Instrumentação Biomédica: Ana Paula Aquistapase Dagnino
Instrumentação Biomédica: Ana Paula Aquistapase Dagnino
Instrumentação Biomédica: Ana Paula Aquistapase Dagnino
BIOMÉDICA
Introdução
Neste capítulo, você vai compreender que o total conhecimento do fun-
cionamento e também da aplicação de equipamentos como microscópio,
centrífuga e pipetas, está diretamente relacionado à realização de exames
com confiabilidade analítica e a resultados fidedignos. Fatores importantes
como a correta lavagem das vidrarias, assim como o descarte adequado
de resíduos descartáveis são fundamentais para um bom gerenciamento
de laboratório, em suas mais diversas áreas.
(a) (b)
Microscópio
O microscópio proporciona imagens com alta resolução e a ampliação de
estruturas microscópicas, como bactérias, fungos, parasitas, células ou es-
truturas internas das células. Existem diversos modelos de microscópios com
aplicações em inúmeras áreas, mas um dos mais utilizados é o microscópio
ótico, utilizado, por exemplo, para verificar o cultivo celular. Esse aparelho,
em especial, é muito utilizado em laboratórios de análises clínicas na hema-
tologia, na microbiologia, na parasitologia, na uroanálise, principalmente nos
seguintes procedimentos:
Equipamentos gerais do laboratório, vidrarias e descartáveis 5
Oculares
Tubo
Revólver Objetivas
Platina
Condensador
Micrométrico
Fonte de luz
Macrométrico
Centrífuga
Um dos equipamentos mais utilizados em laboratório é a centrífuga, in-
clusive, poucas são as metodologias que não utilizam de, pelo menos, uma
centrifugação. Esse aparelho tem como função a separação de substâncias
(células, DNA ou organelas), a concentração de proteínas e a lavagem de pellets.
Funciona por meio da força centrífuga, caracterizada por ocorrer do centro
para fora do equipamento, em razão da rotação do rotor contido no interior
do equipamento. A separação das substâncias se dá pelo giro em velocidade
alta do rotor com as amostras.
Antes de iniciar qualquer experimento com a centrífuga, é primordial que
se saiba detalhes a serem utilizados na metodologia, como o tubo, o tempo, a
temperatura e as rotações por minuto (RPM). Os parâmetros de rotação são
identificados por RPM ou força centrífuga relativa (RCF), em que o número
de giros está relacionado ao raio do rotor em milímetros.
A centrífuga é um equipamento fabricado para suportar altas rotações.
No mercado, existem diferentes tipos de centrífugas, desde as mais simples
até as mais robustas, que possuem refrigeração e permitem a troca de rotor,
específicas para microtubos ou tubos Falcons. As centrífugas de bancadas
de laboratórios de análises clínicas, em geral, alcançam até 6.000 rpm. Em
contrapartida, ultracentrífugas utilizadas para a separação de componentes
celulares chegam até 150.000 rpm. Existem também as citocentrífugas, uti-
lizadas em laboratórios para concentrar células de líquidos biológicos, como
o líquido cefalorraquidiano. Esse tipo de centrífuga concentra as células em
um único ponto em uma lâmina, e é amplamente utilizado para a preparação
de lâminas para a diferenciação celular em líquidos com baixa celularidade,
em laboratórios de citologia, urologia, microbiologia e hematologia.
Com relação aos rotores, existem dois mais comumente utilizados em
laboratórios: o rotor de ângulo fixo e o rotor horizontal. Para a utilização
desse aparelho, de forma inicial, as amostras devem ser colocadas no rotor aos
pares, assim a centrífuga balanceia em razão de os tubos com o mesmo peso
estarem alocados em lados opostos do rotor. A maioria das centrífugas possui
uma trava de segurança na tampa, que impede a sua abertura caso o rotor
ainda esteja funcionando. A Figura 4 apresenta uma centrífuga com rotor fixo.
Equipamentos gerais do laboratório, vidrarias e descartáveis 9
Figura 4. Centrífuga laboratorial com rotor fixo e balanceamento. Alocação dos tubos com
mesmo peso em lados opostos.
Fonte: ArtPanupat/Shutterstock.com.
Micropipetas
As micropipetas são de grande valia para o preparo de amostras e reagen-
tes que precisam de medidas exatas, para isso, esse instrumento deve estar
devidamente calibrado para se obter uma pipetagem fidedigna. O princípio
de seu funcionamento se baseia no deslocamento de ar, muito semelhante ao
de uma seringa. As micropipetas servem para transferência ou pipetagem de
pequenos volumes, como microlitros ou mililitros (10, 50, 100, 1000 µl, etc.).
Existem dois tipos de micropipetas, que são os seguintes:
1 2 3 4 5
Posição de descanso
1º estágio
2º estágio
Figura 5. Estágios para pipetagem com micropipetas. De forma inicial, deve-se segurar a
pipeta em uma posição quase vertical. Na posição 1, pressionar o êmbolo suavemente até
o primeiro estágio. Na posição 2, mergulhar a ponteira da pipeta no líquido e permitir que
o êmbolo suba devagar até a posição de descanso. Na posição 3, colocar a ponteira em
um ângulo de 10° a 45° contra a parede interna do recipiente e pressionar o êmbolo com
cuidado para o primeiro estágio. Na posição 4, aguardar 1 segundo e pressionar o êmbolo
para o segundo estágio, removendo qualquer amostra restante da ponteira. Finalizar o
processo removendo a ponteira da pipeta da parede lateral, deslizando-a para cima na
parede. Na posição 5, deixar o êmbolo subir para a posição de repouso.
Fonte: Gilson (2015, documento on-line).
Para que não ocorra a formação de bolhas, a aspiração deve ser lenta e
contínua e, para um bom funcionamento da micropipeta, é imprescindível que
as pipetagens sejam feitas em temperatura ambiente e que os instrumentos
com o líquido nunca sejam colocados em posição horizontal. Além disso,
a profundidade de imersão da ponteira no líquido a ser aspirado deve ser
verificar para que a pipetagem seja eficiente. Quando maior for o volume
Equipamentos gerais do laboratório, vidrarias e descartáveis 11
(a) (b)
Figura 6. Micropipeta monocanal acolhe uma ponteira por vez (a) e micropipeta multicanal
acolhe múltiplas ponteiras por vez (b).
Fonte: (a) Dmytro Zinkevych/Shutterstock.com; (b) angellodeco/Shutterstock.com.
Autoclave
A autoclace tem por função a esterilização sob pressão de vidrarias de dife-
rentes meios de cultivo e tampões por meio do vapor saturado. Esse aparelho
também é utilizado para esterilizar resíduos antes de seu descarte. É importante
que seja realizado um treinamento prévio à utilização, pois a manipulação
incorreta da autoclave pode acarretar em queimaduras após a exposição ao
vapor oriundo de seu interior.
Existem alternativas ao uso da autoclave, por exemplo, os meios e tampões
podem ser filtrados e os instrumentais podem sofrer tratamento por radiação;
no entanto, a autoclavagem ainda é o método mais comumente utilizado para
a esterilização de uma ampla gama de materiais e substâncias. Em casos
específicos, a filtração é a metodologia mais indicada, como na preparação de
meios com ácido 2-[4-(2-hidroxietil)-1-piperazinil]-etanosulfônico (HEPES)
(um agente tamponante) e de tampões com dodecil sulfato de sódio (SDS)
(um detergente). A autoclave também não é recomendada para ingredientes
termolábeis, como antibióticos, proteínas e SFB. Outra possibilidade para
os agentes termolábeis é a sua adição às soluções previamente autoclavadas.
Antes de colocar os materiais na autoclave, é essencial verificar se as
vidrarias são de vidro borosilicado e se os instrumentais plásticos são autocla-
váveis, para evitar possíveis perdas por quebra ou derretimento de utensílios,
em razão das altas temperaturas e pressão requeridas para a esterilização.
Na preparação dos materiais para a autoclavagem, é preciso lembrar de
afrouxar as tampas dos frascos (garrafas, tubos Falcons, criotubos) de forma
a impedir uma pressão elevada no interior do instrumental. É imprescindível a
colagem de um pequeno pedaço de fita de autoclave nos pacotes e nos frascos
a serem esterilizados. Essa fita demonstrará que o material está estéril por
mudança na sua cor ou desenho.
O tempo do ciclo de esterilização é dependente do volume do meio a ser
autoclavado. Grandes volumes, 2 litros de meio, por exemplo, requerem um
ciclo de 30 minutos de esterilização, enquanto que o tempo de autoclavagem
de vidrarias é de 20 minutos. Para a abertura do equipamento, o profissional
deve certificar-se que o indicador da pressão esteja no mínimo, prevenindo,
assim, que o vapor saia e possa ocasionar alguma queimadura.
No momento da retirada dos materiais, o profissional deve estar equipado
com luvas especiais, grossas, grandes e termorresistentes. Luvas de procedi-
mento ou nitrílicas são sensíveis a altas temperaturas e não devem ser utilizadas
nesse procedimento. As tampas dos frascos devem ser fechadas antes da sua
Equipamentos gerais do laboratório, vidrarias e descartáveis 13
https://qrgo.page.link/LVi3g
Balança analítica
A pesagem é um procedimento simples e corriqueiro no laboratório. Durante
esse procedimento, é obrigatória a utilização de luvas, tanto para a proteção
do profissional quanto do recipiente que está sendo utilizado para a pesagem.
Contudo, se o pó a ser pesado for tóxico, é imprescindível o uso de máscara
ou, até mesmo, de luvas mais grossas e óculos. Antes do uso, a balança deve
ser limpa e nivelada. O material nunca deve ser pesado diretamente sobre
o prato de pesagem; para isso, utiliza-se um recipiente (béquer ou prato de
pesagem) ou um papel alumínio. O recipiente deve ser tarado (ter descontado
o seu peso) e, posteriormente, com o auxílio de uma espátula, o material pode
ser pesado. Caso o peso ultrapasse o valor desejado, pode-se devolver o pó para
o pote de estocagem do material. Entretanto, se o material for higroscópico,
ou seja, absorver umidade, esse material nunca deve ser devolvido para o pote
do material. É muito importante que os materiais e a balança sejam limpos
antes e após a sua utilização.
As balanças semianalíticas são utilizadas para a pesagem de grandes
volumes para o preparo de reagentes, com uma precisão de 0,001 g. Já as
balanças analíticas, são mais delicadas e possuem uma precisão de 0,0001
g, permitindo a pesagem de pequenos volumes.
Medidor de pH
O medidor de pH, também conhecido como pHmetro, tem a função de medir
a concentração de prótons (H+) por meio de um eletrodo. A medição do pH
das soluções e dos tampões é de extrema importância e deve ser feita antes
14 Equipamentos gerais do laboratório, vidrarias e descartáveis
Figura 7. Vidrarias. Da esquerda para a direita: balão de fundo redondo, béquer, balão de
fundo chato, tubo de ensaio, balão volumétrico e frasco de Erlenmeyer.
Fonte: Ivan Feoktistov/Shutterstock.com.
18 Equipamentos gerais do laboratório, vidrarias e descartáveis
Leituras recomendadas
SPLABOR. Micropipeta: conheça todos os tipos de micropipetas e suas diferenças. Brasil,
2018. Disponível em: http://www.splabor.com.br/blog/micropipeta-2/micropipeta-
-saiba-mais/. Acesso em: 18 set. 2019.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Faculdade de Medicina. Cartilha de orientação de des-
carte de resíduo no sistema FMUSP-HC. São Paulo, [201-?]. Disponível em: http://www.
biot.fm.usp.br/pdf/cibio_Cartilha_descarte_de_residuo_FMUSPHC.pdf. Acesso em:
18 set. 2019.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Gestão de resíduos sólidos. Tratamento
prévio e acondicionamento. Florianópolis, 2019. Disponível em: http://gestaoderesiduos.
ufsc.br/acondicionamento/. Acesso em: 18 set. 2019.
ELEUTÉRIO, J. P. L.; HAMADA, J.; PADIM, A. F. Gerenciamento eficaz no tratamento
dos resíduos de serviços de saúde - estudo de duas tecnologias térmicas. In: EN-
CONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 28., 2008, Rio de Janeiro. Anais
eletrônicos... Disponível em: http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2008_TN_
STP_069_490_11445.pdf. Acesso em: 18 set. 2019.
ESTRIDGE, B. H.; REYNOLDS, A. P. Técnicas básicas de laboratório clínico. 5. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2011.
Equipamentos gerais do laboratório, vidrarias e descartáveis 21
SOARES, J. L. M. F. et al. Métodos diagnósticos. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. (Série
consulta rápida).
XAVIER, R. M.; DORA, J. M.; BARROS, E. (org.). Laboratório na prática clínica. 3. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2016. (Série consulta rápida).
BARKER, K. Na bancada: manual de iniciação científica em laboratórios de pesquisas
biomédicas. Porto Alegre: Artmed, 2002.
MASTROENI, M. F. Biossegurança aplicada a laboratórios e serviços de saúde. 2. ed. São
Paulo: Atheneu, 2006.
STRASINGER, S. K.; DI LORENZO, M. S. Uroanálise e fluídos biológicos. 3. ed. São Paulo:
Premier, 2000.