Administracao Publica Claudia Costin
Administracao Publica Claudia Costin
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Claudia Costin
ADMINISTRAÇÃO
PUBLICA
© 2 0 1 0 , Elsevier Editora Ltda.
ISBN 978-85-352-3225-7
Nota: Muito zelo e técnica foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem
ocorrer erros de digitação, impressão ou dúvida conceituai. Em qualquer das hipóteses,
solicitamos a comunicação ao nosso Serviço de Atendimento ao Cliente, para que possamos
esclarecer ou encaminhar a questão. >•
Nem a editora nem o autor assumem qualquer responsabilidade por eventuais danos ou
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OP-Brasil. Catalogação-na-fonte.
Sindicato Nacional dos Editores de livros, RJ
CDD: 351.81
10-1258 CDU: 35(81)
Tive muitos mestres. Alguns me marcaram, de forma particular, na crença
de que é possível uma outra Administração Pública num outro mundo
possível: Maria Augusta do Amaral, Franco Montoro, Paulo Modesto, Luiz
Carlos Bresser Pereira, Pedro Parente, Mauricio Tragtenberg, Evelyn Levy,
Celso Daniel e Nelson Màrconi. Nos outros terrenos, meu pai, sempre. A
estes mestres dedico este livro.
Prefácio
ésss?
Jo rg e G e rd a u J o h a n n p e te r
Presidente do Conselho de Administração da Gerdau e
presidente fundador do M ovimento Brasil Competitivo (MBC)
Apresentação
Á a l g u m t e m p o a c o m u n i d a d e d e e s p e c ia lis ta s e m g e s tã o p ú b l ic a d e m a n
dava um livro-texto de Administração Pública, pois em tempo relativamen
te reduzido - pouco mais de uma década - o interesse pela melhoria da gestão dos
serviços públicos, no Brasil, tem feito multiplicarem-se os cursos de graduação
e pós-graduação, as escolas de governo, o interesse de servidores e de dirigentes
políticos, bem como da sociedade organizada. A ampliação e reestruturação dos
serviços públicos e a redistribuição das responsabilidades entre os entes federa
dos tem aumentado o contingente de servidores e o número de áreas em que o
poder público se faz presente. Ao lado desses aspectos quantitativos, observam-
se mudanças qualitativas, cuja intensidade não é menor. A saudável competição,
trazida pela democracia, tem dado ensejo a uma intensa experimentação por
parte de governos locais, estaduais e da União. Tem igualmente induzido à bus
ca de uma revisão nos modos de operação da Justiça e do Legislativo. Inovações
são produzidas em todos esses nichos, em busca de maior eficiência, efetividade,
transparência e participação dos cidadãos. Existe, portanto, um a efervescência in
telectual nesse campo, como há muito não se via. Não se quer aqui admitir que a
Administração Pública no Brasil apresente graus de excelência em toda parte, ou
que antigas mazelas tenham desaparecido. Mas, há sim um movimento positivo,
que se expressa fortemente onde a sociedade se faz presente e onde os dirigentes
públicos assumem a liderança que lhes é requerida e incentivam os funcionários
a desenvolverem suas competências. Nem sempre a mídia capta essa variedade e
criatividade que se realiza às vezes nas localidades mais remotas do país. Mas, por
exemplo, através dos diversos prêmios de inovação, criados por diversas institui-
x I A dm inistração Pública ELSEVIER
E v ely n L evy
Introdução
ste livro resulta de uma paixão. Desde menina, debatia-me com questões
E relativas ao que é coletivo e merece ser transformado. Problemas como o
analfabetismo, a pobreza, as epidemias ou a poluição, influenciaram minha es
colha de carreira e fizeram-me passar do terreno da militância política para o da
atuação profissional junto a diferentes líderes políticos, de igualmente diferentes
afiliações partidárias.
É também com paixão que o escrevi. Fui aluna da Escola de Administração
de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas, no curso de Adminis
tração Pública. Gostei imensamente do curso e tive grandes professores. Depois
de toda uma carreira na Administração Pública e de anos de ensino em diferen
tes cursos universitários, pensei em dialogar com os novos alunos. O que teria
a lhes dizer? Que saberes, fruto do trabalho ou de pesquisas, foram-me úteis
na minha prática profissional ou ajudariam jovens estudantes de graduação a
entender a complexidade da Administração Pública?
Trata-se de um livro introdutório. Procuro dar uma visão panorâmica dos
diferentes temas envolvidos na Administração Pública. Como esta área é, por
natureza, interdisciplinar, há conteúdos do campo da Ciência Política, da So
ciologia, da Administração e da Economia combinando-se para conformar as
visões apresentadas sobre cada aspecto abordado.
Procurei organizar o livro, pensando em um aluno de primeiro ano do curso
de Administração Pública (ou de uma eletiva em curso de Administração), na
forma de capítulos que poderão, no futuro, merecer um olhar mais detalhado de
rlicritVlina«; pxnecíficas. O aluno poderá também, posteriormente, aprofundar-se
xii I Adm inistração Pública ELSEVIER
em cada uma delas por meio de uma bibliografia sugerida no livro ou por seus
professores.
Podem-se beneficiar com a leitura atenta do livro candidatos a postos eleti
vos, especialistas em políticas públicas específicas, como profissionais de saúde
pública ou de Educação, que queiram se aprofundar na compreensão da máqui
na burocrática e nas injunções do Estado na sua operação.
A cada capítulo, incluí uma parte conceituai que caminha junto com a legis
lação, a evolução histórica da área no Brasil e questões para trabalhar em sala ou
como forma de aprofundamento por alunos. No capítulo sobre Administração
Tributária, por exemplo, mostro não apenas o que são tributos e como se estru
turam no país, mas sua evolução histórica, desde os tempos do Brasil Colônia.
Um alerta: dada a natureza da Administração Pública, regulada que é pela
Constituição e por leis, mudanças legais podem tornar aspectos do livro ultra
passados. Neste sentido, procurarei realizar atualizações sempre que necessário,
embora ocasionalmente possa haver um intervalo de tempo entre a mudança
legal e uma eventual nova edição do livro.
Parte deste livro foi elaborada durante o tempo em que atuei na Fundação
Victor Civita e dava aulas de Economia das Políticas Públicas no então IBMEC-
SP; outra, enquanto estive no Canadá, como professora visitante da Escola Na
cional de Administração Pública da Universidade de Québec. As três institui
ções me ajudaram de diferentes formas no trabalho e sou-lhes muito grata por
isso. Na fase mais recente da elaboração contei com a ajuda do pesquisador Fe
lipe Asensi, a quem igualmente agradeço. Minha família teve que compartilhar
o pouco de tempo de que dispunha à noite, quando não envolvida com meus
compromissos profissionais, com o livro. Ao Nabuco, Marina e Maurício, m eu
sincero agradecimento e pedido de desculpas pela paixão da sua esposa e mãe.
Meu maior agradecimento aqui vai ao meu pai, Maurice Costin, imigrante
que escolheu o Brasil como seu país e ensinou-me a amá-lo de forma a desejar
sua transformação. Empresário, soube entender e admirar a opção profissional
da filha a quem transmitiu um rigor ético que, se traz, por vezes, decepções pro
fundas, permitem-me crer que um a outra ordem de coisas é possível. Sonhar
sempre, transformar com ação competente quando o impossível está pronto
para virar realidade!
Sumário
P?-'-
flr
Capítulo 1
P Estado e a Administração Pública na sociedade contemporânea
1.1. As funções econômicas do Estado e os bens públicos 4
1.2. Evolução histórica do Estado 8
■1.3. O Estado brasileiro 15
1.3.1. Poder Executivo 16
1.3.2. Poder Legislativo 17
1.3.3. Poder Judiciário 18
1.3.4.0 Ministério Público 22
1.4. Questões para aprofundamento 24
1.5. Bibliografia complementar 25
Capítulo 2
A Administração Pública 27
2.1. Administração Pública Direta e Indireta 29
2.2. Três formas históricas de administração 31
2.3. Setores do aparelho do Estado 36
2.4. Evolução da Administração Pública no Brasil 40
2.4.1. A República 47
2.4.2. A Reforma Administrativa de 1967 59
2.4.3. A Redemocratização e a Constituição de 1988 62
2.4.4. A Reforma da Gestão Pública de 1995 68
2.5. Questões para aprofundamento 71
2 .6 . R lK llflfir ífio rA m r ~ > Ip m o n t*a r 79
xiv I A dm inistração Pública ELSEVIER
Capítulo 3
Os impostos e a administração tributária 81
3.1. Alguns dos principais tributos brasileiros 83
3.2.0 Sistema Tributário e seus princípios 85
3.3. Evolução do Sistema Tributário Nacional no Brasil 87
3.4. Questões para aprofundamento 94
3.5. Bibliografia complementar 94
Capítulo 4
O orçamento e as finanças públicas 97
4 .1.0 ciclo orçamentário 99
4.2. Princípios orçamentários 100
4.3.0 processo orçamentário e a legislação no Brasil 102
4.4. O ciclo orçamentário, seu calendário e órgãos envolvidos 109
4.4.LO PPA 109
4.4.2. A LDO 110
4.4.3. Orçamento Anual 112
4.5. Conceitos de Finanças Públicas 115
4.6. Resultado primário do governo central 119
4.7. A Dívida Pública 120
4.8. A evolução histórica do orçamento e das finanças públicas no Brasil 121
4.9. A Revolução Institucional da década de 1980 128
4.10. Questões para aprofundamento 137
4.11. Bibliografia complementar 137
Apêndice B — Participação de Tarso Genro: Orçamento Participativo:
a experiência de Porto Alegre 139
Capítulo 5
As relações de trabalho no setor público 149
5.1. Recursos Humanos no Estado Contratual 154
5.2. Conceitos em Gestão de Recursos Humanos e sua aplicação
no setor público 157
5.3. Evolução da Administração de Recursos Humanos no R rasil ifá
ELSEVIER Sumário I xv
C apítu lo 6
Administração de recursos materiais e logística no setor público 183
6.1. Administração de materiais e patrimonial no setor público 184
6.2. As compras e as contratações governamentais 185
6.3. As obras e os serviços 190
6.4. Contratação, convênios, parcerias e cooperação em obras e serviços 193
6.5. A evolução da área de Compras e Gestão de Materiais na
Administração Pública Brasileira 196
6.6. Questões para aprofundamento 202
6.7. Bibliografia complementar 203
Capítulo 7
As relações entre o Estado e o setor privado 205
7.1. Mudando um a cultura burocrática 207
7.2. Direitos de propriedade 208
7.3. Excesso e sobreposição de organizações envolvidas na regulação
e no controle do comércio 210
7.4. Modificação frequente da legislação acerca do setor privado 214
7.5. Baixa qualidade da mão-de-obra 216
7.6. Conclusões 217
1.7. Questões para aprofundamento 219
7.8. Bibliografia complementar 220
Capítulo 8
Instituições políticas no Brasil 221
8.1.0 Estado Brasileiro 230
8.2. A Constituição 231
8.3. Poder Executivo 232
8.4. Poder Legislativo 234
8.5. Poder Judiciário 235
8.6. O Ministério Público 237
8.7.0 poder dos estados e das municipalidades 237
8.8. Os partidos políticos 241
o n A . — ..*i
xvi I Adm inistração Pública ELSEVIER
Bibliografia 257
>•
Capítulo
deverá, nesse caso, intervir por meio de políticas públicas para alinhar
incentivos privados com os interesses da sociedade.
• Mercados incompletos — aparecem quando um bem ou serviço con
siderado relevante não é ofertado pelo setor privado, ainda que o seu
custo de produção esteja abaixo do preço que os consumidores estariam
dispostos a pagar. Nesse caso, o poder público pode atuar, oferecendo o
bem, seja produzindo diretamente ou estabelecendo uma concessão para
que um a empresa privada o faça. O utra modalidade de atuação seria ofe
recer incentivos fiscais ou incentivos para quem se dispuser a garantir o
produto. Um exemplo de bem não ofertado são algumas modalidades de
financiamento de longo prazo, vitais para o desenvolvimento, que o siste
ma financeiro privado do país pode não oferecer. Por conta dessa neces
sidade, bancos de investimento são criados em diversos países e mesmo
como instâncias supranacionais, como o caso do Banco Mundial ou do
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
• Falhas de inform ação — ocorrem quando um agente econômico não
possui informação necessária sobre bens ou serviços transacionados. O
desconhecimento e a consequente assimetria de informações entre agen
tes podem provocar ineficiências no mercado. Nesse caso, o governo pode
tornar obrigatória a divulgação de informações relevantes para que sejam
conhecidas por todos os participantes do mercado. É o caso de informa
ções relativas à validade de produtos comestíveis ou de medicamentos,
em que se exige não apenas o cumprimento da legislação específica, mas
a divulgação das datas exatas de vencimento ao consumidor. Da mesma
forma, a Lei das S.A. demanda a publicação de relatórios contábeis dessas
empresas para que acionistas, parceiros e o público em geral possam in
teragir de forma sólida com a empresas.
• Desemprego e inflação — apesar de a Teoria do Bem-Estar Social preco
nizar que (conforme Fabio Giambiagi e Ana Claudia Além, 2000, p. 24)
“Sob certas condições, os mercados competitivos geram uma alocação
de recursos que se caracteriza pelo fato de que é impossível promover
uma realocação de recursos de tal forma que um indivíduo aumente o
seu grau de satisfação sem que, ao mesmo tempo, isso esteja associado
a um a piora na situação de outro indivíduo” (Ótimo de Pareto), a pre
sença dessas falhas de mercado impede que tal alocação ideal aconteça.
Assim, a presença de desemprego pode não ser rara, especialmente num
m undo globalizado em que o mercado conta com fontes inesgotáveis de
m ão-de-obra barata em vários locais do m undo e a intensa mecanização
e automatização dos processos produtivos. O desemprego pode ser oca-
8 I Adm inistração Pública ELSEVIER
cimento. Não apenas a educação aumenta o PIB per capita, mas outros gastos
sociais também o fazem.
Em seu modelo predominante hoje em dia, o Estado pode ser diferenciado,
no entanto, pelas diferentes tarefas e p'àpéis que assume, o que, por sua vez, re
sulta também de um a evolução histórica.
Há pouco consenso nessa matéria. Mas, nos tem pos em que a expressão
Estado começou a ser utilizada, com Maquiavel, o papel do Estado era per
cebido, sobretudo, como o de prover segurança à população para conduzir
suas atividades frente a agressões externas ou crimes internos, cabendo às en
tidades religiosas registrar os nascimentos e óbitos, acudir os necessitados e,
para quem quisesse integrar seus quadros, a educação necessária para tanto.
O utros recebiam educação de preceptores contratados. O controle de contra
tos privados surge inicialmente mais relacionado à cobrança de impostos do
que à sua garantia. Além disso, a função judiciária já era exercida antes desse
período. O soberano, mesmo antes de se pensar em separação de poderes, atua
va muitas vezes como árbitro em desavenças entre seus súditos, no perdão de
dívidas entre particulares ou para com o Tesouro Real, e estabelecia sentenças
frente a crimes.
Progressivamente as instituições religiosas e, em alguns casos, as próprias
comunidades (como no caso americano) foram se responsabilizando pela ofer
ta de educação a um número m aior de crianças e jovens, independentemente de
vocações religiosas.
O antigo reino da Prússia foi o primeiro país a introduzir, inspirado por
M artinho Lutero, a educação pública gratuita e compulsória, de oito anos de du
ração, para todas as crianças, ainda no século XVIII. A essas alturas, as primeiras
escolas públicas americanas já existiam e conviviam com escolas comunitárias
e privadas. Na França, onde já existia um sem-número de escolas religiosas, o
sistema público foi introduzido nos anos 1880, por Jules Ferry, junto com um
processo vigoroso de laicização do ensino (Werebe, 2004). No Brasil, o governo
provisório de Deodoro da Fonseca institui, em 1890, o “ensino leigo e livre, em
todos os níveis e gratuito no primário” (Decreto 501/1890). Na ocasião, apenas
12% das crianças em idade escolar tinham acesso à educação. Vamos demorar
mais 106 anos para universalizar o ensino fundamental.
A saúde surge como preocupação do poder público bem antes disso. Os ro
manos já apresentavam obras de saneamento, afastando os dejetos hum anos de
áreas de concentração de pessoas. Posteriormente, epidemias mereceram aten
ção de governos como foi o caso da peste negra que levou à infrutífera queima
de cadáveres seguida pela mais eficiente queima de bairros inteiros. Da mesma
forma, o Estado passou a estabelecer, especialmente a partir dos séculos XVIII e
i p P ^ ^ K V l b K ... yapituio i: u tstaoo e a Agmimstraçao HuDlica na sociedade contemporânea 113 "
mara dos Deputados é composta por representantes do povo, que são eleitos
pelo sistema proporcional, em cada estado, território e no Distrito Federal. O
núm ero de deputados depende do núm ero de eleitores de cada estado, sendo
que nenhum a unidade da Federação terá menos de oito ou mais de 70 deputa
dos. O Senado Federal é composto por representantes dos estados e do Distrito
Federal, que são eleitos pelo sistema majoritário, em que cada estado é repre
sentado por três senadores. Compõe também o Congresso o Tribunal de Con
tas da União, órgão que presta auxílio ao Congresso Nacional nas atividades de
controle e fiscalização externa.
lher o juiz ao qual será distribuída a ação, por exemplo). Os referidos dispositi
vos jurídicos versam o seguinte:
Art. 5a: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXXVIII
- não haverá juízo ou tribunal de exceção (...); LIII - ninguém será processado nem sen
tenciado senão pela autoridade competente. (Brasil, 1988)
Art. 2a Nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o interessa
do a requerer, nos casos e forma legais. (Brasil, 1973)
Seu órgão máximo é o Supremo Tribunal Federal (STF), formado por 11 jui
zes de notável saber jurídico e reputação ilibada, escolhidos pelo presidente da
República com aprovação do Senado. Seu papel é de guardião da Constituição e
cabe-lhe, entre outros, julgar ações diretas de inconstitucionalidade, ações con
tra o Presidente, seus ministros, membros do Congresso Nacional e o Procura
dor-Geral, litígios da União, estados e Distrito Federal com Estados estrangeiros
e organismos internacionais, conflitos entre estados e a União ou entre estados,
conflitos de competência entre tribunais superiores, julgar em recurso como
última instância decisões que se acreditam ter contrariado a Constituição.
O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de 15 membros, com mandato
de dois anos, admitida uma recondução, entre eles um Ministro do Supremo
Tribunal Federal, que o preside, um Ministro do Superior Tribunal de Justiça,
um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, juizes, membros do Ministério
Público, advogados e dois cidadãos, de notável saber jurídico e de reputação
ilibada, indicados um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal.
Os membros do Conselho serão nomeados pelo Presidente da República, depois
de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal.
Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do
Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juizes, cabendo-
lhe zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatu
to da Magistratura, apreciar a legalidade dps atos administrativos praticados
por membros ou órgãos do Poder Judiciário, podendo desconstituí-los, receber
reclamações contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, podendo aplicar ;
sanções administrativas, se for o caso.
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) compõe-se de, no mínimo, 33 Minis
tros, nomeados pelo Presidente da República, dentre brasileiros de notável saber
jurídico e reputação ilibada, depois de aprovada a escolha pelo Senado Federâl.
Compete ao STJ, entre outros, processar e julgar, originariamente: nos crimes
comuns, os governadores dos estados e do Distrito Federal, os mandados de se
gurança e os habeas data contra ato de Ministro de Estado, dos Comandantes d
Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal; as revisões cr
minais e as ações rescisórias de seus julgados; os mandados de segurança de
didos em única instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribun.
dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a decisão;
causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo internacional, c
um lado, e do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no país; p
gar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, p p .
Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos estados, do Distrito Fed
e territórios, quando a decisão de que se recorre contrariar tratado ou leitfe ,
ELSEVIER Capítulo 1: O Estado e a Administração Pública na sociedade contemporânea I 21
ral, julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal ou der a
lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.
São órgãos da Justiça Federal: os Tribunais Regionais Federais e os Juizes Fe
derais. Os Tribunais Regionais Federais compõem-se de, no mínimo, sete juizes,
recrutados, quando possível, na respectiva região e nomeados pelo Presidente
da República. Compete aos Tribunais Federais, entre outros, processar e julgar,
originariamente: os juizes federais da área de sua jurisdição, as revisões criminais
e as ações rescisórias de julgados seus ou dos juizes federais da região; os m an
dados de segurança e os habeas-data contra ato do próprio Tribunal ou de juiz
federal; os conflitos de competência entre juizes federais vinculados ao Tribunal.
Julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos juizes federais e pelos juizes
estaduais no exercício da competência federal da área de sua jurisdição.
Há também, no Poder Judiciário Federal, estruturas especializadas, como a
Justiça Eleitoral, a Justiça Militar e a Justiça do Trabalho.
São órgãos da Justiça Eleitoral: o Tribunal Superior Eleitoral, os Tribunais
Regionais Eleitorais, os Juizes Eleitorais e as Juntas Eleitorais. Trata-se de uma
justiça sui generis tendo em vista sua total composição por membros integrantes
de outros órgãos judiciários. Não há ingresso diretamente na carreira da magis
tratura eleitoral. O Tribunal Superior Eleitoral é o órgão máximo da estrutura
, da Justiça Eleitoral. É o ápice da estrutura. É composto por sete membros: três
juizes dentre os ministros do Supremo. Tribunal Federal, eleitos por voto se-
' ereto; dois juizes dentre os ministros do Superior Tribunal de Justiça, eleitos
<por voto secreto; dois juizes, dentre seis advogados de notável saber jurídico e
idoneidade moral, indicados pelo Supremo Tribunal Federal e nomeados pelo
presidente da República.
. A Justiça Militar da União tem como órgãos de sua composição: o Superior
lf Tribunal Militar, a Auditoria de Correição, o Conselho de Justiça, os Juízes-Au-
gjditores e os Juizes-Auditores Substitutos. Para efeito de administração da Justiça
IMilitar, o território nacional é dividido em Circunscrições Judiciárias Militares.
|Átualmente são 12 Circunscrições, e cada um a possui um a ou mais Auditorias
|dà< Justiça Militar. O primeiro grau de jurisdição da Justiça Militar, fugindo à
^•tradição do Poder Judiciário, é um órgão colegiado. Trata-se do Conselho de
|||? stiça, composto pelo Conselho Especial de Justiça e pelo Conselho Perma-
ggente de Justiça. São eles responsáveis pelo processo e julgamento dos casos
ifjf c°mpetência da Justiça Militar da União, os crimes militares definidos em
I f 1- O Superior Tribunal de Justiça tem sede na Capital Federal e jurisdição em
0 0 território nacional. É composto de 15 ministros, sendo todos nomeados
K ^ m e n te pelo presidente da República, depois de aprovada a indicação pelo
■ piado Federal.
22 I A dm inistração Pública ELSEVIER
URUGUAI, Visconde do. “Ensaio sobre o Direito Administrativo.” In: CARVALHO, J. M. de (org.).
Visconde do Uruguai. São Paulo: Editora 34,2002.
WEBER, Max. Economia e sociedade. Brasília: Unb, 1991.
Capítulo
A Administração Pública
ma um pouco mais adiante, mas vale a pena ressaltar esse aparente esquecimen
to das Constituições anteriores.
'VÂâm1nístraçãõ\ |
fVj
2.2. Três formas históricas de administração
Segundo Bresser-Pereira (1998, p. 20-22), há três formas de administrar o
Estado: a administração patrimonialista, a administração pública burocrática e
a administração pública gerencial, que outros autores chamam de pós-burocrá-
tica. O autor tira o qualificativo de pública da administração patrimonialista,
pois esta não visaria o interesse público.
A administração patrimonialista era o modelo de administração própria
das monarquias absolutas, em que o patrim ônio do rei se confundia com o pa
trim ônio público. O Estado não era apenas o rei, como no célebre dito atribuído
a Luís XIV. O Estado era considerado propriedade do rei. O Tesouro Real seria o
tesouro público, num a clara confusão de público e privado. Uma visão religiosa
do exercício da autoridade real associava o rei, investido de poder pela provi
dência divina, à imagem de protetor e proprietário de seus súditos que deveriam
lealdade a ele, não à nação. O regicídio, ou qualquer ameaça ao poder do rei,
seria, nesse contexto, um sacrilégio.
Essa forma de administração transpôs-se, com algumas modificações, a
outros contextos. Associou-se, nas democracias representativas incipientes, ao
clientelismo e ao fisiologismo, mas com o seu amadurecimento, mostrou-se in
compatível com a lógica e as demandas de um a sociedade civil estruturada, ur
bana e um a economia de mercado. Em outro texto (1996, p. 4), Bresser-Pereira
procura esclarecer por que esse modelo de administração não convive com a
sociedade industrial moderna: “É essencial para o capitalismo”, escreve o autor
“a clara separação entre o Estado e o mercado; a democracia só pode existir
quando a sociedade civil, formada por cidadãos, distingue-se do Estado ao mes
mo tempo em que o controla”.
Nesse contexto, de forma progressiva, a evolução do capitalismo industrial
tende a tornar obsoleta e insustentável essa forma de administração e a buscar
a constituição de outra forma de administração pública que partisse de uma
separação entre o espaço púbüco e o privado (sem, contudo, eliminar a possibi
lidade de influências) e o domínio do político e do técnico. Trata-se da adminis
tração burocrática, associada ao tipo ideal de dominação racional-legal de Max
'3 2 '('"'Adm inistração P ública ’ ’ : TESEW EK”
boa parte das administrações públicas dos países da OCDE, agora mais com
plexas. Mas a necessidade de um novo modelo foi reforçada, segundo Bachir
Mazouz, Joseph Facal e Imad Hatimi (2007, p. 368), por alguns fatores, como:
• a Administração Colonial;
• o Brasil como sede do império português;
• o Império ( l e reinado, regências e 2fi reinado);
• a República Velha;
• o varguismo e a implantação da Reforma de 1936;
• o desenvolvimentismo e o início da Reforma do Ministério da Fazenda;
• o regime militar, o estatismo, a modernização e a Reforma de 1967;
• a democratização e o retorno ao formalismo;
• a reforma da Gestão Pública de 1995.
Em cada um desses períodos, embora traços gerais de uma das três formas
históricas de administração citadas tenham sido predominantes, outros ele
mentos importantes ou esforços de reforma merecem ser mencionados. E im
portante observar, igualmente, que as diferentes configurações foram influen
capitulo i : A A d m in is tra ç ã o H ú blica I 4T
ciadas pelo papel que o Estado brasileiro assumia no momento, pelos debates
presentes na sociedade e por modelos adotados em outros países e mesmo no
setor privado.
No período colonial, o patrimonialismo veio para o Brasil com os portu
gueses. Um sistema político-administrativo centrado na mistura entre público
e privado e na concessão de cargos em troca de lealdade política, amizade ou
interesses partilhados, como vimos anteriormente, vai marcar nossa incipiente
administração (Murilo de Carvalho, 2004, p. 27), num contexto em que a po
lítica econômica vigente, o mercantilismo, buscava nas colônias as condições
para obter uma balança comercial favorável, inicialmente pela busca de metais
preciosos (bem-sucedida apenas no século XVIII) e de pau-brasil.
A primeira expedição mais importante do ponto de vista da preservação do
território brasileiro foi a de Martim Afonso de Sousa, de 1530 a 1532, enviada
por Dom João III. Veio para combater os traficantes franceses, penetrar as terras
para procurar metais preciosos e estabelecer núcleos de povoamento no litoral.
Para tanto, M artim Afonso possuía amplos poderes. Designado capitão-mor da
esquadra e do território descoberto, deveria fundar núcleos de povoamento,
exercer justiça civil e criminal, tom ar posse das terras em nom e do rei, nomear
funcionários e distribuir sesm arias, lotes de terra para cultivo.
As capitanias hereditárias, um sistema de colonização e administração da
nova colônia, também criado por Dom João III, destinava vastos territórios a
nobres e amigos do rei, que passavam a ser chamados de donatários, represen
tantes da Coroa portuguesa em suas propriedades. Atendendo a um processo
de povoamento do território da colônia visando a evitar invasões externas, as
capitanias ainda serviram para o desenvolvimento da colonização no Brasil a
partir da associação entre o público e o privado. A doação de um a capitania era
feita através de dois documentos: a Carta de Doação e a Carta Foral. Pela Carta
de Doação, o donatário recebia a terra, podendo transmiti-la para seus filhos
mas não vendê-la. Recebia também uma sesmaria de dez léguas da costa. Devia
fundar vilas, construir engenhos, nomear funcionários e aplicar a justiça.
A Carta Foral tratava dos tributos a serem pagos pelos colonos. Definia ain
da o que pertencia à Coroa e ao donatário. Se descobertos metais e pedras pre
ciosas, 20% seriam da Coroa, e ao donatário caberiam 10% dos produtos do
solo. A Coroa detinha o monopólio do comércio do pau-brasil e de especiarias.
O donatário podia doar sesmarias aos que pudessem colonizá-las e defendê-las,
tornando-se assim colonos.
De fato, o sistema dificultou o acesso de franceses, holandeses e espanhóis
por um certo tempo, mas a colonização pretendida não ocorreu de forma ho
mogênea, tendo em vista a extensão territorial brasileira e a própria capacidade
mente bons quadros, podem ser algumas das ações relevantes para se dotar a
Administração Pública de um a cúpula apta a apoiar a tradução de programas
de governo em ações que promovam o» desenvolvimento sustentável do país.
Mas a adoção de princípios da administração burocrática não impede que esses
funcionários tenham metas claras de desempenho, possam dar voz ao cidadão
na elaboração, seleção e avaliação de projetos que consubstanciam as políti
cas públicas aprovadas pelo Legislativo, características mais associadas com a
administração gerencial;' Aliás, é do próprio Núcleo Estratégico que partem os
“contratos” que serão firmados com órgãos públicos os quais se responsabiliza
rão pela implantação das políticas, estejam eles associados ao setor de atividades
exclusivas de Estado ou ao setor de atividades não exclusivas.
As atividades exclusivas de Estado, por exigirem um trabalho menos asso
ciado à concepção e uma independência maior na sua condução, precisam se
estruturar em agências autônomas, profissionalizadas e dissociadas do proces
samento político das prioridades de governo. Tais agências, que podem se dedi
car a fiscalização, regulação, diplomacia, entre outras atividades, deveriam ser
formadas por funcionários de carreira, especializados na atividade da entidade.
Aqui também concursos anuais e salários competitivos ajudariam a trazer bons
profissionais e quebrar corporativismos negativos, por oxigenar a máquina p ú
blica. É um setor em que a administração burocrática fornece padrões im por
tantes para sua estruturação: códigos de conduta claros devem ser estabelecidos
em lei, como forma de controle do poder de pôlícia, e em que mecanismos de
seleção, evolução na carreira, movimentação de funcionários e demissão não
podem ficar ao arbítrio dos gerentes, por mais competentes que o sejam. A so
ciedade deve ser protegida de eventuais excessos do poder extroverso, e os fun
cionários, de perseguições políticas, devido à sua atuação em defesa de interes
ses mais permanentes de Estado.
No setor de atividades não exclusivas de Estado, ügadas à implementação de
políticas em áreas em que a sociedade civil acumulou experiências que possam
ser aproveitadas pelo setor público, abre-se um amplo terreno para parcerias.
Essas parcerias podem ocorrer com organizações sociais, entidades sem fins lu
crativos com as quais o Estado pode firmar um contrato de gestão e, assim, re
passar a gestão de atividades que demandem mais flexibilidade ou criatividade,
ou com empresas privadas, mediante parcerias público-privadas (PPP), nos ter
mos de recente lei federal (Lei Federal n2 11.079), que busca captar a capacidade
de investimento e gestão da iniciativa privada para empreendimentos públicos,
especialmente em infraestrutura.
Essas PPPs constituem espécies do gênero “concessão” e se dividem em pa
trocinadas e administrativas. Em ambas, o parceiro privado realiza investimen-
im iiio iid ^ctu ru u iiC d | àv
2.4.1. A República
A Proclamação da República trouxe modificações à máquina administrati
va, embora tenha preservado o mesmo modelo de administração patrimonialis-
ta, marcada pela troca de cargos e favores e lealdade política. Ainda no governo
provisório, foi decretado o federalismo e houve a transformação das antigas
províncias em “estados” de uma federação. Além disso, separou-se o Estado da
Igreja com o fim do padroado e a instituição do casamento e do registro civil.
A Constituição de 1891, que corfsagra o regime republicano, introduz ino
vações importantes na organização do Estado, na sua relação com o cidadão e
com a Administração Pública. A primeira delas é a federação. O Brasil já havia
dotado as antigas províncias e suas Assembleias Provinciais de alguma autono
mia, mas a Carta de 1891 consagra o federalismo, um pouco diferente do ameri
cano que a inspirou, por ter esse último modelo resultado da união de colônias
com estruturas de poder desvinculadas. No caso brasileiro, vínhamos de muitos
anos de Estado unitário e com o poder, no período do império, bastante cen
tralizado. Assim, o preceito estabelecido no primeiro artigo — de que “a nação
brasileira adota como forma de governo, sob regime representativo, a República
Federativa, (...), formada pela união perpétua e indissolúvel, das suas antigas
províncias, em Estados Unidos do Brasil” — significou um a descentralização
sem precedentes na nossa história. A Carta chegou, inclusive, a vedar o poder
central de intervir nos estados federados, listando poucas exceções. Por outro
lado, considerou hipóteses de trabalho conjunto entre União e estados.
O Poder Moderador deixou de existir. Foi adotado um sistema presiden
cialista, com independência dos poderes, reproduzido também nos estados fe
derados. Agora as antigas Assembleias Províncias tornam-se autônomas como
Assembleias Legislativas.
É mantido o bicameralismo do Legislativo Federal, exercido pelo Congresso
Nacional e formado pela Câmara de Deputados e pelo Senado. A Constituição
acabou com a eleição indireta, o voto censitário (embora tenha vedado o voto
dos mendigos), a escolha de senadores pelo imperador e sua vitaliciedade.
Por eleição direta também seriam escolhidos 0 presidente e o vice-presidente
da República. Tanto para essa eleição como para os membros do Congresso, o
corpo eleitoral é formado por brasileiros maiores de 21 anos, excetuados os anal
fabetos, os praças, os mendigos, as mulheres, os integrantes de ordens religiosas.
Essa forma de eleição só ocorreria três anos depois, e os dois primeiros presidentes
foram eleitos por sufrágio indireto (com Floriano Peixoto como vice-presidente e,
depois, frente à renúncia de Deodoro, assumindo até o final do mandato).
O Congresso manteve seu papel de fixação anual da despesa, agora feder
e o orçamento da receita, mas assumiu também um papel que antes cabia ao
Ministério da Fazenda, especificamente a tomada de contas da receita e despesa
de cada exercício financeiro. Isso resultou da instituição do Tribunal de Con
tas da União, como controle externo e braço do Legislativo Federal. Manteve
igualmente a prerrogativa de autorizar o governo a contrair empréstimos, mas,
T nsnvT E R - Tiap<tulo~2:“A‘Administraçáó"Pública i 49
Sua primeira tarefa foi justamente a revisão do PAEG, elaborada por Mario
Henrique Simonsen.
Em 1967, um projeto de nova Constituição foi aprovado peto Congresso,
transformado em Assembleia Constituinte em função de dispositivos do Ato
Institucional na 1. Suas principais disposições foram o fortalecimento do Exe
cutivo federal, que passava a ter a principal responsabilidade em relação ao or
çamento e à segurança, tornava a eleição de presidente indireta, através de um
Colégio Eleitoral integrado pelos membros do Congresso e de delegados das
Assembleias Legislativas, para um mandato de cinco anos, e a fragilização da fe
deração, com redução dos poderes dos governadores e Assembleias Legislativas.
Pela primeira vez, a Constituição se referia a Administração Direta e Indireta,
especificamente ao falar de orçamento, porém sem definir esses termos. Men
cionava, porém em vários artigos as autarquias, empresas públicas e sociedades
de economia mista. O capítulo do funcionalismo foi mantido praticamente o
mesmo da Constituição de 1946, mas há um reforço na exigência de concurso
público e na vinculação da estabilidade a esse instituto, decorridos dois anos. A
Constituição de 1967 recebeu em 1969 uma Emenda decretada pelos “Ministros
da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica Militar”, considerada por
especialistas, uma emenda à Constituição de 1967, uma nova Constituição. Bai
xada pela Junta Militar que assumiu o governo com a doença de Costa e Silva, a
Emenda Constitucional concentrou ainda mais o poder no Executivo, decretou
uma Lei de Segurança Nacional, uma Lei de Imprensa e a Censura.
... seja porque esta reforma tenha sido de iniciativa do regime militar que então dirigia
o país, seja porque faltavam-lhe alguns conceitos essenciais para uma reforma gerencial,
como os indicadores de desempenho e os contratos de gestão, seja porque não deu a
devida importância ao fortalecimento do núcleo estratégico do Estado, a reforma foi
anulada pelo novo regime democrático instalado no Brasil em 1985.
O
Estado brasileiro passou por duas grandes reformas administrativas — á
burocrática, iniciada em 1937, e a gerencial, que começa em 1995. A pri
meira ocorreu no primeiro governo Vargas, e teve como objetivo transformar a
administração pública brasileira, que até então era patrimonial, em um serviço
público profissional. Já a segunda reforma teve início no últim o quartel do sé
culo XX, e seu objetivo foi e continua sendo tornar os grandes serviços sociais
do Estado mais eficientes. Ao começar a reforma gerencial menos de dez anos
depois de ela haver sido iniciada na Grã-Bretanha, o Brasil antecipou-se inclu
sive aos três países desenvolvidos que haviam realizado reformas burocráticas
mais profundas, mais'weberianas': a França, a Alem anha e o Japão.
A Reforma Gerencial de 1995, como as demais reformas dessa natureza,
respondeu ao grande aum ento do tam anho do Estado que implicou sua trans
formação em um Estado Social; ao to m ar a administração pública ou a organi
zação do Estado mais eficiente, legitimou os grandes serviços sociais de educa
ção, saúde, previdência e assistência social que, a partir da Revolução de 1930
e da transição democrática de 1985, resultaram na transformação do regime
político de oligárquico-liberal brasileiro em um regime democrático e social:
Entre os países em desenvolvimento, o Brasil foi o primeiro a iniciar uma
reforma gerencial. Fui diretam ente responsável pela iniciativa, mas esta cou
be tam bém ao presidente Fernando Henrique Cardoso, que, diante da minha
manifestação de interesse em dirigir a Secretaria da Administração Federal,
a transformou em Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado.
Treze anos depois, a reforma continua a se realizar em todo o país nas esferas
federal, estadual e municipal. Os princípios mais gerais da reforma e as formas
de colocá-los em prática não estão mais restritos a um pequeno grupo de ini
ciadores, mas são patrimônio intelectual comum da alta burocracia pública bra
sileira e dos seus consultores administrativos. Hoje, quando no Brasil se pensa
74
em reforma administrativa, quando se busca tornar o aparelho do Estado mais
eficiente, mais capaz de prestar ou financiar serviços sociais, culturais e cientí
ficos com baixo custo e boa qualidade, pensa-se em reforma gerencial ou da
gestão pública.
Desde 1995, a Reforma Gerencial fez importantes avanços, mas natural
mente não transformou do dia para a noite a organização do Êstado brasilei
ro; uma reforma desse tipo dem ora 30 a 40 anos para poder ser julgada rela
tivam ente completa. Já não é mais apenas um a reforma de uma pessoa ou de
um governo, mas uma reforma adotada e conduzida pela altat administração
pública — uma reforma que começou no governo Fernando Henrique, está
sendo continuada e atualizada pelo governo Lula e os atuais governadores, e
certamente terá prosseguimento independentem ente de quem sejam seus su
cessores. Além de as práticas gerenciais continuarem a se expandir no governo
federal, estão sendo criadas organizações sociais.
Diante do quase consenso positivo em rélàção à reforma, é.comum.que mé
façam perguntas como: por que decidiu iniciara reforma? Foi iniciativa sua, do
governo, ou teria sido iniciativa do Banco M undial/que era o principal respon
sável pelas reformas neoliberais nos anosr1990? Nelà, o quefoi mais importante
— a Emenda Constitucional 19 (aprovada em}1998).ou o PIano Biretorda Refor-
ma do Aparelho do Estado (1995)?Afinal~>erabu nãoíuma reforma neoliberal?
Quais foram os principais obstáculos cjue,yocê encontrou?, Você seguiu algurha
estratégia política fundam ental para levá-la !a-bom termo? Fòuela*bem-suce
dida? Ou, se não foi, por que as pessoascontinuam sempre a*fálar*nela,- não ‘
obstante já tenham passado mais de nove anos desde que você saiù do Mare
(Ministério da Administração Pública e Reforma do Estado) é'estefo i extinto?
Nesta pequena história respondo a algumas dessas perguntas. * L ^
Tive várias experiências na vida pública, mas meu trabalho nolMare, entre
1995 e 1998, foi aquele que me deu mais satisfação, porque a réforma gerencial
do Estado então iniciada foi bem-sucedida no plano institucional,-ao aprovar
uma em enda constitucional e algumas leis básicas, no plano cultural, âo ganhar
o coração e as mentes da alta administração pública brasileira, erio>plano da
gestão, porque continua a ser realizada na esfera federal, e, com avanços ainda
maiores nas esferas estadual e municipal. Vários serviços que utilizam os princí:
pios gerenciais da administração pública revelam substancial aurhentódé efici
ência e de qualidade. Finalmente, voltando ao plano cultural, porque a opinião
pública, que apoiou a reforma enquanto ela era discutida em âm bito nacional
entre 1995 e 1998, a mantém na memória como algo im portante e positivo que
ocorreu então para o país.
Além de ajudar a iniciar e definir a reforma gerencial, um a das tarefas à
qual mais me em penhei foi a de valorizar as carreiras de Estado e garantir a elas
suprimento regular de pessoal de altq. nível. Para isso, terminei com a prática
absurda da realização de grandes concursos públicos sem qualquer rotina, im
previsíveis para os que desejavam prestá-los, seguida pela convocação dos can
didatos aprovados através dos anos, na medida em que se abriam vagas. Em vez
disso, logrei transformarem rotina anual os concursos públicos para as carreiras
de Estado. Os concursos deixaram de ser de habilitação, de maneira que em ca
da um passaram a ser considerados aprovados apenas um número limitado de
melhores candidatos — o que permitiu que os jovens brasileiros interessados
em servir o governo federal pudessem, a partir de então, planejar sua vida pes
soal desde a universidade. Hoje, depois de muitos concursos geralmente anuais
em todas as carreiras de Estado, o governo federal conta com um bom número
de burocratas públicos de alta qualidade. Diante dessa minha iniciativa, para a
qual contei com a colaboração decisiva de minha secretária executiva, Claudia
Costin, algumas pessoas me perguntaram se essas medidas não eram parte da
reforma burocrática. Minha resposta foi sempre muito simples: a administração
gerencial só pode ser realizada com bons administradores, para a qual eles são
até mais importantes que para a administração burocrática, já que se atribui a
eles mais autonomia e mais responsabilidades e se espera deles boas decisões.
Sempre entendi que o serviço público é uma tarefa republicana que envolve
virtude e espírito público. Não faz sentido entrar para a vida pública para aten
der principalmente a seus interesses pessoais. No caso da Reforma Gerencial de
1995, vários amigos e conhecidos alertaram-me que era arriscado iniciar uma re
forma administrativa tão ampla porque, ainda que ela beneficiasse a maioria dos
servidores, seria sempre prejudicial a um número de servidores suficientemente
grande para que se organizassem contra ela. Estava, porém, convencido de que
a administração pública brasileira necessitava uma ampla reforma, e estava dis
posto a assumir a responsabilidade pela iniciativa. Na primeira reunião que tive
com o presidente, alguns dias antes de começar o novo governo, disse a ele que
planejava realizar essa reforma, da qual deveria constar em enda constitucional
definindo de maneira mais flexível a estabilidade dos servidores porque entendia
a absoluta estabilidade existente no Brasil incompatível com uma administração
moderna. Fernando Henrique observou que essa reforma não estava na agenda,
que não fizera parte dos compromissos de sua campanha. Não me impediu, en
tretanto, de dar os primeiros passos em direção a ela, deixando apenas claro que
a decisão de apresentar uma emenda constitucional deveria aguardar o tem po
necessário para saber se haveria suficiente apoio político para ela ou não.
JSíJ' L1L5ÜV1ÜK reqüênà nistona aa retorma gerencial de lyyb / Luiz Larlos tifessêr-Peréira' l"7 7
3
Os impostos e a
administração tributária
í.
81
82 I Actmmistraçao ruui/cd
Ú'
Ff
ii
tróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados e álcool etílico d
combustível. O produto da arrecadação da Cide financia o pagamento
de subsídios a preços ou transporte de álcool combustível, de gás na- j
tural e seus derivados e de derivados de petróleo; projetos ambientais l
relacionados com a indústria do petróleo e do gás; e programas de í]
infraestrutura de transportes. >
!
d) empréstimos compulsórios — A União poderá criar, através de lei com-
♦ m
plementar, empréstimos compulsórios para atender despesas extraordi-
nárias decorrentes de calamidade pública, guerra externa ou sua im inên
cia, caso em que ocorre um a exceção ao princípio da anterioridade (que
será explicado logo em seguida), pois pode ser cobrado no mesmo exer
cício financeiro em que for publicada a lei que o instituiu; ou no caso de
investimento público de caráter urgente e de relevante interesse, em que
deve ser obedecido o princípio da anterioridade. Esse tributo é associado
a um a despesa pública específica, como no caso das taxas e contribuições.
Diz-se, portanto, vinculado.
Estados:
a) impostos
• ICMS — Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
• IPVA — Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores
• ITCMD — Imposto sobre Transmissões Causa Mortis e Doações de
qualquer bem ou direito
b)taxas
• Taxa de incêndio (em Minas Gerais, é devida somente por contribuin
tes de classe não residencial (edificações utilizadas para prestação de
serviços, comércio e indústria). Os recursos arrecadados são destina
dos ao Corpo de Bombeiros.
• Taxa de controle e fiscalização ambiental estadual (cobrada de con
tribuintes que se dedicam a atividades potencialmente poluidoras e à
extração, à produção, ao transporte e à comercialização de produtos
potencialmente perigosos ao meio ambiente para financiar o exercício
regular do poder de polícia conferido a órgãos públicos estaduais). I] I
• Taxa Florestal j,;
i
I-
Municípios: j,
a) impostos jp
• IPTU — Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana Í,J;
S E V IE ir Capitulo 3: Us impostos e"a'administração tributária- | 8 5 '
que trouxe o Ministério da Fazenda para o convívio com a moderna tecnologia admi
nistrativa, tributária e fiscal. Seu impacto, inspirando reforma da própria constituição
da República, que consagra a nova sistemática tributária nacional, concebida pela refor
ma, teve efeitos até sobre a mentalidade do cidadão brasileiro que, habituado tradicio
nalmente a considerar normal que o contribuinte lese o fisco, está sendo cada vez mais
levado a prestar informações fidedignas ao Tesouro Nacional.
O orçamento e as
finanças públicas
• estabelece todas as despesas que poderão ser feitas pelo poder público,
com base num a estimativa de receita;
• envolve um relacionamento técnico e político relevante entre o Executivo
e o Legislativo para sua elaboração, aprovação e para o controle de sua
execução.
No primeiro sentido, o orçamento ganha relevância, pois nada pode ser fei
to que envolva dispêndios, por nenhum dos três poderes, sem que esteja pre
viamente estabelecido no orçamento. Trata-se, na verdade, do plano do governo
(para o ano ou período), expresso em dinheiro e, eventualmente, tam bém em
unidades físicas.
Para saber o quanto se pode gastar, é fundamental estimar as receitas com
que o Estado poderá contar, especialmente as provenientes de tributos. Erros
nessa previsão justificam posteriormente a redução do valor liberado pelo Te-
souro para a realização das despesas fixadas no Orçamento ou mesmo a não
realização de algumas delas.
O segundo sentido, na verdade reflexo de um a evolução na prática orçamen
tária, envolve, num a democracia, o direito do cidadão de participar na definição
de como se gastar o dinheiro da coletividade, recolhido na forma de tributos,
entre diferentes opções de programas ou atividades. Numa democracia repre
sentativa, os parlamentares representam os contribuintes nessa escolha e terão a
chance de avaliar se o orçamento proposto pelo Executivo atende às suas expec
tativas. Observe que se trata de uma segunda avaliação dos cidadãos. A primeira
foi no processo eleitoral, ao escolher o melhor candidato, idealmente, a partir de
um programa de governo. Agora, o representante escolhido também pelo cida
dão julga se suas prioridades estão refletidas no orçamento enviado ainda como
proposta pelo governante eleito. Mas a participação do Legislativo não para aí.
Ele também controlará, por meio de tribunal especializado (no caso brasileiro, o
Tribunal de Contas da União, dos estados e, em alguns casos, dos municípios), a
execução do orçamento, ou seja, como essas despesas foram realizadas.
O orçamento é, assim, um documento legal que prevê a receita e fixa a des
pesa, “de form a a evidenciar a política econômica financeira e o programa de
trabalho do governo”, segundo a Lei 4.320, que instituiu no Brasil normas para
a elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos estados, dos
municípios e do Distrito Federal. A lei, escrita no período autoritário, não res
salta a finalidade dessa disponibilização de informações, mas o que se deriva da
definição legal são três dimensões importantes:
“é objeto de intensa disputa entre os partidos e, dentro das bancadas, entre os parlamen
tares, já que existe a clara percepção de que a participação na Comissão é uma forma
importante de influenciar a destinação de recursos para seus redutos eleitorais.”
o principal problema enfrentado pelo PPA é que ele constitui, grosso modo, uma de
claração de intenções do governo quanto aos investimentos a serem realizados nos pró
ximos anos. Contudo, como os investimentos têm sido a rubrica mais sacrificada pelo
esforço de ajuste fiscal, pouco do que está ali previsto se executa.
Assim, acaba não servindo para estruturar a ação do governo nem os parla
mentares podem m ostrar a seus eleitores seu empenho em fazer aprovar obras
ou programas em suas áreas de atuação, neste plano de médio prazo. Mesmo
assim, há um empenho im portante da equipe do Ministério do Planejamento
em tornar o plano realidade.
Mas o PPA tem trazido ao processo de planejamento governamental a gran
de oportunidade de inovar na direção 3e organizar a ação do governo em pro
gramas passíveis de acompanhamento pela sociedade e de gestão estruturada
pelos ministérios e por gestores de ações intersetoriais, com metas claras e prio
ridades bem definidas (e, nos últimos governos, compatíveis com as prioridades
que os governantes colocaram em documentos como Avança Brasil, Brasil em
Ação ou PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] e, em certa medida,
puseram em ação mesmo em situações de crise).
De acordo com o Plano de Gestão do PPA 2004-2007 (2004, p. 13):
1 ‘ Elaboração*^
H
ApreibiaçãoV. ^
adequação da LDO^ apresentação d a .L O A . .^adéqDaJ®J^lToXf.
' pe]o|Législátivo pelo Executivo . í . J pélS Leg isíãtivo^ JlJ 1,
Parecer P r e l im in a r
O parlamentar designado para ser o relator do projeto de plano pluriãnual
(PPPA) deve, primeiramente, elaborar Relatório Preliminar sobre o projeto, o
qual, aprovado pela CMO, passa a denominar-se Parecer Preliminar. Esse pa
recer estabelece regras e parâmetros a serem observados quando da análise e
apreciação do projeto, tais como: i) condições para o remanejamento e cance
lamento de valores financeiros constantes do projeto; ii) critérios para alocação
de eventuais recursos adicionais decorrentes da reestimativa das receitas; e iii)
orientações sobre apresentação e apreciação de emendas.
A CMO pode tam bém realizar audiências públicas regionais para debater
o projeto.
Ao relatório preliminar podem ser apresentadas emendas por parlamenta
res, Comissões Permanentes da Câmara e do Senado e Bancadas Estaduais.
A presentação de Em e n d a s
Após aprovado o parecer preliminar, abre-se prazo para a apresentação de
emendas ao projeto de plano plurianual, com vistas a inserir, suprimir, subs
tituir ou modificar dispositivos constantes do projeto. Ao projeto podem ser
apresentadas até dez emendas por parlamentar, até cinco emendas por Comis
são Permanente da Câmara e do Senado e até cinco emendas por Bancada Esta
dual. As emendas são apresentadas perante a CMO, que sobre elas emite parecer
conclusivo e final, o qual somente poderá ser modificado mediante a aprovação
de destaque no Plenário do Congresso ííacional.
R e l a t ó r io
O relator deve analisar o projeto de plano plurianual e as emendas apresen
tadas, tendo como orientação as regras estabelecidas no Parecer Preliminar, e
formalizar, em relatório,’as razões pelas quais acolhe ou rejeita as emendas. De
ve também justificar quaisquer outras alterações que tenham sido introduzidas
no texto do projeto de lei. O produto final desse trabalho, contendo as alterações
propostas ao texto do PPPA, decorrentes das emendas acolhidas pelo relator e
das por ele apresentadas, constitui a proposta de substitutivo. O relatório e a
proposta de substitutivo são discutidos e votados no Plenário da CMO, sendo
necessária para aprová-los a manifestação favorável da maioria dos membros de
cada um a das Casas que integram a CMO. O relatório aprovado em definitivo
pela Comissão constitui o parecer da CMO, o qual será encaminhado à Secreta
ria Geral da Mesa do Congresso Nacional, para ser submetido à deliberação das
duas Casas, em sessão conjunta.
A u t ó g r a f o e L eis
Após aprovado, o parecer da CMO é submetido à discussão e votação no
Plenário do Congresso Nacional. Os Congressistas podem solicitar destaque pa
ra a votação em separado de emendas, com o objetivo de modificar os pareceres
aprovados na CMO. Esse requerimento deve ser assinado por um décimo dos
congressistas e apresentado à Mesa do Congresso Nacional até o dia anterior
ao estabelecido para discussão da matéria no Plenário do Congresso Nacional.
Concluída a votação, a matéria é devolvida à CMO para a redação final. Recebe
o nom e de Autógrafo o texto do projeto ou do substitutivo aprovado definiti
vamente em sua redação final assinado pelo Presidente do Congresso, que será
enviado à Casa Civil da Presidência da República para sanção.
O Presidente da República pode vetar o autógrafo, total ou parcialmente, no
prazo de 15 dias úteis contados da data do recebimento. Nesse caso, comunicará ao
Presidente do Senado os motivos do veto. A parte não vetada é publicada no Diário
Oficial da União como lei. O veto deve ser apreciado pelo Congresso Nacional.
4.4.2. LDO
P rojeto de L ei
P arecer P r e l im in a r
Em e n d a s
Após aprovado o parecer preliminar, abre-se o prazo para a apresentação
de emendas. Cada parlamentar, Comissão Permanente do Senado Federal e da
Câmara de Deputados e Bancada Estadual do Congresso Nacional podem apre
sentar até cinco emendas ao anexo de metas e prioridades. Ao texto do projeto
de lei, as emendas são ilimitadas. As emendas são apresentadas perante a CMO,
que sobre elas emitirá parecer conclusivo, que somente poderá ser modificado
mediante aprovação de destaque no Plenário do Congresso Nacional.
R e l a t ó r io
O relator deve analisar o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as emen
das apresentadas, com base no parecer preliminar. Deve evidenciar, no relatório,
por que acolhe ou rejeita as emendas e justificar quaisquer outras alterações in
troduzidas no projeto de lei. O produto final deste trabalho, contendo as emen
das e alterações introduzidas, constitui a proposta de substitutivo. O relatório e
TT2 T Adm inistração Pública ELSEVIER
A u t ó g r a f o e L eis
R e l a t ó r io d a R eceita
É nomeado um relator da receita que, com o auxílio do Comitê da Recei
ta da CMO, analisa a previsão de receita do Executivo. O objetivo é verificar
se o montante-estipulado é compatível com os parâmetros econômicos para o
ano seguinte. Caso encontre algum erro, a CMO pode propor nova estimativa.
ET-SEVIER Capítulo 4: O orçamento e as finanças públicas I 113
P arecer P r e l im in a r
É designado um relator geral do projeto de lei que deverá elaborar um rela
tório preliminar contendo os parâmetros e critérios a serem obedecidos na apre
sentação de emendas e na elaboração do relatório pelo relator geral e pelos relato
res setoriais. O relatório preliminar é composto de duas partes. A primeira, geral,
contém as metas fiscais, um exame de compatibilidade com o PPA, a LDO e a Lei
de Responsabilidade Fiscal, avaliação das despesas por áreas temáticas, entre ou
tros temas. A segunda parte, especial, inclui as regras para a atuação dos relatores
setoriais e geral e as orientações específicas referentes às emendas. Define também
a composição da reserva de recursos a ser utilizada para o atendimento das emen
das apresentadas. Ao relatório preliminar podem ser apresentadas emendas.
Em e n d a s
As emendas à despesa podem ser de remanejamento, de apropriação ou de
cancelamento. A emenda de remanejamento é aquela que propõe acréscimo ou
inclusão de dotações e, simultaneamente, como fonte de recursos, a anulação
equivalente de outras dotações, exceto a de Reserva de Contingência. A emenda
de apropriação é a que propõe acréscimo ou inclusão de dotações e, simultanea
mente, como fonte de recursos, a anulação equivalente de recursos da Reserva
de Recursos ou outras dotações definidas no Parecer Preliminar. Emenda de
cancelamento é aquela que reduz simplesmente dotações existentes no projeto.
A emenda proposta somente será aprovada se:
C ic l o S eto r ia l
C ic l o G eral
Após a aprovação dos relatórios setoriais, é tarefa do Relator Geral compilar
as decisões setoriais em um único documento, chamado Relatório Geral, que
será submetido à CMO. O papel do relator geral é verificar a constitucionali-
dade e legalidade das alocações de recursos e zelar pelo equilíbrio regional da
distribuição realizada.
No relatório geral, assim como nos setoriais, são analisados a compatibilida
de do projeto com o PPA, a LDO e a Lei de Responsabilidade Fiscal, a execução
orçamentária recente e os efeitos dos créditos adicionais dos últimos quatro m e
ses. Os critérios utilizados pelo relator na distribuição dos recursos e as medi
das adotadas quanto às obras e serviços com indícios de irregularidades graves
apontadas pelo TCU tam bém devem constar do relatório.
Integram ainda o Relatório Geral os relatórios dos Comitês Permanentes e
daqueles constituídos para assessorar o relator geral.
As emendas ao texto e as de cancelamento são analisadas exclusivamente
pelo relator geral, que sobre elas emite parecer.
A apreciação do Relatório Geral, na CMO, somente terá início após a apro
vação, pelo Congresso Nacional, do projeto de plano plurianual ou de projeto
de lei que o revise.
O Relatório Geral é lido, discutido e votado no plenário da CMO. Os Con
gressistas podem solicitar destaque para a votação em separado de emendas,
com o objetivo de modificar os pareceres propostos pelo Relator.
O relatório aprovado em definitivo pela Comissão constitui o parecer da
CMO, o qual será encaminhado à secretaria geral da mesa do Congresso Nacio
nal, para ser submetido à deliberação das duas Casas, em sessão conjunta.
A u t ó g r a f o e L eis
NFSP= CSP+JSP+ISP- T
Onde CSP é o consumo do setor público, JSP, os juros da dívida, ISP, o inves
timento e T, a receita tributária. Ou seja, consiste na diferença entre as despesas
do setor público e suas receitas. Esse é o valor da variação do endividamento
(soma-se ou, eventualmente, subtrai-se do valor da dívida já existente).
As necessidades de financiamento são apuradas nos três níveis de governo,
federal, estadual e municipal. No nível federal, as NFSP são apuradas separa
damente pelos orçamentos fiscal e da seguridade social e pelo orçamento de
investimentos. O resultado dos dois primeiros orçamentos é chamado de “Ne
cessidades de Financiamento do Governo Central”, enquanto o resultado do
orçamento de investimentos recebe o nom e de “Necessidades de Financiamento
das Empresas Estatais”.
A Lei de Responsabilidade Fiscal determina que seja apurado o resultado
fiscal, segundo dois conceitos (fonte: Ministério do Planejamento, Orçamento e
Gestão-Sistema Orçamentário):
I. RECEITA TOTAL
1.1. Receitas do Tesouro
1.1.1. Receita Bruta
1.1.2. (-) Restituições
1.1.3. (-) Incentivos Fiscais
1.2. Receitas da Previdência Social
1.3. Receitas do Banco Central
II. TRANSFERÊNCIAS A ESTADOS E MUNICÍPIOS
III. RECEITA LlQUIDA TOTAL (I-II)
IV. DESPESA TOTAL
IV. 1. Despesas do Tesouro
IV. 1.1. Pessoal e Encargos Sociais
IV. 1.2. Custeio e Capital
IV. 1.2.1. Despesa dò FAT
IV. 1.2.2. Subsídios e Subvenções Econômicas
IV.1.2.3. Benefícios Assistenciais (LOAS/RMV)
IV. 1.2.4. Outras Despesas de Custeio e Capital
IV. 1.2.4.1. Outras Despesas de Custeio
IV. 1.2.4.2. Outras Despesas de Capital
IV. 1.3. Transferência do Tesouro ao Banco Central
IV.2. Despesas da Previdência Social (Benefícios)
IV.3. Despesas do Banco Central
V. RESULTADO PRIMÁRIO GOVERNO CENTRAL (III - IV)
V.l. Tesouro Nacional
V.2. Previdência Social (RGPS)
V.3. Banco Central
VI. RESULTADO PRIMÁRIO/PIB
uma vez que essa dívida geralmente é paga em moeda estrangeira que o país
obtém através de saldos comerciais com o exterior ou através de novos emprés
timos em moeda forte.
Para avaliar a capacidade de pagar a dívida, utiliza-se, especialmente no ca
so de países emergentes, a relação dívida/PIB. Observa-se também o perfil da
dívida (interna ou externa, mais concentrada em curto prazo ou longo pra
zo, indexada a moeda nacional ou estrangeira e indexador utilizado). Na seção
seguinte, referente à evolução histórica do orçamento e acompanhamento das
Finanças Públicas no Brasil, comentaremos sobre a evolução da dívida interna
e externa brasileiras.
A lei de orçamento não conterá dispositivo estranho à receita prevista e à despesa fixada
para os serviços anteriormente criados. Não se incluem nesta proibição:
a) a autorização para abertura de créditos suplementares e operações de créditos por
antecipação de receita;
b) a aplicação de saldo, ou o modo de cobrir o déficit.
A conta nivelava diariamente os desequilíbrios entre ativos e passivos do BB. Por exem
plo, se o banco fizesse empréstimos de um bilhão de cruzeiros e não captasse nem um
tostão, no fim do dia a conta apresentaria um saldo credor do mesmo valor no balancete
do BB. Criou-se a rosca sem fim das autoridades monetárias (depois o esquema seria
estendido para a área de fomento do BB).
128 I Administração Pública ELSEVIER
com essa redação exaustiva, o parágrafo 1“ acabou, praticamente, com qualquer possi
bilidade de que emendas importantes fossem propostas em âmbito legislativo. O papel
desse Poder passou a ser o de aprovar o projeto de lei oriundo do Executivo, já que a
hipótese de rejeição era impossível de ser considerada, pois o governo não teria como
iniciar seu exercício financeiro sem um orçamento como guia.
elevada inflação brasileira tornava pouco prático e mesmo distorcido o uso das
Necessidades de Financiamento do Setor Público (NFSP) pelo critério nominal
(Despesas - Receitas, sem expurgar a inflação). Como resultado dessas negocia
ções, relatam Fábio Giambiagi e Ana Cláudia Além (2000, p. 131), passaram a
ser divulgados simultaneamente o resultado nom inal com o operacional (com
expurgo da inflação), ficando esse último como indicador do desempenho da
política fiscal.
Em 1986, extinguiu-se a conta movimento. Desde 1983 tentava-se fazê-lo.
Maílson da Nóbrega coordenou um grupo que deveria propor mudanças para
aperfeiçoar institucionalmente as finanças públicas e o sistema financeiro no
Brasil. Propôs, junto com outros técnicos, acabar com esse mecanismo provisó
rio, mas que se mantivera por duas décadas, acumulando distorções. Nessa pri
meira tentativa de extinção, as motivações eram claras. Segundo Gilda Portugal
Gouvêa (1994, p. 227-228), o Palácio do Planalto, então ocupado por Figueire
do, queria evitar que o novo governo, que deveria ser ocupado por Tancredo,
dispusesse dos mesmos recursos dos militares, sem necessitar prestar contas
de sua aplicação. No mesmo sentido, os técnicos que integravam a Comissão
de Reordenamento das Finanças Públicas tem iam que, nas palavras da autora,
“com a maior participação do Congresso nas decisões de Governo, as pressões
clientelistas acabassem saindo vencedoras nas decisões das autoridades mone
tárias. A forma de ter-se um antídoto para essa situação era abrir as contas do
governo para a sociedade via Congresso Nacional”.
Mas a proposta encontrou resistências corporativistas. As propostas, embo
ra aprovadas pelo Conselho M onetário Nacional (CMN), foram rejeitadas por
liminar na justiça. Dois anos depois, com a redemocratização, o clima adequa
do estava criado para a proposta. Preparava-se o Plano Cruzado, e decidiram
incluir medidas na área fiscal. O relato de Maílson (2004), em tom informal,
esclarece como iniciou a revolução institucional que resultou num a profunda
transformação da gestão das finanças públicas.
Pediram ao João Batista Abreu, então secretário geral do Ministério da Fazenda (e de
pois ministro do Planejamento) para estudar o que fazer. O João tinha sido o vice-pre
sidente daquela comissão que eu presidia. A resposta óbvia foi “está tudo pronto. Basta
desarquivar”. E foi o que se fez. O processo voltou ao CMN, que aprovou o fim da conta
(...) Dílson Funaro enfrentou uma rebelião de funcionários do BB em memorável reu
nião no auditório do ministério. A extinção da “conta de movimento” foi o primeiro de
uma série de passos previstos no relatório: criaçáo da Secretaria do Tesouro Nacional
(que absorveria as funções de execução orçamentária a cargo de um departamento do
BB), extinção das funções do fomento do Banco Central e do Orçamento Monetário,
transferência para o Congresso Nacional da competência para autorizar a expansão da
130 I A dm inistração Pública ELSEVIER
Por outro lado, um país com os desafios complexos como os nossos deve ar
ticular ações desenvolvidas em vários níveis e criar algumas soluções nacionais
a problemas, especialmente no que se refere a desigualdades regionais e sociais.
“O estabelecimento de padrões nacionais”, esclarece Abrúcio (2003, p. 236):
é fundamental para aumentar a esperança por maior simetria entre os atores, especial-
mente quando a situação federativa for marcada por um alto grau de desigualdade, seja f'
socioeconômica, política ou cultural (étnica ou religiosa). Nesse aspecto, está em jogo o *j_
equilíbrio entre a garantia dos direitos dos pactuantes e a criação de respostas nacionais %
à heterogeneidade, sendo estas últimas, muitas vezes, as responsáveis pela manifestação
política autônoma dos entes mais fracos na balança federativa de poder. f>
O segundo período, de 1999 a 2002, foi marcado pelo ajuste fiscal e pela
aprovação de algumas reformas estruturais de importância para as contas pú
blicas. O ano de 1999, em que se vivia ainda o impacto das crises asiáticas e russa
e do calote da dívida de Minas Gerais (na prática de pouco efeito fiscal, mas de
efeito devastador na imagem do país, levando à perda de mais de U$ 1 bilhão/dia
de reservas), o Brasil concluiu negociações com o FMI para obtenção de um
pacote emergencial que tirasse o país da situação de risco. O ato desastroso de
Itamar Franco obrigou o Brasil a deixar o câmbio flutuar e, assim, promover
uma maxidesvalorização do real, o que agravou a situação da dívida externa.
Mas o acordo com o FMI, com metas ousadas de superávit primário para
o setor público, fez o governo cortar gastos de forma importante, pela primeira
vez. E isso sem descontinuar importantes programas sociais. Ao mesmo tempo,
as condições para a aprovação, nos anos seguintes da Lei de Responsabilidade
Fiscal, estavam dadas. Menos favorável, contudo, foi o clima para mudanças mais
profundas na Previdência, embora medidas pontuais tenham sido adotadas.
O ano de 2002 foi marcado novamente por uma forte instabilidade, desta
vez resultante de um temor do mercado acerca da política econômica do futu-
136 i Administração Pública -tUaüEVlüK
Esse algo de novo , que era o cum prim ento dás decisões tornadas por uma
, . . . , .
base social pobre e mobilizada, somada a transparência nas informações; come-
çou a formar um novo imaginario;populârlNatbènferia oaxidadefas lideranças
. ., u /..
mais identificadas com o clientelismo"e eorime*ercicio:de;influendiatpessoâis,
- t. . ...» m . ; ■.
ou foram ficando sem audiência o uío m eçaram la mudaiKseu®ompoi;tamento.‘ |
. . . . , „ . *
Ao longo da implantaçao;doiOrçamenfolRarticipativcffoigoverno'sfezíum
esforço perm anente para deixarfclarolqu & n tlwdisGriminavaaffbresencafde'
qualquer cidadao. Nem porconViGçoeSiideAsiÈasinemípsSeornpnomissos de>
natureza partidária. Sempre fi cavai re ité r a l õ ^ f e o i p rocessòífe ralufrifp rot es so í I
. . „ . ...-.-a«*- ‘ ?•*. v |? a íá « |,í
aberto, que todos eram ig u a is .p e ja n te s p a ^ S I^ ^ K e w â o & tó rg e M y te m e n -/,-;
te a sua influência e lutar p e lò f jíw est]nnf|
isso, bastava que mostrassem a participaç
processos decisórios.
*• * “com o governo, por m eiô d e reuniões com o as dos fóruns d ê serviços, qu e tratam d a 9?“1
, + 'cQÓservação e da m anutenção. Ao longo d o te m p o , fom os assum indo papéÍS|àlém ^
' -das-questões apenas de orçam ento. O CROP passou a ser um "centro adm inistrativo#
ELSEVIER Orçamento Participativo: a experiência de Porto Alegre/Tarso Genro I 143
ticas airída inéditas, reúne m ilh a res d e pessoas; ocorre na cidade sede das em presasr
"" -;v ' :>
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jornalísticásf(não gerando, poi tantoícustos" extraordinariosf de- cobertu ra),itêm im -# • 1
â í. •; * ’„ f “! -y «
portância social p e rió d jc áe publicam ente confirm ada, ja foi noticiado pela im prensa h
;do eixo Rio*—-"’São Paulo è d e outras regiões,íteve estem reconhecim ento e repèr- '
cussão internacionais e diz respeito ao 'co tid ia n o 'd e m ilhares d e porto-alegrenses
... . j. <Á . V Z1
(justificando, sé necessário fosse, suainserção.no n ó tic iario lo cal):S e tais evidências - 1
sociais fossem ainda insuficientes para justificar a atenção das em presas jornalísticas,-
i „* '1, \ l * '■ -■
’ é ''
se podéria dizer q u e o O rçam en to Participativo oferece cenas singularm ente pitores- »
I debates estim ulados pelo O rçam ento Participafivò estão ,dé'ácordo com a índole<e
bL StíV ltíK Orçamento Participativo: a experiência de Porto Alegre/Tarso Genro | 147
oito anos, qualquer jornalista deve ta m b ém perguntar se seus colegas não tiveram
estarão, nos últim os tem pos, caudatários'de um a visão social simplificada e niilista?
Não estarão cativos d e um a postura que privilegia a denúncia com o a prática que dá
significado às suas trabalhosas vidas profissjohais? Em que m edida foi percebido, de
fato, o significado político e social d o Orçam ento Participativo? Por certo, um debate
o cerco im postò pelas empresas d e comunicação. Pois, entre os m uitos motivos que
elas possuem para desrespeitar, cotidianam ente às regras do b om jornalism o e o pú*
-A
j
Capítulo
s
As relações de trabalho
no setor público
Por essas razões, alguns cuidados têm sido historicamente adotados no recru
tamento, seleção e na gestão da carreira desses profissionais. Tais cuidados estão
associados aos diferentes modelos de Administração Pública (ver Capítulo 2). '
Na transição da administração pública patrimonialista para a burocrática,
por exemplo, houve uni grande esforço no sentido de se eliminar o conteúdo ■
subjetivo na seleção de pessoas para ocuparem cargos públicos e na evolução na -
carreira. A ideia era que, se funcionários leais podem ser usados por políticos Ç-
clientelistas como recurso de poder ou de ampliação de espaço, seria fundamen- |í
tal se estabelecerem regras e controles rígidos que tornassem quase impossível a l|
captura fisiológica da máquina. g p |f
Por conta disso, apareceu a proposta de concursos públicos que contivessem
provas escritas e a exigência de diplomas e certificados para atestar escolaridade bhé
e aptidão para o desempenho de determinadas funções, a exigência de tempo de ■-
serviço para evolução na carreira (critério evidentemente desprovido de caráter
subjetivo) e a estabilidade do funcionário público, para se evitarem demissões f.'\ ’
de caráter político. Na mesma direção, a percepção de que algumas categorias
de funcionários podem eventualmente contrariar interesses momentâneos de
governo em nom e de políticas de Estado reforçou a tendência ao fortalecimento 4
de carreiras estruturadas com base em critérios1basicamente objetivos. í-í
Essa ênfase na objetividade não se prendeu apenas às circunstâncias especí- ,
ficas do setor público. Correspondeu também à forma de se ver a administração £ -~
nas empresas privadas, no mesmo período. A burocracia, tão bem analisada por ~
Weber, centrava-se na tentativa de prever com bastante precisão o comporta- ,í n J L , ,
m ento hum ano, por meio de regras escritas e exaustivas, no estabelecimento de i& 4
um a cadeia verticalizada de comando (ou seja, de um a hierarquia longa e rígi- }
da, com reduzido poder de decisão na ponta) e na valorização do saber técnico |
que, dependendo da organização, podia-se confundir com o conhecimento das
norm
n n r m oas que
e n nf* a
a regem.
re>ae*m ’} è£ *
ftm . r
Ora, esse modelo de organização foi a base de estruturas tanto governamen- ^ '
tais como privadas. No caso destas últimas, sua prescrição foi reforçada pelo *
taylorismo que, buscando aumento de produtividade na indústria, procurava !'
r .
dim inuir o espaço de discricionariedade do trabalhador e estabelecer a forma ■ *
correta e manualizada de se fazer cada tarefa. Isso correspondia, no m undo do !, *•
trabalho, a um a separação rígida entre concepção e execução. O trabalhador J
executava tarefas preestabelecidas, da forma como os programadores de produ- j
ção estipulavam. Não lhe cabia qualquer papel nas decisões sobre como produ- »
liLòtVIfciK Capítulo 5: As relações de trabalho no setor público I 151
zir ou na avaliação do trabalho feito. Não por acaso, alguns esforços de reforma
administrativa no Brasil fizeram menção a práticas tayloristas. Junto a essas te
ses, um modelo de produção em massa de produtos, baseada em padronização
e segmentação dos processos de trabalho e num a linha de montagem em que
cada etapa contribuía para a introdução de um componente no produto ou rea
lização de um a tarefa específica acabou recebendo o nome de fordismo, dado
seu im portante papel na construção de automóveis daquela marca na primeira
metade do século XX.
Fonte: FECAP
A partir do final dos anos 1940, um a série de críticas foi publicada por
teóricos das organizações como Merton, Selznick e Gouldner, que, sem pro
por caminhos totalmente diversos dos presentes nas organizações burocráticas,
mostravam seus limites. Basicamente falavam de disfunções burocráticas como
o surgimento de objetivos departamentais conflitantes com os propostos pela
organização, a conformidade excessiva com as normas, o que tolheria a criati
vidade e levaria a um atendimento inadequado das demandas dos clientes ou
usuário dos seus serviços e à lentidão nas operações.
Mas a verdadeira revolução no m undo das organizações viria mais tarde
com a disseminação do uso da Tecnologia da Informação nas empresas. Inicial
mente o correio eletrônico acarretou uma maior velocidade na comunicação,
permitiu acesso simultâneo a diferentes níveis da hierarquia e contato assíncro
no, mas rápido (sem que o funcionário precisasse estar presente no momento
do envio, embora sem a lentidão de uma carta), e eliminou a necessidade de
parte do pessoal de apoio administrativo que datilografava cartas e circulares
T52 I Administração Púb/ica . ELSEVIER
• a orientação para o cidadão usuário, que passa a ter voz ativa no dese
nho e na execução dos serviços públicos (por meio de mecanismos como
orçamento participativo, associações de usuários, conselhos de escolas,
entre outros) e a merecer foco no atendimento que lhe é prestado em
organizações públicas;
• a flexibilidade, que se torna um a orientação relevante, para permitir ade
quação a novas demandas e a constante transformação da realidade;
• persistência estratégica, em programas de longa maturação e reduzida
visibilidade eleitoral no curto prazo;
• a constante revisão dos custos envolvidos em programas de governo, para
evitar desperdícios e compromissos exagerados com despesas correntes
que possam comprometer a capacidade de investimento do Estado.
154 I Administração Pública ELSEVIER
Pode, assim, fazer uma parceria, nos moldes da chamada Lei das PPPs para
operar parques, hospitais ou construir estradas. As parcerias público-privadas
foram introduzidas no ordenamento jurídico brasileiro, em âmbito federal, por
intermédio da Lei n 2 11.079/2004, ao passo que as demais concessões são disci
plinadas pela Lei na 8.987/1995. Uma das finalidades das PPPs consiste em ante
cipar investimentos que exigiriam m uito tempo para serem realizados somente
com recursos públicos, conferindo ao parceiro privado a obrigação de investir
recursos a serem restituídos no futuro. Ou seja, cabe à iniciativa privada realizar
primeiramente os investimentos e a obra necessários à colocação do serviço
à disposição da população. Apenas após estar o serviço em funcionamento, o
poder público ingressa então com recursos financeiros, seja complementando a
tarifa ou remunerando integralmente o serviço prestado.
Outra possibilidade interessante são as parcerias com organizações sociais
ou com Organizações da Sociedade Civil sem fins lucrativos (OSCIPs). Nesse
caso, a relação é entre o Estado e uma organização não governamental que,
mediante um contrato de gestão ou um term o de parceria, assume a gestão e/ou
a operação de um serviço público e recebe recursos para fazê-lo. Nesse caso, o
investimento costuma ser público, embora doações privadas possam comple
tá-lo. Tal modalidade de parceria tem sido utilizada para a gestão de museus,
hospitais, centros de pesquisa e até para TVs públicas.
O Estado em qualquer forma de parceria continua responsável pela forma
como são geridos os recursos humanos. As equipes não integram o aparelho
do Estado, mas se houver descumprimento das leis trabalhistas ou tratamento
inadequado de pessoal (inclusive nepotismo induzido por dirigentes públicos),
o poder público pode se tornar corresponsável. Assim, boa parte das leis que
permitem o estabelecimento de parcerias prevê que as instituições parceiras
apresentem seu regulamento de contratação e de gestão de pessoal para poder
firmar contratos de gestão ou termos de parceria com o Estado.
Independentemente do setor de atuação do aparelho do Estado, alguns f
princípios são importantes nas relações de trabalho:
!'
• profissionalização, ou seja, procurar atrair e desenvolver talentos para ^
melhorar a formulação, gestão e implementação de políticas públicas, re- ,
gulação, fiscalização e avaliação;
• evitar uma visão tecnocrática e linear da gestão de recursos humanos, tra- ^
tando de forma distinta diferentes funções, adequando, por exemplo, os >
concursos públicos à natureza da atividade a ser desenvolvida e adotando
com critérios eventuais bônus por desempenho ou adicionais por insalu- -<
bridade ou localidade. Nem todas as funções num mesmo órgão justifi- j
ELSEVIER Capítulo 5: As relações de trabalho no setor público I 157
É por esse motivo que deve ser precedida de um cuidadoso processo de pla
nejamento da força de trabalho, definindo com clareza as “competências dese
jadas para o desempenho dos diversos processos de trabalho, de acordo com as
funções que deverão ser desempenhadas pela organização nos próximos anos”
e um a definição dos quantitativos de pessoal para os diversos cargos, a partir
de um a análise histórica e eventuais modificações nas tarefas ou formas de se
trabalhar em cada função. Isso deve ser feito pelo órgão responsável pela gestão
que, junto com a área econômica, analisará e proporá ao chefe do executivo um
plano de mais longa duração com as contratações programadas de pessoal. Evi
ta-se, assim, o atendimento casuístico de demandas, que pode inchar a máquina
pública e o sucateamento de órgãos. A oxigenação é fundamental para permitir
que um a geração de funcionários tenha condições de, antes de se aposentar, re
passar conhecimentos a um a nova coorte de profissionais que, por sua vez, terá
a oportunidade de trazer novas ideias e disposição à unidade em que ingressa.
A provisão de Recursos Humanos consiste nó recrutamento e seleção de
profissionais para ocupar posições na organização, estagiários para aprender
enquanto ajudam na realização de tarefas e contratados para desenvolver proje
tos temporários. Envolve:
Mais tarde, com a vinda da Família Real, o Tribunal de Relação do Rio foi
transformado em Casa da Suplicação. Criou-se ainda o Desembargo do Paço
e o Conselho Supremo Militar e de Justiça, em Ia de abril de 1808. A Casa de
Suplicação, um tribunal diretamente ligado ao poder real que, segundo Luiz
Viana Queiroz, “além de suas funções especificamente judiciárias, conhecia das
petições, perdões e quaisquer solicitações ao rei (...)”. Era constituído de 20 de
sembargadores. De suas decisões podia-se recorrer para o Desembargo do Paço
que se reunia diariamente e despachava toda sexta-feira com o vice-rei.
É interessante observar que, com o padroado — conjunto de privilégios
concedidos pela Santa Sé aos reis de Portugal e de Espanha (posteriormente
estendidos aos imperadores do Brasil) — , a Coroa dispunha de poder admi
nistrativo sobre todo o clero. O padroado funcionava como um instrumento
jurídico claramente medieval que possibilitava o controle direto da Coroa em
assuntos religiosos, especialmente em seus aspectos administrativos, jurídicos e
financeiros. Padres, religiosos e bispos eram funcionários da Coroa portuguesa
no Brasil colonial. No período colonial, as atribuições do padroado eram admi
nistradas por dois órgãos do Reino português: a Mesa de Consciência e Ordens
e o Conselho Ultramarino.
168 I Adm inistração Pública ELSEVIER
embora tenham sido valorizados instrumentos importantes à época, tais como o insti
tuto do concurso público e do treinamento, não se chegou a adotar consistentemente
uma política de recursos humanos que respondesse às necessidades do Estado. O patri-
monialismo (contra o qual a administração pública burocrática se instalara), embora
em processo de transformação, mantinha ainda sua própria força no quadro político
brasileiro. J
Nesse mesmo artigo, Bresser mostra que a burocracia pública iria prosperar .
nas empresas públicas criadas para construir as bases da industrialização bra
sileira, mas não na administração direta. “Enquanto a burocracia pública em
sentido amplo desenvolvia-se a passos largos no âmbito do Banco do Brasil, do ,
BNDES e das empresas estatais, a burocracia pública estatutária, que a Reforma
Burocrática de 1936 procurara definir e tornar meritocrática, retrocedera”. No
segundo governo Vargas, ele tenta restabelecer a reforma e envia ao Congresso,
em 1953, um projeto de reforma administrativa, que fortaleceria a Administra
ção Direta, mas não consegue aprová-lo, como tampouco conseguirá Juscelino
Kubitschek.
A Constituição de 1946 havia introduzido diversas cláusulas sobre o funcio
nalismo, preservando o esforço de dotar a máquina pública de uma burocracia
sólida. Entre elas, destacam-se:
Segundo ele, Beltrão dizia, naquela época, que “as organizações, assim como
os planos de governo, valem exatamente o que valem as pessoas que as adminis
tram e os executam”.
ELSEVIER Capítulo 5: As relações de trabalho no setor público I 173
mas com seleções anuais, para poucas vagas, sem gerar excedentes, ou seja, o
concurso tinha validade limitada ao tem po necessário para concluir o processo
de ocupação das vagas. Assim, aos moldes do concurso tradicional do Itamaraty
para seleção de diplomatas, a seleção de gestores públicos passou a ter validade
pelo prazo do curso que se segue à realização da prova seletiva, ou seja, cerca de
seis meses. Anteriormente, a maior parte dos concursos era de dois anos, segui
dos de mais dois. Com isso, pode-se trazer oxigenação à Administração Pública,
com entrada regular de novos servidores públicos em cada órgão.
Uma parte im portante dos impactos esperados da Reforma da Gestão Públi
ca foi invalidada pelo Supremo Tribunal Federal. A possibilidade de diferentes
regimes jurídicos, como a proposta de emprego público, foi afastada liminar
mente pelo STF. Ao retomar o julgamento da Ação Direta de Inconstitucionali- , -v
dade (ADI) n 2 2.135, com o voto-vista do ministro Cezar Peluso em 2007, o Ple- j; i
nário do STF resolveu, por maioria, conceder liminar para suspender a vigência '
do artigo 39, caput, da Constituição Federal, em sua redação dada pela Emenda -
Constitucional (EC) 19/98. A norm a eliminava a exigência do Regime Jurídico ■' *
Único e planos de carreira para os servidores da Administração Pública Federal, ^
das autarquias e fundações públicas. Assim, a ideia de termos, como na maior
parte dos países desenvolvidos, o cargo estatutário reservado apenas para algu-
mas funções não foi adiante, apesar de ainda aguardar decisão final do STF.
No governo Lula, a política de pessoal foi modificada. Ela foi construída, ini-
cialmente, na contramão dos esforços empreendidos na administração anterior.
Foi abandonada a ideia de fortalecer o núcleo estratégico, com concursos públi- Jfgj|
cos anuais e um a política de remuneração que buscasse aproximar os salários ' j |
dos praticados pelo mercado, a cada função, de forma a atrair bons quadros. Foi J l
igualmente abandonada a tentativa de dim inuir o núm ero de carreiras, em prol |jjp
de m aior consistência e simplicidade na gestão de recursos humanos. * |jf
Remunerações passaram a ser corrigidas em resposta a pressões corporati-
vistas e sem um a estratégia de atração de bons quadros. O fato de que determi- "1
nada carreira já pagava mais que o setor privado era impeditivo para correção:
salarial. Da mesma maneira, a proposta passou a ser a antiga visão de dimi- *
nuir a diferença entre a maior e a m enor remuneração, visando a m aior justiça
social intra corpori. Na verdade, com isso, apenas se deterioram as condições «.
de se atrairem bons profissionais para o Estado, e gastos relevantes .acabaram
sendo feitos sem clareza de seu sentido. Carreiras novas verticais, ou seja, para
desempenho em apenas um Ministério, foram criadas, tornando mais rígida e
fragmentada a gestão de Recursos Humanos.
O Plano Diretor foi deixado de lado e o discurso mudou. No entanto, seria
retomado pouco depois, embora com nomes novos. Concursos anuais conti-
C J^E -V lüK Capítulo 5: As relações de trabalho no setor público | 179
nuaram a ser realizados para as principais carreiras (embora agora não mais
para um grupo reduzido de funcionários, dado o cenário fiscal favorável), e os
salários tiveram correções que mantiveram a atratividade, embora o reajuste
muito acima da inflação de outras, que já se achavam muito acima do mercado,
tenha agravado a situação fiscal, sem vantagens para a profissionalização.
Houve, no entanto, um a área im portante de avanço, a substituição, por fun
cionários de carreira, de terceirizados e de pessoas contratadas por organismos
internacionais. Isso deu maior estabilidade funcional à máquina pública, espe
cialmente porque não se acabou com todas as formas de terceirização e houve
critérios na construção do processo que permitiram a preservação de alguma
flexibilidade na alocação de recursos.
Com o agravamento da crise, as correções de salário e as contratações em
grandes números tornaram-se um problema fiscal. A conta de pessoal do gover
no federal cresceu muito e, apesar da im portância de se avançar na profissiona
lização, quando o orçamento está em boa parte comprometido com despesas de
funcionalismo o país não tem como crescer.
A evolução dessa área passa certamente por fugir de esquemas clientelistas
ainda presentes em parte importante dos cargos de confiança dos três poderes,
consolidar a profissionalização obtida especialmente no executivo federal e em
1
alguns estados e fazer parcerias inteligentes e imunes ao fisiologismo com orga
nizações não governamentais para implementação de políticas públicas.
t
8.
Diferencie as características das PPPs daquelas atinentes às concessões f.
comuns? '
9. Construa duas relações entre os^subsistemas das atividades de recursos
humanos, estabelecendo um a rede de sinergias e m útua influência.
10. Diferencie as formas de recrutamento e seleção da administração pública ^'
das formas da administração privada.
11. Em que sentido a capacitação e a qualificação do servidor público são
essenciais para o exercício de suas funções?
12. O que significa dizer que, no Brasil, adotaram-se sistemas hierárquicos
rígidos de acesso reduzido à administração pública, com limitada m obi
lidade interclasses e interórgãos?
13. Quais as implicações que podem advir do fato de a avaliação de desempe
nho, em boa parte dos casos, ser aplicada somente de forma ritualística?.
14. Estabeleça de forma comparativa as diferenças entre o sistema colonial e
o sistema democrático atual no que concerne a recrutamento e seleção d e ,
recursos humanos.
15. Identifique os principais avanços trazidos pelo Decreto-lei na 200 no que
concerne à administração pública no Brasil.
16. Quais as vantagens e desvantagens de, no Brasil, haver um Regime Jurídi- ê
co Ünico para os servidores federais?
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Capítulo
6
Administração de recursos materiais
e logística no setor público
a) qualidade do material;
b) quantidade necessária;
c) prazo de entrega
d) preço;
e) condições de pagamento.
bémqU6:
ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e aliena-
í|j
Q l
ções serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade
de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pa- f jjj
gamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente
permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do i.W
cumprimento das obrigações (CF- Artigo 37- XXI). p i
1
A lei 8 .6 6 6 , por sua vez, estabelece as norm as gerais sobre licitações e con- fÇlj
tratos administrativos pertinentes a obras, serviços, inclusive de publicidade, fa
compras, alienações e locações no âmbito dos Poderes da União, dos estados, |
do Distrito Federal e dos municípios. Ou seja: aplica-se a toda a Administração jg|
Pública, seja nas compras, obras, contratação de serviços e alienações.
A licitação é um processo legal que estabeíece como se dará a escolha do f|g |
fornecedor que venderá bens ou serviços ao Estado ou ainda como o poder
público venderá ou repassará bens. A ideia é assegurar que não haja favoreci-
mentos na compra e alienação de bens públicos ou na contratação de serviços. A ^ Jj
licitação busca, assim, garantir a moralidade dos procedimentos da Administra-
ção Pública, e, ao mesmo tempo, a promoção da livre iniciativa ao possibilitar {
igualdade de oportunidades na prestação de serviços e na compra ou venda ao | l j |
Poder Público. I fl
•j iSpi
Segundo Hely Lopes Meirelles (1996, p. 23), licitação é “o procedimento a 3j
administrativo mediante o qual a Administração Pública seleciona a proposta
mais vantajosa para o contrato de seu interesse”. Em outros termos, a licitação iC
envolve um processo formal, em que a lei procura reduzir o espaço de discri- ‘ -■’
cionariedade (ou seja, o poder de decisão independente) do poder público, com >?■
um a clara preocupação de se evitarem escolhas que tenham outro foco que não ,
o interesse público. ]
O procedimento licitatório se inicia com a definição do objeto que se dese- ' ■
ja contratar. Em seguida, elabora-se o instrum ento convocatório — Edital ou <;
Carta Convite. Esse instrumento, no caso de Edital, deverá ser publicado obri- " ’
u^oo'» TErv V_J[)I1UIU o: Aaminisiraçao de recursos materiais e logística no setor público I 187
Concorrência
Modalidade mais morosa. É precedida de uma habilitação em que os con
correntes têm de comprovar possuir os requisitos mínimos de qualificação
pedidos pelo edital para execução do objeto de licitação. Todos os habilitados
podem participar, e vence quem apresentar a proposta mais vantajosa para a
Administração. É modalidade obrigatória quando o valor superar:
Convite
É a modalidade de licitação mais simples. É realizada entre interessados do
ramo de atividades de que trata o objeto da licitação, escolhidos e convidados
pela Administração Pública, em núm ero m ínimo de três.
A Administração escolhe quem quer convidar, entre os possíveis interessa
dos, cadastrados ou não. A divulgação deve ser feita mediante afixação de cópia
do convite em quadro de avisos do órgão ou entidade, localizado em lugar de
ampla divulgação.
Podem participar interessados que não tenham sido convidados, mas que
sejam do ramo do objeto licitado, desde que cadastrados no órgão ou entidade
licitadora ou no Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores — SI-
CAF, do Governo Federal. Esses interessados devem solicitar o convite com an
tecedência de até 24 horas da apresentação das propostas.
Para que a contratação seja possível, são necessárias pelo menos três pro
postas válidas, isto é, que atendam a todas as texigências do ato convocatório.
Não basta que se obtenham três propostas. As três devem ser válidas. Caso con
trário, a Administração deve repetir o convite e convidar mais um interessado,
ressalvadas as hipóteses de limitação de mercado ou manifesto desinteresse dos
convidados.
Pregão
É a modalidade de licitação em que a disputa pelo fornecimento de bens e
serviços é feita em um a sessão pública. Os participantes apresentam suas pro
postas de preço por escrito e por lances verbais, e a escolha da proposta é feita
antes da análise da documentação. Por conta disso, ela é muito mais rápida do
que as outras modalidades.
O pregão é modalidade alternativa ao convite, à tom ada de preços e à con
corrência para contratação de bens e serviços comuns.
O pregão, também chamado de leilão reverso (termo usado por favorecer
quem dá preço m enor e não quem dá um preço maior como em leilões comuns)
vem se tornando prática cada vez mais frequente. Essa modalidade é empregada
na aquisição de bens e serviços comuns que podem ser definidos de forma clara
ELSEVIER Capítulo 6: Administração de recursos materiais e logística no setor público | 189
ír
A fiscalização das obras realizadas é tão ou mais im portante que o meca-
nismo pelo qual a obra é contratada, Para realizar um a fiscalização adequada
ELSEVIER Capítulo 6: Administração de recursos materiais e logística no setor público I 193
Term o de Cooperação
Termo de Cooperação é um docum ento que se estabelece quando todas as
partes envolvidas combinam coordenar esforços e recursos para atingir objeti
vos comuns, como o combate à pirataria ou à exploração sexual de crianças e
adolescentes. Pode envolver entes públicos apenas ou uma combinação de entes
públicos e privados.
O Termo de Cooperação entre Entes Públicos de níveis diferentes tem sido
utilizado especialmente na saúde, no contexto do SUS (Sistema Ünico de Saú
de) quando, em um município houver um a unidade prestadora de serviços per
tencente a outra esfera administrativa, ou seja, ele visa a normatizar a pactuação
entre as diferentes esferas de governo, município, estado e união, sobre o uso de
um a determinada unidade prestadora de serviços sob gerência de um a esfera
de governo e gestão de outra, fixando as metas desse acordo e determinando a
elaboração de um plano operativo.
C onvênio ’■
O Convênio pode ser definido como forma de ajuste entre o poder público
e entidades públicas ou privadas, para a realização de objetivos de interesse co
m um . Por essa razão, no convênio, a posição jurídica dos signatários é um a só,
idêntica para todos, embora com papéis diferentes para cada um. Nesse sentido,
o convênio é diferente do contrato, em que os interesses são opostos e contradi
tórios. Observe-se que para a efetivação de um contrato é imprescindível o pro
cesso licitatório, já no convênio a licitação é inexigível, pois não há viabilidade
de competição.
Pode-se fazer um convênio, por exemplo, com uma creche administrada
por uma instituição filantrópica para atender a crianças em idade pré-escolar
ou com a Associação de amigos de um museu para apoiar as ações de aumento
de público ou de visitação escolar.
No convênio há um a colaboração que pode ocorrer de diversas formas: re
passe de recursos na forma de incentivo, cessão de uso de equipamentos, recur
sos humanos, materiais e imóveis. No caso de repasse de recursos, a entidade
conveniada deve utilizar o valor recebido para a execução da atividade que foi
acertada. Dessa forma, o valor repassado não perde o caráter público, só poden
tLüH V lH R Capítulo 6: Administração de recursos materiais e logística no setor público | 195
Contrato de Gestão
O Contrato de Gestão é um instrumento voltado para estabelecer uma par
ceria entre entes públicos e privados sem fins lucrativos, ao mesmo tempo que
se lhe atribuem metas associadas a uma atividade em que se pretende cooperar
e recursos a serem repassados para assegurar o financiamento necessário.
É o principal instrumento utilizado para regular a relação entre o Estado e
as organizações sociais. A Lei no 9.637 de 1998 define-o como um instrumento
de parceria. O contrato de gestão é descrito como o instrumento firmado entre
o; poder público e a entidade qualificada como organização social, visando à
formação de parceria entre as partes para fomento e execução de atividades re
lativas às áreas de ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico,
à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde. Observe-se que
essas áreas coincidem com as atividades não exclusivas de Estado que vimos no
Capítulo II.
As organizações sociais são dispensadas de licitação para firmarem contratos
de gestão com o poder público. São também dispensadas de obedecer à Lei de Li
citações, por serem entidades de direito privado. No entanto, a lei estipula que as
OS devem ter um manual de compras e contratações de serviços publicado, com
regras claras de aquisição para poderem firmar contratos de gestão com o poder
público. Têm, dessa forma, mais flexibilidade, mas não podem comprar ou con
tratar serviços sem critérios anteriormente fixados em seu contrato de gestão.
Em alguns estados, o termo contrato de gestão foi substituído por outro
como termo de parceria, previsto na lei das OSCIPs (Organizações da Sociedade
Civil de Interesse Público — Lei 9.790 de 1999) que dispõe sobre a qualificação
de pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, como Organizações
da Sociedade Civil de Interesse Público e institui e disciplina o Termo de Par
ceria. Essas entidades poderão ser qualificadas como OSCIPs se atuarem em
algumas atividades previstas na lei, tais como: a promoção da assistência social;
a promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico;
a promoção gratuita da educação, a promoção gratuita da saúde; a promoção
da segurança alimentar e nutricional; a defesa, preservação e conservação do
meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável; ou a promoção do
voluntariado.
Os contratos de gestão também têm sido usados para introduzir uma cul
tura de desempenho e qualidade dentro da administração pública, estabelecen-
1% I Administração Pública ELSEVIER
Plano O perativo
O Plano Operativo é um instrumento no qual são apresentados ações, servi
ços, atividades, metas quantitativas e qualitativas e indicadores a serem pactua
dos entre gestores e prestadores de serviços de saúde. Nele, deverá constar tam
bém a caracterização da instituição, sua missão na rede, a capacidade instalada
e sua utilização, a definição de oferta e fluxo de serviços.
O Plano Operativo deverá acompanhar todos os ajustes realizados entre a
administração pública e setor privado no âmbito do Sistema Único de Saúde
(SUS).
Também pode ser utilizado pelo gestor na rede própria para diagnosticar a
capacidade instalada, organizar a rede e, assim, dem onstrar a real necessidade
de contratação de serviços para fins de complementação de rede.
blicas, sendo, por fim, sistematizado através do Decreto-lei na 200, de 1967, que
estabeleceu a reforma administrativa federal. Esse Decreto-lei já foi analisado
no capítulo em que se estudou a Administração Pública brasileira, cabendo res
saltar que tal norma foi estendida, com a aprovação da Lei na 5.456, de 1968, às
Administrações dos Estados e Municípios.
O Decreto-lei na 2.300, de 1986, que foi atualizado em 1987 pelos Decretos-
lei 2.348 e 2.360, instituiu, pela primeira vez, o Estatuto Jurídico das Licitações
e Contratos Administrativos, reunindo normas gerais e especiais relacionadas
à matéria. O referido decreto estabeleceu uma série de normas a respeito das
compras públicas no Brasil, inclusive apresentando princípios relacionados ao
processo licitatório. Mukai (1988) elenca as seguintes características:
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Capítulo
7
As relações entre o Estado
e o setor privado
No Brasil, essa provisão legal tem sido utilizada principalm ente para re-
modelagem urbana ou reforma agrária. No segundo caso, se a propriedade
rural for produtiva ou for a única propriedade de um pequeno ou médio pro
prietário de terras, ela não pode ser desapropriada. A desapropriação para
reforma agrária pode ser feita através do pagamento antecipado de títulos de
dívida rural pública.
O Brasil tem um sistema judicial independente. Na maioria dos casos, os
tribunais costumam respeitar os direitos de propriedade, com um a exceção: os
direitos dos trabalhadores vêm em primeiro lugar em tribunais especializados,
criados no período da ditadura de Getúlio Vargas, inspirado nas leis trabalhistas
de Mussolini: os Tribunais do Trabalho.
Mais recentemente, houve uma consolidação dos direitos de propriedade
industrial ou, em outros termos, do direito temporário dos autores em relação
a invenções industriais, propriedade de marcas e nomes de empresas, com pri
vilégios relacionados à sua utilização. O mesmo aconteceu com outro compo
nente dos direitos de propriedade intelectual: o direito autoral, relacionado a
artistas, trabalhos literários, programas de computador e domínios da Internet.
A lei brasileira associa o direito autoral às criações do espírito e fornece um a
lista de trabalhos protegidos, como textos de trabalhos literários, artísticos e
científicos, conferências, coreografias, música com ou sem letra, programas de
computador, traduções e trabalhos artísticos semelhantes.
O órgão responsável pelos direitos industriais é o INPI — Instituto Nacional
da Propriedade Industrial — , encarregado do registro de marcas, concessão de
patentes, contratos de transferências de tecnologia, programas de computador
e semelhantes processos e produtos industriais. Embora tenha sido criado em
1970, em um período no qual o governo estava buscando ativamente a indus
trialização do país, até muito recentemente era ineficaz, desorganizado e sujeito
à corrupção. Apesar disso, ainda há um longo caminho a percorrer para reduzir
a burocracia e o excesso de documentação.
Outra instituição muito importante para a proteção do direito de proprie
dade é a lei de falências. A nova lei brasileira sobre falências é recente e data de
2005. A lei anterior era de 1945 e era claramente incapaz de lidar com os desafios
da época atual. A nova instituição prescreve um processo de recuperação da em 1
presa e, ao mesmo tempo, estabelece um a clareza para o com prador em relação
aos procedimentos judiciais envolvidos no encerramento do ativo adquirido.
Para respeitar os direitos de propriedade, é igualmente im portante a criação
e o bom funcionamento de agências reguladoras que possam oferecer trans
parência nas regras relacionadas à operação privada de serviços de utilidade
pública e serviços públicos e, dessa forma, assegurar ao investidor que sua pro
priedade e seus investimentos serão respeitados. Na década de 1990, o Brasil
estabeleceu, logo depois das privatizações, agências reguladoras para diferentes
objetivos, como a ANEEL (agência de energia elétrica), a ANATEL (agência de
telecomunicações) e a ANP (agência de petróleo). Outras agências se seguiram,
com a mesma meta de evitar tarifas abusivas em áreas nas quais monopólios
ou oligopólios são possíveis e de estabelecer regras claras e independentes para
investidores.
A independência dessas agências é fundamental para assegurar que o inves
tim ento privado seja protegido contra a descontinuidade das políticas gover
namentais. Mesmo assim, isso não aconteceu em todas as circunstâncias. Sinais
confusos foram enviados pelo atual governo em seu primeiro mandato, assegu
rando a independência, mas, ao mesmo tempo, pressionando os conselhos dire
tores das agências para mudarem as regras ou renunciarem. Felizmente, parece
que agora há um melhor entendimento do modelo das agências reguladoras.
O utra situação na qual a propriedade e os investimentos privados podem
correr risco, mesmo quando protegidos pela lei, é quando se adota um a aborda
gem populista em concessões de estradas ou em outros setores de infraestrutura
e políticas sociais. Com maior frequência do que gostaríamos de admitir, os
governantes tentam aumentar sua popularidade logo depois das eleições amea
çando congelar as tarifas definidas por contrato com um a operadora privada
de pedágios em estradas. Um deles chegou até mesmo a apoiar um a invasão
popular das cabines de pedágio. No final, as tarifas foram ajustadas conforme
estabelecido nos contratos, mas por trás dessa amèaça existe um a cultura con
trária ao investimento privado.
O presidente está muito irritado com o ritmo lento da burocracia, os ministros alegam
que as licitações públicas são quase impossíveis de implementar devido ao excesso de
exigências formais, as disputas entre concorrentes no sistema judiciário ameaçam para
lisar o uso da energia do rio Madeira.
7.6. Conclusões
O Brasil tem condições de se tornar um dos mais importantes BRICs, como
sugeriu o nome de um recente seminário no Rio de Janeiro. Isso pode ser con
seguido através de algumas medidas nas quais as instituições exercem um papel
importante.
Em primeiro lugar — e mais importante —, o Brasil tem de continuar a con
solidar a democracia e o Estado de direito. Como vimos anteriormente, foram
feitos avanços importantes nos últimos anos, especialmente com a independência
do Judiciário; a transição pacífica de um governo eleito para outro, embora fos
sem oponentes; mudanças em importantes leis; e até mesmo a Constituição cria
da pelo Congresso eleito, usando mecanismos legais para assegurar o processo.
Em segundo lugar, o país tem de implementar novas medidas para sim
plificar a vida dos cidadãos e das empresas em seus contatos com o governo.
Isso exigiria um esforço para substituir um a cultura burocrática, baseada nos
controles sobre rituais e no intenso uso de documentos, por uma cultura mais
administrativa, baseada nos resultados apresentados. Se o nom e do jogo é um
desenvolvimento inclusivo e sustentável, não são organizações com excessivos
controles e exigências competitivas de diferentes agências que vão ajudar.
Essa m udança cultural exigiria um intenso treinamento em medições. Os
servidores civis e funcionários públicos deveriam ficar confortáveis com a iden
tificação dos custos envolvidos em projetos e com comparações entre metas
previstas e resultados atingidos em cada programa do governo. Medições como
“contratos de programas internos”, adotadas pelo governo de Minas Gerais, em
que cada secretaria ou órgão tem objetivos a serem alcançados e tetos para gas
tos orçamentários, poderiam ser um a boa ideia.
Também é im portante desenvolver mais ferramentas para avaliar o impacto
de cada política pública. Avanços importantes, como o IDEB (índice de Desen
volvimento da* Educação Básica), que permite um a comparação entre sistemas
escolares e a experiência internacional, ou medições na saúde ou na previdência
pública, foram introduzidos e, agora, o esforço deve ser no sentido de desen
volver prestações de contas e recompensas para o alcance das metas. Devem ser
abordados benchmarks e boas práticas.
O respeito aos direitos de propriedade e ao investimento privado tem apre
sentado grandes avanços e progressos institucionais. A nova lei de falências
certamente está entre eles, bem como o recente fortalecimento do INPI, órgão
da propriedade industrial. Mas, para garantir que os direitos de propriedade
sejam totalmente respeitados, o INPI ainda tem um longo caminho a percor
rer, e a propriedade intelectual deve receber mais apoio. Existe um a mística
infeliz no país relacionada à necessidade de socialização de ideias e inspirações.
No entanto, por mais poético que possa parecer, por trás dessa proposta apa
rentem ente generosa, isso implica desrespeito pelo trabalho intelectual e pelo
investimento.
Na sobreposição de organizações que lidam com o investimento privado
e o comércio internacional, o SISCOMEX (sistema de informação que integra
órgãos envolvidos com o comércio exterior) e a criação de agências regulado
ras são melhorias significativas (embora não sejam tão recentes). Mas deve-se
tom ar m uito cuidado para, por um lado, assegurar que documentos adicionais
não sejam exigidos fora do sistema, em um a demonstração de micropoder em
disputas burocráticas, e, por outro lado, m anter a independência das agências
para publicar regulações e evitar práticas abusivas não competitivas.
Uma definição melhor dos papéis dos governos federal, estadual e m uni
cipal em diferentes políticas organizaria não apenas os serviços públicos, mas
ELSEVIER Capítulo 7: As relações entre o Estado e o setor privado I 219
B
Instituições políticas no Brasil
ou para França.A Coroa portuguesa foi assim forçada a colonizar as terras des
cobertas e a fazê-las produzir para o mercadq. europeu.
O açúcar foi o primeiro produto exportado para a Europa, graças às ter
ras tomadas dos povos indígenas que foram escravizados para sua exploração.
Desde a segunda parte do século XVI, os portugueses agregaram à mão de obra
indígena escravos africanos da costa ocidental. Durante três séculos desse co
mércio degradante, o Brasil trouxe quatro milhões de escravos africanos, o que '
terá um impacto importante na demografia e na cultura do país. j
Murilo de Carvalho nos m ostra que a forma de produção da cana-de-açú- -i
car, baseada na grande propriedade, na escravidão e no mercado externo, segui
da da cultura do café de acordo com os mesmo princípios, estabeleceu as bases s,’
da política da sociedade brasileira (p. 2 2 ). *
A colonização de um país tão grande começou pelo estabelecimento das | ‘í
“capitanias hereditárias”, imensos pedaços de terra, cortados horizontalmente ,
na linha de Tordesilhas* até o Oceano Atlântico e dados de presente a nobres
portugueses leais à Coroa. Foram dados logo em seguida pedaços menores, as !j ■
“sesmarias”, a outros que se queria gratificar, na condição expressa de proteger
essas terras da invasão estrangeira. O insucesso da experiência levou ao estabe-
lecimento de um governo geral em Salvador, primeira capital do país. O frac
cionamento do poder nesse modelo teve consequências longas para o futuro das
instituições políticas brasileiras. i.
É im portante ressaltar que o patrimonialismo** chegou ao Brasil com os
portugueses. Um sistema político e administrativo baseado na confusão entre o
público e o privado, na concessão de posições em troca de lealdade, amizade ou
interesses comuns, marcou a administração brasileira de antemão.
As guerras napoleônicas desempenharam igualmente um papel no de- ’p A
senho do sistema político do país. Aconselhado por seus aliados ingleses, o
príncipe regente, D. João, se refugiou, em 1808, com sua família e toda a Corte, f f '
na colônia sul-americana. A sede no Reino de Portugal foi então transferida
para os trópicos, e o Brasil conheceu um desenvolvimento inesperado como ^
consequência.
A economia portuguesa estava extremamente aliada à da Inglaterra nessa t f
época, e o bloco continental, decretado por Napoleão em 1806 contra a Ingla- j*-
terra, acarretava graves problemas ao Reino português. Lord Strangford, em-
* Linha de demarcação da partilha do Novo Mundo entre Espanha e Portugal estabelecida no final do século
XVIII.
** Patrimonialismo, termo proveniente das teorias de Max Weber, é utilizado mais aqui do que patronagem,
uma vez que ele exprime a falta de distinção entre o domínio público e o domínio privado dentro da gestão
de nogócios do Estado.
ELSEVIER Capítulo 8: Instituições políticas no Brasil I 223
um a outra coligação, Jango Goulart, que foi considerado pelos militares como
um pouco da esquerda. Quando o presidente renunciou, os militares se recu
saram a admitir Jango Goulart comÓ o novo presidente. O impasse se resolveu
por um a Emenda Constitucional na Constituição de 1946 que estabeleceu o
parlamentarismo novamente no Brasil em setembro de 1961.
O Ato Adicional significou um a diminuição de poderes que pôde derrubá-
lo por plebiscito um ano e meio depois. Como assinala Cintra (2004, p. 63), “o
parlamentarismo de 1961 nasceu sob maus presságios e dentro de uma situação
de crise, operou de forma errada, sabotado pelo presidente e mesmo pelos m i
nistros, e não foi difícil de convencer o povo a rejeitá-lo”.
A democracia brasileira, frágil e mal consolidada, sofreu um golpe em 1964,
quando a elite e os militares se juntaram para combater o que eles, dentro do
clima de guerra fria, percebiam como um a ameaça ao estabelecimento de um
regime comunista no Brasil. O Congresso foi fechado, as liberdades políticas
suprimidas e, como na Argentina e no Chile, os oponentes do regime foram
levados para a prisão. O regime militar, como a ditadura desse período é fre
quentemente chamada, durou 21 anos. De um a forma curiosa e diferente da
ditadura de Portugal, a modernização do país continuou (e mesmo acelerada), e
o modelo desenvolvimentista-nacional foi preservado. Com um discurso de di
reita, os militares asseguraram um desenvolvimento independente e a um ritm o
intenso, além disso continuaram as reformas administrativas iniciadas por Ge-
túlio Vargas para profissionalizar a administração federal. Os estados federados
e as municipalidades perderam, por outro lado, seus poderes recentemente ad
quiridos. Os partidos políticos foram postos na ilegalidade e dois novos foram
criados: O ARENA (a situação) e o MDB (a oposição consentida).
A redemocratização foi o resultado de uma confluência de fatores: a crise
econômica que deixou as elites menos contentes com o governo militar, um
clima internacional mais favorável aos democratas e menos paranoico sobre os
riscos de ter um regime comunista no Brasil e um a alternativa de poder viável
e aceitável à oposição. Ela foi precedida de um a descompressão planejada que
durou quase dez anos com idas e vindas. A eleição indireta de Tancredo Neves,
o candidato da oposição consentida, e a subsequente nomeação de seu vice-
presidente, logo após sua morte, alguns dias depois da data estabelecida para
sua posse, concluiu o processo de transição.
Com a redemocratização, os governos dos estados foram reforçados, em
um processo que lançou suas bases em 1982, ainda durante os anos finais do
governo militar e, de acordo com Abrucio (2003, p. 252), durou até o início do
Plano Real (o nome da moeda adotada no Brasil a partir de 1994). “Nesse pe
ríodo, prevaleceu uma concepção mais defensiva e predatória dos estados, q u e
ELSEVIER Capítulo 8: Instituições políticas no Brasil I 229
conseguiram transferir uma parte pertinente de seus custos à União, via dívida
externa, e a competição horizontal entre eles, cujo maior evento foi a ‘guerra
fiscal. Com a ascensão e a duração do mandato de Fernando Henrique Cardoso,
medidas foram tomadas para resolver uma parte desses problemas, com a extin
ção dos bancos dos estados, a renegociação das dívidas e a aprovação da Lei de
Responsabilidade Fiscal.
Uma nova constituição marcou o retorno da democracia, a carta de 1988.
Ela consagrou as instituições democráticas e os direitos sociais e políticos bem
maiores que os das Constituições anteriores, estabeleu regras de prudência fiscal
e de controle legislativo mais apertado sobre o orçamento e as despesas públi
cas, e deu uma autonomia maior aos estados e municipalidades, que se torna
ram entidade integrantes da federação.
No entanto, escrita em um clima de rancor contra a ditadura e busca de
justiça para os trabalhadores e os mais pobres, alguns erros foram claramente
cometidos:
regida por uma Constituição, por constituições dos estados que devem respeitar
os preceitos por ela estabelecidos, pelas leis e decretos que a regulamentam.
As eleições no Brasil são para os cargos de presidente, prefeito, deputados
federais, senadores, deputados da Assembleias Legislativas dos estados ou da
Câmara do Distrito Federal e para representantes das câmaras municipais. O
registro eleitoral e o voto são obrigatórios para todos os brasileiros com mais
de 18 anos de idade e são facultivos para os analfabetos, maiores de 70 anos e os
adolescentes entre 16 e 18 anos. Os recrutados para o serviço militar obrigatório
do ano vigente não podem votar.
O Brasil professa claramente, na Constituição, o pluripartidarismo. Nesse
sentido, está livre da criação de partidos que possuem o poder de definir suas
estruturas internas, organização e estabelecer coligações. Os partidos, no en
tanto, devem possuir um caráter nacional, prover contas à Justiça Eleitoral e
não podem receber recursos de um entidade ou governo estrangeiro. Todos os
candidatos a cargos eletivos devem ter um a filiação a um partido.
8.2. A Constituição
A Constitução brasileira foi preparada por uma Assembleia Constituinte
convocada especificamente para elaborar a Constituição, mas formada pelos
deputados e senadores eleitos para compor a próxima legislatura. É curioso ob
servar que os senadores nomeados, os biônicos, participaram também da ela
boração da Constituição de 1988, porque as eleições, como aquelas de 1986, só
renovaram um a parte dos senadores a cada vez.
O espírito da época era celebrar a liberdade, assegurar os direitos políticos
e sociais aos cidadãos, descentralizar as políticas públicas e acabar com o auto
ritarismo, e a Constituição reflete bem esse clima. “A nova constituição”, cons
tatam Alston, Melo, Mueller e Pereira (2005, p. 12) “reflete um certo número
de princípios há muito tempo preconizados pela oposição: a descentralização,
a transparência de participação, de controle social e de redistribuição”. Esses
princípios produziram um a grande transformação dentro dos modelos de for
mulação e execução das políticas públicas.
Um dos domínios sobre o qual a Constituição evoluiu, marcando o fim do
autoritarismo, foi a retomada da separação dos poderes e, especialmente, a afir
mação de um Judiciário independente. O cabeça desse poder é o STF (Supremo
Tribunal Federal),última instância de recurso em diversos processos e centro de
decisão para as Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIN).
Houve também um a grande descentralização e devolução da autonomia ad
ministrativa aos gorvernos subnacionais e uma nova redistribuição de respon-
232 I A dm inistração Pública ELSEVIER
Naturalmente, a aprovação dessas leis é bem mais fácil que uma emenda
constitucional. A lém disso, acrescenta o autor, os deputados e senadores pro
vindos de um mesmo estado (bancadas estaduais) não se comportam como
jogadores coletivos, mesmo sobre os interesses de seu estado.
Os estados possuem um poder também limitado para se endividar. Eles
devem submeter suas demandas de financiamento externo ao Senado Federal,
depois de um a análise e aprovação do Executivo. Além do mais, uma disciplina
financeira foi imposta sobre os estados pela União, dentro dos esforços para me
lhorar a situação fiscal do país. De acordo com Fabio Giambiaggi e Ana Cláudia
Salem (2000, p. 164 a 166), as mudanças que foram estabelecidas no fim de 1990
incluíram:
Diversas medidas foram adotadas logo após a publicação da lei que esta
beleceu o Programa de Reestruturação Fiscal e Financeira, em 1997, que pôde
avançar no controle de finanças dos estados, porque a constituição1assegura à
União, como esclarecem Mora et Giambiaggi (2007, p. 475), não somente o po
der de reter as transferências constitucionais a estados insolúveis, ínas também
ter acesso às contas em que são depositados seus próprios impostos.
■
e c s e v ie it
defensivo e predador dos estados, que conseguiram repassar uma parte importante de
seus custos à União, por meio de endividamento público, e da competição horizontal
entre eles, em um evento que foi conhecido como a ‘guerra fiscal’.
tem certamente mais carisma que seu partido, e suas ori8ens como imigrante
pobre do Nordeste do país lhe assegurou um a capacidade de se com unicar bem
com as massas e de se excluir de acusações^éticas. Além disso, como Cesar Zuccò
(2008, p. 33) constata de maneira correta,
Lula é mais conhecido que seu partido; ele foi o único candidato presidencial da história
do PT, e se tornou um constante da política b r a s ile ir a no curso dos últimos 30 anose,.
com o o presidente em exercício, Lula esteve c o n s t a n t e m e n t e sob o fogo dos projetores, '
e pôde alargar o reconhecimento de seu nome. *.
Guzo nos mostra que não é somente um a questão de Sul e Sudeste contra |
Norte e Nordeste; em 22 dos 26 estados, existe urna relação negativa entre a
te das vozes obtida por Lula e o nível de desenvolvimento socioeconômico d r-
municípios. Além disso, quando se comparam as duas últimas eleições, coií^
ta-se que “Lula ganhou espaço nas m u n i c i p a l i d a d e s menos desenvolvidas #
detrimento das regiões mais desenvolvidas”. As wzões para esse sucesso sãó
duas ordens: ‘í
'8HÍ.
• O padrão no Brasil é que o candidato no poder tenha norm alm ente uma ,
performance melhor nas localidades menos desenvolvidas, Ç»
• O Bolsa Família, um programa de redução da pobreza ligado à educação
das crianças, e o aumento do salário m ínim ° trouxeram um a melhora
nas condições de vida dessas populações. "
Em 2002, depois de ter tentado se fazer eleger sem sucesso por três vezes, Lula
foi eleito no segundo turno, contra José Serra do PSDB. Para sua reeleição, em
2006, ele foi obrigado, novamente, a passar para o segundo turno, desta vez
contra o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Os “tucanos”, como os membros do PSDB são conhecidos (o tucano é o
símbolo do partido), tiveram um ótimo resultado eleitoral em 2006. Elegeram ^
seis governadores, incluindo José Serra para São Paulo (eleito no primeiro tur
no), e Aécio Neves para Minas Gerais (também eleito no primeiro turno). Para £
a Câmara dos Deputados, eles elegeram 66 parlamentares (quatro a menos do ^
que nas eleições de 2002) e um senador para a renovação prevista de 1/3 dos
membros do Senado. Atualmente o PSDB possui 14 senadores.
Um outro partido im portante de oposição é o DEM (Democratas), criado
em 2007. Ele sucedeu o PPL (Partido da Frente Liberal) em um esforço de m o
dernização e atração de jovens que o partido realizava. O PFL, por sua vez, foi
fundado em 1985, após as negociações para a eleição de Tancredo Neves, como
um dissidente do PDS, partido do governo militar. Ele fundou com o PMDB a
Aliança Democrática. Com a morte de Tancredo, o partido integrou a base de
apoio do presidente José Sarney e, em seguida, de todos os presidentes até Lula.
Eles professam um a visão liberal e uma economia de mercado.
O partido começou em grande estilo. Nas eleições de 1988, eles elegeram
24,7% dos prefeitos, porcentagem que diminuiu um pouco nas eleições seguin
tes, mas se manteve importante. Nas eleições para1deputados em 1994, eles con
seguiram ocupar 89 cadeiras (17,3%), e,-em 1998, mais ainda: 105 cadeiras e es
te foi o partido que mais teve deputados eleitos. Esse ano, o PFL elegeu também
cinco senadores e seis governadores de estado.
Nas eleições de 2006, o partido, ainda com seu antigo nome, se alia a Geral
do Alckmin, e perdeu espaço político para governador de estado, conquistando
apenas um, o do Distrito Federal. A perda da Bahia, um tradicional centro de
votos para o PFL, em sua versão “carlista” (do falecido Antonio Carlos Maga
lhães), foi inalcançável. Pode-se dizer o mesmo para o fracasso de Roseana Sar
ney, a filha José Sarney, no Maranhão. Mas os eleitos do partido pela Câmara
dos Deputados, mesmo se menos numerosos que nas eleições de 2002, consti
tuem ainda um número importante: 66 deputados, e 12,87% eleitos. No senado,
o DEM possui hoje o maior grupo de parlamentares, 18.
O PPS é um outro partido que se alinha à oposição do governo Lula. É um
antigo partido comunista que, depois da queda do muro de Berlim e do colapso
da União Soviética, decidiu mudar de nome e proposições. Ele apoiou, no segundo
turno, o presidente Lula em 2002, e integrou a base de apoio do governo, mas rom
peu com a coligação e, em 2006, trabalhou ativamente para a eleição de Alckmin.
ELSEVIER Capítulo 8: Instituições políticas no Brasil | 253
8.12. Conclusões
As instituições políticas brasileiras são marcadas de um lado pela opção
republicana, federalista e presidencialista e de outro por um a história de clien-
telismo, patronagem e o que Bolivar Lamounier chama de “consociativismo”
— uma diversidade de centros de poder. Certamente, o federalismo propõe
um a multiplicidade de atores, mas os partidos políticos se conduzem como
federações de partidos locais, os governos com um grande poder de bloque
ar políticas públicas para obter vantagens específicas para seus eleitores e as
oligarquias regionais jogam como “veto-players” para todo o esforço de m o
dernização do país.
Essas instituições favorecem ainda a separação de objetivos ou, em outros
termos, como resumem Armijo, Faucher e Dembinska (2006),“múltiplos atores
são responsáveis diante das diversas e fragmentadas circunscrições”. O Brasil
tem uma representação proporcional em listas abertas, dentro das quais os can
didatos de cada partido estão em concorrência também entre eles, o que enco
raja o voto pessoal e a indisciplina no interior dos partidos políticos.
Para fazer face a essas dificuldades, o presidente deve construir uma base
um pouco mais larga, dentro do que se configura como um presidencialismo
de coligação. Fernando Henrique Cardoso, que governou com um a base um
pouco mais estreita, disse em um a entrevista alguns dias antes da posse de seu
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