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RCL 41229 2022 05 17

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RECLAMAÇÃO Nº 41.

229 - DF (2020/0332390-0)

RELATOR : MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE


RECLAMANTE : VANESSA DE ALMEIDA ALVARES DA SILVA
ADVOGADOS : MARCO ANTONIO DE ALMEIDA ALVARES DA SILVA - DF031209
DENISE DE ALMEIDA ANDRADE - DF036229
RECLAMADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS
TERRITORIOS
INTERES. : BANCORBRÁS ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIOS S.A
ADVOGADO : CARLOS LUIZ KUTIANSKI - DF006850
EMENTA

RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL. USURPAÇÃO DA COMPETÊNCIA DO SUPERIOR


TRIBUNAL DE JUSTIÇA. NÃO CONHECIMENTO DO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
PELA CORTE DE ORIGEM. JULGAMENTO QUE COMPETE AO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA, QUANDO NÃO EXERCIDO O JUÍZO DE RETRATAÇÃO. FUNDAMENTO DO
TRIBUNAL A QUO BASEADO EM JURISPRUDÊNCIA PACÍFICA DO STJ, MAS AFETADA À
CORTE ESPECIAL PARA REVISÃO, À LUZ DO CPC/2015. POSSIBILIDADE DE ALTERAÇÃO
DO ENTENDIMENTO. MANIFESTO DESCABIMENTO DO RECURSO. INEXISTÊNCIA.
USURPAÇÃO DA COMPETÊNCIA DESTE SUPERIOR TRIBUNAL. DEMONSTRAÇÃO.
RECLAMAÇÃO JULGADA PROCEDENTE.
1. A matéria controvertida se refere à possibilidade de o Tribunal de origem denegar o
processamento do agravo em recurso especial lá interposto, com fundamento no seu
manifesto descabimento, a incorrer ou não na usurpação da competência do Superior
Tribunal de Justiça.
2. A interposição do agravo em recurso especial – por não se submeter a juízo de
admissibilidade, mas tão somente a juízo de retratação, nos termos do art. 1.042, § 4º, do
CPC/2015 – impõe a subida dos autos a esta Corte Superior, seja pela ausência de
retratação da decisão de inadmissão do apelo especial (ascendendo-se o mencionado
agravo), seja pela efetiva retratação (ascendendo-se o recurso especial antes inadmitido).
Ressalve-se, contudo, o entendimento da Corte Especial deste Superior Tribunal que,
guardadas as devidas proporções, possibilita, excepcionalmente, ao tribunal recorrido obstar
o seguimento do agravo em recurso especial, quando configurado evidente erro grosseiro e,
desse modo, o seu manifesto descabimento, sem que isso caracterize usurpação de
competência.
3. O Tribunal de origem, na espécie, não conheceu do agravo em recurso especial interposto
pela ora reclamante sob o fundamento de ser manifestamente incabível, porquanto opostos
embargos de declaração inicialmente, contrariando o entendimento pacífico, no sentido de
que o único recurso admissível contra a decisão do tribunal recorrido que inadmite o recurso
especial é o agravo do art. 1.042 do CPC/2015. Assentou, nesse contexto, que não havia de
se conhecer do agravo, em virtude da preclusão consumativa e da contrariedade ao princípio
da unicidade recursal.
4. A despeito dessa cognição – relativa ao descabimento dos declaratórios – se coadunar
com a jurisprudência iterativa deste Superior Tribunal, saliente-se que a temática foi afetada
à Corte Especial pela Terceira Turma, nos autos do AgInt no AREsp n. 1.216.265/SE, na
sessão de julgamento realizada em 10/3/2020, a fim de definir se o atual entendimento
jurisprudencial, formado à luz do diploma processual revogado (CPC/1973), ainda subsiste
sob a égide do CPC/2015 (notadamente devido à redação do seu art. 1.022, no sentido de
serem cabíveis embargos de declaração contra qualquer decisão, diversamente do que
dispunha o código revogado).
5. Ademais, na eventualidade de se modificar a jurisprudência, passando-se a admitir,
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também, a oposição de embargos declaratórios ao julgado do tribunal recorrido que inadmite
o recurso especial, como regra, deve ser afastada a preclusão consumativa e a violação ao
princípio da unicidade recursal (unirrecorribilidade), sobretudo porque este preceito é
excepcionado pela oposição dos declaratórios contemporaneamente, ou antes do seu
julgamento, à interposição do recurso comum.
6. Portanto, em razão da possibilidade de alteração do entendimento até o momento
pacificado, não há mais falar em erro grosseiro, pelo menos até ulterior manifestação da
Corte Especial sobre o tema, caracterizando-se, desse modo, a usurpação da competência
do Superior Tribunal de Justiça por parte da Corte local – ao não conhecer do agravo em
recurso especial da reclamante –, a ensejar a procedência da reclamação ora em apreço,
nos moldes dos arts. 105, I, f, da CF/1988; 988, I, do CPC/2015; e 187 do RISTJ.
7. Reclamação julgada procedente.
ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, acordam
os Ministros da Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, julgar
procedente a reclamação a fim de cassar a decisão do Desembargador Presidente do
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios que, no Processo n.
0722342-31.2019.8.07.0000, não conheceu do agravo em recurso especial interposto por
Vanessa de Almeida Álvares da Silva, e determinar, em consequência, a remessa do feito ao
Superior Tribunal de Justiça para o julgamento desse agravo, oportunamente, nos termos do
voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Moura Ribeiro, Nancy Andrighi, Raul Araújo, Paulo de Tarso
Sanseverino, Maria Isabel Gallotti, Ricardo Villas Bôas Cueva e Marco Buzzi votaram com o
Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Luis Felipe Salomão.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Antonio Carlos Ferreira.
Brasília, 11 de maio de 2022 (data do julgamento).

MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Relator

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RECLAMAÇÃO Nº 41.229 - DF (2020/0332390-0)

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE:

Trata-se de reclamação ajuizada por Vanessa de Almeida Álvares da Silva,


com pedido liminar, amparada nos arts. 105, I, f, da CF/1988; 988 do CPC/2015 e 187 do
RISTJ, contra decisão prolatada pelo Desembargador Presidente do Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e dos Territórios, que não conheceu do agravo em recurso especial da
reclamante, violando, assim, a competência do Superior Tribunal de Justiça.

Em sua petição inicial, aponta a reclamante que, ante a decisão genérica de


inadmissão do recurso especial por ela interposto, se viu obrigada à oposição de
embargos de declaração, dos quais não se conheceu, levando à subsequente interposição
do agravo em recurso especial. Tudo isso dentro do prazo de 15 (quinze) dias úteis, não
havendo falar em intempestividade do agravo, ao revés do que ficou consignado na
decisão da origem que dele não conheceu.

Obtempera que a inadmissão do agravo em recurso especial por


intempestividade caracteriza ato teratológico e insubsistente, que invade a competência do
Superior Tribunal de Justiça, porquanto em descompasso com a jurisprudência desta
Corte Superior, no sentido de ser cabível, excepcionalmente, embargos de declaração do
julgado que denega o seguimento do recurso especial, quando genérica a decisão.

Aduz, relativamente ao pleito liminar, a necessidade de suspensão do ato


judicial impugnado, a fim de evitar danos irreparáveis à reclamante, haja vista a promoção
do Cumprimento Provisório de Sentença n. 0735917-65.2020.8.07.0001 (relacionado ao
Agravo de Instrumento n. 0722342-31.2019.8.07.0000) pela parte beneficiária da decisão
reclamada Bancorbrás Administradora de Consórcios S.A.

Nesse contexto, pugna pelo deferimento do pedido liminar, suspendendo a


realização de qualquer ato expropriatório no referido cumprimento de sentença e, no
mérito, postula a cassação da decisão judicial rechaçada.

O pedido liminar foi deferido por esta relatoria (e-STJ, fls. 677-682),
determinando "a suspensão da decisão que inadmitiu o processamento do agravo em

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recurso especial interposto pela ora reclamante, nos autos de n.
0722342-31.2019.8.07.0000, até a decisão final de mérito da presente reclamação".

O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios encaminhou ofício


contendo a íntegra do feito originário (e-STJ, fls. 688-1.292).

Contestação às fls. 1.299-1.306 (e-STJ), na qual a parte beneficiária da


decisão impugnada defende a improcedência da reclamação, tendo em vista o
descabimento da oposição de embargos de declaração à decisão do Tribunal de origem
que, em juízo de admissibilidade, denega o processamento do recurso especial, porquanto
cabível apenas o agravo em recurso especial contra tal julgado. Além disso, aponta não
ser o caso de se relativizar esse entendimento, uma vez que a decisão de inadmissão do
apelo especial não se revela genérica.

Manifestação do Ministério Público Federal pela procedência da reclamação


(e-STJ, fls. 1.310-1.314).

É o relatório.

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RECLAMAÇÃO Nº 41.229 - DF (2020/0332390-0)

VOTO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE (RELATOR):

Registre-se, de início, que a matéria controvertida se refere à possibilidade


de o Tribunal de origem denegar o processamento do agravo em recurso especial lá
interposto, com fundamento no seu manifesto descabimento, a incorrer ou não na
usurpação da competência do Superior Tribunal de Justiça.

A propósito, a presente reclamação encontra supedâneo nos arts. 105, I, f,


da CF/1988; 988, I, do CPC/2015; e 187 do RISTJ.

Do exaurimento de instância

Não se desconhece, preliminarmente, a exigência prevista no art. 187 do


RISTJ de esgotamento da instância ordinária para a admissão da reclamação destinada à
preservação da competência do Superior Tribunal de Justiça, como na espécie.

Tal previsão, contudo, não caracteriza óbice ao conhecimento desta


reclamação, tendo em vista que, do que se depreende dos arts. 1.030, caput, e 1.042,
caput, ambos do CPC/2015, a prestação jurisdicional ordinária, em relação ao recurso
especial, esgota-se com o juízo de admissibilidade do presidente ou vice-presidente do
tribunal recorrido e, quanto ao correlato agravo, esgota-se com o exercício, positivo ou
negativo, do juízo de retratação.

No caso em exame, foi inadmitido o recurso especial interposto pela ora


reclamante e, interposto o sucessivo agravo, foi também inadmitido na origem, estando,
portanto, devidamente exaurida a instância ordinária.

Da possibilidade de negativa de seguimento do agravo do art. 1.042 do


CPC/2015 pelo tribunal recorrido

Com efeito, a competência do Superior Tribunal de Justiça para o julgamento


do agravo em recurso especial advém, indiretamente, do próprio texto constitucional, que
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de forma expressa lhe atribui a competência para o julgamento do recurso especial –
lastreado nas hipóteses do inciso III do art. 105 da Carta Magna – que lhe antecede.

Sem embargo, a lei federal infraconstitucional atribui ao presidente ou


vice-presidente do tribunal recorrido a competência, para a realização de um juízo prévio
de admissibilidade do recurso especial, a fim de: i) negar-lhe seguimento, quando em
conformidade com recurso especial repetitivo (art. 1.030, I, b, do CPC/2015); ou ii)
inadmitir o seu processamento (art. 1.030, V, do CPC/2015), por não estarem presentes
os pressupostos recursais gerais e constitucionais (Súmula 123/STJ).

Tal não ocorre, porém, com o agravo interposto com o propósito exclusivo
de ascensão do correlato recurso especial a esta Corte Superior, pois, segundo assenta o
art. 1.042, § 4º, do CPC/2015, "após o prazo de resposta, não havendo retratação, o
agravo será remetido ao tribunal superior competente".

Não há, portanto, que se cogitar de um juízo de admissibilidade do agravo do


art. 1.042 do CPC/2015, mas tão somente de um juízo de retratação, que, caso positivo,
ocasionará a admissão do apelo extremo anteriormente denegado e a consequente
submissão do feito ao Superior Tribunal de Justiça.

Como se vê, a subida do agravo em recurso especial ao Superior Tribunal


de Justiça independe de estarem demonstrados os seus pressupostos recursais,
deliberação esta que se reserva exclusivamente a esta Corte Superior.

Caso o legislador pretendesse submeter o agravo do art. 1.042 do


CPC/2015, também, a um juízo prévio de admissibilidade, teria feito expressamente, tal
como ocorre com os recursos especial e extraordinário. Quedando-se silente, contudo,
interpreta-se como um silêncio eloquente (intencional) do legislador.

Em igual vertente cognitiva, Humberto Theodoro Júnior assevera que ao


presidente ou vice-presidente do tribunal de origem cabe tão somente a realização do juízo
de retratação, sendo que não o fazendo, lhe é descabido "obstar o agravo, ainda que tenha
sido interposto extemporaneamente, pois o juízo de admissibilidade é de competência
exclusiva da Corte Superior. Se o recurso for obstado na origem, caberá Reclamação para
o STF ou STJ, por usurpação de competência (art. 988, I, do CPC/2015)" – (Curso de
direito processual civil, volume 3: execução forçada... 54ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2021, p. 986).

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Adotando a mesma perspectiva, lecionam Fredie Didier Jr. e Leonardo
Carneiro da Cunha:

Interposto o agravo em recurso especial ou extraordinário,


ultrapassado o prazo para contrarrazões, apresentadas ou não, e não
havendo retratação, os autos devem ser encaminhados ao STJ ou ao
STF, conforme o caso.
Não há, no agravo em recurso especial ou extraordinário, duplo juízo
de admissibilidade. Não há, em outras palavras, juízo provisório de
admissibilidade. Cabe ao presidente ou vice-presidente do tribunal de
origem apenas processar o agravo, remetendo os autos ao STF ou
STJ, conforme o caso, para que seja lá examinado.
Ainda que o agravo seja absolutamente inadmissível, não é
possível ao presidente ou vice-presidente do tribunal de
origem negar-lhe seguimento. Cumpre-lhe apenas determinar a
remessa dos autos ao tribunal superior competente. Nesse
sentido, aplica-se o enunciado 727 da Súmula do STF. Quer isso dizer
que a competência para examinar a admissibilidade do agravo em
recurso especial ou extraordinário é privativa do tribunal superior.
[...]
Caso o presidente ou vice-presidente do tribunal de origem
inadmita o agravo em recurso especial ou extraordinário, cabe
reclamação por usurpação de competência (art. 988, I, CPC).
Nesse sentido, o enunciado 685 do Fórum Permanente de
Processualistas Civis: "Cabe reclamação, por usurpação de
competência do Tribunal Superior, contra decisão do tribunal local que
não admite agravo em recurso especial ou em recurso extraordinário".
(Curso de direito processual civil: o processo civil nos tribunais,
recursos, ações de competência originária de tribunal e querela
nullitatis, incidentes de competência originária de tribunal. 18ª ed.
Salvador: Editora JusPodivm, 2021, p. 487-488, sem grifo no original).

Na mesma linha raciocínio, já se manifestou a Primeira Seção deste


Superior Tribunal (sem grifo no original):

RECLAMAÇÃO. COMPETÊNCIA DO STJ. USURPAÇÃO.


CONFIGURAÇÃO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. IRREGULAR
PROCESSAMENTO. DECISÃO DE INADMISSIBILIDADE QUE NÃO
APLICOU PRECEDENTE EXARADO SOB O REGIME DOS RECURSOS
REPETITIVOS. TEMA AFETADO À SISTEMÁTICA DA REPERCUSSÃO
GERAL PELO STF. SOBRESTAMENTO DO FEITO. 1. Nos termos do
art. 105, I, "f", da CF c/c o art. 988 do CPC/2015 e do art. 187 do
RISTJ, cabe reclamação da parte interessada para preservar a
competência do Tribunal, para garantir a autoridade das suas
decisões, para observância de enunciado de súmula vinculante e de
decisão do STF em controle concentrado de constitucionalidade e
para observância de acórdão proferido em julgamento de incidente de
resolução de demandas repetitivas ou de incidente de assunção de
competência.
2. Nos termos do art. 1.042, § 4º, do CPC/2015, a competência
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para o julgamento de agravo em recurso especial é do Superior
Tribunal de Justiça.
3. Não sendo o recurso especial inadmitido com base em
precedente exarado sob o regime dos recursos repetitivos, há
a configuração de usurpação de competência do STJ quando o
Tribunal de origem profere decisão em que julga o agravo em
recurso especial que tinha sido corretamente interposto.
4. Apesar de já ter sido objeto de julgamento pelo STJ sob a
sistemática dos recursos repetitivos e de existir Súmula desta Corte
sobre a questão (Súmula 421), o tema do recurso especial interposto
na origem - não são devidos honorários advocatícios à Defensoria
Pública quando ela atua contra a pessoa jurídica de direito público à
qual pertença - foi afetado pelo STF à sistemática da repercussão
geral (Tema 1.002). 5. Não obstante o reconhecimento de usurpação
de competência do STJ, por medida de economia processual e para
evitar decisões dissonantes entre a Corte Suprema e o Superior
Tribunal de Justiça, o recurso que trata da mesma controvérsia
submetida ao rito da repercussão geral deve aguardar no Tribunal de
origem a solução no recurso extraordinário afetado, viabilizando,
assim, o juízo de conformação.
6. Somente depois de realizada essa providência, que representa o
exaurimento da instância ordinária, é que o recurso especial, se for o
caso, deverá ser encaminhado a este Órgão Superior para que
possam ser analisadas as questões jurídicas nele suscitadas e que
não ficaram prejudicadas pelo novo pronunciamento do Tribunal a
quo.
7. Devem, portanto, os autos originários permanecer na origem para
que, após a publicação do acórdão a ser proferido no recurso com
repercussão geral reconhecida, o Tribunal a quo observe o disposto
nos arts. 1.039 e 1.040 do CPC/2015.
8. Reclamação julgada procedente.
(Rcl 35.027/AM, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 09/10/2019, DJe 05/11/2019)

Em situação semelhante à que ora se examina, a Segunda Seção desta


Corte Superior, no âmbito de agravo interno, embora seguindo a mesma acepção jurídica,
indeferiu liminarmente a petição inicial de reclamação ajuizada contra decisão do Tribunal
a quo que inadmitiu o agravo em recurso especial com base em intempestividade. Isso
sob o fundamento de que os declaratórios opostos ao julgado de inadmissibilidade do
recurso especial não possuem o condão de interromper o prazo do agravo, porquanto
manifestamente incabíveis. Reconheceu-se, na oportunidade, a carência de interesse
processual, diante da ausência de utilidade no provimento jurisdicional requerido.

A propósito:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NA RECLAMAÇÃO.


AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL NÃO CONHECIDO PELO
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TRIBUNAL DE ORIGEM POR INTEMPESTIVIDADE. USURPAÇÃO DE
COMPETÊNCIA. AUSÊNCIA DE PROBABILIDADE DE ÊXITO
RECURSAL. OPOSIÇÃO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO CONTRA
A DECISÃO DE INADMISSIBILIDADE DO RECURSO ESPECIAL.
PRAZO RECURSAL. NÃO INTERRUPÇÃO. INTERESSE DE AGIR.
AUSÊNCIA DE UTILIDADE.
1. Cuida-se de reclamação que aponta usurpação de competência
deste STJ pelo Tribunal de origem, que não conheceu de agravo em
recurso especial devido à sua intempestividade.
2. Em que pese, a princípio, esteja caracterizada a usurpação de
competência, carece o reclamante do necessário interesse de agir,
tendo em vista a ausência de probabilidade de êxito recursal. Isso
porque, conforme a pacífica jurisprudência desta Corte, o único
recurso cabível da decisão de admissibilidade do recurso especial é o
respectivo agravo, razão pela qual a interposição de embargos de
declaração não tem o condão de interromper o prazo recursal.
3. O interesse de agir repousa na verificação da utilidade e da
necessidade do pronunciamento judicial pleiteado. Nessa linha,
eventual acolhimento da reclamação não traria ao reclamante
qualquer utilidade, pois sua situação processual, do ponto de vista
prático, não se tornaria melhor com a subida do agravo em recurso
especial.
4. Agravo interno não provido.
(AgInt na Rcl 37.442/TO, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA
SEÇÃO, julgado em 14/05/2019, DJe 16/05/2019)

Impende registrar, ainda, que a Corte Especial do Superior Tribunal de


Justiça, em contexto análogo, no âmbito de recurso ordinário de competência do Supremo
Tribunal Federal (que, também, não se sujeita a juízo de admissibilidade, nos moldes do
art. 1.028, § 3º, do CPC/2015), já adotou entendimento semelhante, mitigando a regra da
impossibilidade de se negar trânsito ao recurso de competência do tribunal
hierarquicamente superior, sem que isso configure usurpação de competência, quando
constatado o seu manifesto descabimento, a caracterizar a existência de erro grosseiro.
Isso em consonância com o que vem sendo decidido pela Suprema Corte.

A título exemplificativo, confira-se o julgado da Corte Especial, assim


ementado:

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ORDINÁRIO NÃO CONHECIDO.


INTERPOSIÇÃO CONTRA ACÓRDÃO DO STJ PROFERIDO FORA DO
ROL DO ART. 102, II, DA CF. NÃO CABIMENTO. ERRO GROSSEIRO.
PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE. INAPLICABILIDADE. MANUTENÇÃO
DA DECISÃO QUE NÃO CONHECEU DO RECURSO ORDINÁRIO.
PRECEDENTE DO STF.
1. O Supremo Tribunal Federal tem decidido pela flexibilização do
enunciado da Súmula 727/STF nos casos de recursos manifestamente

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incabíveis, permitindo aos tribunais que não encaminhem à Corte
Maior recursos inegavelmente errôneos, sem que isso importe em
usurpação de sua competência.
2 A interposição de recurso ordinário contra acórdão que nega
provimento a recurso ordinário em habeas corpus não se enquadra
em nenhuma das hipóteses taxativamente previstas no art. 102, inciso
II, alínea "a", da Constituição Federal, a evidenciar a ocorrência de
erro grosseiro, o que impede a aplicação do princípio da fungibilidade
recursal e possibilita seja negado trânsito ao recurso pelo Superior
Tribunal de Justiça.
3. Agravo interno não provido.
(AgRg no RO no RHC 115.240/PR, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA, CORTE ESPECIAL, julgado em 04/03/2020, DJe
09/03/2020)

Nesses termos, conclui-se que a interposição do agravo em recurso


especial – por não se submeter a juízo de admissibilidade, mas tão somente a juízo
de retratação, segundo o art. 1.042, § 4º, do CPC/2015 – impõe a subida dos autos a
esta Corte Superior, seja pela ausência de retratação da decisão de inadmissão do
apelo especial (ascendendo-se o mencionado agravo), seja pela efetiva retratação
(ascendendo-se o recurso especial antes inadmitido).

Ressalve-se, entretanto, o supracitado entendimento da Corte


Especial que, guardadas as devidas proporções, possibilita, excepcionalmente, ao
tribunal recorrido obstar o seguimento do agravo em recurso especial, quando
configurado erro grosseiro e, desse modo, o seu manifesto descabimento, sem que
isso caracterize usurpação de competência.

No caso em apreço, o TJDFT, utilizando-se do entendimento pacífico desta


Corte Superior – no sentido de a decisão de inadmissão do recurso especial do tribunal
recorrido ser impugnável somente via agravo em recurso especial –, asseverou que a
anterior oposição dos embargos declaratórios obstaria o conhecimento do mencionado
agravo (ainda que interposto no prazo de 15 dias úteis do julgado de inadmissão do apelo
especial), ante a ocorrência da preclusão consumativa e o malferimento ao princípio da
unicidade recursal (unirrecorribilidade).

De fato, quanto ao cabimento exclusivo do agravo em recurso especial, em


regra, o entendimento da Corte de origem encontra-se em conformidade com a
jurisprudência pacífica deste Tribunal.

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A esse respeito, citem-se, ilustrativamente, os seguintes julgados: AgInt nos
EDcl no AREsp 1.950.180/MS, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado
em 13/12/2021, DJe 15/12/2021; AgInt no AREsp 1.891.701/RJ, Rel. Ministro Francisco
Falcão, Segunda Turma, julgado em 7/12/2021, DJe 10/12/2021; AgInt no AREsp
1.953.324/CE, Rel. Ministro Manoel Erhardt (Desembargador convocado do TRF da 5ª
Região), Primeira Turma, julgado em 29/11/2021, DJe 1º/12/2021; e AgInt no AREsp
1.477.958/RS, Rel. Ministro Moura Ribeiro, Terceira Turma, julgado em 19/8/2019, DJe
21/8/2019.

Em razão desse fundamento, não haveria de se cogitar da ocorrência de


usurpação de competência, a demandar a extinção da reclamação sem resolução do
mérito, diante da suposta convergência de entendimentos entre a instância ordinária e o
Superior Tribunal de Justiça, sobretudo quanto ao clarividente descabimento do agravo.
Inexistiria, assim, interesse processual da parte reclamante, em virtude da inutilidade da
reclamação, tendo em vista que o agravo, mesmo remetido a esta Corte Superior, estaria
fadado ao insucesso.

Saliente-se, todavia, que a temática – relativa ao manifesto descabimento de


oposição de embargos de declaração ao julgado do Tribunal de origem que inadmitiu o
recurso especial – foi afetada à Corte Especial pela Terceira Turma, nos autos do AgInt no
AREsp n. 1.216.265/SE, na sessão de julgamento realizada em 10/3/2020, a fim de definir
se o atual entendimento jurisprudencial, formado à luz do diploma processual revogado
(CPC/1973), ainda subsiste sob a égide do CPC/2015 (notadamente em virtude da
redação do seu art. 1.022, no sentido de serem cabíveis embargos de declaração contra
qualquer decisão, diversamente do que dispunha o código revogado).

Caso ocorra a modificação do entendimento hoje subsistente,


reconhecendo-se o cabimento dos embargos declaratórios à decisão do tribunal recorrido
que inadmitir o recurso especial, há de se afastar a preclusão consumativa exarada no
julgado de não conhecimento do agravo.

Aliás, corrobora a inexistência de preclusão consumativa o disposto no art.


1.024, § 5º, do CPC/2015, que, implicitamente, admite a interposição do recurso comum
contemporaneamente à oposição dos embargos de declaração, ou antes do julgamento
destes, contra o mesmo julgado impugnado.

Documento: 2162247 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/05/2022 Página 11 de 4
Também não subsiste a apontada contrariedade ao princípio da unicidade
recursal (unirrecorribilidade), porquanto defronte, no presente caso, de uma exceção a tal
preceito, a qual, segundo leciona Humberto Theodoro Júnior, "dá-se contra a decisão
dúbia, contraditória ou lacunosa, porque além do recurso comum caberá também o de
embargos de declaração (art. 1.022, caput), cuja interposição interromperá o prazo do
primeiro (art. 1.026). Na realidade, porém, os dois recursos não são simultâneos, e, sim
sucessivos, tendo cada um deles objetivos diversos" (Curso de direito processual civil,
volume 3: execução forçada... 54ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021, p. 814).

Em tal conjuntura, há de ser reconhecida a utilidade desta reclamação e,


portanto, o interesse processual da reclamante, a suplantar o descabimento manifesto do
agravo em recurso especial e, desse modo, eventual erro grosseiro, dada a possibilidade
de alteração da jurisprudência vigente e, em decorrência disso, de superação da
inadmissibilidade do agravo em recurso especial em virtude da anterior oposição de
embargos de declaração.

Portanto, não se evidenciando o alegado erro grosseiro, constata-se ter o


Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios incorrido, de fato, em usurpação da
competência do Superior Tribunal de Justiça, revelando-se impositiva a procedência da
reclamação ora em apreço, nos moldes dos arts. 105, I, f, da CF/1988; 988, I, do
CPC/2015; e 187 do RISTJ, com a respectiva cassação da decisão do desembargador
presidente que não conheceu do agravo em recurso especial interposto por Vanessa de
Almeida Álvares da Silva, no Processo n. 0722342-31.2019.8.07.0000, implicando a
remessa do feito a esta Corte Superior para oportuno julgamento daquele recurso.

Conclusão

Ante o exposto, julgo procedente a reclamação a fim de cassar a decisão do


Desembargador Presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios,
que, no Processo n. 0722342-31.2019.8.07.0000, não conheceu do agravo em recurso
especial interposto Vanessa de Almeida Álvares da Silva, e determinar, em consequência,
a remessa do feito ao Superior Tribunal de Justiça para o julgamento desse agravo,
oportunamente.

Condeno a Bancorbrás Administradora de Consórcios S.A. ao pagamento de

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honorários sucumbenciais aos advogados da parte reclamante, os quais fixo em 10%
sobre o valor atribuído à causa, nos termos do art. 85, § 2º, do CPC/2015.

É o voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA SEÇÃO

Número Registro: 2020/0332390-0 PROCESSO ELETRÔNICO Rcl 41.229 / DF

Números Origem: 07223423120198070000 07311623620198070001 07359176520208070001


7223423120198070000 7311623620198070001 7359176520208070001

PAUTA: 11/05/2022 JULGADO: 11/05/2022

Relator
Exmo. Sr. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. JOSÉ BONIFÁCIO BORGES DE ANDRADA
Secretária
Bela. ANA ELISA DE ALMEIDA KIRJNER

AUTUAÇÃO
RECLAMANTE : VANESSA DE ALMEIDA ALVARES DA SILVA
ADVOGADOS : MARCO ANTONIO DE ALMEIDA ALVARES DA SILVA - DF031209
DENISE DE ALMEIDA ANDRADE - DF036229
RECLAMADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITORIOS
INTERES. : BANCORBRÁS ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIOS S.A
ADVOGADO : CARLOS LUIZ KUTIANSKI - DF006850

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Segunda Seção, por unanimidade, julgou procedente a reclamação a fim de cassar a
decisão do Desembargador Presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios
que, no Processo n. 0722342-31.2019.8.07.0000, não conheceu do agravo em recurso especial
interposto por Vanessa de Almeida Álvares da Silva, e determinar, em consequência, a remessa do
feito ao Superior Tribunal de Justiça para o julgamento desse agravo, oportunamente, nos termos
do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Moura Ribeiro, Nancy Andrighi, Raul Araújo, Paulo de Tarso
Sanseverino, Maria Isabel Gallotti, Ricardo Villas Bôas Cueva e Marco Buzzi votaram com o Sr.
Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Luis Felipe Salomão.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Antonio Carlos Ferreira.

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