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Wandenf, Art 12. 7511-65400-1-SM OPT Ok

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ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.

8074-70954-1-SM0907supl201512

Jesus Silva MM de, Leite EPRC, Nogueira DA et al. Ansiedade e depressão na gravidez: caracterização...

ARTIGO ORIGINAL
ANSIEDADE E DEPRESSÃO NA GRAVIDEZ: CARACTERIZAÇÃO DE GESTANTES
QUE REALIZARAM PRÉ-NATAL EM UNIDADES PÚBLICAS DE SAÚDE
ANXIETY AND DEPRESSION IN PREGNANCY: CHARACTERIZATION OF PREGNANT WOMEN
WHO RECEIVED PRENATAL CARE IN PUBLIC HEALTH UNITS
LA ANSIEDAD Y LA DEPRESIÓN EN EL EMBARAZO: LA CARACTERIZACIÓN DE LAS MUJERES
EMBARAZADAS QUE RECIBIERON ATENCIÓN PRENATAL EN LAS UNIDADES DE SALUD PÚBLICA
Mônica Maria de Jesus Silva1, Eliana Peres Rocha Carvalho Leite2, Denismar Alves Nogueira3, Maria José
Clapis4
RESUMO
Objetivos: avaliar a presença de ansiedade e depressão na gravidez e caracterizar o perfil das gestantes.
Método: estudo quantitativo, epidemiológico, descritivo, de corte transversal e correlacional realizado em
unidades públicas de saúde em um município do Sul de Minas Gerais, Brasil, com 209 gestantes. A coleta de
dados ocorreu de janeiro a maio de 2013 e utilizou-se a Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão e um
formulário de caracterização. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, protoloco 113.129.
Resultados: a ansiedade foi mais frequente que a depressão e as gestantes possuíam alguns fatores de risco
para a ocorrência desses transtornos na gravidez como baixa/média escolaridade, baixa renda familiar
mensal, histórico de complicações em gestações anteriores e gravidez não planejada. Conclusão: iniciativas
preventivas à ocorrência da ansiedade e da depressão na gravidez, como o monitoramento da saúde mental e
a sua triagem durante todo o pré-natal são necessárias. Descritores: Enfermagem; Ansiedade; Depressão;
Gravidez.
ABSTRACT
Objectives: evaluating the presence of anxiety and depression in pregnancy and characterizing the profile of
pregnant women. Method: a quantitative, epidemiological, descriptive, cross-sectional and correlational
study conducted in public health units in a city in the southern Minas Gerais, Brazil with 209 pregnant women.
Data collection occurred from January to May 2013 and there were used the Anxiety and Depression Hospital
Scale and the characterization form. The study was approved by the Research Ethics Committee, protocol
113.129. Results: anxiety was more frequent than depression and pregnant women had few risk factors for
the occurrence of these disorders in pregnancy, such as: low/middle education, low family income, history of
complications in previous pregnancies and unplanned pregnancies. Conclusion: preventive initiatives to the
occurrence of anxiety and depression in pregnancy, such as monitoring of mental health and its screening
during the prenatal are required. Descriptors: Nursing; Anxiety; Depression; Pregnancy.
RESUMEN
Objetivos: evaluar la presencia de ansiedad y depresión en el embarazo y caracterizar el perfil de las
mujeres embarazadas. Método: estudio cuantitativo, epidemiológico, descriptivo, transversal y correlacional,
realizado en las unidades de salud pública en una ciudad en el sur de Minas Gerais, Brasil, con 209 mujeres
embarazadas. La recolección de datos ocurrió entre enero y mayo de 2013 y utilizó la Escala Hospitalaria de
Ansiedad y depresión y la forma de caracterización. El estudio fue aprobado por el Comité de Ética en la
Investigación, el protocolo y 113.129. Resultados: la ansiedad era más frecuente que la depresión y las
mujeres embarazadas tenían algunos factores de riesgo para la aparición de estos trastornos en el embarazo
como bajo/medio nivel de educación, bajo ingreso familiar mensual, antecedentes de complicaciones en
embarazos previos y los embarazos no planificados. Conclusión: las iniciativas de prevención de la aparición
de la ansiedad y la depresión en el embarazo, como la vigilancia de la salud mental y su proyección durante el
prenatal son obligatorias. Descriptores: Enfermería; Ansiedad; Depresión; Embarazo.
1
Enfermeira, Professora Mestre em Enfermagem, Curso de Graduação em Enfermagem, Faculdades Integradas Asmec/Ouro Fino-MG.
Borda da Mata (MG), Brasil. E-mail: monica.mjsilva@yahoo.com.br; 2Enfermeira Obstetra, Professora Doutora em Ciências, Escola de
Enfermagem, Universidade Federal de Alfenas/Unifal-MG. Alfenas (MG), Brasil. E-mail: eprcl@yahoo.com.br; 3Zootecnista, Professor
Doutor em Estatística, Instituto de Ciências Exatas, Universidade Federal de Alfenas/Unifal-MG. Alfenas (MG), Brasil. E-mail:
denismar@unifal-mg.edu.br; 4Enfermeira, Professora Doutora, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo/EERP-
USP. Ribeirão Preto (SP), Brasil. E-mail: maclapis@eerp.usp.br

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Primária à Saúde, no âmbito do Sistema Único


INTRODUÇÃO
de Saúde (SUS).
Ao vivenciar as transformações físicas,
MÉTODO
hormonais, de inserção social e psíquicas
inerentes à gravidez, a mulher torna-se Estudo epidemiológico, descritivo, de corte
vulnerável à ocorrência de transtornos transversal, correlacional e abordagem
mentais durante o período pré-natal,1 entre quantitativa realizado em cinco Unidades de
eles a ansiedade e a depressão. Durante a Atenção Primária à Saúde que prestam
gravidez, os transtornos mentais apresentam- atendimento pré-natal no âmbito do Sistema
se como condições psicopatológicas que Único de Saúde em um município do Sul de
comprometem o desenvolvimento da gestação Minas Gerais.
tanto para a mãe quanto para o feto, a curto A população constituiu-se por gestantes
e a longo prazo, revestindo-se de grande que realizaram acompanhamento pré-natal
importância pelas graves consequências nas referidas unidades de saúde. Com base em
materno-fetais.2 uma população estimada em 450 gestantes
Em virtude destas consequências, a que realizam pré-natal na rede municipal de
ansiedade é considerada um dos principais saúde no ano anterior, calculou-se o tamanho
fatores de risco para o desenvolvimento da da amostra em 209 gestantes, considerando
gravidez, uma vez que o seu desenvolvimento uma prevalência de 50%, margem de erro de
durante a gestação pode comprometer o feto, 5% e nível de confiança de 95%.
estando associado a resultados neonatais Foram adotados como critérios de inclusão:
negativos como a prematuridade, baixo peso aceitação voluntária na participação da
ao nascer, escores inferiores de Apgar, déficit pesquisa e idade igual ou superior a 18 anos e
no desenvolvimento fetal, além de efeitos como critérios de exclusão: diagnóstico atual
duradouros sobre o desenvolvimento físico e de transtornos de ansiedade, depressão e/ou
psicológico do filho e às complicações outro transtorno mental; uso atual de
obstétricas como sangramento vaginal e medicamento ansiolítico, depressivo e/ou
ameaça de abortamento, além de ser um dos outro psicotrópico; não ter participado da
principais fatores de risco para a depressão amostra anteriormente durante a gestação.
pós-parto.3
Realizou-se a seleção de uma amostra
Já os efeitos deletérios da depressão aleatória por meio de sorteio. Para tanto,
também acarretarem graves consequências utilizou-se os números dos prontuários das
para a saúde materna e fetal como baixo peso gestantes que seriam atendidas na Unidade de
ao nascer, diminuição do escore do Apgar, Saúde no dia de coleta de dados e que
prematuridade4, diminuição da circunferência atendiam os critérios de elegibilidade
cefálica; desenvolvimento deficiente no definidos, sendo que destes, sorteou-se a
primeiro ano de vida e ideação suicida com metade.
tentativas de autoextermínio.3,4
A coleta de dados foi realizada pela própria
Em face dessas considerações, fazem-se pesquisadora, no período de janeiro a maio de
necessários estudos que possam evidenciar e 2013, em uma sala reservada com privacidade
relacionar as principais causas e ocorrências assegurada nas Unidades municipais de
de transtornos mentais como a ansiedade e a Atenção Primária à Saúde, nos dias em que
depressão em gestantes a fim propiciar eram realizados os atendimentos de
subsídios para sensibilizar os enfermeiros assistência pré-natal.
quanto à importância de sua atuação na
Para a obtenção dos dados utilizou-se dois
implementação de ações voltadas à saúde
instrumentos: um formulário de
mental da gestante que permitam melhorar
caracterização da amostra e a Escala
efetivamente a assistência pré-natal,
Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HADS).
reduzindo os efeitos adversos à qualidade de
O formulário, de autoria da pesquisadora,
vida relacionada à saúde da mulher grávida,
continha 36 questões objetivas divididas em
assim como outros resultados nocivos à saúde
quatro eixos: caracterização socioeconômica e
materna e do concepto.
demográfica, anamnese gestacional atual e
OBJETIVOS pregressa, hábitos de vida e doenças pré-
existentes, eventos marcantes de vida e
● Avaliar a presença de ansiedade e relações interpessoais.
depressão na gravidez
A Escala Hospitalar de Ansiedade e
● Identificar o perfil das gestantes que Depressão (HADS) foi utilizada para avaliação
realizaram pré-natal em Unidades de Atenção da ansiedade e da depressão nas gestantes.
Esta escala é um instrumento de avaliação de
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autorrelato, criada por Zigmond e Snaith em números absolutos e percentuais e para as


1983, composto por 14 itens de múltipla variáveis contínuas também foi apresentada a
escolha, divididos em duas subescalas de sete média, mediana, desvio-padrão, mínimo,
itens: uma de ansiedade e outra de depressão. máximo e quartis.
Ao respondente é perguntado como ele tem se O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética
sentido na última semana, dentro de uma em Pesquisa da Universidade Federal de
escala Likert de 4 pontos, com intervalo de Alfenas, protocolo 113.129, cumprindo as
zero à três. O escore total é o resultado da Diretrizes e Normas Regulamentadoras de
soma dos escores dos itens individuais Pesquisa em Seres Humanos do Conselho
referentes à ansiedade e a depressão Nacional de Saúde. Antes da coleta de dados,
separadamente, podendo variar de zero a 21 cada gestante foi informada sobre o estudo e
pontos para cada subescala.5 convidada a participar, devendo para tanto
Para interpretar a ansiedade e a depressão assinar o termo de Consentimento Livre e
autoinformada, de acordo com a adaptação Esclarecido.
brasileira, foram adotados como pontos de
RESULTADOS
cortes: Subescala Hospitalar de Ansiedade: 0 a
8 - sem ansiedade; igual ou superior a 9 - com Das 209 gestantes que participaram do
ansiedade; Subescala Hospitalar de Depressão: estudo, 26,8% apresentaram ansiedade
0 a 8 – sem depressão; igual ou superior a 9 - durante a gestação e 14,8%, depressão.
com depressão.5
A caracterização socioeconômica e
O primeiro instrumento (formulário) foi demográfica das gestantes evidenciou idade
aplicado pela pesquisadora, já a escala foi média de 29,51 anos (desvio padrão = 5,74
preenchida pela própria participante, após anos), sendo a faixa etária de maior proporção
orientação prévia, uma vez que este a de 20 a 25 anos. Em relação à escolaridade,
instrumento pode ser autoadministrado a maioria (37,3%) cursou o ensino médio
(autoaplicado). completo. Houve maior frequência de
Os dados coletados foram digitados em um gestantes casadas ou que relataram viver com
banco de dados do programa Microsoft Excel o companheiro (82,8%), católicas (56,9%), que
2007. Obje moravam em casa própria (65,6%) e com renda
ivando sua validação, realizou-se o familiar mensal de até três salários mínimos
procedimento de “dupla digitação” para (63,7%). Quanto à ocupação, a maioria das
evitar possíveis erros de transcrição. As gestantes exercia atividade trabalhista
variáveis categóricas foram descritas em (49,3%).
Tabela 1. Idade e renda das gestantes que realizaram pré-natal em Unidades de Atenção Primária à Saúde.
Alfenas – MG, 2013.
Estatística Descritiva Variáveis
Idade (anos) Renda (reais)1
Média 29,51 1463,65
Desvio-padrão 5,74 1018,97
Mínimo 18 339,00
Máximo 43 10000,00
1º Quartil (P25) 21 700,00
2º Quartil (50 – Mediana) 25 1200,00
3º Quartil (P75) 30 2000,00
Nota: 1Apenas para participantes que informaram a renda.

No que se refere à anamnese obstétrica histórico de complicações em gestações


atual e pregressa, prevaleceram as gestantes passadas. Em relação à gestação atual, não
que não tiveram dificuldade para engravidar apresentaram complicações até o momento da
(90,9%) e nem realizaram tratamento com coleta de dados (74,2%).
esta finalidade (95,2%); estavam no terceiro A diferença verificada entre o número de
trimestre de gestação (39,7%); não tinham participantes que não tem filhos e o número
filhos (39,7%) e eram multigestas (67%), entre de primigestas deve-se ao fato de que
as quais 35% vivenciaram um abortamento algumas gestantes informaram perda de filhos
e/ou ameaça de parto prematuro em oriundos de gestações anteriores, devido a
gestações anteriores e 47,1% apresentaram abortamentos e/ou após o nascimento.

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Tabela 2. Número de gestações e de partos entre gestantes que realizaram pré-natal em Unidades de
Atenção Primária à Saúde. Alfenas – MG, 2013 (n=209).
Estatística Descritiva Variável
Número de gestações Número de partos
Média 2,22 1,55
Desvio-padrão 1,23 0,90
Mínimo 1 1
Máximo 9 6
1º Quartil (P25) 1 1
2º Quartil (50 – Mediana) 2 1
3º Quartil (P75) 3 1

Prevaleceram também as gestantes que violência atualmente (0,5%), informou ser esta
não planejaram a gravidez (56,9%), no entanto do tipo psicológica ou moral.
a desejavam (98,6%) e afirmaram que este A maioria das gestantes afirmou ter
desejo também era compartilhado pelo relações interpessoais satisfatórias (89,5%),
companheiro (99%). Além disso, contavam sendo que a família foi apontada
com o apoio do parceiro (99%) e da família predominantemente como o grupo com quem
(99%) na gestação.Concernente aos hábitos de o relacionamento é insatisfatório (91%). Além
vida e doenças pré-existentes, houve disso, afirmaram também receber algum tipo
predomínio de gestantes que não possuíam o de apoio/suporte social (60,8%), sendo a
hábito de fumar (88,5%), não consumiam família a provedora mais frequente deste
bebida alcoólica (92,8%) e não usavam drogas apoio/suporte (88,9%), o qual é
(97,6%). No entanto, entre as gestantes que principalmente financeiro e
reportaram uso de tabaco, álcool e outras emocional/psicológico (74,8%).
drogas, a maioria referiu consumir até 10
DISCUSSÃO
cigarros por dia (62,5%), ingerir bebida
alcoólica uma vez por mês ou menos (66,7%) e O estudo demonstrou predomínio da faixa
utilizar predominantemente a cocaína (80%). etária entre 20 a 25 anos. Estes resultados
Vale lembrar que algumas gestantes usuárias estão em consonância com os dados do
informaram fazerem uso de mais de um tipo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
de droga. presentes no censo demográfico realizado em
A maioria das gestantes referiu ainda não 2010, o qual determinou que no total da
ter problemas de saúde (88%), sendo que a população brasileira, 97.348.809 são
hipertensão arterial sistêmica (40%) e o mulheres. Destas, 42.396.035 possuem idade
diabetes mellitus (20%) predominaram como entre 18 a 44 anos. Dos nascidos vivos em
as patologias mais frequentes entre as que os 2010, a idade das mães de maior prevalência
possuíam (12%); não fazer uso de foi compreendida na faixa etária de 20 a 24
medicamentos diários (90,7%), entretanto, anos (729.955) e de 25 a 29 anos (671.943).6
entre as que faziam uso, os anti-hipertensivos Apesar do aumento na incidência da
foram os medicamentos mais frequentes gravidez nos extremos da vida reprodutiva,
(42,8%), o que está em acordo com o principal antes dos 20 e após os 35 anos de idade, os
problema de saúde referido; e não ter achados deste estudo permitem inferir a
histórico de transtorno mental (79,1%). Entre incidência majoritária da gravidez na faixa
as gestantes que já tiveram algum sofrimento etária considerada ideal para o seu
psíquico, a depressão foi o transtorno mental desenvolvimento, a qual varia entre 20 e 35
mais vivenciado no passado (76,2%), sendo anos.7
que a maioria realizou tratamento para o
Estudo semelhante, realizado para avaliar a
transtorno vivido (59,5%), o qual foi
frequência da ansiedade e depressão entre
predominantemente do tipo farmacológico
mulheres grávidas no Paquistão, que também
(72%).
utilizou a Escala Hospitalar de Ansiedade e
Com relação aos eventos marcantes de vida Depressão (HADS), corrobora com os dados do
e relações interpessoais, a maior parte das presente estudo, ao observar que para uma
gestantes não vivenciou um evento marcante amostra de 167 gestantes, prevaleceram
nos últimos doze meses (33,5%), não mulheres jovens, incluídas na faixa etária
enfrentou conflitos conjugais (97%), não entre 18 e 30 anos (70,1%), com média de
sofreu violência doméstica no passado (90%) e 27,92 anos.8
nem atualmente (99,5%). Entre as
Ao que condiz ao nível de escolaridade, os
participantes que sofreram violência
achados permitem inferir a presença de um
doméstica no passado, a maioria relatou ter
perfil de baixo/médio nível instrucional, que
sido vítima de violência física (71,4%) e a
perfaz a maioria das participantes do estudo,
única gestante que confirmou ser vítima de
as quais possuem nível médio completo
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(37,3%) e nível fundamental incompleto Quanto à renda familiar mensal, houve


(20,6%). predomínio de gestantes que viviam com até
Este resultado contrasta com dados três salários mínimos, índices que corroboram
evidenciados por estudo realizado no com os descritos por estudo realizado no Rio
Paquistão que, apesar de não ser considerado Grande do Sul, Brasil.2
um país desenvolvido, evidenciou maioria de A renda familiar pode influenciar
gestantes (70%) com ensino superior completo negativamente a gravidez à medida que
ou pós-graduação.8 desencadeie situações de estresse e
13
A educação, imbuída na escolaridade, insegurança. Estes mecanismos psicológicos
aumenta a possibilidade de escolhas na vida e no contexto de uma gravidez, em que se
a aquisição de novos conhecimentos que espera o aumento dos gastos em virtude do
podem motivar atitudes e comportamentos crescimento da família, podem exacerbar-se,
mais saudáveis, possuindo efeito direto na comprometendo o bem-estar da gestante.
saúde dos indivíduos. Neste âmbito, a baixa Além disso, a menor renda familiar tem
escolaridade pode ser um agravante para a sido associada a menor frequência de
saúde das mulheres, sendo considerada pelo utilização da assistência pré-natal, o que pode
Ministério da Saúde como um fator de risco comprometer a gestação.14
obstétrico.9 Em relação à ocupação, o estudo
No contexto de uma gravidez, o nível de evidenciou que a maioria de gestantes exercia
escolaridade guarda íntima associação com a atividade trabalhista (49,3%). Achados não
adesão à assistência pré-natal, existindo uma diferentes foram descritos em estudo
relação entre o grau de escolaridade da mãe e realizado na Itália.3
o número de consultas de pré-natais Sobre a ocupação, é importante refletir
realizadas, conforme indicam dados do sobre sua associação com a renda familiar.
Ministério da Saúde do Brasil.10 Durante a gravidez, a ocupação como fonte de
No estudo, houve maior frequência de renda pode proporcionar uma sensação de
gestantes casadas ou que relataram viver com tranquilidade para a gestante, uma vez que a
o companheiro e católicas. Outros presença de um salário mensal diminui as
pesquisadores também referem predomínio de inquietações e o estresse referentes aos
gestantes casadas em suas investigações, com gastos advindos deste período e com a
percentuais de 96% em estudo realizado na preparação para o nascimento do filho.
Grécia.11 A maioria das gestantes referiu morar em
A presença de um parceiro pode atuar de casa própria (65,6%). Sobre este fato pode-se
maneira a minimizar os impactos relacionados inferir que a propriedade de um imóvel
às alterações decorrentes da gravidez, sejam proporciona tranquilidade à mulher no
elas hormonais, psíquicas, familiares ou de contexto de uma gestação. Com a chegada de
inserção social, que podem refletir um filho, a ausência de uma moradia própria,
diretamente em sua saúde mental. Neste associada à despesa despendida com o aluguel
âmbito, o apoio do marido ou companheiro de uma imóvel, pode levar ao estresse e à
reflete diretamente na maneira como a insegurança, mecanismos que influenciam
mulher aceita e vivencia sua gestação, assim negativamente a gravidez.
como enfrenta complicações dela Como já evidenciado na literatura11, a
intercorrentes. maioria das participantes do estudo não teve
No tocante à crença religiosa, é relevante dificuldade para engravidar.
mencionar que a gestante, assim como Embora o índice de gestantes que tiveram
qualquer indivíduo, pode perpassar por dificuldade tenha sido restrito (9,1%), vale
situações conflituosas que a colocam diante mencionar que em nosso meio, assim como em
da necessidade de articular meios que lhe muitas sociedades, a maternidade continua
permitam enfrentar e conviver com os sendo um dos principais papéis sociais das
aspectos inerentes a essas situações. mulheres. Neste contexto, a dificuldade para
Particularmente, na gravidez, os conflitos engravidar expõe a mulher, assim como seu
aguçam-se diante da condição da gestante cônjuge, a pressões que os tornam vulneráveis
responder não apenas por sua saúde, mas a alterações do seu bem-estar físico e
também pela de seu filho. Desta forma, a psicológico com repercussões em sua vida
crença religiosa, caracterizada como social, afetiva e sexual.15
importante e reconhecida estratégia de A esse conjunto de fatores associados à
proteção em saúde, pode atuar positivamente dificuldade para engravidar, somam-se as
para a manutenção do bem estar questões relacionadas à realização de
12
psicológico. tratamento para esta finalidade.
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Na amostra estudada, a maioria das (39,7%). Este achado é condizente com a


mulheres não necessitou realizar tratamentos tendência observada no país de quedas
para engravidar (95,2%). Apesar de apenas sucessivas e significativas da taxa de
4,8% das gestantes terem recorrido a fecundidade, verificada nas últimas décadas,
tratamentos, cabe ressaltar que a realização a qual era de 2,38 filhos em 2000 e passou a
destes pode provocar estresse e desgaste, não 1,90 em 2010.6 Esta queda se deve a maior
só na mulher, mas também em seu participação da mulher no mercado de
companheiro afetando suas qualidades de trabalho e mudanças em seu papel social,
vida, em virtude dos múltiplos fatores fatores que tem contribuído para o
inseridos neste contexto como a incerteza de planejamento sobre o número de filhos que
desfecho positivo, a inexistência de pretende ter.16
tratamento em algumas localidades e a A anamnese obstétrica atual pregressa
indisponibilidade de recursos para este fim. permitiu evidenciar que entre as multigestas,
Fatos que se acentuam, nos casos em que os a maioria apresentou complicações em
casais dependem de serviços públicos de gestações anteriores (47,1%), fato que não se
saúde para a realização do tratamento, em observou na gestação atual (27,8%).
contextos em que esse não é tratado como um Tais resultados permitem inferir que o
problema prioritário de saúde pública.15 conhecimento da história da gestante e suas
No que se refere à idade gestacional, 39,7% experiências anteriores pelo profissional de
das mulheres investigadas estavam no terceiro saúde permite que ele assista a mulher de
trimestre da gestação, percentual bem maneira única com todas as suas
próximo das gestantes que estavam no peculiaridades, assumindo importância neste
segundo trimestre (39,2%). contexto as orientações obstétricas e o
Ao discorrer sobre a idade gestacional, envolvimento que colaboram para aumentar a
destaca-se que as necessidades de atenção à confiança da gestante, resultando em seu
gestante devem ser cuidadosamente bem-estar físico e mental.9 Além disso,
observadas de acordo com as prioridades de evidenciaram o perfil de gestantes fisiológicas
cada trimestre gestacional, a fim de que se e corroboram a importância da assistência
realizem intervenções oportunas, sejam elas pré-natal na prevenção e detecção precoce de
preventivas ou terapêuticas.9 complicações obstétricas e desenvolvimento
Entre as entrevistadas, 67% eram de ações educativas que são essenciais para
multigestas com o número de gestações preservar a saúde materno-fetal e reduzir a
anteriores variando de um a nove, além da morbimortalidade do binômio mãe-filho,
variação do número de partos anteriores entre ressaltando-se o papel preponderante da
um e seis. Entre as multigestas, 35% enfermagem obstétrica neste processo.17
vivenciaram um abortamento e/ou ameaça de Como documentado por vários
18
parto prematuro em gestações anteriores. pesquisadores , a maioria das entrevistadas
Resultados semelhantes são corroborados referiu não ter planejado a gravidez.
por outro estudo que identificou 54% de O não planejamento da gestação configura-
multigestas, sendo que 22% delas com se como um fator de risco associado a
histórico de abortos em gestações resultados adversos maternos e perinatais,
11
anteriores. incluindo a mortalidade e morbidade
O histórico de abortamento e/ou ameaça associadas aos abortos induzidos inseguros,
de um parto prematuro pode influenciar de especialmente em países onde o aborto é
maneira significativa a gestação em curso, ilegal.19 A ocorrência de uma gravidez não
acarretando prejuízos ao bem-estar da planejada resulta de muitos fatores, entre
gestante. eles a falta de acesso e baixa utilização de
A vivência de experiências negativas em métodos contraceptivos.18 Desta forma, o
gestações anteriores pode desencadear na maior acesso aos serviços de planejamento
gestante sentimentos de insegurança, familiar é fundamental para reduzir a
ansiedade e medo de que o desfecho adverso incidência de gestações não planejadas, o
passado se repita na atual gravidez.4 Neste qual deve ser acompanhado de melhoria da
fato, infere-se a relevância da realização do qualidade do atendimento e disponibilidade
acompanhamento pré-natal, no qual a de informações sobre a utilização eficaz dos
avaliação detalhada da história obstétrica da métodos de contracepção.19
gestante pelos profissionais de saúde deve A gravidez não planejada, por vezes, pode
estar inserida. se tornar sinônimo de uma gestação
Entre as participantes, constatou-se indesejada, quando se opõe aos desejos e às
predomínio de gestantes que não têm filhos expectativas do casal.

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Neste estudo, quase totalidade das quanto ao consumo de álcool entre grávidas
gestantes desejavam a gravidez e afirmaram variando de 3,7% a 60,5%.18,23
que este desejo também era compartilhado O consumo de álcool durante a gestação
pelo companheiro. pode acarretar efeitos negativos sobre o
Apesar do índice de gestação indesejada desenvolvimento do cérebro fetal, além de
ser extremamente baixo neste estudo (1,4%), efeitos teratogênicos em qualquer período
é relevante mencionar que esta variável é gestacional, ocasionado pelo etanol.25
fator de risco para o desenvolvimento Quanto ao uso de drogas, 97,6% das
gestacional com efeitos adversos à saúde, mulheres investigadas informaram não fazer
tanto materna como neonatal.19 uso. Entretanto, entre as usuárias, a cocaína
Outros pesquisadores identificaram foi a droga mais utilizada.
prevalências superiores de gestações O uso de drogas durante o pré-natal afeta
indesejadas, referindo 24% no Quênia.19 centenas de milhares de gestações por ano,
Na amostra estudada, predominaram sendo fator de risco para o feto capaz de
majoritariamente as gestantes que contavam desencadear atrasos em seu desenvolvimento,
com o apoio do parceiro e da família na além de uma variedade de problemas
gravidez, o que correspondeu a 99% para neurocomportamentais infantis, dificuldades
ambas as variáveis. de aprendizagem, distúrbios sociais e
Estes dados contrastam com os dados de problemas de saúde ao longo da vida da
uma investigação Sul-Africana que observou a criança.26
ausência de apoio relatado pelas mulheres Entre as gestantes, 88% referiram não ter
durante a gravidez.20 problemas de saúde. Neste contexto, infere-se
O posicionamento do pai da criança em a relevância da assistência pré-natal no
relação à gestação e o estado conjugal são atendimento das especificidades de cada
aspectos que influenciam na aceitação da gestante, essenciais para prevenir a
gravidez,21 uma vez que o apoio reflete o morbimortalidade materna e fetal que podem
comprometimento do pai com o recém- ser decorrentes de complicações de problemas
nascido.18 Neste âmbito, a falta de apoio do de saúde maternos.
parceiro é um fator de risco intimamente Quanto ao uso de medicamentos diários, a
ligado ao aparecimento de transtornos de maioria das entrevistadas não o fazia.
humor na gravidez e no puerpério.22 Da Entretanto, entre as que faziam uso, os anti-
mesma forma, o apoio da família também é hipertensivos foram os medicamentos mais
um fator essencial para o bem-estar da frequentes, o que está em acordo com o
mulher grávida3, sendo a sua ausência principal problema de saúde referido.
associada a maior probabilidade da gestante Resultado não corroborado por outra
apresentar transtornos mentais comuns como investigação brasileira, na qual foi
a ansiedade e a depressão.23 evidenciado o consumo de pelo menos um
Concernente aos hábitos de vida e doenças medicamento por 99% das gestantes com
pré-existentes, a maioria das gestantes não predomínio do uso de analgésicos e
possuía o hábito de fumar. Embora o antiinflamatórios.27
percentual de gestantes fumantes tenha sido A exposição a fármacos durante a gestação
baixo (11,5%), ressalta-se que entre estas, pode causar complicações ao concepto, sendo
62,5% referiram consumir até 10 cigarros por os três primeiros meses os mais críticos para
dia. Outros pesquisadores brasileiros alterações que poderão causar defeitos
encontraram valores de 19,5% em Pelotas, Rio funcionais e comportamentais, ou até mesmo,
Grande do Sul.23 a morte imediata do feto28, por isso seu uso
O hábito de fumar durante a gestação está deve ser feito com cautela. Contudo, mesmo
associado a resultados obstétricos adversos havendo riscos, o que se apresenta
como a incidência de anomalias no feto, atualmente é um quadro de
restrição do crescimento intrauterino, baixo automedicalização, às vezes indiscriminada,
peso ao nascer, descolamento prematuro de em virtude do fácil acesso.
placenta, placenta prévia, hemorragia pré- O histórico de transtorno mental entre as
parto, aborto espontâneo, gravidez ectópica e gestantes foi de 20,1%, sendo a depressão o
morte subida do recém-nascido.24 transtorno mental vivenciado no passado mais
A maioria das gestantes não consumia referido (76,2%).
álcool (92,8%), porém, entre as 7,2% que Como documentado na literatura, o
reportaram uso de álcool na gestação. Outro histórico de transtorno mental representa alto
estudo apresentou percentuais diversos risco de recorrência durante a gravidez, o que

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aponta para a necessidade de intervenção e dependência da mulher em relação ao


prevenção antes mesmo desse período.3,4 parceiro. Além disso, um relacionamento
Neste estudo, das participantes que conjugal conflitante pode piorar sob as
vivenciaram transtornos mentais no passado, tensões adicionais da gravidez, sendo um
59,5% realizaram tratamento, sendo que a importante fator de vulnerabilidade para a
maioria optou pelo tratamento farmacológico violência doméstica.29
(72%). Neste estudo predominaram as gestantes
Embora o índice de gestantes que não que não sofreram violência doméstica no
realizaram tratamento para transtorno mental passado e nem atualmente, 90% e 99,5%,
vivenciado no passado não tenha sido respectivamente. Outros pesquisadores
predominante (40,5%), é, contudo, relevante, apresentaram dados superiores ao do presente
o que evidencia um sério problema na estudo, os quais identificaram na Cidade do
assistência pública em saúde mental. Tal Cabo na África, que mais da metade das
situação foi constatada em outro estudo gestantes (63,8%) tinham experimentado no
brasileiro, no qual nenhuma gestante com passado ou experimentavam atualmente
história anterior de depressão realizou algum tipo de violência, seja física,
tratamento psiquiátrico.4 psicológica ou sexual.20
A não realização de tratamento não pode A vivência de uma realidade permeada por
ser atribuída somente à desassistência em violência sofrida durante a gestação está
saúde. Questões culturais também podem associada a graves consequências para a saúde
estar imbuídas neste fenômeno, uma vez que materna e fetal, com aumento do risco de
a cultura pode afetar a percepção dos baixo peso ao nascer, morte materna e fetal,
indivíduos sobre necessidade de tratamento parto prematuro, aborto espontâneo e
em saúde mental, representando barreiras subsequentes problemas comportamentais na
para a busca de ajuda ou acesso aos cuidados criança e desenvolvimento de transtornos
de saúde. mentais uma vez que conspira contra o bem-
A frequência de evento marcante na vida estar da gestante ao ser fonte de pesar e
das gestantes entrevistadas, nos últimos doze sofrimento para ela.30
meses, foi de 33,5%, com predominância de A maioria das gestantes afirmou ter
morte de ente querido. Outros pesquisadores relações interpessoais satisfatórias, sendo que
brasileiros evidenciaram dados que a família foi apontada predominantemente
contrastam com estes achados. 23 como o grupo com quem o relacionamento é
Os eventos marcantes caracterizam-se insatisfatório. Em outro estudo, 33,3% das
como mudanças na vida que exigem reajuste e gestantes referiram ter conflitos com pessoas
por isso configuram-se como potenciais próximas.4
produtores de estresse, o qual, no decorrer de As relações sociais construtivas com a
uma gestação, também caracterizada como família e amigos são propiciadores de bem-
um acontecimento que demanda mudanças estar.31 Desta forma, a manutenção de
pode exacerbar-se e acarretar prejuízos para relacionamentos interpessoais satisfatórios
a saúde materna e fetal. pode favorecer o desenvolvimento da
É importante mencionar que em países em gestação a medida que permeia o bem-estar
desenvolvimento diversos fatores podem da gestante e faz com ela se sinta amparada
contribuir para a exacerbação de eventos por um círculo de pessoas com quem ela se
produtores de estressante durante a gravidez relaciona, o qual compõe parte da sua rede de
em virtude das iniquidades que permeiam a apoio/suporte social.
sociedade.4 Da amostra total, 60,8% das gestantes
Com relação aos conflitos conjugais, receberam algum tipo de apoio/suporte
prevaleceram as gestantes que não os social.
enfrentavam atualmente (97%). Ao abordar a presença de apoio/suporte
Um relacionamento conjugal frágil, durante a gravidez é relevante considerar a
marcado por conflitos, impacta importância deste na aceitação e vivência da
negativamente na gestação à medida que gestação pela mulher, sendo esta desejada ou
deteriora o bem-estar da mulher grávida. não, destacando a atuação da equipe de
enfermagem obstétrica também como
As brigas com parceiros são tidas como
provedora deste apoio.
razões para muitas mulheres sentirem-se
angustiadas e se lamentarem durante a Neste âmbito, verifica-se na literatura o
gestação, principalmente em situações quanto a ausência de apoio/suporte tem
caracterizadas pelo baixo poderio econômico- ligação com a forma de enfrentamento
social, quando a gravidez aumenta a psíquico do período gestacional.32

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CONCLUSÃO
00737-011-0249-8
O presente estudo evidenciou a ocorrência 4. Pereira PK, et al. Complicações
da ansiedade e da depressão na gravidez e, obstétricas, eventos estressantes, violência e
ainda que a primeira fosse mais frequente depressão durante a gravidez em adolescentes
entre as gestantes, o que demonstra que a atendidas em unidade básica de saúde. Rev
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Submissão: 02/12/2014
Aceito: 27/07/2015
Publicado: 15/08/2015
Correspondência
Mônica Maria de Jesus Silva
Vila Tio Mazico, 34
Bairro Centro
CEP 37564-000  Borda da Mata (MG), Brasil
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