma coisa dessas de mim? Eu nunca precisei do
dinheiro de ninguém e se estou aqui é porque quero me reaproximar de você. —
Ela diz me olhando fixamente, mas eu não acredito em nenhuma das suas
palavras.
— Só que eu não acredito em você. Teve quase três anos para poder se
reaproximar de mim... na verdade, você nem deveria ter me deixado ir — falo
com raiva.
— Pelo menos o pai do seu filho assumiu a responsabilidade. — Seus olhos
vão em direção a Adrian que continua no mesmo lugar desde que chegamos.
Dou alguns passos para trás e fico ao lado de Adrian novamente,
entrelaçando nossas mãos. Vejo que ele está apreensivo com toda essa situação e
sorrio um pouco para ele, mostrando que está tudo bem... que eu estou bem.
— Adrian é sim o pai do meu filho, mas ele não é o homem que me
engravidou e ainda me pediu para descartar meu filho — falo sério, olhando para
ela, e vejo a surpresa em seus olhos. — Esse homem é ou era o namorado de
Vitória, que ficava com nós dois ao mesmo tempo, mas eu nunca imaginei isso.
Creio que você deve o conhecer e pelo que sei de você, deve o tratar como um

verdadeiro rei, não é mesmo? — pergunto com ironia.


— Isso não pode ser possível, Alan é bom rapaz... ele jamais faria isso. —
Ela diz e respiro fundo para não explodir e antes que eu possa falar algo, Adrian
toma a frente.
— Mas sim, ele fez isso e tem sorte de eu não ter acabado com ele na última
vez que nos vimos. — Adrian diz sério e olha fixamente para a mulher a poucos
metros de nós. — Olha, eu não conheço a senhora e nem sei se quero, pois uma
mãe que abandona um filho como você fez, não deve ser uma boa pessoa. Só que
eu aviso uma coisa... eu não vou deixar ninguém fazer mal a Castiel ou ao meu
filho, pois eles são tudo de mais importante que eu tenho na vida e faço de tudo
para os proteger. Então, eu espero mesmo que a senhora não esteja armando nada
contra ele, pois as consequências disso não serão nada boas. — Ele diz em tom
de aviso e me sinto protegido pelas suas palavras e atitude.
— Eu... — Glória tenta dizer algo, mas parece estar processando as
palavras ditas por meu homem.

Olho para o relógio pendurado na parede da casa e solto um suspiro


pesado, já está bem tarde e não vou simplesmente mandar ela embora, mesmo
depois de tudo.
— Já está tarde, tem onde ficar? — pergunto, olhando diretamente para ela
que parece me olhar diferente agora.
— Eu... não. Eu só vim da capital e não pensei em mais nada. — Ela
responde e, apesar de tudo, me parece ser sincera.
— Tudo bem, acho que minha avó não vai negar pouso a própria filha —
falo e nesse instante um choro começa a soar pela babá eletrônica que está em
cima da mesinha de centro.
— Eu vou... — Maurício começa a dizer, mas é interrompido pelo irmão.
— Não, eu vou vê-lo — Adrian responde e me olha por um segundo. —
Você a leva? — Ele pergunta e eu assinto com a cabeça. — Ok, estou te
esperando. — Ele deixa um beijo em minha testa e sai da sala, subindo as
escadas no corredor.
O silêncio volta a reinar na sala, até que Maurício pede licença meio
constrangido e também vai atrás do irmão.
— Vamos, uma hora dessas ela já deve estar indo dormir — falo e sigo até
o corredor, indo em direção à porta.
Abro a porta e não espero por ela, apenas sigo meu caminho. Há alguns
postes de luz pelo trajeto até as casas onde os funcionários moram e isso deixa o
caminho melhor.
Em poucos segundos Glória me alcança e só então noto uma pequena mala
em sua mão. Eu continuo em silêncio e me concentro em levá-la até a casa de sua
mãe.
— Eu realmente sinto muito, Castiel. — Sua voz quebra o silêncio cortante
ao nosso redor e isso me faz suspirar.
— Será que sente mesmo? — retruco sem paciência.
Sinceramente, estou me sentindo muito cansado emocionalmente nos últimos
tempos. Várias pessoas que eu queria somente esquecer, resolveram surgir em
minha vida novamente. Justo agora que estou bem com a minha família de
verdade.
— Você me odeia, não é? — Sua pergunta sai baixa e me deixa pensativo,
mas não a respondo.
Apesar de tudo, eu não a odeio e nem ao homem que se diz meu pai. Alan
sim, aquele lá eu odeio com toadas as minhas forças. Mas isso não quer dizer
que eu queira Alessandro e Glória novamente em minha vida. Acho que eles
deveriam ter querido isso desde o princípio e não agora que não preciso mais
deles.
Caminhamos por mais alguns minutos em silêncio, até que chego à casa da
minha avó. Subo os pequenos degraus da varanda e dou graças a Deus pela luz
da sala ainda estar acesa.
Bato na porta duas vezes e a abro em seguida, podendo ver dona Clarisse
deitada no sofá, assistindo uma série que ela ama de paixão.
— Vó? — chamo com a voz calma e logo sua cabeça se vira em minha
direção.
— Oi, querido... veio ver Damon Salvatore também? Já falei que amo esse
vampiro? — Ela pergunta e isso me faz rir, negando com a cabeça.
— Não... na verdade, vim te trazer uma pessoa — falo um pouco mais
sério, vendo seu olhar curioso sobre mim.
— É um vampiro? — Rio de sua pergunta e nego novamente.
— Ah, então não quero. — Ela diz com graça, mas logo vejo seus olhos se
tornarem mais sérios quando minha “mãe” entra.
— Nem eu, mãe? — Glória pergunta com um sorriso pequeno e olha para
ela em expectativa.
E ver essa cena me deixa com ainda mais raiva dela, porque não foi só a
mim que ela abandonou, ela também se esqueceu que tinha uma mãe. E eu
sinceramente não sei o que ela quer agora, já que nós nunca significamos nada
para ela antes.

— O que ela está fazendo aqui? — Sua pergunta é direcionada a mim e isso
me faz perceber que minha avó também está com mágoa.
— É uma longa história, vó. Mas a senhora pode abriga-la por essa noite?
Lá em casa já está cheio — minto na cara dura mesmo, pois por enquanto eu
quero manter distância dela e deixar meu filho longe também.
Minha avó me olha por bons minutos e eu imploro a ela com o olhar. Dona
Clarisse solta um longo suspiro após um tempo e sei que ela já tomou sua
decisão.
— Tudo bem, seu antigo quarto está vago mesmo. — Ela diz sem muito

entusiasmo.
Sorrio pequeno em sua direção e vou até ela, lhe dando um forte abraço.
— Obrigado vó, eu já vou indo — falo quando me afasto dela e deixo um
beijo em sua testa.
Recebo um beijo da minha avó também e olho mais uma vez para Glória,
antes de sair da casa e fechar a porta.
Paro por alguns segundos na varanda e fecho meus olhos, tentando
processar tudo o que houve nos últimos minutos.
Balanço a cabeça em negação e afasto momentaneamente tudo o que
envolve a minha família. Sigo meu caminho para casa e assim que entro em meu
quarto junto com Adrian e o vejo deitado na cama com Evan, eu sinto todo o
peso do mundo sair das minhas costas.
Abro um sorriso vendo os dois abraçados na enorme cama e fecho a porta
devagar. Tiro meus sapatos e minha calça jeans, ficando apenas de camiseta e
boxer, caminhando até eles.
Adrian acorda do seu pequeno cochilo e me aconchega ao seu outro lado,
tendo Evan e eu em seus braços.
— Eu te amo, ok? — Ele sussurra sonolento e deixa um beijo em meus
cabelos.
— Okay! — sussurro de volta e deixo um beijo em seu peito descoberto,
deixando um também em Evan que dorme tranquilamente nos braços do pai.
E estando assim com a minha família, as pessoas que realmente me amam,
eu esqueço tudo por um momento e foco apenas nesse amor que eu sei ser maior
que tudo.
Abro os olhos um pouco assustado pela movimentação na cama e percebo
Adrian acabando de se levantar. Solto um suspiro e acompanho ele com olhar,

até que ele entre no banheiro. Meus olhos se desviam para Evan e vejo meu filho
ainda dormindo calmamente. Vejo às horas no relógio em cima da mesinha de
cabeceira e percebo que ainda está bem cedo para uma manhã de domingo.
Fecho meus olhos novamente e automaticamente me lembro da visita que

está a poucos metros aqui de casa. É estranho e incômodo saber que Glória está
tão perto depois de tantos anos. Eu só queria poder estar em paz com a minha
família, sem que fantasmas do passado me atormentassem sempre.
Tento dormir mais um pouco, mas minha cabeça cheia de pensamentos me
impede de fazer qualquer coisa. Então apenas me sento na cama em meio aos

lençóis e velo pelo sono de Evan, até que vejo Adrian sair do banho já vestido
em uma calça jeans.
— Ei, bom dia! — Ele fala com um sorriso e isso é suficiente para que eu
me sinta bem melhor.
— Bom dia, amor — respondo de volta e observo ele jogar a toalha que
estava em suas mãos em cima de uma poltrona e caminhar em minha direção, se
sentando ao meu lado na cama.

— Está tudo bem? — Ele pergunta me olhando com atenção e eu apenas


suspiro, deitando minha cabeça em seu peito, sentindo seus braços ao meu redor
em seguida.
— Eu nem sei mais, parece que todos do meu passado resolveram voltar
para me atormentar mais um pouquinho. É impressionante como algumas pessoas
acham que o tempo é capaz de fazer a gente esquecer, mas comigo não funciona
assim. Eu jamais vou me esquecer de nada que meus pais me fizeram e nem Alan.

E nem sei se um dia serei capaz de os perdoar, digo, ao meu pai e minha mãe,
pois Alan não merece nada e nunca terá um sentimento bom vindo de mim — falo
com frustração e sinto suas mãos acariciando meus cabelos com calma.

— Eu entendo como deve ser frustrante ter que conviver com pessoas que
simplesmente esqueceram da sua existência em algum momento, mas você é mais
forte que isso anjo. Se sua mãe não te faz bem, deixe isso bem claro a ela, faça o
mesmo que fez com Alessandro. Você não é obrigado a conviver e nem perdoar
ninguém, muito menos pessoas que viraram as costas para você quando precisou.
— Ele fala com calma e mantém seu tom baixo para não acordar Evan.
— É isso que vou fazer. Eu realmente não preciso dela e tenho certeza que
nem ela de mim — falo por fim e fecho meus olhos, apenas aproveitando os
carinhos de Adrian em mim.
Fico mais um tempo com meu namorido, apenas aproveitando estar em seus
braços, até Evan acordar e nos fazer viver para ele. Nossa, fui bem dramático
agora.
Descemos juntos para tomar café da manhã e quando chegamos a cozinha,
minha avó já estava com tudo pronto. E agradeço a Deus por não ver Glória ali
junto.
— Vó, acho que a senhora precisa de descanso — falo quando já estamos
todos na mesa e assim que as palavras saem da minha boca, um silêncio se

instala no cômodo.
Sinto os olhos da minha avó sobre mim e até busco o ar mais rápido, mas
me mantenho firme e olho de volta para ela.
— O que disse? — Ela se faz de desentendida e isso quase me faz rir.
— A senhora entendeu — falo e solto um suspiro. — Desde quando cheguei
aqui, nunca vi a senhora parar por um minuto sequer, sei que gosta de estar
sempre fazendo as coisas, mas tudo tem seu limite. Até nos fins de semana a
senhora está aqui em casa preparando as refeições, o que é ótimo, pois amamos
sua comida, mas acho que está na hora de diminuir o ritmo. Eu posso muito bem
fazer as tarefas aqui da casa, que agora é minha. Trabalho junto com o Adrian,
mas ainda tenho tempo e acho que posso te ajudar nisso. A senhora, sei lá... não
pensa em viajar ou curtir a aposentadoria? — pergunto por fim e vejo a
expressão de dona Clarisse séria para mim.
Eu sei que minha avó sempre foi independente e cheia de vida, mas acho
que está na hora dela curtir a própria vida. Trabalhou a vida inteira e nunca teve

um descanso digno.
— Está me chamando de velha, Castiel? — Ela pergunta de volta e eu quase
me engasgo com o ar.
— Oxe mulher, não! Eu só quero que a senhora aproveite a sua vida. Já
trabalhou a vida toda e ainda o faz, está na hora de curtir e quem sabe achar um
namorado — falo e sorrio sugestivo com a última parte.
— Ainda me parece que quer me ver pelas costas. — Ela diz e olho para
ela incrédulo.
— Vó! — falo e ela solta uma risada.
— Eu entendi, Cas. Prometo que vou pensar, mas por enquanto você vai me
ver por aqui. — Ela diz e por enquanto já me sinto satisfeito.
— Que bom — falo e me sinto feliz por ainda estar vivo depois dessa
conversa com ela.
Nosso café se passa sem mais grandes emoções e Adrian ainda fez algumas
piadinhas comigo depois.

***
Eu me sento nos degraus da varanda enquanto escuto Angie falando do outro
lado da linha e observo Adrian brincando com nosso filho na grama.
Solto uma risada ao ver meu namorido fingindo ser um touro enquanto Evan
quase se acaba de rir pulando nas costas do pai.
— Está rindo do quê? — Angie questiona e ele está sorrindo pelo tom de
voz.
— Adrian e Evan estão brincando de montaria, agora imagina a cena —
falo para meu amigo e ouço ele rir.
— Eu imagino. Nossa, não vejo à hora de ser Enzo brincando com nossos
filhos. — Ele diz e isso me faz sorrir.
— Aposto que ele vai ser um pai babão e super protetor, Enzo faz de tudo
por você e pelos bebês.
— Sim e eu o amo tanto por isso, às vezes nem parece real tudo o que
estamos vivendo. Passamos por tantas coisas, mas estamos firmes. — Ele diz e
ouço sua voz embargar.
— É porque existe amor entre vocês, Angie, e isso que importa. E a partir
de agora será somente felicidade pra vocês.
— Pra você também, Cas. Você merece tudo o que está vivendo, não deixe
que essas pessoas do passado estraguem tudo. — Ele diz se referindo a Glória,
já que contei a ele sobre ela estar aqui.
— Não vou... aliás, tenho uma família para me apoiar sempre.
— Tem sim. — Ele confirma e isso já é mais do que suficiente para que eu
me sinta amado.
Converso mais um pouco com Angie, até que ele me abandona para ir
comer sorvete... coisas de grávido.
Meus olhos se voltam para os meus dois amores se divertindo no quintal,
até que noto uma sombra parar ao meu lado.
Glória olha fixamente para Evan e isso me deixa um pouco incomodado.
— É ele? — Ela pergunta com a voz baixa e em seguida se vira para mim.
— Sim, ele é meu filho.
— Se parece muito com você. — Ela observa e isso me deixa satisfeito.
— Eu amaria meu filho de qualquer forma, pois ele é tudo para mim, mas é
bom saber que ele não tem nenhum traço daquele que ajudou a conceber ele. E
fico feliz que aos poucos, os traços que ele está ganhando sejam do verdadeiro
pai dele. Não digo na questão física e sim do jeito de ser, pois o caráter é o mais
importante — falo e vejo que ela fica surpresa com minhas palavras.
— É bom saber que você encontrou alguém que te aceitou com um filho de
outro. — Ela diz e isso me faz rir.
— Não, Adrian quem me aceitou junto com Evan. Em nenhum momento meu
filho foi algo a ser aceitado, ele simplesmente foi amado por Adrian desde o
princípio — digo simples e me levanto.

Observo a mulher em minha frente por alguns segundos e infelizmente eu


não sinto mais nada de bom em relação a ela.
Noto que ela está com a pequena mala que trouxe em mãos e isso me causa
um certo alívio, pois eu não quero estar perto dela, não agora pelo menos.
— Olha, eu vou te dizer a mesma coisa que disse a Alessandro há alguns
meses atrás quando ele me chamou para conversar — começo a dizer e percebo
que ela ficou surpresa com a menção ao meu pai.
— Você o viu? Onde? — Glória pergunta com curiosidade e um pouco de
expectativa.

E perceber isso me deixa com raiva, pois ela ainda ama um homem que a
traiu e abandonou. Só que ela nunca teve a decência de ser um pouco mais
flexível com quem realmente precisava dela.
— Ele mora na cidade, está casado com uma mulher que tem alguns
negócios com meu namorado. Eu não sei muito da vida dele e nem faço questão.
— Sou duro em minhas palavras e percebo o impacto delas em Glória. — Mas
continuando... Eu não sei porque veio e não acredito no que me disse ontem.
Você teve quase três anos para poder me pedir perdão e não o fez, mas acha que
está no direito agora. Eu não te odeio, que isso fique bem claro, mas também não
te quero na minha vida — falo e vejo ela tentar me dizer algo, mas prossigo.
— Eu tenho uma família de verdade, pessoas que me acolheram nos
momentos em que mais precisei. E essa família não é você, não é Alessandro e
também não é a Vitória. Na verdade, acho que nunca foram — solto um suspiro
cansado e entrelaço minhas mãos, olhando fixamente em seus olhos. — Eu não
estou pronto para te perdoar agora e nem sei se um dia vou estar. E acredito que
sua vontade por perdão não é verdadeira, talvez quando você souber o real
significado dessa palavra, nós possamos conversar novamente. Só que agora eu
te quero longe e quero poder viver em paz com a minha família. E mais uma
coisa, Glória... acho que não é a mim que você deve pedir perdão de verdade, eu
realmente já superei tudo o que me fez, mas minha vó não — digo e vejo seus
olhos brilharem pelas lágrimas, talvez ela ainda tenha sentimentos.
— Aquela mulher sempre fez de tudo por você quando ainda era mais nova
e eu me lembro disso, pois acompanhei desde criança. Ela não merecia o
abandono, não merecia que você a esquecesse da forma que fez. Você se tornou
uma mulher amarga e vazia por um homem que nem vale a pena, pois ele te
trocou por dinheiro. E você trocou sua família pela amargura. Talvez ainda haja
tempo para vocês duas, antes que seja tarde e você se arrependa. Não estou te
convidando para vim visitar ela sempre, pois eu não quero mesmo sua presença,
mas você pode dar um jeito na situação e pedir perdão para a pessoa que mais te
ama no mundo, mesmo você não merecendo.
Quando termino de falar, seu rosto está repleto de lágrimas e isso é bom,
mostra que ela está acordando para a realidade.
— Eu vou tentar... Adeus, Castiel! — Ela fala após alguns segundos em
silêncio e se vai.
Observo ela caminhando até a entrada da fazenda e em seguida entrando em
um carro popular simples. E enquanto vejo ela indo embora, eu me sinto em paz.
Infelizmente nós temos que enfrentar algumas pessoas e situações do
passado, basta a gente saber como lidar com elas. Eu só espero que de agora em
diante, eu possa viver em paz... somente com o meu presente.
Coloco as coisas de Maurício na caminhonete e me sinto como se estivesse
deixando um filho meu ir embora. Algumas semanas se passaram e infelizmente

hoje é o dia em que meu irmão embarca para os EUA. Eu ainda não entendi o
porquê de ele ter mudado de opinião tão rápido em relação a esse curso fora.
Pois há alguns meses atrás ele disse que não iria de forma alguma, mas de
repente mudou de ideia.

Na realidade, eu até suspeito o porquê de sua decisão e acho muito errada,


mas é a vida dele. E bem, já está na hora dele aprender a lidar com as próprias
decisões.
— Vamos? — chamo ele que está terminando de se despedir de dona
Clarisse.

— Calma, deixa eu me despedir direito... vou ficar um ano fora. — Ele diz
rindo e volta a abraçar um Evan sonolento que estava nos braços de Castiel. —
Aí, vou morrer de saudades do meu foguinho — diz e enche Evan de beijos, que
solta algumas risadinhas.
— É só não ir — Castiel diz sério, olhando em sua direção, e vejo meu
irmão colocar uma expressão triste no rosto.
— Sabe que eu preciso, Cas. — Ele diz e solta um suspiro, entregando

Evan de volta para Castiel e o abraça em seguida.


Observo Maurício pegar sua mochila e olhar em direção às casas dos peões
por alguns segundos, como se esperasse por algo, mas logo desiste e caminha até
a caminhonete.
— Vou sentir saudades, amo todos vocês. — Ele diz com a voz embargada e
entra no veículo.
Solto um suspiro e caminho até Cas e nosso filho, deixando um beijo neles

antes de entrar na caminhonete e seguir rumo ao aeroporto da cidade.


Nosso caminho até o aeroporto é feito em completo silêncio, já que
Maurício não fez muita questão de falar alguma coisa.

Eu realmente não sei se é uma boa ideia ele ir morar fora logo agora, mas
também não posso o impedir de ir. Apesar de me sentir muito responsável por
ele, Mau já tem a capacidade de decidir sobre a sua vida e eu só posso aceitar
esse fato.
Chegamos ao aeroporto quase duas horas depois e acabamos por encontrar
Marcos e Melissa junto com a pequena Ana. Teve mais uma sessão de
despedidas e lágrimas, já que Marcos também se sente na obrigação de proteger
nosso irmão mais novo.
Esperamos pacientemente até o voo de Maurício ser chamado e quando isso
acontece, realmente cai a ficha de que meu irmãozinho está me deixando.
— Tem certeza que vai ficar bem lá? — Melissa é quem pergunta, como
uma boa mãe preocupada.
— Vou sim, Mel, o Victor também está indo e não estarei tão sozinho. —
Ele responde e eu reviro os olhos.
— Não confio nesse seu amigo — falo a contragosto e Marcos solta uma
risada, o que faz Ana Clara imitar o pai.
— Você morre de ciúmes, isso sim — Marcos debocha e faço uma careta,

pois ele está certo.


— Parem os dois e venham me dar um abraço — Maurício fala quase
chorando novamente e nós fazemos o que ele pediu.
Marcos entrega Ana para Melissa e vamos até Mau, apertando nosso caçula
em um abraço. E eu me sinto tão bem estando junto aos meus irmãos, que são
tudo o que me restou dos meus pais.
— Eu amo vocês! — Mau diz com a voz embargada e eu luto para não
deixar as minhas lágrimas caírem também.
— Nós também, maninho. Estamos aqui para tudo o que precisar, não se
esqueça — Marcos diz e deixa um beijo em sua testa, se afastando do abraço em
seguida.
Olho para meu irmão e o abraço mais uma vez, beijando seus cabelos
brancos, que ele diz ser platinado.
— Tem certeza que é isso que você quer? — pergunto baixinho em seu
ouvido.

Eu me afasto dele e olho em seus olhos, podendo ouvir a última chamada


para o voo dele.
— É sim. — Ele responde, mas não há confiança em suas palavras.
Sorrio pequeno e deixo um beijo em sua testa.
— Vai com Deus! — falo e deixo ele ir.
Vejo Maurício acenar para nós com lágrimas descendo por seu rosto e logo
ele passa pelo portão de embarque, seguindo para uma nova fase da sua vida.

***

Entro em meu escritório e deixo meu chapéu pendurado perto da porta,


fechando a mesma em seguida. E assim que levanto meus olhos para ver o
ambiente, fico surpreso ao ver Antônio sentado em uma cadeira de frente para a
minha mesa.
— Oi, amor... o Toni quer falar com você — Cas diz assim que me nota e se
levanta, vindo até mim. — Acho que não é boa coisa, mas por favor não aceita o
que ele disser — Cas sussurra em meu ouvido e olho confuso para ele.
— Como você sabe que não é boa coisa? — pergunto também sussurrando e
ele me olha como se fosse óbvio.
— Conheço meu amigo. — Ele sussurra de volta e deixa um beijo em meu
rosto. — Vou buscar café pra vocês, fiquem à vontade — diz e sai da sala em
seguida.
Ainda me sinto confuso com o que Castiel disse e sigo até minha mesa, me
sentando na cadeira de couro.
— No que eu posso te ajudar, Antônio? — pergunto com calma e me
recosto na cadeira, observando sua expressão séria e meio abatida.
Ele suspira e tira o chapéu da cabeça, fixando seus olhos em mim.
— Quero pedir demissão, senhor. — Ele diz e fico surpreso.
— E por que isso? Você não está mais gostando de trabalhar aqui? —
pergunto, querendo o entender.
Antônio trabalha nessa fazenda desde que eu era apenas um adolescente e
sempre disse que amava o lugar, que não sairia daqui por nada. E apesar de não
sermos amigos, eu o admiro bastante.
— Não é isso, senhor, eu... só preciso de novos ares. — Ele responde e
então entendo onde ele quer chegar.
Penso por alguns minutos, enquanto a sala mergulha em completo silêncio.
— Eu não vou te demitir, Antônio, mas se quer novos ares... tenho uma
proposta pra você — falo e ele me olha surpreso.
— Está falando sério? Eu só... — Ele tenta, mas eu o interrompo.
— Eu sei porque quer sair daqui, não pense que não sei das coisas — falo e
noto ele ainda mais surpreso. — Mas já que não quer continuar aqui, eu tenho
uma solução.
— Qual? — Ele pergunta e eu sorrio.
— Estou precisando de um novo gerente na fazendo Esmeralda, acho que
você pode dar conta disso, não? — pergunto, olhando em seus olhos.
— Está falando sério? — Ele pergunta incrédulo e pela primeira vez um
sorriso pequeno aparece em seu rosto.
— Estou sim, acho que você merece uma promoção. Já está aqui há anos e
sempre foi um ótimo funcionário. E eu realmente não quero te demitir, Antônio,
então vamos apenas arrumar uma solução para o problema — falo e ele ainda me
olha sem acreditar.
O observo e aos poucos seu sorriso vai morrendo quando parece perceber
algo.
— Eu não tenho estudos, senhor, acho que esse cargo não serve para mim.
— Ele diz e isso me pega totalmente de surpresa. — Mas obrigado mesmo assim
— diz e se levanta.
— Espera, isso não é um total impedimento — falo, chamando sua atenção,
e me levanto também. — A maioria do serviço são coisas que você sabe fazer e
já conhece, e o que não souber, Castiel vai te ajudar e eu também. A vaga é sua,

Antônio, basta você querer — falo por fim e vejo que ele parece estar em uma
luta interna.
— Eu vou pensar, amanhã te dou a resposta. — Ele responde e caminha até
a porta, saindo do escritório.
Volto a me sentar na cadeira e solto um suspiro.
— Agora as coisas fazem sentindo — falo comigo mesmo e abro meu
notebook, tentando me inteirar de algumas coisas da fazenda.
Muitas emoções para um só dia.

***

Apago as luzes do quarto de Evan e deixo somente o abajur ligado. Pego a


babá eletrônica e saio do quarto, descendo as escadas.
A casa parece estar um pouco vazia com somente nós três aqui, e Maurício
já começa a fazer falta.
Sinto o cheiro delicioso de comida e sigo até a cozinha, vendo meu
namorido apenas com uma bermuda e avental. E bem, eu não poderia estar tendo
uma visão melhor nesse momento. Os cabelos de Adrian estão presos em um
coque e sua expressão concentrada deixa ele ainda mais sexy.
— Acho que quero essa visão todos os dias — falo chamando sua atenção e
deixo a babá eletrônica em cima da mesa, seguindo até ele.
— Nós podemos entrar em um acordo, desde que você me dê uma visão
privilegiada também. — Ele sorri atrevido e me puxa com um de seus braços,
deixando um beijo em meus lábios.
— É um bom acordo, chefe D'Ávila — sorrio para ele e deixo mais um
beijo em sua boca.
Ele me solta e volta para suas panelas, o que me faz sentar em uma das
cadeiras da grande mesa de madeira e o observar.
— O que vamos ter para o jantar? — pergunto e sinto minha boca salivar
pelo cheiro que emana na cozinha.
— Arroz de forno e carne de panela com legumes. Está bom? É que eu não
sei muitas coisas. — Ele diz e acho isso fofo. Quem vê Adrian, nunca imagina
que ele também é um ogro fofo e cheio de amor.
— Está ótimo, Shrek — falo e vejo ele sorrir.
— Nossa, fazia tempo que você não me chamava assim. — Ele diz e pega
uma luva térmica, se abaixando e pegando uma travessa no forno.
— Não vou mais cometer esse erro — falo rindo e observo ele colocar a
travessa na mesa. — Quer que eu faça alguma coisa? — pergunto, me deliciando
com sua imagem.
— Que tal o suco? Ou prefere refrigerante? — Ele pergunta e volta para
perto do fogão, desligando o fogo da panela.
— Suco... refrigerante acaba com a saúde, mas é tão bom! — falo frustrado
e me levanto.
Sigo até a geladeira e pego uma vasilha pequena contendo polpa de acerola
e algumas laranjas.
— Que infelicidade — Adrian debocha e reviro meus olhos para ele.
Coloco as coisas em cima do balcão e pego o liquidificador. E enquanto
faço o suco, penso em algo que já está martelando na minha cabeça há alguns
dias.
— Amor? — chamo sua atenção, enquanto passo o suco por uma peneira.
— Oi, anjo. — Ele responde e esse apelido me faz sorrir.
— Eu estava pensando esses dias e vendo o Mau ir embora para estudar, me
deu vontade também — falo e escuto o barulho de algo caindo no chão.
Eu me viro e vejo Adrian me olhando paralisado enquanto uma travessa de
vidro está toda destruída no chão.
— Você quer ir embora? — Ele pergunta baixo e isso me faz rir.
— Não, meu Deus! Eu só quero começar a fazer uma faculdade, jamais
deixaria a minha família. — Eu explico e me abaixo no chão, passando a
recolher os cacos de vidro.
— Nossa, você quase me matou do coração agora. — Ele fala em um
suspiro e se abaixa para me ajudar.
— Bobo, eu jamais te deixaria — falo sincero e vejo ele sorrir.
— Se você quer isso, então faça. Há uma faculdade muito boa na cidade, o
Mau estudou lá. Só que você vai ter que esperar até o começo do ano para tentar
entrar, pois já estamos no meio do semestre. — Ele diz e eu concordo.
— Sim, eu só queria saber a sua opinião. Não que isso conte na minha
decisão, mas... — falo e ele solta uma risada.
Adrian se levanta e pega uma pá, juntando os resquícios de cacos de vidro.
— Já sabe o que vai fazer? — Ele pergunta assim que joga o conteúdo da
pá no lixo ao lado da pia.
— Administração, quero ser um profissional para te ajudar nos negócios —
respondo e ele me olha surpreso.
— Sério? — Adrian pergunta e se aproxima mais de mim, me prendendo
contra o balcão.
— Sim, é algo que sempre quis e agora tenho um motivo para fazer —
sorrio para ele e passo meus braços ao seu redor.
— Já disse que te amo hoje? — Ele pergunta e isso me faz rir.
— Só de manhã — respondo.
— Eu te amo, meu cabelo de fogo — diz com os lábios próximos aos meus
e sinto seu hálito gostoso.
— Eu te amo, meu cowboy idiota — sorrio para ele e deixo que nossos
lábios se encontrem em um beijo.

As mãos de Adrian apertam minha cintura e me leva para mais perto dele.
Nós aproveitamos nosso beijo devagar, até que a fome falou mais alto e nós nos
afastamos.
Terminamos de montar nossa mesa para o jantar e comemos em meio a
conversas e alguns planos para o futuro.
Meses depois...

Observo a imagem de Castiel com nosso afilhado Otávio em seus braços e


um sorriso involuntário se abre em meu rosto. Evan está sentadinho ao lado do
papa dele e olha encantado para o pequeno bebê.
Quando chegamos ontem a cidade para o chá de bebê surpresa dos gêmeos,

não imaginamos que eles estariam conosco em tão pouco tempo. E muito menos
que Angie e Enzo iriam nos convidar para sermos padrinhos de Otávio. Foi uma
surpresa para todos quando Angie entrou em trabalho de parto no meio da festa,
mas agora só há sorrisos bobos nos rostos de todos que veem os gêmeos.
É incrível ver como cada um deles puxou características de um dos pais.

Otávio tem a pele negra igual Angie, os olhos castanhos iguais aos da avó
materna e os cabelos também acastanhados. Já Giovani tem a pele clara, os olhos
azuis idênticos aos dos pais e os cabelos loiros como de Enzo. Mas mesmos não
sendo iguais na aparência, já se pode ver que há uma conexão incrível entre os
dois bebês.
— Amor? Quer segurar ele também? — A voz de Castiel me desperta dos
meus pensamentos e me aproximo dele, que está sentado em uma poltrona no

quarto de hospital.
— Tenho medo de machucar ele — confesso e Castiel sorri pra mim.
— Você não vai. — Ele diz com convicção e se levanta com o bebê em seus
braços.
E tenho que confessar... a imagem de Castiel com um bebê nos braços é a
coisa mais linda que existe. E a vontade de poder ter mais filhos com ele só
aumenta em meu peito. Evan já é uma parte importante da minha vida, meu

primogênito. Mas ainda há um desejo enorme em mim de ser pai mais vezes.
Poder acompanhar todas as fases de uma gravidez que seja de um fruto cheio de
amor.

— Faça com os seus braços o mesmo que estou fazendo com os meus —
Cas fala suavemente e eu faço o que ele me pede. Em seguida ele passa o
pequeno corpo frágil para meus braços e mesmo com muito medo de machucar
Otávio, eu acabo o pegando com o máximo de cuidado, o ajeitando em meus
braços.
Eu me sento na poltrona que Cas estava antes e logo sinto um peso em
minha perna. Sorrio ao ver Evan com o rostinho encostado em minha coxa,
enquanto olha fixamente para o bebê em meus braços.
— Nené me? — Evan pergunta e isso me faz rir.
— Não, ruivinho... o bebê é seu priminho, mas não é seu — falo ainda rindo
e escuto mais algumas risadas no quarto.
— Quem sabe no futuro, foguinho? - Angie provoca e vejo Enzo formar uma
careta enquanto segura Giovani em seus braços, sentado ao lado de Angie na
cama hospitalar.
— Nosso filho acabou de nascer, anjo... não me faça perder os cabelos
desde já — Enzo resmunga e isso nos faz rir ainda mais.
— Nené du Eva! — Evan resmunga e faz um bico nos lábios, o que deixa
ele ainda mais fofo.

Eu levanto uma sobrancelha enquanto olho para meu filho já todo


apaixonado pelo primo e volto a olhar o bebê que ainda dorme tranquilamente
em meus braços.
— Calma, filho... cresça primeiro e enfrente seu tio depois. — Entro na
onda e ouço Enzo bufar.
— Vocês são impossíveis, hein!? — Castiel fala rindo e sorrio para ele.
— Deixando esse assunto de futuro casal de lado, só para lembrar... os
padrinhos tem a obrigação de ficar com os afilhados quando os papais deles
quiserem privacidade — Ângelo fala e é impossível não rir.
— Angie! — Enzo o repreende, mas ele nem liga e apenas continua
sorrindo.
— Estou falando sério, já avisei o Lucio e a Maju também. — Ele diz e
Enzo até tapa o rosto com a mão livre, balançando a cabeça em negação.
— Maninho, você ainda vai ficar um bom tempo sem privacidade... então
aquieta o facho — Castiel diz, revirando os olhos, e Angie mostra língua para

ele.
Ficamos mais um tempo junto com Enzo, Angie e as crianças, até que o
horário de visitas acabou. E como nós temos que voltar para a fazenda hoje
ainda, acabamos por nos despedir deles ali mesmo, prometendo voltar em breve.
Evan faltou perder os olhos de tanto chorar quando dissemos que íamos
embora. Ele queria por toda lei levar Otávio junto com ele, dizendo que o bebê
era seu... nas palavras emboladas dele. E com muita força de vontade e canseira,
conseguimos ir embora com um Evan chorando em meus braços.

***

Chegamos na fazenda algumas horas depois, com Evan dormindo depois de


chorar muito. Estaciono o carro em frente nossa casa e Castiel desce logo em
seguida, pegando Evan de sua cadeirinha. Desço da caminhonete e pego a
pequena mala que levamos. Deixo a mesma na sala e saio logo em seguida,
resolvendo ver como estão as coisas aqui na fazenda.
Nos meses que se passaram tive que contratar mais dois peões para ajudar
em tudo por aqui. Já que Antônio aceitou a proposta que fiz para ele, felizmente.
E lembrar de Antônio me faz automaticamente lembrar de Maurício, que já
está há quatro meses morando nos EUA. Confesso que a saudade do meu irmão
está grande, mas ele ao menos me parece feliz por lá. Acho que no fim esse
tempo fora o fará bem, não só a ele, mas ao Antônio também. Pois não é preciso
ser vidente para saber que há algo forte entre os dois, eles só precisam se dar
conta disso.
Faço uma ronda rápida pela fazenda e vendo que está tudo em ordem, volto
para casa.
Tiro minhas botas quando entro e pego a mala que deixei encostada na
porta, subindo as escadas em seguida. Passo rapidamente pelo quarto de Evan e
vejo que ele ainda permanece dormindo calmamente.
Entro em meu quarto e fecho a porta, colocando a mala no chão. Não vejo
Castiel pelo quarto, mas o barulho de água caindo me chama atenção.
Abro um sorriso e tiro meu chapéu e minhas roupas. Caminho a passos
lentos até o banheiro e assim que entro no mesmo, a visão de Castiel nu chega até
meus olhos. E bem, ele é uma obra de arte que precisa ser apreciada.
Sem dizer nada eu sigo até o box em silêncio e entro no mesmo, levando
minhas mãos até seu quadril. Cas leva um pequeno susto, mas assim que percebe
que sou eu, ele apenas me lança um sorriso e continua tomando seu banho
tranquilamente.
Trago seu corpo para ainda mais junto do meu e encosto ele na parede fria
do box, sentindo a água morna cair sobre nossos corpos. Levo minha boca até
seu pescoço e sugo sua pele com meus lábios, vendo-o se arrepiar totalmente em
meus braços.
— Está querendo me provocar, cowboy? — Ele pergunta em um gemido e
sinto meu pau ficar ainda mais duro contra sua bunda.
— Talvez — respondo e deixo mais uma mordida em seu pescoço,
descendo meus beijos por suas costas nuas, sentindo sua pele macia.
Desligo o registro do chuveiro e assim que chego de frente à sua bunda,
deixo uma mordida em ambas as bandas, as apertando em minhas mãos. Castiel
solta alguns gemidos e sua respiração ofegante me faz querer continuar brincando
ainda mais.
Passo minha língua pela pele macia de sua bunda, abrindo suas bandas,
tendo a visão de sua entrada vermelhinha e apertada. Deixo minha língua traçar
um caminho nela e ouço Cas gemer ao mesmo tempo em que sua entrada se
contrai, fazendo meu pau fisgar. Lambuzo sua entrada de saliva e forço minha
língua o penetrar. Levo um dos meus dedos até o local e penetro ele em Castiel
aos poucos, o ouvindo suspirar.
— Mais! — Ele pede e isso me faz sorrir.
— Seu pedido é uma ordem, amor — falo e deixo mais um dedo meu ser
sugado por sua entrada, colocando mais um em seguida.
Deixo meus dedos e minha língua trabalhar em sua entrada, a deixando

ainda mais lubrificada e aberta para me receber. Quando me dou por satisfeito,
tiro meus dedos e minha boca dele, o ouvindo protestar. Eu me levanto, ficando
de pé novamente e viro seu corpo de frente para o meu, tomando sua boca na
minha. Devoro seus lábios com os meus e pego em suas coxas, fazendo ele
levantar e passar as pernas por meu quadril.
Passo uma de minhas mãos por sua coxa, deixando um aperto na mesma, até
encontrar seu pau pedindo por um pouco de atenção. Masturbo ele lentamente,
sentindo-o morder meu ombro para conter seus gemidos. O aperto ainda mais
contra a parede e levo meu pau até sua entrada, o penetrando lentamente, fazendo

nós dois gemer de prazer.


Cas tira sua boca do meu ombro e volta a me encarar, me fazendo deliciar
com sua expressão de prazer. Começo a me movimentar dentro dele aos poucos,
arrancando suspiros de nós dois. Encontro sua próstata alguns minutos depois e
passo a ir somente em seu ponto de prazer. Castiel tem suas unhas curtas
arranhando minhas costas enquanto vários gemidos saem de sua boca. Aumento
meus movimentos em seu membro e em pouco tempo ele está gozando entre nós
dois, se contraindo em volta do meu pau.
Sorrio para ele e levo minha mão suja de sua porra aos meus lábios,
sentindo seu gosto salgado em minha boca.
— Está fraquinho hoje, cabelo de fogo — provoco e deixo um selinho em
sua boca.
Castiel abre seus olhos, já que havia os fechados por causa do orgasmo e
me olha afiado.
— Cala a boca! Eu aguento bem mais. — Ele diz e isso me faz sorrir em
vitória.
— Ótimo, pois eu ainda não gozei. E só vou fazer isso com você montado
em cima de mim — sussurro em seu ouvido, deixando uma mordida em seu
lóbulo.
Paro de me mover dentro dele e deixo meu pau escorregar de sua entrada
por um momento. Saio com ele do box, ainda o tendo em meus braços. Assim que
voltamos para o quarto, coloco Cas sobre seus pés, notando suas pernas um
pouco fracas ainda. Ele solta seus braços de mim e aponta para a cama. Rio de
seu gesto e me jogo na cama, ficando sentado com as minhas costas apoiadas na
cabeceira. Castiel me olha por alguns segundos, até caminhar em direção à porta.
Fico confuso, mas um suspiro sai dos meus lábios quando vejo ele pegar o
chapéu pendurado ao lado da porta. Ele o coloca sobre os cabelos molhados e se
vira para mim. Não sei como é possível, mas essa visão me deixa ainda mais
duro e insano por ele. Sinto meu pau doer, tamanha a pressão e o aperto em
busca de algum alívio.
— Castiel... — aviso e há um sorriso sacana em seu rosto enquanto ele
caminha lentamente até a cama.
— Estou bem assim, amor? — Ele pergunta com a voz baixa e rouca,
mordendo seus lábios em seguida.
Minha vontade é de agarrar ele e o foder até não aguentar mais, mas espero
por seus próximos passos.
— Vai ficar melhor sentado em mim — sorrio para ele que solta uma
risada.
— Vamos ver... — Ele pisca para mim e sobe na cama.
Cas engatinha até mim, até ficar sentado em minhas coxas. E sem qualquer
aviso ele me coloca completamente em sua boca, sugando meu pau com força.
Fecho meus olhos, gemendo pela surpresa enquanto me controlo para não gozar
em sua boca.
Ele continua me massacrando por mais alguns minutos, até se dar por
satisfeito e guiar meu pau até sua entrada, descendo de uma só vez. Vejo que há
um resquício de dor por seu rosto, mas que também está misturado ao prazer.
Deixo minhas mãos se grudar em sua cintura, apertando a mesma com força
e trago ele para ainda mais perto, colando nossos corpos. Nossas bocas voltam a
se encontrar no mesmo momento em que Castiel começa a se mover em mim.
Sinto meu pau ir cada vez mais fundo dentro dele enquanto nós dois gememos em
meio ao beijo.
Suas unhas arranham meu peito, deixando minha pele ardida, mas ao invés
de dor, apenas sinto mais prazer. Ajudo ele em seus movimentos, os deixando
ainda mais rápidos e precisos, atingindo sua próstata em cada estocada.
Pego em seu membro, passando meu dedo por sua glande inchada. O
masturbo no mesmo ritmo em que meu pau se afunda dentro dele e sinto sua
entrada se contrair cada vez mais ao meu redor. E não aguentando mais, acabo
gozando em seu interior, sentindo todo meu corpo tremer durante o processo.
Ainda meio ofegante, saio de dentro de Castiel o deito na cama. Levo meus
dedos até sua entrada melada por meu gozo, o penetrando. Minha boca vai até
seu membro e passo minha língua por sua glande, sentindo seu pré-gozo. Os
gemidos de Castiel se tornam ainda mais altos e vejo suas mãos apertarem os
lençóis da cama com força. Isso me faz sorrir e em seguida levo seu pau
completamente para dentro da minha boca, o chupando. E em meio aos vários
gemidos e suor escorrendo cada vez mais por seu corpo, Castiel alcança seu
ápice, gozando em minha boca.
Seu membro sai com um barulho dos meus lábios e tiro meus dedos de sua
entrada, a vendo pulsar. Eu me jogo ofegante ao seu lado e puxo seu corpo para
junto do meu.
Permanecemos em silêncio enquanto deixamos nossas respirações se
acalmarem.
— Espero que Evan não tenha acordado com seus gemidos — provoco
Castiel que deixa uma mordida forte em meu ombro. — Aí, seu canibal! —
Passo minha mão pelo local e deixo um tapa em sua bunda.
— A culpa vai ser sua, eu só estava extravasando. — Ele diz e isso me faz

rir.
Abraço ele mais forte e deixo um beijo em seus cabelos suados, não tendo
mais meu chapéu ali, que acabou indo ao chão.
— Acho que você deve usar esse chapéu mais vezes.
— Vou pensar no seu caso, senhor D'Ávila. — Ele responde e fecha os
olhos, parecendo cansado.
— O que acha de um banho e dormir um pouco? — pergunto calmo e passo
minha mão por suas costas, em um carinho.
— Claro, mas você vai me dar banho... se estou assim a culpa é sua. — Ele
exige e eu reviro meus olhos.
E mesmo o achando muito exigente, acabo fazendo o que ele disse com o
maior prazer.
Sinto meu corpo inteiro reclamar e solto um gemido por sentir minha

entrada ardendo um pouco. E tudo culpa de quem? Daquele Shrek ninfomaníaco.


Solto um bocejo e abro meus olhos, me acostumando com claridade que entra no
quarto. Rolo na cama algumas vezes, até encontrar forças suficiente para me
levantar. Agradeço por estar vestido com uma camiseta de Adrian e um shorts de

dormir. Sigo até o banheiro e faço minha higiene matinal. Termino alguns minutos

depois e saio do quarto depois de calçar meus chinelos confortáveis de pelúcia.


Desço as escadas e já posso ouvir vozes vindas da cozinha, o que me faz
sorrir. Assim que chego no cômodo, vejo Evan sentado em cima da mesa de
madeira enquanto se lambuza com um bolo de chocolate. Ele se divide entre rir
das caretas que Adrian faz, sentado na cadeira a sua frente, e comer o pedaço de
bolo que está em sua mão pequena.
E se eu fico encantado com a cena a minha frente? Com certeza!
— Bom dia, família! — falo e sigo até eles com um sorriso em meu rosto.
Deixo um selinho em Adrian e beijo a bochecha suja de chocolate de Evan,
que me retribui com um beijo muito babado e doce em troca.
— Diaa! — Evan me responde prontamente, o que me faz rir.
— Bom dia, cabelo de fogo! — Adrian sorri para mim e ri quando eu faço

uma careta ao sentar na cadeira ao seu lado. Reviro meus e deixo um beliscão
em seu braço cheio de músculos.
— Cadê minha vó? Milagre ela ainda não estar aqui — falo e pego um
pedaço de bolo, começando a comer.
— Falando de mim pelas costas, Castiel? — Eu levo um susto ao ouvir a
voz da minha avó, que acabo dando um pulo na cadeira e me engasgado com o
pedaço de bolo.

Passo a tossir loucamente e acabo roubando a mamadeira de Evan, a


abrindo e tomando o leite que há ali. Respiro profundamente quando consigo
engolir o pedação de bolo entalado na garganta, e só então noto o bico nos lábios

do meu filho.
— Du Eva... — Ele diz com um beicinho e seus olhinhos estão cheios de
lágrimas que se formam.
Oh meu Deus, que maravilha!
— Desculpa bebê, papai vai fazer outro pra você — falo e deixo a
mamadeira vazia na mesa, me levantando em seguida. Pego Evan em meus
braços e deixo alguns beijos por seu rosto, o que faz ele me abraçar e afundar o
rosto em meu pescoço.
Escuto a risada de Adrian e olho para ele com meus olhos cerrados, o que
faz ele parar de rir na mesma hora.
— Para de ser uma hiena e vai fazer leite pro seu filho — falo e ele me olha
com uma sobrancelha arqueada.
— Mas foi você quem bebeu, a culpa não é minha. — Ele diz e reviro meus
olhos.
— A culpa é da dona Clarisse que chega igual a um fantasma — falo e
recebo um olhar nada agradável da minha avó, o que me faz calar a boca e
desviar o olhar. — Vai logo, Shrek... o filho também é seu — argumento e a

contragosto ele vai fazer o que eu pedi/mandei.


Após alguns minutos, estamos todos sentados à mesa novamente com um
Evan satisfeito depois de ter tomado a sua mamadeira, que dessa vez eu não
roubei.
— Vó? — chamo ela, que me olha de rabo de olho.
— Estou ouvindo. — Ela diz e continua a beber seu chá tranquilamente.
— A senhora podia fazer torta de frango, né? — peço com um sorriso, que
ela somente observa por alguns segundos e revira os olhos.
— Não sei se você merece, está sempre querendo me ver pelas costas.
— Ela resmunga e eu suspiro.
— Vó, não acho que um spa de um mês seja castigo. Adrian e eu só
queremos que a senhora descanse — falo e deito minha cabeça no ombro dele,
que está sentado ao meu lado.
— Ainda estou decidindo sobre isso. — Ela diz e me dou por vencido.

— Tudo bem, se a senhora não quiser eu quero! Até chamo o Angie para ir
comigo — falo sem mais paciência e pego o café de Adrian, tomando um gole.
— Ei, isso é meu! — Ele diz, mas não dou a mínima.
Terminamos de tomar nosso café, tendo um silêncio imenso como
companhia, sendo quebrado apenas pelos resmungos de Evan.
Adrian acaba pegando Evan e eles seguem em direção à sala, para a sessão
de desenhos matinal. Virou uma rotina de domingo para eles, o que eu acho muito
legal entre os dois.
Ficamos somente minha avó e eu, mas não ouso abrir minha boca para dizer
nada. É realmente ruim você querer o bem de alguém e essa pessoa não querer
ver. Tudo bem, eu sei que ela ama ser útil para alguma coisa, mas o que custa
curtir a vida um pouco? Ela já fez tanto pelos outros, fez tanto por mim.
Sinto uma mão segurar a minha por cima da mesa e quando levanto meus
olhos, encontro minha avó me olhando com carinho, o que me faz suspirar.
— Eu estava brincando, tudo bem? Eu sei que você só quer o melhor para
mim, mas eu não posso deixar de me sentir um pouco inútil às vezes. Eu sei que a
idade chega para todos e ela já chegou para mim há um tempo, mas quando estou
aqui na fazenda trabalhando, eu me sinto útil para algo. — Ela diz suavemente e
eu entendo o que ela quer dizer.
— Vó, eu te entendo, mas a senhora merece viver sua vida. E isso não vai
fazer a senhora ser menos. Você pode continuar fazendo as coisas que gosta, mas
também pode aproveitar o máximo de tudo. A senhora já fez tanto por mim, me
deixa fazer por você também? — peço com a voz um pouco embargada.
— Oh meu amor, eu te amo tanto, sabia? Agradeço a Deus pelo homem
maravilhoso que você se tornou. — Ela diz e se levanta em seguida, me puxando
para seus braços. — O que acha de me ajudar a fazer as malas? Acho que Emília
vai adorar ir para um spa. — Sua voz sussurra em meu ouvido e isso me faz rir.
— Ajudo, sim, mas quero minha torta — falo e recebo um tapa na bunda,
quase me levando a chorar.
— Aí não, vó! — choramingo e ouço sua risada gostosa, o que me faz
esquecer momentaneamente da dor.

***

— Amor? — ouço a voz de Adrian me chamar e abro um dos meus olhos,


ainda permanecendo deitado no grande sofá da sala.
— Fala, namorido — sorrio para ele e solto um resmungo ao que Evan se
põe de pé em cima da minha barriga.
— O que é namorido? — Adrian pergunta assim que chega na sala, e eu
quase perco o fôlego com a visão dele somente de calça jeans. Já disse que esse
homem é um deus? Porque ele é.
Desvio meus olhos do corpo dele, para não perder o foco e tiro Evan de
cima de mim, deixando-o brincar no chão cheio de brinquedos.
— É a junção de namorado com marido — respondo e vejo um sorriso
crescer em seu rosto.
— Interessante, mas por que não me contou que seu aniversário é em menos
de dois meses? Mais precisamente na véspera de Natal. — Ele pergunta e cruza
os braços em cima do peito, salientando ainda mais seus músculos. “Pai, me dê
forças.”
Solto um suspiro e me sento no sofá, me sentindo quase morto de preguiça.
— Então... eu esqueci — sorrio para ele e mando um beijo.
Adrian bufa irritado e descruza os braços, vindo até mim. Ele se senta ao meu
lado no sofá e me puxa para seu colo.
— Como você esquece do seu aniversário? — Ele pergunta incrédulo e eu
solto uma risada, deixando um beijo em seu queixo coberto pela barba. —
Muitas coisas, Shrek. Ah, não vá inventar de fazer festa — aviso e aponto meu
dedo para ele, que faz um bico nos lábios.
— Mas é seu aniversário e é véspera de Natal! — Ele diz exasperado e

minha vontade é rir da cara que ele faz.


— Sim, mas sem festas exageradas. Meu último aniversário foi apenas
minha vó, Evan e eu aqui, não gosto de coisas grandiosas.
— Nossa família e amigos vão estar aqui, então vai ter festa do mesmo
jeito. — Ele diz em vitória e eu reviro meus olhos.
Dou uma olhada rápida em Evan e vejo que ele está bem entretido com seus
bloquinhos de montar.
Volto a me ajeitar nos braços de Adrian e deito minha cabeça em seu

ombro, sentindo seu cheiro. Deixo um beijo em seu pescoço e vejo seus pelos se
arrepiar, o que me faz sorrir.
— Humm... fomos convidados para um jantar. — Ele diz de repente e isso
me faz olhá-lo.
— Jantar? — pergunto confuso, pois eu ainda não conheço muitas pessoas
nessa região.
— Na verdade, é leilão que vai ter essa noite e após tem o jantar. Toda a
verba arrecadada vai para o orfanato da cidade. Eu até doei dois cavalos para
serem leiloados. — Ele explica e acho uma boa ação.
— Isso é bom, por que não me disse antes? — meus olhos se focam nos
seus e vejo um pouco de apreensão neles.
— Desculpa, é que não achei que iria gostar muito de quem será o anfitrião.
— Ele diz e só isso é o suficiente para que eu possa compreender a situação.
— Alessandro? — pergunto e Adrian assente.
— Ele e a esposa Jaqueline fazem isso todos os anos.
— Pelo menos ele faz caridade — falo e respiro fundo. — Você podia ter
me falado desde o começo, amor, eu jamais vou deixar de fazer algo por causa
dele. E quer saber? Nós vamos nesse jantar — digo por fim e ele me olha por
alguns segundos, me analisando.
— Tem certeza? Você realmente não precisa ir comigo se não quiser. — Ele
começa, mas eu nego com a cabeça.
— Isso é para ajudar as crianças, certo? — pergunto e ele concorda. —
Ótimo, nós vamos por elas e não por eles — falo por fim e vejo um sorriso se
abrir no rosto do meu homem.
As mãos de Adrian vão até meu rosto e o toque delas em minha pele me
deixam arrepiado.
— Já disse que você é o homem mais incrível que existe? — Ele pergunta e
eu nego com um sorriso.
— Disse não, mas pode começar... — brinco e ele ri, deixando um beijo
demorado em meus lábios.
— Você é incrível, diabinho! — Ele diz olhando em meus olhos e é bom
ouvir essas palavras. Mas não por questão de vaidade, é bom ouvir porque eu
sei que elas são ditas com o coração.
— Não, amor... você que é incrível — sorrio para ele, pois essa é a
verdade.
Eu jamais poderia imaginar alguém como Adrian entrando na minha vida.
Não achei que fosse possível eu ser agraciado com alguém tão bom, mas a vida
me deu ele e eu sou imensamente feliz por isso.
Termino de ajeitar meu cabelo de frente ao espelho e gosto do resultado que
eu tenho. Adrian acabou me surpreendendo mais cedo quando me presenteou com

várias sacolas de roupas. Isso só me fez confirmar que ele já sabia que eu iria
com ele nesse jantar, e que meu namorado é muito exagerado.
— Está lindo, diabinho — ouço a voz sussurrada em meu ouvido, que me
faz suspirar e arrepiar.

As mãos de Adrian agarram minha cintura e prontamente me viram de frente


para ele, deixando nossos rostos a centímetros um do outro. Sorrio e passo meus
braços ao seu redor e fico nas pontas dos pés, para poder deixar um selinho em
sua boca.
— Eu sei, amor, mas você também não está atrás — falo e me afasto um

pouco dele, para o observar.


Adrian está usando calça jeans escura, camisa branca e sapatos sociais,
além de ter um blazer azul marinho compondo seu look. Eu amo meu homem com
seu costumeiro traje de cowboy, mas ele vestido desse modo também é um
escândalo.
— Eu prefiro minhas botas, mas às vezes tenho que usar esses sapatos nada

confortáveis. — Ele resmunga e isso me faz sorrir, apontando para o meus vans.
— Eu vou de tênis mesmo, não sou obrigado a nada — respondo e deixo
mais um beijo em sua boca.
Eu estou usando calça jeans na cor bege, camisa social branca com uma
jaqueta jeans por cima e meus vans brancos. Eu não nasci para usar esses trajes
muito engomadinhos e não vou mudar meu jeito de ser por causa das pessoas.
Elas que se adaptem ao meu jeito.

— Por isso você é meu orgulho, não está nem aí para as pessoas — Adrian
diz e isso me faz sorrir de forma verdadeira.
— Ok, Shrek, para de ser fofo e vamos logo para esse leilão. Estou a fim de

gastar o que eu não tenho — falo rindo e entrelaço minha mão na sua, nos
guiando até a porta do quarto.
— Se você gostar de alguma coisa, eu compro pra você. — Ele diz
enquanto andamos e eu reviro meus olhos.
— Amor, eu estava só brincando — falo e ele assente com a cabeça, mas
não sei se ele realmente entendeu.
Adrian e eu saímos de casa e seguimos até seu carro, pegando a estrada em
seguida. Pelo que eu entendi, o leilão vai acontecer em uma fazenda próxima
daqui que pertence à família de Alessandro. Nós decidimos não levar Evan
conosco, tanto porque vai haver muitas pessoas por lá e também pelo horário.
Por isso ele ficou com a bisa, que deve estar assistindo suas séries nesse
momento enquanto ele dorme.
Nosso caminho não demora muito, já que a fazenda é bem próxima da
nossa. E assim que Adrian estaciona em um pátio lotado de carros, percebo a
grandiosidade do lugar. Há uma estrutura grande montada no lugar e lá é onde
será feito o leilão.
— Olha, se você não quiser, nós podemos voltar para casa — Adrian diz

assim que nota meu silêncio absoluto desde que chegamos aqui.
— Não, está tudo bem... vamos? — Olho para ele e lhe ofereço um sorriso
calmo.
— Vamos! — Ele diz e pega em meu rosto, deixando um breve beijo em
meus lábios.
Adrian é o primeiro a sair do carro e depois de respirar fundo, eu também
imito seu gesto. Ele logo está ao meu lado e sua mão se entrelaça na minha, nos
guiando até nosso destino.
Vejo muitas pessoas bem vestidas pelo lugar, mas não conheço nem um por
cento delas. Desde que cheguei a essa cidade, a minha vida sempre foi na
fazenda, então meu maior contato são com as pessoas que moram lá e eu até
prefiro assim. Pois, por mais que esse evento seja para ajudar crianças que
precisam, vejo que a maioria está aqui apenas por status, o que é muito comum
em nossa sociedade.
Assim que colocamos nossos pés na tenda montada, vejo uma mulher muito

elegante vir em nossa direção com um sorriso e ela não está sozinha.
— Adrian, fico feliz que tenha vindo... já faz alguns anos que não nos
agraciava com sua presença. — A mulher diz e o cumprimenta brevemente com
um beijo no rosto.
— Apesar de não ter vindo nos outros anos, sempre fiz questão de
contribuir para a causa. Mas esse ano eu quis vir para mostrar ao Castiel, ele
gosta de tudo o que envolve ajudar o próximo — Adrian responde e os olhos da
mulher se voltam para mim.
— Já ouvi falar bastante de você, eu sou Jaqueline Campos... é um prazer te
conhecer, querido. — Ela também me cumprimenta com um beijo na bochecha.
E bem, eu acabei de conhecer a minha madrasta. Nada como começar a
noite bem.
— O prazer é meu, Jaqueline — sorrio para ela, mas meus olhos se voltam
para o homem ao lado dela, vulgo meu “pai”. — Tudo bem, Alessandro? —
Forço meu sorriso para ele, que me olha sem jeito.
— Tudo sim, e você como está? — Ele pergunta de volta e passa o braço
pela cintura da mulher.
— Ótimo, obrigado pelo convite. Eu amei saber que algumas pessoas têm
atitudes tão nobres com relação aos órfãos. Essas crianças realmente merecem
muito o apoio da sociedade, já que são esquecidas por algumas pessoas — falo,
olhando em seus olhos e vejo que ele engole em seco. Bom que ele entenda todo
o sentindo em minhas palavras.
— Não sabia que vocês se conheciam, achei que fosse apenas a Débora sua
amiga — Jaqueline diz e arqueio uma sobrancelha em sua direção.
Aquela vaca disse que somos amigos? Ah, mas não somos mesmo!
Sinto a mão de Adrian apertar levemente minha cintura, como se me pedisse
calma e eu apenas sorrio.
— Acho que você está um pouco desatualizada, Jaqueline, mas tudo bem...
eu vou te contar — sorrio calmamente para ela e vejo que Alessandro quase
perde a cor. — Primeiro de tudo, não sou amigo da Débora, não sei o que ela te
disse sobre mim, mas isso é uma mentira. Ela é somente uma mulher muito sem
noção que vive correndo atrás do homem dos outros e não aceita um não como
resposta. Segundo, Alessandro e eu nos conhecemos, pois foi ele o responsável
pela minha existência. É, ele é meu pai, mas me abandonou quando eu precisava
dele, assim como ele abandonou a família também há alguns anos atrás para ficar
com você. E terceiro, você me parece uma boa pessoa, sinto muito pela filha e o
marido que você tem — falo sem qualquer tipo de arrependimento e vejo sua
expressão perplexa para mim.
Pego na mão de Adrian e sorrio uma última vez para eles.
— Agora se me dão licença, vamos achar nossa mesa. — E sem qualquer
reação deles, nós saímos dali.
Solto um suspiro quando já estamos longe dos dois e me sinto de alma
lavada. Alessandro é tão cara de pau, que nem a mulher sabia que ele tem outros
dois filhos. É desse jeito que ele quer perdão?
Andamos por alguns minutos pelo salão, até que achamos a mesa com o
nome de Adrian, tendo somente dois lugares.
Noto muitos olhares sobre nós dois enquanto nos sentamos, mas não me
permito ligar para isso, já que há coisas mais importantes.
Adrian não toca no assunto de minutos atrás e eu agradeço muito por isso, já
que não quero falar sobre. E ao invés disso, nós embarcamos em uma conversa
sobre os animais que serão leiloados essa noite.
— Ei, por que ela disse que você não vinha antes? Achei que participasse
todos os anos desse evento — falo e olho curioso para o homem ao meu lado,
que está com um dos braços por cima dos meus ombros.
— Eu participava doando alguns animais, mas não comparecendo. Depois
que Carolina morreu, há quase seis anos, eu parei de fazer certas coisas,
principalmente as que envolvia ela também. — Ele explica e super entendo seu
ponto.
— Fico feliz que tenha querido vir novamente — sorrio para ele e entrelaço

nossas mãos.
— Amor, eu tenho querido muitas coisas depois que você e nosso filho
surgiram em minha vida. — Ele sorri e sinto meu peito se aquecer com suas
palavras.
Continuamos em nossa bolha, até que o leilão se dá início. Fico chocado
com o valor de alguns lances, mas também feliz que algumas pessoas podem
pagar e ajudar outras.
Se eu quase surtei quando Adrian comprou um pônei para nosso filho?

Quase, mas relevei um pouco pela causa maior.


O leilão se passou lentamente, até que todos os animais foram vendidos e
uma boa quantia foi levantada para o orfanato local. O jantar começou a ser
servido logo em seguida e eu resolvi ir ao banheiro.
Caminho em direção aos banheiros e sou cumprimentado por algumas
pessoas durante o trajeto. E assim que estou quase chegando ao meu destino,
sinto uma mão em meu braço, me fazendo parar. Respiro fundo e quando me viro,
dou de cara com o satanás. Sorrio falsamente para Débora e tiro sua mão do meu
braço.
— O que quer? — pergunto e cruzo meus braços em cima do peito.
— Está se achando, não é? — Ela pergunta com uma carranca e isso me faz
rir.
— Eu não me acho, querida, eu sou. Mas sério que me parou para dizer
isso? — questiono e levanto uma sobrancelha para ela.
— Não, eu só quero avisar para você aproveitar bastante... mais cedo ou
mais tarde tudo isso vai acabar. Adrian é meu e você não tem o direito de chegar
e estragar tudo. — Ela ameaça e eu solto uma risada alta.
A olho por alguns segundos em silêncio e dou um passo mais próximo dela.
— Adrian não é uma propriedade para você achar que tem direito sobre
ele. E por favor, não me ameace... você ainda não meu viu com raiva. Você se
acha a última coca cola do deserto, mas deixa eu te falar... você não passa de
uma garota mimada, pois mulher você não é. Ainda falta muito pra que você seja
uma mulher digna e de caráter. Sabe por que Adrian nunca te quis? Porque você
só pensa em si mesma, nunca vai saber o que é amar verdadeiramente e eu tenho
pena de você por isso — falo a ela e percebo que minhas palavras a tocam.
Eu não gosto de ter raiva de alguém, mas Débora pede por isso a cada
segundo. E se é isso que ela quer, é isso que ela vai ter. Se ela acha que eu sou
fraco e vou aceitar suas provocações, ela está muito enganada.
— Você ainda vai me pagar por tudo. — Ela diz entredentes e sorrio
falsamente.
— Eu pago, mas você também vai pagar depois... com juros — aviso e dou
as costas para ela.
Sigo meu destino e deixo a louca para trás. Vou até o banheiro e quando
volto para minha mesa, eu trato de esquecer tudo que não me faz bem e me foco
apenas no homem incrível que está comigo.
Eu já entendi que em cada canto há alguém que não contribui nada para a
minha vida, mas já me acostumei a apenas ignorar ou enfrentar.
Um mês depois...

Acordo ao ouvir um barulho e ao passar meu braço na cama e não sentir


Castiel, abro meus olhos. Levo alguns segundos para me acostumar com a luz que
vem do banheiro e a preocupação toma conta de mim quando vejo Cas ajoelhado
de frente ao vaso, vomitando de novo.

Sem pensar muito eu me levanto da cama e vou até ele, me abaixando ao seu
lado.
— Pode voltar a dormir, eu estou bem. — Ele resmunga e dá descarga no
vaso, e se senta no chão.
— Claro que está — falo com ironia e observo seu rosto pálido.

Ele não me responde e permanece em silêncio com os olhos fechados.


Espero ele estar um pouco melhor e o ajudo a levantar, indo até a pia. Cas
escova os dentes e depois disso eu o levo até a cama em meus braços. Nos
deitamos e ele se aconchega a mim, respirando profundamente.
— Você precisa ir ao médico, já tem alguns dias que está assim. Pode ser
uma virose, ou algo grave — falo com preocupação e ele apenas resmunga um
“não”.

— Não é nada, agora me deixa dormir. — Ele diz baixo e nem tenho tempo
de retrucar, pois logo noto sua respiração suave.
Balanço minha cabeça em negação e me dando momentaneamente por
vencido, também acabo pegando no sono.

***

Sinto uma mão minúscula em meus cabelos e em seguida solto um “aí”


baixo quando eles são puxados com força.
— Papai Adi... boy — ouço a voz infantil pronunciar as poucas palavras e

isso me faz sorrir. — Dia! — sinto sua outra mão bater em meu rosto e isso é o
suficiente para que eu abra os olhos.
— Quanto amor, senhor Evan — resmungo e me viro na cama, colocando-o
em cima do meu abdômen.
— Papai, dia! — Ele exclama feliz e bate palminhas, o que me faz deixar
um beijo em sua bochecha gorducha.
— Bom dia, ruivinho! Cadê o papa? — pergunto, mas minha resposta logo
chega quando Cas passa pela porta com uma mamadeira em mãos. — Bom dia,
amor... está tudo bem? — meus olhos o analisam e ele sorri para mim.
— Tudo certo, sem vômito. — Ele brinca e sobe na cama, entregando a
mamadeira para Evan, que começa a beber o leite como se nada mais
importasse. E para ele não importa mesmo.
— Isso é bom, eu tenho que ir na cidade e não gostaria de deixar você
sozinho — falo sincero e ele se deita ao meu lado.
— Não se preocupe, Antônio vai vir aqui mais tarde e me faz companhia.
— Ele diz e eu deixo um beijo em sua bochecha.
— Vou levar Evan comigo então, tudo bem? Vou encontrar o Marcos —

acaricio seus cabelos e sorrio quando Evan se joga sobre nós, para fazer o
mesmo com sua mãozinha livre.
— Evan vai adorar passar um tempo com vocês — Cas sorri e isso me
deixa satisfeito.
Esperamos Evan terminar sua mamadeira e descemos para tomar nosso café
da manhã. É até estranho não estar vendo dona Clarisse aqui esses dias, já que
ela aceitou a viagem que Castiel e eu demos a ela. Mas é bom ver ela
descansando, pois ela merece isso.
— Pode me trazer um pote de sorvete? — Cas pergunta quando eu já estou
pronto para sair.
— Aqui tem sorvete, cabelo de fogo — falo, estranhando, e ajeito o
pequeno boné na cabeça de Evan.
— Sim, mas quero de pistache. — Ele diz e isso me faz o olhar com uma
careta.

— Que diabo de sorvete é esse? Nunca ouvi falar. — Isso é o suficiente


para ele revirar os olhos para mim e se jogar no sofá.
— Claro que não, você é um ogro... vive no seu pântano. — Ele resmunga e
solto uma gargalhada.
Balanço a cabeça em negação e pego Evan nos braços. Sigo até Cas e deixo
um selinho no bico que se formou em seus lábios e Evan deixa um beijo em sua
testa.
— Eu vou trazer seu sorvete... te amo! — Eu me despeço dele e antes de
fechar a porta, vejo um mínimo sorriso em seu rosto.
Sigo até minha caminhonete e abro a porta de trás, colocando Evan em sua
cadeirinha. Deixo o seu sapo de pelúcia com ele e vou até o banco do motorista.
E estando tudo certo, dou partida no carro.
Coloco uma música infantil para tocar, já que essa é a nossa trilha sonora
sempre que Evan está como passageiro no carro.
Observo ele entretido no banco, “cantando” as músicas que tocam e sinto
meu peito se aquecer com tanto amor por uma pequena criatura. Evan é tudo
aquilo que eu sonhei para a minha vida e poder ser pai dele é incrível e uma
honra imensa. Eu jamais vou poder agradecer a Deus o suficiente por ele ter me
mandado Castiel e Evan, os meus bens mais preciosos. Eles chegaram quando eu
já estava sem nenhuma esperança e me mostraram que o amor pode curar muitas
coisas.
E são em meio a esses pensamentos que se passa o caminho até a cidade.
Estaciono minha caminhonete no estacionamento subterrâneo do shopping e
vejo Evan começar pular em sua cadeirinha, o que me arranca risadas.
— Que isso, foguinho? — sorrio para ele, que apenas me olha nos olhos e
ri.
Saio do veículo e abro a porta de trás, tirando ele da cadeirinha. Pego sua
bolsa também e fecho a porta, acionando o alarme em seguida. Sigo até o
elevador e após alguns minutos, chego ao meu destino. Caminho alguns passos e
observo a praça de alimentação do shopping, logo encontrando meu irmão.
Deixo Evan no chão e pego em sua pequena mão, seguindo até onde Marcos
está, o que demora um pouco por causa de suas pernas curtas, mas vale a pena
ver o sorriso no rosto do meu filho.
— Até que enfim, já estava indo embora — Marcos diz quando nos vê e eu
reviro os olhos para meu irmão.
— Até parece! — falo e cumprimento ele com um abraço.
— Ti’ Marcu... Eva qui! — meu filho, atirado como sempre, diz.
— Oh, você está aí? Nem tinha te notado pelo tamanho — Marcos brinca e
Evan apenas ri.
— Já fez os pedidos? — pergunto em direção a Marcos que apenas assente
com a cabeça, estando entretido demais com o sobrinho para falar.
Deixo-os em seu mundinho e aproveito para mandar uma mensagem para
Castiel, perguntando se está tudo bem. E recebendo sua confirmação, fico mais
aliviado.
Os pedidos feitos por Marcos logo chegam e nós nos deliciamos com
muitos hambúrgueres. O que Castiel não pode nem sonhar que Evan está
comendo.
— Esse suco é de que? — Observo Marcos tomar um gole e noto que Evan
também quer.
— Morango.
— Ótimo, deixa ele bem longe do meu filho — aviso e pego um copo de
plástico dentro da bolsa de Evan, colocando um pouco do meu suco de laranja.
— Não sabia que ele era alérgico — Marcos diz sério e seus olhos vão
para o ruivinho.
— Ele tem alergia a algumas coisas e isso me preocupa um pouco — falo e
entrego o copo para Evan.
— É preocupante mesmo, mas não precisa de paranoia. Leva ele no meu
consultório um dia desses, é sempre bom manter os exames de alergia em dia —
Marcos diz me olhando e eu assinto com a cabeça. — Mas me conta, por que me

chamou aqui? — Ele pergunta e morde um pedaço generoso do seu lanche.


— Vou pedir Castiel em casamento e preciso de um anel — respondo e ele
se engasga.
Solto uma risada e acompanho meu irmão quase morrendo sufocado, até que
ele se recupera e me olha com os olhos lacrimejantes.
— Está falando sério? — Ele bebe um gole de suco e me olha com atenção.
— Nunca falei tão sério na vida. Cas e eu já temos uma família — falo e
meus olhos vão para Evan. — Está na hora de oficializar nossa união.

Já faz algum tempo que venho pensando em pedir meu cabelo de fogo em
casamento, mas confesso que o medo estava falando mais alto. Ainda tenho um
pequeno medo dele me dizer não, mas sei que não posso mais adiar isso. Quero
muito poder chamar Castiel de meu marido, quero ver ele indo até o altar junto
ao nosso filho... Quero poder solidificar ainda mais nossa família. Eu sei que um
pedaço de papel e uma aliança no dedo não diz muita coisa, e sim o sentimento,
mas isso é muito importante para mim.
— Isso é bom, irmão... fico muito feliz por isso. Você sabe que não falo
muito isso, mas eu te amo e só quero o melhor para você. Sei que Castiel e Evan
são muito importantes para você e vocês são uma família linda. Sou muito
orgulhoso pelo homem que você é, e tenho certeza que nossos pais também estão
muito orgulhosos — meu irmão diz e sinto meu peito se aquecer com suas
palavras.
— Eu sou o mais velho aqui, não me faça chorar — brinco e ele revira os
olhos.
— Idiota! Mas e então? Quando vamos ver esse anel? — Ele pergunta
entusiasmado e me questiono se foi uma boa ideia pedir ajuda para meu irmão.
Terminamos de comer em alguns minutos e saímos em busca de uma boa
joalheria. Evan observava tudo ao redor com os pequenos olhos brilhantes e
apontava algumas vezes para algo que gostava. Acabamos entrando em uma
joalheria bem conhecida e rapidamente uma funcionária veio nos atender. A
escolha foi difícil e no fim foi Evan quem acabou escolhendo o anel de noivado
para o papa.
— Bilo, bilo! — Evan diz, olhando encantado para uma das alianças que é
feita em ouro rose e é toda adornada por pequenos diamantes.
— É, filho, brilho... acha que o papa vai gostar? — pergunto olhando para
ele, que bate palmas como se para dizer “sim”. — É... eu também acho — sorrio
e deixo uma mordida leve em sua bochecha.
— O senhor vai ficar com esse par, então? — A funcionária pergunta com
um grande sorriso, já pensando na boa comissão que vai receber pela venda.
— Sim, são essas — confirmo.
— Bela escolha, seu companheiro vai amar. — Ela diz e nos deixa para
embrulhar as alianças.
— Eu espero que sim — sussurro para mim mesmo e sinto uma mão em meu
ombro.
— Castiel te ama, tenho certeza que ele vai adorar esse pedido, ainda mais
no aniversário dele — Marcos fala, percebendo o meu medo. Sorrio para meu
irmão e acredito em suas palavras.
Poucos minutos depois, a funcionária volta com minha compra e depois de
pagar, nós deixamos a loja. Ainda passamos mais um tempo no shopping, já que
Evan ficou louco pelo playground que havia ali. E quando fomos embora,
levando o bendito sorvete para Castiel, eu estava me sentindo mais leve e
confiante na minha decisão.
Pego o último enfeite da árvore de Natal na caixa e penduro na mesma,
contemplando meu trabalho de alguns minutos. Eu me levanto do tapete em um

movimento um pouco rápido e tenho que me segurar no sofá para não cair.
Respiro fundo e quando me sinto melhor, caminho até a tomada e ligo o pisca-
pisca.
Perco alguns minutos admirando a árvore no canto da sala de estar e

percebo o quanto minha vida mudou nos últimos tempos. Há mais de um ano
atrás eu jamais me imaginaria morando com um homem, tendo ele como pai do
meu filho... tendo uma família. A vida prega muitas peças na gente, algumas boas
e outras nem tanto. Eu já passei pelos dois, mas agora estou tendo a chance de
estar vivendo somente coisas boas com as pessoas que amo.

Sinto braços ao meu redor e sorrio quando o cheiro tão conhecido chega até
mim.
— Nosso filho virou literalmente o segurança de Otávio — Adrian diz e
deixa um beijo em meu pescoço.
Solto uma risada e me viro de frente para ele, passando meus braços ao seu
redor.
— Estou começando a ficar com ciúmes de todo esse amor — brinco e ele

também ri, me puxando para mais perto.


— Se acostume, amor, acho que vai durar muito tempo. — Ele diz e em
seguida deixa um beijo em minha boca, o que me faz o apreciar por alguns
segundos a mais.
Mas nos separamos quando vozes começam a nos chamar freneticamente.
É véspera de Natal, meu aniversário de vinte anos, e todos nossos
familiares e amigos estão aqui... ou seja, nossa família completa, a não ser por

Antônio que não quis vir e eu respeitei.


Pego na mão de Adrian e seguimos até nossa cozinha, que está um
verdadeiro caos. A família de Enzo e Angie também estão aqui, e meus olhos

logo se focam em minha avó e dona Emília que parecem duas garotas enquanto
preparam algo juntas. É perceptível que a amizade entre elas está maior e isso
me deixa feliz.
— Gente, eu estou apaixonado por essa criança! — escuto a voz alta de
Maurício e meus olhos o encontram segurando um Giovani de quase dois meses
em seus braços.
— Se apaixone à vontade, mas o filho é meu — Angie brinca e ele lhe
mostra língua.
Vejo que eles estão se tornando mais amigos com o tempo, já que antes um
tinha ciúmes do outro por causa de mim.
Ah, Maurício está passando alguns dias no Brasil, já que estamos nas festas
de fim de ano e estou feliz por ver meu amigo depois de tantos meses. Dá para
notar que há uma diferença nele, mas ainda é possível ver os mesmos olhos
apaixonados de sempre... um pouco apagados agora.
— Estou pensando em ter um bebê também — Maju fala, chamando atenção
de todos e fazendo seu irmão se engasgar com o ar.
— Está louca, menina? Você vai é terminar sua faculdade — Enzo diz sério

e ela revira os olhos.


— Eu estou brincando, idiota, mas só para constar... Angie ainda não
terminou a faculdade e já tem dois filhos. — Ela diz emburrada e continua
picando os temperos.
— Sim, mas ele é casado... comigo! — Enzo se justifica e isso é o
suficiente para que algumas piadas surjam.
Adrian, sendo o homem abençoado que é, se senta ao lado do amigo e passa
o braço ao seu redor, seus olhos se guiando para onde Otávio está dormindo em
seu carrinho e Evan está igual a um cãozinho de guarda ao lado.
— Quer dizer que quando o Evan e Otávio se casarem, eles podem te dar
muitos netos. — Adrian diz e só vemos ele ser empurrado para o chão, fazendo
todos rir.
— Cala a boca, eles são bebês... os dois! — Enzo dá ênfase e coitado,
chega a ficar vermelho.
— Amor, calma... respira fundo e conta até dez — Angie diz para o marido

e eu tenho que segurar o riso.


— Vocês não prestam! — falo para todos e me sento na mesa, pegando uma
maçã para comer.
— Está fazendo dieta, Cas? — minha avó me olha por um segundo e eu
nego com a cabeça.
— Não, por quê? — pergunto e dou uma mordida na minha maçã.
— Está precisando, querido, tem umas gordurinhas aí... — Ela responde e
eu abro minha boca em perplexidade.
Minha avó acabou de falar que estou gordo ou é apenas impressão minha?
— Nossa, vó... muito obrigado — sorrio em falsidade para ela e deixo
minha maçã de lado.
Olho para todos ao meu redor e uma súbita vontade de chorar toma conta de
mim. Respiro fundo e me levanto, saindo dali em seguida e vou até a varanda dos
fundos.
Acabo me sentado nos degraus de madeira e começo a chorar do nada. Eu
pareço um louco? Pareço, mas meus sentimentos estão feridos no momento.
— Amo... meu Deus, por que você está chorando? — A voz de Adrian
chega até mim, mas eu apenas dou de ombros e continuo me afogando em minhas
lágrimas.
Não demora muito e sinto ele me puxar para o seu colo, o que me faz
agarrar ele com força e afundar meu rosto em seu peito.
— Você também está me achando gordo? Eu estou feio? — pergunto em
meio aos soluços e ouço ele suspirar.
— Claro que não, você está perfeito do jeito que está. E mesmo se você
estivesse com alguns quilos a mais, eu te amaria do mesmo jeito e você
continuaria lindo, diabinho. — Ele diz e suas palavras me fazem sorrir.
— Não está mentindo, né? — Olho para ele, que sorri e deixa um beijo em
meu nariz.
— Não, Cas. — Ele afirma e eu o puxo para um beijo.
Sinto seus lábios macios contra os meus, enquanto sua barba pinica minha
pele.
— Ôh, pombinhos... venham ajudar também! — ouço a voz de Angie e solto
um resmungo, mandando um dedo do meio para ele. — Olha aqui, seu ruivo, não
é porque você é mais velho que pode mostrar dedo! — Ele diz indignado e isso
me faz rir, separando minha boca da de Adrian.
— Credo, vinte anos já — falo rindo e Adrian me acompanha.
— Eu faço trinta e um esse ano, está reclamando de quê? — Ele pergunta
brincalhão e finjo uma careta.
— Está velho hein, cowboy?! — falo e ele aperta as mãos em minha
cintura, me puxando para mais perto, como se fosse possível.
— Você não reclama disso quando ‘tá gritando meu nome e pedindo por
mais. — Ele diz com um olhar superior e solto um bufo de raiva, sentindo meu
rosto vermelho.
— Cala a boca, idiota! — Deixo um soco em seu peito, que não faz nem
cócegas, e me levanto.
Passo minhas mãos por meu rosto e seco os resquícios de lágrimas de
minutos atrás.
— Vamos... Marcos e Melissa já devem ter chegado — falo e começo a
caminhar até a porta, logo tendo Adrian ao meu lado.
Voltamos para a cozinha movimentada e os cheiros de várias comidas
chegam até mim, me fazendo respirar fundo para não deixar a ânsia tomar conta.
Deixo todos lá, com a desculpa de que vou pôr os presentes na árvore e me
sinto melhor longe de toda aquela mistura de cheiros.
Tem algumas semanas que venho passando mal e a cada dia que se passa,
uma ideia vem se formando em minha cabeça. Eu conheço todos os sintomas, já
estive assim uma vez, só não sei se realmente é isso. E para falar a verdade, eu
também nem sei se estou preparado para saber a resposta.
Balanço minha cabeça e afasto esses pensamentos por um momento, indo
fazer meu trabalho.

***
Estamos todos reunidos na grande sala, tendo gorros de Papai Noel na
cabeça enquanto um coro de “parabéns para você” se forma ao meu redor.
Sorrio para todos e para o bolo enorme que está a minha frente. Evan está
em meu colo e bate palmas animado enquanto olha encantado para as velas
acesas no bolo.
— Faça um pedido — Melissa fala sorrindo, assim que chega o momento
de soprar as velinhas.

Olho ao meu redor e não há nada que eu queira de fato pedir, já que tenho
tudo. Mas olhando para Adrian e Evan nesse momento, algo se passa em minha
cabeça.
Continuar sendo feliz com as pessoas que amo...
Assopro as velinhas, tendo Evan me “ajudando”.
Logo minha avó assume o papel de cortar o bolo e pego o primeiro pedaço
para mim, claro, dividindo-o com Evan e Adrian.
— Sálio, papa? — Evan me olha todo lambuzado de bolo e sorrio.
— Sim, amor, papa está fazendo aniversário. — Deixo um beijo em sua
bochecha, sentindo o gosto de creme de avelã.
Deixo Evan no chão e logo ele se junta a Ana Clara no tapete, passando a
mão lambuzada de bolo na prima.
— Ei, tenho que te parabenizar, não? — A voz de Maurício chama a minha
atenção e vejo meu cunhado ao meu lado.
— Acho que sim — solto uma risada e me levanto do sofá onde estou
sentado.
— Quero te parabenizar por esse dia tão especial e te agradecer por ter
entrado em nossas vidas. Você só trouxe luz para esse lugar, Cas. A cada vez que
eu vejo o sorriso no rosto do meu irmão, eu sou ainda mais agradecido por você
e pelo Evan também. Você foi um presente em nossas vidas. — Ele diz e me puxa
para um abraço.
— Não vale me fazer chorar justo hoje — reclamo e aperto ele ainda mais
em meus braços.
— Só um pouquinho — brinca e nós rimos.
Logo após Maurício, sou agraciado por mais abraços, não que eu já não
tenha recebido muitos hoje, mas é bom esse contato com as pessoas que amo. Ah,
tem a melhor parte também... poder ganhar dois presentes de cada um. Como é
bom fazer aniversário na véspera de Natal. E estando perto da meia-noite, todos
nós paramos de conversar quando Adrian chama a nossa atenção, batendo em
uma taça.
— Eu só quero aproveitar esse momento para dar meu presente para o Cas,
que na realidade nem é só dele. — Ele diz e o olho intrigado. — Amor, vem aqui
— pede ele e eu sigo em sua direção.
— Achei que já havia me dado um presente, que foi um carro por sinal —
falo e escuto algumas pessoas rir.
— Não, ele era só um — Adrian sorri e pega em minhas mãos, me fazendo
ficar de frente para ele. — Cas, meu cabelo de fogo, você não faz ideia do
quanto eu sou grato por Deus ter me mandado você. Há mais de um ano atrás, eu
era um homem que apenas sobrevivia e não via mais a beleza nas pequenas
coisas, mas tudo mudou quando um garoto atrevido entrou na minha vida. E ele
não estava sozinho, havia um pequeno anjo ruivo com ele. — Seus olhos vão em
direção à Evan e sinto meus olhos arderem pelas lágrimas. É tão bom ver o amor
que ele tem por nosso filho, que somente isso é o suficiente para me fazer feliz.
— Você me trouxe luz, Cas... você é a minha luz. Desde o princípio, eu senti
algo diferente por você e fico feliz que nós dois pudemos ir descobrindo esse
amor aos poucos. E o melhor de tudo isso é que você não me trouxe só o amor,
mas também me ensinou muitas coisas, muitas lições. E a cada dia que passa, eu
me apaixono e tenho mais orgulho pelo homem que você é. Um homem que cuida
da sua família, é um pai maravilhoso e um namorido incrível. — Ele diz e seu
último elogio me faz rir, assim como todos. — Nós já temos uma família perfeita
e já somos mais que unidos, mas há um passo que eu ainda quero dar com você.
E é por isso que eu te pergunto... Castiel Almeida, você aceita se casar comigo?
— Seus olhos estão focados nos meus e ele se ajoelha em minha frente
Sinto meu coração acelerado no peito e tudo piora quando vejo ele tirar
uma caixinha branca do bolso. Ela tem o formato de uma rosa e tenho certeza que
ele a mandou fazer. Mas isso são mínimos detalhes quando ele a abre e me deixa
de cara com o par de alianças brilhantes.
Respiro fundo algumas vezes e não sei porque, mas todo meu corpo começa
a ficar leve e minha cabeça lateja. Pisco algumas vezes ao que vejo alguns
pontinhos pretos em minha visão, mas é algo inútil quando eu perco a
consciência, sentindo meu corpo desabar em direção ao chão.
Acompanho o momento exato em que Castiel perde a consciência e seu
corpo vai de encontro ao chão. Sem pensar em nada mais, deixo a caixinha cair

da minha mão e vou de encontro a ele, impedindo que ele bata a cabeça na
cadeira logo atrás. Sinto meu coração acelerado no peito e tudo piora ao ver a
palidez em seu rosto.
Ouço vozes preocupadas ao meu redor, mas não presto atenção nisso e

procuro por meu irmão em meio a todos.


— Leve ele para o quarto, já estou indo — Marcos avisa e eu assinto com a
cabeça, agindo no automático.
Escuto o choro de Evan e sinto meu peito se apertar ainda mais, mas não
posso fazer muita coisa pelo meu filho nesse momento. Subo as escadas com

pressa e chego até meu quarto, colocando Castiel com cuidado na cama.
Olho para seu rosto pálido e tento entender o que acabou de acontecer. Eu
estava o pedindo em casamento em um segundo e no outro ele estava indo rumo
ao chão. Deus, só com a gente para acontecer essas coisas.
Escuto barulho de passos e quando olho em direção à porta, vejo meu irmão
Marcos carregando sua maleta em uma das mãos.

— Eu não entendo o que aconteceu, ele estava bem — falo e me levanto da


cama, deixando espaço para Marcos o examinar.
— Calma, não deve ser nada grave. — Marcos tenta me acalmar, mas isso
não funciona.
Ele se senta ao lado de Cas na cama e abre sua maleta, tirando um
estetoscópio de lá. Marcos escuta seus batimentos cardíacos e em seguida afere
a pressão de Castiel.

— Ele reclamou de algo? — pergunta e estou pronto para negar quando me


lembro de algumas coisas.
— Tem alguns dias que ele está vomitando e reclamando de dores de

cabeça. Ele teve também algumas tonturas. Insisti para ele ir ao médico, mas
sabe como Castiel é — respondo e solto um suspiro frustrado.
— Isso diz muita coisa — Marcos fala com um sorriso pequeno e olho para
ele confuso. Sério que meu irmão está rindo da desgraça alheia?
— Por que está rindo? Isso não tem graça — falo com irritação e meu irmão
somente me ignora.
Observo ele levantar a blusa que Castiel veste e pressionar sua barriga
algumas vezes. E se dando por satisfeito, ele abaixa a peça de roupa e se levanta,
indo até o banheiro do quarto.
Fico em silêncio, ainda tentando entender tudo e vejo meu irmão voltando
com um vidro de álcool e uma toalha de rosto nas mãos. Ele volta a se sentar na
beirada da cama e molha o pano com um pouco de álcool, levando até o nariz de
Castiel em seguida.
Demora alguns segundos, mas vejo que Castiel começa a voltar a si e abre
seus olhos devagar. Um alívio enorme toma conta de mim e me aproximo dele,
me abaixando ao lado da cama e pego em sua mão.
— Como se sente, Castiel? — Marcos pergunta com a voz calma e mantém

seus olhos nele, o observando.


— Um pouco tonto e enjoado. — Ele responde com a voz um pouco baixa
demais.
Os olhos dele se encontram com os meus e abro um sorriso calmo em sua
direção, querendo dizer que está tudo bem.
Percebo que ele quer se sentar e o ajudo a se ajeitar melhor na cama,
apoiando suas costas na cabeceira do móvel. Eu me sento ao seu lado e sinto
quando Cas me abraça e deita a cabeça em meu peito, fechando seus olhos em
seguida.
— O que aconteceu? — Ele pergunta e olho em direção ao meu irmão.
— Você teve uma queda de pressão. Posso te fazer algumas perguntas? —
Marcos questiona e Cas abre os olhos, o olhando e assentando com a cabeça.
Marcos se levanta e começa a guardar suas coisas, até que ele fecha a
maleta e nos olha novamente.

— Adrian comentou que você teve algumas tonturas, dor de cabeça e


náuseas. Há quanto tempo você vem sentindo isso? — Ele pergunta e sinto
Castiel ficar um pouco tenso contra mim, o que me deixa sem entender.
— Já faz umas duas semanas. — Ele responde e se afasta de mim, o que me
faz o olhar em questionamento, mas ele não retribui meu olhar.
— Você tem sentido cólicas, mamilos sensíveis? Desculpa estar sendo
invasivo, mas esse é meu trabalho. — Marcos lhe oferece um sorriso pequeno,
ao qual ele apenas acena em concordância.
— Sim — Castiel responde e sua voz sai baixa.
O observo por alguns segundos e tento entender o porquê de ele ter ficado
tão distante de repente.
— Você pode fazer um exame de sangue depois, mas eu tenho cem por cento
de certeza que você está grávido. — As palavras do meu irmão me deixam
paralisado, sendo que a última ecoa por minha cabeça.
Grávido! Castiel está grávido, esperando um filho meu... nosso.
Mas é claro, agora tudo faz sentido! Os enjoos, alguns desejos, humor
instável.
Sinto um sorriso crescer em meu rosto e uma felicidade enorme tomar conta
de mim. Algo que eu tanto esperei, tanto quis, está acontecendo.
Mas qualquer felicidade e sorriso se esvai no momento em que vejo a
expressão distante de Castiel e tenho certeza que Marcos nota a mesma coisa.
— Bem, eu vou deixar vocês sozinhos... qualquer coisa me chame. — Ele
avisa e deixa nosso quarto.
Eu não faço a mínima ideia do que dizer e me sinto triste por Castiel não
esboçar nenhuma reação à notícia. Será que ele não queria esse filho?
Sinto meu peito se apertar com essa possibilidade e solto um suspiro, o
encarando em seguida.
— Você não gostou de saber que está esperando um filho nosso? Não queria
isso? — As perguntas escapam dos meus lábios, mesmo antes que eu possa
impedir, pois há um redemoinho de sentimentos dentro de mim.
Castiel ainda continua de cabeça baixa e permanece assim por alguns
minutos, até que seus olhos focam os meus e percebo que eles estão prestes a se
romper em lágrimas.
— Não é isso, Adrian... eu só tenho medo. — Ele diz com a voz embargada
e isso é o suficiente para que eu quebre a distância entre nós e o tome em meus
braços.
— Medo do que, amor? Eu estou aqui com você — falo e sinto ele me
abraçar com força, afundando seu rosto em meu peito.
— Eu sei que você não é ele, eu sei que esse filho vai ser amado, mas eu
não posso não pensar... entende? — Ele diz baixinho e só então eu entendo tudo o
que ele está sentindo.
E minha vontade nesse momento é de acabar com aquele merda que nunca
foi um homem de verdade. Ele foi apenas um babaca que quebrou Castiel de
todas as maneiras.
— Evan e eu quase morremos na gravidez dele. Eu tive princípio de
depressão e isso tornou as coisas ainda mais difíceis. Eu quase o perdi duas
vezes e me sentia culpado em todos os momentos, pensando que meu filho
merecia bem mais do que aquilo. — Ele conta, sua voz não passando de um
sussurro.
— Ei, presta atenção — peço e ergo seu rosto, fazendo ele me olhar. — Vai
ser tudo diferente agora, nós dois amamos esse filho, vamos cuidar dele em
todos os momentos e sua gravidez vai ser maravilhosa, vamos aproveitar cada
segundo. Eu sei que isso não apaga o passado, mas pense que agora você tem
uma família que te ama e sempre estará ao seu lado. Evan está feliz, saudável e
tem a nós dois. E você tem a mim, que jamais vou te abandonar — falo, olhando
em seus olhos, e enxugo suas lágrimas. — Você e a nossa família são o que eu
tenho de mais precioso na vida... nunca se esqueça disso.
Castiel sorri um pouco e deixo um beijo em sua testa.

— Obrigado, me desculpa por isso. Eu já amo esse filho, sim... só que


desde que eu comecei a notar os sintomas, eu senti um medo enorme dentro de
mim e a cada segundo me lembrava de tudo o que passei. — Ele se justifica, mas
eu nego com um aceno.
— Não precisa se desculpar, anjo... eu te entendo — falo e deixo um beijo
em seus cabelos de fogo.
Ficamos abraçados assim por alguns minutos sem dizer nada, apenas
aproveitando a companhia um do outro. E agora eu consigo me sentir feliz
completamente.

Eu me afasto de Castiel e o deito na cama, fazendo ele soltar um resmungo e


eu rir.
Levanto sua blusa e fico de frente para sua barriga ainda sem sinal aparente
de gravidez. Um sorriso se abre em meu rosto e deixo um beijo demorado em sua
pele.
— Oi, anjinho... aqui é o papai Adrian. Você nem imagina o quanto eu estou
feliz por saber que você está aí dentro do papa. Saiba que eu já te amo — falo e
ouço uma fungada baixa.
Levanto meus olhos e sorrio ainda mais quando vejo Cas com os olhos
marejados.
— Sim. — Ele fala me olhando e fico confuso.
— Sim o que, amor? — pergunto e fico por cima dele, mas mantenho meu
corpo sustentado por meus braços.
Castiel sorri e passa seus braços ao redor do meu pescoço, aproximando
nossos rostos.
— Sim, eu aceito ser seu marido. — Ele sussurra rente aos meus lábios,
olhando fundo em meus olhos.
Sinto meu peito se aquecer e juro que posso explodir de tanta felicidade
nesse momento.
Abro um sorriso que quase rasga meus lábios e em seguida tomo sua boca
na minha. Nossos lábios se tocam com suavidade e delicadeza, mas trato de
aprofundar nosso beijo, pedindo passagem com a minha língua. Nossas línguas
se entrelaçam e conseguimos um ritmo só nosso, aproveitando cada segundo de
nossas bocas unidas.

***

Grávido... Eu estou grávido!


Não posso mentir e dizer que essa notícia me pegou de surpresa, pois não
foi dessa maneira, pois bem no fundo eu já sabia a verdade. Só que havia um
medo dentro de mim. Mesmo sabendo que Adrian é um homem muito diferente de

Alan e que eu não sou mais um garoto de dezesseis anos, eu não pude impedir as
lembranças de tomarem conta da minha mente.
Eu sofri muito na gravidez de Evan e os fantasmas disso me atormentam até
hoje. Mas eu sei que nada é como antes e vou tratar de afastar tudo isso de mim.
Essa gravidez será totalmente diferente e darei a esse filho o que eu não pude
quando esperava por Evan.
— Tem certeza que já está bem para descer? Você pode ficar aqui deitado e
eu dou uma desculpa a todos — Adrian diz preocupado e eu reviro meus olhos.
— Querido cowboy, eu estou grávido, não doente — sorrio para ele e pego
em sua mão, nos guiando até a porta do quarto.
Já faz quase uma hora desde que Marcos me deu a notícia e nos deixou
sozinhos no quarto. E bem, acho que está na hora de tranquilizar a todos sobre
mim.
— Estou vendo que você vai me fazer morrer de preocupação nessa
gravidez — meu noivo diz e eu acabo soltando uma risada.
Noivo, Deus! Eu estou noivo... muita emoção para uma noite só.
Há mais de um ano atrás eu era apenas um garoto sozinho e com um filho
nos braços. Eu não almejava muitas coisas na vida, a não ser o que fosse melhor
para meu filho. Evan sempre foi a prioridade em minha vida. Só que hoje eu não
me encontro mais sozinho. Tenho uma família, amo e sou amado por um homem
maravilhoso, meu filho tem um pai incrível e em pouco tempo outro membro da
família estará conosco e serei um homem casado.
Sorrio com meus pensamentos, mas os deixo de lado assim que chegamos à
sala. Todos os olhares se voltam para mim, mas não dou atenção a eles, já que
vejo um pequeno ser ruivo vindo correndo em minha direção.
— Papa! — Evan diz com um biquinho que eu acho extremamente fofo, e eu
me abaixo para o pegar em meus braços.
Sinto o olhar reprovador de Adrian sobre mim, mas apenas reviro meus
olhos e volto minha atenção ao meu pinguinho de gente.
— Oi, amor... papa te assustou, foi? — pergunto olhando para ele, que
apenas me abraça como resposta.
— Está melhor, Cas? Nos deu um susto enorme. — A voz de Angie me
chama atenção e noto seu olhar preocupado sobre mim.
— Sim, está tudo bem — sorrio para ele.
— Acho que esse desmaio foi para fugir do pedido de casamento — Enzo
brinca e leva um tapa do marido, mas arranca risadas de alguns.
— Idiota! — Adrian retruca e os dois parecem duas crianças quando se
juntam. — Ele disse sim.
— Ah, pelo menos isso! — Maurício fala rindo e entrega algo para o irmão.
— Ei, eu não tive culpa. — Me defendo e beijo os cabelos de Evan, que
ainda está me abraçando.
— É... a culpa foi do novo membro da família — Adrian diz com um

sorriso e de repente a sala se torna um silêncio profundo.


Minha vontade é rir enquanto observo todos nos olhando, menos Marcos
que já sabe o motivo.
— O que isso quer dizer? — minha avó é quem pergunta, mas pela sua voz
embargada, ela já deve deduzir.
Sorrio em sua direção e sinto Adrian me abraçar de lado.
— Nós vamos ter um bebê... Eu estou grávido! — anuncio e quase fico
surdo pelo grito de todos e aperto Evan que fica um pouco assustado.
— Nossa, me senti na final de uma copa agora — Angie diz fazendo graça e
todos riem.
E pelos próximos minutos, Adrian e eu somos parabenizamos pelo novo
membro da família.
— Eu sabia que não era gordurinha — minha avó diz após me abraçar e eu
solto uma risada.
— Ah, dona Clarisse... Eu amo você — falo e recebo um beijo na testa
dela, junto a um carinho em minha barriga.
Os minutos se passam e nossa ceia de Natal se dá início, já um pouco
atrasada pelos acontecimentos da noite.
Estou sentado no colo de Adrian e sorrio enquanto observo toda a nossa
grande família reunida. Sinto meu peito se aquecer e agradeço a Deus por tudo o
que ele me deu.
— Ei, tenho algo pra você... — Adrian chama minha atenção e olho para
ele.
— O quê? — arqueio uma sobrancelha e logo tenho minha resposta quando
vejo a caixinha branca em formato de rosa.
— Evan quem escolheu. — Ele diz e desliza a aliança por meu anelar.
Sorrio e imagino a cena do meu pinguinho fazendo isso. Pego a outra
aliança na caixinha e também a coloco no dedo de Adrian, entrelaçando nossas
mãos em seguida.
— Eu te amo, meu cowboy. — Encosto minha testa na sua e sinto meu
coração um pouco acelerado, assim como a sensação de ter milhares de
borboletas em meu estômago.
— Eu te amo, meu cabelo de fogo. — Ele sussurra de volta e em seguida
sela seus lábios nos meus.
Eu me sento na sala de espera do hospital onde Marcos trabalha e ainda não
faço ideia de como Adrian conseguiu uma consulta para mim tão em cima da

hora, sendo que em dois dias é “ano novo”. Na verdade, eu até sei, mas prefiro
nem pensar nisso. E por um lado é até bom estar aqui para ver como está meu
bebê.
Meu bebê, é tão estranho estar falando isso não sendo referido ao Evan,

mas também é maravilhoso. Eu tinha sim a vontade de ter mais filhos, ainda mais
com Adrian que é um pai incrível. Só que eu não achei que fosse tão cedo, ou tão
de repente. Mas independente de qualquer coisa, eu já amo meu filho mais do
que tudo e farei qualquer coisa por ele, assim como fiz por Evan.
— Ansioso? — A voz de Adrian me desperta e viro meu rosto em sua

direção.
— Não tanto quanto você — sorrio e aperto a bochecha de Evan, que está
entretido em um desenho no celular do pai.
— Não me culpe, eu esperei esse momento tipo a minha vida inteira. — Ele
diz ansioso e sua voz sai até um pouco nervosa.
— Eu sei, amor. Não se preocupe — peço.

Alguns minutos se passam, até que sou chamado para minha consulta.
Adrian caminha pacientemente ao meu lado, enquanto Evan está em seu colo e
sua mão está entrelaça a minha... e é dessa forma que entramos no consultório.
— Bom dia, eu sou o doutor Alexandre. — Um homem de uns trinta anos
nos saúda com um sorriso no rosto.
— Bom dia, doutor! Eu sou o Castiel, meu noivo Adrian e nosso filho Evan
— falo sorrindo e aponto cada um.

Noto que Adrian analisa o médico por alguns segundos a mais e isso me faz
revirar os olhos. O cowboy ficou com ciúmes.
— Família completa, isso é bom... sentem -se! — Ele indica as cadeiras em

frente à sua mesa e nós nos sentamos. — Trouxe os exames que Marcos indicou?
— Ele pergunta e eu afirmo, o entregando os dois envelopes.
O médico fica em silêncio por alguns minutos, analisando os exames e
aperto a mão de Adrian em um gesto involuntário.
— O seu exame de sangue aponta uma gravidez de dois meses. — Ele diz e
nos olha, mas há algo a mais.
— Tem alguma coisa de errado? — pergunto e tento não me preocupar atoa.
— Você está um pouco anêmico, mas podemos controlar isso. Vou te
encaminhar para uma nutricionista. — Ele deixa os exames de lado e junta as
mãos em cima da mesa. — Antes de irmos para o exame de ultrassom, eu tenho
algumas perguntas a fazer... tudo bem?
— Sim — concordo com um aceno.
— Como foi sua primeira gravidez? — Sua pergunta me faz suspirar um
pouco.
— Conturbada. Eu tinha dezesseis anos e aconteceram muitas coisas. Tive
pressão alta a gravidez inteira e quase o perdi por duas vezes, mas deu tudo
certo. Acho que tudo foi uma consequência do estresse que sofri na época e por
estar com um princípio de depressão — explico e ele acena.

— Ok, vamos fazer a checagem da sua pressão de quinze em quinze dias


para não correr nenhum risco. Toda gravidez é diferente, então não se preocupe
em vão, achando que você pode sofrer o mesmo da outra vez. E se qualquer
coisa acontecer, vocês podem me ligar não importa a hora. — Ele fala com
calma e me sinto aliviado.
— Obrigado! — agradeço e no mesmo segundo Evan derruba o porta
canetas no chão. — Filho!
— Está tudo bem, vamos ver como está o bebê de vocês? — doutor
Alexandre se levanta e nós fazemos o mesmo.
— Bebé? — Evan diz com um sorrisinho, mas sua fala sai mais como uma
pergunta.
— Isso aí, ruivinho... bebê — Adrian diz sorrindo e beija a bochecha
gorducha dele.
Nós seguimos até uma sala adjacente ao consultório e o médico me pede
para trocar de roupa, o que eu faço em alguns minutos. Assim que volto, Adrian

me ajuda a subir na maca e fica ao meu lado com Evan em seu colo.
Sinto o gel frio em minha barriga e isso me faz arrepiar. Meu coração
também bate descompassado em meu peito e tenho que respirar fundo para me
acalmar. Desvio meus olhos rapidamente para Adrian e vejo seus olhos fixos no
pequeno monitor, estando tão ansioso quanto eu. E até Evan está na expectativa
por algo.
O aparelho começa a deslizar por meu ventre e uma imagem borrada se
forma na tela. O médico faz algumas medições e analisa se está tudo certo.
— Esse aqui é o bebê de vocês, estão vendo? — Ele nos olha rapidamente
enquanto circula algo na tela e nós afirmamos com um aceno, pois as palavras
fugiram nesse momento.
— Dá pra ouvir o coraçãozinho? — A pergunta vem de Adrian e vejo seus
olhos brilhantes por algumas lágrimas.
— Dá sim — doutor Alexandre responde e alguns segundos depois, o som
rápido começa a ecoar pelo lugar.
Sinto meus olhos transbordarem pelas lágrimas e a mesma alegria, mesmo
amor de três anos atrás me toma. Quando ouvi o coração de Evan pela primeira
vez, eu tive certeza de que faria tudo pelo meu filho. E agora essa certeza me
toma novamente, pois meus filhos são o que tenho de mais precioso na vida.
A mão de Adrian se solta da minha e quando miro seu rosto novamente,
vejo lágrimas descendo por ele. E é impossível não sorrir com Evan tentando
enxugar as lágrimas do pai, enquanto deixa beijos por sua bochecha.
Nossos olhares se encontram e vejo todo o amor que eu sinto nesse
momento sendo refletido nos olhos do homem que eu amo e que me deu uma
família.
— Obrigado por ter me dado a oportunidade de ter dois filhos com você —
Adrian diz com a voz embargada, se abaixando um pouco ao meu lado.
— Eu que agradeço, amor... Eu amo vocês — falo, também emocionado.
— Amo vocês a cada dia mais. — Ele sorri e deixa um beijo em minha
testa.
— Eva ama! — Evan diz com um biquinho, participando prontamente do
nosso momento em família.

***

Quando voltamos ao consultório, fui pesado, tive minha pressão medida e


recebi uma montanha de receitas de vitaminas, remédio para enjoo e um
encaminhamento para a nutricionista.
E antes de irmos definitivamente para casa, decidimos passar em uma
sorveteria com Evan. Já que nosso projeto de gente merece um pouco de
diversão também.
— Eu quero um açaí bem grande, com direito a todos os acompanhamentos
que mereço — abro um sorriso para atendente, mas ele se fecha quando vejo seu
olhar sirigaita para o meu homem. — Gostou da paisagem, querida? Saiba que
ela é minha — falo com um sorriso falso agora e vejo ela ficar sem graça.
— Me desculpa, senhor, eu...
— Só traga meu açaí e te perdoo. O que você vai querer, amor? — Olho
para Adrian e pisco meus cílios algumas vezes.
O cretino dá uma risada, se divertindo muito com a cena e deixo um
beliscão em sua perna por baixo da mesa.
— Ah, um milk-shake de floresta negra. — Ele responde e cerra os olhos
em minha direção.
— Ótimo, e o Evan vai querer sorvete de flocos com muita calda de
chocolate. — Termino nosso pedido e a garota sai em seguida, de cabeça baixa.
— Depois o ciumento sou eu! — Adrian resmunga.
— Amor, fica quietinho — falo e deixo um beijo em sua bochecha, sentindo
sua barba.
Adrian não diz nada, mas deixa um selinho rápido em meus lábios, pois

logo somos separados pela mãozinha atenta do nosso pequeno.


— Filho, eu sinceramente não sei o que você tem contra mim — Adrian diz
dramaticamente para Evan e eu solto uma risada.
— Para de ser bobo, Shrek.
— Shlek! — Evan diz e isso me faz gargalhar.
— Ah, não! Até você agora, mine cabelo de fogo? — O drama dele faz
Evan rir e Adrian deixa algumas cosquinhas pela barriguinha dele.
— Mine cabelo de fogo? Só que não, né? Ele se parece mais com você do

que comigo — contesto e vejo um sorriso bobo surgir no rosto do meu noivo.
Adrian fica alguns segundos olhando para Evan e depois seus olhos se
voltam para mim.
— Você acha? — Ele pergunta incerto e eu afirmo com um aceno.
— Com toda a certeza... a cada dia ele pega mais de você, amor. Mas isso
me deixa muito feliz, pois o exemplo que ele tem de pai é o melhor. — Sou
sincero em minhas palavras.
— Obrigado! Eu ainda não sei como eu tive a sorte de ter um noivo
maravilhoso e marrento como você... — Ele diz e finjo uma careta indignada. —
Um filho perfeito e outro que está a caminho. — Suas palavras saem com puro
amor e sinto meu peito se aquecer.
— Falando nisso... o que você acha que é? Eu estou curioso — falo e apoio
meu queixo em minhas mãos.
— Não sei, mas eu vou amar de qualquer jeito... sendo um foguinho, ou
foguinha. — Ele diz rindo e eu o acompanho.
— Como sabe que será ruivo? — Questiono e ergo uma sobrancelha.
— Intuição de pai. — Ele diz convencido e reviro meus olhos.
Nossa conversa segue nesse rumo e logo nossos pedidos são trazidos.
Passamos um bom tempo por ali, mas logo decidimos ir embora, já que nossa
família e amigos ainda estão na fazenda para a virada do ano.
E assim que chegamos em casa, somos cercados por uma pequena multidão
louca pelas cópias do ultrassom que trouxemos conosco.
— Sério que você não vai me acompanhar nessa de ter gêmeos? — Angie
pergunta com um bico enquanto está sentado no sofá vendo o ultrassom.
— Está ótimo só um bebê, Angie — falo rindo e ele faz um gesto de desdém
com a mão.
— É porque você não sabe a maravilha que é carregar dois, tudo em dobro.
— Ele diz brincando, mas sei como ele amou todos os momentos de sua
gravidez.
— Por mim ele teria trigêmeos — Adrian diz com um sorriso e eu olho
cético para ele.
— Mas é claro, não é você quem vai parir eles — reclamo e ouço a risadas
de todos ao meu redor.
— Um é pouco, dois é bom... três é demais! — minha avó diz rindo ao meu
lado e me abraça. — Mas até que seria lindo ter três miniaturas correndo pela
casa junto com o Evan. Nossa, eu estou tão velha! — Dona Clarisse divaga e
isso me faz rir.
— Velha, onde? Estamos na flor da idade, minha amiga — Dona Emília diz
com um sorriso sapeca que me dá até medo. Deus abençoe que eu chegue na
idade delas com essa animação.
— Concordo, quero curtir muito quando chegar nessa idade — Mau fala
rindo e Angie concorda, dando um high-five com ele.
Balanço a cabeça em negação e mantenho um sorriso no rosto enquanto vejo
minha família louca.

***

Dois dias depois...

Saio pela porta dos fundos e abro um sorriso ao ver toda uma parte do
amplo terreno decorada. Há uma mesa enorme posta no meio do gramado,
luzinhas penduradas nos galhos das árvores e duas mesas cheias de comidas e
doces.
Nossa família está toda espalhada pelo quintal, vestidos de branco e roupas
claras. Abro um sorriso ao ver Evan sentado em uma manta, brincando com
Giovani e Otávio, ou melhor, apenas vigiando os dois que estão deitados.
Enquanto Angie e Maurício os vigiam de perto em meio a conversas.
Involuntariamente minhas mãos pousam sobre minha barriga coberta pela
camisa branca e solto um longo suspiro. Definitivamente eu estou encerrando um
ano que começou de forma inesperado, mas o próximo vai começar com muito
amor ao meu redor e também dentro de mim.
Sinto braços ao meu redor e fecho meus olhos, aspirando o perfume de
Adrian, que jamais vai me causar enjoo, somente calma. Suas mãos são postas
em cima das minhas e sorrio ainda mais com esse gesto.
— No começo desse ano eu nunca imaginaria que minha vida mudaria tanto.
E eu te agradeço por isso, assim como ao nosso filho e a Deus. Me desculpa se
às vezes sou ciumento demais, ogro demais, mas saiba que acima de tudo eu amo
vocês. — Suas palavras soam baixas e calmas aos meus ouvidos. E eu sinto a
sinceridade de cada uma delas.
Abro meus olhos e enquanto olho para Evan, tenho a certeza que tomei a
decisão certa ao me mudar para cá. Eu me viro em seus braços e sorrio para meu
noivo, o abraçando.
— E nós amamos você, meu amor... eu, nosso Evan e nosso pinguinho de
amor que está crescendo. Eu posso também ser marrento às vezes, mas jamais
duvide do meu amor, e do quanto sou feliz pela vida que tenho com você. Vir
para cá foi a melhor decisão da minha vida — falo enquanto tenho minha cabeça

apoiada em seu peito, ouvindo as batidas um pouco aceleradas do seu coração.


E por mais alguns minutos nós ficamos assim, apenas curtindo os braços um
do outro, já que palavras não são necessárias.
Perto da meia-noite nós formamos uma roda com todos e fazemos pedidos
para o novo ano que vai se iniciar. E faltando apenas um minuto, nós nos
preparamos para a contagem regressiva.
— Dez... nove... oito... sete... seis... cinco... quatro... três... dois... — Todos
dizem em coro e somos interrompidos por um gritinho.
— Umm! — Evan diz com um sorriso enorme, mostrando seus dentinhos e
isso faz todos sorrir.
— Feliz ano novo! — Assim que desejamos, uma queima de fogos começa,
já que Enzo e Adrian não abriram mão disso e nós concordamos.
Ainda sorrindo, eu me viro em direção aos meus amores e abraço Adrian
que está com Evan no colo. Sinto meu peito transbordar de alegria e tudo se
intensifica quando Adrian se abaixa e deixa um beijo em minha barriga, assim
como Evan também, imitando o pai.
Sinto uma lágrima descer por meu rosto e ainda sorrindo igual a um bobo,
sei que muitas coisas boas virão nesse novo ano. Pode ser que haja alguns
obstáculos, mas sei que tendo o amor de todos que estão aqui e principalmente
da minha pequena família, eu posso vencer tudo.
Abro meus olhos em uma rapidez que até eu me impressiono. Observo a

penumbra do quarto e quando viro para o lado, vejo Adrian roncando baixo
enquanto dorme na santa paz de Deus... por pouco tempo.
Eu me coloco sentado na cama e respiro fundo antes de começar a
chacoalhar meu noivo freneticamente. Adrian solta alguns resmungos, mas não

acorda, o que me deixa irritado. E bem, atitudes drásticas são necessárias...


como empurrar ele da cama.
Ouço o baque surdo quando seu corpo se choca no chão e logo em seguida
um chiado de dor.
— Mas que porra?! — Sua voz sai raivosa e seus olhos estão iguais quando

ele me olha. — Está louco, Castiel? — Ele se levanta e me encara bravo.


— Sim, e a culpa é sua — acuso e cruzo meus braços em cima do peito.
— Ah, minha? E o que eu fiz? — Sua pergunta me faz rir, pois isso é mais
que óbvio.
— Me engravidou? — respondo, mas sai mais como um questionamento. —
Mas não importa, eu quero amoras — sorrio para ele, que me olha com uma cara
de bobão.

Adrian ainda me olha por alguns segundos, até que parece recuperar a
capacidade de falar.
— Tá! E onde acha que vou encontrar amoras uma hora dessas da
madrugada? Mais precisamente, duas horas da manhã? — Ele diz assim que dá
uma olhada no relógio em cima da mesinha de cabeceira.
— Estamos em uma fazenda, amor... Não tem um pé de amoras por aqui? —
pergunto e acabo fazendo um bico involuntário nos lábios. — Eu estou com tanta

vontade, até posso sentir o gosto delas... aquelas bem maduras e roxinhas — falo
e fecho meus olhos por um momento, sentindo minha boca salivar ao imaginar as
pequenas frutas suculentas.

— Até tem... na fazenda a quilômetros daqui — Adrian responde.


Sinto meus olhos arderem e rapidamente lágrimas estão escorrendo por meu
rosto. Minhas mãos vão até minha barriga com um pequeno relevo e fungo
baixinho enquanto a acaricio.
— Não, pelo amor de Deus... não chore! — Adrian fala um tanto
desesperado e vem até mim, me abraçando, e deixa um beijo em meus cabelos.
— Nosso bebê está com vontade — falo com a voz embargada e ouço ele
resmungar algo que não consigo distinguir.
— Está tudo bem, eu vou até a minha outra fazenda buscar suas amoras.
Mesmo que para isso eu tenha que dirigir mais de quarenta quilômetros no meio
da madrugada. — Ele diz e isso me faz sorrir.
— Sério? — pergunto e me afasto dele, vendo-o assentir com um sorriso no
rosto.
— Sim... o que eu não faço por meus amores? — Ele responde e deixa um
selinho rápido em minha boca antes de se levantar e seguir até o banheiro.
Em dez minutos Adrian já está trocado e saindo de casa para buscar minhas
amoras. Juro que estou com dó dele, mas nosso bebê é quem manda e ele quer

amoras.
Acompanho a caminhonete de Adrian sumir na penumbra da noite e entro
novamente em casa. E aproveitando que perdi o sono, me deito em um dos sofás
da sala e ligo a TV.
Fico completamente sozinho por alguns minutos, até que escuto passos na
escada e Maurício se faz presente. Ele ainda está passando mais alguns dias aqui
na fazenda, aproveitando que suas aulas ainda não voltaram.
— Perdeu o sono também? — Ele pergunta com um sorriso e junta a mim,
se deitando no outro sofá.
— Meu primeiro desejo depois que descobri a gravidez — respondo e há
um sorriso em meu rosto.
É tão bom sentir essa felicidade por um único desejo, sabendo que meu
companheiro está junto comigo em todos esses pequenos momentos. Com Evan,
infelizmente, eu não tive isso, mas sei que agora é diferente.
— Que fofo! — Ele fala e aperta as próprias bochechas.

— Bobo! E você, por que perdeu o sono? — questiono e vejo sua


expressão mudar.
— Minha cabeça está a mil nos últimos dias. — Sua resposta me faz
arquear uma sobrancelha em questionamento. — Victor. — Ele responde por fim.
Eu me ponho sentado no sofá e presto mais atenção nele.
— O que tem ele? — pergunto, muito curioso com sua resposta.
Mau solta um suspiro e põe as mãos no rosto antes de me olhar novamente.
— Victor sempre foi apaixonado por mim e sempre fui honesto com ele. Só
que desde que me mudei para Nova York, nós ficamos mais próximos por causa
do curso e também por estarmos dividindo o mesmo apartamento. Nós somos
amigos desde que me entendo por gente e ele agora veio me pedir uma chance. E
sinceramente? Eu não sei o que fazer. — Ele diz frustrado e eu me sinto atingido
pela sua resposta.
— Wow! É, dá para notar que ele nutre um sentido por você — falo e
assente, ainda com a mesma cara de velório. — Mas e você, sente algo a mais
por ele além de amizade? — faço a pergunta crucial, mesmo já sabendo sua
resposta.
Maurício parece pensar por alguns minutos, até que volta a falar novamente:
— Infelizmente não, mas eu queria. — Ele diz e solta um grito abafado na
almofada. — Que ódio! Por que a vida não pode facilitar? — fala inconformado
e eu solto uma risada.
— A vida não é fácil, meu querido amigo. E por favor, pense bastante antes
de dar uma resposta a esse Victor, pois não vai adiantar nada você dar uma
chance a ele amando outro homem — falo e me levanta, indo até ele. Eu me sento
ao seu lado e o abraço. — Sei que às vezes tudo parece estar muito difícil, mas
há um tempo para que as coisas aconteçam — sorrio e deixo um beijo em sua
bochecha.
— Obrigado, você é o melhor cunhado do mundo. — Ele me elogia, e é
claro que fico me sentindo.
— Eu sei — falo convencido e ele deixa um tapa fraco em meu braço.
— Ei, agressão contra grávido é crime! — exclamo, fingindo indignação, e
ele revira os olhos.
Maurício e eu ficamos mais alguns minutos conversando sobre vários
assuntos, até que Adrian voltou quase duas horas depois, trazendo uma sacola
com muitas amoras.
— Já disse que te amo? — falo com um sorriso e deixo um beijo em sua
boca, antes de pegar a sacola de sua mão.
— Claro, só quando quer algo de mim. — Ele fala, se fingindo de magoado,
e deixo um tapa em seu peito que não faz nem cócegas.
— Idiota! — reviro meus olhos e sigo até a cozinha.
Pego uma tigela pequena no armário e coloco uma quantidade de frutinhas
no recipiente. Lavo elas e logo me sento na mesa para comer.
Assim que coloco a primeira na boca, solto um gemido de apreciação e
passo a devorar as outras.
— Será que ganho alguma amora? — Adrian surge na cozinha e balanço a
cabeça em negação, colocando minha tigela contra o peito. — Credo, não queria
mesmo! — Ele diz superior e acabo rindo.
— Sei... — falo quando estou com a boca vazia. — Toma... só essas porque
te amo e você foi um bom norido — pego um pouco das frutinhas e coloco em
sua mão.
— Norido? Que isso? — Ele se senta ao meu lado e passa um dos braços
ao meu redor.
— Junção de noivo com marido — respondo óbvio e continuo a comer.
— Seus apelidos são estranhos.
— Enche a boca, Shrek... seja um bom ogro — resmungo e ouço ele rir.
Termino de comer todas as amoras e quando volto para a sala, não vejo
mais Maurício. Mas isso não importa muito, já que a ânsia me atinge com força.
Nem me dou ao trabalho de subir e acabo usando um dos banheiros no andar de
baixo. E dessa forma esvazio tudo o que havia no meu estômago.
— Eu odeio essa parte — resmungo ainda meio zonzo e trêmulo enquanto

Adrian me ajuda a levantar.


— Eu também, amor.
Adrian me auxilia enquanto escovo meus dentes, já que agora há uma
escova de dentes para mim em cada banheiro dessa casa. E quando já estou
melhor, ele me leva em seus braços para nosso quarto.
Nos deitamos, com o relógio marcando quase cinco horas da manhã, e pego
no sono com o homem que eu amo me abraçando.

***

Assim que meu despertador toca, minha vontade é de o tacar na parede e


dormir novamente. Abro meus olhos no maior sacrifício e muita força de
vontade. Desligo o alarme irritante e solto um suspiro, me sentando na cama.
Esfrego meu rosto com força, tentando fazer qualquer resquício de sono sair de
mim.
— Mais cinco minutos, vó! — Castiel resmunga e quando viro meu rosto,
vejo ele revirando na cama enquanto abraça meu travesseiro com força. Solto
uma risada baixa e chego mais perto dele.
Abaixo meu rosto em direção ao seu e deixo alguns beijos em sua face,
percebendo-o despertar aos poucos.
— Não sabia que tinha a aparência da dona Clarisse — falo rindo e vejo
ele abrir apenas um olho para mim.
— Olhando assim, até parece... só cortar mais um pouquinho o cabelo. —
Ele diz com a voz rouca de sono e reviro meus olhos, mas acabo rindo.
— Idiota! — Deixo um beijo em sua boca e me afasto um pouco. —
Levanta, o Mau vai para o aeroporto daqui a pouco.
— Quero não! — Ele faz um bico e volta a fechar os olhos.
E bem, se tem uma coisa que essa gravidez fez com Castiel, foi deixá-lo
manhoso... o que eu amo.
Eu me coloco em cima dele, quase me sentando em suas coxas, mas não
deixo meu peso cair sobre ele. Levanto minha camiseta, que agora é dele
(palavras de Castiel e não minhas), e deixo alguns beijos sobre a pequena
protuberância que há ali e me faz sorrir cada vez que a vejo.
— Bom dia foguinhx! Papa está muito preguiçoso hoje, não sei o que fazer,
mas eu te amo, ok? — Falo com sua barriga e mesmo que seja algo idiota para
outras pessoas, para mim é uma das melhores coisas do meu dia.
— Papa! — A vozinha manhosa ecoa pela babá eletrônica e isso me faz
sorrir ainda mais. Está aí a outra melhor coisa da minha vida.
— Agora meu alarme soou — Castiel diz.

***

Vejo novamente as malas prontas do meu irmão e minha vontade é o amarrar


aqui e não o deixar ir.
— Não acha que já deu lá? — pergunto com um sorriso pequeno, logo
depois de o abraçar.
— Ainda não. — Ele sorri e deixa um beijo em minha bochecha.
— Titi Má... fica — Evan diz com um biquinho e os olhos de Maurício se
viram em minha direção.
Solto uma risada e ergo minhas mãos em rendição, me escondendo atrás de
Castiel.
— Juro que não treinei ele para dizer isso.
— Até parece que não te conheço. — Mau revira os olhos e pega o
sobrinho no colo. — Ei, meu amorzinho! Titio jura que vai falar com você todos
os dias pela chamada de vídeo. — Mau deixa beijos pelo rosto de Evan e recebe
alguns em troca.
Desvio meu olhar deles quando vejo o carro de Victor estacionando a
poucos metros e solto um suspiro.
— Acha que consegue vir no chá de revelação do sexo do bebê? — Cas
pergunta e olha com esperança para meu irmão.
— Juro que vou tentar, Cas, mas mesmo se não conseguir, saiba que estou
muito feliz por vocês dois e desejo todo o amor do mundo ao meu sobrinho, ou
sobrinha. — Ele sorri e abraça meu ruivo, assim que coloca Evan no chão.
— Vou sentir sua falta, não deixe de me ligar todos os dias — Cas fala com
a voz embargada.
— Juro que sim, temos que fofocar — Maurício diz e os dois riem.
Trocamos mais alguns abraços e vejo meu irmão ir embora mais uma vez.
Abraço Castiel, que ainda está chorando, e deixo alguns beijos em seus
cabelos, tentando o acalmar.
Sinto meu celular tocar no bolso da calça e ao pegá-lo, vejo o nome de
Antônio escrito no visor.
— Fala, Antônio — digo assim que atendo a ligação e Cas acaba saindo
dos meus braços.
— Senhor, aconteceu uma coisa. — Ele diz e pela sua voz, é um assunto
sério.
— Que coisa, Antônio? — pergunto preocupado e vejo o olhar de
questionamento de Castiel sobre mim.
— Acho melhor o senhor vim aqui na fazenda. — Ele diz apenas e isso me
deixa irritado.
— Tá, em poucos minutos estou aí. — Encerro a ligação e guardo o celular
no bolso da calça.
Entro em casa rapidamente e pego as chaves da minha caminhonete e meu
chapéu.

— O que aconteceu? — Cas pergunta enquanto sigo até o veículo.


— Não sei, Antônio não me explicou — respondo.
— Quer que eu vá junto? — Ele se aproxima com Evan nos braços.
— Não, amor, não sei o que aconteceu e prefiro que fique aqui — falo e
deixo um beijo nos dois antes de entrar na caminhonete e dar partida.
— Me liga quando chegar! — Ele grita e aperto a buzina em resposta.
Durante o caminho até minha outra fazenda, penso no que pode ter
acontecido, mas nada passa por minha cabeça. Fico agoniado até chegar lá e
assim que desço da caminhonete, um dos funcionários me avisa que Antônio está
no pasto.
Sigo apressado até lá e quase tenho um infarto com o que vejo.
— Porra! — Olho para o pasto forrado de gado morto e respiro fundo.
Que merda aconteceu aqui?
Meu olhar permanece fixo na quantidade enorme de gado morto no pasto e
ainda não consigo acreditar no que vejo. Não é possível que tantos animais

tenham morrido de uma causa natural, então minha preocupação aumenta em um


nível extremo, tentando imaginar o que houve aqui.
Percebo Antônio se aproximando de mim e em sua face está a mesma
perplexidade que eu esboço nesse momento.

— O que aconteceu aqui? — A pergunta sai junto a um suspiro.


— Eu não sei, acordei e vim troca o gado de pasto e ‘tava tudo assim. —
Ele explica e vejo que está nervoso.
— Porra! — Passo minhas mãos em meus cabelos, em um gesto frustrado.
— Já chamou o veterinário? — pergunto e ele assente.

— Ele já ‘tá chegando aí. — Ele responde e assinto com a cabeça.


Eu me afasto dele e ligo para Castiel, já que ele acabou ficando um pouco
nervoso quando saí apressado de casa. Explico a situação a ele, que fica mais
nervoso ainda, mas o tranquilizo dizendo que está tudo bem... o que não está. Me
despeço de Castiel após alguns minutos e peço para que ele fique na casa da avó,
já que não gosto dele sozinho nesses primeiros meses de gravidez.

Assim que guardo o celular no bolso da calça jeans, vejo o veterinário que
cuida dos meus animais chegar. Cumprimento doutor Pedro com um aperto de
mão e logo ele vai fazer seu trabalho.
— Me desculpa por isso, senhor... Eu nunca ia imaginar algo assim —
Antônio fala ao meu lado e balanço a cabeça em negação.
— A culpa não é sua, Antônio. Isso está com cara de envenenamento, só não
sei quem faria isso — falo e tento imaginar alguém que queira me prejudicar,

mas nenhum nome me vem à cabeça. Não porque eu não tenha inimigos, acho que
todos temos alguém que queira nosso mal, mas é que realmente não consigo
pensar em alguém agora.

— Eu pensei o mesmo, mas não acho que o pessoal aqui faria alguma coisa.
Até porque muitos dependem desse trabalho e são pessoas honestas. — Ele diz e
concordo.
— Também não acho que seja alguém daqui... É alguém de fora. Só ainda
não sei quem, mas vou descobrir — solto um suspiro e desvio meus olhos do
pasto, pois me entristece ver a cena.
— Eu vou indo, me mantenha informado sobre tudo e peça ao doutor Pedro
um laudo urgente sobre a causa das mortes — falo e olho na direção de Antônio.
— Vou falar com a empresa de segurança e ver as câmeras que tem no celeiro e
na entrada da fazenda, talvez a gente tenha alguma coisa.
— Por que alguém faria uma maldade dessas? — Antônio pergunta um
pouco perdido e eu não tenho resposta para ele.
— Não faço ideia — respondo por fim e ponho meu chapéu na cabeça,
andando até onde deixei minha caminhonete.
Nesse momento o que me abala não é nem o prejuízo que vou ter com a
perda desses animais, mas sim a crueldade de alguma pessoa, ou pessoas. Não
faço ideia de quem quer me prejudicar, mas sei que isso não vai ficar assim.

***

Passo na delegacia para registrar um boletim de ocorrência e também na


empresa de segurança, que agora eu agradeço a Maurício por ter insistido nisso.
E assim que chego em casa, sinto como se um peso de uma tonelada estivesse
sobre meus ombros.
Abro a porta e escuto barulho de conversas na cozinha, o que me faz seguir
até lá.
Cas está de pé em frente à mesa de madeira que há ali e corta alguns
legumes enquanto dona Clarisse mexe em uma panela no fogão. Evan está
brincando em um cantinho, rodeado por seus brinquedos e ele é o primeiro a me
notar, me direcionando um sorriso.
— Papai! — Ele diz feliz e se levanta em suas pernas pequenas, vindo até
mim.

Sorrio e me abaixo no chão, pronto para o receber em um abraço e isso é o


suficiente para que eu me sinta um pouco melhor.
— Sentiu minha falta, ruivinho? — sorrio e deixo alguns beijos em sua
bochecha, me levantando em seguida com ele em meus braços.
— Naum! — Sua exclamação sai em meio a uma risada e é impossível não
rir também.
— Ah, é? E você ainda fala na minha cara? — brinco e deixo mais um beijo
nele, o colocando no chão em seguida.
— Como foi lá? Alguma novidade? — Castiel pergunta e toda sua atenção
está voltada para mim.
Caminho na direção dele e deixo um beijo rápido em sua boca, assim como
um carinho em sua barriga e o abraço em seguida.
— Não sabemos de nada ainda, mas sei que alguém de fora fez isso. Aquilo
foi envenenamento, amor... É impossível tantos animais morrerem daquela forma,
a não ser se fosse em uma tempestade ou algo do tipo, mas não teve nada disso
— conto frustrado e sinto suas mãos acariciar minhas costas.
— Não se preocupe com isso, logo o responsável vai ser pego. — Ele me
tranquiliza e deixa um beijo em meu pescoço.
— Concordo com o Castiel, o responsável vai aparecer... cedo ou tarde —
Dona Clarisse diz e seu olhar se torna mais sério. — Você não faz ideia mesmo
de quem fez isso, Adrian? Pense em alguém que seria capaz de qualquer coisa
para chamar sua atenção... — Suas palavras me pegam de surpresa e me afasto
de Castiel.
Continuo olhando para ela e algo se passa por minha cabeça e me faz quase
perder o fôlego. Eu me sento em uma das cadeiras e respiro fundo, balançando a
cabeça em negação.
— Não, ela não seria capaz disso. Seria? — falo sem acreditar e Cas me
olha sem entender, até que seus olhos se arregalam.
— Débora? Acha que ela seria capaz? — Ele pergunta, mas não a mim e
sim a dona Clarisse.
Ela deixa tudo o que está fazendo de lado e se aproxima mais de nós dois,
nos olhando com seriedade.
— Capaz ela é sim, mas não estou dizendo que seja ela. Só que também há
essa possibilidade. — Ela diz e pega em nossas mãos. — Então, um conselho
que eu dou... tomem cuidado com ela, ainda mais você, Castiel. Débora te odeia
por achar que roubou algo dela.
— Ela não é nem louca de fazer algo com ele — falo e travo meu maxilar
com força, agora pensando que faz sentido a suspeita de dona Clarisse.
— Então tomem cuidado, com Evan também. — Ela avisa e
automaticamente olho para meu filho, brincando inocentemente.
Meus olhos se voltam para Castiel, com as mãos repousadas sobre a barriga
e engulo em seco. Eu jamais vou deixar que alguém prejudique minha família,
nem que para isso eu tenha que jogar de forma suja.

***

Entro no escritório localizado em uma parte nobre da cidade e vou direto


até o elevador. Ainda me sinto um pouco zonzo com tudo o que houve mais cedo,
mas sei que não posso deixar isso me abalar.
Chego até o andar que desejo e dou de cara com uma ampla recepção, onde
há uma secretária. Ela logo me nota e sorri em minha direção.
— Boa tarde, senhor D'Ávila. O senhor Alessandro já está a sua espera. —
Ela diz e assinto, a acompanhando até a sala dele.
Andamos poucos passos e depois de algumas batidas na porta e um “entre”,
ela abre a porta e deixa espaço para mim. Entro na sala e a secretária nos deixa à
sós.
Alessandro está sentado em sua mesa e me olha um pouco curioso.
— Sente-se, Adrian. — Ele indica a cadeira, mas permaneço no mesmo
lugar.
— Não tenho tempo e o que vim falar é rápido — respondo e ele me olha

com atenção.
— Então diga, pois estou surpreso de te ver aqui. — Ele diz e se põe de pé,
rodeando a mesa e se encosta nela.
Cruzo meus braços em cima do peito e respiro fundo, colocando meus
pensamentos em ordem.
— Não sei se soube, mas alguém envenenou boa parte do meu gado e eles
estão mortos — começo e vejo ele pronto para responder, mas prossigo. — Não
estou dizendo que foi você, mas sim que pode ter sido uma pessoa que você

conhece bem.
Ele franze o cerro, mas logo um olhar de reconhecimento passa por sua
face.
— Você está acusando minha filha? Débora não seria capaz disso. — Ele a
defende e reviro meus olhos.
— Não estou a acusando, pois ainda não tenho provas, mas logo saberei
quem foi. Eu só vim avisar que ela vai pagar, se caso for a responsável — falo e
mantenho meu olhar firme no dele. — Desde que eu disse que não teria nada com
ela, Débora me jurou vingança, principalmente a Castiel. E eu não me importo de
perder algumas cabeças de gado, mas garanto que as coisas serão diferentes caso
ela faça algo com as pessoas que eu amo.
Vejo ele vacilar um pouco e continuo.
— Eu só espero que você saiba tomar a decisão certa se algo acontecer. Sei
que considera Débora sua filha, mas quem tem seu sangue e um dia precisou de
você, não foi ela — falo e vejo que minhas palavras o atingem. — Bem, é só
isso que vim te dizer, e eu espero de verdade que não tenha que tomar decisões
drásticas.
Alessandro fica em silêncio e essa é minha deixa para ir embora, mas antes
que eu saia, escuto seu chamado.
Eu me viro em sua direção e vejo um olhar determinado em seu rosto.
— Se foi ela que fez isso, garanto que ela vai pagar. E quanto a Castiel, eu
não a deixarei fazer nada contra ele. Sei que ele não me quer por perto, mas eu
realmente amo meu filho. — Ele diz enquanto olha em meus olhos e sinto que
suas palavras são verdadeiras.
Aceno em sua direção e saio de sua sala em seguida, sabendo que meu
aviso foi dado.

***

Três semanas depois...

Escuto o sinal do intervalo e saio da sala de aula, sentindo uma leve dor de
cabeça. Olho para a aglomeração de pessoas no corredor e caminho entre as
pessoas, tentando não esbarrar em ninguém.
Faz exatamente uma semana que eu comecei a faculdade de ciências
contábeis. Havia pensado em administração antes, mas acabei mudando de ideia
na hora de fazer a matrícula, mas tenho certeza de que é isso que eu quero.
Ainda não fiz nenhuma amizade, mas isso nem me preocupa tanto, já que
estou aqui para estudar.
Sinto meu celular vibrar no bolso da calça e quando o pego, abro um
sorriso ao ver o nome de Adrian brilhando na tela.
— Oi, Shrek! — falo sorrindo e vejo algumas pessoas me olhar estranho ao
dizer o apelido, faço careta para elas. Intrometidos.
— Como está por aí? Já comeu? Sabe que não pode ficar sem comer pela
manhã e você não tomou café. — Ele diz em seu tom preocupado de sempre s
sorrio.
— Estou indo para a cantina agora e prometo comer algo saudável —
respondo sorrindo e viro em um corredor, descendo as escadas para o térreo.
— Estou de olho, hein!?
— Você não está aqui, então não está, não — brinco e sei que ele está
revirando os olhos nesse momento. — E Evan? Ainda não me ligaram dizendo
que ele está chorando.
— E nem vão, ele amou aquela creche. Nem deve nos querer mais, já que
arranjou um amiguinho. — Ele diz dramático, o que acaba me arrancando uma
risada.
Assim que comecei minhas aulas, nós matriculamos Evan em uma creche.
Pra mim, já estava na hora dele socializar mais com crianças da idade dele e é
apenas meio período. Quando saio daqui às 11hr da manhã, Adrian me busca e
nós pagamos nosso projeto de gente. E, consequentemente, agora eu também
trabalho apenas meio período com Adrian.
— Você é tão dramático — falo rindo e paro de andar, vendo que há uma
fila enorme na cantina. — Alguma novidade sobre aquele assunto?
Infelizmente ainda não sabemos quem foi o responsável pelo
envenenamento do gado, que foi feito através de uma substância chamada
cianeto. A única pista foi um frasco que acharam lá, já que nenhuma câmera
gravou nada. E agora estamos esperando o laudo final da perícia.
— Ainda não, mas sinto que estamos perto de saber quem foi. — Ele fala e
assinto, mesmo sem ele estar vendo. — Vou voltar ao trabalho, às onze estou aí.
Beijo, amo vocês!
Sorrio e passo minha mão livre em minha barriga que ainda não há muita
evidência de gravidez, apenas quando uso camisetas mais apertadas.
— Nós também te amamos. — Eu me despeço dele e guardo o celular no

bolso.
Desisto de ficar ali e sigo até à frente da faculdade, onde há alguns
vendedores. Eu me sento em uma das barraquinhas e peço um sanduíche natural e
suco de abacaxi com hortelã.
Acabo me distraindo e levo um susto quando alguém se senta em minha
frente. Foco meus olhos na pessoa a poucos centímetros de mim e a surpresa me
toma ao ver Alan.
— Que merda você está fazendo aqui? — pergunto, um pouco agitado, e
faço menção de me levantar, mas ele segura em meu braço. — Me solta, senão eu
começo a gritar. — Encaro seu rosto com raiva, mas ele não faz o que eu mando.
— Fica quieto e me escuta, juro que é do seu interesse. — Ele diz sério e
acabo soltando meu braço do seu aperto com um movimento brusco.
— Não há nada que venha de você que possa despertar meu interesse.
— Nem seu filho? — Ele diz e isso me faz arrepiar.
— O que tem Evan? — pergunto com raiva. — Se veio aqui com alguma
intenção, pode tirar seu cavalinho da chuva. Ele não tem nada com você.
— Eu não quero nada com seu filho, mas também não quero o mal dele...
querendo ou não, ele tem meu sangue. — Ele diz e mesmo não querendo, confio
em suas palavras.
— O que quer aqui, então? — pergunto e me sento novamente.
— Vim te avisar que tem uma pessoa planejando mal a ele. Uma tal de
Débora veio me procurar, dizendo que estava planejando uma vingança contra
você. Eu posso não ter querido e ainda não querer esse filho, mas jamais ia
deixar que alguém prejudicasse vocês dois, sendo que eu poderia impedir. —
Ele conta e suas palavras me deixam tonto.
Fecho meus olhos e respiro fundo.
— O que ela planeja? — pergunto e minha voz sai muito baixa.
— Não sei exatamente, já que ela não quis dizer o resto quando recusei,
mas me lembro dela dizer que ia te dar um susto usando uma crise alérgica. —
Ele diz e quase sinto meu coração sair pela boca.
— Filha da puta! — É a única coisa que consigo dizer, antes de sair
correndo em direção à creche onde Evan está estudando.
Continuo correndo sem pensar em nada além de chegar logo onde está meu
filho. Sinto um pouco de falta de ar, mas nem isso me faz parar. Não consigo

pensar em nada nesse momento e me sinto totalmente perdido. Tanto que me


assusto com a freada brusca de um carro ao meu lado.
Paro de correr e ao olhar para o lado, vejo Alan como motorista do carro
parado.

— Entra, você não vai chegar lá vivo correndo assim. — Ele diz, mas não
movo um músculo.
— Como sei que posso confiar em você? Há alguns meses atrás você disse
coisas horríveis sobre meu filho e eu, por que quer nos ajudar agora? — acabo
expondo minha desconfiança, mesmo que agora não seja o momento para isso.

— Quer mesmo discutir isso agora? Acha que eu sairia da capital atoa? —
Suas perguntas me fazem refletir.
E mesmo não acreditando totalmente nele, eu respiro fundo e entro no carro.
— Vamos, a creche fica no centro — falo e pego meu celular no bolso da
calça.
Alan volta a dirigir e enquanto isso eu ligo para Adrian, querendo a ajuda
dele nesse momento.

Sinto meu coração bater acelerado em meu peito e minha garganta seca. A
chamada cai algumas vezes na caixa-postal e isso me deixa ainda mais agoniado,
até que ele me atende.
— Oi, amor! — A voz rouca dele chega ao meu ouvido e solto um suspiro
de alívio.
— Eu preciso de você, agora! Débora está querendo fazer alguma coisa
com Evan — falo tudo de uma só vez, pois não há tempo para enrolação.

— O quê? Como assim? — percebo que ele está perdido e entendo.


— Amor, só venha para cidade logo. Estou indo para a creche — aviso e
faço sinal para Alan virar na próxima esquina.

— Ok, estou indo! — Ele diz e eu encerro a ligação.


Respiro fundo e fecho meus olhos por um instante, colocando minha mão em
minha barriga, que nesse momento dói levemente.
— Está tudo bem? — Alan pergunta e apenas assinto com a cabeça.
Eu ainda não entendi por que Alan está aqui, já que ele nunca ligou comigo
ou com Evan. E só espero que não haja segundas intenções nessa vinda dele.
Abro meus olhos e percebo que estamos quase chegando, o que faz minha
angústia aumentar cada vez mais. Só de pensar em alguma coisa acontecendo ao
meu pequeno, me sinto totalmente sem chão.
O resto do caminho é feito totalmente em silêncio, apenas comigo dando
algumas coordenadas a ele. E assim que o carro para em frente à creche, eu não
espero por nada e saio correndo.
Eu me aproximo do portão e por me conhecer, o porteiro o abre para mim.
Entro correndo no pequeno prédio e sigo diretamente para a sala de Evan. Vejo
alguns funcionários pelo caminho, mas não me atento a isso, já que tenho algo
mais importante.
Assim que chego à sala dele, encontro a sala vazia e isso deixa meu

desespero a um nível extremo. Sinto lágrimas descerem por meu rosto e tento
raciocinar por um segundo, o que me faz lembrar do refeitório. Limpo as
lágrimas e volto a correr, seguindo até o pequeno refeitório. Assim que chego ao
local, sinto um alívio enorme ao ver Evan sorrindo empolgado com as outras
crianças ao seu redor.
Não penso em mais nada e sigo até meu filho, o pegando em meus braços. O
abraço com força e sinto as lágrimas voltarem ao meu rosto, acabando por o
assustar um pouco.
— Papa! — Sinto seus bracinhos ao meu redor, como se estivesse me
consolando e sorrio.
— Oi, amor... papa está tão feliz de te ver. — Deixo alguns beijos por seu
rostinho e sinto suas pequenas mãozinhas limpando minhas lágrimas.
— Chola naum. — Há um biquinho em seus lábios e sorrio o beijando mais
uma vez.

— Senhor Almeida, algum problema? — escuto uma voz feminina atrás de


mim e ao me virar, vejo uma das cuidadoras responsáveis por Evan.
— Sim... Meu filho recebeu algum lanche diferente? — pergunto e ela me
olha confusa.
— Só o que o senhor mandou mais cedo pela sua irmã. — Ela responde
com o cenho franzido e minha vontade é gritar.
— Eu não mandei lanche algum e não tenho irmã — falo sério e vejo sua
expressão mudar. — A diretora está? Preciso falar com ela.
A mulher a minha frente fica um pouco atordoada, mas assente com a
cabeça e me pede para segui-la. Em poucos minutos chegamos à sala da diretoria
e a mulher de meia idade me recebe com um sorriso no rosto.
— Castiel, em que posso ajudá-lo? — A senhora pergunta assim que eu
entro na sala e me cumprimenta com um aperto de mão.
— Nós podemos esperar meu noivo chegar? Quero que ele esteja aqui —
falo e ela assente.
— Tudo bem, sente-se então. Aceita alguma coisa?
— Água, preciso de água — respondo e me sento em uma das cadeiras
dispostas em frente à mesa dela.
Maura me entrega um copo de água segundos depois e bebo todo o conteúdo
em quase um gole. Evan está quieto em meu colo e me olha a todo instante, acho
que com medo de ver lágrimas em meu rosto. Levo um pequeno susto ao que a
porta é aberta com um gesto brusco, mas respiro aliviado ao ver Adrian ali. Não
sei como ele chegou tão rápido aqui, mas agradeço por isso.
— O que aconteceu? — Ele pergunta preocupado e vem em minha direção,
se abaixando em minha frente.
— Débora aconteceu — respondo e vejo ele trincar o maxilar com força.
Evan vai para os braços do pai em seguida e Adrian se senta ao meu lado.
Olho para a diretora, que nos observa sem entender muita coisa.
— A senhora poderia pedir para a cuidadora de Evan trazer o lanche que eu
supostamente mandei para ele? — pergunto e ela me olha em confusão.
— O que está acontecendo, Castiel?
— A senhora já vai saber, só faça isso por favor — peço e ela concorda
com um aceno.
A sala fica em completo silêncio por alguns minutos, até que a mesma moça
de minutos atrás entra.
— Tudo bem, agora podem me explicar o que está havendo aqui? — Maura
pergunta e eu respiro fundo.
— Eu estava no intervalo da faculdade quando fui surpreendido com a
notícia de que meu filho seria vítima de uma crise alérgica, que seria provocada
por uma pessoa totalmente sem noção. E quando eu chego aqui, sou informado
que ele recebeu um lanche mandado por mim, que foi entregue pela minha irmã
— falo, olhando nos olhos dela e vejo ela prestar atenção em cada uma das
minhas palavras. — Mas a questão aqui é, eu nunca mandei nada a ele e eu não
tenho irmã alguma, a não ser uma que mora muito longe daqui.
— Onde está esse lanche, Amara? — Ela desvia seus olhos dos meus e
mira a moça em um canto da sala.
— Aqui está. — Ela coloca uma pequena lancheira em cima da mesa e abre
a mesma. Há alguns morangos, uma caixinha pequena de achocolatado e iogurte.
— Ele comeu alguma dessas coisas? — pergunto e ela nega.
— Não, senhor, iria dar o almoço a ele e depois algo se ele quisesse. —
Ela responde e concordo.
— Acho que a instituição deveria ter mais cuidado com as coisas que
recebem e por quem recebem, não? Meu filho é totalmente alérgico a essas
coisas e foi dito isso no dia em que viemos aqui o matricular. E Deus, vai saber
mais o que há nisso aí? Pode até ter veneno e se não fosse por eu vir aqui, meu
filho estaria indo para um hospital agora. — Minhas palavras saem de forma
dura, mas não me arrependo, pois é a mais pura verdade.
— Eu sinto muito, não fazia ideia dessa situação. Sei que estamos errados e
peço desculpas por isso — Maura diz completamente envergonhada e sei que
suas palavras são verdadeiras.

— Tem como nos dar as imagens das câmeras de segurança? — Adrian se


pronuncia pela primeira vez e o olho, vendo sua expressão totalmente frustrada.
— Sim, vou pedir uma cópia ao nosso segurança. — Ela responde e pega o
telefone, falando com alguém em seguida.
Seguro na mão de Adrian e vejo em seus olhos que há alguma coisa a mais.
— Em poucos minutos ele trará um CD com as imagens. E novamente, eu
peço desculpas por esse ocorrido. Prometo que vamos redobrar nossa atenção,
não só com Evan, mas todas as crianças.
Solto um suspiro e olho rapidamente para meu filho, vendo que ele acabou

dormindo em meio a toda essa confusão.


— Eu espero que sim. Não iremos tirar o Evan desse lugar, pois está
fazendo muito bem a ele, mas quero que haja mais cuidado com ele. Não só eu e
meu companheiro, mas todos os pais entregam o bem mais precioso nas mãos de
vocês todos os dias. Então não nos deixem decepcionados — falo a ela e me
levanto. — E quanto ao episódio de hoje, nós vamos tomar as devidas
providências e contamos com a colaboração da instituição.
Maura também se põe de pé e assente com a cabeça.
— Pode contar conosco, faremos todo o possível para que essa pessoa seja
punida.
— Obrigado! — Olho para Adrian e ele faz sinal para irmos.
Pego a lancheira em cima da mesa e assim que saímos da sala, o segurança
me entrega um CD, contendo as imagens de segurança.
Sinto uma leve cólica enquanto seguimos até à saída da creche e assim que
passamos pelo portão, vejo Alan ainda ali. E por incrível que pareça, há um
olhar de alívio em seu rosto quando nos vê.
— O que ele está fazendo aqui? — A voz de Adrian sai com raiva e ele
para bruscamente de andar.
— Por incrível que pareça, foi ele quem me avisou. Mas podemos falar
sobre isso depois? Eu preciso ir até aquela mulher — falo decidido e ele me
olha balançando a cabeça em negação.
— Está louco? — Adrian olha em meus olhos e nego. — Sabe o que eu
soube enquanto vinha para cá? Que foi ela a responsável por matar mais de
quinhentas cabeça de gado. Agora sei que ela quis fazer o mesmo com Evan...
por que o que iria acontecer caso ele comesse aquelas coisas? — Ele diz
exaltado e percebo o quanto de raiva há em sua voz.
— Isso é mais um motivo, Adrian. Essa mulher está brincando com a gente
e não vou deixar isso assim. Agora vamos... e se não for comigo, eu vou sozinho
— falo decidido, mas antes de ir até a caminhonete dele, sigo até o carro de
Alan.
Ele está parado, encostado na porta do carro e me olha sem qualquer
expressão.
— Olha, eu não sei o que deu em você para ajudar, mas obrigado. Sei que
Evan não significa nada para você, mas ele é o bem mais precioso para mim e
Adrian... Então, obrigado mesmo — agradeço, pois é algo que preciso fazer.
— É como disse, eu não o quis antes e ainda não quero... não nasci pra ser
pai. Mas jamais deixaria isso acontecer, sabendo que poderia impedir. E me
desculpa pelas coisas que já disse a você, fui um babaca e não nego isso. E de
verdade, eu espero que sejam felizes. — Ele diz e se desencosta do carro. — Eu
não estou mais com Vitória, mas ainda tenho um pouco de contato com sua mãe...
e ela precisa de você. — Suas palavras me deixam curioso e arqueio uma
sobrancelha em sua direção.
— Por que diz isso? — pergunto, mas ele nega.
— Nada, só acho que ela merece uma chance. — Ele diz e entra no carro
em seguida. — Adeus!
Seu carro some na rua e suas palavras ecoam em minha cabeça, mas afasto
elas por um momento.
Respiro fundo e sigo até o carro de Adrian, estacionado do outra lado da
rua.
— Vamos! — falo e vejo ele me olhar com desgosto, antes de seguir até o
nosso destino.

***

Assim que chegamos na mansão que é a casa de Alessandro, posso ver


várias viaturas da Polícia ali, o que me faz ter um certo alívio. Saio do carro
quando Adrian estaciona e não o espero enquanto passo pela porta entreaberta da
sala.
E nada é mais gratificante do que ver Débora cercada no meio da sala por
vários policiais.
— Posso juntar mais uma acusação a ficha dela? — pergunto, chamando a
atenção de todos e vejo o olhar de raiva da cascavel sobre mim.
— Está fazendo o que aqui, bastardo dos infernos? — Ela diz exaltada e eu
apenas sorrio em escárnio em sua direção.
— Cala a boca, Débora! Não acha que já se sujou demais? — Alessandro
diz com raiva e lança um olhar duro para ela.
— Achou mesmo que ia atentar contra meu filho e ficaria por isso mesmo?
— pergunto olhando diretamente para ela, mas posso notar alguns olhares
surpresos ao meu redor.
— Me diga que deu certo, por favor! Ele está no hospital agora? Morreu?
— Ela solta uma risada completamente louca.
— O que você fez, Débora? — Jaqueline pergunta horrorizada, olhando
para a filha.
— Nada demais, mamãe... só quis eliminar uma sujeirinha no caminho.
Agora falta a maior. — Ela me olha com raiva e minha pele se arrepia com seu

olhar completamente doentio.


Uma policial mulher se aproxima dela que se debate um pouco, mas é
algemada.
— Eu posso até estar sendo presa agora, mas ainda não terminei com vocês.
— Ela diz rindo, completamente sem consciência.
— E nem eu com você. — A voz de Adrian se faz presente e ao me virar,
vejo ele com Evan nos braços, olhando fixamente para a mulher a poucos metros
de nós. — Pode ter a certeza que você pagará bem caro por isso e terá em dobro
tudo o que fez a mim e minha família. — Ele diz e suas palavras me deixam um
pouco em choque, já que ele nunca foi assim.
— Está me ameaçando, Adrian? — Débora pergunta em total deboche, o
que me faz ter vontade de dar uns bons tapas em sua cara.
— Não, eu estou te prometendo — diz por fim, mantendo uma expressão
completamente neutra no rosto.
Débora sorri e é levada pelos policiais. Vejo o delegado trocar algumas
palavras com Adrian, mas isso se torna completamente distante quando sinto uma
pontada forte em minha barriga.
— Ai! — solto um grunhido de dor e me curvo, colocando minhas mãos no
pé da barriga.
— Castiel, o que foi? — A voz de Alessandro chega até mim e antes que eu
possa dizer algo, meus olhos acabam se fechando com a forte tontura que me
atinge. Mas antes que eu toque o chão, braços me seguram e eu perco a
consciência.
Sinto uma dor de cabeça quase insuportável quando volto a consciência e
isso me impede de abrir meus olhos. Solto um resmungo e acabo apertando a

mão que está entrelaçada a minha.


— Graças a Deus! — A voz diz baixinho e sei que é Adrian que está ao
meu lado.
Com um pouco mais de esforço consigo abrir meus olhos, para logo sentir a

claridade do quarto me incomodando.


— Deus, vou ficar cego! — resmungo e pisco os olhos algumas vezes, me
acostumando com a claridade.
Olho ao meu redor e percebo que estou em um quarto de hospital. E após
alguns segundos, as lembranças voltam a mim. Arregalo meus olhos e

automaticamente minhas mãos vão até minha barriga.


— Amor... — Adrian começa, mas o interrompo.
— O bebê, ele está bem? — Olho em sua direção, aflição pura em minha
voz.
Posso sentir meus olhos ardendo, mas seguro minhas lágrimas, colocando
na cabeça que está tudo bem.
— Ei, calma! Nosso bebê está bem, se acalma. — Ele diz e suspiro

aliviado.
Fecho meus olhos, mas me lembro do meu outro bebê e abro meus olhos
assustados.
— Evan? — Minha fala sai mais como uma pergunta e Adrian pega em
minha mão, querendo me acalmar.
— Ele também está bem, Cas. Melissa está com ele aqui — responde com a
voz calma e só então me sinto melhor. — Você me deu um susto e tanto, sabia que

não era boa ideia ter ido até Débora. — Sua voz sai séria e reviro meus olhos.
— Eu não fiz nada do que eu queria realmente. Minha vontade era dar uns
belos tapas naquela cara plastificada, mas ela ainda não está imune a isso — falo

e ele balança a cabeça em negação.


— Só se lembre que há uma vida dentro de você agora, então não seja
imprudente — Adrian fala olhando em meus olhos e isso me deixa mudo.
Suas palavras me fazem refletir e eu sei que ele está certo. Eu jamais deixei
minha cabeça abaixar para ninguém, mas eu sei que agora devo ser mais prudente
com meus atos. Meu bebê depende de mim e ele vem em primeiro lugar.
— Me desculpa! — sussurro e sinto uma lágrima escorrer por meu rosto,
mas logo há uma cachoeira ali.
Tudo volta a minha cabeça como uma enxurrada e só de pensar que Evan
quase sofreu por causa de uma louca, fico completamente perdido. Eu não sei se
havia algo a mais naquelas coisas que ela mandou a ele, e nesse momento meu
filho poderia estar morto. Tudo por causa de uma pessoa louca, que não aceita
levar um “não” como resposta.
Sinto um turbilhão de sentimentos nesse momento e nenhum deles são bons.
Sou pressionado contra um corpo quente e sinto os braços de Adrian
passarem ao meu redor. Afundo meu rosto em seu peito e deixo toda a minha
frustração sair em forma de choro.

— Nós podíamos ter o perdido, Adrian... nosso filho, ele... — Não consigo
continuar, pois só de pensar tudo fica ainda pior.
— Mas não o perdemos e nunca vamos. Débora não vai mais nos
atormentar, meu amor, e não ligo de usar meios sujos de mantê-la na cadeia. —
Ele diz e sinto sua boca em meus cabelos. — Só não vamos mais pensar nisso,
vamos apenas amar nosso filho como ele merece. E vamos também cuidar desse
serzinho que está em sua barriga, pois é somente isso que importa.
Concordo com um aceno silencioso e me agarro ainda mais a ele. Adrian
está certo, nós devemos apenas seguir em frente e deixar aquela cobra no
passado. Mas eu sei que ainda vou ter a minha chance de estar frente a frente
com ela.
***

Recebo alta depois de saber que está tudo bem com meu bebê, já que foi

tudo causado pelo estresse de mais cedo. Mas antes que eu possa sair do quarto,
sou surpreendido pela presença de Alessandro.
— Posso entrar? — Ele olha diretamente para mim e mesmo não querendo,
assinto com a cabeça.
— Eu vou buscar Evan, ele está na sala do Marcos — Adrian fala, mas
antes me direciona um olhar, querendo saber se está tudo bem. Assinto com a
cabeça e ele deixa um beijo em minha testa antes de sair e fechar a porta.
Eu Me ajeito na cama e encaro Alessandro, esperando para ele começar a
falar.
— Quero pedir desculpas pelo que houve e por tudo o que ela causou. Juro
que se pelo menos imaginasse tudo isso, nada teria acontecido. — Ele diz e solto
uma risada irônica.
— É pra você ver o monstro que criou — falo, não impedindo que essas
palavras saiam da minha boca.
— Sei que nunca vai me perdoar por isso. — Ele suspira e se aproxima
mais um pouco da cama. — Eu a considero sim uma filha, Castiel, mas ela não é
mais que você e Vitória. Você pode não acreditar, mas eu te amo e hoje me
arrependo muito por ter jogado a minha chance de ser seu pai no lixo. Não fui
honesto com você várias vezes e me sinto um lixo por isso.
— Ainda bem que reconhece seus erros, mas me dizer “Eu te amo” não vai
mudar nada o que aconteceu. Só espero que você abra os olhos com a Débora,
pois eu não desejo seu mal, já que ela é capaz de muitas coisas — falo e encaro
minhas mãos.
— Eu sei, infelizmente percebi isso tarde demais. — Ele suspira. —
Qualquer coisa que precisar eu estou aqui, e Castiel... você ainda é meu filho.
Não digo nada e em seguida escuto a porta ser aberta e fechada. Solto um
suspiro e fecho meus olhos.
Não posso mentir e dizer que não sinto nada quando ele vem falar comigo,
mas isso não apaga nada... nunca vai apagar.
Balanço a cabeça e afasto todos esses pensamentos. Eu me levanto da cama
e saio do quarto à procura dos meus meninos.
Encontro Evan e Adrian vindo até mim e sorrio para eles, os abraçando
com força. Nada mais me importa além da minha verdadeira família.

***

Um mês e meio depois...


Observo meu corpo de frente ao espelho e abro um sorriso ao ver que
minha barriga já está maior. Não há um enorme volume, mas tem sim um pequeno
relevo que mostra perfeitamente a quem quiser ver os meus quatro meses de
gestação.
Acaricio minha pele, aproveitando para espalhar o creme em minhas mãos e
sinto a ansiedade crescer ainda mais dentro de mim. Eu não vejo a hora de poder
sentir realmente meu bebê chutar... sentir ele se mexer de verdade. Às vezes eu
sinto como se fosse pequenos movimentos, mas sei que somente eu sinto isso e
não vejo a hora para que Adrian e Evan sintam também.
Outra coisa que está me deixando também muito ansioso, é saber o sexo do
bebê. Há uma semana atrás eu tive a consulta “crucial”, mas ainda não sei o
resultado, já que ele será anunciado hoje para toda nossa família.
E apesar de todos os acontecimentos de um mês e meio atrás, estamos todos
bem novamente. E graças a Deus eu não tive mais nenhum susto como naquele
fatídico dia.
Débora está presa em uma prisão psiquiátrica, pois é! Depois de um laudo
médico e Adrian contratar bons advogados, ela foi transferida para a prisão
certa. Mas não sem antes receber uma bela de uma surra das detentas na cadeia.
Confesso que eu amei receber essa notícia e fiquei até com um pouquinho de
inveja, pois queria que fosse eu a fazer uma plástica nova na cara dela. Mas o

que importa é que essa peste está longe de nós.


Já com Alessandro, as coisas continuam na mesma. Ele permanece casado
com Jaqueline e algo que percebi com isso, é que ele realmente a ama. E sim,
Jaqueline é uma boa pessoa, bem diferente da demônia que colocou no mundo.
Com Glória eu também não tive mais contato, mas sinto que algo está errado e
que preciso falar com ela, só que ao mesmo tempo eu não quero isso. Então, por
enquanto, eu só vivo a minha vida normalmente.
Solto um suspiro e levo um pequeno susto as sentir mãos em minhas pernas.

Saio dos meus pensamentos e ao abaixar meu olhar, sorrio ao ver Evan agarrado
as minhas pernas.
É tão bom ver meu filho assim... bem. Confesso que depois de tudo meu
cuidado com ele se tornou ainda maior e não é somente eu que estou assim,
Adrian também está. Acho que é impossível não se tornar pais superprotetores
depois de tudo.
— Eva dumi! — Ele diz com manha e encosta o rostinho em minha perna.
— Você quer dormir, amor? Mais? — sorrio e o pego em meus braços,
deixando um beijo em sua bochecha.
— Evan Almeida D'Ávila! Eu preciso te dar banho! — Adrian aparece
gritando no closet e nosso filho apenas fecha os olhos e me abraça mais
apertado.
Olho para meu noivo parado na porta e solto uma risada. Eu não sei porquê,
mas Adrian jamais consegue dar banho em nosso filho... E o engraçado é que
Evan ama tomar banho.
— Perdeu, cowboy... de novo! — debocho e ele revira os olhos para mim.
— Eu desisto! — Ele solta um suspiro dramático e tira a camisa, me
deixando um pouco sem fôlego. “Que saúde, Deus!”
— Aproveita e toma banho, pois estamos atrasados — falo e começo a sair
do quarto com Evan nos braços.
— Mas somos os anfitriões da festa, podemos nos atrasar. — Ele diz alto e
solto uma risada.
Sigo até o quarto de Evan e nem ligo de estar apenas de cueca. Com um
pouco de dificuldade dou banho em Evan, que havia voltado a dormir, e poucos
minutos depois ele está pronto.
Quando volto ao quarto, deixo Evan com Adrian, que também já está
pronto, e vou terminar de me arrumar. Meia hora depois, estamos saindo de casa
e indo até a casa de Marcos que é onde acontecerá a revelação do sexo do bebê.
Infelizmente Maurício não pôde vir e fiquei muito triste no começo, mas
depois me conformei com isso, já que ele vai estar presente através de vídeo
chamada.
— Ansioso? — pergunto em direção a Adrian, que dirige concentrado.
— Muito, tanto que faz uma semana que não durmo. — Ele responde e isso
me faz rir.
— Eu também.
Chegamos à casa de Marcos quase uma hora depois e sorrio ao ver que
quase todos estão ali. Somos recebidos com muitos abraços e ganho muitos
carinhos na barriga. A decoração do lugar está toda feita em azul e rosa e há uma
cortina enorme no canto da sala, que tampa completamente o painel com o nome
do bebê.
Sim, nós já decidimos o nome do bebê, sendo menino ou menina. Adrian foi
quem escolheu o de menina e eu o de menino. Ambos tendo significados muito
importantes para nós. Agora só falta saber qual dos dois será o nosso pequeno
pedacinho de felicidade.
— Eu preciso saber logo qual o sexo desse bebê. Apostei mil reais com seu
irmão - Enzo fala para Adrian e olho indignado para ele.
— Você apostou o meu bebê? — grito com ele, que arregala os olhos e se
enfia atrás de Adrian que está prendendo o riso.
— Não, eu apostei o sexo dele... é diferente. E só pra constar, não foi só
eu... a família toda está no bolão do bebê furacão — Enzo se defende e eu olho
indignado para todos.
— Ah, para de enrolação e vamos saber isso logo! — minha avó diz mau
humorada e reviro meus olhos.
— Ok, todos prontos? Já ligaram para o Mau? — Melissa pergunta e como
resposta Maurício manda um tchauzinho pela tela do celular na mão de Marcos.
— Eu vou parir de ansiedade aqui! — anuncio e ouço as risadas ao nosso
redor.
Adrian me abraça de lado enquanto Evan está em seu colo e tem um
bracinho ao redor do meu pescoço.
— Ok, vamos lá! — Melissa diz empolgada e bate palmas, sendo imitada
por Ana Clara que está nos braços da minha avó.
Sinto meu coração ficar cada vez mais acelerado em meu peito e sei que as
pessoas ao nosso redor também estão tão ansiosas quanto. A contagem
regressiva começa e dez segundos depois a cortina caí no chão, revelando o sexo
do nosso bebê. E o nome Helena parece reluzir no centro do painel.
Sinto as lágrimas descerem por meu rosto, lágrimas de completa felicidade
e me viro, abraçando Evan e Adrian com força.
— Nosso pequeno raio de sol, amor. — Ele sussurra em meu ouvido e
assinto com a cabeça.
Uma mão minha vai até minha barriga e Adrian também coloca a sua por
cima da minha, transmitindo em nosso toque todo o amor que há em nós dois por
nossa pequena.
Adrian se abaixa na minha frente e deixa Evan ao seu lado. Ele levanta
minha camiseta e deixa alguns beijos pela minha barriga exposta, e vendo o gesto

do pai, Evan pede para fazer o mesmo. O sorriso permanece intacto em meu
rosto e apenas as lágrimas de felicidade continuam descendo por minha face.
Luz, ou raio de sol... esse é o significado do nome Helena e é exatamente
isso que ela é em nossas vidas. Ela marca nosso novo recomeço. Ela significa

tantas coisas, tanto para mim, como para Adrian. Ela é a forma mais pura do
amor que nos une.
— Eu nem acredito nisso, é como se eu já soubesse — Adrian diz feliz e se
levanta, deixando um selinho em minha boca.
— Papa! — Evan resmunga puxando a minha calça e me afasto

minimamente de Adrian, vendo sua face emburrada.


— Olha se não é nosso pequeno ciumento — Adrian brinca e o pega
novamente nos braços. — Você vai ganhar uma irmãzinha, ruivinho.
— Maninha? — Ele faz um biquinho e nos olha curioso, principalmente
minha barriga com um pequeno relevo.
— Isso aí, amor... maninha — sorrio e beijo sua testa.

Somos tirados da nossa bolha de amor ao ouvir Marcos resmungando que


teria que pagar sua aposta para Enzo. E pelo que vi, ele não foi o único a sair
vitorioso no tal “bolão”.
— Tavio! — O gritinho animado de Evan chama a minha atenção e vejo o
pequeno ser ruivo correndo até onde o primo está, sentadinho em seu carrinho.
— Desisto! — ouço Enzo resmungar e muitas risadas são ouvidas ao nosso
redor.

— Ainda bem que você sabe que nossa família se unirá ainda mais no futuro
— Adrian o provoca enquanto me abraça por trás.
— Quero só ver quando for a hora da Helena — Enzo retruca e ouço meu

noivo bufar baixinho.


— Cala a boca! — Adrian fala bravo e isso me faz rir.
Adrian já é um poço de ciúmes e Evan está seguindo direitinho os passos do
pai. Balanço a cabeça em negação e me solto dos braços dele, indo abraçar as
outras pessoas.
Minha avó é a primeira a vir até mim e me sinto muito amado em seus
braços.
— Estou tão feliz, meu amor. Essa menininha vai trazer ainda mais amor a
sua vida e de Adrian. Eu sei o quanto aquele menino esperou por isso... por
vocês. E é maravilhoso para mim ver meus dois meninos felizes. — Ela diz com
um sorriso e sinto meus olhos arderem novamente.
— Não me faça chorar mais, vó — fungo baixinho e a abraço mais forte. —
Obrigado por ter insistido tanto para que eu viesse para cá. Essa foi a melhor
decisão da minha vida.
— Menino, você iria vim... nem que pra isso eu tivesse que te arrastar pelos
cabelos. — Ela diz rindo e deixa um tapinha em minha bunda.
— Sempre tão carinhosa, dona Clarisse — debocho e ela faz um gesto de
desdém com a mão quando se afasta de mim.

Cumprimento a todos os outros e sigo até a pessoa parada no canto da sala.


— Fico feliz que tenha vindo... de verdade — falo, olhando para
Alessandro e ele sorri pra mim.
— Obrigado por ter me convidado. Você não faz ideia do quanto isso me
deixou feliz. Desejo tudo de bom para esse bebê que está aí dentro de você. —
Ele diz e sorrio, pois sinto sinceridade em suas palavras.
— Obrigado! Eu confesso que fiquei muito assustado quando descobri estar
grávido novamente, mas ao ver o amor e felicidade nos olhos de Adrian, eu senti
que não precisava de medo. Acho que algumas coisas tem que acontecer em
nossas vidas para nos fazer enxergar outras e sermos fortes. Hoje eu sou assim e
acho que devo até te agradecer, sabe? Eu ainda não estou pronto para te perdoar
e nem sei se um dia vou conseguir te chamar de pai novamente, mas as mágoas
estão indo embora aos poucos. Mesmo com tudo que você fez, eu me lembro que
eu tive pai por um tempo, mesmo que eu ainda fosse uma criança. E querendo ou
não, bons momentos existiram sim.

Minhas palavras saem com sinceridade, pois ele foi sim meu pai por um
tempo. Mesmo que só por dez anos da minha vida. Ainda dói muito pensar em
tudo, mas sinto que a cada dia essa dor diminui e as mágoas também. É claro que
eu não vou esquecer tudo... Isso é impossível, mas eu quero viver sem ter um
peso enorme em minhas costas. Não quero viver com assuntos mal resolvidos e
nem com mágoas de ninguém, isso não vai acrescentar em nada na minha vida.
— Eu me arrependo do jeito que deixei vocês. Me arrependo de ter
abandonado as pessoas que realmente precisavam de mim. Mesmo eu não
amando mais sua mãe, vocês ainda eram meus filhos e sempre vão ser, mesmo
que não me vejam mais assim. Só que agora não adianta mais chorar pelo leite
derramado. Eu só quero que saiba que pode contar comigo sempre e que eu te
amo. Pode parecer tarde para ser seu pai agora, mas dizem que nunca é tarde
para muitas coisas. E eu nunca vou te cobrar nada, eu sei de tudo que fiz e a
gravidade de tudo isso. Mas me conforta saber que você é um pai bem melhor do
que eu. — Ele diz e sua voz sai um pouco falha.
Também sinto meus olhos marejados e respiro fundo para não chorar.
— Posso te dar um abraço? — Sua pergunta me pega de surpresa e fico até
sem fala.
Penso por alguns segundos e mesmo depois de tudo, acho que eu posso dar
isso a ele. Afinal de contas, a vida é curta demais e talvez amanhã eu possa me
arrepender daquilo que não fiz.
Assinto com a cabeça e abro meus braços para ele. Logo seu corpo grande
toma o meu em um abraço apertado, mas ele toma cuidado para não apertar
minha barriga. Fecho meus olhos e seu perfume chega até meu nariz... o mesmo
de sempre. E quantos anos eu não ansiei por esse mínimo toque, por essa
demonstração de afeto?

***

Quando eu me junto ao resto do pessoal na sala, vejo Antônio acabando de


chegar e isso me faz rir, indo até ele.
— Isso são horas? Quando minha filha nascer você vai ser o último a vê-la
— brinco e o abraço rapidamente.
— É uma menina? — Ele pergunta com um sorriso e assinto.
— Surpresa, né? Acho que todos acharam que ia ser um menino — falo,
pois até eu pensei que seria.
— Eu confesso que pensei isso, mas estou feliz do mesmo jeito. — Ele diz
sincero e em seguida me estende um embrulho de presente. — Eu não sabia o que
comprar, aí a mulher da loja sugeriu coisas de higiene. Tem sabonetes, shampoos
e essas coisas — diz meio envergonhado, como sempre.
— Obrigado, Toni! Eu amei, de verdade, pois sei que é de coração —
sorrio e pego em sua mão. — Vem, fica à vontade.
Toni se enturma com Adrian e os outros, mesmo que ainda esteja acanhado.
Eu sei o quanto meu amigo não gosta muito de se misturar e fico feliz que ele
tenha vindo até aqui hoje.
— E então, quando você vai começar a ver as coisas do casamento? —
Angie pergunta assim que me sento no sofá.
Eu me encosto no sofá e solto um suspiro, pois já estou um pouco cansado e
olha que nem estou nos meses finais da gestação.
— Nem sei, foram tantas coisas nas últimas semanas — respondo sincero e
ele assente.
— Mas você não quer se casar antes da Helena nascer? Acho que é bem
melhor — minha avó diz e dona Emília ao lado dela concorda.
— Querer eu quero, mas estou com uma preguiça de organizar casamento —
falo e eles riem.
— Não seja por isso, eu ajudo! — Angie e Melissa dizem ao mesmo tempo
e olho para eles com uma sobrancelha arqueada.
— Vocês combinaram, é? — pergunto e eles riem. — Mas obrigado, talvez
eu aceite ajuda. Só que eu vou dar a palavra final, aliás, o casamento é meu e não
quero nada extravagante.

— Está nos chamando de exagerados? — Angie pergunta indignado e eu


concordo com um aceno. — É, eu percebi.
Solto uma risada e coloco minhas mãos em cima da minha barriga, fazendo
uma leve carícia.
— Vai ser na fazenda? — A voz de Maurício surge e eu nem sabia que ele
ainda estava na vídeo chamado.
Olho para o celular na mão de Melissa e pego o aparelho.
— Vai sim, cunhadinho... tenho o lugar perfeito — sorrio para ele, que
também sorri, sabendo o que eu quero dizer.

— Ei! Podem parar de segredinhos aí... eu quero saber que lugar é esse —
Angie diz e balanço a cabeça em negação.
— Eu também sei — minha avó provoca, o deixando ainda mais atiçado.
E ficamos assim pelos próximos minutos, até que Angie decidiu que iríamos
brincar de acertar os presentes. O que para constar, eu não apoiei.
Até Evan entrou na brincadeira e também foi pintado nos nossos erros, o
que foram muitos. Adrian saiu de lá com os cabelos todo enfeitado por pequenas
presilhas brilhantes, que todos afirmaram ser seu futuro com Helena. Eu tive toda
a minha barriga pintada de batom e tinta guache. E meu pequeno furacão estava
com o rostinho parecendo um palhaço. Super estilosos, eu sei.
Nos despedimos de todos no começo da noite e agradeci muito o que eles
fizeram por nós. A cada dia que se passa, tenho certeza que essa é a melhor
família do mundo.

***
Eu me sento no sofá da sala, tendo em minhas mãos um pratinho cheio de
doces da festa de mais cedo. Confesso que fiquei apaixonado por um brigadeiro
de paçoca que nunca tinha comido antes, mas virou minha paixão.
Vejo Adrian descendo as escadas, usando apenas com uma bermuda de pano
mole, e ele balança a cabeça em negação quando me vê com os doces. Aperto o
pratinho contra meu peito e cerro meus olhos em sua direção.
— Sabe que não pode exagerar. — Ele alerta e se senta ao meu lado, me
puxando para seu colo em seguida.
— É só hoje — insisto e ele assente.
— Só mesmo, depois os doces vão ser cortados. — Ele diz e olho para ele
horrorizado.
— Você não pode dizer isso a um grávido... é um crime! — falo em puro
drama e ele solta uma risada.
Adrian deixa um beijo rápido em minha boca e em seguida sinto sua mão
em minha barriga.
— Acredita que sonhei com uma garotinha? Mas não quis dizer nada para
não criar expectativa. Estou tão feliz, amor... é um sonho meu se tornando
realidade. — Ele diz e posso ver a emoção em seu olhar.
— É o nosso sonho — pego em seu rosto e olho em seus olhos. — Ela vai
ser a nossa luz, amor, ela está marcando um novo recomeço em nossas vidas.
Nós já sofremos tanto, mas encontramos o amor nos braços um do outro. Evan e
Helena são os nossos maiores laços — falo, também emocionado, e ele concorda
com um aceno.
— São sim e amo nossa pequena família. — Ele responde e deixa mais
alguns beijos em minha boca.
Eu me aconchego ainda mais em seus braços e termino de comer meus
doces enquanto Adrian coloca em um filme qualquer na TV.
Sinto um aperto no peito de repente e no mesmo instante meu celular
começa a tocar. Pego o aparelho e vejo minhas mãos trêmulas. Aparece um
número diferente na tela e antes de pensar em atender, respiro fundo.
— Alô?
— Cas, sou eu... Vitória. — A voz chorosa dela chega até meus ouvidos e
sinto um arrepio percorrer meu corpo.
— O que foi, Vitória? Por que está chorando? — Saio dos braços de Adrian
e me sento no sofá. Sinto o olhar dele em mim, mas presto atenção na conversa
com minha irmã.
— É a nossa mãe. — Ela diz em meio aos soluços e isso me deixa ainda
mais nervoso.
— O que tem ela? Me diz! — Peço com a voz mais firme.
— Ela está morrendo, Cas. — Suas palavras me pegam totalmente de
surpresa e o telefone acaba caindo da minha mão.
Eu me sinto tão atordoado nesse momento, que não sou capaz de escutar o
que Adrian fala para mim. Sinto minhas mãos trêmulas e respiro fundo, tentando

me acalmar. Não posso me estressar, mas... é minha mãe. E ela está morrendo?
Não sei quanto tempo fico nesse estado vegetativo e só acordo quando sinto
o toque de Adrian em meu rosto. Ele me faz olhar em seus olhos e só então sou
capaz de ouvir o que ele fala.

— Calma, ok? Você quer ir até ela? — Ele pergunta com a voz calma e eu
assinto com a cabeça.
— Sim... ela é minha mãe apesar de tudo — falo com a voz falha e ele
concorda, deixando um beijo em minha testa em seguida.
— Tudo bem. Você acha que consegue arrumar algumas roupas para a gente

levar? Vou avisar sua avó sobre tudo e pedir para Melissa cuidar do Evan. Não
acho que seja bom ele ir conosco — Adrian diz e eu concordo com tudo.
Em poucos minutos eu consigo arrumar uma bolsa com poucas roupas para
mim e Adrian. Tomo um banho rápido e sigo até o quarto de Evan, preparando
uma bolsa para ele. Adrian aparece após alguns minutos e vai trocar de roupa, já
que ele estava apenas com uma bermuda.
Meus movimentos ficam totalmente no automático e não consigo pensar em

nada direito. Tanto que quando me dou conta de algo novamente, nós já estamos
no carro junto a minha vó, seguindo para a cidade.
A pior parte é deixar Evan longe de mim, mas sei que não é bom ele ir
conosco nesse momento.
— Me liga qualquer coisa, qualquer mesmo, que eu volto no mesmo instante
— falo, olhando para Melissa que agora segura Evan ainda dormindo.
Acho que depois que tudo aconteceu, eu me sinto muito nervoso em me

separar dele, mesmo que eu saiba que nada vai acontecer. Mas o trauma de tudo
aquilo vai permanecer em mim e o cuidado sempre será maior.
— Eu prometo, mas fica calmo, Castiel. Evan está seguro aqui. — Ela diz

com calma e eu assinto.


— Obrigado por ficar com ele — agradeço e a abraço rapidamente de lado.
— Imagina, sei que fariam o mesmo com a Ana Clara. — Ela sorri.
Eu me despeço dela e volto para a caminhonete estacionada na frente da
casa. Respiro fundo e passo o cinto de segurança por meu corpo, sentindo o
veículo se mover em seguida. Ninguém fala uma palavra e isso parece deixar
tudo ainda mais tenso. Fecho meus olhos e tento me acalmar e pensar em coisas
boas. Talvez a situação dela não seja tão ruim e Vitória só esteja exagerando. E
Deus, eu nem sei o que ela tem.
Sinto a mão de Adrian se entrelaçar a minha e isso me acalma um pouco.
Sei que independente de qualquer coisa, ele estará ao meu lado.

***

Chegamos à capital já com o dia clareando e seguimos diretamente até o


hospital que minha irmã indicou para Adrian. Não consegui dormir por nem um
minuto enquanto ainda estávamos na estrada e mesmo com os olhos fechados,
minha mente não parava de trabalhar.

E assim que desço da caminhonete junto com eles e fico de frente ao grande
hospital, sinto meu coração acelerar em meu peito.
— Está tudo bem, Cas. Não vamos sofrer por antecipação — minha avó diz
e me abraça de lado.
Concordo com um aceno e pego na mão de Adrian enquanto seguimos até à
entrada. Passamos pela recepção e pergunto em qual quarto a paciente Glória
Almeida está e logo somos encaminhados até lá.
Em poucos minutos estamos em frente à uma porta de madeira. Quem abre a
mesma é minha avó, já que eu não tive coragem para isso. E assim que entro no
quarto, sinto uma sensação ruim ao ver Glória deitada na cama de hospital,
ligada à vários aparelhos. Seu rosto está tão pálido, que ao redor de seus olhos
possui uma cor arroxeada. Ela está bem mais magra do que quando a vi há alguns
meses atrás e parece extremamente frágil.
Aperto a mão de Adrian que está junto a minha e sinto ele me envolver em
um abraço.

Vitória está sentada ao lado dela na cama e assim que percebe nossa
presença, se levanta, olhando para cada um de nós.
— Vó! — Ela vai direto até nossa avó, que a recebe com um abraço.
E é impressionante como lembramos das pessoas que deveriam ser mais
importantes apenas quando estamos em situações ruins. Mas não quero pensar
nisso nesse momento, pois é capaz de eu virar as costas e ir embora, e eu não
quero isso.
Apesar de tudo, elas ainda são minha família de sangue. Mesmo que tenham
esquecido disso por alguns anos... eu nunca esqueci.
— O que ela tem? — minha voz sai um pouco rouca, mas não me importo
com isso.
Vitória se afasta após alguns segundos da minha avó e me olha, o que me faz
perceber seus olhos vermelhos e inchados.
— Leucemia. — Ela responde com a voz falha e eu paro de respirar por
alguns segundos.
— Mas... — Não consigo falar mais nada, pois sinto minha garganta se
fechar.
— Como? — minha avó pergunta e vejo seus olhos se encherem de
lágrimas.
— Eu só descobri faz algumas semanas, ela não disse a ninguém, até que
passou mal em casa e eu a trouxe ao hospital. Ela estava carregando tudo sozinha
e eu não pude fazer nada. Aí ontem ela teve uma piora e eu tive que ligar, mesmo
ela não querendo — minha irmã diz chorando e sinto meus próprios olhos
arderem pelas lágrimas.
— E qual a situação dela? — Adrian é quem pergunta, já que nem eu e
minha avó temos voz para isso.
— Eu ainda não sei, o médico responsável pelo caso dela não veio dar
notícias — Vitória responde com a voz ainda embargada.
Adrian me aperta ainda mais em seus braços e eu agradeço por isso. E
como se soubesse a hora exata de aparecer, a porta do quarto é aberta, revelando
um homem de uns quarenta anos com um jaleco branco e uma prancheta em mãos.
— Bom dia a todos! — O médico diz assim que vê todos e nós o
respondemos em uníssono.
— Alguma mudança? — Ele pergunta e Vitória é quem o responde com uma
negativa.
— Qual é o estado dela? — pergunto, tentando manter minha voz firme,
mesmo com o nó em minha garganta.
— Não sei se sabem, mas no câncer existem cinco estágios e ela já está no
quatro. — Ele explica e segue até ela na cama, verificando os aparelhos. —
Glória começou a se tratar um pouco tarde, já no estágio três e infelizmente não
vem respondendo muito bem ao tratamento.
— Mas há uma chance para ela, não? — pergunto e minha voz sai um pouco
desesperada.
— Sempre há chances, mas infelizmente as dela são pequenas. Estamos
tentando achar um doador de medula que seja compatível com ela, mas está
sendo uma busca difícil. — Ele explica e seus olhos me fitam com pesar.
— Eu não sou compatível — Vitória diz em um sussurro e sinto as lágrimas
descerem por meu rosto.
Mesmo com tudo o que ela fez para mim, é difícil saber que minha mãe está
quase morrendo. Ela tem o mesmo sangue que eu, me carregou por nove meses e
mesmo por poucos anos eu fui amado por ela. Existiu sim um grande abismo
entre nós, existem mágoas, mas ainda é minha mãe e eu jamais vou poder apagar
isso.
— Eu posso doar? — pergunto com a voz embargada e limpo as lágrimas
que descem por meu rosto.
Os olhos do médico se voltam em minha direção e depois de me analisar
por alguns segundos, ele volta a falar:
— Você está grávido de quantos meses?
— Quatro — respondo.

— Então não, é muito arriscado e os gestantes que podem fazer a doação


precisam ter acima de trinta e cinco semanas. Sinto muito. — Ele diz e eu assinto
com a cabeça, sentindo meu peito se apertar.
Um silêncio incômodo se instala por alguns segundos, até Adrian o quebra.
— Eu posso fazer o teste de compatibilidade. — Ele diz e o olho.
— Está falando sério? — pergunto e ele assente com um sorriso pequeno.
— Obrigado, amor! — O abraço apertado e deito minha cabeça em seu peito.
— Eu também... posso estar velha, mas minha saúde ainda é boa — escuto
minha avó dizer e acabo rindo com sua fala. Só dona Clarisse para me fazer rir

nesse momento.
— Ótimo, me acompanhem então. Quanto mais rápido, melhor. — A voz do
médico me faz afastar de Adrian e deixar ele ir.
Vejo ele e minha avó saírem do quarto e torço em silêncio para que um dos
dois sejam compatíveis com ela. Glória pode não ter sido a melhor mãe do
mundo, mas jamais vou desejar a morte dela. Só de pensar nisso, eu já sinto meu
peito se apertar e uma dor quase física toma conta de mim.
— Quer ir comer alguma coisa? Eu fico com ela — falo para Vitória e
ajeito a blusa de frio em meu corpo.
Ela me olha por alguns segundos sem dizer nada e depois se aproxima de
mim, me abraçando de surpresa.
— Obrigada por estar aqui. — Ela diz com a voz falha e sem pensar muito,
acabo a abraçando de volta.
— Não precisa me agradecer... ela é minha mãe também — respondo.
Ela assente e em seguida se afasta de mim, seguindo até a porta.
Logo eu estou sozinho no quarto gelado e com o forte cheiro de antisséptico
que me causa ânsia. Respiro fundo e me sento na poltrona ao lado da cama.
Aperto minhas mãos umas nas outras e sinto minhas palmas suadas. Respiro
fundo mais algumas vezes, tentando manter minha calma. Mando uma mensagem
para Melissa, perguntando como Evan está, mas sei que ela não irá me responder
agora, já que ainda está muito cedo.
Ouço um resmungo baixo ao meu lado e ao voltar meus olhos para a cama,
vejo Glória de olhos abertos. Ela parece estar um pouco perdida, mas poucos
segundos depois seu olhar se encontra com o meu.
— Oi! — falo com a voz baixa e vejo seus olhos ficarem marejados.
— Não queria preocupar você. — Sua voz sai baixa e um pouco rouca.
— Você ainda é minha mãe, mesmo depois de tudo. Querendo ou não, eu me
preocupo — falo e me levanto da poltrona, me sentando na cama, ao seu lado. —
Você já estava doente quando foi à fazenda? — faço a pergunta que vem
martelando em minha cabeça há alguns minutos.
Ela me olha por um tempo em silêncio e desvia os olhos.
— Sim, tinha descoberto há alguns dias. Eu tinha a certeza de que iria
morrer e queria te ver uma última vez. Eu sei que não tinha esse direito, perdi ele
há muito tempo. — Ela conta e algumas lágrimas descem por meu rosto, assim
como no dela.
Respiro fundo para afastar as lágrimas e pego em sua mão, notando o quão
gelada ela está.
— Não é porque está doente que vou te perdoar por tudo que fez, ainda
existe muita mágoa dentro de mim, mas estou lutando contra isso. Mas não vou te
virar as costas e tudo o que puder fazer a você, eu vou fazer. Você ainda continua
sendo a minha mãe e isso conta muito para mim — falo e ela me olha novamente.
— Eu me arrependo muito pelo que fiz, Castiel... de verdade. Você e Vitória
mereciam uma mãe melhor que eu, mas infelizmente eu não posso mudar o
passado.
— Mas pode mudar o futuro... — interrompo.
— É, talvez... — Ela diz e sorri minimamente, o que deixa os ossos de suas
maçãs do rosto mais proeminentes. — Você é um homem maravilhoso e fico feliz
por isso. Não foi graças a mim, mas me sinto orgulhosa de você. Eu falhei tanto
com você, Castiel.
— Sim, mas esse não é o momento para isso. Vamos pensar apenas na sua
recuperação, que vai acontecer, e depois vemos com tudo vai ficar — mudo de
assunto, pois esse não é o momento para trazer à tona o passado.
— Obrigada por estar aqui. — Sinto o aperto de sua mão na minha e acabo
retribuindo.
Seus olhos então percebem minha barriga e vejo um pouco de surpresa
neles, mas um sorriso se abre em seu rosto.
— Parabéns pelo bebê, ele terá um pai maravilhoso. — Ela diz e eu sorrio.
— É ela... Helena — conto.
— Lindo nome. — Ela elogia e eu agradeço com um aceno.
E pelos próximos minutos nós conversamos sobre vários assuntos diferente,
até ela dormir novamente por causa dos remédios. E eu jamais imaginaria que
teria uma conversa civilizada com a minha mãe depois de tantos anos.

***

Quando vejo os outros novamente, o médico também está junto e


infelizmente ele nos dá a notícia de que ninguém é compatível com Glória.
Isso me deixa completamente atordoado e sem qualquer noção de quem
mais eu possa pedir para fazer um exame de compatibilidade.
— Ela vai encontrar um doador, só mantenha a calma. — Adrian me abraça
e deixa um beijo em meus cabelos.
Solto um suspiro pesado e o abraço apertado. Fecho meus olhos e penso
por alguns segundos, até que uma ideia louca passa por minha cabeça.
— Amor? — chamo e me afasto dele, olhando em seus olhos confusos e
curiosos. — Qual a chance de Alessandro ser compatível com ela? — questiono
e vejo ele franzir o cenho.

— Uma em um milhão? — Ele responde, mas sai mais como uma pergunta.
— Pode ser, mas vou tentar — falo e me afasto dele.
Pego meu celular no bolso do moletom que estou vestindo e procuro pelo
número de telefone do meu pai. A cada toque da chamada, sinto meu coração se
acelerando ainda mais e isso piora quando escuto sua voz do outro lado da linha.
— Castiel?
— Eu preciso de você.
Acompanho o tic-tac do relógio e sinto os olhos reprovadores de Adrian
sobre mim. Já faz algumas horas desde que liguei para Alessandro e ele disse

que viria para capital. Meu noivo quis me arrastar para a casa de Angie, já que
vamos ficar lá durante o tempo aqui, mas eu não me sinto confortável em ir
agora. Mesmo que minhas costas estejam reclamando muito pelas horas sentado
nessa cadeira.

— Cas... — Adrian começa, mas finjo que nem estou o escutando.


— Deixa, Adrian, eu conheço esse aí... é mais teimoso que uma mula —
minha avó resmunga e isso me faz rir.
Ignoro os dois completamente quando sinto meu celular vibrar em meu
bolso e o nome de Melissa fica visível para mim quando pego o aparelho.

— Oi, cunhadinha... tudo bem com meu ruivinho? — falo assim que atendo
a ligação e como resposta ouço um gritinho de Evan.
— Está sim, por isso te liguei... ele quer falar com os papais. — Ela diz
rindo e isso me faz sorrir.
— Coloque ele para falar — peço e espero alguns segundos até ouvir sua
voz.
— Papa, Eva fico! — Ele diz, claramente emburrado, e isso me faz rir.

— Desculpa o papa, bebê... logo o papai e eu vamos te buscar.


— Papai Adi, dê? — Ele pergunta e olho para meu noivo emburrado,
entregando o celular para ele.
Adrian pega o aparelho ainda a contragosto, mas logo vejo um sorriso se
abrir em seu rosto. Sei que ele não consegue ficar bravo comigo por muito tempo
e nem pode.
Observo Adrian falando animadamente com Evan e isso me faz rir de

algumas coisas sem sentido que só os dois entendem. Eu me despeço do meu


pequeno alguns minutos depois e volto a mergulhar no silêncio do hospital.
Não sei quanto tempo se passa exatamente, mas solto um suspiro pesado de

alívio quando vejo Alessandro.


— Até que enfim! — exclamo e me levanto da cadeira, sentindo um pouco
de dor nas costas e faço uma careta.
— Vim o mais rápido que pude, mas é longe. — Ele se justifica e assinto.
— Eu sei, trouxe todos os seus documentos? Você não tem nenhuma doença
hematológica, né? — pergunto olhando em seus olhos.
— Sim e não. — Ele responde e isso me faz ficar mais aliviado ainda.
— Ótimo, o médico está esperando para o teste — falo e ele assente. —
Obrigado por ter vindo — agradeço e ele nega com um aceno.
— É o mínimo que posso fazer — responde e eu concordo.
— Também acho — Dona Clarisse diz a contragosto.
Nesse momento Vitória aparece na sala de espera e vejo que ela olha um
pouco surpresa para nosso pai. Mas também há muita mágoa em seu olhar. Ela
pode não ter sido uma boa irmã, mas sei que o abandono dele também causou
muita dor nela.
— Vit... — Alessandro começa, mas ela o interrompe com um olhar
cortante e dá um passo para trás.
— O médico está te esperando, vou te levar até a recepção para passar os

seus dados. — Ela diz e sai praticamente marchando.


O clima pesa um pouco e Alessandro suspira, começando a seguir minha
irmã.
Respiro fundo e peço muito a Deus que tudo dê certo.
Olho para Adrian e me aproximo dele, o abraçando pela cintura. Ele solta
um bufo irritado, mas passa seus braços ao meu redor e deixa um beijo em meus
cabelos, o que me faz sorrir.
— Eu te amo — falo, um pouco abafado por estar com a boca em seu peito.
— Eu também amo você, cabelo de fogo. — Ele responde.
— Eu vou buscar algo para comer, quer alguma coisa, Cas? — ouço a voz
da minha avó e desvio meu olhar para ela.
— Pode me trazer um suco e qualquer coisa que seja comestível, mas não
doce — peço e ela assente, logo saindo do meu campo de visão.
Volto a me aconchegar nos braços de Adrian e sinto suas mãos acariciar
minhas costas levemente.

— Acha que vai dar certo? — pergunto, quase em um sussurro.


— Só vamos manter a fé, amor. Ela é nossa única certeza. — Ele diz e sei
que suas palavras estão certas.
O tempo vai se passando bem lentamente. Tenho tempo de comer o lanche
que minha avó me traz e isso me faz esquecer um pouco tudo ao meu redor.
E dou graças aos seus quando vejo Vitória voltar, sem Alessandro ao lado.
— Ele é compatível. — Ela diz e as palavras simplesmente somem da
minha boca. — O procedimento vai ser em alguns minutos.
Deus, obrigado!
Eu liguei e pedi sim para ele estar aqui, mas confesso que não achei que
eles fossem ser compatíveis. E isso só prova o quanto o mundo é muito louco.
Solto minha respiração, que nem percebi estar prendendo e sorrio.
— Sei que você deve estar cansado, então pode ir descansar. Eu dou
notícias de tudo — Vitória diz e eu concordo.
Mesmo que eu quisesse ficar mais, eu tenho que pensar na minha filha. E
não é saudável ficar tanto tempo aqui.
— Tudo bem, mas me avise mesmo... qualquer coisa eu venho correndo —
falo e ela assente.
E estando um pouco mais tranquilo, finalmente deixo Adrian me levar dali.
Chegamos na casa Angie e Enzo pouco tempo depois e recebo um abraço do
meu amigo, o que me faz suspirar em contentamento. Não conversamos muito, já
que ele nos expulsa para os quartos de hóspedes. E não demora muito para que
eu esteja dormindo, totalmente esgotado das últimas horas. Eu definitivamente fui
do céu ao inferno em menos de vinte quatro horas.

***

Acordo horas mais tarde, sozinho na cama. Eu me coloco sentado na cama


enorme e passo minhas mãos pelo rosto, soltando um bocejo em seguida. Não
ouço qualquer barulho pela casa e isso me faz levantar.
Vejo a bolsa que trouxe em cima de uma poltrona no quarto e pego uma
muda de roupa, seguindo até o banheiro. Tomo um banho demorado,
aproveitando para tirar toda a tensão do meu corpo. Passo minhas mãos com
sabonete líquido por minha barriga e sorrio, vendo que a cada dia ela cresce um
pouco mais.
— Ei, princesa! Espero que esteja confortável e bem aí dentro. Eu te amo!
— falo e solto uma risada.
Posso até ser louco em falar com minha barriga, mas gosto de fazer isso
pelo menos uma vez ao dia.
Termino meu banho após alguns minutos e me visto, saindo do banheiro em
seguida. Pego meu celular em cima da cama e saio do quarto, descendo as
escadas. Encontro Angie na sala, rodeado por dois bebês conforto enquanto
assiste um filme em volume baixo na TV.
— Você viu meu quase marido? — pergunto chamando sua atenção e ele
sorri para mim, indicando o lugar ao seu lado no sofá para mim.
— Ele saiu com o meu marido — responde e arqueio uma sobrancelha em
questionamento. — Enzo quis mostrar a nova sede da empresa a ele. Adrian
pediu para avisar que o transplante da sua mãe deu tudo certo e que assim que
voltar, ele te leva até o hospital — Angie explica e assinto.
— E minha avó doidinha? — pergunto e ele é quem ri agora.
— Vó Emília a chamou para um chá, distrair um pouco. — Ele responde e
isso me deixa satisfeito.
Se eu estou sofrendo com isso tudo, para minha avó também é ruim. Glória
ainda é sua filha e para um pai e uma mãe, a pior coisa é ver uma parte nossa em
uma situação como essa.
— É bom mesmo que ela se distraia um pouco — falo e solto um suspiro,
deitando minha cabeça no colo do meu amigo.
Angie logo tem suas mãos em meus cabelos, acariciando os fios devagar.
— Como está se sentindo com tudo isso? — Ele pergunta e há preocupação

em sua voz.
— Sinceramente? Eu nem sei mais o que pensar... só não posso ficar parado
vendo-a morrer. Apesar de tudo, Glória ainda é minha mãe — respondo e ele
assente.
— Sei como se sente. Quando Estela morreu, eu me senti triste, sabe?
Mesmo que ela tenha me abandonado por anos. Eu a odiei, mas bem lá no fundo
ainda existia o amor que sentia por ela. E quando a vi morrer na minha frente, foi
pior do que eu poderia imaginar, pois doeu muito. Claro que não se compara a

dor da falta que meu pai me faz, ele foi e é meu herói, mas mesmo assim, ainda
dói e eu queria que tivesse sido diferente. — Ele diz e vejo uma lágrima
escorrer.
— Por isso eu vim correndo, Angie. Apesar de toda mágoa, eu ainda amo
ela, assim como meu pai. Não me perdoaria se soubesse que ela estava morrendo
e eu nem dei um adeus. Eu sei que essa doença não é obrigação para que eu a
perdoe, e isso não vai acontecer tão cedo, mas pelo menos eu sei que estou aqui.
Sei que fiz minha parte — falo, colocando para fora tudo o que estou sentindo.
— Então sinta-se em paz, Cas. Independentemente do que aconteça, você
fez sua parte e foi um filho muito melhor do que ela merecia.
— Vou tentar.
— Não, você vai fazer. E vamos começar com uma bela distração — Angie
diz e se levanta rapidamente do sofá, indo pegar seu notebook em cima da
mesinha de centro. — Então, eu andei pesquisando algumas coisas para o
casamento. E acho que a empresa que fez o meu, é ótima. Já até vi se eles têm
disponibilidade para fazer um casamento na fazenda. — Ele diz e o olho
incrédulo.
— Você não fez isso — falo, tentando parecer sério, mas não funciona
muito.
— Fiz e não reclame, sei que se depender de você, esse casamento só sai
em 2050. Então aquieta o facho e me diga o que você imagina, vamos montar
pelo menos um esboço. — Ele fala despreocupado e como não tenho muitas
escolhas, faço o que ele diz.
E no fim acaba sendo uma ótima ideia, já que passamos o resto da tarde
vendo coisas para o casamento, só parando para fazer um lanche de vez em
quando e checar os bebês.

***

Seguimos para o hospital já no começo da noite e assim que chegamos, sigo


direto até o quarto de Glória, mas a encontro dormindo por conta dos remédios.
Sei que o transplante de medula não é uma garantia de que ela vai se curar, mas
espero que esse seja o caminho. Fico alguns minutos a observando dormir, até
que saio do seu quarto e entro no quarto ao lado. Assim que entro, os olhos de
Alessandro se focam em mim.
— Está se sentindo bem? — pergunto e fecho a porta atrás de mim.
— Bem... em poucas horas eu tenho alta. — Ele responde contido.
Não sei muito bem o que dizer e me sento em uma poltrona que há no
quarto, próxima a cama hospitalar.
— Significou muito você ter vindo, mesmo que não tivesse certeza de ser
compatível. Você não é tão ruim quanto eu pensei — falo e ele solta uma risada.
— É, eu acho que não... talvez só tenha feito escolhas erradas. — Ele diz e
eu concordo.
— Eu vou indo, fique bem — falo e ele me dá um aceno.
Saio do seu quarto e quase me esbarro em Vitória, que está parada na porta.
Olho minha irmã por um tempo e vejo que há uma grande luta acontecendo dentro
dela.
— Eu não vou dizer para você entrar e falar com ele, mas quer um
conselho? — pergunto, mas não espero realmente uma resposta. — Faça o que
seu coração pede, a vida é muito curta para indecisões — falo e viro as costas
para ela.
Sigo pelos corredores quase vazios do hospital e assim que chego à sala de
espera, minha avó se levanta para ir ver a filha. Vejo Adrian sentado e vou até
ele.
— Shrek, Helena e eu precisamos de um milk-shake enorme de morango
com chocolate — falo e ele sorri para mim.
— Então vamos buscar esse milk-shake. — Ele diz e se levanta, deixando
um selinho em minha boca antes de me puxar para fora do hospital.
Saio do hospital e me sinto um pouco mais leve. Tudo o que eu poderia
fazer por Glória, eu fiz... agora está nas mãos de Deus.
Um mês e meio depois...

Abro meus olhos um pouco assustado e minha boca forma quase um “O”
perfeito. Pisco meus olhos algumas vezes e ofego, levando minhas mãos até
minha barriga já com um tamanho bem maior. Algumas lágrimas se formam em
meus olhos ao que sinto o movimento agitado em minha barriga... Helena está se

mexendo.
Solto uma risada baixa e me viro para o lado, vendo Adrian dormir
tranquilamente. Eu me coloco sentado na cama, apoiado com as costas na
cabeceira, e começo a mover o corpo dele.
— Shrek, acorda! — balanço seu corpo com mais força e ele solta um

resmungo e se vira para o outro lado, dando as costas para mim. Que abusado!
— Só mais cinco minutos... o gado vai ser entregue amanhã. — Ele
resmunga e reviro meus olhos.
— Você viu que eu tentei, filha — falo em direção à minha barriga e no
segundo seguinte empurro o corpo de Adrian para fora da cama.
Um baque surdo chega até meus ouvidos e ouço um gemido de dor vindo

dele. Prendo meus lábios um no outro, contendo a vontade de rir e continuo


acariciando minha barriga, parando minha mão para sentir os movimentos feitos
por Helena.
— Porra, Castiel! Virou mania, foi? — Ele fala bravo e se põe de pé, me
olhando com uma carranca.
Pisco meus olhos em sua direção e deixo a risada escapar dos meus lábios.
— Helena está de prova que eu tentei acordar o pai dela para sentir a festa

que ela está fazendo na minha barriga, mas você não ajuda. — Eu me defendo.
Adrian abre a boca para retrucar, mas então minhas palavras parecem fazer
sentido para ele. Seus olhos prontamente se focam em minha barriga e vejo um

sorriso pequeno crescer em seu rosto.


— Está falando sério? — Ele pergunta e eu assinto com a cabeça,
estendendo minha mão direita para ele.
Sua mão se entrelaça a minha e ele volta para a cama, se sentando em minha
frente. Pego também em sua outra mão e lentamente as guio até onde uma leve
ondulação se forma. Meus olhos ficam fixos em sua reação e sinto minhas
lágrimas descerem por meu rosto no mesmo ritmo que as dele.
— Oi, filha, é o papai aqui. Nossa, como é bom sentir você animada às
quatro horas da manhã. — Ele solta uma risada enquanto as lágrimas ainda rolam
por sua face.
Sei como esse momento está sendo importante para ele, assim como para
mim também, mas há uma diferença. Eu já sinto Helena parte de mim desde o
princípio, afinal, é eu quem estou a carregando. Sei que Adrian também a tem
como parte dele, mas não havia aquele vínculo de poder sentir. E agora ele
existe. Ele estava muito ansioso por esse momento e eu também. Cheguei a achar
que não sentiria ela se mexer tão cedo, já que estou com cinco meses e meio de
gestação, quase entrando para o sexto. Mas a vida é maravilhosa e sempre nos
surpreende.

— Ela está muito feliz também — falo e acaricio seu rosto, sentindo sua
barba pinicar minha mão.
— Eu te amo, pequeno raio de sol. — Ele deixa vários beijos em minha
barriga desnuda, já que estou apenas com uma boxer. — E te amo mais ainda por
ter me dado esse presente maravilhoso — Adrian aproxima seu rosto do meu,
sorrindo amplamente. — Não só por Helena, mas por Evan também... os dois são
partes essenciais de mim.
Eu me emociono com suas palavras e pego seu rosto em minhas mãos,
deixando um longo selinho em seus lábios.
— Nós também te amamos muito e agradecemos o homem e pai incrível que
você é — sussurro contra seus lábios.
Fecho meus olhos e encosto minha testa na sua, sentindo meu peito se
aquecer ainda mais com esse momento. Ficamos em absoluto silêncio, apenas
ouvindo nossas respirações e nossa pequena ainda se mexer dentro de mim... um
dos nossos frutos de amor.

***

Termino de calçar meus sapatos e solto um suspiro, sabendo que logo vou
ter eles ainda mais inchados. Eu me levanto da cama e pego minha bolsa carteiro
em cima da cama. Saio do quarto e já posso ouvir as risadas de Adrian e Evan. É
incrível ver a conexão que esses dois possuem. Confesso que fui um babaca no
começo, por achar que Adrian abandonaria Evan na primeira oportunidade. Mas,
como sempre, esse cowboy dos infernos me provou o contrário e ainda me laçou
junto.
Chego até a cozinha e vejo a mesma cena de todos os dias. Minha avó está
sentada do outro lado da mesa, Adrian na outra cabeceira enquanto Evan está
sentado na mesa em sua frente.
Paro no batente da porta e sorrio ao ver Evan alimentando o pai com
“pequenos” pedaços de rosca caseira.
— Quero receber comida na boca também — falo chamando a atenção de
todos e me aproximo deles, deixando um beijo em cada um.
— Não sabia que tinha voltado a ser um bebê — minha avó diz e faço um
bico nos lábios.
— Mas o Adrian está recebendo — aponto na direção dele e escuto sua
risada.
— Sabe como é, né? Eu sou especial. — Ele provoca e mostro língua para
ele, o que eu me arrependo.
No segundo seguinte Evan está imitando meu gesto e arregalo meus olhos.
— Filho, não pode! — aponto para ele, que forma um biquinho.
— Belo exemplo! — Dona Clarisse diz provocante e reviro meus olhos.
— Amor, senta e come — Adrian diz e pega delicadamente em minha
cintura, me fazendo sentar ao seu lado.
Solto um suspiro e pego um pão, enchendo de doce de leite. Começo a
tomar meu café da manhã e uma conversa se inicia, onde aproveito para contar a
minha avó que Helena se mexeu. Evan fica curioso quanto a isso e pede para ir
ao chão, vindo até mim em seguida. Ele fica de frente para mim, em seu tamanho
mínimo, e estende suas pequenas mãos até minha barriga. E como mágica,
Helena começa a se mexer dentro de mim. Solto uma risada baixa ao ver os
olhinhos de Evan arregalados e sua boquinha aberta. Suas mãozinhas logo me
abandonam e ele me olha assustado.
— Bixo, papa! — Ele aponta e ouço a gargalhada dos outros dois junto
comigo.
Nego com a cabeça e rio também.
— Não, amor... é sua maninha mexendo aqui na barriga do papa — explico,
mas ele ainda me olha desconfiado.
— Ninha? — Ele pergunta e assinto.
— Isso, amor... pode tocar — sorrio para ele e depois de alguns segundos,
ele faz isso.
E nosso café da manhã se passa nesse clima agradável, já que minha avó
também se junta a Evan para sentir sua mais nova bisneta.
Assim que termino de comer, eu me despeço de Adrian e minha avó, e Evan
e eu seguimos até a cidade. Já faz alguns dias que consegui minha habilitação,
então Adrian não precisa mais perder tanto tempo nos levando. Sem contar que
posso aproveitar o carro que ele me deu de presente. O que foi exagerado... só
para constar.
Durante nosso caminho para a cidade, Evan e eu mantemos uma “conversa”
bem animada. Até que meu celular começa a tocar, conectado ao sistema de som
do carro. Olho para o visor digital e vejo o nome de Glória escrito no contato.
— Oi, Glória! — falo quando atendo a ligação e escuto ela suspirar do
outro lado.
— Cas, espero que não seja uma má hora. — Ela diz apreensiva.
— Não, estou a caminho da faculdade — respondo e dou uma olhada em
Evan, que está entretido com seus brinquedos no banco de trás.

— Oh, é bom saber que está realizando um dos seus sonhos. — Ela diz e
sua voz demonstra alegria.
— Depois que vim para essa cidade e conheci Adrian, estou realizando
muitos sonhos... alguns que havia até me esquecido — falo sincero. — Mas e
você, está bem? — pergunto preocupado.
— Estou sim, o tratamento está dando certo. — Ela responde e isso me faz
sorrir verdadeiramente.
— Isso me deixa feliz — respondo, pois é o que sinto.
Graças a Deus o transplante de medula deu certo e o resultado do

tratamento está sendo muito bom. E bem, eu não posso deixar de agradecer a
Alessandro por isso. Muitos podem pensar que seria uma obrigação dele, mas
não é. Ele fez porque quis e acho que no fundo também por se sentir em dívida
com minha mãe. Mas o importante é que ele fez algo muito importante.
— Obrigada por tudo. — Ela diz após alguns segundos e eu suspiro.
— Eu só fiz minha parte, jamais te abandonaria em um momento como esse
— falo e minha intenção não é jogar nada na cara, é apenas o que penso.
— O que prova que você foi diferente de mim. — Ela diz e escuto sua voz
embargada. — Eu jamais vou me...
— Ma... Glória, não precisa ficar se culpando por nada. Vamos esquecer
isso por enquanto. Ficar relembrando mágoas não faz bem a ninguém, nem a você
e nem a mim — falo, a interrompendo.
— Me desculpa — pede e nego com um aceno, mesmo sabendo que ela não
pode me ver.
— Só vamos esquecer — peço e aperto ainda mais o volante.
Converso mais um tempo com Glória e nossa ligação se encerra quando já
estou chegando na creche onde Evan estuda. Depois de tudo o que houve, a
segurança do local melhorou muito e isso me deixou mais aliviado em relação a
várias coisas. Pego Evan e sua bolsa, seguindo até a entrada da creche. Meu
filho já apresenta uma animação extrema ao ver as outras crianças entrando no
local também.
— Ei, já quer ficar longe de mim? — brinco com ele, que nega e beija
minha bochecha.
O deixo com sua professora e me despeço do meu filho com um beijo. Sigo
para o carro, indo em direção à minha faculdade.

***

Termino minha prova de cálculo e junto minhas coisas, deixando o exame


com o professor. Saio da sala e começo a andar sem rumo pelos corredores.
Ainda falta quase uma hora para que eu tenha que buscar Evan, então vou
permanecer aqui por mais um tempo.
Fico tão distraído em mim mesmo, que acabo quase esbarrando em uma
pessoa, mas a mesma desvia. E assim que ergo meus olhos, vejo Jaqueline em
minha frente.
E um fato engraçado que descobri, é que ela é coordenadora do curso de
ciências contábeis. Ironia do destino, não?
— Meu Deus, me desculpa Castiel. — Ela diz preocupada enquanto olha
para mim, como se procurasse machucados.
— Não, está tudo bem — sorrio em sua direção.
Uma coisa é fato... eu não tenho nada contra Jaqueline.
Ela me olha por alguns segundos em silêncio, parecendo querer me dizer
alguma coisa.
— Hmm... será que eu posso conversar com você? — Ela pergunta e noto
apreensão em sua voz.
— Ah, claro... estou com tempo mesmo — respondo.
— Vamos até minha sala então. — Ela diz e eu passo a segui-la.
Nosso caminho até sua sala é feito em silêncio e não é muito difícil de
imaginar o que ela quer falar comigo.
Assim que chegamos, ela me indica uma cadeira estofada e se senta na
outra.
— Primeiro de tudo, eu quero te pedir perdão por tudo que Débora fez. Eu
sinto vergonha da minha filha e não sei no que errei com ela. — Ela diz e posso
ver a tristeza em seus olhos. — Criei ela sozinha por um tempo, até seu pai
aparecer na minha vida e sempre fizemos de tudo para ela... talvez esse tenha
sido nosso erro.
Respiro fundo e processo suas palavras em minha cabeça.
— Talvez seja, mas não quero que se desculpe por ela. Você não tem nada a
ver com os erros da sua filha.
— Espero que não me odeie por ser esposa do seu pai. — Ela diz de
repente e isso me faz rir.
— Oh não, isso nunca. Meu pai estar casado com você não me faz te odiar e
nem a ele. A única coisa que odeio, é o fato de ter sido abandonado por ele.
— E eu imagino que não foi algo fácil. — Ela diz e concordo. — Eu fiquei
muito indignada com seu pai quando ele me contou sobre tudo. Mas para ser
sincera, eu sempre percebi que havia algo. Sei que pode parecer que ele não
ligava ou amava vocês, mas eu via nos olhos dele que ele guardava um
sentimento.
— Ele podia ter exposto esse sentimento, mas preferiu continuar com a vida
perfeita — desabafo.
— Ele errou muito, mas quem não erra? Não estou aqui para justificar o que
ele fez, pois não há uma desculpa. Mas eu sei que Alessandro ama vocês. Eu
também fui abandonada, Castiel. Não só por meus pais, mas também pelo homem
que eu acreditava me amar... o pai biológico da Débora. Sei como dói, mas eu
resolvi viver em paz comigo mesma e perdoar essas pessoas, mesmo que eles
mesmos não se perdoassem. E tive tempo de dizer isso aos meus pais, horas

antes deles morrerem em um acidente de barco. O pai de Débora eu nunca mais


vi, mas faria o mesmo.
Escuto suas palavras e não falo nada, apenas refletindo nelas.
— Eu não sou ninguém para influenciar a sua vida, mas ela é curta —
Jaqueline toca minha mão. — Não nos conhecemos muito bem, mas quero muito
que seja feliz e tenha uma boa vida. Mesmo que seus pais não estejam nela.
Respiro fundo e limpo uma lágrima que escorre por meu rosto.
— Eu faço noção de tudo o que disse, tanto é que eu quero muito conseguir
perdoar os dois. Pode parecer improvável, mas ainda os amo muito. Querendo
ou não, eu tive pais por um tempo e eles foram bons comigo, mesmo que as
coisas ruins tenham se sobressaindo — falo e suspiro. — Mas obrigado por essa
conversa.
— Só queria que soubesse que não sou sua inimiga, jamais serei. — Ela diz
e sei que suas palavras são sinceras.
— Eu sei — falo por fim e me levanto. — Bem, eu tenho que ir.
Jaqueline concorda com um aceno e me despeço dela, saindo de sua sala.
Suas palavras ainda estão frescas em minha cabeça, o que me faz pensar demais.
Solto um suspiro e ouço meu celular tocar, o que me faz agradecer pela
distração. Vejo o nome de Ângelo na tela e isso já me faz sorrir.
— Angi... — começo, mas ele me interrompe.
— Adivinha quem está na porta da sua faculdade, sendo o centro das
atrações por estar com um carrinho de bebê duplo? — Ele pergunta animado e
paro de andar.
— Não me diga que...
— Que eu estou a poucos metros de você? Digo sim... temos um casamento
para organizar. — Ele responde e balanço a cabeça.
— Você é louco! — falo rindo e volto a caminhar em direção à saída.
— Eu sei, me dizem isso sempre — solto uma risada e o assunto de minutos
atrás fica completamente esquecido na minha cabeça.
Passo pelo portão da faculdade e balanço a cabeça em negação ao ver
Angie parado na calçada com um carrinho de bebê duplo. Vejo que muitas

pessoas olham para meu amigo maluquinho, mas ele nem liga e assim que me vê,
começa a acenar loucamente. Solto uma risada e sigo até meu amigo.
— Você é maluquinho, tadinho dos meus sobrinhos — falo rindo e abraço
meu amigo apertado, mesmo que minha barriga me impeça um pouco.

— Ei, meus filhos me amam assim. — Ele diz, fingindo indignação, e solta
um gritinho em seguida. — Sua barriga está tão linda! — sorrio e sinto ele fazer
uma leve carícia em minha barriga.
— Eles são bebês, né?! — implico e ele me mostra língua.
Eu me abaixo de frente ao carrinho e admiro que os gêmeos ainda estejam

dormindo tranquilamente. Deixo um beijinho em cada um, apreciando o cheirinho


maravilhoso de bebê.
— Veio com quem? — Eu me viro em direção à Angie novamente.
— Ah, o segurança me trouxe. — Ele diz e acena para uma SUV do outro
lado da rua.
Solta uma risada e seguro minha barriga quando sinto Helena se agitar.
— Me espera aqui, meu carro está no estacionamento — aviso e ele

assente.
Ainda incrédulo, entro novamente na faculdade e sigo até o estacionamento.
Entro no carro e coloco minha bolsa no banco de trás, logo dando partida no
veículo. Encontro Angie no mesmo lugar e saio do carro para ajudá-lo. O
segurança que o trouxe traz os bebês conforto dos gêmeos e acomodamos os
dorminhocos no banco de trás. Ajudo Angie a desmontar o carrinho e o
colocamos no porta-malas espaçoso do carro. E com todos acomodados,

seguimos até a escola de Evan.


— Enzo sabe que você está aqui? — pergunto e olho rapidamente para
Ângelo, que está agitado no banco do carona.

— Então... — Ele começa e olho incrédulo para meu amigo. — ... é claro
que sabe, bobão! — Ele ri e respiro aliviado.
— Sério, Angie... você me mata às vezes — suspiro.
— Que exagero! Anda logo, vai... temos que pegar meu futuro genro e
terminar de organizar seu casamento. Daqui uns dias você vai estar parindo e não
casou. — Ele fala e balanço a cabeça em negação.
— Deixa só seu marido ouvir isso — aviso e ele apenas ri.
— Enzo é ciumento demais, meu Deus! Tadinho dos meus bebês quando
crescerem. — Ele diz em falsa tristeza e isso me faz rir.
O resto do caminho até a creche de Evan é feito entre conversas bem
produtivas com meu doidinho favorito. Assim que estaciono o carro, Angie
permanece no veículo com os bebês enquanto eu saio e vou buscar meu pequeno.
Passo pelo porteiro, acenando para o mesmo e sigo até a sala de Evan. E
não demora muito, estou abraçando meu foguinho.
— Papa! — Ele diz animado e seus bracinhos apertam ao redor do meu
pescoço.
— Oi, meu bebê — sorrio e deixo beijos em sua bochecha, arrancando
risadas dele.

Pego Evan em meus braços, aproveitando enquanto posso, e me despeço da


cuidadora dele, seguindo até a saída.
— Adivinha quem veio te ver, amor? — falo com um sorriso e Evan bate
palmas com as pequenas mãos.
— Ninha? — Ele pergunta e rio, balançando a cabeça em negação.
— Ainda não, bebê. - Deixo mais um beijo em seus cabelos e passo pela
portaria.
Sigo até meu carro e solto uma risada quando sinto Evan se agitar em meu
colo.
— Tatá! — Ele diz assim que vê Angie.
— Agora é só Tatá, né? Ele é meu filho, sabia? Eu o trouxe pra você —
Angie fala, olhando para Evan enquanto finge estar bravo, o que só causa ainda
mais alegria em meu filho.
— Você é tão bobo, Angie — balanço a cabeça em negação e dou a volta no

carro, colocando Evan em sua cadeirinha.


E nem preciso dizer que o sorriso dele foi enorme ao ver os primos, mas
principalmente o seu Tatá. E ainda fico impressionado com a proximidade que
meu filho teve com esse bebê.
E nesse clima de berçário seguimos para a fazenda, com o segurança de
Ângelo logo atrás de nós.

***

Estaciono o carro em frente à casa e saio do veículo, logo abrindo a porta


de trás. Tiro Evan da cadeirinha e deixo ele livre no chão. Pego o bebê conforto
de Giovani e Angie pega o de Otávio.
Evan coloca sua mão na minha e nós entramos em casa.
— Isso é invasão? — Adrian aparece vindo do escritório, mas tem um
sorriso no rosto.
— Oi, cunhado! — Angie diz animado e vai até Adrian, o abraçando
rapidamente. — Acho que você pode ficar de babá das crianças, não? Cas e eu
temos um casamento para organizar. Pois já aviso, se deixar só por ele, vocês só
casam na outra encarnação. — Ele brinca e reviro meus olhos.
— É, estou sabendo disso — Adrian entra na onda e reviro meus olhos para
ele.
Evan solta minha mão e corre em direção ao pai, que o pega nos braços.
Aproveito isso e coloco o bebê conforto em cima do sofá.
— Onde está o Enzo? — Adrian questiona e se senta em uma das poltronas
da sala.
— Ele está viajando por causa de alguns contratos, aí como eu não queria
ficar sozinho com os gêmeos, vim pra cá. — Ele diz e coloca o bebê conforto de
Otávio ao lado do outro. — Agora nós vamos subir e se acontecer alguma coisa,
se vira... aproveite e já treine para quando Helena chegar.
Solto uma risada e sem muitas escolhas, subo às escadas com Ângelo.
E pelas próximas horas, nós passamos definindo os últimos detalhes do
casamento, que será simples e apenas para meus familiares e os amigos mais
próximos.
Angie acaba ficando em casa com os gêmeos por dois dias e confesso que
me diverti muito tendo meu amigo comigo. Ângelo é uma parte importante da
minha vida, então eu jamais terei demais dele, pois nunca temos o suficiente de
quem amamos.

***
Duas semanas depois...

Eu me reviro na cama, não sentindo o sono chegar em momento algum. Solto


um suspiro e me coloco sentado na cama. Meus olhos encontram Castiel, que
dorme tranquilamente ao meu lado enquanto tem suas duas mãos sobre a barriga
já de seis meses. Abro um sorriso e deixo um carinho leve por sua barriga, não
querendo acordar Helena. Uma coisa que me deixou fascinado, é que Helena
parece me sentir quando estou por perto e se agita toda na barriga do papa
Castiel. E confesso que isso tudo chega a ser até surreal para mim.

Saio da cama e descalço deixo o quarto. Acabo passando no quarto de Evan


e deixo mais um beijo em meu filho, acompanhando seu sono tranquilo por um
momento. E após alguns minutos, me encontro na sala de estar. Penso por alguns
segundos e sigo até o pequeno bar, pegando uma dose de whisky. Eu me sento na
poltrona e mantendo meus olhos fixos na parede, começo a saborear a bebida.
Às vezes eu paro para refletir e penso que tudo o que estou vivendo não
passa de um sonho muito bom. Pois não pode ser real ter tanta felicidade assim
na vida. Há dois anos atrás eu era apenas a sombra de um homem, que não sabia
mais o que era a alegria de viver... até que ele chegou. Castiel mudou tudo em
minha vida, de uma forma maravilhosa é claro. Confesso que o odiei no primeiro
instante, mas também já me impressionei no segundo seguinte. Sempre soube que
havia algo de especial nele.
Cas é um homem forte, um garoto que sofreu muito, mas que ao invés de
sucumbir, fez do sofrimento a sua força e isso me admira. Ele com pouca idade
teve a força de vontade que eu nunca tive antes. Ele soube enfrentar cada
obstáculo sem nunca abaixar a cabeça e isso é incrível. Então o amar foi algo
fácil, apesar de já querer ter o enforcado antes, mas dizem que o amor e o ódio

andam juntos, não? Com nós dois não foi muito diferente.
E o que dizer de Evan? Aquele pequeno ruivo fofo que me fez cair de
amores desde o primeiro momento. Confesso que no começo eu fiquei com medo
de me apegar demais, mas nós não podemos planejar o futuro. E quando ele me
chamou de papai pela primeira vez, eu sabia que meu coração tinha feito o certo
em o amar incondicionalmente. Pois não foi eu quem o escolhi como filho... Evan
me escolheu como pai.
Ouço barulho de passos na escada e quando me dou conta, vejo que a
bebida em meu copo já foi esvaziada. Encosto minhas costas no estofado da
poltrona e no segundo seguinte vejo Castiel aparecer na sala. Sua face está um
pouco amassada pelo travesseiro e ele fica fofo usando uma camiseta minha e
meias nos pés. Sua barriga avantajada se destaca, o deixando ainda mais lindo
do que já é. Ele coça os olhos e quando me vê, vem em passos lentos em minha
direção.
Abro meus braços e o aconchego em meu peito quando ele se senta de lado
em meu colo, como um bebê em busca de conforto e carinho.
— Por que não está na cama e está com cheiro de bebida? — Ele pergunta
baixinho e sorrio com sua manha.
Já disse que amo meu cabelo de fogo manhoso?
— Não conseguia dormir, então resolvi beber alguma coisa para o sono vim
— respondo e deixo um beijo em seus cabelos que estão um pouco maiores
agora.
— Sabe que não pode beber muito. — Ele avisa e assinto.
— Eu sei — concordo. Eu não sou considerado alcoólatra, mas prometi a
mim mesmo depois que Castiel entrou em minha vida, que não deixaria mais a
bebida me controlar. Antes eu a via como uma válvula de escape, mas percebi
que isso só estava estragando ainda mais a minha vida.
— Por que não consegue dormir? — Ele pergunta e levanta seu olhar para o
meu.
— Nem sei direito, só comecei a pensar em tudo o que me aconteceu nos
últimos anos — respondo sincero. — Sabe aquela sensação de viver um sonho?
É assim que me sinto.
Cas me olha por alguns segundos em silêncio, até se ajeitar em meu colo,
ficando de frente para mim.
— Sei sim como é. — Ele responde e entrelaça nossas mãos. — Vivemos
episódios tão traumáticos, que às vezes não aceitamos que estamos sim felizes e
realizados. Acho que isso faz parte do ser humano... viver com medo. Mas você
não precisa sentir isso, amor, pois nós somos reais e a nossa felicidade também.
Tudo o que conquistamos juntos não é um sonho, é apenas a recompensa do
nosso amor.
Sorrio diante suas palavras e beijo ambas as suas mãos.
— Acho que isso é porque nosso casamento é em uma semana — falo, rindo
um pouco.
— Agradeça a Ângelo por isso. — Ele brinca e deixo um selinho rápido em
seus lábios.
Eu me abaixo um pouco e beijo sua barriga.
— Está vendo isso, Lena? Seu papa queria me enrolar, mas ainda bem que
temos o tio Angie em nossas vidas — falo sorrindo e Cas deixa um beliscão em
meu braço. — Ai, amor!
— Não jogue minha filha contra mim. — Ele diz fingindo raiva e reviro
meus olhos.
— Ela nem sabe o que é isso. — Eu me defendo.
— Você é um ogro. — Ele reclama, mas me abraça e deita a cabeça em meu
ombro.
— Sou o seu Shrek e você minha Fiona — falo rindo e ganho um tapa fraco
em troca.
— Cowboy idiota... te amo! — Ele sussurra com a voz de sono.
— Amo você, cabelo de fogo. — Deixo um beijo em seus cabelos.
E sentindo ele próximo a mim, tenho certeza de que realmente não estou
vivendo um sonho. Nosso amor, nossa família... nós somos reais.
“Sua mão se encaixa na minha
Como se tivesse sido feita só pra mim
Mas coloque isso na cabeça
Era para ser assim
E estou ligando os pontos

Com as sardas em sua bochecha


E tudo faz sentido para mim”
LITTLE THINGS | One Direction

Estaciono minha caminhonete no lugar que jamais visitei em mais de seis


anos. Solto um suspiro e sinto minhas mãos trêmulas, assim como suadas

também. Respiro fundo algumas vezes e pego as flores que comprei, saindo do
veículo em seguida. Ando a passos lentos até o local que desejo e sinto meu
peito ficar cada vez mais apertado. Paro de frente à lápide já um pouco mais
desgastada pelo tempo e me ponho de joelhos. A foto de Carolina parece me
encarar de volta e isso deixa minha respiração presa por alguns segundos.
Coloco as flores em um vaso que se encontra ali e não sei exatamente o que mais
fazer.

Em mais de seis que ela se foi, eu nunca tive coragem de vir até o lugar
onde ela foi enterrada junto ao nosso filho. Parecia que se eu viesse, a perda
dela se tornaria ainda mais real, mas isso é apenas bobagem, pois a perda foi e
ainda é real. Ainda me dói muito pensar que eu a matei. Que pela minha
irresponsabilidade, tirei a vida da minha mulher e meu filho que não havia
sequer nascido. Sei que a culpa é sim em parte minha, mas aprendi que se ela
não está mais aqui, é porque Deus quis assim. E por mais que eu quisesse que as

coisas fossem diferentes, não era pra ser.


— Me desculpa — falo em um sussurro e sinto as lágrimas começar a
descerem por meu rosto. — Fui um covarde de nunca ter vindo aqui visitar

vocês, mas é que a culpa e também a raiva me corromperam durante anos. Eu


demorei muito tempo para aceitar que perdi vocês, mas apesar de aceitar... ainda
dói, dói muito.
Eu me sento na grama que há ao redor da lápide e respiro fundo para
continuar.
— Eu pensei que minha vida tivesse acabado também, mas eu percebi que
não e devo isso a uma pessoa. Por isso vim aqui hoje. Eu quero esquecer tudo de
ruim que houve e me lembrar apenas dos bons momentos que vivemos, pois você
continua sendo a mulher da minha vida. Mas hoje eu entendo que não era pra ser,
infelizmente Deus não quis assim. Sei que você também não gostaria de me ver
me martirizando. Você foi uma parte linda da minha vida, Carol, e jamais vou me
esquecer dela — sorrio e enxugo algumas lágrimas.
— Amanhã eu vou dar mais um passo importante em meu novo recomeço e
queria que você soubesse disso. Acredito que você já saiba sobre Castiel, até
porque você deve ser meu anjo da guarda aí em cima... me impediu de fazer
muitas besteiras nos últimos anos — suspiro e acaricio sua foto emoldurada. —
Ele é um homem maravilhoso, você ia o adorar. Vocês se parecem, tem o mesmo
espírito guerreiro e corajoso. Também tem o Evan, o filho que a vida me trouxe.

E nossa família vai aumentar agora, já que Helena chega em três meses. Eu
jamais me imaginei vivendo tudo isso novamente, mas a vida nos surpreende de
várias formas e agradeço muito a ela por isso. Assim como sou grato por todos
os anos que tive com você... amo vocês, sempre e para sempre.
Deixo um beijo em sua foto e me coloco de pé. Permaneço parado em frente
à lápide por mais alguns minutos, até me sentir totalmente em paz.
Olho mais uma vez para o lugar, antes de virar as costas e seguir até à
saída. Agora sim, eu me sinto realmente tendo um novo recomeço.

***
Paro de frente ao espelho no quarto de hóspedes e ainda não acredito em
tudo o que está acontecendo. Passo minhas mãos pela roupa branca em meu
corpo e sinto meu coração acelerado em meu peito. Eu vou me casar com o ruivo
mais lindo do mundo!

Abro um sorriso e respiro fundo algumas vezes para me acalmar, já que o


nervosismo insiste em me acompanhar. Fico tão distraído com minha imagem no
espelho, pensando em várias coisas, que nem percebo meus irmãos entrando no
quarto.
— Que noivo lindo! — A voz de Maurício chama minha atenção e sorrio.
Abraço meu irmão e deixo um beijo em seus cabelos brancos.
— Eu ainda acho que estava mais bonito em meu casamento... nem usando
terno ele está — Marcos diz implicante e mostro meu dedo médio para ele.
— Ridículo! Castiel quem escolheu usar roupas mais leves, até porque
nosso casamento é no fim da tarde e está um calor do caralho — falo e me
assusto ao ver Evan no chão, bem ao lado do tio.
Porra! Castiel vai me matar!
— Calaio! — Evan diz animado e arregalo meus olhos, me abaixando e
tapando sua boca.
— Não, filho, não pode dizer isso — aviso e ele me olha confuso.
Tiro minha mão de sua boquinha e pego ele em meus braços, vendo as
expressões de deboche dos meus irmãos.
— Calaio, não? — Evan pergunta e assinto, mas depois balanço a cabeça
em negação.
— Isso, não pode falar — explico e ele coloca o dedo na boca pequena,
como se estivesse pensando.
Ouço a risada dos dois pestes atrás de mim e cerro meus olhos na direção
deles.
— O Cas vai matar você — Mau diz rindo e se senta na poltrona do quarto.
— Ah, como eu estava com saudades dessa família. — Ele suspira e reviro meus
olhos para ele.
— Acho que devia ter continuado lá — provoco e ele me mostra língua. —
Olha os modos na frente do meu filho — aviso.
— Falou o cara que xingou na frente do filho... se eu faço isso, Melissa
corta meu... — Marcos diz e taco um travesseiro nele para não continuar.
Balanço a cabeça em negação e me pergunto que chiclete eu grudei na cruz
para merecer isso.
— Sério? Vieram aqui pra isso? — pergunto e sinto Evan beijar meu rosto,
o que me faz sorrir minimamente.
Deixo um beijo na testa do meu pequeno e ele deita a cabeça em meu
ombro. Por ser nosso pajem, Evan está com uma bermuda branca e camisa sem
manga da mesma cor, junto a um par de tênis da mesma cor. E ele já é lindo, mas
hoje está ainda mais. Acho que por eu estar vendo a beleza em absolutamente
tudo também.
— Oh, modeuzo, ele está carente — Marcos debocha, mas vem em minha
direção.
E logo tenho meus dois irmãos, minha família, me abraçando. Fecho meus
olhos e penso por um segundo que meus pais Victor e Felipe também estão aqui.
Sinto um ligeiro aperto em meu peito, mas trato de afastá-lo, pois sei que eles me
querem sorrindo hoje e apenas isso.
— Estamos orgulhosos de você, Dri. Sabemos o quanto você sofreu nesses
anos todos e hoje podemos ver sua felicidade. E se você está feliz, nós estamos
também — Maurício diz quando se afasta e sinto meus olhos arderem.
Sinto a mão de Marcos em meu ombro e olho para ele.
— Obrigado por tudo, você merece todas as coisas boas desse mundo,
inclusive essa família linda que está formando. Acredito que tudo há um
propósito e hoje você está entendendo o seu. Saiba que você é a nossa rocha, a
pessoa que nos manteve unidos quando nossos pais se foram. Eu te amo, irmão.
— Ele diz com a voz embargada e mesmo segurando, sinto as lágrimas já
descerem por meu rosto.
— Amo vocês! — falo e abraço os dois novamente como posso, já que
Evan está em meu colo ainda.
— Eva ama — meu filho diz e isso nos faz rir, enchendo-o de beijos.
O friozinho em meu estômago permanece, mas agora eu sei que não há nada

mais certo em minha vida. E não sei, mas acho que esperei por esse momento
com Castiel minha vida inteira.
***

Sinto os dedos de Ângelo ajeitando meus cabelos e isso me faz soltar um


bocejo. Por que mexer no cabelo dá sono? Eles não podem fazer isso com um

grávido.
— Eu estou com sono — reclamo enquanto acaricio minha barriga, sentindo
Helena quietinha dentro de mim.
— Logo passa, é só pensar que você vai casar em poucos minutos. — Ele
responde e nesse momento minha avó entra no quarto.
— Aí eu vou sentir vontade de vomitar, pois meu estômago já está
revirando desde cedo — falo e Angie solta uma risada, se afastando de mim.
— Desde que não seja em nós — minha avó dá de ombros. — Levanta,
quero te ver — faço o que ela pede, me apoiando na cadeira para isso.
Sorrio e dou uma voltinha, mas acho uma má ideia quando me sinto tonto.
“Ótima ideia, Castiel!”
— Estou bonito? — pergunto para os dois, que me olham emocionados.
— Você já nasceu bonito, puxou a mim, garoto — minha avó diz e isso me
faz rir. Dona Clarisse sendo ela mesma, como sempre.
Olho para Ângelo em expectativa, esperando por sua resposta, mas o que
ganho é um abraço apertado.
— Eu estou tão feliz por estar te vendo assim, maninho. — Ele diz com a
voz embargada e sinto meus olhos arderem. — Acompanhei de perto tudo o que
você passou desde o início e nossa... te ver aqui hoje é incrível. Você merece
tudo o que está acontecendo em sua vida, pois você é uma das melhores pessoas
que existe. A sua força, é a minha força. Você sempre foi o meu espelho, Cas... a
pessoa em quem me inspiro até hoje. Então aproveite cada segundo da sua
felicidade, pois você é mais do que merecedor de tudo isso.
Sinto lágrimas descerem por meu rosto e solto um muxoxo, pois terei que
passar pó novamente. Abraço meu amigo mais uma vez, sendo eternamente grato
por ele ter entrado em minha vida. Além de ser meu irmão de alma, Angie é a
pessoa que sempre esteve ao meu lado em todos os momentos. Ele enxugou
minhas lágrimas, segurou minha mão quando tive medo e comemorou cada uma
das minhas vitórias comigo. Então se há uma pessoa que também sou grato na
vida, é a ele. E bem, acho que todos mereciam ter um Ângelo em suas vidas.
Com certeza as deixariam mais felizes e completas.
— Eu te amo tanto, Angie... obrigado por tudo — agradeço e me afasto,
para poder olhar em seus olhos. — Se eu sou o seu espelho, te garanto que você
também é o meu, pois você é tão forte quanto eu. Acho que Deus jamais poderia
me dar um irmão melhor que você, que não veio de sangue, mas sim do amor —
sorrio para ele e enxugo suas lágrimas, assim como ele faz com as minhas.
— Eu te amo, meu maninho ruivo. — Ele sorri e ouço uma fungada baixa.
Olho para a cama e vejo minha avó chorando, o que nos faz rir.
— Eu sou uma velha, não podem me deixar tão emocional assim. — Ela
reclama, mas se levanta e vem até nós. — Vocês são os melhores netos do mundo
— diz sorrindo e nos abraça.
Fecho meus olhos e me sinto acolhido e amado pelas pessoas que mais
estiveram presentes em minha vida.

***

Olho pela janela do quarto e vejo o sol já pronto para se pôr, e bem... é
hora de ir. Eu me olho mais uma vez no espelho e depois de meia hora, estou
lindo novamente. Sorrio, vendo a roupa branca perfeitamente em meu corpo, com
a camisa mais larga na barriga, evidenciando minha gravidez.
Solto um suspiro e respiro fundo antes de deixar o quarto. Desço às escadas
com cuidado, segurando firmemente no corrimão, já que minha barriga está bem
grandinha e às vezes atrapalha a visão.
Assim que chego à sala, encontro minha avó e Ângelo. E assim como no
casamento dele, ele entrará comigo dessa vez, como fiz com ele. Até porque não
existem pessoas melhores para isso. Sorrio para os dois e entrelaço meus braços
nos deles, saindo de casa. Seguimos em silêncio até o local montado a poucos
metros.
Tudo ao nosso redor está em tons neutros e o que se evidencia são as rosas
brancas, assim como o imenso campo florido atrás do local da cerimônia.
Sempre soube que nosso casamento seria aqui na fazenda, e não existiria lugar
melhor para celebrar nossa união do que o lugar que foi feito com muito amor
pelos pais de Adrian. Acho que isso é uma forma de homenagear os dois e sentir
eles aqui conosco no dia de hoje.
Paro assim que chegamos à entrada da cerimônia. Sinto minhas mãos frias e
me obrigo a me acalmar. Estou prestes a me casar com o homem da minha vida e
somente isso importa.
Vejo Ana Clara ser posiciona a minha frente e deixo um beijo em sua
bochecha antes que a música comece. A música é calma e em cada palavra
reflete amor. Sorrio quando Ana começa a andar em pequenos passos, jogando
flores pelo caminho, vestida em seu vestido de noivinha.
Respiro fundo e levanto meus olhos, sentindo eles serem conectados aos
azuis de Adrian, que se encontra no pequeno altar. Sinto meu coração acelerado
em meu peito, assim como borboletas em meu estômago. Meus passos são lentos
e meus olhos se mantêm fixos no meu homem, só desviando um momento quando

vejo meus pais em meio aos convidados. Sorrio para os dois e me sinto feliz por
vê-los aqui. Chego ao altar após alguns minutos e consigo ver uma lágrima
descendo pelo rosto do meu ogro favorito. Abraço minha avó e Ângelo, que
tomam seus lugares no altar e em seguida Adrian pega em minha mão. Nossos
dedos se entrelaçam e ele deixa um beijo em minha testa antes de me guiar até o
altar. Sua mão faz um carinho leve em minha barriga e como uma resposta,
Helena chuta em sua mão. Nós rimos e nos voltamos para o juiz.
— Estamos aqui hoje reunidos para celebrar a união de Adrian D'Ávila e
Castiel Almeida, dois homens que decidiram unir suas vidas em uma só. — O
juiz começa e aperto ainda mais a mão de Adrian que está na minha. — Muitos
podem achar o que está havendo aqui errado, mas são pessoas que não conhecem
o amor. Pois o verdadeiro amor, ele não escolhe raça, gênero, religião, nem
classe social... ele escolhe a sua metade, sua alma gêmea. E é isso que vemos
aqui hoje, duas pessoas que se amam incondicionalmente e estão formando uma
família, passando esse amor para frente. E como diz aquela famosa passagem
bíblica... “O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata
com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os
seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas
folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” — Então,
mesmo que haja dificuldades, lembrem-se disso... do amor que une vocês. — Ele
diz e assinto, deixando uma lágrima cair por meu rosto, que é capturada pela mão
do meu futuro marido. — Agora passo a palavra aos noivos, para dizerem seus
votos.
Olho para Adrian um pouco desesperado, pois minha língua parece presa. E
rindo, ele faz sinal de que será o primeiro a falar.
— Castiel, meu cabelo de fogo. — Ele diz e ouço algumas risadinhas ao
nosso redor. — O que dizer sobre nós? Bem, posso começar pelo fato de que
quis te enforcar quando nos conhecemos. Você é irritante quando quer, amor...
principalmente comigo. Mas isso não importa muito, pois logo me vi apaixonado
por você, pelo homem maravilhoso que você é. A sua força, sua coragem e sua
língua afiada me encantaram e isso fez florescer um sentimento em mim. Eu não
achava mais que coisas boas poderiam acontecer em minha vida, por isso passei
cinco anos perdido, mas isso mudou quando você apareceu. Não só você, mas
também Evan... nosso filho. Vocês me fizeram ver que existia sim um recomeço e
uma vida melhor para nós dois. Nós pudemos curar as feridas um do outro e
cultivar um sentimento lindo. Isso nos trouxe coisas maravilhosas, como a nossa

pequena que está crescendo aqui. — Ele diz e coloca as mãos em minha barriga
estufada. — Eu amo vocês com tudo o que há em mim, obrigado por ter chegado
em minha vida e mudado tudo.
Sinto as lágrimas descerem como uma cascata por meu rosto e agradeço
quando Melissa me entrega um lenço.
— Você não pode me fazer chorar assim... eu estou grávido! — finjo
indignação e ouço risadas de todos.
— Essa sua desculpa está ultrapassada. — Adrian arqueia uma sobrancelha
em provocação e reviro meus olhos.
Levo alguns segundos para me recompor e me sentindo melhor, consigo
dizer algo.
— Há dois anos atrás, eu estava desacreditado de muitas coisas e somente
Evan me importava. Não acreditava mais no amor e nem que poderia ser
plenamente feliz, mas eu estava errado. Jamais vou cansar de agradecer a minha
avó por ter insistido tanto para eu vim pra cá. Confesso que relutei muito contra
a minha paixão por você, mas percebi ser algo inútil — solto minha mão da sua e
acaricio seu rosto, sentindo sua barba pinicar minha palma. — Você me deu tudo
o que um dia eu sonhei e acabei esquecendo. Você é um pai incrível, um homem
bom e que preza sempre pela família. Eu jamais poderia pedir alguém melhor,
mesmo você sendo um ogro. Mas você é o meu Shrek, e eu te amo muito por ter
me dado esse conto de fadas.
Sorrio ainda mais ao ver ele chorando e limpo suas lágrimas. Fico nas
pontas dos pés e deixo um beijo em sua testa.
— Depois dessas lindas palavras, vamos aos votos — ouço o juiz e nós nos
viramos novamente para ele. — As alianças, por favor. — Ele pede e nesse
momento nós nos viramos novamente para o arco de flores.
Meu peito se enche de amor ao ver meu pequeno caminhando em nossa
direção. Ele segura uma almofada em suas mãozinhas e sorri para nós dois.

Esperamos pacientemente por ele, ouvindo muitos “wont’s” dos convidados. É,


eu sei, meu filho é lindo demais, mas também... puxou a mim.

Assim que Evan chega até nós, nos abaixamos em sua frente, pegando as
alianças, e deixamos beijos por seu rostinho.

— Amamos você, bebê — sussurro e beijo seu nariz, fazendo ele rir.
Logo Maurício vem o pegar e nós damos continuidade à cerimônia.
— Adrian D'Ávila, é de livre e espontânea vontade que você aceita Castiel
Almeida como seu legítimo esposo? Prometendo o amar e respeitar por todos os

seus dias? — Ele pergunta e olho fixamente nos olhos do meu homem.
— Sim, eu aceito! — Adrian responde e isso faz um arrepio passar por meu

corpo.
Ele pega a aliança na almofadinha e a desliza por meu dedo anelar,

depositando um beijo sobre o anel em seguida. Sorrio e sinto meu peito se


aquecer.

— Castiel Almeida, é de livre e espontânea vontade que você aceita Adrian


D'Ávila como seu legítimo esposo? Prometendo o amar e respeitar por todos os

seus dias?
— Aceito! — respondo e pego a aliança de Adrian, deixando um beijo nela

antes de deslizar ela por seu dedo.


Olho nos olhos dele, vendo eles brilharem... estamos perto agora.

— Sendo assim... pelos poderes concedidos a mim, eu vos declaro marido


e marido. Os noivos podem se beijar agora. — O juiz diz e isso me faz sorrir

ainda mais.
Sinto as mãos de Adrian pousar delicadamente em minha cintura, me

aproximando dele o máximo possível com minha barriga. Nossos rostos se


tornam ainda mais próximos e no segundo seguinte sua boca está colada à minha.

Nosso beijo é lento e casto, apenas para saborear o sabor do nosso amor e nossa
união.
E, Deus, estou casado com o cowboy indomável!
A vida é realmente uma vadia, em um dia ela está zombando da sua cara e
no outro ela te presenteia com oportunidades incríveis. Eu já estive em situações

bem difíceis, mas hoje vejo que tudo valeu a pena. Valeu a pena para estar aqui,
colhendo os bons frutos que a vida resolveu me dar. Há dois anos atrás, eu
jamais imaginaria que me casaria, que estaria grávido novamente e que meu filho
teria um pai de verdade. Mas sempre podemos nos surpreender de uma forma

boa, mesmo que haja algumas decepções.


Balanço a cabeça levemente, afastando todo e qualquer pensamento, e me
concentro no momento de agora. Que com certeza é um dos mais felizes da minha
vida.
Minha mão está entrelaçada fortemente com a de Adrian, assim que

entramos na grande tenda montada para a festa. Sorrio ao ver a linda decoração
do local e me sinto satisfeito por ter escolhido cada detalhe. Há pequenas luzes
pendendo do teto, flores nos tons de branco e um rosa bem claro. Uma pista de
dança rodeada por mesas e cadeiras. Assim como a mesa do bolo bem no canto,
cheia de doces e um bolo enorme ao centro, rodeada por alguns arranjos de
flores.
Sinto meu coração acelerado no peito quando vejo todos nos olhando com

sorrisos nos rostos, deixando claro que estão felizes por nós dois. Aqui estão as
pessoas que mais são importantes para nós. Família, amigos e alguns
funcionários da fazenda que também fazem parte da nossa história. Os aplausos
preenchem meus ouvidos e é impossível não sentir meu peito transbordar de
amor. E isso se torna ainda maior quando Evan vem correndo em nossa direção,
sendo acolhido pelos braços do pai. Deixo um beijo nos cabelos do meu filho e
me sinto completo por um instante. Coloco minha mão livre em minha barriga,

sentindo Helena fazer sua própria festa, participando fervorosamente conosco


nesse momento.
Logo estamos sendo cumprimentado por todos e o sorriso em meu rosto não

se fecha por um segundo. Após alguns minutos eu tenho que me sentar, já que
começo a sentir um pouco de dor nas costas. Assim que eu me sento na mesa
reservada para os noivos, vejo meus pais se aproximarem. Ao que parece,
depois que Alessandro doou medula óssea para minha mãe, eles tiveram uma
conversa definitiva, coisa que já deveria ter acontecido há anos. Mas antes tarde
do que nunca.
— A festa está linda, Castiel — Glória diz com um sorriso sincero, que eu
retribuo. É bom vê-la com saúde novamente.
— Obrigado! Não é nada muito exagerado, mas é do jeito que eu gosto —
respondo e faço sinal para eles se sentarem.
— Você está lindo também, nem acredito que já se passou tanto tempo e
você está casado — Alessandro diz.
— Por isso temos que aproveitar cada segundo, o tempo e a vida se passam
muito rápidos — respondo e solto um suspiro baixo. Olho atentamente para meus
pais e tomo uma decisão que já venho pensando há muito tempo.
Estendo minhas mãos para os dois e vejo que eles me olham confusos, mas
colocam suas mãos nas minhas.

— Eu quis que estivessem aqui hoje nesse momento importante da minha


vida, não por uma obrigação, mas sim porque eu realmente quero isso. Os dois
me machucaram muito no passado, atitudes que eu jamais repetiria com meus
filhos, mas eu quero deixar isso no passado. É claro que isso nunca vai ser
apagado, pois é impossível. Só que eu quero meus pais novamente comigo.
Quero a mãe que me consolava quando eu tinha pesadelos. Quero o pai que
brincava comigo todos os finais de tarde até os meus dez anos. Quero ter parte
da minha família de novo. Não posso garantir que tudo vai ser perfeito, pois
nada é. E já que não podemos mudar o passado, podemos pelo menos construir
um futuro melhor — falo com a voz um pouco embargada e vejo lágrimas nos
olhos deles.
— Isso quer dizer... — Alessandro começa, mas não termina.
Assinto e deixo uma lágrima escorrer por meu rosto.
— Eu perdoo os dois, mas quero que prometam que vão se lembrar que
Vitória e eu não temos culpa de nada. Não podemos ser jogados de escanteio

quando há um problema que não conseguem lidar. E também espero que vocês
mesmos se perdoem, pois só o meu perdão não adianta de nada — falo sério,
mas com muita sinceridade.
— Nunca mais vamos cometer o mesmo erro — minha mãe diz e eu espero
que isso seja verdade.
Eu me coloco de pé e os dois fazem o mesmo. Me aproximo lentamente dos
meus pais e logo sou envolvido em um abraço que eu senti falta durante anos da
minha vida. Não sei em que momento exatamente Vitória se junta a nós, mas ela
só deixa tudo melhor.
Eu não posso ser hipócrita. Sofri muito com tudo o que meus pais fizeram,
mas bem lá no fundo meu maior desejo era ter minha família unida novamente.
Não tendo meus pais juntos novamente e uma família de comercial de margarina,
mas sim uma família de verdade. Aquelas que tem sim seus problemas, mas
sabem superar eles juntos e com o apoio um dos outros.

***
Noto a expressão emburrada de Maurício em minha direção, logo depois
dele ter “acidentalmente” pegado o buquê que eu joguei. Sorrio cínico para ele e
desço do pequeno palco com a ajuda de Adrian.
— Você não presta, marido. — Ele sussurra em meu ouvido e isso me causa
um arrepio delicioso.
A palavra marido fica tão bem na voz dele.
— O que eu fiz? — pergunto inocente, piscando meus cílios no processo.
— Acha que não vi que era proposital o buquê ir até o Mau? — Ele
pergunta com uma sobrancelha arqueada e dou de ombros.
— Imagina, isso foi somente o destino — sorrio para ele e nos guio para a
pista de dança que já foi liberada.
Vejo toda nossa família e amigos aproveitando bastante, e até as crianças
pequenas. Evan está no chão dançando do seu jeitinho desengonçado enquanto
tem suas mãozinhas seguradas com as de Giovani e Otávio que estão no colo dos
pais.
Sinto Adrian envolver meu corpo com seus braços e me aproximo dele o
máximo que posso, passando meus braços ao redor do seu pescoço.
— Agora você é o senhor D'Ávila. — Ele diz, rente aos meus lábios, tendo
um sorriso imenso no rosto.
— É, eu gosto como soa... Castiel Almeida D'Ávila — sorrio e deixo um
selinho em seus lábios.
Deito minha cabeça em seu ombro e o deixo conduzir meu corpo ao ritmo
da música calma.
— O que acha de nos despedirmos de todos e ir para nossa lua de mel?
Algo me diz que essa é a melhor parte, meu diabinho — Adrian sussurra
novamente e é impossível não me arrepiar.
Seguro um gemido que fica preso em minha garganta e puxo seus cabelos
com um pouco a mais de força.
— Ainda não me disse para onde vamos — falo e me afasto um pouco dele,
para olhar em seus olhos.
— Surpresa. — Ele diz apenas e reviro meus olhos.
— Okay, vamos nos despedir de todos e podemos ir — aviso e ele assente
com um sorriso.
Não demora muito e estamos rodeados de pessoas, nossa família, em frente
ao carro que nos levará para não sei onde.
— Espero que se divirtam... muito! — Angie diz com um sorriso malicioso
e reviro meus olhos.
— E eu espero que cuidem bem do meu filho — aviso e quem revira os
olhos para mim é minha avó.
— Está insinuando alguma coisa, garoto? — Ela pergunta e me olha de cara
amarrada.

— Jamais, vózinha linda — sorrio pra ela e deixo um beijo em sua


bochecha.
Ela faz uma expressão de pouco caso, mas me puxa para um abraço em
seguida. Adrian e eu abraçamos a todos também e quando estou prestes a pegar
Evan no colo para me despedir, quase tenho um infarto com o que escuto:
— Calaio! — Ele diz rindo, como se isso fosse a coisa mais engraçada do
mundo.
Tudo se torna um silêncio enorme ao nosso redor e ao olhar para o lado,
vejo a expressão culpada no rosto de Adrian.

Busco forças de todo o universo para não enforcar meu marido e ficar viúvo
no meu primeiro dia de casado. Solto um suspiro pesado e pego Evan em meus
braços como posso.
— Filho, não pode dizer isso. É feio e vai fazer o Evan ficar feio também.
Você é um menino feio? — pergunto a ele, que balança a cabeça com um
biquinho. — Então, meninos bonitos não falam essas coisas, tudo bem?
— Bem — Evan responde, mas sei que essa palavra vai demorar muito
tempo para abandonar a cabecinha dele.
— Ótimo, agora dê um beijo no papa. O papai e eu vamos ficar alguns dias
fora e você vai ficar com a vovó Clarisse e os titios. — Deixo um beijo em sua
bochecha gorducha.
— Eva fica? — Ele pergunta claramente emburrado e ouço algumas
risadas.
— Sim, mas...
— Mas os papais tem que se divertir, se não rolar uma greve depois disso.
E o Tatá vai ficar com você, anjo — Angie me interrompe e faço uma careta para
ele.
Mas ele não está tão errado em relação à greve. Esse cowboy me paga.
— Não estou gostando de fazer meu filho como moeda de troca, hein? —
Enzo implica e nós rimos.
Passando toda a tensão de minutos atrás, conseguimos nos despedir de
todos e entramos no carro a nossa espera. Evan manda tchauzinho para nós dois e
isso me faz sorrir, mesmo com o coração um pouco apertado pôr o deixar.
E assim que saímos da fazenda, deixo um soco no ombro de Adrian, usando
toda a minha força.
— Oxe! Está maluco, Cas? — Ele pergunta bravo, mas não tem esse direito.
— Se eu estou maluco? Você está! — falo com raiva. — Você ouviu o que
nosso filho está dizendo?
— Sim e não queria que tivesse acontecido. Você sabe que eu jamais xingo
na frente dele, mas eu não percebi... desculpa! — Ele diz arrependido, mas não
será assim tão fácil.
— Hm... — resmungo e cruzo meus braços, olhando para a janela.
Adrian não diz nada por alguns minutos e vejo que o motorista que está
dirigindo claramente prende uma risada.
— É bom rir da desgraça dos outros, né? — falo na direção dele e o vejo
ficar vermelho de vergonha. Ele fica sem graça e mantém seus olhos fixos na
estrada depois disso.
Volto meu olhar para a janela e encosto minha cabeça ali, olhando fixamente
para a paisagem que se desenrola ao meu redor. Não quero ficar brigado com
Adrian justamente no dia do nosso casamento, mas me deixa irritado que ele
tenha cometido um deslize desse com Evan. Eu sempre fui muito chato com
relação a isso, pois acho horrível crianças que aprendem tão cedo alguns modos
sem acordo com sua idade.
Sinto sua mão se entrelaçar a minha e sua barba percorrer meu pescoço,
pinicando o local.
— Me desculpa, de verdade. Eu também não quero que nosso filho aprenda
essas coisas e prometo que vou prestar mais atenção a partir de agora. — Ele diz
baixo.
Por que ele tem que me ganhar tão fácil? Isso não é justo, Deus!
— Promete? — pergunto e me viro em sua direção, ficando de cara com
ele.
— Prometo, meu cabelo de fogo. — Sua resposta vem acompanhada de um
longo beijo.
Sorrio e deixo ele me abraçar, me aconchegado em seus braços.

***
Demora mais ou menos duas horas até chegarmos no local que Adrian
escolheu e percebo ser uma espécie de resort. Já é de madrugada quando o carro
estaciona em frente à entrada e nós saímos do veículo. Adrian pega nossas malas
no carro e vamos fazer o check-in, o que não demora muito. Somos guiados por
um caminho de pedras até nosso quarto, que mais se parece uma cabana. E
confesso que gosto do estilo.
Agradecemos ao funcionário e assim que entramos, fico impressionado. O
quarto mais se parece com uma pequena casa. Há uma sala, cozinha e o quarto,
que é uma suíte. A única divisão é entre o quarto e o resto dos cômodos. Noto
uma pequena varanda e vou até a mesma, abrindo a porta de vidro que dá acesso
até lá. Fecho meus olhos ao sentir a brisa fresca bater contra meu rosto e abro um
sorriso.
— Gostou? — A voz de Adrian pergunta atrás de mim e me viro em sua
direção.
— Eu amei, amor! — sorrio e vou até ele, lhe dando um selinho. — Vou
tomar um banho rápido, estou me sentindo muito suado — aviso e ele assente.
Deixo-o para trás e sigo até a suíte, ficando impressionado com a cama

enorme. Balanço a cabeça por um momento e resolvo me concentrar no meu


banho. Entro no banheiro espaçoso do quarto e tiro minhas roupas, seguindo até
o box. Ligo o chuveiro na água gelada, para aplacar um pouco do calor. Fico
entretido em meu banho, que nem noto quando Adrian se junta a mim. Levo um
pequeno susto ao sentir suas mãos em meu corpo, mas me acalmo quando sei que
é ele.
Ele me vira em sua direção e ataca minha boca em um beijo muito mais que
selvagem. Minhas mãos vão diretamente para os seus cabelos, embrenhando
meus dedos em seus fios macios. Solto um gemido ao que sinto suas mãos
apertarem levemente minha cintura e sinto sua ereção em minha coxa. Mas volto
a consciência rapidamente e afasto ele em seguida. Adrian me olha confuso e
sorrio para ele.
— Hoje não, cowboy — pisco para ele e saio do box, pegando um roupão
limpo na pia. Eu me enrolo nele e pego uma toalha para enxugar meus cabelos.
— Você só pode estar brincando comigo, Castiel. — Ele diz,
completamente sem reação, e sorrio para ele.
— Eu não te perdoei pelo que fez — falo por fim e saio do banheiro.
Com um sorriso no rosto, sigo até minha mala em cima de um sofá no canto
do quarto e pego meus cremes de pele. Demoro alguns minutos passando os
cosméticos em mim, até que vejo Adrian sair com uma cara de poucos amigos do
banheiro. Ele usa somente uma boxer e se joga na cama emburrado. Termino meu
trabalho e guardo minhas coisas, seguindo para a cama. Tiro meu roupão e me
deito completamente nu ao seu lado.
— Você quer me matar? — Ele pergunta sem me olhar e sua voz está
completamente rouca.
— Eu? — pergunto, me fazendo de desentendido. — Nunca, marido —
sorrio e me ajeito melhor na cama.
Apago o abajur ao meu lado e deixo um beijo em sua bochecha.
— Boa noite, amor... durma bem — desejo e ouço um praguejar dele.
— Claro que eu vou dormir bem, se não perder minhas bolas antes. — Ele
resmunga e se deita de costas para mim.
Solto uma risada baixa e fecho meus olhos, me sentindo vingado.

***

Eu me reviro na cama pela milésima vez, sentindo a ereção no meio das


minhas pernas incomodar. Castiel é um diabinho muito astuto. Não basta fazer
greve em nossa lua de mel, ele tem que estar completamente sem roupa ao meu
lado.
Abro meus olhos e me coloco sentado na cama, me sentindo completamente
frustrado.
Deus, eu te juro que nunca mais xingo.
Solto um suspiro e me levanto da cama, seguindo até o banheiro. Eu não
acredito que vou ter que me aliviar com a minha mão justo na minha lua de mel.
Fecho a porta atrás de mim e me encosto na pia. Tiro minha cueca e envolvo
meu pau rígido em minha mão. Um suspiro escapa dos meus lábios ao sentir o
toque da minha própria mão. Fecho meus olhos e imagino que seja a boca
daquele ruivo ao redor do meu membro. Aos poucos aumento o ritmo de minha
mão e não posso impedir os gemidos de escaparem por minha boca. Não sei
quanto tempo exatamente se passa, mas me sinto aliviado quando sinto meu gozo
escorrer por minha mão. Claro que nada se compara quando Castiel está comigo,
mas agora posso dormir melhor.
— Uau, isso foi até excitante. — Eu me assusto com a voz vinda de trás de
mim e abro meus olhos, vendo Castiel encostado no batente da porta.
Obrigado Deus, mais humilhação.
— Haha! — falo sem humor e tiro minha mão do meu membro, a lavando na
pia.
Pego minha boxer no chão e estou prestes a vesti-la, mas a mão de Cas me
impede.

— Acho que já te perdoei depois dessa cena. — Ele sussurra e morde meu
pescoço.

Droga, não ceda agora, Adrian.


— Mas agora eu não quero mais, já me aliviei... com a minha mão, na minha

lua de mel — dou ênfase na última frase e ouço ele soltar uma risadinha.
— Tem certeza? — Ele pergunta e pisca os olhos para mim.

Porra! Ruivo dos infernos.


Se dane! Eu sou um cachorrinho por ele mesmo.
— Você vai me pagar — aviso e junto minha boca na dele.

Passo meus braços por baixo de seu bumbum e faço ele passar suas pernas
ao meu redor. Saio do banheiro e sigo de volta para cama, sem desgrudar nossas

bocas. Deito seu corpo com cuidado sobre a cama e afasto minha boca da sua,
vendo um fio de saliva acompanhar nosso ato. Meus olhos percorrem seu corpo

ainda nu e sorrio. Saio da cama por um segundo, e sigo até minha mala. Procuro
por algo que possa ser útil para o que eu quero e encontro uma camisa de pano

fino. Pego também a garrafa de champanhe esquecida em cima do aparador no


quarto e volto para a cama. Deixo a garrafa de um lado e fico apenas com a

camiseta. Castiel me olha curioso e sorrio para ele.


— Coloque suas mãos acima da cabeça — peço e ele levanta uma

sobrancelha em questionamento. — Só faça — falo por fim e ele revira os olhos,


mas faz o que peço.

Amarro suas mãos acima de sua cabeça com a camisa em um aperto firme,
mas que não o machuque.

— Eu quero que me implore para te tocar e que te foda bem forte, do jeito
que você gosta — sussurro em seu ouvido e fico satisfeito ao ver o arrepio

percorrer sua pele.


— Eu não imploro. — Ele diz superior e isso me faz rir.

— Vamos ver, diabinho — desafio e mordo sua orelha.


Sorrio e me afasto dele, contemplando sua posição por um momento.
Castiel está deitado na cama, lábios levemente abertos e a respiração um pouco

ofegante e suas mãos presas dão um charme a mais. Deixo um beijo em sua
barriga avantajada, implorando para que nossa filha esteja dormindo nesse

momento. Pego a garrafa de champanhe ao meu lado e somente tiro a rolha, já


que ela estava aberta. Me coloco sobre os quadris de Castiel, mas não deixo meu

peso ficar sobre ele.


Derramo um pouco de champanhe em sua boca e em seguida chupo seus

lábios, sentindo o gosto adocicado. Ouço ele gemer e isso me deixa satisfeito.
Tomo sua boca na minha, aproveitando que ele cede à minha língua. Nosso beijo

dura por alguns poucos minutos, já que o ar se faz necessário. Não deixo minhas
mãos encostarem nele, já que vou cumprir minha promessa de não o tocar... pelo

menos não com as mãos. Continuo meu trabalho e desço minha boca por seu
pescoço, deixando algumas mordidas de leve no local. Vou abaixando ainda mais

e deixo uma quantidade do líquido da garrafa se derramar em seus mamilos


inchados e eriçados. Sinto minha boca salivar e não me faço de rogado, atacando

seus mamilos. Deixo minha língua percorrer o biquinho rosado, ouvindo seus
gemidos que me fazem ficar ainda mais duro do que há minutos atrás.

Eu me divirto com seus mamilos, até vê-los avermelhados e lágrimas


saindo pelos olhos de Castiel. Sorrio e me abaixo ainda mais. Deixo mais alguns

beijos em sua barriga, que a cada dia fica ainda mais linda. Chego onde quero e
deixo um beijo em sua glande inchada e vazando pré-gozo. Derramo uma boa
quantidade de champanhe em seu membro e o coloco em minha boca. Sugo sua

carne com vontade e ouço os gemidos dele ficarem ainda mais altos. Percebo
que ele está louco para soltar suas mãos e isso me deixa mais que satisfeito.

Quem disse que eu não sei brincar?


Sinto seu pau ficar ainda mais duro e inchado em minha boca. E o abandono

por um momento para chupar suas bolas pesadas. Passo a língua por meus lábios,
os sentindo inchados, e desço ainda mais em seu corpo.

— Quando vai me pedir? — pergunto sorrindo e ouço ele ofegar.


— Não vou. — Ele diz ofegante, em uma completa bagunça.

Seu rosto está corado, sua boca inchada de tanto morder a mesma e seus
cabelos desgrenhados. Uma linda e perfeita bagunça ruiva. Sorrio e volto ao meu

trabalho. Vejo sua entrada se contrair, antes mesmo que eu possa começar a fazer
algo. Passo minha língua pelo local, sentindo o músculo se contrair mais uma

vez. E para deixar tudo melhor, nada como mais uma dose de champanhe.
Acompanho o líquido escorrer por sua entrada, vendo-o se contrair loucamente.

Isso me faz rir e me aproximo dele mais uma vez. Minha língua percorre toda sua
entrada e deixo algumas mordidas leves em suas nádegas. Tento o penetrar com

minha língua e sinto ele se contrair ao meu redor.


— Me toca! — Ele pede com a voz rouca e baixa.

Paro tudo o que estou fazendo e me levanto para o olhar.

— O que disse? — pergunto, me fazendo de desentendido, e ele me lança


um olhar mortal.
— Me toque com suas mãos e me foda antes que eu mude de ideia. — Ele

diz, ainda tentando ser superior.


Solto uma risada.

— Com prazer, senhor D'Ávila — pisco para ele.


Subo um pouco na cama e pego em suas mãos, desfazendo o aperto da

camisa que o prendia.


— Fica de quatro na beirada da cama e não se toque — mando e ele

assente.
Castiel fica na posição em que pedi e me levanto da cama, logo ficando por

detrás dele. Minhas mãos seguram firme em seus quadris e posiciono meu pau
em sua entrada. Vou o penetrando aos poucos, vendo meu membro sumir em sua

entrada apertada. Não espero muito e saio dele completamente, entrando com
tudo. Ouço ele gritar e sua mão ir diretamente até seu pau. Deixo um tapa em sua

nádega esquerda e ouço ele ofegar.


— Não se toque — falo e continuo estocando nele com força.

— Da próxima, você é quem me paga. — Ele avisa ofegante, mais soltando


gemidos do que falando realmente.

— Com prazer, diabinho — sorrio.


Minhas mãos intensificam o aperto em seus quadris, assim como aumento o

ritmo. Fico satisfeito quando encontro sua próstata e passo a ir cada vez mais
fundo, deixando minha glande tocar esse ponto. Sinto Castiel se contrair ainda

mais ao meu redor, me fazendo sentir dor e prazer ao mesmo tempo. Suas mãos
se agarram fortemente aos lençóis da cama e ele joga a cabeça para trás,
completamente entregue a mim. E não demora para que eu veja uma pequena

poça de gozo se formar na cama. Ele praticamente esmaga meu pau dentro de si e
eu também gozo em sua entrada quando atinjo meu limite.

Suspiro ofegante, sentindo meu corpo totalmente trêmulo e sem forças.


Espero alguns minutos, até que eu me recupero e saio de dentro dele, o deixando

deitar na cama. Castiel não está muito diferente de mim. Seu rosto está
completamente vermelho e alguns resquícios de lágrimas estão por sua face

também.
— Você implorou — provoco, mas ele apenas ri, sem forças.

Sorrio e pego seu corpo com cuidado. O deito no sofá que há no quarto e
corro para trocar os lençóis da cama. Assim que faço tudo, pego ele novamente e

o coloco confortável sobre o colchão. Também me deito ao seu lado e deixo ele

se aconchegar a mim, nem me importando se estamos suados e cheirando a sexo.


O mais importante é que estou com o homem que eu amo em meus braços, sendo

que ele agora é também meu marido.


Solto um suspiro em meio ao sono, sentindo meu corpo completamente
quente. Um calor parece me consumir de dentro para fora e não posso conter um

gemido que escapa por meus lábios. Meus olhos lutam para se abrir, já que o
sono ainda me consome, mas tudo se torna esquecido quando algo molhado
envolve meu membro.
Abro meus olhos, um pouco alarmado, e quase engasgo com a visão que eu

tenho a minha frente. Bem, pelo menos o que eu posso ver com minha barriga já
grande. Adrian está no meio das minhas pernas e sua boca está envolvida em
meu pau enquanto suga com vontade. Outro gemido escapa por meus lábios e
fecho meus olhos novamente, mordendo meus lábios no processo. Minhas mãos
agarram os lençóis da cama e me sinto cada vez mais louco de prazer a cada vez

que meu membro desliza mais fundo em sua boca. Meu corpo inteiro começa a
tremer e sinto algumas lágrimas se desprender dos meus olhos, tamanho o prazer
que sinto nesse momento. Sem contar o fato de estar ainda muito sensível pela
madrugada que tivemos. E juntando todos esses fatos, e ainda a gravidez que
aumenta minha libido, não demora muito para que eu esteja gozando na boca do
meu marido enquanto um gemido muito alto sai da minha boca.
Adrian se joga na cama ao meu lado e sorri para mim, mas tudo o que eu

consigo fazer é buscar por mais ar.


— Bom dia! — Ele diz e seus lábios inchados parecem me hipnotizar.
Puxo ele, usando o resto de forças que ainda tenho, e grudo meus lábios nos
dele, também sentindo a sensação incrível da sua barba pinicar meu rosto. Deus,
obrigado por esse marido incrível.
— Pode me acordar assim todos os dias — falo ainda ofegante, estando
com meus lábios rentes aos seus.

— Ah, é? Não vai rolar nenhuma greve mais? — Ele debocha e o empurro
de cima de mim.
— Idiota! Se bem que eu fui fraco mesmo, mas na próxima não serei —

aviso e me coloco sentado na cama depois de me sentir um pouco mais


recuperado.
— Eu duvido! — Ele desafia e cerro meus olhos em sua direção.
— Quer mesmo que eu retome a greve que comecei? — pergunto com um
sorriso cínico e vejo o dele murchar. — É... foi o que pensei, marido — pisco
para ele e deixo um selinho em sua boca antes de me levantar da cama.
Sigo em direção ao banheiro do quarto e com um sorriso, coloco a banheira
enorme que há ali para encher. Faço minha higiene bucal enquanto isso e quando
a mesma já está cheia, posso entrar e relaxar o meu corpo cansado. Adrian se
junta a mim minutos depois e passamos bons minutos relaxando e trocando
alguns beijos. Assim que terminamos nosso banho, nos vestimos com roupas
confortáveis e frescas, saindo para tomar nosso café da manhã no salão
principal. Caminho de mãos dadas com meu lindo marido, e aproveito para
admirar a paisagem ao nosso redor. Noto que estamos cercados pelo verde da
natureza e o ar puro me faz sorrir. Também posso ver algumas piscinas e
brinquedos aquáticos, coisas que vou passar longe, infelizmente. E pelo que
soube, há uma praia a uns dois quilômetros daqui que é reservada apenas para os

hóspedes do lugar.
— Aqui é lindo. Temos que trazer o Evan da próxima vez — falo sorrindo e
dou uma olhada para o homem ao meu lado.
— Sim, ele vai amar isso aqui — Adrian diz e vejo seus olhos brilharem,
como sempre acontece quando nos referimos aos nossos filhos. E são nesses
momentos que eu tenho a absoluta certeza de que escolhi a pessoa certa para
amar e construir uma família.
Tomamos nosso café em uma mesa ao ar livre e assim que terminamos,
fomos curtir nosso dia. Infelizmente eu não pude fazer as coisas mais radicais,
pois meu marido com certeza teria um infarto, então me contentei em apenas
passar o dia na piscina, tomando drinks sem álcool.
— Você é lindo, sabia? — escuto uma voz ao meu lado e ao me virar,
encontro um cara de uns vinte e poucos anos com um sorriso em minha direção.
— É, eu sei — falo sem muito entusiasmo e olho para o bar, já que Adrian
foi buscar mais um drink para nós. Vejo que meu marido está voltando e olha

para o homem ao meu lado com uma sobrancelha arqueada.


— Estaria melhor se não fosse essa barriga e a aliança no dedo. — Ele diz
e tenho que piscar algumas vezes para processar o que ele disse.
Oh, ele não disse isso.
— O que disse? — arqueio uma sobrancelha e me coloco de pé, apoiando
uma de minhas mãos na minha barriga.
O cara sorri com deboche e nesse momento Adrian para bem atrás dele,
observando a cena.
— Ah, vamos lá... você é lindo, estaria melhor solteiro. — Ele repete e
vejo Adrian dar um passo, mas faço um gesto com a mão livre.
— E você ficaria melhor sem o nariz quebrado — sorrio cínico para ele.
— O q... — Ele não termina sua frase, já que no segundo seguinte meu
punho fechado atinge em cheio o seu rosto.
Acompanho em câmera lenta ele cambalear para trás e cair com tudo na
piscina enquanto segura o nariz sangrando.
— Castiel! — A voz rouca e séria de Adrian chega até mim, mas não ligo
muito, já que minha mão está latejando.
— Ai... isso dói! — falo e balanço minha mão, na tentativa de aplacar a
dor.
— É claro que dói, você socou um cara! — Ele diz indignado e deixa as
bebidas de lado, me fazendo sentar novamente na espreguiçadeira e pega minha
mão na sua.
— Ah, nem vem... se não fosse eu, seria você — resmungo e noto um
sorriso pequeno em seu rosto.
— Mas é claro, ninguém fala uma babaquice daquelas para o meu marido e
sai impune. — Ele diz e deixa um beijo em minha mão e outro em minha boca. —
Vem, vamos colocar gelo nisso antes que comece a inchar.
Eu me levanto novamente com a ajuda de Adrian e nós saímos da área da
piscina, tendo vários olhares sobre nós. E não posso segurar a risada quando
vejo o cara que soquei saindo todo encharcado da piscina. Quem mandou ser
babaca?

***

Nossos três dias no resort se passaram de maneira até calma depois do


incidente no primeiro dia. E foi engraçado quando encontrei o cara novamente e
ele fugiu de mim. Ele achou mesmo que eu não faria nada? Coitado! Mas,
acidentes a parte, nós nos divertimos bastante. Pude aproveitar os dias sozinho
com meu marido. E confesso que esses dias foram um alívio, pois sei que em
alguns meses nossas vidas vão estar corridas com a chegada da nova integrante
da família.
Sinto a mão de Adrian se entrelaçar a minha e abro um sorriso para ele, o
qual ele retribui.
— Pronto para encarar nosso pequeno furacão? — Ele pergunta rindo e isso
me faz revirar os olhos.
— Não fala assim do meu bebê, Evan é um anjo — retruco e ele assente. —
E é bom você rezar para ele ter esquecido aquela palavra — aviso e ele suspira.
— A realidade é... o Evan pode até esquecer, mas você nunca vai. — Ele
diz e deixo um tapinha em seu rosto. Bom menino.
— Que bom que sabe... eu estou grávido — respondo e ele solta uma
gargalhada.
— Essa é sua desculpa para tudo agora? — Ele pergunta com graça e
assinto, fingindo uma expressão séria.
— Sim — falo superior e me aconchego mais a ele no banco de trás do
carro.
Adrian ainda ri, mas deixa um beijo em meus cabelos e me aperta mais em
seus braços.
Chegamos em casa já quase no fim da tarde e não espero muito para descer
do carro e ir ao encontro do meu pequeno esperando na varanda. Solto uma

risada e sinto meu peito se aquecer ao ver Evan batendo palminhas e dando
alguns pulinhos ao ver o pai e eu. Pego meu filho em meus braços assim que
chego até ele e beijo seu pescoço, sentindo seu cheirinho de bebê. É incrível
como podemos amar tanto uma pequena criatura como essa.
— Eva tiste da sodade. — Ele diz com um biquinho que me faz derreter de
amor.
Olho pra minha avó e vejo ela segurar uma risada com a fala do bisneto.
— Oh, meu Deus! O Evan ficou triste por causa da saudade? — pergunto e
ele assente. — Desculpa, bebê, o papai e eu também estávamos morrendo de

saudades de você — falo e encho sua bochecha de beijos, vendo ele soltar uma
risadinha.
E assim que Adrian chega ao nosso lado, eu fico totalmente esquecido, já
que o papai Ad está presente. Evan faz uma festa do colo do pai e isso se torna
melhor quando ele ouve a palavra presente.
Balanço a cabeça em negação e sigo até minha avó, a abraçando.
— Olha essa pele, deve ter curtido muito essa lua de mel. — Ela diz
pegando em meu rosto e me sinto corar de vergonha.
— Vó! — falo com um bico, já que ela ainda aperta minhas bochechas nas
mãos.
— E todos apostando que você faria uma greve. — Ela diz e isso me faz
arregalar os olhos e me afastar.
— Eles o que? Eu não acredito nisso! — falo indignado e ela faz apenas um
gesto de desdém com a mão.
— Até parece que você não conhece a família que tem. — Ela diz sem
muita importância.
Deus, cadê as pessoas normais desse mundo?
— E onde está o Maurício? — pergunto e entro em casa, tirando meus
sapatos no processo, já sentindo meus pés inchados.
— Ah, ele está tirando o atraso de um ano. — Ela responde e eu paro de
andar, me virando lentamente para trás.
Eu vou surtar se ela me disser o que eu acho que ela vai dizer...
— Não me diga que... — começo, mas ela me interrompe.
— Que ele e o Antônio se acertaram? Digo, sim! Já estava na hora, não sei
como foram tão idiotas. — Ela diz e isso me faz dar alguns pulinhos, mas paro
quando vejo Adrian passar pela porta e cerrar os olhos em minha direção.
— Ah, eu estou tão feliz por eles — falo e ela assente.
— Pois, é... já que chegaram, eu me vejo livre do posto de babá. Agora eu
vou assistir meu vampiro bonitão... beijo, crianças! — minha avó acena e sai
pela porta logo em seguida. Ah, dona Clarisse... como não te amar?
Ainda com um sorriso no rosto, eu me sento no sofá e coloco meus pés na
mesinha de centro.
— Por que estava pulando e com o sorriso do Coringa no rosto? — Adrian
questiona com uma sobrancelha arqueada e coloca Evan no chão.
Reviro meus olhos, mas solto uma risada.
— Finalmente Maurício e Antônio se acertaram. Isso não é bom? —
pergunto feliz e vejo uma careta no rosto do meu marido.
Ele solta um suspiro e se joga ao meu lado com uma cara de velório.
— Meu caçula não! — Ele diz em um muxoxo e reviro meus olhos.
— Para amor... Mau está feliz agora — falo e deito minha cabeça em seu
colo, observando Evan subir no sofá e ligar a TV. É, essas crianças ainda me
surpreendem.
— Eu sei, mas o Antônio ainda vai ter uma conversinha comigo. — Ele
reclama e isso me faz rir.
Mas eu entendo o lado dele. Adrian se sente responsável pelo irmão. Até
porque, é assim desde que os pais se foram, mas sei que Maurício está feliz
agora. Afinal de contas, isso é tudo o que ele sempre quis.

***

— Vem comigo. — Adrian estica sua mão para mim, assim que terminamos
de jantar.
Arqueio uma sobrancelha em questionamento, mas pego em sua mão. Evan
está no colo do pai e assim nós saímos da cozinha, seguindo até o corredor que
leva às escadas. Meu marido não diz nada enquanto subimos para o segundo
andar e isso me deixa confuso. Eu me sinto um pouco ansioso e meu coração
acelera no peito quando paramos em frente à uma porta, mais precisamente, no
quarto em que será de Helena. Olho para Adrian, mas ele não diz nada e apenas
sorri. Sua mão se solta da minha e vai em direção à maçaneta da porta, a abrindo
em seguida. Levo minha mão até a boca assim que tenho a visão perfeita do
quarto já completamente montado e sinto às lágrimas descerem por meu rosto.
— Entra — Adrian diz com calma e ainda sem muita reação, dou mais
alguns passos para frente.
Paro no centro do quarto e meus olhos ficam atentos em cada detalhe. As
paredes estão pintadas em um tom clarinho de nude. Os móveis são todos em
madeira, um carpete de cor clara no chão e uma poltrona de amamentação no
canto do quarto. Há alguns ursinhos e miniaturas de cavalos em uma prateleira e
cada detalhe faz meu coração se encher de amor. Está tudo lindo, do jeitinho que
um dia sonhei.
— Como... — começo, mas não consigo terminar a frase, já que minha voz
embarga ainda mais.
— Como fiz tudo sem você perceber? — Ele pergunta e assinto. — Angie
me ajudou muito. Ele me indicou uma decoradora que fez o quarto dos gêmeos e
faz um mês que começamos o projeto. Já estava tudo pronto há uma semana e

eles vieram montar enquanto estávamos fora. Queria que fosse uma surpresa —
diz com um sorriso.
— Obrigado, está lindo! — falo com a voz falha e sigo até ele, o abraçando
com força junto a Evan.
— É bom saber que gostou. — Ele diz e deixa um beijo em minha testa.
Eu me solto dele alguns segundos depois e começo a andar pelo quarto,
passando minha mão em cada detalhe. Ver tudo isso é incrível e me deixa tão
feliz. Infelizmente eu não pude fazer a metade disso para Evan, mas sei que agora
Helena pode ter o que o irmão não teve por um tempo. Sei que coisas materiais
não são importantes e pude dar muito amor ao meu filho, mas me doía muito não
poder lhe dar certas coisas.
— É do Eva? — A vozinha do meu pequeno me tira dos meus devaneios e
solto uma risada.
Eu me viro e vejo Evan com um dos ursinhos em mãos.
— Não, filho, esse é o quarto da sua maninha Helena. Você já tem o seu —
Adrian explica com calma.
— Lena? — Ele questiona e aperta o ursinho contra o peito pequeno.
— Isso, lembra que você escolheu uma roupinha para ela? — meu marido
fala com um sorriso e deixa um beijo na bochecha dele.
— Ah, é? Vocês compraram roupas sem mim? — pergunto e limpo algumas
lágrimas, cruzando meus braços.
Adrian sorri e pega na mãozinha de Evan, indo até a cômoda no quarto. Ele
pega algo lá dentro e entrega para meu pequeno, que em seguida vem correndo
me entregar. Solto uma risada e pego o pequeno conjunto de suas mãozinhas,
deixando um beijo nele em seguida.
Olho para a roupinha em minhas mãos e é inevitável não sorrir com o que
leio ali. O conjunto é composto por um body branco escrito little sister e uma
calcinha/short na cor marrom claro. E mal tenho tempo de me recuperar quando
Adrian me mostra outro conjuntinho quase do mesmo jeito, só que nesse está
escrito a frase daddy's princess.
— Vocês querem me matar — reclamo ao sentir mais lágrimas escorrerem
por meu rosto.
— Não, papa! — Evan diz, quase horrorizado, e isso me faz rir.
Deixo as roupinhas em cima da cômoda e volto até meus amores. Pego Evan
em meus braços e abraço Adrian como posso, me sentindo mais que completo
com a minha pequena família.

— Amo vocês — sussurro com a voz rouca e sinto os braços fortes do meu
marido ao meu redor.
— E nós amamos você. — Ele responde e sinto um beijo seu ser depositado
em meus cabelos, ao mesmo tempo em que Evan também beija minha bochecha.
Sorrio, sabendo que não preciso de mais nada para ser feliz.
Guardo meus materiais assim que a aula termina e me levanto com um
pouco mais de dificuldade agora. Com sete meses de gravidez eu já me sinto uma

bola, e não quero nem pensar quando chegar aos nove. Helena está a cada dia
mais agitada e não vejo a hora de tê-la aqui comigo. Na verdade, acho que todos
da nossa família querem isso, principalmente o papai babão.
Abro um sorriso ao me lembrar de cada reação de Adrian em relação a

minha gravidez. É lindo ver como seus olhos brilham com cada mínimo detalhe e
é maravilhoso sentir o amor dele por todos nós.
Ando meio distraído até a saída da faculdade e me assusto quando sinto
mãos ao meu redor. Meu corpo chega a pular e escuto uma risada conhecida atrás
de mim. Coloco a mão em cima do meu peito acelerado e cerro meus olhos

enquanto me viro até o indivíduo.


— Quer me fazer parir antes da hora, é? — pergunto bravo e Maurício me
lança um sorriso amarelo.
— Desculpa, cunhadinho... só queria te abraçar. — Ele faz um biquinho e
reviro meus olhos.
— Sei, seu loiro oxigenado — implico e ele fecha o sorriso.

— Eu sou platinado, sem graça. — Ele resmunga, mas logo sorri quando vê
algo atrás de mim. — Tchauzinho, meu peão chegou! — Ele diz animado e sai
praticamente correndo.
Eu me viro novamente e vejo Antônio parado encostado ao seu carro,
esperando pelo namorado. Sorrio e aceno para meu amigo. Eu me sinto
imensamente feliz em ver meus dois amigos juntos, não perdendo mais tempo
com bobagens. E como um imã, quando eu desvio meus olhos dos dois, sou

atraído pela visão do meu lindo cowboy. Ele estaciona a caminhonete em frente à
faculdade e me procura com o olhar por alguns segundos, até que me encontra.
Sorrio e sigo em sua direção, notando alguns olhares para o meu marido. É, eu

sei que ele é um deus grego, mas é meu.


— Já chegou chamando a atenção — reviro meus olhos e ouço ele soltar
uma risada, deixando um selinho em minha boca em seguida.
— Eu sou um espetáculo mesmo, mas não se preocupe... sou apenas seu. —
Ele diz convencido e pisca um dos olhos para mim.
— Cowboy idiota — finjo indiferença, mas gosto da sua resposta. — E o
Evan? — pergunto, passando o cinto de segurança por meu corpo, sentindo
incomodar um pouco minha barriga.
— Ele está muito bem com Ana Clara. — Ele responde e dá partida no
carro.
— Eles já são tão amigos, mesmo sendo dois bebês ainda — falo com um
sorriso.
— Evan já está quase com três anos, amor... Não é tão bebê assim, mas é
verdade que eles são bem amigos. Na verdade, espero que nossos filhos e as
outras crianças da família sejam sempre amigos. — Ele diz e concordo.
— Acho que até bem mais que amigos — falo sugestivo, me lembrando da
conexão incrível que há entre Otávio e Evan. Eu sei que eles são apenas crianças
ainda, meus bebês, mas não posso não pensar nisso. — Seria engraçado ter

nosso afilhado como genro, não? — brinco com ele, que solta uma risada
gostosa.
— Definitivamente, mas melhor seria ver o Enzo morrendo de ciúmes.
Otávio e Giovani são os príncipes intocados do papai — Adrian provoca.
— Até parece que você não é igual. Fica aí brincando, mas morre de
ciúmes do Evan. Helena nem nasceu e sei que ela sofrerá também — acuso e ele
solta um muxoxo.
— Eles são meus bebês. — Ele se defende e isso o deixa fofo.
— Eu sei — sorrio e beijo sua mão que está entrelaçada a minha. — Já
vamos para a consulta? — pergunto, mudando de assunto, e ele assente.
— Sim, aí podemos almoçar no shopping. Vamos aproveitar e terminar o
enxoval da Helena, o que acha? — Ele me olha rapidamente e assinto.
— Perfeito, cowboy — concordo.
Nosso caminho até a clínica é feito em meio a conversas aleatórias e

aproveito esse momento para observar meu marido. Seu rosto concentrado
enquanto dirige, as mãos grandes, os cabelos presos em um coque, a barba um
pouco grande e os lábios rosados que me atraem a cada segundo. É, eu
definitivamente tenho um marido lindo. Até porque não é só a beleza externa de
Adrian que me atrai... é tudo, principalmente seu coração.
Chegamos à clínica em pouco tempo e ficamos alguns minutos na sala de
espera, até que sou chamado. Doutor Alexandre nos cumprimenta quando
entramos e como já é de costume, ele me faz algumas perguntas sobre o mês,
mede minha pressão, peso e tudo mais. Em seguida somos guiados para o
ultrassom e mesmo tendo feito o exame algumas vezes, é sempre uma emoção
poder ouvir o coração da minha filha e vê-la também. O exame se passa
rapidamente para o meu gosto e quando percebo, estamos de volta ao
consultório.
— Quero saber se já decidiu a maneira como vai querer o parto, Castiel —
doutor Alexandre diz com calma e aperto a mão de Adrian que está na minha,
pois acabei nem pensando muito nesse assunto.
— Pra ser sincero, eu nem pensei sobre — falo e solto uma risada.
— Eu entendo, isso varia muito de paciente a paciente. Tem alguns que já
decidem quando descobrem a gravidez e outros deixam para a hora mesmo. —
Ele diz com um sorriso calmo. — Mas há algum que chame sua atenção?
Acabo ficando em silêncio por alguns minutos, pensando.
— Bem, na gravidez do Evan eu não pude ter um parto normal. Na verdade,
eu nem vi o momento em que ele nasceu, pois acabei desmaiando e isso me
marcou de certa forma. Dessa vez, eu queria poder sentir tudo, cada emoção. E
de certa forma, acho que o parto natural proporcione isso melhor — falo após
um tempo e olho rapidamente para Adrian, que sorri pra mim. — Tudo bem? —
pergunto a ele.
— O corpo é seu, meu amor. O que você decidir pra mim será o melhor. O
importante é o seu bem estar e da nossa filha. — Ele diz com carinho e isso me
deixa mais seguro.
Volto minha atenção ao médico e ele assente.
— Se é isso que quer, assim será. Sua saúde está boa, a pressão estável e
Helena também está saudável. E como médico, eu sempre sou a favor do parto
natural, pois é o mais saudável para os dois... pai e filho. Sei que alguns tem
medo da dor e tudo o mais, assusta um pouco. Mas seu corpo vai se adaptar e
estar pronto na hora certa e tudo ocorrerá da melhor forma possível. — Ele diz
de forma tranquila e isso me faz sorrir.
— Obrigado! — agradeço, me sentindo ainda mais seguro com a minha
decisão.
Infelizmente eu não pude viver muitas coisas na gravidez do Evan, e agora
eu quero poder aproveitar ao máximo tudo isso. Até porque, as dores também
fazem parte da nossa felicidade. Ninguém será imune a ela, pois é uma coisa que
sempre estará presente em nossas vidas. Algumas infelizmente são ruins, mas
outras são um passo para algo bom e fazem parte de uma evolução.

***

Eu me sento na cadeira que Adrian acaba de puxar para mim e solto um


suspiro de alívio.
— Finalmente! — agradeço e ouço a risada do meu cowboy.
— Tudo isso é vontade de sentar? — Ele pergunta enquanto se senta à
minha frente.
— Não, é vontade de comer mesmo — respondo sincero e ele ri ainda
mais.
Pego o cardápio em cima da mesa e o analiso por alguns segundos, até que
vejo o garçom chegar até nós.
— Já decidiram, senhores? — Ele pergunta de modo educado e assentimos.
— Quero uma lasanha quatro queijos e um suco de limão — Adrian
responde e o rapaz se volta para mim.

— Quero esse lombo recheado ao molho madeira, nhoque com molho


branco, uma salada verde e a lasanha de berinjela. Ah, um suco de maçã verde
também — falo sorrindo e noto o olhar quase horrorizado do garçom. — E não
me olha assim, está vendo essa circunferência aqui? Então, querido... eu como
por duas pessoas.
— Me desculpa, senhor, eu não qu... — Ele diz, mas o interrompo com um
gesto.
— Tudo bem, só traga a comida... estou com fome — o interrompo e ele sai
quase correndo. Amadores...

Balanço minha cabeça em negação e me encosto totalmente na cadeira,


pousando meus olhos sobre Adrian que prende uma risada.
— Coitado, cabelo de fogo. — Ele diz acusador e reviro meus olhos.
— Até parece que você está realmente com dó, e não quase rindo do rapaz.
Me poupe, Adrian D'Ávila — falo e pego meu telefone dentro da bolsa.
— Desculpe, Castiel D'Ávila. — Ele provoca e isso me faz rir.
Vejo uma mensagem da minha avó na tela e desbloqueio o aparelho para ver
do que se trata. E assim que leio a mensagem e vejo a imagem anexada a ela,
solto uma risada. Deus, dona Clarisse é impossível.
Vó Doidinha �� : Olha esse pão de homem, Cas! E ele está me dando
bola, acredita? (13:49)
Vó Doidinha �� : Acho que irei ficar aqui na capital por mais alguns
dias. Me deseje sorte. (13:49)
Você: Vó, como assim a senhora sai tirando foto das pessoas? Que feio
dona Clarisse! Mas sim, ele é um "pão" kkk (14:05)
Você: Ah, então a senhora é dessas? Está certa, fique o quanto quiser por
aí e arraste dona Emília para achar o “pão” dela. �� (14:06)
Balanço minha cabeça e seco uma lágrima que acabou escorrendo devido às
risadas. Deixo o celular em cima da mesa e noto o olhar questionador de Adrian
sobre mim.
— O que foi? — Ele pergunta curioso e também ri, acho que por eu estar
rindo.
— Dona Clarisse, como sempre — falo ainda rindo. — Acredita que ela me
mandou a foto de um senhor? Ela disse que ele é um “pão” e está dando bola
para ela — explico e ele solta uma risada.
— Já disse que amo aquela mulher? Porque eu amo demais. — Ele diz
rindo e isso me faz sorrir, mas agora com carinho.
— Não tem como não amar, amor. E ela é o meu exemplo de vida, acho
linda a forma como ela leva tudo. Mesmo já tendo sofrido algumas coisas, ela
sempre foi forte e jamais perdeu a alegria e o brilho nos olhos. Eu espero que
possa ser metade da pessoa que ela é — falo sincero, estando um pouco mais
sério agora.
Adrian sorri e estende sua mão em cima da mesa, entrelaçando nossos
dedos.
— Você já é uma pessoa incrível. Um homem forte, guerreiro e que jamais
deixou se abater, mesmo tendo vários motivos para isso. E eu tenho muito
orgulho por ter você como marido, por poder ser o homem que você escolheu
amar e por ter uma família com você. — Ele diz olhando em meus olhos e sinto
os mesmos marejados.
— Sem graça, está me fazendo chorar — finjo estar bravo, mas o sorriso
em meu rosto me trai totalmente. — Eu te amo muito, Adrian... não poderia ser
outra pessoa, jamais seria — sorrio para ele, pois essa é verdade... a única que
existe.
Ficamos em nossa bolha de amor, até que o garçom volta com nossos
pedidos. Começamos a comer e me sinto satisfeito ao saborear o gosto incrível
dos pratos que pedi. Nosso almoço se passa de forma lenta, já que nos
envolvemos em uma conversa sobre minha avó e seu possível crush. Assim que
terminamos nosso almoço, nós saímos de mãos dadas pelo shopping, passando
por algumas lojas e aproveitamos o tempo livre para terminar de comprar as
últimas coisas do enxoval de Helena. Até porque, em pouco tempo ela já estará
aqui conosco, completando nossa família. E confesso, não vejo a hora de poder
pegar minha pequena nos braços e poder dar a ela todo o amor do mundo.
Estaciono a caminhonete em frente à creche onde Evan estuda e saio do
veículo. Cumprimento o guarda com um aceno e entro na intuição. Algumas

pessoas acenam para mim, por eu estar aqui todos os dias e sorrio brevemente.
Ouço uma pequena gritaria vinda de uma das salas ali e isso me faz sorrir ainda
mais. E não demora muito para que eu chegue à sala de Evan. Bato na porta e em
poucos segundos ela é aberta por uma das cuidadoras. Assim que me vê, ela

apenas sorri e caminha até meu filho que está concentrando desenhando em um
papel em branco. O sorriso ainda permanece em meu rosto e ele se torna ainda
maior quando meu ruivinho me avista e vem correndo até mim. Eu me abaixo
para o receber e logo ele está em meus braços.
— Estava com saudades, ruivinho? — pergunto com um sorriso e deixo um

beijo em sua testa.


— Eva sodade. — Ele confirma e minha vontade é de morder sua bochecha,
de tão fofo que ele é. Ok, eu reconheço ser um pai babão, mas meu filho é uma
preciosidade.
— Então fala “tchau” para sua professora, que nós vamos matar a saudade
do papa e da Lena também — sorrio e ele acena um tchauzinho para a cuidadora,

que retribui o gesto.


Pego a pequena mochila dele e seguimos até à saída. O caminho acaba
demorando um pouco, já que Evan quase faz um escândalo para ir andando até o
carro. E somando isso a suas pernas curtas, demoramos o dobro do tempo.
Assim que chegamos à caminhonete, o coloco em sua cadeirinha e fecho a porta.
Eu me sento no banco do motorista e dou partida no carro, colocando algumas
músicas infantis para tocar. Observo Evan cantar as músicas do seu jeito e fazer

algumas dancinhas desajeitadas. Solto algumas risadas, mas logo volto minha
atenção para a estrada.
Pego a estrada direto para a fazenda, já que Castiel não veio para a

faculdade hoje, reclamando de algumas dores nas costas. Como ele já está
entrando no oitavo mês, eu queria que ele ficasse mais tempo em casa, mas quem
disse que ele me escuta? Além de ainda continuar estudando, ele também
continua trabalhando junto comigo. Demoro mais ou menos uma hora para chegar
até a fazenda e antes que eu possa estacionar o carro na garagem ao lado, Evan já
está pulando no banco de trás e gritando vários “papa”.
— Wow! Calminha aí, ruivinho furacão — brinco e estaciono o veículo,
saindo em seguida.
Pego Evan no banco de trás e o coloco no chão, vendo-o sair correndo. O
alcanço em alguns passos e tenho que o ajudar a subir os pequenos degraus da
varanda. Ele solta minha mão novamente e entra em casa, já que a porta está
aberta.
— Papa! — escuto a voz infantil gritar empolgada e isso me faz rir.
— Nossa, me sinto até especial assim. — A voz de Castiel diz e sei que
está sorrindo.
Assim que chego à sala, vejo meu marido deitado no sofá enquanto o corpo
pequeno de Evan o abraça.

— Mas você é especial, cabelo de fogo — falo chamando a atenção dele e


ganho um sorriso.
Deixo a mochila de Evan em cima da mesinha de centro e sigo até Castiel,
deixando um beijo em sua testa e outro em sua boca. Eu me sento ao lado dele,
colocando suas pernas em minhas coxas e me inclino para deixar um beijo em
sua barriga volumosa.
— Como está a princesinha do papai hoje? — pergunto rente à sua barriga e
sinto um chute forte em minha mão que me faz sorrir.
É incrível poder sentir minha filha. Poder realizar que tudo está
acontecendo de verdade e não é só um sonho muito bom.
— Ela está ótima, só minhas costelas que não — Cas fala rindo, mas noto
uma careta de dor.
Deixo mais um beijo em sua barriga e me levanto, trocando de posição no
sofá. Encosto minhas costas no braço do sofá e faço Castiel se deitar com as

costas em meu peito. Acaricio seus braços e minhas mãos acabam pousando em
sua barriga.
— Mais tarde eu vou fazer uma massagem em você, tudo bem? — pergunto
e deixo um beijo em seu pescoço.
Ele assente em silêncio e se aconchega mais a mim. Nossos olhares vão
para Evan, que acabou de ligar a TV e está sentado no sofá. O desenho do Bob
Esponja começa a passar e vejo os olhos do ruivinho concentrados ali.
E dessa forma eu passo um bom tempo com minha pequena/grande família.

***

Aceito a ajuda de Adrian para descer da caminhonete e respiro


profundamente, podendo sentir o ar puro. Em poucos segundos vejo meu pequeno
ser humano bem agitado em minha frente e Adrian aparece ao meu lado
novamente. Ele tem uma cesta de piquenique nas mãos e também uma toalha

quadriculada. Pego na mãozinha de Evan e começamos a seguir a pequena trilha


que leva até a cachoeira. Lugar em que fui pedido em namoro e também onde
Evan chamou Adrian pela primeira vez de papai. Então eu percebo que há um
significado enorme aqui nesse lugar.
Abro um sorriso ao chegarmos às margens da cachoeira. Tiro meus sapatos
enquanto vejo Adrian forrar a toalha na areia branca. Sinto a terra úmida sob
meus pés e me sento em seguida, tendo a ajuda do meu marido. Tiro as roupas de
Evan, o deixando apenas de cueca e ele logo pega seus brinquedos.
— Fazia tempo que não vinhamos aqui — falo para Adrian e fecho meus
olhos quando sinto um feixe de luz solar bater em meu rosto, passando por entre
as árvores.
— Isso é verdade, as coisas foram corridas nos últimos tempos. — Ele diz
e tira a camiseta, me dando uma bela visão de seu peito nu. — Está gostando da
visão? — Adrian abre um sorriso e reviro meus olhos.
— É... dá pro gasto — falo com pouco caso e ele solta uma risada.
— Você é difícil, senhor D'Ávila. — Ele provoca e deixa um beijo em
minha bochecha.
— É... dizem isso também — falo sério por um segundo, mas acabo rindo.
Ficamos alguns minutos conversando ali sentados, até que Evan quer tomar
banho e o papai Ad vai o levar. Abro um sorriso, observando meus dois amores
enquanto sinto Helena também fazer parte da festa aqui. Pego meu celular e tiro
algumas fotos dos dois se divertindo na água e algumas minhas também.
Aproveito e entro na galeria do celular, encontrando o álbum de fotos que
fizemos há alguns dias atrás. Adrian insistiu na ideia de que deveríamos fazer
uma sessão de fotos, pois Helena iria amar ver quando for mais velha. E
confesso que também gostei da ideia, então nós três, mais a protagonista Helena,
participamos das fotos que ficaram lindas.
Passo mais alguns minutos olhando as fotos, até que deixo meu celular de
lado e resolvo me juntar aos meus homens. Eu me levanto com um pouco de
dificuldade pela barriga de oito meses e caminho lentamente até eles. Fico mais
no raso, aproveitando que Adrian está ali com Evan também e me divirto com
eles.

***

Solto um suspiro cansado e fecho meus olhos por alguns segundos, me


encostando ainda mais na cadeira. Escuto a porta do escritório se abrir e meus
olhos também se abrem. Abro um sorriso ao ver Maurício.
— Está tudo bem, Cas? — Ele pergunta e noto um pouco de preocupação
em sua voz.
— Sim, só um pouco mais cansado — respondo ainda sorrindo e passo
minhas mãos por minha barriga, em um gesto involuntário.
— Não acha que já está na hora de descansar? Trabalhar e ainda estudar

não dá. — Ele diz em repreensão e reviro meus olhos.


— Eu já parei, só vou entregar mais esses trabalhos e depois só em seis
meses — falo e guardo os papéis em cima da mesa dentro de uma pasta
transparente.
— Ótimo! Eu vou ajudar Adrian durante os meses que você não puder. Eu
sei que você gosta de ser independente e tudo mais, mas é a sua saúde e de
Helena em jogo. — Ele diz com calma e assinto.
— Vocês são tão chatos — falo, mas não é realmente a verdade.

— Você me ama — Mau diz convencido e dá de ombros.


Observo meu amigo por alguns segundos em silêncio, não deixando de notar
o quão radiante ele está. E eu sei bem o porquê disso. Sempre soube que
Maurício seria feliz quando pudesse estar com quem ele ama de verdade.
— E como está indo o namoro? — pergunto sugestivo e abro um sorriso
malicioso.
— Está indo muito bem, obrigado! — Ele diz rindo.
— Não foi exatamente isso que perguntei, Maurício D'Ávila — faço uma
careta e ele ri.
Noto que ele fica um pouco mais vermelho e suspira.
— Não rolou nada desse tipo ainda, Antônio é um cavalheiro. — Ele diz,
claramente apaixonado.
— Se isso fosse um desenho animado, você teria dois corações nos olhos
— falo rindo e ele me acompanha. — Mas me diz, por que não rolou nada ainda?
Ok, Toni é um cavalheiro, mas também é um gato... com todo o respeito.
— É que... — Ele começa, mas para de falar, mordendo os lábios.
E é aí que eu entendo toda a situação.
— Você é virgem — falo, mas não é uma pergunta e ele assente. — Está
certo em esperar o seu tempo então, jamais apresse as coisas — sorrio com
calma para ele.
— Obrigado, Cas! Às vezes eu me sinto um pouco inseguro em relação a
isso, pois o Antônio já esteve com algumas pessoas. Bate um medo de não poder
alcançar as expetativas. — Ele fala baixinho e eu pego em suas mãos.
— Ei, ter medo é normal, mas não deixe ele te dominar. Tenho certeza que
será especial quando acontecer e vocês vão poder descobrir muitas coisas
juntos. Eu mesmo, apesar de ter perdido a virgindade antes do seu irmão, eu
pude descobrir muitas coisas com ele. Apenas relaxe e curta seu namoro sem se
preocupar com isso.
— Eu vou fazer isso. — Ele diz sorrindo, agora bem mais relaxado.
Passo mais alguns minutos conversando com Maurício, até que minha avó
doidinha aparece e nos mostra seu “crush”. E confesso que apesar de ter um
pouquinho de ciúmes, é bom ver minha avó tão feliz. Ela disse que ainda não
estão namorando, apenas se conhecendo e isso nos faz rir.
Adrian e Evan chegam algum tempo depois e nós nos reunimos para o
almoço.
— Amor, já decidiu se vai fazer alguma coisa no seu aniversário? —
pergunto para Adrian quando já estamos todos reunidos em volta da mesa de
madeira.
— Então... eu não gosto muito de fazer festa pra mim mesmo. — Ele
responde com um sorriso amarelo e olho pra ele chocado.
— Ah, não? Só para os outros, então? — pergunto rindo e os outros me
acompanham.
— “Casa de ferreiro, o espeto é de pau” — Ele diz aquele velho ditado e
reviro meus olhos.
— Pelo menos um almoço então, só a gente e seus irmãos. Pode ser? —
Levanto uma sobrancelha em questionamento e ele assente.
— Você que manda, ruivo. — Ele diz brincalhão e toma um gole de suco.
— Ótimo! — sorrio e mando um beijo para ele.
Solto mais um suspiro contrariado, não me conformando que estou sentado
em volta da mesa da cozinha enrolando brigadeiro... ou melhor, tentando. E só

para constar, eu fui obrigado a isso. Coloco meu projeto de brigadeiro na


forminha redonda de cor preta e ergo meus olhos para ver Castiel, que está
despreocupado e com um sorriso no rosto. Ok, talvez essa tarefa não seja tão
ruim, já que posso ver um sorriso nos lábios do meu marido.

— Que vergonha, Adrian... até os brigadeiros do Evan estão mais bonitos


— ouço a voz de Maurício em tom provocativo e reviro meus olhos para ele.
— Evan está gostando do serviço, eu não — resmungo contrariado e sinto o
olhar de Castiel em mim.
— Isso é porque você é um ogro que vive isolado em seu pântano e não

sabe das coisas boas. — Ele diz com bico nos lábios, realçando seu rosto um
pouquinho inchado pela gravidez.
Solto uma risada, pois é impossível me manter sério quando ele me
compara a um ogro. Mais precisamente ao Shrek.
— Você é a coisa boa na minha vida — falo com um sorriso e pisco um dos
meus olhos, vendo-o também sorrir.
— Eva é boa — meu pequeno diz sorrindo, estando todo lambuzado de

brigadeiro, já que ele mais passa nele mesmo do que faz alguma coisa.
— Sim, ruivinho... você é a coisa mais boa da minha vida — falo e beijo
sua mão melecada de chocolate.
— Vocês são tão lindos! — Mau diz em um suspiro e isso me faz rir.
Ele está com o rosto apoiado em uma das mãos e nos observa com uma
expressão de bobo apaixonado. É, eu realmente tenho que admitir que Antônio
faz muito bem ao meu irmão, além de ser um homem que o respeita acima de

tudo. Maurício nos contou toda a história deles há uns meses atrás quando voltou,
e confesso que minha vontade era dar uma surra naquele Victor. Mas acho que o
maior castigo dele é não estar mais com meu irmão.

— Sabemos que somos — Castiel diz convencido e nós reviramos os olhos


para ele, que ri. — Mas não se preocupe, cunhadinho... você também terá a sua
família. — Ele pisca para o meu irmão e isso quase me faz engasgar.
— Opa, opa! Muito cedo para pensar em família, não? Eu sei que você já
está quase se formando e tudo mais, mas ainda é um bebê — falo e isso sai mais
dramático do que eu imaginava.
Maurício solta uma risada e balança a cabeça em negação.
— Para com isso, Dri. E eu não sou mais um bebê, se acostume com essa
ideia. Deixo esse papel para Evan e Helena. — Ele diz com graça e eu solto um
suspiro frustrado.
— Vocês ainda me matam! — Falo em drama e me levanto da cadeira, indo
até a pia e lavo minhas mãos em seguida. — Acho que já podemos ir dormir,
não? Está tarde e amanhã tem o almoço do meu aniversário.
— Pode ser, já terminamos aqui mesmo — Cas concorda e ajeita um último
brigadeiro na bandeja. — Mau, você pode limpar o Evan pra mim? — Ele
pergunta ao meu irmão, que assente com um sorriso.
Eu me aproximo de Castiel e ajudo ele a se levantar da cadeira, já que sua
barriga enorme de nove meses o impossibilita um pouco. Ele lava suas mãos

também, enquanto eu ajeito a pequena bagunça em cima da mesa.


— Aí meu Deus — ouço as palavras saírem pausadamente da boca de
Castiel e quando me viro para ele, vejo o mesmo paralisado no meio da cozinha,
com uma poça de água aos seus pés.
Caralho! Sério que ele fez xixi?
— Cas, você acabou de fazer... — Não continuo minha frase, pois ele me
lança um olhar quase mortal.
— Se você me fizer essa pergunta idiota, eu juro que atiro uma panela na
sua cabeça. — Ele aponta o dedo na minha direção, falando com os dentes
cerrados.
— Tá, então... — Paro de falar quando me dou conta do que está
acontecendo e arregalo meus olhos no mesmo momento que Castiel solta um
gemido de dor.
Porra! Pensa, Adrian, pensa!

Só consigo raciocinar direito quando Maurício volta para cozinha com


Evan nos braços e olha para nós assustado.
— Mau, pega as bolsas que estão prontas no quarto da Helena e coloca elas
no seu carro, a caminhonete não vai ser muito confortável para levar Castiel.
Aproveita e liga para dona Clarisse e nossa família — peço a ele, enquanto sigo
até Castiel e pego ele em meus braços.
— Papa! — Evan diz com uma voz assustada ao ver o pai se contorcendo
de dor em meu colo e solto um suspiro.
— Está tudo bem, bebê... papa está bem — Castiel ainda diz com a voz
calma, mesmo que seu rosto esteja configurado em dor.
Maurício sobe novamente com Evan e começo a andar em direção à porta
com Cas em meus braços. Ando o mais rápido que posso com meu marido no
colo, com ele apertando fortemente meu braço esquerdo, até chegar à garagem e
abrir a porta do carro.
— Acha que aguenta até chegar ao hospital? — pergunto preocupado,
enquanto ouço ele respirar descompassado.
— Sim, as contrações ainda estão em um intervalo bom... eu aguento. — Ele
diz convicto e assinto, deixando um beijo em sua testa.
— Droga! — praguejo quando me dou conta de que estou vestindo apenas
uma bermuda e camiseta. — Amor, eu vou trocar de roupa e já volto.
Castiel assente e saio apressado, entrando em casa novamente. Subo as
escadas correndo e me visto com a primeira calça que vejo pela frente,
colocando sapatos também. Encontro Maurício no meio do caminho e pego as
bolsas de suas mãos, deixando um beijo nele e em Evan.
— Dirija com cuidado, ok? — peço, antes de descer novamente.
Quando chego ao carro novamente, coloco as bolsas de Castiel e Helena no
banco de trás e dou partida no carro. Ligo para doutor Alexandre quando me
sinto um pouco mais calmo e aviso que nossa filha já está querendo vir ao
mundo. Assim que termino a ligação, entrelaço minha mão com a de Castiel,
olhando para ele rapidamente.
— Vai dar tudo certo, nossa Helena vai estar com a gente em pouco tempo
— falo com calma e vejo um sorriso pequeno tomar conta de seu rosto, agora um
pouco suado.
— Não vejo a hora. — Ele diz meio baixo e aperta minha mão com força
quando uma nova contração o atinge.
Sei que toda essa dor vai valer a pena no final, mas se eu pudesse, não o
deixaria sentir nada e passaria sua dor para mim.
Durante o caminho até o hospital vou conversando com Castiel, tentando o
distrair de toda a dor, já que infelizmente o caminho é demorado. E dou graças a
Deus quando estaciono o carro do meu irmão na entrada do hospital e vejo uma
equipe já pronta para receber meu marido. Saio do carro e abro a porta do
carona, ajudando Castiel a sair e se sentar na cadeira de rodas.
— Eu já te encontro, ok? Te amo! — beijo sua mão e vejo ele assentir antes
dos enfermeiros o levar.
Volto para o carro e tiro ele ali de frente, seguindo até o estacionamento.
Pego as bolsas que trouxemos e entro no hospital. Passo na recepção, para fazer
a ficha de Castiel e só então sou liberado para estar junto a ele. Assim que chego
à sala de pré-parto, vejo Castiel deitado em uma maca com um soro no braço,
bem mais pálido que há minutos atrás e com uma expressão de dor. E percebo
que doutor Alexandre também se encontra ali, junto a uma enfermeira.
— Doutor, como ele está? O parto já vai começar? — pergunto apressado,
assim que entro no cômodo, recebendo a atenção dos dois para mim.
— Paciência, senhor D'Ávila, Castiel ainda não está com a dilatação
completa, mas creio que em umas três ou quatro horas nós já possamos começar.
— Ele explica e isso me faz abrir a boca em indignação. Meu marido vai ficar
sentindo dores por horas?
— Adrian, pode vim aqui por favor? — A voz baixa de Castiel chega até
mim e desvio meus olhos do médico.
Solto um suspiro e concordo, tenho certeza que ele sabe que eu falaria
algumas merdas para esse médico. Deixo as bolsas que trouxe em cima de uma

cadeira que há ali e me aproximo de Castiel, pegando em sua mão que está
estendida para mim. Eu me sento na beirada da maca e deixo um beijo em sua
mão.
— Eu escolhi o parto normal, lembra? Sempre soube que seria assim e isso
não me aborrece, amor. Sei que no final tudo isso valerá a pena quando nossa
filha estiver aqui. — Ele diz com calma e concordo com um aceno.
Não sei como é possível, mas parece que eu amo ainda mais esse homem
nesse momento.

— Eu só detesto te ver sofrendo assim. — Sou sincero e vejo um sorriso


pequeno em seu rosto.
— Eu sei, Shrek.
— Vamos deixar vocês à sós e a enfermeira vêm te ver a cada trinta
minutos, Castiel. Sei que está sentindo dor, mas recomendo que caminhe pelo
quarto ou pelo hospital, isso vai ajudar. E qualquer coisa vocês me chamem —
doutor Alexandre diz e assentimos.
Vejo os dois saírem do quarto e a enfermeira aproveita para levar as bolsas
que trouxemos, provavelmente para colocar no quarto em que Castiel ficará
depois com nossa filha. Sinto minha mão ser apertada com ainda mais força
quando Castiel sente mais uma contração e nem me importo com isso. Faço um
carinho em seus cabelos com minha mão livre e em seguida acaricio sua barriga
coberta pela camisola do hospital. Eu me aproximo um pouco e deixo um beijo
em sua pele coberta.
— Ei, filha... está apressada para ver o mundo aqui fora, é? Nós também
queremos muito te ver e poder te ter em nossos braços. Você não faz ideia do
quanto nós te amamos, pequeno raio de sol — falo baixinho contra sua barriga
enquanto acaricio a mesma e ouço Castiel suspirar.
Volto a olhar para meu marido e sorrio para ele.
— Quer andar um pouco pelo quarto mesmo? Eu te ajudo — falo com calma
e ele assente.
Ajudo Cas a se levantar e começamos a andar lentamente pelo quarto, tendo
que parar algumas vezes quando a contração o atingia. Três hora depois, Castiel
já estava com sete centímetros de dilatação quando recebemos a visita de dona
Clarisse, avisando que Evan estava junto com Maurício na casa de Marcos. Isso
nos deixou um pouco mais tranquilos, enquanto aguardávamos o momento tão
esperado.
O tempo pareceu se arrastar e eu me sentia cada vez mais frustrado
enquanto via Castiel sentindo dor. E nunca me senti tão grato quando ele
conseguiu a dilatação total e foi encaminhado para a sala de parto, já com o dia
quase amanhecendo. Tive que me separar dele por alguns segundos, para me
vestir corretamente e fui guiado por uma enfermeira até a sala de cirurgia. Assim
que entro na sala, vejo Castiel já pronto na maca, rodeado por uma equipe
médica. Doutor Alexandre me cumprimenta com um aceno e eu sigo até meu
marido, que tem sua mão estendida para mim assim que me vê.
— Eu te amo — sussurro contra seus lábios e deixo um selinho nele e beijo
sua testa em seguida.
— Será que eu vou conseguir? — Ele pergunta baixinho e pela primeira
vez, vejo medo em seus olhos.
— Claro que vai, você é o meu cabelo de fogo, lembra? A pessoa mais
forte que eu conheço nesse mundo — sorrio para ele.
Deixo meu corpo ereto novamente, mas continuo ao lado de Castiel, com
minha mão entrelaçada a dele e vejo doutor Alexandre se aproximar.
— Castiel, nós vamos começar agora. É importante que você faça força em
sincronia com as contrações, tudo bem? Helena já está pronta para nascer, só
precisa que você dê um empurrãozinho. — O médico diz simpático e meu marido
assente, soltando um suspiro em seguida.
Doutor Alexandre volta para sua posição e eu fico atento a todos os
movimentos no quarto, mais precisamente em Castiel. Sua mão praticamente
esmaga a minha quando a contração mais forte o atinge e ouço ele soltar um grito
enquanto faz força. O suor escorre por sua testa e tento passar a força que ele
precisa através de palavras e meu toque sobre ele. O tempo vai se passando e
fico um pouco preocupado quando vejo Castiel perder a força. Sua respiração
está ofegante e o suor pinga de sua testa, assim como algumas lágrimas descem
por seu rosto.
— Só mais um pouco, Castiel. — A voz do médico diz e eu me abaixo ao
lado do meu marido.
— Eu não tenho mais forças. — Ele diz baixinho e mais lágrimas caem por
seu rosto.
— Eu sei que você consegue, anjo. Nossa filha só precisa que você se
esforce mais um pouquinho... você é forte — falo perto de seu ouvido e beijo sua
testa suada.
Ele respira fundo algumas vezes e em meio às lágrimas, vejo ele usar suas
últimas forças para empurrar mais uma vez enquanto aperta fortemente minha
mão. E dessa vez são minhas lágrimas que caem ao que ouço o som agudo de um
choro. Sinto meu coração bater forte em meu peito e posso dizer que nunca senti
uma sensação tão boa assim na minha vida. Ou melhor, estou sentindo a mesma
coisa que senti quando Evan me chamou de pai pela primeira vez. Pois agora, eu
realmente tenho certeza de que sou pai.
Meus olhos se desviam até o pequeno ser que está nas mãos do médico e
sinto que meu coração vai sair do meu peito. O sorriso que há em meus lábios
pode quase rasgar meu rosto. Eu me abaixo ao lado de Castiel e limpo as
lágrimas de seu rosto, vendo um pequeno sorriso cansado ali.
— Obrigado pelos melhores presentes da minha vida. Nossos filhos e você

são a maior riqueza que eu posso ter — falo, olhando em seus olhos cansados.
— Eu te amo... obrigado. — Ele sussurra e nesse momento nós desviamos
nossos olhares para a enfermeira que traz Helena até nós.
— Tem uma menininha afoita pelos papais. — Ela diz com um sorriso e
acomoda a bebê no peito de Castiel.
Ela está enrolada em uma manta e presto atenção em cada pequeno detalhe
de seu rosto delicado. Os olhinhos permanecem fechados e sorrio ao ver os fios
acobreados em sua cabeça. Nossa foguinho. Observo meu marido pegar Helena
com o maior cuidado do mundo, tendo seus olhos cheios de amor sobre ela.
Nossa filha ainda chora por mais alguns segundos, até que vai se acalmando com
os toques do papa sobre ela. E meu peito se enche de amor quando Cas a encaixa
para dar de mamar a ela, que suga avidamente o bico de seu peito.
— Feliz aniversário, papai! — Cas diz baixinho, olhando para mim, e é
impossível não sorrir e chorar ao mesmo tempo.
Com toda a correria, eu me esqueci completamente do meu aniversário, mas
não poderia ter recebido melhor presente na vida.
Olho para o pequeno ser em meus braços e sinto meu peito se encher de
amor. É incrível como podemos amar alguém sem ao menos a ver na vida, e esse

amor só multiplica quando damos um rosto a tal pessoa e podemos a sentir junto
a nós. Eu amei Helena desde o primeiro segundo em que descobri a gravidez.
Claro, houve um momento de desespero por minha parte, mas não porque não a
queria... pelo contrário, Helena tem um significado enorme em minha vida, assim

como Evan.
Evan me deu forças quando eu fui deixado de lado pelas pessoas que
amava. Se eu aguentei tudo aquilo foi por causa dele, porque eu queria ser o
melhor para ele. E quando o segurei em meus braços pela primeira vez, tudo
valeu a pena. E com Helena não é diferente. Ela é o símbolo de uma nova vida, o

fruto de um amor que eu jamais pensei em ter. Tanto pra mim quanto para Adrian,
ela realmente significa a luz.
Sou tirado dos meus pensamentos quando vejo Helena se mexer em meus
braços e aos poucos seus olhos vão se abrindo, me dando a linda visão deles.
Abro um sorriso e sinto o braço de Adrian passar ao meu redor enquanto ele
também está olhando apaixonado para nossa pequena.
— Verdes... os olhos dela são verdes — meu marido diz ao meu lado,

parecendo um bobo. — Oi, filha!


Sua fala me faz sorrir ainda mais e vejo seu dedo passar delicadamente
pelo rosto dela. Deixo um beijo em seus cabelos ralos, que são exatamente da
mesma cor do meu. Helena é perfeita em cada mínimo detalhe e isso me faz
tornar ainda mais babão.
— Você ainda não a pegou, amor — falo em tom baixo e desvio meus olhos
para meu marido, que está sentado na cama hospitalar ao meu lado.

Adrian parece realmente pensar sobre isso e me olha com as sobrancelhas


franzidas.
— Eu tenho medo de machucar ela. Olha o meu tamanho e olha o quanto ela

é pequena. — Ele diz, levando isso realmente a sério e reviro meus olhos.
— Para de ser bobo, Shrek... você não vai machucar nossa filha. Você é pai
dela também, amor, é seu direito a pegar e sentir ela junto de você, ainda mais
hoje que é um dia duplamente feliz — falo com calma e sorrio para ele, deixando
um beijo em seu ombro coberto pela camiseta.
Adrian me olha por mais alguns segundos e desvia os olhos para nossa
pequena. Ele solta um suspiro e estende seus braços para pegá-la. Prendo meus
lábios para não rir, já que é muito fofo ver meu marido de dois metros de altura
segurando um bebê tão pequeno em seus braços, tendo medo de fazer qualquer
gesto mais brusco e machucá-la.
Observo os dois juntos, com Adrian andando calmamente pelo quarto
enquanto fala bem baixinho com a bebê. Sinto meu peito se apertar, mas é algo
bom. Eu sei o quanto esse momento significa para ele, o quão especial e lindo
está sendo.
Somos tirados momentaneamente desse momento quando uma enfermeira
entra em meu quarto, trazendo o almoço e junto com ela está Marcos, vestido
com um jaleco branco por cima da roupa.
— Oh, aqui está a nova integrante da família D'Ávila — Marcos diz

animado e deixa um beijo em minha bochecha antes de seguir até o irmão que
está segurando Helena.
Sorrio por um momento, mas em seguida dou atenção para a minha comida,
já que estou morrendo de fome. Desde que entrei em trabalho de parto, às onze
horas da noite, eu não comi mais nada.
— Obrigado! — agradeço a enfermeira que coloca a bandeja em cima de
uma mesa própria. Ela sorri e avisa que volta minutos depois. — Você bem que
poderia me trazer uma quentinha do restaurante que tem na esquina, né,
cunhadinho? — falo com uma careta em direção a Marcos, logo após provar a
comida insossa do hospital.
Meu cunhado solta uma risada alta e isso acaba assustando Helena, que
solta alguns pequenos resmungos, estando agora no colo do tio.
— Infelizmente eu não posso, Cas. Mas me diz, como está se sentindo? —
Ele pergunta, um pouco preocupado agora.

— Depois de dormir a manhã inteira eu me sinto um pouco melhor —


respondo e me preparo psicologicamente para comer a sopa sem gosto a minha
frente.
— Isso é bom, fico feliz que tenha escolhido o parto normal... é a melhor
opção. Em alguns dias você estará novinho em folha. — Ele diz com humor e
assinto, fazendo mais uma careta.
— Está tão ruim assim? — A pergunta vem de Adrian, se referindo a
comida, e levanto uma sobrancelha em sua direção querendo dizer “o que você
acha?”.
— Eu quero a minha vó! E meu pequeno também — finjo um pouco de
manha enquanto termino de comer o projeto de sopa.
— Você não tem mais a desculpa de estar grávido — Adrian provoca e
mostro língua a ele.
Termino meu martírio de comer enquanto observo meu marido e seu irmão
conversando. Assim que termino, Marcos se despede de nós, alegando que tem
trabalho a fazer. Nos encontramos sozinhos novamente no quarto e poucos
minutos depois a enfermeira aparece para recolher a bandeja.
— Acho que o tempero deveria melhor um pouquinho, hein? — falo a ela
quando já está saindo do quarto e escuto sua risada.
Falei alguma piada por acaso?
Solto um suspiro e volto a me deitar de uma forma confortável na cama, já
que sinto um pouco de dor. Observo Adrian colocar Helena no berço que há no
quarto, a poucos centímetros de mim. Nossa pequena está dormindo novamente e
sorrio com a imagem dela toda vestida em um macacão branco com detalhes
vermelhos. Meu marido caminha até mim e se senta novamente ao meu lado.
Sinto um beijo ser deixado em minha testa e fecho meus olhos por um momento,
apenas apreciando o toque dele.
— Hoje é um dos dias mais felizes da minha vida. — Ele diz em tom baixo
e sorrio por um instante.
— Da minha também — respondo quando abro meus olhos.
Entrelaço nossas mãos e deixo um beijo nas costas da dele.
— Eu já amava Helena desde o início, mas quando a segurei pela primeira
vez, me fez sentir o pai dela realmente. É uma sensação tão especial e
indescritível como o amor pode crescer tanto em apenas alguns poucos segundos.
— Ele começa a falar e sei exatamente o que ele sente. — Deus, eu nunca achei
que fosse ter filhos novamente. Mas hoje, vendo Helena e já tendo o Evan, eu
vejo como a vida pode nos surpreender de várias formas diferentes. E tudo isso
veio através de você... Então, muito obrigado por tudo.
Sinto meus olhos arderem e não posso controlar algumas lágrimas que
rolam por meu rosto. Abraço Adrian como posso e deito minha cabeça em seu
peito, ouvindo as batidas ritmadas do seu coração.
— Você não tem o que me agradecer, pois tudo o que tenho hoje também é
graças a você. Eu estar acreditando no amor novamente foi sua culpa. Evan ter
um pai maravilhoso é porque você entrou em nossas vidas. E se Helena está aqui
hoje, é apenas para simbolizar o nosso amor e o quanto nós crescemos juntos.
Sinto um beijo sendo dado em meus cabelos e ouço uma risada baixa de
Adrian.
— Essa gosta de trazer surpresas nos aniversários, não? — Ele brinca, se
referindo a Helena. — Primeiro nós descobrimos sobre sua gravidez no seu
aniversário. E não estando satisfeita, ela ainda nasceu no meu aniversário.
Solto uma risada também e assinto levemente com a cabeça.
— Ela sempre está sendo nosso presente.
Não temos muito tempo para conversar mais, já que a porta do quarto é
aberta e sorrio ao ver minha avó trazendo Evan no colo. Melissa vem bem atrás
dela e traz Ana Clara também.
— Até que enfim, pensei que iria mofar aqui sem receber uma única visita
— finjo drama e vejo minha avó apenas revirar os olhos para mim.
— Se ficar com esse draminha, eu viro mesmo as costas e te deixo

mofando. — Ela responde, sendo um doce como sempre.


— Credo, vó! Pensei que me amasse — coloco a mão no peito e ouço as
risadas dos outros presentes no quarto.
Deixo minha avó totalmente de lado quando ouço a vozinha animada do meu
bebê. Evan desce do colo da bisa e vem correndo até a cama, dando alguns
pulinhos, querendo subir. Adrian ri um pouco da situação do nosso filho, até o
pegar e colocar ele em cima da cama. Abraço meu pequeno e deixo beijos por
seu rostinho, escutando-o rir. Assim que se afasta um pouco, Evan olha para

minha barriga, ainda inchada, mas sem o mesmo volume de antes.


— Dê bebé? — Evan pergunta com uma carinha fofa de confusão, que quase
me faz o apertar em meus braços.
— Você quer ver o bebê, amor? — Adrian quem pergunta e Evan assente,
batendo palminhas.
Com um sorriso maior que o rosto, Adrian pega Evan nos braços e caminha
com ele até o pequeno berço. Vejo os pequenos olhinhos do meu filho se
arregalar e isso me faz sorrir. Melissa e minha avó também estão em volta do
berço, olhando a mais nova integrante da família.
— Sua sorte é que ele não vai te fazer a famosa pergunta de onde os bebês
vêm, não é mesmo? — minha avó pergunta, me olhando de relance, e isso quase
me faz engasgar com o ar.
— Vó! A senhora está impossível hoje — reclamo.
— Ela é linda, Cas..., mas tem os traços de Adrian, apesar dos cabelos
ruivos. — Melissa quem fala e isso me faz sorrir.
— Sério? — A pergunta vem de Adrian, que tem o sorriso mais idiota do
mundo no rosto.
E ao contrário de muitos, eu não me sinto chateado por isso. Eu notei
mesmo que os traços de Helena estão mais próximos a Adrian e isso me deixa
ainda mais feliz.
— Isso é verdade, menino. Helena é idêntica a você quando ainda era bebê,
tirando os cabelos — minha avó concorda e me olha por um momento, como se
pedisse autorização para pegar Helena. Concordo com um aceno e em seguida
vejo ela pegando minha filha.
— Du Eva! — meu pequeno diz com um bico, apontando para a irmã no
colo da bisavó.
Isso me faz rir, pois eu vejo que meu filho está se tornando cada vez mais
possessivo. Mesmo nem sabendo qual o real significado dessa palavra.
— Dois Adrian's na minha vida eu não aguento — reclamo e escuto meu
marido rir.
— Isso aí, ruivinho... Helena é só nossa, já comece a cuidar dela — Adrian
diz provocativo e reviro meus olhos.
Balanço minha cabeça em negação e apenas observo os demais ao meu
redor, eufóricos com a chegada do meu raio de sol. É uma sensação tão boa ver o
quanto nossos filhos são amados por outras pessoas.
— Amor, você avisou aos meus pais do nascimento de Helena? — pergunto
ao meu marido quando ele se aproxima de mim enquanto o resto está ao redor de
minha avó que segura Helena, sentada em uma poltrona no canto do quarto.
— Avisei sim, Cas. Sua mãe disse que estava vindo e seu pai vem mais
tarde, já que não pode ter muitas pessoas no mesmo horário. — Ele responde e
assinto.
Eu quero muito que meus pais façam parte desse momento, como eles não
fizeram antes. E já que estamos nos dando uma nova chance, é bom que eles
façam parte de tudo isso. Aliás, são minha família também. Abro minha boca
para falar com Adrian, mas nada sai dela, já que somos interrompidos pela porta
do quarto sendo aberta.
Meus olhos avistam Ângelo, Enzo, os gêmeos, Antônio e Maurício que me
olha com culpa nos olhos.
— Como assim minha sobrinha nasce e eu não sou avisado? Não por vocês
— Ângelo fala indignado e prendo meus lábios para não rir do meu melhor
amigo.
— Oi, maninho! — sorrio para ele que falta me assassinar com os olhos.
Nada como a família estar completa.
Meu quarto no hospital vira quase uma zona de guerra quando todos os
doidos, integrantes da minha família, se juntam. Helena acaba acordando

assustada com toda a falação ao seu redor e isso serve para que eles morram
ainda mais de amor por minha pequena. É, eu sei... ela é muito linda mesmo, mas
vamos combinar, não é? Os papais são lindos também, então tinha a quem puxar.
— Ela é linda, Cas! — Angie diz em um suspiro ao meu lado e me abraça.

Sorrio e abraço meu amigo mais forte, deitando minha cabeça em seu
ombro.
— Só que eu ainda estou bravo com você... como pôde ter me deixado de
fora? — Ele pergunta chateado.
— Desculpa, Angie. As últimas horas passaram como um borrão para mim

e tudo o que me importava era Helena. Sabe que você faz parte de tudo isso, é
minha família, jamais te deixaria de fora — falo sincero e ele parece considerar
minhas palavras.
— Só vou perdoar porque sou uma pessoa evoluída e te amo. — Ele
resmunga e isso me faz sorrir.
— Eu também te amo — falo e deixo um beijo em sua bochecha.

Ficamos em silêncio por alguns segundos, apenas ouvindo as conversas ao


nosso redor enquanto o foco principal é a princesinha da família.
— Percebeu que Evan até se esqueceu da irmã? — Angie pergunta com
graça e meus olhos vão até meu filho, que está brincando com Otávio em seu
carrinho. O bebê de nove meses deixa algumas risadinhas para o meu ruivinho,
que também sorri.
— Esses dois me surpreendem, sabia? Eu nunca vi o Evan se apegar tanto

assim em outra criança — observo e meu amigo solta uma risada.


— Já sei o que podemos fazer no futuro quando a Lena for namorar — meu
amigo começa e me preparo psicologicamente para o ouvir, já rindo em

antecipação.
— O que, Angie? — pergunto, incentivando seus planos.
— Vamos distrair o Evan com Otávio, óbvio! É só o Tatá dele aparecer que
ele esquece do mundo — Angie responde e ele não está muito errado.
Solto uma risada e vejo os olhos questionadores de Enzo e Adrian sobre
nós dois.
— Ok, mas tem o maior problema... e o Adrian? — pergunto ainda rindo e
ele revira os olhos.
— Aí o trabalho é seu, meu amigo. — Ele fala com pouco caso.
Deus, minha filha acabou de nascer e meu amigo maluquinho já está
planejando o futuro dela.
— Vou fingir que nem estou ouvindo as ideias horríveis de vocês — Adrian
chama nossa atenção e mordo meus lábios para não rir ainda mais.
— Ainda por cima usando meu filho com uma isca — Enzo acrescenta,
balançando a cabeça em negação.
— Não se preocupem, meninos — minha avó fala com um sorriso e abraça
Enzo e Adrian pelo pescoço. — Eu mesma me encarrego de ajudar meus bisnetos

a namorar. — Ela provoca e é impossível não soltar uma risada quando vejo as
caras emburradas dos nossos maridos.
— Vó, já disse que a senhora é a melhor? — Angie pergunta enquanto faz
um coração com as mãos em sua direção.
— Eu sei que sou, querido. — Ela diz com desdém.
Balanço a cabeça em negação e deixo meus olhos se desviarem deles. Abro
um sorriso ao ver Maurício segurando Helena, enquanto Antônio está ao seu
lado. Os dois sorriem igual bobos para a bebê e dizem algumas palavras
baixinho.
— Ei cambada, silêncio! — chamo a atenção das pessoas no quarto, daqui a
pouco serão todos expulsos, até eu se duvidar. — Queremos fazer um anúncio —
falo e chamo Adrian com a mão.
Meu marido vem até mim e Angie se levanta, deixando-o se sentar ao meu
lado. Olho para ele rapidamente, que entende o que eu quero fazer e sorri.
— Mau, Toni, vocês podem trazer Helena até aqui? — pergunto aos dois,

que assentem e também se aproximam. Maurício faz menção de me entregar a


bebê, mas eu nego.
— Castiel e eu conversamos bastante sobre quem escolheríamos para serem
os padrinhos de Helena e chegamos a uma conclusão. Há várias pessoas
maravilhosas ao nosso redor que sem dúvidas seriam ótimos padrinhos, mas há
duas pessoas em especial — Adrian começa a dizer e sorri para mim, para me
incentivar a continuar.
Meus olhos se focam no casal à minha frente e não tenho dúvidas da nossa
escolha.
— Maurício e Antônio, vocês aceitam ser os padrinhos de Helena? —
pergunto aos dois, que me olham com surpresa.
— Nós? — Toni é o primeiro a se manifestar, como se não acreditasse em
nosso convite.
— Sim, vocês. Adrian e eu sabemos que não há pessoas melhores para esse
cargo. Tenho certeza que Helena terá um exemplo lindo de pessoas boas ao lado
dela, pois vocês são incríveis... então, só me digam que sim — falo com calma e
sorrio para os dois.
— É claro que nós aceitamos, Cas — Mau responde e vejo uma lágrima
escorrer por seu rosto.
— Ótimo, venham me abraçar agora — solto uma risada e abro meus
braços para os dois.
Antônio é o primeiro a me abraçar e diz inúmeros “obrigado” a mim e
também Adrian. Em seguida vem Mau, que deixa Helena sob os cuidados de
Angie. Um clima maravilhoso se instala entre nós após esse momento e eu não
poderia estar me sentindo mais feliz.
Meia hora depois todos foram embora, só restando Adrian, Helena e eu no
quarto. E como eu ainda me sinto bem cansado por causa da noite em claro,
acabo dormindo mais um pouco.

***

Acordo algumas horas mais tarde, ouvindo uma conversa baixa ao meu
redor. Abro meus olhos com um pouco de preguiça, que entram em foco após
alguns segundos. Vejo meus pais, Jaqueline e Vitória.
Fico em silêncio, apenas os observando. Minha mãe está com Helena nos
braços e sorri carinhosamente para a bebê. Sinto uma sensação nova em meu
peito, estando feliz que eles estão aqui. Meu pai e Jaqueline são os primeiros a
me notarem acordado. Eles sorriem e vem até mim.
— Parabéns, filho, ela é linda — meu pai diz sorrindo e eu sorrio também.
— Obrigado, pai — agradeço a ele, que me olha sem qualquer reação.
Essa é a primeira vez que o chamo de pai em anos e somente sinto que é a
coisa certa a se fazer. Eu já perdoei meus pais, estamos construindo uma nova
história, então vamos fazer tudo direito.
— Os cabelos ruivos são bem fortes nessa família, não? — Jaqueline diz
com graça, notando o silêncio que se instalou entre nós.
— A genética é forte.
— Hmm... nós trouxemos uma roupinha para ela — meu pai diz após alguns
segundos.
— Não precisava, de verdade. — Olho para ele, que apenas sorri.
— Nem adianta falar, Cas. Seu pai se apaixona em cada roupa de bebê que
vê. Não se assuste quando receber ainda mais — Jaqueline diz e só há humor em
sua voz.
— Estou vendo que terei bastante trabalho em parar os avós, tios e pai
babão que Helena tem — acuso, mas não estou realmente chateado. É bom ver o
amor deles sobre ela.
Logo minha mãe também me nota, junto a minha irmã, e elas vem até mim.
Sorrio para elas e recebo Helena em meus braços, que começa a chorar. Pego
meu pequeno embrulho de amor nos braços e sorrio para ela, a balançando
levemente para a acalmar. Lena ainda solta mais alguns murmúrios, mas isso

acaba quando sua pequena boca entra em contato com meu peito. Deixo-a mamar
o quanto quiser enquanto a observo. Se tem uma sensação que é maravilhosa, é
poder alimentar seu filho. É um momento só seu e do seu bebê, uma conexão
incrível.
— Estou feliz por vocês, Castiel. Sua família a cada dia fica ainda mais
linda e é possível sentir o amor — ouço a voz da minha mãe e levanto minha
cabeça, a olhando.
— Vocês também são minha família, mãe — respondo e vejo seus olhos se
encherem de lágrimas.

— É bom saber disso. — Ela responde com um sorriso.


Olho pelo quarto e só então noto que Adrian não está aqui.
— Onde está o Adrian? — pergunto a ninguém em específico e volto a
olhar para minha filha, que agora já está dormindo.
— Ele foi comer, o coitado estava morando de fome — Vitória quem
responde e se senta ao meu lado. — Nossa, eu estou apaixonada por ela.
— Faça uma — pisco para ela, que balança a cabeça com os olhos
arregalados.
— Muito obrigada, mas não. Acho que me contento apenas com meus
sobrinhos, não penso em ter filhos. — Ela diz séria.
— Cada um com sua opinião — sorrio para ela.
Afasto Helena do meu peito e coloco a alça da camisola novamente, me
cobrindo. Coloco a bebê encostada em meu ombro e deixo algumas batidinhas
em suas costas para fazê-la arrotar.
— Filhos são uma benção, mas também temos que saber zelar por eles —
Jaqueline fala de repente e sinto um pouco de pesar em sua voz.
— É tudo o que quero fazer, ser um bom pai para os meus filhos e saber os
educar da maneira certa — falo com calma e sorrio ao ouvir o som baixo do
arroto de Helena.
Entrego minha filha para meu pai a colocar no berço e fico mais alguns
minutos conversando com todos, até que o horário de visitas se encerra.

***

Dois dias depois...

Estaciono o carro em frente nossa casa e olho de relance para Cas, antes de
descer. Dou a volta no veículo e ajudo meu marido a descer e em seguida abro a
porta traseira, tirando o bebê conforto com Helena. Sorrio ao ver minha pequena
dormindo tranquilamente e abaixo o protetor para o sol da manhã não bater em

seu rosto sereno. Cas e Helena receberam alta hoje, depois de dois dias de
internação.
Entrelaço minha mão livre com a do meu marido e subimos os pequenos
degraus da varanda, entrando em casa. Nossos amigos, mãe e irmã de Castiel
foram embora ontem, então a casa está calma. É possível ouvir o barulho da TV
ligada e é para a sala que vamos. Assim que chegamos, vejo dona Clarisse e
Evan sentados no sofá, sendo que meu filho está deitado com a cabeça no colo da
bisa.
— E essa é a recepção que temos — Castiel diz em drama e solto uma
risada, o que acaba chamando a atenção dos dois seres na sala.
— Papa! Papai Ad! — Evan diz animado e começa a pular no sofá.
Sorrio e deixo o bebê conforto em cima do sofá livre.
— A Helena também, ruivinho — falo para ele, que arregala os olhinhos.
Em poucos segundos Evan desce do sofá, meio desajeitado, e corre até a
irmã, se debruçando sobre o bebê conforto.
— Cuidado, amor, ela ainda é muito pequena — Cas diz com calma e
coloca Evan sentado no sofá, bem ao lado da irmã.
— Ninha du Eva — meu pequeno diz sorrindo e meu peito se enche de
amor.
— Isso aí, filho... maninha do Evan — sorrio pra ele e deixo um beijo em
sua bochecha.
— Aí, vocês me matam de amor — escuto dona Clarisse resmungar e isso
me faz rir. — Se juntem, vou tirar a primeira foto da família. — Ela diz
entusiasmada e não há como dizer não.
E atendendo ao pedido de dona Clarisse, Cas pega Helena do bebê conforto
e se senta ao lado de Evan no sofá. Pego meu filho no colo e me junto a Castiel,
o abraçando de lado. E dessa forma nós sorrimos para a câmera do celular,
escutando o som da captura da foto em seguida.
E eu não poderia pedir nada mais na vida, já que ela me deu bem mais do
que um dia imaginei ter.
Duas semanas depois...

Respiro fundo e entro na sala destinada às visitas. Observo o lugar ao meu


redor e sinto um calafrio passar por meu corpo ao notar o quanto esse lugar é
totalmente sem vida. As paredes apenas em concreto deixam tudo ainda mais frio
e mórbido. Mas afasto qualquer outro pensamento relacionado ao lugar e me

sento em uma das duas cadeiras postas ao redor de uma mesa ao centro da sala.
Há um guarda bem ao lado da porta e sua expressão é impassível, como se não
existisse mais ninguém no ambiente. Aperto minhas mãos para conter o suor e a
tremedeira que se instala, mas isso não adianta muito quando ouço o barulho da
porta do outro lado da sala se abrir.

Levanto minha cabeça e rapidamente meu olhar se cruza com o de Débora,


que me olha com um misto de surpresa e desdém.
Bem, alguns devem pensar que eu sou louco por estar aqui, visitando uma
pessoa que quis me ferir de alguma forma... e eu acho que eu sou mesmo, mas eu
realmente precisava estar aqui. Já faz um bom tempo que eu penso em ver
Débora, não por compaixão, mas sim para olhar em seus olhos e ver se valeu de
alguma coisa tudo o que ela fez. Apesar de estar em uma prisão psiquiátrica, eu

tenho certeza que Débora sempre soube muito bem as consequências dos seus
atos. Sei que ela está aqui apenas porque Adrian quis isso, foi como uma
vingança por tudo o que ela nos fez.
— Irmãozinho, que surpresa. — Ela diz com puro deboche na voz e é posta
sentada em minha frente pela guarda que a acompanha.
— Imagino que seja, mas te garanto que não vim porque senti sua falta —
sorrio para ela, demonstrando o mesmo deboche e frieza.

— Assim você me magoa, Cas. — Ela finge uma expressão triste e coloca
uma das mãos em cima do peito.
Reviro meus olhos e me ajeito melhor na cadeira, mesmo que tudo aqui me

deixe desconfortável.
— Por que fez tudo aquilo, Débora? Por que tentou matar o meu filho? Você
não pode ser tão sem sentimentos assim, pode? — faço as perguntas a ela, que
apenas me observa.
Ela não diz nada por um tempo, mas eu observo seus olhos que demonstram
um brilho de maldade.
— Por que eu não faria? Você e aquele garoto chegaram estragando tudo.
Primeiro Adrian, que deveria estar comigo, e depois meu pai também. Eles são
meus, você não deveria aparecer e estragar tudo! — Ela diz e sua voz se eleva
alguns tons por causa da raiva.
— Seus? Eles não são objetos, nem meu pai e muito menos Adrian. Você
acha mesmo que o que você sente é amor? Pelo menos não ao meu marido, isso é
apenas uma obsessão de uma garota mimada que sempre teve tudo o que quis —
falo e seus olhos parecem inflamar de raiva.
— Como seu marido? Você não... — Ela começa, mas eu nego.
— Sim, meu marido. As pessoas se casam quando se amam, quando possui
um amor muito forte para uni-las. E não me venha dar seus ataques de pelanca.

Você sempre soube que Adrian não te amava, mas ao invés de seguir sua vida
com seu amor próprio, resolveu se vingar por um motivo bobo. Eu realmente não
entendo como você se tornou essa pessoa, nem te conheço há tanto tempo, mas já
sei o quanto você não presta. Você sempre teve de tudo, Débora, enquanto meu
pai te dava amor, carinho e educação... minha irmã e eu estávamos sozinhos com
minha mãe.
— Pelo menos algo você sofreu, não é? Seu pai preferiu a mim do que
você. — Ela diz maldosa, mas isso não me abala.
— Pode até ser por um tempo, mas isso não me abala mais. Eu posso ter
passado anos da minha vida sem o amor do meu pai, mas resolvi dar uma chance
para ele novamente, assim como minha mãe. Tenho minha família de volta
enquanto você está presa aqui dentro e ainda vai permanecer por um bom tempo.
— Olho em seus olhos e se olhar matasse, eu já estaria em um caixão.
— E qual é sua intenção vindo aqui, jogar na minha cara tudo o que
conseguiu? — Ela zomba e solta uma risada sem humor algum.

— Não, não sou assim. Eu só vim aqui, pois precisava encerrar a página em
aberto que você era na minha vida. Durante esses meses, minha maior vontade
era que você se ferrasse das piores formas possíveis, minha vontade era te dar a
surra que você sempre mereceu na vida..., mas do que isso ia adiantar? Se você
não aprendeu recebendo o amor, acho difícil que aprenda na dor. Ou até aprenda,
eu espero que aprenda. Eu quero que em alguns anos, você olhe para o passado e
se arrependa pelo tempo que perdeu fazendo mal aos outros, quero que se sinta
culpada por cada coisa. Só que você não terá ninguém para te perdoar quando
estiver sufocando pela liberdade novamente... pelo menos o meu perdão você
não terá. Há certos limites na vida e você ultrapassou a todos.
Jogo as palavras sobre ela e me levanto em seguida, ainda ouvindo seu
silêncio.
— Tenha uma boa vida, Débora... a minha está sendo incrível — sorrio em
sua direção e caminho até à saída.
Eu me sinto mais leve após sair da sala de visitas, e finalmente esse
capítulo ruim da minha vida foi encerrado. Eu realmente não esperava que
Débora estivesse arrependida, eu só precisava olhar na cara dela depois de tudo.
— Tudo bem? — A voz do meu marido me desperta e vejo ele se
desencostando da parede, vindo em minha direção.
— Sim, tudo ótimo — sorrio para ele e o abraço sem dizer nada.
Fecho meus olhos por alguns segundos e inspiro seu cheiro, me sentindo em
casa.
— Espero que não queira voltar aqui novamente. — Ele me repreende e
isso me faz rir.
Quando disse que queria vim aqui, Adrian foi super contra, mas depois de
explicar meus motivos, ele finalmente cedeu.
— Não mesmo, quero distância — respondo e me afasto dele. — Vamos?
Quero conhecer meu avô postiço — sorrio para ele, que balança a cabeça em
negação.
— Vamos, meu cabelo de fogo. — Adrian entrelaça nossos dedos e saímos
desse lugar horrível.

***

Assim que entro em casa, sinto o cheiro incrível da comida que só dona
Clarisse sabe fazer. Sorrio e caminho em direção à cozinha, ouvindo algumas
vozes por lá. E assim que entro no cômodo, vejo Maurício sentado em uma das
cadeiras da mesa enquanto tem Helena dormindo ao seu lado no bebê conforto.
Minha avó está concentrada em suas panelas e Evan está no cantinho, sentado em
um tapete, estando rodeado por lápis de cores e papéis em branco.
— Cheguei, família! — falo, chamando a atenção de todos, e vou até meu
pequeno, deixando um beijo em sua bochecha gorducha.
Sigo até onde Maurício está sentado e me sento ao seu lado, dando uma
olhada em Helena que está tranquila em seu sono.
— Ela acordou em algum momento? — pergunto e me viro para meu
cunhado.
— Não, Helena é um amor... só dorme essa menina. — Ele diz rindo.
— Faz cocô, mama e dorme novamente... mundo lindo dos bebês — minha
avó se manifesta e isso arranca risadas nossas.
— Melhor fase, vó.
— E eu não sei? Queria estar nessa fase novamente. — Ela resmunga e
balanço a cabeça em negação.
— Onde está meu irmão? — Mau pergunta enquanto faz desenhos
imaginários no tampo da mesa de madeira.
— Foi ver uma cerca que estragou, daqui a pouco ele já está aí novamente
— respondo e desvio os olhos para minha avó. — E então, dona Clarisse, que
horas seu boy chega? — A provoco, mesmo sabendo que corro risco de vida
com ela segurando uma faca.

— O meu boy, senhor Castiel, já está chegando junto com o boy desse aí. —
Ela responde e aponta para Maurício, que solta um risinho.
— Fiquei sabendo que ele é milionário — Mau compartilha a informação.
— Olha a dona Clarisse, foi arranjar logo o que tem dinheiro — falo rindo,
mas não por muito tempo, já que farinha de trigo atinge a minha cara. — Vó! —
resmungo contrariado.
— Mais respeito, garoto... eu não tenho culpa se Oscar é rico. E não se
esqueça que seu marido também é. — Ela adverte e faço um biquinho.
— Eu só ‘tava brincando. — Me defendo e levanto minhas mãos em

rendição.
— Papa banco! — ouço meu filho rir ao olhar para minha cara e me sinto
derrotado.
— Isso mesmo, pode tirar sarro à vontade, senhor Evan — finjo irritação,
mas isso só serve para o fazer rir ainda mais.
Levanto uma sobrancelha e pego um pouco de farinha de trigo na mão e
corro até meu filho, passando um pouco em seu rostinho, ouvindo seus gritinhos
desesperados que servem para acordar Helena. Deixo um beijo no meu
fantasminha camarada e sigo até minha pequena, a pegando no colo... e quase
solto uma gargalhada quando Helena chora ainda mais ao ver meu rosto branco.
Deus, eu vou traumatizar meus filhos.

***
Desço às escadas meia hora depois, estando de banho tomado e também
com meus bebês prontos. Ouço uma voz diferente vinda do andar de baixo e abro
um sorriso. Parece que meu avô postiço chegou.
Assim que chego à sala, vejo meu marido sentado em sua poltrona,
Maurício e Antônio estão sentados em um dos sofás, enquanto minha avó e seu
namorado estão no outro. Logo todos os olhares vêm até nós e sinto Evan ficar
um pouco envergonhado pela nova presença... até parece que fica assim por
muito tempo.
— Até que enfim eu posso conhecer o homem que conquistou o coração
zangado da dona Clarisse — falo com um sorriso e vejo minha avó revirar os
olhos para mim.
Evan sai correndo do meu lado e vai até o pai, pulando no colo dele. E eu
aproveito isso para me aproximar deles e deixar Helena nos braços do dindo
Toni.
— É um prazer poder te conhecer, Castiel... sua avó fala muito de você —
senhor Oscar diz com um sorriso e se levanta, estendendo sua mão para mim, a
qual eu ignoro e o abraço.
— Vixe, ela deve ter me detonado então — brinco e ouço as risadas ao meu
redor. — Bem-vindo à família, Oscar! — falo sorrindo quando me afasto dele.
— Muito obrigado. — Ele agradece e volta a se sentar ao lado da minha
avó, entrelaçando sua mão a dela.
Ah, eu vou morrer de amor!
— Vocês são lindos juntos — elogio e me sento no braço da poltrona em
que Adrian está.
— Eu sei — minha avó diz convencida e sinceramente, eu desisto!
— Seu amor próprio é um soco na minha cara, vó — falo a ela, que apenas
sorri.
E nesse clima descontraído nós passamos bons minutos conversando e se
conhecendo melhor. Descobri que Oscar é um empresário de sucesso na capital e
que não possui nenhuma família, fato que me deixou triste. Mas fiquei feliz ao
ver o brilho nos olhos dele ao olhar para minha avó. Dona Clarisse merece ser
muito feliz e vejo que a pessoa que ela arranjou a fará se sentir assim. Ao que eu
vejo, os dois estão fazendo bem um ao outro e nada poderia me deixar mais
realizado.

***

Ouço o choro baixo e fino vindo da babá eletrônica e isso é o suficiente


para me fazer abrir meus olhos. Olho para o lado e vejo Castiel dormindo
tranquilamente, o que me faz ter dó de acordar ele. Eu me levanto da cama e
descalço mesmo saio do quarto e sigo até o quarto de Helena do outro lado do
corredor. Abro a porta de madeira e o som de choro se torna mais alto. Sorrio e
me aproximo do berço, podendo ver um pequeno ser chorando compulsivamente
enquanto mexe suas perninhas.
— Ei, princesa, pra que esse choro todo? — pergunto com calma e pego seu
pequeno corpo, a aconchegado no meu peito.
E como em todas as noites desde que Helena está em casa, ouço passinhos
apressados no corredor e logo um pequeno ser de três anos entra no quarto.
Sorrio para meu filho que tem um bico nos lábios, já que ele não gosta de ver a
irmã chorando.
— Ei, ruivinho, quer me ajudar a trocar a Lena? — pergunto para ele
enquanto ainda balanço o pequeno corpinho em meus braços.
— Eva toca Lena. — Ele diz e bate palminhas, concordando com a ideia.
Solto uma risada baixa e percebo que Helena está um pouco mais calma.
Estendo uma mão para Evan, que a pega rapidamente. Demoramos uns quinze
minutos para trocar Helena, já que Evan se achava o adulto e capaz de fazer todo
o trabalho. E quando terminamos, nós voltamos ao meu quarto para que Lena
possa mamar. Evan é o primeiro a escalar a cama e se esparramar no colchão,
como se fosse o dono de tudo. Balanço a cabeça em negação e solto uma risada.

— Seu irmão é um pequeno folgado, amor — falo baixo para Helena, que
me olha com suas esmeraldas.
Dou a volta na cama e chamo por Castiel, que bate na minha mão quando o
chacoalho e se vira para o outro lado.
— Ah, é assim? Chegou a hora da minha vingança, diabinho — sorrio e
com minha mão livre puxo seu corpo fora da cama.
Ouço o baque surdo quando seu corpo cai no chão e me seguro para não rir.
Como é doce o sabor da vingança.
— Mas que p...
— Temos crianças no quarto, amor — sorrio para ele, que foca seus olhos
em mim e falta me matar com o olhar. — Estamos quites — pisco para ele,
vendo-o levantar e soltar um gemido de dor.
Castiel bufa contrariado e volta a se sentar na cama, estendendo os braços
para mim. Sorrio e entrego Helena em seus braços, que logo agarra a camiseta
do papa com sua mãozinha. Olho para Evan na cama e percebo que ele está
dormindo... nem viu o show.
— Você é um ogro! — Castiel sussurra/grita.
— Eu sei — respondo e me sento à sua frente, passando meu dedo
indicador pelos cabelos ralos de Helena. — Mas sou o seu ogro e você me ama
assim.
Ele não me responde nada, mas sinto seu olhar sobre mim. Castiel e eu
podemos nos implicar o tanto que for, brigar e virar a cara um para o outro, mas
no final do dia é para os braços um do outro que nós voltamos.
Levanto meu olhar e nossos olhares se cruzam. Sorrio ao ver todos os meus
sentimentos sendo espelhados.
— Eu te amo, cabelo de fofo — sussurro e deixo um beijo em sua testa.
— Mesmo você sendo um ogro... eu te amo, Shrek. — Ele responde de
volta e isso me faz sorrir.
É incrível como poucas palavras podem fazer diferença em nossas vidas. E
é ainda mais incrível perceber que apenas uma pessoa pode mudar totalmente a
sua vida.
Sinto uma mãozinha completamente babada tocar em meu rosto e solto um
pequeno resmungo, podendo ouvir uma risadinha sapeca. Ainda permaneço de

olhos fechados, esperando para ver até onde vai a pequena, literalmente,
paciência de Helena. E não demora muito, eu sinto dois tapinhas em meu rosto,
acompanhados de resmungos nada contentes.
Tinha que ser minha filha mesmo!

— Buu! — Abro meus olhos de uma vez e quase solto uma gargalhada ao
ver os olhinhos arregalados da minha filha.
Fico alguns segundos esperando o choro da pequena a minha frente, mas ao
invés disso ela ri e bate palminhas. Muito bom, já se acostumou com o pai que
tem.

— Cara, eu estaria me esgoelando de tanto chorar se fosse ela — ouço a


voz do meu cunhado e só então percebo ele no quarto. — Bom dia, cunhadinho!
— Ele acena e sorri com todos os dentes.
Solto uma risada e balanço a cabeça, me colocando sentado na cama. Pego
uma Helena de nove meses em meus braços e encho minha pequena de beijos,
ouvindo suas gargalhadas infantis.
— Bom dia, meu pequeno raio de sol! — falo sorrindo e beijo a pontinha

de seu nariz, vendo ela fazer um biquinho.


— Nossa, muito obrigado por me ignorar. Eu tive que sair muito cedo de
casa hoje, sabia? Pois eu moro a quilômetros de distância daqui. — Ele diz
dramaticamente e se senta na poltrona que há no canto do quarto.
— Dramático! — implico e ele rola os olhos para mim. — Mas... Bom dia,
cunhadinho! E sobre Helena, ela já se acostumou com os pais que tem — sorrio
para ele, que não consegue ficar muito tempo emburrado.

— Ainda bem, não é? — Ele pergunta e se levanta em seguida. — Vou


deixar você se arrumar e dar mama para ela. O doidinho já deve estar chegando
com a turma da cidade — Maurício diz, se referindo a Ângelo e o olho

“indignado”.
— Ei, mais respeito com meu maninho! Ele é doidinho? É, mas é um
doidinho cheio de amor — respondo e ele assente, mesmo rindo.
— Tá! — Ele diz apenas e sai do quarto em seguida, deixando Helena e eu
a sós.
— Gaga... bu! — ouço Helena “falar” e olho para ela, vendo-a entretida
com a minha camiseta.
— É, ela é linda, não? — respondo e ela solta uma risada gostosa, deitando
sua cabeça em meu peito.

***

Saio do quarto quase uma hora depois, já que foi uma luta arrumar Helena,
que não parava quieta um só minuto. Sinceramente, eu não sei a quem esse
projeto de gente puxou.
Assim que chego ao fim das escadas, já posso ouvir uma pequena algazarra
do lado de fora e sei que minha família acabou de chegar. Passo pela porta de
entrada e recebo o sol da manhã quando piso na varanda. Sorrio ao ver Angie e

toda sua família, e no mesmo segundo sinto Helena se agitar em meus braços
para se juntar a festa.
— Cas! — Angie praticamente grita quando me nota e vem correndo até
mim, me abraçando. — Deus, que saudade! — Ele resmunga e isso me faz rir.
— Angie, nos vimos tem três semanas — aviso quando nos afastamos e ele
revira os olhos.
— Detalhes! — diz e faz um gesto de desdém com a mão. — E você,
foguinha, olha que coisa mais linda. — Ele fala sorrindo e pega Helena, que fica
toda derretida nos braços do tio.
Deixo os dois ali e vou até os outros, os cumprimentando com abraços e
beijos. Só que o meu auge do dia é quando sinto um pequeno ser de um ano e
poucos meses puxar a barra da minha calça. Abaixo meu olhar e sorrio ao ver
Otávio.
— Oi, meu anjo! — falo com um sorriso e pego meu afilhado nos braços,
deixando alguns beijos em sua bochecha.

— Eva? — Ele nem me dá moral e esse é seu cumprimento.


Solto uma risada e desvio meu olhar para Enzo, que nem reclama mais.
Volto meu olhar ao pequeno em meus braços.
— O Evan está com o tio Adrian, Tavinho, mas daqui a pouco ele chega —
respondo, mesmo sabendo que ele não vai entender muita coisa.
Mas nem temos que esperar tanto, já que poucos segundos depois vejo o
cavalo de Adrian parando a poucos metros de nós. E eu juro que tento não babar
pela visão do meu marido, mas é impossível... ainda mais quando ele está
usando chapéu. Isso é uma tentação, Deus!
Só que esqueço isso por um tempo e sinto meu peito se encher de amor
quando vejo Evan junto com ele. Já tem alguns meses que nosso filho insiste em
acompanhar Adrian seja onde for. E detalhe, ele faz questão de se vestir como
um verdadeiro cowboy. E não é segredo para ninguém, a cada dia que se passa
Evan se torna uma cópia fiel do pai. Não na aparência, mas no caráter e jeito. E
sinceramente? Eu não poderia estar mais feliz e realizado por isso.
Adrian é o primeiro a descer e em seguida coloca Evan no chão. Com quase
quatro anos, ele ainda não está tão grande, continua sendo o meu projeto de
gente, que tem sua imensa paixão pelo seu Tatá. E não me assusto quando ouço o
grito dele de felicidade, o que não difere muito da criança em meus braços. Solto
Otávio no chão e confesso que quase morro de amor quando vejo a cena dos dois
correndo um para o outro. Evan com um sorriso no rosto e Otávio com seus
passinhos desajeitados ainda. E não demora muito para que meu pequeno esteja
pegando o primo nos pequenos braços.
— Vamos entrar, gente? O café já está na mesa — aviso.
E é só falar em comida que todos somem em segundos, restando apenas
Adrian e eu para trás. Sorrio ao ver meu marido e me aproximo dele, podendo
sentir seus braços ao meu redor.
— Bom dia, cabelo de fogo... já te disse o quão lindo está hoje? — Ele
pergunta e isso me faz sorrir, sentindo meu estômago revirar por um momento.
Benditas borboletas que nunca vão embora!
— Hoje não, cowboy — respondo e tiro seu chapéu, para poder tocar seus
cabelos com minha mão.
— Que descuido meu. — Ele finge surpresa. — Você está lindo, meu amor
— elogia e no segundo seguinte eu estou juntando nossas bocas.
Nosso beijo é lento e totalmente cheio de amor, o que me faz ter a certeza
que estou no lugar que sempre tive que estar.

***
Ajudo minha avó a arrumar os últimos detalhes do almoço que será servido
em alguns minutos e não consigo parar de sorrir. Hoje Adrian e eu completamos
um ano de casados, então decidimos celebrar um dos dias mais importantes de
nossas vidas. Por isso todas as pessoas mais importantes para nós estão reunidas
aqui hoje conosco. Montamos uma mesa em frente ao campo de rosas brancas,
local que também foi palco do nosso casamento. Querendo ou não, essa é a
maneira mais próxima que Adrian tem de estar perto dos pais, é uma lembrança
linda deles e que farei de tudo para manter assim por muito tempo. Eu não pude
conhecer meus sogros, mas sei que eles foram pessoas incríveis em vida e que
devem estar felizes com os filhos.
— Nem parece que já faz um ano que estou casado — falo em direção à
minha avó, que sorri.
— O tempo passa rápido quando estamos felizes.
— E a senhora, ansiosa para o casamento? — pergunto com um sorriso e
me aproximo ainda mais dela.
— Um pouco, eu nem achei que um dia me casaria novamente. Depois que
seu avô morreu, eu achei que não amaria mais ninguém. — Ela responde e a
abraço de lado. — Mas Oscar me conquistou, mesmo com esse jeito parado
dele. — Ela resmunga e isso me faz rir.
— Só ele para te aguentar, dona Clarisse — brinco e recebo um beliscão

como agradecimento. — Ai, vó! — Eu me afasto dela e passo minha mão por
meu braço.
Ela não me responde nada e sigo seu olhar, podendo ver Antônio chegando
com Oscar. Sorrio e minha vontade é fazer uma daquelas piadinhas apaixonadas,
mas tenho amor a minha vida.
Após alguns minutos, todos os nossos convidados chegam e podemos nos
reunir ao redor da grande mesa montada. Adrian e eu nos sentamos em uma
ponta, enquanto os irmãos dele na outra e o resto ao nosso redor. Helena passa
de colo em colo, coisa que ela quase não gosta, e Evan está sentadinho ao meu

lado. Assim que todos estão acomodados, Adrian se levanta e pega em minha
mão para eu fazer o mesmo.
— Primeiro, eu quero agradecer a cada um de vocês que estão aqui hoje,
todos são importantes em nossa vida e fizeram parte da nossa história de alguma
maneira. Então, obrigado! — Ele começa e todos sorriem. — E agora eu quero
agradecer ao meu lindo marido Castiel... nós não começamos da maneira certa,
ou pelo menos não da maneira certa para os outros, mas acho que foi a maneira
certa para nós dois. Você me tirou do sério desde o primeiro momento, mas eu
não mudaria nada, pois ser desafiado por um ruivo boca dura foi a melhor coisa
que aconteceu na minha vida. Nossa história já teve alguns altos e baixos, mas
sempre prevaleceu o nosso amor e isso nada pode tirar de nós, mesmo que
venham muitos obstáculos pela nossa frente. Hoje faz um ano desde um dos dias
mais importantes da minha vida, mas nossa história é marcada por vários desses
dias. — Ele diz e aponta para nossos filhos. — Evan e Helena são prova disso.
Então, para celebrar esse dia, eu quero te dar um presente.
Adrian solta minha mão e pega algo em seu bolso. Vejo uma caixinha em
sua mão e quando ele a abre, posso ver outra aliança.
— Adrian... — começo, mas ele me interrompe.
— Sei que nós já temos alianças, mas essa é especial. — Ele sorri e desliza
a joia pelo meu dedo anelar.
E observando o pequeno objeto, vejo uma única pedrinha, bem pequena, no
centro dela.
— Essa pedrinha representa nosso primeiro ano juntos como casados, e a
cada ano que passar, uma nova vai ser acrescentada nela para marcar essa data
na nossa vida. — Ele explica e sinto uma lágrima escorrer por meu rosto.
Sorrio e me jogo nos braços do meu marido, o abraçando apertado. Ouço
algumas falas da nossa família e solto algumas risadas com as falsas indignações
de alguns, alegando que somos muito fofos juntos.
— Bem... — começo a dizer quando nos afastamos e pego o envelope que
estava comigo desde o momento que viemos para cá. — Meu presente não tem
valor em dinheiro, mas creio que isso não importa entre nós... o que vale é o
valor sentimental e esse aqui, eu creio que tem um enorme — falo e pego na mão
do meu marido, entrelaçando nossos dedos. — Adrian, eu nunca achei que fosse
amar novamente, mas fui sortudo o bastante por ter conhecido você... Um homem
incrível, marido respeitoso e pai maravilhoso. Esse presente aqui não tem muito
a ver com nosso dia de hoje, mas não achei outra ocasião melhor para te entregar
ele. E, eu só espero que se sinta ainda mais parte de tudo com ele, pois você é
isso e muito mais para ele. — Termino de falar e ele me olha um pouco confuso,
mas apenas sorrio e entrego o envelope.
A mesa entra em silêncio e só é possível ouvir nossas respirações. Eu me
sinto um pouco nervoso e meu coração também bate acelerado em meu peito. Só
que o sorriso permanece em meu rosto e ele fica ainda maior quando vejo às
lágrimas descerem pelo rosto do meu marido. Ele fica bons minutos olhando
para a certidão de nascimento em suas mãos, até que me entrega o documento e
solta minha mão, indo até nosso filho. Evan não parece entender muito bem tudo
o que acontece, mas retribui com muito amor o abraço carinhoso de seu pai.
Eu sei que uma certidão de nascimento não diz nada, é apenas um
documento. Pois o que vale é a pessoa que está ali ao lado da criança, a criando
com amor e carinho. Mas Adrian é o pai do meu filho e queria comprovar isso
mais uma vez.
— Ok, eu sou velha demais para tantas emoções — minha avó resmunga e
todos rimos, mesmo que a maioria também tenha os olhos cheios de lágrimas.
Pego Helena e vou até meus meninos, os abraçando também.
— Obrigado — ouço Adrian sussurrar.
— Você sempre foi o pai dele — sussurro de volta.
Aproveitamos nosso abraço em família por alguns minutos, até nossas
crianças se cansarem do momento amor e nos separar. E olhando para minha
família nesse momento, eu sei que não há um dia em que não me sentirei feliz,
mesmo nos dias não tão bons. Pois, mesmo nas dificuldades, é bom saber que
você tem com quem contar e para quem lutar.
Quatro anos depois...

Abro meus olhos e solto um bocejo, coçando meus olhos em seguida. Deus,
como é bom acordar em paz, sem os gritos dos pequenos furacões que eu chamo
de filhos.
Eu me viro na cama e sorrio ao ver meu marido dormindo tranquilamente,

tendo seus cabelos longos e loiros espelhados pelo travesseiro. Dou uma olhada
rápida no relógio do quarto e vejo que ainda são oito da manhã... dá tempo de
fazer um agrado.
Com cuidado, eu me coloco sentado sobre suas coxas e enfio minha mão
por dentro de sua cueca. Seu pau rapidamente começa a responder aos meus

estímulos, ficando mais duro em minha mão. Mordo meu lábio inferior e me
abaixo, deixando minha boca ir de encontro com a cabecinha de seu pênis. Ouço
Adrian soltar um gemido sôfrego e seu corpo se contorce um pouco. Isso me faz
rir baixinho e sem perder mais tempo, coloco todo seu comprimento em minha
boca, o chupando com vontade. E ao fazer isso, os olhos de Adrian se abrem de
uma só vez, estando arregalados.
Minha vontade é rir, mas minha boca está ocupada no momento, então

apenas me contento em manter contato visual com ele, enquanto minha boca
engole seu pau.
— Porra! Quer me matar, cabelo de fogo? — Ele pergunta, mais gemendo
do que falando e apenas pisco meus olhos em uma falsa inocência.
Meu marido solta quase um rosnado e sua mão esquerda agarra meus
cabelos enquanto ele fode minha boca. Sinto ele ir fundo em minha garganta e
meus olhos chegam a lacrimejar, mas isso não me faz parar. E cerca de quinze

minutos depois, ele está gozando em minha boca. Sinto meus lábios inchados
quando seu pau escapa por minha boca, mas não me importo.
— Feliz aniversário, cowboy! — sorrio para ele e no instante seguinte, sua

boca está grudada na minha.


Adrian me beija com brutalidade, do jeito que eu gosto, e suas mãos
apertam meu quadril. Ele nos vira na cama, me colocando por baixo e suas mãos
tiram minha calça moletom junto com minha boxer.
— Acho que isso não foi suficiente. — Ele sussurra em meu ouvido, me
fazendo arrepiar.
Adrian deixa um selinho rápido em minha boca e em seguida desce seus
beijos por meu corpo, até chegar em meu membro já ereto e necessitado... muito
necessitado. Mas ele apenas passa reto e vai até minha entrada, passando sua
língua pelo local, me fazendo gemer em sofrimento.
— Ei, seu ogro... você não pode me torturar assim — falo em meio aos
meus gemidos e escuto sua risada.
— Ah, não? — Ele pergunta e penetra seu dedo médio em mim, me fazendo
contorcer na cama.
— Idiota! Shrek de uma figa! — minha boca profere os xingamentos, mas na
verdade eu estou adorando tudo isso.
Adrian nem se abala com minha fala e estoca seu dedo dentro de mim,

colocando outro junto em seguida. E quando penso que não posso enlouquecer
mais, sua boca engole meu pau e seus dedos me fodem sem dó. Fecho meus
olhos, sentindo algumas lágrimas se acumularem nos cantinhos. Mordo meus
lábios com força, em uma tentativa falha de não gemer alto demais e acordar
meus filhos.
— Uma pergunta... a porta está trancada? — pergunto e abro meus olhos.
— Com certeza — meu marido responde, abandonando meu pau e isso
quase me faz chorar.
Mas não tenho tempo para reclamar, já que em poucos segundos seus dedos
saem de dentro de mim e ele me penetra de uma só vez, arrancando meu fôlego.
Minhas unhas vão até seu peito, o arranhando com força, nem ligando para o
machucar ou não. Ele estoca rápido e forte dentro de mim, me fazendo senti-lo
por inteiro. Puxo ele para mais perto, grudando nossas bocas, com a tentativa de
conter meus gemidos. Em certo momento sua glande acerta minha próstata, me
fazendo chorar, literalmente, de prazer. E não demora muito para que eu esteja

gozando em jatos fortes contra nossos abdomens.


E algumas estocadas depois, ele vem dentro de mim.
Puxo o ar com força, tentando recuperar o fôlego enquanto meu corpo está
inerte na cama. Adrian sai de dentro de mim alguns segundos depois e sorri.
— Bom dia, foguinho! — Ele deixa um beijo em minha barriga de quatro
meses e se joga ao meu lado na cama.
— Bom dia mesmo, ele deve ter acordado com toda a agitação — falo
rindo.
— Está tudo bem, eu te machuquei? — Ele pergunta preocupado.
— Estou sim — sorrio para ele. — Mas acho melhor levantar, daqui a
pouco todos estão aí para o almoço — falo e ele assente.
E com um esforço enorme, nós nos levantamos e seguimos para o banheiro.
Tomamos um banho juntos, com Adrian me mimando bastante. Adrian sempre foi
um ogro fofo, mas quando descobrimos uma nova gravidez há três meses atrás,
ele pirou de vez... está na sua fase mais melosa. Dessa vez estamos esperando
mais um garotinho, nosso José Victor, uma homenagem ao pai do meu marido.
Terminamos nosso banho e depois de prontos, nosso trabalho é checar
nossos pequenos furacões. Eu fico encarregado de ir ver Helena e Adrian vai até
Evan. Assim que entro no quarto da minha filha, encontro a mesma sentada no
meio da cama, com os cabelos desgrenhados e os olhos arregalados, olhando
fixamente para a parede. Fico preocupado com isso e vou devagar até ela, me
sentando ao seu lado.
— Filha, o que foi? — pergunto com calma e em seguida seus olhos verdes
me fitam.
— ‘Tava barulhinhos estranhos, papa. — Ela sussurra, como se contasse um
segredo e eu quase solto uma gargalhada.
“Jesus! Minha filha ouviu meus gemidos... Pelo menos ela acha que é
algum monstro.”
— Ah, não é nada meu amor... já passou — sorrio e pego ela em meus
braços, deixando um beijo em sua bochecha. — Quem é o bebê mais lindo que
está fazendo cinco aninhos? — pergunto empolgado e ela faz um pequeno bico.
— Bebê não, papa... Lena já é mocinha. — Ela aponta o pequeno indicador
em minha direção.
— Oh, perdoe meu equívoco, senhorita — brinco e faço algumas
cosquinhas nela.
Levo Helena para tomar seu banho e fazer sua higiene matinal. Escolho um
conjunto de shorts e camiseta para ela, junto com um par de tênis. E assim que
ela já está pronta, nós saímos de seu quarto.
— Papa? — Ela chama quase em desespero e olho para ela preocupado.
— O que, amor? — pergunto, olhando em seus pequenos olhos.
— Lena tem que dá bom dia pro maninho. — Ela diz e isso me faz rir.
— Verdade, ele já estava tristinho — falo e ela assente.
Helena se aproxima de mim e levanta minha blusa, deixando um beijo em
minha barriga com o pequeno relevo.
— Bom dia, maninho. — Ela sussurra contra minha pele, me fazendo
arrepiar.
Sorrio e acaricio seus cabelos. Nesse instante Adrian e Evan também
aparece no corredor. Meu pequeno, agora com sete anos, se joga contra mim em
um abraço.
Ele também deixa um beijo em minha barriga e depois disso todos nós
descemos para tomar café da manhã. E como hoje é aniversário de Adrian e
Helena, daqui a pouco nossa casa vai estar lotada.
Tomamos nosso café de forma lenta, até escutar o barulho de carro
estacionando. E a primeira pessoa a sair correndo da mesa é Evan. Solto uma
risada e em seguida todos nós também estamos indo para à varanda. Sorrio ao
ver meu amigo Ângelo e o marido, junto com os pequenos gêmeos de cinco anos.
— Vou nem falar nada sobre estar me imitando. — É a primeira coisa que
Ângelo fala quando me vê e isso me faz gargalhar.
— Não combinei de ficarmos grávidos juntos — falo ainda rindo e abraço
meu amigo.

— Posso afastar eles agora? — escuto a voz de Enzo e quando me afasto de


Angie, meus olhos vão até nossos pequenos.
Otávio e Evan estão abraçados, como se não se vissem há uma década e
isso é demais para os nervos do meu cunhadinho.
— Deixa os dois, já disse... é uma prova do futuro — Adrian implica, tendo
Giovani no colo.
— O Tatá vai casa com o Evan? — Gio pergunta, fazendo a sanidade do
pai ir embora.
— Ok! Eu vou separar eles agora — Enzo diz em drama e reviro meus

olhos.
— Para com isso, Enzo — Angie diz, revirando os olhos, e puxa o marido
pela gola da camiseta.
— Papai, eu quero abraça o Tatá também — Helena diz emburrada e
Adrian solta uma risada.
— Tenta a sorte, pequena — meu marido responde e vira às costas,
entrando em casa, ainda com Giovani no colo.
Solto uma risada e afago os cabelos da minha pequena, tentando a confortar.
Lena cruza os braços e marcha para dentro enquanto Otávio e Evan nem estão se
importando com o resto de nós. E quando os dois finalmente se separam, entram
em casa de mãos dadas.

***
Aos poucos todo o resto da família também chega e a farra está completa.
Até minha avó, que se mudou há alguns anos com o marido, veio para comemorar
conosco. Há uma mesa enorme montada no meio do quintal, onde está todo
mundo. Sorrio ao ver toda minha família reunida, me sentindo extremamente
feliz.
— Já teve algum pedido estranho? — Dona Clarisse pergunta, chegando ao
meu lado.
— Comer terra molhada que parece chocolate? — respondo, mas sai mais
como uma pergunta.
— Que nojo, os grávidos de hoje em dia são estranhos. — Ela diz, bebendo
despreocupadamente um gole de seu refrigerante.
— Vó!
— O quê? Eu só disse a verdade. — Ela dá de ombros.
Balanço a cabeça em negação e tomo meu lugar na mesa.
— Papa? Eu tenho um pedido. — Evan chega ao meu lado, tendo Otávio
bem atrás.
“Deus, eles não se separam nunca?”
— Fale, criança. — Olho atentamente para ele, que toma fôlego antes de
falar.
— Posso passar às férias com o Tatá e o Gio? — Ele pergunta empolgado.
— Hum... deixa eu ver, o que eu ganho em troca? — pergunto de
brincadeira e vejo os dois de olhos arregalados.
— Um beijinho? — Otávio tenta e isso me faz rir.
— Ok! Esse pode ser meu pagamento — falo e os dois batem com as mãos.
Recebo meu beijo duplo e em seguida vejo os dois saindo de perto, pulando
igual dois grilos. Adrian chega ao meu lado e então todos se acomodam em seus
lugares devidamente.
— Antes de vocês atacarem a comida, obrigado por vocês estarem aqui,
tanto os de longe como os de perto. Hoje é um dia duplamente feliz para mim,
pois há cinco anos atrás eu ganhei o melhor presente de aniversário que poderia
imaginar. Muitos podem não gostar de dividir essa data com ninguém, mas eu sou
grato todos os dias pelo meu pequeno furacão — meu marido diz sorrindo e pega
Helena no colo, deixando um beijo em sua bochecha.
— Só espero que o José Victor nasça no aniversário do Castiel — Maurício
diz rindo e cerro meus olhos em sua direção.
— Eu amo meu filho, mas não força — respondo em brincadeira,
arrancando risos de todos.
Mas na realidade, nada me faria mais feliz. Cada um de nossos filhos veio
em um momento importante de nossas vidas. Evan veio para me manter firme e
com esperanças. Helena veio para marcar o meu recomeço e de Adrian. Agora
vem José Victor, apenas para completar nossa felicidade.
E é nesse clima de família e amor que nós comemoramos mais uma data
especial de nossas vidas.
Sinto um cheiro nada agradável da pequena criatura em meus braços e faço
uma careta. Meus olhos se abaixam para o rostinho sapeca de Helena, com agora

três meses de vida e balanço à cabeça em negação. E minha filha apenas sorri
banguela, como se não tivesse acabado de fazer uma das maiores catástrofes do
planeta.
— Adrian! — chamo por meu marido, que em poucos segundos aparece,

vindo do lado de fora da casa.


— O que foi, Cas? — Ele pergunta e seus olhos analisam a mim e Helena.
— Sua filha acabou de reproduzir uma bomba atômica e... eu não vou
limpar ela — sorrio para meu marido e me levanto do sofá, entregando Helena
em suas mãos.

— Ah, eu que vou? — Ele pergunta irônico, afastando a bebê de sua roupa.
— Sim, eu já a carreguei por nove meses, dou banho de manhã, dou mama,
ajudei com a beleza. Sua parte agora, não? — sorrio cínico para ele e deixo um
selinho em seus lábios. — Vou lá ajudar minha avó com a ceia. Divirtam-se!
Ainda ouço Adrian resmungando, mas não ligo e sigo até à cozinha, onde
encontro dona Clarisse e Maurício com a mão na massa.

— Vocês viram meu filho? — pergunto, chamando a atenção dos dois para
mim.
Mau apenas balança à cabeça em negação e minha avó finge nem me ouvir,
sinceramente, de muita serventia. Mas como se soubesse sua hora de entrar, Evan
aparece correndo, vindo do lado de fora, tendo um celular nas pequenas mãos.
— Por que o celular do seu pai está com você, senhor Evan? — pergunto
sério e meu pequeno de três anos e meio para de correr.

Os olhos azuis esverdeados de Evan olham para mim um pouquinho


arregalados e ele sorri sapeca. Em seguida, ouço uma voz conhecida vindo do
aparelho e me aproximo do meu filho, me abaixando ao seu lado.

— Evan liga Tatá — meu filho responde e assim que pego o aparelho, vejo
Angie do outro lado da tela, com Otávio nos braços.
— Sinceramente, Angie, você também faz parte disso? — pergunto ao meu
amigo, que revira os olhos para mim.
— Só estava ajudando os pombinhos a se comunicar. E nem me venha, pois
seu marido ajudou. — Ele aponta e Otávio solta uma risada, não entendendo
muita coisa.
— Eva? — meu afilhado chama e logo meu filho se coloca em minha frente,
colocando sua face em frente à câmera.
— Calma aí, meu amor... só quero falar com seu pai um minutinho e dizer o
quanto ele é um ingrato, que preferiu o outro lá a mim — falo e ouço Angie rir.
Abusado!
— Pensei que gostasse do Lucio. — Ele diz e eu solto um bufo irritado.
— Gosto, até o momento em que ele rouba meu irmão de mim, para passar
Natal com ele — falo com drama.
— Sabe que esse ano é especial, Cas. É o primeiro Natal com toda a
família reunida com Apolo depois do coma. Enzo está tão feliz por estar junto ao
irmão, finalmente. — Ele diz mais sério e confesso que me emociono um pouco,

mas não irei falar.


Respiro fundo e para não perder o costume, reviro os olhos.
— Ok, vou perdoar agora. E diga ao Enzo que já pode esperar um
casamento, esse é meu castigo para ele. Tenham um bom Natal, amo vocês! —
falo por fim e deixo o celular com Evan novamente.
Observo meu pinguinho de gente se afastar e se sentar no cantinho,
conversando com o primo. Evan já está aprendendo a falar melhor, mas ainda diz
muitas coisas emboladas e é fofo ver ele e Otávio conversando, já que não há
uma boa dicção.
— Engraçado, de mim ninguém sente ciúmes — minha avó fala de repente,
me fazendo rir.
— O quê? A senhora está brincando, né? Você é a mais importante da
família, mulher — falo e chego perto dela, a abraçando por trás e deixo um beijo
em sua bochecha.
— Sei, sei... só está assim porque em breve eu vou me casar e ir embora.

— Ela fala, ainda emburrada.


— Nem me fala, viu? Ainda estou com raiva do Oscar por te tirar de mim
— falo em um suspiro e pego alguns temperos para cortar.
— Estamos juntos, Cas — Mau diz e no segundo seguinte, dona Clarisse
está apontando uma faca para nós dois.
— Vocês dois parem de bobeira! Acham que é só os dois que podem casar,
é? Agora vê se pode isso! — Ela diz séria e olho para ela de olhos arregalados.
— Desculpa? — Maurício pergunta, se pondo atrás de mim em seguida.
Minha avó nos olha por alguns segundos e então sorri. Eu, hein, que doida!
— É claro, meus amores. — Ela diz calma e volta a cortar o peixe.
Mau e eu nos entreolhamos e apenas balançamos a cabeça em negação, não
entendendo nada.
Puxo meu cunhado pela mão e então nos sentamos na mesa, fazendo nossa
parte.
— Antônio chega que horas? — pergunto, mudando de assunto.
— Já deve estar chegando, o ônibus que o Léo estava atrasou. — Ele
responde e assinto.
— Papa! Tatá foi 'bola — Evan diz com um biquinho triste e me estende o
celular de Adrian, com a tela já desligada.
— Sério, bebê? Fica triste não, amanhã você fala com ele de novo — falo
com calma e beijo sua bochecha gorducha.
Nesse instante Adrian aparece sozinho, sem qualquer indício de Helena.
— Ela dormiu. — Ele responde minha pergunta muda e pega Evan nos
braços. — Mas também, o tanto que aquela menina fez cocô, deveria ser
proibido para um bebê tão pequeno. — Ele reclama.
— Falou o mais cagão de todos — Dona Clarisse dá o ar da graça, fazendo
Adrian a olhar incrédula.
— Oxe! Eu não era assim, não. — Ele resmunga e prendo uma risada.
— Se você quer acreditar assim, mas eu tenho umas fotos guardadas, vou te
mostrar depois. — Ela retruca.
— Ah, eu quero ver! — Maurício e eu falamos ao mesmo tempo, fazendo
meu marido ficar vermelho.
— Shrek desde cedo — implico com ele, que revira os olhos.
— Aposto que você fazia cocô vermelho. — Ele retruca e isso me faz
gargalhar.
— Que nojo! Não fazia, não. Só porque sou ruivo, minhas necessidades não
precisam ser também.
— Vocês dois, calem a boca... nojentos! — Mau diz com uma careta.
— Nolentos! — Evan imita o tio e solta uma risada, achando a coisa mais
engraçada do mundo.
Meus olhos se desviam para Maurício, que me ignora totalmente e continua
descascando suas batatas. Sonso.

***

Observo minha sala cheia por nossa família e isso me faz sorrir. Maurício
está sentado em um sofá, abraçado com Antônio e também Leonardo, que veio
passar esses dias com eles. Minha avó e Oscar estão em outro sofá, como um
casal de namorados que mal se importam com o mundo lá fora. Melissa e
Marcos, que chegaram há pouco, também estão em sua bolha. Evan e Ana Clara
brincam com alguns brinquedos no chão e Helena ainda dorme na Santa Paz de
Deus.
Ouço uma batida na porta e então sorrio ainda mais, indo abrir a mesma.
Estava tão entretido, que nem ouvi mais ninguém chegando, mas eu sei quem está
ali. E assim que abro à porta, vejo minha mãe e minha irmã ali. Não perco tempo
e abraço as duas, matando um pouco da saudade. E me vendo nesse momento
com elas, eu mal consigo acreditar no quanto evoluímos. Há anos atrás as duas
estavam mortas para mim, mas hoje fazem parte da minha família novamente e

isso me deixa feliz.


A partir do momento em que eu perdoei minha família, eu me senti
verdadeiramente completo. Claro que sempre existirá uma pequena tristeza por
tudo o que eu vivi, mas não há mais o espaço vazio de antes e é isso que me
importa.
— Achei que não vinham mais — falo e deixo espaço para as duas
passarem.
— O carro furou o pneu e como nós não sabemos trocar, tivemos que

esperar por ajuda. Aliás, pensa em um gato que ajudou a gente — Vitória diz
sorrindo safada e minha mãe nega com um aceno.
— Aquieta o facho, menina!
— Ah, vai me dizer que a senhora não reparou? — Ela retruca e minha mãe
cora.
— Pelo menos algo de bom... Entrem, todos já estão aí.
Elas assentem e vão até os outros, cumprimentando todo mundo.
Sinto meu celular vibrando em meu bolso e ao pegar o aparelho, vejo o
nome do meu pai na tela. Saio em direção à varanda e então atendo a ligação.
— Oi, pai! — falo sorrindo.
— Filho, tudo bem?
— Tudo sim, mas por que não veio? — pergunto, me sentindo um pouco
triste por isso.
É o primeiro Natal em anos que eu tenho minha família reunida novamente,
mas infelizmente meu pai não veio.
— Me desculpa, mas Jaqueline não quis aparecer aí depois de tudo que
Débora fez e confesso que também me sinto envergonhado. — Ele responde e
isso me faz suspirar.
— Isso já é passado, vocês são bem-vindos.
— Eu sei, por isso vim te dar um abraço pessoalmente. — Ele diz e isso me
deixa confuso.
— O quê? — pergunto e me viro, olhando para a estrada que dá acesso à
fazenda.
Abro um sorriso ao ver o carro dele se aproximando e então encerro a
ligação, correndo até lá. E poucos minutos depois eu estou abraçando meu pai.
— Feliz Natal, ruivinho! — Ele diz e isso me faz sorrir, me lembrando da
minha infância.
— Feliz Natal, pai! — desejo e recebo um beijo na testa. — Vem, aproveita
e abraça Vitória também.
— Ela veio? Tentei ligar para ela, mas não deu certo. — Ele diz enquanto
puxo ele comigo.
— Veio sim, o celular devia estar fora de área.
Meu pai entra comigo em casa e deixa um abraço em Vitória e nos netos.
Ele também cumprimenta os outros, mas não fica muito tempo, já que Jaqueline
estava sozinha em casa. Mas nossa noite continua e enquanto não se aproxima a
hora da ceia, nós fazemos a troca do amigo secreto, que foi bem divertido.
E assim que o relógio se aproxima da meia-noite, Adrian me puxa para
longe de todos. Fico sem entender sua atitude, até que estamos fora de casa e
seus lábios atacam os meus com paixão e muito amor. Passo meus braços ao
redor de seu pescoço e me deixo ser envolvido pelo momento, aproveitando
cada segundo do nosso contato.
— Algum motivo especial para essa fugidinha? — pergunto sorrindo, assim
que nossas bocas se separam.
— Nada, só queria beijar o amor da minha vida. — Ele diz, fazendo meu
coração acelerar em meu peito.
Incrível como esse homem ainda pode me deixar de pernas bambas, mesmo
depois de todo esse tempo.
— O senhor sabe ser romântico, senhor D'Ávila — implico.
— O melhor para meu cabelo de fogo. — Ele pisca para mim e me beija
novamente.
E eu confesso, tenho o melhor ogro do mundo.
Ficamos bons minutos ali fora, como dois adolescentes apaixonados, até
que ouvimos gritos por nós dois. E assim que voltamos para dentro, foi no exato
momento em que o Natal foi anunciado com toda sua magia. Helena acabou
acordando com toda a barulheira e a peguei em meus braços, sorrindo
apaixonado para ela. E bem em seguida, fomos engolidos por um abraço de
Adrian, estando com Evan em seus braços.
E sinceramente, eu não necessito de mais nada em minha vida, a não ser
todas essas pessoas que estão reunidas aqui.
E estamos aqui reunidos em mais um livro, hein? Minha satisfação é enorme
em trazer mais histórias a vocês. Agradeço a Deus por mais essa oportunidade
de estar publicando mais um e-book, dessa vez com esses personagens tão
marcantes para mim. Shrek e cabelo de fogo deram o que falar, não é?
Também agradeço a vocês, Jujubas, pois se não fosse o apoio diário que

recebo de vocês, seria difícil estar aqui hoje. Obrigada por fazerem parte de
momentos tão importantes para mim, vocês são demais!
Deixo também meu agradecimento ao Rafa, que sempre está comigo em

meus projetos... um parceiro de respeito.


E sem mais, nós nos vemos no próximo livro dessa saga...
Ah, vem uma surpresinha por aí, mas vou deixar vocês curiosos por
enquanto.
Beijus da Juh!

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