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E-Book Completo - Farmacologia Aplicada À Nutrição e Interpretação de Exames Laboratoriais - CENGAGE (Versão Digital)

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FARMACOLOGIA APLICADA À

NUTRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO

Farmacologia Aplicada à Nutrição e Interpretação de Exames Laboratoriais


FARMACOLOGIA
DE EXAMES LABORATORIAIS
ORGANIZADORAS ALYNE ALMEIDA DE LIMA; KELLY APARECIDA DA CUNHA PEREIRA
APLICADA À NUTRIÇÃO
E INTERPRETAÇÃO
Farmacologia aplicada à nutrição e interpretação de exames laboratoriais é um
livro direcionado para estudantes dos cursos da área de farmácia, farmacologia,
farmacologia aplicada à nutrição, e correlatos.
Além de abordar assuntos triviais, o livro traz conteúdo sobre os fundamentos da
farmacologia, as interações nutricionais e medicamentosas, a importância clínica
entre interações de drogas e nutrientes, suplementos alimentares, suplementos
DE EXAMES LABORATORIAIS
fitoterápicos e exames laboratoriais. ORGANIZADORAS ALYNE ALMEIDA DE LIMA; KELLY APARECIDA DA CUNHA PEREIRA
Após a leitura da obra, o leitor vai identificar as principais classes de medicamentos
C
disponíveis no mercado; dominar a diferença entre farmacocinética e farmacod-
M
inâmica; aprender que alguns fármacos podem interferir no estado nutricional de
Y
um indivíduo, afetando sua ingestão, causando sintomas gastrointestinais ou
CM alterando a percepção dos alimentos por modificações das sensações de sabor e
MY cheiro; conhecer o conceito de biodisponibilidade e sua importância para entender
CY os fatores que influenciam o metabolismo dos nutrientes; indicar possíveis riscos
CMY durante a terapia enteral e administração de medicamentos por via oral; com-
K preender algumas das possíveis interações entre nutrientes e medicamentos utiliza-
dos para doenças no trato gastrintestinal; saber que a prescrição por nutricionistas

GRUPO SER EDUCACIONAL


de suplementos dietéticos e fitoterápicos é permitido por lei; enumerar os exames
laboratoriais mais utilizados na prática clínica e suas interpretações, e muito mais.

Aproveite a leitura do livro.


Bons estudos!

ISBN 9786555581706

9 786555 581706 >


gente criando futuro
FARMACOLOGIA APLICADA
À NUTRIÇÃO E
INTERPRETAÇÃO DE
EXAMES LABORATORIAIS
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou
transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo
fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de
informação, sem prévia autorização, por escrito, do Grupo Ser Educacional.

Diretor de EAD: Enzo Moreira

Gerente de design instrucional: Paulo Kazuo Kato

Coordenadora de projetos EAD: Manuela Martins Alves Gomes

Coordenadora educacional: Pamela Marques

Equipe de apoio educacional: Caroline Guglielmi, Danise Grimm, Jaqueline Morais, Laís Pessoa

Designers gráficos: Kamilla Moreira, Mário Gomes, Sérgio Ramos,Tiago da Rocha

Ilustradores: Anderson Eloy, Luiz Meneghel, Vinícius Manzi

Lima, Alyne Almeida de.

Farmacologia aplicada à nutrição e interpretação de exames laboratoriais / Alyne


Almeida de Lima; Kelly Aparecida da Cunha Pereira. – São Paulo: Cengage – 2020.

Bibliografia.

ISBN 9786555581706

1. Farmácia 2. Farmacologia aplicada à nutrição 3. Farmacologia 4. Pereira, Kelly


Aparecida da Cunha.

Grupo Ser Educacional

Rua Treze de Maio, 254 - Santo Amaro

CEP: 50100-160, Recife - PE

PABX: (81) 3413-4611

E-mail: sereducacional@sereducacional.com
PALAVRA DO GRUPO SER EDUCACIONAL

“É através da educação que a igualdade de oportunidades surge, e, com


isso, há um maior desenvolvimento econômico e social para a nação. Há alguns
anos, o Brasil vive um período de mudanças, e, assim, a educação também
passa por tais transformações. A demanda por mão de obra qualificada, o
aumento da competitividade e a produtividade fizeram com que o Ensino
Superior ganhasse força e fosse tratado como prioridade para o Brasil.

O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego – Pronatec,


tem como objetivo atender a essa demanda e ajudar o País a qualificar
seus cidadãos em suas formações, contribuindo para o desenvolvimento
da economia, da crescente globalização, além de garantir o exercício da
democracia com a ampliação da escolaridade.

Dessa forma, as instituições do Grupo Ser Educacional buscam ampliar


as competências básicas da educação de seus estudantes, além de oferecer-
lhes uma sólida formação técnica, sempre pensando nas ações dos alunos no
contexto da sociedade.”

Janguiê Diniz
Autoria
Alyne Almeida de Lima
Graduada em Farmácia, especialista em farmácia clínica e prescrição farmacêutica e mestra em Ciências
Farmacêuticas. Atualmente professora de Farmacologia nos cursos de Graduação em Farmácia,
Odontologia e Psicologia e também ministra a disciplina de Cosméticos e Saneantes na Faculdade
Maurício de Nassau. Professora de Pós-graduação na área de Clínica Farmacêutica, Farmacologia,
Toxicologia e Fitoterapia.

Kelly Aparecida da Cunha Pereira


A autora possui graduação em Nutrição (2009) e mestrado em Ciência da Nutrição (2015), com ênfase
em Saúde Coletiva. Tem experiência profissional na área de produção de refeições como Responsável
Técnica em Restaurante; na área de Saúde Pública e Segurança Alimentar, como nutricionista da
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social de Lavras-MG; e como docente em Universidades
Públicas nas disciplinas de Avaliação Nutricional, Nutrição da Criança e do Adolescente, Análises
Clínicas, Epidemiologia e Saúde Pública e Estágio em Nutrição Social.
SUMÁRIO

Prefácio..................................................................................................................................................8

UNIDADE 1 - Fundamentos básicos em farmacologia......................................................................9


Introdução.............................................................................................................................................10
1 Fundamentos em farmacologia.......................................................................................................... 11
2 Farmacocinética.................................................................................................................................. 15
3 Farmacodinâmica................................................................................................................................ 17
4 Sistema nervoso autônomo................................................................................................................ 19
5 Vias de administração......................................................................................................................... 22
PARA RESUMIR...............................................................................................................................26
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................................27

UNIDADE 2 - Interações nutricionais e medicamentosas.................................................................29


Introdução.............................................................................................................................................30
1 Nutrição e interferência de fármacos................................................................................................. 31
2 Efeito dos nutrientes na cinética dos alimentos................................................................................. 34
3 Alimentos promotores e inibidores da absorção de ferro.................................................................. 37
4 Fatores antinutricionais...................................................................................................................... 39
5 Interações medicamentosas............................................................................................................... 41
PARA RESUMIR...............................................................................................................................44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................................45

UNIDADE 3 -Interações drogas x nutrientes: importância clínica....................................................47


Introdução.............................................................................................................................................48
1 Interações drogas e nutrientes........................................................................................................... 49
2 Características gerais da interação fármaco x nutriente..................................................................... 50
3 Terapia nutricional enteral x fármacos................................................................................................ 53
4 Interações provocadas por agentes usados nas alterações gastroenterológicas................................ 55
5 Interações provocadas por agentes que atuam na inflamação e nos processos infecciosos..............56
6 Fármacos anti-hipertensivos e suas interações com os alimentos..................................................... 58
7 Fármacos utilizados no tratamento da obesidade.............................................................................. 59
8 Farmacologia do sistema endócrino: hipoglicemiantes I.................................................................... 61
PARA RESUMIR...............................................................................................................................65
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................................66

UNIDADE 4 - Suplementos alimentares, fitoterapia e exames laboratoriais....................................67


Introdução.............................................................................................................................................68
1 Atualidade da farmacologia aplicada à nutrição................................................................................. 69
2 Introdução aos fitoterápicos............................................................................................................... 72
3 Fitoterápico x Fármaco........................................................................................................................ 73
4 Exames laboratoriais aplicados à nutrição.......................................................................................... 75
5 Avaliação hematológica do sangue..................................................................................................... 78
6 Avaliação bioquímica do sangue......................................................................................................... 81
7 Avaliação laboratorial da urina........................................................................................................... 84
8 Avaliação laboratorial das fezes.......................................................................................................... 84
9 Avaliação laboratorial hormonal......................................................................................................... 86
10 Marcadores laboratoriais da inflamação.......................................................................................... 86
PARA RESUMIR...............................................................................................................................88
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................................89
PREFÁCIO

O livro Farmacologia aplicada à nutrição e interpretação de exames laboratoriais


traz ao leitor, além de informações básicas da área, o conteúdo parcialmente descrito
a seguir em suas quatro unidades.

Dando início, a primeira unidade, Fundamentos básicos em farmacologia,


apresenta o conceito do termo farmacologia, explica os mecanismos pelos quais os
medicamentos passam ao entrar no organismo humano, assim como as alterações
provocadas pela ação de suas substâncias. O caminho percorrido pelo medicamento,
desde sua administração até sua ativação e eliminação, será descrito nesta unidade.

A segunda unidade, Interações nutricionais e medicamentosas, explica o conceito


de biodisponibilidade, sua importância, e de que maneira alguns fármacos podem
interferir no estado nutricional e na ingestão de alimentos. O leitor conhecerá os
fatores antinutricionais que podem afetar a biodisponibilidade de nutrientes e qual
processamento de alimentos pode reduzi-los.

Na sequência, a terceira unidade, Interações drogas x nutrientes: importância


clínica, indica os principais fatores relacionados às interações entre drogas/fármacos
e nutrientes, seus benefícios e malefícios. O texto explica como essas interações
ocorrem, quais são benéficas e como realizá-las para melhora do paciente, e quais são
as principais interações entre medicamento e alimento que devem ser evitadas a fim
de reduzir ou anular prejuízos nas terapias farmacológica e nutricional.

Concluindo a obra, a quarta e última unidade, Suplementos alimentares, fitoterapia


e exames laboratoriais, indica como a união entre nutrição e farmácia atende quem
procura qualidade no tratamento de doenças e promoção à saúde. O leitor conhecerá
alguns compostos como os nutracêuticos, suplementos dietéticos e fitoterápicos, além
da legislação e de cuidados a serem considerados em sua prescrição.

A leitura na íntegra deste livro faz que o leitor compreenda de forma simples os
principais fundamentos da farmacologia aplicada à nutrição e da interpretação de
exames laboratoriais.

Agora é com você! Sorte em seus estudos!


UNIDADE 1
Fundamentos básicos em farmacologia
Introdução
Olá,

Você está na unidade Fundamentos básicos em farmacologia. Conheça aqui o que é


a farmacologia, os mecanismos pelos quais os medicamentos passam ao entrar no
organismo humano e também as alterações provocadas pela ação das substâncias.

Veremos todo o caminho percorrido pelo medicamento desde o momento em que ele é
administrado ao paciente, através das diferentes vias de administração, até o momento
em que ele é ativado e se liga aos receptores para iniciar a ação desejada, bem como sua
transformação para ser eliminado.

Bons estudos!
11

1 FUNDAMENTOS EM FARMACOLOGIA
A farmacologia é uma ciência antiga que estuda os fármacos, sua aplicação, atividade,
reações adversas, posologias, dose, concentração, forma farmacêutica, toxicidade, via de
administração, absorção, excreção enfim, tudo aquilo que está relacionado aos medicamentos. E
todos estes estudos, ainda evoluindo de forma intensa, iniciaram a partir dos usos baseados em
conhecimento popular.

Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:

1.1 Termos e definições


Para conhecer a farmacologia é preciso compreender algumas definições, como a
diferenciação entre remédio, droga, fármaco e medicamento. Remédio pode ser definido como
tudo aquilo que pode ser utilizado com o intuito de trazer a cura ou alívio de uma enfermidade,
ou até mesmo a melhoria da qualidade de vida do paciente, e pode ser um chá, medicamento,
acupuntura, fisioterapia, atividade física, massagem, entre outros.

Já a droga é qualquer substância que quando em contato com organismo possui a capacidade
de causar alteração em alguma função fisiológica. Esta alteração pode ser benéfica ou não, e ter
ou não uma estrutura química definida. Exemplo: cigarro, maconha, dipirona, álcool etc.

O fármaco, ou também conhecido como princípio ativo (PA), também é uma substância
que tem capacidade de causar alteração da função fisiológica, mas com uma diferença: o PA
possui uma estrutura química definida, uma atividade farmacológica conhecida e com aplicação
terapêutica. Neste caso, podemos citar como exemplo o paracetamol, a dipirona, o diclofenaco,
entre outros.

Chama-se de medicamento somente o produto farmacêutico, quando elaborado e


12

tecnicamente obtido, que tenha finalidade terapêutica, paliativa, curativa e/ou para fins
diagnósticos. Ou seja, aquele produto vendido nas farmácias de manipulação e drogarias
(também conhecidas por farmácias comerciais ou farmácias comunitárias).

Outra definição importante é referente à substância tóxica e placebo. Define-se como tóxica
toda substância que, quando absorvida pelo organismo, poderá colocar a vida do ser em risco e
até mesmo levar a óbito. E o placebo é um tipo de produto inativo, ou seja, não provoca nenhuma
alteração fisiológica importante, agindo no estado psicológico e suprindo a necessidade de tomar/
consumir um medicamento. Popularmente, o placebo é conhecido como “pílula de farinha”.

Portanto, costuma-se dizer que todo medicamento é uma droga, mas nem toda droga é um
medicamento. Por exemplo:

• Álcool é uma droga, mas não é medicamento.

• Paracetamol é uma droga e também um medicamento.

Posologia é outro termo importante a ser entendido. Na prescrição está a orientação de como
e quantas vezes ao dia o medicamento deve ser tomado, a descrição da dose e por qual período
de tempo. Isto se denomina posologia.

Alguns medicamentos, quando tomados por um determinado tempo (variável de uma pessoa
para outra), podem levar o paciente a desenvolver uma tolerância àquela substância, ou seja,
ocorre uma redução na sensibilidade em relação ao fármaco. Quando a tolerância acontece, o
paciente relata que ”o medicamento não está fazendo mais efeito”.

Portanto, ao prescrever um medicamento, além de observar a posologia e verificar se existe


algum caso de tolerância ou alergia, o prescritor também determina a forma farmacêutica a ser
utilizada. Ou seja, define se será em comprimidos, cápsulas, drágeas, comprimidos revestidos,
comprimidos efervescentes, cápsulas gelatinosas (formas sólidas), soluções, xaropes, tinturas,
suspensões, elixir, emulsões (formas líquidas), géis, cremes, pomadas, unguentos (formas
semissólidas) ou aerossóis (forma gasosa). Essas diferentes formas farmacêuticas encontradas no
mercado têm diversas funções, e entre elas está a de facilitar a administração do fármaco e fazer
com que a dose seja o mais correta possível.

1.2 Principais classes de medicamentos e suas aplicações


Uma das formas de classificar os medicamentos é através do seu efeito principal. São
inúmeras as classes farmacológicas. Abaixo, conheceremos grande parte delas e suas principais
aplicações terapêuticas.

,
13

Figura 1 - Terapia farmacológica com formas farmacêuticas diferentes


Fonte: ESB Professional, Shutterstock, 2020

#ParaCegoVer: A imagem traz cápsulas na cor amarela com vermelho, uma seringa agulhada
e preenchida com líquido transparente e uma ampola de vidro âmbar com rótulo. A baixo desses
medicamentos está escrito em um papel “Doenças crônicas”.

Começaremos pelas classes de medicamentos que atuam no sistema nervoso central (SNC),
muitos deles conhecidos como “medicamentos controlados”, pois a venda está restrita a retenção
de receita no estabelecimento.

Medicamentos controlados

Antidepressivos - Indicados para depressão e transtornos de humor (Exemplo: amitriptilina,


fluoxetina, paroxetina, sertralina e duloxetina); Estabilizadores de humor - indicados para o
tratamento de transtorno de bipolaridade de humor. (Exemplo: carbonato de lítio); Ansiolíticos,
hipnóticos e sedativos - indicados para transtornos de ansiedade como transtornos por estresse
pós-traumático, transtorno de ansiedade generalizada (TAG) além de indicação como indutores
do sono. (Exemplo: bromazepam, diazepam, clonazepam, midazolan, zolpidem e trazodona);
Anticonvulsivantes – indicados para casos de epilepsias e convulsões. (Exemplo: carbamazepina
e topiramato); Antiparkinsonianos – indicados para tratamento do Mal de Parkinson. (Exemplo:
biperideno e carbidopa + levodopa).

Fármacos que atuam no sistema cardiovascular

Antiarrítmicos – indicados para tratamento de arritmias cardíacas. (Exemplo: adenosina


e sotalol); Antihipertensivo – indicados para tratamento da hipertensão arterial. (Exemplo:
propranolol, captopril, lLosartana e atenolol); Anticoagulantes – prevenir formação de
14

coágulos de sangue. (Exemplo: clopidogrel, heparina, rivaroxabana, e ácido acetilsalicílico);


Diuréticos – indicado para tratamentos de hipertensão arterial, retenção hídrica entre outras
doenças que necessitem de um maior volume de eliminação de líquidos. (Exemplo: furosemida,
hidroclorotiazida e espironolactona).

Fármacos que tem resposta no sistema respiratório

Antitussígeno - utilizados para inibir o reflexo da tosse. (Exemplo: dropropizina,


levodropropizina e cloperastina); Expectorantes e mucolíticos – auxiliam na expectoração e
eliminação do muco. (Exemplo: ambroxol, carbocisteína e acelticisteína); Broncodilatadores
– alívio de espasmos brônquicos, bronquites, falta de ar. (Exemplo: Hedera helix, salbutamol,
fenoterol e ipratrópio); Antigripais – indicados para alívio dos sintomas do resfriado comum.
(Exemplo: fenilefrina e nafazolina). Podendo ser utilizado também o paracetamol e dipirona para
alívio de sintomas como dor e febre; Antiasmáticos – utilizados para tratamento e prevenção
de crises asmáticas e/ou para alívio de broncoespasmos. (Exemplo: salbutamol, salmeterol,
fenoterol, ipratrópio, zafirlucaste e montelucaste).

Fármacos que atuam no trato gastrintestinal (TGI)

Antiácidos – aumentam o PH gástrico neutralizando o ácido clorídrico, o famoso “suco


gástrico”. (De ação sistêmica: bicarbonato de sódio. De ação local: hidróxido de magnésio,
hidróxido de alumínio, carbonato de cálcio e trissilicato de magnésio); Antiflatulento – indicado
para alívios de gases no tubo digestivo, sensações de estufamento. (Exemplo: dimeticona e
simeticona); Antiespasmódicos - utilizado para aliviar as dores abdominais causadas pelo
aumento da frequência e força da contração da musculatura lisa de forma involuntária, chamados
de espasmos. (Exemplo: escopolamina); Antidiarreicos – indicados para diarreias e disenterias.
(Exemplo: loperamida e bismuto). Também podem ser utilizados os repositores de microbiota
intestinal como os Lactobacillus casei, Lactobacillus acidophilus, Saccharomyces boulardii e
Saccharomyces cerevisiae. Além destes, os fluidos ou soros de reidratação oral; Antiulcerosos –
tratamento e prevenção de problemas estomacais como úlceras e refluxo. (Exemplo: omeprazol,
pantoprazol e lansoprazol); Antieméticos – alívio de sintomas como enjoo, êmese (vômitos) e
náuseas. (Exemplo: dimenidrinato, meclizina, ondasertrona, bromoprida e metoclorpramida);
Estimulantes de apetite – Exemplo: buclizina e ciproeptadina. Laxantes e purgativos – utilizados
para facilitar a eliminação das fezes. (Exemplo: óleo mineral, sorbitol, lactulose e sais de magnésio).

Outras classes importantes

Analgésicos e antitérmicos – indicados para alivio de dor e febre respectivamente.


(Exemplo: opioides: morfina, metadona e tramadol. Não opioides: dipirona, paracetamol e ácido
acetilsalicílico); Anestésicos – utilizados para redução dos estímulos, reflexos e dor. (Exemplo:
xilocaína, lidocaína e bupivacaína); Antiinflamatórios – utilizados para amenizar sintomas como
15

febre, dor e edemas decorrentes de alguma agressão ao organismo. (Exemplo: não-esteroidais:


Ibuprofeno, diclofenaco sódico e potássico, naproxeno, cetoprofeno, ácido mefenâmico e
piroxican. Esteroidais ou também chamados de corticoides: dexametasona, prednisona e
hidrocortisona); Antivertiginosos – indicado para vertigens, zumbido, alteração na audição
e tonturas. (Exemplo: betadine, cinarizina e betaistina); Antialérgicos ou anti-histamínicos –
indicados para alívio de alergias em geral. (Exemplo: dexclorfeniramina, loratadina e hidroxizina);
Antivirais – indicados para tratamento de infecções virais. (Exemplo: aciclovir, tamiflu, ganciclovir
e entecavir); Antilipêmicos – utilizados no tratamento de níveis elevados de colesterol. (Exemplo:
atorvastatina e sinvastatina); Anticoncepcionais – prevenção de gravidez, tratamentos de cistos
e acnes. (Exemplo: etinilestradiol, gestodeno e ciproterona); Manutenção das articulações
– tratamento de artrose primária, secundária, osteoartrite, osteoartrose, espondiloses e
condropatias. (Exemplo: glicosamina + condroitina)

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2 FARMACOCINÉTICA
A farmacocinética inclui os processos de absorção, distribuição, metabolismo e a excreção
dos fármacos. Os quando bem seguidos podem ampliar a probabilidade de sucesso terapêutico e
reduzir, por exemplo, a ocorrência de efeitos adversos.

A farmacocinética lida com a absorção, distribuição, biotransformação e excreção das drogas.


Esses fatores, associados à dosagem, determinam a concentração da droga em seus sítios de ação, e,
por consequência, a intensidade de seus efeitos em função do tempo (BRUNTON et al , 2012).

2.1 Absorção e distribuição


A absorção é a transferência do fármaco do seu local de administração para o compartimento
central e a amplitude com isso ocorre. No caso das preparações sólidas, a absorção depende
16

inicialmente da dissolução do comprimido (ou da cápsula), que então libera o fármaco (ou
liquido biológico).

Primeiro essa absorção se dá pelo trato GI (gastrointestinal), quando administrado por via
oral. Porém, a quantidade de absorção final pode ser limitada pelas características da preparação
do fármaco, por suas propriedades físico-químicas, pelo metabolismo intestinal (características
intrínsecas ao paciente) e/ou pela transferência do fármaco de volta ao lúmen intestinal por ação
dos transportadores.

Essa absorção pode ocorrer por difusão passiva, difusão facilitada, transporte ativo ou
endocitose. E outros diversos fatores podem influenciar na absorção, tais como o pH, fluxo de
sangue no local de absorção, características da área ou superfície disponível para absorção e o
tempo de contato com a superfície de absorção. Portanto, a absorção é o processo pelo qual os
medicamentos administrados, principalmente por via oral, intramuscular ou retal, chegam ao
meio tissular, iniciando o a segunda fase, a distribuição.

A distribuição é a fase em que o fármaco penetra na circulação. Esta fase passa a ser a primeira
quando se trata de administração venosa do medicamento, visto que neste caso o fármaco já está
em sua forma ativa ao ser colocado diretamente na circulação sistêmica. O volume é o segundo
parâmetro fundamental útil, quando se consideram os processos de distribuição dos fármacos.
O volume de distribuição relaciona a quantidade do fármaco administrada no organismo a sua
concentração no sangue ou plasma, dependendo do líquido dosado. Esse volume não se refere
necessariamente a um volume fisiológico determinável, mas simplesmente ao volume de líquido
que seria necessário para conter todo o fármaco presente no corpo na mesma concentração
dosada no sangue ou plasma.

FIQUE DE OLHO
Alguns livros e artigos científicos chamam a farmacocinética de Sistema Ladme. Essa sigla
corresponde a: L- Liberação; A-Absorção; D-Distribuição e E-Excreção! Memorize essa sigla e
vocês rapidamente conseguirá se lembrar de todas as fases da farmacocinética.

O volume de distribuição é altamente variável, dependendo dos graus relativos de ligações aos
receptores de alta afinidade, dos níveis das proteínas plasmáticas e teciduais, do coeficiente de
distribuição do fármaco no tecido adiposo e de sua acumulação nos tecidos poucos irrigados. Este
volume de distribuição de cada fármaco pode variar de acordo com idade, o sexo, a composição
corporal do paciente e com a existência de doenças.
17

A distribuição é dependente além do volume de distribuição, de fatores como a taxa de


fluxo sanguíneo, a permeabilidade capilar, a ligação dos fármacos às proteínas plasmáticas e dos
tecidos, e a lipofilicidade.

2.2 Metabolismo e excreção


Diversos fatores alteram o metabolismo: elementos genéticos, idade, diferenças individuais,
fatores ambientais como o fumo, propriedades químicas dos fármacos, sexo, via de administração,
dosagem, entre outros.

A primeira reação denomina-se Reação de Fase I. E essa biotransformação pode aumentar ou


diminuir a atividade farmacológica, ou não ter efeito sobre esta.

A Reação de Fase II consiste na fase de conjugação, como a glicorunidação, deixando o


fármaco altamente polar e assim consegue ser excretado pelos rins ou bile e eliminado nas fezes.

O fígado é o principal local onde ocorre a biotransformação, mas existem outros tecidos que
contém as enzimas metabolizadoras que contribuem para a biotransformação de alguns fármacos
e, consequentemente, para a sua eliminação. As enzimas responsáveis por esse processo estão
localizadas nos microssomos hepáticos chamados de enzimas microssomais do sistema CYP- 450.

Estas enzimas podem reduzir oxidar, hidrolisar ou conjugar compostos. Nenhum teste de
função hepática fornece informação totalmente específica sobre a habilidade metabólica do
fígado e, consequentemente, é difícil prever o efeito de problemas de funções hepáticas no
metabolismo de diferentes fármacos.

Os rins são importantes para a excreção dos fármacos e de seus metabolitos. As estimativas
da depuração da creatinina do sangue fornecem informações importantes sobre o grau de
funcionamento renal e sua habilidade de eliminar os medicamentos. Além destas vias, o fármaco
pode ser eliminado pelo leite materno, suor e saliva.

3 FARMACODINÂMICA
A farmacodinâmica proporciona o conhecimento dos efeitos bioquímicos e fisiológicos dos
fármacos e seus mecanismos de ação para o uso terapêutico racional, além do suporte para o
desenvolvimento de outros agentes terapêuticos mais novos e eficazes. Desse modo, as e sua
farmacocinética contribuem para a segurança e o êxito do tratamento.

3.1 Conceitos em farmacodinâmica


Conforme relatam Brunton et al (2012), a farmacodinâmica compreende
18

O estudo das ações das drogas no organismo vivo [...] é uma das mais novas ciências médicas
experimentais, e data somente do final da segunda metade do século XIX... é uma ciência limítrofe.
Ela toma emprestada livremente temas e técnicas da fisiologia, química fisiológica, patologia e
bacteriologia. Porém, é a única [dessas ciências] que tem sua atenção focada na ação das drogas. Como
implica seu nome, seu assunto é de caráter dinâmico (BRUNTON et al , 2012).

A interação dos fármacos com os componentes macromoleculares altera a função e inicia as


alterações bioquímicas e fisiológicas que caracterizam a resposta do fármaco. O termo receptor
ou alvo farmacológico refere-se à macromolécula (ou ao complexo macromolecular) com o qual
o fármaco interage para produzir uma resposta celular.

Alguns fármacos interagem com aceptores (por exemplo, albumina sérica) existentes no
organismo. Os aceptores são componentes que não causam diretamente qualquer alteração na
resposta bioquímica ou fisiológica. Entretanto, a interação dos fármacos com os aceptores pode
alterar a farmacocinética das suas ações.

As proteínas constituem o grupo mais importante de receptores farmacológicos. Como


exemplo, podemos citar os receptores dos hormônios, dos fatores de crescimento e de
transcrição, os neurotransmissores, as enzimas das vias metabólicas (por exemplo, diidrofolato
redutase, acetilcolinesterase e fosfodiesterases dos nucleotídeos cíclicos), as proteínas envolvidas
nos processos de transporte (por exemplo, Na+, K+-ATPase) e as glicoproteínas secretadas e as
proteínas estruturais (por exemplo, tubulina).

A ligação específica dos fármacos aos outros componentes celulares (como o DNA) também
é explorada com finalidades terapêuticas. Por exemplo, os ácidos nucleicos são receptores
farmacológicos particularmente importantes para determinados agentes quimioterápicos usados
no tratamento do câncer e fármacos antivirais.

3.2 Receptores fisiológicos


Muitos fármacos atuam em receptores fisiológicos e são particularmente seletivos porque os
receptores fisiológicos reconhecem e respondem com alta seletividade às moléculas sinalizadoras
específicas. Os fármacos que se ligam aos receptores fisiológicos e imitam os efeitos reguladores
dos compostos endógenos são conhecidos como agonistas.

Se o fármaco se ligar ao mesmo local de reconhecimento que o agonista endógeno


(substância própria do organismo responsável pela função em questão), diz-se que o fármaco
é um agonista primário. Os fármacos que bloqueiam ou reduzem a ação de um agonista são
conhecidos como antagonistas. Na maioria dos casos, o antagonismo resulta de uma competição
com um agonista pelo mesmo (ou sobreposto) sítio de ligação do receptor, mas também pode
ocorrer por interação com outros sítios do receptor por combinação com o agonista, chamamos
então de antagonismo químico, ou por antagonismo funcional com inibição indireta dos efeitos
19

celulares ou fisiológicos do agonista. Os compostos que mostram apenas eficácia parcial como os
agonistas, independentemente da concentração utilizada, são descritos como agonistas parciais.

3.3 Especificidade do fármaco


A afinidade de um fármaco por seu receptor e sua atividade intrínseca são determinadas
pela estrutura química da substância. A estrutura química do fármaco também contribui para
sua especificidade farmacológica. Um fármaco que interage com apenas um tipo de receptor,
presente em apenas algumas células diferenciadas, é altamente específico.

Muitos fármacos importantes na prática clínica apresentam especificidade ampla porque


conseguem interagir com vários receptores em diversos tecidos. Essa especificidade ampla
poderia aumentar a utilidade clínica de um fármaco, mas também contribui para a ocorrência de
vários efeitos adversos, já que acontecem diversas interações entre o medicamento e diferentes
receptores.

As propriedades farmacológicas de muitos fármacos diferem dependendo se o fármaco é


utilizado por períodos curtos ou longos. Em alguns casos, a administração prolongada de um
fármaco produz hiper-regulação ou dessensibilização dos receptores e isto pode exigir ajustes
da dose para manter a eficácia do tratamento. Os medicamentos para tratar infecções, como os
antibióticos, os antivirais e antiparasitários, têm como alvo receptores ou processos celulares
fundamentais à proliferação ou à sobrevivência do agente infeccioso, mas que não são essenciais
ou não existem no organismo do receptor.

Desse modo, o objetivo terapêutico dos agentes anti-infecciosos depende da liberação


dos fármacos aos microrganismos patogênicos em concentrações suficientes para destruir ou
suprimir a proliferação do patógeno, sem causar efeitos indesejáveis ao paciente. Por exemplo, os
antibióticos como a penicilina inibem uma enzima fundamental necessária à síntese das paredes
celulares das bactérias, e esta enzima não existe nos seres humanos ou nos animais. Um problema
significativo encontrado com muitos agentes anti-infecciosos é o desenvolvimento rápido de
resistência aos fármacos. A resistência aos antibióticos, aos antivirais e outros fármacos pode
ser causada por vários mecanismos, inclusive mutação do receptor-alvo, ampliação da expressão
das enzimas que decompõem ou aumentam, a expulsão do fármaco pelo agente infeccioso e
desenvolvimento de reações bioquímicas alternativas, que evitam os efeitos dos fármacos no
agente infeccioso.

4 SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO


A farmacologia do SNA (Sistema Nervoso Autônomo) referente à divisão simpática é modulada
pelos neurotransmissores endógenos: adrenalina, noradrenalina (NA) e dopamina (DA). Estes atuam
20

regulando funções importantes realizadas pela musculatura lisa no sistema respiratório (brônquios),
cardiovascular (força e frequência cardíaca), endócrino (liberação de insulina), entre outros.

4.1 Catecolaminas
As catecolaminas podem ser endógenas ou exógenas. Entre elas estão a epinefrina, também
chamada de adrenalina, norepinefrina (noradrenalina), dopamina, acetilcolina.

A adrenalina é uma substância de ação direta e não seletiva estimulando os receptores α


e β. Tem uma alta atividade vasopressora, estimulante cardíaca e no controle da asma. Esta
catecolamina não tem eficácia quando administrada por via oral sendo rapidamente absorvida
quando administrada via intramuscular, portanto, essa substância deve ser administrada
lentamente para reduzir a possibilidade da ocorrência de vasoespasmos e outros problemas
cardiovasculares.

A NA (noradrenalina ou norepinefrina) tem ação vasoconstritora promovendo o aumento da


pressão arterial. É considerada um potente agonista dos receptores α e tem pouca atividade em
β2. Sua absorção por via oral também não é eficaz e seus efeitos colaterais são semelhantes aos
da adrenalina, mas a elevação da pressão arterial é mais intensa e, por este motivo, seu uso deve
ser monitorado devido ao risco de causar hipertensão grave.

A dopamina (DA) é indicada para tratamentos de insuficiência cardíaca congestiva (ICC) em


pacientes com diminuição da produção de urina (oligúria) e com resistência vascular periférica
(RVP) baixa ou normal. Esta catecolamina produz uma melhora nas funções cardíacas e renais de
forma aguda em pacientes hospitalizados por problemas cardíacos ou insuficiência renal.

4.2 Fármacos adrenérgicos e anti-adrenérgicos


Os receptores adrenérgicos são do tipo metabotrópicos, ou seja, acoplados à proteína G e
estão designados em duas famílias: Alfa (α) e Beta (β). Além disso, receptores α são divididos em
α1 e α2, bem como os β são divididos em β1, β2 e β3. A noradrenalina excita principalmente os
receptores α, com menor intensidade os β e nenhuma em β2, enquanto a adrenalina excita α e
β com intensidade similar.

Entre os fármacos que atuam como agonistas dos receptores β-adrenérgicos podemos citar
o isoproterenol que é um medicamento utilizado em casos de emergência para aumentar a
frequência cardíaca em pacientes com bradicardia ou bloqueio cardíaco. É um potente agonista
não seletivo de β e pode ser administrado pela via endovenosa ou respiratória. Os principais
efeitos adversos são palpitações, cefaleias, taquicardia sinusal e arritmias graves. Já a dobutamina
é um agonista seletivo de β1 que exerce efeitos ionotrópicos, aumentando a força de contração
do coração por aumento dos níveis de cálcio. É indicada para descompensação cardíaca em
21

pacientes com insuficiência cardíaca congestiva ou infartoagudo do miocárdio.

Os receptores β2-adrenérgicos têm ação no relaxamento da musculatura lisa, como os


brônquios por exemplo. Os fármacos que pertencem a esta classe têm ação curta e longa. Entre os
agonistas seletivos de receptores β2-adrenérgicos: salbutamol (Aerolin ®) é um dos medicamentos
mais conhecidos, junto ao fenoterol (Berotec®). O salbutamol age como broncodilatador e é usado
no controle e prevenção das crises asmáticas, bronquite crônicas, enfisemas pulmonares, entre
outros. Pode ser administrado por via inalatória e em 15 minutos já são observados seus efeitos,
estes são mantidos por 3 até 5 horas. O fenoterol também é administrado por via inalatória na
maioria dos casos e tem efeito perceptível de imediato, durando de 4 a 6 horas.

Dentre os de ação longa, podemos citar dois bem conhecidos: Salmeterol e formoterol. O
salmeterol possui uma seletividade ainda maior que o salbutamol e também está indicado para
asmáticos (mas não de forma aguda) e pacientes do DPOC (Doença pulmonar obstrutiva crônica).
Sua administração é também por via inalatória, mas não pode ser realizada mais de 2 vezes ao
dia. O principal efeito colateral associado a esta substância é taquicardia.

E o formoterol também tem as mesmas indicações acima, mas possui uma específica, para
condições de asma noturna. Seus efeitos ocorrem em minutos após ser administrado.

Entre os fármacos agonistas α1-seletivos, podemos citar a fenilefrina, substância comumente


presente nos medicamentos antigripais como o Naldecon®, Cimegripe®, entre outros. A
fenilefrina tem ação para descongestionamento nasal, mas também possui efeitos cardiotônicos,
midriáticos e, se administrada via endovenosa, causa uma intensa vasoconstrição das artérias.
Como agonistas α2-seletivos temos a clonidina, metildopa, guanfacina e apraclonidina.

4.3 Fármacos colinérgicos e anticolinérgicos


Os fármacos chamados de colinérgicos atuam em receptores do SNA que são ativados/
estimulados pela acetilcolina (Ach). Estes receptores estão divididos em duas famílias:
muscarínicos (M) e nicotínicos (N).

Os muscarínicos são receptores do tipo metabotrópicos, ou seja, acoplados à proteína G.


Esse nome se dá pelo fato de que esses receptores, além de se ligar a Ach, também reconhecem
a muscarina, uma substância que está presente em cogumelos venenosos. São divididos em 5
subclasses: M1, M2, M3, M4 e M5.

Como exemplo de fármacos agonistas muscarínicos podemos citar a pilocarpina utilizada no


tratamento de glaucoma e de xerostomia (boca seca), betanecol (para estímulo de bexiga atônica)
e carbacol. Outros agonistas de M1 são estudados para tratamento de Alzheimer e antagonistas
de M3 para DPOC (doença Pulmonar Obstrutiva Crônica).
22

O edrofônio é um agonista colinérgico com ação indireta, também chamado de


anticolinesterásico, utilizado para diagnóstico de miastenia gravis. Ele age bloqueando a
atividade da enzima acetilcolinesterase, impedindo sua ação na degradação da Ach e aumento da
concentração da mesma na fenda sináptica. Nesta mesma classe está a rivastigmina e donepezila,
fármacos utilizados no tratamento do Alzheimer.

Todos estes anticolinesterásicos acima citados são de ação reversível, mas existem os de
ação irreversível, entre eles os chamados organofosforados que são compostos usados como
inseticidas agrotóxicos sendo altamente tóxicos, podendo causar paralisia e até óbito.

Na classe dos antagonistas colinérgicos, ou antimuscarínicos, estão substâncias bastante


conhecidas, a escopolamina e o ipratrópio. A escopolamina é o princípio ativo do medicamento
Buscopam® e o ipratrópio o princípio ativo do Atrovent®.

Os receptores nicotínicos, além de se ligar a Ach, reconhecem a nicotina e por isto a sua
denominação. São receptores do tipo ionotrópico, ou seja, funcionam como um canal iônico
operado por ligantes e são de dois tipos: Nn e Nm. A nicotina quando em baixa concentração
estimula o receptor e em alta concentração o bloqueia. Estes receptores estão no SNC, nos gânglios
autonômicos, nas suprarrenais e na junção neuromuscular (JNM) nos músculos esqueléticos.

A nicotina é um componente do cigarro e tem efeitos maléficos no organismo podendo levar


a aumento da frequência cardíaca (taquicardia) e da pressão arterial (Hipertensão).

5 VIAS DE ADMINISTRAÇÃO
Em geral, existem algumas opções de vias (locais) pelas quais uma substância pode ser
administrada e, por esta razão, o conhecimento das vantagens e desvantagens das diferentes vias
de administração é fundamental.

Para que a via de administração de um fármaco seja definida, consideram-se fatores como as
propriedades químicas (hidrossolubilidade, lipossolubilidade, ionização), o objetivo da terapia, a
necessidade de um início rápido de ação, uma manutenção de concentração por maior período
de tempo, restrição de fármaco a um local específico, entre outros.

Silva (2010) destaca as seguintes vias:

• Oral

• Sublingual ou bucal

• Parenteral
23

• Tópica

• Transdérmica

• Intraocular

• Intrarrespiratória

• Retal

• Intravaginal

• Intrauterina

• Uretral e peniana

• Novos sistemas de administração de drogas

5.1 Vias de administração oral, sublingual e retal


A ingestão oral é o método mais utilizado para administrar os medicamentos por sua
segurança, conveniência e por ser o mais econômico. Entre suas desvantagens estão: a absorção
limitada de alguns fármacos, em função das suas características como hidrossolubilidade
reduzida ou uma baixa permeabilidade nas membranas; vômitos causados pela a irritação da
mucosa gastrintestinal; destruição de alguns fármacos pelas enzimas digestivas ou pelo pH baixo
do estomago; irregularidades na absorção ou propulsão na presença de alimentos ou outros
fármacos, além da necessidade de contar com a colaboração do paciente.

Os fármacos que possam atingir as secreções gástricas e, portanto, serem alterados pelo pH
ácido, ou que o seu princípio ativo tenha característica de irritar o estômago, podem ser fabricados
em preparações com revestimento entérico. Este revestimento impede a dissolução do fármaco
no conteúdo ácido do estômago. Os revestimentos entéricos são úteis para os fármacos como o
ácido acetilsalicílico, que pode causar irritação gástrica significativa em muitos pacientes.

As preparações de liberação controlada têm liberação prolongadas, controladas, ampliadas


e continuadas. O que pode auxiliar em manutenção de dose, ou diminuição de tomadas de
medicamentos durante o dia, facilitando a posologia e consequentemente o uso racional de
medicamentos.

A administração via sublingual ocorre pela mucosa oral e tem importância especial para
alguns fármacos. Apesar da superfície disponível para a absorção ser pequena, a vascularização
local é intensa. A drenagem venosa da boca segue à veia cava superior e isto provoca um desvio
da circulação e, deste modo, protege o fármaco do metabolismo de primeira passagem, ou
também chamado de metabolismo de fase 1.
24

Na administração por via retal cerca de 50% do fármaco que é absorvido pelo reto passará
pelo fígado, o metabolismo hepático de primeira passagem quando comparado à preparação
oral. Além disso, uma enzima metabólica importante desse fármaco (CYP3A4) está presente nos
segmentos proximais do intestino, mas não nos segmentos distais. Entretanto, a absorção retal
pode ser irregular e incompleta e alguns fármacos podem causar irritação da mucosa retal.

5.2 Vias de administração parenteral, transmucosa e tópica


A injeção parenteral dos fármacos tem algumas vantagens em comparação à administração oral.
Em alguns casos, a administração parenteral é essencial para que o fármaco seja liberado em sua
forma ativa, como ocorre com os anticorpos monoclonais. A biodisponibilidade é mais rápida, ampla
e previsível quando o fármaco é administrado por via injetável. Por essa razão, a dose eficaz pode
ser administrada com maior precisão. No tratamento de emergência e/ou quando o paciente estiver
inconsciente, impossibilitado de colaborar ou incapaz de reter ou deglutir algo por via oral, o tratamento
parenteral pode ser necessário. Essa via de administração apresenta algumas desvantagens como a
necessidade de manutenção da assepsia (muito importante, principalmente quando os fármacos são
administrados repetidamente), as injeções podem ser dolorosas e os pacientes em sua maioria têm
dificuldade de realizar a autoaplicação (no caso da insulina, por exemplo).

As principais vias de administração parenteral são a intravenosa, a subcutânea, intradérmica e


a intramuscular, mas ainda pertencem a este grupo a via intra-arterial, intratecal, intraperitoneal,
intrapleural, intravesical, intraarticular, intraraquídea, intraóssea e intracardíaca.

Na via intravenosa, por exemplo, os problemas relacionados à fase farmacocinética de


absorção não existem porque a biodisponibilidade é completa e rápida. Nesta via a liberação do
fármaco pode ser controlada com precisão e agilidade. Quando se necessita induzir anestesia em
um paciente, a dose de anestésico administrada não é 100% predeterminada e sim ajustada no
decorrer do processo anestésico, de acordo com a resposta do paciente. Algumas substâncias
irritantes podem ser administradas apenas por via intravenosa de forma lenta. Assim, ela se
distribui de modo amplo na corrente sanguínea.

FIQUE DE OLHO
Mesmo com todas essas vantagens, a via intravenosa também possui desvantagens e só
deve ser utilizada por profissionais habilitados. Aplicação de maneira errada pode gerar
hematomas, feridas e atém amputação de membro ou óbito.

Quanto a injeção subcutânea, ela só pode ser realizada com as substâncias que não causam
irritação dos tecidos pois caso contrário, pode desencadear dor intensa, necrose no tecido e
25

descamação.

E a via transdérmica? Nem todos os fármacos penetram facilmente pela pele intacta.
A absorção daqueles que o fazem depende da superfície sobre a qual são aplicados e de sua
lipossolubilidade, pois a epiderme comporta-se como uma barreira lipídica.

A absorção sistêmica dos fármacos ocorre mais facilmente pela pele que sofreu abrasão,
queimadura ou desnudamento, inflamação e outros distúrbios que venham a produzir um
aumento do fluxo sanguíneo cutâneo ampliando a absorção. A absorção através da pele também
pode ser ampliada pela produção do fármaco com base em substâncias oleosas e pela fricção
desta preparação na pele. Como a pele hidratada é mais permeável do que a seca, a formulação
pode ser modificada ou pode-se aplicar um curativo oclusivo para facilitar a absorção.

Outro local de administração são as mucosas da conjuntiva, nasofaringe, orofaringe, vagina,


colo, uretra e bexiga, principalmente em decorrência de seus efeitos locais. Em alguns casos,
como na aplicação do hormônio antidiurético sintético na mucosa nasal, o objetivo é a absorção
sistêmica. Vale ressaltar que a absorção pelas mucosas ocorre rapidamente.

Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:


26

PARA RESUMIR
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

• Conhecer a farmacologia a quais os seus tópicos de estudo.

• Identificar as principais classes de medicamentos disponíveis no mercado.

• Entender sobre o que é e a diferença entre farmacocinética e farmacodinâmica.

• Conhecer as principais vias de administração dos medicamentos.

• Aprender sobre o sistema nervoso autônomo e os neurotransmissores.

• Aprender sobre os sistemas adrenérgicos e colinérgicos.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRUNTON, L. L.; LAZO, J. S.; PARKER, K. L. Goodman & Gilman As bases farmacológicas da
terapêutica. Porto Alegre: ArtMed, 2012.

KATZUNG, B. G. Farmacologia básica e clínica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.

KOROLKOVAS, A.; FRANÇA, F. F. Dicionário terapêutico Guanabara. Rio de Janeiro: Guana-


bara Koogan, 2013.

RANG, H. P; DALE, M. M; RITTER, J. M. Farmacologia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.

SILVA, P. Farmacologia. 8. ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.


UNIDADE 2
Interações nutricionais e
medicamentosas
Introdução
Você está na unidade Interações Nutricionais e Medicamentosas. Conheça aqui como
alguns fármacos podem interferir no estado nutricional e na ingestão de alimentos, e
compreenda o conceito de biodisponibilidade e sua importância para o entendimento
das interações. Veja exemplos de interações positivas e negativas entre os nutrientes e
compreenda a importância desse conhecimento para o planejamento dietético eficiente.
Nesta unidade você será capaz de compreender que fatores antinutricionais podem
afetar a biodisponibilidade de nutrientes e que o processamento de alimentos pode
reduzi-los. Você também aprenderá que os medicamentos podem interagir entre si, e
que o planejamento alimentar deve considerar a medicação utilizada pelo paciente para
prevenir e/ou evitar deficiências alimentares e efeitos colaterais relacionados a ingestão
de alimentos, absorção e metabolismo dos mesmos.

Bons estudos!
31

1 NUTRIÇÃO E INTERFERÊNCIA DE FÁRMACOS


A ingestão de alimentos, para além de sua função de integração social, supre a necessidade
básica de nutrir o organismo. Logo, o estado nutricional de um indivíduo é altamente dependente
de sua ingestão alimentar. Contudo, desequilíbrios funcionais, metabólicos ou patológicos podem
interferir no estado de saúde geral de uma pessoa.

Para reencontrar a homeostasia, a medicina possui o recurso farmacológico para reduzir


os danos causados por tais desequilíbrios. Mas algumas vezes, tanto um quadro patológico,
como o uso de medicamentos para seu tratamento, pode afetar toda a cinética de utilização de
alimentos, desde a nível de ingestão como a nível de absorção, metabolismo e até a excreção
de seus metabólitos finais. Da mesma forma, o alimento ou nutriente pode interagir com um
fármaco e alterar seu efeito ou até mesmo induzir uma reação adversa do mesmo.

FIQUE DE OLHO
O profissional nutricionista, que acompanha pacientes em tratamento medicamentoso, deve
avaliar periodicamente o estado nutricional do mesmo, assim é possível identificar sintomas
clínicos e possíveis alterações que podem afetar o estado nutricional e consequentemente
a saúde do paciente.

Como nosso foco aqui é a farmacologia, nesse primeiro momento vamos discutir de maneira
mais aprofundada a interferência dos fármacos, e não da patologia, na nutrição (ingestão
alimentar, sintomas gastrointestinais e percepção alimentar). Posteriormente você verá com mais
detalhe a interação entre fármaco e nutriente.

De maneira geral, podemos dizer que terapia farmacológica interfere afetando a ingestão
alimentar ou causando a má absorção de nutrientes, seja por interação físico-química direta do
fármaco com o alimento, seja por causar alterações nas funções fisiológicas ou até lesões no trato
gastrointestinal (REIS, 2009).

1.1 Interferência do fármaco na ingestão alimentar


A terapia medicamentosa é utilizada a fim de minimizar os sintomas de uma doença e
restaurar a saúde. Porém, em alguns casos, além da ação positiva frente à doença, o uso de alguns
medicamentos pode causar efeitos colaterais que interferem no consumo alimentar.

Alguns fármacos, por exemplo, possuem a recomendação de não serem consumidos com
determinados alimentos, ou em horários distantes das refeições, conforme você pode verificar na
32

tabela “Exemplos de fármacos que interferem no apetite e na ingestão alimentar de alimentos”.


Essas recomendações visam a melhor absorção e consequente ação do medicamento. Contudo,
dependendo da situação fisiológica do indivíduo (idosos, por exemplo), o uso prolongado desse
medicamento pode levar a deficiências nutricionais tanto pela constante rejeição de alimentos ou
até omissão de refeições próximas ao horário de consumo do medicamento.

Dentre os efeitos colaterais de alguns medicamentos que levam a alteração de apetite e ingestão
alimentar, podemos citar a anorexia e perda de peso ou o aumento do apetite e ganho de peso.

Tabela 1 - Exemplos de fármacos que interferem no apetite e na ingestão alimentar de alimentos


Fonte: WHITE, 2010 (Adaptado).

#ParaCegoVer: A imagem mostra uma tabela com três colunas e duas linhas apresentando
exemplos de fármacos que interferem no apetite e na ingestão alimentar.

Em quaisquer das situações apresentadas acima o , considerando o estado nutricional


pregresso e o estado fisiológico atual é de fundamental importância para atenuar os danos
colaterais ao estado nutricional pelo medicamento, a fim de usufruir apenas da ação terapêutica
do mesmo.

1.2 Interferência do fármaco no trato gastrointestinal


Os principais causados por medicamentos são náuseas, vômitos e alterações na motilidade
do trato gastrointestinal (constipação ou diarreia). Alguns medicamentos podem causar alteração
de pH e da composição da microbiota, fatores que também alteraram a biodisponibilidade dos
nutrientes em geral.
33

Tabela 2 - Exemplos de Fármacos associados a sintomas gastrointestinais


Fonte: WHITE, 2010 (Adaptado).

#ParaCegoVer: A imagem mostra uma tabela com três colunas e duas linhas apresentando
exemplos de fármacos associados a sintomas gastrointestinais.

Como visto, podemos inferir que o principal efeito colateral de importância para a nutrição
associado a esses sintomas é a interferência na absorção de nutrientes. Mas além dos distúrbios
de absorção de nutrientes que esses sintomas podem provocar, indiretamente pode haver
também uma redução da ingestão alimentar.

A tabela “Exemplos de fármacos associados a sintomas gastrointestinais” lista alguns


medicamentos cujos efeitos colaterais podem afetar o trato gastrointestinal.

1.3 Interferência do fármaco na percepção do alimento


A percepção de que um alimento é saboroso é influenciada pela aparência, cheiro, textura
e sabor do mesmo. Qualquer alteração nesses aspectos pode levar a sua rejeição. Alguns
medicamentos, conforme descrito na tabela “Exemplos de fármacos que interferem na percepção
do alimento”, possuem como efeito colateral a interferência no paladar ou no olfato, ou afetam a
produção de saliva, deixando a sensação de boca seca.

A produção de saliva é importante para o início da digestão dos alimentos e sua falta impede
a formação do bolo alimentar e a digestão adequada dos alimentos.

A hipogeusia, que é uma diminuição do paladar, e a disgeusia, caracterizada pela percepção


alterada do paladar, como a presença de um sabor amargo ou metálico, são os distúrbios do
paladar mais comuns ocasionados por medicamentos.
34

O olfato é primordial para a percepção de sabor, juntamente com o paladar. Portanto, a


alteração no olfato afeta tanto a percepção do alimento, como o apetite e em consequência a
ingestão alimentar.

Tabela 3 - Exemplos de fármacos que interferem na percepção do alimento


Fonte: WHITE, 2010 (Adaptado).

#ParaCegoVer: A imagem mostra uma tabela com três colunas e duas linhas apresentando
exemplos de fármacos que interferem na percepção do alimento.

2 EFEITO DOS NUTRIENTES NA CINÉTICA DOS


ALIMENTOS
Vamos agora dar uma pausa na temática farmacológica e falar um pouco sobre nutrientes. Em
breve, você verá que os medicamentos e nutrientes podem interagir e que isso pode ser benéfico
ou maléfico para ação de um ou ambos desses compostos. Mas antes, você precisa entender que
nutrientes podem interagir entre si, e essas interações também devem ser consideradas quando
um medicamento também é consumido simultaneamente.
35

Tendo isso em vista, e sabendo que uma adequada ingestão de alimentos em quantidade
e qualidade são essenciais para um bom estado nutricional, é importante entendermos os
mecanismos que os nutrientes ingeridos sofrem até sua efetiva utilização.

Durante a digestão o alimento sofre sucessivas transformações, com rearranjo molecular de


nutrientes para facilitar a absorção. Após a absorção, os nutrientes são distribuídos aos tecidos
para enfim serem utilizados. A quantidade de nutrientes efetivamente utilizado pelo organismo
reflete o conceito de biodisponibilidade.

A forma química como os nutrientes se apresentam no alimento, livres, ionizados ou


complexados, por exemplo, a quantidade ingerida e até a presença de outros alimentos/
nutrientes ingeridos ao mesmo tempo pode afetar a utilização de um nutriente específico.

2.1 Tipos de Interações Nutricionais


Vamos pensar um pouco… Você concorda que não consumimos os nutrientes de forma isolada?
Consumimos alimentos e refeições e inúmeros nutrientes são ingeridos nesse processo. Espera-
se com isso que todos eles sejam absorvidos, principalmente por um indivíduo saudável. Porém,
muitos nutrientes disputam o mesmo sítio de absorção, ou promovem maior excreção de outros,
ou de alguma forma interagem entre si. As interações entre nutrientes, principalmente quando se
tem desequilíbrio na ingestão, podem aumentar ou diminuir a biodisponibilidade de um ou ambos.
A ingestão em excesso ou em baixa quantidade de um nutriente pode interferir em uma das fases
do metabolismo de outro (absorção, transporte, excreção, armazenamento, função).

São unidirecionais ou diretas as interações em que um dos nutrientes afeta a biodisponibilidade


do outro.

São bidirecionais ou indiretas as interações em que ambos nutrientes têm sua


biodisponibilidade afetada quando coadministrados.

2.2 Classificação das Interações Nutricionais


São as interações em que se tem o aumento da biodisponibilidade do nutriente, ou seja, a
presença de um nutriente é necessária ao metabolismo de outro. são aquelas interações em que
a biodisponibilidade de nutriente é diminuída pela presença de outro.
36

Tabela 4 - Exemplos de interações entre micronutrientes, tipo de interação correspondente e


nível de ocorrência
Fonte: CHEMIN; MURA, 2010 (Adaptado).

#ParaCegoVer: A imagem mostra uma tabela com três colunas e 4 linhas apresentando oito
exemplos de interações entre micronutrientes, suas respectivas classificações de tipo de interação
e nível de ocorrência

Para minerais e elementos, os compostos que mais diminuem sua biodisponibilidade são os
fitatos, fosfatos e taninos, que veremos logo mais. Os compostos que promovem uma melhor
biodisponibilidade são ácido cítrico e ascórbico.

2.3 Interações entre micronutrientes


Vamos listar abaixo algumas interações entre nutrientes. Algumas acontecem com a presença
de outros compostos associados. Veja a interação do cálcio com zinco, por exemplo, esses
minerais, principalmente na presença de fitatos, formam um complexo cálcio-fitato-zinco, que
afeta a biodisponibilidade de zinco, resultado de uma menor absorção.

O zinco também se relaciona com o cobre. O excesso de zinco diminui a absorção do cobre
como resultado do aumento de uma proteína com afinidade para o cobre, proteína e mineral se
ligam o que limita sua absorção.

A proteína ligadora do retinol, responsável pelo transporte da vitamina A do fígado para os


tecidos alvos é dependente de zinco. O baixo consumo crônico ou a deficiência de zinco pode,
portanto, levar a uma baixa utilização de vitamina A pelo organismo.

O zinco pode interagir também com metais pesados formando um complexo que pode
aumentar sua excreção. É o caso do complexo formado pelo cádmio com o zinco. Mercúrio com o
37

selênio interagem de maneira semelhante. Indivíduos com baixa ingestão desses minerais e que
vivem em ambientes poluídos correm maior risco de deficiência.

O selênio se relaciona também com o iodo. Ele é importante para o metabolismo do iodo
pois participa da formação de T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina). Portanto, um baixo consumo de
selênio resulta em uma baixa utilização de iodo.

A interação entre o selênio e a vitamina E pode ser explicada pela menor necessidade de uso
da vitamina E para reparo de dano celular por radicais livres na presença de selênio. Isso por que
a ação antioxidante desse mineral, diminui a necessidade da vitamina.

Já a vitamina D se relaciona com o cálcio. Para absorção intestinal desse mineral é necessário
a presença da vitamina D. Osteopenia e osteoporose são riscos quando se tem um quadro de
deficiência de vitamina D.

Outra vitamina que pode interagir com outros micronutrientes é a vitamina C. O excesso
de vitamina C pode alterar a forma química do cobre, tornando-o menos biodisponível e
prejudicando a absorção desse mineral. A vitamina C também interage com o ferro, e vamos
tratar dessa relação em um tópico à parte.

3 ALIMENTOS PROMOTORES E INIBIDORES DA


ABSORÇÃO DE FERRO
Vamos falar sobre a interação de nutrientes com o ferro em separado, uma vez que a
diminuição de sua biodisponibilidade pode levar a deficiência e causar anemia ferropriva.

Esse quadro patológico é considerado um problema de saúde pública que afeta


principalmente crianças, gestantes e idosos. A dietoterapia relacionada ao tratamento dessa
condição é realizada fundamentalmente com o aumento do consumo de fontes de ferro. Mas
também com a combinação da ingestão de alimentos ricos em outros nutrientes para aumentar
a biodisponibilidade deste mineral, assim como a recomendação de se evitar os alimentos fontes
de nutrientes ou compostos que diminuem a biodisponibilidade de ferro.

3.1 Interação de micronutrientes com o ferro


A vitamina A interage com o ferro a nível de utilização por prejudicar o transporte de ferro.
Tanto que níveis baixos de hemoglobina são associados a deficiência de vitamina A. Nesse sentido,
a dietoterapia deve prever o aumento de fontes dietéticas de vitamina A e, a depender do caso,
de suplementação desses nutrientes.
38

Vitamina C

É essencial para melhorar a absorção do ferro não heme, presente em vegetais.

Ácido ascórbico

Permite a mudança (redução) da forma química do ferro para uma melhor absorção e também
é capaz de formar um complexo com o mineral, melhorando sua absorção.

Zinco

Pode interferir na absorção e utilização de ferro, assim como o contrário. Essa interação deve
ser observada, principalmente nos casos de suplementação em que a ingestão alimentar não
esteja adequada para o outro nutriente. O consumo exagerado de cálcio também pode interferir
na absorção de ferro por competir pelo mesmo sítio de absorção.

Essas informações são importantes para o planejamento dietético, que deve se preocupar
com os alimentos fontes desses nutrientes em uma mesma refeição.

Além das interações com os nutrientes citados, a absorção e utilização de ferro pode ser
afetada por outros compostos, denominados fatores antinutricionais que veremos a seguir.

3.2 Recomendações para melhorar as reservas de ferro


Como dito, o tratamento dietoterápico para a promoção da absorção de ferro deve levar em
consideração as interações com outros nutrientes para formulação do plano dietético.

O aumento do consumo de fontes alimentares de ferro em todas as refeições, como


alimentos de origem animal (carnes, vísceras, peixes, dentre outros) é fundamental para evitar e
corrigir as deficiências. Aliado a isso, principalmente para vegetarianos, é importante o consumo
de alimentos ricos em vitamina C em todas as refeições, associado a ingestão de alimentos
vegetais ricos em ferro. Essa combinação permite uma melhor absorção do ferro de vegetais, que
naturalmente é menos biodisponível por sua forma química. Aumentando as fontes alimentares
de ferro e de vitamina C, conseguimos um melhor aporte de ferro absorvível na dieta.

Nesse sentido, é necessário orientar o paciente sobre a necessidade de evitar o consumo de


alimentos lácteos junto a alimentos ricos em ferro, assim como o consumo exagerado de chás e
cafés, que podem impedir a absorção adequada de ferro disponível na refeição.
39

4 FATORES ANTINUTRICIONAIS
Alguns compostos químicos, além dos já citados, podem reduzir a biodisponibilidade
e qualidade nutricional de nutrientes, e são os chamados . Esses fatores são encontrados
naturalmente nos alimentos vegetais e além de interferir na absorção ou utilização de nutrientes,
o consumo excessivo desses compostos pode ser tóxico.

4.1 Tipos de fatores antinutricionais


Podemos citar, entre outros, os inibidores de proteínas, oxalatos, taninos, nitritos, ácido
cianídrico.

Alguns desses compostos antinutricionais são termolábeis, ou seja, sofrem alteração com
a presença de calor. Isso faz com que o processamento térmico seja suficiente para evitar a
interferência desses fatores com os nutrientes ingeridos, mas veremos logo mais que outros
processamentos podem auxiliar na redução do consumo desses compostos.

Outros podem ser considerados, quando consumidos em pequenas quantidades, compostos


antioxidantes e, portanto, serem interessantes para saúde. Esse é o caso dos compostos fenólicos,
porém os taninos, um exemplo desses compostos, podem interferir na qualidade nutricional de
proteínas. O complexo entre taninos e proteínas as tornam insolúveis e inativam as enzimas,
prejudicando a absorção de aminoácidos.

Fitatos podem formar complexos insolúveis com minerais e proteínas. Já oxalatos podem
formar complexos com o cálcio e diminuir a disponibilidade desse mineral. O nitrato pode
interferir no metabolismo da vitamina A. Veja na tabela a seguir os principais fatores nutricionais
que interferem na biodisponibilidade de nutrientes.
40

Tabela 5 - Fatores antinutricionais e respectivos efeitos sobre a biodisponibilidade de nutrientes


Fonte: HIGASHIJIMA et al, 2019 (Adaptado).

#ParaCegoVer: A imagem mostra uma tabela com duas colunas e sete linhas apresentando
exemplos de fatores antinutricionais e seus efeitos sobre a disponibilidade de nutrientes.

4.2 Fatores antinutricionais e processamento de alimentos


Esses compostos químicos, apesar de interferirem na biodisponibilidade de nutrientes,
podem ser inativados pelo em etapas como remolho, corte, cocção, secagem, fermentação.

FIQUE DE OLHO
O remolho trata-se de deixar os alimentos imersos em água para hidratação. Compostos
solúveis dos alimentos migram para água, principalmente se houver condições ideais de
temperatura e pH. Para que seja uma ação efetiva, é necessário que a água seja sempre
desprezada. É uma etapa muito interessante no preparo de leguminosas em que os
compostos antinutricionais são eliminados com a água de remolho e não agem sobre a
absorção de nutrientes, além de prevenir o desconforto gástrico causado por eles.

Alimentos ricos em oxalato, como a beterraba por exemplo, quando cozidos, ocorre a
migração desse composto, que é solúvel, para água de cozimento. Com a migração é importante
não utilizar a água de cozimento, para não ocorra o consumo do oxalato.
41

O fitato pode formar complexos com cálcio, ferro e outros minerais como vimos acima. Para
evitar essa complexação é importante que alimentos ricos neste composto, como as leguminosas,
sejam preparados com remolho, ou passem por processos de fermentação, germinação ou ainda
tratamento térmico. Dessa forma, ocorre a desfosforilação do composto, perdendo a capacidade
inicial de se complexar com os minerais. O remolho também é interessante para diminuir o teor
de inibidores de proteases. A germinação também é útil para eliminação de oligossacarídeos.

5 INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Como foi dito no início, o uso de medicamentos objetiva a recuperação da saúde. Porém,
sempre há a descrição de efeitos adversos nas bulas, e muitos deles causados por interações e
pela doença principal ou outras associadas.

Como você pode perceber até aqui, tudo que é ingerido, pode sofrer algum tipo de interação
com outros compostos. O mesmo acontece com a ingestão de medicamento, que pode
interagir com o que for consumido concomitantemente ou com o que já estiver presente no
trato gastrointestinal. Essa interação pode ser entre fármaco e fármaco, fármaco e fitoterápico,
fármaco e alimento, fármaco e suplemento.

A interação medicamentosa pode ser definida como a alteração do metabolismo de um


fármaco por outro. A modificação da ação pode ser independente ou integrada, com aumento ou
diminuição da ação de um ou ambos medicamentos ou até com risco de toxicidade.

FIQUE DE OLHO
Acabamos de ver acima que as interferências e as interações dos medicamentos com os
alimentos/nutrientes podem afetar o estado nutricional do paciente. Porém, lembre-se que
não é uma prerrogativa do profissional nutricionista o diagnóstico clínico e a prescrição de
medicamentos. Ao nutricionista cabe o diagnóstico nutricional e lhe é permitido a prescrição
apenas de suplementos nutricionais e fitoterápicos.

Saiba mais em: Resolução CFN n° 525/2013, alterada pela Resolução CFN n° 556/2015 -
regulamenta a prática da Fitoterapia pelo Nutricionista, atribuindo-lhe competências para,
nas modalidades que especifica, prescrever plantas e chás medicinais, medicamentos
fitoterápicos, produtos tradicionais fitoterápicos e preparações magistrais de fitoterápicos
como complemento da prescrição dietética. Resolução CFN n° 390/2006 que regulamenta a
prescrição dietética de suplementos nutricionais pelo Nutricionista.
42

O efeito positivo pode ser visto, por exemplo, na relação entre a prescrição de hipertensivos e
diuréticos, em que ambos agem sinergicamente no organismo. Um exemplo de interação negativa
seria o consumo de antiácido e antibiótico, onde o primeiro causa a excreção do antibiótico não
permitindo que ele complete sua ação.

O uso de anti-inflamatório não esteroide com o anticoagulante varfarina, exemplifica o risco


de toxicidade na interação de fármacos, por essa relação provocar sangramento.

5.1 Fatores interferentes nas interações medicamentosas


Além do consumo concomitante de dois ou mais medicamentos, outros fatores podem
interferir na interação medicamentosa relacionados ao paciente ou ao medicamento.

O estado de saúde, a idade, a velocidade do esvaziamento gástrico, as funções renais e


hepáticas em adequado funcionamento são condições inerentes ao paciente e que podem
intensificar ou não as interações entre os fármacos.

Em relação à administração dos medicamentos, é necessário se considerar a sequência de


uso dos fármacos, a dosagem utilizada e o tempo de tratamento.

5.2 Classificação das interações medicamentosas


As interações entre fármacos podem ser do tipo físico-química ou terapêuticas, e podem se
limitar ao efeito de sintomas clínicos, ou chegar a aumentar o quadro patológico do paciente,
ou ser extrema, com ameaça a vida e risco de morte. As interações físico-químicas, são
denominadas também interações farmacêuticas, acontecem antes da absorção e podem indicar
incompatibilidade.

As alterações organolépticas, a presença de precipitados, formação de gás ou calor, alteração


de pH e motilidade intestinal, oxidação e inativação de componentes por adsorção, quelação,
incompatibilidade, são alguns exemplos de modificações que podem ocorrer com a mistura de
dois ou mais medicamentos conflitantes. Essas reações comprometem a ligação dos fármacos aos
seus sítios de absorção.

As interações terapêuticas acontecem após absorção e podem ser divididas por sua ação
na farmacocinética (o que o corpo pode fazer com o medicamento) ou na farmacodinâmica
(o que o fármaco pode fazer ao organismo) de um ou mais dos fármacos relacionados. A
interação farmacodinâmica provoca modificação no efeito bioquímico ou fisiológico de um ou
mais fármacos, provocando efeitos de sinergismo ou antagonismo de ação entre eles. O efeito
sinérgico pode ser tanto terapêutico como tóxico, a depender do tipo de interação, que pode ser
de adição, somação ou potenciação:
43

Adição

Quando os fármacos possuem mesmo mecanismo de ação.

Somação

Quando os mecanismos de ação são diferentes.

Potenciação

Quando um fármaco potencializa a ação de outro.

A interação farmacodinâmica antagônica ocorre quando a relação entre os fármacos cria uma
resposta suprimida ou reduzida de um medicamento na presença de outro. Pode ocorrer a nível
farmacológico, fisiológico, químico ou físico.

As interações farmacocinéticas são as mais importantes quando o assunto é interação entre


medicamentos e podem acontecer a nível de absorção, distribuição, biotransformação/metabolização,
com efeito de indução ou inibição enzimática, e a nível de excreção, principalmente renal.

Possuem maior efeito clínico as interações farmacocinéticas a nível de absorção, como


resultado de alterações do trato gastrointestinal de pH, motilidade, flora, função da mucosa e
complexação com micronutrientes.

A distribuição significa a saída do fármaco da corrente sanguínea em direção aos órgãos por
meio da ligação com proteínas plasmáticas transportadoras. Essa ligação fármaco-proteína de
transporte é dependente da afinidade do fármaco com a proteína (risco de competição entre os
medicamentos) e da hemodiluição dessas proteínas. Portanto, medicamentos que necessitam
desse transporte proteico de maneira similar a outros, podem não chegar ao local de ação, o que
interfere na terapêutica esperada por eles.

Como dito, na etapa de metabolização pode ocorrer efeito de indução ou inibição enzimática
no fígado, relacionada ao citocromo P450. As interações de indução estimulam a biotransformação
de um ou ambos fármacos, muitas das vezes, disponibilizando mais metabólitos que o desejado.
Enquanto as interações de inibição, como o próprio nome diz, inibem o metabolismo de um ou
de todos os fármacos que interagem, aumentando o risco de acumulação.

Essas classificações das interações medicamentosas irão nos ajudar a entender melhor
posteriormente as diversas formas de interação que podem surgir entre os fármacos e nutrientes/
fitoterápicos/suplementos/outros fármacos.
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PARA RESUMIR
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

• Aprender que alguns fármacos podem interferir no estado nutricional de um indiví-


duo, afetando a ingestão alimentar, causando sintomas gastrointestinais ou alteran-
do a percepção dos alimentos por modificações das sensações de sabor e cheiro.

• Conhecer o conceito de biodisponibilidade e sua importância para entender os fato-


res que influenciam o metabolismo dos nutrientes.

• Entender que as interações nutricionais podem afetar a biodisponibilidade de nu-


trientes de forma positiva ou negativa.

• Compreender que o conhecimento das interações entre nutrientes é importante


para o planejamento dietético.

• Entender que os fatores nutricionais também podem afetar a biodisponibilidade de


nutrientes e que o processamento de alimentos pode diminuir a presença desses
compostos químicos.

• Aprender que as interações medicamentosas podem ocorrer com o uso de dois ou


mais medicamentos que podem intensificar a ação de um e/ou outro, prejudicar a
ação ou até causar toxicidade ao organismo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BENEVIDES, C. M.; SOUZA, M. V.; SOUZA, R. D. B.; LOPES, M. V. Fatores antinutricionais


em alimentos: revisão. Segurança Alimentar e Nutricional, Campinas – SP, v. 18, n. 2, p.
67-79, 2011.

BOULLATA, J. I.; HUDSON, L. M. Drug–Nutrient Interactions: A Broad View with


Implications for Practice. Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics, p. 506–517,
abr. 2012.

CHEMIN, S. M.; MURA, J. D. P. Tratado de alimentação nutrição e dietoterapia. 2°ed. São


Paulo: Roca, 2010.

COSTA, N. M. B.; PELUZIO, M. C. G. Nutrição básica e metabolismo. Editora Viçosa: UFV,


2008.

COZZOLINO, S. M. F. Biodisponibilidade de Nutrientes. Barueri, SP: Manole, 2016.

HIGASHIJIMA, N. S., LUCCA, A.; REBIZZI, L. R. H.; REBIZZI, L. M. H. Fatores antinutricionais


na alimentação humana. Segurança Alimentar e Nutricional, Campinas –SP, v. 27, p. 1-
16, 2020.

MAHAN, L. K.; ESCOTT-STUMP, S.; RAYMOND, J.L. Krause: Alimentos, Nutrição e


Dietoterapia. 13ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.

REIS, T.R. Nutrição Clínica - Interações. Rio de Janeiro: Rubio, 2009.

SECOLI, S. R. Interações medicamentosas: fundamentos para a prática clínica da


enfermagem. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo, v. 35, n. 1, p. 28-34, mar. 2001.

WHITE, R. (2010). Drugs and nutrition: how side effects can influence nutritional intake.
Proceedings of the Nutrition Society, v. 69, p. 558–564, ago. 2010.
UNIDADE 3
Interações drogas x nutrientes:
importância clínica
Introdução
Você está na unidade Interações drogas x nutrientes: importância clínica. Conheça
aqui as principais informações relacionadas às interações entre drogas/fármacos e
nutrientes, seus benefícios e malefícios.

Aqui você entenderá como essas interações podem acontecer, quais são benéficas
e como realizá-las em prol do tratamento do paciente, assim como quais as principais
interações medicamento x alimento que devem ser evitadas para reduzir ou anular
prejuízos, tanto para a terapia farmacológica, quanto para a terapia nutricional.

Bons estudos!
49

1 INTERAÇÕES DROGAS E NUTRIENTES


Os nutrientes presentes no alimento podem interagir com os fármacos e isso é um fator que
deve ser avaliado com bastante cautela na prática clínica. Essas alterações podem trazer tanto
benefícios quanto prejuízos para o paciente em questão.

FIQUE DE OLHO
Para o profissional de saúde é imprescindível reconhecer as interações de forma sistemática,
como integrante no processo de avaliação e durante o tratamento medicamentoso.

Antes de prosseguir com nosso estudo, vamos relembrar alguns conceitos importantes:

Droga

Considera-se uma droga, qualquer substância que quando consumida altera a fisiologia do
organismo. Seja ela o álcool, cigarro, dipirona, maconha, entre outros.

Fármaco

Também chamado de princípio ativo, é a substância “principal” do medicamento, ou seja,


aquela responsável pelo efeito terapêutico do medicamento.

Medicamento

É um produto farmacêutico que contem um princípio ativo (fármaco) e se apresenta em


formas variadas como comprimidos, cápsulas, xaropes, soluções, pomadas, géis etc.

Farmacocinética

Corresponde ao que o organismo faz com a droga – compreende a absorção, distribuição,


biotransformação e excreção.

Farmacodinâmica

Corresponde ao que a droga faz com o organismo – compreende as interações moleculares,


o efeito, a ligação no receptor etc.
50

Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:

1.1 Interações entre drogas e nutrientes


As interações entre drogas e nutrientes acontecem facilmente, pois grande parte dos
medicamentos é administrada por via oral. São vários os fatores farmacocinéticos que podem ser
influenciados pelos alimentos, dentre eles temos a absorção, a distribuição, a biotransformação
e a excreção.

A interação medicamento-nutriente é definida como uma alteração da cinética ou dinâmica de


um medicamento ou nutriente, ou ainda, o comprometimento do estado nutricional como resultado
de administração de um medicamento, compreendendo-se a cinética como a descrição quantitativa
de um medicamento ou sua disposição, o que inclui a absorção, distribuição, metabolismo e excreção
(Tabela 1); a dinâmica caracteriza-se pelo efeito clínico ou fisiológico do medicamento. Em outras
palavras, as interações medicamentosas entre alimentos e medicamentos são tipos especiais de
respostas farmacológicas, em que os efeitos de um ou mais medicamentos são alterados pela
administração simultânea ou anterior de outros, ou através da administração concorrente com
alimentos (SCHWEIGERT et al, 2008).

Alguns nutrientes são absorvidos pelo mesmo mecanismo que os fármacos, competindo pelo
local de absorção no trato gastrintestinal.

2 CARACTERÍSTICAS GERAIS DA INTERAÇÃO


FÁRMACO X NUTRIENTE
A seguir, conheceremos as características das diferentes interações, de acordo com as fases
distintas.
51

2.1 Interação na fase biofarmacêutica e absorção


A grande maioria dos fármacos, quando tomados por via oral, é absorvida por passiva e os
nutrientes preferenciam o . O primeiro momento após a administração do medicamento chama-
se fase biofarmacêutica.

Compreende todos os processos que ocorrem com o medicamento a partir da sua administração,
incluindo as etapas de liberação e dissolução do princípio ativo. Esta fase deixa o fármaco disponível
para a absorção. Entretanto, sua natureza química, estado físico, tamanho e superfície da partícula,
quantidade e tipo dos excipientes utilizados, processo farmacêutico empregado e formulação são
fatores os quais podem influir na biodisponibilidade do princípio ativo, fazendo variar o tempo de
absorção e a quantidade absorvida (MOURA; REYES, 2002).

Durante o processo de absorção vários são os fatores que podem influenciar: alteração do
pH do conteúdo do trato gastrintestinal, velocidade do esvaziamento do estômago, aumento do
peristaltismo intestinal, competição pelos sítios de absorção, fluxo sanguíneo e alguns complexos
formados pelo nutriente e o fármaco (uma ligação direta entre eles).

Quando alimento e/ou líquido é ingerido, o pH do estômago altera, mudando de 1,5 para
cerca de 3. Essa alteração do potencial hidrogeniônico pode afetar diretamente a desintegração
dos medicamentos sólidos (comprimidos, drágeas, cápsulas) e então, pode influenciar também
a absorção ou a estrutura química do princípio ativo, substância responsável pela terapêutica.

Essa alteração pode ser benéfica ou maléfica. Por exemplo, o comprimido de fenitoína tende
a desintegrar mais facilmente com o pH mais alto, portanto será absorvido mais rápido. Já no caso
do antibiótico eritromicina essa ação é lentificada, então o efeito será mais demorado.

Figura 1 - Nutricionistas precisam compreender as possíveis interações entre os alimentos e os


medicamentos do seu paciente
Fonte: BreatheFitness, iStock, 2020
52

A figura mostra duas nutricionistas com jaleco e na mesa a frente delas várias frutas, legumes,
verduras e água. Uma nutricionista segura uma maçã verde em sua mão enquanto a outra aponta
para a tela do notebook branco, também em cima da mesa.

Também influenciado pela presença do alimento, o estômago tende a esvaziar mais


lentamente fazendo com que a absorção também seja mais demorada. Enquanto no intestino
delgado, o peristaltismo favorece a dissolução e consequentemente a absorção, mas também
pode prejudicar a biodisponibilidade. Vamos exemplificar:

Alendronato

O medicamento utilizado para tratamento de osteoporose tem sua absorção diminuída em


60% quando tomado com café ou suco. Devendo então ser tomado 2 horas antes de se alimentar.

Cefuroxima

A substância, com atividade antibiótica, tem sua absorção aumentada na presença de


alimentos.

Tetraciclina e Ciprofloxacino

Estes antibióticos formam quelatos com cálcio, magnésio, ferro e zinco reduzindo a absorção
destes nutrientes.

Cimetidina

O medicamento para problemas estomacais, pode alterar a acidez e com isso diminuir a
absorção de vitamina B12, tiamina e ferro.

Furosemida

Medicamento diurético que aumenta a excreção de sódio, cloro e magnésio.

2.2 Interação na fase de metabolismo e excreção


Na fase de metabolismo, o propranolol tem alteração quando na presença de alimentos
e este medicamento se trata de um dos anti-hipertensivos mais utilizados pela população. O
metabolismo dos fármacos compreende os processos de biotransformação que ocorre no fígado
e chamamos de mecanismo de fase I e fase II.

No mecanismo de fase I temos as reações conhecidas como “Reações de ativação” que são:
oxidação, hidroxilação, alquilação, hidrólise. Já na fase II, as reações de conjugação: glicuronidação,
glucosidação, sulfatação, metilação, acetilação, por exemplo, que irão formar um conjugado.
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Conheça um caso gravíssimo de interação alimento x medicamento que resultou em sérias


reações adversas e internação hospitalar com necessidade de oxigenação mecânica. Este caso foi
publicado no site da UOL em 2013.

A paciente de 42 anos mal reagia quando seu marido a trouxe ao pronto-socorro. Sua frequência
cardíaca tornava-se mais lenta ao mesmo tempo em que a pressão arterial baixava. Para reanimar
a paciente, os médicos tiveram que colocá-la em um respirador e depois colocar um marca-passo. Eles
ficaram perplexos quando o marido afirmou que ela tinha enxaqueca e tomava um remédio para
hipertensão arterial chamado verapamil como forma de prevenir a doença. Mas os exames de sangue
revelaram a presença de uma quantidade assustadora do medicamento no corpo da paciente, um nível
cinco vezes maior que o considerado seguro. Em circunstâncias normais, o medicamento é metabolizado
no trato gastrointestinal e uma quantidade relativamente pequena é absorvida, pois uma enzima existente
no intestino, chamada CYP3A4, o torna inativo. Contudo, a toranja possui substâncias químicas naturais,
chamadas furanocumarinas, que inibem a enzima. Sem sua presença, o intestino absorve uma quantidade
bem maior do medicamento e os níveis da droga no sangue aumentam de forma significativa (UOL, 2013).

São muitos os medicamentos que interagem com a toranja, cerca de 85, e entre eles estão
a sinvastatina e o anticoncepcional que contenha etinilestradiol, podendo causar rabdomiólise e
coágulos graves respectivamente.

Sobre a excreção, vários alimentos e nutrientes podem alterar a excreção dos fármacos
através dos rins. Por exemplo, o sódio presente nos alimentos pode competir com o carbonato de
lítio, medicamento utilizado para casos de transtornos de humor bipolar. O aumento do consumo
de sódio aumenta a excreção do lítio e, o contrário, a redução do consumo de sódio aumenta a
retenção renal do lítio aumentando assim seus níveis no sangue.

3 TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL X FÁRMACOS


Pacientes em nutrição entérica também possuem recomendações para a administração de
medicamentos por via oral, portanto é imprescindível que os profissionais conheçam as possíveis
complicações e quais as limitações, além da necessidade da aplicação de técnicas corretas na
realização da administração oral por sonda de nutrição.

3.1 Interação terapia enteral x fármaco


As interações neste caso passam além da alteração de estabilidade do medicamento, da
liberação e biodisponibilidade ou alterações no trato gastrintestinal, mas também problemas com
a sonda utilizada como a obstrução da passagem.

A atenção voltada à interação fármaco x fármaco merece uma atenção intensa, assim como
a interação alimento x fármaco. Como já estamos percebendo desde o início da unidade, essas
interações podem levar o paciente a graves problemas que, se não revertidos em tempo hábil,
podem levá-lo a óbito.
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FIQUE DE OLHO
A equipe multiprofissional precisa examinar constantemente aspectos relevantes como as
mudanças do estado nutricional e os efeitos não esperados do medicamento para tomar
medidas cabíveis diante de qualquer alteração maléfica.
Alguns problemas associados à alimentação enteral por sonda nem sempre ocorrem por essa
causa. De acordo com Keef (2009), a diarreia muitas vezes associada à nutrição entérica é em sua
maioria causada por outros fatores como a hiperosmolaridade, sorbitol, intestino inativo ou até
mesmo a terapia antibiótica.

3.2 Potenciais fármacos nesse modelo de interação


Os imunossupressores, hormônios, antibióticos, anti-inflamatórios esteroidais, citostáticos
são fármacos com alto poder irritativo e devem ser manipulados com muito cuidado. A própria
manipulação de substâncias para colocar na sonda, como o citostático, deve obedecer a critérios
de boas práticas para proteção do paciente, mas também do profissional, principalmente os que
precisam ser triturados para administrar, produzido pó que dispersa pelo ar e pode ser aspirado
ou entrar em contato com mucosas e causar alergias, entre outros.

Lavar a sonda antes e após a realização de cada administração auxilia na prevenção da


obstrução da sonda, assegura que a quantidade de medicamento administrada chegue ao local
desejado sem restar retenção dela no decorrer da sonda garantindo a dose, além de reduzir a
possibilidade de ocorrência de interação entre o fármaco e a nutrição que irá ser administrada
posteriormente.

Portanto, antes de administrar qualquer produto é preciso confirmar a sua viabilidade para
esta via, identificar as melhores formas de manipulação e administração para evitar demais
problemas.

Para administrar medicamento em forma farmacêutica xarope, deve-se diluir o xarope 1:1
em água, ou seja, no mínimo o volume de xarope deve ser diluído em um mesmo volume de
água. Caso seja administrado 10mL de xarope, deve-se diluir em no mínimo 10mL de água e
posteriormente realizar a lavagem da sonda com um volume considerado de água. No caso do
antibiótico ciprofloxacino, deve-se parar a nutrição pelo menos 1 hora antes de administrar o
medicamento ou somente inserir o antibiótico duas horas após a alimentação. E não se recomenda
macerar, pois se trata de comprimido que possui revestimento, não podendo destruí-lo.

O mesmo da maceração se recomenda, por exemplo, para a hidralazina, pois possui


revestimento, é uma drágea. Monitoramento da pressão deve ser constante e é preferível deixar
a administração da dieta de forma contínua.
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Então, atenção para as formas farmacêuticas que não podem ser maceradas: comprimidos
revestidos e comprimidos de liberação lenta, pois pode fazer com que a liberação da dose do
principio ativo seja imediata e neste caso, é necessário que a liberação ocorra de forma lenta para
melhor resposta terapêutica. Cápsulas preenchidas por micro grânulos não devem ser abertas,
pois corre o risco de obstruir a sonda e também de perder o efeito do medicamento.

4 INTERAÇÕES PROVOCADAS POR


AGENTES USADOS NAS ALTERAÇÕES
GASTROENTEROLÓGICAS
Grande parte dos medicamentos são administrados por via oral, ou seja, o processo necessita
de todo trato gastrintestinal. Com isso, as interações com os alimentos e os nutrientes tem maior
probabilidade de acontecer. O nutricionista precisa ter uma atenção redobrada ao programar
os horários das refeições e suplementações para não prejudicar o tratamento farmacológico já
realizado pelo paciente para alguma doença.

4.1 Interações com medicamentos para alterações no TGI


Vamos começar pelo omeprazol, um medicamento utilizado para úlceras, gastrites e refluxos.
Este medicamento tem sua absorção reduzida em até 50% quando tomado junto de alimento,
então se indica o consumo em jejum, preferencialmente pela manhã, e o paciente só deve se
alimentar de 40 a 60 minutos depois da ingestão. Quando for necessária outra administração
durante o dia, segue a recomendação de aguardar pelo menos 2 horas após alguma refeição e só
voltar a ingerir alimentos após 40/60 minutos.

Outra interação importante a ser mencionada é a ingestão de café após uma refeição. A
cafeína reduz em 40% a absorção de ferro não-hêmico, o mesmo acontece quando tomado
simultaneamente à refeição ou após 1 hora da mesma. Pode ser ingerido então, 1 hora antes de
alimentar-se, desta forma não é observada redução na absorção do ferro.

4.2 Interações com vitaminas lipossolúveis


O orlistat, fármaco utilizado para redução de peso e obesidade, atua inibindo a absorção de
gordura e as vitaminas A, D, E e K são lipossolúveis, consequentemente são eliminadas nas fezes,
precisando então suplementar.

Grandes doses de óleo mineral também interferem na absorção destas vitaminas acima
citadas além do betacaroteno, cálcio e fosfatos devido à barreira física e também à redução do
tempo do trânsito intestinal.
56

5 INTERAÇÕES PROVOCADAS POR AGENTES QUE


ATUAM NA INFLAMAÇÃO E NOS PROCESSOS
INFECCIOSOS
Neste tópico abordaremos as interações referentes às inflamações, portanto a interação
entre alimentos e anti-inflamatórios esteroidais (também conhecidos como corticoides) e os anti-
inflamatórios não esteroidais, assim como de processos infecciosos onde estão os antibióticos,
antivirais, antiparasitários.

Muitos destes processos também envolvem dor, então aqui abordaremos também os
analgésicos (opioides e não-opioides) e suas possíveis interações com alimentos e nutrientes.

5.1 Anti-inflamatórios e analgésicos


Um dos analgésicos mais utilizados é o paracetamol e ele interage com carboidratos. O produto
final da degradação do carboidrato é a glicose e lá no enterócito (intestino) ocorrerá um antiporte
glicose x paracetamol. Como o corpo precisará de glicose, ele não captará o paracetamol. Com
isso, o paracetamol vai seguir pela luz do intestino delgado e grosso até ser eliminado na forma
inalterada não chegando a ser absorvido. A dor não passa, a febre não baixa e leva o paciente
a achar que o medicamento não presta ou não serve, mas na realidade pode ter sido aquela
“comidinha” antes de tomar o medicamento.

Outra interação importante a ser citada é com relação ao tramadol, um analgésico opioide
com alta potencia muito utilizado em dores fortes e pós-procedimentos cirúrgicos. Quando
em contato com alimento, o pH do estômago é alterado, desta forma modifica a absorção do
tramadol e consequentemente seu efeito também é afetado.

Diclofenaco de colestiramina, utilizado para dores e inflamações, pode sequestrar ácidos


biliares e com isso interferir na absorção das gorduras prejudicando então as vitaminas
lipossolúveis A, D, E K. Portanto, quando tomado por um longo período de tempo, carece de
suplementação destas vitaminas.

Grande parte dos anti-inflamatórios não-esteroidais (nimesulida, ibuprofeno, cetoprofeno,


diclofenaco, etc.) podem causar irritação gástrica e náuseas, prejudicando diretamente a ingestão
alimentar.

5.2 Antibióticos, antiparasitários e antivirais


O albendazol comumente utilizado para matar vermes e parasitas tem sua absorção melhorada
quando consumido com gorduras. Os ácidos graxos facilitam, gerando um simporte, a absorção
57

do albendazol pela luz do intestino para a corrente sanguínea, aumentando de 4 a 5 vezes. Este
medicamento tem certa dificuldade de ser absorvido então é importantíssima a orientação dessa
associação. Muitos prescritores indicam tomar na hora do almoço para garantir a presença de
algum ácido graxo durante a absorção do medicamento, mas o nutricionista pode auxiliar muito
neste momento ofertando na dieta as oleaginosas, abacates, queijos, chocolates e até uma fritura.
Qual pessoa não iria gostar de comer uma coxinha ou pastel neste momento, hein?

Com o antibiótico cloridrato de tetraciclina o alimento evitado deve ser o leite e seus derivados
lácteos, pois quando juntos, formam quelatos e isso diminui a absorção da tetraciclina e do cálcio.
Portanto, consumir leite e derivados até uma hora antes de tomar o medicamento ou somente
duas horas após.

O metronidazol, também da classe dos antibióticos, altera o paladar e deixa a boca seca
por alterar o fluxo salivar além de possíveis estomatites, isso pode interferir diretamente na
adequação do paciente à dieta, à ingestão dos alimentos como um todo.

Outro costume é, durante períodos de gripes, resfriados com infecções de garganta, se tomar
antibiótico e junto, a vitamina C. Ambos interagem quando consumidos juntos inibindo a ação
dos antibióticos.

Outro dado importante é a destruição da microbiota intestinal pelos antibióticos em geral


podendo gerar quadros diarreicos. Suplementar com probióticos é uma boa opção nestes
momentos.

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6 FÁRMACOS ANTI-HIPERTENSIVOS E SUAS


INTERAÇÕES COM OS ALIMENTOS
A seguir, discutiremos as interações dos fármacos anti-hipertensivos com alimentos durante
as fases farmacocinética e farmacodinâmica.

6.1 Interações com medicamentos anti-hipertensivos durante a fase


farmacocinética
Um dos medicamentos pertencentes a esta classe com alto volume de prescrição é o
propranolol. Este fármaco tem interação em nível de absorção, pois a modificação do pH do
conteúdo gastrointestinal pode afetar diretamente sua absorção e consequentemente o efeito
terapêutico esperado, de reduzir a pressão arterial, poderá não ser alcançado. Além disto, dietas
hiperproteicas reduzem o metabolismo de fase I do propranolol.

A amilorida interage diretamente com cálcio, leite e queijo diminuindo sua biodisponibilidade,
enquanto a nifedipina tem esta mesma redução com alimentos em geral e a metildopa com sais de
ferro. O atenolol e medicamentos pertencentes à classe dos bloqueadores de canais de cálcio não
devem ser consumidos com suco de laranja, pois essa associação diminui a absorção dos fármacos.

Os diuréticos, utilizados para reduzir a retenção hídrica e, por este fator, altera a excreção de
nutrientes importantes. O furosemida, um diurético potente, aumenta a excreção de íons de potássio,
cálcio, magnésio, sódio além da água e em contrapartida aumenta o ácido úrico no organismo.

Enquanto a hidroclorotiazida também aumenta no organismo o ácido úrico, assim como


a glicose e triglicerídeos, e intensifica a excreção de íons de potássio, magnésio e sódio. Para
pacientes com câimbras devido ao excesso de eliminação de potássio é recomendado associar o
uso do espironolactona, diurético pertencente à classe dos “diuréticos poupadores de potássio”.

6.2 Interação com anti-hipertensivos na fase farmacodinâmica


Vamos começar pelo atenolol, metoprolol, nadolol e prazosina. Estes anti-hipertensivos
interagem com alguns alimentos específicos como gengibre (muito presente em dietas atualmente),
ginseng e pimenta caiena podendo alterar o efeito anti-hipertensivo. O propranolol interage com
aipo, alho, gengibre, ginseng, melão e pode aumentar o efeito colateral de reduzir a glicemia.

Os medicamentos que estão na classe dos betabloqueadores, bloqueadores de canal de


cálcio, diuréticos e inibidores da enzina conversora de angiotensina também interagem com
gengibre, ginseng e pimenta caiena, mas chamo atenção para a interação com a erva-de-são-
joão, comumente prescrita como aliada aos planos alimentares.
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7 FÁRMACOS UTILIZADOS NO TRATAMENTO DA


OBESIDADE
Muitos mitos se escondem por traz das terapias da obesidade e grande parte envolve
medicamento. O tratamento da obesidade deve ser realizado em um e individual para cada
paciente, levando sempre em consideração suas características individuais, comorbidades,
dificuldades, entre outros.

7.1 Obesidade e diagnóstico


A obesidade é doença da alteração da constituição corporal, com determinantes genéticos
e ambientais, definida pelo excesso das reservas corporais de gordura, que ocorre quando,
cronicamente, a oferta de calorias é maior que o gasto de energia, o que resulta com frequência
em prejuízos significantes para a saúde. Segundo dados mais recentes da Organização Mundial
de Saúde, 2,3 bilhões de pessoas no mundo estão com sobrepeso ou obesidade. No Brasil,
aproximadamente 20% da população está obesa e mais da metade em sobrepeso, o que gera
cerca de 80 mil mortes por ano decorrentes das complicações desta doença.

As principais comorbidades associadas à obesidade são: hipertensão, diabetes, osteoartrite,


distúrbios respiratórios, câncer, além de depressão e ansiedade. Por se tratar de doença
multifatorial, está atrelada à genética, fatores ambientais, estilos de vida, determinantes sociais,
doenças (por exemplo, hipotireoidismo, hipogonadismo, Síndrome de Cushing, transtornos
alimentares e psiquiátricos) e medicamentos (por exemplo, benzodiazepínicos, corticosteroides,
antipsicóticos, antidepressivos tricíclicos, anticoncepcionais, dentre outros).

O diagnóstico de sobrepeso e obesidade no Brasil é realizado através do cálculo do índice de


massa corporal (IMC) e consiste na divisão entre o peso (em quilogramas) e o quadro da altura
(em metros). Valores entre 20 e 25 são considerados normopesos e baixo risco de complicações.
No entanto, quanto maior for, o risco aumenta. Entre 25 e 30, sobrepeso e acima de 30 obesidade.

7.2 Tratamentos da obesidade


O tratamento da obesidade deve ser realizado por equipe multidisciplinar de modo a abordar
questões como: alimentação adequada, realização de exercício físico, psicoterapia, e ainda
farmacoterapia. A indicação do tratamento medicamentoso é para aqueles pacientes que exibem
um IMC maior que 30, ou quando o indivíduo tem doenças associadas ao excesso de peso com
IMC superior a 25, em situações na quais o tratamento com dieta, exercício ou aumento da
atividade física e modificações comportamentais provou ser infrutífero.

A farmacoterapia padrão no tratamento da obesidade consiste em medicamentos que irão


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agir no sistema nervoso central (SNC), ou perifericamente inibindo a absorção de gorduras ou


mimetizando a ação de mediadores endócrinos endógenos.

Normalmente a terapia medicamentosa da obesidade se inicia com Sibutramina. Trata-


se de um medicamento anorexígeno, controlado, tarja preta, dispensado na farmácia a partir
de receituário B2. A sibutramina age no SNC inibindo a recaptação nos terminais sinápticos
de noradrenalina (NA) e serotonina (5-HT) e, em menor grau, de dopamina (DA), aumentando
consequentemente os níveis dos três principais neurotransmissores.

O aumento de NA, 5-HT e DA representa clinicamente o aumento da queima de gordura,


o aumento da saciedade e redução pela compulsão e anseio por alimentos, respectivamente.
A eficácia da sibutramina é de 7-10% de redução do peso corporal com redução preferencial
da gordura visceral. A perda máxima de peso é alcançada por volta dos seis meses e mantida
enquanto não for interrompida.

A sibutramina é eficaz no tratamento da obesidade, do sobrepeso e dos componentes da


síndrome metabólica (com aconselhamento nutricional e prática de atividade física). Embora seja
altamente eficaz, está associada a importantes efeitos adversos: boca seca, constipação, cefaleia
e insônia (10 a 20% dos casos), irritabilidade, ansiedade, náuseas, taquicardia e hipertensão
arterial. Este último consiste no principal efeito adverso desta classe e, portanto, quaisquer
eventos cardiovasculares contraindicam o uso de sibutramina, tais como: doença arterial
coronariana, acidente vascular cerebral ou ataque isquêmico transitório, arritmia cardíaca,
insuficiência cardíaca congestiva, doença arterial periférica ou hipertensão não controlada.

As anfetaminas consistem numa outra classe de fármacos anorexígenos, controlados e


dispensados através de receituários, cujos principais derivados são: anfepramona (dietilpropiona),
femproporex e mazindol. Elas atuam suprimindo o apetite por estimulação da liberação de NA
em sinapses nervosas e periféricas, com efeito inibitório sobre os neurônios que induzem a fome.

Apresentam efeitos adversos similares à Sibutramina e muitos cuidados devem ser tomados
ao fazer uso de anfetaminas. Em caso de tolerância (perda de efeito), evitar o aumento para
doses excessivas. O paciente deve ter atenção redobrada ao operar máquinas, veículos ou armas.
Além disso, apresentam potencial dependência psicológica, risco de depressão, extrema fadiga
pós-interrupção abrupta e a overdose pode favorecer psicose indistinguível de esquizofrenia, ou
seja, necessariamente requer acompanhamento de toda equipe multidisciplinar para monitorar
efeitos e progressão da terapia.

Outra opção medicamentosa que age no SNC só que mais tolerável são os inibidores seletivos
da receptação de serotonina (ISRS), e: Fluoxetina, Citalopram e Sertralina. Como o próprio nome
da classe sugere, eles aumentam os níveis apenas de serotonina (diferentemente da Sibutramina
e das anfetaminas), por isso o risco é menor.
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Além de serem utilizados no tratamento da obesidade para complicações de humor e redução


da fome, apresentam indicações clássicas como: antidepressivo, pânico, bulimia e transtorno
compulsivo alimentar.

Como efeitos adversos, são observados: redução da libido e impotência sexual, insônia,
anorgasmia, agitação, xerostomia, náuseas, cefaléias.Além do que, deve-se ter atenção com
ativação de episódios maníacos ou ideação suicida. Claramente, os medicamentos que atuam no
SNC oferecem maiores riscos por alterar níveis de neurotransmissores.

Existe, porém, opções periféricas, como no caso dos inibidores da absorção de gorduras,
o Orlistat (Xenical®). O Orlistat inibe reversivelmente as lipases gástricas e pancreáticas, com
bloqueio da absorção de gordura. Assim, com menos gordura sendo absorvida, o indivíduo vai
reduzindo o peso. É eficaz no tratamento da obesidade, do sobrepeso e da síndrome metabólica,
associado ao aconselhamento nutricional e à prática de atividade física.

Os principais efeitos adversos do Orlistat são: fezes gordurosas líquidas (esteatorreia), urgência
fecal, incontinência fecal, flatulência e, menos frequentemente, dores abdominais e retais. É
importante ressaltar que pode gerar comprometimento da absorção de vitaminas lipossolúveis
(vitaminas A, D, E e K), necessitando suplementá-las. Além disso, pode interferir na absorção de
fármacos lipofílicos como: amiodarona, warfarina, ciclosporina, lamotrigina e anticonvulsivantes.
O ideal é utilizá-lo até 2 vezes ao dia, antes ou até uma hora após as principais refeições (almoço
e jantar), em doses de 60 a 120 mg.

Uma abordagem recentemente aprovada para o tratamento da obesidade é o emprego de


peptídeos análogos ao glucagon tipo-1 (GLP-1), a Liraglutida (Victosa®) e Exenatida (Saxenda®).
Inicialmente utilizados no tratamento da diabetes mellitus tipo 2, passaram a ser usados na
obesidade pois se observou redução de peso nos indivíduos em tratamento. Ambos os fármacos,
quando administrados via subcutânea, induzem maior liberação de insulina, consequentemente
maior a sensação de saciedade. Logo, menor a ingestão de alimentos e consequentemente maior
a perda de peso.

Cabe ressaltar que se trata de dois medicamentos de alto custo e de baixa notificação de
farmacovigilância, ou seja, os efeitos adversos são pouco conhecidos até então.

8 FARMACOLOGIA DO SISTEMA ENDÓCRINO:


HIPOGLICEMIANTES I
No próximo tópico abordaremos especificamente o caso da diabetes. Detalhando no que esta
enfermidade consiste, suas causas, diagnóstico e tratamento farmacológico
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8.1 Diabetes: o que é, causas e diagnóstico


Diabetes mellitus (DM) é uma doença do metabolismo ocasionada pelo excesso de glicose no
sangue por uma falha na produção, liberação ou ação da insulina. Segundo dados mais recentes
da Organização Mundial da Saúde, a Diabetes Mellitus acomete meio bilhão de pessoas no
mundo e 12,5 milhões no Brasil (o equivalente a 7% da população brasileira).

A insulina é um hormônio chave envolvida na fisiopatologia dessa doença. Ela é produzida pelo
pâncreas e liberada na corrente sanguínea de acordo com a presença de glicose (principalmente)
e gorduras (ácidos graxos) provenientes da alimentação. Quando liberada, a insulina se liga em
receptores presentes na membrana das células de vários órgãos ou tecidos – principalmente:
cérebro (para produção contínua de energia), músculo esquelético e fígado (para síntese de
glicogênio e posterior produção de energia). Após essa interação, estimula uma cascata de
reações no interior das células, até alcançar o núcleo e estimular a produção de transportadores
de glicose, denominados de GLUTs. Esses transportadores vão até a membrana captar a glicose
para dentro das células onde será convertida em energia.

Essa doença é classificada em dois tipos: diabetes tipo 1 (DM1) e tipo 2 (DM2). A tipo 1 é
causada pela destruição de células do pâncreas, causando deficiência absoluta de insulina. Há
maior ocorrência na fase juvenil. Enquanto que no tipo 2 ocorre pela resistência insulínica e/ou
deficiência de insulina sendo mais prevalente em adultos. Os pacientes diabéticos, independente
do tipo, apresentam sintomas muito semelhantes, como: fadiga muscular, muita fome, sede e
diurese, piora da visão, tontura, dificuldade na cicatrização, complicações renais, dentre outros.

8.2 Tratamento farmacológico


Embora os sintomas sejam parecidos, a terapia medicamentosa é bastante diferente. Na
DM1, o tratamento preconizado é a utilização de insulina. O mesmo serve nos casos de diabetes
gestacional, pois este fármaco não ultrapassa a barreira hematoplacentária, isto é não causa
danos ao feto, sendo, então, contraindicados às gestantes todos os hipoglicemiantes por via oral.

A insulina é classificada quanto à origem (animal, humana ou sintética), início e duração de


ação, existindo aquelas de ação: ultrarrápida (lispro), rápida (regular), intermediária (NPH ou
lenta), prolongada (ultralenta) e ultra-prolongada (degludeca), com picos de efeito desde 1 hora e
duração variando de 3 a 4 horas para as ultrarrápidas e picos estáveis de 8 a 20 horas com duração
de 40 a 42 horas para as ultra-prologadas.

Em termos farmacocinéticos, a insulina é administrada por via endovenosa (somente em


casos de urgência), subcutânea rotineiramente, ou mais recentemente por via inalatória. É
distribuída pela albumina na corrente sanguínea na forma ligada (70-90%), sofre metabolismo no
fígado, rins e músculos, sendo excretada pelos rins.
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Os efeitos adversos mais observados com o uso de insulina são: hipoglicemia, tonturas,
alergia, resistência à insulina, aumento (lipohipertrofia) ou diminuição (lipoatrofia) do tecido
adiposo decorrente das aplicações constantes, o que sugere rodízio dos locais de aplicação
(tecido subcutâneo de tríceps, abdômen e coxa).

A abordagem medicamentosa para o DM2 objetiva: aumentar a secreção de insulina através


de fármacos das classes Sulfoniluréias e Meglitinidas; ou aumentar a sensibilização dos tecidos
à ação da insulina, a partir das Biguanidas e Tiazolidinodionas; diminuir a absorção de glicose no
trato gastrointestinal, por meio dos inibidores da alfa-glicosidase; e mimetizar a ação de análogos
endógenos a fim de aumentar a liberação de insulina (miméticos de incretinas).

Tanto as Sulfoniluréias quanto às Meglitinidas inibem canais de potássio nas células do


pâncreas gerando despolarização e abertura de canais de cálcio dependente de voltagem. A
presença de cálcio no interior das células induz, portanto, a secreção de insulina.

Pertencem à classe das Sulfoniuréias: Tolbutamida (curta duração) e Clorpropamida (longa


duração), ambas de primeira geração (menos potentes); além da Glipizida (curta duração)
e Glibenclamida (longa duração), ambas de segunda geração (mais potentes). Como efeitos
adversos, são observados: hipoglicemia, náuseas, vômitos e anemia hemolítica. Esses fármacos
são contraindicados para gestantes, lactantes, pacientes alérgicos, ou com insuficiências hepática
e renal.

As Meglitinidas, Repaglinida e Nateglinida, são consideradas as de primeira escolha para DM2


não controlada com dieta, pois são mais seletivas, apresentam rápida absorção, curto efeito e
baixo risco de hipoglicemia. São contraindicadas ou utilizadas com muita cautela nos casos de
gravidez, lactação e insuficiências hepática e renal.

Dentre os mais prescritos para o tratamento de DM2 estão os sensibilizadores de insulina,


dentre eles a biguanida Metformina cujo mecanismo de ação não está bem definido. No
entanto, sabe-se que este fármaco induz, dentre algumas ações farmacológicas: diminuição
da gliconeogênese e glicogenólise no fígado, da resistência à insulina, dos níveis de colesterol
e triglicerídeos, e aumenta o metabolismo da glicose nos tecidos, com uma grande vantagem
comparada aos antidiabéticos: não induz hipoglicemia. Logo, outros efeitos adversos observados
são: anorexia, sabor metálico ao paladar, náuseas, vômitos e diarreia, redução da absorção
intestinal de vitamina B12 e acidose láctica. É contraindicada em casos de gravidez, lactação,
insuficiência hepática e renal.

Uma curiosidade é o fato de a Metformina ser empregada no tratamento da Síndrome do


Ovário Policístico (SOP), pois as mulheres acometidas com esta doença também apresentam
resistência insulínica. A ação da insulina é fundamental para maturação e formação do óvulo.
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Pioglitazona e Rosiglitazona são outras duas opções de sensibilizadores de insulina


pertencentes à classe das Tiazolidinedionas, com ações farmacológicas semelhantes à
Metformina. São consideradas de primeira escolha para pacientes com DM2, especialmente
obesos com resistência insulínica. Apresenta baixa toxicidade, destacando como principal efeito
adverso a hepatotoxicidade.

Uma alternativa à redução da glicemia no sangue é evitar a absorção. Como a glicose é o


produto final do metabolismo de carboidratos, a última etapa consiste na quebra de dissacarídeos
em monossacarídeos através da enzima alfa-glicosidase. A Acarbose é capaz de inibir essa enzima
no intestino. Desse modo, há redução da absorção de glicose. Não causa hipoglicemia e os efeitos
adversos são mais direcionados ao trato gastrointestinal: flatulência, distensão abdominal e diarreia. É
contraindicada para gestantes, lactantes e pacientes com transtornos crônicos de absorção intestinal.

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Por fim, a estratégia mais recente é utilizar fármacos que mimetizem as incretinas que são
substâncias produzidas na parede do intestino que visam aumentar a liberação de insulina,
aumento a captação de glicose e controlar a glicemia. Dentre eles: o polipeptídeo isulinotrópico
dependente de glicose GIP e o peptídeo análogo ao glucagon tipo 1. Ambos sofrem degradação
pela enzima Dipeptidil Peptidase 4 (DPP-4) no intestino. Assim, foram produzidos os inibidores da
DPP-4: Sitagliptina, saxagliptina, alogliptina e linagliptina, utilizados associados à dieta e exercício
para baixar a glicose no sangue de adultos com diabetes de tipo.

Existe ainda a opção parenteral, administrada via subcutânea, dos análogos do GLP-1:
Liraglutida (Victoza®) e Exenatida (Saxenda®). Ambos aumentam a liberação de insulina e são
indicados no tratamento de DM2 e mais recentemente para obesidade, para o qual se observou
redução de apetite e consequentemente do peso corporal.
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PARA RESUMIR
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

• Entender sobre as interações droga x nutrientes.

• Identificar possíveis riscos durante a terapia enteral e administração de medicamen-


tos por via oral.

• Conhecer algumas das possíveis interações entre nutrientes e medicamentos utiliza-


dos para doenças no trato gastrintestinal.

• Identificar possíveis interações entre nutrientes e anti-inflamatórios, antibióticos,


analgésicos e antiparasitários.

• Aprender sobre as interações entre alimentos e medicamentos para hipertensão


arterial.

• Entender sobre a obesidade e seu tratamento farmacológico.

• Aprender sobre o diabetes e os hipoglicemiantes.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRUNTON, L. L.; LAZO, J. S.; PARKER, K. L. Goodman & Gilman As bases farmacológicas
da terapêutica. Porto Alegre: ArtMed, 2012

Keefe S. J. D. A guide to enteral access procedures and enteral nutrition. Nat Rev.
Gastroenterol. Hepatol. 2009.

MOURA, M. R. L.; REYES, F. G. R. Interação fármaco-nutriente: uma revisão. Rev. Nutr.,


Campinas , v. 15, n. 2, p. 223-238, 2002.

RANG, H. P; DALE, M. M; RITTER, J. M. Farmacologia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.

Schweigert; I.D; Pletsch, M.U.; Dallepianne, L. B; Interação medicamento-nutriente na


prática clínica; Rev. Bras. Nutr. Clin. 2008.

UOL. Conhecida como ‘grapefruit’, toranja pode ser fatal para quem toma certos
medicamentos. UOL, 2013. Disponível em:

https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2013/01/02/conhecida-
como-grapefruit-toranja-pode-ser-fatal-para-quem-toma-certos-medicamentos.htm.
Acesso em 07/05/2020.
UNIDADE 4
Suplementos alimentares,
fitoterapia e exames laboratoriais
Introdução
Você está na unidade Suplementos alimentares, fitoterapia e exames laboratoriais.
Conheça aqui como a nutrição e a farmácia atendem juntas às demandas dos
consumidores que procuram qualidade no tratamento de doenças e promoção à saúde.
Conheça alguns compostos não medicamentosos como os nutracêuticos, suplementos
dietéticos e fitoterápicos. Saiba mais sobre a legislação e os cuidados acerca da prescrição
dos mesmos.

Você também terá a oportunidade de conhecer algumas das principais interações entre
medicamentos e fitoterápicos.

Nesta unidade você será capaz de entender quais os principais exames laboratoriais
prescritos pelo nutricionista e como interpretá-los na prática clínica.

Bons estudos!
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1 ATUALIDADE DA FARMACOLOGIA APLICADA À


NUTRIÇÃO
Vamos pensar no uso da farmacologia na nutrição. Até aqui, você já tem bagagem suficiente
sobre o assunto, para entender que quando bem esquematizada e integrada, a terapia
farmacológica e a intervenção nutricional podem ser aliadas na busca da remissão da doença e
prevenção. É óbvio que podemos somar às duas outros tantos aspectos importantes para esse
fim, como a atividade física, por exemplo. Mas, nos atentaremos apenas a farmácia e nutrição,
tratando aqui sobre como as duas ciências se integram atualmente.

A ciência farmacológica utiliza formulações químicas para que um princípio ativo, com
capacidade de melhorar uma alteração metabólica, seja empregado de maneira eficaz no
tratamento de doenças.

Tais princípios ativos podem ter origem natural ou química, e se de origem alimentar, são
denominados nutracêuticos. Ou seja, não é o alimento em si, apenas uma parte isolada, e utilizada
com o fim terapêutico de tratamento e/ou prevenção de doenças. Esses produtos farmacêuticos
podem ser comercializados na forma de cápsulas, pós, géis, entre outras, e muitas vezes podem
ser consideradas como suplementos dietéticos.

A busca pela saúde e qualidade de vida, pela ótica da nutrição, gira em torno do consumo de
produtos saudáveis e naturais. Naturais por que, principalmente nas últimas décadas, percebe-
se um grande consumo de alimentos processados e ultraprocessados, com muitos ingredientes
químicos (corantes, edulcorantes, estabilizantes, conservantes etc) e sua associação com doenças
crônicas.

A ciência da nutrição preza então, pela ingestão de alimentos saudáveis e tem como mantra
a famosa frase de Hipócrates (460 - 377 a. C.):“Que teu remédio seja teu alimento, e que teu
alimento seja teu remédio”.

Nesse sentido, é crescente a procura por alimentos com outros propósitos ademais da
simples nutrição. Espera-se que alguns alimentos possam ter efeitos fisiológicos, para além de
suas funções básicas. Esses alimentos são denominados alimentos funcionais, e para receberem
essa alegação, necessitam de pesquisas científicas para comprovação dos efeitos fisiológicos ou
funcionais. Nota-se a procura e uso desse tipo de alimento, tanto por consumidores como pelos
profissionais na prescrição das dietas.
70

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1.1 Nutracêuticos
A farmacologia e a nutrição se unem fortemente quando produtos naturais ou dietéticos são
utilizados na farmacoterapia em complemento mútuo com a intervenção nutricional.

Apesar de ainda não haver uma definição legal para nutracêuticos no Brasil, o conhecimento
mundial dos benefícios desses produtos é cada vez mais interessante para terapia nutricional,
para auxiliar na melhoria da qualidade de vida, tanto na promoção de saúde como na diminuição
de doenças.

Diversas podem ser as categorizações dos nutracêuticos, por sua fonte alimentar, por sua
natureza química, ou seu mecanismo de ação. Fibras, vitaminas, minerais e probióticos, são
exemplos. Deve-se observar aqui, que cura e prevenção de doenças não devem ser termos
utilizados para esses produtos. As alegações de promoção à saúde investidas aos nutracêuticos,
podem criar uma relação de preferência aos medicamentos tradicionais por seus riscos de
toxicidade e efeitos adversos. Porém, cabe ressaltar que, principalmente o uso sem prescrição de
nutracêuticos, também pode levar a riscos de toxicidades e de interações maléficas com fármacos
ou nutrientes e comprometer a saúde, ao invés de ajudar.

Nesse sentido, é extremamente necessário que haja regulamentações, além do incentivo à


pesquisa, para a garantia da produção de produtos de qualidade, com segurança e que tenham
a eficácia comprovada.

1.2 Legislação brasileira


A prescrição de suplementos dietéticos objetiva a melhoria de deficiências nutricionais ou
recurso ergogênico. No Brasil, os nutracêuticos podem ser considerados como sinônimo de
suplementos dietéticos e assim são denominados na legislação vigente no Brasil.
71

Por isso, apesar de reconhecermos que há diferenças já descritas na literatura científica


mundial entre os dois produtos (nutracêuticos e suplementos alimentares), iremos nos ater à
realidade brasileira, e descrever a legislação acerca dos suplementos dietéticos, uma vez que não
há definição clara.

Um novo marco legal foi publicado em 2018, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA), com as novas regras para os suplementos alimentares, através de cinco resoluções e uma
instrução normativa que revogam algumas normas anteriores referentes ao assunto, veja abaixo.

Figura 1 - Normas legais vigentes no país sobre suplementos alimentares e suas respectivas alterações
Fonte: ANVISA, 2018 (Adaptado).

#ParaCegoVer: A tabela traz três colunas e 7 linhas que descrevem as normas legais publicadas
em 2018 sobre suplementos alimentares e as alterações pertinentes.
72

A Legislação brasileira define suplementos alimentares como

produtos para ingestão oral, apresentados em formas farmacêuticas, destinados a suplementar


a alimentação de indivíduos saudáveis com nutrientes, substâncias bioativas, enzimas ou probióticos,
isolados ou combinados (ANVISA, 2018).

2 INTRODUÇÃO AOS FITOTERÁPICOS


A fitoterapia é uma ciência que parte do uso de plantas para tratamento de doença. Ao
nutricionista também é permitido a prescrição de fitoterápicos, como veremos abaixo. No Brasil,
inclusive, o Ministério da Saúde incentiva o uso da fitoterapia no Sistema Único de Saúde, o SUS,
como parte da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC).

O uso de plantas medicinais não é algo novo. Com o advento dos medicamentos, o uso de
plantas medicinais foi por um tempo deixado de lado, mas atualmente, e com os incentivos dos
órgãos de saúde, em todo mundo a fitoterapia tem sido estudada, recomendada e utilizada cada
vez mais.

2.1 Utilização de fitoterápicos


A medicina, a farmácia e a nutrição podem e devem fazer uso da fitoterapia como alternativa
no processo terapêutica de melhoria de saúde de indivíduos.

Além disso, algumas espécies de plantas medicinais são conhecidas culturalmente para
tratamento de algumas doenças e usadas sem prescrição profissional. Isso demonstra que os
fitoterápicos foram aprovados há muito tempo em nível cultural. Por conta disso, frequentemente,
acredita-se que o consumo de fitoterápicos não causa mal para a saúde, uma vez que são naturais.
Porém, como toda substância ingerida em excesso, o risco de toxicidade e interações é possível
para esses compostos.

Diante disso, se faz muito importante que o profissional prescritor tenha embasamento
suficiente para orientar adequadamente o uso, e planejar a terapêutica de maneira que se evite
os efeitos adversos do consumo.
73

FIQUE DE OLHO
Em 2015 o CFN publicou a Resolução n° 556, alterando a Resolução CFN n° 525/2013,
que regulamenta a prática da Fitoterapia pelo nutricionista, atribuindo-lhe competências
para, nas modalidades que especifica, prescrever plantas e chás medicinais, medicamentos
fitoterápicos, produtos tradicionais fitoterápicos e preparações magistrais de fitoterápicos
como complemento da prescrição dietética.

O art. 3° desta resolução indica que o nutricionista graduado pode prescrever plantas
e chás medicinais. Porém, a prescrição de medicamentos fitoterápicos, de produtos
tradicionais fitoterápicos e de preparações magistrais de fitoterápicos só pode ser realizada
por profissionais com o título de especialista em Fitoterapia, reconhecido pela Associação
Brasileira de Nutrição (ASBRAN).

2.2 Prescrição nutricional de fitoterápicos


Para o profissional nutricionista, a prescrição geralmente reflete a demanda de atendimento,
como concluído num estudo feito por David e Bello (2017). Esses autores identificaram em
revisão alguns fitoterápicos utilizados na prática clínica do nutricionista, principalmente para
emagrecimento e efeito ansiolítico.

Esse resultado pode indicar o pouco conhecimento dos profissionais acerca do tema, uma
vez que existe uma infinidade de fitoterápicos que podem ser utilizados em diversos usos
terapêuticos.

Para a correta prescrição, o profissional deve se certificar que o produto possui registro
simplificado, ou seja, não esteja na lista de prescrição médica, e que seja complementar, e não
substituto, da dieta.

FIQUE DE OLHO
A Instrução Normativa ANVISA nº 2/2014 possui os medicamentos fitoterápicos de registro
simplificado. E o Anexo I, da Resolução ANVISA nº 26/2014, dispõe sobre medicamentos
fitoterápicos e produtos tradicionais fitoterápicos

3 FITOTERÁPICO X FÁRMACO
Você já viu aqui que o consumo sem prescrição, ou orientada de maneira incorreta, pode
levar a toxicidade ou maior risco de interações indesejadas com outros compostos, como
medicamentos e nutrientes. Os efeitos adversos podem ser vários, como risco de sangramento e
74

anemia, hipoglicemia, distúrbios eletrolíticos, hepatotoxicidade.

Tanto é comum o consumo ser considerado natural a ponto de não ser lembrado como
importante para relatar ao profissional de saúde, como é comum que o profissional de saúde
não tenha a prática de interrogar sobre o possível consumo de chás ou infusões. A partir disso,
tem-se o risco aumentado das interações, com os fármacos ou nutrientes prescritos. Em relação
à interação com fármacos, ela pode ser a nível farmacocinético ou farmacodinâmico, mas em
ambos os casos a prescrição deve ser muito cautelosa, para evitar a inativação de ação do fármaco
ou um possível efeito tóxico ao organismo.

3.1 Principais fitoterápicos e interações


Os principais fitoterápicos cujas interações já foram estudadas e comprovadas estão listadas
na tabela “Relação de fitoterápicos e suas interações farmacológicas, ação e potencial efeito
adverso”. Entre eles podemos citar a ginkgo biloba, ginseng, hipérico, alho, chá verde e alcachofra.

Figura 2 - Relação de fitoterápicos e suas interações farmacológicas, ação e potencial efeito


adverso
Fonte: NICOLETTI et al., 2007; CARNEIRO; COMARELLA, 2016 (Adaptado).
75

#ParaCegoVer: A tabela possui 4 colunas e 11 linhas e faz a relação entre fitoterápicos


descritos pelo nome popular e científico, sua ação no organismo, as interações farmacológicas e
os efeitos indesejáveis.

3.2 Prevenção de possíveis interações


Conhecimento é a chave para prevenção. Tanto dos profissionais, para orientarem da forma
correta, como para os usuários entenderem os riscos do consumo exagerado ou associado de
substâncias.

A prescrição correta contém todas as informações pertinentes, nome do fitoterápico, dosagem,


horário de consumo, forma correta de consumir etc. Como já citado, a automedicação é um
grande problema, pois nem sempre o consumo dado como costumeiro é relatado ao profissional
que prescreve o medicamento ou suplemento, e a interação medicamentosa pode ocorrer. A
automedicação pode ocorrer com fitoterápicos ou medicamento sem exigência de receita.

Assim, é importante que inicialmente se identifique se há ou não o consumo de alguma


substância. Em caso positivo, qual a queixa principal para o uso do fitoterápico e a dosagem
utilizada. Com isso se confere a real necessidade da utilização e se a quantidade ingerida é
adequada para resolução do problema.

Posteriormente, deve-se proceder às recomendações sobre a terapêutica e a possibilidade de


interação e as possíveis reações indesejadas, caso não se respeite as normas.

4 EXAMES LABORATORIAIS APLICADOS À


NUTRIÇÃO
Os exames laboratoriais fazem parte da , e auxiliam no monitoramento da doença ou
tratamento.

FIQUE DE OLHO
Ao nutricionista compete o diagnóstico nutricional, e exames laboratoriais podem ser
utilizados complementarmente a outras avaliações. O diagnóstico nosológico de doenças
é atribuição médica.
76

Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:

No âmbito da nutrição, além do mencionado, os exames laboratoriais são úteis para


confirmar a suspeita diagnóstica sugerida pelas , além de identificar deficiências subclínicas, que
não apresentaram sintomas clínicos. Ou seja, devem fazer parte da rotina nutricional, para assim,
o estado nutricional de um paciente ser melhor acompanhado ou caracterizado.

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4.1 Base legal para prescrição de exames por nutricionista


O amparo legal para a solicitação de exames pelo nutricionista advém das seguintes normas:

Lei Federal nº 8.234, de 17 de setembro de 1991, que regulamenta a profissão de Nutricionista


e determina outras providências, em seu art. 4º, parágrafo VIII diz que “é atribuído ao nutricionista
a solicitação de exames laboratoriais necessários ao acompanhamento dietético”.
77

Resolução CFN nº 306, de 24 de março de 2003, que dispõe sobre solicitação de exames
laboratoriais na área de Nutrição Clínica, revoga a Resolução CFN nº 236, de 2000 e dá outras
providências. Diz em seu art. 1º que “compete ao nutricionista a solicitação de exames
laboratoriais necessários à avaliação, à prescrição e à evolução nutricional do cliente/paciente”.

Resolução CFN n°380, de 28 de dezembro de 2005 que dispõe sobre a definição das áreas
de atuação do nutricionista e suas atribuições, estabelece parâmetros numéricos de referência,
por área de atuação e dá outras providências, revogando as Resoluções CFN n° 200 e 201de
20 de abril de 1998, permite ao nutricionista solicitar exames complementares à avaliação
nutricional, prescrição dietética e evolução nutricional do cliente/paciente em hospitais, clínicas
em geral, instituições de longa permanência para idosos, spas, ambulatórios, consultórios, clubes
esportivas, academias, dentre outros.

Resolução CFN nº 417, de 18 de março de 2008 que dispõe sobre procedimentos nutricionais
para atuação dos nutricionista e dá outras providências estabelece a Avaliação de Parâmetros
Bioquímicos como um dos procedimentos nutricionais para atuação do nutricionista.

4.2 Exames comumente solicitados por nutricionistas


A listagem dos exames a serem solicitados a um paciente pelo nutricionista depende de alguns
aspectos. Dentre eles, deve-se considerar as características do paciente (como idade, estado de
saúde e condição financeira), o objetivo da investigação laboratorial; a etapa de tratamento,
entre outros. Normalmente, os exames mais utilizados na clínica nutricional são:

• Exames para investigação de desnutrição, como hemograma e proteínas totais;

• Exames para acompanhamento de doenças crônico não-transmissíveis, como colesterol


total e frações, triglicerídeos, glicemia, hemoglobina glicada e insulina;

• Provas de função renal e hepática;

• Avaliação hormonal e da tireoide;

• Diagnóstico e acompanhamento de deficiências nutricionais de micronutrientes,


principalmente para monitoramento da presença de anemia.

Cada faixa etária possui recomendações e valores de referência específicos para cada
molécula investigada. Por isso, é importante que a prescrição e a orientação sejam completas e
suficientes para evitar erros de interpretação de resultados.
78

5 AVALIAÇÃO HEMATOLÓGICA DO SANGUE


Exames complementares podem ser úteis para complementar o diagnóstico, mas o
hemograma é o exame mais usado na rotina dos profissionais de saúde e, rotineiramente, para
diagnóstico de anemia.

O sangue é o meio por onde vários componentes circulam pelo nosso corpo. Três componentes
podem ser separados após a centrifugação, os glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e as plaquetas
(no plasma). Os glóbulos vermelhos são as células denominadas eritrócitos ou hemácias, e fazem
parte da série vermelha. Os leucócitos são os chamados glóbulos brancos, da série branca e as
plaquetas são também denominadas como trombócitos.

FIQUE DE OLHO
Os exames laboratoriais fazem parte da avaliação complementar, que por ser invasiva,
e às vezes cara, deve ser solicitada com o objetivo de confirmar ou afastar uma hipótese
diagnóstica. Isso significa que antes, outras avaliações devem ser feitas, e o exame
laboratorial deve ser solicitado no intuito de confirmar ou não o possível diagnóstico.

O hemograma é o exame bioquímico que avalia os parâmetros quantitativos e morfológicos


dessas células, em que se pode inferir, de maneira geral, sobre o transporte de oxigênio pela
análise do eritrograma; a presença de infecção ou lesão tecidual através do leucograma; e a
capacidade de coagulação do sangue.

O resultado de um hemograma pode ser influenciado por fatores como sexo, idade, raça,
níveis de atividade física e hidratação, uso de medicamentos e interações medicamentosas,
temperatura corporal, fumo e ansiedade.

5.1 Avaliação do eritrograma


O eritrograma avalia os componentes da série vermelha e através dele se têm resultados da
contagem de eritrócitos, a dosagem da hemoglobina, determinação do hematócrito e os valores
dos índices hematimétricos.

As hemácias possuem a função, junto a hemoglobina, de transporte de oxigênio do pulmão


para os tecidos. Sua produção ocorre na medula óssea e necessita de ferro, vitamina B12 e folato.
Portanto, a deficiência desses minerais pode levar a baixa produção dessas células e, portanto,
ao surgimento de anemia.
79

Além da contagem celular, os eritrócitos são avaliados morfologicamente e idealmente


essas células devem ser normocíticas (tamanho normal), normocrômicas (cor normal) e sem a
presença de poiquilocitose (anormalidades na forma). Alguns índices hematimétricos auxiliam
essa avaliação.

O Volume Corpuscular Médio (VCM) reflete o volume médio das hemácias e pode ser
classificado em:

Microcítica

VCM abaixo do valor de referência

Normocítica

VCM dentro do valor de referência

Macrocítica

VCM acima do valor de referência

O índice de Anisocitose eritrocitária (RDW) avalia o grau de variação no tamanho dos


eritrócitos e pode preceder alterações em outros parâmetros quando aumentado.

A coloração das hemácias é avaliada pelo índice da Concentração de Hemoglobina


Corpuscular Média (CHCM) ou seja, avalia-se a concentração média de hemoglobina dentro das
hemácias. Valores diminuídos indicam que as hemácias estão microcrômicas, valores normais,
normocrômicas e valores elevados, macrocrômicas.

Em casos de anemia, os valores de CHCM podem estar normais ou abaixo dos valores de
referência.

A medida da massa de hemoglobina nos eritrócitos é expressa pelo índice hemoglobina


corpuscular média (HCM) e também faz relação entre a quantidade de hemoglobina para a
quantidade de hemácias.

A dosagem quantitativa de hemoglobina reflete sua quantidade por unidade de volume de


sangue e é de grande utilidade para detectar anemia. Ela não é afetada pelos níveis de hidratação
e tem boa correlação com a biodisponibilidade de ferro, uma vez que sua síntese é dependente
desse mineral.

O hematócrito é o parâmetro que reflete a massa eritrocitária em um volume de 100mL de


plasma. Pode sofrer influência do volume de sangue e estado de diluição, mas suas alterações
seguem paralelamente às alterações da hemoglobina.
80

5.2 Avaliação do leucograma


Essa avaliação consiste na contagem global e diferencial dos leucócitos. O resultado pode
indicar a presença de infecção ou lesão tecidual, mas com baixa especificidade e sensibilidade. O
leucograma pode indicar também a presença de leucemia ou linfoma.

A contagem diferencial considera os tipos celulares, o estágio de maturação celular, e a


morfologia das células.

Morfologicamente as células do leucograma são divididas em polimorfonucleares ou granulócitos


(neutrófilo (bastonetes e segmentados), eosinófilos e basófilos) e mononucleares ou agranulócitos
(monócitos e linfócitos). A presença de blastos, promielócitos, mielócitos e metamielócitos no
resultado de um leucograma indicam desvio a esquerda e atividade da medula óssea.

Os leucócitos possuem papel importante na imunidade e no processo inflamatório por


iniciarem a resposta imune. Essas células são capazes de destruir partículas estranhas e células
cancerosas, e participam da resposta inflamatória e da cicatrização.

Leucocitose é comumente encontrada em infecções bacterianas ou viróticas, estresse, pós-


operatório, leucemia e neoplasias. A leucopenia com desvio a esquerda pode estar associada a baixa
imunidade, mas também a problemas na medula óssea com multiplicação e maturação celular.

Em relação aos granulócitos, resultados alterados podem ser comuns em indivíduos em


privação de energia, e o desvio para esquerda pode indicar infecção aguda. Neutrofilia pode
indicar a presença de infecções agudas virais e bacterianas, lesão tecidual, aparecer em exames
do período pós-operatório, condições de estresse, pós prática de exercícios físicos, e em quadros
de leucemia. Neutropenia é comum durante o consumo de drogas citotóxicas, irradiação e na
anemia perniciosa, com a diminuição na maturação dos granulócitos, e em pacientes anêmicos
com deficiência de Vitamina A e Ferro e em alcoólatras.

Os eosinófilos são células capazes de fagocitar complexos antígeno-anticorpo, principalmente


no trato gastrointestinal, respiratório e na pele. A eosinofilia é comumente encontrada nas
infecções parasitárias, principalmente por helmintos, nas alergias, na leucemia mielóide e na
anemia perniciosa.

Os quadros de eosinopenia podem ocorrer devidosa estresse agudo por trauma, cirurgia,
queimadura ou inflamação aguda, pela Síndrome de Cushing por administração de corticóides,
e no pós-parto.

As reações alérgicas e de hipersensibilidade envolvem a ação dos basófilos. Esse tipo celular
possui grânulos com heparina, histamina, e outros mediadores da inflamação que são liberados
81

quando os basófilos se fixam nos anticorpos IgE. A basofilia indica um estado de edema durante
processos alérgicos.

A basopenia é comum em situações de estresse agudo, por exemplo.

Os monócitos também participam na inflamação crônica e também estão envolvidos na


resposta imune, através da ativação dos linfócitos e apresentação de antígenos às células T. Essas
células dependem de calorias e proteínas e estado de desnutrição podem afetar a resposta imune
por essa razão.

Outra célula de defesa é o linfócito que, no baço ou linfonodo, integra a resposta imune.

5.3 Plaquetograma
As plaquetas são pequenos corpúsculos discóides do sangue, que constituem o principal
elemento na obtenção da hemostasia. A alteração mais importante é a trombocitopenia
ou plaquetopenia. Podem ser analisados também os índices, volume plaquetário médio
(VPM) e o coeficiente de variação da distribuição do tamanhos das plaquetas (PDW). O VPM
aumentado significa a presença de plaquetas grandes e pode ser encontrado em hemorragias
agudas, plaquetopenias secundárias à destruição imunológica, síndromes mieloproliferativas e
septicemias. O PDW parece ser útil na distinção da trombocitose reacional.

A trombocitose é indicativo de resposta à infecção, inflamação e hemorragia; neoplasias


mieloproliferativas, mas também pode estar aumentado em condições de hemorragia aguda, em
neoplasias malignas, após esplenectomia, traumatismo grave, infecções, distúrbios inflamatórios
crônicos, reações medicamentosas.

O uso de agentes químicos ou drogas, reação a alguns fármacos, anemia aplástica, leucemias,
doenças linfoproliferativas, hiperesplenismo, dengue, podem estar associadas a baixas contagens
de plaquetas (plaquetopenia ou trombocitopenia).

6 AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA DO SANGUE


O exame laboratorial com o perfil bioquímico do sangue objetiva de identificar componentes
químicos do sangue que possam inferir sobre o metabolismo. Tais dosagens, permitem a
investigação da função renal, cardíaca, hepática, tireoidiana, hormonal e enzimática, a depender
do interesse. Dentre os exames bioquímicos, aqueles que avaliam o estado nutricional de
nutrientes são de grande importância para o nutricionista, pois além de confirmarem o diagnóstico
de deficiências notadas ao exame clínico, podem detectar deficiências subclínicas permitindo o
tratamento precoce.
82

É muito comum, tanto na clínica médica, como nutricional, a solicitação dos exames de
proteínas totais, índice de creatinina, uréia, glicose, colesterol total e frações, triglicerídeos, TSH
e T4, bilirrubina total e AST. Dessa forma, todos os sistemas são investigados. Cabe ressaltar,
que a solicitação deve ser feita apenas com clara evidência de necessidade e dependendo da
investigação diagnóstica, ou necessidade de acompanhamento terapêutico, outros exames
podem ser solicitados.

6.1 Provas de função hepática


Dentre as avaliações bioquímicas da função do fígado, a dosagem das aminotransferases são
os exames mais frequentes. A aspartato aminotransferase (AST) e alanina aminotransferase (ALT)
auxiliam no diagnóstico confirmatório ou excludente de alguma hepatopatia. Porém, além das
hepatopatias, algumas outras doenças que podem cursar com elevação das aminotransferases
séricas como hepatites agudas e crônica, cirrose, doenças hepatobiliares; miocardiopatias;
doenças musculares, do pâncreas e alcoolismo, além de outras doenças hepáticas com
repercussão no fígado, como diabetes, obesidade entre outras.

Essas enzimas podem ser avaliadas individualmente ou por meio da sua relação AST/ALT. A
bilirrubina, é outro marcador utilizado com mais frequência na prática clínica e ajuda a avaliar a
excreção e detoxificação hepática. A elevação das bilirrubinas séricas é ocorrência freqüente nas
hepatopatias e pode ser a primeira ou mesmo a única manifestação de uma doença hepática.

6.2 Marcadores cardíacos


A troponina é um bom marcador de lesão cardíaca para uso de rotina. Essa é uma proteína
muscular que age no processo de contração muscular. Pode ser dosada no soro ou plasma até 14
dias pós lesão do miocárdio e o laudo responde sobre a presença de indicação que houve lesão
cardíaca, provável lesão ou negativo para lesão.

A mioglobina é outra proteína comumente dosada, mas tem baixa sensibilidade clínica
para avaliar a presença de lesão após 12 horas. Níveis aumentados desta proteína podem ser
encontrados após injeções intramuscular ou exercícios pesados, insuficiência renal, ingestão de
álcool, alguns medicamentos que provoquem lesão muscular.

6.3 Pesquisa de dislipidemia e diabetes


O perfil lipídico, também denominado lipidograma, é dado pela análise de colesterol total
e as frações HDL, LDL e triglicerídeos. Um perfil estendido pode incluir o VLDL e o não HDL. O
diagnóstico precoce de dislipidemia pode contribuir para a redução dos riscos de doença arterial
coronariana e por isso, rotineiramente pesquisado.

A dislipidemia pode ser classificada em:


83

Hipercolesterolemia isolada

LDL-c maior ou igual a 160 mg/dL

Hipertrigliceridemia isolada

TG maior ou igual a 150 mg/dL ou 175 mg/dL, se a amostra for obtida sem jejum

Hiperlipidemia mista

LDLc maior ou igual a 160mg/dL e Tg maior ou igual a 150mg/dL ou maior ou igual a 175 mg/
dL, se a amostra for obtida sem jejum

HDL baixo

Homens HDLc menor que 40 mg/dL e mulheres Hdlc menor que 50 mg/dL

O principal teste para diagnóstico de diabetes é a glicemia em jejum. Mas apesar de boa
especificidade, a glicemia em jejum não é suficiente para fechar o diagnóstico de diabetes,
principalmente em pacientes assintomáticos, necessitando outros exames para confirmação.
Mesmo assim, é o principal marcador para confirmar ou descartar a possibilidade de diabetes
no paciente.

6.4 Provas de função renal


A investigação laboratorial da função renal se dá a partir do exame de urina de rotina, e de
dosagens séricas ou plasmáticas de creatinina e uréia.

A creatinina é um produto derivado da creatina e da fosfocreatina presentes no músculo


esquelético. Sua avaliação é importante pela relação da concentração de creatinina no soro ou no
plasma inversamente proporcional à taxa de filtração glomerular, mas ainda assim é um marcador
pouco sensível.

O catabolismo das proteínas e ácidos nucléicos resulta na formação de compostos nitrogenados


não protéicos, sendo a uréia o principal produto formado, e assim como a creatinina, a uréia
apresenta relação inversa com a taxa de filtração glomerular e várias doenças renais com lesões
glomerulares, tubulares e vasculares podem levar ao aumento da sua concentração no soro ou
plasma. Contudo, a concentração de uréia pode variar por diferentes fatores e também torna
limitada sua utilidade como marcador de função renal, devendo ser associada a outros testes.
84

7 AVALIAÇÃO LABORATORIAL DA URINA


A avaliação bioquímica da urina é comumente solicitada, tanto em consultas com queixas de
possíveis problemas renais, como para caracterização e triagem de pacientes.

O teste é realizado em amostra de urina com intuito de determinar suas características físicas
e químicas e para verificar a presença de estruturas celulares e de outra origem.

7.1 Avaliação física


As características físicas avaliadas são: cor, volume, aspecto, turvação, odor, pH, densidade.

A variação de cor para amarelo claro ou incolor indica ingestão excessiva de água, mas
também insuficiência renal ou ingestão de bebidas alcoólicas, enquanto que a urina escura indica
concentração, devido à baixa hidratação, mas também presença de bilirrubina ou hemácias.
O volume pode estar diminuído ou aumentado em alterações renais. Urina turva pode indicar
presença de infecções ou elementos como células, ambas situações indesejáveis. A densidade
alterada pode indicar diabetes e a alteração de pH sugere presença de infecções.

7.2 Avaliação química


A pesquisa de elementos anormais com proteinúria é indicativo de doença renal glomerular ou
tubular, e é importante para diagnóstico como para acompanhamento terapêutico e prognóstico.

Albuminúria indica comprometimento renal inicial e é muito utilizada no acompanhamento


de pacientes diabéticos e hipertensos.

Em pacientes saudáveis, espera-se que os outros elementos investigados, glicose, cetona,


sangue, bilirrubina, nitrito, esterase leucocitária tenham resultados negativos.

7.3 Avaliação dos sedimentos


Dentre os sedimentos analisados estão os cilindros hialinos, hemácias, cristais, leucócitos,
células epiteliais. Espera-se que em pacientes saudáveis esses sedimentos estejam ausentes, ou
raros. A presença desses pode indicar trauma, infecções, quadros inflamatórios ou tumores.

8 AVALIAÇÃO LABORATORIAL DAS FEZES


A excreção de resíduos por meio das fezes é indispensável para a boa saúde. A massa fecal é
constituída de produtos não digeríveis, material inorgânico, bile, água, eletrólitos e resíduos da
digestão de aproximadamente 4 dias.
85

O exame rotineiro, que depende da coleta adequada de fezes pelo paciente, detecta
parasitoses, doenças inflamatórias intestinais, além de hemorragias e obstruções digestivas.
Didaticamente, podemos dividir o exame em parte macroscópica, microscópica e bioquímica.

8.1 Exame macroscópico


Nessa parte, são avaliadas as seguintes características de volume, cor, odor, consistência,
tamanho e formato, e presença visível de partículas de sangue, muco ou parasitas. A avaliação de
volume e consistência é útil para caracterizar a presença de diarréia, seja ela inflamatória ou não.

A alteração dessas características pode também ser devido ao uso de fármacos, antibióticos,
e má absorção. A alteração de cor pode indicar diarréia (clara), hemorragia, tumor (escura),
inflamação (tons avermelhados), obstrução biliar e deficiência pancreática (esbranquiçada/
cinza). O odor desagradável pode ser devido à má digestão de proteínas ou consumo exagerado
de carboidratos.

8.2 Exame microscópico


Microscopicamente o exame de fezes procura pela presença de gorduras, para identificar
possível síndrome disabsortiva; alimentos não digeríveis, cuja presença pode indicar problemas
na digestão e absorção; parasitas ou microrganismos; leucócitos, que podem indicar a presença
de infecções.

O exame parasitológico é muito útil, principalmente nos casos de diarreia. Mas a coleta do
material deve ser feita adequadamente para que o teste tenha qualidade e seja eficiente, exigindo
que o paciente seja ativo nesse processo de coleta. Mas muitas vezes o teste não chega a ser feito
e o motivo da diarreia não é identificado, por conta da demora na liberação do resultado do teste
e devido ao fato de que os medicamentos para combater a diarreia são fáceis de encontrar e
possuem poucos efeitos colaterais.

8.3 Exame bioquímico


Permite a verificação do pH, e a alteração pode ser devido à má absorção, uso de antibióticos,
ou em quadros de colite e diarreia.

Sangue oculto nas fezes também é possível de se detectar nessa análise e sua presença pode
ser sugestivo de carcinomas. Caso positivo, deve-se repetir os exames e evitar alimentos com
peroxidase nesse período para confirmação.

A análise bioquímica de urobilinogênio também é feita nessa parte e sua presença elevada
pode ser devida a anemia hemolítica, e em valores baixos, pelo uso de antibióticos ou presença
de hepatopatias.
86

9 AVALIAÇÃO LABORATORIAL HORMONAL


Vários hormônios podem ser dosados, e a solicitação vai depender da necessidade
de complementação diagnóstica de alguma patologia hormonal, ou da necessidade de
acompanhamento e prognóstico de doenças.

Dentre os exames mais solicitados a nível hormonal, tem-se o hormônio estimulante da


tireóide (TSH) e a tiroxina (T4) que são os exames comumente utilizados para rastreamento
da função tireoidiana. Através desses exames se dá a interpretação da presença de hipo ou
hipertireoidismo.

A condição que apresenta TSH aumentado sugere hipotireoidismo, principalmente se os


valores de T4 estiverem diminuídos. Se associado a valores normais de T4 pode-se ter um quadro
de hipotireoidismo subclínico.

Valores de TSH abaixo dos valores de referência indicam hipertireoidismo, principalmente


se T4 estiver aumentado. Em caso de T4 dentro dos valores normais, pode-se ter um quadro
subclínico de hipertireoidismo.

A avaliação do TSH auxilia outros exames associados à determinação das causas de


hipotireoidismo em mulheres e de disfunção endócrina em homens.

10 MARCADORES LABORATORIAIS DA
INFLAMAÇÃO
Os principais marcadores inflamatórios usados no dia a dia da clínica são a proteína C reativa
(PCR) e a Velocidade de Hemossedimentação (VHS), justamente por que a elevação de ambos
fatores é proporcional ao grau de inflamação/infecção.

A albumina também pode ser usada como marcador de inflamação em contexto contrário.

Sua redução pode ser indicativa de quadro inflamatório.

A PCR é produzida pelos hepatócitos e por indução da liberação das interleucinas 1 e 6, e


faz parte da resposta inflamatória inespecífica do corpo à infecção ou trauma. O teste da PCR
ultrassensível é mais sensível do que o teste padrão de PCR e sua elevação representa fator de
risco independente para doença cardiovascular. Valores diminuídos podem ser encontrados em
praticantes de exercício e durante a perda de peso, junto ao consumo moderado de álcool e na
presença de alguns fármacos, como as estatinas, e suplementos, como a niacina.
87

Comparada à PCR, a VHS tem menor sensibilidade, mas percebe-se que se encontra elevada
em infecções e indica necessidade de pesquisa de uma doença sistêmica grave.
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PARA RESUMIR
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

• compreender que nutrição e farmacologia se unem na formulação dos nutracêuticos


ou suplementos alimentares.

• entender que a prescrição de suplementos dietéticos e fitoterápicos é permitido por


lei aos nutricionistas.

• conhecer alguns fitoterápicos, sua ação e possíveis interações medicamentosas.

• aprender que a automedicação, e a orientação inadequado pode levar ao risco de


interações e toxicidade.

• conhecer alguns exames laboratoriais mais utilizados na prática clínica e suas


interpretações.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Resolução CFF n° 611 de 25/10/2018. Dispõe sobre o cuidado farmacêutico


relacionado a suplementos alimentares e demais categorias de alimentos na farmácia
comunitária, consultório farmacêutico e estabelecimentos comerciais de alimentos e dá
outras providências. Publicado no DOU em 31 out 2018.

CARNEIRO, A. L. C.; COMARELLA, L. Principais interações entre plantas medicinais e


medicamentos. Revista Saúde e Desenvolvimento. 9(5) jan – jun – 2016.

DAVID, R.B.; BELLO, G.B. Prescrição de fitoterapia por nutricionistas em farmácias


magistrais. BRASPEN J; 32 (3): 288-92, 2017.

DIASA, E. C. M.; TREVISAN, D. D.; NAGAIC, S. C.; RAMOS, N. A.; SILVA, E. M. Uso de
fitoterápicos e potenciais riscos de interações medicamentosas: Reflexões para prática
segura. Revista Baiana de Saúde Pública. v. 41, n. 2, p. 297-307 abr./jun. 2017.

ERICHSEN E. S.; VIANA, L. G.; FARIA R. M. D.; SANTOS, S. M. E. Medicina laboratorial para
o clínico. Belo Horizonte, COOPMED, 2009.

NEMER, N. F. Manual de Solicitação e Interpretação de Exames Laboratoriais. São Paulo:


Revinter, 2010.

NICOLETTI, M. A.; OLIVEIRA-JUNIOR, M. A.; BERTASSO, C. C.; CAPOROSSI, P. Y.; TAVARES,


A. P. L. Principais interações no uso de medicamentos fitoterápicos. Infarma, v.19, nº
1/2, 2007.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. Atualização da diretriz brasileira de


dislipidemias e prevenção da aterosclerose. ISSN-0066-782x. v.109, n.2, supl. 1, 2017.
Farmacologia aplicada à nutrição e interpretação de exames
laboratoriais é um livro direcionado para estudantes dos cursos da área
de farmácia, farmacologia, farmacologia aplicada à nutrição, e correlatos.

Além de abordar assuntos triviais, o livro traz conteúdo sobre


os fundamentos da farmacologia, as interações nutricionais e
medicamentosas, a importância clínica entre interações de drogas
e nutrientes, suplementos alimentares, suplementos fitoterápicos e
exames laboratoriais.

Após a leitura da obra, o leitor vai identificar as principais classes


de medicamentos disponíveis no mercado; dominar a diferença entre
farmacocinética e farmacodinâmica; aprender que alguns fármacos
podem interferir no estado nutricional de um indivíduo, afetando
sua ingestão, causando sintomas gastrointestinais ou alterando a
percepção dos alimentos por modificações das sensações de sabor e
cheiro; conhecer o conceito de biodisponibilidade e sua importância
para entender os fatores que influenciam o metabolismo dos
nutrientes; indicar possíveis riscos durante a terapia enteral e
administração de medicamentos por via oral; compreender algumas
das possíveis interações entre nutrientes e medicamentos utilizados
para doenças no trato gastrintestinal; saber que a prescrição por
nutricionistas de suplementos dietéticos e fitoterápicos é permitido
por lei; enumerar os exames laboratoriais mais utilizados na prática
clínica e suas interpretações, e muito mais.

Aproveite a leitura do livro.

Bons estudos!

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