Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Nemo Côrtes - Rede para Transição Agroecológica Com Efeito Multiplicador Da Permacultura Na Cidade

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 5

Rede para Transição Agroecológica com Efeito Multiplicador da Permacultura

na Cidade.
Network for agroecological transition in the multiplier effect of permaculture in the
city.

BANDEIRA, Giuseppe1; CÔRTES, Nemo2; MOREIRA, João3


1 Universidade Maurício Nassau, giubandeira@gmail.com.br; 2 Universidade Federal de Pernambuco,
nemoaugusto@gmail.com.br; 3 Universidade Federal Rural de Pernambuco, joca123@gmail.com

Eixo temático: Construção do Conhecimento Agroecológico e Dinâmicas


Comunitárias

Resumo: O projeto Rede para transição agroecológica com efeito multiplicador da


permacultura na cidade foi desenvolvido em Recife e Região Metropolitana em três territórios
distintos, dois deles situados no bairro da Várzea do Capibaribe e o terceiro no loteamento
Altos do Morumbi na Área de Preservação Ambiental (APA) Aldeia-Beberibe. O projeto teve
como principais objetivos a criação de uma Unidade Referência em Agroecologia e a
articulação/identificação da Rede de Egressos Urbanos do curso Técnico em Agroecologia do
Serviço de Tecnologia Alternativa. O projeto foi implementado através de um ciclo de oficinas
técnico-pedagógicas em Agroecologia e educação ambiental com ênfase na construção de
tecnologias sociais de baixo custo e fácil replicabilidade. As atividades foram orientadas sobre
os preceitos da Educação Popular e uso de metodologias participativas.
Palavras-Chave: Construção do conhecimento; tecnologias sociais; educação popular.
Keywords: Knowledge construction; social technologies; popular education.

Abstract: The project Network for agroecological transition with multiplier effect of
permaculture in the city was developed in Recife and Metropolitan Region in three distinct
territories, two of them located in the Várzea do Capibaribe neighborhood and the third in the
Altos do Morumbi allotment in the Environmental Preservation Area (APA) Aldeia-Beberibe.
The main objectives of the project were the creation of a Reference Unit in Agroecology and
the articulation / identification of the Network of Urban Graduates of the Technical Course in
Agroecology of the Alternative Technology Service. The project was implemented through a
cycle of technical-pedagogical workshops in Agroecology and environmental education with
emphasis on the construction of low-cost social technologies and easy replicability. The
activities were oriented on the precepts of Popular Education and use of participatory
methodologies.

Contexto

Quando se observa a crise rural e urbana, política, econômica e socioambiental em


que o Brasil permanece imerso, é necessário procurar ferramentas que funcionem e
promovam o protagonismo do cidadão urbano e periurbano na melhora significativa
da qualidade de vida e do bem viver e que apontem para a superação dos problemas
de planejamento urbano existentes. Como explicita Hermínia Maricato (2015), ex-
ministra das Cidades ao iniciar seu trabalho “Para entender a Crise Urbana”: “Sempre
me soa irônico dizer que eu sou autoridade em planejamento urbano num país em

Cadernos de Agroecologia – ISSN 2236-7934 - Anais do XI Congresso Brasileiro de


Agroecologia, São Cristóvão, Sergipe - v. 15, no 2, 2020.
que o planejamento urbano não existe, ou melhor, não se implementa. É surreal,
existem planos, mas não são implementados.”

As atividades promovidas pelo projeto Rede Para Transição Agroecológica na Cidade


visam a melhoria na qualidade de vida nas cidades, a partir de propostas e estratégias
de promoção da agroecologia, passíveis de serem replicada em ambientes urbanos e
periurbanos, com as devidas adaptações a depender das especificidades de cada
localidade. O Coletivo Kapi’Wara coordenou e executou um projeto “Rede Para
Transição Agroecológica na Cidade”, que buscou construir estratégias nos territórios
onde está inserido, através de mutirões e ações práticas/pedagógicas, com o
compartilhamento de técnicas permaculturais, a construção coletiva dos
conhecimentos e o protagonismo dos sujeitos quanto à sua autonomia nas dimensões
técnica, cultural, econômica e social.

O projeto foi executado no bairro da Várzea, um bairro bem arborizado, cortado pelo
Rio Capibaribe e é o segundo maior em extensão territorial da cidade do Recife.
Historicamente a região onde está localizado o bairro é promissora, pois ainda há
muitas matas, solos férteis, sítios e pessoas que dependem da cadeia produtiva da
agricultura e da pesca. Entretanto, o bairro sofre as consequências do crescimento
desordenado da cidade, do desmatamento da mata ciliar e da poluição do rio. Existe
uma forte organização comunitária que vem articulando a construção de diversas
experiências em agroecologia, a exemplo da terceira feira agroecológica do bairro o
Espaço Agroecológico da Várzea (EAV); do Sistema Agroflorestal Experimental
(SAFE), espaço organizado há oito anos por estudantes da Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE) e; o Movimento Salve o Casarão da Várzea, com a ocupação
urbana do espaço público e com intervenções de plantio e atividades culturais e
socioambientais, além de diversos quintais produtivos.

As atividades do projeto do Coletivo Kapi’Wara se deram em três espaços que o


Coletivo já desenvolvia ações, dois deles na Várzea: a Cozinha de Beneficiamento da
Agricultura Urbana (CBAU) que é uma experiência de geração de renda cooperada.
Atualmente a cozinha produz pães artesanais, geléias das frutas da estação, cerveja
artesanal e algumas receitas com produtos do quintal e; o Sítio Canoah que é uma
experiência agroecológica às margens do Rio Capibaribe que utiliza a agrofloresta
como forma de recuperar e preservar as matas ciliares e produzir alimentos sem
agrotóxicos, além de difundir formas ecológicas de saneamento para reduzir a
poluição do esgoto que é descartado no rio. O terceiro é o Espaço Agroecológico
Joaninha, que fica situado dentro de uma Área de Proteção Ambiental (APA) Aldeia-
Beberibe, mas ainda guarda características urbanas em relação ao tamanho e
organização dos lotes e proximidade de áreas urbanas.

O projeto é fruto do apoio do Fundo Socioambiental CASA, através da chamada


pública 02/ 2018 no âmbito do programa CASA Cidades – Fortalecendo Comunidades
para a Construção de Cidades Inclusivas, Resilientes e Sustentáveis, em parceria com
Fundo Socioambiental CAIXA e Fundação OAK e da parceria com o Serviço de
Tecnologia Alternativa (SERTA). Foi realizado entre agosto de 2018 e abril de 2019 e
teve como principais objetivos a promoção da Agroecologia, compreendida aqui

Cadernos de Agroecologia – ISSN 2236-7934 - Anais do XI Congresso Brasileiro de


Agroecologia, São Cristóvão, Sergipe - v. 15, no 2, 2020.
enquanto ciência, prática e movimento popular, o fortalecimento das organizações e
associações comunitárias, a identificação da rede de experiências e práticas
agroecológicas em Recife e Região Metropolitana, e a formação de agentes
multiplicadores de conhecimentos nos territórios, nas comunidades.

Descrição da Experiência

As atividades e intervenções partiram, principalmente, da implementação de mutirões


ciranda (CRUZ, 2017), tecnologia social cadastrada pelo BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento), captação de recursos em editais para a oferta de cursos e oficinas
(práticas e teóricas) direcionadas às comunidades adjacentes e fundamentadas pelos
princípios agroecológicos (ALTIERI 2012; WEZEL et al.,2009; CAPORAL, 2006) e
utilizou a a permacultura (MOLLINSON & SLAY, 1998).

Em todo o processo de construção, planejamento, execução e avaliação o coletivo se


baseou nos fundamentos metodológicos da PEADS (Proposta Educacional de Apoio
ao Desenvolvimento Sustentável), proposta pedagógica vivenciada e difundida no
nordeste brasileiro desde a década de 1980 e que parte do princípio que os atores
devem ser protagonistas. A PEADS enfatiza ainda a importância da realidade local e
a indissociabilidade dos processos de ensino e aprendizagem, condizente
harmonicamente com os princípios da educação popular e com o compartilhamento
de saberes. Elaborada por Abdalazis de Moura, a PEADS contabiliza várias
experiências (Moura, 2015; Falcão 2011) que vêm trazendo importantes resultados e
transformações nas vidas de “rurais e urbanos”, tanto na extensão rural como no
ensino da Agroecologia, incentivando e divulgando a transição agroecológica.

A PEADS está dividida em quatro etapas: primeira etapa – ver, observar, levantar
informações, pesquisar, identificar os primeiros conhecimentos que as pessoas já
têm sobre um objeto (Moura, 2003, p. 105); segunda etapa – analisar, desenvolver,
desdobrar os dados da pesquisa, aprofundar, elevar o patamar do conhecimento
trazido pelas pesquisas (Moura, 2003, p. 110); terceira etapa – transformar em ação
o conhecimento constituído, intervir na comunidade a partir do conhecimento novo,
devolver o conhecimento produzido (Moura, 2003, p. 116) e quarta etapa, autoavaliar
e heteroavaliar os processos, os conteúdos, as pessoas envolvidas no processo de
construção da aprendizagem e das ações (Moura, 2003, p. 120).

Orientadas sobre estes princípios quatro oficinas foram realizadas: i) construção de


uma Bacia de Evapotranspiração (BET) – tecnologia para reuso de água e produção
de alimentos, ii) construção de uma cisterna de ferro-cimento, iii) bioconstrução de
forno de barro à lenha e iv) bioconstrução: reboco grosso e reboco fino. As tecnologias
sociais foram escolhidas pela necessidade de alternativas ao saneamento básico nas
periferias e pelo potencial de replicabilidade das mesmas.

Para alimentação durante as atividades, o grupo recebeu doações dos (as)


agricultores (as) do Espaço Agroecológico da Várzea (EAV) e as (os) participantes
foram convidadas (os) a levar alimentos para uma mesa da partilha.

Cadernos de Agroecologia – ISSN 2236-7934 - Anais do XI Congresso Brasileiro de


Agroecologia, São Cristóvão, Sergipe - v. 15, no 2, 2020.
Resultados

Ao todo foram construídas três tecnologias sociais (cisterna de ferro-cimento, bacia


de evapotranspiração, forno de barro à lenha) e uma oficina de técnicas de
bioconstrução. Cerca de vinte e cinco pessoas por oficina participaram diretamente
das atividades, entre elas moradoras (es) locais, jovens e estudantes e indiretamente,
participaram vários membros de uma rede de relações que tecem a agroecologia.
Esses resultados têm apoiado à estruturação do Sítio Canoah, pois com as
construções para captação de água, saneamento sustentável e reestruturação da
cozinha o espaço passou a receber mais pessoas, com melhor estrutura física para
troca de experiências.

Na intenção de experimentar uma proposta educacional que levasse as (os)


participantes a uma produção de conhecimentos úteis à comunidade, onde o processo
de construção coletiva do conhecimento demarca o papel transformador da
Agroecologia para autonomia e valorização da vida nos territórios.

Muitos ensinamentos se mostram no processo de construção das atividades. As


metodologias participativas, o uso da arte, da poesia, do canto certamente são
elementos que aceleram a troca da aprendizagem, da formação. Por serem territórios
onde parte dos integrantes do projeto vive, foi possível notar, inclusive, a
transformação das relações com a comunidade.

Durante as atividades as agricultoras (es) do Espaço Agroecológico da Várzea (EAV)


partilharam uma diversidade de alimentos e sabores agroecológicos dentre feijão
verde, hortaliças, legumes, tubérculos e frutas que foram saboreados pelas(os)
participantes nas atividades. A mesa da partilha se encheu de sabores, bolos, pães,
doces e histórias que foram compartilhadas.

Em tempos de tamanhas resistências colocadas com o desmonte e sucateamento das


políticas e instituições públicas é imprescindível olhar para outros caminhos e formas
de resistência nos territórios. A possibilidade de editais de apoio a pequenos projetos
para grupos, coletivos e organizações sociais é um dos horizontes que permitem a
organização, articulação e mobilização das redes agroecológicas e territoriais. No Rio
de Histórias destes grupos, além de grandes desafios existem também muitas
resistências.

Agradecimento

Agradecemos as (os) camponesas (es), aos povos tradicionais, povos de


comunidades periféricas, as agricultoras do Espaço Agroecológico da Várzea (EAV);

Ao Fundo Socioambiental Casa, pela dedicação e empenho na construção do


desenvolvimento sustentável das cidades com o apoio a diversas experiências em
curso em todo país. Pela oportunidade que foi dada ao Coletivo Kapi’Wara em
conduzir os processos de busca por autonomia e promoção da Agroecologia. Ao
Serviço de Tecnologia Alternativa (SERTA) em encorajar o protagonismo e acreditar
Cadernos de Agroecologia – ISSN 2236-7934 - Anais do XI Congresso Brasileiro de
Agroecologia, São Cristóvão, Sergipe - v. 15, no 2, 2020.
nos sonhos de tantas (os) jovens do campo e da cidade e da Rede de Egressos do
SERTA da Região Metropolitana de Recife (RMR). Aos aprendizados, as trocas e
colheitas durante a formação do grupo no curso Técnico em Agroecologia. Em
especial, ao educador Paulo Santana, pela disponibilidade em ouvir e construir juntas
(os) os caminhos para melhor execução e desenvolvimento das atividades.
.
Referências bibliográficas

MOURA, A. Princípios e Fundamentos da Proposta Educacional de Apoio ao


Desenvolvimento Sustentável (Peads). 2. ed. Glória do Goitá - Pernambuco. Serta,
2003.

ALMEIDA, N.; BIAZOTI, A.; TAVARES, P. Caderno de metodologias: inspirações


e experimentações na construção do conhecimento agroecológico. 1. ed. Viçosa:
Universidade Federal de Viçosa, 2017.

Cadernos de Agroecologia – ISSN 2236-7934 - Anais do XI Congresso Brasileiro de


Agroecologia, São Cristóvão, Sergipe - v. 15, no 2, 2020.

Você também pode gostar