(Second Sons 1) - Beautiful Things (ANONYMOUS)
(Second Sons 1) - Beautiful Things (ANONYMOUS)
(Second Sons 1) - Beautiful Things (ANONYMOUS)
Rei/Rainha
Duque/Duquesa
Marquês/Marquesa
Conde/Condessa
Visconde/Viscondessa
Barão/Baronesa
Baronete/Lady
Cavaleiro/Lady
Os Corbin (Duques):
George Corbin - o Duque de Norland.
Harriet Wakefield Corbin - a Duquesa viúva de Norland,
mãe de George e James.
Lorde James Corbin - o Visconde Finchley, irmão mais
novo de George.
Os Rutledge (Marqueses):
Constance Rutledge - A Marquesa de Deal.
Lady Olivia Rutledge - filha.
Os Swindon (Condes):
Mary Swindon - A Condessa de Waverley.
Lady Elizabeth Swindon - filha mais velha.
Lady Mariah Swindon - filha mais nova.
Os Blaire (Viscondes):
Diana Blaire - a Viscondessa de Raleigh
Lady Madeline Blaire - filha.
1 Abreviação de Esquire um título geralmente usado somente após o nome completo de um homem ou
mulher que é advogado.
Para Darcy, Wentworth e Knightly... coletivamente.
E mais especialmente para Jane, a atrevida que os criou.
A diligência chacoalhava pela estrada encharcada de
chuva, batendo em cada poça e solavanco com força. Rosalie
gemeu, segurando firme em seu assento com ambas as mãos.
Três dias de chuva sem trégua, mas ela não podia arriscar
atrasar sua viagem por mais tempo. Quando uma Duquesa
solicita sua presença imediata, você não a questiona. Você faz
as malas e sobe no primeiro transporte.
Foi assim que Rosalie se viu presa no canto de uma
diligência pública com destino a Carrington. Ela ficou presa
nesta caixa miserável o dia todo, as janelas bem fechadas
contra o vendaval. Seis horas sem ar e sendo obrigada a
suportar o toque excessivamente informal do advogado do
campo sentado ao seu lado. Em frente a ela, um comerciante
dormia, os joelhos batendo nos dela enquanto ele roncava, o
chapéu caído sobre os olhos.
Quando ela não aguentou o ar sufocante por mais um
segundo, ela usou o lenço para limpar a janela embaçada,
espiando pelo vidro.
“Parou de chover?” Murmurou o advogado, encostando-se
nela até que ela sentiu o hálito quente dele bater em sua
bochecha.
Ela cerrou os dentes enquanto lutava contra a vontade de
dar uma cotovelada no estômago dele. “Mhmm.” Ela destrancou
a janela e abriu o painel de vidro.
“Você sabe quanto tempo falta para Carrington, senhor?”
A velha senhora do outro lado da diligência perguntou.
“Não pode ser muito mais longe, senhora,” respondeu o
advogado.
“Como eu desejo me refrescar,” a senhora suspirou.
Rosalie não poderia concordar mais. Desgrenhada era uma
boa palavra para descrever como ela se sentia. Ela teria
preferido conhecer a Duquesa Viúva de Norland parecendo
menos um pato saindo do lago. Seus cachos escuros estavam
lisos, o vestido pegajoso contra as pernas, suor desconfortável
entre os seios. Aquele calor medonho de verão era muito
incomum para setembro.
O advogado gemeu, esticando as pernas. “Vai ser tão bom
para... aghh...”
CRACK.
Em um momento, Rosalie estava espiando pela janela. No
seguinte, ela estava colidindo com o comerciante. Todo o grupo
caiu em um emaranhado de braços e pernas retorcidas.
“Ai...”
“Saí de cim...”
Lá fora, os cavalos guincharam.
“Calma! Ei, ei, ei!” Vieram os gritos do cocheiro. A diligência
se inclinou em um ângulo selvagem quando ele controlou a
parelha até parar. Depois de alguns momentos de pânico, tudo
ficou quieto. Um punho pesado bateu no telhado. “Todo mundo
bem aí?”
O comerciante gemeu sob Rosalie.
“Saia de cima de mim,” ela ofegou, cutucando o advogado
com os dois cotovelos enquanto os braços dele a envolviam
desnecessariamente.
Ele se afastou, ajudando a senhora idosa a se endireitar.
“Todos estão bem?” O cocheiro chamou novamente.
“Si-sim,” Rosalie respondeu.
“O que aconteceu?” O comerciante rosnou, enxugando o
lábio cortado.
“Roda quebrada,” respondeu o cocheiro. “Droga!”
“Fique dentro da diligência,” disse o lacaio, sua cabeça
aparecendo da janela embaçada. “Está bem escorregadio aqui
fora.”
“Oh, eu sabia que iríamos cair,” a velha senhora lamentou.
“Toda essa chuva... foi tolice viajar nessas condições... deveria
ter adiado.”
Rosalie segurou um sorriso. A pobre senhora falava
exatamente como sua tia Thorpe, que era propensa a ataques
nervosos. Ela só podia imaginar como sua tia gritaria com uma
roda quebrada. “Não se preocupe, senhora,” disse ela. “Nada tão
quebrado que não possa ser consertado...”
Nesse momento, o cocheiro abriu a porta, enfiando o rosto
lá dentro. “Desculpe, senhoras e senhores, mas parece que esta
ruptura não pode ser consertada facilmente.”
O grupo encarou Rosalie com raiva, como se isso fosse de
alguma forma culpa dela por ser otimista.
“Mandei o rapaz na frente,” continuou o cocheiro.
“Estamos a menos de um quilômetro e meio de Carrington. Ele
vai nos dar uma roda nova, e poderemos partir em um piscar
de olhos.”
“Tenho certeza de que você fará o possível,” disse o
comerciante com um grunhido irritado.
A porta da diligência se fechou e Rosalie ficou presa ao lado
do advogado.
“Bem,” disse ele com um sorriso. “Parece que minha sorte
está melhorando aos trancos e barrancos.”
“O que você quer dizer, senhor?” Exclamou a velha.
Ele deu um sorriso para Rosalie. “É que poderei passar
mais um tempo com essa criatura divina, hein, senhorita
Rose?”
Rosalie enrijeceu. Ele disse a todos o seu nome,
formalmente, como era apropriado quando alguém dividia uma
diligência por horas a fio, mas ele certamente não ganhou o
direito de abandonar o uso de seu sobrenome... ou abreviar seu
nome de batismo. Talvez se tia Thorpe estivesse aqui, Rosalie
teria sorrido e ignorado seus avanços. Mas ela estava
abençoada e descaradamente sozinha.
E não toleraria mais tolos.
Ela pegou sua mala de viagem e abriu a porta, abrindo
caminho para fora da diligência. Seus pés afundaram na lama,
e ela fez uma careta, tentando manter as saias longe da
bagunça. O ar cheirava a terra molhada, mas a paisagem ao
redor era linda como uma pintura. A chuva era pouco mais que
uma névoa fina agora. Ao redor havia colinas ondulantes. À
esquerda, uma linha de árvores brilhava na névoa, as folhas de
outono mudando brilhando como ouro e rubis.
O advogado abaixou a cabeça para fora da porta aberta.
“Volte aqui, sua garota boba.”
“Não,” ela respondeu com os dentes cerrados. “O cocheiro
disse que falta pouco mais de um quilômetro para Carrington.
Eu andarei.”
Ela ouviu três murmúrios confusos de dentro da diligência.
“Em toda aquela lama?” Veio a voz da velha senhora.
“Criança, o que você está pensando?”
Rosalie apenas se esgueirou até o cocheiro. “Senhor, irei
caminhar até Carrington. Mas vou deixar meu baú, se você não
se importa. Posso recuperá-lo quando você chegar à aldeia?”
“Claro, senhorita,” ele disse com uma ponta do chapéu.
“Vamos nos instalar nos fundos do Salgueiro Sussurrante.”
Ela acenou em agradecimento e levantou as saias,
espremendo-se na grama molhada.
“Senhorita Rose, você precisa de um acompanhante?”
Chamou o advogado.
Rosalie se virou, os olhos brilhando. “Senhor, se você
tentar me seguir, terei que encontrar um pedaço de pau e bater
em suas canelas até que você não possa mais vir atrás de mim!”
Demorou quase uma hora para chegar a Carrington, o que
garantiu a Rosalie que a distância certamente foi maior que um
quilômetro. No momento em que ela se arrastou pela rua
principal em direção às luzes brilhantes do Salgueiro
Sussurrante, seu vestido e casaco estavam escorregadios com
lama até os joelhos. Cada passo que ela deu tinha sido
encoberto pela lama.
“Boa noite, bem-vinda, a... céus...” O estalajadeiro
engasgou quando olhou para Rosalie. “Você caiu de um cavalo,
querida?”
“Algo assim,” Rosalie respondeu, fazendo o possível para
limpar os pés no tapete. “Eu estava em uma diligência da
manhã da cidade. Quebramos uma roda a cerca de um
quilômetro e meio na estrada do norte.”
“Sim, nós ouvimos sobre isso,” o estalajadeiro respondeu.
“E você... andou até aqui?”
“Confie em mim, um pouco de lama era preferível à
alternativa de ficar por lá,” Rosalie murmurou, ainda sentindo
o sussurro da respiração quente do advogado em seu pescoço.
“Bem... você vai precisar de uma xícara de chá,” disse o
estalajadeiro. “É melhor você vir comigo.”
Rosalie seguiu o senhor por um corredor escuro e estreito
que se conectava a uma pequena estalagem.
“Você está procurando um quarto?”
“Eu não tenho dinheiro para um quarto,” Rosalie
respondeu. “Minha tia só me deu o suficiente para pagar a
passagem do transporte. Eu deveria estar indo para Alcott Hall.
Disseram-me que um empregado me encontraria aqui para me
levar pelo resto do caminho...”
O estalajadeiro se virou. “Oh, querida, o Sr. Henry já veio.
Ele pegou alguns tipos da alta sociedade e saiu... oh, duas
horas atrás.”
“Perfeito,” Rosalie murmurou. Esse dia poderia ficar pior?
“Qual é a distância até Alcott?”
“Cerca de oito quilômetros,” respondeu o estalajadeiro,
mostrando-lhe uma mesinha no canto.
Painéis de madeira escura davam à casa pública uma
sensação aconchegante e fechada. Algumas cabines lotadas
ficavam ao longo de uma parede, um bar na outra, e um homem
estava no canto afinando um violino.
“Descanse aqui, e vou preparar um pouco de chá para
você. Vou pedir à minha cozinheira que traga um pedaço de
ensopado também. Por conta da casa, querida, enquanto
espera.”
“Obrigada,” Rosalie murmurou, sentando-se no assento
oferecido.
Em instantes, ela foi servida com uma xícara de chá.
Sentou-se sozinha, segurando a xícara com as duas mãos,
adorando a sensação do calor penetrando em suas palmas.
Parecia ousado sentar sozinha em uma taberna. Sua tia
certamente desaprovaria. Rosalie apenas sorriu, tomando outro
gole de seu chá. Ela observou enquanto os homens na sala riam
e contavam piadas, dando tapinhas nas costas uns dos outros,
acendendo cachimbos, tomando goles de suas canecas de
cerveja. Era uma imagem da vida no campo. Ela ansiava por
pegar o seu caderno de desenho em sua mala de viagem e
capturar a cena.
“Olá, querida,” disse um homem corpulento, sentando-se
no assento em frente a ela. Ele derramou um pouco da cerveja
espumosa de sua caneca na mesa. “Bem, você é uma moça
bonita, não é? Você me lembra minha filha, Bessie!”
Rosalie recostou-se enquanto o homem cuspia. Ela seria
abordada por todos os homens sem escrúpulos da Inglaterra?
“Oh, deixe a senhora em paz, Alfie,” um homem gritou do
bar. Outros riram, mas nenhum parecia interessado em ajudá-
la.
Alfie não se intimidou. “O que uma beldade como você está
fazendo sozinha em uma estalagem, doçura?”
Ela procurou algo para dizer para fazê-lo sair. “Não estou
sozinha, senhor.”
Ele se inclinou sobre a mesa, os olhos vidrados pela
bebida. Ele ainda teve a audácia de estender a mão, tentando
agarrar a mão dela. “Claro que não. Estou aqui, não estou?”
Ela ergueu a xícara fora do alcance dele, para que ele não
derramasse em seu colo. De repente, uma mão se fechou em
seu ombro e ela estremeceu. A mão era firme e grande demais
para pertencer ao estalajadeiro.
Então uma voz profunda falou. “Desculpe por deixar você
esperando.”
Rosalie enrijeceu quando a boca de Alfie se abriu em um
‘O’ cômico, exibindo seus dentes amarelados. A voz masculina
atrás dela era suave como chá com mel.
Com o coração na garganta, ela baixou os olhos e seguiu a
linha de uma mão enluvada de couro até o corte nítido de uma
capa molhada até o rosto do homem, meio escondido na sombra
da aba do chapéu. Ele era alto e bonito, com porte de cavalheiro.
Ele tirou o chapéu e uma mecha de cabelo preto caiu sobre
sua testa. Seus olhos cinzentos se estreitaram sob as
sobrancelhas escuras. “Você está esperando há muito tempo,
irmã?”
Ela corou. “Eu...”
“Ela nunca seria sua irmã,” Alfie reclamou.
O rosto do homem perdeu o pouco calor que tinha. “Quer
dizer que conhece os membros da minha família melhor do que
eu, senhor?”
Alfie gaguejou, os olhos disparando dela para o cavalheiro.
Em instantes, o homem do bar puxou a manga de Alfie.
“Ele não quis dizer nada com isso, senhor,” disse ele,
arrastando Alfie para longe. Somente quando Alfie foi forçado a
sair pela porta reclamando de não ter terminado sua cerveja, o
estranho soltou seu ombro.
“Sinto muito por tudo isso,” disse ele. “A ralé costuma ser
bem mais comportada. No futuro, se estiver jantando sozinha,
sugiro fazer as refeições em seu quarto, senhorita...” Ele ergueu
uma sobrancelha escura, esperando pelo nome dela.
“Harrow,” ela forneceu. “Rosalie Harrow.”
“Srta. Harrow,” ele repetiu.
“E você é…”
Seu semblante estoico deu lugar a um sorriso malicioso.
“Fico feliz por tê-la ajudado.”
Rosalie notou como todos os olhos na sala o observavam
com uma combinação de olhares furtivos e olhares abertos.
Alguns murmuraram por trás de suas mãos. Certamente, ele
deve ser alguém de grande importância. Sem dúvida um Lorde.
Antes que ela pudesse fazer outra pergunta, ele tirou o
chapéu. “Boa noite, Srta. Harrow.” Então ele se virou e saiu.
2 Na mitologia grega, Anfitrite era uma deusa do mar, filha de Nereu ou de Oceano, e esposa de Poseidon.
“Eu sou primeiro-Tenente agora,” Tom argumentou. “Uma
capitania é a próxima, desde que eu possa subir de nível. E meu
capitão acredita que a maneira mais segura de me classificar
dentro de um ano é arranjar uma esposa que possa me ajudar
a pagar por isso.”
Burke se inclinou para frente. “Então, jovem Poseidon, a
trama se complica. A Duquesa planeja desfilar damas elegíveis
na frente de George no próximo mês, e você imaginou o quê?
Escolher uma no final com um título e uma bolsa cheia de
diamantes e esperar que George não perceba? Você realmente
acha que pode se apaixonar em quinze dias?”
Tom fez uma careta. “Não é desse jeito. Vocês dois sabem
que não tenho interesse em casamento. Não depois...” Ele ficou
em silêncio e, pela primeira vez, Burke discretamente não fez
nenhum comentário. “Isto não é sobre amor. Estou farto de
tudo isso. Este é um movimento de carreira, puro e simples.”
Burke colocou seu copo de lado. “Bem, Tenente, você tem
sua missão e agora nós temos a nossa. A Duquesa providenciou
gentilmente para que um monte de damas elegíveis ficasse na
casa pelas próximas três semanas. Isso é bastante tempo para
encontrarmos uma esposa adequada para você com um par de
lábios grossos para beijar e bolsos fundos para acariciar.”
“Vocês dois vão ficar fora disso,” Tom rosnou.
“Bobagem,” disse James. “Entre nós três, encontraremos
para você uma dama tão perfeita que você esquecerá tudo...”
Ele limpou a garganta e esvaziou o copo. “Apenas deixe isso
conosco. Nós vamos ter você andando pelo corredor até o Natal.”
A perspectiva deixou Tom absolutamente infeliz.
Burke levantou seu copo em uma saudação zombeteira.
“Fico feliz em ter você em casa, Tom.”
James acordou sobressaltado quando seu criado abriu as
cortinas, deixando um raio de sol cair em cascata sobre a cama.
Ele se desembaraçou dos lençóis. Outra estranha série de
sonhos na noite anterior o fez sentir-se tão cansado quanto
quando deitou a cabeça.
“Desculpe, meu senhor. Você me pediu para acordá-lo
pontualmente às sete. Quer que eu traga uma bandeja aqui ou
vai descer?”
James esfregou o rosto com as duas mãos. “O quê? Não,
vou me vestir e descer. Meu irmão está acordado? Ou minha
mãe?”
“A campainha de Sua Graça tocou às seis e meia, meu
senhor.” William escolheu um fraque azul, um colete de brocado
vermelho e calças bege.
“E meu irmão? Ele não fugiu à noite de volta para a
cidade?”
“Eu acredito que Sua Graça ainda está aqui, meu senhor,”
William respondeu.
“Certifique-se de que seu valete o acorde logo e lembre-o de
que seus convidados esperam vê-lo no café da manhã.”
“Sim, meu senhor.”
William o ajudou a se vestir em silêncio. James deu uma
última olhada no espelho, notando as olheiras sob seus olhos.
Talvez sua mãe conheça um tônico para ajudar na insônia.
Deixando esse problema de lado por enquanto, ele vestiu a
máscara de um Corbin e deixou a serenidade de seu quarto.
4Whist, é um jogo de cartas de duas duplas, com parceiros frente a frente. Este jogo é considerado o ancestral
do bridge.
com ele seria maior do que o aborrecimento de ficar presa em
uma mesa de jogo?
“Eu deveria... eu vou... esperar mais um momento,” ela
murmurou, voltando sua atenção para seu livro.
Ele sorriu, vitorioso. “Taça de vinho do Porto?”
“Não, obrigada,” ela respondeu, sem levantar os olhos do
livro.
O silêncio combinava muito bem com ele. Ele esticou as
pernas, inclinando-as para o fogo. Risos e conversas filtradas
pela parede, seguidos pelo som revelador de cartas
embaralhadas.
Depois de alguns minutos, a Srta. Harrow fechou o livro
com uma bufada. “Há quanto tempo você mora no campo, Sr.
Burke?”
Sua mão parou com o copo a meio caminho dos lábios.
“Perdão?”
“Bem, não podemos ficar sentados aqui sem conversar
quando não nos conhecemos,” ela argumentou. “Parece...
íntimo... e eu me recuso a compartilhar um momento íntimo
com um estranho, então, por favor, você pode me dizer há
quanto tempo vive no campo?”
Mas ela queria compartilhar momentos íntimos com um
homem que ela conhecia bem? Como Burke se colocou nessa
lista? “Então, você prefere me fazer perguntas estúpidas,
interrompendo meu vinho e seu livro? Isso é mais preferível
para você do que o silêncio?”
Por um momento seus olhos brilharam, e ele viu o fogo que
ela mantinha escondido bem no fundo. “Você apenas supõe que
as perguntas serão estúpidas, senhor. Talvez você descubra que
eu sou esperta. Talvez sejam apenas suas respostas que são
irracionais.”
Lá está ela. Oh, esta era uma reviravolta deliciosa. Muito
mais divertido do que um maldito jogo de cartas ou até mesmo
sua própria companhia. “E você é esperta, Srta. Harrow?”
“Eu não...”
Sim, havia aquele rubor que ele estava conhecendo tão
bem. Talvez quando ela o conhecesse melhor, ela o deixaria
pressionar seus lábios em cada bochecha, provando aquele
calor por si mesmo. “Fale agora, não seja tímida. Você quer
trocar palavras comigo, e estou mais do que feliz em obedece-
la.”
“Eu nunca quis insinuar que isso era uma partida de
esgrima,” ela respondeu. “Eu quis dizer para nós jogarmos
conversa fiada.”
“Há quanto tempo moro no país? Oh, sim, conversa fiada
mesmo. Eu te observei desde aquele primeiro momento no pub.
Vejo como esses seus olhos escuros examinam cada cena como
um falcão à caça. Você não perde nada, não é? Você deve ter
perguntas mais profundas do que a duração do meu mandato
residindo no país.”
Seus olhos se estreitaram novamente. “Um minuto você me
chama de um pequeno cervo assustado... agora eu sou um
falcão real, inspecionando toda a terra. Qual é, Sr. Burke? Sou
predador ou presa?”
Foda-se, ele gostou do jeito que ela disse seu nome. O som
era baixo e gutural. Ela colocou música nele. Ele queria que ela
dissesse de novo. “Talvez você seja uma deusa que muda de
forma,” ele meditou. “Ártemis não mudou de forma à vontade?”
Essa comparação a fez rir. “Por favor, Sr. Burke. Entre você
e o Tenente, não terei um minuto de paz. Sem mais referências
a deusas, ou saberei que estou sendo provocada e me
ofenderei.”
Meu nome em seus lábios novamente. Ela não era uma
deusa; ela era uma bruxa, e isso era algum feitiço. Pior ainda,
ela era uma sereia, pois o próprio som de sua voz o estava
atraindo. Ele sentiu vontade de escorregar da cadeira e cair de
joelhos diante dela. A visão disso fez seu pênis estremecer.
Cristo, o que estava acontecendo com ele?
“Como quiser,” ele murmurou. “Devemos conduzir este
navio para águas mais seguras? Ater-se a perguntas da
variedade irracional?”
Sua cabeça inclinada para o lado, aqueles olhos castanhos
mantendo-o cativo. “Como é possível, senhor, que você pareça
tão à vontade aqui? Você parece mais um dono desta casa do
que um hóspede.”
Bem, essa não foi uma pergunta irracional. Ele encontrou
seu olhar firme. Suas bochechas floresceram novamente, mas
ela não se afastou. Ela parecia genuinamente curiosa para
conhecê-lo melhor. Ele poderia permitir tal coisa? Ele prometeu
a James que manteria distância...
“Fui criado nesta casa, ou perto o suficiente dela,” explicou
ele. “Meu falecido pai era mordomo do falecido Duque. Tenho a
mesma idade de James, então sempre estivemos juntos como
amigos - caçando, pescando, subindo em árvores.” Ele se
recostou na cadeira. “Imagino que conheço as florestas e colinas
de Alcott melhor do que qualquer homem vivo... exceto, talvez,
James.”
“E o Duque, com certeza,” acrescentou ela.
Ele bufou. “George nunca gostou muito de esportes ao ar
livre.”
“Ele prefere esportes no ginásio então? Esgrima, boxe e
coisas assim?”
Dizer a verdade em voz alta sobre os hobbies de George
seria indecoroso. Ele disse a única coisa que poderia passar
como verdade ou mentira. “Similar…”
“Os Corbin claramente adoram você,” ela murmurou. “E,
no entanto, a maioria dos outros hóspedes da casa parece
apenas tolerá-lo. O que estou perdendo?”
Ele encontrou seu olhar, incapaz de controlar sua
carranca. Esta certamente não era uma pergunta boba também
“Se eu lhe contar, Srta. Harrow, nos conheceremos. Para usar
sua própria palavra, isso provocaria uma 'intimidade' entre nós.
Você tem certeza de que quer saber?”
Ele observou a respiração dela ficar presa na garganta. Por
um momento, ele pensou que ela diria não e fugiria para a
segurança da sala de estar. Em vez disso, ela se inclinou para
frente e sussurrou: “Sim.”
Ele suspirou e derramou o segredo mais mal guardado da
Inglaterra. “Senhorita Harrow, eu sou literalmente o filho
bastardo de uma prostituta.”
Rosalie lutou para conter seu suspiro. Ela não sabia o que
esperava que o Sr. Burke dissesse, mas certamente não era
isso.
“Eu te choquei.”
“Não,” ela respondeu rapidamente. “Bem, sim. Talvez um
pouco,” acrescentou ela.
“Você está enojada, Srta. Harrow?”
“Nem um pouco,” ela respondeu, significando cada
palavra. “Sou a última pessoa a julgar alguém pelos pecados de
seus pais. Mas eu tenho perguntas... se você não se importar
que eu pergunte...”
Ela mal conseguiu desviar o olhar dele desde o momento
em que ele entrou na sala. Isso era perigoso. Seus sentimentos
por este homem pareciam muito voláteis. Ela nunca sentiu uma
atração tão instantânea por alguém antes. Por que tinha que
ser este homem, um homem que a Duquesa desejava
expressamente que ela evitasse?
“Faça suas perguntas, Srta. Harrow. Não tenho nada a
esconder.”
Ela engoliu em seco. “Quando você diz…”
“Quero dizer que minha mãe é literalmente uma
prostituta... ou pelo menos ela era. Ela trocava sexo por
pagamento, Srta. Harrow. Meu pai a manteve como amante por
um tempo, e foi quando ela me teve.”
Rosalie assentiu. Tudo fazia sentido agora, o
comportamento estranho dos outros convidados e seus
comentários sutilmente sarcásticos e desdenhosos. O Sr. Burke
era ilegítimo. Não era o pior tipo de escândalo, pelo menos não
para um homem. Se o Sr. Burke fosse uma filha, seria pior. Mas
se ele tivesse nascido na família Corbin, ele sobreviveria
facilmente. Não, era a combinação de ser ilegítimo e de posição
inferior que significava que ele deveria existir em um estado de
limbo... nem cavalheiro nem comum, reivindicado nem não
reclamado.
“Mas você foi criado aqui em Alcott…”
“Não, quando nasci a minha mãe me entregou a meu pai e
sua esposa. Ela pensou que minha melhor chance de
respeitabilidade seria se ela desaparecesse da minha vida. Ela
rezou pela misericórdia da esposa de meu pai para cuidar de
mim e me criar como se fosse seu filho.”
“E ela?”
Sua carranca se aprofundou e ela observou um lampejo de
violência em seus olhos.
“Sinto muito, não quero me intrometer. Seu negócio é seu.”
Ele tomou outro gole de seu porto. “A esposa de meu pai
nem mesmo se importava com seu próprio filho, muito menos
com o bastardo de seu marido. Ela me odiava e não queria que
eu fosse visto nem ouvido. É por isso que passo a maior parte
do meu tempo com James. Não tenha pena de mim, Srta.
Harrow,” acrescentou. “Há poucos que podem se orgulhar de
viver tão confortavelmente quanto eu.”
“Eu não tenho pena de você, senhor,” ela respondeu
honestamente. “Eu só posso imaginar que você cometeu
pecados em sua vida que podem exigir expiação, mas nascer
não é um deles. Nenhum de nós pode escolher quem nos traz a
este mundo.”
Por um breve momento, a armadura que ele usava com
tanto cuidado pareceu escorregar. Ela teve um vislumbre do Sr.
Burke por trás da máscara - gentil e atencioso, desejando
pertencer. Ele absorveu seu elogio e deu-lhe um sorriso fraco.
“Obrigado, Srta. Harrow. Estou certo em supor que talvez você
fale por experiência?”
Antes que ela pudesse responder, a porta se abriu. Não a
porta que dava para a sala de estar, mas a que dava para o
corredor. Rosalie quase pulou de susto quando o Tenente
Renley enfiou a cabeça na sala. Ele observou a cena deles
sentados sozinhos e franziu a testa.
“A Duquesa me enviou para localizá-lo,” disse ele ao Sr.
Burke. “Entre lá e jogue uma rodada antes que ela solte os
cães.” Sem outra palavra, ele fechou a porta.
Rosalie respirou fundo. De todas as pessoas para pegar ela
e o Sr. Burke juntos, talvez fosse melhor que fosse o Tenente.
Mas ainda assim, ela tinha que perguntar. “Ele vai... ele não
vai...”
“O que, dizer alguma coisa?” O Sr. Burke riu. “Sem chance.
Mas acho que não devemos abusar da sorte,” acrescentou,
esvaziando o copo e deixando-o de lado. Ele se levantou,
olhando para a porta.
Ela também se levantou. Ela não confiava em si mesma
para ficar perto dele. “Estou cansada demais para jogar cartas.
Acho que vou me deitar agora,” murmurou ela. “Boa noite, Sr.
Burke.”
“Boa noite, Srta. Harrow.”
Ela passou por ele e saiu sem olhar para trás.
Rosalie acordou cedo e encontrou seu próprio caminho
para a ensolarada sala de café da manhã. O café da manhã era
servido como bufê e alguns dos convidados formaram uma fila
para se servir. Rosalie murmurou 'bom dia' para aqueles por
quem ela passou. Ela entrou na fila atrás de Lady Madeline.
Para sua surpresa, Rosalie percebeu que se sentia mal por
Madeline. Ela não parecia se encaixar naquele bando de pavões
arrumados.
Falando em pavões…
A filha do Marquês entrou flutuando no quarto, a cauda de
seu vestido vermelho-sangue esvoaçando enquanto ela
caminhava. Ela varreu toda a extensão da mesa, não oferecendo
saudações a ninguém. Rosalie pensou que devia ter imaginado
a maneira como Lady Olivia falou com o pobre Tenente Renley
na noite passada. Ela tentou não ouvir, mas não pôde evitar.
Rosalie sentiu o modo como os olhos de Olivia a traçaram
da cabeça aos pés, observando o corte simples e o estilo de seu
vestido de musselina. Não havia como Rosalie se relacionar com
uma mulher que optou por usar diamantes no café da manhã.
“Isso é ridículo,” Olivia murmurou alto o suficiente para
Rosalie ouvir.
Ela olhou por cima do ombro para ver que a Marquesa se
juntou a sua filha.
“Forçadas a buscar nossa própria comida como criadas,” a
Marquesa bufou.
“E aparentemente não há lugar marcado para o café da
manhã,” acrescentou Olivia. “Apenas espere e veja como
aqueles horríveis Swindon irão monopolizar Sua Graça.
Algumas pessoas não entendem a importância da
classificação.”
Rosalie fechou a conversa elitista e se serviu de um prato
de comida. Então ela encontrou um assento vazio na
extremidade da longa mesa de jantar. Para seu aborrecimento,
Olivia ocupou o assento imediatamente à sua esquerda. Do
outro lado da mesa, o Tenente Renley olhou furioso para a
odiosa mulher por cima de seu jornal.
Rosalie comeu seu café da manhã, determinada a não ter
nenhum tipo de conversa, grande ou pequena, com sua vizinha.
Ela quase perdeu a compostura quando Olivia abriu seu próprio
jornal. Sua mão bateu no rosto de Rosalie enquanto ela abria,
quase fazendo Rosalie derramar o chá em seu colo. Rosalie
pousou sua xícara com um chocalho, dando à horrível criatura
um olhar incrédulo, que obviamente Olivia não podia ver
através de seu papel.
Isso deu a Rosalie uma ideia diabólica... uma ideia que a
fez pegar o sal. Sua brincadeira infantil foi recompensada
quando a senhora bebeu seu chá.
“Blegh!” Olivia quase quebrou a xícara com a força de
derrubá-la.
Todos na mesa se espantaram. O olho de Rosalie disparou
para onde o saleiro estava agora cuidadosamente escondida no
arranjo floral mais próximo.
“Olivia, querida? O que foi?” Disse a Marquesa.
“Meu chá estava salgado!” Ela pegou o copo e olhou para
ele, girando seu conteúdo. “Alguém fez uma piada cruel e
perversa e derramou sal no meu chá!”
“Talvez você simplesmente tenha confundido sal com
açúcar?” Rosalie disse docemente.
Olivia rosnou para ela antes de se virar na cadeira para
enfrentar o lacaio de olhos arregalados. “Você fez isso, não foi,
sua doninha.”
“Olivia, querida, olha o temperamento,” advertiu a
Marquesa.
O pobre lacaio murmurou silenciosamente como um peixe.
“Minha senhora, eu nunca...”
“Você acha que é uma piada inteligente?” Ela gritou.
Uma onda de vergonha afundou no estômago de Rosalie.
Como ela poderia ter sido tão impetuosa? Claro, Olivia culparia
os criados. Oh céus, e se essa piada idiota custasse ao pobre
homem sua posição? Rosalie nunca se perdoaria.
Do fundo da mesa, Lorde James gritou, sua voz ressoando
com calma e autoridade. “Phillip, você acidentalmente salgou o
chá de Lady Olivia?”
Todos os olhos na sala estavam sobre ele e Rosalie queria
morrer de mortificação.
“Meu senhor, eu nunca faria isso. Juro pela minha vida,”
implorou o lacaio.
“Criado não me faça de boba,” disparou Olivia.
Lorde James estava fora de sua cadeira em momentos,
varrendo o comprimento da mesa. Rosalie queria se esconder
embaixo da mesa de vergonha. Em vez disso, ela se sentou
perfeitamente imóvel, com as mãos cruzadas no colo. Lorde
James murmurou algo para o lacaio, e ele se afastou.
“Não há lugar para tal comportamento em uma casa
civilizada,” Olivia gritou atrás dele.
“Desculpe-me, lady Olivia, Marquesa,” disse lorde James.
“Por favor, permita que Reed limpe isso e deixe-nos servir um
chocolate quente em seu lugar.” Ele acenou com a cabeça para
o mordomo, que imediatamente começou a limpar o chá
arruinado de Olivia.
“Vou contar a Sua Graça como fui tratada,” disse Olivia. “E
se eu fosse a senhora aqui,” ela ousou continuar, “esse homem
seria demitido sem referência!”
“Isso é presumir muito,” o Tenente Renley murmurou. Ele
disse as palavras tão baixinho que Rosalie quase imaginou que
elas não foram ditas... se ela não tivesse visto os lábios dele se
moverem. O Sr. Burke o cutucou nas costelas com um
movimento fingido de ajustar o guardanapo no colo.
Lorde James forçou um sorriso e um aceno de cabeça para
a senhora e sua mãe, então recuou para outra mesa. Todos se
acomodaram em algum estado de calma. Incapaz de ficar
parada por mais um momento, Rosalie saiu de sua cadeira e
saiu da sala.
Levou quase uma hora até que Rosalie criasse coragem
para executar seu plano. Compartilhar sua vergonha com o
Duque estava fora de questão. Ela ainda tinha que encontrar o
homem cara a cara. Ela estava muito intimidada pela Duquesa,
e muito confiante em permanecer em suas boas graças, para
ousar abordá-la diretamente também.
Por vários minutos agonizantes, andando sozinha em seu
quarto, ela considerou ir até Lorde James. Ele parecia pronto o
suficiente para lidar com a situação. Talvez, tendo visto o
comportamento ofensivo de Lady Olivia por si mesmo, ele fosse
mais compreensivo sobre o porquê que Rosalie achou que
justificava fazer uma brincadeira tão simples.
No final, sua coragem falhou. Lorde James a intimidava.
Todas as suas interações até agora foram afetadas enquanto ele
a questionava e a desafiava. Ela teve a nítida impressão de que
ele não gostava dela. Não, só havia uma pessoa que ela poderia
procurar e que poderia estar disposta a deixar bem claro que o
lacaio não tinha culpa. Com um suspiro, Rosalie saiu da sala e
foi em busca do Sr. Burke.
O lacaio dirigiu Rosalie para a biblioteca. Seus olhos se
arregalaram enquanto ela absorvia a escala e a beleza da sala.
Era um espaço de dois andares com prateleiras que se
estendiam por três paredes, cheias de mais livros do que ela já
tinha visto em uma coleção particular. As janelas, emolduradas
por profundas cortinas azuis, estavam escancaradas, captando
o melhor da luz do sol da manhã. Aqui e ali ao redor da sala,
grandes vasos de plantas forneciam vegetação.
Lembrando-se de sua missão, ela entrou completamente
na sala. Uma risada profunda ecoou no canto, depois outra. O
Sr. Burke estava sentado em frente ao Tenente em um conjunto
de poltronas na janela mais distante. Havia um tabuleiro de
xadrez equilibrado na mesa entre eles, mas o jogo foi ignorado
enquanto os homens riam juntos.
“Você não pode estar falando sério,” disse o Sr. Burke,
enxugando os olhos.
“Minha mão para Deus,” respondeu o Tenente, levantando
uma mão em falso juramento.
“Cristo, eu sabia que algo devia ter acontecido pelo olhar
em seu rosto. Eu não tinha ideia, o que você disse em troca?”
“Nada,” respondeu o Tenente, ainda rindo. “Eu apenas
sentei lá, tentando não pegar meu pau debaixo da mesa.”
O Sr. Burke gaguejou. “O quê?”
“Eu tinha que ter certeza de que ainda estava lá. Achei que
a cadela poderia ter arrancado!”
Ambos os homens quase caíram de suas cadeiras de tanto
rir.
Rosalie gostou do som de suas risadas, tão livres e fáceis
em comparação com o reservado, quase desamparado Tenente
Renley da noite anterior. Não pela primeira vez, ela desejou que
os cavalheiros não tivessem essa qualidade de Janus em suas
relações com homens e mulheres. Dê a ela um homem cheio de
opiniões curiosas e maneiras grosseiras se isso significasse que
ele realmente se comportava como ele mesmo, e não como uma
versão bem cuidada considerada palatável para damas
delicadas.
Preparando-se, ela gritou. “Olá? Sr. Burke?”
Ambos os homens giraram em suas cadeiras.
“Droga,” o Tenente Renley murmurou, levantando-se de
um salto.
“Podemos ajudá-la, Srta. Harrow?” Perguntou o Sr. Burke.
“Você esperava pegar um livro emprestado?”
“Não, eu estava... bem, eu estava procurando por você.”
O Sr. Burke olhou para a Tenente, então de volta para ela.
Ela entendeu por que isso era estranho. Após seu momento de
chance a sós ontem à noite, para procurá-lo novamente tão
cedo... ela estava enviando a mensagem errada. Mas não
poderia ser ajudado.
“Procurando por mim?” Sr. Burke murmurou. “Para quê?”
O Tenente Renley também estava claramente curioso, mas
disse: “Vou deixar você com isso.”
“Não, fique,” Rosalie disse. “Por favor.”
Parte dela de repente sentiu que era certo que ele ficasse.
Ela queria que ele soubesse o que aconteceu no café da manhã.
E uma parte secreta dela se sentia ansiosa para ficar sozinha
com o Sr. Burke novamente.
“Bem, Srta. Harrow, como posso ajudar?” Sr. Burke disse
saindo da alcova para se juntar a ela no meio da sala. O Tenente
seguiu logo atrás.
Ambos eram tão altos e bonitos. Era bastante
impressionante vê-los juntos, dando a ela toda a sua atenção.
Quão equivocada devia ser alguém como Olivia para
menosprezar um homem com essa aparência, as maneiras e o
temperamento tranquilo do Tenente? Especialmente quando
esse desprezo foi feito em favor de um Duque excêntrico que
pouco se importava com sua companhia ou conversa.
“É sobre o que aconteceu esta manhã, senhor... e ontem à
noite.”
“Receio não estar entendendo,” disse o Sr. Burke, os olhos
cinzentos estreitados.
Ela se virou para o Tenente Renley. “Espero não ser muito
atrevido da minha parte, senhor, admitir que eu ouvi sua
conversa ontem à noite com Lady Olivia...”
Ele apertou a mandíbula.
O Sr. Burke franziu a testa. “O que isso tem a ver com...”
“Fui eu,” ela disse em uma respiração. “O lacaio não salgou
o chá de Lady Olivia esta manhã... eu salguei.”
Os homens trocaram um olhar.
“Você está brincando,” disse o Sr. Burke com um largo
sorriso.
Mas as sobrancelhas do Tenente Renley baixaram sobre
aqueles profundos olhos azuis. “Por que você faria isso?”
“Porque ela foi rude com você,” Rosalie admitiu.
Seu coração acelerou quando os dois homens deram meio
passo à frente. Ela engoliu em seco e seus olhos acompanharam
o movimento. Talvez isso tenha sido um erro. Ela pensou que
falar com os dois juntos poderia esfriar o fogo em seu sangue,
mas agora seus sentidos se empolgavam com a proximidade.
Nunca tivera tanta certeza de nada na vida: os dois a queriam.
“Você nem me conhece, Srta. Harrow,” o Tenente
respondeu, sua voz baixa.
“Eu não preciso te conhecer para saber que ela é vil,”
Rosalie disse sem hesitar. “Ela trata todos como objetos. Ela foi
grosseira com você, com Lorde James e, talvez o mais
importante, com o lacaio.”
O Sr. Burke soltou um suspiro lento, seus olhos ainda fixos
nela enquanto ele considerava suas palavras. “Por que você
deveria se importar como a filha de um Marquês trata um
lacaio?”
Ela endireitou os ombros. “Porque eu não gosto de ver as
pessoas tratando aqueles que estão em situação inferior a deles
como abaixo deles em dignidade.”
Os homens trocaram outro olhar cheio de significado
compartilhado que ela não conseguiu entender.
“Eu salguei o chá dela, Sr. Burke, mas ela culpou o lacaio.”
Ela deu meio passo à frente. “É muito importante para mim que
Lorde James saiba que ele não tem culpa. Eu odiaria que ele
perdesse seu emprego.”
A boca do Sr. Burke se curvou em outro sorriso. “Ahh,
entendi. Você quer que eu fale com James em seu nome.”
“Em nome do lacaio,” ela corrigiu. “Deixe-o manter sua
posição.”
“E mantenha seu nome fora disso no processo,”
acrescentou.
Ela engoliu em seco, sabendo que ele estava tentando
provocá-la. “Terei prazer em admitir o que fiz se isso mantiver o
lacaio em seu emprego.”
Burke pensou por um momento. “Muito bem, você ganhou
meu respeito com o cuidado que demonstrou pelo pobre lacaio.
Sem mencionar sua bravura para com Renley. Quem diria que
havia tal Lancelot em nosso meio, hein Tom?”
O Tenente lançou-lhe um olhar de advertência.
Mas o Sr. Burke encarou Rosalie, aqueles olhos cinzentos
dançando com interesse enquanto ele lhe dava outro sorriso.
“Falarei pessoalmente com Lorde James. Irei salvar o lacaio da
indignidade da demissão. E manteremos seu truque perverso
entre nós três, não é, Tom?”
O Tenente Renley assentiu.
“Eu te agradeço,” ela respondeu.
Era o melhor resultado possível que ela poderia ter
imaginado. O Sr. Burke estava se mostrando um verdadeiro
cavalheiro. Ela fez uma leve reverência e se virou para sair.
“Mas devo esperar algo em troca…”
Ela se virou lentamente. “Senhor?”
“Deixa pra lá, Burke,” o Tenente murmurou.
Mas o Sr. Burke só tinha olhos para ela. “Você está me
pedindo para garantir que o lacaio tenha três semanas de férias
pagas. Ele não poderá ser visto na casa enquanto Lady Górgona
ainda estiver aqui,” ele raciocinou. “Se eu o salvar e sua
reputação... você ficará em dívida comigo.”
Ela cruzou os braços sobre o peito. “Deverei o quê,
senhor?”
O Sr. Burke imitou a postura dela, franzindo as
sobrancelhas.
“Burke…” O Tenente advertiu novamente, colocando uma
mão no ombro de seu amigo.
“Você me deve um favor, resgatável por mim na hora e local
de minha escolha,” Sr. Burke disse finalmente.
Ela não pôde evitar a risada que escapou de seus lábios.
“Eu tenho pouca reputação, senhor. Por que eu deveria
concordar em fazer um acordo tão faustiano5?
Ele sorriu. “Você me pinta como o diabo nesta barganha.
Isso não é muito lisonjeiro, não é, Tom?” Ele olhou para o amigo.
“Você concorda com ela? Sou diabólico por pedir um ‘quid pro
quo’6?”
O Tenente apenas deu de ombros, seu próprio sorriso
tornando-se predatório.
5 A expressão ‘faustiano’ é relativo a Fausto, personagem literário e dramático que vende a alma ao diabo em
troca de poder e privilégios.
6 ‘Quid pro quo’ é uma expressão latina que significa "tomar uma coisa por outra".
Rosalie não estava com medo. Em vez disso, ela sentiu o
calor reunindo em seu núcleo. O que quer que estivesse
acontecendo entre os três agora, não iria levá-la a lugar
nenhum. Mas ela tinha que encontrar uma maneira de corrigir
esse curso. “Sr. Burke, nunca quis insinuar...”
“Um favor, Srta. Harrow,” o Sr. Burke repetiu. “Um favor
que não deve comprometê-la de forma alguma,” acrescentou.
“Pronto, isso ainda é faustiano em sua opinião? Ou pode ser
considerado um acordo entre amigos?”
Era a vez dela de levantar uma sobrancelha. “Você deseja
que sejamos amigos agora?”
“Pensei que tínhamos cruzado aquela ponte ontem à noite,”
brincou o Sr. Burke. “Eu disse a você que saber a verdade sobre
mim faria de você minha amiga íntima.”
“Todos nesta casa sabem a sua história, senhor,” ela
retrucou. “Você chamaria todos eles de amigos íntimos?”
“Sem chance,” ele respondeu, tempestades girando em
seus olhos cinzentos. “Só você, Srta. Harrow.”
“Mas ser amigo requer um conhecimento mútuo,” disse
Rosalie. “E você não me conhece, senhor... exceto que eu sou o
tipo de pessoa que vai salgar seu chá se você me irritar.”
“Ouviu isso, Tom?” Ele respondeu, os olhos brilhando.
“Devemos fazer questão de nunca a estimular do jeito errado.
Eu odiaria ficar com a boca cheia de sal com meu chá matinal.”
Ela ergueu o queixo. “Você está me provocando de novo,
senhor?”
“Nem sonharia com isso.”
O Tenente mudou seu peso enquanto o Sr. Burke
continuou a observá-la, esperando que ela fizesse o próximo
movimento.
Ela respirou fundo. “Você está sendo sincero que seremos
amigos? Você irá me ajudar?”
“Qualquer amigo da Duquesa é meu amigo.” Lentamente,
ele estendeu a mão. “Venha, Srta. Harrow. Se você concorda,
vamos resolver isso. Seu lacaio será salvo da indignidade da
demissão injusta, e o segredo do sal morrerá enterrado em meu
coração. Renley também.”
Com o coração na garganta, ela apertou a mão dele. Assim
como nas vezes anteriores, no momento em que a pele deles se
tocaram, ela sentiu uma sacudida no braço. Seus dedos se
fecharam ao redor dos dela enquanto ele a balançava
levemente, puxando-a para mais perto. De pé tão perto dele, ela
podia sentir seu calor e o leve aroma de algo apimentado, mas
doce, como conhaque ou vinho quente. Ela soltou sua mão.
“Renley também,” disse ele. “Estamos todos juntos nessa
barganha. Agora você tem dois demônios sob seu comando.
Aperte sua mão para selar nosso acordo.”
O Tenente estendeu a mão. Com um impulso, ela pegou. A
mesma onda de sentimento a preencheu, deixando-a toda
esvoaçante.
“Você já me deu o meu favor,” ele murmurou. “E eu te
agradeço por isso. Vê-la engasgar com o chá salgado foi como
se o Natal chegasse mais cedo.”
Rosalie não pôde evitar a risada que escapou dela
enquanto lutava contra a vontade de dar um passo à frente. Ao
contrário da doçura temperada do Sr. Burke, o Tenente
cheirava a sal e sol, um dia quente de verão. Como era possível
que, mesmo aqui no interior da Inglaterra, ele pudesse lembrá-
la tão visceralmente do mar? Antes que ela pudesse fazer algo
tão descarado quanto pressionar o rosto contra o casaco dele,
envolvendo-se naquele calor ensolarado, a porta da biblioteca
se abriu. Ela saltou para trás quando o Tenente Renley soltou
sua mão.
“James, exatamente o homem que eu estava procurando,”
o Sr. Burke chamou, andando ao redor dela.
Ela se virou quando Lorde James entrou na sala. Seu
sorriso caiu. “Srta. Harrow, as senhoras estão fazendo um tour
pelas estufas. Você não vai querer perder isso.”
“Claro, meu senhor.” Ela se virou ligeiramente para olhar
para o Tenente Renley. “Tenente, obrigada pelo conselho sobre
os livros.” Com um leve impulso, ela se virou e caminhou em
direção à porta. “Sr. Burke,” ela acrescentou enquanto passava
por ele.
“Bom dia, Srta. Harrow,” Sr. Burke gritou para sua forma
fugitiva.
Lorde James deu um passo para o lado, permitindo que ela
passasse.
“Bom dia, meu Lorde.”
A porta se fechou atrás dela e ela fez uma pausa. Ela não
se importava com o fato de um lacaio estar agora de cada lado
da porta, observando-a. Ela precisava recuperar o fôlego antes
que seus joelhos se dobrassem.
O que acabou de acontecer naquela sala? Ela se sentia
bêbada, fraca, zumbindo...e viva. Sozinha em uma sala com
dois homens... dois homens solteiros e desesperadamente
atraentes. Dois homens que a desejavam e não faziam nenhuma
tentativa de escondê-lo. Fazendo um acordo com esses homens,
compartilhando segredos, concordando com um favor. Tocá-los,
sentindo seus aromas inebriantes, as mãos deles nas dela... tão
reconfortantes, tão seguros...
Não. Não era seguro. Não era reconfortante. Era Perigoso.
Para qualquer senhora, o animal mais perigoso da Inglaterra
não era o lobo ou o javali. Era o nobre cavalheiro inglês com
excesso de charme e nada a perder.
Tom assistiu James fechar a porta atrás da forma fugitiva
da Srta. Harrow, sendo o seu último vislumbre dela, o cacho
escuro balançando na nuca. A porta se fechou e ele piscou,
quebrando o feitiço. Cristo, a mulher era uma bruxa? Duas
vezes em doze horas, sua cabeça parecia confusa, como se
estivesse de ressaca... e ele se sobressaltou ao perceber que seu
pênis traidor estava a meio mastro. Ele respirou fundo ao
registrar que James estava falando diretamente com ele.
“O quê?” Ele levantou a mão e a arrastou pelos cachos.
James o encarou. “Eu disse o que diabos foi isso?”
Tom disse as únicas palavras que encheram sua boca
confusa. “Não faço a mínima ideia...”
Graças a Deus por Burke. “Ah, Srta. Harrow? Acontece que
ela gosta de astronomia,” ele disse, voltando para o canto deles.
“Tom deu a ela algumas recomendações de livros sobre
navegação astral.”
Tom ainda estava sem fôlego. “Sim... navegação.”
James apenas franziu a testa. Era tão claramente uma
mentira, e uma mentira bem fraca.
Tom esperou, lançando um olhar cauteloso para Burke.
“Tudo bem,” James suspirou. Ele atravessou a sala atrás
de Burke e se deixou cair na outra cadeira. “Não me diga que
isso significa tanto para você.”
Tom juntou-se a eles no canto, perto da janela.
James franziu a testa para ele. “Eu pensei que você estava
procurando por uma dama com dinheiro e status, não um
tórrido encontro amoroso com uma pupila sem um tostão.”
“Oh, mas encontros tórridos são meus favoritos,” Burke
disse, ganhando uma carranca de James.
Tom se irritou. Ele nunca contestaria a honra da dama, e
para James imaginar o contrário, era imperdoável... embora ele
estivesse segurando a mão dela... e ficando um pouco perto
demais. E Cristo se ela não cheirasse um perfume doce violeta
e alecrim. Ele queria enterrar o rosto em seu cabelo e respirá-
lo. Seu pênis estava ficando duro novamente só de pensar nisso.
Talvez James tivesse razão...
Ele se mexeu desconfortavelmente, encostando-se na
janela. “A senhorita Harrow está perfeitamente segura, James.
Sim, Burke mentiu. Não estávamos falando sobre navegação...”
Burke lançou-lhe um olhar afrontado, “mas confie em nós
quando dizemos que nada aconteceu.”
James ergueu a sobrancelha, cada centímetro do lorde
imperioso, mas bufou outro “Bem.”
“Onde estão seus convidados?” Burke perguntou, um olho
lançado preguiçosamente sobre o tabuleiro de xadrez.
“Você quer dizer os convidados de George?” James moveu
um peão e tirou a torre do lado do rei de Burke do tabuleiro. “A
maioria das senhoras está com a minha mãe fazendo um tour
pelas estufas. Deixei Sir Andrew com George. Eles foram pescar.
Pedi licença para poder fazer algum trabalho.” Ele esfregou a
mão cansada no rosto.
“O que você gostaria que fizéssemos hoje?” Burke
perguntou.
James se recostou com um aceno de mão. “O que diabos
você quiser. Renley, sinta-se à vontade para se juntar às
senhoras... em companhia desta vez,” ele acrescentou com um
olhar.
Tom piscou. “Por que eu me juntaria às mulheres em uma
excursão pela estufa?”
“Para cortejá-las, seu grande idiota desajeitado,” Burke
disse com uma risada.
Puta merda. Ele deveria estar cortejando essas mulheres e
tentando atrair uma para se tornar a Sra. Tom Renley. Ele
estava muito distraído com o doce sorriso da única garota
inadequada da casa.
“Cristo, homem,” disse James com uma risada. “Burke, por
favor, fique com ele e cuide para que ele faça um pequeno
esforço hoje.”
Tom gemeu. A última coisa que ele queria era ser mimado
por Burke enquanto ele era forçado a conversar infinitamente
sobre assuntos como Olivia Rutledge.
Como se estivesse lendo seus pensamentos, Burke disse:
“Não tema, Tom. Eu sei que você teve seu pau entregue a você
por aquela harpia ontem à noite, mas...”
“O quê?” James gritou, os olhos correndo de um para o
outro.
Oh, inferno, James não tinha ouvido a história ainda. Tom
não tinha coragem de contar de novo.
“Não se preocupe com isso,” Burke disse com um aceno de
sua mão. “Lady Górgona estava em rara forma ontem à noite,
mas está tudo bem. Vamos riscar o nome dela da lista.”
“Lady Górgona?” James repetiu. “Quem...”
“Olivia Rutledge,” Burke forneceu.
“Oh... Cristo,” James respirou. “Esse sapato7 serve.”
“Alguma vez,” Burke disse com um aceno de cabeça. “Mas
não importa, porque ela está fora da lista de Tom.”
Tom grunhiu em aprovação. “Devemos colocá-la no topo da
lista de George.”
Burke sorriu para ele. “E assim, Tom estará de volta ao
jogo.”
Tom não pôde deixar de rir.
“Falando na Górgona,” Burke disse. “Não dispense aquele
lacaio.”
James piscou, confuso por um momento. “O que... ah,
claro que não. Ele disse que não fez isso. Ela provavelmente
misturou o sal e o açúcar como disse a Srta. Harrow. Dei uma
folga ao rapaz até que a Górgona vá embora.”
Tom compartilhou um sorriso com Burke sobre a cabeça
de James. Acontece que todos os acordos da Srta. Harrow foram
em vão, pois James já havia feito a coisa cavalheiresca.
“Estou deixando vocês dois agora,” disse James,
levantando-se da cadeira. “Alguns de nós têm trabalho real a
7 Expressão que quer dizer que uma pessoa preenche aquele requisito.
fazer. Renley, mantenha Burke longe de problemas o melhor
que puder.”
“Isso não é possível para ninguém,” respondeu Tom.
Ao mesmo tempo, Burke disse: “Eu me ressinto muito da
implicação de que encontrar uma esposa para Tom não é
trabalho. Quando eu for bem-sucedido,” ele gritou após a
retirada de James, “esta certamente será minha maior
conquista!”
James parou na porta. “Vou deixar você passar a manhã
contemplando essas palavras, e vamos revisitá-las mais tarde
para ver se você finalmente admitirá que está estabelecendo
padrões bastante baixos para si mesmo.”
“Desprezo qualquer tipo de introspecção,” respondeu
Burke.
James deu a última palavra enquanto fechava a porta.
“Será que eu não sei?”
8 Rechaud é uma espécie de fogareiro de metal, em prata ou inox, usado para manter a comida quente num
buffet, para flambar sobremesas ou até preparar pratos ligeiros, como um fondue.
direção à sala de música. Várias senhoras riram e bateram
palmas enquanto alguém continuava a tocar uma música
rápida, batendo forte no instrumento.
James atravessou a ensolarada sala matinal e entrou na
sala de música para encontrar o grupo em vários estados,
alguns sentados e outros em pé. As senhoras mais velhas se
abanando enquanto tomavam pequenos copos de limonada
fresca. A Swindon mais velha estava tocando a alegre melodia
no piano, enquanto ali, no meio do tapete, George... fazia
malabarismos com três castiçais de prata. As moças riram e
bateram palmas enquanto ele os fazia girar no ar, quase
atingindo o lustre.
James entrou na sala, ocupando o lugar vazio ao lado de
Renley. “O que diabos está acontecendo?”
Renley apenas deu de ombros. “Maldito seja se eu sei,”
respondeu ele. “George disse que estávamos todos tristes e
exigiu que alguém tocasse. Então ele simplesmente... começou
a fazer malabarismos.”
James olhou através da sala para onde Burke estava atrás
da Duquesa. Burke encontrou seu olhar com uma carranca.
James deu um suspiro pesado. “Ele está bêbado?”
“Não sei... acho que não. É sempre tão difícil dizer com
George,” Renley respondeu.
Assim que George deixou cair um dos castiçais, fazendo-os
cair no tapete, Reed deslizou para a porta e deu a James um
sutil aceno de cabeça.
“E esse é o fim do entretenimento da manhã, eu temo,”
James gritou para a sala, dando um passo para colocar uma
mão firme no ombro de George. “O almoço está servido.
Senhoras, por favor, sintam-se à vontade para levar seus
refrescos com vocês.”
Ele acenou com a cabeça para Burke e Sir Andrew, que
cumpriram seu dever e tomaram o braço da Duquesa e da
Marquesa. Atrás dele, Renley já tinha um braço estendido em
convite à Condessa. As damas saíram, com a maioria das
donzelas lançando sorrisos corados para George. Até Madeline
sorriu para ele, embora parecesse que ia desmaiar com o
esforço.
Apenas a estranha Srta. Harrow parecia contente em
escapar. James franziu a testa ao vê-la sair. Ele ainda estava
furioso com Burke e Renley por encurralá-la sozinha esta
manhã. Ele não era um idiota. Ele viu o jeito que ela olhou para
Renley... o jeito que ele a estava devorando com os olhos... suas
mãos entrelaçadas.
Se eles disseram que nada aconteceu, ele acreditava, mas
essa senhorita deveria saber melhor. O que ela poderia ter a
dizer que precisaria ser mantido em segredo? Mais importante,
se ela estava com problemas, por que ela confiava neles e não
nele? Seria uma falha em seus deveres se as pessoas em sua
própria casa não pudessem procurá-lo com seus problemas?
Talvez ela apenas preferisse a companhia deles à dele...
Ela era exatamente o tipo de distração que nenhum deles
poderia ter. Sua compleição e sagacidade precisariam ser
abrandadas por lembretes frequentes de seu status como uma
âncora social, não como uma vela. James deveria ter uma
conversa tranquila com Burke em breve. Entre os dois, ele era
o maior risco. James conhecia muito bem o tipo de Burke. Ele
apostaria dinheiro nisso: a Srta. Harrow iria causar problemas
antes do fim da temporada.
Ele empurrou todos os pensamentos sobre ela de sua
mente, voltando sua atenção para seu irmão. “Que diabos você
está fazendo, George?”
George apenas riu enquanto recolocava os castiçais na
mesa. “Entretendo meus convidados. Que, como você deve se
lembrar, foi a ameaça que você me fez ontem. Ou eu os
entretenho ou você enfia a bota na minha bunda, certo,
irmãozinho?”
“Eu quis dizer entretê-los como um Duque, não como um
bobo da corte medieval.”
George riu novamente. “Você é tão tenso. Eu realmente
devo me perguntar se é você com a bota alojada em sua bunda.
Em um ataque de exuberância juvenil,” ele agarrou James,
agarrando a cintura de suas calças, e fez como se fosse lutar
com James no chão e checar.
“George... porra...” James lutou para se afastar e tropeçou
para trás, ajustando o colete com um puxão forte. Então ele
alisou o cabelo para trás e respirou fundo. “Apenas... não nos
envergonhe.”
“Foi só um pouco de diversão, James,” George disse com
uma carranca irritada. “Você não conheceria a palavra
'diversão' se ela dançasse diante de você usando nada além do
monóculo do nosso pai.”
James se recusou a admitir que seu irmão tinha razão.
Quando foi a última vez que James se divertiu um pouco? Ele
afastou o pensamento. George conseguiu se divertir mais do
que o suficiente para os dois. “Depois do almoço, estarei fora a
maior parte da tarde, mas voltarei a tempo para o jantar.”
George se afastou com um encolher de ombros, pois ele
não poderia se importar menos. Ele não fazia perguntas sobre
o negócio que afastaria James. Seu negócio. Negócio do Duque.
Ele parou na porta e jogou por cima do ombro, “Venha para
casa cedo o suficiente e você irá assistir ao meu show noturno.
Posso estar apenas usando aquele monóculo... e nada mais.”
À medida que seu segundo dia em Alcott Hall se
desenrolava, Rosalie se viu entrando em uma espécie de ritmo
com os outros hóspedes da casa. Depois de algumas palavras
calmas e sorrisos, Lady Madeline ficou afetuosa com ela. As
irmãs Swindon não a perdoaram por receber um livro do
Tenente Renley... e ela evitava Lady Olivia e sua mãe a todo
custo.
A única outra jovem presente era Blanche Oswald. Pelo que
Rosalie deduziu, seu pai, Sir Andrew, só recebeu o título de
cavaleiro recentemente. Enquanto alguns na sociedade podem
desprezar um comerciante, Rosalie apreciava a habilidade de
um homem que poderia ascender com base no mérito de seu
trabalho, e não no polimento de seu nome de família.
Rosalie queria desesperadamente gostar de Blanche, por
isso também, mas ela não poderia. Blanche era, se possível,
ainda mais tola que Mariah. A festa estava terrivelmente sem
homens, então quando Rosalie se viu sentada entre as garotas
no jantar, ela queria engasgar com os ossos de sua galinha
d'angola e morrer ali mesmo na mesa. Daria qualquer coisa
para evitar entrar em mais um debate sobre mangas cortadas
versus mangas curtas.
Quando o jantar terminou, uma dor de cabeça latejava
atrás de seus olhos. As damas deixaram os cavalheiros com seu
vinho do porto e se dirigiram ao salão. Rosalie se afastou dos
outros, buscando o abençoado silêncio constrangedor de
Madeline, que estava sentada no canto mais distante da sala.
“Posso me juntar a você?”
A garota deu um leve salto ao ser abordada, mas acenou
com a cabeça e se arrastou para o outro lado do pequeno sofá.
Rosalie não sabia por que seu primeiro impulso de sentir
pena da garota ainda era verdade. Madeline era filha de um
Visconde. Mas havia algo de doce na garota. Isso fez Rosalie se
sentir protetora. Ela fez Rosalie lembrar de um coelho, com o
nariz trêmulo e olhos piscando. Rosalie não poderia imaginar
uma combinação pior para George Corbin.
“Você gosta de Alcott?” Rosalie disse, pegando o pequeno
copo de xerez oferecido a ela por um lacaio que passava.
Madeline recusou com um aceno de cabeça. “Acho tudo
muito grandioso,” ela respondeu assim que o lacaio estava fora
do alcance da voz.
Rosalie sorriu. “Minha tia e eu temos um pequeno
apartamento na cidade. Nossa sala de estar é do tamanho de
um banheiro de Alcott.” Ela tomou um gole de seu doce xerez,
buscando um assunto de conversa mais apropriado do que
banheiros. Ela deveria fazer pelo menos mais uma pergunta
para não parecer rude. “Você tem algum hobby, Lady
Madeline?”
“Violino,” a garota murmurou. “E eu costuro... e desenho.”
Rosalie sentou-se para a frente. Enfim, um assunto que
vale a pena discutir! “Eu também desenho. O que você gosta de
desenhar?”
Madeline corou. “Flores e paisagens e… às vezes animais.”
“Você trouxe seu caderno de desenho?”
Madeline assentiu.
“Devemos esboçar juntas uma manhã,” Rosalie ofereceu.
Antes que Madeline pudesse responder, a porta da sala de
estar se abriu e os homens entraram para dar as boas-vindas.
Sua Graça e Lorde James foram os primeiros, seguidos por Sir
Andrew. Burke e o Tenente Renley fecharam a retaguarda.
Parecia estranho chamá-lo de 'Burke', mesmo em sua própria
cabeça. Rosalie superou o constrangimento quando ele chamou
sua atenção, arrastando o Tenente atrás dele.
Ela percebeu com um sobressalto que Burke havia definido
Madeline como seu alvo para a noite. Os sentimentos protetores
que a garota despertou nela começaram a transbordar. Flertar
descaradamente com o Tenente na frente de Madeline estava
fadado a dar desastrosamente errado. Madeline não era uma
jogadora desse tipo. Ela não reconheceria os flertes de Rosalie
como um chamado para a batalha. Em vez disso, ela se moveria
em retirada imediata, a bandeira branca ondulando atrás dela.
Outro pensamento perigoso surgiu: Rosalie não queria ver
o Tenente se apaixonando por Madeline. Ela engoliu esse
pensamento e o ciúme que o acompanhava até a boca do
estômago. Este foi um jogo que ela concordou em jogar. Ela não
o procurou por si mesma, então não poderia pestanejar quando
ele perseguia outra mulher. A última coisa que ela queria se
tornar era uma Circe dos dias modernos, atraindo este
encantador Odisseu para seus braços, apenas para ver todas
as suas esperanças frustradas nas rochas de suas praias
inadequadas.
“E o que a faz sorrir, Srta. Harrow?” Burke disse, vindo
para ficar ao lado dela.
Seu sorriso se alargou quando ela observou seus ombros
largos, tão bem cortados naquele casaco preto de noite. Se ela
era a Circe do Tenente, Burke era a dela. “Não se pode esperar
que uma dama revele todos os seus segredos,” disse ela,
tomando outro gole de seu xerez. Ela voltou sua atenção para o
Tenente Renley. “Tenente, você conheceu Lady Madeline?”
“Sim,” ele disse com um aceno de sua cabeça. “Nos
conhecemos ontem.”
Os cavalheiros sentaram-se nas cadeiras vazias de cada
lado do sofá, Burke mais próximo de Rosalie. Do outro lado da
sala, as jovens gargalharam quando o Duque disse algo
engraçado envolvendo movimentos vigorosos das mãos. Lorde
James estava ao lado dele, a mão apertada em torno de seu
copo de vinho do Porto. Rosalie estava lutando até agora para
decifrar o homem. Por todas as contas, ele era possivelmente o
homem mais amável aqui. Ele era o filho rico e irmão de um
Duque, um Visconde por direito próprio, bonito e inteligente, e
de alguma forma ainda solteiro.
E, no entanto, nenhuma das damas parecia estar flertando
com ele da mesma forma que faziam com o Duque, ou mesmo
com o Tenente Renley. Ele estava sempre se mantendo à parte.
Mesmo agora, ele estava no meio de um grupo de pessoas, mas
ninguém procurava seus sorrisos ou risadas compartilhadas.
Ele estava tão acima deles quanto era invisível aos seus olhos.
Rosalie de repente sentiu vontade de conhecê-lo melhor, de
saber por que ele sentia que deveria manter suas paredes tão
altas. Pois se Burke era um homem caminhando pela vida em
uma armadura, Lorde James era uma fortaleza com grossas
paredes de pedra. Um belo cavaleiro e seu imponente castelo.
Eles foram feitos um para o outro. Onde o Tenente se encaixa
nesse conto de fadas?
Seus pensamentos foram distraídos por Burke, que a
observava com curiosidade aberta, aqueles olhos cinzas focados
nela. “O que vocês duas discutiam tão baixinho aqui no canto?”
“Estávamos apenas comparando nossas muitas
realizações,” Rosalie respondeu. Em suas reflexões sobre Lorde
James, ela havia estabelecido um plano de ação para Madeline
também. Deixá-la com ciúmes era uma tarefa tola. O tempo de
Rosalie seria muito melhor gasto mostrando ao Tenente seus
méritos. A própria presença de Rosalie perto dele era suficiente
para ganhar a inveja dos outros. Para testar sua teoria, ela se
aproximou e sorriu, lançando um olhar sobre o ombro de
Burke. Tanto Blanche quanto Elizabeth lhe lançaram olhares
de desaprovação.
Qual era o ditado? Dois pássaros, uma pedra.
Ela falou diretamente com o Tenente. “Lady Madeline é
uma verdadeira virtuose9 no violino, além de saber costurar e
desenhar.” Madeline lançou lhe um olhar de horror por ser
chamada de 'virtuosa', que Rosalie ignorou. “Estávamos apenas
fazendo planos para fazermos alguns esboços. Os terrenos de
Alcott são espetaculares. Acredito que muitas vezes esteve aqui
quando menino, Tenente. Talvez você possa nos recomendar
alguns locais para as melhores vistas?”
Ele considerou por um momento. “Eu nunca diria que
tenho olhos de artista, mas Finchley Hill oferece uma bela vista
da casa com o rio em primeiro plano. E talvez a vista do outro
lado do lago. Mas Burke saberia melhor do que eu.”
Burke cruzou uma perna enquanto se recostava na
cadeira. “Minha vista favorita sempre foi do telhado,” disse ele.
“Você não tem belas vistas da casa para esboçar, mas o campo
9 Artista que atingiu um altíssimo grau de conhecimento e domínio técnico na execução de sua arte; virtuoso.
visto uma hora antes do pôr do sol daquele ponto de vista é
nada menos que celestial.”
Rosalie invejava sua sensação de pertencimento. Ela
nunca se sentiu em casa em lugar nenhum.
“Você faz retratos, Lady Madeline?” Burke perguntou.
“Só de animais, senhor,” Madeline respondeu.
Os olhos de Burke adquiriram um brilho provocador.
“Bem, teremos que bisbilhotar os estábulos em busca de um
gato de rua para Renley segurar. Então você pode esboçar os
dois.”
Rosalie escondeu o sorriso tomando um gole de xerez. Ela
ousou olhar para o Tenente, o que foi um erro. Ele também
estava tentando esconder uma risada. Ela ficou aliviada ao ver
isso. Aqueles olhos azuis pegaram e prenderam os dela. Ela
estreitou os dela em desafio. “Não provoque ela, Sr. Burke,”
disse ela. “Se Lady Madeline prefere apenas cenas da natureza,
devemos agradá-la. Tenho certeza de que se o Tenente exigir um
retrato dele mesmo para admirar, uma das irmãs Swindon
ficaria muito feliz em servir como artista.”
Ambos os homens soltaram uma risada.
“Devo providenciar, Tom?”
“Não precisa, não pretendo posar para um retrato,”
respondeu o Tenente Renley.
“Você mente,” Burke disse. “Ora, você costumava deixar
Marianne desenhar você por horas...”
O clima entre os homens mudou tão rápido que Rosalie
ficou surpresa. Toda a jovialidade de Burke foi bastante
dissipada pelo olhar feroz de seu amigo.
“Desculpe,” Burke murmurou.
“Deixe estar.”
Burke virou-se para Lady Madeline. “Então... quando você
gostaria que organizássemos seu encontro de desenho?”
Rosalie tentou ouvir enquanto os outros três faziam planos
para uma manhã de desenho à beira do lago. Ela estava muito
distraída para fazer mais do que acenar com a cabeça e sorrir.
Essa troca estranha a deixou desesperada para descobrir
a identidade da misteriosa 'Marianne' que tão claramente
assombrava o Tenente. Todos os seus humores melancólicos e
terríveis tentativas de flerte agora faziam sentido. Ele não estava
determinado a procurar uma esposa entre as damas nesta
multidão, pois seu coração claramente já estava em outra.
Rosalie só podia especular se o objeto de sua afeição estava viva
ou morta. Se viva, onde ela poderia estar? Pois quem poderia
negar a tal homem seu amor se ele ousasse oferecê-lo?
Tom deixou Alcott de manhã cedo, antes que alguém na
casa acordasse. Cavalgou os oito quilômetros até Foxhill House,
a propriedade de sua família nos arredores de Carrington. Ele
vinha prometendo uma visita à família, e o aniversário do
sobrinho parecia um acontecimento inevitável.
Mal era hora do almoço, mas sua cunhada já havia feito
três ameaças veladas sobre como ele deveria ir. Ela mencionou
seu quarto pronto, como seus sobrinhos sentiam falta dele,
como seu irmão confiava nele. Levaria todas as suas forças para
fugir e voltar para Alcott a tempo do jantar. Ele queria se irritar
com o sufocamento dela, mas era muito amado, então tinha que
ser perdoado.
Seus sobrinhos estavam em rara forma hoje. Tom cumpriu
seu dever e os perseguiu, deixando os dois rapazes mais novos
montá-lo como um cavalo, mas agora ele estava completamente
acabado. A querida Caroline era a caçula e a única menina. Ela
se sentou enrolada em seu colo com sua boneca favorita
enquanto ele tomava uma respiração muito necessária. Os
meninos ainda avançavam como um enxame de abelhas
furiosas.
O irmão de Tom, Colin, estava sentado ao lado dele em uma
cadeira confortável, o sol bloqueado por um grande toldo
montado para a festa. “Humm,” disse ele, olhando para cima de
seu papel. “Eu tinha esquecido de perguntar a você. Ouviu a
notícia de Yew Warren?”
Tom ergueu os olhos bruscamente. Yew Warren era a
residência familiar dos Edgecombes. A diferença de idade entre
Tom e seu irmão significava que Colin estava em Cambridge
quando Tom teve seu caso com Marianne Edgecombe. Era um
segredo conhecido apenas por Tom e a Lady... e Burke e James,
é claro.
Tom nunca falava dela atualmente. Seus amigos fizeram o
possível para honrar seus desejos. Ele escolheu pensar nela
como uma morta. Mais precisamente, ele escolheu pensar nela
como um fantasma que poderia assombrá-lo se ela fosse
invocada pelo nome.
“Não tive notícias de Yew Warren,” ele respondeu,
preparando-se para o pior.
“Você se lembra daquela filha do velho Sir John... Srta.
Marianne?”
Tom gemeu baixinho, a batida surda ecoando de seu
coração desacelerando em seu peito. “É a Sra. Young agora,” ele
respondeu categoricamente.
“Sim, Sra. Young,” Colin repetiu. “Bem, é exatamente isso.
Ouvi de Sir John no último domingo que o Sr. Young morreu.
Foi bastante inesperado... embora ele fosse um pouco mais
velho, pelo que me lembro. Assistimos ao casamento dela?”
Tom balançou a cabeça. “Não, eu estava em minha
primeira viagem às Índias Ocidentais.” A verdade era que ele
havia se oferecido para aquela excursão por causa do
casamento de Marianne.
“Oh, isso mesmo... eu poderia jurar que fomos ao
casamento juntos.” Colin deu de ombros. “Bem, em todo caso,
a Sra. Young é agora uma viúva rica e com a tenra idade de
vinte e seis anos.” Ele pôs de lado o jornal e esticou as pernas.
“Mamãe achou que você já foi doce com essa garota uma vez...”
Tom não estava ouvindo, estava muito ocupado
imaginando o rosto de porcelana de Marianne coberto por um
véu preto. Por mais que a odiasse, ele também relutava em
imaginá-la em uma bombazina preta, assombrando sua casa
em Londres como um belo e solitário corvo.
Marianne era viúva. Seu casamento não durou nem oito
anos. Para Tom, foram oito anos de luto. Bem, talvez apenas
dois anos de luto total. Em seguida, outros dois de devassidão
e distração... seguidos por quatro anos muito mais pacíficos de
negação.
“Eu me pergunto, você gostou dela?” Colin repetiu.
“Hum?” Caroline se mexeu no colo de Tom, enfiando a
cabeça em seu ombro. “Eu... isso foi há muito tempo,” ele
respondeu evasivamente.
“Bem, pode ser uma resposta possível para sua situação
atual,” Colin disse com um sorriso. “Você precisa se casar com
uma senhora de alguma riqueza, e Marianne acabou de herdar
a fortuna de seu marido. Se ela foi doce com você uma vez, ela
pode ser doce com você novamente. Poderá valer a pena ligar
para Londres para oferecer suas condolências e... testar as
águas, como dizem.”
Tom estava atordoado. Como, depois de oito longos anos,
ele ainda não tinha essa mulher fora de sua vida? Isso era para
ser algum tipo de sinal? Ele finalmente estava pronto para
procurar uma esposa e seu primeiro amor estava novamente
disponível...
Ele tirou Caroline de seu colo e a colocou na cadeira de
jardim enquanto se levantava. “Eu preciso ir.”
Colin piscou. “Ir? Mas Agatha disse que você ficaria para o
jantar...”
“Não. Eu estava planejando isso, mas... não posso ficar...
já assumi um compromisso.”
Colin levantou-se da cadeira com o cenho franzido.
“Certamente você pode ficar uma noite com sua família. Volte
para a festa na mansão amanhã. Você está tão desesperado
para se livrar de nós?”
“Não é isso,” respondeu Tom. “Eu preciso... isso é... eu
preciso ver James. Preciso falar com ele sobre isso.”
“Você não pode falar comigo? Cristo, cara. Eu sou seu
irmão...”
“E eu te amo, Colin, mas devo ir.” Ele deu um tapinha no
ombro dele. “Desculpe. Agradeça a Agatha pela hospitalidade.”
“Tom...”
Ele deu a seu irmão um sorriso fraco. “Eu vou ficar bem.
Vejo todos vocês na igreja no domingo, se não antes.”
Com isso, saiu em busca do cavalariço para mandar selar
seu cavalo. Ele não poderia ficar aqui nem mais um segundo.
Ele precisava de seus amigos, precisava de seus conselhos. Não
o acalmou nem um pouco em admitir que não tinha certeza se
eles iriam convencê-lo a sair dessa borda... ou dar-lhe um
empurrão todo-poderoso.
Estava terrivelmente quente para uma tarde de colheita de
amoras, tão incomum para meados de setembro, mas pelo
menos aonde eles estavam tinha bastante sombra. Um local
para piquenique foi organizado no meio de uma clareira perto
da beira do rio. As árvores altas que circundavam a clareira
ofereciam alguma proteção contra o sol. Sombra adicional foi
fornecida por dois grandes umbrelones listrados. Uma
disposição de mesas de chá estava espalhada, repleta de
iguarias - bolos de chá com conservas frescas, sanduíches de
pepino, geleias coloridas, bolinhos com creme de leite, presunto
e saladas de frutas. Dois lacaios serviam limonada em bandejas
de prata, enquanto outros dois brandiam grandes leques para
agitar o ar.
Rosalie ficou na beira da água, observando a sua
ondulação enquanto ela corria em seu caminho. Ela enxugou a
testa com o lenço. Atrás dela, as outras Ladys descansavam em
almofadas, jogando um barulhento jogo de charadas. Ela olhou
por cima do ombro para ver Mariah imitando algo com grande
emoção. O Duque sentava-se como uma aranha no meio dessa
teia de rendas e babados, dirigindo todas as damas no jogo.
Rosalie ansiava pela presença equilibrada dos outros
cavalheiros. Onde todos eles foram hoje? Ela descobriu que
sentia falta dos sorrisos de Burke e da risada profunda do
Tenente. Até Lorde James trazia uma presença calmante para
o grupo, um senso de ordem.
“A Dama do Lago,” gritou Blanche.
“Sim!” Mariah disse com uma risada, seus cachos ruivos
balançando enquanto ela balançava para cima e para baixo.
“Muito bem, Red,” o Duque disse. “Quem será a próxima?”
Mariah olhou para o grupo, seu sorriso mudando de
brilhante para calculista quando seu olhar pousou em
Madeline. “Lady Madeline, é a sua vez,” ela disse com uma voz
cantante.
Madeline já estava corada com o calor, suas bochechas
combinando com o rosa de seu vestido. A cor se aprofundou
quando seus olhos se arregalaram. “Ah, não, por favor...”
“Venha agora,” Mariah chamou. “Todo mundo tem que
participar. É justo!”
“Sim, brinque,” murmurou Elizabeth.
“É muito divertido,” ecoou Blanche. “Vou escolher um
desafio fácil para você.” Ela enfiou a mão no pequeno copo de
papéis da pasta e começou a abri-los para encontrar um desafio
simples.
“Por favor…” Madeline murmurou.
“O que Sua Graça vai pensar se você não estiver disposta
a jogar o jogo dele?” Mariah desafiou, com as mãos nos quadris.
“Quem quer se casar com um caroço de sapo?” Lady Olivia
zombou. Claro, ela estava sentada mais perto do servo
empunhando um leque. Mais de uma vez durante o almoço,
Rosalie a ouviu dizer ao homem para apressar seus golpes.
“Agora, agora, senhoras,” disse o Duque, levantando a mão
para se acalmar. “Não é um pecado capital se minha futura
noiva não estiver disposta a jogar jogos de salão... mas não é
um endosso retumbante de seus méritos,” ele acrescentou com
um olhar penetrante para Madeline.
A pobre garota estava à beira das lágrimas enquanto as
outras damas cantavam silenciosamente. Ele estava
praticamente dispensando-a bem na frente delas.
Rosalie sentiu sua ira aumentar. “Não se falava em mais
colheita de frutas?” Ela chamou. “Já passei bastante tempo em
uma pose reclinada. Alguém deseja se juntar a mim... Lady
Madeline?”
“Obrigada,” Madeline respirou, pegando sua sombrinha.
“Mas ainda estamos jogando nosso jogo,” Mariah chorou.
“Deixe-as ir,” disse o Duque com um aceno de mão. “Vamos
nos divertir mais sem elas.”
Rosalie pegou uma cesta e enrolou seu braço no de
Madeline, levando-a para longe do som de risadinhas.
“Se Lady Madeline é muito chata para jogar nosso jogo,”
disse Mariah para suas formas em retirada, “então eu escolho...
você, Vossa Graça!”
Todas as senhoras bateram palmas e comemoraram.
Dez minutos depois, Rosalie diminuiu o passo. Ela
manteve o braço de Madeline enrolado no dela e passou direto
pelos canteiros de morangos. A cesta em seu braço ficou
esquecida enquanto ela se concentrava em colocar distância
entre elas e aqueles lindos abutres.
“Sinto muito por tudo isso,” ela murmurou, quebrando o
silêncio.
“Não é nada.”
Rosalie podia ver pelas lágrimas nos olhos da pobre garota
que com certeza era alguma coisa. Ela queria aliviar sua dor,
mas não tinha certeza de como fazer isso. Ela nunca teve uma
pele fina. Com Francis Harrow como pai, ela não poderia se
machucar tão facilmente. Enquanto ela olhava para as feições
de Madeline, seus instintos protetores queimaram. Esta
florzinha delicada não tinha ninguém para protegê-la.
“Posso te perguntar uma coisa, Lady Madeline?”
Madeline assentiu.
“Eu não quero passar dos limites, mas... você quer casar
com o Duque?”
Madeline pausou, deixando sua mão escorregar do braço
de Rosalie. “Não é o que qualquer garota deveria querer? Ser
casada com um dos homens mais ilustres da terra? Mas ele
nunca vai me querer agora,” ela murmurou. “Oh, eu deveria ter
apenas jogado o jogo!”
Rosalie a puxou para uma parada. “Escute-me. Você é a
única dama de qualidade naquele ninho de vespas. Sua Graça
teria sorte em ser seu marido. Na verdade, acho bem possível
que ele nunca venha a merece-la.”
“Por que você está sendo tão gentil comigo?”
“Porque eu gosto de gente boa,” Rosalie respondeu. Ela
deixou cair a mão e continuou andando pelo caminho
sombreado. “Gosto de pensar que as pessoas boas podem
prosperar neste mundo… podemos ter certeza de que as más
não a farão.”
“Você não pode realmente pensar isso, Srta. Harrow.”
“Claro que eu faço. Você não pode me convencer de que
este mundo não recompensa a avareza e o vício, especialmente
naqueles que podem facilmente pagar por ambos.”
“Você fala suas opiniões tão livremente,” disse Madeline,
seu tom em partes iguais de pasmo e ansiedade.
“Eu falo como eu acho que são as coisas,” Rosalie
respondeu. “Gostaria de dizer que aprendi a moderar minhas
opiniões fortes com o tempo na sociedade, mas só está
piorando. Se eu não tomar cuidado, algum dia vou me meter
em sérios problemas.”
Isso lhe rendeu um sorriso de Madeline. “Eu acredito
nisso.”
“Eu realmente saberei que estou em apuros quando não
conseguir me convencer a sair disso,” ela acrescentou com uma
risada.
O sorriso de Madeline cresceu.
“Vou falar outra observação em voz alta... se você me
deixar.”
“Vá em frente então.”
Rosalie parou seus passos novamente, encontrando o
olhar suave de Madeline. “Você faria mal em pensar que sua
única opção é o casamento com este Duque.”
“Papai quer que a questão da minha posição seja
resolvida...”
Rosalie zombou. “Você tem quantos anos? Dezesseis?
Dezessete?”
“Fiz dezessete anos em maio.”
“E só foi apresentada agora na sociedade?”
Madeline assentiu.
Rosalie respirou fundo. Ela devia à doce Madeline ser a
única voz da razão. “Se o casamento está em seu futuro... e não
estou dizendo que você tem que se resignar a esse destino...
ouse lançar uma rede mais ampla do que o homem que está
sendo jogado diante de você.”
“Você não gosta do Duque?”
Rosalie deu de ombros. “A verdade é que não o conheço.
Não muito bem, de qualquer forma. Mas o que eu vi me faz
pensar…”
Ela poderia dizer que Madeline estava ouvindo
atentamente. “Por que você fez uma pausa?”
Rosalie expressou as observações que vinha fazendo nos
últimos dois dias. “George Corbin parece ser um tipo de pessoa
inútil, propenso a humores e acessos de tédio que são
facilmente explicados por sua total falta de espírito
empreendedor. Na verdade, tenho a suspeita de que ele deixa a
administração de sua propriedade inteiramente nas mãos de
seu irmão.”
“Você o julga severamente.”
“Eu falo como eu acho,” Rosalie repetiu. “Sua Graça não é
o único homem qualificado aqui em Alcott... talvez ele nem seja
o homem mais qualificado. Embora não sejam iguais ao Duque
em título ou riqueza, cada um dos outros parece ter méritos que
faltam totalmente a Sua Graça...”
“Como?”
Rosalie pensou. “Bem... modéstia. Duvido muito que Lorde
James fizesse malabarismos com candelabros.”
Madeline riu em sua mão enluvada de renda.
“Integridade também,” acrescentou ela. “O Tenente parece
ser um homem correto e honrado. Ele nunca a envergonharia
diante das outras como Sua Graça fez lá atrás. Ele nunca
tentaria fazer mal a uma dama.”
Madeline considerou isso. “Mas...é realmente meu papel
ter uma opinião sobre como Sua Graça me trata? Eu não sou
igual a ele...”
“Quem disse?” Rosalie estalou. “Você pode não ser igual a
ele em título, mas você é de carne e osso, igual a ele. Você não
precisa se contentar com um homem que zomba de você na sua
cara e ri das suas custas na frente de outras pessoas. Esse não
é um bom homem, Madeline. Encontre um homem modesto,
um cavalheiro que mereça o nome...”
Madeline parou em seus passos, cautelosa como um
coelho. “Você ouviu isso?” Ela murmurou, virando-se para
espiar atrás delas no caminho.
Rosalie parou também, seus próprios sentidos aguçados
para amplificar os sons da floresta. Por cima do canto dos
pássaros e do riacho, ela ouviu vozes. Uma risada. Alguns
gritos. “Talvez o grupo esteja nos alcançando…”
“Não, não está vindo de trás de nós. É lá na frente,” ela
disse, apontando para a curva do riacho.
As meninas apressaram seus passos, seguindo o pequeno
caminho até que o som de vozes ficou mais alto - gargalhadas
profundas, um chamado agudo de homem. Elas viraram a
curva e Madeline gritou em pânico, sua mão enluvada voando
para cobrir sua boca aberta.
Os olhos de Rosalie se fixaram em Lorde James. Ele estava
a menos de três metros de distância, com os tornozelos na
água... completamente nu. Antes que ela pudesse se conter, seu
olhar estava viajando pelos planos pontiagudos de seu peito,
seguindo uma trilha de cabelo escuro encaracolado por seu
estômago musculoso até...
Céus, Rosalie!
Ela desviou o olhar intencionalmente. Logo atrás de Lorde
James estava Burke, com água até a cintura, também nu. Seu
cabelo escuro pingava água em seu rosto. E aqueles ombros
largos... Rosalie não conseguia decidir se gostava mais de vê-
los com ou sem o casaco. Os músculos de seu peito ficaram
tensos quando ele sentiu o olhar dela e seus olhos se
estreitaram, seu sorriso se alargando para encontrar o dela.
Não. Definitivamente não.
Lorde James recuperou seus sentidos com algumas
maldições audíveis e rapidamente colocou as mãos sobre sua
masculinidade exposta, que, Rosalie notou com um sorriso, fez
pouco para se esconder dos olhos das damas.
Ao lado dela, Madeline perdeu-se em um ataque de riso.
“Céus, vamos desviar nosso olhar.” Rosalie pegou a
sombrinha de Madeline e a jogou na frente de seus rostos para
bloquear a visão de ambos os cavalheiros.
Do riacho central, Burke caiu na gargalhada quando Lorde
James recuou para as águas mais profundas com um
mergulho.
Madeline ainda ria, suas bochechas de um carmesim
profundo. A feiura do piquenique estava totalmente esquecida.
“Sim, eu entendo o que você quer dizer,” ela disse através de
sua risada. “Uma demonstração de modéstia cavalheiresca.”
James queria morrer. Ele tinha certeza de que, se
afundasse na água e esperasse tempo suficiente, poderia
cumprir a tarefa. Duas senhoras... duas convidadas em sua
casa acabaram de vê-lo nu. Maldito Burke e suas malditas
ideias estúpidas!
As meninas ficaram juntas atrás de um guarda-sol, seus
rostos escondidos. A pequena Lady Madeline comentando
enquanto a Srta. Harrow a mandava calar.
“Boa tarde, senhoras,” Burke chamou, sua voz cheia de
alegria. “Como vai sua colheita de morango?”
“Sim,” veio a resposta estrangulada da Srta. Harrow.
“Muito divertido! Acredito que devemos voltar agora, senhores.
Por favor, aproveitem o dia!”
James não pôde deixar de sorrir quando elas fingiram virar
as costas, mantendo a sombrinha entre eles como um escudo.
“Eu não posso falar por Lorde James,” Burke gritou. “Mas
da próxima vez que você me ver, prometo estar vestido de
maneira mais formal!”
James se lançou para seu amigo ao som de ambas as
garotas caindo na gargalhada enquanto se afastavam
apressadas pelo caminho. Burke se deixou ser pego e James o
empurrou para baixo d'água. “Seu idiota!”
Burke ressurgiu com facilidade, ainda rindo.
“Que diabos eu vou fazer agora?” James disse, tentando
desesperadamente segurar sua raiva, mesmo quando ele
começou a rir. “Como vou enfrentá-las novamente?”
“Muito facilmente,” disse Burke, nadando com segurança
para fora do alcance. “Por que você deveria ter vergonha? Não é
como se você estivesse perdendo alguma peça.”
James gemeu, ficando de pé até a cintura contra a suave
atração da corrente.
“Você é um senhor rico e bonito,” Burke acrescentou com
um revirar de olhos. “Tenho certeza de que as senhoras
consideraram isso um prazer. Se ambas não corarem
furiosamente na próxima vez que você as vir, dou-lhe dez
libras.”
“Dez libras do meu próprio dinheiro?” James zombou. “Que
generoso da sua parte.”
“Tudo bem, o que você quer?”
James considerou. O que ele queria era que a Srta. Harrow
olhasse para ele novamente. Ele a queria em seus braços, para
ver aquelas bochechas corarem enquanto ela pegava seu pênis
na mão e...
De onde diabos isso veio?
Ele balançou a cabeça, tentando limpá-la das visões
espontâneas. Rosalie Harrow estava completamente fora dos
limites. Ela estava sem um tostão e praticamente sozinha no
mundo, com apenas uma tia viúva a seu crédito. Ela não tinha
capital social, nem título, nem criação ou educação. James não
deveria pensar duas vezes nela. Então, por que ele não
conseguia tirá-la da cabeça?
Maldição, ele tinha um controle melhor do que isso. Ele
não ia dar à pequena Senhorita Ninguém de Lugar Nenhum
mais um minuto de seu tempo. Ele não podia errar. Ele deixaria
que Burke fosse impetuoso. James seria racional e firme. Ele
era casado com seu trabalho.
“Você está tramando algo,” Burke meditou. “Se importaria
em compartilhar?”
“Não estou conspirando,” disse James rapidamente, ainda
tentando afastar aquela imagem da Srta. Harrow e seu olhar
errante. “Mais como... reflexão.”
“Sobre?”
James fez uma careta. “Preciso que você conheça todos os
meus pensamentos?”
Burke passou as mãos pelo cabelo penteado para trás e riu
novamente. “Só os indecentes. Não me importo com seus
pensamentos sobre transporte de terras ou inovações
agrícolas... por mais que você tenha tentado me converter.”
James riu também. “Você não é tão inútil quanto gosta de
fingir.”
“Mentira,” Burke respondeu, ousando parecer ofendido.
O sorriso de James caiu enquanto ele estudava seu amigo
mais querido. “Por que você se esforça tanto para ficar ocioso?
O que você ganha com isso?”
Burke apenas deu de ombros e começou a sair do riacho.
“Você sabe, se eu fosse o Duque de fato, eu faria de você
meu mordomo na próxima respiração,” ele gritou para a forma
em retirada de Burke.
Burke fez uma pausa, olhando por cima do ombro. “E eu
recusaria graciosamente. Já me envergonho o suficiente por ser
seu amigo bastardo e esbanjador,” acrescentou baixinho.
“Imagine se eu realmente me esforçar. Como todos eles iriam rir
e zombar de mim.” Ele agarrou as calças e as vestiu.
James afundou na água, considerando as palavras de
Burke. “Então é isso? É por isso que você não tenta ser mais?
Por que você desiste de todos os cargos que já lhe ofereci depois
de seis meses?”
Burke suspirou, enfiando a camisa nas calças. “É egoísta
o suficiente de minha parte ficar em Alcott sabendo que atraio
sussurros e escárnio. Se eu fosse um homem melhor, iria
embora. Eu salvaria sua família da desgraça de minhas
conexões...”
“Pare,” James chamou, sua ira aumentando enquanto ele
saía do riacho. “Já lhe disse uma vez e vou repetir: não me
importa quem seja sua mãe. Dane-se o mundo e todos nele por
fazerem disso sua cruz para carregar. Mas você tem uma
chance aqui de me usar a seu favor, então faça isso.” Ele
colocou a mão no ombro de Burke. “Meu nome de família é
poderoso o suficiente para proteger nós dois. Você é meu amigo
mais querido, Burke. Quero ver você conseguir tudo o que
deseja na vida e sei que não é isso.” Ele apontou para o campo
tranquilo ao redor. “Definhando aqui em Alcott, ajudando-me a
controlar o humor de George e atendendo às demandas de
minha mãe. Você pode fazer e ser mais. Tome uma posição. Use
meu nome se quiser, você sabe que conquistou esse direito
depois de todos os seus anos de lealdade.”
Burke levantou uma sobrancelha escura. “Usar seu
nome?”
James deu de ombros. Ele pensou nessa solução com
bastante frequência, mas nunca a expressou em voz alta. “Se o
nome Burke o impede, então vamos mudá-lo. Torne-se um
Corbin e todas as portas da sociedade se abrirão para você. Eu
financiarei a entrada em qualquer profissão que você quiser.
Você poderia se estabelecer em Carrington ou Town...”
“Você está tentando se livrar de mim?” Burke disse com
uma risada, mas James ouviu o quão vazio era, quão falso.
“Nunca,” respondeu James. “Mas cansei de ficar sentado
vendo você definhar como se não tivesse nada para oferecer ao
mundo.”
Burke encolheu os ombros sob a mão de James e pegou
seu colete. “E se o que eu quero não for adequado aos olhos de
sua alta sociedade? E se as coisas que quero trouxerem ainda
mais vergonha para o nome Corbin?”
James baixou as sobrancelhas enquanto pegava suas
próprias calças. “Você não vai... você não quer se casar com um
ganso ou algo assim, não é?”
“Não,” Burke disse com uma risada.
James sorriu, feliz em ver que estava acalmando a mente
de seu amigo. “Você não vai para o continente e se tornar um
nudista e posar em pé para pinturas o dia todo?”
Burke levantou uma sobrancelha com esta sugestão. “Não
vou dizer que isso não me atrai, especialmente como uma fuga
do rigoroso inverno inglês… e eu amo muito Florença.”
James apenas riu enquanto se vestia de novo. Burke
terminou de se vestir primeiro e foi desamarrar os cavalos.
Enquanto James se encostava na árvore, enfiando o pé dentro
de sua bota de couro, Burke se aproximou com as rédeas na
mão.
“E eu sei o que você estava pensando,” disse Burke. “Você
nunca poderia esconder nada de mim.”
James olhou para cima com um grunhido enquanto dava
um forte puxão nas laterais de sua bota. Droga, isso sempre foi
mais fácil com a ajuda de um criado. “O quê?” Ele bufou,
pegando sua outra bota na grama.
“Mais cedo,” Burke disse. “Quando você estava meditando.”
James enfiou o outro pé no topo da segunda bota. “Oh,
sim? E o que era isso?” Ele deu um puxão hercúleo na segunda
bota.
“Srta. Harrow.”
“Cristo...” James perdeu o equilíbrio e quase caiu,
empurrando o cotovelo para se apoiar contra a árvore. Ele olhou
para cima bruscamente, como se fosse culpa de Burke que ele
não pudesse calçar sua própria maldita bota. “Que diabos você
está falando?”
Burke deu um tapinha no pescoço de seu cavalo. “Você
estava refletindo sobre os belos olhos e a bela figura da Srta.
Rosalie Harrow.”
James engoliu em seco, ainda segurando as laterais da
bota. Ele tentou não revelar nada em seu rosto. “E por que eu
perderia um momento pensando nela?”
O sorriso de resposta de Burke tornou-se positivamente
diabólico. “Porque sua mãe disse para você não fazer isso.”
Rosalie pensou que Lorde James poderia ficar
envergonhado por se encontrar com ela novamente e o jantar
rapidamente o colocou à prova, pois eles estavam sentados um
ao lado do outro. Não apenas isso, mas Burke estava sentado
do outro lado.
“Boa noite, meu senhor,” ela murmurou enquanto Lorde
James puxava sua cadeira. “Acredito que você teve um dia
produtivo na aldeia?”
“Sim, eu tive,” ele respondeu. “Obrigado, Srta. Harrow.” Ele
se sentou rapidamente ao lado dela e tomou um gole de seu
vinho no momento em que o lacaio encheu sua taça.
Ela lutou para controlar seu sorriso e percebeu com um
sobressalto que Burke estava ocupado fazendo o mesmo.
“Venha agora, cara,” Burke murmurou, inclinando-se tão
perto que ela podia sentir o cheiro do sabonete fresco de seu
cabelo. “Não torne isso estranho para a senhora. Então, ela te
viu nu. Vamos reconhecê-lo e seguir em frente...”
“Burke...” Lorde James escondeu a boca atrás do
guardanapo. “Siga seu próprio maldito conselho, pois é você
quem a está desconcertando.”
Rosalie apenas sorriu. Ela queria participar de suas
provocações. Eles a deixariam? Só há uma maneira de
descobrir. “Não levem a mal, senhores, mas temo que vocês
terão que fazer muito mais do que aparecer nus para me
desconcertar.”
“Santos vivos,” Burke respirou. “O que mais devemos
fazer?”
Ela encontrou seu olhar, notando a forma como ele se
estreitou sobre ela. Ser um objeto de seu interesse parecia ainda
mais emocionante do que enfrentar uma tempestade. Ele se
inclinou até que seu ombro roçou o dela, o canto de sua boca
inclinado em um sorriso. Ela queria traçar com o dedo...
Ela piscou, assumindo o controle de si mesma novamente.
Céus, mas a atenção deste homem era inebriante. Como todas
as outras mulheres ousavam mostrar-lhe tanto desdém? “Essa
não é uma conversa apropriada para o jantar, Sr. Burke,” ela
disse, recuperando seu juízo. “Por favor, restrinja seus
interesses às minhas realizações e minhas opiniões sobre os
Sermões de Fordyce.”
Burke engasgou com uma risada quando pousou sua taça
de vinho. Ele se inclinou novamente, a voz baixa. “O dia em que
eu perder um momento do seu tempo pedindo sua opinião sobre
os Sermões de Fordyce será o dia em que vou comer o relógio
de bolso de James.”
De seu outro lado, ela sentiu mais do que viu o sorriso de
Lorde James. Burke tinha falado alto o suficiente para ele ouvir
a conversa deles. Mas a atenção do Lorde foi rapidamente
atraída pela Condessa, que se sentou do seu lado oposto. Ela o
arrastou para uma conversa sobre novos equipamentos
agrícolas que Rosalie só ouviu em pedaços.
Eles se acomodaram em seu primeiro prato de costeletas
de vitela com molho branco. Rosalie notou a disposição dos
assentos misturados na mesa. Todas as noites o Duque se
encontrava amarrado por damas elegíveis. Esta noite, Lady
Olivia finalmente teve sua vez, enquanto Elizabeth se sentava
do outro lado. Ao lado de Elizabeth estava o Tenente Renley, e
do outro lado estava a jovem Mariah. Ele parecia infeliz
enquanto Mariah tentava encantá-lo com suas histórias tolas.
E ele continuou lançando um olhar cauteloso sobre a mesa,
como se tentasse chamar a atenção de Burke ou Lorde James.
“Seu amigo parece doente, senhor,” ela murmurou para
Burke.
Burke olhou para a mesa com uma carranca. Ela notou a
maneira como os dois homens pareciam ter uma conversa
silenciosa apenas com os olhos. Algo estava errado. Ela podia
dizer pela forma como os ombros de Burke ficaram tensos e pela
forma como os olhos do Tenente Renley se estreitaram, sua
mandíbula cerrando.
“Ele está bem.” Burke desviou os olhos. “Sem dúvida o
cansaço do dia.”
Rosalie assentiu, embora tivesse certeza de que isso não
explicava a atitude do Tenente. Algo estava muito errado.
Os olhos de Burke continuaram correndo pela mesa. Ela
se inclinou, observando-o observar seu amigo. “Posso fazer uma
pergunta, Sr. Burke?”
Sua voz atraiu sua atenção totalmente de volta para ela.
“Eu pensei que tínhamos dispensados as formalidades?” Ele
disse.
“Talvez eu ainda não esteja acostumada depois de conhecê-
lo em tão pouco tempo,” ela respondeu. “A maioria dos homens
deve ganhar o conforto de nomes familiares com uma dama.”
Ele sorriu para sua espetada sutil. “Faça sua pergunta...
devo me preparar para o impacto?”
Agora que tinha essa chance com ele, não podia
desperdiçá-la. Especialmente agora, enquanto o Tenente estava
tão claramente agitado. “Por que você está tão determinado a
tornar o Tenente um par entre essas damas quando você e eu
sabemos que o coração dele já pertence a outra?”
O sorriso de Burke caiu e ele abaixou lentamente a faca e
o garfo. “Cristo, mas você é observadora,” ele murmurou.
“Humm, e cautelosa também,” acrescentou ela. Ela se
inclinou mais perto, cuidando para que apenas ele a ouvisse.
“Eu não gosto de ser colocada em uma missão tola. Por que eu
ajudaria você a conquistar a afeição de uma dama para o
Tenente quando as afeições dele estão firmemente
comprometidas com outro lugar?”
“Você é observadora,” ele repetiu, “mas você não tem todos
os fatos... e não devemos falar sobre isso aqui.” Ele deu um
olhar aguçado para a esquerda.
Ela olhou por cima do ombro para ver que seu outro
companheiro de assento era Sir Andrew, e atrás dele estava a
Marquesa. “Então, quando e onde?” Ela pressionou. “Pois até
que eu tenha todas as informações, não vou ajudá-lo a apanhar
uma dessas senhoras.”
Ele franziu a testa, olhando de sua mesa novamente para
o Tenente. “Deixe-me falar com Tom depois do jantar. Se ele
concordar, contaremos tudo amanhã.”
Ela levantou uma sobrancelha. “E se ele não estiver de
acordo?”
Ele sorriu. “Bem, então terei que arriscar a ira de Poseidon
e contar a você de qualquer maneira.”
Tom se sentiu em agonia durante todo o jantar. Ele
respondeu às perguntas das irmãs Swindon sobre a vida na
Marinha, tentando controlar o revirar de olhos enquanto
Mariah acusava a irmã de ficar enjoada, ao que Elizabeth
retrucou com uma história animada e notável de sua irmã tendo
medo de tempestades. Elizabeth encontrou nada menos que
três ocasiões para deixar cair o guardanapo, deixando Tom
obrigado a recuperá-lo para ela.
Assim que as ladies deixaram a sala de jantar, Tom
levantou-se da cadeira e contornou a mesa, sentando-se na
cadeira vazia da Srta. Harrow entre Burke e James. “Eu preciso
falar com vocês dois,” ele murmurou.
Burke estava pronto para ele, pois eles trocaram olhares
secretos a noite toda. Mas James piscou, recostando-se na
cadeira enquanto desviava os olhos da conversa que George
estava tendo com Sir Andrew.
“Agora,” acrescentou Tom. “Em particular.”
James jogou o guardanapo na mesa. “Vamos para a sala
matinal.”
Os homens se levantaram e pediram desculpas aos outros.
Tom caminhou entre seus amigos enquanto eles atravessavam
a grande galeria. Um lacaio conduzia com um candelabro e os
três se sentaram em um par de sofás no meio da sala enquanto
o lacaio acendia algumas velas adicionais.
Assim que o lacaio se foi, Burke se inclinou para frente.
“Bem?”
Tom suspirou. Não adiantava adiar. “Colin recebeu
notícias esta semana de Yew Warren, do próprio Sir John... o
marido de Marianne está morto.”
“Cristo,” Burke suspirou, ao mesmo tempo em que James
perguntou: “Como?”
Tom deu de ombros. “Colin não disse, mas Young está
definitivamente morto. Marianne é viúva.”
Burke saltou do sofá e caminhou pelo carpete. Depois de
um momento, ele se virou, os olhos estreitados. “Você quer dizer
que Marianne está disponível. Agora que ela é viúva, você está
pensando em se jogar aos pés dela de novo. Cristo, Tom, pensei
que tínhamos superado tudo isso!”
“Você é tendencioso,” Tom desafiou. “Você sempre quis ver
o pior nela, para se convencer de que ela não era digna de
mim...”
“Quem você está tentando convencer agora, Tom: a mim
ou a você mesmo?” Burke respondeu.
Tom fez uma careta. Burke estava certo? Era seu objetivo
dizer a eles apenas para que Burke o acalmasse?
Aparentemente, Burke estava mais do que disposto a
desempenhar seu papel. “Ela te amarrou durante anos, Tom.
Ela contava cada linha sobre esperar, amar e morrer de desejo.
Ela te deu tudo... exceto a mão dela em casamento. Quando a
escolha foi colocada diante dela, ela trocou você por aquele
idiota bajulador Thackeray Young. Um homem tão inútil a
ponto de não ser um companheiro adequado para esgrima,
cavalgada, tiro ou Cristo sei lá o quê, mesmo passeando pelo
parque. Mas ele tinha sete mil por ano,” finalizou com escárnio.
Tom deixou que as palavras de seu amigo fossem
absorvidas. “Sim, ela podia escolher entre amor e conforto, e ela
escolheu o conforto,” raciocinou ele. Era uma frase que ele
havia dito mil vezes antes.
“Se você não se importa com esta notícia,” disse James,
“por que você estava praticamente botando um ovo no jantar?
Ou você a esqueceu... ou viu essa notícia como uma chance de
tentar de novo...”
“Maldição, James, não dê nenhuma ideia a ele,” Burke
latiu.
“Ele já teve a ideia, senão não estaria tão aflito,” rebateu
James.
Era verdade. Quantas vezes ele pensou em ir a Londres e
caçar aquele idiota do Young? Quantos sonhos ele teve de
atravessar o cavalheiro com um sabre e pegar Marianne ali
mesmo no chão da sala de estar de seu inimigo?
James se inclinou para frente. “O que você quer de nós,
Renley? Você quer que nós o convençamos a deixá-la ir?
Faremos nossos papéis. Burke está claramente disposto,” ele
disse com uma leve carranca para seu amigo. “Ou você quer
que o aconselhemos a se oferecer a ela novamente?”
“Eu não vou fazer isso,” Burke respondeu bruscamente.
“James terá que ser o único a dizer essas falas. Não vou ficar
de braços cruzados vendo aquela mulher te enrolar de novo,
Tom.”
Tom baixou a cabeça entre as mãos. “Cristo, eu a odeio.
Essa é a minha verdade. Eu a odeio até os meus ossos..., mas
eu a amo também. Ela me enfeitiçou... não consigo explicar. Eu
quero que esse sentimento desapareça de mim, mas ela me
persegue como um fantasma.”
James suspirou. “Embora eu não compartilhe o total
desprezo de Burke pela dama, devo admitir que sempre pensei
que você construiu seu pedestal alto demais. Acho que o status
glorificado dela vem de você não encontrar nenhuma outra para
comparar com ela.”
“É verdade,” Burke repetiu.
James o lançou outro olhar, mas continuou. “Se você
tivesse passado mais tempo se movendo na sociedade, talvez
tivesse conhecido outras damas que rivalizavam com Marianne
em beleza, inteligência... e com certeza devoção.” Ele deu de
ombros, afirmando o óbvio. “Mas você foi para o mar. Então,
ninguém jamais poderia suplantar Marianne em sua mente
como um modelo de perfeição.”
Tom suspirou e recostou-se, os braços cruzados sobre o
peito. Ele olhou de Burke para James. “O que você faria?”
James considerou por um momento. “Acredito que, se
fosse eu, iria para Londres. Eu gostaria de enfrentar o fantasma
que me persegue e determinar por mim mesmo se algum dia
poderia colocá-la para descansar ou não. Já se passaram oito
anos, Tom. Talvez você se encontre com Marianne novamente e
não goste de quem você vê... talvez perceba que ela nunca foi
feita para se sentar tão alto em seu pedestal.”
A carranca de Tom se aprofundou. “Burke?”
“Eu a teria deixado ir oito anos atrás,” Burke respondeu
sem hesitação. “Não quero ninguém na minha vida que não me
queira também.”
Tom teve que apreciar os sentimentos de Burke. O homem
era leal ao extremo. Se você o amava, ele retribuía seu amor
com uma ferocidade inigualável. Certamente isso era devido ao
fato de viver na alta sociedade como o filho bastardo de uma
prostituta. Tom sentiu uma pontada no peito ao perceber que,
de alguma forma, havia sido considerado digno de tal devoção.
Burke suspirou, seu rosto suavizando. “Mas... visto que
você decididamente não seguiu em frente, meu método não
funcionará. James pede que você encontre a senhora
novamente e avalie seus sentimentos, assim como os dela.
Recomendo cautela. Admito que é possível que Marianne o
amasse... do jeito dela,” admitiu ele a contragosto.
Tom ficou surpreso. Na frente dele, James sorriu. “Quem é
essa nova criatura racional e o que você fez com o meu Burke?”
Burke continuou. “Faço-vos um desafio: continuem à
espera. Se seu marido está morto e ela agora é sua única
herdeira, ela é rica e poderá tomar suas próprias decisões. Se
ela o amava e a fortuna era o único impedimento, ela agora está
em posição de compensá-lo.”
Tom viu a sabedoria dessa abordagem. Afinal, era bem
possível que Marianne o tivesse rejeitado e nunca tivesse
pensado duas vezes nele.
James limpou a garganta. “Não acredito que estou dizendo
isso, mas concordo com Burke. O cuidado deve ganhar o dia.
Além disso, não queremos que você pareça muito
desesperado...”
“Embora nós três saibamos a verdade,” Burke acrescentou
com uma risada.
Tom ousou se permitir rir também. Ele se sentia mais
calmo agora que tinha um plano de ação. Esperaria para ver se
Marianne lhe escreveria. Se ela alguma vez se importou com ele,
deixaria ela ser a primeira a estender a mão.
“Falando em verdade...” O rosto de Burke de repente
parecia decididamente culpado. “Talvez precisemos contar à
Srta. Harrow sobre esse novo desenvolvimento.”
O sorriso de James caiu. “Por que faríamos isso?”
O olhar culpado de Burke pousou em Tom. “Eu posso ter...
pedido a ajuda dela.”
O olhar furioso de Tom foi igualado pelo de James em
ferocidade. “Ajuda com o quê?”
“Cortejando as damas,” Burke admitiu. “Deixá-las com
ciúmes flertando com você...”
“Cristo, Burke,” James estalou. “Eu deveria te dar uma
surra!”
Tom recostou-se no sofá. Não passou despercebido que as
atenções da Srta. Harrow foram agradáveis. Ele notou o jeito
que ela sorriu, o jeito que ela se inclinou e tentou fazê-lo rir.
Mas aqui estava a verdade: ela estava sob ordens de Burke.
Nada disso foi real.
James gemeu. “Cristo Burke, o que poderia ter possuído
você?”
“Vamos lá, ela é perfeita,” Burke respondeu. “Ela é linda e
inteligente e... fora dos limites,” ele acrescentou rapidamente.
“Isso é o que eu quis dizer com perfeição. James vai comer o
próprio chapéu antes de se deixar incomodar com algo como
uma conexão romântica...”
“Ei!” James teve a audácia de parecer ofendido.
“E você sabe que não a quer,” ele disparou para Tom. “Ela
também sabe disso. Então, ela pode flertar com você sem medo
das consequências, e isso atrai as outras mulheres. E o
estratagema estava funcionando... mesmo que você pudesse se
esforçar mais.”
“Então, por que precisamos trazê-la para nossa
confiança?” James pressionou.
“Porque, como eu disse, ela é esperta,” Burke respondeu.
“Ela sentiu algo errado com Tom e ameaçou quebrar nosso
acordo se eu não explicasse por que ela deveria ajudá-lo a
cortejar essas mulheres quando ele claramente ainda está
perdido para Marianne.”
Tom lutou contra um grunhido. “Ela sabe sobre
Marianne?”
Ao mesmo tempo, James perguntou: “Acordo? Qual
negócio?”
“Ela nos ouviu falando dela na outra noite, lembra? Ela
juntou as peças,” explicou Burke. “Como eu disse, garota
esperta.”
“Que acordo, Burke?” James disse novamente.
Burke lançou um olhar para Tom. “Não é nada...”
“Isso é o que você estava fazendo na biblioteca outro dia,”
James percebeu. “O que diabos aconteceu para ela se sentir
forçada a fazer um acordo com você?”
Tom não pôde deixar de rir de novo. “Cristo, apenas diga a
ele.”
James parecia prestes a explodir. “É melhor um de vocês
começar a falar agora, porra, ou...”
Burke riu também. “Mantenha sua peruca, James. Foi
uma brincadeira boba. Lembra-se de Lady Olivia e do chá
salgado?”
James piscou. “O que... sim...”
“Bem, não foi o lacaio. Foi a Srta. Harrow,” Burke
respondeu.
O sorriso de Tom se espalhou, lembrando-se do momento
em que ela veio até eles.
James piscou novamente. “A senhorita Harrow salgou o
chá de Lady Olivia? Por quê?”
“Porque ela foi rude com Tom,” explicou Burke. “Bem, rude
com todos. Ela salgou o chá e então Lady Górgona culpou o
lacaio, então Rosalie veio até mim para implorar clemência para
o lacaio. Acho que ela estava com muito medo de abordá-lo
diretamente...”
“Por que ela deveria ter medo de mim?”
Burke riu. “Porque você geralmente é tão indiferente que
pode muito bem ser feito de pedra. Ou, se não indiferente, você
está atrás de todos nós como um lobo com dor de dente.”
Tom ainda queria socá-lo. “Cristo, Burke, eu disse para
você me deixar por conta própria...”
“Bem, isso nunca iria acontecer,” Burke murmurou.
“Eu estou dizendo para você ficar fora disso. Eu cuidarei
dos meus próprios assuntos...”
“Uau, espere. Não haverá nenhum caso com Rosalie
Harrow,” James latiu.
“Não foi isso que eu quis dizer,” respondeu Tom, ficando
cada vez mais exasperado.
“Mas foi meio que implícito,” Burke apontou.
“Cale a boca!”
“Faça-me, marinheiro...”
“Suficiente!” James estava de pé agora. Ele apontou um
dedo direto no rosto de Burke. “Burke, deixe a Srta. Harrow em
paz. Comprometa a honra da dama enquanto ela estiver nesta
casa, e eu o açoitarei no quintal. Não me teste.”
Tom sorriu quando seu amigo foi castigado, até que James
o atacou.
“E você, levante-se e cuide dos seus malditos negócios.
Você quer Marianne, vá buscá-la. Você quer se casar com uma
das senhoras aqui e agarrar sua fortuna, case-se. Você quer
chafurdar na autopiedade como um poeta de coração partido
pelo resto de seus malditos dias, fique à vontade, mas faça isso
em outro lugar.”
Ele respirou com raiva e avançou. “Se você vai ficar sob o
meu teto, você deve encontrar a força que precisa para parar de
ser tão chato. Estou farto de você se lamentando como um cão
chicoteado. Burke também. Eu quero o divertido Renley de
volta. Quero o Renley que entrava em qualquer ringue com os
dois punhos levantados, pronto para conquistar o mundo.
Encontre-o ou encontre o caminho de volta para a casa do seu
irmão com o rabo entre as pernas.”
Tom piscou, sem fôlego com a ferocidade do discurso de
James. Ele sentiu algo mudar dentro dele, como se tivesse sido
envolto em uma casca de pedra dura. Tom sentiu uma
rachadura naquela casca e respirou fundo. Uma respiração se
transformou em duas, e antes que ele percebesse o que estava
acontecendo, ele estava ofegante, agarrando a gravata,
tentando afrouxá-la. As respirações não podiam vir rápido o
suficiente. Queria encher os pulmões até estourarem.
“Renley?”
“Cristo... Tom...”
Ambos os homens estavam de pé. James caiu de joelhos e
assumiu o lugar de Tom, desamarrando sua gravata e
desenrolando o pano preto, jogando-o de lado.
“Respire, Tom,” disse Burke, colocando a mão em seu
ombro.
Tom respirou fundo mais algumas vezes, levantando sua
própria mão e envolvendo-a no pulso de Burke. “Estou bem,”
ele ofegou depois de um momento.
“O que aconteceu?” James murmurou.
Tom se recostou no sofá, deixando a cabeça cair contra a
almofada enquanto lentamente começava a rir.
James lançou um olhar selvagem para Burke. “O que
diabos aconteceu?”
Burke sorriu. “Eu acho que você quebrou o feitiço do mal.”
“O... o quê?”
“Ele está bem,” Burke riu, estendendo a mão para ajudar
Tom a se levantar. “Ou ele ficará. Certo, Tom?”
Tom respirou fundo novamente. Ele se sentia mais leve do
que em anos. “Sim... sim, estou bem.”
As nove e meia da manhã seguinte, Rosalie encontrou o
caminho para o salão da Duquesa para o chá. Ela estava pronta
para isso desta vez quando o lacaio gritou seu nome quando ela
passou pela porta aberta.
“Ah, senhorita Rose... posso chamá-la de senhorita Rose?”
Disse a Duquesa de seu lugar habitual no centro do sofá voltado
para a janela.
“Claro, Vossa Graça,” Rosalie respondeu.
“Bem, então sente-se aqui e vamos direto ao que interessa,”
ela disse, apontando para a cadeira mais próxima. “Estou
bastante pressionada pelo tempo esta manhã.”
Rosalie podia muito bem acreditar. A Duquesa parecia
estar em meio a uma confusão de papelada - cardápios de
amostra e tabelas de assentos para o baile, cartões de baile,
pilhas de correspondência fechada, jornais dobrados. A mulher
nunca parecia parar de trabalhar.
Um lacaio serviu chá a Rosalie, que ela aceitou com
gratidão, cheirando profundamente o oolong10 floral.
10 Um chá chinês.
“Bem, senhorita Rose?” A Duquesa disse, sem tirar os
olhos de sua leitura.
“Sua graça?” Rosalie respondeu, baixando a xícara de volta
ao pires.
“Relatório,” a Duquesa respondeu com um bufo. “Não foi
por isso que te enviei nestes últimos três dias?”
Rosalie assentiu, deixando o chá de lado. “Sim, bem... as
damas que você reuniu são todas de boa educação, bem-
educadas e talentosas. Eles parecem vir de boas famílias...”
“Pare aí mesmo,” a Duquesa retrucou, deixando a leitura
de lado e tirando os óculos da ponta do nariz. “Se eu quisesse
um relato de suas pedigrees, leria suas entradas na última
edição de Debrett's Peerage and Baronetage. Estou lhe
perguntando, Srta. Harrow, qual é a sua opinião sobre elas.
Você é minha observadora imparcial, pois não conhece essas
senhoras. Estou contando com você para me dizer o que pensa.”
Rosalie piscou, surpresa demais para palavras. Seria
possível que sua opinião tivesse algum peso para uma
Duquesa? Sua mente vagou de volta para a pilha de notas
escondidas em seu baú e ela respirou fundo. A Duquesa
realmente queria sua opinião? Rosalie se obrigaria a responder.
“As irmãs Swindon talvez sejam um pouco vaidosas, e
Mariah em particular é muito boba,” ela começou. “Mas ela é
jovem, Vossa Graça. Ela poderia aprender, especialmente com
a influência de orientadora certa... sua influência.”
A Duquesa assentiu. “Continue, senhorita Rose.”
“Lady Olivia é arrogante ao extremo,” ela continuou. “Ela
se vê como melhor do que todos. Ela fala baixo com todos... os
criados e os outros convidados. Ela foi rude até com seu filho.
Lorde James foi bastante calmo quando eu teria mostrado meus
dentes.”
“Eu ouvi sobre o incidente,” a Duquesa respondeu. “Olivia
consegue isso naturalmente. Sua mãe é uma cadela de coração
frio. Eu a odeio... e eu a respeito. Ela é uma mulher de negócios
incrível.”
Rosalie assentiu. De uma forma estranha, ela podia ver
como os atributos de Lady Olivia poderiam realmente ser bons
para uma propriedade como Alcott, mesmo que ela
estremecesse com a perspectiva de ser emparelhada com
George Corbin. Seria apenas o segundo pior par do grupo.
Rosalie ergueu os olhos para a Duquesa. Aqueles olhos azuis
safira a observavam, esperando.
“Lady Madeline não é uma boa opção para o Duque,”
Rosalie disse em um sussurro. “Eles seriam infelizes juntos, e
ela seria infeliz em seu papel aqui. A tiara sempre a usaria,
nunca o contrário.”
A Duquesa franziu o cenho. “E Blanche Oswald?”
“Ela é ridícula,” Rosalie respondeu. “Ela te deixaria louca
aqui, sempre pisando, sempre falando em seu ouvido dia e
noite. Temo que você possa explodir e empurrá-la para fora de
uma janela aberta... se Lorde James não chegar antes de você.
O Sr. Burke ajudaria em ambos os casos.”
A Duquesa conteve sua diversão, embora Rosalie visse um
lampejo dela em seus olhos. “E você se considera uma boa juíza
de caráter? Você acha que essas opiniões têm peso?
“Eu falo por mim sozinha,” Rosalie respondeu. “Mas... sim,
Vossa Graça. Como você, eu me vejo como uma boa juíza de
caráter. E não tenho motivos para mentir para a senhora. Estas
são minhas opiniões honestas.”
“Se ao menos todas as conversas que tive com todos os
meus conhecidos pudessem ser tão diretas. É o nosso sangue
Richmond, eu acho,” ela meditou. “Nós, mulheres de Richmond,
não toleramos tolos, nem perdemos nosso tempo com palavras
frívolas.”
Rosalie corou com o elogio mudo da Duquesa.
“Acho que é hora de falarmos sobre meu objetivo principal
em trazê-la para Alcott,” a Duquesa continuou mexendo em
alguns dos papéis em seu colo.
Rosalie prendeu a respiração. Ela esperava por isso, tanto
quanto temia. Ela nunca gostou de se sentir como se estivesse
sendo mantida no escuro. “Ouvirei qualquer coisa que Vossa
Graça deseje me dizer,” ela murmurou, alcançando seu chá
para dar a suas mãos alguma distração.
“Não vou negar, Srta. Rose, você me impressionou. Eu a
observei, e você é tudo que eu esperava... e tudo que eu temia.”
Rosalie se mexeu desconfortavelmente, tomando um gole
de seu chá excessivamente floral. “Não tenho certeza se você
quer me elogiar, Vossa Graça,” ela admitiu.
“Você é esperta, Srta. Rose,” a Duquesa continuou. “Estou
satisfeita em ver que você tem mais de dois pensamentos em
sua cabeça. Você parece curiosa sobre o mundo e conversa
facilmente com pessoas de alto e baixo escalão. Até meus servos
parecem gostar de você. Você ganhou uma recomendação
brilhante de sua criada.”
Rosalie estava se dando bem com Sarah. A garota era uma
verdadeira fonte de fofoca. Foi através dela que soube que o Sr.
Burke tinha um meio-irmão mais velho que era pároco em
Devonshire. E que Sir Andrew estava tendo um caso com a
criada de sua esposa.
“Eu não sei sobre suas realizações,” a Duquesa
acrescentou. “Mas logo terá oportunidades de exibi-las. Não, no
geral, você é exatamente o que eu esperava encontrar na filha
de Elinor.”
Rosalie sorriu levemente. “E... o que você teme, Vossa
Graça?”
A Duquesa franziu o cenho. “Você é muito bonita e seu
charme é contagiante. Você tem um ar de mistério que atrai os
homens. Sem levantar um dedo, você já conseguiu virar a
cabeça de todos os homens desta casa. Você tem a condenável
capacidade de fazer um homem questionar tudo o que deve à
família e ao dever. É irritante... e perigoso, e não vou tolerar
isso. Não quando você é uma ninguém sem nada a oferecer.”
Rosalie sentiu seu pulso acelerar. “Vossa Graça, eu
nunca...”
“Oh, eu sei que você não usaria suas artimanhas de
propósito. Mas é isso que a torna ainda mais atraente,”
respondeu a Duquesa.
“Eu disse a você, não estou pensando em casamento.”
“Bem, então,” a Duquesa disse com uma fungada
arrogante, sua sobrancelha arqueada daquela forma imperiosa
que ela agora atribuía aos três Corbin. “Se você for sincera,
acredito que podemos chegar a um acordo.”
“Acordo?”
A Duquesa sorriu. “Você procura pagar suas dívidas
comigo. Você procura uma posição que não envolva casamento,
e tenho uma para lhe oferecer.”
Que reviravolta foi essa? Rosalie não ousava respirar.
“Uma posição, Vossa Graça?”
“Eu quero que você venha e fique aqui em Alcott Hall,” a
Duquesa declarou. “Fique como minha ala 11 . Terá casa e
comida, dinheiro para alfinetes, e vestidos novos. Que as
próximas semanas sejam um teste, se desejar.”
O coração de Rosalie estava em sua garganta. “E... por que
você me quer aqui?”
A Duquesa colocou a xícara e o pires vazios sobre a mesa.
“Porque parece bastante certo que meu filho George fará um
casamento inadequado, se é que conseguirá um, e esta
propriedade precisa ser administrada. Precisa de uma Duquesa
adequada. Pela sua própria estimativa, se ele escolhesse
Madeline ou Blanche, eu sentaria e assistiria enquanto eles
destroem esta propriedade.”
A mente de Rosalie girou. “Você quer que eu... seja uma
Duquesa? Mas você acabou de dizer...”
“Não, querida,” a Duquesa disse com uma risada suave.
“Como já decidimos, você está fora de questão como noiva em
potencial. Mas não confiarei a administração de Alcott a
qualquer nova Duquesa que ouse tomar meu lugar nos braços
de George. Ela com certeza será uma criatura inútil, e não
permitirei que o nome Corbin ou esta grande propriedade
sofram com suas más atenções.”
Rosalie viu sentido nessa solução, mesmo que não fosse
convencional.
“Eu quero que você seja minha protegida,” a Duquesa
continuou. “Você aprenderá ao meu lado como administrar uma
propriedade como esta, pelo menos o lado feminino. Meu filho
James cuida do resto. Você planejará menus e eventos, cuidará
da caridade e do patrocínio dos inquilinos. Em uma palavra,
você será eu: uma guardiã, gerente de Alcott e da família
11 Uma forma de chamar uma serviçal de luxo, estilo dama de companhia.
Corbin. Você trabalhará discretamente, permitindo que George
e sua nova noiva vivam suas vidas o mais livre possível de
responsabilidades. Acredite em mim quando digo que esse
arranjo será melhor para todos.”
“Mas... Sra. Davies,” Rosalie pressionou. “Certamente uma
governanta treinada já preenche essas funções...”
“Uma governanta vive nas sombras,” explicou a Duquesa.
“A marca de uma boa empregada é que um hóspede nunca
poderá a ver durante toda a visita. Não, preciso de alguém que
consiga transitar entre os mundos, nas sombras e a luz do sol.
Uma gerente que planejará eventos e também uma senhora que
poderá ajudar na organização dos mesmos. Se eu a aceitar
agora e treiná-la ao meu lado, não será nenhum desconforto
para aqueles dentro do círculo do Duque ao vê-la em
assembleias, bailes, batizados e bazares da igreja.”
“Eu não entendo por que você possivelmente iria querer
que eu preenchesse esse papel,” Rosalie admitiu, ainda
tentando entender tudo isso.
“Você é filha de Elinor Greene ou não?” A Duquesa estalou.
“Minha Elinor era uma força da natureza, criativa e inteligente,
leal aos amigos. Ela era confiável e engenhosa. Você não possui
nenhuma das características que a tornaram uma companheira
tão valiosa?”
“Eu acho... eu sou muito parecida com ela,” Rosalie
murmurou, tentando manter qualquer emoção que ela sentisse
sobre sua mãe seguramente em sua caixa.
“Bom, excelente. Porque quero alguém com a cabeça
limpa,” respondeu a Duquesa. “Alguém inteligente e engenhosa
e sem medo de trabalhar duro.” Ela se inclinou para a frente.
“Mais importante, preciso de alguém que não tenha sua linda
cabecinha virada pelas promessas vazias de amantes ou
alpinistas sociais. Este é um mundo perigoso para uma mulher
e os predadores estão por toda parte. Estou confiante de que
seu status como um prêmio conjugal totalmente inútil irá
protegê-la de pretendentes indesejados.” Ela fez uma pausa,
mais uma vez erguendo a sobrancelha arqueada. “Nadar nestas
águas exaltadas é saber que há abundância de tubarões,
senhorita Rose. Então, diga-me, você é uma boa nadadora?”
13 Atlas, também chamado Atlante, na mitologia grega, é um dos titãs Condenado por Zeus a sustentar
16 Unguento.
Você é cruel e iludida, Rosalie Harrow.
Erguendo uma mão trêmula, ela puxou o laço entre os
seios até que cedeu. Afrouxando a gola de sua camisola, ela
expôs mais de seu ombro machucado.
Ele se aproximou. “Se isso doer muito, me diga e eu paro.”
Ela deu outro aceno.
Ele abriu o pequeno frasco. “Mova o cabelo para o outro
ombro.”
Ela jogou seus cachos escuros sobre o ombro direito,
deixando o ombro esquerdo nu. Um cheiro inebriante encheu
seu nariz enquanto ele esfregava as mãos; picante e quente,
com notas suaves de lavanda. O som do óleo escorregadio em
suas palmas fez seu estômago revirar. Ele estava tão perto que
ela podia sentir a respiração dele em seu pescoço. Ela não
conseguiu conter o arrepio. Ele levantou arrepios em seus
braços, e ela mordeu o lábio para não soltar um gemido.
Ele começou com uma mão. O calor do óleo era incrível e o
cheiro era divino. Um leve suspiro escapou dela quando a outra
mão dele se juntou a ela, ambas trabalhando para definir a
forma de seu ombro e a curva de seu pescoço.
“Fique quieta,” ele murmurou.
Ela gemeu quando seu toque mudou de golpes suaves com
dedos macios para um aperto de ferro. Ele massageou os
músculos rígidos, segurando-a com força com ambas as mãos.
Seu corpo se transformou em geleia enquanto ele trabalhava
para afastar as dores. Doeu, com certeza, mas era uma dor que
ela nunca queria que acabasse. Ele parou duas vezes para
colocar um pouco mais de óleo nas mãos.
“Vou começar a mexer um pouco na clavícula,” alertou.
“Isso pode doer.”
Ela se preparou para a dor.
Ele fugiu todo o caminho até a borda de sua cadeira. Com
uma mão apertada no ombro dela, ele usou a outra para mover
o braço.
Um gemido se transformou em um suspiro, que ela
rapidamente teve que abafar como um grito. “Ai...”
“Desculpe,” ele acalmou em seu ouvido, suas mãos ficando
suaves como veludo enquanto acariciavam seu ombro, seu
pescoço, seu braço. “Mais uma vez. Seja forte. Estou girando
um pouco para trás.”
Foi doloroso enquanto ele massageava os músculos,
enquanto girava o ombro. Ela suspirou, fazendo o possível para
ficar quieta. Antes que ele terminasse, ele a fez levantar o braço
no ombro até que ela sentisse mais uma dor surda do que a dor
aguda e penetrante de uma faca a apunhalando.
“Que tal?” Suas mãos eram macias como seda novamente.
“Melhor,” ela sussurrou, os lábios mal se movendo. “Muito
melhor... obrigada, Burke.”
Ele deixou cair ambas as mãos, deixando-a balançando no
banquinho, desesperada por seu toque de ancoragem. Ela
desajeitadamente puxou sua camisola, tentando cobrir seu
ombro nu.
Burke tampou o pequeno frasco e enxugou as mãos com
um lenço. “Se ainda doer amanhã, podemos fazer isso de novo,”
ele ofereceu.
Ela não respondeu. Seus sentidos estavam nadando.
Então ela prendeu a respiração quando os dedos dele
deslizaram suavemente por seu pescoço. Ele começou logo
atrás de sua orelha, colocando fogo em sua pele enquanto as
pontas de seus dedos roçavam seu caminho pelas costas até o
ponto onde sua camisola estava torta.
“Rosalie,” ele sussurrou, o calor de sua voz fazendo-a
queimar. Ele pressionou a testa levemente contra o ombro dela.
“Vou dizer boa noite.”
Ele estava saindo e ela queria gritar. Ainda não. Era
demais... e não o suficiente. Era certo que ele deveria ir. Ele
nem deveria estar aqui.
Ele se afastou dela e se levantou. “Tente dormir um pouco,”
ele murmurou.
Sua mão disparou quando ele passou, e ela segurou seu
pulso. “Espere,” ela se ouviu dizer. “Ainda não. Eu...”
O braço de Burke ficou tenso sob seu aperto. “Srta.
Harrow... você quer mais alguma coisa?”
Ela engasgou quando ele se virou, usando seu aperto em
seu pulso para puxá-la para fora do banco. Ele a girou e a
apertou contra ele. Então ele deixou cair as mãos nos quadris
dela e abaixou a cabeça para correr a ponta do nariz ao longo
de seu ombro nu e até a curva de seu pescoço. Ela não
conseguiu conter o gemido que escapou de seus lábios.
“O que você quer, amor?” Ele sussurrou contra seu ouvido.
“Diga.”
Ela queria sentir suas mãos sobre ela. Apenas mais alguns
segundos de êxtase roubado. Mas Burke gostava de provocar,
gostava de cercar seu oponente, gostava de vencer. Ela sabia
que ele queria beijá-la. Não pelo que seria, mas pelo que
representaria: ele reivindicando sua determinação. Ela gemeu,
pressionando seus quadris contra ele, sentindo o jeito que ele
pressionava ansiosamente de volta.
Ele cavou os dedos em seu cabelo, puxando sua cabeça
para trás para olhar em seus olhos. “Esses sons estão me
deixando louco. Por favor... Deus...”
Ela sorriu. “Não deveria ser eu implorando pelo seu beijo?
Não devo pedir educadamente?”
“Sim, implore,” ele murmurou, seu hálito quente enviando
arrepios pelo corpo dela. Suas mãos vagaram, deslizando sobre
seus ombros nus e sob a borda de sua camisola para acariciar
a curva de seus seios. “Diga-me o que você precisa, sua
sedutora... sua maldita sereia.”
Ela era uma sereia, pois o havia atraído sem saber o que
ele queria, o que esperava dela em troca. Era muito cruel.
Rosalie não poderia fazer isso. Ela endureceu em seus braços.
“Burke...”
Ele também se acalmou, as pontas dos dedos roçando a
curva de seus seios. “Diga-me para parar,” ele sussurrou, sua
voz dolorida. “Se você precisa que isso pare...”
“Não.” Ela se virou em seus braços, deslizando as mãos de
seu peito até os ombros. Ela adorava a sensação dele em apenas
sua camisa. Sem casaco, sem colete. Ela queria pressionar o
rosto em seu peito e inalá-lo. “Eu quero tanto você... mas eu
não... eu não...”
Ele ergueu o queixo dela com um dedo. “Não tenha medo
de mim. Fale claramente.”
“Aconteça o que acontecer esta noite, não me considerarei
arruinada pela manhã… e se você tentar propor proteger minha
honra, direi não.”
Ele riu. “Você está tentando me dizer que não é pura como
a neve? Você realmente esperava que o filho bastardo de uma
prostituta fosse meticuloso sobre isso?” Ele colocou algumas
mechas soltas de seu cabelo atrás da orelha.
“Não se chame assim,” ela sussurrou, inclinando-se em
seu toque.
“Por que não? É a verdade.”
Ela fechou a mão sobre o pulso dele, encontrando seu
olhar novamente. “Você é muito mais do que isso. Eu não... os
rótulos nos enjaulam, eles nos aprisionam. Você poderia me
aceitar sem um?”
“Eu te aceito.”
“Por favor, não tente me prender,” ela sussurrou,
pressionando o rosto contra o peito dele. “Não aguentarei.”
“Ei...” ele empurrou suavemente em seus ombros,
desejando que ela olhasse para ele novamente. “Eu nunca te
machucaria.” Ele baixou a testa para a dela e suspirou. “Deixe-
me fazer você se sentir bem.”
Ela sentiu sua dureza na parte inferior de suas costas
enquanto ele a virava com mãos firmes. Ele gemeu
profundamente em sua garganta, ambas as mãos mergulhando
dentro do topo de sua camisola para segurar seus seios. Ela
engasgou, o som se transformando em um gemido enquanto ele
os acariciava. Ela se contorceu, envolta em seus braços, a
cabeça pendendo para trás contra seu peito.
“Diga-me o que você quer, pequena sereia. O que aliviará a
dor?” O cascalho em sua voz a fez tremer enquanto ela
pressionava arbitrariamente contra ele com seus quadris. “Você
quer que eu te beije?”
Lá estava ela provocando Burke, ainda tentando fazê-la
quebrar. Seu sorriso cresceu com sua determinação. Qualquer
que fosse o jogo que estivessem jogando, ela estava ganhando
esta rodada. “Sem beijo,” ela respondeu, “...não pare.”
“Foda-se,” ele rosnou. Suas mãos pareciam prontas para
devastá-la. Uma deslizou de volta para dentro de sua camisola
para cobrir seu seio, enquanto a outra puxou para baixo em
sua manga para expor seu ombro. Ela moveu seus quadris
contra ele e soltou outro gemido suave, amando sua resposta
imediata. Ele beliscou seu mamilo e ela sibilou.
“Cristo, diga isso,” ele rosnou em seu ouvido. “Tire-me da
minha miséria.”
Ela suspirou outra vez ofegante, “Não.”
Suas mãos caíram para os quadris dela, roçando para
baixo enquanto seus dedos alcançavam a borda de sua
camisola. Ela estava praticamente se contorcendo enquanto ele
lentamente a arrastava por suas coxas, não parando até que
estivesse em volta de seus quadris e seu sexo exposto ao
ambiente. Ela engasgou ao senti-lo acariciar sua pele nua, seus
polegares gentilmente circulando os ossos de seus quadris.
“E agora?” Ele sussurrou. “Diga-me o que você quer agora.”
Ela inclinou a cabeça para o lado, expondo mais o pescoço,
desesperada para senti-lo em todos os lugares. “Toque-me,
Burke. Por favor...”
A mão direita dele segurou seu sexo, e ela teve certeza de
que morreria. “Você está molhada para mim?” Ele sussurrou.
“Você está doendo com isso?” Seus dedos pressionados contra
ela enquanto ele os deslizava para cima e para baixo, abrindo-
a. À primeira prova de seu desejo ele gemeu, enterrando o rosto
contra a curva de seu pescoço. “Você está tão molhada. Minha
doce sereia está doendo.”
“Eu estou,” ela lamentou. “Para você, só para você.” Ela ia
quebrar. Ela ia beijá-lo, e então tudo estaria acabado.
“É isso, amor,” ele sussurrou, seus dedos movendo-se em
círculos lentos sobre seu sexo molhado. “Você quer mais?”
“Deus, Burke...sim... não pare...”
Ele gemeu. “Sim para beijá-la... ou sim para meus dedos
em sua boceta?”
Ela tremeu toda. Ele não estava jogando limpo. “Sem
beijos. Mais... ahh...”
Ele agarrou seu quadril com a mão esquerda, segurando-
a com força contra sua dureza. Sua mão direita deslizou pelos
cachos de seu sexo até que ele pressionou um dedo dentro dela.
Ele moveu o dedo lentamente para dentro e para fora.
“Por favor, por favor,” ela choramingou, seus próprios
braços envolvendo-se para trás para se apoiar contra os quadris
dele.
“Você é tão sensível,” ele gemeu. “Tão doce, tão linda, tão
fodidamente perfeita. Eu nunca quis ninguém do jeito que
quero você.” As palavras saíram dele enquanto ele a segurava
com força. Ele arrastou o dedo para dentro e para fora até que
ela estava prestes a desmoronar de desejo. Então ele pressionou
um segundo dedo dentro dela.
“Oh, Deus...”
Ela estava perdendo o controle. Isso ainda era um jogo?
Ela se importava? Ela ergueu o braço bom, envolvendo-o no
pescoço enquanto ficava na ponta dos pés, pressionando-se
mais perto dele. Seus dedos começaram a bombear a sério.
“Não pare...não...” ela choramingou, perseguindo sua
liberação.
Sua mão esquerda caiu mais abaixo até que ambas
estivessem trabalhando nela por dentro e por fora. “Você está
perto, pequena sereia,” ele sussurrou em seu ouvido. “Sua
boceta é tão apertada. Venha para mim. Apenas faça isso em
silêncio, ou você vai acordar a Marquesa.”
Ela engoliu seu suspiro, as pernas tremendo enquanto ela
se despedaçava. Seu centro ganancioso se apertou em torno de
seus dedos, enquanto ela sentia uma onda de prazer rolar por
todo seu corpo.
“É isso,” ele murmurou, sua mão esquerda movendo-se
para trás em torno de sua cintura para ajudá-la a ficar de pé.
Quando seu núcleo parou de vibrar em torno de seus dedos, ele
os puxou para fora. Ambos estavam ofegantes. “Tão molhada,”
ele murmurou. “Que deusa... apenas um gosto.”
Ela observou enquanto ele levava os dedos brilhantes aos
lábios e os chupava até limpá-los. Era a coisa mais sensual que
ela já tinha visto. Se Rosalie era uma deusa, Burke certamente
era um deus. Ele estava lá, o cabelo escuro caindo sobre a testa,
aqueles olhos cinzas assombrosos fixos nela. Agora ele tinha o
gosto dela em sua língua.
Este homem não poderia jogar um jogo justo se tentasse.
Ele nasceu para quebrar as regras, para viver fora delas.
Regras, convenções e sutilezas sociais eram para meros
mortais. Burke era algo... mais. Ambos eram, ela percebeu com
um sorriso.
Ele a empurrou gentilmente para trás, desejando que ela
olhasse para ele. Quando ela o fez, ele acariciou sua bochecha
com uma mão incrivelmente gentil. “Diga-me que isso é real.”
Ela sabia que ele se referia à magia entre eles. A força que
enviou faíscas voando como se fossem um par de fogos de
artifício. Ela acariciou seu rosto em troca. Ele fechou os olhos,
inclinando-se em seu toque. Sua necessidade era tão genuína,
tão crua - ser aceito por ela, ser desejado.
“Burke... olhe para mim,” ela sussurrou.
Ele suspirou contra a mão dela, sem abrir os olhos.
“Olhe para mim,” ela repetiu.
Seus olhos se abriram; tão vulnerável, tão bonito.
“Isso é real,” ela admitiu. “Nada jamais pareceu mais real.”
Ele deixou cair a cabeça para trás em seu ombro ileso,
acariciando seu rosto contra seu cabelo enquanto respirava
fundo. “Eu quero você,” ele sussurrou. “Não me peça para ficar
longe.”
Ela passou os braços ao redor dele, seu pequeno corpo
diminuído por seus ombros largos. Ela não sabia o que isso
significaria para o futuro deles, mas que Deus a ajudasse, neste
momento ela só poderia dar a ele a verdade. “Eu quero você
também.”
Ele a puxou mais apertado contra ele. “Cristo, amor. Você
vai me deixar beijá-la agora?”
Ela sorriu. “Não..., mas foi um esforço muito valioso. Vou
te beijar de novo, mas não esta noite.”
Ele se afastou. “Por que não?”
Seu olhar era tão petulante, tão amuado e patético, que ela
não pôde deixar de rir. “Porque você invadiu meu quarto sem
ser convidado e arriscou um escândalo e a ira dos Corbin, e não
posso recompensar tal comportamento imprudente... por mais
que eu queira,” ela acrescentou com um sorriso, pressionando
seu quadril gentilmente contra o prova de seu próprio desejo.
Ele gemeu. “Eu curei milagrosamente seu ombro,” ele
desafiou.
“Humm, tenho certeza de que o Dr. Rivers fez a maior parte
do trabalho,” ela brincou. “Agora acho melhor dizermos boa
noite antes de sermos pegos.”
Ele suspirou e inclinou a cabeça dela para trás, prestes a
dar-lhe um beijo de despedida. Percebendo sua intenção, ela se
afastou com uma carranca. “Fodida sedutora,” ele murmurou
baixinho.
Ela entendeu sua frustração. Beijá-lo parecia ser o ato
mais natural do mundo. Houve respiração, amarrando uma fita
de chapéu e agora beijando Burke. Ela mal podia esperar para
fazer isso de novo. Mas agora que havia traçado sua linha na
areia, ela sentiu que era certo cumpri-la... pelo menos esta
noite.
Talvez amanhã. Sim, ela tinha certeza de que, depois de
outra noite de sono inquieto, outra noite de espera, desejo e dor
por seu toque, todas as apostas seriam canceladas.
Burke estava indo para o inferno. Isso é o que acontecia
com homens que roubavam coisas, certo? Homens que
quebraram a fé com seus amigos. Homens que mentiam,
enganavam e manipulavam os outros para conseguirem o que
queriam. Homens que abusavam da generosidade e ficariam
felizes em ver dívidas não pagas. Já era ruim o suficiente que
ele pudesse admitir ter um desses vícios. Certamente, possuir
todos eles juntos lhe renderia um lugar no poço de fogo.
Mas se Rosalie Harrow era seu prêmio de consolação aqui
na terra, então Burke tinha certeza de que queimar no inferno
seria uma maneira perfeitamente adorável de passar sua
eternidade.
Ele se mexeu no banco rígido, espremido como estava entre
James e a Duquesa no banco do Duque. Ele olhou através da
igreja para o outro conjunto de assentos, onde todas as jovens
estavam sentadas ouvindo o sermão de domingo. Diretamente
em frente a ele estava a mulher que lentamente começou a
ocupar todos os seus pensamentos.
Olá, doce sereia.
Rosalie usava o cabelo solto, cachos escuros caindo sobre
os ombros. Um chapéu emoldurava seu rosto, amarrado com
fitas verdes. Suas bochechas macias ficaram rosadas quando
ela sentiu o olhar dele sobre ela. Ela olhou para cima e um
choque passou por ele quando seus olhos se encontraram. Seu
rubor se aprofundou e ela foi a primeira a desviar o olhar,
fixando-se incisivamente no velho Sr. Selby enquanto ele
continuava a tagarelar de seu púlpito.
Burke estalou os dedos em aborrecimento. Ele não pôde ir
até ela ontem à noite, pois os homens o mantiveram ocupado
até tarde com bilhar e bebida. Ele não conseguia pensar em
nenhuma desculpa para sair quando eles precisavam de um
‘quarto’ para o jogo. Quando ele conseguiu escapar, já era tão
tarde que todas as luzes dela estavam apagadas. Ela tinha
esperado por ele?
“Pare de se mexer,” James murmurou.
Ele respirou fundo. Se ele olhasse muito para Rosalie, seu
pênis ficaria duro. Ele realmente não queria ter que explicar um
ereção para a Duquesa.
Deus, mas Selby sabia como tagarelar. Burke não tinha
paciência para a igreja. Ele só frequentava por obrigação com a
Duquesa. Ele não precisava dos olhos de soslaio de Selby
sempre que mencionava as luxúrias e apetites carnais do
homem. Burke sorriu. Seus apetites tendiam para a
carnalidade. Não que ele tivesse o hábito de ceder. Esse era o
problema de ser o filho bastardo de uma prostituta: ele conhecia
as ramificações muito reais de se perder profundamente nessas
luxúrias e apetites. Ele só deixaria uma rara mulher em
cinquenta chegar perto o suficiente para se entregar.
Sua mãe pode ter sido uma prostituta, mas Burke não era.
E era por isso que uma pequena parte dele estava feliz por
não ter podido ir até Rosalie na noite anterior. Ela era sua
fraqueza. Para ela, ele parecia pronto para quebrar todas as
regras. O calor de seus beijos, a sensação de seu sexo molhado.
Ela alguma vez deu prazer a si mesma? Ela o deixaria assistir?
Ela admitiu que não era uma novata total, mas ainda estava
nervosa, tremendo daquele jeito doce que fazia seu pênis doer
por estar dentro dela, ansioso para lhe ensinar tudo o que sabia.
Ele a queria como nunca quis nada em sua vida. Era muito
mais do que sua beleza, sua receptividade, seu gosto
requintado...
Foda-se, não tenha uma ereção ao lado da Duquesa.
Ele respirou fundo, ignorando a sobrancelha erguida que
James atirou em sua direção. Não, Rosalie era... mais. Ela era
inteligente e atenciosa. Ele amava o jeito que ela o provocava e
gostava de ser provocada. Acima de tudo, ele amava o jeito que
ela olhava para ele. Rosalie o viu. Não Burke, o bastardo
arrogante ou o caso de caridade Corbin. Nem mesmo Burke, o
às vezes cavalheiro que poderia brincar de respeitabilidade. Ela
viu através de todas aquelas máscaras. Quando Rosalie olhou
para ele, seus olhos se conectaram e ele se sentiu visto.
Foi inebriante. Era inebriante. E ele queria mais.
Ele suspirou, olhando para Rosalie novamente. Seu rosto
estava de perfil. Ele seguiu a linha de seu olhar e aquele
monstro que estava enrolado na boca de seu estômago ergueu
sua feia cabeça.
Porra, Renley.
Quando Renley admitiu estar sozinho em seu quarto,
Burke quis esmagá-lo. Renley assegurou-lhe que nada
aconteceu, mas ele sabia exatamente que tipo de atração
Rosalie tinha. Se ele tivesse que vê-la caminhar para os braços
de Renley, ele poderia morrer.
Eu também quero você, ela sussurrou. Isso é real.
“Burke,” James murmurou, cutucando-o nas costelas.
Ele piscou, tirado de seus pensamentos para perceber que
o sermão havia acabado e todos estavam se levantando.
“Burke, Cristo, levante-se.”
“Desculpe,” ele murmurou.
“O que há de errado com você esta manhã?” James colocou
o cabelo atrás das orelhas enquanto ajustava o chapéu. “Você
está todo atordoado.”
A Duquesa lançou-lhe um olhar de soslaio enquanto
levantava a mão e ele rapidamente a pegou, pronto para escoltá-
la para fora.
“Você está doente?” A Duquesa murmurou.
“De jeito nenhum,” respondeu ele. “Afinado como um
violino.”
“E você gostou do sermão?”
“Mmm, bastante inspirador.”
“Ele estava falando do dízimo, Burke. Era mais monótono
do que ver a grama crescer.”
A carruagem esperava do lado de fora da porta e George
estava ao lado dela com a Marquesa, pronto para permitir que
a Duquesa se sentasse primeiro.
“Eu quero saber o que te distraiu tanto?” Ela disse
enquanto ele a ajudava a entrar.
“Duvido muito,” respondeu ele.
“Hum.” Ela arqueou uma de suas sobrancelhas perfeitas.
“E eu preciso saber?”
“Estou confiante de que James me treinou bem agora.”
Sua outra sobrancelha combinava com a altura da
primeira antes que ela baixasse ambas, os olhos azuis se
estreitando. “Ainda assim... acho que vou lembrá-lo de dar um
puxão na sua guia.”
“Estou ansioso pela correção de curso,” disse ele com um
sorriso tenso.
Ela franziu os lábios e acenou para ele se afastar.
Mais duas carruagens estavam alinhadas atrás da
primeira. Lady Górgona e os Oswalds estavam acomodados na
carruagem do meio. A última carruagem foi reservada para os
Swindons, Lady Madeline e Rosalie.
Seus olhos se estreitaram quando ele viu Rosalie de pé ao
lado da carruagem, a mão casualmente colocada no braço de
Renley. Eles conversaram baixinho, o rosto dela escondido pelo
chapéu. Porra, mas ele odiava isso sobre chapéus. Ela estava
corando de novo? Ele podia ver o rosto de Renley claramente.
Ele tinha as sobrancelhas unidas, o rosto todo sério. Porra, por
que ele parecia ainda mais bonito quando estava falando sério?
Não era justo. Maldita sorte de Burke por ter que competir com
um maldito Adonis.
Burke já estava se movendo, seus pés esmagando o
cascalho fino, determinado a se colocar entre eles e saber quais
novos segredos eles compartilhavam.
Eu também quero você, ela sussurrou com amor em seus
olhos. Nada jamais pareceu mais real.
No momento em que ele passou pela multidão, Renley
estava ajudando Rosalie a entrar na carruagem. Ele recuou com
um aceno de cabeça para as outras damas enquanto o lacaio
fechava a porta e subia o degrau. Burke parou ao lado de
Renley, notando como os olhos de Rosalie se arregalaram ao vê-
los parados juntos. A carruagem começou a se mover e seu
chapéu rapidamente bloqueou seu rosto de vista. Ele observou
por um momento, esperando, mas ela não se virou.
“O que foi aquilo?” Ele murmurou.
“Hum?” Renley colocou seu elegante chapéu de oficial da
marinha.
“Com a Srta. Harrow,” ele disse, tentando ao máximo não
soar petulante.
Ele falhou.
A carranca de Renley se aprofundou. “Eu preciso ir para a
cidade. Eu tinha planejado almoçar na casa do meu irmão e
partir de lá. Você pode contar a James por mim?”
Burke piscou, ainda distraído. “Cidade? Isso é bastante
repentino.”
“Eu tenho alguns negócios para resolver,” Renley
respondeu. “Vou verificar com o clube do oficial e jantar com
meu capitão.”
Burke levantou uma sobrancelha escura. “Mas você vai
voltar a tempo para o baile?”
“Sem dúvida,” respondeu Tom.
A verdade atingiu Burke como um soco no estômago. A
agitação de Tom desde que voltou da casa do irmão, sua
aparência séria, seu humor tranquilo. “Oh, pelo amor de Deus,
Tom. Ela escreveu para você, não é?”
Renley suspirou. “Burke...”
“Cristo, cara, por que você não disse nada? Quando ela
escreveu? O que ela disse?”
A mandíbula de Renley apertou. “Ela pediu uma renovação
da nossa amizade. Ela pediu para me ver. Eu sinto... eu sinto
que devo ir.”
Burke de repente estava em guerra consigo mesmo. Ele
deveria proteger seu amigo ou sabotá-lo? Fornecer conselhos
medidos que podem levar Renley a ficar e continuar a perseguir
Rosalie, ou alegremente jogá-lo aos lobos?
Bem, uma loba. Uma astuta atriz de uma loba chamada
Marianne Young.
“O que você vai dizer a ela?” Burke perguntou.
“Eu não tinha... não tenho certeza se formei bem as
palavras. Acho que preciso vê-la antes de ter certeza. Mas
Rosalie disse que eu deveria perdoá-la...”
“Rosalie disse?” O monstro de Burke rosnou. Primeiro, ele
odiava ouvir o nome dela nos lábios de Renley quase tanto
quanto odiava ouvir o nome de Renley nos dela. Em segundo
lugar, o que Rosalie disse? Sua mente girava mesmo quando o
monstro começou a ronronar. Rosalie queria que Renley
perdoasse Marianne. Ela se atreveria a fazer tal coisa se tivesse
planos de Renley para si mesma?
Sim. Pois ela era a alma do heroísmo - salgando o chá de
górgonas, fazendo amizade com donzelas assustadas, salvando
cavalos em fuga e vendo as pessoas como elas eram em vez do
que a sociedade queria que fossem. Ela empurraria Renley
direto para os braços de outra mulher se pensasse que era o
que ele queria.
“Tom... você confidenciou a Srta. Harrow sobre tudo isso?”
Renley assentiu. “Sim, ela tinha muitas coisas úteis a dizer
sobre o assunto.” Ele riu secamente. “Mas caramba, se a língua
dela não arde como o estalo de um chicote.”
Burke realmente odiava que Renley mencionasse a língua
de Rosalie. Cristo, ele queria prová-la novamente, queria traçar
ao longo de sua clavícula, envolvendo seu pênis. Foda-se.
“Acho que posso ter sido um idiota todos esses anos,”
admitiu Renley. “Ela disse algo que me deixou pensativo nos
últimos dois dias. Eu não posso deixá-la ir...”
Burke se preparou para o pior. “E o que ela disse?”
Renley encontrou seu olhar. “Foi sobre escolhas. Sobre
escolher ser feliz.”
“E... você está pronto para escolher ser feliz?”
Renley deu a ele um meio sorriso. “Ainda não... mas Deus,
espero que logo.” Ele bateu no ombro de Burke. “Você vai dizer
a James que estou fora?”
Burke assentiu. “Quando você voltará?”
“Alguns dias no máximo. Vejo você quando te ver.” Ele deu
um aperto no ombro de Burke.
“Claro,” Burke murmurou. “Vejo você quando eu te ver.”
Ele observou Renley caminhar em direção ao outro lado do
pátio da igreja, onde Colin esperava. Renley estava saindo e
Rosalie soube antes de Burke. Ela o encorajou a ir. O que eles
disseram um ao outro? O que Renley estava planejando fazer?
Ele voltaria de Londres com o coração curado com Marianne
Young em seu braço... ou talvez triste por alguém novo? Talvez
uma jovem com cílios escuros, os cachos mais suaves e o mais
doce rubor rosado...
Ao voltar da igreja, Rosalie foi direto para o andar de cima
para depositar seu chapéu e pelisse. Ela abriu a porta de seu
quarto e parou, a mão ainda na maçaneta. “Sarah... o quê?”
“Eu não sei,” a empregada gritou. “Estava tudo aqui
quando subi para trocar a roupa de cama.”
Rosalie observou as três grandes caixas retangulares
empilhadas em sua cama. Uma caixa de chapéu azul estava ao
lado delas, e outro pequeno pacote amarelo estava em cima da
caixa de chapéu. A Duquesa insinuou que Rosalie teria uma
mesada para vestidos caso ela decidisse ficar, mas ela ainda
não deu sua resposta à Duquesa.
“Mas... de onde veio tudo isso? Eu não pedi nada.”
Sarah correu para a frente. “A modista em Carrington.
Havia um bilhete no topo, senhorita.”
Rosalie pegou o envelope e tirou o cartão de dentro.
Continha duas linhas curtas escritas com uma mão oblíqua:
Considere este reembolso por quaisquer danos.
Atenciosamente,
JC.
Seu coração acelerou. James Corbin. Ela deslizou o cartão
de volta para dentro do envelope e guardou-o com segurança no
bolso.
“De quem é?” Sarah pressionou.
“Lorde James,” ela respondeu, colocando seu chapéu na
cadeira enquanto avançava. Ela olhou para a caixa superior.
Era o maior dos três. Engolindo seus nervos, ela levantou a
tampa e dobrou o papel duro.
“Oh, celestial,” Sarah sussurrou. “Você já viu um azul tão
bonito?”
Rosalie não pôde conter o sorriso enquanto levantava o
vestido, deixando-o cair em pesadas dobras no chão. Não um
vestido... um novo traje de montaria, com mangas da moda,
gola alta e lindos botões prateados com botões duplos. Era o
tom mais lindo de azul, cor do ovo de pisco de peito vermelho.
“Isso deve ter custado um bom dinheiro.” Sarah tocou o
tecido com admiração. “Ele deve gostar muito de você,
senhorita.”
Rosalie limpou a garganta. “Não, ele só está sendo galante
porque se culpa pela minha queda,” respondeu ela. “Eu rasguei
a manga do meu traje, lembra?”
Sarah piscou. “Mas... eu já consertei isso para você.”
Rosalie lutou contra o sorriso. “Ajude-me com essas outras
caixas.”
Em instantes, os olhos de Rosalie ficaram marejados
enquanto ela absorvia todas as peças de um conjunto completo
de equitação. James não apenas substituiu seu traje rasgado
por um muito mais extravagante, como também incluiu um
elegante chapéu de montaria em um tom mais escuro de azul-
marinho, com um lindo véu de rede que cobria o rosto. Havia
também um novo vestido de caminhada do amarelo manteiga
mais suave com detalhes em renda marfim. A caixa inferior
continha uma nova anágua e meias. No pacote menor havia um
par de luvas de montaria de pelica, também tingidas de um azul
escuro da moda.
Ninguém jamais lhe dera um presente tão extravagante.
Por que ele teria tantos problemas e despesas? Seu coração
afundou quando ela admitiu a verdade: ela não poderia aceitá-
lo. Não poderia enviar a impressão errada?
“Você quer colocar o vestido novo, senhorita?”
“Não,” Rosalie disse muito rapidamente. “Não, eu... eu devo
falar com Lorde James primeiro. Eu preciso... eu não sei se
posso aceitar isso...”
“Oh, mas você deve. Ele não ficará satisfeito se você
recusar.”
Todos na casa certamente notariam roupas novas.
Madeline já a advertiu de que as outras senhoras estavam
prontas para afiar suas facas com a simples ideia de Rosalie
conversando com Lorde James. O que eles pensariam se ela
desfilasse pela casa com todas essas roupas finas?
“Guarde isso por enquanto, Sarah. De volta às caixas, por
favor. Devo... vou falar com Lorde James.”
Sarah parecia cautelosa enquanto dobrava o vestido.
“Espero que saiba o que está fazendo, senhorita. Lorde James
não é uma pessoa facilmente contestável.”
Rosalie endireitou os ombros. “Infelizmente para ele, eu
também não.”
A porta do escritório do Duque estava entreaberta. Rosalie
bateu duas vezes e esperou.
“Entre,” uma voz profunda chamou.
Ela abriu a porta dizendo: “Lorde James, por favor, perdoe
a intromissão, mas eu...” Ela fez uma pausa, piscando quando
encontrou o Duque recostado na cadeira, os pés apoiados na
mesa, um livro aberto nas mãos. “E...eu sinto muito, Vossa
Graça.” Ela fez uma reverência. “Não pensei em te encontrar
aqui. Eu estava procurando por Lorde James…”
O Duque fez uma careta para ela por cima de seu livro,
fechando-o com um acesso de raiva. “Bem, é o meu escritório.
Sou o Duque de Norland, não sou?”
“Claro, Vossa Graça. Eu... irei embora então.” Ela deu
alguns passos para trás.
“Não tão rápido,” disse ele, balançando as pernas para fora
da mesa. “Agora que você me pegou sozinho, podemos resolver
isso. Sente-se.”
Ela se acalmou, os olhos indo do Duque para a cadeira
vazia. “Por qual motivo, Vossa Graça?”
“Você claramente queria me encontrar sozinho,” disse ele.
“Você deve querer falar palavras duras comigo sobre minha
conduta no outro dia.”
Ela engoliu seus nervos. James disse que seu irmão se
desculparia pela cena na escada dos empregados, mas ela
nunca esperou isso dele. “Vossa Graça, eu não... isso não é...
eu nunca sonharia em monopolizar um momento do seu
tempo.”
Ele riu. “Relaxe, eu não tinha ideia de que você realmente
estava procurando por mim. Mas sente-se mesmo assim, pois
estou cansado de trabalhar e preciso de distração.”
Cansado de trabalhar? Era uma tarde de domingo antes do
almoço. Ela olhou para o livro que ele havia colocado sobre a
mesa e viu pela capa que era uma referência histórica sobre as
batalhas da antiga Mesopotâmia. Respirando fundo, ela deu um
passo à frente e sentou-se na cadeira que ele ofereceu.
“Lembre-me do seu nome,” disse ele, apoiando os cotovelos
na mesa e cruzando os dedos até descansar o queixo sobre eles.
“Harrow, Vossa Graça,” ela disse. “Rosalie Harrow.”
“Sim, claro,” ele disse com um sorriso. “A famosa Repolho
Rosa. Projeto de bichinho de estimação da mamãe. Ela já se
ofereceu para acolhê-la? Deus, ela coleciona animais
abandonados como não sei o quê.”
Ela piscou, sem saber como responder. A Duquesa ainda
não lhe deu permissão para tornar seus planos públicos. Talvez
seus filhos já soubessem?
“Não há necessidade de responder se você teme que está
em sua confiança. Mas tive a sensação de que ela poderia lhe
fazer tal abertura. Como eu adoraria saber quais segredos ela
guarda que a deixam tão interessada em você. Eu tentei tirá-los
dela, mas a mulher é um verdadeiro cofre de mistérios
incognoscíveis.”
Rosalie parou. Claramente, ela não era a única curiosa
para saber por que a Duquesa se preocupava em mostrar sua
atenção.
“Você não gosta de mim, Srta. Rose. Eu posso dizer.”
Ela tentou ler seu humor. “Vossa Graça, se eu desse a
impressão...”
“Não, está tudo bem,” disse ele com um aceno de mão. “Eu
tenho faro para esse tipo de coisa. Posso farejar a decepção
melhor do que o meu melhor ponteiro. Burke está certo, você é
do tipo que tem princípios, não é? Você tem que ter princípios,
pois não tem mais nada a seu favor.”
Ela tentou não se encolher. Burke estava falando sobre ela
com o Duque?
“Você não tem dinheiro, nem status, nem perspectivas de
qualquer tipo, pelo que posso ver além desse rosto e desses
seios,” disse ele, gesticulando com outro aceno.
Quando os olhos dele desceram para os seios dela, ela
lutou contra a vontade de bater com os braços no peito. Calor
inundou suas bochechas.
“Acho pessoas como você insuportáveis,” ele continuou.
“Você se vê como sempre com a razão. Meu querido irmão é
exatamente o mesmo. Não importa que ele geralmente esteja
certo... isso só o torna ainda mais intolerável. Graças a Deus
ele me convenceu a não me casar com você outro dia.”
Rosalie sentiu como se tivesse acabado de ser jogada de
um cavalo novamente. “Você o quê?”
O Duque ergueu uma sobrancelha. “James não te contou?
Sim, estávamos tirando nomes de um chapéu para escolher
minha Duquesa e seu nome foi o primeiro a sair. Mas, no final,
ele e Burke me convenceram do contrário. Graças a Deus
também, pois teríamos enlouquecido um ao outro, não tenho
dúvidas.”
Ela se sentiu fraca. Lorde James e Burke ficaram parados
com o Duque tirando nomes de um chapéu? Era assim que eles
planejavam escolher a próxima Duquesa? Ela tinha certeza de
que se a Duquesa soubesse, ela mandaria chicotear o cavalo do
homem.
“A partir de agora, a única coisa que você tem a seu crédito
é a atenção de minha mãe,” continuou ele. “É uma curiosidade,
viu? Isso me irrita. Qual é o seu fascínio por ela, Srta. Rose?”
Ele estreitou os olhos. “Sua mãe era amiga da minha, sim?”
“Eu acredito que sim,” ela respondeu.
Ele se recostou na cadeira. “Então, devemos especular
loucamente. Um assunto do coração, talvez? O amor deu
errado? Meu dinheiro está na traição, pois muito pouco motiva
minha querida mãe a agir fora de seu próprio benefício material.
A culpa é uma de suas poucas fraquezas.”
Rosalie considerou suas palavras, deixando sua própria
imaginação girar.
Mas ele estava olhando para ela com um olhar curioso em
seu rosto. “Se eu fosse um homem inferior, usaria você para
meus próprios fins. Não pense que não considerei isso. Do jeito
que James e Burke estão ofegando atrás de você, seria muito
divertido. Eles ficariam loucos se pensassem que criei uma
ligação sincera com você.”
Rosalie não pôde deixar de se encolher, inclinando-se
ligeiramente para trás em sua cadeira.
O Duque fez uma careta. “Ah, relaxe, Srta. Harrow. Deus
todo-poderoso, aí estão aqueles princípios inflexíveis de novo.
Seu par perfeito é James, mas ele é muito orgulhoso e estúpido
para ver isso.”
O coração de Rosalie acelerou com as palavras, mesmo
quando ela queria levar o chicote para si mesma. Sereia de fato,
atraindo não um, mas três homens para se lançarem contra
suas rochas inúteis.
“Humm, você sabe... se eu fosse um homem melhor,
poderia conspirar para juntar vocês dois.” Ele fez uma pausa,
seus profundos olhos azuis, tão parecidos com os de sua mãe,
inspecionando-a.
Ela se mexeu sob seu olhar. Não parecia nada como
quando os outros olhavam para ela. Ela queria
desesperadamente que ele desviasse o olhar.
Ele bufou. “Mas James é um presunçoso insuportável e
hipócrita que pode lutar suas próprias batalhas. Espero
sinceramente que o pau dele apodreça de saudade de você.”
Rosalie não sabia como responder a isso, então não disse
nada.
O gongo tocou para o almoço e ele se levantou, esticando
os braços para os lados. “Se você tiver a chance de encurralar
minha mãe, veja se não consegue descobrir o motivo pelo qual
nossas mães se desentenderam. Aposto dez guinéus numa
sórdida traição. Se eu estiver certo e você me trouxer a prova,
pagarei com prazer. Se a traição se inclinar na direção de um
filho de amor secreto, vou dobrar.”
Rosalie lutou para conter seu suspiro e o Duque riu.
Ele se inclinou ao passar pela cadeira dela. “Imagine os
repolhos que você poderia comprar com vinte guinéus, hein,
senhorita Rose?” Então ele passou por ela com uma risada, sem
fazer nenhuma tentativa de acompanhá-la até a sala de jantar.
Ela se levantou, sua mente em transe. Ela veio agradecer
a James por seu novo traje de montaria... ou castigá-lo... agora
ela não conseguia lembrar qual. Sua cabeça parecia
densamente enevoada. A Duquesa era uma vilã que havia
usado abominavelmente sua mãe e agora tinha uma dívida com
Rosalie? O Duque quase a pediu em casamento? Burke e James
sabiam e não disseram nada... James que ansiava por ela...
Ela não sabia quanto tempo ficou no escritório vazio,
olhando para o livro sobre as antigas batalhas da Mesopotâmia,
antes que uma nova voz ligeiramente surpresa falasse atrás
dela.
“Senhorita Harrow? O que você está fazendo aqui?”
Ela se virou para ver James parado na porta. Uma onda de
ressentimento a percorreu. “Eu estava procurando por você,
meu senhor. Vim agradecer seu gesto amável... mas temo que
seja impossível para mim aceitar. Vou garantir que Sarah
devolva os itens à modista imediatamente.”
Um músculo palpitou em sua mandíbula. “As compras já
foram feitas. Não terei uma dívida entre nós.”
“Não há dívidas,” ela respondeu. “Mas para eu aceitar um
presente tão desnecessariamente extravagante criaria uma.
Sem mencionar que isso despertaria a ira dos outros hóspedes
da casa. Vou pedir que você entenda e não se ofenda.”
Seus olhos verdes se estreitaram quando ele entrou
completamente na sala. “O que aconteceu?”
Ela sorriu, sabendo que não encontrava seus olhos.
“Absolutamente nada, meu senhor. Estou apenas garantindo
que evitemos qualquer situação embaraçosa. Não podemos
deixar nada ao acaso, concorda?”
Antes que ele pudesse dar uma resposta, ela fez uma
reverência e saiu correndo em busca da segurança da sala de
jantar lotada.
Rosalie entrou na sala de jantar logo atrás das irmãs
Swindon. Ela olhou rapidamente ao redor para ver que Burke
já estava sentado. Ele chamou sua atenção e sorriu. O assento
ao lado dele estava livre. Ela apertou as mãos ao lado do corpo
enquanto seguia os Swindon até uma cadeira vazia na
extremidade oposta da mesa.
O grupo estava animado enquanto as senhoras discutiam
o baile que agora faltava apenas uma semana, enquanto os
homens discutiam algum caso de intriga política noticiado nos
jornais de domingo. Rosalie sentou-se entre Madeline e Mariah,
que rapidamente a envolveu em uma conversa em voz alta sobre
vestidos de baile. Ela se mexeu desconfortavelmente em sua
cadeira, sentindo os olhos de Burke e James piscando para ela.
Eles estavam sussurrando, ambos carrancudos, e agora não
paravam de olhar para ela.
“Tudo está certo?” Madeline murmurou.
“Perfeitamente bem,” Rosalie respondeu, dando uma
mordida em sua comida e não provando.
Burke e James estão ofegantes atrás de você.
O Duque sabia. Queria morrer de vergonha só de pensar
nele bancando o casamenteiro. Quem mais sabia? Céus, toda a
mesa estava ciente da maneira como os homens olhavam para
ela?
“Eu percebi mais cedo que fomos negligentes, Lady
Madeline,” Burke gritou para a mesa.
Algumas das conversas pararam quando os olhos olharam
de Burke para Madeline.
“Prometemos a você uma aventura de esboço e ainda não
a entregamos. Acabei de falar com James e achamos que
amanhã poderá ser o dia perfeito...”
“Amanhã as damas vão a Carrington para as provas finais
de seus vestidos,” disse a Duquesa de seu assento na ponta da
mesa.
“Terça-feira então,” Burke respondeu com um sorriso.
“Qualquer uma das jovens é bem-vinda a participar,”
acrescentou.
“Que ideia excelente,” disse o Duque. “Onde você tem em
mente?”
Agora todas as jovens estavam interessadas, expondo
ideias.
“À beira do lago seria adorável,” disse Blanche.
“Ou o topo de Finchley Hill,” disse Mariah.
“Pode virar uma expedição,” acrescentou a irmã. “Pintura
e desenho para os mais inclinados, e talvez uma busca por
nozes para nós, aventureiros.”
“Mas eu não trouxe nenhuma das minhas aquarelas,”
Mariah chorou.
“Oh, tenho certeza de que podemos encontrar suprimentos
adequados,” respondeu o Duque. “Eu mesmo sou conhecido por
me interessar por aquarelas. Na verdade, acho que vou me
juntar à festa.”
Houve muita exclamação sobre isso, e Rosalie sorriu ao ver
como Burke e James se irritavam com o fato de o Duque se
inserir em seus planos.
As jovens continuaram discutindo possíveis locais e
Rosalie descobriu que não conseguia se conter. Quais foram as
palavras do Duque? Se eu fosse um homem melhor...
“Com tantas opções maravilhosas, duvido que possamos
errar,” disse ela, atraindo imediatamente todos os olhares da
mesa. Ela nivelou seu olhar para Burke e James e sorriu.
“Talvez possamos deixar isso para o destino e simplesmente
tirar de um chapéu.”
Ambos os homens ficaram imóveis como pedra.
“Ah, sim, que divertido,” disse Mariah, batendo palmas.
“Onde vamos conseguir um chapéu para tirar?” Blanche
perguntou, olhando em volta como se pretendesse fazer isso ali
mesmo na mesa.
“Eu acredito que Lorde James tem um que você pode pegar
emprestado,” Rosalie respondeu.
Os olhos de James brilharam com violência quando ele
lançou a seu irmão um olhar feroz. O Duque ergueu uma taça
em uma saudação zombeteira antes de dar uma piscadela
brincalhona para Rosalie.
Era tudo o que Rosalie podia fazer para evitar os olhares
dos cavalheiros enquanto esperava o almoço terminar. Assim
que a Duquesa se desculpou, Rosalie também se levantou da
cadeira, desesperada para escapar. Ela disparou pelo corredor.
Seus pés gravitaram em direção à segurança e conforto da
biblioteca.
“Srta. Harrow...”
Ela continuou andando, a cauda de seu vestido de
musselina arrastando pelo tapete.
Burke manteve o ritmo logo atrás dela. “Rosalie...”
“Por favor, não,” ela ofegou, abrindo caminho através das
portas para a ensolarada biblioteca. Seus olhos correram ao
redor da sala, desesperados para comprovar se eles estavam
sozinhos. Ela ansiava por isso, mesmo enquanto rezava para
que houvesse alguém à espreita nas prateleiras.
Ele fechou a porta atrás deles. “Rosalie, fale comigo. Deixe-
me explicar...”
“Não precisa explicar, senhor,” ela disse, virando-se apenas
quando conseguiu colocar um sofá entre eles. “Sua Graça
explicou tudo.”
O semblante de Burke era tempestuoso. Ele se inclinou,
suas mãos agarrando o encosto do sofá como se fosse a única
coisa que o impedia de se lançar sobre ele e agarrá-la em seus
braços. “Que diabos George disse?”
Sua língua estalou para molhar os lábios e ela quase
choramingou com a reação dele, seus olhos se estreitaram
enquanto suas mãos agarravam o sofá com mais força. “Que
você é o culpado por eu não receber uma proposta de casamento
de Sua Graça.”
Sua mandíbula apertou. “Diga-me com precisão. O que
George disse?”
Ela cruzou os braços, os olhos correndo em direção à porta.
“Ele me contou sobre sua decisão de escolher sua nova
Duquesa tirando nomes de um chapéu. Meu nome foi sorteado
primeiro e ele resolveu se casar comigo. Foi aí que você perdeu
a coragem.”
“Porra.” Ele se empurrou do sofá. “Rosalie, não foi isso que
aconteceu.”
Seus olhos brilharam com fogo. “Então, nossos nomes não
foram colocados em um chapéu com a indiferença de escolher
uma torta de sorteio em uma feira do condado?”
“Sim, mas...”
“Meu nome não foi o primeiro tirado do chapéu?”
Ele pressionou as palmas das mãos contra os olhos com
outro gemido de dor. “Foi, mas...”
“E não era o objetivo do jogo horrível que o primeiro nome
sorteado fosse o da nova Duquesa?”
Ele contornou o sofá em direção a ela. “Porra, Rosalie.
Ouça...”
Suas costas endureceram com sua abordagem. “Então,
parece que sua intromissão acabou de me custar uma tiara de
Duquesa.”
Ele parou bem na frente dela. Seus olhos cinzas eram
estrondosos. “Você se casaria com George Corbin?”
Ela ergueu o queixo em desafio, sustentando o olhar dele.
“Você me deixaria?”
“Nunca,” ele rosnou, inclinando-se em seu espaço,
reivindicando seu ar. “Eu o mataria primeiro.”
Suas mãos dispararam, dedos emaranhados em seu cabelo
enquanto ele a puxava para perto. Ela gemeu, suas próprias
mãos agarrando as lapelas dele. Seus lábios desceram e ele
estava prestes a quebrar sua promessa e beijá-la quando a
porta se abriu. Rosalie e Burke se separaram. Ela estava
tremendo quando se virou, muito envergonhada para ver quem
os pegou.
“O que está acontecendo aqui?”
Seu estômago revirou. Isso era demais. Sozinha com Burke
e James na mesma sala? Deixe alguém entrar e salvá-la. Ela
não tinha forças...
“Burke, o que diabos está acontecendo?” A voz profunda
de James parecia assassina.
Rosalie se virou, sua raiva ainda fervendo. “Eu estava
apenas agradecendo ao Sr. Burke por sua interferência que me
levou a ter negado a mão de seu irmão em casamento. De quem
era o esquema?”
“Eu não tive nada a ver com isso.” Burke apontou um dedo
para seu amigo. “Isso foi tudo James.”
James ficou rígido, seus olhos fixos em Burke. “Devo
mandar trazer a carruagem? Então talvez você tenha a bondade
de me empurrar na frente dela.” Ele bateu no peito de Burke
com as duas mãos, fazendo-o tropeçar para trás.
Burke se recuperou, ombros retos como se quisesse dar
um soco nele.
“Chega,” Rosalie gritou, dando um passo à frente com as
mãos levantadas. Seu coração disparou quando os dois pares
de olhos se fixaram nela. “Apenas me diga o que aconteceu.”
James desviou o olhar de Burke. “Não foi nada. Uma
distração inofensiva para George. Eu estava tentando impedi-lo
de fugir. Se ele escapar da propriedade, não vou pegá-lo
novamente por meses. Inferno, ele pode até cumprir suas
ameaças e finalmente emigrar para a Austrália.”
“Então... você nunca teve a intenção de escolher uma
Duquesa por...”
“Não,” disse James. “Foi um jogo levado longe demais. Pode
ser difícil controlar meu irmão. Burke não fez nada para
encorajá-lo. Isso tudo foi eu.”
Rosalie se permitiu respirar fundo. “Então... você não
queria que eu o aceitasse?”
Os dois homens ficaram cuidadosamente quietos,
lançando um olhar um para o outro que ela não conseguiu
entender antes de Burke perguntar: “Você teria dito sim?”
“Não,” ela sussurrou. “Qualquer que seja meu destino, sei
que não envolverá usar uma tiara de Duquesa. Sua Graça está
a salvo de mim.” Ela podia sentir o suspiro de alívio que
nenhum dos homens deixaria escapar dele. Ela lutou contra o
tremor enquanto deixava seus olhos correrem de um para o
outro. “Eu acho que vocês dois deveriam saber de algo…”
“Saber o quê?” James pressionou.
“Você deveria saber que a Duquesa me fez uma oferta. Ela
quer que eu fique aqui... além do final da temporada. Ela quer
que eu me mude para a casa e sirva como sua pupila.”
Os olhos de Burke brilharam de fome, enquanto os de
James desmentiam um sentimento que ela só poderia descrever
como horror.
“Por que ela faria isso?” James disse com um olhar furioso.
“Ela um... bem, tem a ver com Sua Graça realmente. Ela
não acredita que ele conseguirá uma Duquesa interessada em...
ser Duquesa. E Alcott deve ser administrado.”
“Então, ela está recrutando sua ajuda?” Burke olhou para
seu amigo. “Imagine isso, James. Sua mãe encontrou sua
própria substituta e achou por bem colocá-la bem debaixo do
seu nariz. Que família feliz nós seremos: Seu Sem-graça e sua
Duquesa idiota, a viúva, o Duque das sombras sitiado, a
Duquesa das sombras e o solteirão bastardo.”
James lançou-lhe um olhar destinado a acalmá-lo.
Burke o ignorou, seus olhos voltados para Rosalie. “Que
condições ela impôs?”
“Ela me ofereceu hospedagem e alimentação, uma mesada
para vestidos...”
“Suas condições,” Burke repetiu. “A Duquesa nunca faz
nada sem reivindicar algum controle. Como ela tenta controlar
você, Rosalie?”
Ela ficou quieta, o coração batendo pesadamente no peito.
“Apenas diga.”
“Não devo chamar atenção para mim... de nenhum tipo,”
ela adicionou suavemente.
Foi James quem falou dessa vez. “Significando o quê?”
Ela limpou a garganta. “O que significa que deixei claro
para a Duquesa que não tinha intenção de me casar. Ela aprova
minha decisão. É dessa condição que depende a oferta dela.”
“Puta merda.” Burke se afastou.
James ficou perfeitamente parado, aquele músculo se
contraindo em sua mandíbula.
Rosalie arriscou um olhar para ele, pois ela não ousou
dizer as próximas palavras e olhar para Burke. “Então, você vê,
Lorde James, devo pedir-lhe para não me incluir em nenhum
outro esquema de casamento. Se devo ficar aqui em Alcott, não
posso entretê-los.”
Esse músculo marcou novamente.
“Mas mais direta ao ponto,” ela sussurrou. “Eu não quero
tanta atenção... de ninguém.”
Sem esperar que nenhum dos homens respondesse, ela
deslizou entre eles e foi para a porta. Nenhum dos dois tentou
impedi-la enquanto ela fugia.
“Atenção, senhorita Rose. Você está toda atordoada hoje.”
A Duquesa estava sentada diante dela, os planos para o baile
espalhados na mesa de chá entre eles.
“Sinto muito, Vossa Graça,” Rosalie murmurou, deixando
de lado sua xícara de chá.
“Eu estava dizendo que acho que devo mover os Ford para
a mesa dez. Então posso mover os Oswald para a mesa quatro
e isso abrirá espaço para os Chamberlain na minha mesa. Anote
isso.”
Rosalie riscou o bilhete. Elas estavam nisso há duas horas,
fazendo mudanças mínimas nas listas de músicas para os
bailes e mudando os casais para preservar a ordem de
classificação. O tempo todo, Rosalie estava distraída.
Qual é o seu fascínio por ela, Srta. Rose? Devemos especular
loucamente…
“Amanhã farei uma verificação final com os cozinheiros, a
florista e a Sra. Davies,” continuou a Duquesa.
Um assunto do coração, talvez?
Rosalie afastou as palavras dele. “Devo acompanhá-la,
Vossa Graça?”
“Claro que não,” respondeu a Duquesa. “Você vai precisar
estar na cidade com os outros para tirar o tamanho do seu
vestido.”
Rosalie assentiu, mas mal ouviu as palavras. A Duquesa
estava enchendo Rosalie de bênçãos - dívidas e despesas
médicas pagas, vestidos novos, uma posição nesta casa. O que
Rosalie não entendia era o porquê. Tinha que haver uma razão
além de citar uma velha amizade de infância. Ela nem percebeu
que estava de pé quando falou com uma voz que não era bem a
sua. “Por que você está fazendo isso?”
A Duquesa franziu a testa, olhando por cima de sua lista.
“Eu disse a você, Srta. Rose, você não pode ficar ao meu lado
vestida com qualquer pedaço de renda velha que você trouxe
com você...”
“Eu não estou falando sobre o vestido,” Rosalie retrucou.
Seu coração trovejou em seus ouvidos. “Por que você me quer
aqui?”
A Duquesa baixou os papéis bufando. “Já passamos por
isso...”
“Não, não é por isso que você me quer aqui,” ela disse. “Por
que você me quer aqui? Eu, Rosalie Harrow. O que eu sou para
você?”
As narinas da Duquesa dilataram ao serem cortadas.
“Sente-se, Srta. Harrow, antes que sua notável grosseria
comece a ofender.”
Rosalie afundou no sofá. “Vossa Graça, por favor, não me
deixe no escuro. Eu devo saber. Por que você brigou com minha
mãe? O que você fez?”
O rosto da Duquesa estava marcado por uma carranca
determinada. “Você se atreve a presumir que estou errada?”
Ela não podia recuar agora. “Sim, Vossa Graça... e eu não
sou a única com perguntas...”
“Você tem falado com meus filhos,” a Duquesa bufou
novamente. “Achei que você teve o bom senso de manter nossas
conversas privadas, Srta. Harrow. Não me lembro de ter lhe
dado permissão para falar livremente no que diz respeito a
mim.”
“Sua Graça se aproximou de mim,” ela protestou. “E os
outros nesta casa me odeiam. Eles desprezam a atenção que
você me dá. Se devo resistir, preciso saber o porquê.”
“Claro, George iria irritá-la. Ele está me importunando há
semanas. James perguntou a princípio, mas eu o intimidei com
ameaças de gastos exorbitantes. Ele sempre foi mais fácil de
controlar.” Ela olhou para cima, olhos estreitados em Rosalie.
“Deixe-me colocar para você assim. Se eu não contar aos meus
próprios filhos meus motivos, o que a faz pensar que eu os
revelaria a você?”
Rosalie respirou fundo. “Porque eu acredito em você
quando diz que amava minha mãe. E acredito que vocês se
desentenderam porque ela não queria mais nada com você... e
minha mãe não era do tipo que cria ressentimentos com
facilidade.”
A Duquesa a observou com os lábios franzidos.
Rosalie se inclinou para frente. “Então, acredito que você
deve ter feito algo de que se arrepende que resultou em ela se
afastando de você, negando a si mesma a ajuda e o conforto de
ter uma Duquesa como amiga, mesmo quando isso poderia ter
prolongado sua vida.”
Um lampejo de emoção passou pelo rosto da Duquesa. O
Duque disse que a culpa era seu motivador. Rosalie tinha que
usá-lo. “Foi brutal, Vossa Graça,” ela disse em um sussurro.
“Elinor sofreu até o fim. As tosses, as febres, a morte lenta de
tudo. A qualquer momento ela poderia tê-la procurado, escrito
para você, implorado por sua ajuda... mas ela não o fez.”
Uma única lágrima escorreu pela bochecha da Duquesa.
“O que quer que você tenha feito foi imperdoável,” Rosalie
continuou. “Além de qualquer dor sofrida nas mãos de meu pai
- e acredite em mim, foram muitas - seu pecado foi selado
dentro do coração dela. Então, eu me encontro na posição
incômoda de respeitar os desejos de minha mãe e não ter nada
a ver com você... ou aceitar sua generosidade. Para tomar essa
decisão, você deve me dizer: o que você fez?”
A Duquesa passou um dedo sob o olho. “Fui casada com o
Duque por trinta e dois anos. Em todos esses anos, nunca o
amei... e ele nunca me amou. Eu tive seus filhos, sustentei esta
propriedade, servi a sua política... ignorei sua cadeia de
prostitutas.” Ela fez uma pausa. “O jogo, as dívidas, os maus
investimentos… mantive esta propriedade unida e nunca
reclamei. Assegurei-me de que os nomes 'Corbin' e 'Norland'
brilhassem como prata.”
“Tenho certeza de que você foi essencial...”
“E eu nunca reclamei, porque fiz minhas escolhas, Srta.
Harrow. Escolhi o avanço ao invés do amor.”
Rosalie esperou, certa de que o ponto chegaria em breve.
A Duquesa estreitou os olhos para Rosalie. “Eu vou te dizer
o que você quer saber, mas não vai além de nós duas. E uma
vez que eu lhe disser, você nunca mais vai mencioná-lo. Se você
ousar falar em voz alta, negarei a verdade ao acompanhá-la até
a porta.”
Com o coração palpitando, Rosalie deu um lento aceno de
concordância.
A Duquesa suspirou. “Eu nunca amei o Duque, e ele nunca
me amou. Ele estava apaixonado por outra... pela minha amiga
mais querida.”
O coração de Rosalie pulou uma batida quando seus olhos
se arregalaram.
A Duquesa sabia que era compreendida. “Sim, o quinto
Duque estava apaixonado por Elinor Greene. Eles se
conheceram em Londres em algum evento da sociedade. Elinor
escreveu para mim e me contou sobre a paixão deles.” Ela fez
uma pausa. “Cheguei em Londres. Eu vi o apego deles e tentei
conquistá-lo, mas ele estava obcecado.”
Rosalie sentiu um ar sinistro encher a sala enquanto a
Duquesa continuava.
“Houve um baile da sociedade e ele ficou bêbado. Eu vi
minha chance e a aproveitei.” Ela limpou a garganta. “Quando
soubemos da minha gravidez, ele me pediu em casamento.
George nasceu oito meses depois.”
Rosalie recostou-se com uma dor no peito. “E minha mãe?”
A Duquesa se mexeu desconfortavelmente. “Naturalmente,
isso partiu o coração dela. Não apenas a traição de seu amante,
mas a traição de sua amiga. Mais tarde, ouvi relatos... de sua
tia Thorpe...que ela teve uma filha natimorta uma semana após
o nascimento de meu George. Veja bem, ela chegou tarde
demais para contar ao Duque que estava grávida...e depois foi
orgulhosa demais para pedir a ele que quebrasse a promessa
que me fez. Depois de todo esse tempo, essa é a vergonha que
se enterrou mais fundo em meu coração. Ela não lutou. O
Duque não valia a pena... e nem eu.”
Uma lágrima escorreu pela bochecha de Rosalie. “Vocês
duas eram tão jovens.”
“Eu sabia melhor.”
“Isso foi um erro...”
“Eu sabia melhor,” ela retrucou. “E meu ciúme me custou
tudo. Custou-nos tudo. Eu estava presa em um casamento sem
amor, e ela também se prendeu.” Ela pegou distraidamente sua
xícara de chá.
O silêncio se estendeu entre eles.
“Então, Srta. Harrow, você tem uma escolha a fazer. Vá
embora agora e me odeie como deveria, como sua mãe fez até
morrer. Ou aceite minhas desculpas e deixe-me cuidar de você
dá maneira que eu nunca poderei cuidar dela. Eu neguei a ela
uma chance nesta vida. Posso corrigir isso com você. Eu
gostaria de ter a chance de tentar.”
A mente de Rosalie disparou. A Duquesa prendeu seu
Duque em casamento, quebrando o coração de Elinor e
resignando-a a uma vida com um marido que ela odiava. Elinor
morreu miserável e sozinha com nada além de dívidas
incobráveis e sonhos desfeitos. Enquanto isso, a Duquesa vivia
como uma rainha, cercada de conforto. Mas Rosalie viu a
verdade: a Duquesa também vivera infeliz. Ela mencionou
infidelidade, dívidas, solidão. Apesar de todas as
probabilidades, Rosalie sentiu pena da Duquesa. Ela olhou
para cima, com lágrimas nos olhos. “Você se arrepende do que
fez?”
“Todos os dias,” respondeu a Duquesa.
Ambas ficaram quietas por mais um momento.
“Você acha que teria funcionado entre eles,” Rosalie
sussurrou finalmente. “Será que o amor deles seria suficiente?”
“O quinto Duque era inteiramente sua própria criatura,
com seus próprios hábitos e falhas. Mas eles eram jovens e
apaixonados... então talvez.”
“Não preciso de palavras bonitas, Vossa Graça. Por favor,
apenas me diga.”
A Duquesa franziu os lábios. “Não, senhorita Rose.
Conhecendo os dois como eu conheço... como eu conhecia...
duvido muito que ela teria sido feliz se eles tivessem se casado...
mas ela teria sido rica,” ela acrescentou com um sorriso triste.
“E esse é o seu próprio tipo de felicidade, suponho.” Ela limpou
a garganta. “Mas chega de tudo isso. Você conhece meu lado
agora e deve fazer o que achar melhor.”
O coração de Rosalie estava apertado em seu peito. “Acho
que preciso de um tempo, Vossa Graça. Eu preciso... esta é uma
verdade pesada para ponderar.”
A Duquesa estreitou os olhos, mas deu um breve aceno de
cabeça. “Certo. Agora, vamos discutir sobre George. Ele está
pronto para tomar uma decisão sensata?”
Rosalie parou. Parecia um novo tipo de armadilha. Fofocar
sobre as outras damas era uma coisa, mas não se podia esperar
que ela falasse abertamente sobre o Duque na frente de sua
mãe.
Como se a Duquesa visse seus pensamentos, ela bufou.
“Vamos, vamos, certamente nós duas cruzamos o oceano de
classificação nos últimos dez minutos. Diga-me o que pensa,
pois não podemos nos dar ao luxo de que isso dê errado. Qual
senhora meu filho deve escolher? Você passou mais tempo com
eles e preciso da sua opinião.”
Rosalie respirou fundo. “Sua Graça é uma pessoa
carismática. Ele é um artista... e gosta de ser entretido. Ele
gosta de espetáculo…”
A Duquesa estreitou os olhos. “O que você está
implicando?”
“Nenhuma das garotas o interessa,” ela respondeu. “Elas
são totalmente nada espetaculares aos olhos dele.” Ela olhou
para trás em seus próprios encontros com o senhor e reprimiu
um sorriso. “Na verdade, acho que é possível que ele nem tenha
se dado ao trabalho de saber nossos nomes.”
A Duquesa fez uma careta. “Você acha que ele não quer
escolher nenhuma delas.”
“Acho que se ele escolher uma, será sob coação, sim. Talvez
se houvesse uma senhora com um pouco mais de... excitação.
Isso pode significar que Vossa Graça terá que eliminar algumas
qualificações em sua lista... talvez menos fortuna, ou um nome
que não seja tão polido. Mas se ela tivesse um ar de mistério ou
excitabilidade ou...”
“Psiu, chega.” Ela se levantou, os menus de amostra caindo
no tapete e se espalhando. “Ah, você é brilhante. Acredito que
ainda há tempo. Enviarei o convite imediatamente. Ela correu
para sua mesa e começou a rabiscar uma nota. “Fawcett!”
A porta se abriu e um lacaio entrou. “Sua graça?”
“Diga a Reed que tenho uma carta urgente para postar.
Precisa chegar a Londres imediatamente.”
“Muito bem, Vossa Graça.” Ele fez uma mesura para sair e
a Duquesa ficou na mesa, terminando sua nota.
“Devo ir, Vossa Graça?”
Silêncio enquanto a Duquesa continuava a rabiscar.
Rosalie observou enquanto ela terminava com um floreio e
colocava a tinta, já preparando a cera para selá-la.
“Sua graça?” Rosalie tentou novamente.
“Hum? Sim, pode ir,” ela disse com um aceno de mão. “Você
tem sido muito útil. Essa ideia é possivelmente uma das minhas
melhores.”
Rosalie virou-se para a porta.
“Oh, e Srta. Rose...” A voz da Duquesa era dura novamente.
“Lembre-se, diga uma palavra disso a qualquer um, e irei
persegui-la até os confins da terra.” Ela ficou de cabeça erguida,
cercada por toda a elegância da propriedade que conspirou para
ganhar para si mesma. Ela não era uma mulher para ser
contrariada. Nunca.
Rosalie engoliu em seco e acenou com a cabeça, vendo-se
fora.
Aquilo foi um desastre sangrento. Como tudo deu tão
errado? James invadiu a galeria. Havia apenas alguns lugares
onde Burke se esconderia, e James conhecia todos eles. Ele já
tinha verificado a pequena biblioteca.
James pensou que seu sofrimento terminaria no final desta
semana. Ele estava se deixando ansiar até depois do baile.
Então a Srta. Harrow iria embora e sua vida poderia voltar ao
normal. Ele estava esperando por isso, ansiando por isso,
precisando disso como precisava de ar. Ela iria, e tudo seria
como era antes. Ela iria fodidamente.
Mas não, Rosalie tinha acabado de quebrar aquele sonho
com um martelo, e agora ele estava vivendo dentro de um
pesadelo. Claro, sua mãe queria que ela ficasse. Alguém tinha
que aprender a ser a Duquesa, e George certamente era incapaz
de atrair o tipo certo para si. Então, sua mãe administrava tudo.
Rosalie se mudaria para a casa dele. Ela o cumprimentaria
todas as manhãs, discutiria os cardápios e planejaria os
bazares da aldeia. Ela caminharia em seu parque e usaria seus
banhos e estaria sempre sob seus pés até que ele cedesse a seus
desejos e reivindicasse seu corpo e alma...
Não. Não haverá reivindicação de qualquer tipo.
Ela estava aqui apenas sob a condição expressa de não
fazer nenhuma tentativa de cortejar ou ser cortejada. Confie em
sua mãe para estabelecer padrões impossíveis para todos. Mas
isso era muito pior. Não bastava que Rosalie não aceitasse sua
atenção sincera. Ela o olhou bem no rosto e admitiu que não
queria aceitar. Ela fugiu da biblioteca e James não ousou segui-
la. Burke saiu logo depois.
Inferno sangrento, James deveria ter intervindo mais cedo.
Burke não entregava seu coração facilmente. Nunca. Burke
nunca entregou seu coração. Se esta pequena megera pensou
que ela seria a única a pegá-lo e rasgá-lo em suas mãos...
Ele respirou fundo. Ele precisava encontrar Burke.
Quando crianças, eles gostavam de brincar nos depósitos
- brincadeiras de esconde-esconde, escondendo-se sob velhas
mesas e atrás de obras de arte sem moldura. Com o tempo,
James arrumou para si um recanto de leitura no canto. Era
apenas uma chaise desbotada presa atrás de uma tela dobrável,
mas tinha o ângulo certo para captar a luz. Assim que Burke o
encontrou, James se resignou a lutar com ele pela vaga. Desde
então, aquele era o refúgio favorito deles, longe da agitação e do
barulho da casa principal.
James entrou no quarto vermelho e suspirou. A bota de
montaria de Burke estava saindo de trás da tela. Ele atravessou
a sala, passando por cima de um tapete enrolado e contornando
uma armadura amassada. “Estamos de mau humor?”
“Caia fora,” Burke murmurou. “Eu estava aqui primeiro.”
Ele estava estendido na chaise, o casaco jogado nas costas, a
gravata desamarrada. Ele tinha um braço levantado sobre o
rosto, bloqueando os olhos da forte luz do sol. Na outra mão
segurava um copo de conhaque.
James suspirou, encostado na parede. “É um pouco cedo
para conhaque, você não acha?”
“Se definirmos nossa conduta pelos padrões de George,
estou apenas o alcançando.” Burke se sentou e esvaziou o copo,
colocando-o na mesa com um barulho. “Eu não posso aceitar
um discurso hipócrita agora. Tente novamente depois que eu
tiver mais alguns desses.”
Quando Burke pegou a garrafa, James se inclinou sobre
ele e pegou o copo. Burke se endireitou, alcançando o vidro, e
olhou com raiva.
“Não tenho discursos para fazer,” disse James, rolando o
copo suavemente entre as mãos.
“Sim, certo,” Burke zombou.
Burke mostrou sua mão na biblioteca. Era justo que James
fizesse o mesmo. Este era um território novo para eles. Eles
nunca cobiçaram a mesma mulher antes. Mas Burke
significava mais para ele do que qualquer paixão passageira.
Ele suspirou, colocando o copo na mesa. “Não sou tão hipócrita
para pensar que você merece um discurso e eu não.”
Burke parou, levantando a cabeça das mãos. Sua
expressão mudou de ciúme cauteloso para surpresa. “Cristo,”
ele suspirou com um aceno de cabeça. “Ela pegou você
também.”
“Não exatamente da mesma forma que eu acredito que ela
pode ter chegado até você...”
Burke não respondeu. Aparentemente, ele não estava com
disposição para compartilhar. Mas James tinha que saber. “Até
onde você foi? Eu deveria estar...”
“Nós nos beijamos,” Burke admitiu. “Eu a beijei... ela... nós
nos beijamos.”
“Quando?”
“Quando eu a encontrei na beira da floresta,” Burke
murmurou. “Ela saiu cambaleando parecendo uma espécie de
ninfa da floresta. Suas anáguas afundadas na lama, olhos
selvagens. Ela estava tão... viva. Eu não consegui me conter.
Era como se ela fosse a costa e eu a maré.” Ele olhou para cima,
os olhos cinzentos endurecidos. “Não lamento que isso tenha
acontecido.”
“O que você pretende fazer agora?”
Burke encolheu os ombros. “Partir para o continente,
suponho. Juntar-me ao exército? Tom tem falado bastante
sobre as oportunidades que a vida naval pode oferecer. Ou
talvez me junte a George quando ele fizer sua jornada para a
Austrália.”
“Burke, não seja imprudente...”
Burke passou as mãos pelo cabelo. James nunca o tinha
visto dessa maneira sobre uma mulher. “Se ela está se
mudando para esta casa e me afasta, eu não posso ficar,” Burke
murmurou. “Ela acha que pode ser apenas sobre sexo, que vou
ansiar por seu corpo e não querer reivindicar sua alma. Ela está
louca. Ela não entende o poder que tem sobre mim. Não posso
ficar aqui olhando para ela, sentindo sua presença em todos os
cômodos. Não posso ver seu rosto em todos os lugares, ouvir
sua voz e não estar com ela. Isso iria me assombrar, James. Não
posso...”
“Tão ruim assim?”
“Pior,” Burke resmungou, seu rosto uma máscara de
miséria.
“Vamos apenas... passar por esta semana. Se a Srta.
Harrow ficar, teremos tempo para resolver as coisas. Por
enquanto, precisamos de um plano para terça-feira.”
Burke caiu para trás na chaise. “E daí?”
James chutou o calcanhar de sua bota. “Sua ideia
brilhante para uma festa de desenho. Para onde você quer levá-
las?”
“Eu não me importo...”
“Eu não estou fazendo isso sozinho. Tire sua cabeça da sua
bunda e pare de lamentar. Você não está desmoronando por
causa de uma garota que conhece há duas malditas semanas.
Você queria levar as senhoras para desenhar, agora me diga
onde. Colina Finchley? O gramado oeste?”
Burke apenas fez uma careta.
“Certo. Você é um maldito inútil.” Ele se virou.
A voz de Burke chamou através da tela. “A cachoeira... na
floresta, perto do...”
“O velho moinho,” James terminou. Não era uma
cachoeira, era mais uma leve declinação que fazia com que a
água corresse rapidamente. Mas ainda era um local
encantador, cheio de boas lembranças. Quando meninos, eles
brincavam de cavaleiros e reis no moinho abandonado, usando-
o como fortaleza.
“Faça um piquenique,” Burke murmurou. “Cobertores na
grama à beira do riacho.”
“É uma boa ideia,” respondeu ele. “Eu vou providenciar
tudo.” Então ele fez uma pausa, não acreditando muito no que
estava prestes a dizer. Ele estava feliz por Burke estar escondido
atrás da tela. “Ela nunca disse que não estava interessada em
você; ela simplesmente não está interessada em se casar. Talvez
ela tenha um bom motivo. Talvez esse motivo possa mudar...
com o incentivo certo.”
Ele podia sentir a imobilidade de Burke. “Você aprovaria?”
Burke murmurou através da tela. “Você me deixaria tê-la?”
James forçou uma risada. “Duvido muito que haja
qualquer 'deixar' você fazer qualquer coisa quando se trata da
Srta. Harrow. E não se esqueça do interesse de Renley. Ele pode
voltar de Londres como um homem mudado...”
Burke desceu da chaise. “Rosalie disse a ele para perdoá-
la. Ele vai se jogar em cima de Marianne de novo. Se alguma
coisa, ele provavelmente vai voltar noivo. E ela não o quer
assim. Ele disse que ela estava convencida de que eles não
seriam nada além de amigos.”
James encontrou seu olhar. “Certo... como se vocês dois
fossem apenas amigos...”
Os olhos de Burke turvaram com tempestades. Sim, Renley
estava com certeza neste concurso também. Esses idiotas
estavam lutando pela mão de uma mulher que não queria ser
vencida, uma mulher que era tão idiota por não perceber que já
havia vencido. Ambos os homens poderiam ser dela para tomar.
Cristo, que piada.
James estava tão ocupado pelo resto do dia que mal teve
um momento para voltar sua atenção para o problema da
inadequada Srta. Harrow. A tarde foi tão longa que ele perdeu
o jantar. Quando voltou para casa, foi direto para seus
aposentos, onde pediu a seu criado que preparasse um banho
quente e fumegante. Foi só quando ele se acomodou na
banheira, o vapor saindo em espiral da superfície da água, que
ele se permitiu pensar nela.
Pelo que sabia, Burke se aproximou dela hoje. Eles se
beijaram de novo? Ela sussurrou palavras doces em seu ouvido,
prometendo amá-lo para sempre, como Marianne fez com o
pobre Tom? Ela faria o mesmo com Tom quando ele voltasse da
cidade?
Isso não parecia ser o estilo dela. Para ser sincero, ela o
impressionara durante o tempo que passaram juntos. Havia
uma honestidade nela que ele podia apreciar, pois refletia a sua.
Ela disse o que estava pensando e não se conteve... mas
também não procurou prejudicar. Isso era raro em uma pessoa
em geral e praticamente inédito em uma mulher. Pois que
senhora não viveu secretamente para destruir os outros?
Mas isso era uma paixão e nada mais. Burke pode estar
pronto para fazer papel de bobo, mas James tinha uma família,
um título, uma reputação. Ele não podia se arruinar por causa
de uma fantasia passageira. E isso é tudo que Rosalie Harrow
era. Então ele deixaria a natureza seguir seu curso. Pois quando
ele não encontrou falhas em todas as garotas que ele já
imaginou?
Um pensamento repentino o fez sentar-se na banheira,
espirrando água para o lado. Ele estava levando Rosalie para
desenhar... mas ela não estava de posse de seu caderno de
desenho. Ele duvidava muito que ela o tivesse recuperado
sozinha, provavelmente muito traumatizada ao ver a bunda
peluda de George. E os criados nunca tinham oportunidade de
subir ao telhado... a menos que George estivesse com
disposição para uma trepada com vista. Não, o caderno de
desenho provavelmente ainda estava lá no escuro da escada.
Ele terminou seu banho e pegou uma vela. A essa hora da
noite, não haveria ninguém andando pelos corredores, então ele
não se importava de estar descalço e com a camisa
desabotoada. Ele vestiu seu robe de seda verde favorito e saiu
de seu quarto. Ele se moveu pelo corredor escuro, passando
pela suíte de George. Ele parou por um momento, ouvindo os
sons internos. Surgiram os inconfundíveis sons de risadas
masculinas e femininas.
Maldito George.
James caminhou pelo corredor, sua vela piscando
enquanto ele parava diante de sua pintura menos favorita na
casa. Que diabos havia de errado com aquele cavalo? Se James
algum dia se tornasse Duque, um de seus primeiros atos seria
vê-lo ser derrubado e queimado no quintal.
Ele empurrou a porta de serviço e deu os poucos passos
em espiral até o próximo patamar. A pedra estava fria contra
seus pés descalços. Ele fez uma pausa. Lá na escada estava o
caderno de desenho abandonado de Rosalie, lombada dobrada,
páginas maltratadas. Ele o pegou e o virou. Seus olhos
piscaram sobre a página e seu coração se acalmou.
Era ele. Ela não havia desenhado nada acima de seu nariz,
mas ele conhecia seu próprio rosto bem o suficiente para
reconhecer o formato de sua mandíbula, seus lábios. Ela
claramente colocou tempo e esforço para moldá-los da maneira
certa. Ela o estava observando? Ou foi feito de memória? De
qualquer maneira, isso fez seu pau se contorcer.
Ele sabia que era errado. Este era o caderno de desenho
particular de uma senhora. Ele poderia muito bem estar lendo
o diário dela. Mas ele se viu caindo na escada de pedra. Ele
colocou a vela alguns degraus acima dele e recostou-se,
segurando o caderno de desenho com as duas mãos enquanto
folheava as páginas. A maioria era feita com tinta ou carvão,
mas alguns eram pastéis coloridos - flores em um vaso, as irmãs
Swindon, um belo esboço de um cavalo de perfil. E então seu
peito apertou. Renley sorrindo, sua boca curvada no canto, seu
bonito chapéu de oficial puxado para baixo sobre sua testa.
Ele virou a página e sentiu o peito apertar. Burke de perfil.
Os olhos tempestuosos de Burke. As mãos de Burke. Como
James conhecia o homem tão bem que poderia identificá-lo
apenas por suas mãos? Como Rosalie conhecia suas mãos tão
bem que poderia desenhá-las de memória?
Ele virou a página. Outro esboço de James. A forma geral
de seu rosto estava lá, com alguma eclosão preenchendo sua
mandíbula. A única característica definida eram seus lábios.
Dois esboços. Um estudo da boca de James Corbin. Maldito
inferno. Tudo o que ela tinha que fazer era pedir, e ele lhe
mostraria o que sua boca poderia fazer. Que esboços ela iria
desenhar, então?
Um barulho lá embaixo o fez pular e ele fechou o caderno
de desenho. Quem diabos estaria se movendo a esta hora? Ele
pegou sua vela e se levantou, colocando o caderno de desenho
debaixo do braço enquanto descia a escada em espiral. Suas
sobrancelhas baixaram enquanto ele se preparava para pegar
um par de servos em um encontro à meia-noite.
“Quem está aí,” ele latiu.
Ele virou a esquina para ver Rosalie ofegar e dar um passo
para trás, quase caindo da escada. Sua vela tombou do suporte
quando ela a golpeou contra a parede. Ele estendeu um braço
e a agarrou, fechando o espaço entre eles, virando-a para a
parede. Ele largou o caderno de desenho dela e a prendeu com
os braços. Tudo aconteceu em um piscar de olhos.
“Céus,” ela ofegou.
Ele observou seu rosto corado, seu cabelo escuro caindo
sobre os ombros. Ela usava uma camisola com apenas um
roupão de veludo azul para cobrir sua nudez.
“Por que sempre há um Corbin nesta escada?” Ela sibilou,
saindo de debaixo da jaula de seus braços.
Ele não pôde deixar de sorrir. “Bem... é a nossa casa.”
Seus olhos caíram para a camisa aberta e os pés descalços.
Aturdida, ela caiu de joelhos, alcançando sua vela no escuro.
“O que você está fazendo aqui em cima?” Ele disse, a voz
baixa. Seus olhos se fixaram na pequena fita amarela em seu
cabelo. Ele lutou contra o impulso de se abaixar e soltar o arco.
Ele queria o cabelo dela completamente solto, emoldurando
aquele rosto em forma de coração.
“Vim buscar meu caderno de desenho,” ela respondeu. Ela
se endireitou e encontrou seu olhar, sempre tão desafiador. “Eu
poderia te perguntar o mesmo.”
Seu sorriso se alargou ao visualizá-la desenhando seus
lábios com tanto cuidado. “Eu vim pelo seu caderno de
desenho.”
Ela engasgou um pouco. Parecia tão bom que ele queria
encontrar uma maneira de fazê-la fazer isso de novo. Ele rezou
para que ela não visse como seu pênis estava meio duro para
ela. Quando foi a última vez que ele esteve sozinho com uma
mulher? Ele não conseguia pensar. Ela cheirava divinamente.
Algo floral e apimentado. Enchia seus sentidos, puxando
alguma memória que ele não conseguia localizar. Era incenso?
“Onde está então?”
Ele observou sua boca formar palavras. Se ele tivesse
algum talento, poderia retribuir o favor e fazer um estudo para
esboçar os lábios dela. Espere, ela estava falando. O que ela
disse? Deus, ele era um idiota. Como uma mulher podia fazê-lo
se sentir tão fora de controle? Por que ela ainda estava olhando
para ele daquele jeito? Oh, certo, eles estavam falando. Ele
respirou fundo. “O quê?”
“Meu caderno de desenho,” ela disse bufando, com as mãos
nos quadris. “Você disse que tinha.”
Ele olhou ao redor. “Eu deixei cair. Fiquei bastante
distraído com a donzela ameaçando cair da minha escada.”
Ela olhou ao redor, localizando-o com um pequeno suspiro.
Ela se abaixou e o pegou, colocando-o debaixo do braço. Suas
bochechas ainda estavam profundamente coradas enquanto ela
segurava sua vela apagada. “Você me daria uma luz, senhor?”
Ele desceu um degrau e estendeu a vela. A nova chama
ganhou vida, expandindo o círculo de luz ao redor deles. Ele
observou as chamas gêmeas dançando em seus olhos escuros.
Eles ficaram lá no silêncio, peitos subindo e descendo enquanto
respiravam. Cristo, ela era tão bonita. Ele queria tocar seu rosto
- aquelas sobrancelhas escuras, seus lábios carnudos, suas
bochechas coradas. Ela o deixaria? Será que ela desejaria seu
toque como desejou o de Burke?
Droga... Burke.
Burke estava apaixonado por ela, louco por ela... e aqui
estava James, cobiçando-a para si mesmo, ousando
comprometer a felicidade de seu amigo. Burke a chamou de
costa puxando as marés, mas James sabia melhor, pois ele não
estava sentindo a mesma atração inevitável? James estava
sofrendo com a ilusão de que, quando Rosalie fosse embora, o
desejo de estar perto dela diminuiria. Fora da vista, longe da
mente.
Mas Rosalie Harrow não era a praia. Ela era a lua. Não
haveria como escapar de sua atração por nenhum deles...
nenhum deles. A lua está em toda parte, sempre persuadindo,
sempre reivindicando. Mesmo quando ela não pode ser vista,
ela é sentida. E James a sentia em todos os lugares.
Dane-se tudo para o inferno.
Aqueles lindos olhos escuros estavam tentando lê-lo.
Impossível. Ele tinha que desligar esses pensamentos. Ele se
recusava a se envolver. Mais importante, ele se recusava a
machucar Burke.
Paredes, James. Retire-se.
Ele fechou suas emoções, encontrando a força para se
separar. Ele viu o reconhecimento piscar em seus olhos como
se ela soubesse exatamente o que ele estava fazendo.
Seu semblante caiu. “Eu só... eu vou indo então...”
“Sim. Boa noite, senhorita Harrow.”
Ele franziu a testa. Por que ela não estava se movendo? Ela
estava parada ali, segurando firme a vela como se fosse um
escudo e ele um dragão. Ela estava com medo dele? Ele se
abaixou meio degrau e ela se pressionou contra a parede,
dando-lhe mais espaço para passar.
“Depois de você,” ele murmurou, gesticulando escada
abaixo.
Ela se virou e seus ombros se tocaram no espaço estreito.
Ele estava lutando contra o desejo de estender a mão
novamente...
SLAM.
“O que é que foi isso?” Ela sussurrou, quase tropeçando
contra o peito dele.
Todos os sentidos de James estavam em alerta máximo.
Uma mão apoiou seu quadril para firmá-la.
“Prostituta frígida!”
James liderou o caminho descendo as escadas, abrindo a
porta. Rosalie saiu atrás dele e engasgou ao ver a cena. As
portas do quarto do Duque estavam escancaradas, a luz se
acumulando no corredor. Lady Olivia estava sentada de joelhos
em nada além de sua chemise, alguns cachos despenteados
emoldurando seu rosto. Ela soluçou em suas mãos enquanto o
Duque jogava suas roupas no corredor. Primeiro um sapato,
depois o vestido de seda com contas e o espartilho.
“Apenas saia...perda de tempo...”
James apagou a vela, jogou-a no chão e avançou em
direção ao irmão antes que Rosalie pudesse estender a mão
para detê-lo.
O Duque viu sua aproximação com os olhos arregalados.
Ele ergueu as mãos em defesa. “Não no rosto...não no rosto,” ele
gritou quando James se lançou para ele.
Os Corbin invadiram os aposentos do Duque enquanto
James socava cada pedaço de seu irmão que ele conseguiu
alcançar.
Rosalie correu para frente.
“Tire-a daqui,” James gritou pela porta, seus braços em
volta do pescoço de seu irmão no chão do tapete azul de pelúcia.
O Duque tentou se desvencilhar.
“Onde?” Rosalie murmurou. Ela não conhecia bem esta
parte da casa.
“Banheiro...” James resmungou. “Três portas abaixo...”
Rosalie colocou a mão nos ombros de Olivia, ainda
segurando sua vela. “Vamos, temos que nos mover. Vão acordar
a casa toda com esse barulho.”
Olivia continuou chorando.
Rosalie caiu de joelhos e agarrou o vestido de Olivia com
uma mão e tentou segurar a vela com a outra. “Você tem que se
levantar. Agora. Venha comigo, ou a casa a encontrará aqui e
você estará arruinada.”
Olivia deu um aceno fraco e Rosalie jogou a mão com a vela
em volta dos ombros, puxando-a para seus pés. Elas se
arrastaram pelo corredor. Rosalie abriu a porta do banheiro e
empurrou Olivia para dentro, fechando a porta e trancando-a.
Olivia caiu de joelhos. Rosalie largou as roupas no chão e
colocou a vela no lavatório, encostando-se na porta enquanto
lutava para controlar a respiração. Ela ainda podia ouvir os
homens discutindo através da porta.
“Inaceitável...”
“Foi ideia dela... veio até mim...”
“Eu vou fodidamente te matar...”
Ela deixou Olivia chorar por alguns minutos quando uma
porta bateu. Então outra. James tinha controle suficiente da
situação para colocar o Duque de volta a portas fechadas. Ela
ouviu o som inconfundível de pés trotando pelo corredor. Mais
de um par. Provavelmente lacaios.
Vozes abafadas.
Bateram na porta distante.
O tempo todo, Olivia continuou a chorar.
Rosalie tirou o roupão e caiu de joelhos, usando-o para
bloquear a rachadura na parte inferior da porta. Ela não queria
que ninguém no corredor visse sua luz e viesse investigar. “Há
pessoas no corredor agora. Você deve ficar quieta,” ela
sussurrou, uma mão no ombro de Olivia. “Não podemos partir
até que Lorde James venha nos buscar. Ele saberá quando será
seguro sairmos.”
Olivia parou ao ser tocada e tentou se afastar. Não havia
amor perdido entre as duas mulheres, mas Rosalie não era
totalmente insensível. O que quer que Olivia fosse, ela não
merecia ser arruinada por George Corbin.
“Tão estúpido,” ela murmurou. “Eu sou uma idiota...não
posso mais fazer isso...”
Rosalie afundou contra a parede. “O que aconteceu?”
Olivia lançou-lhe um olhar furioso.
“Você não tem que me dizer,” Rosalie adicionou
suavemente. “Mas... você pode... se quiser. Juro que nunca vou
contar a ninguém.”
Olivia puxou a chemise para cobrir melhor o ombro
exposto. “Eu faço vinte e sete em dezembro. Praticamente uma
velha solteirona. Não é minha culpa,” ela acrescentou. “Eu fiz
tudo o que pude...tudo...” Ela soluçou em sua mão novamente,
sufocando o som.
Rosalie não pôde evitar a mão que se estendeu e pousou
no joelho de Olivia.
“Estive noiva duas vezes antes disso,” murmurou Olivia.
“Você sabia disso?”
“Não,” Rosalie sussurrou.
“Eu estava noiva de um príncipe prussiano,” continuou ela.
“Eu ia ser princesa… mas ele morreu três meses antes do nosso
casamento.”
“Sinto muito,” Rosalie murmurou por instinto. “Seria um
casamento por amor?”
Olivia zombou. “Nunca o conheci. Eu tinha um retrato em
miniatura dele pendurado em uma fita verde e duas cartas.” Ela
deu de ombros. “Mas ele morreu e foi isso. Demorou quase dois
anos antes de conseguir outra oferta, o segundo filho do novo
Marquês de Bath. Johnny era um rapaz adorável e me
considerei sortuda por tê-lo escolhido. Ele era tão bonito... é tão
bonito...” Sua voz sumiu quando seu olhar caiu no chão.
“O que aconteceu?” Rosalie sussurrou.
Olivia deu uma risada amarga. “Por que ele deveria se
contentar com a filha de um Marquês quando poderia se casar
com a filha de um Duque? Ele me trocou por Maude Manner,
filha mais velha do Duque de Rutland. Eles acabaram de ter
seu segundo filho.” A voz dela ficou quieta. “Fui convidada para
o batizado... Mamãe e eu viemos para Alcott em vez disso...”
O coração de Rosalie doía por ela. Riqueza e status
certamente não eram garantia de felicidade nesta vida. “O que
aconteceu esta noite?” Rosalie murmurou. “Será que Sua
Graça...”
“Não,” Olivia disse asperamente. “Fui eu. Eu não posso, eu
não poderia, eu precisava que isso corresse bem. Eu não
poderia voltar para a cidade sem... Deus, estou tão
envergonhada.”
Rosalie tentou juntar as peças. O Duque expulsando-a,
suas palavras calejadas. “Você não poderia continuar com isso,”
ela sussurrou.
“Eu pensei que poderia,” Olivia respondeu, com as
bochechas vermelhas. “Estamos dançando um com o outro há
dias. Flerte e alguns beijos roubados. Hoje à noite, eu entrei em
seu quarto e eu... eu tentei. Eu só... não podia...”
Rosalie suspirou de alívio ao saber que, o que quer que ele
pudesse ter feito, o Duque não a forçou.
“Eu não acho que vou sobreviver mais um ano no circuito,”
Olivia murmurou. “Que homem vai tirar o chapéu para uma
senhora de vinte e sete anos?” Sua voz falhou. “Eu... eu
estraguei tudo. Eu nunca deveria ter, Oh, Deus!”
Rosalie caiu de joelhos e puxou a mulher em seus braços.
Olivia caiu contra seu ombro, soluçando. “Shh,” ela murmurou.
“Você não fez nada do que se envergonhar.”
Olivia se afastou. “O que você sabe sobre isso?” Ela cuspiu.
“Como você poderia entender?”
Rosalie suspirou. Lá estava a deliciosa górgona. Ela deu à
senhora um olhar severo. “Acredite ou não, eu também sei como
o mundo funciona. Eu sei a pressão que você está sofrendo,
mesmo que eu não sinta a mesma pressão da mesma maneira.”
Olivia teve o bom senso de parecer um pouco menos
arrogante. “Sinto muito,” ela murmurou. “Deus, eu sou uma
vadia. Eu odeio quem eu sou, quem me tornei. Sabe, eu
costumava ser uma boa pessoa. Eu costumava ser mais como
aquelas Swindon idiotas.”
Rosalie não pôde deixar de sorrir, vendo como Olivia
expressou seu elogio em um insulto. “Nós sobrevivemos o
melhor que podemos. Isso é tudo o que você está fazendo,”
acrescentou ela. “Você está sobrevivendo e eu estou
sobrevivendo, e não há nada de errado nisso.”
Olivia respirou fundo. “Eu o odeio,” ela sussurrou. “Ele é
um porco nojento e eu o odeio. Vou morrer antes de me casar
com ele.”
Rosalie colocou um cacho atrás da orelha de Olivia. “Ele
não merece você.” Um pensamento repentino lhe ocorreu. Ela
sentiu instintivamente que este era o curso de ação certo. Olivia
precisava dessa afirmação. “Você sabe como eles te chamam?”
Ela sussurrou.
Olivia piscou. “Quem?”
“Os homens desta casa,” Rosalie respondeu. “Eles chamam
você de Lady Górgona. Eles veem você como um monstro mítico.
Você é feroz e indomável. Os homens não gostam de uma
mulher que desafia as expectativas, uma mulher que mostra
sua força descaradamente. Isso os irrita. Acho que eles
gostariam de ser Perseu e matá-la.”
Os olhos de Olivia estavam arregalados enquanto ouvia.
“Eu acho que você deveria usá-lo,” Rosalie sussurrou. “Seja
você mesma. Seja feroz e não se desculpe por isso. Você é Lady
Olivia Rutledge, filha do Marquês de Deal. Você é uma das
mulheres mais ilustres do país. Não perca seu tempo com
pessoas como George Corbin ou qualquer outro homem que não
possa competir com sua força.”
Uma centelha de esperança cintilou em seus olhos. Olivia
queria acreditar. “Mas... eu devo me casar...”
Rosalie riu. “Você é filha de um Marquês. Seu irmão será
um Marquês. Você não precisa fazer nada. Você poderia
permanecer solteira e nunca desejar nada. Melhor ser solteira
e livre, do que casar com George Corbin e ficar presa.”
Os olhos de Olivia se estreitaram. “É por isso que você é
solteira? Tem medo de ficar presa? Você tem toda a beleza,
charme e inteligência que um homem pode desejar. Vejo como
os homens aqui te observam. Você poderia ter qualquer um
deles ajoelhado aos seus pés.”
Rosalie deu de ombros. “Eu sei o que é casamento... ou
talvez devesse dizer que sei o que é um casamento ruim. Até que
eu possa me convencer de que nem todos os casamentos dão
errado, nunca me permitirei cair em tal armadilha.”
Antes que Olivia pudesse responder, houve uma leve
batida na porta. “Sou eu,” veio a voz de James. “A costa está
limpa.”
Elas se levantaram e Rosalie ajudou Olivia a se vestir.
Olivia vestiu o espartilho sem amarrá-lo, deslizando o vestido
sobre os ombros. Rosalie a prendeu, enquanto Olivia o alisava
na frente. Rosalie foi até a porta e a destrancou, abrindo-a para
revelar James.
Ele ficou no corredor escuro, nenhuma vela acesa. “Lady
Olivia, palavras não podem expressar...”
“Por favor,” ela sussurrou. “Eu acho que é melhor todos
nós não dizermos nada.”
Ele assentiu e estendeu-lhe os chinelos de cetim.
Olivia os pegou com mão firme. Ela passou pela porta,
parando para olhar para Rosalie. Ela deu um breve aceno de
cabeça e desapareceu na escuridão.
Rosalie olhou pela porta para James. Alguma tensão
indescritível se estabeleceu entre eles.
“Ela está bem?” Ele sussurrou.
“Eu acho que ela vai ficar,” Rosalie respondeu.
“George não...”
“Não. Olivia parou antes...” Ela ficou em silêncio e ele
assentiu.
“E você, Srta. Harrow? Você está bem?”
O que ela poderia dizer? Ela estava bem? Ela ao menos
sabia? Por um momento na escada, ela pensou que ele poderia
beijá-la. Ele estava se inclinando, aqueles olhos verdes
inchados de desejo. O pobre Atlas já se permitiu sentir uma
emoção tão inútil quanto a luxúria? Ele estava tão focado em
cuidar de todos, sendo a força de todos, uma verdadeira
fortaleza de calma e controle. Como ela desejava bagunçar o
cabelo dele só para sentir que algo estava fora do lugar.
Cada alma nesta casa, em todo o condado, foi cuidada de
uma forma ou de outra por Lorde James Corbin, Visconde de
Finchley. Talvez ele precisasse de uma amiga solitária que
cuidasse dele. Ela se viu ansiosa para preencher o papel.
Ele levantou uma sobrancelha, ainda esperando por sua
resposta.
“Sim, meu senhor,” ela sussurrou. “Estou perfeitamente
bem.”
Ele se mexeu desajeitadamente focando sua atenção em
um ponto sobre o ombro dela. “Senhorita Harrow…”
O que estava errado agora? Seus nervos já estavam em
frangalhos. “O quê?”
Ele limpou a garganta. “Você estava vestindo um roupão
antes...”
Ela engasgou, olhando para baixo para ver que ela estava
apenas em sua chemise. O material era fino e pendia de um
ombro. Só o céu sabia o quanto dela ele podia ver. Certamente,
ele notou a curva nua de sua clavícula, a protuberância de seu
seio. Ela se abaixou atrás da porta e pegou seu roupão,
encolhendo os ombros. “Eu usei para bloquear a luz,” ela
sussurrou apressadamente, fechando-o. “Eu não queria que
um lacaio nos visse.”
“Isso foi um pensamento rápido,” ele respondeu, um pouco
menos desconfortável agora que seus seios estavam fora de
exibição.
“Eu vou um... te dar boa noite então,” ela sussurrou.
Sua mandíbula se apertou quando ele deu um passo para
trás com um aceno de cabeça. Sempre um cavalheiro, ele
parecia determinado a provar que estava no controle. Não
haveria beijos noturnos no salão, não depois da repugnante
exibição do Duque.
Ela deu alguns passos, parando para olhar por cima do
ombro. Ele ficou parado no escuro, observando-a com aquela
expressão miserável e tensa no rosto. “Você não é como ele,” ela
sussurrou. “Só no caso de você estar preocupado... você não é
nada como seu irmão. Na verdade, sei de fonte segura que você
é um dos melhores homens que respiram.”
Ela ouviu sua inspiração aguda. “E a autoridade de quem
você aceita de bom grado?”
Sua boca se curvou em um sorriso. “Burke.”
O silêncio se formou entre eles antes que ele murmurasse:
“Você deveria falar com ele. Ele está sofrendo.”
“Nada do que eu disser pode mudar isso,” ela respondeu.
Ele se aproximou. “O amor dele está fadado a não ser
correspondido?”
As palavras flutuaram no ar entre eles, e Rosalie se
perguntou se, em alguma pequena parte de sua mente, James
não estava apenas perguntando sobre o destino de seu amigo.
Seu coração disparou. “Não,” ela sussurrou. “Mas eu me recuso
a arruiná-lo. E um amor correspondido por gente como eu só
pode terminar em ruína... para nós dois.”
Ele deu um passo mais perto até que ela pudesse sentir
seu calor em suas costas. “Srta. Harrow...”
“Boa noite,” ela sussurrou, sem esperar mais um segundo
antes de entrar na escuridão.
Rosalie mal dormia. Seus sonhos eram cheios de palavras
sussurradas, carícias suaves e olhos verdes calorosos. Quando
ela acordou com Sarah abrindo as cortinas, ela gemeu. Suas
pernas estavam emaranhadas nos lençóis e ela suava.
“Bom dia, senhorita,” Sarah chamou alegremente.
“Bom dia,” ela respondeu, esfregando as mãos no rosto.
“As carruagens estarão por volta das oito para levar
qualquer dama a Carrington que precise de uma prova de
vestido,” Sarah continuou. “Lady Oswald providenciou para que
você almoce na Oswald House. Qual vestido você quer para esta
manhã, senhorita? A musselina com raminhos de novo? Ou
talvez o novo amarelo…”
Rosalie não pôde evitar a maneira como seu coração
palpitava. Ela queria pensar em James Corbin como um amigo.
Aceitar seu presente era um pequeno passo, mas ainda assim
um passo. “O amarelo, eu acho,” ela respondeu. “Com o...”
“A capa verde?” Sarah respondeu com um sorriso animado.
“Sim, acho que vai ficar lindo.”
Em um momento, Rosalie estava vestida, seu cabelo
arrumado na moda. A maioria dos convidados já estava na sala
de café da manhã, com as jovens tagarelando sobre os planos
do dia. O Duque entrou logo depois de Rosalie e todos ficaram
em posição de sentido. Ele acenou para que voltassem para
suas cadeiras. Rosalie ficou satisfeita ao ver que ele não tinha
nenhum olho roxo. Ela arriscou um olhar para Olivia, que não
tirou os olhos de passar manteiga em sua torrada.
Rosalie sentou-se, ansiosa para clarear sua mente com
uma xícara de chá. Quando ela pegou o açúcar, uma voz alta e
musical gritou da porta.
“Bem, não somos um bando triste!”
Houve alguns suspiros e barulho de pratos. Rosalie olhou
para cima e teve que lutar para não ficar boquiaberta. De pé na
porta, estavam duas mulheres que ela nunca tinha visto antes.
Elas eram lindas além das palavras, com cachos amarelo-mel e
olhos castanho-escuros. Elas usavam sorrisos combinando,
largos como qualquer coisa. Elas também usavam vestidos
combinando, coisas bonitas de rosa peônia. Na verdade, tudo
nelas combinava até o último detalhe, pois eram gêmeas.
Gêmeas idênticas.
Algumas vozes exclamaram e os homens à mesa se
levantaram para deixá-las entrar.
“Senhorita Prudence Nash,” chamou Reed da porta. “E a
Srta. Piety Nash.”
“Santos vivos, que delícia,” disse o Duque, batendo com o
guardanapo na mesa. “As irmãs Nash na minha sala de café da
manhã.” Ele estalou os dedos. “Collin, traga talheres extras.”
Um lacaio se arrastou para frente para obedecer.
Rosalie afundou em sua cadeira. Essas senhoras não
precisavam de apresentações. Elas eram famosas em Londres.
Elas eram dinheiro novo e, geralmente, não eram do tipo que
orbitavam no mesmo círculo que um Duque. Mas à medida que
a estrela de seu pai aumentava, também aumentou sua
popularidade. E serem gêmeas idênticas faziam delas um
espetáculo onde quer que fossem. Os jornais diziam que eram
lindas, mas Rosalie não fazia ideia. Essas coisas eram tão
facilmente embelezadas.
“O que a traz aqui, senhorita Nash?” A Condessa disse, sua
voz densamente doce, mesmo enquanto ela devastava seu
tomate ensopado com golpes afiados de sua faca.
“Oh, bem, essa foi uma surpresa tão boa,” disse a da
esquerda, sentando-se em uma cadeira. “Estávamos voltando
de um jantar com os Talbot quando recebemos uma carta
expressa. Não foi assim, irmã?”
“De fato, irmã. Uma surpresa tão boa.” A outra bateu com
uma colher na borda de sua xícara de chá com três batidas
fortes.
Sir Andrew olhou para elas com os olhos vesgos. Ele
apontou o dedo para uma e depois para a outra. “Qual de
vocês... é qual?”
As irmãs riram, assim como Sua Graça. “Eu sou
Prudence,” disse a da direita.
“E eu sou Piety,” disse a esquerda. “Sou meia polegada
mais alta,” acrescentou.
“E eu tenho um sinal de beleza... embora eu não deva te
dizer onde,” Prudence disse com um sorriso sedutor.
Sir Andrew se afastou com uma careta de confusão
quando, ao lado dele, Lady Oswald franziu os lábios.
“Você estava nos contando por que está aqui,” disse a
Marquesa de rosto impassível.
“Ah, sim,” disse Piety. “Bem, a Duquesa escreveu para se
desculpar pelo atraso no convite para o baile de Michaelmas.
Ela ficou tão irritada com o descuido que perguntou se não
poderíamos vir um pouco mais cedo e participar da diversão.
Claro, não conseguimos arrumar nossas malas rápido o
suficiente, não é, irmã?”
“Não, de fato,” Prudence comentou.
O Duque estava na ponta da cadeira, extasiado ao vê-las
jogar uma contra a outra.
“Papai sempre quis conhecer Alcott, Vossa Graça,” Piety
acrescentou com um sorriso encantador para o Duque.
“Ele vai se juntar a nós na sexta-feira,” arrulhou Prudence.
Rosalie se sacudiu em sua cadeira quando a verdade a
atingiu. Céus, isso era coisa dela. Essa foi a grande ideia que
suas palavras inspiraram na Duquesa. Gêmeas. O Duque
queria espetáculo, e a Duquesa entregou um conjunto de
ascensão social, irmãs gêmeas idênticas. Rosalie não conseguia
decidir se queria rir ou gritar. Por que ela nunca aprendeu a
manter a boca fechada?
Ela olhou ao redor da mesa, vendo de uma vez como cada
pessoa lentamente percebeu a verdade: o jogo acabou. Pois
quem poderia competir pelo coração de George Corbin contra
irmãs gêmeas divertidas, paqueradoras e totalmente
inadequadas? Sir Andrew desapareceu atrás de seu jornal. As
irmãs Swindon fizeram beicinho, lançando olhares ansiosos
para a mãe. Blanche parecia que estava pronta para chorar em
seus ovos.
“James, olhe aqui,” o Duque chamou com um largo sorriso.
“Olha quem decidiu enfeitar minha mesa.”
Rosalie olhou rapidamente para cima para ver James e
Burke parados na porta aberta.
As irmãs Nash se viraram como uma só para olhar James
e Burke, seus sorrisos combinados e cílios esvoaçantes
praticados como uma arte. “Bom dia, meu senhor,” eles
cantaram.
“São as irmãs Nash,” o Duque acrescentou, positivamente
alegre.
“Entendo,” murmurou James. “Senhoras, sejam bem-
vindas.”
Ao lado dele, Burke estava parado, olhos cinza
tempestuosos observando-as. Nenhum deles parecia estar em
ignorância. A Duquesa disse a James para esperar essas recém-
chegadas?
“E este deve ser o encantador Sr. Burke de quem tanto
ouvimos falar,” Prudence disse, levantando uma mão delicada
para ele.
Burke a pegou, curvando-se ligeiramente sobre ela.
“Como eu ouvi sobre você, Srta. Nash.”
O estômago de Rosalie deu um nó. Ela queria dar um tapa
nas mãos deles. A sensação era tão intensa que ela teve que se
virar, para não pular da cadeira e realmente fazer a ação. Ela
abafou os sons do resto da conversa, decididamente
empenhada em adicionar um pouco de leite ao chá.
Ela quase não notou quando os homens se aproximaram
de sua ponta da mesa. James passou por ela primeiro,
servindo-se do bufê. Burke parou atrás de sua cadeira. Ela
sentiu sua presença tão perto, puxando o ar de seus pulmões.
Ela levou a xícara aos lábios, esperando que isso a impedisse
de soltar um suspiro de saudade.
“Eu acredito que isto é seu, Srta. Harrow,” ele murmurou,
deslizando seu braço entre ela e Madeline para deslizar seu
caderno de desenho sobre a mesa. “Você pode precisar para
amanhã.”
“Obrigada,” ela respondeu, colocando sua mão
protetoramente sobre ele.
Sem dizer mais nada, ele contornou a mesa e se juntou a
James no bufê. Quando James se virou, ele fez uma pausa. Ela
ergueu o olhar para encontrar o dele, oferecendo um sorriso.
Ele estava observando o corte de seu vestido amarelo. Seu
presente. Um músculo se contraiu em sua mandíbula quando
ele assentiu uma vez. Ele mudou-se para seu assento,
ocupando-se com seu café da manhã. Burke se juntou a ele e
Rosalie esperou apenas alguns momentos antes de pedir
licença para sair da mesa.
Foi só quando ela estava sozinha no corredor que ela ousou
folhear as páginas de seu caderno de desenho. Sua respiração
prendeu quando ela olhou para baixo, um dedo correndo pelas
bordas rasgadas de uma página. Seus esboços de Burke
estavam faltando.
17Antiga contradança de salão, de passos complexos, semelhantes aos da quadrilha, que reunia músicas,
folguedos e fantasias e com que se costumava concluir um baile.
Tom suspirou de frustração, pegando o copo. “Meu irmão
está bem. Ele se queixa de um reumatismo. Agatha está grávida
de novo, já te contei?
“Não... Cristo, são quantos agora?” James disse,
sobrancelha franzida.
“Este será o número sete,” respondeu Tom.
“Sete filhos. Pobre Agatha,” James murmurou.
“Talvez ela não tivesse tantos se não fosse tão fã do
método,” Tom disse em seu copo.
James soltou uma risada. “Eu acho que não.”
Tom colocou seu copo de lado, acabou com essa farsa.
“James, por que vocês dois estão determinados a me separar de
Rosalie? O que aconteceu que eu não posso ir falar com ela?”
Ao contrário de Burke, que pode ter tentado outra rodada
de negação, James teve o bom senso de dizer: “Devemos
conversar primeiro... antes que você diga qualquer coisa de que
se arrependa.”
Tom franziu a testa, olhando para onde Burke os observava
do outro lado da sala. Ele estava apenas fingindo estar
conversando com Sir Andrew. A felicidade e a confiança que
Tom construiu em sua jornada de volta da cidade estavam
lentamente desaparecendo como areia entre seus dedos
abertos. “O que diabos aconteceu enquanto eu estava fora?”
“Celestialmente,” Rosalie suspirou, respirando fundo o
doce ar de outono. O calor estava finalmente diminuindo, um
sinal claro de que o verão realmente havia acabado. Ela ficou
na beira da água, observando-a ondular sobre as rochas. Atrás
dela estava um velho moinho, com paredes de pedra em ruínas
e um telhado com buracos na palha. Hera rastejava pelas
laterais e grossos ramos de flores silvestres cresciam contra a
pedra como algo saído de um conto de fadas. Foi quase um
quilômetro a pé para chegar ao local, mas valeu a pena o
exercício.
“Costumávamos brincar aqui quando meninos,” explicou
James ao grupo. “Se alguém quiser forragear, temos algumas
cestas aqui. Geralmente há canteiros de cogumelos por ali e
bagas na sebe.”
“O que você acha?” Veio a voz de Burke atrás dela.
“É um lugar bonito,” ela murmurou.
“Estou feliz que você gostou,” ele disse, seu hálito quente
em seu pescoço.
Um arrepio percorreu seus braços quando ela se virou para
encará-lo. Essa tensão entre eles não poderia durar muito mais.
Ela precisava pegá-lo a sós. Precisava se explicar... precisava
sentir seus lábios. Acima de tudo, ela precisava que ele parasse
de olhar para ela daquele jeito! Ela franziu a testa. “Você ainda
tem meus esboços. Eu os quero de volta.”
“E eu gostaria que você pedisse educadamente,” ele disse
com aquele sorriso provocador.
“Foi bestial da sua parte tirar páginas do meu caderno de
desenho. Você não tem direito a eles.”
Maldito seja esse sorriso. Ele praticou em um espelho?
“Sem direito à minha própria imagem? Pode-se argumentar que
tenho o único direito...”
“Vamos então, Srta. Harrow, vá até um cavalete,” disse o
Duque. “Eu estarei dando um soberano de ouro para qualquer
senhora que pintar o melhor retrato de mim.” Ele caminhou
pela grama até uma grande rocha na beira da água. Enquanto
algumas das outras senhoras riam, ele subiu em cima dela e fez
uma pose imponente.
Rosalie não pôde deixar de rir também. Apesar de todas as
suas maneiras rudes e falta de interesse em desempenhar o
papel em que nasceu, ela podia admitir que às vezes achava
George Corbin uma boa companhia. Bem... talvez não fosse
uma boa companhia, mas era divertido.