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Homens e Medicamentos No Renascimento

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Homens e Medicamentos no Renascimento

Chapter · January 2007

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1 author:

José Pedro Sousa-Dias


University of Lisbon
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Homens e medicamentos no
Renascimento
José Pedro Sousa Dias
Secção de História e Filosofia das Ciências
do Instituto de Investigação Científica Bento da Rocha Cabral
e Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa

Resumo

O Renascimento é um período muito rico no que respeita às três áreas do conhecimento que
compõem, no seu sentido primitivo, a farmacologia: a história natural das drogas, a terapêutica
e a farmácia. Todas estas áreas foram significativamente atingidas pelo turbilhão cultural, reli-
gioso, político e económico que varreu a Europa durante a segunda metade do século XV e o
século XVI, num movimento que se virou tanto para o passado Clássico como para o futuro.
O presente texto, que corresponde no essencial a uma preocupação didáctica para com os meus
alunos da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, visa traçar um breve panorama dos
principais desenvolvimentos que se observaram durante este período na história da farmacologia,
da terapêutica e da farmácia.

1 Introdução
A queda de Constantinopla em 1453, às mãos dos turcos otomanos, levou à emigração
para Itália de grande número de bizantinos, continuadores da cultura de língua grega e
portadores de manuscritos de ciência, de medicina e de outras áreas do saber. Foi essa
chegada que marcou o início do Renascimento, provocando uma enorme renovação do
interesse pela cultura clássica, num movimento crescente que foi das letras e das artes
à ciência e à tecnologia, potenciado pela introdução dos caracteres móveis na imprensa
por Gutemberg (1454). A descoberta da imprensa foi o culminar de um longo processo.
Durante a Idade Média, o principal suporte da escrita é o pergaminho. Este, preparado
a partir da pele de animais, constituira um grande avanço em relação ao papiro, mais
raro, caro e difícil de conservar em climas húmidos. O papel, utilizado pelos chineses,
só se torna conhecido dos árabes no século VIII e é a partir destes que se difunde na
Europa. O Papel utiliza uma matéria-prima ainda mais abundante que o pergaminho e a
sua manipulação é muito mais prática. A escrita continua a ser realizada manualmente.
A impressão em série de folhas de papel inicia-se pela gravura de madeira em página
inteira, a que se segue no século XV a tipografia com caracteres móveis, primeiro de
madeira (Laurent Coster) e depois de metal (Gutemberg).

1
2 Medicina, Farmácia e Humanismo. 2

Fig. 1: A divisão da Europa entre a Reforma e a Contra-reforma.

No campo geográfico e político-económico, o Renascimento foi complementado


pela expansão europeia, de que podemos indicar, como marcos, a passagem do Cabo
da Boa Esperança por Bartolomeu Dias (1487), a chegada de Colombo às Antilhas
(1492) e a viagem de Vasco da Gama, contornando a África e chegando à Índia (1498).
Outro desenvolvimento, de carácter religioso, com profundas consequências para a
história das ciências e da medicina na Europa, foi a Reforma. A Reforma protestante
foi iniciada em 1517, com a afixação na porta da Igreja universitária de Wittenberg das
noventa e cinco teses do monje alemão Martinho Lutero (1483-1546) contra o sistema
das indulgências da Igreja católica. Este movimento, que ganhou fortes raízes na Eu-
ropa central e do Norte, originou uma reacção por parte da Igreja católica, iniciada com
o Concílio de Trento (1545-1563), que é denominada a Contra-Reforma.

2 Medicina, Farmácia e Humanismo.

2.1 O Humanismo Médico.


O Humanismo médico é a corrente final do Galenismo. O interesse pelo retorno às
fontes gregas clássicas, característico do Renascimento, levou a que o Humanismo
médico tomasse uma forma particularmente militante contra a corrente dominante du-
rante a Idade Média - o Galenismo arabizado. Contudo, ambas as correntes partilha-
vam o mesmo núcleo duro teórico - a Teoria dos Humores - e as polémicas contra a
Medicina árabe visaram principalmente a busca da pureza hermenêutica da literatura
greco-romana, contra as adulterações que teriam sido introduzidas pelos autores islâ-
micos. Desta forma, observa-se um enorme desenvolvimento da investigação filológica
dos textos clássicos, que origina a fixação da terminologia científica, baseada na raiz
etimológica greco-latina. Esta preocupação pela fiel interpretação dos textos, aliada
2 Medicina, Farmácia e Humanismo. 3

Fig. 2: Andreas Vesalius (1514-1564)

ao desenvolvimento da tipografia, leva a uma enorme difusão da literatura médica e à


edição de novos textos latinos de Hipócrates, Galeno e Dioscórides.
A única área onde se observa alguma tensão entre o Humanismo médico e a Medi-
cina clássica é a do desenvolvimento da Anatomia. Esta sofreu um importante impulso,
proveniente das artes. Desde o século XV que pintores e escultores demonstraram um
grande interesse pela anatomia e contribuíram com uma nova atitude de representação
do natural. Para estes artistas não era possível representar o exterior do corpo humano
sem um conhecimento do seu interior. Esta atitude encontra-se patente na obra de Leo-
nardo da Vinci (1452-1519), Albrecht Dürer (1471-1528), Miguelangelo (1475-1564)
e Rafael (1483-1521). São particularmente indicativos os apontamentos anatómicos
de Leonardo da Vinci, desenhados entre 1489 e 1514. Nos seus trabalhos de dissec-
ção anatómica, ele colaborou directamente com Marco Antonio della Torre, que viria
a ensinar Medicina em Pádua. Colaboração de tipo semelhante foi desenvolvida entre
1547 e 1559, por Miguelangelo e o anatomista Realdo Colombo (f. 1559). O renas-
cimento da anatomia iniciou-se com a publicação da edição latina da primeira parte
dos Procedimentos anatómicos (1529 e 1531), o tratado de métodos e técnicas ana-
tómicas de Galeno. Este tratado revelou um Galeno com um método mais racional e
com uma técnica descritiva superior à dos autores medievais, o que aumentou a confi-
ança e a perícia dos anatomistas e continha em si um programa de investigação, porque
Galeno, por falta de cadáveres humanos, utilizara macacos e outros animais, mas in-
dicara o estudo preferencial com humanos e aconselhara os estudiosos a fazerem as
suas próprias observações. Daqui resultou um apreciável número de textos na senda
da observação pessoal e original. O mais importante de todos foi o De Humani Cor-
poris Fabrica (1543). O seu autor, Andreas Vesalius (1514-1564) nasceu em Bruxelas,
filho de um farmacêutico do imperador Carlos V. Estudou em Lovaina e Paris. Foi seu
mestre Gunther von Andernach, tradutor da mais influente edição dos Procedimentos
2 Medicina, Farmácia e Humanismo. 4

Fig. 3: A. Vesalius - De Humani Corporis Fabrica (Basileia, 1543)

anatómicos (a de 1531). Em 1537, depois de uma curta passagem por Lovaina, foi
convidado para ensinar em Pádua, onde foi nomeado professor de cirurgia e anatomia.
Aí levou a cabo o programa galénico de observação anatómica, tonando-se mais crítico
da sua anatomia por volta de 1539, quando se convenceu que o autor greco-romano
só realizara dissecções em animais. A sua De Humani Corporis Fabrica, preparada
entre 1540 e 1542, inclui uma crítica sistemática à anatomia de Galeno, assente na
observação pessoal e directa do corpo humano. Apesar das suas críticas às descrições
morfológicas de Galeno, tanto Vesalius como os restantes autores renascentistas, não
atacaram a fisiologia galénica, mesmo quando esta se baseava em aspectos estruturais
que eles negavam.

2.2 A Matéria médica no Renascimento.


2.2.1 Dioscórides
Da mesma forma que aconteceu com a anatomia, a matéria médica e a botânica ganha-
ram uma nova perspectiva durante o Renascimento. O percurso das duas disciplinas
apresenta muitos pontos comuns[25]. Até cronologicamente: a obra mais emblemática
da botânica renascentista, a De historia stirpium de Leonhard Füchs (1501-1566), foi
impressa na mesma cidade de Basileia que o livro de Vesalius, precisamente um ano
antes. O movimento inicia-se com o interesse pelo estudo directo dos autores clássi-
cos. As obras de Galeno, Dioscórides e Plínio encontravam-se disponíveis durante a
Idade Média, mas o seu estudo era normalmente feito através de autores árabes, como
o Canon de Avicena ou o Aggregator de simplicibus de Serapião. As compilações
elaboradas por estes autores apresentavam várias vantagens, como a síntese entre as
2 Medicina, Farmácia e Humanismo. 5

complementaridades de Galeno e Dioscórides, dado que o De simplicibus do primeiro


discute a teoria das plantas medicinais mas não as descreve, enquanto a Materia me-
dica do segundo contém exactamente o oposto. A primeira obra botânica a ser alvo
da atenção dos humanistas foi a de Teofrasto, aluno de Aristóteles praticamente desco-
nhecido no Ocidente cristão. Os manuscritos das suas Historia plantarum e De causis
plantarum, foram obtidos a partir de um lote de manuscritos gregos trazidos de Cons-
tantinopla no início século XV e traduzidos por volta de 1450 por Theodorus Gaza para
o Papa Nicolau V. Esta tradução foi impressa em 1483 e o texto grego em 1497. De
um autor já bem conhecido, a Historia naturalis de Plínio foi impressa em Veneza, em
1469.
Dioscórides foi impresso em 1478 (por P. d’Abano) e em 1512, seguindo um ver-
são alfabética medieval. A sua primeira edição em grego foi impressa em 1499 (por
H. Roscius). A partir de 1516, este autor foi objecto de um grande número de edi-
ções, traduções e comentários. O veneziano Ermolao Barbaro (1454-1493), professor
de filosofia em Pádua, embaixador e Patriarca de Aquileia, foi o autor da edição pós-
tuma do Dioscorides... medicinali materia (Veneza, 1516), traduzida do grego para
o latim. Jean de Ruelle (1474-1537), professor da Faculdade de Medicina de Paris,
também foi o autor de influentes edições latinas de Scribonius Largus e Dioscórides
(Paris, 1516). O mais destacado tradutor e comentador de Dioscórides foi o médico
Pier Andrea Mattioli (1501-1577). Neste movimento também participou o médico por-
tuguês Amato Lusitano. De seu nome João Rodrigues de Castelo Branco (1511-1568),
dedicou grande atenção ao estudo da Matéria médica de Dioscórides, em obras como
o Index Dioscoridis (1536) e In Dioscoridis ... Materia Medica... enarrationes (1553).
As correcções feitas por Amato a algumas traduções feitas por Mattioli, levaram a uma
violenta reacção deste, acompanhada da denúncia das origens judaicas de Amato, que
obrigaram o português a exilar-se de Ragusa (Ancona) para Salónica. A principal edi-
ção ibérica de Dioscórides foi a de Andrés Laguna (1511-1559), feita a partir da de Jean
de Ruelle, intitulada Pedacio Dioscorides... Materia medicinal (Antuérpia, 1555). As
obras de Galeno, em latim e grego, foram objecto de várias edições a partir de1520.

2.2.2 Herbários modernos e jardins botânicos


Para além do estudo da obra de Dioscórides, o Renascimento viu o aparecimento de
um novo tipo de literatura sobre plantas, que introduziu a necessidade da representação
da realidade natural, tanto através do próprio texto como das imagens. O primeiro foi o
Herbarum vivae eicones (1530) do médico, botânico e teólogo protestante alemão Otto
Brunfels (1489-1534). Esta obra inclui 238 imagens desenhadas a partir do natural por
Hans Weiditz, um artista da escola de Dürer. O expoente mais elevado deste movimento
foi outro protestante, Leonhard Füchs (1501-1566), médico de câmara em Brandenburg
e professor de Medicina em Tübingen. A sua obra mais importante é a De historia
stirpium (1542), onde estuda meio milhar de plantas, a maior parte pertencentes à flora
alemã. Inclui 511 ilustrações magníficas de Albrecht Mayer e Heinrich Fülmanner,
gravadas em madeira por Veit Rudolph Speckele. A importância dada às ilustrações
fica patente pelo facto de a obra incluir os retratos dos desenhadores e do gravador.
Fora da Alemanha, este movimento contou com a colaboração de autores como os
ingleses William Turner (1508-1568) e John Gerard (1545-1612), o flamengo Rembert
2 Medicina, Farmácia e Humanismo. 6

(a) De historia stirpium, 1542.

Fig. 4: Desenhadores e gravador contratados por Leonhart Fuchs.

Dodoens (1516-1585) e o francês Mathieu de l’Obel (1538-1616). Dois outros autores,


o francês Jacques Daléchamps (1513-1588) e o italiano Andrea Cesalpino, escreveram
importantes obras botânicas, mas sem contributo terapêutico, o que diminuiu a sua
aceitação na época em que foram publicadas.
A importância dada à botânica levou ao aparecimento de jardins botânicos e de cá-
tedras universitárias dedicadas ao seu ensino. O primeiro professor de botânica surgiu
em Pádua em 1533. Jardins botânicos, destinados ao cultivo e estudo de plantas me-
dicinais surgiram em várias cidades italianas, alemãs, holandesas e francesas. Os mais
famosos foram os de Pisa, Pádua, Bolonha, Leiden, Leipzig, Basle, Montpellier e Paris.
Os jardins botânicos foram essenciais para o estudo e fornecimento das farmácias em
espécies locais devidamente controladas, e posteriormente para o estudo e aclimata-
ção de espécies exóticas provenientes do ultramar. Contudo, porque muitas vezes, por
razões sazonais ou geográficas, era impossível ter as plantas vivas para serem estuda-
das, tornou-se corrente o recurso à herborização, uma técnica conhecida desde o século
XIV, mas difundida a partir do Orto dei Simplici de Pisa desde a década de 1530, como
o nome de hortus siccus.

2.2.3 Drogas e política


O conhecimento botânico durante o Renascimento foi um processo intelectual mas
também político. A matéria médica de Dioscórides baseava-se na flora mediterrânica
e nas drogas que atravessavam este Mar provenientes do Oriente. As cidades estado
italianas, com Veneza à cabeça, dominavam todo este comércio. Veneza ainda domi-
nava directamente as ilhas de Creta e de Chipre, donde eram provenientes muitas das
drogas mencionadas por Dioscórides. Neste contexto, não é de estranhar que o inte-
2 Medicina, Farmácia e Humanismo. 7

(a) H. Brunschwig. Liber de Arte Destilandi (1512).

Fig. 5: Manipulação da teriaca.

resse dos botânicos protestantes alemães pela sua flora fosse também motivado por um
desejo de independência das matérias primas da Europa católica do Sul. Pelas razões
opostas, também é evidente o interesse veneziano em promover o estudo da matéria
médica da Antiguidade. Este trabalho foi realizado por uma rede informal de médicos,
farmacêuticos, botânicos, mercadores, viajantes e diplomatas, em parte centralizada
por Mattioli, primeiro em Gorizia e depois em Praga e Innsbruck. Mattioli come-
çou em 1544 por traduzir para italiano a edição latina do Dioscórides de Ruelle, sem
ilustrações. Estas foram introduzidas apenas nos Comentarii in Libros Sex Pedacii Di-
oscoridis Anazarbei, publicados em 1554 pelo veneziano Valgrisi. Esta edição, da qual
terão sido vendidas 32.000 cópias, valeu-lhe ter sido contratado como médico pessoal
do Arquiduque Fernando do Tirol, futuro Imperador, o que veio aumentar os rendi-
mentos disponíveis para o seu trabalho. Esta rede incluiu a colaboração de Luca Ghini
(1490?-1556), professor de botânica em Bolonha e fundador do jardim botânico de
Pisa (1544) e Ulisse Aldrovandi (1524?-1607), fundador do jardim de Bolonha (1568),
que forneceram informação e examplares botânicos a Mattioli.
A manipulação da teriaca ilustra a evolução do conhecimento da matéria médica da
Antiguidade. Este medicamento, um antídoto polifármaco, mencionado pela primeira
vez no poema Theriaká de Nicandro de Colófon (Séc. II a.C.), foi objecto de várias
formulações, sendo a mais conhecida a do médico de Nero, Andrómaco (Séc. I). Na sua
composição entravam cerca de oito dezenas de ingredientes dos três reinos da natureza,
um quarto dos quais eram necessariamente objecto de substituição na década de 1540,
por se desconhecerem as verdadeiras drogas referidas na formulação de Andrómaco.
A redescoberta das drogas antigas foi de tal forma rápida que, em 1566, o farmacêutico
de Verona Francesco Calzolari já só tinha que usar três substitutos e, em 1568, Mattioli
podia escrever que a teriaga preparada nessa altura já era tão boa como a que Galeno
preparava para o imperadores romanos.
3 Medicina e religião no Renascimento 8

2.2.4 A destilação
Durante o Renascimento, o velho conceito galénico dos odores e sabores das drogas
como manifestação das qualidades dos medicamentos, junto com o aperfeiçoamento
das técnicas de destilação pelos árabes, levou ao desenvolvimento do conceito de prin-
cípio activo e ao aparecimento da química farmacêutica. A aplicação da destilação por
via húmida a especiarias e outras drogas aromáticas permitiu a obtenção de essências,
onde o odor e o sabor da droga original se encontrava concentrado. Daí se desenvolveu
a ideia de ser possível extrair das drogas um princípio activo ou essência, que concen-
trasse as suas qualidades e acção terapêutica, eliminando os componentes supérfluos
e aumentando o efeito farmacológico. Um raciocínio análogo foi desenvolvido para
as drogas minerais, mas aplicando técnicas metalúrgicas por via seca para a purifica-
ção dos metais. Daqui se desenvolveram em paralelo as novas técnicas da química
farmacêutica, utilizando as duas vertentes, húmida e seca, aplicadas respectivamente
às drogas vegetais e às minerais. A difusão das técnicas de destilação, expostas em li-
vros como o Liber de arte destilandi de Simplicibus (1500) de Hieronimus Brunschwig
(1450-1512), popularizou a utilização de essências de especiarias e drogas aromáticas,
chamadas vulgarmente águas destiladas, como as essências, quintas-essências ou águas
de canela.

3 Medicina e religião no Renascimento

3.1 Saúde e Reforma


O mais evidente conceito de âmbito sanitário que separava católicos e protestantes, era
a crença na intervenção da Virgem Maria e dos santos e suas relíquias. Os respectivos
cultos eram condenados como supersticiosos pelos protestantes, mas constituiam uma
longa tradição na Europa. O culto da Virgem e dos santos era associado à capacidade
curativa da sua intermediação com Deus e mesmo às propriedades medicinais de fontes
e nascentes consideradas santas. A primeira reacção das autoridades protestantes con-
sistiu em tentar acabar com as peregrinações a muitos desses locais, fechando templos
e fontes e vedando os acessos, mas cedo essas medidas foram substituídas por preo-
cupaçãos que se limitavam aos aspectos doutrinários da sua utilização, enfatizando a
intervenção divina directa através das águas e mesmo as suas propriedades médicas.
Nascida na tradição cultural humanista, a reforma luterana partilhou várias caracte-
rísticas importantes com o humanismo médico. A preocupação de Lutero em encontar
a pureza primitiva do texto da bíblia é paralela com a preocupação humanista em ex-
purgar tudo o que fora adulterado nos textos médicos clássicos. Como corolário da
reforma religiosa, a que trataria da cura das almas, muitos autores protestantes enten-
deram ser uma prioridade proceder de seguida à reforma da medicina, a que trataria da
cura dos corpos. Do ponto de vista teórico, a primeira tentativa de reforma radical do
galenismo vai ser levada a cabo por Paracelso.
3 Medicina e religião no Renascimento 9

Fig. 6: Paracelso (1493-1541)

3.2 Paracelso
A primeira corrente médica europeia oposta à teoria dos humores desenvolveu-se no
século XVI com Paracelso (1493-1541). Theophrastus Philippus Aureolus Bombastus
von Hohenheim nasceu na Suíça e era filho de um médico. O nome “Paracelso” só
foi adoptado por volta de 1529, significando “acima de Celso”. Aulo Cornelio Celso
era o autor romano de uma De medicina, que tinha sido redescoberta e impressa há
pouco tempo, estando no auge da sua fama. A educação de Paracelso foi mais prática
e mística do que seria usual num médico do seu tempo. Com o pai aprendeu a medi-
cina, a botânica, a mineralugia, a metalurgia e a filosofia natural. O abade Johannes
Trithemius, de Sponheim, ensinou-o sobre as artes mágicas e o ocultismo. Também
frequentou a escola de minas em Huttenberg e chegou a ser aprendiz nas minas de
Schwaz. Neste contexto, desenvolveu um maior interesse pelas manifestações da cul-
tura contemporânea e local, dos camponeses e artesãos e menor veneração pela cultura
clássica dos humanistas do seu tempo. Desta forma a obra de Paracelso caracterizou-se
por uma profunda religiosidade, por uma simultânea hostilidade à religião organizada
e à medicina oficial, e aproximou-se da magia e da alquimia. Embora se mantivesse
formalmente como católico, Paracelso desenvolveu uma visão radical, reformista e pro-
fética da religião, onde a salvação se encontraria na descoberta das marcas da presença
de Deus no mundo natural e na fé popular. Paracelso manifestou grande distanciamento
em relação à Medicina universitária do seu tempo, embora ela próprio tenha ensinado
durante algum tempo numa Faculdade de Medicina e possa ter estudado noutra. Em
Basileia, onde o ensino era parte das suas funções como médico da cidade, Paracelso
deu aulas em alemão e não em latim e anunciou que não ensinaria a partir dos autores
clássicos, como Hipócrates ou Galeno, mas da sua própria experiência. Para deixar
3 Medicina e religião no Renascimento 10

(a) Anon. Aurora Thesau-


rusque Philosophorum Pa-
racelsi (Basileia, 1577)

Fig. 7: O forno anatómico.

bem clara a sua posição, queimou publicamente um exemplar do Canon de Avicena


numa fogueira durante as festas de S. João.
A filosofia química de Paracelso, o seu pensamento médico e filosófico, é consti-
tuída por um conjunto de várias ideias mestras. A primeira é a recusa da teoria humoral
como paradigma explicativo da saúde e da doença, substituindo-a por uma filosofia na-
tural de base química. Paracelso não negou a existência dos quatro humores e dos
quatro elementos clássicos (Fogo, Ar, Água e Terra), mas deu-lhes um papel inteira-
mente acessório, passivo, em relação a três outros elementos ou substâncias primárias,
o Sal, o Enxôfre e o Mercúrio. Este três são denominados os tria prima e constituiriam
os princípios do corpóreo (sal), do inflamável (enxôfre) e do volátil (mercúrio). Cen-
tral no pensamento de Paracelso é a ideia da unidade entre o macrocosmo (o universo,
tanto na sua parte terrestre como extra-terrestre) e o microcosmo (o corpo humano). Os
corpos vivos seriam compostos tanto de minerais como de espíritos astrais (essentia).
Ao pensarmos numa concepção química da natureza e da vida à luz do nosso pensa-
mento de hoje, poderemos imaginar uma teoria assente nos materiais, mas o mundo
é visto por Paracelso como controlado por forças espirituais, dirigidas em última aná-
lise por um grande mago, Deus. Entre as forças esprituais imaginadas por Paracelso
encontram-se sementes, as semina, enviadas directamente por Deus e os archei, prin-
cípios que controlavam vários processos vitais. Mesmo as causas externas das doenças
seriam essências espirituais, mas seriam reais e específicas para cada doença. Este era
um conceito novo em relação à teoria humoral, onde as doenças seriam originadas por
uma conjunção de causas não específicas.
Outra das ideias mestres de Paracelso consistia na adesão à teoria das assinaturas.
Segundo esta teoria, exposta em grande detalhe no livro Phytognomonica (1588) de
Giambattista della Porta (1538-1615), a terra, enquanto palco destinado por Deus para
a caminhada do homem para a sua salvação, encontrar-se-ia cheio de animais, vegetais
e minerais úteis para o homem, nomeadamente para o seu tratamento, que aí teriam sido
4 Expansão europeia e conhecimento da flora exótica 11

Fig. 8: Drogas para doenças do coração na Phytognomonica (1588) de G. della Porta.

colocados pelo Criador para o seu usufruto, e que teriam sido devidamente marcados,
assinados, através da sua forma, cor, textura, para que o homem reconhecesse a sua
utilidade e a grandeza divina. Assim, um fruto com a forma de um coração teria a
assinatura da sua utilidade para doenças cardíacas, ou outro com a forma de um fígado
para as doenças hepáticas.

4 Expansão europeia e conhecimento da flora exótica

4.1 Drogas asiáticas.


O estudo e conhecimento das especiarias e drogas medicinais orientais contou no sé-
culo XVI com um importante contributo de médicos e boticários portugueses, os pro-
fissionais com alguns conhecimentos técnicos relativos à identificação, determinação
da qualidade e mesmo ao acondicionamento e conservação de especiarias e drogas.
Tomé Pires destacou-se entre os boticários portugueses que viveram no Oriente no
século XVI. Tendo partido para a Índia em 1511, esteve em Cananor e em Malaca,
como feitor e vedor das drogarias, escrevendo a Suma Oriental, a primeira descrição
europeia da Malásia e a mais antiga e extensa descrição portuguesa do Oriente. Em
27 de Janeiro de 1516, escreveu em Cochim uma importante carta a D. Manuel onde
descreveu de forma pioneira a origem geográfica e algumas características de grande
número de drogas asiáticas. Escolhido para dirigir uma embaixada à China, devido ao
seu conhecimento das drogas, curiosidade científica e qualidades de escritor e negocia-
dor, partiu em 1516 para Cantão e daí para Pequim. Pires nunca chegou a ser recebido
pelo imperador, em resultado da conjunção de vários factores negativos, desde a natu-
ral desconfiança dos chineses à falta de tacto de alguns portugueses. A embaixada caiu
em desgraça, os seus membros foram presos e mortos e os portugueses perseguidos na
China durante três décadas. Os testemunhos não coincidem no que respeita à sorte de
Tomé Pires que, de qualquer forma, nunca regressou da China. Outro boticário, Simão
Álvares, que partiu para a Índia em 1509, escreveu uma Informação (...) do nasci-
4 Expansão europeia e conhecimento da flora exótica 12

mento de todas as drogas que vão para o Reino, por volta de 1547, semelhante à carta
de Tomé Pires a D. Manuel, embora mais extensa e referindo-se a um maior número
de drogas.
Embora pioneiros, os relatórios de Tomé Pires e Simão Álvares tinham como objec-
tivo a comunicação de dados geográficos e económicos. Assim, o primeiro contributo
europeu importante para o estudo médico e botânico das drogas orientais foi o Coló-
quio dos simples e drogas e coisas medicinais da Índia (Goa, 1563) do médico Garcia
de Orta (1501-1568). Garcia de Orta, pertencente a uma família de judeus expulsos
de Espanha em 1492, nasceu em Castelo de Vide e estudou em Salamanca e em Al-
calá de Henares. Partiu para a Índia em 1534 como médico pessoal do governador.
Estabeleceu-se como médico em Goa, onde adquiriu grande reputação. Logo após a
sua morte, em 1568, a Inquisição de Goa iniciou uma feroz perseguição à família de
Garcia de Orta, que culminou em 1580 com a exumação e condenação à fogueira por
judaísmo dos seus restos.
Os Colóquios dos simples de Garcia de Orta são uma obra notável. Encontram-
se escritos na forma de diálogo e em língua portuguesa. Os dois personagens são
Ruano, um médico espanhol recém-chegado da Península Ibérica e o próprio Orta. Os
Colóquios incluem 57 capítulos onde se estuda um número aproximadamente igual de
drogas orientais, principalmente de origem vegetal, como o aloés, o benjoim, a cânfora,
a canafístula, o ópio, o ruibarbo, os tamarindos e muitas outras. Orta apresenta a
primeira descrição rigorosa feita por um europeu das características botânicas, origem
e propriedades terapêuticas de muitos fármacos orientais que, apesar de conhecidas
anteriormente na Europa, o eram de maneira errada ou muito incompleta. Orta estudou
in loco um grande número de plantas medicinais que eram conhecidas apenas na forma
da droga, ou seja, na forma de parte da planta colhida e seca. Orta também inclui,
além de vários outros assuntos, algumas observações clínicas, das quais é de destacar
a primeira descrição da cólera asiática feita por um europeu.
Escrito em português e não em latim como era então a regra na literatura médica,
o livro de Garcia de Orta tornou-se conhecido na Europa através da versão latina edi-
tada pelo médico e botânico Charles de l’Écluse (1526-1609), conhecido nome latino
de Clusius. Durante uma visita a Portugal em 1564-65, Clusius entrou na posse de
um exemplar do livro de Garcia de Orta, do qual publicou em 1567 uma edição latina
resumida e anotada, intitulada Aromatum et Simplicium aliquot medicamentorum apud
Indios nascentium historia. A procura deste livro foi muito grande e ele contou com
mais cinco edições revistas e ampliadas, ainda em vida de Clusius. Além da versão
de Clusius, os Colóquios circularam ainda em castelhano através do livro Tractado de
las drogas y medicinas de las Indias Orientales (Burgos, 1578) do médico português
Cristóvão da Costa (c. 1525-1593), ao qual serviram de base. Nascido em Cabo Verde,
Cristóvão da Costa foi para a Índia em 1559, onde conheceu Garcia de Orta. Regres-
sado do Oriente, foi viver para Burgos, em Espanha, onde publicou o seu livro. Costa
reorganizou a estrutura e corrigiu o texto de Orta, adicionando-lhe gravuras, que eram
totalmente inexistentes nos Colóquios. Clusius também traduziu para latim o livro de
Cristóvão da Costa.
4 Expansão europeia e conhecimento da flora exótica 13

4.2 Drogas americanas.


Contrariamente ao que acontecia com a oriental, a matéria médica americana era des-
conhecida na Europa até à viagem de Colombo. Por essa razão e porque o objectivo
dos espanhois era precisamente atingir a Ásia e introduzir as drogas orientais no comér-
cio europeu, vamos observar duas fases distintas na introdução das drogas americanas
na Medicina europeia. A primeira, que corresponde grosseiramente ao século XVI, é
dominada pela introdução de drogas apresentando semelhanças com outras orientais,
muitas correspondendo a outras espécies do mesmo género. É a fase da procura de
drogas americanas que substituíssem as orientais no comércio. Nesta fase foram igual-
mente introduzidas drogas destinadas à cura da sífilis, correspondendo à ideia galénica
de que as doenças de determinado clima, deviam ser combatidas com drogas proveni-
entes do mesmo clima. As drogas americanas mais singulares e que, por essa mesma
razão, mais impacto teriam na Medicina europeia só seriam introduzidas no século
XVII.
O primeiro médico europeu a introduzir as drogas americanas na literatura espe-
cializada foi Nicolás Monardes (c. 1512-1588), natural e morador em Sevilha, que
publicou o Dos libros... cosas de nuestras Indias Occidentales que sirven al uso de
Medicina (1565), rapidamente traduzido em outros idiomas. Aí descreveu as proprie-
dades de várias drogas americanas como a jalapa, o sassafrás, o guáiaco, a canafístula,
a coca, o tabaco e as árvores dos bálsamos do Peru e Tolu. Monardes é frequentemente
apontado como o equivalente, para a matéria médica americana, a Garcia de Orta mas,
contrariamente ao português, o autor de Dos libros nunca saiu de Espanha. O primeiro
estudar a flora médica no novo continente foi o médico Francisco Hernandez (1514-
1587). A ida de Hernandez para o continente americano mostra a diferente atitude face
à matéria médica das suas conquistas evidenciada pela coroa espanhola, resultante do
facto de se mostrar necessário criar um mercado que só existia para as drogas orientais.
Filipe II mostrou muito cedo interesse pela nova flora, iniciando o cultivo de uma sec-
ção de plantas medicinais no Jardim de Aranjuez na segunda metade do século XVI.
Hernandez, nomeado médico da câmara deste monarca poucos anos depois da publi-
cação do livro de Monardes, foi enviado como protomédico para as Índias Orientais
em 1571, precisamente para estudar a matéria médica no México e no Perú. A sua in-
vestigação no México durou sete anos (1571-1578), estudando cerca de 4.000 plantas
mexicanas. Em 1578 regressou a Espanha para ocupar o lugar de médico da câmara,
falecendo nove anos depois sem ter visto publicados os resultados dos seus estudos. O
texto original de Hernández acabou por desaparecer durante um incêndio no Escorial
em 1671. O que se conhece da obra e tudo o que se publicou sobre ela foi feito a partir
de cópias e resumos dos originais. A parte mais importante é a que foi resumida pelo
napolitano Nardo Antonio Recchi, a pedido de Filipe II, provavelmente para permitir
uma edição com menores custos. O resumo de Recchi acabou por ser impresso em
1615, numa versão castelhana de Francisco Ximénez, e em 1628, no Rerum Medica-
rum Novae Hispaniae Thesaurus, editado pela Accademia dei Lincei. A última versão
foi editada em 1790 por Casimiro Gomez Hortega, com o título de Opera.
4 Expansão europeia e conhecimento da flora exótica 14

Orientação Bibliográfica
Existe uma variada bibliografia de carácter geral, onde o período do Renascimento é
profusamente abordado, que pode auxiliar o leitor a aprofundar os temas tratados e da
qual vamos apenas indicar alguns títulos. A obra que melhor integra a história da far-
mácia no âmbito da história da ciências e das modernas perspectivas historiográficas
é El mito de Panacea de Francisco Javier Puerto Sarmiento[24]. As restantes histó-
rias gerais da farmácia, como a obra monumental de G. Folch Jou, J. M. Sunné e J.
L. Valverde[9], a edição de G. Sonnedecker sobre o livro de Kremer e de Urdang[27]
e o livro em português de J. R. Pita[20], embora ricas do ponto de vista descritivo,
são muito menos interessantes na abordagem dos problemas. Mais abundante e ac-
tualizada é a literatura de história da medicina. Para uma visão moderna da História
Social da Medicina, ver o livro de Roy Porter, The greatest benefit to Mankind[22], a
qual inclui um repertório da mais importante bibliografia em língua inglesa. O mesmo
autor escreveu uma breve síntese da história da medicina, intitulada Blood & Guts.
A short History of Medicine, traduzido para castelhano, com o título Breve Historia
de la Medicina[23]. Dirigida pelo mesmo autor e profusamente ilustrada, ver a The
Cambridge Illustrated History of Medicine[21]. Para o período até 1800, o leitor dis-
põe igualmente da síntese The Western Medical Tradition[3], proveniente de autores
da mesma escola. Em castelhano, dispomos da síntese, tão curta quanto interessante,
de José Maria López Piñero, Breve historia de la medicina[16] e da monumental His-
toria Universal de la Medicina, de vários autores e coordenada por Pedro Laín, actu-
almente disponível em CD-ROM[15]. Do mesmo autor, existe uma outra Historia de
la Medicina, compacta mas muito informativa[14]. Igualmente muito exaustiva, em-
bora fortemente internalista e centrada na literatura médica, é a obra com o mesmo
título de Francisco Guerra[11]. Forma um conjunto muito interessante e abrangente os
volumes correspondentes ao período de 1500 a 1800 da série de livros de texto[7], e
colectâneas de fontes primárias e secundárias[8], editadas pela Manchester UP para a
Open University, para apoiar um curso desta última intitulado “Medicina e Sociedade
na Europa, 1500-1930”. Para além das sínteses referidas, o leitor dispõe ainda de boas
obras de referência, como a Companion encyclopedia of the History of Medicine[2],
a The Cambridge World History of Human Disease[13] e o Dictionary of Scientific
Biography[10].
Quanto à bibliografia centrada sobre o período do Renascimento, vejam-se os estu-
dos A. Arber[1], A. Debus[4, 5], R. Multhauf[17, 18], W. Pagel[19], K. M. Reeds[25],
N. Siraisi[26] e P. M. Teigen[28]. Alguns textos essenciais foram traduzidos para por-
tuguês, como o O Homem e a Natureza no Renascimento de Allen G. Debus[6], ou
clássico de A. Rupert Hall[12] sobre a Revolução Científica, que não se limita ao sé-
culo XVII, mas leva a sua atenção até 1500.

Referências
[1] Arber, A. Herbals: their origin and evolution. A chapter in the history of botany.
Cambridge: Cambridge University Press, 1988.
4 Expansão europeia e conhecimento da flora exótica 15

[2] Bynum, W.F. e Porter, R. Companion encyclopedia of the History of Medicine,


vol. 2. London and New York: Routledge, 1993.

[3] Conrad, L.I. et al.. The Western Medical Tradition. 800 BC to AD 1800. Cam-
bridge: Cambridge University Press, 1995.

[4] Debus, A.G. “The Pharmaceutical Revolution of the Renaissance”. Clio Med, 11
(1976) 307–317.

[5] —. Man and Nature in the Renaissance. Cambridge: Cambridge University


Press, 1978.

[6] —. O Homem e a Natureza no Renascimento. Porto: Porto Editora, 2002. 1.a ed.
1978.

[7] Elmer, P. The Healing Arts. Health, disease and society in Europe. 1500-1800.
Manchester: Manchester University Press / The Open University, 2004.

[8] Elmer, P. e Grell, O.P. Health, disease and society in Europe. 1500-1800. A
source book. Manchester and New York: Manchester University Press / The
Open University, 2004.

[9] Folch Jou, G.; Suñé, J.M. e Valverde, J.L. Historia General de la Farmacia.
Madrid, 1986.

[10] Gillispie, C.C. Dictionary of Scientific Biography. New York: Charles Scribner’s
sons, 1970.

[11] Guerra, F. Historia de la Medicina, vol. 3. Madrid: Ed. Norma, 1982.

[12] Hall, A.Rupert. A Revolucao na Ciencia. 1500-1750. Edicoes 70, 1988.

[13] Kiple, K.F. The Cambridge World History of Human Disease. Cambridge: Cam-
bridge University Press, 1993.

[14] Laín Entralgo, P. Historia de la Medicina. Barcelona: Salvat, 1978.

[15] —. Historia Universal de la Medicina. S.l.: Masson multimedia, 1998.

[16] López Piñero, J.M. Breve historia de la medicina. Madrid: Alianza Editorial,
2000.

[17] Multhauf, R. “Medical chemistry and "the Paracelsians"”. Bulletin of the History
of Medicine, 28 (1954) 101–126.

[18] —. “The significance of distillation in Renaissance medical chemistry”. Bulletin


of the History of Medicine, 30 (1956) 329–346.
[19] Pagel, W. Paracelsus. An introduction to Philosophical Medicine in the Era of
the Renaissance. Basel: Karger, 1982.

[20] Pita, J.R. História da Farmácia. Coimbra: Minerva, 1998.


4 Expansão europeia e conhecimento da flora exótica 16

[21] Porter, R. The Cambridge Illustrated History of Medicine. Cambridge: Cam-


bridge University Press, 1996.

[22] —. The greates benefit to Mankind. A medical history of humanity from antiquity
to the present. London: Fontana Press, 1999.

[23] —. Breve historia de la medicina. Las personas, la enfermedad y la atención


sanitaria. Madrid: Santillana Ediciones, 2003.

[24] Puerto Sarmiento, F.J. El mito de Panacea. Compendio de Historia de la Tera-


péutica y de la Farmacia. Madrid: Doce Calles, 1997.

[25] Reeds, K.M. Botany in medieval and Renaissance universities. New York and
London: Garland, 1991.

[26] Siraisi, N. Medieval and early Renaissance medicine: an introduction to kno-


wledge and practice. Chicago: The University of Chicago Press, 1990.

[27] Sonnedecker, G. Kremers and Urdang’s History of Pharmacy. Philadelphia:


Lippincott, 1976.

[28] Teigen, P.M. “Taste and Quality in 15th- and 16th-Century Galenic Pharmaco-
logy”. Pharmacy in History, 29, 2 (1987) 60–68.

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