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Psicologia Da Saúde Resumos Meuspdf

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Psicologia da Saúde

CAPÍTULO I

1- O QUE É PSICOLOGIA DA SAÚDE

A Psicologia da Saúde consiste na agregação dos contributos educacionais, científicos e


profissionais, específicos da disciplina de Psicologia, para a promoção e manutenção da saúde,
a prevenção e tratamento das doenças, para a identificação dos correlatos etiológicos e
diagnósticos com a saúde, doença e disfunções associadas, e para a análise e melhoria do
sistema de cuidados de saúde e das políticas de saúde.

 A Psicologia da Saúde é um campo da psicologia que se preocupa com a relação


dinâmica do comportamento e estados psicológicos com a saúde física Bishop, 1994).
 A Psicologia da Saúde é a aplicação da teoria, método e investigação psicológica à saúde,
doença física e cuidados de saúde (Nezu, Nezu & Geller, 2003).
 A Psicologia da Saúde é um campo de estudo interdisciplinar que se ocupa da aplicação
dos conhecimentos e das técnicas psicológicas à saúde, às doenças e aos cuidados de
saúde Marks , Murray , Evans & Estacio , 2015).

O seu objeto de estudo é o sujeito psicológico e as suas relações com a saúde, a doença, a rede
social (família, amigos, colegas) e os profissionais da saúde, bem como os diferentes grupos
sociais e culturais (no seio dos quais se encontram variações nas significações e nos discursos
sobre saúde e doença).

A sua finalidade é contribuir para a melhoria do bem-estar (físico, psicológico, social, espiritual,
etc.) dos indivíduos, dos grupos e das comunidades.

2-DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA DISCIPLINA

EUA

1973 | Criação, no seio da American Psychological Association , de uma task force on health
research ", com o intuito de estudar a "natureza e a extensão da contribuição dos psicólogos
para a investigação básica e aplicada sobre os aspectos comportamentais nas doenças físicas e
na manutenção da saúde".

1978 | Criação da Divisão de Psicologia da Saúde da APA (Divisão 38).

1982 | Primeiro número da revista Journal of Health Psychology.

EUROPA

1984 | Publicação de um documento da autoria da European Federation of Professional


Psychologists Association , pelo Regional Office for Europe (Organização Mundial de Saúde), que
esclarece a contribuição da psicologia para a saúde, sugerindo uma orientação da prática para
incluir os problemas de saúde em geral e não somente a doença mental.

1986 | Início das reuniões científicas da European Health Psychology Society

1987 | Primeiro número da revista Psychology & Health é editado.


PORTUGAL

1994| 1 º Congresso Nacional de Psicologia da Saúde

Decreto Lei 241 94 22 de setembro de 1994 (aditamentos da Portaria nº 1109 95 de 9 de


Setembro) Define a carreira de Psicologia Clínica enquanto ramo dos Técnicos Superiores de
Saúde

1995| Criação da Sociedade Portuguesa de Psicologia da Saúde

2000| Primeiro número da revista Psicologia Saúde Doenças

2016| Regulamento Geral de Especialidades Profissionais da OPP

O que contribuiu para a emergência da Psicologia da Saúde? E por que razão ela surge tão
recentemente?

 Mudanças na definição de saúde e no que significa ser saudável.


 Aparecimento de novas concepções para além do modelo biomédico.
 Mudanças nos padrões de doença.
 Razões económicas

(medidas preventivas e mudanças de comportamentos)

4-CONHECER OS SEUS OBJETIVOS, AREAS E CONTEXTOS DE INTERVENÇÃO

A Psicologia da Saúde enfatiza o papel dos fatores psicológicos na causa, progressão e


consequências da saúde e da doença (Ogden ,2004).

-OBJETIVOS

A-Procurar compreender, explicar, desenvolver e testar teorias:

• avaliando o papel do comportamento na etiologia da doença


(muitos cancros estão relacionados com comportamentos como tabagismo, consumo de álcool,
regime dietético)
• predizendo comportamentos não saudáveis
(hábitos de consumo de tabaco e álcool estão relacionados com crenças, e estas podem ser
usadas para predizer comportamentos)
• compreendendo o papel da psicologia na vivência da doença
(compreender as consequências psicológicas da doença pode ajudar a aliviar tanto sintomas
físicos como náuseas, vómitos, tanto psicológicos como ansiedade e depressão)
• avaliando o papel da psicologia no tratamento da doença
B- Procurar colocar a teoria em prática
• promovendo comportamentos
saudáveis
(compreender o papel do comportamento
na doença pode permitir reconhecer os
comportamentos prejudiciais para a
saúde)

• prevenindo o aparecimento da
doença
(treinar os profissionais de saúde para
melhorarem as suas competências de
comunicação, poderá ajudar a prevenir o
aparecimento de doenças)

-OUTRAS AREAS:
Psicologia clínica; Psicologia educacional; Psicologia social e das organizações: Psicologia
experimental; Psicologia do desenvolvimento; Psicologia cognitiva.

CONTEXTOS DE INTERVENÇÃO:
Utentes; Técnicos de saúde e funcionários; Organização

A Psicologia da Saúde é muito ampla e diversa e, em geral, o seu domínio compreende várias
áreas:
• promoção e manutenção da saúde
• prevenção e tratamento da doença
• fatores associados com o desenvolvimento da doença
• sistema de saúde e políticas de saúde

A psicologia no sistema de cuidados de saúde

Para Trindade e Teixeira 2007 não é o facto de trabalhar num serviço de saúde que,
automaticamente, faz com que o psicólogo esteja a trabalhar em psicologia da saúde.

Parâmetros importantes:

✓ Definição do objeto
✓ Delimitação de objetivos em diversas áreas de intervenção e investigação
✓ Modelos teóricos diversificados
✓ Métodos de avaliação
✓ Métodos de intervenção
✓ Investigação

Definição de quem é o cliente:

Muitas vezes o cliente é encaminhado por um médico para obter consultas, sem muitas vezes
entenderem o porquê, o que dificulta a ação do psicólogo, prejudicando a relação psicólogo-
cliente.
Aspetos novos na prática do psicólogo que intervém no sistema de cuidados de saúde (Ribeiro,
2007):

 definição de quem é o cliente


 alteração na relação psicólogo cliente
 tempo de intervenção

PAPEL DO PSICÓLOGO NOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS

Membro da equipa de cuidados de saúde primários (médico, enfermeiro, técnico de serviço


social, psicólogo…)

Áreas fundamentais de atuação

 promoção da saúde e prevenção


 função assistencial
 reabilitação
 formação de outros técnicos
 outras atividades (e.g., avaliação
da qualidade dos serviços)..

EXEMPLOS DE AREAS DE INTERVENÇÃO


NUM CENTRO DE SAÚDE

 Contribuição para programas de


promoção da saúde e de prevenção
das doenças, em especial aquelas
nas quais o comportamento está
implicado

 Adesão a exames de saúde e


rastreios

 Processos de confronto e adaptação à doença e à incapacidade

 Stresse induzido pelo confronto com procedimentos médicos de diagnóstico e/ou


tratamento

 Problemas de adesão a tratamentos médicos, regimes alimentares, desenvolvimento de


autocuidados e medidas de reabilitação

 Desenvolvimento da informação relacionada com a saúde e processos de comunicação


em contextos de saúde

 Comportamentos de procura de cuidados de saúde e determinantes de utilização dos


serviços de saúde

 Qualidade dos cuidados de saúde e humanização dos serviços


CAPITULO II

A RELAÇÃO ENTRE MENTE E CORPO

Explicar o dualismo mente corpo e o Modelo Biomédico

Desde tempos remotos que a relação entre mente e corpo tem sido fonte de especulação e
controvérsia. Umas vezes, e em algumas culturas, a mente e o corpo eram vistas como
estreitamente ligadas, enquanto outras vezes, noutras culturas privilegiava se a separação.

Mente e corpo em unidade

Sociedades primitivas:

• Mente e corpo como uma unidade.


• Doença compreendida com base em forças espirituais.

Grécia / Teoria dos humores de Hipócrates 460 AC):

• Primeira conceção naturalística da doença


• Relação estreita entre a mente e o corpo

China /Conceito de equilíbrio entre forças:

• Conceção naturalística de saúde e doença


• Relação estreita entre a mente e o corpo

Idade Média:

• Regresso à conceção espiritualista


• Medicina ligada à Igreja

Renascimento

• Retorno às explicações naturais da doença


• Aparecimento da doutrina "dualismo mente-corpo" (René Descartes)
• Corpo – esfera do físico
• Mente – esfera espiritual.

Dualismo mente/corpo
A relação entre mente e corpo tem sido causa para alguma controvérsia, sendo que ao
longo do tempo em algumas culturas a mente e o corpo eram vistas como ligadas enquanto
noutras privilegiava-se a separação das duas.
-> De acordo com esta visão, o corpo era comparado a uma máquina que podia ser
analisada em termos das suas partes constituintes e compreendida essencialmente em termos
mecânicos.
-> A doença era vista como resultado de uma avaria na máquina; o trabalho do médico era
diagnosticar a avaria e reparar a máquina, uma tarefa vista como semelhante à de um
mecânico.
-> Assim, sob esta perspetiva, a saúde e a doença começaram a ser encaradas quase
exclusivamente em termos bioquímicos, com pouca consideração pelos fatores psicológicos ou
sociais.
O modelo biomédico apoiava e tinha como princípio esta dualidade entre mente e corpo: em
que a mente não tinha qualquer tipo de influência no corpo, uma vez que estava relacionada
com fatores abstratos como os sentimentos e as emoções.

Esta abordagem à medicina trouxe inúmeros benefícios:

 avanços ao nível da imunologia, saúde pública, patologia, técnica cirúrgica, etc.


 controlo de doenças infeciosas com a cólera, a febre tifoide ou a escarlatina fez baixar
a taxa de mortalidade de forma apreciável.
 a descoberta da penicilina (por Fleming, 1928) e das vacinas conduziram a uma
revolução nos cuidados de saúde.

MODELO BIOMÉDICO

O que causa a doença?

 Neste modelo, as doenças advêm do exterior do corpo, invadindo-o e causando


mudanças físicas, essas doenças são causadas por fatores como: desequilíbrios
químicos, bactérias, vírus e predisposição genética.

Quem é responsável pela doença?

 Visto que as doenças são vistas como algo que se encontra fora do controlo do
sujeito, os indivíduos não são considerados responsáveis, mas sim como vítimas de
uma força externa.

Como é que a doença deve ser tratada?

 O tratamento foca-se em vacinas, cirurgia, quimioterapia e radioterapia.

Quem é o responsável pelo tratamento?

 A responsabilidade recai sobre a classe médica.

Qual a relação entre saúde e doença?

 Neste modelo, saúde e doença são qualitativamente diferentes, ou se é saudável ou


se é doente

Qual a relação entre a mente e o corpo?

 Neste modelo, a mente e o corpo funcionam independentemente, a mente é


encarada como algo abstrato e o corpo é visto em termos físicos, a pele os músculos
os ossos o cérebro.

Qual o papel da psicologia na saúde e na doença?

 De acordo com a biomedicina, a doença pode ter consequências psicológicas, mas


essa nunca provém de causas psicológicas.
CRÍTICAS DO MODELO BIOMÉDICO

Embora o Modelo Biomédico tenha tido um papel fundamental na luta a doença, esta
abordagem ao tratamento começou a criar uma crescente insatisfação. Uma das mais
articuladas críticas ao modelo biomédico é a de George Engel:

. Crítica ao reducionismo (o modelo biomédico defende que os fenómenos complexos da


doença podem ser reduzidos à linguagem da química e da física)

. Crítica ao dualismo mente corpo (o modelo biomédico defende a separação entre a


mente e corpo)

Segundo Engel:
1.Doente
A compreensão dos determinantes das doenças…
2.Seu contexto social
A escolha de um tratamento racional…
Deve ter em
A definição de padrões de cuidados de saúde… 3.Seu sistema mais alargado
conta…
(viz . efeitos desorganizadores
da doença, papel do médico,
sistema de cuidados de saúde)
Conhecer novas abordagens à saúde e à doença e o modelo biopsicossocial

(teoria geral dos sistemas e modelo biopsicossocial)

-Vários autores entendem a necessidade de um novo modelo que incorpore as características


positivas do modelo biomédico e que, ao mesmo tempo, evite o reducionismo e o dualismo
mente corpo.

-Engel (1980) defende que a Teoria Geral dos Sistemas (de Ludwig von Bertalanffy) traz
importantes implicações para a compreensão da saúde e da doença.

TEORIA GERAL DOS SISTEMAS

Ludwig von Bertalanffy constata que o organismo, para ser entendido, não pode ser encarado
como uma soma das suas partes. Isto é, o ser vivo não é o somatório dos seus elementos
constitutivos:

 o todo é diferente da soma das partes

O organismo para ser entendido tem de ser encarado como um sistema

Sistema: um conjunto de elementos interagentes e interdependentes, relacionados cada um ao


seu ambiente de modo a formar um todo organizado.

 A teoria geral dos sistemas postula que a natureza pode ser melhor compreendida em
termos de hierarquias de sistemas, em que cada sistema é, simultaneamente, composto
por unidades menos complexas, e parte de unidades mais amplas.

Nada existe isolado, já que todos os sistemas são influenciados pela configuração do sistema de
que fazem parte, ou seja, o seu ambiente.
MODELO BIOPSICOSSOCIAL DE SAÚDE E DOENÇA

A doença pode ter origem numa combinação de fatores biológicos, psicológicos e sociais.

BIO PSICO SOCIAL

-VIRUS -COMPORTAMENTO -CLASSE


-BACTÉRIAS -CRENÇAS -EMPREGO
-LESÕES -COPING -ETNIA
-STRESSE
-DOR

MODELO BIOPSICOSSOCIAL

O que causa a doença?

 Neste modelo, os seres humanos são vistos como sistemas complexos, onde a
doença é causada por uma multiplicidade de fatores e não por um único fator
causal. E por isso sustenta que a doença pode ter origem biológica (vírus),
psicológica (comportamentos, crenças), e sociais (emprego), ou seja, 1. Os
contributos biológicos eram a genética, viros, bactérias, e defeitos estruturais; 2. Os
aspetos biológicos eram descritos ao nível das cognições( por exemplo as
expectativas acerca da saúde) emoções, (por exemplo medo do tratamento); 3.
Aspetos sociais ligados à saúde eram descritos através das normas sociais de
comportamento, das pressões sociais para mudar comportamentos(expectativas do
grupo de pares, pressão parental), da classe social e grupo étnico.

Quem é responsável pela doença?

 O individuo já não é visto como vítima, e passa-se a reconhecer o papel do seu


comportamento, o que quer dizer que os indivíduos podem ser considerados
responsáveis pelo seu estado de saúde e pelas doenças.

Como é que a doença deve ser tratada?

 Deve ser tratada não só a nível das mudanças físicas, mas também a nível das
mudanças de comportamento, de crenças, bem como a utilização de estratégias de
coping e adesão às recomendações do médico.

Quem é o responsável pelo tratamento?

 Neste caso, o doente fica em parte responsável pelo tratamento, assumindo por
exemplo a responsabilidade pela ingestão de medicação, e mudança de crenças e
comportamentos.

Qual a relação entre saúde e doença?

 Neste caso, saúde e doença encontram-se num continuum, os doentes progridem


ao longo deste continuum que vai desde o estado de saúde ao de doente e vice-
versa.
Qual a relação entre a mente e o corpo?

 Este modelo defende que a mente e corpo interagem, estas duas entidades são
vistas numa perspetiva de influências mútuas, mas continuam a ser categorizadas
em separado, como dois termos diferentes.

Qual o papel da psicologia na saúde e na doença?

 Vê os fatores psicológicos não só como possíveis consequências, mas também como


contributo para a sua etiologia.

CAPITULO III
-CONCECÇÕES DE SAÚDE E DOENÇA

1. DEFINIR OS CONCEITOS DE SAÚDE E DE DOENÇA:

O que é Saúde?

“Estado de bem-estar físico, mental e social, total, e não apenas a ausência


de doença, ou de incapacidade” (WHO, 1948)
➢ definição pela positiva;
➢ rutura com o modelo médico tradicional;
➢ coloca a saúde num contexto alargado de bem-estar humano
➢ apresenta os aspetos físico, mental e social como interdependentes (Ribeiro, 2007)
➢ não é suficiente para desenvolver indicadores operacionais de saúde (Chatterji)
➢ definição centrada no indivíduo isolado (King, 1990).

Definição da OMS:
o “é a extensão em que um indivíduo ou grupo é capaz, por um lado, de realizar as suas
aspirações e satisfazer as suas necessidades, e, por outro, de modificar ou lidar com o meio
envolvente.”
o “é um recurso para a vida do dia-a-dia, uma dimensão da nossa qualidade de vida e
não o objetivo de vida” (Ribeiro, 2007, p.75).

 “Saúde é um estado sustentável de bem-estar físico, mental e social total, e não


apenas a ausência de doença ou de incapacidade”

O que é Doença?
“A doença não tem existência em si, é uma entidade abstrata à qual o homem dá um nome. A
partir das indisposições sentidas por uma pessoa, os médicos criam uma noção intelectual que
agrupa os sintomas de que sofre o “doente”, os sinais de que um observador pode constatar,
as lesões anatómicas, por vezes uma causa ou um germe causal, e a este conjunto aplicamos
uma etiqueta chamada diagnóstico, do qual decorre um tratamento destinado a agir sobre os
sintomas e, se possível, sobre a causa.
3 significados distintos:
1. ter uma doença; considerado como um acontecimento biológico (mudanças
anatómicas, fisiológicas, bioquímicas); rutura na estrutura, ou função, de uma parte do
corpo, de um sistema ou subsistema.
2. sentir-se doente; trata-se de um acontecimento humano, uma configuração de
desconforto e desorganização psicossocial, resultante da interação do indivíduo com o
seu meio
3. comportar-se como doente; é uma identidade social, um estatuto ou um papel
assumido por pessoas que foram rotuladas como não saudáveis

2.COMPREENDER A RELAÇÃO ENTRE SAÚDE E DOENÇA

___________________________________ (B)
(A)
BEM-ESTAR
DOENÇA
COMPLETO
GRAVE(MORTE)

Funcionam como estremos de um continuo o bem-estar extremo e a doença grave.

(modo alternativo para a relação entre saúde e doença)

Bem-estar elevado

________________________________
Doença grave Ausência de doença

Mal-estar
3.COMPREENDER A RELAÇÃO ENTRE SAÚDE, QUALIDADE DE VIDA E BEM-ESTAR SUBJETIVO

Conceito de Qualidade de Vida (QDV)


 conceito multidisciplinar e complexo.
 incluído na linguagem quotidiana.
 grande difusão no âmbito da saúde:
 “qualidade de vida relacionada com a saúde”
 medida do estado subjetivo de saúde
QDV:
- “Conceito alargado que é afetado de uma forma complexa pela saúde física, estado
psicológico, nível de independência e relações sociais da pessoa, e a relação com as
características salientes do respetivo meio

- É o sentimento pessoal de bem-estar que provém da satisfação ou insatisfação com


domínios da vida que são importantes para a pessoa, sendo por isso um conceito mais
abrangente do que a saúde
Domínios da qualidade de vida:
comunidade, educação, vida familiar, amizades, saúde, habitação, casamento, nação,
vizinhança, self, padrão de vida e trabalho.

Relação entre qualidade de vida e saúde


➔ Foca-se especialmente no impacto da saúde no bem-estar individual
➔ Traduz a perceção subjetiva da saúde nos domínios físico, emocional, mental, social e
funcional
➔ Usado para avaliar o impacto da doença na QDV - Do paciente -Dos cuidadores
Leventhal e Colman assumem que a importância e o significado da avaliação da qualidade de
vida é afetada pela representação de doença feita pelo doente.

No seu modelo de explicação da QDV estes autores incluem:


- A representação da doença enquanto ameaça,
- As reações emocionais que funcionam como inibidoras ou motivadores do pensamento e da
ação,
- As regras do pensamento e das ações adequadas para um melhor controlo, cura e prevenção
da doença como ameaça e dos aspetos importantes para o contexto em que a pessoa vive.

CONCEITO DE BEM-ESTAR

Duas perspetivas sobre o Bem-Estar

ORIENTAÇÃO HEDÓNICA ORIENTAÇÃO EUDAIMÓNICA

Voltada para experiências de bem-estar Visa o desenvolvimento das


com resultado a curto prazo ou potencialidades do indivíduo em
imediato; experiências vivenciadas com propósito

valoriza o prazer e o conforto. valoriza o processo em si e não apenas


o resultado

destaca a autenticidade e o significado.

Bem-Estar Subjetivo (BES)


➔ é um dos elementos essenciais da QDV (Jesus, 2006).
➔ expressa os aspetos mais subjetivos da QDV (felicidade,
satisfação com a vida e qualidade de vida percebida)
➔ “um estado em que o indivíduo se
sente feliz, saudável ou afortunado,
ou em que, pelo menos, tem a
crença de que é feliz”
VARIAVEIS QUE PREVÊM UM BEM ESTAR SUBJETIVO:
❖ - Autoestima positiva;
❖ - Sentido de controlo percebido;
❖ - Otimismo;
❖ - Sentido de significado e propósito na vida;
❖ - Extroversão,
❖ - Relações sociais positivas

4.CONHECER OS CONCEITOS DE CRENÇAS DE SAÚDE E CRENÇAS DE DOENÇA

Não existe um termo consensual para exprimir os pensamentos que caracterizam a


realidade que nós percebemos, bem como a que nós construímos.
O doente possui uma conceção da sua doença, ou seja, ideias subjetivas acerca da
doença e dos sintomas, das recuperações e das recaídas, que pode ser inválido do ponto de
vista biomédico.
E identificou 6 dimensões relativas às cognições de
Lau (1995) identificou 5 dimensões nas cognições de saúde: doença:
- Fisiológica/física – ter energia, boa forma física; - Não se sentir normal – “não me sinto bem”;
- Psicológica – feliz, sentir-se bem psicologicamente; - Sintomas específicos (fisiológicos/psicológicos);
- Comportamental – comer, dormir bem; - Doenças específicas;
- Consequências futuras - viver mais tempo; - Consequências da doença – “não consigo fazer
- A ausência de – não estar doente, sem sintomas. certas atividades...”;
- Dimensão temporal – quanto tempo vão durar
Dimensões das cognições de doença os sintomas;
(Leventhal et al, 1980, 1997): - A ausência de saúde – não se sentir saudável.
 Identidade ➢ a maioria das pessoas apresentava uma
 Causa percecionada da doença definição positiva de saúde
 Dimensão temporal
 Consequências
 Possibilidade de cura e controlo da doença.

As significações pessoais sobre saúde e doença


➢ papel importante na geração e manutenção dos processos de doença e na facilitação
dos processos de recuperação ou reabilitação;
➢ influência significativa nas expressões emocionais e processos de confronto relativos
aos processos de saúde e doença;
➢ estão na base do bem-estar pessoal e podem constituir um fator de proteção de
doenças;
➢ são os principais determinantes das atitudes e dos comportamentos que promovem
a saúde;
➢ papel importante na qualidade de relação técnico-paciente e no processo de adesão
às recomendações do técnico de saúde
CAPÍTULO 4
COMPORTAMENTO E PSICOLOGIA DA SAÚDE
Objetivos:
1. Compreender a relação entre comportamento e saúde
2. Conhecer os determinantes dos comportamentos relacionados com a saúde
3. Conhecer os modelos de predição dos comportamentos de saúde e de confronto da
doença

1.COMPREENDER A RELAÇÃO ENTRE COMPORTAMENTO E SAÚDE


Ao longo do sec. XX assistiu-se a uma diminuição das doenças infeciosas e a um aumento de
doenças causadas pelo comportamento do individuo, logo, conclui-se que as pessoas têm um
papel ativo na saúde e na doença.
➢ Quando a Psicologia da Saúde surgiu pressupunha-se a existência de uma relação
estreita entre comportamento e saúde
➢ Compreender o papel das variáveis comportamentais na suscetibilidade à doença
física e na adaptação a essas doenças.

Áreas de estudo da Psicologia da Saúde:


Duas perspetivas:
➔ prevenção de doenças;
➔ promoção da saúde

O que são comportamentos de saúde?


É um comportamento cujo objetivo é impedir o aparecimento de uma doença, por exemplo: ter uma
dieta saudável.

Classificação dos comportamentos associados à saúde:

McQueen Matarazzo

» comportamentos de exaltação de saúde: visam » “Comportamentos imunogénicos” -


a promover a saúde. comportamentos de proteção da saúde
» Comportamentos de manutenção da saúde: de » Comportamentos patogénicos” - hábitos
prevenção das doenças e de proteção da saúde prejudiciais para a saúde
» Comportamentos de prejuízo de saúde: os que
são prejudiciais à saúde
2.CONHECER OS DETERMINANTES DOS
COMPORTAMENTOS RELACIONADOS COM A
SAÚDE
Fatores que permitem predizer os comportamentos de saúde
(Leventhal et al, 1985):

▪ fatores sociais (aprendizagem, reforço, modelagem,


normas sociais)
▪ genética
▪ fatores emocionais (ansiedade, stress, tensão, medo)
▪ sintomas percebidos (dor, falta de ar, fadiga)
▪ crenças do doente
▪ crenças dos profissionais de saúde.

MODELO DAS FASES DE MUDANÇA DO COMPORTAMENTO (MODELO TRANSTEÓRICO)


Novo modelo de mudança de comportamento baseado nas seguintes fases:

1- Pré-intenção: não pretende fazer mudança


2- Intenção: considerar uma possível mudança
3- Preparação: realizar pequenas mudanças
4- Ação: empenhar-se num novo comportamento
5- Manutenção: manter a mudança ao longo do tempo

EXEMPLO:
1- Pré-intenção: sou feliz como sou, pretendo continuar a fumar
2- Intenção: tenho tossido muito, talvez devesse pensar em parar de fumar
3- Preparação: vou deixar de ir ao café e vou passar a comprar cigarros mais fracos
4- Ação: deixei de fumar
5- Manutenção: já há 4 meses que não fumo

3.CONHECER OS MODELOS DE PREDIÇÃO DOS COMPORTAMENTOS DE SAÚDE E


DE CONFRONTO COM A DOENÇA

MODELOS COGNITIVOS MODELOS DE COGNIÇÃO SOCIAL

-Modelo de crenças de saúde -Teoria do comportamento planeado

-Teoria da motivação para a proteção -Abordagem do processo de ação para saúde


MODELO DE CRENÇAS DE SAÚDE:
Este modelo prediz que o comportamento resulta de um
conjunto de crenças centrais.
Suscetibilidade- probabilidade de eu ter cancro no
pulmão é alta
Gravidade- cancro do pulmão é uma doença grave
Custos envolvidos- deixar de fumar vai me deixar
mais ansioso
Benefícios- deixar de fumar vai poupar-me dinheiro
Pistas para a ação- internas (sintoma de falta de ar) ou
externas (informação em folhetos) Campanhas publicitárias,
conselhos de outros, doença de um conhecido…
Controlo percebido- o grau em que achamos se temos ou não o controlo da decisão de parar
de fumar

CRÍTICAS AO MODELO DE CRENÇAS DE SAÚDE

 A enfase no individual
 A ausência de um papel para fatores emocionais como o medo e a negação
 O modelo de crenças de saúde defende que os comportamentos de saúde se
devem aos fatores individuais, sendo que investigadores defendem que se devem
mais á perceção dos sintomas
TEORIA DA MOTIVAÇÃO PARA A PROTEÇÃO

Esta teoria defendia que os comportamentos relacionados com a saúde são o produto de
quatro componentes:

 Gravidade- o cancro no intestino é grave


 Vulnerabilidade- as hipóteses de ter cancro
no intestino são altas
 Eficácia da resposta- mudar a minha dieta
iria melhorar a minha saúde
 Autoeficácia- acredito que posso mudar a
minha dieta

MODELO DO COMPORTAMENTO PLANEADO

✓ Esta teoria defende que as intenções deviam ser conceptualizadas como planos de
ação.
✓ Desenvolvido por Fishbein e Ajzen pretende descrever a relação entre atitudes e
comportamentos.
✓ Considera que o melhor preditor do comportamento será a intenção
comportamental.

Crenças sobre os Atitude que temos em relação ao


resultados e avaliação comportamento (se eu acho que
destes resultados fazer desporto faz bem, ajuda à
intenção comportamental)
Crenças normativas e Norma subjetiva (o que eu acho
motivação para que os outros esperam do meu INTENÇÃO
condescender comportamento) COMPORTAMENTAL COMPORTAMENTO
Crenças acerca da Controlo comportamental
facilidade do percecionado (os fumadores
comportamento (controlo acham que não têm controlo
sobre a decisão de deixar de
fumar)

Exemplo: Aplicado ao consumo de álcool, se o individuo acreditasse que a redução de álcool


iria tornar a sua vida melhor (atitude para com o comportamento); e acreditasse que as
pessoas importantes da sua vida queriam que reduzisse esse consumo (normas subjetivas); e
se acreditasse que era capaz de beber menos tendo em conta o seu comportamento passado e
os fatores externos e internos (alto controlo do comportamento), isso prediz a intenção de
reduzir no álcool (intenção de comportamento).
1.TEORIA DA ATRIBUIÇÃO

Segundo esta teoria descobriu-se que a saúde é considerada interna ao indivíduo e a doença
como algo que entra no corpo vinda do mundo exterior. Por exemplo se um indivíduo atribuía
a sua doença ao exterior e sentia que não era pessoalmente responsável pela mesma, tinha
maior probabilidade de escolher um método de tratamento mais favorável de acordo com as
suas crenças e responsabilizar os médicos

2.CRENÇAS SOBRE O CONTROLO PESSOAL

Locus de controlo
Faz a distinção das atribuições de controlo a fatores internos versus externos.
Interno: crença de que controlamos o nosso próprio destino
Externo: crença de que o destino é controlado pela sorte ou por forças externas
As pessoas com locus de controlo interno revelam uma convicção de controlo pessoal dos
acontecimentos:

➢ acreditam que podem influenciar a sua saúde, por isso tendem a adotar
comportamentos de prevenção da doença e de promoção da saúde.

Autoeficácia
Traduz a crença da pessoa de que será bem-sucedida em algo que ela quer fazer.

➢ adquirida através dos seus sucessos e fracassos, pela observação das experiências dos
outros, e pela avaliação das suas capacidades que as outras pessoas lhes comunicam.
➢ Quando decidem ter um comportamento de saúde, as pessoas avaliam a sua eficácia:
esforço requerido, complexidade da tarefa, probabilidade de receber apoio de outras pessoas

As pessoas com uma autoeficácia alta têm maior probabilidade de tentar e conseguir
deixar de fumar, de serem bem-sucedidas na perda de peso, ou de motivar-se para o
confronto de uma doença.

CONHECIMENTO DA REALIDADE DA DOENÇA E POSSIBILIDADE DE CONFRONTO


MODELO SOBRE DOENÇA E CONFRONTO

MODELO DE AUTOREGULAÇÃO DO COMPORTAMENTO DE DOENÇA DE LEVENTHAL

Este modelo baseia-se em abordagens de resolução de problemas e sugere que os indivíduos


lidam com as doenças/sintomas da mesma forma que fazem com os problemas, ou seja,
perante um dado problema ou mudança no estado do indivíduo, este ficará motivado para
resolver o problema e restabelecer o seu estado de normalidade.

Dimensões das cognições de doença

 Identidade
 Causa percecionada da doença
 Dimensão temporal
 Consequências
 Possibilidade de cura e controlo da doença.

FASES DO MODELO DE AUTORREGULAÇÃO:

Fase 1- Interpretação
→ atribuir sentido ao problema, ou seja, aceder às cognições que o individuo tem da doença
→ cognições que são construídas de acordo com: a identidade, causa, consequências,
dimensão temporal, cura/controlo da doença.

Fase 2- Coping
Desenvolvimento das estratégias adequadas de coping.
➢ Coping de aproximação: tomar medicamentos, ir ao médico, descansar, falar com
amigos
➢ Coping de evitamento: negação, crença na realidade do desejo
Fase 3- Ponderação
Avaliação individual da eficácia da estratégia de coping

PORQUE É QUE ESTE MODELO SE DENOMINA AUTORREGULAÇÃO?


Porque as três componentes (interpretação, coping e ponderação) inter-relacionam-se
de modo a regular o self,
Se o estado de saúde é perturbado pela doença, o modelo propõe que há motivação
para voltar ao equilíbrio.

Modelo de senso comum (Common-Sense Model)


A informação sobre a doença (sintomas, mensagens sociais…) é interpretada com base
nos sistemas de crenças individuais
➢ consciência de uma ameaça de saúde,
➢ respostas afetivas à ameaça,
➢ planos de ação para enfrentar a ameaça,
➢ feedback sobre a eficácia do plano de ação e a progressão da ameaça.

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