AÇÕES

Cultura 21: Ações

Compromissos relativos ao papel da cultura em cidades sustentáveis
Reunidos em Bilbao, entre os Promover a integralidade da relação

PORTUGUÊS
dias 18 e 20 de março de 2015, os entre a cidadania, a cultura e o
representantes de cidades e governos desenvolvimento sustentável.
locais de todo o mundo, convocados
pela organização mundial “Cidades Disponibilizar um quadro internacional
e Governos Locais Unidos” (CGLU) baseado em compromissos e ações que
sejam, ao mesmo tempo, realizáveis e
para a Cimeira da Cultura, adotaram mensuráveis.
conjuntamente este documento,
intitulado “Cultura 21: Ações”, que Complementar a Agenda 21 da Cultura
visa: (2004), tornando-a mais operacional.

Fortalecer o papel das cidades e dos

governos locais enquanto instâncias
de elaboração e implementação de
políticas com os cidadãos e para os
cidadãos.

Contribuir para a definição da Agenda

de Desenvolvimento Sustentável
pós-2015, e nessa sede, salientar o
papel essencial da cultura.

AÇÕES
Introdução

PORTUGUÊS
No início do século XXI, consideramos que, para ser “sustentável”, o desenvolvimento
deve atribuir uma importância central aos fatores culturais. O desenvolvimento
humano é um processo de ampliação de liberdades e de capacidades,
protagonizado por todas as pessoas que vivem no planeta Terra, individual e
coletivamente, que se torna sustentável quando toma em consideração o respeito
devido aos direitos e às liberdades das gerações futuras. Para se considerar que
existe um verdadeiro desenvolvimento, o desenvolvimento humano necessita de
incluir, como parte integrante, os processos e os fatores culturais, tais como a
memória, a criatividade, a diversidade e o conhecimento.

O século XXI é o século da diversidade cultural. Estabeleceu-se, por todo o mundo,

uma relação dinâmica e interativa entre a humanidade e o seu ambiente. Partindo
do pressuposto atualmente aceite de que os direitos humanos constituem a base
para a existência dos direitos culturais, todas as culturas afirmam a sua vontade
de serem reconhecidas como intervenientes nestes processos e pretendem
genuinamente contribuir para a sustentabilidade. Os diferentes tipos de cultura
contribuem para o enriquecemento do mundo, interagindo para fazer progredir a
humanidade de uma forma mais solidária, através da cooperação, do respeito e
da confiança mútuos.

A experiência do desenvolvimento sustentável ocorre no âmbito da administração

local, sendo necessários espaços e processos para a participação cívica, para
o debate e para a tomada de decisões. Os governos locais estão numa posição
privilegiada para promoverem ativamente o debate democrático. Os governos
locais podem criar espaços e promover processos para os cidadãos exercerem os
seus direitos, ampliarem suas capacidades, para serem protagonistas do presente
e para decidirem o seu futuro.

Compreender e transformar o mundo implica que os quadros de referência do

desenvolvimento sustentável incorporem um pilar ou uma dimensão cultural, tão
explícita, operacional e dinâmica como os pilares ou as dimensões relativos às
questões ambientais, económicas ou sociais, em conformidade com o estabelecido
na “Declaração de Orientação Política”, adotada pelas “Cidades e Governos Locais
Unidos”, em 2010, na Cidade do México.

CULTURA 21: AÇÕES I A. INTRODUÇÃO 7

 “Cultura 21: Ações” vem renovar o

PORTUGUÊS
compromisso assumido pelas Cidades e Governos Locais
Unidos, de fomentar uma relação mais estreita entre a
cidadania, a cultura e o desenvolvimento sustentável.

“Cultura 21: Ações” complementa a

“CULTURA 21: Agenda 21 da Cultura, aprovada em 2004 pelas Cidades e
Governos Locais Unidos “enquanto documento orientador

“AÇÕES”
das políticas públicas de cultura e enquanto contribuição
para o desenvolvimento cultural da humanidade”, e que
continua a ser um importante texto de referência.

“Cultura 21: Ações”considera as

importantes transformações culturais da última década,
que se deverão refletir na conceção das políticas
atuais, e identifica as questões chave da Agenda 21 da
Cultura, concretizando-as em compromissos e ações
concretos. “Cultura 21: Ações” pretende ser uma
ferramenta aplicável em todo o mundo, para promover o
conhecimento, permitir o intercâmbio de boas práticas e
consolidar uma rede global de cidades e governos locais
responsáveis e líderes neste âmbito.

CULTURA 21: AÇÕES I A. INTRODUÇÃO 9

VALORES

PORTUGUÊS
Os valores subjacentes a este documento
baseiam-se nas experiências práticas e
concretas das cidades e dos governos locais,
bem como nas contribuições provenientes de
organizações internacionais, de universidades
e do ativismo. Estes valores sintetizam as
convicções e as aspirações dos governos
locais que pretendem que a cultura constitua
uma parte integrante do desenvolvimento
sustentável, tanto à escala local, como mundial.

Cultura, dereitos e cidadania

1. A cultura constrói-se a partir dos valores, crenças, línguas, conhecimentos, artes e sabedorias, que
permitem que uma pessoa, individual ou coletivamente, expresse a sua humanidade e o sentido que
dá à sua vida e ao seu desenvolvimento.

2. A cultura é um bem comum que amplia a capacidade de cada pessoa para que ela crie o seu próprio
futuro. Todas as pessoas fazem parte da cultura e participam na sua elaboração. A cultura é um
processo que permite perceber, interpretar e transformar a realidade.

3. Os direitos culturais constituem uma parte integrante dos direitos humanos. Não se pode invocar a
diversidade cultural para infringir qualquer um destes direitos, garantidos pelo direito internacional,
nem para limitar o seu alcance. As liberdades culturais dos indivíduos e das comunidades constituem
uma condição essencial das dinâmicas democráticas e um resultado destas.

4. Os direitos culturais garantem que qualquer pessoa possa aceder aos recursos culturais de que
necessita para viver livremente o seu processo de identificação cultural ao longo de toda a vida,
bem como a capacidade para participar nas culturas existentes e dar-lhes uma nova forma. A
cidadania cultural envolve direitos, liberdades e responsabilidades. O acesso e a participação no
universo cultural e simbólico em qualquer momento da vida constituem fatores essenciais para o
desenvolvimento das capacidades sensoriais, de expressão, de escolha, e do pensamento crítico, que
permitem a construção da cidadania e da paz nas nossas sociedades.

CULTURA 21: AÇÕES I B. VALORES 11

 12. O acesso aos serviços culturais e a participação ativa em processos culturais são determinantes

PORTUGUÊS
5. A democracia cultural constitui um dos elementos centrais da cidadania ativa, na medida em
que promove a participação e o diálogo. Assim, a democracia cultural constitui-se como um dos para as pessoas em situação de desvantagem, isolamento ou pobreza poderem ultrapassar esta
elementos centrais que permitem evitar que alguém, injustificadamente, se alegue o direito de limitação, transformando-se nos próprios agentes da sua inclusão social.
menorizar ou de exterminar uma determinada cultura, fazendo apelo a critérios de supremacia, 13. A participação através de sistemas interativos de informação de qualidade é essencial para o
excelência ou universalidade. Esta situação pode implicar disputas ou tensões, pelo que os desenvolvimento sustentável. Um modelo adequado de governança deve garantir a transparência
direitos humanos universais deverão ser respeitados em todas as circunstâncias. e o direito de produzir, receber, procurar e transmitir informação credível para todos os cidadãos.

14. O desenvolvimento cultural baseia-se na multiplicidade, na interação e na cooperação de todos

Os fatores culturais do desenvolvimento sustentável
os agentes que compõem o ecossistema cultural, incluindo as instituições públicas, organizações
6. O desenvolvimento sustentável, ou sustentabilidade, requer a combinação de um conjunto de da sociedade civil e outros intervenientes privados, numa lógica que promove a inovação.
fatores interligados (culturais, ambientais, sociais e económicos). É importante o desenvolvimento
15. As práticas culturais das pessoas não têm lugar apenas em espaços físicos, mas também no
de políticas específicas em cada âmbito, bem como a transversalidade e a integração dos
mundo digital, cujas manifestações fazem igualmente parte do espaço público. É preciso garantir
diferentes âmbitos entre si.
o seu caráter público e as oportunidades proporcionadas por ambos.
7. A diversidade cultural constitui o principal património da Humanidade. É o produto de milhares
de anos de história, o resultado da contribuição coletiva de todos os povos, através das suas Responsabilidades específicas dos governos locais
línguas, ideias, técnicas, práticas e criações. A diversidade tem múltiplas dimensões, faz parte
16. Os governos locais são os principais agentes na defesa e na promoção dos direitos culturais,
da identidade de todas as pessoas e não se reduz ao “outro”. A diversidade cultural permite
concebidos como parte integrante dos direitos humanos fundamentais. Através do exercício da
uma redefinição constante de identidades e diferenças, sendo um componente essencial da
democracia de proximidade, garantem a participação dos habitantes nas decisões públicas e
convivência, da cidadania e da construção pacífica da sociedade.
promovem o diálogo e a interlocução com os diversos agentes nacionais e internacionais.
8. O património cultural, na multiplicidade das suas dimensões, desde a memória até à paisagem,
17. Os governos locais aplicam quadros de governança que envolvem múltiplos agentes (em
constitui o testemunho da criatividade humana, sendo um recurso para a identidade das pessoas
diálogo com a sociedade civil e o setor privado), desenvolvem formas de governança transversal
e dos povos. É algo vivo e em constante evolução, que deve ser integrado de maneira dinâmica
ou horizontal (a dimensão cultural no conjunto das políticas públicas) e necessitam de
na vida em sociedade.
enquadramentos permanentes de governança multinível ou vertical (com outros níveis
9. O território é uma construção social, fruto da interação histórica dos grupos humanos no seu governamentais).
processo de apropriação e transformação da natureza. Reflete a história, a identidade e os
18. Os governos locais promovem a participação de todas as pessoas envolvidas na elaboração,
valores da população que nele habita. O conceito de território pode incorporar uma dimensão
na aplicação e na avaliação das políticas públicas, incluindo as políticas culturais, com vista a
cultural que se torna essencial para a qualidade de vida dos seus habitantes. Na medida em
promover o exercício da democracia cultural.
que a ordenação do território e o planeamento urbano reconhecem, inventariam e valorizam os
recursos naturais e culturais, harmonizando-os com as aspirações futuras de uma sociedade, 19. Os governos locais têm a responsabilidade de garantir a equidade territorial: entre o centro e
estes serão atos culturais. a periferia – no quadro das cidades – e entre as cidades e as zonas rurais, centrando-se nos
territórios dos povos e das comunidades nativas.
10. Os bens e serviços culturais não são mercadorias como as outras, na medida em que incorporam
significados e identidade. Os artistas, as organizações e instituições culturais têm um papel 20. Os governos locais são agentes essenciais dos processos internacionais, ao garantirem que a voz
central no desenvolvimento das cidades sustentáveis. Reduzir a cultura ao valor económico dos cidadãos é ouvida no cenário internacional. Os governos locais promovem uma diplomacia
das suas expressões limita ou anula a sua dimensão enquanto bem comum e, portanto, a local, muitas vezes com ações ligadas à cultura, participam em processos de cooperação
sua capacidade de transformação. A economia funciona segundo valores que condicionam as internacional no quadro da cultura, o que constitui uma ferramenta indispensável para
opções de vida e que podem ser desafiados pela cultura. Os modelos económicos do século XXI construir uma comunidade humana solidária; e consideram, nas suas iniciativas de cooperação
devem permitir uma articulação mais coerente entre a economia pública, privada e da sociedade internacional, designadamente as situações específicas das regiões menos desenvolvidas.
civil (sem fins lucrativos) e garantir o respeito pela dignidade das pessoas, pelo ambiente e a 21. Os governos locais fomentam a cidadania democrática e a cultura da paz, favorecendo
realização da justiça social. quotidianamente a não-violência e a resolução pacífica dos conflitos, quer internos, quer externos
11. A apropriação da informação e a sua transformação em conhecimento partilhado constitui um à cidade. Os governos locais trabalham juntos em rede, trocando práticas e experiências e
ato cultural interrelacionado com direito à educação, ao longo de toda a vida, e com o direito de coordenando as suas ações. Os governos locais são laboratórios que permitem a experimentação
participar na vida cultural. de soluções eficazes e adequadas para os problemas globais.

12 CULTURA 21: AÇÕES I B. VALORES 13

COMPROMISSOS

PORTUGUÊS
A Agenda 21 da Cultura (2004) constitui-
se como o primeiro grande documento
internacional que discorre de uma forma
sistematizada sobre a importância da
relação entre a cultura, a cidadania e a
sustentabilidade. Nesta década, um grande
número de governos locais (isto é, de
cidades, metrópoles, regiões, províncias,
departamentos e municípios), de agentes
da sociedade civil, de agências e ministérios
nacionais, bem como de organizações
internacionais alinharam as suas políticas e
programas com o conteúdo da Agenda 21 da
Cultura. No website da Agenda 21 da Cultura
encontra-se disponível esta lista completa.

Muitas organizações relacionadas com a Agenda 21 da Cultura solicitaram um guia prático para
facilitar a implementação local, a troca internacional de experiências e a criação de uma “comunidade
de trabalho” mais visível e estruturada, conforme demonstrado pelos resultados da pesquisa publicada
pela Comissão da Cultura das Cidades e Governos Locais Unidos em setembro de 2014, para avaliar
os trabalhos realizados. Estes “Compromissos” respondem a esta necessidade. Os “Compromissos”
pretendem ser concretos e promovem orientações e padrões internacionais, realizáveis e mensuráveis.

CULTURA 21: AÇÕES I C. COMPROMISSOS 15

 O século XXI foi igualmente testemunha do progressivo reconhecimento da cultura enquanto fator
integral da sustentabilidade, como o demonstram os inúmeros relatórios, declarações e compromissos
de instituições internacionais, governos nacionais e locais e de outros agentes da sociedade civil, bem
como de especialistas e outras partes interessadas. Neste sentido, há que salientar as convenções
da UNESCO, os relatórios do PNUD, os trabalhos da Relatora Especial das Nações Unidas para
os Direitos Culturais, os compromissos da Global Taskforce dos Governos Locais e Regionais, os
trabalhos preparatórios dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável pós-2015 e a campanha global
#culture2015goal.

Estas contribuições demonstraram que o atual conceito de sustentabilidade integra uma vasta gama de
fatores culturais, ecológicos, sociais e económicos, estreitamente interligados. É preciso reconhecer
a existência desta interdependência na conceção, implementação e avaliação das políticas, sendo
que este processo não deve ficar limitado apenas às autoridades públicas, devendo antes resultar de
sinergias e parcerias em que intervêm os diferentes interlocutores.

Os “Compromissos” estão distribuídos em nove secções, articuladas da forma seguinte:

1. Direitos culturais
2. Patrimônio, diversidade, e criatividade
3. Cultura e educação
4. Cultura e ambiente
5. Cultura e economia
6. Cultura, equidade e inclusão social
7. Cultura, ordenamento urbano e espaço público
8. Cultura, informação e conhecimento
9. Governança da cultura
As secções seguintes contribuem para a formulação de um novo conceito de “coisa pública”,
baseado na ideia de “compromissos” entre o estado (no nosso caso, a administração local) e
os diferentes agentes da sociedade. Estes nove compromissos sintetizam a dimensão cultural
de uma cidade sustentável. Cada um deles incorpora várias ações específicas, que orientam o
trabalho dos governos locais que aderiram à Agenda 21 da Cultura, permitindo-lhes autoavaliar
o grau de cumprimento desta e promovendo uma melhor implementação das políticas e
estratégias públicas.

16
1 Direitos culturais
Cidadania ativa e pleno reconhecimento

PORTUGUÊS
dos direitos culturais
Ações
Os direitos humanos conferem liberdade e dignidade a todos os
seres humanos e constituem os alicerces e a garantia da coerência
e da legitimidade das políticas. Os direitos culturais reportam-
se ao direito de qualquer pessoa de se expressar livremente, de
ter acesso ao património, a valores e a identidades, bem como a. As políticas culturais locais e. Foram realizadas análises i. As organizações locais da
de participar ativamente na vida cultural. Os direitos culturais baseiam-se explicitamente em detalhadas aos obstáculos existentes sociedade civil que trabalham
são uma parte integrante dos direitos humanos fundamentais e direitos culturais. ao acesso e à participação dos no âmbito dos direitos humanos
garantem o acesso ao conhecimento necessário para o exercício cidadãos na vida cultural. explicitamente incluem os
de outros direitos, liberdades e responsabilidades.
b. A administração local adotou direitos culturais entre as suas
Os direitos culturais são incompatíveis com narrativas que um texto orientador em matéria f. Existência de políticas e de prioridades.
restringem a cultura ou a identidade, reduzindo-as a meras de direitos, liberdades e programas que visam o envolvimento
expressões simplificadoras, populistas, incoerentes com a responsabilidades culturais. mais amplo e mais ativo dos j. Existência de políticas e de
análise histórica e limitadoras das liberdades. Uma identidade
cidadãos nas práticas culturais e na programas para aumentar o
definida deixou de ser uma condição prévia reguladora da
existência comunitária; na atualidade, a sua construção tornou-
c. A administração local adota criação cultural. número de membros ativos em
medidas para promover a organizações da sociedade civil
se um fator fundamental do projeto coletivo. A identidade deixou
de ser um ponto de partida para passar a um destino negociável. participação dos cidadãos, quer g. As políticas culturais permitem dedicadas à cultura.
individualmente, quer enquanto que as pessoas tenham acesso a,
Assim, os direitos culturais garantem a possibilidade de uma
representantes de grupos da e transmitam, as suas próprias
pessoa se poder identificar com uma ou várias comunidades
sociedade civil, relativamente expressões culturais, prestando-se
culturais e modificar esta escolha ao longo da sua vida. O
exercício de outros direitos humanos (incluindo, designadamente,
à definição de prioridades, à uma atenção especial aos indivíduos
a liberdade de expressão, de associação e de participação na vida tomada de decisões, e à avaliação e grupos mais vulneráveis.
pública) também é fundamental para o desenvolvimento de uma de políticas culturais.
cidade sustentável. h. Aumentar as oportunidades para

As políticas locais devem ajudar os cidadãos a exercerem os

d. Existência de níveis mínimos a participação das mulheres na
seus direitos, a determinarem livremente a sua identidade, a de serviço para garantia de vida cultural é um dos objetivos
desenvolverem e exercerem as suas capacidades criativas, a serviços culturais básicos (por das políticas culturais e foram
reconhecerem expressões culturais diversas, estando igualmente exemplo, um número mínimo de tomadas medidas para eliminar a
garantido o reconhecimento das suas próprias expressões bibliotecas/livros por habitante). discriminação em razão do género.
culturais, bem como o direito destes a participarem nas decisões
coletivas relativamente à totalidade das dimensões da vida
comum. As políticas locais devem reconhecer que a cidadania se
constitui como o agente principal da vida cultural local.

A conceção das políticas públicas parte de uma articulação

razoável e racional entre o reconhecimento dos direitos dos

Direitos
habitantes, a explicitação dos deveres institucionais e a prestação
de serviços públicos, num espírito de corresponsabilidade: os
governos locais devem visar definir os serviços culturais básicos

culturais
como direitos mínimos para todos os habitantes, dando especial
atenção às pessoas e aos grupos mais vulneráveis, com o objetivo
de garantir o desenvolvimento das suas capacidades culturais
(direitos, liberdades e responsabilidades).

18 CULTURA 21: AÇÕES I C. COMPROMISSOS 19

2 Patrimônio, diversidade e criatividade
O património, a diversidade e a criatividade são elementos

PORTUGUÊS
constitutivos da vida cultural
Ações
As políticas culturais locais constroem-se a partir de considerações
acerca do património, da diversidade e da criatividade. Em primeiro
lugar, existe uma dicotomia entre o conceito clássico de cultura, de tipo
sociológico, que costuma considerá-la um repertório de belas-artes,
e um conceito dito “antropológico”, adotado pela UNESCO nos anos a. A organização da administração d. A administração local promove a j. Existência de políticas e de
80, que concebe a cultura como conjunto de formas de expressão, de
local inclui um departamento, celebração de eventos culturais programas respeitantes à cultura
valores, de crenças, práticas, etc. presentes na vida humana. Uma
vez que, na atualidade, pretendemos integrar o melhor de ambos os área ou entidade encarregada que visam encorajar a criação científica, em parceria com
conceitos, é necessário que sejamos pragmáticos e avancemos para o das políticas culturais e dos artística e promover o contato organizações da sociedade civil,
nível seguinte: a posição das políticas culturais locais deverá situar-se aspetos culturais de outras entre diferentes grupos sociais. agentes privados, instituições
no cruzamento entre o simbólico e o expressivo, entre as expressões políticas públicas. culturais e centros de formação.
culturais de vanguarda e a cultura do quotidiano.
e. Existência de políticas e de Estes programas devem ser
As atividades dos criadores contemporâneos que colocam o seu b. A administração local tem um programas para promover a sensíveis às interações entre a
trabalho artístico na vida comunitária, a importância da dimensão orçamento específico para a excelência, através de uma relação cultura científica, a arte, a história
simbólica das práticas sociais e comunitárias ou o reconhecimento
cultura, que é adequado às suas de proximidade e de interação com local e a vida quotidiana.
de ofícios e conhecimentos tradicionais fazem parte desta interseção.
responsabilidades culturais, bem os cidadãos e as suas iniciativas.
Em segundo lugar, o diálogo entre “tradição” e “inovação”, como aos padrões de referência k. Os produtos culturais locais
frequentemente afetado por uma tendência reacionária para fixar ou nacionais e internacionais. Este f. Existência de políticas e de têm uma presença significativa
isolar a tradição, pode contudo evoluir se existir uma interação mais
orçamento deve ser adequado programas que encorajam e equilibrada nas atividades
dinâmica entre ambos os conceitos. A tradição que não é capaz de
dialogar com o presente, acaba por se tornar estática e fossilizada. a permitir o desenvolvimento explicitamente o reconhecimento culturais da cidade, quando
Da mesma maneira, a cultura de vanguarda que não é capaz de se sustentável da vida cultural mútuo da diversidade de formas globalmente consideradas.
envolver com a tradição e de evoluir a partir do presente, acabará por local. Uma parte significativa do de expressão cultural e dos
sofrer de desenraizamento.
orçamento alocado à cultura deve projetos interculturais. l. Existência de programas
Em terceiro lugar, o respeito e a valorização da diversidade requerem a ser destinado à investigação, ao internacionais de cooperação
integração de estratégias multiculturais (o reconhecimento de pessoas desenvolvimento e à inovação no g. Existência de políticas e de cultural respeitantes à vida
com narrativas culturais diferentes que vivem num mesmo território) e setor cultural. cultural local, que prestam uma
programas para a proteção
interculturais (as práticas culturais que permitem criar relações entre
e promoção da diversidade especial atenção à proteção e à
as pessoas). A participação ativa na criação e na produção cultural
permite criar e recriar as comunidades nas quais uma pessoa pode c. A administração local apoia linguística, especificamente promoção da diversidade cultural.
reconhecer-se livremente. A realidade dos povos e das comunidades a existência e a facilidade no no que se refere às línguas de
nativas, das minorias e das comunidades emergentes de processos acesso a diferentes instalações, minorias e minoritárias.
migratórios deverá ser alvo de uma atenção especial.
espaços e locais dedicados à
Finalmente, a procura da excelência costuma ser considerada um formação, criação e produção h. Existência de políticas de apoio
dos objetivos, explícitos ou implícitos, de qualquer política cultural, da da cultura, como por exemplo, às artes, tendo em atenção a
qual derivam projetos que prioritizam a “visibilidade” da excelência

Patrimônio,
incubadoras de projetos, fábricas existência de diferentes disciplinas.
cultural, muitas vezes contundentes e efetivos, embora possuam
e laboratórios de arte, etc.
uma base social escassa ou nula; paralelamente, encontramos
i. Existência de políticas relativas à

diversidade,
muitos projetos culturais, geralmente pouco ou nada visíveis, mas
com cujo enraizamento social é indiscutível, no que atualmente proteção do património cultural,
costuma ser designado por “cultura de proximidade”. Os artistas e os em todas as suas dimensões, quer

e creatividad
profissionais da cultura têm um papel primordial na sustentabilidade:
tangíveis, quer intangíveis.
os seus trabalhos exploram os limites do conhecido e criam novos
significados. Criar as condições para construir a excelência a partir de
um novo diálogo entre proximidade e visibilidade é indispensável para
a existência de políticas culturais sustentáveis.
20 CULTURA 21: AÇÕES I C. COMPROMISSOS 21
3 Cultura e educação
Promoção da cidadania ativa através da construção

PORTUGUÊS
de capacidades culturais
Ações
O desenvolvimento cultural deve ser entendido como um processo
para ampliar as oportunidades de expressão e de acesso ao
conhecimento, estando estreitamente ligado à educação e à
aprendizagem permanente. Toda a transmissão de sabedoria
e desenvolvimento de conhecimento através da investigação, a. As estratégias educativas e. Existência de processos para a h. Todas as escolas, em todos os
da comparação e da experimentação constitui um ato cultural. e de formação valorizam partilha de informação respeitante níveis de ensino, proporcionam
Com efeito, a educação e a formação contínua fazem parte dos
adequadamente os recursos ao acesso a atividades culturais uma educação artística, na qual se
direitos culturais. As cidades, enquanto espaços de aprendizagem,
proporcionam um ambiente excelente para explorar as sinergias
culturais locais. e a oportunidades de educação incluem designadamente música,
entre os recursos culturais e a educação. Estas sinergias podem cultural, como por exemplo, através artes visuais, artes cénicas, e
adotar diferentes formas: melhoria do acesso e da participação na b. A administração local adotou de portais em linha, centros de artes multimédia, entre outras
cultura, no quadro das escolas e dos centros de educação formal uma estratégia local que associa informação, etc. disciplinas; este tipo de educação
e informal, promoção da educação artística e das capacidades é acessível a todas as pessoas
a política educativa à política
criativas e tecnológicas, atividades educativas e de mediação
cultural desenvolvidas por artistas e instituições culturais.
cultural. f. O currículo dos alunos do ensino independentemente da idade, do
primário e secundário inclui a nível socioeconómico e do contexto
As políticas nesta área devem considerar a educação, quer formal, c. Existência de uma plataforma ou aquisição de aptidões culturais cultural.
quer não formal, incluir oportunidades de aprendizagem para todas rede local que associa os agentes e de conhecimento respeitantes
as faixas etárias e promover o intercâmbio e as relações necessárias
públicos e privados no campo ao diálogo intercultural e ao i. É disponibilizada localmente
entre os conhecimentos instituídos e os conhecimentos surgidos
da cultura, da educação e da reconhecimento do valor da formação em gestão cultural e
dos usos quotidianos, contribuindo desta maneira para a inovação
social. A valorização da diversidade dos nossos conhecimentos formação continuada. diversidade, da criatividade, do em políticas culturais, no âmbito
permite reconhecer a riqueza cultural dos nossos espaços vitais. património, tangível e intangível, e da qual é atribuído especial relevo
Além dos ambientes tradicionais da educação (tais como escolas d. As instituições culturais que de ferramentas digitais. a uma abordagem abrangente
e universidades), também os agentes da sociedade civil podem dos fatores culturais do
recebem apoios públicos
desempenhar uma função importante no desenvolvimento da
proporcionam atividades g. As escolas e os centros educativos, desenvolvimento humano.
diversidade de conhecimentos e de competências que promovem
o espírito crítico dos habitantes. A adoção de uma diversidade de educativas em ambientes formais as associações e os agentes
pedagogias e a formação adequada dos agentes da educação e informais, e dedicam às económicos participam em j. Os direitos culturais, da mesma
relativamente à dita diversidade constituem igualmente referidas atividades uma parte atividades de criação cultural, de forma que os direitos humanos
fatores essenciais. Os desenvolvimentos tecnológicos também significativa do seu orçamento. distribuição e de mediação, que em geral, estão abrangidos
desempenham um papel importante, pois permitem apreender incluem desde residências para por programas educativos e
os desafios educacionais desde uma perspetiva coerente com a
artistas a projetos mais abrangentes, são incluídos nas atividades de
democracia cultural. Há que considerar ainda as sinergias entre as
designadamente como a formação formação no setor cultural.
estratégias de emprego em todos os setores culturais, através da
geração de oportunidades de formação para os estudantes, de uma para a criatividade.
ampla oferta de cursos de capacitação para profissionais e de redes
para a troca de conhecimentos.

Projetar a cidade para o futuro implica necessariamente a integração

Cultura e
de todos os novos cidadãos e cidadãs (na infância e adolescência)
no desenvolvimento da cultura. As crianças e os jovens têm direito
a serem tratados como sujeitos competentes e sensíveis, e não

educação
como simples consumidores. Os processos educativos de hoje
são o resultado da nossa cultura e permitem, ao mesmo tempo,
a construção da cultura de amanhã. Nestes processos, as cidades
constituem-se como agentes primordiais para o reconhecimento e
para a capacitação dos sujeitos que formam a comunidade educativa
22 de um território. CULTURA 21: AÇÕES I C. COMPROMISSOS 23
4 Cultura e ambiente
Os fatores culturais enquanto dinamizadores

PORTUGUÊS
da responsabilidade ambiental
Ações
Reconhecer a importância da cultura para o desenvolvimento
sustentável conduz à exploração das relações entre os aspetos
culturais e ambientais. Os aspetos culturais influenciam a nossa
compreensão do ambiente e o nosso relacionamento com este
a um nível mais profundo. A preocupação com o bem-estar das a. Os fatores culturais, como, d. A história e a cultura fazem h. A administração local reconhece a
gerações futuras já integra expressamente o ambiente e, agora, designadamente o conhecimento, parte integrante das diretrizes importância cultural dos espaços
deve também passar a integrar a cultura.
as tradições e as práticas de orientadoras, a respeito da naturais através de programas
Através das suas práticas culturais, dos valores e das visões do todas as pessoas e comunidades, promoção da produção sustentável e específicos.
mundo, os habitantes de um território alteram os ecossistemas. fazem parte integrante do consumo de produtos locais.
Os espaços “naturais” e os recursos biológicos são utilizados das estratégias locais de i. As organizações culturais que
em atividades humanas, das quais dependem amiúde e sem
sustentabilidade ambiental. e. A gastronomia baseada na utilização recebem apoios públicos avaliam
as quais poderiam desaparecer (por exemplo, o património
de produtos locais é considerada o respetivo impacto ambiental
biológico agrícola). Tais espaços e recursos transmitem ainda
cultura, na medida em que nos remetem para a nossa história, b. As políticas culturais locais um elemento constitutivo da cultura e desenvolvem atividades de
para conhecimentos práticos e para a nossa identidade (por reconhecem explicitamente local. ampliação da consciência
exemplo, património gastronómico), convocam valores estéticos as relações entre a cultura e a ecológica.
(paisagens urbanas ou rurais) ou condicionam a nossa capacidade sustentabilidade ambiental (v.g. f. A administração local desenvolve
de resposta perante as mudanças (resiliência). Os conhecimentos
dos habitantes a respeito dos seus ecossistemas possuem um
preocupações com mudanças iniciativas para promover e j. Existência de plataformas de
climáticas, resiliência, prevenção fomentar iniciativas para a utilização associação entre os agentes
valor imenso. Ao longo dos séculos, as suas práticas deram forma
a paisagens urbanas e rurais. Estes conhecimentos tradicionais de riscos, utilização sustentável sustentável dos espaços públicos públicos e as organizações da
devem ser reconhecidos e utilizados para se alcançar uma de recursos, e o aumento da pelos cidadãos, especialmente as sociedade civil que desenvolvem a
melhor compreensão dos equilíbrios e das interações ecológicos consciencialização acerca que se relacionam com as novas sua atividade nas áreas da cultura
e culturais dos territórios. Estes conhecimentos devem interagir da riqueza e fragilidade dos formas de jardinagem, e outros e do ambiente.
com o conhecimento académico, nomeadamente no contexto
ecossistemas). exemplos de inovação socio-
de projetos territoriais que possam ter um efeito no equilíbrio
ecológico dos territórios. O desenvolvimento e a difusão destas
ecológica.
informações constituem atos culturais essenciais para a c. Existência de um grupo de
implementação do pensamento ecológico e dos valores inerentes trabalho ou uma equipa g. A administração local estabelece
ao desenvolvimento sustentável. A natureza e a cultura evoluíram operacional que articula a programas para preservar e divulgar
de maneira interdependente e formam um equilíbrio em mudança atividade dos departamentos da os conhecimentos e as práticas
constante. Contudo, a diversidade cultural e a diversidade biológica
administração local encarregados tradicionais que contribuem para
estão estreitamente interligadas.
da cultura e do ambiente. uma utilização sustentável dos
Os governos locais são agentes fulcrais para garantir que é recursos naturais.
prestada a atenção devida à questão das alterações climáticas
e para desenvolver os conhecimentos e as capacidades dos
habitantes perante este desafio global. Além disso, os governos
locais podem favorecer o acesso aos recursos necessários

Cultura e
para o desenvolvimento de formas de produção de alimentos
ecológicas e saudáveis. Outra questão de interesse diz respeito ao
impacto ambiental das infraestruturas e das atividades culturais

meio ambiente
(tais como eventos ou equipamentos), que devem assumir
a sua responsabilidade nesse campo. Os agentes culturais
também podem contribuir para consciencializar as pessoas
para preocupações ambientais e para promover um uso mais
sustentável dos recursos naturais.
24 CULTURA 21: AÇÕES I C. COMPROMISSOS 25
5 Cultura e economia
Toda a economia sustentável requer

PORTUGUÊS
responsabilidade cultural
Ações
Para ser sustentável, a economia deve analisar os valores que a
inspiram e considerar os recursos culturais do ambiente no qual
se desenvolve. A harmonização da economia com os recursos
locais é a fonte da sua legitimidade e do seu dinamismo.
a. As estratégias de desenvolvimento d. Existência de informação e de i. Existência de um reconhecimento
As atividades culturais são um fator importante do desenvolvimento
local tomam em consideração a formação relativamente a direitos do valor da manutenção do
económico integral e sustentável. Permitem renovar e criar novas
atividades económicas, promovem o empreendedorismo, o acesso economia cultural e trabalham em de autor, a modelos de produção comércio tradicional e das
ao emprego e a inserção social, constituem um fator importante de conjunto com aqueles que nela partilhada e a novos sistemas de artes artesanais (incluindo o
atração para os territórios e favorecem o desenvolvimento turístico. participam para garantirem que a distribuição. desenvolvimento da inovação,
De igual modo, os modelos económicos que prioritizaram objetivos economia cultural se transforma quando necessário e/ou aplicável).
estritamente associados ao curto prazo e ao benefício económico
num setor económico chave da e. Os programas de empregabilidade
rápido, em detrimento da sustentabilidade no longo prazo, levaram
à exploração abusiva ou ao menosprezo dos recursos culturais
cidade ou região. abrangem os conhecimentos e as j. O modelo local de turismo é
locais, ou ainda à perda de identificação entre os habitantes e o capacidades culturais. sustentável, bem distribuído
território. A utilização sustentável dos recursos culturais deve ser b. Os contributos para a economia geograficamente pela região, está
respeitadora da sua essência e dos seus valores, e deveria contribuir local provenientes dos setores f. Existência de diversos mecanismos associado às comunidades locais
para o desenvolvimento, tanto cultural, como económico. As práticas culturais público, privado e civil de financiamento para projetos e interage com os ecossistemas
baseadas na contribuição, na reciprocidade, na troca e na doação
são analisados regularmente, culturais com fins lucrativos, como culturais.
devem ser tomadas em consideração no desenvolvimento de modelos
designadamente no que respeita microcréditos, capital de risco, e
económicos conscientes da dimensão cultural do desenvolvimento.
ao seu impacto direto e indireto na programas de patrocínio. k. Os programas empresariais
As formas de organização económica baseiam-se em determinados criação de riqueza e de emprego. de responsabilidade social
valores e opções culturais. A articulação entre a ação dos vários
g. A administração local promove explicitamente incluem projetos no
agentes, da economia pública, da economia de mercado e da
economia dos bens comuns, bem como a introdução de formas de
c. As condições contratuais e programas económicos públicos e/ou âmbito da cultura e interagem com
reciprocidade entre os agentes, constituem considerações essenciais salariais das pessoas que mistos que promovem o aumento das os valores culturais da população e
para atingir um desenvolvimento económico centrado nas pessoas e trabalham no setor cultural contribuições e/ou do envolvimento da cultura local.
no equilíbrio dos ecossistemas. O ecossistema cultural não pode ser são garantidas pela legislação, de voluntários em benefício de
considerado um mero apêndice da economia; pelo contrário, constitui onde se inclui igualmente o projetos culturais. l. As organizações empresariais
a base da própria economia. Portanto, o ecossistema cultural deve
reconhecimento de direitos de locais, como as câmaras de
ser considerado nas suas associações e relacionamentos com outras
dimensões do desenvolvimento sustentável.
autor e de outros direitos conexos. h. Existência de formas de associação comércio, tem políticas e
entre as pessoas com atividade programas especificamente
Tal como em qualquer atividade produtiva, devem ser devidamente nos setores económico e cultural, culturais.
consideradas questões como o reconhecimento económico adequado
por exemplo através de estágios,
dos artistas e dos profissionais da cultura, o acesso às obras, a
ou outros sistemas de inovação e
responsabilidade corporativa das empresas e a existência de uma
variedade suficiente de mecanismos de apoio aos projetos culturais. transferência de conhecimento.

Considerando as contribuições positivas geradas pelos agentes

Cultura e
culturais, um ecossistema cultural sustentável deve incluir o
reinvestimento dos recursos no tecido cultural local, prestando

economia
especial atenção às iniciativas culturais mais vulneráveis e
menos visíveis, mas nem por isso menos importantes (tais como
centros de educação artística, organizações de base, expressões
minoritárias ou mediação cultural).

26 CULTURA 21: AÇÕES I C. COMPROMISSOS 27

6
Cultura, equidade e inclusão social
Os fatores culturais contribuem para o

PORTUGUÊS
desenvolvimento de novos vínculos sociais
Ações
Os processos culturais e criativos têm um impacto considerável
no bem-estar pessoal, na saúde e na autoestima das pessoas.
Permitem que os indivíduos e os grupos humanos explorem a sua
própria história e as suas narrativas de identificação, favorecem
o desenvolvimento de novos sentidos e significados para as a. As políticas sociais nas áreas da e. A administração local dedica uma j. Existência de programas de
suas vidas, e ampliam as liberdades. Os processos culturais são saúde, do emprego, da segurança parte do seu orçamento e dos recursos inovação cultural para os jovens,
fulcrais para evitar a exclusão e o abandono das pessoas. social e da inclusão integram públicos a promover ativamente que incluem aspetos relativos à
explicitamente a cultura como uma a participação das mulheres em inclusão social, às linguagens
A participação ativa na vida cultural é uma das chaves da inclusão
social: proporciona motivação e capacidades para uma maior dimensão que permite combater a atividades e organizações culturais, culturais, aos ambientes digitais, e
participação cívica, torna visíveis as expressões minoritárias, discriminação, seja de que tipo for. que visam, em especial, as pessoas à igualdade de género.
cria um maior potencial de reconhecimento mútuo e de com perfis mais destacados ou em
cooperação entre diferentes grupos no diálogo intergeracional ou b. Existência de uma análise regular cargos superiores e visa, igualmente, k. Existência de uma plataforma
intercultural, aumenta as oportunidades de emprego, e melhora dos fatores que determinam valorizar, promover e aumentar a local ou uma rede de associações,
a segurança e a imagem de um território, entre outros. A cultura visibilidade e o prestígio das atividades
a vulnerabilidade cultural de cooperativas ou organizações de
é um meio importante para criar novos pontos de encontro e para
determinados indivíduos e/ou culturais que, predominantemente, já economia social que desenvolvem
desenvolver novos sentidos coletivos. Também pode contribuir
grupos, no quadro dos processos são realizadas por mulheres. atividades respeitantes à relação
para a resolução de conflitos e para o fortalecimento do tecido
social e da resiliência dos grupos e das comunidades. que envolvem diretamente estes entre a cultura, a igualdade e a
grupos ou indivíduos. f. As instituições culturais que recebem inclusão social.
Os fatores culturais podem promover ou entravar o acesso a apoios públicos desenvolvem
alguns serviços públicos (tais como saúde, educação, inclusão
c. Existência de uma análise regular programas que incluem os grupos l. As organizações da sociedade civil
social ou emprego); neste sentido, os responsáveis políticos
da relação entre o bem-estar mais desfavorecidos, os quais são desenvolvem campanhas para
e os funcionários dos serviços públicos devem esforçar-se
pessoal, a saúde e a existência de realizados em bairros com elevados aumentar a consciencialização
para identificar e enfrentar qualquer tipo de discriminação
na prestação e no acesso aos serviços públicos, por exemplo, práticas culturais ativas. níveis de pobreza e de exclusão social. para questões tais como a
discriminação em razão do género ou étnica. As políticas e os promoção da diversidade
programas contra a discriminação devem procurar estabelecer d. Existência de programas para g. Foram tomadas medidas para garantia cultural, o diálogo intercultural
associações entre as questões culturais e todas as restantes aumentar os conhecimentos e de que as instalações e os espaços e o antirracismo, com o apoio
áreas de ação política. Os processos nestas áreas costumam culturais são acessíveis a todos, das instituições públicas e das
as capacidades dos profissionais
requerer um compromisso a longo prazo e metodologias abertas
dos serviços e das organizações incluindo as pessoas com deficiências. organizações culturais.
e participativas.
sociais que lhes permitem
Embora com o objetivo de ampliar as oportunidades de aperfeiçoar a capacidade de h. As estratégias locais de resolução de

Cultura,
participação para todos e de promover os espaços comuns para o identificar e enfrentar os fatores conflitos tomam em consideração e
reconhecimento mútuo, é necessário prestar atenção à liberdade culturais que impedem as reconhecem o potencial dos fatores
de escolha de cada pessoa (incluindo a hipótese de alguém

equidade
pessoas de aceder aos serviços culturais.
preferir não participar em atividades culturais), como condição
públicos.
necessária para o exercício da cidadania e como complemento do
i. Existência de programas

e inclusão
reconhecimento do direito à diferença.
para promover a cooperação
intergeracional.

social
28 CULTURA 21: AÇÕES I C. COMPROMISSOS 29
7 Cultura, ordenamento
urbano e espaço público

PORTUGUÊS
Planear a cidade e o território com
consciência e sentido cultural Ações
O território é o resultado da interação entre o ambiente e as
atividades humanas. Ao receber a marca da ocupação humana
e da sua visão do mundo, o território transforma-se num veículo
para a transmissão da história, de sentido e de significado às
populações que o habitam. Por esta razão, o território encerra a. Os planos urbanísticos locais e e. As novas infraestruturas culturais k. As políticas de transportes urbanos
uma dimensão cultural que se manifesta, designadamente, os planos locais de ordenamento são concebidas enquanto partes de e de mobilidade tomam em
nas práticas e nos hábitos de cidadania, no património, do território reconhecem um ecossistema cultural mais vasto consideração o acesso dos cidadãos
na arquitetura, no design, na arte pública, na paisagem, expressamente a importância das e os respetivos impactos potenciais à vida cultural, sendo prestada uma
no relacionamento com o meio natural e no ordenamento
questões e dos recursos culturais. são tomados em consideração. especial atenção às pessoas que
do espaço. Os fatores culturais são meios poderosos para
residem na periferia da cidade, às
construir ambientes vitais nos quais a cidadania se reconhece,
se identifica e pode livremente realizar os seus projetos de vida. b. Existência de um guia de f. As políticas da administração pessoas com bebés e crianças e
A cultura é uma dimensão básica para reimaginar o mundo. referência sobre “avaliações do local recorrem explicitamente ao às pessoas com outros obstáculos
impacto cultural” para utilização conceito de “paisagem”, que integra particulares no acesso à cultura.
O ordenamento urbano e os espaços públicos constituem
quotidiana nas políticas os aspetos naturais e os aspetos
elementos basilares da transição para a sustentabilidade
urbanísticas e existência de um culturais do desenvolvimento. l. A administração local desenvolve
das cidades e das regiões. O planeamento urbano que não
programa de formação para políticas e programas que
considera explicitamente os fatores culturais tem efeitos
negativos na preservação do património, e torna-se num apoiar a respetiva utilização. g. A administração local reconhece que promovem a participação ativa das
obstáculo para a memória, a criatividade e a coexistência, os espaços públicos, como as ruas, pessoas no planeamento urbano
promove a homogeneização e limita as oportunidades de c. A administração local mantém as praças e outras áreas na cidade e no desenvolvimento regional,
aceder e participar na vida cultural. Resumindo, o ordenamento um inventário do património constituem recursos chave para a designadamente no que respeita
urbano deve incluir, nos nossos dias, uma avaliação do impacto natural e cultural da cidade e/ou interação e participação culturais. ao urbanismo, arquitetura e à arte
cultural, tal como passou a incorporar, no século XX, os estudos pública.
da região, tangível e intangível, e,
de impacto ambiental.
consequentemente estabeleceu h. Existência de um repertório
Outras sinergias entre a cultura, o ordenamento urbano e os mecanismos para a respetiva de espaços públicos que, em
espaços públicos incluem (a) a necessidade de projetos de preservação e conservação, razão do seu simbolismo, são
desenvolvimento, urbano ou territorial, adaptados ao seu de acordo com padrões de considerados bens públicos.
contexto cultural (por exemplo, utilizando o conhecimento local referência internacionais.
e as técnicas tradicionais de construção, sempre que aplicáveis,
i. Existência de programas

Cultura,
em vez de importar modelos alheios) e que proporcionem
personalidade e singularidade à cidade; (b) o reconhecimento
d. A administração local adota para promover e gerir o
do potencial das infraestruturas e atividades culturais,
medidas para promover o papel desenvolvimento e a conservação

planeamento
desde que planeadas adequadamente, para contribuir para da cultura na renovação dos de obras de arte públicas.
a regeneração urbana; (c) o equilíbrio entre os centros das centros históricos e nos planos
j.

urbano
cidades e a descentralização dos bairros, bem como entre os para o desenvolvimento de Existência de orientações e
equipamentos de maior e menor dimensão, no planeamento bairros, de freguesias e regiões. diretrizes arquitetónicas aplicáveis
dos recursos e das oportunidades culturais; e (d) a participação
à renovação dos edifícios

e espaço
dos habitantes e dos diversos agentes do território a partir das
existentes e ao planeamento de
primeiras etapas do planeamento urbano e territorial.
edifícios novos e que defendem

público
a utilização de técnicas de
construção tradicionais.

30 CULTURA 21: AÇÕES I C. COMPROMISSOS 31

8
Cultura, informação e conhecimento
As tecnologias contribuem para a pluralidade e para a

PORTUGUÊS
construção da cidadania
Ações
Aumentar as oportunidades de acesso à informação e à
participação na geração de conhecimento é um processo de ordem
cultural que faz parte das condições básicas do desenvolvimento
sustentável. Historicamente, a livre transmissão de conhecimento
sempre permitiu a evolução cultural das sociedades: as criações a. A legislação garante a liberdade e. Existência de sistemas de j. Existência de atividades formativas
de cada época baseiam-se nos conhecimentos e nas criações de expressão, incluindo a de associação entre as universidades, ou de sensibilização para
de períodos anteriores. Uma acessibilidade maior e mais expressão artística, a liberdade a administração e a sociedade aumentar a consciencialização
ampla aos dados, a informação de qualidade e a participação de opinião, a liberdade de civil para monitorizar, investigar dos profissionais da cultura no que
dos habitantes na sua criação, análise, produção e difusão
informação, o respeito pela e analisar os desenvolvimentos respeita às implicações sociais,
permitem uma distribuição mais transparente dos recursos e
diversidade cultural e o direito à culturais e a respetiva interação com económicas e culturais, das
uma efetiva apropriação dos processos de desenvolvimento pelos
cidadãos. Além disso, num contexto cada vez mais marcado pela
privacidade. outras áreas do desenvolvimento formas existentes e emergentes
tecnologia, a inovação e a conetividade, estes recursos poderão sustentável. de acesso e reprodução cultural,
favorecer uma mudança positiva na comunidade, respondendo às b. Existência de mecanismos tais como copyright, copyleft, e
problemáticas locais e às aspirações dos habitantes. públicos e da sociedade civil para f. Os obstáculos ao acesso e à software livre.
monitorizar estas liberdades. utilização das tecnologias de
É preciso renovar os esforços, designadamente no âmbito das
instituições públicas, para que o acesso à informação, tornado
informação e de comunicação com k. Existência de programas e de
possível pela tecnologia digital, não constitua uma causa de c. Existência de políticas que objetivos culturais são analisados políticas que permitem que as
violação do direito ao respeito pela vida privada. garantem o acesso à informação regularmente. pessoas com atividade no setor
livre e plural, bem como de cultural participem em redes
As organizações que trabalham com a informação e o
medidas para garantir que g. A relação entre os processos internacionais de cooperação.
conhecimento, tais como bibliotecas, arquivos, museus,
a informação é veiculada de culturais de base e a inovação social
organizações da sociedade civil ou da comunicação social, podem
proporcionar informação sobre os direitos culturais e os serviços
forma a promover o direito à é analisada regularmente.
públicos. Esta informação é determinante para conferir poder às participação dos cidadãos na vida
pessoas e às comunidades locais. Estas organizações podem, cultural. h. Existência de políticas e de
igualmente, criar relacionamentos entre os agentes e facilitar o programas direcionados para a
intercâmbio de práticas; contribuir para preservar e garantir o d. Os meios locais de comunicação criação, produção e distribuição
acesso contínuo ao património cultural; criar fóruns e debates
social refletem a pluralidade digitais, os quais são centrados nos
públicos; e oferecer meios aos cidadãos para estes acederem
de opiniões, atribuem espaço e cidadãos e promovem a democracia
à informação, para a compreenderem e, portanto, para dela se
relevo à opinião das mulheres e cultural.
apropriarem.
descrevem a diversidade cultural
Acresce que as políticas urbanas devem considerar as mudanças local e internacional. i. As instituições culturais que recebem
recentes na criação, na produção, no acesso, na circulação e na apoios públicos participam em
troca de informações, bem como as mudanças verificadas nas

Cultura,
debates a respeito da informação e
indústrias culturais e criativas, além da forma como todas essas
do conhecimento e proporcionam um
alterações podem ser adaptadas ao contexto e às capacidades
apoio consistente para a valorização

informação e
dos agentes locais. Atualmente, o espaço público da cultura
integra igualmente uma dimensão virtual: a Internet. Todos da cultura enquanto bem comum.
estes fatores significam uma melhoria das oportunidades de

conhecimento
inter-relacionamento internacional, designadamente através do
trabalho em rede, on-line, tal como presencial.

32 CULTURA 21: AÇÕES I C. COMPROMISSOS 33

9 Governança da cultura
Para uma governança equilibrada e

PORTUGUÊS
partilhada das políticas culturais locais
Ações
No conceito de governança incluem-se as componentes de “bom
governo” e de “governo partilhado”, que podem ser expressas em
três dimensões: a governança multiagentes (setor público, setor
privado e sociedade civil), a governança transversal ou horizontal
(diferentes âmbitos da ação pública) e a governança multinível ou a. A administração local implementa e. As instituições culturais que j. Existência de medidas, como
vertical (diferentes níveis de governo). uma política cultural baseada na recebem apoios públicos são por exemplo programas de
Agenda 21 para a Cultura e na transparentes, responsáveis e formação no âmbito da cultura,
A integração transversal dos fatores culturais nas estratégias
Cultura 21: Ações, associando responsabilizadas e avaliam os que contribuem para reforçar
locais de desenvolvimento sustentável, pela qual é reconhecida
a natureza comum da cultura e o seu lugar central na as iniciativas públicas, civis e serviços públicos que prestam; os as capacidades das ONGs,
construção de espaços comuns de reconhecimento, experiência privadas para a realização de cidadãos estão representados nos das associações comerciais,
e aprendizagem, deve basear-se na responsabilidade partilhada projetos conjuntos. seus órgãos. dos sindicatos e de outras
entre todos os agentes envolvidos (governança multiagentes). organizações da sociedade civil
Além dos governos locais, os agentes da sociedade civil, as b. A administração local promove o f. Os programas e as instituições que contribuem para a vida
organizações privadas e os cidadãos individuais devem ser cultural.
planeamento cultural ao nível dos culturais que recebem apoios
reconhecidos enquanto agentes chave nos debates públicos, na
bairros e das freguesias. públicos desenvolvem e aplicam na
determinação de prioridades, na elaboração de políticas e na
gestão e avaliação de programas. Embora o governo local seja o
prática a igualdade de géneros. k. Existência de enquadramentos
responsável, em geral, pelo desenvolvimento sustentável e pela c. A administração local cria que alocam responsabilidades
criação de um ambiente favorável para a participação na cultura, fóruns públicos com o objetivo g. As políticas e os programas e que fomentam a colaboração
este deverá igualmente ser capaz de assumir outro tipo de funções de orientar a política cultural funcionam de forma a apoiar a respeitante a políticas culturais
(como líder, financiador, facilitador, observador), de identificar os local, designadamente através participação dos cidadãos na gestão entre os governos local, regional,
obstáculos na cooperação e de promover as sinergias entre os de conselhos locais da cultura, das instituições, programas e e nacional.
diferentes agentes. A institucionalização exagerada desequilibra
que incorporam participações eventos culturais.
o ecossistema cultural, tal como sucede com a privatização.
públicas, privadas e da sociedade
O direito de participar na vida cultural implica a consideração das civil. h. A administração local reconhece
dimensões culturais de todas as políticas. A governança local da e apoia as práticas de gestão
cultura deve incluir oportunidades para um mapeamento cultural d. Os projetos públicos geram representativas da cultura local
plural (ou seja, a participação na identificação dos recursos e
fóruns permanentes para e desenvolve práticas de gestão
das relações culturais pertinentes), o planeamento estratégico
a consulta, negociação e específicas e adequadas à gestão de
(ou seja, a definição de prioridades e o planeamento de ações
regulação de objetivos e bens comuns.
chave) e a avaliação. Uma governança equilibrada promove o
estabelecimento de instâncias participativas públicas (tais como
métodos, com a participação de
os conselhos locais da cultura) e independentes (criadas a partir todas as partes envolvidas, que i. Existência de uma plataforma
da sociedade civil). deverão caracterizar-se pela independente da sociedade civil, ou
clarividência e pelas dinâmicas da de uma rede de organizações da
A governança da cultura repousa igualmente na existência de
reflexibilidade. sociedade civil, que inclui cidadãos e
mecanismos de coordenação transversal entre os diferentes

Governança
profissionais de todos os setores da
departamentos com responsabilidades no que diz respeito à
cultura e em quadros de governança multinível que facilitam a cultura.
coordenação entre os governos local, regional (se for o caso) e

da cultura
nacional.

34 CULTURA 21: AÇÕES I C. COMPROMISSOS 35

COMO UTILIZAR

PORTUGUÊS
ESTE DOCUMENTO?
Aplicação local
“Cultura 21: Ações” pode ser utilizado livremente por todos os governos locais que assim entenderem.

“Cultura 21: Ações” pretende ser um documento útil para todo o governo local (isto é, não apenas
para os departamentos de cultura). A nossa ambição foi condensar num único documento, prático
e fácil de utilizar, tudo o que sabemos atualmente acerca da relação entre a cidadania, a cultura e
o desenvolvimento sustentável. Trata-se de uma questão emergente, ainda não consolidada, mas
necessária para responder aos desafios perante os quais a humanidade se encontra no século XXI.
Neste âmbito, os governos locais são agentes fundamentais.

Esperamos que este documento ajude os presidentes das câmaras e os representantes dos governos
e administrações locais a fortalecerem a dimensão cultural do desenvolvimento local, inspirando
também todos os funcionários a considerarem os fatores culturais do desenvolvimento sustentável.

Desejamos ainda que este documento possa igualmente ser utilizado por todos os agentes urbanos
que realizam ações no quadro da cultura, da cidadania e do desenvolvimento sustentável.

A aplicação local deste documento deverá considerar a existência de diferentes níveis de governo
e diferentes modelos de distribuição de competências públicas. Tentámos delimitar algumas
responsabilidades na formulação das ações. Por exemplo, muitas dizem respeito especificamente aos
governos locais, outras aos agentes da sociedade civil e outras ainda aos agentes privados; finalmente,
diversas ações foram formuladas em termos mais genéricos, sem delimitar o sujeito da ação, pois
entendemos que, nestes casos, as responsabilidades poderão ser partilhadas por vários agentes.

Autoavaliação
O capítulo dedicado aos “Compromissos” deve permitir que os governos locais interessados realizem
uma autoavaliação do seu contexto, centrada nas políticas e nos programas em curso. A autoavaliação
visa aumentar o conhecimento, a conetividade e a capacidade operacional dos agentes urbanos (quer
façam parte do âmbito profissional da cultura, ou não) que trabalham na relação entre a cidadania, a
cultura e o desenvolvimento sustentável. Desejamos que este quadro de autoavaliação constitua um
recurso útil para os debates locais.

Incentivamos os governos locais a introduzirem a aplicação deste quadro nas respetivas cidades,
através de processos abertos, participativos e orientados para ações concretas. A autoavaliação baseia-
se nos “Compromissos”, nas suas nove secções temáticas e nas respetivas ações. Os participantes na
autoavaliação deverão estimar o nível de cumprimento de cada ação, atribuindo pontos e contribuindo
com comentários. Após realizar a autoavaliação, cada governo local poderá construir uma representação
das situações encontradas, colocando-as num gráfico em forma de estrela (ver abaixo) que avalia os
pontos fortes e fracos num ano determinado. Isto permitirá uma análise comparativa temporária (na
mesma cidade) e a troca de experiências e de ensinamentos com outras cidades.

CULTURA 21: AÇÕES I D. COMO USAR ESTE DOCUMENTO? 37

 AUTOAVALIAÇÃO DAS POLÍTICAS:
CIDADE 1 E MÉDIA DAS OBSERVAÇÕES

PORTUGUÊS
O trabalho em rede basear-se-á no apoio técnico para a autoavaliação, nos intercâmbios através
DIREITOS da aprendizagem entre pares (peer learning), na formulação de boas práticas e na identificação das
CULTURAIS cidades líderes numa determinada temática.

“Cultura 21: Ações” pretende promover a troca de experiências entre os governos locais de todo o
GOVERNANÇA DA PATRIMÔNIO,
mundo, bem como a sua estreita colaboração numa “comunidade de práticas” internacional.
CULTURA DIVERSIDADE E
CRIATIVIDADE
100 A Comissão da Cultura da CGLU organizará, de dois em dois anos, uma Cimeira da Cultura para
90
80
promover o relacionamento entre os agentes, potenciar o intercâmbio, atualizar a agenda e comunicar
70 publicamente o desenvolvimento do trabalho em rede.
60
50

CULTURA, INFORMAÇÃO
40
CULTURA E
Agenda de Desenvolvimento pós-2015 das Nações Unidas
30
E CONHECIMENTO 20 EDUCAÇÃO
10 A Assembleia Geral das Nações Unidas irá aprovar, em setembro de 2015, uma Agenda de
0
Desenvolvimento Universal baseada nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), que
deverá servir como referência para todos os países do mundo, para melhorar a qualidade de vida
dos seus habitantes, seja qual for a sua realidade atual e o seu grau de desenvolvimento. Assim,
esta agenda deverá promover uma compreensão compartilhada do desenvolvimento a nível mundial.
Os ODS deverão ser, portanto, universais, transformadores e ambiciosos. Embora os ODS pós-2015
CULTURA, CULTURA E
não incluam um objetivo especificamente dedicado às questões culturais (o que lamentamos), parece
ORDENAMENTO URBANO AMBIENTE
E ESPAÇAO PÚBLICO provável que diversas metas ou indicadores dos ODS incluam uma menção explícita a questões e
processos de ordem cultural. Esta situação teria um efeito significativo no papel da cultura na
globalização e nas políticas culturais locais.
CULTURA, EQUIDADE CULTURA E Em relação direta com os ODS, a agência ONU-Habitat está a preparar um novo quadro para a definição
E INCLUSÃO SOCIAL ECONOMIA
de políticas e programas que garantam uma urbanização sustentável. Este quadro será apresentado
na conferência Habitat III na cidade de Quito, em outubro de 2016.
CIDADE 1 Consideramos que o documento “Cultura 21: Ações” contribui para melhorar a compreensão acerca
MEDIA DAS OBSERVAÇÕES da integralidade da relação entre a cultura, a cidadania e o desenvolvimento sustentável, e convidamos
todos os agentes a utilizarem-no como documento central na implementação ao nível local dos ODS
(isto é, na “localização”) e dos resultados da Habitat III.

A Comissão da Cultura da Organização Mundial das Cidades e Governos Locais Unidos (CGLU) Governos nacionais
providenciará um documento de trabalho completo às cidades interessadas, com conselhos para
Consideramos que este documento poderá ser útil para a elaboração de planos nacionais de
realizar a autoavaliação: pontuação, indicadores e comentários.
desenvolvimento, de planos nacionais de políticas urbanas e de programas de apoio aos governos
Considerando a novidade deste documento, a Comissão da Cultura da CGLU recolherá críticas, locais e regionais. Estes planos devem ser concebidos em estreita cooperação com os governos locais,
sugestões e observações, após um determinado período de utilização deste guia, num processo de devendo os fatores culturais fazer parte deles, para garantir que a sua implementação contribui para
adaptação permanente. potenciar a democracia e a capacitação efetiva das pessoas.

Trabalho em rede internacional

Em consonância com os princípios e valores da CGLU, este documento visa fortalecer os cenários de
cooperação entre cidades, designadamente a cooperação para o desenvolvimento entre os governos
locais de diferentes regiões do planeta.

A Comissão da Cultura da CGLU irá propor às cidades interessadas um processo de trabalho em rede,
que inclui uma dimensão de aplicação local e outra de intercâmbio internacional. Ambas devem estar
estreitamente relacionadas para terem um impacto positivo e permitirem uma melhoria efetiva das
relações entre a cultura, a cidadania, as instituições, a sociedade civil e o desenvolvimento sustentável
no âmbito local.

38 CULTURA 21: AÇÕES I D. COMO USAR ESTE DOCUMENTO? 39

 ESTE DOCUMENTO CONTACTO

PORTUGUÊS
A Comissão da Cultura da associação mundial “Cidades e Governos Locais Unidos” (CGLU) é uma Comissão da Cultura da CGLU
plataforma mundial de cidades, organizações e redes vocacionada para a aprendizagem, cooperação
CGLU - Cidades e Governos Locais Unidos
e promoção de políticas e programas acerca do papel da cultura no desenvolvimento sustentável. No
período 2012-2015, a Comissão da Cultura da CGLU é presidida por Lille-Métropole, sendo copresidida
Carrer Avinyó, 15
por Buenos Aires, Montreal e México, sendo a vice-presidência ocupada por Angers, Barcelona e
08002 Barcelona
Milão. A Comissão da Cultura da CGLU está aberta à participação igualitária das cidades de todos os
continentes.
Email info@agenda21culture.net
“Cultura 21: Ações” foi redigido pela Comissão da Cultura da CGLU entre junho de 2013 e março de
Web www.agenda21culture.net
2015. A Comissão envolveu neste processo membros, parceiros e peritos de todos os continentes.
Twitter @agenda21culture
A elaboração do “Cultura 21: Ações” foi aprovada pelo Bureau Executivo da CGLU, reunido em Lyon
em junho de 2013. Os trabalhos formais de elaboração do documento foram iniciados no mesmo mês
de junho de 2013, na 10ª reunião da Comissão da Cultura da CGLU, realizada em Lille-Métropole, e
continuaram no seminário “Cultura, cidades, futuro” (1ª edição), realizado em setembro de 2013 em
Buenos Aires, e no Congresso Mundial da CGLU, realizado em outubro de 2013 em Rabat.

Um questionário sobre a Agenda 21 da Cultura, a Comissão da Cultura da CGLU e sobre os possíveis

conteúdos do “Cultura 21: Ações” foi lançado em março de 2014, tendo os resultados sido publicados
em julho do mesmo ano.

A Comissão da Cultura da CGLU, em novembro de 2013, incumbiu várias cidades e especialistas da

realização de diferentes artigos de análise, que foram publicados em junho de 2014.

De outubro de 2013 a novembro de 2014, foram realizados diferentes seminários para debate e difusão
dos conteúdos do documento “Cultura 21: Ações”: em Bruxelas (organizado pela rede europeia
“Investigar a Sustentabilidade Cultural”), em Novi Sad (organizado pelo governo regional da Voivodina,
Sérvia), em Santiago do Chile (Cimeira Mundial das Artes e da Cultura da IFACCA - FICAAC), em
Dakar (organizado pelo governo local), em Alma (organizado pela rede “les Arts et la Ville”), em Lyon
(organizado pelo governo local e pelo “European Lab”), em Milão (organizado pelo governo local,
no quadro do “Forum Città-Mondo”), em Hildesheim (organizado pelo ICCPR – Congresso Mundial
de Investigação em Política Cultural), em Montreal (organizado pelo governo local), em Newcastle
(organizado pela rede europeia “Culture Action Europe”), em Bilbao (organizado pelo governo local),
na Cidade do México (organizado pelo governo local, no quadro da cerimónia de entrega do Prémio
Internacional “CGLU – Cidade do México – Cultura 21”), em Tunis (organizado pelo Ministério da
Cultura e pela Comissão Alemã da UNESCO) e em Haikou (no quadro do Conselho Mundial da CGLU).

Além disso, entre junho e novembro de 2014, as cidades piloto de “Cultura 21: Ações” – Belo Horizonte,
Bogotá, Concepción, Gabrovo, Jeju, Cidade do México, Talca e Vaudreuil-Dorion – organizaram debates
locais sobre os conteúdos e a implantação futura do “Cultura 21: Ações”.

O projeto final do “Cultura 21: Ações” foi elaborado nos dias 1-2 de outubro de 2014 em Buenos Aires,
no seminário aberto “Cultura, cidades, futuro” (2ª edição) e na 11ª reunião oficial da Comissão da
Cultura da CGLU.

O documento “Cultura 21: Ações” foi aprovado pela Comissão da Cultura da CGLU em Bilbao, a 19 de
março de 2015, no quadro da “Cimeira da Cultura da CGLU: Cultura e Cidades Sustentáveis”.

A Comissão da Cultura da CGLU expressa o seu sincero agradecimento a todas as pessoas que
participaram neste processo.

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