Simulado - 9º Ano (Literatura)
Simulado - 9º Ano (Literatura)
Simulado - 9º Ano (Literatura)
Não, não deste último carnaval. Mas não sei por que este me transportou
para a minha infância e para as quartas-feiras de cinzas nas ruas mortas onde
esvoaçavam despojos de serpentina e confete. Uma ou outra beata com um
véu cobrindo a cabeça ia à igreja, atravessando a rua tão extremamente vazia
que se segue ao carnaval. Até que viesse o outro ano. E quando a festa ia se
aproximando, como explicar a agitação íntima que me tomava? Como se enfim
o mundo se abrisse de botão que era em grande rosa escarlate. Como se as
ruas e praças do Recife enfim explicassem para que tinham sido feitas. Como
se vozes humanas enfim cantassem a capacidade de prazer que era secreta
em mim. Carnaval era meu, meu.
No entanto, na realidade, eu dele pouco participava. Nunca tinha ido a um
baile infantil, nunca me haviam fantasiado. Em compensação deixavam-me
ficar até umas 11 horas da noite à porta do pé de escada do sobrado onde
morávamos, olhando ávida os outros se divertirem. Duas coisas preciosas eu
ganhava então e economizava-as com avareza para durarem os três dias: um
lança-perfume e um saco de confete. Ah, está se tornando difícil escrever.
Porque sinto como ficarei de coração escuro ao constatar que, mesmo me
agregando tão pouco à alegria, eu era de tal modo sedenta que um quase nada
já me tornava uma menina feliz.
E as máscaras? Eu tinha medo mas era um medo vital e necessário
porque vinha de encontro à minha mais profunda suspeita de que o rosto
humano também fosse uma espécie de máscara. À porta do meu pé de
escada, se um mascarado falava comigo, eu de súbito entrava no contato
indispensável com o meu mundo interior, que não era feito só de duendes e
príncipes encantados, mas de pessoas com o seu mistério. Até meu susto com
os mascarados, pois, era essencial para mim.
Não me fantasiavam: no meio das preocupações com minha mãe doente,
ninguém em casa tinha cabeça para carnaval de criança. Mas eu pedia a uma
de minhas irmãs para enrolar aqueles meus cabelos lisos que me causavam
tanto desgosto e tinha então a vaidade de possuir cabelos frisados pelo menos
durante três dias por ano. Nesses três dias, ainda, minha irmã acedia ao meu
sonho intenso de ser uma moça – eu mal podia esperar pela saída de uma
infância vulnerável – e pintava minha boca de batom bem forte, passando
também ruge nas minhas faces. Então eu me sentia bonita e feminina, eu
escapava da meninice.
Mas houve um carnaval diferente dos outros. Tão milagroso que eu não
conseguia acreditar que tanto me fosse dado, eu, que já aprendera a pedir
pouco. É que a mãe de uma amiga minha resolvera fantasiar a filha e o nome
da fantasia era no figurino Rosa. Para isso comprara folhas e folhas de papel
crepom cor-de-rosa, com as quais, suponho, pretendia imitar as pétalas de
uma flor. Boquiaberta, eu assistia pouco a pouco à fantasia tomando forma e
se criando. Embora de pétalas o papel crepom nem de longe lembrasse, eu
pensava seriamente que era uma das fantasias mais belas que jamais vira.
Foi quando aconteceu, por simples acaso, o inesperado: sobrou papel
crepom, e muito. E a mãe de minha amiga – talvez atendendo a meu apelo
mudo, ao meu mudo desespero de inveja, ou talvez por pura bondade, já que
sobrara papel – resolveu fazer para mim também uma fantasia de rosa com o
que restara de material. Naquele carnaval, pois, pela primeira vez na vida eu
teria o que sempre quisera: ia ser outra que não eu mesma.
Até os preparativos já me deixavam tonta de felicidade. Nunca me sentira
tão ocupada: minuciosamente, minha amiga e eu calculávamos tudo, embaixo
da fantasia usaríamos combinação, pois se chovesse e a fantasia se
derretesse pelo menos estaríamos de algum modo vestidas – à ideia de uma
chuva que de repente nos deixasse, nos nossos pudores femininos de oito
anos, de combinação na rua, morríamos previamente de vergonha – mas ah!
Deus nos ajudaria! não choveria! Quanto ao fato de minha fantasia só existir
por causa das sobras de outra, engoli com alguma dor meu orgulho que
sempre fora feroz, e aceitei humilde o que o destino me dava de esmola. Mas
por que exatamente aquele carnaval, o único de fantasia, teve que ser tão
melancólico? De manhã cedo no domingo eu já estava de cabelos enrolados
para que até de tarde o frisado pegasse bem.
Mas os minutos não passavam, de tanta ansiedade. Enfim, enfim!
chegaram três horas da tarde: com cuidado para não rasgar o papel, eu me
vesti de rosa.
Muitas coisas que me aconteceram tão piores que estas, eu já perdoei. No
entanto essa não posso sequer entender agora: o jogo de dados de um destino
é irracional? É impiedoso. Quando eu estava vestida de papel crepom todo
armado, ainda com os cabelos enrolados e ainda sem batom e ruge – minha
mãe de súbito piorou muito de saúde, um alvoroço repentino se criou em casa
e mandaram-me comprar depressa um remédio na farmácia. Fui correndo
vestida de rosa – mas o rosto ainda nu não tinha a máscara de moça que
cobriria minha tão exposta vida infantil – fui correndo, correndo, perplexa,
atônita, entre serpentinas, confetes e gritos de carnaval. A alegria dos outros
me espantava.
Quando horas depois a atmosfera em casa acalmou-se, minha irmã me
penteou e pintou-me.
Mas alguma coisa tinha morrido em mim. E, como nas histórias que eu
havia lido sobre fadas que encantavam e desencantavam pessoas, eu fora
desencantada; não era mais uma rosa, era de novo uma simples menina. Desci
até a rua e ali de pé eu não era uma flor, era um palhaço pensativo de lábios
encarnados. Na minha fome de sentir êxtase, às vezes começava a ficar alegre
mas com remorso lembrava-me do estado grave de minha mãe e de novo eu
morria.
Só horas depois é que veio a salvação. E se depressa agarrei-me a ela é
porque tanto precisava me salvar. Um menino de uns 12 anos, o que para mim
significava um rapaz, esse menino muito bonito parou diante de mim e, numa
mistura de carinho, grossura, brincadeira e sensualidade, cobriu meus cabelos
já lisos, de confete: por um instante ficamos nos defrontando, sorrindo, sem
falar. E eu então, mulherzinha de 8 anos, considerei pelo resto da noite que
enfim alguém me havia reconhecido: eu era, sim, uma rosa.
(TEXTO TEATRAL)
FABIANA, (arrepelando-se de raiva) – Hum! Eis aí está para que se casou meu
filho, e trouxe a mulher para minha casa. É isto constantemente. Não sabe o
senhor meu filho que quem casa quer casa… Já não posso, não posso, não
posso! (Batendo o pé). Um dia arrebento e então veremos!
A) correta apenas I
B) corretas II, III e V
C) correta apenas II
D) correta apenas III
E) corretas III e IV
(CORDEL)
09. (ENEM)
Texto I
João perdeu o seu pai
com sete anos de idade
morava perto de um rio
Ia pescar toda tarde
um dia fez uma cena
que admirou a cidade.
Fonte: http://charlezine.com.br/proezas-de-joao-grilo/
Texto II
O termo “Cordel” é de herança portuguesa. Essa manifestação artística foi
introduzida por eles no país em fins do século XVIII. Na Europa, ela começou a
aparecer no século XII em outros países, tais quais França, Espanha, Itália,
popularizando com o Renascimento. No Brasil, a literatura de cordel representa
uma manifestação tradicional da cultura interiorana do Nordeste que adquiriu
força no século XIX, sobretudo, entre 1930 e 1960. Fonte:
https://www.todamateria.com.br/literatura-de-cordel/ (Adaptado)
a. é uma literatura regional, típica de uma região do Brasil, conhecida por seu
caráter sério e formal.
b. é conhecida por ser parte da rica cultura nordestina, com influências de
outros lugares do Brasil.
c. é escrita em versos, como mostra o Texto 1, contando com a rigidez exigida
das formas poéticas.
d. é uma manifestação cultural muito conhecida, responsável por contar
apenas histórias reais, como as de Grilo.
e. é uma tradição já bastante antiga no Nordeste do país, sendo um meio de
informar e divertir os leitores.
Texto I
Fonte: A Lei Maria da Penha Em Cordel. Autor: Tião Simpatia. Ilustração: Meg
Banhos. Editora: Armazém da
Cultura, 2011.