Consignado Não Precisa Apresentar Extrato Mauro L
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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADOR FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO
ACÓRDÃO
ESTADO DO CEARÁ
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADOR FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO
RELATÓRIO
Na inicial (fls. 01/09), a parte autora aduz ter sido surpreendida ao perceber uma
redução considerável em seus rendimentos mensais. Com isso, verificou que tal situação
decorria do contrato de empréstimo consignado nº 0123212970083, celebrado com a
instituição bancária promovida. Entretanto, a parte promovente alega que tal contrato foi
elaborado sem a sua prévia manifestação de vontade.
Considerando a situação acima explanada, requer a declaração da nulidade do
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negócio jurídico, a restituição das parcelas indevidamente descontadas de seu benefício, bem
como a indenização pelos danos morais sofridos, sendo esta no importe de R$ 15.000,00
(quinze mil reais).
Na Contestação (fls. 33/52), a parte ré sustenta a natureza lícita da contratação em
testilha, a qual teria sido celebrada mediante a livre manifestação de vontade da parte
promovente, e, consequentemente, das cobranças realizadas em virtude desta.
Entretanto, deixou de realizar a juntada de qualquer documento apto a comprovar
a regularidade do negócio jurídico objeto da demanda.
Réplica às fls. 68/71.
Sobreveio decisão interlocutória à fl. 73, determinando a inversão do ônus da
prova, mediante a apresentação de provas pela instituição bancária promovida.
Às fls. 103/104, o juízo de primeiro grau intimou a parte autora para apresentar
uma declaração de próprio punho, com especificação das contas de que é titular, bem como os
extratos de movimentação das contas declaradas, durante o período de janeiro a junho de
2012.
Às fls. 121/134, a parte autora apelou da sentença de primeiro grau, alegando, de
início, que “Pela analise da fundamentação da R. Sentença proferida pelo Magistrado de
Piso, se ver que o Juízo, incorreu em comportamento contraditório, pois as fls. 25 -26 do
caderno processual eletrônico foi recebida a petição inicial em todos seus termos, no entanto
as fls. 114-118, a magistrada surpreendeu o requerente, com uma decisão contraditória,
informando que a petição inicial, não estava em seus termos para ser recebida, indeferindo
por sentença sem julgamento de mérito” (fl. 128).
Ademais, argumenta que “Nos termos da fundamentação da Sentença, ora
guerreada, se tornaria muito difícil combater as rotineiras fraudes que assolam
principalmente as pessoas mais vulneráveis, no caso analfabetos e idosos. Ainda nessa toada,
todos os operadores do direito devem ter essa preocupação com o efeito social das Decisões
Judiciais, ou seja, efeito panprocessual, pois conforme interpretação expedida a decisão do
Juízo de piso, qualquer contrato firmado por estelionatários, desde que aposto a impressão
digital, bem como assinatura de testemunhas, o contrato seria considerado válido, o que é um
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absurdo, diga-se de passagem, uma vez que são comuns as fraudes nesses tipos de casos,
principalmente no interior do Estado, onde já teriam sido presas diversas quartilhas que se
aproveitam da vulnerabilidade dessas pessoas, cita-se analfabetos e idosos. Outrossim, ainda
condenado a parte autora em litigância de má-fé”(fl. 133).
Posto isso, pugna pelo provimento do recurso, com a finalidade de anular sentença
vergastada, efetuando-se o julgamento de mérito, uma vez que a presente demanda já se
encontra passível de julgamento.
Contrarrazões às fls. 140/148.
É o relatório.
VOTO
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto
ou serviço como destinatário final.
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que
indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante
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sobre as parcelas posteriores à data de publicação do referido acórdão, qual seja, após o dia
30/03/2021.
In casu, ao observamos o histórico de consignações da parte autora (fl. 21),
percebemos que a última parcela oriunda do contrato nº 0123212970083 foi descontada em
05/2017, portanto, entendo que a restituição do indébito deverá ser efetuada de forma simples.
No que tange aos danos morais, a Constituição Federal, em seu art. 5°, consagra o
direito à indenização decorrente da violação de direitos fundamentais:
Art.5º. (...)
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação; (...)
O Código Civil, por sua vez, na inteligência dos arts. 186, 927 e 944, também
determina a reparação pelos danos morais e materiais sofridos, da seguinte maneira:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.
Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.
No que tange os danos morais, ressalto que a Constituição Federal, em seu art. 5°,
consagra o direito à indenização por dano moral ou material decorrente da violação de direitos
fundamentais:
Art.5º. (...)
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação; (...)
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O Código Civil, por sua vez, na inteligência dos arts. 186, 927 e 944, também
determina a reparação pelos danos morais e materiais sofridos, da seguinte maneira:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.
Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.
Destarte, o dano moral será devido quando o ato lesivo praticado atingir a
integridade psíquica, o bem-estar íntimo, a honra do indivíduo, de modo que sua
reparação, por meio de uma soma pecuniária, possibilite ao lesado uma satisfação
compensatória dos dissabores sofridos.
No presente caso, verifica-se que as parcelas indevidamente descontadas do
benefício da parte autora correspondem ao importe de R$ 156,21 (cento e cinquenta e seis
reais e vinte e um centavos), perfazendo, assim, um patamar condizente a 25,11% (vinte e
cinco vírgula onze por cento) do benefício previdenciário da parte autora no ano de 2012 (R$
622,00).
Ademais, nota-se que, até o ajuizamento da presente ação, foram descontadas,
indevidamente, 39 (trinta e nove) parcelas oriundas do contrato impugnado, totalizando o
montante de R$ 6.092,19 (seis mil e noventa e dois reais e dezenove centavos).
Acresça-se a isso, o fato de que a parte autora teve, tão somente, de suportar a
redução de seus parcos rendimentos, uma vez que o banco promovido não efetuou o depósito
das quantias supostamente pactuadas no patrimônio da requerente.
Logo, a reparação por dano moral é devida, pois os descontos não autorizados
na folha de pagamento da parte promovente fazem presumir ofensa anormal à personalidade,
exatamente pelo sofrimento, aborrecimentos, dissabores, frustrações e abalos psíquicos e
financeiros, prescindindo, portanto, de comprovação.
No que tange ao quantum indenizatório, em que pese não existirem parâmetros
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objetivos definidos para a fixação da indenização pelos danos morais, tem-se solidificado o
entendimento no sentido de que não deve a mesma ser de tal ordem que se convole em fator
de enriquecimento sem causa, nem tão ínfima que possa aviltar a reparação, perdendo sua
finalidade. Deve, pois, ser fixada com equidade pelo julgador.
Dito isso, cumpre-nos verificar o quantum indenizatório adotado por esta Corte de
Justiça em hipóteses semelhantes. Senão vejamos:
seus proventos. 4. Dessa forma, as provas constantes dos fólios são indicativas de
fraude na contratação do referido empréstimo, o qual foi firmado por terceiro,
impondo-se a declaração de nulidade do negócio jurídico. 5. É cediço que o
fornecedor de serviços responde objetivamente pelos danos causados ao
consumidor, bem como que a responsabilidade objetiva se aplica às instituições
financeiras, por delitos praticados por terceiros, no âmbito de operações bancárias,
posto que trata-se de risco da atividade, com respaldo no art. 14 do CDC e na
Súmula 479 do STJ. Precedentes do STJ em julgamento submetido à sistemática dos
recursos repetitivos: REsp 1197929/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 24/08/2011, DJe 12/09/2011. 6. Tendo em vista a
nulidade do contrato, em razão da falha na prestação do serviço, impõe-se à
instituição financeira demandada o dever de indenizar. Desse modo, a devolução
dos importes indevidamente descontados é corolária da declaração de nulidade da
contratação fraudulenta, mas deve ser feita na forma simples, ante a ausência de má-
fé. 7. O débito direto na conta do consumidor, reduzindo seu aposento, ausente
contrato válido a amparar tais descontos, caracteriza dano moral in re ipsa, ou
seja, presumido, decorrente da própria existência do ato. 8. Amparada nas
particularidades do caso concreto, à luz da valoração entre os danos suportados
pelo suplicante e os princípios da razoabilidade e proporcionalidade, fixo o
montante indenizatório em R$ 3.000,00 (três mil reais) por estar condizente
com o costumeiramente arbitrado em casos análogos. 9. Quanto ao termo
inicial dos juros de mora, conforme entendimento sumulado pelo STJ (súmula
54), estes fluem desde o evento danoso, em hipótese de responsabilidade
extracontratual, como é o caso dos autos, uma vez que o contrato questionado
foi declarado nulo. 10. Por sua vez, a correção monetária do valor arbitrado a
título de danos morais tem como marco inicial o momento da fixação do valor
(súmula 362 STJ). 11. Recurso conhecido e parcialmente provido. Sentença
modificada. ACÓRDÃO: Vistos, relatados e discutidos estes autos, acorda a 2ª
Câmara Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, à unanimidade,
em conhecer do Recurso de Apelação interposto e dar-lhe parcial provimento, nos
termos do voto da e. Relatora. (TJ-CE - AC: 00078955520118060043 CE
0007895-55.2011.8.06.0043, Relator: MARIA DE FÁTIMA DE MELO
LOUREIRO, Data de Julgamento: 10/02/2021, 2ª Câmara Direito Privado, Data de
Publicação: 10/02/2021). (g.n).
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Nesse ínterim, entendo que o importe de R$ 3.000,00 (três mil reais) se mostra
condizente ao ato ilícito praticado pela Instituição Financeira e ao dano sofrido pela parte
autora, não configurando o enriquecimento ilícito da parte promovente, eis que em
aquiescência aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, bem como demonstra
patamar condizente aos valores reiteradamente adotados por este Egrégio Tribunal de Justiça.
Diante do exposto, pelos argumentos mencionados e em consonância com a
legislação regente, conheço do presente recurso para DAR-LHE PROVIMENTO, anulando
a sentença vergastada e atribuindo o julgamento de mérito ao presente feito para: a)
determinar a nulidade da pactuação discutida; b) determinar a inexigibilidade dos débitos
decorrentes do contrato em questão; c) condenar o réu à restituição, na forma simples, dos
valores indevidamente descontados do benefício da parte promovente, corrigidos, pelo
INPC/IBGE, a partir do efetivo prejuízo (Súmula nº 43/STJ), acrescidos de juros moratórios
simples de 01% ao mês a partir do evento danoso (Súmula nº 54/STJ); d) condenar o banco
réu ao pagamento à parte autora do valor de R$ 3.000,00 (três mil reais), a título de danos
morais, corrigido monetariamente, pelo INPC/IBGE, a partir do arbitramento (Súmula nº
362/STJ) e acrescido de juros de mora simples de 01% ao mês a partir do evento danoso
(Súmula nº 54/STJ).
Em razão do resultado exarado, condeno a instituição bancária promovida ao
pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, que vão fixados no importe de
15% (quinze por cento), sobre o valor da condenação, com fulcro no artigo 85, § 2º, do CPC.
É como voto.
Fortaleza, data e hora indicadas no sistema.