2020 R3 CLM 41 - R3 Oncologia 2 - Tumores Urológicos
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2020 R3 CLM 41 - R3 Oncologia 2 - Tumores Urológicos
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INTRODUÇÃO
RENAIS
Estadiamento
Tratamento
As principais síndromes genéticas associadas são: von
Hippel-Lindau e esclerose tuberosa.
Doença localizada (até estágio III): nefrectomia radical
(considerar parcial em tumores pequenos, nefropatas ou
Patologia
portadores de rim único).
O carcinoma de células claras é o subtipo mais comum e Doença avançada (estágio IV ou III irressecável):
encerra mau prognóstico. Existem outros subtipos: nefrectomia citorredutora (aumenta sobrevida),
papilífero, cromofóbico, ducto coletor. imunoterapia (IL-2 ou IFN-alfa), novas "drogas-alvo (ex.:
sorafenibe, sunitinibe), novos imunoterápicos. O
Quadro clínico carcinoma de células claras não é quimiossensível.
QUADRO CLÍNICO
SAIBA MAIS
A maioria dos pacientes é assintomática ao diagnóstico, sendo
Síndromes genéticas que cursam com câncer de células diagnosticada a partir de um exame de imagem realizado por
renais outro motivo.
A principal é a doença de von Hippel-Lindau ou angiomatose Por outro lado, a tríade clássica do hipernefroma (hematúria +
cerebelorretiniana familiar, uma condição autossômica massa palpável + dor no flanco) é encontrada em apenas 10%
dominante cujo gene, chamado de VHL, foi identificado em dos casos. Anemia ferropriva pode ser observada em pacientes
1993. Cursa com hemangioblastomas retinianos, cerebelares com perda urinária importante, assim como anemia
e espinhais, que podem se associar a hipernefroma, inflamatória devido à presença do tumor. Mas, veja que
feocromocitoma e cistos benignos em diversos órgãos (rins, curioso: alguns pacientes apresentam eritrocitose por secreção
fígado, pâncreas, epidídimo). Tanto os hemangioblastomas aumentada de EPO. Os carcinomas de células renais são muito
quanto os hipernefromas podem produzir eritropoetina, associados a síndromes paraneoplásicas, merecendo
causando policitemia vera. Uma característica marcante é a destaque:
presença de câncer renal frequentemente multifocal, com > Hipercalcemia: secreção de proteína relacionada ao
alto risco de recidiva.
paratormônio (PTHrP);
> Hipertensão: por trombose (renovascular) ou por tumor
Esclerose tuberosa: caracterizada pela tríade lesões cutâneas
secretor de renina;
(adenomas sebáceos, máculas hiperpigmentadas...),
convulsões e retardo mental. Exames de neuroimagem > Eritrocitose: por secreção de eritropoetina;
podem acusar a presença de nódulos subependimários > Síndrome de Stauffer: disfunção hepática não associada a
calcificados. Ocorre aumento da incidência de ependimomas
metástases. Melhora após a ressecção do tumor.
e astrocitomas infantis, além de tumores de células renais e
tecidos moles.
Outra complicação que pode ocorrer em 10% dos pacientes é o
desenvolvimento de varicocele escrotal, principalmente à
Síndrome de Birt-Hogg-Dubé: caracterizada pela tríade
esquerda, relacionada a um trombo tumoral.
lesões cutâneas (fibrofoliculomas em cabeça e pescoço),
pneumotórax espontâneo (devido à presença de múltiplos
cistos pulmonares) e tumores renais, sendo causada por TABELA 1: SINAIS E SINTOMAS ASSOCIADOS AO CÂNCER
mutações do gene BHD. DE CÉLULAS RENAIS.
Manifestações Frequência
Síndrome de Reed: caracterizada pela presença de
leiomiomas cutâneos, uterinos e câncer de células renais, VHS aumentada 55%
geralmente agressivo e com metastatização precoce. Parece Hematúria 40%
estar associado à mutação da fumarato-hidratase (enzima do
ciclo de Krebs). Dor no flanco 40%
Anemia 33%
Perda ponderal 33%
Febre 20%
Hipertensão 20%
Hipercalcemia 5%
Eritrocitose 3%
Neuromiopatia 3%
Amiloidose 2%
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TRATAMENTO ADJUVANTE
O carcinoma de células renais é naturalmente resistente à
quimioterapia convencional e à radioterapia, não havendo
nenhum valor em terapias adjuvantes.
CIRURGIA
TRATAMENTO
CIRURGIA
Um fato interessante que difere o carcinoma renal da grande Além disso, radioterapia paliativa pode ser tentada para alívio
maioria dos tumores é que a ressecção do tumor primário está dos sintomas relacionados às metástases ósseas e cerebrais,
indicada mesmo em paciente com câncer metastático! Tal porém nem sempre observamos resposta. A lesão óssea é a
conduta é adotada pela grande maioria dos oncologistas e que responde melhor.
cirurgiões oncológicos, baseada em dois artigos, do NEJM e do
Lancet, que mostraram aumento de sobrevida nos pacientes
que tiveram o tumor primário ressecado. A este procedimento TABELA 2: PRINCIPAIS DROGAS CITADAS NO CAPÍTULO.
chamamos de nefrectomia citorredutora, que deve ser
realizada preferencialmente antes do tratamento
farmacológico. Outro benefício da nefrectomia é a redução da
dor causada pela invasão tumoral local.
TRATAMENTO SISTÊMICO
Uma vez que a doença é refratária aos quimioterápicos
tradicionais, o tratamento sistêmico classicamente consistia na
imunoterapia com interleucina-2 intravenosa ou interferon-alfa
subcutâneo, eficazes, porém muito tóxicas.
a) I.
b) III.
c) I e II.
d) II e III.
Epidemiologia
Estadiamento
Fatores de risco: tabagismo, exposição a hidrocarbonetos pacientes com invasão da camada muscular da bexiga (T
aromáticos policíclicos, alguns corantes, fenacetina e ≥ 2). O grande divisor de águas no Ca de bexiga é o T2
ciclofosfamida. (doença invasiva).
d) Idade avançada.
SAIBA MAIS
T = Tumor
CIRURGIA
O esquema padrão de quimioterapia neoadjuvante e
adjuvante é o M-VAC (Metotrexato, Vinblastina, Doxorrubicina
e Cisplatina) a cada quatro semanas, num total de três ciclos
antes da cirurgia e três ciclos depois da cirurgia, aumenta o
tempo livre de doença, com discreto aumento da sobrevida em
cinco anos. Outro esquema descrito é o CG (Cisplatina +
Gencitabina). Dessa forma, a quimioterapia é recomendada na
maioria dos protocolos para tratamento do câncer de bexiga
invasivo.
DOENÇA METASTÁTICA
Mesmo em estágio IV, é possível obter remissão completa com
a quimioterapia associada ou não à ressecção cirúrgica de
doença residual (esta apenas quando houver um sítio de
metástase e sua completa ressecção for possível). Estudos do
MSKCC (Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, EUA) revelaram
33% de sobrevida em cinco anos nos casos em que foi possível
a ressecção completa.
ACOMPANHAMENTO
Epidemiologia
Risco baixo (PSA < 10, Gleason < 6, T ≤ 2a): prostatectomia
radical ou radioterapia ou vigilância ativa.
Câncer mais comum em homens no Brasil.
INCA não recomenda rastreio, assim como a maioria das a estimativa do INCA é de 65.840 novos casos diagnosticados.
sociedades! Algumas ainda recomendam... A última estatística de mortalidade por Ca de próstata no Brasil
é de 2018, quando foram registrados 15.576 óbitos.
Quando for indicado, os exames para rastreio são toque
retal e PSA anuais. Em caso de alteração: biópsia O que você pode deduzir a partir de tais dados é que o câncer
transretal guiada por US ou RM. de próstata mata pouco em relação à sua incidência, ou seja,
possui letalidade inferior à maioria dos outros cânceres. Isso
Estadiamento se deve a uma série de fatores, como a indolência do tumor (é
uma neoplasia de crescimento lento) e a sua incidência em
homens idosos, geralmente portadores de outras
comorbidades que causam sua morte antes do Ca de próstata.
Mais de 95% dos tumores são adenocarcinomas, geralmente
FATORES DE RISCO multifocais e se desenvolvem na zona periférica. Outros
subtipos incluem o carcinoma de células escamosas,
> Idade avançada.
transicionais, carcinossarcomas e tumores neuroendócrinos.
> História familiar: risco duas vezes maior se um parente de Metástases para a próstata são raras. A lesão pré-maligna do
primeiro grau tem a doença — 40% das neoplasias precoces câncer de próstata é chamada de Neoplasia Intraepitelial
são hereditárias. Prostática (NIP). Uma importante medida da agressividade do
> Genética. tumor se faz pelo grau histológico e o cálculo do escore de
Gleason.
> Etnia negra: incidência duas vezes maior que em brancos,
diagnosticada em estágios mais avançados e com maior
mortalidade.
GRAU HISTOLÓGICO (ESCORE DE
> Fatores dietéticos: dieta gordurosa e de carnes vermelhas
GLEASON)
defumadas.
A biópsia da próstata divide o tumor em cinco graus:
Obs.: vasectomia e hiperplasia prostática benigna não parecem (1) Glândulas uniformes e pequenas com mínimas alterações
elevar o risco de câncer de próstata. nucleares, bem diferenciadas;
(2) Glândulas de tamanho médio, ainda separadas por estroma;
(3) Variação importante do tamanho e da organização das glândulas
O ALUNO PERGUNTA com infiltração do estroma e tecidos vizinhos;
(4) Presença importante de células atípicas com grande infiltração
Existe alguma forma de prevenir o câncer de próstata? de tecidos vizinhos;
(5) Folhas de células cancerosas indiferenciadas.
Não confunda esta pergunta com diagnóstico precoce
ou rastreamento. O que se está perguntando é se Em seguida, identificamos as duas formas histológicas mais
existe alguma conduta que reduza a incidência do comuns da peça e as somamos, formando um escore (escore
tumor. Neste caso, alguns trabalhos mostraram que a de Gleason). Este escore, portanto, vai de 2 a 10 pontos, sendo
finasterida e a dudasterida (inibidores da 5-alfa- acima de 7 dito de alto risco.
redutase) reduziram discretamente o desenvolvimento
do câncer de próstata. Devemos, então, prescrever esta
Mais recentemente, o Gleason tem sido também agrupado em
medicação para prevenção da neoplasia em pacientes
cinco grade groups. De acordo com essa classificação, você
de risco? Ainda não, pois restam dúvidas sobre algumas
também pode perceber que um Gleason 7 (4 + 3) é pior que
complicações, como a possibilidade de aparecimento
um Gleason 7 (3 + 4), por exemplo, já que no primeiro caso a
de neoplasias de alto grau (para alguns autores, apenas
forma histológica mais comum da peça é o Gleason 4 (e em
um artefato histológico). Além disto, a finasterida pode
segundo lugar o Gleason 3), enquanto no último caso a relação
levar a perda da libido e disfunção erétil, o que
é invertida.
dificultaria seu uso em pacientes assintomáticos.
Outros fatores protetores potenciais incluem vitamina
E, selênio, retinoides (tomate), estatinas e TABELA 1
isoflavonoides.
PATOLOGIA
Um papel importante na gênese do câncer de próstata tem
sido atribuído à inflamação, sendo que boa parte das
neoplasias cresce ao redor de uma área conhecida como
atrofia inflamatória proliferativa (PIA). O passo inicial seria uma
hipermetilação do gene GSTP1, responsável por detoxificar
substâncias carcinógenas.
QUADRO CLÍNICO
Nas fases iniciais, a maioria é assintomática, já que o tumor, ao Em resumo, no Brasil, a conduta do INCA é não rastrear!
contrário da hiperplasia prostática benigna, apresenta Contudo, algumas referências bibliográficas de prova ainda
crescimento periférico e não central. Nas fases avançadas trazem informações recomendando o rastreamento. Além
aparecem os sintomas obstrutivos e irritativos. Podem ocorrer disso, é um pouco difícil definir o que será cobrado com
hematúria, hematospermia por invasão vesical/uretral e exatidão já que diferentes sociedades especializadas no
edema de membros inferiores por compressão de linfonodos assunto exibem opções distintas de rastreamento, e eles se
pélvicos. contradizem. O Harrison, desde a sua penúltima edição (2015),
não recomenda diretamente o rastreamento, mas cita que a
O adenocarcinoma de próstata envia metástase Associação Americana de Urologia sugere que a decisão seja
principalmente para os ossos (geralmente lesões blásticas) e tomada em conjunto com os pacientes entre 55 e 69 anos
raramente para vísceras (pulmão, fígado, pleura, peritôneo e (mesma recomendação dada pela USPSTF em 2017). Como
sistema nervoso central). Uma observação interessante é que, podemos ver, essa é uma decisão que deve ser discutida entre
embora raro, pode haver acometimento do SNC sem passar médico e paciente.
por outros órgãos (disseminação através do plexo venoso de
Batson). VIDEO_05_R3_CLM_41
SAIBA MAIS
pacientes mais jovens (< 60 anos), esta faixa de PSA já > T1c: tumor identificado por biópsia por
poderia ser indicação de biópsia, mesmo sem usar os agulha (por exemplo, devido a PSA
refinamentos do PSA. Os defensores desta prática optam por elevado).
uma conduta mais agressiva, considerando a expectativa de
T2 = Tumor palpável confinado à próstata.
vida mais elevada neste grupo.
Gleason alto (maior ou igual a 8), pois tais tumores vesícula seminal.
M1 = Metástase à distância.
A maior parte dos diagnósticos de câncer de próstata é feita
em tumores T1c, isto é, pela concentração elevada do PSA em
um paciente com tumor ainda não palpável. > M1a: linfonodos não regionais.
> M1b: osso.
T = Tumor
DOENÇA LOCALIZADA
É a doença que não mostra metástases depois do
estadiamento por exames de imagem quando necessário (TC
e/ou RM pélvica + cintilografia óssea). Existem diversas
abordagens propostas para o manuseio da doença localizada.
Colocamos, a seguir, a abordagem mais utilizada pelas
referências oncológicas, que se assemelha à abordagem
proposta pelo Cecil.
TABELA 4
Figura 1.
TABELA 3
BAIXO RISCO
São três opções disponíveis de tratamento: prostatectomia
radical, radioterapia ou vigilância ativa.
PROSTATECTOMIA RADICAL
Pode ser realizada via perineal, retropúbica e laparoscópica.
Novas técnicas cirúrgicas que procuram poupar estruturas RESIDÊNCIA MÉDICA R3 – 2019
neurovasculares periprostáticas vêm sendo estudadas com (CLÍNICA MÉDICA)
bons resultados. A cirurgia é recomendada para pacientes com HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE GOIÁS - HCG
expectativa de vida > 10 anos, tendo como principais efeitos
adversos impotência (25–89%) e incontinência urinária (2– Leia o caso clínico a seguir. Paciente de 82 anos,
assintomático, apresentando aumento progressivo e lento do
47%). A impotência é imediata após a cirurgia, tendendo a
melhorar com o tempo (4–6 meses). O inverso ocorre com a PSA, atingindo 4,2 ng/dl e próstata de 32 g e nódulo
radioterapia, na qual a impotência é mais tardia. Os principais prostático de 1,0 cm em lobo direito à ultrassonografia
pélvica. Apresenta ainda ICC estágio C e DM controlada com
fatores ligados à recuperação da ereção foram: idade mais
jovem, qualidade da ereção antes da cirurgia e ausência de hipoglicemiante oral e dieta. Foi submetido à biópsia
A vigilância ativa consiste na monitorização sob intervalos cuidadosa", mas, na falta de resposta melhor, ficaremos com a opção
regulares com PSA, toque retal, RM e/ou biópsia prostática D. Gabarito: alternativa D.
iniciado em caso de sintomas. Estaria indicada apenas para androgênica) durante seis meses nos pacientes submetidos à
pacientes com expectativa de vida de dez anos ou menos. O radioterapia (iniciando dois meses antes da RT). Veremos mais
PSA deve ser dosado anualmente. detalhes sobre esse tratamento a seguir, quando estudarmos
a doença metastática.
RISCO ELEVADO
PROSTATECTOMIA RADICAL OU
RADIOTERAPIA
Nesse caso temos duas opções:
Radioterapia + privação androgênica neoadjuvante por Como os exames de imagem e a cintilografia óssea nem
quatro meses + privação androgênica adjuvante (total de três sempre deixam isto muito bem claro, podemos utilizar
anos); ou alguns métodos para definir esta resposta. Um deles é
avaliar a biópsia realizada antes da prostatectomia. Outra
Prostatectomia radical. possibilidade seria fazer uma cintilografia com anticorpos
anti-PSA marcados ou ainda biópsia da anastomose
uretrovesical. O PET-TC com PSMA é uma opção mais
Nesses pacientes, particularmente naqueles com doença
moderna, porém ainda pouco disponível no nosso meio, que
localmente avançada (T3/T4), a RT parece uma opção de
utiliza um marcador com maior especificidade para as
tratamento superior à cirurgia. Isso se deve às baixas taxas de
células do câncer de próstata, sendo especialmente útil na
cura e ao maior risco de complicações, em decorrência da
recidiva bioquímica.
extensão da cirurgia. Na maioria dos serviços, o padrão para
esses pacientes é a RT associada à terapia hormonal.
Falam a favor de doença persistente local: margens
cirúrgicas livres de doença, baixo escore de Gleason, longo
SAIBA MAIS intervalo entre a cirurgia e a elevação do PSA, tempo elevado
para os níveis de PSA dobrarem e PSA baixo (< 1 ng/ml) antes
Como fazer o controle após tratamento de ser submetido a um segundo tratamento, doença que era
"curável" na época de cirurgia, ausência de metástases aos
exames de imagem.
Após a prostatectomia radical, espera-se que o PSA fique
indetectável dentro de 4–6 semanas. Ele deve ser solicitado
seis semanas após o procedimento e então a cada seis Perceba que o tratamento do câncer de próstata é um
meses durante dois anos. Se o PSA permanecer detectável, grande jogo de xadrez em que a todo momento estamos
devemos pensar em doença persistente. Considera-se como evitando procedimentos desnecessários e com efeitos
falha do tratamento um valor acima de 0,2 a 0,4 ng/ml adversos importantes em quem não vai se beneficiar dele.
repetido em três exames com o intervalo mínimo de 15 dias
entre eles. Ou seja, se o PSA permanece em valores mínimos Se definida persistência local, qual é o tratamento?
e volta a subir, podemos dizer que ocorreu uma "recidiva
bioquímica" da doença. Nesse caso, está indicada a terapia de resgate que depende
basicamente do primeiro tratamento a que o paciente foi
Para a radioterapia, a situação é um pouco diferente. Nesse submetido:
caso, como ainda permanecem algumas células prostáticas,
mesmo não malignas, continua havendo produção de PSA. Se operou primeiro, deve fazer agora radioterapia;
Alguns autores sugerem pontos de corte mais altos (< 1
Se irradiou primeiro, agora deve operar (o que tecnicamente
ng/ml), valores que não aumentam ou biópsia negativa dois
pode ser bem difícil, devido à fibrose de estruturas locais).
anos após o tratamento como controle pós-radioterapia.
Outros autores utilizam o "critério de Phoenix", que
considera o aumento do PSA mais de 2 ng/ml acima do E se definida persistência por provável doença metastática?
"nadir" como critério de recidiva bioquímica da doença. Por
exemplo, se após a RT o PSA mais baixo observado foi de 1 Então o paciente operou ou irradiou a lesão, mas continua
ng/ml, este é o nadir do PSA; assim consideramos "recidiva com níveis ascendentes de PSA e nenhuma metástase foi
bioquímica" qualquer exame subsequente acima de 3 ng/ml. detectada. Estamos provavelmente diante de metástases
Outros autores também consideram recidiva bioquímica pós- subclínicas. A questão agora é: iniciar logo ou não a terapia
RT a elevação do PSA ≥ 0,5 ng/ml acima do "nadir" em dois hormonal de privação androgênica? A princípio, ela não é
exames sucessivos (por exemplo, um paciente com nadir de obrigatória já que o tempo médio de progressão para
1 ng/ml que apresenta PSA 1,5 e depois 2). metástases clínicas é de oito anos. Nesse caso, devemos
voltar novamente ao nosso jogo de xadrez e avaliar alguns
Bom, então o PSA está elevado após a primeira tentativa fatores. Gleason ≥ 8; tempo de recorrência < 2 anos;
terapêutica... O que fazer? duplicação do PSA < 10–12 meses sugerem evolução mais
rápida e necessidade de iniciar precocemente a terapia.
Temos que saber que praticamente a metade dos homens
tratados com prostatectomia ou radioterapia apresentarão
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recidiva da doença, demonstrada por elevação nos níveis
séricos do PSA. A grande dúvida nesse momento é definir
entre duas situações: se a persistência da doença é local ou
metastática.
DOENÇA LOCALMENTE
AVANÇADA
Não há uma definição universal para este estágio. Mas, como o Outro efeito esperado com essas drogas é a piora transitória
nome já diz, seria uma doença que ultrapassa a cápsula dos sintomas na primeira semana (pico nos primeiros três
prostática, acomete linfonodos pélvicos, mas não chega a dias), devido à liberação de LH e testosterona. Este efeito é
enviar metástases à distância. Elas são tratadas como a doença chamado de flare. Por isso, se realmente precisarmos utilizar a
localizada de alto risco. droga em pacientes com sintomas obstrutivos significativos,
dor relacionada ao câncer ou acometimento da medula
espinhal, devemos associar uma medicação com efeito
DOENÇA AVANÇADA antiandrogênico periférico (ciproterona, flutamida,
bicalutamida, nilutamida), iniciando cerca de duas semanas
A exemplo do Ca de mama, aqui tem grande valor a terapia antes da primeira aplicação do análogo do GnRH e mantendo
hormonal. Baseando-se no fato de que as células prostáticas durante quatro semanas. A função desses fármacos é
necessitam de testosterona para se multiplicar, a redução dos "bloquear" os receptores de testosterona, mas não sua
níveis deste hormônio permitiria uma redução também no síntese. Portanto, quando administrados isoladamente, os
crescimento das células neoplásicas. Esse processo é níveis de testosterona permanecem os mesmos ou se elevam.
conhecido como "privação androgênica" ou simplesmente Comparados com os agonistas do GnRH, os efeitos adversos
"castração" e pode ser realizado de duas forma, cirúrgica ou são bem menos comuns (ex.: perda da libido e da massa
química. muscular) com os antiandrogênicos. A ginecomastia é um dos
principais problemas dessas drogas.
Realizada através da cirurgia de orquiectomia bilateral, é a do GnRH que, por isso, são o grande tratamento desta fase.
terapia de privação androgênica padrão-ouro. Por razões Outra opção seria fazer o que chamamos de terapia
óbvias, também é a menos aceita pelos pacientes, embora seja combinada (agonistas do GnRH + antiandrogênico). Porém,
c) Leoprolida.
O primeiro sinal de resistência ao tratamento hormonal é o
d) Oxandrolona.
aumento do PSA mesmo com níveis muito baixos ou ausentes
de testosterona. Para classificar que o tumor é resistente, R. Questão muito fácil, que poderia ser respondida por eliminação…
devemos verificar se o paciente está mesmo "castrado", E agora que você vai aprender o que é a “oxandrolona”, a questão vai
cirúrgica ou quimicamente, através de uma dosagem de ficar mais fácil do que nunca! Sabemos que a base do tratamento do
testosterona sérica < 50 ng/dl. Se a testosterona estiver baixa e paciente com câncer de próstata metastático é a estratégia de
o PSA continuar subindo, consideramos que o tumor ficou DEPRIVAÇÃO ANDROGÊNICA! As alternativas A, B e C
resistente à terapia hormonal ("tumor independente de representam métodos extremamente eficazes de se atingir esse
androgênio"). objetivo (a orquiectomia é considerada o “padrão-ouro”, porém
grande número de pacientes se recusa a fazê-la). Mas que diabos é a
O que é a terapia hormonal intermitente? oxandrolona?Nada mais é do que um potente esteroide anabolizante
com efeitos androgênicos (Anavar). É usada principalmente para o
Esta seria uma forma alternativa de administração dos tratamento de pacientes acamados há muito tempo e com intenso
agonistas do GnRH, visando a redução da resistência a estas estado hipercatabólico (por exemplo: grandes queimados). Se você
drogas. Segundo este princípio, a resistência poderia ser parar pra pensar, é UM CRIME utilizar um agente androgênico no
diminuída se deixássemos algumas células neoplásicas paciente com CA de próstata metastático… É quase a mesma coisa
sensíveis à terapia hormonal sobreviverem em meio às células que prescrever anticoncepcional hormonal para uma mulher com
normais. Para isto, os fármacos são utilizados por dois a seis câncer de mama (lembre-se de que o CA de mama geralmente tem
meses após o pico da resposta, interrompidos receptores para estrogênio).
temporariamente e depois retornados com elevações do PSA.
Até o momento, não temos resposta definitiva sobre esta
estratégia e aguardamos os resultados de um ensaio clínico
em andamento. TUMORES INDEPENDENTES DE
ANDROGÊNIO
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QUIMIOTERAPIA
Mesmo refratário à terapia hormonal, o tumor ainda pode ser
submetido a outros tipos de tratamento, como a
quimioterapia. A terapia de escolha seria a combinação
docetaxel com prednisona, que mostrou aumento da
sobrevida em 25% dos casos. Além desse esquema, teríamos
outras opções. É só lembrarmos que 10% da testosterona é
produzida nas suprarrenais, sendo o cetoconazol (potente
inibidor da esteroidogênese adrenal) uma alternativa. Outros
tratamentos incluiriam estrógenos e progestágenos, além do
cabazitaxel e da mitoxantrona (outros quimioterápicos).
NOVOS FÁRMACOS
Recentemente, novos agentes demonstraram eficácia em
estudos, para pacientes refratários à hormonioterapia e
quimioterapia.
A abiraterona, um inibidor oral irreversível do citocromo P-17,
inibe a sinalização dependente do receptor de andrógeno, e
tem proporcionado ganho de sobrevida mesmo após falha à
quimioterapia com docetaxel. O ganho de sobrevida foi de
quatro meses em relação aos pacientes que utilizaram
placebo. Deve ser usada em conjunto com a prednisona.
PROGNÓSTICO
Depende principalmente do escore de Gleason, níveis de PSA
após a prostatectomia, acometimento linfonodal e a presença
de metástases ósseas.
CÂNCER DE PÊNIS
FATORES DE RISCO
QUADRO DE RESUMO > Infecção pelo HPV, em especial o HPV-16 (identificado em
Conceitos básicos 30–50% dos casos).
Os principais fatores de risco são fimose e infecção pelo > Má higiene íntima.
HPV. > Fimose: homens com essa condição que não se
submeteram à circuncisão têm seu risco aumentado em 7–
Quadro clínico 10 vezes.
> Tabagismo.
Úlcera persistente, ou tumoração, localizada na glande,
prepúcio ou corpo do pênis, que não cicatriza. Placas,
exantema e balanite são outras apresentações. Pode
haver linfadenopatia inguinal. QUADRO CLÍNICO
A manifestação típica do câncer de pênis é a presença de uma
Diagnóstico e estadiamento úlcera persistente, ou uma tumoração, localizada na glande,
prepúcio ou corpo do pênis, que não cicatriza. Placas,
Biópsia para a lesão, PAAF para linfonodos suspeitos. exantema e balanite são outras das muitas apresentações
descritas.
Pacientes sem linfonodos clinicamente evidentes: solicitar
exame de imagem no pré-op. ou encaminhar à cirurgia e
Linfadenopatia inguinal pode se dever à disseminação
realizar dissecção superficial ou linfonodo sentinela.
neoplásica ou ser puramente reacional. Metástases à distância
são incomuns.
Tratamento
EPIDEMIOLOGIA
O câncer de pênis é um tumor raro, com maior incidência em
homens a partir dos 50 anos, embora possa atingir também os
mais jovens. No Brasil, esse tipo de tumor representa 2% de
Figura 1. Apresentações de câncer de pênis.
todos os tipos de câncer que atingem o homem, sendo mais
frequente nas regiões Norte e Nordeste.
PATOLOGIA DIAGNÓSTICO E
O subtipo histológico mais comum é o carcinoma epidermoide
ESTADIAMENTO
(95%). O tumor pode se desenvolver a partir de lesões pré- O diagnóstico é realizado por biópsia e a análise de linfonodos
malignas, como condiloma acuminado. suspeitos pode ser realizada por PAAF.
Lesões até T1a dificilmente acometem linfonodos. A partir do
T1b, em pacientes sem linfonodos clinicamente evidentes,
podemos indicar US, RM ou TC da região inguinal
(particularmente em obesos, que têm o exame físico local
prejudicado). Outra estratégia possível nesses pacientes é
indicar a cirurgia e, durante o procedimento, proceder à
dissecção dos linfonodos superficiais ou utilizar a técnica do
linfonodo sentinela.
TRATAMENTO
O objetivo do tratamento é sempre a preservação do órgão ou O tratamento da doença metastática é a QT paliativa com o
da maior parte possível dele. Obviamente, além do mesmo esquema.
estadiamento T, a realização de penectomia parcial depende
da localização e da extensão da doença. A doença localizada
(restrita ao pênis) pode ser tratada da seguinte forma:
> Ta ou Tis: 5-Fluorouracil (5-FU) ou imiquimode, ambos
tópicos. Outras opções: ressecção a laser ou ressecção
Figura 2. Esquema quimioterápico citado.
parcial ou total do epitélio acometido;
> T1a: penectomia parcial (preferência). Outras opções:
ressecção parcial ou total do epitélio acometido;
GERMINATIVAS Diagnóstico
Para fechar este módulo, vamos estudar os Tumores de US testicular + marcadores* aumentados.
Células Germinativas (TCG), que correspondem a 95% dos
*AFP = apenas nos não seminomas/ß-hCG e LDH = ambos os
cânceres testiculares.
tumores.
Quadro clínico
Os TCG são neoplasias raras, com incidência estimada em
menos de 10.000 casos/ano nos EUA e correspondendo a 1% RESIDÊNCIA MÉDICA R3 – 2020
dos cânceres em homens no Brasil. O paciente típico é um (CLÍNICA MÉDICA)
homem branco entre 20 e 40 anos de idade. A partir desta SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS – SÃO
idade diminui a ocorrência de TCG e aumenta a de outros PAULO – SUS–SP
tumores testiculares, como os linfomas. São fatores de risco
descritos: São marcadores tumorais de neoplasias de células
germinativas não seminomatosos:
> Criptorquidia (principal!);
a) Beta-hCG e CA 19-9.
> Síndrome de Klinefelter;
b) CA-125 e CEA.
> História familiar;
c) CEA e CA 19-9.
> Trauma escrotal;
d) Alfafeto proteína e beta-hCG.
> Exposição a agrotóxicos.
e) CA-125 e alfafeto proteína.
Estágio N
Estágio M
S2 LDH 1,5 a 10x LSN ou beta-hCG 5.000 a previsto pelas meia-vidas significa doença recorrente ou
50.000 ou AFP 1.000 a 10.000. persistente, respectivamente. A seguir você pode conhecer a
proposta de tratamento adjuvante de acordo com o tipo de
S3 LDH > 10x LSN ou beta-hCG > 50.000 ou AFP tumor e o estadiamento. O tratamento adjuvante (pós-
> 10.000. orquiectomia) por ser feito com quimioterapia, radioterapia
*LSN: limite superior de normalidade (nos seminomas) ou pode ser substituído por linfadenectomia
retroperitoneal (nos tumores não-seminoma). O esquema
quimioterápico mais utilizado é o BEP (Bleomicina, Etoposídeo,
Cisplatina) — o número de ciclos depende do estágio da
doença e foge dos objetivos do nosso estudo.
SEMINOMA
> Estágio I: geralmente não está indicado tratamento
adjuvante.
NÃO-SEMINOMA
> Estágio I: considerar linfadenectomia retroperitoneal ou
quimioterapia adjuvante nos pacientes de maior risco
(invasão vascular ou predomínio de carcinoma
embrionário).
> Estágio II: linfadenectomia retroperitoneal ou quimioterapia
adjuvante.
> Estágio III: quimioterapia adjuvante.
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