Tatiana Jube Fiodf Mest 2020
Tatiana Jube Fiodf Mest 2020
Tatiana Jube Fiodf Mest 2020
Brasília
2020
Tatiana de Almeida Jubé
Brasília
2020
Catalogação na fonte
Escola Fiocruz de Governo
66 p.
CDD: 615.4
Aprovado em 24/08/2020
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________________________
Prof. Dr. Jorge Otávio Maia Barreto - Fundação Oswaldo Cruz
___________________________________________________________________
Profa. Dra. Vera Lucia Luiza - Fundação Oswaldo Cruz
___________________________________________________________________
Prof. Dr. José Agenor Álvares da Silva - Fundação Oswaldo Cruz
__________________________________________________________________
Prof. Dr. Everton Nunes da Silva- Fundação Oswaldo Cruz
(Suplente)
“(...) Quando posso me derramo, não me privo,
não temo,
Me libero, me derramo, sempre me derramei
Sempre escorri entre os dedos dos meus próprios
pés,
Me embrenhando na minha própria lama,
pisando leve e macio
Algumas vezes, quando necessárias, pisadas
pesadas,
Como quem quer rachar o chão para re brotar
Sigo a me derramar e modelar, sou exímia oleira
de um novo vaso,
Belo jarro para que possa mais uma vez me
depositar até transbordar novamente (...)”.
(Anajara Tavares)
A Mulher Emergindo da Lama
AGRADECIMENTOS
Aos mais velhos, em especial aos da minha família, razão da minha existência e
dos ensinamentos ancestrais que carrego. Nomeio aqui minha mãe, Carmem, e meu pai,
Domingos, pois são eles quem me conectam diretamente a esses conhecimentos.
Minha ternura também aos mais novos, pois me reinvento a cada contato com as
gerações que vieram depois. Aqui nomeio meus irmãos, Demétrius e Marcus Vinícius, meus
primeiros companheiros da vida, e minha filha, Elisa, pois é permanente indutora de
atualização do meu hardware cerebral.
Ao meu orientador Jorge Barreto, que pacientemente lapidou uma pedra bruta e
me apoiou na construção da pesquisadora que hoje sou, apresentando na teoria e na prática
alternativas, ajustes e melhoramentos não só no texto, mas na vida. Um professor!
Ao Rafael, irmão, amigo e praticamente coorientador nesta minha trajetória
acadêmica, por todas as escutas e dicas generosas para a construção deste projeto de vida.
Às minhas amizades mais próximas, queridas do coração, que aguentaram
minhas ondas de estresse, desespero, alegria e puro afeto. Vivi, Samia, Ana Paula, Zeza,
Tati, Sarah, Sérgio, Ana Cláudia, Zuca, Apoena e mais uma pá de gente.
À minha turma de mestrado, com a qual aprendi desde o primeiro dia de aula
sobre evoluir e se desesperar junto e que no final dá certo e também à equipe pedagógica e
administrativa da Fiocruz/Brasília, pela sua nobreza no acolhimento dos alunos nos desafios
da saúde pública que enfrentamos durante 2020.
Aos colegas da Anvisa e a todas e todos os profissionais de vigilância sanitária
do Brasil, em qualquer nível de atuação. Meu profundo respeito ao trabalho que
desenvolvemos.
Aos povos originários e ao povo preto deste país, que me impulsionam a escolher
os caminhos na vigilância em saúde.
RESUMO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 15
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 35
1 INTRODUÇÃO
diferentes ferramentas para cumprir o seu objetivo de salvaguardar a população brasileira dos
riscos advindos do consumo de produtos e serviços (2) que podem alterar o estado de saúde do
ações de comunicação em saúde (1). Estes serviços são prestados por estabelecimento
licenciados pela vigilância sanitária tanto para vender diretamente produtos, como é o caso de
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS?
A infraestrutura das farmácias daria uma figuração para este caminho histórico
sobre as atividades desenvolvidas nestes estabelecimentos, segundo análise feita por Leite et al
(30). Farmácias no âmbito do Serviço Único de Saúde (SUS), por exemplo, apresentam
explicitamente o espaço físico baseado o serviço que será realizado: modelo A (área de
(30) e quanto em instituições como o Conselho Federal de Farmácia (CFF) que, a partir de
2012, estruturou um grupo de trabalho para a discussão sobre a atuação do farmacêutico nos
cuidados de saúde com o paciente, ressignificando para a profissão conceitos como o cuidado
farmacêutico e a atenção farmacêutica (7) e ampliando os serviços que poderiam ser ofertados
por estes profissionais através da publicação das Resoluções nº 585 (8), e nº 586 (9), ambas de
Saúde desde o ano de 2004, também revisou a posição dos serviços farmacêuticos na Atenção
Básica, de forma que, em 2014, publicou a série Cuidado Farmacêutico na Atenção Básica (10).
Saúde, além das considerações sobre o financiamento dos programas da política, destacava os
como uso seguro de medicamentos) como ponto de atenção ao paciente, superando o foco na
para definir as farmácias que não realizam serviços de farmácia hospitalar ou de farmácia
clínica (13). Esta terminologia engloba farmácias públicas e privadas que realizam a preparação
no âmbito federal, estadual e municipal, sendo as normas federais suplementadas pelas locais,
conforme a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990 (4). Até 2014, as atividades desenvolvidas
17
dentre outros produtos regulados pela vigilância sanitária. Essa característica foi moldada
especialmente pela Lei nº 5.991, de 17 de dezembro de 1973, que trata do controle sanitário do
como:
principais focos das ações de vigilância em saúde sobre estes estabelecimentos, até a publicação
No entanto, a maior inovação a respeito dos serviços de saúde que poderiam ser
praticados em farmácias ainda estava por vir. Em 8 de agosto de 2014, o Congresso Nacional
publicou a Lei Federal nº 13.021, que dispõe sobre o exercício e a fiscalização das atividades
farmacêuticas. Nesta Lei, o conceito de farmácia vigente desde 1973 foi atualizado para
saúde foi, assim, consideravelmente ampliado. A atividade de vacinação, por exemplo, está
expressa no art. 7º da Lei como um dos serviços de saúde a ser disponibilizado pela farmácia,
18
o local de prática desta atividade, antes realizada especificamente pelas unidades de saúde
públicas e clínicas de vacinação privadas, com legislação sanitária específica apenas para estas
não descritas na RDC nº 44, de 17 de agosto de 2009, começaram a chegar à Anvisa (12),
esta norma ainda seria um instrumento útil tanto para as ações de visa quanto para a população,
no que se refere às atividades em saúde ali oferecidas. Um dos movimentos para captar
pelo tema na Anvisa, foi a realização de uma consulta dirigida para as vigilâncias sanitárias
municipais (15).
As respostas da consulta dirigida foram o ponto de partida desta pesquisa, que teve
como objetivo principal identificar as ações de vigilância sanitária relacionadas aos serviços de
nacional.
19
2 MÉTODOS
Trata-se de uma pesquisa transversal descritiva (14) que utilizou dados secundários
da consulta dirigida, realizada em 2019 pela Anvisa, com as vigilâncias sanitárias de municípios
de 2020 (12).
das informações destes formulários foi feita nos blocos ‘Considerações Gerais’, ‘Estrutura’ e
a pesquisa considerou para cada bloco as respostas das perguntas fechadas e das perguntas
abertas. Para a organização dos dados captados de todas as respostas utilizou-se o Microsoft
dados tabulados pelo LimeSurvey e reproduzidos na consulta dirigida foram a base para a
Foram excluídas respostas descritas como sim, não, siglas, palavras ou frases
os textos ou os contextos similares, que foram também usados para nomear e quantificar os
avaliação sugerida por Silva (16), tendo como objeto de avaliação das ações de vigilância em
(dados secundários), o que permite sua reprodução. Sua utilização também foi autorizada pela
3 RESULTADOS
3.1 IDENTIFICAÇÃO DAS VIGILÂNCIAS SANITÁRIAS
considerados completos. Não foi detectada duplicidade nos respondentes. Conforme pode ser
participou da pesquisa. Ainda de acordo com Tabela, os estados com mais municípios
respondentes foram São Paulo (66), Paraná (64) e Bahia (42). Houve a participação de 21
capitais (15), que perfazem uma população estimada de 45.100.405 habitantes (17),
caracterizando uma amostra relevante dos municípios respondentes para a pesquisa. Capitais
como São Paulo, Rio de Janeiro. Curitiba e Florianópolis tiveram a participação de mais de uma
unidade de vigilância sanitária. De forma inversa a estas situações, o Distrito Federal tem
regiões administrativas, mas a organização da fiscalização fica na sede, que foi quem respondeu
a pesquisa. Houve uma resposta vinda a Vigilância Sanitária Estadual do Rio Grande do Norte.
22
serviços de saúde), foi solicitado que o respondente nomeasse a área da vigilância sanitária que
responde pela fiscalização de farmácias e drogarias em seu município ou estado. Para a maioria
dos participantes, a farmácia comunitária é uma atribuição geral da vigilância sanitária, sem
subdivisão para o tratamento do tema (15). Nos locais aonde há uma área específica para o
assunto notou-se que a atividade de fiscalização está vinculada à área de produtos (15), o que
23
pode ser um indício de que as vigilâncias sanitárias conectam o assunto mais à fiscalização do
pergunta solicitava que se selecionasse o ente federativo responsável pelas ações de fiscalização
349 vigilâncias participantes selecionaram uma das opções e 71,35% dos municípios
descentralização desta atividade na vigilância sanitária. Foi solicitado que, no caso de ambos,
farmácia: as farmácias sem manipulação ou drogarias são fiscalizadas pelo município e as com
à saúde fazem parte da rotina de atribuições das farmácias comunitárias dentro dos atuais
Contudo, como as características deste serviço estão focadas nas definições utilizadas à época
da publicação da RDC nº 44, de 17 de agosto de 2009, as respostas foram muito diversas e com
um certo grau de confusão, de forma que não foi possível uma organização de dados que
apontasse para situações que pudessem ser reunidas de forma que as respostas pudessem ser
agrupadas.
sanitária local (6). A Tabela 2 reúne os serviços relacionados na RDC nº 44, de 17 de agosto de
(18) e outros, captados pela Anvisa nas respostas recebidas sobre a permissão da execução
destes serviços em farmácias comunitárias entre os anos de 2016 a 2019 (12). Segundo as
vigilâncias sanitárias respondentes, todos os serviços listados são realizados em maior ou menor
grau, sendo que os mais executados são a aferição de parâmetros fisiológicos (85,96%), a
de 2009.
Expresso na Expresso na
Serviço/Atividade de Assistência à Saúde Percentual (n) RDC nº Resolução nº
44/2009 499/2008 do CFF
Aferição de parâmetros fisiológicos (temperatura
85,96% (n=300) X X
corporal e pressão arterial)
Administração de medicamentos injetáveis 82,52% (n=288) X X
(Tabela 2), foi desenvolvido em uma pergunta aberta, que solicitava a descrição destes outros
serviços. O desdobramento deste dado indicou que as vigilâncias registram a expansão dos
25
serviços de saúde relacionados na RDC nº 44, de 17 de agosto de 2009, após dez anos de
dezembro de 2017, de forma que não há irregularidade em norma sanitária para desenvolver
atualmente são regulamentados pelo CFF, de forma que o profissional farmacêutico está
habilitado pelo seu conselho de classe para realizá-los. A aferição de parâmetros bioquímicos
além da glicemia teve uma representação considerável entre às vigilâncias sanitárias, sugerindo
que a restrição legal para a verificação apenas do quesito glicemia deve ser repensada. Quanto
relataram utilizar a RDC nº 44, de 17 de agosto de 2009, sendo complementada por normas
estaduais ou municipais (15). Esta questão era objetiva e mais de uma opção poderia ser
escolhida, pois o que se buscava era a percepção da utilidade da RDC em referência perante as
FARMÁCIAS COMUNITÁRIAS
que a orientação pode ser realizada junto a outras atividades de assistência à saúde; e
26
aproximadamente 18% entendem que deveria haver uma sala exclusiva para a orientação
farmacêutica (Tabela 3). As justificativas mais frequentes das vigilâncias sanitárias que
sigilo, a ética, a segurança, a privacidade e o conforto do paciente (15), de acordo com o art. 15
saúde (desconsiderando nesta pergunta a orientação farmacêutica) não é algo aceitável para a
maioria das Visas locais (apenas 4,58% apontaram que as atividades poderiam compartilhar o
farmacêutica foi considerado aceitável por quase 35% dos respondentes e uma área específica
para estas atividades de assistência à saúde é essencial para 51,86% das Visas pesquisadas,
saúde com as demais realizadas pelas farmácias comunitárias apontados por parte das
27
vigilâncias sanitárias respondentes envolviam, por exemplo, a promoção das boas práticas
supramencionada (15). Neste sentido, a RDC nº 44, de 17 de agosto de 2009, parece continuar
como referência legal para as ações de vigilâncias sanitárias locais no que se refere às estruturas
DE FARMÁCIAS COMUNITÁRIAS
pudessem trazer o registro dessa relação, incluindo a segurança em que o serviço é praticado.
(retirados das normas federais sanitárias RDC nº 44, de 17 de agosto de 2009, e RDC nº 197,
de 26 de dezembro de 2017) (22) aqueles que usualmente estão disponíveis durante uma ação
possivelmente por ser um tema regulado pela Anvisa desde 2006 e já com uma tradição de
dos 50% dos documentos disponibilizados à vigilância sanitária, o que pode indicar que os
serviços de assistência à saúde realmente ainda não estão estabelecidos ou visualizados como
28
vacinação em farmácias não fazem parte do objeto desta pesquisa, que está voltado para a RDC
nº 44, de 17 de agosto de 2009, portanto, não foram incluídos na análise, sendo reportados na
apresentado por Silva (16) como o acompanhamento sistemático sobre algumas características
que devem ser disponibilizados à vigilância sanitária, incluindo os direcionados aos sistemas
forma que mais uma vez os sistemas de notificação ganham protagonismo quanto à eficiência
na guarda, na disponibilidade e no uso dos dados para a melhoria das políticas de segurança e
da qualidade nos serviços. Mais uma vez os dados sobre os serviços de vacinação não foram
analisados, por estarem ligados à legislação específica sobre o tema e não à RDC nº 44, de 17
de agosto de 2009.
Procedimentos para investigar incidentes e falhas que podem ter contribuído para a
7.61% (n=25)
ocorrência de erros de vacinação.
Total 100% (n=551)*
Fonte: Elaboração da autora, a partir dos dados da consulta dirigida realizada.
*A questão possibilitava múltipla escolha, por isso o valor total superior à quantidade de respondentes (349).
30
4 DISCUSSÃO
panorama relatado por Brito (23) a este respeito sobre o Sistema Nacional de Vigilância
Sanitária (SNVS), mesmo que ainda sem um nicho dedicado ao tema na maioria dos
municípios. Contudo, a proximidade destas ações com a fiscalização de produtos mais do que
com a de serviços de saúde regulados, evidenciada pela distribuição do tema tanto nas
incluindo a própria RDC nº 44, de 17 de agosto de 2009, que possui cerca de 70% de seus
artigos voltados para este tipo de regulação) é um forte indício de que há de ser feito um trabalho
de base para que os conceitos básicos de serviço de saúde sejam trabalhados junto a esses atores
sanitário federal apareceu como a ferramenta regulatória mais utilizada pelos respondentes, de
forma que a RDC nº 44, de 17 de agosto de 2009, representa um pilar normativo para os estados
e municípios em suas ações de inspeção e fiscalização das farmácias. Isso foi observado,
inclusive, nos questionamentos nos quais se solicitava uma justificativa técnica para a opção e
foi evidenciada uma justificativa legal, citando-se a Resolução na maioria dos casos. Neste
sentido, sua atualização frente ao novo conceito de farmácia também é necessária para que as
ações de inspeção não entrem em conflito com o que está sendo definido e praticado atualmente
como assistência farmacêutica e, num sentido mais amplo, assistência à saúde, desafio
recorrente da vigilância sanitária de serviços de saúde (25). Isto é confirmado pelas respostas
ampliação das atividades previstas na RDC nº 44, de 17 de agosto de 2009, como a realização
da glicemia.
saúde em farmácia seria uma reformulação do conceito proposto por Correr e Ribeiro (13) para
comunidade. Isto confere, ainda, um caráter identitário com a região atendida, possibilitando
saúde em farmácias comunitárias deveria relacionar as atividades de saúde que podem ser
desenvolvidas por profissionais de saúde neste local ou estas atividades devem ser definidas
pelo conselho de classe responsável pela habilitação do profissional de saúde que realiza o
serviço (26), ficando a cargo da vigilância observar e inspecionar a qualidade deste serviço?
Uma vez que a primeira opção não ocorre para nenhum outro estabelecimento de saúde e que
a quantidade de atividades pode vir a variar, esta não parece ser a melhor opção. Aliado a isso,
2009, que propôs uma lista positiva de produtos além dos regulados que poderiam ser vendidos
em farmácias e que não foi efetivada na maioria dos estados brasileiros pelo impedimento
formulário) geram uma discussão à parte: a formulação das perguntas pode ser melhor
trabalhada pela Anvisa para verificar se isso reflete uma falta de alinhamento das respondentes
32
com a mudança proposta pela Lei nº 13.021, de 8 de agosto de 2014, quanto à implementação
do SNVS e com uma visão mais geral sobre o tema, deve auxiliar as vigilâncias sanitárias locais
(23), não só atualizando a RDC nº 44, de 17 de agosto de 2009, nestes quesitos, como também
discussão mais atenta, uma vez que para quase 50% das Visas respondentes a orientação do
individualizado que garanta a privacidade e o conforto ao usuário do serviço, quesito que para
farmácia sendo, assim, desejável que permaneça como uma orientação das estrutura física. Já o
é aceitável para mais de 50% das vigilâncias sanitárias, que entendem que deve haver uma sala
desta atividade ser a balizadora de outras práticas farmacêuticas que fazem parte do conjunto
pode ser observado no monitoramento dessas ações, uma vez que, apesar da Declaração de
Serviços Farmacêuticos ser um documento apresentado por mais de 60% das farmácias, os
registros e as notificações que estão envolvidos nas atividades dos serviços farmacêuticos são
Serviços Farmacêuticos são ainda relevantes para a vigilância sanitária no formato proposto na
inovações legais e pela prática farmacêutica que ocorreram nos dez anos de vigência da
normativa.
34
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A identificação das atividades de saúde em farmácia pelas ações de visa não é uma
norma, os aspectos ligados à estrutura parecem ser mais compreendidos que os de processo e
de monitoramento. Alguns pontos que podem estar relacionados a esta percepção: o perfil
situação há tempos diagnosticada por Costa (1). A RDC nº 44, de 17 de agosto de 2009, seguiu
este caminho, sendo que a provocação para sua atualização não é advinda só por uma lei
específica das atividades desenvolvidas pelo profissional farmacêutico como também pela
prática identificada para este serviço pelas próprias vigilâncias sanitárias locais, que relataram
as inovações pelas respostas dadas à pesquisa. Este é um revés geralmente enfrentado por
normas técnicas. Especificamente para a vigilância sanitária, o objeto de ação requer uma
análise constante de risco e benefício (28) e é essencial que os outros instrumentos de ação e
REFERÊNCIAS
1. Costa EA. Fundamentos da vigilância sanitária. In: Costa EA, organizador. Vigilância
Sanitária: temas em debate [Internet]. Salvador: Fiocruz; 2009 [Acesso em 24 maio 2020]. p.
11–36. Disponível em: http://books.scielo.org/id/d63fk
2. Silva JAA da, Costa EA, Lucchese G. SUS 30 anos: Vigilância Sanitária. Ciênc Saúde
Coletiva [Internet]. 2018 [Acesso em 24 maio 2020]; 23:1953–61. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
81232018000601953&nrm=iso
3. Organização Mundial de Saúde. Constitution of the World Health Organization [Internet].
1946. Disponível em: https://apps.who.int/gb/bd/PDF/bd47/EN/constitution-en.pdf?ua=1
4. Brasil. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção,
proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes e dá outras providências. [Internet]. Diário Oficial da União, 20 set 1990.
[Acesso em 02 jun. 2020]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm
5. ______. Lei nº 5.991, de 17 de dezembro de 1973. Dispõe sobre o Controle Sanitário do
Comércio de Drogas, Medicamentos, Insumos Farmacêuticos e Correlatos e dá outras
providências. [Internet]. Diário Oficial da União, 19 dez 1973. [Acesso em 02 jun. 2020].
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5991.htm
6. ______. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada - RDC
no 44, de 17 de agosto de 2009. Dispõe sobre Boas Práticas Farmacêuticas para o controle
sanitário do funcionamento, da dispensação e da comercialização de produtos e da prestação
de serviços farmacêuticos em farmácias e drogarias e dá outras providências. [Internet]. Diário
Oficial da União, 18 ago 2009. [Acesso em 02 jun. 2020]. Disponível em:
http://portal.anvisa.gov.br/documents/10181/2718376/RDC_44_2009_COMP2.pdf/51e7ed13-
3998-4082-9b8b-9e1878964761
7. Brasil. Conselho Federal de Farmácia. Serviços farmacêuticos diretamente destinados ao
paciente, à família e à comunidade: contextualização e arcabouço conceitual [Internet].
Brasília: Conselho Federal de Farmácia; 2016 [Acesso em 24 maio 2020]. 200 p. Disponível
em: http://www.cff.org.br/userfiles/Profar_Arcabouco_TELA_FINAL.pdf
8. ______. Resolução no 585, de 29 de agosto de 2013. Regulamenta as atribuições clínicas do
farmacêutico e dá outras providências. [Internet]. Diário Oficial da União, 25 set 2013. [Acesso
em 02 jun. 2020]. Disponível em: https://cff-
br.implanta.net.br/portaltransparencia/#publico/Listas?id=704808bb-41da-4658-97d9-
c0978c6334dc
9. ______. Resolução no 586, de 29 de agosto de 2013. Regula a prescrição farmacêutica e dá
outras providências. [Internet]. Diário Oficial da União, 26 set 2013. [Acesso em 02 jun. 2020].
Disponível em: https://cff-
br.implanta.net.br/portaltransparencia/#publico/Listas?id=704808bb-41da-4658-97d9-
c0978c6334dc
36
28. Leite HJD, Navarro MVT. Risco Potencial. In: Costa EA, organizador. Salvador:
EDUFBA; 2009. p. 61-82. (Sala de aula).
29. Leite SN, Manzini F, Álvares J, Guerra Junior AA, Costa EA, Acurcio FA, et al.
Infraestrutura das farmácias da atenção básica no Sistema Único de Saúde: Análise dos dados
da PNAUM-Serviços. Rev Saude Publica. 2017;51 Supl 2:13s
30. Galato D, Alano GM, Trauthman S. C., Vieira A. C. A dispensação de medicamentos: uma
reflexão sobre o processo para prevenção, identificação e resolução de problemas relacionados
à farmacoterapia. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas Brazilian Journal of
Pharmaceutical Sciences vol. 44, n. 3, jul./set., 2008. Acesso em 30/08/2020 Disponível:
https://www.scielo.br/pdf/rbcf/v44n3/a17v44n3.pdf
31. Correr C.J., Otuki MF., Soler O. Assistência farmacêutica integrada ao processo de cuidado
em saúde: gestão clínica do medicamento. Rev Pan-Amaz Saude [Internet]. 2011 Set
[citado 2020 Ago 30] ; 2( 3 ): 41-49. Disponível em:
http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2176-
62232011000300006&lng=pt. http://dx.doi.org/10.5123/S2176-62232011000300006.
39
Até o ano de 2014, as farmácias de manipulação e drogarias eram compreendidas aqui no Brasil
como um local essencialmente de comercialização de medicamentos e outros produtos
regulados pela vigilância sanitária. Os serviços farmacêuticos que podem ser oferecidos nestes
estabelecimentos, denominados na RDC n. 44/2009 de serviços farmacêuticos, seriam a
administração de medicamentos, a atenção farmacêutica subsidiada pela aferição de parâmetros
fisiológicos (pressão arterial e temperatura corporal) e parâmetro bioquímico (glicemia capilar,
por meio de equipamentos de autoteste) e a perfuração do lóbulo auricular para colocação de
brincos.
Com a publicação da Lei 3.021/2014, as farmácias tiveram seu escopo de atuação na assistência
à saúde ampliado para atividades além das descritas na RDC n. 44/2009. A vacinação, por
exemplo, está expressa na lei no artigo 7º e foi normalizada também pela RDC n. 197/2017,
que estabelece requisitos mínimos para oferta deste serviço em estabelecimentos de saúde. No
entanto, demandas para desenvolver outras atividades vêm sendo solicitadas pelos
representantes deste setor, como a realização de exames realizados próximo ao paciente,
denominados point-of-care testing.
Ressaltamos que este questionário não tem o objetivo de avaliação, mas de conhecimento da
realidade das vigilâncias sanitárias locais e sua relação com as normas vigentes sobre o tema.
Equipe GRECS/GGTES/ANVISA
Identificação
Identificação do Estado
Identificação da área da vigilância sanitária que responde pela fiscalização dos serviços de
saúde em farmácias e drogarias
Condições gerais
4. Quais são os tipos de atividades de assistência à saúde que estas farmácias geralmente
oferecem (marque quantas opções forem possíveis):
( ) aferição de parâmetros fisiológicos (temperatura corporal e pressão arterial)
( ) aferição de parâmetros fisiológicos (outros, além da temperatura corporal e da pressão
arterial)
( ) aferição de parâmetros bioquímicos ( glicemia)
( ) aferição de parâmetros bioquímicos (outros, além da glicemia)
( ) administração de medicamentos não injetáveis
( ) administração de medicamentos injetáveis
( ) vacinação
( ) vacinação extramuros por serviços privados
( ) nebulização
( ) curativos de pequeno porte
( ) curativos, independentemente do porte
( ) assistência farmacêutica (consulta com o farmacêutico)
( ) outros (descreva outros serviços que podem ser oferecidos em farmácias comunitárias que
não constam na relação acima):
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5. Qual é o regulamento sanitário utilizados pela vigilância sanitária local para realizar as
ações de fiscalização das atividades de assistência à saúde realizados em farmácias? (pode
marcar mais de uma opção).
( ) RDC n. 44/2009
( ) norma específica para farmácias da secretaria de saúde estadual
Cite a(s) norma(s) utilizada(s)
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
( ) norma específica para farmácias da secretaria de saúde municipal
(abre campo) Cite a(s) norma(s) utilizada(s)
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
( ) Outras normas sanitárias
(abre campo) Cite a(s) norma(s) utilizada(s)
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7. Sobre o local da farmácia onde são realizadas outras atividades de assistência à saúde
(exemplo: administração de medicamento, nebulização, curativos)
( ) é específico para a realização destas atividades (não ocorre no ambiente da orientação
farmacêutica ou na área de dispensação)
(abre campo): No entendimento da vigilância sanitária local há impedimento pautado em razões
técnicas para designar esta área como exclusiva para esta atividade?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
( ) pode ser compartilhado com a área de orientação farmacêutica
( ) pode ser compartilhado com a dispensação de medicamentos
( ) materiais para primeiros-socorros deve estar identificado e de fácil acesso nesse ambiente.
( ) outras exigências
(abre campo)
Descreva as outras exigências da visa para o local onde são realizadas as atividades de
assistência à saúde em farmácias:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Qual é o embasamento legal para as exigências mencionadas?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Qual o embasamento técnico para as exigências mencionadas?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Abstract
Objective: identify health surveillance actions related to health services in community
pharmacies based consultation directed to municipal health surveillance responses.
Methods: this is a descriptive cross-sectional study carried out with secondary data
from the research with municipal health surveillance (visas) improved in 2019 by
Brazilian Health Regulatory Agency (Anvisa). The data obtained from the 349 visas
were organized in the blocks 'General Considerations', 'Structure', 'Process and
Monitoring', health surveillance action axes, and categorized according to the question
format (open or closed) and the content, using health evaluation parameters. Results:
the current federal health rule, RDC n. 44/2009, was cited by visas as a guide for the
47
evaluation of its actions. In the structural aspect, the sharing of location between
dispensation and other health activities reflects an obvious health risk for visas.
Regarding the processes, waste management was mentioned more than the
procedures related to pharmaceutical assistance protocols. As for monitoring, the
Pharmaceutical Services Declaration proved to be useful for recording the activities
carried out, however the notifications of adverse events and technical complaints did
not appear as routine. Discussion: decentralization of pharmacy activities license was
characterized, but it not reflects that health service requirements are at the same level
of evidence as regulated products. RDC no. 44/2009, although useful for visas, it was
out of date in terms of aspects related to the environment, processes and monitoring
that involve health services. Conclusion: Define health activities in community
pharmacies is a challenge for Brazilian health surveillance, both through the necessary
and urgent adjustment of health regulations and the technologies of products and
services to health surveillance that are updated more quickly than the analysis of the
risks for population that are exposed to the innovation.
Keywords: Health surveillance. Community pharmacy. Health services. Health care.
RDC nº 44/2009.
Introdução
Métodos
Resultados
Condições gerais
Discussão
podem ser desenvolvidas por profissionais de saúde neste local ou estas atividades
devem ser definidas pelo conselho de classe responsável pela habilitação do
profissional de saúde que realiza o serviço25, ficando a cargo da vigilância observar e
inspecionar a qualidade deste serviço? Uma vez que a primeira opção não ocorre para
nenhum outro estabelecimento de saúde e que a quantidade de atividades pode vir a
variar, esta não parece ser a melhor opção. Aliado a isso, há o exemplo do fracasso
na implementação da Instrução Normativa nº 09, de 17 de agosto de 2009, que propôs
uma lista positiva de produtos além dos regulados que poderiam ser vendidos em
farmácias e que não foi efetivada na maioria dos estados brasileiros pelo impedimento
advindo de ações judiciais impetradas pelos representantes dos estabelecimentos
farmacêuticos exatamente pela restrição na venda de produtos 26.
O compartilhamento de ambientes das atividades de assistência à saúde
merece uma discussão mais atenta, uma vez que para quase 50% das Visas
respondentes a orientação do farmacêutico pode ser praticada no mesmo local da
dispensação de medicamentos, apesar da RDC nº 44, de 17 de agosto de 2009,
preconizar um ambiente para o atendimento individualizado que garanta a privacidade
e o conforto ao usuário do serviço, quesito que para Leite et al27 favorece o
atendimento e a interação entre o farmacêutico e o usuário da farmácia sendo, assim,
desejável que permaneça como uma orientação das estrutura física. Já o
compartilhamento da atividade de dispensação com outras atividades de assistência
à saúde não é aceitável para mais de 50% das vigilâncias sanitárias, que entendem
que deve haver uma sala exclusiva para desenvolver as atividades. Este dado parece
confirmar o distanciamento da dispensação realizada nas farmácias da assistência
farmacêutica, conforme também apontado na pesquisa de Leite et al.
Quanto aos protocolos relacionados à assistência farmacêutica, nesta pesquisa
relacionados ao processo da assistência à saúde, notou-se que são menos usuais
que o protocolo de manejo de resíduos, apesar de representarem a atividade
balizadora de outras ações da assistência já normalizadas, como a aferição de
parâmetros fisiológicos e bioquímicos. Assim, entende-se que um movimento
integrado do SNVS para a atualização sobre as novas práticas de assistência
farmacêutica é necessário para apoiar as vigilâncias sanitárias na transição do olhar
direcionado apenas para a vigilância do produto comercializado para a vigilância do
serviço de saúde também oferecido.
56
Considerações Finais
para este serviço pelas próprias vigilâncias sanitárias locais, que relataram as
inovações pelas respostas dadas à pesquisa. Este é um revés geralmente enfrentado
por normas técnicas. Especificamente para a vigilância sanitária, o objeto de ação
requer uma análise constante de risco e benefício 28 e é essencial que os outros
instrumentos de ação e intervenção da vigilância sanitária estejam integrados e
sintonizados de forma a complementar o gerenciamento do risco da inovação até a
atualização do regulamento específico.
Agradecimentos
À Anvisa, pelo acesso aos dados brutos para este trabalho, e à Fiocruz Brasília,
pelo suporte estrutural administrativo e acadêmico.
Isenção CEP/CONEP
Por serem dados de pesquisas realizadas por uma instituição pública para
melhor conhecer as características das atividades de serviços de saúde em farmácias,
visando a melhoria das ações de vigilância sanitária nestes estabelecimentos, esta
pesquisa não necessitou de análise pelo sistema CEP/CONEP.
Referências
Tabelas
Tabela 1. Distribuição geográfica da amostra, respondentes por Unidade Federativa, percentual e
número absoluto (Brasil, 2020).
Expresso na
Expresso na
Resolução nº
Serviço/Atividade de Assistência à Saúde Percentual (n) RDC nº
499/2008 do
44/2009
CFF
Aferição de parâmetros fisiológicos
85,96% (n=300) X X
(temperatura corporal e pressão arterial)
Administração de medicamentos injetáveis 82,52% (n=288) X X
Atividades de
Orientação Farmacêutica Percentual (n) Percentual (n)
assistência à saúde
Não ocorre no ambiente
Pode ser realizada no
da orientação
mesmo local da dispensação 45,85% (n=160) 51.86% (n=181)
farmacêutica ou na área
de medicamentos.
de dispensação.
Pode ser realizada com
outras atividades de
Pode ser compartilhado
assistência à saúde
30,09% (n=105) com a área de orientação 34.67% (n=121)
(exemplo: administração de
farmacêutica.
medicamentos, nebulização,
curativos).
Deve ter um local exclusivo
para esta atividade (não
ocorre na área de
dispensação e nem no Pode ser compartilhado
ambiente de outras 17,77% (n=62) com a dispensação de 4.58% (n=16)
atividades de assistência à medicamentos.
saúde como a administração
de medicamentos,
nebulização, curativos).
Sem resposta 6,30% (n=22) Sem resposta 8.88% (n=31)