IV PPPSEducacao
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Globalização
Material Teórico
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Referências
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Material Teórico
Objetivos da Unidade:
O que é globalização?
A palavra “globalização” não é nenhuma novidade, pois certamente você já a escutou, falou e
convive cotidianamente com práticas sociais típicas de uma sociedade globalizada. Mas, ao
re etirmos sobre políticas públicas, é importante fazermos uma caracterização mais precisa
desse conceito.
Mais recentemente, no nal do século XX, quando as distâncias já podiam ser rapidamente
vencidas por seguras e imensas embarcações e aeronaves que trafegam com pessoas e
produtos, e justamente quando a internet se consolidou como o principal vetor de
comunicação e meio para os negócios, a era do capitalismo global encontrou-se com uma
ideologia aliada, o neoliberalismo.
Figura 1 – O mundo ao alcance das mãos
Fonte: Getty Images
Aldeia global: é um conceito formulado pelo teórico canadense Marshall McLuhan, que
escreveu inúmeras re exões sobre as características do capitalismo no contexto de sua
expansão tecnológica e comunicacional, condição que alterou profundamente a política e a
economia no mundo todo. A mundialização das relações econômicas, políticas e culturais
vividas da segunda metade do século XX em diante levou McLuhan a formular a ideia, de certo
modo utópica, de que a mundialização da economia e do capital conduzem a humanidade a um
encurtamento das distâncias e um maior compartilhamento cultural e econômico, daí a ideia
de uma aldeia global.
Figura 2
Fonte: Reprodução
Mas como o mundo globalizado impacta as políticas públicas? Quais aspectos da educação e da
saúde são in uenciados ou mesmo de nidos pelas relações econômicas e ideológicas que
conduzem ao capitalismo global? Como instituições internacionais retratam o contexto atual
em suas proposições para a educação e a saúde globalmente? Como essas instituições se
relacionam com as políticas educacionais e de saúde públicas no âmbito do Estado brasileiro?
Pronto para re etir sobre a atualidade das políticas públicas educacionais no contexto global?
Vamos aos estudos!
Há no cenário político mundial uma tendência dos governos nacionais em coordenar suas
ações no sentido de descentralizar o Estado como elemento determinante nas relações de
produção, reformulando suas ações na área econômica. Nesse sentido, é possível observar
processos de privatização de estruturas estatais como pressuposto para atração de capitais
externos, busca por estabilidade monetária como prerrogativa para regulação do mercado e,
por conseguinte, regulação da dívida pública e das despesas do Estado. Notam-se também os
incentivos scais a grandes corporações a m de atrair investimentos que desenvolvam as
forças produtivas localmente.
Essas ações fazem parte do receituário de organismos multilaterais internacionais que
in uenciam decisões de governos nacionais no mundo todo e, no caso da América Latina,
mais diretamente após aquilo que cou conhecido como o Consenso de Washington. A
expressão surgiu de um encontro ocorrido na capital dos Estados Unidos da América em
1989, convocada pelo Institute for International Economics, envolvendo instituições e
economistas neoliberais, além de alguns membros da administração pública de países latino-
americanos. O encontro tinha o objetivo de apresentar propostas de recomposição política e
econômica aos países latino-americanos e, diante da ampla aceitação das políticas discutidas,
recebeu esse “apelido” envolvendo um grande consenso.
Em verdade, esse evento marca um processo que já se desenvolvia nos Estados Nacionais
durante toda a década de 1980, de adesão a políticas de disciplina scal, enxugamento do
Estado, privatizações, diminuição de políticas sociais e adesão a modelos políticos baseados
nos regimes democráticos dos países industrializados. Coincidente com o declínio político e
econômico da União Soviética, esse período marcou o m da polarização global entre Ocidente
capitalista e Leste comunista, selando o fortalecimento de políticas liberais austeras e
reestruturações do Estado em inúmeros países que são subdesenvolvidos, mas que têm
potencial para ocupar papéis secundários na divisão internacional do trabalho e da produção
industrial.
Esse conjunto de ações que são gerais na condução política da maioria dos países nos dias de
hoje fomenta mudanças na organização da política dos Estados Nacionais, reformulações que
aparecem como ajustes de gestão, mas que, grosso modo, representam reestruturações
profundas na administração estatal, encolhendo sua ação pública e ampliando o espaço de
ação do setor privado na sociedade. Em resumo, no período atual da globalização, as
ideologias neoliberais de reestruturação administrativa tornaram-se um novo modelo de
desenvolvimento, ou seja, a ideia de que é preciso minimizar a ação do Estado para
reorganizá-lo. É o que se chama de “Estado Mínimo” – você já deve ter ouvido falar sobre
isso.
Em Síntese
Elementos característicos do contexto globalizado:
Nesse sentido, podemos destacar a Conferência Mundial Educação para Todos realizada na
Tailândia, em 1990. Planejada por Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura (Unesco), Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e BM, a conferência elaborou a Declaração de Jomtien,
na qual mais de 150 países se comprometem com reformas na educação básica. Dentro da
agenda proposta estão transformações que favoreceram processos de privatização,
fortaleceram instituições privadas de ensino superior e reformaram currículos com ênfase em
aspectos tecnicistas, reforçando os papéis dos países pobres na divisão internacional do
trabalho.
As reformas na educação brasileira ocorridas desde a década de 1990 trouxeram à tona uma
perspectiva educacional em que a escola é voltada para o mercado, pensada a serviço da
economia na preparação de competências e habilidades para a pro ssionalização. Sobretudo a
partir dos anos 2000, o campo educacional é anunciado como mercado promissor pela
Organização Mundial do Comércio (OMC) e, com base na ideia neoliberal de democratização
do acesso à educação por meio do mercado, em diversas nações em desenvolvimento
econômico ocorreram processos de internacionalização e privatização de instituições de
ensino.
Nesse sentido, a saúde despontou como uma atraente perspectiva de negócios, o que induz a
ação dos organismos multilaterais em fortalecer a defesa de políticas públicas que viabilizem a
ação empresarial na saúde e ofereçam instrumentos legais para o relacionamento com o setor
público e expansão da atuação da iniciativa privada na área.
Rizzotto e Campos (2016) elegem outros dois documentos do BM como exemplos das
interferências dos organismos nas políticas em saúde no Brasil. Segundo os autores, os
documentos Governança no Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro: fortalecendo a
qualidade dos investimentos públicos e da gestão de recursos, de 2007, e 20 anos da reforma
do sistema de saúde do brasil: uma avaliação do Sistema Único de Saúde, de 2013, apontam a
direção das propostas do BM para uma maior participação da iniciativa privada na execução e
na gestão do SUS, a m de melhorar a gerência de recursos e a universalização do acesso
(RIZZOTTO; CAMPOS, 2016).
De forma geral, todos os pontos críticos em relação ao SUS re etem a visão liberal do BM de
que a concepção de saúde pública e a universalidade do sistema são ine cientes, onerosas e
limitam a atuação do setor privado, considerado pelo órgão o mais adequado para executar
uma gestão e caz e barata aos cofres públicos. A crítica à participação meramente
suplementar do setor privado no SUS é o centro de toda a argumentação e as recomendações
são de ampliação da participação da iniciativa privada, mudanças na legislação que fortaleçam
a presença do setor privado e mudanças de governança, deixando-a mais próxima à gestão
empresarial, com responsabilização e punição de servidores que não apresentem desempenho
adequado como forma de corrigir os problemas de qualidade.
Apesar das críticas contundentes ao modelo sanitarista que inspirou o SUS e que o conforma
como um sistema universal, com sentido único, de atendimento integral e equânime, o
entendimento liberal está presente de muitas formas na legislação e na estrutura do SUS.
Como já dissemos, a Constituição de 1988, em que pese toda sua inspiração democrática e
social, foi elaborada no curso da expansão do neoliberalismo nos países de capitalismo
periférico e, portanto, articula-se a uma visão liberal da organização política e social do
Estado.
Mesmo mantendo o caráter público e universal, diversas alterações deram conta de fortalecer
a participação do setor privado no SUS, com destinação de recursos públicos à rede médico-
hospitalar privada, além da diminuição dos repasses de recursos para o SUS ter propiciado o
crescimento do mercado de planos de saúde privados.
Figura 4 – Assembleia de servidores da saúde contra a
reforma psiquiátrica
Fonte: Reprodução
Uma organização internacional não está isenta de contradições, mas sob a bandeira das
Nações Unidas encontram-se países de diferentes matizes culturais e construções históricas
diversas, com o propósito comum de construção de relações internacionais democráticas,
multilaterais e, que mesmo diante das tensões comerciais, ideológicas, religiosas e políticas
ocorridas na esfera internacional nos últimos setenta anos, puderam constituir um espaço de
ampla discussão e de apoio internacional em diversos âmbitos. Há esforços concretos para
resguardar a segurança global em momentos de con itos armados, crises humanitárias e
sanitárias e situações de calamidade pública, bem como promover ações políticas nas áreas
que condizem com os direitos humanos, como a saúde e a educação.
A ONU se organiza em uma estrutura de conselhos e a sua Assembleia Geral, que é a instância
máxima da organização. Seus principais órgãos são os Conselhos de Segurança, o Conselho
Econômico e Social, o Conselho de Tutela, o Secretariado (todos esses sediados em Nova
York) e a sua Corte Internacional de Justiça, sediada em Haia. Conta ainda com uma série de
secretarias e departamentos especiais que conduzem ações de governança em diversas partes
do mundo.
Derivou dessa estrutura uma série de organismos que atuam globalmente. Entre eles podemos
destacar alguns ligados à educação, à saúde e ao trabalho: a Unesco, a Organização Mundial da
Saúde (OMS), o Unicef, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e o Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Existem outros organismos e projetos
internacionais nessas áreas ou que atuam indiretamente para a atenção internacional em
educação e saúde global, mas as destacadas anteriormente são sólidas e indicam o esforço
entre os países para consolidar políticas globais com um sentido comum.
Saiba Mais
Aqui deixamos algumas instituições internacionais de atenção à
educação e à saúde que você pode conhecer mais pesquisando sobre
suas atuações:
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura – Unesco;
Tanto a Unesco quanto a OMS são organismos supranacionais, ou seja, não estão vinculadas
ou dirigidas por nenhuma nação especí ca, mas têm suas atividades e práticas políticas
sintonizadas à ação da ONU. Essas agências congregam equipes multidisciplinares de
cientistas, administradores e executivos que desenvolvem projetos e políticas sociais, bem
como monitoram e scalizam as condutas nacionais dos países-membros em relação à
garantia dos direitos humanos e sociais nas áreas especí cas em que atuam.
Os primeiros grandes eventos históricos do século XXI, como o crescimento dos con itos
regionais e de organizações terroristas internacionais, a escalada da vigilância e do controle
de fronteiras, a crise do mercado nanceiro e, mais recentemente, a pandemia do Sars-CoV-
2, evidenciam a importância desses organismos para ações globais e funcionamento de redes
internacionais de cuidado humanitário e atenção à saúde.
Olhando por esse ângulo, nota-se que a articulação das ações contra o trabalho escravo, pela
segurança do trabalho e pela conscientização de empresas e trabalhadores sobre saúde laboral
e saúde mental no trabalho, entre outros inúmeros desdobramentos de ações que integram o
mundo do trabalho, é diretamente relativa à saúde humana entendida como direito social e
envolvem práticas educacionais.
Assim, temas da educação ambiental – como a conscientização sobre a nitude dos recursos
naturais, a necessidade de hábitos e formas produtivas sustentáveis e ações globais de
redução de consumo e poluição, e o crescimento de leis ambientais que regulam e scalizam a
ação de empresas no que tange à preservação do meio ambiente, entre tantas outras ações
ecológicas globais – con uem desde o campo educacional até a melhoria das perspectivas de
saúde de toda a sociedade.
Atuando no interior da ONU, o Pnuma e a OMS articulam estudos, relatórios e ações conjuntas
para o entendimento concreto dos impactos dos problemas ambientais na saúde da
população, pensando e gerindo desde questões do impacto de produtos químicos na atividade
hormonal humana até os modos pelos quais a criação e o abate industrial de animais para
alimentação impactam o ambiente e as nossas saúdes. Percebeu como saúde e educação são
dimensões estruturais para a sociedade humana? É por isso que a formulação de políticas
nessas áreas envolve tantos interesses, instituições e poderes.
Figura 5 – Debate durante o Fórum Alternativo Mundial
da Água
Fonte: Reprodução
Então, esse percurso histórico e social pelas políticas públicas trouxe novos conhecimentos?
Você notou como é possível pensarmos aspectos profundos da política e da economia por
meio da educação e da saúde? É muito importante que os pro ssionais aprofundem seus
conhecimentos sobre políticas públicas e legislações em suas áreas de atuação. Por isso,
manter-se a par das mudanças e das disputas políticas é tão fundamental. Não pare por aqui,
pesquise sempre sobre esses e outros assuntos.
Material Complementar
Sites
ACESSE
Livros
RIBEIRO, H. Saúde Global: olhares do presente. Editora Fiocruz, 2017.
O livro de Helena Ribeiro é um excelente panorama do conceito de “saúde global” e relevante
análise do contexto histórico atual e dos inúmeros desa os concretos que a realidade de uma
economia e de um mercado mundializados colocam para o sanitarismo e a saúde coletiva,
discutindo o meio ambiente como campo transversal, mas fundamental para a saúde global
nos dias de hoje.
Filmes
Nunca me sonharam
Direção de Caue Rhoden, 84 min., 2017.
Baseado nas re exões e na obra de Milton Santos, o lme expõe as contradições que se
colocam entre a noção de globalismo e as desigualdades sociais próprias de uma sociedade
neoliberal. Diante dos impasses de re etir um mundo em constante mudanças e com imensos
abismos, a cultura e a resistência das periferias apontam como uma novidade. Milton Santos
discute a necessidade de outra perspectiva global, em que os direitos humanos e sociais sejam
impulsos para as mudanças.
Referências
BANCO MUNDIAL. Brasil: novo desa o à saúde do adulto. Washington: Banco Mundial, 1991.
(Série de Estudos do Banco Mundial sobre Países).
BIANCHETTI, R. G. Modelo neoliberal e políticas educacionais. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção,
proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes e dá outras providências. Diário O cial da União, Brasília, p. 1, 20 set. 1990.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração mundial de educação para todos. Jomtien:
Unicef, 1990. Disponível em: <https://www.unicef.org/brazil/pt/resources_10230.htm>.
Acesso em: 21/10/2021.
RIBEIRO, N. Sujeitos e projetos em disputa na origem dos conselhos de políticas públicas.
2011. 242 f. Tese (Doutorado em Serviço Social) – Pontifícia Universidade Católica, São Paulo,
2011.