Aula 3. Ideologia e Filosofia
Aula 3. Ideologia e Filosofia
Aula 3. Ideologia e Filosofia
IDEOLOGIA E FILOSOFIA
“Os ideólogos são os encarregados do grupo dominante para o exercício das funções subalternas
da hegemonia social e do governo político” (Gramsci)
A Filosofia sofre uma rejeição muito forte por parte da sociedade tecnológica e de
consumo, enquanto a Ideologia exerce um domínio quase absoluto. Por que acontece
isto? E o que é mesmo ideologia?
Por ideologia podemos entender muitas coisas. Num sentido amplo e também positivo,
ideologia é um conjunto de ideias ou de concepções da realidade. Não existe nenhuma
pessoa inserida e que aja na sociedade que não seja guiada por ideias-força, ideias
embutidas de valores. Neste sentido, ideologia pode ser identificada como doutrina.
Ideologia também pode significar uma teoria, entendida como uma organização
sistemática de conhecimentos destinados a orientar uma ação, a fim de alcançar
determinados objetivos. Podemos perguntar, por exemplo, qual a teoria de tal sindicato
ou de determinado partido político.
“é mentira com ares de verdade, é defesa de interesses particulares com ares de interesses
públicos” (HRYNIEWICZ, 2001, p. 94).
Segundo Marx,
A ideologia sempre esteve presente na história dos homens, mas na modernidade ela é a
característica mais ostensiva e ao mesmo tempo mais oculta. Nas suas origens a ciência
e a técnica estavam a serviço do homem e este colaborava com a natureza servindo-se
delas para sua utilidade. Com o advento da modernidade, a ciência e a técnica passaram
para outras mãos. Foram encampadas pela vontade de dominação. Ciência e técnica
tornaram-se tecnologia, agora a serviço do poder, em mãos de quem exerce a vontade
de dominação.
A ideologia
“consiste na subjetivação da vontade de dominação. Esta não anda nas nuvens, longe dos
homens. Ela faz sua morada entre nós, apodera-se da razão humana, aninha-se soberana no
coração da modernidade” (BUZZI, 1990, p. 140).
É a vontade de dominação que produz a subjetividade moderna que, por sua vez,
produz a ideologia.
Para estas sociedades a produção de subjetividade talvez seja mais importante do que
qualquer outro tipo de produção. Arcângelo Buzzi diz que a subjetividade moderna, ou
seja, a ideologia, está toda fascinada e visceralmente comovida por três projetos:
Este projeto é imperceptível, mas sempre presente e atuante. Por este projeto o homem
se atribui o direito de determinar o sentido da realidade, o sentido das coisas. E
existência não só de si, mas de todos e de tudo é determinada pela subjetividade. E ela
está tão bem montada que parece existir pela lei da oferta e da procura. A subjetividade
parece que nem sequer existe, mas comanda a todos.
“são os intelectuais da subjetividade do grupo social hegemônico. O que mais pretendem não é
a ciência, mas o aproveitamento do saber em benefício da hegemonia do grupo social mais
forte” (BUZZI,1990, p. 142).
2º Projeto:
Por mais bens materiais que produza e consuma, a ordem dominante é de interesse
particular, ou seja, de classe, por isto beneficia a poucos enquanto a maioria é
desfavorecida. Este processo gera a exclusão do sistema de produção e consumo grande
parte da sociedade. Outro aspecto a ser considerado neste projeto, é que ele só
contempla a produção de bens materiais. É, por isto, reducionista e empobrecedor da
realidade humana.
3º Projeto:
Filosofia e Ideologia.
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A filosofia e a ideologia são diferentes, mas andam juntas. Na opinião de Reale (cf.
REALE, 1999, p.68) não foi Marx o criador do núcleo essencial do ideologismo, pois já
Platão havia denunciado de maneira inequívoca este mal, ou seja, o mal do “considerar
verdadeiro”, ou do “acreditar no simples nível de opinião”, contra o valor da própria
verdade. Na obra de Platão vemos Sócrates em debates sem fim com os sofistas. Estes
eram homens de muita ciência e habilidade, capazes de dar lições úteis sobre qualquer
profissão, especialmente sobre a arte de discutir e de falar para convencer. Os sofistas -
ideólogos daquela época - não eram pesquisadores, mas aproveitadores do saber e
ensinavam a usá-lo habilmente. Observem bem:
A filosofia busca conhecer a verdade nas coisas, e relacionar-se com as coisas no que
são. A ideologia busca a afeição ao útil, ao prestígio, ao poder. Para o pensador
Arcângelo Buzzi a ideologia considera tudo a partir do útil e a filosofia a partir da
afeição à verdade das coisas. Vejamos o que diz:
A ideologia tem “vantagem” sobre a filosofia porque é um saber que tem como
referência um valor muito cobiçado: a utilidade. E o útil mais cobiçado é o poder
político. Um útil cambiante e muito móvel (cf. Buzzi 137).
“Um famoso sofista, ao voltar de uma viagem de conferências pela Ásia Menor, encontrou
Sócrates no mercado de Atenas, perguntando a um sapateiro: ‘Que é isto, o sapato?’ E o
interpelou indagando: ‘Ainda está aí, Sócrates, dizendo a mesma coisa sobre a mesma coisa?’
Sócrates o encarou e lhe respondeu: ‘É o que eu sempre faço. Você, porém, que é sofista,
certamente nunca disse a mesma coisa sobre a mesma coisa”. (BUZZI, 1990, p. 137-8).
Platão dizia: a verdade não admite contestação. E Jesus Cristo: A verdade vos fará
livres (Jo, 8,32). Segundo Reale, não pode haver uma terapia mais consistente, do ponto
de vista filosófico, que essa mensagem da sabedoria antiga para o sofrimento do homem
de hoje, tão convencido de que, como pretendia Nietzsche, o importante não é o
“verdadeiro”, mas o “considerar verdadeiro” (Cf. REALE, 1999, p.78).
Referências
5
REALE, Giovanni. O Saber dos Antigos – Terapia para os Tempos Atuais. São Paulo:
Loyola, 1999.
“Sem dúvida, é possível resumir a ideologia no slogan que se assemelha a uma paródia
de uma frase evangélica: ‘buscai o poder, e todo o resto virá por si’.
Eu dizia anteriormente que a ideologia perde quase por inteiro o sentido da verdade: o
que conta é aquilo que se considera verdadeiro ou que se faz com que seja considerado
verdadeiro.
Eis o aforismo que exprime o pensamento de Nietzsche modo mais radical: ‘O que é
uma fé? Como se forma? Toda fé é considerar verdadeiro. A forma extrema do niilismo
seria sustentar que toda fé, todo considerar verdadeiro seja necessariamente falso:
porque não existe de fato um mundo verdadeiro. Portanto: é uma ilusão de perspectiva,
cuja origem está em nós (uma vez que nós temos necessidade de um mundo restrito,
abreviado, simplificado). Nesse caso, a medida da força é constituída pelo ponto até o
qual podemos admitir, sem nos prejudicar, o caráter ilusório e a necessidade da mentira.
Nesse sentido, o niilismo, como negação de um mundo verdadeiro, de um ser, poderia
ser um modo de pensar divino...’(9[41]).
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REALE, Giovanni. O Saber dos Antigos – Terapia para os Tempos Atuais. São Paulo:
Loyola, 1999.