Peterman e Hansem (2018)
Peterman e Hansem (2018)
Peterman e Hansem (2018)
ISSN: 1984-5057
revistasignosdoconsumo@usp.br
Universidade de São Paulo
Brasil
DOI: https://doi.org/10.11606/issn.1984-5057.v10i2p38-52
http://dx.doi.org/10.11606/issn.1984-5057.v10i2p38-52
PUBLICIDADE, INSTITUCIONALIDADE E
FORMAÇÃO PUBLICITÁRIA
Advertising, institutionality, and advertising education
Publicidad, institucionalidad y formación publicitaria
artigo
Rodrigo Stéfani Correa
Universidade Federal de Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil.
Doutor em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, atua
como professor adjunto na Universidade Federal de Santa Maria, onde aplica-se aos estudos e
pesquisas em duas áreas distintas: processos criativos e estudos de mercado. Mestre em Ciências
da Computação pela Universidade Federal de Santa Catarina e membro pesquisador do grupo
de pesquisa Publicidade nas Novas Mídias (CNPq/UFPE), com publicação do livro Propaganda
digital. Líder do grupo de pesquisa O Ensino e Aprendizagem de Criação Publicitária. Experiência
profissional nos campos de comunicação digital e linguagem publicitária multimídia.
E-mail: rodrigo.correa@ufsm.br
Juliana Petermann
Universidade Federal de Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil.
Doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, é professora
no curso de Publicidade e Propaganda e no Programa de Pós-Graduação em Comunicação na
Universidade Federal de Santa Maria. Atua principalmente nos seguintes temas: criação publicitária,
ensino de criação publicitária, criatividade, marcas e seus discursos, estratégias de significação,
análise de imagens publicitárias. Coordena o grupo Nós – Pesquisa Criativa. Recebeu o Troféu
Reconhecimento da Associação Riograndense de Propaganda em 2014. Foi escolhida professora do
ano, recebendo o Prêmio Destaque em Ensino na UFSM em 2017.
E-mail: jupetermann@yahoo.com.br
Fábio Hansen
Universidade Federal do Paraná, Paraná, Brasil.
Doutor em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, é professor adjunto no
Departamento de Comunicação Social e professor permanente no Programa de Pós-Graduação
em Comunicação da Universidade Federal do Paraná. Atua na linha de pesquisa “comunicação e
formações socioculturais”, articulando suas investigações com grupos de pesquisa certificados no
CNPq: Ensino Superior de Publicidade e Propaganda e Estudos sobre Comunicação, Consumo e
Sociedade. Desenvolve pesquisas sobre criação publicitária, ensino e formação em publicidade e
propaganda. Mestre em Educação, Administração e Comunicação pela Universidade São Marcos,
graduado em Publicidade e Propaganda pela Universidade de Passo Fundo.
E-mail: fabiohansen@yahoo.com
ABSTRACT Propositions set forth in this article encompass the first phase of the
interinstitutional research project on the teaching of advertising and creation. They echo
works developed with Escola Superior de Propaganda e Marketing (RS), Universidade
Federal de Pernambuco (PE), and Universidade Federal de Santa Maria (RS). At this
stage, the main goal was to explore those teaching practices deemed institutionalized,
which are fundamental for the understanding of certain pedagogical characteristics
that are favourable to a sense of ‘innovation’ in teaching dynamics related to issues
of creativity. Theoretical inputs by Piaget, Edgar Morin, and Vygotsky are especially
considered regarding guidance processes, in which three specific dimensions are put in
place: interaction, techniques, and conditions of ambience, equally tensioned by Berger
and Luckmann’s projections as well as other texts by collaborating researchers, who
have carried out a longitudinal study in every region of Brazil, but the North.
KEYWORDS Advertising, Creativity, Pedagogy, Interaction.
APRESENTAÇÃO
ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS
Dimensão interacional
Quando pensamos o ensino de criação publicitária, com recorte para
explorar a necessidade de uma nova perspectiva educativa, tentamos
nos pautar em algumas proposições teóricas que são parte do princípio
inicial (da estrutura) de nossas pesquisas. Consideramos, portanto, o
pressuposto de que houve uma mudança da relação entre professor e
aluno e de que, por grande parte da história, a atuação docente seguiu
um modelo cartesiano, como o da educação “bancária”, que resiste nos
dias de hoje.
Dimensão técnica
Dimensão do meio
48 SIGNOS DO CONSUMO
Quadro 1. Síntese dos procedimentos de análise.
Dimensão: interacional Dimensão: condições técnicas Dimensão: condições do meio
Nível médio: o diálogo se efetiva de modo intenso nos Nível médio: as turmas apresentam uma configuração
Nível médio: os trabalhos criados são apresentados
pequenos grupos (de dois a três estudantes), tornando-se razoável em relação ao número de alunos que desenvolvem
oralmente apenas eventualmente. Por extensão, o
uma relação conjunta do professor e do grupo de alunos os trabalhos de criação publicitária. Essa condição permite a
compartilhamento com a turma dos resultados e das
no ato comum do conhecimento. Os exercícios raramente formação de pequenos grupos – compostos por dois ou três
avaliações ocorre apenas quando os trabalhos propostos
são individuais, o que reforça o caráter interacional entre os estudantes – com suportes adequados.
são mais complexos e extensos, fazendo parte de um
ESPM estudantes; nos pequenos grupos há interação em maior Os laboratórios não possuem distinção de qualidade em
episódio isolado. No momento das atividades em grupo são
nível, contribuindo ainda mais para o conhecimento. O relação às escolas públicas, visto que existem limitações
geradas, inclusive, propostas que envolvem mais de uma
que pode ser considerado baixo é o fato de os trabalhos/ técnicas em diferentes níveis, algo muito similar às outras
disciplina – projetos interdisciplinares. Logo as proposições
atividades no decorrer do semestre raramente serem instituições analisadas. A tradição da ESPM como uma escola
interdisciplinares favorecem o cruzamento de conhecimento
apresentados e compartilhados com a turma toda (esfera integrada ao mercado também gera uma condição simbólica
e estimulam a produção colaborativa.
centrada no professor). que merece destaque.
Nível médio: o professor optou por não seguir o programa
Nível alto: o professor a todo momento interpela os alunos e Nível baixo: embora tenha trabalhado com o conceito de duplas
oficial da disciplina, adaptando o conteúdo ao seu método
projeta problemas, incitando discussões e debates reflexivos (criativas), as aulas aconteceram de forma improvisada nos
de trabalho. Mesmo assim, o professor oferece diversas
que permitem a exposição de inúmeras possibilidades espaços da agência experimental. O professor encontrou, em
possibilidades de aplicação prática (uma gama de exercícios
ideativas. Em várias situações é permitido o diálogo e a alguns momentos, dificuldades para interagir com a turma,
com problematizações distintas) e oferece muitos suportes
contraposição de críticas que se concretizam com primor, considerando que as dimensões do espaço favoreciam a
UFPE de trabalho (computadores, internet, projetor, sistema de
haja vista que o professor costuma dar devolutivas mais dispersão e um baixo rendimento da produção in loco.
áudio e softwares de edição).
extensas em meio à apresentação do produto final de cada Em alguns momentos as aulas tiveram que ser interrompidas
Em alguns momentos da disciplina utilizou as mídias
trabalho, além de abrir terreno para a participação dos porque alunos dispersos deixavam de colaborar no processo
digitais (Facebook) como ferramenta de compartilhamento,
estudantes na crítica e autocrítica, a fim de encorajar a troca de discussão pedagógica e desvirtuavam a atenção de outros
submissão de arquivos e canal de resposta para as
e o compartilhamento. estudantes mais interessados.
orientações, embora de forma desproporcional.
Nível baixo: sobre a formação de equipes até cinco alunos, Nível alto: os professores são proativos, criam estratégias Nível médio: em agência experimental os grupos não possuíam a
mesmo entendendo que em certas ocasiões esse tipo de pedagógicas em níveis distintos, com a proposta de exercícios obrigação de permanecer no ambiente de sala de aula o tempo
desenho pode ser pertinente em face da complexidade que vão dos mais simples aos mais complexos: criação de todo. A criação poderia ser feita no jardim da universidade, nos
dos desafios criativos, constatamos que em determinados roteiros, produção de spot para rádios e desenvolvimento de corredores, na sala do diretório acadêmico etc. Os professores
momentos essa postura, além de sobrecarregar alguns campanhas publicitárias e outros textos. iam até o local em que os grupos estivessem. O isolamento
membros da equipe, dificultava a interação do docente com Em certas ocasiões o professor organizou um sistema de dos grupos e sua alocação em lugares que lhes pareciam
UFSM
o processo de aprendizagem. No entanto, em trabalhos mais compartilhamento de arquivos através do qual prestava mais cômodos permitiram um ambiente mais frutífero, já que
simples, quando a situação pedia a criação de roteiros para orientação on-line para a confecção de roteiros. Em mais silencioso e calmo. Assim as conversas entre docentes
peças publicitárias de rádio e de televisão, nas disciplinas de redação audiovisual o professor organizava orientações e discentes eram mais demoradas e sem a preocupação com
Redação Audiovisual e de Redação para Rádio, os docentes coletivas e todos os alunos podiam opinar em todos os interrupções ou ruídos de outros estudantes. A organicidade do
optaram por trabalhar em formato de duplas, criando outra trabalhos, o que gerava discussões interessantes e uma processo aumentou a ludicidade do ambiente e horizontalizou o
dimensão dialógica, sem exclusão de estudantes. descentralização do papel docente. protagonismo do professor com o dos estudantes.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.
Rodrigo Stéfani Correa et al.
ASPECTOS FINAIS
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52 SIGNOS DO CONSUMO