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IV PPPSEducacao

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Políticas de Educação e Saúde na Era da

Globalização

Conteudista: Prof. Me. Adriano Del Duca


Revisão Textual: Laís Otero Fugaitti

Material Teórico

Material Complementar

Referências
1/3

Material Teórico

 Objetivos da Unidade:

Compreender o processo de mundialização dos mercados e o impacto nas


políticas públicas no âmbito nacional;

Compreender a relação entre instituições nanceiras internacionais e as


políticas públicas nacionais;

Conhecer as políticas públicas e privadas internacionais de atenção à


saúde;

Conhecer as instituições internacionais de atenção à saúde;

Relacionar o contexto de mundialização econômica aos processos


colaborativos de planejamento e gestão internacionais da educação e
saúde.

Políticas públicas e capitalismo global

O que é globalização?
A palavra “globalização” não é nenhuma novidade, pois certamente você já a escutou, falou e
convive cotidianamente com práticas sociais típicas de uma sociedade globalizada. Mas, ao
re etirmos sobre políticas públicas, é importante fazermos uma caracterização mais precisa
desse conceito.

A globalização é um fenômeno econômico, político e cultural que se iniciou com o


Mercantilismo, no contexto das expansões marítimas em que nações em busca de rotas
comerciais e de dominação política em outros territórios lançaram-se em audaciosos e
violentos projetos de expansão política e econômica para além de suas fronteiras territoriais.
O colonialismo e toda a expansão territorial das nações europeias sobre América, África e Ásia
representou o início de um processo que se desenvolveu junto com o capitalismo como
sistema econômico e a hegemonia mundial da burguesia como classe social dominante.

Capitalismo e globalização quase se confundem historicamente, já que seus desenvolvimentos


estão absolutamente relacionados. Poderíamos dizer, de forma genérica e resumida, que a
globalização é a mundialização do capitalismo, suas formas de produção material e sua
composição política, tecnológica e ideológica. É muito comum encontrarmos de nições de
globalização restritas a suas características comunicacionais e/ou culturais, em que o
processo de mundialização de relações é entendido de forma positiva como um encurtamento
de distâncias, uma ampliação da virtualidade e das possibilidades de trânsitos internacionais,
tanto de pessoas quanto de mercadorias e valores.

Todavia, a globalização é um processo multifacetado e que tem nas relações mercantis,


econômicas e políticas seus principais pilares. A proliferação tecnológica, o apogeu cultural e
político dos meios digitais e da internet, e a própria internacionalização da cultura e suas
formas de expressão são consequências do processo político e econômico de consolidação do
liberalismo como uma forma de organização política e social.

Mais recentemente, no nal do século XX, quando as distâncias já podiam ser rapidamente
vencidas por seguras e imensas embarcações e aeronaves que trafegam com pessoas e
produtos, e justamente quando a internet se consolidou como o principal vetor de
comunicação e meio para os negócios, a era do capitalismo global encontrou-se com uma
ideologia aliada, o neoliberalismo.
Figura 1 – O mundo ao alcance das mãos
Fonte: Getty Images

A égide do modelo neoliberal, operado a partir de grandes centros econômicos e industriais


(como Estados Unidos da América e Inglaterra) e escorado pela absoluta reestruturação
produtiva que esgarçou as relações trabalhistas nos países pobres, tem conduzido a
reorganização dos mercados, dos papéis internacionais e das políticas econômicas, apoiada na
ideia de que não existem mais fronteiras para os negócios. A ideia de aldeia global de Marshall
McLuhan, se não corresponde à realidade no que tange à livre circulação dos indivíduos, é
verdadeira quanto ao livre trânsito de grandes corporações, do uxo de capitais e das
mercadorias.
Glossário

Aldeia global: é um conceito formulado pelo teórico canadense Marshall McLuhan, que
escreveu inúmeras re exões sobre as características do capitalismo no contexto de sua
expansão tecnológica e comunicacional, condição que alterou profundamente a política e a
economia no mundo todo. A mundialização das relações econômicas, políticas e culturais
vividas da segunda metade do século XX em diante levou McLuhan a formular a ideia, de certo
modo utópica, de que a mundialização da economia e do capital conduzem a humanidade a um
encurtamento das distâncias e um maior compartilhamento cultural e econômico, daí a ideia
de uma aldeia global.
Figura 2
Fonte: Reprodução

Mas como o mundo globalizado impacta as políticas públicas? Quais aspectos da educação e da
saúde são in uenciados ou mesmo de nidos pelas relações econômicas e ideológicas que
conduzem ao capitalismo global? Como instituições internacionais retratam o contexto atual
em suas proposições para a educação e a saúde globalmente? Como essas instituições se
relacionam com as políticas educacionais e de saúde públicas no âmbito do Estado brasileiro?

Pronto para re etir sobre a atualidade das políticas públicas educacionais no contexto global?
Vamos aos estudos!

O contexto pós-Consenso de Washington: m da


Guerra Fria e o neoliberalismo
Um dos eixos para pensarmos a época atual, entendida como apogeu da era globalizada, é
compreender a dinâmica das políticas internacionais. Estas têm sido reguladas pela lógica
neoliberal desde os anos 1980. No neoliberalismo, o centro de todas as relações sociais é o
mercado (BIANCHETTI, 2001) e, portanto, as ações do Estado tendem a estabelecer
parâmetros que consideram centralmente o mercado no quadro de suas decisões.

Há no cenário político mundial uma tendência dos governos nacionais em coordenar suas
ações no sentido de descentralizar o Estado como elemento determinante nas relações de
produção, reformulando suas ações na área econômica. Nesse sentido, é possível observar
processos de privatização de estruturas estatais como pressuposto para atração de capitais
externos, busca por estabilidade monetária como prerrogativa para regulação do mercado e,
por conseguinte, regulação da dívida pública e das despesas do Estado. Notam-se também os
incentivos scais a grandes corporações a m de atrair investimentos que desenvolvam as
forças produtivas localmente.
Essas ações fazem parte do receituário de organismos multilaterais internacionais que
in uenciam decisões de governos nacionais no mundo todo e, no caso da América Latina,
mais diretamente após aquilo que cou conhecido como o Consenso de Washington. A
expressão surgiu de um encontro ocorrido na capital dos Estados Unidos da América em
1989, convocada pelo Institute for International Economics, envolvendo instituições e
economistas neoliberais, além de alguns membros da administração pública de países latino-
americanos. O encontro tinha o objetivo de apresentar propostas de recomposição política e
econômica aos países latino-americanos e, diante da ampla aceitação das políticas discutidas,
recebeu esse “apelido” envolvendo um grande consenso.

Em verdade, esse evento marca um processo que já se desenvolvia nos Estados Nacionais
durante toda a década de 1980, de adesão a políticas de disciplina scal, enxugamento do
Estado, privatizações, diminuição de políticas sociais e adesão a modelos políticos baseados
nos regimes democráticos dos países industrializados. Coincidente com o declínio político e
econômico da União Soviética, esse período marcou o m da polarização global entre Ocidente
capitalista e Leste comunista, selando o fortalecimento de políticas liberais austeras e
reestruturações do Estado em inúmeros países que são subdesenvolvidos, mas que têm
potencial para ocupar papéis secundários na divisão internacional do trabalho e da produção
industrial.

Esse conjunto de ações que são gerais na condução política da maioria dos países nos dias de
hoje fomenta mudanças na organização da política dos Estados Nacionais, reformulações que
aparecem como ajustes de gestão, mas que, grosso modo, representam reestruturações
profundas na administração estatal, encolhendo sua ação pública e ampliando o espaço de
ação do setor privado na sociedade. Em resumo, no período atual da globalização, as
ideologias neoliberais de reestruturação administrativa tornaram-se um novo modelo de
desenvolvimento, ou seja, a ideia de que é preciso minimizar a ação do Estado para
reorganizá-lo. É o que se chama de “Estado Mínimo” – você já deve ter ouvido falar sobre
isso.

Em geral, as reformas ocasionadas em Estados Nacionais nesse contexto respeitam


condicionamentos de organismos multilaterais de atuação global como o Fundo Monetário
Internacional (FMI), o Banco Mundial (BM), o Banco Internacional para a Reconstrução e
Desenvolvimento (Bird) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Há uma
interessante caracterização das premissas que sustentam esse condicionamento de políticas
nacionais às recomendações de organismos multilaterais, classi cando esse fenômeno como
“monocultura institucional”, na qual as formulações dessas agências internacionais são
tomadas como modelos de e ciência, sem considerar as possibilidades de adaptação a cada
realidade nacional, guardadas as diferenças históricas e socioculturais. É como se as
ferramentas apresentadas por esses organismos fossem ideais em qualquer contexto, sem
levar em conta, por exemplo, a posição do desenvolvimento econômico das nações no
contexto do capitalismo global, ou mesmo sua capacidade de gerar riquezas e manter os
compromissos nanceiros com bancos internacionais e com o bem-estar de sua população.

Em Síntese
Elementos característicos do contexto globalizado:

Difusão do modelo liberal de economia de mercado;

Intensi cação das trocas comerciais em escala mundial;

Acirramento da concorrência entre as empresas;

Abertura de fronteiras aos grandes uxos de pessoas, bens,


capitais, informações e serviços;

Diminuição contínua do papel do Estado (Estado Mínimo);

Transnacionalização e desterritorialização contínua das grandes


corporações, em busca de reduções no custo de produção;

Uso crescente de tecnologias de informação e comunicação;

Crescimento do consumo e das desigualdades sociais.


A in uência de instituições nanceiras na
implementação de políticas públicas de educação e
saúde
O FMI, o BM e o Bird são organismos que foram criados no contexto pós-guerra, a partir do
Tratado de Bretton Woods, como mecanismos internacionais e multilaterais para nanciar a
reconstrução dos países destruídos pela guerra. Ao longo da segunda metade do século XX,
tornaram-se poderosos organismos de política econômica internacional, atuando não apenas
no nanciamento para Estados Nacionais, mas como elaboradores de políticas em diversas
áreas da administração pública, e agentes internacionais da reestruturação do Estado,
fortalecendo a perspectiva neoliberal mundialmente. Em 1956 é criado o BID pela Organização
dos Estados Americanos (OEA), tornando-se outro importante organismo multilateral de ação
internacional que se consolidou no nanciamento para os países membros da OEA e como
referência na proposição de políticas neoliberais para reestruturação e administração estatais.

É possível observar inúmeras proposições oriundas dessas agências em políticas públicas de


quase todos os países atualmente. No Brasil não é difícil mapear, entre as diversas
reestruturações pelas quais o Estado passou desde a redemocratização, nas estruturas de
gestão, nas políticas públicas e em alguns princípios relativos à relação entre o Estado e o
Mercado, elementos que foram in uenciados por esses organismos. A correlação entre o
contexto político da redemocratização do Estado brasileiro e o fortalecimento do
neoliberalismo como política econômica global incidiram na reestruturação do Estado iniciada
na Assembleia Constituinte de 1988 e levada a cabo pela agenda política dos Poderes
Legislativo e Executivo durante as décadas de 1990 e 2000. A progressiva austeridade
administrativa e de gastos públicos, a elaboração de uma lei de responsabilidade scal, bem
como as diversas políticas econômicas estabelecidas para manter a estabilidade scal e
monetária, são exemplos da in uência dos organismos multilaterais nas políticas públicas
brasileiras.
Para que os Estados Nacionais acessem os recursos oriundos desses fundos na forma de
empréstimos, é necessária a adesão aos receituários que os organismos multilaterais
preconizam para ações especí cas em diversas áreas da sociedade, como educação, saúde,
mercado de trabalho e política scal. A ideologia da gestão e ciente e da liberdade de mercado
recobre a intenção de desenvolver, em uma perspectiva neoliberal, as concepções e as ações
do Estado, visando ao encolhimento de sua ação no campo econômico e social, na regulação e
proteção trabalhista e na seguridade social. Na medida em que as nações tornam-se
dependentes desses empréstimos para executar sua ação pública, comprometem-se em
realizar as mudanças em sua legislação e estrutura administrativa e na presença social do
Estado, adaptando-se ao contexto do mercado globalizado.

A educação brasileira no contexto global


O eixo das reformas no setor educacional que o BM propunha aos países em desenvolvimento
gira em torno das ações de melhoria da qualidade e e ciência do sistema educacional, da
priorização da educação básica (sobretudo em relação aos aspectos nanceiros e
administrativos) e da descentralização da gestão com relativa autonomia para as instituições
de ensino. As propostas pautam ainda uma maior participação da família na vida escolar, além
do impulso a organismos não governamentais e ao setor privado.

Nesse sentido, podemos destacar a Conferência Mundial Educação para Todos realizada na
Tailândia, em 1990. Planejada por Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura (Unesco), Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e BM, a conferência elaborou a Declaração de Jomtien,
na qual mais de 150 países se comprometem com reformas na educação básica. Dentro da
agenda proposta estão transformações que favoreceram processos de privatização,
fortaleceram instituições privadas de ensino superior e reformaram currículos com ênfase em
aspectos tecnicistas, reforçando os papéis dos países pobres na divisão internacional do
trabalho.

As reformas na educação brasileira ocorridas desde a década de 1990 trouxeram à tona uma
perspectiva educacional em que a escola é voltada para o mercado, pensada a serviço da
economia na preparação de competências e habilidades para a pro ssionalização. Sobretudo a
partir dos anos 2000, o campo educacional é anunciado como mercado promissor pela
Organização Mundial do Comércio (OMC) e, com base na ideia neoliberal de democratização
do acesso à educação por meio do mercado, em diversas nações em desenvolvimento
econômico ocorreram processos de internacionalização e privatização de instituições de
ensino.

Figura 3 – Manifestação pela continuidade do Fundo de


Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica
(Fundeb) como política de nanciamento da educação
básica no Brasil
Fonte: campanha.org

Há inúmeros aspectos das proposições da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), do formato do


Fundeb e das ações do PNE que re etem o contexto do neoliberalismo global e das ações dos
organismos multilaterais. Um dos aspectos é a descentralização administrativa e a formação
de conselhos de gestão e de controle social, característica que é inspirada tanto nos conselhos
formados em processos históricos democráticos quanto na Revolução Francesa, na Comuna
de Paris e na Revolução Russa, bem como nas proposições de gestão de inspiração neoliberal
recomendadas pelos organismos multilaterais (RIBEIRO, 2011).

Outro aspecto marcante é a valorização da educação básica como mecanismo principal de


diminuição das desigualdades sociais, além de uma concepção de educação voltada para o
mundo do trabalho, com valorização da formação técnica e pro ssional, tanto na
redistribuição dos recursos (Fundeb) quanto na construção do sistema de ensino. Essas
características são evidentes na legislação brasileira, principalmente na LDB (lei 9.394/1996),
na Lei do Fundeb (lei 14.113/2020) e no Plano Nacional de Educação (PNE, lei 13.005/2014),
que estudamos anteriormente.

Saúde no Brasil e globalização


No período histórico que estamos observando aqui, a saúde converteu-se em mais uma forma
de acumulação capitalista, seja através dos planos privados de saúde, da gestão privada de
fundos públicos ou da apropriação dos conhecimentos cientí cos pelo capital no
desenvolvimento do complexo médico-hospitalar-farmacêutico. Essa característica fez
crescer em diversos países empresas que atuam no setor privado oferecendo serviços
médicos, bem como a ampliação do complexo da indústria farmacêutica e de equipamentos e
insumos médicos.

Nesse sentido, a saúde despontou como uma atraente perspectiva de negócios, o que induz a
ação dos organismos multilaterais em fortalecer a defesa de políticas públicas que viabilizem a
ação empresarial na saúde e ofereçam instrumentos legais para o relacionamento com o setor
público e expansão da atuação da iniciativa privada na área.

O BM publicou nas últimas décadas inúmeros documentos de análises da estrutura e gestão do


Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro, assim como recomendações de reestruturação e
melhoria da gestão do sistema, apontando critérios que deveriam ser assumidos como
compromissos pelo Estado brasileiro para que fossem liberados os pedidos de empréstimos
para projetos na área da saúde.
Ainda em 1991, no documento Brasil: novo desa o à saúde do adulto, parte da Série de
Estudos do Banco Mundial sobre os Países, o organismo manifestou discordância com o
princípio constitucional brasileiro que apontava a saúde como um direito universal e obrigação
do Estado. Indicava que o papel do Estado deveria ser promover, regulamentar e nanciar a
saúde, mas a prestação dos serviços deveria car destinada a qualquer entidade capaz de
executá-los com maior qualidade (RIZZOTTO; CAMPOS, 2016, p. 2), deixando entrever quais
os sentidos das recomendações que o BM faria ao Estado brasileiro nas décadas seguintes.

Também a descentralização da gestão, princípio do SUS, e a estrutura de gestão baseada em


conselhos aparecem nas recomendações do BM para as políticas públicas de países em
desenvolvimento, já que abrem mais possibilidades para articulação entre setor público e
privado na oferta de serviços em pequenas localidades nas pontas do sistema. A
descentralização que foi operacionalizada no SUS gerou progressiva municipalização da gestão
do sistema, o que foi visto pelo organismo como uma excessiva descentralização, levando à
pouca presença de entidades privadas na execução dos serviços.

Rizzotto e Campos (2016) elegem outros dois documentos do BM como exemplos das
interferências dos organismos nas políticas em saúde no Brasil. Segundo os autores, os
documentos Governança no Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro: fortalecendo a
qualidade dos investimentos públicos e da gestão de recursos, de 2007, e 20 anos da reforma
do sistema de saúde do brasil: uma avaliação do Sistema Único de Saúde, de 2013, apontam a
direção das propostas do BM para uma maior participação da iniciativa privada na execução e
na gestão do SUS, a m de melhorar a gerência de recursos e a universalização do acesso
(RIZZOTTO; CAMPOS, 2016).

Os autores apresentam alguns pontos em que os documentos do BM são críticos em relação


ao SUS. Podemos resumir a abordagem crítica e as recomendações do banco pelos seguintes
tópicos:

Os princípios constitucionais que garantem o “direito à saúde” no Brasil, a


“governança” do sistema e o funcionamento de seu modelo de descentralização;

A “e ciência” do sistema, traduzida na relação custo × volume dos serviços;


A relação entre os setores público e privado na execução dos serviços de saúde.

De forma geral, todos os pontos críticos em relação ao SUS re etem a visão liberal do BM de
que a concepção de saúde pública e a universalidade do sistema são ine cientes, onerosas e
limitam a atuação do setor privado, considerado pelo órgão o mais adequado para executar
uma gestão e caz e barata aos cofres públicos. A crítica à participação meramente
suplementar do setor privado no SUS é o centro de toda a argumentação e as recomendações
são de ampliação da participação da iniciativa privada, mudanças na legislação que fortaleçam
a presença do setor privado e mudanças de governança, deixando-a mais próxima à gestão
empresarial, com responsabilização e punição de servidores que não apresentem desempenho
adequado como forma de corrigir os problemas de qualidade.

Apesar das críticas contundentes ao modelo sanitarista que inspirou o SUS e que o conforma
como um sistema universal, com sentido único, de atendimento integral e equânime, o
entendimento liberal está presente de muitas formas na legislação e na estrutura do SUS.
Como já dissemos, a Constituição de 1988, em que pese toda sua inspiração democrática e
social, foi elaborada no curso da expansão do neoliberalismo nos países de capitalismo
periférico e, portanto, articula-se a uma visão liberal da organização política e social do
Estado.

Mesmo mantendo o caráter público e universal, diversas alterações deram conta de fortalecer
a participação do setor privado no SUS, com destinação de recursos públicos à rede médico-
hospitalar privada, além da diminuição dos repasses de recursos para o SUS ter propiciado o
crescimento do mercado de planos de saúde privados.
Figura 4 – Assembleia de servidores da saúde contra a
reforma psiquiátrica
Fonte: Reprodução

Além disso, pode-se observar na legislação da saúde brasileira, principalmente na Lei


Orgânica 8.080/1990, a perspectiva de relação entre o setor público e o privado, inclusive no
direcionamento de recursos estatais para instituições de saúde de direito privado, a m de
cumprir com os princípios de universalidade e integralidade que embasam o SUS.

As parcerias público-privadas previstas na legislação e materializadas em relações da rede


pública de saúde com a rede conveniada privada, a terceirização de serviços por empresas
dentro de unidades públicas de saúde e até alguns dos princípios de gestão pública, como
e ciência, qualidade total e agilidade, características próprias ao SUS, também são re exos
das proposições dos organismos multilaterais para as políticas públicas.
Como dissemos, o fortalecimento do setor privado se dá por meio de inúmeros processos
aparentemente desconexos, mas que se articulam para a construção de um modo de operação
do sistema público que se relaciona sobremaneira com a rede privada. As terceirizações e
concessões são as formas pelas quais o Estado se relaciona com o Mercado, transferindo
recursos, contratando serviços e concedendo temporariamente a exploração de determinada
atividade de nalidade pública.

Essas parcerias público-privadas têm o objetivo de ampliar o atendimento, aumentar a


e ciência de gestão e expandir a rede de ação do SUS. No entanto, elas transferem a atividade
de prestação de serviços em saúde para a iniciativa privada, consolidando perspectivas de
gestão e de saúde mais próximas àquelas defendidas pelos organismos multilaterais de
inspiração neoliberal e que contradizem alguns dos princípios constitucionais brasileiros.

Políticas e organismos internacionais de educação e


saúde
Podemos dizer que atualmente há um sólido campo político e cientí co internacional que
abrange a grande maioria das nações e in uencia a geopolítica internacional de forma
hegemônica. Esse campo formado por organizações internacionais, instituições de
governança global, organismos multilaterais, institutos de pesquisa, fundações privadas e
organizações não governamentais está ligado diretamente (ou indiretamente associado) ao
grande “guarda-chuva” político que é a Organização das Nações Unidas (ONU).

Criada em 1945, também no quadro da reorganização internacional do pós-guerra, a ONU foi


criada com a responsabilidade de desenvolver governança global, integrando a comunidade
internacional em uma assembleia comum, a m de desenvolver políticas, códigos de conduta,
organismos de assessoria técnica e cientí ca, e espaços consultivos e deliberativos entre as
nações-membro, em prol da paz mundial e da garantia dos direitos humanos universais,
apresentados em sua Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Uma organização internacional não está isenta de contradições, mas sob a bandeira das
Nações Unidas encontram-se países de diferentes matizes culturais e construções históricas
diversas, com o propósito comum de construção de relações internacionais democráticas,
multilaterais e, que mesmo diante das tensões comerciais, ideológicas, religiosas e políticas
ocorridas na esfera internacional nos últimos setenta anos, puderam constituir um espaço de
ampla discussão e de apoio internacional em diversos âmbitos. Há esforços concretos para
resguardar a segurança global em momentos de con itos armados, crises humanitárias e
sanitárias e situações de calamidade pública, bem como promover ações políticas nas áreas
que condizem com os direitos humanos, como a saúde e a educação.

A ONU se organiza em uma estrutura de conselhos e a sua Assembleia Geral, que é a instância
máxima da organização. Seus principais órgãos são os Conselhos de Segurança, o Conselho
Econômico e Social, o Conselho de Tutela, o Secretariado (todos esses sediados em Nova
York) e a sua Corte Internacional de Justiça, sediada em Haia. Conta ainda com uma série de
secretarias e departamentos especiais que conduzem ações de governança em diversas partes
do mundo.

Derivou dessa estrutura uma série de organismos que atuam globalmente. Entre eles podemos
destacar alguns ligados à educação, à saúde e ao trabalho: a Unesco, a Organização Mundial da
Saúde (OMS), o Unicef, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e o Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Existem outros organismos e projetos
internacionais nessas áreas ou que atuam indiretamente para a atenção internacional em
educação e saúde global, mas as destacadas anteriormente são sólidas e indicam o esforço
entre os países para consolidar políticas globais com um sentido comum.

Saiba Mais
Aqui deixamos algumas instituições internacionais de atenção à
educação e à saúde que você pode conhecer mais pesquisando sobre
suas atuações:
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura – Unesco;

Fundo das Nações Unidas para a Infância – Unicef;

Organização Internacional do Trabalho – OIT;

Organização Mundial da Saúde – OMS;

Organização Pan-Americana da Saúde no Brasil – Opas-BR;

Opas Medicamentos e Tecnologias;

Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Vigilância Sanitária;

Médicos sem Fronteiras – MSF;

Órgão das Nações Unidas para o Controle Internacional de Drogas


– INCB;

Centro de Controle e Prevenção de Doenças – CDC (Estados Unidos


da América);

International Pharmaceutical Federation – IPF;

Sociedade Internacional para Farmacoepidemiologia – Ispe;

Organização de Farmacêuticos Ibero-Latino-Americanos – O l;

Associação de Pro ssionais em Controle de Infecção e


Epidemiologia – Apic;

Centro Regional de Educação de Adultos para América Latina –


Crefal;
Instituto Internacional de Plani cación de la Educación – IIPE/Buenos
Aires;

International Institute of Educational Planning – IIEP/Paris;

Organização dos Estados Americanos – OEA;

Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a


Ciência e a Cultura – OEI;

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – Pnud;

Instituto Internacional para la Educación Superior en América Latina y el


Caribe – Iesalc/Unesco;

O cina Regional de Educación para América Latina y el Caribe –


Orealc/Unesco.

Tanto a Unesco quanto a OMS são organismos supranacionais, ou seja, não estão vinculadas
ou dirigidas por nenhuma nação especí ca, mas têm suas atividades e práticas políticas
sintonizadas à ação da ONU. Essas agências congregam equipes multidisciplinares de
cientistas, administradores e executivos que desenvolvem projetos e políticas sociais, bem
como monitoram e scalizam as condutas nacionais dos países-membros em relação à
garantia dos direitos humanos e sociais nas áreas especí cas em que atuam.

Diferentemente dos organismos nanceiros multilaterais, essas agências e os fundos de


desenvolvimento em áreas sociais ligados à ONU, como o Unicef, atuam diretamente na
execução de projetos e políticas sociais nos mais diversos países do mundo, muitas vezes em
parceria com órgãos estatais, outras em associação com organizações não governamentais,
fundações e empresas. No contexto global, é cada vez mais notória a importância desses
organismos em regulação, scalização e apoio às nações, seja na consolidação de relações
internacionais estáveis, seja na construção de novas perspectivas de organização
internacional, ampliando as redes de cooperação cientí ca, culturais, assistenciais e médicas,
assim como difundindo noções transnacionais para o futuro.

Os primeiros grandes eventos históricos do século XXI, como o crescimento dos con itos
regionais e de organizações terroristas internacionais, a escalada da vigilância e do controle
de fronteiras, a crise do mercado nanceiro e, mais recentemente, a pandemia do Sars-CoV-
2, evidenciam a importância desses organismos para ações globais e funcionamento de redes
internacionais de cuidado humanitário e atenção à saúde.

A OMS atuou diretamente na articulação da comunidade cientí ca e dos órgãos centrais de


saúde dos países durante as recentes endemias de Sars, Mers, H1N1 e ebola, sendo
fundamental para a articulação de cadeias de pesquisa, produção e circulação das informações
cientí cas. Essa atuação tem demonstrado o potencial político dessas agências, in uenciando
nas decisões políticas e econômicas de inúmeras nações, além de consolidar um importante
campo de valorização do conhecimento cientí co e das colaborações internacionais.

Meio ambiente e trabalho: aspectos da educação e da


saúde no contexto global
No contexto atual do desenvolvimento capitalista, em que há um aumento exponencial da
produção industrial e do consumo tanto de produtos industrializados quanto de recursos
naturais como a água, as questões ambientais e do mundo do trabalho se colocam como
aspectos centrais para pensar tanto a saúde quanto a educação no contexto global. Vimos que
os projetos e as recomendações contemporâneas para a educação contemplam uma
perspectiva de formação para o trabalho e para a cidadania e que os programas de saúde e o
próprio SUS estão vinculados a uma perspectiva de inclusão, universalização e equidade.

Olhando por esse ângulo, nota-se que a articulação das ações contra o trabalho escravo, pela
segurança do trabalho e pela conscientização de empresas e trabalhadores sobre saúde laboral
e saúde mental no trabalho, entre outros inúmeros desdobramentos de ações que integram o
mundo do trabalho, é diretamente relativa à saúde humana entendida como direito social e
envolvem práticas educacionais.

Assim, temas da educação ambiental – como a conscientização sobre a nitude dos recursos
naturais, a necessidade de hábitos e formas produtivas sustentáveis e ações globais de
redução de consumo e poluição, e o crescimento de leis ambientais que regulam e scalizam a
ação de empresas no que tange à preservação do meio ambiente, entre tantas outras ações
ecológicas globais – con uem desde o campo educacional até a melhoria das perspectivas de
saúde de toda a sociedade.

As ações das OIT, junto a inúmeras fundações, sindicatos, associações de trabalhadores e


governos nacionais, conformaram uma importante força política pela garantia de direitos
trabalhistas, que estão diretamente articulados à seguridade social e, portanto, à saúde dos
trabalhadores. Existem estudos e ações conjuntas coordenadas entre a OMS e a OIT por
ambientes de trabalho saudáveis, e algumas delas geraram formulações de leis que organizam
o ambiente de trabalho em indústrias e empresas no Brasil.

Do mesmo modo, tanto o Pnuma quanto outras organizações ambientalistas regionais e


globais, organizações não governamentais (ONG) e governos nacionais têm ações conjuntas
com nalidades ecológicas, mas que podem ser entendidas como políticas de saúde coletiva,
buscando equilibrar o consumo e a produção de forma saudável para o planeta e os seus
habitantes.

Atuando no interior da ONU, o Pnuma e a OMS articulam estudos, relatórios e ações conjuntas
para o entendimento concreto dos impactos dos problemas ambientais na saúde da
população, pensando e gerindo desde questões do impacto de produtos químicos na atividade
hormonal humana até os modos pelos quais a criação e o abate industrial de animais para
alimentação impactam o ambiente e as nossas saúdes. Percebeu como saúde e educação são
dimensões estruturais para a sociedade humana? É por isso que a formulação de políticas
nessas áreas envolve tantos interesses, instituições e poderes.
Figura 5 – Debate durante o Fórum Alternativo Mundial
da Água
Fonte: Reprodução

Todas as mudanças nos modos de produção e até mesmo as reestruturações político-


administrativas dos Estados, típicas do período neoliberal, pressionam as agências
internacionais ligadas à educação, à saúde, ao trabalho e ao meio ambiente a atuarem na
manutenção e na ampliação das conquistas em direitos humanos obtidas ao longo do século
XX. Ações de OMS, Unesco e OIT para melhoria da saúde coletiva das populações; o cuidado
com o meio ambiente e o clima; a erradicação de fome, miséria e analfabetismo; e o combate
ao trabalho escravo são missões desses órgãos e apontam para os inúmeros desa os e
aspectos positivos das relações internacionais no contexto global.

Então, esse percurso histórico e social pelas políticas públicas trouxe novos conhecimentos?
Você notou como é possível pensarmos aspectos profundos da política e da economia por
meio da educação e da saúde? É muito importante que os pro ssionais aprofundem seus
conhecimentos sobre políticas públicas e legislações em suas áreas de atuação. Por isso,
manter-se a par das mudanças e das disputas políticas é tão fundamental. Não pare por aqui,
pesquise sempre sobre esses e outros assuntos.

Obrigado pela leitura! Até a próxima!


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Material Complementar

Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados


nesta Unidade:

Sites

Organização Mundial de Saúde (OMS)


O site da Organização Mundial de Saúde (WHO, na sigla em inglês) é uma excelente pedida para
conhecer mais sobre essa organização que conduz pesquisas, aconselha e coordena a
governança global em saúde pública. A OMS é uma das instituições internacionais mais sólidas e
atuantes. Tem produzido relevantes materiais sobre as condições sanitárias globais e os desa os
contemporâneos para a saúde coletiva em um contexto mundializado.

ACESSE

Livros
RIBEIRO, H. Saúde Global: olhares do presente. Editora Fiocruz, 2017.
O livro de Helena Ribeiro é um excelente panorama do conceito de “saúde global” e relevante
análise do contexto histórico atual e dos inúmeros desa os concretos que a realidade de uma
economia e de um mercado mundializados colocam para o sanitarismo e a saúde coletiva,
discutindo o meio ambiente como campo transversal, mas fundamental para a saúde global
nos dias de hoje.

Filmes
Nunca me sonharam
Direção de Caue Rhoden, 84 min., 2017.

A partir de entrevistas com importantes educadores, pesquisadores e ativistas da educação, e


principalmente por meio da voz de estudantes, o documentário apresenta um pouco da
realidade educacional do Ensino Médio brasileiro, realizando um interessante raio x do
sistema de ensino nacional de como as políticas públicas educacionais formuladas e
implementadas pelas diferentes esferas governamentais no contexto globalizado chegam a
adolescentes e jovens.
Por uma outra globalização
Direção de Silvio Tendler, 60 min., 2003.

Baseado nas re exões e na obra de Milton Santos, o lme expõe as contradições que se
colocam entre a noção de globalismo e as desigualdades sociais próprias de uma sociedade
neoliberal. Diante dos impasses de re etir um mundo em constante mudanças e com imensos
abismos, a cultura e a resistência das periferias apontam como uma novidade. Milton Santos
discute a necessidade de outra perspectiva global, em que os direitos humanos e sociais sejam
impulsos para as mudanças.

FILME | Milton Santos - Por uma outra globalização, 2004

Escolarizando o mundo: o último fardo do homem branco


Direção de Carol Black, 65 min., 2010.

O documentário de Carol Black retrata a realidade escolar em um local do sudeste do


Paquistão, a província de Ladakh, a m de demonstrar como processos educacionais
globalizados alteram comunidades tradicionais, evidenciando as di culdades de absorção da
cultura ocidental por uma comunidade cultural e politicamente muito diversa, bem como os
impactos de práticas ocidentais implementadas como modelos de desenvolvimento, mas que
geram homogeneização cultural e rupturas complexas, típicas da atualidade.

Schooling the World: The White Man's Last


Burden
If you wanted to change an ancient culture in a generation, how would you do
it? You would change the way it educates its children. The U.S. Government
knew this in the 19th century when it forced Native American children into
government boarding sc
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Referências

BANCO MUNDIAL. Brasil: novo desa o à saúde do adulto. Washington: Banco Mundial, 1991.
(Série de Estudos do Banco Mundial sobre Países).

BANCO MUNDIAL. Brasil: governança no Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro –


Fortalecendo a qualidade dos investimentos públicos e da gestão de recursos. Relatório nº
36601-BR. [S.l.]: Banco Mundial, 2007.

BIANCHETTI, R. G. Modelo neoliberal e políticas educacionais. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2001.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado


Federal, 1988.

BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção,
proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes e dá outras providências. Diário O cial da União, Brasília, p. 1, 20 set. 1990.

EVANS, P. Além da “monocultura Institucional”: instituições, capacidades e o


desenvolvimento deliberativo. Sociologies, [S.l.], n. 9, p. 20-63, jan. 2003.

GRAGNOLATI, M. G.; LINDELOW, M.; COUTTOLENC, B. 20 anos de construção do sistema de


saúde no Brasil: uma análise do Sistema Único de Saúde. Washington: The World Bank, 2013.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração mundial de educação para todos. Jomtien:
Unicef, 1990. Disponível em: <https://www.unicef.org/brazil/pt/resources_10230.htm>.
Acesso em: 21/10/2021.
RIBEIRO, N. Sujeitos e projetos em disputa na origem dos conselhos de políticas públicas.
2011. 242 f. Tese (Doutorado em Serviço Social) – Pontifícia Universidade Católica, São Paulo,
2011.

RIZZOTTO, M. L. F.; CAMPOS, G. W. L. O Banco Mundial e o Sistema Único de Saúde brasileiro


no início do século XXI. Saúde & Sociedade, São Paulo, v. 25, n. 2, p. 263-276, 2016.

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