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Vogue Brasil - Maio 2024

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2024

mai
r$35

paloma ElSESSER
CA RGA TR IBU TÁ R I A F EDER A L A PROX I M A DA 5,15%
aniversário
edição de
CA RGA TR IBU TÁ R I A F EDER A L A PROX I M A DA 5,15%

2024
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paloma ElSESSER
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edição de
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LUXO A PLENA POTÊNCIA


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EDITION 2024 P O R PAT R I C I A A N A S TA S S I A D I S


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editOrial

À esquerda, Paloma Elsesser,


clicada por Zee Nunes.
Acima, Grada Kilomba
fotografada por Coniiin

C
Comemorar o aniversário da Vogue é um belo Estas 156 páginas estão repletas de gente
exercício de recordar o passado, vislumbrar um grande, nomes que levantam a barra e são
futuro próximo e, principalmente, celebrar o autoridades em suas respectivas áreas. Pense na
momento atual deste título que completa 49 jovem vice-campeã olímpica Rayssa Leal –
anos no Brasil. Quem (e o que) estampa essas agora a primeira embaixadora brasileira da
p á g i n a s ajud a a mold a r a s conv er s a s Louis Vuitton – ; na estilista mineira Sonia
significativas que definem a nossa sociedade. Pinto, que, como a Vogue Brasil, também
É o caso da vencedora do prêmio de melhor completa mais de quatro décadas na moda; e
modelo de 2023 pelo Fashion Awards, Paloma na artista plástica lisboeta Grada Kilomba,
Elsesser, que estreia sua primeira capa no país. clicada em Inhotim, onde ocupa uma galeria
Advogada em prol da inclusão de corpos grandes com sua instalação O Barco.
na indústria da moda, a americana, apesar de Seguiremos nessa toada, trazendo aqui, e em
não se compreender como uma ativista, tem todas as nossas plataformas, pessoas interessantes
ajudado a promover mudanças importantes na e interessadas, imagens provocantes, ideias
indústria global da moda. “Quero ser uma inteligentes e pensamentos críticos. E o faremos
pessoa que está contribuindo para a experiência com responsabilidade, respeito e otimismo.
humana”, simplifica no seu Instagram. Feliz 49 anos, Vogue Brasil!

Paula Merlo
Diretora de Conteúdo
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Diretora de Conteúdo Paula Merlo

Redatora-Chefe Maria Laura Neves Diretora de Moda Vívian Sotocórno


Diretora de Moda at Large Rita Lazzarotti Diretora de Arte Júlia Filgueiras

REDAÇÃO MODA
Editora-Assistente de Moda Alice Coy Stylist Sênior Sam Tavares
Editora de Beleza e Wellness Bárbara Öberg Produtora Executiva Déia Lansky
Editora-Assistente de Beleza e Wellness Thaís Varela
Editor de Cultura e Lifestyle Nô Mello SUSTENTABILIDADE
Editora Digital Paula Mello Editora Contribuinte Fernanda Simon
Produtores de Conteúdo Bruno Costa, Luxas Assunção,
Milena Otta, Sara Magalhães e Thiago Baltazar SUA IDADE
Analista Administrativa Editorial Andrea Zilet Editora Contribuinte Claudia Lima

ARTE
Designers Heitor Ferreira, Karina Yamane e Sthefanie Louise

CORRESPONDENTES
Paris Isabel Junqueira e Vitória Moura Guimarães
Milão Mari Di Pilla

COLABORADORES
Amandha Gaio, André Deko, Bruno Astuto, Bruno Pimentel, Caio Brito, Camila Anac, Camila Tuon, Coniiin, Costanza Pascolato, Cris Biato,
Dindi Hojah, Factory Retouch, Fi Ferreira, GJunior, Gil Inoue, Gilberto Júnior, Grace Ahn, Gustavo José, Hugo Toni, Humberto Moreira,
Jean Labanca, Juju Bonjour, Juliana Boeno, Julia Ribeiro, Krisna Carvalho, Leo Faria, L.Set, Leandro Porto, Luana Xavier, Luanda Vieira,
Lucas Wilson, Luiza Ananias, Luiza Brasil, Maria Cândida Vecchi, Mariana Maltoni, Mario Marques, Maycon Felix, Neel Ciconello Morikawa,
Otavio Martins, Paula Jacob, Pedro Bucher, Raisa Flowers, Renata Vilela, Ron Hartleben, Sam Nixon, Sonny Molina, Studio Bruno Rezende,
Thiago Andrill, Tiziana Cardini, Veridiana Cunha, Vetro Retouching, Xico Buny, Zazá Pecego, Zee Nunes

Diretora-Geral Paula Mageste

Assistente Executiva Marcia Caetano

PUBLICIDADE PUBLICIDADE CENTRALIZADA Goiás W/Verissímo Comunicação com


Diretora de negócios Anita Castanheira Diretor nacional de negócios Samuel Sabbag Walison Veríssimo
(acastanheira@globocondenast.com.br) Diretor de Desenvolvimento Comercial Tiago Afonso (comercial@wverissimocomunicacao.com.br)
Gerente Comercial Flavia Gozoli Coordenadora de Marcas Renata Dias Paraná R2 Conecta com
(flaviag@globocondenast.com.br) Diretores de negócios Multiplataforma Rodrigo Rocha (rodrigo@r2conecta.com.br)
Emiliano Morad Hansenn, Santa Catarina / Rio Grande do Sul
ESTúDIO DE CRIAÇÃO EGCN Lucio Ciello, Olivia Bolonha Jazz Representações com
Gerente de Projetos Marina Chicca Claudia Weber (cweber@jazz.ppg.br)
(mchicca@globocondenast.com.br) PUBLICIDADE RIO DE JANEIRO NorteeNordeste A G Holanda Comunicação Ltda com
E BRASíLIA Agimiro Holanda (agholanda@gmail.com)
MARKETING / NOVOS NEGóCIOS Diretor de negócios Multiplataforma Bahia / Sergipe Musa Mídia e Planejamento com
Gerente de Marketing Daniela Laurenti Marcelo Lima da Cunha Mattos Diana Falcão Franco (dfalcao@musamidia.com.br)
(dlaurenti@globocondenast.com.br) Gerentes de negócios Multiplataforma (RJ) Grow (71) 98207-1986 (grow@musamidia.com.br)
Analista de Marketing Gabriela Kelab Darlene Bastos Campos, Monica Monnerat Milão oberon Media com
(gsilva@globocondenast.com.br) Diretor de negócios Multiplataforma (DF) Mr. Angelo Careddu (contact@oberonmedia.com)
Luiz Fernando de Almeida Manso Londres oberon Media com
EVENTOS Mr. Leonardo Careddu (leonardo@oberonmedia.com)
Diretora de Eventos Carol Corrêa PUBLICIDADE REGIONAL Nova York/Miami Condé nast international com
(ccorrea@globocondenast.com.br) São Paulo / Interior e Litoral H2F Midia com Mr. Alessandro Cremona (alessandro_cremona@condenast.com)
Coordenador de Eventos Ricardo Frozoni Humberto Vicentini (comercial@h2fmidia.com.br) Suíça Magazine international com
(rfrozoni@globocondenast.com.br) Minas Gerais on e off Mídia com Mrs. Amelia Guercio
Rodrigo Longuinho (rlonguinho@oneoffmidia.com.br) (aguercio@magazineinternational.ch)

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
Frederic Zoghaib Kachar, Rafael Menin Soriano, Manuela U. C. de Mattos, Leonardo Dib, Jason Miles, Christiane Clare Mack e Tiago Afonso

VOGUE BRASIL é uma publicação das Edições Globo Condé nast S.A. Av. nove de Julho, 5.229, tel. +55 (11) 2322-4600 CEP 01407-907 São Paulo, SP
Para contratação de assinatura e atendimento ao assinante, entre em contato pelos canais:
Call center: (11) 4003-9393. WhatsApp e telegram: (11) 4003-9393. Horário de atendimento: de segunda a sábado, das 08:00 às 15:00. www.assineglobo.com.br
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EStA EDição é CARBon nEutRAL


Compensamos nossa emissão de Co2 por meio da recomposição florestal.
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suMárIO
MAIO

INVOGUE
38 RefResco no closet 96 Pequenos notáVeis
oito tendências da mais recente edição do além de fórmulas que prometem reparar e
são Paulo fashion Week que garantem um acalmar a pele, novos cremes para as mãos
inverno sem monotonia apresentam embalagens criativas

54 VeteRana e insideR 98 MineRal essencial


Há 45 anos na moda brasileira, sonia Pinto é o magnésio ganha destaque nas dietas, na
o nome por trás do guarda-roupa de mulheres suplementação e nas pesquisas por um bom
como Marina abramović e alaíde costa motivo: ele faz mais do que você imagina

60 la dolce e Gabbana Vita FEaTURE E MODaS


em cartaz no Palazzo Reale, em Milão,
a exposição celebra o trabalho artesanal da 102 dRaMa noiR
dolce & Gabbana Paloma elsesser usa de sensualidade e
texturas plásticas para performar em
62 Menina de ouRo grande estilo
uma das grandes apostas na olimpíada de
Paris, Rayssa leal é a primeira brasileira 114 o aMoR Me PeGou
nomeada embaixadora global da louis flores, plumas e laços voltam à moda em uma
Vuitton onda romântica que tomou as passarelas

68 uMa ode à inoVação 130 beM-Vinda, loeWe!


com uma nova plataforma para unir artistas, no mês em que a primeira loja da marca é
a bvlgari cria um espaço de fomento à inaugurada no brasil, o estilista Jonathan
criatividade anderson fala à Vogue sobre o significado do
luxo nos dias de hoje
72 Mil MaRaVilHas
exposição organizada pela tiffany em 138 seM filtRo
tóquio reúne mais de 500 joias e objetos de conheça a trajetória da britânica Raye, artista
seu acervo mais premiada do último brit awards que se
apresenta este mês no brasil
78 Multifacetada
antonia frering se reinventa com 140 dois eM uMa
vídeos sobre moda e comportamento nas na peça A Última Entrevista de Marília
redes sociais Gabriela, Gabi e Theodoro cochrane
escancaram a intimidade e discutem a relação
bElEza mãe e filho sem filtro algum

86 coRPo liVRe? 144 a tRaVessia


após passar por uma cirurgia bariátrica, a Grada Kilomba aporta em inhotim com sua
atriz luana Xavier discute sobre a obra O Barco, em que denuncia as chagas Paloma elsesser (iMG), fotografada
por Zee nunes (Thinkers),
responsabilidade imposta aos influenciadores coloniais abertas até os dias de hoje usa casaco Renata buZZo e
gordos quando eles perdem peso pulseiras PatRicia Von
Musulin (capa 1) e casaco e lenço
dolce & Gabbana (capa 2).
88 lonGa HistóRia 154 last looK edição de moda: Rita lazzarotti.
Maquiagem: Raisa flowers. cabelo:
naturais ou com apliques, os cabelos um dos acessórios mais marcantes de sonny Molina. coordenação de
longuíssimos, volumosos e com texturas sabato de sarno na Gucci, o Joni é produção: déia lansky. Produção
local: aG.new York. tratamento de
variadas vivem uma nova era na beleza uma releitura do mocassim Horsebit imagem: studio bruno Rezende
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colabOradores
Raisa Flowers
Conhecida pelos looks de
beleza experimentais e
avant-garde que cria tanto
em si mesma quanto em suas
clientes, que inclui nomes
como Precious Lee e Doja
Cat, a maquiadora
nova-iorquina de origem
caribenha se inspira na cena
underground dos clubes em
que começou a maquiar.
Nesta edição, Flowers assina
a beleza da capa, estampada
por Paloma Elsesser.

Dindi Hojah
Um dos grandes nomes de sua
geração, o beauty artist
Gil Inoue coleciona trabalhos de
“Eu sempre fui muito fã da estética da repercussão nacional e
Sonia Pinto e, assim como ela, amo usar internacional. Nascido em São
preto e texturas”, diz o fotógrafo, que já Paulo, mas crescido no litoral
registrou personalidades como Criolo, paulista, foi ao voltar para a
Paulo Mendes da Rocha, Marina capital que se apaixonou pelo Coniiin
Abramović, David Byrne e Yoko Ono. universo de beauté. Aqui, ele Criado na Zona Leste de Belo Horizonte,
Nesta edição, ele assina os cliques da assina as belezas dos 15 Marconi Henrique de Santos Silva, mais
matéria Veterana e Insider, que tem a cliques do editorial de moda conhecido como Coniiin, estreou na Vogue
estilista brasileira como protagonista. O Amor Me Pegou. Brasil ao fotografar a artista lisboeta Grada
“Fotografá-la foi um privilégio”, diz. Kilomba, que apresenta sua obra O Barco, em
Inhotim. “Conheci o trabalho dela durante
minhas pesquisas para as fotos e a identificação
foi imediata”, compartilha o fotógrafo.

REPORTAGEM: Sara Magalhães. FOTOS: Acervo pessoal e Divulgação

Hugo Toni
Figura conhecida nas páginas da Vogue, o
fotógrafo assina nesta edição o seu primeiro
Mariana Maltoni editorial de beleza, batizado de Longa
Conhecida pelo seu olhar sensível, a fotógrafa História. “Quis explorar um imaginário não
carioca, que coleciona uma série de trabalhos tão literal para o tema dos cabelos longos. Me
na Vogue Brasil, usa suas lentes para clicar a inspirei a partir de uma fantasia que mistura
atmosfera romântica marcada pelas flores, várias épocas e estéticas que eu gosto. Tive
plumas e laços que voltam à cena no editorial liberdade para criar junto a uma equipe
de moda O Amor Me Pegou. incrível e empenhada”, conta.

32 VOGUE BRASIL
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colabOradores
Camila Tuon
Novata nas nossas páginas, a
fotógrafa da Zona Oeste de
São Paulo estreia como
colaboradora nesta edição,
onde clicou um retrato da
atriz, apresentadora e
colunista da Vogue Luana
Xavier. “Não demorou para
alcançar o resultado que
queríamos porque a Luana é
uma mulher que conduz tudo
com muita leveza”, conta.

Zee Nunes
O fotógrafo é o nome por trás dos cliques da
capa desta edição. Pela primeira vez em sua
Luiza Ananias carreira, ele captura Paloma Elsesser em um
A fotógrafa mineira, que também é formada mood que evoca imagens de mulheres
em arquitetura, trouxe seu olhar refinado marcantes dos anos 1930 aos 1960. “A ideia
para formas e materiais para as páginas do foi olhar para uma mulher pioneira nas lutas
abre de moda Refresco no Closet. “Amarramos sociais e reimaginá-la hoje”, conta sobre o
a ampla variedade de texturas e paletas de ensaio feito em Nova York.
cores das roupas com um cenário de tons Ron Hartleben
sóbrios, como cinza e âmbar, e uma luz Esta é a terceira colaboração
clássica para agregar atemporalidade”, diz. do stylist californiano
radicado em Nova York para
a Vogue Brasil. “Eu amo
trabalhar com essa equipe,
eles entendem e confiam no
meu gosto, algo que eu

REPORTAGEM: Sara Magalhães. FOTOS: Iude Richelle, Acervo pessoal e Divulgação.


aprecio”, conta. Ron retorna
assinando o styling de
Bem-vinda , Loewe! “Me
inspirei em imagens simples,
porém poderosas, do fim dos
anos 1990”, diz.

Krisna Carvalho
Com uma longa lista de celebridades
habitueé do seu trabalho, o beauty artist Luiza Brasil
paulistano entrou por acaso no universo da “Foi surpreendente conversar com uma
beleza. Após passar a infância no sertão mulher que sabe o quanto o poder de sua
pernambucano, voltou para São Paulo, onde imagem influencia o pensamento
trabalhou como garçom, produtor de moda e, contemporâneo”, diz a jornalista e colunista
só então, mergulhou na carreira atual. Nesta de lifestyle sobre Paloma Elsesser, que
edição, ele mostra seu talento ao criar entrevistou para esta edição. Luiza também
penteados exuberantes para o editorial de é pesquisadora de moda e comportamento e
beleza Longa História. “Foi um desafio foi pioneira na criação de conteúdo digital
enorme, mas amei o resultado”, afirma. com a plataforma Mequetrefismos.

34 VOGUE BRASIL
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colabOradores
Paloma Elsesser
“Algumas garotas são maiores que outras.”
Assim, Paloma Elsesser, modelo britânica de
32 anos, se descreve em sua conta do
Instagram. Longe de qualquer rivalidade
feminina, a mensagem é a importante
contribuição que ela dá para a indústria da
moda ao desconstruir padrões pavimentando
possibilidades quando o assunto são corpos e
racialidade. “Elegância para mim é muito mais
do que aquilo que se veste. É como nos
expressamos. Está na convicção, em estar apta
a demonstrar sentimentos, e no quão gentil se
é”, me disse Paloma Elsesser em entrevista de
sua casa em Nova York. Filha de mãe
afro-americana e pai chileno-suíço, ela
estudou psicologia e literatura na
The New School de Nova York antes de
ingressar no mundo da moda, em 2015,
quando foi descoberta pela maquiadora Pat
McGrath. Virou rosto da Fenty Beauty e
rompeu barreiras como a primeira angel
mid-size da Victoria’s Secret. Agora, sustenta
um currículo estrelado, ao cruzar passarelas e
protagonizar campanhas de marcas como
Balenciaga, Marni e Ferragamo.
Nem sempre a indústria da moda tratou com
gentileza vivências distintas. “Comecei nesse
meio quando ainda existiam muitos
questionamentos sobre quem poderia pertencer
ao universo da moda, quais tipos de corpos
podiam ser modelos. Ao mesmo tempo, surgia
o pensamento crítico e as desconstruções em
torno do que é beleza e de quem merecia espaço
na indústria”, diz Palomija, como é conhecida
nas redes sociais. Ela lembra que foi a internet,
inclusive, que alavancou tais discussões. “Além
das modelos, essa discussão também beneficiou
stylists e editores. Com o digital, cada um
passou a ser sua própria plataforma.”
Atualmente, ela revela que sua relação com
as redes tem mudado e que, embora reconheça a
importância delas para se aproximar de quem a
admira e gerar conversas, hoje busca estabelecer
limites: “Escolho bem o que vou compartilhar
com o mundo e o que quero absorver dos revolucionário de sua cultura afro e indígena é
outros. Também prefiro deixar esses limites do reconhecido de maneira global”, diz ela, que
que exponho mais estabelecidos, até mesmo quer voltar ao país em breve, embora ainda não
para não virar apenas a projeção do que o outro tenha uma viagem planejada.
espera de mim”, reflete. Perto de celebrar uma década de carreira, a
Paloma, que já esteve no Brasil quatro modelo sabe qual marca deseja deixar: um
vezes, é categórica ao pontuar que, no atual legado não somente pela contribuição que seu
momento, um dos grandes impulsionadores da corpo traz. “Quero que as pessoas não se
moda brasileira para o mundo é o trabalho apeguem apenas às minhas imagens. Tenho
desenvolvido pelos nossos designers de origem desejo também de ser lembrada pela minha
afro-diaspórica. “Amo o Brasil. É um lugar voz, pelas minhas palavras. Amo a poesia e as
caloroso, onde me sinto bem acolhida. É pessoas. É o que traduz a nossa humanidade.
impressionante ver que apesar de ter sido um E, em uma trajetória como a minha, tudo isso
país tão profundamente colonizado, o espírito se reflete na moda.” Por Luiza Brasil

36 VOGUE BRASIL
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INVOGUE
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Grunge
MAXIMALISTA
Sacramentado oficialmente com a
coleção que causou a demissão de
Marc Jacobs da Perry Ellis, em
1992, o estilo grunge aparece em
versão mais exuberante na coleção
da Martins, misturando estampas e
sobreposições. “Essa coleção é uma ode
à não monotonia. Acredito que não
há certo nem errado na moda; tudo é
válido, inclusive nas ruas. O cliente
Martins não tem medo de errar - e,
para ele, quanto mais, melhor”,
diz o estilista Tom Martins.

rEfrEsco
No ClosEt
vindas das passarelas da mais
recente edição do são paulo
fashion week, apresentada em
abril, oito tendências garantem
um inverno sem monotonia
por lUXAs AssUNÇÃo fotos lUIzA ANANIAs
stYling sAM tAVArEs

38 VOGUE BrAsIl
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VOGUE BrAsIl 39

Guive usa jaqueta (R$ 10.750),


camisa (R$ 7.790) e saia
(R$ 5.980), tudo PATRICIA
VIERA. Botas FENDI
(R$ 14.800). Na página
ao lado, Drielly Oliveira usa
blusa (R$ 580) sobre blusa
(R$ 140), e saia (R$ 580)
sobre calça (R$ 740), tudo
MARTINS. Piercings
TATIANA QUEIROZ
(a partir de R$ 198) e botas
FERRAGAMO

WORkWEAR
de couro
Revisite os clássicos do guarda-roupa do escritório, como a camisa de laço e a saia-lápis, em versões de
couro. Quem te guia por este caminho é Patricia Viera, mestre quando se fala na matéria-prima. Aposte
em tons terrosos e no verde-musgo, como fez a carioca, que nesta temporada buscou inspiração no Peru.
“Adoro focar na versatilidade e na elegância que o material possui. Combinar uma saia de couro com uma
blusa de seda e um blazer estruturado é uma receita sem erro para um visual sofisticado”, garante a estilista.
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INVOGUE

Western ROMÂNTICO
Aposta da temporada, a tendência western, ou cowboycore, pode ser combinada com sapatos
baixos e formais ou renascer em versão metalizada, para uma interpretação menos literal,
como fez Lilly Sarti. “Misturo qualquer item nesse mood com jeans ou alfaiataria, para usar
do dia à noite”, diz a estilista, a maior e melhor representante dessa estética na moda nacional.

40 VOGUE BRASIL
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VOGUE BrAsIl 41

Jaqueta (R$ 1.380), camisa


(R$ 820) e bermuda (R$ 1.480),
tudo JOÃO PIMENTA. Botas
ISABEL MARANT
(R$ 5.622). Na página ao lado,
jaqueta (R$ 11.600), top
(R$ 1.520) e saia (R$ 2.820),
tudo LILLY SARTI. Presilhas
FENDI, lenço PIERRE
CARDIN no MINHA
AVÓ TINHA, meias
CALZEDONIA (R$ 59) e
sapatos UMA (R$ 1.690)

PREPPY
boêmio
Para uma repaginada no
preppy, combine itens clássicos
da tendência, como a jaqueta
college, ao tie-dye e o animal
print, como exibiu em seu desfile
João Pimenta. “Queremos propor
a liberdade da mistura para os
nossos clientes, que eles usem as
estampas descombinadas,
demonstrem individualidade.
Não precisa parear o casaco com
a calça. Na nossa cabeça, quanto
menos combinar, mais legal é.
A ideia é errar tudo”, brinca
João. Fica a dica: importar peças
do guarda-roupa masculino é
sempre uma boa pedida.
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INVOGUE
Alfaiataria
MINIMAL
Parte do DNA de Gloria
Coelho, a alfaiataria com
linhas limpas ganha perfume
ultracontemporâneo
acompanhada de shorts
supercurtos ou calcinha. Para
quem prefere não sair com as
pernas completamente à
mostra, a dica é apostar na
meia-calça fio 80. “A
alfaiataria pode ser usada de
várias maneiras. Eu procurei
um modo bem atual, bem
jovem mesmo”, diz Gloria.

Blazer, top e calcinha,


tudo GLORIA
COELHO. Meias
CALZEDONIA
(R$ 59) e sapatos
PRADA. Na página
ao lado, casaco e
camisa ANDRÉ
LIMA. Brincos
MARTINS (R$ 550)

42 VOGUE BrAsIl
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VOGUE BrAsIl 43

80's
DIURNO
Após mais de uma década sem desfilar, André Lima retornou às passarelas nesta temporada.
Conhecido por suas modelagens ousadas e pelo trabalho com seda, o designer trouxe uma nova forma
de adotar as silhuetas oitentistas: apostando em versões feitas de algodão. A casualidade do material
transforma as peças em opções perfeitas para o dia. “Mangas, ombros, golas e saias volumosas estão
em minhas coleções há mais de 20 anos. Cresci nos anos 1980, então, para mim, essa estética passa
longe de ser tendência. É um movimento natural do meu traço, e minhas clientes adoram”, diz André.
INÊS249

INVOGUE
Camisa (R$ 1.892) e calça
(R$ 2.882) ALUF. Relógio
FENDI (R$ 11.500).

ASSISTENTES DE FOTO:
Igor kalinouski e Murilo Stabile.
PRODUÇÃO EXECUTIVA:
Déia Lansky. PRODUÇÃO DE
MODA: Laitania Gomes.
CAMAREIRA: Dulce Barbosa.
BELEZA: Mario Marques com
produtos Nars e keune.
ASSISTENTES DE BELEZA:
Marcos Duartte e Mabatha.
TRATAMENTO DE
IMAGEM: Factory Retouch.
AGRADECIMENTOS: Loft 011

Floral
DARk
Floral para a primavera?
Nada disso! Na coleção da Aluf,
a padronagem botânica ganha
contornos noturnos e bucólicos,
a cara do inverno. Combine
com calça de cintura superalta
e corset para uma nova silhueta.
“O blur da estampa e o fundo
preto garantem esse ar noturno.
Apesar de funcionar como
conjunto, tenho usado a saia
desse print com uma regata
preta e um coturno ou a blusa
com uma calça de alfaiataria
preta para o escritório”, conta a
estilista Ana Luisa Fernandes.

44 VOGUE BrAsIl
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calvinklein.com.br

Kendall Jenner
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INVOGUE mood
FINo trato
Junto ao retorno da sapatilha, quem
também ganha a cena é a Flat de bIco
FINo, em formato mule ou slingback
1 FOTOS CARLOS BESSA ediçãO víviAn SOtOCóRnO

1. SaINt laUReNt
2. dolce & GabbaNa
3. ScHUtZ (R$ 690)
4. JIMMY cHoo na
FaRFetcH (R$ 6.596)
5. GUccI (R$ 6.110)
6. 2'eSSeNtIal no
SHoP2GetHeR (R$ 499)
À direita,flatValeNtINo (R$ 6.900)

46 vOGUE BRASiL
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INVOGUE mood

dIVeRSão garantida
Seja para a noite ou para o dia, imprima irreverência
aos looks de alfaiataria com MINIbaGS 1
eM FoRMatoS lúdIcoS

2
2

1. dolce & GabbaNa


2. RoSaNtIca no
SHoP2GetHeR (R$ 10.600)
3. WaIWaI RIo (R$ 1.980)
4. SeRPUI (R$ 1.989)
5. dIoR
6. loUISVUIttoN(R$ 39.500)
À esquerda, bolsa
cHaNel (R$ 64.400)

48 vOGUE BRASiL
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INVOGUE mood
alVo-base
Peça mais contraditória da moda, o SaPato bRaNco
se mantém em alta mais uma temporada - em modelos
delicados que vão da mule à sapatilha ou bota lace-up

1.dIoR
2. JIMMY cHoo na
FaRFetcH (R$ 8.050)
3. alaÏa
4. PRada (R$ 7.000)
5. dRIeS VaN NoteN na
FaRFetcH (R$ 6.770)
À esquerda, mules botteGa
VeNeta (R$ 5.320)

50 vOGUE BRASiL
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INVOGUE mood

UNâNIMe
O material mais deMocRátIco
do PlaNeta volta como protagonista
1
literalmente recobrindo looks por inteiro -
dos pés à cabeça, incluindo acessórios

PRodUÇão de Moda: Neel ciconello Morikawa Set deSIGN: Fi Ferreira. aSSISteNte de Set deSIGN: Ritinha Jardim
3

1. ISabel MaRaNt
(R$ 7.350)
2. cHaNel
3. FeNdI (R$ 5.450)
4. JIMMY cHoo x JeaN PaUl
GaUltIeR (R$ 7.070)
5. loUIS VUIttoN (R$ 21.400)
À direita, bolsa cHloÉ (R$ 7.740)

52 vOGUE BRASiL
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invOGue

Veterana
e insider
há 45 anos na moda brasileira,
a estilista mineira sonia pinto é o
nome por trás do guarda-roupa de
mulheres como marina abramovi ,
alaíde costa e isabel teixeira
por luanda vieira Fotos Gil inOue
stYling saM tavares

54 vOGue Brasil
INÊS249
vOGue Brasil 55

Acima, a atriz Isabel Teixeira usa casaco, vestido, sapatos e bolsa.


Meias CALZEDONIA. Na página ao lado, a estilista Sonia
Pinto usa casaco, blusa e calça. Todas as peças de roupas são da
marca SONIA PINTO e custam entre R$ 497 e R$ 7.800
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INVOGUE
Caminhando entre as araras de roupas e os
objetos que trouxe na própria mala durante suas
andanças – e que dão à sua loja ares de galeria de
arte -, a designer não esconde o fascínio por teci-
dos. Na mesma intensidade que fala sobre a tex-
tura de uma gabardine, também me convida a
tocar nas roupas. É que o seu processo de criação
começa justamente por ali, no toque. “Conheço
o tecido pelo cheiro. O meu primeiro emprego,
aos 12 anos, foi numa loja de tecidos, enrolando
e arrumando todos eles. Sempre que os toco, eles
conversam comigo dizendo o que querem que
eu faça com eles. Tudo que fica parado eu rea-
proveito, tinjo, recrio”, diz. “Olha a beleza disso”,
fala apontando para uma peça de seda com al-
godão. “As pessoas me perguntam por que eu
não faço roupas bordadas. A resposta é simples:
um tecido especial desse não precisa de nada.”
O encontro da estilista com os tecidos tam-
bém se reflete na confiança de quem usa suas
coleções. “Vestir uma peça de Sonia Pinto é
mais do que simplesmente adornar o corpo, é
uma declaração de autoexpressão e empodera-
mento, revelando a beleza e a força interior de
quem a usa. Cada roupa é cuidadosamente
concebida para transmitir uma mensagem de
contemporaneidade e individualidade”, diz a
cantora e compositora Alaíde Costa. Para So-
nia, é um presente poder vesti-la. “Meu pai

Q
cantava suas músicas em casa e, além disso, ela
representa a minha ancestralidade e dialoga
diretamente com o meu trabalho. A minha avó
fazia brolha, a minha mãe fazia pano de prato
com bainha e eu aprendi tudo isso. A capaci-
dade de criar vem dos meus ancestrais”, diz.
Quando Marina Abramović foi fotografada em Pernambuco para esta Vogue A arte é mais uma conexão inegável de seu
Brasil no começo deste ano, em função de sua primeira instalação pública na trabalho, tanto em relação à estrutura descon-
América do Sul, pediu para usar uma estilista nacional durante a sessão: Sonia truída inspirada no japonismo como parte de
Pinto. Com 45 anos de carreira, a mineira é um nome prestigiado dentro da seus clientes que circulam pelo cenário artístico.
indústria e pouco conhecido do grande público. Este “segredo” bem guardado É o caso da artista performática sér via
da moda nacional veste mulheres como a cantora Alaíde Costa, as atrizes Isabel Abramović. “Há oito anos, ela estava com uma
Teixeira e Vera Holtz, a joalheira Mayumi Okuyama, a empresária de moda exposição no Sesc e veio conhecer a loja. Foi um
Traudi Guida, as artistas plásticas Sônia Gomes e Pinky Wainer e a cantora encontro de almas, a gente se entendia pelo
Zélia Duncan. “Quando estive no espaço da Sonia, me senti em casa. Suas rou- olhar. Montei um guarda-roupa para que ela
pas expressam minhas necessidades de estar confortável e elegante, ao mesmo tivesse conforto na temporada e ela virou mais
tempo, sem dificuldade. É sobre simplicidade, a escolha certa dos tecidos, design uma das minhas clientes fiéis”, diz.
e modernidade”, me escreveu Abramović por e-mail sobre a estilista. Sonia Pinto acredita que o seu legado é
Quando o Espaço Sonia Pinto SP abriu as portas em Higienópolis, em 2009, trabalhar com amor. Ela divide a sua rotina
a designer, atualmente com 75 anos, reuniu 20 amigas-clientes, como Adriana entre Belo Horizonte, onde abriu o primeiro
Varejão, Tomie Ohtake e Virgínia Lee, para expressar em fotografias dois dos espaço, e São Paulo, onde se hospeda duas
principais fios condutores de suas criações: ter personalidade e, consequentemen- vezes ao mês para visitar a loja e comprar avia-
te, não seguir tendências. Por isso, a mostra recebeu o nome de Beleza Atemporal. mentos. Para focar nas criações, a designer
Com tantos anos no mercado – e depois de quebrar no início dos anos 1990 –, conta com a ajuda de seus quatro filhos: a mo-
Sonia entende que o que mantém sua clientela fiel é a observação. “Sou uma delista Branca, o administrador Norton Jr., o
estilista autodidata, o meu estudo foi vivenciado. Todo o dinheiro que ganhava fotógrafo Thiago e o comunicador visual Fa-
usava para viajar e ver como as pessoas se vestiam. Já estive no Japão 22 vezes, biano, além de mais 18 funcionários. “Eu me
por exemplo, e o que mais me chamou a atenção é que as peças mais interessan- vejo fazendo isso até o fim porque me rejuve-
tes que vi continuaram aparecendo ao longo das 22 vezes que voltei para lá, com nesce. Quem está no mercado hoje ou é mui-
stylings diferentes, claro, mas as mesmas peças”, conta.

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to rico ou um guerreiro como eu”, finaliza.
*
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A joalheira Mayumi
Okuyama veste macacão,
blusa e sapatos. Na página
ao lado, Mayumi usa
colete, blusa, saia sobre
saia e sapatos. Sonia usa
cardigã, blusa e saia
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Acima, a empresária Traudi Guida usa casaco, vestido, calça e sapatos.


Na página ao lado, a cantora Alaíde Costa usa casaco, blusa, calça e lenço
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INVOGUE

la dolce e gabbana vita


em cartaz no Palazzo reale, em milão, uma exPosição celebra o trabalho
artesanal da dolce & Gabbana e sua Paixão Pela cultura italiana
Por tiziana cardini

Q
Quando Domenico Dolce e Stefano Gabbana discutiram pela pedindo a ela que eu nunca voltasse à Sicília, que me manti-
primeira vez sobre como comemorar suas coleções de Alta vesse aqui – e ela me ouviu!”, relembra Domenico.
Moda, Alta Sartoria e Alta Gioielleria – o auge dos trabalhos Os dez capítulos da exposição acontecem em instalações
que eles vêm construindo há quatro décadas –, uma exposição feitas especialmente para ela, com o primeiro inspirado no es-
com um desfile didático de manequins não era sequer uma plendor da Scuola Grande di San Rocco de Veneza, que abriga
opção. “Não é nossa cara”, diz Stefano. Em vez disso, tomaram as mais impressionantes pinturas de Tintoretto. Projetada como
posse de maneira imersiva do Palazzo Reale de Milão, trans- um corredor de espelhos moderno, a próxima sala celebra his-
formando-o em uma série de tableaux de uma extravagância tóricos designers venezianos de vidro, como Barbini e Barovier
quase lírica, enraizada na emoção e no amor da cultura italiana, & Toso, com vestidos e capas enfeitadas com apliques de flores
traduzidos por artesãos em peças feitas à mão. Com curadoria de vidro feitas à mão. O local é seguido por um espaço dedicado
da historiadora da moda francesa Florence Müller (responsável a Il Gattopardo, o lendário filme de Visconti de 1963 – com di-
por exposições como Dior: de Paris para o Mundo e Yves Saint reito a uma meticulosa recriação da sala de bailes do Palazzo
Laurent: a Retrospectiva), a mostra From the Heart to the Hands Valguarnera-Gangi, de Palermo, onde o longa foi captado.
(Do Coração às Mãos) fica em cartaz até 31 de julho. Há também uma réplica da sartoria da casa, repleta de alfaiates
“Hoje, esta ideia de ateliê, de savoir-faire, é bastante difun- da Alta Moda trabalhando. Por todos os lados, os arabescos
dida. Mas nós possuímos uma sartoria interna desde nosso barocco bianco que apareceram no desfile de 2022 são inundados
primeiro dia. Eu nasci e fui criado em uma sartoria, e estou por uma ofuscante luz branca, e um reconhecimento às raízes
sempre revisitando a jaqueta de al- gregas da cultura siciliana aparece em
faiataria perfeita”, fala Domenico. togas pregueadas, do desfile de 2019
No estúdio da Dolce, estão presen- no Valle dei Templi de Agrigento,
tes o espelho original da alfaiataria com a parte final prestando homena-
do pai do estilista e uma imagem de gem ao La Scala de Milão e seus ca-
uma Madonna dada ao patriarca por marotes forrados de veludo vermelho.
um proeminente arcebispo. Por fim, From the Heart to the
O lançamento da Alta Moda em Hands é sobre a crença de que a
2012 foi uma oportunidade “de nos moda “pode transportá-lo a um ou-
dar o presente da criatividade ili- tro reino – da fantasia, dos sonhos
mitada”, nas palavras de Stefano, e – acima da realidade”, diz Müller.
a exposição é um passeio cinemá- Mas por mais que a exposição fun-
TRADUÇÃO: Fabiana Skaff. FOTOS: Divulgação.

tico por um universo tão rico quan- cione como uma rica vitrine para as
to uma cassata siciliana, a iguaria obras-primas de Domenico e Stefa-
feita de marzipã com cobertura em no, ela também serve para iluminar
tons pastel que lembram os arabes- seu amado país – onde a arte, defen-
cos barrocos que adornam palazzi dem os estilistas, é para muitos, não
históricos. O convite para From the para poucos. “Todos os italianos são
Heart to the Hands retrata uma mo- artistas”, insiste Domenico. “Na li-
delo usando um vestido inspirado nhagem de toda família italiana há
pela Madonnina, estátua dourada um parente que era próximo de Ca-
que fica no topo da torre mais alta ravaggio ou conhecia Michelangelo
do Duomo de Milão e que é o sím- ou cantava com Verdi. Até mesmo
Acima, looks da Alta Moda desfilados
bolo da cidade. “Quando cheguei a em 2012. Na página ao lado, jaqueta e preparar um ragu é um ato de ex-
Milão, rezei para a Madonnina,

60 vOgUe braSil
bermuda de brocados da coleção de 2014 pressão artística.”
*
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menina
de Ouro
No aNo em que todos os olhos se voltam para o esporte,
rayssa leal se firma como uma das graNdes apostas Na
olimpíada de paris e celebra a coNquista de ser a primeira
brasileira Nomeada embaixadora global da louis vuittoN
por paula jacob fotos leo faria styliNg amandha gaio

m
“Meu time todo se reuniu para fazer uma liga- perimenta o design das peças e o quanto isso
ção comigo e me contar. Era para ser uma sur- falava por ela.” A partir daí, passou a acompa-
presa. E, apesar de esperar algo similar, nunca nhar mais de perto as criações, principalmente
passou pela minha cabeça que seria assim tão quando Virgil Abloh (falecido em 2021) tra-
grande. É uma oportunidade imensa poder duziu o lifestyle da modalidade em coleções para
falar pela marca, fazer as campanhas, usar as a linha masculina da Louis Vuitton (e para sua
roupas em eventos, ir aos desfiles”, conta Rayssa própria marca, a Off-White). “A gente liga
Leal sobre o dia em que descobriu que seria a muito para o jeito que vamos sair para dar um
mais nova embaixadora global da Louis rolê ou participar de provas, sabe? Se é uma
Vuitton, única brasileira a compor o time. “Eu calça larga com um top, se é uma blusa mais
acho muito chique”, brinca. Aos 16 anos, a justa, qual modelo de tênis ou algum lança-
skatista premiada e medalhista olímpica está mento importante. Por isso, nós, skatistas, so-
tateando novos horizontes para além das pistas. mos muito gratos a ele, porque valorizamos essa
Já acompanhou desfiles nas semanas de moda conexão entre a moda e o skate.”
de Paris, celebrou os dez anos de Nicolas Não à toa, foi convidada pela Nike para de-
Ghesquière na direção criativa da linha femi- senvolver um modelo Dunk Low com a sua
nina da marca francesa e até fez foto com assinatura. A peça, feita nas suas cores preferi-
Zendaya na primeira fila da apresentação da das (azul e roxo), com detalhes em relevo e pins
coleção verão 2024 em setembro passado. sorridentes no cadarço, foi lançada no dia 19 de
“Quando eu era criança, não tinha ideia de como março e esgotou em apenas 20 minutos. Ela
funcionavam os desfiles, com famosos, red car- soube da notícia após chegar da escola e achou
pet, fotos… A gente só via essas pessoas na TV que fosse mentira. “Fiquei sem entender nada,
na época do Oscar. Estar ali foi uma das expe- chorei no chão do meu quarto quando caiu a
riências mais loucas da minha vida”, se diverte. ficha.” A ideia é continuar entrelaçando a pai-
A relação com a moda, para ela, é natural xão pelo ofício com o interesse genuíno pela
do esporte. Com a ajuda da mãe, Lilian Men- moda, quem sabe até não assina uma colabora-
des, ela escolhe antecipadamente os looks que ção maior no futuro. “Eu mandei o meu tênis
vai usar nas competições, enquanto atleta do
time da Nike, e nos compromissos fora delas,
sempre de Louis Vuitton. A construção dessa
relação, inclusive, também começou por incen-
tivo de sua mãe, quando, sem nem pensar o que
isso significaria, a presenteou com um cinto LV,
“que ela não me deixa usar andando de skate Na página ao lado, Rayssa Leal usa jaqueta
(R$ 23.800), shorts (R$ 8.750), brincos (a partir de
(risos)”. “Foi o primeiro item de luxo que ga- R$ 2.300) e anel (R$ 2.260). Todos os looks são da
nhei. Me apaixonei pelo jeito que a marca ex- coleção verão 2024 da LOUIS VUITTON

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Na página ao lado, jaqueta


de presente para o Nicolas [Ghesquière] como (R$ 22.200) e suéter (R$ 19 mil)
uma forma de agradecimento por tudo o que
ele fez por mim e também pelo que vem fazen-
do pela marca”, diz, sorridente.
Toda a leveza que faz Rayssa Leal cativar fãs
ao redor do mundo também é o que a move den-
tro dos preparativos para a Olimpíada. Ainda
faltam algumas provas para sair a confirmação
de sua participação em Paris 2024, mas é, por
certo, uma das favoritas na categoria. “Só de ir
para lá vai ser uma conquista incrível. A chance
é grande, então bate um nervosismo. Os treinos
permanecem os mesmos, focamos mais nas ma-
nobras, porque elas fazem a diferença. Mas eu
me divirto – ando de skate para isso.”
O orgulho inerente ao fato de representar seu patrocinadores, Rayssa não esconde a saudade da família e dos
país em um evento desse porte a deixa sem amigos, e da vida na sua cidade natal, Imperatriz, no Maranhão,
palavras. “É impossível descrever tamanha fe- mas garante: “É muito mais fácil do que difícil viver tudo isso”.
licidade.” Porém, consegue, sem hesitar, falar Quando está fora de casa, administra as tarefas da escola e as
sobre as memórias que o esporte lhe trouxe. A provas de maneira remota, encaixando os treinos de acordo com
primeira foi conhecer sua ídola, a skatista pau- o tempo que sobra. Se está no Brasil, estuda na parte da manhã
listana Letícia Bufoni, quando tinha apenas 7 e anda à noite. Nas folgas, adora ficar com os amigos e curtir um
anos, em um encontro emocionante, mediado tempo na chácara da família. “Eu gosto demais de viajar, mas é
pelo Globo Esporte, em outubro de 2015. Sem melhor ainda estar em casa.” Segundo ela, a terapia também
contar todas as vezes que aprendeu algo novo auxilia nesse equilíbrio entre responsabilidades e diversão –
sobre rodas. “Meus amigos estavam ali presen- afinal, Rayssa ainda é uma adolescente de 16 anos, mas que já
tes, torcendo para que eu acertasse. Cada vez é bicampeã mundial da Street League Skateboard, com duas
que conseguia, era um barulho diferente. Joga- medalhas de ouro no skate street do X-Games e uma medalha
vam os skates para cima e vinham me abraçar. olímpica de prata, entre outros feitos. “Tem me ajudado bas-
É uma memória que acredito que todo skatista tante, porque tudo aconteceu muito rápido na minha vida.
guarda.” Tal união foi celebrada com muito Fazer as sessões é algo essencial na minha rotina. Se perco por
entusiasmo pelos espectadores durante a estreia algum motivo, já sinto falta.”
COORDENAÇÃO: Lucio Fonseca. BELEZA: Alan Leal. PRODUÇÃO DE MODA: Dara Domingues.

do skate na Olimpíada de Tóquio. Apesar de Olhando para aquela menina que viralizou nas redes sociais
estarem competindo, ela e as outras atletas e ficou conhecida como “a fadinha do skate”, Rayssa Leal en-
mantinham uma vibração entre si. “O skate é tende que não era para ter desistido dos sonhos. “Era para con-
uma grande família. Independente do local, tinuar andando, caindo e levantando, me machucando. Era o
vamos chegar e cumprimentar todo mundo, que eu amava e continuo amando.” Quanto aos planos futuros,
torcer pelo outro. Sinto que ele se diferencia para além da Olimpíada, a atleta diz estar focada em realizar
dos outros esportes por ser mais que isso, é seu video part, compilado de manobras feitas nas ruas e captadas
também um estilo de vida.” ao longo de dois anos para portfólio. “Em 2025, também quero
Com uma agenda cronometrada neste pri- direcionar os meus esforços para me tornar a skatista do ano”,
meiro semestre do ano, entre viagens interna- diz, empolgada. Com sua determinação e sorriso no rosto, não
cionais, campeonatos e compromissos com temos dúvidas de que serão sonhos possíveis.
*
"O SkATE é uma grande FAMíLIA.
Independente do local, vamos chegar e
cumprimentar todo mundo, torcer pelo outro. Sinto
que ele se diferencia dos outros ESPORTES por
ser mais que isso, é também um estilo de vida"

- Rayssa Leal
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invOgUe negócioS

velOcidade
máxIma quatro anoS apóS ter Sido adquirida
pelo Soma, a nv hoje reSponde por
7% do faturamento do grupo
por thiago andrill

É esperada certa movimentação em uma marca no


pós-aquisição. Funções podem ser redesenhadas e novas áreas
criadas. Vozza, por sua vez, se mantém fincada em muitas delas.
“Eu trabalho em diferentes coleções ao mesmo tempo, dou di-
reção ao estilo, que possui outras áreas como qualidade, plane-
jamento comercial e compras. Estou completamente dentro do

S
marketing e provo todas as modelagens feitas, no mínimo duas
vezes. Temos em torno de 400 modelagens únicas por coleção.”
A identidade da marca de roupas segue intrinsecamente
ligada à da empresária. Na página institucional no site da
empresa está atestado: “Uma das primeiras influenciadoras
digitais do Brasil”. A NV afirma elaborar coleções para “mu-
São 19 lojas, 459 funcionários e receita bruta lheres reais” e diz ser nativa do ambiente digital. Afinal, foi
de R$ 425,4 milhões em 2023, um valor que em 2012 que o alcance do blog Glam 4You, de Nati Vozza,
correspondeu, sozinho, a 7% do ganho de possibilitou a criação de um negócio.
todo o grupo Soma (o número equivale ape- Em relação às roupas, valoriza-se o clássico, o versátil e o
nas ao grupo carioca, sem considerar a fusão confortável. “Um dos fatores que nos ajudou a crescer como
com o Arezzo & Co anunciada em fevereiro crescemos foi que nós preenchemos uma brecha de mercado.”
deste ano e aprovada pelo Conselho Admi- Qual? “Quando inaugurei a primeira loja, entendi para onde
nistrativo de Defesa Econômica em março deveríamos ir: a NV está com a mulher em diversos momentos
passado). Quando abriu as portas de sua pri- da vida.” Segundo a criadora, a roupa da marca é feita “para ser
meira loja, na Rua Cristiano Viana, no bair- usada a todo instante”. “Não é uma ‘roupa de jantar’, ‘roupa de
ro de Pinheiros, em São Paulo, o sonho de trabalhar’ ou ‘roupa de balada’. A gente transita muito bem
Nati Vozza para a NV não compreendia in- pelas diversas facetas da mulher”, explica.
tegrar um grande grupo. “A gente dificilmen- Os carros-chefe de vendas são calças, blazers e saias de al-
te cria algo tão sonhado dessa forma para faiataria em crepe, lã, lã mista, tweed e jacquard. “A nossa
vender. Porém, quando conversamos com o próxima coleção vai vir com um tom mais de festa, algo muito
Soma, veio a segurança. Por que não se jun- novo para a gente. Nós não entrávamos antes neste meio.” Por
tar com quem está anos luz à frente?” E os que a mudança? “A nossa comunidade é tão fiel à marca e nós
resultados vieram – e seguem vindo. Apenas queremos estar presentes em todos os momentos de suas vidas.”
FOTO: João Kopv. BELEZA: Mauro Marcos.

em 2023, a receita bruta da NV cresceu 12%. Aquela primeira loja, da Rua Cristiano Viana, hoje funciona
Em 2020, quando a aquisição ocorreu, a NV como o outlet da NV. Na sequência, Vozza inaugurou o ponto
já era destaque no mercado, com cinco lojas. do JK Iguatemi, também em São Paulo. “Eu acho que lá apren-
“Estávamos em um momento favorável, já tí- di muito. Para quem trabalhou como vendedora aos 16 anos, eu
nhamos acertado os pilares de produto e realizei um sonho. Não tínhamos esse capital todo. Eu acho que
marketing, por exemplo. Entretanto, vimos no a NV tem muito desse senso do ‘faça!’, da urgência. Vamos fazer
Soma um catalisador muito forte que poderia
nos adiantar alguns anos. Um exemplo bem
prático é o crescimento da quantidade de lojas”,
e depois lapidamos. E, assim, decolamos.”
*
afirma. Para este ano, a empresária conta que
A empresária e
estão programados mais três pontos de venda, influenciadora Nati Vozza
em cidades que ainda serão anunciadas. posa no escritório da NV

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INVOGUE joias

Uma ode
à inovação
Com uma nova
plataforma para unir
artistas, a Bvlgari
reinterpreta seus
Códigos e Cria um
espaço de fomento
à Criatividade
por maRia LaURa neveS

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d
Durante cinco anos, o videoclipe da música
“Gangnam Style”, do rapper sul-coreano Psy,
ficou em primeiro lugar entre os mais vistos
do mundo do Youtube, do seu lançamento em
2012 até 2017. Foi também o primeiro vídeo
a atingir a marca de 1 bilhão de views na pla- Para a edição de lançamento do Bvlgari Studio, participaram
taforma (hoje conta com mais de 5 bilhões de do casting o artista digital ítalo-filipino baseado na Alemanha
visualizações), e a parte mais simples de sua Anthony Tudisco, o DJ multiartista Anyma e o coreógrafo francês
coreografia, balançar as mãos fechadas e os Sadeck Berrabah. Foi justamente para dialogar com a dança, esse
punhos cruzados no ritmo da música, virou icônico aspecto do K-pop, que a Bvlgari convidou Sadeck para a
uma brincadeira mundial. O símbolo se tor- inauguração da plataforma. “Sadeck traz dança para um país em
nou algo tão potente para os sul-coreanos que que essa arte é muito forte e para onde o mundo está olhando
virou uma estátua instalada no bairro de agora. O crush, o diálogo é incrível”, afirma Laura Burdese,
Gangnam, onde turistas do mundo todo fa- À esquerda, o vice-presidente global de marketing e comunicação da Bvlgari.
zem suas self ies. O estrondoso sucesso da francês Sadeck Nascido no sul da França e com fortes influências da dança
Berrabah em
música e da coreograf ia foi um marco do performance de rua e do hip-hop, Sadeck já criou coreografias para Shakira,
K-pop e abriu portas para que outros ícones realizada em Jennifer Lopez e para o comitê olímpico durante os Jogos de
Seul. Acima,
ficassem conhecidos mundialmente e se tor- anéis da coleção
Tóquio e, agora, para Paris. Ficou conhecido pelos vídeos virais
nassem especialmente poderosos no mundo B.Zero1 em que retrata suas performances geométricas, que brincam com
da moda. As cantoras Jisoo, do Blackpink, e trabalhada no os ângulos do corpo humano, em geral, braços, mãos e cotove-
Bvlgari Studio
Mingyu, do Seventeen, por exemplo, são as los – em um casamento perfeito para acomodar os anéis da co-
que mais geram frenesi nas portas dos desfiles leção B.Zero1, uma das linhas propostas pela Bvlgari a serem
durante as semanas de moda internacionais, trabalhadas pelos artistas do Bvlgari Studio. A convite da mar-
levando centenas – às vezes milhares – de fãs ca, Sadeck criou uma performance realizada por 86 artistas
FOTOS: Divulgação

às grades de entrada dos desfiles. E foi esse o sul-coreanos com os quais nunca tinha se encontrado. “Fiquei
cenário, em Seul, por trás da escolha da muito feliz em conhecê-los e são dançarinos muito bons. Fize-
Bvlgari para lançar sua mais recente iniciativa, mos uma audição para selecionar profissionais que tivessem um
o Bvlgari Studio, plataforma de encontro e controle muito grande sobre os seus corpos e que pegassem a
colaboração de artistas inovadores, em março. história muito rápido. Cheguei a Seul cinco dias antes da apre-
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INVOGUE joias
sentação para ensaiá-los”, disse o artista.
“A coreografia foi inspirada nas linhas do anel
B.Zero1, que tem um design muito avant-garde.
Como o meu tipo de dança, esse tipo de joalhe-
ria é muito criativo, geométrico e inovador.”
A relação com a tecnologia é fundamental
para o seu trabalho. Jogador assumido de
Fortnite (Sadeck viaja com um Playstation 5,
sua companhia para noites insones de jet lag),
tem 1,5 milhão de seguidores no Instagram e
usa a rede como principal meio de divulgação
do seu trabalho. “Penso minhas coreografias
para as redes sociais. Quero que as pessoas pa-
rem de rolar seus feeds quando se deparam com
um vídeo meu, que possam ter um momento
de beleza em seus dias”, afirma. “Mas é claro
Acima, anéis B.Zero1. Abaixo, o DJ e que as coreografias também têm que funcionar
multiartista Anyma. Na página ao lado,
instalação no Théâtre des Lumières em Seul, no palco, na vida real.” Na noite de lançamen-
onde aconteceu o lançamento da plataforma to da plataforma, Sadeck emocionou a audiên-
cia do Théâtre des Lumières em Seul com dan-
çarinos vestidos de preto, só com antebraços e
rostos à mostra, dançando apenas com os mem-
bros superiores do corpo – em uma disposição
perfeita para Shorts para as redes sociais.
Inovação é o grande tema por trás do
Bvlgari Studio. Anthony Tudisco por sua vez
criou uma campanha digital para a marca. Já o
DJ multiartista Anyma sacudiu a plateia com
vídeos de Anthony no palco. Os artistas foram
convidados para trabalhar o icônico anel
B.Zero1, a linha Tubogas e Bvlgari Bvlgari,
calcadas no logo da casa italiana. “Esses pro-
dutos estão ligados pela mesma filosofia, repre-
sentam o mesmo grupo de linhas, que mostram
o espírito visionário da maison”, afirma Laura
Burdese. “A técnica Tubogas, que nós reinven-
tamos, veio dos chuveiros. Foi a primeira vez
que o desenho industrial foi trazido para a jo-
alheria, há cinco décadas, uma revolução para
a época. Depois, temos o uso do logo romano.
A Bvlgari foi a primeira marca a usar o logo de
maneira tão marcante, com os algarismos ro-
manos para aludir à cultura romana. A mensa-
gem é revolucionar os códigos, reinventá-los.
Quebrar as regras e olhar para frente sem
medo, mesmo na alta-joalheria. É a essência da
genialidade italiana: Leonardo da Vinci inven-
tava e reinventava as coisas. Essa é a beleza
desse projeto: por meio da arte e dos artistas,
nós sempre podemos reinventar o mundo.
E podemos fazer isso juntos porque juntos so-
mos mais fortes.” Segundo a executiva, o pró-
ximo encontro da Bvlgari deve acontecer ainda
em 2024, em uma cidade que exale contempo-
raneidade, como Seul. “Novos artistas virão
para se juntar aos que já fazem parte para nutrir
e enriquecer esta rede em encontros que acon-
tecerão mais de uma vez por ano”, diz a

70 vOGUe BRaSiL
italiana. Esperamos curiosos.
*
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iNvOGUE joias

mil Exposição organizada pEla Tiffany


Em Tóquio rEúnE mais dE 500 joias

maravilhas
E objETos dE sEu acErvo, incluindo
prEciosidadEs como um rEcém-rEEnconTrado
colar criado por louis comforT Tiffany
E o primEiro bird on a rock da hisTória
por vÍviaN sOTOCÓrNO

E
Em 1914, Louis Comfort Tiffany lançou um livro com os
destaques de sua trajetória e nele incluiu apenas duas joias. Filho
do fundador da joalheria americana que leva seu sobrenome e
pintor por formação, ele fez carreira como um dos mais
proeminentes mestres de artes decorativas da América (conhecido
principalmente pelos vitrais e pelas luminárias em estilo art
nouveau), antes de assumir o posto de vice-presidente e diretor de
arte da Tiffany, aos 54 anos, após a morte de seu pai. Uma das
duas peças citadas era o pingente Medusa, parte da primeira
coleção que desenhou na casa, uma peça mais escultural e
inspirada na natureza, na contramão do estilo eduardiano em
voga. Originalmente vendido a um colecionador de arte, teve seu
paradeiro desconhecido durante cem anos, até ressurgir em um
leilão da Sotheby’s em 2021. Com estimativa de ser vendido por
um valor em torno de US$ 100 mil a 200 mil, acabou arrematado
pela Tiffany por US$ 3,65 milhões, o item mais caro já adquirido
pela marca para compor os seus arquivos. Os lances chegaram a
esse ponto porque quem entrou na briga foi um museu, tão
interessado quanto a Tiffany na importância da criação. Com
peças espalhadas por instituições como o nova-iorquino
Metropolitan, a história da marca muitas vezes se confunde com
a própria história americana, além da cultura pop global.
Após um ano e meio em restauração, o Medusa poderá ser
visto até 23 de junho em Tóquio, uma das mais de 500 peças a
compor a exposição Tiffany Wonder, a terceira a ser armada pela
Tiffany recentemente, após mostras em Xangai (2018) e em
Londres (2022). A exibição acontece dentro do Tokyo Node,
galeria assinada pelo escritório OMA, o mesmo responsável
pela renovação do The Landmark, como foi rebatizada a flagship
da Quinta Avenida, em NY, após a reforma de quatro anos. “A
A partir do alto, exposição levou mais de um ano para ser montada e não é apenas
o Tiffany Diamond, uma exibição de artefatos do nosso passado, mas uma
que agora protagoniza representação de quem somos hoje e da nossa visão para o
um broche-pingente
com os Birds de futuro”, conta Alexandre Arnault, vice-presidente executivo de
Schlumberger e broche produtos, comunicações e industrial da Tiffany.
de Jean Schlumberger.
Na página ao lado,
Foi há 52 anos que a Tiffany inaugurou sua primeira loja no
vitrine de Gene Moore Japão, hoje o segundo maior mercado global para a grife – mas a
com colar de pérolas relação com o país vem desde os primórdios da marca. “Todos,

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iNvOGUE joias

Em sentido horário, a partir


do alto, vitrine de 1956;
pingente Medusa, criado por
Louis Comfort Tiffany;
broche assinado por
Schlumberger; luminária de
Louis Comfort Tiffany; e o
primeiro Bird on a Rock, com
cabochão de lápis-lazúli

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desde George Paulding Farnham e Louis Comfort Tiffany até joia foi a criação escolhida para receber o diamante mais famoso do
criadores do século 20 como Elsa Peretti, foram profundamente mundo em celebração a uma retrospectiva que o Musée des Arts
inspirados pela arte única e pelo intrincado artesanato do design Décoratifs armou sobre o trabalho do designer.
japonês”, explica Alexandre. Libélulas e glicínias já estavam Quando o francês chegou à marca, aliás, uma de suas primeiras
presentes em objetos de prata e luminárias do século 19 da casa; e missões era projetar um conjunto de possíveis cenários para o
foi inspirada pelo Japão que Elsa Peretti introduziu laca, madeira lendário diamante, descoberto em 1877 e tendo originalmente
e bambu em suas coleções, materiais que não costumavam figurar 287,42 quilates (a lapidação foi supervisionada por George Frederick
na joalheria da época. É em Tóquio também que se concentram Kunz, gemologista-chefe da Tiffany e o pai da gemologia
algumas das principais inaugurações desses últimos meses. americana, ao lado da marca responsável pela descoberta de pedras
“Renovamos as lojas de Ginza e de Shinjuku Isetan e abrimos um como a morganita e a kunzita, esta que leva seu sobrenome). Foi
endereço em Omotesando, um dos mais bonitos da marca no criação de Schlumberger a primeira joia a carregar o Tiffany
mundo”, enumerou o presidente e CEO Anthony Ledru no preview Diamond, o colar Ribbons, usado por Audrey Hepburn para as
da exposição para convidados. fotos publicitárias de Bonequinha de Luxo. “Durante muito tempo,
São ao todo dez salas em Tiffany Wonder, que passeiam pela ele foi exposto como uma pedra solta. Quando pessoas importantes
história da Tiffany, sua relação com o Japão, sua conexão com a chegavam, o Sr. Tiffany mostrava-lhes o fundo da loja e deixava-os
cultura pop, seus diamantes, designers mais importantes e origens. segurar o diamante. Penso que nosso fundador entendeu muito
Estão lá, por exemplo, uma das primeiras Blue Box criadas (nunca bem o conceito de experiência do cliente”, diz Ledru.
se descobriu o exato motivo do nascimento da cor Azul Tiffany, Com 128,54 quilates e 82 facetas (24 a mais do que o tradicional
que surgiu em uma primeira caixinha em 1870, após a marca ter corte brilhante, em prol de maximizar seu brilho), o diamante mais
usado tons de verde e vermelho) e o livro-caixa utilizado pelo famoso do mundo desde o ano passado se encontra novamente em
fundador Charles Lewis Tiffany no dia da inauguração da primeira uma joia de estilo Schlumberger. Em homenagem à reinauguração
loja, na Broadway, em 1837, a peça mais antiga dos arquivos. Uma do The Landmark, agora é o centro de um broche-pingente com
das salas é dedicada apenas às vitrines, praticamente instalações de cinco pássaros como os do Bird on a Rock, a quinta joia a ser estrelada
arte, que ganharam tal importância a partir dos anos 1950, com a por ele. E não poderia ser outro se não ele a fechar a exposição. “A
chegada do diretor artístico e vice-presidente Gene Moore. Um fã última sala é dedicada inteiramente ao Tiffany Diamond por ser o
do surrealismo, Moore decidiu trocar o formato de exibir as peças arquivo mais incrível que temos. Visionário, o Sr. Tiffany fez um
em bustos, como usado pelas outras joalherias, por cenas que investimento muito grande nele no século 19, por algo que nunca
contassem histórias, e assim chamar a atenção de quem passasse pela seria vendido, exceto para o Sr. [Bernard] Arnault, o único que
rua. Ao longo de quatro décadas na casa, criou mais de 5.000 vitrines. conseguiu comprá-lo”, brinca Ledru, em referência à venda da marca
Para além de nomes como Peretti e Paloma Picasso (a responsável para o grupo LVMH, concluída em 2021.
pelo colar que carrega uma kunzita de 715 quilates), foram diversos Diamantes obviamente são assunto seríssimo na Tiffany, que
os designers a terem passado pela marca – e alguns deles boa parte ajudou a cravar na joalheria americana o uso de pedras coloridas, até
do público irá conhecer pela primeira vez em Tiffany Wonder, como meados do século 19 pouco utilizadas. Além da morganita e da
Angela Cummings, Donald Claflin, Don Berg e Sonia Younis. kunzita, a tanzanita e a tsavorita são as outras duas gemas que foram
Para Anthony Ledru, o mais especial foi Jean Schlumberger – não descobertaspelamarca emsua busca pelaspedrasmaisextraordinárias
à toa, o francês ganha uma sala especialmente dedicada a ele. “Ele do mundo – que segue ativíssima. “Há 18 meses, compramos 31
foi um criador em série de ícones. Conseguiu o que todo diretor diamantes da mina australiana Argyle [fechada em 2020, foi a mais
artístico gostaria de alcançar: criar um mundo que não pode ser importante fonte de diamantes rosa do mundo]. É muito, muito raro
copiado. Está na Tiffany e apenas na Tiffany. A marca talvez fosse conseguir obter tantos deles ao mesmo tempo. No ano passado,
outra sem ele”, diz Ledru. Nascido em uma família de fabricantes optamos pelo verde. A esmeralda Tiffany Muzo foi nomeada assim
têxteis, Schlumberger chegou a desenvolver as bijoux da Schiaparelli pela própria mina Muzo, quando os proprietários perceberam que
antes de servir durante a Segunda Guerra Mundial e posteriormente se tratava da esmeralda mais excepcional já extraída na Colômbia.”
se mudar para Nova York. Chegou à Tiffany em 1956, quando já Para além das joias, Tiffany Wonder também reúne elementos
estava para completar 50 anos e, ao longo de três décadas, marcou que ligam a marca à cultura pop e uma sala inteiramente dedicada
a joalheria mundial com peças esculturais e exuberantes inspiradas a troféus. Nascido na Grécia Antiga, o costume de celebrar a vitória
na natureza. As cores da fauna e flora também foram referências no no atletismo com um troféu foi revivido no fim da década de 1870
uso de pedras coloridas e do esmalte em cores vivas – foi ele quem – e muitos organizadores de eventos recorreram à Tiffany. Hoje,
reviveu a arte do paillonné, que envolve várias camadas de ouro e são mais de 65 variedades de troféus desenvolvidos a cada ano pela
esmalte para se criar profundidade. divisão responsável na marca, para campeonatos como o Super
É dele também o broche Bird on a Rock, cujo primeiro exemplar, Bowl, o US Open e a Fórmula 1. O próprio nome da exposição está
feito de lápis-lazúli em lapidação cabochão e vendido à amiga e ligado a algo em clima fantástico. “O conceito de wonder (maravilha)
socialite Bunny Mellon, está exposto em Tiffany Wonder. “O Bird é uma ideia antiga. É quando você vê algo que talvez nunca tenha
on a Rock é um símbolo de alegria, de renascimento. E, quando visto antes, algo que é magnífico. A Tiffany sempre representou
você olha, é sobre a pedra. A pedra é sempre o ponto de partida da novidade, expectativa, inventividade”, explicou na capital japonesa
FOTOS: Divulgação.

Tiffany”, diz Ledru. Inspirado em uma cacatua amarela que Christopher Young, vice-presidente global de visual merchandising
Schlumberger viu em sua casa na ilha de Guadalupe, no Caribe, o e dos Arquivos Tiffany & Co. Ao que Ledru completa:
Bird nasceu em 1965 e ascendeu ao seu atual status de um dos “Schlumberger é único. O The Landmark é único. Esta exposição
maiores ícones da Tiffany em 1995, ao abrigar o diamante amarelo é sobre o que faz a Tiffany ser a marca para onde você quer ir, e não
Tiffany Diamond. Em homenagem ao legado de Schlumberger, a outra marca. Essa é a nossa missão, esse é o nosso trabalho.”
*
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especiall JOI A S

ALMA
ART
DÉCO
A MARCA CAPIXABA DORION SOARES
TEM CONQUISTADO O GLOBO COM SUAS
JOIAS QUE TRABALHAM PEDRAS COMO
TURMALINA PARAÍBA E ESMERALDA

FOTOS: DIVULGAÇÃO
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ORGULHO NACIONAL
“Uma joia atemporal, potente e que expressa nossa pai- zar a beleza das gemas e transformá-las em peças impac-
xão por arte e história no uso de gemas raras e design emble- tantes”, explica Dorion, que se acomodou em Vitória (ES)
mático”: é assim que o joalheiro e empresário mineiro Dorion junto à empresa.
Soares descreve os produtos de sua marca homônima. O joalheiro dá vida a coleções como Heritage, inspirada
Tudo começou com seu pai, comerciante de pedras pre- na arquitetura moura e seus arabescos ricos em detalhes e
ciosas que atuava em Teófilo Otoni, Minas Gerais. Ele e a linhas entrelaçadas; e Mediterrâneo, que retrata a beleza
família forneciam esses insumos para joalherias tradicionais do mar que banha a Europa, a África e a Ásia a partir de
brasileiras e logo expandiram para o mercado internacio- uma mescla de safiras, águas-marinhas, turmalinas paraíba
nal. Em feiras fora do país, perceberam o valor que se dava e pérolas.
a pedras como turmalina paraíba, topázio imperial e esme- Atualmente, a etiqueta está em Vitória (ES), no Shopping
ralda. Com essas preciosidades em mãos, Dorion – já no Rio Design, no Rio de Janeiro (RJ), e ao redor do globo em
comando da operação – ampliou sua atuação e somou ao navios de luxo cujas rotas transitam entre os Estados Uni-
comércio B2B uma frente voltada ao consumidor final. dos, os Emirados Árabes Unidos e países da Europa. Há ain-
Hoje, esses tesouros nacionais são o ponto de partida e da um showroom no Diamond District, em Nova Iorque, e,
fio condutor principal do processo criativo: “O corte, a la- logo, os públicos de Brasília, São Paulo e Goiânia também
pidação e os acabamentos são pensados para potenciali- terão acesso às peçças.

dorionsoares.com.br
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iNVOGue FAshionistA

multifacetada AntoniA Frering se reinventA


com víDeos sobre moDA e
comportAmento nAs reDes sociAis
e prepArA livro De receitAs

por GilBeRtO JÚNiOR Fotos PedRO BucHeR stYling JuJu BONJOuR

D
Dia desses, Antonia Frering levantou uma questão que movi-
mentou sua audiência no Instagram. “Afinal, animal print é cool
ou cafona?” Traçou um paralelo com a mãe, a locomotiva social
Carmen Mayrink Veiga (que morreu em 2017), uma fã fervo-
rosa de estampas selvagens, e revelou que, apesar de ainda ser
da turma dos lisos, acabou se rendendo e arrematou três peças
de onça. Inclusive, vestia uma delas quando conversamos. Além
da moda, o comportamento humano também costuma ser ob-
jeto de seus estudos e conteúdos produzidos para internet. Re-
clamou, por exemplo, do burburinho na plateia do Theatro
Municipal do Rio de Janeiro durante o espetáculo da pianista
chinesa Yuja Wang, que chegou a abandonar o palco irritada
com os ruídos. Antonia classificou o episódio como um “vexa-
me”. Aos 59 anos, a atriz e apresentadora encontrou uma fór-
mula para entreter e informar o público nas redes sociais.
“No auge da pandemia, percebi que era hora de repensar
minha carreira na dramaturgia. Estava no meio há quase três
décadas, com participações nas novelas Salve Jorge e Três Irmãs,
além da presença no filme Se Eu Fosse Você. Fui convidada para
estrelar um monólogo e tive até taquicardia. Recalculei a rota e
comecei a investir no Instagram.” No início, dava dicas de séries
e filmes, mas logo sentiu vontade de falar com mulheres acima
dos 50 anos. “No entanto, preciso deixar claro que não matei a
atriz que existe em mim. Ela está aqui em algum lugar, vivíssi-
ma”, diz Antonia, pontuando que estava na faixa dos 30 quando
iniciou a aventura pelo teatro. “Estava morando em Londres e
um dos meus filhos decidiu ser ator. Por ser menor de idade, eu
o acompanhei e me encantei.”
Acima, brincos e anéis MARIA
FRERING. Na página ao lado,
A carioca conta que a gravação dos vídeos é simples e tem a
fotografada em sua casa no Rio de ajuda apenas de sua assistente pessoal. O set é sua própria casa e
Janeiro, Antonia Frering usa blazer e o texto sai de improviso, sem qualquer tipo de ensaio. “Falo o que
calça VALENTINO, brincos, colar e
anéis MARIA FRERING e sapatos vem à cabeça. Às vezes, escorrego no português, mas não faço
MANOLO BLAHNIK qualquer tipo de edição. É um material realmente espontâneo, e

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o feedback das pessoas é muito gostoso. Aliás, sou cobrada se


deixo de subir conteúdo por qualquer motivo”, comenta. Enquan-
to desbravava esse maravilhoso mundo novo, Antonia descobriu
um segundo câncer. O primeiro, em 2011, foi na mama; o segun-
ASSISTENTE DE FOTO: Ana Santos. BELEZA: G Junior. PRODUÇÃO DE MODA: Manuela Padilha. ASSISTENTE DE STYLING: Valentina Steinle. ASSISTENTES DE BELEZA: Paulo Vitor e Emanoel

do, em 2020, estava localizado no endométrio. “O último era


agressivo e meu oncologista marcou a cirurgia para uma
sexta-feira 13! Imagina… Falei que não iria operar, não ia dar
sorte. Mas acabei indo. Agradeço a Deus a oportunidade. Se eu
tivesse relutado, o resultado poderia ser completamente diferen-
te. Havia a chance de o tumor se espalhar pelo corpo. Hoje,
sempre que posso, dialogo com meus seguidores sobre o assunto.”
Com 1,77 m de altura, Antonia herdou da mãe, além da força,
da disciplina e do tipo físico, a veia fashionista. Cresceu cercada
de grandes nomes da indústria, como Valentino Garavani, Yves
Saint Laurent e Hubert de Givenchy, que era amigo de sua famí-
lia. “Fui, inclusive, a noiva do último desfile que Givenchy fez
para a maison que criou, em 1995”, recorda ela, que também es-
trelou uma campanha para Guilherme Guimarães (morto em
2016), apesar de não ter seguido na carreira de modelo. “Quatro
décadas atrás, tive uma reunião com o agente John Casablancas,
que chegou a representar Naomi Campbell, Claudia Schiffer e
Cindy Crawford, para discutirmos a possibilidade de me integrar
ao casting da Elite. John não tinha uma modelo com o meu per-
fil, mas eu já estava namorando e sabia que passaria o resto da vida
ao lado do Guilherme (Frering, empresário)”, relembra.
Entusiasta do trabalho das estilistas Stella McCartney,
Lenny Niemeyer e Ralph Lauren, Antonia afirma estar em uma
fase mais confortável. “Prefiro saltos mais baixos para evitar
dores nas costas. Amo a combinação blazer com jeans, assim
como bolsas leves. Acredito piamente que a roupa clássica é para
sempre. Entretanto, tenho três looks de alta-costura no closet,
incluindo um vestido preto de tule de Saint Laurent que usei
em um baile no Palácio de Versalhes, na companhia de Lady
Di. Guardei também seis modelos da mamãe. Só uma observa-
ção: vejo que estão vestindo a roupa de ginástica para tudo. É a
nova couture no Rio. Acho um desespero”, diverte-se a carioca,
fã de picolé e de chinelos de dedo. “Aquele glamour antigo não
existe mais. O chique não é o muito. É o ponto certo. E que
ponto é esse? É o bem executado, a qualidade.”
Mãe de Guilherme, Lorenzo e da joalheira Maria Frering,
a atriz e apresentadora lançará em breve um livro com receitas
da família, muitas previamente preparadas na cozinha de
Carmen. “Não tenho nome para a publicação, mas quero com-
partilhar nossas histórias deliciosas e mesas incríveis! Mamãe
cozinhava muito bem, porém não me deixava entrar na cozinha.
O que é uma pena”, lamenta Antonia, anunciando que logo
assumirá sua porção palestrante. “Quero passar minha experi-
ência. Será um talk sobre resiliência, como ir ao chão e se levan-
tar. A vida é repleta de nuances.”
*
A partir do alto, sapatos MANOLO
BLAHNIK; suéter ZARA, saia
CAROL ROSSATO, brincos
MARIA FRERING e botas
KHAITE. Na página ao lado, vestido
SAINT LAURENT vintage, brincos,
anéis e pulseira SARA JOIAS
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INVOGUEpor Costanza Pascolato

Boho CHIC da fundadora Aghion. Ambos, ela disse, tinham


a incrível capacidade de olhar simultaneamente
para o passado e para o futuro. “Para mim, isso
é o que é importante para a Chloé”.
A designer Chemena Kamali junta Assim, a visão de Chemena traz uma sen-
passado e futuro, agrega toques sação equilibrada entre sucessos de ontem e as
roupas do momento. Toques de rebeldia estão
de rebeldia e causa tumulto fashion nas calças de couro curtas com franjas na late-
com sua estreia na Chloé ral deixando aparecer o chiffon de seda franzi-
do, desenhando uma forma abaulada até os pés.
Os casacos também são bem bacanas, com
formatos clássicos como capas e trench coats
revigorados em outras proporções. Os acessó-
rios foram desenhados pensando em forma e
função. A designer também traz de volta os
couros vegetais, que, como ela observa, “me-
lhoram com o passar do tempo”.
Chemena entende o quanto roupas e aces-
sórios devem se encaixar na vida real da mu-
lher. Além de ter um emprego de alto nível, ela

T
também é mãe de uma criança pequena. Sabe,
portanto, que suas roupas devem funcionar
tanto no ambiente corporativo quanto na hora
de brincar com o filho. Esse equilíbrio, ela diz,
está na essência da Chloé – e é a base que
Aghion se propôs a alcançar com sua marca.
Tumulto fashion, com todo mundo querendo ser ou comprar a “Ela queria libertar da rigidez da alta-cos-
“nova garota Chloé”. Foi o que aconteceu, no final da semana tura e pensou a moda para que as mulheres se
de moda parisiense, depois do desfile do inverno 2024/25 e a sentissem seguras e confortáveis, com um es-
estreia de Chemena Kamali na direção criativa da marca. pírito jovem e espontâneo”, disse Chemena,
A designer encantou imprensa e compradores, passou a ser ci- indicando que Chloé agora é o novo “boho
tada como um dos melhores “novos talentos” do business e fez chic”. O boho é uma estética mais livre que
da Chloé um dos destaques da temporada. mistura diferentes culturas e expressões artís-
Com ênfase no artesanato impecável, a coleção junta femi- ticas em favor de um estilo eclético, a partir de
nilidade, poder e uma despreocupada vibração cool girl. Cheme- elementos mais orgânicos. Na proposta da
na, que já tinha trabalhado na Chloé, na equipe de Phoebe Chloé por Chemena Kamali, parece uma ver-
Philo, agora agrega uma nova energia pessoal, de vigor positivo, são sob medida para a era da IA – e que certa-
apostando no mix dos atributos originais da grife fundada em mente vai impactar muitas marcas e mulheres
1952 pela estilista francesa Gaby Aghion, com toda a dinâmica
do comportamento de moda mais contemporâneo.
O primeiro look do show já diz a que veio em um minivesti-
nesta e nas próximas estações.
*
do marfim com babados e mangas superalongadas flutuando
sob um poncho de couro preto e usado com sapatilhas de bico
quadrado, óculos aviador e um rico colar de pingentes dourado.
De cara, deixa evidente que o nível de intensidade Chloé havia
aumentado, com leves e lúdicos acenos aos seus arquivos (nas
bolsas com alças de banana, blusas espertas e românticas e cin-
tos com o logotipo gigante) e clássicos como os jeans patchwork
e os vestidos em forma de caftãs, etéreos e transparentes.
A bainha de alguns vestidos aparece inserida na frente de uma
das botas de cano alto. Truque de estilo chique que Chemena
descobriu em seus “mergulhos profundos” na história da Chloé.
Nos bastidores, depois do show, a designer nascida na Alemanha
Na página ao lado, looks do desfile
em 1981 disse que olhou tanto para o período em que Karl La- de inverno 2024/25 da Chloé,
gerfeld esteve à frente da casa quanto para a visão “progressista” a estreia de Chemena Kamali

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FOTOS: Getty Images e Launchmetrics Spotlight
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INVOGUEpor Bruno Astuto

Baroque’n’
roll
O adeus a Roberto Cavalli,
o último profeta do sexy

O
O ano era 2001, e um motim tomou conta da
discretíssima Florença. Roberto Cavalli, um
dos mais célebres filhos da cidade, comprara
uma das maiores instituições da cidade, o qua-
se bicentenário Caffè Giacosa, onde foi inven-
tado o Negroni nos anos 1920. Reinstalou-o
como um anexo de sua nova loja, no antigo
Palazzo Viviani della Robbia, cheia de zebras,
leopardos e cobras, e mudou a decoração in-
teira. Ficou até surpreendentemente mais
elegante e minimalista, com estofados de cou-
ro e balcão de mármore, mas o povo chiou.
“Poderia ter fechado, mas estou preservando
a História”, avisou ele, durante as festividades
do novo endereço, das quais participei. “Aliás,
os Médicis eram bem sexy.”
Sexy. Essas quatro letrinhas, pronunciadas
hoje à boca miúda e com certa vergonha, eram
a obsessão do estilista, para quem mais sempre
foi mais, e a vida não fazia o menor sentido sem
ser curtida à máxima velocidade. Nos seus car-
ros possantes. No seu helicóptero roxo, que ele
próprio pilotava. Nos bares e boates que abria
pelo mundo. Na garrafa de vodca e no cartão
de crédito com estampa de cobra. Nas festas
divertidas em seu barco ancorado no porto de
Saint-Tropez, ponto de atração de beldades. O diretor criativo Roberto
Ao mesmo tempo, havia o Roberto de voz Cavalli. Na página ao
lado, no alto, looks da
grave e movimentos suaves que produzia o marca de 2012 e 2003,
próprio vinho nas colinas de Florença. O ita- e Rihanna e Naomi
liano que cultivava a imagem de macho alfa, Campbell vestindo a grife
em tapetes vermelhos.
ao mesmo tempo que entregava as rédeas do Embaixo, o estilista ao
império à mulher, Eva, verdadeira manda- lado de Beyoncé em 2004

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chuva nos tempos de bonança da empresa e


mãe de três de seus seis filhos. O artista sen-
sível que, numa noite, num jantar na casa de
Azzedine Alaïa, explicou-me tudo sobre os
macchiaioli, artistas toscanos da segunda me-
tade do século 19 que romperam com as tra-
dições acadêmicas graças a novas técnicas de
pintura ao ar livre, uma década antes dos im-
pressionistas franceses – seu avô materno,
Giuseppe Rossi, fazia parte da turma; há qua-
dro dele nos Uffizi. O empreendedor-fênix
que se orgulhava das viradas que comandou
depois de muitos tombos homéricos, a come-
çar pela pobreza em que a família mergulhou
quando o pai foi assassinado num massacre
pelos nazistas, quando ele era criança.
Foi esse episódio que tornou Roberto
Cavalli um representante da geração estoica
do pós-guerra, never complain, never explain.
O modelo de todo empresário italiano era o
de Gianni Agnelli: pele eternamente tostada
pelo sol, barcos, esportes radicais, glamour e
um muro de beldades, que davam a impressão
de dolce-vita-para-sempre quando, no fundo,
a labuta era imensa.
Embora hoje só se falem dos bichos, decotes
e chiffons, das fendas, transparências e sedas,
a obra de Cavalli, morto em abril aos 83 anos,
tem mais camadas. Foi ele quem inventou, na
década de 1960, a estampa em couro para cal-
çados (que fabricava para o designer Mario
Valentino), além de uma técnica de estamparia
artesanal para suéteres que teve como primeira
cliente a Hermès. Foi ele também quem entro-
"Embora hoje só se falem dos BICHOS,
nizou o jeans numa versão deluxe-hippie-chic,
quando o rasgou, bordou e o misturou ao cou-
dos DECOTES e das FENDAS,
ro em sua primeira loja, a Limbo, aberta em a obra de Cavalli tem mais camadas"
1971 em Saint-Tropez. Brigitte Bardot, Sophia
FOTOS: Manuel Nogueira/Acervo Vogue, Bob Krieger/Divulgação e Getty Images

Loren e a condessa Consuelo Crespi, habituées


do balneário francês, trataram de levar a novidade para as capitais do jet set e
assinaram o boca a boca. Cavalli virou queridinho, mas o minimalismo dos anos
1980 acabou com a festa.
A primeira loja na Itália só abriria as portas, pasmem, 25 anos depois, em 1996,
em Veneza, dando origem a um império que chegou, no apogeu, a centenas, in-
clusive no Brasil. Embora o fundador tivesse décadas de estrada, a marca Cavalli
que ocupa nosso imaginário é um bebê recente, millennial, que foi catapultado por
mais uma de suas invenções: a injeção de lycra no jeans, que o deixou morbidíssimo,
stretch e ajustável a diferentes tipos de corpos. Roberto acabou ocupando a lacuna
que a morte de Gianni Versace deixou no guarda-roupa maximalista.
Os últimos anos foram desafiadores. Separou-se de Eva, vendeu o negócio,
sumiu do circuito. Na direção criativa da grife, rolou uma dança das cadeiras
entre Yvan Mispelaere, Peter Dundas e Paul Surridge, até que, em 2020, Faus-
to Puglisi assentou-se no posto. Em março do ano passado, Cavalli reemergiu
no noticiário com uma novidade surpreendente: tornara-se pai pela sexta vez, de
Giacomo, batizado com o nome do avô morto na guerra. Uma longa doença, no
entanto, abreviou essa nova alegria e apressou o encontro com Sua maior inspi-
ração. “Percebi que até os peixes têm um vestido colorido fantástico, a cobra, e o
tigre também”, declarou certa vez. “Comecei a entender que Deus é realmente o
melhor designer, então comecei a copiar Deus.”
*
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vogue repórter

CoRPo traziam efeito a curto prazo, mas que a longo prazo prejudicavam ainda mais a minha
saúde. Tudo isso na tentativa de me tornar uma mulher que atraísse olhares mascu-
linos e também que chamasse a atenção dos produtores de elenco e diretores de

livRe?
novela, já que eu estudava para ser atriz. Mas, por volta dos meus 29 anos, eu enfim
entendi que essa tentativa de me encaixar nos padrões “magros” estampados nas
revistas só iria me afastar cada vez mais da minha essência, do amor próprio e
do respeito ao meu corpo. Me libertei das amarras, abandonei os maiôs, aderi
aos biquínis e fui ser feliz. Essa felicidade eu sempre dividi com meus seguidores,
a ponto de muitos começarem a se inspirar em mim. Quantas vezes recebi rela-
tos de mulheres gordas dizendo que só passaram a usar blusas sem mangas,
ApóS pASSAr por umA cirurgiA abusar dos decotes e das pernas de fora, depois de acompanharem o meu perfil?
bAriátricA, A Atriz e ApreSentAdorA Foram oito anos pensando antes de bater o martelo. Minha decisão foi toma-
LuAnA XAvier diScute Sobre A da por uma série de motivos. Lembro de entrar no consultório da endocrinolo-
reSponSAbiLidAde impoStA AoS gista e dizer: “Eu não aguento mais esse peso que estou carregando”. Era um
sentimento literal, eu sentia dores frequentes no joelho direito, todos os dias
infLuenciAdoreS gordoS QuAndo acordava com dores na lombar e precisava de cerca de 15 minutos ainda deitada
eLeS perdem peSo na cama para só então conseguir me levantar e esticar as costas. Além disso,
minha pré-diabetes, hipertensão e apneia do sono, que eu sei que a longo prazo
por luana xavieR foto Camila Tuon minariam minha longevidade, também foram fatores importantes. Mas acredi-
to que minha virada de chave veio quando fiz um espetáculo solo de humor e, ao
assisti-lo filmado, percebi que fiquei o tempo todo parada onde estava o micro-

ASSISTENTE DE FOTO: Lucas Antônio de Oliveira. PRODUÇÃO DE MODA: Juny Martins. ASSISTENTE DE BELEZA: Beatriz Porto
fone, sem andar pelo palco, porque me sentia muito cansada.
Quando decidi fazer uma cirurgia bariátrica, me preocupei muito com o que os
outros poderiam achar. Será que perderei seguidores? Ainda poderei falar sobre a
liberdade de corpos? Será que as marcas não vão querer mais fechar contrato co-
migo? Essas perguntas me rondaram durante todo o meu pré-operatório. Ao invés

STYLING: Bruno Pimentel. BELEZA: Camila Anac com produtos Guerlain e Keune. LIGHT DESIGN: Pamela Anastácio.
de me preocupar com a minha cirurgia, eu já estava sentindo a pressão que sofreria
por causa da minha decisão. A única coisa que me tranquilizava de verdade era a

m
certeza de que essa não havia sido uma ideia intempestiva.
Mesmo me dando um tempo depois da cirurgia para aparecer nas redes sociais,
desde o procedimento, um novo tipo de policiamento surgiu. Se, antes, muitos gordo-
fóbicos afirmavam que meu corpo era doente, que eu precisava emagrecer, que minhas
curvas não tinham nada de bonito, agora uma patrulha fala que eu traí o Movimento
Corpo Livre por ter emagrecido. O sentimento que fica é que eu não tenho poder sobre
Mesmo sem uma data exata de surgimento, os o meu corpo, se tenho 154 quilos, reclamam, se eu tenho 99 quilos, reclamam, se eu
primeiros registros de movimentos que discutem tiver 50 quilos, vão continuar a reclamar e dar opiniões sem serem perguntados.
a aceitação de corpos são do fim da década de A partir do momento que você é uma pessoa gorda, os outros acham que têm o direito
1960, quando mobilizações eram cunhadas nos de comentar sobre o seu corpo independentemente dos quilos que você vê na balança.
Estados Unidos como Body Positive. O conceito, Mas, afinal, os influenciadores gordos devem uma explicação aos seus segui-
que nesses últimos 50 anos ganha cada vez mais dores quando seus corpos mudam? Conversei com a apresentadora e influencia-
força e visibilidade, tem como objetivo principal dora Bielo Pereira, que fez bariátrica em maio de 2023, e ela me contou que es-
empoderar mulheres e livrá-las de padrões de colheu esperar um ano para revelar sobre a cirurgia nas suas redes sociais, porque
beleza impostos pela sociedade, pela indústria da queria ter mais gabarito para falar sobre o assunto. Bielo me explicou que sempre
moda, familiares ou até por elas mesmas. No foi gorda, desde a infância, e mesmo sendo considerada “gorda maior”, mantinha
Brasil, encontramos diversas personalidades que uma vida superativa e com bastante mobilidade.
aderiram publicamente ao Movimento Corpo Mas após o período de reclusão decorrente da pandemia de Covid-19, ela foi
Livre, como é chamado por aqui, ou que, de al- aos poucos diminuindo essa mobilidade, porque perdeu massa muscular e ganhou
guma forma, usam suas redes sociais para defen- gordura. Ela sempre defendeu (e ainda defende) a liberdade de corpos. Para ela,
der o respeito à diversidade de corpos, principal- “a bariátrica surgiu como uma possibilidade de voltar a ter uma boa mobilidade,
mente corpos gordos, que via de regra são alvo de e não com caráter de pressão estética.”
gordofobia. Eu, inclusive, sou uma delas. A cantora Jojo Todynho, que se submeteu à cirurgia bariátrica e também só informou
Minhas redes sociais desde sempre trazem aos seus seguidores depois que a intervenção tinha sido realizada, fala bastante sobre
para discussão pautas identitárias e o combate aos essa virada de chave. “Houve pessoas dizendo que eu estava com medo de ser cancela-
mais diversos preconceitos. Já fiz inúmeros vídeos da. Cancelada por estar buscando saúde? Cancelada por estar buscando uma vida
falando sobre os efeitos nocivos da gordofobia e melhor? Eu quero ser mãe. Eu quero ter qualidade de vida para passar para meus filhos”,
da imposição de determinados padrões estéticos disse. Assim como elas, escolhi falar da bariátrica só depois de concretizada. Em mim,
na nossa sociedade. Fui uma jovem complexada prevaleceu o fato de que demorei anos para tomar essa decisão e não queria que nenhu-
com o peso. Aderi a diversas dietas restritivas que ma intervenção externa me demovesse da ideia. Continua na pág. 152

86 vOgue BRaSil
INÊS249
vOgue BRaSil 87

Luana Xavier usa vestido


FENDI, brincos e
pulseira YAR ATELIER
beleza
INÊS249

longa história
NATURAIS OU COM APLIQUES, OS CABELOS
VIVEM UMA NOVA ERA NA BELEZA.
LONGUÍSSIMOS, VOLUMOSOS E COM TEXTURAS
VARIADAS, VIRAM PROTAGONISTAS DAS
PRODUÇÕES E MARCA REGISTRADA NO ESTILO
DE GRANDES PERSONALIDADES
..
POR bÁrbara oberg e thaÍs Varela
FOTOS hugo toni BELEZA krisna CarValho
STYLING zazÁ PeCego
INÊS249
VOgue brasil 89

Segundo o beauty artist Krisna


Carvalho, o avanço na indústria de
cuidados com o cabelo contribuiu para
a popularização do comprimento
alongado. “Nunca foi tão fácil cuidar
dos fios. Temos mais tratamentos,
produtos e ferramentas disponíveis,
sabemos quais são os ativos
importantes e a necessidade de nutrir,
hidratar e reconstruir”, explica. As
laces e os apliques também estão mais
acessíveis, lembra Krisna, e são
alternativas para quem busca aumentar
o comprimento da noite para o dia.
“A minha técnica preferida de
aplicação é com fita de lace, que, além
de proporcionar um resultado natural,
não danifica o cabelo.” Aqui, Maiara
Silva usa calcinha INTIMISSIMI e
meia-calça CALZEDONIA.
Na página ao lado, Kal Gomes usa
colar, anel e pulseira SAUER, e
pulseiras YAR ATELIER
INÊS249

beleza
INÊS249
VOgue brasil 91

Mesmo que Beyoncé, Zendaya e Kim


Kardashian tenham aderido aos fios
superlongos recentemente, o beauty artist
olhou para o passado na busca de
inspiração para desenvolver cabelos de
comprimento máxi. “Pense nas ondas de
Cindy Crawford, no volume de Dolly
Parton ou nas mechas chapadas
ultracompridas de Cher. Queria mostrar o
quão longe conseguimos chegar com os
nossos fios, tanto com o volume quanto
com o comprimento”, explica. “Para as
curvas volumosas da página ao lado,
aplique mousse por todo o cabelo até bem
próximo da raiz, isso ajudará a ativar o
volume. Em seguida, seque completamente
as mechas com o secador e modele com
babyliss. Já para o superliso desta foto, o
protetor térmico será seu melhor amigo.
Lembre-se de usá-lo antes de secar e passar
a chapinha.” Aqui, colar BVLGARI.
Na página ao lado, Mayne Filipak
usa blusa CALZEDONIA e colar
CARLOS PENNA
INÊS249

beleza

92 VOgue brasil
INÊS249
VOgue brasil 93

Foi inspirado pela estética das sereias, que traz


os fios longuíssimos e texturizados entre suas
características, que o beauty artist fez o penteado
ao lado. “Para obter o ondulado, usamos o
triondas com aros grossos. A dica aqui é utilizar
os dedos para soltar ainda mais os cachos e tirar
um pouco a perfeição das ondas”, diz. A textura
natural também pode ser explorada para criar
um supervolume no cabelo. Nesta página,
Krisna usou uma escova para pentear os fios e
finalizou usando mousse para modelar as
mechas no formato desejado. Williane Santos
veste corset MADAME SHER, calcinha
INTIMISSIMI, meia-calça CALZEDONIA
e brincos MARCO APOLLONIO. Na
página ao lado, saia ESTÚDIO CENA
INÊS249

beleza

Os fios trançados ganham novas


interpretações nesta temporada, como a
versão que traz tranças com um pouco de
frizz em um estilo mais boho. “Separe
mechas grossas e comece a trançá-las.
A partir do fim da nuca, modele-as
separadamente para reproduzir o efeito à la
Medusa.” Na página ao lado, o comprimento
maximalista faz o papel de acessório. “Não
esqueça de usar xampu e condicionador
indicados para o seu tipo de cabelo, creme de
pentear e óleo hidratante, isso ajudará a não
ter quebras nos fios”, reforça Krisna. Nesta
página, brincos YAR ATELIER, mamilo
DANI GUIRRA e meia-calça
CALZEDONIA. Ao lado, pulseira
CARLOS PENNA

ASSISTENTES DE FOTO: Pedro Lins e


Everton Sá. PRODUÇÃO EXECUTIVA:
Déia Lansky. PRODUÇÃO DE MODA:
Maycon Felix e Humberto Moreira.
CAMAREIRA: Camila Barbosa.
ASSISTENTES DE BELEZA: Arthur
Lordelo e Felipe Carmo. PERUCAS: Shady
Jordan. MANICURE: Rose Luna. SET
DESIGN: Jean Labanca. ASSISTENTES DE
SET DESIGN: Luan Schulz e Ariel Pottini.
MODELOS: Kal Gomes, Maiara Silva, Mayne
Filipak e Wiliane Santos. TRATAMENTO
DE IMAGEM: Vetro Retouching.
AGRADECIMENTO: Távola 42

94 VOgue brasil
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VOgue brasil 95
INÊS249

bELEzA
Pequenos NOTÁVEIS
Além de fórmulas que prometem reparar e acalmar a pele, novos
CREMES PARA AS MÃOS apresentam embalagens
criativas que tornam a rotina de cuidados mais divertida
POR SARA MAGALHÃES FOTO CARLoS bESSA

SET DESIGN: Fi Ferreira. ASSISTENTE DE SET DESIGN: Ritinha Jardim


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1. Find Comfort Hydrating, RARE


BEAUTY (R$ 139). 2. Le Baume,
DIOR (R$ 549). 3. Cuide-se Bem Feira
Maracujá, O BOTICÁRIO (R$ 35).
4. Chance, CHANEL (R$ 565, o trio)

96 VOGUE bRASIL
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beleza saúde

MIneral mento dos ossos, controle do açúcar no sangue e da pressão san-


guínea e a manutenção da saúde dos nervos e músculos. O mag-

essencial
nésio também age como condutor elétrico, que ajuda nos bati-
mentos cardíacos e na contração muscular. “É mais difícil dizer
o que o magnésio não faz”, brinca Marcella. Um dos benefícios
que mais ganha destaque está relacionado ao sono. “O magnésio
atua na síntese de neurotransmissores e ajuda a promover um
relaxamento profundo, facilitando o sono”, diz a endocrinologis-
ta Lívia Marcela. Por isso, encontramos no mercado tantas cáp-
O magnésiO ganha destaque nas dietas, sulas de melatonina que também levam magnésio em sua com-
na suplementaçãO e nas pesquisas posição. Apesar disso, a médica ressalta que ele é mais eficaz
pOr um bOm mOtivO: ele faz muitO quando existe uma comprovação da sua deficiência.
mais dO que vOcê imagina Cresce também o interesse de esportistas amadores e profis-
sionais sobre o mineral graças às evidências de suas contribuições
para a recuperação muscular após a atividade física. Um estudo
teXtO Julia ribeiro cOlagem stheFanie louise feito pela Universidade do Alabama e publicado pelo Journal of
Strength and Conditioning Research em 2022 reuniu 22 estudantes
em idade universitária, que foram divididos em dois grupos. Uma
parte recebeu 350 mg de magnésio diariamente durante dez dias,
enquanto o outro grupo ingeriu placebo, sem saber qual substân-
cia estavam tomando. Os voluntários foram submetidos dentro

d
desse período a um teste físico composto por uma sequência de
quatro movimentos: barra, flexão, agachamento livre e burpee.
Cada um deveria ser executado até exaustão durante um minuto
respectivamente. Em seguida, praticaram corrida e séries de su-
pino. Após 48 horas das sessões de treinamento, eles foram ava-
liados. Os resultados mostraram redução significativa da dor
De cápsulas que prometem melhorar sua concen- muscular e melhora na recuperação, além de indícios de benefícios
tração a fórmulas pensadas para fortalecer cabelos para a performance do grupo que ingeriu o suplemento.
e unhas ou até garantir um bronzeado potente no Para grávidas e lactantes, a suplementação de magnésio também
verão, o menu de suplementos oferecidos nas gôn- tem sido indicada. “Uma pessoa adulta deve consumir, em média,
dolas de farmácias só cresce. Embora a suplemen- de 250 mg a 300 mg de magnésio diariamente, mas esse número
tação não seja consenso na medicina, um suple- aumenta nas gestantes, já que o mineral é fundamental na formação
mento tem ganhado holofotes nos consultórios: do tecido fetal e até durante a perda do magnésio na amamentação”,
o magnésio. Necessário para um ótimo funcio- comenta Deborah. “O mineral é importante principalmente para
namento do organismo, esse mineral está presen- mulheres grávidas com pré-eclâmpsia, hipertensão durante a ges-
te no nosso corpo, principalmente nos ossos e nos tação associada a outras complicações ou risco de parto prematuro”,
músculos, mas a grande questão é que não con- pontua Lívia. A médica ainda ressalta que, para diminuir a azia
seguimos sintetizá-lo naturalmente. Uma dieta durante a gravidez, o leite de magnésia também pode ser utilizado.
balanceada já nos fornece a quantidade de mag- Para ingerir a quantidade diária recomendada de magnésio a
nésio diária, então, por que ele ganhou tanta no- partir da dieta, vale apostar em proteínas animais, leguminosas,
toriedade recentemente nos consultórios e nas como feijão, grão-de-bico, lentilha, além de castanhas, grãos inte-
redes sociais? A nutróloga Marcella Gaez explica: grais, sementes e vegetais escuros como couve, brócolis e espinafre.
“Pesquisas e estudos recentes mostram que a fal- Invista nas frutas mais cítricas, como kiwi e morango, e também
ta de magnésio pode aumentar o risco de algumas em abacate e banana. E, acredite, os chocolates amargos, como os
doenças, desde acidente vascular cerebral a insu- 70%, também são uma ótima fonte de magnésio. A dica é sempre
ficiência cardíaca e até mesmo metabólicas, como ler o rótulo: procure por versões que tenham o cacau como primei-
a diabetes tipo 2”. Além disso, de acordo com a ro ingrediente da lista. É válido lembrar que a suplementação de
endocrinologista Deborah Beranger, o Brasil é magnésio isolada, quando necessária, deve ser feita sempre com o
um país pobre em magnésio no solo: “Por mais acompanhamento médico e que a superdosagem pode levar a
que o paciente consuma alimentos ricos nesse quadros de intoxicação. Isso porque existem mais de dez tipos de
mineral, muitas vezes não recebe a quantidade magnésio diferentes que possuem funções variadas. “É importan-
necessária só pela alimentação”. te ficar atenta aos sinais que o seu corpo dá: náusea, vômitos, sono-
Essencial para ajudar mais de 300 enzimas a lência, fraqueza, alterações na personalidade, espasmos musculares,
realizar inúmeros processos químicos no corpo, tremores e perda de apetite podem ser sinais de baixo índice de
que incluem a produção de proteínas, fortaleci-

98 VOGue brasil
magnésio no corpo”, diz Marcella.
*
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VOGue brasil 99
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PONTO
DE VISTA
POR VÍVIAN SOTOCÓRNO
100 VOGUE BRASIL
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VOGUE BRASIL 101

Uma pessoa do início do século


passado imaginando como seria
o futuro foi o ponto de partida do
editorial Drama Noir, estrelado por
Paloma Elsesser, em sua primeira apresentação nos quase dez anos
capa para uma publicação brasileira. que já completa à frente da Margiela
Nascida em Londres, criada em Los a refletir plenamente o estilo que o
Angeles e vivendo em Nova York, consagrou nos anos 1990 e início
voltou às nossas páginas sete anos dos anos 2000, coincidindo com
após estampar a seção Fashionista o semestre de lançamento de seu
como a promessa de uma nova geração documentário (High & Low: John
de modelos – agora consagrada como Galliano, disponível no Mubi).
uma das principais profissionais da O clima romântico (mas sempre
indústria e parte da lista New supers com algo meio fora do lugar) da
do site Models.com, ao lado de nomes coleção acabou dando o tom da
como Gigi Hadid e Adut Akech. temporada – e do editorial O amor
A diretora de arte Júlia Filgueiras me pegou, clicado no Parque da Luz,
e a diretora de moda Rita Lazzarotti em São Paulo, no qual laços, flores,
desembarcaram em Nova York no mês transparências e volumes também
passado, em meio a uma equipe com ganham contraponto com um certo
vários brasileiros, a começar pelo escapismo que flerta com o surreal.
fotógrafo Zee Nunes (nascido em Já na Loewe, moda é uma
Moçambique, mas radicado durante expressão cultural. Há cinco meses,
muito tempo no nosso país) para recebemos a notícia de que a grife –
clicá-la vestindo um mix entre finalmente – inauguraria sua
referências aos anos 1940 e uma rica primeira loja no Brasil, neste mês,
mistura de texturas, em um cenário a primeira também na América do
inspirado na The Factory original de Sul. Uma das marcas mais relevantes
Andy Warhol, a Silver Factory, local de da moda atual, acumula 178 anos de
criatividade e inovação, encapado em legado artesanal para que Jonathan
foil prata pelo fotógrafo Billy Name. Anderson brilhe com sua moda
Em janeiro, John Galliano dominou irreverente, vanguardista e artsy.
as conversas na moda ao encerrar Enquanto a modelo Paula Soares
a semana de alta-costura com um veste em Nova York o pre-fall 2024
desfile ao melhor estilo Galliano: da grife, coleção que poderá ser
roupas elaboradíssimas e repletas encontrada no nosso país junto à
de referências históricas, caminhar abertura da loja, o estilista explica
dramático das modelos, tom em Bem-vinda, Loewe! o que significa
performático, pura ousadia e o luxo para ele hoje – enquanto nos
criatividade. Foi a primeira convida a desafiar nossas certezas.
*
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Am A I R
R
d nO
Uma diva cênica e Um fUtUro incerto. no
nosso teatro, a americana Paloma elsesser
Usa de sensUalidade e textUras Plásticas
Para Performar em grande estilo

fotos zee nunes edição de moda RITA LAzzAROTTI


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Paloma Elsesser veste


casaco e sapatos ALAÏA
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Aqui, vestido MARC JACOBS. Na


página ao lado, casaco e lenço
DOLCE & GABBANA
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Casaco BALENCIAGA. Na
página ao lado, casaco ALAÏA
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Paloma usa vestido e sapatos


MARC JACOBS. Na página ao
lado, vestido VAQUERA
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Vestido ANDRÉ LIMA


e brincos DÉBORA
PARISOTTO para
ANDRÉ LIMA
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Casaco, chapéu e luvas, tudo


MAISON MARGIELA. Na página
ao lado, casaco RENATA BUZZO
e pulseiras PATRICIA
VON MUSULIN

ASSISTENTES DE FOTO: Fernando


Freire e Robert Cass.
COORDENAÇÃO DE
PRODUÇÃO: Déia Lansky.
PRODUÇÃO EXECUTIVA: AG.
New York. PRODUÇÃO DE MODA:
Amandha Gaio, Lucas Cruz, Fred
Rocha e Ana Mariano.
ASSISTENTES DE STYLING:
Daniel Jacinto, Ana Julia Martinez e
Giulia Schrappe. MAQUIAGEM:
Raisa Flowers. CABELO: Sonny
Molina. ASSISTENTE DE
CABELO: Jonai. MANICURE: Nori.
SET DESIGN: Henrique Cirilo.
ASSISTENTE DE SET DESIGN:
Otavio Martins. TRATAMENTO
DE IMAGEM: Studio Bruno
Rezende. AGRADECIMENTOS:
The Langham New York
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FOTOS mariana maltoni


ediçãO de mOda leandro porto

a m o r

O
o
me
peg u
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Martina Horak usa vestido


e sapatos BURBERRY
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Vestido PAULA RONDON, chapéu, luvas, meias


e sapatos MAISON MARGIELA. Na página ao
lado, vestido GLORIA COELHO e sapatos AREA
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Guilherme Siqueira. Na página


ao lado, Lucas Fonseca
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Vestido UNDERCOVER e sapatos


MAISON MARGIELA. Na página
ao lado, vestido CHANEL
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Blusa e saia BALMAIN


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Vestido UNDERCOVER, chapéu D’HEYGERE, luvas, meias e


sapatos MAISON MARGIELA. Na página ao lado, saia, luvas e
ornamento PENHA MAIA, meias e sapatos MAISON MARGIELA
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Top, saia, calça, sapatos, tudo


MAISON MARGIELA
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ASSISTENTES DE FOTO: Pedro Bodick e Raul Alencar. PRODUÇÃO EXECUTIVA: Déia Lansky. PRODUÇÃO DE MODA:
Arafa Arantes e Paula Santiago. CAMAREIRA: Camila Barbosa. BELEZA: Dindi Hojah com produtos Chanel Beauty. ASSISTENTE
DE BELEZA: João Pedro Scatigno. SET DESIGN: L.Set. ASSISTENTE DE SET DESIGN: Allan Moura.TRATAMENTO DE
IMAGEM: Studio Bruno Rezende. AGRADECIMENTOS: JRJ Tecidos, Estúdio Damas e Antonio Detoro (gestor do Parque Jardim da Luz)
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Vestido REINALDO LOURENÇO


e sapatos AREA. Na página ao lado,
vestido e sapatos, ambos AREA
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bem-vinda, lOewe!
Uma das marcas mais antigas da moda
– e mais relevantes da atUalidade –, a
grife inaUgUra este mês sUa primeira
loja no Brasil, no shopping igUatemi,
em são paUlo. em entrevista À ,o

"o
estilista jonathan anderson fala soBre
excelência artesanal, o significado do
lUxo nos dias de hoje e a importância
de desafiar nossas certezas
por vívian sotocórno fotos sam nixon
edição de moda ron Hartleben

“Olá, é o Jonathan”, ouço do outro lado da linha criatividade para sextuplicar os lucros da grife (o grupo LVMH
ao atender o celular numa segunda-feira pela não divulga os resultados individuais de suas marcas, mas especu-
manhã. Jonathan Anderson liga diretamente la-se que a Loewe tenha faturado US$ 1,5 bilhão em 2022). “Vejo
no meu número no horário combinado para a Loewe como uma marca conectada à cultura. Ao mesmo tempo,
nossa entrevista, sem um relações-públicas tentando ultrapassar os limites da moda e construindo uma lingua-
acompanhando a conversa, com a confiança de gem de moda. No mundo em que vivemos, temos de compreender
quem vai se sair muito bem sozinho caso algo qual é o propósito de comprarmos o chamado ‘produto de luxo’.
saia do caminho programado. É com essa mes- Tem que haver essa ideia de autenticidade para que ele seja capaz
ma confiança que ele guia a Loewe, uma das de refletir o que está acontecendo em sua época. Se fosse apenas
mais antigas marcas de luxo em operação no luxo, ficaria muito sem alma”, diz ele.
mundo (fundada em Madri em 1846, nasceu Brincando com proporções e misturando peças vanguar-
sete anos antes da Goyard, oito antes da Louis distas, excelência artesanal, itens cotidianos (jeans, regata
Vuitton e nove após a Hermès). Ao longo de branca) e alguma criação irreverente e bem-humorada que
uma década no comando, o estilista irlandês, acaba viralizando no Instagram (o vestido-alfinete, os looks
sempre bebendo da expertise artesanal da casa, -antúrio, o sapato com salto de bexiga), em um mix que ja-
elevou a marca de uma antiga fornecedora de mais pareceria dar certo, mas dá, as roupas brilhantes de
artigos de couro da família real espanhola a Jonathan hipnotizam – e desafiam – o público. Assim como
uma das mais desejadas e importantes do globo. o próprio Jonathan. “É um ciclo de mudança sem-fim porque
No mundo de hoje, debate-se o quanto a moda no minuto em que algo faz sucesso, já se inicia a contagem
de luxo perdeu a explosão criativa que marcou a regressiva de quando aquilo deixará de ser desejado. Com-
virada do século ao se tornar um negócio gigan- parado a quando comecei, acho que hoje estou mais relaxado
tesco nas mãos de grupos multibilionários, com no que faço, entrei mais no ritmo. Descobri como me desafiar
estilistas raramente tendo carta branca para criar e sei quando estou para ficar estereotipado.”
sem ter como único foco os resultados financeiros. A cada temporada, os desfiles da Loewe durante a semana
Eleito uma das cem pessoas mais influentes do de moda de Paris ganham verdadeiras instalações artísticas
mundo pela lista de 2024 da revista Time, como cenário. O inverno 2024/25 foi ambientado em uma
Jonathan, no entanto, serviu-se justamente da exposição privada de pequenas paisagens e cenas domésticas
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Paula Soares usa casaco de lã, bolsa


Flamenco, brincos de prata e esmalte
e sandálias de couro de cordeiro
INÊS249

Macaquinho de algodão, brincos


de prata e cristais e bucket bag
Pebble. Na página ao lado, vestido
de lã, brincos de prata e cristais
e sandálias de camurça e strass
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Vestido de viscose, brincos de


prata e cristais e bolsa Flamenco
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do recluso pintor americano Albert York; o verão anterior levou


à passarela seis esculturas de bronze em grande escala da
"Tem que haver
americana Lynda Benglis, que Jonathan descreve como uma essa ideia de
de suas artistas favoritas. “As parcerias acontecem com pesso-
as de quem gosto muito, que me entusiasmam e desafiam meu autenticidade para que
ponto de vista.” Desafiar é um conceito importante no voca-
bulário de Jonathan, que ele usa inúmeras vezes durante nos- o chamado ' PRODUTO
sa conversa – como ao se referir à escolha das personalidades
relacionadas à marca. A campanha de pre-spring 2024, clica-
DE LUxO' seja capaz
da por Juergen Teller, é estrelada pela atriz britânica Maggie
Smith, de 89 anos, e pela atriz americana Greta Lee (que
de refletir o que está
roubou a cena em The Morning Show), entre outros. “Eles [os acontecendo em sua
embaixadores e amigos da marca] precisam ser os melhores em
seu setor, os melhores no que fazem. Questionarem o espec- ÉPOCA. Se fosse
tador sobre o que uma produção criativa significa hoje. É isso
que adoro nas pessoas realmente incríveis: elas desafiam nos- apenas luxo, ficaria
so ponto de vista sobre como nos vemos como sociedade.”
Ele também adora nos desafiar com suas ideias, além de muito sem ALMA"
suas roupas, o que faz, por exemplo, ao enumerar o que arte
e moda têm em comum: além de influenciarem a cultura,
ambos são, em última instância, itens de luxo. “Seja um
quadro ou uma bolsa, poder comprar algumas dessas coisas
- Jonathan Anderson
é incrivelmente caro. Ao mesmo tempo, mesmo que você não
as compre, você pode usufruir delas, se divertir através de
suas imagens. Em última análise, trata-se do prazer dos
olhos. É sobre o espectador que observa como isso nos pro-
voca em termos da percepção geral de gosto e estilo.” uma dose de escapismo durante a ditadura im-
Nascido em Magherafelt, na Irlanda do Norte, Jonathan é posta à Espanha pelo general Francisco Franco.
filho de um ex-jogador de rúgbi convertido em treinador e de Fundada há 178 anos na Rua Lobo, no coração
uma professora de inglês, e neto de um designer têxtil. Com de Madri, como uma oficina de artigos de cou-
inclinação para as artes desde a infância, desejava ser ator. Che- ro por um coletivo de artesãos espanhóis, a
gou a estudar teatro em Washington e a fazer um teste para Loewe virou oficialmente uma marca em 1872,
ingressar na pretigiada Juilliard School em Nova York. “Desis- com a chegada do parceiro de negócios Enrique
ti da carreira porque percebi que eu não era muito bom nisso”, Loewe Roessberg, um artesão e empresário
ri, pela primeira vez, durante nossa entrevista. “Sempre gostei alemão radicado em Madri que se impressio-
de moda. Mas foi só ao ter contato com figurino no teatro que nou com o know-how do grupo e a qualidade
comecei a realmente apreciar como ela pode ser usada como uma dos materiais. Madri havia hospedado um ca-
ferramenta para assumirmos uma persona. É uma boa maneira samento real duplo (a cerimônia entre a rainha
para as pessoas tímidas conseguirem mostrar mais de si mesmas. Isabel 2ª e Francisco, duque de Cádis, e a in-
Comecei a adorar a ideia de que as roupas poderiam fazer isso fanta Luísa Fernanda e Antônio de Orléans,
com as pessoas, mudar a forma como as vemos.” duque de Montpensier), e a Loewe (na época,
Ao se inscrever para um curso na Central Saint Martins, a E. Loewe) se estabeleceu como o destino per-
tradicional faculdade londrina por onde passaram nomes como feito para artigos de couro luxuosos. Em 1905,
John Galliano e Phoebe Philo, não foi aprovado, e acabou in- se tornaria fornecedora oficial da Coroa Espa-
gressando na London College of Fashion – hoje uma piada nhola, honra concedida pelo rei Alfonso 13°.
interna entre os alunos da London College, por conta da “riva- Foi na década de 1960, sob o comando da
lidade” entre as duas faculdades. Cursando moda masculina, foi quarta geração da família de Enrique, que a
trabalhar com Manuela Pavesi, na época coordenadora de moda Loewe lançou sua linha de prêt-à-porter e ini-
da Prada (e braço direito de Miuccia), no departamento de vi- ciou sua expansão internacional (em 1963, a
sual merchandising da marca italiana, onde eram desenvolvidas primeira loja fora da Espanha seria inaugurada
as vitrines. “Ela conseguiu que eu olhasse a roupa de uma forma em Londres). Adquirida integralmente em 1996
mais psicológica. Pavesi me surpreendeu com essa ideia de erros pelo grupo LVMH (que já era acionista da mar-
e acertos, oposições em conflitos dentro das vestimentas, mis- ca desde 1985), no ano de seu 150º aniversário,
turar coisas que não combinavam de uma forma que você pu- houve um longo caminho até a chegada de Jo-
desse encontrar a novidade. A maneira como misturamos as nathan. Em busca de potencializarem o
peças é tão importante quanto elas.” ready-to-wear, na sequência da compra foi con-
O olhar para vitrines ele divide com um dos primeiros dire- tratado como diretor criativo Narciso Rodri-
tores criativos da Loewe, José Pérez de Rozas, que a comandou guez, estilista que despontava em Nova York
entre 1945 e 1978 e as transformou em exibições teatrais e em como um dos símbolos do minimalismo do
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período (havia sido ele o responsável pelo vesti- em trabalhar com couro, articular a matéria-
do de noiva de Carolyn Bessette-Kennedy um -prima para criar o efeito desejado.”
ano antes). Ao longo de 12 anos, outros nomes Tendo o legado artesanal como o grande
ainda passaram pela marca, incluindo o britâni- pilar da casa, a Loewe desde os anos 1950
co Stuart Vevers (vindo da Mulberry e hoje no mantém sua própria escola para formação de
comando da Coach) – mas, até a chegada de novos artesãos dentro do ateliê em Madri, ga-
Jonathan, ninguém havia ainda trazido todo o rantindo que o savoir-faire ultrapasse gerações.
brilho para o qual a grife mostrava potencial. Com a missão de promover a criatividade,
Fazia cinco anos que Anderson fundara a criou ainda, em 1988, a Fundação Loewe, atu-
própria etiqueta em Londres, aos 24, uma es- almente presidida por Sheila Loewe Boente
trela em meteórica ascensão na semana de (parte da quinta geração da família Loewe),
moda britânica, quando foi recrutado para a que patrocina projetos, colabora com os prin-
Loewe por Delphine Arnault, filha de Bernard cipais festivais de artes e organiza exposições
Arnault e na época diretora e vice-presidente e premiações internacionais. Uma delas é o
executiva da Louis Vuitton (hoje CEO da Loewe Foundation Craft Prize, estabelecido
Dior). Com sua chegada, o QG da marca foi por Jonathan Anderson em 2016, primeiro
transferido de Madri para Paris para que pu- prêmio global dedicado ao artesanato contem-
desse acomodar a rotina do estilista, que segue porâneo – o vencedor da sétima edição será
se dividindo entre a cidade francesa e Londres, revelado este mês e contemplado com € 50 mil,
sede da JW Anderson (na qual o LVMH ad- tendo seu trabalho exibido ao lado dos outros
quiriu uma participação minoritária). O irlan- 29 finalistas no Palais de Tokyo, em Paris.
dês levou um ano para apresentar sua primeira “Tenho muito orgulho de a marca ser uma das
coleção, tempo em que mergulhou a fundo nos mais antigas do mercado de luxo, ter sido capaz
arquivos e redefiniu os códigos da Loewe. “Eu de resistir ao teste do tempo. É muito impor-
queria primeiro entender a marca e o que a faz Na página ao lado, jaqueta de couro,
tante que haja a ideia de construir um legado
durar tanto tempo. Foi uma experiência incrí- brincos de prata e esmalte, bolsa Puzzle a longo prazo”, fala Jonathan.
vel poder estar na fábrica, trabalhando com as Fold Tote e sandálias de camurça e strass A primeira loja brasileira da marca abre as
pessoas, explorando, experimentando”, diz ele, ASSISTENTES DE FOTO: portas este mês. Primeiro ponto também na
que bem sabe o quão raro é receber um prazo Alec Vierra e Alex Johnstone. América do Sul, estará localizado no piso Su-
do tipo. “Acho muito importante, ao começar PRODUÇÃO ExECUTIVA: perior do Shopping Iguatemi (SP), ao lado da
AG. New York. ASSISTENTE
em uma casa, que você acerte logo no início, a DE PRODUÇÃO: Lucas Cruz. NK Store, que já possuía a grife como parte de
ideia inicial é sempre a mais importante. É ASSISTENTE DE STYLING: seu mix desde 2021. “Sempre quis visitar o
Ashley Weiler. MAQUIAGEM:
necessário que haja um tempo para digerir, Grace Ahn. CABELO: Lucas Wilson.
Brasil, mas ainda não tive oportunidade, agora
seria melhor gastar mais tempo e acertar do que MANICURE: Nori tenho mais um motivo. Acho que o uso da cor
posteriormente ficar revisando.” e a arquitetura no Brasil são fenomenais”, diz
Obcecado por trabalhos manuais (inclusive o estilista, sem estrelismos, mas sempre firme.
nas horas vagas: cerâmica e jardinagem estão Com postura mais reservada, Jonathan con-
entre seus segredos para se desconectar), An- segue se manter como um nome relativamente
derson teve como um de seus primeiros suces- insider quando se ultrapassa a roda da moda
sos dentro da Loewe a bolsa Puzzle. O mode- (em comparação a seus pares da virada do sé-
lo geométrico em clima de origami foi lançado culo, como John Galliano, Tom Ford, Alexan-
em 2015 e é formado por 75 partes de couro, a der McQueen), enquanto torna a Loewe cada
perfeita tradução da habilidade adquirida pela vez ainda mais valiosa e influente – vide a po-
grife após experiência de tão longa data com o sição número 1 alcançada em meados do ano
material. Hoje, a lista de bolsas best-sellers da passado no ranking trimestral da Lyst sobre as
casa é longa, ainda que boa parte dos fashio- marcas mais desejadas do globo. Ou ter sido
nistas as conheça pelo nome: Squeeze (intro- premiado designer do ano em 2023 duplamen-
duzida no inverno 2023), Flamenco (modelo te, pelo British Fashion Awards e o CFDA
dos anos 1970 que acaba de ganhar upgrade), Fashion Awards (designer internacional do
Amazona (originalmente projetada em 1975, de ano), as duas mais importantes certificações da
olho nas mulheres que ascendiam no mercado moda global. “O melhor conselho que recebi
de trabalho, e repensada para comportar todos durante minha trajetória foi sobre nunca fazer
os eletrônicos necessários ao vaivém entre o es- concessões. E, se eu pudesse dar um conselho
critório e o home office), Hammock, Goya, Gate, para um estilista que está começando, seria:
Paseo... “Acho que as pessoas procuram a Loewe siga sua visão. Por mais que as pessoas possam
em busca de uma bolsa com aparência distinta. ir contra ela, a novidade geralmente ocorre
A Puzzle é um ótimo exemplo de um modelo quando as coisas não fazem sentido. Se você
que não existia no mercado em termos de for- tem uma ideia inicial, na qual realmente acre-
mato. No fim das contas, a marca é muito boa dita, se mantenha firme nela.”
*
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SEM FIlTRo
EXPOENTE dO R'N'B da NOva gERaçãO, a
BRiTâNica RaYE NaRRa sua TRajETóRia,
dE EsNOBada PELa gRavadORa À aRTisTa
Mais PREMiada dO BRiT awaRds 2024

T
Transformar o real em música, mesmo que seja um trauma ou um
tabu. Essa é a válvula de escape para Raye, artista britânica de 26
anos, apontada como uma das 25 mulheres mais influentes do
Reino Unido pela Vogue britânica em 2023. Fã de bossa nova,
principalmente de João Gilberto, a estrela desembarca no Brasil
este mês para duas disputadas apresentações: dia 18 no C6 Fest,
em São Paulo, e dia 19 no Blue Note, no Rio de Janeiro.
POR BRUNo CoSTA

naquele dia, ela descobriu que tinha outro irmão. Então, foi
muito emocionante. Choramos e colocamos isto na letra: Just
found out I have another brother. Same daddy, but a different mother”,
cantarola Raye, relembrando o hit. Mais recentemente, a can-
tora britânica despontou novamente com “Riiverdance”, 23ª
faixa do novo álbum de Beyoncé, Cowboy Carter, outra compo-
sição de sua autoria que alcançou as paradas de todo o planeta.
Em menos de uma década de carreira, Raye já conquistou Essa é a segunda vez que ela assina uma canção de Beyoncé.
feitos únicos. Tornou-se a artista com maior número de indica- A primeira foi “Bigger”, para The Lion King: The Gift, de 2019.
ções em uma só edição do Brit Awards, premiação máxima da Constantemente comparada a Amy Winehouse – “acho um
indústria fonográfica do Reino Unido, que aconteceu no último baita de um elogio, mas não acredito que essa comparação pos-
março. Indicada em sete categorias, venceu seis, incluindo a sa ser feita, Amy é única” –, Raye decidiu recentemente se ar-
principal, Álbum do Ano, por seu disco My 21st Century Blues. riscar por novos rumos, em busca de seu lugar ao sol. Em 2021,
Se tornou a primeira mulher a vencer na categoria de composi- rompeu o contrato de sete anos que tinha com a Polydor, gra-
tora do ano, nos 44 anos de existência do prêmio. “A artista que vadora com quem previa lançar ainda quatro outros álbuns. “Vi
eu era há dois anos nem poderia imaginar o que aconteceria que minha carreira estava sendo colocada em segundo plano”,
naquela noite”, relembra a cantora em entrevista à Vogue. desabafa. A fuga foi crucial. Em junho do ano seguinte, lançou
Filha de mãe suíça-ganense e pai inglês, Raye nasceu em o single “Hard Out Here”, um sensível relato em que fala de
Londres e começou a cantar na adolescência, no coral gospel da resiliência e superação diante das adversidades, e a primeira
igreja. Aos 17, lançou seu primeiro EP, Welcome to the Winter faixa dela como artista independente. Na sequência, vieram
(2014). Em agosto de 2016, apresentou seu segundo, Second, que “Black Mascara” e “Escapism”, parceria com o rapper norte-
teve o primeiro single “I, U, Us ” com videoclipe dirigido por americano 070 Shake e que viralizou no TikTok naquele ano,
sua conterrânea Charli XCX. No ano seguinte, “Decline”, com garantindo o número 1 da cantora nas paradas do Reino Unido,
feat do cantor nigeriano Mr Eazi, do terceiro EP, Side Tape, da Irlanda e da Dinamarca, além do début na Billboard Hot
alcançou a 15ª posição na parada de singles do Reino Unido. 100, o principal ranking de singles dos Estados Unidos, onde
Durante esses primeiros anos, a artista se apresentou nos shows alcançou a 22ª posição. O celebrado My 21st Century Blues,
de abertura das turnês europeias de cantores como Rita Ora, produzido por nomes como Mike Sabath, Di Genius e
Halsey e Khalid, conquistando públicos maiores. BloodPop, produtor que já trabalhou com Lady Gaga e
“Sou uma pessoa sociável. Adoro uma conversa agradável. E Madonna, finalmente estreou em fevereiro de 2023. Em suas
é a partir daí que essa confiança surge”, diz Raye, que desenvol- letras, abusos de substâncias, dismorfia corporal, transtornos
FOTO: Samuel Bradley

veu paralelamente uma bem-sucedida trajetória como compo- alimentares e assédio sexual são temas recorrentes. “É libertador
sitora. “Escrevo tudo o que a pessoa está dizendo e depois con- e muito nu escrever e cantar quando existem assuntos mais di-
versamos”, completa a artista, sobre seu método de composição fíceis”, revela Raye, que segue até o fim de junho como atração
para outros talentos da música – como, por exemplo, a canção de abertura na turnê SOS da cantora norte-americana SZA pela
“Girl from Rio” (2021), do quinto álbum de Anitta, Versions of Europa. “Ser aberta torna tudo mais fácil. Soa melhor em mú-
Me (2022). “Escrevemos quando nos conhecemos. Na verdade, sica e isso me ajuda como pessoa”, completa.
*
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A cantora britânica Raye, que


se apresenta este mês em São
Paulo e no Rio de Janeiro
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dois
POR Nô mello FOTOS Caio BRiTo STYLING GusTaVo JosÉ

s
Mas não espere encontrar na montagem
uma entrevista nos moldes clássicos. Gabi, na
verdade, começa como entrevistada do filho
Theo, até que as identidades se fundem e se
confundem em cena, e os dois se entrevistam,
escancarando dramas de suas intimidades
como mãe e filho e como pessoas públicas,

em
numa conversa que mistura realidade, atuali-
dades e ficção. “Acho que eu tenho culpas.
Roubei um bocado da vida dos meus filhos
pela notoriedade. Estou na praça desde 1970,
comecei a fazer televisão e os meus filhos ti-
Seja você da geração X, Y ou Z, difícil alguém veram a sina inevitável de serem ‘os filhos da
que tenha passado incólume pelas entrevistas de Marília Gabriela’”, diz.
Marília Gabriela. Para aqueles das duas primei- Theo, 45 anos, que, como a peça mostra,
ras, foram décadas de Gabi no ar, com seu rosto herdou da mãe não só os traços fortes, mas a
anguloso, perguntas afiadas e o tom de voz in- personalidade sincera e uma forte verve para
confundível, encarando os grandes nomes da entrevistas, aliadas a um medo zero de ser con-
cultura e do poder de seu tempo – do líder cuba- tundente, sai cortando sem nenhuma cerimô-
no Fidel Castro ao secretário de Estado norte-a- nia: “Mãe, para de vender o release. Ela real-
mericano Henry Kissinger, passando por Dercy mente está misturando realidade e ficção por-
Gonçalves, Fernanda Montenegro, e por aí vai. que esse, na verdade, é o enredo da peça”, alfi-
Mesmo para os da geração mais recente, vídeos neta. O ator e figurinista revela que a dupla
de Gabi, que nos 2000 passou também a atuar, começou a desenvolver o espetáculo depois que
seguem emergindo na internet, entre momentos Gabi o entrevistou em 2021 para seu programa
de sua trajetória, no YouTube, e videomontagens no YouTube (Gabi de Frente de Novo), onde
caseiras com a jornalista paulista “entrevistando” perfilou uma série de influenciadores que na
bulldogues no Instagram e no TikTok. Apesar época despontavam, de Juliette a Hugo Gloss.
de oficialmente aposentada da TV desde 2015, e “Queria investigar o que fez dessas pessoas o
longe dos palcos desde 2019, quando protagoni- destaque que elas são hoje, o que elas conquis-
zou Casa de Bonecas - Parte 2, Gabi agora retorna taram, esses números impressionantes. Uma
ao antigo ofício, que a eternizou no jornalismo gente que apareceu assim do dia para a noite e
brasileiro, numa derradeira vez: ao lado do filho fez aquele sucesso”, explica Gabi, que no mes-
Theodoro Cochrane, estreia o espetáculo A mo ano descontinuou o talk show digital.

uma
Última Entrevista de Marília Gabriela, dirigido Apesar dos entrevistados incensados nas
por Bruno Guida, a partir do dia 3 deste mês no redes, Theo, que hoje comanda na internet o
Teatro Unimed, em São Paulo. “Pela primeira podcast Theorapia e o programa Téte a Theo, na
vez, de fato na minha vida, estou tendo tempo de época era o que menos tinha seguidores, mas
passar essa trajetória em revista”, desabafa Gabi, viu sua entrevista com a mãe viralizar, e ser a
que, no dia 31, completa 76 anos. mais bem-sucedida de toda a temporada do
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A partir da esquerda, Diego Ognibeni usa


camisa, calça e sapatos, tudo LOUIS
VUITTON. Wado Gonçalves, com Kenzo
no colo, usa camisa e calça HANDRED e
tênis LOUIS VUITTON

Theodoro veste casaco, tricô,


colete, bermuda e sapatos, tudo
FERRAGAMO, brinco e anel
ARA VARTANIAN e meias
CALZEDONIA. Marília
Gabriela veste blazer, camisa e
calça, tudo CHLOÉ, brinco, colar
e anéis, tudo ARA VARTANIAN
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"Tenho estado muito sozinha, então FAZER Theo veste blazer J.BOGGO, camisa, calça

TEATRO tem sido uma FESTA SOCIAL


e lenço, tudo DOD ALFAITARIA, brinco
MARIA DOLORES e colar usado como
prendedor de gravata CISSA TARGA.
para mim. Hoje eu estou TRANQUILA Marília veste blazer PHILIPP PLEIN, top
e calça HELENA PONTES, brinco CISSA

EM CASA, sou uma observadora do que TARGA e anéis EMAR BATALHA

ASSISTENTE DE FOTO: Ana Clara


está acontecendo e GOSTO DO PAPEL" Pazian. PRODUÇÃO EXECUTIVA: Déia
Lansky. PRODUÇÃO DE MODA: Aradon.
BELEZA: Cris Biato. ASSISTENTE DE
BELEZA: Creuza Tolentino. AGRADECI-
MENTOS: Teatro Unimed
- Marília Gabriela
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extinto programa. “Rolou muita identificação. Nossa relação é tadunidense para o programa De Frente com Gabi, no SBT, em
muito honesta, verdadeira e sem filtro. A partir daí, começamos 1998 (você pode encontrá-la online com o título de Madonna’s
a pensar na possibilidade de fazer um desdobramento dessa bizarre interview with brazilian journalist), e em que a cantora,
nossa convivência em público”, revela o filho, que agora é o monossilábica, se contorce e faz careta diante das perguntas
entrevistador da mãe no palco. “A relação mãe e filhos é sempre da apresentadora. Theo provoca: “Foi sua pior entrevista, né,
muito complicada, e a minha com Theodoro sempre foi brutal- mãe?”. Gabi tem sua própria visão do constrangedor episódio,
mente honesta, aos berros ou às lágrimas. Então, quando resul- que você vai saber melhor na peça.
tou numa entrevista, as pessoas se identificaram e percebemos Além de abrir o espaço para o público fazer perguntas, há
que tínhamos mais a explorar ali”, reflete a mãe. ainda o momento “bate-bola”, formato que Gabi eternizou na
Em cena, Theo e Gabi escancaram muito daquilo que o pú- mídia brasileira, com perguntas de rápida resposta, que vão do
blico quer saber, mas não tem coragem de perguntar, a não ser, tipo: “uma cor?” e “um livro?” à clássica “fulano por fulano” – a
talvez, utilizando-se de perfis falsos nas redes. O relacionamento qual Madonna, por exemplo, hilariamente respondeu: “Madon-
com Reynaldo Gianecchini – Gabi foi casada com o ator global na ao quadrado” –, e que vemos ecoar até hoje nas redes sociais,
de 1999 a 2006 –, por exemplo, já aparece logo no primeiro ato seja em vídeos toscos do TikTok, ou no De Frente com Blogueirinha.
da peça, com os dois relem- “Comecei a fazer ‘bate-bola’ quando eu fazia o [extinto] Jornal da
brando o boato de que ela, na Tarde, daí levei para os meus entrevistados na televisão”, relembra
verdade, teria vivido um ro- a criadora do formato. “A minha intenção era pegar a pessoa
mance de fachada com desconfortável, porque, na pressa, você acaba falando coisas que
Gianecchini para encobertar o eventualmente não diria se tivesse tempo para pensar.”
namoro do filho com ele. “Fo- Gabi também aproveita o espaço de sua Última Entrevista
mos alvo de fake news numa para desabafar, sem medo nem censura, sobre o processo de
época que o termo sequer exis- amadurecimento. “Tenho estado muito sozinha, então fazer
tia”, comenta Gabi. “Como as teatro tem sido uma festa social para mim”, confessa a prota-
pessoas podem imaginar que gonista, que atualmente se divide entre seu apartamento nos
eu passaria anos da minha vida Jardins, em São Paulo, outro em Lisboa e as visitas ao filho
assim? Logo eu, galinha como Christiano Cochrane, em Orlando, nos Estados Unidos, onde
sempre fui, que só me casei ele vive com a família. “Mas ando cada vez mais com pregui-
com quem eu amei de fato e ça de viajar”, assume. O filho, que já tem planos para levar o
sempre fiz o que quis”, dispa- espetáculo para Porto Alegre, Belo Horizonte e Lisboa, alfi-
ra. “Para mim, o Giane era neta a mãe novamente: “Como assim? Que palhaçada é essa?
meu padrasto, uma relação Às vezes tem que dar umas ordens nela, senão já viu, ela só
cronologicamente distante, quer ficar em casa”, interpela. “Ele manda em mim. Aliás, ele
mas não tem jeito, tem gente manda em todo mundo”, ironiza a mãe.
que ainda acredita numa his- Percebo que, quando Gabi fala de suas entrevistas, de seus feitos
tória dessas”, comenta Theo. no jornalismo, sempre leva o verbo para o pretérito imperfeito. Não
Em sintonia com a vinda consigo deixar de perguntar então: essa é de fato sua última entrevis-
de Madonna ao Brasil este ta? Ela responde, sem hesitar: “Sim, já deu. Você já viu o tanto de
mês, Theo também não podia pessoas que entrevistam hoje? Não precisam de mais um”, dispara.
deixar de perguntar no palco “Chega uma hora em que é preciso saber parar. O mundo mudou,
para a mãe sobre a fatídica outras pessoas entraram. Hoje eu estou tranquila em casa, sou uma
entrevista com a pop star es- observadora do que está acontecendo e gosto do papel”, arremata.
*

"Nossa RELAÇÃO É MUITO HONESTA,


verdadeira e sem filtro. A partir daí, começamos a
pensar na possibilidade de fazer um desdobramento
dessa nossa CONVIVêNCIA em público”

- Theodoro Cochrane
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a t r a v e s s i a
POr Nô Mello FOtOs CoNIIIN
stYLiNG MARIA CÂNDIDA VeCCHI

"U
“Uma memória, um esquecimento. Um esque- pois, foi mostrada na Somerset House, em
cimento, uma ferida. Uma ferida, uma morte. Londres, que foi a primeira residência da rainha
Uma morte, uma dor. Uma dor, uma revolução.” da Inglaterra, e agora atravessa o oceano Atlân-
Os versos, gravados em ouro sobre blocos de tico para aportar em Inhotim. A ideia para o
madeira queimados, nas línguas iorubá, kim- trabalho, segue contando Grada, veio de uma
bundo, crioulo cabo-verdiano, português, inglês outra criação sua – a videoinstalação Antígona,
e árabe da Síria, fazem parte do poema que se de 2019, inspirada na tragédia grega de Sófocles,
espalha pelo corredor central da instalação O composta por volta de 442 a.C.
Barco, da artista e escritora Grada Kilomba, que Na peça, Etéocles e Polinice, filhos de Édipo
atualmente ocupa a Galeria Galpão de Inhotim. (e irmãos de Antígona), se matam disputando o
Ao percorrer tal caminho, e depois circular pelo trono de Tebas, e seu tio Creonte, que assume o
longo percurso de 32 metros de extensão, sob a poder no lugar dos dois, decide honrar apenas a
forte luz que delimita a instalação, vou perce- memória de Etéocles com um funeral, e não
bendo os sinais que Grada quer passar ali – os sepultar Polinice, para que seu cadáver seja de-
troncos queimados, dispostos de forma apertada vorado por hienas e aves de rapina. “A peça leva
sobre o chão, sugerem confinamento e desola- a questões que ainda hoje são muito atuais, que
ção. A iluminação nos força a ver ainda mais, é quem morre na rua, quem não; quem sofre
tanto essa evidência quanto o ouro que reluz violência e quem não; quem é reconhecido, quem
transmitindo com nitidez a narrativa de sofri- não; quem pode ter um ritual, uma cerimônia,
mento e resistência da poesia. “São idiomas de um nome lembrado, um choro, um abraço, e
comunidades que, ou no passado, ou no presen- quais são os corpos e as identidades aos quais
te, atravessam as águas globais para sobreviver tudo isso é negado por questões políticas”, deta-
por questões de guerra, de perseguição, climá- lha a artista, sobre a obra que já esteve também
ticas”, me conta Grada, com sua voz suave e seu no Palais de Tokyo, em Paris, e atualmente se
jeito sereno, em nossa conversa sobre o trabalho encontra na Tate Modern, em Londres, como
recém-instalado no instituto mineiro, onde per- parte integrante do acervo permanente. “Foi a
manecerá por dois anos. partir daí que eu comecei a refletir sobre a im-
Dona de uma instigante produção multidis- portância de trazer uma obra minha para um
ciplinar, que transita pela escultura, pelo vídeo, espaço público”, explica.
pela escrita e pela arte performática, Grada, 56 O Barco é constituído por 134 blocos de ma-
anos, é dona de um olhar sensível e, ao mesmo deira – “são madeiras de replantação, ou madei-
tempo, contundente, que investiga atentamen- ras caídas, que depois são queimadas no fogo”
te questões como memória, trauma, gênero, – que se espalham por uma área de mais de 220
racismo e pós-colonialismo. O Barco a artista metros quadrados e se estendem por 32 metros
concebeu em 2021, quando a obra foi exibida de comprimento no interior da Galeria Galpão,
pela primeira vez às margens do rio Tejo, na por onde já passaram trabalhos de artistas como
Praça do Carvão do Museu de Arte, Arquite- o sul-africano William Kentridge e os canaden-
tura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa. De- ses Janet Cardiff e George Bures Miller. A dis-
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Grada Kilomba, em sua


instalação O Barco, atualmente
em cartaz em Inhotim, usa
vestido NOTEQUAL
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posição do conjunto delineia o formato do fundo de uma embar-


cação, reproduzindo o espaço criado no fundo dos navios para
"Acho isso a coisa mais linda
transportar as milhões de pessoas africanas sequestradas e escra- que há: quando nós NãO
vizadas ao longo dos séculos de colonialismo europeu. “Faço uma
minuciosa arqueologia de como os corpos africanos eram coloca- CONFIRMAMOS aquilo
dos no fundo dos barcos que aparecem nos monumentos”, expli-
ca. “Um dos mais longos e horrendos capítulos da história da que nos foi dado e começamos a
humanidade”, completa. As proporções monumentais da obra não
são apenas arquitetônicas, ressalta Grada. “Nós estamos rodeados
DUvIDAR DAQUILO QUE
de monumentos. E monumentos também são uma forma de
contar histórias. Eles escolhem de quem lembrar e de quem es-
SABEMOS e, acima de tudo,
quecer, quais são as identidades que existem e as identidades que do que não sabemos o porquê. É
passam a ser ausentes e, assim, inexistentes”, pondera a artista.
A instalação se completa com uma performance dirigida pela um exercício fundamental PARA
artista lisboeta, cujo primeiro ato foi apresentado na inaugura-
ção da obra em Inhotim, com um ensemble de cantores de CRIAR O FUTURO”
gospel e ópera, mais bailarinos clássicos e percussionistas, da
periferia de Lisboa, vindos ou descendentes de diferentes nações
africanas que já estiveram sob o domínio lusitano ao longo da
história. “É muito importante na minha prática artística envol-
- Grada Kilomba
ver diferentes comunidades na produção do trabalho, na parte
de distribuição da oportunidade, de recursos, de dinheiro”,
comenta a artista, que voltará novamente ao Brasil para realizar
mais dois atos da performance, a serem encenados em outras
duas ocasiões ao longo dos dois anos que a obra ficará em exibi-
ção no instituto mineiro, destas vezes com artistas locais. “É Episódios de Racismo Cotidiano, fruto de sua tese de doutorado
uma instalação de experiência, é uma escultura que se experien- em filosofia na Universidade Livre de Berlim, publicado origi-
cia através da performance”, completa. nalmente em 2009 em inglês – e esgotado nas prateleiras duas
A mostra de Grada em Inhotim só vem estreitar ainda mais a semanas depois. Na publicação, Grada compila episódios coti-
relação da artista com o Brasil. Além de já ter exposto na Pina- dianos de racismo, escritos sob a forma de pequenas histórias
coteca de São Paulo em 2019, quando lançou no país o livro psicanalíticas, discutindo das políticas de espaço e exclusão aos
Memórias da Plantação: Episódios de Racismo Cotidiano, livro mais insultos raciais e à normalidade do racismo. “Eu precisava de
vendido na Flip daquele ano. Mais recentemente, foi cocuradora um espaço que fosse emancipatório e alternativo, e Berlim, de
da Bienal de São Paulo, no ano passado. “Tenho uma relação fato, sempre foi esse lugar onde muitos artistas constroem a sua
muito amada com o Brasil. Eu acho que há uma urgência aqui, identidade: David Bowie viveu lá, Iggy Pop, Audre Lorde,
há uma inteligência acordada aqui. É um lugar onde o centro é Angela Davis”, recorda. “Foi um lugar perfeito para eu me
questionado, o sistema é questionado, as estruturas são questio- formar, me inventar e me tornar aquilo que eu fui e que eu sou
nadas”, defende. “Na Europa, há sempre uma tendência – e uma agora. É um lugar que, ao menos, nos mostra a possibilidade de
persistência – em confirmar aquilo que nós sabemos. No brasi- olhar para o brutal e o violento, de sumir com esse passado e
leiro, há uma urgência em questionar”, defende. “Acho isso a reinventar-nos. Isso para mim é Berlim.”
coisa mais linda que há: quando nós não confirmamos aquilo que Apesar de ter desenvolvido seu trabalho artístico desde então,
nos foi dado e começamos a duvidar daquilo que sabemos e, Grada, atualmente representada pela nova-iorquina Pace Gallery
acima de tudo, do que não sabemos o porquê. É um exercício e pela sul-africana Goodman Gallery, ainda é muito conhecida
fundamental para criar o futuro.” do grande público graças ao seu best-seller – na inauguração de
Nascida em 1968 em Lisboa, onde estudou psicologia e Inhotim, vários foram os fãs que levaram cópias de seus livros
psicanálise, Grada tem raízes em Angola e São Tomé e Príncipe, para que a artista, que só neste ano já tem duas mostras solo
e vive há cerca de 20 anos em Berlim, cidade em que decidiu se programadas, uma na Alemanha e outra em Madri, no Reina
fixar – foi de lá, inclusive, que lançou Memórias da Plantação: Sofía, mais outras cinco coletivas, os autografasse. “Quando
lancei o livro, que logo esgotou e pouco tempo depois já tinha sido
lançado pela Europa toda, fiquei surpresa”, confessa a autora.
“Acho que, em Inhotim, é possível entender quem é
Grada Kilomba: uma artista multidisciplinar que faz uma gran-
de pesquisa e que usa a escrita para visualizar, mas que, acima de
tudo, trabalha com filme, vídeos, cultura, performance, com
instalações sonoras, instalação pública”, acredita. “Ou seja, crio
Na página ao lado, Grada veste colete NOTEQUAL instalações geralmente muito grandes, imersivas, para levar o
público a um espaço quase mágico, para que saiam não com
ASSISTENTE DE FOTO: Cissa Otoni. PRODUÇãO
EXECUTIvA: Déia Lansky. ASSISTENTE DE respostas, mas com perguntas que não estavam lá antes. Esta é a
STYLING: Lucia Rocha Ferreira. BELEZA: Renata vilela minha prática – a prática de contar histórias.”
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continuações
EndErEÇOs
moda
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ser o corpo alheio. Ninguém sabe as reais dificuldades, limitações com. manolo BlaHniK, manoloblahnik.com. marc JacoBs,
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A redução de medidas é apenas uma das consequências da marinabitu.com. martins, martinssp.com. minHa avó tinHa, Rua
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sou uma mulher feliz vestindo 44 hoje, mas sei que ainda não @penhamaia. pHilipp plein, plein.com. prada, Shopping Cidade Jardim,
me encaixo no padrão imposto. Não existe, a meu ver, satisfação tel. (11) 3552-1030, SP. reinaldo lourenço, Shopping Iguatemi, tel.
plena. Acredito que o mais importante é se esforçar para ser (11) 3031-6527, SP. renata Buzzo, Rua Augusta, 1.351, tel.
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Não imponho limites aos meus desejos e procuro ser muito Jardins, tel. (11) 3198-8234, SP. sHop2getHer, shop2gether.com.br.
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uma certa coerência, porque ela é de verdade. queiroz, tatianaqueiroz.com. undercover, undercoverism.com.
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muitos quilos, ganhei alguns músculos, perdi olhos de admira- amanaJás, @vania_amanajas. vaquera, vaquera.nyc. waiwai
ção, mas também ganhei novos olhos admirados. Perdi milha- rio, Rua Bela Cintra, 2.165, tel. (11) 3062-6001, SP. yar atelier,
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inspiração para uns e passei a ser inspiração para outros. Mas eu
tenho certeza de que meu maior ganho nesse processo de ema-
grecimento foi o entendimento de que eu consegui me priorizar Beleza
absolutamente. E essa sensação de autoamor nada paga. E como cHanel, Shopping Pátio Higienópolis, tel. (11) 4550-2110, SP.
diz a professora Bell, minha personagem na peça Pequeno dior, Shopping Cidade Jardim, tel. (11) 3750-4400, SP.
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o mundo insiste em te odiar”.
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