Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Avaliação Psicológica E Identificação Das Altas Habilidades/Superdotação Na Vida Adulta

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 17

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/357324570

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E IDENTIFICAÇÃO DAS ALTAS


HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO NA VIDA ADULTA

Article in Aprender - Caderno de Filosofia e Psicologia da Educação · December 2021


DOI: 10.22481/aprender.i26.10039

CITATION READS

1 1,066

3 authors, including:

Solange Muglia Wechsler


Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas)
221 PUBLICATIONS 1,923 CITATIONS

SEE PROFILE

All content following this page was uploaded by Solange Muglia Wechsler on 22 April 2022.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E IDENTIFICAÇÃO DAS ALTAS
HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO NA VIDA ADULTA

Karina Nalevaiko Rocha


Karina Inês Paludo
Solange Muglia Wechsler

RESUMO: O processo de identificação e avaliação das AH/S estabelece-se como um desafio e de suma
importância em qualquer fase da vida, sobretudo na vida adulta, permitindo encaminhamentos e intervenções
adequadas. Considerando a relevância do tema e a carência de produções nacionais, este estudo teve como objetivo
descrever e analisar um estudo de caso de avaliação de AH/S de uma paciente adulta da cidade de Curitiba-PR. A
avaliação foi composta por instrumentos psicológicos quantitativos e instrumentos qualitativos para investigação
da superdotação, além de informações advindas da família. Os dados revelam altos índices nos testes de
desempenho de inteligência, memória e atenção. Quanto aos aspectos emocionais, a avaliada demonstra a presença
de certo nível de ansiedade, baixa autoestima e postura autocrítica. Quanto aos aspectos de criatividade, apresenta
estilo preferencial inconformista transformador. No que tange ao perfil das AH/S, a avaliada evidenciou habilidade
acima da média, envolvimento com a tarefa e criatividade, o que corrobora que ela apresenta comportamentos de
superdotação, nos pressupostos teóricos de Renzulli (2014). Os dados levantados propiciaram à avaliada maior
autoconhecimento e ressignificação de crenças a seu próprio respeito, fortalecendo sua autoestima, favorecendo
encaminhamentos e direcionamentos na vida pessoal e profissional, contribuindo com o desenvolvimento,
expressão e valorização do seu potencial.

PALAVRAS-CHAVE: Altas habilidades/superdotação; Adultos; Identificação; Avaliação Psicológica.

PSYCHOLOGICAL ASSESSMENT AND IDENTIFICATION OF GIFTEDNESS IN ADULT LIFE

ABSTRACT: The process of identification and evaluation of the High Abilities/Giftedness is settled as a challenge
of major importance in any stage of life, especially in adult life, allowing adequate referrals and interventions.
Considering the relevance of the theme and the lack for national productions, this study aimed to describe and
analyze an AH/S evaluation case study of an adult patient in the city of Curitiba-PR. The evaluation was composed
of quantitative and qualitative psychological instruments for investigation of the giftedness, in addition to
information from the family. The data showed high rate in the intelligence, memory and attention performance
tests. About the emotional aspects, the evaluated shows a certain level of anxiety, low self-esteem and self-critical
posture. In terms of creativity aspects, shows preference for nonconformist and transformative style. As for the
AH/S profile, the evaluated revealed ability above average, engagement with the task and creativity, what
corroborates the presented behaviors of giftedness in the theoretical assumptions of Renzulli (2014). The gathered
data provided the evaluated with greater self-knowledge and resignification of beliefs, strengthening her self-
esteem, favoring routing and directions in her personal and professional life, contributing to the development,
expression and valorization of her potential.

KEYWORDS: Giftedness; Adults; Psychological Identification; Assessment.


Doutoranda em Psicologia pela PUC-Campinas. Email: kanalevaiko@gmail.com. Orcid: 0000-0002-1385-7498.

Doutora e Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professora da Pontifícia Universidade
Católica-Paraná (PUC-PR) e Diretora Executiva do Talentos Instituto da Criança. E-mail: karina_paludo@hotmail.com.
Orcid: 0000-0002-4685-4525.

Doutora em Psicologia e professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUC-Campinas. E-mail:
wechsler@lexxa.com.br. Orcid: 0000-0002-9757-9113.
APRENDER – Cad. de Filosofia e Psic. da Educação Vitória da Conquista Ano XV n. 26 p. 215-230 Jul./Dez. 2021

ISSN online: 2359-246X


216 Karina Nalevaiko Rocha; Karina Inês Paludo; Solange Muglia Wechsler

Introdução

As altas habilidades/superdotação (AH/S) versam sobre a condição humana na qual o sujeito


apresenta um potencial/desempenho acima do que espera para sua faixa etária (ALENCAR; FLEITH,
2001). Na perspectiva de Renzulli (2004), compreende-se o comportamento de superdotação como o
resultado da intersecção entre três anéis, a saber: habilidade acima da média, criatividade e envolvimento
com a tarefa.
A habilidade acima da média abarca tanto a habilidade geral quanto a habilidade específica. A
primeira, habilidade geral, refere-se à “capacidade de utilizar o pensamento abstrato ao processar
informação e de integrar experiências que resultem em respostas apropriadas e adaptáveis a novas
situações” (VIRGOLIM, 2007, p. 33). A segunda, habilidade específica, por sua vez, relaciona-se à “[...]
habilidade de aplicar várias combinações das habilidades gerais a uma ou mais áreas especializadas do
conhecimento ou do desempenho humano, como dança, fotografia, liderança, matemática, composição,
musical [...]” (Ibidem, p. 33). O envolvimento com a tarefa pode ser entendido como motivação,
vinculação e empenho dedicados em uma área de interesse, evidenciado por autoconfiança, perseverança
e dedicação (VIRGOLIM, 2007). A criatividade versa sobre a capacidade de apresentar ideias originais,
divergentes, além de curiosidade e flexibilidade de pensamento (ALENCAR; FLEITH, 2001).
Compreende-se a relação direta entre superdotação e inteligência. Durante muito tempo, o
conceito de inteligência atrelava-se à interpretação unidimensional, reduzindo-se a altos escores nos testes
padronizados. A superdotação, deste modo, era definida e caracterizada neste molde. Entretanto, o
avanço da ciência ampliou o entendimento sobre o constructo de inteligência para uma visão
multidimensional, levando em consideração, inclusive, as diferentes influências na constituição do sujeito
(ALENCAR, FLEITH, 2001; PANZERI, 2012; PALUDO, 2014).
Neste sentido, pode-se admitir que inteligente não é mais exclusivamente a pessoa que apresenta
altos escores nos testes de coeficiente intelectual (QI), aceitando que um mesmo sujeito pode ter uma
habilidade superior em uma área do conhecimento, posicionar-se na média em outras, ou ainda,
apresentar dificuldades em quaisquer campos do saber.
A concepção multifatorial de inteligência acarretou mudanças na maneira se compreender a
superdotação. Tem-se a superação da supervalorização do domínio cognitivo em detrimento de outros
aspectos, reconhecendo a influência de questões emocionais, de personalidade e ambientais no processo
de formação e manifestação do potencial.
O entendimento reformulado de inteligência traz um impacto significativo no modo de se
entender, conceituar, avaliar e identificar a superdotação. O estudo das AH/S ao longo de décadas
permitiu uma compreensão ampliada sobre o processo de identificação, considerando aspectos que vão
além de medidas de desempenho, como por exemplo a análise quantitativa do QI, aferido pelos
Relato de experiência - Avaliação psicológica e identificação das altas habilidades/superdotação na vida adulta 217

tradicionais testes de inteligência (CAMPOS et al, p2019; HERTZOG et al, 2018). Além disso, passa-se a
considerar aspectos do seu funcionamento emocional e social, habilidades sociais, inteligência emocional
e seus potenciais, chamados de forças e virtudes (PFEIFFER, 2018). Desta forma, avaliações atuais
tendem a considerar diferentes instrumentos e construtos, uma vez que possibilitam melhor compreensão
do potencial e do funcionamento do indivíduo, além de direcionar encaminhamentos e diretrizes para
intervenções adequadas (COSTA; LUBART, 2016).
Há muitos desafios para a identificação de AH/S na idade adulta, no entanto é possível estabelecer
alguns domínios, como: grande produção de ideias, busca de soluções próprias e inovadoras para os
problemas; alta capacidade de análise e crítica, independência de pensamento; grande produção de ideias;
concentração prolongada numa atividade de interesse; consciência de si mesmo e de suas diferenças;
desgosto com a rotina; gosto pelo desafio; habilidade em áreas específicas; interesse por assuntos e temas
complexos e persistência perante dificuldades inesperadas (PÉREZ, 2008). Assim, considerando as
AH/S um tema amplo, heterogêneo, com muitos domínios e diferentes formas de manifestação em todas
as fases de desenvolvimento humano, constata-se que o processo de identificação é complexo e muitas
vezes, negligenciado durante toda a trajetória escolar e acadêmica (BRODY, 2017).
A ausência de avaliação e intervenção precoce pode não oferecer propostas e um atendimento
diferenciado que possam atender as necessidades específicas de desenvolvimento das AH/S, acarretando
na inibição de seu potencial. Ali e Rafi (2016) o denominam de sub-realizadores, ou seja, tratam-se de
superdotados que têm uma grande diferença entre potencial e desempenho, ou seja, suas habilidades não
se desenvolveram em talentos efetivamente. Deve-se considerar que além dos prejuízos em aspectos
cognitivos, relacionados a um desempenho inferior em relação às capacidades de raciocínio,
processamento de informação e criatividade, há também prejuízos emocionais, ou seja, o superdotado
poderá revelar sentimentos de baixa autoestima, inferioridade, desmotivação e propósito para realizar
determinadas atividades. Mosquera, Stobäus e Freitas (2013, p. 404) sugere a existência de dois tipos de
adultos com altas habilidades/superdotação: os superdotados adaptados e os não-adaptados, esta
diferenciação cria a grande expectativa de que é necessário educar estas pessoas desde crianças, para que
possam ter um melhor encaminhamento em suas vidas desde cedo.
Pérez (2008) ressalta que as características da superdotação permanecem presentes na vida adulta
e, ora são percebidos como atributos ora como defeitos, no entanto, superdotados adultos relatam o
alívio do reconhecimento e a angústia do não reconhecimento que se acomodam na percepção do
assincronismo pessoa-sociedade, fundamental para compreender se e como se constrói a identidade
como superdotado, muitas vezes tentando suavizar, com o conforto na “normalidade”.
Desta forma, é de suma importância a identificação das AH/S em qualquer momento da vida,
pois permite encaminhamentos e intervenções adequadas. Neste sentido, destaca-se a relevância de se
pensar no processo de avaliação e identificação do sujeito superdotado na vida adulta, como uma
possibilidade de autoconhecimento e ressignificações de experiências e promoção do potencial. Estudo
218 Karina Nalevaiko Rocha; Karina Inês Paludo; Solange Muglia Wechsler

longitudinal conduzido por Pérez & Freitas (2012) indica que a identificação formal das AH/S na vida
adulta foi um fator decisivo na aceitação, reconhecimento dos indicadores da superdotação e uma
construção positiva da identidade em mulheres. Diante do exposto, apresenta-se nesta oportunidade uma
discussão em torno do processo de avaliação psicológica e identificação de sujeitos superdotados na vida
adulta, tendo em vista a carência desse recorte de produção no contexto brasileiro.

Os desafios na identificação da AH/S na vida adulta

A heterogeneidade encontrada na população de pessoas com AH/S está atrelada à variabilidade


de habilidades cognitivas, atributos de personalidade e nível de desempenho. A referida variabilidade de
características revela a complexidade inerente ao processo de identificação das AH/S. Este cenário pode
ser ainda mais desafiador quando se pensa no sujeito adulto, visto que, muitas vezes, sua trajetória e
experiências de vida concorrem para abafar o seu potencial.
Assim, destaca-se a avaliação psicológica como um recurso importante para identificar e
promover o desenvolvimento de adultos superdotados. A avaliação psicológica é um processo
sistemático de conhecimento a respeito do funcionamento psicológico do sujeito, de tal forma a gerar
hipóteses, orientar ações e decisões futuras (PRIMI, 2010). Dito isso, para uma atuação adequada, as
intervenções devem ser precedidas de avaliações (NORONHA, 2002), ou seja, o diagnóstico para o
terapeuta, deve ter a mesma função que o bastão para um equilibrista, pois é ele a base que dará suporte
ao psicólogo para uma intervenção adequada (FERNANDÉZ, 1991).
A área de avaliação psicológica já apresentou diversos dilemas éticos e deontológicos em relação à
formação, atuação, pesquisa e publicação de material para avaliação psicológica. No entanto, desde a
década de 90 a American Psychological Association (APA) estabeleceu princípios éticos básicos a serem
seguidos nos diferentes âmbitos da Psicologia e, em menor abrangência, os Códigos de Ética das
associações de classe também buscam delinear práticas e padrões éticos importantes (APA, 1999). O
International Test Commission (2010) criou um guia orientador a ser utilizado pelos profissionais da área de
avaliação psicológica, no qual trata especificamente dos critérios mínimos a serem observados para
atuação nessa área, contendo orientações para tradução e adaptação de testes.
No Brasil, em 2001 foi estabelecido o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI), órgão
criado e alimentado pelo Conselho Federal de Psicologia para divulgar informações sobre os testes
psicológicos à comunidade e profissionais. Trata-se de um sistema de certificação de instrumentos de
avaliação psicológica para uso profissional, que analisa e qualifica os instrumentos (CFP, 2004).
Pode-se constatar uma preocupação em relação à cientificidade dos instrumentos psicológicos
utilizados no processo de avaliação e, para tal, consideram-se dois aspectos fundamentais: o conceito de
validade e fidedignidade. Por validade entende-se o alcance em que o teste mensura o que se propõe a
medir, ou seja, o conhecimento do que o teste mede e de quão bem faz isso (ANASTACI; URBINA,
Relato de experiência - Avaliação psicológica e identificação das altas habilidades/superdotação na vida adulta 219

2000). Se um instrumento não possui evidências de validade, não há segurança de que as interpretações
sobre as características psicológicas das pessoas sugeridas por suas respostas na testagem são legítimas
(PRIMI, 2010). Quanto ao conceito de fidedignidade, busca-se sua precisão, ou seja, a estabilidade com
que os escores dos testandos conservam-se em aplicações alternativas de um mesmo teste ou em formas
equivalentes de testes distintos. Assim, o teste deve ser capaz de produzir escores que diferenciam
testandos com diferentes graus de habilidade (PRIMI, 2010).
O processo de avaliação psicológica, realizado por meio de instrumentos e recursos válidos e
fidedignos, abarcando informações quanti e qualitativas, possibilita a identificação da pessoa superdotada.
Por meio da avaliação psicológica reúne-se um conjunto de traços e características individuais que, à luz
da teoria, possibilita o reconhecimento do sujeito superdotado.
Neste sentido, cabe destacar a necessidade de o processo de avaliação psicológica voltado para a
investigação da condição das AH/S estar fundamentado em uma concepção de inteligência e de altas
habilidades/superdotação. Isto posto, adota-se, nesta oportunidade, os pressupostos teóricos de Howard
Gardner (2000) acerca do constructo de inteligência e de Joseph Renzulli que amparado o entendimento
acerca do comportamento de superdotação (2004; 2014).
Diante da importância da identificação das altas habilidades/ superdotação, sobretudo na vida
adulta, considerando os desafios e dificuldades inerentes a este processo, este estudo teve como objetivo
descrever e analisar um estudo de caso de avaliação de AH/S de uma paciente adulta da cidade de
Curitiba-PR.
Buscou-se ainda, enfatizar a importância da condução deste processo considerando diferentes
constructos, obtendo uma avaliação completa e integral sobre o perfil da avaliada e procurou demonstrar
a importância desta avaliação em qualquer momento da vida do indivíduo, em especial na vida adulta,
visando garantir maior autoconhecimento e direcionamento na vida pessoal e profissional.

Método

Para alcançar os objetivos supracitados, será realizada a descrição de um estudo de caso clínico
de uma paciente1, apresentada com nome fictício para preservação do sigilo da identidade. Em seguida,
serão descritos os instrumentos utilizados, os construtos avaliados, as ações referentes ao processo de
avaliação e a análise dos resultados.

1 Estudo realizado a partir do projeto intitulado "Identificação das habilidades intelectuais e criativas por
testes psicológicos e indicação de professores" sob o número 13190119.3.0000.5481.
220 Karina Nalevaiko Rocha; Karina Inês Paludo; Solange Muglia Wechsler

Resultados
Descrição e apresentação do caso

Susan tem 25 anos, é casada e não tem filhos. Sempre estudou em escola particular e graduou-se
em engenharia. Trabalha em uma empresa em sua área de formação, no entanto, comenta não se sentir
realizada na função exercida. Sua mãe buscou a avaliação, pois percebe Susan frustrada com a profissão
e sem autoconhecimento sobre suas habilidades e competências, com a tendência de subvalorizar seu
potencial. Em entrevista com a mãe, a mesma relata que a filha sempre se destacou na escola, apresenta
um raciocínio rápido, facilidade de aprendizado, de compreensão e interesses diversos. A mãe acredita
que este é um fator que pode dificultar o direcionamento de sua carreira, causando-lhe frustração e
cansaço. As características supracitadas sugerem a hipótese de Susan ser uma pessoa com a condição de
superdotação. Dito isso, o processo de avaliação neuropsicológica teve como premissa conhecer o perfil
e potencial de Susan com o intuito de contribuir para o seu autoconhecimento e resposta sobre a hipótese
de ela apresentar AH/S.

O processo de avaliação psicológica

A avaliação de Susan foi multidisciplinar, considerando as áreas da Psicologia e Pedagogia, com


duas profissionais com expertise em superdotação, sendo considerados os aspectos mais importantes dos
resultados psicológicos para o presente trabalho.
O processo ocorreu entre agosto e novembro de 2019, compreendendo 12 sessões de 1 hora
realizadas semanalmente, conforme disponibilidade de horário da avaliada, fato que impactou em um
período maior de avaliação do que o habitual.
A perspectiva de avaliação psicológica adotada foi multifatorial e englobou diferentes domínios,
considerando aspectos cognitivos, socioemocionais, neuropsicológicos e criativos. O processo de
avaliação levou em conta dados relacionados à avaliação clínica de comportamentos observados e
instrumentos validados e padronizados para a população brasileira. Todos os testes utilizados na avaliação
estão aprovados pelo SATEPSI, com uso regulamentado à prática do psicólogo. Os domínios e os
instrumentos utilizados foram:
Área cognitiva: Escala de Inteligência Wechsler para adultos – WAIS III (WECHSLER, 2004)2; Teste
Não Verbal de Inteligência G-36 (BOCCALANDRO, 2003).

2Ressalta-se que a avaliação ocorreu em agosto de 2019, período em que o instrumento WAIS III era favorável e com estudos
válidos para utilização do psicólogo.
Relato de experiência - Avaliação psicológica e identificação das altas habilidades/superdotação na vida adulta 221

Atenção e Memória: Bateria Psicológica para Avaliação da Atenção - BPA (RUEDA, 2013); Figuras
Complexas de Rey – Teste de cópia e reprodução de memória de figuras geométricas complexas
(OLIVEIRA; RIGONI, 2014);
Emocionais e de personalidade: Casa- Árvore- Pessoa - Técnica Projetiva de Desenho (HTP) (ALVES;
TARDIVO, 2003); Inventário Fatorial de Personalidade – IFP (LEME; RABELO; ALVES, 2013);
Criatividade: Estilos de Criar e Pensar (WECHSLER, 2006).
Além dos instrumentos restritos à área da Psicologia, adotaram-se inventários para investigação
de indicadores de AH/S, a saber: Questionário de Identificação de Indicadores de Altas
Habilidades/Superdotação - Adulto - QIIAHSD - A e Questionário de Identificação de Indicadores de
Altas Habilidades/Superdotação - Adulto - QIIAHSD – A – 2ª fonte (PÉREZ; FREITAS, 2016).

Resultados alcançados
Aspectos Cognitivos

A avaliação do potencial intelectual foi realizada através do instrumento formal Escala de Inteligência
Wechsler para Adultos – WAIS III (WECHSLER, 2004). Trata-se de um instrumento clínico, um dos mais
importantes testes para avaliação da capacidade intelectual de adultos (PESSOTTO; BARTHOLOMEU,
2019). O instrumento fornece informações sobre os QIs Total, de Execução e Verbal, bem como o índice
de compreensão verbal, índice de organização perceptual, índice de memória operacional e índice de
velocidade e amplitude de processamento. Compreende quatorze subtestes, a saber: completar figuras,
vocabulário, códigos, semelhanças, cubos, aritmética, raciocínio matricial, dígitos, informação, arranjo de
figuras, compreensão, procurar símbolos, sequência números-letras e armar objetos.
Susan alcançou uma classificação Muito Superior na avaliação quantitativa em QI verbal, pontos
ponderados 130 e percentil 98. O QI de execução também tem classificação Muito Superior, pontos
ponderados 129 e percentil 98 e no QI Total, alcançando percentil 98, pontos ponderados 131.
A compreensão verbal e organização perceptual relacionam-se com o raciocínio fluído,
fundamentais para avaliação cognitiva e relacionados às habilidades de manipulação de abstrações, regras,
generalizações e relacionamentos lógicos (CARROLL, 1993). A avaliação da compreensão verbal é
realizada através de 3 subtestes: vocabulário, semelhanças e informação.
A avaliação da organização perceptual é obtida através dos seguintes subtestes: completar figuras,
cubos e raciocínio matricial. Relaciona-se com a capacidade de analisar, sintetizar e reproduzir um
estímulo visual abstrato tridimensional, formar grupos com características comuns e identificação de
detalhes omitidos em figuras sociais.
Em compreensão verbal, Susan apresenta um desempenho de 133 pontos ponderados, percentil
99 e classificação muito superior. Em organização perceptual, Susan tem 129 pontos ponderados,
percentil 98 e classificação muito superior.
222 Karina Nalevaiko Rocha; Karina Inês Paludo; Solange Muglia Wechsler

No que versa sobre a memória operacional, é avaliada através dos subtestes aritmética, dígitos e
sequência de número-letras. Estudos atuais demonstram que a memória operacional é um componente
essencial aos processos cognitivos e diretamente relacionado ao aprendizado e realizações (PERLOW;
JATTUSO; MOORE, 1997). Refere-se à habilidade de manter-se consciente da informação recebida,
desenvolver uma atividade, manipulá-la e a partir dela produzir resultados (WECHSLER, 2013).
Susan apresenta 121 pontos ponderados, percentil 92 e classificação superior. Mostra facilidade
relacionada à memória auditiva de curto prazo, sequenciamento, atenção e concentração. Esse dado
indica que tem facilidade para atividades que demandem compreensão e memória remota.
A velocidade perceptual é avaliada através dos subtestes códigos e procurar símbolos. Pesquisas
indicam que a velocidade de processamento das informações está diretamente relacionada à capacidade
mental, ao desenvolvimento, desempenho em leitura e raciocínio (KAIL, 2000). Susan apresenta 135
pontos ponderados, percentil 99 e classificação muito superior.
Além do WISC – III, aplicou-se o Teste Não Verbal de Inteligência – G36. Ele busca avaliar o
fator G de inteligência. Apresenta itens em ordem crescente de dificuldade, envolvendo os seguintes
raciocínios: compreensão de relação de identidade e raciocínio por analogia, analogia do tipo numérica
com adição e subtração, mudança de posição e analogia espacial com mudança de posição
(BOCCALANDRO, 2003). As respostas de Susan alcançam o percentil de 90% e classificação médio
superior, o que indica que ela tem desempenho acima do esperado para sua idade cronológica.
Os resultados alcançados por Susan nos testes supracitados permitem constatar que ela apresenta
um potencial cognitivo acima do esperado para sua etapa de desenvolvimento.

Aspectos Neuropsicológicos

A atenção de Susan foi avaliada por meio da Bateria Psicológica para Avaliação da Atenção
(RUEDA, 2013). A atenção relaciona-se com “a capacidade de a pessoa selecionar e manter o controle
da entrada de informações externas e o processamento de informações internas necessárias em um
determinado momento” (FERNANDES & RUEDA, 2007, p.169). Ela é uma das funções cognitivas e
pode ser classificada em diferentes tipos, a saber: geral, alternada, dividida e concentrada (RUEDA, 2013).
Susan tem um índice superior na atenção geral, com percentil de 97% e 350 pontos ponderados.
Em atenção concentrada tem índice superior, atinge percentil 80% e 114 pontos. Em atenção dividida
tem índice superior, percentil 95% e 120 pontos. Em atenção alternada tem índice médio superior,
percentil 70% e 116 pontos.
Outro constructo avaliado foi a memória imediata usando do instrumento chamado Figuras
Complexas de Rey. As Figuras Complexas de Rey objetivam avaliar funções neuropsicológicas de
percepção visual e memória imediata por meio de cópia e reprodução de memória. Seu objetivo é verificar
o modo como o sujeito apreende os dados perceptivos que lhe são apresentados e o que foi conservado
Relato de experiência - Avaliação psicológica e identificação das altas habilidades/superdotação na vida adulta 223

espontaneamente pela memória. As figuras propostas nesse teste reúnem três propriedades importantes,
a ausência de significado evidente, a realização gráfica fácil e a estrutura do conjunto suficientemente
complicada para solicitar uma atividade perceptiva analítica e organizadora (REY; OLIVEIRA; RIGONI,
2017) .
De acordo com a análise das respostas de Susan, observa-se classificação superior com alcance de
percentil 100% na análise da cópia, o que demonstra uma cópia acima da média ao esperado para sua idade
cronológica. Em análise de memória, a avaliada atingiu classificação superior com alcance de percentil 95%,
indicando grande facilidade de memória imediata, relacionada à capacidade de lembrar elementos e suas
localizações por meio de desenhos precisos.

Aspectos Emocionais e de Personalidade

Para análise do domínio emocional adotou-se o instrumento intitulado Casa – Árvore – Pessoa:
Técnica Projetiva de Desenho (HTP) (ALVES; TARDIVO, 2003) que tem como objetivo “compreender
aspectos da personalidade do indivíduo, bem como a forma deste indivíduo de interagir com as pessoas
e com o ambiente. O HTP estimula a projeção de elementos da personalidade e de áreas de conflito
dentro da situação terapêutica e proporciona uma compreensão dinâmica das características e do
funcionamento do sujeito” (BORSA, 2010, p. 152).
Os dados alcançados sugerem que Susan tem um nível de energia adequado à sua faixa etária e
mostra lidar de maneira favorável na canalização e expressão de suas emoções. Demonstra aspectos e
indicadores de um curso de desenvolvimento saudável e esperado. No entanto, é possível perceber certo
nível de ansiedade e uma tendência a adotar uma postura autocrítica bastante acentuada, com uma
possibilidade de ser muito exigente consigo mesma, gerando sentimentos de angústia.
Complementou-se a avaliação com o instrumento

Inventário Fatorial de Personalidade (IFP) que tem por objetivo traçar o perfil de
personalidade do indivíduo, com base em 13 necessidades ou motivos psicológicos:
Assistência, Intracepção, Afago, Autonomia, Deferência, Afiliação, Dominância,
Desempenho, Exibição, Agressão, Ordem, Persistência e Mudança. Avalia também os
Fatores de segunda ordem: Necessidades afetivas; Necessidades de organização e
Necessidade de controle e oposição (LEME; RABELO; ALVES, 2013).

Os dados evidenciados por Susan sugerem performance superior nas dimensões Persistência,
Desempenho, Dominância, Deferência, Intracepção e Assistência.
Altos níveis em persistência indicam uma tendência de se dedicar a qualquer trabalho iniciado por
mais difícil que possa parecer, debruçando-se significativamente para alcançar resultados. Esta é uma
dimensão que se relaciona a desempenho, que refere-se ao empenho para dominar, manipular e organizar
224 Karina Nalevaiko Rocha; Karina Inês Paludo; Solange Muglia Wechsler

dados e ideias, destacando-se sua capacidade de atuar de forma independente e autônoma, com maior
rapidez possível, vencendo obstáculos e mantendo altos níveis de realização.
Revela também sentimentos de autoconfiança e traços de liderança. Em situações nas quais é
liderada tem necessidade de admirar seu superior. Procura adotar uma postura empática, agindo com
sentimentos de compaixão e justiça ao próximo, com maior afinidade por trabalhos que estejam alinhados
aos seus valores e propósitos. Tem uma tendência a agir de forma introvertida e com facilidade para
tarefas em que possa expressar sua criatividade e imaginação. Destaca-se pela capacidade de agir de forma
parcial em suas opiniões. Calorosa, apaixonada, sensitiva e idealista, pode identificar-se com atuações nas
quais tenha uma causa alinhada a seus valores e propósitos.

Aspectos da Criatividade

Para avaliação do potencial criativo, adotou-se o Estilos de Criar e Pensar (WECHSLER, 2006).
Baseada na literatura e em pesquisas sobre as características de pessoas criativas, esta avaliação oferece
informações sobre as formas preferenciais de pensar e agir que são mais condutivos à produção criativa
e a inovação. Busca-se, deste modo, identificar os seus modos preferenciais de pensar e agir frente às
diferentes circunstâncias de sua vida.
Os dados alcançados por Susan demonstram potencial criativo com estilo preferencial
Inconformista Transformador, somando 106 pontos ponderados e percentil 66, caracterizando-a como
questionadora, dinâmica e sonhadora. Tem facilidade em liderar pessoas, conseguindo inspirá-las no
sentido de alcançar um objetivo maior. Tende a ser crítica, questionando regras. Tem preferência em agir
em situações que possa desempenhar várias tarefas simultaneamente, utilizando sua imaginação e forma
de solucionar problemas de maneira incomum.

Aspectos das altas habilidades/superdotação

Partindo das características de superdotação apresentadas na literatura, levando em consideração


uma perspectiva multidimensional de identificação, além dos instrumentos padronizados supracitados
que proveram indicadores importantes para investigação das AH/S no perfil do sujeito, reuniu-se dados
acerca da história de vida de Susan, a partir da contribuição da própria avaliada e da família (marido e
mãe).
Ademais, utilizou-se do Questionário de Identificação de Indicadores de Altas
Habilidades/Superdotação - Adulto - QIIAHSD - A e do Questionário de Identificação de Indicadores
de Altas Habilidades/Superdotação - Adulto – 2ª fonte - QIIAHSD – 2ª fonte - (PÉREZ; FREITAS,
2016).
Relato de experiência - Avaliação psicológica e identificação das altas habilidades/superdotação na vida adulta 225

Com base nas respostas advindas da família, da observação das avaliadoras e dos resultados
alcançados por Susan, como também dos atributos identificados como presentes no curso do seu
desenvolvimento por meio das falas coletadas, constata-se que ela demonstra elevada competência
mnemônica, capacidade de raciocínio muito desenvolvida, necessidade de pouca informação para
resolver demandas escolares, facilidade para aprender os conteúdos acadêmicos, vocabulário extenso, alta
capacidade de abstração, habilidade avançada de compreensão e uso da linguagem, o que evidencia
capacidade acima da média.
Susan apresenta grande número de ideias e soluções para os problemas, facilidade em resolver
problemas usando métodos originais e tendência a fazer muitas perguntas. Além disso, é curiosa, é
inventiva e questionadora. As referidas características subscrevem o anel da criatividade.
A avaliada demonstra persistência, segurança em suas convicções, dedica tempo e energia em
termas de seu interesse, é exigente e evidencia tendência em responder às demandas, manifestando
envolvimento com a tarefa. Tendo em vista as características supracitadas e os anéis circunscritos, pode-se
constatar que Susan apresenta comportamentos de superdotação, conforme os pressupostos teóricos de
Joseph Renzulli (2004; 2014).

Discussão

Os dados alcançados na avaliação de Susan permitem alguns entendimentos e corroboram com


as características de superdotação apontadas na literatura (WINNER, 1998; GAMA, 2006). Quanto aos
aspectos cognitivos, os altos índices alcançados nos testes padronizados demonstram que Susan evidencia
habilidade acima da média ao que é esperado para sua faixa etária nas áreas de compreensão verbal,
organização perceptual, velocidade de processamento e memória operacional, cujo QI total compreende
percentil acima de 98%. Os dados alcançados por Susan corroboram com a literatura, que destaca que
a superdotação intelectual implica dispor de um grande potencial em pelo menos uma das áreas que
compõem a inteligência humana (MOSQUERA; STOBAUS; FREITAS, 2013).
As concepções atuais de inteligência que a apresenta como um construto multidimensional,
permitem que se considere diferentes influências no funcionamento do indivíduo, assim, considera-se
que um mesmo indivíduo pode ter uma habilidade superior em uma área do conhecimento, posicionar-
se na média em outras, ou ainda, apresentar dificuldades em quaisquer campos do saber (ALENCAR,
FLEITH, 2001; PANZERI, 2012; PALUDO, 2014). No entanto, no presente estudo, Susan alcança
classificação superior e muito superior em todas as dimensões avaliadas.
Considerando ainda que a memória é um componente essencial aos processos cognitivos e
diretamente relacionado ao aprendizado e realizações (PERLOW; JATTUSO; MOORE, 1997), os altos
índices em atenção e memória da avaliada ressaltam sua facilidade e potencial para o aprendizado.
226 Karina Nalevaiko Rocha; Karina Inês Paludo; Solange Muglia Wechsler

Quanto aos aspectos de ajustamentos socioemocionais do superdotado, observa-se


controvérsias e não há um consenso nos estudos. Observam-se discrepâncias entre as pesquisas a respeito
da extensão em que crianças e jovens superdotados teriam maior pré-disposição para apresentar
dificuldades sociais e emocionais, no entanto, verifica-se que não há evidência empírica que substancie
tal posição (ALENCAR, 2007). No presente estudo, foi possível observar a presença de sentimentos de
baixa autoestima e reduzido nível de autoconhecimento da avaliada sobre seu potencial, o que pode estar
associado, por exemplo, à ausência de um atendimento direcionado no período escolar. Por outro lado,
os dados também indicam altos índices de persistência, liderança, empatia, criticidade, paixão pelo
aprendizado, capacidade de análise, gosto pelo desafio, habilidade em áreas específicas, interesse por
assuntos e temas complexos e persistência perante dificuldades inesperadas, corroborando com achados
de Pérez (2008).
Tendo em vista o objetivo central da presente avaliação psicológica, constata-se que Susan
apresenta o perfil de superdotação. Isto significa que ela evidencia potencial/desempenho acima do que
se espera para sua idade, com grande perspectiva de realização. Pérez (2008; 2012) ressalta que
superdotados adultos quando formalmente identificados relatam o alívio do reconhecimento,
fundamental para compreender e construir sua identidade como superdotado. Estudo conduzido por
Vieira (2014) com adultos superdotados, identificados tardiamente, indica que o diagnóstico era recebido
com surpresa, tanto a família como a pessoa avaliada percebiam seus comportamentos diferenciados,
porém não entendiam como manifestações de AH/SD. Somente depois do processo de identificação
estas situações adquiriram sentido para eles. Esta foi uma situação observada no presente estudo, pois
Susan não acreditava que poderia ser superdotada. No entanto, após o diagnóstico, ela relata sentir-se
aliviada e passa a entender melhor algumas de suas características.
Desta forma, é de suma importância a identificação das AH/S em qualquer momento da vida,
pois permite encaminhamentos e intervenções adequadas. No entanto, na vida adulta, segundo
Mosquera, et.al, (2013) o adulto jovem com AH/SD defronta-se com a tarefa de determinar sua relação
com a comunidade, bem como elaborar um projeto de vida, de cunho filosófico e epistemológico, que o
faça penetrar de maneira mais adequada no chamado período da adultez média. Neste sentido, destaca-
se a relevância de se pensar no processo de avaliação e identificação do sujeito superdotado na vida adulta,
como uma possibilidade de autoconhecimento e ressignificações de experiências e promoção do
potencial. Diante do exposto, apresenta-se nesta oportunidade uma discussão em torno do processo de
avaliação psicológica e identificação de sujeitos superdotados na vida adulta, tendo em vista a carência
desse recorte de produção no contexto brasileiro.
Relato de experiência - Avaliação psicológica e identificação das altas habilidades/superdotação na vida adulta 227

Conclusões

Diante da importância da identificação das altas habilidades/ superdotação, sobretudo na vida


adulta, considerando os desafios e dificuldades inerentes a este processo, o presente estudo buscou
contribuir para com o entendimento do tema, ressaltando a importância da avaliação em qualquer
momento da vida do sujeito. Na adultez, no entanto, pode responder a questões importantes, resultantes
de negligência e ausência de um processo de atendimento adequado durante a trajetória pregressa, que
podem ter impactado na subvalorização de potencial. Assim, a avaliação psicológica demonstra contribuir
para o autoconhecimento e fortalecimento do potencial, possibilitando novos direcionamentos na vida
pessoal e profissional.
Enfatizou-se também a relevância da condução deste processo considerando diferentes
constructos, obtendo uma avaliação completa e integral sobre o perfil da avaliada, com aspectos além da
análise quantitativa de QI, aferido pelos testes de inteligência.
O estudo pode ser ampliado, com a possibilidade de aumentar a amostra, inclusive em outras
regiões do país, já que analisou apenas um caso. De maneira geral, buscou-se contribuições sobre a
avaliação psicológica em AH/S, vencendo a invisibilidade desta condição na vida adulta, desmistificando
estereótipos e características, demonstrando sua importância e, deste modo, fomentando novas
pesquisas.

REFERÊNCIAS

ALENCAR, Eunice Maria Soriano de. Características sócio-emocionais do superdotado: questões


atuais. Psicologia em Estudo [online], Maringá, v. 12, n. 2, p. 371-378, ago. 2007. Disponível em:
https://doi.org/10.1590/S1413-73722007000200018. Acesso em: 27 jun. 2021.

ALENCAR, Eunice Maria Soriano de; FLEITH, Denise. Superdotados: determinantes, educação e
ajustamento. 2. ed. São Paulo: EPU, 2001.

ALI, Sana; RAFI, M Mohammed. New Strategies to identifying and empowering gifted underachievers.
International Journal of Humanities Social Sciences and Education (IJHSSE), v. 3, n. 4, p. 84-89, 2016.
Disponível em: https://www.arcjournals.org/pdfs/ijhsse/v3-i4/10.pdf. Acesso em: 22 out. 2020.

ANASTASI, Anne; URBINA, Susana. Testagem psicológica. 7ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.

APA. Standards for Educational and Psychologicl Testing. New York: American Educational Research
Association, 1999.
228 Karina Nalevaiko Rocha; Karina Inês Paludo; Solange Muglia Wechsler

BOCCALANDRO, Efraim Rojas. G36 teste não-verbal de inteligência: manual. São Paulo: Vetor, 2003.

BRODY, Linda. Meeting the individual educational needs of students by applying talent search
principles to school settings. In: PLUCKER, Jonathan A.; RINN, Anne N.; MAKEL, Matthew C.
(Eds.). From Giftedness to gifted education: reflecting theory in practice. Prufrock Press Inc: Waco, Texas, 2017.
p. 43-63.

BORSA, Juliane. CONSIDERAÇÕES SOBRE O USO DO TESTE DA CASA-ÁRVORE-PESSOA -


HTP. Aval. psicol., Porto Alegre , v. 9, n. 1, p. 151-154, abr. 2010.

CAMPOS, Carolina Rosa et al. Avaliação Psicológica e intervenção: um estudo de caso sobre altas
habilidades/superdotação. Revista Educação Especial, Santa Maria, v.32, p. 02-12, 2019. Disponível em:
https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial/article/view/39550/pdf. Acesso em: 22 out. 2020.

CARROL, John B. Human Cognitive Abilities. Cambridge University Press, 1993.

CECILIO-FERNANDES, Dario; MARIN RUEDA, Fabián Javier. Evidência de validade concorrente


para o Teste de Atenção Concentrada (TEACO-FF). Psic, São Paulo , v. 8, n. 2, p. 167-
174, dez. 2007.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Suplemento Especial: testes psicológicos. Brasília:


Conselho Federal de Psicologia, 2004.

COSTA, Maria Pereira da; LUBART, Todd I. Gifted and talented children: heterogeneity and
individual differences. Anales de psicología, v. 32, n. 3, p. 662-671, 2016. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.6018/analesps.32.3.259421. Acesso em: 22 out. 2020.

FERNANDEZ, Alicia. A Inteligência aprisionada: abordagem psicopedagógica clínica da criança e sua


família. Porto Alegre: Artes Medicas, 1991.

GAMA, Maria Clara Sodré S. Educação de Superdotados: teoria e prática. São Paulo: EPU, 2006.

GARDNER, Howard. Inteligência: um conceito reformulado. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.

HERTZOG, Nancy B. et al. Identification of strengths and talents in young children. In: PFEIFFER,
Steven I.; SHAUNESSY-DEDRICK, Elizabeth; FOLEY-NICPON, Megan (Eds.). APA Handbook of
Giftedness and Talent. Washington, DC: American Psychological Association, p. 301-316, 2018.
Disponível em: https://doi.org/10.1037/0000038-020. Acesso em: 22 out. 2020.

INTERNATIONAL TEST COMMISSION. International Test Commission Guidelines for Translating and
Adapting Tests, 2010 Disponível em: http://www.intestcom.org. Acesso em: 22 out. 2020.

KAIL, Robert. Speed of information processing: Developmental change and links to


intelligence. Journal of School Psychology, 38(1), p. 51–61, 2000. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/247246907_Speed_of_Information_Processing. Acesso em:
27 jun. 2021.

LEME, Irene F. Almeida de Sá; RABELO, Ivan Sant’Ana; ALVES, Gisele Aparecida da Silva. IFP-II:
inventário fatorial de personalidade. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2013.

MOSQUERA, Juan José Mouriño; STOBÄUS, Claus Dieter; FREITAS, Soraia Napoleão. Altas
Habilidades/Superdotação: abordagem ao longo da vida. Revista Educação Especial. v. 26, n. 46, p. 401-
Relato de experiência - Avaliação psicológica e identificação das altas habilidades/superdotação na vida adulta 229

420, maio/ago, 2013. Disponível em:


https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial/article/view/5371/pdf. Aceso em: 27 jun. 2021.

NORONHA, Ana Paula P. Os problemas mais graves e mais frequentes no uso dos testes psicológicos.
Psicologia: Reflexão e Crítica, Porto Alegre, v. 15, n. 1, p. 135-142, 2002. Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/prc/v15n1/a15v15n1.pdf. Acesso em 22 out. 2020.

OLIVEIRA, Margareth Silva; ROGONI, Maisa Santos. Figuras complexas de Rey: teste de cópia e de
reprodução de memória de figuras geométricas complexas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2014

PALUDO, Karina Inês. Altas habilidades/superdotação sob a ótica do Sistema Teórico da Afetividade Ampliada:
relações entre identidade e resiliência. 2014. 244f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Programa de
Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Paraná. Curitiba (PR), 2014. Disponível em:
https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/32046/R%20-%20D%20-
%20KARINA%20INES%20PALUDO.pdf?sequence=1. Acesso em: 22 out. 2020.

PANZERI, M. V. Detección e identificación de altas capacidades intelectuales y creativas: una abordaje para el
profesorado y los prefesionales de la educación y la salud. Buenos Aires: Nueva Librería, 2012.

PERLOW, Richard, JATUSSO, Mia; MOORE, D. D. Wayne. Role of verbal working memory in
complex skill acquisition. Human Performance, v.10, n.3, p. 283–302, 1997. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/247502211_Role_of_Verbal_Working_Memory_in_Compl
ex_Skill_Acquisition. Acesso em: 20 jun. 2021.

PÉREZ, Susana Graciela Pérez Barrera. Ser ou não ser, eis a questão: o processo de construção da
identidade na pessoa com altas habilidades/superdotação adulta. 230 f. 2008. Tese (Doutorado em
Educação) – Faculdade de Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2008. Disponível em: http://tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/3567/1/405524.pdf.
Acesso em: 22 out. 2020.

PÉREZ, Susana Graciela Pérez Barrera; FREITAS, Soraia Napoleão. Manual de Identificação de altas
habilidades/superdotação. Guarapuava: Apprehendere, 2016.

PÉREZ, Susana Graciela Pérez Barrera; FREITAS, Soraia Napoleão. A mulher com altas
habilidades/superdotação: à procura de uma identidade. Rev. Bras. Ed. Esp., Marília, v. 18, n. 4, p. 677-
694, out.-dez., 2012. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/rbee/a/qCDKrWPRqGSnZSsyRtxCCvm/?format=pdf&lang=pt. Acesso
em: 20 set. 2021.

PESSOTTO, Fernando; BARTHOLOMEU, Daniel. Guia prático das escalas Wechsler. São Paulo: Pearson,
2019.

PFEIFFER, Steven. Understanding success and psychological well-being of gifted kids and adolescents:
Focusing on strengths of the heart. Estudos de Psicologia (Campinas), v. 35, n. 3, p. 259-263, jul-set. 2018.
Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1982-02752018000300004. Acesso em: 22 out. 2020.

PRIMI, Ricardo. Avaliação psicológica no Brasil: fundamentos, situação atual e direções para o futuro.
Psicologia: teoria e prática, Brasília, v. 35, n. esp., p. 25-35, 2010. Disponível em:
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010237722010000. Acesso em: 22 out.
2020.

RENZULLI, Joseph. O que é esta coisa chamada Superdotação e como a desenvolvemos? uma
retrospectiva de vinte e cinco anos. Revista Educação, Porto Alegre, v. 52, n. 1, , p.75-81, jan-abr, 2004.
View publication stats

230 Karina Nalevaiko Rocha; Karina Inês Paludo; Solange Muglia Wechsler

Disponível em: https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faced/article/view/375/272.


Acesso em: 22 out. 2020.

RENZULLI, Joseph. A concepção de superdotação no modelo de três anéis: um modelo de


desenvolvimento para promoção da produtividade criativa. In: VIRGOLIM, Angela Magda Rodrigues;
KONKIEWITZ, Elisabeth Castelon (Orgs.). Altas habilidades/Superdotação, inteligência e criatividade: uma
visão multidisciplinar: Campinas SP: Papirus. 2014, p. 219-264.

RUEDA, Fabián Javier Marín. Bateria Psicológica para Avaliação da Atenção – BPA. São Paulo: Vetor, 2013.

VIEIRA, Nara Joyce Wellausen. Identificação pela provisão: uma estratégia para a identificação das
Altas Habilidades/Superdotação em adultos?. Revista Educação Especial (UFSM), 27(50), p. 699-712, set.-
dez, 2014. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial/article/view/14324/pdf.
Acesso em: 20 set. 2021.

VIRGOLIM, Angela Magda Rodrigues. Altas habilidades/superdotação: encorajando potenciais. Brasília:


Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2007. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/altashab1.pdf. Acesso em: 22 out. 2020.

WECHSLER, David. Escala Wechsler de inteligência para crianças: WISC-IV. Manual técnico. Trad. Maria
de Lourdes Duprat. 4. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2013.
WECHSLER, David. WAIS-III: manual técnico. Trad. Maria Cecília Villena. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 2004.

WECHSLER, Solange Muglia. Estilos de Pensar e Criar: manual. Campinas: Impressão Digital do
Brasil/LAMP, 2006.

WINNER, Ellen. Crianças superdotadas: mitos e realidades. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

Recebido em: 12 de maio de 2021.


Aprovado em: 20 de setembro de 2021.

Você também pode gostar