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Resumo - Direito Civil - Obrigações (Atualizado - Maio 2020)

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

LIVRO I
DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

1- DIFERENÇAS ENTRE OS DIREITOS REAIS E DIREITOS


OBRIGACIONAIS

a) Quanto ao objeto, os direitos reais incidem sobre uma coisa, enquanto os


obrigacionais exigem o cumprimento de uma prestação.
b) Quanto ao sujeito, nos direitos reais o sujeito passivo é indeterminado (são todas
as pessoas do universo, que devem se abster de molestar o titular), enquanto nos
direitos pessoais o sujeito passivo é determinado ou determinável.
c) Quanto à duração, os reais são perpétuos, não se extinguindo pelo não
uso/exercício, mas somente nos casos expressos em lei (desapropriação,
usucapião em favor de terceiro etc.), os direitos pessoais são transitórios e se
extinguem pelo seu cumprimento ou outros meios.
d) Quanto à formação, os reais só podem ser criados pela lei, sendo seu número
limitado e regulado por esta (numerus clausus), ao passo que os pessoais podem
resultar da vontade das partes, sendo ilimitado o número de contratos inominados
(numerus apertus).
e) Quanto ao exercício, os reais são exercidos diretamente sobre a coisa, sem
necessidade da existência de um sujeito passivo, enquanto o exercício dos direitos
pessoais exige uma figura intermediária, que é o devedor.
f) Quanto à ação, que pode ser, em se tratando de direitos reais, exercida contra
quem quer que detenha a coisa, ao passo que a ação pessoal decorrente de direito
obrigacional é dirigida somente contra quem figura na relação jurídica como
sujeito passivo.

2- INTRODUÇÃO E CONCEITO DE OBRIGAÇÃO


Obrigação é o vínculo jurídico que confere ao credor (sujeito ativo) o direito de
exigir do devedor (sujeito passivo) o cumprimento de determinada prestação. É uma
relação de natureza pessoal, de crédito e débito, de caráter transitório que se extingue
pelo cumprimento, cujo objeto consiste numa prestação economicamente aferível.
Rubens Limongi França define obrigação como “vínculo jurídico ou de equidade, pelo
qual alguém está adstrito a, em benefício de outrem, realizar uma prestação”. É o
patrimônio do devedor que responde por suas obrigações. O patrimônio constitui a
garantia do adimplemento com que pode contar o credor.

A obrigação deve ser cumprida livre e espontaneamente. Quando tal não ocorre,
sobrevém o inadimplemento, surgindo aí a responsabilidade. Não se confunde
obrigação com responsabilidade. Esta só surge se o devedor não cumpre
espontaneamente a obrigação. A responsabilidade é a consequência jurídica
patrimonial do descumprimento da relação obrigacional.

Responsabilidade e obrigação podem existir uma sem a outra. Os casos de


dívidas prescritas e dívidas de jogo constituem exemplos de obrigação sem
responsabilidade. Como exemplo de responsabilidade sem obrigação pode ser

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mencionado o caso do fiador, que é responsável pelo débito somente na hipótese de


inadimplemento pelo afiançado.

3- ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA OBRIGAÇÃO

A obrigação compõe-se de três elementos essenciais: a) subjetivo, relativo aos


sujeitos ativo e passivo (credor e devedor) b) o vínculo jurídico existente entre eles
(elemento imaterial, virtual ou espiritual) e c) o objetivo imediato, atinente ao objeto da
relação jurídica (prestação).

3.1 ELEMENTO SUBJETIVO

Os sujeitos da obrigação podem ser tanto pessoa física quanto jurídica. Devem
ser determinados ou ao menos determináveis. Se não forem capazes, serão
representados ou assistidos por seus representantes legais. Pode acontecer de ambas as
partes serem credor e devedor ao mesmo tempo. Ex.: Compra e venda.

Obs.: Toda obrigação exige sujeito ativo e passivo. Porém, é possível que um dos
sujeitos só seja conhecido posteriormente (promessa de recompensa ou prêmio).

#O que é indeterminabilidade subjetiva?


Um dos sujeitos só será conhecido no futuro (pode ser ativa ou passiva). Ex.: Promessa
de recompensa para quem achar animal de estimação.

IMPORTANTE!!! Toda vez que o contrato for sinalagmático (bilateral), existirão


obrigações para ambas as partes, que serão credoras e devedoras entre si. Temos, em tal
situação, a chamada relação jurídica obrigacional complexa.

INTERPRETANDO*** Relação jurídica obrigacional complexa se dá quando o


contrato prevê obrigação para ambas as partes, configurando, portanto, contratos
sinalagmáticos ou bilaterais.

3.2 VÍNCULO JURÍDICO

Elemento imaterial (virtual, ideal ou espiritual) é o vínculo jurídico estabelecido


na relação obrigacional. É o elo que sujeita o devedor à determinada prestação – positiva
ou negativa –, em favor do credor, constituindo o liame legal que une as partes
envolvidas. O vínculo jurídico sujeita o devedor a determinada prestação em favor do
credor. Divide-se em débito e responsabilidade. O débito (vínculo espiritual ou
pessoal) une o devedor ao credor e exige que aquele cumpra pontualmente a obrigação. A
responsabilidade (vínculo material) confere ao credor não satisfeito o direito de exigir
judicialmente do devedor o cumprimento da obrigação.

1ª teoria - clássica ou monista: Sustenta que o vínculo entre credor e devedor é um só,
qual seja, a relação de crédito e débito. Para seus defensores, a responsabilidade civil não
integra a obrigação (responsabilidade civil é a consequência jurídica e patrimonial do
descumprimento da obrigação). Segundo Flávio Tartuce, está superada.

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2ª teoria - teoria BINÁRIA ou DUALISTA: De origem alemã, sustenta que a obrigação


é concebida por uma relação débito/crédito, fazendo surgir, a partir daí, dois vínculos,
quais sejam:

a) Dever jurídico (schuld/debitum), resultante do crédito-débito, consistindo no dever


legal de cumprir a obrigação;
b) Responsabilidade civil (haftung/obligatio), que surge diante do inadimplemento.

Toda obrigação é composta, em um primeiro momento, do dever jurídico de


espontaneamente dar, fazer ou não fazer o avençado. Diante do descumprimento do dever
jurídico, surge a responsabilidade civil.

IMPORTANTE!!! O que põe fim à pretensão de exigir o cumprimento da obrigação


(responsabilidade civil = pretensão) é a prescrição.

#Existe dever jurídico sem responsabilidade civil?


Sim, a exemplo da dívida de jogo ou dívida já prescrita (obrigações naturais). A
obrigação natural gera dever jurídico, mas não gera responsabilidade civil (não pode ser
cobrada em juízo). As obrigações naturais se contrapõem à obrigação civil.

Obs.: Nas obrigações naturais existe a relação débito-crédito, entretanto, o


descumprimento não gera responsabilidade do devedor (schuld sem haftung).

IMPORTANTE!!! O cumprimento espontâneo da obrigação natural não pode ser


devolvido (soluto retentio - não há direito de cobrar de volta aquilo que se pagou em
dívida de jogo. Não há pagamento indevido, o pagamento foi devido, uma vez que existia
obrigação).

#Pode haver compensação de dívida prescrita com dívida não prescrita?


Compensação voluntária é acordo, sendo que, a partir do primado da autonomia da
vontade negocial, pode-se compensar o que quiser. Porém, em se tratando de
compensação legal (que gera a imposição de compensar), só se pode compensar
dívidas líquidas, vencidas e exigíveis (não prescritas). Ou seja, se as partes quiserem,
como gozam de autonomia da vontade, poderão compensar dívida prescrita com dívida
exigível. Não será possível, por outro lado, que o juiz determine a compensação de dívida
exigível com dívida prescrita, justamente porque carece de exigibilidade.

#Existe responsabilidade sem dever jurídico?


Sim. Por exemplo, a fiança. O fiador assume uma responsabilidade, mas a dívida é de
outra pessoa. O contrato de fiança é celebrado substancialmente entre fiador e credor.
Tanto isso é verdade que pode ser celebrado sem o consentimento do devedor ou até
contra a sua vontade (art. 820 do CC).

IMPORTANTE!!! Na desconsideração da personalidade jurídica, temos uma situação


distinta das situações anteriores, pois não existe responsabilidade subsidiária, mas sim
responsabilidade secundária.

3.3 ELEMENTO OBJETIVO

É a prestação, a coisa (o conteúdo da obrigação). É sempre uma conduta humana

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(dar, fazer ou não fazer) e chama-se prestação ou objeto imediato.

IMPORTANTE!!! Objeto direto (imediato) da obrigação é a conduta (dar, fazer, não


fazer). Objeto indireto (mediato) da obrigação é a coisa, é o bem da vida (objeto da
prestação).

#Qual é o objeto imediato da prestação?


Corresponde justamente ao objeto mediato da obrigação, ou seja, a coisa, o bem da vida.

O objeto da obrigação há de ser lícito, possível, determinável ou determinado e


suscetível de apreciação econômica.

4- FONTES DAS OBRIGAÇÕES

Fonte de obrigações é o seu elemento gerador, o fato que lhe da origem, de


acordo com as regras de direito.

O CC considera fontes de obrigações: a) os contratos, b) as declarações


unilaterais de vontade e c) os atos ilícitos, dolosos e culposos. Há obrigações,
entretanto, que resultam diretamente da lei, como por exemplo, a de prestar alimentos,
indenizar danos causados por seus empregados etc.

Pode-se afirmar, pois, que a obrigação resulta da vontade do Estado, por


intermédio da lei, ou da vontade humana, manifestada no contrato, na declaração
unilateral ou na prática de um ato ilícito. No primeiro caso a lei é fonte imediata da
obrigação, no segundo é mediata.

5 – DIFERENÇAS CONCEITUAIS ENTRE OBRIGAÇÃO, DEVER,


ÔNUS E DIREITO POTESTATIVO

a) Dever jurídico: contrapõe-se a um direito subjetivo de exigi-lo, constituindo,


segundo Francisco Amaral, na “situação passiva que se caracteriza pela
necessidade de o devedor observar um certo comportamento, compatível com o
interesse do titular do direito subjetivo”. O dever jurídico engloba não só as
relações obrigacionais ou de direito pessoal, mas também aquelas de natureza
real, relacionadas com o Direito das Coisas. O dever jurídico, contrapondo-se a
direitos subjetivos de cunho patrimonial, está relacionado a prazos prescricionais
(arts. 205 e 206 do CC).
b) Ônus jurídico: Para Orlando Gomes, o ônus jurídico é “a necessidade de agir de
certo modo para a tutela de interesses próprios”, a exemplo do ônus de levar o
contrato a registro para valer perante terceiros. Pode-se afirmar, nesse sentido, que
o desrespeito ao ônus gera consequências somente para aquele que o detém.
c) Direito potestativo: É aquele que se contrapõe a um estado de sujeição, pois
encurrala a outra parte. Para Francisco Amaral “direito potestativo é o poder que
a pessoa tem de influir na esfera jurídica de outrem, sem que este possa fazer
algo que não se sujeitar. (...) Opera na esfera jurídica de outrem, sem que este
tenha algum dever a cumprir”.

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TÍTULO I
DAS MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES

1- QUANTO AO OBJETO

O CC classifica as obrigações em três tipos quanto ao objeto: obrigação de dar,


fazer e não fazer. As duas primeiras são positivas, enquanto a terceira é negativa. Todas
as obrigações que venham a se constituir na vida jurídica compreenderão sempre alguma
dessas condutas, que resumem o objeto da prestação.

Obs.: Pode ocorrer de a mesma obrigação constituir mais de um tipo. Ex.: Empreitada,
que se constitui numa obrigação de fazer e de dar.

2- QUANTO AOS SEUS ELEMENTOS

Três são os elementos constitutivos da obrigação: sujeitos, vínculo jurídico e o


objeto.

Em relação a eles, a obrigação se divide em simples e composta. Obrigações


simples são as que se apresentam com um sujeito ativo, um sujeito passivo e um único
objeto, ou seja, todos os seus elementos no singular.

Para que a obrigação se denomine composta, basta que apenas um de seus


elementos esteja no plural. A obrigação composta se dá pela multiplicidade de objetos
(entregar um veículo ou um animal) ou pela multiplicidade de sujeitos.

2.1 OBRIGAÇÃO PLURAL OBJETIVA

Aquela que possui mais de uma prestação pode ser de três tipos:

a) Cumulativa ou conjuntiva: aquela em que o devedor deve cumprir ambas as


prestações (entregar o carro E a moto). Ligada pela conjunção “E”.

b) Alternativa: o devedor terá que cumprir uma das prestações (entregar o carro OU a
moto). No silêncio do contrato, quem escolhe é o devedor.

c) Facultativa ou obrigação de faculdade alternativa: possui somente uma prestação,


acompanhada por uma faculdade a ser cumprida pelo devedor de acordo com a sua opção
ou conveniência. Como o credor não pode exigir essa faculdade, não havendo dever
quanto a esta, a obrigação facultativa constitui uma forma de obrigação simples.

IMPORTANTE!!! Na obrigação facultativa existe uma prestação devida, que pode ser
exigida pelo credor e uma outra, facultativa, que nunca pode (ex.: o devedor deve
entregar o lápis, mas, se quiser, pode entregar uma caneta). É o devedor que tem a
faculdade de escolher a outra coisa, ao invés da alternativa que o credor pode lhe
exigir.

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IMPORTANTE!!! Diferença entre obrigação alternativa e facultativa. A obrigação


alternativa extingue-se somente com o perecimento de todos os objetos, e será válida se
apenas uma das prestações estiver eivada de vício, permanecendo a outra válida e eficaz.
A obrigação facultativa restará totalmente inválida se houver defeito na obrigação
principal, mesmo que não haja defeito na facultativa.

IMPORTANTE!!! Portanto, existem dois tipos de obrigações plurais objetivas: a


alternativa (entregar o carro OU a moto) e a cumulativa (entregar o carro E a moto). A
facultativa, segundo Tartuce, constitui obrigação simples, já que não há dever quanto à
prestação facultativa (entregar o carro; PORÉM, SE O DEVEDOR, QUISER pode
entregar uma moto).

2.2. OBRIGAÇÃO PLURAL SUBJETIVA

Compostas pela multiplicidade de sujeitos. Podem ser: divisíveis, indivisíveis e


solidárias.

a) Obrigação fracionária: Toda vez que a obrigação for fracionária, deve-se observar se
a obrigação é divisível ou indivisível. Se for indivisível, apesar de se tratar de obrigação
fracionária, o credor irá exigir de um dos devedores toda a dívida.

Obrigação divisível é aquela cujo objeto pode ser dividido entre os sujeitos. Nas
indivisíveis a divisão não é possível. Ambas podem ser ativas ou passivas.

IMPORTANTE!!! A obrigação fracionária indivisível é quase igual à obrigação


solidária, porque qualquer credor só poderá exigir a prestação por inteiro e qualquer réu
deverá cumpri-la por inteiro.

Nas obrigações divisíveis, cada credor só tem direito à sua parte, podendo
reclamá-la independentemente da parcela cabível ao(s) outro(s). E cada devedor responde
exclusivamente pela sua cota.
Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em
obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações,
iguais e distintas, quantos os credores ou devedores.

Nas obrigações indivisíveis, cada devedor só deve também a sua cota-parte. Mas
em razão da indivisibilidade física do objeto, a prestação deve ser cumprida por inteiro.
Se dois são os credores, um só pode exigir a entrega da prestação, mas somente por ser
indivisível, devendo prestar contas ao outro credor.

Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for
divisível, cada um será obrigado pela dívida toda.
Parágrafo único. O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito
do credor em relação aos outros coobrigados.

Art. 261. Se um só dos credores receber a prestação por inteiro, a cada


um dos outros assistirá o direito de exigir dele em dinheiro a parte que
lhe caiba no total.

b) Obrigação solidária: independe da divisibilidade ou indivisibilidade do objeto da


prestação, porque resulta da vontade das partes ou da lei.

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b.1) Ativa: entre credores, qualquer dos credores pode exigir a totalidade da prestação,
não importando se esta é divisível, ou não.

b.2) Passiva: qualquer dos devedores pode ser cobrado sozinho em relação a totalidade
da prestação, não importando se está é divisível, ou não.

IMPORTANTE!!! Art. 265 do CC: a solidariedade nunca se presume, resulta da LEI


ou da VONTADE DAS PARTES. Não é porque tem mais de um devedor que serão
estes devedores solidários. A regra é que as obrigações sejam fracionárias (divisíveis
ou indivisíveis, ou seja, não-solidárias).

Art. 265. A solidariedade não se presume; RESULTA DA LEI ou


da VONTADE DAS PARTES.

IMPORTANTE!!! #Qual é a diferença entre obrigação solidária e obrigação


fracionária com objeto indivisível?

A diferença reside na hipótese de PERDA CULPOSA DA PRESTAÇÃO. Se o boi


morreu de fome, a obrigação transforma-se em perdas e danos (que será pecuniária e,
portanto, divisível). Nesse contexto, se a obrigação originária for solidária, continuará
solidária. Por outro lado, se ela fosse fracionária com objeto indivisível, “morrendo o
boi”, a obrigação passa a ser fracionária normal, já que se converteu em perdas e danos,
que é divisível.

O devedor que cumprir sozinho a prestação pode cobrar, regressivamente, a


quota-parte de cada um dos codevedores.

Art. 283. O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a
exigir de cada um dos co-devedores a sua quota, dividindo-se
igualmente por todos a do insolvente, se o houver, presumindo-se
iguais, no débito, as partes de todos os co-devedores.

c) Mista: solidariedade tanto entre credores, como entre os devedores. Qualquer dos
credores pode exigir de qualquer dos devedores a totalidade da prestação.

3- OBRIGAÇÃO DE MEIO OU DE RESULTADO

a) Obrigação de meio: o devedor promete empregar todos os meios ao seu alcance para
a obtenção de determinado resultado, sem, no entanto, responsabilizar-se por ele. Ex.:
serviços advocatícios.

b) Obrigação de resultado: o devedor dela se exonera somente quando o fim prometido


é alcançado. Ex.: Transportador e cirurgião plástico. Prevalece, atualmente, que a
obrigação de resultado dá origem à culpa presumida, no que se refere à responsabilização
pelo inadimplemento (responsabilidade subjetiva com culpa presumida, que gera inversão
do ônus da prova – corrente minoritária sustenta se tratar de responsabilidade objetiva).

4- OBRIGAÇÕES CIVIS E NATURAIS

a) Civis: encontram respaldo no direito positivo, podendo seu cumprimento ser exigido
pelo credor por meio de ação.
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b) Naturais: as inexigíveis judicialmente. O credor não tem o direito de exigir a


prestação, e o devedor não está obrigado a pagar. Em compensação, se este,
voluntariamente, efetua o pagamento, não tem direito de repeti-la. São as dívidas
prescritas (art. 882) e as dívidas de jogo (art. 814).

5- OBRIGAÇÕES PURAS E SIMPLES, CONDICIONAIS, A TERMO


E MODAIS OU COM ENCARGO

a) Obrigações puras e simples são as não sujeitas a condição, termo ou encargo.

b) Condicionais são aquelas cujo efeito está subordinado a evento futuro e incerto

c) Nas obrigações a termo o evento está subordinado a um evento futuro e certo. O


termo pode ser inicial ou final (o intervalo entre o termo inicial e o final é o prazo).

d) As obrigações modais ou com encargo são aquelas oneradas com algum gravame.

IMPORTANTE!!! O encargo ou modo, ao contrário da condição, “não suspende a


aquisição nem o exercício do direito, salvo quando expressamente imposto no negócio
jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva” – art. 136 CC.

6- OBRIGAÇÕES DE EXECUÇÃO INSTANTÂNEA, DIFERIDA E


PERIÓDICA

Quanto ao momento em que devem ser cumpridas, as obrigações se dividem


em:

a) Momentâneas ou de execução instantânea: se consumam num só ato, sendo


cumpridas imediatamente após sua constituição. Ex.: Compra e venda à vista.

b) De execução diferida: o cumprimento deve ser realizado também em um só ato, mas


em momento futuro (há a postergação da execução para momento futuro, embora o
cumprimento se dê por meio de ato singular).

c) Execução continuada ou de trato sucessivo: se cumpre por meios de atos reiterados.


Ex.: Venda a prazo, em prestações periódicas.

7- OBRIGAÇÕES LÍQUIDAS E ILÍQUIDAS

Líquidas são as obrigações certas quanto a sua existência, e determinadas quanto


a seu objeto. Ilíquida, ao contrário, é a que depende de previa apuração, pois o seu valor
apresenta-se incerto.

8- OBRIGAÇÕES PRINCIPAIS E ACESSÓRIAS

Reciprocamente consideradas, as obrigações se dividem em principais e


acessórias. As principais subsistem por si, sem depender de qualquer outra. As

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obrigações acessórias têm sua existência subordinada a outra relação jurídica, ou seja,
dependem da obrigação principal.

O princípio de que o acessório segue o principal (princípio da gravitação jurídica),


foi acolhido pela nossa legislação. Assim, a nulidade da obrigação principal implica a
da acessória, mas a recíproca não é verdadeira.

9- OBRIGAÇÕES COM CLÁUSULA PENAL

São aquelas em que há a cominação de uma multa ou pena em caso de


inadimplemento ou de retardamento no cumprimento da obrigação (mora). A cláusula
penal tem caráter acessório, e sua principal função é servir como meio de coerção.
Pode ser compensatória, quando estipulada para o caso de total inadimplemento, ou
moratória, se destinada a garantir o cumprimento de alguma cláusula especial ou
simplesmente evitar a mora.

10- OBRIGAÇÕES “PROPTER REM”


As obrigações “propter rem” pertencem à categoria das obrigações híbridas,
pois constituem um misto de direito pessoal e de direito real, ou seja, se situam entre o
direito pessoal e real, razão pela qual recebem a denominação de obrigações ambulatórias
ou ambulatoriais (vinculam-se à titularidade de um direito real, independentemente da
manifestação de vontade do titular e, por isso, são transmitidas a todos os que lhe
sucederem em sua posição; são, pois, assumidas “por causa da coisa” – propter rem). São
incluídas nesta categoria as obrigações com ônus reais e com eficácia real.

Obrigação “propter rem” é a que recai sobre uma pessoa, por força de
determinado direito real. Por se transferir a eventuais novos ocupantes do imóvel, é
também denominada de obrigação ambulatorial. Exemplo clássico: obrigação de pagar
taxa condominial. É típica obrigação propter rem. Vincula pessoas, credor e devedor e
se acopla à coisa. Não importa quem seja o dono da coisa, terá que arcar com a dívida
condominial (ver REsp 846187/SP).

“REsp 846187/SP: (...) 1. As cotas condominiais, porque


decorrentes da conservação da coisa, situam-se como
obrigações ‘propter rem’, ou seja, obrigações reais, que
passam a pesar sobre quem é o titular da coisa; se o direito
real que a origina é transmitido, as obrigações o seguem,
de modo que nada obsta que se volte a ação de cobrança
dos encargos condominiais contra os proprietários.(...)”

Ônus reais são obrigações que limitam o uso e gozo da propriedade, constituindo
direitos reais sobre coisas alheias, oponíveis erga omnes. Segundo Antunes Varela, “a
diferença prática entre ônus e as obrigações reais, tal como a história do direito as
modelou, está em que, quanto a estas, o titular só fica vinculado às obrigações
constituídas na vigência do seu direito, enquanto nos ônus reais o titular da coisa fica
obrigado mesmo em relação às prestações anteriores, por suceder na titularidade de
uma coisa a que está visceralmente unida a obrigação (...)”(Código Civil comentado:
doutrina e jurisprudência. Coordenador Cezar Peluso. 5ª ed. São Paulo: Manole, 2011.
p. 1.396-1.397)”. Ex.: Renda constituída sobre um imóvel.

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Obs.: Não se deve confundir a obrigação propter rem com a obrigação com eficácia
real.

A obrigação com eficácia real é aquela obrigação comum levada a registro e que
passa a ter efeitos erga omnes, como se fosse um direito real. Não é um direito real, mas
gera efeitos reais porque foi levada a registro. Para tanto, deve haver previsão na lei. Não
basta registrar o contrato no cartório. O registro vai gerar efeitos erga omnes, mas não
transmudará a natureza da obrigação.

Ex.: Art. 8º da Lei do Inquilinato, Lei 8.245/91.

Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá


denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação,
salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver
cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à
matrícula do imóvel.

“Quando o legislador resolve proteger certas relações oriundas de contratos da


interferência de terceiros, confere à obrigação uma eficácia real que é alcançada pelo
registro (sempre o imobiliário e não o de títulos e documentos). Nessa hipótese, assim
como naquela do art. 31, registrado o contrato, terceiros que venham a adquirir o
imóvel devem respeitar a obrigação, durante o decurso de prazo (...). De qualquer modo,
o registro confere uma eficácia limitada erga omnes que só é possível porque a lei
delineia um direito real a um vínculo obrigacional. Por esse registro, autorizado pela
lei, contraria-se o princípio da relatividade das convenções, segundo o qual só vincula
as partes contratantes. O novo titular do domínio deve respeitar o prazo do contrato de
locação, do qual não fez parte.” (VENOSA, Silvio de Salvo. Lei do inquilinato
comentada: doutrina e prática. Lei nº 8.245, de 18-10-1991. 14ª ed. São Paulo: Atlas,
2015, págs. 70)

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CAPÍTULO I
DAS OBRIGAÇÕES DE DAR
SEÇÃO I
DAS OBRIGAÇÕES DE DAR COISA CERTA

1- CONTEÚDO E EXTENSÃO

Quanto ao objeto a obrigação se classifica em: obrigação de dar, fazer e não


fazer. A obrigação de dar se divide em: obrigação de dar coisa certa e de dar coisa
incerta. Na primeira, obriga-se o devedor a dar coisa individualizada, móvel ou imóvel,
que se distingue por características próprias.

Cumpre-se a obrigação de dar coisa certa, quando móvel, mediante a entrega ou


restituição. Estes dois atos podem ser resumidos em uma só palavra: TRADIÇÃO.
Como no direito o contrato por si só não gera o domínio, mas apenas gera a obrigação de
entregar a coisa alienada, enquanto não ocorrer a tradição, a coisa continuará
pertencendo ao devedor, “com os seus melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá
exigir aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação”
(art. 237 CC). Também os frutos percebidos são do devedor, cabendo ao credor os
pendentes (237, parágrafo único, do CC).

Regras da obrigação de dar coisa certa:

1ª REGRA: O acessório segue o principal (a tampa segue a caneta). Tal regra vale no
silêncio do contrato. Se as partes estipularem, posso vender uma caneta sem a tampa.

Art. 233. A obrigação de dar coisa certa ABRANGE os acessórios


dela embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do título
ou das circunstâncias do caso.

IMPORTANTE!!! As pertenças, embora sejam bens acessórios, não seguem o


principal (se eu vendo minha casa, não se pressupõe que vendo minha TV, minhas
roupas junto).

EXCEÇÕES: (pertenças que seguem o principal)

 Previsão em lei ou contrato;


 Pertenças essenciais (aquelas que são essenciais à natureza do negócio – pertenças
que tenham natureza essencial). Ex.: poltronas e tela de projeção em se tratando
da venda de uma sala de cinema.

2ª REGRA: o credor não pode ser obrigado a receber coisa diversa, ainda que mais
valiosa. Caso concorde em receber coisa diversa, tem-se dação em pagamento.

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3ª REGRA: o credor não é obrigado a receber parte da dívida, se assim não se


ajustou (art. 314 do CC).

 Obrigação de RESTITUIR

É aquela em que o devedor tem a obrigação de restituir coisa que não lhe
pertence.

Como regra, a perda ou deterioração da coisa por caso fortuito ou força maior
(assalto ou enchente), quando não há culpa do devedor, portanto, se resolve sem o dever
indenização.

Obs.: O credor pode cobrar os direitos existentes até o dia da perda (ex.: aluguéis
devidos).
Art. 238. Se a obrigação for de RESTITUIR coisa certa, e esta, sem
culpa do devedor, se perder antes da tradição, sofrerá o credor a
perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o
dia da perda.

IMPORTANTE!!! O aluguel de carro segue essa regra, de forma que a


perda/deterioração do carro sem culpa não gera direito à indenização (deve pagar apenas
o aluguel devido até o dia da perda). Então, se o carro que a Maria alugou for roubado,
não deverá a locatária qualquer indenização à locadora, ressalvado o pagamento dos
aluguéis devidos até o dia do roubo.

Como res perit domino (a coisa perece para o dono), a locadora, proprietária do
veículo, suportará a perda do bem.

Se o inadimplemento for culposo, o devedor deve perdas e danos.

2- PERDA OU DETERIORAÇÃO DA COISA (DESCUMPRIMENTO


DA OBRIGAÇÃO DE DAR COISA CERTA E RESTITUIR)

Perecimento se traduz na perda total da coisa, enquanto a deterioração significa


a perda parcial.

No caso de perecimento e deterioração da coisa antes da tradição, é preciso


primeiramente verificar se o fato ocorreu com culpa ou sem culpa do devedor.

1ª HIPÓTESE - Perda da coisa sem culpa: a obrigação fica resolvida para ambas as
partes. Se o comprador já tivesse adiantado o dinheiro, o vendedor devolve o dinheiro
(res perit domino, ou seja, a coisa perece para o dono). O vendedor suporta a perda nessa
situação (porque a venda só se aperfeiçoa com a tradição/registro). A situação retorna ao
status quo ante.

Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem


culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição
suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; (1ª parte)

Art. 238. Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa
do devedor, se perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da


perda.

2ª HIPÓTESE - Perda da coisa com culpa: acarreta a responsabilidade pelo


pagamento de perdas e danos. Nesse caso, havendo o perecimento do objeto, tem o
credor o direito a receber o equivalente em dinheiro, mais as perdas e danos
comprovadas, tanto na obrigação de entregar como na de restituir.

Art. 234 (2ª parte) se a perda resultar de culpa do devedor,


responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos.

Art. 239. Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá


este pelo equivalente, mais perdas e danos.

3ª HIPÓTESE - Deterioração da coisa sem culpa: o credor pode optar em considerar


extinta a obrigação (resolve-se o negócio) ou permanecer com o negócio com abatimento
do preço. Na obrigação de restituir, receberá o credor a coisa no estado em que se
encontra, sem direito a indenização.

Art. 235. Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá


o credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu
preço o valor que perdeu.

Art. 240. Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor,


recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se
por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239.

4ª HIPÓTESE - Deterioração da coisa com culpa: o credor tem opção de reclamar


apenas a satisfação das perdas e danos, ou ficar com a coisa e receber perdas e
danos (reduzidos, por óbvio). As alternativas deixadas ao credor são as mesmas do art.
235 CC, mas com direito, em qualquer caso, à indenização das perdas e danos.

Art. 235. Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o


credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o
valor que perdeu.

Art. 236. Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o


equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com
direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenização das
perdas e danos.

Na obrigação de restituir, observar-se-ão as mesmas regras, ou seja, o credor


poderá exigir o equivalente em dinheiro mais perdas e danos.

Art. 240 (2ª parte) se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239.

Art. 239. Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este


pelo equivalente, mais perdas e danos.

Art. 240. Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor,


recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se por
culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

SEÇÃO II
DAS OBRIGAÇÕES DE DAR COISA INCERTA
Dispõe o art. 243 CC: “A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e
pela quantidade.” Falta apenas determinar, portanto, sua QUALIDADE.

Obrigação de dar coisa incerta é aquela que consiste na entrega de um objeto


determinável. Ainda não está individualizado. Este objeto deve, ao menos, conter
indicação do gênero (feijão) e quantidade (10 sacas), restando a identificação ou
individualização da qualidade (???) posteriormente. Ex.: Entregar 10 sacas de feijão (que
feijão? O preto? O carioquinha?).

1ª REGRA: após a concentração/escolha, a obrigação transforma-se em dar coisa


certa, uma vez que o bem é individualizado na concentração.

Art. 245. Cientificado da escolha o credor, vigorará o disposto na


Seção antecedente (obrigação de dar coisa certa).

IMPORTANTE!!! No silêncio do contrato, quem escolhe é o devedor (as disposições do


CC conferem ao devedor, em regra, a escolha nas hipóteses em que não houver
disposição diversa).

2ª REGRA: IMPORTANTE!!! Princípio do meio termo, “o devedor não pode dar a


coisa pior, nem pode ser obrigado a dar a melhor”.

Art. 244. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a


escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da
obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a
prestar a melhor.

IMPORTANTE!!! Art. 246. Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou
deterioração da coisa, AINDA QUE POR FORÇA MAIOR OU CASO FORTUITO,
POIS O GÊNERO NUNCA PERECE.

3ª REGRA: descumprimento da obrigação de dar coisa incerta.

Regra, o generun nunquam perit (o gênero nunca perece).

 1ª Hipótese - Sem culpa: se não tinha havido ainda a concentração, o devedor


entrega outra coisa do mesmo gênero e quantidade (não tem como perecer).

 2ª hipótese - Com culpa: se não tinha havido concentração, o devedor entrega


outra coisa do mesmo gênero e quantidade (não tem como perecer).

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IMPORTANTE!!! Obrigação quase genérica: com gênero limitado. Ex.: Dar uma das
50 vacas filhas do boi bandido. Quando o gênero for limitado (vacas filhas do boi
bandido, vinho da safra de 1867), se houver perda do gênero (todas as vacas morreram,
todas as garrafas se quebraram) a responsabilidade é igual a de dar coisa certa.

- Sem culpa: extingue a obrigação.


- Com culpa: perdas e danos.
CAPÍTULO II
DAS OBRIGAÇÕES DE FAZER

1- ESPÉCIES

Consiste em uma atividade (ação), que não a entrega de algo (ex.: fazer). A
prestação consiste em atos ou serviços a serem executados pelo devedor.

Pode ser:

a) Fungível: substituível, não há exigência de que o credor cumpra pessoalmente a


obrigação, não se trata de ato cuja execução dependa de qualidades pessoais do devedor.
Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao
credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora
deste, sem prejuízo da indenização cabível.
Parágrafo único. Em caso de urgência, pode o credor,
independentemente de autorização judicial, executar ou mandar
executar o fato, sendo depois ressarcido.

b) Infungível: insubstituível. Gera obrigação personalíssima, de forma que quem deve


prestar a obrigação é uma pessoa determinada.

Descumprimento da obrigação.

 1ª Hipótese - Sem culpa: extingue a obrigação, seja fungível ou infungível. Ex.:


Show do Bartucada em Guarapari. Quebra do ônibus. Evento imprevisível. Caso
fortuito. Extingue-se a obrigação sem indenização devida.

 2ª Hipótese - Com culpa:

a) Na obrigação fungível, pode demandar exigindo a satisfação da obrigação de fazer a


coisa à custa do devedor (sem prejuízo da indenização cabível) ou, não interessando mais
a obrigação de fazer, poderá o credor requerer sua conversão em perdas e danos.

b) Se a obrigação for infungível, só pode processar exigindo o cumprimento da


obrigação de fazer, por meio de tutela específica, com a possibilidade de multa ou
astreintes (art. 497 do CPC/15). Flávio Tartuce defende, ainda, que, não interessando
mais a obrigação de fazer, poderá o credor exigir perdas e danos (art. 247 do CC).
Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor
que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exeqüível.

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Art. 248. Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do


devedor, resolver-se-á a obrigação; se por culpa dele, responderá por
perdas e danos.

Em caso de recusa do devedor de cumprir a prestação, aplica-se o art. 247 CC


(perdas e danos).

Obs.: Se o credor aceitou que terceiro prestasse a obrigação infungível, não poderá
reclamar perdas e danos, uma vez que aceitou o credor a alteração da obrigação
(infungível tornada fungível). Contudo, se a aceitação se deu por ocasião da recusa ou
mora do devedor, o fato poderá ser executado por terceiro, às custas do devedor, sem
prejuízo da indenização cabível (art. 249 do CC).

IMPORTANTE!!! Quando o credor não tinha outra opção que não aceitar a coisa,
poderá exigir perdas e danos (ex.: contratação de Caetano Veloso para casamento e no dia
da cerimônia comparece um imitador contratado e enviado pelo artista – nesse caso, ao
credor só restará aceitar a imposição, sob pena de ficar sem música na cerimônia, razão
pela qual poderá exigir indenização, mesmo tendo aceitado).

IMPORTANTE!!! Atualmente a regra quanto ao descumprimento da obrigação de


fazer ou não fazer é a da execução especifica, sendo EXCEÇÃO a resolução em
perdas e danos.

Art. 497. Na ação que tenha por objeto a prestação de fazer ou de


não fazer, o juiz, se procedente o pedido, concederá a tutela
específica ou determinará providências que assegurem a obtenção
de tutela pelo resultado prático equivalente.
Parágrafo único. Para a concessão da tutela específica destinada a
inibir a prática, a reiteração ou a continuação de um ilícito, ou a sua
remoção, é irrelevante a demonstração da ocorrência de dano ou da
existência de culpa ou dolo.

Art. 499. A obrigação somente será convertida em perdas e danos


se o autor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a
obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente.

Em caso de obrigação de fazer fungível, que pode ser executada por terceiro,
“será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora
deste, sem prejuízo da indenização cabível (art. 249 CC).” Em caso de urgência, pode o
credor, independentemente de autorização judicial, executar ou mandar executar o fato,
sendo depois ressarcido (art. 249, parágrafo único, do CC).

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CAPÍTULO III
DAS OBRIGAÇÕES DE NÃO FAZER

A obrigação de não fazer, ou negativa, impõe ao devedor um dever de


abstenção: o de não praticar o ato que poderia livremente fazer, se não se houvesse
obrigado. Se praticarem o ato que se obrigaram a não fazer, tornar-se-ão inadimplentes.

Art. 251. Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o


credor pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua
custa, ressarcindo o culpado perdas e danos.

Ou o devedor desfaz pessoalmente o ato, ou poderá vê-lo desfeito por terceiro, por
determinação judicial, pagando ainda perdas e danos. Sempre haverá o pagamento de
perdas e danos em caso de inadimplemento.

Dispõe o art. 250 que “extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem
culpa do devedor, se lhe torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não
praticar.” O parágrafo único do art. 251 ainda preceitua que “em caso de urgência, poderá
o credor desfazer ou mandar desfazer, independentemente de autorização judicial, sem
prejuízo do ressarcimento devido”.

A obrigação de não fazer pode ser:

a) Obrigação transeunte: aquela que descumprida é extinta, ou seja, não permanece no


tempo (ex.: não causar dano – causado o dano, extinta restará a obrigação; ex.: revelar
segredo industrial).

a.1) Descumprimento da obrigação transeunte:

 1ª hipótese - sem culpa: a obrigação é extinta

 2ª hipótese - com culpa: perdas e danos (sejam patrimoniais ou morais).

b) Obrigação permanente: aquela que se prolonga no tempo (ex.: servidão; não


construir acima de determinada altura).

b.1) Descumprimento da obrigação permanente:

 1ª hipótese - sem culpa: a obrigação permanece (pode exigir o desfazimento),


porém não há direito à indenização.

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 2ª hipótese - com culpa: pode exigir o desfazimento acrescido de perdas e


danos.

CAPÍTULO IV
DAS OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS

1- CONCEITO

A obrigação alternativa é composta pela multiplicidade de objetos. Tem por


conteúdo duas ou mais prestações, das quais somente uma será escolhida para
pagamento ao credor e liberação do devedor. Os objetos são ligados pela conjunção
disjuntiva “OU”. Difere-se da cumulativa, em que também há uma pluralidade de
prestações, mas todas devem ser solvidas.

IMPORTANTE!!! Difere-se também da obrigação de dar coisa incerta. Nessa a


escolha recai sobre a qualidade do único objeto existente, na obrigação alternativa a
escolha recai sobre um dos objetos in obligatione. Ademais, a obrigação alternativa é
obrigação composta (com duas ou mais prestações), enquanto a obrigação de dar coisa
incerta é obrigação simples, com apenas uma obrigação e objeto determinável.

2- DIREITO DE ESCOLHA
Art. 252. Nas obrigações alternativas, A ESCOLHA CABE AO
DEVEDOR, se outra coisa não se estipulou.
§ 1o Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma
prestação e parte em outra.
§ 2o Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade
de opção poderá ser exercida em cada período.
§ 3o No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo
unânime entre eles, decidirá o juiz, findo o prazo por este assinado
para a deliberação.
§ 4o Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não
puder exercê-la, caberá ao juiz a escolha se não houver acordo entre as
partes.

O direito de escolha cabe ao devedor se outra coisa não se estipulou. Se


conferida a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a
escolha se não houver acordo entre as partes.

Cientificada a escolha, ocorre a concentração, ficando determinado de modo


definitivo, sem possibilidade de retratação unilateral, o objeto da obrigação.

O credor NÃO pode ser obrigado a receber parte em uma prestação e parte em
outra. O devedor deve uma OU outra.

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Obs.: Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser
exercida em cada período (nesse caso: o devedor se obriga a entregar, todo mês, arroz ou
feijão ao credor. Poderá, portanto, entregar arroz no primeiro mês, feijão no segundo, ou
seja, poderá escolher a prestação que dará em cada mês)

3- IMPOSSIBILIDADE DAS PRESTAÇÕES


Art. 253. Se uma das duas prestações não puder ser objeto de obrigação
ou se tornada inexeqüível, subsistirá o débito quanto à outra.

Trata-se de impossibilidade material. Se a impossibilidade for jurídica, por


ilicitude de um objeto (praticar crime), toda a obrigação fica contaminada de nulidade,
sendo inexigíveis ambas as prestações.

Art. 254. Se, por culpa do devedor, não se puder cumprir nenhuma
das prestações, não competindo ao credor a escolha, ficará aquele
obrigado a pagar o valor da que por último se impossibilitou, mais
as perdas e danos que o caso determinar.

Art. 255. Quando a escolha couber ao credor e UMA das prestações


tornar-se impossível por culpa do devedor, o credor terá direito de
exigir a prestação subsistente OU o valor da outra, com perdas e
danos; se, por culpa do devedor, ambas as prestações se tornarem
inexeqüíveis, poderá o credor reclamar o valor de qualquer das
duas, além da indenização por perdas e danos.

No caso do art. 255, o credor não é obrigado a ficar com o objeto remanescente,
pois a escolha era dele.
Art. 256. Se todas as prestações se tornarem impossíveis sem culpa do
devedor, extinguir-se-á a obrigação.

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CAPÍTULO V
DAS OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS

1- CONCEITO

As obrigações divisíveis e indivisíveis são compostas pela pluralidade de


sujeitos.

Obrigações divisíveis são aquelas em que o objeto pode ser dividido entre os
sujeitos, o que não ocorre com as indivisíveis. É licito afirmar que a divisibilidade ou
não de uma prestação confunde-se com a de seu objeto.

Art. 258. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto


uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza,
por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do
negócio jurídico.

A indivisibilidade decorre da natureza da coisa (indivisibilidade natural), por


vontade das partes (indivisibilidade intelectual) e judicial (ex.: obrigação de indenizar
que deve ser paga por inteiro à mãe, embora o pai não pleiteie).

2- DIVISIBILIDADE E INDIVISIBILIDADE NAS OBRIGAÇÕES DE


DAR, FAZER E NÃO FAZER

A obrigação de dar será divisível ou indivisível dependendo de seu objeto.

A obrigação de fazer algumas vezes pode ser divisível e outras não. Por
exemplo, a obrigação de fazer uma estátua é indivisível, mas será divisível se o escultor
for contratado para fazer 10 estátuas, entregando uma a cada dez dias.

As obrigações negativas, de não fazer, são em regra geral indivisíveis.

3- EFEITOS DA INDIVISIBILIDADE E DIVISIBILIDADE

Se a obrigação for DIVISÍVEL, cada devedor só deve a sua quota-parte. A


insolvência de um não aumentará a quota dos demais. Havendo vários credores e um só
devedor, cada credor receberá somente a sua parte.

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Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em


obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações,
iguais e distintas, quantos os credores ou devedores.

Quando a obrigação for indivisível, e houver pluralidade de devedores, cada um


será obrigado pela dívida toda. Mas somente porque o objeto não pode ser dividido. O
que paga a dívida dispõe de ação regressiva contra os outros coobrigados.
Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for
divisível, cada um será obrigado pela dívida toda.
Parágrafo único. O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no
direito do credor em relação aos outros coobrigados.

Proclama o art. 260 que se a pluralidade for dos credores, poderá cada um destes
exigir a dívida inteira; mas o devedor ou devedores se desobrigarão, pagando:
I - a todos conjuntamente;
II - a um, dando este caução de ratificação dos outros credores.

De acordo com o art. 261, “se um só dos credores receber a prestação por inteiro,
a cada um dos outros assistirá o direito de exigir dele em dinheiro a parte que lhe caiba
no total.”

Dispõe o art. 262, “se um dos credores remitir a dívida, a obrigação não ficará
extinta para com os outros; mas estes só a poderão exigir, descontada a quota do credor
remitente. Esse mesmo critério se observará no caso de transação, novação, compensação
ou confusão.”

IMPORTANTE!!! Segundo o art. 263, “perde a qualidade de indivisível a obrigação


que se resolver em perdas e danos (ou seja, com culpa do devedor)”. No lugar do
objeto desaparecido o devedor entregará seu equivalente em dinheiro mais perdas e
danos. O objeto transformado em dinheiro pode agora ser dividido. Se houver culpa de
todos os devedores, responderão todos por partes iguais (§1º). Como a culpa é pessoal,
se for de um só a culpa, ficarão exonerados os outros, respondendo só esse pelas
perdas e danos. (§ 2o).

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CAPÍTULO VI
DAS OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS

1- DISPOSIÇÕES GERAIS E CONCEITO

Obrigação solidária é aquela em que, havendo vários devedores, cada um


responde pela dívida inteira, como se fosse o único devedor. Se a pluralidade for de
credores, pode qualquer deles exigir a prestação integral, como se fosse o único credor.
Art. 264. Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais
de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou
obrigado, à dívida toda.

IMPORTANTE!!! A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das


partes.
Art. 265. A solidariedade não se presume; resulta da LEI ou da
VONTADE DAS PARTES.

IMPORTANTE: A solidariedade obrigacional constitui regra no Código de Defesa do


Consumidor, ao contrário do que ocorre na atual codificação civil, em que constitui
exceção. Consta do art. 7º, parágrafo único, do CDC: “tendo mais de um autor a ofensa,
todos responderão solidariamente pela reparação de danos previstos nas normas de
consumo”. Esse comando consumerista, segundo doutrina especializada, traz uma
presunção de solidariedade contratual.

Dispõe o art. 266 CC que a “obrigação solidária pode ser pura e simples para
um dos cocredores ou codevedores, e condicional, ou a prazo, ou pagável em lugar
diferente, para o outro.”

2- CARACTERÍSTICAS

a) Pluralidade de credores ou de devedores, ou de uns e de outros (ativa, passiva ou


mista).
b) Integralidade da prestação: qualquer credor pode exigi-la integralmente e qualquer
devedor responde pela dívida toda.

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c) Corresponsabilidade dos interessados: o devedor que solve pode reaver dos demais
as quotas de cada um. O credor que recebe sozinho deve prestar contas perante os demais
credores pelas quotas de cada um.

3- DIFERENÇA ENTRE SOLIDARIEDADE E INDIVISIBILIDADE

A solidariedade assemelha-se com a indivisibilidade em um único aspecto: em


ambos os casos o credor pode exigir de um só dos devedores o pagamento da totalidade
do objeto devido.

Diferem-se, no entanto pelas seguintes razões:

a) Se cada devedor solidário pode ser compelido a pagar sozinho a dívida por inteiro, tal
fato se dá por ser devedor do todo. Nas obrigações indivisíveis, contudo, o codevedor só
deve a sua cota parte. Se pode ser compelido ao pagamento da totalidade do objeto é
porque não se pode fracioná-lo.

b) Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos.


Art. 263. PERDE A QUALIDADE DE INDIVISÍVEL a obrigação
que se resolver em perdas e danos.

Na solidariedade, entretanto, isso não ocorre, pois cada devedor continuará


responsável pelo pagamento integral do equivalente em dinheiro do objeto perecido.

4- SOLIDARIEDADE ATIVA

Dispõe o art. 267: “Cada um dos credores solidários tem direito a exigir do
devedor o cumprimento da prestação por inteiro.” O devedor libera-se pagando a
qualquer um dos credores, que por sua vez, pagará aos demais a quota de cada um.

De acordo com o art. 268, enquanto alguns dos credores solidários não
demandarem o devedor comum, a qualquer daqueles poderá este pagar . Cessa esse
direito, porém, se um deles já ingressou em juízo com ação de cobrança, pois só a ele o
pagamento pode ser efetuado.

Proclama o art. 269: “O pagamento feito a um dos credores solidários extingue


a dívida até o montante do que foi pago.” Se também um dos credores nova, compensa,
remite ou transige, com isso exonera o devedor do pagamento aos demais sujeitos ativos.

IMPORTANTE!!! Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada


um destes só terá direito a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao
seu quinhão hereditário, SALVO se a obrigação for indivisível. Os herdeiros do
credor solidário não podem, assim, exigir a totalidade do crédito, mas apenas a própria
cota no crédito solidário de que o falecido era titular, juntamente com os outros credores.
Mas, se este deixou um único herdeiro, se todos os herdeiros agirem conjuntamente
ou se indivisível o objeto da obrigação, a prestação poderá ser exigida por inteiro.

IMPORTANTE!!! Dispõe o art. 271 que convertendo-se a prestação em perdas e


danos, subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade.

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O credor que tiver remitido a dívida ou recebido o pagamento responderá aos


outros pela parte que lhes caiba, podendo ser compelido em ação regressiva por estes
movida (art. 272 CC).

De acordo com o art. 273:


Art. 273. A um dos credores solidários NÃO pode o devedor opor as
exceções pessoais oponíveis aos outros.

Obs.: art. 274 CC – modificado pelo CPC/15.


Art. 274. O julgamento contrário a um dos credores solidários
NÃO atinge os demais, mas o julgamento favorável aproveita-lhes,
sem prejuízo de exceção pessoal que o devedor tenha direito de
invocar em relação a qualquer deles. (Redação dada pela Lei nº
13.105, de 2015)

5- SOLIDARIEDADE PASSIVA

5.1 CONCEITO
Art. 275. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns
dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum; se o pagamento
tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados
solidariamente pelo resto.
Parágrafo único. NÃO importará renúncia da solidariedade a
propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos
devedores.

IMPORTANTE: Caso ocorra pagamento parcial da dívida, todos os devedores restantes,


após se descontar a parte de quem pagou, continuam responsáveis pela dívida inteira.
Assim sendo, ocorrendo o pagamento parcial de R$ 10.000,00 pelo devedor B, mesmo
ele poderá ser demandado pelo restante (R$ 20.000,00). Dentro dessa ideia, na IV
Jornada de Direito Civil, foi aprovado o Enunciado n. 348 do CJF/STJ, prevendo que “O
pagamento parcial não implica, por si só, renúncia à solidariedade, a qual deve derivar
dos termos expressos da quitação ou, inequivocadamente, das circunstâncias do
recebimento da prestação pelo credor”.

IMPORTANTE: Como ocorre com a solidariedade ativa, o art. 276 do CC traz regra
específica envolvendo a morte de um dos devedores solidários. No caso de falecimento
de um deles cessa a solidariedade em relação aos sucessores do de cujus, uma vez que os
herdeiros somente serão responsáveis até os limites da herança e de seus quinhões
correspondentes. A regra não se aplica se a obrigação for indivisível. Outra exceção é
feita pelo comando, porquanto todos os herdeiros reunidos são considerados um único
devedor em relação aos demais devedores.

5.2 EFEITOS

Art. 278. Qualquer cláusula, condição ou obrigação adicional,


estipulada entre um dos devedores solidários e o credor, não poderá
agravar a posição dos outros sem consentimento destes.

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Art. 279. Impossibilitando-se a prestação por culpa de um dos


devedores solidários, subsiste para todos o encargo de pagar o
equivalente; MAS PELAS PERDAS E DANOS SÓ RESPONDE O
CULPADO.

Art. 280. Todos os devedores respondem pelos JUROS DA MORA,


ainda que a ação tenha sido proposta somente contra um; mas o
culpado responde aos outros pela obrigação acrescida.

Art. 281. O devedor demandado pode opor ao credor as exceções que


lhe forem pessoais e as comuns a todos; não lhe aproveitando as
exceções pessoais a outro co-devedor.

Art. 282. O credor pode renunciar à solidariedade em favor de um,


de alguns ou de todos os devedores.
Parágrafo único. Se o credor exonerar da solidariedade um ou mais
devedores, subsistirá a dos demais.

Art. 283. O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a
exigir de cada um dos co-devedores a sua quota, dividindo-se
igualmente por todos a do insolvente, se o houver, presumindo-se
iguais, no débito, as partes de todos os co-devedores.

Art. 284. No caso de rateio entre os co-devedores, contribuirão


também os exonerados da solidariedade pelo credor , pela parte que
na obrigação incumbia ao insolvente.

Art. 285. Se a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos


devedores, responderá este por toda ela para com aquele que pagar.

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TÍTULO II
DA TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES
CAPÍTULO I
DA CESSÃO DE CRÉDITO

1- CESSÃO DO CRÉDITO

Conceito: É o ato negocial bilateral por meio do qual o credor transfere seu
crédito a outro credor, mantendo-se a mesma relação obrigacional.

IMPORTANTE!!! É importante observar que a cessão de crédito NÃO modifica a


relação obrigacional.

Há uma substituição do polo ativo.

O credor que transfere seus direitos se denomina cedente. O terceiro a quem são
eles transmitidos, investindo-se na sua titularidade, é o cessionário. O terceiro
personagem, o devedor ou cedido, não participa necessariamente da cessão, QUE
PODE SER REALIZADA SEM A SUA ANUÊNCIA.

O cedente há de ser pessoa capaz e legitimada a praticar atos de alienação.

IMPORTANTE!!! A cessão de crédito não se confunde com a cessão de contrato, em


que se procede à transmissão, ao cessionário, da inteira posição contratual do cedente.
Ex.: transferência a terceiro, feita pelo promitente comprador, de sua posição no
compromisso de compra e venda.

IMPORTANTE!!! A cessão de crédito distingue-se também da novação subjetiva


ativa. Nesta, além da substituição do credor, ocorre a extinção da obrigação anterior,
substituída por novo crédito. Na cessão subsiste o crédito antigo, que é transmitido ao
cessionário com TODOS OS ACESSÓRIOS.

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Art. 287. Salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito


ABRANGEM-SE TODOS OS SEUS ACESSÓRIOS.

IMPORTANTE!!! Não se confunde também com sub-rogação legal. O sub-rogado


(aquele que assume o polo ativo da relação obrigacional) não pode exercer os direitos e
ações do credor além dos limites desembolsados, não tendo, pois, caráter especulativo.

A cessão de crédito pode ser gratuita ou onerosa.

Art. 286. O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a
natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor; a cláusula
proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se
não constar do instrumento da obrigação.

A regra é que sempre cabe cessão de crédito, salvo se ocorrerem algumas


circunstâncias impeditivas (o que pode se dar por convenção das partes, pela natureza do
crédito, a exemplo do crédito alimentar, ou pela lei, a exemplo do disposto no art. 1.749,
III, do CC).

IMPORTANTE!!! A convenção que proíbe a cessão (pacto de non cedendo) deve ser
escrita e estar inscrita no título obrigacional.

À luz do princípio da boa-fé objetiva, e como decorrência do dever de informação,


nos termos do art. 290 do CC, o devedor deve ser “notificado” da cessão feita, sob
pena de não surtir efeitos em face dele.

Art. 290. A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao


devedor, senão quando a este notificada; mas por notificado se tem o
devedor que, em escrito público ou particular, se declarou ciente da
cessão feita.

Vale lembrar, a teor dos art. 292 e 294, que a notificação é importante para que
o devedor saiba a quem pagar, bem como possa defender-se em face do novo credor
(oposição de exceções). A notificação pode ser judicial ou extrajudicial. Qualquer
interessado pode fazer a notificação. Entretanto, o maior interessado em notificar é o
cessionário, pois de acordo com o art. 292, “fica desobrigado o devedor que, antes de
ter conhecimento da cessão, paga ao credor primitivo.”

Art. 292. Fica desobrigado o devedor que, antes de ter


conhecimento da cessão, paga ao credor primitivo , ou que, no caso
de mais de uma cessão notificada, paga ao cessionário que lhe
apresenta, com o título de cessão, o da obrigação cedida; quando o
crédito constar de escritura pública, prevalecerá a prioridade da
notificação.

Obs.: O devedor deve ser apenas comunicado, revelando-se desnecessário que ele
concorde com a cessão.
Art. 294. O devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe
competirem, bem como as que, no momento em que veio a ter
conhecimento da cessão, tinha contra o cedente.

IMPORTANTE!!! O devedor vai poder opor ao novo credor as defesas que tinha
contra o credor originário desde que, no momento em que notificado da cessão,

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oponha as exceções pessoais que tiver contra o cedente. (ex.: prescrição, coação). Se
nesse momento não opuser essas exceções, não mais poderá arguir em face do
cessionário as exceções que eram cabíveis contra o cedente.

Já as exceções oponíveis diretamente contra o cessionário (exceções pessoais


contra o cessionário) podem ser arguidas a todo tempo.

Em regra, a cessão convencional não exige forma especial para valer entre as
partes, salvo se tiver por objeto direitos em que a escritura pública seja da substância do
ato. Entretanto, PARA VALER CONTRA TERCEIROS, o art. 288 CC exige
“instrumento público, ou instrumento particular revestido das solenidades do § 1 o do art.
654”.

Art. 654. Todas as pessoas capazes são aptas para dar procuração
mediante instrumento particular, que valerá desde que tenha a
assinatura do outorgante.
§ 1o O instrumento particular deve conter a indicação do lugar
onde foi passado, a qualificação do outorgante e do outorgado, a
data e o objetivo da outorga com a designação e a extensão dos
poderes conferidos.
§ 2o O terceiro com quem o mandatário tratar poderá exigir que a
procuração traga a firma reconhecida.

IMPORTANTE!!! Quanto à responsabilidade pelo crédito cedido, a regra geral do


direito brasileiro, nos termos dos artigos 295 a 297, se dá no sentido de que o cedente
garante e responde pela EXISTÊNCIA do crédito (cessão pro soluto); no entanto, em
caráter excepcional, nada impede que se convencione também que o cedente
garantirá e responderá também pela SOLVÊNCIA do devedor (cessão pro
solvendo). Se ficar estipulado que o cedente responde pela solvência do devedor, sua
responsabilidade limitar-se-á ao que recebeu do cessionário, com os respectivos juros
mais as despesas com a cessão e as efetuadas com a cobrança.
Art. 295. Na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se
responsabilize, fica responsável ao cessionário pela EXISTÊNCIA
DO CRÉDITO ao tempo em que lhe cedeu; a mesma
responsabilidade lhe cabe nas cessões por título gratuito, se tiver
procedido de má-fé.

Art. 296. Salvo estipulação em contrário, O CEDENTE NÃO


RESPONDE PELA SOLVÊNCIA DO DEVEDOR.

Art. 297. O cedente, responsável ao cessionário pela solvência do


devedor, não responde por mais do que daquele recebeu, com os
respectivos juros; mas tem de ressarcir-lhe as despesas da cessão e as
que o cessionário houver feito com a cobrança.

2- CESSÃO DE DÉBITO OU ASSUNÇÃO DE DÍVIDA

Na cessão de débito, o devedor, com EXPRESSO CONSENTIMENTO do


credor, transfere a sua dívida, mantendo-se a mesma relação obrigacional.

Art. 299. É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o


CONSENTIMENTO EXPRESSO DO CREDOR, ficando

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exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da


assunção, era insolvente e o credor o ignorava.

Há uma mudança no polo passivo, mantendo-se a obrigação.

IMPORTANTE!!! Na cessão de débito (assunção de dívida) o silêncio não significa


consentimento (quem cala aqui, não consente). O consentimento do credor deve ser
EXPRESSO.

Obs.: Como regra, o devedor originário é excluído da relação obrigacional. O devedor


primitivo poderá reassumir a dívida, caso o novo devedor seja insolvente e o credor o
ignore.

Art. 300. Salvo assentimento expresso do devedor primitivo,


consideram-se extintas, a partir da assunção da dívida, as garantias
especiais por ele originariamente dadas ao credor.

Art. 301. Se a substituição do devedor vier a ser anulada, restaura-


se o débito, com todas as suas garantias, SALVO as garantias
prestadas por terceiros, exceto se este conhecia o vício que
inquinava a obrigação.

Art. 302. O novo devedor NÃO pode opor ao credor as exceções


pessoais que competiam ao devedor primitivo.

Ex.: O devedor novo não pode dizer que o devedor antigo foi coagido, ou agiu em erro,
ou que era incapaz.

IMPORTANTE: O enunciado 16 da I Jornada de Direito Civil do CJF tem a seguinte


redação: “o art. 299 do CC não exclui a possibilidade de assunção cumulativa da dívida
quando dois ou mais devedores se tornam responsáveis pelo débito com concordância do
credor”. Pelo teor do enunciado, são possíveis duas situações, a título de assunção
cumulativa: dois novos devedores responsabilizam-se pela dívida; o antigo devedor
continua responsável, em conjunto com o novo devedor.

IMPORTANTE: A assunção de dívida pode ocorrer por expromissão do devedor


originário, que não tomará parte nessa operação, na qual terceira pessoa assumirá
espontaneamente o débito de outra (a assunção por expromissão pode ser liberatória –
quando o devedor originário se exonera da obrigação – e cumulativa, quando o
expromitente entra na relação como novo devedor, ao lado do devedor primitivo, nos
termos do enunciado 16 do CJF/STJ).

3- CESSÃO DE CONTRATO/CESSÃO DE POSIÇÃO CONTRATUAL

O CC brasileiro não trata da cessão de posição contratual.

Conceito: trata-se do ato jurídico negocial, por meio do qual uma das partes do
contrato (cedente) transfere a sua própria posição (incluindo créditos e débitos) a um
terceiro (cessionário), COM A ANUÊNCIA DA OUTRA PARTE.

Obs.: A doutrina que melhor explica a cessão de contrato, é a teoria unitária, defendida
por autores como Pontes de Miranda e Antunes Varella, no sentido de que a cessão de

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contrato não deve ser fragmentada, traduzindo uma transferência única e global da
posição no contrato.

Silvio Rodrigues lembra que alguns tipos de contrato, frequentemente são objetos
de cessão (ex.: locação, empreitada, financiamento).

Na cessão de posição contratual se transferem de uma só vez os direitos e deveres


da parte.

IMPORTANTE!!! Como regra, a outra parte deve autorizar, para que a cessão de
posição contratual seja válida.

TÍTULO III
DO ADIMPLEMENTO E EXTINÇÃO DAS
OBRIGAÇÕES
CAPÍTULO I
DO PAGAMENTO

1- NOÇÕES E ESPÉCIES DE PAGAMENTO

Pagamento é o mesmo que adimplemento. Pagamento é o cumprimento de


qualquer tipo de obrigação, não só a de pagar em dinheiro. Ex.: pintor entrega o quadro
encomendado.

O pagamento pode ser direto (exato cumprimento da prestação acordada) ou


indireto (extinção da obrigação de forma diferente do que foi acordado – ex.: dação em
pagamento, novação etc.).

A obrigação ainda pode se extinguir por meios anormais, isto é, sem pagamento,
como nos casos de impossibilidade de execução sem culpa do devedor.

2- NATUREZA JURÍDICA E REQUISITOS DE VALIDADE

Predomina na doutrina o entendimento de que o pagamento tem natureza


contratual. Corresponde a um contrato, por também resultar de um acordo de vontades,
estando sujeito a todas as suas normas. Para outros o pagamento é um ato jurídico.

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Obs.: A corrente que mais agrada é a de que pagamento é um ato jurídico, porque de
fato seus efeitos advêm da lei e já são conhecidos de todos pela própria definição do que
vem a ser pagamento (aquilo que leva à extinção da obrigação).

Lembrar!!! No ato jurídico, os efeitos produzidos advêm da lei (reconhecimento de


filho). Ao contrário, no negócio jurídico os efeitos produzidos são os determinados pelas
partes (contratos).

Para o pagamento produzir seu principal efeito, que é o de extinguir a obrigação,


devem estar presentes seus requisitos essenciais de validade. São eles:

a) Existência do vínculo obrigacional: se este não existe, não há o que pagar. Qualquer
pagamento será então indevido, obrigando a restituição por parte de quem o recebeu.

b) Cumprimento da prestação: de acordo com o art. 304 do CC, qualquer interessado


na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes
à exoneração do devedor.

c) Animus solvendi: manifestação da vontade livre. Se o sujeito foi coagido a pagar, esse
pagamento não é válido. Deve ter a intenção de pagar.

Obs.: O credor deve usar as vias ordinárias de cobrança (ação de cobrança). Não é porque
ostenta um crédito que poderá o credor fazer o que quiser para cobrá-lo.

d) Sujeito ativo do pagamento: quem paga é o solvens ou pagador. É o devedor da


obrigação.

e) Sujeito passivo do pagamento: quem recebe é o accipiens. É o credor da obrigação.

3- DE QUEM DEVE PAGAR


Art. 304. QUALQUER INTERESSADO na extinção da dívida pode
pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à
exoneração do devedor.

O principal interessado na solução da dívida, a quem compete o dever de pagá-


la, é o devedor.

IMPORTANTE!!! Só se considera interessado quem tem INTERESSE JURÍDICO


na extinção da dívida, isto é, quem está vinculado ao contrato, como o fiador, o
avalista, o solidariamente obrigado etc.

Entretanto, não somente o devedor ou o terceiro interessado que podem efetuar o


pagamento. Pode fazê-lo também, o terceiro não interessado, que, apesar de não ter
interesse jurídico na solução da dívida, tem outro tipo de interesse tais como o moral, a
amizade etc.
Art. 304. Parágrafo único. Igual direito cabe ao TERCEIRO NÃO
INTERESSADO, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo
oposição deste.

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#O terceiro não interessado pode cobrar aquilo que pagou?


O art. 305 anuncia que o terceiro não interessado que paga a dívida em seu próprio
nome tem direito a reembolsar-se do que pagar, porém não há sub-rogação. A sub-
rogação alcança apenas o terceiro interessado que efetua o pagamento.

Art. 305. O TERCEIRO NÃO INTERESSADO, que paga a dívida


em SEU PRÓPRIO NOME, tem direito a reembolsar-se do que
pagar; mas NÃO SE SUB-ROGA nos direitos do credor.
Parágrafo único. Se pagar antes de vencida a dívida, só terá direito
ao reembolso no vencimento.

Por outro lado, se o terceiro paga em nome do devedor , não há sub-rogação e


não há, também, reembolso. Entende-se que, neste caso, quis fazer uma liberalidade,
uma doação, sem qualquer direito a reembolso. Em caso de dúvidas, prevalece a
premissa segundo a qual o terceiro pagou em seu próprio nome, uma vez que os atos de
liberalidade não admitem interpretação extensiva (art. 114 do CC).

#O terceiro não interessado pode provocar o pagamento (por meio da consignação)?


Se tentar pagar em nome próprio, ele não pode consignar (o credor pode se recusar
a receber). Por outro lado, se pagar em nome do devedor, ele pode consignar. O credor
não pode recusar o pagamento.

Por outro lado, é inoperante a oposição do devedor ao pagamento de sua dívida


por terceiro não interessado, se o credor desejar receber. Só há um meio de ele evitar esse
pagamento: é o próprio devedor antecipar-se.

De acordo com o art. 306 do CC, o pagamento feito por terceiro, com
desconhecimento ou oposição do devedor, não obriga a reembolsar aquele que pagou,
se o devedor tinha meios para ilidir a ação. Ex.: Arguição de prescrição, decadência,
compensação etc. O terceiro só terá direito ao reembolso até a importância que
realmente aproveite ao devedor.

Prescreve o art. 307:

Art. 307 Só terá eficácia o pagamento que importar transmissão da


propriedade, quando feito por quem possa alienar o objeto em que ele
consistiu.
Parágrafo único. Se se der em pagamento coisa fungível, não se
poderá mais reclamar do credor que, de boa-fé, a recebeu e consumiu,
ainda que o solvente não tivesse o direito de aliená-la.

De acordo com o parágrafo único do art. 307, só resta ao verdadeiro proprietário


voltar-se contra quem a entregou indevidamente.

4- DAQUELES A QUEM SE DEVE PAGAR

O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, ou


ainda aos sucessores daquele, sob pena de não extinguir a obrigação. Considera-se
válido o pagamento a terceiro se for ratificado pelo credor ou se se reverter em seu
proveito (apesar do art. 308 se referir à validade, o pagamento é resolvido no plano da
eficácia, de forma que não produzirá efeitos em relação ao credor).

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Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o


represente, sob pena de só valer depois de por ele ratificado, ou tanto
quanto reverter em seu proveito.

O art. 311 considera autorizado a receber o pagamento o portador da quitação,


salvo se as circunstâncias contrariarem a presunção daí resultante, pois não se descarta a
possibilidade de o título ter sido extraviado ou furtado o recibo.

Dispõe o art. 309, “o pagamento feito de boa-fé ao credor putativo (aquele que
aparentemente tem poderes para receber) é válido, ainda provado depois que não era
credor.” Ex.: Locador aparente que se intitula proprietário do imóvel e o aluga a outro.
Ao verdadeiro credor só resta voltar-se contra o credor putativo.

IMPORTANTE: É válido o pagamento de indenização do Seguro DPVAT aos pais - e


não ao filho - do de cujus no caso em que os genitores, apresentando-se como únicos
herdeiros, entregaram os documentos exigidos pela Lei nº 6.194/74 para o aludido
pagamento (art. 5º, § 1º), dentre os quais certidão de óbito que afirmava que o falecido
era solteiro e não tinha filhos. STJ. 3ª Turma. REsp 1601533-MG, Rel. Min. João Otávio
de Noronha, julgado em 14/6/2016 (Info 585). Assim, pela aplicação da teoria da
aparência, é válido o pagamento realizado de boa-fé a credor putativo.

Obs.: Se houver dúvida, deve ser feita a consignação em pagamento. Lembrar, ainda, que
o termo putativo está ligado à boa-fé.

De acordo com o art. 310, não vale o pagamento cientemente feito ao credor
incapaz de quitar, se o devedor não provar que em benefício dele efetivamente
reverteu. A quitação reclama capacidade e sem ela o pagamento não vale . No entanto,
provado que se reverteu em proveito do incapaz, cessa a razão da ineficácia.

IMPORTANTE!!! Hipótese em que o pagamento feito ao verdadeiro credor não valerá.

Art. 312 Se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da


penhora feita sobre o crédito, ou da impugnação a ele oposta por
terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que poderão
constranger o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o
regresso contra o credor.

5- DO OBJETO DO PAGAMENTO

O objeto do pagamento é sua prestação.

Obs.: Distingue-se dívida em dinheiro de dívida de valor. Na dívida em dinheiro o objeto


da prestação é o próprio dinheiro. Quando, no entanto, o dinheiro não constitui o objeto
da prestação, mas apenas representa seu valor, diz-se que a dívida é de valor.

Obs.: A obrigação de indenizar, decorrente da prática de um ato ilícito constitui dívida de


valor.

De acordo com o art. 315 da codificação material privada, as dívidas em dinheiro


(obrigações pecuniárias) devem ser pagas em moeda nacional corrente e pelo valor
nominal (princípio do nominalismo). Essa é a regra geral para os pagamentos em
pecúnia, em dinheiro. O dispositivo trata da dívida em dinheiro. Há, ainda, a dívida de
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valor, aquela que, embora paga em dinheiro, procura atender ao verdadeiro valor do
objeto da prestação, incorporando as variações que possa sofrer para mais ou para menos.
Como exemplos de dívidas de valor, podem ser citados os salários, as pensões em geral,
os aluguéis, as prestações alimentares, os valores devidos a título de financiamento, todos
sujeitos à correção monetária.

Para se evitar os efeitos da inflação, foi prática muito comum empregada pelos
credores a aplicação de índices de correção monetária que podiam ser aplicados sem
limite temporal. Dessa forma, confirmando a legislação anterior, enuncia o art. 316 do
atual Código Civil que é lícito convencionar o aumento progressivo de prestações
sucessivas, a que se dá o nome de cláusula de escala móvel ou cláusula de
escalonamento. Eis aqui o dispositivo que demonstra a essência da dívida de valor.

Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da


que lhe é devida, ainda que mais valiosa.

Art. 314. Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação


divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor
a pagar, por partes, se assim não se ajustou.

Art. 315. As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em


moeda corrente e pelo valor nominal, salvo o disposto nos artigos
subseqüentes.

Art. 325. Presumem-se a cargo do devedor as despesas com o


pagamento e a quitação; se ocorrer aumento por fato do credor,
suportará este a despesa acrescida.

Art. 326. Se o pagamento se houver de fazer por medida, ou peso,


entender-se-á, no silêncio das partes, que aceitaram os do lugar da
execução.

6- DA PROVA DO PAGAMENTO

Pagamento não se presume. Prova-se pela regular quitação fornecida pelo


credor. O devedor tem o direito de exigir a quitação, podendo reter o pagamento e
consigná-lo se não lhe for dada.
Art. 319. O devedor que paga tem direito a quitação regular, e pode
reter o pagamento, enquanto não lhe seja dada.

Art. 335. A consignação tem lugar:


I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o
pagamento, ou dar quitação na devida forma;

Os requisitos que na quitação devem constar se encontram no art. 320.

Art. 320. A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento
particular, designará o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do
devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento,
com a assinatura do credor, ou do seu representante. (escrita)
Parágrafo único. Ainda sem os requisitos estabelecidos neste artigo
valerá a quitação, se de seus termos ou das circunstâncias resultar haver
sido paga a dívida.

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A quitação deverá ser dada por escrito público ou particular. E ainda que sem os
referidos requisitos, valerá a quitação, se de seus termos ou das circunstâncias resultar
haver sido paga a dívida.

O CC estabelece três presunções que facilitam a prova do pagamento


dispensando a quitação:

Art. 321. Nos débitos, cuja quitação consista na devolução do título,


perdido este, poderá o devedor exigir, retendo o pagamento, declaração
do credor que inutilize o título desaparecido.

Art. 322. Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação


da última estabelece, até prova em contrário, a presunção de
estarem solvidas as anteriores.

Art. 323. Sendo a quitação do capital sem reserva dos juros, estes
presumem-se pagos.

Dispõe o art. 322 que quando o pagamento for em quotas periódicas, a


quitação da última estabelece, até prova em contrário, a presunção de estarem
solvidas as anteriores. Parte do princípio de que não é natural o credor receber a última
prestação sem haver recebido as anteriores. Essa presunção é relativa, admitindo-se
prova em contrário. Outra presunção relativa é a do art. 323, referente aos juros.

Dispõe o art. 324:

Art. 324 A entrega do título ao devedor firma a presunção do


pagamento.
Parágrafo único. Ficará sem efeito a quitação assim operada se o
credor provar, em sessenta dias, a falta do pagamento.

7- DO LUGAR DO PAGAMENTO

Dispõe o art. 327 do CC:

Art. 327 Efetuar-se-á o pagamento no DOMICÍLIO DO DEVEDOR,


salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário
resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias.
Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao
CREDOR escolher entre eles.

E de acordo com o art. 329, ocorrendo motivo grave para que se não efetue o
pagamento no lugar determinado, poderá o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para o
credor.

A regra geral, portanto, é que o pagamento seja feito no DOMICILIO DO


DEVEDOR, a não ser que as partes estipulem lugar diverso para o pagamento. Neste
caso, diz que a dívida é “quérable” (quesível). No caso de silêncio, aplica-se a regra
geral. A obrigação será “portable” (portável) quando se estipular, por força do
instrumento negocial ou pela natureza da obrigação, que o local do cumprimento da
obrigação será o domicílio do credor. Eventualmente, também receberá esta denominação
a obrigação cujo pagamento deva ocorrer no domicílio de terceiro.

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Obs.: De acordo com o CC, dívida relativa a imóvel se paga no local onde esse é
situado.

Art. 328. Se o pagamento consistir na tradição de um imóvel, ou em


prestações relativas a imóvel, far-se-á no lugar onde situado o bem.

IMPORTANTE!!! De acordo com o art. 330, se o credor concorda, reiteradamente em


receber a prestação em local diverso, ocorrerá renúncia ao direito de receber no local
previsto no contrato (supressio).

Obs.: Supressio é a supressão de um direito pelo não exercício reiterado em determinado


lapso de tempo. É um dos conceitos parcelares da boa-fé objetiva (eticidade), assim como
a surrectio (ao mesmo tempo em que o credor perde um direito pela supressão –
supressio – surge um direito a favor do devedor, por meio da surreição ou surgimento).

8- TEMPO DO PAGAMENTO

O pagamento não pode ser exigido antes do prazo estipulado, salvo nos casos em
que a lei determina o pagamento antecipado. Não pode o credor reclamar o pagamento
no último dia do prazo, pois o devedor dispõe desse dia por inteiro.

As obrigações puras, com estipulação de data para o pagamento, devem ser


solvidas nessa ocasião, sob pena de inadimplemento e constituição do devedor em mora.
A falta de pagamento constitui o devedor em mora de pleno direito, segundo a máxima
“dies interpellat pro homine”, ou seja, não há necessidade de interpelação ou notificação
do devedor, pois a chegada do vencimento corresponde a uma interpelação.

Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu


termo, constitui de pleno direito em mora o devedor.

A regra de que a obrigação deve ser cumprida no vencimento não é absoluta,


sofrendo duas exceções:

1ª) Antecipação do vencimento. Art. 333 CC:

Art. 333. Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de


vencido o prazo estipulado no contrato ou marcado neste Código:
I - no CASO DE FALÊNCIA do devedor, ou de concurso de credores;
II - se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em
execução por outro credor;
III - se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do
débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a
reforçá-las.
Parágrafo único. Nos casos deste artigo, se houver, no débito,
solidariedade passiva, não se reputará vencido quanto aos outros
devedores solventes.

2ª) Pagamento antecipado quando o prazo tiver sido estabelecido em favor do


devedor. Nos contratos, o prazo se presume estabelecido em favor do devedor. Desse
modo, pode o devedor antecipar o pagamento. Mas se o prazo for estipulado em favor do
credor, pode este recusar o recebimento antecipado do pagamento.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

IMPORTANTE!!! Nos contratos regidos pelo CDC, o credor é obrigado a receber o


pagamento com redução proporcional dos juros (art. 57, §2º).

De acordo com o art. 331, salvo disposição legal em contrário, não tendo sido
ajustada época para o pagamento, pode o credor exigi-lo imediatamente.

IMPORTANTE!!! Não havendo prazo avençado, é necessário que o devedor seja


informado do propósito do credor de receber, uma vez que, nas obrigações sem
estipulação de prazo para o seu cumprimento, a mora do devedor só começa depois da
interpelação judicial ou extrajudicial.
Art. 397.
Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante
interpelação judicial ou extrajudicial.

De acordo com o art. 134 CC, nem sempre os atos sem prazo são exequíveis desde
logo, ou desde que feita a interpelação, pois há hipóteses em que a execução deverá ser
feita em lugar diverso ou depender de tempo.
Art. 134. Os negócios jurídicos entre vivos, sem prazo, são exeqüíveis
desde logo, salvo se a execução tiver de ser feita em lugar diverso ou
depender de tempo.

Proclama o art. 332 que as obrigações condicionais cumprem-se na data do


implemento da condição, cabendo ao credor a prova de que deste teve ciência o
devedor. Este dispositivo se refere à condição suspensiva, pois a resolutiva não impede a
aquisição do direito desde logo.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

CAPÍTULO II
DO PAGAMENTO EM CONSIGNAÇÃO

1- CONCEITO

Conceito: É a faculdade que o devedor tem de depositar em juízo (ou em


estabelecimento bancário) o valor ante a recusa ao recebimento por parte do credor,
dúvida quanto a quem pagar ou dificuldade em pagar. Tem por objetivo de liberar o
devedor da obrigação. É meio indireto de pagamento. Pagar é um dever e também um
direito do devedor. Tem natureza declaratória.

A consignação é instituto de direito material e processual. O CC menciona as


hipóteses e o CPC o modo de fazê-lo.

A consignação pode ser judicial ou extrajudicial.


Art. 334. Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito
judicial ou em estabelecimento bancário da coisa devida, nos casos e
forma legais.

2- FATOS QUE AUTORIZAM A CONSIGNAÇÃO

O rol do art. 335 é “numerus abertus”. Rol exemplificativo.

Art. 335. A consignação tem lugar:


I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento,
ou dar quitação na devida forma; (recusa injusta)
II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e
condição devidos; (caso de dívida quesível)

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado


ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil;
IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do
pagamento;
V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento.

3- REQUISITOS DE VALIDADE

Preceitua o art. 336 do CC que, “Para que a consignação tenha força de


pagamento, será mister concorram, em relação às pessoas, ao objeto, modo e tempo,
todos os requisitos sem os quais não é válido o pagamento.” Deve ser feito pelo devedor
em relação ao verdadeiro credor sob pena de não valer, salvo se ratificado por ele ou se
reverter em seu proveito. (art. 304 e 308 CC)

Quanto ao objeto, exige-se a integralidade do depósito. O modo e o tempo será o


convencionado no contrato (não poderá pagar de modo diverso e em tempo diverso do
que foi estipulado no contrato). A mora do devedor não impede a consignação se ainda
não provocou consequências irreversíveis, ou seja, se a mora for relativa (não será cabível
nas hipóteses de mora absoluta).

4- REGULAMENTAÇÃO

Proclama o art. 337: O depósito requerer-se-á no lugar do pagamento, cessando,


tanto que se efetue, para o depositante, os juros da dívida e os riscos, salvo se for julgado
improcedente. Sendo quesível a dívida (regra geral), o pagamento efetua-se no
domicilio do devedor; sendo portável, no domicilio do credor.

Os artigos 341 e 342 dizem:

Art. 341. Se a coisa devida for imóvel ou corpo certo que deva ser
entregue no mesmo lugar onde está, poderá o devedor citar o credor
para vir ou mandar recebê-la, sob pena de ser depositada.

Art. 342. Se a escolha da coisa indeterminada competir ao credor,


será ele cito para esse fim, sob cominação de perder o direito e de ser
depositada a coisa que o devedor escolher; feita a escolha pelo devedor,
proceder-se-á como no artigo antecedente.

De acordo com os arts. 338 e 339, enquanto o credor não declarar que aceita o
depósito, ou não o impugnar, poderá o devedor requerer o levantamento, pagando as
respectivas despesas, e subsistindo a obrigação para todas as consequências de direito. E
julgado procedente o depósito, o devedor já não poderá levantá-lo, embora o credor
consinta, senão de acordo com os outros devedores e fiadores. Procura-se resguardar o
interesse destes últimos, pois a procedência da ação extingue a obrigação,
acarretando a exoneração dos devedores solidários.

Art. 338. Enquanto o credor não declarar que aceita o depósito, ou não
o impugnar, poderá o devedor requerer o levantamento, pagando as
respectivas despesas, e subsistindo a obrigação para todas as
conseqüências de direito.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

Art. 339. Julgado procedente o depósito, o devedor já não poderá


levantá-lo, embora o credor consinta, senão de acordo com os outros
devedores e fiadores.

CAPÍTULO III
DO PAGAMENTO COM SUB-ROGAÇÃO

1- CONCEITO E ESPÉCIES

Sub-rogação é a substituição de uma pessoa (pessoal), ou de uma coisa (real), por


outra pessoa ou por outra coisa, em uma relação jurídica.

IMPORTANTE!!! A sub-rogação constitui uma EXCEÇÃO à regra de que o


pagamento extingue a obrigação. A sub-rogação promove apenas uma
ALTERAÇÃO SUBJETIVA da obrigação, mudando apenas o credor. A extinção
obrigacional ocorre apenas em relação ao credor, que fica satisfeito. Nada se altera para o
devedor, que deverá pagar ao terceiro sub-rogado no crédito.

O efeito translativo pode advir da vontade das partes (convencional, art. 347) ou
da lei (legal, art. 346)

Art. 346. A sub-rogação opera-se, de PLENO DIREITO, em favor:


I - do credor que paga a dívida do devedor comum;
II - do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor
hipotecário, bem como do terceiro que efetiva o pagamento para
não ser privado de direito sobre imóvel;
III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou
podia ser obrigado, no todo ou em parte.

Art. 347. A sub-rogação é CONVENCIONAL:


I - quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe
transfere todos os seus direitos; (espécie de cessão de crédito)

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II - quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para


solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado
nos direitos do credor satisfeito.

IMPORTANTE!!! Terceiro interessado é o que pode ter seu patrimônio afetado caso a
dívida, pela qual também se obrigou, não seja paga. Sub-roga-se automaticamente nos
direitos do credor.

IMPORTANTE!!! O TERCEIRO NÃO INTERESSADO que paga a dívida em seu


próprio nome NÃO se sub-roga nos direitos do credor, mas tem o direito de ser
reembolsado. Se o terceiro não interessado pagar a dívida em nome do devedor, esse
pagamento é considerado mera liberalidade, um favor, não havendo direito ao
reembolso.

2- EFEITOS

#Quais são os principais efeitos do pagamento com sub-rogação?


Efeito liberatório (libera o credor primitivo) e translativo (transferência dos direitos do
credor primitivo para quem pagou).

IMPORTANTE!!! O terceiro que se sub-rogou não recebe só o crédito, RECEBE


TAMBÉM PRIVILÉGIOS, AÇÕES E GARANTIAS EXISTENTES (isso em se
tratando da sub-rogação legal, uma vez que, em se tratando de sub-rogação
convencional, as partes podem estipular o que será transferido).

IMPORTANTE!!! Portanto, na sub-rogação legal o efeito translativo não se opera só


sobre o crédito, mas sim sobre todos os direitos do credor primitivo.

#Existe limite na sub-rogação convencional?


Na sub-rogação legal, quem pagou só se sub-roga na quantia que desembolsou (art.
350). Na sub-rogação convencional a doutrina tem aplicado por analogia o art. 350.

Art. 350. Na sub-rogação legal (e na convencional, por analogia) o


sub-rogado não poderá exercer os direitos e as ações do credor, senão
até à soma que tiver desembolsado para desobrigar o devedor.

IMPORTANTE!!! Na cessão de crédito não existe esse limite. Na cessão de crédito,


que tem natureza especulativa, um sujeito pode comprar um crédito cujo valor
corresponda a 100 por 50, caso em que poderá cobrar os 100. Isso não ocorre na sub-
rogação.

IMPORTANTE!!! O pagamento com sub-rogação também não se confunde com a


novação subjetiva, por lhe faltar o animus novandi.

Dispõe o art. 351: “O credor originário, só em parte reembolsado, terá


preferência ao sub-rogado, na cobrança da dívida restante, se os bens do devedor
não chegarem para saldar inteiramente o que a um e outro dever.” Assim o credor
originário terá preferência em relação ao credor sub-rogado, pois este, por ter efetuado o
pagamento parcial, se sub-rogou apenas em parte do crédito.

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CAPÍTULO IV
DA IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO

1- CONCEITO

A imputação do pagamento consiste na indicação ou determinação da dívida


a ser quitada, quando uma pessoa se encontra obrigada por dois ou mais débitos da
mesma natureza, a um só credor, e efetua pagamento insuficiente para saldar todas
elas.
Art. 352. A pessoa obrigada por dois ou mais débitos da MESMA
NATUREZA, a um só credor, tem o direito de indicar a qual deles
oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos.

Esse direito sofre, entretanto, algumas limitações:

a) O devedor NÃO pode imputar pagamento em dívida ainda não vencida se o prazo se
estabeleceu em benefício do credor (CC art. 133). A imputação do pagamento em dívida
não vencida não se fará sem o consentimento do credor.
b) O devedor não pode imputar o pagamento de dívida cujo montante seja superior ao
valor ofertado (art. 314 CC).
c) O devedor não pode, ainda, pretender que o pagamento seja imputado no capital,
quando há juros vencidos, “salvo estipulação em contrário, ou se o credor passar a
quitação por conta do capital”.

2- REQUISITOS

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a) pluralidade de obrigações
b) identidade de credor e devedor
c) fungibilidade entre as prestações (mesma natureza)
d) dívidas devem ser LÍQUIDAS (certa quanto à sua existência e determinada quanto ao
seu objeto) e VENCIDAS (exigível).
e) suficiência da prestação para quitar pelo menos uma dívida pretendida.

#No silêncio do contrato, a quem cabe a escolha da imputação?


No silêncio, quem escolhe qual dívida está sendo paga é o devedor. Caso ele não impute,
quem escolhe é o credor.

De acordo com o art. 353 do CC, “se o devedor não imputou, a escolha cabe ao
credor; se o devedor aceitar a quitação de uma delas, não poderá mais reclamar, a não ser
se provar violência ou dolo.”

Art. 353. Não tendo o devedor declarado em qual das dívidas líquidas e
vencidas quer imputar o pagamento, se aceitar a quitação de uma delas, não
terá direito a reclamar contra a imputação feita pelo credor, salvo provando
haver ele cometido violência ou dolo.

Obs.: a interpretação do art. 353 deve ser restritiva, não abrangendo os demais vícios.

Se nem o devedor nem o credor imputaram, quem escolhe é a lei (arts. 354 e 355).
Art. 354. Havendo capital e juros, o pagamento imputar-se-á primeiro
nos juros vencidos, e depois no capital, salvo estipulação em
contrário, ou se o credor passar a quitação por conta do capital.

Art. 355. Se o devedor não fizer a indicação do art. 352, e a quitação


for omissa quanto à imputação, esta se fará nas dívidas líquidas e
vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e
vencidas ao mesmo tempo, a imputação far-se-á na mais onerosa.

1º) Paga-se a que VENCEU PRIMEIRO.


2º) Se as dívidas venceram ao mesmo tempo, paga-se a MAIS ONEROSA (não é
necessariamente a mais cara, é a mais onerosa. Ex.: a que rende juros mais alto).
3º) Havendo dívida de capital e juros, o pagamento IMPUTAR-SE-Á PRIMEIRO NOS
JUROS.

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CAPÍTULO V
DA DAÇÃO EM PAGAMENTO

1- CONCEITO

A dação em pagamento é um acordo de vontade entre credor e devedor, por meio


do qual o primeiro concorda em receber do segundo, para exonerá-lo da dívida,
prestação diversa da que lhe é devida. É forma de pagamento indireto em que há um
acordo privado entre os sujeitos da relação obrigacional (é necessário consentimento
expresso do credor, o que caracteriza o instituto como um negócio jurídico
bilateral).

Art. 356. O credor pode consentir em receber prestação diversa da


que lhe é devida.

IMPORTANTE!!! Não confundir com a novação, por meio da qual se cria nova dívida
(não se tem pagamento propriamente dito na novação).

A dação em pagamento pode ocorrer em qualquer tipo de obrigação (dar, fazer e


não fazer), e não somente na de dar. Pode inclusive misturá-las.

IMPORTANTE!!! Art. 359 do CC: Se ocorrer evicção quanto ao bem dado em dação,
restaura-se a obrigação primitiva.

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Art. 359. Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento,


restabelecer-se-á a obrigação primitiva, ficando sem efeito a quitação
dada, ressalvados os direitos de terceiros.

Dispõe o art. 358 que se for título de crédito a coisa dada em pagamento, a
transferência importará em cessão. Nesse caso, o fato deverá ser notificado ao cedido (art.
290 CC).

Prescreve ainda o art. 357 que determinado o preço da coisa dada em pagamento,
as relações entre as partes regular-se-ão pelas normas do contrato de compra e venda.

CAPÍTULO VI
DA NOVAÇÃO

1- CONCEITO E REQUISITOS

Novação é a criação de uma obrigação nova com o intuito de extinguir a


obrigação primitiva. É a substituição de uma dívida por outra, extinguindo-se a
primeira. Traduz forma de pagamento indireto que tem por principal efeito extinguir a
dívida primitiva, com todos os acessórios e garantias, sempre que não houver estipulação
em contrário (art. 364 do CC).

IMPORTANTE!!! A novação não produz, como o pagamento, a satisfação imediata do


crédito, sendo um modo extintivo não obrigatório. NÃO EXISTE, PORTANTO,
NOVAÇÃO LEGAL. Toda novação decorre de manifestação de vontade, ou seja,
tem natureza contratual.

São requisitos da novação:

a) Existência de obrigação anterior. É necessário que seja válida a obrigação a ser


novada. A obrigação simplesmente anulável pode ser confirmada pela novação.
Art. 367. Salvo as obrigações simplesmente anuláveis, não podem
ser objeto de novação obrigações nulas ou extintas.

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b) Criação de obrigação nova substancialmente distinta da primitiva (mera


renegociação de dívida não é novação).

Obs.: Se a nova obrigação for nula, a novação será ineficaz, subsistindo a obrigação
primitiva. Se a nova obrigação for anulável, e essa vier a ser anulada, se restabelece a
obrigação primitiva.

Portanto, desfeita a obrigação nova, a anterior não desaparece (será, por


outro lado, restaurada/restabelecida).

c) Animus novandi (intenção de novar). A intenção de novar deve resultar de modo


claro e inequívoco das circunstâncias que envolvem a estipulação, UMA VEZ QUE A
NOVAÇÃO IMPORTA RENÚNCIA AO CRÉDITO E AOS DIREITOS
ACESSÓRIOS QUE O ACOMPANHAM. Na dúvida, a novação não se presume.

Art. 361. Não havendo ânimo de novar, expresso ou tácito mas


inequívoco, a segunda obrigação confirma simplesmente a primeira.

IMPORTANTE: O ânimo de novar pode ser expresso ou mesmo tácito, mas sempre
inequívoco. Não havendo tal elemento imaterial ou subjetivo, a segunda obrigação
simplesmente confirma a primeira.

Obs.: As obrigações condicionais poderão ser novadas, podendo a nova obrigação daí
resultante ser pura e simples ou condicional.

2- ESPÉCIES

Tipos de novação:

a) Novação objetiva: aquela em que há alteração da prestação (não confundir com dação
em pagamento). A novação objetiva (ou real) é forma de pagamento indireto por
substituição da dívida, gerando a extinção de todos os acessórios. Havendo evicção da
coisa dada, a prestação primitiva, em tais casos, não revive. Por outro lado, a dação em
pagamento não gera extinção dos acessórios e, no caso de perda da coisa dada, retornará a
prestação primitiva.

b) Novação subjetiva: pode ocorrer nos dois polos da demanda (ativa ou passiva). Na
novação subjetiva ativa não há responsabilidade do antigo credor pela existência do
crédito nem pela solvência do devedor, SALVO MÁ-FÉ. São requisitos da novação
subjetiva ativa: o consentimento do devedor perante o novo credor, o consentimento do
antigo credor que renuncia ao crédito e a anuência do novo credor que aceita a promessa
do devedor. Na novação subjetiva passiva ocorre a substituição do devedor. Se o novo
devedor for insolvente, não terá o credor que o aceitou ação regressiva contra o primeiro,
salvo se este obteve de má-fé a substituição.

Art. 360. Dá-se a novação:


I - quando o devedor contrai com o credor nova dívida para extinguir e
substituir a anterior; (objetiva)
II - quando novo devedor sucede ao antigo, ficando este quite com o
credor; (subjetiva passiva)

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III - quando, em virtude de obrigação nova, outro credor é substituído


ao antigo, ficando o devedor quite com este. (subjetiva ativa)

#O devedor que saiu, na novação subjetiva passiva, precisa consentir?


Não necessariamente. Ter em mente que a novação subjetiva passiva pode ser por
delegação (com consentimento do devedor primitivo, pois é ele que indicará uma terceira
pessoa para assumir o seu débito, havendo concordância do credor) ou por expromissão
(sem o consentimento do antigo devedor, mas com o consentimento do credor).
Art. 362. A NOVAÇÃO por substituição do devedor pode ser
efetuada independentemente de consentimento deste (NOVAÇÃO
SUBJETIVA POR EXPROMISSÃO).

A insolvência do novo devedor corre por conta e risco do credor, que o


aceitou. Não tem direito à ação regressiva contra o antigo devedor, até porque o
principal objetivo da novação é extinguir a dívida anterior. Entretanto, a ação
regressiva é cabível no CASO DE MÁ FÉ (o devedor esconde maliciosamente a
insolvência do novo devedor).

Art. 363. Se o novo devedor for insolvente, não tem o credor, que o
aceitou, ação regressiva contra o primeiro, SALVO se este obteve
por má-fé a substituição.

De acordo com o art. 365, “operada a novação entre o credor e um dos devedores
solidários, somente sobre os bens do que contrair a nova obrigação subsistem as
preferências e garantias do crédito novado.” Ou seja, operada a novação entre o credor e
apenas um dos devedores solidários, os demais, que não contraíram a nova obrigação,
ficam por este fato exonerados. Extinta a obrigação antiga, extingue-se também a
solidariedade, que só se manterá se for convencionada na última obrigação. Da
mesma forma “importa exoneração do fiador a novação feita sem seu consenso com o
devedor principal.”

Art. 366. Importa exoneração do fiador a novação feita sem seu


consenso com o devedor principal.

4- EFEITOS

a) O principal efeito consiste na extinção da primitiva obrigação, substituída por


outra.

b) A NOVAÇÃO EXTINGUE OS ACESSÓRIOS E GARANTIAS DA DÍVIDA,


sempre que não houver estipulação em contrário.
Art. 364. A novação extingue os acessórios e garantias da dívida,
sempre que não houver estipulação em contrário. Não aproveitará,
contudo, ao credor ressalvar o penhor, a hipoteca ou a anticrese, se
os bens dados em garantia pertencerem a terceiro que não foi parte
na novação.

c) A nova obrigação não tem nenhuma vinculação com a anterior, senão a de uma
força extintiva.

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IMPORTANTE: Em 2017, publicou-se a afirmação de número 10 na Edição n. 83 da


ferramenta Jurisprudência em Teses do STJ, segundo a qual, “é possível a revisão de
contratos bancários extintos, novados ou quitados, ainda que em sede de embargos à
execução, de maneira a viabilizar, assim, o afastamento de eventuais ilegalidades, as
quais não se convalescem” (Direito Bancário). Como precedentes, são citados, entre
outros: Ag. Int. no REsp. 1.634.568/PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, 3.ª Turma, j.
09.03.2017, DJE 22.03.2017; Ag. Int. no REsp 1.224.012/SP, Rel. Min. Raul Araújo,
Quarta Turma, j. 22.11.2016, DJE 12.12.2016 e REsp 1.412.662/RS, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, 4.ª Turma, j. 01.09.2016, DJE 28.09.2016). Trata-se, pois, de
relativização da regra segundo a qual a nova obrigação não teria vinculação alguma
com a anterior. Parte-se, para tanto, da análise do instituto da novação com vistas
ao princípio da função social dos contratos e das obrigações.

CAPÍTULO VII
DA COMPENSAÇÃO

1- CONCEITO

Compensação é o meio de extinção de obrigação entre pessoas que são, ao


mesmo tempo, credor e devedor uma da outra. Acarreta a extinção de duas obrigações
cujos credores são, simultaneamente, devedores um do outro. É modo indireto de
extinção das obrigações, que depende de duas manifestações de vontade, pelo menos
(trata-se de negócio jurídico). Constitui aspecto material do princípio da economia,
fundado na ordem pública.

Art. 368. Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor


uma da outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se
compensarem.

2- ESPÉCIES

A compensação pode ser, como visto, total (quando as duas dívidas têm o mesmo
valor) ou parcial (quando as dívidas têm valor diverso). Pode ser, também, legal,
convencional e judicial.

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a) Compensação legal: é a que decorre da lei. Opera-se automaticamente, de pleno


direito. No mesmo instante em que o segundo crédito é constituído, extinguem-se as duas
dívidas. O juiz só reconhece sua configuração depois de provocado, NÃO podendo
declará-la de ofício.

b) Compensação convencional: é a que resulta de um acordo de vontades, incidindo em


hipóteses que não se enquadram nas de compensação legal. Dispensa alguns requisitos da
compensação legal.

c) Compensação judicial: é a determinada pelo juiz nos casos em que se acham


presentes os pressupostos judiciais.

3- REQUISISTOS DA COMPENSAÇÃO LEGAL

a) Fungibilidade entre as prestações, da mesma natureza (dinheiro com dinheiro,


café com café).

Não basta que as prestações tenham por objeto coisas fungíveis. É necessário que
sejam fungíveis entre si. A restrição vai além:

Art. 370. Embora sejam do mesmo gênero as coisas fungíveis, objeto


das duas prestações, não se compensarão, verificando-se que diferem
na qualidade, quando especificada no contrato.

Ex.: Se uma das dívidas for de café “Tipo A” (qualidade especificada), só se compensará
com outra dívida também de café “Tipo A”.

b) Dívidas líquidas e vencidas (não pode compensar dívida futura).


Art. 369. A compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas
e de coisas fungíveis (fungíveis entre si).

Quanto à liquidez, somente se compensam dívidas cujo valor seja certo e


determinado, expresso por uma cifra.

É exigido também que estejam vencidas. Nas obrigações condicionais, só é


permitida compensação após seu implemento. Nas obrigações a termo, somente após o
vencimento deste. Mas os prazos de favor, embora consagrados pelo uso geral, não
obstam a compensação legal (art. 372 CC).

c) Reciprocidade de obrigações: existência de obrigações e créditos recíprocos, entre as


mesmas partes. Abre-se exceção em favor do fiador (art. 371, 2ª parte, do CC).

Art. 371. O devedor somente pode compensar com o credor o que este
lhe dever; mas o fiador pode compensar sua dívida com a de seu
credor ao afiançado.

4- DÍVIDAS NÃO COMPENSÁVEIS

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Em regra, a diversidade de causas não impede a compensação de dívidas. Se


ambas são da mesma natureza (em dinheiro, líquidas e vencidas), compensam-se ainda
que a causa de uma delas seja o mútuo e a da outra uma compra e venda, por exemplo.
Art. 373. A diferença de causa nas dívidas NÃO impede a
compensação, exceto:
I - se provier de esbulho, furto ou roubo;
II - se uma se originar de comodato, depósito ou alimentos;
III - se uma for de coisa não suscetível de penhora.

Também não se admite a compensação em prejuízo a direito de terceiro.

Art. 380. Não se admite a compensação em prejuízo de direito de


terceiro. O devedor que se torne credor do seu credor, depois de
penhorado o crédito deste, não pode opor ao exeqüente a compensação,
de que contra o próprio credor disporia.

IMPORTANTE!!! Não pode ser compensada dívida prescrita com dívida não
prescrita (isso para a compensação legal), porque tais dívidas não são exigíveis (bem
como dívida de jogo, obrigação natural).

Obs.: Arts. 378 e 379.

Art. 378. Quando as duas dívidas não são pagáveis no mesmo lugar,
não se podem compensar sem dedução das despesas necessárias à
operação.

Art. 379. Sendo a mesma pessoa obrigada por várias dívidas


compensáveis, serão observadas, ao compensá-las, as regras
estabelecidas quanto à imputação do pagamento.

CAPÍTULO VIII
DA CONFUSÃO

1- CONCEITO

Ocorre quando uma pessoa for, ao mesmo tempo, credora ou devedora de si


mesma.

Art. 381. Extingue-se a obrigação, desde que na mesma pessoa se


confundam as qualidades de credor e devedor.

Ex.: Pai emprestou 100 reais ao filho. Se o pai morre, a herança, que compreende o
crédito, vai ao filho. Ocorrerá, pois, a confusão.

IMPORTANTE!!! Na compensação, há dualidades de sujeitos, com créditos e débitos


opostos, que se extinguem reciprocamente, até onde se defrontarem. Na confusão,
reúnem-se em uma só pessoa as duas qualidades, de credor e devedor, ocasionando a
extinção da obrigação.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

2- ESPÉCIES

a) confusão total ou própria: atinge toda a dívida.

b) parcial: irá atingir apenas parte da dívida.

Art. 382. A confusão pode verificar-se a respeito de toda a dívida, ou


só de parte dela.

De acordo com o art. 383 do CC, “a confusão operada na pessoa do credor ou


devedor solidário só extingue a obrigação até a concorrência da respectiva parte no
crédito, ou na dívida, subsistindo quanto ao mais a solidariedade.”

3- EFEITOS

A confusão atinge não só a obrigação principal como também os acessórios,


como a fiança. Mas a recíproca não é verdadeira.

Cessando, porém, a confusão, para logo se restabelece, com todos os acessórios,


a obrigação anterior.

Art. 384. Cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos


os seus acessórios, a obrigação anterior.

CAPÍTULO IX
REMISSÃO DA DÍVIDA

1- CONCEITO

Remissão é o perdão da dívida concedido pelo credor ao devedor. Não se


confunde com remição (escrita com ‘ç’) que, para o Direito Civil, significa resgate.

Art. 385. A remissão da dívida, ACEITA pelo devedor, extingue a


obrigação, mas sem prejuízo de terceiro.

#Remissão exige aceitação?


SIM, necessita do consentimento do devedor (lembrar: remissão = perdão. No direito
penal o perdão do ofendido necessita de aceitação).

2- NATUREZA JURÍDICA

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

Embora seja espécie do gênero renúncia (essa é unilateral), a remissão se reveste


de caráter convencional, porque DEPENDE DE ACEITAÇÃO. O remitido pode recusar
o perdão e efetuar o pagamento. É, portanto, negócio jurídico bilateral. É, ademais,
forma de pagamento indireto.

3- ESPÉCIES

a) Total ou parcial: pode recair sobre a dívida inteira – caso da remissão total – ou parte
dela, denominada remissão parcial.
Art. 388. A remissão concedida a um dos co-devedores extingue a
dívida na parte a ele correspondente; de modo que, ainda
reservando o credor a solidariedade contra os outros, já lhes não
pode cobrar o débito sem dedução da parte remitida.

b) Expressa ou tácita: poderá ser firmada por escrito – remissão expressa – ou por
conduta tácita do credor, prevista em lei e incompatível com a preservação do direito
obrigacional, a exemplo da situação em que o credor entrega o título da obrigação ao
devedor, quando tiver sido celebrado por escrito particular.

Art. 386. A devolução voluntária do título da obrigação, quando por


escrito particular, prova desoneração do devedor e seus co-obrigados,
se o credor for capaz de alienar, e o devedor capaz de adquirir.

TÍTULO IV
DO INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS

1- OBRIGATORIEDADE DOS CONTRATOS

De acordo com o secular princípio da obrigatoriedade dos contratos (pacta sunt


servanda), as relações contratuais devem ser cumpridas. O não cumprimento acarreta
responsabilidade por perdas e danos.

Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas


e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais
regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

A responsabilidade civil é patrimonial. A indenização por perdas e danos tem


por finalidade recompor a situação patrimonial da parte lesada pelo inadimplemento
contratual. Deve a indenização ser proporcional ao prejuízo efetivamente sofrido.

Art. 391. Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens


do devedor.

IMPORTANTE!!! Nas obrigações negativas o devedor é havido por inadimplente


desde o dia em que executou o ato de que se devia abster (art. 390 CC).

A redação do art. 389 do CC pressupõe o não cumprimento voluntário da


obrigação, ou seja, descumprimento culposo. Em princípio, pois, todo inadimplemento
presume-se culposo. Incumbe ao inadimplente elidir tal presunção, demonstrando a
ocorrência de fortuito ou força maior (art. 393 CC).

De acordo com a visão clássica, o inadimplemento em sentido genérico pode


ocorrer em dois casos específicos: a) Inadimplemento relativo, parcial ou mora – é a
hipótese em que há apenas um descumprimento parcial da obrigação, que ainda pode ser
cumprida; b) Inadimplemento total ou absoluto – é a hipótese em que a obrigação não
pode mais ser cumprida, tornando-se inútil ao credor.

IMPORTANTE: A doutrina atual tem discorrido também sobre a violação positiva do


contrato e o cumprimento inexato ou defeituoso como formas de inadimplemento da
obrigação ou do contrato. A partir dessa visão, haveria violação positiva dos contratos
nos casos de cumprimento inexato ou imperfeito da obrigação, a exemplo dos vícios
redibitórios que atingem a coisa (arts. 441 a 446 do CC). Ainda dentro de violação
positiva do contrato, surge a quebra dos deveres anexos ou laterais de conduta,
decorrentes da boa-fé objetiva.

2- CONTRATOS BENÉFICOS E ONEROSOS

De acordo com o art. 392 CC, “nos contratos benéficos, responde por simples
culpa o contratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça.
Nos contratos onerosos, responde cada uma das partes por culpa, salvo as exceções
previstas em lei.”

Contratos benéficos são aqueles em que apenas um dos contratantes aufere


benefício ou vantagem. Nesses contratos, “responde por simples culpa o contratante, a
quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça.”

Como a culpa grave ao dolo se equipara, pode-se afirmar que responde apenas
por dolo ou culpa grave aquele a quem o contrato não favorece.

Nos contratos onerosos, respondem os contratantes tanto por dolo ou por culpa,
salvo exceções previstas em lei.

Obs.: A culpa, mesmo que levíssima, obriga a indenizar.

3- CASO FORTUITO OU FORÇA MAIOR

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

O caso fortuito e a força maior constituem excludentes da responsabilidade


civil, contratual ou extracontratual, pois rompem o nexo de causalidade.
Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso
fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles
responsabilizado.
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato
necessário, cujo efeito não era possível evitar ou impedir.

IMPORTANTE!!! É lícito às partes, porém, por cláusula expressa, convencionar que a


indenização será devida em qualquer hipótese de inadimplemento contratual, ainda que
decorrente de fortuito ou força maior.

A lei não faz distinção. Em geral, porém, a expressão caso fortuito é empregada
para designar fato ou ato alheio à vontade das partes, como greve, motim etc. A força
maior é denominação utilizada, em regra, para os fenômenos naturais como raio,
tempestade etc.

O traço característico das referidas excludentes é a inevitabilidade.

Os requisitos para a configuração do caso fortuito ou força maior são:

a) O fato deve ser necessário, não determinado por culpa do devedor.


b) O fato deve ser superveniente e inevitável.
c) O fato deve ser irresistível, fora do alcance do poder humano.

CAPÍTULO II
DA MORA

1- CONCEITO E INTRODUÇÃO

Mora é o RETARDAMENTO ou o IMPERFEITO CUMPRIMENTO da


obrigação.

Art. 394. Considera-se em mora o devedor que não efetuar o


pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e
forma que a lei ou a convenção estabelecer.

Configura-se não só quando há retardamento, mas também quando este se dá na


data estipulada, mas de modo imperfeito, ou seja, em lugar ou forma diversa da
convencionada. Basta que um dos requisitos do art. 394 esteja presente. A mora pode
decorrer também da infração à lei, como na prática de ato ilícito.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

Art. 398. Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o


devedor em mora, desde que o praticou.

IMPORTANTE!!! Na mora ainda há utilidade e possibilidade no cumprimento da


prestação (trata-se de inadimplemento relativo).

Para ver se ainda há utilidade e possibilidade no cumprimento da prestação deve


se levar em conta critérios objetivos, com base na boa-fé objetiva e não apenas critérios
subjetivos do credor (“agora eu não quero mais”, circunstância que, por si só, não retira a
utilidade da prestação).

Ocorre inadimplemento absoluto se a prestação tornar-se inútil ao credor. Este


pode enjeitá-la e exigir perdas e danos (art. 395, parágrafo único, do CC).

Art. 395
Parágrafo único. Se a prestação, devido à mora, se tornar inútil ao
credor, este poderá enjeitá-la, e exigir a satisfação das perdas e
danos.

Obs.: O devedor responde por perdas e danos em havendo mora ou em havendo


inadimplemento absoluto.

IMPORTANTE!!! Tem decidido o STJ que a cobrança de encargos e parcelas indevidas


ou abusivas, desde que essenciais e durante o período de normalidade contratual (ou seja,
antes da configuração da mora) impede a caracterização da mora do devedor. No sentido:
A cobrança de encargos ilegais, durante o período da normalidade contratual,
descaracteriza (afasta) a configuração da mora do devedor. STJ. 2ª Seção. EREsp
775765-RS, Rel. Min. Massami Uyeda, julgados em 8/8/2012. Por outro lado, a
abusividade de encargos acessórios do contrato não descaracteriza a mora. STJ. 2ª
Seção. REsp 1639259-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 12/12/2018
(recurso repetitivo) (Info 639). São exemplos de encargos acessórios: seguro de proteção
financeira, ressarcimento de despesas com pré-gravame, comissão de correspondente
bancário, dentre outras. São encargos essenciais: juros remuneratórios.

2- MORA DO DEVEDOR

Para que o devedor tenha responsabilidade pelo seu atraso, este deve ser culposo.

Art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa,
mais juros, atualização dos valores monetários segundo índices oficiais
regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

Art. 399. O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação,


embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior,
se estes ocorrerem durante o atraso; SALVO se provar isenção de culpa,
ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse
oportunamente desempenhada.

A mora do devedor pode ser:

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a) Mora ex re: mora automática. É aquela que não exige interpelação do devedor (dies
interpellat pro homine). É o simples decurso do tempo que irá constituir em mora o
devedor. Além de ser certo o momento do cumprimento da obrigação, esta também deve
ser positiva (dar ou fazer) e líquida.

Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu


termo, constitui de pleno direito em mora o devedor.

Obs.: Não existe mora de obrigação negativa, pois a mora se confunde com o próprio
inadimplemento.

IMPORTANTE!!! Acarreta também a mora ex re a prática de um ato ilícito. Dispõe a


sumula 54 do STJ que “os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso
de responsabilidade extracontratual”.

Art. 398. Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o


devedor em mora, desde que o praticou.

b) Mora ex persona ou mora pendente: é aquela que exige interpelação do devedor


para constituí-lo em mora. Depende de providência do credor.
Art. 397
Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante
interpelação judicial ou extrajudicial.

Ex.: Comodato sem prazo determinado.

Obs.: Mora presumida ou mora irregular: aquela que está prevista no art. 398,
referente às obrigações provenientes de ato ilícito. Para a melhor corrente trata-se de
obrigação de não fazer (não causar dano), em que não existe mora.

2.1 REQUISITOS

a) Exigibilidade da prestação, ou seja, vencimento de dívida líquida e certa.


b) Inexecução culposa.
c) Constituição em mora (somente quando ex persona).

2.2 EFEITOS

a) Responsabilização por todos os prejuízos causados ao credor.


b) Perpetuação da obrigação. Art. 399 CC.
Art. 399. O devedor em mora responde pela impossibilidade da
prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de
força maior, SE ESTES OCORREREM DURANTE O ATRASO;
salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda
quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada.

Em relação à isenção de culpa prevista no artigo acima, a única escusa admissível


é a de que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse desempenhada em
tempo.

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IMPORTANTE: Conforme o enunciado 361, aprovado na IV Jornada de Direito Civil


do CJF: “O adimplemento substancial decorre dos princípios gerais contratuais, de
modo a fazer preponderar a função social do contrato e o princípio da boa-fé objetiva,
balizando a aplicação do art. 475”. Pela teoria do adimplemento substancial (substancial
performance), em hipóteses em que a obrigação tiver quase toda cumprida, não caberá a
extinção do contrato, mas apenas outros efeitos jurídicos, visando sempre à manutenção
da avença. Dessa forma, se a parte devedora cumpriu quase tudo que estava previsto no
contrato (ex: eram 48 prestações, e ela pagou 46), então, neste caso, a parte credora não
terá direito de pedir a resolução do contrato porque, como faltou muito pouco, o
desfazimento do pacto seria uma medida exagerada, desproporcional, injusta e violaria a
boa-fé objetiva. Segundo o STJ, são requisitos para aplicação da teoria do
adimplemento substancial: a) a existência de expectativas legítimas geradas pelo
comportamento das partes; b) o pagamento faltante há de ser ínfimo em se
considerando o total do negócio; c) deve ser possível a conservação da eficácia do
negócio sem prejuízo ao direito do credor de pleitear a quantia devida pelos meios
ordinários. STJ. 4ª Turma. REsp 1581505/SC, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira,
julgado em 18/08/2016.

3- MORAS DO CREDOR (MORA ACCIPIENDI/CREDITORIS/


CREDENDI)

Hipótese em que há o atraso do credor em receber a prestação.

Tem como requisitos:

a) Vencimento da obrigação
b) Oferta da prestação
c) Recusa injustificada em receber
d) Constituição em mora mediante consignação em pagamento

IMPORTANTE!!! Na mora do credor não se exige prova de culpa pelo atraso, sendo
suficiente o simples atraso do credor.

3.1 EFEITOS DA MORA DO CREDOR

Preceitua o art. 400 do CC:


Art. 400. A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à
responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o credor a
ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a
recebê-la pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor
oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua
efetivação.

a) Afasta do devedor isento de dolo a responsabilidade pela perda ou deterioração da


coisa
b) Gera para o credor a obrigação de indenizar o devedor pelas despesas que tiver com
a conservação da coisa.
c) Obriga o credor a pagar o preço mais favorável ao devedor caso ocorra variação
(para mais ou para menos) desta.

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3.2 MORA SIMULTÂNEA

Ocorre quando ambas as partes incidem em mora. TAIS MORAS SE


ANULAM, ou seja, ninguém responde perante ninguém. Nenhuma das partes pode
exigir perdas e danos. Ocorrerá, na hipótese, uma espécie de compensação de atrasos.

Quando sucessivas, permanecem os efeitos pretéritos de cada uma. Os danos


que a mora de cada uma das partes haja causado não se cancelam pela mora
superveniente da outra.

#O que é purgação ou emenda da mora?


É a possibilidade conferida à parte em atraso de neutralizar os efeitos da mora
(deixar de estar em mora). Por parte do devedor, este deverá cumprir a prestação e
indenizar os prejuízos decorrentes. Por parte do credor, este se oferece para receber o
pagamento e indenizar as consequências do seu atraso.

A purgação só poderá ser feita pelo devedor se a prestação ainda for proveitosa ao
credor.

Art. 401. Purga-se a mora:


I - por parte do devedor, oferecendo este a prestação mais a importância
dos prejuízos decorrentes do dia da oferta;
II - por parte do credor, oferecendo-se este a receber o pagamento e
sujeitando-se aos efeitos da mora até a mesma data.

IMPORTANTE!!! Não se confunde purgação com cessação da mora. A cessação não


depende de um comportamento ativo do contratante moroso, destinado a sanar sua falta
ou omissão. Decorre, na realidade, da extinção da obrigação. Produz efeitos pretéritos
(ex tunc), ou seja, o devedor não terá de pagar a dívida vencida. A purgação da mora só
produz efeitos futuros (ex nunc), não apagando os pretéritos, já produzidos.

CAPÍTULO III
DAS PERDAS E DANOS

Conceito: constituem o equivalente em dinheiro suficiente para indenizar o


prejuízo suportado pelo credor, em virtude do inadimplemento do contrato pelo devedor,
ou da prática, por este, de um ato ilícito.

IMPORTANTE!!! Dispõe o art. 402 do CC que, “salvo as exceções expressamente


previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele
efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.” Compreendem, então, os
DANOS EMERGENTES e os LUCROS CESSANTES.
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Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e


danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente
perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.

Obs.: O dano emergente não pode ser presumido. Deve ser certo e atual.

De acordo com o art. 403: Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as
perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela
DIRETO E IMEDIATO, sem prejuízo do disposto na lei processual. Trata-se da
TEORIA DOS DANOS DIRETOS E IMEDIATOS, de forma que o devedor
responde tão só pelos danos que causou, não pelos resultantes de causas estranhas.

Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas


e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito
dela DIRETO E IMEDIATO, sem prejuízo do disposto na lei
processual.

Proclama o art. 404:


Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em
dinheiro, serão pagos com atualização monetária segundo índices
oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e
honorários de advogado, sem prejuízo da pena convencional.
Parágrafo único. Provado que os juros da mora não cobrem o prejuízo,
e não havendo pena convencional, pode o juiz conceder ao credor
indenização suplementar.

IMPORTANTÍSIMO!!! O art. 405 diz que SE CONTAM OS JUROS DE MORA


DESDE A CITAÇÃO INICIAL. Com a exceção das obrigações provenientes de ato
ilícito, pois nestas, considera-se o devedor em mora, desde que o praticou o ato (art. 398
CC).

Art. 405. Contam-se os juros de mora DESDE A CITAÇÃO


INICIAL.

IMPORTANTE: Na responsabilidade civil extracontratual, se houver a fixação de


pensionamento mensal, os juros moratórios deverão ser contabilizados a partir do
vencimento de cada prestação, e não da data do evento danoso ou da citação. Não se
aplica ao caso a súmula 54 do STJ, que somente tem incidência para condenações que são
fixadas em uma única parcela. Se a condenação for por responsabilidade extracontratual,
mas o juiz fixar pensão mensal, neste caso, sobre as parcelas já vencidas incidirão juros
de mora a contar da data em que venceu cada prestação. Sobre as parcelas vincendas, em
princípio não haverá juros de mora, a não ser que o devedor atrase o pagamento, situação
na qual os juros irão incidir sobre a data do respectivo vencimento. STJ. 4ª Turma. REsp
1270983-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 8/3/2016 (Info 580).

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CAPÍTULO IV
DOS JUROS LEGAIS

1- CONCEITO

Juros traduzem o rendimento de capital. São considerados frutos civis da coisa.


Representam o pagamento pela utilização de capital alheio. Integram a classe das coisas
acessórias.

2- ESPÉCIES

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a) Compensatórios: também chamados de remuneratórios, são os devidos como


compensação pela utilização de capital pertencente a outrem. Resultam da utilização
consentida de capital alheio.

b) Moratórios: são os incidentes em caso de retardamento de sua restituição ou


descumprimento de obrigação. Podem ser convencionais ou legais.

c) Podem ser também simples (calculados sobre o valor do capital inicial) ou compostos
(juros sobre juros).

CAPÍTULO V
DA CLÁUSULA PENAL

1- CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA

Cláusula penal é OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA pela qual se estipula pena ou


multa destinada a evitar o inadimplemento da obrigação principal ou o
retardamento de seu cumprimento. É também denominada pena convencional ou
multa contratual.

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Art. 408. Incorre de pleno direito o devedor na cláusula penal, desde


que, culposamente, deixe de cumprir a obrigação ou se constitua em
mora.

A cláusula penal tem natureza de um pacto secundário e acessório, pois sua


existência e eficácia dependem da obrigação principal.
Art. 409. A cláusula penal estipulada conjuntamente com a obrigação,
ou em ato posterior, pode referir-se à inexecução completa da
obrigação, à de alguma cláusula especial ou simplesmente à mora.

Art. 412. O VALOR DA COMINAÇÃO IMPOSTA NA


CLÁUSULA PENAL NÃO PODE EXCEDER O DA
OBRIGAÇÃO PRINCIPAL.

Art. 413. A penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz


se a obrigação principal tiver sido cumprida em parte , ou se o
montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em
vista a natureza e a finalidade do negócio.

2- FUNÇÕES DA CLÁUSULA PENAL

A cláusula penal tem dupla função: a) atua como meio de coerção (intimidação),
para compelir o devedor a cumprir a obrigação, e assim não ter de pagar a multa; e ainda
b) como prefixação das perdas e danos (ressarcimento) devidos em razão do
inadimplemento do contrato.

IMPORTANTE!!! Com a sua estipulação os contratantes não precisam comprovar o


prejuízo e a liquidação deste. A cláusula penal pressupõe a existência de culpa e a
prefixação de seu valor.

Art. 416. Para exigir a pena convencional, NÃO é necessário que o


credor alegue prejuízo.

E de acordo com o parágrafo único, ainda que o prejuízo exceda ao previsto na


cláusula penal, não pode o credor exigir indenização suplementar se assim não foi
convencionado. Se o tiver sido, a pena vale como mínimo da indenização, competindo
ao credor provar o prejuízo excedente. O devedor não pode alegar que a cláusula penal
seja excessiva, e nem o credor alegar que seja ela insuficiente.

Art. 416
Parágrafo único. Ainda que o prejuízo exceda ao previsto na cláusula
penal, não pode o credor exigir indenização suplementar se assim
não foi convencionado. Se o tiver sido, a pena vale como mínimo da
indenização, competindo ao credor provar o prejuízo excedente.

IMPORTANTE!!! A cláusula penal prefixa o dano da culpa contratual. Se houver


dano extracontratual, este poderá ser pleiteado independentemente da cláusula penal.

3- VALOR DA CLÁUSULA PENAL

Sua redução pode ocorrer em dois casos:

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Art. 412. O valor da cominação imposta na cláusula penal NÃO


PODE EXCEDER O DA OBRIGAÇÃO PRINCIPAL.

Se tal acontecer, o juiz declarará a ineficácia somente do excesso, persistindo o


resto.

E de acordo com o art. 413 CC:


Art. 413. A penalidade deve ser reduzida eqüitativamente pelo juiz se
a obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o
montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em
vista a natureza e a finalidade do negócio.

IMPORTANTE!!! Essa disposição é de ordem pública, podendo a redução ser


determinada de ofício pelo juiz. Ademais, a cláusula penal deverá ser reduzida nas
hipóteses mencionadas, retirando do juiz qualquer facultatividade na redução, quando
necessária. No sentido: Constatado o caráter manifestamente excessivo da cláusula
penal contratada, o magistrado deverá, independentemente de requerimento do
devedor, proceder à sua redução. Fundamento: CC/Art. 413. A penalidade deve ser
reduzida equitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver sido cumprida em parte,
ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a
natureza e a finalidade do negócio. STJ. 4ª Turma. REsp 1.447.247-SP, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, julgado em 19/04/2018 (Info 627).

4- ESPÉCIES DE CLÁUSULA PENAL

A cláusula penal pode ser compensatória e moratória.

a) Compensatória: quando estipulada para a hipótese de total inadimplemento da


obrigação.

Art. 410. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de total


inadimplemento da obrigação, esta converter-se-á em alternativa a benefício
do credor.

Quando compensatória, abre-se para o credor a alternativa de:

I) Pleitear o valor da pena compensatória.


II) Postular o ressarcimento das perdas e danos, arcando com o ônus de provar o prejuízo.
III) Exigir o cumprimento da prestação.

Não é possível a cumulação de pedidos. A expressão “benefício do credor”


significa que a escolha de uma das alternativas compete ao credor e não ao devedor.

b) Moratória: quando destinada a assegurar o cumprimento de outra cláusula


determinada, ou evitar o retardamento (mora).

Sendo moratória, terá o credor o arbítrio de exigir a satisfação da pena


cominada, juntamente com o desempenho da obrigação principal.
Art. 411. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de mora, ou
em segurança especial de outra cláusula determinada, terá o credor

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o arbítrio de exigir a satisfação da pena cominada, juntamente com


o desempenho da obrigação principal.

IMPORTANTE!!! A mora pode caracterizar-se não só quando há o retardamento no


cumprimento da obrigação, mas também quando esta é cumprida de modo diverso do
convencionado (art. 394 CC).

IMPORTANTE: A cláusula penal moratória tem a finalidade de indenizar pelo


adimplemento tardio da obrigação, e, em regra, estabelecida em valor equivalente
ao locativo, afasta-se sua cumulação com lucros cessantes. STJ. 2ª Seção. REsp
1498484-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/05/2019 (recurso repetitivo)
(Info 651). Vale ressaltar que a decisão acima explicada representa uma alteração de
entendimento. Isso porque o STJ entendia que: A cláusula penal moratória não era
estipulada para compensar o inadimplemento nem para substituir o adimplemento.
Assim, a cominação contratual de uma multa para o caso de mora não interferia com a
responsabilidade civil. Logo, não havia óbice a que se exigisse a cláusula penal moratória
juntamente com o valor referente aos lucros cessantes. Nesse sentido: STJ. 3ª Turma.
REsp 1355554-RJ, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 6/12/2012 (Info 513).

5- CLÁUSULA PENAL E INSTITUTOS AFINS (SEMELHANÇAS E


DIFERENÇAS)

a) Perdas e danos: ambas são reduzidas a determinada soma em dinheiro e visam


ressarcir os prejuízos do credor decorrente do inadimplemento do devedor. A diferença é
que nas perdas e danos o valor é fixado pelo juiz, e na cláusula penal o valor é
antecipadamente arbitrado pelas próprias partes.
b) Multa simples (cláusula penal pura): a multa simples não tem relação com o
inadimplemento contratual, sendo estipulada para casos de infração de certos deveres.
Ex.: Multa de trânsito.
c) Multa penitencial: ao contrário da cláusula penal que é estabelecida em benefício do
credor, a multa penitencial é estabelecida contratualmente, em favor do devedor, que terá
a opção de cumprir a prestação devida ou pagar a multa.
d) Arras penitenciais: ambas tem natureza acessória e por finalidade garantir o
adimplemento da obrigação. As arras, todavia, diversamente da cláusula penal, facilitam
o descumprimento da avença, não podem ser reduzidas pelo juiz e são pagas por
antecipação, constituindo na entrega de dinheiro ou qualquer outro objeto.

6- CLÁUSULA PENAL E PLURALIDADE DE DEVEDORES

Quando a obrigação é indivisível e há pluralidade de devedores, basta que um só a


infrinja para que se torne exigível a cláusula penal. Do culpado, poderá a cláusula
penal ser reclamada por inteiro. Mas dos demais codevedores só poderão ser
cobradas as suas respectivas cotas (art. 414 CC)

E de acordo com o parágrafo único, aos não culpados fica reservada a ação
regressiva contra aquele que deu causa à aplicação da pena.

Art. 414. Sendo indivisível a obrigação, todos os devedores, caindo em


falta um deles, incorrerão na pena; mas esta só se poderá demandar
integralmente do culpado, respondendo cada um dos outros somente
pela sua quota.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

Parágrafo único. Aos não culpados fica reservada a ação regressiva


contra aquele que deu causa à aplicação da pena

E dispõe o art. 415 que “quando a obrigação for divisível, só incorre na pena o
devedor ou o herdeiro do devedor que a infringir, e proporcionalmente à sua parte na
obrigação.”

CAPÍTULO VI
DAS ARRAS OU SINAL

1- CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA

Sinal ou arras é a quantia ou coisa entregue por um dos contraentes ao outro,


como confirmação do acordo de vontade e princípio de pagamento.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

As arras têm natureza acessória, pois dependem da obrigação principal, e


caráter real, pois se aperfeiçoam com a entrega do dinheiro ou de coisa fungível, por um
dos contraentes ao outro.

2- ESPÉCIES

a) Confirmatórias: a principal função das arras é confirmar o contrato, que se torna


obrigatório após a sua entrega.

Art. 418. Se a parte que deu as arras não executar o contrato, poderá
a outra tê-lo por desfeito, retendo-as; se a inexecução for de quem
recebeu as arras, poderá quem as deu haver o contrato por desfeito, e
exigir sua devolução mais o equivalente, com atualização monetária
segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e honorários
de advogado.

Art. 419. A parte inocente pode pedir indenização suplementar, se


provar maior prejuízo, valendo as arras como taxa mínima. Pode,
também, a parte inocente exigir a execução do contrato, com as perdas
e danos, valendo as arras como o mínimo da indenização.

IMPORTANTE: Na hipótese de inexecução do contrato, revela-se inadmissível a


cumulação das arras com a cláusula penal compensatória, sob pena de ofensa ao
princípio do non bis in idem. Ex.: João celebrou contrato de promessa de compra e
venda com uma incorporadora imobiliária para aquisição de um apartamento. João
comprometeu-se a pagar 80 parcelas de R$ 3 mil e, em troca, receberia um apartamento.
No início do contrato, João foi obrigado a pagar R$ 20 mil a título de arras. No contrato,
havia uma cláusula penal compensatória prevendo que, em caso de inadimplemento por
parte de João, a incorporadora poderia reter 10% das prestações que foram pagas por ele.
Trata-se de cláusula penal compensatória. Suponhamos que, após pagar 30 parcelas, João
tenha parado de pagar as prestações. Neste caso, João perderá apenas as arras, mas não
será obrigado a pagar também a cláusula penal compensatória. Não é possível a
cumulação da perda das arras com a imposição da cláusula penal compensatória. Logo,
decretada a rescisão do contrato, fica a incorporadora autorizada a apenas reter o valor
das arras, sem direito à cláusula penal. STJ. 3ª Turma. REsp 1617652-DF, Rel. Min.
Nancy Andrighi, julgado em 26/09/2017 (Info 613).

b) Penitenciais: são assim denominadas quando as partes convencionam o direito de


arrependimento.

Art. 420. Se no contrato for estipulado o direito de arrependimento


para qualquer das partes, as arras ou sinal terão função unicamente
indenizatória. Neste caso, quem as deu perdê-las-á em benefício da
outra parte; e quem as recebeu devolvê-las-á, mais o equivalente. Em
ambos os casos NÃO haverá direito a indenização suplementar.

Obs.: A jurisprudência estabeleceu algumas hipóteses em que devolução do sinal deve ser
pura e simples, e não em dobro: a) havendo acordo nesse sentido, b) havendo culpa de
ambos os contratantes, e c) se o cumprimento do contrato não se conclui em razão de
fortuito ou outro motivo estranho à vontade das partes.

3- FUNÇÕES

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020

São três as funções das arras:

a) Confirmar o contrato (arras confirmatórias).


b) Servir de prefixação das perdas e danos quando convencionado o direito de
arrependimento (arras penitenciais).
c) Constituir princípio de pagamento (entrada).

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