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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA
SETOR DE CIÊNCIAS JURÍDICAS
DEPARTAMENTO DE DIREITO DOCENTE: MARIA MARCE MOLIANI DISCENTES: GABRIEL GRAVENA ISABELLE CHRISTINE NENEVÊ MYLENA MACHADO DA SILVA RENATA PEDROZO AMÂNCIO
WEBER, Maximilian Karl Emil. Ciência e Política: duas vocações. Tradução de
Leonidas Hegenberg e Octany Silveira da Mota. 14. ed., 2013. p. 17 – 52.
A obra “A ciência como vocação” é baseada em uma palestra que o intelectual
alemão Max Weber ministrou no ano de 1917, nela o jurista analisa de que forma a prática científica pode ser exercida como vocação. Logo no início de sua fala, Weber traz sua experiência em universidades da Alemanha e Estados Unidos, voltando seu discurso para o ensino, bem como o comportamento dos alunos e a influência dos professores em sua formação acadêmica. Weber inicia seu discurso indagando sobre quais perspectivas possui aquele que opta por escolher a ciência como profissão. Na Alemanha, o jovem cientista inicia sua carreira como um auxiliar de pesquisador, não recebendo remuneração alguma, diferentemente do que acontece nos Estados Unidos, onde o jovem recebe uma remuneração, porém possui sobre si uma expectativa de “sala cheia” ou correrá o risco de ser demitido, coisa que não poderia acontecer na Alemanha, pois nenhum jovem que opte pela ciência como sua vocação poderá ser desalojado e ao contrário do modelo norte-americano, o jovem poderá esperar futuramente por algum direito moral ou consideração. Além desta diferença, Weber atenta para o fato de que na Alemanha o processo para se tornar um pesquisador, ao escolher a ciência como vocação, é marcado pela plutocracia, ou seja, aquele que não for possuidor de bens e fortunas, dificilmente terá êxito nesta escolha, já nos Estados Unidos, o processo é burocrático. Durante toda sua fala, Weber deixa em evidência que o fator determinante para que um especialista consiga disseminar sua pesquisa é a paixão que este possui na difusão pelo conhecimento e não a busca por riqueza. O jurista alega que, diferentemente de uma obra de arte, a ciência busca ser ultrapassada, tendo em vista que, toda vez que uma pesquisa se torna “acabada” ou “ultrapassada” abre caminho para novas indagações e consequentemente novas pesquisas. Diante disso, podemos entender a ciência como um meio que permite o domínio técnico da vida, através dos conhecimentos que dispõem, sendo ela a responsável por apresentar métodos e instrumentos necessários na construção eficiente do conhecimento. E, fica por conta deste conhecimento, a consolidação de uma clareza, capaz de proporcionar aprofundamento de uma consciência individual e racional. Segundo Weber, a questão da significação da ciência é respondida para o “homem prático” na busca por orientar as atividades técnicas com base no que a experiência científica pode oferecer. O autor, porém, questiona qual o sentido que o “homem de ciência” dá à sua própria vocação para além das atividades práticas e comerciais possibilitadas e melhoradas por descobertas científicas, e o que o motiva a procurar respostas que logo se tornarão obsoletas. Para responder a tal questionamento, Weber faz algumas considerações, como descritas abaixo. O sociólogo fala, primeiramente, sobre o processo de intelectualização, racionalização e progresso científico. O homem primitivo tinha quase completo domínio dos meios e ferramentas de que dispunha para sobreviver. Com o progresso científico, porém, não há a necessidade de todos entenderem o funcionamento de todas as coisas. Weber exemplifica utilizando de trens, os quais a grande maioria das pessoas que utiliza não entende seu funcionamento, a não ser que sejam especialistas da área. Dessa forma, entende-se que o processo de intelectualização e racionalização não serve para entendermos de forma geral as circunstâncias em que vivemos. Assim, Weber conclui que a “significação essencial da intelectualização” se dá na utilização da técnica e na previsibilidade de eventos, ambas possibilitadas pela crescente racionalização, não mais sendo necessário recorrer a explicações e formas de domínio “mágicas” do mundo, como faziam os primitivos. A partir dessa conclusão, surge uma outra questão, a de que se há alguma significação para o “progresso” e para o desencantamento do mundo que vá além dessa puramente prática e técnica. Leon Tolstói chega a essa mesma pergunta ao pensar se “a morte é ou não é um acontecimento que encerra sentido”. Ele afirma que os camponeses dos tempos antigos morreram “velhos e plenos de vida”, uma vez que encontraram todas as respostas que ao seu tempo podiam ter da vida. Com o constante progresso científico, o homem moderno vive uma época de produção contínua de experiências e problemas, o que o impossibilita de ter vivido plenamente, ao fim da vida. Há sempre mais a ser descoberto e respondido, e sobra a ele o que é provisório e que tão brevemente estará ultrapassado. Tolstói, dessa forma, acredita que, não havendo significação na morte do homem da civilização moderna, também não o há na vida, uma vez que o progresso por si só também não tem sentido. Com isso, Weber volta a questionar qual, então, a significação para o progresso que ultrapasse a técnica e dê sentido à prática da ciência como vocação e, além disso, como algo de valor para a vida humana? E, acreditando haver grande diferença quanto a isso no presente e no passado, Weber rememora o mito da caverna de Platão e afirma, porém, que a juventude de hoje está mais interessada nas sombras projetadas nas paredes da caverna do que na iluminação trazida pela ciência, dentro do contexto do próprio mito. Ele explica que Platão se apaixonou dessa forma pelo conhecimento científico pela descoberta, por Sócrates (havendo elementos análogos em escritos hindus), da noção de “conceito”, o qual, para os gregos, era capaz de prender qualquer pessoa “aos grilhões da lógica”. Eles acreditavam, assim, que conhecendo conceitos como o de Belo, do Bem, da Coragem e da Alma, seriam capazes de agir e viver plenamente. Com o Renascimento, soma-se ao conceito um outro instrumento científico: o da experimentação racional, que surge de forma inédita como princípio da pesquisa. Primeiramente surge a experimentação pelas inovações da arte, como é notável em Leonardo da Vinci e nos inovadores da música. Depois, passa a fazer parte do meio científico, como por Galileu e, por fim, alcança “o domínio da teoria, graças a Bacon”. A significação da ciência para Da Vinci e os inovadores da música era usar dessa experimentação para chegar à arte verdadeira e à verdadeira natureza, ou seja, dar à arte o caráter de ciência de forma que o artista passaria ao nível de doutor. Para Weber, nos tempos dele, chamar a ciência de caminho que conduz à natureza seria para os jovens uma blasfêmia, mas o sociólogo demonstra que no início do período moderno havia pretensões maiores ainda para a ciência: encontrar traços do divino nas coisas e o caminho que conduz a Deus. O autor expõe que, no entanto, nos tempos dele essa significação para de fazer sentido, uma vez que a visão geral da sociedade é a de ver a ciência como potência irreligiosa. Além disso, a juventude alemã da época, para ele, vive em busca de experiências transcendentais e de vida em geral, de forma que Weber acha frustrante o método escolhido para tal, que conduz a um “moderno romantismo intelectualista do irracional”, método o qual o autor acredita que trará efeito contrário ao esperado pelos que o praticam. Weber retorna ao questionamento de qual é o sentido da ciência enquanto vocação, uma vez que agora ela deixa de ser o caminho que leva ao “ser verdadeiro”, à “verdadeira arte”, à “verdadeira natureza”, ao “verdadeiro Deus” ou à “verdadeira felicidade”. Tolstói, como cita Weber, responde que não há um sentido, uma vez que a ciência não é capaz de responder o que devemos fazer e como devemos viver. Resta, segundo o autor, a dúvida de se a ciência poderia dar essas respostas para quem fizesse as perguntas corretamente. Quando o autor analisa sobre a ideia de existir ou não uma “ciência sem pressupostos”, ele conclui que o resultado a que o trabalho científico leva é importante em si, isto é, merece ser conhecido. Aquele que investiga determinado objeto ou tema, considera-o importante de ser estudado. Contudo, esse pressuposto é que não pode ser demonstrado cientificamente. Uma vez que não é possível interpretar o sentido último desse pressuposto, cabe ao indivíduo aceitá-lo ou recusá-lo, com base em suas convicções pessoais. Weber demonstra o exemplo das ciências da natureza, como a Física, a Química ou a Astronomia. Elas pressupõem que valha a pena conhecer as leis últimas do devir cósmico, não apenas porque esses conhecimentos levam a resultados técnicos, mas também porque eles possuem um valor “em si”, na medida, precisamente, em que traduzem uma “vocação”. Contudo, ninguém poderá demonstrar esse pressuposto e nem provar que o mundo que esses conhecimentos descrevem merece existir. Outro exemplo utilizado por ele é o da medicina moderna. O médico tem como dever conservar e prolongar a vida, visto que os pressupostos da Medicina exigem isso. Porém, a Medicina não se propõe a questionar se aquela vida merece ser vivida. Não há resposta científica para isso. Ao citar o exemplo de um curso universitário desejar estudar a democracia, o autor busca mostrar a verdadeira função de um professor. Ele afirma que só cabe ao professor, o papel de mostrar a necessidade da escolha, juntamente ser útil com a transmissão de conhecimentos e de experiência científica. Uma coisa é analisar os tipos de democracia, outra é defender dentro de uma sala de aula uma forma política específica. Assuntos públicos devem ser expostos em uma praça, onde não só um fala e há possibilidade de crítica. Um professor que sente a vocação de conselheiro da juventude e quer participar das lutas entre concepções de mundo e entre opiniões de partidos, não deve fazer isso dentro de uma sala de aula. Em casos em que o ouvinte fica em silêncio a maior parte do tempo, quem se aproveita para afirmar suas opiniões pessoais é um demagogo. Desse modo, Weber apresenta que a ciência contribui para a clareza. Os cientistas podem escolher a posição que querem tomar e consequentemente, estarão negando uma outra concepção. Nesse caso, devem esclarecer se determinada posição deriva de uma visão única do mundo ou várias. A partir disso se chega ao sentido moral da ciência. Quando se nega uma outra visão de mundo, pode gerar conflitos. Nesse caso, o autor expõe sobre a responsabilidade. Quando se está à altura, enquanto cientistas, da tarefa que se encarrega, poderá compelir uma pessoa a dar-se conta do sentido último de seus próprios atos, ou ajudá-la em tal sentido. Um professor que atinja essa tarefa, consegue despertar em seus alunos a clareza e o sentido de responsabilidade. Por fim, Weber reafirma a necessidade de decidir (escolha), porém deve lembrar-se que ela é limitada. Conclui-se que ciência é uma vocação alicerçada na especialização e não é um produto de revelações. Diante de uma teologia que pretende o título de “ciência”, ele explica que a teologia é uma racionalização intelectual de inspiração religiosa. Ela possui seus próprios pressupostos, principalmente no que diz respeito a seu trabalho e à justificação de sua existência. Qualquer teologia, aceita o pressuposto que o mundo deve ter um sentido, mas o problema é saber interpretá-lo. Dessa forma, partem para outros pressupostos, como crer em certas “revelações” importantes para a salvação da alma e acreditar que existem certos estados e atividades que possuem o caráter do santo. A teologia parte da ideia que esses pressupostos pertencem a uma esfera que se situa além dos limites da “ciência”.