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Trabalho de Direitos Reais

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UNIVERSIDADE LICUNGO

FACULDADE DE LETRAS E HUMANIDADES


DEPARTAMENTOD DE FILOSOFIA E CIENCIAS SOCIAIS

LICENCIATURA EM DIREITO

DIREITOS REAIS

NOCCAO DA POSSE

GILBERTO ALFREDO NHANTUMBO JUNIOR

Beira
2024
GILBERTO ALFREDO NHANTUMBO JUNIOR

NOCCAO DA POSSE

Trabalho de pesquisa e
investigação a ser entregue, na
cadeira de Direitos Reais, ao curso
de Licenciatura em Direito, no
Departamento de Filosofia e
Ciências Sociais, na Faculdade de
Letras e Humanidades.

Docente: Msc. Samuel Miquissene

Beira
2024
Índice
1. INTRODUCAO...........................................................................................................................2
2. PROBLEMATICA.....................................................................................................................3
3. OBJECTIVO GERAL....................................................................................................................4
4. METODOLOGIA.......................................................................................................................5
5. A NOÇÃO LEGAL DA POSSE.................................................................................................6
5.2. As Funções da Posse...............................................................................................................7
9. Os FACTOS TRANSLATIVOS DA POSSE..........................................................................12
11. OS FACTOS EXTINTIVOS DA POSSE............................................................................13
12. EFEITOS DA POSSE...........................................................................................................14
13. OS MEIOS DE DEFESA DA POSSE.................................................................................16
15. CONCLUSAO.......................................................................................................................19
16. BIBLIOGRAFIA..................................................................................................................20
1. INTRODUCAO

A posse é um instituto fundamental no Direito Civil, desempenhando um papel crucial nas


relações jurídicas relacionadas aos bens e à propriedade. Trata-se de um conceito que,
embora frequentemente confundido com a propriedade, possui características e implicações
próprias. A posse refere-se ao controle de fato que uma pessoa exerce sobre um bem,
podendo ser de maneira direta ou indireta, com ou sem a intenção de ser proprietária.
A importância do estudo da posse reside na sua capacidade de resolver conflitos e garantir a
segurança jurídica nas relações de uso e gozo dos bens. A posse é protegida pelo
ordenamento jurídico, que reconhece direitos ao possuidor, independentemente de ele ser ou
não o proprietário do bem. Esse reconhecimento é evidenciado pela existência de
mecanismos legais destinados a proteger a posse, como os interditos possessórios.
Nesta monografia, propõe-se uma análise detalhada do conceito de posse, sua fundamentação
teórica, e a aplicação prática nas disputas possessórias. Serão abordados os tipos de posse,
como a posse justa e injusta, de boa-fé e de má-fé, bem como os efeitos jurídicos decorrentes
de cada uma dessas classificações. Adicionalmente, será explorada a distinção entre posse e
propriedade, destacando os princípios que orientam a proteção possessória e os
procedimentos legais previstos para a defesa da posse.
O objetivo deste trabalho é proporcionar uma compreensão abrangente e detalhada do
instituto da posse, evidenciando sua relevância e as implicações jurídicas no contexto do
Direito Civil. Através desta análise, busca-se contribuir para a formação de um conhecimento
aprofundado que possa auxiliar na resolução de conflitos e na promoção da justiça nas
relações possessórias
2. PROBLEMATICA
A abordagem da posse no direito moçambicano envolve uma análise dos fundamentos legais
e das práticas sociais relacionadas à posse de bens e terras em Moçambique. Aqui estão
alguns pontos-chave a serem considerados ao elaborar uma monografia sobre posse no direito
moçambicano:
1. Contexto Legal e Constitucional
Constituição de Moçambique: Explorar as disposições constitucionais relacionadas à posse e
à propriedade, incluindo direitos e garantias dos cidadãos.
Legislação Civil e Fundiária: Analisar o Código Civil de Moçambique e outras leis
pertinentes que regem a posse e a propriedade de terras e bens.
2. Conflitos de Posse
Disputas de Terras: Investigar as causas e a resolução de conflitos de posse de terras,
incluindo disputas entre comunidades locais, empresas e o Estado.
Mediação e Resolução de Conflitos: Avaliar os mecanismos de resolução de disputas
utilizados em Moçambique, tanto formais quanto informais.
3. Proteção Jurídica da Posse
Interpretação Judicial da Posse: Analisar decisões judiciais relevantes relacionadas à posse
em Moçambique e como os tribunais interpretam e aplicam as leis de posse.
Garantias Legais para Possuidores: Examinar as proteções legais disponíveis para os
ocupantes de terras e bens em Moçambique, incluindo medidas preventivas contra a remoção
arbitrária.
3. OBJECTIVO GERAL
1. Analisar as principais teorias que fundamentam o conceito de posse no direito.
2. Examinar as diferenças entre a posse de boa-fé e a posse de má-fé.
3. Avaliar os direitos e deveres dos possuidores, conforme estabelecidos pela legislação.

3.1. OBJECTIVOS ESPECIFICOS


1. Analisar a definição legal de posse e suas distinções em relação a propriedade.
2. Debruçar sobre os tipos de posse.
4. METODOLOGIA
Esta seção descreve os métodos e procedimentos utilizados para a coleta e análise de dados
sobre a posse. A metodologia é essencial para garantir a validade e a confiabilidade dos
resultados da pesquisa.
 Tipo de Pesquisa
Esta pesquisa é de natureza qualitativa, com enfoque exploratório. O objetivo é entender as
diferentes dimensões da posse, suas implicações jurídicas e sociais, bem como as variações
na interpretação e aplicação desse conceito em diferentes contextos.
 Fontes Secundárias
Literatura Acadêmica: Livros, artigos científicos, teses e dissertações sobre o tema da
posse.
Documentos Legais: Leis, decretos, decisões judiciais e outros documentos legais que tratam
da posse.
5. A NOÇÃO LEGAL DA POSSE
A noção legal de posse está definida no artigo 1175 do Código Civil, que a caracteriza como
o poder que se manifesta quando alguém atua por forma correspondente ao exercício do
direito de propriedade ou de outro direito.

No entanto, esta definição não está isenta de críticas, especialmente por parte do Sr. Prof.
José Alberto Vieira, que levanta três pontos principais de contestação:

1. Termo poder: O professor Vieira argumenta que o uso do termo é inadequado no


contexto jurídico. Ele afirma que; sugere uma situação jurídica ativa menos
abrangente do que um direito subjetivo. Em realidade, a posse abrange vários poderes,
não apenas um. Por isso, o termo, não é suficientemente preciso para definir a
complexidade e a amplitude da posse, tornando-o inadequado para uma definição
jurídico-científica.
2. Poder que se manifesta: A expressão que implica que a posse requer uma
manifestação prática, ou seja, uma ação concreta e visível sobre a coisa. No entanto,
isso não é sempre o caso. Existem situações, previstas nos artigos 1179 e 1181/1 do
Código Civil, onde o ordenamento jurídico permite que a posse seja mantida sem que
haja uma atuação material direta sobre a coisa. Por exemplo, a posse pode ser mantida
mesmo quando o possuidor não está fisicamente presente ou atuando diretamente
sobre o bem. Assim, esta definição falha em capturar todas as nuances da posse.
3. Exercício do direito de propriedade/direito real: A posse, conforme definida no
artigo 1175, pode não necessariamente corresponder a um direito real. Em muitas
situações, a posse pode estar associada a um direito pessoal de gozo, que não é
propriamente um direito real, mas um direito que permite ao possuidor usufruir do
bem de determinada maneira. Portanto, a definição legal limita-se e pode induzir a
uma compreensão errônea ao não abranger todas as formas de posse.

5.1. A Autonomia da Posse


A posse é amplamente reconhecida como autônoma em relação ao direito de propriedade, o
que é uma realidade consolidada tanto no sistema jurídico quanto na doutrina. A posse e a
propriedade são tratadas em capítulos distintos no âmbito dos direitos sobre as coisas, o que
reflete a distinção entre esses conceitos. A posse pode referir-se a direitos que vão além da
propriedade, incluindo direitos reais de gozo e outros direitos, como direitos pessoais ou
direitos reais de garantia. Esta autonomia significa que a posse pode existir
independentemente do direito de propriedade, desempenhando um papel próprio e específico
no ordenamento jurídico.

5.2. As Funções da Posse


A doutrina jurídica contemporânea identifica três funções principais da posse, que são
frequentemente discutidas em relação às teorias sobre o conteúdo da posse. Essas funções
refletem tanto a importância prática quanto teórica da posse no sistema jurídico.

1. Função de Proteção: Esta função da posse se revela através das ações possessórias e das
ações de indenização pela violação da posse. A proteção oferecida ao possuidor inclui a
capacidade de reagir contra ameaças, turbações e esbulhos da coisa possuída. O possuidor
tem o direito de buscar reparação dos prejuízos causados por terceiros que violam a posse.
Esta função é crucial para manter a estabilidade e a segurança na posse de bens, garantindo
que o possuidor possa exercer seu direito sem interferências ilegítimas.

2. Função de Conservação: A função de conservação da posse se manifesta na tutela


jurídica atribuída ao possuidor contra quem constituiu o direito a seu favor. Esta função
fortalece a posição do titular de direitos pessoais de gozo, reforçando a tutela desses direitos
contra terceiros. Além disso, a função de conservação consolida no possuidor o direito real de
gozo exteriorizado na posse, como ocorre na usucapião. A usucapião é um mecanismo pelo
qual a posse prolongada e contínua pode levar à aquisição do direito de propriedade,
demonstrando como a posse pode se transformar em um direito real consolidado.

3. Função de Publicidade: A posse também desempenha uma função de publicidade,


criando uma presunção de titularidade do direito à posse. Esta função é fundamental para a
tutela da boa-fé e para a transmissão de direitos reais. A publicidade da posse facilita a
identificação do possuidor legítimo e protege os interesses de terceiros que atuam de boa-fé
ao confiar na aparência de titularidade gerada pela posse. A presunção de titularidade também
simplifica e agiliza as transações jurídicas, conferindo maior segurança e previsibilidade ao
sistema jurídico.

5.2.1. Funções da Posse Segundo a Regência


A regência legal oferece uma sistematização diferente das funções da posse, destacando
quatro principais. Estas funções são cruciais para entender o papel da posse no ordenamento
jurídico e como ela contribui para a estabilidade social e jurídica.
5.2.1.1. Atribuir Provisoriamente um Direito:
A posse confere temporariamente um direito a quem tem o controle material de uma coisa
corpórea. Esta atribuição é provisória, pois em certas situações pode ser resolúvel. Por
exemplo, o possuidor formal mantém sua posse apenas enquanto a titularidade do direito real
de gozo não é contestada ou comprovada por outro (exceptio domini). Isso significa que a
posse serve como uma garantia temporária até que a titularidade legítima seja determinada.

5.2.1.2. Função de Prevenção da Violência e Garantia da Paz Social:


A posse desempenha um papel fundamental na prevenção da violência e na garantia da paz
social. Isso ocorre porque todos sabem que a posse constitui uma afetação jurídica da coisa ao
possuidor, e que qualquer ofensa a esta posse é considerada uma ação ilícita reprimida pela
ordem jurídica. Esta função assegura que o controle material de um bem seja respeitado,
protegendo o possuidor contra agressões e usurpações, o que contribui para a estabilidade
social.

5.2.1.3. Dirimir Litígios através do Regime da Posse:


A posse é usada como um mecanismo para resolver disputas. Quando há conflito sobre a
titularidade ou o uso de um bem, o regime da posse oferece um meio para dirimir tais litígios.
Isso se deve à presunção de titularidade associada à posse, que pode servir como base para
decisões judiciais e administrativas, proporcionando uma solução rápida e eficaz para
disputas sobre direitos possessórios.

5.2.1.4. Valoração Jurídica e Económica da Simples Posse:


A simples posse tem uma valoração tanto jurídica quanto econômica. Isso significa que
possuir algo, mesmo sem ser o proprietário formal, confere ao possuidor certos direitos e
proteções que têm valor jurídico. Além disso, a posse de bens, especialmente imóveis, pode
ter um impacto significativo no valor econômico desses bens, afetando transações comerciais
e a economia em geral.

5.3. Função Publicitária da Posse

A função publicitária da posse é especialmente relevante para bens móveis, uma vez que os
bens imóveis já são cobertos por um sistema organizado de registo predial. Este sistema
assegura a publicidade respetiva e consagra uma presunção de titularidade, conforme
estabelecido no artigo 7.º do Código de Registo Predial (CRP). Para bens móveis, a posse
funciona como um sinal visível de titularidade e controle, facilitando a identificação do
possuidor legítimo e protegendo terceiros que atuam de boa-fé.

5.4. Função de Conservação e Consolidação


Quando o possuidor não é titular do direito real de gozo exteriorizado, o ordenamento
jurídico permite-lhe a aquisição desse direito, mesmo que isso signifique a preterição do
proprietário da coisa. Este processo, frequentemente através da usucapião, resulta na
coincidência entre o direito exteriorizado (a posse) e a ordem jurídica substantiva. Em outras
palavras, o possuidor pode eventualmente adquirir o direito real sobre o bem, consolidando
sua posição e criando estabilidade jurídica ao alinhar a situação de fato com a situação de
direito.

5.5. As teorias subjetivistas da posse


distinguem dois elementos essenciais para a configuração da posse: o corpus e o animus.

Detenção e Posse:
Detenção: Refere-se ao estado onde o indivíduo exerce influência física sobre a coisa e
consegue evitar a influência de terceiros. No entanto, a detenção, por si só, não equivale à
posse.

Posse: É a combinação da detenção (corpus) com o animus (vontade de ser possuidor).


Portanto, para ser considerado possuidor, é necessário que, além da detenção, exista a
intenção de agir como proprietário, mesmo que o indivíduo não seja legalmente o proprietário
e esteja ciente disso.

6. ELEMENTOS DA POSSE:

1. Elemento Físico (Corpus): Relaciona-se à interação material entre o sujeito e a coisa.


Para Savigny, este era originalmente denominado de detenção, mas posteriormente veio a ser
conhecido como corpus.

2. Elemento Volitivo (Animus): Consiste na intenção ou vontade de atuar como titular de


um direito real de gozo. Sem o animus, não se pode falar em posse, mas apenas em mera
detenção. Portanto, segundo Savigny, a posse não é apenas uma questão de controle físico
sobre a coisa, mas também de uma intenção clara de tratar a coisa como sua, mesmo sem um
título de propriedade formal.
Tipos de Detenção (art. 1173º)

1. Intenção Declarada (alínea a): A detenção ocorre quando o detentor expressa claramente
que não exerce um direito real próprio sobre a coisa. Essa intenção impede a configuração de
posse.

2. Atos de Mera Tolerância (alínea b): Refere-se aos casos onde o aproveitamento material
da coisa é permitido pelo possuidor, sem constituir um direito real para o beneficiário. Aqui,
o detentor não possui qualquer título de direito real sobre a coisa.

3. Posse em Nome de Outrem (alínea c): Aplica-se quando alguém possui a coisa em nome
de outra pessoa, incluindo: Trabalhadores que detêm bens da entidade patronal;
Representantes do possuidor (e.g., mandatários com poderes de representação).

7. CARACTERÍSTICAS DA POSSE
1. Posse Causal e Posse Formal
 Posse Causal: Quando o possuidor é também o titular do direito real ao qual a posse
se refere.
 Posse Formal: Quando o possuidor não é o titular do direito real ao qual a posse se
refere.
2. Posse Civil e Posse Interdital
 Posse Civil: Relaciona-se a direitos reais de gozo.
 Posse Interdital: Relaciona-se a direitos que não são direitos reais de gozo, ou seja,
situações em que o possuidor se beneficia apenas das regras de tutela possessória.
3. Posse Efetiva e Posse Não Efetiva
 Posse Efetiva: Quando o possuidor mantém o controle material da coisa através do
(corpus) possessório.
 Posse Não Efetiva: Quando a posse permanece apenas como um direito, sem o
*corpus* possessório. Exemplos incluem os arts. 11192/d e 1179 do Código Civil.
4. Posse Titulada e Não Titulada
 Posse Titulada: Conforme o art.º 1183, é a posse baseada em um modo legítimo de
adquirir, independentemente do direito do transmitente ou da validade substancial do
negócio jurídico. Requisitos:
 A atuação sobre a coisa deve ser baseada em um fato aquisitivo do direito.
 O fato aquisitivo deve ter eficácia real para constituir ou transmitir o direito ao
possuidor.
 É independente da validade substancial do negócio, exceto no caso de vício de forma.

7.1. Posse de Boa Fé


 Boa Fé: De acordo com o art.º 1184, a boa-fé distingue-se pelo desconhecimento da
lesão ao direito de outrem. Existem três correntes de interpretação:
a) Concepção Objetivista: O conhecimento/desconhecimento é avaliado considerando
um homem médio na mesma posição.

b) Concepção Subjetivista: O conhecimento/desconhecimento depende do próprio


sujeito, ou seja, de seu conhecimento interno.

C) Concepção Subjetivista Ética: O conhecimento/desconhecimento depende do dever


de conhecimento; se o agente desconhece sem culpa, cumprindo todos os deveres
impostos, está de boa-fé.

 Posse Pacífica e Posse Violenta: A posse pacífica ocorre quando alguém adquire a
posse de um bem sem recorrer à violência contra a pessoa. Por outro lado, a posse
violenta acontece quando há o uso de violência contra a pessoa para obter a posse. A
legislação geralmente trata de forma mais favorável a posse pacífica.
 Posse Pública e Posse Oculta: A posse pública é aquela que pode ser conhecida
pelos interessados, ou seja, é visível e acessível a quem observa normalmente a
situação. Já a posse oculta é aquela que não é facilmente percetível pelos interessados,
requerendo um esforço adicional para descobrir a sua existência.

8. OS FACTOS CONSTITUTIVOS DA POSSE


Há dois factos constitutivos da posse (aquisição originária): o apossamento e a inversão da
Título da posse.

8.1. Apossamento:
O apossamento refere-se à aquisição original da posse, que ocorre quando alguém obtém
controle material sobre uma coisa que antes não estava sob seu poder. Existem três elementos
essenciais para o apossamento:

1. Prática de atos materiais: A pessoa deve realizar ações físicas para assumir o
controle da coisa.
2. Reiteração dos atos materiais: Não é necessário repetir os atos várias vezes, mas sim
demonstrar uma intensidade suficiente para exercer controle duradouro sobre a coisa.
3. Publicidade dos atos materiais: Os atos devem ser realizados de forma que outros
saibam que o possuidor está assumindo o controle da coisa, negando assim a posse a
terceiros que tentem se apropriar dela de forma oculta.
8.2. Inversão do Título da Posse:

Esse conceito permite que alguém que detém uma coisa, ao exteriorizar um direito próprio
sobre ela, adquira a posse. Em termos simples, quando alguém que detém uma coisa começa
a agir como se tivesse um direito sobre ela, essa ação pode levar à aquisição da posse da
coisa.

9. Os FACTOS TRANSLATIVOS DA POSSE


9.1. A TRADIÇÃO DA COISA
A traditio consiste na perda voluntária do controlo material da coisa pelo antigo possuidor,
mediante a entrega desta ao novo possuidor. Uma vez que a posse, como se viu, requer o
corpus, então a tradição requer a passagem desse controlo para o novo possuidor, o que é
feito através de um ato de entrega.

A alínea b), do art.º. 1187, prevê a traditio, podendo esta ser material ou simbólica.

9.1.1. Tradição material: respeita à entrega da coisa mão a mão, possível


unicamente no que respeita a coisas móveis.
9.1.2. Tradição simbólica: abrange as formas pelas quais possuidor renuncia

voluntariamente ao seu senhorio sobre a coisa, colocando a coisa à


disposição do adquirente, deve entender-se que a traditio brevi manu se
deve considerar compreendida na alínea b).

9.2. CONSTITUTO POSSESSÓRIO


Este representa, conforme é normalmente mencionado, o oposto da traditio brevi manu, ou
seja, enquanto que nesta o detentor torna-se possuidor pela prática de um facto aquisitivo do
direito real, no constituo possessório o possuidor passa a detentor, continuando embora a ter a
coisa consigo.
Em termos gerais, o constituto possessório implica a confluência de dois atos jurídicos: um
principal, o ato de transmissão do direito real; um acessório, o ato mediante o qual até o
possuidor seja considerado detentor. Ainda, exige-se a verificação de três requisitos:

(i) um negócio jurídico de transmissão de um direito real de gozo;


(ii) que o transmitente do direito real seja possuidor;
(iii) uma causa jurídica para a detenção da coisa.

Como nota final há que notar que a transmissão da posse depende da validade do contrato
translativo do direito; significa, portanto, que qualquer que seja o vicio que gera a invalidade
a eficácia da posse é atingida.

10. SUCESSÃO NA POSSE


A sucessão da posse, prevista no art.º. 1179, representa um facto distinto de transmissão. Esta
implica, não uma transmissão, mas um fenómeno sucessório: a situação jurídica permanece
estátua, e é o sucessor que entra na posição jurídica do sucedido. Neste sentido, a posse do
sucessor é a posse do cuius, que significa que os caracteres da posse dos sucessores são os
mesmos da posse do falecido.

11. OS FACTOS EXTINTIVOS DA POSSE


Os factos extintivos encontram-se previstos no art.º. 1192/1: não obstante a generalidade não
cause dúvidas, importa reter que a cedência, prevista na alínea c), não é um facto extintivo da
posse, mas um facto transmissivo desta. Relembrar, ainda, que os factos não são taxativos.
Nesta perspetiva, pode prever-se um outro facto extintivo: a expropriação da coisa.

11.1. Abandono
O abandono corresponde à perda voluntária do corpus pelo possuidor; o possuidor quebra,
assim, o controlo material que tinha sobre a coisa, deixando de a exercer por opção própria.
Consequentemente, a posse extingue-se. Note-se, no entanto, que o abandono só extingue a
posse através da perda do corpus, não bastando a mera intenção de deixar de ser possuidor.

11.2. Perda da coisa


A perda da coisa existe quando, involuntariamente, possuidor deixar de estar no controlo
material dela, sem que tal se deva a um ato de terceiro. Só implica a extinção da posse
quando o possuidor estiver impossibilitado de encontrar a coisa - só nesse momento, afinal,
ocorre a quebra do corpus.
11.3. Destruição material da coisa
A posse tem por objeto uma coisa corpórea, o que significa que se por força de um facto
humano ou da natureza, a coisa é igualmente destruída, desaparecendo enquanto tal, a posse
extingue-se. É o que sucede, afinal, com todos os direitos reais. Está em causa a destruição
total e não parcial, a parcial implica a perda parcial da posse

11.4. Colocação da coisa fora do comércio


Uma vez que a coisa só pode ser objeto de apropriação jurídico-privada legalmente quando
no comércio, por isso, se uma coisa é posta no domínio público, extingue-se a posse que
sobre ela incidia.

11.5. Esbulho
O esbulho consiste na privação da coisa por ato de terceiro contra a vontade do possuidor. O
esbulhador toma, assim, o controlo material da coisa, afastando o controlo material do
possuidor. A formas típicas de esbulho são o apossamento e a inversão do título da posse pelo
detentor da coisa. Há, no entanto, particularidades no esbulho: este não produz a extinção da
posse automaticamente, na verdade o possuidor esbulhado mantém a posse até um ano depois
do esbulho. A razão deste regime é dar a possibilidade ao possuidor de reagir judicialmente
contra o esbulhador tradicionalmente, através de ações possessórias art.º. 1209.

12. EFEITOS DA POSSE


12.1. Efeito presuntivo
O principal efeito da posse encontra-se previsto no art.º. 1193/1 e corresponde à presunção de
titularidade do direito a que a posse se refere; neste sentido, quem tem a posse como
proprietário, presume-se proprietário, quem tem a posse como usufrutuário, presume-se
usufrutuário.

12.2. Poder de uso do possuidor


A posse dá ao possuidor o poder de usar a coisa, quer se trate de possuidor de boa-fé, quer se
trate de possuidor de má-fé. O uso da coisa, pelo possuidor de má-fé, não vem negado na lei,
não obstante, como se verá, esse uso comporta certas limitações.

12.3. Poder de fruição


O possuidor de boa-fé tem o poder de fruição art.º. 1195/1. Extingue-se, este poder, quando o
Possuidor tem conhecimento de estar a lesar um direito alheio. Relativamente ao possuidor de
má-fé, só não lhe é reconhecido nenhum poder de fruição como fica sujeito a um regime
gravoso de responsabilidade (restituição dos frutos gerados pela coisa e indemnizar o titular
do direito real pelos frutos que um proprietário diligente poderia ter obtido art.º. 1195. Em
todo o caso, ao possuidor reconhece-se o direito a ser indemnizado das despesas que suportou
até ao limite do valor dos frutos art.º. 1195/2.

O art.º. 1195/3 prevê uma regra excecional: em termos de legitimidade negocial, confere a
possibilidade de o possuidor formal de boa-fé alienar os frutos a terceiro antes da colheita.

12.4. Poder de indemnização por benfeitorias feitas na coisa


○ possuidor, quer de boa-fé, quer de má-fé, tem direito a ser indemnizado das benfeitorias
necessárias que fez na coisa art.º. 1196/1. Quanto às benfeitorias úteis, estas podem ser
levantadas pelo possuidor, contando que não impliquem uma deterioração da coisa (art.
1196/1/2° parte) se isso acontecer, o possuidor tem direito a ser indemnizado segundo as
regras do enriquecimento sem causa (art.º. 1196/2). Quanto às benfeitorias voluptuárias, o
possuidor de boa-fé pode levantar as mesmas contando que tal não supõe o detrimento da
coisa (art.º. 1200/1). Nesse caso, não tem direito a qualquer indemnização.

12.5. Poder de indemnização por violação da posse


A violação da posse sujeita o infrator à responsabilidade civil pelos danos causados (art.º.
1209/1), sem prejuízo de outras sanções que lhe caibam.

12.6. Poder de usucapião


O possuidor tem o poder potestativo de usucapir o direito real de gozo a que a sua posse se
reporta, caso os requisitos legais estejam preenchidos.

12.7. Poder de acessão


A acessão da posse é um poder que a lei faculta ao possuidor de juntar o seu tempo de posse
ao tempo de posse do possuidor do qual ela foi adquirida (art.º. 1180/1) facultando, assim, a
usucapião.

12.8. Poder de defesa da posse


A posse é tutelada pelo ordenamento jurídico, sendo essa tutela feita através das denominadas
ações possessórias.

12.9. Dever de pagamento nos encargos com a coisa (possuidor de boa fé)
O art.º. 1197 coloca no possuidor o dever de pagamento dos encargos gerados pela coisa na
Proporção do seu poder de fruição. Este dever incumbe apenas ao possuidor de boa-fé, já que
depende do poder de fruição, o mesmo não se aplica ao possuidor de má-fé

12.10. Dever de restituir os frutos (possuidor de má fé)


Não tendo o poder de fruição, o possuidor de má-fé está obrigado a restituir ao titular do
direito real de gozo os frutos, naturais ou civis, gerados pela coisa art.º. 1196.

12.11. Dever de indemnizar 0 titular do direito real em caso de perda

ou deterioração da coisa

O possuidor de má-fé fica sujeito a um regime excecional de responsabilidade civil, já que


em caso de perda ou deterioração da coisa, ele responde pelos danos, tenha ou não culpa na
produção do facto danoso (art.º. 1194). A esta conclusão chega-se pela interpretação a
contrário do preceito em Causa. Esta trata-se de uma responsabilidade objetiva. Significa,
assim, que o art.º. 1194 consagra uma Inversão do risco de perecimento da coisa, que deixa
de correr por conta do titular do direito real, do proprietário e dos restantes titulares de
direitos reais, para passar a correr por conta do possuidor de má-fé.

12.12. Faculdade de disposição da posse


O possuidor pode dispor da posse, abandonando a coisa, destruindo-a ou transmitindo a
Simplesmente.

13. OS MEIOS DE DEFESA DA POSSE


13.1. RESTITUIÇÃO PROVISÓRIA DA POSSE
O art.º. 1204 dispõe que sem prejuízo do disposto nos arts anteriores, o possuidor que for
esbulhado com violência tem o direito a ser restituído provisoriamente à sua posse, sem
audiência do esbulhador. Permite-se que, comprovada a posse, o esbulho e a violência, o
possuidor esbulhado obtém condenação judicial do esbulhador à restituição da coisa sem este
ser ouvido no processo, ou seja, sem contraditório processual.

Este preceito fixa, no entanto, três requisitos:

(i) a existência de uma posse;


(ii) um ato de esbulho da coisa;
(iii) a violência no esbulho. A violência do esbulho é considerada de acordo com o
disposto no Art. 1261/2 – coação física ou psicológica sobre o possuidor para
obter a coisa.

A restituição provisória da posse tem uma regulação processual como procedimento cautelar,
encontrando-se a disciplina respetiva nos arts. 393 a 395 do CPC

13.2. AÇÃO DE PREVENÇÃO


A ação de prevenção encontra-se prevista no art.º. 1201 e destina-se a precaver a prática de
atos de turbação ou esbulho de terceiro, sejam eles judiciais ou extrajudiciais e, neste último
caso, materiais ou jurídicos. O escopo desta ação é unicamente evitar que esta perturbação
venha a ter lugar, obtendo-se a condenação judicial do autor da ameaça a abster-se de
concretizar atos de turbação ou esbulho sobre a coisa. Adicionalmente, neste tipo de ações, o
possuidor terá de provar ainda o justo receito de ser perturbado ou esbulhado, não bastando o
simples receio. Assim, tem de se provar a possibilidade real de violação da posse. Neste tipo
de ação o tribunal não pode condenar O autor da ameaça em multa ou indemnização por
violação da posse, porquanto a violação da posse não teve ainda lugar.

13.3. AÇÃO DE MANUTENÇÃO


A ação de manutenção vem prevista no art.º. 1203/1 e, diferentemente da ação de prevenção,
supõe que um terceiro concretizou uma ação de violação da posse, através da prática de atos
de turbação (todos os atos materiais que não impliquem o esbulho, isto é, o desapossamento
da coisa).

13.4. AÇÃO DE RESTITUIÇÃO


A ação de restituição encontra-se igualmente prevista no art. 1203/1 e, diferentemente da
ação de manutenção, tem lugar quando o possuidor foi privado da coisa pelo esbulho. O
corpus nesse caso, é destruído pela intervenção de um terceiro, que concretiza um
desapossamento da coisa, retirando-a da esfera de poder do possuidor.

13.5. LEGITIMIDADE ATIVA E PASSIVA


No que diz respeito à legitimidade ativa, a ação de manutenção e as ações de restituição, nos
termos do art.º. 1206/1 e 2, podem ser intentadas pelo possuidor/esbulhado e pelos seus
herdeiros. No que diz respeito à legitimidade passiva, as ações de manutenção podem ser
intentadas contra o perturbador ou, alternativamente, uma ação de indemnização contra os
herdeiros deste (em caso de falecimento).
13.6. CADUCIDADE
As ações de manutenção/restituição da posse devem ser intentadas no prazo de um ano após a
turbação ou o esbulho, sob pena de caducidade do direito art.º. 1207 o prazo só se inicia
mediante a publicidade da prática dos atos.

14. INVOCAÇÃO DA EXCEPTIO DOMINII NA AÇÃO DE


MANUTENÇÃO OU DE RESTITUIÇÃO

A exceptio dominii respeita a um tipo de defesa particular, mediante a qual o réu invoca
contra o pedido do autor ser proprietário da coisa – ou ser titular de qualquer outro direito
real. Com esta defesa, a discussão do processo deixa de se confinar à questão possessória,
passando a envolver o direito de fundo sobre a coisa. Cas Questão que se pode colocar é a de
saber se a composse se exercer nos termos de direito da mesma natureza (homogéneos) ou se
pode haver composse relativa a diferentes direitos (heterogéneos).

14.1. Embargos de terceiro


Encontram-se previstos especificamente no art.º. 1210, no entanto todo o regime encontra-se
hoje previsto nos arts. 351 a 359 do CPC.

De acordo com o art.º. 1210, estes caracterizam-se por serem um meio de defesa da posse
contra uma diligência ordenada judicialmente (arresto, penhora, arrolamento). De modo gral,
um possuidor que veja a coisa por si possuída ser objeto de uma penhora no âmbito de uma
execução em que não é o executado, pode defender-se deduzindo embargos.

14.2. Posse singular


A posse é singular quando é exercida por uma única pessoa nos termos de um direito real de
gozo. Não deixa, note-se, de ser posse singular na hipótese de a coisa se encontrar com um
detentor.
15. CONCLUSAO
Concluindo, ao longo deste trabalho, explorei a complexidade e a importância da posse como
instituto jurídico. A sua aplicação nos dias de hoje, fica claro que a posse desempenha um
papel crucial na organização das relações sociais e na proteção dos direitos individuais.
Ao analisar os diversos aspectos teóricos e práticos relacionados à posse, pude compreender
sua definição conceitual, sua função social e os desafios enfrentados em sua interpretação e
aplicação pelos operadores do direito. A posse não é apenas um conceito abstrato, mas sim
uma realidade vivenciada por indivíduos e comunidades em suas interações diárias.
Além disso, a posse transcende o campo do direito civil, influenciando também áreas como o
direito penal, o direito administrativo e o direito ambiental, entre outros. Sua análise profunda
e abrangente revela sua relevância para a construção de uma sociedade justa e equitativa.
Portanto, a compreensão aprofundada da posse é essencial não apenas para os profissionais
do direito, mas também para todos os cidadãos, pois contribui para a proteção dos direitos
individuais, a garantia da segurança jurídica e o fortalecimento do Estado Democrático de
Direito. Em última análise, a posse é um elemento essencial na busca pela justiça e pela
harmonia social.
16. BIBLIOGRAFIA
VIEIRA, José Alberto. Direitos Reais. 2 ͣ Edição. Almedina. 2018

MOTA, Pinto. A Posse e o seu Regime Jurídico. Almedina. 2006

CASTRO, Mariana Gouveia et al. Direito das Coisas. 2 ͣ Edição. Almedina. 2018

CORDEIRO, António Menezes. A Posse no Direito Civil Português. Volume 56. Pags:603-626. 2015

Código Civil. 2 ͣ Edição. Plural Editores

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