Síntese Dos Feromônios Das Duas Principais Pragas Do Cajueiro - Anacampsis Phytomiella e Anthistarcha Binocularis
Síntese Dos Feromônios Das Duas Principais Pragas Do Cajueiro - Anacampsis Phytomiella e Anthistarcha Binocularis
Síntese Dos Feromônios Das Duas Principais Pragas Do Cajueiro - Anacampsis Phytomiella e Anthistarcha Binocularis
MACEIÓ
2020
LUCIARA CAVALCANTE LIMA
MACEIÓ
2020
Dedico à dona Lia e seu Luís, meus pais, que sempre batalharam para que eu pudesse ir
atrás dos meus sonhos.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, por cada luta diária, cada madrugada de trabalho duro, a fim de que
nada faltasse em casa e dessa forma meu irmão e eu pudéssemos hoje estar estudando. O
apoio de vocês tornou isso possível. Vocês são minha base, e palavras não podem expressar o
amor que sinto.
Aos amigos do LPqRN, em especial Vanderson Barbosa, Jéssica Rocha, Analú Reis,
Igor Ferreira, Larissa Cavalcante, Isis Torres e Adeildo Junior. Aprendi tanto com vocês!
Agradeço pela paciência e momentos de descontração. Vocês tornaram esse período tão
desafiador em algo leve.
Às minhas amigas Ananda Flávia, Cássia Regina e Iagrid Maria, por sempre
acreditarem em mim e estarem ao meu lado apesar da distância. O apoio de vocês, sempre
incondicional, me incentiva a cada dia.
Às amigas Isabela Lobo, Izabel Aline e Mariza Fernanda. Vocês foram minha pequena
família aqui em Maceió. Agradeço o carinho que sempre recebi de vocês.
O cajueiro é uma planta nativa do nordeste brasileiro, muito bem adaptada ao clima da região,
sendo uma das alternativas de empregos por produzir na época mais seca do ano. Nas áreas
produtoras da cajucultura, dentre as principais pragas que vêm causando prejuízos aos
produtores destacam-se a traça-da-castanha, Anacampsis phytomiella e a broca-das-pontas,
Anthistarcha binocularis. O controle químico destas espécies é o único utilizado pelos
produtores, sendo feita através de pulverizações com inseticidas de forma rotineira e as vezes
indiscriminadamente. Uma estratégia promissora para controle e monitoramento dessas
espécies é o uso de feromônio sexual, medida também associada ao Manejo Integrado de
Pragas, que consiste no uso de estratégias verdes que buscam diminuir o uso de agroquímicos,
mantendo a incidência da praga abaixo do nível de dano econômico. Para contribuir com esse
controle mais ecológico o objetivo desse trabalho foi obter o acetato de 9-decenila, o acetato
de (Z) 7-decenila, o acetato de (E) 7-decenila, o acetato de (Z) 7,9-decadienila e o acetato de
(E) 7,9-decadienila, componentes dos feromônios propostos para a A. phytomiella, e o (Z) 6-
dodecenol, o (E) 6-dodecenol, o acetato de (Z) 6-dodecenila e o acetato de (E) 6-dodecenila,
componentes dos feromônios propostos para a A. binocularis. As rotas propostas para
obtenção das moléculas foram parcialmente concluídas, para a A. phytomiella obteve-se o
acetato de 9-decenila, com rendimento de 94%. Para a A. binocularis obteve-se o (Z) 6-
dodecenol e do acetato de (Z) 6-dodecenila, com rendimento global de 27% e 24%,
respectivamente. As rotas realizadas se mostraram eficientes na obtenção dos produtos, no
entanto, apresentando rendimentos que ainda necessitam de otimização para tornar a síntese
competitiva. A caracterização das estruturas obtidas foi realizada pelo uso das técnicas de
Cromatografia Gasosa acoplada ao Espectrômetro de Massa, Ressonância Magnética Nuclear
e Espectroscopia na região do Infravermelho por transformada de Fourier.
The cashew tree is native to north-eastern Brazil. It is very well adapted to the climate of the
region and is one of the primary sources of employment for some during the driest time of the
year. In cashew-growing regions, the primary pests that damage crops include the nut borer
Anacampsis phytomiella and the stem borer Anthistarcha binocularis. Currently, growers use
only insecticides to control these species, mediated by frequent indiscriminate spraying. A
promising strategy to control and monitor these species is the use of sexual pheromones; these
measures are associated with integrated pest management, which consists of green strategies
that seek to reduce the use of agrochemicals, keeping pest levels below those that cause
economic damage. Thus, the objective of this work was to obtain 9-decenyl acetate, (Z) 7-
decenyl acetate, (E) 7-decenyl acetate, (Z) 7,9-decadienyl acetate, and (E) 7,9-decadienyl
acetate, all of which are pheromone components identified from A. phytomiella, and (Z) 6-
dodecenol, (E) 6-dodecenol, (Z) 6-dodecenyl acetate, and (E) 6-dodecenyl acetate, pheromone
components identified from A. binocularis. The proposed routes for obtaining the molecules
were partially completed, where for A. phytomiella, 9-decenyl acetate was obtained with 94%
yield. For A. binocularis, (Z) 6-dodecenol and (Z) 6-dodecenyl acetate were obtained, with
overall yields of 27% and 24%, respectively. These pathways proved to be efficient,
presenting satisfactory yields in the stages carried out to date. The characteristics of obtained
structures were obtained using a gas chromatograph coupled to a mass spectrometer, nuclear
magnetic resonance, and infrared spectroscopy using Fourier transforms.
Keywords: Anacardium occidentale, Cashew growing; Nut borer, Stem borer, Pheromones.
LISTA DE FIGURAS
Esquema 1 - Esquema de rota proposta por Chong (2000) para obtenção de composto
monobromado a partir do diol correspondente. ........................................................................ 29
Esquema 2 - Exemplo de etapa sintética de acoplamento com alcino terminal. ...................... 30
Esquema 3 - Esquema geral da reação de Wittig. .................................................................... 31
Esquema 4 - Ciclo catalítico do acoplamento de Stille. ........................................................... 32
Esquema 5 - Ciclo catalítico do acoplamento de Suzuki.......................................................... 33
Esquema 6 - Esquema geral da reação de Sonogashira. ........................................................... 34
Esquema 7 - Redução cis com catalisador de Lindlar. ............................................................. 35
Esquema 8 - Redução trans com sódio e amônia. .................................................................... 35
Esquema 9 - Análise retrossintética do Acetato de (E)-7-decenila e do Acetato de (Z)-7-
decenila. .................................................................................................................................... 38
Esquema 10 - Rota proposta para obtenção dos feromônios da Anacampsis phytomiella com
uma insaturação. ....................................................................................................................... 38
Esquema 11 - Análise retrossintética do Acetato de (E)-7,9-decadienila e do Acetato de (Z)-
7,9-decadienila. ......................................................................................................................... 39
Esquema 12 - Rota proposta para obtenção dos feromônios da Anacampsis phytomiella com
duplas conjugadas. .................................................................................................................... 40
Esquema 13 - Análise retrossintética dos compontes feromonais da A. binocularis. .............. 46
Esquema 14 - Rota proposta para obtenção dos feromônios da Anthistarcha binocularis. ..... 47
Esquema 15 - Mecanismo geral de acetilação utilizando anidrido acético e piridina. ............. 53
Esquema 16 - Mecanismo geral de monobromação em meio ácido. ....................................... 58
Esquema 17 - Mecanismo geral de proteção da hidroxila com DHP. ...................................... 62
Esquema 18 - Mecanismo geral de acoplamento com alcino terminal. ................................... 67
Esquema 19 - Mecanismo geral de desproteção da hidroxila. ................................................. 70
LISTA DE ABREVIATURAS
1,2-DCE – 1,2-dicloroetano
d – dupleto
DCM – diclorometano
dd - duplo dupleto
DHP – 3,4-diidropirano
HMPA – hexametilfosforamida
m - multipleto
MeOH – metanol
q – quinteto
t – tripleto
td – tripleto duplo
THF – tetraidrofurano
THP – tetraidropirano
δ - deformação
ν - estiramento
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 15
3 OBJETIVOS...................................................................................................................... 36
4 METODOLOGIA ............................................................................................................. 37
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 99
15
1 INTRODUÇÃO
O cajueiro, Anacardium occidentale L., é uma planta nativa do Brasil. Seu cultivo é
bastante presente nas regiões costeiras do Norte e Nordeste, e dentre os principais produtos
explorados na cultura do cajueiro destaca-se a amêndoa (SERRANO & PESSOA, 2016). Na
safra 2019, a área plantada no Brasil foi de 435 mil hectares e a produção de castanha-de-caju
alcançou 139 mil toneladas, sendo os Estados do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte
responsáveis por 126 mil toneladas (90% da produção nacional) (IBGE, 2020). A produção de
amêndoas da castanha-de-caju tem sido afetada por diferentes fatores, dentre estes estão os
relacionados ao ataque de insetos-praga, cujas injúrias interferem na produtividade e na
qualidade dos frutos, reduzindo significativamente o retorno econômico da cultura.
Esta técnica permite monitorar e controlar as pragas nas lavouras, elevando os níveis de
sustentabilidade da produção e reduzindo o uso de defensivos químicos. Além disso, esta
técnica é própria para agir sobre a forma mais exposta das pragas: a fase adulta.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Com a alta taxa de crescimento populacional, vem também a preocupação com uma
maior demanda por alimentos, sendo necessária uma produção em maior escala que só é
alcançada por meio de um controle eficiente de pragas, sendo os agroquímicos amplamente
aplicados no campo. Estas substâncias, no entanto, são tóxicas para o ser humano e podem
causar contaminações ao meio ambiente quando empregados indiscriminadamente.
(ZARBIN, RODRIGUES, 2009).
No entanto, o uso demasiado desses inseticidas reduz a presença de espécies não alvo,
como os polinizadores e inimigos naturais por não serem substâncias de controle específico,
além de que o contato direto e frequente resulta em danos imediatos e tardios a saúde, sendo
os problemas neurológicos e respiratórios os mais importantes a depender do tempo de
exposição ao inseticida (LONDRES, 2011). Como pode ser observado nos dados
disponibilizados pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN NET), no
período entre 2010 até maio de 2020, foram registrados 28.113 casos de intoxicação por
defensivos agrícolas no Brasil, sendo estes por contato direto e indireto.
Outro problema que surge pelo uso demasiado dessas substâncias, consiste no
desenvolvimento de resistência de algumas espécies de insetos-praga em relação ao
agroquímico. Seja por uma redução na penetração do inseticida, aumento na taxa de
metabolismo ou alteração no sítio de ação do produto, essas características acabam passando
para gerações futuras, criando um grupo no qual o efeito dos defensivos não será observado.
E por não alcançar a redução do ataque dos insetos, aumenta-se a quantidade de inseticida
aplicado no campo para alcançar o controle desejado, aumentando, assim, a chance de
contaminação (MUTERO et al.,1994; MARTINELLI, OMOTO, 2006; LONDRES, 2011).
SEMIOQUÍMICOS
INTERESPECÍFICOS INTRAESPECÍFICOS
ALELOQUÍMICOS FEROMÔNIOS
Cairomônios; Alarme;
Alomônios; Agregação;
Sinomônios. Trilha;
Sexual.
A B C
Dentro do MIP, os feromônios podem ser utilizados como forma de controle associado
às armadilhas. Estas armadilhas podem ser utilizadas como forma de monitoramento, para
identificar se a quantidade da praga representa perdas significativas de produção, ou como
forma de controle, em que se fará a remoção desses insetos, ou aumentando a chance de
contato dos insetos com o agrotóxico. Dessa forma, se tem a diminuição da aplicação desses
defensivos agrícolas em campo, resultando numa produção mais sustentável (GOULART, et
al, 2015). Esse método já é utilizado no Brasil em culturas de grande importância econômica,
como a soja e o milho os quais podem ser observados na tabela 1 abaixo, na qual está descrita
uma lista dos feromônios comercializados no país, assim como o inseto-praga correspondente
e a cultura alvo.
20
É importante destacar que, diferente dos inseticidas, o uso de feromônios não promove
resistência nos insetos. E, por serem específicos, não prejudicam outras espécies importantes
para o meio ambiente.
2.3 Cajucultura
Apesar da planta ser nativa do Brasil, o país se encontra na nona posição como
principal produtor, sendo o Vietnã o principal produtor de castanha, considerando os dados
disponibilizados pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) até o ano de 2017.
22
No que concerne à exportação, somos o quinto maior exportador, tendo como principais
destinos os Estados Unidos, Holanda e Canadá. No entanto, desde 2006, a produção de
castanha no Brasil vem oscilando, e como forma de suprir a demanda interna, o Brasil passou
a importar castanhas, o que acaba gerando uma queda nos preços pagos ao produtor
(CONAB, 2019). Em parte, essa oscilação da produção ocorre pela forte estiagem que
acomete a região nordeste, e o preço da castanha. Além disso, se tem a incidência de insetos,
ácaros e patógenos nesta cultura (BRAINER, VIDAL, 2018; IBGE, 2019).
As pragas que prejudicam o cajueiro podem ser reunidas em grupos distintos: pragas
desfolhadoras, cujo ataque coincide com o período de maior concentração de chuvas; pragas
que atacam os ramos; pragas que atacam as inflorescências; pragas que atacam os
pseudofrutos e frutos; pragas que atacam o tronco e pragas que atacam a raiz (MESQUITA,
SOBRINHO, 2013). Na Tabela 2, destacam-se as pragas de maior ocorrência no cajueiro,
divididas segundo o tipo de ataque que podem causar à planta:
23
A B C
Fonte: Ariane Morgana Leal Soares. A A
Figura 4 - A) A. binocularis na fase adulta. B) A. binocularis na fase larval. C) Injúria causada pela A.
binocularis.
A B C
A B
biossíntese destes compostos, os quais são sintetizados a partir de ácidos graxos de cadeia
longa, como os ácidos palmítico (C18) e esteárico (C16) (STANLEY-SAMUELSON et al.,
1988; ARN et al, 1992; ANDO; INOMATA; YAMAMOTO, 2004; SANTANA, 2010). Esse
grupo representa a maioria dos feromônios identificados atualmente.
A segunda classe de compostos (tipo II) que já foram identificadas como feromônios
de lepidópteros, apresentam hidrocarbonetos poli-insaturados e seus derivados epóxi com uma
cadeia linear mais longa (C17 – C23 e, excepcionalmente, C25 e C27), e sem ramificações.
Essas estruturas são produzidas de componentes como os ácidos linoleico e linolênico, e
passam por encurtamentos de cadeias, assim como os do tipo I. Esses precursores
hidrocarbonetos são produzidos fora da glândula do feromônio, obtidos através da
alimentação, e posteriormente transportados para a glândula, onde ocorre a epoxidação e
outras modificações (STANLEY-SAMUELSON et al., 1988; MATSUOKA et al., 2006).
Existem ainda outros grupos menores, que compreendem outras classes de estruturas
identificadas como feromônios. Podem ser descritos como tipo III, composto por estruturas
que apresentam uma ou mais ramificações; grupo 0, composto por álcoois secundários e
cetonas com 7 a 9 átomos de carbono; além de algumas estruturas que não são relacionadas
aos grupos citados. Esses exemplos foram propostos e discutidos em 2016, por Löfstedt e
colaboradores.
A B
C D
De modo geral, feromônios são compostos orgânicos de baixo peso molecular e que
podem apresentar centro estereogênico e/ ou ligação dupla, na qual através do estudo do
comportamento dos insetos, é possível identificar e obter esses compostos. No entanto, a
quantidade obtida é muito pequena. Essa quantidade é da ordem de µg e não é possível dar
andamento a todos os estudos necessários sobre sua atividade e características, nem sobre sua
eficiência em campo (MORI, TASHIRO, 2004). Em geral, observa-se uma mistura de
feromônios liberada pelos insetos, baseada em combinações de diferentes componentes em
diferentes proporções. Mesmo um componente minoritário pode ser essencial para que essa
mistura seja atrativa, e com a quantidade obtida por extração diretamente do inseto não é
possível dar sequência aos estudos de identificação dos componentes (ANDO,
YAMAKAWA, 2011).
Esquema 1 - Esquema de rota proposta por Chong (2000) para obtenção de composto monobromado
a partir do diol correspondente.
Na química, temos inúmeros exemplos de que uma simples mudança isomérica em uma
cadeia orgânica pode alterar de forma significativa seus efeitos biológicos. Na química de
feromônios isso também é observado. Como visto, muitos feromônios apresentam ligações
duplas internas à cadeia, e para a identificação correta devemos obter ambos os isômeros pois
uma mudança isomérica pode alterar a ação do feromônio, sendo necessária a síntese de
ambos os isômeros para determinar a estereoquímica correta da molécula natural e assim
garantir a atratividade do feromônio sintético (SANTANA, 2010). Alguns exemplos dessas
reações serão melhores discutidas nos tópicos a seguir.
Um meio comum, na síntese de feromônios, utilizado para obtenção das ligações duplas
internas consiste no acoplamento utilizando alcinos terminais, como representado no esquema
2. Essas reações permitem a formação estereoespecífica da ligação C-C, com posterior
hidrogenação específica, resultando numa redução parcial da ligação tripla formada.
Em casos de estruturas que apresentam duplas ligações conjugadas, para a qual se tem o
acoplamento de alcinos terminais com haletos de arila ou vinila tem-se a possibilidade do uso
de catalisadores de metais de transição. Um exemplo seriam as reações de Stille (Esquema 4)
(KOSUGI, 1977; MILSTEIN E STILLE, 1978), que utilizam catalisadores de paládio e
compostos orgânicos de estanho (IV). Nesse caso, o mecanismo envolve uma adição
oxidativa do vinil para dar um intermediário de paládio, o qual passa por uma reação de
transmetalação com o organostanano, dando um intermediário organopaládio. O complexo
gerado passa por uma etapa de eliminação redutora, liberando o produto e regenerando o
catalisador de paládio (0) ao final. As reações de Stille representam mais da metade das
reações atuais de acoplamento cruzado, sendo bastante utilizadas na síntese total, e
apresentando bastante estereosseletividade (CLAYDEN et al., 2012).
32
O exemplo mais comum dessas reações com catalisadores seria a reação de Sonogashira
(Esquema 6) (SONOGASHIRA et al., 1975), na qual o processo catalítico requer o uso de um
complexo de paládio (0) e é realizado na presença de base com o uso de iodeto de cobre como
co-catalisador. O mecanismo é semelhante aos de Stille e Suzuki, passando por uma adição
oxidativa do halogeneto orgânico, gerando um intermediário de paládio (II) que sofre
transmetalação com o cobre alcinil (gerado a partir do alcino terminal, da base e do iodeto de
cobre). A eliminação redutiva com o acoplamento dos dois ligantes orgânicos fornece o
produto e regenera o catalisador de paládio (0) (CLAYDEN et al., 2012).
34
A ligação dupla Z pode ser obtida por adição sin na presença de gás hidrogênio,
utilizando boreto de níquel ou por catalisador de Lindlar. O catalisador de Lindlar é um
catalisador de paládio (Pd / CaCO3) envenenado com chumbo, o qual diminui sua atividade e
torna mais lenta a redução do produto alceno, impedindo a formação do alcano. O material
permanece na superfície do catalisador, o qual bloqueia uma das faces do alcino, onde se tem
a adição do hidrogênio no lado desprotegido da ligação tripla, resultando na formação
estereosseletiva do produto cis (CLAYDEN et al., 2012).
35
Para se obter a ligação dupla E, o meio mais comum, ocorrendo por adição anti, ocorre
a partir da transferência de elétrons de um átomo de sódio, tendo amônia como fornecedor de
prótons. Esse método está descrito no esquema 8 abaixo.
Dessa forma, considerando que as reações aqui descritas são bem discutidas na
literatura e já utilizadas na síntese de feromônios, é possível definir a melhor rota para
obtenção dos possíveis componentes feromonais associados à A. phytomiella e à A.
binocularis, sendo assim uma possível alternativa para controlar a incidência das mesmas na
cajucultura.
36
3 OBJETIVOS
Para a A. phytomiella:
Para a A. binocularis:
4 METODOLOGIA
Para a realização das rotas sintéticas aqui propostas, todo o material necessário (sendo
estes reagentes, vidrarias e afins), além do equipamento utilizado para identificação e parte da
caracterização das substâncias sintetizadas, encontram-se disponíveis no Laboratório de
Pesquisa em Recursos Naturais (LPqRN), no qual toda a pesquisa está sendo desenvolvida.
Para a obtenção dos cinco feromônios referentes à Anacampsis phytomiella, temos três
rotas distintas e quatro dessas estruturas possuem o mesmo intermediário. A escolha da
primeira rota, onde se é possível obter dois componentes que apresentam uma insaturação
38
interna à cadeia, foi definida seguindo a análise retrossintética representada abaixo (esquema
9):
Considerando os síntons observados, a rota proposta para obtenção dos dois compostos
está descrita no esquema 10 abaixo:
Esquema 10 - Rota proposta para obtenção dos feromônios da Anacampsis phytomiella com uma
insaturação.
Esquema 12 - Rota proposta para obtenção dos feromônios da Anacampsis phytomiella com duplas
conjugadas.
A mistura reacional após resfriada foi lavada sucessivamente com água destilada (1x
30 mL), HCl 5% (2x 30 mL), NaHCO3 2,5% (3x 30 mL) e solução saturada de NaCl (1x 30
mL), e extraída com AcOEt. A fração orgânica obtida foi seca em Na2SO4, filtrada em papel
filtro e concentrada em evaporador rotatório.
41
Foi obtido 1,23g de produto, sem necessidade de purificação, e o rendimento para essa
reação foi de 99%.
EM (70 eV; m/z; abundância relativa %): 199 (1, M+1); 138 (3); 67 (75); 55 (81); 43
(100).
RMN de 1H (600 MHz, CDCl3, ppm): 1,23-1,24 (m, 10H); 1,58-1,59 (m, 2H); 2 (s, 5H);
4,01-4,03 (m, 2H); 4,89-4,97 (dd, 2H; J = 10,31 e 17,03 Hz); 5,74-5,81 (m, 1H).
13
RMN de C (150 MHz, CDCl3, ppm): 21,2; 26,1; 28,8; 29,1; 29,2; 29,4; 29,5; 34; 64,8;
114,4; 139,3; 171,4.
FTIR-ATR (cm-1): 1740 ν(C=O); 1230 ν (C-O); 1035 ν(C-O); 3075 ν(Csp2-H); 2985-2835
ν(Csp3-H); 1480-1360 δ(Csp3-H).
Após resfriar a temperatura ambiente (27 ± 2ºC), a mistura reacional foi lavada com
NaHCO3 (1x 100 mL). O material reacional, após resfriado a temperatura ambiente, foi
lavado sucessivamente com água destilada (1x 100 mL), NaHCO3 (2x 100 mL) e solução
saturada de NaCl (1x 100 mL). Em seguida, a fração orgânica em 1,2-DCE foi seca em
Na2SO4, filtrada em papel filtro e concentrada em rotaevaporador. A fração aquosa foi ainda
lavada com AcOEt, a fim de se extrair material orgânico que estivesse presente. A fração
orgânica em AcOEt foi seca em Na2SO4, filtrada em papel filtro e concentrada em evaporador
rotatório.
42
Foi obtido 13,6g de produto, sem necessidade de purificação, e o rendimento para essa
reação foi de 89%.
EM (70 eV; m/z; abundância relativa %): 181 (0,03; M+); 179 (0,02); 164 (1); 162 (1); 136
(12); 134 (12); 83 (61); 55 (100); 41 (51).
RMN de 1H (600 MHz, CDCl3, ppm): 1,38 (q, 2H; J = 7,06 Hz); 1,46 (q, 2H; J = 7,06 Hz);
1,57 (q, 2H; ; J = 7,06 Hz); 1,86 (q, 2H; J = 7,06 Hz); 3,41 (t, 2H; J = 7,06 Hz); 3,64 (t, 2H; J
= 7,06 Hz).
RMN de 13C (150 MHz, CDCl3, ppm): 25,2; 28,2; 32,8; 33; 34,1; 63,0.
FTIR-ATR (cm-1): 3350 ν(O-H); 1250 δ(O-H); 1050 ν(C-O); 2980-2840 ν(Csp3-H); 1480-
1410 δ(Csp3-H); 645 ν(C-Br).
O material foi lavado com água destilada (1x 30 mL) e extraído com AcOEt (3x 30
mL), que em seguida, foi lavado com NaHCO3 2,5% (2x 30 mL) e solução saturada de NaCl
(1x 30 mL). A fração orgânica obtida foi seca em Na2SO4, filtrada em papel filtro e
concentrada em evaporador rotatório.
Foi obtido 18,8g de produto, sem necessidade de purificação, e o rendimento para essa
reação foi de 95%.
43
EM (70 eV; m/z; abundância relativa %): 265 (2; M+); 263 (1); 165 (1); 163 (2); 101 (4);
85 (100); 67 (10); 55 (34); 41 (25).
RMN de 1H (600 MHz, CDCl3, ppm): 1,25 (t, 1H; J = 7,15 Hz); 1,36-1,41 (m, 3H); 1,43-
1,48 (m, 4H); 1,50-1,54 (m, 3H); 1,55-1,63 (m, 6H); 1,68-1,73 (m, 2H); 1,79-1,89 (m, 4H);
2,03 (s, 1H); 3,36-3,42 (m, 4H); 3,47-3,51 (m, 1H); 3,64 (t, 1H; J = 6,55 Hz); 3,71-3,75 (m,
1H); 3,83-3,87 (m, 1H); 4,55-4,57 (dd, 1H; J = 2,85; 3,08 Hz).
RMN de 13C (150 MHz, CDCl3, ppm): 20; 25,2; 25,7; 28,3; 29,8; 31; 32,8; 34,1; 62,7; 67,7;
99,2.
FTIR-ATR (cm-1): 1125 ν(C-O); 2990-2820 ν(Csp3-H); 1485-1335 δ(Csp3-H); 645 ν(C-Br).
Após a purificação, foi obtido 1,21g de produto, e o rendimento para essa reação foi de
67%.
EM (70 eV; m/z; abundância relativa %): 237 (1; M-1); 209 (2); 101 (14); 85 (100); 67
(24); 55 (15); 41(17).
À mistura foi adicionado NaHCO3 (1x 30 mL) e extraída com AcOEt (3x 30 mL). A
fração orgânica reunida foi então lavada com NaHCO3 2,5% (2x 30 mL) e solução saturada
de NaCl (2x 30 mL), seca em Na2SO4, filtrada em papel filtro e concentrada em evaporador
rotatório.
EM (70 eV; m/z; abundância relativa %): 154 (0,01; M+); 107 (8); 79 (68); 67 (100); 55
(30); 41 (45).
45
EM (70 eV; m/z; abundância relativa %): 156 (0,05; M+); 138 (2); 109 (12); 79 (7); 67
(100); 55 (51); 41 (51).
O meio reacional foi diluído em NH4Cl (10 mL), em banho de gelo, filtrado em celite,
e posteriormente foi extraído com AcOEt (3x 20 mL). A fração orgânica reunida foi lavada
com água destilada (5x 20 mL) e solução saturada de NaCl (1x 20 mL) e, posteriormente,
seca em Na2SO4, filtrada em papel filtro e concentrada em evaporador rotatório.
EM (70 eV; m/z; abundância relativa %): 210 (1; M+); 209 (2; M-1); 109 (5); 101 (40); 85
(100); 67 (52); 55 (23); 41 (33).
RMN de 1H (600 MHz, CDCl3, ppm): 1,35-1,43 (m, 4H); 1,49-1,60 (m, 8H); 1,67-1,72 (m,
1H); 1,80-1,82 (m, 1H); 1,92 (t, 1H; J = 2,64 Hz); 2,17 (td, 2H; J = 2,60, 2,63 e 2,65 Hz);
2,61 (s, 1H); 3,35-3,39 (m, 1H); 3,47-3,50 (m, 1H); 3,70-3,74 (m, 1H); 3,83-3,87 (m, 1H);
4,56 (dd, 1H; J = 2,99 e 3,11 Hz).
RMN de 13C (150 MHz, CDCl3, ppm): 18,6; 20; 25,8; 26; 28,7; 28,8; 29,9; 31; 62,6; 67,8;
68,4; 84,9; 99,1.
FTIR-ATR (cm-1): 1128 ν(C-O); 3300 ν(Csp-H); 2985-2825 ν(Csp3-H); 1485-1320 δ(Csp3-H).
Dessa forma, no esquema 14 abaixo, tem-se a rota sintética proposta para obtenção dos
quatro possíveis componentes feromonais. Observa-se que todas as estruturas são obtidas a
partir de um mesmo intermediário.
Após resfriar a temperatura ambiente (27 ± 2ºC), à mistura foi adicionado NaHCO3
(1x 100 mL) para neutralizar o ácido, extraída com AcOEt (3x 50 mL). A fração orgânica
reunida foi lavada sucessivamente com NaHCO3 2,5% (2x 100mL), água destilada (2x 100
mL) e solução saturada de NaCl (1x 100 mL). A fração orgânica em AcOEt foi seca em
Na2SO4, filtrada em papel filtro e concentrada em evaporador rotatório.
EM (70 eV; m/z; abundância relativa %): 167 (0,04; M+); 165 (0,04); 137 (5); 135 (5); 69
(100) 55 (27); 41 (40).
RMN de 1H (600 MHz, CDCl3, ppm): 1,49-1,52 (m, 2H); 1,56-1,61 (m, 2H); 1,86-1,89 (m,
2H); 3,39-3,42 (m, 2H); 3,64-3,66 (m, 2H).
RMN de 13C (150 MHz, CDCl3, ppm): 24,7; 31,9; 32,7; 34; 62,9.
O material reacional foi lavado sucessivamente com água destilada (1x 30 mL) e
extraído com AcOEt (3x 30 mL), e em seguida lavado com NaHCO3 2,5% (2x 30 mL) e
solução saturada de NaCl (1x 30 mL). A fração orgânica obtida foi seca em Na2SO4, filtrada
em papel filtro e concentrada em evaporador rotatório. O material foi ainda purificado por
partição líquido/líquido, usando hexano e uma mistura de MeOH/H2O (proporção de 8:2)
como solventes, e extraído com AcOEt.
Após a purificação, foi obtido 17,41g de produto, e o rendimento para essa reação foi
de 86%.
EM (70 eV; m/z; abundância relativa %): 251 (4; M+); 249 (4); 151 (12); 149 (13); 101
(4); 85 (100); 69 (68); 55 (19); 41 (40).
RMN de 1H (600 MHz, CDCl3, ppm): 1,49-1,63 (m, 10H); 1,85-1,90 (m, 3H); 3,36-3,41 (m,
2H); 3,71-3,75 (m, 1H); 3,82-3,85 (m, 1H); 4,55 (s, 1H).
49
RMN de 13C (150 MHz, CDCl3, ppm): 19,9; 25,2; 25,7; 29,1; 31; 32,9; 34; 62,6; 67,5; 99,1.
Foi obtido 4,04g de produto, sem necessidade de purificação, e o rendimento para essa
reação foi de 96%.
EM (70 eV; m/z; abundância relativa %): 266 (1; M+); 181 (2); 165 (1); 101 (10); 95 (21);
85 (100); 67 (40); 55 (40); 41 (21).
RMN de 1H (600 MHz, CDCl3, ppm): 0,87 (t, 3H; J = 7,12 Hz); 1,27-1,35 (m, 4H); 1,43-
1,59 (m, 12H); 1,67-1,71 (m, 1H); 1,80-1,82 (m, 1H); 2,10-2,15 (m, 4H); 3,35-3,39 (m, 1H);
3,46-3,50 (m, 1H); 3,70-3,74 (m, 1H); 3,83-3,87 (m, 1H); 4,55-4,56 (dd, 1H; J = 2,90; 3,01).
RMN de 13C (150 MHz, CDCl3, ppm): 14,3; 19; 19,9; 22,5; 25,8; 29,1; 29,3; 29,6; 31; 31,4;
62,6; 67,8; 80,2; 80,7; 99,1.
50
A mistura foi tratada com NaHCO3 2,5% (1x 50 mL) e extraída com AcOEt (3x 50
mL). A fração orgânica reunida foi então lavada sucessivamente com NaHCO3 2,5% (2x 50
mL) e solução saturada de NaCl (2x 50 mL), seca em Na2SO4, filtrada em sílica e concentrada
em evaporador rotatório.
Foi obtido 2,75g de produto, e o rendimento para essa reação foi de 99%.
EM (70 eV; m/z; abundância relativa %): 182 (1, M+); 164 (0,16); 95 (33); 67 (100); 55
(76); 41 (43).
RMN de 1H (600 MHz, CDCl3, ppm): 0,88 (t, 3H; J = 7,12 Hz); 1,27-1,36 (m, 4H); 1,42-
1,51 (m, 6H); 1,54-1,59 (m, 2H); 2,10-2,16 (m, 4H); 3,63 (t, 2H; J = 6,63 Hz).
13
RMN de C (150 MHz, CDCl3, ppm): 14,3; 19; 22,5; 25,2; 29,1; 29,2; 31,4; 32,6; 63,1;
80,1; 80,8.
FTIR-ATR (cm-1): 3335 ν(O-H); 1050 ν(C-O); 2980-2825 ν(Csp3-H); 1490-1315 δ(Csp3-H).
Após purificação, foi obtido 0,335g de produto, e o rendimento para essa reação foi de
42%.
EM (70 eV; m/z; abundância relativa %): 184 (1, M+); 166 (4); 67 (100); 55 (76,33); 41
(47,38);.
RMN de 1H (600 MHz, CDCl3, ppm): 0,88 (t, 3H; J = 6,92 Hz); 1,25-1,34 (m, 6H); 1,36-
1,37 (m, 4H); 1,55-1,59 (m, 2H); 1,99-2,04 (m, 4H); 3,64 (t, 2H; J = 6,64); 5,31-5,38 (m, 2H,
J = 5,77 HZ).
13
RMN de C (150 MHz, CDCl3, ppm): 14,3; 22,8; 25,6; 27,4; 27,4; 29,7; 29,8; 31,8; 32,9;
63,1; 129,8; 130,4.
FTIR-ATR (cm-1): 3335 ν(OH); 1052 ν(C-O); 3005 ν(Csp2-H); 2980-2825 ν(Csp3-H); 1490-
1315 δ(Csp3-H).
refluxo por 3h. O andamento da reação foi monitorado por CCD, eluída em Hex/AcOEt 10%,
e revelada em solução ácida de vanilina.
Após resfriada para à temperatura ambiente (27 ± 2ºC), e lavada sucessivamente com
água destilada (1x 30 mL), HCl 5% (2x 30 mL), NaHCO3 2,5% (3x 30 mL) e solução
saturada de NaCl (1x 30 mL), e extraída com AcOEt. A fração orgânica obtida foi seca em
Na2SO4, filtrada em papel filtro e concentrada em evaporador rotatório.
EM (70 eV; m/z; abundância relativa %): 227 (0,04; M+1); 166 (14); 67 (100); 55 (56); 43
(63); 41 (29).
RMN de 1H (600 MHz, CDCl3, ppm): 0,88 (t, 3H; J = 7,03); 1,24-1,36 (m, 10H); 1,59-1,64
(m, 2H); 1,98-2,04 (m, 7H); 4,04 (t, 2H; J = 6,76 Hz); 5,30-5,38 (m, 2H, J = 5,79 HZ).
13
RMN de C (150 MHz, CDCl3, ppm): 14,3; 21,2; 22,8; 25,8; 27,3; 27,4; 28,8; 29,6; 29,7;
31,8; 64,8; 129, 6; 130,5; 171,4.
FTIR-ATR (cm-1): 1740 ν(C=O); 1232 ν(C-O); 1045 ν(C-O); 3005 ν(Csp2-H); 2985-2825
ν(Csp3-H); 1485-1350 δ(Csp3-H).
53
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A formação desse produto ocorre através de uma única etapa de acetilação, utilizando
anidrido acético como agente fornecedor do grupo acetila, e piridina como catalisador básico.
O par de elétrons do nitrogênio da piridina ataca uma das carbonilas do anidrido, formando
um intermediário catiônico o qual posteriormente sofrerá um ataque nucleofílico do álcool.
No esquema 15 abaixo está o mecanismo dessa reação:
PM = 198
Analisando por RMN de 1H (Figura 8), temos dois sinais numa região com maior
desproteção, referentes aos hidrogênios ligados aos carbonos participantes da dupla, sendo um
multipleto observado para o hidrogênio ligado ao C-9 (5,7 – 5,81 ppm) e um duplo dupleto
para os hidrogênios ligados ao C-10 (4,94 ppm, J = 10,31 e 17,03 Hz ). Os hidrogênios do C-
1, devido à proximidade ao oxigênio apresentam um deslocamento de 4,02 ppm. Os
hidrogênios do C-8, vizinho à dupla, aparecem como um sinal de grande intensidade em 2
ppm, mesma região em que se observa o sinal referente ao grupo metila (C-3’), devido à
proximidade com um carbono sp2. Os demais aparecem entre 1,23-1,34 ppm.
55
13
O espectro de RMN de C (Figura 9) apresenta 12 sinais de carbonos distintos. O
sinal em 21,2 ppm indica o grupo metila ligado diretamente à carbonila do grupo acetila (C-
3’). O carbono da carbonila (C-2’), por sua vez, aparece como o sinal mais desblindando em
171,4 ppm, sendo o carbono mais substituído da estrutura, aparecendo como o sinal de menor
intensidade devido a não presença de átomos de H ligados diretamente ao C, o que diminui
seu tempo de relaxação. O C-1 ligado ao oxigênio tem deslocamento químico com sinal 64,8
ppm. O C-10 tem deslocamento em 114,4 ppm, enquanto o C-9, sendo mais substituído,
aparece em 139,3 ppm (PAVIA, et al., 2010).
56
105
%T
90
3075 cm-1
Csp2-H
2985-2835 cm-1 1480-1360 cm-1
75
45
1740 cm-1
C=O
30
4000 3500 3000 2500 2000 1750 1500 1250 1000 750 500
1/cm
A primeira etapa dessa rota sintética consistiu numa monobromação, o qual permite
obter o material que formará o intermediário comum para os quatro feromônios restantes.
solvente, a fim de se ter uma separação de fases e proteger assim a estrutura de uma segunda
substituição. Isso ocorre devido a diminuição de polaridade do material após a primeira
substituição, fazendo-o passar para a fração orgânica. (OLIVEIRA et al, 2019). O mecanismo
geral para essa etapa está representado abaixo (esquema 16).
PM = 181
Analisando por RMN de 1H (Figura 12), podemos observar um tripleto em 3,64 ppm
(J = 7,06), referente aos hidrogênios do C-1 ligado à hidroxila, enquanto o sinal seguinte é
referente aos hidrogênios do C-6 ligado ao bromo (3,41 ppm; J = 7,06). Os sinais menos
desblindados aparecem como multipletos, referentes aos hidrogênios dos metilenos internos à
cadeia, integrados para 2H cada.
60
13
O espectro de RMN de C (Figura 13) apresenta 6 sinais de carbonos distintos. O
sinal em 63 ppm indica o carbono ligado à hidroxila (C-1), sofrendo esse deslocamento pela
alta eletronegatividade do oxigênio que encontra-se ligado diretamente a ele, enquanto o sinal
do carbono ligado ao bromo (C-6) aparece em 34,1 ppm, onde que, apesar de menor, também
gera um maior deslocamento no carbono devido à sua característica mais eletronegativa.
105
%T
90
3350 cm-1
75 1480-1410 cm-1 1250 cm-1
O-H 2980-2840 cm -1
C-O
45
30
15
4000 3500 3000 2500 2000 1750 1500 1250 1000 750 500
1/cm
O rendimento dessa reação foi de 88,7%, estando dentro do esperado para essa reação.
Apesar de uma pequena fração ter formado o composto dibromado, a maior parte do produto
formado consistiu no composto monobromado, indicando a eficiência dessa etapa ocorrendo
através de uma separação de fases.
62
A proteção da hidroxila é uma etapa necessária a fim de se evitar sua reação com a
base forte da etapa seguinte. Foi utilizado Dihidropirano como grupo protetor, devido à sua
estabilidade frente ao n-BuLi, além da facilidade tanto para proteger, quanto para retirar o
grupo posteriormente. Abaixo está o mecanismo dessa reação (esquema 17), onde se observou
o DHP sendo ativado pelo ácido, gerando um íon oxônio. O par de elétrons do oxigênio da
hidroxila ataca o carbocátion, formando o grupo acetal. Por fim, se tem a regeneração do
TsOH.
Os picos no espectro de massas (Figura 15B) para esse composto são bem
característicos. Observa-se, inicialmente o pico base m/z 85, referente ao fragmento do grupo
tetrahidropirano (THP). Outro pico característico de m/z 101, referente à perda do fragmento
do grupo cetal (OTHP). Destaca-se ainda a presença de picos duplos, característicos de
compostos bromados (m/z 163-165).
63
PM = 265
Para a análise de RMN de 13C, destaca-se a presença do sinal 99,2 ppm referente ao C-
2’, carbono cetálico. Os carbonos ligados diretamente aos oxigênios, possuem deslocamentos
67,7 ppm para o C-6’ e 62,7 ppm para o C-1. O carbono ligado ao bromo aparece na mesma
região como para o composto 12, com deslocamento 34,1 ppm. Como último destaque temos
os C-2 e C-3’, os quais aparecem em regiões com deslocamentos próximos em 25,2 e 25,7
ppm, respectivamente (Figura 17).
65
110
%T
100
90
Csp3-H C-Br
70
2990-2820 cm-1
Csp3-H
1125 cm-1
60
C-O
50
40
3500 3000 2500 2000 1750 1500 1250 1000 750 500
1/cm
Essa etapa ocorreu com um bom rendimento de 94,6%. Esse intermediário é comum
para as duas rotas restantes para a A. phytomiella.
com o composto bromado, sendo o brometo um bom grupo abandonador. Nessa etapa se
utilizou HMPA como agente de solvatação do Lítio (cátion), aumentando o caráter básico do
carbono terminal do alcino (carbânion), que atuou como nucleófilo. A reação ocorre como
representando no esquema 18 abaixo.
Pelo Íongrama para esse composto (Figura 19A), podemos observar a presença de
outros picos diferentes do esperado, sendo necessária uma purificação por coluna. Após a
purificação, analisando o espectro de massas para o composto 15 obtido, temos os picos
característicos do grupo protetor, sendo o pico base m/z 85 do THP e o pico de m/z 101 do
grupo OTHP. Observamos ainda a presença do pico m/z 209, referente à perda de um radical
etila. Não se observou mais picos duplos característicos da abundância isotópica do bromo,
indicando que houve sua saída (Figura 19B).
68
PM = 238
100
%T
80
1485-1310 cm-1
-1
2990-2825 cm
60 Csp3-H
Csp3-H
1128 cm-1
40
C-O
20
-20
4000 3500 3000 2500 2000 1750 1500 1250 1000 750 500
1/cm
Para se obter novamente a hidroxila, o composto 15 passou por uma hidrólise ácida,
utilizando TsOH em metanol, assim como na proteção, segundo o observado no esquema 19,
abaixo.
70
No espectro de massas (Figura 21B), indicando que não se tem mais a presença do
grupo protetor, não se observou mais os picos de m/z 85 e 101. Devido a fácil desidratação do
álcool, perdendo 18 unidades de massa, não foi observado à presença do pico do íon
molecular (m/z 154). São observados os fragmentos resultantes da perda de grupos metilenos
(m/z 41, 55 e 67).
PM = 154
PM = 156
Essa etapa, partindo do mesmo intermediário 13, iniciou a segunda rota proposta para
a A. phytomiella, na qual se busca obter os compostos que apresentam duas insaturações na
cadeia. Essa etapa também segue um mecanismo SN2, onde se tem a substituição do bromo
(grupo abandonador) pelo alcino terminal.
O espectro de massas (Figura 24B) apresentou o pico de m/z 209 (M – 1), com a perda
de uma unidade de massa, característica de alcinos terminais. Como o composto ainda se
encontra protegido observou-se a presença dos picos referentes ao grupo protetor (m/z 85 e
101). Com a saída do fragmento do grupo acetal, com m/z 101, o pico m/z 109 é formado e
observado no espectro para esse composto.
73
PM = 210
13
Analisando o espectro de RMN de C, assim como observado para o intermediário
13, apresentou o sinal 99,1 ppm para o C-2’, carbono cetálico. Os sinais 67,8 e 62,6 ppm,
representam os carbonos C-6’ e C-1, respectivamente, ligados somente a um oxigênio.
Destaca-se ainda os carbonos participantes da tripla, os quais possuem deslocamento de 84,9
ppm, para o C-7, e 68,4 ppm para o carbono terminal (Figura 26).
75
105
%T
90
3300 cm-1
75 1485-1320 cm-1
Csp-H -1
2985-2825 cm
Csp3-H
Csp3-H
60
1128 cm-1
45 C-O
30
15
4000 3500 3000 2500 2000 1750 1500 1250 1000 750 500
1/cm
PM = 167
O rendimento para essa etapa foi de 81,5%, sendo um rendimento bom. Assim como o
observado para a obtenção do composto 12, o produto majoritário formado foi o composto
monobromado mais uma vez destacando a eficiência do método por separação de fases.
Pelo espectro de massas (Figura 31B), observou-se que a reação ocorreu devido à
presença dos picos referentes ao grupo protetor, sendo estes o m/z 85 (THP), e m/z 101
(acetal, OTHP). Também é possível observar picos duplos, indicando que ainda se tem bromo
na estrutura, com razão m/z 149-151.
80
PM = 251
PM = 266
O espectro de RMN de 1H traz um duplo dupleto em 4,56 ppm (J = 2,90 e 3,01 Hz)
para o hidrogênio do C-2’, como observado no intermediário bromado. Os hidrogênios do C-
6’ apareceram entre 3,70 – 3,87 ppm, enquanto no C-1, os hidrogênios apareceram em 3,39
ppm. A metila apareceu como um tripleto em 0,87 ppm (J = 7,12 Hz). Os metilenos vizinhos
83
à tripla ligação apareceram com sinal em 2,10 – 2,15 ppm, com integração para 4 átomos de
hidrogênio (Figura 35).
O espectro de RMN de 13C traz 15 sinais para carbonos distintos, o que no indica que
ocorreu sobreposição de sinais, sendo necessária uma posterior análise heteronuclear de RMN
HSQC, o qual identificará qual Carbono estará ligado a qual Hidrogênio. Os sinais com
deslocamento em 19 e 25,8 ppm, aparecem com uma maior intensidade que os demais,
sugerindo que dois grupos metilenos podem ter deslocamento químico coincidentes. Pode-se
identificar, ainda, os sinais referentes ao C-2’, ligado a dois oxigênios (99,1 ppm), os
carbonos que se encontram ligados a um oxigênio, aparecendo na região esperada de 67,8 e
62,6 ppm para C-6’ e C-1, respectivamente. Por fim, identifica-se também os carbonos sp,
onde aparecem em 80,7 e 80,2 ppm, sendo C-6 e C-7, respectivamente (Figura 36).
84
105
%T
90
1485-1310 cm-1
75
60
Csp3-H
1128 cm-1
C-O
45
30
4000 3500 3000 2500 2000 1750 1500 1250 1000 750 500
1/cm
PM = 182
Analisando por RMN de 1H, na figura 39, podemos destacar dois sinais de interesse. O
primeiro é referente à metila do C-12, cujo sinal de deslocamento aparece como um tripleto
em 0,88 ppm (J = 7,12 Hz), característico para esse fragmento e semelhante ao observado no
intermediário anterior (composto 36). O segundo sinal destacado, dessa vez referente ao C-1,
também aparece como um tripleto na região de 3,63 ppm (J = 6,63 Hz) em região de
deslocamento semelhante ao C-1 do intermediário anterior.
87
O espectro de RMN de 13C para esse composto apresenta 11 sinais distintos, indicando
que há uma superposição de sinais, e assim como para o composto 36, se faz necessário uma
análise heteronuclear de RMN HSQC, a fim de se identificar qual Carbono estará ligado a
qual Hidrogênio, e dessa forma se identificar os sinais sobrepostos. Ao observar os sinais que
aparecem no espectro, vemos que aquele com deslocamento em 19 ppm apresenta uma maior
intensidade em relação aos demais, sendo justificado possivelmente pela sobreposição citada,
os quais seriam referentes aos carbonos 5 e 8, vizinhos aos carbonos sp participantes da tripla
ligação. Para esse espectro destaca-se ainda os sinais em 63,1 ppm, referente ao C-1, estando
mais deslocado devido à proximidade com a hidroxila, e os sinais em 80,1 e 80,8 ppm,
referentes aos C-6 e C-7 (figura 40).
88
110
%T
100
90
3335 cm-1
80 1490-1315 cm-1
O-H
Csp3-H 1050 cm-1
70 2980-2825 cm-1
C-O
Csp3-H
60
50
40
30
4000 3500 3000 2500 2000 1750 1500 1250 1000 750 500
1/cm
Esse produto foi formado com 99% de rendimento. A partir desse intermediário
comum, é possível obter os quatro componentes feromonais para a A. binocularis, a partir da
redução (E e Z) da tripla e uma posterior acetilação.
PM = 184
13
Pelo espectro de RMN de C, pode-se observar que os sinais na região de maior
desproteção foram aqueles participantes da dupla, com sinais 130,4 e 129,8 ppm. Destaca-se
também o carbono ligado à hidroxila (C-1), o qual possui deslocamento 63,1 ppm e o carbono
da metila (C-12) com deslocamento 14,3 ppm (Figura 44).
92
105
%T
90 2980-2825 cm-1
60 C-O
3005 cm-1
45 Csp2-H
30
4000 3500 3000 2500 2000 1750 1500 1250 1000 750 500
1/cm
O rendimento para essa etapa foi de 41,8%. Dessa forma, obteve-se o primeiro
componente feromonal da A. binocularis. O rendimento global para esse composto final foi de
27%, devido ao baixo rendimento nessa última etapa. Partindo desse composto foi possível
obter o segundo feromônio, com mais uma etapa de acetilação.
Aqui também se observou o pico base com m/z 67, resultante da clivagem α da ligação dupla,
entre o C-5 e C-6 (Figura 46B).
PM = 226
Como esperado para esse composto, se tem a presença de 14 picos para carbonos
distintos (Figura 48). Destaca-se o sinal na região mais desprotegida referente ao átomo de
carbono da carbonila (C-2’), que apresenta deslocamento de 171,4 ppm. A metila ligada ao
grupo funcional (C-3’) apresenta deslocamento 21,2 ppm, um pouco mais desblindado devido
ao grupo próximo ser bastante eletronegativo. O C-1 ligado ao oxigênio, possui deslocamento
64,8 ppm. E os dois carbonos participantes da dupla apresentam deslocamento 130,5 e 129,6
ppm semelhante ao composto 32.
96
105
%T
90
3005 cm-1
75
Csp2-H 2985-2825 cm-1 1485-1350 cm-1
45 1740 cm-1
C=O
30
4000 3500 3000 2500 2000 1750 1500 1250 1000 750 500
1/cm
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As rotas propostas para obtenção dos feromônios das pragas aqui descritas são bem
discutidas na literatura de síntese. De um modo geral, pode-se observar que as etapas se
mostraram eficientes para a obtenção dos produtos desejados para a identificação e estudos de
laboratório. Para uma síntese em escala para realizar o monitoramento e controle das pragas é
ainda necessário um aprimoramento do rendimento geral. Um dos objetivos era completar a
identificação dos componentes do feromônio e ao final não obtivemos todos os isômeros
planejados, mas temos as rotas sintéticas completas e essa síntese deve prosseguir para a
obtenção de todos os componentes, inclusive em quantidades suficientes para os testes de
eficiência a campo para ambas as pragas. Ainda será necessário experimentos de scale up para
otimizar as rotas para uma síntese comercial.
Como visto, dos cinco feromônios propostos para a Anacampsis phytomiella, apenas
um componente foi obtido, o acetato de 9-decenila, o qual foi caracterizado, estando apto para
os testes com o inseto. Para a Anthistarcha binocularis, dos 4 isômeros propostos foram
obtidos o (Z) 6-dodecenol e o acetato de (Z) 6-dodecenila, que também estão disponíveis para
os testes frente ao inseto.
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