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Saberes e Fazere

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SABERES E FAZERES QUILOMBOLAS DA COMUNIDADE KALUNGA DO PRATA

GOIÁS: AS BENZEDEIRAS, SEUS BENZIMENTOS E SUAS CONTRIBUIÇÕES


PARA A EDUCAÇÃO DO CAMPO

Valquíria Fernandes DIAS1


Severina Alves de ALMEIDA2
Ângela Maria SILVA3
Ângela Maria Dias MORAIS4
Rosemeire Rezende HONDA5
RESUMO

Este trabalho traz o resultado de uma pesquisa com o povo Kalunga da comunidade Prata de
Cavalcante de Goiás com suas historias, seus processos de resistência, seus saberes e fazeres. Esse
povo há muito tempo vem resistindo numa trajetória árdua. Uma trajetória que não foi encarada de
forma nada passiva, e ainda não está sendo. Eles vêm lutando constantemente para a garantia de seus
direitos e para a preservação de sua cultura. Prata é uma comunidade que tem muito de saber popular,
tradicional, e isso o trazemos neste trabalho, que é o poder de curar por meio dos benzimentos. Esses
saberes e fazeres quilombolas cura doenças das mais variadas formas, promove parto caseiro, dentre
outros. As plantas medicinais cultivadas nos terreiros ou até mesmo nativos da região, tem um papel
fundamental, que é de auxiliar na eficácia dessas ações. São saberes que foram passado de geração,
por meio da observação e por via oralidade, sendo que esse costume ainda não deixou de existir nas
comunidades tradicionais. O que é fundamental para a preservação dessa cultura quanto para a
realização de desenvolvimento de trabalhos acadêmicos.

Palavras chave: Benzedeiras. Benzimentos. Saberes Tradicionais. Educação do Campo.

KNOWLEDGE AND KNOWLEDGE OF THE KALUNGA COMMUNITY OF SILVER


GOIÁS: BENZEDEIRAS, ITS BENZIMENTOS AND ITS CONTRIBUTIONS FOR THE
EDUCATION OF THE FIELD

ABSTRACT

This paper presents the results of a survey of the Kalunga people of Cavalcante Prata community of
Goiás with their stories, a means of resistance, their knowledge and practices. These people long has
resisted an arduous path. A path that was not seen anything passively, and is not already. They have
been fighting constantly for the guarantee of their rights and the preservation of their culture. Prata is a
community that has a lot to learn popular, traditional, and that we bring this work, which is the power
to heal through benzimentos. These knowledge and practices maroon cure diseases in many different
ways, promotes home birth, among others. Medicinal plants grown in terraces or even natives of the
region, plays a key role, which is to assist in the effectiveness of these actions. Is knowledge that have
been passed down from generation, through observation and through orality, and this custom has not
ceased to exist in traditional communities. What is essential for the preservation of this culture as for
conducting development of academic papers.
1
Licenciada em Educação do Campo. Professora da Educação Básica do Campo. E-mail:
2
Mestre em Ensino de Língua e Literatura; Doutora em Linguística; Professora Titular da Faculdade de Ciências
Tocantins FACIT; Pesquisadora CNPQ grupo de pesquisa da Universidade de Brasília SOLEDUC; Pesquisadora
vinculada ao Laboratório de Línguas Indígenas LALI Universidade Federal do Tocantins UFT. Orientadora da
pesquisa. E-mail: sissi@faculdadefacit.edu.br.
3
Mestre em Educação; Pedagoga; Bacharel em Odontologia; Diretora geral da Faculdade de Ciências do
Tocantins FACIT. e-mail: angela_ortoface@hotmail.com.
4
Professora da Faculdade de Ciências do Tocantins. E-mail: 07@hotmail.com.
5
Professora da Faculdade de Ciências do Tocantins. E-mail: rosehonda_radiocenter@hotmail.com.

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Keywords: Benzedeiras. Benzimentos. Traditional knowledge. Rural Education.
Introdução comunidade, resgatando os conhecimentos
tradicionais que estão se perdendo e com
Estar no mundo sem fazer história,
sem por ela ser feita, sem fazer isso comprometendo a identidade desse
cultura, sem tratar sua presença no
mundo, sem sonhar, sem cantar, sem povo.
musicar, sem pintar, sem cuidar da
terra, das águas, sem usar as mãos,
sem esculpir, sem filosofar, sem As benzedeiras vêm, no seu
pontos de vista sobre o mundo [...]
sem aprender, sem ensinar, sem ideias cotidiano, atendendo pessoas que
de formação, sem politizar, não é
possível. necessitam de seus cuidados através do
Paulo Freire benzimento. Crianças, jovens, homens,
Este artigo é parte integrante de uma mulheres e idosos, todos procuram o serviço
monografia de conclusão de curso da delas. Essas mulheres doam o seu tempo e
Licenciatura em Educação do campo na com isso tornam-se “doutoras da medicina
área de habilitação em linguagem. A popular”, deixando como legado o
pesquisa realizou-se com um povo aprendizado da solidariedade e do amor
tradicional, cujo foco foram as benzedeiras pelo próximo. Essa prática é extremamente
e seus benzimentos, ou seja, seus saberes e relevante para a comunidade, uma vez em
fazeres culturais na comunidade do prata. que a mesma não conta com atendimento
As benzedeiras trazem consigo as tradições médico. Então, são elas quem atendem as
e os costumes, ou seja, a cultura de seus necessidades imediatas do povo, aplicando
ancestrais. Segundo Saraiva (s/d), a cultura lhes a sua prática, salvando vidas.
não é entendida somente como A metodologia utilizada foi a
manifestações folclóricas (festas e pesquisa qualitativa, que tem como
tradições), ou mesmo como o senso comum pressuposto entender e interpretar
costuma concebê-la e reduzindo-a à “cereja fenômenos sociais em um contexto
do bolo”. (BORTONI-RICARDO, 2006). A pesquisa
O objetivo foi identificar e analisar é também do tipo etnográfica, com
as praticas do benzimento realizadas na observação participante, e se desenvolveu a
comunidade Kalunga do Prata, partir de um roteiro de entrevistas com 3
considerando o conhecimento, os saberes e (três) benzedeiras. As visitas foram
a cultura que vem sendo passados para as constantes para presenciar o ato e também
futuras gerações. Buscamos também para dialogar sobre os tipos dos
registrar a utilidade do benzimento na

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benzimentos, para quais enfermidades, Finalmente, esperamos que esse
quais as simbologias, uso das plantas, etc. trabalho possa contribuir com a preservação
O intuito foi contribuir com a da cultura da comunidade e sirva para que
comunidade na preservação da cultura, pois os jovens daquela possam se conscientizar
uma vez que se perde a cultura se perde a sobre seu papel de construtores de suas
identidade. A pesquisa se configura como próprias histórias, ou seja, protagonistas do
qualitativa. Segundo Almeida, Albuquerque conhecimento popular, herdados dos nossos
e Aoki (2011), o pesquisador se utiliza deste ancestrais e que a escola seja mediadora
tipo de pesquisa para se familiarizar com o nessa construção.
problema existente na comunidade.
1. Povos Tradicionais: Os Kalunga e a
Aproxima-se da pessoa entrevistada
Comunidade Quilombola do Prata
adquirindo a sua confiança, e a partir daí
constrói hipóteses, coleta dados e levanta as O Brasil é um país multilíngue,
informações necessárias à geração dos multiétnico e culturalmente híbrido.
dados Diversos segmentos da sociedade brasileira
O objetivo geral foi identificar, são marcados por identidades coletivas
registrar e analisar os saberes das próprias. Cerca de oito milhões de
benzedeiras e a importância de suas práticas brasileiros fazem parte de povos e
de benzimento para a comunidade comunidades tradicionais correspondendo,
quilombola Prata, município de Cavalcante entre esses, uma média de dois milhões de
de Goiás. Especificamente buscamos remanescentes quilombolas, de acordo com
compreender a importância das rezas; o Centro de documentação Eloy Ferreira da
apresentar os saberes e fazeres das Silva (MONTE ALTO, 2012).
Benzedeiras como aspecto cultural que Por mais de três séculos, os
favorece o fortalecimento da identidade dos quilombolas foram construindo suas
Kalunga da comunidade Prata; valorizar a identidades. É através da identidade que se
sabedoria do modo de vida da comunidade criam e recriam culturas, modos de vida e a
do Prata, por meio do registro dos saberes sobrevivência do próprio quilombo. A
associados ao uso das práticas de identidade está presente em tudo aquilo que
benzimento, identificando suas faz parte do patrimônio cultural, como os
contribuições para o fortalecimento da costumes e as tradições. Nas comunidades
cultura quilombola. quilombolas, as pessoas contam com os

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benefícios que os saberes culturais saberes que são repassados através da
proporcionam. Esses, que também são oralidade. De acordo com Delgado (2006, p.
fazeres, baseiam-se na convivência entre 15) a história oral é um procedimento
gerações adquiridos a partir dos metodológico que busca, "[...] pela
conhecimentos dos ancestrais (MONTE construção de fontes e documentos, registrar
ALTO, 2012). através de narrativas induzidas e
No Brasil, o decreto n° 6040 de 7 de estimuladas, testemunhos, versões e
fevereiro de 2007, refere se ao termo interpretações sobre a história em suas
populações tradicionais como povos e múltiplas dimensões".
comunidades tradicionais, os quais são
2. Os Quilombos
definidos pelo Artigo 3º como grupos
culturalmente diferenciados e que se Segundo Saraiva (2007), tudo
reconhecem como tais, que possuem formas começou quando, aqui no Brasil, navios
próprias de organização social, ocupam e usam chegaram trazendo africanos para que com
territórios e recursos naturais como condição
o seu trabalho escravo o cofre da burguesia
para a sua reprodução cultural social, religiosa,
portuguesa pudesse enriquecer. Não se sabe
ancestral e econômica, utilizando
bem ao certo quantos negros foram trazidos.
conhecimentos, inovações e práticas geradas e
Porém, muitos não resistiram à viagem
transmitida pela tradição (BRASIL, 2007).
longa ultramarina devido às más
Comunidade tradicional é aquela que
acomodações e precária alimentação. Já os
valoriza os saberes historicamente
que chegaram, enfrentaram um processo de
construídos, fortalecendo assim a identidade
escravidão mais longo que já existiu.
e a cultura de um povo. Segundo Saraiva
Não obstante,
(2012), ser tradicional define-se como uma
condição que tornou possível a valorização [...] a diáspora dos africanos para
estas terras, negros e negras,
de saberes historicamente excluídos e muitos deles ainda crianças, eram
capturados e vendidos como
desqualificados, fortalecendo a identidade e escravos, arrancados de sua casa,
sua família, sua terra, seu povo,
a cultura. Essas comunidades tradicionais a eram levados para terras distantes,
transportados em navios, em
partir de seus conhecimentos trouxeram condições subumanas, numa
viagem sem volta. Muitos deles
observações atentas da natureza e morreram na travessia do atlântico.
Os que sobreviveram foram
experimentação dos seus recursos naturais. subjugados e escravizados pelos
colonizadores (SARAIVA, 2007, p.
Com efeito, a comunidade Prata tem 33).
o privilégio de contar com a presença desses

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O trabalho era árduo e a recompensa quilombo como forma organizacional, o
vinha à chibata. A morte alcançava as Movimento Quilombola, registra-se como o
senzalas devido ao cansaço, péssimas mais longo fato histórico, com duração de
acomodações e as cruéis punições. Baiocch 258 anos (1630/palmares-1888/abolição).
(1999, p. 32), ressalta que: “As torturas, o De acordo com Silva (2007), os
tronco, as vergastas do bacalhau entre quilombos foram muitos frequentes na
outros, levavam à morte prematura, história do Brasil, embora muitos tenham
incapacidade física definitiva ou à fuga para existido também em outros territórios. Estes
a selva, matas e serras. Assim surgiram os quilombos variavam de lugar, tamanho e
quilombos-acampamentos”. Pode-se dizer numero da população, como também
que esses negros não se deram por vencidos, diversificava a forma de organização, mas
formaram-se grupos, travaram-se lutas, de todos os quilombos o de Palmares foi o
organizaram-se em quilombo (e lutam até maior na história do Brasil. Palmares
hoje por liberdade e justiça social). tornou- se símbolo de resistência negra,
A origem dos quilombos segundo representando “desvio de padrão” e de
Dutra, 2011, se relaciona com o processo de motivo de preocupação pelas autoridades no
escravidão negra que vigorou no Brasil por Brasil colônia. Palmares passou a ocupar,
três séculos. Tais grupos se constituíram a dentro do imaginário de muitos escravos a
partir de uma grande diversidade de esperança de se alcançar a sonhada
processos e estratégias de resistência como, liberdade através de fuga.
as fugas com ocupação de terras livres, Os quilombos significavam
entre outros meios. resistência para os negros africanos, pois na
Mas afinal, o que vem a ser cultura africana quilombo é caracterizado
quilombo? Segundo Baiocch (1999, p. 32), como lugar cercado e fortificado. Durante e
quilombo é termo banto e quer dizer após a escravidão no Brasil, as comunidades
acampamento guerreiro na floresta; toda quilombolas se espalharam pelo País em
habitação de negros fugidos que passe de estados como Alagoas, Bahia, Goiás, Mato
cinco, em parte desprovida, ainda que não Grosso, Minas Gerais, Pernambuco, Acre e
tenham ranchos levantados nem se achem Roraima. Com a abolição da escravidão, os
pilões nele. Quilombo é onde os negros se escravos libertos foram submetidos numa
organizaram em um processo extremo de sociedade a qual não os acolheu (SILVA,
defesa, afirmação e resistência. Portanto, o 2007).

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Com efeito, esse autor acredita que
não é de hoje que os quilombos despertam o Dessas comunidades tem muito o
interesse de muitos que visam a interesses que se falar. Mas me limitarei falando de
lucrativos. Os quilombos, em sua maioria, uma comunidade muito importante para
foram construídos em lugares de difícil mim, pois é a comunidade que escolhi para
acesso, rico em preservação ambiental e morar, e é o lugar do meu coração. Vou falar
minerais preciosos. Isso faz com que um pouco do que pesquisei da comunidade,
latifundiários, garimpeiros, grileiros, dentre mas só no próximo tópico, porque agora
outros, lutem para se apossarem dos vou falar um pouco sobre a palavra
quilombos, não se importando com a Kalunga.
história, com a cultura do lugar e etc. Mas afinal, o que é Kalunga e por
que Kalunga? Vamos deixar claro que esse
3. Os Kalunga
termo tem vários significados e era uma
No território quilombola que passou palavra muito comum entre alguns povos
a ser denominado Kalunga, existem quatro africanos. Era normal os próprios africanos
núcleos principais de população: Contenda, serem chamados de calungas. Este era
Vão do Moleque, Vão das Almas e Ribeirão apenas outro jeito de dizer negros. Mas
dos bois. Dentro desses núcleos, quase uma dentre vários conceitos dessa palavra,
centena de agrupamentos, com seus povos, existia também significados de inferioridade
com seus saberes e fazeres. como camundongo, coisa pequena
insignificante. Os colonizadores passaram a
chamar os negros de Calunga justamente
porque para eles os negros eram realmente
inferiores (BRASIL, 2001).
No entanto, para Baiocch (1999),
Kalunga para os Kalumga, é um lugar
sagrado que não pode pertencer a uma só
pessoa ou família. É de todos e para todas as
horas. E também seria o nome de uma

Figura (1). Mapa do Sítio Histórico e planta resistente da família simarubáceas

patrimônio Cultural Kalunga6.


6
Fonte: quilombokalunga.org.br/territorio-do-sitio-
historico-e-patrimonio-cultural-kalunga. Acesso em: 22-jan-2014.

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(simaba ferrugnea). Símbolo de linguagem de um povo, a expressão do seu
ancestralidade e resistência. pensar e do seu sentir, tantas vezes não
aceitas por muitos que não entendem o
4. Saberes e Fazeres Partilhados na
valor de uma cultura diferente da sua.
Comunidade Quilombola do Prata: As
Benzedeiras e Seus Benzimentos Com efeito, em nossa pesquisa
pudemos observar que muitos saberes estão
se perdendo devido ao desaparecimento das
pessoas mais velhas, e do não repasse
desses saberes para os jovens. Esses jovens
não podem ser culpados por desinteresse,
pois eles apenas não estão tendo
oportunidade de vivenciar e aprender essas
práticas para que possam vir a valorizar sua
importância. Para a realização da pesquisa,
houve a contribuição de 3 (três) senhoras
quilombolas, por meio da oralidade, sendo
elas idosas, benzedeiras, rezadeiras, muito
humildes e solidárias para com a
comunidade.
Salientamos que a comunidade as vê
Foto 4. Benzedeira realizndo um benzimento. como pessoas sábias dos conhecimentos
Fonte: Fernando Costa (2014).
populares tradicionais dos Kalunga.

Quebranto, cobreiro, mau-olhado, Havendo a necessidade de obtenção de

espinhela caída, erisipela e vento virado. informações, foram feitas duas entrevistas,

Quem quer que percorra as comunidades sendo a última com questionário, para

dos quilombos, vai se deparar, em um desenvolver o trabalho. A partir daí, o

momento ou outro, com alguns desses trabalho de campo cumpriu o objetivo de

nomes que fazem parte de um mundo de fé, levantar dados sobre o benzimento na sua

povoado de rezas, crenças, simpatias e totalidade.

benzeções. Aqui descrevermos como se dão


3.1. O ofício de benzer
as benzeções, procurando entender esses
saberes históricos manifestados como a

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Foi desde a chegada dos Bento ou Santo. Benzer uma pessoa é o ato
colonizadores portugueses que as formas de de rezá-la, pedindo que dela se afastem
se relacionar com as doenças e as práticas todos os males ou o mal específico que lhe
de cura vêm percorrendo a história do esteja afligindo. Faz-se o “sinal da cruz”
Brasil. Esses vários modos de lhe dar com sobre a pessoa, animal ou objeto, recitando
as enfermidades presentes no Brasil tem orações diversas com o objetivo de
uma longa história, pois eram práticas que consagrá-la ao divino e pedir para o favor
vinham de vários povos como dos índios, do céu, abençoando. “A bênção é um
africanos e portugueses das camadas veículo que possibilita ao seu executor
populares. Esses eram quem recorriam das estabelecer relações de solidariedade e de
práticas de cura. Tais práticas eram trazidas aliança com os santos, de um lado, com os
da região de origem, muito antes da homens de outro e entre ambos,
colonização do Brasil (BOING e STANK, simultaneamente” (OLIVEIRA, 1985).
2013). O Benzimento é uma prática muito
As práticas terapêuticas populares antiga presente em muitas culturas, mas
permaneceram ao longo da história. Parte aqui no Brasil ganhou força no período da
desses conhecimentos ainda pode ser colonização junto aos imigrantes que
encontrada nas comunidades quilombolas, chegaram. Vale lembrar que os próprios
como a comunidade Prata, localizada no Índios aqui já estabelecidos praticavam seus
município de Cavalcante de Goiás. Nas rituais de cura dentro de um conjunto de
várias práticas de cura é utilizado o uso das orações no seu próprio dialeto. A maioria
plantas medicinais e o benzimento. Há uma das benzedeiras são idosas, católicas, com
diversidade de procedimentos nessas pouca escolaridade e baixa renda. Elas
práticas e os mais usados são os encaram seu ofício como um serviço
benzimentos contra quebranto, mau olhado assumido por tradição e em resposta a
e arca caída. São esses conhecimentos necessidades, da comunidade. Não cobram
empíricos que fortalecem e caracterizam a pelos benzimentos, mas geralmente os que
comunidade como tradicional. procuram seus serviços, levam presentes
Mas afinal o que é benzimento ou como forma de agradecimento. O
o ato de benzer7? Benzer significa tornar benzimento é uma técnica simples,
7
Fonte de consulta: (Rezas, Crenças, Simpatias e
Benzeções: costumes e tradições do ritual de cura Uberlândia/MG)ransmutese.blogspot.com.br/2011/0
pela fé -Vanda Cunha Albieri Nery - Centro 6/o-benzimento-o-que-e-quem-pode-benzer.html.
Universitário do Triângulo – Acesso: 20-jan-2-16.

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independente de crença ou religião, de dia, O que pode ser benzido?9 As
lua, horário ou local para ser praticado. enfermidades curadas pelas benzedeiras se
Quem pode benzer8? Alguns dizem configuram como perturbações que atingem
que o benzimento só pode ser praticado não apenas o corpo, a esfera física, mas
quando se aprende dentro de uma tradição estão relacionadas a questões sociais,
ou quando se é passado por alguém da psicológicas e/ou espirituais que afetam o
própria família. A maioria das antigas cotidiano. Enquanto a Medicina científica se
benzedeiras relatam que aprenderam com concentra nos aspectos biológicos do
alguém da família ou que foram processo saúde-doença, a benzeção ocupa-
apadrinhadas por outra benzedeira pois se de perturbações que desequilibram a vida
tinham o dom. Algumas relatam que das pessoas e que podem ser causadas por
receberam as orações e a missão de benzer um amplo leque de fatores, aproximando-se
durante um sonho. Atualmente muitas mais da forma subjetiva como as pessoas
pessoas defendem que para praticar o vivenciam o processo saúde-doença. Além
benzimento não é preciso ser médium, disso, a eficácia do benzimento está
possuir dons espirituais, nem ter nenhum estreitamente relacionada ao modo como as
tipo de pré-requisito além da vontade de pessoas percebem a saúde e a doença.
ajudar ao próximo. Sendo assim o
3.1.1. O Benzimento como Prática
benzimento é livre a qualquer pessoa que
Terapêutica10
queira aprender. Qualquer pessoa pode fazê-
Negócios, mal no corpo, doenças
lo desde que tenha fé na força que vem de
físicas, psicológicas ou espirituais, sapinho
Deus e que habita em cada um de nós.
na boca, quebranto, mau olhado, etc.
Através da vontade no bem, criamos um
9
campo fluídico cheio de magnetismo Fonte de consulta: (Rezas, Crenças, Simpatias e
Benzeções: costumes e tradições do ritual de cura
benéfico, repleto de agentes restauradores pela fé -Vanda Cunha Albieri Nery -Centro
Universitário do Triângulo –
de forças e energias gastas, que ao serem Uberlândia/MG)ransmutese.blogspot.com.br/2011/0
6/o-benzimento-o-que-e-quem-pode-benzer.html.
repostas, atuam na reparação dos males que Acesso: 20-jan-2-16.
10
se instalaram. A BENZEÇÃO COMO PRÁTICA
TERAPÊUTICA - DANIELA ARAÚJO TEIXEIRA
LEITE, LÉA RESENDE ARCHANJO. Fonte de
8
Fonte de consulta: (Rezas, Crenças, Simpatias e consulta: (Rezas, Crenças, Simpatias e Benzeções:
Benzeções: costumes e tradições do ritual de cura costumes e tradições do ritual de cura pela fé -Vanda
pela fé -Vanda Cunha Albieri Nery -Centro Cunha Albieri Nery -Centro Universitário do
Universitário do Triângulo – Triângulo –
Uberlândia/MG)ransmutese.blogspot.com.br/2011/0 Uberlândia/MG)ransmutese.blogspot.com.br/2011/0
6/o-benzimento-o-que-e-quem-pode-benzer.html. 6/o-benzimento-o-que-e-quem-pode-benzer.html.
Acesso: 20-jan-2-16. Acesso: 20-jan-2-16.

Facit Business and Technology Journal 63 2017;2(1):63


Algumas benzedeiras se especializam em Texto ditado no ano de 1991, por
determinadas rezas. Por exemplo: Pai Benedito dos Cruzeiros11: Quando
geralmente as mulheres benzem crianças e mencionamos o uso de objetos dentro do
os homens picadas de cobra. benzimento, notamos que na realidade se
Elementos no benzimento: O dom vincula aos mesmos no plano etéreo suas
ou a faculdade de curativa é inerente ao atuações idênticas no plano físico. Quando
benzedor, a preferência por certo objeto, utilizamos facas para se benzer, nem sempre
erva, ou certa gesticulação, serve-lhe de esta prática é bem aceita pois a associação
catalizador do próprio benzimento. Os que se faz com este elemento está sempre
elementos utilizados são diversos, tais ligada ao negativo. Olhando por um prisma
como: Vela, tesoura, faca, carvão, ervas, espiritual verificaremos que a faca tem uma
água, ramos, sal, Bíblia, rosários, fios de única função “CORTAR" e não se dever ser
linha, etc. O elemento mais popular é o associado a ela a AÇÃO que o ser vivente
ramo. Algumas benzedeiras dizem que toma com a mesma, sendo esta segunda de
quando não usam o ramo o mal “vira prá total responsabilidade de quem o faz. Ao
elas”; após a reza, se a pessoa estiver benzermos uma pessoa com o uso de uma
carregada, as folhas ficam “muchas”. Pode- faca, pouco importa sua forma ou alegoria
se usar qualquer tipo ramos de plantas para que nela seja colocada, nem tão pouco se
realizar o benzimento. Dentre as ervas tenha corte ou não, pois em momento
podemos citar a arruda, o alecrim, o alguma á o contato dela e de seu fio de corte
elevante, o guiné. Pelas propriedades de com a pessoa que está sendo benzida,
cada uma delas, de limpar a energia ficando a atuação somente no campo
negativa. Ou ainda alguma erva que a ritualístico. Os movimentos neste
benzedeira use somente para esse fim. benzimento devem ser lentos para não
Também são utilizados elementos assustar o assistido e vale lembrar que a fé é
em rezas específicas, como por exemplo
uma faca para cortar o mau olhado ou o
11
ramo de oliveira para a “vermelhidão”. No A BENZEÇÃO COMO PRÁTICA
TERAPÊUTICA - DANIELA ARAÚJO TEIXEIRA
entanto é importante que aqueles que LEITE 1, LÉA RESENDE ARCHANJO. Fonte de
consulta: (Rezas, Crenças, Simpatias e Benzeções:
queiram iniciar a prática do benzimento costumes e tradições do ritual de cura pela fé -Vanda
Cunha Albieri Nery -Centro Universitário do
saibam que os elementos não são Triângulo –
Uberlândia/MG)ransmutese.blogspot.com.br/2011/0
necessários. 6/o-benzimento-o-que-e-quem-pode-benzer.html.
Acesso: 20-jan-2-16.

Facit Business and Technology Journal 64 2017;2(1):64


elemento propulsor de energia e sem a o seu sono e em certas situações pode
mesma nada se realiza. causar desarranjos orgânicos14.
Benzimento feito a distância12:
3.2.1. Reza Contra Quebranto e mau
Assim como outras técnicas, o benzimento
olhado15
pode ser utilizado em benefício daqueles
Quando uma pessoa anda deprimida,
que não encontram-se presentes,
sem forças ou cansada, diz-se que, lhe
considerando-se que a intenção do bento e a
deitaram mau olhado. O mau olhado ou o
energia acessada através das rezas e
quebranto, ambos muito parecidos, atingem
orações, irá transpor os limites de espaço-
pessoas, animais ou coisas, facilmente.
tempo, chegando até o local de origem.
Então, recomenda-se pegar um copo com
3.2. Rezas água, um galho de arruda, molhar o galho e
ir benzendo, ao final; colocar o galho dentro
Quem reza geralmente fala a Deus
do copo, se afundar, estava cheio de
aos Santos ou entidades, mas fala palavras
quebranto ir ao portão da rua, vira-se de
escritas ou decoradas, ao contrário da
costas e joga por cima dos ombros de quem
Oração, que são palavras extraídas
se está benzendo, isso com a pessoa de
diretamente do coração13. As rezas são
costa para rua. Enquanto está benzendo
utilizadas geralmente para o quebranto ou
dizer:
mau olhado em crianças: O problema da
“Mal do ar, mal do mar, mal do
criança acontece quando pessoas adultas,
fogo, mal da lua, mal das estrelas, mal do
que possuem uma atmosfera fluídica mal sã,
ficam com a criança no colo por muito 14
A BENZEÇÃO COMO PRÁTICA
TERAPÊUTICA - DANIELA ARAÚJO TEIXEIRA
tempo. A energia ruim que circunda a
LEITE 1, LÉA RESENDE ARCHANJO. Fonte de
pessoa contamina a atmosfera espiritual da consulta: (Rezas, Crenças, Simpatias e Benzeções:
costumes e tradições do ritual de cura pela fé -Vanda
criança. Isso deixa o bebê irritado, prejudica Cunha Albieri Nery -Centro Universitário do
Triângulo –
Uberlândia/MG)ransmutese.blogspot.com.br/2011/0
12
A BENZEÇÃO COMO PRÁTICA 6/o-benzimento-o-que-e-quem-pode-benzer.html.
TERAPÊUTICA - DANIELA ARAÚJO TEIXEIRA Acesso: 20-jan-2016.
15
LEITE 1, LÉA RESENDE ARCHANJO. Fonte de A BENZEÇÃO COMO PRÁTICA
consulta: (Rezas, Crenças, Simpatias e Benzeções: TERAPÊUTICA - DANIELA ARAÚJO TEIXEIRA
costumes e tradições do ritual de cura pela fé -Vanda LEITE 1, LÉA RESENDE ARCHANJO. Fonte de
Cunha Albieri Nery -Centro Universitário do consulta: (Rezas, Crenças, Simpatias e Benzeções:
Triângulo – costumes e tradições do ritual de cura pela fé -Vanda
Uberlândia/MG)ransmutese.blogspot.com.br/2011/0 Cunha Albieri Nery -Centro Universitário do
6/o-benzimento-o-que-e-quem-pode-benzer.html. Triângulo –
Acesso: 20-jan-2016. Uberlândia/MG)ransmutese.blogspot.com.br/2011/0
13
Fonte: http://www.dicionarioinformal.com.br/reza. 6/o-benzimento-o-que-e-quem-pode-benzer.html.
Acesso 20-jan-2016. Acesso: 20-jan-2016.

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ponto do meio dia, mal do ponto da meia Para Quebranto: Nome da criança,
noite. Se tiveres com quebranto, mau repetindo duas vezes: “você tem quebranto
olhado, feitiçaria e bruxaria, em nome de como você não me dizia, conforme eu sabia
Deus e da Virgem Maria, seja levado paras com a erva do campo com Jose e Maria
ondas do mar sagrado, onde não canta o (nome da criança) eu não te benzo quem te
galo nem a galinha e nem tem criancinha benze é nossa senhora, de quebranto e mau
chorando e nem cristão batizado. Depois olhado tirando de dentro para fora”.
rezar um Pai Nosso e uma Ave Maria.” Para Dor de barriga: Água fria
Atenção: Pode-se também realizar com um correntia, corre de noite e de dia, livra da
copo com água, uma tesoura de aço e brasa dor essa barriga minha virgem Maria
de fogão. Após ter realizado a ladainha, (coloque o dedo encima do umbigo ao
colocar a brasa dentro do copo com água. terminar o benzimento).
Despachar, também na rua. Para Estancamento de sangue:
Contra mau olhado Galho de Arruda Fazer o nome do pai, repetindo: “tava
dizendo: “Deus te fez, Deus te criou. Deus Lucas, José e Mateus, lá Lucas cortou o pé
tire o mal que no teu corpo entrou. Em com que estanca o sangue, com as três
louvor de São Pedro e São Paulo, que tire palavras de Deus. Sangue quente na veia
esse mau olhado, inveja ou feitiçaria. Assim como Jesus cristo leve no almoço, sangue
como Deus fez o mar sagrado, assim ele te estanca nessa veia como Jesus cristo leve na
tire este mau olhado ou olho grande. Assim ceia, assim como senhor Jesus cristo
como Nosso Senhor foi nascido em Belém, humilde na cruz, mesmo assim, você sangue
e crucificado em Jerusalém, assim se vá o estanca nessa veia”.
mal desta criatura se por acaso o tem”. Essa Arca caída: Repetir três vezes: “O
reza deve ser realizada com um copo com padre veste e reveste e vem dizer a missa no
água, ir molhando o galho de arruda dentro altar: arca, espinhela, ventre virado procura
do copo e ir fazendo em cruz da cabeça aos seu lugar, eu rezo essa oração para o Jesus
pés. No final, devemos jogar fora água e o nos ajudar”.
galho de arruda, do portão para fora da casa. Engasgamento: “Homem bom
Repetir por três dias seguidos. mulher má, casa velha estrela rosa, senhor
As rezas mais utilizadas para São Braz mandou dizer que é para livrar o
combater os malefícios na comunidade são: engasgo dessa boca; sobe ou desse ou
vomita ou tranca ou arranca”.

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Bom parto: O meu divino espírito serem benzidos com o sal, e depois têm que
santo, esta casa tem sete canto, cada canto dormir com o sal e os alhos debaixo da
tem sete anjos, cada sete anjos esta com sete cabeceira durante três noites. Depois, faz-se
velas nas mãos, nessa casa não vai morrer um fogo e "joga-se" lá para dentro os alhos
mulher de parto, nem anjo pagão. Amém! e o sal em cruz, para arder tudo. Há pessoas
Benzedura contra a inveja16 que a dizem três vezes e há pessoas que a
dizem nove.
Santo Inácio das Loures é de santo e é de sado Outra prática muito utilizada para
E é por santo fundado
curar através de rezas, é a Água Benta.
E é o Senhor Crucificado
Desorga! Desorga! Três vezes desorga! Então ´importante saber como se efetiva
Bruxas feiticeiras, mal de inveja
Do corpo de uma pessoa para fora essa tradicional forma de combater males.
Que não tenha que doer como elas Preparar a água benta17 - Utiliza-
Nem em casa, nem na rua, nem por onde passear
Eu te benzo com a santa segunda se o seguinte procedimento: Material -
Eu te benzo com a santa terça
Eu te benzo com a santa quarta Garrafa de vidro com água filtrada; vela
Eu te benzo com a santa quinta branca; Caixa de fósforos. Procedimento.
Eu te benzo com a santa sexta
Eu te benzo com o santo sábado 1. Antes de iniciar, lavam-se as mãos
Eu te benzo com o santo domingo
Que são as nove palavras com água corrente e enxugo-as bem.
Que Deus Nosso Senhor benzeu 2. Toma-se um copo de água filtrada
O seu bendito Filho.
em sinal de respeito e purificação.
3. Durante mais ou menos 5 minutos
fica-se em silêncio.
4. Acende-se a vela branca com
Segundo Muzi (2011), as pessoas fósforo.
têm que trazer três dentes de alho para 5. Inicia-se a benção da água.

16 17
Resumo de Joyce Muzi publicado em: A Resumo de Joyce Muzi publicado em: A
BENZEÇÃO COMO PRÁTICA BENZEÇÃO COMO PRÁTICA
TERAPÊUTICA - DANIELA ARAÚJO TERAPÊUTICA - DANIELA ARAÚJO
TEIXEIRA LEITE 1, LÉA RESENDE TEIXEIRA LEITE 1, LÉA RESENDE
ARCHANJO. Fonte de consulta: (Rezas, ARCHANJO. Fonte de consulta: (Rezas,
Crenças, Simpatias e Benzeções: costumes e Crenças, Simpatias e Benzeções: costumes e
tradições do ritual de cura pela fé -Vanda tradições do ritual de cura pela fé -Vanda
Cunha Albieri Nery -Centro Universitário do Cunha Albieri Nery -Centro Universitário do
Triângulo– Triângulo–
Uberlândia/MG)ransmutese.blogspot.com.br/ Uberlândia/MG)ransmutese.blogspot.com.br/
2011/06/o-benzimento-o-que-e-quem-pode- 2011/06/o-benzimento-o-que-e-quem-pode-
benzer.html. Quarta-feira, 8 de junho de 2011. benzer.html. Quarta-feira, 8 de junho de 2011.
Acesso: 20-jan-2016. Acesso: 20-jan-2016.

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Benzimento: Essa prática é muito
Oração: procurada por pessoas que acreditam no
poder da cura da benzeção, sendo que essas
Criatura água
Por este sinal (+ com a vela) pessoas ou familiares precisam desse tipo de
Eu te exorciso de toda mal e de toda impureza atendimento para promover a sua saúde.
Por este sinal (+ com a vela)
Eu te abençoo com a luz eterna Cada benzedeira tem o seu ritual, sua forma
Por este sinal (+ com a vela)
Eu te purifico com a benção de Deus Pai. de praticar esse ato. Sendo que algumas
Reza-se 3 pai nossos, 3 ave Marias e 3 Santo benzedeiras, segundo Silva, 2014, começam
Anjos.
a benzer com três raminhos em uma mão, o
terço na outra, o sinal da cruz na testa, e
assim começa o benzimento. Proclama o Pai
nosso, Ave Maria e as palavras do
benzimento enquanto sacode o ramo perto
do benzido e termina com o pai nosso.
A benzedeira entrevistada III,
As rezas e os benzimentos dos
explica que: “para cada doença tem um tipo
Kalunga da comunidade Prata depende do
de reza diferente e nem sempre precisa usar
conhecimento da natureza e dos
os ramos”. As pessoas que utiliza os
antepassados para sua sobrevivência, então
serviços das benzedeiras sempre acabam
algumas pessoas aprenderam a preservá-las
voltando, devido à eficácia do serviço. As
e respeitá-las, para que esses recursos
benzedeiras entrevistadas falaram que as
possam ser utilizados por seus filhos, netos
pessoas voltam porque realmente essa
e bisnetos. Esse conhecimento ainda
forma de tratamento funciona. Mas é
permanece no modo de vida dos Kalunga,
preciso que se tenha muita fé para benzer e
mas vários usos como as práticas de cura
para receber o benzimento, senão o paciente
das benzedeiras estão sendo esquecidos,
não é curado. Segundo as benzedeiras
principalmente porque os mais velhos estão
entrevistadas, elas não precisam de um
deixando de existir e esses saberes não estão
lugar especifico para realizar o ato da
sendo repassado para os jovens.
benzedura, e benzem o paciente onde ele
3.3. Práticas das Benzedeiras na estiver e se possível for, retorna às casas
Comunidade Kalunga Prata
para ver o resultado. Para elas também tem
as horas e os dias específicos para benzer,

Facit Business and Technology Journal 68 2017;2(1):68


sendo que a melhor hora para se benzer Esclarecemos que não são todos os
alguém é durante o dia, mas também têm os tipos de enfermidades que as benzedeiras
dias da semana que são melhores para conseguem curar, portanto o que lhes cabe a
benzer, e elas acreditam que o sábado é um fazer é pedir para que o paciente procure um
dia fraco para a prática do benzimento e que médico.
sexta feira é o dia mais forte.
3.3.1. As benzedeiras e o dom da cura
A entrevistada II, fala que: “para
crianças e adultos, a forma de benzer é a A comunidade Prata contou e conta
mesma, se o mau for o mesmo, a única com a presença de mulheres que preservam
prescrição é o chá após o benzimento, que o saberes surpreendentes. Mulheres que têm o
da criança pode ser um pouco mais fraco”. dom de curar, que sabem curar
Ela diz ainda que “o uso do chá é muito enfermidades sem ao menos ter ido à escola.
importante para auxiliar no benzimento”. São essas mulheres Helenas, Marinas,
De acordo com nossas entrevistadas, Julmiras, Santinas, todas doutoras da
os chás e as plantas mais usados como medicina popular. Como a comunidade não
complementos para o benzimento são: conta com atendimentos médicos, então,
sempre foram elas que fizeram o papel de
O chá da erva cidreira – calmante e
alivia dor de cólica infantil promover a saúde.
Hortelã – para má digestão e verme As benzedeiras são mulheres que
O mentrasto – anti-inflamatório
Kalunga – para baixar a febre agem no decorrer da história com um único
Matruz – para combater o verme
O picão – para crianças com amarelão objetivo, ajudar aos outros. Elas praticam o
(icterícia) ato do benzimento sem cobrar nada em
O tipi – serve para banho contra infecção
no útero após o parto troca. São pessoas simples, solidárias, e
Fedegoso – para resfriado, dor de barriga
donas de saberes e fazeres que passam de
de criança.
Sambaiba – para banho após o parto. geração para geração. Essas benzedeiras são
Pinhão roxo – para mau olhado.
Catinga de barrão – para banho após pessoas carismáticas com muitos
parto difícil. conhecimentos. Segundo Cascudo 2001
Vassourinha – para a criança quando está
com quebrante (beber e benzer) citado por Martins e Siqueira (s/d), essas
Folha de pimenta – para benzer.
Todas essas plantas auxiliam na prática mulheres benzedeiras podem ser definidas
do benzimento. como: mulher, geralmente idosa, quem tem
poderes de cura por meio de benzimento.

Facit Business and Technology Journal 69 2017;2(1):69


Elas são pessoas desprovidas de de vida, pois acreditam que, a comunidade
qualquer interesse material ou financeiro, já não lhes oferece. Os jovens que
vivem em casas simples e são felizes com o permanecem não sabem como dar
que fazem. Segundo elas, desde jovens já continuidade a esse saber. E isso causa nas
faziam essa prática, e que não se tem idade poucas benzedeiras que restam, uma
para a procura da mesma. Essa procura se preocupação, que é a perda desses
deve ao aliviamento de dores, cansaço, conhecimentos.
sensações ruins, ou seja, deve-se à Ademais, os benzimentos como
promoção de cura de varias enfermidades. cultura tradicional e suas práticas precisam
“Esse ato de benzimento ou benzeção é ser trabalhadas de alguma forma, para que
primeiramente fé, em seguida o sinal da esse conhecimento e aprendizado possam
cruz sobre o benzido acompanhado de perpetuar por mais gerações. Esse foi um
orações com ramos, para espantar os males dos objetivos desse trabalho. Dessa forma,
e para a proteção divina” (relato de uma procuramos mostrar as diferentes culturas
benzedeira da comunidade). vivenciadas, que já que os mais velhos têm
Para essa prática as benzedeiras esses saberes guardados em suas memórias,
trazem várias simbologias tais como: lenço, sendo assim, acreditamos que esse trabalho
linha cordão, ramos de planta, água benta, é de grande valia para a comunidade Prata.
etc. Essas benzedeiras têm como principal Desse modo, as 3 benzedeiras
religião o catolicismo, marcando esse aceitaram participar desta pesquisa. Para a
universo da benzeção. preservação da identidade dessas mulheres
Essas mulheres benzedeiras vêm serão usados aqui números de I, II, III e a
contribuindo com esse ato de cura por idade. A senhora I tem 73 anos, a II 76 e a
décadas, e isso tende a desaparecer, III, 78 anos de idade.
promovendo assim a perda de mais esse Nesse sentido, perguntamos:
saber empírico que se apresenta como parte
1. Quando a Senhora percebeu que
da cultura tradicional da comunidade
tem o dom de curar pela Reza?
Kalunga Prata. Pode-se observar, que nessa
comunidade há uma grande perda dos I – Quando já tava mocinha já, de
tanto ver mamãe benzeno eu aprendi,
saberes. Isso ocorre também devido à saída aí eu comecei benzer tamém.
dos jovens da comunidade que vão à II – foi quando eu benzi pela primeira
vez contra quebrante e a criancinha da
procura de estudo e de melhores condições vizinha melhorou. Fiquei muito feliz.

Facit Business and Technology Journal 70 2017;2(1):70


III – quando eu benzi pela primeira I – A gente benze de doenças que
vez foi contra o mau de espinhela remédio de médico não trata.
caída. Eu acho que foi aí que eu já II – Essas duença de cabeça que não
tinha aprendido de verdade. intendo num benzo não.
III – Eu benzo pra tudo quanto é mau,
as veis num funciona, aí eu mando
procurar um dotor.

2. Qual era sua idade quando fez o 6. Quais são as rezas utilizadas no
primeiro Benzimento? ato do Benzimento?

I – Eu acho que já tinha uns 15 Benzimento para quebrante: “Maria eu vim


anos aqui atrás de Jesus cristo, para que Jesus benze
II – Eu já tinha uns vinte anos quebrante e mau olhado. Eu sei benzer um ruim
III – Com 17 anos. que Põe dois bom, te abrando nossa senhora
que livra desse quebrante e mau olhado de
quem te botou”.
3. Na sua família tem mais alguém Engasgamento com espinha de peixe, osso ou
com esse Dom? caroço: “Homem bom mulher má fala pro
senhor São Braz que desengasgue esta
garganta, homem bom mulher má fala pro
I – Tem sim, minha mãe, minha vó e senhor São Braz que desengasgue esta
uma tia minha irmã do meu pai. garganta, sobe ou desce a procura do seu
II – que eu lembro era só mamãe, mais lugar”. O benzedor da uns tapinhas nas costas
ela falava que tinha aprendido com os pais do engasgado e ele logo começa a vomitar o
dela. que o fez engasgar.
III – Minha mãe benzia, aí eu, meu Acalmar vento forte acompanhado de
irmão e minha irmã, tudo bezemo. tempestade – Jesus cristo vistuoso filho de
Deus poderoso, o pecado que eu fiz agora para
4. Quais são os tipos de doença que a o senhor eu não digo quando eu dizer ao
Senhora (ou o Senhor) aplicam a senhor, é para saber contra a lição vivo triste e
Reza? rependido, agora eu lhe peço perdão. Perdoa-
me meu Jesus que nessa vida eu quero graça e
na outra salvação. Salve rainha! Mãe de senhor,
I - Quebrante, mau olhado, cravo do amor, eu quero que vós me de destino
engasgamento, soluço, cobreiro, e bom entendimento para receber as três
espinhela caída, erisipela e o que palavras do divino sacramento, amém!
aparecer.
II – Soluço, vento virado, ofensa de
7. São utilizados algum tipo de
cobra, mau olhado, e etc.
III – Dor de cabeça, estancamento de
remédio, por exemplo, alguma
sangue, erisipela, calmar ventania, planta medicinal, chá, etc.?
quebrante, dentre outros.
I – Sim, pra quebrante mesmo é usado o
5. A Senhora (ou o Senhor) atende chá da folha da vassourinha depois de
benzer. É bom fazer o chá pro quebrante
somente doenças físicas ou atende
saí mais ligero.
também doenças espirituais, por II – Quando a gente benze a criança que
exemplo, depressão, nervosismo, tá com dor na barriga, agente da pra ela
etc.? um chazinho, pode ser de erva sidreira,

Facit Business and Technology Journal 71 2017;2(1):71


de puejo de hortelã... I – Volto sim. Agente tem que voltar pra saber
III – Vixe nossa! O chá é muito bom pra se o doente melhorou.
ajudar a melhorar a doença. Eu quase II – a gente tem que voltar porque o benzedor é
sempre mando fazer chá. responsave pela quela pessoa doente.
III – Sempre que eu benzo eu volto na casa da
pessoa que precisa dos meus cuidados. Quando
não posso ir peço pra que vem na minha casa.
Se a pessoa não tiver melhorado aí eu falo pra
procurar o serviço dos médicos.
8. A Senhora (ou o Senhor) usam
palavras, colocam as mãos no
doente ou qualquer outro 11. A Senhora (ou o Senhor) cobra
procedimento como ramo de para fazer um Benzimento?
alguma planta durante o
Benzimento? I – Não cobro nada, mais se a pessoa quizer me dá um agrado eu recebo
II – Não. Porque Deus da esse dom pra gente é pra ajudar o nosso irmão que tá pr
I – Sim. Eu sempre pego noEntão eu não acho certo cobrar não.
doente
II – Depende da doença, se for nunca cobrei e nem pretendo, mais diz por aí que quando cobra o benzim
III – Eu
quebrante, espinhela caídamais forte.
a gente temEu não sei se é verdade.
que pegar no doente e rezar com o
ramo passano em cima dele.
III – O benzedor tem que pegar no 12. A Senhora (ou o Senhor), se
doente, porque nem sempre da pra convidados, iriam à escola fazer
saber o que é que ele tem. Us ramo, uma palestra para os alunos sobre
não é toda vez que eu uso não. Tem a sua profissão?
que saber a doença.

I – Não sei não. Não é todo mundo que


9. Tem alguma reza específica, aceita o trabalho da gente não.
dependendo da idade do doente, II – Se me chamar eu vô.
por exemplo, para crianças é uma III – num vô não. Porque as geração de
reza e ara adultos outra, ou são as hoje num quer saber nada não. Só qué
mesmas? saber das coisas moderna da cidade. Essas
coisas que a gente aprendia com o pai,com
a mãe,esses minino num que saber não.
I – É a mesma. Só o chá pras crianças que tem
que ser mais fraco um pouco.
II – Se o mau for o mesmo, a reza também é a
Todas as benzedeiras entrevistadas
mesma
III – As rezas são as mesmas. As vezes agente aprenderam essa prática de cura com seus
roga por santo diferente.
antepassados. Elas aprenderam em um

10. A Senhora (ou o Senhor) volta período em que não se tinha alternativa de
algum tempo depois à casa do cura das enfermidades, pois o acesso a
doente para verificar se ele
melhorou? médicos e hospitais era inviáveis devido à
falta de transporte para a cidade. Até nos dia
atuais, se procura muito por esses saberes
que geralmente são caracterizadas por

Facit Business and Technology Journal 72 2017;2(1):72


pessoas idosas de situação humilde, e que para acabar com tudo que estava plantado,
corre o risco de desaparecer. Segundo acabando com tudo isso ela tinha que retirar do
seu território ajoelhou e pediu a proteção divina
Pistark (2011, p. 11). "A escola não percebe quando a máquina chegou na cerca da roça ela
que é preciso trazer a vivência do educando pegou um fação e enfrentou o motorista e pediu
que ele não fizesse isso, ele respondeu: “é
para dentro da escola e devido a isso ele se ordem do patrão”, mas ela foi tão guerreira que
fez com que imediatamente ele voltasse. No
encontra cada vez mais afastado dela. A entanto o fazendeiro desistiu e acabou indo
escola tem que está ligada à vida". embora porque as pessoas descobriram que ele
era grileiro de terras.
É possível que a escola do campo
possa trabalhar em suas disciplinas as
A transmissão oral é o mecanismo
culturas dos educandos. É preciso que a
utilizado para não se deixar perder a
gestão escolar estude táticas juntamente
tradição do uso das práticas do benzimento.
com a comunidade para mudar o currículo e
O relato dessa senhora narram a importância
trazer proposta de uma educação norteadora
dessas práticas para a comunidade, fazendo
progressista onde o professor terá o papel
perceber que as benzedeiras são doutoras da
mediador transformador e o aluno como
medicina popular, onde a comunidade não
protagonista da sua vida.
só as procuram, como também confiam em
seus trabalhos.
3.4. Saberes Tradicionais: História de
Vida Elas afirmam que desde que se
entendem por gente, moram na comunidade,
Excerto 1: Dona Marina, uma e que seus pais também viviam na
Benzedeira
comunidade. A vida não foi nada fácil,

[...] dona Marina, nos anos de 1980 a cultura passaram por muitas dificuldades quando
era muito forte, todos participavam de tudo, das ainda crianças passaram fome e frio.
rezas, das folias, dos festejos etc. Agora essas
culturas estão se perdendo, pois os jovens já Ressalta a benzedeira III, que não gosta de
não se interagem mais como antigamente. Para
ela a terra é tudo, porque foi da terra que ela lembrar desse tempo ruim não. Fala que
adquiriu tudo... ouviu um trator zoando em quando chegava alguém em casa, tinham
direção a roça realmente era mesmo em sua
direção que ele ia para passar a máquina na que ficar na camarinha escondida até a
roça que tem, foi criada e criou sua filha. Então
visita ir embora, pois não tinham roupas
ela só tem orgulho da terra, a conquista pelo
seu território foi quando seu pai morreu mesmo descentes para vestir, só alguns pedacinhos
assim um fazendeiro vizinho queria tomar o seu
pedaço de chão que seu pai havia lhe deixado de pano para se enrolar.
que fosse dali que ela tirava o sustento para ela Elas relatam que o benzimento
e para a sua filha. Conta dona Marina que ela
estava limpando o seu arroz já plantado toda, sempre esteve presente em suas vidas e que

Facit Business and Technology Journal 73 2017;2(1):73


aprenderam através da observação, quando a escola pode vir a contribuir para que não
seus pais benziam e assim iam aprendendo. haja a perda total desses saberes? Questões
Quando ainda meninas, não sabiam o que essas que buscamos responder ao longo
era ir à cidade, mesmo porque ir à cidade desse texto.
era muito difícil, devido ao acesso. Portanto, acreditamos que esses
Quando as pessoas adoeciam não saberes tradicionais de várias gerações,
tinham alternativas a não ser o tratamento podem muito bem serem trabalhados nas
realizado pelas rezadeiras e benzedeiras escolas. Se essa prática faz parte da vivencia
com o uso das plantas que tem o poder de da comunidade, por que não ser trabalhado
curar. As pessoas não morriam fácil, as nas escolas, se por lei a escola tem que
grávidas tinham o parto complicado, mas o trabalhar a questão étnico racial e cultural.
neném nascia e mãe e filho viviam. Hoje em Nesse sentido o intuito dessa
dia, os médicos estão um pouco mais pesquisa foi somar e contribuir com a
acessíveis, mas há aqueles que preferem ser construção de um olhar reflexivo diante da
curados através pelas rezas e benzimentos, realidade da comunidade, não deixando se
pois acreditam no poder dos mesmos. “[...] apagar o que existe de sábio e valioso, que é
não sei ler nem escrever, mas Deus me deu o conhecimento sobre o benzimento,
esse dom, sei curar algumas doenças como: conhecimento esse que resistiu uma
quebrante, mau olhado, erisipela, espinhela trajetória histórica de muita luta.
caída, engasgamento, cobreiro, mau de
4. Educação do Campo e Educação
soluço” (ENTREVISTADA I).
Quilombola: Uma Síntese Histórica
Foi através da preocupação dessas
Nesse capítulo abordamos os
benzedeiras, que surgiram os seguintes
aspectos históricos da Educação do Campo
questionamentos, tais como: Quais os
e da Educação Quilombola. Não obstante, a
fatores e motivos que levam a pratica do
história começa a ser feita desde que se
benzimento na comunidade do prata? Qual a
nasce e, logo ali, entra-se no processo
importância desses saberes e fazeres para a
educativo. Por isso, a importância de
comunidade do prata? Qual a relação desses
propiciarmos ações que se valham de
saberes com o fortalecimento da
inúmeras possibilidades para o aprender.
comunidade do Prata? O que está levando a
Discorremos a seguir sobre a concepção de
perda desses saberes sobre a pratica de
uma educação nova, uma educação onde
benzimento na comunidade do Prata? Como
quilombolas e camponeses possam se

Facit Business and Technology Journal 74 2017;2(1):74


perceberem protagonistas, desde a formação Nesse sentido, Kolling, Cerioli e
dessa escola nova até o beneficiamento que Caldart afirmam que:
a mesma possibilita à comunidade. Mesmo
Temos uma preocupação prioritária
porque essa é uma educação que não com a escolarização da população
do campo. Mas, para nós, a
oprime, mas que emancipa os sujeitos. Essa educação compreende todos os
processos de formação das pessoas
educação tem como propósito considerar a como sujeitos do seu próprio
destino. Nesse sentido, educação
realidade dos educandos e também o tem relação com cultura, com
valores, com jeito de produzir, com
processo histórico a qual pertence. formação para o trabalho e para a
participação social (KOLLING,
CERIOLI e CALDART, 2002, p.
4.1. Escola e Educação do Campo 19).

A escola como um aparelho O Brasil possui 76,2 mil escolas


disseminador ideológico poderia a vir rurais, de acordo com dados do Censo
contribuir com a formação dos educandos Escolar 2011. A mesma pesquisa mostra
como sujeitos construtores do seu futuro que, desse total, 42 mil são multisseriadas,
incluindo nessa formação as culturas, as quase 15% ainda não possuem energia
práticas e os saberes e fazeres da elétrica, 89% não têm biblioteca e 81% não
comunidade e do território onde estão contam com laboratório de informática.
inseridos. Além da infraestrutura precária, um
As escolas do campo em que pude levantamento do Fundo das Nações Unidas
observar não trabalham as especificidades para a Infância (UNICEF) feito com base na
do campo e muito menos as culturas Pesquisa Nacional por Amostra de
tradicionais das comunidades. Ela precisa Domicílios (PNAD) de 2009 indica que
trazer para a sala de aula a vivência dos 2,5% das crianças e dos adolescentes com
educandos para que, a partir daí, eles idade entre 7 e 14 anos que vivem no campo
possam se identificar como sujeitos capazes estão fora da escola. Isso revela que ainda
de se sentirem protagonistas da sua própria estamos longe de universalizar o acesso à
história, que é uma história muito rica. A Educação Básica na zona rural e de garantir
educação no campo não está conseguindo a qualidade dele. Outro desafio é a
manter os jovens na sala de aula, ou seja, formação dos professores que atuam nas
estão cada vez mais sendo influenciados por escolas do campo. Segundo dados do
outras culturas. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais (INEP), aproximadamente

Facit Business and Technology Journal 75 2017;2(1):75


160 mil (44%) não possuem sequer ensino
A Educação do Campo nomeia um
superior18. fenômeno da realidade brasileira
atual, protagonizado pelos
Segundo Mônica Molina (s/d), as trabalhadores do campo e suas
organizações, que visa incidir sobre
principais características da escola do a política de educação desde os
interesses sociais das comunidades
campo brasileira, é que escola rural vai além camponesas. Objetivo e sujeitos a
remetem às questões do trabalho,
da localização geográfica. Ela recebe da cultura, do conhecimento e das
lutas sociais dos camponeses e ao
sujeitos cuja organização social se dá pelo embate (de classe) entre projetos de
campo e entre lógicas de
trabalho no campo. Embora por definição agricultura que têm implicações no
projeto de país e de sociedade e nas
ela seja a instituição que está no espaço concepções de política pública, de
educação e de formação humana.
rural, nas áreas assim definidas pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Ainda de acordo com Caldart
Estatística (IBGE), a identidade dela não (2012), o protagonismo dos movimentos
tem a ver somente com o lugar. Por isso, a sociais camponeses é originário da
escola precisa ter um currículo adequado Educação do Campo, e nos ajuda a puxar o
aos saberes e às necessidades dos fio de alguns eixos estruturantes desta
estudantes. É claro que a questão da experiência, e, sendo assim, nos ajuda na
localização é fundamental, a ponto de compreensão do que essencialmente ela é e
estarmos lutando para ampliar o número de na consciência de mudança que assinala e
unidades nas áreas rurais. Ainda assim, não projeta para além dela mesma.
há como desconsiderar que há escolas em Nesse sentido destacamos o curso de
mais de 4,5 mil municípios no perímetro Licenciatura em Educação do Campo
urbano com menos de 20 mil habitantes LEdoC que é um curso regular da
19
cujos alunos são camponeses . Universidade de Brasília, campus de
Planaltina, UnB/FUP, que se realiza em
4.2.1. Educação do Campo
alternância, subdividido em tempo escola e
Caldart (2012, p. 259) afirma que: tempo universidade, e tem como objetivo
formar professores, educadores para
18
Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/politicas-
publicas/entrevista-monica-molina-especialista- atuarem na escola do campo. Esse curso é
educacao-campo-732775.shtml. Acesso: 20-jan-
resultado de muita luta dos movimentos dos
2016;
19
Professora Mônica C. Molina, entrevista trabalhadores sem-terra (MST) que tinham
concedida à Revista Escola, sem data. Disponível
me: http://revistaescola.abril.com.br/politicas- como objetivo firmar lutas por políticas
publicas/entrevista-monica-molina-especialista-
educacao-campo-732775.shtml?page=1. Acesso: 20- públicas que era garantir aos trabalhadores
jan-2016).

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do campo uma educação que não seja só no pensaram e agiram juntos em função da
campo, mas que seja também do campo educação e formação para os trabalhadores
(CALDART, 2012). (CALDART, 2012). Isso foi um grande
Com efeito, a Educação do Campo acontecimento para a Educação do campo,
nasceu da luta incessante dos trabalhadores trabalhadores do campo unidos
do campo. Essa expressão nasceu coletivamente em busca de educação para
primeiramente como Educação básica do conquistar a sua emancipação.
campo, e a partir do seminário realizado em Os sujeitos da Educação do campo
Brasília em 26 a 29 de novembro 2002 são mulheres, homens, família que
passou a ser chamada de Educação do trabalham na terra, ou seja, são todos
campo, e foi reafirmada em 2004 na II trabalhadores do campo. Quando esses
conferencia nacional realizada (CALDART, discutem a Educação do Campo, tratam da
2012). Educação que se volta ao conjunto dos
Nesse sentido, a Educação do trabalhadores do campo, sejam eles
Campo surgiu como uma articulação dos quilombolas, indígenas, assentados, dentre
trabalhadores do campo, onde lutavam por outros vinculados ao trabalho e a vida no
educação, por direito a políticas públicas campo.
que atendesse aos interesses sociais dos Segundo Caldart (2012), os sujeitos
trabalhadores do campo. Esses efetivos da Educação do Campo (EdoC),
trabalhadores do campo travaram lutas têm o desafio de evitar que esta se torne um
difíceis em função de superar a conceito meramente formal, sem
desigualdade que perpassa um longo correspondência ao seu objeto, ou mesmo
período histórico, onde camponeses, que passe a identificar outro objeto, como
assalariados rurais, povos tradicionais, se outra referência de classe, um desafio que
veem excluído do modelo de sociedade que somente pode ser superado pelo seu
está imposto. movimento real de luta e construção.
A Educação do Campo surgiu com o Mesmo porque há entidades que contribuem
objetivo de associar as lutas de sujeitos fielmente para que isso aconteça.
particulares com os mesmos interesses A educação do campo foi criada
sociais em comum, e foram os próprios sobe exigências, pois para eles não era
trabalhadores quem protagonizaram, ou possível tratar da política educacional
seja, se organizaram em quanto coletivo, deslocada da questão do trabalho, da

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cultura, do embate de projetos de campo, de mostrando que o curso anda em uma linha
modelo e lógicas de agricultura, que tem de progressão20.
implicações sobre o projeto de país, de Um dos objetivos da proposta
sociedade e sobre concepções de política pedagógica é manter os alunos no meio em
pública, de Educação, e de formação que vivem, mesmo durante a graduação. Por
humana (CALDART, 2012). isso desde o primeiro semestre, os
estudantes alternam o aprendizado nas aulas
4.2.2. Licenciatura em Educação do
com a prática no campo. Após o tempo aula
Campo da Universidade de Brasília
os estudantes retornam partilhando o saber
A Licenciatura em Educação do
adquirido na universidade com a
Campo (LEdoC) é um curso de cunho
comunidade, e vice-versa.
regular oferecido pela Universidade de
A LEdoC vem com a visão de
Brasília (UnB), ofertado nos princípios da
superar a educação que se reduz a
Pedagogia da Alternância, e está
escolarização. Para ela deve se compreender
subdividido em Tempo escola e Tempo
a Educação do Campo vinculada à vida dos
Comunidade. Tem como objetivo capacitar
sujeitos, traçando processos formativos.
professores e educadores para as escolas do
Segundo Molina e Sá, a Educação do
campo. Os componentes curriculares eram
Campo compreende os processos culturais,
divididos em duas áreas de conhecimento
as estratégias de socialização e as relações
(habilitações): Ciências da natureza e
de trabalho vividas pelos sujeitos do campo,
Matemática, e linguagens. Agora, no ano de
em suas lutas cotidianas para manterem essa
2015, está na oitava turma, e a Matemática
identidade como elementos essenciais de
passou a ser oferecida separadamente. No
seu processo formativo (MOLINA e SÁ,
entanto, atualmente são três habilitações que
2012, p. 467).
o curso oferece. Anualmente eram
A LEdoC tem como intenção formar
oferecidas 60 vagas para alunos do campo
educadores que estejam aptos a atuar para
com carga horária de 3525 horas\aula e 235
muito além da educação escolar, capazes de
creditos, integralizados em oito etapas
promover profunda articulação entre escola
(semestres). Já na turma 08 foram
e comunidade. Ela quer garantir a formação
oferecidas 120 vagas. O que é bom,
de sujeitos que estejam preparados tanto

20
Fonte:
http://www.unb.br/aluno_de_graduacao/cursos/educa
cao_do_campo. Acesso: 20-jan-2016.

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para a habilitação da docência por área de se concretizar um fazer pedagógico para
conhecimento, para a gestão de processos essas comunidades BRASIL, 2010).
educativos escolares quanto para a gestão de Segundo dados da Fundação
processos educativos comunitários. Cultural Palmares no Brasil, existem hoje
3.754 comunidades remanescente de
4.3. Educação Quilombola
quilombos. Mas de acordo com outras
O ensinar está relacionado a fontes esse numero pode chegar a 5 mil. E
demandas que nós nos fazemos ou que a as escolas que existem para atender essa
sociedade nos faz. Esse procedimento, em parcela da população ainda são
um primeiro momento, dá vazão a uma insuficientes. Então, é dever do Estado
ideia de exigência, e de certa forma o é, mas superar essa situação e a sociedade civil
não é qualquer exigência. Trata-se de um pressionar para que o mesmo implemente
olhar mais focalizado para um horizonte políticas públicas que garantam o direito a
relativamente esquecido nas produções especificidade da educação escolar
acadêmicas, especialmente as educacionais: quilombola (BRASIL,2011).
um espaço rural e negro (BRASIL, 2010, Foi iniciado em 2011 pela Câmara
p.139). Os quilombos sempre foram de Educação Básica (CEB) do Conselho
tratados na historiografia e na Educação Nacional de Educação (CNE), o processo de
brasileira como se restringindo a redutos de elaboração das diretrizes curriculares
escravos fugidos e a experiência do período nacionais para a educação escolar
escravista. No entanto, esse espaço formado quilombola. Essas diretrizes vieram a
por todo o país não foi somente para fuga e público em 2012, e é o que vai orientar os
resistência ao sistema vigente, mas também sistemas de ensino para que possam colocar
em busca de espaço em uma perspectiva em prática essa educação tão almejada e
dinâmica onde poderiam reproduzir um esperadas pelos quilombos, uma Educação
modo de vida culturalmente próprio. que tenha um dialogo com a realidade
Mobilizados enquanto militantes e sociocultural e política das comunidades e
parlamentares negros já se conseguiram do movimento quilombola.
algumas conquistas como, por exemplo, as Essa escola deverá se tornar um
terras reconhecidas como propriedade espaço educativo que efetive o diálogo entre
definitiva. Todavia, hoje o quilombo tem o conhecimento escolar e a realidade local,
um desafio, que é inaugurar caminhos para valorize o desenvolvimento sustentável, o

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trabalho, a cultura, a luta pelo direito á terra mas eles desejam uma escola sua, da
e ao território (BRASIL, 2011). Portanto a comunidade, onde suas diferenças sejam
escola precisa de currículo, projeto político respeitadas.
pedagógico, espaços, tempos, calendários, e Cada vez mais as comunidades
temas adequados às características de cada remanescentes de quilombos no Brasil
quilombola para que o direito a diversidade buscam o reconhecimento de seus direitos, a
se concretize. Os quilombolas preocupam- valorização de sua cultura, a afirmação de
se com seu futuro e têm claro interesse em sua identidade e uma maior participação na
que a educação faça parte de seus projetos sociedade envolvente. Portanto, é necessário
de futuro, porém são muitas as barreiras a que sejam integradas à sociedade brasileira,
vencer para implantar um ensino voltado do ponto de vista sociopolítico e
para a realidade dos povos negros econômico, por meio de políticas públicas,
quilombolas. uma vez que elas são discriminadas das
O que a série Educação Quilombola mais variadas formas e privadas de direitos
pretende oferecer aos professores é fundamentais (BRASIL, 2007).
conhecimentos para atuarem efetivamente Do ponto de vista geopolítico-
em sala de aula na formação da cidadania, administrativo, as comunidades quilombolas
com respeito pelas diversas matrizes pertencem a diversos municípios, entretanto
culturais, a partir das quais se constrói a as identidades negras revelam-se
identidade brasileira. Ainda tem a pretencão firmemente enraizadas nos diversos
também de valorizar as nossas origens e a territórios históricos e geográficos bem
nossa história, como condição de afirmação delimitados (BRASIL, 2007, p. 22).
da nossa dignidade enquanto pessoas e de Tendo o domínio de informações
nossa herança cultural, como parte da acerca dos direitos humanos, das políticas
infinita diversidade que constitui a riqueza públicas e dos direitos garantidos em lei,
do ser humano. Esses valores se revelam imprescindíveis à sua luta, os (as)
essenciais numa sociedade marcada, quilombolas poderão exigir a garantia de
simultaneamente, por uma formação seus direitos de forma efetiva, podendo
pluriétnica e pelo peso da herança assim, intervir e participar de forma mais
escravocrata (BRASIL, 2007). Ademais, a qualificada. Assim sendo, a educação:
escola tem um papel fundamental para os
[...] é um instrumento privilegiado
moradores dos quilombos contemporâneos, para formar cidadãos capazes de
conhecer e compreender, para saber

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discernir e, se necessário, mudar a assim possam atuar, questionar, reivindicar
sociedade em que vivem. Atentar
para a composição multicultural do e exigir respeito à sua história
povo brasileiro é condição
essencial quando se tem por
objetivo formar alunos e
professores para o exercício da Considerações Finais
cidadania (BRASIL, 2007, p. 22).

Pode se observar que a pratica de


Discutir uma concepção de
benzimento, juntamente com a crença
conhecimento para quilombolas significa
popular ainda se encontra muito viva na
pensar em uma formação curricular onde o
comunidade Kalunga Prata. É notável que a
saber instituído e o saber vivido estejam
procura pelos serviços das benzedeiras são
contemplados, provocando uma ruptura em
constantes pela aquelas pessoas que tem fé e
um fazer pedagógico em que o currículo é
que acreditam na cura através do
visto enquanto grade, hierarquicamente
benzimento. Isso acontece porque o povo
organizado com conteúdos que perpetuam o
Kalunga dessa comunidade foi criado nesse
poder para que determinados grupos
ambiente de curar pela fé e através das
continuem a outorgar (BRASIL, 2010).
plantas medicinais, uma vez em que não
Quilombolas estudam conteúdos
havia a medicina cientifica acessível a eles.
completamente desvinculado de suas
Os católicos da comunidade
especificidades, muitos nem amenos
acreditam no poder que as benzedeiras têm
entendem ou sabem sobre a história e
de curar através da fé, orações e ramos
cultura africana e afro-brasileira. Só sente
verdes. Sabem que são bem cuidados por
na pele a força do preconceito racial pela
essas doutoras da medicina popular.
sociedade brasileira, pressupondo o negro
Muitas vezes os Kalungas da
ser o contrário do branco e nada mais.
comunidade Prata recorrem as benzedeitras
Portanto as comunidades têm a necessidade
antes de procurarem os serviços dos
urgente de que na matriz proposta se
médicos, pois acreditam que podem ser
viabilize a implementação da lei n
curados por benzimentos e medicamentos
10.639\2003 no contexto escolar. Essa
naturais. Os serviços médicos só são
implementação é um desafio para que toda a
procurados se por acaso a enfermidade não
sabedoria relacionada à história e a cultura
for tratada pelas bezedeiras. Nesse caso as
africana e Afro-brasileira se torne um
benzedeiras são as primeiras a mandar
conhecimento presente, efetiva e
procurar os serviços médicos se o
positivamente, na sala de aula para que
tratamento não estiver à seu alcance.

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Através das entrevistas ficou claro desvinculado do meio onde vive e do modo
que para realizar o benzimento é preciso que vive. Nesse sentido os estudantes serão
que se tenha fé, e que qualquer pessoa pode formados para a vida e não mais como mãos
aplicar o tratamento, mas desde que se tenha de obras para o mercado de trabalho.
fé. Pois a fé é fundamental e é o principio
REFERÊNCIAS
de tudo para as benzedeiras.
As benzedeiras têm preocupações, e BAIOCCH, Mari de Nasaré. Kalunga:
Povo da terra/Mari de Nasaré Baiocch. –
isso ficou bem explicito durante as
Brasília: Ministério da Justiça de Estado dos
entrevistas. Elas se preocupam, pois as Direitos Humanos, 1999.124p.
novas gerações não estão interessadas em
BOING, Lucio; Stank; Marco Antonio.
dar continuidade a esses saberes, e também Benzedeiras e benzimentos: praticas e
representações no município de Ivaporã /PR
porque daqui a alguns anos não vão ouvir
(1990–2011). São Paulo: UNESP, 2013,
falar dessas MULHERES que curavam pela p.85.
fé, doutoras da medicina popular.
BRASIL/MEC/SEF. Uma história do povo
De alguma forma esses saberes tem Kalunga. Brasília: MEC,2001.
que ser lembrados, tem que ser registrados BRASIL. Decreto N. 6.040, de 7 de Fevereiro
para que não venha cair no esquecimento. A de 2007. Institui a Política Nacional de
Desenvolvimento Sustentável dos Povos e
educação escolar tem como por obrigação Comunidades Tradicionais. Brasília, 7 de
fevereiro de 2007.
falar desse povo tradicional, falar de seus
saberes e fazeres, da sua cultura, para que BRASIL. Orientações e Ações para a
possam se reconhecer como herdeiros de Educação das Relações Étnicos-Raciais.
Brasília: SECAD, 2010.
uma ancestralidade que foi de fundamental
importância para a formação do povo CALDART, Roseli Salet; PEREIRA, Isabel
Brasil; ALENTEJANO, Paulo e
brasileiro e da cultura do nosso país. FRIGOTTO, Gaudêncio. Dicionario da
A Educação do Campo é um curso educação do Campo. Rio deJaneiro, São
Paulo: Escola Politécnica de Saúde Joaquim
que visa formar professores e gestores Venâncio, Expressão Popular, 2012.
militantes com objetivos de que a vida dos
estudantes não seja desassociada da sala de
CALDART, Roseli Salete - Educação do
aula, ou seja, que a vida socialmente útil dos Campo. In: Dicionário da Educação do
estudantes estejam interligada a educação Campo. Caldart, R. et al (orgs.) Rio de
Janeiro: Expressão Popular, 2012.
escolar, para que assim possam se sentir
dentro do processo educativo, e não mais CUPERTINO, Maria Cristina,1982.
Juventude rural quilombola:

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Identificação, reconhecimento e políticas educação do campo / Rosana Lacerda
públicas.-Viçosa, MG, 2012. Monte Alto. – Uberaba, 2012.

DULTRA, Mara Vanessa Fonseca. Direitos PISTRAK, Moisey Mikhaylovich.


quilombolas: Um estudo do impacto da Fundamentos da escola do trabalho. SP:
cooperação ecumênica. Rio de Janeiro: Expressão Popular, 2011.
KOINONIA presença Ecumênica e
Serviço.2011. SARAIVA, Regina Coelly Fernandes.
Saberes, fazeres e natureza nas vozes de
GONÇALVES, Artur Teixeira. mulheres da Chapada dos Viadeiros.
http://metodologiadapesquisa.blogspot.co Goias. 2009.
m.br/ dia da realização da pesquisa
01\12\2014. SARAIVA, Regina Coelly Fernandes. et al.
Saberes e fazeres tradicionais do cerrado:
MARTINS, Francisco Diego Mesquita; sabão de Tingui (Margonia Pubescens).
SIQUEIRA, Josiane Gregório. Rezadeiras Brasília: DF: Decanato de Extensão/ UnB,
mulheres importantes na cultura popular. 2012.
http://www.ifce.edu.br/miraira/GrupoD
naCultura Popular.pdf data: 01\12\2015. SILVA, Aneli Soares da. Uso das plantas
medicinais do cerrado na comunidade
MOLINA, Mônica Castagna; SÁ, Lais Kalunga, Ribeirão dos Bois, Teresina –
Mourão - Educação do Campo. In: GO. 2013.
Dicionário da Educação do Campo.
Molina, M; Sá L. et al (orgs.) Rio de SILVA, Giselda Shirley da. Um cotidiano
Janeiro: Expressão Popular, 2012. partilhado: Entre prÁticas e representações
http://www.unb.br/aluno_de_graduacao/curs de benzedores e raizeiros -2007.
os/educacao_do_campo. Dia da realização
da pesquisa 20/01/2016. SILVA, Grasiela dos Santos: As
benzedeiras na promoção da saúde da
MONTE ALTO, Rosana Lacerda. Saberes e criança no município de Padre Bernado –
fazeres quilombolas: diálogos com a GO. Brasilia, 2014. Trabalho de conclusão
(Bacharel em
Saúde Coletiva) - Faculdade de Ceilândia, Universidade de Brasília/UnB, Ceilândia, 2014.

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