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Ebook - Aulas Muito Relevantes

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2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

Olá, alunos!

Sejam bem-vindos ao E-book das aulas muito relevantes!

O presente E-book contém os conteúdos referentes as aulas


muito relevantes do nosso curso.

Com o intuito de facilitar a sua localização, o presente E-book


segue a sequência em que as aulas muito relevantes estão
dispostas em nosso portal.

Qualquer dúvida a respeito da distribuição dos conteúdos,


estaremos à disposição para auxiliá-los através da ferramenta
“Pergunte ao professor”!

Bons estudos,
Abraços, Equipe Ceisc.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

2ª FASE OAB | PENAL | 40º EXAME

Direito Penal e
Processual Penal

SUMÁRIO

Acordo de Não Persecução Penal


1.1. Conceito .................................................................................................... 13
1.2. Requisitos.................................................................................................. 13
1.3. Condições ................................................................................................. 14
1.4. Vedações à celebração do acordo de não persecução penal ................... 15
1.5. Exercícios para resolver após a aula......................................................... 15

Teoria do Dolo e Culpa


2.1. Do crime doloso......................................................................................... 17
2.1.1. Dolo direto .............................................................................................. 17
2.1.2. Dolo eventual ......................................................................................... 17
2.2. Do crime culposo ....................................................................................... 18
2.2.1. Introdução .............................................................................................. 18
2.2.2. Modalidades de culpa............................................................................. 19
2.2.3. Culpa consciente .................................................................................... 20
2.4. Como pode cair ......................................................................................... 21
2.5. Exercícios para resolver após a aula......................................................... 21

Defesa Preliminar nos crimes de responsabilidade de funcionário Público


3.1 Introdução .................................................................................................. 25
3.2 Identificação ............................................................................................... 25
3.3 Prazo .......................................................................................................... 26
3.4 Conteúdo/Plano de Ação............................................................................ 26
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

3.5 Estrutura da Peça ....................................................................................... 26


3.6 Peça resolvida ............................................................................................ 28

2ª Fase do Júri
4.1. Preparação e organização do júri .............................................................. 31
4.2. Desaforamento .......................................................................................... 31
4.2.1. Conceito ................................................................................................. 31
4.2.2. Interesse da ordem pública .................................................................... 31
4.2.3. Dúvida sobre a imparcialidade do júri..................................................... 32
4.2.4. Segurança pessoal do réu...................................................................... 32
4.2.5. Iniciativa do desaforamento .................................................................... 32
4.2.6. Suspensão do julgamento pelo relator ................................................... 32
4.2.7. Inadmissibilidade do pedido de desaforamento ..................................... 32
4.2.8. Excesso de Serviço ................................................................................ 32
4.3. Ausência do defensor ................................................................................ 33
4.4. Ausência do acusado ................................................................................ 33
4.5. Imprescindibilidade do depoimento da testemunha .................................. 33
4.6 Suspensão dos trabalhos para condução coercitiva ou adiamento da sessão
......................................................................................................................... 33
4.7. Infrutífera condução coercitiva .................................................................. 34
4.8. Realização do julgamento, independentemente da inquirição de testemunha
arrolada ............................................................................................................ 34
4.9. Preparo para a composição do conselho de sentença .............................. 34
4.10. Abertura dos trabalhos ............................................................................ 34
4.11. Ausência de quórum................................................................................ 35
4.12. Reunião prévia do juiz com os jurados .................................................... 35
4.12.1. Conceito ............................................................................................... 35
4.12.2. Incomunicabilidade dos jurados ........................................................... 35
4.12.3. Manifestação da opinião acerca do processo ...................................... 36
4.12.4. Fiscalização da incomunicabilidade durante o julgamento ................... 36
4.12.5 Certidão do oficial de justiça .................................................................. 36
4.13. Formação do conselho de sentença........................................................ 36
4.14. Recusas motivadas e imotivadas ............................................................ 37
4.15. Separação do julgamento........................................................................ 37
4.17. Estouro da urna ....................................................................................... 38
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

4.18. Instrução em plenário .............................................................................. 39


4.19. Interrogatório do acusado........................................................................ 39
4.20.1. Correlação entre acusação e pronúncia ............................................... 40
4.20.2. Manifestação inicial do querelante ...................................................... 40

Apelação das Decisões do Plenário do Júri


5.1. Identificação .............................................................................................. 45
5.2. Base legal:................................................................................................. 45
5.3. Prazo ......................................................................................................... 46
5.4. Conteúdo/Plano de Ação........................................................................... 46
5.5. Pedido ....................................................................................................... 48
5.6. Estruturação .............................................................................................. 49
5.6. Peça resolvida ........................................................................................... 53
5.7 Exercícios para resolver após a aula.......................................................... 58

Crimes contra a vida


6.1 Homicídio simples ..................................................................................... 60
6.1.1 Conceito de homicídio ............................................................................. 60
6.1.2 Meios de execução.................................................................................. 60
6.1.3 Sujeitos do delito ..................................................................................... 61
6.1.4 Elemento subjetivo .................................................................................. 61
6.1.5 Consumação ........................................................................................... 62
6.1.6 Tentativa.................................................................................................. 62
6.2 Homicídio privilegiado ................................................................................ 62
6.2.1 Motivo de relevante valor social .............................................................. 62
6.2.2 Motivo de relevante valor moral .............................................................. 63
6.2.3 Domínio de violenta emoção ................................................................... 63
6.3 Homicídio qualificado ................................................................................. 64
6.3.1 Conceito .................................................................................................. 64
6.3.2 Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe 64
6.3.3 Motivo fútil ............................................................................................... 64
6.3.4 Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum ............................. 65
6.3.5 À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que
dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido ........................................... 66
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

6.3.6 Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de


outro crime ....................................................................................................... 67
6.3.7 Feminicídio .............................................................................................. 68
6.3.8 Praticado contra agentes de segurança .................................................. 69
6.3.9 Emprego de Arma de Fogo de uso restrito ou proibido ........................... 69
6.3.10 Homicídio contra menor de 14 anos ...................................................... 69
6.3.11 Homicídio privilegiado-qualificado ......................................................... 69
6.4. Homicídio culposo ..................................................................................... 70
6.4.1 Conceito .................................................................................................. 70
6.4.2 Modalidades de culpa.............................................................................. 70
6.4.3 Concorrência e compensação de culpas................................................. 70
6.4.4 Perdão judicial ......................................................................................... 71
6.5 Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ............................................. 71
6.5.1 Conceito de suicídio ................................................................................ 71
6.5.2 Automutilação .......................................................................................... 71
6.5.3 Sujeito ativo e passivo ............................................................................. 71
6.5.5 Elemento subjetivo .................................................................................. 72
6.5.6 Consumação e tentativa .......................................................................... 72
6.5.7 Figuras típicas qualificadas ..................................................................... 73
6.5.8 Formas majoradas................................................................................... 73
6.5.9 Pacto de morte ........................................................................................ 74
6.6 Infanticídio .................................................................................................. 74
6.6.1 Conceito .................................................................................................. 74
6.6.2 Elementos do tipo objetivo ...................................................................... 74
6.6.3 Sujeitos do delito ..................................................................................... 75
6.6.4 Consumação e tentativa .......................................................................... 76
6.7 Aborto ......................................................................................................... 76
6.7.1 Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento .................. 76
6.7.2 Aborto provocado por terceiro ................................................................. 77
6.7.3 Aborto consensual ................................................................................... 77
6.7.4 Aborto legal ............................................................................................. 78
6.8 Exercícios para resolver após a aula.......................................................... 78
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

Lei de Execução Penal


7.1. Noções introdutórias.................................................................................. 80
7.2. Princípio da Individualização da pena ....................................................... 81
7.3 Detração Penal ........................................................................................... 82
7.3.1. Conceito ................................................................................................. 82
7.4. Regimes Prisionais e Modificação do Regime na execução da pena 83
7.4.1 Considerações Gerais ............................................................................. 83
7.5. Unificação de Penas.................................................................................. 84
7.5.1. Considerações gerais ............................................................................. 84
7.6. Regime disciplinar diferenciado ................................................................. 85
7.7. Progressão de regime ............................................................................... 87
7.7.1. Introdução .............................................................................................. 87
7.8. Requisitos para Progressão de Regime .................................................... 87
7.9. Falta grave e Progressão de Regime ........................................................ 91
7.10. Progressão de Regime especial para mulheres ...................................... 91
7.11. Progressão para o regime aberto ............................................................ 92
7.12. Progressão de regime e crimes contra administração pública ................ 92
7.13. Exame criminológico ............................................................................... 93
7.14. Regressão de Regime ............................................................................. 93
7.14.1. Considerações Gerais .......................................................................... 93
7.15. Prisão domiciliar ...................................................................................... 95
7.15.1. Considerações Gerais .......................................................................... 95
7.16. Remição de pena .................................................................................... 96
7.16.1. Considerações Gerais .......................................................................... 96
7.17. Permissão de saída e saída temporária .................................................. 97
7.17.1. Considerações Gerais .......................................................................... 97
7.18. Monitoração eletrônica ............................................................................ 98
7.18.1. Considerações Gerais .......................................................................... 98
7.19. Livramento Condicional ........................................................................... 98
7.19.1. Introdução ............................................................................................ 98
7.19.2. Requisitos ............................................................................................. 99
7.19.3. Requisitos Objetivos ............................................................................. 99
7.19.4. Requisitos Subjetivos ......................................................................... 100
7.20. Hipóteses de Revogação do Livramento Condicional ........................... 101
7.21. Suspensão do Livramento Condicional ................................................. 101
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

7.22. Extinção do Livramento Condicional ..................................................... 101


7.23. Exercícios para resolver após a aula..................................................... 102

Crimes contra o patrimônio


8.1 Furto ......................................................................................................... 107
8.1.1 Conceito ................................................................................................ 107
8.1.2 Consumação e tentativa ........................................................................ 107
8.1.3 Furto privilegiado .................................................................................. 107
8.1.4 Furto qualificado .................................................................................... 108
8.1.5 Alterações promovidas pela lei 14.155/2021 ......................................... 110
8.2 Roubo ....................................................................................................... 110
8.2.1. Ação nuclear ........................................................................................ 110
8.2.2. Espécies de roubo: próprio e impróprio ................................................ 111
8.2.3 Consumação e tentativa ........................................................................ 111
8.2.4 Causas especiais de aumento de pena - roubo majorado .................... 112
8.2.5 Se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo .. 113
8.2.6 Roubo com emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo
comum............................................................................................................ 113
8.2.7 Roubo qualificado pelo resultado .......................................................... 113
8.3 Extorsão ................................................................................................... 114
8.3.1 Ação nuclear ......................................................................................... 114
8.3.2 Consumação e tentativa ........................................................................ 115
8.3.3 Extorsão qualificada .............................................................................. 115
8.4 Extorsão mediante sequestro ................................................................... 116
8.4.1 Conceito e objetividade jurídica ............................................................. 116
8.4.2 Consumação ......................................................................................... 116
8.4.3 Formas qualificadas .............................................................................. 116
8.4.4 Extorsão mediante sequestro qualificada pelo resultado ...................... 117
8.4.5 Delação premiada ................................................................................. 117
8.5 Dano ......................................................................................................... 117
8.5.5.1 Ação nuclear ...................................................................................... 117
8.5.2 Dano qualificado .................................................................................... 118
8.5.3 Ação penal ............................................................................................ 118
8.6 Apropriação indébita................................................................................. 119
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

8.6.1 Conceito e objetividade jurídica ............................................................. 119


8.6.2 Causas de aumento de pena ................................................................ 119
8.7 Estelionato................................................................................................ 120
8.7.1 Ação nuclear ......................................................................................... 120
8.7.2 Consumação e tentativa ........................................................................ 120
8.7.3 Fraude no pagamento por meio de cheque ........................................... 120
8.7.4 Ação penal ............................................................................................ 121
8.7.5 Alterações promovidas pela lei 14.155/2021 ......................................... 122
8.8 Receptação .............................................................................................. 122
8.8.1 Conceito ................................................................................................ 122
8.8.2 Receptação qualificada ......................................................................... 122
8.8.3 Receptação culposa .............................................................................. 123
8.8.4 Receptação punível autonomamente .................................................... 123
8.8.5 Perdão judicial ....................................................................................... 123
8.8.6 Tipo qualificado ..................................................................................... 123
8.9 Escusas absolutórias................................................................................ 123
8.9.1 Imunidade absoluta ............................................................................... 123
8.9.2 Imunidade relativa ................................................................................. 123
8.9.3 Exclusão de imunidade ou privilégio ..................................................... 124
8.10 Exercícios para resolver após a aula...................................................... 124

Emendatio Libelli e Mutatio Libelli


9.1. Introdução ............................................................................................... 137
9.2. Emendatio Libelli ..................................................................................... 137
9.2.1. Conceito ............................................................................................... 137
9.2.2. Emendatio libelli e suspensão condicional do processo ....................... 138
9.2.3. Desclassificação ................................................................................... 139
9.3. Mutatio Libelli .......................................................................................... 140
9.3.1. Procedimento da mutatio libelli ............................................................. 141
9.3.2. Exclusividade dos crimes de ação pública ........................................... 141
9.3.3. Impossibilidade de aplicação da mutatio libelli em grau recursal ......... 141
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Reformatio in pejus
10.1. Introdução ............................................................................................. 142
10.2. Recurso da acusação ............................................................................ 142
10.3. Recurso da defesa ................................................................................ 143
10.4. Reformatio in pejus direta...................................................................... 143
10.5. Reformatio in pejus indireta ................................................................... 143

Efeito Extensivo
11.1. Introdução ............................................................................................. 145

Prisão em Flagrante
12.1 Introdução .............................................................................................. 146
12.2. Espécies de flagrante ............................................................................ 147
12.3. Outras variações das espécies de prisão em flagrante: ........................ 149
12.4. Procedimento para a lavratura do auto de prisão em flagrante ............. 152
12.5. Garantias Legais e Constitucionais do Preso ........................................ 153
12.6. Providências judiciais ao receber o auto de prisão em flagrante ........... 155

Relaxamento de Prisão
13.1. Relaxamento de prisão.......................................................................... 157
13.4. Base Legal ............................................................................................ 157
13.3. Conteúdo ............................................................................................... 157
13.5. Peça Resolvida...................................................................................... 161

Liberdade provisória
14.1. Introdução ............................................................................................. 166
14.2. Identificação .......................................................................................... 167
14.3. Base legal.............................................................................................. 167
14.4. Conteúdo ............................................................................................... 167
14.5. Liberdade provisória x tráfico ilícito de entorpecentes ........................... 168
14.6. Liberdade Provisória X Proibição do Art. 310, §2º, CPP ....................... 169
14.7. Estruturação .......................................................................................... 169
14.8. Peça Resolvida...................................................................................... 172
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Prisão Preventiva
15.1 Conceito ................................................................................................. 177
15.2 Legitimação ............................................................................................ 178
15.3 Pressupostos .......................................................................................... 178
15.3.1. Fumus Comissi Delicti ........................................................................ 178
15.4 Periculum libertatis: Perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado179
15.5. Condições de admissibilidade da Prisão Preventiva ............................. 182
15.6. Fundamentação..................................................................................... 184

Revogação da Prisão Preventiva


16.1. Identificação .......................................................................................... 186
16.2. Base legal.............................................................................................. 186
16.3. Conteúdo ............................................................................................... 186
16.4. Estrutura ................................................................................................ 186
16.5. Peça Resolvida...................................................................................... 189

Relaxamento da Prisão Preventiva


17.1. Identificação .......................................................................................... 194
17.2. Base Legal ............................................................................................ 194
17.3. Conteúdo ............................................................................................... 194
17.4. Estrutura de Pedido de Relaxamento da Prisão Preventiva .................. 195

Prisão Temporária
18.1 Noções Introdutórias .............................................................................. 198
18.2. Hipóteses para a decretação ................................................................. 199
18.3. Hipóteses .............................................................................................. 199
18.4. Decretação por autoridade judicial ........................................................ 199
18.5. Prazo ..................................................................................................... 200
18.6. Procedimento ........................................................................................ 200

Revogação da Prisão Temporária


19.1 Identificação ........................................................................................... 201
19.3 Conteúdo ................................................................................................ 201
19.4. Estrutura de Pedido de Revogação da Prisão Temporária ................... 201
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

Relaxamento da Prisão Temporária


20.1. Introdução ............................................................................................. 204
20.2. Base Legal ............................................................................................ 204
20.5. Estrutura de Pedido de Relaxamento da Prisão Temporária ................ 205
20.6. Exercícios para resolver após a aula..................................................... 208

Olá, aluno(a). Este material de apoio foi organizado com base nas aulas do curso preparatório para
a 2ª Fase do 40º Exame da OAB e deve ser utilizado como um roteiro para as respectivas aulas.
Além disso, recomenda-se que o aluno assista as aulas acompanhado da legislação pertinente.

Bons estudos, Equipe Ceisc.


Atualizado em março de 2024
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

Acordo de Não Persecução Penal

Prof. Mauro Stürmer


@profmaurosturmer

1.1. Conceito
Trata-se de negócio jurídico extrajudicial, celebrado entre o Ministério Público e o autor
da infração penal, devidamente acompanhado por advogado, e, revestindo-se de todas
as formalidades, homologado pelo juiz competente, no caso, a princípio, pelo juiz de
garantias (CPP, art. 3º-B, XVII).
Em outras palavras, verificando-se que não se trata de caso de arquivamento do
inquérito policial, o Ministério Público e o acusado poderão entabular acordo, com a
finalidade de evitar o oferecimento da denúncia, e desencadeamento da ação penal,
mediante o cumprimento de determinadas condições.

1.2. Requisitos
Nos termos do artigo 28-A do CPP, o acordo de não persecução penal poderá ser
celebrado desde que preenchidos os seguintes requisitos:
a) Infração penal com pena mínima cominada inferior a quatro anos
Aqui um especial cuidado. O requisito leva em conta a pena mínima e não a máxima
cominada ao delito.
Para verificação desse requisito, deverão ser consideradas as causas de aumento e
diminuição da pena, bem como o concurso de crime.
Em se tratando de causa de aumento de pena, deve-se utilizar a fração que menos
aumenta. Assim, se a infração penal prever causa de aumento de pena de 1/6 a 1/2, deve-
se considerar a fração de 1/6.
Em relação à diminuição da pena, deve-se utilizar a fração que mais diminua
(Exemplo: se o crime for tentado a redução será de 1/3 a 2/3 – art. 14, parágrafo único,
do CP. Nesse caso, deve-se considerar a fração que mais diminua: 2/3). Tudo isso para
se chegar à pena mínima.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

Podem-se usar por analogia as Súmulas 723 do STF1 e 243 do STJ2.


b) Infração penal praticada sem violência ou grave ameaça
A expressão infração penal constitui gênero das espécies crimes e contravenções.
Logo, o acordo de não persecução penal poderá ser celebrado no contexto de crimes e
contravenções penais.
Além disso, a violência deve ser considerada na conduta e não em relação ao
resultado. Logo, a exigência de crime praticado sem violência ou grave ameaça está
relacionada aos crimes dolosos, não alcançando os crimes culposos.
Assim, seria possível, desde que preenchidos os demais requisitos, acordo de não
persecução penal em relação a crime de homicídio culposo (CP, art. 121, § 3º), já que não
há dolo no resultado.
c) Confissão formal e circunstanciada
Havendo interesse em celebrar o acordo, o acusado deverá contribuir para a
elucidação dos fatos, confessando formal e circunstanciadamente a prática delituosa.

1.3. Condições
Além de preencher os requisitos previstos em lei, o acusado deverá concordar cumprir
as condições ajustadas cumulativa e alternativamente.
Nos termos do artigo 28-A do CPP, as condições são as seguintes:
I – reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo;
II – renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como
instrumentos, produto ou proveito do crime;
III – prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período
correspondente à pena mínima cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em
local a ser indicado pelo juízo da execução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº
2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal);
IV – pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-
Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade públi- ca ou de
interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente,
como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente
lesados pelo delito; ou
V – cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público,
desde que proporcional e compatível com a infração penal imputada.

Súmula 723 STF: “Não se admite a suspensão condicionaldo processo por crime continuado, se a soma da pena mínima da
infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a um ano.”
Súmula 243 STJ “O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais cometidas em concurso
material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório,seja pela incidência da
majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

1.4. Vedações à celebração do acordo de não persecução penal


Nos termos do artigo 28-A, § 2º, do CPP, o acordo de não persecução penal não se
aplica nas seguintes hipóteses:
I – se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais,
nos termos da lei;
II – se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem
conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as
infrações penais pretéritas;
III – ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da
infração, em acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão
condicional do processo;
IV – nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados
contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor.

1.5. Exercícios para resolver após a aula

1) QUESTÃO 4 – XXXVI EXAME – 2022-03

Juntos, Bruno, Leila, Valter e Vinícius cometeram determinado ilícito em 2016. O processo
veio a ser desmembrado, de forma que Bruno aceitou a suspensão condicional do
processo, em 2017; Leila foi condenada, definitivamente, em 2018, tendo terminado de
cumprir a sua condenação em 2020; Valter foi condenado em primeira instância, porém,
interpôs recurso, vindo a transitar em julgado o acórdão condenatório em 2022; e Vinícius,
por sua vez, não foi encontrado para ser citado, tendo o processo sido suspenso, assim
como o prazo prescricional, na forma do Art. 366 do CPP. Em 2021, os amigos se reúnem
e praticam novo ilícito penal, sem violência ou grave ameaça à pessoa. Na qualidade de
advogado de todos eles, responda às questões a seguir.
A) À vista dos antecedentes criminais mencionados, e considerando preenchidos
todos os demais requisitos legais, há algum acusado(s) impedido(s) de se beneficiar,
em tese, de oferta de acordo de não persecução penal? justifique. (Valor: 0,60)
B) Caso condenado(s) pelo novo fato, se fixada pena abaixo de quatro anos, qual(is)
acusado(s) poderá(ão) se beneficiar do regime aberto? justifique. (Valor: 0,65)
Obs.: O(a) examinando(a) deve fundamentar as respostas. A mera citação do
dispositivo legal não confere pontuação.
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Teoria do Dolo e Culpa

Prof. Nidal Ahmad


@prof.nidal
2.1. Do crime doloso
2.1.1. Dolo direto
Previsto na primeira parte do art. 18, I, do CP, o dolo direto, também chamado dolo
determinado, intencional, imediato ou incondicionado, é aquele que se caracteriza pela vontade
do agente estar dirigida especificamente à produção do resultado típico, abrangendo os meios
utilizados para tanto. No dolo direto, o agente quer o resultado por ele anteriormente
representado.
Tomemos como exemplo o agente que, pretendendo subtrair coisa alheia móvel, mediante
emprego de grave ameaça, anunciou o assalto e desapossa a vítima dos bens que estavam em
seu poder. Nesse caso, a vontade do agente é dirigida a produzir o resultado decorrente do crime
de roubo (CP, art. 157).
Da mesma forma, se o agente desfere golpes de faca na vítima com a intenção de matá-
la, desenvolve sua conduta com o dolo direto de praticar o crime de homicídio (CP, art. 121).
A primeira parte do art. 18, I, do CP, em que o agente quis o resultado, abrange o dolo
direto de primeiro grau e de segundo grau.

2.1.2. Dolo eventual


Ocorre o dolo eventual quando o sujeito assume o risco de produzir o resultado, isto é,
admite e aceita o risco de produzi-lo. No dolo eventual, o agente não quer o resultado (se
desejasse, seria dolo direto), mas, mesmo prevendo a realização do resultado, segue adiante na
sua conduta, assumindo o risco de produzi-lo. No dolo eventual, o agente representa como
possível o resultado não desejado, mas assume o risco de provocar lesão a um bem jurídico,
seguindo adiante com a sua conduta, revelando, assim, conformismo com a produção do evento.
Tomemos como exemplo a conduta do agente que, pretendendo a morte do seu desafeto,
efetua um disparo em sua direção, mesmo visualizando que se encontrava conversando com
uma pessoa bem próxima a ele. O agente prevê que também pode atingir a outra pessoa, mas
segue adiante na sua conduta, assumindo o risco de errar o disparo contra o seu desafeto e
atingir a outra pessoa, sendo-lhe indiferente quanto ao resultado que possa ser produzido em
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relação ao terceiro. Se efetuar disparos matando o seu desafeto e também a outra pessoa, o
agente responderá por dois crimes de homicídio: o primeiro, a título de dolo direto (em
relação ao desafeto); o segundo, a título de dolo eventual (em relação ao terceiro).
Assim, no dolo eventual, o agente, embora não deseje diretamente o resultado, age com
indiferença e desprezo na sua produção, aceitando a sua ocorrência. Prefere arriscar-se a
produzi-lo a se abster e cessar a sua conduta. Age, pois, com dolo eventual o agente que ofende
a integridade física de mulher grávida, ciente do seu adiantado estado gravídico, causando-lhe
o aborto. Note-se que o agente não quer o resultado, pois, se desejasse, agiria com dolo direto,
mas prevê como possível o aborto e mesmo assim segue com a sua conduta, assumindo o risco
de interromper a gravidez com a morte do feto. Nesse caso, além do crime de lesão corporal
gravíssima praticado contra a mulher (dolo direto), o agente também responderá pelo crime de
aborto sem consentimento da gestante (dolo eventual), em concurso formal imperfeito.

2.2. Do crime culposo


2.2.1. Introdução
Extrai-se do art. 18, II, do CP, que, no crime culposo, o agente desenvolve uma conduta
voluntária, produzindo, no entanto, um resultado involuntário (não querido ou aceito pelo agente),
mas que lhe era previsível (culpa inconsciente) ou excepcionalmente previsto (culpa consciente)
e poderia ser evitado se empregasse a cautela necessária.
Em geral, os tipos penais culposos não descrevem a conduta, limitando-se a apontar que
determinado delito é culposo. Trata-se de um tipo penal aberto, sendo, por isso, necessário
empregar um juízo de valor acerca da conduta do agente. Ex.: homicídio culposo, previsto no
art. 121, § 3º, CP.
Nesse sentido, se determinado delito não prever a modalidade culposa, o fato praticado
será atípico.

EXEMPLO:
O crime de dano (CP, art. 163) não prevê a modalidade culposa. Logo, causar, por
negligência ou imprudência, dano ao patrimônio alheio constitui fato atípico.
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Nos crimes culposos, incide a denominada previsibilidade objetiva, ou seja, a possibilidade


de uma pessoa dotada de prudência e cautela exigida a todos prever que poderá gerar um
resultado.
Em outras palavras, exige-se a diligência necessária objetiva quando o resultado
produzido era previsível para um homem comum, nas circunstâncias em que o sujeito realizou a
conduta. O cuidado necessário deve ser objetivamente previsível. É típica a conduta que deixou
de observar o cuidado necessário objetivamente previsível.
De outro lado, se o resultado não for previsível sob a ótica de uma pessoa com
discernimento, que não teria condições de antever que da sua conduta poderia resultar um delito,
o fato será atípico.

2.2.2. Modalidades de culpa


a) Imprudência

É a prática de um fato perigoso. Há uma conduta positiva. Ocorre simultaneamente à ação.

Pratica o crime do art. 302, § 2º, do CTB, o agente, que, ao dirigir embriagado colidiu na
traseira de motocicleta, em face da falta ao dever de cautela, na modalidade imprudência. Da
mesma forma, age com imprudência o agente que limpa arma de fogo carregada próximo a
pessoas e, de forma descuidada, aciona o gatilho, matando alguém que estava ao seu lado.

Também age com imprudência o agente que sai cansado do trabalho e, em virtude de sua
conduta descuidada, realiza um brusco movimento enquanto se dirigia para sua residência,
trombando com um transeunte, que rola de uma escadaria, sofrendo lesões gravíssimas. Trata-
se, em tese, de lesão corporal culposa (CP, art. 129, § 6º), por conta da conduta imprudente do
agente, independentemente da gravidade da lesão.

b) Negligência

É a ausência de precaução ou indiferença em relação ao ato realizado. Trata-se de uma


inação. Ocorre antes da ação.

Tomemos como exemplo o condutor de veículo que, antes de sair de viagem, deixa de
reparar os pneus e verificar os freios. Da mesma forma, age com negligência o pai que deixa
arma de fogo ao alcance de uma criança. Agem, ainda, com negligência os pais, por culpa in
vigilando, que deixam a criança de tenra idade, sem noção do perigo, caminhar vários metros à
sua frente, em acostamento de rodovia de intenso tráfego, culminando o episódio com o trágico
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desfecho de um atropelamento, a atravessar o infante, repentina e abruptamente, a pista


asfáltica.

c) Imperícia

É a falta de aptidão para o exercício de arte ou profissão. Consiste na incapacidade ou


falta de conhecimento necessário para o exercício de determinado mister.

EXEMPLO:
Médico que deixa de tomar as cautelas devidas de assepsia em uma sala de cirurgia,
demonstrando sua nítida inaptidão para o exercício profissional, situação que provoca a morte
do paciente.

2.2.3. Culpa consciente


Na culpa consciente, o resultado é previsto pelo sujeito, que espera levianamente que não
ocorra ou que possa evitá-lo, confiando na sua atuação para impedir o resultado. É a chamada
culpa com previsão.

Em outras palavras, na culpa consciente, o agente prevê o resultado, mas não aceita sua
produção. Embora previsível, confia sinceramente que o resultado não ocorrerá ou que, por conta
da sua habilidade, conseguirá impedir que o evento se produza.

EXEMPLO:

Leonardo conduz seu veículo por uma avenida. No banco do carona está sua namorada,
Célia. Durante o percurso, Leonardo imprime velocidade excessiva no veículo, gerando
protestos por parte de Célia, que lhe pedia para reduzir a velocidade. Leonardo responde
dizendo que nada iria acontecer, até porque era um excelente motorista. Todavia, ao fazer
uma curva, Leonardo perde o controle do veículo e atropela uma pessoa, causando-lhe a
morte. Diante disso, Leonardo responderá pelo crime de homicídio culposo na condução
de veículo automotor (Lei nº 9.503/1997, art. 302). Note-se que, no caso, havia por parte do
motorista a previsibilidade do resultado, que não era aceito e nem esperado e, ainda, a leviana
percepção de que sua habilidade como condutor impediria a produção de qualquer evento
lesivo.
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Em outras palavras, na culpa consciente, o agente prevê o resultado, mas não aceita sua
produção. Embora previsível, confia sinceramente que o resultado não ocorrerá ou que, por conta
da sua habilidade, conseguirá impedir que o evento se produza.

2.4. Como pode cair


Pode cair como tese absolutória em peça e questões dissertativas, bem como como tese
de desclassificação de crime doloso para culposo.

Se o enunciado fornecer informações no sentido de que o réu não agiu com dolo ou culpa,
porque, por exemplo, não era previsível o resultado, o fato será atípico.

Nesse caso, o pedido será de absolvição.

• Se for resposta à acusação: absolvição sumária, com base no artigo 397, III, do
CPP.
• Se for memoriais ou apelação no procedimento comum: absolvição, com base
no artigo 386, III, do CPP.
• Se for memoriais ou recurso em sentido estrito no procedimento do júri:
absolvição sumária, com base no artigo 415, III, do CPP.
Da mesma forma, pode acontecer de o enunciado fornecer informações para
desclassificação do crime doloso para culposo, sobretudo quando se tratar de procedimento do
júri.

Imaginemos que o Ministério Público ofereça denúncia por homicídio doloso contra o réu,
havendo informações no enunciado para a desclassificação para homicídio culposo.

Nesse caso, a tese será de desclassificação e remessa para o juízo competente, com
base no artigo 419 do CPP.

2.5. Exercícios para resolver após a aula

2) QUESTÃO 1 – XIX EXAME


João estava dirigindo seu automóvel a uma velocidade de 100 km/h em uma rodovia em que o
limite máximo de velocidade é de 80 km/h. Nesse momento, foi surpreendido por uma bicicleta
que atravessou a rodovia de maneira inesperada, vindo a atropelar Juan, condutor dessa
bicicleta, que faleceu no local em virtude do acidente. Diante disso, João foi denunciado pela
prática do crime previsto no Art. 302 da Lei nº 9.503/97. As perícias realizadas no cadáver da
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vítima, no automóvel de João, bem como no local do fato, indicaram que João estava acima da
velocidade permitida, mas que, ainda que a velocidade do veículo do acusado fosse de 80 km/h,
não seria possível evitar o acidente e Juan teria falecido. Diante da prova pericial constatando a
violação do dever objetivo de cuidado pela velocidade acima da permitida, João foi condenado à
pena de detenção no patamar mínimo previsto no dispositivo legal. Considerando apenas os
fatos narrados no enunciado, responda aos itens a seguir.
A) Qual o recurso cabível da decisão do magistrado, indicando seu prazo e fundamento legal?
(Valor: 0,60)
B) Qual a principal tese jurídica de direito material a ser alegada nas razões recursais? (Valor: 0,65)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não confere
pontuação.

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3) QUESTÃO 4 – EXAME 2010-03


Caio, professor do curso de segurança no trânsito, motorista extremamente qualificado, guiava
seu automóvel tendo Madalena, sua namorada, no banco do carona. Durante o trajeto, o casal
começa a discutir asperamente, o que faz com que Caio empreenda altíssima velocidade ao
automóvel. Muito assustada, Madalena pede insistentemente para Caio reduzir a marcha do
veículo, pois àquela velocidade não seria possível controlar o automóvel. Caio, entretanto,
respondeu aos pedidos dizendo ser perito em direção e refutando qualquer possibilidade de
perder o controle do carro. Todavia, o automóvel atinge um buraco e, em razão da velocidade
empreendida, acaba se desgovernando, vindo a atropelar três pessoas que estavam na calçada,
vitimando-as fatalmente. Realizada perícia de local, que constatou o excesso de velocidade, e
ouvidos Caio e Madalena, que relataram à autoridade policial o diálogo travado entre o casal,
Caio foi denunciado pelo Ministério Público pela prática do crime de homicídio na modalidade de
dolo eventual, três vezes em concurso formal. Recebida a denúncia pelo magistrado da vara
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criminal vinculada ao Tribunal do Júri da localidade recolhida a prova, o Ministério Público pugnou
pela pronúncia de Caio, nos exatos termos da inicial. Na qualidade de advogado de Caio,
chamado aos debates orais, responda aos itens a seguir, empregando os argumentos jurídicos
apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso.
A) qual(is) argumento(s) poderia(m) ser deduzidos em favor de seu constituinte?
(Valor: 0,40)
B) qual pedido deveria ser realizado? (Valor: 0,30)
C) Caso Caio fosse pronunciado, qual recurso poderia ser interposto e a quem a peça de
interposição deveria ser dirigida? (Valor: 0,30)

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Defesa Preliminar nos crimes de responsabilidade de


funcionário Público

Prof. Arnaldo Quaresma


@profarnaldoquaresma

3.1 Introdução
Trata-se de procedimento destinado à apuração dos crimes praticados por funcionário
público ou a ele equiparado no exercício da função ou em razão dela contra a administração
pública. É o caso dos crimes previstos nos arts. 312 a 326 do CP e art. 3º da Lei nº 8.137/1990.

3.2 Identificação

PEDIU PRA PARAR

Palavra mágica: Peça:

Notificação Defesa Preliminar

PAROU!

Nos termos do art. 514 do CPP, nos crimes funcionais afiançáveis, após o oferecimento
da denúncia, o réu será notificado para apresentar, no prazo de 15 (quinze) dias, defesa
preliminar.

Como se vê, o procedimento especial é voltado aos crimes funcionais afiançáveis.


Considerando que, a partir da edição da Lei nº 12.403/2011, o art. 323 do CPP passou a dispor
que são inafiançáveis os crimes de racismo, tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins, os crimes hediondos e aqueles praticados por grupos armados contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático, conclui-se que todos os crimes praticados por funcionário
público contra a administração pública são afiançáveis.
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Em que pese divergência doutrinária e até mesmo jurisprudencial, o Superior Tribunal de


Justiça editou a Súm. nº 330, segundo a qual “É desnecessária a resposta preliminar de que
trata o art. 514 do Código de Processo Penal, na ação instruída por inquérito policial”.

Se recebida a denúncia, será o acusado citado, seguindo-se o rito comum, nos temos do
art. 518 do CPP.

3.3 Prazo
Nos termos do art. 514 do CPP, o prazo para apresentar a defesa preliminar é de 15
(quinze) dias.

3.4 Conteúdo/Plano de Ação


Na defesa preliminar, sobretudo na Lei de Drogas (art. 55 da Lei 11343/2006) e no
procedimento do artigo 514 do CPP, tem por objeto precípuo a rejeição da denúncia.

Todavia, alguns autores admitem a possibilidade de absolvição sumária pelo juiz, se


evidente causa excludente de ilicitude, culpabilidade (salvo inimputabilidade), tipicidade e
extinção de punibilidade.

Logo, além de desenvolver tese voltada à rejeição da denúncia, nada impede que também
sejam desenvolvidas teses para absolvição sumária. Assim, no caso de atipicidade da conduta,
será possível pedido de rejeição da denúncia, com base no artigo 395, II, do CPP e absolvição
sumária, com base no artigo 397, III, do CPP.

3.5 Estrutura da Peça


2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

A) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA CRIMINAL DA


COMARCA ... (SE CRIME DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL)
B) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ... VARA CRIMINAL DA
JUSTIÇA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE ... (SE CRIME DA COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA FEDERAL)

Processo nº ...

FULANO DE TAL, já qualificado nos autos, por seu procurador infra-assinado,


com procuração em anexo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência
apresentar DEFESA PRELIMINAR, com base no art. 514 do Código de Processo Penal, pelos
fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos:

I) DA TEMPESTIVIDADE

A presente defesa preliminar é tempestiva, já que apresentada dentro do

prazo de 15 dias, previsto no artigo 514 do Código de Processo Penal.

II) DOS FATOS

III) DO DIREITO

Após identificar e arguir eventuais preliminares contidas no enunciado, deve-

se atacar a denúncia, buscando a sua rejeição, com base no art. 395 do CPP.

IV) DO PEDIDO
Ante o exposto, requer o denunciado:
a) seja rejeitada a denúncia.

Nestes termos, Pede deferimento.


Local..., data...
Advogado...
OAB...
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3.6 Peça resolvida


Wilson Ferdinando, funcionário público municipal, que exerce a função de motorista, após o
encerramento do expediente, resolveu utilizar o carro da Prefeitura para levar a esposa até o
Posto de Saúde do Município vizi- nho, distante 15 km do Município onde trabalha. Duas horas
depois, após encher o tanque de gasolina, Wilson devolve o automóvel no mesmo lugar em que
o havia retirado. Ao analisarem as câmeras de segurança do Prédio Municipal, guardas
municipais perceberam a ação de Wilson, relatando o fato e dando ensejo à ins- tauração de
procedimento administrativo disciplinar. O acusado foi interrogado, confessando que, de fato, uti-
lizou o veículo sem autorização, mas que sua intenção era devolvê-lo logo em seguida, como
demonstraram as imagens constantes no procedimento. Ao final da instrução do procedimento
administrativo, concluiu-se que Wilson praticou falta disciplinar, sendo encaminha- da cópia dos
autos ao Ministério Público. O Ministério Público ofereceu denúncia contra Wilson pela prática
do delito de peculato, previsto no art. 312 do Código Penal. Wilson foi NOTIFICADO no dia 3 de
junho de 2016, sexta-feira. Com base nas informações acima expostas e naquelas que
podem ser inferidas do caso concreto, redija a peça cabível, excluída a possibilidade de
habeas corpus, no último dia do prazo para oferecimento, sustentando to- das as teses
jurídicas pertinentes. (Valor: 5,00)
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA... VARA CRIMINAL DA


COMARCA....

Wilson Ferdinando, já qualificado nos autos, por seu procurador infra-


assinado, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, apresentar DEFESA

PRELIMINAR, com base no artigo 514 do Código de Processo Penal, pelos fatos e

fundamentos a seguir expostos.

I) DOS FATOS

O réu foi denunciado pela prática do crime de peculato, previsto no artigo

312, “caput”, do Código Penal, porque teria utilizado, sem autorização, o veículo do

Município.

O réu foi notificado no dia 03 de junho de 2016.

A presente defesa preliminar é tempestiva, já que apresentada dentro do

prazo de 15 dias, previsto no artigo 514 do Código de Processo Penal.

II) DO DIREITO
A) DA AUSÊNCIA DE DOLO OU PECULATO DE USO
O réu foi acusado de ter utilizado o veículo automotor do Município, sem
autorização. Todavia, o réu não teve a intenção de se apropriar do bem, nem tampouco o
desviou da Administração Municipal.
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Pretendia, apenas, utilizar o veículo para levar sua esposa até o Posto de
Saúde do Município vizinho e depois devolvê-lo no mesmo lugar que retirou. Assim, não há
que se falar em peculato-apropriação, peculato-desvio ou peculato-furto.
Logo, o réu não tinha dolo de se apropriar, desviar ou subtrair o veículo, tanto
que, após encher o tanque de gasolina, devolveu-o no mesmo local que pegou e nas
mesmas condições, caracterizando, no caso, peculato de uso, que constitui fato atípico.
Assim, trata-se de fato atípico, devendo a denúncia ser rejeitada, nos termos
do artigo 395, incisos II e III, do Código de Processo Penal.

III) DO PEDIDO
Ante o exposto, requer o réu seja a denúncia rejeitada, com base no artigo

395, incisos II e III, do Código de Processo Penal.

Nestes termos,

Pede deferimento.

Local..., 20 de junho de 2016.

Advogado...

OAB...
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2ª Fase do Júri

Aula prevista para ocorrer ao vivo no dia 19/04/2024.

Prof.ª Letícia Neves


@prof.leticianeves
4.1. Preparação e organização do júri

O libelo foi extinto pela nova redação dada pela Lei nº 11.689/2008.

No entanto, de acordo com este artigo, o legislador o substituiu por duas novas peças
(inominadas). Assim, ao receber os autos, após a preclusão da pronúncia, o presidente do
Tribunal do Júri determinará a intimação do órgão do Ministério Público ou do querelante, no
caso de queixa, e do defensor, para, no prazo de 5 (cinco) dias, apresentarem rol de
testemunhas que irão depor em plenário, até o máximo de 5 (cinco), oportunidade em que
poderão juntar documentos e requerer diligência.

4.2. Desaforamento: art. 427, CPP

4.2.1. Conceito
É a decisão jurisdicional que altera a competência inicialmente fixada pelos critérios do
artigo 69 do Código de Processo Penal, com a aplicação estrita no procedimento do Tribunal
do Júri, dentro dos requisitos legais previamente estabelecidos.

A competência, para tal, é sempre da Instância Superior (Câmara ou Turma do Tribunal


de Justiça).

4.2.2. Interesse da ordem pública


A ordem pública é a segurança existente na Comarca onde o júri deverá realizar-se.
Assim, havendo razoáveis motivos e comprovados de que a ocorrência do julgamento
provocará distúrbios, gerando intranquilidade na sociedade local, constituído está o
fundamento para desaforar o caso.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

4.2.3. Dúvida sobre a imparcialidade do júri


Não há possibilidade de haver um julgamento justo com um corpo de jurados parcial. Tal
situação pode dar-se quando a cidade for muito pequena e o crime tenha sido gravíssimo,
levando à comoção geral, de modo que o caso vem sendo discutido em todos os setores da
sociedade muito antes do julgamento ocorrer.

4.2.4. Segurança pessoal do réu


Em casos anormais e excepcionais, de pequenas cidades, onde o efetivo da polícia é
diminuto e não há possibilidade de reforço, por qualquer motivo, é razoável o desaforamento.

4.2.5. Iniciativa do desaforamento


Podem pleitear o desaforamento as partes, agora enumerados pela Lei (Ministério
Público, assistente, querelante ou acusado).
O acusado pode propor por intermédio de seu defensor, mas também diretamente, por
petição sua, afinal no processo penal, existe a autodefesa. O Juiz que preside a instrução
pode representar pelo desaforamento, exceto quando houver excesso de prazo.

4.2.6. Suspensão do julgamento pelo relator


O Código de Processo Penal permite que seja determinada a suspensão do julgamento
pelo júri até que o Tribunal possa apreciar o pedido de desaforamento.

4.2.7. Inadmissibilidade do pedido de desaforamento


Considerando-se que o pleito de desaforamento somente é admissível entre a decisão de
pronúncia, com o trânsito em julgado, e a data de realização da sessão de julgamento em
plenário, não há fundamento para ingressar com o pedido enquanto pender recurso contra a
referida decisão de pronúncia. Afinal, pode esta ser rejeitada pelo Tribunal e o réu,
impronunciado ou absolvido.

4.2.8. Excesso de Serviço: art. 428, CPP


Na regra atual, somente se poderá pleitear o desaforamento pela demora no julgamento,
caso seja ultrapassado o período de seis meses, contado do trânsito em julgado da decisão
de pronúncia, mas fundado em excesso de serviço comprovado.
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4.3. Ausência do defensor: art. 456, CPP

Em primeiro lugar, deve-se frisar que, havendo escusa legítima, adia-se a sessão de
julgamento, sem qualquer outra providência. É preciso que a justificativa seja oferecida ao
magistrado até a abertura da sessão em plenário.
Se não houver motivo razoável, o juiz comunica à OAB, seção local, marcando nova data
para o julgamento. Nesta o réu deverá ser, necessariamente, julgado (§ 1º). Para tanto, pode
o réu apresentar outro defensor constituído, logo após a determinação de adiamento. Não o
fazendo, o magistrado intima a Defensoria Pública para que assuma o patrocínio da defesa,
observando o prazo mínimo de 10 dias.

4.4. Ausência do acusado: art. 457, CPP

O julgamento não será adiado pelo não comparecimento do acusado solto, do assistente
ou do advogado do querelante, que tiver sido regularmente intimado.
Se o acusado preso não for conduzido, o julgamento será adiado para o primeiro dia
desimpedido da mesma reunião, salvo se houver pedido de dispensa de comparecimento
subscrito por ele e seu defensor.

4.5. Imprescindibilidade do depoimento da testemunha: art. 461, CPP

É fundamental que as partes, entendendo ser indispensável o depoimento de alguma


testemunha, arrolem-na na fase de preparação para o plenário, com o caráter de
imprescindibilidade.
Não o fazendo, deixa de haver a possibilidade de insistência na sua oitiva, caso alguma
delas não compareça à sessão plenária.

O momento para arrolar testemunhas, no procedimento preparatório, é o previsto no artigo


422 do Código de Processo Penal, após a intimação determinada pelo juiz.

4.6 Suspensão dos trabalhos para condução coercitiva ou adiamento da


sessão

Somente ocorre se a testemunha tiver sido arrolada com o caráter de imprescindibilidade


e houver sido intimada.
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4.7. Infrutífera condução coercitiva

É possível que, a despeito da tentativa, falhe a condução coercitiva, razão pela qual não
se pode adiar eternamente a realização do julgamento.
Assim, se a testemunha não for localizada para a condução ou tiver alterado o domicílio,
instala-se a sessão.

4.8. Realização do julgamento, independentemente da inquirição de


testemunha arrolada

Caso a testemunha tenha sido arrolada sem o caráter de imprescindibilidade, não


comparecendo, o julgamento será realizado de qualquer modo, tendo sido ela intimada ou
não.
Se tiver sido arrolada com o caráter de imprescindibilidade, se for intimada e não
comparecer, é cabível o adiamento, como regra, para que possa ser conduzida
coercitivamente na sessão seguinte.
Entretanto, arrolada com o caráter de imprescindibilidade, mas não localizada, tomando
ciência a parte de que não foi intimada e não indicando o seu paradeiro, com prazo hábil para
nova intimação ser feita, perde a oportunidade de insistir no depoimento.

4.9. Preparo para a composição do conselho de sentença: art. 462, CPP

Para a composição do Conselho de Sentença, o juiz presidente deve checar se as partes


estão presentes, assim como todas as testemunhas indispensáveis, convenientemente
separadas e incomunicáveis. Ultrapassada essa fase, poderá voltar-se à formação do
Conselho.

4.10. Abertura dos trabalhos: art. 463, CPP

Comparecendo ao menos 15 (quinze) jurados, há quórum para a instalação da sessão,


que será dada por aberta pelo juiz presidente.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

O próprio magistrado anuncia o processo a ser julgado (número do processo, nomes do


autor e do réu, classificação do crime) e pede ao oficial que faça o pregão (anúncio na porta
do plenário para que todos tomem ciência, vez que o julgamento é público).

4.11. Ausência de quórum: art. 464, CPP

Se o quórum de 15 (quinze) jurados não foi atingido, é impossível instalar a sessão. Deve
o magistrado providenciar o sorteio de suplentes e adiar o julgamento para a data seguinte
desimpedida.
A partir da edição da Lei 11.689/2008, somente se faz o sorteio dos suplentes, caso não
se atinja o quórum mínimo 15 (quinze) e não mais o número legal 25 (vinte e cinco).

Ou seja, se comparecerem 18 (dezoito) jurados, instala-se a sessão, sem sorteio de


suplentes. Se vierem apenas treze, adia-se a sessão e sorteiam-se suplentes até o número
máximo 25 (vinte e cinco).

4.12. Reunião prévia do juiz com os jurados: art. 466, CPP

4.12.1. Conceito
Somente pode realizar-se, a fim de que o magistrado forneça algumas instruções a
respeito da forma e do julgamento e do procedimento do Tribunal do Júri, se as partes
estiverem cientes e, desejando, possam estar presentes.

4.12.2. Incomunicabilidade dos jurados


Significa que os jurados não podem conversar entre si, durantes os trabalhos, nem nos
intervalos, a respeito de qualquer aspecto da causa posta em julgamento, especialmente
deixando transparecer sua opinião.
Logicamente, sobre os fatos desvinculados do feito podem os jurados conversar, desde
que não seja durante a sessão – e sim nos intervalos –, pois não se quer a mudez dos juízes
leigos e sim a preservação da sua íntima convicção.

A troca de ideias sobre os fatos relacionados ao processo poderia influenciar o julgamento,


fazendo com que o jurado pendesse para um ou outro lado.

A incomunicabilidade dos jurados existe para resguardar o princípio do sigilo das votações
do júri (Art. 5º, inciso XXXVIII, alínea “b”, da CF/88), que constitui garantia das liberdades
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

individuais e, por isso, sua violação configura nulidade absoluta (Art. 564, inciso III, alínea “j”,
c/c o Art. 458, § 1º (atual, 466, §1º).

4.12.3. Manifestação da opinião acerca do processo


Em razão da incomunicabilidade, deseja-se que o jurado decida livremente, sem qualquer
tipo de influência, ainda que seja proveniente de outro jurado.
Deve formar o seu convencimento sozinho, através da captação das provas apresentadas,
valorando-as segundo o seu entendimento.
Portanto, cabe ao juiz presidente impedir a manifestação de opinião do jurado sobre o
processo, sob pena de nulidade da sessão de julgamento.

4.12.4. Fiscalização da incomunicabilidade durante o julgamento


É atribuição do juiz presidente, razão pela qual não pode ele afastar-se do plenário por
muito tempo, o que coloca em risco a validade do julgamento.
Se algum jurado desejar esclarecer alguma dúvida, a ausência do magistrado prejudica a
formação do seu convencimento, além do que o jurado pode fazer alguma observação
inoportuna, gerando nulidade insanável.

4.12.5 Certidão do oficial de justiça


A principal autoridade a controlar a manifestação dos jurados é o juiz presidente.
Entretanto, vale-se dos oficiais de justiça presentes para auxiliá-lo.
Em suma, ao final do julgamento, cumpre ao oficial lançar certidão de que a
incomunicabilidade foi preservada durante todos os momentos processuais.

Exemplo: na sala especial, quando estiverem reunidos em intervalos, o juiz pode não
estar presente, razão pela qual o oficial incumbe-se de fiscalizar a incomunicabilidade.

4.13. Formação do conselho de sentença: art. 467, CPP

O Conselho de Sentença no Tribunal do Júri é composta por sete jurados, escolhidos


aleatoriamente, por sorteio, dentre os que comparecerem (mínimo de quinze e máximo de
vinte e cinco).
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4.14. Recusas motivadas e imotivadas: art. 468, CPP

Para a formação do Conselho de Sentença, essas são as duas possibilidades de recusa


do jurado, formuladas por qualquer das partes.
A recusa motivada baseia-se em circunstâncias legais de impedimento ou suspeição (Arts.
448 e 449, ambos do CPP). Logo, não pode ser jurado, por exemplo, aquele que for filho do
réu, nem tampouco o seu inimigo capital.
A recusa imotivada – também chamada peremptória – fundamenta-se em sentimentos de
ordem pessoal do réu, de seu defensor ou do órgão da acusação. Na constituição do Conselho
de Sentença, cada parte pode recusar até três jurados, sem dar qualquer razão para o ato.
A nova sistemática, introduzida pela Lei nº 11.689/2008, impõe que, havida a recusa
peremptória por qualquer das partes, o jurado está automaticamente excluído da formação do
Conselho de Sentença. Anteriormente, seria preciso coincidir a recusa da defesa com a da
acusação.

4.15. Separação do julgamento: art. 469, CPP

Conforme disposto no artigo 468, parágrafo único, do Código de Processo Penal quando
o jurado for recusado imotivadamente (recusa peremptória) por qualquer das partes será
excluída daquela sessão, prosseguindo-se o sorteio para a formação do Conselho de
Sentença.
Logo, a cada recusa de jurado, este não mais permanecerá, independentemente de haver
também recusa por parte de outro defensor ou da acusação.

Em ilustração, computando-se 25 (vinte e cinco) jurados presentes, com dois corréus.


Imaginemos que o primeiro defensor recuse os três primeiros jurados sorteados. Serão
excluídos, com ou sem a recusa do segundo defensor e do promotor. Após, outros três
jurados, sorteados na sequência, são recusados por parte do segundo defensor. Serão,
também, excluídos, independentemente da manifestação do promotor. Serão afastados.

Ao todo, nove jurados sorteados foram rechaçados e os envolvidos (dois defensores e um


promotor) já não podem exercer o direito de recusa imotivada (são três para cada parte). Logo,
dos 16 jurados restantes, por sorteio, serão escolhidos obrigatoriamente 7 para compor o
Conselho de Sentença. Não haverá cisão do julgamento.
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Caso estivessem presentes apenas 15 jurados, a exclusão de 9, recusa dos pelas


partes presentes, faria com que restassem apenas 6 e ocorreria o denominado estouro da
urna. Se tal se desse, haveria então a separação do julgamento.

O juiz verifica qual é o autor do fato. Será ele julgado em primeiro lugar, como determina
o artigo 469, § 2º, do Código de Processo Penal.

Com relação à preferência de julgamento em caso de separação, impõe-se que, em caso


de separação, seja julgado em primeiro lugar o acusado a quem se atribuiu a autoria do fato,
ou, em caso de coautoria, aplica-se o critério de preferência do artigo 429 do Código de
Processo Penal (presos em primeiro lugar; dentre os presos, os que estiverem há mais tempo
na prisão; em igualdade de condições, os que estiverem há mais tempo pronunciado).

6.16. Arguição de impedimento, suspeição ou incompatibilidade: art. 470, CPP


Tão logo sejam instalados os trabalhos, deve a parte interessada em levantar qualquer
causa de impedimento ou suspeição do juiz presidente, do promotor (no caso de a defesa
arguir) ou de qualquer funcionário fazê-lo de imediato, apresentando as provas que possuir.
Assim, cabe levar testemunhas, se for o caso, ou documentos para exibição em plenário.

Aceita a suspeição, o julgamento será adiado para o primeiro dia desimpedido. Rejeitada,
realiza-se o julgamento, embora todo o ocorrido – inclusive a inquirição das testemunhas –
deva constar da ata.

Futuramente, caberá ao Tribunal analisar se houve ou não a causa de impedimento ou


suspeição.

Caso seja arguida contra o jurado, deve ser levantada tão logo seja ele sorteado,
procedendo-se da mesma forma, isto é, com a apresentação imediata das provas.

4.17. Estouro da urna: art. 471, CPP

Outra hipótese de adiamento da sessão para outra data é a impossibilidade de formação


do conselho de sentença por insuficiência do número de jurados presentes, com potencial
para o sorteio.
Se comparecerem, por exemplo, quinze jurados (quantum mínimo para a instalação dos
trabalhos), mas houver a recusa motivada, calcada em causas de impedimento ou suspeição,
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de vários deles, é possível que o afastamento ocorra em número tal aponto de inviabilizar o
sorteio de sete jurados para compor o Conselho.

4.18. Instrução em plenário: art. 473, CPP


Em primeiro lugar, ouve-se o ofendido. O Juiz Presidente dirige-lhes as perguntas que
entender necessárias. Em seguida, passa a palavra ao representante do Ministério Público e
ao assistente de acusação, se houver, ou ao querelante (se a ação for privada). Na sequência,
poderá a defesa reperguntar.
Finda a oitiva da vítima, passa-se à inquirição das testemunhas de acusação.
Primeiramente, o juiz faz as perguntas cabíveis. Em seguida, concede a palavra ao Ministério
Público e ao assistente, se houver. Depois, à defesa.
Após, ouvem-se as testemunhas de defesa. Inicialmente, as perguntas são formuladas
pelo juiz. Na sequência, pela defesa. Em seguida, pelo Ministério Público e assistente.
Importante registrar a alteração legislativa que inseriu o artigo 474-A, CPP, que determina
o respeito à dignidade das vítimas ou testemunhas. Neste ponto, devemos nos atentar a
eventual cerceamento de defesa sob o pretexto de proteção. Por certo que todos devem ser
respeitados, mas a audiência de instrução é um espaço de construção da verdade processual.

4.19. Interrogatório do acusado: art. 474, CPP


Ao final da colheita das provas em plenário, Ministério Público, o assistente, o querelante
e o defensor, nessa ordem, poderão formular, diretamente, perguntas ao acusado; os jurados
formularão perguntas por intermédio do juiz presidente.

Nos termos do §3º, do artigo 474 do Código de Processo Penal, não se permitirá o uso de
algemas no acusado durante o período em que permanecer no plenário do júri, salvo se
absolutamente necessário à ordem dos trabalhos, à segurança das testemunhas ou à garantia
da integridade física dos presentes.

Por exceção e quando for absolutamente necessário à ordem dos trabalhos, à segurança
das testemunhas ou à garantia da integridade física dos presentes poderá o réu permanecer
algemado.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

Por unanimidade, o STF decidiu que o uso de algemas deve ser adotado em situações
excepcionalíssimas, pois, do contrário, violam-se importantes princípios constitucionais,
dentre eles a dignidade da pessoa humana (Súmula vinculante n. 11).

4.20. Dos debates: art. 476, CPP


4.20.1. Correlação entre acusação e pronúncia
Encerrada a instrução, será concedida a palavra ao Ministério Público, que fará a
acusação, nos limites da pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram admissível a
acusação, sustentando, se for o caso, a existência de circunstância agravante. O assistente
falará depois do Ministério Público.
A acusação é limitada pela Pronúncia

Art. 476, CPP: Encerrada a instrução, será concedida a palavra ao Ministério


Público, que fará a acusação, nos limites da pronúncia ou das decisões posteriores que
julgaram admissível a acusação, sustentando, se for o caso, a existência de
circunstância agravante.

4.20.2. Manifestação inicial do querelante


Ocorre na hipótese de ação privada, em conexão com ação pública, mas com
desmembramento.

Exemplo: dois crimes são cometidos no mesmo cenário, um deles é doloso contra
a vida e o outro, de ação exclusivamente privada, ocorrendo o julgamento isolado do
delito cujo titular da ação é o ofendido.

Nesse caso, manifesta-se o querelante (por meio de advogado) e, na sequência, fala o


Ministério Público, como custos legis (fiscal da lei).

4.21. Limite de tempo para as partes: art. 477, CPP


A Lei 11.689/2008 alterou o tempo de manifestação reservado às partes. De duas horas
para acusação e defesa, como tempo original, passou-se a uma hora e meia.
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Em relação à réplica e à tréplica modificou-se o tempo de trinta minutos para uma hora.
Havendo mais de um acusado, o tempo para a acusação e a defesa será acrescido de uma
hora e elevado ao dobro o da réplica e da tréplica, observado o disposto no § 1º deste artigo.

4.22. Referências proibidas: art. 478, CPP


É vedado às partes:

• fazer referência à decisão de pronúncia, às decisões posteriores que julgaram admissível


a acusação ou à determinação do uso de algemas como argumento de autoridade que
beneficiem ou prejudiquem o acusado, bem como ao silêncio do acusado ou à ausência
de interrogatório por falta de requerimento, em seu prejuízo (trata-se de dispositivo
nitidamente direcionado ao Ministério Público, com prejuízo à acusação);

• a leitura de documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado aos autos com
a antecedência mínima 3 (três) dias úteis, dando-se ciência à outra parte, abrangendo a
leitura de jornais ou qualquer outro escrito, bem como a exibição de vídeos, gravações,
fotografias, laudos, quadros, croqui ou qualquer outro meio assemelhado, cujo conteúdo
versar sobre a matéria de fato submetida à apreciação e julgamento dos jurados.

4.23. Do questionário e sua votação: arts. 482 e 483, CPP


Questionário é o conjunto dos quesitos elaborados pelo juiz presidente, que serão
submetidos à votação pelo Conselho de Sentença, para obtenção do veredicto final.

Nos termos do artigo 483 do Código de Processo Penal, os quesitos serão formulados na
seguinte ordem:

a) Quesito sobre a materialidade do fato

Se o conselho de sentença responder de forma afirmativa a essa questão, seguirá a


votação com a questão seguinte. Se responder negativamente, encerra-se o julgamento com
a absolvição do réu.

b) Quesito sobre a autoria ou participação

O juiz indagará aos jurados se o réu de qualquer modo contribuiu para o cometimento do
delito.
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Respondendo o Conselho de Sentença de forma afirmativa, seguirá com a pergunta


seguinte. Caso contrário, encerra-se o julgamento com a absolvição do acusado pelo júri.

Duas situações podem acontecer aqui:

• Caso não haja tese de desclassificação do delito doloso contra a vida para outro
que não seja, o quesito seguinte que deve ser inserido perguntará se “o jurado
absolve o acusado?”

• Se houver alegação de tese de desclassificação para delito diverso do doloso


contra a vida, a questão desclassificatória será dirigida aos jurados sempre antes
do quesito que indaga se “o jurado absolve o acusado?”

É o que se extrai do artigo 483, § 4º, do Código de Processo Penal, ao destacar que uma
vez sustentada a desclassificação da infração para outra de competência do juiz singular, será
formulado quesito a respeito, para ser respondido após o segundo ou terceiro quesito,
conforme ocaso.

Da mesma forma, deve ser usado para hipótese de tentativa, nos termos do artigo 483, §
5º, do Código de Processo Penal, que enfatiza que se sustentada a tese de ocorrência do
crime na sua forma tentada ou havendo divergência sobre a tipificação do delito, sendo este
da competência do Tribunal do Júri, o juiz formulará quesito acerca destas questões, para ser
respondido após o segundo quesito.

O quesito seguinte será em relação à causa de diminuição da pena alegada pela defesa,
que somente será formulado se o acusado, a essa altura, tiver sido condenado pelos jurados.

Por fim, os jurados são inquiridos sobre a existência de circunstâncias qualificadora ou


causa de aumento de pena reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que
julgaram admissível a acusação.

4.24. Sentença: art. 492, CPP


A sentença pode ser:
a) de condenação, devendo, nesse caso, o juiz fixar apena.

b) absolvição, caso em que o réu deverá ser posto imediatamente em liberdade, caso
esteja preso.
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Atente-se para a hipótese de desclassificação do crime pelo Conselho de Sentença, nos


casos do artigo 492, §§ 1º e 2º, do Código de Processo Penal.

Diz-se desclassificação própria quando o Conselho desclassifica para outro crime que
não é da sua competência, sem especificar qual crime, assim o Juiz presidente deverá decidir.
Por exemplo, jurados não reconhecem a tentativa de homicídio, caberá o juiz o julgamento da
lesão corporal. Vale frisar que o Juiz aqui assume capacidade decisória integral, poderá até
mesmo absolver.

Sempre lembrar que sendo possível suspensão condicional do processo ou outra medida
despenalizadora devem ser oportunizadas.

Súmula 337 do STJ: É cabível a suspensão condicional do processo na


desclassificação do crime e na procedência parcial da pretensão punitiva.

Já a desclassificação imprópria os jurados reconhecem a incompetência para julgar,


mas indicam o delito cometido. Como ocorre quando reconhecem materialidade e lesões, mas
desclassificam para homicídio culposo. Aqui o juiz deve julgar com base na decisão dos
jurados, estando vinculado.
Caso haja desclassificação o crime conexo que não seja da competência do Júri será
julgado pelo Juiz Presidente.

4.25. Execução antecipada da pena no júri: art. 492, inciso I, alínea “e”, 2ª
parte, CPP
Em caso de condenação pelo Tribunal do Júri é competência de o Juiz Presidente
determinar a prisão do condenado, se presentes os requisitos da prisão preventiva previstos
no artigo 312 do Código de Processo Penal. Entretanto, destaca-se que com a publicação da
Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime), foi inserida a regra de execução provisória de pena
nos processos julgados pelo Tribunal do Júri quando o quantum aplicado na sentença
condenatória for igual ou superior a 15 anos (Art. 492, inciso I, Alínea “e”, 2ª parte, do CPP),
sem prejuízo do conhecimento de eventual recurso a ser interposto.
O juiz presidente, excepcionalmente, poderá deixar de autorizar a execução provisória
se houver questão substancial cuja resolução pelo tribunal ao qual competir o julgamento
possa plausivelmente levar à revisão da condenação.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

Caso não obtido o efeito suspensivo através de decisão do Juiz Presidente, o Tribunal
que julgar o recurso de apelação poderá atribuir efeito suspensivo à apelação quando
verificar que o recurso interposto não tem propósito meramente protelatório; e a que há
questão substancial que poderá resultar em absolvição, anulação da sentença, novo
julgamento ou redução da pena para patamar inferior a 15 anos.
O pedido do efeito suspensivo poderá ser feito no corpo da apelação ou, por meio
de petição endereçada ao relator, instruída com cópias da sentença, razões de apelação e
prova da tempestividade, além das contrarrazões e das demais peças necessárias à
controvérsia (Art. 492, § 6º, do CPP).

• Observação: caso a peça prática seja uma Apelação da 2ª fase do Júri envolvendo
uma condenação cuja pena aplicada seja igual ou superior a 15 anos, tendo o
enunciado informado que o juiz presidente determinou a execução antecipada,
deverá ser elaborado um item na peça processual, a fim de requerer ao Tribunal
que conceda efeito suspensivo à apelação (Pedido de Efeito Suspensivo) – nos
termos do art. 492, §6º, CPP. O pedido deverá ser explorar os fundamentos do §5º,
demonstrando que o recurso em questão:
I - não tem propósito meramente protelatório; e
II - levanta questão substancial e que pode resultar em absolvição, anulação da
sentença, novo julgamento ou redução da pena.

IMPORTANTE
Aqui o Recurso cabível é APELAÇÃO, nos termos do artigo 593, inciso III,
do Código de Processo Penal.
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Apelação das Decisões do Plenário do Júri

Aula prevista para ocorrer ao vivo no dia 19/04/2024.

Prof.ª Letícia Neves


@prof.leticianeves
5.1. Identificação
Após a decisão dos jurados no Plenário do Júri, o Juiz Presidente passa a proferir a
sentença, restringindo-se, se for sentença condenatória, a fixar a pena.

Assim, a apelação das decisões do Júri tem cabimento contra a decisão proferida pelo
Juiz após o julgamento no Plenário do Júri.

PEDIU PRA PARAR

Lembrete: Peça:

“Sentença plenário do júri” Recurso de apelação

PAROU!

5.2. Base legal:


• art. 593, inciso III, CPP
A base legal do recurso de apelação contra decisão do Plenário do Júri guarda relação
com o artigo 593, inciso III, do Código de Processo Penal, devendo, ainda, o recorrente
mencionar a(s) alínea(s) pelo qual está recorrendo, ou seja, artigo 593, inciso III, alínea “a”
e/ou alínea “b” e/ou alínea “c” e/ou alínea “d”, sem prejuízo da possibilidade de recorrer por
mais de um fundamento.
Quando a parte pretender recorrer de decisão proferida no Tribunal do Júri deve
apresentar logo na petição de interposição qual o motivo que o leva a apelar, deixando
expressa a alínea eleita do inciso III do art. 593 do CPP, ficando vinculado, nas razões de
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

apelação aos argumentos relacionados ao motivo declinado na interposição. Assim sendo, o


Tribunal somente pode julgar nos limites da interposição.
Nesse sentido é a Súmula 713 do STF: “O efeito devolutivo da apelação contra decisões
do júri é adstrito aos fundamentos da sua interposição”.

5.3. Prazo
O prazo para interposição é, em regra, de 5 (cinco) dias (CPP, art. 593), a contar da
intimação, sendo 8 (oito) dias para arrazoar o recurso (CPP, art. 600).
Nos termos da Súmula nº 710 do STF: “No processo penal, contam-se os prazos da data
da intimação, e não da juntada aos autos do mandado ou carta precatória ou ordem”.
Convém ressaltar que, para fins de prova do Exame da OAB, a banca examinadora tem
exigido que a peça de interposição e as razões recursais sejam datadas no mesmo dia. Isso
porque a peça de interposição é apresentada com as razões já inclusas.
Atenção especial deve ser dada ao Assistente de Acusação, que possui o prazo de 15
(quinze) dias para recorrer caso não esteja habilitado ainda no processo, conforme consta no
artigo 598 do Código de Processo Penal. Caso já esteja habilitado, o prazo será de cinco dias.

5.4. Conteúdo/Plano de Ação


O recurso de apelação contra decisão proferida pelo Plenário do Júri somente poderá ser
manejado com base numa das hipóteses previstas no artigo 593, III, do CPP. Ou seja, o conteúdo
se limita: a) Nulidade posterior à pronúncia; b) decisão contra lei expressa ou à decisão dos
jurados; c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança;
d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos.
a) Nulidade posterior à pronúncia
Tratando-se de nulidade anterior à pronúncia, a questão já foi analisada na própria decisão
ou em recurso contra ela interposto, operando-se, por conseguinte, a preclusão. Podemos citar
alguns exemplos:
• a juntada de documentos fora do prazo estipulado no art.479;
• participação de jurado impedido;
• inversão da ordem de oitiva das testemunhas de plenário;
• produção, em plenário, de prova ilícita;
• uso injustificado de algemas durante o julgamento;
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

• referências, durante os debates, à decisão de pronúncia ou posteriores, que


julgaram admissível a acusação;
• referências, durante os debates, ao silêncio do acusado, em seu prejuízo;
• e, o mais recorrente: defeitos na formulação dos quesitos.
b) Sentença do juiz presidente contrária à letra expressa da lei ou à decisão dos
jurados
O juiz está obrigado a cumprir as decisões do Júri, não havendo supremacia do juiz togado
sobre os jurados, mas simples atribuições diversas de funções. Os jurados decidem o fato e
o juiz-presidente aplica a pena, de acordo com esta decisão, não podendo dela desgarrar-se.
Exemplos:
• fixar o regime fechado para o réu primário condenado a uma pena inferior a 8 anos;
• deixar de reconhecer atenuante da menoridade;
• reconhecer agravante da reincidência, em desacordo com o artigo 63 do CP.
• os jurados absolvem o réu e o juiz profere uma sentença condenatória, fixando a
pena, e vice-versa;
• Os jurados afastam a qualificadora e o juiz a aplica na dosimetria da pena;
• o júri reconhece uma privilegiadora e o juiz não faz a respectiva redução da pena;
• os jurados acolhem a tese defensiva de desclassificação de homicídio doloso para
culposo e o juiz condena o réu por homicídio doloso;
Se der provimento ao recurso de apelação interposto com base nesta alínea, o Tribunal
ad quem procederá à retificação da sentença, sem necessidade de renovação do julgamento
em plenário do Júri (art. 593, § 1º, CPP).
c) Quando houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de
segurança
É outra hipótese que diz respeito, exclusivamente, à atuação do juiz-presidente, não
importando em ofensa à soberania do veredicto popular. Logo, o Tribunal pode corrigir a
distorção diretamente.
A aplicação de penas muito acima do mínimo legal para réus primários, ou
excessivamente brandas para reincidentes, por exemplo, sem ter havido fundamento
razoável, ou medidas de segurança incompatíveis com a doença mental apresentada pelo réu
podem ser alteradas pela Instância superior.
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Se der provimento à apelação interposta com base na alínea “c”, o Tribunal retificará a
aplicação da pena ou da medida de segurança, sem necessidade de renovação do
Julgamento pelo Júri.

OBSERVAÇÃO

Qualificadoras: Encontra-se pacificado o entendimento no sentido de que a discussão


envolvendo o reconhecimento ou afastamento da qualificadora deve ser abordada com base
na alínea “d” do inciso III do art. 593. Isso significa que, se der provimento ao recurso de
apelação, o réu será submetido a novo julgamento pelo Tribunal do Júri.

Em síntese, a interposição do recurso de apelação visando ao afastamento da


qualificadora deve ser com base no artigo 593, inciso III, alínea “d”, do Código de Processo
Penal.
d) Quando a decisão dos jurados for manifestamente contrária à prova dos autos
Contrária à prova dos autos é a decisão que não encontra respaldo em nenhum elemento
de convicção colhido sob o crivo do contraditório. Não é o caso de condenação que apoia em
versão mais fraca.
Só cabe apelação com base nesse fundamento uma única vez. Não importa qual das
partes tenha apelado, é uma vez para qualquer das duas.
Conforme o artigo 593, § 3º, do Código de Processo Penal, se a apelação se fundar no
inciso III, alínea “d”, e o tribunal ad quem se convencer de que a decisão dos jurados é
manifestamente contrária à prova dos autos, dar-lhe-á provimento para sujeitar o réu a novo
julgamento; não se admite, porém, pelo mesmo motivo, segunda apelação.

5.5. Pedido
Como todo recurso, os pedidos que não podem faltar é o de CONHECIMENTO E PROVIMENTO
do recurso.
Em relação a pedidos específicos, não cabe postular absolvição pelo artigo 386 do CPP,
e muito menos pelo artigo 415 do CPP (que existe somente na 1ª fase do procedimento do júri).
Não cabe formular pedido de absolvição, porque somente os jurados são competentes para
decidir pela absolvição ou condenação do réu, não podendo nem mesmo o Tribunal analisar o
mérito.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

Por isso, conforme o artigo 593, § 3º, do Código de Processo Penal, se a apelação se
fundar no inciso III, alínea “d”, e o tribunal ad quem se convencer de que a decisão dos jurados
é manifestamente contrária à prova dos autos, dar-lhe-á provimento para sujeitar o réu a novo
julgamento; não se admite, porém, pelo mesmo motivo, segunda apelação. Da mesma forma, se
o fundamento for a nulidade posterior à pronúncia, o tribunal devolverá o processo para o juízo
de 1º grau, para a realização de novo júri.

5.6. Estruturação
Trata-se de peça bipartida, devendo a peça de interposição ser endereçada para o Juiz
Presidente do Tribunal do Júri e as razões para o Tribunal de Justiça ou TRF.
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a) Peça de interposição: endereçada ao juiz de 1º grau


A) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ PRESIDENTE DA ... VARA CRIMINAL
DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA... (se crime da competência da Justiça
Estadual)
B) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL PRESIDENTE DO ...
TRIBUNAL DO JÚRI DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE... (se crime da competência da Justiça
Federal)3

Processo nº...

FULANO DE TAL, (não inventar dados), por seu procurador infra-


assinado, com procuração em anexo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência, inconformado com a decisão de fls..., interpor o presente RECURSO DE
APELAÇÃO, com base no artigo 593, inciso III (indicar a alínea)4, do Código de Processo
Penal.
O presente recurso é tempestivo, visto que interposto dentro do prazo
de 5 dias, na forma do artigo 593, caput, do Código de Processo Penal. Assim, requer
seja recebido e processado o recurso, já com as razões anexas, remetendo-se os autos
ao Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Local..., data...5
ADVOGADO...
OAB...

Competência da Justiça Federal – Art. 109 da CF/88.


3

4
Cuidado: se for contra decisão do Tribunal do Júri indicar o fundamento (uma das alíneas do inciso III, do Art.
593, do CPP). Súmula 713 STF
5
CUIDADO: O ENUNCIADO PODE PEDIR A INTERPOSIÇÃO NO ÚLTIMO DIA DO PRAZO
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

b) Peça de razões
A) EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO ... (se da competência da Justiça
Estadual);
B) EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA REGIÃO... (se da competência da
Justiça Federal)

Apelante: FULANO DE TAL


Apelado: MINISTÉRIO PÚBLICO

Processo nº...

RAZÕES DE RECURSO DE APELAÇÃO


Colenda Câmara (Justiça Estadual) ou Colenda Turma (Justiça Federal)

I) DOS FATOS6

II) DO DIREITO7
A) DAS PRELIMINARES
B) DO MÉRITO

III) DO PEDIDO
Ante o exposto, requer seja conhecido e provido o presente recurso, com a
REFORMA DA DECISÃO DE 1º GRAU, para o fim ....:
a) Seja declarada a nulidade do processo a partir do ato tal ... e, por consequência,
seja o réu submetido a novo Júri (se pela alínea “a”, do Art. 593, inciso III, do CPP);
b) Seja retificada a decisão, a fim de que prevaleça a decisão dos jurados, no sentido
de que (se pela alínea “b”, do Art. 593, inciso III, do CPP);
c) Seja retificada a pena, a fim de que seja fixada no mínimo legal, fixado o regime
carcerário semiaberto, etc (se pela alínea “c”, do Art. 593, inciso III, do CPP);

6
Fazer breve relato dos fatos ocorridos, conforme os dados do enunciado (não inventar nada nem simplesmente
transcrever o enunciado).
7
Cuidado: Observar as hipóteses das alíneas do artigo 593, III, do CPP.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

d) Seja o réu submetido a novo Júri pelo Plenário do Júri, nos termos do artigo 593, § 3º, do
Código de Processo Penal (se pela alínea “d”, do artigo 593, inciso III).

Nestes termos, pede deferimento.

Local..., data...

ADVOGADO...
OAB...
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5.6. Peça resolvida

Peça adaptada
Fernando foi pronunciado pela prática de um crime de homicídio doloso consumado que teve
como vítima Henrique. No dia 07 de julho de 2015, numa terça-feira, em sessão plenária do
Tribunal do Júri, todas as testemunhas asseguraram que Henrique iniciou agressões contra
Fernando e que este agiu em legítima defesa. No momento do julgamento, os jurados
reconheceram a autoria e materialidade e optaram por condenar Fernando pela prática do
delito de homicídio doloso. Após a prolação da sentença condenatória, que impôs ao réu a
pena de 06 (seis) anos, em regime semiaberto, a família de Fernando toma conhecimento de
que dois dos jurados que atuaram no julgamento eram irmãos. A intimação da sentença
ocorreu na sessão plenária. Com base nas informações acima expostas e naquelas que
podem ser inferidas do caso concreto, redija a peça cabível, excluída a possibilidade de
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

Habeas Corpus, no último dia do prazo para interposição, sustentando todas as teses
jurídicas pertinentes. (Valor: 5.00 pontos)

Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação.
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO PRESIDENTE DA... VARA


CRIMINAL DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA...

Processo nº

FERNANDO, já qualificado nos autos, por seu procurador infra-assinado,


vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, interpor o presente RECURSO
DE APELAÇÃO, com base no artigo 593, inciso III, “a” e “d”, do Código de Processo
Penal.
Assim, requer seja recebido e processado o recurso, já com as razões

anexas, remetendo-se os autos ao Tribunal de Justiça do Estado...

O presente recurso de apelação é tempestivo, já que interposto dentro do

prazo de 5 dias, previsto no artigo 593, “caput”, do Código de Processo Penal.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Local..., 13 de julho de 2015.

Advogado...

OAB....
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EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO...

Apelante: Fernando
Apelada: Ministério Público

Processo nº

RAZÕES DE RECURSO DE APELAÇÃO

Egrégio Tribunal de Justiça do Estado...

Colenda Câmara Criminal

I – DOS FATOS

O réu foi denunciado e pronunciado pela prática do crime de homicídio doloso.

Durante a sessão plenária do Júri, todas as testemunhas disseram que a

vítima iniciou as agressões e que o réu agiu em legítima defesa.

Os jurados decidiram pela condenação do réu.

O Magistrado fixou a pena em 06 (seis) anos, em regime semiaberto.

II – DO DIREITO
A) Da nulidade posterior à pronúncia
Após a sessão plenária, a família do réu tomou conhecimento de que os dois
jurados que atuaram no julgamento eram irmãos. Todavia, nos termos do artigo 448, inciso
IV, do Código de Processo Penal, irmãos são impedidos de servirem de jurados no mesmo
Conselho de Sentença.
Logo, considerando que dois dos jurados eram irmãos, deve ser anulada a
sessão do plenário do Júri, nos temos do artigo 593, inciso III, “a”, do Código de Processo
Penal.
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B) Da decisão manifestamente contrária à prova dos autos


Os jurados reconheceram a autoria e a materialidade e optaram por condenar o
réu pela prática do delito de homicídio doloso.
Todavia, todas as testemunhas asseguraram que a vítima iniciou as agressões
contra Fernando e que este agiu em legítima defesa.
Logo, a decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos,
devendo o presente recuso ser provido, a fim de sujeitar o réu a novo julgamento, nos termos
do artigo 593, § 3º, do Código de Processo Penal.

III – DO PEDIDO
Ante o exposto, requer seja conhecido e provido o recurso, com a reforma da

decisão, a fim de que:

a) Seja anulada a sessão do plenário do Júri, nos termos do artigo 593, § 3º

do Código de Processo Penal;

b) Seja o réu submetido a novo julgamento pelo plenário da Sessão do Júri,

nos termos do artigo 593, § 3º do Código de Processo Penal.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Local..., 13 de julho de 2015.


Advogado...
OAB...
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5.7 Exercícios para resolver após a aula

4) QUESTÃO 3 – XVIII EXAME – 2018-03

Fernando foi pronunciado pela prática de um crime de homicídio doloso consumado que teve
como vítima Henrique. Em sessão plenária do Tribunal do Júri, o réu e sua namorada, ouvida
na condição de informante, afirmaram que Henrique iniciou agressões contra Fernando e que
este agiu em legítima defesa. Por sua vez, a namorada da vítima e uma testemunha presencial
asseguraram que não houve qualquer agressão pretérita por parte de Henrique. No momento
do julgamento, os jurados reconheceram a autoria e materialidade, mas optaram por absolver
Fernando da imputação delitiva. Inconformado, o Ministério Público apresentou recurso de
apelação com fundamento no Art. 593, inciso III, alínea ‘d’, do CPP, alegando que a decisão
foi manifestamente contrária à prova dos autos. A família de Fernando fica preocupada com o
recurso, em especial porque afirma que todos tinham conhecimento que dois dos jurados que
atuaram no julgamento eram irmãos, mas em momento algum isso foi questionado pelas
partes, alegado no recurso ou avaliado pelo Juiz Presidente. Considerando a situação
narrada, esclareça, na condição de advogado(a) de Fernando, os seguintes questionamentos
da família do réu:
A) A decisão dos jurados foi manifestamente contrária à prova dos autos? Justifique.
(Valor: 0,60)
B) Poderá o Tribunal, no recurso do Ministério Público, anular o julgamento com
fundamento em nulidade na formação do Conselho de Sentença? Justifique. (Valor:
0,65)
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do
dispositivo legal não confere pontuação.

Acesse aqui o e-book com o padrão de respostas:


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5) QUESTÃO 1 – XIV EXAME – 2014-02

Gustavo está sendo regularmente processado, perante o Tribunal do Júri da Comarca de


Niterói-RJ, pela prática do crime de homicídio simples, conexo ao delito de sequestro e cárcere
privado. Os jurados consideraram-no inocente em relação ao delito de homicídio, mas culpado
em relação ao delito de sequestro e cárcere privado. O juiz presidente, então, proferiu a
respectiva sentença. Irresignado, o Ministério Público interpôs apelação, sustentando que a
decisão dos jurados fora manifestamente contrária à prova dos autos. A defesa, de igual modo,
apelou, objetivando também a absolvição em relação ao delito de sequestro e cárcere privado.
O Tribunal de Justiça, no julgamento, negou provimento aos apelos, mas determinou a
anulação do processo (desde o ato viciado, inclusive) com base no Art. 564, III, i, do CPP,
porque restou verificado que, para a constituição do Júri, somente estavam presentes 14
jurados. Nesse sentido, tendo como base apenas as informações contidas no enunciado,
responda justificadamente às questões a seguir.
A) A nulidade apresentada pelo Tribunal é absoluta ou relativa? Dê o respectivo
fundamento legal. (Valor: 0,40)
B) A decisão do Tribunal de Justiça está correta? (Valor: 0,85)
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do
dispositivo legal não confere pontuação.

Acesse aqui o e-book com o padrão de respostas:


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Crimes contra a vida

Prof. Arnaldo Quaresma


@profarnaldoquaresma

6.1 Homicídio simples – Art. 121, caput, CP


6.1.1 Conceito de homicídio
É a morte de um homem provocada por outro homem. E a eliminação da vida de uma
pessoa praticada por outra.
Trata-se de preservar o bem jurídico “vida extrauterina”. Antes do início do parto, com a
dilatação do colo do útero, há vida intrauterina, constituindo-se, nesse caso, a eliminação da vida
crime de aborto.

6.1.2 Meios de execução


O crime de homicídio admite qualquer meio de execução, por disparo de arma de fogo,
facadas, atropelamento, emprego de fogo, asfixia, veneno, etc... Determinados meios
empregados para a execução do delito podem qualificar o delito de homicídio, como, por
exemplo, o fogo, veneno, explosivo.
Normalmente o crime de homicídio é praticado por meio de uma ação do sujeito ativo; é
possível, todavia, que o crime seja praticado por omissão, como, por exemplo, a mãe,
pretendendo a morte do filho pequeno, deixa de alimentá-lo. Nesse caso, a mãe teria o dever de
agir e de impedir o resultado, nos termos do artigo 13, § 2º, alínea “a”, do Código Penal.
Existe, ainda, a participação por omissão. Suponha-se que um policial, ao dobrar uma
esquina, veja um homem desconhecido estrangulando uma mulher. Ele está armado e pode
evitar o resultado, tendo, inclusive, o dever jurídico de fazê-lo. Contudo, ao perceber que a vítima
é uma pessoa de quem ele não gosta, resolve se omitir, permitindo que o homicídio se consume.
O desconhecido é autor do homicídio e o policial, partícipe por omissão (porque tinha o dever
jurídico de evitar o crime e não o fez) (GONÇALVES, 2013, p. 77).
Para caracterizar ao menos tentativa de homicídio, o meio empregado para causar a morte
deve, no mínimo, ser relativamente eficaz a produzir o resultado. Se a consumação do homicídio
se mostrar impossível no caso concreto, por absoluta ineficácia do meio, tem-se a hipótese do
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

crime impossível, não sendo punível nem sequer a tentativa, conforme dispõe o artigo 17 do
Código Penal. Em síntese, o fato será atípico.
Assim, arma com balas velhas, que não deflagram; arma com defeito mecânico, sem
potencialidade lesiva; arma de brinquedo = meios absolutamente ineficazes = crime impossível.
Arma com balas velhas, mas que podem ou não disparar = meio relativamente ineficaz =
pode configurar tentativa punível.

6.1.3 Sujeitos do delito


A) Sujeito ativo
Sujeito ativo: qualquer pessoa.
O conceito abrange não só aquele que pratica o núcleo da figura típica (quem mata), como
também o partícipe, que é aquele que, sem praticar o verbo (núcleo) do tipo, concorre de algum
modo para a produção do resultado.
B) Sujeito passivo
Sujeito passivo: qualquer pessoa, com qualquer condição de vida, de saúde, de posição
social, de raça etc.
É o titular do bem jurídico lesado ou ameaçado.
É a vida extrauterina o objeto de proteção do homicídio, enquanto a vida intrauterina fica
no campo do aborto.
Se doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 se o crime é praticado contra pessoa
menor de 14 anos ou maior de 60 anos (Art. 121, § 4º, do CP).
Se o agente investir, com a intenção de matá-la, contra pessoa já falecida, incidirá a
hipótese de crime impossível, por absoluta impropriedade do objeto (Art. 17 do CP).

6.1.4 Elemento subjetivo


O elemento subjetivo que compõe a estrutura do tipo penal do crime de homicídio é o dolo,
que pode ser direto ou eventual.
O tipo penal do homicídio simples não exige qualquer finalidade específica para sua
configuração. Ao contrário, o motivo do crime pode fazer com que passe a ser considerado
privilegiado (motivo de relevante valor moral ou social) ou qualificado (motivo torpe ou fútil). Se,
entretanto, a motivação do homicida não se enquadrar em nenhuma das hipóteses que tornam
o crime qualificado ou privilegiado, automaticamente será ele considerado simples
(GONÇALVES, 2013, p. 87).
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

6.1.5 Consumação
Consuma-se o crime de homicídio quando da ação humana resulta a morte da vítima.
Ocorre com a cessação da atividade encefálica, conforme se extrai do artigo 3º da Lei nº 94.34/97
(que disciplina o transplante de órgãos).
A materialidade, ou seja, a existência do crime de homicídio e a causa da morte, é atestada
pelo exame necroscópico, em que o médico legista aponta a ocorrência da morte e suas causas.

6.1.6 Tentativa
Tratando-se de crime material, o homicídio admite a tentativa, que ocorrerá quando,
iniciada a execução do homicídio, este não se consumar por circunstâncias alheias à vontade do
agente.
Para a tentativa, é necessário que o crime saia de sua fase preparatória e comece a ser
executado, pois somente quando se inicia a execução é que haverá início de fato típico.
Para o reconhecimento da tentativa devem estar presentes três fatores: a) prova
inequívoca que a intenção do agente era matar a vítima; b) tenha havido início de execução do
homicídio; c) que o resultado morte não tenha ocorrido por circunstâncias alheias à vontade do
agente.

6.2 Homicídio privilegiado – Art. 121, § 1º, CP


O artigo 121, § 1º, do Código Penal, descreve o homicídio privilegiado como o fato de o
sujeito cometer o delito impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio
de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima. Neste caso, o juiz pode
reduzir a pena de 1/6 a 1/3.

6.2.1 Motivo de relevante valor social


Ocorre quando a causa do delito diz respeito a um interesse coletivo. A conduta, então, é
ditada em face de um interesse que diz respeito a todos os cidadãos de uma coletividade.

EXEMPLO:

Pai desesperado pelo vício que impregna seu filho e vários outros alunos, mata um
traficante que distribui drogas num colégio, sem qualquer ação eficaz da polícia para contê-lo.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

6.2.2 Motivo de relevante valor moral


Diz respeito a um interesse particular, interesse de ordem pessoal.
Será motivo de relevante valor moral aquele que, em si mesmo, é aprovado pela ordem
moral, pela moral prática, como, por exemplo, a compaixão ou piedade ante o irremediável
sofrimento da vítima.
Exemplo: Eutanásia.

6.2.3 Domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima


A última figura típica privilegiada descreve o homicídio cometido pelo sujeito sob o domínio
de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação do ofendido.
Além da violência emocional, é fundamental que a provocação tenha partido da própria
vítima e seja injusta, o que não significa, necessariamente, antijurídica, mas quer dizer não
justificada, não permitida, não autorizada por lei, ou, em outros termos, ilícita.

EXEMPLO:

Conduta de réu cuja filha menor fora seduzida e corrompida por seu ex-empregador; do
que fora provocado e mesmo agredido momentos antes pela vítima.

O texto legal exige que o impulso emocional e o ato dele resultante sigam-se
imediatamente à provocação da vítima, ou seja, tem de haver a imediatidade entre a provocação
injusta e a conduta do sujeito.
Convém ressaltar que tal circunstância não se confunde com a atenuante contida no artigo
65, inciso III, alínea “c”, parte final. Trata-se de cometer um delito sob a influência de violenta
emoção, provocada por ato injusto da vítima.
A diferença reside no fato de que o privilégio requer imediatidade entre provocação e
reação (requisito desnecessário na atenuante) e que a violenta emoção domine o agente (na
atenuante, basta que o influencie).
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

6.3 Homicídio qualificado – Art. 121, § 2º, CP


6.3.1 Conceito
É o homicídio praticado com circunstâncias legais que integram o tipo penal incriminador,
alterando para mais a faixa de fixação da pena.
Dizem respeito aos motivos determinantes do crime e aos meios e modos de execução,
reveladores de maior periculosidade ou extraordinário grau de perversidade do agente.
Portanto, da pena de reclusão de 06 a 20 anos, prevista para o homicídio simples, passa-
se ao mínimo de 12 e ao máximo de 30 para a figura qualificada.
Tentado ou consumado, o homicídio doloso qualificado é crime hediondo, nos termos do
artigo 1º, inciso I, da Lei nº 8.072/90.

6.3.2 Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe


Trata-se de qualificadora subjetiva, pois diz respeito aos motivos que levaram o agente à
prática de crime.
Torpe é o motivo moralmente reprovável, abjeto, desprezível, vil, que demonstra a
depravação espiritual do sujeito e suscita aversão e repugnância geral em relação ao crime
praticado.

A) Mediante paga ou promessa de recompensa


Na paga o agente recebe previamente a recompensa pelo crime, o que não ocorre na
promessa de recompensa, em que há somente a expectativa de paga, há um compromisso futuro
de pagamento, cuja efetivação está condicionada à prática do crime de homicídio.

B) Motivo torpe
TORPE: é o motivo repugnante, abjeto, vil, que causa repulsa excessiva à sociedade.
Exemplo: matar alguém para adquirir-lhe a herança, por ódio de classe, vaidade e prazer
de ver sofrer.

6.3.3 Motivo fútil


É o motivo insignificante, apresentando desproporção entre o crime e sua causa moral.
Fútil é o motivo insignificante, banal, desproporcional à reação criminosa.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

Exemplos de motivo fútil: simples incidente de trânsito; rompimento de namoro; pequenas


discussões entre familiares; o fato de a vítima ter rido do homicida; porque a vítima estava
olhando feio.

6.3.4 Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou
cruel, ou de que possa resultar perigo comum
Trata-se de qualificadora objetiva, pois diz respeito aos modos de execução do crime de
homicídio, os quais demonstram certa perversidade.

A) Emprego de veneno
Meio insidioso existe no homicídio cometido por intermédio de estratagema, perfídia. O
veneno é um meio insidioso.
É necessário, para a incidência da qualificadora, que o veneno seja propinado
insidiosamente. Assim, se há emprego de violência no sentido de que a vítima ingira a
substância, não ocorre a qualificadora, podendo incidir o meio cruel.

B) Emprego de fogo ou explosivo


Meio cruel é aquele que causa sofrimentos à vítima, não incidindo se empregado após a
morte.
O fogo pode ser meio cruel ou de que pode resultar perigo comum, conforme as
circunstâncias.
Explosivo é qualquer objeto ou artefato capaz de provocar explosão ou qualquer corpo
capaz de se transformar rapidamente em uma explosão. O emprego de explosivo pode ocorrer
pelo manuseio de dinamite ou qualquer outro material explosivo, v.g, bomba caseira, coquetel
molotov etc.

C) Emprego de asfixia
Asfixia é o impedimento da função respiratória e consequente ausência de oxigênio no
sangue. A asfixia pode ser tóxica ou mecânica. Asfixia tóxica pode se dar pelo ar confinado, pelo
óxido de carbono e pelas viciações do ambiente. As asfixias mecânicas são: enforcamento,
imprensamento, estrangulamento, afogamento e esganadura.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

D) Emprego de tortura
É o suplício, ou tormento, que faz a vítima sofrer desnecessariamente antes da morte. É
o meio cruel por excelência. O agente, na execução do delito, utiliza-se de requintes de crueldade
como forma de exacerbar o sofrimento da vítima, de fazê-la sentir mais intensa e demoradamente
as dores.
A Lei nº 9.455/97, ao definir a tortura, comina pena de 08 a 16 anos de reclusão na
hipótese de resultar morte (Art. 1º, § 3º, 2ª parte). Trata-se de crime qualificado pelo resultado e
preterdoloso, em que a tortura é punida a título de dolo e o evento qualificador (morte), a título
de culpa. Aplica-se no caso de haver nexo de causalidade entre a tortura, seja física ou moral, e
o resultado agravador.
Ocorrendo dolo quanto à morte, seja direto ou eventual, o sujeito só responde por
homicídio qualificado pela tortura (Art. 121, § 2º, inciso III, 5ª fig), afastada a incidência da lei
especial.

E) Meio cruel
São cruéis aqueles meios que aumentam inútil e desnecessariamente o sofrimento da
vítima ou revelam brutalidade ou sadismo fora do comum, contrastando com os sentimentos de
dignidade, de humanidade ou piedade.

F) Meio de que possa resultar perigo comum


É aquele que pode expor a perigo um número indeterminado de pessoas, fazendo
periclitar a incolumidade social.
O Código Penal também qualifica o homicídio praticado por intermédio de meio que pode
resultar perigo comum, exemplificando-o com o fogo e o explosivo. Trata-se, conforme visto, de
fórmula genérica, sendo certo que os meios mencionados genericamente devem seguir a mesma
linha do que consta na parte exemplificativa.

6.3.5 À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou


torne impossível a defesa do ofendido
Nas hipóteses do inciso IV, do § 2º, do artigo 121, o que qualifica o homicídio não é o meio
escolhido ou empregado para a prática do crime, mas o modo insidioso com que o agente
executa, utilizando, para isso, recurso que dificulta ou torna impossível a defesa da vítima.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

Cuida-se de qualificadora objetiva, pois diz respeito ao modo de execução do crime. Neste
inciso temos recursos obstativos à defesa do sujeito passivo, que comprometem total ou
parcialmente o seu potencial defensivo.

A) À traição
A traição pode ser física, como matar pelas costas, ou moral, exemplo de o sujeito atrair
a vítima a local onde existe um poço.

B) Emboscada
Emboscada é a tocaia. Significa ocultar-se para poder atacar, o que, na prática, é a tocaia.
O agente fica à espreita do ofendido para agredi-lo.
É a ação premeditada de aguardar oculto a presença da vítima para surpreendê-la com o
ataque indefensável. É a espera dissimulada da vítima em lugar por onde esta terá de passar.
Na emboscada, o criminoso aguarda escondido a passagem da vítima desprevenida, que é
surpreendida.

C) Mediante dissimulação
Dissimular é ocultar a verdadeira intenção, agindo com hipocrisia. Nesse caso, o agressor,
fingindo amizade ou carinho, aproxima-se da vítima com a meta de matá-la.
É a ocultação da intenção hostil, do projeto criminoso, para surpreender a vítima. O sujeito
ativo dissimula, isto é, mostra o que não é, faz-se passar por amigo, ilude a vítima, que, assim,
não tem razões para desconfiar do ataque e é apanhada desatenta e indefesa.

D) Recurso que dificulta ou impossibilita a defesa


Por fim, o Código Penal se refere a recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da
vítima. É necessário que tais meios se assemelhem à traição, emboscada ou dissimulação.
A surpresa cabe na fórmula genérica em estudo. Para tanto é necessário que a conduta
criminosa seja igualmente inesperada, impedindo ou dificultando a defesa do ofendido.

6.3.6 Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime


Constituem qualificadoras subjetivas, na medida em que dizem respeito aos motivos
determinantes do crime.
Conexão é o liame objetivo ou subjetivo que liga dois ou mais crimes.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

A) Conexão teleológica:
Existe conexão teleológica quando o homicídio é cometido a fim de assegurar a execução
de outro delito.
O que qualifica o homicídio não é a prática efetiva de outro crime, mas o fim de assegurar
a execução desse outro crime, que pode até não vir a ocorrer.
Exemplo: quem, para sequestrar alguém, mata o guarda-costas que pretendia evitar o
sequestro responderá pelo crime de homicídio qualificado, mesmo que, a seguir, desista de
efetuar o sequestro.
B) Conexão consequencial
Há conexão consequencial quando o homicídio é cometido a fim de assegurar a ocultação,
impunidade ou vantagem em relação a outro delito.
Na ocultação, o sujeito visa a impedir a descoberta do crime. Ex. o incendiário mata a
testemunha do crime.
Na impunidade, o crime é conhecido, enquanto a autoria é desconhecida. Ex. o sujeito
mata a testemunha de um desastre ferroviário criminoso.
Pode ocorrer que o sujeito execute o homicídio a fim de assegurar vantagem no tocante
a outro delito. Ex. o sujeito mata o parceiro do roubo com a finalidade de ficar com todo o produto
do crime. Não é necessário que a vantagem seja patrimonial, podendo ser moral.

6.3.7 Feminicídio
A partir da edição da Lei nº 13.104/2015, o crime de homicídio passou a ser qualificado
também se praticado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino.
Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:
I - violência doméstica e familiar;
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Nos termos do artigo 121, § 7º, do Código Penal, com redação dada pela Lei nº
13.771/2018, a pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for
praticado:
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto
II - contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos, com deficiência ou com doenças
degenerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental;
III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima;
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e


III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006.

6.3.8 Praticado contra agentes de segurança


Qualifica o crime de homicídio quando praticado contra autoridade ou agente descrito nos
artigos 142 e 144, ambos da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força
Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição.

6.3.9 Emprego de Arma de Fogo de uso restrito ou proibido


Com a derrubada do veto pelo Congresso foi incluída a qualificadora do artigo 121,
parágrafo 2°, VIII, a qual diz respeito sobre o emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido.
Trata-se de uma qualificadora objetiva que diz respeito sobre a execução do crime de
homicídio.

6.3.10 Homicídio contra menor de 14 anos


Com o advento da lei 14344/2022 (Lei Henry Borel) foi incluído o homicídio contra menor
de 14 anos no rol das qualificadoras (art. 121, parágrafo 2, inciso X).

Ademais, restou incluída uma causa de aumento específica (art. 121, parágrafo 2b):
§ 2º-B. A pena do homicídio contra menor de 14 (quatorze) anos é aumentada de:
I - 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é pessoa com deficiência ou com doença que implique o
aumento de sua vulnerabilidade;
II - 2/3 (dois terços) se o autor é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro,
tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade sobre ela.

6.3.11 Homicídio privilegiado-qualificado


Tem sido posição predominante na doutrina e na jurisprudência a admissão da forma
privilegiada-qualificada, desde que exista compatibilidade lógica entre as circunstâncias.
Em regra, PODE-SE ACEITAR A EXISTÊNCIA CONCOMITANTE DE QUALIFICADORAS
OBJETIVAS COM AS CIRCUNSTÂNCIAS LEGAIS DO PRIVILÉGIO, QUE SÃO DE ORDEM
SUBJETIVA (motivo de relevante valor e domínio de violenta emoção).
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6.4. Homicídio culposo – Art. 121, § 3º, CP


6.4.1 Conceito
É um tipo aberto, que depende, pois, da interpretação do juiz para poder ser aplicado. A
culpa, conforme o artigo 18, inciso II, do Código Penal, é constituída de “imprudência, negligência
ou imperícia”. Portanto, matar alguém por imprudência, negligência ou imperícia concretiza o tipo
penal incriminador do homicídio culposo.

6.4.2 Modalidades de culpa


A) Imprudência
A imprudência é a prática de um fato perigoso. Consiste na violação das regras de conduta
ensinadas pela experiência. É o atuar sem precaução, precipitado, imponderado. Há sempre um
comportamento positivo.
Exemplo: manejar arma carregada.
B) Negligência
A negligência é a ausência de precaução ou indiferença em relação ao ato realizado. É a
culpa na sua forma omissiva. O negligente deixa de tomar, antes de agir, as cautelas que deveria.
Exemplo: deixar arma de fogo ao alcance de uma criança.
C) Imperícia
Imperícia é a falta de aptidão para o exercício de arte ou profissão. A imperícia pressupõe
que o fato tenha sido cometido no exercício da arte ou profissão.
Exemplo: Engenheiro que constrói um prédio cujo material é de baixa qualidade, vindo
este a desabar e a provocar a morte dos moradores.

6.4.3 Concorrência e compensação de culpas


Não há no Direito Penal compensação de culpas. Assim a culpa do pedestre que
atravessa a rua fora da faixa a ele destinada não elide a culpa do motorista que trafega na
contramão.
A culpa exclusiva da vítima, contudo, exclui a do agente, pois se ela foi exclusiva de um é
porque não houve culpa alguma do outro; logo, se não há culpa do agente, não se pode falar em
compensação.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

6.4.4 Perdão judicial – Art. 121, § 5º, CP


É a clemência do Estado, que deixa de aplicar a pena prevista para determinados delitos,
em hipóteses expressamente previstas em lei.
Somente ao autor do homicídio culposo pode-se aplicar a clemência, desde que ele tenha
sofrido com o crime praticado uma consequência tão séria e grave que a sanção penal se torne
desnecessária.
Exemplo: o pai que provoca a morte do próprio filho, num acidente fruto de sua
imprudência, já teve punição mais do que severa. A dor por ele experimentada é mais forte do
que qualquer pena que se lhe pudesse aplicar. Por isso, surge a hipótese do perdão. O crime
existiu, mas a punibilidade é afastada.

6.5 Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio – Art. 122, CP


6.5.1 Conceito de suicídio
É a morte voluntária, que resulta, direta ou indiretamente, de um ato positivo ou negativo,
realizado pela própria vítima, a qual sabia dever produzir este resultado.
O Código Penal leva em conta o ato da vítima, que vem a destruir a própria vida.

Se o ato de destruição é praticado pelo próprio agente, responde pelo delito de


homicídio.

6.5.2 Automutilação
A autolesão não é punida. O que constitui crime é a conduta de induzir, instigar ou auxiliar
a vítima a se automutilar, ou seja, de causar lesões em si própria.

6.5.3 Sujeito ativo e passivo


Qualquer pessoa que tenha capacidade de induzir, instigar ou auxiliar alguém, de modo
eficaz e consciente, a suicidar-se ou a se automutilar.
No caso do sujeito passivo, é preciso ter um mínimo de discernimento ou resistência, pois,
do contrário, trata-se de homicídio, se resultar morte; ou lesão corporal grave ou gravíssima, no
caso automutilação.
Nos casos de ausência de capacidade de entendimento da vítima (louco, criança), o
agente será considerado autor mediato do delito de homicídio, uma vez que a vítima, tendo
resistência nula, serviu como mero instrumento para que o agente lograsse o seu propósito
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

criminoso, qual seja, eliminar a vida do inimputável; por exemplo, fornecer uma arma a um louco
e determinar que este atire contra si próprio.

EXEMPLO:
O agente que, valendo-se da insanidade da vítima, convence-a a se matar, incide no artigo
121.

8.5.4 Elementos objetivos do tipo


A) Ação nuclear
Trata-se de um tipo misto alternativo (crime de ação múltipla ou de conteúdo variado). O
agente, ainda que realize todas as condutas, responde por um só crime.
A participação em suicídio ou automutilação pode ser moral e material. Participação moral
é a praticada por intermédio de induzimento ou instigação. Participação material é a realizada
por meio de auxílio.
Induzir
Induzir significa dar a ideia a quem não possui, inspirar, incutir. Portanto, nessa primeira
conduta, o agente sugere à vítima que dê fim à sua vida ou se automutile.
Instigar
Instigar é fomentar uma ideia já existente. Trata-se, pois, do agente que estimula a ideia
que alguém anda manifestando.
Prestar auxílio
Auxílio: Trata-se de forma mais concreta e ativa de agir, pois significa dar apoio material
ao ato suicida. Exemplo. o agente fornece a arma utilizada para a vítima dar fim à sua vida ou se
automutilar.

6.5.5 Elemento subjetivo


É o dolo, direto ou eventual, consistente na vontade livre e consciente de induzir, instigar
ou auxiliar a vítima a suicidar-se ou se automutilar. Não se admite a modalidade culposa.

6.5.6 Consumação e tentativa


O crime de participação de suicídio ou automutilação atinge a consumação com a morte
da vítima ou lesões corporais provocadas em si mesmo.
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A maior novidade introduzida pela Lei nº 13.968/2019 foi no sentido de que o crime
previsto no artigo 122 do Código Penal deixou de ser condicionado, já que não mais constitui
condição para a incidência do delito que ocorra o resultado morte ou lesão grave.
Assim, se dos atos para eliminar a sua própria vida ou causar lesões em si mesma, resultar
lesão corporal leve à vítima, ou não resultar qualquer lesão, o agente responderá pelo crime de
induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio ou automutilação na modalidade simples (Art. 122,
caput, do CP).

6.5.7 Figuras típicas qualificadas

§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima,


nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste Código: (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos
§2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte: (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019).

6.5.8 Formas majoradas


A) Se o crime é praticado por motivo egoístico
Motivo egoístico é o excessivo apego a si mesmo, o que evidencia o desprezo pela vida
alheia, desde que algum benefício concreto advenha ao agente. Logicamente, merece maior
punição.

EXEMPLO:
É o caso, por exemplo, de o sujeito induzir a vítima a suicidar-se para ficar com a herança.

B) Se a vítima é menor
Em segundo lugar, a pena é majorada quando a vítima é menor. Qual a idade para efeito
da majorante?
Se a vítima é maior de 18 anos, aplica-se o caput do artigo 122.
Se a vítima é menor de 14 anos, há crime de HOMICÍDIO.

A majorante só é aplicável quando a vítima tem idade entre 14 e 18 anos.


2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

c) Tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência


A terceira majorante prevê a hipótese de a vítima ter diminuída, por qualquer causa, a
capacidade de resistência, como enfermidade física ou mental, idade avançada. Ex.: induzir ao
suicídio vítima embriagada.
Por fim, é de ressaltar que o suicida com RESISTÊNCIA NULA, pelos abalos ou situações
supramencionadas, incluindo-se a idade inferior a 14 anos, é vítima de HOMICÍDIO, e não de
induzimento, instigação ou auxílio a suicídio.

6.5.9 Pacto de morte


É possível que duas ou mais pessoas promovam um pacto de morte, deliberando morrer
ao mesmo tempo.
Se cada uma das pessoas ingerir veneno, de per si, por exemplo, aquela que sobreviver
responderá por participação em suicídio, tendo por sujeito passivo a outra.
Se uma delas ministrar diretamente o veneno na outra, a que sobreviver responderá por
homicídio.
Em síntese, os atos executórios contra a própria vida devem partir exclusivamente da
vítima.

6.6 Infanticídio – Art. 123, CP


6.6.1 Conceito
Trata-se de homicídio cometido pela mãe contra seu filho, nascente ou recém-nascido,
sob a influência do estado puerperal.
O infanticídio ocorre quando a ação é praticada durante o parto ou logo após. Antes de
iniciado o parto existe o aborto e não infanticídio.
Não incidem as agravantes previstas no artigo 61, inciso II, alíneas “e” e “h”, do Código
Penal (crime cometido contra descendente e contra criança), vez que integram a descrição do
delito de infanticídio. Caso incidissem, haverá bis in idem.

6.6.2 Elementos do tipo objetivo


A ação nuclear é o verbo matar, assim como no delito de homicídio, que significa destruir
a vida alheia, no caso, a eliminação da vida do próprio filho pela mãe.
A ação física, todavia, deve ocorrer durante ou logo após o parto, não obstante a
superveniência da morte em período posterior.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

Admite-se a forma omissiva, visto que a mãe tem o dever legal de proteção, cuidado e
vigilância em relação ao filho.

EXEMPLO:
Mãe, sob influência do estado puerperal, percebe que o filho está morrendo sufocado com
o leite materno e nada faz para impedir o resultado morte. Incide, no caso, o disposto no artigo
13, § 2º, do CP.

Estado puerperal é o estado que envolve a mulher durante o parto. Há profundas


alterações psíquicas e físicas, que chegam a transtornar a mãe, deixando-a sem plenas
condições de entender o que está fazendo.
Portanto, o estado puerperal é o conjunto das perturbações psicológicas e físicas sofridas
pela mulher em face do fenômeno do parto.
É possível que autora possua doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou
retardado, como situação preexistente ao parto e que, dada a presença do estado puerperal,
seja ela considerada incapaz de compreender o caráter ilícito da sua conduta ou de se determinar
conforme esse entendimento. No caso, incido o disposto no artigo 26 do Código Penal, podendo
ser inimputável ou semi-imputável, conforme o caso.
O infanticídio pressupõe que a conduta seja praticada “durante o parto ou logo
após”.
Não há na literatura médica ou jurídica regra absoluta quanto à duração do estado
puerperal. Há quem adote o parâmetro máximo de sete dias. Todavia, para maioria da doutrina,
a melhor solução é deixar a conceituação do elementar “logo após” para a análise do caso
concreto, entendendo-se que há delito enquanto perdurar a influência do estado puerperal.

6.6.3 Sujeitos do delito


a) Sujeito ativo
A autora do infanticídio SÓ PODE SER A MÃE. Cuida-se de CRIME PRÓPRIO, uma vez
que não pode ser cometido por qualquer autor.
O tipo penal exige qualidade especial do sujeito ativo. Entretanto, isso não impede que
terceiro responda por infanticídio diante do concurso de agentes.
b) Sujeito passivo
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Sujeito passivo é o neonato ou nascente, de acordo com a ocasião da prática do fato:


durante o parto ou logo após.
Antes do parto, o sujeito passivo será o feto, caracterizando, portanto, o delito de aborto.
c) A participação de terceiros no ato
Segundo boa parte da doutrina, estando a mulher sob influência do estado puerperal,
responde ela por infanticídio, delito que também será atribuído aos eventuais concorrentes do
fato, uma vez que se trata de circunstância de caráter pessoal que constitui elementar do crime.
Logo, comunica-se aos coautores ou partícipes, nos termos do artigo 30 do Código Penal.

6.6.4 Consumação e tentativa


O infanticídio atinge a consumação com a morte do nascente ou neonato.
Trata-se de crime material. Diante disso, admite-se a tentativa, desde que a morte não
ocorra por circunstâncias alheias à vontade da autora.

EXEMPLO:
A genitora ao tentar sufocar a criança com um travesseiro, tem a sua conduta impedida
por terceiros.

6.7 Aborto – Art. 124, CP


6.7.1 Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento – Art. 24 do CP
O sujeito ativo é a gestante, enquanto o passivo é o feto.
Trata-se de crime de mão própria, pois somente a gestante pode realizá-lo, contudo isso
não afasta a possibilidade de participação no crime em questão.
1ª figura: Aborto provocado pela própria gestante (autoaborto):
É a própria mulher quem executa a ação material do crime, ou seja, ela própria emprega
os meios ou manobras abortivas em si mesma.
Se um terceiro executar ato de provocação do aborto, não será partícipe do crime do artigo
124 do Código Penal, mas sim autor do fato descrito no artigo 126 (provocação do aborto com
consentimento da gestante).
2ª figura – Aborto consentido
A mulher apenas consente na prática abortiva, mas a execução material do crime é
realizada por terceira pessoa.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

Em tese, a gestante e o terceiro deveriam responder pelo delito do artigo 124. Contudo, o
Código Penal prevê uma modalidade especial de crime para aquele que provoca o aborto com o
consentimento da gestante (Art. 126 do CP).
Assim, há a previsão separada de dois crimes: um para a gestante que consente na prática
abortiva (Art. 124 do CP); e outro para o terceiro que executou materialmente a ação provocadora
do aborto (Art. 126 do CP). Há aqui, perceba-se, mais uma exceção à teoria monista adota pelo
Código Penal em seu artigo 29.

6.7.2 Aborto provocado por terceiro – Art. 125, CP


Trata-se de forma mais gravosa do delito de aborto.
Ao contrário da figura típica do artigo 126, não há o consentimento da gestante no
emprego dos meios ou manobras abortivas por terceiro. Aliás, a ausência de consentimento
constitui elementar do tipo penal.
As formas de dissentimento estão retratadas no artigo 126, parágrafo único:
a) Dissentimento presumido
É necessário que a gestante tenha capacidade para consentir, não se tratando de
capacidade civil.
Para o Código Penal, quando a vítima não é maior de 14 anos ou é alienada mental, não
possui consentimento válido, levando à consideração de que o aborto deu-se contra a sua
vontade.
b) Dissentimento real
Quando o agente emprega violência, grave ameaça ou mesmo fraude, é natural supor que
extraiu o consentimento da vítima à força, de modo que o aborto necessita encaixar-se na figura
do artigo 125.

6.7.3 Aborto consensual – Art. 126, CP


Para que se caracterize a figura do aborto consentido (Art. 126 do CP), é necessário que
o consentimento da gestante seja válido, isto é, que ela tenha capacidade para consentir.
Ausente essa capacidade, o delito poderá ser outro (Art. 125 do CP).
Trata-se de uma exceção à teoria monista (todos os coautores e partícipes respondem
pelo mesmo crime quando contribuírem para o mesmo resultado típico). Se existisse somente a
figura do artigo 124, o terceiro que colaborasse com a gestante para a prática do aborto incidiria
naquele tipo penal.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

Entretanto, o legislador para punir mais severamente o terceiro que provoca o aborto, criou
o artigo 126, aplicando a teoria dualista (ou pluralista) do concurso de pessoas.

6.7.4 Aborto legal – Art. 128, CP


a) Aborto necessário ou terapêutico
É a interrupção da gravidez realizada pelo médico quando a gestante estiver correndo
perigo de vida e inexistir outro meio para salvá-lo. A excludente da ilicitude em estudo do crime
de aborto somente abrange a conduta do médico. Não obstante isso, a enfermeira, ou parteira,
não responderá pelo delito em questão se praticar o aborto por força do artigo 24 do Código
Penal (estado de necessidade, no caso, de terceiro).
b) Aborto humanitário, sentimental ou piedoso
O aborto humanitário, também denominado ético ou sentimental, é autorizado quando a
gravidez é consequência do crime de estupro e a gestante consente na sua realização.
Para se autorizar o aborto humanitário são necessários os seguintes requisitos:
a) gravidez resultante de estupro;
b) prévio consentimento da gestante ou, sendo incapaz, de seu representante legal.
A lei não exige autorização judicial, processo judicial ou sentença condenatória contra o
autor do crime de estupro para a prática do aborto sentimental, ficando a intervenção a critério
do médico. Basta prova idônea do atentado sexual.

6.8 Exercícios para resolver após a aula

6) QUESTÃO 4 – XXIII EXAME


Manoel conduzia sua bicicleta, levando em seu colo, sem qualquer observância às regras de
segurança, seu filho de 02 anos de idade. Para tornar o passeio do filho mais divertido, Manoel
pedalava em alta velocidade, quando, em determinado momento, perdeu o controle da bicicleta
e caiu, vindo seu filho a bater a cabeça e falecer de imediato. Após ser instaurado procedimento
para investigar os fatos, a perícia constata que, de fato, Manoel estava em alta velocidade e não
havia qualquer segurança para o filho em seu colo. O Ministério Público oferece denúncia em
face de Manoel, imputando-lhe a prática do crime previsto no Art. 121, §§ 3º e 4º, do Código
Penal, já que a vítima era menor de 14 anos. Durante a instrução, todos os fatos são confirmados
por diversos meios de prova. Considerando apenas as informações narradas, responda, na
qualidade de advogado(a) de Manoel, aos itens a seguir.
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A) A capitulação delitiva realizada pelo Ministério Público está integralmente correta?


Justifique. (Valor: 0,60)

B) Qual argumento a ser apresentado para evitar a punição de Manoel pelo crime de
homicídio culposo? Justifique. (Valor: 0,65)

Acesse aqui o e-book com o padrão de respostas:


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Lei de Execução Penal

Prof.ª Letícia Neves


@prof.leticianeves

7.1. Noções introdutórias


A Lei nº 7.210/84, também conhecida com a Lei de Execução Penal, regula a execução
das penas e medidas de segurança no Brasil.
As penas, conforme o artigo 32 do Código Penal, dividem-se em: penas privativas de
liberdade, restritivas de direito e penas de multa. Já as medidas de segurança estão previstas
no artigo 96 do Código Penal, dividindo-se em: medidas de segurança de internação ou de
tratamento ambulatorial.
Em regra, quando se fala em execução penal, se pressupõe a existência de uma sentença
penal condenatória transitada em julgado. Assim sendo, a partir do esgotamento da via recursal
tem-se que será determinada a expedição / formação do processo de execução criminal,
denominado na praxe jurídica como P.E.C (Processo de Execução Criminal).
O trâmite do processo de execução se dará em Vara de Execução Criminal, quando assim
houver, conforme determinação das regras de organização judiciária de cada Estado. Nesta fase,
o Juiz responsável por este processo é denominado Juiz da Vara de Execução, cujo rol
exemplificativo de sua competência consta no artigo 66 da Lei nº 7.210/84.
É importante registrar que, excepcionalmente, é possível a formação do Processo de
Execução Provisório, ou seja, quando a pessoa estiver executando uma pena que ainda está
sob discussão perante o Poder Judiciário, ou seja, ainda não transitou em julgado a sentença.
Independentemente de ser preso em caráter definitivo ou provisório, a Lei de Execução é
aplicável no que couber.
Para fins da prova prático-profissional, registra-se que os pedidos ao Juiz da Vara de
Execução devem ser elaborados no formato de petições, por exemplo, o apenado pretende
progressão de regime, deverá ser postulado por meio de peticionamento um pedido
fundamentado ao Juiz, através de seu defensor (público ou privado/contratado).
Por fim, em sede de execução penal deverão ser observados todos os direitos e garantias
constitucionais, bem como aqueles previstos em Tratados e Convenções de Direitos Humanos
quando aplicáveis. Neste contexto, enfatiza-se a importância de observar o artigo 5º, inciso LV,
da Constituição Federal/88, que assegura o devido processo legal, exigindo a observância do
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

contraditório e ampla defesa, também durante a execução penal. Importante, registrar que toda
e qualquer interpretação deve se dar de forma restritiva, assegurando ao máximo a
implementação dos direitos em sede de execução penal, sendo, portanto, vedada a analogia in
mallam partem.
A Lei de Execução Penal é aplicável a todos que estiverem recolhidos a estabelecimentos
prisionais sujeitos à jurisdição ordinária (Justiça Estadual ou Federal), independentemente da
origem da condenação. Logo, o que se verifica na execução penal é o local de cumprimento de
pena, para determinar o Juízo Competente.
A título de exemplo, se um condenado pela Justiça Federal estiver recolhido num
estabelecimento sujeito à administração Estadual, o Juiz da Vara de Execução Criminal Estadual
será o competente para apreciar os pedidos e acompanhar a execução da pena.

OBSERVAÇÕES:

Vale destacar que o processo de execução criminal (PEC) tramita junto à Vara de
Execução Criminal da Comarca (VEC), cuja jurisdição pertença o estabelecimento prisional
em que o apenado cumpre pena. Nele constará toda e qualquer informação que gere alguma
modificação na pena ou na sua forma de cumprimento.
Súmula 192 do STJ: Compete ao Juízo das Execuções Penais do Estado a execução
das penas impostas a sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando
recolhidos a estabelecimentos sujeitos à administração estadual.

7.2. Princípio da Individualização da pena: Art. 5º, inciso XLVI, CF/88 –


Fase Executória
O princípio da individualização da pena na fase da execução manifesta-se inicialmente
com a classificação dos condenados segundo seus antecedentes e personalidade (Art. 5º da
LEP). A classificação será feita por uma Comissão Técnica de Classificação (CTC), que
elaborará o programa individualizador da Pena Privativa de Liberdade (PPL)ao condenado ou
preso provisório (Arts. 6 e 7, ambos da LEP).
A Comissão Técnica de Classificação será presidida pelo diretor e composta, no mínimo,
por dois chefes de serviço, um psiquiatra, um psicólogo e um assistente social.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

Além da classificação, para auxiliar na obtenção de mais elementos para individualização


da pena, o condenado à pena privativa de liberdade em regime fechado será submetido ao
exame criminológico. Ainda, poderão ser submetidos o condenado à pena privativa de liberdade,
em regime semiaberto (Art.8° da LEP).
Frise-se, tais questões ocorrem no início da execução da pena, com a finalidade de
apenas obter mais dados, conhecer a pessoa que está recolhida no sistema penitenciário.
Todavia, convém informar que na maioria das vezes, isso não é cumprido durante a execução
da pena.

7.3 Detração Penal


7.3.1. Conceito
Conforme o art. 42 do Código Penal: “Computam-se, na pena privativa de liberdade e na
medida de segurança, o tempo de prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, o de prisão
administrativa e o de internação em qualquer dos estabelecimentos referidos no artigo anterior.”
A partir da alteração legislativa provocada pela Lei nº 12.736/12, tem-se que a detração
penal deverá ser observada, desde logo, na sentença condenatória, conforme previsto no artigo
387 do Código de Processo Penal. Atualmente, a competência do Juiz da VEC é subsidiária, ou
seja, quando não for objeto na sentença, deverá ser observado pelo Juiz da Vara de Execução.
Tal entendimento decorre do artigo 111 da Lei de Execução Penal e do artigo 66, inciso III, alínea
“c”, da Lei de Execução Penal.
Conforme o art. 111 da Lei de Execução Penal: “Art. 111. Quando houver condenação
por mais de um crime, no mesmo processo ou em processos distintos, a determinação do regime
de cumprimento será feita pelo resultado da soma ou unificação das penas, observada, quando
for o caso, a detração ou remição. Parágrafo único. Sobrevindo condenação no curso da
execução, somar-se-á a pena ao restante da que está sendo cumprida, para determinação do
regime.
A consideração da detração não poderá caracterizar uma conta corrente do indivíduo com
o Estado8.

8
HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. DETRAÇÃO. PERÍODO ANTERIOR AO FATO DELITUOSO.
IMPOSSIBILIDADE. 1. É assente a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de que o condenado não faz jus
à detração penal quando a conduta delituosa pela qual houve a condenação tenha sido praticada posteriormente ao crime
que acarretou a prisão cautelar. 2. Ordem denegada. (HC 109599, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma,
julgado em 26/02/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-048 DIVULG 12-03- 2013 PUBLIC 13-03-2013).
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

Exemplo 1: Pedro comete um crime e permanece preso durante 1 ano, após é absolvido.
Pedro não poderá reaver este período, buscando resgatá-lo.
Exemplo 2: Mário comete um delito de furto simples, na expectativa de não ficar preso,
pois teria direito à detração daquele 1 ano, dito acima, referente a outro delito. Caso seja
condenado, pela prática deste delito, não terá direito à detração anterior, pois geraria uma
contracorrente.

7.4. Regimes Prisionais e Modificação do Regime durante a execução


da pena
7.4.1 Considerações Gerais
Em regra, o regime a ser cumprido vem estabelecido na sentença penal condenatória ou
quando for aplicada a pena em um acórdão pelo Tribunal, pois a fixação do regime inclui uma
das fases da individualização da pena (Art. 59, inciso III, do CP e Art. 110 da LEP). Inclusive,
será estabelecido conforme as regras contidas no artigo 33, §2º e §3º e artigo 59, ambos do
Código Penal.
Entretanto, pode ocorrer de existirem processos distintos, que ainda não iniciaram a
execução da pena, neste caso o resultado da soma das condenações determinará o novo
regime.
Por exemplo: Cross Fox possui uma condenação por um delito de roubo praticado em
Porto Alegre/RS, cuja pena aplicada foi de 5 anos, em regime semiaberto; em comarca
distinta, Caxias do Sul/RS, Cross Fox possui outra condenação à pena de 6 anos, em regime
semiaberto. Nesta situação quando Cross Fox começar a cumprir a pena, o Juiz da Vara de
Execução ao verificar a existência de duas condenações a serem cumpridas, determinará a
soma das penas, no caso totalizará 11 anos, consequentemente o regime prisional será o
fechado pelo resultado apontado.
De outro modo, caso sobrevenha nova condenação durante o cumprimento de uma pena,
a determinação do regime será feita através da soma do restante da pena que está sendo
cumprida com a nova condenação, conforme dispõe o parágrafo único do artigo 111 da Lei de
Execução Penal, vejamos: “Sobrevindo condenação no curso da execução, somar-se-á a
pena ao restante da que está sendo cumprida, para determinação do regime”.

Imagine se Cross Fox estivesse executando uma pena de 10 anos de reclusão e no


momento faltasse 2 anos para terminar, caso sobrevenha nova condenação por outro crime a
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8 anos de reclusão, para determinação do novo regime, deverá ser somada a nova
condenação (8 anos) + o restante da pena em execução (2 anos), o total do somatório, no
caso 10 anos, determinará o novo regime, que pela quantidade resultará na imposição de
regime fechado. Destaca-se que nessa situação ocorrerá uma hipótese de regressão de
regime (Art. 118, inciso II, da LEP), que será estudada nos itens seguintes.

Em todas as situações, da mesma forma que ocorre na aplicação da pena, em que o juiz
se socorre da previsão contida no artigo 33, §2º, do Código Penal para a fixação de regime,
na execução penal o resultado da soma deverá ser enquadrado nas regras do artigo 33 do
Código Penal.

7.5. Unificação de Penas


7.5.1. Considerações gerais
O termo unificação, teoricamente, deveria ser utilizado nos casos em que se evidencia
alguma hipótese de crime continuado (Art. 71 do CP) ou de concurso formal perfeito (Art. 70,
caput, 1ª parte, do CP), pois nesses casos muito embora tenhamos mais de um crime, para
fins de aplicação de pena, considera-se a pena de um deles, se idênticas, ou a mais grave, se
diferentes, e aumenta-se de 1/6 a 2/3 (sistema da exasperação). Em outros termos, pode
transformar diversas penas em uma, por determinação legal.

Destaca-se que caso não tenha sido observada a ocorrência de crime continuado pelo
Juiz da condenação, pois geralmente essas hipóteses são apuradas no mesmo processo, se
isso for constatado na execução da pena, deverá o juiz fazer a unificação da pena, aplicando
a exasperação aqui na fase da execução. Veja o recente julgado exemplificando a questão.

Por fim, fala-se também em unificação de pena, no caso do artigo 75 do Código Penal,
para fins de delimitar o cumprimento da pena em 40 anos, ocasião em que para fins de cálculo
de progressão de regime, livramento condicional permanecerá o total da pena, como orienta
a súmula 715 do STF: “A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento,
determinado pelo art. 75 do Código Penal, não é considerada para a concessão de outros
benefícios, como o livramento condicional ou regime mais favorável de execução”.

Chama-se atenção para o fato de que o termo unificação de penas é utilizado de diversas
formas na execução pena, muitas vezes gerando confusão com a hipótese de soma de penas,
pois o artigo 111 da Lei de Execução Penal não traz qualquer conceito a respeito de cada
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

expressão, somente refere que o regime prisional será fixado pelo resultado da soma ou
unificação das penas.

CONFERIR

AGRAVO EM EXECUÇÃO. UNIFICAÇÃO DE PENAS DECORRENTE DE


CONTINUIDADE DELITIVA. DECISÃO MANTIDA. As práticas delituosas atinentes aos
processos nºs 010/2.13.0002498-1 e 5006934-02.20034047107 aconteceram em
intervalo de tempo inferior a 30 dias (entre 22/01/2013 e 13/02/2013). Ademais, são da
mesma espécie e se perfectibilizaram de maneira muito semelhante, consistindo ambas
em roubo majorado pelo uso de arma de fogo e pelo concurso de pessoas. [...] Decisão
mantida. AGRAVO MINISTERIAL DESPROVIDO. UNÂNIME. (Agravo Nº 70076880152,
Sexta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ícaro Carvalho de Bem Osório,
Julgado em 10/05/2018).

7.6. Regime disciplinar diferenciado: art. 52, LEP

Alterações significativas ocorreram em virtude da aplicação da Lei nº 13.964/19


(Pacote Anticrime)

Redação Anterior Vigência da Lei nº 13.964/19

Art. 52: A prática de fato previsto como Art. 52: A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta
crime doloso constitui falta grave e, grave e, quando ocasionar subversão da ordem ou disciplina
quando ocasione subversão da ordem internas, sujeitará o preso provisório, ou condenado, nacional ou
ou disciplina internas, sujeita o preso estrangeiro, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar
provisório, ou condenado, sem prejuízo diferenciado, com as seguintes características:
da sanção penal, ao regime disciplinar I - duração máxima de até 2 (dois) anos, sem prejuízo de
diferenciado, com as seguintes repetição da sanção por nova falta grave de mesma espécie;
características: II - recolhimento em cela individual;
I - duração máxima de trezentos e III - visitas quinzenais, de 2 (duas) pessoas por vez, a serem
sessenta dias, sem prejuízo de repetição realizadas em instalações equipadas para impedir o contato
da sanção por nova falta grave de físico e a passagem de objetos, por pessoa da família ou, no caso
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

mesma espécie, até o limite de um sexto de terceiro, autorizado judicialmente, com duração de 2 (duas)
da pena aplicada; horas;
II - recolhimento em cela individual; IV - direito do preso à saída da cela por 2 (duas) horas diárias
III - visitas semanais de duas pessoas, para banho de sol, em grupos de até 4 (quatro) presos, desde
sem contar as crianças, com duração de que não haja contato com presos do mesmo grupo criminoso;
duas horas; V - entrevistas sempre monitoradas, exceto aquelas com seu
IV - o preso terá direito à saída da cela defensor, em instalações equipadas para impedir o contato físico
por 2 horas diárias para banho de sol. e a passagem de objetos, salvo expressa autorização judicial em
contrário;
VI - fiscalização do conteúdo da correspondência;
VII - participação em audiências judiciais preferencialmente por
videoconferência, garantindo-se a participação do defensor no
mesmo ambiente do preso.

§ 1º O regime disciplinar diferenciado § 1º O regime disciplinar diferenciado também será aplicado aos
também poderá abrigar presos presos provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros:
provisórios ou condenados, nacionais ou I - que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do
estrangeiros, que apresentem alto risco estabelecimento penal ou da sociedade;
para a ordem e a segurança do II - sob os quais recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou
estabelecimento penal ou da sociedade. participação, a qualquer título, em organização criminosa,
associação criminosa ou milícia privada, independentemente da
prática de falta grave.

§ 2o Estará igualmente sujeito ao regime § 2º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
disciplinar diferenciado o preso § 3º Existindo indícios de que o preso exerce liderança em
provisório ou o condenado sob o qual organização criminosa, associação criminosa ou milícia privada,
recaiam fundadas suspeitas de ou que tenha atuação criminosa em 2 (dois) ou mais Estados da
envolvimento ou participação, a Federação, o regime disciplinar diferenciado será
qualquer título, em organizações obrigatoriamente cumprido em estabelecimento prisional federal.
criminosas, quadrilha ou bando. § 4º Na hipótese dos parágrafos anteriores, o regime disciplinar
diferenciado poderá ser prorrogado sucessivamente, por
períodos de 1 (um) ano, existindo indícios de que o preso:
I - continua apresentando alto risco para a ordem e a segurança
do estabelecimento penal de origem ou da sociedade; (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - mantém os vínculos com organização criminosa, associação
criminosa ou milícia privada, considerados também o perfil
criminal e a função desempenhada por ele no grupo criminoso, a
operação duradoura do grupo, a superveniência de novos
processos criminais e os resultados do tratamento penitenciário.
§ 5º Na hipótese prevista no § 3º deste artigo, o regime disciplinar
diferenciado deverá contar com alta segurança interna e externa,
principalmente no que diz respeito à necessidade de se evitar
contato do preso com membros de sua organização criminosa,
associação criminosa ou milícia privada, ou de grupos rivais.
§ 6º A visita de que trata o inciso III do caput deste artigo será
gravada em sistema de áudio ou de áudio e vídeo e, com
autorização judicial, fiscalizada por agente penitenciário.
§ 7º Após os primeiros 6 (seis) meses de regime disciplinar
diferenciado, o preso que não receber a visita de que trata o
inciso III do caput deste artigo poderá, após prévio agendamento,
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

ter contato telefônico, que será gravado, com uma pessoa da


família, 2 (duas) vezes por mês e por 10 (dez) minutos.

Atenção!
A inclusão do preso no Regime Disciplinar Diferenciado, de acordo com o artigo 54 da Lei
de Execução Penal, dependerá de requerimento circunstanciado elaborado pelo diretor do
estabelecimento ou outra autoridade administrativa.
A decisão judicial que incluir o preso no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) será
precedida de manifestação do Ministério Público e da defesa e prolatada no prazo máximo de
15 dias, devendo ser fundamentada.

7.7. Progressão de regime


7.7.1. Introdução
A Lei de Execução Penal adotou o sistema progressivo para o cumprimento da pena, ou
seja, a transferência do regime mais rigoroso para um menos rigoroso mediante a observância
de alguns requisitos, sendo “inadmissível a chamada progressão per saltum de regime prisional",
nos termos da Súmula 491 do STJ.
Para fins de progressão de regime, observa-se a pena total, nos termos da Súmula 715
do STF e não o limite máximo de cumprimento da pena, previsto no artigo 75 do Código Penal.
Desta forma, quem estiver executando pena, poderá progredir, ainda que esteja
aguardando definição de recurso (Súmula 716 do STF), bastando o preenchimento do requisito
objetivo (lapso temporal) e subjetivo (bom comportamento), observando as especificidades
referentes à natureza do delito, vejamos:

7.8. Requisitos para Progressão de Regime


A progressão de regime exige o preenchimento de dois requisitos, quais sejam: requisito
subjetivo e objetivo.
Em relação ao requisito subjetivo, foi mantido como requisito para concessão da
progressão o atestado de bom comportamento carcerário emitido pelo Diretor do
estabelecimento prisional, nos termos do artigo 112, § 1º, da LEP. Aliás, o parágrafo 7º do art.
112 da LEP dispõe que o bom comportamento é readquirido após 1 (um) ano da ocorrência do
fato, ou antes, após o cumprimento do requisito temporal exigível para a obtenção do direito.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

Entretanto, no tocante ao lapso temporal, previamente estabelecido para o alcance da


progressão ao regime mais brando, o legislador optou por estabelecer uma exigência em
percentual de cumprimento de pena, não mais em formato de fração, excetuando a hipótese da
progressão especial para mulheres do parágrafo 3º do artigo em questão, restando a seguinte
previsão na nova redação:

Progressão de Regime: atual art. 112 da LEP

16% Primário
da pena crime cometido sem violência à pessoa ou grave
ameaça;
20% Reincidente
da pena específico em

25% Primário
da pena crime cometido com violência à pessoa ou grave
ameaça;
30% Reincidente
da pena específico em

40% condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, se for primário;


da pena

se o apenado for:
a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado
50% morte, se for primário, vedado o livramento condicional;
da pena b) condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização
criminosa estruturada para a prática de crime hediondo ou equiparado; ou
c) condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada;

60% se o apenado for reincidente na prática de crime hediondo ou equiparado


da pena (reincidência específica);

70% se o apenado for reincidente em crime hediondo ou equiparado com


da pena resultado morte, vedado o livramento condicional (reincidência específica).
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

Somente estarão sujeitos aos novos prazos – que eventualmente trouxerem um


tratamento mais gravoso à progressão de regime – aqueles que praticarem crimes a partir da
data da vigência do Pacote Anticrime (Lei 13.964/19), qual seja, dia 23 de janeiro de 2020.
Neste sentido, sempre que a nova lei trouxer algum benefício ao apenado deverá retroagir, nos
termos do artigo 5º, XL, da CF.

Dentro deste contexto, não se pode olvidar a Súmula 471 do STJ, que assegura a
aplicação do prazo de 1/6 para todos os crimes, inclusive os hediondos e equiparados, desde
que praticados antes do dia 29 de março de 2007, haja vista os efeitos atribuídos ao habeas
corpus n. 82.959-7/SP, julgado pelo Supremo Tribunal Federal, em fevereiro de 2006.
Devemos ficar atentos às lacunas existentes na legislação atual, vejamos:
• Lacuna legislativa – Progressão de Regime nos casos de reincidência em crimes
comuns:
Em relação aos reincidentes não específicos em CRIMES COMUNS a legislação não
trouxe tratamento claro para alguns casos envolvendo apenados reincidentes, caracterizando
uma lacuna, omissão legislativa.
Portanto, quando não houver enquadramento na reincidência específica como a lei
exige, deverá ser adotada uma interpretação mais favorável, atenção aos exemplos:
a) Apenado está cumprindo pena por ROUBO, mas já possui SPCTJ por furto, crime
sem violência, o que fez caracterizar a sua reincidência, porém não específica em crime
com violência, neste caso progredirá incidindo sobre a pena do ROUBO o quantum de 25%
(fração destinada aos primários, pois não podemos equipará-lo ao reincidente específico em
crime com violência e exigir 30% - seria uma interpretação mais gravosa da condição dele).
b) Apenado está cumprindo pena por FURTO (sem violência), porém já possuía
SPCTJ por ROUBO (com violência), neste caso progredirá incidindo sobre a pena de FURTO
o quantum de 20% (neste caso a interpretação não piora a condição do apenado, pois ele é
reincidente em com um crime mais grave, e está sendo tratado como reincidente em crime sem
violência).
• Lacuna legislativa – Progressão de Regime e Crime Hediondo/Equiparados.
Reincidente não específico:
O novo artigo 112, VII, da LEP prevê a aplicação do lapso temporal de 60% para os casos
de delitos hediondos ou equiparados quando reincidentes específicos nestes crimes. Na
legislação anterior não havia esta previsão e a jurisprudência entendia que bastava a
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

reincidência, não importando se comum ou específica, para permitir a incidência de 3/5 como
lapso temporal para progredir sobre a pena referente ao delito hediondo ou equiparado.

Atualmente, diante da lacuna legislativa se a pessoa tiver sido condenada por um crime
hediondo ou equiparado, e for reincidente em crime comum, deverá ser aplicado 40%, pois a
aplicação de 60% é destinada somente aos reincidentes específicos, resultando aqui uma lacuna
legislativa que conduz a uma situação melhor ao reincidente não específico que possui uma
condenação por crime hediondo ou equiparado.

Por exemplo, condenado por crime de estupro (crime hediondo), que já possui uma
condenação transitada em julgado por um crime de furto (crime comum), neste caso será
aplicado 40% sobre a pena do crime de estupro.

Segue julgado que demonstra o entendimento, vejamos:

PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.


EXECUÇÃO PENAL. PROGRESSÃO DE REGIME. ART. 112, VII, DA LEI DE
EXECUÇÃO PENAL (INCLUÍDO PELA LEI N. 13.964/2019). PACOTE ANTICRIME.
CÁLCULO PRISIONAL. PLEITO PELA APLICAÇÃO DO PERCENTUAL DE 60% (OU 3/5)
DO CUMPRIMENTO DA PENA PARA PROGRESSÃO DE REGIME. RECORRIDO
REINCIDENTE NÃO ESPECÍFICO EM CRIME HEDIONDO OU EQUIPARADO. AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. [...]
2. Com efeito, os incisos VII e VIII do art. 112 da LEP, introduzidos pela Lei n. 13.964/2019,
são taxativos e abarcam tão somente a hipótese de reincidência na prática de crime
hediondo ou equiparado. O apenado foi sentenciado por delito hediondo (art. 33, caput,
da Lei n. 11.343/2006), tendo sido reconhecida sua reincidência genérica, decorrente de
condenação anterior pela prática de crime comum (e-STJ fl. 52). Para tal hipótese -
condenado por crime hediondo, mas reincidente em razão da prática de crime comum -,
como bem ponderou o Tribunal a quo (e-STJ fl. 54), inexiste, na novatio legis, percentual
a disciplinar a progressão de regime ora pretendida, sendo certo que os percentuais de
60% (sessenta por cento) e 70% (setenta por cento) foram destinados aos reincidentes
específicos.3. Assim, na espécie, considerando que o apenado, condenado por crime
hediondo (art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006), é reincidente em crime comum
(reincidência genérica), conforme se extrai dos presentes autos (e-STJ fl. 52), impõe-
se, ante a omissão legislativa, o uso da analogia in bonam partem, para aplicar o
percentual equivalente ao que é previsto para o primário (art. 112, inciso V, da LEP),
qual seja, o de 40% (quarenta por cento), para fins de cálculo da progressão de
regime prisional, em relação ao crime anterior praticado. 4. Agravo regimental
desprovido. (AgRg no REsp 1918050/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA
FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 04/05/2021, DJe 07/05/2021).

• Informativo n. 681/2020 do STJ: progressão de regime do reincidente não específico em


crime hediondo ou equiparado com resultado morte deve observar 50%.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

Execução Penal. Progressão de regime. Crime hediondo. Reincidente não específico.


Requisito objetivo. Lei n. 13.964/2019 (Pacote anticrime). Lacuna na nova redação do art. 112
da LEP. Interpretação in bonam partem.

A progressão de regime do reincidente não específico em crime hediondo ou equiparado


com resultado morte deve observar o que previsto no inciso VI, a, do artigo 112 da Lei de
Execução Penal.
No caso condenado por crime hediondo com resultado morte, reincidente não específico,
diante da lacuna na lei, deve ser observado o lapso temporal relativo ao primário. Impõe-
se, assim, a aplicação do contido no inciso VI, a, do referido artigo da Lei de Execução Penal,
exigindo-se, portanto, o cumprimento de 50% da pena para a progressão de regime.
Tal entendimento foi corroborado no item 2 da Edição 184 da Jurisprudência em Tese do
STJ vejamos: 2) Após a entrada em vigor do Pacote Anticrime, o condenado por crime hediondo
ou equiparado com resultado morte, que seja reincidente genérico, deverá cumprir ao menos
50% da pena para a progressão de regime prisional, pelo uso da analogia in bonam partem.

7.9. Falta grave e Progressão de Regime


O cometimento de falta grave durante a execução da pena privativa de liberdade
interrompe o prazo para a obtenção da progressão de regime, resultando no reinício da contagem
do requisito objetivo, que terá como base a pena remanescente, nos termos do artigo 112, §6º,
da LEP. Trata-se da incorporação do entendimento jurisprudencial, pois o novel parágrafo
incorporou o teor da Súmula 534 do STJ.

Súmula 534 do STJ: A prática de falta grave interrompe a contagem do prazo para a
progressão de regime de cumprimento de pena, o qual se reinicia a partir do cometimento dessa
infração

7.10. Progressão de Regime especial para mulheres


Não houve alteração no artigo 112 da Lei de Execução Penal no tocante à progressão de
regime especial para mulheres gestantes ou que forem mães ou responsáveis por criança ou
pessoa com deficiência, prevalecendo a exigência dos seguintes requisitos de forma cumulativa,
que constam no respectivo §3º:

a) não ter cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa;


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b) não ter cometido o crime contra seu filho ou dependente;


c) ter cumprido ao menos 1/8 (um oitavo) da pena no regime anterior;
d) ser primária e ter bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do
estabelecimento;
e) não ter integrado organização criminosa.

Destaca-se que o cometimento de fato definido como crime doloso ou falta grave,
conforme dispõe a lei, implica na revogação da progressão de regime diferenciada (Art. 112, §4º,
da LEP).
Tratamento diferenciado para integrantes de organização criminosa – reconhecidos
expressamente em sentença – Art. 2º, § 9º, da Lei n° 12.850/2013
Atualmente, com o Pacote Anticrime em vigência (Lei 13.964/2019), foi introduzida na
legislação uma norma que assegura a vedação da progressão de regime ou do livramento
condicional, bem como de outros benefícios, para os casos de integrante de organização
criminosa, expressamente reconhecido em sentença, ou de condenado por crime praticado por
meio de organização criminosa, quando houver elementos probatórios que indiquem a
manutenção do vínculo associativo, conforme consta no artigo 2º, §9º, da Lei nº 12.850/2013.

7.11. Progressão para o regime aberto


Frise-se, a progressão para o regime aberto possui algumas condições específicas,
previstas nos artigos 114 e 115, ambos da Lei de Execução Penal, como por exemplo, estar
trabalhando ou possuir condições de trabalhar imediatamente. Neste caso, convém reforçar que
a inexistência, por exemplo, de vaga para trabalho, não autoriza o juiz a suprir essa condição
impondo uma pena restritiva de direito como a prestação de serviços à comunidade, pois
caracterizaria uma afronta à legalidade. Inclusive, há vedação expressa na Súmula 493 do STJ,
matéria já cobrada no exame da OAB.

7.12. Progressão de regime e crimes contra administração pública


Nos casos de condenados por crimes contra a administração pública, aplica-se, como
requisito para progressão, além do tempo e do comportamento, a reparação do prejuízo gerado
ao erário, conforme dispõe o artigo 33, §4º, do Código Penal.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

7.13. Exame criminológico


Há entendimento sumulado sobre progressão de regime e a exigência de exame
criminológico no STF e STJ.
Os Tribunais Superiores têm entendido que, muito embora a nova redação do artigo 112
da Lei de Execução Penal tenha excluído a exigência de realização de exame criminológico para
obtenção de progressão de regime, não caracteriza constrangimento ilegal a submissão do
apenado à realização de exame, desde que devidamente fundamentada a necessidade pelo Juiz
da Vara de Execução Criminal. Neste sentido, temos as seguintes súmulas:

• Súmula Vinculante nº 26 do STF: Para efeito de progressão de regime no cumprimento


de pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a
inconstitucionalidade do artigo 2º da Lei nº 8.072/90, sem prejuízo de avaliar se o condenado
preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal
fim, de modo fundamentado, a realização de exame criminológico.
• Súmula 439 do STJ: Admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades do caso,
desde que em decisão motivada.

7.14. Regressão de Regime: art. 118, LEP


7.14.1. Considerações Gerais
A execução da pena está sujeita a forma regressiva quando o apenado praticar fato
definido como crime doloso ou falta grave (Art. 50 e 51, ambos da LEP).
Nesse caso, antes da regressão de regime deverá ser ouvido, previamente, o apenado
(Art. 118, § 2°, da LEP) audiência de justificativa, sob pena de nulidade. A regressão em caráter
definitivo, está prevista no artigo 118, inciso I, da Lei de Execução Penal exige a oitiva prévia. O
entendimento jurisprudência que afasta a oitiva refere-se à regressão cautelar.
Inclusive, atualmente, a Súmula 533 do STJ que exigia a instauração de PAD
(Procedimento Administrativo Disciplinar) para o reconhecimento de falta disciplinar está
prejudicada pelo seguinte entendimento:
HABEAS CORPUS. SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. NÃO CABIMENTO.
EXECUÇÃO PENAL. FALTA GRAVE. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO
DISCIPLINAR - PAD. NULIDADE. OITIVA JUDICIAL DO SENTENCIADO SOB DEFESA
REGULAR. TEMA DE RECURSO REPETITIVO NO STF - RE 972.598/RS.
INEXISTÊNCIA DE OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E
CONTRADITÓRIO. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO.
I [...]
II O col. Supremo Tribunal Federal já enfrentou a matéria aqui posta, em sede de recurso
repetitivo representativo da controvérsia, no RE n. 972.598/RS, assentando a seguinte
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

tese: A oitiva do condenado pelo Juízo da Execução Penal, em audiência de justificação


realizada na presença do defensor e do Ministério Público, afasta a necessidade de prévio
Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD), assim como supre eventual ausência ou
insuficiência de defesa técnica no PAD instaurado para apurar a prática de falta grave
durante o cumprimento da pena? (RE n. 972.598, Tribunal Pleno, Rel. Min. Roberto
Barroso, DJe de 06/08/2020).
III- No mais, "Para afastar a conclusão do acórdão, absolver o agravado ou desclassificar
sua conduta, seria necessário reexaminar fatos e provas, providência incabível na via do
habeas corpus, de cognição limitada" (AgRg no HC n. 414.750/SP, Sexta Turma, Rel. Min.
Rogerio Schietti Cruz, DJe de 1º/08/2018). Habeas corpus não conhecido. (HC
620.019/RS, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 09/12/2020, DJe
15/12/2020).

Em relação à exigência de sentença transitada em julgado para o reconhecimento da falta


grave pela prática de crime doloso, há entendimento sumulado vejamos:

Súmula 526 do STJ: O reconhecimento de falta grave decorrente do cometimento de fato


definido como crime doloso no cumprimento da pena prescinde do trânsito em julgado de
sentença penal condenatória no processo penal instaurado para apuração do fato.

As faltas graves estão descritas no artigo 50, 51 e 52 (primeira parte), todos da Lei de
Execução Penal. O Pacote Anticrime introduziu uma nova hipótese de falta grave a recusa em
submeter-se ao procedimento de identificação do perfil genético (Art. 50, inciso VIII, da LEP):

• quando o apenado sofrer condenação, por crime anterior, cuja soma da pena restante com a
nova condenação torne impossível a manutenção do regime (Art.111).
• nos casos de violação com os deveres do monitoramento eletrônico, quando o Juiz da
Execução adotar essa opção, artigo 146, alínea “c”, parágrafo único, da Lei de Execução Penal.

No tocante as faltas de natureza grave relacionadas ao aparelho celular:


Súmula 660 do STJ – A posse, pelo apenado, de aparelho celular ou de seus
componentes essenciais constitui falta grave.
Súmula 661 do STJ – A falta grave prescinde da perícia do celular apreendido ou de seus
componentes essenciais.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES: posicionamento jurisprudencial retirado do


site do Superior Tribunal de Justiça:

(STJ - jurisprudência) Diante da inexistência de legislação específica quanto ao prazo


prescricional para apuração de falta grave, deve ser adotado o menor lapso prescricional
previsto no art. 109 do CP, ou seja, o de 3 anos para fatos ocorridos após a alteração dada
pela Lei n. 12.234, de 5 de maio de 2010, ou o de 2 anos se a falta tiver ocorrido até essa
data. Precedentes: AgRg nos EDcl no REsp 1248357/MS, Rel. Ministra REGINA HELENA
COSTA, QUINTA TURMA, julgado em 19/11/2013, DJe 25/11/2013; AgRg no REsp
1414267/MG, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em
05/11/2013, DJe 25/11/2013;

A jurisprudência tem admitido a chamada regressão cautelar, que dispensa a oitiva prévia
do apenado (Art. 118, §2º, LEP), passando a exigir audiência somente nos casos de regressão
definitiva.

7.15. Prisão domiciliar: art. 117, LEP


7.15.1. Considerações Gerais
Para cumprir a pena em residência particular o preso deverá estar em regime aberto e se
enquadrar em uma das quatro hipóteses do artigo 117 da Lei de Execução Penal, quais sejam:

• condenado maior de setenta anos;


• condenado acometido de doença grave;
• condenada com filho menor ou deficiente físico ou metal;
• condenada gestante.
Atentar para a Súmula Vinculante nº 56 do STF, vejamos: “A falta de estabelecimento
penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime prisional mais gravoso,
devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados no RE641.320/RS.

Precedente representativo da Súmula Vinculante nº 56 do STF:

"3. Os juízes da execução penal poderão avaliar os estabelecimentos destinados aos


regimes semiaberto e aberto, para qualificação como adequados a tais regimes. São aceitáveis
estabelecimentos que não se qualifiquem como 'colônia agrícola, industrial' (regime semiaberto)
ou 'casa de albergado ou estabelecimento adequado' (regime aberto) (art.33, §1º, alíneas "b" e
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

"c"). No entanto, não deverá haver alojamento conjunto de presos dos regimes semiaberto e
aberto com presos do regime fechado. 4. Havendo déficit de vagas, deverão ser determinados:
(i) a saída antecipa da de sentenciado no regime com falta de vagas; (ii) a liberdade
eletronicamente monitorada ao sentenciado que sai antecipadamente ou é posto em prisão
domiciliar por falta de vagas; (iii) o cumprimento de penas restritivas de direito e/ou estudo ao
sentenciado que progride ao regime aberto. Até que sejam estruturadas as medidas alternativas
propostas, poderá ser deferida a prisão domiciliar ao sentenciado." (RE 641320, Relator Ministro
Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgamento em 11.5.2016, DJe de8.8.2016).

7.16. Remição de pena


7.16.1. Considerações Gerais
A remição é o computo do período trabalhado ou estudado com o tem pode pena
cumprida, nos termos do artigo 128 da Lei de Execução Penal.

É possível remir tanto pelo trabalho como pelo estudo, inclusive, cumulando as duas
possibilidades.

Todavia, é importante se ater nas regras contidas nos artigos 126 e seguintes da Lei de
Execução Penal.

Por exemplo, remição por trabalho, somente nos casos de regime fechado e semiaberto,
a Lei de Execução Penal omitiu a possibilidade de remição no caso de regime aberto. Os
Tribunais superiores entendem que como não há previsão legal e o trabalho é requisito para
ingressar no regime aberto, não há direito a remição neste caso.

Já a remição por estudo, é possível em todos os regimes prisionais, inclusive, na última


etapa do cumprimento de pena, ou seja, quando o apenado estiver em livramento condicional.

• Trabalho prisional
Espécies de Trabalho Prisional:

a) Serviço interno: qualquer regime poderá trabalhar internamente e a qualquer momento,


desde que existam vagas.

b) Serviço externo:

Em relação ao serviço externo, é importante observar que o artigo 37 da Lei de Execução


Penal atribui ao Diretor do Estabelecimento Prisional a concessão da autorização. Todavia, é
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importante registrar que há forte posicionamento doutrinário e deu só prático no cotidiano forense
de que o trabalho prisional no âmbito externo deverá ser autorizado pelo Juiz da VEC (Neste
sentido: Sídio Rosa de Mesquita Júnior, Norberto Avena, entre outros).

7.17. Permissão de saída e saída temporária


7.17.1. Considerações Gerais
Podem obter permissão de saída, os apenados que cumprem pena em regime fechado,
semiaberto e provisórios, mediante escolta, em duas hipóteses:

• falecimento ou doença grave CCADI (cônjuge, companheiro, ascendente, descendente


ou irmão);
• necessidade de tratamento médico.
Já a saída temporária, sem vigilância, poderá ser concedida a pena dos que cumprem
pena em regime semiaberto.

Vale destacar que foi introduzida em 2010 a possibilidade da utilização de monitoramento


eletrônico, no artigo 122, parágrafo único, da Lei de Execução Penal (redação dada pela Lei nº
12.258/10).

Em outras palavras, a ausência de vigilância direta não impede que o juiz determine a
monitoração eletrônica. Constitui uma faculdade do Juiz, não uma obrigação legal.

Para obtenção da saída temporária, os apenados em regime aberto, deverão preencher


os seguintes requisitos:

• comportamento adequado;
• cumprimento mínimo de 1/6 para apenado primário e de, no mínimo, ¼ para reincidentes;
• compatibilidade do benefício com os objetivos da pena.
O período de duração conforme a lei não poderá ser superior a 7 dias, podendo ser
renovadas por mais 4 vezes, logo faz jus a 35 dias de saída. Com intervalo de 45 dias entre as
saídas. Quando se tratar de saída para fins de estudo o tempo será o necessário para a
realização das atividades discentes.

A Lei nº 12.258/10 também inovou ao estabelecer que o juiz imporá condições ao


apenado, para obtenção das saídas temporárias, permitindo que além das previstas em lei outras
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poderão ser estabelecidas, vejamos a nova redação do §1º do artigo 124 da Lei de Execução
Penal:

Ao conceder a saída temporária, o juiz imporá ao beneficiário as seguintes condições,


entre outras que entender compatíveis com as circunstâncias do caso e a situação pessoal do
condenado:

I - fornecimento do endereço onde reside a família a ser visitada ou onde poderá ser
encontrado durante o gozo do benefício;
II - recolhimento à residência visitada, no período noturno;
III - proibição de frequentar bares, casas noturnas e estabelecimentos congêneres.

O Pacote Anticrime inseriu o § 2º, no artigo 122 da Lei de Execução Penal e dispõe que
não terá direito à saída temporária o condenado que cumpre pena por praticar crime hediondo
com resultado morte. Infere-se que a lei foi restritiva ao impedir o instituto aos delitos hediondos,
ou seja, aqueles previstos no artigo 1º da Lei nº 8.072/90.
Súmula 520 do STJ: O benefício de saída temporária no âmbito da execução penal é ato
jurisdicional insuscetível de delegação à autoridade administrativa do estabelecimento prisional.

7.18. Monitoração eletrônica


7.18.1. Considerações Gerais
O monitoramento eletrônico é uma faculdade judicial, pois, de acordo com a lei, poderá
ser definido pelo juiz nos casos definidos em lei, desde que seja necessário.
A lei admite a monitoração eletrônica em duas situações: prisão domiciliar e saída
temporária no regime semiaberto.
O instituto está previsto a partir do artigo 146 – B da Lei de Execução Penal.
A edição em tese de jurisprudência, n. 146, do Superior Tribunal de Justiça traz algumas
decisões envolvendo o monitoramento eletrônico, por exemplo: A inobservância do perímetro
estabelecido para monitoramento de tornozeleira eletrônica configura falta disciplinar de
natureza grave, nos termos dos art. 50, VI, e art. 39, V, da LEP.

7.19. Livramento Condicional


7.19.1. Introdução
O livramento condicional como o próprio nome permite concluir é a liberdade mediante
condições. Trata-se da última etapa do cumprimento de pena, não se confundido com progressão
de regime, pois o livramento condicional não integra o sistema progressivo.
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O instituto é regulado pelos artigos 83 a 90, todos do Código Penal e artigos 131 a 146,
todos da Lei de Execução Penal, a análise é conjunta dos dois dispositivos legais.
Nesta hipótese, o apenado é liberado do estabelecimento prisional, ficando submetido as
condições previstas no artigo 132 da Lei de Execução Penal, condições obrigatórias e condições
facultativas, que dependerão de cada caso.
Os requisitos a serem preenchidos estão expostos no artigo 83 do Código Penal.
Importante destacar que o lapso temporal exigido para fins de preenchimento do requisito
objetivo não é interrompido pela prática de falta grave, nos termos da súmula 441 do STJ: “A
falta grave não interrompe o prazo para obtenção de livramento condicional”.

7.19.2. Requisitos
Os requisitos do livramento condicional, de ordem objetiva e subjetiva, encontram-se no
artigo 83 do Código Penal.

7.19.3. Requisitos Objetivos


a) Natureza e quantidade da pena: art. 83, caput, CP:
Tal como ocorre com a suspensão condicional, somente a pena privativa de liberdade
pode ser objeto do livramento condicional. Esse instituto poderá ser concedido à pena privativa
de liberdade igual ou superior a dois anos (Art. 83 do CP). A soma das penas é permitida para
atingir esse limite mínimo, mesmo que tenham sido aplicadas em processos distintos.
b) Cumprimento de parte da pena: art. 83, incisos I, II e IV, CP:
Nos termos do artigo 83, incisos I e II, do Código Penal, o criminoso primário deve cumprir
mais de 1/3 da pena privativa de liberdade.
Assim também o reincidente, desde que não o seja em crime doloso. Para tanto, é
necessário que apresentem bons antecedentes.
Quando o condenado é reincidente em crime doloso, deve cumprir mais da metade da
pena. Por ausência de previsão legal, o agente primário portador de maus antecedentes deverá
cumprir 1/3 para o livramento condicional, já que o inciso restringe somente à hipótese de
reincidente em crime doloso (não é possível analogia in malam partem).
Tratando-se de condenado por prática de tortura, crime hediondo, tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, tráfico de pessoas e terrorismo, desde que não seja reincidente
específico em tais delitos, deve cumprir mais de 2/3 da pena (Art. 83, inciso V, do CP). Assim,
sendo reincidente específico não é admissível o livramento condicional. Há reincidência
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específica, para efeito da disposição, quando o sujeito, já tendo sido condenado por qualquer
dos delitos hediondos ou demais por sentença transitada em julgado, vem novamente a cometer
um deles.
O Pacote Anticrime trouxe uma nova vedação para o livramento condicional no caso de
crimes hediondos ou equiparado com resultado morte não terá direito ao livramento condicional
(Art. 112, LEP). Registra-se que a restrição somente será aplicada para quem praticar delitos
desta natureza a partir da vigência do pacote. Do contrário estaríamos violando o artigo 5º, inciso
XL, da CF/88.
Há também a previsão do artigo 2º, §9º, da Lei nº 12.850/13 que em caso de manutenção
de vínculos com organização criminosa reconhecida expressamente na sentença como
integrante, não terá direito ao livramento condicional.
O artigo 84 do Código Penal reza que “as penas que correspondem a infrações diversas
devem somar-se para efeito do livramento”.
ATENÇÃO: Artigo 44 da Lei nº 11.343/06: Prazo para Livramento condicional –
Associação ao Tráfico não é delito equiparado a crime hediondo, porém conforme a lei de drogas
o prazo para obtenção de livramento condicional é de mais de 2/3.

7.19.4. Requisitos Subjetivos


Os requisitos subjetivos estão no artigo 83, incisos III e IV, sendo exigido o bom
comportamento carcerário atestado pelo diretor, por força do artigo 112, §1º, da Lei de Execução
Penal. Ressalta-se que com o pacote anticrime foi inserida a exigência de ausência de prática
de falta grave nos últimos 12 meses.
O exame criminológico poderá ser exigido, desde que devidamente fundamentada a
decisão que o determina (Súmula 439 do STJ: “Admite-se o exame criminológico pelas
peculiaridades do caso, desde que em decisão motivada”).
No tocante ao requisito previsto no art. 83, III, b, do CP o STJ tem entendimento que se
trata de “pressuposto objetivo para a concessão de livramento condicional, e não limita a
valoração do requisito subjetivo, inclusive quanto a fatos anteriores à vigência do Pacote
Anticrime, de forma que somente haverá fundamento inválido quando consideradas faltas
disciplinares muito antigas” (Jurisprudência em Tese n. 184 – item 3).
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7.20. Hipóteses de Revogação do Livramento Condicional


O livramento condicional poderá ser revogado por imposição legal ou por faculdade
judicial. Assim sendo, são duas hipóteses: a) revogação obrigatória; e b) revogação facultativa.
a) Revogação Obrigatória (art. 86 do CP): Ocorre quando o liberado vem a ser
condenado irrecorrivelmente à pena privativa de liberdade por crime praticado
antes ou durante o livramento condicional.
b) Revogação Facultativa (art. 87 do CP): O juiz poderá revogar o livramento
condicional se o liberado descumprir as condições do artigo 132 da Lei de
Execução Penal ou vier a ser condenado irrecorrivelmente por contravenção penal
ou por crime cuja pena não seja privativa de liberdade.
Os efeitos da revogação dependerão se o motivo ocorreu antes ou durante o período de
provas, ou seja, o período do livramento condicional, conforme os artigos 88 do Código Penal e
artigos 141 e 142, ambos da Lei de Execução Penal.
Frise-se: nos casos de revogação obrigatória em razão da superveniência de sentença
penal condenatória irrecorrível por crime praticado durante o livramento condicional, a revogação
resulta na perda do período de provas e na perda do direito ao livramento condicional em relação
à condenação em que violou as regras da liberdade condicional. Caso o crime que gerou a
sentença irrecorrível tenha sido praticado antes do livramento condicional, computa-se na pena
o período de prova, período que esteve livre, podendo ser concedido novo livramento com a
soma das condenações.

7.21. Suspensão do Livramento Condicional


Conforme consta expresso no artigo 86 do Código Penal, somente revoga-se o livramento
condicional se sobrevier sentença penal condenatória transitada em julgado por crime durante o
período de prova, logo atente-se ao fato de ocorrer a suposta prática de crime durante a liberdade
condicional. Neste caso, não poderá haver revogação, e sim a suspensão do livramento, nos
termos do artigo 145 da Lei de Execução Penal.
A decisão sobre a revogação em si, bem como seus efeitos, ficará sujeita ao trânsito em
julgado referente ao novo fato.

7.22. Extinção do Livramento Condicional


O cumprimento do período de prova sem que haja a revogação resulta na extinção da
pena, nos termos do artigo 90 do Código Penal.
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Em 2018, foi publicada a Súmula 617 do STJ que refere: “A ausência de suspensão ou
revogação do livramento condicional antes do término do período de prova enseja a extinção da
punibilidade pelo integral cumprimento da pena”.

7.23. Exercícios para resolver após a aula

7) QUESTÃO 3 – XXIX EXAME – 2019-02


Em patrulhamento de rotina, policiais militares receberam uma informação não identificada de
que Wesley, que estava parado em frente à padaria naquele momento, estaria envolvido com o
tráfico de drogas da localidade. Diante disso, os policiais identificaram e realizaram a abordagem
de Wesley, não sendo, em um primeiro momento, encontrado qualquer material ilícito com ele.
Diante da notícia recebida momentos antes da abordagem, porém, e considerando que o crime
de associação para o tráfico seria de natureza permanente, os policiais apreenderam o celular
de Wesley e, sem autorização, passaram a ter acesso às fotografias e conversas no WhatsApp,
sendo verificado que existiam fotos armazenadas de Wesley portando suposta arma de fogo,
bem como conversas sobre compra e venda de material entorpecente. Entendendo pela
existência de flagrante em relação ao crime permanente de associação para o tráfico, Wesley foi
encaminhado para a Delegacia, sendo lavrado auto de prisão em flagrante. Após liberdade
concedida em audiência de custódia, Wesley é denunciado como incurso nas sanções do Art.
35 da Lei nº 11.343/06. No curso da instrução, foram acostadas imagens das conversas de
Wesley via aplicativo a que os agentes da lei tiveram acesso, assim como das fotografias. Os
policiais foram ouvidos em audiência, ocasião em que confirmaram as circunstâncias do
flagrante. O réu exerceu seu direito ao silêncio. Com base nas fotografias acostadas, o juiz
competente julgou a pretensão punitiva do estado procedente, aplicando a pena mínima de 03
anos de reclusão, além de multa, e fixando o regime inicial fechado, já que o crime imputado
seria equiparado a hediondo. Ainda assim, substituiu a pena privativa de liberdade por restritiva
de direitos. Considerando as informações narradas, responda, na condição de advogado(a) de
Wesley, intimado(a) para apresentação de recurso de apelação.
A) Existe argumento a ser apresentado para questionar as provas utilizadas pelo
magistrado como fundamento para condenação? Justifique. (Valor: 0,65)
B) Mantida a condenação, qual o argumento a ser apresentado para questionar a sanção
penal aplicada? Justifique. (Valor: 0,60)
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo
legal não confere pontuação.
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Acesse aqui o e-book com o padrão de respostas:

8) QUESTÃO 2 – XVI EXAME – 2015-02


No dia 03/05/2008, Luan foi condenado à pena privativa de liberdade de 12 anos de reclusão
pela prática dos crimes previstos nos artigos 213 e 214 do Código Penal, na forma do Art. 69 do
mesmo diploma legal, pois, no dia 11/07/2007, por volta das 19h, constrangeu Carla, mediante
grave ameaça, a com ele praticar conjunção carnal e ato libidinoso diverso. Ainda cumprindo
pena em razão dessa sentença condenatória, Luan, conversando com outro preso, veio a saber
que ele havia sido condenado por fatos extremamente semelhantes a uma pena de 07 anos de
reclusão. Luan, então, pergunta o nome do advogado do colega de cela, que lhe fornece a
informação. Luan entra em contato pelo telefone indicado e pergunta se algo pode ser feito para
reduzir sua pena, apesar de sua decisão ter transitado em julgado. Diante dessa situação,
responda aos itens a seguir.
A) Qual a tese de direito material que poderia ser suscitada pelo novo advogado em favor
de Luan? (Valor: 0,65)
B) A pretensão deverá ser manejada perante qual órgão? (Valor: 0,60)
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo
legal não confere pontuação

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9) QUESTÃO 2 – XIII EXAME – 2015-02


Jeremias foi preso em flagrante, no Aeroporto Internacional de Arroizinhos, quando tentava viajar
para Madri, Espanha, transportando três tabletes de cocaína. Quando já havia embarcado na
aeronave, foi "convidado" por Agentes da Polícia Federal a se retirar do avião e acompanhá-los
até o local onde se encontravam as bagagens. Lá chegando, foi solicitado a Jeremias que
reconhecesse e abrisse sua bagagem, na qual foram encontrados, dentro da capa que
acondicionava suas pranchas de surf, três tabletes de cocaína. Por essa razão, Jeremias foi
processado e, ao final, condenado pela Justiça Federal de Arroizinhos por tráfico internacional
de entorpecentes. Após o trânsito em julgado da sentença condenatória, foi expedido o mandado
de prisão e Jeremias foi recolhido ao estabelecimento prisional sujeito à administração estadual,
já que em Arroizinhos não há estabelecimento prisional federal. Transcorrido o prazo legal e,
tendo em vista que Jeremias preenchia os demais requisitos previstos na legislação, seu
advogado deseja requerer a mudança para regime prisional menos severo. Responda de forma
fundamentada, de acordo com a jurisprudência sumulada dos Tribunais Superiores:
Qual Justiça é competente para processar e julgar o pedido de Jeremias? (Valor: 1,25)
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação ou
transcrição do dispositivo legal não confere pontuação.

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10) QUESTÃO 4 – XII EXAME – 2013-03


Marcos, jovem inimputável conforme o Art. 26 do CP, foi denunciado pela prática de determinado
crime. Após o regular andamento do feito, o magistrado entendeu por bem aplicar medida de
segurança consistente em internação em hospital psiquiátrico por período mínimo de 03 (três)
anos. Após o cumprimento do período supramencionado, o advogado de Marcos requer ao juízo
de execução que seja realizado o exame de cessação de periculosidade, requerimento que foi
deferido. É realizada uma rigorosa perícia, e os experts atestam a cura do internado, opinando,
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

consequentemente, por sua desinternação. O magistrado então, baseando-se no exame pericial


realizado por médicos psiquiatras, exara sentença determinando a desinternação de Marcos. O
Parquet, devidamente intimado da sentença proferida pelo juízo da execução, interpõe o recurso
cabível na espécie. A partir do caso apresentado, responda, fundamentadamente, aos itens a
seguir.
A) Qual o recurso cabível da sentença proferida pelo magistrado determinando a
desinternação de Marcos? (Valor: 0,75)
B) Qual o prazo para interposição desse recurso? (Valor: 0,25)
C) A interposição desse recurso suspende ou não a eficácia da sentença proferida pelo
magistrado? (Valor: 0,25)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação

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11) QUESTÃO 1 – XI EXAME – 2013-02


O Juiz da Vara de Execuções Penais da Comarca “Y” converteu a medida restritiva de direitos
(que fora imposta em substituição à pena privativa de liberdade) em cumprimento de pena
privativa de liberdade imposta no regime inicial aberto, sem fixar quaisquer outras condições. O
Ministério Público, inconformado, interpôs recurso alegando, em síntese, que a decisão do
referido Juiz da Vara de Execuções Penais acarretava o abrandamento da pena, estimulando o
descumprimento das penas alternativas ao cárcere. O recurso, devidamente contra-arrazoado,
foi submetido a julgamento pela Corte Estadual, a qual, de forma unânime, resolveu lhe dar
provimento. A referida Corte fixou como condição especial ao cumprimento de pena no regime
aberto, com base no Art. 115 da LEP, a prestação de serviços à comunidade, o que deveria
perdurar por todo o tempo da pena a ser cumprida no regime menos gravoso. Atento ao caso
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

narrado e considerando apenas os dados contidos no enunciado, responda,


fundamentadamente, aos itens a seguir.
A) Qual foi o recurso interposto pelo Ministério Público contra a decisão do Juiz da Vara
de Execuções Penais? (Valor: 0,50)
B) Está correta a decisão da Corte Estadual, levando-se em conta entendimento
jurisprudencial sumulado? (Valor: 0,75)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação

Acesse aqui o e-book com o padrão de respostas:


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Crimes contra o patrimônio

Prof. Arnaldo Quaresma


@profarnaldoquaresma

8.1 Furto – Art. 155, CP


8.1.1 Conceito
O crime de furto consubstancia-se no verbo subtrair, que significa tirar, retirar de outrem bem
móvel, sem a sua permissão, com o fim de assenhoramento definitivo. A subtração implica sempre a
retirada do bem sem o consentimento do possuidor ou proprietário.
Exige-se o dolo, consistente na vontade do agente de subtrair coisa alheia móvel.
É indispensável que o agente tenha a intenção de possuir a coisa alheia móvel, submetendo-a
ao seu poder, isto é, de não devolver o bem, de forma alguma. Assim, se ele o subtrai apenas para
uso transitório e depois o devolve no mesmo estado, não haverá a configuração do tipo penal. Cuida-
se na hipótese de mero furto de uso, que não constitui crime, pela ausência do ânimo de
assenhoramento definitivo do bem.
Se o sujeito restituir o objeto subtraído até o recebimento da denúncia, pode incidir o instituto
do arrependimento posterior, previsto no artigo 16 do Código Penal, que constitui causa de diminuição
da pena. Em outras palavras, o agente será processado pelo delito, mas, se condenado, poderá ter a
pena reduzida de 1/3 a 2/3.
Não existe na modalidade culposa.

8.1.2 Consumação e tentativa


Para Damásio e Capez, o furto atinge a consumação no momento em que o objeto material é
retirado da esfera de posse e disponibilidade do sujeito passivo, ingressando na livre disponibilidade
do autor, ainda que este não obtenha a posse tranquila. A subtração se opera no exato instante em
que o possuidor perde o poder e o controle sobre a coisa, tendo de retomá-la porque já não está mais
consigo.
A tentativa é admissível. Ocorre sempre que o sujeito ativo não consegue, por circunstâncias
alheias à sua vontade, retirar o objeto material da esfera de proteção e vigilância da vítima,
submetendo-a à sua própria disponibilidade.

8.1.3 Furto privilegiado – Art. 155, § 2º, CP


A corrente majoritária sustenta ser de pequeno valor a coisa que não ultrapassa quantia
equivalente a um salário-mínimo vigente à época do fato.
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8.1.4 Furto qualificado – Art. 155, § 4º, CP


a) Com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa
É necessário que o sujeito pratique violência contra “obstáculo” à subtração do objeto material.
A violência contra a coisa subtraída não qualifica o furto.

*Para todos verem: esquema.

Objeto entre agente e


objeto que pretende
subtrair
Rompimento

Não é o que integra


próprio obejto

b) Com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza


Abuso de confiança
É a confiança que decorre de certas relações (que pode ser a empregatícia, a decorrente de
amizade ou parentesco) estabelecidas entre o agente e o proprietário do objeto. O agente, dessa
forma, aproveita-se da confiança nele depositada para praticar o furto, pois há menor vigilância do
proprietário sobre os seus bens.
Mediante fraude
É o ardil, artifício, meio enganoso empregado pelo agente para diminuir, iludir a vigilância da
vítima e realizar a subtração. São exemplos de fraude: agente que se disfarça de empregado de
empresa telefônica e logra entrar em residência alheia para furtar, ou agente que, a pretexto de realizar
compras em uma loja, distrai a vendedora, de modo a lograr apoderar-se dos objetos.
Mediante escalada
Escalada, que em direito penal tem sentido próprio, é a penetração no local do furto por meio
anormal, artificial ou impróprio, que demanda esforço incomum. Escalada não implica,
necessariamente, subida, pois tanto é escalada galgar alturas quanto saltar fossos, rampas ou mesmo
subterrâneos, desde que o faça para vencer obstáculos.
Mediante destreza
Consiste na habilidade física ou manual do agente que lhe permite o apossamento do bem sem
que a vítima perceba. É a chamada punga. Tal ocorre com a subtração de objetos que se encontrem
junto à vítima, por exemplo, carteira, dinheiro no bolso ou na bolsa, colar etc., que são retirados sem
que ela note.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

Importa dizer que se a vítima perceber a subtração quando ela se realiza, considera-se o furto
tentado na forma simples, pois não há que se falar no caso em destreza do agente (exemplo: a vítima
sente a mão do agente em seu bolso).
c) Com emprego de chave falsa
Chave falsa é qualquer instrumento de que se sirva o agente para abrir fechaduras, tendo ou
não formato de chave.

EXEMPLO
Grampo, alfinete, prego, fenda, gazua etc.

d) Mediante concurso de duas ou mais pessoas.


e) Furto de veículo automotor – Art. 155, § 5º, do CP
Esta qualificadora diz respeito, especificamente, à subtração de veículo automotor.
Consideram-se como tal os automóveis, ônibus, caminhões, motocicletas, aeronaves, lanchas, Jet-
skis.
Para caracterizar essa qualificadora, afigura-se necessário que o veículo seja efetivamente
transportado para outro Estado ou exterior. Se não ultrapassar a fronteira do Estado ou do País, essa
qualificadora não incide, sendo o crime de furto simples, salvo se presente outra qualificadora.
f) Emprego de explosivo que cause perigo comum
A Lei nº 13.654/2018 acrescentou o § 4º-A do artigo 155 do Código Penal prevendo outra
QUALIFICADORA para o crime de furto:

§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de explosivo ou
de artefato análogo que cause perigo comum.

A partir da edição do Pacote Anticrime (Lei 13.964/2019), o crime de furto com emprego de
explosivo ou de artefato análogo que causa perigo comum passou a ser considerado hediondo (Art.
1º, inciso IX, da Lei 8072/90).
g) Utilização de substâncias explosivas
A Lei nº 13.654/2018 acrescentou também o § 7º do artigo 155 do Código Penal prevendo outra
QUALIFICADORA para o crime de furto:
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

§ 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se a subtração for de substâncias


explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou
emprego.

8.1.5 Alterações promovidas pela lei 14.155/2021


Cumpre ressaltar que a lei 14.155/2021, a qual entrou em vigor em 27 de maio de 2021
acrescentou os parágrafos 4°-b e 4°-c:

§ 4º-B. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se o furto mediante fraude é cometido
por meio de dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à rede de computadores, com ou sem
a violação de mecanismo de segurança ou a utilização de programa malicioso, ou por qualquer outro meio
fraudulento análogo. (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)
§ 4º-C. A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso: (Incluído pela
Lei nº 14.155, de 2021)
I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a utilização de servidor
mantido fora do território nacional; (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)
II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é praticado contra idoso ou vulnerável. (Incluído pela
Lei nº 14.155, de 2021)

8.2 Roubo - Art. 157, CP


8.2.1. Ação nuclear
A ação nuclear do tipo, identicamente ao furto, consubstancia-se no verbo subtrair, que significa
tirar, retirar, de outrem, no caso bem móvel. Agora, contudo, estamos diante de um crime mais grave
que o furto, na medida em que a subtração é realizada mediante o emprego de grave ameaça ou
violência contra a pessoa, ou por qualquer outro meio que reduza a capacidade de resistência da
vítima.
São os seguintes os meios executórios do crime de roubo:
a) Violência física (vis corporalis)
Violência física à pessoa consiste no emprego de força contra o corpo da vítima. Para
caracterizar essa violência do tipo básico de roubo é suficiente que ocorra lesão corporal leve ou
simples vias de fato, na medida em que a lesão grave ou morte qualifica o crime.
b) Grave ameaça
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Ameaça grave (violência moral) é aquela capaz de atemorizar a vítima, viciando sua vontade e
impossibilitando sua capacidade de resistência. A grave ameaça objetiva criar na vítima o fundado
receio de iminente e grave mal, físico ou moral, tanto a si quanto as pessoas que lhes são caras. É
irrelevante a justiça ou injustiça do mal ameaçado, na medida em que, utilizada para a prática de crime,
torna-se antijurídica.
c) Qualquer outro meio que reduza à impossibilidade de resistência;
Cuida-se da violência imprópria, consistente em outro meio que não constitua violência física
ou grave ameaça, como, por exemplo, fazer a vítima ingerir bebida alcoólica, narcóticos, soníferos ou
hipnotizá-la.

8.2.2. Espécies de roubo: próprio e impróprio


a) Roubo próprio
No roubo próprio a violência ou grave ameaça (ou a redução da impossibilidade de defesa) são
praticados contra a pessoa para a subtração da coisa. Os meios violentos são empregados antes ou
durante a execução da subtração.
b) Roubo impróprio
ROUBO IMPRÓPRIO ocorre quando o sujeito, logo depois de subtraída a coisa, emprega
violência contra a pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção
da coisa para ele ou para terceiro (§ 1º).

EXEMPLO
São exemplos típicos de roubo impróprio aquele em que o sujeito ativo, já se retirando do portão
com a res furtiva, alcançando pela vítima, abate-a (assegurando a detenção), ou, então, já na rua,
constata que deixou um documento no local, que o identificará, e, retornando para apanhá-lo, agride
o morador que o estava apanhando (garantindo a impunidade).

Em outros termos, “logo depois” de subtraída a coisa não admite decurso de tempo entre a
subtração e o emprego da violência, ou seja, o modus violento somente é caracterizador do roubo se
for utilizado até a consumação do furto que o agente pretendia praticar (posse tranquila da res, sem a
vigilância). Superado esse momento, o crime está consumado e, consequentemente, não pode sofrer
qualquer alteração; portanto, eventual violência empregada constituirá crime autônomo (lesão
corporal, por exemplo), em concurso com furto consumado.

8.2.3 Consumação e tentativa


Nos termos da Súmula 582 do STJ, “Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse
do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida à
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perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa
e pacífica ou desvigiada."

8.2.4 Causas especiais de aumento de pena - roubo majorado (circunstanciado) (Art. 157,
§ 2º)
A) Se há o concurso de duas ou mais pessoas
Pode haver concurso material entre roubo majorado e quadrilha armada, pois os bens jurídicos
são diversos. Enquanto o tipo penal de roubo protege o patrimônio, o tipo da quadrilha ou bando
guarnece a paz pública.
B) Se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal
circunstância
A pena é agravada se a vítima, regra geral por dever de ofício (caixeiro viajante, empresa de
segurança especialmente contratada para o transporte de valores), realiza serviço de transporte de
valores (dinheiro, joia etc.).
C) Se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro
estado ou para o exterior
Assim como no furto, esta majorante diz respeito, especificamente, à subtração de veículo
automotor. Consideram-se como tais os automóveis, ônibus, caminhões, motocicletas, aeronaves,
lanchas, jet-skis.
D) Se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade
Ocorre quando o agente segura a vítima por tempo superior ao necessário ou valendo-se de
forma anormal para garantir a subtração planejada.

EXEMPLO

Subjugando a vítima, o agente, pretendendo levar-lhe o veículo, manda que entre no porta-
malas, rodando algum tempo pela cidade, até permitir que seja libertada ou o carro seja abandonado.

Trata-se de crime hediondo (Art. 1º, inciso II, alínea “a”, da Lei nº 8.072/90, com a redação dada
pela Lei nº 13.964/2019).

E) Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca


Essa qualificadora foi introduzida pela Lei 13.964/2019, e só terá incidência para fatos
praticados a partir da sua vigência, ou seja, fatos praticados a partir do dia 23 de janeiro de 2020.
Arma branca é aquela em que o instrumento ou objeto é dotado de ponta ou gume, apto a matar
ou ferir uma pessoa. Pode ser arma branca própria, quando fabricada para defesa e ataque, como, por
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exemplo, punhal e espada, como pode ser imprópria, não fabricada para defesa e ataque, mas que
reúne potencial para ferir ou matar, como, por exemplo, faca de cozinha e machado).
Não será apto a majorar a pena do crime de roubo qualquer outro objeto ou instrumento
utilizado no ato do roubo que não se enquadrar no conceito de arma branca, como, por exemplo, barra
de ferro, pedaço de madeira, pedaço de vidro, garrafa quebrada com extremidade pontiaguda. Nesses
casos, será roubo simples, se não incidir outra majorante.
F) Se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou
isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego.

8.2.5 Se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo (Art. 157, § 2-A,
do CP)
ATENÇÃO! Importante alteração trazida pela Lei nº 13.654/2018, na qual o roubo “com
emprego de arma” deixou de ser uma hipótese de roubo circunstanciado no artigo 157, § 2º. Já o roubo
com emprego de arma de fogo continua sendo punido como roubo circunstanciado no artigo 157, § 2º-
A, inciso I, do Código Penal.
Ou seja, o emprego de arma branca majora o crime de roubo de ⅓ até a metade, ao passo que
o emprego de arma de fogo majora o crime de roubo em ⅔.
A arma de brinquedo não serve para majorar a pena, uma vez que não causa à vítima maior
potencialidade lesiva. Pode, no entanto, gerar grave ameaça e, justamente por isso, servir para
configurar o tipo penal do roubo, na figura simples.
Trata-se de crime hediondo (Art. 1º, inciso II, alínea “b”, da Lei nº 8.072/90, com a redação dada
pela Lei nº13.964/2019).

8.2.6 Roubo com emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum
Para caracterizar essa qualificadora, deve restar demonstrada a capacidade de o artefato
causar perigo comum, apto a causar risco a um número indeterminado de pessoas.
Cuidado: curiosamente o legislador considerou hediondo o crime de furto qualificado pelo
emprego de explosivo ou artefato análogo, mas não considera hediondo o crime de roubo com
emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. Como, à evidência, não existe
analogia in malam partem no Direito Penal, essa omissão do legislador significa que não será possível
considerar esse tipo de roubo como sendo hediondo.

8.2.7 Roubo qualificado pelo resultado - Art. 157, § 3º, CP


Comparando o texto legal com outras previsões semelhantes do Código Penal – “se da
violência resulta lesão corporal grave” ou “se resulta morte” -, constata-se que, pela técnica legislativa
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empregada, pretendeu o legislador criar duas figuras de crimes qualificados pelo resultado, para
alguns, crimes preterdolosos.
Contudo, na hipótese em apreço, a extrema gravidade das sanções cominadas uniu o
entendimento doutrinário, que passou a admitir a possibilidade, indistintamente, de o resultado
agravador poder decorrer tanto de culpa quanto de dolo, direto ou eventual.
A) Crime qualificado pelo resultado lesões graves
É uma das hipóteses de delito qualificado pelo resultado, que se configura pela presença de
dolo na conduta antecedente (roubo) e dolo ou culpa na conduta subsequente (lesões corporais
graves).
HIPÓTESES QUANTO AO RESULTADO MAIS GRAVE:
Lesão grave consumada + roubo consumado = roubo qualificado pelo resultado lesão grave.
Lesão grave consumada + tentativa de roubo = roubo qualificado pelo resultado lesão grave,
dando-se a mesma solução para o latrocínio.
Trata-se de crime hediondo (Art. 1º, inciso II, alínea “c”, da Lei nº 8.072/90, com a redação dada
pela Lei nº 13.964/2019).
B) Crime qualificado pelo resultado morte: LATROCÍNIO
O crime de latrocínio ocorre quando, do emprego da violência física contra a pessoa com o fim
de subtrair o bem, ou para assegurar a sua posse ou a impunidade do crime, decorre a morte da vítima.
Tratando-se de crime qualificado pelo resultado, a morte da vítima ou de terceiro tanto pode
resultar de dolo (o assaltante atira na cabeça da vítima e a mata) quanto de culpa (o agente desfere
um golpe contra o rosto do ofendido para feri-lo, vindo, no entanto, a matá-lo).
Trata-se de crime hediondo (Art. 1º, inciso II, alínea “c”, da Lei nº 8.072/90, com a redação dada
pela Lei nº 13.964/2019).

FIQUE LIGADO!

Súmula 610 do STF: “Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não
realize o agente a subtração de bens da vítima”.
Súmula 603 do STF: “A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz
singular e não do Tribunal do Júri.”

8.3 Extorsão – Art. 158, CP


8.3.1 Ação nuclear
Extorsão é o fato de o sujeito constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com
o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou
deixar de fazer alguma coisa.
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A diferença em relação ao roubo concentra-se no fato de a extorsão exigir a participação ativa


da vítima fazendo alguma coisa, tolerando que se faça ou deixando de fazer algo em virtude da ameaça
ou da violência sofrida.
A ação nuclear do tipo consubstancia-se no verbo constranger, que significa coagir, compelir,
forçar, obrigar alguém a fazer (por exemplo: quitar uma dívida não paga), tolerar que se faça (exemplo:
permitir que o rasgue um contrato) ou deixar de fazer alguma coisa (exemplo: obrigar a vítima a não
propor ação judicial contra o agente).
O constrangimento pode ser exercido mediante o emprego de violência ou grave ameaça, os
quais podem atingir tanto o titular do patrimônio quanto pessoa ligada a ele (filhos, pai, mãe etc.).

8.3.2 Consumação e tentativa


A extorsão atinge a consumação com a conduta típica imediatamente anterior à produção do
resultado visado pelo sujeito.
Para a consumação, portanto, o agente deve atingir o segundo estágio, isto é, a consumação
ocorre quando a vítima cede ao constrangimento imposto e faz ou deixa de fazer algo. Esse é o
entendimento que prevalece na doutrina. Nesse sentido a Súmula 96 do STJ: “O crime de extorsão
consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida”.
A tentativa é admissível. Ocorre quando o sujeito passivo, não obstante constrangido pelo autor
por intermédio da violência física ou moral, não realiza a conduta positiva ou negativa pretendida, por
circunstâncias alheias à sua vontade.

8.3.3 Extorsão qualificada – Art. 158, § 2º, CP


As duas hipóteses (lesão corporal grave ou morte) elencadas, como no roubo, caracterizam
condições de exasperação da punibilidade em razão da maior gravidade do resultado.
Inusitadamente, o legislador deixou de considerar hediondo o crime de extorsão qualificada
pelo resultado morte, ao dar nova redação ao artigo 1º, inciso III, da Lei nº 8.072/90, que passou a
prever como hediondo somente a extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência
de lesão corporal ou morte (Art. 158, § 3º);

12.3.4. Extorsão qualificada pela privação da liberdade – Art. 158, § 3º, CP


Trata-se da hipótese em que a privação da liberdade da vítima é condição indispensável para
obtenção da vantagem indevida. É o chamado sequestro-relâmpago.
Exemplo: ladrão constrange a vítima a entregar-lhe o cartão magnético e a fornecer-lhe a
senha, acompanhando-a até caixas eletrônicos de bancos para sacar dinheiro, ocorre o crime de
extorsão qualificada, uma vez que é imprescindível a atuação do sujeito passivo do ataque patrimonial
para a obtenção da vantagem indevida por parte do autor.
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Difere do roubo majorado pela restrição da liberdade da vítima, porque, neste caso, a restrição
da liberdade é irrelevante para obtenção da vantagem indevida. Imaginemos o agente subtrair objetos
da vítima, prendendo-a no banheiro. Trata-se de roubo majorado pela restrição da liberdade da vítima,
pois trancá-la no banheiro não é condição indispensável para a subtração.

8.4 Extorsão mediante sequestro – Art. 159, CP


8.4.1 Conceito e objetividade jurídica
O fato é definido como “sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer
vantagem como condição ou preço de resgate”.
É crime hediondo.
Consubstancia-se no verbo sequestrar, que significa privar a vítima de sua liberdade de
locomoção, ainda que por breve espaço de tempo.

8.4.2 Consumação
A consumação ocorre com a privação de liberdade de locomoção da vítima, exigindo-se tempo
juridicamente relevante.
Trata-se de crime permanente, cuja consumação se prolonga no tempo. Assim, enquanto a
vítima estiver submetida à privação de sua liberdade de locomoção o crime estará em fase de
consumação.
Tratando-se de crime formal, pune-se a mera atividade de sequestrar pessoa, tendo a finalidade
de obter vantagem. Assim, embora o agente não consiga a vantagem almejada, o delito está
consumado quando a liberdade da vítima é cerceada.

8.4.3 Formas qualificadas – Art. 159, § 1º, CP


a) Sequestro por mais de 24 horas
b) Sequestro de menor de 18 ou maior de 60 anos
c) Sequestro praticado por bando ou quadrilha
É possível responsabilizar-se o agente pelo crime autônomo de associação criminosa (Art. 288
do CP) em concurso material com a forma qualificada em estudo. Não há falar em bis in idem, uma
vez que os momentos consumativos e a objetividade jurídica entre tais crimes são totalmente diversos,
além do que a figura prevista no artigo 288 do Código Penal existe independentemente de algum crime
vir a ser praticado pela quadrilha ou bando.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

8.4.4 Extorsão mediante sequestro qualificada pelo resultado: lesão grave ou


morte – Art. 159, §§ 2º e 3º, CP
A regra, repetindo, é que, nesses crimes, o resultado agravador seja sempre produto de culpa.
Contudo, na hipótese em apreço, a extrema gravidade das sanções cominadas uniu o entendimento
doutrinário que passou a admitir a possibilidade, indistintamente, de o resultado agravador poder
decorrer tanto de culpa quanto de dolo, direto ou eventual.
a) se resulta lesão corporal grave
b) se resulta morte

8.4.5 Delação premiada – Art. 159, § 4º, CP


A Lei nº 8.072/90, que instituiu os crimes hediondos, houve por bem criar, no Brasil, a delação
premiada, que significa a possibilidade de se reduzir a pena do criminoso que entregar o(s)
comparsa(s) a qualquer autoridade capaz de levar o caso à solução almejada, causando a liberação
da vítima (delegado, juiz, promotor, entre outros).

8.5 Dano – Art. 163, CP


8.5.5.1 Ação nuclear
Destruir quer dizer arruinar, extinguir ou eliminar. Inutilizar significa tornar inútil ou imprestável
alguma coisa aos fins para os quais se destina. Deteriorar é a conduta de quem estraga ou corrompe
alguma coisa parcialmente.

É o dolo. Não há a forma culposa.

Em que pese o art. 163 CP não exija expressamente um fim especial de agir, a jurisprudência
tem entendido pela necessidade do animus nocendi, que é a vontade específica de causar um prejuízo
patrimonial ao dono da coisa.
Neste sentido, vem se entendendo que a conduta do apenado que rompe a tornozeleira
eletrônica é atípica, justamente pela ausência de tal animus (RHC 151173-RS).
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

8.5.2 Dano qualificado – Art. 163, parágrafo único, CP

I) VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA A PESSOA


II) COM EMPREGO DE SUBSTÂNCIA INFLAMÁVEL OU EXPLOSIVA, SE O FATO NÃO
CONSTITUI CRIME MAIS GRAVE
III) CONTRA O PATRIMÔNIO DA UNIÃO, DE ESTADO, DO DISTRITO FEDERAL, DE
MUNICÍPIO OU DE AUTARQUIA, FUNDAÇÃO PÚBLICA, EMPRESA PÚBLICA, SOCIEDADE DE
ECONOMIA MISTA OU EMPRESA CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇOS PÚBLICOS;
IV) MOTIVO EGOÍSTICO E PREJUÍZO CONSIDERÁVEL

8.5.3 Ação penal – Art. 167, CP

De acordo com o artigo 167, a ação penal privada é cabível no crime de dano simples (caput)
e qualificado (somente na hipótese do inciso IV do parágrafo único).
A ação penal pública incondicionada é cabível nas demais hipóteses.

*Para todos verem: esquema.

Finalidade
Deteriorar
econômica

Finalidade
Dano Destruir
econômica

Finalidade
Danificar
econômica

Art. 163, caput

Regra: ação penal


privada
Art. 163, p.ú inciso
IV
Ação penal

Exceção: ação penal


Art. 163, p.ú incisos
pública
I, II, III
incondicionada
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

8.6 Apropriação indébita – Art. 168, CP


8.6.1 Conceito e objetividade jurídica
O pressuposto do crime de apropriação indébita é a anterior posse lícita da coisa alheia, da
qual o agente se apropria indevidamente. A posse, que deve preexistir ao crime, deve ser exercida
pelo agente em nome alheio, isto é, em nome de outrem.
O núcleo do tipo é o verbo “apropriar-se”, que significa fazer sua a coisa alheia. Tendo o sujeito
a posse ou a detenção do objeto material, em dado momento faz mudar o título da posse ou da
detenção, comportando-se como se dono fosse.
A apropriação pode ser classificada em:

1º) APROPRIAÇÃO INDÉBITA PROPRIAMENTE DITA: Ocorre quando o sujeito realiza ato
demonstrativo de que inverteu o título da posse, como a venda, doação, consumo, penhor, ocultação,
etc.
2º) NEGATIVA DE RESTITUIÇÃO: Neste caso, o sujeito afirma claramente ao ofendido que não
irá devolver o objeto material.

8.6.2 Causas de aumento de pena – Art. 168, § 1º, CP


a) Em depósito necessário
O depósito necessário, disciplinado no inciso I, do § 1º, do artigo 168, é apenas aquele
conhecido como miserável, ou seja, levado pela necessidade de salvar a coisa da iminência de uma
calamidade, ou, como define o próprio Código Civil, “o que se efetua por ocasião de alguma
calamidade, como o incêndio, a inundação, o naufrágio ou o saque” (Art. 647). Está excluído, por
conseguinte, o depósito legal.
b) Na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou
depositário judicial
c) Em razão de ofício, emprego ou profissão
Para que se configure a agravante especial em exame é necessário que o sujeito tenha
recebido a posse ou detenção do objeto material em razão do emprego, ou seja, deve existir um nexo
de causalidade entre a relação de trabalho e o recebimento.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

*Para todos verem: esquema.

Posse do objeto é
Apropriação indébita
desvigiada

Posse Inicialmente lícita

Apropriar-se de objeto

Detenção

8.7 Estelionato – Art. 171, CP


8.7.1 Ação nuclear
Consiste em induzir ou manter alguém em erro, mediante o emprego de artifício, ardil, ou
qualquer meio fraudulento, a fim de obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita em prejuízo alheio.
A característica primordial do estelionato é a fraude: engodo empregado pelo sujeito para
induzir ou manter a vítima em erro, com o fim de obter um indevido proveito patrimonial.
O meio de execução deve ser apto a enganar a vítima. Tratando-se de meio grotesco, que
facilmente demonstra a intenção fraudulenta, não há nem tentativa, por atipicidade do fato.

8.7.2 Consumação e tentativa


Trata-se de crime material. Consuma-se com a obtenção da vantagem ilícita indevida, em
prejuízo alheio, ou seja, quando o agente aufere o proveito econômico, causando dano à vítima. Via
de regra, esses resultados ocorrem simultaneamente. Há, assim, ao mesmo tempo, a obtenção de
proveito pelo estelionatário e o prejuízo da vítima.

8.7.3 Fraude no pagamento por meio de cheque – Art. 171, § 2º, inciso VI, CP
Se o indivíduo emite um cheque na certeza de que tem fundos disponíveis para o devido
pagamento pelo banco, quando na realidade não há qualquer numerário depositado na agência
bancária, não se pode falar em ilícito criminal, ante a ausência de má-fé.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

O que a lei penal pune é o pagamento fraudulento. Nesse sentido é o teor da Súmula 246 do
STF: “comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime de emissão de cheque sem fundos”.
Emitir cheque significa pôr em circulação o título de crédito; frustrar o pagamento quer dizer
iludir ou enganar o credor, evitando a sua remuneração.
a) Emitir cheque sem provisão de fundos
O agente preenche, assina e coloca o cheque em circulação sem ter numerário suficiente na
instituição bancária (banco sacado) para cobrir o valor quando da apresentação do título pelo tomador.
No momento da emissão do cheque – que não significa simplesmente o seu preenchimento, mas a
entrega a terceiro – é preciso que o estabelecimento bancário, encarregado da compensação, já não
possua fundo suficiente para cobrir o pagamento.
b) Frustrar o pagamento de cheque
Neste caso, o agente possui fundos suficientes na instituição bancária quando da emissão do
cheque, contudo, antes de o beneficiário apresentar o título ao banco, aquele retira todo o numerário
depositado ou apresenta uma contraordem de pagamento.
C) Consumação
Segundo o artigo 4º, § 1º, da Lei nº 7.357/85, a existência de fundos disponíveis é verificada no
momento da apresentação do cheque para pagamento. Destarte, o crime se consuma no momento e
no local em que o banco sacado recusa o pagamento, pois só nesse momento ocorre o prejuízo (trata-
se de crime material).
Arrependendo-se o agente antes da apresentação do título pelo beneficiário no banco sacado,
e depositando o numerário necessário para cobrir a quantia constante do cheque, haverá
arrependimento eficaz, não respondendo ele por crime algum.
Se, por outro lado, o agente arrepender-se somente após a consumação do crime, ou seja,
após a recusa do pagamento pelo banco sacado, incidirá a Súmula 554 do STF: “O pagamento de
cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta ao
prosseguimento da ação penal”.
Assim, o pagamento do cheque antes do recebimento da denúncia extingue a punibilidade do
agente.

8.7.4 Ação penal – Art. 171, § 5º, CP


A Lei nº 13.964/2019, ao incluir no Código Penal o artigo 171, § 5º, passou a considerar que o
crime de estelionato será, via de regra, de ação penal pública condicionada à representação. Logo, a
vítima terá o prazo de 06 meses a contar da ciência da autoria do fato para manifestar sua vontade
acerca da persecução penal, sob pena de, extrapolado esse prazo, ocorrer a extinção da punibilidade,
com base no artigo 107, inciso IV, do Código Penal.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

Excepcionalmente, será, no entanto, de ação penal pública incondicionada, se o crime de


estelionato for praticado contra: a) a Administração Pública, direta ou indireta; b) criança ou
adolescente; c) pessoa com deficiência mental; d) maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.

8.7.5 Alterações promovidas pela lei 14.155/2021


Cumpre ressaltar que a lei 14155/2021, a qual entrou em vigor em 27 de maio de 2021
acrescentou os parágrafos 2°-A e 2°-B:

§ 2º-A. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se a fraude é cometida com a utilização
de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro por meio de redes sociais, contatos telefônicos
ou envio de correio eletrônico fraudulento, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. (Incluído pela Lei nº
14.155, de 2021)
§ 2º-B. A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso, aumenta-se
de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do território
nacional. (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)

8.8 Receptação – Art. 180, CP


8.8.1 Conceito
Nos termos do artigo 180, caput, do Código Penal, a receptação é o fato de adquirir, receber,
transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio coisa que sabe ser produto de crime, ou
influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte.
É pressuposto do crime de receptação a existência de crime anterior. Trata-se de delito
acessório, em que o objeto material deve ser produto de crime antecedente, chamado de delito
pressuposto.
A receptação dolosa pode ser:
A) PRÓPRIA: Constitui receptação dolosa própria o fato de o sujeito adquirir, receber, ocultar
etc., em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime (Art. 180, caput, 1ª parte).
B) IMPRÓPRIA: A receptação dolosa imprópria se encontra descrita no artigo 180, caput, 2ª
parte. Constitui o fato de o sujeito influir para que terceiro, de boa-fé, adquira, receba ou oculte coisa
produto de crime.
A receptação culposa constitui o fato de o sujeito adquirir ou receber coisa que, por sua natureza
ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se
obtida por meio criminoso (Art. 180, § 3º).
8.8.2 Receptação qualificada – Art. 180, § 1º, CP
Forma qualificada - § 1º: Tem como elemento subjetivo o dolo, seja direto ou eventual.
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8.8.3 Receptação culposa – Art. 180, § 3º, CP


Forma culposa - § 3º: O código refere coisa que, “pela sua natureza, deve presumir-se obtida
por meio criminoso”. A expressão “deve presumir-se” é indicativo de culpa na modalidade imprudência.

8.8.4 Receptação punível autonomamente – Art. 180, § 4º, CP


Receptação punível autonomamente - § 4º: Para a concretização do crime de receptação não
importa se houve a anterior condenação do autor do crime anterior. Porém, é necessário evidenciar-
se a existência do crime anterior.

8.8.5 Perdão judicial – Art. 180, § 5º, CP


Nos termos do artigo 180, § 5º, 1ª parte, do Código Penal, na hipótese da receptação culposa,
se o criminoso é primário, deve o juiz, tendo em consideração determinadas circunstâncias, deixar de
aplicar a pena. No caso, fixaram a doutrina e a jurisprudência, que, além da primariedade, deve-se
exigir o seguinte: a) diminuto valor da coisa objeto da receptação; b) bons antecedentes; c) ter o agente
atuado com culpa levíssima.

8.8.6 Tipo qualificado – Art. 180, § 6º, CP


Outra forma qualificada: Quando o produto de crime pertencer à União, Estado, Município,
empresa de serviços públicos ou sociedade de economia mista. Exige-se que o agente tenha
conhecimento disso.

8.9 Escusas absolutórias


8.9.1 Imunidade absoluta – Art. 181, CP
Trata-se da chamada imunidade penal absoluta, também conhecida como escusa absolutória,
incidente sobre os crimes contra o patrimônio, nas seguintes hipóteses:
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.

8.9.2 Imunidade relativa – Art. 182, CP


Consubstancia-se em imunidade penal relativa ou processual, a qual não extingue a
punibilidade, mas tão-somente impõe uma condição objetiva de procedibilidade.
Neste caso, ao contrário da imunidade absoluta, o autor do crime não é isento de pena, mas
os crimes de ação penal pública incondicionada passam a ser condicionados à representação do
ofendido.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

8.9.3 Exclusão de imunidade ou privilégio – Art. 183, CP


I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça
ou violência à pessoa;
II - ao estranho que participa do crime.
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.

8.10 Exercícios para resolver após a aula

12) QUESTÃO 2 – XIII EXAME


Antônio, auxiliar de serviços gerais de uma multinacional, nos dias de limpeza, passa a
observar uma escultura colocada na mesa de seu chefe. Com o tempo, o desejo de ter aquele
objeto fica incontrolável, razão pela qual ele decide subtraí-lo. Como Antônio não tem acesso
livre à sala onde a escultura fica exposta, utiliza-se de uma chave adaptável a qualquer
fechadura, adquirida por meio de um amigo chaveiro, que nada sabia sobre suas intenções.
Com ela, Antônio ingressa na sala do chefe, após o expediente de trabalho, e subtrai a
escultura pretendida, colocando-a em sua bolsa. Após subtrair o objeto e sair do edifício onde
fica localizada a empresa, Antônio caminha tranquilamente cerca de 400 metros. Apenas
nesse momento é que os seguranças da portaria suspeitam do ocorrido. Eles acham estranha
a saída de Antônio do local após o expediente (já que não era comum a realização de horas
extras), razão pela qual acionam policiais militares que estavam próximos do local, apontando
Antônio como suspeito. Os policiais conseguem alcançá-lo e decidem revistá-lo, encontrando
a escultura da sala do chefe na sua bolsa. Preso em flagrante, Antônio é conduzido até a
Delegacia de Polícia.
Antônio, então, é denunciado e regularmente processado. Ocorre que, durante a instrução
processual, verifica-se que a escultura subtraída, apesar de bela, foi construída com material
barato, avaliada em R$ 250,00 (duzentos e cinquenta reais), sendo, portanto, de pequeno
valor. A FAC (folha de antecedentes criminais) aponta que Antônio é réu primário. Ao final da
instrução, em que foram respeitadas todas as exigências legais, o juiz, em decisão
fundamentada, condena Antônio a 2 (dois) anos de reclusão pela prática do crime de furto
qualificado pela utilização de chave falsa, consumado, com base no artigo 155, § 4º, III, do
CP. Nesse sentido, levando em conta apenas os dados contidos no enunciado, responda aos
itens a seguir.
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A) É correto afirmar que o crime de furto praticado por Antônio atingiu a consumação?
Justifique. (Valor: 0,40)
B) Considerando que Antônio não preenche os requisitos elencados pelo STF e STJ para
aplicação do princípio da insignificância, qual seria a principal tese defensiva a ser utilizada em
sede de apelação? Justifique. (Valor: 0,85)
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo
legal não confere pontuação.

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13) QUESTÃO 2 – VIII EXAME


Abel e Felipe observavam diariamente um restaurante com a finalidade de cometer um crime.
Sabendo que poderiam obter alguma vantagem sobre os clientes que o frequentavam, Abel e
Felipe, sem qualquer combinação prévia, conseguiram, cada um, uniformes semelhantes aos
utilizados pelos manobristas de tal restaurante. No início da tarde, aproveitando a
oportunidade em que não havia nenhum funcionário no local, a dupla, vestindo os uniformes
de manobristas, permaneceu à espera de suas vítimas, mas, agindo de modo separado.
Tércio, o primeiro cliente, ao chegar ao restaurante, iludido por Abel, entrega de forma
voluntária a chave de seu carro. Abel, ao invés de conduzir o veículo para o estacionamento,
evade-se do local. Narcísio, o segundo cliente, chega ao restaurante e não entrega a chave
de seu carro, mas Felipe a subtrai sem que ele o percebesse. Felipe também se evade do
local. Empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente
ao caso, responda às questões a seguir.

A) Qual a responsabilidade jurídico-penal de Abel ao praticar tal conduta? (responda motivando


sua imputação) (Valor: 0,65)
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B) Qual a responsabilidade jurídico-penal de Felipe ao praticar tal conduta? (responda


motivando sua imputação) (Valor: 0,60)
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo
legal não confere pontuação.

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14) QUESTÃO 1 – XVII EXAME


Rodrigo, primário e de bons antecedentes, quando passava em frente a um estabelecimento
comercial que estava fechado por ser domingo, resolveu nele ingressar. Após romper o
cadeado da porta principal, subtraiu do seu interior algumas caixas de cigarro. A ação não foi
notada por qualquer pessoa. Todavia, quando caminhava pela rua com o material subtraído,
veio a ser abordado por policiais militares, ocasião em que admitiu a subtração e a forma como
ingressou no comércio lesado. O material furtado foi avaliado em R$ 1.300,00 (um mil e
trezentos reais), sendo integralmente recuperado. A perícia não compareceu ao local para
confirmar o rompimento de obstáculo. O autor do fato foi denunciado como incurso nas
sanções penais do Art. 155, § 4º, inciso I, do Código Penal. As únicas testemunhas de
acusação foram os policiais militares, que confirmaram que apenas foram responsáveis pela
abordagem do réu, que confessou a subtração. Disseram não ter comparecido, porém, ao
estabelecimento lesado. Em seu interrogatório, Rodrigo confirmou apenas que subtraiu os
cigarros do estabelecimento, recusando-se a responder qualquer outra pergunta. A defesa
técnica de Rodrigo é intimada para apresentar alegações finais por memoriais. Com base na
hipótese apresentada, responda, fundamentadamente, aos itens a seguir.

A) Diante da confissão da prática do crime de furto por Rodrigo, qual a principal tese defensiva
em relação à tipificação da conduta a ser formulada pela defesa técnica? (Valor: 0,65)
B) Em caso de acolhimento da tese defensiva, poderá Rodrigo ser, de imediato, condenado nos
termos da manifestação da defesa técnica? (Valor: 0,60)
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Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo
legal não confere pontuação.

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15) QUESTÃO 4 – XXVIII EXAME


Na manhã do dia 09 de outubro de 2018, Talles, na cidade de Bom Jesus de Itabapoana,
praticou 03 crimes de furto simples em continuidade delitiva, subtraindo, do primeiro
estabelecimento, dinheiro e uma arma de brinquedo; do segundo estabelecimento, uma touca
ninja e um celular; e, do terceiro estabelecimento, uma motocicleta. De posse dos bens
subtraídos, Talles foi até a cidade de Cardoso Moreira, abordou Joana, que passava pela rua
segurando seu celular, e, utilizando-se do simulacro da arma para emprego de grave ameaça
e da touca, segurou-a pelos braços e subtraiu o celular de suas mãos. De imediato, Talles
empreendeu fuga, mas Joana compareceu em sede policial, narrou o ocorrido e Talles foi
localizado e preso em flagrante na cidade de São Fidélis, ainda na posse dos bens da vítima
e da motocicleta utilizada. Assegurado o direito ao silêncio e o acompanhamento da defesa
técnica, Talles prestou declarações na delegacia e confessou integralmente os fatos, sendo
ele indiciado pela prática dos crimes previstos no Art. 155, caput, por três vezes, n/f do Art. 71
do CP e do Art. 157, § 2º, inciso V, também do CP. Considerando as informações expostas,
responda, na condição de advogado(a) de Talles, aos itens a seguir.

A) Considerando que os delitos são conexos, de qual cidade será o juízo criminal
competente para o julgamento de Talles? Justifique. (Valor: 0,65)
B) Qual o argumento de direito material para questionar a capitulação delitiva realizada pela
autoridade policial? Justifique. (Valor: 0,60)
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo
legal não confere pontuação.
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16) QUESTÃO 2 – XXVI EXAME


Arthur, Adriano e Junior, insatisfeitos com a derrota do seu time de futebol, saíram à rua, após
a partida, fazendo algazarra na companhia de Roberto, que não gostava de futebol. Durante
o ato, depararam com Pedro, que vestia a camisa do time rival; simplesmente por isso, Arthur,
Adriano e Junior passaram a agredi-lo, tendo ficado Roberto à distância por não concordar
com o ato e não ter intenção de conferir cobertura aos colegas. Em razão dos atos de
agressão, o celular de Pedro veio a cair no chão, momento em que Roberto, aproveitando-se
da situação, subtraiu o bem e empreendeu fuga. Com a chegada de policiais, Arthur, Adriano
e Junior empreenderam fuga, mas Roberto veio a ser localizado pouco tempo depois na posse
do bem subtraído e de seu próprio celular. Diante das lesões causadas na vítima, Roberto foi
denunciado pela prática do crime de roubo majorado pelo concurso de agentes e teve sua
prisão em flagrante convertida em preventiva. Na instrução, as testemunhas confirmaram
integralmente os fatos, assim como Roberto reiterou o acima narrado. A família de Roberto,
então, procura você para, na condição de advogado(a), adotar as medidas cabíveis, antes da
sentença, apresentando nota fiscal da compra do celular de Roberto. Considerando apenas
as informações narradas, responda, na condição de advogado(a) de Roberto, aos itens a
seguir.
A) Existe requerimento a ser formulado pela defesa para reaver, de imediato, o celular de
Roberto? Justifique. (Valor: 0,60)
B) Confessados por Roberto os fatos acima narrados, existe argumento de direito material a
ser apresentado em busca da não condenação pelo crime imputado? Justifique. (Valor: 0,65)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação.

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17) QUESTÃO 2 – XXV EXAME REAPLICADA EM PORTO ALEGRE/RS


No dia 06 de abril de 2017, João retirou Clara, criança de 11 anos de idade, do interior da residência
em que esta morava, sem autorização de qualquer pessoa, vindo a restringir sua liberdade e mantê-la
dentro de um quarto trancado e sem janelas. Logo em seguida, João entrou em contato com o pai de
Clara, famoso empresário da cidade, exigindo R$200.000,00 para liberar Clara e devolvê-la à sua
residência. Após o pai de Clara pagar o valor exigido, Clara é liberada e, de imediato, a família
comparece à Delegacia para registrar o fato. Depois das investigações, João é identificado e os autos
são encaminhados ao Ministério Público com relatório final de investigação, indiciando João. Após 90
(noventa) dias do recebimento do inquérito, os autos permanecem no gabinete do Promotor de Justiça,
sem que qualquer medida tenha sido adotada. Considerando as informações narradas, responda, na
condição de advogado(a) da família de Clara, aos itens a seguir.

A) Considerando que o crime é de ação penal pública incondicionada, qual a medida a ser
adotada diretamente pela família de Clara e seu advogado em busca da responsabilização
criminal de João? Justifique. (Valor: 0,65)
B) Em caso de inicial acusatória, qual infração penal deve ser imputada a João? Justifique.
(Valor: 0,60)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação.

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18) QUESTÃO 4 – V EXAME


João e Maria iniciaram uma paquera no Bar X na noite de 17 de janeiro de 2011. No dia 19 de
janeiro do corrente ano, o casal teve uma séria discussão, e Maria, nitidamente enciumada,
investiu contra o carro de João, que já não se encontrava em bom estado de conservação,
com três exercícios de IPVA inadimplentes, a saber: 2008, 2009 e 2010. Além disso, Maria
proferiu diversos insultos contra João no dia de sua festa de formatura, perante seu amigo
Paulo, afirmando ser ele “covarde”, “corno” e “frouxo”. A requerimento de João, os fatos foram
registrados perante a Delegacia Policial, onde a testemunha foi ouvida. João comparece ao
seu escritório e contrata seus serviços profissionais, a fim de serem tomadas as medidas
legais cabíveis. Você, como profissional diligente, após verificar não ter passado o prazo
decadencial, interpõe Queixa-Crime ao juízo competente no dia 18/7/11. O magistrado ao qual
foi distribuída a peça processual profere decisão rejeitando-a, afirmando tratar-se de clara
decadência, confundindo-se com relação à contagem do prazo legal. A decisão foi publicada
dia 25 de julho de 2011. Com base somente nas informações acima, responda:
A) Qual é o recurso cabível contra essa decisão? (0,30)
B) Qual é o prazo para a interposição do recurso? (0,30)
C) A quem deve ser endereçado o recurso? (0,30)
D) Qual é a tese defendida? (0,35)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação.
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19) QUESTÃO 1 – IV EXAME


Maria, jovem extremamente possessiva, comparece ao local em que Jorge, seu namorado,
exerce o cargo de auxiliar administrativo e abre uma carta lacrada que havia sobre a mesa do
rapaz. Ao ler o conteúdo, descobre que Jorge se apropriara de R$ 4.000,00 (quatro mil reais),
que recebera da empresa em que trabalhava para efetuar um pagamento, mas utilizara tal
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

quantia para comprar uma joia para uma moça chamada Júlia. Absolutamente transtornada,
Maria entrega a correspondência aos patrões de Jorge. Com base no relatado acima,
responda aos itens a seguir, empregando os argumentos jurídicos apropriados e a
fundamentação legal pertinente ao caso.
A) Jorge praticou crime? Em caso positivo, qual(is)? (Valor: 0,35)
B) Se o Ministério Público oferecesse denúncia com base exclusivamente na correspondência
aberta por Maria, o que você, na qualidade de advogado de Jorge, alegaria? (Valor: 0,90)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação.

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20) QUESTÃO 2 – XXI EXAME


No dia 03 de março de 2016, Vinícius, reincidente e específico, foi preso em flagrante em
razão da apreensão de uma arma de fogo, calibre .38, de uso permitido, número de série
identificado, devidamente municiada, que estava em uma gaveta dentro de seu local de
trabalho, qual seja, o estabelecimento comercial “Vinícius House”, do qual era sócio-gerente
e proprietário. Denunciado pela prática do crime do Artigo 14 da Lei nº 10.826/03, confessou
os fatos, afirmando que mantinha a arma em seu estabelecimento para se proteger de
possíveis assaltos. Diante da prova testemunhal e da confissão do acusado, o Ministério
Público pleiteou a condenação nos termos da denúncia em alegações finais, enquanto a
defesa afirmou que o delito do Art. 14 do Estatuto do Desarmamento não foi praticado, também
destacando a falta de prova da materialidade. Após manifestação das partes, houve juntada
do laudo de exame da arma de fogo e das munições apreendidas, constatando-se o potencial
lesivo do material, tendo o magistrado, de imediato, proferido sentença condenatória pela
imputação contida na denúncia, aplicando a pena mínima de 02 anos de reclusão e 10 dias-
multa. O advogado de Vinícius é intimado da sentença e apresentou recurso de apelação.
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Considerando apenas as informações narradas, responda na condição de advogado(a) de


Vinicius:
A) Qual requerimento deveria ser formulado em sede de apelação e qual tese de direito
processual poder ia ser alegada para afastar a sentença condenatória proferida em primeira
instância? Justifique. (Valor: 0,65)
B) Confirmados os fatos, qual tese de direito material poderia ser alegada para buscar uma
condenação penal mais branda em relação ao quantum de pena para Vinicius? Justifique.
(Valor: 0,60)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação.

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21) QUESTÃO 2 – XX EXAME


Lúcio, com residência fixa e proprietário de uma oficina de carros, adquiriu de seu vizinho, pela quantia
de R$1.000,00 (mil reais) um aparelho celular, que sabia ser produto de crime pretérito, passando a
usá-lo como próprio. Tomando conhecimento dos fatos, um inimigo de Lúcio comunicou o ocorrido ao
Ministério Público, que requisitou a instauração de inquérito policial. A autoridade policial instaurou o
procedimento, indiciou Lúcio pela prática do crime de receptação qualificada (Art. 180, § 1º, do Código
Penal), já que desenvolvia atividade comercial, e, de imediato, representou pela prisão temporária de
Lúcio, existindo parecer favorável do Ministério Público. A família de Lúcio o procura para
esclarecimentos. Na condição de advogado de Lúcio, esclareça os itens a seguir.
A) No caso concreto, a autoridade policial poderia ter representado pela prisão temporária de
Lúcio? (Valor: 0,60)
B) Confirmados os fatos acima narrados, o crime praticado por Lúcio efetivamente foi de
receptação qualificada (Art. 180, § 1º, do CP)? Em caso positivo, justifique. Em caso negativo,
indique qual seria o delito praticado e justifique. (Valor: 0,65)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação.
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22) QUESTÃO 4 – XXV EXAME


Vitor, 23 anos, decide emprestar sua motocicleta, que é seu instrumento de trabalho, para seu pai,
Francisco, 45 anos, por um mês, já que este se encontrava em dificuldade financeira. Após o prazo do
empréstimo, Vitor, que não residia com Francisco, solicitou a devolução da motocicleta, mas este se
recusou a devolver e passou a atuar como se proprietário do bem fosse inclusive anunciando sua
venda. Diante do registro dos fatos em sede policial, o Ministério Público ofereceu denúncia em face
de Francisco, imputando-lhe a prática do crime previsto no Art. 168, § 1º, inciso II, do Código Penal.
Após a confirmação dos fatos em juízo e a juntada da Folha de Antecedentes Criminais sem qualquer
outra anotação, o magistrado julgou parcialmente procedente a pretensão punitiva, afastando a causa
de aumento, mas condenando Francisco, pela prática do crime de apropriação indébita simples, à pena
mínima prevista para o delito em questão (01 ano), substituindo a pena privativa de liberdade por
restritiva de direito. Considerando apenas as informações narradas no enunciado, na condição de
advogado(a) de Francisco, responda aos itens a seguir.
A) Para combater a decisão do magistrado, que, após afastar a causa de aumento,
imediatamente decidiu por condenar o réu pela prática do crime de apropriação indébita
simples, qual argumento de direito processual poderia ser apresentado? Justifique. (Valor: 0,60)
B) Qual argumento de direito material, em sede de apelação, poderia ser apresentado em busca
de evitar a punição de Francisco? Justifique. (Valor: 0,65)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação.

23) QUESTÃO 4 – VII EXAME


Maurício, jovem de classe alta, rebelde e sem escrúpulos, começa a namorar Joana, menina
de boa família, de classe menos favorecida e moradora de área de risco em uma das maiores
comunidades do Brasil. No dia do aniversário de 18 anos de Joana, Maurício resolve convidá-
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

la para jantar num dos restaurantes mais caros da cidade e, posteriormente, leva-a para
conhecer a suíte presidencial de um hotel considerado um dos mais luxuosos do mundo, onde
passa a noite com ela. Na manhã seguinte, Maurício e Joana resolvem permanecer por mais
dois dias. Ao final da estada, Mauricio contabiliza os gastos daqueles dias de prodigalidade,
apurando o total de R$ 18.000,00 (dezoito mil reais). Todos os pagamentos foram realizados
em espécie, haja vista que, na noite anterior, Maurício havia trocado com sua mãe um cheque
de R$20.000,00 (vinte mil reais) por dinheiro em espécie, cheque que Maurício sabia, de
antemão, não possuir fundos. Considerando apenas os fatos descritos, responda, de forma
justificada, os questionamentos a seguir.
A) Maurício e Joana cometeram algum crime? Justifique sua resposta e, caso seja positiva,
tipifique as condutas atribuídas a cada um dos personagens, desenvolvendo a tese de defesa.
(valor: 0,70)
B) Caso Maurício tivesse invadido a casa de sua mãe com uma pistola de brinquedo e a
ameaçado, a fim de conseguir a quantia de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), sua situação jurídica
seria diferente? Justifique. (valor: 0,55)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação.

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24) QUESTÃO 2 – 2010/03 EXAME


Caio, residente no município de São Paulo, é convidado por seu pai, morador da cidade de
Belo Horizonte, para visitá-lo. Ao dirigir-se até Minas Gerais em seu carro, Caio dá carona a
Maria, jovem belíssima que conhecera na estrada e que, ao saber do destino de Caio, o
convence a subtrair pertences da casa do genitor do rapaz, chegando a sugerir que ele
aguardasse o repouso noturno de seu pai para efetuar a subtração. Ao chegar ao local, Caio
janta com o pai e o espera adormecer, quando então subtrai da residência uma televisão de
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

plasma, um aparelho de som e dois mil reais. Após encontrar-se com Maria no veículo, ambos
se evadem do local e são presos quando chegavam ao município de São Paulo.
Com base no relatado acima, responda aos itens a seguir, empregando os argumentos
jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso.
A) Caio pode ser punido pela conduta praticada e provada? (Valor: 0,40)
B) Maria pode ser punida pela referida conduta? (Valor: 0,40)
C) Em caso de oferecimento de denúncia, qual será o juízo competente para processamento da
ação penal? (Valor: 0,20)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação.

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25) QUESTÃO 1 – 36º EXAME


Ana Beatriz foi denunciada pelo Ministério Público pela prática dos crimes de falsificação de
documento particular (Art. 298 do CP) e estelionato (Art. 171 do CP), em concurso material
(Art. 69 do CP), por ter obtido vantagem patrimonial ilícita às custas da vítima Rita (pessoa
civilmente capaz e mentalmente sã, à época com 21 anos de idade), induzindo-a e mantendo-
a em erro, mediante meio fraudulento. Segundo narra a denúncia, em julho de 2020 Ana
Beatriz falsificou bilhete de loteria premiado e o vendeu para Rita por metade do valor do
suposto prêmio, alegando urgência em receber valor em espécie para poder custear cirurgia
da sua filha. Rita, envergonhada, não procurou as autoridades públicas para solicitar a
apuração dos fatos. A denúncia foi oferecida ao Juízo competente em dezembro de 2020.
Sobre a hipótese, responda aos itens a seguir.
A) Qual é a tese jurídica de mérito que pode ser invocada pela defesa técnica de Ana Beatriz?
Justifique. (Valor: 0,65)
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B) Qual é a tese jurídica processual que pode ser invocada pela defesa técnica de Ana Beatriz?
Justifique. (Valor: 0,60)
Obs.: O(a) examinando(a) deve fundamentar as respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação.

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Emendatio Libelli e Mutatio Libelli


Prof. Nidal Ahmad
@prof.nidal

9.1. Introdução
No processo penal, o réu se defende dos fatos, sendo secundário a classificação jurídica
constante na denúncia ou queixa.

Segundo o princípio da correlação, a sentença está limitada apenas à narrativa feita na


peça inaugural, pouco importando a tipificação legal dada pelo acusador. Tal princípio está
regulamentado nos arts. 383 e 384 do CPP, que dispõem, respectivamente, dos institutos da
emendatio libelli e mutatio libelli.

9.2. Emendatio Libelli


9.2.1. Conceito
A emendatio libelli está prevista no artigo 383 do CPP.

Ao oferecer a denúncia ou queixa, o acusador deve descrever o fato criminoso e, após,


conferir a ele a respectiva classificação jurídica. O réu, como visto, defende-se dos fatos
relatados e não da classificação dada.

Nessa hipótese, pode ocorrer de o juiz considerar inadequada a classificação jurídica


atribuída ao fato narrado na inicial acusatória.

O fato delituoso descrito na peça acusatória continua sendo rigorosamente o mesmo,


cabendo ao juiz corrigir a classificação atribuída pelo Ministério Público ou querelante ao fato
descrito.

Desse modo, sem que tenha surgido ao longo da instrução nenhum elemento novo ou
circunstância capaz de modificar a descrição do fato contido na denúncia ou queixa, o juiz
poderá dar aos eventos delituosos descritos explícita ou implicitamente na denúncia ou queixa
a classificação jurídica que considerar correta, ainda que, em consequência, venha a aplicar
pena mais grave, sem necessidade de prévia vista à defesa, a qual não poderá alegar
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

surpresa, uma vez que não se defendia da classificação legal, mas da descrição fática da
infração penal.

EXEMPLO:

A denúncia narra que fulano subtraiu, mediante o emprego de fraude para


diminuir ou burlar a vigilância da vítima sobre o objeto subtraído, classificando, no
entanto, tal conduta como sendo estelionato, previsto no artigo 171 do Código Penal,
deixando de propor a suspensão condicional do processo pelo fato de o agente ter sido
condenado pela prática de outro crime. No caso, deve o Juiz dar definição jurídica
diversa à atribuída pelo Ministério Público, condenando o acusado pela prática do crime
de furto qualificado pelo emprego de fraude (art. 155, § 4º, inciso II, do CP), sem ofensa
ao contraditório ou ampla defesa, nem tampouco do princípio da correlação entre
acusação ou sentença, já que o acusado se defendia do fato de ter subtraído objeto
mediante fraude, conforme narrado na denúncia.

9.2.2. Emendatio libelli e suspensão condicional do processo - art. 383, §


1º, CPP
Se a nova definição jurídica do fato é viável inclusive para a aplicação de pena mais
grave, naturalmente, o mesmo se dá para a aplicação de benefícios anteriormente não
concedidos por falta de condições.

Em outras palavras, pode ocorrer (o que é mais comum, inclusive) de com a emendatio
libelli o fato atribuído ao agente se enquadrar em crime menos grave, cuja pena mínima não
seja superior a um ano.

Se o crime inicialmente imputado previa pena mínima superior a um ano, o agente, na


visão da parte acusatória, não fazia jus à suspensão condicional do processo, já que não
preenchia o requisito do art. 89 da Lei 9.099/95.

Porém, com a emendatio libelli, a partir da nova definição jurídica, atribuindo-se delito
menos grave, cuja pena mínima não seja superior a um ano, pode ocorrer de o agente passar
a ter direito à suspensão condicional do processo. Nesse caso, o magistrado não poderá
proferir eventual sentença condenatória, mas proceder conforme prevê a lei, ou seja, conceder
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vista do processo ao Ministério Público, a fim de que possa oferecer proposta de suspensão
condicional do processo, se for o caso.

Exemplo: A denúncia narra que fulano empurrou a vítima e arrebatou-lhe a corrente do


pescoço, classificando tal conduta como roubo (CP, art. 157). Após o encerramento da
instrução, o Magistrado se convence de que o fato descrito na denúncia não constitui violência
ou grave ameaça, interpretando a conduta descrita na inicial acusatória como sendo furto
simples (CP, art. 155). No momento do oferecimento da denúncia, não era cabível a proposta
de suspensão condicional do processo, uma vez que a pena mínima do crime de roubo é de
04 anos. Ao final de instrução, considerando-se a hipótese de furto simples, cuja pena mínima
é de 01 ano, passou-se a aventar a possibilidade de suspensão condicional do processo.

Assim, nesse caso, ao receber os autos conclusos para sentença, vislumbrando hipótese
de definição jurídica diversa da contida na exordial, que, por sua vez, poderá ensejar a
suspensão condicional do processo, o Magistrado deverá operar a desclassificação do delito,
limitando-se exclusivamente à correta tipificação da conduta, sem emitir, portanto, qualquer
juízo de valor acerca do mérito (condenação ou absolvição).Em seguida, deverá determinar
vista dos autos ao Ministério Público para que se manifeste acerca da possibilidade da
proposta da suspensão condicional do processo.

Se o juiz proferir sentença condenatória pelo delito de furto, pode-se, em sede de


preliminar de apelação, arguir a nulidade da sentença, pela inobservância do procedimento
do artigo 383, § 1º, do CPP.

9.2.3. Desclassificação – art. 383, § 2º, CPP


Se o juiz, no momento da sentença, verificar que o fato descrito não corresponde à
classificação atribuída na peça acusatória, promoverá a emendatio libelli. E, se com a nova
definição jurídica, verificar que não é o juiz competente para processar e julgar o feito, deverá
encaminhar o processo para o Juízo competente.

Tomemos como exemplo o fato narrado na denúncia ter sido classificado como tentativa
de homicídio, quando, na verdade, trata-se de lesão corporal grave. Nesse caso, o juiz do
Tribunal do Júri verificará que, com a emendatio libelli, e nova definição jurídica do fato descrito
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na denúncia, não será competente para processar o feito, devendo encaminhar para o juízo
competente.

O mesmo ocorrerá se observar tratar-se de crime de menor potencial ofensivo. Nesse


caso, caberá ao juiz, motivadamente, realizar a desclassificação, sem, contudo, emitir juízo
de valor acerca do mérito (condenação ou absolvição), devendo, pois, limitar-se à tipificação
do delito, encaminhando, após, os autos ao juízo competente.

Exemplo: A denúncia narra que determinado funcionário público aceitou promessa de


vantagem indevida para retardar ato de ofício, capitulando a conduta como sendo de
corrupção passiva, prevista no artigo 317 do CP. Após o encerramento da instrução, o
Magistrado considera ter ocorrido, em tese, o delito de corrupção passiva privilegiada, previsto
no artigo 317,§ 2º, do CP, cuja pena varia de 03 meses a 01 ano, sendo, pois, crime de menor
potencial ofensivo, devendo, diante disso, sem emitir qualquer juízo de valor acerca do mérito,
remeter o processo ao Juizado Especial Criminal.

9.3. Mutatio Libelli


A mutatio libelli está disciplinada no artigo 384 do CPP.
Aqui não ocorre simples emenda na acusação, mediante correção na tipificação legal,
mas verdadeira mudança, com alteração na narrativa acusatória. Assim, a mutatio libelli
implica o surgimento de uma prova nova, desconhecida ao tempo do oferecimento da ação
penal, levando a uma readequação dos episódios delituosos relatados na denúncia ou queixa.

Exemplo: Um sujeito é denunciado pelo crime de furto. Ao longo da instrução, uma


testemunha afirma ter visto o réu apontando uma arma, circunstância que não estava descrita
na denúncia. O juiz não poderá condenar o réu pelo delito de roubo. Deverá dar vista dos
autos ao Ministério Público, para aditamento da denúncia e inclusão da circunstância da arma,
abrindo-se, após, oportunidade à defesa se pronunciar, procedendo-se, se for o caso, à
instrução, mediante a oitiva de até 03 testemunhas, para, somente agora, o juiz proferir
sentença.

Em outras palavras, o que caracteriza a mutatio é o surgimento de fato não descrito na


denúncia, razão pela qual a peça acusatória deve ser aditada, para incluir esse fato ou
circunstância, para viabilizar o contraditório e a ampla defesa.
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9.3.1. Procedimento da mutatio libelli


Considerando a hipótese de mutatio libelli, deve o Ministério Público aditar a denúncia, no
prazo de 05 dias, concedendo-se, após, vista dos autos ao defensor para se manifestar
também no prazo de 05 dias (CPP, art. 384, § 2º).

Em sendo admitido o aditamento da denúncia, o Magistrado designará nova audiência


para inquirição de testemunhas, novo interrogatório, debates e julgamento. Nos termos do
artigo 384, § 4º, do CPP, na hipótese de aditamento, cada parte poderá arrolar até três
testemunhas.

Conforme o artigo 384, § 4º, do CPP, ao sentenciar o feito, o juiz ficará adstrito aos termos
do aditamento recebido, ou seja, não poderá condenar o réu além dos limites do aditamento.

9.3.2. Exclusividade dos crimes de ação pública


Veda a lei que o juiz tome qualquer iniciativa para o aditamento da queixa, em ação
exclusivamente privada, pois a iniciativa é sempre da parte ofendida, além de não viger, nesse
caso, o princípio da obrigatoriedade da ação penal, cujo controle é de ser feito tanto pelo
promotor, quanto pelo magistrado.
Ao contrário, regendo a ação privada exclusiva o princípio da oportunidade, não cabe
qualquer iniciativa nesse sentido pelo órgão acusador. Aliás, se o querelante, por sua própria
ação, desejar aditar a queixa, em ação privada exclusiva, deve levar em conta o prazo
decadencial de seis meses.

9.3.3. Impossibilidade de aplicação da mutatio libelli em grau recursal


A mutatio libelli se aplica somente em 1ª instância, não sendo possível aplicar tal
procedimento em 2ª instância (Tribunal de Justiça). É o que diz a Súmula 453 do STF:

Súmula 453 STF: “Não se aplicam à segunda instância o Art. 384 e parágrafo único
do Código de Processo Penal, que possibilitam dar nova definição jurídica ao fato
delituoso, em virtude de circunstância elementar não contida, explícita ou
implicitamente, na denúncia ou queixa.”
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Reformatio in pejus

Prof. Mauro Stürmer


@prof.maurosturmer

10.1. Introdução

Todos os recursos possuem efeito devolutivo. Significa que a interposição de um recurso


viabiliza a análise total ou parcial da matéria impugnada em primeiro grau. Em síntese, a
interposição do recurso reabre a discussão da decisão combatida no recurso por um órgão
superior, cuja extensão da apreciação pelo Tribunal depende de quem seja o recorrente, ou
seja, se o recurso foi interposto pela acusação ou defesa.
Especificamente em relação à reformatio in pejus, convém seja feito um estudo articulado
considerando quem foi o recorrente: recurso da acusação ou recurso da defesa.

10.2. Recurso da acusação

Extensão do efeito devolutivo visando a agravar a situação jurídica do réu condenado.


O efeito devolutivo do recurso da acusação é bastante limitado quando voltado a piorar a
situação do réu. Isso porque não pode o Tribunal, por exemplo, reconhecer contra o réu
nulidade não postulada no recurso da acusação. É nesse sentido, aliás, o teor da Súmula 160
do STF, segundo a qual é nulo o acórdão que reconhece contra o réu nulidade não arguida
no recurso da acusação, excetuados os casos de reexame necessário (já que no caso de
reexame necessário, a devolução é sempre na íntegra).
Imaginemos que após ser proferida sentença absolutória o MP tenha interposto recurso
buscando exclusivamente a condenação do réu, sem arguir qualquer anulação. Nesse caso,
não poderá o Tribunal reconhecer qualquer nulidade, sob pena de haver reforma da decisão
prejudicial ao réu. Isso porque, com a declaração da nulidade, a sentença absolutória (que
favoreceu o réu) também será nula, gerando a possibilidade de ser proferida outra sentença,
agora condenatória. Eis a razão do teor da Súmula 160 do STF, ao considerar nula a decisão
do Tribunal que reconheceu nulidade não arguida pelo réu.
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10.3. Recurso da defesa


a) Extensão do efeito devolutivo visando a beneficiar o réu condenado:
Neste caso, a devolução que se opera pelo recurso defensivo é, em regra, integral,
podendo ser decididas em seu favor, no juízo ad quem, temas não enfrentados na impugnação.
b) O efeito devolutivo do recurso da defesa em face da reformatio in pejus:
Art. 617, CPP: O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos
arts. 383, 386 e 387, no que for aplicável, não podendo, porém, ser gravada a pena, quando
somente o réu houver apelado da sentença.
Ocorre a reformatio in pejus quando o Tribunal agrava a situação do réu em face de
recurso interposto exclusivamente pela defesa. A reformatio in pejus pode ser direta ou indireta.

10.4. Reformatio in pejus direta


Ocorre quando o próprio Tribunal profere decisão agravando a situação jurídica do réu ao
julgar recurso exclusivo da defesa.
Embora a apelação permita o reexame da matéria decidida na sentença, o efeito
devolutivo não é pleno, ou seja, não pode resultar do julgamento decisão desfavorável à parte
que interpôs o recurso.
Recorrendo apenas o réu, não é possível haver reforma da sentença para agravar sua
situação; recorrendo a acusação em caráter limitado, não pode o tribunal dar provimento em
maior extensão contra o apelado.
Imaginemos que o réu foi condenado à pena de 2 anos de reclusão, sendo interposto
recurso exclusivamente pela defesa (MP não recorreu). Não pode o Tribunal proferir acórdão
elevando a pena do réu, a pretexto de que o juiz de 1º grau não observou a existência de uma
agravante.

10.5. Reformatio in pejus indireta


Trata-se da anulação da sentença, por recurso exclusivo do réu, vindo outra a ser
proferida, devendo respeitar os limites da primeira, sem poder agravar a situação do acusado.

Assim, caso o réu seja condenado a 5 anos de reclusão, mas obtenha a defesa a anulação
dessa decisão, quando o magistrado – ainda que seja outro – venha a proferir outra sentença,
está adstrito a uma condenação máxima de 5 anos.
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Se pudesse elevar a pena, ao proferir nova decisão, estaria havendo uma autêntica
reforma em prejuízo da parte que recorreu.

Em tese, seria melhor ter mantido a sentença, ainda que padecendo de nulidade, pois a
pena seria menor.

Em síntese: Imagine-se que o réu, condenado a cinco anos de reclusão, recorra invocando
nulidade do processo. Considere-se, outrossim, que o Ministério Público não tenha apelado
da decisão para aumentar a pena. Se o tribunal, acolhendo o inconformismo da defesa, dar-
lhe provimento e determinar a renovação dos atos processuais, não poderá a nova sentença,
como regra, agravar a situação em que já se encontrava o réu por força da sentença, sob
pena de incorrer em reformatio in pejus indireta, ou seja, o juiz, na nova sentença, estaria
limitado a cinco anos. Se fixar pena superior a cinco anos, poderá ser alegado, em preliminar
de apelação, nulidade da sentença.
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Efeito Extensivo

Prof. Nidal Ahmad


@prof.nidal

11.1. Introdução

Conforme dispõe o artigo 580 do CPP, havendo dois ou mais réus, com idêntica
situação processual e fática, se apenas um deles recorrer e obtiver benefício, será este
aplicado também aos demais que não impugnaram a sentença ou decisão.

EXEMPLO:
Theo e Russo são condenados por terem praticado crime de roubo majorado por
emprego de arma de fogo não apreendida, considerando o magistrado desnecessária a
perícia na arma. Theo interpõe recurso de apelação buscando também afastar a majorante
do emprego de arma de fogo. O provimento do recurso, afastando a majorante, se estende
a Russo, que não havia apelado.

O efeito extensivo não se aplica quando a matéria recorrida envolver somente


circunstância de caráter pessoal. Exemplo: Na situação acima, Theo interpõe recurso de
apelação voltado à diminuição da pena, porque não foi considerada a sua menoridade (menor
de 21 anos) à época do fato. Eventual provimento do recurso não alcançará Russo, pois se
trata de circunstância pessoal, nada relacionada ao fato praticado.

Esse efeito extensivo não se restringe unicamente à apelação, sendo cabível também
nos demais recursos.
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Prisão em Flagrante

12.1 Introdução

Trata-se de medida restritiva de liberdade, de natureza cautelar e processual, consistente


na prisão, independentemente de ordem escrita do juiz competente, de quem é surpreendido
cometendo uma infração penal ou quando acabou de cometê-la, ou quando perseguido, logo
após, em situação que faça presumir ser autor da infração, ou, ainda, quando encontrado, logo
depois à prática da infração, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir
ser o autor da infração.

EM SÍNTESE:

Em síntese, a prisão em flagrante ocorre quando presente uma das hipóteses


previstas no artigo 302 do Código de Processo Penal.

A Lei nº 12.403/2011 introduziu o artigo 310, inciso II, do Código de Processo Penal,
suprimindo a possibilidade de a prisão em flagrante prender por si só, na medida em que, se
presentes os requisitos do artigo 312 do Código de Processo Penal e inadequada ou insuficiente
a aplicação das medidas cautelares diversas da prisão, o juiz deverá converter a prisão em
flagrante em prisão preventiva.

Logo, forçoso concluir que a prisão em flagrante passou a assumir natureza precautelar,
com duração limitada até a adoção pelo juiz de uma das providências do art. 310 do CPP (relaxar
a prisão em flagrante, convertê-la em prisão preventiva ou conceder a liberdade provisória).
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12.2. Espécies de flagrante

*Para todos verem: esquema.

a) Flagrante próprio
O flagrante propriamente dito está previsto no artigo 302, I e II, do CPP. Trata-se de prisão
efetivada quando o sujeito está praticando uma infração penal, ou quando acabou de cometê-la.
A prisão deve ocorrer de imediato, sem qualquer intervalo de tempo entre a prática da
infração e a detenção. Ocorre, pois, quando o agente ainda está no local do crime.

Exemplo: prisão em flagrante no exato instante em que o agente criminoso busca sair da
agência bancária onde praticava o delito de roubo.
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b) Flagrante impróprio (QUASE-FLAGRANTE)


Trata-se da hipótese em que o agente é perseguido, logo após a infração, no contexto que
faça presumir ser o autor do fato (CPP, art. 302, III).

A definição da expressão “logo após” traduz uma relação de imediatidade, com


perseguição iniciada em momento bem próximo da infração. Aqui o agente já deixou o local do
crime.
É o tempo que decorre entre a prática do delito e as primeiras coletas de informações a
respeito da identificação do autor e a direção seguida na fuga, iniciando-se, logo após,
imediatamente a perseguição. Uma vez cessada a perseguição, cessa a situação de
flagrância. Ou seja, a perseguição deve ser contínua, sem interrupções.
A concepção de perseguição pode ser extraída do art. 290, § 1º, a e b, do CPP.
Não confundir início da perseguição com duração da perseguição. O início da perseguição
deve ser logo após o fato; a perseguição, no entanto, pode perdurar por muitas horas e até dias,
por exemplo, em crime de roubo a banco, em que a polícia chega imediatamente ao local, faz o
primeiro levantamento e, de imediato, sai em perseguição dos suspeitos, que se embrenharam
numa mata por mais de 30 horas. Nesse caso, considerando que a perseguição deflagrada logo
após a prática da infração penal foi ininterrupta, eventual prisão em flagrante será legal.
Se o agente for preso após cessada a perseguição, sem mandado judicial, a prisão será
ilegal, devendo, pois, ser relaxada.

CUIDADO

A perseguição deve ser ininterrupta. Uma vez cessada a perseguição, não há mais
situação de flagrância, devendo-se, a partir de então, efetivar-se a prisão somente munido
de mandado judicial (prisão preventiva ou temporária, conforme o caso).

c) Flagrante presumido

O flagrante presumido está previsto no art. 302, IV, do CPP. Aqui o agente não é
“perseguido”, mas “encontrado”, logo depois da prática da infração penal, na posse de
instrumentos, armas, objetos ou papéis em situação que permita presumir ser ele o autor da
infração.
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Quanto ao alcance da expressão “logo depois”, a jurisprudência tem admitido prisões


ocorridas várias horas depois do crime. Não aceita, no entanto, prisão muitos dias depois ao do
crime.

12.3. Outras variações das espécies de prisão em flagrante:


a) Flagrante Provocado ou Preparado

O flagrante preparado ou provocado ocorre quando uma pessoa, policial ou particular,


provoca, induz ou instiga alguém a praticar uma infração penal, somente para poder prendê-la.
Nesse caso, não fosse a ação do agente provocador, o sujeito não teria dado início à prática do
delito, pelo menos nas circunstâncias pelas quais foi preso.

Trata-se, na verdade, de hipótese de crime impossível (CP, art. 17), já que, por força da
preparação engendrada pelo policial ou terceiro para prendê-lo, seria impossível a consumação
do crime. Em síntese, simultaneamente à indução à prática do crime, o agente provocador do
flagrante age para evitar a consumação.

É o que diz a Súmula 145 do STF: “Não há crime quando a preparação do flagrante
pela polícia torna impossível a sua consumação”.

Exemplo: Policial disfarçado encomenda de um suspeito de praticar crime de falsidade de


documento uma carteira de identidade fictícia, e, no momento combinado para a entrega
do dinheiro e o recebimento do documento falsificado, realiza a prisão em flagrante.

Em que pese a súmula mencionar somente o flagrante pela polícia, a ilegalidade também
pode decorrer de flagrante preparado por particular.

Exemplo: Suspeitando que a empregada doméstica esteja furtando objetos da residência,


dona de casa deixa uma joia na mesa de centro da sala, ficando à espreita. No momento
em que a empregada pega a joia, a dona de casa, auxiliada ou não por outras pessoas, a
detém, prendendo-a em flagrante. Trata-se de prisão ilegal, já decorrente de flagrante
preparado.

Em suma, o flagrante provocado é ilegal, devendo, pois, a prisão ser relaxada.


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b) Flagrante provocado x usuários de drogas

No contexto de droga, deve-se verificar o caso concreto e as informações que constam


no enunciado.

Imaginemos a hipótese de um policial se disfarçar de usuário de drogas. Esse policial se


aproxima do suspeito e solicita determinada quantia de drogas, que lhe é entregue pelo suspeito.
Em relação ao verbo "vender" não há dúvidas de que se trata de flagrante provocado. Todavia,
o artigo 33 da Lei de Drogas (Lei nº 11.343/2006) prevê 18 condutas. No caso, embora seja
flagrante provocado em relação à conduta vender, a prisão será legal em relação às condutas,
por exemplo, "trazer consigo", "guardar", "ter em depósito", uma vez que em relação às demais
condutas (trazer consigo, guardar etc.), o suspeito não foi provocado ou influenciado a praticar.
Ou seja, quando o policial disfarçado se aproximou, o agente já trazia consigo a droga, sendo,
em razão disso, possível sua prisão em relação a essa conduta de trazer consigo.

Agora, se o policial induz o suspeito a fornecer-lhe a droga que, no momento, não a


possuía, ou seja, que não trazia consigo, e por conta da insistência do policial empregou esforço
para conseguir, aí sim se pode falar em flagrante provocado e, portanto, ilegal, uma vez que o
suspeito somente trouxe consigo a droga, porque foi induzido pelo policial a conseguir para ele.

c) Flagrante Esperado

O flagrante esperado ocorre quando os policiais, tomando conhecimento, por fonte


segura, de que será praticado um delito, deslocam-se até o local indicado, fica de campana e
realiza a prisão quando iniciado os atos executórios do delito

O flagrante esperado não se confunde com o flagrante provocado, uma vez que, ao
contrário deste, no flagrante esperado não há indução ou instigação da autoridade policial para
que o agente dê início à execução do delito.

O flagrante esperado constitui modalidade de flagrante válido, regular e, portanto, legal.

d) Flagrante Forjado

O flagrante forjado se caracteriza pela criação de provas para forjar a prática de um crime
inexistente. Aqui a ação da autoridade policial ou de um particular visa simular um fato típico
inexistente, com o objetivo de incriminar falsamente alguém.
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Exemplo: policial coloca/enxerta droga no interior do veículo de determinada pessoa para


prendê-la pelo delito de tráfico ilícito de entorpecentes.

Trata-se de hipótese de flagrante absolutamente nulo/ilegal, merecendo, pois, ser


relaxado. Nesse caso, o único infrator será o agente forjador, que pratica o delito de denunciação
caluniosa (Art. 339, CP), e, se for agente público, também abuso de autoridade (Lei nº 4.898/65).

e) Flagrante Retardado ou Diferido ou Ação Controlada


Caracteriza-se pela possibilidade de retardar o momento da prisão em flagrante, não
obstante estar o delito em curso, justamente para buscar maiores informações ou provas contra
pessoas envolvidas em organizações criminosas ou tráfico ilícito de entorpecentes.
O flagrante retardado ou diferido funciona como autorização legal para que a prisão em
flagrante seja retardada ou protelada para outro momento, que não aquele em que o agente está
em situação de flagrância. Trata-se, pois, de uma autorização legal para que a autoridade policial
e seus agentes, que, a princípio, teriam a obrigação de efetuar a prisão em flagrante (Art. 301,
2ª parte, CPP), deixem de fazê-lo, visando a uma maior eficácia da investigação.
Há previsão de ação controlada, com destaque ao flagrante retardado ou diferido, por
exemplo no artigo 53, inciso II, da Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas) e artigo 8º da Lei nº
12.850/2013 (Lei das Organizações Criminosas).
Nos termos do artigo 53, inciso II, da Lei nº 11.343/2006, a não atuação policial na prisão
imediata em flagrante depende de autorização judicial e manifestação do Ministério Público.
Essa autorização judicial está condicionada ao conhecimento do itinerário provável e à
identificação dos agentes do delito ou de colaboradores.
Conforme o artigo 8º, §1º, da Lei nº 12.850/2013, o retardamento da intervenção policial
não exige prévia autorização judicial, mas mera comunicação ao juiz competente que, se for
o caso, fixará os limites da atuação e comunicará ao Ministério Público.
A Lei nº 9.613/98, que trata da Lavagem de Dinheiro, também prevê o instituto da ação
controlada no seu artigo 4º- B, sendo possível suspender a ordem de prisão poderá ser suspensa
pelo juiz, com prévia manifestação do Ministério Público, quando a sua execução imediata puder
comprometer as investigações.
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12.4. Procedimento para a lavratura do auto de prisão em flagrante

Auto de prisão em flagrante é o documento elaborado, em geral, sob a presidência da


autoridade policial, contendo as formalidades que revestem a prisão em flagrante, tendo por
objetivo precípuo retratar os fatos que ensejaram a restrição de liberdade do agente e, ainda,
reunir os primeiros elementos de convicção acerca da infração penal que motivou a prisão.

Uma vez preso em flagrante, por policial ou particular, o acusado deve ser conduzido à
presença da autoridade policial. Se a autoridade policial considerar se tratar de situação de
flagrância e que o fato constitui crime, determinará a lavratura do auto de prisão, incumbindo-lhe
proceder da seguinte forma:

a) Oitiva do condutor:

O condutor é a pessoa que levou o preso até a Delegacia de Polícia e o apresentou à


autoridade policial. Embora, na maioria das vezes, o condutor seja quem procedeu à prisão, não
precisa necessariamente ser o responsável pela detenção do suspeito.

Exemplo: seguranças de determinada loja prendem em flagrante uma pessoa pela prática
do delito de furto e acionam a polícia militar, que conduzem o preso à Delegacia de Polícia.
Será um dos policiais, portanto, quem apresenta o preso ao delegado de polícia, figurando,
assim, como condutor.

b) Oitiva de testemunhas:

Em seguida, devem ser ouvidas as testemunhas que acompanharam o condutor, que,


segundo o art. 304, caput, e § 1º, do CPP, devem ser, no mínimo, duas (referem-se a
“testemunhas” no plural).

Não há vedação para que sirvam como testemunhas agentes policiais.

A falta de testemunhas da infração não impedirá a lavratura do auto de prisão em


flagrante, mas, nesse caso, com o condutor deverão assinar a peça pelo menos duas pessoas
que tenham testemunhado a apresentação do preso à autoridade (Art. 304, §2º, do CPP).

Considera-se, portanto, testemunha de apresentação aquelas que presenciaram o


momento em que o condutor apresentou o preso à autoridade policial.
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c) Interrogatório do preso:

O interrogatório deve observar as mesmas formalidades exigidas para o interrogatório


judicial, previstas nos artigos 185 a 196 do CPP, dentre as quais se destaca a advertência ao
preso do seu direito constitucional ao silêncio, sem que isso possa ser interpretado em seu
desfavor (Art. 5º, inciso LXIII, da CF/889).

d) Nota de culpa:

Nos termos do artigo 306, §1º e §2º, do Código de Processo Penal, superadas essas
etapas, cumpre à autoridade policial, em até 24 horas após a realização da prisão, encaminhar
o auto de prisão em flagrante devidamente instruído ao juiz competente, bem como entregar ao
preso, no mesmo prazo, mediante recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o
motivo da prisão, o nome do condutor e os das testemunhas.

Trata-se a nota de culpa de documento por meio do qual a autoridade policial cientifica o
preso dos motivos de sua prisão, do nome do condutor e das testemunhas.

Se não for entregue nota de culpa, o flagrante deve ser relaxado por falta de formalidade
essencial.

Além disso, a Lei nº 13.257/2016, incluiu o §4º no artigo 304, segundo o qual “Da lavratura
do auto de prisão em flagrante deverá constar a informação sobre a existência de filhos,
respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual
responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa.”

12.5. Garantias Legais e Constitucionais do Preso


a) Da comunicação imediata ao juiz competente e ao Ministério

9
Esse dispositivo é fundamental para qualquer interrogatório, seja na fase de investigação ou no curso da ação penal:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da
família e de advogado;
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

De acordo com o art. 306 do CPP, a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre
serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministério Público e à família do preso
ou à pessoa por ele indicada.
O art. 5º, LXII, da CF/1988 dispõe que a prisão de qualquer pessoa e o local onde se
encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa
por ele indicada.
A ausência da comunicação imediata da prisão em flagrante ao juiz competente e ao
Ministério Público torna a prisão ilegal, devendo, portanto, ser relaxada.
b) Da comunicação imediata da prisão à família do preso ou à pessoa por ele
indicada
Nos termos do art. 306 do CPP e art. 5º, LXII e LXIII, da CF/1988, cumpre à autoridade
policial providenciar a comunicação imediata da prisão em flagrante à família do preso ou à
pessoa por ele indicada, garantindo-lhe, assim, a assistência da família.
Essa comunicação tem por objetivo certificar familiares acerca da localização do preso,
bem como viabilizar ao preso o apoio e a assistência da família.
A comunicação à família ou à pessoa pelo preso indicada constitui direito subjetivo do
flagrado. Se não for observada essa formalidade pela autoridade policial, a prisão em flagrante
será ilegal, devendo, pois, ser relaxada.
c) Da assistência de advogado ao preso
Nos termos do art. 5º, inc. LXIII, parte final, da CF/1988, o preso tem direito à assistência
da família e de advogado.
A presença de advogado não é imprescindível à lavratura do auto de prisão em flagrante.
De outro lado, se o preso constituir/contratar advogado, não cabe, à evidência, à autoridade
policial vedar a presença do advogado constituído nos atos que integram a lavratura do auto de
prisão em flagrante, podendo o profissional acompanhar a oitiva do condutor, das testemunhas,
bem como o interrogatório do flagrado.
Se o flagrado não informar o nome do seu advogado, deverá a autoridade policial
encaminhar, em até 24 h, cópia integral do APF à Defensoria Pública, nos termos do art. 306, §
1º, do CPP.
Em síntese, a inobservância de qualquer dessas formalidades gera a ilegalidade da prisão
em flagrante, devendo o juiz, ao receber os autos, deixar de homologar o auto de prisão em
flagrante e determinar o relaxamento da prisão por ilegalidade formal.
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Garantias Legais e Constitucionais do Preso


• Comunicação ao juiz (imediata);
• Comunicação ao Ministério Público; A falta é ilegal
• Comunicação à família ou quem indique;
• Assistência de advogado indicado;

12.6. Providências judiciais ao receber o auto de prisão em flagrante


Nos termos da redação dada pela Lei 13.964/ 2019 ao caput do artigo 310 do CPP, após
receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a
realização da prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia com a presença do acusado,
seu advogado constituído ou membro da Defensoria Pública e o membro do Ministério Público,
e, nessa audiência, o juiz deverá, fundamentadamente:
a) Relaxar o flagrante;
b) Converter a prisão em flagrante em prisão preventiva;
c) Conceder liberdade provisória (com ou sem fiança ou medidas cautelares);
Convém notar que, pela dicção do artigo 310 do CPP, via de regra, o juiz deverá analisar
a possibilidade de relaxamento de prisão, conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva
ou concessão da liberdade provisória na própria audiência de custódia, o que denota a oralidade
do ato, restringindo a possibilidade de peça prisional escrita.
De todo modo, ainda que mais limitada por força das alterações introduzidas pelo
chamado Pacote Anticrime, não se pode desprezar a hipótese de requerimento escrito buscando
a liberdade do flagrado.
Nesse sentido, num primeiro momento, o Magistrado deverá analisar o aspecto formal, a
legalidade do auto de prisão em flagrante, bem como se há situação de flagrância, conforme as
hipóteses do art. 302 do CPP. Se observadas as formalidades, o juiz homologa; na hipótese de
alguma ilegalidade, seja formal ou material, o juiz deverá relaxar a prisão em flagrante.
Num segundo momento, uma vez homologado o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá
verificar a necessidade de conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva ou a
concessão de liberdade provisória, com ou sem fiança e a eventual imposição de medida cautelar
diversa.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

Sendo legal a prisão em flagrante, o juiz deve verificar se concederá a liberdade provisória
ou se converterá a prisão em flagrante em prisão preventiva.10
Convém ressaltar, por pertinente, que a prisão preventiva somente poderá ser decretada
em substituição da prisão em flagrante se estiverem presentes os requisitos do art. 312 do CPP
e se não for sufi ciente outra medida diversa da prisão, bem como se presente uma das hipóteses
do art. 313 do CPP.
Assim, pela leitura do art. 310, II, CPP, verifica-se que a prisão preventiva é a última ratio
das medidas cautelares. Ela somente deve ser decretada quando todas as demais medidas
cautelares se revelarem inadequadas e insuficientes para o caso concreto. Em outras palavras,
a insuficiência das medidas cautelares diversas da prisão (aquelas previstas no art. 319 do CPP)
passou a ser mais um requisito para o cabimento da prisão preventiva.
Logo, por ser medida de caráter excepcional, o juiz somente poderá converter a prisão em
flagrante em prisão preventiva se estiverem presentes os requisitos dos arts. 312 e 313, ambos
do CPP.
Em síntese: Com a nova redação do artigo 310, “caput”, do CPP, O juiz, deverá,
fundamentadamente, converter a prisão em flagrante em preventiva, desde que:
a) a prisão seja legal;
b) as medidas cautelares diversas da prisão se revelarem inadequadas ou
insuficientes;
c) o agente não tenha praticado o fato ao amparo das causas de exclusão da ilicitude
previstas no art. 23 do CP;
d) estejam presentes os requisitos dos arts. 312 e 313 do CPP;
Caso contrário, será concedida liberdade provisória (com ou sem fiança ou cautelar
diversa da prisão).
Como dito, ainda que mais restrita tal hipótese, já que, a princípio, o juiz proferirá decisão
em audiência de custódia, depois de ouvir o Ministério Público e a defesa, não se pode desprezar
a hipótese de requerimento escrito buscando a liberdade do flagrado.

10
Antes da Lei nº 12.403/2011, o agente ficava preso em decorrência da prisão em flagrante. O Juiz
simplesmente.
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Relaxamento de Prisão

Prof. Me. Mauro Stürmer


@prof.maurosturmer

13.1. Relaxamento de prisão11

Identificação: o pedido de relaxamento de prisão guarda relação com PRISÃO ILEGAL.

PRISÃO ILEGAL RELAXAMENTO DE PRISÃO

PEDIU PRA PARAR

Expressão mágica: Peça:

“Prisão ILEGAL Relaxamento de prisão

PAROU!
13.4. Base Legal
Artigo 310, inciso I, CPP e Artigo 5º, inciso LXV, da CF/88.

13.3. Conteúdo
A prisão ilegal pode decorrer de ilegalidade formal e/ou material.

a) Ilegalidade Formal
Ocorre quando o auto de prisão em flagrante não observou as formalidades
procedimentais previstas, por exemplo, nos arts. 304 e 306 do CPP e dos incisos do art. 5º da
CF/1988, notadamente LXI a LXIV.
As ilegalidades formais podem ocorrer durante ou depois da lavratura do auto de prisão
em flagrante.
Algumas ilegalidades formais:

11
A peça resolvida encontra-se no capítulo destinado às peças prático-processuais.
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• Inobservância das formalidades legais e constitucionais na lavratura do APF.


• Não comunicação imediata da prisão à autoridade judiciária.
• Não comunicação imediata ao Ministério Público
• Não encaminhamento do APF à Defensoria Pública, quando o autuado não informa
nome de advogado.
• Não entrega da nota de culpa no prazo de 24 horas.
• Não viabilizar assistência de advogado.
• Não comunicação imediata à família.
• Falta de representação do ofendido, sendo hipótese de prisão decorrente de crime
de ação penal pública condicionada à representação.
• Ausência de requerimento da vítima na hipótese de prisão em flagrante por crime
de ação penal privada;
• Inversão da ordem de oitiva prevista no Art. 304 do CPP.
• Falta de laudo de constatação da natureza da substância entorpecente (Art. 50,
§1º, da Lei 11.343/2006).
• Não realização da audiência de custódia.
b) Ilegalidade Material
Além das formalidades legais e constitucionais para a lavratura do Auto de Prisão em
Flagrante, devem estar presentes situações autorizadoras da prisão em flagrante.
Nesse sentido, se a prisão realizada não se enquadra em nenhuma das hipóteses do
artigo 302 do Código de Processo Penal, a prisão será materialmente ilegal. Em outras palavras,
se não estiver configurada nenhuma das hipóteses de flagrância, a prisão é ilegal.
Assim, em tese, a ilegalidade da prisão em flagrante, na forma material, ocorre
invariavelmente antes do início da lavratura do auto de prisão em flagrante.
Algumas ilegalidades materiais:
• Preso sem estar em situação de flagrância (art. 302, CPP);
• Flagrante preparado/provocado – Súmula 145 do STF;
• Flagrante forjado;
• Preso por fato atípico;

16.4. Estrutura da Peça Relaxamento de Prisão


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A) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA CRIMINAL DO


TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA... (se crime doloso contra a vida da competência da
justiça estadual)
B) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ... VARA CRIMINAL DA
JUSTIÇA FEDERAL DO TRIBUNAL DO JÚRI DA SEÇÃO JUDICIÁRIA... (se crime doloso
contra a vida da competência da justiça federal)
C) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA CRIMINAL DA
COMARCA... (se crime da competência da justiça estadual)
D) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ... VARA CRIMINAL DA
JUSTIÇA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE... (se crime da competência da justiça
federal)

Autos nº

FULANO DE TAL, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., RG nº...,


endereço eletrônico..., residente e domiciliado ..., por seu procurador infra-assinado, com
procuração em anexo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência requerer o
RELAXAMENTO DA PRISÃO EM FLAGRANTE, com base no artigo 310, inciso I,
Código de Processo Penal e artigo 5º, inciso LXV, da Constituição Federal/88, pelos
fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos:

I) DOS FATOS
II) DO DIREITO12
III) DO PEDIDO

Ante o exposto, requer:


a) O RELAXAMENTO DA PRISÃO EM FLAGRANTE, a fim de que possa
responder a eventual processo em liberdade;
b) A expedição do respectivo alvará de soltura;

12
Buscar no enunciado informações que permitam desenvolver teses voltadas à ilegalidade formal e/ou material, bem como
eventual medida cautelar diversa da prisão.
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c) Vista ao Ministério Público

Nestes termos, pede deferimento.

Local..., data...

ADVOGADO...

OAB...
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13.5. Peça Resolvida


No dia 10 de março de 2020, após ingerir um litro de vinho na sede de sua fazenda, José Alves
pegou seu automóvel e passou a conduzi-lo ao longo da estrada que tangencia sua propriedade
rural. Após percorrer cerca de dois quilômetros na estrada absolutamente deserta, José Alves
foi surpreendido por uma equipe da Polícia Militar que lá estava a fim de procurar um indivíduo
foragido do presídio da localidade. Abordado pelos policiais, José Alves saiu de seu veículo
trôpego e exalando forte odor de álcool, oportunidade em que, de maneira incisiva, os policiais
lhe compeliram a realizar um teste de alcoolemia em aparelho de ar alveolar. Realizado o teste,
foi constatado que José Alves tinha concentração de álcool de um miligrama por litro de ar
expelido pelos pulmões, razão pela qual os policiais o conduziram à Unidade de Polícia
Judiciária, onde foi lavrado Auto de Prisão em Flagrante pela prática do crime previsto no artigo
306 da Lei 9.503/1997, sendo-lhe negado no referido Auto de Prisão em Flagrante o direito de
entrevistar-se com seus advogados ou com seus familiares.
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Dois dias após a lavratura do Auto de Prisão em Flagrante, em razão de José Alves ter
permanecido encarcerado na Delegacia de Polícia, você é procurado pela família do preso, sob
protestos de que não conseguiam vê-lo e de que o delegado não comunicara o fato ao juízo
competente, tampouco à Defensoria Pública.

Com base somente nas informações de que dispõe e nas que podem ser inferidas pelo caso
concreto acima, na qualidade de advogado de José Alves, redija a peça cabível, exclusiva de
advogado, no que tange à liberdade de seu cliente, questionando, em juízo, eventuais
ilegalidades praticadas pela Autoridade Policial, alegando para tanto toda a matéria de direito
pertinente ao caso. (Valor 5,00).
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA... VARA CRIMINAL DA


COMARCA...

Autos nº...

JOSÉ ALVES, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., RG..., CPF...,


endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua..., vem, por seu procurador infra-
assinado, com procuração em anexo, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência,
requerer o RELAXAMENTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE, com base no artigo 310, inciso
I, do Código de Processo Penal e artigo 5º, inciso LXV, da Constituição Federal/88, pelos
fatos e fundamentos a seguir expostos:

I) DOS FATOS
O requerente foi preso em flagrante, acusado de ter praticado o delito previsto
no artigo 306 da Lei nº 9.503/97.
O requerente foi compelido a realizar o teste de alcoolemia em aparelho
alveolar, sendo-lhe negado no auto de prisão em flagrante o direito de se entrevistar com
advogado e com seus familiares.
O requerente permaneceu preso dois dias após a lavratura da prisão em
flagrante, sendo que a autoridade policial não comunicou o fato ao juízo competente nem à
Defensoria Pública.

II) DO DIREITO

A) DA PROVA ILÍCITA
O requerente foi compelido a realizar o teste de alcoolemia em aparelho de ar
alveolar. Todavia, trata-se de prova ilícita, porque violou o direito do requerente de não
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

produzir prova contra si mesmo, previsto no artigo 5º, inciso LXIII, da Constituição
Federal/88 e artigo 8º, § 2, alínea “g”, do Decreto 678/92.
Além disso, o requerente foi forçado a realizar o teste de alcoolemia. Logo,
trata-se de prova ilícita, nos termos do artigo 157 do Código de Processo Penal, e artigo 5º,
inciso LVI, da Constituição Federal/88.

B) DO DIREITO À ADVOGADO E COMUNICAÇÃO À FAMÍLIA

A autoridade policial negou ao requerente o direito de se entrevistar com

advogado, bem como não permitiu comunicação com a família.

Todavia, nos termos do artigo 306, § 1º, do Código de Processo Penal, e artigo
5º, inciso LXIII, da Constituição Federal/88, o preso tem direito à assistência de advogado.

Logo, deveria a autoridade policial viabilizar a presença de advogado ou encaminhar a cópia

dos autos à defensoria Pública.

Além disso, a família do preso não foi imediatamente comunicada sobre a

prisão, havendo, portanto, violação ao artigo 306, “caput”, do Código de Processo Penal, e

artigo 5º, inciso LXII, da Constituição Federal/88.

C) DA AUSÊNCIA DE COMUNICAÇÃO AO JUIZ COMPETENTE E À


DEFENSORIA PÚBLICA
A autoridade policial não comunicou a prisão ao juiz competente, nem tampouco
à Defensoria Pública.
Todavia, nos termos do artigo 306, § 1º, do Código de Processo Penal, e artigo
5º, inciso LXII, da Constituição Federal, a prisão deveria ser comunicada imediatamente ao
juiz competente, bem como à Defensoria Pública, no prazo de 24 horas.
Logo, trata-se de prisão ilegal.

D) DA NOTA DE CULPA
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Após o decurso de dois dias da lavratura da prisão em flagrante, o Delegado


não havia comunicado e, portanto, encaminhado os autos ao juiz competente, não
entregando, pois, a nota de culpa.

Todavia, conforme o artigo 306, §2º, do Código de Processo Penal, no prazo de


24 horas após a realização da prisão, deveria ser entregue a nota de culpa ao flagrado.
Logo, trata-se de prisão ilegal.

III) DO PEDIDO
Ante o exposto, requer:
a) O relaxamento da prisão em flagrante;
b) Expedição do alvará de soltura;
c) Vista ao Ministério Público.

Nestes termos,

Pede deferimento.

Local... e data...
Advogado...
OAB...
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Liberdade provisória

14.1. Introdução

Entende-se por liberdade provisória o instituto destinado a conferir ao acusado o direito


de responder ao processo em liberdade, mediante o cumprimento ou não de determinadas
condições.
Nas palavras de Avena, com o advento da Lei nº 11.719/2008, modificada a redação do
artigo 408 (que restou substituído pelo atual Art. 413) e revogado o artigo 594, ficou o instituto
da liberdade provisória limitado à prisão em flagrante.13
Esse também é o entendimento de Nucci14, segundo o qual “a liberdade provisória, com
ou sem fiança, é um instituto compatível com a prisão em flagrante, mas não com a prisão
preventiva ou temporária. Nessas duas últimas hipóteses, vislumbrando não mais estarem
presentes os requisitos que a determinam, o melhor a fazer é revogar a custódia cautelar, mas
não colocar o réu em liberdade provisória, que implica sempre o respeito a determinadas
condições”
A liberdade provisória está prevista no artigo 310, inciso III, do Código de Processo Penal,
segundo o qual ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz poderá, fundamentadamente,
conceder a liberdade provisória, com ou sem fiança. Está prevista ainda no artigo 5º, inciso LXVI,
da Constituição Federal/88, ninguém será levado à prisão ou nela mantido quando a lei admitir
a liberdade provisória, com ou sem fiança.
Além disso, o artigo 321 do Código de Processo Penal dispõe que, ausentes os requisitos
que autorizam a decretação da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória,
impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no artigo 319 do Código de Processo
Penal e observados os critérios constantes do artigo 282 do Código de Processo Penal.

Segundo Lopes Júnior, a liberdade provisória é disposta como uma medida cautelar (na
verdade, uma contracautela), alternativa à prisão preventiva, nos termos do artigo 310, inciso III,

13
AVENA, Norberto. Processo Penal Esquematizado. São Paulo: Método. 2013. p. 973.
14
NUCCI, Guilherme Souza. Código de Processo Penal Comentado. São Paulo: RT. 2016, p. 785.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

do Código de Processo Penal. No sistema brasileiro, situa-se após a prisão em flagrante e antes
da prisão preventiva, como medida impeditiva da prisão cautelar [...]. É a liberdade provisória
uma forma de evitar que o agente preso em flagrante tenha sua detenção convertida em
preventiva.15

14.2. Identificação

PEDIU PRA PARAR

Expressão mágica: Peça:

“Prisão flagrante LEGAL” Liberdade provisória

PAROU!
14.3. Base legal
Art. 310, inciso III, CPP, art. 321 do CPP e art. 5º, inciso LXVI da CF/88.

14.4. Conteúdo
Se a prisão em flagrante se revestir de legalidade, pode o magistrado conceder a liberdade
provisória sem nenhuma restrição, ou, ao contrário, impor ao agente a prestação de fiança e/ou
outra medida cautelar diversa da prisão.
Nos crimes afiançáveis, ausentes os requisitos que autorizam a prisão preventiva, é
possível a concessão da liberdade provisória com fiança.
Convém registrar, por pertinente, que há crimes inafiançáveis, tais como os crimes de
racismo, tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo, crimes hediondos, bem
como crimes cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e
o Estado Democrático. É o que se extrai do artigo 323 do Código de Processo Penal e artigo 5º,
XLII e XLIII, Constituição Federal/88. Nesses casos, se ausentes os requisitos da prisão
preventiva, será possível a concessão da liberdade provisória vinculada a fixação de uma medida
cautelar diversa da prisão, salvo a fiança. Eis as hipóteses de liberdade provisória sem fiança:
a) Ausência dos fundamentos da prisão preventiva: art. 321, CPP

15
LOPES JÚNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 9ª ed. São Paulo: Saraiva. 2016, p. 703
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

Nos termos do artigo 321 do Código de Processo Penal, ausentes os requisitos da prisão
preventiva, o juiz deverá conceder a liberdade provisória, sendo-lhe facultado, com a observância
dos critérios da necessidade e da adequação previstos no artigo 282 do Código de Processo
Penal, exigir a prestação de fiança com a finalidade de assegurar o comparecimento a atos do
processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem
judicial, bem como aplicar outras medidas cautelares diversas da prisão previstas no artigo 319
do Código de Processo Penal.
Se o crime for inafiançável racismo, tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins,
terrorismo, crimes hediondos, bem como crimes cometidos por grupos armados, civis ou
militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (Art. 323 do CPP e Art. 5º, incisos
XLII e XLIII, da CF/88), busca-se a liberdade provisória, com pedido subsidiário de fixação de
medida cautelar diversa da prisão.
b) Quando houver indicativos de que o agente praticou a infração penal abrigado
por excludentes de ilicitude: art. 310, §1º, CPP
Trata-se da hipótese em que os elementos constantes no auto de prisão em flagrante
indicam ter o agente praticado o fato em situação de legítima defesa, estado de necessidade,
exercício regular do direito ou estrito cumprimento do dever legal.
Nesses casos, deverá o juiz conceder a liberdade provisória ao agente,
independentemente se o fato praticado caracteriza delito afiançável ou inafiançável.
Embora não esteja previsto no artigo 310, §1º, do Código de Processo Penal, parte da
doutrina entende possível a concessão da liberdade provisória nas hipóteses de excludente de
culpabilidade (embriaguez acidental completa, coação moral irresistível, erro de proibição, etc),
uma vez que, ao final, o agente não será privado de liberdade.

14.5. Liberdade provisória x tráfico ilícito de entorpecentes


A jurisprudência e a doutrina oscilavam em relação ao artigo 44 da Lei nº 11.343/2006,
que veda a concessão de liberdade provisória no crime de tráfico ilícito de entorpecentes.
Todavia, o STF, no julgamento do HC 104.339/SP, considerou inconstitucional o disposto
no artigo 44 da Lei nº 11.343/2006 também na parte que veda a concessão da liberdade
provisória, sob o fundamento de que o dispositivo viola o princípio da presunção da inocência e
da dignidade da pessoa humana, bem como que a Lei nº 11.464/2007, ao excluir dos crimes
hediondos e equiparados a vedação à liberdade provisória, sendo posterior à Lei de Drogas,
revogou, tacitamente, o artigo 44 desta Lei, que proibia o benefício ao crime de tráfico de drogas.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

Assim, é possível conceder a liberdade provisória ao agente preso em flagrante pelo delito
de tráfico ilícito de entorpecentes, desde que ausentes os requisitos que autorizam a decretação
da prisão preventiva.
Inconstitucionalidade do artigo 44 da Lei n. 11.343/2006 na parte que veda a concessão
da liberdade provisória.
Ofensa ao princípio da presunção da inocência, previsto no artigo 5º, inciso LVII, da
CF/88.
Ofensa ao princípio da dignidade da pessoa humana, previsto no artigo 1º, inciso
III, da CF/88.
Ofensa ao princípio da dignidade da pessoa humana, previsto no artigo 1º, inciso
III, da CF/88.

14.6. Liberdade Provisória X Proibição do Art. 310, §2º, CPP


Ainda que de uma constitucionalidade duvidosa, temos o §2º, do artigo 310 do
Código de Processo Penal que traz, ex lege, a impossibilidade de concessão da liberdade
provisória, a saber:
“§ 2º Se o juiz verificar que o agente é reincidente ou que integra organização criminosa
armada ou milícia, ou que porta arma de fogo de uso restrito, deverá denegar a liberdade
provisória, com ou sem medidas cautelares.”
A nosso sentir, acreditamos em uma futura declaração de inconstitucionalidade do
mencionado dispositivo, mas, por ora, não temos seu reconhecimento formal.
14.7. Estruturação
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

A) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA... VARA CRIMINAL DA


COMARCA... (se crime da competência da justiça estadual)
B) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE FEDERAL DA... VARA CRIMINAL
DA JUSTIÇA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA... (se crime da competência da
justiça federal)
C) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA... VARA CRIMINAL DO
TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA... (se crime doloso contra a vida de competência
da justiça estadual)
D) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA... VARA CRIMINAL DA
JUSTIÇA FEDERAL DO TRIBUNAL DO JÚRI DA SEÇÃO JUDICIÁRIA... (se crime
doloso contra a vida de competência da justiça federal)

Autos nº

FULANO DE TAL, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., RG nº..., endereço


eletrônico..., residente e domiciliado ..., por seu procurador infra-assinado, com procuração
em anexo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência requerer a LIBERDADE
PROVISÓRIA, com base no artigo 310, inciso III e artigo 321, ambos do Código de
Processo Penal, e artigo 5º, inciso LXVI, da Constituição Federal/88, pelos fatos e
fundamentos jurídicos a seguir expostos:

I) DOS FATOS16
II) DO DIREITO17

* Fazer referência, se for o caso, a fiança e/ou medidas cautelares diversas


da prisão previstas no artigo 319 e 320 do CPP.

III) DO PEDIDO
Ante o exposto, requer:

16
Fazer um breve relato dos fatos. Não inventar dados. Relatar como ocorreu a prisão.
17
Buscar no enunciado informações que permitam desenvolver teses voltadas à ilegalidade formal e/ou material.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

a) a concessão da LIBERDADE PROVISÓRIA, a fim de que possa


responder a eventual processo em liberdade;
b) a expedição do respectivo alvará de soltura;
c) fixação de fiança e/ou medida cautelar diversa da prisão;
d) vista ao Ministério Público.

Nestes termos, pede deferimento.

Local..., data...

ADVOGADO...
OAB...
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

14.8. Peça Resolvida


No dia 15 de janeiro de 2022, por volta das 14 horas, na Rua das Mocas, nº 2000, São Paulo/SP,
Josué da Silva foi preso em flagrante pela prática do delito de receptação, previsto no artigo 180,
“caput”, do Código Penal, acusado de estar conduzindo veículo automotor que sabia ser produto
de crime. Ao ser interrogado, Josué disse que era trabalhador e que tinha carteira de trabalho,
embora estivesse, na ocasião, desempregado. Ao analisar a folha de antecedentes criminais de
Josué, a autoridade policial constatou que o flagrado respondia a processo pelo delito de furto.
Diante dessa anotação na Folha de Antecedentes Criminais de Josué, a autoridade policial
representou pela conversão da prisão em flagrante em preventiva, afirmando que existiria risco
concreto para a ordem pública, pois o indiciado possuía outros envolvimentos com o aparato
judicial. Você, como advogado(a) indicado por Josué, é comunicado da ocorrência da prisão em
flagrante, além de tomar conhecimento da representação formulada pelo Delegado. Da mesma
forma, o comunicado de prisão já foi encaminhado para o Ministério Público e para o magistrado,
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

sendo todas as legalidades da prisão em flagrante observadas. O juiz recebeu o auto de prisão
em flagrante, deixando para se manifestar na audiência de custódia. Josué, no entanto,
desesperado com a situação disse para você, na condição de advogado (a), buscar soltá-lo o
mais rápido possível, antes mesmo da designação da audiência de custódia.
Com base somente nas informações de que dispõe e nas que podem ser inferidas pelo caso
concreto acima, na qualidade de advogado(a) de Josué, redija a peça cabível, exclusiva de
advogado, em favor do seu cliente, apontando os argumentos e fundamentos jurídicos
pertinentes ao caso. (Valor: 5,00)
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ...VARA CRIMINAL DA


COMARCA DE SÃO PAULO/SP

Autos nº

Josué da Silva, nacionalidade, estado civil, desempregado, RG..., CPF...,

residente e domiciliado..., por seu procurador infra-assinado, vem, respeitosamente, à

presença de Vossa Excelência, requerer a presente LIBERDADE PROVISÓRIA, com base

no artigo 310, inciso III, do Código de Processo Penal, artigo 321 do Código de Processo

Penal e artigo 5º, LXVI, da Constituição Federal/88, pelos fatos e fundamentos a seguir

expostos:

I) DOS FATOS
O requerente foi preso em flagrante, acusado de ter praticado o delito de
receptação, previsto no artigo 180, “caput”, do Código Penal.
O auto de prisão em flagrante observou todas as formalidades e foi
encaminhado, no prazo legal, ao Poder Judiciário.

II) DO DIREITO
A) Da impossibilidade de conversão da prisão em flagrante em prisão
preventiva
O requerente foi preso em flagrante acusado de ter praticado o delito de
receptação, previsto no artigo 180, “caput”, do Código Penal.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

Todavia, nos termos do artigo 313, inciso I, do Código de Processo Penal, se


o acusado não for reincidente em crime doloso, somente será admitida a prisão preventiva
nos crimes dolosos punidos com pena máxima privativa de liberdade superior a quatro
anos.
Logo, no caso, considerando que o acusado não é reincidente e o crime de
receptação simples prevê a pena máxima de quatro anos, não é possível a conversão da
prisão em flagrante em prisão preventiva, já que não estão presentes nenhuma das
hipóteses do artigo 313 do Código de Processo Penal.
Diante disso, a medida cabível é a concessão da liberdade provisória.

B) Da ausência dos requisitos da prisão preventiva


A autoridade policial representou pela conversão da prisão em flagrante em
prisão preventiva, para preservação da ordem pública. Todavia, não estão presentes os
requisitos que autorizam a prisão preventiva, uma vez que o requerente é primário, além
de ser trabalhador, embora esteja desempregado.

Logo, o requerente não representa perigo à ordem pública, ordem econômica,

à conveniência da instrução criminal e aplicação da lei penal, estando, portanto, ausentes

os fundamentos do artigo 312 do Código de Processo Penal.

Assim, deve-se conceder a liberdade provisória, nos termos do artigo 321 do

Código de Processo Penal.

C) Do princípio da presunção da inocência


Convém destacar que prevalece no nosso ordenamento jurídico o princípio da
presunção da inocência, previsto no artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal/88,
razão pela qual deve o requerente responder a eventual procedimento criminal em
liberdade.
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D) Da fiança ou medida cautelar diversa da prisão


Na hipótese de não ser concedida a liberdade plena, cabe, no caso, a
concessão de fiança ao requerente, uma vez que o delito pelo qual está sendo acusado
não se enquadra nas hipóteses de inafiançabilidade previstas nos artigos 323 e 324, ambos
do Código de Processo Penal.
Em não sendo fixada fiança, postula-se, ainda de forma subsidiária, a fixação
de outra medida cautelar diversa da prisão, prevista no artigo 319 do Código de Processo
Penal, por ser tratar de medida mais conveniente e adequada do que a conversão da prisão
em flagrante em prisão preventiva, nos termos do artigo 282 do Código de Processo Penal.

III) DO PEDIDO

Ante o exposto, requer:

a) a concessão da liberdade provisória, a fim de que possa responder eventual

processo em liberdade;

b) Subsidiariamente, requer seja concedida a fiança ou outra medida cautelar

diversa da prisão;

c) Expedição de alvará de soltura;

d) Vista ao Ministério Público.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Local... e data...

Advogado...
OAB...
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Prisão Preventiva

Prof. Me. Mauro Stürmer


@prof.maurosturmer

15.1 Conceito
Trata-se de modalidade de prisão processual decretada exclusivamente por juiz
competente quando presentes os pressupostos e as hipóteses previstas em lei (Arts. 312 e 313,
ambos do CPP).
Possui natureza cautelar, uma vez que visa a tutela da sociedade, da investigação criminal
e garantir a aplicação da pena. Por se tratar de medida cautelar, pressupõe a coexistência do
fumus bonis iuris (ou fumus comissi delicti) e do periculum in mora (ou periculum libertatis).
Como repercute na esfera da liberdade do acusado, que constitui direito e garantia
fundamental do cidadão, a possibilidade de decretação da prisão preventiva encontra
embasamento também no artigo 5º, especificamente no inciso LXI, da Constituição Federal/88,
que permite a prisão provisória, antes do trânsito em julgado da sentença condenatória, desde
que precedida de ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente. Em
síntese, somente é possível decretar a prisão preventiva por “ordem escrita e fundamentada da
autoridade judiciária competente”.
Conforme dispõe o artigo 283, §2º, do Código de Processo Penal, a prisão poderá ser
efetuada em qualquer dia e a qualquer hora, respeitada a garantia fundamental da inviolabilidade
do domicílio, prevista no artigo 5º, inciso XI, da Constituição Federal/88, segundo o qual salvo na
hipótese de prisão em flagrante, a prisão somente pode ser efetivada mediante ordem escrita e
fundamentada da autoridade judiciária competente.
De acordo com o artigo 293 do Código de Processo Penal, durante o período noturno, no
caso de prisão preventiva e temporária, em que se exige mandado de prisão expedido por juiz
competente, é vedado à autoridade policial ingressar em domicílio alheio para efetivar a prisão
do suspeito. Todavia, nesse caso, se o morador consentir com o ingresso no seu domicílio, a
autoridade policial poderá efetivar a prisão.
Durante o período noturno, se o morador não permitir o ingresso no seu domicílio, a
autoridade policial deverá aguardar o amanhecer, com os primeiros raios solares, para invadir,
com ou sem consentimento do morador, a residência e aí sim efetivar a prisão. Se invadir sem
permissão do morador, a prisão será ilegal, devendo ser relaxada.
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O mandado de prisão deverá preencher os requisitos do artigo 285, parágrafo único, do


Código de Processo Penal.

15.2 Legitimação
Diante do que dispõe o artigo 5º, inciso LXI, da Constituição Federal/88, no sentido de que
ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de
autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente
militar, definidos em lei, resta claro que a prisão preventiva somente pode ser decretada por
ordem judicial.
Nesse caso, o Magistrado decreta, durante a investigação criminal ou ação penal, a prisão
preventiva, que deve ser cumprida mediante a expedição do respectivo mandado. A prisão
preventiva pode ser decretada em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal.
Conforme nova redação do artigo 311 do CPP, dada pela Lei n. 13.964/2019, não é
possível ao juiz decretar de ofício a prisão preventiva em qualquer fase da persecução penal.
Agora, portanto, o juiz não poderá decretar prisão preventiva de ofício nem mesmo na fase do
processo penal.
Assim, durante a investigação policial, o juiz somente poderá decretar a prisão preventiva
a requerimento do Ministério Público ou representação da autoridade policial.
Durante a ação penal, a decretação da prisão preventiva pode ser decretada mediante
requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente de acusação.
Se em qualquer fase da persecução penal o juiz decretar de ofício, a prisão preventiva
será ilegal, cabendo, nesse caso, relaxamento de prisão.

15.3 Pressupostos
15.3.1. Fumus Comissi Delicti
Nos termos da parte final do art. 312 do CPP, a prisão preventiva somente é possível, se,
no caso concreto, houver indícios suficientes de autoria e prova da materialidade:

Indícios Prova da
Pressupostos
Suficientes de Materialidade
da Preventiva
Autoria do Crime
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Como o dispositivo se refere expressamente a “crime”, forçoso concluir que não cabe
prisão preventiva nas contravenções penais.

15.4 Periculum libertatis: Perigo gerado pelo estado de liberdade do


imputado
Além da prova da materialidade e indícios suficientes de autoria, afigura-se necessária a
presença de perigo decorrente do estado de liberdade do acusado, conforme passou a constar
expressamente na parte final do artigo 312 do CPP, a partir da nova redação dada pela Lei n.
13.964/2019.
Na verdade, não se trata propriamente de uma novidade introduzida pelo legislador, uma
vez que se mostra sintomático o perigo gerado pelo estado de liberdade do acusado para
legitimar a prisão preventiva.
Além disso, a decisão que decretar a prisão preventiva deve ser motivada e fundamentada
em receio de perigo e existência concreta de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a
aplicação da medida adotada (CPP, art. 312, § 2º).
Trata-se da consolidação na lei da orientação jurisprudencial no sentido da
impossibilidade de decretação da prisão preventiva com base na gravidade em abstrato do delito.
Portanto, não se afigura possível ao Magistrado fundamentar decisão de decreto da prisão
preventiva com base na gravidade em abstrato do delito, bem como em relação a fatos pretéritos,
que não estão presentes, portanto, no momento da decisão. Assim, não constitui, por exemplo,
fundamentação idônea decretar prisão preventiva do réu por eventual ameaça proferida um ano
antes da decisão.
O periculum libertatis encontra-se consubstanciado numa das hipóteses previstas no
artigo 312 do CPP.
a) Garantia da ordem pública:

A prisão preventiva para garantia da ordem pública somente deve ocorrer em hipóteses
de crimes que se revestem de especial gravidade no caso concreto, seja pela pena prevista,
seja, sobretudo, pelos meios de execução utilizados. Cabe, ainda, prisão preventiva para
garantia da ordem pública diante do risco de reiteradas investidas criminosas e quando presente
situação de comprovada intranquilidade coletiva no seio social ou de uma determinada
comunidade.
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A gravidade em abstrato do crime não autoriza a prisão preventiva. O juiz deve analisar a
gravidade de acordo com as circunstâncias do caso concreto. Se não fosse assim, todo crime
de homicídio ou de roubo, por serem abstratamente graves, autorizariam a prisão preventiva
compulsória.

EM SÍNTESE:

A gravidade em concreto que autoriza a prisão preventiva é aquela revelada não só pela
pena abstratamente prevista para o crime, mas também pelos meios de execução, quando a
perversidade e o desprezo pelo bem jurídico atingido reclamarem medidas imediatas para
assegurar a ordem pública, decretando-se a prisão preventiva. Diante disso, a gravidade em
abstrato não constitui motivo idôneo a embasar um decreto de preventiva, devendo o Magistrado
fundamentar sua decisão, nos termos do artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal/88, artigo
5º, inciso LXI, da Constituição Federal/88, bem como artigo 315 do Código de Processo Penal.

Ressalta-se, por pertinente, que o clamor público, por si só, não autoriza o decreto da
prisão preventiva, servindo como uma referência adicional para o exame da necessidade da
custódia cautelar, devendo, portanto, estar acompanhado de situação concreta excepcional, que
justifique a prisão processual.

b) Conveniência da instrução criminal:


É empregada quando houver risco efetivo para a instrução criminal e não meras suspeitas
ou presunções. Ou seja, simples receio ou medo da vítima ou testemunha em relação ao
acusado, não autoriza o decreto da prisão preventiva.
Não cabe prisão preventiva com fundamento na conveniência da instrução criminal
quando se pretende interrogar ou compelir o acusado a participar de algum ato probatório
(acareação, reconstituição ou reconhecimento), sobretudo pela violação ao direito ao silêncio.
Se a prisão preventiva foi decretada exclusivamente com base na conveniência da
instrução criminal, uma vez encerrada a instrução, não há mais motivo para subsistir o decreto,
impondo-se, então, a revogação, conforme se infere dos artigos 316 e 282, §5º, ambos do Código
de Processo Penal. Do contrário, passa a preventiva a se constituir uma forma de execução
antecipada de pena, configurando constrangimento ilegal.

ATENÇÃO

Mera suspeita de fuga não autoriza a preventiva!


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c) Garantia da aplicação da lei penal:


Significa assegurar a finalidade útil do processo penal, que é proporcionar ao Estado o
exercício do seu direito de punir, aplicando a sanção devida a quem é considerado autor da
infração penal.
É a prisão para evitar que o agente empreenda fuga, tornando inútil a sentença penal por
impossibilidade de aplicação da pena cominada.
Todavia, o risco de fuga não pode ser presumido. Tem de estar fundado em circunstâncias
concretas. Logo, não havendo nenhum elemento concreto, mas mera suspeita de fuga, não há
motivo suficiente para o decreto da prisão preventiva.
d) Garantia de ordem econômica:
Nesse caso, visa-se, com a decretação da prisão preventiva, impedir que o agente,
causador de seriíssimo abalo à situação econômico-financeira de uma instituição financeira ou
mesmo de órgão do Estado, permaneça em liberdade, demonstrando à sociedade a impunidade
reinante nessa área.
Equipara-se o criminoso do colarinho branco aos demais delinquentes comuns, na medida
em que o desfalque em uma instituição financeira pode gerar maior repercussão na vida das
pessoas, do que um simples roubo contra um indivíduo qualquer.
e) Descumprimento de obrigações impostas por força de outras medidas
cautelares:
Nos termos do artigo 312, parágrafo único, do Código de Processo Penal, a prisão
preventiva também poderá ser decretada em caso de descumprimento de qualquer das
obrigações impostas por força de outras medidas cautelares (Art. 319 do CPP), conforme artigo
282, §4º, do Código de Processo Penal.
Nesse caso, é imprescindível que o juiz atente para a proporcionalidade, devendo sempre
priorizar a cumulação de medidas cautelares ou adoção de outra mais grave, optando pela prisão
preventiva em último caso.
Em síntese, o Juiz deve priorizar a aplicação de medida cautelar diversa da prisão caso
entenda adequada e suficiente diante do caso concreto. Ex: Suponha que o juiz determine a
proibição do acusado de estabelecer contato com pessoa determinada (Art. 319, inciso III, CPP)
e ele descumpre a medida. Nesse caso, o juiz deve, primeiro, optar por substituir a medida ou
aplicar outra em cumulação, para só então, se persistir o descumprimento, decretar a preventiva,
conforme dispõe o artigo 312, parágrafo único, c/c o artigo 282, §4º, do Código de Processo
Penal.
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Descumprimento Cumular Decretar


Nova Cautelar
de Cautelar Cautelares Preventiva

15.5. Condições de admissibilidade da Prisão Preventiva

Não se mostra suficiente a presença de um dos fundamentos da prisão preventiva,


devendo, além disso, ser decretada somente em determinadas espécies de infração penal ou
sob certas circunstâncias. Trata-se das condições de admissibilidade previstas no artigo 313 do
Código de Processo Penal.

a) Nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a
4 (quatro) anos:

Nos termos desse inciso, somente é cabível a prisão preventiva para os crimes dolosos
com pena máxima, privativa de liberdade, superior a quatro anos.

O limite de 04 anos tem a sua razão de ser, porquanto, se condenado definitivamente, o


agente poderá, se preenchidos os requisitos do artigo 44 do Código Penal, ter substituída sua
pena privativa de liberdade em restritiva de direitos. Nesse sentido, se condenado o agente não
irá, a princípio, para prisão, com muito mais razão não poderá ser mantido preso quando incide
a seu favor a presunção da inocência.

Além disso, se condenado a pena não superior a 04 anos, o agente poderá cumprir a pena
privativa de liberdade em regime aberto, podendo sair para trabalhar durante o dia e retornar ao
cárcere à noite.

São inúmeros os crimes que, em razão deste inciso, não comportam prisão preventiva,
tais como furto simples (Art. 155 do CP), apropriação indébita (Art. 168 do CP), receptação
simples (Art. 180 do CP), descaminho (Art. 334 do CP), dentre outros.

No caso de concurso material de crimes, somam-se as penas para fins de prisão


preventiva. Nos casos de concurso formal de crimes e crime continuado, considera-se a causa
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de aumento no máximo e a de diminuição no mínimo. Em qualquer caso, se a pena máxima for


superior a 04 anos, poderá, em tese, ser decretada a prisão preventiva.

Tratando-se de causas de aumento de pena e de diminuição da pena, deve-se considerar


a quantidade que mais aumente ou que menos diminua, respectivamente, a fim de se chegar à
pena máxima cominada ao delito.

Exemplo: 01: Furto noturno, previsto no artigo 155, §1º, do Código Penal, a pena é
aumentada em 1/3. O furto simples não autoriza o decreto da prisão preventiva, pois a pena
máxima cominada é de 04 anos. Todavia, se for praticado durante repouso noturno, a pena
é aumentada em 1/3, superando os 04 anos e, por conseguinte, autorizando o decreto da
prisão preventiva.

Exemplo 02: Tentativa de estelionato. Conforme o artigo 171 do Código Penal, a pena
máxima cominada ao delito de estelionato é de 05 anos. Na hipótese de tentativa de
estelionato, esta pena poderá ser reduzida de 1/3 a 2/3, conforme dispõe o artigo 14,
parágrafo único, do Código Penal. Se aplicada sobre a pena de 05 anos a redução mínima
(1/3), a pena resultará em 03 anos e 04 meses, quantidade, portanto, incompatível com o
disposto no artigo 313, inciso I, do Código de Processo Penal, o decreto da prisão
preventiva.

Assim, se uma pessoa primária está sendo processada por crime cuja pena máxima não
excede 4 anos, descabe inicialmente a prisão preventiva, ainda que existam provas de que ela,
por exemplo, está ameaçando testemunhas, podendo, nesse caso, ser aplicada uma das
medidas cautelares previstas no art. 319, CPP. Somente se descumprida a medida cautelar,
pode-se aventar a possibilidade de decreto da preventiva, com base no art. 282, § 4º, c/c art.
312, §1º, CPP.

b) se o réu ostentar condenação anterior definitiva por outro crime doloso no prazo
de 05 anos da reincidência:

Trata-se da hipótese do réu reincidente em crime doloso. Nesse sentido, ainda que se
trate de crime com pena máxima não superior a quatro anos, poderá ser decretada a prisão
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preventiva se o réu for reincidente em crime doloso, desde que presente um dos fundamentos
do artigo 312 do Código de Processo Penal.

Convém ressaltar que, se for reincidente, mas não em crime doloso (registra contra si
sentença condenatória transitada em julgado por crime culposo e depois pratica crime doloso),
somente será possível decretar a prisão preventiva se a pena máxima cominada ao delito superar
04 (quatro) anos, se previsto um dos fundamentos do artigo 312 do Código de Processo Penal.

c) Se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança,


adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das
medidas protetivas de urgência:

Por fim, cabe preventiva se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a
mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a
execução das medidas protetivas de urgência.

Além das medidas protetivas previstas na Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), a nova
redação do artigo 313 do Código de Processo Penal incluiu os casos de violência doméstica, não
só em relação à mulher, mas à criança, adolescente, idoso, enfermo ou qualquer pessoa com
deficiência.

Essas medidas protetivas estão previstas no artigo 22 da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria
da Penha), artigos 43 a 45, todos do Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003), e artigos 98 a 101,
todos do ECA (Lei nº 8069/90).

Convém registrar que, neste caso, a prisão preventiva será decretada apenas para
garantir a execução das medidas protetivas de urgência, indicando, assim, a necessidade de
imposição anterior das cautelares protetivas de urgência.

15.6. Fundamentação
A Lei 13.964/2019, decorrente do chamado Pacote Anticrime, alterou substancialmente o
artigo 315 do CPP.
Em consonância ao disposto no art. 5º, LXI, e art. 93, IX, ambos da Constituição Federal,
segundo os quais toda decisão deve ser fundamentada, o legislador ordinário incluiu parâmetros
para balizar o decreto da prisão preventiva.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

Após reforçar a necessidade da contemporaneidade dos fatos que justificam a prisão, o


artigo 315 do CPP elenca um rol exemplificativo de decisão que não será considerada
devidamente fundamentada, e, portanto, nula, nos termos do artigo 564, V, do CPP.
Nos termos do artigo 315, § 2º, do CPP, não se considera fundamentada qualquer decisão
judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:
I – limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua
relação com a causa ou a questão decidida;
II – empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua
incidência no caso
III – invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV – não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,
infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V – limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus
fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles
fundamentos;
VI – deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela
parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação
do entendimento.

A decisão carente de fundamentação será considerada nula, nos termos do artigo 564, V,
do CPP.
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Revogação da Prisão Preventiva

16.1. Identificação
Prisão preventiva legal. Quando não mais subsistir o motivo que ensejou o decreto da
prisão preventiva. Trata-se de peça privativa de advogado.

PEDIU PRA PARAR

Expressão mágica: Peça:

“Prisão preventiva LEGAL” Revogação da preventiva

PAROU!

16.2. Base legal


Art. 316, CPP

16.3. Conteúdo
O candidato deverá buscar no enunciado informações no sentido de que não mais
subsistem os motivos que ensejaram o decreto da prisão preventiva, previstos no artigo 312 do
Código de Processo Penal, ou seja, que o agente não representa risco à ordem pública, à ordem
econômica, à conveniência da instrução criminal, bem como à aplicação da lei penal.
16.4. Estrutura
Trata-se de peça simples, endereçada para o juiz de 1º grau.
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA... VARA CRIMINAL DA

COMARCA... (se crime da competência da justiça estadual)

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE FEDERAL DA... VARA CRIMINAL DA

JUSTIÇA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA... (se crime da competência da justiça

federal)

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA... VARA CRIMINAL DO

TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA... (se crime doloso contra a vida de competência da

justiça estadual)

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA... VARA CRIMINAL DA

JUSTIÇA FEDERAL DO TRIBUNAL DO JÚRI DA SEÇÃO JUDICIÁRIA... (se crime doloso


contra a vida de competência da justiça federal)

Autos nº

FULANO DE TAL, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., RG nº...,


endereço eletrônico..., residente e domiciliado ..., por seu procurador infra-assinado, com
procuração em anexo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência requerer
a REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA, com base no artigo 316 do Código de
Processo Penal pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos:

I) DOS FATOS

II) DO DIREITO

* Mencionar, por cautela, o disposto no artigo 5º, inciso LVII, da CF/88

(princípio da presunção da inocência);

* Demonstrar que cessaram os motivos que ensejaram a prisão preventiva (a

ausência dos fundamentos do artigo 312, CPP).

* Fazer, se for o caso, referência a medidas cautelares, invocando os

artigos 282 e 319 e 320 do Código de Processo Penal.


2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

III) DO PEDIDO

Ante o exposto, requer:


a) A REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA, a fim de que possa
responder a eventual processo em liberdade;
b) A expedição do respectivo alvará de soltura;
c) Subsidiariamente, aplicação de medida cautelar diversa da prisão;
d) Vista dos autos ao Ministério Público.

Nestes termos, pede deferimento.

Local..., data...

ADVOGADO...
OAB...
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

16.5. Peça Resolvida


No dia 29 de setembro de 2014, Paulo Dantas foi encontrado morto na sua residência, localizada
no Município de Petrópolis/RJ. Ao longo da investigação, a partir das declarações da testemunha
Marieta Lemos, a autoridade policial passou a suspeitar que Cláudio Valentino tenha sido o autor
do delito. Na ocasião, Marieta Lemos disse ter recebido mensagem de texto enviada por Cláudio,
em tom ameaçador, no sentido de que seria melhor ela não testemunhar, para evitar problemas
a ela e à sua família. Em razão disso, a autoridade policial representou pela prisão preventiva de
Cláudio, anexando na representação as mensagens enviadas pelo acusado. O Magistrado
decretou a prisão preventiva, em despacho motivado, aduzindo, como razão de decidir, a
conveniência da instrução criminal, sendo o mandado de prisão cumprido. Após a conclusão do
inquérito policial, o Ministério Público ofereceu denúncia contra Cláudio, imputando-lhe a prática
de crime de homicídio, previsto no art. 121, “caput”, do Código Penal. Durante a audiência de
instrução, após ser ouvida sobre os fatos relacionados à morte de Paulo, Marieta disse que a
ameaça sofrida foi a única proferida por Cláudio. Diante do avançado da hora, o Magistrado
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

suspendeu a audiência e designou outra data para oitiva de uma testemunha de defesa faltante
e interrogatório do réu. Insatisfeito com a atuação do seu antigo defensor, já que ainda estava
preso, Cláudio contrata você para defendê-lo.
Com base somente nas informações de que dispõe e nas que podem ser inferidas pelo caso
concreto acima, na qualidade de advogado (a) de Cláudio Valentino, redija a peça cabível,
exclusiva de advogado, no que tange à liberdade de seu cliente, alegando para tanto toda a
matéria de direito pertinente ao caso. (Valor: 5,00)
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA CRIMINAL DO


TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA DE PETRÓPOLIS/RJ

Autos nº

CLÁUDIO VALENTINO, já qualificado nos autos, por seu procurador infra-


assinado, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, requerer a
REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA, com base no artigo 316 do Código de
Processo Penal, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos.

I) DOS FATOS
No dia 29 de setembro de 2014, Paulo Dantas foi encontrado morto na sua
residência.
O requerente teve a sua prisão preventiva decretada, sob o fundamento da
conveniência da instrução criminal.
O Ministério Público denunciou o requerente pela prática do delito previsto no
artigo 121, “caput”, do Código Penal.
A testemunha Marieta foi ouvida em juízo e diante do avançado da hora, o
Magistrado suspendeu a audiência e designou outra data para inquirição da testemunha
de defesa faltante e interrogatório do réu.

II) DO DIREITO

A) DA AUSÊNCIA DOS REQUISITOS QUE AUTORIZAM A PRISÃO

PREVENTIVA

No caso, a revogação da prisão preventiva é medida que se impõe, pois não

mais subsiste o motivo que o levou o juiz a decretá-la.

Conforme se verifica, o Magistrado decretou a prisão preventiva por conveniência da

instrução criminal.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

Todavia, a testemunha Marieta foi ouvida em juízo e disse não ter sido mais
ameaçada ao longo da instrução criminal. Assim, o motivo que ensejou a prisão do
requerente não mais subsiste, uma vez que a testemunha já prestou declarações em juízo.
Logo, não subsiste nenhum fundamento para a manutenção da prisão
preventiva do requerente, já que não representa perigo à ordem pública, à ordem
econômica, à conveniência da instrução criminal ou aplicação da lei penal, estando,
portanto, ausentes os pressupostos e requisitos previstos no artigo 312 do Código de
Processo Penal.

B) DO PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DA INOCÊNCIA

Convém destacar que prevalece no nosso ordenamento jurídico o princípio

da presunção da inocência, previsto no artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal/88.

Logo, o requerente faz jus a responder ao processo em liberdade.

C) DA MEDIDA CAUTELAR DIVERSA DA PRISÃO

Da mesma forma, em não sendo concedida a liberdade plena, possível a

fixação de medida cautelar diversa da prisão, prevista no artigo 319 do Código de Processo

Penal, por se tratar de medida mais conveniente e adequada ao caso, nos termos do artigo

282 do Código de Processo Penal.


Nesse caso, a medida cautelar diversa da prisão mais adequada seria a
proibição de o réu manter contato com a testemunha, o que desde logo se compromete,
nos termos do artigo 319, III, do Código de Processo Penal.

III) DO PEDIDO
Ante o exposto, requer:
a) A revogação da prisão preventiva, com expedição do alvará de soltura;
b) Subsidiariamente, a concessão de medida cautelar diversa da prisão.
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

Nestes termos,
Pede deferimento.

Local... e data...

Advogado...

OAB...
2ª Fase de Penal | 40º Exame de Ordem

Relaxamento da Prisão Preventiva

17.1. Identificação

PEDIU PRA PARAR

Peça:
Expressão mágica:
Relaxamento da
“Prisão preventiva ILEGAL” preventiva

PAROU!
17.2. Base Legal
Art. 5º, inciso LXV, CF/88.

17.3. Conteúdo
O relaxamento da prisão no contexto da prisão preventiva poderá ocorrer quando a prisão
for ilegal. Trata-se de peça privativa de advogado.
Exemplo:
• Prisão preventiva decretada em crime não listado no rol do art. 313 do CPP.
• Nos casos de Contravenções Penais.
• Inobservância dos requisitos essenciais do mandado de prisão (CPP, art. 285, par.
ún.).
• Prisão preventiva sem fundamentação idônea.
• Prisão preventiva decretada de ofício pelo juiz.
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17.4. Estrutura de Pedido de Relaxamento da Prisão Preventiva

Pedido de
Se indeferido, Se denegado,
Prisão legal revogação habeas corpus ROC
Juiz decreta a preventiva
prisão
preventiva Pedido de
Se ideferido, Se denegado,
Prisão ilegal relaxamento de
habeas corpus ROC
prisão
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A) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA... VARA CRIMINAL DA


COMARCA... (se crime da competência da justiça estadual)
B) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE FEDERAL DA... VARA CRIMINAL
DA JUSTIÇA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA... (se crime da competência da
justiça federal)
C) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA... VARA CRIMINAL DO
TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA... (se crime doloso contra a vida de competência
da justiça estadual)
D) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA... VARA CRIMINAL DA
JUSTIÇA FEDERAL DO TRIBUNAL DO JÚRI DA SEÇÃO JUDICIÁRIA... (se crime
doloso contra a vida de competência da justiça federal)

Autos nº

FULANO DE TAL, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., RG nº...,

endereço eletrônico..., residente e domiciliado ..., por seu procurador infra-assinado, com

procuração em anexo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência requerer a

RELAXAMENTO DA PRISÃO PREVENTIVA, com base no artigo 5º, inciso LXV da

Constituição federal/88 pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos:

I) DOS FATOS

II) DO DIREITO

III) DO PEDIDO
Ante o exposto, requer:
a) O RELAXAMENTO DA PRISÃO PREVENTIVA, a fim de que possa
responder a eventual processo em liberdade;
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b) A expedição do respectivo alvará de soltura;


c) Vista dos autos ao Ministério Público.

Nestes termos, pede deferimento.

Local..., data...

ADVOGADO...
OAB...
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Prisão Temporária

18.1 Noções Introdutórias


É prisão cautelar de natureza processual destinada a possibilitar as investigações a
respeito de crimes graves, durante o inquérito policial.

Encontra-se prevista na Lei nº 7.960/1989.

*Para todos verem: esquema.

Decretação da
temporária

Requisitos obrigatórios
Requisitos alternativos
(art. 1º, da Lei 7.960/89)

Necessidade de
Fundadas razões preservar a
investigação criminal

Estar o crime cometido Réu não possuir


previsto no rol taxativo residência fixa
da Lei 7.960/89

Réu não fornecer


elementos para sua
identificação
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18.2. Hipóteses para a decretação


A prisão temporária pode ser decretada em relação aos crimes previstos no art. 1º, III, da
Lei nº 7.960/1989, além de crimes hediondos e equiparados.18

18.3. Hipóteses
a) Imprescindibilidade para as investigações do inquérito policial
Quando a autoridade policial, atualmente, representa pela prisão temporária, é obrigada
a dar os motivos dessa necessidade, expondo fundamentos que serão avaliados, caso a caso,
pelo magistrado competente.
b) Residência fixa e identidade conhecida
Esses dois elementos permitem a correta qualificação do suspeito, impedindo que outra
pessoa seja processada ou investigada em seu lugar, evitando-se, por isso, o indesejado erro
judiciário.
Aquele que não tem residência (morada habitual) em lugar determinado ou que não
consegue fornecer dados suficientes para o esclarecimento da sua identidade (individualização
como pessoa) proporciona insegurança na investigação policial.

18.4. Decretação por autoridade judicial


No caso de prisão temporária, não pode o magistrado decretá-la de ofício. Há,
invariavelmente, de existir requerimento do Ministério Público ou representação da autoridade
policial (Lei nº 7.960/1989, art. 2º).

18
O art. 1º foi objeto de ADI (3.360), julgada procedente no sentido de garantir ao dispositivo interpretação conforme
ao texto constitucional. Decisão: O Tribunal, por maioria, conheceu da ação direta e, no mérito, julgou parcialmente
procedente o pedido para dar interpretação conforme a Constituição Federal ao art. 1º da Lei 7.960/1989 e fixar o
entendimento de que a decretação de prisão temporária autoriza-se quando, cumulativamente: 1) for imprescindível
para as investigações do inquérito policial (art. 1º, I, Lei 7.960/1989) (periculum libertatis), constatada a partir de
elementos concretos, e não meras conjecturas, vedada a sua utilização como prisão para averiguações, em violação
ao direito à não autoincriminação, ou quando fundada no mero fato de o representado não possuir residência fixa
(inciso II); 2) houver fundadas razões de autoria ou participação do indiciado nos crimes previstos no art. 1º, III, Lei
7.960/1989 (fumus comissi delicti), vedada a analogia ou a interpretação extensiva do rol previsto no dispositivo; 3)
for justificada em fatos novos ou contemporâneos que fundamentem a medida (art. 312, § 2º, CPP); 4) a medida for
adequada à gravidade concreta do crime, às circunstâncias do fato e às condições pessoais do indiciado (art. 282,
II, CPP); 5) não for suficiente a imposição de medidas cautelares diversas, previstas nos arts. 319 e 320 do CPP
(art. 282, § 6º, CPP), nos termos do voto do Ministro Edson Fachin, Redator para o acórdão, vencidos os Ministros
Cármen Lúcia (Relatora), Roberto Barroso, Luiz Fux (Presidente), Nunes Marques e Alexandre de Moraes, nos
termos dos respectivos votos. Nesta assentada o Ministro Gilmar Mendes reajustou seu voto. Plenário, Sessão
Virtual de 4.2.2022 a 11.2.2022.
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ATENÇÃO!

O juiz NÃO pode decretar de ofício, se decretar de ofício a prisão será ILEGAL!

18.5. Prazo
No caso de ser decretada no contexto de crimes não hediondos ou equiparados a
hediondo, o prazo de duração da prisão temporária será de 5 (cinco) dias, prorrogáveis por mais
5 (cinco) dias.
No caso de prisão temporária pela prática de crime hediondo e equiparados, o prazo de
prisão temporária pode atingir 30 (trinta) dias, prorrogáveis por igual período, em caso de extrema
e comprovada necessidade (Lei nº 8.072/1990, art. 2º, § 4º).
• Crimes hediondos: 30 dias, prorrogáveis por mais 30 dias.
• Demais crimes: 05 dias, prorrogáveis por mais 05 dias.

18.6. Procedimento
A prisão temporária pode ser decretada em face da representação da autoridade policial
ou de requerimento do Ministério Público. Não pode ser decretada de ofício pelo juiz.
No caso de representação da autoridade policial, o juiz, antes de decidir, tem de ouvir o
Ministério Público.
O juiz tem o prazo de 24 horas, a partir do recebimento da representação ou requerimento,
para decidir fundamentadamente sobre a prisão.
O mandado de prisão deve ser expedido em duas vias, uma das quais deve ser entregue
ao iniciado, servindo como nota de culpa.
Efetuada a prisão, a autoridade policial deve advertir o preso do direito constitucional de
permanecer calado.
Ao decretar a prisão, o juiz poderá (faculdade) determinar que o preso lhe seja
apresentado, solicitar informações da autoridade policial ou submetê-lo a exame de corpo de
delito.
O prazo de 5 dias (ou trinta) pode ser prorrogado uma vez em caso de comprovada e
extrema necessidade.
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Revogação da Prisão Temporária

19.1 Identificação
Prisão temporária legal, mas não mais subsiste o motivo que ensejou a sua decretação.

22.2 Base Legal


Art. 316, CPP e art. 282, § 5º, CPP.
Como não há previsão expressa, considera-se como base legal, por analogia, o artigo 316
do Código de Processo Penal, podendo, ainda, ser considerado o artigo 282, §5º, do Código de
Processo Penal, que trata da revogação de medida cautelar.

19.3 Conteúdo
Buscar informações no sentido de que não mais subsiste o motivo que ensejou a prisão
temporária.

19.4. Estrutura de Pedido de Revogação da Prisão Temporária


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A) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA... VARA CRIMINAL DA


COMARCA... (se crime da competência da justiça estadual)
B) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE FEDERAL DA... VARA CRIMINAL
DA JUSTIÇA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA... (se crime da competência da
justiça federal)
C) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA... VARA CRIMINAL DO
TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA... (se crime doloso contra a vida de competência
da justiça estadual)
D) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA... VARA CRIMINAL DA
JUSTIÇA FEDERAL DO TRIBUNAL DO JÚRI DA SEÇÃO JUDICIÁRIA... (se crime
doloso contra a vida de competência da justiça federal)

Autos nº

FULANO DE TAL, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., RG nº...,


endereço eletrônico..., residente e domiciliado ..., por seu procurador infra-assinado, com
procuração em anexo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência requerer a
REVOGAÇÃO DA PRISÃO TEMPORÁRIA, com base no artigo 316 do Código de
Processo Penal e artigo 282, §5º, do Código de Processo Penal, pelos fatos e
fundamentos jurídicos a seguir expostos:

I) DOS FATOS

II) DO DIREITO
* Fundamentar o pedido de revogação da prisão temporária com o disposto
no artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal/88 (princípio da presunção da inocência).
* Demonstrar a que não subsistem os motivos que ensejaram a prisão
temporária.
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* Por cautela, se for o caso, fazer referência a medidas cautelares,


invocando os artigos 282 e 319 e 320 do Código de Processo Penal.

III) DO PEDIDO
Ante o exposto, requer:
a) A REVOGAÇÃO DA PRISÃO TEMPORÁRIA;
b) A expedição do respectivo alvará de soltura;
c) Subsidiariamente, a aplicação de medida cautelar, como medida de
inteira justiça;
d) Vista dos autos ao Ministério Público.

Nestes termos, pede deferimento.

Local..., data...

ADVOGADO...
OAB...
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Relaxamento da Prisão Temporária

20.1. Introdução
O relaxamento da prisão temporária guarda relação com prisão ilegal, que ocorre, por
exemplo, quando o juiz decreta a prisão temporária de ofício; decreta prisão temporária na fase
judicial; decreta em face de crime que não consta no rol do art. 1º, III, da Lei nº 7.960/1989.
Em síntese, alguns exemplos:
Prisão Temporária Ilegal Prisão Temporária Legal
• Decretação de ofício pelo juiz; • Decretação mediante requerimento do
• Fase Judicial MP ou da Autoridade Policial;
• Em crimes que não constam no rol do • Fase investigatória;
art. 1º da Lei nº 7.960/1989. • Imprescindibilidade para as
investigações do inquérito policial;
• Se houver dúvida quanto à
identificação civil do acusado e este se
recusar a esclarecê-la.

20.2. Base Legal


Art. 5º, LXV, da CF/1988.

23.3. Identificação

PEDIU PRA PARAR

Peça:
Expressão mágica:
Relaxamento da Prisão
“Prisão temporária ilegal” Temporária

PAROU!
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23.4. Conteúdo
O relaxamento da prisão no contexto da prisão temporária poderá ocorrer quando a prisão
for ilegal. Trata-se de peça privativa de advogado.
Exemplo:
• Decretação de ofício pelo juíz;
• Decretação na fase judicial;
• Decretação em relação a crimes não previstos no rol do atigo 1º, III da Lei
7.960/1989.

Em suma:
*Para todos verem: esquema.

Se o enunciado
referir peça
privativa de
advogado

Pedido de
Se indeferido, Se denegado,
Prisão legal revogação habeas corpus ROC
Juiz decreta a preventiva
prisão
preventiva Pedido de
Se ideferido, Se denegado,
Prisão ilegal relaxamento de
habeas corpus ROC
prisão

Se o enunciado
referir peça
privativa de
advogado

20.5. Estrutura de Pedido de Relaxamento da Prisão Temporária


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A) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA CRIMINAL DO


TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA ... (SE CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA DA
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ
FEDERAL DA ... VARA CRIMINAL DA JUSTIÇA FEDERAL DO TRIBUNAL DO JÚRI DA
SEÇÃO JUDICIÁRIA ... (SE CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA DA COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA FEDERAL)
B) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA CRIMINAL DA
COMARCA ... (SE CRIME DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL)
C) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ... VARA CRIMINAL DA
JUSTIÇA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE ... (SE CRIME DA COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA FEDERAL)

FULANO DE TAL..., nacionalidade..., estado civil..., profissão..., RG nº...,


residente e domiciliado..., endereço eletrônico..., por seu procurador infra assinado, com
procuração em anexo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência requerer o
RELAXAMENTO DA PRISÃO TEMPORÁRIA, com base no art. 5º, LXV, da Constituição
Federal/88, pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos.

I) DOS FATOS1 19
II) DO DIREITO 20
IV) DO PEDIDO
Ante o exposto, requer:
a) o RELAXAMENTO DA PRISÃO TEMPORÁRIA, a fim de que possa
responder a eventual processo em liberdade;
b) a expedição do respectivo alvará de soltura;
c) vista ao Ministério Público.

19
Fazer um breve relato dos fatos. Não inventar dados. Relatar como ocorreu a prisão.
20
Buscar no enunciado informações que permitam desenvolver teses voltadas à ilegalidade da prisão temporária.
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Nestes termos, Pede deferimento.


Local..., data...

Advogado...
OAB...
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20.6. Exercícios para resolver após a aula

26) QUESTÃO 2 – XVII EXAME – 2015-02


Glória, esposa ciumenta de Jorge, inicia uma discussão com o marido no momento em que ele
chega do trabalho à residência do casal. Durante a discussão, Jorge faz ameaças de morte à
Glória, que, de imediato comparece à Delegacia, narra os fatos, oferece representação e solicita
medidas protetivas de urgência. Encaminhados os autos para o Ministério Público, este requer
em favor de Glória a medida protetiva de proibição de aproximação, bem como a prisão
preventiva de Jorge, com base no art. 313, inciso III, do CPP. O juiz acolhe os pedidos do
Ministério Público e Jorge é preso. Novamente os autos são encaminhados para o Ministério
Público, que oferece denúncia pela prática do crime do art. 147 do Código Penal. Antes do
recebimento da inicial acusatória, arrependida, Glória retorna à Delegacia e manifesta seu
interesse em não mais prosseguir com o feito. A família de Jorge o procura em busca de
orientação, esclarecendo que o autor é primário e de bons antecedentes. Considerando apenas
a situação narrada, na condição de advogado(a) de Jorge, esclareça os seguintes
questionamentos formulados pelos familiares:
A) A prisão de Jorge, com fundamento no art. 313, inciso III, do Código de Processo Penal,
é válida? (Valor: 0,60)
B) É possível a retratação do direito de representação por parte de Glória? Em caso
negativo, explicite as razões; em caso positivo, esclareça os requisitos. (Valor: 0,65)Obs.:
o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação.

Acesse aqui o e-book com o padrão de respostas:


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27) QUESTÃO 3 – VI EXAME – 2011-03


Caio, Mévio, Tício e José, após se conhecerem em um evento esportivo de sua cidade,
resolveram praticar um estelionato em detrimento de um senhor idoso. Logrando êxito em sua
empreitada criminosa, os quatro dividiram os lucros e continuaram a vida normal. Ao longo da
investigação policial, apurou-se a autoria do delito por meio dos depoimentos de diversas
testemunhas que presenciaram a fraude. Em decorrência de tal informação, o promotor de justiça
denunciou Caio, Mévio, Tício e José, alegando se tratar de uma quadrilha de estelionatários,
tendo requerido a decretação da prisão temporária dos denunciados. Recebida a denúncia, a
prisão temporária foi deferida pelo juízo competente. Com base no relatado acima, responda aos
itens a seguir, empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal
pertinente ao caso.
A) Qual(is) o(s) meio(s) de se impugnar tal decisão e a quem deverá(ão) ser
endereçado(s)? (Valor: 0,6)
B) Quais fundamentos deverão ser alegados? (Valor: 0,65)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação.

Acesse aqui o e-book com o padrão de respostas:


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