Bioquimica Dos Ruminantes - Gilberto Vilmar Kozloski 2
Bioquimica Dos Ruminantes - Gilberto Vilmar Kozloski 2
Bioquimica Dos Ruminantes - Gilberto Vilmar Kozloski 2
BIOQUÍMICA
DOS RUMINANTES
3ª edição revista e ampliada
Sumário
Apresentação............................................................... 4
Introdução geral........................................................... 6
capítulo 1
Metabolismo microbiano ruminal....................................... 9
1.1 Introdução.............................................................. 9
1.2 Caracterização da população bacteriana ruminal....... 10
1.3 Digestão extracelular............................................. 14
1.3.1 Aderência bacteriana.......................................... 14
1.3.2 Degradação dos carboidratos............................... 19
1.3.3 Degradação das proteínas, ácidos nucleicos e outros
compostos nitrogenados .............................................. 29
1.3.4 Degradação dos lipídios e biohidrogenação dos ácidos
graxos insaturados....................................................... 33
1.3.5 Taxa de degradação............................................ 39
1.4 Crescimento bacteriano e a constante de saturação... 41
1.5 Transporte de nutrientes através das membranas...... 46
1.5.1 Difusão passiva.................................................. 47
1.5.2 Difusão facilitada............................................... 48
1.5.3 Transporte ativo................................................. 49
1.5.4 Regulação dos sistemas de transporte.................. 54
1.6 Metabolismo celular bacteriano............................... 55
1.6.1 Conceitos básicos em bioenergética...................... 55
1.6.2 Metabolismo dos carboidratos e produção dos ácidos
graxos voláteis............................................................ 62
1.6.3 Metabolismo dos compostos nitrogenados............. 76
1.6.4 Integração do metabolismo bacteriano ruminal...... 82
1.6.5 Estequiometria e regulação do metabolismo bacteria-
no ruminal.................................................................. 86
1.6.6 Efeito do pH sobre a fermentação ruminal............. 93
1.7 Considerações sobre o metabolismo de protozoários e
fungos ....................................................................... 98
Bibliografia recomendada............................................. 99
capítulo 2
Digestão, absorção e metabolismo visceral...................... 105
2.1 Digestão e absorção dos carboidratos.................... 105
2.2 Digestão e absorção dos compostos nitrogenados.... 113
2.3 Digestão e absorção dos lipídios............................ 123
2.4 Metabolismo visceral .......................................... 129
2.4.1 Fundamentos e técnicas de estudo..................... 129
2.4.2 Metabolismo portal........................................... 136
2.4.3 Metabolismo hepático....................................... 149
2.4.4 Metabolismo visceral das purinas ...................... 159
2.4.5 Metabolismo energético visceral (utilização de oxigê-
nio)......................................................................... 162
2.4.6 Composição do fluxo portal e visceral de energia.. 166
Bibliografia recomendada........................................... 169
capítulo 3
Metabolismo intermediário............................................ 177
3.1 Introdução.......................................................... 177
3.2 Metabolismo no estado alimentado....................... 178
3.3 Metabolismo de jejum......................................... 189
3.4 Metabolismo de vacas leiteiras no início da lactação... 193
3.5 Metabolismo dos ácidos graxos de cadeia longa e produ-
ção de ácido linoleico conjugado ................................ 198
Bibliografia recomendada........................................... 200
Créditos.............................................................. 203
Apresentação
Desse modo, vários aspectos e/ou temas que não haviam sido
considerados anteriormente foram agora incluídos, assim como
vários temas previamente incluídos foram aprofundados e/ou
reformulados.
Nesta terceira edição, foi mantido o caráter objetivo e simpli-
ficado das edições anteriores, ou seja, com exceção de algumas
figuras e tabelas específicas, obtidas na literatura, as referências
não estão incluídas no corpo do texto e são listadas somente no
final dos capítulos.
Os paradigmas científicos estão constantemente sendo criados
e reformulados e, desse modo, esta terceira edição de Bioquímica
dos Ruminantes também não constitui um trabalho acabado, mas
um projeto em contínua construção e em constante processo de
avaliação e aperfeiçoamento. Desse modo, tanto a crítica como
as proposições sempre serão oportunas.
1.1 Introdução
O rúmen é considerado um ecossistema microbiano diverso e
único. Seu meio é anaeróbico (baixa concentração de oxigênio),
com temperatura em torno de 39 a 42ºC, pH que varia normal-
mente entre 6,0 e 7,0, e com presença permanente de substratos
e de atividade fermentativa, embora com intensidades variáveis.
Habitam o interior do rúmen três tipos de microrganismos ativos:
bactérias, protozoários e fungos. Embora muitas mais já tenham
sido isoladas, cerca de 20 espécies bacterianas predominam
no rúmen, em número de cerca de 1010 células/ml. A massa
bacteriana presente no rúmen varia com o tipo de dieta, nível de
consumo e tempo após a ingestão do alimento. Em um bovino
de, aproximadamente, 450kg, por exemplo, a massa bacteriana
ruminal associada à fase líquida (BAL) varia em torno de 300g
antes a 700g depois, e aquela associada à fase sólida (BAS) varia
em torno de 700g antes a mais de 2.000g depois da ingestão do
alimento. Nessas condições, as concentrações bacterianas variam
em torno de 12 a 20g de matéria seca de BAL por litro de fluido
e de 250 a 400g de matéria seca de BAS por kg de material
sólido presente no interior do rúmen. Os protozoários ocorrem em
número de, aproximadamente, 106 células/ml e são, na maioria,
ciliados. A biomassa dos protozoários no rúmen normalmente
corresponde a cerca de 10%, mas pode alcançar até 50% da
biomassa microbiana total. Foram também identificadas espécies
de fungos estritamente anaeróbicos que habitam o rúmen, com
Bioquímica dos Ruminantes | 10
Oligopeptídeos
Aminoácidos
Meio externo
Aminoácidos Monossacarídeos
ADP ATP NH3
ADP NAD+
ATP
NADH
Proteína
microbiana
AGV
Figura 1.2 – Esquema geral da degradação extracelular e intracelular de
proteínas e carboidratos pelas bactérias ruminais. Essas moléculas com-
plexas são degradadas extracelularmente até suas unidades menores, as
Bioquímica dos Ruminantes | 15
Omasso
0.8
0.7
Degradabilidade da MS
0.6
0.5
0.4
0.3
0.2
0.1
80
(mg de P/g MS residual)
Aderência bacteriana
70
60
50
40
30
20
0.1
0
5.5 6 6.5 7
pH inicial
Bioquímica dos Ruminantes | 19
Polissacarídeos
(celulose, hemiculose, amido, pectina, frutosanas)
Oligossacarídeos
Monossacarídeos
Meio externo
Monossacarídeos
(glicose, frutose, galactose, ribose, xilose,...)
Piruvato
AGV
Figura 1.11 – Esquema geral da degradação dos carboidratos pelas bacté-
rias ruminais. A degradação extracelular e, posteriormente, o metabolismo
intracelular de todos os carboidratos origina um produto final comum (o
piruvato), que é o precursor dos ácidos graxos voláteis (AGV).
Bioquímica dos Ruminantes | 26
Proteínas
(polipeptídeos)
Oligopeptídeos
Aminoácidos
Meio externo
Aminoácidos NH3
AGV
Figura 1.16 – Esquema geral da degradação proteica pelas bactérias rumi-
nais. A degradação extracelular origina aminoácidos que são desaminados,
Bioquímica dos Ruminantes | 32
Figura 1.17 – A hidrólise total da ureia pelas bactérias origina uma molécula
de dióxido de carbono e duas moléculas de amônio. Inicialmente, a molécula
de ureia é hidrolisada enzimaticamente pela urease, produzindo carbamato e
uma molécula de amônio livre. O carbamato é, posteriormente, hidrolisado
não enzimaticamente, liberando outra molécula de amônio e bicarbonato.
Este último origina dióxido de carbono e água.
Meio externo
NAD+ NADH
Glicerol
Galactose AGV
ADP ATP
30
Amônia
25
20
mg/dl
15
10
15.0
-amino N
13.5
12.0
10.5
9.0
mg/dL
7.5
6.0
4.5
3.0
1.5
0.0
50
45
Açúcares
40
35
30
mg/dL
25
20
15
10
5
0
0 1 2 3 4 6 8
Tempo após a refeição (horas)
8
7
Taxa de crescimento (/h)
6 Bactérias = In2/td
5 amilolíticas
4
3
2 Bactérias
fibrolíticas
1
0
0 0,5 1 1,5 2
Tempo de duplicação (td, em horas)
= (max.S)/(S+Ks)
Ks
Concentração de substrato (s)
Figura 1.26 – Relação entre a concentração de substrato limitante no meio de
cultura e a taxa de crescimento bacteriano. Ks é a concentração de substrato
em que a taxa de crescimento (µ) da população bacteriana corresponde à
metade da taxa de crescimento máxima (µmax).
Difusão passiva
Difusão facilitada
Próton simporter
Sódio simporter
Transporte choque
sensitivo
Sistema
fosfotransferase
não ionizado
Cadeia de transporte
de eletróns
antiporter
sistema choque-sensitivo
∆E = ∆H + W,
∆S(universo) =
∆S(sistema) + ∆S(externa) > 0,
∆G(sistema) = -T∆S(universo),
∆G°’= - RTln(Keq),
∆G = ∆G°’ + RTln([produtos]/[reagentes]),
∆G = - nF∆E,
∆G = 2,3RT∆pH + F∆y,
∆G = ∆H - T∆S.
∆G = ∆H - T∆S
Energia metabólica
(ATP, gradientes eletroquímicos)
Calor
Matéria seca
bacteriana
Piruvato quinase
Figura 1.35 – Metabolismo das pentoses pela via da fosfocetolase. Por esta
via metabólica, cada pentose é fosforilada ao entrar na célula (gasto de um
ATP) e depois é clivada por fosforólise, originando um gliceraldeído-3-fosfato
e um acetil-fosfato.
Figura 1.36 – Metabolismo das pentoses pela via não oxidativa do Ciclo
das Pentoses. Três pentoses fosforiladas vão originar duas hexoses e uma
triose, também fosforiladas.
Bioquímica dos Ruminantes | 66
Figura 1.37 – Metabolismo dos ácidos urônicos insaturados pela rota Entner-
Doudoroff (via dicetouronato). Cada ácido urônico origina uma molécula
de piruvato e uma de gliceraldeído-3-fosfato, sendo gasto um ATP e um
NADH no processo.
NADH no processo.
Produto final
Enzima
Acetato Butirato Propionato* Lactato
Balanço de ATP:
Glicoquinase -1 -1 -1 -1
Fosfofrutoquinase -1 -1 -1 -1
Glicerato quinase 2 2 2 2
Piruvato quinase 2 2 2 2
Acetato quinase 2 – – –
Fumarato redutase – – 2* –
Butirato quinase – 1 – –
Total (ATP) 4 3 2 ou 4 2
Balanço de equivalentes de redução (2H ou NADH):
Gliceraldeído 3-P
2 2 2 2
desidrogenase
Piruvato oxiredutase 2 2 – –
Malato desidrogenase – – -2* –
Fumarato redutase – – -2* –
Lactato
– – -2+ -2
desidrogenase
Acrilil-SCoA redutase – – -2+ –
B-OH-butirato
– -1 – –
desidrogenase
Butiril-SCoA
– -1 – –
desidrogenase
Total (2H) 4 2 -2 0
monossacarídeo
NAD
+
Fdox H
+
NADH Fdred H2
Metanógenas
+
piruvato 4H 2 + CO2
NAD NADH ADP
ATP
NADH NAD
+
CH 4 + 2 H2 O
acetato
propionato
butirato
lactato
amônia
PROTEÍNAS
Proteolíticas
AMINOÁCIDOS
UREIA
AMINOÁCIDOS Ureolíticas
PROTEÍNA
MICROBIANA AMÔNIA
AGV AMINOÁCIDOS
Aminolíticas α-CETO ÁCIDOS
PROTEÍNA
CHO MICROBIANA
Outras espécies bacterianas
ADP ATP
a) Somando 1 + 2 + 3 + e 4:
3 Glicose 1,33 propionato + 2,67 acetato + butirato +
1,5CH4 + 3,17CO2 + 3H2O;
b) Somando 1a + 2 + 3 + 4a:
3 Glicose propionato + 3 acetato + butirato +
1,75CH4 + 3,25CO2 + 3,5H2O.
A taxa com que cada uma das reações vai ocorrer depende
do tipo de dieta e das populações microbianas predominantes no
rúmen. No entanto, o acetato sempre vai ser o ácido graxo volátil
produzido em maior quantidade, e a produção de metano vai ser
diretamente proporcional à produção de acetato. As proporções
molares normalmente produzidas são de 45 a 75% de acetato,
15 a 45% de propionato e 11 a 13% de butirato. Ácidos graxos
voláteis de cadeia maior e/ou ramificados (i.e., valerato, isobutirato,
isovalerato e 2-metilbutirato) representam, usualmente, menos de
5% do total. Para exemplificar, alguns valores estequiométricos são
apresentados a seguir, para duas situações alimentares diferentes:
a) à pH 7,0:
log ([ânion]/[ácido]) = 7,0 - 4,76,
log ([ânion]/[ácido]) = 2,24,
[ânion]/[ácido] = antilog de 2,24 = 173,78;
b) à pH 6,0:
log ([ânion]/[ácido]) = 6,0 - 4,76,
log ([ânion]/[ácido]) = 1,24,
[ânion]/[ácido] = antilog de 1,24 = 17,38;
Bioquímica dos Ruminantes | 95
c) à pH 5,0:
log ([ânion]/[ácido]) = 5,0 - 4,76,
log ([ânion]/[ácido]) = 0,24,
[ânion]/[ácido] = antilog de 0,24 = 1,738.
FPM
– –
XCOO XCOO
+ +
H H
XCOOH XCOOH
ATP
+
H
ADP+Pi
Bibliografia recomendada
AKIN, D. E.; BORNEMAN, W. S. Role of rumen fungi in fiber
degradation. J. Dairy Sci., v. 73, p. 3023-3032, 1990.
SANGUE
RÚMEN
PORTAL
CHO Co2, CH4
biomassa
microbiana
AGV AGV
INTESTINO
DELGADO
CHO
Glicose Glicose
INTESTINO
GROSSO
CHO
biomassa
microbiana AGV AGV
FEZES
+
2Na Glicose
LUZ INTESTINAL [Na+]
ENTERÓCITO [Na+]
+
2Na Metabolismo
Na
+ Glicose Glicose
ATP
ADP + Pi
Na+
+
+ +
K
Na / K ATPase
+
K Glicose
reciclagem do nitrogênio
33%
33%
Uréia
Ureia
67%
67%
50% 40%
Pm NH3
10%
Lipídios ingeridos
glicerol
PIG VIT LE galactose AGV AGV
LEm
INTESTINO
DELGADO
LEm
FL
MG Lipoproteínas
AGp AGm
VIT
INTESTINO
GROSSO
PIG CHO
LEm
FEZES
Lipídios fecais
poli-insaturados
Figura 2.13 – Estrutura geral das lipoproteínas. Como nas micelas, a parte
polar das moléculas anfipáticas (fosfolipídios, colesterol e proteínas) forma
a camada externa (em contato com a água), enquanto a parte apolar destas
moléculas, assim como outras moléculas apolares, como as vitaminas A, D,
E e K, os triglicerídeos (TG) e ésteres de colesterol (EC), ficam confinadas
no interior dos glóbulos.
Bioquímica dos Ruminantes | 129
Pulmões
Veia cava
cranial
A. pulmonar
Vv. pulmonares
A. brônquica
Ducto Aorta
torácico
A. coronária
Fígado
A. hepática
Artérias gastrintestinais
Rins
A. renal
Utilização (-)
[A]> [v]>
Sangue arterial Metabolismo Sangue venoso
[A]< [v]<
Produção (+)
Figura 2.15 – A utilização (i.e., quando a [V] < [A]) ou produção (i.e., quando
a [V] > [A]) de um metabólito por um órgão ou sistema pode ser medida
multiplicando-se o fluxo de sangue local pela diferença de concentração
venosa ([V]) menos a concentração arterial ([V]) do metabólito.
Bioquímica dos Ruminantes | 133
metabólito metabólito
Luz do
metabólito TGI
1
fígado
2
3
coração
intestino rúmen
sangue arterial
CITOPLASMA
alanina
lactato piruvato
+
NAD NADH FEP
malato oxaloacetato
MITOCÔNDRIA
HSCoA HSCoA
ATP ATP
ADP + Pi ADP + Pi
propionil–SCoA butiril–SCoA
acetil–SCoA CC
oxaloacetato
malato citrato
CICLO
fumarato DE isocitrato
KREBS
succinato -cetoglutarato
metilmalonil–SCoA succinil–SCoA
Figura 2.18 – Metabolismo dos ácidos graxos voláteis pelas células do epi-
télio ruminal. Em torno de 10 a 40% do acetato e propionato e 70 a 90%
do butirato absorvido do rúmen são metabolizados pelas células epiteliais.
Todos esses ácidos são, inicialmente, ativados na matriz mitocondrial por
acil-SCoA sintetases. O propionato e o acetato são, em grande parte, oxida-
dos no Ciclo de Krebs, enquanto o butirato é, principalmente, convertido a
corpos cetônicos (CC). Pequena proporção do propionato pode ser convertido
a lactato ou alanina. FEP = fosfoenolpiruvato; HSCoA = coenzima A.
Bioquímica dos Ruminantes | 139
–
COO
CH2 (propionato)
CH 3
HSCoA
ATP
Propionil-SCoA sintetase
AMP + PPi
SCoA
C=O
(propionil-SCoA)
CH 2
CH 3
–
HCO3
ATP
Propionil-SCoA carboxilase
ADP + Pi
SCoA
C=O
(metilmalonil-SCoA)
CHCH3
–
COO
Mutase
SCoA
C=O
CH 2 (succinil-SCoA)
CH2
–
COO
COO –
COO –
(fosfoenol-
piruvato)
(malato) (oxaloacetato)
ADP
piruvato quinase
ATP
COO– NAD
+
NADH COO–
CHOH C=O
lactato
CH 3 desidrogenase CH 2
(lactato) (piruvato)
– – –
COO COO– alanina
COO COO
aminotransferase
NH3+ C H + C=O C=O + NH3
+
C H
CH2 CH 3 CH 2 CH 3
– –
COO COO
(glutamato) (-cetoglutarato)
FAD+
desidrogenase
FADH2 O
CH 3 CH CH C SCoA (enoil-SCoA)
H2O
hidratase
O O
(β -OH-acil-SCoA) (acetil-SCoA)
CH 3 CHOH CH2 C SCoA CH 3 C SCoA
succinil-SCoA transferase
O CH 3 O
succinil-SCoA
O- C CH2 COH CH2 C SCoA
(β -OH-ßmetil-glutaril-SCoA)
HMG -liase
acetil-SCoA
O O
–
(acetoacetato) CH 3 C CH2 C O
O
CH 3 CHOH CH2 C O–
(β -OH-butirato)
10
9
y=0,433x - 0,7344
8 r2=0,8645
Fluxo portal de AGV
7
6
(Mcal/dia)
5
4
3
2
1
0
0 5 10 15 20 25
Consumo de EM (Mcal/dia)
Figura 2.23 – Fluxo líquido de glicose (mmol/h/kg de MS) pelo sistema portal
de novilhos alimentados somente com alfafa ou com 90% de concentrado
(REYNOLDS; HUNTINGTON, 1988). Fluxos positivos indicam produção,
e negativos indicam utilização do metabólito. No animal alimentado com
concentrado, existe absorção de glicose no intestino, que é contrabalançada
pelo uso de glicose sanguínea pelos estômagos, de modo que o fluxo portal
é negativo, independentemente da dieta.
Bioquímica dos Ruminantes | 144
glicose
compostos nitrogenados
500
mmol/h
400
y=4,9582x - 167,38
300 r2=0,7824
200
y=2,6225x - 57,964
100 r2=0,8619
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160
Consumo de N digestível (g/dia)
Figura 2.24 – Relação entre o consumo de nitrogênio (N) digestível com o fluxo
portal de nitrogênio na forma de amônia (amônia-N) ou com a produção hepá-
tica de ureia (ureia-N) em bovinos. Dados compilados de: Gross et al. (1988);
Huntington; Prior (1983); Reynolds et al. (1991); Taniguchi et al. (1995).
Bioquímica dos Ruminantes | 147
35
30
25
20
15
10
5
0
Músculo Fígado TGI
100
Gli
mg de N/dia/kg de peso metabólico
Ala
50 Leu
Fen Ser Val
Glmato Isol
50
-100
-150 Glmina
acetato acetato
propionato -OH-butirato
butirato glicose
glicose
-OH-butirato
fosfoenolpiruvato
acetoacetato
malato
Citoplasma
Mitocôndria
acetoacetil-SCoA acetil-SCoA
metilmalonil-SCoA
malato oxaloacetato
fumarato citrato
CICLO
DE
KREBS
succinato isocitrato
succinil-SCoA -cetoglutarato
150
100
50
-50
27% 63% 27% 63% 27% 63%
Figura 2.28 – Fluxo líquido de ácidos graxos voláteis (mmol/h/kg de MS) pelo
sistema visceral de novilhos alimentados com dietas contendo 27 ou 63%
de concentrado (HUNTINGTON et al., 1996). Os fluxos positivos indicam
produção, e os negativos indicam utilização do metabólito. Praticamente a
totalidade do propionato e butirato que entra no sangue portal é captada
pelo fígado. Somente o acetato é disponibilizado para os tecidos periféricos.
glicose
aminoácidos
0.90
0.80
0.70
0.60
0.50
0.40
0.30
0.20
0.10
0.00
Gli His Met Fen Ala Tir Arg Ser Pro Tre Lis Isol Leu Val
MITOCÔNDRIA
O
2- 1. C 2-
2ATP + HCO3+ NH3 H2N OPO3 + 2ADP + Pi
+
Carbamobil-fosfato NH2
2. O C
NH
Ornitina
Citrulina +
NH3
-O H
O
O
+ -O
NH3 H
+
NH3 Citrulina
O
=
O-
+ C
NH H2N NH3 O Aspartato ATP
-O H Ureia O
-O 3.
O
O -O
Ornitina +
+
NH3 H NH3
AMP+PPi
H2N C N C
5. O- H NH
NH O O-
Fumarato O
H2O
+
+
NH3 NH3
H 4. -O H
-O
CITOSOL
O O
Arginina Arginosuccinato
Aminoácidos -Cetoglutarato
1 Glutamina
-Cetoácidos Glutamato
CITOPLASMA
MITOCÔNDRIA
4
Oxaloacetato Glutamato Glutamina
2
3 NH4
+
Carbamoil
Aspartato -Cetoglutarato fosfato
100
50
-50
-100
-150
27%C 63%C 27%C 63%C 27%C 63%C
Malato
Arginino Ciclo da
succinato ureia Omitina
Figura 2.34 – Visão geral do ciclo da ureia e sua relação com o Ciclo de
Krebs. Esses processos resultam na formação de ureia e de um NADH no
Ciclo de Krebs.
GMP Adenosina
H2O H2O
5'-nucleotidase deaminase
Pi Nh3
Guanina Hipoxantina
H2O H2O + O2
deaminase xantina oxidase
NH3 H2O2
Xantina
H2O + O2
5'-nucleotidase
H2O2
Ácido úrico
H2O + 1/2O2
urato oxidase (uricase)
CO2
Alantoína
Figura 2.35 – Esquema da degradação das bases purinas e formação dos
derivados de purinas. AMP = adenosina monofosfato; GMP = guanosina
monofosfato.
Bioquímica dos Ruminantes | 162
1200
y=2,081x + 265,08
1000 r2=0,7012
(mmol/h)
800
600
400
200
0
100 150 200 250 300 350 400 450
Produção hepática de ureia-N (mmol/h)
dihidroxi
acetona-fosfatoP gliceraldeído-3-P
Pi
NADH
1,3-difosfoglicerato
glicerol ATP
3-fosfoglicerato
2-fosfoglicerato
GTP CO2
H2O
lactato
PEP
oxaloacetato
piruvato aa
ATP
NADH malato
CITOPLASMA
NADH CO2 aa MITOCÔNDRIA
ATP
aa fumarato citrato
CICLO
FADH2 DE
KREBS
succinato isocitrato
NADH
GTP CO2
succinil-SCoA -cetoglutarato
propionato
aa CO2 NADH aa
25
% da E M consumida
20
15
10
0
Acetato BOHB Glicose aa
3.1 Introdução
Os ruminantes, assim como as demais espécies animais, mantêm-
-se em um estado de equilíbrio dinâmico com o meio ambiente. A
viabilidade do organismo e de suas funções vitais depende, por um
lado, da manutenção da sua homeostase, ou seja, da concentração
intracelular relativamente constante dos metabólitos solúveis e, por
outro, da oferta contínua de energia e substratos para processos
oxidativos e sintéticos. Além disso, embora contínuo, o fluxo de
matéria e energia no organismo varia em intensidade ao longo
do tempo e entre os diferentes tecidos, dependendo, por exemplo,
do nível de atividade ou da condição fisiológica do animal. No
entanto, em vez de contínua, a obtenção de substratos do meio
ambiente ocorre somente após a ingestão dos alimentos, que é
um processo intermitente. Desse modo, os animais desenvol
veram a capacidade de adaptar o seu metabolismo, pelo menos
até certos limites, para resolver o problema do excesso ou da
escassez de substratos que ocorrem durante a ingestão de um
alimento ou durante o jejum, respectivamente. Os ruminantes,
especificamente, também têm seu metabolismo caracterizado
por essas situações. No entanto, em razão de o alimento ser pre-
viamente fermentado nos pré-estômagos, o metabolismo desses
animais possui algumas particularidades importantes quando
comparados aos monogástricos.
Neste capítulo, será apresentado o metabolismo intermediário
característico dos ruminantes, assim como suas principais formas
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TECIDO MUSCULAR
aa aa aa aa Proteína
Propionato Propionato
CC
TECIDO ADIPOSO
Lactato Lactato
AG TG
Butirato CC CC
Figura 3.1 – Esquema geral do metabolismo absortivo nos ruminantes. A absorção de glicose e de ácidos graxos de cadeia longa não foi considerada
neste esquema. Os fluxos apresentados são os predominantes de cada metabólito, mas não são os únicos. Por exemplo, a glicose também é utilizada
pelo sistema visceral como fonte de energia e, no tecido adiposo, como fonte de glicerol, o qual é necessário para a síntese de triglicerídios. aa,
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aminoácidos; CC, corpos cetônicos; AG, ácidos graxos de cadeia longa; e TG, triglicerídios.
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Insulina Glucagon
3
2,5
1,5
0,5
5
Absortivo Pós-absor tivo
Acetato Acetato
NADPH
Oxaloacetato -cetoglutarato AG Glicerol
Aspartato Aspartato
TG
NADH Glutamato Glutamato
Oxaloacetato Lactato
+
NAD NAD+
NADH
Malato Malato
Piruvato Piruvato
Figura 3.3 – Esquema proposto para a produção de equivalentes de redução (NADPH) no tecido adiposo dos ruminantes. Os NADPH serão utilizados
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para converter acetato em ácidos graxos de cadeia longa (AG), os quais serão armazenados como triglicerídeos (TG).
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Colesterol
tecidual Colesterol
(excesso) tecidual
Nascente (captação)
(discoidal)
LCAT
HDL HDL HDL
Fígado
Apo-CII Lisolecitina
Componente de superfície em excesso
(apo-C, apo-A, fosfolipídios, colesterol)
LPL LPL
Intestino
IDL LDL
Quilomicrons Tecidos
VLDL periféricos
TECIDO MUSCULAR
aa aa aa Proteína
CC
Glicose Glicose
RÚMEN CO2 + H2O
CO2 + H2O
AG
CC
TECIDO ADIPOSO
CC
CO2 + H2O
AG AG AG TG
Figura 3.5 – Esquema geral do metabolismo pós-absortivo nos ruminantes. Os fluxos apresentados são os predominantes de cada metabólito, mas não
são os únicos. Por exemplo, a glicose também é utilizada pelo sistema visceral como fonte de energia, e glicerol também é liberado do tecido adiposo
e utilizado como precursor neoglicogênico no fígado. aa, aminoácidos; CC, corpos cetônicos; AG, ácidos graxos de cadeia longa e TG, triglicerídios.
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IGF-1 redução
TECIDO MUSCULAR
aa aa aa aa Proteína
Acetato
CC CO2 + H2O
Glicose Glicose AG
RÚMEN
aa Proteína
Butirato CC CC AG TG
CO2 + H2O
Figura 3.6 – Esquema geral do metabolismo das vacas no início da lactação. A absorção de glicose e de ácidos graxos de cadeia longa não foi considerada
neste esquema. Os fluxos apresentados são os predominantes de cada metabólito, mas não são os únicos. Por exemplo, a glicose também é utilizada
pelo sistema visceral como fonte de energia e, na glândula mamária, como fonte de glicerol, o qual é necessário para síntese de triglicerídios. O glicerol
também é liberado do tecido adiposo e utilizado como precursor neoglicogênico no fígado. aa, aminoácidos; CC, corpos cetônicos; AG, ácidos graxos de
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Outros
tecidos
Tecido
TGI e
muscular e
fígado
adiposo
Outros
tecidos
Tecido
TGI e
muscular e
fígado
adiposo
Outros
tecidos
Tecido
TGI e
muscular e
fígado
adiposo
Glândula
mamária
Figura 3.7 – Fluxo predominante de nutrientes (indicado pelas setas) nos rumi-
nantes em diferentes condições metabólicas (fisiológicas). Outros tecidos incluem,
principalmente, os tecidos nervoso, renal e vascular. TGI= trato gastrintestinal.
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Hidrólise
trans-11, cis-15
trans-11C18:1
convertido, então, em CLA (Figura 3.8).
Tecidos
C18:0 trans-11C18:1 cis-9, trans-11 CLA
periféricos 9-desaturase
Leite e carne
Figura 3.8 - Visão geral da relação entre o metabolismo ruminal dos lipídios e a origem do ácido
em maior proporção que o CLA. Nos tecidos do ruminante, é
poliinsaturados para vacênico é mais rápida que a conversão de
linoleico conjugado (CLA) depositado na carne e no leite dos ruminantes (adaptado de Tanaka, 2005).
produzem, como intermediário, ácido vacênico (trans 11-C18:1),
Bibliografia recomendada
ATTAIX, D. et al. Contribution of liver, skin and skeletal muscle to
whole-body protein synthesis in the young lamb. Br. J. Nutr., v.
60, p. 77-84, 1988.
ISBN: 978-85-7391-266-1
CDU 636.2/.3
636.2/.3.06
577:636.2/.3
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