Harmonia Conjugal
Harmonia Conjugal
Harmonia Conjugal
A nossa inclinação natural é querer que domine o nosso modo de pensar e o que
queremos. Isso é fruto do egoísmo e do egocentrismo, inclinações da nossa
humanidade fragilizada pelo pecado original. É o Espírito que, a partir da adesão da
vontade humana, constrói a unidade entre o casal, gerando frutos de amor, respeito
pelas diferenças, liberdade e espontaneidade, segurança e paz. A seguir, algumas
estratégias que podem favorecer a busca da harmonia conjugal.
1. Nunca irritar-se ao mesmo tempo: A todo custo evitar a explosão. Quanto mais a situação é complicada, mais a calma é
necessária. Então, será preciso que um dos dois acione o mecanismo que assegure a calma de ambos diante da situação
conflitante. É preciso nos convencer de que, na explosão, nada será feito de bom. Dom Helder Câmara tem um belo
pensamento que diz: “Há criaturas que são como a cana, mesmo postas na moenda, esmagadas de todo, reduzidas a bagaço,
só sabem dar doçura...” Seria muito eficaz usar a doçura para enfrentar os desafios da vida a dois.
2. Nunca gritar um com o outro: A não ser que a casa esteja pegando fogo. Quem tem bons argumentos não precisa gritar.
Gritar, muitas vezes, é próprio daquele que na sua insegurança, precisa impor pelos gritos aquilo que não consegue pelos
argumentos e pela razão.
3. Se alguém deve ganhar na discussão, deixar que seja o outro: Perder uma discussão pode ser um ato de inteligência e de
amor. Dialogar jamais será discutir, pela simples razão de que a discussão pressupõe um vencedor e um derrotado, e no
diálogo não. Portanto, se por descuido nosso, o diálogo se transformar em discussão, permita que o outro “vença” para que
mais rapidamente ele termine. Discussão no casamento é sinônimo de “guerra”; uma luta inglória. Que vantagem há em se
ganhar uma disputa contra aquele que é a nossa própria carne? É preciso que o casal tenha a determinação de não provocar
brigas; não podemos nos esquecer que basta uma pequena nuvem para esconder o sol. Às vezes, uma pequena discussão
esconde, por muitos dias, o sol da alegria no lar.
4. Se for inevitável chamar a atenção, fazê-lo com amor: A outra parte tem que entender que a crítica tem o objetivo de somar e
não de dividir. Só tem sentido a crítica que for construtiva; e essa é amorosa, sem acusações e condenações. Antes de
apontarmos um defeito, é sempre aconselhável apresentar duas qualidades do outro. Isso funciona como um anestésico para
que se possa fazer o curativo sem dor. E reze pelo outro antes de abordá-lo em um problema difícil. Peça ao Senhor e a Nossa
Senhora que preparem o coração dele para receber bem o que você precisa dizer-lhe. Deus é o primeiro interessado na
harmonia do casal.
5. Nunca jogar no rosto do outro os erros do passado: A pessoa é sempre maior que seus erros, e ninguém gosta de ser
caracterizado por seus defeitos. Toda vez que acusamos a pessoa por seus erros passados, estamos trazendo-os de volta e
dificultando que ela se livre deles. Certamente não é isso que queremos para a pessoa amada
Papa Paulo VI, diante da guerra fria e da ameaça de guerra nuclear, avisou o mundo: “A paz impõe-se somente com a paz, pela
clemência, pela misericórdia, pela caridade”. Ora, se isto é válido para o mundo encontrar a paz, muito mais é válido para todos
os casais viverem bem. Portanto, como ensina Thomás de Kemphis, na Imitação de Cristo, “Primeiro conserva-te em paz,
depois poderás pacificar os outros”.
6. A displicência com qualquer pessoa é tolerável, menos com o cônjuge: Na vida a dois, tudo pode e deve ser importante, pois
a felicidade nasce das pequenas coisas. A falta de atenção para com o cônjuge é triste na vida do casal e demonstra desprezo
para com o outro. Seja atento ao que ele diz, aos seus problemas e aspirações.
7. Nunca ir dormir sem ter chegado a um acordo: Se isso não acontecer, no dia seguinte, o problema poderá ser bem maior.
Não se pode deixar acumular problema sobre problema sem solução. Os problemas da vida conjugal são normais e exigem de
nós atenção e coragem para enfrentá-los, até que sejam solucionados, com o nosso trabalho e com a graça de Deus. A atitude
da avestruz, da fuga, é a pior que existe. Com paz e perseverança busquemos a solução.
8. Pelo menos, uma vez ao dia, dizer ao outro uma palavra carinhosa: Muitos têm reservas enormes de ternura, mas esquecem
de expressá-las em voz alta. Não basta amar o outro, é preciso demonstrar esse sentimento também com palavras e
especialmente com gestos. Para as mulheres, isso tem um efeito quase mágico. É um tônico que muda completamente o seu
estado de ânimo, humor e bem-estar. Muitos homens têm dificuldade neste ponto; alguns por problemas de educação, mas a
maioria porque ainda não se deu conta da sua importância.
9. Cometendo um erro, saber admiti-lo e pedir desculpas: Admitir um erro não é humilhação. A pessoa que admite o seu erro é
madura e demonstra ser honesta consigo mesma e com o outro. Quando erramos, não temos duas alternativas honestas,
apenas uma: reconhecer o erro, pedir perdão e procurar remediar o que fizemos de errado, com o propósito de não repeti-lo.
Isso é ser humilde. Agindo assim, mesmo os nossos erros e quedas serão alavancas para o nosso amadurecimento e
crescimento. Quando temos a coragem de pedir perdão, vencendo o nosso orgulho, eliminamos quase de vez o motivo do
conflito no relacionamento, e a paz retorna aos corações. É nobre pedir perdão!
10. Quando um não quer, dois não brigam: É a sabedoria popular que ensina isso. Será preciso então que alguém tome a
iniciativa de quebrar o ciclo pernicioso que leva à briga. Tomar essa iniciativa será sempre um gesto de grandeza, maturidade e
amor. E a melhor maneira será “não pôr lenha na fogueira”, isto é, não alimentar a discussão. Muitas vezes, é pelo silêncio de
um que a calma retorna ao coração do outro. Outras vezes, será por um abraço carinhoso, ou por uma palavra amiga.
Todos nós temos a necessidade de um “bode expiatório” quando algo adverso nos ocorre. Quase que inconscientemente
queremos, como se diz, “pegar alguém para Cristo”, a fim de desabafar as nossas mágoas e tensões. Isso é um mecanismo de
compensação psicológica que age em todos nós nas horas amargas, mas é um grande perigo na vida familiar. Quantas e
quantas vezes acabam “pagando o pato” pessoas que nada têm a ver com o problema que nos afetou. Às vezes, são os filhos
que apanham do pai que chega em casa nervoso e cansado; outras vezes, é a esposa ou o marido que recebe do outro uma
enxurrada de lamentações, reclamações e ofensas, sem quase nada ter a ver com o problema em si.
É necessário vigilância nestas horas para não permitir que o “sangue quente nas veias” gere uma série de injustiças com os
outros. No serviço, e fora de casa, respeitamos as pessoas, o chefe, a secretária etc.; mas, em casa, onde somos “familiares”, o
desrespeito acaba acontecendo. Exatamente onde estão os nossos entes mais queridos, no lar, é ali que, injustamente,
descarregamos o stress do dia e as preocupações. Os filhos, a esposa, o esposo, são aqueles que merecem o nosso primeiro
amor e tudo de bom que trazemos no coração. Portanto, antes de entrarmos no recinto sagrado do lar, é preciso deixar, lá fora,
as mágoas, os problemas e as tensões. Estas, até podem ser tratadas com o cônjuge, buscando-se uma solução para os
problemas, mas, com delicadeza, diálogo, fé e otimismo.
O amor é o oxigênio da vida em família
É o amor dos esposos que gera o amor da família e que produz o “alimento” e o “oxigênio” mais importante para os filhos. Na
Encíclica Redemptor Hominis, o Papa João Paulo II disse algo marcante: “O homem não pode viver sem amor. Ele permanece
para si próprio um ser incompreensível e a sua vida é destituída de sentido, se não lhe for revelado o amor, se ele não se
encontra com o amor, se não o experimenta e se não o torna algo próprio, se nele não participa vivamente” (RH, 10). Sem o
amor a família nunca poderá atingir a sua identidade, isto é, ser uma comunidade de pessoas. O amor é mais forte do que a
morte e é capaz de superar todos os obstáculos para construir o outro. Assim se expressa o Cântico dos Cânticos: “...o amor é
forte como a morte... Suas centelhas são centelhas de fogo, uma chama divina. As torrentes não poderiam extinguir o amor,
nem os rios o poderiam submergir.” (Ct 8,6-7)
Há alguns casais que dizem que vão se separar porque acabou o amor entre eles. Será verdade? Seria mais coerente dizer
que o “verdadeiro” amor não cresceu e não amadureceu; foi queimado pelo sol forte do egoísmo e sufocado pelo amor próprio
de cada um. Não seria mais coerente dizer: “Nós matamos o nosso amor?”. O poeta cristão Paul Claudel resumiu de maneira
bela a grandeza da vida do casal:
“O amor verdadeiro é dom recíproco que dois seres felizes fazem livremente de si próprios, de tudo o que são e têm. Isto
pareceu a Deus algo de tão grande que Ele o tornou sacramento”.
Bibliografia:
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por Laura Martins, Assistente Social, Psicopedagoga e Missionária da Comunidade Shalom
Comunidade Shalom