De Porto Cacaueiro A Destino Turístico: Transição Funcional E Permanência Do Espaço Derivado de Itacaré, Município Da Região Cacaueira Da Bahia
De Porto Cacaueiro A Destino Turístico: Transição Funcional E Permanência Do Espaço Derivado de Itacaré, Município Da Região Cacaueira Da Bahia
De Porto Cacaueiro A Destino Turístico: Transição Funcional E Permanência Do Espaço Derivado de Itacaré, Município Da Região Cacaueira Da Bahia
Resumo
Antigo porto cacaueiro, a cidade de Itacaré, município do Estado da Bahia, passa
por uma transição sócio-espacial ao assumir, a partir dos anos 1990, sua atual função
de destino turístico. Desde sua origem, o município assumiu funções tributárias que
estabeleceram uma formação sócio-espacial derivada de outros lugares. Itacaré já nas-
ceu tributário, quando o aldeamento indígena, criado no início do século XVIII, produzia
alimentos para Salvador por imposição da Coroa Portuguesa. Com a introdução do
cacau no sul da Bahia e a consolidação de sua cultura, Itacaré tornou-se importante
porto cacaueiro, enviando as amêndoas produzidas em sua hinterlândia para Ilhéus e
Salvador, de onde eram exportadas. Durante a primeira metade do século XX, a de-
manda estrangeira por cacau foi responsável pela produção do espaço geográfico do
município. Depois de perder sua importância portuária, Itacaré viveu um período de
isolamento agravado pela crise regional da economia cacaueira, notadamente a partir
dos anos 1980. Com o turismo, a produção do espaço de Itacaré permanece derivada,
pois as principais atividades econômicas continuam comandadas de fora do lugar, fato
que impossibilita uma internalização significativa dos benefícios do desenvolvimento
turístico. Além disso, o turismo tem promovido uma reorganização espacial pautada na
expansão urbana e na degradação ambiental.
Palavras-chave: formação sócio-espacial; organização do espaço; região
cacaueira; Itacaré; Bahia.
Résumé
De port du cacao à destin touristique: transition fonctionelle et
permanence du space dérivé de Itacaré, commune de
la region du cacau da Bahia
Ancien port du cacao, la ville de Itacaré, commune de l’état de Bahia, passe par
une transition fonctionelle au assumer, depuis les anées 1990, sa actuelle fonction de
destin touristique. Depuis sa origine, la commune assume fonctions tributaires qui établent
une formation sociale et spatiale derivée de autres lieux. Itacaré déja nait tributaire,
quand le village indigène, crée au debut du siecle XVIII, a produit aliments à Salvador
par imposition de la couronne portugaisse. Avec la introduction du cacao dans le sud de
Bahia et la consolidation de sa culture, Itacaré se a rendu un important port du cacao,
que a envoyé las amandes produits en son intérieur à Ilhéus et Salvador, d’où ont été
exportées. La demande étrangère de cacao a été responsable, pendant la première
partie du siecle XX, pour la production du space géographique de la commune. Après de
perdre sa importance portuaire, Itacaré a vécu une période d’isolement, aggravé par la
crise régionale de la économie du cacao, déclenché depuis de les anées 1980. Avec la
insertion touristique, le space de Itacaré reste dérivé, puisque ses principaux activités
économiques continuent commandées de dehors du lieu, non en permettant une
utilisation locale significative des bénéfices du développement touristique.
Mots clé: formation du espace; organisation spatiale; region du cacao; Itacaré;
Bahia.
1
Professor Assistente de Geografia Regional. Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). -
Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais (DCAA). Colegiado de Geografia. - Rodovia
Ilhéus-Itabuna, Km 16, s/n, Salobrinho, Ilhéus, Bahia, CEP 45662-000. - paulomeliani@uesc.br
e paulomeliani@hotmail.com
INTRODUÇÃO
Volume exportado
Ano
em toneladas
1834 26,5
1860 579
1890 3.503
Produção de amêndoas de
Ano
cacau em toneladas
1925 70.468
1935 120.162
1945 114.406
1955 144.584
Fonte: SANTOS (1957, p.102)
Contas (fumo, toicinho, couro e peles) para Salvador, de onde vinham pelas mesmas
embarcações os gêneros de necessidade para a província.
Segundo Santos (1957, p.59), ainda nos primórdios da lavoura cacaueira, a
antiga Vila da Barra do Rio de Contas assumiu a função de porto cacaueiro e coman-
dou a conquista de sua hinterlândia, onde surgiram várias localidades ao longo do rio
de Contas, como Taboquinhas (atual distrito de Itacaré) ou Itapira (atual cidade de
Ubaitaba). No final do século XIX, o pequenino porto da Barra do Rio de Contas
chegou a rivalizar com o de Ilhéus na exportação de amêndoas de cacau, como em
1900, quando exportou 6.793 toneladas contra 5.991 toneladas exportadas por Ilhéus
(SANTOS, 1957, p.57).
É neste período, o de consolidação da economia cacaueira na região que, em
1931, a Vila da Barra do Rio de Contas, após ter sido incorporada politicamente por
Itapira (atual Ubaitaba), torna a ser, no mesmo ano, sede municipal e recebe a deno-
minação de “Itacaré” (IBGE, 1958, p.306). O termo “Itacaré”, que em tupi significa
“pedra torta”, é uma provável alusão às estruturas bandadas e sinuosas das rochas
metamórficas que afloram junto à foz do rio de Contas, bem como por toda a costa
sul do município.
O sítio da cidade de Itacaré se caracteriza pela ocorrência de outeiros e morros
cristalinos entremeados por planícies marinhas quaternárias e, como em toda a costa
sul do município, da foz do rio de Contas (na sede) até a foz do Tijuípe (ao sul no
limite com o município de Uruçuca) apresenta como característica fundamental o con-
tato do planalto cristalino pré-cambriano com o oceano Atlântico. Este contato estabe-
lece um relevo elevado ao longo da costa que, modelado sob a forma de morros e
outeiros, alcança o mar em uma sucessão de costões e promontórios intercalados por
pequenas praias. Este relevo movimentado do planalto dificultou a integração do es-
paço costeiro à dinâmica econômica do cacau, devido à falta de rios navegáveis e de
caminhos acessíveis aos animais de carga, dos quais dependia o transporte das amên-
doas de cacau.
REFERÊNCIAS