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Ética Convencionada

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TICA E ADMINISTRAO: CONTEXTUALIZANDO A DISCUSSO SOBRE OS DESAFIOS DA TICA NO MUNDO DOS NEGCIOS

Amadeu de Farias Cavalcante Jnior*

RESUMO: A tica tem se colocado como um eixo fundamental para que o homem possa conviver bem em sociedade, dentro de parmetros voltados para o dever de agir de acordo com o bem comum entre os homens, e em concordncia com os valores morais que prezam pela ao virtuosa preocupada com o bem entre os diferentes. Mesmo sabendo que a reflexo tica se apropria dos valores morais considerados bons, no sentido de uma cincia do comportamento moral do homem em sociedade, admitimos que a dificuldade de se pensar a tica no mundo dos negcios est no fato de que o mundo da administrao em organizaes econmicas e complexas, muitas vezes exige posturas do administrador que possam dar conta de enfrentar os desafios colocados por uma ao pautada na tica convencional, e de uma ao pautada nas exigncias do mundo dos negcios, ou uma tica dos negcios.

PALAVRAS-CHAVE: tica profissional, tica nos negcios, tica da responsabilidade, administrao.

* Formado em Filosofia pela Universidade Federal do Par, com Especializao em Educao pelo Centro de Educao na UFPa e Mestre em Sociologia pelo Centro de Filosofia e Cincias Humanas da UFPa. Atualmente docente da Disciplina tica Profissional para o Curso de Administrao/ESMAC.

Adcontar, Belm, v. 5, n.1. p. 15-34, junho, 2004

INTRODUO
O senso comum propaga que nos dias em que vivemos no existem mais tantas pessoas crdulas pelos princpios tico-morais, pelas circunstncias que levam os homens nas condies da sociedade contempornea. A generalizao, porm, parece absurda. Por qu? Porque faz da venalidade uma linha congnita dos homens. A razo disso, entre outras, se deve a fatores que demonstram o quanto os agentes sociais ficam expostos a aes sem idoneidade, ou de suspeio, ou mesmo de mecanismos sociais e econmicos que seduzem corrupo. Isto vem demonstrando o quanto nossas instituies pblicas e privadas, bem como empresas de variadas espcies, so colocadas diante do crivo da avaliao por membros externos e internos, no que remete aceitao ou aos desvios das normas consideradas como padres sociais de condutas morais e ticas. De fato, em contextos de competies aguados pela falta de empregos, pela ganncia do lucro imediato, pela questo do poder econmico, e pelas condies sufocantes da economia e da necessidade de negociar com agentes que nem sempre se pautam pelas exigncias ticas, enfim, podemos dizer que em vrias situaes a conscincia dos administradores pode ser sempre colocada prova. A discusso que se tem propalado nos meios acadmicos e na literatura recente sobre o assunto no tem deixado de fora o problema da tica e suas exigncias pela boa conduta, e nem a difcil reconciliao destas exigncias no mundo do mercado. Os conflitos se do quando os administradores se vem encurralados pelas necessidades do mercado e as conseqncias que certas decises podem causar na vida de quem participa da organizao empresarial, sejam por meio dos seus membros diretos como empregados, fornecedores, outras empresas que mantm relaes comerciais, empresrios; ou indiretos, tais como clientes, e a sociedade beneficiada por determinado produto. O cerne da discusso tica empresarial tem tomado nfase e se espalhado nos currculos das faculdades de administrao no Brasil e no
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mundo, pois, como vem demonstrando os estudiosos do assunto (MOREIRA, 2002; NASH, 1993; SROUR, 2000; SINGER, 1998; SNCHES, 1998), as prticas empresariais passaram a ser vistas de forma mais questionvel, bem como as prticas e decises de administradores que se escondem por trs das empresas. Tais prticas podem ser assim enumeradas, para ttulo de exemplificao: subornos para dirigir licitaes pblicas; desvios de somas altas do errio pblico; sonegao fiscal; espionagem industrial e econmica; falsificao de medicamentos, de alimentos, roupas; doaes para financiar campanhas polticas a candidatos que ofeream alguma contrapartida a empresrios; explorao do trabalho infantil ou assalariado; falta de incorporao da qualidade real nos produtos apresentados populao; no apresentar ou ocultar informaes que dizem respeito sade pblica da sociedade e danos ambientais causados, segundo diz Srour (2000, p.24), apontam apenas para um dos problemas comuns da administrao empresarial, ao qual tem sido vista pelas lentes da sociedade de forma mais moralista, levando inclusive empresas a fecharem suas portas por causa de danos surtidos no mbito da opinio pblica.

POR QUE A EXIGNCIA DA TICA NOS NEGCIOS ATUALMENTE?


Como podem ser compreendidas de forma crtica estas questes que dizem respeito ao surgimento da discusso sobre a tica, ou da tica empresarial? Tais problemas podem ser vistos como partes de exigncias que se tem feito por agncias de controles sociais, tais como a mdia, e pela necessidade de que os negcios feitos pelas iniciativas de administradores visam uma postura tica mais exigente em funo da necessidade de transparncia na tomada de decises, e da qualidade dos produtos, dentro do contexto de um mercado mais exigente. Mas no s isto, preciso entender o jogo do poder e das relaes morais que se ocultam, muitas vezes, para que se possa dar margens a mecanismos funcionais que mantenham as empresas sobrevivendo num mundo competitivo. como se propalasse

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uma lei do mais forte num mundo dos negcios em que, para no cairmos na tentao de sermos ingnuos, as condutas morais por si s no bastam para justificar a complexidade da competio no mercado. Para aqueles administradores que ainda se pautam por aes idneas, os discursos dirigidos podem se pautar na tica, mas as prticas mostram que
[...] os praticantes de algumas dessas aes sentem-se justificados pela moral do oportunismo, de carter egosta e parasitrio, que vige de maneira oficiosa [...]. Mas, indispensvel ressalt-lo, tais agentes no assumem publicamente os atos que praticam nem se vangloriam deles. O que isso sugere? Que eles tm conscincia da natureza clandestina do que fazem, apesar de dispor de um arsenal de racionalizaes para persistir em sua conduta. Vale dizer, as morais so formas de legitimar decises e aes, porque operam como discursos de justificao. (SROUR, 2000, p.25).

moralidade, a tica e os negcios, tm tomado o aspecto de contradio e de distncias em relao aos problemas ticos. No mundo dos negcios, o administrador se v pressionado pela necessidade de negociar, juntamente com as exigncias econmicas da empresa e da sociedade. Muitos podem estar convencidos de que devem guiar-se por altos padres ticos, mesmo sabendo que outros no esto interessados em conciliar tica e necessidades econmicas. H administradores que julgam que a conduta moralmente correta se restringe a um plano de ao meramente pessoal, enquanto outros acreditam na irreconciliao, uma vez que defendem que moralmente aceitvel mentir nos negcios justificando a sobrevivncia econmica. Os desafios do mercado atual, as falhas ticas, os desvios de condutas nas empresas, colocam dilemas ticos que exigem uma mudana de postura de acordo com certa noo de integridade, em concomitncia com uma tica dos negcios, pressionados por mudanas no mundo do mercado e exigncias ocorridas na sociedade civil organizada. Como diz Nash (1993, p.5), o administrador moderno, junto com a empresa moderna, devem cultivar valores mais altrustas no sentido de atualizar valores que preservem o bem comum nas suas decises: A integridade nos negcios hoje exige capacidades incrivelmente integrativas; o poder de manter junta uma infinidade de valores importantes e quase sempre conflitantes; e exige o poder de colocar na mesma dimenso a moralidade pessoal e as preocupaes gerenciais. Nenhum administrador pode se dar ao luxo, do ponto de vista econmico ou moral, de manter suas noes morais em compartimento fechado... Todo administrador enfrenta o desafio de ter que tomar decises que muitas vezes escapam ao seu controle total, mas que no deixam de ser problemticas. Por isso, suas escolhas podem afetar direta ou indiretamente membros internos, ou a sociedade. Suas decises devem estar alinhadas a mudanas e exigncias ocorridas na sociedade, sintonizadas com uma srie de rigores legislativos que tendem a punir empresas que tomam decises danosas. Neste aspecto, a tica nos negcios aparece dentro de um con3

Desse modo, segundo o autor, pagar a conta ao mdico sem recibo para sonegar imposto, ou como no caso do administrador que gesta seu negcio sem o uso de notas fiscais para escapar do fisco; ou o suborno de um guarda; ou como no comrcio do mercado paralelo do dlar que, apesar de ser considerado imoral (segundo a moral da integridade), vista como legtima pela moral oficiosa do oportunismo. Administrar empresas exige estar atento aos problemas gerados pelas exigncias de condutas morais na sociedade. por isto que nem tudo pode ser to transparente, no sentido de que o pblico possa fazer uma avaliao moralista e injusta, e nem tanto oculta, a ponto de no esclarecer sobre os problemas relativos aos produtos vendidos sociedade. A tica dos negcios se situa dentro de exigncias demarcadas pela opinio moral social e pela compresso da competitividade. Por diversas razes, que vo desde o problema que envolve a eterna sede pela busca do lucro e a ganncia, at os cdigos corporativos de empresas que s sustentam suas prprias necessidades de se manter no mercado a qualquer custo, pensamos que a administrao e a

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texto demarcado no capitalismo atual nas ltimas dcadas, e no porque houve uma necessidade de cada administrador agir de acordo com o bom mocismo. O que a tica nos negcios? Segundo Nash (1993, p.6): tica nos negcios o estudo da forma pelo qual normas morais pessoais se aplicam s atividades e aos objetivos da empresa comercial. No se trata de um padro moral separado, mas do estudo de como o contexto dos negcios cria problemas prprios e exclusivos pessoa moral que atua como um gerente desse sistema. A mudana de preocupaes na tica nos negcios atesta a mudana ocorrida nas formas macro sociais do capitalismo recente. Segundo Nash (1993, p.7-22), os contextos das dcadas de 60 a 90 so marcantes para a mudana de percepo das empresas e das relaes comerciais sobre a questo da tica nas relaes comerciais. No perodo que abarca a dcada de 60, marcado pela guerra do Vietn, levantaram indignao da opinio pblica o desperdcio com a indstria blica e seu crescente poder de destruio de massa e o potencial de destrutividade das multinacionais no exterior. Fruto da uniformizao cultural advinda dessas relaes, fizeram com que os administradores enfrentassem problemas no sentido de que no s as relaes econmicas estavam se expandindo para explorao de mercados com mo-de-obra mais barata, como enfrentaram questes relativas aos danos ambientais e ao controle da poluio ambiental, e suas respectivas exigncias legislativas ocasionadas pela necessidade de reformas da conscincia social. Nos anos 70, continua a autora, o corporativismo de grandes e mdias empresas passou a ser vigiado em funo de uma conscincia cada vez mais acentuada por causa de escndalos pblicos e subornos de toda ordem. Os problemas internos de uma empresa capitalista, junto com suas contradies, antes eram vistos apenas pelos empregados ou por analistas sindicalizados. O escndalo de casos como o Watergate, nos EUA, expondo a corrupo do aparelho pblico, fraturaram a confiana nas administraes de negcios. Os administradores se vem pressionados a rever seus cdigos internos de condutas
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morais e ticas, e passaram a assumir as exigncias por transparncias nas negociaes devido ao crescente movimento de consumidores exigentes de uma nova conduta de empresas que agiam de forma ilcita, enganando ou causando danos sociais ao desenvolvimento, ou agindo de forma ideolgica por meio de propagandas, de embalagens, de rtulos, visando ludibriar o pblico. Os temas relativos defesa do consumidor e as diferenas culturais no exterior continuaram a dominar a tica nos negcios na primeira metade da dcada de 80. Isto exigiu mudanas na mentalidade das empresas, o que deu outro perfil ao capitalismo em expanso. Segundo Nash (1993, p.8), a preocupao central da moral coletiva centraliza seu foco de ateno em torno da capacidade moral do indivduos. Os conflitos de interesses, o comportamento ganancioso e individualista de administradores que lesavam interesses pblicos, aquisies ilegais de bens junto com a mentira, vieram tona e romperam o vu ou o mito da administrao e do administrador como portadores de carter de impessoalidade que cercava as discusses da tica nos negcios. A questo da tica nos anos 90 foi uma busca por um conjunto de premissas gerenciais que pudessem estimular o administrador a uma busca e valorizao pela integridade pessoal, uma vez que a empresa pode ser censurada por isso, e dando uma resposta aos outros de acordo com o contexto de competitividade empresarial. Neste contexto, surge a discusso em torno de uma tica que possa enfrentar as convulses da economia, onde o administrador possa enfrentar os dilemas da tica e da economia e reconciliar com questes sociais. A tica convencionada, como resposta a todos os problemas empresariais, fornece uma combinao entre a motivao do lucro e o esprito altrusta embebido pela necessidade de cooperao e confiana, e possui dois aspectos fundamentais: primeiro, no percebe o lucro e outros retornos sociais como objetivos absolutos pelo administrador; segundo, aborda as relaes empresariais como questo de relacionamento com o pblico, priorizando um viso humanista.

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A tica nos negcios ganha mais credibilidade quando se projeta sua imagem de acordo com as exigncias sociais do que com a natureza do capitalismo (NASH, 1993, p.19). Como resume Nash (1993), o impacto dessas mudanas no apenas econmico. Elas significam perigo para a capacidade moral das empresas e dos que nelas participam. No atender certas exigncias se torna danoso para a imagem social das empresas. A tecnologia e a complexidade financeira, as fraudes recorrentes, as novas preocupaes ambientais e legislaes mais rgidas, a educao de consumidores esclarecidos pela qualidade dos produtos, o turbilho das economias e a competitividade que chega a fechar empresas e corporaes, e a desmoralizar administradores, enfim, sobretudo o fator de confiana ao qual os consumidores chegam a depositar nas empresas avaliando suas funes do ponto de vista moral, tudo isto somado a outras questes do origem a uma necessidade de discusso e de efetivao da tica nos negcios sobre o risco de serem penalizados por desvios cometidos. A tica nos negcios to fundamental para a sobrevivncia de empresas pela simples necessidade de se autopreservarem no mundo das transaes comerciais.

mento foram acusados, de maneira infundada, de estarem envolvidos em prticas de abuso sexual de crianas (...). Mesmo sem provas concretas, o delegado e duas mes de aluno passaram informaes mdia que a divulgou sem prvia apurao da veracidade dos fatos. Em razo da explorao sensacionalista das denncias, a repercusso foi devastadora. Os acusados chegaram a temer linchamento, apesar de se declararem inocentes (...). Trs meses depois, as novas investigaes provaram que tudo no passou de uma srie de erros das mes, do delegado e da imprensa, que noticiou a verso que lhe foi passada sem question-la, chegando at a incentivar a violncia fsica contra os acusados. A casa em que funcionava a escola foi depredada na poca das denncias; os indiciados perderam seu negcio e tiveram de reformar o imvel que era alugado, tomando dinheiro emprestado. Por fim, com as reputaes destroadas, no conseguiram reconstruir suas vidas cinco anos depois do episdio, apesar do fato de, em dezembro de 1999, o Tribunal de Justia de So Paulo ter fixado uma indenizao de cem mil reais por dano moral para cada uma das vtimas (a serem acrescidos de juros e correo monetria). O Tribunal tambm decidiu que os danos materiais seriam ressarcidos. (in SROUR, 2000, p.23). A tica nos negcios empresariais no imune, pois carrega um peso muito vasto no poder que certas decises tm der causar impactos que irradiam seus efeitos distncia. Da a preocupao das empresas pela formao tica de seus funcionrios. Em termos prticos, afetam o que se chama de stakeholders (SROUR, 2000, p.41), ou seja, os agentes direta e indiretamente ligados s decises organizacionais ou de gestores administrativos. So eles, na linha interna: trabalhadores, gestores, proprietrios; e na externa: clientes, fornecedores, prestadores de servio, autoridades governamentais, entidades da sociedade civil, tais como movimentos sociais de defesa dos direitos dos consumidores, sindicatos, meios de comunicao, entre outros. Quando falamos em contextos sociais de riscos para as empresas e para a tomada de decises pelos administradores estamos nos referindo aos encargos e nus da culpa que precisam assumir
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A SEDE PELA TICA


A sede pela tica se justifica para os administradores devido aos enfrentamentos complexos que suas escolhas e decises podem causar. O trabalho do administrador est sujeito, sem dvida, a avaliaes que tendem a julg-lo moralmente. Se sua postura moral no estiver de acordo com o que a opinio pblica considera como padro de conduta moral legtima, ento a vida de seu empreendimento estar comprometida, mesmo que isto se faa por meio de uma mdia que denuncia sem fundamentos e injustamente uma causa, como foi o caso que ocorreu com os administradores de uma escola. Vejamos: Basta citar o famoso caso da Escola Base, no Bairro da Aclimao em So Paulo, em maro de 1994, quando os donos do estabeleci-

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por algo visto como antitico. Isto representa uma forma de mostrar que a empresa tem lealdade com os clientes, e um ntido espao para a tica nos negcios se justificarem. No caso de uma administradora de recursos de terceiros, como uma corretora ou banco, como administrar os conflitos financeiros entre esta e os clientes? claro que em funo de interesses particulares as informaes sigilosas dos clientes podem terminar nas mos de administradores em proveito prprio. O sigilo se estabelece pela Muralha da China que, segundo Srour (2000, p.37), evita a invaso nas informaes do cliente, isolam informaes pblicas das privadas, estabelecem barreiras tecnolgicas e fsicas, dividindo departamentos e proibindo acessos, criando dispositivos de vigilncia dos prprios funcionrios, criando departamentos de fiscalizao com autonomia para controlar saltos sobre a muralha. A lealdade devida aos clientes e investidores, mostrando que a tica nos negcios tem tambm a ntida cautela pela preservao de sua permanncia num mundo exigente de segurana e onde o poder do mercado pode detonar resultados negativos do ponto de vista econmico e moral. A tica empresarial, como toda moral, historicamente compreendida de acordo com sua funo no mundo, pressionada por outros valores regidos pelo mercado. Neste aspecto, quando uma administrao assume uma postura de vigilncia interna de seus funcionrios, em funo da tica nos negcios, difcil imaginar que ela tome partido do bom-mocismo, pois como se colocam em termos polticos e sociolgicos, mais crvel aceitar que ela tenha conjugado seu credo organizacional que considera a empresa responsvel pelos clientes, empregados, comunidade e acionistas com uma anlise estratgica da relao de foras no mercado (SROUR, 2000, p.42). Fica mais fcil imaginar que a tica nos negcios, pressionada pelo mercado e por transformaes ocorridas no seio social, tem sido fruto de um contexto histrico bem demarcado e de uma dinmica social precisa, conforme dissemos at aqui. Neste sentido, o credo organizacional de administradores e de empresas se viu tomado pela necessidade de se
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voltar para uma nova perspectiva social, que criou a mentalidade da responsabilidade social, a busca pela formao de padres de condutas ticas de seus funcionrios (mesmo que seja apenas como discurso) e a introduo de mecanismos que prezam pela valorizao da opinio pblica sobre os produtos da empresa. A bem da verdade, em ambientes competitivos, as empresas tm uma imagem a resguardar, uma reputao e uma marca. A ampliao dos direitos deu condies para que a sociedade reunisse elementos para se mobilizar e retaliar empresas socialmente vistas como irresponsveis e inidneas. A cidadania organizada e educada, associando a isso o crescente custo da vida social, exige uma postura dos dirigentes e administradores para agirem de forma mais responsvel. Neste aspecto, enveredamos nesta discusso a fim de mostrar como se situa a mudana de mentalidade de uma tica empresarial meramente preocupada com os interesses prprios pelo lucro e a eficincia, e passamos a entender que as mudanas ocorridas nas esferas sociais mais amplas exigiram uma transformao da postura em torno da tica empresarial. Como diz o estudo da professora de administrao Laura Nash (1993), podemos perceber uma reflexo nesse campo, que tem discutido que os objetivos das empresas devem mudar suas condutas para uma tica mais responsvel com o social, definindo objetivos que possam transcender a mera funcionalidade dos negcios. Segundo diz Nash (1993, p.24-25), as declaraes de objetivos empresarias , em sua natureza, funcional e mais do que tica, ou que as empresas buscam nos seus negcios apenas a excelncia, sem nunca definir o objetivo geral que se visa com tais atividades, pois preciso entender a atividade da administrao e da empresa como uma entidade social... uma organizao de pessoas onde as aes de uns tm efeito sobre o bem-estar e os direitos dos outros. Em outros termos, estas exigncias tm refletido mudanas exigidas pela sociedade civil como possibilidade de fazer poltica pela tica e viabilizar aos empresrios posturas ticas nos seus negcios, bem como posturas morais das empresas por meio de interveno social (NASH,

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2000, p.43). Vamos simplificar a questo mostrando no fluxograma abaixo, em que as agncias de controle (Procon, organizaes sociais, tribunais de justia, leis ambientais, centros de vigilncias sanitrias, Ongs, mdia, entre outros) efetuam um trabalho de presso poltica por uma tica nos negcios:

Sociedade civil organizada

Mdia, Tribunais, Legislao, Movimentos Sociais, Ag. De Defesa

das com as exigncias do mundo da tica nos negcios, desejando que funcionrios e clientes possam estar em concordncia com valores defendidos, como a probidade, a honra, o compromisso, a decncia, a retido, a licitude, o respeito e a verdade. Isso tem soado como expresso da tica empresarial sintonizada com os costumes e a moral vigente, tal como exigida historicamente pelas agncias de controles sociais. Nas transaes Presso Poltica pela tica nos Negcios que seguem importncias econmicas, natural que os interesses egostas possam Poder de prevalecer como Exigncia desvio de conduta, mas que passam a serem moralmenPercepo das te reprovveis estratgias dessa lgica. Aderem ao quando se tornam comportamento social pblicas. Neste sentido, o que estuda a tica, e sobretudo, a tica empresarial? A tica tem servido como uma cincia prtica, segundo a definio do filsofo Aristteles, que foi formulada como reflexo sobre o comportamento virtuoso ou no, tico ou no, dos agentes sociais que adotam padres de condutas morais segundo normas sociais convencionadas como boas ou ms. Ela serve tambm para estudar as normas morais histricas. E o que so as normas morais que pautam comportamentos dos indivduos? So cdigos formalizados, expressam valores; o conjunto de normas e regras destinadas a regular as relaes dos indivduos numa comunidade social dada; ou os discursos que so internamente coerentes com os princpios e propsitos os quais visam se tornar socialmente validados, e ao mesmo tempo, como aqueles meios que propiciam aos indivduos se comportarem e se conduzirem a partir de determinadas formas diante de outros
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responsvel: a tica nos Negcios converte-se em estratgia empresarial e profissional .

A NECESSIDADE DA TICA: O MUNDO NO GIRA SOMENTE EM TORNO DE NS


Como vivemos em permanente contato com as pessoas, envolvidos por costumes e tradies culturais e morais quase sempre presentes em nossas convices, e pontos de vista bastante variados, as questes morais escondem-se em muitas decises e aes do cotidiano empresarial. Como em qualquer outro meio, no mundo das negociaes e do trabalho, envolvendo relaes que exigem um cumprimento razovel de valores ticos e morais, no sem fundamento que os discursos de muitas iniciativas empresariais tm evocado a imagem das empresas afina-

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e mediante uma rede de relaes sociais (SNCHES, 1993, p.24). Por isso, a tica visa tambm fundamentar ou justificar certa forma de comportamento moral; com que propsito? Reprovando aqueles comportamentos morais que no tomam o partido de justia e do que socialmente bom para o homem; ou refletindo sobre as amarras que fazem os agentes sociais ficarem presos ao egosmo ou quilo que faz com que o indivduo no se importe com os outros. Cabe-nos estabelecer uma distino entre o que da competncia da tica e o que da competncia da moral. Como diz Snches (1993, p.7) respeito da diferena dos problemas prtico-morais, os ticos so caracterizados pela sua generalidade, ou seja, se na vida real o indivduo se depara com desafios e obstculos, que so prticos, ento dever resolver por si mesmo, pela via moral, como diz Snches, e com a ajuda das normas sociais. J o problema sobre como agir diante de determinada situao em que lhe exigem que faa uma boa ao, isto diz respeito a uma questo moralmente valiosa do ponto de vista dos valores ticos convencionalmente aceitos pela sociedade, pois a tica fundamenta o que bom. claro que cair na teoria do relativismo tico perigoso, no sentido de admitir que devemos aceitar que cada grupo social tem suas prprias normas; ou no sentido de que a sociedade deve aceitar determinadas formas de comportamentos sociais como ticos e como valores universais. O exemplo disso o caso do grupo dos criminosos. Estes possuem suas prprias normas sociais, e suas prprias regras que regem o comportamento moral de quem envereda nos caminhos do crime. Portanto, para esse tipo de comportamento moral, a tica estabelece formas de compreender o que permitido ou proibido e ainda nos ajuda a compreender que nem todas as formas de obedincia s normas sociais so fundamentadas do ponto de vista tico. Os nazistas eram obedientes demais ao Estado Nazista alemo, e no entanto, suas atitudes justificadas, foram consideradas um crime. A tica busca mostrar qual a verdadeira finalidade (boa ou m), enquanto possui o carter de pensar o comportamento moral no plano terico-tico, ou
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universal (SNCHES, 1993, p.8). Podemos ento mostrar que o contexto da tica dos negcios segue os mesmos pressupostos da questo terica da tica como colocamos acima: o objeto da tica empresarial visa estudar, a partir de contextos sociais bem demarcados e distintos, aquelas formas de comportamentos morais que pautam as morais empresariais. A importncia dessa preocupao, que tem aparecido nos ltimos anos sobre a necessidade da tica dentro do mundo empresarial, seja na forma de formao de funcionrios ou na forma presencial de palestras e de reprovaes a atitudes inconcebveis e danosas, reporta questo j apontada aqui antes: a preocupao com a repercusso social e moral que certos problemas de decises acarretam na administrao de bens e negcios. A reflexo tica coloca questes profundas e de carter humanista que visam estabelecer o consenso de que cada indivduo define para si o que o bem, fundado no pressuposto de que o respeito ao outro e a no violabilidade de seus direitos uma regra universal do humanismo tico, ao qual deve se sobressair sobre os meros interesses privados dos que acham que o mundo gira em torno de si e de seus prprios interesses. No centro de muitas discusses sobre a problemtica relativa a dilemas ticos e morais, em que as decises de alguns podem surtir efeitos conseqentes sobre o todo, podemos encontrar hoje em discusso no plano acadmico da administrao a pauta da reflexo tica preocupada com os efeitos prticos das decises, vinculadas a questionamentos sobre o que fazer e como proceder em situaes adversas, ou como se comportar diante de incongruncias dos negcios. Estas preocupaes se resumem a uma perspectiva do utilitarismo, o qual determina que as decises devem conduzir a provocar o mximo de bem aos envolvidos, sobrepondo o bem a tudo, principalmente em relao a alguns indivduos (critrio da eficcia); e o da finalidade, que determina que a bondade dos fins justifica o uso dos meios, mesmo que em certas circunstncias se use a mentira (em sua mxima, em que coloca que se alcance os objetivos, custe o que custar). No cerne destas duas correntes ticas, empreendidas nas relaes da tica nos negci-

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os, encontramos a separao que o socilogo alemo Max Weber encontrou para explicar o fenmeno do dualismo tico no plano do mundo das instituies e das relaes impessoais modernas racionalizadas e administradas: de um lado, uma tica da convico; e por outro, uma tica da responsabilidade. Para compreendermos esta questo, comecemos por um exemplo: um administrador enfrenta continuamente conflitos internos entre aquilo que deveria fazer enquanto representante leal da empresa e aquilo que um indivduo, amigo, consumidor ou cidado pensaria ser certo. Parafraseando a conhecida piada do embaixador (que mente no exterior pelo seu pas), um executivo aquele que mente no exterior pela sua empresa. Uma das responsabilidades mais difceis do executivo tico manter em equilbrio, ou mesmo integradas, entre as perspectivas no empresariais e as obrigaes gerenciais. Uma amiga e subordinada procurou-o para pedir, confidencialmente, um conselho. Ela acabou de receber uma oferta de emprego de outra empresa e quer saber o que ele acha que ela deve fazer, sabendo que sua empresa recebeu um aviso de que s tem trs meses de vida: ou melhora o desempenho ou vai ser extinta. A colaborao da amiga nesse projeto crucial, dada sua competncia. Mas, se explicar os fatos, ou seja, que h grandes chances de a empresa fechar e no pagar os empregados, provavelmente vai perdla. Mesmo que ela fique, a informao pode vazar e desmoralizar o restante da equipe. Ele deve contar sua amiga os fatos, sabendo que isto diz respeito ao dilema que ela enfrentar em fazer o bem a si ou para a empresa? (NASH, 1993, p.192). O dilema colocado pela autora demonstra um entre outros desafios apresentados de forma prtica pelas necessidades do mundo dos negcios, principalmente quando apontam para a sobrevivncia da empresa. Percebemos que entre ter que visar o bem da pessoa que competentemente produziu bons resultados na empresa e ter que mentir para que a funcionria no saiba o que est ocorrendo, e para ter a esperana de salvar os negcios, o administrador se v forado pelas circunstncias, tendo que tomar a difcil deciso. Sua opo pelo uso circunstancial da mentira

nos remete a algo comum nas relaes sociais e econmicas e ao qual conduz a conflitos de ordem tica e moral. Se mentir um mal para as relaes sociais humanas em geral, cabe dizer que nem toda mentira perniciosa, como foi feita muitas vezes em que as famlias contrrias ao anti-semitismo nazista escondiam os judeus nos pores de suas casas, mentindo para os soldados da SS sobre o paradeiro de judeus em suas casas. Eles estavam claramente contrariando os nazistas em dizer a verdade. Mas, como diz o filsofo alemo Immanuel Kant, mentir no o melhor meio para se chegar a um fim tico, ou como diz o ditado popular que uma mentira dita muitas vezes pode se tornar uma verdade. Para Kant, se para cada vez que passarmos por necessidades de curto prazo tivermos que mentir, ento o risco para a os homens, de forma geral, estaria em que a mentira poderia ser utilizada como o recurso justificado para tirar os homens do sufoco ou do apuro em que se encontram conforme as circunstncias, podendo inclusive ser perigosamente transformado como lei geral e universalmente aceito. As conseqncias, segundo Kant, tambm estariam ligadas ao fato de que as aes e os comportamentos morais daqueles que mentem correriam o risco de serem sempre desacreditados no futuro, pois sempre poderiam ver o indivduo como potencialmente mentiroso, ou as pessoas poderiam retribuir ao indivduo mentiroso com a mesma moeda da mentira, como forma de pagar as injustias cometidas. Segundo Kant, a vontade do homem ao agir moralmente em sociedade deve buscar ser sempre boa, no apenas para si, mas para os outros de forma universal. Vejamos o que diz Kant em sua Fundamentao da Metafsica dos Costumes:
Entretanto, para resolver de maneira mais curta e mais segura o problema de saber se uma promessa mentirosa conforme ao dever [de agir em funo do bem, citao nossa], preciso s perguntar a mim mesmo: Ficaria eu satisfeito de ver minha mxima (de me tirar de apuros por meio de uma promessa no verdadeira) tomar o valor de lei universal (tanto para
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mim como para os outros)? E poderia eu dizer a mim mesmo: Toda a gente pode fazer uma promessa mentirosa quando se acha numa dificuldade de que no pode sair de outra maneira? Em breve reconheo que posso em verdade querer a mentira, mas que no posso querer uma lei universal de mentir; pois, segundo uma tal lei, no poderia propriamente haver j promessa alguma, porque seria intil afirmar a minha vontade relativamente s minhas futuras aes a pessoas que no acreditariam na minha afirmao, ou, se precipitadamente o fizessem, me pagariam na mesma moeda. Por conseguinte, a minha mxima, uma vez arvorada em lei universal, destruir-se-ia a si mesma, necessariamente. (KANT, 1975, p.116).

Os dispositivos que compem os cdigos morais traduzem valores, principalmente normas e ideais, princpios e regras que vo sendo aplicados pelos agentes em situaes concretas. Mas, acreditamos que nem sempre possvel seguir o que ditam regras, pois as decises mais importantes, seja de um administrador, seja de um profissional de outra natureza, no encontram suas respostas prontas em receiturios, frmulas, prescries que dizem o que deve ou no ser feito. Cabe capacidade humana e aos estratagemas da inteligncia e dos valores ticos possveis, o poder de agir de acordo com as decises a tomar. O problema humano tico o da escolha, muitas vezes entre agir para atingir o bem comum, ou de agir s escusas para garantir uma boa resoluo para conflitos no mundo dos negcios humanos. A economia coloca o administrador muitas vezes diante do dilema de ter que tomar uma deciso tica, guiando seu comportamento moral e de seus funcionrios dessa forma, ou agindo s ocultas ou parcialmente para alcanar os fins do lucro. O dilema colocado acima sobre a relao da deciso do administrador com sua amiga funcionria e as necessidades da empresa, segundo o contexto da tica empresarial,
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comumente pensado de forma bipolar mediante duas ticas que se confrontam no cotidiano para resolver emergncias econmicas. Uma a tica da convico, ao qual presume simplificadamente a mxima que diz: cumpra suas obrigaes custe o que custar, e que pressupe como princpio o respeito ao dever ou respeite as regras haja o que houver. Talvez possamos discordar aqui da viso colocada por muitos autores sobre esta tica, pois acreditamos que dogmtico o exerccio da obedincia a regras, uma vez que a tica e o sujeito tico precisam agir e tomar decises que so flexveis e inconstantes. Para a tica da responsabilidade, o que importa que os agentes possam avaliar os efeitos e as conseqncias previsveis de suas aes, buscando conciliar os objetivos da empresa para fins que sejam vistos como bons. A finalidade de agir em funo do que visto como bom pode justificar que se tome partido de aes e recursos que no so sempre ticos. Esta tica da responsabilidade no converte princpios ou ideais em prticas do cotidiano, como faz a outra, nem aplica normas ou crenas sobre virtudes filosficas, religiosas, ou mximas aplicando-as nos termos da tica dos negcios. Os valores do mundo econmico s podem ser compreendidos como instrumentais e de acordo com as prticas empresariais em jogo. De forma geral, a tica dos negcios responde de forma instrumental s necessidades empresariais, valendo o esforo de conciliar conflitos trabalhistas, relacionamento com clientes, conquistar novos consumidores potenciais que simpatizam com determinada atividade comercial, produzir no imaginrio social a idia de que se preservam os valores morais internamente e externamente, e sobretudo, a necessidade de se alcanar os objetivos intentados pela empresa pela tomada racional de decises que exigem grande poder de deliberao em funo da anlise das circunstncias e de suas complexidades. Limito-me a Srour (2000, p. 63) para tentar resumir que, devido s fortes necessidades de tomadas de decises por administradores de negcios no mundo competitivo em que nos encontramos, interessante analisar o porqu se toma partido de uma tica em detrimento de ou-

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tra doutrina, pois (...) ao adotar-se a tica da responsabilidade, realizam-se anlises de risco, mapeiam-se as circunstncias, sopesam-se as foras em jogo, perseguem-se objetivos e medem-se as conseqncias das decises que sero tomadas. O pensador alemo Max Weber captou essencialmente a disputa dessas ticas e sua importncia para o mundo moderno em que o Estado e as instituies do capitalismo recente exigem esforos que vo tomando conta e absorvendo o mundo da vida, pela administrao racionalizada e racionalizadora do homem e de suas tomadas de decises por valores mais instrumentais. A lgica dessas ticas, particularmente a da responsabilidade, prpria do capitalismo atual em suas fases de complexidades, como diz Weber (in SROUR, 2000, p.50):
(...) toda atividade orientada pela tica pode subordinar-se a duas mximas totalmente diferentes e irredutivelmente opostas. Ela pode orientar-se pela tica da responsabilidade (verantwortungethisch) ou pela tica da convico (gesinnsungethisch). Isso no quer dizer que a tica da convico seja idntica ausncia de responsabilidade e a tica da responsabilidade ausncia de convico. No se trata evidentemente disso. Todavia, h uma oposio abissal entre a atitude de quem age segundo as mximas da tica da convico em linguagem religiosa, diremos: O cristo faz seu dever, e no que diz respeito ao resultado da ao remete-se a Deus e a atitude de quem age segundo a tica da responsabilidade que diz: Devemos responder pelas conseqncias previsveis de nossos atos.

das finalidades a alcanar e das conseqncias das aes a tomar, do que conduzir crena em virtudes morais fundadas em doutrinas que preservam o homem dos efeitos instrumentais das relaes do capitalismo moderno. Weber deixa bem claro o sentido de uma tica da convico para nossa atualidade, ao qual, de modo geral, no se ajusta bem s necessidades dos empreendedores empresariais, pois preferem deixar aos professores, filsofos, socilogos e pensadores, o nus de ter que pensar as virtudes morais, uma vez que no so eles que tero que arcar com o nus de uma deciso ou de um empreendimento fracassado. Como diz Weber (in SROUR, 2000, p. 65):
O partidrio da tica da convico no se sentir responsvel seno pela necessidade de velar sobre a chama da pura doutrina a fim de que ela no se extinga; velar, por exemplo, sobre a chama que anima o protesto contra a injustia social. Seus atos s podem e devem ter um valor exemplar, mas que, considerados do ponto de vista do objetivo eventual, so totalmente irracionais, s podem ter um nico fim: reanimar perpetuamente a chama de sua convico.

Ainda segundo Max Weber, a tomada de decises no mundo racionalmente administrado da sociedade industrial como a nossa, se projeta como potencialmente importante uma vez que a modernidade incorporada por meio das relaes sociais em todos os mbitos da vida exige que as aes estejam muito mais voltadas para a assuno

Por outro lado, quando o administrador deixa de tomar as medidas que podem ser consideradas socialmente mais benficas, ou seja, que buscariam conciliar os interesses e as finalidades da empresa com os da sociedade, equilibrando conflitos, sua escolha pode surtir efeitos paradoxais na tomada de decises: ou o bem comum, ou ter que suportar o peso de decises que ocasionam efeitos malficos, como o daquelas atividades industriais que passam por cima de todo protocolo convencionado das leis ambientais, violentando a ecologia em nome do lucro, e ento podero arcar com o malogro e a inpcia de suas aes. Como escreve Renato Janine Ribeiro em seu artigo intitulado O governo e a tica da responsabilidade (FOLHA DE SO PAULO, 13/ 12/98):
Aos olhos de muitos, a tica da responsabilidade aparece como uma indecncia, o que ela no ,
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e no como : uma tica menos ciosa de princpios, mas que nem por isso leve de portar, porque implacvel com quem no consegue gerar os efeitos prometidos. (...) a responsabilidade impe a obrigao do sucesso. No h perdo para o fracasso. (...) um poltico tem de estar preparado para a derrota e para o vazio que a tica da responsabilidade produz sua volta.

CONSIDERAES FINAIS
As relaes empresarias se solidificam no sentido de propagar uma tica no mundo dos negcios, sintonizadas com as mudanas ocorridas de acordo com as exigncias da competio no capitalismo atual, que embala a discusso pela assuno de novos padres comportamentais para as empresas e seus administradores. No se pode descartar que os desvios de condutas que levam a tomadas de posies que no se adequam tica convencionada esto de acordo com aquelas anlises sociolgicas que apontam as divergncias de valores e a cultivao de padres de condutas morais dentro das corporaes, ou seja: se o capitalismo globalizado estende exigncias de relaes cada vez mais impessoais nas empresas, e ao mesmo tempo encontra relaes de corporativismo, voltadas para interesses meramente econmicos, relaes paternalistas, relaes de condutas pessoais se preponderando sobre interesses maiores, ento se colocam como o outro lado do desafio tico para as instituies e para o inconstante anseio de se implantar a tica nos negcios. No entanto, essa postura de uma tica voltada para os negcios, visando dar subsdios aos

administradores para a soluo e o equilbrio das necessidades da empresa e da sociedade, no esto desvinculadas de mudanas e exigncias ocorridas nas trs ltimas dcadas do sculo XX, pois esto contextualizadas com transformaes exigidas pelas agncias de controles sociais, pelas sanes pblicas, pelas penalidades por danos sociais e morais, e pelo risco de ocorrerem falncias, levando as empresas a adotarem os pressupostos da ticas dos negcios como meio de se preservarem da imagem de irresponsveis sociais, ou de insensveis aos cdigos morais da sociedade e, sobretudo, dos riscos de no assumirem essa postura pela tica empresarial responsvel.

REFERNCIAS
KANT, Immanuel. Fundamentao da metafsica dos costumes. So Paulo: Abril, 1975. (Coleo Os Pensadores). MOREIRA, Joaquim Manhes. A tica empresarial no Brasil. So Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. NASH, Laura L. tica nas empresas: boas intenes parte. So Paulo: Makron Books, 1993. RIBEIRO, Renato Janine. O Governo e a tica da responsabilidade. Folha de So Paulo, So Paulo, 13 dez. 1998. SNCHES, Vsquez Adolfo. tica. 18. ed. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1998. SINGER, Peter. tica prtica. 2. ed. So Paulo: Martins Fontes, 1998. SROUR, Robert Henry. tica empresarial. Rio de Janeiro: Campus, 2000.

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