Rastreamento Do Câncer de Ovário: Screeening For Ovarian Cancer
Rastreamento Do Câncer de Ovário: Screeening For Ovarian Cancer
Rastreamento Do Câncer de Ovário: Screeening For Ovarian Cancer
RESUMO
Introdução: O câncer de ovário é uma das neoplasias com maior morta-
lidade no mundo. Esse dado se deve ao estágio avançado em que o tumor se
encontra quando é diagnosticado. Em virtude disso, muitas pesquisas buscam
métodos eficientes de rastreio para um diagnóstico e tratamento precoces.
Métodos: Foi realizada a revisão sobre paciente com alto risco de câncer
de ovário utilizando como base de dados o Pubmed, do qual foram sele-
cionados artigos dos últimos 5 anos, com foco em revisões sobre rastreio
e manejo dessas pacientes. Foi realizado consulta ao livro “Ginecologia
básica e avançada” do Serviço de Ginecologia do Hospital São Lucas da
PUCRS e aos sites do INCA e NCCN.
Resultados: Nas análises reunidas, observou-se resultados desfavo-
ráveis à realização dos exames para rastreio de câncer de ovário em pa-
ciente de baixo risco. Os estudos que mostram benefício intervencionista
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ABSTRACT
Introduction: Ovarian cancer is a very aggressive neoplasms. This is
due to the advanced stage in which the tumor is found when it is diag-
nosed. As a result, many researches seek efficient screening methods for
early diagnosis and treatment.
Methods: The review was carried out on patients at high risk of ovarian
cancer using a database Pubmed, from which articles were selected from
the last 5 years, focusing on reviews on the screening and management of
these patients. A consultation was made to the book “Ginecologia Básica
e Avançada” of the Gynecology departament of the Hospital São Lucas
da PUCRS and to the websites of INCA and NCCN.
Results: In the analyzes, unfavorable results were observed in the
ovarian cancer screening in a low-risk patient. Studies that show inter-
ventional benefit are those that evaluated the surgical management in
patients at high risk for the development of this neoplasia.
Conclusion: It was observed in the analysis that the studies still do
not exist evidence that justify the application of screening test for ova-
rian cancer for patients of low risk. However, risk-reducing salpingo-oo-
phorectomy surgery is recommended in a high-risk patient because of a
significant reduction in mortality.
Keywords: ovarian cancer, screening, high-risk.
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INTRODUÇÃO
No mundo 240 mil mulheres são diagnosticadas com câncer de ovário
todos os anos. Nos Estados Unidos (EUA) essa neoplasia é a quinta causa de
morte por câncer, assumindo o primeiro lugar entre as neoplasias ginecológicas
(1). No Brasil, o câncer de ovário é o oitavo mais incidente (5,79/100 mil), sem
considerar os tumores de pele não melanoma. Estimam-se 6.150 casos novos
de câncer do ovário a cada ano (2).
A alta letalidade dessa neoplasia se deve pelo diagnóstico tardio, já
que a maioria dos tumores são identificados em estágio metastático (3).
Quando detectados em estágio inicial tem 93% de sobrevida relativa em
5 anos, já quando metastático esse número cai para 29,2% em 5 anos (4).
Estes dados mostram a importância da pesquisa visando a melhoria da
prevenção e da detecção precoce.
O câncer de ovário é raro em mulheres com menos de 40 anos de
idade e a maioria dos tumores nessa faixa etária são tumores germinativos.
Acima dos 40 anos, mais de 90% são tumores epiteliais e o risco aumenta
com a idade, atingindo o pico no final dos anos 70 (5).
O valor preditivo positivo dos testes de rastreio para o câncer de
ovário é baixo, sendo que a maioria das pacientes com exame positivo não
tem a neoplasia. Estudos evidenciam que o screening traz morbidade às
pacientes, resultando principalmente em maior número de procedimentos
cirúrgicos desnecessários (1).
O objetivo deste estudo é expor os fatores de risco mais importantes
para neoplasia ovariana e discutir os aspectos relacionados aos métodos
de rastreio, através de revisão atual da literatura.
MÉTODOS
Revisão sistemática realizada entre maio e junho de 2018, utilizando
a base de dados Pubmed com as palavras-chave ‘’câncer de ovário’’, ‘’ras-
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treio’’, ‘’manejo’’, ‘’alto risco’’. Além disso, foi utilizado como referência o
livro de Ginecologia Básica e Avançada, dados epidemiológicos do Instituto
Nacional do Câncer (INCA) e diretrizes do National Comprehensive Cancer
Network (NCCN). Os critérios de inclusão foram artigos publicados nos
últimos cinco anos, preferencialmente revisões.
RESULTADOS
Tipos histológicos
Mais de 95% dos cânceres ovarianos têm origem epitelial, com os 5%
restantes compreendendo tumores de células germinativas, cordão estro-
mal sexual, sarcomas e tumores metastáticos para ovário. Dos tumores
epiteliais, os tumores serosos são mais comuns, representando 40% de
todos os tumores epiteliais (6).
Sinais e sintomas
Historicamente, a neoplasia ovariana é conhecida como “silent killer”, ou
seja, uma neoplasia silenciosa e letal, pois os primeiros sintomas geralmente
aparecem em estágios mais avançados da doença (7). O sinal mais comum
de doença avançada é o aumento do volume abdominal causado por ascite.
No entanto, estudos indicam que algumas mulheres experimentam sintomas
persistentes e inespecíficos nos meses anteriores ao diagnóstico, incluindo dor
nas costas, distensão abdominal, dor pélvica ou abdominal, saciedade precoce,
vômitos, indigestão, alterações de hábitos intestinais ou frequência urinária.
Mulheres que apresentam tumores não epiteliais geralmente apresentam
sinais precoces mais específicos, incluindo sangramento vaginal irregular (4).
Fatores de risco
O trauma no epitélio ovariano causado por ovulações repetidas é uma
das hipóteses utilizadas para explicar os principais fatores de risco. A inci-
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dência aumenta com a idade sendo 3,1-5,1 por 100.000 mulheres entre os
20-39 anos e 9,0-15,2 por 100.000 dos 40-49 anos (7).
Gravidez
As mulheres que já tiveram um parto têm um risco reduzido de câncer
de ovário e cada parto adicional está associado a uma redução de risco
adicional de 10 a 20%. No entanto, a maioria dos estudos sugere que ges-
tações incompletas (abortos espontâneos, abortos, gravidez ectópica)
não reduzem o risco de câncer de ovário e alguns até relacionaram vários
abortos com um aumento no risco (6).
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Amamentação
Há divergência sobre o papel da amamentação na redução do risco de
câncer de ovário. No entanto, várias meta-análises sugerem que mulheres
que amamentam seus filhos têm 20-25% menor risco de desenvolver câncer
de ovário do que mulheres que não amamentaram (6).
Contraceptivos orais
Está claro que o uso da pílula anticoncepcional oral combinada é inversa-
mente associado ao risco de câncer. Análises que reuniram 45 estudos de 21
países mostraram que o risco de câncer de ovário foi quase 30% menor em
usuárias de contraceptivos orais em comparação a nunca usuários. O risco foi
reduzido ainda mais com o aumento do tempo de uso (20% por cinco anos) e
embora o efeito possa atenuar com o tempo, o benefício parece persistir por
pelo menos 30 anos após a cessação. O uso também tem sido associado com
menor risco entre portadores de mutação BRCA na maioria dos estudos (6).
Diabetes mellitus
Uma meta-análise de 2013 revelou um aumento estatisticamente
significativo de 17% no risco de câncer de ovário entre mulheres com diag-
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Rastreamento
A ultrassonografia transvaginal (USTV) e o CA-125 são os testes de ras-
treamento mais estudados. O CA-125 é uma glicoproteína derivada do epitélio
celômico que está aumentada em 50% das pacientes em estágio inicial e em
mais de 80% das pacientes em estágios avançados. Porém, sua especificidade
é limitada. Encontramos flutuações do CA-125 em aproximadamente 1% das
mulheres durante o ciclo menstrual, sendo seu aumento também observado
em doenças como endometriose, miomatose, doença inflamatória pélvica,
cirrose e neoplasias (endométrio, mama, pulmão, pâncreas) (7).
Nos estudos já realizados o rastreio do câncer de ovário com USTV iso-
ladamente ou em combinação com o CA-125 sérico não demonstrou diminuir
a mortalidade em mulheres pós-menopáusicas de risco médio (6).
A “US Preventive Services Task Force” (USPSTF) realiza recomendações
sobre a eficácia de medidas preventivas no cuidado do paciente assinto-
mático. Em 2018 foram publicadas as recomendações sobre o screening
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CONCLUSÃO
O câncer de ovário tem grande impacto na mortalidade por neoplasia
no mundo. Apesar das diversas pesquisas, ainda não foi descoberto ne-
nhum método de rastreio com um valor preditivo positivo alto o bastante
para justificar o seu uso. Para pacientes com alto risco de desenvolver
carcinoma ovariano recomenda-se a salpingo-ooforectomia bilateral, me-
dida que mostrou reduzir a mortalidade dessas pacientes. Nas pacientes
impossibilitadas de realizar a cirurgia recomenda-se USTV e dosagem de
CA-125 a cada 6-12 meses.
REFERÊNCIAS
1. Henderson JT, Webber EM, Sawaya GF. Screening for Ovarian Cancer Updated
Evidence Report and Systematic Review for the US Preventive Services Task
Force. Jama. 2018;319(6):595–606.
4. Torre LA, Trabert B, DeSantis CE, Miller KD, Samimi G, Runowicz CD, et al.
Ovarian cancer statistics, 2018. CA Cancer J Clin. 2018;00(00):1–13.
5. Webb PM, Jordan SJ. Epidemiology of epithelial ovarian cancer. Best Pract
Res Clin Obstet Gynaecol [Internet]. 2017;41:3–14. Available from: http://
dx.doi.org/10.1016/j.bpobgyn.2016.08.006
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6. Lowry KP, Lee SI. Imaging and Screening of Ovarian Cancer. Radiol Clin North
Am [Internet]. 2017;55(6):1251–9. Available from: https://doi.org/10.1016/j.
rcl.2017.06.010