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Direito Processual Civil I - Resumos Final

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Direito Processual Civil I

1. O CONCEITO

No Direito Privado, quando o dever não é cumprido, a situação de incumprimento tem


de ser regulada, sempre que o titular do direito pretenda reagir, não se conformando com
esse quadro. Deste modo e tendo em conta a proibição feita no artigo 1º, será necessário
fornecer ao titular do direito meios que se mostrem adequados à reintegração desse
direito: recurso aos tribunais. O Direito processual civil é assim, o conjunto das normas
reguladoras do processo civil.

Características do DPC:

➢ Direito instrumental/adjetivo: as normas contem os tramites para se alcançar o a


resolução do conflito, que é obtido pela aplicação de normas substantivas de direito
civil. O prof. Lebre de Freitas: Tutela de situações jurídicas postula a aplicação de
normas instrumentais (adjetivas) que regulam as atuações dos sujeitos de direito
privado e dos tribunais tendentes à concretização jurisdicional do direito substantivo.

➢ Norma de direito público: regula o exercício da função jurisdicional do estado.

2. ESTRUTURA

O processo jurisdicional é uma sequência de atos jurídicos (das partes, do tribunal, de


terceiros intervenientes) ordenados para um fim. Por sua vez estes atos ordenam-se em fases
sucessivas. Deste modo, o processo comum – ponto de referência e subsidiário das restantes
formas do processo civil – tem na ação declarativa em 1º instância as seguintes fases:

i. Fases dos articulados: ao longo da qual as partes alegam matéria de facto e


de direito relevante para a decisão ( P.I; citação do réu; contestação;
notificação desta ao autor; e eventualmente, réplica.
ii. Fase da condensação: visa garanti e verificar a regularidade do processo,
identificar o objeto em litígio, decidir o que possa já ser decidido e enumerar
os temas da subsequente prova para julgamento (despacho pré-saneador;
marcação de data de audiência, convocação das partes para esta audiência,
audiência prévia; não havendo lugar à audiência prévia, despacho saneador,
despacho de adequação formal, simplificação ou agilização processual,
despacho de identificação do objeto em litigio e enunciação dos temas da
prova e despacho de programação da audiência final, proferidos
autonomamente, e notificação destes despachos às partes; eventualmente, a
seguir, requerimento de audiência prévia para apresentação desses
despachos, marcação da data desta audiência, notificação das partes e
apresentação e decisão das reclamações em audiência).
iii. Fase de instrução: Repartida em diligências conducentes à prova dos factos
alegados pelas partes, tendencialmente concentradas na audiência final mas
podendo, por sua natureza, ter lugar antes dela (implicando requerimentos
das partes, despachos e notificações).
iv. Fase da discussão: as partes exprimem os seus pontos de vista sobre a
decisão a proferir mediante alegações sucessivas, de facto e de direito, dos
mandatários judiciais do autor e do réu.
v. Fase do julgamento: mediante prolação da sentença, sua notificação às
partes, eventuais reclamações quando não seja admissível recurso,
notificação da contraparte para lhes responder e decisão delas.

A instrução do processo desdobra-se em diversos procedimentos probatórios,


constituindo sequências autónomas:

Iniciam-se com a
prática de atos Continam com atos
Concluem-se com a
comuns aos diveros próprios de cada meio
apreciação da prova
meios de provas de prova (admisão e
pelo julgadosr
(proposição de produção)
provas)

No esquema da tramitação necessária ou normal da forma processual em causa,


podem ainda enxertar-se procedimentos anómalos, que consistem sequências de atos que
exorbitam da tramitação normal do processo, visando a resolução a resolução e
determinadas questões fora do encadeado lógico inicialmente necessário à resolução do
pleito, mas por forma mais ou menos direta subordinada ao objeto do processo: os
incidentes.

O processo jurisdicional é constituído por uma sequência de atos jurídicos, dele não
fazem parte factos jurídicos stricto sensu. Tal não significa que estes meros factos jurídicos
não possam produzir efeitos no processo, mas sim que, quando tal acontece, estes efeitos
são mediatizados através da prática de atos jurídicos. Exemplo: “a morte de uma pessoa
suspende a instância [269/1/a)], mas so depois de alegada (e provada [270/1]), salvo o
fenómeno da retroatividade: o facto de a morte ocorrer fora da sequência processual e,
extinguindo a personalidade judiciária da parte [11], faz cessar um pressuposto processual. A
alegação da parte [270/2] ou a certidão do falecimento pelo funcionário incumbido da
citação [351/2], são atos integrados na sequência processual, que condicionam a verificação
judicial do facto, subsequente à respetiva prova [270/1]”.

2.2 O ato processual

Definir o processo como uma sequência de atos jurídicos não resolve inteiramente o
problema da qualificação dum ato jurídico como processual. Por um lado, há atos que,
praticados fora do processo têm relevância exclusivamente processual, por se destinarem a
conformar os requisitos dos pressupostos da decisão de mérito ou de atos da sequência
processual, e assim serão qualificados como processuais, ainda que lhes possa aplicar o
regime da validade dos atos de direito substantivo (fala-se aqui de: procuração, convenção
de arbitragem; pacto de jurisdição ou de competência; renúncia ao recurso). A doutrina tem
se dividido em relação a questão da aplicabilidade aos atos processuais do regime de
nulidade e de anulação do ato de direito material: uma vertente mais tradicional é da opinião
de que o ato processual não está sujeito às normas sobre nulidade e anulação do ato de
direito material. Já o professor Lebre de Freitas e a professor PCS concluem que a falta e os
vícios da vontade relevam no ato postulativo.

Por outro lado, a qualificação como processuais de todos os atos de sequência não impede a
possibilidade de um ato nele integrado produzir efeitos tipicamente substantivos.

Dos primeiros ocupa-se o DPC. A consideração dos efeitos substantivos dos segundos ajuda a
entender a articulação entre o direito civil o direito processual.

2.3 A invalidade do ato da sequência

Os atos da sequência processual, a circunstância de nela se integrarem gera um especial


regime de invalidade. Em processo, a nulidade dum ato de sequência repercute, em regra, a
sua eficácia nos atos subsequentes que, entretanto, hajam sido praticados. Num sentido
inverso, o efeito da nulidade do ato só se verifica quando o vício é suscetível de afetar a
realização da finalidade do processo (como sequencia)

De acordo com a regra geral do 195/1, consistem em irregularidades suscetíveis de integrar


invalidade processual:

➢ a prática dum ato que a lei não admita


➢ a omissão dum ato processual ou duma formalidade que a lei prescreva. De notar
neste ponto que considerando o princípio da adequação formal [265-A], também a
prática ou omissão dum ato desconforme com a sequência determinada pelo juiz
constitui irregularidade suscetível de integrar invalidade processual. O artigo 195/1
tem assim de ser extensivamente interpretado.

Não se trata de vícios que respeitem ao conteúdo do ato, mas apenas só de vícios atinentes à
sua existência ou formalidades. Para determinar a sua ocorrência, há que verificar:

1) A
2) forma do processo [546 comuns e especiais e 547 adequação formal] em que o ato
foi praticado ou omitido o consentia (no primeiro casa) ou exigia (no segundo),
3) O momento sequencial da prática ou da omissão: se não o permitia e ele foi
praticado; se o exigia e ele não foi praticado;
4) Sem prejuízo da perda das faculdades processuais das partes, foi praticado fora do
momento processual adequado
5) Não foram observadas as formalidades que a lei prescreve: o vicio verifica-se.

Verifica-se o vício

Se a lei não preescrever expressamente que ele tem como consequência a inavalidade do ato,
segue-se constata a influência que a prática ou omissão concretapode ter no exame em causa

constatada a influência, os efeitos da invalidade do ato repercutem-se nos atos subsquentes da


sequência processual que dele forem absolutamente dependestes [195/2]
A invalidade do ato processual é, assim, mias uma invalidade do ato enquanto elemento
da sequência do que do ato em si mesmo considerado. Contudo, tal não impede que o
regime da invalidade do ato processual caracterize, em regra, não tanto a nulidade
propriamente dita como figura da anulabilidade:~

a) Só as invalidades dos arts 187º; 191/2/2º parte; 193 e 194. São como as nulidades de
direito civil, suscetíveis de conhecimento oficioso – tal como também a ineptidão da
PI – mas algumas delas só até ao despacho saneador, se o houver, e ressalvada
sempre, fora o caso do artigo 193, a possibilidade de sanção
b) Só a parte interessada na invalidade pode argui-la [197/1]
c) É admitida a renúncia, expressa ou tácita, à arguição [197/2]
d) Exceto no caso do art. 194, a arguição está sujeita a prazo, que é em regra, de 10 dias
sobre o momento do conhecimento, real ou presumido, do vício, ou da sua
cognoscibilidade por uma parte diligente [ 149/1 e 199/1]

Em suma, quando o vício tenha durante a prática dum ato a que o juiz presida e seja nele
conhecido, deve logo o juiz, oficiosamente, fazer cumprir a lei [199/2]. O regime-regra da
invalidade do ato processual, sendo mais próximo do regime da anulabilidade de direito
substantivo, não deixa de revestir aspetos do regime da nulidade, pelo que constitui um
misto de ambas as figuras.

3. Função

A sequência processual dirige-se a finalidades diversificadas consoante o tipo de pedido


que o autor formula. Neste sentido, o artigo 10º distingue as ações:

• Declarativas – aquilo que o aturo pretende é que o tribunal declare a solução para
um determinado caso invocando a existência ou inexistência de um direito.
• Executivas – o autor requer as providências adequadas à realização coativa de um
direito que lhe foi violado.

3.1. As ações declarativas

Condenação

Simples
Constitutivas
apreciação

Ação
declarativa
➢ Ação de simples apreciação: o autor pede ao tribunal que declare a existência
(apreciação positiva) ou inexistência (apreciação negativa) de um direito ou de um
facto jurídico. Com ela, a declaração do direito encontra-se no seu estado mais puro.
o Artigo 10/3/a)

o Exemplo1: A, para ir para a via pública, teve de passar, durante vários anos
pela propriedade de B, seu vizinho. B entende, publicamente, que isso assim
se sucede por mera tolerância e favor, entendendo, pelo contrário, A, que o
prédio por onde atravessa está onerado com um direito de servidão de
passagem a favor do seu prédio. Este diferendo é suscetível de causar prejuízo
a A, pelo que este pode propor uma ação tendente a extinguir esta situação
de dúvida jurídica→Vai instaurar então uma ação de simples apreciação
positiva.

o C refere publicamente que é titular de um crédito sobre D, que entende que


não é devedor de C. Podendo esta situação de arrogância que pode prejudicar
D (que é o que justifica maior parte das ações de simples apreciação negativa),
D pode propor uma ação em tribunal de forma a acabar com o
diferendo→Instaura uma ação de simples apreciação negativa.

Esta arrogância extrajudicial por parte do réu introduz nas ações de simples apreciação
negativa uma especialidade na repartição no ónus da prova: normalmente a alegação e prova
de factos constitutivos do direito competem àquele que o invoca (artigo 342.º/1 CC), mas
nestes casos, conforme prevê o artigo 343.º/1 CC, este ónus recai sobre o réu, que fica
incumbido de alegar e provar pela positiva a existência do direito→Isto justifica-se por ser
muito difícil fazer a prova negativa de factos, pois estes são demonstráveis pela sua existência,
ou seja, pela positiva.

Nesta ação o encargo probatório divide-se entre as partes, resultado de uma


conjugação dos artigos 343.º/1 CC (réu) e 342.º/2 CC (autor), complementando com o artigo
584.º/2 (para a réplica a apresentar pelo autor):

1. O autor deve justificar a necessidade de recurso à via judicial.


2. O réu deverá demonstrar os factos constitutivos do direito de que se arroga.
3. O autor deverá demonstrar os factos impeditivos ou extintivos do direito invocado
pelo réu (exceções peremptórias- artigo 576.º/3).

Mas este encargo probatório tem uma ordem, pois o autor só tem de provar os factos
impeditivos ou extintos do direito que o réu se arroga de ter (réplica), se a existência desse
direito for previamente provada pelo réu, através da demonstração de factos constitutivos.

▪A falta de prova de uns e outros factos gera a


procedência da ação, declarando-se a inexistência do direito.

▪A prova de uns e de outros factos gera também a


procedência da ação, porque os factos impeditivos
prevalecem sobre os constitutivos.
▪Portanto: esta ação de simples apreciação negativa só
improcede se o réu alegar com sucesso factos constitutivos e
o autor falhar em fazer prova de factos impeditivos ou
extintivos.

➢ Ação de condenação: para alem de o tribunal dever emitir aquele juízo declarativo,
dela se pretende também que, em sua consequência, condene o réu na prestação
duma coisa ou dum facto.
o Artigo 10/3/b)

o Ex.: o autor, afirmando-se proprietário ou possuidor, pretende que o réu seja


condenado a restituir-lhe a coisa própria ou possuída.

o O pedido de declaração prévia do direito ou do facto jurídico pode ser


expresso, caso em que se verifica uma cumulação de pedidos [555º]. Ex.: o
autor pede ao tribunal que declare que ele é proprietário e que,
consequentemente, condene o réu na restituição. Contudo, pode apenas o
autor pedir a condenação do réu e então o juízo prévio de apreciação mais
não é do que pressuposto lógico do juízo condenatório pretendido.
Pressuposto lógico da condenação é a violação de um direito, mas não é
necessário que a violação esteja consumada à data do recurso a juízo ou
mesmo à data da sentença. Tal deve-se o facto da ação de condenação ter
como efeito a intimação ao réu para que se abstenha de violar certo direito
ou à sua condenação a satisfazer a prestação no momento do vencimento
[557º e 610º].

o Como exceção à regra, o artigo 10.º/3 admite a possibilidade da ação ser


proposta com base na previsão da violação do direito (contrariamente à regra
que diz que esta tem de ser proposta perante um estado de violação de um
direito). Estamos perante um pedido de condenação in futurum e este tipo de
pedido (pedido de prestações vincendas) só tem lugar nos termos previstos na
lei→Artigo 557.º.

➢ Ação constitutiva: exerce-se um direito potestativo. Perante o pedido de alterações


das situações jurídicas das partes, o juiz, pela sentença, cria novas situações jurídicas
das partes; o juiz, pela sentença, cria novos situações jurídicas entre elas,
constituindo, impedindo, modificando ou extinguindo direitos e deveres que,
embora fundados em situações jurídicas anteriores, só nascem com a própria
sentença. O aspeto declarativo desta, reside fundamentalmente na definição, só para
o futuro ou retroativamente, da situação jurídica constituída. Ex.: o autor pede ao
tribunal que, com determinado fundamento, declare a dissolução, por divórcio, do
seu casamento.
o Artigo 10/3/c)
3.2. As ações executivas

A ação executiva tem por fim a realização coativa de uma prestação devida. Já não se trata
de declarar direitos, preexistentes ou a constituir. Com ela passa-se da formulação concreta
da norma jurídica para a sua atuação prática, mediante o desencadear do mecanismo da
garantia. Pode ter como finalidade:

1. Ação executiva para pagamento de quantia certa;


2. Ação executiva para entrega de coisa certa;
3. Ação executiva para prestação de facto

3.2.2. Títulos executivos

➔ Artigo 10.º/5: resulta deste artigo que para aceder à ação executiva, o credor tem de
estar munido de um título executivo.

➔ Título executivo: documento a que a lei reconheça força bastante para o seu titular
aceder à ação executiva. Este é condição necessária para a instauração da referida
ação.

Coutinho de Abreu: “É o documento que exterioriza ou demonstra existência de um ato


(constitutivo ou certificativo de uma ou mais obrigações) ao qual a lei confere força bastante
para servir de base à ação executiva.”

Espécies de títulos executivos:

→Artigo 703.º/1: o proémio induz que estamos perante uma norma imperativamente
restrita, ou seja, apenas os títulos executivos que dela constam são efetivamente títulos
executivos.

Explicação: Antes da reforma do CPC de 2013 havia uma tendência que se traduzia em
o legislador ir sucessivamente reduzindo os requisitos de exequibilidade dos títulos
extrajudiciais, o que permitia mais facilmente e com mais frequência o acesso direto à ação
executiva. O CPC de 2013 restringiu intensamente a exequibilidade de títulos extrajudiciais:
isto foi tido como necessário para restabelecer a confiança e credibilidade dos títulos
executivos, diminuindo ainda o risco de execuções injustas.

→Temos então:

1. Sentença condenatória→Artigo 703.º/1 a).

→Cabem nesta categoria, entre outras, as sentenças proferidas em ações declarativas.

→Outras: Ações declarativas constitutivas, sempre que estas tenham caráter injuntivo
(sempre que delas resulte uma imposição a que o réu fique adstrito).

Exemplo1: Ação de despejo, quanto à obrigação de entregar o prédio.


Exemplo2: Ação de constituição de servidão de passagem, quando ao dever de não
estorvar o seu uso.

Isto demonstra que devemos ter um sentido amplo relativamente a estes títulos
executivos, de forma a não restringir às ações declarativas de condenação.

→Exequibilidade da sentença: depende do trânsito em julgado (artigo 704.º/1,


primeira parte), que acontece quando não seja suscetível de recurso ordinário ou de
reclamação (artigo 628.º).

Significa isto que enquanto for possível de interpor recurso (prazo em regra é de 30
dias, podendo ser de 15 dias- artigo 638.º, nas decisões que admitem recurso do artigo 629.º),
ou estando o mesmo pendente, a sentença não pode ser executada, porque ainda está sujeita
a reapreciação jurisdicional, com a possibilidade de ser alterada ou revogada.

O recurso tem 2 efeitos:

1. Suspensivo→Os efeitos da sentença não se produziram, incluindo o executório,


até à decisão do recurso.
2. Meramente devolutivo→A pendência não veda ao autor a possibilidade de ir
executando a sentença (artigo 704.º/1, parte final), ficando este com a certeza que
a execução se extinguirá ou modificará em conformidade com a decisão definitiva
da ação (artigo 704.º/2).

Exemplo1: Foi proferida em 1.ª instância uma sentença que contem um juízo condenatório
sobre o réu. Este não se conformou, pelo que recorreu, sendo o seu recurso de apelação (artigo
644.º), que terá um efeito meramente devolutivo (artigo 647.º). Neste caso o autor pode
iniciar a ação executiva.

→Artigo 705.º/1: também cabem nesta categoria os despachos e quaisquer outras


decisões ou atos de autoridade judicial que condenem o cumprimento de uma obrigação.

Exemplo1: Condenações nas custas processuais.

Exemplo2: Simples despachos judiciais que condenem as testemunhas faltosas em multa.

Exemplo3: Despachos que fixem honorários a peritos e imponham às partes o seu pagamento.

→Determinante, então, não é o tipo de decisão de onde consta o juízo condenatório,


na medida em que a força executiva não deriva da designação ou forma externa do ato, mas
sim do poder jurisdicional de que está investido o órgão que profere a decisão (apesar de que
as decisões proferidas em processo crime, quando condenem o arguido em indeminização civil
a favor do lesado, são sentenças condenatórias, para o efeito do artigo 703.º/1 a)).

→Artigo 705.º/2: as decisões proferidas pelo tribunal arbitral são exequíveis nos
mesmos termos em que o são as decisões dos tribunais comuns.

2. Documentos elaborados ou autenticados por notário ou por outras entidades ou


profissionais com competência para tal→Artigo 703.º/1 b).

→Artigo 703.º/1 b), primeira parte: são documentos autênticos, nos termos do artigo
363.º/2 CC.
→Artigo 703.º/1 b), segunda parte: não são autênticos, mas sim particulares, redigidos
pelos próprios interessados (definição a contrário inserta no artigo 363.º/2, in fine CC). Para
que estes documentos sejam autenticados, devem os mesmos ser confirmados pelas partes
perante notário ou perante outras entidades ou profissionais com competência para tal,
através de um termo, no qual se atesta a conformidade das declarações com a vontade de
quem as emite.

→Têm uma amplitude de exequibilidade total, bastando que importem a constituição


ou o reconhecimento de qualquer obrigação, independentemente da modalidade de defesa.

Exequibilidade de documentos exarados ou autenticados perante notário ou outras entidades


ou profissionais com competência para tal em que se convencionem prestações futuras ou se
prevejam a constituição de obrigações futuras→Artigo 707.º.

3. Documentos assinados pelo devedor→Artigo 703.º/1 c).

→Os documentos particulares assinados apenas pelo devedor só gozam de força


executiva quando forem títulos de crédito (letras de câmbio, livranças, cheques).

→A lei admite que estes papéis sejam dados à execução sob duas formas:

A. Enquanto títulos de crédito mesmo: títulos cambiários.


B. Como meros quirógrafos: quando a relação cambiária esteja prescrita, exigindo-se
a alegação de factos constitutivos da relação (alegação a fazer no requerimento
executivo).
4. Documentos a que, por disposição especial, seja atribuída força executiva→Artigo
703.º/1 d)

→Títulos administrativos (designação de Manuel de Andrade), enquanto emitidos por


repartições do Estado ou por certas pessoas coletivas públicas.

Exemplo1:Títulos de cobrança de contribuições, impostos, taxas e outros créditos do Estado


(artigo 162.º Código de procedimento e processo tributário).

Exemplo2: Conta assinada pelo notário relativa aos montantes devidos pela prática de atos
notariais (artigo 19.º/2 do Estatuto do Notariado).

→Títulos executivos extraordinários: reconhecimento destes está associado à tutela


de interesses específicos, seja de grupos ou organizações, seja de particulares.

Exemplo1: Ata de reunião da assembleia de condóminos, a propósito de certas dívidas por


encargos do condomínio (artigo 6.º/1 DL 268/94, de 25.10).

Exemplo2: Situações do artigo 14.º-A do NRAU, em que se considera formado título passível
de sustentar execução para pagamento de quantia certa correspondente às rendas, aos
encargos ou às despesas que corram por conta do arrendatário.

→Títulos judiciais impróprios (designação de Castro Mendes): são assim designados


pela circunstância de se formarem em ambiente judicial.

3.2. Decisão de mérito e decisão de absolvição da instância

A finalidade do processo não é alcançada, em nenhuma destas duas vertentes quando:


❖ na ação declarativa, o tribunal não profere uma sentença de mérito
❖ na ação executiva, não ordena as providências executivas por razão diferente
da inexistência da obrigação exequenda

O processo termina com uma sentença de absolvição da instância

A sentença de mérito constitui, na ação declarativa, a resposta ao pedido formulado


pelo autor. Pode ser de condenação (do réu) no pedido (ação é procedente) ou de absolvição
(do réu) do pedido (ação improcedente). Por outro lado, ao pedido do autor, responde o
tribunal, na ação executiva, ordenando as providências adequadas ao caso ou negando-as.

Todavia, para que o tribunal se possa ocupar do mérito da causa (decidindo ou


ordenando – ou negando – a execução) é necessário que se verifiquem determinadas
condições, que constituem os pressupostos processuais. Os pressupostos processuais
respeitam:

a) às partes (personalidade judiciária, capacidade e representação judiciária,


patrocínio judiciário, interesse processual);
b) ao tribunal (competência),
c) ao objeto do processo (existência e ausência de contradição, não verificação
de litispendência)
d) à relação entre as partes e o objeto (legitimidade processual)

Quando algum deles não se verifique, ocorre uma exceção dilatória e o juiz profere uma
sentença de absolvição (do réu) da instância [278/1 e 577], salvo se:

a) o processo dever ser remetido para outro tribunal


b) a falta do pressuposto puder ser sanada [278/2]
c) Se se destinando a exceção dilatória a tutelar o interesse de uma das partes, nenhum
outro motivo obstar, no momento da sua apreciação a que se conheça do mérito da
causa e a decisão dever ser inteiramente favorável a essa parte [278/3]

Proferida a absolvição da instância, o resultado atingido não representa o fim do


processo, podendo para que o fim seja atingido, o autor mover nova ação contra o mesmo
réu, com o mesmo pedido, mesma causa [581/1] para nela conseguir a mesma decisão de
mérito ou a realização das mesmas providências executivas de que a anterior não chegou a
ocupar-se.

4. O Objeto

O processo inicia-se com a apresentação da PI, na qual o autor solicita ao tribunal uma
providência de tutela do seu direito , dirigida contra o réu titular de um interesse em conflito
com o seu [552/1º- ação declarativa; 724/1/f) – ação executiva]. A esta solicitação deve o
tribunal dar resposta, concedendo ou negando a tutela pretendida pelo autor, a menos que
se deva abster de se pronunciar sobre o mérito da causa e absolver o réu da instância.

4.1. Análise da pretensão. A causa de pedir

A pretensão (ou pedido) presenta-se duplamente determinada:


➢ No seu conteúdo: referido ao direito material, consiste na afirmação/negação duma
situação jurídica subjetiva atual. Ou na ação constitutiva da vontade dum efeito
jurídico. Ou na afirmação da existência ou inexistência dum facto jurídico.
➢ Na sua função: consiste na solicitação duma providência processual para tutela do
interesse do autor.

Mas ao autor, não basta formular o pedido. Ele tem também de indicar a causa de pedir,
ou seja, alegar os factos constitutivos da situação jurídica que quer fazer valer ou negar.

Discutiu-se durante algum tempo na doutrina se esta indicação da causa de pedir era
necessária. Neste contexto surgem duas teorias:

✓ Teoria da individualização: bastava ao autor indicar o pedido, com o que todas as


possíveis causas de pedir podiam ser consideradas no processo, de tal modo que, ao
responder, afirmativamente ou negativamente, à pretensão, a sentença decidia em
absoluto sobre a existência ou não da situação jurídica afirmada pelo autor.
Ex.: afirmada a titularidade do direito de propriedade, todas as causas possíveis de
aquisição do direito podiam ser consideradas no processo, com a consequência, no
caso de absolvição do pedido, de não poder o autor propor nova ação em que
alegasse uma causa de pedir que não tivesse efetivamente considerada no processo
anterior
✓ Teoria da substanciação: a afirmação da situação jurídica tem de ser fundada em
factos que, ao mesmo tempo que integram, tal como os outros factos alegados pelas
partes, a matéria fáctica da causa, exercem a função de individualizar a pretensão
para o efeito da conformação do objeto do processo. Na sua versão mais pura, esta
teoria exige que os factos alegados sejam concludentes, isto é, que deles se retire,
desde que se provem, a conclusão constante do pedido, sem o que a pretensão não
ficará individualizada

A teoria da substanciação está inequivocamente consagrada no nosso sistema


processual: o autor deve, na PI, expor os factos que servem de fundamento ao pedido [art.
552/1/d]; esses factos constituem a causa de pedir e esta delimita o pedido para o efeito de,
juntamente com ele e com as partes, identificar a causa [art. 581/4]; esta é insuscetível de
ser repetida sem ofensa de caso jugado [art. 580/1 e 581/1], como lógica consequência da
coincidência do objeto da decisão com o objeto do pedir.

A parte que invoca o direito tem de alegar os respetivos factos constitutivos, isto é, todos
aqueles que integram a previsão da norma ou das normas materiais que estatuem o efeito
pretendido. A falta de alegação desses factos dá lugar à absolvição da parte contrária por
insuficiência duma causa de pedir de facto do pedido, ou seja, por insuficiência duma causa
de pedir que se deixou incompleta.
1. Princípios estruturantes do Direito Processual Civil

1.1. Garantia do acesso aos tribunais

O artigo 2/2 dispõe que a todo o direito, exceto quando a lei diz o contrário, corresponde
a ação adequada a fazê-lo reconhecer em juízo.

Como é de conhecimento geral, nem sempre as pessoas dispõem dos meios financeiros
que lhes permitem suportar as custas da ação ou os honorários do advogado.

Assim, a própria CRP no seu artigo 20º/1 assegura que a todos é assegurado o acesso ao
direito e aos tribunais para defesa dos seus direitos, não podendo a justiça ser denegada por
insuficiência de meios económicos.

Para tornar efetiva a garantia do acesso à via judiciária torna-se, assim, imprescindível a
eliminação de tais obstáculos de ordem económica.

1.2. Principio do dispositivo

O princípio dispositivo encontra-se enunciado no artigo 3º/1/1º parte que determina que
o tribunal não pode resolver o conflito de interesses que a ação pressupõe sem que a
resolução lhe seja pedida por uma das partes.

O tribunal só poderá resolver o conflito de interesses se essa resolução lhe for solicitada.
O pedido é formulado quando a ação é proposta, ou seja, é formulada na PI. A atividade do
tribunal não se desenvolverá, porém, de uma forma arbitrária ou improvisada. Pelo
contrário, obedecerá as normas constantes no CPC.

Como se verifica por este princípio, as partes dispõem do processo, cabendo ao juiz
controlar a observância das normas processuais e por fim proferir a decisão acerca do
conflito de interesses que determinou a proposição da ação. É portanto ao litigantes que
pertence a iniciativa da ação e o impulso necessário ao seu prosseguimento, sendo-lhes
igualmente permitido fazê-la terminar. Com esta propositura da ação, constitui-se a
instância, art. 259º/1. O Prof Lebre de Freitas chama a esta vertente do princípio do
dispositivo disponibilidade da instância.

Este princípio manifesta-se em três vertentes: (conceitos do professor Paulo


Pimenta)

1. No impulso processual
2. Na limitação dos contornos fácticos do litígio
3. Nos limites da sentença

Impulso processual

A existência e a pendência de uma ação derivam da pura vontade dos particulares. A


ação só existe a partir do momento em que é recebida a juízo da PI (artigo 159º/1): a sua
apresentação é expressão de um poder atribuído aos particulares de disporem a sua esfera
jurídica.
Este princípio vai mais além da apresentação da PI. Todo o processo é feito em volta
de uma determinada tramitação que culmina com a sentença (art. 607º), mas o
desenvolvimento dessa instância pode não ser linear, visto que:

• Podem surgir situações geradoras da “suspensão da instância” – artigo 269º


a 276º
• Podem surgir “incidentes de instância” – art. 292º e ss: ocorrências que
perturbam o normal desenvolvimento da lide e exigem do juiz e das partes
determinada atuação, de forma a ser retomada a tramitação normal.
• O processo pode não terminar com a sentença, mas sim findar por outras
razões: artigo 277º, que trata dos casos de extinção da instância:
o A instância extingue-se com o julgamento:
▪ Por via de sentença que aprecie materialmente a questão
(artigo 607.º).
▪ Por via do que chama “Julgamento formal da lide”→Juiz
profere uma decisão que, embora ponha termo ao processo,
não se pronuncia sobre o mérito da pretensão deduzida pelo
autor, limitando-se a absolver o réu da instância.

Artigo 278.º→Regula os casos de absolvição da instância, que


radicam na verificação de exceções dilatórias (estas decorrem da
violação de pressupostos processuais, sem cuja verificação o juiz
deverá abster-se de conhecer do pedido, absolvendo então o réu. A
lei, contudo, prevê a sanabilidade da falta de pressupostos processuais
e a realização de diligências com esse intuito (artigo 6.º/2; artigo
278.º/3; artigo 590.º/2).

o Desistência, confissão ou transação ( A .alínea d) Revela a ideia de


disponibilidade do processo pelas partes). Aqui o processo termina
com a prolação de uma sentença cujo sentido (condenatório ou
absolutório) decorre apenas da vontade das partes (de uma delas ou
de ambas). Assim:
▪ Desistência: o autor é admitido a desistir do pedido.
▪ Confissão: o Réu, tendo sido citado, é admitido a confessar o
pedido.
▪ Transação: estando a ação pendente, o autor e o réu são
admitidos a transigir sobre o objeto da causa.

→Esta é uma clara nota de disponibilidade do processo pelas partes.


Até a epígrafe do artigo 283.º (“liberdade de desistência, confissão e
transação” refere mesmo essa possibilidade.

→Esta disponibilidade tem por base a disponibilidade da própria


relação jurídica sobre que versa a ação. Assim: nos casos em que a
disponibilidade da relação jurídica (a disponibilidade substantiva)
conhecer restrições (exemplo1: campo das relações jurídicas
indisponíveis) a disponibilidade processual também reconhecerá essas
restrições→Artigo 289º.
→Artigo 284.º: a confissão e transação modificam o pedido ou fazem
cessar o processo nos termos em se manifestem.

→Artigo 285.º: na desistência há dois planos, visto que esta pode


respeitar ao pedido (que é livre- artigo 286.º/2), com a extinção do
direito que o autor queria fazer valer ou pode respeitar somente à
instância (ocorre extinção do processo instaurado, mantendo-se
incólume o direito de que o autor fosse porventura titular, pelo que o
réu terá de aceitar esta desistência, pelo facto da lei tentar tutelar o
réu- artigo 286.º/1)

→Artigo 290.º: quando a vontade de desistir, confessar ou transigir é


expressa nos autos o juiz deverá apreciar a validade do ato (avalia o
sujeito e o objeto):

Se o ato for válido, será proferida sentença homologatória da desistência, confissão ou


transação, condenando ou absolvendo nos precisos termos.

Limitação dos contornos fácticos:

Devem ser as partes a carrear para os autos os factos que sustentam as respetivas
pretensões: o autor deverá alegar os factos que dão consistência ao pedido e o réu alega os
factos que servem de base à sua defesa, conformando assim, o objeto do processo. Teixeira
de sousa chama a isto a disponibilidade do objeto. Já o porf. Lebre de Freitas chama a esta
vertente, disponibilidade da conformação da instância.

➢ Objeto este que pode ser ampliado (art. 266º e 264º), reduzido (art. 283º/1 e etc.
– mas cabe apenas às partes a conformação da instância, nos seus elementos
objetivos e subjetivos, podendo o juiz apenas convidar as partes à prática de atos
necessários para uma modificação da instância (art. 6º/2).

Artigo 5.º: muito intencionalmente, como diz a sua epígrafe, este preceito trata em
simultâneo de duas vertentes que sempre estiveram reguladas em preceitos distintos→O ónus
de alegação das partes e os poderes de cognição do tribunal:

➢ O artigo torna claro que o ónus de alegação se circunscreve aos factos essenciais
(àqueles cuja verificação depende a procedência das pretensões deduzidas). Isto faz
com que o artigo 5.º esteja em perfeita conjugação com o artigo 552.º/1 d), artigo
572.º c) e ainda com o artigo 574.º/1.

Factos essenciais

Art. 5º/1 – cabe às partes, e só a elas, alegar os factos essenciais da causa, i.e., aqueles que
integram a causa de pedir e os que fundam as exceções.

➢ são essenciais porque a causa de pedir é consubstanciada por esses o Essa


alegação é feita nos articulados

De conhecimento oficioso

Art. 5º/2/c – factos de conhecimento oficioso (remete para o art. 412º)


➢ Factos notórios: do conhecimento geral, facilmente cognoscível pela
generalidade das pessoas de determinada esfera social17, de tal modo que não
haja razão para duvidar da sua ocorrência.
➢ Factos que o tribunal tem conhecimento por exercício das suas funções:
conhecimento funcional.

Factos instrumentais:

O confronto do artigo 5.º/1 com o artigo 2.º a), mostra que não há qualquer ónus de
alegação quanto a factos instrumentais (factos que permitem a prova indiciária dos factos
essenciais). É assim um facto que não foi articulado nos articulados.
Nota: Estes factos instrumentais só poderão ser considerados se tiverem sido articulados os essenciais aos quais
esses são instrumentais. Só pode haver instrumentais dos essenciais que já tenham sido discutidos pelas partes.
Por sua vez, não são condicionantes diretas da decisão e a sua função é a de permitir atingir a prova dos factos
principais

Art. 5º/2/b – factos complementares são essenciais ou instrumentais?

➢ (Lebre Freitas) São complementares pois: Consideração de factos principais que


complementam ou concretizam os alegados nos articulados.
o Tem de ser a parte que beneficia do efeito constitutivo, impeditivo,
modificativo ou extintivo que os tem de invocar e manifestar vontade de deles
se aproveitar.

✓ Se complementarem factos essenciais são factos essenciais também;

✓ Se complementarem factos instrumentais, eles terão que estar presentes para que
a ação seja julgada procedente? Não, porque eles serão igualmente instrumentais.

O juiz não pode considerar um facto, ainda que instrumental, se não tiver respeitado o
princípio do contraditório.

➢ O que eles são dependem do facto que as provas concretizem

➢ PCS: não há 3º categoria como diz MTS

MTS: se os complementares forem essenciais a causa de pedir não existia porque estava
incompleta, faltando um dos factos essenciais. PCS: mas a causa de pedir tem 2 finalidades

1. Permite ao réu saber do que se está a defender (conjunto de factos de


inteligibilidade)

2. Procedibilidade

Porque apareceu este regime para estes factos? Porque não é fácil reduzir a
complexidade dos factos e saber com certeza o que é essência ou não – tempo de julgamento
seria mais longo.

Lei não permitia ir buscar factos complementares e teria que se repetir o processo.
Objetivo de evitar a improcedência – regra vem de um princípio de prevalência de substância
sobre a forma.
Factos complementares ou concretizadores:

O teor do artigo 5.º/2 b) revela que não há preclusão quanto a factos, que igualmente
essenciais, sejam complementares ou concretizadores de outros inicialmente alegados.

Factos complementares: embora necessários para a procedência das pretensões


deduzidas (dai serem essenciais), não cumprem uma função individualizadora do tipo legal. O
juiz pode e deve conhecer de tais factos quando resultem da instrução da causa e desde que
sobre eles as partes tenham tido a oportunidade de se pronunciar→Significa que o
conhecimento desses factos passa a ser oficioso e deixa de estar dependente da vontade do
interessado.

Esta categoria de factos encontra-se dentro dos factos essenciais, contrapondo-se aos
factos essenciais nucleares, que são aqueles que constituem o núcleo primordial da causa de
pedir ou da exceção, desempenhando uma função identificadora (a ponto de a sua omissão
implicar a inaptidão da petição inicial ou a nulidade da exceção).

Os factos complementares são os completadores de uma causa de pedir ou de


exceção complexa (aglutinadora de diversos elementos)→Estes acrescem aos factos
essenciais nucleares.

Os factos concretizadores têm a função de pormenorizar ou explicitar o quadro fáctico


exposto, sendo essa pormenorização dos factos anteriormente alegados que se torna
fundamental para a procedência da ação ou da exceção→Estes pormenorizam, minuciam,
explicitam ou particularizam factos já alegados, quer estes últimos sejam nucleares, quer
sejam complementares (o seu campo privilegiado é então o de alegações fácticas vagas,
genéricas, imprecisas ou dúbias).

→Só cada processo permitirá, com mais acuidade, a ponderação do que está efetivamente em
causa e o com isso o campo de aplicação destas figuras.

→Nos casos em que a narrativa fáctica vertida na petição inicial não cumpra o ónus que
impede sobre o autor:

1. A alegação contida na petição inicial é de tal modo deficiente que não permite
identificar o tipo legal→Ocorre a ineptidão por falta de causa a pedir (artigo 186.º/1
a)).
2. A alegação, embora deficiente, permite essa identificação, caso em que imporá, em
altura própria, a prolação de despacho pré-saneador destinado a convidar ao
aperfeiçoamento fáctico articulado (artigo 590.º/4).

(continuação dos dois pontos do artigo 5.º)

➢ Este artigo mantém a liberdade do julgador quando ao enquadramento fáctico da


questão, no respeitante à indagação, interpretação e aplicação das regras de direito.

Conclusão: o nosso sistema continua com uma marcada dimensão do dispositivo, expressa no
ónus de alegação de factos e na conformação do objeto fáctico do processo, estando este
princípio, contudo, restringido ao justo limite, na medida do necessário para evitar cominações
e preclusões indevidas e na medida do necessário para assegurar a adequação da sentença à
realidade extraprocessual.
Limites da sentença

Isto corresponde à necessária correspondência entre o pedido formulado pelo autor e


a decisão firmada na sentença, na medida em que o juiz não pode condenar em objeto diverso
do pedido ou em quantidade superior à peticionada pelo autor (artigo 609.º/1).

Estamos ainda no domínio da disponibilidade das partes, pois o autor é quem melhor
saberá o que pretende obter do recurso à via judicial, expressando isso mesmo no pedido
formulado na petição inicial.

Isto também se designa por princípio do pedido, no sentido de que o pedido formulado
pelo autor define os limites da sentença. Nessa conformidade, será nula a sentença que
condene em quantidade superior ou em objeto diverso do pedido, tal como resulta do artigo
615.º/1 e):

Rosenberg: a sentença deve corresponder à demanda, determinando-se por


ela na sua espécie e medida.

Chiovenda: o limite da correspondência necessária entre o pedido e o


resultado é um limite absoluto aos poderes do tribunal.

1.3. Princípio do contraditório

Se por um lado o tribunal não pode resolver o conflito de interesses sem que a
resolução lhe seja pedida por uma das partes, por outro lado, também não pode resolver sem
que a outra parte seja devidamente chamada para deduzir oposição. É o que determina a
última parte do artigo 3º/1.

É para lhe dar oportunidade de se defender que o réu é citado para contestar a ação
que contra si foi proposta, como dispõe o artigo 569º/1.

Através da citação dá-se o cumprimento ao princípio do contraditório, que tem sido


denominado a trave mestra do direito processual civil.

Esta tem consagração legal não só na fase dos articulados, mas em todas as fases do
processo incluindo na do julgamento, continuando a ser observado na fase do recurso.

Com base nele se prescreve a proibição da prolação de decisões surpresa, não sendo
lícito aos tribunais decidir questões de facto ou de direito, mesmo que de conhecimento
oficioso, sem que previamente haja sido facultada às partes a possibilidade de sobre elas se
pronunciarem.

Segundo Lebre de Freitas, é hoje entendido como garantia da participação efetiva das
partes no desenvolvimento de todo o litígio, mediante a possibilidade de, em plena igualdade,
influírem em todos os elementos – factos, provas, questões de direito – que se encontrem em
ligação com o objeto da causa e que em qualquer fase do processo apareçam como
potencialmente relevantes para a decisão. O escopo principal do princípio do contraditório
deixou assim de ser a defesa, no sentido negativo de oposição ou resistência à atuação alheia,
para passar a ser influência no sentido positivo de direito de incidir ativamente no
desenvolvimento e no êxito do processo.

O princípio do contraditório permite a cada uma das partes deduzir as suas razões (de
facto e de direito), oferecer as suas provas, controlar as provas do adversário e discretear sobre
o valor e resultado de umas e outras.
O juíz deve observar e fazer cumprir, ao longo de todo o processo, o princípio do
contraditório, não lhe sendo lícito, salvo caso de manifesta desnecessidade1, decidir questões
de direito ou de facto, mesmo que de conhecimento oficioso, sem que as partes tenham tido
a possibilidade de sobre elas se pronunciarem, artigo 3º/3.

Este princípio tem consagração legal no artigo 3.º/1, segunda parte e 2.

1.4. Princípio da igualdade (de armas)

Este princípio é uma decorrência ao nível do direito processual civil, da norma


constitucional que consagra a igualdade dos cidadãos perante a lei artigo 4º.

O princípio da igualdade de armas constitui manifestação do princípio, mais geral, da


igualdade das partes, que implica a paridade simétrica das suas posições perante o tribunal.
Impõem o equilíbrio entre as partes ao longo de todo o processo, na perspetiva dos meios
processuais de que dispõem para apresentar e fazer vingar as respetivas teses: exige a
identidade de faculdades e meios de defesa processuais das partes e a sua sujeição a ónus e
comunicações idênticos, sempre que a sua posição perante o processo é equiparável, e um
jogo de compensações, gerador do equilíbrio global do processo, quando a desigualdade
objetiva intrínseca de certas posições processuais leva a atribuir a um aparte meios
processuais não atribuíveis à outra.

1.5. Princípio do inquisitório

Artigo 411.º: cabe ao juiz ordenar, mesmo oficiosamente, as diligências necessárias ao


apuramento da verdade e à justa composição do litígio, quanto aos factos de que lhe é lícito
conhecer.

Artigo 342.º CC: àquele que invoca um direito cabe fazer prova dos factos constitutivos do
direito invocado (nº1). A prova dos factos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito
invocado compete àquele contra quem a invocação é feita (nº2).

▪Estabelece-se aqui um ónus da prova dos factos que sustentam as pretensões deduzidas
pelas partes.

▪Colocadas as coisas nestes termos, o autor deveria então assumir a iniciativa da prova dos
factos que sustentam o seu pedido. Esta atitude deveria ser, similarmente, assumida pelo réu.
Assim sendo: podíamos fazer um paralelismo entre o ónus da alegação e o ónus da prova.

Há, contudo, um limite para este poder inquisitório do juiz: este só pode usar estes poderes
em factos de que lhe é lícito conhecer.

Os poderes que o artigo 411.º confere ao juiz são poderes-deveres ou poderes funcionais,
não estando na disponibilidade do juiz a opção entre exercer ou deixar de exercer esses
poderes: a partida do momento que o juiz percebe que a utilização desses poderes é
necessária ele está vinculado à prática do ato.

1
Por exemplo: é manifestamente desnecessário convidar as partes a pronunciarem-se sobre a qualificação como compra e venda do contrato que
integra a causa de pedir, se o autor, embora não invocando explicitamente esta qualificação, o descreveu como tal, em termos inequívocos e não
contrariados, de facto nem de direito, pelo réu. Mas já será necessário o convite se o juiz entender que, não obstante as partes, explícita ou
implicitamente, terem tomado o contrato como CV ao longo de todo o processo, sendo a sua qualificação correta de empreitada ou doação. A
falta de convite, quando deva ter lugar, gera nulidade, artigo 195º.
Parte da doutrina: usa a expressão “ónus da iniciativa da prova” para referir a
conveniência que a parte tem em requerer diligências probatórias relativamente aos factos
constitutivos do direito invocado e “ónus da prova”, para o momento da ponderação judicial
acerca dos efeitos que decorrem da falta de prova de determinado facto.

Coutinho de Abreu conclui→a prova de tal facto pode provir:

1. Da iniciativa da parte a quem o mesmo aproveita.


2. Diligências determinadas oficiosamente pelo juiz (poderes inquisitórios).
3. Diligência requerida pela parte contrária (princípio da aquisição processual- artigo
413.º).

…assim, se o facto se provar, fica considerado como provado. Se não se provou então serão
acionados os efeitos decorrentes dessa falta de prova, conforme os critérios do ónus da prova.

1.6. Princípio da cooperação

O Princípio da cooperação encontra-se definido no artigo 7º do CPC, nomeadamente


no seu número 1.

Partes e juízes devem cooperar entre si para que o processo realize a sua função em
prazo razoável. Este princípio deve ser entendido como recíproco nas relações que se
estabelecem entre as partes e entre estas e o tribunal, impondo-se ainda a terceiros. O apelo
à realização da função processual aponta para a cooperação dos intervenientes no processo
no sentido de nele se apurar a verdade sobre a matéria de facto e de direito. O apelo ao
prazo razoável aponta para a sua cooperação de modo a proporcionarem as condições para
que essa decisão seja proferida no menor período compatível com as exigências do processo
ou, se se tratar de uma ação executiva, tenham lugar com brevidade as providências
executivas.

O referido dever de cooperação tem como limites – que legitimam a recusa em


obedecer – os que vêm consagrados no 417º/3 como determina o 7º/3. A licitude da recusa
tem fundamento no art. 32º/8º da CRP que determina a nulidade de todas as provas obtidas
mediante: tortura, coação, ofensa a integridade física ou moral, abusiva intromissão na vida
privada, no domicilio e nas telecomunicações.

Sempre que alguma das partes alegue justificadamente dificuldade séria em obter
documento ou informação necessários ao processo, deve o juiz sempre que possível,
providenciar pela remoção do obstáculo . 7º/4. Nos termos do 417º/1 todas as pessoas,
mesmo que não sejam partes da causa, têm o dever de prestar a sua colaboração para a
descoberta da verdade. A recusa de cooperação é condenada em multa, 417ª/2.

Por sua vez, quando a recusa é proveniente da parte e se torna inviável a realização
da diligência através do emprego de meios coercivos, o tribunal apreciará livremente o valor
da recusa para efeitos probatórios.

Caso a parte contrária tiver culposamente tornado impossível a prova do onerado,


inverte-se o ónus da prova – artigo 417º/2 + 344º/2 do CC. Assim, o ónus da prova do facto
passa a caber à parte que culposamente criou essa impossibilidade à contraparte.
Quando o recusante for parte, pode ainda ser condenado em multa, como litigante
de má fé – artigo 542º/1 e 2/c).~

Por fim, pode o tribunal por sua iniciativa, inspecionar coisas ou pessoas, artigo
490º/1. Tal como pode, por sua iniciativa, inquerir uma pessoa que não foi oferecida como
testemunha, se houver razões para presumir que essa pessoa tem conhecimento de factos
importantes para a boa decisão da causa – artigo 526º/1.

Cooperação material

Da cooperação em sentido material tratam o artigo 417º e o 7º/2 e 3.

O artigo 417º /1, colocado em sede de instrução do processo, faz recair sobre as partes –
e sobre terceiros – o dever de prestarem a sua colaboração para a descoberta da verdade,
facultando objetos que constituem meios de prova, submetendo-se elas próprias à inspeção
judicial e ao exame pericial. Este dever tem dois limites:

• O respeito pelos direitos fundamentais


• Respeito ou dever de sigilo. AO contrário do primeiro limite, este não é absoluto,
podendo assim o tribunal imediatamente superior, se não se tratar de segredo de
estado ou de segredo religioso, decidir se ele é de manter ou não segundo o critério
do interesse preponderante.

Por sua vez, o artigo 7º/2, colocado no campo dos princípios gerias, consagra o poder de, em
qualquer altura do processo, o juiz ouvir as partes, seus representantes ou mandatários,
pedindo-lhes esclarecimentos sobre a matéria de facto ou de direito. De notar que este
pedido é realizado na audiência prévia.

Cooperação formal

Da cooperação em sentido formal trata o 7º4 e o 151º.

O artigo 7º/4 impõe ao juiz o dever de providenciar pelo suprimento de obstáculos com
que as partes se defrontem na obtenção de informação ou documento necessário ao
exercício duma faculdade, à observância dum ónus ou ao cumprimento dum dever
processual.

1.7. Dever da economia processual

O resultado processual deve ser atingido com a maior economia de meios. Esta
economia exige que resolva o maior número de litígios (economia de processo) e, por
outro lado, comporte só os atos e formalidades indispensáveis ou úteis (economia de
atos e formalidades).

No que diz respeito à economia de processos, o princípio manifesta-se nas disposições que
permitem:

• O litisconsórcio inicial (32º e ss)


• A cumulação de pedidos (555º)
• O pedido subsidiário (554º)
• A ampliação de pedidos e da causa de pedir (264º)
• A reconvenção (266º)
• Incidentes de intervenção de terceiros (316º)
Por outro lado, na economia de tos expressa-se da seguinte forma:

• Simplificação das formalidades dos atos praticados no processo


• Adequação da tramitação processual às especificidades da causa (547º, 37º/2 e 3)
• Proibição da prática de atos processuais inúteis (130º)
• Redução da forma dos atos úteis à sua expressão mais simples (131º/1)

1.8. Dever de Gestão Processual

A tendência para, de forma abusiva, lançar mão de certas disposições processuais


com finalidade de retardar o desenvolvimento da ação, justifica que ao juiz sejam atribuídos
poderes que realmente lhe permitam obstar a essa prática e acelerar a solução do conflito.

Segundo este princípio pede-se ao juiz a direção ativa e dinâmica do processo, tendo
em vista, a rápida e justa resolução do litigio e a melhor organização do trabalho do tribunal.
A satisfação deste dever destina-se a garantir uma mais eficiente tramitação da causa, a
satisfação do fim do processo ou a satisfação do fim do ato processual.

→Artigo 6.º: assinala que cumpre ao juiz dirigir ativamente o processo,


acrescentando ainda a alusão a mecanismos de simplificação e agilização processual e
conclui dizendo que tudo isso é norteado pelo critério de garantir a justa composição do
litígio em prazo razoável.

A direção formal do processo pelo juiz radica nos deveres de cooperação do juiz para
com as partes.

Art. 547º: juiz pode adaptar a tramitação legal como melhor se adaptar às
especificidades do caso concreto – adequação às especificidades do processo, tendo em
conta o objeto processual – o juiz pode seguir as diligências que achar mais adequadas,
tendo em conta a justa composição do litígio:

➢ Princípio da Adequação Formal que não tem só lugar quando a tramitação legal não
se adeque (em absoluto) ao caso concreto, deve ser também quando, embora
adequada, haja lugar a uma melhor que se lhe adeque.

A concessão ao juiz de amplos poderes de gestão processual constitui-o no dever de


o exercer, não se tratando de um poder discricionário, embora o seu exercício envolva juízos
técnicos de conveniência e oportunidade.

➢ Daí decorre a impugnabilidade das decisões de gestão processual que o juiz venha a
tomar (630º, 195º/1 e etc.)

1.9. O dever da Boa-fé Processual

O princípio da boa-fé traduz a convicção de agir ou de ter um comportamento


conforme os princípios da justiça e da lealdade que a cada um se impõem nas suas relações
com as outras pessoas. Neste sentido dispõem o artigo 8º.

As regras da boa-fé devem estar presentes em todas as relações jurídicas,


nomeadamente na formação dos contratos, conforme exige o 127º do CC. Quando a parte
infringir este dever, incorre em responsabilidade como litigante de má fé, podendo ser
condenada em multa e em indemnização à parte contrária, se esta a pedir, nos termos do
542º/1.

O numero 2 do referido artigo dá-nos a noção de má fé nas suas diversas alíneas. Assim,
a má fé processual considera como requisitos reveladores da sua existência não apenas o
dolo, mas também a culpa grave, que designa por negligência grave.

A parte tem o dever de:

• Não formular pretensão ou oposição cuja falta de fundamento devia conhecer


• Não alterar a verdde dos factos e de não omitir factos relevantes para a decisão
da causa
• Não fazer do processo ou dos meios processuais um uso claramente reprovável
com o fim de conseguir um objeto ilegal
• Impedir a descoberta da verdade
• Atrasar a ação da justiça ou o trânsito em julgado

Exige-se que o litigante tenha consciência de que não lhe assista razão. Não se pode
considerar como litigante de má fé aquele que supõe que atua em conformidade com o
direito por desconhecer ou ignorar qualquer vício ou circunstância anterior.

Conforme a jurisprudência, a defesa convicta de uma perspetiva jurídica dos factos


diversa daquela que a decisão judicial acolhe não implica por si só, litigância censurável a
despoletar a atuação da norma sancionatória.
Pressupostos processuais
O juiz, antes de se preocupar com a pretensão formulada pelo autor, terá de
averiguar da existência dos chamados pressupostos processuais.

➔ Constituem os requisitos de cuja verificação depende a apreciação do mérito da


causa. O desrespeito pelos pressupostos processuais impede o juiz de se pronunciar
sobre o mérito da causa, devendo então ser proferida uma decisão que, ao invés de
apreciar o mérito, se limita a um julgamento formal da lide que põe termo ao
processo, traduzindo-se na absolvição do réu da primeira instância (artº 278º/1 CPC).
o Contudo, o juiz deve procurar suprir a falta de pressupostos processuais ou
convidar as partes a fazê-lo, quando a sanação dependa de atos a praticar
por estas - princípio da prevalência da substância sobre a forma, º6º/2 que
nos remete para o 278º/3
▪ Não sendo sanada a falta, geralmente o juiz absolverá o réu da
instância, artigo 279º/1. Efeito da violação dos pressupostos
processuais: ocorrência de exceções dilatórias, as quais constituem
argumentos de defesa ao dispor do réu (artºs 576º e 577º CPC).

Quando os pressupostos não estão verificados há exceção dilatórias.

Exceção Diltória

É matéria que o juiz conhece sem as partes


pedirem – não viola o princípio do São tipicamente de conhecimento oficioso
contraditório pois o juiz só pode conhecer da e não há necessidade de impulso da parte
exceção após ouvir as partes

Pressupostos processuais

QUANTO ÀS PARTES: QUANTO AO TRIBUNAL QUANTO ÀO OBJETO DE CAUSA:


• Personalidade • Competências • Aptidão da petição inicial;
judiciária; internacional e interna • Não verificação da litispendência
• Capacidade judiciária; e do caso julgado.
• Legitimidade;
• Patrocínio Judiciário
Obrigatório;
• Interesse em agir.
1. Quanto às partes

1.1. Personalidade judiciária

11º/1 – a personalidade judiciária consiste na suscetibilidade de ser parte.

Pessoas que requerem ou contra as quais foi requerida a providência judiciária


judiciaria que se pretende alcançar através da ação.

As partes devem ficar logo identificadas na PI – 555º/1/a).

Se houver um processo com ausência de parte? Tem de ser considerado existente e


ter um resultado:

• MTS: há absolvição do réu na instância

• PCS: não é possível absolver o réu na instância por ele nem foi parte – não há uma
resolução dogmática e tem de se recorrer à lógica jurídica.

Por seu turno, as pessoas podem vir a ter intervenção no processo quer em
substituição daquelas, quer ao lado delas. A substituição acontece quando no decurso da
causa, ocorreu a transmissão da coisa ou direito litigioso:

Por ato Por Intervenção Intervenção


entre vivos substituição espontânea provocada –
– artigo de pessoa – 311º. 316º.
263º. falecida –
351º.

Autor
principal
Réu
Parte
assumem no
prpocesos Caso da
secundária
uma posição assistência
subordinada

Nota1: assistente é uma pessoa que tem interesse jurídico em que a decisão do pleito seja favorável a uma das partes (326º).
Nota2: Um terceiro é aquele que não é parte: não demanda nem é demandado em nome próprio.
Nota3: PCS - Quanto às partes, ou se é Principal ou Acessória, não há 3ª categoria
O 328º cruza com o 321º: que interessa aqui é saber qual o sujeito de imputação das
situações jurídicas processuais previstas pelo sistema para perceber como a parte acessória
se comporta (pois tem direitos equiparados). Por sua vez, o 328º/2 explica que se houver
conflito entre aquilo que diz o assistente e aquilo que diz a parte principal prevalece o que é
dito pela parte principal -> esse é o significado de subordinação.

A personalidade jurídica vem a ser precisamente a qualidade da pessoa ou sujeito de


direito. Nestes termos, têm personalidade jurídica todas as pessoas singulares, as pessoas
jurídicas, ou seja, as pessoas coletivas e as sociedades a que seja reconhecida. ~

A personalidade judiciária é definida na lei segundo o critério da coincidência. De


acordo com este, quem tiver personalidade jurídica, tem personalidade judiciária – 11º/2.

No que concerne às pessoas coletivas, embora tenham de estar em juízo por meio dos
respetivos representantes legais, as ações são instauradas em nome delas ou contra elas,
pois são elas as verdadeiras partes.

Contudo, o princípio da coincidência estabelecido no artigo 11º/2 sofre exceções, pois


a lei chega a estender a personalidade judiciária a quem não tem personalidade jurídica, nos
termos do disposto no artigo 12º. Este preceito, admite assim, como partes na causa
entidades às quais não é reconhecida personalidade jurídica.

O artigo 13º estende ainda a responsabilidade judiciária às sucursais, agências, filiais,


delegações ou representações de uma pessoa coletiva, se ação proceder de factos por elas
praticados. Tratando-se de entidades que são apenas órgãos de administração local e, como
tais, subordinados à administração central. Em princípio, não deviam ter personalidade
judiciária, a qual pertence à pessoa coletiva ou sociedade. Porém, quando estão em causa
factos por elas praticados, podem demandar e ser demandadas.

O número 2º do mesmo preceito refere-se a casos em que a administração principal


esta sedeada no estrangeiro e à administração local é reconhecida personalidade judiciária,
não só em relação aos factos por si praticados, mas também aos que foram praticados pela
administração central, quando a obrigação tenha sido contraída com um português ou com
um estrangeiro domiciliado em Portugal.

É de notas que a personalidade judiciária às sucursais e outras congéneres não atinge a


personalidade da sociedade ou pessoa coletiva, podendo esta demandar e ser demandada.

Nos casos de ações indevidamente propostas contra sucursais, o artigo 14º prevê a
sanação da falta deste pressuposto processual através da ratificação ou repetição do
processado pela administração principal. O juiz, antes de proferir despacho de absolvição do
réu da instância deve providenciar (art. 6º/2) para que a administração principal intervenha
no processo e sane os atos.

1.1.1. Consequências por falta de personalidade.

A falta de personalidade judiciária é, em princípio, insanável. Constada a sua falta, seja


do lado do autor ou do réu, o tribunal deverá proferir despacho em que diz abster-se de
conhecer do pedido absolvendo o réu da instância, por força do artigo 278º/1/c).
O artigo 14º prevê uma exceção. Quando a ação foi indevidamente proposta contra
sucursal, agência, filial, delegação ou representação, a falta de personalidade judiciária pode
ser sanada mediante a intervenção da administração principal:

1. Ratifica todo o processado - o processo .


2. Não ratifica – o processo terá de ser repetido.

A falta de personalidade judiciária não sanada constitui uma exceção dilatória – artigo
577º/c). É de conhecimento oficioso, como a generalidade das exceções dilatórias – artigo
578º.

➔ Se a citação do réu depender do prévio despacho judicial – artigo 226º/4 – e se a


exceção não for sanável nos termos do disposto no artigo 14º, pode o juiz, em vez de
ordenar a citação, indeferir liminarmente a PI.
➔ Se so for reconhecida no despacho saneador, deve o juiz proferir despacho de
absolvição do réu da instância.
➔ Se for sanável, nos termos do 14º, o tribunal, antes de proferir despacho de
absolvição do réu da instância, deve providenciar para que a administração principal
proceda à sanação, de modo acima referido – artigo 6º/2.

1.2. Capacidade jurídica

Para que o juiz possa conhecer o mérito da causa, não basta que as partes tenham
personalidade judiciária. É necessário que possuam igualmente capacidade judiciária.

Entende-se como a aptidão para adquirir direitos e para os exercer.

Pode-se considerar dois graus de capacidade:

• Capacidade de gozo de direitos.


• Capacidade de exercício desses direitos.

Na generalidade, as pessoas têm capacidade de gozo de direitos, o que se traduz na


sua capacidade jurídica que se traduz na capacidade de adquirir direitos.

Embora a pessoa tenha plena capacidade de gozo de direitos, a lei protegê-la contra a
sua inexperiência (menores) ou contra o seu deficiente estado de saúde mental (maiores
acompanhados). Neste contexto fala-se de limitações à capacidade de exercício dos direitos.

Conforme define o artigo 15º/1, a capacidade judiciária consiste na suscetibilidade de


estar, por si, em juízo. Significa também isto, o poder de escolher livremente quem o
representa na ação. Por seu turno, aqueles que não possuem capacidade judiciária, é a lei
que impõe o seu representante.

A capacidade judiciária tem por base e por medida a capacidade de exercício de


direitos – conforme dispõe o artigo 15º/2.

• Ao referir que a capacidade judiciária “(...) tem por base e por medida (..)”, o
preceito estabelece a correspondência entre capacidade judiciária e a
capacidade do exercício de direitos, significando isto que possuem plena
capacidade judiciária aqueles que possuem igualmente total capacidade de
exercício de direitos.
• Os interditos são destituídos de capacidade judiciária porque não tem
qualquer capacidade de exercício de direitos.
• Os inabilitados têm a sua capacidade de exercício de direitos limitada aos atos
específicos que na sentença decretou a inabilitação – 901º/2.
• Os jovens, só quando atingem a maioridade – 18 – é que adquirem plena
capacidade do exercício de direitos. Porém existem exceções à incapacidade
dos menores como as que constam no 127º do CC.
o Assim, o menos com mais de 16 anos tem plena capacidade judiciária
para litigar em ação que estejam em causa os bens que adquiriu pelo
seu trabalho.
o Os pais não tem a administração dos bens que o filho, maior de 16
anos, adquiriu pelo seu trabalho.

Quem não tiver capacidade judiciária só pode estar em juízo através dos seus
representantes legais – com a finalidade de proteger certas pessoas contra a sua
inexperiência ou incompleta formação ou contra o seu deficiente estado mental, a lei
determina que não podem exercer, por si próprias, um direito cuja titularidade lhes é
reconhecida, havendo fenómenos de representação.

1.2.1. Modos de suprimento da incapacidade judiciária.

Quem não tiver capacidade judiciária, só pode estar em juízo através dos seus
representantes legais. A sua incapacidade é suprida pelos meios adequados previstos na lei.

1. Dos menores

A incapacidade dos menores é suprida pelo poder paternal.

Os menores são representados em juízo pelos seus pais, sendo necessário o acordo de
ambos par a propositura de ações – 16º/2.

Nas ações propostas contra o menor, ambos os progenitores devem ser citados –
16º/3.

• Se, sendo o menor representado por ambos os pais, houver desacordo entre estes
acerca da conveniência de intentar a ação, pode qualquer deles requerer ao tribunal
competente para a causa a resolução do conflito – 18º/1
• Se o desacordo apenas surgir no decurso do processo, acerca da orientação deste,
pode qualquer dos pais, no prazo de realização do primeiro ato afetado pelo
desacordo, requerer ao juiz da causa que providencie sobre a forma de o incapaz ser
nela representado, suspendendo-se, entretanto, a instância – 18º/2.
• Quando o requerimento é feito por um dos progenitores, o juiz, depois de ouvir o
outro e o MP, decide de acordo com o interesse do menor. A representação pode ser
atribuída a um dos pais ou ao MP, ou pode ser designado curador especial – 18º/3.

2. Dos interditos

O interdito é equiparado ao menor, sendo-lhe aplicável, com as necessárias adaptações, as


disposições que regulam a incapacidade por menoridade e fixam os meios de suprir o poder
paternal. Significa, pois, que a sua incapacidade é suprida pela tutela. ´
A interdição é decretada em ação especial intentada com essa finalidade, nos termos
dos artigos 891º a 905º, e a sentença fixará, sempre que seja possível, a data do começo da
incapacidade e designará ainda o tutor, como dispõe o 901º-

Como já se disse, a interdição é sempre total, isto é, o interdito é considerado de todo


inapto para governar as sua pessoa e bens.

3. Dos inabilitados

A inabilitação contempla os casos em que, não se encontrado a pessoa em estado de


incapacidade que justifique a sua interdição, se encontra porém, com uma capacidade
reduzida que não lhe permite administrar, por si, devidamente o seu património.

A inabilitação é decretada em ação especial igualmente prevista nos artigos 891º a


905º- A sentença que a decretar designará o curador e especificará os atos que devem ser
autorizados ou praticados por este – 901º/1 e 2.

Os inabilitados podem intervir em todas as ações em que sejam partes, ficando,


porém, tal intervenção subordinada à orientação do curador que prevalece no caso de
divergência – 19º/1 e 2.

Ainda quando representado pelo curador, o inabilitado pode intervir em todas as


ações em que seja parte, devendo ser citado quando tiver a posição de réu – artigo 19º/1.
Por força deste mesmo preceito, se o inabilitado não for citado, verifica-se fundamento para
anulação do processado, nos termos do disposto no artigo 187º/a).

Pode acontecer que o incapaz não tenha representante legal na altura em que se
pretende propor uma ação em seu nome ou quando a ação foi proposta contra ele. Se a
urgência da nomeação não se compadece com a demora própria do respetivo processo,
deverá ser nomeado um curador provisório. Será um curador ad litem que cessará as suas
funções logo que seja nomeado o representante legal – 17º.

Se a questão da incapacidade judiciária surgir no momento da citação, por se ter


verificado impossibilidade de o citando a receber, o incapaz será representado na ação por
um curador especial – 20º.

1.2.2. Sanação da incapacidade judiciária e da irregularidade de representação

Ase o incapaz estiver em juízo quando só podia estar por intermédio do seu
representante legal ou de curador, verifica-se um cso de incapacidade judiciária, que
constitui uma exceção dilatória – 557º/c).

A incapacidade e a irregularidade são sanadas mediante a intervenção do


representante legal – 27º/1. Se estes ratificarem os atos anteriormente praticados, o
processo segue como se o vício não existisse – 27º/2.

No caso de não o ratificar, fica sem efeito o processado a partir do momento em que a
falta se verificou, renovando-se os prazos para a prática dos atos atingidos.

Há irregularidade de representação quando, embora o incapaz esteja representado em


juízo, não o esteja pelo devido representante, ou seja, por aquele a quem a lei atribui o
poder de representação – as consequências são as mesmas da incapacidade.
1.3. Legitimidade das partes

Para que o juíz possa conhecer do mérito da causa, torna-se necessário que as partes,
além de possuírem personalidade e capacidade judiciária, tenham legitimidade para a ação.

A personalidade e a capacidade judiciária constituem uma qualidade das partes,


genericamente exigida para todos os processos, ao passo que a legitimidade consiste na
posição das partes numa determinada ação.

Legitimidade consiste na posição das partes numa determinada ação – parte será
legítima se for a pessoa cuja esfera jurídica é diretamente atingida pela providência
requerida, se a ação vier a proceder.

Autor: a parte terá legitimidade se for ela quem juridicamente pode fazer valer a
pretensão perante o réu.

Réu: Terá legitimidade se for ela a pessoa que juridicamente se pode opor à pretensão
do autor, por ser a pessoa cuja esfera jurídica é diretamente atingida pela providência
requerida se a ação vier a proceder.

Se as partes fossem ilegítimas, a decisão que viesse a ser proferida sobre o mérito da
causa não teria eficácia, visto que não poderia vincular os verdadeiros titulares da relação
jurídica litigiosa.

O artigo 30º/1 define a legitimidade servindo-se do critério do “direto interesse”.


Como se verifica, para que de legitimidade se possa falar, não basta que as partes tenham
interesse jurídico na procedência ou improcedência da ação. Exige o preceito legal referido
que as partes tenham interesse direto.

• Ex: o pai pode ter interesse que seja paga ao seu filho, de maioridade, uma
importância que lhe é devida. No entanto, não tem legitimidade para propor
a adequada ação contra o devedor. Falta-lhe o interesse direto.

O interesse significa a utilidade para o autor e o prejuízo para o réu. Neste sentido
dispõe o 30º/2 que o interesse em demandar se exprime pela utilidade da ação e o interesse
em contradizer, pelo prejuízo, que dessa procedência advenha.

A lei procura dar uma maior precisão a estes conceitos de modo a afastar, tanto
quanto possível, as dúvidas acerca da legitimidade das partes. Assim, o 30º/3 dispõe que, na
falta de indicação da lei em contrário, são considerados titulares do interesse relevante para
o efeito da legitimidade os sujeitos da relação controvertida, tal como é configurada pelo
autor. Denotar que este é um critério subsidiário de determinação da legitimidade das
partes.

A redação deste artigo resulta da reforma de 1996/96, que põe termo a uma querela
que dividiu a doutrina e jurisprudência durante décadas.

Esta derivou de estar apenas previsto no CPC de 61 que na falta de indicação em


contrário, seriam considerados titulares do interesse relevante para o efeito da legitimidade
os sujeitos da relação material controvertida.

A querela radicava na questão de saber qual a relação controvertida a que se devia


atender: a apresentada pelo autor na PI ou a que viesse a resultar da própria causa?
Por outros termos: a legitimidade das partes decorria da relação jurídico-processual,
tal como era descrita pelo autor na PI ou da relação material controvertida que se viesse a
apurar como real/verdadeira no decurso da ação?

Na tese defendida por Barbosa Magalhães – as partes eram legitimas, atendendo à


relação controvertida tal como a configurara o autor. Por isso, nenhum obstáculo impedia o
tribunal de conhecer do mérito da causa. E, no caso de se provar que, na verdade, não foi o
réu quem vendeu o chumbo, a ação devia ser julgada improcedente, sendo o réu absolvido
do pedido.

Para Alberto Reis, o réu era parte ilegítima, por não ser o sujeito da relação material
controvertida litigada. Sendo assim, o juiz não pode conhecer o mérito da causa, por falta de
um pressuposto processual – a legitimidade do réu. Deve, pois, absolver o réu da instância.

Adotou-se a teoria que faz corresponder a legitimidade das partes à titularidade da


relação controvertida descrita pelo autor na PI, ou seja, a tese defendida por Barbosa
Magalhães.

A legitimidade ajuda a explicar os casos de legitimidade plural – casos mais complexos


de configuração da legitimidade processual.

Direito processual civil olha para o direito material e configura legitimidade processual
na configuração que têm situações materiais. Começa-se sempre pelo Direito material que
está em causa na ação.

Há pluralidade de comparte no processo quando a situação material atinja diferentes


pessoas que compõe, não obstante a pluralidade, uma só parte.

• A parte plural, tende a ser acompanhada por uma parte plural processual – a
parte pode ser composta por várias pessoas quando elas são afetadas e
estão na situação jurídica material. Ex: “ambos os cônjuges”
• Mas, se se estiver a atingir bens próprios de um dos cônjuges pode-se atuar
sozinho no processo – legitimidade singular
• No entanto, se esse bem próprio estiver sujeito a certo regime de
administração e alienação dos bens (e: casa de família) já terão de ser ambos
os cônjuges a atuar. Se se repercutir sobre bens comuns também não se
pode atuar sozinha – legitimidade plural.

1.3.1. Pluralidade de partes.

O interesse direto que as partes têm no desfecho da lide deve ser conjugado com o nº de
partes em juízo.
Ativa varios autores

A pluralidade de Passiva vários réus


partes pode ser

vários autores e
Dupla
vários réus

acontece no
inicial momento em que
é proposta a ção
A pluralidade de
partes pode ser intervenção de
terceitros - 311º
formada em
momento
posterior intervenção
provocada - 316º

Litisconsórcio
Quanto a sua
A pluralidade de natureza pode dar
partes origem
Coligação
1.3.2. Litisconsórcio

Quando o interesse respeitar a uma pluralidade de partes principais que se unam no


mesmo processo para discutirem uma só relação jurídica material, estamos perante a figura
do litisconsórcio.

Para haver litisconsórcio é necessária a formação de uma pluralidade de partes


principais. Por isso, não se formará litisconsórcio no caso da assistência, visto que o
assistente é parte acessória – artigo 326º.

1.3.2.1. Litisconsórcio voluntário


• É voluntário para a generalidade das relações jurídicas com pluralidade de
sujeitos.
• Só intervêm na ação se assim o desejarem
• Embora a questão diga respeito a vários interessados, a presença de todos na ação
só se verifica se o autor decidiu propor a ação contra todos os interessados, ou
porque vários interessados decidiram instaurar em co-autoria a ação.
• Artº 32º/1: ação pode ser instaurada por todos ou contra todos os interessados. A
decisão proferida na causa resolverá, em simultâneo e quanto a todos, o diferendo
submetido à consideração do tribunal.
• A presença de todos não é obrigatória, mas sim voluntária. Importa saber qual a
decisão a proferir quando não se encontrem todos na lide (não sejam todos parte
da causa). A decisão a proferir deverá ficar circunscrita às partes presentes,
vinculando apenas estas (artº 32º/2 CPC).
• Para a hipótese de não ser imposta (por lei ou convenção) a presença de todos os
interessados, temos a parte final do artº 30º/1 CPC. Ex: obrigações divisíveis, artº
534º CC.
• Artº 30º/2 CPC: hipótese de a lei ou o negócio permitir que o direito comum seja
exercido por um só ou que a obrigação comum seja exigida de um só dos
interessados. Ex: obrigações solidárias, artº 512º CC

1.3.2.2. Litisconsórcio necessário


• Pluralidade de partes obrigatória, não dependente da simples vontade dos
interessados.

• Devem estar em juízo todos os interessados na relação controvertida, sob pena de


ilegitimidade (artº 33º/1 CPC).

• Obrigatoriedade da presença simultânea de todos os interessados pode resultar


da lei, do negócio, ou até da natureza da relação controvertida, pelo que podemos
ter os seguintes tipos de litisconsórcio necessário:

o LEGAL: deriva da exigência da lei (artº 33º/1 CPC). Ex: obrigações


indivisíveis com pluralidade de devedores (535º/1 CC). O artº 34º CPC
regula autonomamente diversos casos de litisconsórcio necessário legal,
resultantes do casamento.
o CONVENCIONAL: pluralidade das partes determinada por estipulação dos
interessados (artº33º/1 CPC). Admite-se que várias pessoas celebrem um
negócio e convencionem que devem estar presentes todos os
interessados/outorgantes em eventual discussão judicial relativa a esse
negócio. Quanto à forma da convenção, deve constar pelo menos
documento escrito, ou submeter-se a forma mais solene, se for essa a do
negócio a que respeita o litigio (embora a lei seja omissa quanto à forma
da convenção).

o NATURAL: Intervenção de todos os interessados é necessária para que a


decisão a obter produza o seu efeito útil normal, tendo em conta a
natureza da relação jurídica em discussão, produzindo a decisão o seu
efeito útil normal quando /não vinculando os restantes interessados)
regule definitivamente a situação concreta das partes relativamente ao
pedido formulado, artº 33º/2 CPC).

Ilegitimidade das partes constitui uma exceção dilatória (art. 576º e 577º/e) devendo
o juiz abster-se de conhecer do pedido e absolver o réu da instância (art. 278º/1/d). A
Ilegitimidade é sanável mediante a intervenção espontânea ou provocada da parte cuja falta
gera esse vício (art. 261º que remete para os art. 311º e 316º)

A intervenção é espontânea se o terceiro resolve intervir por sua iniciativa na causa


pendente, nos termos do 311º. Por seu turno, é provocada se a intervenção do terceiro é
requerida por qualquer das partes da ação, artigo 316º

A intervenção é admissível até 30 dias depois de transitar em julgado o despacho


que, conhecendo da ilegitimidade, pôs termo ao processo. Admitindo o chamamento da
pessoa em falta, a instância extinta considera-se renovada – 216º/2

Quer isto dizer, que a intervenção da parte cuja falta ocasiona a ilegitimidade pode
ser requerida antes ou depois do trânsito em julgado do despacho que pós termo ao
processo. Se for requerida antes e a intervenção for admitida, a instância não chega a
extingue-se, podendo dizer-se que se reanima. Se a intervenção for requeira depois, nos 30
dias posteriores ao trânsito em julgado do despacho que pôs termo ao processo, renova-se a
instância que tinha sido julgada extinta.

Pode sanar a falta deste pressuposto não só o autor como o reu reconvinte.

No litisconsórcio necessário entre os cônjuges, a ilegitimidade ativa é sanável pela


obtenção do consentimento do outro cônjuge. A falta de consentimento pode ser suprida
judicialmente por meio do processo próprio regulado no artigo 1000º, via 34º/2.

A ilegitimidade passiva é sanável mediante a intervenção principal do outro cônjuge,


provocada pelo autor dentro de 30 dias posteriores ao transito em julgado do despacho que
determinou a absolvição da instância – artigo 261º/1 e 2 – ou a intervenção provocada pelo
cônjuge réu – 316º/1.

1.3.2.3. Coligação

Na coligação existe uma pluralidade de partes e uma pluralidade de pedidos. Tratando-


se assim de uma faculdade e não de uma imposição.

É permitida a coligação de autores contra um ou vários réus e é permitido a um autor


demandar conjuntamente vários réus, por pedidos diferentes, quando a causa de pedir seja a
mesma e única ou quando os pedidos estejam entre si numa relação de prejudicialidade ou
dependência – 36º/1.

Conforme se verifica, vários autores podem coligar-se contra um vários réus e o autor
pode demandar vários réus por pedidos diferentes nos seguintes casos:

1. Quando a causa de pedir que está na base dos diferentes pedidos formulados
seja a mesma e única.
2. Quando os pedidos estejam entre si numa relação de prejudicialidade ou de
dependência.

Dado que a coligação é voluntária, a falta de alguma das partes na ação não determina
a ilegitimidade da outra das outras.

Entre os pedidos verifica-se uma relação de prejudicialidade quando a decisão de um


pode influir na decisão do outro. Existe relação de dependência entre os pedidos quando o
conhecimento de um deles só pode ter lugar no caso de se verificar a procedência do outro.

É igualmente licita a coligação quando, sendo embora diferente a causa de pedir, a


procedência dos pedidos principais dependa essencialmente da apreciação dos meemos
factos ou da interpretação e aplicação das mesmas regras de direito ou de clausulas de
contratos perfeitamente análogas – 36º/2.

Assim, admite-se a coligação quando a procedência dos pedidos principais dependa


essencialmente:

1. Da apreciação dos mesmos factos


2. Ou da interpretação e aplicação das mesmas regras de direito
3. Ou da interpretação e aplicação de clausulas de contratos perfeitamente análogos.

1.4. Interesse processual

Embora a lei não lhe faça referência direta, o interesse processual constitui também um
dos pressupostos processuais.

Existe interesse processual quando se puder dizer que o autor tem necessidade de
instaurar e fazer seguir uma ação para a tutela do seu direito. Ou seja, o autor só tem
interesse em agir quando não dispõe de outros meios (extrajudiciais) de realizar aquela
pretensão.
Este interesse processual não se confunde com a legitimidade, porque o interesse em
demandar/contradizer (que carateriza a legitimidade) refere-se ao objeto da lide, ao
conteúdo material da pretensão; enquanto que o interesse em agir respeita ao interesse no
próprio processo, no recurso à via judicial, na inevitabilidade do pedido de tutela jurisdicional
apresentado ao juiz.

MANUEL DE ANDRADE considerou que o interesse em agir deveria ser considerado como
tal, embora reconheça a falta de referência expressa da lei a esta figura, por duas razões:

• Instauração de uma ação inútil sempre causa ao réus prejuízos/incómodos


injustificados.
• A justiça, sendo um serviço estadual (pago com o erário público), só deve funcionar
quando houver motivos para tal, i.e., quando o autor demonstre um verdadeiro
interesse em agir.

Com a exigência deste pressuposto pretende-se precisamente evitar que as pessoas


sejam chamadas a juízo, sem que nada o justifique e, ao mesmo tempo, evitar que os
tribunais sejam sobrecarregados com atividade que, por desnecessária, não aproveitaria a
ninguém. O autor deve assim convencer de que, na situação concreta, o seu direito necessita
da tutela judicial que solicita.

Contudo, não se deve cair no erro que este pressuposto apenas diz respeito ao autor.
Depois da proposta, pode também o réu ter interesse em que ação prossiga. Por isso, a lei
tutela os seus interesses, fazendo depender a desistência da instancia da aceitação do reu, se
requerida depois de ter sido oferecida a contestação – 286º/1º

A desistência da instância é livre até ao momento em que o réu apresentar a


contestação. A partir dai, depende da aceitação do réu. Na verdade o reu pode ter interesse
em que seja referida decisão de mérito para ver resolvida, a questão que no processo é
discutida.

Ex.: basta pensar na hipótese da PI ter sido elaborada de forma pouco cuidada, de modo
a comprometer irremediavelmente o êxito da pretensão do autor. Se o reu aceitasse a
desistência da instancia, isso apenas conduziria a extinção da instancia – 277º/d) – pelo que
autor poderia mais tarde propor uma nova ação e apresentar uma petição porventura mais
esmerada.

Por outro lado, a desistência do pedido é livre, pois como se compreende, e vantajosa
para o reu. A lei determina ainda que a desistência do pedido não prejudica a reconvenção –
286º/2.

A existência do pressuposto processual que falamos agora não é encarada com igual
acuidade nas diversas espécies de ações:

• Nas ações de condenação e nas executivas: a violação de um direito do autor que


está na sua origem, eviencia claramente necessidade de pedir ao tribunal a
reintegração do direito violado. Quer dizer, o autor tem interesse em propor a
ação. Basta que o autor alegue ser titular se um crédito e que houve
incumprimento da prestação por parte do reu para que não fiquem duvidas
sobre o interesse processual. Tal como não existem duvidas sobre a existência de
tal pressuposto processual, se o autor invocar a ofensa de um direito real ou de
um direito de personalidade.
o Excecionalmente, a lei determina que, apesar de não ser exigível a
obrigação no momento em que a ação é proposta, o réu seja condenado
a satisfazer a prestação no momento próprio, nos termos do 610º/1.
Neste caso, teve-se em vista o principio da economia processual, por
forma a aproveitar a atividade processual desenvolvida ate ao momento
de proferir a sentença. No entanto, atendendo a ausência de interesse
processual do autor, este será condenado nas custas e a satisfazer os
honorários do advogado do reu.
• Nas ações constitutivas existe interesse processual quando o direito potestativo
correspondente não é daqueles que possa ser exercido por simples declaração
de vontade do respetivo titular. Quando a ação constitutiva tem subjacente um
direito potestativo que pode ser exercido medinte um simples ato unilateral, o
tribunal deve abster-se de conhecer do pedido, por faltar o interesse processual.
• A questão da presença do interesse processual surge sobretudo no domínio da
ação declarativa de simples apreciação, para a qual os defensores do
pressuposto exigem que se verifique uma situação de incerteza objetivamente
grave de molde a justificar a intervenção judicial. Nestas torna-se difícil concluir
pela existência do interesse em agir. Trata-se de ações em que ainda não se
verificou qualquer violação do direito. O autor apenas propõe a ação para por
termo a uma duvida acerca da existência ou inexistência de um direito ou de um
facto. Qual o grau de incerteza ou de duvida que se deve exigir para que se possa
dizer que o autor tem interesse processual? A duvida tem de ser objetiva e não
subjetiva. Tem de ser fundamentada em factos concretos, não sendo suficiente
que exista apenas na mente do autor. Por outro lado, a gravidade da dúvida
depende do prejuízo que a situação de incerteza possa gerar. Em suma, nestas
ações são preciso verificar estes dois requisitos para que haja interesse
processual.

1.4.1. Consequências de falta de interesse processual

Seguindo o ensino de PAULA COSTA E SILVA, os pressupostos processuais são as


condições de que dependem a possibilidade de admissão da causa, destinando-se a acautelar
que a decisão de mérito que pode vir a ser dada é a melhor decisão que se pode ter

Tendo isto como linha orientadora, perguntamo-nos em que medida o interesse


processual releva para resolver a seguinte questão: quid iuris se um autor intenta uma ação
em Tribunal para que lhe seja reconhecida uma sua propriedade que não está, de modo
algum, a ser contestada?

De forma resumida, e antes de abordarmos o problema concreto, temos de enquadrar a


orientação doutrinária, atendendo à obra publicada e ao ensino ministrado, quanto ao que
se tem encarado e classificado como Interesse Processual.
➔ Para ANTUNES VARELA e MANUEL DE ANDRADE, o interesse processual mais não é
do que uma condição de ação, sendo tal o facto material que torna possível o
nascimento da ação, i.e., o que configura a existência de um direito material e a
possibilidade legal para alguém ir a juízo. Portanto, resolvendo o nosso caso em
apreço, se a propriedade não estava a ser contestada, não havia nenhum facto
material que tornava possível a propositura da ação, não havendo interesse
processual. Tendo sido proposta a ação, não é claro no pensamento dos autores
como se resolveria a situação.

➔ Na conceção de CASTRO MENDES, o interesse processual restringe-se ao campo das


custas judiciais, atribuindo-se ao autor a responsabilidade pelas custas judiciais,
apesar de ter ganho a causa (conforme o disposto no art. 535º CPC, que inverte a
regra geral de victus victoria, no dizer de PAULA COSTA E SILVA, do art. 527º CPC) e
nega a qualificação como pressuposto processual. Quanto ao caso em concreto, este
autor entende que a causa seria procedente, embora tivesse de ser o autor, parte
vencedora, a pagar as custas processuais.

➔ Já para a doutrina dominante, encabeçada por MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA e com a


aderência de JORGE PAIS DE AMARAL, o interesse processual configura-se como um
pressuposto processual em que há interesse da parte ativa em obter a tutela judicial
de um direito subjetivo através de determinado meio processual. Este entendimento
evita que as partes sejam chamadas a juízo sem que a atuação da parte contrária o
justifique, o que evita, por sua vez, que os tribunais sejam sobrecarregados, já que a
situação específica tem de necessitar de tutela judicial. Aplicando esta explicação ao
caso sub judice, o autor não teria interesse processual, pois a ação judicial não traria
vantagens para esta parte ativa (e consequentemente não traria desvantagens à
parte passiva), e, não estando preenchido um pressuposto processual, tal daria
origem a uma exceção dilatória que levava a uma absolvição do réu na instância,
tendo em conta os art. 578º e 278º/1/e CPC. Para estes autores, quando no
momento se verificar que a obrigação ainda é exigível, isso não obstará a que o juiz
condene o devedor a satisfazer a prestação quando a obrigação se vença – 610º.
Neste caso, a única sanção pela falta de interesse traduzir-se-á na condenação do
vencedor no pagamento das custas e dos honorários do advogado do réu, por se
entender que o réu não deu causa à ação – 610º/3 conjugado com o 533º. Se a
inutilidade da lide surgir em momento posterior à propositura da ação, como
acontece, por exemplo, no caso de desaparecimento da coisa reivindicada, deve a
instância ser declarada extinta, nos termos do disposto 277º/e).

Que pensar destas soluções? Qual a melhor solução para este caso em concreto?

Atendendo à factualidade da hipótese verificamos que temos uma ação declarativa de


simples apreciação positiva, nos termos do art. 10º/2 e 10º/3/a CPC, para reconhecimento
do direito de propriedade, atendendo ao art. 1311º CC. No entanto, esse direito de
propriedade não está a ser contestado, pelo que, de facto, o autor não tem necessidade de
recorrer à tutela judicial por parte dos Tribunais.
Tendo isto em conta, não se pode recusar liminarmente o acesso aos Tribunais, uma
vez que isso é uma das garantias dadas pelo Estado de Direito Democrático e consagrado no
art. 20º da Constituição da República Portuguesa. Mas, como aponta PAULA COSTA E SILVA, a
tutela judicial dos direitos envolve uma alocação de recursos financeiros por parte do Estado,
que têm de ser geridos de forma eficiente e dirigida para onde for necessária, uma vez que
os meios da justiça são limitados.

Com a inversão da regra do victus victoria (i.e., quem perde paga as custas judiciais –
conforme o disposto no art. 527º) do art. 535º CPC, o autor, interpondo ação, mesmo que
haja uma decisão de mérito que o declare vencedor, vai ter de pagar as custas judiciais. Este
mecanismo que o CPC prevê dissuade, portanto, a propositura de ações desnecessárias, uma
vez que o autor é “penalizado financeiramente” com o pagamento das custas, conforme
colocado por PAULA COSTA E SILVA – sendo essa a lei, os Tribunais não vão estar atolados
pois os cidadãos não estão dispostos a pagar essas custas para questões que não são
necessárias.

Aderimos, assim, à posição de PAULA COSTA E SILVA, exposta recentemente, que,


vindo na senda de CASTRO MENDES, se afasta dele concluindo que o interesse processual é
um pressuposto processual, indo numa primeira abordagem ao encontro de MIGUEL
TEIXEIRA DE SOUSA, mas cujas consequências são atípicas e não envolvem a absolvição do
réu na instância, afastando-se, portanto, da posição de TEIXEIRA DE SOUSA.

Temos este entendimento pois, conforme expõe PAULA COSTA E SILVA, o art. 535º/1
CPC responsabiliza o autor pelas custas judiciais não só quando réu não deu causa, mas
também quando o réu não contesta. Não contestando o réu, ou o Tribunal pode conhecer
oficiosamente a falta de interesse processual, ou o Tribunal não pode conhecer
oficiosamente, como afirma MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA, tendo a concordância de COSTA E
SILVA. Isto leva a que, não podendo conhecer oficiosamente, o Tribunal nunca poderá aplicar
o regime de absolvição do réu na instância, como incoerentemente, na nossa humilde
opinião, conclui TEIXEIRA DE SOUSA. Portanto, a única solução viável para o não
preenchimento destas condições de admissibilidade de uma causa a juízo é a consequência
anómala de ser o autor a pagar as custas, apesar de ter uma decisão de mérito que lhe é
favorável.

1.5. Patrocínio judiciário

O patrocínio judiciário consiste na assistência técnica prestada as partes por


profissionais do foro. É sempre conveniente que não sejam as próprias parte a conduzir
diretamente a defesa dos seus interesses no processo por lhe faltar a serenidade
desinteressada para esse efeito.

Pelas razões expostas o artigo 40º tona obrigatória a constituição de advogado nos
casos ai previstos.

Em todas as causa é admitida a intervenção de advogados em representação das


partes. Porem, há causas em que, pela sua importância ou pela sua natureza, essa
intervenção se torna obrigatória. So nestas causas se poderá falar deste pressuposto
processual.
A alínea a) do referido artigo 40º refere-se às causas da competência dos tribunais de
1º instancia. A admissibilidade de recurso resulta da conjugação do valor da ação com o da
alçada do tribunal que se recorre e ainda com o valor da sucumbência, artigo 629º/1. É
admissível recurso ordinário nos casos em que o valor da ação é superior ao da alçada do
tribunal de que se recorre, quando o valor em que a parte decaiu (sucumbência) é também
superior a metade dessa mesma alçada.

A alínea b) refere as causa em que é sempre admissível recurso quaisquer que sejam
aqueles valores. Os nº 2 e 3 do referido 629º fazem alusão a essas causas cujas decisões
admitem sempre recurso independentemente do valor da causa e da sucumbência.

A propósito da alínea c), há caos em que são propostas ações na relação,


funcionando como tribunal de 1º instancia. Em suma, nos tribunais superiores e sempre
obrigatório a constituição de advogado.

2. Quanto aos tribunais

Os tribunais exercem a função jurisdicional ou jurisdição. A jurisdição compete a todos os


órgãos jurisdicionais, considerados no seu conjunto. Em concreto, porém, encontra-se
fracionada.

A competência é a fração do poder jurisdicional que cabe a cada tribunal. O poder


jurisdicional está repartido pelos diversos tribunais segundo determinados critérios – regras
de competência.

A jurisdição constitui o poder de julgar que é atribuído aos tribunais considerados no seu
conjunto. É com este sentido que o artigo 202º da CRP comete aos tribunais, como órgãos de
soberania, a função jurisdicional.

A competência é apenas uma parcela desse poder, depois de fracionado entre os


diferentes tribunais. A importância desta distinção revela-se quando surgem conflitos que
pode ser de jurisdição ou de competência.

• conflito de jurisdição – 109º/1: há conflito quando ou mais autoridades,


pertencentes a diversas atividades do estado (ex: atividade judicial e atividade
administrativa), ou dois ou mais tribunais, integrados em ordens jurisdicionais
diferentes – 29º/1 LOJS- (tribunal judicial e tribunal administrativo), se arrogam
ou declinam o poder de conhecer da mesma questão.
o O conflito surge, por exemplo, quando a ação foi proposta no tribunal
cível e o juiz considera que a mesma deve correr no tribunal
administrativo, por ser de natureza administrativa a questão do litigio.
o O conflito diz-se positivo, se ambos se arrogam o poder de conhecer da
mesma questão. Diz-se negativo, se ambos declinam esse poder –
109º/1/in fine.
• Os conflitos de competência – 109 - So pode acontecer entre dois ou mais
tribunais da mesma ordem jurisdicional – 109º/2. Ex: há conflito negativo
quando um juízo cível e um juízo de família de lisboa (pertencem a mesma
ordem jurisdicional) se atribuem mutuamente a competência, negando a
própria, para conhecer de determinada questão. Obviamente, caso se
conhecessem como competentes para conhecer da mesma questão, o conflito
seria positivo.
o Os conflitos são resolvidos, conforme os casos, pelo STJ ou pelo Tribunal
dos conflitos – 110º/1.

Ex1: juiz de um tribunal administrativo entende que esse tribunal não é competente
para apreciar determinada causa, por esta respeitar a um litígio que tem natureza civil, e não
administrativa. Proposta tal ação num tribunal judicial, o respetivo juiz declara igualmente a
incompetência do tribunal, por entender (ao contrário do primeiro) que a questão é, afinal, de
natureza administrativa. → os dois tribunais, que pertencem a ordens jurisdicionais distintas,
declinam o poder de conhecer da mesma questão → Conflito negativo de jurisdição.

Ex2: juiz de um tribunal do trabalho se declara incompetente para julgar determinada


causa, por entender que, para a mesma, é competente o tribunal de comércio. Instaurada em
ação neste último tribunal, o juiz declara a incompetência do tribunal, por considerar que a
questão cabe ao foro laboral → Ambos os tribunais pertencem à mesma ordem jurisdicional,
sendo ambos judiciais → Conflito negativo de competência.

2.1. Modalidades de competência

O poder de julgar está distribuído entre os tribunais de acordo com diversos critérios.

Numa primeira perspetiva podemos distinguir:

➢ Competência internacional – consiste na atribuição do poder de julgar aos tribunais


portugueses, no seu conjunto, me face dos tribunais estrangeiros. A questão da
competência internacional só surge quando a causa revele alguma conexão com
outra ordem jurídica estrangeira. Se qualquer dos seus elementos, como seja, as
partes, o pedido ou a causa de pedir tiverem somente conexão com a ordem jurídica
portuguesa o problema não surgirá.
➢ A competência interna, que se traduz na repartição entre os diversos tribunais
portugueses, do poder de julgar, subdivide-se, conforme resulta do artigo 60º/2 em:
1) Competência em razão da matéria
2) Competência em razão do valor da causa
3) Competência em razão da hierarquia judiciária
4) Competência em razão do território

A questão da competência coloca-se ao autor no momento em que pensa instaurar a ação. O


autor terá de saber então onde deve propor essa ação ou seja, determinar o tribunal
competente para proferir a respetiva decisão. Para isso, terá de proceder a uma analise dos
critérios que presidem a divisão do poder jurisdicional.

2.2. Competência interna

A competência dos tribunais judiciais é regulada conjuntamente pela Lei de organização


do sistema judiciário (62/2013) e pelo CPC.

A nível interno, dos tribunais judiciais, a competência reparte-se em função da matéria,


da hierarquia, do valor da causa e do território (artºs 60º/2 CPC + 37º/1 LOSJ).

Da LOSJ decorre uma organização judiciária que estabelece as normas de


enquadramento e organização do sistema judiciário (artº 1º), estabelecendo o regime
aplicável ao funcionamento dos tribunais (ROFTJ).
Artº 33º/2 LOSJ + artº 3º ROFTJ - o território nacional divide-se em 23 comarcas,
determinando-se do seguinte modo:
➢ Tantas quantos os distritos (18);
➢ Uma comarca em cada uma das RA
➢ O distrito de Lisboa é repartido em três zonas: Lisboa, Lisboa Norte e Lisboa
Oeste
➢ O distrito do Porto é repartido em duas zonas: Porto e Porto Este.

Em cada comarca existe um tribunal judicial de 1ª Instância, que é, em regra, o


tribunal de comarca, designado pelo nome de circunscrição em que está instalado (artºs
33º/3 + artº 79º LOSJ + artºs 66º e 102º ROFTJ).

Artº 81º LOSJ: o tribunal de comarca desdobra-se em instâncias centrais (integram


secções de competência especializada) e instâncias locais (integram secções de proximidade,
artº 130º/4 LOSJ).

Nas instâncias centrais, as secções de competência especializada que podem ser


criadas são as seguintes:
- Cível;
- Criminal;
- Instrução criminal;
- Família e menores; artº 81º/2 LOSJ
- Trabalho;
- Comércio;
- Execução.

Nas instâncias locais, admite-se que as secções de competência genérica se


desdobrem em secções cíveis, criminais e de pequena criminalidade quando o
volume/complexidade do serviço o justifiquem (artºs 81º/3 e 130º/2 e 3 LOSJ).

També a nível da 1ª instância se prevê a existência de tribunais judiciais de


competência territorial alargada, que exerçam a jurisdição em mais do que uma comarca ou
sobre várias áreas especialmente definidas por lei, os quais serão sempre de competência
especializada (artº 83º/1 e 2 LOSJ). Ver também artº 83º/3 LOSJ conjugado com o 65º ROFTJ.

Quanto à 2ª instância, exercem jurisdição os tribunais da Relação, que se designam


pelo nome do município onde se encontrem instalados (artº 67º/1 LOSJ), prevendo-se 5
relações: Coimbra, Évora, Guimarães, Lisboa e Porto.

Os tribunais da relação compreendem secções em matéria cível e penal, podendo em


função do volume/complexidade do serviço, compreender secções em matéria social, de
família e menores, de comércio, de propriedade intelectual e de concorrência, regulação e
supervisão (artº 67º/3 e 4 LOSJ).

No topo da hierarquia dos tribunais judiciais encontra-se o STJ, que tem sede em
Lisboa e exerce jurisdição em todo o território nacional (artºs 31º/1, 43º/1, 45º LOSJ),
compreendendo secções em matéria cível, penal e social (artº 47º/1 LOSJ)
2.2.1. Competência em razão da matéria

A competência em razão da meteria assenta no principio da especialização. É


vantajoso fracionar a competência dos tribunais em função da matéria dado que é muito
vasta a especificidade das normas que integram os diversos ramos do direito.

Artº 64º CPC + artº 40º/1 LOSJ: são da competência dos tribunais judiciais as causas
que não sejam atribuídas a outra ordem jurisdicional. Quer dizer, se as causas não forem
atribuídas por lei a algumas jurisdição em especial, entende-se que são da competência dos
tribunais judiciais.

É a LOJS que determina quais as causas que, em razão da matéria, são da competência
dos tribunais e das seções dotados de competência especializada – 65º.

A competência material das secções de instâncias centrais e dos tribunais de


competência territorial alargada é definida por lei (artº 40º LOSJ), tendo caráter residual a
competência das secções de competência genérica das instâncias locais (artº 130º/1, e) LOSJ).

Os artºs 117º e ss LOSJ tratam de alguns aspetos da vocação jurisdicional das secções
de competência especializada das instâncias centrais, que iremos analisar:
• Secções cíveis: competência para preparar e julgar ações declarativas cíveis de
processo comum de valor superior a 50 000 € e para exercer, no âmbito das ações
executivas de natureza cível de valor superior ao referido montante, as competências
previstas no CPC, em circunstâncias não abrangidas pela competência de outra secção
ou tribunal (artº 117º/1, a) e b) LOSJ).
• Secções criminais: competência para proferir despacho nos termos dos artºs 311º a
313º CPPenal e proceder ao julgamento e aos termos subsequentes nos processos de
natureza criminal da competência do tribunal coletivo ou do júri (artº 118º/1 LOSJ).
• Secções de instrução criminal: competentes para proceder à instrução criminal,
decidir quanto à pronúncia e exercer as funções jurisdicionais relativas ao inquérito
(artº 119º/1 LOSJ).
• Secções de família e menores: competência para preparar e julgar ações de
jurisdição voluntária relativas a cônjuges, ações de separação de pessoas e bens e de
divórcio, ações de alimentos entre cônjuges e ex-cônjuges, bem como as execuções
correspondentes (artº 122º/1 LOSJ). Compete-lhes ainda construir o vínculo de
adoção, regular o exercício de responsabilidades parentais e conhecer das questões a
estas respeitantes, decretar a inibição (total/parcial) e estabelecer limitações ao
exercício de responsabilidades parentais, proceder à averiguação oficiosa da
maternidade e da paternidade e preparar e julgar as ações de impugnação e de
investigação da paternidade e da maternidade (artº 123º/1 LOSJ). Ver ainda o artº
124º/1 e 2 LOSJ.
• Secções do trabalho: competentes para conhecer das questões emergentes de
relações de trabalho subordinado, de acidentes de trabalho e doenças profissionais,
julgar recursos das decisões das autoridades administrativas em processos de
contraordenação nos domínio laboral e de segurança social (artº 127º/1 e 2 LOSJ).
• Secções de comércio: competência para preparar e julgar os processos de insolvência
e os processos especiais de revitalização (esta que respeita tanto a pessoas coletivas
como singulares), as ações relativas ao exercício de direitos sociais e para julgar as
impugnações dos despachos dos conservadores do registo comercial (artº 128º/1 e 2
LOSJ).
• Secções de execução: competentes para exercer, no âmbito do processo executivo de
natureza cível, as competências previstas no CPC (artº 129º/1 LOSJ).

Ainda no foro da competência especializada, consideremos agora os tribunais de


competência territorial alargada (artºs 111º e ss LOSJ):
• Tribunal central de instrução criminal: competência definida no artº 120º/1
LOSJ + 116º LOSJ.

Artº 81º/1, b): instâncias locais integram secções de competência genérica e secções
de proximidade. Isto quer dizer que, ao nível da 1ª Instância, quando não sejam da
competência de qualquer das secções da instância central ou de qualquer tribunal de
competência territorial alargada, todas as ações devem ser propostas na instância local e
dirigidas à respetiva secção de competência genérica (artº 130º/1, a) CPC).

As secções de competência genérica podem desdobrar-se em secções cíveis, criminais


e de pequena criminalidade (artºs 81º/3 + 130º/2 e 3 LOSJ), não retirando este
desdobramento a essas secções da instância local a sua natureza em termos de competência
genérica, tratando-se de uma mera arrumação genérica da instância local.

Mesmo nesta arrumação, importa fixar um critério para distribuir os processos aí


entrados. A LOSJ omitiu a enunciação desse critério. Mostra-se possível resolver a questão de
modo seguro se tivermos presente que em todas as circunstâncias a vertente cível da
competência é sempre residual face às demais vertentes, nomeadamente a vertente
criminal.

Deste modo, de todos os processos que, à luz do artº 130º LOSJ, são da competência
das secções de competência genérica da instância local, caso haja desdobramento em
secções cíveis e criminais, competirá a estas últimas aquilo que se encontra previsto no artº
130/ 1 e 3, b), c) e e) LOSJ, bem assim a preparação, o julgamento e os termos subsequentes
da causa do crime que não sejam da competência do tribunal coletivo ou do júri.

Por exclusão de partes, todos os demais processos serão da competência da secção


cível que resulte do desdobramento da secção de competência genérica da instância local.

2.2.2. Competência em razão do valor

A LOSJ determina quais as causas que, pelo seu valor se inserem na competência da
instancia central e da instancia local – 66º conjugado com 41 LOSJ.
Do confronto entre o artº 117º/1, a) e o artº 130º/1, a) resulta que, à luz do critério do
valor em causa, as ações declarativas cíveis comuns de valor superior a 50 000 euros são da
competência das secções cíveis da instância central, daí resultando que as ações declarativas
de valor igual ou inferior ao referido devem ser instauradas na instância local e dirigidas às
respetivas secções de competência genérica.
• Este critério opera apenas no âmbito do processo declarativo comum.

A incompetência em razão do valor da causa é sempre do conhecimento oficioso do


tribunal, seja qual for a ação em que se suscite – artigo 104º/2.

2.2.3. Competência em razão da hierarquia

Os tribunais judiciais estão dispostos hierarquicamente para efeitos de recurso de decisões


(artº 42º/1 LOSJ). Há tribunais judiciais de 1ª e 2ª instância e o STJ (artº 29º/1, a) LOSJ).

Na base da hierarquia estão os tribunais de 1ª instância, sendo aí (regra) que se


instauram as ações. Estes cabe-lhes o julgamento de todas as questões, qualquer que seja o
valor. Os tribunais de 1ª instância têm competência para conhecer de certos recursos, nos
termos do artº 67º.
Os tribunais de 2ª instância ou tribunais das Relações têm competência para conhecer
os recursos interpostos de decisões proferidas pelos tribunais de 1ª instância (artº 42º/2 LOSJ
+ artº 68º/2) e têm ainda competência para certas causas, segundo os artºs 73º LOSJ + 68º/1).

No topo da hierarquia judiciária estão STJ, tendo este competência ara conhecer dos
recursos interpostos das decisões proferidas pelas Relações (artºs 42º/2 LOSJ + 69º/2), bem
como competência para certas causas, nos termos dos artºs 53º e 55º LOSJ + 69º/1).

2.2.4. Competência em razão do território

A competência em razão do território resulta da atribuição a cada tribunal de uma


certa circunscrição territorial, situando em cada uma das circunscrições as várias causas,
através de um elemento de conexão que a lei considera decisivo.

Artº 43º/1: STJ exerce jurisdição em todo o território nacional os Tribunais da Relação
(artº 32º LOSJ + Anexo I) e os tribunais de 1ª Instância (artºs 33º e 84º/4 LOSJ + Anexo II)
exercem jurisdição na área das respetivas circunscrições.

A competência territorial para cada uma causa determina-se e função de dois


parâmetros:

➢ A circunscrição territorial – correspondente ao tribunal


➢ Elemento de conexão – cada tipo de ações com a circunscrição
o Foro do réu/foro geral – constitui a regra geral. Quando não exista disposição
especial para a atribuição da competência territorial, é competente a ação o
tribunal do domicilio do réu. Trata-se de um critério supletivo – artigos 80º e
81º
o Foro real - devem ser propostas no tribunal da situação dos bens as ações
relativas a direitos reais ou pessoais de gozo sobre imóveis, a de divisão de
coisa comum, de despejo, de preferência e de execução específica sobre
imóveis, e ainda as ações de reforço/substituição/redução/expurgação de
hipotecas (artº 70º).
o Foro obrigacional - a ação destinada a exigir o cumprimento das obrigações, a
indemnização pelo não cumprimento ou pelo cumprimento defeituoso e a
resolução do contrato por falta de cumprimento, devem ser propostas no
tribunal doo domicílio do réu, podendo o credor optar pelo tribunal do lugar
em que a obrigação deveria ser cumprida, quando o réu seja pessoa coletiva
ou quando, situando-se no domicílio do credor na área metropolitana de
Lisboa ou do Porto, o réu tenha domicílio na mesma área metropolitana (artº
71º/1).
o Foro do autor - ações de divórcio e de separação de pessoas e bens devem ser
instauradas no tribunal do domicílio ou da residência do autor (artº 72º).

Quanto à execução de sentenças estrangeiras, o tribunal competente é o do domicílio


do executado, como resulta da remissão do artº 90º para o artº 86º.

Até aqui vimos critérios legais acerca da competência territorial. Contudo, em


determinadas situações, as partes são admitidas a prevenir a competência territorial do
tribunal (artº 95º/1).

2.3. Competência convencional

As regras sobre a competência dos tribunais podem ser sujeitas a alguns desvios pelo
aparecimento de questões suscitadas no decurso da ação. Verificadas certas condições, o
tribunal estende a sua competência por forma a poder julgar, para alem da ação, essas
questões para as quais não teria normalmente competência. Assim, sendo o tribunal
competente par determinada ação, passa a sê-lo também para questões nela suscitadas. Por
outras palavras, a competência do tribunal para julgar a ação estende-se as questões nela
suscitadas.

A extensão e modificações de competências estão previstas nos artigos 91º a 95º. No


que diz respeito a competência convencional, encontra-se no 95º.

Se a convenção tem por fim afastar as regras que regulam a comptencia internacional
dos tribunais portugueses – 62º - toma a designação de pacto privativo ou atributivo de
jurisdição, previsto no artigo 94º.

Se a convenção entre as partes tem em vista a alteração das regras da competência


interna (em razão do terriotiro) trata-se da competência convencional prevista no artigo 95º.

O artigo 95º veda às partes a possibilidade de afastarem as regras de competência em


razão da matéria, da hierarquia e do valor da causa. Tal deve-se ao facto de estas regras
estarem ditadas por razões de ordem pública. Porem o preceito permite as partes afastar, por
convenção expressa, a aplicação das regras de competência em razão do território, salvo nos
casos a que se refere o 104º.

O tribunal escolhido por convenção da s partes tem competência exclusiva. Por isso, o
tribunal que, segundo a lei, seria competente, deixa de o ser.
Os requistos de forma exigido para a convenção sobre a competência do território são
os previstos no 95º/2:

- Dever respeitar a forma do contrato, fonte da obrigação, contanto que seja escrito
(artº 95º/2 e artº 94º/4).

- Deve designar as questões a que se refere ou especificar o facto jurídico suscetível


de as originar (artº 95º/2).

- Deve indicar o tribunal que fica sendo competente (artº 95º/2).

- Não pode versar sobre os casos previstos no artº 104º/1 (artº 95º/1, in fine).

Apanhado:

Assim, ponderando aqui sobre as ações cíveis declarativas e executivas e excluindo os


casos de competência dos tribunais de competência territorial alargada, a competência é
apurada da seguinte forma:

1) Aplicação dos critérios da competência territorial, o que vai conduzir à eleição de


uma comarca;

2) Determinada a comarca em cuja área de ação deve ser instaurada, importa saber
se a ação é da competência de alguma secção de competência especializada da
respetiva instância central, caso em que deverá ser aí instaurada, sob pena de
incompetência em razão da matéria.

3) Se não for da competência de qualquer das secções da instância central, a ação


deverá ser proposta na secção de competência genérica da instância local, que
tem uma competência residual.

4) Tratando-se de uma ação declarativa cível comum, há que estabelecer o confronto


entre a secção cível da instância central e a secção de competência genérica da
instância local, por referência ao valor da causa. Deve a ação ser proposta naquela
secção quando o seu valor exceda os 50 000€, sob pena de incompetência em
razão do valor, se for proposta na secção da instância local. Deve ser instaurada
na seção de competência genérica da instância local quando o valor não ultrapassa
aquele limite, havendo incompetência em razão do valor se a ação for proposta
na secção cível da instância central.

5) Dentro de cada comarca haverá ainda que se considerar as coordenadas


geográficas da ação a propor, no confronto com as referências do mapa III anexo
ao LOFTJ, visto que a jurisdição territorial das secções especializadas da instância
central é definida por alusão aos distritos ou municípios, sendo a jurisdição
territorial da instância local definida por alusão aos municípios.
2.4. Modalidades de incompetência

Em primeiro lugar o autor deve averiguar qua o tribunal de 1º instancia territorialmente


competente. Se na respetiva área só existir um tribunal de competência genérica, a pesquisa
estará simplificada.

Se, na propositura da ação, não forem respeitadas as regras da competência, as


consequências que dái derivam do tipo de violação. A lei distingue:

➢ Incompetência absoluta: corresponde à violação de normas de interesse e ordem


pública
➢ Incompetência relativa: corresponde à violação de meras normas de interesse e ordem
particular.

Nota: se ação foi proposta no tribunal do domicilio do reu, que vivia em Viseu, por ser este o
tribunal territorialmente competente, o tribunal mantém a sua competência mesmo que,
entretanto, o reu tenha transferido o seu domicilio para Coimbra.

2.4.1. Incompetência absoluta

Quando não se verifica o pressuposto da competência em razão, estamos perante um


caso de uma exceção dilatória, nomeadamente – art. 96.º do CPC.

Verifica-se incompetência absoluta quando estamos perante uma infração das regras
da competência em razão da matéria e da hierarquia e das regras de competência
internacional, legal ou convencional (art. 96.º, al. a)), e a preterição de tribunal arbitral,
voluntário ou necessário (art. 96.º, al. b)), determinam a incompetência absoluta do tribunal.
A incompetência absoluta é uma exceção dilatória nominada (cf. art. 577.º, al. a)).

1. Conhecimento da Incompetência: Segundo o art. 97.º/1 a incompetência é de


conhecimento oficioso, exceto se resultar de violação de um pacto de jurisdição
ou de preterição de um tribunal arbitral voluntário, caso em que pode ser
arguida pelas partes. Tem, portanto, legitimidade para arguir a incompetência
absoluta do tribunal qualquer das partes. Contudo, esta só pode ser arguida a
oficiosamente conhecida, até ser proferido despacho saneador ou, não havendo
este, até ao inicio da audiência final – 97/2.

2. Até quando o tribunal pode arguir a incompetência: art. 97.º/1 in fine, a


incompetência pode ser declarada até ao transito em julgado da decisão de
mérito.
3. Efeitos da Incompetência absoluta: art.99.º nº1, regra geral:
a. indeferimento liminar quando a citação depender de prévio despacho
judicial – artigo 226º/4. Neste caso, o juiz em vez de ordenar a citação do
réu, profere despacho de indeferimento liminar ao deter o vício da
incompetência absoluta do tribunal
b. absolvição do réu da instância. Quando a citação não depende de prévio
despacho judicial, porque incumbe à secretaria promovê-la
oficiosamente – artigo 226º/1 – o juiz terá o primeiro contacto com o
processo já depois dos articulados. Conhecerá o vício no momento de
proferir despacho saneador – 595/1. Na verdade o juiz depara com uma
exceção dilatória o que terá como consequência a tal absolvição do reu
da instancia.
c. O nº2 prevê os casos em que é possível a remessa do processo para o
tribunal competente. Requisitos da Remessa: 1) estar perante um caso
que não viole um pacto de jurisdição nem pretira um tribunal arbitral
(art. 99.º nº3); 2) pedido pelo autor; 3) não haja oposição do réu; 4) fim
da fase dos articulados e adequação do processo. Assim, é possível a
remessa, à contrario, nos casos de incompetência em razão de hierarquia
e de matéria, ou seja, só é possível a remessa a nível interno, uma vez
que a nível internacional violaria o principio da não ingerência e o
principio da soberania. A remessa oferece ao autor a possibilidade de
colocar a ação no tribunal indicado.

2.4.2. Incompetência Relativa

Como se deduz do art. 102.º, a incompetência relativa verifica-se em caso de infracção das
regras da competência em razão do valor, do território ou provenientes de um pacto de
competência, ou seja, nas situações de violação da competência relativa do tribunal. Em
concreto:

– A incompetência em função do valor verifica-se quando sejam violados os critérios


determinativos da competência das secções cíveis da instância central e das secções de
competência genérica (ou cíveis) da instância local (cf. art. 117.º, n.º 1, e 130.º, n.º 1, LOSJ);

– A incompetência em função do território ocorre quando sejam violados os critérios


constantes dos art. 70.º a 84.º;

– A violação da competência estipulada num pacto de competência ocorre quando a


ação é proposta num tribunal diferente daquele que foi estipulado pelas partes (cf. art. 95.º,
n.º 3).

1. Conhecimento da Incompetência: Quanto à legitimidade para a arguição, vale a


seguinte regra: a incompetência relativa pode ser sempre arguida pelo réu (art.
103.º, n.º 1) e deve ser conhecida oficiosamente nos casos previstos no art. 104.º,
n.º 1 (quanto à incompetência em função do território) ou no art. 104.º, n.º 2
(quanto à incompetência em razão do valor). Este regime é confirmado pelo
disposto no art. 578.º. Em concreto, a incompetência territorial é de conhecimento
oficioso (art. 104.º, n.º 1, al. a)).
a. O conhecimento da incompetência relativa está dependente da sua
arguição pelo réu e este deve fazê-lo dentro do prazo fixado para
apresentar a sua defesa. Sendo assim, o autor pode o autor responder no
articulado subsequente da ação.

2. Até quando o tribunal pode arguir a incompetência: o art. 103.º,n.º 1, mostra que
a incompetência relativa tem de ser – em 1.ª instância – arguida dentro de certo prazo
(passado o qual sem ser invocada, se sana): esse prazo é o fixado para a contestação, oposição
ou resposta ou, quando nenhuma destas esteja prevista, para outro meio de defesa que o réu
tenha a faculdade de deduzir. Se a incompetência for arguida pelo réu na contestação, o autor
pode responder no articulado subsequente da ação (que, no processo declarativo comum, não
pode ser a réplica: cf. art. 584.º, n.º 1) ou, não havendo este, em articulado próprio, dentro de
dez dias após a notificação da entrega do articulado do réu (art. 103.º, n.º 3).

3. Efeitos da Incompetência Relativa: O efeito da procedência da exceção dilatória de


incompetência relativa esgota aqueles que estão previstos no art. 576.º, n.º 2, e consta do art.
105.º, n.º 3: o processo é remetido para o tribunal competente – é a chamada translatio iudicii,
(1a parte do art. 105º/3 e 1a parte do art. 278º/2 CPC). Acerca do modo de impugnar a decisão
que aprecie a questão da competência, o art. 105º/4, estabelece que cabe reclamação, com
efeito suspensivo, para o presidente da Relação respetiva.

2.5. Competência internacional

Trata-se de saber se uma determinada questão deve ser resolvida pelos tribunais
portugueses ou pelos tribunais de um estado estrangeiro.

Para o professor MTS: a competência internacional dos tribunais portugueses é, assim, a


competência dos tribunais da ordem jurídica portuguesa para conhecer de situações que,
apesar de possuírem, na perspetiva do ordenamento português, uma relação com ordens
jurídicas estrangeiras, apresenta, igualmente uma conexão relevante com a ordem jurídica
portuguesa.

Cada pais pode fixar os elementos de conexão que considera relevantes para se
atribuir a competência para julgar determinados litígios.

2.5.1. Pactos de jurisdição

Por força do 59º, os tribunais portugueses são internacionalmente competentes, para


alem do 62º e 63º, quando as partes lhes tenham atribuído competência nos termos do 94º.

Como resulta do artigo 94/1º, as partes podem convencionar qual a jurisdição


competente para dirimir um litigio determinado, ou os litígios eventualmente decorrentes de
certa relação jurídica, contanto que a controvertida tenha conexão com mais de uma ordem
jurídica.

Como resulta do preceito, o pacto negociado pelas partes pode ser atributivo ou
privativo da competência internacional aos tribunais portugueses.

➢ É atributivo: quando concede competência a um tribunal ou a vários tribunais


portugueses.
➢ É privativo quando retira a competência a um ou a vários tribunais
portugueses e a atribui exclusivamente a um ou a vários tribunais estrangeiros.

O acordo das partes denomina-se pacto de jurisdição e não de competência porque o


que as partes convencionam diz respeito à jurisdição, isto é, À atribuição da competência dos
tribunais, do nosso ou de outros país, considerados no seu conjunto, e não à repartição da
competência entre os tribunais portugueses.

Pode acontecer, porém, que as partes identifiquem o tribunal português. Assim, se as


partes atribuírem a competência ao tribunal de lisboa, estão a celebrar um pacto de jurisdição
e, ao mesmo tempo, um pacto de competência interna.

O pacto de jurisdição só é válido quando se verifiquem, cumulativamente , os


requisitos referidos nas várias alíneas do 94/3º.

Para ser válido, o pacto deve:

➔ Ser escrito ou confirmado por escrito ( artº 94º/3, e) CPC);


➔ Indicar a questão litigiosa ou a relação jurídica de onde aquela pode
emergir (artº 94º/1 CPC);
➔ Designar expressamente a jurisdição competente (artº 94º/3,e) in fine
CPC);
➔ Ser aceite pela lei do tribunal designado (artº 94º/3, b) CPC);
➔ Fundar-se num interesse sério de ambas as partes ou de uma delas, mas
não envolvendo aqui inconveniente grave para outra (artº 94º, c) CPC);
➔ Respeitar a um litígio sobre direitos disponíveis (artº 94º/3, a) CPC);
➔ Não versar sobre matéria da exclusiva competência dos tribunais
portugueses (artº94º/3, d) CPC).

2.5.2. Regulamento 1215/2012 EU

“Serve para simplificar harmonizando” – simplificam-se as regras de competência


secundária harmonizando as regras de competência primária

• Regras de competência primária uniformizadas são necessárias para assegurar o


rápido reconhecimento de decisões no espaço da UE.
• Objetivo é o de simplificar o exercício da competência secundária – i.e., a competência
para reconhecer uma decisão proferida por um Estado estrangeiro – a parte só pode
prevalecer-se da decisão se o Estado reconhecer essa jurisdição (reconhecer decisão
estrangeira para no seu Estado valer com os mesmos efeitos que as suas decisões)
o Mas só é possível esta simplificação se:
1) Estado confia que outros Tribunais proferem decisões com as mesmas
garantias que os nacionais (senão teria de haver controlo de fundo quando
às decisões);
2) Respeitar o exercício da jurisdição (que é emanação de soberania) pelos
outros Estados com os quais o Estado Português se vincula a aceitar certos
critérios como critérios distributivos da jurisdição harmonização
(presunção da aplicação do Regulamento).
• É porque se harmonizam as regras de competência primária que se permite uma
rápida circulação.
Âmbito material – art. 1º/1 com as exclusões do art. 1º/2 – aplica-se a matéria civil e
comercial

Âmbito temporal – está em vigor de 2015 Antes deste regulamento existia o Regulamento
44/2001

Casos de competência exclusiva – art. 24º

• Critério que tem de ser explicado com uma intensidade tal que afasta a pertinência
de qualquer outro critério.
o Se o objeto da ação se reconduzir aos casos de competência exclusiva, então
o Tribunal tem de verificar a sua competência e declarar a sua
competência/incompetência. MTS: os casos deste artigo prevalecem sobre a
competência determinada por quaisquer outros critérios, gerais ou especiais
– prevalece sobre o art. 8º

Casos de competência concorrente – art. 7º

• Critério do domicilio do réu concorre com outro critério que é identicamente bom –
competência alternativa
o Atribui-se a autor a prerrogativa de escolher qual o Tribunal ele pretende
instalar a ação, sem que nenhum deles se possa declarar incompetente.
o Nestes casos, e a ação não for instaurada no domicílio do réu, o Tribunal
tem de verificar se há outra conexão igualmente boa que lhe dê
competência.
▪ o Se não houver tem de se declarar incompetente.
▪ Tribunal tem de verificar se garantias do réu estão asseguradas

Competência convencional - art. 25º

➔ Pactos de competência
➔ Pactos de jurisdição
➔ Convenção de arbitragem

• Prevalece sobre a competência de Origem Legal


o O pressuposto processual da competência (tanto externa como interna) pode
ser modelado por lei ou por convenção.

Autonomia privada prevalece sempre face à aplicação de uma regra, que é supletiva:

• 1ª barreira: há matérias em que o Estado não permite a autonomia privada, não


permite pactos de jurisdição.
• 2ª barreira: se não for invocada a violação do pacto de jurisdição, então isso não é de
conhecimento oficioso, pois o Tribunal não reconhece causas que tutelam interesses
de pessoas e sim aquelas que tutelam interesses de ordem pública e etc.
o Art. 578º CPC
Portanto, a competência convencional prejudica a competência de qualquer outro
tribunal, mas tem de ser suscitada pela parte – se for invocado o Tribunal tem de se declarar
incompetente.

o Se não for suscitada pela parte:


o Há derrogação tácita do pacto de jurisdição (MTS)
o Não há derrogação do pacto de jurisdição (PCS) – há uma não
invocação da exceção neste caso concreto, permanecendo o pacto
válido.
▪ A exceção de preterição, feita no pacto, não foi invocada neste
caso, mas pode ser noutros.

Consolida-se sempre a competência de um Tribunal, atribuindo competência


internacional, ao Tribunal perante o qual o Réu comparece sem invocar a incompetência desse
Tribunal.

• O Réu pode dizer que o Tribunal é incompetente mas mesmo assim aceitar ser
julgado por ele, fazendo com que se consolide a competência do Tribunal da
ação.
o É também sempre competente no plano internacional o Tribunal
perante o qual o Réu comparece, sem invocar a incompetência desse
mesmo Tribunal.
o Último critério de todos na atribuição de competência internacional –
Art. 26º: Pacto de Jurisdição Tácito. Em suma Domicílio >
Competências Especiais > Competências Excecionais > Competências
Convencionais > Comparência do Réu.

2.5.3. Regulamento 2201/2003 CE

Âmbito Material – aplica-se a matéria matrimonial e responsabilidades parentais (instrumento


de aplicação interno entre Tribunais da UE).

➢ Tem que ser conjugado com o Regulamento 4/2009 relativo às obrigações


alimentares

Regulamento 2201 tem duas partes:

1. Separação e anulação do casamento – fixa como critério geral atributivo de


competência o Tribunal de residência do requerente, quer seja (ainda) residência
comum, quer seja apenas residência do requerente
• Inversão da regra – já não é o domicílio do réu e sim área de residência da
requerente – pois a parte que requer o divórcio está normalmente numa
posição mais fragilizada38
• Art. 3º dá relevância ao critério da nacionalidade – que não tinha relevância
no Regulamento 1215.
2. Responsabilidades parentais – cujas disposições devem ser conjugadas com a
Convenção Internacional de Rapto de Menores.
• Este Regulamento apenas harmoniza as competências acerca das
responsabilidades parentais de menores (cujo conceito é deixado em
aberto39)
• Matéria de guarda e visita + atribuição do menor a famílias ou instituições de
acolhimento + rege competência da gestão patrimonial do menor (e quanto à
intervenção dos pais no património do menor)
• Não intervém nas obrigações alimentares – esse é o Regulamento 4/2009

2.5.4. Direito interno

Caso não se aplique à competência internacional nenhum instrumento internacional


(Regulamentos). Se não for aplicável nenhum dos Regulamentos, realiza-se a competência
pelo CPC.

Natureza da própria competência internacional é soberania e concorrência entre


Estados, pelo que Portugal tem de afirmar as regras pelas quais ou a partir das quais permite
o exercício da sua própria jurisdição – critério de repartição em termos internos ainda não
quer dizer que esse critério é relevante para os elementos de conexão entre o Estado
Português e um conflito plurilocalizado; uns visam apenas distribuir competência no plano
interno e outros visam afetar jurisdição ao Estado português.

Conforme dispõe o artigo 59º, sem prejuízo do que se encontra estabelecido em


regulamentos europeus e em outros instrumentos internacionais, os tribunais portugueses
são internacionalmente competentes quando se verifique algum dos elementos de conexão
referidos nos artigos 62º e 63º ou quando as partes lhes tenham atribuído competência nos
termos 94º-

Artº 62º CPC - três critérios por via dos quais os tribunais portugueses gozam de
competência internacional, bastando a verificação de um para que haja tal competência. São
estes:

➔ PRINCÍPIO DA COINCIDÊNCIA: competência internacional dos tribunais


portugueses resulta da circunstância de a ação dever ser proposta em Portugal,
segundo as regras de competência interna territorial estabelecidas pela lei
portuguesa (artºs 70º ss CPC). Por força da coincidência entre a competência
territorial e a competência internacional, os tribunais portugueses podem julgar
quaisquer ações que devam ser propostas em Portugal, segundo a aplicação das
regras daquela competência interna.
o Art. 70º e ss. escolhem um elemento de conexão e a partir dele
concretizam a competência.
o Regra geral: art. 80º e 81º -> só se recorrem a estas regras quando não é
aplicável nenhuma regra especial

▪ ≠ Lebre Freitas (que entende que o Tribunal da ação pode, se falir


a concretização da sua competência por regra especial, que seja
internacional ou interna, pode ainda ir buscar os critérios da regra
geral).
VS
▪ PCS: se estamos perante objeto para o qual a lei escolheu melhor
elemento de conexão, não pode o Tribunal concretizar a sua competência
com recurso a conexões alternativas41. Prejudica o tribunal que seria
competente para dirimir o litígio e cujo elemento de conexão a lei relevou.
Não se pode aplicar regras de competência territorial gerais se falir a
concretização da competência do Tribunal da ação, por aplicação da regra
especial que, no caso concreto, é chamada a regular

➔ PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE: tribunais portugueses têm competência


internacional sempre que o facto que serve de causa de pedir na ação tenha sido
praticado em território nacional ou, tratando-se de uma causa de pedir complexa
(constituída por vários elementos), algum deles tenha ocorrido em Portugal.

➔ PRINCÍPIO DA NECESSIDADE: tribunais portugueses com competência


internacional quando o direito invocado não possa tornar-se efetivo se não por
meio de ação proposta em tribunal português ou quando a sua propositura no
estrangeiro constitua apreciável dificuldade para o autor. Para que tal aconteça é
imprescindível que entre a ação a propor e o território português exista um
qualquer elemento ponderoso de conexão real ou pessoal.

O regime do artº 62º CPC significa que, nas hipóteses aí previstas, a ação pode ser
proposta nos tribunais portugueses, embora não seja forçoso que tal aconteça. Bem pode
suceder que a ação dê entrada no tribunal de outro país. O mesmo é dizer que, no limite, a
competência que assim gozam os tribunais portugueses é concorrencial/alternativa face à dos
tribunais de outros estados.

Quando está em causa o regime do artº 63º CPC, as coisas já se colocam de modo
diverso, já que este preceito prevê a competência exclusiva dos tribunais portugueses, tendo
nestes casos, a respetiva ação de ser proposta nos tribunais portugueses. O eventual
desrespeito desta competência exclusiva implicará que qualquer decisão proferida por
tribunal estrangeiro em matéria que contenda com o artº 63º CPC não seja reconhecida (quer
em Portugal, quer noutro Estado). Assim sendo, o referido artigo elenca nas suas varias alíneas
as situações de exclusividade.

Da competência exclusiva dos tribunais portugueses ainda uma outra consequência.


Não aceitando a jurisdição portuguesa que a causa seja submetida a jurisdição de outro país,
também não aceitará a revisão e confirmação da sentença estrangeira que ao caso diga
respeito.

3. Pressupostos relativos ao objeto da causa

3.1. Aptidão da Petição inicial

A instância inicia-se pela proposição da ação e esta considera-se instaurada quando é


recebida na secretaria a respetiva petição inicial (artº 259º/1).

Quanto ao seu conteúdo, a petição deve observar determinados requisitos, a fim de


ser considerada apta. Caso contrário, será inepta.
Artº 186º/2: Casos de ineptidão inicial:

→ Quando falte indicação do pedido: A exata formulação de um pedido é


determinante, uma vez que o tribunal só conhece daquilo que se lhe pede e na medida em que
se lhe pede (artº 609º/1). Sem pedido, o juiz não tem condições de saber o que pretende o
autor e o réu não pode defender-se.

→ Quando falte a indicação da causa de pedir: A causa de pedir é um elemento


indispensável da petição inicial. Representa o fundamento da pretensão de tutela jurisdicional
formulada. Tem de ser invocada na petição, sem o que faltará a base/suporte da ação, o que
se traduz na alegação da factualidade em que o autor estriba o pedido.

→ Quando o pedido indicado seja ininteligível: Neste caso, há pedido formulado.


Todavia este apresenta-se de tal forma obscuro que não se vislumbra o seu alcance.

→ Quando a causa de pedir alegada seja ininteligível: Também aqui foi alegada a causa
de pedir, mas de modo tão desadequado que não se percebe de onde deriva a pretensão
formulada.

→ Quando o pedido esteja em contradição com a causa de pedir: O pedido deve


apresentar-se como a consequência/corolário lógico do que se alega como causa de pedir. Este
motivo de ineptidão resulta de um antagonismos entre o pedido e o respetivo fundamento.

→ Quando se aleguem cumulativamente causas de pedir incompatíveis.

→ Quando se formulem cumulativamente pedidos substancialmente incompatíveis:


artº 555 permite cumulação de pedidos, sujeitando-a a certas condições, nomeadamente a
compatibilidade substancial entre os pedidos formulados.

A ineptidão da petição inicial é de tal modo grave que gera a nulidade de todo o
processo (artº 186º/1). A aptidão dessa peça constitui, assim, um verdadeiro pressuposto
processual, cujo desrespeito origina a exceção dilatória prevista no artº 577º, b).

3.2. Não verificação da litispendência do caso julgado

A litispendência e o caso julgado (artºs 579º - 582º) são pressupostos processuais de


índole negativa, na medida em que a sua verificação impede o regular desenvolvimento da
instância.

A litispendência e o caso julgado pressupõem a repetição de uma causa, sendo que o


que distingue estas duas figuras é o momento em que se dá a repetição. A repetição da causa
ocorre quando é proposta uma outra idêntica àquela quanto aos sujeitos, ao pedido e à causa
de pedir (artº 581º/1).
Se as duas (ou mais causas) estão simultaneamente pendentes, há litispendência.

Se uma causa é proposta depois da anterior ter sido definitivamente decidida, há caso
julgado (artº 580º/1).

A identidade dos sujeitos supõe que as partes sejam as mesmas, sob lo ponto de vista
da sua qualidade jurídica (artº 581º/2). Não se trata de uma mera identidade física. Se tiver
havido sucessão no direito ou na obrigação, ainda aí poderemos ter litispendência ou caso
julgado.

A identidade dos pedidos afere-se pela circunstância de em ambas as ações se


pretender obter o mesmo efeito jurídico (artº 581º/3).

A identidade das causas de pedir verifica-se quando as pretensões deduzidas nas ações
derivam do mesmo facto jurídico (artº 581º/4).

Tanto a litispendência como o caso julgado visam evitar que o tribunal venha a
reproduzir/contradizer uma decisão anterior (artº 580º/2). A verificação destes implica que o
juiz se abstenha de conhecer do mérito da causa repetente.

A litispendência deve ser deduzida na ação proposta em segundo lugar (artº 582º/1),
considerando-se como causa repetente aquela para a qual o réu foi posteriormente citado
(artº 582º/2), por ser esse o momento em que se define/concretiza a relação rocessual.

Na hipótese do caso julgado, a causa repetente é a proposta depois de transitar em


julgado a sentença que decidiu a causa repetida.

3.3. Falta de pressupostos

O respeito pelos pressupostos processuais é condição necessária para a obtenção de


uma decisão material sobre a questão submetida à apreciação do tribunal, sob pena de o juiz
se abster de conhecer do mérito da causa, como a consequente absolvição do réu da instância
(artº 278º/1).

Em regra, há um nexo entre a violação dos pressupostos processuais, a ocorrência de


exceções dilatórias e a absolvição do réu da instância.

Artº 571º/2: réu defende-se por exceção dilatória quando alega factos que obstam ao
conhecimento do mérito da ação, acrescentando o nº2 deste artigo que as exceções dilatórias
obstam a que o tribunal conheça do mérito da causa e dão lugar à absolvição da instância ou
à remessa do processo para outro tribunal.

Artº 577º: enuncia quase (enunciação que embora extensa não é taxativa) todas as
exceções dilatórias que o réu pode invocar.
Em regra, há um nexo entre estas 3 vertentes (violação de pressupostos processuais,
exceções dilatórias e absolvição da instância). Contudo, pode não ser exatamente assim, como
se vê pela análise dos artºs 278º e 577º.

Há exceções dilatórias cuja verificação não determina a absolvição do réu da instância,


como sucede com a incompetência relativa do tribunal (artºs 102º - 108º). É verdade que o
desrespeito pelos pressupostos relativos à competência do tribunal gera uma situação de
incompetência, logo, uma exceção dilatória.

Há dois tipos de incompetência dos tribunais (absoluta e relativa) que geram ambas a
exceção dilatória do artº 577º, a). Há, porém, uma importante diferença quando ao efeito
desses dois tipos de incompetência:

→ Incompetência absoluta motiva absolvição do réu da instância (artº 99/1).


→ Incompetência relativa determina a remessa do processo para outro tribunal (artº
105º/3).

Esta diferença explica que as duas formas de incompetência surjam lado a lado no artº
577º, a), mas só a incompetência absoluta apareça no artº 278º/1, a). De resto, o artº 278º/2
exclui o regime do nº 1 ‘quando o processo haja de ser remetido para outro tribunal’.

Há casos de violação de pressuposto processual que não determinam uma exceção


dilatória, o que exclui o cenário de absolvição do réu da instância, ex: patrocínio judiciário
obrigatório.

Se é obrigatório, assim o é para ambas as partes. No entanto, apenas no caso de o


autor não constituir advogado, sendo obrigatório, é que tal omissão gera exceção dilatória e,
por inerência, a absolvição do réu da instância (artºs 577º h), 278º/1, e) e 41º).

Se a violação deste pressuposto processual respeitar ao réu, o respetivo efeito apenas


se repercutirá no campo da defesa (artº 41º, in fine).

Mesmo que esteja violado um pressuposto processual, mesmo que tal violação
provoque uma exceção dilatória e ainda que esta tenha por efeito a absolvição do réu da
instância, pode acabar por não ter lugar o regime consignado no artº 278º/1.

É que tal efeito só deverá ocorrer como ultima ratio, i.e., se, de todo em todo, não for
possível obter o suprimento da falta do pressuposto processual.

Neste contexto, o legislador assinala o seguinte:

→ A absolvição da instância não terá lugar quando a falta ou irregularidade tenha sido
sanada (artº 278º/2).

→ As exceções dilatórias só subsistem enquanto a respetiva falta/irregularidade não


for sanada (artº 278º/3)
→ Antes de dar como violado um pressuposto processual, o juiz deve agir nos termos
do artº 6º/2 (artº 278º/3)

Esta preocupação legislativa de assegurar que a eventual violação de pressupostos


processuais seja suprida assenta no objetivo de assegurar utilidade/eficácia aos processos
judiciais.

Sempre que uma ação termina com a absolvição do réu da instância, estamos perante
um processo frustrado, que não assegurou aquilo para que foi projetado: a resolução material
da questão litigiosa.

Nesses casos, o desfecho da lide tem um caráter meramente formal, na medida em


que o juiz não se pronuncia sobre a procedência/improcedência da pretensão deduzida em
juízo, i.e., sobre o fundo da questão litigiosa.

Se pudesse pronunciar-se sobre o mérito da causa, o juiz iria decidi-la materialmente,


condenando/absolvendo o réu do pedido. Tal decisão, resolvendo definitivamente a questão,
viria a constitui caso julgado material (artº 609º).

Pelo contrário, a mera absolvição da instância não impede que o autor proponha nova
ação com o mesmo objeto, exatamente por a questão de fundo ter ficado em aberto (artº
279º/1).

Resulta então, que a absolvição da instância não é o resultado natural da lide, nem
sequer o desejado. Por isso, no esquema do processo civil português, mais do que a verificação
da existência de eventuais exceções dilatórias, o que importa são os mecanismos destinados a
providenciar em devido tempo pela regularização da instância.

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