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Guia de Internacional Privado - Enviado P

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Universidade Politécnica

A POLITÉCNICA
Escola Superior Aberta

GUIA DE ESTUDO
Direito Internacional Privado
Curso de Ciências Jurídicas
(7º Semestre)

Moçambique
FICHA TÉCNICA

Maputo, Março de 2014


© Série de Guias de Estudo para o Curso de Gestão de Recursos
Humanos (Ensino a Distância).

Todos os direitos reservados à Universidade Politécnica

Título: Guia de Estudo de Direito Internacional Privado


Edição: 1ª

Organização e Edição
Escola Superior Aberta (ESA)

Elaboração
Ernesto Luís Cuambe (Conteúdo)
xxx (Revisão Textual)
APRESEN TAÇÃO
Caro(a) estudante

Está nas suas mãos o Guia de Estudo da disciplina de Direito


Internacional Privado que integra a grelha curricular do Curso de
Licenciatura em Ciências Jurídicas oferecido pela Universidade Politécnica
na modalidade de Educação a Distância.

Este guia tem por finalidade orientar os seus estudos individuais neste
semestre do curso. Ao estudar a disciplina de Direito Internacional Privado

Este Guia de Estudo contempla textos introdutórios para situar o assunto


que será estudado os objectivos específicos a serem alcançados ao término
de cada unidade temática, a indicação de textos como leituras obrigatórias
que você deve realizar as diversas actividades que favorecem a compreensão
dos textos lidos e a chave de correcção das actividades que lhe permite
verificar se você está a compreender o que está a estudar.

Vai também encontrar no guia a indicação de leituras complementares, isto


é, indicações de outros textos, livros e materiais relacionados ao tema em
estudo, para ampliar as suas possibilidades de reflectir, investigar e dialogar
sobre aspectos do seu interesse.
Esta é a nossa proposta para o estudo de cada disciplina deste curso. Ao
recebê-la, sinta-se como um actor que se apropria de um texto para
expressar a sua inteligência, sensibilidade e emoção, pois você é também
o(a) autor(a) no processo da sua formação em Gestão de Recursos
humanos. Os seus estudos individuais, a partir destes guias, nos conduzirão
a muitos diálogos e a novos encontros.

A equipa de professores que se dedicou à elaboração, adaptação e


organização deste guia sente-se honrada em tê-lo como interlocutor(a) em
constantes diálogos motivados por um interesse comum a educação de
pessoas e a melhoria contínua dos negócios, base para o aumento do
emprego e renda no país.

Seja muito bem-vindo(a) ao nosso convívio.

A Equipa da ESA
Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

ÍNDICE

UNIDADES TEMÁ TICAS

1. O Direito Internacional Privado. Noção e

generalidades

2. A Norma de Direito Internacional Privado

3. A Fraude a Lei

4. Aplicação do Direito Material Estrangeiro

5. A Ordem Pública e autonomia da vontade

6. A Questão Previa

7. O Problema das qualificações

8. O Direito Internacional Privado Direitos reais

9. O Direito Internacional Privado Direito das

Obrigações e Contratos

10. O Direito Internacional Privado e o Direito de


Família

11. O Direito Internacional Privado Direito das

Sucessões

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

UNIDADE TEMÁTICA 1: DIREITO INTERNACIONA L


PRIVADO. GENERALIDAD ES

Elaborado por Ernesto Luís Cuambe

Objectivos

No fim desta unidade voce deverá ser capaz de:

 Compreender a noção de Direito Internacional Privado;


 Compreender a noção de conflito de leis no espaço e os mecanismos da
sua solução;
 Conhecer as características de Direito Internacional Privado;
 Compreender a natureza jurídica e fundamento de Direito
Internacional Privado;
 Compreender o objecto de Direito Internacional Privado e as
respectivas doutrinas;
 Compreender a diferença entre função e finalidade do DIP;
 Estabelecer a diferença entre objecto e objectivo do DIP;
 Conhecer a relação entre o Direito Internacional Privado e outras
ciências jurídicas;
 Conhecer a noção das relações (situações) jurídico-privadas e a sua
classificação,
 Conhecer os factores que contribuíram para a génese do DIP;
 Conhecer a evolução do Direito Internacional Privado e as suas etapas;
 Estabelecer a diferença entre o Direito Internacional Privado e o
Direito Internacional Público;
 Conhecer a relação entre o DIP e outros ramos de Direito;
 Conhecer os sujeitos do Direito Internacional Privado e as suas
vicissitudes;

Abordagens dos conteúdos da unidade

1. Noções Gerais de Direito


1.1. Noções Introdutórias sobre os ramos do Direito

Fazem parte do direito as normas jurídicas que se destinam a regular


diferentes esferas da vida social. Por isso, costumam formar-se subsistemas
jurídicos, com princípios específicos e dotados de uma estrutura interna
que os define como ramos autónomos em relação a outros sectores da
actividade jurídica. Há múltiplas formas de classificar o direito em ramos,
mas aqui se adoptará a mais genérica e simples.

Uma primeira classificação das normas do direito divide-as em dois


grandes grupos: as de direito público e as de direito privado. São de direito
público aquelas normas e actuações nas quais o estado ou entidades
públicas se acham presentes como tais, ou seja, exercendo seu poder. As

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
normas de direito público podem regular acções dentro de um mesmo país,
ou as relações do país com indivíduos. O que caracteriza essas normas é a
especial presença do poder estatal.

O direito privado se constitui das normas que regulam as relações entre


pessoas. Da mesma forma, são de direito privado as acções em que o estado
entra como particular, sem usar sua condição de poder.

1.1.1. Direito Internacional Privado

A despeito de sua designação, o direito internacional privado não tem


nenhuma correlação especial ou dependência em relação ao direito
internacional público.

De modo geral, não existe um sistema supranacional para regular as


relações de direito privado entre indivíduos sujeitos a diferentes
ordenamentos nacionais, com a excepção do Código de Bustamante no
continente Americano, apesar de este se mostrar não eficaz em relação ao
propósito, que levou a sua aprovação. E também alguns instrumentos
jurídicos internacionalizais no seio da União Europeia, mas que não
constituem um verdadeiro sistema supranacional de solução de conflitos
nas relações jurídico-privadas.

O que existe, como em geral se admite, é um conjunto de princípios para a


determinação da lei aplicável a relações jurídicas que possam incidir na
regulação de dois ou mais sistemas legais conflituantes, de estados
soberanos diversos ou de estados autónomos federados. Tais conflitos de
leis ocorrem com frequência crescente, dada a intensificação das relações
entre pessoas de todo o mundo, quer na actividade comercial, quer na vida
familiar, em consequência da solução de problemas de validade de actos
jurídicos praticados sob o império de legislação diferente da do lugar onde
devem produzir efeito. Problemas semelhantes podem surgir em relação às
consequências penais de actos ilícitos praticados sob jurisdição estatal
diferente.

1.2. Noção de Direito Internacional Privado


(DIP)
O Direito Internacional Privado (DIP), faz parte de entre vários
ramos de direito, cujo objecto é regular relações jurídicas, de âmbito
privado. Apesar de cada país possuir as suas respectivas normas e
princípios que regulam as relações jurídico-privadas, estas têm lugar
quando intervem dois ou mais países, é neste âmbito que este ramo de
direito é considerado de carácter internacional. Contudo, este ramo de
direito, tem o seu fundamento nas relações que podem decorrer dentro ou
fora das fronteiras nacionais de um determinado Estado.
As regras de Direito Internacional Privado indicam somente qual o
direito a ser aplicado ao caso concreto. Assim, as relações entre particulares
ou entres pessoas jurídicas do direito privado são regidas pelo direito
internacional privado, e este direito é composto somente de regras

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
indicativas sobre qual o direito será aplicado, se nacional ou estrangeiro, à
lide privada entre entes ou pessoas.

1.3. Direito Internacional Privado. Conceito

Não existe um conceito único, e consessual do Direito Internacional Privado


(DIP), entretanto, uma análise entre as várias tentativas de conceituar este
ramo de direito, conclui-se que é uma ciência, é um conjunto de normas e
princípios de carácter jurídico, que regulam relações jurídicas, cujos
sujeitos podem ser pessoas singulares ou pessoas jurídicas do direito
privado, no entanto, nestas relações jurídicas deve haver uma intervenção
de dois ou mais países. E o objecto primordial deste sistema de normas e
princípios jurídicos é indicar a lei mais idónea que vai regular a supracitada
relação jurídico privada com a intervenção de um elemento internacional
(estrangeiro), ou seja indicar o caminho para a solução de um conflito de
leis no espaço. O Direito Internacional Privado adquire o adjectivo
“internacional” pelo seu objecto, mas não em razão das suas fontes.

Direito Internacional Privado é o ramo do Direito representado por


normas internas de um país que definem qual o direito aplicável, nacional
ou estrangeiro, a uma determinada relação jurídica com conexão
internacional.

Cada país tem no âmbito de sua ordem jurídica interna normas de direito
internacional privado. Tal norma é produto da actividade legislativa de cada
Estado soberano, competindo cada qual regular quando sua norma de
direito material deve regular uma relação com conexão internacional e
quando não deve, abrindo espaço para a aplicação do direito estrangeiro.

Não se trata, portanto, de norma internacional, pois não regula as relações


jurídicas estabelecidas no âmbito da sociedade internacional, pelos sujeitos
de direito internacional, o que é feito pelos tratados e convenções
internacionais e pelos costumes internacionais. É norma de direito interno.
Norma nacional, sendo que cada país tem a sua.

As normas de Direito Internacional Privado não resolvem a questão jurídica


ou disciplina em si a relação jurídica, mas definem qual o direito aplicável à
relação jurídica, se nacional ou estrangeiro. Por esta razão, tais normas são
denominadas de indicativas ou indirectas: indicativas, pois definem qual o
direito aplicável ao caso concreto, se nacional ou estrangeiro; indirectas,
pois não solucionam a questão de direito, mas se predispõem a definir qual
a regra que promoverá a sua resolução.

Entre os vários conceitos de Direito Internacional Privado


pode-se destacar aos seguintes:

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
O Direito Internacional Privado (DIP): é o conjunto de princípios e
regras que determina os limites no espaço da competência legislativa dos
Estados, quando tem de aplicá-las às relações jurídicas que podem ser
submetidas a mais de uma legislação.
O DIP ao contrário do que se pensa, não dita normas de carácter individual,
ao contrário disso, somente procura indicar qual sistema jurídico deve ser
aplicado no caso em concreto, quando houver conflitos de leis de Estados
Diferentes disciplinando o assunto.

O Direito Internacional Privado (DIP): é o ramo da ciência jurídica


que se define pelo conjunto de normas e princípios que actuam sobre as
relações jurídico-privadas, nas quais estão presentes elementos
estrangeiros. O Direito Internacional Privado regula o conflito de normas
jurídicas no espaço. Cada país possui suas próprias normas de direito
internacional privado, e, por isso, o juiz, ao aplicar o direito, fundamenta-se
em primeiro lugar na ordem jurídica interna.
Atenção: as normas de Direito Internacional Privado indicam o direito
material estrangeiro ou nacional como aplicável desde que o legislador
nacional assim queira (e nunca o Estado estrangeiro).

Trata-se de um direito privado porque se circunscreve no campo das


relações entre particulares, e o vocábulo “internacional” de sua
denominação representa a existência do elemento estrangeiro, em virtude
do qual o Direito em análise se debruça: local da assinatura do contrato,
localização do imóvel, domicílio ou residência habitual do interessado,
nacionalidade das pessoas (sujeitos de direito), etc. Cada vez mais são
frequentes as relações jurídicas com conexão internacional a transcender as
fronteiras nacionais.

Direito internacional privado (DIP): é o conjunto de normas jurídicas


criado por uma autoridade política autónoma (um Estado nacional ou uma
sua província que disponha de uma ordem jurídica autónoma, por
exemplo, Estados Federais.) com o propósito de resolver os conflitos de leis
no espaço.

Direito internacional privado (DIP): é um conjunto de regras de


direito interno que indica ao juiz local que lei – se a do foro ou a
estrangeira; ou dentre duas estrangeiras - deverá ser aplicada a um caso
(geralmente privado) que tenha relação com mais de um país.

O Direito Internacional Privado compreende-se o complexo de preceitos


reguladores das relações de ordem privada da sociedade internacional.
Revela-se, assim, o regulador e solucionador das questões que se suscitam
no conflito das leis no espaço, admitindo os princípios de territorialidade ou
extraterritorialidade das leis, consoante os preceitos universais de direito
reconhecidos, ou seja, a aplicação de uma regra de direito estrangeiro, tendo
por objecto uma relação de ordem privada em razão de certas qualidades
que tornam extraterritorial, consoante os postulados que nesta espécie de
direito se prescrevem.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

O Direito Internacional Privado, também denominado conflito de leis é


um conjunto de normas internas de cada país, elaboradas e instituídas
especialmente para definir se em determinados casos se aplicará a lei interna
ou a lei de outro país. Em outros termos podemos definir este direito como o
conjunto de normas jurídicas criado por uma autoridade política autónoma
(um Estado nacional ou uma sua província que disponha de uma ordem
jurídica autónoma) com o propósito de resolver os conflitos de leis no
espaço. Em termos simples, o DIP é um conjunto de regras de direito
interno que indica ao juiz local que lei – se a do foro ou a estrangeira; ou
dentre duas estrangeiras - deverá ser aplicada a um caso (geralmente
privado) que tenha relação com mais de um país.

O Direito Internacional Privado é assim um ramo do direito interno


(privado) que se dedica a regular as situações jurídicas plurilocalizadas. O
Direito Internacional Privado tem assim por objecto, as situações da vida
privada internacional, ou seja, os factos susceptíveis de criar uma relevância
jurídico-privada entre dois ou mais sistemas jurídicos no âmbito da eficácia
de uma lei estrangeira.

O Direito Internacional Privado (DIP): é um ramo da ciência jurídica


que se define pelo conjunto de normas e princípios que actuam sobre as
relações jurídicas nas quais estão presentes elementos estrangeiros. O
Direito Internacional Privado regula o conflito de normas no espaço. Cada
país possui suas próprias normas de direito internacional privado, e, por
isso, o juiz, ao aplicar o direito, fundamenta-se em primeiro lugar na ordem
jurídica interna.
O Direito Internacional Privado (DIP): é conjunto de princípios e
regras sobre qual legislação aplicável à solução de relações jurídicas
privadas quando envolvidos nas relações mais de um país, ou seja, a nível
internacional.
O DIP ao contrário do que se pensa, não dita normas de carácter
individual, ao contrário disso, somente procura indicar qual sistema
jurídico deve ser aplicado no caso em concreto, quando houver conflitos de
leis de Estados diferentes.
Trata-se de um direito privado porque se circunscreve no campo das
relações entre particulares ou pessoas colectivas do direito privado, e o
vocábulo “internacional” de sua denominação representa a existência do
elemento estrangeiro, em virtude do qual o Direito em análise se debruça:
local da assinatura do contrato, localização do imóvel, domicílio do
interessado, etc.

Cada vez mais são frequentes as relações jurídicas com conexão


internacional a transcender as fronteiras nacionais.

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1.4. Outros Conceitos de Direito Internacional Privado.

 Direito Internacional Privado (DIP): é o conjunto de normas


jurídicas criado por uma autoridade política autónoma (um Estado
nacional ou uma sua província que disponha de uma ordem jurídica
autónoma) com o propósito de resolver os conflitos de leis no espaço.

 Direito internacional privado (DIP): é um conjunto de regras de


direito interno que indica ao juiz local que lei – se a do foro ou a
estrangeira; ou dentre duas estrangeiras - deverá ser aplicada a um caso
(geralmente privado) que tenha relação com mais de um país.

 «O Direito Internacional Privado (DIP): é o ramo da ciência


jurídica onde se definem os princípios, se formulam os critérios, se
estabelecem as normas a que deve obedecer a busca de soluções
adequadas para os conflitos emergentes de relações jurídico-privadas
internacionais»1.

 Nas palavras de FERRER CORREIA2, o DIP (Direito internacional


privado): é o «ramo da ciência jurídica onde se procuram formular os
princípios e regras conducentes à determinação da lei ou das leis
aplicáveis às questões emergentes das relações jurídico-privadas de
carácter internacional e, bem assim, assegurar o reconhecimento no
Estado do foro das situações jurídicas puramente internas de questões
situadas na órbita de um único sistema de Direito estrangeiro
(situações internacionais de conexão única, situações relativamente
internacionais)».

 O Direito Internacional Privado (DIP): é o ramo da ciência


jurídica onde se definem os princípios, se formulam os critérios, se
estabelecem as normas a que deve obedecer a busca de soluções
adequadas para os conflitos emergentes de relações jurídico-privadas
internacionais».

 Direito Internacional Privado: é um complexo de normas e


princípios de regulação que, actuando nos diversos ordenamentos legais
ou convencionais, estabelece qual o direito aplicável para resolver
conflitos de leis ou sistemas, envolvendo relações jurídicas de natureza
privada ou pública, com referências internacionais ou interlocais.

 António Boggiano vê o Direito Internacional Privado como um


sistema normativo destinado a solucionar de forma justa os casos
jusprivatistas multinacionais, desde o ponto de vista de uma jurisdição
estatal, de uma pluralidade de jurisdições estatais a coordenar ou, raras
vezes, da jurisdição de um tribunal internacional (isso estava em
espanhol, tentei traduzir, não sei se ficou confiável. Rs).

1José Eduardo Dias Ribeiro da Rocha Frota: “Direito Internacional Privado”.


http://jus.com.br/artigos/7714/direito-internacional-privado/3

2CORREIA, A. Ferrer: “Lições de Direito Internacional Privado I”. Editora: Almedina . Coleção:
Manuais Universitários. Reimpressão da Edição de Outubro/2000

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 Direito internacional privado (DIP)3: é o conjunto de normas


jurídicas, criado por uma autoridade política autónoma (um Estado
nacional ou uma sua província que disponha de uma ordem jurídica
autónoma), com o propósito de resolver os conflitos de leis no espaço.

 O direito internacional privado é o ramo do Direito, que visa regular os


conflitos de leis no espaço em relações de carácter privado que tenham
conexão internacional, determinando qual a norma jurídica que se
aplica a esses vínculos, que poderá ser um preceito nacional como
estrangeiro.

 Direito Internacional Privado (DIP): é um conjunto de regras de


direito interno à busca de soluções quando mais de um ordenamento
jurídico considera-se competente para decidir sobre um determinado
assunto, indicando assim ao juiz local que lei – se a do foro ou a
estrangeira; ou dentre duas estrangeiras - deverá ser aplicada a um caso
(geralmente privado) que tenha relação com mais de um país.

 Direito Internacional Privado (DIP): é o ramo da ciência jurídica


que resolve os conflitos de leis no espaço, e disciplina os fatos em
conexão com leis divergentes e autónomas.
De outra forma, podemos caracterizar este ramo do direito como sendo
o conjunto de princípios, normas ou regras que disciplina as relações de
‘direito privado’ como conexão internacional. Assim o direito
internacional privado determina o direito aplicável às relações jurídicas
de direito privado com conexão internacional.

 Direito Internacional Privado4 é um conjunto de normas que tem por


objectivo solucionar os conflitos de leis entre ordenamentos jurídicos
diversos, no plano internacional, indicando a lei competente a ser
aplicada."

Alinhamos alguns conceitos de acordo com as diversas linhas de


pensamento5:

 WEISS: "é o conjunto de regras aplicáveis à solução de conflitos que


podem surgir entre duas soberanias a propósito de suas leis privadas
respectivas ou dos interesses privados de seus nacionais", e, ainda;

 DESPAGNET: "exposição dos princípios racionais que resolvem os


conflitos de leis privadas"

 BUSTAMANTE: "É um conjunto de princípios que determinam os


limites no espaço de competência legislativa dos Estados, quando se
haja de aplicar as relações jurídicas que possam estar submetidas a mais
de uma legislação".

3 https://pt.wikipedia.org/wiki/Direito_internacional_privado

4
Agenor Pereira de Andrade. Manual de Direito Internacional Privado. 6ª Ed.. Sugestões literárias:
Minas Gerais, 1987, p. 25
5 Material didático - http://www.loveira.adv.br/material/st.htm

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 WERNER GOLDSCHIMIDT: “O Direito Internacional Privado:


é o conjunto de soluções dos casos jusprivatistas com elementos
estrangeiros, baseados no respeito aos ditos elementos”. Ao qual
seguem o respectivo raciocínio: VALERY, GESTOSO, FOIGNET e
DANEWSKY, este, com um tirocínio que merece realce: "sistema de
regras jurídicas coligadas sob a protecção do direito internacional,
aplicáveis às relações de ordem privada entre nacionais, que têm seu
nascimento na esfera dos movimentos internacionais".

 LAINÉ: " O Direito Internacional Privado: é o direito que, depois


de haver determinado a nacionalidade das pessoas, regula as relações
dos Estados no que concerne à condição jurídica de seus respectivos
sujeitos, a eficácia das sentenças dadas pelos tribunais e, sobretudo, os
conflitos de suas leis".

 PILLET: "é o ramo do direito público que tem por objecto fixar a
nacionalidade dos indivíduos, determinar o direito de que gozem os
estrangeiros e resolver os conflitos de leis relativos ao nascimento e
respeito dos direitos".

 NIBOYET: " O Direito Internacional Privado: é o ramo


pertencente actualmente, em princípio, ao direito público nacional, e
muito excepcionalmente ao direito das gentes, que trata de repartição
internacional dos indivíduos, a fim de determinar logo depois os
direitos de que gozem e de investigar como poderão exercê-los sob o
império das leis competentes, com o concurso das autoridades ou das
jurisdições qualificadas".

 MARTENS e TRIAS seguem ASSER com a seguinte conceituação:


“O Direito Internacional Privado: conjunto de princípios que
determinam a lei aplicável, ora às relações jurídicas entre pessoas
pertencentes a Estados ou territórios diversos, ora aos actos realizados
em país estrangeiro, ora, enfim, a todos os casos em que se trata de
aplicar a lei de um Estado em território de outro”.

 AMILCAR DE CASTRO adopta a de ARTHUR NUSSBAUM, como


a que mais se aproxima da realidade, nos seguintes termos: "o direito
internacional privado determina qual, dentre as legislações de direito
privado contemporaneamente existentes, deve ser aplicada a um dado
estado de coisas, constituindo assim o complexo de normas que regulam
essa aplicação".

 GAMA E SILVA: "Direito Internacional Privado: é um conjunto


de princípios sobre qual a legislação aplicável à solução de relações
jurídicas privadas que, por um, ou alguns de seus elementos, entendem
com normas de dois ou mais sistemas jurídicos".

 HAROLDO VALLADÃO: “O Direito Internacional Privado: o


ramo da ciência jurídica que resolve os conflitos de leis no espaço,
disciplinando os fatos em conexão no espaço com leis divergentes.”
Como vimos, o DIP. Se ocupa das relações plurilocalizadas, ou seja,
daquelas relações que, correspondendo a uma actividade que não se
comporta nas fronteiras de um único Estado, entram em contacto, através

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
dos seus elementos (sujeitos, objecto, facto jurídico, garantia), com diversos
ordenamentos jurídicos.

 O Direito Internacional Privado, como disciplina que estuda a


escolha da norma a ser aplicada a uma relação jurídica com conexão
internacional, tem, como objecto de seu estudo das regras de solução de
conflitos de leis no espaço.

 Direito Internacional Privado6 é o ramo do Direito representado


por normas internas de um país que definem qual o direito aplicável,
nacional ou estrangeiro, a uma determinada relação jurídica com
conexão internacional.

 O Direito Internacional Privado7: é o ramo da ciência jurídica onde


se definem os princípios, se formulam os critérios, se estabelecem as
normas a que deve obedecer à busca de soluções adequadas para os
conflitos emergentes de relações jurídico-privadas internacionais”.

Cada país tem no âmbito de sua ordem jurídica interna normas de


direito internacional privado. Tal norma é produto da actividade
legislativa de cada Estado soberano, competindo cada qual regular
quando sua norma de direito material deve regular uma relação com
conexão internacional e quando não deve, abrindo espaço para a
aplicação do direito estrangeiro.

Não se trata, portanto, de norma internacional, pois não regula as


relações jurídicas estabelecidas no âmbito da sociedade internacional,
pelos sujeitos de direito internacional, o que é feito pelos tratados e
convenções internacionais e pelos costumes internacionais. É norma de
direito interno. Norma nacional, sendo que cada país tem a sua.

As normas de direito internacional privado não resolvem a questão


jurídica ou disciplina em si a relação jurídica, mas definem (indicam)
qual o direito aplicável à relação jurídica, se nacional ou estrangeiro. Por
esta razão, tais normas são denominadas de indicativas ou indirectas:
indicativas, pois definem qual o direito aplicável ao caso concreto, se
nacional ou estrangeiro; indirectas, pois não solucionam a questão de
direito, mas se predispõem a definir qual a regra que promoverá a sua
resolução.
Servem, portanto, para resolver problemas de aplicação da lei no espaço
(conflito de leis no espaço), uma vez que definem qual o direito aplicável
a determinado fato que apresenta conexão internacional.
Não se mostra coreto afirmar que as normas de direito internacional
privado se prestam para resolver conflitos de leis no espaço, pois se o
direito nacional estabelece que em face de determinada relação jurídica
deve ser aplicado o direito estrangeiro, é por vontade do legislador
nacional que isto se opera, não havendo conflito da norma nacional com
a estrangeira, mas sim a aplicação da norma de direito internacional
privado do país, a qual pode determinar a superposição da norma de
direito material de outro país sobre o seu próprio direito material. O

6 Cândido Silva - Manual de Direito Internacional Privado

7 http://cscleitongdasilva.blogspot.com/2014/03/principios-e-natureza-juridica-do.html

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Direito Internacional Privado, não resolve o conflito de leis no espaço,
mas sim indica a norma que vai resolver o conflito de leis no espaço.

1.5. Do âmbito do DIP

1.5.1. Objecto de Direito Internacional Privado


Definir qual o objecto de estudo de uma determinada disciplina é saber do
que ela se ocupa. Pela definição de Direito Internacional Privado,
verificamos que mais do que norma jurídica, tem-se uma verdadeira técnica
de aplicação do direito, porquanto o Direito Internacional Privado se ocupa
em definir qual o direito material aplicável a um determinado caso
concreto, que envolve mais de um meio inter-jurisdicional. Assim, este seria
o objecto do Direito Internacional Privado: trata-se de um regramento
jurídico interno de um Estado que se dispõe a definir qual o direito material
aplicável a uma relação jurídica com conexão internacional.

O Direito Internacional Privado “visa estabelecer critérios que permitam


determinar o modo de resolver as situações jurídicas internacionais”,
utilizando como fontes principais as normas de conflito – fontes internas –,
mas também podendo utilizar os tratados – fontes externas.

A questão do objecto do Direito Internacional Privado é altamente


controvertida, em razão da divergência de opiniões entre os estudiosos.

Existem, desta forma, duas concepções do objecto do Direito


Internacional Privado. Uma mais ampla defendida essencialmente
pela doutrina francesa, considera que devem estar inclusas no seu estudo as
regras referentes às seguintes matérias: - Nacionalidade - Estatuto do
Estrangeiro - Conflito de leis - Conflito de jurisdição, incluindo a questão da
competência e o problema da homologação de sentenças estrangeiras.

Entretanto, numa concepção mais restrita, defendida pelas doutrinas


alemã, que restringe o objecto aos conflitos de leis, e italiana, o Direito
Internacional Privado deve estar limitado ao estudo das regras de conflito,
sendo que as leis remetendo à nacionalidade e também o estatuto do
estrangeiro para o Direito Internacional Público em razão do próprio
objecto de estudo da disciplina.

Os doutrinadores que defendem a concepção mais restrita consideram


que a matéria nacionalidade e o direito dos estrangeiros são tratados por
normas directas, diferentemente dos demais pontos tratados por normas
indirectas, que caracterizam o Direito Internacional Privado. Já os
defensores da concepção mais ampla do objecto do Direito
Internacional Privado consideram que os quatro pontos incluídos têm
causas comuns: a ideia do mundo globalizado, gerando cada vez mais
relações jurídicas entre os sujeitos dos Estados soberanos.

Em Moçambique, os principais doutrinadores entendem que o objecto


principal do Direito Internacional Privado é o conflito de leis no espaço.

O objecto de estudo de um ramo da ciência, não é mais que o conjunto de


conteúdos que se estudam no mesmo ramo de saber. O que equivale

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afirmar que o objecto de Direito Internacional Privado, é o conjunto de
conteúdos que se estudam neste ramo de direito.

O rigor, o direito internacional privado tem por objecto estabelecer as


regras, em cada país, para solucionar conflitos de leis no espaço, estabelecer
regras de aplicação do direito estrangeiro e de reconhecimento e
homologação de actos praticados no exterior.

O Direito Internacional Privado resolve conflitos de leis no espaço


referentes ao direito privado; indica qual direito, dentre aqueles que
tenham conexão com a lide sub judice, deverá ser aplicado. O objecto da
disciplina é internacional, sempre se refere às relações jurídicas com
conexão que transcende as fronteiras nacionais.

1.6. Outras doutrinas sobre o Objecto do Direito


Internacional Privado

 O Objecto do Direito Internacional Privado (DIP): pode ser dividido em


duas grandes escolas a) Escola Francesa: Diz que o DIP possui cinco
objectos: conflito de leis; conflito de jurisdição; direitos adquiridos;
nacionalidade e condição jurídica do estrangeiro. b) Escola Anglo-
americana: Para essa escola o DIP só possui um objecto que é o conflito
de leis.

 No Direito Inglês, Norte-americano e Alemão: concepção


restrita (clássica), incluindo apenas o conflito de leis no espaço como
objecto da disciplina. Vale lembrar que no caso do Reino Unido e da
Alemanha, o direito internacional privado destes países encontra-se
cada vez mais subordinado às regras e directrizes da União Europeia.

 A doutrina alemã, adoptada também na Itália - Restringe ao


problema do conflito de leis o âmbito do DIP; sendo todavia prática
corrente os tratados e manuais alemães dedicados a este ramo da
ciência jurídica ocuparem-se também das matérias do direito processual
civil internacional.

 Objecto do Direito Internacional Privado segundo o Direito francês, é


regular e promover o estudo de um conjunto de regras que determinam
qual o direito material aplicável às relações jurídicas particulares

 Direito Francês: concepção ampla (moderna) da disciplina,


incluindo temas afectos a nacionalidade, condição jurídica do
estrangeiro e conflitos de leis e de jurisdição.

 Escola anglo-saxónica - Inclui no DIP o estudo de 3 questões:


a) A da jurisdição competente
b) A da lei competente
c) A do reconhecimento das sentenças estrangeiras

 Escola francesa - O objecto do DIP compreende 4 matérias:


a) A nacionalidade
b) A condição dos estrangeiros

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
c) Os conflitos de leis
d) Os conflitos de jurisdições
e) Reconhecimento dos direitos adquiridos em país estrangeiro.

A concepção sobre o objecto do Direito Internacional Privado é a francesa,


que entende que a disciplina envolve quatro matérias distintas: a
nacionalidade; a condição jurídica do estrangeiro; o conflito das leis e o
conflito das jurisdições.
Objecto do Direito Internacional Privado, segundo a Escola
Francesa:
a) Condição jurídica do estrangeiro: visa dar o conhecimento dos
direitos do estrangeiro de entrar e permanecer no país, domiciliar-se ou
residir-se no território nacional, sem haver prejudicidade sob o crivo
económico, político e social

b) Conflito de Jurisdições: atenta-se observar a competência do Poder


Judiciário, solucionando determinadas situações que dizem respeito a
pessoas, coisas ou interesses que extrapolam o limite soberano de um
Estado, devendo reconhecer e executar sentenças proferidas no estrangeiro.

c) Conflito de Leis: analisam-se as relações humanas conectadas a dois ou


mais sistemas jurídicos, nos quais as regras materiais não são
concordantes, apenas o direito aplicável a uma ou diversas relações
jurídicas de direito privado com conexidade internacional.

d) Direitos adquiridos no âmbito internacional: visa considerar a


mobilidade das relações jurídicas, surgindo-se uma jurisdição, reflectindo
seus efeitos posteriormente a sujeição de uma legislação distinta.

e) Nacionalidade: caracteriza-se o nacional de cada Estado, sob as formas


originárias e derivadas de atribuição de nacionalidade, da perda, requisição,
dos conflitos positivos e negativos em caso de polipatrídia, apatrídia e
restrições nacionais por naturalização.

Em relação a doutrina francesa, Antoine Pillet, que adiciona, como quinto


tópico, os direitos adquiridos na sua dimensão internacional.
Para muitos autores, pelo menos cinco itens são apresentados como
possíveis
Objectos do Direito Internacional Privado (teoria francesa):
a) Uniformizar as leis;
b) Regular a nacionalidade;
e) Tratar da condição jurídica do estrangeiro;
d) Dirimir os conflitos de leis e
e) Reconhecer internacionalmente os direitos adquiridos.

1.6.1. Objecto do Direito Internacional Privado

Escolas

- Escola Francesa: Diz que o DIP possui cinco objectos: conflito de leis;
conflito de jurisdição; direitos adquiridos; nacionalidade e condição jurídica
do estrangeiro.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
- Escola Anglo-americana: Para essa escola o DIP só possui um objecto
que é o conflito de leis. Essa corrente é que é adoptada pelo Brasil.

2. Críticas: Há dois critérios:

a) Metodológico: Exaustividade – se determinada matéria é


exaustivamente tratada em algum ramo do Direito, não é necessário o
estudo pelo DIP. Ex: a nacionalidade é estudada pelo Direito
Constitucional, logo, não deve ser estudada pelo DIP.

b) Normológico: O DIP estuda normas indicativas e indirectas.


Indicativas, pois indicam o direito aplicável. E indirectas, pois resolvem
indirectamente o caso concreto.

Quanto ao objecto do Direito Internacional Privado, no Brasil, por


exemplo, ao contrário de Moçambique e Portugal, adoptou a doutrina
francesa que diz que o DIP tem como objectos: conflito de leis, conflito de
jurisdição, nacionalidade, condição jurídica do estrangeiro e teoria dos
direitos adquiridos. No mundo inteiro, apenas os dois primeiros são
inquestionavelmente objectos deste ramo do Direito, sendo as demais
questões apenas parte da tradição francesa.
A corrente dominante, é a alemã, também seguida em Moçambique, que
considera como objecto do direito internacional privado a solução de dos
conflitos de leis. O direito internacional privado teria, assim, por finalidade
principal, a normatividade seleccionadora para aplicação da lei estrangeira
em determinado país e da lei nacional deste país a casos que comportem
algum elemento de conexão com mais de uma legislação nacional, algum
elemento de estraneidade.

1.7. Objecto de DIP. Doutrina seguida em Moçambique

O Direito Internacional Privado em Moçambique, tem como objecto,


disciplinar a solução conflito de leis no espaço, indicando a norma, nacional
ou estrangeira, aplicável a uma situação concreta. Ou seja, em
Moçambique, segue-se a mesma doutrina seguida no Direito Inglês,
Norte-americano e Alemão

A disciplina tem por objecto o estudo sobre a solução dos conflitos de leis
no espaço, através da definição da lei aplicável e do foro competente para os
casos conectados a ordenamentos jurídicos de mais de um país, com base
na dogmática jurídica contemporânea.

O objecto do Direito Internacional Privado é o estudo e a solução dos


conflitos de leis no espaço. Havendo mais uma norma a ser aplicada, irá
estabelecer critérios para verificar qual vai ser estabelecida.

O Direito Internacional Privado resolve conflitos de leis inter-espaciais,


designando o direito aplicável a uma relação jurídica de direito privado com
conexão internacional.

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Essencialmente, o DIP resolve conflitos de leis no espaço referentes ao
direito privado, ele determina qual o direito aplicável numa relação jurídica
de direito privado conectada à órbita internacional.

Doutrina Anglo-Americana é a teoria da relação mais significante (most


significant relationship), teoria da abordagem da lei mais adequada à relação
jurídica (better law approach), e teoria do centro de gravidade (center of
gravity).

Definir qual o objecto de estudo de uma determinada disciplina é saber


do que ela se ocupa. Pela definição de Direito Internacional Privado,
verificamos que mais do que norma jurídica, tem-se uma verdadeira
técnica de aplicação do direito, porquanto o Direito Internacional
Privado se ocupa em definir qual o direito material aplicável a um
determinado caso concreto, que envolve mais de um meio inter-
jurisdicional. Assim, este seria o objecto do Direito Internacional
Privado: trata-se de um regramento jurídico interno de um Estado que
se dispõe a definir qual o direito material aplicável a uma relação jurídica
com conexão internacional.

1.7.1. Outras considerações sobre o objecto do DIP

Regular as relações jurídicas de direito privado com conexão


internacional, destinando-se a resolver conflitos de leis no espaço;
Resolver conflitos de leis no espaço referentes ao direito privado com
conexão internacional.
O Direito Internacional Privado resolve conflitos de leis interespaciais,
designando o direito aplicável a uma relação jurídica de direito privado
com conexão internacional.
Determinação da lei material aplicável a uma relação que apresente
conexão de internacionalidade.

1.8. Diferenças entre objecto e objectivo do Direito


Internacional Privado
1.8.1. Objecto de Direito Internacional Privado

Objecto: O Direito Internacional Privado resolve conflitos de leis no


espaço (citado anteriormente) referentes ao direito privado; indica qual
direito, dentre aqueles que tenham conexão com a lide em questão poderá
ser aplicado. O objecto é direito internacional, sempre se refere às relações
jurídicas com conexão que transcende as fronteiras nacionais. Assim,
alguns pontos são analisados pelo direito internacional privado, que são a
nacionalidade, questão da uniformização das leis, a condição jurídica do
estrangeiro, o conflito de leis como já citado e o reconhecimento
internacional dos direitos adquiridos pelos países.

1.8.2. Objectivo de Direito Internacional Privado

Objectivo: o Direito Internacional Privado visa à realização da justiça


material que acontece de maneira indirecta, e isso, mediante elementos de
conexão favorecendo a validade jurídica de um negócio jurídico. Outro

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objectivo do direito internacional privado é a harmonização das decisões
judiciais proferidas pela justiça doméstica com o direito dos países com os
quais a relação jurídica tem conexão internacional.

Objectivo: visa à realização da justiça material, ou seja, aplicação ao caso


concreto (ressalvado no caso de ordem pública) de forma indirecta pois vai
buscar num direito distante a aplicação da justiça àquele caso concreto.

1.8.3. Objecto do Direito Internacional Privado

O seu objecto está ligado às normas de solução de conflitos no espaço entre


as leis. Em outras palavras: solucionar conflitos indicando qual lei material
deve ser aplicada no caso concreto.
Para a professora Maristela e para os professores Irineu Strenger e Jacob
Dolinger, apologistas da Escola francesa o objecto do DIP abrange uma
“dimensão internacional”, sendo preciso analisar questões relativas à
nacionalidade, condição do estrangeiro, conflitos de jurisdição e
homologação de sentença estrangeira.

O objecto principal da disciplina é a determinação do direito aplicável


aos casos mistos ou multinacionais de carácter privado, isto é, envolvendo
elementos estrangeiros ou de estraneidade. Seu objectivo, portanto, é dizer
qual destes ordenamentos é o competente. E para tanto se deve determinar:
 Elemento estrangeiro predominante.
 Elemento de conexão a ser considerado.

1.8.4. Primeiro e Principal Objectivo de DIP

O primeiro e principal objectivo de DIP é promover e garantir a


estabilidade (permanência e continuidade) das relações jurídicas
plurilocalizadas, procurando assegurar a uniformidade da regulamentação
dessas elações no âmbito dos vários sistemas jurídicos.

1.9. Funções do Direito Internacional Privado

As funções do direito internacional privado são: auxiliar na escolha


da lei aplicável aos casos com conexão internacional, quando uma série de
potenciais soluções são oferecidas pelos ordenamentos jurídicos. Como
esclarece a histórica observação de Asser, “é precisamente a diversidade das
leis nacionais que traz á tona a necessidade de uma solução uniforme dos
conflitos de leis no espaço.”
Função do DIP
É sabido que a função do DIP é a de dirimir conflitos entre normas. Uma
vez cumprida esta função termina a sua tarefa, não havendo qualquer
pretensão que transcenda tal desiderato como seja a solução de litígios ou
situações de facto que apenas cabe ao Direito Material. O DIP é por isso, um
Direito de característica instrumental, com desempenho adjectivo, cuja
utilidade se reporta ao bom desempenho dos tribunais na solução de casos
concretos que impliquem a intervenção de normas jurídicas de
proveniência estadual diferentes. Ou seja, o DIP tem razão de ser a partir do
momento em que uma questão judicial convoca para sua solução leis de
Estados diferentes.

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Ex: O casamento em dissolução contraído em França por um angolano e
uma belga ou a partilha de herança entre herdeiros de nascidos em países
diferentes, estando a herança concentrada num país diferente do país de
origem e residência do de cujus entre milhares de casos de viabilidade
judicial que decorrem das relações entre os indivíduos. São casos óbvios de
intervenção obrigatória de leis diferentes na apreciação e decisão judicial,
após determinado o Tribunal competente.

1.10. Finalidade do Direito Internacional Privado

O Direito Internacional Privado tem como finalidade estabelecer um


corpo de normas e princípios destinados a auxiliar o juiz na escolha da lei
aplicável aos casos com elementos de estraneidade ou estrangeiros,
vinculados a uma pluralidade de ordenamentos jurídicos. E o faz
reconhecendo a soberania do Estado em decidir sobre a aplicação do direito
estrangeiro, ao conservar um sistema racional que combine os necessários
particularismos. Assim, o direito internacional privado cumpre a sua
missão quando representa soluções às relações jurídicas que geram efeitos
em 2 ou mais ordenamentos jurídicos, ocupando-se em estabelecer os
limites materiais e espaciais das competências dos Estados.

1.11. Autonomia do Direito Internacional Privado

A autonomia de uma ciência ou de um ramo do Direito, significa que tem


objectivo próprio, instituto próprio, fundamentos próprios e método
próprio (autonomia didáctica) e regulação jurídica própria (autonomia
legislativa).

O Direito Internacional Privado tem tudo isto, ou seja, objecto próprio:


solução de conflitos de leis no espaço, ou seja, indicação da norma aplicável
para regular relações jurídico-privadas com a intervenção de um elemento
estrangeiro.

Autonomia legislativa: O Direito Internacional Privado, tem regras


(normas) próprias que regulam as relações jurídico-privadas com elemento
estrangeiro. Ex: Artigo 14º - 65º do Código Civil de Moçambique.

A codificação teve como início com aprovação do Código Napoleónico de


1804, que teve realmente grande influência na Europa, ascendência esta
que também se projectou nos diversos códigos dos Estados Africanos, entre
eles Moçambique.

Autonomia Didáctica: A solução de conflito de leis no espaço, obedece


princípios consagrados nas três grandes doutrinas de: Joseph Story, dos
Estados Unidos, outra de F. Carl von Savigny, da Alemanha e, finalmente,
aquela de Pasquale S. Mancini, da Itália. Importa referir que estas grandes
doutrinas, que tiveram grande influência na codificação, tiveram como
antecedente as escolas estatutárias, embora estas não tenham tido êxito
desejado por não se mostrarem práticas e serem confusas.

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1.12. Aspectos que explicam a importância do Direito


Internacional Privado:

 Diversidade de ordenamentos jurídicos;


 Extraterritorialidade das leis;
 Intercâmbio internacional;
 Cosmopolitismo humano;
 Coexistência das ordens jurídicas.

1.13. As diferenças entre o Direito Internacional Público e o


Direito Internacional Privado resumem-se basicamente
em:

Direito Internacional Público: é um conjunto de princípios e regras


destinados aos direitos e deveres internacionais dos Estados, ou outros
organismos análogos, tanto como dos indivíduos; Direito Internacional
Privado tem como consistência suprir a carência de um direito superior a
todos os demais, sendo então um conjunto de regras jurídicas,
convencionais e das costumeiras que determinam direitos e deveres na
órbita internacional dos Estados individuais e das instituições
internacionais que obtiverem personalidade por acordo entre diversos
Estados.

O Direito Internacional Privado consiste ainda, em ser o ramo da


ciência jurídica que resolve os conflitos de leis no espaço, com a intervenção
do elemento estrangeiro, disciplinando os fatos em conexão no espaço com
leis divergentes.

1.14. Os Conflitos de Lei


1.14.1. Conflito de Leis no Espaço. Noção

Entende-se como conflito de leis no espaço qualquer relação humana


ligada a duas ou mais ordens jurídicas cujas normas não são coincidentes.8
O juiz ou o intérprete da lei, diante de um caso de conflito de leis no espaço,
assiste portanto à concorrência de duas ou mais leis - produzidas por países
(ou províncias) diferentes - sobre a mesma questão jurídica.

1.15. Pressupostos do DIP

O sistema de DIP tem como pressuposto a existência de uma pluralidade de


sistemas jurídicos que constituem a base estatal.

1.15.1. Factores que concorrem para a existência do


Conflito de Leis no Espaço

As relações de carácter privado internacional e a diversidade dos


ordenamentos jurídicos são os fundamentos lógico e social do direito
internacional privado, como conjunto de normas reguladoras da ordem
8
DOLINGER, Jacob, "Direito Internacional Privado (Parte Geral)", Ed. Renovar, 2ª ed., 1993. Pag. 2

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privada da vida internacional. O cosmopolitismo é outro factor
fundamental na expansão da vida humana, além de suas fronteiras de
nascimento ou de domicílio, e das relações jurídicas.

O conflito de leis no espaço decorre de dois factores:

 A diversidade legislativa (cada sistema jurídico, autónomo e


soberano, dá tratamento diferente a aspectos sociais) e
 A existência de uma sociedade transnacional (relações entre
indivíduos vinculados a sistemas jurídicos diferentes).

Se existisse um direito absolutamente uniforme ou sociedades herméticas,


não existiria o “facto anormal” (facto jurídico vinculado, por qualquer de
seus elementos, a mais de um ordenamento), que gera o conflito de leis.

A regra geral é a aplicação do direito pátrio, aplica-se o direito


estrangeiro por excepção, quando expressamente determinado pela
legislação interna (regras de DIP). Nesses casos, o juiz deve aplicá-lo de
ofício e do modo mais completo possível.

Só não deve aplicar o direito estrangeiro, determinado pela norma de


direito internacional privado (“norma colisional”), quando verificar que fere
a ordem pública, a soberania ou os bons costumes ou quando os
interessados estiverem tentando fraudar a legislação interna (como no
caso de divórcios realizados no exterior, para burlar a lei nacional, que não
os permitia na época).

O juiz nacional, ao qualificar o fato ou relação jurídica dotados de elemento


estrangeiro, buscará a solução apresentada pela lex fori, a qual indica o
direito material aplicável ao caso apreciado; ele não poderia optar por
recorrer a normas de DIP de outro Estado porque estas não disciplinam a
relação jurídica de direito material.

1.16. Três etapas param a solução de um conflito de


leis no espaço

Devem ser consideradas três etapas na solução de conflitos de


leis no espaço e problemas de direito material subjacente.
 Qualificação: examinar o problema subjacente e determinar sua
natureza jurídica: direito pessoal, direito de família, direito das coisas,
direito das sucessões e direito das obrigações.
 Buscar a lei aplicável ao conflito de leis no espaço de acordo com a
natureza jurídica do problema subjacente.
 Solução do problema subjacente. Aplicação do direito material do
país determinado pela etapa

1.16.1. Dúvida sobre qual direito aplicar

A dúvida sobre qual direito (o nacional ou o estrangeiro; ou um dentre dois


ou mais direitos estrangeiros) aplicar a um caso concreto envolvendo
estrangeiros nasce da circulação de pessoas e coisas no espaço, de um lado,

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e, de outro, da proliferação de ordens jurídicas nacionais - e, em alguns
casos, provinciais ou estaduais - autónomas que procuram regular, cada
uma a seu modo, as mesmas situações jurídicas. Sendo impossíveis as
soluções mais simplistas para o problema (a supressão do intercâmbio
humano além-fronteiras ou a uniformização legislativa mundial), cabe ao
juiz ou ao intérprete resolver o eventual conflito que se lhe apresente por
meio da escolha dentre uma das leis concorrentes.

Tal escolha é efectuada com base em regras pré-estabelecidas, cujo


conjunto constitui o DIP.

1.17. O DIP e os Factos jurídicos (casos jusprivatistas)


Fatos jurídicos tradicionais e fatos mistos/multinacionais
Aos casos jusprivatistas podem ser de 2 (duas) ordens:
 Tradicionais: sem elemento estrangeiro;
 Mistos/multinacionais: com elemento estrangeiro.
Temos um direito que prevê e soluciona factos que não apresentam
elemento estrangeiro, e outro, completamente autónomo, alicerçado sobre
outros princípios e métodos de solução que se ocupa dos casos mistos/
multinacionais.
Os casos jusprivatistas tradicionais devem ser apreciados pelo
direito privado comum (direito civil),
Enquanto os jusprivatistas mistos, para que tenham uma solução justa
e adequada, devem ser apreciados pelo direito especial, ou seja, o direito
internacional privado.

1.18. As Relações Privadas Internacionais


As relações jurídicas de Direito Internacional Privado podem ser
de três espécies:

Também pode-se dizer que as relações privadas internacionais podem ser


de dois tipos: internacionais (absolutas e relativas) e opõem-se às relações
puramente internas (que não são objecto do DIP):
1.18.1. Relações jurídicas puramente internas.
(não fazem parte do estudo do DIP): São aquelas cujos elementos
estruturais (esses elementos são o sujeito, o objecto e o facto, são os
chamados elementos materiais) se encontram, todos eles, situados no
seio de uma ordem jurídica. Se essa ordem jurídica for a moçambicana,
designam-se por relações puramente internas nacionais. Se essa ordem
jurídica for uma qualquer ordem jurídica estrangeira, dizem-se puramente
internas estrangeiras;
Relações puramente internas – são aquelas que em face de um
determinado ordenamento jurídico apenas se contactam com esse.
Exemplo: contrato de arrendamento de um imóvel na Beira feito por
moçambicanos.

1.18.2. Relações Jurídicas Absolutamente Internacionais


(fazem parte do estudo do DIP): São aquelas que se estabelecem entre
sujeitos de direito privado (ou mesmo nos casos em que os Estados sejam
intervenientes desde que desprovidos do seu jus imperii) e têm os seus
elementos estruturais (sujeito, objecto e facto – elementos

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materiais) dispersos por várias ordens jurídicas, sendo que nenhuma
dessas ordens jurídicas é a ordem jurídica moçambicana (e é por isso que
são absolutamente internacionais).

As Relações Jurídicas Absolutamente Internacionais: são aquelas


que contactam mais de uma ordem jurídica, devendo-se determinar qual é
o direito material que vai regular as questões decorrentes desta relação
jurídica. Exemplo: casamento entre um Moçambicano e uma Brasileira,
celebrado na Rússia. São as últimas relações que originam questões mais
complexas de regulamentação, pois conecta diversos ordenamentos
jurídicos e o Direito Internacional Privado cria regras capazes de resolver
estas questões. Sendo que a resolução dos problemas jurídicos suscitados
por uma relação absolutamente internacional pode ocorrer por meio de
dois caminhos alternativos: - Através de normas especiais, sejam de direito
interno (leis) ou de direito internacional (tratados).

Ex: “A”, italiano, morre em Inglaterra, deixando bens imóveis em Espanha,


sendo que a sua sucessão é aberta em Moçambique. Neste caso, a conexão
que a relação tem com a ordem jurídica portuguesa é através do elemento
“garantia”, porque a questão está a ser apreciada em tribunais
moçambicanos, não existem nenhuma conexão de ordem substancial e,
portanto, nunca poderá ser aplicado, àquela questão, o direito material
moçambicano.

1.18.3. Relações Jurídicas Relativamente Internacionais


(fazem parte do estudo do DIP): São relações jurídicas que se estabelecem
entre sujeitos de direito privado (ou mesmo nos casos em que os Estados
sejam intervenientes desde que desprovidos do seu jus imperii), cujos
elementos estruturais (sujeito, objecto e facto – elementos
materiais) se encontram em contacto com mais do que uma ordem
jurídica, sendo que uma dessas ordens jurídicas é a ordem jurídica
moçambicana, pelo que, consequentemente, o direito material português
é potencialmente aplicável à questão. Ex.: “A”, portuguesa, casada com “B”,
francês, pretende adoptar em Portugal uma criança mexicana. Neste caso a
relação é privada internacional porque está em contacto com três
ordenamentos jurídicos, sendo que um deles é o ordenamento jurídico
português, por isso se diz relativamente internacional.

1.19. Tipos de Situações Jurídico-privadas:

 Situações puramente internas


 Situações internacionais

 Situações relativamente internacionais


 Situações absolutamente internacionais

1.20. Situações Puramente Internas:

Neste primeiro caso, todos os elementos de contacto ou de conexão


relevantes de uma relação jurídica (sujeitos, objecto, facto jurídico) referem-se
ao mesmo ordenamento jurídico que é o ordenamento jurídico local (v.g.:

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um contrato de mútuo celebrado em Portugal entre dois portugueses e para
ser executado em Portugal).

Aqui, naturalmente, ao órgão moçambicano de aplicação do direito não se coloca


qualquer problema de determinação da lei estadual aplicável ― esta lei há-de ser,
obviamente, a lei moçambicana.

1.21. Situações Internacionais Plurilocalizadas:

As situações internacionais plurilocalizadas podem ser de dois tipos:

 Situações relativamente internacionais; e


 Situações absolutamente internacionais.

1.21.1. Situações Relativamente Internacionais: dizem


respeito a todos os factos que apresentam pontos de contacto ou conexão
com um único ordenamento jurídico que, todavia, não é o ordenamento
jurídico do foro chamado a conhecer da questão controvertida.

Também aqui não se põe o problema da determinação da lei estadual


aplicável, pois, por respeito ao princípio da não transactividade, apenas
poderá ser aplicada ao caso a lei do único ordenamento jurídico que com a
relação jurídica em causa apresenta um ponto de contacto ou de conexão
(Ex: A, francês, é casado com B, também de nacionalidade francesa;
residem em França e discutem em Moçambique a propriedade de um
imóvel situado em França). Qual a lei a aplicar? Por respeito ao princípio da
não transactividade, a única lei aplicável ao caso é a lei francesa. Ou seja
nos termos da lei do foro (onde foi discutido o caso) – artigo 46º do Código
Civil.

1.21.2. Situações Absolutamente Internacionais:

Englobam-se neste caso todos os factos que apresentam pontos de contacto


ou conexão com vários ordenamentos jurídicos (Ex: comerciante Moçambicano
conclui na Bélgica um contrato com um cidadão belga).

Apenas neste último caso coloca-se verdadeiramente o problema da


determinação da lei estadual aplicável («choice of law»), visto serem duas ou
mais as leis em contacto com a situação.

1.22. Fundamentos que explicam a existência do direito


internacional privado.

 A existência de conflitos de leis no espaço, ou seja, o fato de existirem


leis de diferentes países regulando uma mesma matéria;
 A extraterritorialidade das leis, isso é, a autorização que todos os
países devem conceder para que leis estrangeiras sejam aplicadas
dentro de seu próprio território; e

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 A existência do intercâmbio universal, melhor representado pelo
comércio internacional. O DIP tem por finalidade a resolução
desses conflitos de leis.
 O intercâmbio universal ou comércio internacional.

1.23. Génese ou Origem das Relações Jurídico-privadas


Causas de surgimento e desenvolvimento do Direito
Internacional Privado
 A variedade de leis estatais;
 O comércio internacional;
 A intensidade dos meios de comunicação; e
 A ampliação dos intercâmbios entre as nações do globo.
 Aumento significativo das relações jurídicas de direito privado com
conexão internacional em nossa sociedade;
 A natureza cosmopolita do homem;
 Mobilidade da população e desenvolvimento do comércio (avanço
tecnológico, transporte de pessoas e coisas);
 Aumento de conflitos entre pessoas de países diferentes;
 A existência de mais de 190 Ordenamentos Jurídicos (países) pelo
mundo.
 A globalização;
 A multiplicação dos meios de comunicação;
 O adensamento das relações entre particulares de diversos países.

1.23.1. A Natureza Cosmopolita do Homem

Significa a tendência do homem de interagir – ser político social,


utilizando-se de todos os meios de comunicação e transporte, e de
estabelecer, querendo ou não, relações jurídicas além-fronteiras. Exemplo:
uma pessoa nasce em Moçambique, casa-se na África do Sul, onde tem um
filho, e morre na Suazilândia.

Tais factos revelam o campo de aplicação do Direito Internacional Privado,


porque contêm elementos estranhos ao país – elementos de estraneidade,
isto é, nem todos os elementos dessa história estão dentro do mesmo
território e sob uma mesma ordem jurídica.

1.23.2. A Variedade de Leis Estatais

Cada país tem o seu corpo próprio de leis, seu sistema, sua ordem. O
fenómeno é, pois, da pluralidade de ordenamentos jurídicos, específicos
para cada povo, o que pode provocar conflitos quando particulares de um e
de outro povo se relacionam (casamento, por exemplo). Não são,
necessariamente, conflitos de repúdio e não-aceitação, mas conflitos entre
leis que regulam um mesmo fato jurídico.

Quando isso acontece e as pessoas envolvidas não podem ou não têm


capacidade de resolver o problema, alguém, em nome da ordem jurídica, o
faz, aplicando à situação em análise a regra interna advinda do Estado, ou
decorrente de um tratado ou dos princípios conhecidos.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
Como tais ocorrências se revelam na actuação de uma autoridade
específica, como um juiz nacional, entendem alguns doutrinadores que o
Direito Internacional Privado não é, na verdade, internacional, nem mesmo
privado, porque as normas aplicáveis são, em geral, de ordem pública. Isso
é apenas para demonstrar a riqueza da matéria e da discussão que gira em
torno de seus fundamentos.

1.23.3. O Comércio Internacional

Corolário de tudo que foi dito é esse característico: o comércio


internacional.

A intensificação dos relacionamentos leva naturalmente às relações


comerciais e aos problemas decorrentes.

A matéria também se ajusta ao chamado “Direito do Comércio


Internacional”, tendo em vista as qualidades muito particulares dessa área:
obrigações decorrentes de um contrato, incoterms (normas de costume
internacional sobre compra e venda), arbitragem, etc.

Na maioria dos casos, todavia, há actuação simultânea de regras de Direito


Internacional Privado e de Direito do Comércio Internacional.

1.22.4. A Multiplicação dos Meios de Comunicação

Hoje, a comunicação humana compreende um vasto campo, moderno e


intricado. Comunica-se por meio de cartas (moda antiga) e por
computadores (moda moderna), sem falar no telefone, fax e outros meios.
Todos esses meios são suficientes para fechar contratos, propor
negociações, celebrar casamentos, reconhecer filhos etc. Evidente que os
efeitos jurídicos ganham espaço e que as fronteiras dos países não são mais
impeditivas para tanto.
O Direito Internacional Privado, nesses casos, dá instrumentos para o
aplicador da norma solucionar e regular as questões que surgem no dia-a-
dia.

1.22.5. O Adensamento das Relações entre Particulares de


Diversos Países

 Caso os factos narrados fossem esporádicos, não haveria preocupação


jurídica e legislativa em torno dos mesmos, entretanto, assim não
ocorre. Dificilmente temos, nos dias de hoje, relacionamentos dentro de
um mesmo território.

 Na vida de um ser humano acontecem factos que, uma ou outra vez, o


liga a pessoas ou bens existentes em outros países. O homem de hoje é
um “homem do mundo”.

 Acompanha-o, aonde vá, a sua nacionalidade, um sistema que o


protege, que lhe dá personalidade e o faz apto a adquirir direitos e
obrigações. As fronteiras esmaecem e o ritmo das comunicações e dos
meios de transporte – pode-se estar no Japão em menos de 48 horas –
implica envolvimento, cada vez maior, de cidadãos de países diferentes

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e, portanto, entrelaçamento de regras jurídicas incidentes. Daí o papel
do Direito Internacional Privado, revelando, analisando e solucionando
tais situações.

1.22.6. Globalização

Globalização – Conceito. Podemos dizer que é um processo económico


e social que estabelece uma integração entre os países e as pessoas do
mundo todo. Através deste processo, as pessoas, os governos e as empresas
trocam ideias, realizam transacções financeiras e comerciais e espalham
aspectos culturais pelos quatro cantos do planeta.

A Globalização estelacionado com a criação de uma rede de conexões, que


deixam as distâncias cada vez mais curtas, facilitando as relações culturais e
económicas de forma rápida e eficiente.

 Origens da Globalização e suas Características

Muitos historiadores afirmam que este processo teve início nos séculos XV
e XVI com as Grandes Navegações e Descobertas Marítimas. Neste contexto
histórico, o homem europeu entrou em contacto com povos de outros
continentes, estabelecendo relações comerciais e culturais.

O complexo fenómeno da globalização teve início na Era dos


Descobrimentos e se desenvolveu a partir da Revolução Industrial. Foi
resultado da consolidação do capitalismo, dos grandes avanços
tecnológicos (Revolução Tecnológica) e da necessidade de expansão do
fluxo comercial mundial.

Porém, a globalização efectivou-se no final do século XX, logo após a queda


do socialismo no leste europeu e na União Soviética. O neoliberalismo, que
ganhou força na década de 1970, impulsionou o processo de globalização
económica.

Com os mercados internos saturados, muitas empresas multinacionais


buscaram conquistar novos mercados consumidores, principalmente dos
países recem saídos do socialismo. A concorrência fez com que as empresas
utilizassem cada vez mais recursos tecnológicos para baratear os preços e
também para estabelecerem contactos comerciais e financeiros de forma
rápida e eficiente. Neste contexto, entra a utilização da Internet, das redes
de computadores, dos meios de comunicação via satélite etc.

Uma outra característica importante da globalização é a busca pelo


barateamento do processo produtivo pelas indústrias. Muitas delas,
produzem suas mercadorias em vários países com o objectivo de reduzir os
custos. Optam por países onde a mão-de-obra, a matéria-prima e a energia
são mais baratas. Uma sapatilha, por exemplo, pode ser projectada nos
Estados Unidos, produzido na China, com matéria-prima do Brasil, e
comercializada em diversos países do mundo.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

 Factores que impulsionaram a globalização: A Internet,


A TV digital, por satélites, a telefonia digital, a electrónica, automática,
cibernética, a Aldeia Global e a Língua Inglesa.

As inovações nas áreas das Telecomunicações e da Informática


(especialmente com a Internet) foram determinantes para a construção de
um mundo globalizado.

Como dissemos, a globalização extrapola as relações comerciais e


financeiras. As pessoas estão cada vez mais descobrindo na Internet uma
maneira rápida e eficiente de entrar em contacto com pessoas de outros
países ou, até mesmo, de conhecer aspectos culturais e sociais de várias
partes do planeta. Junto com a televisão, a rede mundial de computadores
quebra barreiras e vai, cada vez mais, ligando as pessoas e espalhando as
ideias, formando assim uma grande Aldeia Global. Saber ler, falar e
entender a língua inglesa torna-se fundamental dentro deste contexto, pois
é o idioma universal e o instrumento pelo qual as pessoas podem se
comunicar.

O processo de globalização é a forma como os mercados de diferentes


países interagem e aproximam pessoas e mercadorias. A quebra de
fronteiras gerou uma expansão capitalista onde foi possível realizar
transacções financeiras e expandir os negócios - até então restritos ao
mercado interno - para mercados distantes e emergentes.

O processo de globalização é um fenómeno do modelo económico


capitalista, o qual consiste na mundialização do espaço geográfico por meio
da interligação económica, política, social e cultural em âmbito planetário.
Porém, esse processo ocorre em diferentes escalas e possui consequências
distintas entre os países, sendo as nações ricas as principais beneficiadas
pela globalização, pois, entre outros factores, elas expandem seu mercado
consumidor por intermédio de suas empresas transnacionais.

Podemos dizer que é um processo económico e social que estabelece uma


integração entre os países e as pessoas do mundo todo. Através deste
processo, as pessoas, os governos e as empresas trocam ideias, realizam
transacções financeiras e comerciais e espalham aspectos culturais pelos
quatro cantos do planeta.

O processo de globalização estreitou as relações comerciais entre os


países e as empresas. As multinacionais ou transnacionais contribuíram
para a efectivação do processo de globalização, tendo em vista que essas
empresas desenvolvem actividades em diferentes territórios. Outra faceta
da globalização é a formação de blocos económicos, que buscam se
fortalecer no mercado que está cada vez mais competitivo.

 Vantagens e Desvantagens da Globalização

Hoje uma empresa produz um mesmo produto em vários países e os


exportam para outros, também podemos observar a fusão de empresas,
tudo isso tem como objectivo baixar custos de produção, aumentar a

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produtividade, então produtos semelhantes são encontrados em qualquer
parte do mundo.

Aspecto positivo da Globalização: o intercâmbio cultural e comercial


entre nações, e todos os povos.

Aspecto negativo da Globalização: A crescente interdependência dos


povos, dos factores económicos e financeiros, onde os países desenvolvidos
e industrializados são os maiores beneficiados ficando cada vez mais ricos,
enquanto os países em desenvolvimento ficam cada vez mais pobres.

 Outros Conceitos de Globalização9

 A GLOBALIZAÇÃO - refere-se a todos os processos que, nas práticas e nas


normas, não são obstaculizados nem impedidos pelas fronteiras territoriais e
jurisdicionais dos Estados soberanos.
 GLOBALIZAÇÃO - conjunto de acções políticas, económicas e culturais que
objectivam a integração do mundo e do pensamento em um só mercado.
 GLOBALIZAÇÃO - um fenómeno decorrente dos avanços tecnológicos que
permitem a transmissão de informações com extrema rapidez de uma parte a
outra do planeta.
 A GLOBALIZAÇÃO - financeira se refere à possibilidade de que o capital
possa circular pelo planeta em segundos e suas consequências sobre a
economia dos países.
 A GLOBALIZAÇÃO - é um processo de integração mundial, baseado nos
avanços tecnológicos e das telecomunicações. Tem por base a eliminação das
barreiras tarifárias e a formação de blocos económicos. Embora muitas
pessoas só vejam vantagens na globalização podemos observar prejuízos
também, principalmente para os países pobres, que não detêm as tecnologias
mais avançadas, tornando-se mais dependentes, a cada dia que passa, dos
países ricos.
 A GLOBALIZAÇÃO - é um dos processos de aprofundamento da integração
económica, social, cultural, política, com o barateamento dos meios de
transporte e comunicação dos países do mundo no final do século XX e início
do século XXI. É um fenómeno observado na necessidade de formar uma
Aldeia Global que permita maiores ganhos para os mercados internos já
saturados.
 GLOBALIZAÇÃO - a expansão do capitalismo, no início do século XIX, pode
ser representada como o marco histórico do início do processo de
internacionalização. Processo este que conduz a crescente integração das
economias e das sociedades dos vários países, especialmente no que tange à
produção de mercadorias e serviços, aos mercados financeiros, e à difusão de
informações.
 A GLOBALIZAÇÃO - designa o fenómeno de abertura das economias e das
fronteiras, resultante do crescimento das trocas comerciais e dos movimentos
de capitais, da circulação dos homens e das ideias, da divulgação da
informação, dos conhecimentos e das técnicas. Simultaneamente geográfico e
sectorial, este processo não é recente, mas tem vindo a intensificar-se nos
últimos anos.
 GLOBALIZAÇÃO - Conjunto dos processos e tendências de
internacionalização da economia, da política e da cultura. Exemplos: a
criação de mercados e blocos políticos continentais e mundiais; o surgimento
de empresas multinacionais; a preferência generalizada de jovens de todo o
mundo pela música e cinema ocidentais.

9 http://geoprofessora.blogspot.com/search/label/Globalização

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1.24. Evolução do Direito Internacional Privado

1.24.1. Etapas da evolução do Direito Internacional


Privado:

 Das Origens ao Século XII e XIII.

 Desenvolvimento do DIP no Século XVIII.

 Aperfeiçoamento do DIP no Século XX.

 O DIP no Século XXI.

1.24.2. Origem do Direito Internacional Privado


1.24.3. Antiguidade

 Antiguidade – não havia aceitação de relações com estrangeiros.


 Na Antiguidade o estrangeiro não tinha direitos pois estes derivavam da
religião, o estrangeiro tinha outra religião então não tinha direitos, não
podia ser proprietário, casar, exercer actos do comércio, seus filhos
eram considerados bastardos, não podia herdar nem testar. Assim,
jamais ocorria conflito de normas entre os direitos locais e outros
sistemas jurídicos, portanto era desnecessário o Direito Internacional
Privado. Mesmo em Roma onde existia o jus civile para os cidadãos
romanos, o jus peregrinum para os estrangeiros e o jus gentium para
relações entre peregrinos e cidadãos, tratava-se de Direito Interno não
de Direito Internacional pois não se reconhecia outros ordenamentos.

 Grécia – os estrangeiros (chamados de Metecos) não poderiam ter


relações jurídicas com os gregos, a não ser que pagassem uma taxa. Já
começa a haver uma aceitação dos estrangeiros dentro do território dos
estados.
 Roma – era aplicado o princípio da personalidade das leis, ou seja, é
aplicada a lei relativa a cada população. Assim, se o sujeito era hebreu,
aplicava-se a lei hebraica, se o sujeito vinha da África, aplicava-se a lei
desse local.
 Na Grécia e em Roma o estrangeiro não tinha direitos, pois estes
derivavam exclusivamente da religião, da qual o estrangeiro era
excluído. Não podia ser proprietário, não podia casar-se, os filhos
nascidos da união de um cidadão e uma estrangeira eram considerados
bastardos, o estrangeiro não poderia contratar com cidadãos e não
podia exercer o comércio; lhe era vedado herdar de um cidadão e
transmitir seus bens a um cidadão por herança.

No Império Romano o Direito Internacional Privado tinha um papel


secundário, após a queda do Império (séc. V), começa a ter mais relevância
porque surgem inúmeros povos com a soberania própria, logo cada um
tinha e gozava de leis próprias.

Quando se verificou a necessidade de fazer justiça para o estrangeiro, foi


criado um Tribunal especial. Roma tinha pretor para julgar o estrangeiro, o

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
pretor peregrinus e, em Atenas, o juiz dos estrangeiros era o polemarca, o
magistrado encarregado dos cuidados de guerra e de todas as relações com
os inimigos. Na Índia antiga, os nascidos fora do território eram
considerados impuros, em nível abaixo dos parias e dos sudras.

No Egipto, só os ribeirinhos do Nilo eram puros, o resto da terra era sede de


impurezas. O egípcio não abraçaria um grego, não se serviria da faca de um
grego, não comeria da carne de um boi que tivesse sido cortado com a faca
de um grego, nem comeria na companhia de estrangeiros.

Na Caldéia e na Assíria, não havia reconhecimento de direitos do


estrangeiro. Já na Pérsia revelou-se certa tolerância para com determinados
povos estrangeiros, o mesmo ocorrendo na China antiga.

Com a invasão do Império Romano pelos bárbaros no século V, constata-se


que existia um primórdio de regras para solução de conflitos como por
exemplo, na venda aplicava-se a lei do vendedor, na sucessão seguia-se a lei
nacional do de cujos e a mulher se submetia à lei do marido.
A conclusão que os autores tiram deste panorama da antiguidade é que, não
tendo os estrangeiros participação na vida jurídica, os direitos locais jamais
entravam em choque com direitos estrangeiros, inexistindo possibilidade de
conflito e, portanto, desconhecido o Direito Internacional Privado.

1.24.4. A invasão dos Bárbaros.

A invasão do império Romano pelos bárbaros no século V, acarretou


alterações no panorama jurídico europeu, institucionalizando-se o sistema
que se convencionou denominar da personalidade da lei, no qual cada
pessoa era livre para reger sua vida pela lei de sua origem.

Com as invasões bárbaras do século V e o fim do Império Romano, surgiu o


sistema da personalidade da lei, segundo o qual cada indivíduo, em
território estrangeiro, gozava do direito de reger sua vida pelas leis da sua
origem. Como cada grupo conservava os seus próprios costumes,
conviviam, portanto, no mesmo território, o direito romano (para reger os
antigos cidadãos romanos) e o de diferentes povos bárbaros. De modo a
procurar resolver os conflitos de leis naturalmente provocados por este
estado de coisas, criaram-se certas regras de conflito de leis, como as que
aplicavam a lei do vendedor à compra e venda, a da origem nacional do
falecido à sucessão, e a da origem nacional do marido à mulher.

Óscar Tenório mostra que já existiam certas regras de conflito naquela


época, eis que na venda aplicava-se a lei do vendedor, na sucessão seguia-se
a lei nacional do de cujus e a mulher se submetia à lei do marido.

1.23.5. Os Centros Comerciais na Idade Média:

Idade Média

Principal característica era a descentralização do poder, eis que os


territórios eram divididos em feudos, onde, em cada um deles, havia seu
próprio Senhor Feudal, que criava suas próprias leis, fazia sua própria
moeda. Por esse motivo, começou a haver conflitos, eis que cada feudo

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correspondia a um Estado. Por todos esses motivos, ao invés da
personalidade das leis, que era adoptada em Roma, passou-se a adoptar o
princípio da territorialidade, ou seja, a lei a ser aplicada seria a presente no
território de cada Feudo.

Posteriormente, a fixação do homem na terra, a organização dos feudos e a


autonomia do senhor feudal marcaram o fim da fase da personalidade da lei
e o início da aplicação do princípio oposto, o da territorialidade da lei. As
populações passaram a submeter-se exclusivamente à lei em vigor em seus
territórios, o que impedia o aparecimento de conflitos de leis

Com o regime feudal, a fixação o do homem sobre a terra com a organização


de feudos sobre os quais o senhor feudal tinha total autonomia e comando,
nenhuma outra lei senão aquela por ele determinada era admitida, assim
instala-se um período de territorialidade da lei a partir do século IX. Nesse
contexto a população se submetia apenas às leis vigentes no território onde
estivesse então não havia conflito, sendo desnecessário o Direito
Internacional Privado.

No fim da Idade Média, o comércio internacional teve um impulso


significativo, com grande contribuição das cidades do norte da actual Itália.
A partir do século XI as cidades do norte da Itália, como Modena, Bolonha,
Florença, Pádua, Génova e Veneza, que haviam se tornado importantes
centros comerciais, começam a reduzir a escrito o seu direito
consuetudinário e a firmar os estatutos locais, que se ocupam
principalmente das relações jurídicas de direito privado, diferindo uns dos
outros. O feudalismo adoptado nas cidades Italianas era mais brando pois o
foco eram as relações de comércio em larga escala e portanto havia contacto
frequente entre habitantes de outras cidades. Torna-se, portanto, frequente
o caso de um habitante de uma cidade ser demandado perante a justiça de
outra cidade. E surge então uma pergunta: qual o estatuto aplicável neste
caso?

A partir do século XI, as cidades-Estado do norte da Itália, que se haviam


tornado grandes centros comerciais começaram a transformar o seu direito
consuetudinário em estatutos escritos, voltados principalmente para o
direito privado e com diferenças entre si. A intensificação do comércio na
região levava a contactos frequentes entre mercadores de diversas cidades,
cujos eventuais diferendos, levados a tribunais locais, impunham a
necessidade de definir qual o estatuto aplicável ao caso. As primeiras
tentativas de estabelecimento de regras para resolver tais conflitos de leis
marcam, segundo alguns, o início da ciência do DIP

A partir do séc. XII as cidades italianas começaram a libertar-se do


feudalismo, o primeiro tratado de Constança (1183), entre o Imperador
Frederico e as cidades de Lombardia, este tratado é um conjunto de
princípios jurídicos que visava estabelecer toda a regulamentação jurídica
entre o território Italiano e a leis próprias das cidades.

A fonte primordial continuava a ser a do direito romano, mas começavam-


se a esboçar e a aceitar costumes locais que iam buscar a sua origem ao
Direito Romano e Germânico, daí que, chegado aos finais do séc. XII,

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
princípios do séc. XIII, tem-se cada vez mais uma aceitação por parte dos
juízes em aplicar a lei que achassem mais adequada.

No séc. XIII aparece a Glosa de Acúrcio, nos termos da qual o juiz podia
aplicar qualquer tipo de lei. Abandonou-se a ideia de lex fori no tocante
especialmente À matéria dos contratos e preconizou-se em relação a esta
questão que se aplicaria a lei do lugar da sua conclusão, introduzindo-se
assim a “lex contratus”.

1.23.6. Escolas Estatutárias. Teorias estatutárias.


As cidades do norte da Itália, que se caracterizavam por sua soberania,
dispunham de legislação própria, independentemente do direito romano e
do direito germânico: tais leis municipais ou provinciais eram conhecidas
como Estatutos, contendo normas sobre os mais variados campos de
direito, incluindo prescrições administrativas, disposições de direito penal,
direito civil e direito comercial. Estes estatutos e os conflitos que entre os
mesmos se verificavam foram objecto da especulação dos estudiosos dos
séculos XIV ao século XVII, períodos em que surgiram diversas teorias
sobre as soluções a serem equacionadas para todo tipo de conflitos, fruto do
trabalho das denominadas escolas estatutárias, em número de quatro.

 As primeiras Três Escolas Estatutárias Foram:

 Escola italiana (séc. XIV),


 Escola francesa (séc. XVI) e
 Escola holandesa (séc. XVII).
I- Escola Italiana:

Os estudiosos do direito romano dos séculos XI, XII e XIII eram conhecidos
como glosadores, devido às glosas que introduziam nos antigos textos
romanos, em que os comentavam, procurando encontrar a melhor
interpretação das antigas leis. O texto de Aldricus é um produto desta época
e deste tipo de estudos e comentários. A escola italiana teve como
precursor, ainda no séc. XIII, o romanista Accursius. Aos glosadores
seguiu-se nos séculos XIV e XV a escola dos pós-glosadores, modernamente
denominados “comentaristas”. Foi a escola que determinou que os delitos
devem ser submetidos à lei do lugar de sua perpetração (lex loci delicti),
norma hoje adotada no Direito Internacional Privado como regra básica
não só no campo do Direito Penal, como também para a responsabilidade
civil. Entre os pós-glosadores, destaca-se a obra de Bártolo de sassoferato,
um dos mais eminentes criadores da teoria e das normas do D.I.P., que
viveu de 1314 a 1357, tendo lecionado Direito sucessivamente em Bolonha,
Pisa e Perugia. Bártolo distinguiu entre os direitos reais e os direitos
pessoais, noção importante para a elucidação de muitas questões em que
ocorrem conflitos. Bártolo estabeleceu que a lei do lugar do contrato é
adoptada para as obrigações dele emanadas; e em matéria testamentária
decidiu que as formalidades obedecem ao lugar onde foi elaborado o ato de
última vontade. Bártolo foi o grande propulsor do D.I.P.

II- Escola Francesa:

Desenvolveu-se no séc XVI, trazendo valiosa contribuição para o progresso


do D.I.P. Nela pontificaram Charles Dumoulin e Bernard d’Argentré. O

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
Primeiro introduziu a teoria da autonomia da vontade, lançando as bases
do processo qualificador, e d’Argentré advogou a teoria do territorialismo.
Dumoulin, que viveu de 1500 a 1566, foi advogado parisiense e mais tarde
lecionou em universidades alemãs. Sua principal contribuição situa-se no
plano dos contratos. Entendia-se que o fundamento para a aplicação da lei
do lugar da assinatura do contrato para as questões de fundo derivava da
presunção de que as partes, ao escolher um local, desejavam submeter-se às
leis nele vigentes. Todavia, ninguém se deu conta das consequências lógicas
deste fundamento, que acabou sendo formulada por Dumoulin, ao afirmar
que se as partes desejarem, poderão perfeitamente escolher outra lei, como,
por exemplo, a lei do local de situação do bem.

Assim nasceu a teoria da autonomia da vontade, de grande


importância no campo do direito internacional das obrigações.

D’argentré (1519-1590) era magistrado na Bretanha, e sua contribuição para


o D.I.P. está contida na obra que escreveu como comentário ao artigo 218
dos costumes da Bretanha “De statutis personalibus et realibus”.
D’Argentré considerava que os conflitos entre seus costumes e os das outras
regiões como conflitos de dois sistemas soberanos e autônomos, e não como
meros conflitos inter-regionais, passíveis de eliminação pela unificação. Por
advogar a independência e a harmonia, d’Argentré criou uma teoria
particularista, preocupando-se exclusivamente com a defesa dos interesses
dos bretões e procurando aplicar suas leis sempre que fosse possível.
Também sistematizou a distinção entre o estatuto real (concernente aos
bens), de caráter territorial, e o estatuto pessoal (concernente à pessoa),
hipertrofiando aquele em detrimento deste, que fica restrito às questões
relativas à personalidade. Reconhecendo a impossibilidade de classificar
todas as instituições nestas categorias, criou uma terceira, os estatutos
mistos, em que integrou os estatutos que concernem às pessoas e às coisas
conjuntamente, aplicando a esta categoria as mesmas regras do que aos
estatutos reais. D’Argentré era um dogmático que punha acima de tudo sua
lei; o normal, dizia ele, é que o juiz aplique sua própria lei, e só
excepcionalmente admite invocar a lei estrangeira. Esta é até hoje a
inclinação de muitos doutrinadores e magistrados em todas as partes do
mundo.

III- Escola Holandesa:


Paul e Jean Voet, Christian Rodenburg e Ulrich Huber foram as figuras
principais do Direito Internacional Privado holandês do século XVII, e
comentaram as idéias da escola estatutária francesa, principalmente a
doutrina de D”Argentré, nascendo assim a escola estatutária holandesa.
Huber notabilizou-se por seu escrito “De conflictu legumdiversarum in
diversis imperiis”, em que enunciou três princípios: a) As leis de cada
estado imperam dentro das suas fronteiras e obrigam a todos os súditos
deste estado, mas não produzem efeitos além destes limites; b) súditos de
cada estado são todos aqueles que se encontram no seu território; c) Os
soberanos de cada Estado conduzem-se de modo a tornar possível que as
leis de cada país, depois de terem sido aplicadas dentro das suas fronteiras,
conservem sua força e eficácia além das fronteiras, pela teoria da comitas
gentium, cortesia internacional, que permite a aplicação extraterritorial das
leis internas. Com este terceiro princípio, Huber oferece duas explicações
para o aparente paradoxo constituído pela aplicação do direito estrangeiro

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
além das fronteiras do país que as promulga, apesar da doutrina da
soberania territorial. Sua primeira explicação é de que isto ocorre
simplesmente porque o outro soberano consente que assim se faça. E a
segunda é de que não se aplica e executa o direito estrangeiro como tal, mas
se reconhece os direitos que o mesmo deu origem.

5- DOUTRINAS MODERNAS:

Transcorrido o século XVIII, em que se aperfeiçoaram as idéias dos


estatutários das três escolas, sem que nada de especialmente original
tivesse surgido no panorama do D.I.P., a ciência jurídica inaugura o século
XIX com o Código Civil de Napoleão (1804), seguido do Código Civil
Italiano (1865) e encerrando-se com o Código Civil Alemão (1896), contendo
as três legislações regras básicas sobre a solução dos conflitos de leis.
Paralelamente, é nesta época que surgem e pontificam as maiores figuras
do moderno Direito Internacional Privado, dois autores consagrados e
reverenciados até os dias de hoje: Savigny, o historiador e filósofo, Story, o
grande sistematizador, e Mancini.

Joseph Story

No meio ao normativo francês, surgiu, em 1834, Joseph Story, formado pelo


Harvard College, advogado, político, jurisconsulto, membro da Suprema
Corte dos EUA e professor de Direito na Universidade de Harvard, inclusive
com trânsito livre nos foros americanos e ingleses.

Despontou e se projetou através da obra: Comentários sobre Conflitos de


Leis, Estrangeiras e Domésticas, com Relação a Contratos, Direitos e Ações,
em especial com Relação a Casamentos, Divórcios, Testamentos, Sucessões
e Sentenças. Esta obra também é bastante conhecida só pelo nome Conflict
of Laws, ou, na sua expressão maior, Commentaries on the Conflict of
Laws, Foreign and Domestic, in regard to Contracts, Rights and Remedies
and especially in regard to Marriages, Divorces, Wills, Sucessions and
Judgements.

JOSEPH STORY- Juiz da suprema corte americana, professor da


Universidade de Harvard, publicou em 1834 “Comentaries on the conflict of
Laws, foreign and domestic, in regard to marriages, divorces, wills,
successions and judgments”, tida como a mais notável e importante obra
sobre o conflito das leis que apareceu desde o século XVII em qualquer país,
em qualquer língua. Em aula inalgural proferida na Universidade de
Harvard, no dia 28 de Agosto de 1929, Story apresentou o plano de sua obra
sobre o conflito das leis, dizendo que nela se dedicaria ao “Exame de uma
variedade de questões muito interessantes que decorrem da aplicação do
direito estrangeiro: o domínio que se costuma denominar lex fori e lex loci.
Na primeira edição do seu livro, Story citou cerca de quinhentas decisões de
jurisprudência, e expôs os princípios territorialistas de D’Argentré,
aperfeiçoados por Huber, sem se comprometer com suas teorias. O mestre
de Harvard foi o primeiro a empregar a denominação “Direito Internacional
Privado”.

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Story estabeleceu regras sobre a lei a ser utilizada para cada setor do
direito. Para o estado e a capacidade das pessoas, fixou a regra geral do
domicílio, excetuada a capacidade de contratar, para qual adotava a lei do
local do contrato; para o casamento sujeitava a capacidade, a forma e a
validade à lei do lugar de celebração; em matéria do regime de bens,
havendo contrato, respeitar-se-ia o que estava pactuado, e inexistindo
pacto, os móveis se regeriam pela lei do domicílio conjugal, os imóveis pela
lei do lugar de sua situação. Para os contratos, a lei do lugar de sua feitura,
com ressalvas para a lei do lugar de sua execução; os bens móveis pela lei do
domicílio do proprietário e os imóveis pela lei do local; sucessões, a mesma
distinção entre móveis e imóveis.

Muitas das suas idéias foram facilmente absorvidas pela actual codificação.

Na realidade, ele afastou-se das escolas estatutárias. Desprezou a divisão


estatutos reais, pessoais e mistos. Contudo, acabou por adoptar o
territorialismo de D`Argentré, mas tão-somente naquilo que lhe era d
essencial.

Para a capacidade das pessoas, optou pela lei do domicílio, tendo como
excepção apenas as regras para a capacidade de contratar, porquanto
achava coreto ser a lei do lugar do contrato. Fixou-se na máxima latina lex
rei sitae para os bens imóveis.

Quanto ao casamento, submeteu-o à lei do lugar de sua celebração.

O divórcio e as relações dos cônjuges regiam-se pela lei do domicílio actual.

Em síntese, Story adoptou o domicílio como regra geral, inclusive para bens
móveis que obedeciam à lei do domicílio, ressalvadas apenas as regras
quanto aos imóveis e quanto aos atos de celebração do casamento.

FRIEDRICH CARL VON SAVIGNY- Professor de Berlim (Alemanha),


escreveu “Sistem des heutigen Romischein Rechts- Sistema do Direito
Romano atual- em que se concentra no direito privado de sua época com
origem no direito romano. Foi o grande inovador do moderno Direito
Internacional Privado, discordando com veemência das teorias
territorialistas de Huber e de seus contemporâneos. Savigny preconiza que
o interesse dos povos e dos indivíduos exige igualdade no tratamento das
questões jurídicas, de forma que, em caso de colisão de leis, a solução venha
a ser sempre a mesma, seja em que país se realizar o julgamento. É o que
ele denomina de “comunidade de direito entre os diferentes povos”,
segundo a qual para encontrar a lei aplicável a cada hipótese, deve-se
determinar o direito mais de acordo com a natureza própria e essencial
desta relação”. Savigny reconhece que há excepções ao princípio da
comunidade de direito entre os povos, por força de determinadas leis que
existem em cada nação e que têm natureza rigorosamente obrigatória, não
admitindo a escolha de leis de outra fonte, havendo, por outro lado,
instituições de certos países que não são reconhecidas em outros países
(poligamia, proibição de aquisição de propriedade imobiliária por judeus e
escravidão), não podendo pretender reconhecimento destes por outros
tribunais.

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Savigny => conferiu carácter de universalidade ao DIPR visando a harmonia
internacional das decisões. Uniformidade das normas de DIPR. O exame de uma
relação jurídica com conexão internacional parte da própria relação, e não de uma
norma, rompendo com a noção, antes predominante, pela qual a origem da análise
dos problemas de DIPR era o estatuto (pessoal ou real). Domicílio era o principal
elemento de conexão.

Savigny

Na Alemanha, aparece o grande trabalho do genial Savigny intitulado:


Sistema de Direito Romano Actual ou System des Jeutigen Romischen
Rechts, correspondente ao Livro 3 da parte geral de sua obra.

Para Savigny, deveria haver uma comunidade de direito entre os povos.

Toda relação jurídica deveria ter uma sede, o seu centro de gravidade
através do qual se projetava a vontade dos interessados.

O domicílio deveria ser o elemento de conexão por excelência. Serviria


assim para indicar a lei que regulasse a capacidade das pessoas e os direitos
de família Entretanto, também adoptava a lex rei sitae, para os bens
imóveis, enquanto os móveis seriam regidos pela lei do proprietário, desde
que estivessem em movimento.

As ideias de Savigny foram seguidas por alguns codificadores, na


elaboração do Código Civil, que adoptaram como principal elemento de
conexão o domicílio.

PASQUALE MANCINI- Logo abaixo de Story e Savigny, aparece a figura


do italiano Pasquale S. Mancini, criador do moderno Direito Internacional
Privado, fundador e presidente do Instituto de Direito Internacional. A
principal lição de Mancini em D.I.P. consta de uma aula inaugural
proferida na Universidade de Turim (Itália), iniciada em 1851 e concluída
em 1852, sob o título “Della nazionalità come fondamento del diritto della
gente”, em que estabeleceu a nacionalidade como critério determinador da
lei a ser aplicada à pessoa em todas as matérias atinentes a seu estado e
capacidade, contrariamente ao princípio de Savigny, que optara pelo
domicílio.

Mancini

Mancini foi original. Criou a sua doutrina, toda ela embasada na


nacionalidade.

Para ele, a lei pessoal era, portanto, a lei nacional. Disciplinava a


capacidade, os direitos de família e sucessões, tudo tal qual estava escrito
no Código Civil italiano de 1865.

Mancini => enfatizou a nacionalidade como elemento de conexão mais importante


(em caso de conflito aplica a norma da qual uma das partes fosse nacional).
Desenvolveu a noção da autonomia da vontade, ou seja, a possibilidade de as
partes de um negócio jurídico escolherem livremente a norma aplicável à relação,

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
dentro dos limites da lei. O Direito Estrangeiro só era aplicado quando não
ofendesse a ordem pública do Estado.

Em síntese, a doutrina de Mancini está inserida nos termos seguintes:

Leis de direitos públicos, territoriais, aplicando-se a todos no respeito à


soberania; de direito privado necessário, pessoais, de efeito extraterritorial,
acatando a nacionalidade de cada indivíduo; e de direito voluntário
dependendo da autonomia da vontade, sob a influência directa da
liberdade.

Esta doutrina teve grande influência na Europa, pois até hoje a


nacionalidade é o elemento de conexão comum aos Estados europeus.

O critério da nacionalidade foi aceite pela grande maioria das codificações


europeias, pelo Instituto de Direito Internacional e pela conferência de
Direito Internacional Privado de Haia, conforme várias convenções por ela
patrocinadas.

1.24. Denominação do «Direito Internacional Privado». Com


ramo de direito

 Origem da Denominação do DIP10

A denominação Direito Internacional Privado, sem margem de dúvida


está realmente consagrada.

Em relação a origem da denominação não existe consenso, alguns autores


consideram que esta denominação não é conceptual. Lafayette, citado por
Amílcar de Castro, afirma que Portalis usou-a pela primeira vez em 1803.
Posteriormente, já em 1834, coube a Joseph Story empregá-la em sua
obra: “Comentários sobre Conflitos de Leis Nacionais e
Estrangeiras”. Outros autores consideram que, quem pela primeira vez
intitulou uma obra com a denominação Direito Internacional Privado
foi o advogado alemão Foelix, radicado em Paris no ano de 1843, assim
conhecida: “Tratado de Direito Internacional Privado”.

Outras denominações foram dadas, mas sempre sem a devida aceitação.


Vejam-se: Direito Intersistemático (Arminjon), Normas de Colisão (Hert),
Direito Civil Internacional (Laurent), Conflito das Leis (Beale, Stumberg,
Goodrich), Direito Interespacial (pontes de Miranda), Direito dos Limites
(Frankenstein) etc.

Apesar de existirem várias opiniões sobre a questão em apreço, podemo


concluir que a denominação deste ramo como «Direito Internacional
Privado» ficou assente por influência da obra intitulada «Traité du Droit
International Privé» de FOELIX em 1843. É esta a denominação que veio a
prevalecer nos países da Europa Continental e América Latina, contudo,
nos países anglo-americanos prevaleceu a denominação «Conflito de Leis»,

10
https://pt.wikipedia.org/wiki/Direito_internacional_privado

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
assim como denominavam os estatutários holandeses e alemães e também
JOSEPH STORY.

1.25. Outras Considerações Sobre a Denominação da


Disciplina.
Segundo Cândido Silva, discute-se a denominação “Direito Internacional
Privado”, pois já se defendeu que o direito internacional privado não é direito,
nem internacional e nem privado.
Inicialmente, o direito internacional privado consiste numa técnica especial de
aplicação das leis ou de julgamento, porém, isto não faz com que tais normas
deixem de ser direito. Direito é a regra de conduta, de forma que o direito
internacional privado disciplina como o juiz deve definir qual o direito aplicável
ao caso concreto, de forma que se impõe reconhecer que as normas de direito
internacional privado são normas jurídicas. Portanto, é direito.
Há quem entenda que o direito internacional privado na verdade não é direito
internacional, pois corresponde a norma de direito interno do Estado. É o Estado
que, no exercício de seu poder soberano, constituí normas que se prestam a
definir qual o direito aplicável à situações de conexão internacional. Assim, não
é norma para reger relações entre sujeitos de direito internacional, como ocorre
com os tratados, mas norma interna de um país. No entanto, a sua
internacionalidade, que justifica sua denominação, está no fato de que regula
qual o direito aplicável em face de relações jurídicas com conexão que
transcende as fronteiras nacionais. A internacionalidade não é do direito
propriamente, pois ele é nacional, mas sim das circunstâncias fácticas que
envolvem mais de um meio interjurisdicional. Então se justifica a denominação
de se tratar de um direito de carácter internacional por envolver questões que
interessam a mais de um Estado, diante da existência de factores de conexão
entre dois ou mais Estados.
Por fim, há quem sustente que o direito internacional privado não é
privado, mas público, pois diz respeito à aplicação da norma, portanto, com
carácter cogente e direccionada ao Estado-juiz. Com efeito, o direito
internacional privado se dispõe a definir qual o direito material aplicável, sendo
que tal direito aplicável é de carácter privado, no entanto, a norma que tem por
atribuição tal definição não é de carácter privado, mas público. As normas de
direito internacional privado são normas de carácter público, pois disciplinam
a actuação do juiz, no exercício de sua actividade jurisdicional, acerca da
operação em definir-se qual o direito aplicável em questões que envolvem mais
de um meio interjurisdicional.

1.26. Características do Direito Internacional Privado

 É um Direito nacional: Cada país dita as suas próprias


normas de Direito Internacional Privado, o que leva consigo a
conflito de leis entre países.

 É um direito positivo, as suas normas encontram-se em diversos


textos ou diplomas legais, principalmente nos Códigos Civis. Outras
suas normas encontram-se nos tratados internacionais.

1.27. Fontes de Direito Internacional Privado


Muitas são as classificações sobre as fontes que produzem as normas de
Direito Internacional Privado; todavia, nós pautamos pela classificação que

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
é mais admitida pela doutrina: lei interna, tratados, costume interno,
jurisprudência e doutrina.

As fontes 11

 A Lei;
 Os Tratados Internacionais;
 O Costume;
 A Jurisprudência;
 A Doutrina;
1.27.1. Leis territoriais e extraterritoriais

A lei é tida fonte do direito internacional privado e segue de acordo com os


preceitos da ordem pública com normas internas. Como exemplo, o Código
Civil.

Em outras palavras, cada país resolve os seus problemas de Direito


Internacional Privado com base em normas locais, regras internas, seus
próprios sistemas nacionais.

A fonte mais utilizada e que mais instrumentos possuem para a solução dos
conflitos de leis no espaço é o Código Civil (artigo 14º - 65º).

A Lei: É a principal fonte, uma vez que o Direito Internacional Privado é


um ramo interno do país.

As principais fontes do direito internacional privado são internas,


submetendo-se ao critério hierárquico do sistema nacional. A constituição é
a lei suprema, e as regras sobre direito internacional privado, nacionalidade
e condição do estrangeiro que nela se contêm não são modificáveis pela
legislação ordinária.

A primeira lei interna de direito internacional privado foi o Código de


Napoleão, seguido por leis da Áustria e Itália. Em Moçambique temos
temos o Código Civil (art. 14º-65º) e outros diplomas legais (Ex:artigo 6º do
Código Comercial - Decreto-Lei n.º 2/2005 de 27 de Dezembro e Decreto-Lei
2/2009, de Dec. Lei nº 2/2009 de 24 de Abril)

Artigo 6º do Decreto-Lei n.º 2/2005 de 27 de Dezembro


1. Os actos de comércio são regulados:

a) Quanto à substância e efeitos das obrigações, pela lei do lugar onde forem celebrados, salvo convenção em
contrário;

b) Quanto ao modo do seu cumprimento, pela lei do lugar onde este se realizar;

c) Quanto à forma externa, pela lei do lugar onde forem celebrados, salvo nos casos em que a lei
expressamente ordenar o contrário.

A aplicação do direito estrangeiro não se faz por ato arbitrário do juiz, mas
em decorrência de mandamento legal da legislação interna. Reputa-se a
norma estrangeira com força coactiva igual à brasileira. As partes, em
princípio, não podem renunciar ao seu império. Sua obrigatoriedade é de

11
Denise Soareshttp://epereira.awardspace.com/7p/Direito%20Internacional%20Privado.pdf

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
tal natureza que o julgador tem o dever de aplicá-la mesmo quando não
invocada pelas partes.

Não se trata, efectivamente, de um Direito Internacional, mas sim de um


Direito interno que cuida de relações entre particulares situados em países
diversos. Tais relações acabam se concretizando, ao longo de sua duração,
em um ou outro território, e eventuais conflitos devem ser resolvidos pelo
aplicador da norma nos limites territoriais.

Normalmente, a legislação de um país disciplina as relações jurídicas


internas relativas a pessoas, bens, obrigações e sucessões. No domínio do
estado, as leis locais são aplicadas pelo juiz e respeitadas por todos que nele
se encontram. São as chamadas leis territoriais. A territorialidade das leis é
o princípio preponderante, como expressão da soberania nacional. Se os
estados vivessem em absoluto isolamento, todas as leis teriam carácter
territorial. A existência de uma comunidade internacional formada pelos
estados leva, porém, a relações internacionais.

O sistema jurídico de um Estado compreende, assim, normas internas


propriamente ditas, e normas internas que exigem aplicação de lei
estrangeira. Se, por exemplo, um Moçambicano casa-se em Moçambique
perante autoridade nacional, o casamento (forma de casamento, etc.) fica
submetido à legislação Moçambicana e somente a ela. Quando contrai
casamento com estrangeira domiciliada no exterior, surge o problema da lei
a ser aplicada: a Lei moçambicana ou a alienígena (estrangeira). A questão
é de Direito Internacional Privado.
 A Lei é: é a mais importante fonte formal do Direito. Entende-se por lei a
Norma jurídica escrita emanada de poder competente.

 Lei em Sentido Formal é todo o acto normativo emanado de um


órgão com competência legislativa, quer contenha ou não uma
verdadeira regra jurídica.

 Lei em Sentido Material é todo o acto normativo, emanado de um


órgão de Estado, mesmo que não incumbido da função legislativa, desde
que contenha uma verdadeira regra jurídica.

 Lei em Sentido Amplo abrange qualquer norma jurídica.

 Lei em Sentido Restrito compreende apenas os diplomas emanados


pela Assembleia da República.

 Lei em Sentido Latíssimo significa norma jurídica.

1.27.2. Tratados Internacionais

Tratado Internacional: é um acordo de vontades entre sujeitos de


Direito Internacional. Quando os Estados se obrigam a fazer introduzir e a
respeitar na ordem interna as normas constantes desses tratados, estes
denominam-se Tratados Normativos.

Devem ser assinados e ratificados aprovados pelos órgãos dos Estados com
poderes para o efeito (Ex: Parlamento, Governo, etc.).

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
Os Tratados Internacionais assumem grande relevância no Direito
Internacional, na medida em que são uma das suas fontes mais
importantes.

Existem 3 fases para a conclusão do processo, são eles:

A negociação (por representantes de cada Estado),


A assinatura e
A ratificação.

Os tratados internacionais: são acordos bilaterais, regionais e multilaterais


de que são signatários os Estados e que tem como o escopo de aplicação de
várias relações jurídicas compreendidas pelo direito internacional privado,
direito processual civil internacional e matérias correlatas. Trata-se, em
outros casos de grande fonte de inspiração para a interpretação e aplicação
das normas do direito internacional privado, mesmo quando não ratificados
pelo Estado.

Dentro do empenho dos juristas de promover não propriamente uma


unificação, mas alguma uniformidade no tratamento das matérias de DIP,
surgiu a primeira grande tentativa nesse sentido, corporificada no
denominado Código Bustamante, promovido pelo Tratado de Direito
Internacional Privado de 1928. Esta Convenção foi aprovada em 1928, pela
conferência Internacional americana realizada em Havana (Cuba). O
Código de Bustamante, tratou das mais diversas áreas do direito privado,
mas, na prática o “tratado foi esquecido com o tempo”.

1.27.3. Costume

O costume, segundo Maristela Basso: “exprime-se pela prática reiterada de


determinados comportamentos que, como a experiência e o transcurso do
tempo, admitem-se como juridicamente observáveis, vinculando
imediatamente os indivíduos – no plano interno do Estado”. Há dois
requisitos para constatar-se o costume: o elemento material, externo (pratica
constante de determinados actos pelos Estados) e o elemento subjectivo,
interno (convicção jurídica dos Estados de observância de uma norma
jurídica como elemento autentico do direito consuetudinário).

1.27.4. Jurisprudência
Entendemos como jurisprudência a autoridade das coisas julgadas do
mesmo modo e de forma reiterada. Decisões de tribunais brasileiros
resolvendo conflitos de leis no espaço, ou seja, determinando o direito
aplicável, ainda são raras.

Entre nós não tem a jurisprudência força obrigatória, mas tem prestígio por
representar o pensamento do Judiciário.

O Direito Jurisprudencial une o direito actual ao direito futuro. Ele é a


ponte entre o jus constituto e o jus constituendo”. (Irineu Strenger,
Direito Internacional Privado, 3.ª ed., LTr).

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

1.27.5. A Doutrina
Doutrina: Compreende opiniões ou pareceres dos jurisconsultos sobre a
regulamentação adequada das diversas relações sociais, consiste ainda nos
artigos, escritos científicos, etc. Que se debruçam sobre os problemas
jurídicos.

É a orientação geral seguida pelos tribunais no julgamento dos diversos


casos concretos da vida social, abrangendo, igualmente o conjunto de
decisões (sentenças e acórdãos) emanados pelos Tribunais.

Ao longo dos tempos vai explicitando uma determinada consciência jurídica


geral, contribuindo para a formação de verdadeiras normas jurídicas.

É uma fonte importante, uma vez que propõe soluções para os problemas e
influência legisladores, juízes e aplicadores das normas em geral.

A doutrina é a base científica do Direito Internacional Privado, embora,


também, não tenha força obrigatória.

Pode-se dizer que a Doutrina é um conjunto de estudos, pareceres, artigos,


de carácter científico consignados em obras, como livros, revistas, jornais
jurídicos, em que tratam de teorias ou interpretações à temática do direito
internacional privado. Assevera Irineu Strenger que a doutrina não tem
força de obrigatoriedade, mas pode incluir-se nas decisões dos tribunais,
em casos de elaboração das regras de direito e tratados internacionais,
portanto, tem sido guia dos interessados na solução dos casos concretos.

A doutrina desempenha papel primordial para a adaptação da disciplina às


demandas de regulação das relações jurídicas que geram efeitos em mais de
um país ao mesmo tempo. Pode-se dizer que é um conjunto de estudos,
pareceres, artigos, de carácter científico consignados em obras, como livros,
revistas, jornais jurídicos, em que tratam de teorias ou interpretações à
temática do direito internacional privado. Assevera Irineu Strenger que a
doutrina não tem força de obrigatoriedade, mas pode incluir-se nas decisões
dos tribunais, em casos de elaboração das regras de direito e tratados
internacionais, portanto, tem sido guia dos interessados na solução dos casos
concretos.

O Direito Internacional Privado tem na doutrina a sua principal fonte de


sistematização científica. Repousa em 3 pilares: Os “Comentários sobre os
conflitos de Leis”, de Joseph Story, “Limites locais do império das regras
sobre relações jurídicas” (Savigny), e “O fundamento racional do Direito
das gentes” (Mancini).

1.28. Os Sujeitos de Direito Internacional Privado


Sujeitos de Direito Internacional Privado

 Pessoas singulares (pessoas físicas)

 Pessoas colectivas (jurídicas) do Direito Privado

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ARTIGO 31.º (Código Civil Vigente em Moçambique - Decreto 47344 de 25 de Novembro de
1966)

Determinação da lei pessoal

1 - A lei pessoal é a da nacionalidade do indivíduo.

2 - São, porém, reconhecidos em Portugal os negócios jurídicos celebrados no país da residência


habitual do declarante, em conformidade com a lei desse país, desde que esta se considere
competente.

ARTIGO 32.º (Código Civil Vigente em Moçambique Decreto 47344 de 25 de Novembro de


1966)
Apátridas

1 - A lei pessoal do apátrida é a do lugar onde ele tiver a sua residência habitual ou, sendo
menor ou interdito, o seu domicílio legal.

2 - Na falta de residência habitual, é aplicável o disposto no n.º 2 do Artigo 82.º.

ARTIGO 33.º (Código Civil Vigente em Moçambique Decreto 47344 de 25 de Novembro de


1966)

Pessoas colectivas

1 - A pessoa colectiva tem como lei pessoal a lei do Estado onde se encontra situada a sede
principal e efectiva da sua administração.

2 - À lei pessoal compete especialmente regular: a capacidade da pessoa colectiva; a


constituição, funcionamento e competência dos seus órgãos; os modos de aquisição e perda da
qualidade de associado e os correspondentes direitos e deveres; a responsabilidade da pessoa
colectiva, bem como a dos respectivos órgãos e membros, perante terceiros; a transformação,
dissolução e extinção da pessoa colectiva.

3 - A transferência, de um Estado para outro, da sede da pessoa colectiva não extingue a


personalidade jurídica desta, se nisso convierem as leis de uma e outra sede.

4 - A fusão de entidades com lei pessoal diferente é apreciada em face de ambas as leis pessoais.

ARTIGO 34.º (Código Civil Vigente em Moçambique - Decreto 47344 de 25 de Novembro de


1966)
Pessoas colectivas internacionais

A lei pessoal das pessoas colectivas internacionais é a designada na convenção que as criou ou
nos respectivos estatutos e, na falta de designação, a do país onde estiver a sede principal.

Sujeitos de Direito Internacional Privado

 Pessoa Jurídica (do Direito Privado)

 Pessoa física (singular)

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 Pessoa jurídica: é a entidade constituída de homens ou bens, com
vida, direitos, obrigações e património próprios.

São pessoas jurídicas de direito privadas:

 As sociedades civis ou comerciais,


 As associações,
 As fundações privadas e
 As entidades paraestatais, representadas, estas, pelas
empresas públicas e as sociedades de economia mista.

 Pessoa Física

À pessoa física aplica-se a lei de sua nacionalidade ou de seu domicílio,


conforme o critério adoptado pelo Direito Internacional Privado do foro do
Estado onde é apreciada judicialmente a questão.

1.28.1. A Pessoa Jurídica como sujeito de Direito


Internacional Privado

No direito internacional privado surge a questão de se saber qual lei se deve


aplicar ao se apreciar a constituição, o funcionamento e a dissolução de
sociedades e fundações, tendo em, vista que a pessoa jurídica poderá ter
sido constituída em um pais para exercer suas actividades em outro.
1.28.2. Teorias quanto à lei que rege o Estatuto Pessoal da
Pessoa Jurídica:

a) Teoria da Incorporação:
É aplicável a lei do local da constituição da pessoa jurídica. Nesse caso para
os sócios que constituem (fundam) a empresa a vantagem é de terem a
faculdade de constituir pessoa jurídica conforme o direito de sua escolha,
ainda que o exercício de suas actividades ocorra em outro país.

 Há duas espécies de sede da empresa: estatutária (prevista no


contrato social) e sede social ou efectiva (local onde tem sua
administração real). Nesse caso é importante a sede estatutária ou
prevista no contrato social. E por outro lado a sede social, ou seja,
aquela de sua administração real, não é relevante.

b) Teoria da Sede Social:


É aplicável a lei do local da sede efectiva da pessoa jurídica, que se situa no
lugar de sua administração real. Segundo esta teoria, a sede estatutária ou
prevista no contrato social deve, obrigatoriamente, coincidir com a sede
efectiva, para que seja reconhecida sua capacidade jurídica. Em suma, esta
teoria tem uma peculiaridade que a torna um pouco mista, pois exige que a
sede social coincida com a sede estatutária ou prevista no contrato social.
Ele considera que uma sociedade que tem constituição e administração em
locais diferentes serão consideradas irregulares, ou seja, conduz a existência
de grande número de sociedades irregulares, nos casos em que as sedes
estatutárias e sociais não coincidam.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
A primeira teoria é mais liberal para reconhecer as Pessoas Jurídicas em
caso de conexão internacional.

EX: se uma determinada sociedade tem a sede estatutária em um país e


exerce a administração em outro país, caso o país adopte a teoria da sede
social, esta empresa será irregular. Mas se o país adoptar a teoria da
incorporação esta empresa não será considerada irregular somente por isso.
Assim, pode ocorrer por hipótese de uma conexão fraudulenta (fraude ou
evasão) somente na primeira teoria, pois na segunda o simples fato de ter a
sede estatutária em um país e a administração em outro já a torna irregular.
Com isso, na segunda teoria não é necessário alegar conexão fraudulenta.
Na primeira teoria só será considerada irregular se alegar conexão
fraudulenta.

1.29. Natureza da do Direito Internacional Privado:


Natureza: esta, pode ser quanto a função e quanto a sua localização
no sistema jurídico.

1.39.1. Quanto a função: as normas de conflito do DIP, não são


normas materiais que regulam directamente a situação de conflito de leis,
mas sim normas instrumentais, onde deve ser procurada a regulamentação
material da situação concreta. A sua finalidade é indicar qual a lei aplicável
a um determinado caso, de forma que é uma norma indirecta, a medida que
não rege o facto em si, mas limita-se a apontar qual o seu regulamento. Por
outras palavras, a norma de conflitos não resolve por si mesma a questão de
fundo, mas concorre para a resolução desta questão.

1.29.2. Quanto a sua localização no sistema jurídico: é


necessário distinguir se o DIP pertence ao Direito Público ou Direito
Privado.
Haroldo Valladão e Jacob Dolinger defendem que a lei aplicável pode ser de
carácter público ou privado. Pontes de Miranda e Beat Walter entendem
que o direito internacional privado se restringe às normas de direito
privado.
Existem alguns autores que consideram que, ainda que o Direito
Internacional Privado, ainda que as suas regras sejam emanadas pelo
poder público, define qual a regra de direito privado que deve ser
aplicada ao caso concreto. Assim, a norma definida como aplicável, seja
nacional ou estrangeira, é norma de direito privado.

O Direito Internacional Privado é o ramo da ciência jurídica onde se


procuram formular os princípios e regras jurídicas conducentes à
determinação da lei ou das leis (ou seja, à determinação da disciplina
jurídico-material) aplicáveis às questões emergentes das relações jurídico-
privadas de carácter internacional (relações plurilocalizadas).
À vista disso, o Direito internacional Privado é direito privado apesar do
fato de aplicação da norma de Direito Internacional Privado não derivar
ainda a decisão da questão jurídico-privada, mas o certo é que tal decisão é
o que, em último termo, buscamos quando recorremos a esta norma.
Na nossa modesta opinião o Direito Internacional Privado (DIP), é
híbrido, isto porque as suas normas são criadas pelo Poder Público, mas

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
regulam as relações entre os particulares e pessoas colectivas do direito
privado, ou reguladas pelo Direito Privado.

1.30. Fundamento de Direito Internacional Privado


Para explicar o Fundamento do DIP, existem três teses: A internacionalista,
a nacionalista e aeclética.

A tese internacionalista considera que o DIP tem fundamento


internacional (supra-estadual) e as suas normas de conflito surgem em
virtude da existência, na ordem internacional de diferentes sistemas
jurídicos.

A tese nacionalista, considera que o DIP, regula as relações entre


particulares e não entre Estados, e este direito tem a sua origem dentro
dos Estados. Ou seja o Direito Internacional Privado é direito interno,
possuindo cada Estado suas próprias regras de direito internacional
privado.
A tese eclética, é uma mistura das duas teorias anteriores
(internacionalista e nacionalista) considera, as normas do DIP, são internas
porque surgem dentro dos Estados, mas regulam interesses de carácter
internacional, relações jurídico-privadas com elemento internacional.

1.31. Princípios Básicos do Direito Internacional


Privado:
a) Princípio da Territorialidade – segundo o qual o Direito de um país
somente é aplicável dentro das suas fronteiras.

b) Princípio da Extraterritorialidade (Personalidade das Leis) –


fundado sobre a nacionalidade da pessoa. “Segundo esse princípio, o
indivíduo é regido, mesmo se estiver no estrangeiro, pela sua lei
nacional”.

c) Princípios Básicos (Modernos) do Direito Internacional


Privado
Partindo do pressuposto que o princípio da territorialidade e os da
personalidade das leis não podia ser admitido em sua forma absoluta é que
modernamente foram criadas as seguintes teorias:

 Teoria do Domicílio – formulada por Savigny, estabelece que os


chamados direitos pessoais sejam rígidos pelo princípio da sede da
relação jurídica, ou seja, pela lei do país em que a pessoa é
domiciliada;

 Teoria da Nacionalidade ou Princípio da Nacionalidade – Este


princípio, em oposição ao anterior, foi criado por Mancini, fundador
da Escola Italiana de Direito Internacional Privado, segundo a qual a lei
aplicável a uma pessoa é a de seu país de origem.

1.32. Princípios Estruturantes de Direito Internacional


Privado
1.32.1. Princípio da harmonia jurídica internacional

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O pilar fundamental deste princípio é a necessidade de uniformizar, por via
da valoração o direito em referência.

Este princípio pretende que, independentemente do local onde a questão


esteja a ser apreciada, a lei material seja a mesma, de forma a evitar, por
exemplo, que se a questão for julgada em Portugal se aplique a lei francesa e
se fosse julgada em França se aplicasse a lei portuguesa.

É preciso notar que existem ainda casos em que este princípio tende a
colidir com outros, pelo que urge ver, nessas situações se ele cede face a
outros valores.

Podendo as leis interessadas no caso ser duas ou mais, impõe-se a tarefa de


coordenar de modo a evitar que o mesmo aspecto ou efeito da relação
jurídica em causa venha a ser apreciados segundo a óptica de legislações
diferentes.

Neste sentido, com a harmonia jurídica internacional pretende-se que a lei


aplicável em todos os Estados deve ser a mesma de forma a garantir a
segurança jurídica. Dado que cada Estado entende gozar de uma liberdade
praticamente ilimitada ao formular as suas regras de conflitos, pelo que
urge evitar que os ordenamentos estaduais em vigor estabeleçam conexões
conflituantes.

Assim, o primeiro objectivo do princípio da harmonia jurídica


internacional é a uniformidade de escolha das leis aplicáveis a cada
situação internacional, ou seja, a lei escolhida como aplicável em todos os
Estados deve ser a mesma para, assim, evitar-se a conhecida tendência das
pessoas de procurarem, dentre as ordens jurídicas que se considerem
competentes para julgar uma determinada questão, àquela que estabeleça a
conexão que declare como competente o ordenamento jurídico cujas
normas protejam em maior medida os seus interesses ― é a esta situação
que se costuma designar por «forum shopping».

Este é um princípio muito importante para garantir a segurança das


soluções jurídicas, mas esta harmonia não é garantida logo à partida pelas
regras de conflitos, já que, como já foi dito, cada Estado formula as suas
próprias regras de conflitos na convicção de gozar de uma liberdade
praticamente ilimitada.

1.31.2. Princípio da harmonia jurídica interna

Por via deste princípio pretende-se evitar as contradições normativas, isto


é, pretende-se adoptar uma única lei dentro de um determinado Estado
soberano para regular os vários aspectos da situação da vida ou situações de
facto.

Este princípio cria uma situação de confiança entre os particulares. O


legislador ou aplicador do direito vai evitar contradições normativas.

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 Princípio da harmonia jurídica material ou interna:

Este princípio exprime a ideia de unidade do sistema jurídico ou, por outras
palavras, significa que no seio de um mesmo ordenamento jurídico não
devem existir antinomias ou contradições normativas.

Podemos nos encontrar perante esse problema em várias situações:

a) Situações jurídicas diferentes, mas interligadas: é o caso de


duas regras de conflitos que chamam duas leis diferentes ― temos aqui o
chamamento de duas ordens jurídicas que não se podem aplicar
simultaneamente, pois são contraditórias e, como ambos os ordenamentos
se tornam aplicáveis por força da regra de conflitos do foro, tudo se passa
como se a antinomia surgisse entre normas materiais do próprio
ordenamento jurídico do foro (é muito frequente recorrer-se ao expediente
da adaptação para resolver tais questões);

b) Conflitos de qualificação ― para impedir situações deste género


deveria recomendar-se a adopção de um único factor de conexão para cada
acto ou relação jurídica, sem distinguir, quanto aquele, a forma da
substância nem, quanto a esta, o momento constitutivo do momento da
produção de seus efeitos jurídicos (é claro que esta hipótese é fortemente
contrariada pelas razões que estão na base do método do «dépeçage»
método analítico que, para cada aspecto particular da situação, procura a lei
mais adequada);

c) O fenómeno da especialização (procedimento que consiste em


destacar da relação ou figura jurídica que se considera, certos elementos,
em distinguir nela vários planos e eleger, para cada um deles, uma conexão
independente) também contribui em larga escala para o surgimento de tais
antinomias; e

d) Problema das questões prévias: há, destarte, casos que, para serem
decididos, pressupõem a resolução necessária de uma outra questão
fortemente ligada ao caso de que se trata. Deste problema das questões
prévias iremos tratar mais tarde.

1.31.3. Princípio da Efectividade ou da Maior produtividade

Princípio pelo qual aplica-se a lei com melhor competência ou de maior


proximidade; tende-se a aplicar aquela lei que se ache mais próximo da
questão (ex.: arts. 45º, 46º/1 CC).

Ex:

Art.º 46º - Direitos reais 1.

“O regime da posse, propriedade e demais direitos reais, é definido pela lei do


Estado em cujo território as coisas se encontrem situadas”.

1.31.4. Princípio da Boa Administração da Justiça

Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 47


Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
Por via deste princípio leva-se à maximização da aplicação da lei material
do foro (ex. art. 22º CC).

Haverá boa administração da justiça pelo juiz nacional quando por via do
alargamento das normas de conflito o juiz terá de criar uma uniformização.
Elas são bilaterais, os elementos de conexão remetem, quer para o
ordenamento jurídico estrangeiro quer para a lei interna e são normas
bivalentes porque tentam abranger todos os ordenamentos jurídicos.

1.31.5. Princípio da Ordem Pública Internacional

Da aplicação do ordenamento jurídico estrangeiro, ou reconhecimento de


actos celebrados no estrangeiro não deve ofender os princípios
fundamentais do Estado Moçambicano, do contrário, deve-se aplicar o
direito interno Moçambicano.

A ordem pública internacional do Estado Moçambicano não afasta


inteiramente o direito estrangeiro considerando competente, mas somente
o que é ofensivo dessa ordem pública (art. 2º/2 CC).

O que interessa, para saber se houve ou não violação da ordem pública


internacional, não são os princípios consagrados na lei estrangeira que
servem de base à decisão, mas o resultado da aplicação da lei estrangeira ao
caso concreto.

Os princípios fundamentais da ordem pública interna do Estado português


são os princípios imperativos que formulam o quadro jurídico, que são os
princípios constitucionais e os princípios fundamentais.

 Princípio da Ordem Pública Interna

A Ordem Pública, como princípio do Direito Internacional Privado,


disciplina, limita, coordena a utilização das regras de conexão na sua
tarefa de escolher a lei aplicável à questão jurídica multinacional. Sendo
que, dentre todos os princípios do Direito Internacional Privado, a
Ordem Pública é o que tem a maior abrangência e o maior poder de
restrição à livre aplicação das referidas normas internacionais.

Tal princípio funciona, assim, como válvula de segurança do Direito


Internacional Privado, porém, é abusivamente utilizada por aqueles que
resistem à aplicação da lei estrangeira por não assimilar
adequadamente a noção de comunidade jurídica internacional.

Ordem pública interna refere-se às normas internas que limitam a


autonomia privada e respectivamente às normas e princípios que não
podem ser afastados pela vontade das partes, agindo como marco
limitador à actividade individual de contratar;

Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 48


Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

1.31.6. Princípio dos Direitos Adquiridos

Teoria dos Direitos Adquiridos nos diz que se um indivíduo adquire


determinado direito em determinado Estado ele continuará tendo como
direito adquirido em quaiquer outros Estados.
Uma vez adquirido (o direito), adquirido está, este princípio assenta toda a
sua estrutura no direito romano (ex.: arts. 29º e 63º CC), uma vez capaz
sempre capaz. Aceita-se estas situações por segurança jurídica e
estabilidade.

Uma vez adquirido (o direito), adquirido está, este princípio assenta toda a
sua estrutura no direito romano (ex.: arts. 29º e 63º CC), uma vez capaz
sempre capaz. Aceita-se estas situações por segurança jurídica e
estabilidade.

A Teoria dos Direitos Adquiridos nos diz que se um indivíduo adquire


determinado direito em determinado Estado ele continuará tendo como
direito adquirido em quaiquer outros Estados, por uma questão de boas
relações internacionais, já que não há tratado neste sentido.

Direito adquirido

Do latim acquisitus, do verbo acquirere: adquirir, alcançar.

Direito adquirido é aquele que a lei considera definitivamente integrado ao


património de seu titular. Assim, quando alguém, na vigência de uma lei
determinada, adquire um direito relacionado a esta, referido direito se
incorpora ao património do titular, mesmo que este não o exercite, de tal
modo que o advento de uma nova lei, revogadora da anterior relacionada ao
direito, não ofende o status conquistado, embora não tenha este sido
exercido ou utilizado; por exemplo, o funcionário público que, após trinta
anos de serviço, adquire direito à aposentadoria, conforme a lei vigente, não
podendo ser prejudicado por eventual lei posterior que venha ampliar o
prazo para a aquisição do direito à aposentadoria. O não exercício do direito
não implica a perda do direito adquirido na vigência da lei anterior, mesmo
que ele não seja exercitado. Ao completar, na vigência da lei anterior, trinta
anos de serviço, o titular do direito adquiriu o direito subjectivo de requerer
sua aposentadoria em qualquer época, independentemente de alteração do
prazo aquisitivo por lei posterior. É preciso, contudo, não confundir direito
adquirido com expectativa de direito, pois esta não passa de mera
possibilidade de efectivação de direito sujeito à realização de evento futuro.
Se este não ocorre, o direito não se consolida, por exemplo, a herança
somente se consolida com a morte daquele que é seu autor. Enquanto esta
não se realiza, o herdeiro tem mera expectativa de direito sobre os bens do
autor da herança.

Direito Adquirido, é aquele definitivamente incluído no património do


indivíduo, consoante a lei que presidiu a sua aquisição, a salvo da vontade
de terceiros e exercitável de plano pelo seu titular.

É o chamado actus perfectus da doutrina medieval, que se contrapõe ao


actus praeteritus nondum finitus. Esses conceitos antigos continuam vivos

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
e remanescem na doutrina moderna, no esforço de caracterizar o ato
definitivamente consubstanciado e gerador de efeitos intocáveis.

1.31.7. Princípio da Autonomia da Vontade

A autonomia da vontade é a faculdade concedida às partes contratantes de


exercer sua vontade e escolher a lei aplicável a certas situações jurídicas nas
relações internacionais. Ou seja, é aquele que faculta às partes a escolha da
lei aplicável, só é possível nos negócios obrigacionais (ex. art. 41º e 19º/2
CC).

Só se aceita o princípio da autonomia da vontade nos negócios


obrigacionais, mas mesmo nestes, há restrições.

Não temos uma expressão normativa tão ampla que abrange todas as
situações, por isso, quando não existe solução vai-se aos princípio do
Direito Internacional Privado, que são princípio formais porque vão ajudar
a solucionar essas questões.

1.31.8. Princípio do “favor negotti” ou princípio da justiça


material

Quando determinado negócio jurídico resulte por aplicação da respectiva lei


material, a sua invalidade, tendo em conta o princípio do “favor negotti” há
que lhe atribuir a respectiva validade porque há que tentar salvar o
negócio12[12] ex. art. 19º CC.

Implica que o juiz nacional tenderá a salvar o negócio para que não sejam
frustradas as expectativas das partes.

1.31.10. Exequibilidade prática das decisões judiciais

Este princípio diz-nos que as decisões judiciais devem ser tomadas de


forma realista, em contacto com a realidade (é por isso que, em matéria de
estatuto pessoal, o reenvio não será permitido quando, por via dele, se
aplique outra lei que não a da nacionalidade ou domicílio, pois numa
perspectiva realista são essas as duas leis que melhor conhecem o
indivíduo).

Este princípio tem um grande sub-princípio (princípio da maior


proximidade) e tem igualmente manifestações em matéria de estatuto
pessoal, designadamente, ao nível do princípio da maior justiça
expresso na maior ligação individual.

 1.31.10.1. Princípio da Maior Proximidade:

Atende ao vínculo forte que existe entre as coisas imóveis e o Estado onde
estão situadas, daí que se mande aplicar a lei do lugar da situação das
mesmas, pois só assim fica salvaguardada a exequibilidade prática das
decisões judiciais;

12[12] Tem que-se fazer favorecer sempre o negócio jurídico.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

 1.31.10.2. Princípio da Maior Justiça expresso na


Maior Ligação Individual:

Aconselha que a lei reguladora do estatuto pessoal seja ou a da


nacionalidade do sujeito ou a do seu domicílio, pois só uma dessas duas
assegura, em matéria de estatuto pessoal, a exequibilidade prática das
decisões judiciais.

Concluindo, quando se fala em efectividade ou exequibilidade prática das


decisões judiciais, aquilo que se pretende é que as mesmas sejam
efectivamente tomadas e executadas, o que, no caso das coisas imóveis será
mais fácil de concretizar através da lei do local onde essas coisas estejam
situadas, e no caso das pessoas fará sentido que se aplique a lei da
nacionalidade ou da residência (domicílio) por serem as leis que melhor
conhecem o sujeito e é com elas que ele mais se identifica.

Somente para terminar, sublinhe-se que se existir um confronto entre o


princípio da maior proximidade e o da maior justiça expresso na maior
ligação individual, prevalece o 1º pois entende-se que a ligação das coisas ao
Estado onde estão situadas é mais forte do que a que liga o sujeito ao seu
Estado de origem ou ao seu domicílio (prova disso é o artigo 17º n.3 CC).
1.31.11. Validade do negócio jurídico (favor negotii):

O reenvio é inspirado pelo favor negotii quando a sua aceitação (aceitação


do reenvio) tem lugar para garantir a validade de um acto jurídico que de
outro modo seria anulável. Estão nesta senda as hipóteses previstas pelos
artigos 36º n.2 e 65º do CC.

Mas atenção: se aqui o reenvio é aconselhado pelo princípio do favor


negotii, também existem situações em que se verifica o contrário, como
veremos a respeito do artigo 19º do CC., no tocante aos casos em que o
reenvio não é permitido.
1.31.12. Princípio da Paridade de Tratamento dos
Ordenamentos Jurídicos:

O DIP, deve colocar os diferentes ordenamentos jurídicos em pé de


igualdade, por outras palavras, não se deve privilegiar a aplicação da lei do
foro, pois, se todos os Estados privilegiarem a aplicação da «lex fori», estar-
se-ia a comprometer a harmonia jurídica internacional, de modo que
podemos concluir que este princípio de que agora se trata aparece como
apoio ao princípio da harmonia jurídica internacional.

As condições que levam à aplicação da lei estrangeira são as mesmas que se


exigem para a aplicação do ordenamento do foro.

Aqui há um interesse na boa administração da justiça, sendo que seria


desejável que os tribunais decidissem todos os feitos que lhe são
submetidos, inclusive aqueles que emergem das relações jurídicas privadas
internacionais, segundo as normas e princípios do estado do foro (lugar
onde é discutido ou julgado o caso de DIP), ou seja segundo as normas do
seu direito nacional.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

O DIP visa colocar os sistemas jurídicos em pé de igualdade de modo tal,


que uma legislação estrangeira seja aplicável sempre que, for indicada pela
Lex fori.

Nota: este problema da paridade de tratamento vai se pôr a propósito da


unilateralidade e bilateralidade das regras de conflito.

1.31.13. Princípio da Boa Administração da Justiça

O juiz, para dar a solução mais adequada ao caso, deve aplicar a lei que
melhor conhece (a «lex fori»), pois assim ficaria facilitada
consideravelmente a tarefa do juiz e garantir-se-ia o acerto das decisões (e é
óbvio que a probabilidade de erro judiciário é maior quando o juiz deixa de
pisar o chão firme do ordenamento jurídico local). Contudo, isso entraria
em colisão frontal com o princípio da paridade de tratamento das ordens
jurídicas estaduais e com o princípio da harmonia jurídica internacional,
uma vez que alarga o campo de aplicação da «lex fori». O nosso sistema não
simpatiza muito com este princípio (não havendo grandes expressões dele
no nosso ordenamento jurídico) e, assim sendo, este só deve ser aplicado
quando não comprometa a harmonia jurídica internacional, não sendo,
portanto, este princípio, susceptível de generalização, caso contrário,
iríamos voltar a cair no princípio da territorialidade.

1.31.14. Princípio da Eficácia ou Efectividade das Decisões

«A lei competente nem sempre será a melhor lei».

Este princípio pode levar-nos a afastar a aplicação de uma lei tida, em


princípio, por competente, quando for de recear que esta aplicação
conduzirá a decisões desprovidas de valor prático, e isso porque não serão
reconhecidas naquele Estado em que, todavia, se destinam, normalmente, a
produzir efeitos que lhes são próprios.

Esta é uma das justificações possíveis para fundamentar a competência da


«lex rei sitae» no domínio dos direitos reais (cfr. o artigo 46º do Cód. Civ.).
Tal ordem de ideias poderá levar a preferir a lei da situação dos imóveis à
lei pessoal dos sujeitos da relação jurídica (este afastamento da lei pessoal
dos sujeitos da relação pressupõe que a «lex rei sitae» se julgue
exclusivamente competente ou quando reenvie para outro ordenamento
que a «lex causae» reconheça como aplicável). É este o meio necessário e
suficiente para reconhecer aquela decisão no Estado da situação dos bens.

1.31.15. Princípio da Maior Proximidade

Apesar de haver uma lei em princípio competente para reger um regime de


bens, o certo é que, em princípio, aos bens móveis deve ser aplicada a lei
competente para os bens imóveis (por razões de efectividade), pois no lugar
da situação dos bens, aquela situação poderá não ter qualquer relevo ou
eficácia.

Conflito entre princípios ― o problema das questões prévias

Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 52


Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
Há determinadas questões que, para serem decididas, pressupõem a
resolução de uma questão prévia. Temos, assim, duas questões para
resolver: uma questão principal e uma questão prévia.

Relativamente à questão principal, a lei aplicável será a lei (do foro ou


estrangeira) designada competente por força da regra de conflitos do foro.

Já relativamente à questão prévia, o problema de escolha da lei competente


para a regular só se põe quando a lei que regula a questão principal se insira
num ordenamento jurídico estrangeiro, ou seja, se a lei competente para
resolver a questão principal for a lei do foro, a lei com base na qual resolver-
se-á a questão prévia será, automaticamente, a lei do foro.

Segundo este princípio deve ser aplicada a lei do estado com melhor
competência, sendo que esse será o que em melhores condições se
achar para impor o acatamento dos seus preceitos. É neste princípio
que está subjacente a atribuição de competência á lex rei sitae (lei da
localização das coisas) em matéria de direitos reais, mas ele pode
levar as normas de DIP a afastar a aplicação de uma lei tida como
competente quando for de recear que da aplicação da mesma
resultem decisões desprovidas de valor prático por não serem
reconhecidas no estado em que se destinam normal a produzir os
seus defeitos.

1.33. Direito Internacional Privado Uniforme


Dentro do Direito Internacional Privado, teremos, também, um Direito
Internacional Privado Uniforme, decorrente de acordo internacional que
visa fazer com que diferentes países tenham o mesmo tratmento a
determinada matéria de direito internacional privado. Assim, teremos
“regras jurídicas idênticas designativas do direito aplicável, com vigência
um mais de um Estado” oriunda de tratado internacional, que substituem
as normas nacionais autónomas de Direito Internacional Privado.

Estas matérias são geralmente objecto de conferências especializadas, mais


notadamente a Conferência da Haia de Direito Internacional Privado (que é
permanente), da qual Moçambique não é parte (não assinou nem
ratificou).
Temos, também, as CIDIPS (Conferências Especializadas Interamericanas
de Direito Internacional Privado), que já ocorreram diversas vezes.

O direito uniforme pode ser espontâneo, que é quando coincidem


naturalmente os direitos primários de dois ou mais ordenamentos (mesma
origem, influências idênticas ou adopção de outros sistemas jurídicos),
assim como dirigido (ou uniformizado), que resulta de esforço comum de
dois ou mais Estados no sentido de uniformizar certas instituições jurídicas,
geralmente por causa de sua natureza internacional.
O Direito Internacional Uniforme Dirigido estabelece regras materiais que
se aplicarão uniformemente às situações jurídicas que venham a ocorrer em
duas ou mais jurisdições.

Em síntese, o direito uniforme são as instituições ou normas de carácter


interno, que recebem uniformemente o mesmo tratamento pelas leis de

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
dois ou mais sistemas jurídicos. O direito internacional uniformizado é
resultado de actividades de carácter internacional, objecto de convenções
internacionais que uniformizam as regras jurídicas disciplinadoras da
matéria por meio de leis uniformes, evitando conflitos de regras de
primeiro grau. O mais comum é que estas normas surjam dentro do âmbito
da Academia Internacional de Direito Privado de Haia, UNIDROIT (que
trata mais especificamente de normas de direito comercial e relativas
contratos internacionais) e CINTRAL (Comissão das Nações Unidas para o
Direito do Comércio Internacional). O Direito Internacional Privado
determinará a aplicação de uma dentre as leis em conflito pela escolha de
um sistema de opções (regras de conexão), caso não existam as hipóteses
acima. O Direito Internacional Privado Uniforme serve para evitar
conflitos entre as regras de Direito Internacional Privado de dois ou mais
sistemas, criando convenções internacionais que estabelecem regras de
conexão aceitas pelos países partes.

Importa destacar o Código de Bustamante, assinado e ratificado pela


maioria dos países do Continente Americano, em 1935, cujo precursor é o
conceituado Professor Cubano, Antonio Sanchez de Bustamante.
Uma tentativa histórica memorável de uniformização do DIP através de
tratado internacional é encontrada no Código de Direito Internacional
Privado, com 437 artigos, resultante da Convenção firmada sob os auspícios
da União Panameri- cana, entre Argentina, Brasil, Bolívia, Colômbia, Costa
Rica, Chile, Cuba, Equador, Estados Unidos, Guatemala, Haiti, Honduras,
México, Nicarágua, Paraguai, Peru, República Dominicana, Salvador,
Venezuela, na 6ª Conferência Internacional Americana realizada em
Havana, Cuba, em 20 de Fevereiro de 1928. Projeto do jurista cubano
Antonio Sanchez de Bustamente y Sirvén, que foi também delegado de
Cuba naquela Conferência, tal código, conhecido como Código
Bustamente, é aplicável aos Estados contratantes e àqueles que a ele
aderissem posteriormente (art. 20º) e tem como objecto a mais ampla
codificação de princípios e normas de DIP de que se tem notícia.
No estágio em que nos encontramos, a não ser quanto à aspectos especiais,
como as normas do direito comunitário e as regras do comércio e das
finanças internacionais, a uniformidade legislativa não parece realizável a
médio prazo, uma
vez que, inegavelmente, o direito tem se mostrado mais ou menos
refractário à uniformização, adequando-se à região, à raça, às tradições, aos
costumes, à língua, à religião e aos recursos e necessidades de cada povo.
Isto, porém, não nos inibe de reconhecer e propugnar pela concretização do
que hoje passou a ser uma pretensão generalizada, uma visão precisa e
ambiciosa da comunidade internacional de negócios, no sentido de
harmonizar as regras legais, visando atender as exigências de velocidade e
racionalização do comércio internacional.

1.34. Instituto Internacional para a Unificação do Direito


Privado Internacional (UNIDROIT)

Origem, Organização e Estatuto

O Instituto Internacional para a Unificação do Direito Privado


(UNIDROIT) é uma organização intergovernamental independente, com
sede em Roma, cujo objectivo consiste em estudar os meios de harmonizar

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
e de coordenar o direito privado entre os Estados e de preparar
gradualmente a adopção por estes de uma legislação de direito privado
uniforme.

O instituto foi criado em 1926 como órgão auxiliar da Sociedade das Nações,
tendo sido objecto de reformulação em 1940, após dissolução desta
organização, com base num acordo multilateral - o Estatuto orgânico do
UNIDROIT.

O UNIDROIT, conta com mais de 60 países, entre os seus membros,


Estados que pertencem aos cinco continentes e que representam diversos
sistemas jurídicos, económicos e políticos.

1.34.1. Actividades

Política legislativa

De acordo com o disposto no Estatuto orgânico, o objecto do UNIDROIT é,


como o seu nome indica, a unificação do direito privado. Convirá, no
entanto, reconhecer algumas dificuldades na definição correcta dos limites
relativos à matéria tratada, sendo possível verificar, excepcionalmente,
certas incursões no domínio do direito público. Por outro lado, o Instituto
está tradicionalmente aberto para a uniformização do direito material e
esforça-se por apenas recorrer, ocasionalmente, a regras de conflitos de leis,
nos textos de legislação uniforme.

Ao longo do tempo, a UNIDROIT preparou diversas convenções que vieram


a ser adoptadas durante conferências diplomáticas que reuniram os Estados
membros do Instituto:

 Convenção relativa a uma lei uniforme sobre a venda internacional de bens


(Haia, 1964) ;
 Convenção relativa a uma lei uniforme sobre a formação de contratos para a
venda internacional de bens (Haia, 1964);
 Convenção Internacional sobre contratos de viagem (Bruxelas, 1970);
 Convenção relativa a uma lei uniforme para a forma de um testamento
internacional (Washington, 1973)
 Convenção sobre agência na venda internacional de bens (Genebra, 1983)
 Convenção UNIDROIT sobre o leasing financeiro internacional (Ottawa,
1988)
 Convenção UNIDROIT sobre factoring internacional (Ottawa, 1988)
 Convenção UNIDROIT sobre objectos culturais roubados ou exportados
ilegalmente (Roma, 1995)
 Convenção sobre garantias internacionais dos equipamentos móveis (Cidade
do Cabo, 2001)
 Protocolo relativo às questões específicas dos equipamentos aeronáuticos à
Convenção sobre garantias internacionais dos equipamentos móveis (Cidade
do Cabo, 2001)

1.35. Relação entre o Direito Internacional Privado e


Direito Internacional Público

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

O Direito Internacional Público vai se ocupar do Direito que rege a


comunidade internacional, as relações públicas entre os diferentes sujeitos
de direito internacional (organismos internacionais, Estados e, para alguns,
indivíduos).
A divisão entre Direito Internacional Público e Privado é apenas didáctica,
pois mesmo aquilo que chamamos de Direito Internacional Privado
(também chamado de Direito Intersistemático), para alguns, não deixa de
ser algo eminentemente público.
O Direito Internacional Privado vai se ater às relações privadas, por
exemplo, no caso de litígio decorrido de separação judicial entre um
brasileiro e uma alemã. Ele cuida de interesses e relações privadas, o que
não impede que o Estado esteja no pólo de uma destas, pois pode este agir
como pessoa de direito privado.

Diferenças entre o DIP e o Direito Internacional Público


O Direito Internacional Privado (DIP): é uma ciência, um sistema de
normas jurídicas, um conjunto de teorias e princípios que regulam as
relações jurídicas entre particulares com elemento estrangeiro.

O Direito Internacional Público (DIPU): é uma ciência, um conjunto


de normas jurídicas de carácter internacional que regulam as relações entre
Estados, Órgãos, Organismos e organizações Internacionais e outros
sujeitos; este conjunto de normas estabelece direitos e deveres entre estes
sujeitos.

Diferenças entre o DIP e o Direito Internacional Público


O direito internacional privado é um sobredireito, pois indica o direito
aplicável e não soluciona um litígio, assim, trata-se de um ramo que possui
normas conflituais, indirectas, que não proporcionam uma solução, mas
trazem o direito incidente sobre determinado fato jurídico. O direito
internacional público trata das relações entre Estados soberanos,
Organizações Internacionais Intergovernamentais, como a ONU, FMI, por
exemplo, e pessoas e demais entes, como as organizações não
governamentais (Greenpeace) no âmbito internacional.

OBJECTO:

O DIP tem com objecto, a regulação jurídica entre particulares com


elemento internacional, ou seja, resolver o conflito de leis; enquanto que o
DIPU, tem com objectivo, regular as relações entre Estados,
principalmente, Órgãos, Organismos e Organizações Internacionais.

SUJEITOS:

No DIP, são os particulares e outras pessoas colectivas que actuam como


pessoas privadas; no DIPU, os sujeitos são os Estados principalmente,
Órgãos, Organismos e Organizações Internacionais.

ORGÃOS JURISDICCIONAIS

No DIP, temos os tribunais nacionais comuns ou especializados; e no DIPU,


temos a Corte Internacional de Justiça (para os Estados) e o TPI (para as
pessoas singulares).

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

Direito Internacional Público Direito Internacional Privado


Regulação da sociedade Internacional e Estados Regulação dos conflitos de leis no espaço
Disciplina directa das relações internacionais ou Indicação da norma nacional aplicável a uma
das relações internas de interesse internacional relação privada com conexão internacional entre
ordenamentos eventualmente aplicáveis
Normas de aplicação directa Normas meramente indicativas do direito
aplicável
Regras estabelecidas em normas internacionais Regras estabelecidas em normas internacionais
ou internas
Regras de Direito Internacional Público Regras de Direito Internacional Público ou de
Direito interno

Actividades

A seguir, estão as actividades correspondentes a esta primeira unidade.


Resolva os exercícios propostos em cada uma e verifique se acertou,
conferindo a sua resposta na Chave de Correcção no final do presente Guia
de Estudo.

1. Explique a noção de Direito Internacional Privado;


2. Explique o objecto de Direito Internacional Privado;
3. Identifique os princípios do Direito Internacional Privado;
4. Explique a origem da denominação “Direito Internacional
Privado”;
5. Identifique e explique as fontes de Direito Internacional
Privado;
6. Identifique e explique as fontes de Direito Internacional
Privado;
7. Identifique e explique as características de Direito
Internacional Privado;
8. Explique em que consiste a Natureza de Direito Internacional
Privado;
9. Explique em que consiste o Fundamento de Direito
Internacional Privado;
10. Identifique as principais fases da evolução do Direito
Internacional Privado;
11. Identifique e explique os tipos de relações jurídico-privadas no
âmbito do DIP;

REFERÊNCIAS

Leituras Obrigatórias

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para
a compreensão de nossos estudos e para a realização das actividades
propostas para esta primeira unidade de estudo. Portanto, não deixe de
estudá-los.

 PROENÇA, José João Gonçalves: “Direito Internacional Privado –


Parte Geral”, 1ª Edição, Editora: Brochado, Universidade de Lusíada,
Lisboa, 1992.

 Legislação Principal
 Decreto-Lei nº 47344 de 25 de Novembro de 1966 (Código Civil)

Leituras Complementares
 MACHADO, João Baptista: “Lições de Direito Internacional Privado”.
Edit. Almedina, Coimbra, 1988

 Legislação Complementar
 Dec. Lei nº 2/2009 de 24 de Abril (BR nº 016, I Série, 3º Supl. de 24 de
Abril de 2009, pág. 86 – (altera alguns artigos do Código Comercial de
Moçambique - Decreto-Lei nº 2/2005 de 27 de Dezembro de 2005);

 Decreto 1/2006 de 3 de Maio (Cria o registo de Entidades Legais e aprova


o seu regulamento. BR nº 018, I Série, de 03 de Maio de 2006, pág. 147 a
160. Revoga o Decreto-Lei nº42 42644 e o decreto nº42 645, ambos de 14
de Novembro de 1959);

 Lei 10/2004, de 25 de Agosto (Lei da Família)

 Lei 35/2014, de 31 de Dezembro (Código Penal)

UNIDADE TEMÁ TICA 2: A NORMA DE DIREITO


INTERNACIONAL PRIVAD O.

Objectivos

No fim desta unidade voce deverá ser capaz de:

 Compreender a noção de norma de Direito Internacional


Privado;
 Estabelecer a diferença entre a norma de DIP e norma de
conflito;
 Conhecer a função e o alcance das normas de conflito;
 Distinguir as normas de conflito de DIP, das normas
explicativas de DIP;
 Distinguir uma norma de conflito de DIP, de uma norma
material;

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

 Conhecer os elementos estruturais de uma norma de conflito de


Direito Internacional Privado;
 Saber identificar os elementos estruturais de uma determinada
norma de conflito do Código Civil;
 Distinguir a norma de conflito da norma material;
 Compreender a noção de lei do foro (Lex Fori);
 Conhecer os tipos de elementos de conexão;
 Conhecer os elementos de conexão enunciados em língua latim;
 Compreender os interesses a atender pela norma de conflito na
determinação da lei aplicável no conflito de leis no espaço,
 Compreender a classificação do elemento de conexão do DIP;
 Compreender a noção de conflito inter-temporal no DIP e os
mecanismos de Solução;
 Compreender a noção de conflito móvel e a respectiva solução;
 Compreender a o método de identificação do elemento de
conexão, e a sua classificação.

Abordagens dos conteúdos da unidade


2. Noção Norma de Direito Internacional Privado

2.1. Normas de conflito

 A norma de conflito. Conceito;


 Resenha da evolução histórica;
 Teorias sobre a norma de conflito;
 Conceito da norma de conflito;
 Objecto das normas de conflito;
 Função das normas de conflito

2.2. A norma de Direito Internacional Privado. Conceito

 As normas directas (materiais): são aquelas normas que podem


ser aplicadas directamente, que resolvem a questão jurídica independente
da aplicação de outras normas.

 As normas indirectas: também chamadas de conflituais, não


resolvem a questão jurídica, elas apenas indicam qual o direito aplicável, em
um caso de conflito de jurisdição.
 As normas indicativas ou indirectas, limitam-se a indicar o
direito aplicável a uma relação jurídica de direito privado com
conexão internacional, não solucionando a questão jurídica
propriamente dita. Caracterizam-se como as principais normas do
direito internacional privado.
 As normas de DIP são chamadas de normas indicativas e
indirectas, pois apenas indicam o direito a ser aplicado, não visam
resolver a questão jurídica.

 As normas indicativas ou indirectas são as principais normas


de DIP, são por meio dessas que o juiz descobrirá e determinará o

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
direito aplicável nessas relações (essas limitam-se em indicar o
direito aplicável a uma relação jurídica de direito privado com
conexão internacional, não solucionando a questão jurídica
propriamente dita). Em paralelo, há também um número restrito de
normas de DIP que desempenham funções auxiliares ou
complementares. São as chamadas normas conceituais ou
qualificadoras.

 É, portanto, uma regra meramente indicativa, que apenas aponta


qual o preceito que deve incidir sobre um caso concreto, sem
apresentar a conduta a ser seguida, que constará da norma indicada,
a qual pode ser nacional ou estrangeira (norma de sobredireito,
também conhecida como norma indirecta, indicativa ou super-
ordenamento).

2.3. A Norma de Conflito

Já se disse que o DIP tem por função dirimir conflitos de leis no espaço no
âmbito de relações jurídico-privadas absolutas ou relativamente
internacionais. Agora, para desempenhar essa função, o DIP socorre-se das
chamadas “normas de conflitos” (que vêem previstas no CC, desde o
artigo 25º ao 65º). Todavia, o DIP é ainda composto pelas normas de DIP
stricto sensu (que vêem previstas do artigo 14º ao 24º CC):

O Código Civil Português (Moçambicano) define no seu primeiro volume


entre os artigos 14º a 65º o Direito dos Estrangeiros e Conflito de Leis:

Conceito. As normas de conflito: são normas que regulam as relações


inter-individuais, ou entre pessoas colectivas do direito privado atravessado
por fronteiras. As normas de conflito, não resolvem os conflitos de leis no
espaço, mas sim indicam a lei material que irá regular o conflito de leis no
espaço (regulação jurídico-privada com elemento estrangeiro)

O que caracteriza as normas de conflito é o facto de ser uma norma de


regulamentação indirecta, isto é, uma norma que regula relações inter-
individuais por designação de uma ou várias ordens jurídicas para nessa
ordem jurídica encontrar a regulamentação da situação privada
internacional. As normas de conflito são normas de remissão.

O Código Civil Português define no seu primeiro volume entre os artigos


14º a 65º o Direito dos Estrangeiros e Conflito de Leis:

 Disposições Gerais (14º a 24º);


 Âmbito e determinação da Lei Pessoal (25º a 34º)
 Lei Reguladora dos Negócios Jurídicos (35º a 40º);
 Lei Reguladora das Obrigações (41º a 45º);
 Lei Reguladora das Coisa (46º a 48º);
 Lei Reguladora das Relações de Família (49º a 61º);
 Lei Reguladora das Sucessões (62º a 65º).

A norma de Direito Internacional Privado também pode ser chamada


norma de conflito, quando ela designar o direito interno que será aplicado

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
no caso concreto. É uma regra indirecta, não traz a solução propriamente
dita para o problema trazido à apreciação do Judiciário.

2.4. Diferença entre norma de Direito Internacional Privado


e norma de conflito (Normas de conflitos vs normas de DIP
stricto sensu)

As normas de Direito Internacional Privado, são todas aquelas que regulam


as relações jurídico-privadas com elemento estrangeiro, já sejam as
meramente explicativas ou as de conflito. A diferença das normas explicativas
de DIP, as normas de conflito que também são de DIP, são as que realmente
indicam o caminho para a solução de conflito de leis no espaço, ou seja, as
normas de conflito, possuem os três elementos estruturais: Conceito quadro,
consequência jurídica e elemento de conexão.
Pode-se concluir que todas as normas de conflito são normas de DIP, mas
não todas as normas de DIP são de conflito.
Exemplo de uma norma de DIP, que simultaneamente é de conflito:
Artigo 25º do Código Civil: Art.º 25º - Âmbito da lei pessoal

“O estado dos indivíduos, a capacidade das pessoas, as relações de família e as sucessões


por morte são regulados pela lei pessoal dos respectivos sujeitos, salvas as restrições
estabelecidas na presente secção”.

Exemplo dos elementos estruturais da norma do Art.º 25º do Código Civil

 O estado dos indivíduos, a capacidade das pessoas, as relações de família e as


sucessões por morte – Conceito quadro.

 São regulados pela lei pessoal dos respectivos sujeitos, salvas as restrições
estabelecidas na presente secção – Consequência Jurídica

 Lei pessoal (nacionalidade) – Elemento de Conexão


Exemplo de uma norma de DIP, que NÃO é de conflito:
art.º 31º, nº1 do Código Civil - Determinação da lei pessoal.
“A lei pessoal é a da nacionalidade do indivíduo”.

2.5. Tipos de normas.

Existem dois tipos de normas: directas e indirectas.


 Directas  Solucionam o caso concreto sem referência a elementos
estrangeiros.
 Indirectas  Não prevêem fatos, apenas indicam lei a ser
aplicadas e um conflito de leis no espaço.

 As directas são as que determinam automática e imediatamente a lei


aplicável à questão (ou seja, verificam-se nos casos em que o elemento
de conexão, por si só, indica qual é a lei aplicável sem ser necessário
para o efeito recorrer a qualquer outra norma de conflitos e à
respectiva conexão, por exemplo o lugar da celebração, da vontade
das partes, etc.). Ex: relações jurídicas internas.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
 As indirectas são aquelas em que o elemento de conexão usado pela
norma de conflitos só conduz à aplicabilidade de uma dada lei desde
que seja completado pelo elemento de conexão de uma outra norma
de conflitos para cujo conteúdo remete (ou seja, nas indirectas o
elemento de conexão utilizado pela norma de conflitos não indica
automaticamente a lei aplicável, mas remete para o conteúdo do
elemento de conexão de uma outra norma de conflitos e só da
conjugação de ambas resultará a determinação da lei competente, por
exemplo temos o caso da lei pessoal, artigo 25º n.º 1 remete para o
artigo 31º);

2.6. Objecto da Norma de Conflito

A norma de conflito, de Direito internacional Privado, tem como objecto


primordial, indicar a norma material que vai solucionar o conflito de leis no
espaço, ou seja, indicar a norma material que vai regular a relação jurídico-
privada com elemento estrangeiro.
A norma do Direito Internacional Privado delimita a eficácia das normas de
ordem interna e indica a lei competente que deve reger uma determinação
relação jurídico-privada com elemento internacional. Pode se dizer que trata
de questões “contaminadas” por, pelo menos, um elemento estrangeiro
(casamento, nacionalidade, local da morte, local dos bens etc). Esse elemento
estrangeiro é fundamental; é ele que diferencia o direito internacional
privado do direito privado comum.
As normas de DIP são normas internas. Cada Estada regularizará suas
próprias normas de DIP, cujo objectivo é dirimir conflitos de leis no espaço,
determinando a aplicação do direito nacional ou um determinado direito
estrangeiro que as normas do DIP indicarem.

2.7. Características da Norma de Conflito

As normas de conflitos encerram em si duas características:

Rigidez - enquanto vinculativas da posição do julgador ao determinar


o elemento de conexão a partir de critérios enunciados pela própria
norma;

Neutralidade – não compete ao DIP fornecer a norma material


aplicável a um caso concreto, mas tão-somente estabelecer a conexão
mais apropriada designativa da lei a que a norma aplicável deverá ser.

2.8. Função da Norma de Conflito

A função da norma de DIP face a um conflito de leis no espaço é tão


somente resolver este conflito indicando qual seria o direito aplicável
àquele caso concreto.
Por isso elas são chamadas de “Normas indicativas” ou “Indirectas.

2.9. Teorias Doutrinais sobre a Função das “Normas de


Conflitos”.

 Solução Bilateralista: tradicional e exterioralista

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 Solução Unilateralista: Extroversa e introversa
 Solução Adoptada

1. Solução Bilateralista:

Esta solução por sua vez divide-se em: tradicional e bilateralista

 Tradicional: Segundo esta teoria a norma de conflito tem como


função indicar a lei aplicável, quando há conflito de leis no espaço.
Ou seja, a norma de conflito, pode indicar como competente, uma
norma material estrangeira ou nacional, mas esta teoria não tem em
conta o elemento internacional (estrangeiro) nas relações jurídico-
privadas.

 Exterioralista: para esta teoria, perante um conflito de leis no


espaço, a norma de conflito pode indicar como lei aplicável, a norma
material estrangeira ou nacional. A mesma teoria refere que a
remissão para o direito material do foro (lex materialiis fori), só
pode ser possível quando na relação jurídico privada existir um
elemento internacional.

2. Solução Unilateralista:

 Introversa: Segundo esta teoria, as normas de conflitos tem por


função delimitar o âmbito de aplicação do ordenamento material
interno, ou seja no conflito de leis no espaço, indica apenas a norma
material interna.

 Extroversa: Segundo esta teoria, a norma de conflito tem por


função determinar a aplicação do direito material estrangeiro

3. Solução Adoptada: Esta doutrina é considerada como a mais


moderna, a mesma inclina-se abertamente a doutrina bilateralista,
na variante exterioralista, com base nos seguintes fundamentos:

 As normas de conflitos só se destinam a resolver “concursos” de


leis potencialmente aplicáveis “relações privadas internacionais”
(que tem contacto com mais de uma ordem jurídica)

 Em princípio, as normas de DIP resolvem os conflitos de leis


através do chamado “elemento de conexão”.

 Se a lei material indicada pelo elemento de conexão for


estrangeira, essa será a lei competente, e se o elemento de
conexão indicar uma norma material local (a norma material
moçambicana) esta será, então a lei aplicável.

 Teoria doutrinal aceite na República de Moçambique.

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 Na República de Moçambique aplica-se a teoria da Solução Adoptada,
considerada como uma moderna doutrina do DIP sobre a função das
“normas de conflitos”. Esta teoria inclina-se abertamente para doutrina
bilateralista, na variante exterioralista. Esta doutrina considera que
quando há conflito de leis no espaço, o elemento de conexão, pode
mandar aplicar o direito material do ordenamento jurídico onde estiver
localizado o “elemento da relação jurídica”, isto é, pode mandar aplicar
a norma material competente interna ou externa, ou ambas
simultaneamente (conexão múltipla combinada ou cumulativa).

2.10. Estrutura da norma de conflito

A norma de Direito Internacional Privado caracteriza-se por uma


estrutura de indicação de direito aplicável. Isto, é diante de factos que
entraram em contrato com mais de uma jurisdição independente, em que
em princípio, podem estar sob a égide de diferentes leis aplicáveis, qual
destas será aplicável.

As normas de DIP compõem-se de uma hipótese legal constituída por


categorias ou conceitos jurídicos e de uma consequência jurídica
formada pelo direito aplicável e pelo elemento de conexão, ambos
formando uma unidade incidível.

As normas de direito internacional privado possuem estrutura e função


diferenciadas dentre as normas jurídicas, especialmente por definir os
limites de competências internacionais e os limites especiais de aplicação
do direito material àqueles casos que se apresentam conectados a uma
pluralidade de ordenamentos jurídicos.
A norma material a ser aplicada numa relação privada com conexão
internacional deve ser apontada pela norma de DIP- lex fori/Lei do foro (Lei
do lugar onde o caso está sendo julgado ou analisado).
Elementos estruturais da norma de conflito

 Conceito quadro ou objecto de referência;


 Elemento da conexão;
 Consequência jurídica;
As normas de conflitos não dão soluções para as situações jurídicas, estas
remetem o problema para outra lei (instrumentalidade), remetem para o
ordenamento jurídico competente.

Isto tem reflexos na estrutura da norma, que não tem dois


elementos, mas sim três:
1º Conceito Quadro ou objecto da conexão;
2ºElemento da conexão;
3ºConsequência jurídica.

Artigo 46, nº1 (Código Civil)13 “O regime da posse, propriedade e demais direitos reais é definido
pela lei do Estado em cujo território as coisas se encontrem situadas”.

13
Decreto-Lei 47344 de 25 de Novembro de 1966 (Código Civil)

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O conceito quadro: é o elemento que circunscreve um sector normativo
ou de regulamentação, matéria jurídica a que diz respeito a regra de
conflitos exemplo, artigo 46º, nº1 Código Civil.
Ex: “o regime da posse, propriedade e demais direitos reais…” - Conceito
Quadro
Objecto de referencia/conceito quadro: descreve a matéria à qual se refere
a norma.
O elemento de conexão: é o elemento que localiza a situação jurídica a
um espaço legislativo determinado - exemplo, artigo 46º, nº1 Civil "(...) cujo
território as coisas se encontrem situadas";

Consequência jurídica: consista na declaração de aplicabilidade de


preceitos juridico-materiais da lei que for designada pelo elemento de
conexão.
Ex: “… é definido pela lei do Estado em cujo território as coisas se
encontrem situadas”.
Elemento de conexão: é o critério que determina qual o direito
nacional aplicável à matéria, ou seja, é o que indica a lei a ser
aplicada.
Ex: “… lei do Estado - Território/lugar”

A norma de DIP indica qual o preceito, nacional ou estrangeiro, aplicável à


solução de um conflito de leis no espaço.
É, portanto, uma regra meramente indicativa, que apenas aponta qual o
preceito que deve incidir sobre um caso concreto, sem apresentar a conduta
a ser seguida, que constará da norma indicada, a qual pode ser nacional ou
estrangeira (norma de sobredireito, também conhecida como norma indireta,
indicativa ou superordenamento).
A norma a ser aplicada numa relação privada com conexão internacional
deve ser apontada pela lex fori (Norma de conflito do pais onde foi julgado
ou analisado o caso).
A norma de conflito divide-se em três (3) partes:
Objecto de referência (descreve a matéria à qual se refere a norma. Ex: -
personalidade, capacidade, direitos de família, sucessão, etc -)
Elemento de conexão (é o critério que determina qual o direito nacional
aplicável à matéria, ou seja, é o que indica a lei a ser aplicada – o domicílio,
a nacionalidade, a lex fori, a lex loci delicti comissi, a lex loci executionis, a
lex rei sitae, a autonomia da vontade das parte -).

 Conceito Quadro (Objecto de Referência)


O conceito quadro: é o elemento que circunscreve um sector normativo
ou de regulamentação, matéria jurídica a que diz respeito a regra de
conflitos - exemplo, artigo 46º/1 C.C. " o regime da posse, propriedade e
demais direitos reais;

Conceito-Quadro: Consiste no conceito técnico-jurídico de extensão


variável que tem por função delimitar o âmbito de aplicação do direito
material da ordem jurídica previamente designada como competente pelo
elemento de conexão.

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Objecto de Referência = descreve a matéria a qual se refere a norma
indicativa ou indirecta de direito internacional privado abordando os
elementos e fatos com conexão internacional.

 Consequência Jurídica
Consequência jurídica: consista na declaração de aplicabilidade de
preceitos juridico-materiais da lei que for designada pelo elemento de
conexão - exemplo, artigo 46º/1 "é definida pela lei do Estado (...)"

 Elemento de Conexão
 As regras de conexão: são as normas estabelecidas pelo Direito
Internacional Privado que indicam o Direito aplicável às diversas
situações jurídicas conectadas a mais de um sistema legal.

 Conexão significa: ligação, união, ponte, encontro, encontro, vínculo,


ponto comum.
O objecto de conexão descreve a matéria à qual se refere uma norma
indicativa ou indirecta do DIP, abordando sempre questões jurídicas
vinculadas a fatos ou elementos de factores sociais com conexão
internacional.

As regras de conexão: são as normas estabelecidas pelo Direito


Internacional Privado que indicam o Direito aplicável às diversas situações
jurídicas conectadas a mais de um sistema legal.
O Direito Internacional Privado primeiramente busca classificar a situação
ou relação jurídica dentre um rol de categorias jurídicas existentes;
posteriormente localiza a sede jurídica desta situação ou relação e por fim
determina a aplicação do Direito vigente na respectiva sede.

Os Elementos de Conexão: são os elementos técnico-jurídicos que


indicam a lei aplicável (“centro de interesses”) em um caso jusprivatista com
presença de elemento estrangeiro. Para alcançar a lei aplicável, serve-se o Direito
Internacional Privado de elementos técnicos prefixados, que funcionam como base
na acção solucionadora do conflito. A esses meios técnicos, usados pela norma
indirecta para solucionar os conflitos de leis, denominados elementos de conexão.

O Elemento de Conexão: são normas estabelecidas pelo direito


internacional privado que indicam o direito aplicável a uma ou diversas
situações jurídicas unidas a mais de um sistema jurídico. Servem para
apontar o direito que irá aplicar no caso concreto nas relações particulares
com conexão internacional, mas sem solucioná-lo, apenas indicam.

Elemento de Conexão: É o elemento estrutural da norma de conflitos


que visa determinar e individualizar, de entre as várias ordens jurídicas em
contacto com questão, qual é ordem jurídica chamada a regular a questão.
O elemento que conecta/liga a relação jurídica a determinado ordenamento
jurídico, diz necessariamente respeito a um dos elementos estruturais da
relação jurídica e é escolhido pelo legislador a propósito de cada tipo de
relação privada internacional, atendendo aos interesses que estão em causa.

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O Elemento de Conexão: é o elemento que localiza a situação jurídica


a um espaço legislativo determinado - exemplo, artigo 46º/1 CC "(...) cujo
território as coisas se encontrem situadas".

Elemento de conexão do artigo 46º do Civil: Território ou lugar.

Elementos de conexão são normas estabelecidas pelo D.I.P., que


indicam o direito aplicável a uma ou diversas situações jurídicas unidas a
mais de um sistema legal.

O elemento de conexão – individualiza a ordem jurídica

O elemento de conexão é aquela parte da norma de conflitos que nos vai


dizer, perante o conflito de leis no espaço em concreto, qual a ordem
jurídica (por exemplo, ordem jurídica A, B e C) mais competente.
Elemento de conexão é o meio técnico de que se vale o legislador para
indicar o direito aplicável às relações ou situações atípicas, ligando-as, por
esta forma, a um determinado ordenamento jurídico que pode ser nacional
ou estrangeiro. É uma circunstância fáctica, abstratamente prevista na
consequência jurídica da norma jusprivatista internacional e erigida em
critério jurídico destinado à indicação do direito aplicável às relações
portadoras do elemento da estraneidade.
Conexão é a ligação, é o contacto entre uma situação da vida e a norma que vai
regê-la e, seus elementos, são normas estabelecidas pelo direito internacional
privado que indicam o direito aplicável a uma ou diversas situações jurídicas
unidas a mais de um sistema legal.

As Normas (Indicativas) do DIP permitem que o juiz faça a CONEXÃO


entre a relação jurídica sub judice e o ordenamento jurídico aplicável a ela.
Por isso são conhecidas como “Regras de Conexão”.
 Irineu Strenger esclarece que “elementos de conexão são
expressões legais de conteúdo variável, de efeito indicativo, capazes de
permitir a determinação do direito que deve tutelar a relação jurídica
em questão”.
 Elemento de conexão é o “factor de vinculação, de ligação a
determinado sistema jurídico, porque através dele que sabemos qual o
direito aplicável. È o vínculo que relaciona um fato qualquer a
determinado sistema jurídico”.
 Haroldo Valladão menciona que os elementos de conexão “são as
directrizes, as chaves, as cabeças-de-ponte para a solução dos conflitos
de leis, em linguagem actual são os mísseis que põem em órbita a regra
de DIP”. Visam os elementos de conexão à aplicabilidade da lei mais
justa.
 Define Giuseppe Barile elemento de conexão como a circunstância
da relação jurídica a qual a norma de direito internacional privado
atribui relevância na solução de conflito de leis.

2.11. Teoria que fundamenta a utilização dos elementos de


Conexão no DIP:

Teoria das Qualificações. As Qualificações sugiram no século XIX, quando


foram promulgados os primeiros códigos civis.

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Qualificação é técnica de classificação de questão jurídica, segundo as
regras do DIP, de modo a enquadrá-la no sistema legal de determinado
Estado.

2.12. Elemento estrangeiro: significado e função

Muitos doutrinadores o chamam de elemento de estraneidade, outros de elemento


estrangeiro. Ambos têm o mesmo significado e podemos classificá-los em três
categorias:
 Relativo à pessoa: lugar do nascimento, lugar do falecimento, lugar da
sede da pessoa jurídica, domicílio, residência habitual, ou, simplesmente, o
lugar onde se encontra.

 Relativo aos bens: o lugar da situação do bem e o lugar do registo do


bem (para os bens que se submetam a registo).

 Relativo a outros factos jurídicos: o lugar da constituição ou


execução da obrigação, lugar da prática do ato ilícito, lugar onde os efeitos
(jurídicos e económicos) do ato ilícito são mais evidentes para a vítima do ato
(nos casos de violações com efeitos multilaterais).

Para Goldschimidt, o elemento estrangeiro pode ser dividido em


personal, real ou conductista.
 O elemento estrangeiro “personal”: um dos protagonistas é
estrangeiro, seja porque ostente uma nacionalidade estrangeira, quer porque
não tem nenhuma; um deles possui um domicílio ou uma residência
estrangeira.

 Elemento estrangeiro “real”: o negócio jurídico recai sobre um bem


situado no elemento estrangeiro ou registrado em um órgão registrante
estrangeiro.

 Elemento estrangeiro “conductista” (relativo á conduta): o


ilícito, ou negócio jurídico, acontece no estrangeiro.

2.13. Espécies de elementos de conexão:

Três espécies:
a) Pessoais (nacionalidade, domicílio e residência);
b) Reais (local onde está situado o bem móvel ou imóvel); e
c) Conducistas (autonomia das partes, celebração do contrato, execução
do contrato e local onde foi cometido ato ilícito).
Os Elementos de Conexão podem ser:

Tipos de Elementos de Conexão: a) pessoais (nacionalidade, domicílio e


residência); b) reais (local onde está situado o bem móvel ou imóvel); c)
conducistas (local de celebração e/ou de execução de contrato e
autonomia das partes)

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 Reais: refere-se a situação da coisa/localização do bem, o lugar do acto


ou facto, o lugar da origem ou nascimento, o lugar do contrato ou de sua
execução;

 Pessoais: nacionalidade, domicílio/residência, a nacionalidade, etc.;


 Institucionais: o pavilhão ou a matrícula da aeronave ou navio, o foro
(a autoridade que conhece do caso).

 Conducistas (local de celebração e/ou de execução de contrato e


autonomia das partes)

 O elemento de conexão é determinado por cada ordenamento, cada sistema


jurídico, podendo ser utilizado um ou mais de um.

Vale abordar alguns elementos de conexão já conhecidos pela


doutrina, qual seja:

 Quando a relação for de direitos das pessoas e sistemas de tutela


jurídica: o elemento de conexão ou é a nacionalidade ou o domicílio (legal,
administrativo ou particular);

 Quando a relação for de direitos reais (propriedade, enfiteuse,


servidões ou usufruto): o elemento de conexão é o lugar de situação da
coisa;

 Quando tratar de bens móveis: “normalmente aplica-se o princípio


mobilia sequntur personam”;

 Quando a relação for de actos jurídicos em geral (obrigações): o


elemento de conexão ou é o local de constituição do vínculo ou o local em que
se irá executar o acto, sendo lícito, as partes optarem pela lei a ser adoptada.

Atenção: o estatuto pessoal é regido pela lei nacional ou domicilio;

Os principais elementos de conexão são: a nacionalidade (mais


antigo); domicílio (actualmente mais utilizado no direito brasileiro e
Macau); território/lugar; vontade. São os principais, mas o elemento de
conexão poderá ser toda e qualquer circunstância fáctica.
1) Elementos de conexão relativos às pessoas:
a) A nacionalidade, a residência e o domicílio das pessoas naturais;
b) A sede das pessoas jurídicas.
2) Elementos de conexão relativos às coisas:
a) O pavilhão (bandeira) dos navios e aeronaves - lugar;

b) O lugar da situação dos bens.

3) Elementos de conexão relativos a factos ou actos


jurídicos:
a) O lugar da celebração ou da execução de um contrato;

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b) O lugar da efectivação de um quase-contrato (como a gestão de negócios
e o pagamento indevido);

c) O lugar da prática de um acto ilícito;

d) O lugar da morte de uma pessoa.

e) Lei escolhida pelas partes - vontade (Nos casos permitidos pela lei, que
não contrariam a ordem pública)

Vejamos alguns exemplos de elementos de conexão:


Nacionalidade - Lei pessoal (pessoas singulares) – Ex: art. 25º; 26º; 30º; 49º; 52º;
62º; etc.

Nacionalidade – Lei nacional Comum (pessoas singulares) – Ex: art. 52º

Nacionalidade – Lei nacional dos nubentes Ex: art. 53º

Nacionalidade - Lei pessoal do autor da sucessão – Ex: art. 25º e 62

Território ou lugar – Lei pessoal (pessoas colectivas) – Ex: art. 33º, nº2.

Território ou lugar – Lei do Estado em cujo território as coisas se encontrem


situadas - Ex: art. 46º, nº1.

Território ou lugar - Lei do país onde a matrícula tiver sido efectuada - Ex: art. 46º,
nº3.

Território ou lugar - Lei do lugar da primeira publicação da obra - Ex: art. 48º, nº1.

Território ou lugar - Lei do país da sua criação - Ex: art. 48º, nº1.

Território ou lugar - Lei do Estado em que o acto é celebrado Ex: art. 50º

Domicílio – Lei da residência habitual - Ex: art. 52º, nº2.

Vontade - Lei que os respectivos sujeitos tiverem designado ou houverem tido em


vista- Ex: art. 41º, nº1.

Exemplo de identificação dos elementos estruturais de


algumas normas de conflito do Código Civil.

Artigo 46º, (Direitos reais)


“O regime da posse, propriedade e demais direitos reais, é definido pela lei
do Estado em cujo território as coisas se encontrem situadas”.
Conceito Quadro: O regime da posse, propriedade e demais direitos reais.
Consequência Jurídica: é definido pela lei do Estado em cujo território as
coisas se encontrem situadas
Elemento de conexão: Território/ lugar

Artigo 30.º (Tutela e institutos análogos)


“À tutela e institutos análogos de protecção aos incapazes é aplicável a lei
pessoal do incapaz”.
Conceito Quadro: À tutela e institutos análogos de protecção aos incapazes
Consequência Jurídica: é aplicável a lei pessoal do incapaz.
Elemento de Conexão: Nacionalidade

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Artigo 38.º (Representação orgânica)


A representação da pessoa colectiva por intermédio dos seus órgãos é
regulada pela respectiva lei pessoal.
Conceito Quadro: A representação da pessoa colectiva por intermédio
dos seus dos seus órgãos.
Consequência Jurídica: é regulada pela respectiva lei pessoal.
Elemento de Conexão: Território ou lugar

Artigo 43.º (Gestão de negócios)


“À gestão de negócios é aplicável a lei do lugar em que decorre a principal
actividade do gestor”.
Conceito Quadro: À gestão de negócios
Consequência Jurídica: é aplicável a lei do lugar em que decorre a principal
actividade do gestor.
Elemento de Conexão: lugar ou território

Artigo 41.º (Obrigações provenientes de negócios jurídicos)

“As obrigações provenientes de negócio jurídico, assim como a própria


substância dele, são reguladas pela lei que os respectivos sujeitos tiverem
designado ou houverem tido em vista”.

Conceito Quadro: As obrigações provenientes de negócio jurídico, assim


como a própria substância dele
Consequência Jurídica: são reguladas pela lei que os respectivos sujeitos
tiverem designado ou houverem tido em vista”.

Elemento de Conexão: Vontade.

Art.º 33º - Pessoas colectivas

1. A pessoa colectiva tem como lei pessoal a lei do Estado onde se encontra
situada a sede principal e efectiva da sua administração.

2. “À lei pessoal compete especialmente regular: a capacidade da pessoa


colectiva; a constituição, funcionamento e competência dos seus órgãos; os
modos de aquisição e perda da qualidade de associado e os
correspondentes direitos e deveres; a responsabilidade da pessoa colectiva,
bem como a dos respectivos órgãos e membros, perante terceiros; a
transformação, dissolução e extinção da pessoa colectiva”.

 Conceito Quadro: a capacidade da pessoa colectiva; a constituição,


funcionamento e competência dos seus órgãos; os modos de aquisição
e perda da qualidade de associado e os correspondentes direitos e
deveres; a responsabilidade da pessoa colectiva, bem como a dos
respectivos órgãos e membros, perante terceiros; a transformação,
dissolução e extinção da pessoa colectiva

 Consequência Jurídica: À lei pessoal compete especialmente regular

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 Elemento de conexão: Território/ Lugar (lei do Estado)

Art.º 52º - Relações entre os cônjuges

Art.º 52º, nº 1. “Salvo o disposto no artigo seguinte, as relações entre os


cônjuges são reguladas pela lei nacional comum”.

 Conceito Quadro: as relações entre os cônjuges

 Consequência Jurídica: são reguladas pela lei nacional comum

 Elemento de conexão: Nacionalidade

Art.º 52º nº2. “Não tendo os cônjuges a mesma nacionalidade, é aplicável a


lei da sua residência habitual comum e, na falta desta, a lei do país com o
qual a vida familiar se ache mais estreitamente conexa”.

 Conceito Quadro: as relações entre os cônjuges


 Consequência Jurídica: é aplicável a lei da sua residência habitual
comum e, na falta desta, a lei do país com o qual a vida familiar se ache
mais estreitamente conexa”.
 Elemento de conexão: domicílio e, na falta, a nacionalidade.
Atenção: as relações pessoais dos indivíduos, ou qualquer aspecto do estatuto
pessoal (capacidade, estado civil, relações de família, secessões, etc.), são sempre
regulados pela nacionalidade ou domicílio.
Atenção: a norma do artigo 52º, nº2, tem o mesmo conceito quadro do nº1 do
mesmo artigo.

2.14. Lei pessoal aplicável aos apátridas

Apátrida: é a perda da nacionalidade de um estado, por uma pessoa, sem a


co-respectiva aquisição da nacionalidade de outro estado, na
impossibilidade de determinação de lei nacional, porque a pessoa
temporariamente não tem nacionalidade, propuseram-se os seguintes
critérios:

 Aplicação da lex fori (solução simplista);


 Aplicação da lei do país cuja nacionalidade a pessoa tenha perdido em
1º lugar (difícil indagação);

 Aplicação da lei do país cuja nacionalidade a pessoa tenha perdido em


último lugar (também de difícil indagação);

 Aplicação subsidiária da lei do domicílio, e na falta desta, a lei de


residência.

2.15. Principais Elementos de Conexão no sistema


Juriprivatista internacional Moçambicano

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1) Nacioanlidade: é o elemento de conexão mais importante, regula o


início e termo da personalidade jurídica estado civil dos indivíduos, a
capacidade das pessoas, as relações de família e as sucessões por morte,
capacidade para contrair casamento ou celebrar a convenção
antenupcial, as relações entre os cônjuges, separação judicial de pessoas
e bens e ao divórcio, constituição da filiação, relações entre pais e filhos,
constituição da filiação adoptiva, capacidade para fazer, modificar ou
revogar uma disposição por morte, bem como as exigências da forma
especial das disposições por virtude da idade do disponente, a tutela e
institutos análogos de protecção aos incapazes.
Nacionalidade é o vínculo jurídico-político que une uma pessoa ao Estado
do qual ela é natural. A nacionalidade, no entanto, pode ser originária
ou primária, atribuída no instante do nascimento, e a nacionalidade
derivada ou secundária, atribuída em outro momento posterior.
2) Domicilio: é o elemento de conexão que se aplica subsidiariamente a
nacionalidade. Ex: Artigo 52º, nº2 do Código Civil. Ou seja, não sendo
possível aplicar a nacionalidade, em alguns casos pode-se aplicar a lei do
local em que as partes estejam domiciliadas.
De dois modos a pessoa se liga a um sistema jurídico: pela nacionalidade
(vínculo jurídico-político) íntegra o povo de um Estado na condição de
cidadão; e pelo domicílio (vínculo jurídico-geográfico), integra a
população de um Estado, porque ali se radicou e passou a ter o centro
permanente de seus interesses. Lei aplicável a sua determinação,
como elemento de conexão: para que se configure o domicílio, em
nosso ordenamento jurídico, faz-se necessário um elemento objectivo: a
residência, e um elemento subjectivo: o ânimo de permanecer. o
domicílio deve ser determinado sempre pela lex fori, pela lei do lugar onde
a questão é apreciada.
3) Local da Prática do Acto – O local em que um ato ilícito seja
praticado constitui a sede da relação jurídica estabelecida. Por isso é lá
que devem ser resolvidos os conflitos decorrentes daquele ato, e é a lei
daquele local que deve regê-lo;
4) Lugar da Coisa – Quando se discutem problemas de posse ou
propriedade de bens imóveis, há uma preponderância no mundo inteiro
da lei que vigora no local em que o bem esteja situado. A legislação de
um país normalmente estabelece as normas sobre os imóveis e, para
tomar posse dele, há necessidade de o proprietário deslocar-se para o
país em que o imóvel se encontre. Ex:
5) Art.º 46º do Código Civil - Direitos reais. “O regime da posse,
propriedade e demais direitos reais, é definido pela lei do Estado em cujo território as coisas
se encontrem situadas”.
6) Local do Delito – Adoptando os mesmos critérios que o local da
prática do ato, aplicando-se-lhe, no entanto, somente nas questões
penais. Sua importância ultimamente tem sido realçada com a
proliferação de crimes internacionais e actos terroristas. É o que mais se
adapta ao género, pois a apuração fica a cargo das autoridades policiais
do local dos crimes;

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7) Lei do Pavilhão – Esse elemento de conexão é o local de registo


aplicado a navio e aeronave. Um navio e um avião, segundo as
convenções internacionais, devem ser registados no registo competente
de um país e depois no órgão internacional. O interior de um navio ou
de um avião é considerado território do país em que eles estiverem
registados. A lei do pavilhão integra-se a outros elementos como o local
da prática do acto, e o local do delito. Assim, se um crime é cometido no
interior de um avião das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM),
sobrevoando o oceano, será regido pela lei Moçambicana, por ter sido
ocorrido no território Moçambicano;
8) Local da Execução do Contrato – É o mais importante no que toca
às obrigações, como no Direito Contratual. Um contrato pode ser
assinado e estabelecido em um lugar em operação rápida. A maior parte
dos contratos entre as partes, o cumprimento das obrigações de cada
uma das partes ocorre no lugar em que se põem em prática as
obrigações assumidas. O insigne jurista Savigny, chama esse elemento
de sede da relação jurídica;
9) Lugar da Celebração do Contrato – Se um contrato é celebrado
num determinado país, presume-se que as partes tenham se dirigido
para aquele país por ter vínculos com ele. Em consequência, o contrato
vincula-se ao sistema jurídico em que ele é assinado e estabelecido. Há
muitas excepções, pois muitos contratos de interesse no Brasil são
assinados em outros países, mormente nos “paraísos fiscais”;
10) Foro (Lex Fori) /Lei do lugar onde o caso de Direito
Internacional Privado está sendo ou foi julgado ou analisado –
Este elemento de conexão é visto pelo aspecto processual, pela
actividade das funções judiciárias dos Estados. Uma questão judicial é
sempre submetida ao julgamento de um juiz; a lei do local (pais) em que
o juiz esteja situado é que deve ser invocada em primeiro lugar. A lei
(norma de DIP/conflito) do lugar onde o caso for analisado ou julgado,
indicara a lei material que mostre competente para resolver o caso sub
judice;
A Lex Fori é o conjunto de regras ou normas de um determinado Estado
que determina a aplicação do Direito em um determinado local, isto é, é
a base legal onde se busca o direito a ser aplicado para dirimir um
conflito de interesse no Direito Internacional Privado.

LEX FORI

A lex fori tem várias acepções no direito internacional privado”.


Cada Estado possui normas próprias de direito internacional privado no seu
ordenamento jurídico. Igualmente, tratados internacionais vigoram dentro
de um Estado apenas quando da sua incorporação ao direito interno.
A regra básica é a de que o juiz aplica sempre as normas de direito
internacional privado vigentes no lugar do foro, a lex fori. Essas normas
são, na grande maioria, normas indicativas ou indirectas, designando
meramente o direito aplicável a uma relação jurídica de direito privado com
conexão internacional, mas não solucionando a causa materialmente.
As normas de direito processual civil internacional, formando com as

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primeiras o direito internacional privado lato sensu, por outro lado, sempre
são normas directas e pertencem ao direito público.
Por vezes, a le xfori exerce também a função de elemento de conexão, mais
precisamente quando se trata de determinar a lei aplicável a uma relação
jurídica de direito privado com conexão internacional. Nesses casos,
adopta-se com frequência a regra de que o juiz, internacionalmente
competente, aplica, como direito aplicável, a lex fori.
Essa vinculação entre a competência internacional e o direito aplicável, que
caracteriza este elemento de conexão, é denominada pela doutrina “1ex
fori in foro próprio”.
Se o direito aplicável a uma relação jurídica de direito privado com conexão
internacional for o estrangeiro, pode ocorrer que a sua aplicação viole, in
casu, a ordem pública. Sempre que isso ocorrer, aplica-se a lex fori em
lugar do direito estrangeiro
Quando uma norma de aplicação imediata interferir numa relação jurídica
de direito privado com conexão internacional, a lex fori é sempre o direito
aplicável.
A lex processualis fori, estabelece a regra básica, tradicionalmente
reconhecida, de que o direito processual civil se rege de acordo com a lex
fori.
11) Eleição do foro – As partes envolvidas numa relação jurídica
podem escolher qual será a lei que regerá o contrato (Ex: Art.º 41º -
Obrigações provenientes de negócios jurídicos). Baseia-se esse
elemento no critério da “autonomia de vontade”. Assim, se for
assinado um contrato entre uma empresa Moçambicana e outra
Portuguesa, as partes podem decidir numa cláusula contratual se o
contrato será regido pela lei Moçambicana ou pela Portuguesa, como
ainda o foro competente. Não há, porém, total liberdade na escolha do
foro competente que irá julgar as questões entre as partes. Duas
empresas, brasileira e uruguaia, não podem escolher a justiça da
Zimbabwana para dirimir conflitos entre elas. Deve haver um elemento
de conexão poderoso para justificar a escolha (que tenha relação com os
sujeitos outorgantes do contrato, lugar da celebração ou cumprimento
do contrato); por outro lado as partes não devem escolher a lei aplicável
para regular a capacidade as pessoas singulares ou jurídicas. Importa
referir que o artigo 25º conjugado com o artigo 31º do C.Civil, regula a lei
aplicável para regular a capacidade civil das pessoas singulares, e o
artigo 33º, nº2 e nº1 do C.Civil regula a lei aplicável para regular a
capacidade civil das pessoas colectivas.
A Vontade: Dentro dos elementos de conexão, não podemos deixar de
mencionar aqueles que se aplicam aos contratos internacionais,
sobretudo, a teoria da autonomia da vontade das partes.
A vontade é elemento de conexão no caso de ser admitida pelo
Estado, caso em que poderá ser aplicada a lei indicada pelas
partes contratantes como elemento de conexão, já que a principal
aplicação deste princípio é a das obrigações contratuais, onde,
segundo o art. 41º do Código Civil.
2.16. Os elementos de conexão enunciados em latim

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São exemplos de elementos de conexão (enunciados tradicionalmente em


latim)14 :

 Lex patriae: lei da nacionalidade da pessoa física;


 Lex domicilii: lei do domicílio;
 Lex loci actus e locus regit actus: lei do local da realização do ato
jurídico;
 Lex loci contractus: lei da celebração do contrato;
 Lex loci solutionis: lei do local onde a obrigação ou o contrato deve
ser cumprido;
 Lex voluntatis: lei de escolha dos contratantes;
 Lex loci delicti: lei do lugar onde o acto ilícito foi cometido;
 Lex rei sitae ou lex situs: lei do local em que a coisa se encontra;
 Mobilia sequuntur personam: lei do local onde se encontra o
proprietário (para bens móveis);
 Lex loci celebrationis: a lei do local da celebração rege as
formalidades do casamento;
 Lex monetae: lei do local em cuja moeda a dívida está expressa;
 Lex loci executionis: lei do local onde se procede à execução forçada
de uma obrigação;
 Lex fori: lei do local onde corre a acção judicial.
 Lex damni: lei do lugar onde se manifestaram as consequências do ato
ilícito, para reger a obrigação de indemnizar;

Regras de lei mais favorável


Regras de lei mais favorável: em alguns países, se resolvem certas
dúvidas de aplicação de lei, aplicando a mais benéfica, em homenagem ao
princípio da lei mais favorável:
 Lex favor infans: a lei que melhor protege o menor nas relações
familiares;
 Lex favor negotii: a lei mais vantajosa para o empregador, nas
relações trabalhistas ou a lei que considera válidos o ato, o contrato ou
a constituição da sociedade;
 Lex favor matrimonii: a lei mais vantajosa a aplicar-se nas relações
de casamento;
 Lex favor laesi: a lei que protege a pessoa que sofreu danos;

Regras de conexão de natureza processual internacional:


 Lex forum rei sitae: compet6encia do foro em que se situa a
coisa;
 Lex fórum obligationis: competência do foro do local em que a
obrigação deve ser cumprida;
 Lex fórum delicti: competência do foro em que ocorreu o delito;
 Lex fórum damni: competência do foro onde a vítima sofreu o
prejuízo.

14 https://pt.wikipedia.org/wiki/Direito_internacional_privado

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Dentre os elementos de conexão acima, cada país escolhe os que melhor lhes
convêm para compor o DIP nacional. Por exemplo, em Moçambique elegeu-se a
lex patriae (lei da nacionalidade da pessoa física) para reger o começo e o fim da
personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família em quanto que por
exemplo, no DIP brasileiro e Macau elegeu-se a lex domicilii (lei da residência
habitual); outros países preferem a lex patriae em Moçambique emprega a lex rei
sitae para reger os bens; outros Estados podem recorrer à mobilia sequuntur
personam (lei do local onde se encontra o proprietário).

2.17. Normas de Direito Internacional Privado em Moçambique


conceito quadro e elementos de conexão.

Previsão
Conceito quadro Elemento de Conexão Legal
Pessoas Singulares
Início da personalidade jurídica Lei pessoal dos sujeitos - Nacionalidade Art. 26º -31º
C. Civil
Estado Civil dos indivíduos Lei pessoas dos sujeitos - Nacionalidade
(singulares)
Capacidade civil dos indivíduos Lei pessoas dos sujeitos - Nacionalidade Art. º 33, nº1
e 2, C. Civil
Pessoas Colectiva
Capacidade da Pessoas Colectiva Lei pessoas dos sujeitos - Território
Constituição, funcionamento e Lei do Estado onde se encontra situada a sede Art. º 33,
competência dos seus órgãos das principal e efectiva da sua administração nº2
pessoas colectivas (Território)
Modos de aquisição e perda da Lei do Estado onde se encontra situada a sede Art. º 33, nº1
qualidade de associado e os principal e efectiva da sua administração e 2, C. Civil
correspondentes direitos e deveres da
pessoa colectiva.
Responsabilidade da pessoa colectiva, Lei do Estado onde se encontra situada a sede Art. º 33, nº1
bem como a dos respectivos órgãos e principal e efectiva da sua administração e 2, C. Civil
membros, perante terceiros
Transformação, dissolução e extinção da Lei do Estado onde se encontra situada a sede Art. º 33, 2,
pessoa colectiva. principal e efectiva da sua administração C. Civil
DIP e Direitos de família

Direitos de família Art. º 25º,


49º - 60º
DIP e Direitos de Reais Art. 46º - 48
Regime de bens Lei do país em que tiverem os nubentes Art.
domicílio e, se este for diverso, a do primeiro
domicílio conjugal
Propriedade Intelectual Art. 46º - 48

Regulação dos bens e das relações a eles Lei do país em que estiverem situados Art. 46º, nº1
concernentes
Regulação dos bens móveis que ele Lei do país em que for domiciliado o Art. 46º, nº2
trouxer ou se destinarem a transporte proprietário
para outros lugares
Regulação dos bens móveis submetidos Lei do país onde a matrícula tiver sido Art. 46º, nº3
a um regime de matrícula efectuada

DIP e Direitos das obrigações e Art. 41º - 45


contratos
Qualificação e regulação das obrigações Lei do país em que se constituírem Art. 41º
Gestão de negócios Lei do lugar em que decorre a principal Art. 43º
actividade
Enriquecimento sem causa Lei com base na qual se verificou a Art. 44º

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transferência do valor patrimonial a favor do
enriquecido.
Responsabilidade Extracontratual Lei do Estado onde decorreu a principal Art. 45º
actividade causadora do prejuízo
DIP e Direitos das sucessões Art. 62
Capacidade para suceder Lei do domicílio do herdeiro ou legatário Art. 25º e 62º

2.18. Classificação do Elemento de Conexão

De acordo a:

 Natureza: objectivas e subjectivas


 Número:
 Única e múltipla
 Múltipla:
o Subsidiária
o Alternativa
o Cumulativa
o Combinada
 Variabilidade do conteúdo: Fixas e variáveis
 A forma: Técnico-jurídicas e
 Estrutura: factuais e jurídicas.

2.18.1. Quanto a natureza

Subjectivos - Atendendo aos sujeitos: Circunstância pessoal –


nacionalidade ou residência habitual, domicilio, vontade.

As conexões subjectivas referem-se aos sujeitos da relação jurídica (ex.:


nacionalidade dos sujeitos, residência dos mesmos, domicílio, vontade dos
sujeitos, etc.).

Objectivos: Acto ou facto por que a relação jurídica se constitui ou se


extingue. – Situação da coisa, lugar da celebração do negócio, lugar da
prática do facto, lugar da execução da obrigação.

As conexões objectivas referem-se ou ao objecto ou aos factos da relação


jurídica (ex.: lugar da celebração do negócio jurídico – patrimoniais – ou
lugar da situação da coisa – reais);

2.18.2. Quanto ao número

 Conexão única:

 Conexão múltipla

 Alternativas

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As conexões múltiplas alternativas são aquelas em que os vários
elementos de conexão se encontram em pé de igualdade (não existe relação
de hierarquia), no sentido em que o julgador pode aplicar um ou outro. Ou
seja, contrariamente às subsidiárias, o tribunal pode optar por qual dos
elementos de conexão utilizar.

As conexões múltiplas alternativas são utilizadas como um expediente


técnico-jurídico que tem como objectivo facilitar a constituição das relações
jurídicas e a validade dos negócios jurídicos. Daí que, seja possível, aquando
da sua utilização, ao tribunal aplicar o elemento de conexão da norma de
conflitos, que aponte para o ordenamento jurídico que melhor salvaguarde
a validade daquele negócio jurídico (veja-se o exemplo dos artigos 36º
e 65º);

São normas que contem mais do que um elemento de conexão, prevendo


duas ou mais conexões como possíveis e legítimas. Aqui os vários elementos
de conexão não se encontram entre si. Ou seja, existem vários elementos de
conexão que se situam em pé de igualdade sendo igualmente válidas e
operativas e tanto se pode aplicar a Lei referida por um ou outro elemento
de conexão.

Ex: artigo 36º e 65º do Código Civil

Conexões subsidiárias – Só se recorrem a uma na falta ou


impossibilidade de outra.

São aquelas em que existe mais do que um elemento de conexão e em


que entre os vários elementos de conexão existe uma relação de
hierarquia, no sentido de que, só se pode aplicar o 2º elemento de
conexão, na impossibilidade de aplicar o 1º e assim sucessivamente.
Este tipo de normas tem a sua razão de ser, essencialmente na tentativa de
evitar que se caia em situações de vazio jurídico, tendo por função
resolverem situações de impasse entre as normas que devem ser aplicadas.
Ou seja, servem para prevenir a hipótese de faltar o elemento construído
em factor primário de conexão. Aqui, a norma d conflitos designa o
elemento subsidiário a que em tal hipótese se deverá recorrer. Pode utilizar-
se este sistema quando for impossível averiguar o conteúdo do direito
estrangeiro designado através do elemento de conexão estabelecido, ou
quando n se consiga determinar o próprio elemento de conexão.

Por exemplo, veja-se o caso do art. 52º, onde se estipula que as


relações entre cônjuges devem ser regidas pela lei nacional comum,
sendo que, se não tiverem a mesma nacionalidade, então aplica-se a
lei da residência conjunta. E se esta última não for possível vamos
aplicar a lei do país com o qual a vida familiar apresente maior
ligação. Imagine-se o seguinte caso: “A”, inglês, casa com B, francesa.
“A” reside em França e B em Inglaterra. Que lei é que regulará um
pedido de alimentos? Aplicar-se-ia o art. 52º, manda aplicar 1º a
nacionalidade comum, como não era possível, aplicar-se-ia a
residência comum, como também não era possível teríamos de
recorrer ao último elemento de conexão (lei do país com o qual a vida

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familiar apresente maior ligação). O artigo 53º também se perfila


como um bom exemplo de conexões múltiplas subsidiárias.
Ex: artigos 52º, 53º e 57, nº1, do Código Civil

Conexões cumulativas

As conexões múltiplas cumulativas verificam-se quando a norma de


conflitos desempenha a sua função através de 2 ou mais elementos de
conexão, determinando simultaneamente como competentes duas ou mais
ordens jurídicas. Exige-se então que, para que seja possível a constituição
da relação jurídica em apreço, ela tem de ser reconhecida em face de todas
as leis, para as quais apontam os elementos de conexão.

Verificam-se quando certo regime depende da concordância ou


conformidade de dois ordenamentos jurídicos.

Aqui trata-se de subordinar a produção de certo cúmulo jurídico á


satisfação de duas ou mais leis. Ou melhor trata-se de satisfazer os
requisitos estabelecidos em cada uma das leis. Tendo como objectivo a
harmonia jurídica internacional. Este sistema não é recomendável como
critério geral, e promete aplicar cumulativamente as duas leis em causa,
para depois aplicar apenas 1 delas q é a + rigorosa e + restritiva.

EX: artigo 60º do CC

Cumulativas:

Nas conexões múltiplas cumulativas, cada elemento de conexão


refere-se à relação jurídica no seu todo (e não apenas a aspectos parcelares
dessa mesma relação jurídica, como acontece, nomeadamente, com as
conexões múltiplas combinadas).

Aqui verifica-se que determinada lei só é aplicada, quando vários elementos


de conexão apontam simultaneamente para essa mesma lei.

Podemos ver que ambas visam fazer apreciar por 2 sistemas jurídicos as
condições de validade do mesmo acto. Porem enquanto na conexão
cumulativa o acto só é valido se o mesmo for admitido simultaneamente por
várias normas de conflito. Podemos ver que na APLICAÇÃO COMBINADA,
existe entre os 2 sistemas jurídicos uma distribuição ou repartição de
competências, tendo nestas situações, que determinados pressupostos de
validade do acto, ser apreciados por um sistema jurídico, e outros
pressupostos serem analisados por outro sistema jurídico diferente. Art.
49CC.

Conexões combinadas (conexões distributivas, ou aplicação


distributiva de duas leis) – combinam-se várias leis na regulamentação
da decisão. Ex: art. 49º, impedimentos matrimoniais – atenção contudo aos
impedimentos bilaterais que actuam como se fossem conexões cumulativas.

O acto só é valido se o mesmo for admitido simultaneamente por várias


normas de conflito. No que respeita á conexão combinada, existe entre os
dois sistemas uma distribuição ou repartição de competências, sendo que

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determinados pressupostos de validade do acto, são apreciados por um
sistema jurídico e outros pressupostos de validade do acto são apreciados
por outro sistema.

Ex: artigo 49º

2.18.3. Quanto a variabilidade do conteúdo

Variáveis – pode ser alterado.

Fixas – Não pode ser alterado.

2.18.4. Quanto a forma

Descritivas: Descrevem uma situação: lugar da situação da coisa.

Técnico-jurídico: Adoptam um conceito jurídico elaborado (que pode


ser um conceito técnico-jurídico descritivo): - Aqueles propriamente
normativos: (conceitos normativamente construídos)

Ex. Nacionalidade. – A determinação do conteúdo é sempre feita pela lei


em relação ao qual se deve apurar se o indivíduo em causa é ou não é
nacional;

2.18.5. Quanto a Estrutura

Conexões factuais – situação da coisa, lugar do acto

Conexões normativas ou jurídicas – domicílio, Residência habitual,


nacionalidade, o lugar do cumprimento.

2.19. O Estatuto pessoal no DIP

O estatuto pessoal lato sensu engloba: o “estado da pessoa e sua


capacidade”.

 O estado da pessoa é o “conjunto de atributos constitutivos de


sua individualidade jurídica”. Fatos relevantes = começando pelo
nascimento e aquisição da personalidade, questões atinentes à
filiação, legítima ou ilegítima, ao nome, ao relacionamento com os
pais, ao pátrio poder, ao casamento, aos deveres conjugais, à
separação, ao divórcio e à morte.

 A capacidade é a aptidão da pessoal individual de exercer os


direitos, particularmente os direitos privados e contrair obrigações.
O Estatuto Pessoal

O estatuto pessoal lato sensu engloba o “estado da pessoa e sua


capacidade”. O estado da pessoa é o “conjunto de atributos
constitutivos de sua individualidade jurídica”. Fatos relevantes =
começando pelo nascimento e aquisição da personalidade, questões

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atinentes à filiação, legítima ou ilegítima, ao nome, ao relacionamento
com os pais, ao pátrio poder, ao casamento, aos deveres conjugais, à
separação, ao divórcio e à morte.

A capacidade é a aptidão da pessoal individual de exercer os direitos,


particularmente os direitos privados e contrair obrigações.

Estatuto pessoal: é a situação jurídica do indivíduo, relativamente ao


sistema jurídico aplicável a sua pessoa. Lato sensu engloba tanto o
estado da pessoa quanto sua capacidade civil.

Estado da pessoa: é o conjunto de atributos constitutivos da


individualidade jurídica de cada um, sendo o primeiro deles, por ordem
cronológica, o nascimento; outros são a filiação, o nome, o casamento, o
divórcio e, por fim, a morte.

2.20. Elementos de conexão que permitem deteminar a lei


aplicável para regular o Estatuto Pessoal

Os elementos de conexão diferenciam-se conforme o DIP de cada Estado.

Os elementos de conexão mais citados na doutrina são a nacionalidade e o


domicílio da pessoa física (singular).

A nacionalidade é o elemento de conexão de muita propagação por toda


parte do mundo, entretanto, actualmente em alguns países começa a perder
a relevância, dada a crescente mobilização da população no mundo inteiro,
muitos são os que possuem mais de uma nacionalidade.

O elemento de conexão do domicílio opõe-se ao da nacionalidade e é o


elemento de conexão predominante no direito internacional privado de
alguns países tais como o Brasil e a Região Administrativa de Macau, entre
outros. O seu conceito é definido e encontrado nas normas de direito
internacional privado da lex fori (Lei do Foro – onde se julga o caso de
DIP).

O Direito Moçambicano adoptou o elemento de conexão da


nacionalidade para a regência do estatuto pessoal da pessoa física15, pela
qual se aplica a norma do domicílio da pessoa para reger as suas relações
jurídicas.

Nacionalidade

Para os que comungam com a idéia de que a regra do estatuto da pessoa


deve ser regida pela lei da nacionalidade são os que acreditam que é mais
conveniente manter as pessoas sob a égide da lei de seu país nacional,
quando vivem fora.

Domicílio

Os defensores do domicílio como critério determinador da lei que deve


reger o estatuto da pessoa enunciam as suas vantagens, destacando-se:

15Há uma certa discussão em saber se o conceito e compreensão de domicílio em direito internacional
é o mesmo trazido no código civil.

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a) a lei do domicílio corresponde ao interesse do imigrante pois conhece
melhor a legislação do país onde vive e trabalha do que a de sua pátria e
não deseja ser discriminado por outras regras jurídicas dentro da
sociedade na qual se integrou.
b) Os interesses dos terceiros que contratam ou convivem com o imigrante
são melhor protegidos aplicando-se-lhes a lei local, eis eu a lei da
nacionalidade do estrangeiro lhes é desconhecida, podendo levá-los a
contratar com um incapaz sem disto se conscientizar.
c) O interesse do Estado é o de assimilar todos os estrangeiros que vivem
em seu meio em caráter definitivo, e a aplicação da lei domiciliar facilita
sobremaneira esta adaptação e integração na cultura, na mentalidade,
enfim na vida do país.
d) Como o estatuto pessoal abrange o direito de família e considerando o
número cada vez maior de casamentos entre pessoas de nacionalidades
diversas, a submissão ao direito da nacionalidade ocasiona conflitos de
leis no seio da família. Já a regência do estatuto pessoal, e suas
implicações nas relações familiares, pela lei do domicílio, simplifica
sobremaneira as situações jurídicas que se formam no âmbito conjugal,
paternal, filial e parental.
e) Considerando os locais de residência, a competência do domicílio, via
de regra, coincide a competência legal com a competência jurisdicional,
ou seja, o juiz julgará de acordo com sua própria lei, sempre bem mais
conhecida do que a lei estrangeira.

2.21. Vanatagens e desvantagens do uso da Nacionalidade e


domicílio como elemento de conexão do Estatuto
Pessoal

a) a lei nacional reflete os costumes e tradições da sociedade da qual se


origina o indivíduo (argumento da adequação);

b) a nacionalidade é mais facilmente determinável do que o domicílio, ou


seja, mais facilmente existirá certeza quanto á nacionalidade do indivíduo
do que quanto ao seu domicílio (argumento da certeza); e

c) a nacionalidade é fator mais estável do que o domicílio, que pode ser


alterado com relativa freqüência (argumento da estabilidade).

 Vantagens apontadas pela doutrina para a adopção do


domicílio como elemento de conexão

a) A lei do domicílio é mais conhecida do imigrante, que vive e trabalha no


país para o qual emigrou;

b) O critério do domicílio permite tratamento sem discriminação do


estrangeiro, na medida em que o equipara ao nacional;

c) Traz maior segurança jurídica para terceiros que contratam com o


estrangeiro, que desconhecem as leis de seu país de origem;

d) A lei do domicílio atende melhor os interesses do Estado, no sentido de


assimilar os estrangeiros à sociedade em que trabalham;

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

e) No Direito de Família, a adoção do critério do domicílio acaba com o


inconveniente (que existe quando se adota o critério da nacionalidade) de
aplicar direito diverso a pessoas de nacionalidades diferentes que se casam,
ou entre estas e seus filhos; e

f) A aplicação da lei do domicílio permite coincidir competência


jurisdicional com competência legal, isto é, o juiz da causa aplicará o
direito de seu próprio país.

2.22. Intertesses a atender pela norma de conflito

 Maior ligação individual;


 Segurança do comércio internacional;
 Maior proximidade;
 Boa administração da justiça;
 Validade dos negócios jurídicos (favor negoii);
 Salvaguarda de direitos adquiridos.

 Maior ligação individual

Como mais idónea para a regulamentação do “estatuto pessoal” (estado e


capacidade das pessoas, relações de família, etc), tendo em conta os
interesses em causa, apresenta-se naturalmente a lei que tem maior ligação
com os sujeitos, ou seja, a sua lei pessoal, considerando-se como tal ou a
sua lei nacional (lex patriae) ou a lei do seu domicílio (lex domicilii). O
estado e capacidade das pessoas, relações de família, são conceitos técnicos
juridicos, ligados ao indivíduo, e só uma lei que tenha com ele identica
ligação se pode considerar adequada para regulamentação.
Dai a competência geralmente atribuída, quer a lei nacional, quer a lei do
domicílio, para determinar o estatuto pessoal dos indivíduos, uma vez que
essas leis são, em princípio, elaboradas tendo em conta as características
próprias desses indivíduos, e por via disso, melhor se ajustando aos seus
interesses.

Maior Ligação Individual: Aconselha que a lei reguladora do estatuto


pessoal seja ou a da nacionalidade do sujeito ou a do seu domicílio, pois só
uma dessas duas assegura, em matéria de estatuto pessoal, a exequibilidade
prática das decisões judiciais.

 Segurança do comércio internacional


Tendo em conta os interesses a atender pela norma de conflito, pode-se
escolher a lei que como lei competente, aqula que esteja em melhores
condições para proteger “tráfico jurídico”, ou seja aquela que melhor
salvaguarde os interesses de terceiros e maior garantia ofereça a segurança
do “comércio jurídico”.

 Maior proximidade
A lei dos pais onde as coisas estão situadas (designadamente as coisas
imóveis) é a que está em melhor posição para indicar o respectivo regime.

Princípio da Maior Proximidade: Atende ao vínculo forte que existe


entre as coisas imóveis e o Estado onde estão situadas, daí que se mande

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
aplicar a lei do lugar da situação das mesmas, pois só assim fica
salvaguardada a exequibilidade prática das decisões judiciais

 Boa administração da justiça;


O interesse da boa administração da justiça pode levar muitas vezes, na
determinação da lei aplicavel, preferir o direito local ao direito estrangeiro,
em ordem a facilitar a tarefa dos tribunais locais, garantindo o maior acerto
das suas decisões, na medida em que é suposto que os juízes conheçam ou
podem determinar melhor o seu direito do que o de outras ordns jurídicas.

O juiz, para dar a solução mais adequada ao caso, deve aplicar a lei que
melhor conhece (a «lex fori»), pois assim ficaria facilitada
consideravelmente a tarefa do juiz e garantir-se-ia o acerto das decisões.
Por via deste princípio leva-se à maximização da aplicação da lei material
do foro.

Haverá boa administração da justiça pelo juiz nacional quando por via do
alargamento das normas de conflito o juiz terá de criar uma uniformização

 Validade dos negócios jurídicos (favor negoii);


Quando determinado negócio jurídico resulte por aplicação da respectiva
lei material, a sua invalidade, tendo em conta o princípio do “favor negotti”
há que lhe atribuir a respectiva validade porque há que tentar salvar o
negócio16[12] ex. art. 19º CC.

Implica que o juiz nacional tenderá a salvar o negócio para que não
sejam frustradas as expectativas das partes.

 Salvaguarda de direitos adquiridos.


Pode-se invocar a salvaguarda dos direitos adquiridos, quando se
verifique um “conflito móvel”, ou seja, quando uma relação jurídica
duradoira entra em contacto com duas ordens jurídicas diferentes, pelo
facto de ter mudado o conteúdo do “elemento de conexão” utilizado pela
norma de conflitos, na determinação da lei aplicavel.

Uma vez adquirido (o direito), adquirido está, este princípio assenta toda
a sua estrutura no direito romano (ex.: arts. 29º C.C.), uma vez capaz
sempre capaz. Aceita-se estas situações por segurança jurídica e
estabilidade.

A noção dos direitos adquiridos no direito internacional privadoi


significa, em síntese, a proteção e o reconhecimento dos direitos,
validamente adquiridos no estrangeiro, pela ordem jurídica interna.

Os direitos adquiridos no estrangeiro estão protegidos pelo direito


internacional privado, basicamente, por duas razões, a saber: pelo
interesse da continuidade e pela garantia da certeza de direito
(securité de droit).

Quanto ao interesse da continuidade, o direito internacional privado


da lex fori deve responder ainda a duas questões:

primeiro, se um direito no estrangeiro foi validamente adquirido, e,

16[12] Tem-se que fazer favorecer sempre o negócio jurídico.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
segundo, se existe o interesse de reconhecê-lo perante o direito interno ou
não.

Critérios para o reconhecimento de um direito adquirido:

a) o direito que é invocado no território de um Estado deve ser, em


virtude da legislação do país de origem, um direito adquirido, e não uma
simples expectativa;

b) é necessário que o direito invocado tenha sido validamente


adquirido, do ponto de vista internacional, isto é, tenha nascido de acordo
com a lei, internacionalmente, era competente para presidir à sua
formação;

c) o direito adquirido deve ser um direito privado, e não um direito


público”.

Ex: Artigo 29.º (Maioridade): “A mudança da lei pessoal não prejudica a


maioridade adquirida segundo a lei pessoal anterior”.

2.23. Aplicação da Norma de Direito Internacional Privado


no Tempo. Direito Internacional Intertemporal.

Toda lei tem sua força em determinado local e tempo. Em regra, uma
norma tem vigência até que outra a revogue. A sucessão de leis no tempo
traz diversos problemas para a aplicação do Direito, porquanto a norma
anterior incidiu sobre determinadas situações e, por outro lado, a lei
revogadora está pronta para incidir.

No conflito intertemporal, com efeito, entram em choque dois dogmas


jurídicos: de um lado a segurança das relações constituídas sobre a égide da
norma revogada que a novatio legis deve tentar preservar; por outro, a nova
lei traz, em princípio, a evolução das necessidades sociais, o progresso, a
visão moderna. Assim, determinados doutrinadores e a própria
jurisprudência ora pendem para um lado, ora primam pelo outro. A
solução, contudo, deve ser aristotélica, buscando um meiotermo para que
não haja nem o apego retrógrado ao passado, tampouco o desfazimento do
que já foi constituído.

A grande celeuma do direito intertemporal está no próprio sentido jurídico


de algumas palavras. O centro da questão envolve a palavra "retroatividade"
que, muito embora possa ter etimologicamente um sentido, é, diversas
vezes, empregado em outro. Retro significa "para trás"; logo, retroagir seria
o agir no passado. Todavia, embora entendamos que assim seja, a doutrina
utiliza-o em outro significado. Para esta corrente, retroagir é, pois, atingir
determinados direitos já constituídos pela lei anterior, muito embora a
atuação da nova lei se dê a partir de sua entrada em vigor. Retroagir, neste
caso, seria o agir da lei nova, seja no passado, no presente ou no futuro,
infringindo determinados direitos subjetivos.

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2.23.1. Finalidade do Direito Intertemporal ou


transitório

A finalidade do direito intertemporal ou transitório é definir a partir


de que data entra em vigor uma nova lei, e como irá relacionar-se com
factos encerrados e relações jurídicas contínuas, iniciadas antes de sua
entrada em vigor.

2.23.2. O DIP e os conflitos intertemporais

Enquanto o direito internacional privado regula um conflito


interespacial, ou seja, determina quando o direito interno ou um
determinado direito estrangeiro é aplicável a uma relação jurídica de direito
privado com conexão internacional, o direito intertemporal ou direito
transitório leva em consideração o critério de tempo, determinando
quando será aplicável uma nova lei ou uma lei antiga a um facto
juridicamente relevante. Porém, ambos os direitos indicam, meramente, o
direito aplicável a um conflito de leis, quer no espaço, quer no tempo, nunca
solucionando o conflito de leis no espaço.

O direito internacional privado e o direito intertemporal ou transitório


estão entrelaçados sob vários aspectos. Assim, quando entram em vigor
novas regras de direito internacional privado, faz-se necessário definir se já
são aplicáveis as novas ou se permanecem em vigor as antigas regras
jurídicas do direito internacional privado da “lex fori”17, referentes a uma
causa com conexão internacional. A resposta à questão é dada pelo direito
intertemporal ou transitório.

Quando as próprias normas de direito internacional privado não


estipularem regras especiais em relação ao direito intertem- poral ou
transitório, predomina na doutrina o entendimento, inclusive em
Moçambique, de que o efeito no tempo da alteração de uma regra de direito
internacional privado será determinado pelo sistema ao qual referida regra
pertence. Vale dizer serem aplicáveis à transitoriedade das normas de
direito internacional privado, nesses casos, as regras do direito comum da
lex fori. Essa regra é a geralmente adoptada e, tendo sido objeto de uma
resolução específica do Instituto de Direito Internacional.

Por derradeiro, o juiz deverá aplicar o direito intertemporal ou transitório


estrangeiro quando as normas de direito internacional privado da lex fori
designarem, como sendo o aplicável, um determinado direito estrangeiro.

Nesses casos, o direito intertemporal ou transitório da lex fori será


aplicado, tão-somente, quando o conteúdo do direito es- trangeiro
correspondente não for verificável ou quando a aplicação desse direito
violar a ordem pública no caso concreto.

17
Lei do lugar onde o caso é discutido ou analisado.

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2.23.3. Conflito espacial de normas temporais

O outro fenômeno - conflito espacial de normas temporais ocorre quando


a regra de D.I.P. do foro indica a aplicação de determinado direito
estrangeiro e neste vamos encontrar uma alteração temporal no direito
interno, isto é, uma lei antiga modificada por lei mais recente, vigendo lá
regra de Direito Transitório que manda atender à lei nova sobre fato
ocorrido na vigência da lei anterior. Como proceder - aceitar o direito
estrangeiro como um todo, inclusive sua regra retroativa, ou aplicar o
direito estrangeiro material anterior, em respeito à regra do Direito
Intertemporal do foro que determina a aplicação da norma vigente à
época da ocorrência do fato?
A resposta da Doutrina é de que deverá ser respeitada a regra de Direito
Intertemporal do sistema jurídico declarado competente, ou seja, o
Direito Transitório interno do Estado estrangeiro. Como dizem
Loussouarn e Bourelii o Direito Intertemporal é uma questão interna,
devendo-se entender que a opção do D.I.P. por um determinado sistema
jurídico tem efeitos amplos, incluindo-se nela o direito transitório do
sistema jurídico indicado.
DIP e o Direito Intertemporal ou transitório:

Aqui temos de ter em atenção que ambas as normas visam resolver um


conflito de leis, sendo formadas por normas secundárias ou de segundo
grau. Porem enquanto o DIP tem por objecto dirimir o conflito de leis no
espaço, o Dto. Transitório visa dirimir um conjunto de leis no tempo.
Assim podemos ver que enquanto o problema do DIP decorre do facto de
serem chamas simultâneamente á regulamentação de uma mesma situação,
leis provenientes de diferentes espaços legislativos (As leis dos estados que
se achem capazes de resolver determinado conflito).

O Problema do Direito Intertemporal ou transitório decorre do facto


de no âmbito do mm espaço normativo poderem concorrer, no mesmo
período temporal, com o intuito de regulamentacão de um certo litigio,
varias normas diferentes, a Lei nova e a Lei antiga. Sendo importante saber
nesta situação, qual das leis estaduais em confronto com a situação é a
competente para a regular.

Podemos ver que as várias normas vêm tomar lugar de outras normas,
interferindo assim em relações jurídicas pré existentes, como é o caso que
decorre de uma sucessão de leis, colocando-se portanto, o problema de
determinar se essa relação jurídica deverá ser disciplinada pela lei nova ou
pela lei existente á data da sua constituição.

2.23.4. Conflito móvel. Sucessão no tempo das regras


de conflito

Este é um problema que é suscitado pela existência de uma alteração dos


factores de conexão; consistindo em saber, no caso de estarmos perante
alterações sucessivas do factor de conexão, qual dos momentos é que se
deve aplicar, ou seja, qual o momento relevante para a determinação da lei
aplicável.

Aqui põe-se a questão de saber qual a regra de conflitos deve ser aplicada
(se a lei nova se a lei antiga), quando entre o momento em que a questão é

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
constituída e o momento em que a questão é julgada, ocorre uma sucessão
de conflitos.

2.23.5. Solução dos conflitos móveis

Como resposta a esta questão temos de ver a teoria de ZIETELMANN, autor


alemão que defendia que ao problema da sucessão temporal, deve aplicar-
se as regras do Direito transitório comuns do estado do foro em causa.
Neste âmbito temos de ter em conta o Princípio da Irretroactividade, que
defende que em regra as leis só valem para o futuro, justificando-se este
facto pela protecção das expectativas dos particulares.

2.23.6. Exemplos de alguns conflitos Móveis

Ex: Quando as partes alteram a sua nacionalidade.


Quando as partes mudam o seu domicílio.
Quando as partes mudam a localização de uma coisa móvel.
Desde logo, quando estamos no domínio das Convenções Antenupciais e do
Regime de Bens, o conflito móvel é resolvido pelo próprio legislador. Art.
53º C.C.

Caso não esteja perante nenhum dos casos previstos no Art. 53º. C. C, então
o Prof. Ferrer Correia defende que é a actual lei pessoal que é aplicada, ou
seja, a lei relevante para resolução dos problemas do Conflito Móvel, é a lei
pessoal de cada uma das partes, pelo que, a lei aplicável é a lei vigente no
momento em que a situação esta a ser apreciada.

2.23.7. Conflitos móveis surgidos no Âmbito


territorial

Estes tipos de conflito resultam do facto de ter existido uma alteração na


localização do bem móvel; pondo-se aqui a questão de saber se se aplica a
lei da localização do imóvel á data da situação, ou a lei do local onde o
imóvel se encontra actualmente.
Segundo o Prof. Ferrer Correia, deve nestas situações, aplicar-se a lei do
local onde o imóvel actualmente se encontra.

Actividades

A seguir, estão as actividades correspondentes a esta primeira unidade.


Resolva os exercícios propostos em cada uma e verifique se acertou,
conferindo a sua resposta na Chave de Correcção no final do presente Guia
de Estudo.

1. Explique a noção de norma de Direito Internacional Privado


2. Estabeleça a diferença entre norma de Direito Internacional
Privado e norma de conflito;
3. Explique a função das normas de conflito;
4. Identifique os tipos de elementos de conexão;

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

5. Identifique os principais elementos de conexão, enunciados em


latim;
6. Identifique os elementos de conexão que regulam o estatuto
pessoal;
7. Explique as vantagens e desvantagens do uso da nacionalidade e
domicílio, como elementos de conexão que regulam o estatuto
pessoal;
8. Identifique os elementos estruturais das normas de conflito dos
artigos 25º; 38º; 41; 43º; 48, º1, 48, nº2, 49º, 50º e 62º.
9. Identifique e explique os interesses a aatender pelas normas de
conflito;
10. Explique o que entende por direito intertemporal ou
transitório;
11. Explique o que entende por conflito móvel no Direito
Internacional Privado.

REFERÊNCIAS

Leituras Obrigatórias
 VALLADÃO, Haroldo, "Direito Internacional Privado", v. 1, Ed. Freitas Bastos, 4ª ed., 1974.
 https://pt.wikipedia.org/wiki/Direito_internacional_privado

A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para


a compreensão de nossos estudos e para a realização das actividades
propostas para esta primeira unidade de estudo. Portanto, não deixe de
estudá-los.

 PROENÇA, José João Gonçalves: “Direito Internacional Privado – Parte


Geral”, 1ª Edição, Editora: Brochado, Universidade de Lusíada, Lisboa,
1992.

 Legislação Principal
 Decreto-Lei nº 47344 de 25 de Novembro de 1966 (Código Civil)

Leituras Complementares
 MACHADO, João Baptista: “Lições de Direito Internacional Privado”.
Edit. Almedina, Coimbra, 1988

 Legislação Complementar
 Dec. Lei nº 2/2009 de 24 de Abril (BR nº 016, I Série, 3º Supl. de 24 de
Abril de 2009, pág. 86 – (altera alguns artigos do Código Comercial de
Moçambique - Decreto-Lei nº 2/2005 de 27 de Dezembro de 2005);

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

 Decreto 1/2006 de 3 de Maio (Cria o registo de Entidades Legais e aprova


o seu regulamento. BR nº 018, I Série, de 03 de Maio de 2006, pág. 147 a
160. Revoga o Decreto-Lei nº42 42644 e o decreto nº42 645, ambos de 14
de Novembro de 1959);

UNIDADE TEMÁTICA 3: FRAUDE A LEI

Objectivos
No fim da disciplina os estudantes deverão ser capazes de:

 Compreender a noção da Fraude a lei;


 Conhecer os elementos da Fraude a Lei;
 Conhecer os pressupostos da Fraude a Lei;
 Compreender as consequências da Fraude a Lei;
 Compreender as caracteristicas da Fraude a Lei;
 Conhercer a regulaçao jurídica da Fraude a Lei e a sua regulaçao
jurídica do ordenamento jurídico Moçambicano;
 Conhecer a origem histórica do instituto da fraude a lei;
 Compreender a relação entre Fraude à Lei e Ordem Públiaca.

Abordagens dos conteúdos da unidade


 Abordagem dos conteúdos da unidade

3. A Fraude a Lei

1.1. Noção de fraude a Lei


A Fraude à Lei18 ocorre quando os contratantes, valendo-se da
autonomia da vontade, por meio de um artifício, fogem da lei mais severa,
que seria a correcta para o contrato, e se utilizam de uma lei mais benéfica,
que permite o que aquela proíbe.

A Fraude à Lei na esfera internacional consiste na conversão pelas


partes das características de um tipo legal, contrariando sua teleologia, de
modo a tornar actos jurídicos em negócios jurídicos, aplicando um direito
civil que difere do direito civil coactivo, que seria o aplicável com
anterioridade legítima.

A Fraude à Lei ocorre, normalmente, da seguinte forma: a parte


desloca, deliberadamente, a relação jurídica de seu local natural para outro
local, com o intuito exclusivo de retirar-se do campo de aplicação da lei
normalmente aplicável, e se incluir no campo de incidência da lei da
jurisdição por ela escolhida.

18 Irineu Strenger (2000, p. 167).

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
O negócio jurídico ou outro acto jurídico obtido mediante à Fraude à Lei,
não será reconhecido pelo direito interno, portanto, não surtirá efeitos
jurídicos no país, mas conforme o caso concreto, por vezes, pode o
magistrado valer-se da reação adequada não desconsiderando totalmente
devido a lex fori.

A fraude à lei19: é o uso de um tipo legal (negócio jurídico) em lugar de


outro, para provocar as consequências jurídicas daquele em vez dos efeitos
próprios deste. (no âmbito do conflito de leis no espaço)

A fraude à lei consiste em defraudar o imperativo de uma norma material


de certo ordenamento jurídico através da utilização como instrumento de
uma norma de conflitos, ou seja, fraude à lei em Direito Internacional
Privado, não é fraude de uma norma, a norma é apenas um mecanismo de
fraude.

A Fraude à Lei é procedimento pelo qual o particular utiliza um tipo legal


em vez de outro a fim de provocar a consequência jurídica pretendida; a
pessoa manipula um tipo legal com vista a obter uma consequência jurídica

Para o Direito Internacional Privado a Fraude à Lei é quando os


interessados no instituto de escaparem à aplicação de um preceito material
de certa legislação “criam” um elemento de conexão que tornará aplicável
uma outra ordem jurídica mais favorável aos seus intentos, há assim uma
norma instrumental de fraude.

A fraude à lei traduz-se em defraudar o imperativo de uma norma material


de certo ordenamento jurídico através da utilização como instrumento de
uma norma de conflitos, ou seja, fraude à lei em Direito Internacional
Privado, não é fraude de uma norma, a norma é apenas um mecanismo de
fraude.

A Fraude à Lei ocorre quando os contratantes, valendo-se da autonomia


da vontade, por meio de um artifício, fogem da lei mais severa, que seria a
correcta para o contrato, e se utilizam de uma lei mais benéfica, que
permite o que aquela proíbe. De acordo com Irineu Strenger (2000, p. 167).

A Fraude à Lei na esfera internacional consiste na conversão pelas partes


das características de um tipo legal, contrariando sua teleologia, de modo a
tornar actos jurídicos em negócios jurídicos, aplicando um direito civil que
difere do direito civil coactivo, que seria o aplicável com anterioridade
legítima.

Ocorre, normalmente, da seguinte forma: a parte desloca,


deliberadamente, a relação jurídica de seu local natural para outro local,
com o intuito exclusivo de retirar-se do campo de aplicação da lei
normalmente aplicável, e se incluir no campo de incidência da lei da
jurisdição por ela escolhida.

No Direito Internacional Privado, a fraude à lei consiste na adaptação


fraudulenta à norma do direito local, através de criação de determinada

Proença, José João Gonçalves: “Direito Internacional Privado – Parte Geral”, 1ª Edição, Editora:
19

Brochado, Universidade de Lusíada, Lisboa, 1992. “. pag. 219.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
circunstância de conexão favorável ao indivíduo e à prática do acto que ele
pretende.
Estamos perante uma Fraude a Lei quando, uma pessoa esteja pretendendo
um fim ilícito ou não permitido no direito local;
Pessoa pretenda tal fim por meio de uma fraude, representada pela
providência de se adaptar, com dolo, à norma de DIPr. O dolo verifica-se
com a mudança repentina para a aquisição da condição mais favorável.
Trata-se de um critério temporal para se presumir o dolo.

A Fraude à Lei verrifica-se quando uma pessoa pretendende um fim


ilícito ou não permitido no direito local; e para se lograr o que não é
permitido comete-se uma fraude, representada pela providência de se
adaptar, com dolo, à norma de DIP. O dolo verifica-se com a mudança
repentina para a aquisição da condição mais favorável.
Segundo Jacob Dolinger (2007, p. 54-55), a regra de direito internacional
privado não será seguida quando a relação jurídica, embora se ajuste a um
dos elementos de conexão para a escolha da lei aplicável, esta conexão
tenha sido artificialmente criada com o propósito de subtrair-se à lei
originalmente aplicável. O princípio anula o funcionamento da regra de
conexão.

Prof. Manuel de Andrade, a Fraude à Lei é ‘’ procedimento pelo qual o


particular utiliza um tipo legal em vez de outro a fim de provocar a
consequência jurídica pretendida; a pessoa manipula um tipo legal com
vista a obter uma consequência jurídica.’’

A Fraude à Lei (fraus legis): é uma forma de abuso de direito, ou seja,


o agente altera o elemento conexão para beneficiar-se da lei que lhe é mais
favorável, em detrimento daquela que seria realmente aplicável.

A Fraude à Lei consiste em defraudar o imperativo de uma norma


material de certo ordenamento jurídico através da utilização como
instrumento de uma norma de conflitos, ou seja, fraude à lei em Direito
Internacional Privado, não é fraude de uma norma, a norma é apenas um
mecanismo de fraude.

O indivíduo utiliza-se de um conflito de normas de deferentes países para


encontrar uma brecha que possibilite a fraude. Ele ‘’cria’’ um elemento
favorável que possa se moldar a legislação em questão, como uma analogia.

Sobre a pretensão ilícita do indivíduo, tem-se o entendimento do mestre de


Buenos Aires, Werner Goldschmidt, “a Fraude à Lei consiste em um
duplo abuso de direito; a pessoa fraudadora abusa de um direito para burlar
a finalidade de outra norma jurídica”.

Em termos mais simples, a Fraude à Lei consiste em abusar de uma


faculdade para fugir da lei originariamente competente – uma norma
protegida pela ordem pública no plano interno.

Já na definição do Prof. Manuel de Andrade, a Fraude à Lei é ‘’


procedimento pelo qual o particular utiliza um tipo legal em vez de outro a
fim de provocar a consequência jurídica pretendida; a pessoa manipula um
tipo legal com vista a obter uma consequência jurídica.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
A fraude à lei caracteriza-se pela utilização das regras de conflito para
obtenção de direito que as regras substanciais territoriais não autorizam.

É a utilização voluntária de regras de conflito para evitar as conseqüências


das disposições de fundo.

Dá-se Fraude à Lei no Direito Internacional Privado quando o agente,


artificialmente, altera o elemento de conexão que indicaria a lei aplicável.
Por exemplo: se em matéria de estatuto pessoal um indivíduo promover por
acto intencional e programado a mudança de sua nacionalidade ou de seu
domicílio, com o propósito de colocar-se sob a incidência de uma lei diversa
da que seria originariamente aplicável e visando fugir a uma proibição
desta, terá agido com fraude à lei.

É princípio moral que os meios lícitos não justificam os fins ilícitos. Na


fraude à lei em Direito Internacional Privado condena-se a lícita alteração
de status, da nacionalidade ou do domicílio, se realizada para alcançar um
fim ilícito; a fuga da lei normalmente aplicável.

Os negócios jurídicos, fundados em condutas fraudulentas, são


obstacularizados em razão da própria fraude, tanto no plano interno como
no externo. Trata-se de um limitador no uso do Direito Internacional, desde
que se verifiquem condutas típicas.

Quando se declara inaplicável a lei estrangeira por ter ocorrido fraude à lei,
isto não afeta apenas situações em que a lei estrangeira invocada seja
chocante à ordem pública do foro, para isto o Princípio da Ordem Pública
seria suficiente, não havendo razão para se reconhecer a outra teoria.
Porém, abrange todas as situações em que as partes não poderiam, no plano
interno, contratar de forma contrária ao disposto na lei.

A Fraude à Lei consiste em defraudar o imperativo de uma norma


material de certo ordenamento jurídico através da utilização como
instrumento de uma norma de conflitos, ou seja, fraude à lei em Direito
Internacional Privado, não é fraude de uma norma, a norma é apenas um
mecanismo de fraude.

Fraude à Lei é aquele tipo de situação onde o agente, artificiosamente,


altera o elemento de conexão que indicaria a lei aplicável (v.g., uma
mudança de domicílio programada). Consiste no abuso de uma faculdade
para fugir da lei originalmente competente. Ou seja, a pessoa fraudadora
abusa de um direito para burlar a finalidade de outra norma jurídica.
Envolve a questão dos chamados “paraísos fiscais”. Situações de fraude,
onde o agente busca alcançar fins ilícitos por meio de instrumentos lícitos.
Dispomos, no procedimento falimentar, das ações revocatórias, cabíveis
para os devedores que tiverem a intenção de fraudar credores.
A cada um é lícito mudar de nacionalidade, mas, se esta mudança tiver
como finalidade fugir dos rigores da lei esta será caracterizada abuso de
direito. A dificuldade na teoria da fraude á lei é que ela está repleta de
subjetividade, pois deveremos analisar a intenção do suposto fraudador no
caso concreto.

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Ocorre, normalmente, da seguinte forma: a parte desloca,
deliberadamente, a relação jurídica de seu local natural para outro local,
com o intuito exclusivo de retirar-se do campo de aplicação da lei
normalmente aplicável, e se incluir no campo de incidência da lei da
jurisdição por ela escolhida.

1.2. Caracteristicas da Fraude à Lei


a) Pretende-se evitar a aplicação de determinadas normas substantivas ou
materiais do direito interno ou do direito estrangeiro, cujas consequências
são legais, porém indesejadas.

b) Planea-se uma manobra legal extraordinária para obter o resultado


desejado. P. ex. um divórcio que não é possível nos pais de origem.

c) Tem como objectivo é evitar a aplicação do direito substantivo ou material


interno, transferindo actividades e praticando actos para o exterior, como
pode ocorrer ainda, a escolha do foro favorável no estrangeiro com a mesma
intenção.

d) A fraude à lei caracteriza-se pela utilização das regras de conflito para


obtenção de direito que as regras substanciais territoriais não autorizam. É
a utilização voluntária de regras de conflito para evitar as conseqüências
das disposições de fundo. Na fraude à lei a doutrina reconhece um elemento
objetivo – Corpus – que é o efeito produzido e o animus (intenção).

1.3. Elementos da Fraude a Lei


 Norma instrumento: a anova lei material, a sombra da qual os
fraudantes se pretende acolher, Ex: a lei brasileira.
 Norma fraudada: lei material afastada, Ex: a lei dos Emiratos
Arabes Unidos.
 Actividade Fraudatória: acto ou actividade desenvolvida ao
abrigo da nova lei, Ex: o casal viajou ao Brasil, mudou de
nacionalidade com objectivo de abrir uma fábrica proibida no país
de residência.
 Intenção fraudatória: Consciência de que a actividade praticada
á sombra da nova lei, não será consentida pela lei substituida. Ex: o
casal estava consciente de que o acto que pretendiam realizar é
proibido nos Emiratos Arabes Unidos.

1.4. Elementos objetivos e subjetivos da Fraude a Lei:


Elemento objetivo: consubstancia-se na utilização de uma regra
jurídica com a finalidade de assegurar o resultado que a norma
defraudada não permite. Para a consumação do elemento objetivo as
partes terão que utilizar ou uma fraude relevante ou uma conexão
falhada.
Elemento subjectivo: resulta da intenção das partes, é um
elemento psicológico e resume-se à mera intencionalidade que as
partes demonstravam.

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1.5. Componentes da Fraude à Lei:


A abuso de Direito e à Ordem Pública: o abuso de algum direito para se por
sob a proteção de uma lei a fim de fugir à ordem pública da lei
originariamente competente.

1.6. Exemplos de Fraude a Lei

Fraude à lei: o indivíduo procura, na própria jurisdição em que se encontra,


adaptar-se à norma legal para obter direito que não teria.

Ex: Albachir o (Moçambicano), com 17 anos de idade, prertende contrair


matrimónio em Maputo, com a Saudita (Samara), também de 17 anos. Com
a lei moçambicana considera que a capacidade civil é adquirida aos 18 anos,
e por sua vez, o artigo 49º do Código Civil, estabelece que a capacidade civil
é regulada pela respectiva lei pessoal, o Tiago viaja para Arábia Saudita com
o intuito de adquirir a nacionalidade saudita, com o objectivo de se
beneficiar da lei pessoal daquele país, que permite o casamento aos
menores de 17 anos, e consequentemente voltar para Moçambique e
contrair matrimónio com Samara.

Durante os anos em que o Ditador Augusto Pinochet esteve no poder na


República do Chile, não era permitido o divórcio, pelo que os chilenos que
pretendiam dissolver o matrimónio deslocavam-se ao exterior para
materializarem a sua pretençao, contudo, o mesmo divórcio não era
reconhecido no Chile, pelo facto de ter sido obtido mediante a Fraude a Lei.

1.7. Pressupostos da Fraude a Lei:


a) O seu objeto é constituído pela norma de conflitos (ou parte da norma)
que manda aplicar o direito material a que o fraudante pretende evadir-se,
contanto que seja afectado o fim da norma material a cuja aplicação o
fraudante quis escapar (norma fraudada);

b) Utilização de uma regra jurídica, como instrumento na fraude (norma


fraudulenta/instrumento), a fim de assegurar o resultado que a norma
fraudada não permite;

c) Emprego de meios eficazes para a consecução do fim visado pelas partes;

d) Intenção fraudatória.

1.8. Regulaçao Juridica da fraude a Lei em


Mocambique

1.8.1. Consequências da Fraude à Lei segundo a doutrina e o


Direito Positivo Moçambicano.

A fraude à lei constitui abuso de direito e não é admitida perante o Direito


Internacional Privado. Ao valer-se dela, o indivíduo, busca, na própria
jurisdição, adaptar-se à norma legal para obter fim ilícito ou contrário ao
direito local.

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Consequências desta, no ordenamento jurídico e na doutrina aceite em
Moçambique

Não se aplicará como direito estrangeiro o direito de um Estado, quando


artificiosamente se tenham burlado os princípios fundamentais da lei de
outro EstadoParte”.

A fraude à lei deve ser considerada tão somente quando o objetivo seja
evitar a aplicação de normas cogentes e imperativas, principalmente no
plano interno e um pouco mais raro no plano internacional. Portanto, a
chave da questão é a intenção dos agentes de mascarar a situação, de forma
a dar aparência de cunho correto, tentando contabilizar a vantagem
esperada.

A sanção mais grave da lei contra uma fraude é o não reconhecimento pelo
direito interno de uma sentença em negócio jurídico mediante a prática da
fraus legis e por via de consequência, não surtirá quaisquer efeitos jurídicos
no país. Por outro lado, sempre cabe ao juiz ponderar os interesses
conflitantes no caso concreto. Assim sendo, a reação adequada contra a
fraude à lei nem sempre será a desconsideração total pela lex fori.

Art.º 21º - Fraude à lei.20 “Na aplicação das normas de conflitos são irrelevantes
as situações de facto ou de direito criadas com o intuito fraudulento de evitar a
aplicabilidade da lei que, noutras circunstâncias seria competente”.

1.9. Surgimento Histórico do Instituto da Fraude a Lei


Como surgiu a Fraude a lei (em termos históricos)

Caso Baufremont-Bibesco
A condessa de Carman-Chimay, Henriette Valentine de Riquet, de
nacionalidade belga, casou-se com o príncipe francês de Bauffremont. A
belga adquiriu, com o casamento, a nacionalidade francesa. Posteriormente
separou-se, na França, onde, naquela época, não era permitido o divórcio.
Pelo fato de não estar o vínculo matrimonial totalmente dissolvido, a
condessa não poderia se casar novamente.

Como a lei francesa não admitia o divórcio, a condesa de Charaman Chimay


se translada a Alemanha, adquiriu a nacionalidade daquele pais (que sim
aceitava o divórcio), tendo em vista que a lei alemã de Direito Internacional
Privado mandava aplica a lei da nacionalidade e a lei material daquele país
considerava divorciado os católicos judicialmente separado de corpos, e
invocando sua nacionalidade alemã obtém do tribunal alemão a conversão
de sua separação de facto em divórcio, e contrai novo casamento em Berlim,
no Ducado de Saxe-Altemboug, com o príncipe rumano Bibescu, obtendo a
nacionalidade Alemã.

20
Decreto-Lei n.º 47344/66, de 25 de Novembro (Código Civil)

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Fundo do caso

Passado o tempo o príncipe Bibiescu é destinado a França, pelo que ela


regressa a esse país como a "princesa Bibescu". O duque de Bauffremont
solicita ante os tribunais franceses que declarem a bigamia da ex "princesa
Bauffremont" atacando, a nacionalidade alemã da princesa, a sentença de
divórcio obtida na Alemanha e a validade do segundo casal, argumentando
que a mudança de nacionalidade teve por motivo unicamente acolher à lei
alemã (que a beneficiava) e defraudar à lei francesa (que a prejudicava).

Decisão

A Corte de Casacão da França em sentença do 18 de Março de 1878 resolveu


não declarar nula a naturalização alemã, pelo considerar uma questão
reservada à soberania dos Estados nacionais, mas dá lugar às pretensões de
Bauffremont, anulando o casamento contraído com o Príncipe Bibescu,
assinalando que não era válido na França.

Houve Conexão Fraudulenta?

Sim houve conexão fraudulenta, com relação ao direito francês, na forma de


evasão de direito, pois ela fugiu do direito francês ao se casar em Berlim.
Com relação à Alemanha houve fraude à lei, pois ela não queria a
nacionalidade alemã, mas sim queria se beneficiar dessa condição, a fim de
se casar novamente.

A decisão do tribunal está correta? Não, pois o Estado não pode anular
actos praticados em outro. Pode tão somente não reconhecer o acto
praticado: essa é a conseqüência prática da evasão de direitos. Em
contrapartida, Bauffremont deveria ter intentado uma acção na Alemanha e
a conseqüuncia da fraude à lei, com vista a anulação do casamento.

1.10. Fraude à Lei e a Ordem Pública Internacional

Seguindo-se ao princípio da Ordem Pública, considerado como decorrência


desse, há outro princípio do Direito Internacional Privado que merece
especial atenção, através do qual é restringida a aplicação da lei indicada
pelas regras de conexão, neutralizando os efeitos causados pela Fraude à
Lei.

No plano interno, o Princípio da Ordem Pública tem um campo de ação


maior, vedando que as partes pactuem contra normas aceitas como partes
integrantes desta. Já no plano internacional, a Ordem Pública age
impedindo a aplicação de norma de direito estrangeiro que esteja em grave
choque com o ordenamento jurídico do foro. Assim, nem tudo que é vedado
às partes pactuar será rejeitado se contido em regra de direito estrangeiro.
Num terceiro plano a Ordem Pública impede ainda, o reconhecimento de
direitos adquiridos no exterior, o que só ocorrerá quando esses chocam aos
princípios jurídicos e morais do foro de maneira extremamente grave.

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Actividades

A seguir, estão as actividades correspondentes a esta primeira unidade.


Resolva os exercícios propostos em cada uma e verifique se acertou,
conferindo a sua resposta na Chave de Correcção no final do presente Guia
de Estudo.

1. Explique o que entende por Fraude à Lei;


2. Identifique os elementos da Fraude à Lei;
3. Identifique os pressupostos da Fraude à Lei;
4. Explique as consequências da Fraude à Lei;
5. Explique as caracteristicas da Fraude à Lei;
6. Explique a regulaçao jurídica da Fraude à Lei em Moçambique;
7. Explique a relaçao entre Fraude à Lei e a Ordem Pública;

REFERÊNCIAS

Leituras Obrigatórias

A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para a


compreensão de nossos estudos e para a realização das actividades propostas para
esta primeira unidade de estudo. Portanto, não deixe de estudá-los.

 PROENÇA, José João Gonçalves: “Direito Internacional Privado – Parte


Geral”, 1ª Edição, Editora: Brochado, Universidade de Lusíada, Lisboa,
1992.

 Legislação Principal
 Decreto-Lei nº 47344 de 25 de Novembro de 1966 (Código Civil)

Leituras Complementares
 MACHADO, João Baptista: “Lições de Direito Internacional Privado”.
Edit. Almedina, Coimbra, 1988

 Legislação Complementar
 Dec. Lei nº 2/2009 de 24 de Abril (BR nº 016, I Série, 3º Supl. de 24 de
Abril de 2009, pág. 86 – (altera alguns artigos do Código Comercial de
Moçambique - Decreto-Lei nº 2/2005 de 27 de Dezembro de 2005);

 Decreto 1/2006 de 3 de Maio (Cria o registo de Entidades Legais e aprova


o seu regulamento. BR nº 018, I Série, de 03 de Maio de 2006, pág. 147 a
160. Revoga o Decreto-Lei nº42 42644 e o decreto nº42 645, ambos de 14
de Novembro de 1959);

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U NID A D E T E MÁ TI C A 4: O D I P E A P L I C A Ç Ã O D O D I R E IT O
MA TER IA L ES TR A N GE IR O

UNIDADE TEMÁTICA EM CONSTRUÇÃO

Objectivos

No fim desta unidade voce deverá ser capaz de:

 Compreender a noção de Direito Material Estrangeiro;


 Compreender as vicissitudes da aplicação do Direito Material
Estrangeiro;
 Compreender a noção de ordenamentos plurislegislativos;
 Compreender a noção de conflitos inter-locais e conflitos inter-
pessoais;
 Conhecer as soluções doutrinais e legais dos conflitos interlocais e
interpessoais;
 Conhecer as fontes do Direito Material Estrangeiro;
 Compreender os mecanismos de interpretação do Direito Material
Estrangeiro;
 Conhecer os sistemas de direito em relação a aplicação do direito
estrangeiro;
 Compreender as formas de interpretação do direito material
estrangeiro;
 Conhecer as fontes do direito material estrangeiro;
 Conhecer as excepções da aplicação do direito material estrangeiro;
 Compreender a noção de excepção de interesse nacional, como
excepção do interesse nacional, bem como a sua regulação jurídica em
Moçambique;
 Compreender a noção de reconhecimento e homologação da sentença
estrangeira, bem como os seus requisitos legais na República de
Moçambique.

Abordagens dos conteúdos da unidade

2. O Direito Material Estrangeiro

2.1. Aplicação do Direito Material Estrangeiro

2.2. Ordenamentos Plurilegislativos

2.2.1. Noção de ordenamentos plurilesgislativos

Estamos perante ordenamentos plurilegislativos, quando no mesmo Estado


coexistem vários sistemas de Direito Internacional Privado, concorrendo
para a existencia de conflitos inter-locais, onde cada território rege-se pelas
respectivas normas jurídicas; ou conflitos inter-pessoais, onde cada grupo
de pessoas rege-se por um determinado sistema de normas jurídicas.

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2.2.2. Tipo de conflitos nos ordenamentos purilegislativos

 Conflitos inter-locais (base territorial). Noção


 Conflito inter-pessoal (base pessoal)

2.2.3. Conflitos inter-locais (base territorial). Noção

Quando, em razão da nacionalidade de certa pessoa, for competente a lei de


um Estado em que coexistam diferentes sistemas legislativos locais, é o
direito interno desse Estado que fixa em cada caso o sistema aplicável.

Nos sistemas em que predomina um sistema de normas (ordenamento


plurileslativo), cuja norma material mostrou-se competente para o
solucionar a questão (conflito de leis no espaço).

Ex: Conflito inter-locais - Um sistema de normas de conflito do


território (território integrante de uma federação, território ou região
autónoma) do país que tem um ordenamento plurileslativo.(normas
diferentes em cada estado federal ou regiao autonoma)

2.2.4. Conflito inter-pessoal (base pessoal)

Quando, no ambito do com flito de leis no espaço (DIP), for competente a


lei de um Estado em que coexistam diferentes sistemas legislativos de
acordo ao grupo em que as pessoas se encontram inseridos (Religião,
grupos étnico, etc.), é o direito interno desse Estado que fixa em cada caso o
sistema aplicável.

2.3. Soluções doutrinais dos conflitos emergentes nos


ordenamentos plurilegislativos
2.3.1. Solução de Conflitos inter-locais.

 Soluçao Doutrinal

 Se existe uma uniformidade no plano do direito inter-local


(DIP do país designado) e existir diferenças quanto ao Direito
material dos territórios que integram o país indicado, então será
aplicado o direito vigente no lugar onde se localiza o
conteúdo de conexão (o território ou Estado Federal do país
indicado).

 Se NÂO existe uma uniformidade no plano do direito


inter-local (DIP do país designado) e diferenças quanto ao
Direito material dos territórios que integram o país indicado, então
será aplicado o direito vigente no lugar.

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Ex: Direito material válido em todos os Estados Federais dos Estados
Unidos da América. Nova York, Boston, Califórnia, Virgínia, Florida, Texas;
etc.

Se por exemplo, a lei designada é dos Estados Unidos da América, e a


pessoa visada, lugar da realização ou execução, localização do bem, for
Califórnia, então aplica-se o Direito material da Califórnia.

Na falta de normas de direito inter-local, recorre-se ao


direito internacional privado do mesmo Estado; e, se este não
bastar, considera-se como lei pessoal do interessado a lei da sua residência
habitual.

Ex: Um norteamericano natural do Estado de Texas (E.U.A.), que pretende


contrair matrimónio em Maputo (Moçambique), com uma Moçambicana.
Analisado (julgado) o caso em Moçambique, nos termos da Lei do Foro de
conflito de Moçambique (Artigo. 49º do Código Civil), a capacidade civil da
Moçambicana será regulada pela Lei material Moçambicana (Lei da
Família - Lei 10/2004, de 25 de Agosto), entretanto o cidadão
norteamericano será regulado pela lei material norteamericana. Tendo em
conta que nos E.U.A., é um Estado Federal, pode existir um sistema único
de DIP e normas materiais, abrangentes para todo o território dos E.U.A.,
ou que em cada Estado Federal exista um sistema de DIP e as respectivas
normas materiais.

Neste exemplo em apreço, se discutido o caso de DIP no território


moçambicano, e indicar-se a norma material nrteamericana, deve-se
averiguar se existe naquele pais, um sistema único, ou em cada Estado
Federal, por sua vez, possui as respectivas regras. Por outro lado, deve-se
averiguar, se no sistema dos E.U.A., prevalece o sistema interlocal (para
todo território norte-americano), ou prevalecerá o sistema local de Texas
(um Estado Federal norte-americano

 Soluçao ligal dos conflitos inter-locais

O Direito positivo Moçambicano e a solução dos


conflitos inter-locais

Solução legal – Direito Positivo Moçambicano (Código Civil – artigo 20º)

Art.º 20º - Ordenamentos jurídicos plurilegislativos

1. Quando, em razão da nacionalidade de certa pessoa, for competente a lei de um Estado em


que coexistam diferentes sistemas legislativos locais, é o direito interno desse
Estado que fixa em cada caso o sistema aplicável.

2. Na falta de normas de direito interlocal, recorre-se ao direito internacional privado do mesmo


Estado; e, se este não bastar, considera-se como lei pessoal do interessado a lei da sua residência
habitual.

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2.3.2. Solução de Conflitos inter-pessoais.

 Soluçao Doutrinal: Nos conflitos plurilegislativos inter-locais


não existe um consenso, sobre uma soluçao doutrinal.
 Soluçao Legal:

Se a legislação competente constituir uma ordem jurídica


territorialmente unitária, mas nela vigorarem diversos sistemas de
normas para diferentes categorias de pessoas, observar-se-á sempre o
estabelecido nessa legislação quanto ao conflito de sistemas.

Art.º 20º, nº3 do Código Civil

“Se a legislação competente constituir uma ordem jurídica territorialmente unitária, mas nela
vigorarem diversos sistemas de normas para diferentes categorias de pessoas, observar-se-á
sempre o estabelecido nessa legislação quanto ao conflito de sistemas.”

2.4. Direito Material Estrangeiro aplicavel

 A norma material indicada pelo DIP do foro


 Normas contidas nos tratados (convenções internacionais) que o
estado seja parte signatária. (Ex. No âmbito do artigo 18º da CRM)
 Normas de comunidades supra-nacionais (Ex. Normas de DIP
aprovadas no âmbito da SADC)
 Normas provenientes de governos no exílio destinados aos exilados
e por estes respeitados.

2.5. Fontes do Direito Material Estrangeiro

 Normas consuetudinárias (costume) devem ser aceites, com valor


que lhes for reconhecido pelo ordenamento respectivo
 Normas de formação jurisprudencial, quando forem reconhecidas
pelo ordenamento designado
 A equidade, quando tiver valor pelo ordenamento competente

2.6. Interpretação do Direito Material Estrangeiro

 Deve-se aplicar a lei, do mesmo modo como se aplicaria naquele


país
 Observa-se a interpretação (jurisprudência) do país indicado,
excepto a imposição da ordem pública interna e internacional.
 Mesmo que as normas sejam idênticas a interpretação deve ser de
acordo a cada país.
 Em relação a interpretação, deve ser feita de acordo com a doutrina
dominante, das práticas correntes e princípios gerais.

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 Soluçao Doutrinal (Teorias sobre a interpretação do


Direito Material Estrangeiro):

 Interpretação tendo em conta a norma material do foro (normas do


pais onde o caso esta sendo julgado)
 Interpretação tendo em conta a norma material estrangeira
(normas do pais cuja norma material foi indicada pela norma de
conflito, para solucionar o conflito de leis no espaço)

A interpretação do Direito Material Estrangeiro, é feita em


conformidade com a doutrina e jurisprudência dominantes no país de
origem. Quem julga deve:

 Respeitar as regras estrangeiras sobre interpretação (Princípios


interpretativos)
 O juiz local deve, tanto quanto possível, observar escrupulosamente
a própria jurisprudência e doutrina estrangeira.
 O juiz local (moçambicano), só deve afastar-se da interpretação
usual no estado estrangeiro, quando tiver bons fundamentos que tal
interpretação não seria seguida pelos próprios tribunais
estrangeiros (da lei material indicada e aplicável).
 Se a norma material, idêntica, vigorar em outros países, a
interpretação deve ser feita de acordo ao ordenamento jurídico
indicado

 Solução legal dos conflitos inter-locais

A interpretação do Direito Material Estrangeiro, é feita em conformidade


com a lei do foro. Ex: Artigo 23º, nº1 (Interpretação e averiguação do
direito estrangeiro).

A lei estrangeira é interpretada dentro do sistema a que pertence e de


acordo com as regras interpretativas nele fixadas.

Art.º 23º - Interpretação e averiguação do direito estrangeiro

1. A lei estrangeira é interpretada dentro do sistema a que pertence e de


acordo com as regras interpretativas nele fixadas.

2. Na impossibilidade de averiguar o conteúdo da lei estrangeira aplicável,


recorrer-se-á à lei que for subsidiariamente competente, devendo adoptar-
se igual procedimento sempre que não for possível determinar os elementos
de facto ou de direito de que dependa a designação da lei aplicável.

2.7. Conhecimento e Prova do Direito Material


Estrangeiro

 A decisão (solução) tem em conta: os factos e direito aplicável

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 Factos: são alegados e provados


 Direito: deve ser conhecido pelo tribunal ou investigado

“A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele
vigorar, quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os
tribunais brasileiros provas que a lei brasileira desconheça.”. Assim,
embora submetida a questão à jurisdição brasileira, concernente à produção
das provas dos fatos ocorridos no país estrangeiro, deverão ser aplicadas as
normas estrangeiras, desde que não sejam inadmissíveis segundo a lei
moçambicabna.

Para decidir, o tribunal precisa de conhecer os factos e o Direito. Segundo o


princípio do dispositivo, os factos têm, em regra, de ser alegados e provados
pelas partes.
Já o Direito deve ser conhecido pelo tribunal, deve ser investigado e
determinado por sua própria iniciativa, em conformidade com o princípio da
oficiosidade (art. _____º CPC).
Poderá exigir-se o conhecimento oficioso do Direito estrangeiro? Em
Moçambique a questão é resolvida pelo art. 348º/1 e 2 do Código Civil. Há
um dever de colaboração das partes com o juiz. Não há um ónus da prova. O
incumprimento do dever de colaboração não tem por consequência o
indeferimento da pretensão, nem, necessariamente a aplicação do Direito
material português, embora possa contribuir para uma situação de
impossibilidade de determinar o conteúdo da lei estrangeira.
O Direito estrangeiro é de conhecimento oficioso, tem o estatuto de Direito.
Havendo real impossibilidade de determinar o conteúdo do Direito
estrangeiro aplicável, o nº 2 do art. 23º CC manda passar à conexão
subsidiária. Só na falta de conexão subsidiária é que de acordo com o nº3 do
art. 348º CC há lugar à aplicação do direito material português.

A impossibilidade de determinar o conteúdo do direito estrangeiro aplicável


pode ser parcial, quando o tribunal só obtenha conhecimento de certos
princípios gerais ou de algumas regras que não permitem resolver
inteiramente o caso. Nesta hipótese, entendo que o tribunal deve aplicar as
regras do Direito competente que conhece.

2.8. Sistemas sobre aplicação do Direito Material


Estrangeiro

 Sistema Anglo-saxónico
 Sistema Germânico

 Sistema Anglo-saxónico

 O Direito aplicável é visto como um FACTO e deve ser provado.

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 Sistema Germânico

 O tribunal aplica o direito material aplica-se de forma oficiosa,


apenas investiga-se o seu conteúdo.
 Em caso de necessidade pode ser provado.

Para corrente oposta, cabe unicamente às partes do processo alegar e provar


o direito estrangeiro. Nesse sentido, não incumbe ao juiz tomar iniciativa.

O direito moçambicano regula, expressamente, como o juiz deve aplicar o


direito estrangeiro, embora a doutrina seja controvertida a respeito. Barbosa
Moreira entende que, em primeiro lugar, cabe ao juiz verificar o conteúdo
do direito estrangeiro. Tal será, porém, a tarefa das partes quando elas
mesmas tomarem a iniciativa de invocar o direito estrangeiro no processo.
Para Luíz Cezar Ramos Pereira, o juiz poderá, de ofício, aplicar a lei
estrangeira, mesmo quando as partes não a invocarem no processo. Portanto,
se o magistrado não proceder de tal maneira, a parte que invocar a lei
estrangeira deverá provar o seu teor e vigência.

Assim é que a aplicação do direito estrangeiro não se faz por ato arbitrário
do juiz, mas em decorrência de mandamento legal da legislação interna.
Reputa-se a norma estrangeira com força coativa igual à brasileira.

As partes, em princípio, não podem renunciar ao seu império. Sua


obrigatoriedade é de tal natureza que o julgador tem o dever de aplicá-la
mesmo quando não invocada pelas partes.

2.9. Excepções à aplicação do direito material


estrangeiram na ordem jurídica local

 A ordem pública internacional do estado local


 A fraude à lei
 A excepção do interesse nacional
 O Reenvio

 Excepção do Interesse Nacional

1. Pressupostos
 A excepção só se aplica aos actos jurídicos praticados em território
moçambicano ou no território de outro Estado, onde vigora regra
idêntica à do artigo 28º do Código Civil moçambicano.
 Por indivíduo incapaz à face da sua lei pessoal.
 Indivíduo que, em princípio, seria capaz se fosse aplicável a lei
moçambicana (ou local)

2. Justificação

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 Evitar “perturbações” e “paralizações” provocadas pela necessidade
de constante averiguação do conteúdo da “lei pessoal” dos
estrangeiros.
 Defesa dos naturais interesses da “outra parte” (que negoceia, de
boa fé, com o estrangeiro “incapaz”, segundo a sua “lex patriae”)

3. Excepção (à aplicabilidade da lei local)


 Conhecimento pela “outra parte” da incapacidade do estrangeiro
 Negócios jurídicos unilaterais
 Negócios sobre imóveis situados no estrangeiro
 Negócios familiares ou sucessórios

2.10. Rconhecimento, Homologação e Execução


de sentença Estrangeira.

O reconhecimento e homologação de sentença judicial ou arbitral, constitui


um processo que visa conferir eficácia a um acto jurídico estrangeiro
(sentença judicial ou laudo arbitral).

Qualquer provimento, inclusive não judicial, proveniente de uma


autoridade estrangeira só terá eficácia em Moçambique após o seu
reconhecimento e sua respectiva homologação pelo Tribunal Supremo.

A homologação deve ser requerida necessariamente por um advogado ou


por meio de petição endereçada ao Tribunal Supremo.

Importa referir que nenhum Estado está obrigado a reconhecer no seu


território uma sentença proferida por juiz ou tribunal estrangeiro.

Na prática, porém, os Estados, em regra, reconhecem sentenças


estrangeiras, desde que cumpridos determinados requisitos legais na
espécieii.

Normalmente, não se reexamina o mérito ou o fundo da sentença


estrangeiras, isto é, não é objeto de cognição da autoridade judiciária
interna a aplicação correcta do direito pelo juiz alienígena. A sentença
estrangeira somente não será reconhecida quando ferir a ordem pública,
violando princípios fundamentais da ordem jurídica interna.

Neste capítulo examinaremos o reconhecimento das sentenças estrangeiras.

O termo possui afinidades com aquele da execução de sentenças


estrangeiras, porém, não devem ser confundidos. Quando o
reconhecimento de uma sentença estrangeira for impossível, o mesmo
ocorrerá com a sua execução.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

2.10.1. O reconhecimento e homologação da sentença


estrangeira no âmbito do Direito positivo em
Moçambique.

Em Moçambique, o Tribunal Supremo é competente para reconhecer a sentença


estrangeira. Entretanto, é preciso observar que para que uma sentença possa ser
reconhecida é necessário cumprir alguns requisitos, previstos no artigo 1096º do
Código de Processo Civil.

2.10.2. Sentenças Estrangeiras Susceptíveis de


Homologação

Toda e qualquer sentença estrangeira em sentido amplo, sentido material.


Sentenças de natureza civil, comercial, penal ou laboral podem ser
homologadas. Devem ser também homologadas as sentenças declaratórias,
constitutivas e condenatórias, inclusive de jurisdição voluntária. É sentença
em sentido lato, não só as emitidas pelo Poder Judicial, decisões de órgãos
judiciários, a exemplo de divórcios concedidos por autoridades do Poder
Executivo. Ex: Divórcio por mútuo acordo realizado junto das
conservatórias de Registo Civil.

Os laudos arbitrais internacionais também devem ser homologados. O que


determina se é laudo arbitral estrangeiro ou nacional e só o critério
geográfico.

2.10.3. Competência para homologar sentença


estrangeira:

Conforme art. 1095º do CPC: “Compete ao Tribunal Supremo

2.10.4. Requisitos para homologação: 1095 do CPC


2.10.5. Limites à homologação:

Não podem ser homologadas as sentenças estrangeiras contrárias a ordem


pública do Estado.

2.10.6. Juízo de delibação:

O Tribunal Supremo de Moçambique apenas analisa requisitos formais,


não entra no mérito, em regra. No juízo de delibação analisa-se somente a
forma, não havendo juízo de conveniência e oportunidade. É incabível o
exame do mérito da decisão estrangeira à qual se pretende atribuir efeitos
no território pátrio.

2.10.7. Processo para homologação:

O processo é de natureza jurisdicional, provoca acção de rito especial,


contencioso.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
É processo autónomo em relação ao originário, objectos diversos. A acção
estrangeira tem conteúdo material, enquanto a de homologação é
processual.

Legitimidade: cabe à parte interessada requerer a homologação junto do


Tribunal Supremo, sendo que a inicial deverá conter os requisitos do artigo
109º do CPC, e ser instruída com a certidão ou cópia autêntica do texto
integral da sentença estrangeira e com outros documentos indispensáveis,
devidamente traduzidos e autenticados;

A parte interessada será citada para, no prazo estabelecido pelo CPC,


contestar o pedido de homologação de sentença estrangeira ou intimada
para impugnar a carta rogatória.

O nosso sistema de revisão de sentenças estrangeiras inspira-se


basicamente no sistema de revisão meramente formal. O que significa que o
tribunal, em princípio, se limita a verificar se a sentença estrangeira satisfaz
a certos requisitos de forma, não conhecendo, pois, do fundo ou mérito da
causa. Ou seja, desde que o tribunal nacional se certifique de que tem
perante si uma verdadeira sentença estrangeira, deve reconhecer-lhe os
efeitos típicos das decisões judiciais, não fazendo sentido que proceda a um
novo julgamento da causa.21.

A excepção à referida regra só ocorre se a sentença tiver sido proferida


contra pessoa singular ou colectiva de nacionalidade moçambicana, caso
em que a impugnação também pode ser fundada na circunstância de que o
resultado da acção lhe teria sido mais favorável se o tribunal estrangeiro
tivesse aplicado o direito material português, quando por este devesse ser
resolvida a questão, segundo as normas de conflitos da lei moçambicana22.

2.10.8. Requisito de revisão de sentenças estrangeiras e dos


pressupostos da sua impugnação, à luz do direito interno
Moçambicano.

Nos termos do artigo 1096.º, a revisão e a confirmação de sentenças


estrangeiras depende da verificação dos seguintes pressupostos:

 Exclusão de dúvida sobre a inteligência da decisão ou sobre a


autenticidade do documento que a consubstancia;
 Trânsito em julgado segundo a lei do país em que foi proferida;
 Proveniência de tribunal estrangeiro cuja competência não tenha sido
provocada em fraude à lei;
 Não ser a matéria sobre que verse da exclusiva competência dos
tribunais moçambicanos;
 Intocabilidade de litispendência ou de caso julgado com fundamento em
causa afecta a tribunal português, salvo se foi o tribunal estrangeiro que
preveniu a jurisdição;
 Citação regular do réu e observância dos princípios do contraditório e
da igualdade das partes;

21
ALBERTO DOS REIS, Processos Especiais, vol. II, reimpressão, Coimbra Editora, Coimbra, p.141
22
Código de Processo Civil artigo 1.100.º, n.º 2,

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
 Conteúdo não manifestamente incompatível com os princípios da
ordem pública internacional do Estado Português.

Nos termos dos artigos 771.º, alíneas a), c) e f), e 1.100.º, o pedido de
revisão de sentenças estrangeiras proferidas contra cidadãos estrangeiros
só pode ser impugnado com algum dos fundamentos seguintes:

Fundamentos de impugnação dos pedidos de revisão de


sentenças estrangeiram. 23

 Falta de algum dos requisitos atrás referidos;


 Existência de sentença criminal transitada em julgado revelador de que
a sentença em revisão foi proferida por prevaricação, concussão, peita,
suborno ou corrupção do juiz seu autor;
 Existência de documento suficiente para modificar a sentença revidenda
em sentido mais favorável à parte contrário de que esta não tivesse tido
conhecimento ou não tivesse podido dele fazer uso no processo em que
foi proferida;
 Ser a sentença em revisão contrária a outra que constitua caso julgado
para as partes formado anteriormente.

2.10.9. Autenticidade dos documentos


passados em país estrangeiro

A legalização é indispensável para que o documento passado em país estrangeiro


faça prova em Moçambique.

O art. 365º do Código Civil determina:

«1. Os documentos autênticos ou particulares passados em país estrangeiro, na


conformidade da respectiva lei, fazem prova como o fariam os documentos da
mesma natureza exarados em Moçambique.

2. Se o documento não estiver legalizado, nos termos da lei processual, e houver


dúvidas acerca da sua autenticidade ou da autenticidade do reconhecimento, pode
ser exigida a sua legalização.».

Nos termos do nº 1 do art. 540º do CPC «Os documentos autênticos passados em


país estrangeiro, na conformidade da lei desse país, consideram-se legalizados
desde que a assinatura do funcionário público esteja reconhecida por agente
diplomático ou consular português no Estado respectivo e a assinatura deste
agente esteja autenticada com o selo branco consular respectivo.».

2.10.10. Sistemas de Revisão de Sentenças


Estrangeiras, existentes no mundo

Há teorias que explicam, ou tentam explicar os regimes pelos quais passam


as "sentenças" a serem homologadas:

23
CPC - artigos 771.º, alíneas a), c) e f), e 1.100.º

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

Sistema da Revisão do Mérito da Sentença

Julga-se novamente a causa que inspirou a "sentença" como se essa não


existisse, ensejando até nova produção de provas, reanalisando as
preexistentes, somente após a decisão estrangeira poderá ou não ser
ratificada.

Esse método é mais complexo, moroso, todavia torna o direito estrangeiro


aplicado no exterior mais justo frente a jurisdição interna do país
homologador; criando, inclusive, jurisprudência para resolução nova
demandas relativas a tais Estados.

Sistema Parcial de Revisão do Mérito

Sistema imposto com o fim de analisar a aplicação da lei do país em que irá
ser executada a sentença.

Ainda nesse sistema o que se busca distinguir se há a possibilidade de


aplicação da lei embasadora da sentença estrangeira no Estado em cujo
território a sentença estrangeira irá produzir efeitos.

Sistema de Reciprocidade Diplomática

Utiliza-se dos tratados como basilar, não existindo esse entre os dois
Estados, sequer será possível a homologação.

Sistema de Reciprocidade de Facto

Neste sistema a homologação só se faz possível se e somente se ambos os


Estados envoltos na relação protegerem os mesmos institutos, Ex: União de
indivíduos de mesmo sexo é permitido na Holanda, Espanha, Dinamarca,
etc., logo para homologação em Moçambique seria necessário que a união
fosse um instituto previsto na legislação Moçambicana.

2.10.11. Processo da Delibação[1]

Neste sistema o mérito da sentença não é discutido. Examinam-se,


singularmente, as formalidades da sentença a luz de princípios e normas
estabelecidas na Lei. O Tribunal Supremo de Moçambique, somente
observa os requisitos formais do processo e não se aprofunda ao mérito.

Revisão de Sentença Estrangeira em Moçambique


Os actos judiciais realizados em outro país não são automaticamente aceites
pelas autoridades em Moçambique. Pela lei, a sentença estrangeira terá que
ser revista e confirmada pela autoridade judiciária Moçambicana.

Por exemplo, para que o cidadão ou cidadã estrangeiro esteja com a sua
documentação e estado civil regularizados perante as conservatórias em
Moçambique, é necessário que seja proposto o devido procedimento
judicial para que a sentença de divórcio estrangeira seja válida no país.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

Na acção de revisão de sentença estrangeira o Tribunal não analisará


o mérito da sentença, ou seja, não serão objecto de análise as causas
da ruptura do matrimónio, a guarda de filhos e a pensão alimentícia.
O que deverá ser revisto nesse tipo de acção são as questões formais.

2.10.12. O reconhecimento e homologação das


sentenças e laudos arbitrais estrangeiros

Regulação Jurídica sobre a Revisão da Sentença Estrangeira


em Moçambique. Código de Processo Civil

Decreto-Lei 44.129, de 28 de Dezembro de1961, alterado pelo


Decreto-Lei nº1/2005 de 2005 de 27 de Dezembro

Decreto-Lei nº1/2009 de 2005 de 24 de Abril

CAPÍTULO XII

Da revisão de sentenças estrangeiras

ARTIGO 1094.º

Necessidade da revisão24

1 - Sem prejuízo do que se ache estabelecido em tratados, convenções,


regulamentos da União Europeia e leis especiais, nenhuma decisão sobre direitos
privados, proferida por tribunal estrangeiro, tem eficácia em Moçambique, seja
qual for a nacionalidade das partes, sem estar revista e confirmada.25

2 - Não é necessária a revisão quando a decisão seja invocada em processo


pendente nos tribunais moçambicanos, como simples meio de prova sujeito à
apreciação de quem haja de julgar a causa.26

ARTIGO 1095.º

Tribunal competente

Para a revisão e confirmação é competente o Tribunal Supremo

ARTIGO 1096.º

Requisitos necessários para a confirmação.

Para que a sentença seja confirmada é necessário:

a) Que não haja dúvidas sobre a autenticidade do documento de que conste a


sentença nem sobre a inteligência da decisão;

b) Que tenha transitado em julgado segundo a lei do país em que foi proferida;

25 Redacção do Decreto-Lei nº 1/2005, de 27 de Dezembro


26 Redacção do Decreto-Lei nº 1/2005, de 27 de Dezembro

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
c) Que provenha de tribunal estrangeiro cuja competência não tenha sido
provocada em fraude à lei e não verse sobre matéria da exclusiva competência
dos tribunais moçambicanos27;

d) Não possa invocar-se a excepção de litispendência ou de caso julgado com


fundamento em causa afecta a tribunal moçambicano, excepto se foi o tribunal
estrangeiro que preveniu a jurisdição28;

e) O réu tenha sido devidamente citado, salvo tratando-se de causa para que a lei
moçambicana dispensara a citação inicial; e, se o réu foi logo condenado por falta
de oposição ao pedido, que a citação tenha sido feita na sua própria pessoa;

f) Não tenham decisões contrárias aos princípios de ordem pública


moçambicana;

g) Tendo sido proferida contra moçambicano, não ofenda as disposições do


direito privado moçambicano, quando por este devesse ser resolvida a questão
segundo as regras de conflitos do direito moçambicano 29

ARTIGO 1097.º

[Confirmação da decisão arbitral]

O disposto no artigo anterior é aplicável à decisão arbitral, na parte em que o


puder ser.

ARTIGO 1098.º

Contestação e resposta

Apresentado com a petição o documento de que conste a decisão a rever, é a parte


contrária citada para, dentro de 10 (dez) dias, deduzir a sua oposição. O
requerente pode responder nos 8 (oito) dias seguintes à notificação da
apresentação da oposição.

ARTIGO 1099.º

Discussão e julgamento30

1 - Findos os articulados e realizadas as diligências que o relator tenha por


indispensáveis, é facultado o exame do processo, para alegações, às partes e ao
Ministério Público, pelo prazo de 10 (dez) dias.

2 - O julgamento faz-se segundo as regras próprias dos agravos, mas o


vencimento exige três votos conformes, seguindo o processo para novos vistos,
quando necessário.

ARTIGO 1100.º

Fundamentos da impugnação do pedido

27 Redacção do Decreto-Lei nº 1/2005, de 27 de Dezembro


28 Redacção do Decreto-Lei nº 1/2005, de 27 de Dezembro
29 Redacção do Decreto-Lei nº 1/2009, de 24 de Abril

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
1 - O pedido só pode ser impugnado com fundamento na falta de qualquer dos
requisitos mencionados no artigo 1096.º ou por se verificar algum dos casos de
revisão especificados nas alíneas a), c) e g) do artigo 771.º

ARTIGO 1101.º

Actividade oficiosa do tribunal

O tribunal verificará oficiosamente se concorrem as condições indicadas nas


alíneas a) e f) do artigo 1096.º; e também negará oficiosamente a confirmação
quando, pelo exame do processo ou por conhecimento derivado do exercício das
suas funções, apure que falta algum dos requisitos exigidos nas alíneas b), c), d) e
e) do mesmo preceito.

ARTIGO 1102.º

Recurso da decisão final31

Actividades

A seguir, estão as actividades correspondentes a esta primeira unidade. Resolva os


exercícios propostos em cada uma e verifique se acertou, conferindo a sua resposta
na Chave de Correcção no final do presente Guia de Estudo.

1. Explique a noção de ordenamentos plurilegislativos


2. Estabeleça a diferença entre direito material estrangeiro e norma de conflito
do foro (Lex fori);
3. Explique a noção de conflitos inter-locais;
4. Explique a noção de conflitos inter-pessoais;
5. Identifique e explique as soluções (doutrinais e legais) dos conflitos inter-
locais;
6. Identifique e explique as soluções dos conflitos inter-pessoais;
7. Identifique e explique as fontes do direito material estrangeiro;
8. Identifique e explique os mecanismos de interpretação do Direito Material
Estrangeiro;
9. Identifique as excepções da aplicação do direito material estrangeiro;
10. Explique em que consiste o reconhecimento e homologação de sentença ou
laudo arbitral estrangeiro;
11. Identifique os requisitos de reconhecimento da sentença e laudo estrangeiro.

REFERÊNCIAS

Leituras Obrigatórias

31 Revogado pelo Decreto-Lei nº1/2005 de 2005 de 27 de Dezembro

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para a


compreensão de nossos estudos e para a realização das actividades propostas para
esta primeira unidade de estudo. Portanto, não deixe de estudá-los.

 PROENÇA, José João Gonçalves: “Direito Internacional Privado – Parte


Geral”, 1ª Edição, Editora: Brochado, Universidade de Lusíada, Lisboa,
1992.

 Legislação Principal
 Decreto-Lei nº 47344 de 25 de Novembro de 1966 (Código Civil)

Leituras Complementares
 MACHADO, João Baptista: “Lições de Direito Internacional Privado”.
Edit. Almedina, Coimbra, 1988

 Legislação Complementar
 Dec. Lei nº 2/2009 de 24 de Abril (BR nº 016, I Série, 3º Supl. de 24 de
Abril de 2009, pág. 86 – (altera alguns artigos do Código Comercial de
Moçambique - Decreto-Lei nº 2/2005 de 27 de Dezembro de 2005);

 Decreto 1/2006 de 3 de Maio (Cria o registo de Entidades Legais e aprova


o seu regulamento. BR nº 018, I Série, de 03 de Maio de 2006, pág. 147 a
160. Revoga o Decreto-Lei nº42 42644 e o decreto nº42 645, ambos de 14
de Novembro de 1959)

UNIDADE TEMÁTICA 5: ORDEM PÚBLICA

Objectivos

No fim desta unidade voce deverá ser capaz de:

 Compreender a noção de Ordem Pública;


 Conhecer a natureza e características da Ordem Pública;
 Conhecer os efeitos da Ordem Pública;
 Compreender a relação entre Ordem Pública e Direito Internacional
Privado;
 Conhecer a classificação da Ordem Pública, no âmbito do DIP;
 Compreender o papel do princípio da Ordem Pública no âmbito da
regulação das relações jurídico-privadas com elemento estrangeiro;
 Compreender a relação entre Ordem Pública, aplicação do direito
material estrangeiro e Direitos Adquiridos, no âmbito do DIP;
 Compreender a relação entre Ordem Pública e Autonomia de Vontade,
no âmbito de DIP;
 Conhecer a regulação jurídica da Ordem Pública em Moçambique, no
âmbito do DIP;
 Conhecer a relação entre Ordem Pública, e reconhecimento e
homologação da sentença e decisões arbitrais estrangeiras.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

5. Ordem Pública e o Direito Internacional Privado


O instituto da Ordem Pública surgiu juntamente com os conceitos de
soberania, moral e bons costumes como fundamentos, pilares da sociedade
organizada na forma de Estado nacional.

5.1. Origem da noção da Ordem Pública


A noção de ordem pública vem sendo construída/estudada desde os Estatutários,
quando eram utilizados os “estatutos proibitivos” para limitar a aplicação do direito
estrangeiro dentro de determinado país. Atualmente, a idéia que se tem de ordem
pública é de barreira, limite à aplicação do direito estrangeiro no território nacional.

5.2. Ordem Pública. Noção


Todos os Estados, estão (ou deveriam estar) abertos à aplicação de lei
estrangeira, desde que não seja esta, as idéias/valores que ela defende, não
seja contrária aos princípios norteadores da ordem pública de cada Estado.

Cada Estado estabelece sua ordem pública. As regras de ordem pública,


expressamente qualificadas, pelo legislador são imperativas, mas “sempre é
possível um tribunal considerar de ordem pública certa regra, mesmo que não o
tenha sido assim declarada pelo legislador”.

Ordem Pública: todas aquelas manifestações sociais eminentes de cunho


político, econômico, jurídico, moral, religioso, filosófico e emocional que
constituem a característica da vida de cada povo.

Ordem pública é “o reflexo da filosofia sócio-político-jurídica de toda


legislação, que representa a moral básica de uma nação e que protege as
necessidades económicas do Estado.

Ordem Pública: é a soma dos valores morais e políticos de um povo.


Trata-se de um conceito fluido, variável no tempo e no espaço. Um exemplo
de aplicação da ordem pública como factor de limitação à aplicação da
legislação estrangeira: uma sentença argelina condenou uma mulher ao
divórcio e à perda da guarda do filho por não querer acompanhar o marido
para fora do país, o que foi tido, na França, como ofensivo à ordem pública;
uma lei tunisina (Tunísia) não admite fixação de filiação não decorrente de
casamento (filho natural não pode nem mesmo pedir alimentos); mas o
mais marcante exemplo temos nos casamentos polígamos dos árabes.
Ordem Pública é um princípio que reflete e contem a filosofia sócio-
político-jurídico-econômica de um Estado-Nação, é a verdadeira essência
valorativa daquela Nação. Nesse sentido, não há um conceito definido e
concreto do que seja a Ordem Pública, posto que não é possível concretizar
e conceituar qual a essência dos valores de um determinado Estado.

Ordem pública, conceituada por Irineu Strenger, é “o conjunto de normas e


princípios que, em um momento histórico determinado, refletem o esquema de

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
valores essenciais, cuja tutela atende de maneira especial cada ordenamento
jurídico concreto”32.

Assim, ordem pública é a moral básica de uma nação, medida pela sensibilidade
média da sociedade. São os valores da sociedade como um todo em determinada
época, levando em consideração, quando se trata de Direito Internacional Privado,
a base social, política e jurídica, enquanto que para o Direito Interno considera
apenas as questões jurídicas.

A ordem pública é uma ideia difundida nos ordenamentos jurídicos de


todos os Estados soberanos. Pressupõe a existência de regras, valores e
princípios fundamentais nas ordens jurídicas, sejam elas internas ou
internacional, que não podem ser afastados quando do exercício da função
jurisdicional pelo Estado ou, ainda, da autonomia privada pelas partes.
Essas regras, valores e princípios fundamentais são modificáveis de acordo
com as transformações ocorridas na Sociedade e são identificados sempre
dentro de um contexto histórico.

A ordem pública, são normas que instituem a organização da família; as que


estabelecem a ordem de sucessão; as que pautam a organização política e
administrativa do Estado, bem como as bases mínimas da organização
económica; os preceitos fundamentais do direito; são regras que o
legislador estabelece os pilares basilares da estrutura social, política e
económica da Nação. Não admitindo derrogação, compõem leis que
proíbem ou ordenam cerceando nos seus limites a liberdade de todos.

5.3. Principais características da Ordem Pública

 Relatividades/Instabilidade,
 Contemporaneidade, e
 Factor exógeno

a) Relatividade ou instabilidade: varia de acordo com a época, sendo que o que


pode ser aceito pela moral da sociedade em uma determinada época, em outra pode
ser totalmente descartado;

b) Contemporaneidade: a ordem pública aplicada será a da data do julgamento e


não a da data do fato;

c) Factor exógeno: o acto ou sentença estrangeira que violar a ordem pública será
barrado e repelido, não sendo aceite pelo ordenamento Moçambicano.

A relatividade da ordem pública consiste nas diferenças morais e de costumes


entre os Estados, ou seja, uma variação da ordem pública no espaço. A
instabilidade é a mudança de valores de uma sociedade ao longo do tempo, sendo
necessário que a noção do que feriria ou não a ordem pública se adeque aos
costumes actuais. A contemporaneidade é a obrigação do juiz de aplicar a lei de

32

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
acordo com a ordem pública vigente no momento da aplicação da lei,
independente da ordem vigente na época do caso em questão.

Tendo como base as características expostas, percebe-se que fica sob


responsabilidade dos juízes decidir, discricionariamente, o que é ou não contrario à
ordem pública. Caso determinado elemento de conexão remeta a uma norma
estrangeira, e essa for incompatível com os valores do Estado, o aplicador deve
aplicar a norma interna. Apesar de ser uma escolha discricionária do juiz, isso
permite uma maior flexibilização da noção de ordem pública, fazendo com que sua
aplicação esteja de acordo com a constante mudança da sociedade.

5.4.1. Relatividades/Instabilidade33: Essa primeira característica se


refere ao facto de que a Ordem Pública há de ser auferida através da
mentalidade e sensibilidade média da sociedade. Posto isso, concluímos que
assim como essa média é instável e relativa perante o tempo e o espaço,
também o é a Ordem Pública. Em outras palavras, o que é ou o que deixa de
ser Ordem Pública, será variável no tempo (de uma época para outra) e no
espaço (de uma região para outra), a depender das interações sociais de
cada região.

Relatividade (ou Instabilidade) - como o conceito de Ordem


Pública não é homogéneo, mesmo dentro de um país, deve-se considerar
essa influência da variação na avaliação das situações jurídicas; uma
mesma situação pode ser avaliada de forma diferente, em regiões
diferentes de um mesmo país, pelas diferenças da moral, de juízo de
valor, etc.

5.4.2. Contemporaneidade: Outra importante característica da Ordem


Pública se refere à sua aplicação. O aplicador do Direito deve atentar-se à
situação da Ordem Pública (leia-se a mentalidade e sensibilidade média
da sociedade) existente no momento do julgamento. Isso implica dizer que
não deve ser levada em consideração a Ordem Pública da época em que
determinado acto foi praticado e sim a do dia em que o juiz irá julgar
questões relativas a esse ato realizado no passado.

Essa característica, a contemporaneidade, é uma via de mão dupla. Está


presente tanto na situação de se aceitar algo que quando fora praticado era
contra a Ordem Pública, mas que, agora, quando do julgamento, é
permitido; quanto no sentido de rejeitar algo que quando praticado era
condizente com Ordem Pública, mas que agora, no dia do julgamento, não é
mais permitido.

5.4. A Ordem Pública e o Direito Internacional Privado


Para o Direito Internacional Privado, o princípio de ordem pública é o
princípio mais importante deste ramo do Direito, pois, por exemplo, é ele
que nos orientará quando da homologação de sentença estrangeira, pois
esta apenas poderá ser homologada caso não atente a ordem pública
brasileira. A mesma lógica será aplicada em todo caso em que estejamos
diante da produção de efeitos por parte de ordens jurídicas estrangeiras em
território nacional.

33

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

Dentre os princípios do DIP, a ordem pública é o de maior poder de


restringir a livre aplicação de regras estrangeiras. Deve-se limitar a usar a
ordem pública somente quando necessário, para manter o equilíbrio da
convivência da sociedade internacional, respeitando os direitos e costumes
de cada grupo em seus Estados, não deixando que seja abusivamente usada
por juízes que resistem fortemente à aplicação da lei estrangeira.

“Impede a aplicação de leis estrangeiras, o reconhecimento de atos


realizados no exterior e a execução de sentenças proferidas por tribunais de
outros países que sejam manifestamente incompatíveis com a ordem
pública do foro.”

Como não há um conceito determinado de ordem pública, será o juiz do


caso que determinará in concretu se há ou não atentado à ordem pública.
Caso a legislação seja contrária à ordem pública, mesmo que ela seja
aprovada, respeitando todo o trâmite burocrático do processo legislativo,
não terá eficácia na prática, caindo em desuso, como era o caso do adultério
antes de sua revogação expressa.
A Ordem Pública, instituto inerente ao conflito de leis e de jurisdições,
exige a proteção da moralidade local por meio do óbice à aplicação da lei
indicada pela regra de conexão à solução da lide multiconectada ou à
homologação de sentenças e concessão de exequatur a cartas rogatórias
estrangeiras incompatíveis com os padrões sócio-culturais do foro.

A Ordem Pública, como princípio do Direito internacional Privado,


disciplina, limita, coordena a utilização das regras de conexão na sua tarefa
de escolher a lei aplicável à questão jurídica multinacional. Sendo que,
dentre todos os princípios do Direito Internacional Privado, a Ordem
Pública é o que tem a maior abrangência e o maior poder de restrição à livre
aplicação das referidas normas internacionais.

Tal princípio funciona, assim, como válvula de segurança do Direito


Internacional Privado, porém, é abusivamente utilizada por aqueles que
resistem à aplicação da lei estrangeira por não assimilar adequadamente a
noção de comunidade jurídica internacional. Assim, é necessário ter-se em
vista que ao Princípio da Ordem Pública, somente se deve recorrer quando
realmente necessário à manutenção do equilíbrio da convivência da
sociedade internacional, com os fundamentos do direito de cada grupo
nacional.

A Ordem Pública é um conceito relativo com variações no tempo e no


espaço. É também conceito aberto que, necessariamente precisa ser
concretizado pelo juiz, quando este julga uma causa de direito privado com
conexão internacional, à qual é aplicável o direito estrangeiro.

Se o direito estrangeiro não for aplicável ao caso concreto por violar a


ordem pública, a regra é que o juiz aplique a lex fori.

Importante se definir o conceito de Ordem Pública tanto no plano do


Direito Interno quanto do Direito Internacional Privado. Porém, a Ordem
Pública tem como uma de suas principais características a falta de definição
exacta.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
Constitui assim, um dos princípios mais importantes desta disciplina. O
Princípio da Ordem Pública tem natureza filosófica, moral, relativa,
alterável e, por isso indefinível.

Segundo Jacob Dolinger34 o Princípio da Ordem Pública é o reflexo da


filosofia sociopolítica jurídica de toda legislação, representando a moral
básica de uma nação e que atende às necessidades económicas de cada
Estado. Assim, a ordem pública, encerra os planos político, jurídico, moral e
económico de todo Estado constituído.

5.5. O DIP e a Ordem Pública. Sua regulação Jurídica


em Moçambique
A reserva de ordem pública internacional encontra-se desde logo
consagrada no art. 22º, n º1 do CC: “Não são aplicáveis os preceitos da lei
estrangeira indicados pela norma de conflitos, quando essa aplicação
envolva ofensa dos princípios fundamentais da ordem pública internacional
do Estado Moçambicano”. A reserva de ordem pública internacional é um
limite à aplicação do Direito estrangeiro competente segundo o Direito de
Conflitos ou ao reconhecimento de efeitos de um acto público estrangeiro.
Artigo 22.º (Ordem pública)

1. Não são aplicáveis os preceitos da lei estrangeira indicados pela norma de conflitos, quando
essa aplicação envolva ofensa dos princípios fundamentais da ordem pública internacional do
Estado português.

2. São aplicáveis, neste caso, as normas mais apropriadas da legislação estrangeira competente
ou, subsidiariamente, as regras do direito interno Moçambicano.

Artigo 280º, nº 2 do C. Civil. “É nulo o negócio contrário à ordem


público, ou ofensivo dos bons costumes”.

5.6. Ordem Pública Interna e Internacional

A ordem pública sempre desempenha importante papel, devendo-se,


porém, distinguir a interna da externa, ou internacional.

Parte da doutrina acredita que existem duas ordens públicas distintas, uma
interna e outra, internacional. Outra parte acredita que há uma só ordem
pública, porém com duas aplicações, cabendo, tão-somente, definir se a
incidência será no campo de direito interno ou no campo do Direito
Internacional Privado.

A primeira (interna) noção refere-se aos princípios de base, ou, como muitos
chamam, ao Código moral e ético estabelecido e respeitado num sistema jurídico
particular, e visa colocar freio ou limitar autonomia das partes.

A segunda (internacional) noção refere-se a normas legais e actos


praticados fora do país, que não podem ser aplicados, ou devem ser

34
DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado Parte Geral. 5ª ed. Ampliada e atualizada. Rio de
Janeiro: Editora Renovar, 1997.

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evitados ou excluídos quando ofendem os princípios e normas internas. Já
no direito internacional privado a ordem pública é tida como empecilho à
aplicação de leis estrangeiras, pois nenhum país aceita aplicar leis,
costumes ou instituições que sejam tão opostos à sua própria moral, justiça,
interesse ou política.

No Direito Interno a ordem pública é o princípio limitador da vontade


das partes, cuja liberdade, em alguns aspectos da vida privada não é
permitida. No Direito Internacional Privado, a Ordem Pública
impede aplicação de leis estrangeiras, reconhecimento de atos realizados no
exterior e a execução de sentenças prolatadas por tribunais de outros
países.

5.6.1. Ordem Pública Interna

Ordem Pública Interna funciona como princípio limitador da vontade


das partes, cuja liberdade não é admitida em determinados aspectos da vida
privada, sob pena de invalidade do ato jurídico que não poderá ser sanada
com o tempo. A ordem pública interna diz respeito a normas e
princípios que não podem ser afastados pela vontade das partes,
agindo como marco limitador à actividade individual de contratar.

Ordem pública interna: refere-se às normas internas que limitam a


autonomia privada, na escolha do direito material estrangeiro, numa
relação juríco-privada com elemento estrangeiro.

A autonomia da vontade das partes, no direito internacional privado,


significa que as próprias partes podem escolher o direito aplicável. O
elemento de conexão aqui é a própria vontade manifestada pelas partes,
vinculada a um negócio jurídico de direito privado com conexão
internacional. O princípio (autonomia da vontade) é aplicado
principalmente em matéria de obrigações contratuais (art. 41º do C.C.)
substância e obrigações provenientes do negócio jurídico.

No direito interno, a ordem pública é responsável por limitar a vontade das


partes, cuja liberdade não é admitida em determinados aspectos da vida
privada. É composta por normas de imperatividade absoluta ou impositiva,
pois determinam, em circunstâncias pré-definidas, a acção, a abstenção ou
o estado das pessoas, sem admitir qualquer arbítrio individual, a fim de
evitar que a vontade dos particulares perturbe a vida social.

O conceito de ordem pública no direito interno se traduz em um princípio


limitador da liberdade individual, o qual se dá em virtude da existência de
outros princípios que são socialmente mais relevantes, e que, portanto,
merecem serem resguardados. Um exemplo seria um caso decidido pela
Corte de Montpellier em 1932, no qual um senhor havia deixado expresso
em seu testamento que, após seu falecimento, o terreno onde se localizava
sua casa deveria ter suas entradas obstruídas e ser cercado por muros altos,
de forma a impedir que outras pessoas adentrassem no local, e que este
nunca fosse vendido a mais ninguém. Neste caso identifica-se claramente
uma lesão à ordem pública interna, por tal vontade não se adequar ao
ordenamento jurídico francês vigente naquela época.

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5.6.2. Ordem Pública Internacional


O aspecto internacional da ordem pública visa, portanto, evitar a criação de
anomalias e antinomias, bem como permitir que os Estados exerçam o
controlo de sua soberania legislativa

No internacional, temos o impedimento da aplicação de lei estrangeira


indicada pelas regras de conexão do Direito Internacional Privado ou de
homologação de sentença estrangeira que estejam em oposição à ordem
pública do Estado nacional onde estas pretendem se fazer valer.

A ordem Pública Internacional está vinculada aos actos praticados no


exterior que têm repercussão em território nacional e funciona como filtro
de leis, sentenças e actos em geral, impedindo sua eficácia quando
proeminentes valores de justiça e moral são ameaçados.

Ordem pública internacional: refere-se ao instituto do direito


internacional privado que permite o afastamento do direito estrangeiro pelo
aplicador do direito tanto na não aplicação da lei indicada pela regra de
conexão, como na negativa de homologação de sentenças ou concessão de
exequatur a cartas rogatórias provenientes do exterior.

Ordem pública internacional: refere-se ao instituto do direito


internacional privado que, que no âmbito do conflito de leis no espaço,
permite o afastamento do direito material estrangeiro, pelo aplicador do
direito, tanto na não aplicação da lei indicada pela regra de conexão, como
na negativa de homologação de sentenças ou reconhecimento de direitos
adquiridos estrangeiros, quando estes violam o conjunto de normas
jurídicas e não jurídicas, os princípios fundamentais, subjacentes ao
sistema jurídico, que o Estado e a Sociedade estão substancialmente
interessados em que prevaleçam. A perspectiva da ordem pública
internacional está vinculada aos actos praticados no exterior que têm
repercussão em território nacional e funciona como filtro de leis, sentenças
e actos em geral, impedindo sua eficácia quando proeminentes valores de
justiça e moral são ameaçados.
Ordem pública de direito internacional privado foi delimitada como
sendo aquela ordem pública que impedia a aplicação do direito estrangeiro,
isto é, quando o aplicador da lei, diante da lide derivada de um fato
extranacional, averigua se aquela lei (direito) estrangeira a ser aplicada
hipoteticamente afronta algum valor basilar da sociedade ou do Estado,
desconsiderando-a no caso de uma conclusão positiva e, em seu lugar,
aplicar o direito nacional. A ordem pública de direito internacional privado
seria então uma excludente de aplicação de direito estrangeir
A ordem pública internacional está contida dentro do conceito de
ordem pública interna integrando ambas, o direito o direito nacional. A
ordem pública internacional é uma ordem pública interna,
relevante para situações internacionais (ALMEIDA, 2005, P.25).

A ordem pública internacional35 deve ser vista como um anteparo


armado pelo Direito Internacional Privado contra suas próprias regras, a
fim de evitar que, no desiderato de respeitar e fortalecer a comunidade
jurídica entre as nações, de construir a harmonia jurídica internacional, a

35 Dolinger (2005, p.423)

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fim de garantir a continuidade e fluidez de comércio internacional e a
segurança das relações jurídicas internacionais, se criem situações
anômalas em que princípios cardinais do direito interno de cada país sejam
desrespeitados, que normas básicas da moral de um povo sejam profanadas
ou que interesses econômicos de um Estado sejam prejudicados.

A ordem pública verdadeiramente internacional não possui um


mandamento negativo, pois não se destina a impedir a aplicação de lei
estrangeira ou o reconhecimento de sentença estrangeira. Ela tem
conotação positiva, porquanto se trata de mandamento que visa proteger os
valores que transcendem o ordenamento interno, a zelar por interesses de
outros povos.

No Direito Internacional Privado, o Princípio da Ordem Pública previne


a aplicação de leis estrangeiras, o reconhecimento de actos realizados no
exterior e a execução de sentenças proferidas por tribunais de outros países,
quando essas forem incompatíveis com o sistema jurídico interno de um
Estado (sendo este sistema entendido como um reflexo da moral básica de
uma nação e das suas necessidades econômicas). Grande parte da doutrina
converge no sentido de que este seria o princípio mais importante do DIPr.

Po exemplo, no caso de casamento polígamo de um homem com diversas


mulheres, apenas o primeiro será reconhecido pelo em Moçambique. Isto
não signfica, porém, que as outras mulheres com seus respectivos não
possam pleitear alimentos em juízo. Na verdade isto é sim possível, pois
entre conceder alimentos a alguém que não é casado segundo a lei nacional
ou deixar esta pessoa sem nenhuma fonte de sustento ofende mais a ordem
pública a segunda opção, assim, Moçambique não reconhecerá os outros
casamentos, mas poderá sim deixar que estes produzam certos efeitos,
sempre ponderando o que é mais atentatório à ordem pública. Em suma,
em caso de direitos adquiridos no exterior, sempre teremos ponderar o que
é menos violadora da ordem jurídica nacional.
No caso de Federações, como é o caso dos EUA e da Alemanha, pode existir
uma ordem pública diversa em cada unidade federativa (Estado Federal).

5.7. Níveis de Ordem Pública


Existem três níveis de aplicação da Ordem Pública, quais sejam, a
proteção contra a vontade contratual das partes, a proteção contra a
aplicação de leis estrangeiras e a proteção contra certos direitos adquiridos
no exterior, inclusive sentenças estrangeiras. Entre cada um desses três
níveis ocorre uma gradação do raio de alcance da Ordem Pública, de modo
que ela será mais fortemente aplicada no primeiro nível, diminuindo o seu
poder até chegar no terceiro nível, no qual possui um raio de ação muito
pequeno.

5.7.1. Níveis dos Efeitos da Ordem Pública:

 No plano interno,
 No plano internacional e
 No plano dos direitos já adquiridos no exterior.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
 No plano interno: o é vedado que as partes pactuem contra as
normas aceitas como integrantes da ordem pública.

 No plano internacional: a ordem pública impede a aplicação de


norma de direito estrangeiro que seja gravemente chocante ao
sistema jurídico do foro; nem tudo que às partes é vedado pactuar
será rejeitado se contido em regra de direito estrangeiro.

 Por sua vez no terceiro, a ordem pública impede o reconhecimento


de direitos adquiridos no exterior, o que só pode ocorrer quando
estes são gravissimamente chocantes aos princípios jurídicos ou
morais do foro. (poligamia; casamento no mesmo sexo,
naturalização, etc).

5.7.2. Primeiro nível.

O primeiro nível em que a ordem pública (em sua acepção internacional)


opera no direito interno é no sentido de garantir o império de determinados
valores, impedindo que eles sejam desrespeitados ainda que por convenção
das partes. Embora antes essa garantia não encontrasse expressa previsão
legal, já era amplamente assegurada, pois trata-se de princípio tão
imanente na nossa filosofia e ordenamento jurídico que sua vigilância é
questão manifesta e os tribunais sempre souberam detectar quando um
contrato, um negócio, feria o princípio-mor regulador do equilíbrio social e
económico.

Assim, o que esse primeiro nível da ordem pública regula é o que pode e o
que não pode ser pactuado pelas partes em seus contratos. Entretanto,
como é sabido, a ordem pública, também em sua acepção internacionalista,
é volúvel, alterando-se com as mudanças dos costumes, mentalidades e
interesses, de modo que caberá ao aplicador da lei determinar, de acordo
com a filosofia moral vigente à época de sua apreciação judicial.

O reconhecimento ou rejeição, pelas autoridades judiciárias, da vontade


contratual das partes, se materializa, portanto, quando da apreciação
judicial e por meio da reserva de ordem pública em seu primeiro nível de
incidência.

5.7.3. Segundo nível.

O princípio da Ordem Pública para o Direito Internacional Privado


intervém na aplicação das leis estrangeiras que são indicadas pelas regras
de conexão do Direito internacional privado.

5.7.4. Terceiro Nível.

Esse nível trata do reconhecimento de direitos adquiridos no exterior e de


sentenças proferidas e transitadas em julgado no estrangeiro.

Exemplo clássico da aplicação da Ordem Pública nesse nível é a


poligamia. Apesar de nosso ordenamento jurídico conter norma cogente
(que não pode ser afastada pelas partes) proibindo a poligamia, e esta
norma ser respaldada pela essência filosófico-moral do nosso Estado,
podemos reconhecer os efeitos jurídicos de um casamento poligâmico que
tenha sido celebrado em jurisdição que o permita.

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De modo análogo, o judiciário pode reconhecer e executar sentenças
estrangeiras, que não seriam prolatadas no Brasil por ferirem a nossa
ordem pública, mas que proferidas e transitadas em julgado no exterior,
admitem-se seus efeitos aqui.

Nesse terceiro nível, a Ordem Pública só se oporá a direitos adquiridos no


exterior e sentenças estrangeiras quando a sua execução no em
Moçambique for chocante, de maneira gravíssima, à sociedade brasileira. É
o caso do marido que se casou com duas esposas numa jurisdição que o
permita e que, ao radicar-se em Maputo, pleiteia junto ao Judiciário
Moçambicano (Tribunal Supremo) o reconhecimento, homologação, a
validade e legitimidade dos seus dois casamentos. Tal pleito deve ser
vedado, visto que provocaria uma situação extremamente atentatória aos
nossos princípios monogâmicos.

5.8. A Autonomia da Vontade no âmbito DIP

5.8.1. Autonomia da vontade. Noção

A vontade é conceituada como sendo a capacidade de associar o "livre


arbítrio e o determinismo". O próprio indivíduo tem a opção de escolher se
faz ou não faz determinado ato, julgando, avaliando sugerindo e opinando
sobre suas próprias ações; a resolução depende só da vontade própria. Os
atos podem ser decorrentes de vontade ou de impulsos ou de instintos. Os
atos da vontade ocorrem com representações conscientes do fim, com
conhecimentos dos meios e das consequências.

O princípio da autonomia da vontade é o poder das partes de estipular


livremente, como melhor lhes convier, mediante acordo de vontades, a
disciplina de seus interesses, suscitando efeitos tutelados pela ordem
jurídica.

O contrato, fonte da obrigação, tem em seu cerne, como elemento nuclear,


indispensável à própria existência, a vontade humana, que sendo livre e
soberana, concede a cada um de nós a liberdade de contratar.

A autonomia da vontade, no âmbito dos contratos internos,


consiste na faculdade concedida aos contratantes de estipularem livremente
o conteúdo do contrato, como melhor lhes convier, e mediante acordo de
vontades, buscando efeitos tutelados pela ordem jurídica. Esta liberdade de
criação do contrato envolve: o poder de decidir entre contratar ou não
contratar, a liberdade de escolher o outro contratante, e a liberdade de fixar
o conteúdo do contrato.

5.8.2. Autonomia da Vontade

A autonomia da vontade "está estritamente ligada a ideia de uma vontade


livre, dirigida pelo próprio indivíduo sem influências externas imperativas.
A liberdade contratual significa, então, a liberdade de contratar ou de se
abster de contratar, liberdade de escolher o seu parceiro contratual, de fixar
o conteúdo e os limites das obrigações que quer assumir, liberdade de poder

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exprimir a sua vontade na forma que desejar, contando sempre com a


protecção do direito.

Autonomia da vontade: poder de auto-regulamentação dos interesses


próprios, ou seja, no poder que os sujeitos de direito possuem de ditar as
regras de seus interesses particulares, em suas recíprocas relações.

A autonomia da vontade ou liberdade subjectiva reside justamente nessa


possibilidade do indivíduo querer ou não querer qualquer coisa.

Princípio da Autonomia da Vontade (ou da autonomia


privada, ou da liberdade contratual

Uma vez externadas (manifestadas) as manifestações de vontades, o


contrato se concretiza, estabelecendo um vínculo obrigacional entre as
partes.

Este princípio consiste basicamente na liberdade conferida às partes


contratantes, de criarem relações jurídicas, de acordo com suas intenções e
necessidades, desde que obedeçam às regras impostas pela lei.

O princípio da autonomia da vontade é o poder das partes de


estipular livremente, como melhor lhes convier, mediante acordo de
vontades, a disciplina de seus interesses, suscitando efeitos tutelados pela
ordem jurídica. O princípio envolve, além da liberdade de criação do
contrato, a liberdade de contratar ou não contratar, de escolher o outro
contraente e de fixar o conteúdo do contrato, limitado pelas normas de
ordem pública, pelos bons costumes e pela revisão judicial dos contratos.

Sílvio Rodrigues afirma: “O Princípio da Autonomia da Vontade consiste


na prerrogativa conferida aos indivíduos de criarem relações na órbita do
direito, desde que se submetam as regras impostas pela lei e que seus fins
coincidam como o interesse geral, ou não o contradigam.” (RODRIGUES,
Sílvio. Dos Contratos e das declarações unilaterais de vontade. São Paulo:
Saraiva, 2007, p.15).

Para Maria Helena Diniz: “O princípio da autonomia da vontade se funda


na liberdade contratual dos contratantes, consistindo no poder de
estipular livremente, como melhor convier, mediante acordo de vontades,
a disciplina de seus interesses, suscitando efeitos tutelados pela ordem
jurídica.” (DINIZ, Maria Helena. Curdo de direito civil brasileiro. Teoria
das Obrigações Contratuais e Extracontratuais. São Paulo: Saraiva, 2008,
p.23).

O princípio da autonomia da vontade envolve, além da liberdade de


contratar ou não contratar, a liberdade das partes escolherem com
quem querem contratar, a liberdade de criação do contrato, podendo as
partes também fixarem o conteúdo do contrato, e seus interesses, sempre
preservando o quanto permitido em lei.

Segundo STRENGER: “a autonomia da vontade como princípio deve ser


sustentada não só como um elemento da liberdade em geral, mas como

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suporte também da liberdade jurídica, que é esse poder insuprimível no
homem de criar por um ato de vontade uma situação jurídica, desde que
esse acto tenha objeto lícito“. (STRENGER, Irineu. Da autonomia da
vontade: direito interno e internacional. São Paulo: LTr, 2000, p. 66.)

5.8.3. A Autonomia da Vontade e o DIP


A ordem pública é o principal preceito limitador da autonomia da vontade.
Por ser um conceito relativo, instável, variando no tempo e no espaço, não é
possível conceder-lhe uma definição de toda correcta. Segundo Maria
Helena Diniz (2007, p. 424).

O Princípio de ordem pública, no âmbito do Direito Internacional


Privado, permite os sujeitos deste ramo de direito, escolherem a lei material
aplicável para solucionar o conflito de leis no espaço, nos casos permitidos
por lei. Na República de Moçambique as partes apenas podem escolher a a
lei aplicável para as obrigações provenientes de negócio jurídico, assim
como a substância destas.

Lei reguladora das obrigações, Artigo 41.º, nº1. (Obrigações


provenientes de negócios jurídicos).

1. As obrigações provenientes de negócio jurídico, assim como a própria


substância dele, são reguladas pela lei que os respectivos sujeitos tiverem
designado ou houverem tido em vista.

Significa que as próprias partes podem escolher o direito aplicável. O


elemento de conexão aqui é a vontade manifestada pelas partes, vinculada a
um negócio jurídico de direito privado conectado a um elemento de
estraneidade.

Sua vigência e validade dependem da lex fori de cada país admiti-lo como
elemento de conexão. Se o Estado admite a autonomia da vontade das
partes como elemento de conexão, é aplicável a lei designada pelas próprias
partes, levando em consideração a sua vontade subjetiva, permitida no
sistema jurídico, talvez não objetivada pelo legislador.

A doutrina ainda permanece controvertida quanto à sua aceitabilidade,


mesmo havendo o seu reconhecimento mundialmente. O princípio da
autonomia da vontade das partes aplica-se, principalmente, às obrigações
contratuais.

A forma escolhida pelas partes para aplicação de lei no espaço em uma


relação jurídica de direito privado com conexão internacional é sempre
regida pela lex fori.

Em regra, as partes escolhem o direito aplicável, por ocasião da celebração


do contrato ou de um outro negócio jurídico, perante o qual o direito
internacional privado da lex fori admite a autonomia da vontade.

Quando a lei estabelece limites à autonomia da vontade das partes, estas


partes tão-somente podem escolher o direito aplicável em concordâncias
com a lei, sob pena de nulidade dos seus efeitos.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
Quando a lei não faz menção expressa às restrições, entendemos que as
partes poderão escolher qualquer ordem jurídica como direito aplicável,
tendo em vista que todos os direitos são equivalentes.

O Princípio da autonomia da Vontade e o DIP

Faculta às partes a escolha da lei aplicável, e só é possível nos negócios


obrigacionais (ex. art. 41º e 19º, nº2 do C.C.).

Só se aceita o princípio da autonomia da vontade nos negócios


obrigacionais, mas mesmo nestes, há restrições.

Não temos uma expressão normativa tão ampla que abrange todas as
situações, por isso, quando não existe solução vai-se aos princípio do
Direito Internacional Privado, que são princípio formais porque vão ajudar
a solucionar essas questões.

O princípio da autonomia da vontade em direito internacional


privado tem menor amplitude, significando que as partes apenas têm
liberdade de exercer sua vontade tendo em vista a escolha da legislação à
qual querem submeter sua convenção sob reserva de respeitarem a ordem
pública.

Portanto, a autonomia da vontade das partes, no direito internacional


privado, significa que as próprias partes podem escolher o direito aplicável.
O elemento de conexão aqui é a própria vontade manifestada pelas partes,
vinculada a um negócio jurídico de direito privado com conexão
internacional.

À medida que um Estado admite a autonomia da vontade das partes como


elemento de conexão, é aplicável a lei designada pelas próprias partes,
levando em consideração a sua vontade subjectiva, e não a vontade
objectiva do legislador, que somente vem a se manifestar quando não
houver a indicação pelas partes.

O princípio é aplicado principalmente em matéria de obrigações


contratuais, NÃO sendo raramente admitido no que diz respeito aos
direitos da pessoa, de família e direito das coisas. Sua aceitação como
elemento de conexão já se encontra pacificada em grande parte do mundo.

Princípio da autonomia da vontade na escolha do direito


material aplicável aos contratos internacionais

É controvertido na doutrina se as partes podem escolher qualquer direito


como o aplicável ou se esta liberdade sofre certas restrições. O mínimo que
se exige é que o direito escolhido tenha algum nexo de causalidade ou
conexão com o contrato internacional celebrado.

Em virtude disso, o dépeçage é utilizado exactamente porque a autonomia


da vontade das partes tem suas limitações, não podendo reger todos os
aspectos do contrato. Assim, é necessário que se faça uma decomposição do
contrato em seus vários elementos, para aplicar a cada uma de suas partes a
lei pertinente.

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As regras gerais do DIP aplicam-se sempre aos casos perante os quais o
direito aplicável é aquele decorrente da autonomia da vontade das partes.

A autonomia da vontade ainda não é reconhecida como elemento de


conexão, juridicamente válido, que possa reger relações de DIP com
conexão internacional em grande parte da América Latina, incluindo Brasil.

Autonomias da vontade – as próprias partes podem escolher o


direito aplicável. O elemento de conexão é a própria vontade manifestada
pelas partes, vinculada a um negócio jurídico de direito privado com
conexão internacional. À medida que um Estado admite a autonomia da
vontade das partes como elemento de conexão, é aplicável a lei designada
pelas próprias partes, levando em consideração a sua vontade subjectiva, e
não a vontade objectiva do legislador. Este determina, subsidiariamente, o
direito aplicável na ausência de escolha do direito aplicável pelas partes.

Mediante a escolha do direito aplicável, pode-se derrogar o direito


substantivo ou material cogente interno, embora sempre nos limites
traçados pela Lex fori.

O princípio da autonomia da vontade das partes aplica-se, principalmente,


às obrigações contratuais.

A forma de as partes escolherem o direito aplicável a uma relação jurídica


de direito privado com conexão internacional é sempre regida pela Lex fori,
segundo a regra geral de que o juiz aplicará as normas do direito
internacional privado da Lex fori. Por outro lado, quando a escolha, feita
pelas partes, é juridicamente válida, conforme as normas do direito
internacional privado da Lex fori, o direito escolhido é o que rege as suas
relações jurídicas.

Em regra, as partes escolhem o direito aplicável, por ocasião da celebração


do contrato ou de um outro negócio jurídico, perante o qual o direito
internacional privado da Lex fori admite a autonomia da vontade.

Quando a própria lei estabelece limites à autonomia da vontade das partes,


estas tão somente podem escolher o direito aplicável em consonância com a
lei. Uma escolha do direito aplicável que não respeite os limites da lei é
juridicamente ineficaz, de modo que o direito aplicável será aquele
consoante a vontade objetiva do legislador, subsidiariamente aplicável na
ausência de escolha válida das partes.

No plano internacional, a Conferência Especializada Interamericana de


Direito Internacional Privado, que se realizou na Cidade do México, em
1994, adoptou, em 17 de Março, a Convenção Interamericana sobre o
Direito Aplicável aos Contratos Internacionais.

A convenção admite a autonomia da vontade das partes para a escolha do


direito aplicável em um contrato internacional. Tal escolha deve estar
expressa ou pode ser tácita, uma vez que o texto convencional permite que
se depreenda essa escolha da conduta dos contratantes e das cláusulas
contratuais. Faculta, ainda, a modificação superveniente da lei escolhida,
desde que não afete a validade formal do contrato, nem direito de terceiros.

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A convenção permite ao juiz aplicar sempre as regras da Lex Mercatoria ao
contrato internacional, e isso independente do direito aplicável ao contrato.
Todos os Estados-membros do Mercosul são signatários da convenção.
Uma desvantagem da convenção é que ela se aplica tão somente
perante os Estados signatários e não com relação a terceiros Estados.

5.8.4. Limites da autonomia da vontade

Destaca entre os elementos limitadores, as leis imperativas internas do


território no qual o contrato deve ser executado e as regras de ordem
pública.

Segundo Maria Granziera, a autonomia da vontade “só tem existência


jurídica quando exercida dentro dos limites e segundo as condições de uma
determinada lei”.

Além da observância das leis imperativas e das regras de ordem pública, a


fraude à lei também deve ser considerada como limitadora da autonomia da
vontade na elaboração de um contrato internacional.

“Entre os elementos limitadores da vontade, colocam-se as leis imperativas


internas do território no qual o contrato deve ser executado, e as regras de
ordem pública.” (Irineu Strenger, Contratos Internacionais do Comércio,
Revistas dos Tribunais, 1986, p. 118).
5.9. Direitos Adquiridos

5.9.1. Os Direitos Adquiridos. Noção

Entende-se pela palavra adquirir: obter, conseguir, comprar, assumir.

Direito Adquirido, é o princípio pelo qual tenha sido definitivamente


incluído no património do indivíduo, consoante a lei que presidiu a sua
aquisição.

Teoria dos Direitos Adquiridos nos diz que se um indivíduo adquire


determinado direito em determinado Estado ele continuará tendo como
direito adquirido em quaisquer outros Estados.

Uma vez adquirido (o direito), adquirido está, este princípio assenta toda a
sua estrutura no direito romano (ex.: arts. 29º), uma vez capaz sempre
capaz. Aceita-se estas situações por segurança jurídica e estabilidade.
A Teoria dos Direitos Adquiridos nos diz que se um indivíduo adquire
determinado direito em determinado Estado ele continuará tendo como
direito adquirido em quaisquer outros Estados, por uma questão de boas
relações internacionais, já que não há tratado neste sentido.
Caio Mário da Silva Pereira, entende assim, que tal direito é incorporado ao
património do seu titular, que sejam já realizados ou os que ainda
dependem de um prazo para o seu exercício, ainda que sejam os
subordinados ou os que por uma condição inalterável ao arbítrio de outrem.

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A Teoria dos Direitos Adquiridos no Direito Internacional Privado, foi
originariamente desenvolvida no século XVII, pela escola estatutária
holandesa, tendo como base os princípios da territorialidade, e,
instrumentalizada, inicialmente em virtude da cortesia internacional, que
consequentemente gerou os conceitos sobre direitos adquiridos no âmbito
do direito continental europeu, como a teoria anglo-norte-americana dos
Vested Rights (direito adquirido). A primeira, também conhecida como
Direitos Regularmente Adquiridos de Antoine Pillet, e a segunda no
Restatement de Beale.

Tais teorias tem como fundamento, os mesmos objectivos principais do


Direito Internacional Privado, qual seja, a necessidade de protecção aos
direitos existentes, mesmo que estes sejam adquiridos no estrangeiro.

Para que possamos entender o que seria esses direitos adquiridos, é de


grande importância considerarmos as vertentes que permeiam as relações
jurídicas constituídas, tendo como base uma ou várias leis estrangeiras, e
que delas produzissem efeitos não só internamente, como principalmente
em outros ordenamentos jurídicos diferentemente daqueles que tenha sido
originado, tendo como base o princípio da efectividade como um elemento
dinâmico no que diz respeito à eficácia das relações jurídicas, junto ao
princípio da territorialidade como forma de delimitação geográfica em que
se concretizam.

Não há uniformidade entre os doutrinadores, quando ao conceito dos


direitos adquiridos.

De acordo com esse entendimento, Pontes de Miranda refere-se à produção


de efeitos nas relações jurídicas, estabelecendo assim, dois critérios
aplicáveis na produção de efeitos no âmbito internacional, o primeiro é o
princípio da eficácia dos atos, reafirmando assim o critério da efetividade
que é essencial quanto a caracterização dos direitos adquiridos diante da
atuação legiferante dos estados, e o segundo é o princípio do respeito aos
direitos constituídos. Quanto a eficácia das relações jurídicas, para ser
eficaz, tem que obedecer ao conteudo da norma, seguindo nessa mesma
linha, diz Dellaume “Para que um direito seja eficaz, é preciso que ele seja
definitivamente criado, constituído, segundo a lei competente.”.

5.9.2. Direito Adquirido e a Ordem Pública

O Direito adquirido, nos termos legais de um determinado Estado, será


reconhecido pela Lex Fori/Lei do Foro (Lei do lugar onde o caso é julgado),
sempre que não contrarie a ordem pública.

Os direitos adquiridos têm plena eficacia extraterritorial nos Estados


contractantes, salvo se contrariarem a ordem pública.

Segundo Rechsteiner (2003 p. 178) “ a noção dos direitos adquiridos no


direito internacional privado, significa, em síntese, a protecção e o
reconhecimento dos direitos, validamente adquiridos no estrangeiro, pela
ordem jurídica interna.”.

Segundo o autor supracitado cada país regula individualmente, as


circunstâncias em que os direitos que foram obtidos no estrangeiro são

Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 131


Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
considerados legalmente adquiridos e sob quais condições podem ou devem
ser reconhecidas pela ordem jurídica interna. Ainda, que os direitos
adquiridos no estrangeiro estão protegidos pelo Direito Internacional
Privado pelo interesse da continuidade e pela garantia da certeza de tais
direitos.

Antoine Pillet, grande mestre da Universidade de Paris, definiu a teoria dos


direitos adquiridos no Direito Internacional Privado (DIP) como sendo a
matéria destinada a saber se os efeitos da aplicação de determinada lei, em
determinada relação jurídica, seriam, ou não, reconhecidos em uma outra
jurisdição.

Antoine Pillet afirma que é necessário existir respeito pelos actos jurídicos
que tenham sido realizados em conformidade com as leis do país alienígena
(estrnageiro), caso contrário, o comércio internacional tornar-se-ia inviável e
os Estados não tem interesse em dificultar os contratos internacionais.

Quanto à sentença estrangeira, Jacob Dolinger36 enfatiza o pensamento do


mestre Antoine Pillet, qual seja: “Todo Estado deve, como regra geral,
assegurar sobre seu território, o respeito e a observância dos direitos
adquiridos no estrangeiro. Este princípio pode ser qualificado como um dos
fundamentos do Direito Internacional Privado”, uma vez que, no plano
internacional, não seria admissível que a Justiça de um Estado fosse
substituída pela justiça de outro Estado. A ordem pública é uma limitação
do reconhecimento dos direitos adquiridos.

Actividades

A seguir, estão as actividades correspondentes a esta primeira unidade.


Resolva os exercícios propostos em cada uma e verifique se acertou,
conferindo a sua resposta na Chave de Correcção no final do presente Guia
de Estudo.

1. Explique a noção de Ordem Pública;


2. Explique as características da Ordem Pública;
3. Explique os efeitos da Ordem Pública;
4. Explique a relação entre Ordem Pública e DIP;
5. Explique como se classifica a Ordem Pública no âmbito do DIP;
6. Explique a relação entre Ordem Pública e Direitos Adquiridos;
7. Explique a relação entre Ordem Pública e Autonomia da
vontade;
8. Explique a regulação jurídica da Ordem Pública em
Moçambique, no âmbito do DIP;

36 DOLINGER, Jacob – Direito Internacional Privado, parte geral, 9ª edição actualizada, Renovar, 2008

Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 132


Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

9. Explique a relação entre Ordem Pública, e reconhecimento e


homologação das sentenças e decisões arbitrais estrangeiras.

REFERÊNCIAS

Leituras Obrigatórias

A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para a


compreensão de nossos estudos e para a realização das actividades propostas para
esta primeira unidade de estudo. Portanto, não deixe de estudá-los.

 PROENÇA, José João Gonsalves: “Direito Internacional Privado – Parte


Geral”, 1ª Edição, Editora: Brochado, Universidade de Lusíada, Lisboa,
1992.

 Legislação Principal
 Decreto-Lei nº 47344 de 25 de Novembro de 1966 (Código Civil)

Leituras Complementares

 MACHADO, João Baptista: “Lições de Direito Internacional Privado”.


Edit. Almedina, Coimbra, 1988

 Legislação Complementar
 Dec. Lei nº 2/2009 de 24 de Abril (BR nº 016, I Série, 3º Supl. de 24 de
Abril de 2009, pág. 86 – (altera alguns artigos do Código Comercial de
Moçambique - Decreto-Lei nº 2/2005 de 27 de Dezembro de 2005);

 Decreto 1/2006 de 3 de Maio (Cria o registo de Entidades Legais e aprova


o seu regulamento. BR nº 018, I Série, de 03 de Maio de 2006, pág. 147 a
160. Revoga o Decreto-Lei nº42 42644 e o decreto nº42 645, ambos de 14
de Novembro de 1959);

U NID A D E TE M Á T IC A 6: PR OB LE M A D A Q UE STÃ O PR É V I A

Objectivos

No fim desta unidade voce deverá ser capaz de:

 Compreender a noção de questão prévia;


 Compreender como ocorre a questão prévia;
 Conhecer os pressupostos da questão prévia;
 Conhecer os requisitos da questão prévia;

Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 133


Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

 Compreender as soluções doutrinais (te0rias) de solução da


questão prévia.

Abordagens dos conteúdos da unidade

6. O Problema da Questão Previa

6.1. O que é Questão previa

Introdução: é um estudo recente, surgindo na década de 30, na doutrina


alemã. Tem rara ocorrência. Não é comum nos deparar com uma questão
prévia. As próprias legislações não trabalham de forma apropriada ou de
forma específica a questão prévia, sendo encontrada, em especial, nas
relações de sucessão.

6.2. Como Ocorre a Questão Previa

A questão prévia ocorre quando sempre lhe é submetida uma analise de


DIP, e ao se deparar com esse raciocínio (acima), depara-se com uma
segunda análise, que se demonstra vinculada com a primeira, também de
direito internacional privado, e, sem resolver essa segunda questão
vinculada, não se pode analisar a questão principal. A questão prévia é um
instrumento que diante da questão principal, o juiz deve tratar, de forma
antecipada, uma questão anterior. P. ex. acção de paternidade (questão
anterior), alimentos (questão posterior).

6.3. Questao Previa. Conceito

Ou seja, questão prévia é quando duas relações de DIP se aproximam e se


entrelaçam ao caso concreto, não sendo possível resolver uma, sem resolver
a outra, pois uma se sobrepõe à outra. A questão prévia ocorre quando
tenho duas relações de DIP que a priori seriam distintas, que apresentam
características diversas, mas que por algum motivo se entrelaçam, sendo
que a questão principal fica pendente à resolução da questão prévia.

Ela faz uma interrupção do raciocínio jurídico, entre a constatação da regra


de conflito e a aplicação do direito material. Como se fosse outra relação de
DIPRI que se atravessa (uma prévia e outra principal). Como se identificada
uma informação faltante, que será obtida na resolução dessa questão
prévia, dessa análise da outra relação de direito internacional privado.

A questão prévia é um problema de interpretação e aplicação da norma


material. Esta, ao tratar de constituir, modificar ou extinguir uma relação
jurídica condicionada, se reporta pressuponentemente à relação jurídica
condicionante tomando-o como um dado de facto.

Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 134


Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

6.4. Caracterização

Primeiramente, passa-se a analisar uma questão jurídica, que é a questão


principal e ao desenvolver esta análise, verifica-se a segunda questão
jurídica, que é a questão prévia, cada uma com direitos diversos, com
vinculações concretas. A situação que vincula as duas, na maioria dos casos,
é a de que a situação principal terá uma resolução diversa da questão
prévia. Quando geralmente se tem essa vinculação? Quando uma das partes
que protagoniza essa primeira relação também protagoniza a questão
prévia. É uma conexão de agentes. Pelo menos um mesmo agente. Ou seja,
há uma coincidência de agentes.

Ex1.: a maioria é discussão levantada quanto há problema que envolve


sucessão.

Por exemplo, sucessão legal de um suíço que falece com último domicílio
na Suíça e deixando bens em Moçambique. A questão principal é a
determinação dos sucessíveis e das suas quotas hereditárias. O art. 62º C.C.
(Moçambique) remete para a lei Suíça. O art. 457º CC suíço estabelece
como primeira classe de sucessíveis legais os descendentes dos autos da
sucessão. Pode discutir-se se dada pessoa é ou não filho do autor da
sucessão. É uma questão prévia relativa à filiação.

6.5. Os pressupostos da Questão Previa.

1. Existirem 2 questões conectadas por um nexo de prejudicialidade;

2. Exige-se que o estatuto da questão principal seja estrangeiro (pois


se o DIP do foro mandasse aplicar as suas próprias regras não
faria sentido perguntar se a questão prévia deveria ser regulada
pelo sistema de conflitos do foro ou pelo DIP do ordenamento
tido como competente para apreciar a questão principal);

3. Exige-se que a questão prévia e a questão principal sejam


conectadas por elementos de conexão diferentes (por exemplo, a
lei que regula o regime matrimonial tende a ser diferente da que
regula o regime sucessório).

6.6. Requisitos:

a) Existem duas questões (a principal é a sucessória e a matrimonial é


a prévia) ligadas por um nexo de prejudicialidade (pois para serem
atribuídos direitos sucessórios a “A” é necessário que se demonstre a
validade do seu casamento com “B”);
b) O estatuto da questão principal era estrangeiro;
c) As questões eram conectadas por normas de conflito diferentes
(estatuto sucessório e matrimonial).

6.7. Teorias aplicáveis para a solução da Questão Prévia.

 Teoria da Conexão autónoma (teoria clássica): Os defensores


desta teoria consideram que deve ser o próprio sistema de conflitos do

Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 135


Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
foro a definir o regime aplicável à questão prévia. Esta doutrina defende
que a questão prévia deve ser resolvida autonomamente e
separadamente da questão principal, quase como se entre as duas não
existisse qualquer ligação.

 Teoria da Conexão Subordinada: Os apologistas desta teoria


consideram que a questão prévia deve ser solucionada pelo DIP do
ordenamento que regula a questão principal (lex causae).

 Solução adoptada: Nós seguimos a tese da conexão subordinada


(segundo a qual deve ser o ordenamento ao qual foi atribuída
competência para julgar a questão principal a definir o regime aplicável
à questão prévia – lex causae), todavia, seguimos esta tese com algumas
restrições, nomeadamente nos casos em que a mesma ponha em causa
de modo incontornável o princípio da harmonia jurídica interna.

Ou seja, seguimos por regra a tese da conexão subordinada, excepto nos


casos em que daí resulte ofensa intolerável à harmonia jurídica interna.
Nessas situações não se deve aplicar o DIP da lex causae e tem de se
recorrer ao DIP do foro para determinar o regime aplicável à questão
prévia.

Actividades

A seguir, estão as actividades correspondentes a esta primeira unidade.


Resolva os exercícios propostos em cada uma e verifique se acertou,
conferindo a sua resposta na Chave de Correcção no final do presente Guia
de Estudo.

1. Explique a noção de questão prévia;


2. Explique os pressupostos da questão prévia;
3. Identifique os requisitos da questão prévia;
4. Identifique e explique as teorias aplicáveis a questão prévia;
5. Identifique as soluções doutrinais (te0rias) de solução da questão
prévia.

REFERÊNCIAS

Leituras Obrigatórias

A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para a


compreensão de nossos estudos e para a realização das actividades propostas para
esta primeira unidade de estudo. Portanto, não deixe de estudá-los.

 PROENÇA, José João Gonsalves: “Direito Internacional Privado – Parte


Geral”, 1ª Edição, Editora: Brochado, Universidade de Lusíada, Lisboa,
1992.

 Legislação Principal

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

 Decreto-Lei nº 47344 de 25 de Novembro de 1966 (Código Civil)

Leituras Complementares
 MACHADO, João Baptista: “Lições de Direito Internacional Privado”.
Edit. Almedina, Coimbra, 1988

 Legislação Complementar
 Dec. Lei nº 2/2009 de 24 de Abril (BR nº 016, I Série, 3º Supl. de 24 de
Abril de 2009, pág. 86 – (altera alguns artigos do Código Comercial de
Moçambique - Decreto-Lei nº 2/2005 de 27 de Dezembro de 2005);

 Decreto 1/2006 de 3 de Maio (Cria o registo de Entidades Legais e aprova


o seu regulamento. BR nº 018, I Série, de 03 de Maio de 2006, pág. 147 a
160. Revoga o Decreto-Lei nº42 42644 e o decreto nº42 645, ambos de 14
de Novembro de 1959);

UNIDADES TEMÁ TICA 7: O PROBLEMA DAS


QUALIFICAÇÕES

Objectivos

No fim desta unidade voce deverá ser capaz de:

 Compreender a problemática dos dos conflitos das qualificações


e a sua amplitude;
 Compreender a noção dos conflitos das qualificações
 Compreender a noção dos conflitos das qualificações, tendo em
conta os conceitos técnicos-jurídicos usados nos conceitos
quadros e elementos de conexão;
 Compreender os tipos de soluções dos conflitos de qualificações
em relação aos conceitos técnicos-jurídicos usados nos conceitos
quadros e elementos de conexão;
 Compreender a noção de conflitos positivos das qualificações
(cúmulo jurídico);
 Compreender a noção de conflitos negativos das qualificações
(vácuco jurídico);
 Compreender a relação entre o conflito negativo das
qualificações e o reenvio;
 Compreender a solução dos conflitos das qualificações, tendo em
conta a hierarquia das instituições jurídicas;

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

Abordagens dos conteúdos da unidade

7. O Problema (conflito) das Qualificaçoes


Os “Conflitos de Qualificações” são problemas especiais de
interpretação e aplicação do direito de conflitos

O problema das qualificações em Direito Internacional


Privado pode ser analisado em dois sentidos:
 Qualificaçao como sisgnificado ou sentido dos conceitos técnicos-
jurídicos utilizados no sistema de normas de soluçao de conflito de leis.
 Conflito das qualificaçoes, em relaçao a instituiçao jurídica onde se
insere o conceito técnico-jurídico em análise.
 Conflito das qualificaçoes, tendo em conta o número de leis que podem
ou não serem competentes para solucionar um conflito de leis no
espaço.

7.1. Qualificaçao como sisgnificado ou sentido dos


conceitos técnicos-jurídicos utilizados no sistema de
normas de soluçao de conflito de leis.

7.1.1 Origem da teoria da qualificaçao

A Teoria foi desenvolvida pelos juristas Franz Kaltn, na Alemanha (1891), e


Etienne Bartin, na França (1897). Significa, a qualificação serve para
adequar um caso concreto a uma especialidade do direito que lhe é
pertinente, como exemplo: família, obrigações, contratos, sucessões, etc;
classificando matéria jurídica e definindo as questões principais, como no
caso do divórcio e questões prévias, num regime de bens ou paternidade,
como exemplo.

A norma de Direito Internacional Privado possui objeto de conexão e


elemento de conexão. O objeto alude a conceitos jurídicos (capacidade, bem
imóvel etc.), enquanto o elemento é a chave para a aplicação do Direito
correto (nacionalidade, domicílio etc.). A qualificação atinge apenas o
objeto da conexão. Isto é, a Teoria das Qualificações incide sobre o facto
social, porque os sistemas jurídicos são diferenciados quanto aos seus
institutos. Caso assim não ocorresse, não haveria necessidade de qualificar.
Por exemplo, os conceitos de personalidade de bens imóveis e móveis não
são os mesmos em todas as partes do mundo.

7.1.2. Qualificaçao. Conceito

Torna, necessário examinar a Teoria das Qualificações, dada sua


importância no desenvolvimento do Direito Internacional Privado.

Mas antes de falarmos das peculiaridades da aplicação do direito


estrangeiro em território nacional, relevante é a discussão da qualificação.

A qualificação é a operação pela qual o juiz, antes de decidir, verifica,


mediante prova feita, a que instituição jurídica corresponde os fatos
provados. São as questões jurídicas que serão qualificadas, não os fatos. Por
exemplo, são rotineiros os institutos que apresentam controvérsia e

Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 138


Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
requerem qualificação: domicílio, móveis e imóveis, prescrição e
decadência, salário e gratificação, roubo, furto e estelionato.

Conceituar + classificar = qualificar (o objeto de conexão)

Qualificação: “Qualificar é classificar, é definir, para alguns. Se


tivermos uma questão de direito internacional privado, é preciso
determinar a forma pela qual ela se enquadra no sistema jurídico de
determinado país. [...] se resume em identificar como a questão que
se põe ao julgador, ao doutrinador, é conceituada no sistema jurídico
alienígena”.

Jacob Dolinger diz: “é um processo técnico-juridico sempre presente no


direito, pelo qual classificam ordenadamente os fatos da vida relativamente
às instituições criadas pela Lei ou pelo Costume, a fim de bem enquadrar as
primeiras nas segundas, encontrando-se assim a solução mais adequada e
apropriada para os diversos conflitos que ocorrem nas relações humanas”.

“Qualificação” que, segundo o Prof. OSÍRIS ROCHA¹ é “a operação pela


qual o juiz, antes de decidir, verifica, mediante a prova feita, a qual
instituição jurídica correspondem os fatos realmente provados”.

A qualificação é a operação pela qual o juiz, antes de decidir, verifica,


mediante prova feita, a que instituição jurídica correspondem os fatos
provados. São as questões jurídicas que serão qualificadas, não os fatos.

Qualificação é a técnica que visa enquadrar a questão jurídica dentro do


sistema legal de determinado país.

Dessa forma, qualificar é saber com clareza como e qual instituto é aplicável
à situação apresentada.

Tal necessidade é ainda mais premente quando se observa a existência de


institutos desconhecidos em um ou outro país.

O famoso internacionalista francês, Bartin, entendeu por bem aplicar a


essas questões a lex fori (lei do foro).

Exemplo de um caso histórico sobre um conflito de qualificação.

A sucessão do maltês: refere-se a casamento ocorrido na Ilha de Malta,


sem pacto nupcial, onde os noivos se estabeleceram, Em 1889, o casal
emigrou para Argélia, então sob legislação francesa, onde o marido faleceu,
sem descendentes, mas deixando muitos bens imóveis e outros herdeiros.

A viúva maltesa nada herdaria pela lei francesa, mas seria contemplada com
a quarta parte dos bens se fosse aplicada a legislação vigente em Malta. O
seu advogado começou sua defesa pelo questionamento se tratava de direito
de família ou sucessões. Para este, sua tese era de que a solução se
encontrava no direito de família, devendo ser buscada no regime
matrimonial, portanto, a lei maltesa.

Se o tribunal colocasse a lide no direito sucessório a legislação aplicável


seria francesa, pois a sucessão de bens imóveis era regulada pela lei da

Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 139


Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
situação dos mesmos e estes se encontravam na Argélia. Venceu a tese do
advogado, a viúva recebeu sua parte.

7.1.3. Fundamentos da Qualificações

Se todos os sistemas jurídicos tivessem seus instrumentos iguais,


enfeixados nos mesmos títulos e capítulos, inexistiria a chamada doutrina
das qualificações.

Ocorrem que os conceitos variam de legislação para legislação, tanto no que


tange ao linguajar como também à qualificação. Fica portanto a indagação:
qual é a lei que qualifica a coisa:

A exemplo disto, podemos citar a noção de personalidade que está


vinculada a certas controvérsias, como aquela de nascer com vida e com
forma humana, ou somente nascer com vida.

Os códigos dos países europeus, na sua maioria, frisam que a personalidade


começa no nascimento com vida e com forma humana. Enquanto isto, o
nosso Código Civil é taxativo: a personalidade começa no nascimento com
vida.

Isto, por si só, basta.

Igualmente, o conceito de domicílio, varia de legislação para legislação. No


Direito Moçambicano, domicílio está caracterizado pelo elemento objetivo
(residência) e pelo elemento subjetivo (animus de permanecer), enquanto o
Direito francês entende que domicílio é o lugar onde a pessoa tem o
principal estabelecimento ou o centro de suas atividades.

As divergências não ficam somente aqui. Elas aparecem também na divisão


dos bens em imóveis e móveis, bem assim no que se refere aos bens de
comércio e fora dele.

E, finalmente, as coisas se complicam mais quando existe, em determinada


legislação, uma instituição inteiramente desconhecida por outra. Estamos
assim diante das chamadas instituições desconhecidas, assunto que será
estudado quando tratarmos dos limites da aplicação do direito estrangeiro.

Aqueles, que se dedicam ao estudo do DIP, de início haverão de


indagar: como serão resolvidas tantas controvérsias?

Bartin, famoso internacionalista francês, resolveu tudo de maneira muito


simples e fácil, ou seja, através da Lex Fori ou da Lei do Foro.

Assim sendo, o juiz, ao aplicar o direito estrangeiro, não deve se preocupar


com a qualificação do instituto por parte do sistema de sua origem, e sim
tomando como base a sua própria lei.

Foram seus seguidores: Weiss, Nussbaum e Anziloiti. O primeiro com


atuação na França, o segundo, na Alemanha e o último, na Itália.

Não é, entretanto, pacífica a opinião desses conceituados doutrinadores.


Despagnet, outro francês renomado, autor da obra Précis de Droit

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
International Privé, ficou visceralmente contra a referida recomendação.
Para ele não devemos aplicar a lex fori, mas sim a lex causae.

Ademais, se o fim do DIP é a solução de conflitos interespaciais de normas,


com eventual aplicação da lei estrangeira, deve, portanto, ser aplicada tal
como é, em toda a sua inteireza, isto é, completa não só na sua qualificação
como também nas relações jurídicas.

7.1.4. Métodos de Soluçao dos conflitos das qualificaçoes

1. Lex fori: a maioria dos internacionalistas indicam que para melhor


solução deve-se aplicar a lei do fori.

 Teoria da Lex Fori (qualificação fori)  Para esta teoria os


conceitos técnico jurídicos que integram o conceito quadro deverão ser
interpretados e dever-lhe-á ser atribuído o mesmo conteúdo que esses
mesmos conceitos têm no direito material do foro. Assim, por exemplo,
se a norma de conflitos usa o conceito de “relação familiar”, então
deverão considerar-se como tal as relações que o direito material do
foro considera como “relações familiares”.

2. Lex Cusae: a lei do ordenamento jurídico que potencialmente seria


aplicado a causa.

 Teoria Comparatista (qualificação comparatista)  Defende


que os conceitos usados pelas normas de conflito devem resultar de
uma súmula do que de comum existe entre os vários direitos materiais
das várias ordens jurídicas em contacto com a questão (ou seja, tem de
resultar daquilo que há de comum a um mesmo conceito onde quer que
seja apreciado).

Conceitos autônomos e universais: para saber como se classifica


um determinado fato, eu vou investigar todos os sistemas jurídicos e vou
ver qual é a maioria seguida em relação aquele fato, daí sigo aquele
ordenamento.

3. Teoria da qualificação Teleológica (Posição Adoptada)  Mas


a doutrina moderna começou a afastar-se das teses comparatistas. Hoje
em dia a tese dominante é a teleológica, que defende que os conceitos
quadros devem ver o seu conteúdo determinado tendo em conta a
própria finalidade das normas de conflito, isto é, os interesses que o
legislador de conflitos do foro pretende salvaguardar ao elaborar aquela
norma com aquela estrutura e elemento de conexão.

Passos para a realizaçao da qualificação:

1º Qualificação primaria ou de competência: temos que olhar para o


caso e saber quais são as normas materiais do foro que se aplicariam para
resolver aquele caso;

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

2º Qualificação secundária ou material: determinar qual é a regra de


conflitos que vai solucionar o caso, qualificando as normas materiais do
foro que foram achadas na qualificação primária.

7.2. Critérios de Hierarquia, tendo em conta a instituição


jurídica onde se insere o conceito técnico-jurídico em
análise.

 O critério sobre a substância afasta a qualificação da forma do


negócio;

 Qualificação real prevalece sobre a qualificação pessoal;

 A qualificação do regime matrimonial prevalece sobre a


qualificação sucessória;

 A qualificação especial afasta a qualificação geral.

7.3. Conflito das qualificações, tendo em conta o número


de leis que podem ou não serem competentes para
solucionar um conflito de leis no espaço

 Conflitos positivos de qualificação (Cúmulo Jurídico):


quando numa relação jurídico privada com o elemento estrangeiro, há
concurso de normas de Direito Internacional Privado (de conflito), de
dois ou mais países, chamadas a regular uma questão (conflito de leis
no espaço), e todos se mostram competentes para solucionar
o conflito de leis no espaço;

 Conflitos negativos de qualificação (Vácuo Jurídico):


quando numa relação jurídico privada com o elemento estrangeiro, há
concurso de normas de Direito Internacional Privado (de conflito), de
dois ou mais países, chamadas a regular uma questão (conflito de leis
no espaço), e nenhuma se mostram competentes para
solucionar o conflito de leis no espaço;

7.3.1. Conflitos Positivos de Qualificação (Cúmulo Jurídico)

 Conflito positivo de qualificações – Neste caso configuram-se


as situações em que concorrem simultaneamente mais do que um
ordenamento com igual legitimidade, a solução deverá ser encontrada
dando preferência ao ordenamento concorrente, cuja regulamentação
melhor satisfaça os interesses em causa (segundo o critério do direito do
foro). A doutrina sugere que se procure uma relação de hierarquia entre
as qualificações conflituantes, ou seja, entre os estatutos visados pelas
normas de conflitos em concorrência.

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Sugerem quando à face de um determinado sistema de normas de conflitos,
duas ou mais normas de conflitos aparecem como que a reclamar,
simultaneamente, a sua aplicação a uma certa situação da vida.

Exemplo:

A e B de nacionalidade grega, celebram na RFA, casamento civil. Face ao


direito grego anterior, o casamento de dois gregos ortodoxos tinha de ser
celebrado segundo o rito ortodoxo. Esta exigência, perante a ordem jurídica
grega, respeitava à validade substancial do casamento.

Por seu turno, o direito alemão previa um único modo de celebração do


casamento, o civil, do qual fazia depender a validade formal do casamento.

A questão que se discute é a validade ou não de um casamento entre


cidadãos gregos A e B, celebrado na Alemanha e segundo a lei alemã, na
forma civil pública, prescrita por este último direito.

Perante o direito de conflitos moçambicano (a questão está a ser


discutida em Moçambique) o direito grego é o aplicável à
validade substancial deste casamento, porque:

1. É o direito chamado pela norma de conflitos do art. 49º CC;

2. As normas de direito grego, caracterizadas perante a ordem jurídica em


que se inserem respeitam à validade substancial do casamento, logo,
podem ser subsumidas na norma de conflitos do art. 49º CC que se
refere, precisamente, à questão da validade substancial do casamento.

Porém o direito alemão é o direito do país de celebração do casamento,


assim:

1. É o direito chamado pela norma de conflitos do art. 50º CC;

2. As normas de direito alemão caracterizadas na ordem jurídica em que


se inserem, referem-se à validade formal do casamento e podem ser
subsumidas na norma de conflitos do art. 50º CC.

Está-se, portanto, perante um autêntico conflito positivo em matéria de


qualificação uma vez que a regulamentação, resultante de ambas as ordens
jurídicas em presença e dos dois grupos de normas materiais em presença é
contraditória: ambos os grupos de normas materiais – por um lado, as
normas de direito grego, por outro, as normas de direito alemão –
reclamam a sua aplicação ao caso e são chamados por duas normas de
conflitos do foro, estas mesmas normas materiais regulam a questão
contraditoriamente:

1. Segundo o direito grego, regulador da questão da substância o


casamento seria inválido;

2. Por aplicação do direito alemão, regulador da questão formal o


casamento seria válido (art. 50º CC).

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7.3.2. Conflitos Negativos das Qualificações

Conflito negativo de qualificações: Há um conflito negativo de


qualificações, sempre que se verifique a existência de uma lacuna na
determinação da lei aplicável a uma situação plurilocalizada. Acontece
quando as leis materiais de dois ordenamentos chamados a regular uma
situação, não a qualificam em conformidade com a competência que lhes
adviria da conexão que justificou tal chamamento.

Aqui é possível pelo menos à primeira vista, descobrir através das normas
de conflito do foro, qualquer regra material susceptível de regular a questão
privada internacional em causa. E isto, apesar de se verificar que a questão
admite tutela porque, em si mesma considerada, pode ser reconduzida a
uma das categorias típicas da tutela admitidas em abstracto, em cada uma
das ordens jurídicas conectadas com a situação privada internacional.

A, cidadão inglês (britânico), faleceu intestado com último domicílio em


Moçambique e deixou bens imóveis no nosso pais. A, era solteiro e não
deixou descendentes. Perante um tribunal Moçambicano, coloca-se a
questão de saber qual o destino dos bens imóveis deixados por A.

A lei reguladora da questão sucessória, por aplicação da norma de conflitos


do art. 62º CC conjugada com o art. 31º/1 CC e com o art. 20º CC é, por
hipótese, a lei inglesa. No direito inglês, encontra-se uma norma que atribui
à Coroa Britânica e outras entidades, um direito de apropriação
relativamente a bens deixados vagos no seu território.

Este direito atribuído à Coroa Britânica tem natureza pública sendo possível
aproximá-lo de um direito real. Portanto, por simplificação, dir-se-á que se
trata de uma norma que, caracteriza na ordem jurídica em que se insere,
respeita aos direitos reais. Todavia, esta mesma norma, correctamente
interpretada na ordem jurídica em que se insere, abrangeria apenas, bens
situados na Inglaterra.

Perante um tribunal moçambicano poderá esta norma ser invocada?

Impõe-se saber se ela é subsumível na norma de conflitos do art. 62º CC.


Mas a resposta é negativa porque esta norma inglesa era uma competência
que se restringia as normas relativas à questão sucessória.

A Coroa Britânica não pode fazer valer o seu direito de apropriação


relativamente a imóveis situados em Moçambique, para além do mais, a
norma referia-se apenas aos bens situados no Reino Unido da Grã-
Bretanha.

Poderão, então o Estado, devidamente reivindicar um direito como sucessor


de A, tendo em conta as normas dos arts. 2252º segs. CC?

Estas normas do direito português, devidamente caracterizadas na ordem


jurídica portuguesa, são normas de carácter sucessório e que, portanto, se
poderiam subsumir à norma do art. 62º CC só que esta norma de conflitos
não designa como aplicável a lei portuguesa, mas a lei inglesa.

Mas serão estas normas de direito material Moçambicano, subsumíveis a


outra norma de conflitos? Eventualmente, o direito Moçambicano poderia

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
ser designado por outra norma de conflitos por ex., a do art. 46º C.C. que
respeita a direito reais e designa como aplicável a lei do lugar da situação
dos bens, logo, o direito português. Simplesmente, as normas dos arts.
2252º, e seguintes do Código Civil apresentam natureza sucessória, donde
não se poder subsumi-las na norma do art. 46º C.C.

Surge assim, um vácuo de normas, falta de normas ou, dito de outro modo,
um conflito negativo de qualificação.

Não tem nenhuma norma quanto àquela questão então não é matéria
sucessória, é de direitos reais, logo falha em termos de função e conteúdo.
Há uma falha de qualificação.

7.4. Solução dos conflitos das qualificações

7.4.1. Solução dos Conflitos Positivos das Qualificações.

Critérios de Hierarquia
1) O critério sobre a substância afasta a qualificação da forma do
negócio;
2) A qualificação real prevalece sobre a qualificação pessoal;
3) A qualificação do regime matrimonial prevalece sobre a qualificação
sucessória;
4) A qualificação especial afasta a qualificação geral.

7.4.2. Solução dos Conflitos Negativos das Qualificações.

O reenvio como problema da interpretação do direito de


conflitos
O pressuposto básico da norma de conflitos é a existência de mais que uma
lei que concorre à resolução de certa questão privada internacional (conflito
de leis no espaço), directamente através das suas normas do direito interno
(materiais) ou, também através de normas de outro ordenamento recebidas
através de uma norma de remissão material.

Quando a lei estrangeira designada pelo DIP do foro, designa por seu turno,
para regular o caso, a própria lei do foro, ou uma outra lei, trata-se de um
conflito negativo de normas, e a sua solução é o Reenvio.

Importa referir que nem todos países aceitam o Reenvio. Em Moçambique


como princípio geral (artigo 16º do C.C.) não é admitido o Reenvio, salvo
algumas excepções devidamente reguladas pela legislação (artigos 17º e 18º
do C.C.).

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
7.5. Atitudes dos países sobre aceitação ou negação do Reenvio:

1ª Atitude favorável ao reenvio como princípio geral.

2ª Atitude absolutamente condenatória do reenvio.

3ª Atitude condenatória do princípio, mas favorável ao reenvio com um


alcance limitado.

Actividades

A seguir, estão as actividades correspondentes a esta primeira unidade. Resolva os


exercícios propostos em cada uma e verifique se acertou, conferindo a sua resposta
na Chave de Correcção no final do presente Guia de Estudo.

1. Explique o que entende por conflito das qualificações, em relação


aos conceitos técnicos jurídicos usados para designar conceitos
quadros e elementos de conexão;
2. Explique o que entende por qualificação no âmbito do DIP;
3. Explique o que entende por conflito positivo das qualificações
(cúmulo jurídico);
4. Explique o que entende por conflito negativo das qualificações
(vácuco jurídico);
5. Explique a relação entre conflito negativo das qualificações
(vácuco jurídico) e o reenvio.
6. Identifique e explique as soluções dos conflitos das qualificações,
que surgem em relação ao conceito técnicos jurídicos usados nos
conceitos quadros e elementos de conexão;
7. Identifique e explique as soluções dos conflitos positivos das
qualificações (cúmulo jurídico), tendo em conta a hierarquia das
instituições jurídicas.
8. Identifique e explique as soluções dos conflitos negativos das
qualificações (vácuo jurídico);

REFERÊNCIAS

Leituras Obrigatórias

A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para a


compreensão de nossos estudos e para a realização das actividades propostas para
esta primeira unidade de estudo. Portanto, não deixe de estudá-los.

 PROENÇA, José João Gonsalves: “Direito Internacional Privado – Parte


Geral”, 1ª Edição, Editora: Brochado, Universidade de Lusíada, Lisboa,
1992.

 Legislação Principal
 Decreto-Lei nº 47344 de 25 de Novembro de 1966 (Código Civil)

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

Leituras Complementares
 MACHADO, João Baptista: “Lições de Direito Internacional Privado”.
Edit. Almedina, Coimbra, 1988.

 Legislação Complementar
 Dec. Lei nº 2/2009 de 24 de Abril (BR nº 016, I Série, 3º Supl. de 24 de
Abril de 2009, pág. 86 – (altera alguns artigos do Código Comercial de
Moçambique - Decreto-Lei nº 2/2005 de 27 de Dezembro de 2005);

 Decreto 1/2006 de 3 de Maio (Cria o registo de Entidades Legais e aprova


o seu regulamento. BR nº 018, I Série, de 03 de Maio de 2006, pág. 147 a
160. Revoga o Decreto-Lei nº42 42644 e o decreto nº42 645, ambos de 14
de Novembro de 1959);

UNIDADES TEMÁ TICA 8: O REENVIO

Objectivos

No fim desta unidade voce deverá ser capaz de:


 Compreender a relação entre aplicação do Direito Material
Estrangeiro e o Reenvio;
 Compreender a relação entre os Conflitos negativos das
qualificações e o Reenvio;
 Compreender a noção do Reenvio;
 Conhecer a classificação do Reenvio;
 Compreender as teorias de aceitação e rejeição do Reenvio, bem
como a sua fundamentação jurídica em Moçambique.
 Compreender a origem do Problema do Reenvio;
 Conhecer a origem histórica do Reenvio;
 Conhecer a atitude dos países em relação a aceitação ou negação
do Reenvio;
 Compreender o sentido dos dispositivos normativos regulados
pelo Código Civil moçambicano, nos art. 16; 17; 18 e 19,
respectivamente;
 Conhecer o principio geral regulado pelo Código Civil de
Moçambique (artigo 16º) sobre aceitação ou não do Reenvio;
 Compreender as excepções do princípio geral, regulados pelo
Código Civil Moçambicano (art. 17º e 18º);
 Compreender as razões preconizadas na doutrina, que
fundamentam a aplicação das excepções previstas nos Código
Civil Moçambicano. (artigo 17º e 18º);
 Compreender as razões da não aplicação das excepções previstas
no Código Civil (artigo 17º e 18º)
 Compreender as circunstâncias e fundamentos legais que
impedem a aplicação do Reenvio, no âmbito do Código Civil
Moçambicano (artigo 19º).

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Abordagens dos conteúdos da unidade

8. O Reenvio
8.1. O Reenvio e o Conflito das qualificações

Conflito positivo de qualificações – Neste caso configuram-se as


situações em que concorrem simultaneamente mais do que um
ordenamento com igual legitimidade, a solução deverá ser
encontrada dando preferência ao ordenamento concorrente, cuja
regulamentação melhor satisfaça os interesses em causa (segundo o
critério do direito do foro). A doutrina sugere que se procure uma
relação de hierarquia entre as qualificações conflituantes, ou seja,
entre os estatutos visados pelas normas de conflitos em concorrência.
Conflito negativo de qualificações: Há um conflito negativo de
qualificações, sempre que se verifique a existência de uma lacuna na
determinação da lei aplicável a uma situação plurilocalizada. Acontece
quando as leis materiais de dois ordenamentos chamados a regular uma
situação, não a qualificam em conformidade com a competência que lhes
adviria da conexão que justificou tal chamamento. A soluçao do dos
Conflito negativo de qualificações é: O Reenvio, que também é uma
excepçao da aplicaçao do Direito Material Estrangeiro.

11.2. O Problema do Reenvio


Quando a norma de conflitos Moçambicana remete para uma ordem
jurídica estrangeira pode suceder que esta ordem jurídica, por ter uma
norma de conflitos idêntica à nossa, também considere aplicável o seu
Direito material. Mas pode suceder igualmente que esta ordem jurídica,
por ter uma norma de conflitos diferente da nossa, não se considere
competente e remeta para outra lei. Surge então o problema da devolução.

O problema do reenvio é o que surge do facto da legislação estrangeira


designada pelo DIP do foro para regular certa questão jurídica, se lhe não
considerar aplicável e antes remeter para outra ordem jurídica. (conflito
negativo de normas)

11.2.1. O problema é o seguinte:


Devemos aplicar a lei designada, mesmo que este não se considere
competente, ou devemos ter em conta o DIP da lei designada?
-Será que esta referência se dirige directa e imediatamente ao Direito
material da lei designada ou será que, diferentemente, esta referência pode
a abranger o DIP da lei designada?

Exemplos:

a) Um cidadão brasileiro domiciliado em Moçambique morre neste país.


Segundo o DIP moçambicano, a lei reguladora da sucessão desse
indivíduo é a brasileira, segundo o DIP brasileiro, a lei aplicável é a
moçambicana (“lex domicili”).

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O reenvio neste caso chama-se retorno ou reenvio de 1° grau e podemos
figurá-lo do seguinte modo:

L1 L2 L2 L1 (“lex fori”)

Nota: o caso foi julgado em Moçambique

L1= (Lex Fori/Lei do Foro)= L1: Lei do país onde está sendo julgado o caso
sub Júdice (caso em apreço)

L1 (Lei que indica = ponto de partida na análise do caso): é uma norma de


conflito (DIP)

L2 (Lei indicada = ponto de chegada na análise do caso)

Nota: No caso em apreço (sucessão por morte) estamos perante uma


relação juríco-privada com elemento estrnageiro, onde a norma de conflito
do foro (L1), nos termos do artigo 62º do CC, apontou como competente a
alei pessoal do de cujo (cidadão brasileiro falecido), e como o artigo 31º do
CC, considera a lei pessoal a lei da nacionalidade, será a lei brasileira. Por
sua vez a Lei brasileira (DIP do Brasil) não se mostrou competente e
devolveu (apontou) para a Lei material Moçambicana, e esta se mostrou
competente, nos termos do artigo 18º do CC.
b) O de-cujus era um cidadão dinamarquês domiciliado na Itália. A lei
moçambicana (“lex fori”) manda aplicar à sucessão a lei dinamarquesa
(“lex patriae”), que no entanto defere o problema para a lei, italiana, (“lex
domicili”) do último domicílio do hereditando.

Neste caso o reenvio chama-se transferência de competência,


ou reenvio de 2° grau

L1 L2 L3 (lex domicili)
O problema do reenvio deve ser colocado perante o DIP da “lex fori” e
tratado neste enquadramento como problema de interpretação do direito
local, de modo a abranger a própria integração do direito vigente.

8.2.1. O reenvio como problema da interpretação do direito


de conflitos
O pressuposto básico da norma de conflitos é a existência de mais que uma
lei que concorre à resolução de certa questão privada internacional,
directamente através das suas normas do direito interno (materiais) ou,
também através de normas de outro ordenamento recebidas através de uma
norma de remissão material.

Quando a lei estrangeira designada pelo DIP do foro, designa por seu turno,
para regular o caso, a própria lei do foro, ou uma outra lei, trata-se de um
conflito negativo das qualificações.

11.3. Conceito de reenvio

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O reenvio é, em Direito internacional privado, um mecanismo de solução
aos conflitos negativos de jurisdição, surgem dois ou mais legislações de
diferentes ordenamentos jurídicos nacionais e que nenhuma delas se
atribui concorrência a si mesma para resolver o assunto, senão que a cada
um a delas (as legislações) dá concorrência a uma legislação estrangeira.

O reenvio, retorno ou devolução é o modo de interpretar a norma de


direitointernacional privado, mediante a substituição da lei nacional pela
estrangeira, desprezando o elemento conexão apontado pela ordenação
nacional, para dar preferência à indicada pelo ordenamento jurídico (Lei de
Introdução ao Código Civil Interpretada, Maria Helena Diniz, p.415).

11.4. O histórico do surgimento do Reenvio. (Versão -1)

O Reenvio tem origem no famoso caso Forgo: François-Xavier Forgo,


nascido na Baviera, morou na França dos 5 aos 68 anos, onde morreu, sem
nunca ter oficializado o seu domicílio na França, como exigia a lei francesa;
um casal de parentes colaterais de sua mãe reivindicou a herança, com base
na lei bávara; pela lei francesa, esse casal não teria direito à herança e o
Estado recolheria a herança; mas, como ele não oficializou o domicílio na
França, pela lei de direito internacional privado francesa, aplicar-se-ia a lei
bávara; mas a lei da Baviera não distinguia domicílio de direito e domicílio
de fato como a francesa; pela lei bávara, ele tinha domicílio na França; a
justiça francesa então aplicou a lei francesa, negando direito sucessório ao
casal.

11.5. O histórico do surgimento do Reenvio. (Versão -2)


As origens do problema - Foi o célebre casam " Forgo ", julgado
definitivamente em 1882 pela Cassação Francesa, que veio colocar a questão
sob a plena luz da ribalta.

Forgo era um cidadão da Baviera que vivera em França longa vida e aqui
falecera intestado. Apareceram a habilitar-se-lhe à sucessão (constituída
por valores mobiliários existentes em França) certos parentes colaterais
afastados, que de facto herdariam segundo a lei vigente na Baviera, mas não
segundo a lei francesa: em face desta lei, os bens seriam para o Estado. A
primeira fase do processo findou com a decisão de que a lei aplicável era a
lei Bávara (lei do domicílio de origem do de cujus), em virtude de o
hereditando não ter chegado a adquirir um domicílio legal em França. A
partir daqui entrou a discutir-se sobre se o direito Bávaro não deveria
aplicar-se na sua totalidade; sobre se a primeira ª norma desta legislação, q
se impunha reconhecer e acatar, ñ era a q devolvia, em matéria de sucessão
mobiliária, para a lei do domicílio de facto ou residência habitual do autor
da herança, a qual vinha a ser, no caso, precisamente a lei francesa. E assim
o entendeu a Court de Cassation.

11.6. Actitudes dos Diferentes ordenamentos jurídocos


(países), sobre aceitação ou negação do Reenvio

1ª Atitude favorável ao reenvio como princípio geral.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
Esta é a atitude dos partidários da doutrina da devolução ou do reenvio,
doutrina q, em suas diferentes ramificações, arranca da ideia de que a
referência da norma de conflitos do foro à lei estrangeira tem carácter
global.

2ª Atitude absolutamente condenatória do reenvio.

Esta é a atitude dos q interpretam toda a referência da norma de conflitos à


lei estrangeira com pura vocação do dto material dessa lei - como pura
referência material.

3ª Atitude condenatória do princípio mas favorável ao


reenvio com um alcance limitado.

Esta é a posição moderna, firmada sobretudo pela doutrina alemã, e


também em Moçambique: toma-se como ponto de partida o princípio da
referência material; no entanto, reconhecendo-se que o reenvio pode levar
em muitos casos a resultados justos, adopta-se a ideia, mas tão-somente na
medida do necessário para se atingirem tais resultados.

1.2. Actitudes dos Diferentes ordenamentos jurídocos


(países), sobre aceitação ou negação do Reenvio

Argumentos doutrinais favoráveis e contrários à sua


aceitação do Reenvio:

Argumentos contrários ao Reenvio Argumentos Favoráveis ao Reenvio

1- É quando o foro decide que é aplicável 1. O D.I.P. do foro, ao aplicar norma, não
a legislação estrangeira, se a legislação poderá isolar-se do direito estrangeiro,
estrangeira atentar para seu D.I.P é pois estão interligados com o direito
julgar novamente o caso; internacional privado;
2- O D.I.P do foro é competente para 2. A aceitação pelo foro do país estrangeiro
julgar o caso, não tendo necessidade do não significa perda de soberania, é na
D.I.P. estrangeiro julgar o caso, pois verdade a obediência à regra conflitual do
isto significaria renunciar sua foro;
soberania; 3. Aceitar o D.I.P não decorre apenas de
3- A aceitação do Reenvio só se Cortesia Internacional, mas é seguir
justificaria em função da “Cortesia também uma norma juridicamente
Internacional”, o que demonstra o fundamentada;
desprezo a norma jurídica; 4. Quando dois países se julgarem
4- Aceitar o Reenvio porque a norma incompetente para o caso concreto,
estrangeira não é competente para aplicar-se-á a lex fori, de forma
aplicar ao caso, e se o outro país se subsidiária;
julgar também incompetente isso 5. O fato de o reenvio não evitar soluções
causaria um círculo vicioso; diferentes, não quer dizer que haja recusar
5- O reenvio não evitaria decisão o reenvio;
diferente;

São possíveis três atitudes:

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1ª Actitude favorável ao reenvio como princípio geral.

2ª Actitude absolutamente condenatória do reenvio.

3ª Actitude condenatória do princípio, mas favorável ao reenvio com um


alcance limitado.

 A atitude favorável (devolucionistas): é a dos partidários da doutrina


da devolução ou do reenvio, que parte da ideia de que a referência da
norma de conflitos do foro à lei estrangeira tem carácter global

 A atitude absolutamente condenatória: (anti-devolucionistas) do


reenvio é a dos que interpretam toda a referência da norma de conflitos
à lei estrangeira como pura vocação do direito material dessa lei, como
pura referência material.

 A atitude condenatória do princípio, mas favorável de forma


excepcional: ao reenvio com um alcance limitado, é a atitude
moderna, em que se toma como ponto de partida o princípio da
referência material

1.3. Teorias sobre o Reenvio (aceitação e rejeição do


reenvio)

Temos assim de distinguir duas teses (teorias):

 A teoria da referência material.


 A teoria da referência material.

1.3.1. Teoria da Referência Material


Tese da Referência Material (artigo 16º CC): Diz-nos que, quando a
norma de conflitos do foro, ao atribuir competência a outro ordenamento,
abrange nessa referência somente as normas materiais de regulamentação
desse ordenamento, então estamos perante uma referência material.

Esta tese conduz à recusa total do reenvio, sendo que essa recusa é
fundamentada pelo próprio carácter instrumental das normas de conflito
(que visam indicar o direito material aplicável às relações jurídico privadas
internacionais);

Teoria da Referência Material e da Referência Global: Só podemos


falar em reenvio se entendermos que quando o DIP do foro remete para
outro ordenamento estrangeiro, ele está a querer admitir não só o direito
material desse ordenamento mas também o seu respectivo sistema de
conflitos, pois só assim respeitará que esse ordenamento possa atribuir
competência a outro. Exemplo:

L1 (lei do foro) L2 L3

A referência de L1 para L2 tem de ser global, pois só assim admite que L2


possa remeter para L3. Se a referência de L1 para L2 for material, então não
abrange o sistema de conflitos de L2 e não permite que L2 remeta para L3.

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Sistema de referência material


A referência feita pela lei do foro (L1) ao ordenamento jurídico em causa
(L2) abrange somente as normas materiais desse ordenamento, não se
admitindo a existência de normas de DIP.

A teoria de referência material não permita a realização do


Reenvio

A fundamentação da negação do reenvio37


 A função das normas de conflito;
 A natureza internacional das normas de conflitos nacionais; e
 Objectivo das normas de conflito.

1.3.2. Teoria da Referência Global (Reenvio)


Tese da Referência Global (artigos 17º e 18º CC): Existe uma
referência global quando a norma de conflitos do foro, ao remeter
competência para outro ordenamento, abrange nessa referência as normas
materiais e as normas de conflito desse outro ordenamento (abrange todas
as normas, daí ser global).

1.4. A teoria da referência global. A sua fundamentação.

 Doutrina da devolução simples (ou reenvio simples)


 Doutrina da dupla devolução (ou duplo reenvio)
 Doutrina pragmática ou ecléctica
1.4.1. Fundamentos ou motivos de aceitação do reenvio
 A obtenção da harmonia jurídica internacional (uniformidade dos
julgados) Artig. 17º, nº1 e 18º, nº1 do C. Civil.
 Aplicação da lei mais idónea para assegurar o “exequatur” da decisão
tomada (a exequibilidade prática das decisões judiciais) Art. 17º, nº3
do C. Civil
 Validade do negócio jurídico (favor negotii) . Art. 32, nº2 e 65º do C.
Civil
1.5. Modalidades do Reenvio
 Reenvio por retorno
 Reenvio por transmissão

8.6.1 Reenvio por Retorno


Retorno Directo

37PROENÇA, José João Gonçalves: “Direito Internacional Privado – Parte Geral”, 1ª Edição,
Editora: Brochado, Universidade de Lusíada, Lisboa, 1992. Pag. 183.

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Retorno Indirecto

1.6. Modalidades do Reenvio

Modalidades de reenvio: O reenvio pode ser por retorno ou devolução


(artigo 18º, nº1 CC), mas pode também ocorrer por transmissão (artigo 17º,
nº1 CC).Exemplo:
1. Retorno (Retorno directo e indirecto) (C.Civil, Art. 18º.2)
1.1. Retorno Directo
1.2. Retorno Indirecto
2. Transmissão

Reenvio por devolução ou retorno (directo ou indirecto): Existe


reenvio na modalidade de devolução ou retorno (artigo 18º, nº1) quando a
competência acaba por ser devolvida ao ordenamento do foro. Esse retorno
é directo quando a competência é devolvida para a lei do foro directamente
de L2, e é indirecto quando essa competência não é directamente devolvida
de L2 mas sim de L3, por exemplo. Vejam-se as seguintes situações:

Quando a norma de conflito do foro se remete ao direito estrangeiro e a


norma de conflito desse direito estrangeiro se volta a remeter ao direito do
foro (isto é ida volta)

 Reenvio na modalidade de Retorno Directo


L1 (lei do foro-DIP/Conflito) L2 L1 (lei do foro - material)

Note-se que a referência de L2 novamente para L1 tem de ser material, pois


se for global dá origem a um círculo vicioso e não se obtém a harmonia
jurídica internacional.

 Reenvio na modalidade de retorno indirecto


L1 (lei do foro) L2 L3 L1 (lei do foro)

Também aqui a referência de L3 para L1 tem de ser material pelo mesmo


motivo, porque se for global dá origem ao tal círculo vicioso.
2. Reenvio por transmissão: Existe reenvio na modalidade de
transmissão (artigo 17º, nº1) quando a competência não vem a ser
devolvida ao ordenamento do foro (não volta a L1). Veja-se a seguinte
situação:

L1 (lei do foro) L2 L3 (a referência de L1 a L2 é global,


mas a de L2 para L3 tem de ser material, senão entramos num círculo
vicioso que só iria cessar quando uma referência deixasse de ser global)
Quando a norma de conflito do foro se remete ao direito estrangeiro e a
norma de conflito desse direito estrangeiro se remete a outra de outro
direito estrangeiro diferente dos dois anteriores.

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1.7. O Problema do Reenvio na ordem jurídica


moçambicana.

Na República de Moçambique como princípio geral não se aceita o


reenvio, salvo algumas excepções.

1.7.1. O problema do reenvio na ordem jurídica


moçambicana.

O art. 16º CC estabelece que a “referência das normas de conflitos a


qualquer lei estrangeira determina apenas, na falta de preceito em
contrário, a aplicação do direito interno dessa lei”.

Daqui resulta que a referência material é enunciada como regra geral. Mas
não resulta a adopção da tese da referência material, visto que se admite
“preceito em contrário”, isto é, que se aceite a devolução nos casos em que a
lei o determine. Isto verifica-se desde logo nos arts. 17º, 18º, 36º/2 e 65º/1
in fine CC.

A República de Moçambique defende a Tese da Referência Global


(artigos 17º e 18º CC), favorável ao reenvio, mas dentro da mesma,
concretamente correntes doutrinária pragmáticas ou ecléctica.

1.7.2. O Reenvio só pode ter lugar quando tenha como


propósito:
 A obtenção da harmonia jurídica internacional (uniformidade dos
julgados) Artig. 17º, nº1 e 18º, nº1 do C. Civil.
 Aplicação da lei mais idónea para assegurar o “exequatur” da decisão
tomada (a exequibilidade prática das decisões judiciais) Art. 17º, nº3
do C. Civil
 Validade do negócio jurídico (favor negotii). Art. 32, nº2 e 65º do C.
Civil
1.7.3. Casos de aceitação do Reenvio
(Retorno -Art. 18º.1 C.C.; Transmissão Art. 17.1)

1.7.4. Casos de restrição na aplicação do reenvio


(Retorno -Art. 18º.2 C.C.; Transmissão Art. 17.2)

1.7.5. Outros casos de reenvio


a) Reenvio por força da “maior proximidade”
b) Reenvio por força da “favor negotii”

1.7.6. Casos em que não é admitido o reenvio


(Art. 19º, nº1 e 2 C.C)

Casos em que não é admitido o reenvio (Art. 19º nº1 e 2 C.C)


Quando da aplicação do reenvio resulte a invalidade ou ineficácia de
um negócio jurídico que seria válido ou eficaz segundo a regra fixada

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
no artigo 16.º, ou a ilegitimidade de um estado que de outro modo
seria legítimo.
Quando da aplicação do reenvio se a lei estrangeira tiver sido
designada pelos interessados, nos casos em que a designação é
permitida.

1.7.7. Pressupostos de um problema de Reenvio:


I. Que a norma de conflitos do foro remeta para uma lei estrangeira;

II. Que a remissão possa não ser entendida como uma referência
material;

III. Que a lei estrangeira designada não se considere competente.


Este terceiro pressuposto verifica-se quando a norma de conflitos
estrangeira utiliza um elemento de conexão diferente da norma de
conflitos do foro ou quando, embora utilizando o mesmo elemento
de conexão, seja interpretada por forma diferente.

1.8. Teoria da Referência Global


Segundo esta teoria, a remissão da norma de conflitos para uma ordem
jurídica estrangeira abrange sempre e necessariamente o seu Direito de
Conflitos.
Embora as normas de conflitos tenham por função designar qual o Direito
material competente, quando remetem para uma ordem jurídica
estrangeira a designação das normas materiais aplicáveis não é feita directa
e imediatamente, é antes feita indirectamente, com a mediação do Direito
de Conflitos da ordem jurídica estrangeira.

Teoria da Referência Material e da Referência Global: Só


podemos falar em reenvio se entendermos que quando o DIP do foro
remete para outro ordenamento estrangeiro, ele está a querer admitir não
só o direito material desse ordenamento mas também o seu respectivo
sistema de conflitos, pois só assim respeitará que esse ordenamento possa
atribuir competência a outro. Exemplo:

L1 (lei do foro) L2 L3

A referência de L1 para L2 tem de ser global, pois só assim admite que L2


possa remeter para L3. Se a referência de L1 para L2 for material, então não
abrange o sistema de conflitos de L2 e não permite que L2 remeta para L3.
Temos assim de distinguir duas teses (teorias):

Esta tese já é favorável ao reenvio, mas dentro da mesma


temos de distinguir 3 correntes doutrinárias:
 Doutrina da devolução simples (ou reenvio simples)
 Doutrina da dupla devolução (ou duplo reenvio)
 Doutrina pragmática ou ecléctica
1.9. Fundamentos ou motivos de aceitação do reenvio

Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 156


Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

1.9.1. A obtenção da harmonia jurídica internacional (uniformidade dos


julgados) Artig. 17º, nº1 e 18º, nº1 do C. Civil.
1.9.2. Aplicação da lei mais idónea para assegurar o “exequatur” da decisão
tomada (a exequibilidade prática das decisões judiciais) Art. 17º, nº3 do C.
Civil
1.9.3. Validade do negócio jurídico (favor negotii) . Art. 32, nº2 e 65º do C. Civil

1.10. Classificação da teoria de Referência Global


 Teoria da devolução simples.
 Teoria de Reenvio total (Devolução dupla).
 Doutrina pragmática ou ecléctica.

1.11. Teoria da devolução simples


Teoria da devolução simples – teoria clássica do reenvio. Aceita o
reenvio. Diz esta teoria que a lei 1 deve aplicar a lei que for indicada pela
regra de conflitos da lei.

Doutrina da devolução simples (ou reenvio simples) – Entende que


quando a lei do foro (L1) faz uma referência global para outro ordenamento
(L2) então isso significa que quer aplicar o direito desse ordenamento, mas
não lhe repugna que L2 possa ainda remeter para outro ordenamento (que
seria L3) ou ainda devolver para L1.
Teoria da devolução simples

Segundo esta teoria a remissão da norma de conflitos do foro abrange as


normas de conflitos da ordem estrangeira, mas entende-se necessariamente
a remissão operada pela norma de conflitos estrangeira como uma
referência material.
A devolução simples surge historicamente ligada ao favorecimento da
aplicação do Direito do foro. Em Portugal, parece que foi sempre aplicada
em casos de retorno.
1.11.1. Vantagens da Teoria da Devolução Simples:

 Promove a harmonia jurídica internacional;


 Potencia-se a aplicação da lei do foro nos casos de retorno.

1.12. Teoria de Reenvio Total (Devolução Dupla)

1.12.1. Doutrina da dupla devolução (ou duplo reenvio)

Enquanto que na doutrina da devolução simples, para que ela funcione, só


se admite um reenvio, o mesmo não se passa nesta doutrina.

Exemplo: Francês morre em Portugal e deixa bens imóveis em Itália. A


nossa lei (foro) remete para a lei francesa a qual remete para a italiana por
ser o local onde os bens se situam. Só que a lei italiana devolve à francesa
sem hipótese de retorno.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
Neste caso em concreto os tribunais portugueses teriam de decidir de
acordo com a aplicação do direito francês por causa da uniformidade dos
julgados (harmonia jurídica internacional). Em casos semelhantes os
tribunais portugueses deveriam actuar aplicando a lei dos respectivos
países em questão tal como os tribunais desses países o fariam. NOTA:
Conforme os casos os tribunais locais deverão observar um só ou
um duplo reenvio.

1.12.2. Doutrina Pragmática ou Ecléctica (adoptada)

Esta é a tese mais recente e funciona como excepção ao artigo 16º do CC


(que consagra a referência material), designadamente através dos artigos
17º e 18º (que consagram, respectivamente, o reenvio por transmissão e
retorno).

Ou seja, os defensores desta doutrina tomam como regra base a da


referência material do artigo 16º, para depois considerarem os casos em
que, excepcionalmente e por motivos de soluções práticas para a resolução
dos casos, o reenvio é admitido (nos tais artigos 17º e 18º). Esta é a
orientação seguida pelo Código Civil moçambique.
1.13. Teoria ou doutrina aceite na República de
Moçambique: Doutrina pragmática ou ecléctica

 Fundamento jurídico: Artigos 17º e 18º do Código Civil

1.14. A teoria da referência global. A sua fundamentação.

Fundamentos sobre aceitação do Reenvio

 Esta tese (Teoria de referência global) aceita o reenvio quando através


dele se obtém a harmonia jurídica internacional (uniformidade dos
julgados); a exequibilidade prática das decisões judiciais e a validade do
negócio jurídico (favor negotii):
 A obtenção da harmonia jurídica internacional (uniformidade dos
julgados) Artig. 17º, nº1 e 18º, nº1 do C. Civil.
 Aplicação da lei mais idónea para assegurar o “exequatur” da decisão
tomada (a exequibilidade prática das decisões judiciais) Art. 17º, nº3 do
C. Civil
 Validade do negócio jurídico (favor negotii). Art. 32, nº2 e 65º do C.
Civil

8.13.1 Princípio da Harmonia Jurídica Internacional ou


uniformidade dos julgados

Está na génese do reenvio e este princípio pretende que,


independentemente do local onde a questão esteja a ser apreciada, a lei
material seja a mesma, de forma a evitar, por exemplo, que se a questão for
julgada em Portugal se aplique a lei francesa e se fosse julgada em França se
aplicasse a lei portuguesa.

Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 158


Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
É preciso notar que existem ainda casos em que este princípio tende a
colidir com outros, pelo que urge ver, nessas situações se ele cede face a
outros valores.

8.13.2. Exequibilidade prática das decisões judiciais

Este princípio diz-nos que as decisões judiciais devem ser tomadas de


forma realista, em contacto com a realidade (é por isso que, em matéria de
estatuto pessoal, o reenvio não será permitido quando, por via dele, se
aplique outra lei que não a da nacionalidade ou domicílio, pois numa
perspectiva realista são essas as duas leis que melhor conhecem o
indivíduo).

Este princípio tem um grande sub-princípio (princípio da maior


proximidade) e tem igualmente manifestações em matéria de estatuto
pessoal, designadamente, ao nível do princípio da maior justiça
expresso na maior ligação individual.

 Princípio da Maior Proximidade:


Atende ao vínculo forte que existe entre as coisas imóveis e o Estado onde
estão situadas, daí que se mande aplicar a lei do lugar da situação das
mesmas, pois só assim fica salvaguardada a exequibilidade prática das
decisões judiciais;

 Princípio da Maior Justiça expresso na Maior Ligação


Individual:

Aconselha que a lei reguladora do estatuto pessoal seja ou a da


nacionalidade do sujeito ou a do seu domicílio, pois só uma dessas duas
assegura, em matéria de estatuto pessoal, a exequibilidade prática das
decisões judiciais.

 Validade do negócio jurídico (favor negotii):


O reenvio é inspirado pelo favor negotii quando a sua aceitação (aceitação
do reenvio) tem lugar para garantir a validade de um acto jurídico que de
outro modo seria anulável. Estão nesta senda as hipóteses previstas pelos
artigos 36º n.2 e 65º do CC.

Mas atenção: se aqui o reenvio é aconselhado pelo princípio do favor


negotii, também existem situações em que se verifica o contrário, como
veremos a respeito do artigo 19º no tocante aos casos em que o reenvio não
é permitido.

Actividades

A seguir, estão as actividades correspondentes a esta primeira unidade.


Resolva os exercícios propostos em cada uma e verifique se acertou,
conferindo a sua resposta na Chave de Correcção no final do presente Guia
de Estudo.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

1. Explique a noção de reenvio;


2. Explique a relação entre o Direito material estrangeiro e o
Reenvio;
3. Explique a relação entre Reenvio e Conflitos Negativo das
Qualificações;
4. Identifique as atitudes que podem tomar os países sobre aceitação
ou negação do Reenvio;
5. Explique a origem do problema do reenvio;
6. Identifique a teoria sobre a negação do reenvio, e explique o seu
significado;
7. Explique em que consiste a teoria de referência material;
8. Identifique a teoria sobre aceitação do reenvio, e explique o seu
significado;
9. Explique em que consiste a teoria de referência global;
10. Identifique as modalidades do Reenvio;
11. Estabeleça a diferença entre reenvio por retorno directo e
reenvio por retorno indirecto;
12. Explique em que consiste o reenvio p0r transmissão;
13. Explique os fundamentos do reenvio;
14. Explique os fundamentos da negação do reenvio;
15. Explique qual é a atitude da Republica de Moçambique sobre o
Reenvio;
16. Explique o princípio geral sobre o reenvio, plasmado no
Código Civil;
17. Identifique as excepções que permitem a realização do
Reenvio na República de Moçambique, indique a base legal;
18. Identifique os casos em que não se deve fazer o reenvio em
Moçambique, cite a base legal;

REFERÊNCIAS

Leituras Obrigatórias

A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para a


compreensão de nossos estudos e para a realização das actividades propostas para
esta primeira unidade de estudo. Portanto, não deixe de estudá-los.

 PROENÇA, José João Gonsalves: “Direito Internacional Privado – Parte


Geral”, 1ª Edição, Editora: Brochado, Universidade de Lusíada, Lisboa,
1992.

 Legislação Principal
 Decreto-Lei nº 47344 de 25 de Novembro de 1966 (Código Civil)

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

Leituras Complementares
 MACHADO, João Baptista: “Lições de Direito Internacional Privado”.
Edit. Almedina, Coimbra, 1988

 Legislação Complementar
 Dec. Lei nº 2/2009 de 24 de Abril (BR nº 016, I Série, 3º Supl. de 24 de
Abril de 2009, pág. 86 – (altera alguns artigos do Código Comercial de
Moçambique - Decreto-Lei nº 2/2005 de 27 de Dezembro de 2005);

 Decreto 1/2006 de 3 de Maio (Cria o registo de Entidades Legais e aprova


o seu regulamento. BR nº 018, I Série, de 03 de Maio de 2006, pág. 147 a
160. Revoga o Decreto-Lei nº42 42644 e o decreto nº42 645, ambos de 14
de Novembro de 1959);

UNIDADES TEMÁ TICA 9: SÚMULA DAS PRINCIPAI S


QUESTÕES DA PARTE GE RAL DP DIP

Objectivos

No fim desta unidade voce deverá ser capaz de:

 Identificar os principais conceitos técnicos jurídicos usados como


conceito quadro ou elemento de conexão no âmbito do DIP;
 Conhecer a regulação jurídica os conceitos técnicos técnico-jurídicos
importantes no âmbito do DIP.

Abordagens dos conteúdos da unidade


9. Súmula dos Principais Questoes da Parte Geral do
DIP
 Personalidade ou capacidade jurídica de pessoas singulares
 Capacidade de exercício
 Capacidade e mudança da lei pessoal
 Direitos da personalidade
 Estado civil; relações de família; sucessões; tutela; tutela e
representação
 Pessoas colectivas:
o A sua lei pessoal

o Capacidade

o Representação

o Transferência para outro Estado

 Declaração negocial.

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

Actividades

A seguir, estão as actividades correspondentes a esta primeira unidade. Resolva os


exercícios propostos em cada uma e verifique se acertou, conferindo a sua resposta
na Chave de Correcção no final do presente Guia de Estudo.

 Identifique os principais conceitos técnicos jurídicos usados


como conceito quadro ou elemento de conexão no âmbito do
DIP;
 Identifique os principais dispositovos normativos que regulam
os conceitos técnicos técnico-jurídicos importantes no âmbito do
DIP.

REFERÊNCIAS

Leituras Obrigatórias

A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para a


compreensão de nossos estudos e para a realização das actividades propostas para
esta primeira unidade de estudo. Portanto, não deixe de estudá-los.

 PROENÇA, José João Gonsalves: “Direito Internacional Privado – Parte


Geral”, 1ª Edição, Editora: Brochado, Universidade de Lusíada, Lisboa,
1992.

 Legislação Principal
 Decreto-Lei nº 47344 de 25 de Novembro de 1966 (Código Civil)

Leituras Complementares
 MACHADO, João Baptista: “Lições de Direito Internacional Privado”.
Edit. Almedina, Coimbra, 1988

 Legislação Complementar
 Dec. Lei nº 2/2009 de 24 de Abril (BR nº 016, I Série, 3º Supl. de 24 de
Abril de 2009, pág. 86 – (altera alguns artigos do Código Comercial de
Moçambique - Decreto-Lei nº 2/2005 de 27 de Dezembro de 2005);

 Decreto 1/2006 de 3 de Maio (Cria o registo de Entidades Legais e aprova


o seu regulamento. BR nº 018, I Série, de 03 de Maio de 2006, pág. 147 a
160. Revoga o Decreto-Lei nº42 42644 e o decreto nº42 645, ambos de 14
de Novembro de 1959)

UNIDADES TEMÁ TICA 10 : O DIP, OS DIREITOS REAIS


E PROPRIEDADE INTELE CTUAL

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

Objectivos

No fim desta unidade voce deverá ser capaz de:

 Compreender a noçao dos conflitos de leis no espaço e a sua


relaçao com os Direitos Reais;
 Compreender a noçao dos conflitos de leis no espaço e a sua
relaçao com o Diereito da Propriedade Intelectual (Direito do
Autor e Direito da Propriedade Industrial).
 Compreender como identificar a lei aplicável, perante um
conflito de leis no ambito do Diereito da Propriedade Intelectual
(Direito do Autor e Direito da Propriedade Industrial).

Abordagens dos conteúdos da unidade

10. Direitos Reais e Propriedade Intelectual

10.1. Regulação das coisas


 Lei reguladora das coisas - Artigo 46, nº1 do C.C
 O regime da posse, propriedade e demais direitos reais - Artigo 46,
nº1 do C.C
 Constituição ou transferência de direitos reais sobre coisas em
trânsito - Artigo 46, nº2 do C.C.
 Constituição e transferência de direitos sobre os meios de transporte
submetidos a um regime de matrícula - Artigo 46, nº3 do C.C.
 Capacidade para constituir direitos reais sobre coisas imóveis ou
dispor deles - Artigo 47 do C.C

11.2. Propriedade intelectual


 Direitos de autor - Artigo 48, nº1 do C.C
 Propriedade industrial - Artigo 48º, nº2 do C.C.
Nos Direitos reais aplica-se o princípio básico da “Lex rei sitae” para os
bens móveis e imóveis.

A lei pessoal aplica-se aos bens que não se acham integrados em qualquer
soberania estatal.

Actividades

A seguir, estão as actividades correspondentes a esta primeira unidade. Resolva os


exercícios propostos em cada uma e verifique se acertou, conferindo a sua resposta
na Chave de Correcção no final do presente Guia de Estudo.

1. Explique a relaçao entre o DIP e os Direitos Reais;


2. Explique qual é a lei aplicável para regular o regime da posse no
ambito do conflito de Leis no Espaço;

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

3. Explique qual é a lei aplicável para regulara constituição ou


transferência de direitos reais sobre coisas em trânsito no
ambito do conflito de Leis no Espaço;
4. Explique qual é a lei aplicável para regulara Constituição e
transferência de direitos sobre os meios de transporte submetidos
a um regime de matrícula no ambito do conflito de Leis no
Espaço;
5. Explique qual é a lei aplicável para regulara Constituição e
transferência de direitos sobre os meios de transporte submetidos
a um regime de matrícula no ambito do conflito de Leis no
Espaço;

REFERÊNCIAS

Leituras Obrigatórias

A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para a


compreensão de nossos estudos e para a realização das actividades propostas para
esta primeira unidade de estudo. Portanto, não deixe de estudá-los.

 PROENÇA, José João Gonsalves: “Direito Internacional Privado – Parte


Geral”, 1ª Edição, Editora: Brochado, Universidade de Lusíada, Lisboa,
1992.

 Legislação Principal
 Decreto-Lei nº 47344 de 25 de Novembro de 1966 (Código Civil)

Leituras Complementares
 MACHADO, João Baptista: “Lições de Direito Internacional Privado”.
Edit. Almedina, Coimbra, 198

 Legislação Complementar
 Dec. Lei nº 2/2009 de 24 de Abril (BR nº 016, I Série, 3º Supl. de 24 de
Abril de 2009, pág. 86 – (altera alguns artigos do Código Comercial de
Moçambique - Decreto-Lei nº 2/2005 de 27 de Dezembro de 2005);

 Decreto 1/2006 de 3 de Maio (Cria o registo de Entidades Legais e aprova


o seu regulamento. BR nº 018, I Série, de 03 de Maio de 2006, pág. 147 a
160. Revoga o Decreto-Lei nº42 42644 e o decreto nº42 645, ambos de 14
de Novembro de 1959);

UNIDADES TEMÁ TICA 11 : O DIP E ASOBRIGAÇÕ ES E


CONTRATOS

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

Objectivos

No fim desta unidade voce deverá ser capaz de:

 Conhecer os institutos jurídicos do Direito das Obrigações,


susceptíveis de regulação jurídica no âmbito do DIP;
 Compreender a noção de autonomia da vontade no âmbito do
DIP;
 Conhecer limite da autonomia privada dos sujeitos no âmbito
do DIP;
 Estabelecer a diferença entre a autonomia privada dos sujeitos
no âmbito do DIP e autonomia privada no âmbito do direito
material interno;
 Compreender as teses aplicáveis para regular a
responsabilidade civil, resultante de um acto ilícito, no âmbito
do DIP;
 Estabelecer a diferença entre conexão objectiva e subjectiva do
Direito das obrigações no âmbito do DIP;

Abordagens dos conteúdos da unidade


11. O DIP e o Direito das Obrigaçoes

11.1. O Obrigações provenientes de negócios jurídicos

 Obrigações provenientes de negócios jurídicos - Artigo 41º do C.C.


 Substância dos negócios jurídicos - Artigo 41º do C.C.
 Autonomia da vontade no DIP - Artigo 41º e 22º do C.C.
 Restrições à liberdade de escolha da lei aplicável - Artigo 41º, nº2 e
22º do C.C.
 Vontade tácita
 Vontade hipotética
 Vontade tácita e hipotética na escolha da lei aplicável (falta da
designação da lei) - Artigo 42º e 22º do C.C.
 Gestão de negócios - Artigo 43º do C.C.
 Enriquecimento sem causa - Artigo 44º do C.C.
 Responsabilidade extracontratual - Artigo 45º do C.C.
 A responsabilidade extracontratual fundada, quer em acto ilícito, quer
no risco ou em qualquer conduta lícita - Artigo 45º do C.C.
 Responsabilidade por omissão - Artigo 45º do C.C.

11.2. Determinação do lugar do facto (teses sobre lei


aplicável para regular o acto ilícito):

 Tese do lugar da conduta: o “lugar do facto” é aquele em que


a conduta causadora do prejuízo foi levada a efeito pelo agente/

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
ou em caso de responsabilidade por omissão, aquele em que o
responsável devia ter agido para evitar o resultado.

 Tese do lugar do resultado: aplica-se a lei do lugar em que a


lesão ou prejuízo se produz

 Tese da opção do lesado: o lesado pode escolher, das duas


leis (lei do lugar da conduta e a lei do lugar do resultado), aquela
que lhe for mais favorável. Ex: Alemanha.

 Soluções mistas: Se o agente teve a intenção de provocar os


efeitos prejudiciais em país diferente, ou se ele pelo menos podia
razoavelmente prever esses “efeitos a distância”, a lei aplicável
seria a do lugar em que se verificaram tais efeitos.

 Soluções mistas: Nos casos de responsabilidade baseada na


culpa do agente (dolo ou simples negligencia), a ilicitude da
conduta e a culpa do agente deveriam ser apreciadas em face da
lei do lugar da conduta;

 Soluções mistas: Segundo outros autores, a responsabilidade


extracontratual baseada na culpa deveria ser regida pela lei do
lugar da conduta, ao passo que a responsabilidade fundada no
risco deveria ficar sujeita à lei do lugar do resultado.

11.3. O princípio da autonomia da vontade no Direito das


Obrigações.

Em matéria de obrigações procedentes de negócios jurídicos, e


designadamente em matéria de contratos, prevalece o interesse das
partes.

11.4. O princípio da autonomia da vontade em DIP

A lei competente para reger a substância e as obrigações nascidas de


negócios jurídicos deve ser determinada mediante a escolha ou
designação das próprias partes.

11.1.1. Diferença entre autonomia privada no plano do


Direito material e autonomia das partes no plano do
DIP

 Autonomia privada no plano do Direito material

As partes podem determinar livremente o conteúdo no negócio, fixando


as cláusulas que bem entendem, dentro dos limites impostos pelas
regras imperativas que limitam aquela autonomia.

 Autonomia privada no plano do Direito Internacional


privado (DIP)

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
Aqui não se trata de modelar o conteúdo do negócio, isto é, de produzir,
mediante cláusulas negociáveis; a autonomia privada no plano do DIP,
consiste em fixar a própria conexão relevante no plano de DIP, isto é
escolher a lei competente para regular o negócio jurídico; estabelece os
quadros legislativos dentro dos quais se insere a autonomia negocial.

11.1.2. Restrições a liberdade de escolha da lei


aplicável

Fundamentalmente as partes são livres na escolha da lei aplicável.

Em relação a escolha da lei aplicável ao conflito de leis no espaço


(obrigações e contratos), alguns autores consideram que esta liberdade
não deve ser limitada, muito menos caprichosa ou arbitrária. Mas
também existe uma corrente que defende que a liberdade da escolha da
lei aplicável não deve sofrer limitação.

A doutrina moçambicana considera que deve existir uma limitação na


liberdade da escolha da lei aplicável para regular um conflito de leis no
espaço (obrigações e contratos).

A escolha da lei aplicável só é permitida para regular as obrigações


provenientes de negócio jurídico e a substância deste negócio.

A escolha ou designação da lei aplicável pelas partes só pode, todavia,


recair sobre lei que esteja em conexão com algum dos elementos do
negócio jurídico atendíveis no domínio do direito internacional privado
(Artigo 41º, nº2 do C.C).

Tanto para autonomia privada no plano do Direito material e


autonomia das partes no plano do DIP, as clausulas fixadas no negócio
jurídico bem como a lei estrangeira material indicada pelas partes, não
devem ofender os princípios fundamentais da ordem pública
internacional do Estado moçambicano (Artigo 22º do C.C.).

Algumas conexões objectivas e subjectivas, cujas leis podem


ser escolhidas pelas partes para regular o negócio jurídico.

 Conexões objectivas

 Lugar da conclusão do negócio.


 Lugar da execução do negócio.
 Conexões subjectivas

 Nacionalidade (cidadania)
 Residência habitual (Domicilio)

11.5. Vontade tácita e vontade hipotética na escolha da lei


aplicável

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7
A escolha da lei competente pelos sujeitos do negócio jurídico pode ser
expressa e, tácita e hipotética.

11.5.1 Vontade expressa: as partes declaram a lei aplicável

11.5.2. Vontade tácita:

A escolha tácita deve ser inferida das particulares circunstâncias do


negócio jurídico concreto. Pode resultar designadamente:

 Da referência das partes, durante a negociação ou no contexto do


próprio negócio, aos preceitos de determinada lei;
 Do recurso a formulários concebidos dentro dos quadros de certa
lei
 Do acordo sobre um lugar unitário de celebração, nos contratos
entre ausentes;
 Da convenção sobre competência da jurisdição de certo estado para
apreciar os litígios relativos a determinado contrato;
 De clausula compromissória submetendo os mesmos litígios a um
tribunal arbitral que funciona em certo Estado e aplica o direito ai
vigente., etc.

11.6. Vontade hipotética: é aquela vontade que as partes como


pessoas normais e razoáveis, teriam tido se houvessem contemplado
o ponto deixado em aberto.

Na vontade hipotética, temos que indagar o que as partes quiseram ou


tiveram em mente ou a que o que teriam querido se houvessem previsto o
ponto omisso. Trata-se de indagar que lei , teriam previsto em mente ao
celebrar o negócio.

Actividades

A seguir, estão as actividades correspondentes a esta primeira unidade. Resolva os


exercícios propostos em cada uma e verifique se acertou, conferindo a sua resposta
na Chave de Correcção no final do presente Guia de Estudo.

 Identifique os institutos jurídicos do Direito das Obrigações,


susceptíveis de regulação jurídica no âmbito do DIP;
 Explique em que consiste a autonomia da vontade no âmbito do
DIP;
 Explique o limite do princípio da autonomia privada dos sujeitos
no âmbito do DIP;
 Estabeleça a diferença entre a autonomia privada dos sujeitos
no âmbito do DIP e autonomia privada no âmbito do direito
material interno;
 Identifique as teses doutrinárias aplicáveis para regular a
responsabilidade civil, resultante de um acto ilícito, no âmbito do
DIP;

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Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

 Estabeleça a diferença entre conexão objectiva e subjectiva do


Direito das obrigações no âmbito do DIP;

REFERÊNCIAS

Leituras Obrigatórias

A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para a


compreensão de nossos estudos e para a realização das actividades propostas para
esta primeira unidade de estudo. Portanto, não deixe de estudá-los.

 PROENÇA, José João Gonsalves: “Direito Internacional Privado – Parte


Geral”, 1ª Edição, Editora: Brochado, Universidade de Lusíada, Lisboa,
1992.

 Legislação Principal
 Decreto-Lei nº 47344 de 25 de Novembro de 1966 (Código Civil)

Leituras Complementares
 MACHADO, João Baptista: “Lições de Direito Internacional Privado”.
Edit. Almedina, Coimbra, 1988

 Legislação Complementar
 Dec. Lei nº 2/2009 de 24 de Abril (BR nº 016, I Série, 3º Supl. de 24 de
Abril de 2009, pág. 86 – (altera alguns artigos do Código Comercial de
Moçambique - Decreto-Lei nº 2/2005 de 27 de Dezembro de 2005);

 Decreto 1/2006 de 3 de Maio (Cria o registo de Entidades Legais e aprova


o seu regulamento. BR nº 018, I Série, de 03 de Maio de 2006, pág. 147 a
160. Revoga o Decreto-Lei nº42 42644 e o decreto nº42 645, ambos de 14
de Novembro de 1959)

UNIDADES TEMÁ TICA 12 : O DIP E O DIREITO DE


FAMÍLIA

Objectivos

No fim desta unidade voce deverá ser capaz de:

1. Conhecer os institutos jurídicos do Direito de Família que podem


se suscepíveis de regulação jurídica no âmbito do DIP;
2. Conhecer as teorias doutrinais de DIP que regulam as relações
jurídicas de família;

Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 169


Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

3. Estabelecer a diferença entre os sistemas de DIP (Sistema


Territorialista, de autonomia e personalista) aplicável ao Direito
de Família;
4. Compreender a regulação jurídica dos institutos de Direito de
Família no âmbito do DIP.
5. Conhecer a teoria de DIP aplicável as relações jurídicas de
família em Moçambique.

Abordagens dos conteúdos da unidade

12. O DIP e o Direito de Família


12.1. Constituição do Estado de Casado

 Condições de validade intrínseca do casamento - Artigo 49º do C.C


 Condição de validade formal ou extrínseca - Artigo 50º do C.C
 Forma de casamento de dois estrangeiros em Moçambique, celebrado
perante os respectivos agentes diplomáticos ou consulares
(Embaixadas e Consulados) - Artigo 51º do C.C
 A forma da declaração negocial - Artigo 36º do C.C
 Forma de casamento no estrangeiro de dois moçambicanos ou de
moçambicano e estrangeiro, celebrado perante o agente diplomático
ou consular do Estado moçambicano (Embaixadas e Consulados) -
Artigo 51º, nº2 do C.C

12.2. Relações entre cônjuges - Artigo 52º, nº2 do C.C

 Relação entre cônjuges com a mesma nacionalidade - Artigo 52º, nº1


do C.C
 Relação entre cônjuges, sem a mesma nacionalidade, mas com o
mesmo domicilia - Artigo 52º, nº2 do C.C
 Efeitos (pessoais) do casamento
 Relações patrimoniais dos cônjuges e convenções antenupciais -
Artigo 53º do C.C
 Substância e efeitos das convenções antenupciais e do regime de bens,
legal ou convencional, de cônjuges com a nacionalidade comum -
Artigo 53º, nº1 do C.C
 Substância e efeitos das convenções antenupciais e do regime de bens,
legal ou convencional, de cônjuges sem a mesma nacionalidade, mas
com residência habitual comum à data do casamento - Artigo 53º,
nº2 do C.C
 Modificação do regime de bens - Substância e efeitos das convenções
antenupciais e do regime de bens, legal ou convencional, de cônjuges
com a nacionalidade comum - Artigo 54º e 52º do C.C

12.3. Sistemas sobre relações patrimoniais

Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 170


Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

12.3.1. Sistema Territorialista (Adoptado pelo Sistema


Anglo-Saxónico, Ex: Gran Bretanha, E.U.A., etc.)
Uma das características do Sistema Territorialista é aplicação
simultânea de várias leis e vários regimes matrimoniais ao mesmo tempo,
consoante a localização do património dos cônjuges.

Os países de Commn Law adoptam maioritariamente um sistema


territorialista, na, na ausência de convenção antenupcial.

O direito inglês, por exemplo, distingue entre a lei aplicável à propriedade


matrimonial sobre móveis e imóveis.

Neste sistema, o património do casal não tem um estatuto próprio, pois


que, pelo que respeita aos imóveis pertencentes aos cônjuges, serão tantas
as leis aplicáveis de acordo a quantidade de países que esses bens se acham
situados.

Quanto aos móveis, aplica-se a lei do Domicilio do seu proprietário.

12.3.2. Sistema da Autonomia


No sistema de autonomia das partes na escolha da lei competente, será a
vontade dos cônjuges que determina a lei aplicável ao seu regime
matrimonial, manifestando-se esta vontade normalmente através da
fixação do primeiro domicílio conjugal com a intenção de permanência.

No caso de haver convenção antenupcial, a determinação da lei competente


para reger esta e outros efeitos (o regime convencional) far-se-ia segundo o
princípio da autonomia, como nos restantes contratos.

Neste sistema os cônjuges, escolhem expressamente o sistema jurídico ao


qual se pretendem submeter as suas relações patrimoniais.

12.3.3. Em relação ao sistema de autonomia, destacam-


se duas teorias:

 Teoria da autonomia completa da vontade na escolha da lei


aplicável ao regime de bens.
 Teoria limitada da vontade na escolha da lei aplicável ao regime de
bens.

12.3.4. Teoria da autonomia completa da vontade na


escolha da lei aplicável ao regime de bens.
Os cônjuges são permitidos escolherem a lei aplicável ao regime de bens,
sem limites.

12.3.5. Teoria limitada da vontade na escolha da lei


aplicável ao regime de bens.
Nos países onde é aceita esta teoria, admite-se aos nubentes a escolha do
sistema jurídico ao qual vão submeter as suas relações patrimoniais mas
com limitações. Ex: Espanha.

Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 171


Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

12.4. Sistema Personalista


Aplica-se o regime de bens da lei pessoal dos cônjuges. É esta a orientação
que tende a prevalecer a maioria dos Estados, entre eles Moçambique.

Tende pois, a prevalecer a consideração do lado institucional do regime de


bens no casamento, devido a conexão íntima que não pode deixar de existir
entre as relações patrimoniais dos cônjuges e o casamento como união
pessoal dos mesmos cônjuges.

Isto não afasta o outro aspecto do regime de bens, o convencional, dada a


ampla liberdade reconhecida às partes, por quase todos os Estados, com a
excepção de alguns, por exemplo: Finlândia, Cuba, etc., que impões aos
cônjuges um regime de bens predeterminados, não admite a convenção
antenupcial.

 Separação de pessoas e bens e divórcio


 Separação judicial de pessoas e bens e ao divórcio é aplicável -
Artigo 55º e 52º do C.C

 Filiação
 Constituição do vínculo - Artigo 56º e 52º do C.C
 Relações entre pais e filhos com lei nacional comum - Artigo 57º,
nº1 do C.C
 Relações entre pais e filhos sem a lei nacional comum, mas com
domicílio comum - Artigo 57º, nº1 do C.C.
 Relações entre pais e filhos sem a lei nacional comum, nem domicílio
comum - Artigo 57º, nº1 do C.C

Actividades

A seguir, estão as actividades correspondentes a esta primeira unidade. Resolva os


exercícios propostos em cada uma e verifique se acertou, conferindo a sua resposta
na Chave de Correcção no final do presente Guia de Estudo.

1. Identifique os institutos jurídicos do Direito de Família que


podem se suscepíveis de regulação jurídica no âmbito do DIP;
2. Identifique as teorias doutrinais de DIP que regulam as relações
jurídicas de família;
3. Estabeleça a diferença entre os sistemas de DIP (Sistema
Territorialista, de autonomia e personalista) aplicável ao Direito
de Família;
4. Compreender a regulação jurídica dos institutos de Direito de
Família no âmbito do DIP.
5. Identifique a teoria de DIP aplicável as relações jurídicas de
família em Moçambique.

REFERÊNCIAS

Leituras Obrigatórias

Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 172


Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para a


compreensão de nossos estudos e para a realização das actividades propostas para
esta primeira unidade de estudo. Portanto, não deixe de estudá-los.

 PROENÇA, José João Gonsalves: “Direito Internacional Privado – Parte


Geral”, 1ª Edição, Editora: Brochado, Universidade de Lusíada, Lisboa,
1992.

 Legislação Principal
 Decreto-Lei nº 47344 de 25 de Novembro de 1966 (Código Civil)

Leituras Complementares
 MACHADO, João Baptista: “Lições de Direito Internacional Privado”.
Edit. Almedina, Coimbra, 1988

 Legislação Complementar
 Dec. Lei nº 2/2009 de 24 de Abril (BR nº 016, I Série, 3º Supl. de 24 de
Abril de 2009, pág. 86 – (altera alguns artigos do Código Comercial de
Moçambique - Decreto-Lei nº 2/2005 de 27 de Dezembro de 2005);

 Decreto 1/2006 de 3 de Maio (Cria o registo de Entidades Legais e aprova


o seu regulamento. BR nº 018, I Série, de 03 de Maio de 2006, pág. 147 a
160. Revoga o Decreto-Lei nº42 42644 e o decreto nº42 645, ambos de 14
de Novembro de 1959);

UNIDADES TEMÁ TICA 13 : O DIP E O DIREITO DAS


SUCESSÕ ES

Objectivos

No fim desta unidade voce deverá ser capaz de:

Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 173


Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

1. Compreender a relação entre Direito Internacional Privado e o


Direito das Sucessões;
2. Conhecer a regulação das relações jurídico-privadas
sucessórias no âmbito do Direito Internacional Privado;
3. Conhecer os principais institutos do Direito das sucessões, que
podem ser susceptíves de uma regulação jurídica no âmbito do
DIP;
4. Conhecer os sistemas doutrinais do DIP aplicáveis as sucessões;
5. Conhecer o sistema doutrinal do DIP, aplicável as relações
jurídico seucessórias em Moçambique;
6. Estabelecer a diferença entre o sistemada “Lex Rei Sitae”
unitário, no âmbito do DIP;

Abordagens dos conteúdos da unidade

13. O Direitos das Sucessões

13.1. Estatuto Sucessório e Sucessão Legal


 Determinação da lei aplicável às sucessões por morte.
 Domínio de aplicação do estatuto sucessório: secessão legal.
 Lei competente para regular a sucessão por morte - Artigo 62º do
C.C.
 Capacidade de disposição - Artigo 63º do C.C.
 Interpretação das disposições, falta e vícios da vontade - Artigo 64º
do C.C.
 Forma de testamento - Artigo 65º do C.C.

13.2. Sistemas Doutrinais do DIP aplicável as sucessões:


13.2.1. Sistema da “Lex Rei Sitae”.
Este sistema está fundado no conceito germanico da herança, de acordo
com a lei do lugar onde os bens se encontram.

13.2.2. Sistema Unitário


A sucessão por morte é regulada pela lei pessoal do autor da sucessão ao
tempo do falecimento e considera como elementos de conexão da lei
pessoal: a nacionalidade, a cidadania e o último domicílio do autor da
sucessão.

O Sistema de conflitos do DIP moçambicano acolhe o sistema unitário,


regulando a sucessão por morte pela lei pessoal do autor da sucessão, para
bens móveis e imóveis, e para os diferentes tipos de sucessão:
testamentária e legal.

 Sucessão testamentária
Neste tipo de sucessão devem distinguir-se 3 (três) situações:

Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 174


Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

a) Capacidade para testar e para receber testamento:


aplica-se a lei pessoal do autor da sucessão.
b) Substancia ou fundo do testamento: aplica-se a lei da
autonomia (autonomia da vontade)
c) Forma de testamento: aplica-se a lei do lugar do acto.

13.2.3. Sistema Misto


Os bens imóveis são regulados pela lei do território onde se
encontram, e os bens móveis são regulados pela lei do último
domicílio do autor da sucessão.

 Sucessão voluntária e actos “intervivos”, com repercuções


sobre as sucessões
 Testamentos
 Pactos sucessórios e testamentos de mão comum
 Actos ou negócios jurídicos “intervivos” com repercuções
sucessórias
 Formas das disposições por morte.

Actividades

A seguir, estão as actividades correspondentes a esta primeira unidade. Resolva os


exercícios propostos em cada uma e verifique se acertou, conferindo a sua resposta
na Chave de Correcção no final do presente Guia de Estudo.

1. Identifique os institutos do Direito das Sucessões, que podem ser


objecto de regulação jurídica no âmbito do DIP;
2. Identifique os principais sistemas doutrinais de DIP que podem
ser aplicados nas relações jurídico-sucessórias
3. Identifique o sistema aplicável em Moçambique, justifique a sua
resposta com base no Código Civil.

BIBLIOGRAFIA PRINCIPAL

1. MACHADO, João Baptista. Lições de Direito Internacional Privado. 3.


ed. Coimbra: Almedina, 1985.

2. PROENÇA, José João Gonçalves: “Direito Internacional Privado – Parte


Geral”, 1ª Edição, Editora: Brochado, Universidade de Lusíada, Lisboa, 1992.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

1. ARAÚJO, Nadia de. “Direito Internacional Privado”. 4ª ed. amp. e


atual. Renovar: 2008.
2. AMORIM, Edgar Carlos. Direito Internacional Privado. 11. ed. Rio
de Janeiro: Forense, 2011.

Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 175


Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

3. AMORIM, Edgar Carlos de. Curso de Direito Internacional Privado. Rio


de Janeiro: Forense, 1998.
4. AMORIM, Edgar Carlos de. Direito internacional privado. 9.
Ed.rev.atual. Rio de Janeiro: Forense, 2006. 332 p.
5. ARAÚJO, Nádia de. Direito internacional privado: teoria e prática
brasileira. 3. Ed.atual.ampl. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. 578 p.
6. ARAUJO, Luis Ivani de Amorim. Curso de Direito Internacional
Privado. Procam, 1998.
7. BASSO, Maristela. Curso de Direito Internacional Privado. 2. ed.
São Paulo: Atlas, 2011.
8. BAPTISTA MACHADO, João – Âmbito de eficácia e âmbito de
competência das leis (Limites das leis e conflitos de leis), Coimbra, 1970
(reimp.)
9. BEVILÁQUA, Clóvis. Princípios elementares de Direito Internacional
Privado. 3. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1938.
10. CORTES ROSA, Manuel – Da questão incidental em direito
internacional privado, Lisboa, 1960
11. CASTRO, Amílcar de. Direito Internacional Privado. 5. ed. rev. e
atual. por Osiris Rocha. Rio de Janeiro: Forense, 1996.
12. DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado: parte geral. 3.
ed. Rio de Janeiro : Renovar, 1994.
13. DEL’OMO, Florisbal de Souza. “Direito Internacional
Privado”. 6ª ed. Rio de Janeiro: Forense 2008.
14. DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado (Parte
Geral). 7ª ed. amp. e atual. Renovar: 2003.
15. FERRER CORREIA, A. Lições de Direito Internacional Privado.
Coimbra, 1973.
16. FERRER CORREIA, António – Lições de direito internacional
privado, Coimbra, 1973 (com aditamentos)
17. FERRER CORREIA, António – Direito internacional privado. Alguns
problemas, Coimbra, 1981 (reimp.)
18. FERRER CORREIA, António – Estudos vários de direito, Coimbra,
1982
19. FERRER CORREIA, António – Temas de direito comercial e direito
internacional privado, Coimbra, 1989
20. FERRER CORREIA, António – Lições de direito internacional
privado, I, Coimbra, 2000
21. GALVÃO TELES, Eugénia, BRITO, Maria Helena – “Private
International Law”, in Portuguese Law. An Overview (coord. Carlos
Ferreira de Almeida, Assunção Cristas, Nuno Piçarra), Coimbra, 2007.
22. LIMA PINHEIRO, Luís – Direito internacional privado, vol. I –
Introdução e direito de conflitos. Parte geral, 2ª ed., Coimbra, 2008
23. LIMA PINHEIRO, Luís – Direito internacional privado, vol. II –
Direito de conflitos. Parte especial, 3ª ed., Coimbra, 2009

Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 176


Curso de Ciências Jurídicas – Direito Internacional Privado – Semestre 7

24. MARQUES DOS SANTOS, António – Direito internacional privado.


Introdução, I vol., Lisboa, AAFDL, 2001
25. MALHEIRO, Emerson Penha. Manual de direito internacional
privado. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
26. PONTES DE MIRANDA, Francisco C. Pontes de, Tratado de Direito
Internacional Privado, Rio de Janeiro: José Olympio, 1935. 2 v.
27. OCTÁVIO, Rodrigo. Direito internacional privado: parte geral. Rio
de Janeiro: Freitas Bastos, 1942.
28. RECHSTEINER, Beat Walter. Direito internacional privado, teoria
e prática. São Paulo: Saraiva, 1996.
29. STRENGER, Irineu. Direito Internacional Privado. 3. ed. aum. São
Paulo: LTr, 1996.
30. TENÓRIO, Oscar. Direito internacional privado, 4. ed. Rio de
Janeiro : Freitas Bastos, 1955.
31. VALLADÃO, Haroldo. Direito internacional privado. 5. ed. Rio de
Janeiro : Freitas Bastos, 1980. 3 v.
32. FERRER CORREIA, António – Lições de direito internacional
privado, Coimbra, 1973
33. FERRER CORREIA, António – Direito internacional privado. Alguns
problemas, Coimbra, 1981
34. FERRER CORREIA, António – Estudos vários de direito, Coimbra,
1982
35. FERRER CORREIA, António – Temas de direito comercial e direito
internacional privado, Coimbra, 1989
36. FERRER CORREIA, António – Lições de direito internacional
privado, I, Coimbra, 2000
37. FERNANDES, Carlos:Lições de Direito Internacional Privado,
Coimbra Editora, 1994.
FERNANDES, Carlos:Da natureza e função das normas de conflitos de
Leis, Coimbra, 1994.
38. GALVÃO TELES, Eugénia, BRITO, Maria Helena – “Private
InternationalLaw”, in Portuguese Law. An Overview (coord. Carlos
Ferreira de Almeida, Assunção Cristas, Nuno Piçarra), Coimbra, 2007.
39. LIMA PINHEIRO, Luís – Direito internacional privado, vol. I –
Introdução e direito de conflitos. Parte geral, 2ª ed., Coimbra, 2008
40. LIMA PINHEIRO, Luís – Direito internacional privado, vol. II –
Direito de conflitos. Parte especial, 3ª ed., Coimbra, 2009
41. MARQUES DOS SANTOS, António – Direito internacional privado.
Introdução, I vol., Lisboa, AAFDL, 2001

Escola Superior Aberta/A Politécnica – Ensino à Distância 177

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