Esboço de Uma Fenomenologia Da Violência, Segundo Heidegger
Esboço de Uma Fenomenologia Da Violência, Segundo Heidegger
Esboço de Uma Fenomenologia Da Violência, Segundo Heidegger
SEGUNDO HEIDEGGER
Bolsista do CNPq
Tais não serão o caso aqui. O que aqui se pretende é trazer à tona a essência
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Esboço de uma fenomenologia da violência segundo Heidegger
Felipe Ramos Gall
ANALÓGOS, Rio de Janeiro, Edição Especial, 2017
Como o título já aponta, deve-se ter em mente que tal exercício
quê a coisa é, sua quididade, ou, dito de outro modo, sua natureza. Não será
esse o sentido de essência a ser considerado aqui. Não obstante, ainda esse
sentido habitual de natureza como meio ambiente ou como objeto cujas leis
são estudadas pela física moderna. Natureza, natura, foi o modo como os
gregos para designar o ente em sua totalidade, e, por conta disso, recebeu a
pensavam com essa palavra. Qual seria, então, essa força designativa que se
lexicalmente, phýsis, que vem de phýo, pode mesmo significar, tal como
natura, nascer, gerar, crescer. No entanto, crescer aqui não tem nenhum
por sua vez, é a forma média/passiva de pháino, que significa “trazer para a
luz do dia, pôr no claro. Pháino pertence à raiz pha- como, por exemplo,
1
HEIDEGGER, M. Introdução à Metafísica, pp. 22-23.
2
HEIDEGGER. M. Ser e Tempo, p.58.
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seu modo, como eles o são”3. Tal questionar exige um certo percurso, um
caminho que, como caminho, não existe previamente, pois só passa a existir
diz respeito ao modo como o ente, tò ón, vem à luz. Desse modo, alude ele
3
Idem, ibidem, p. 57.
4
Idem, ibidem, p. 68.
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compilar, colecionar (sammeln); ao fazê-lo, vai-se, ao mesmo
tempo, distinguindo uma coisa da outra5.
(re)une, o (re)unificante originário. Lógos não significa aqui nem sentido nem
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mitologia grega, era a filha de Ares, deus da guerra em seu sentido violento
ela gerada é fruto de um conflito, uma luta ou guerra. Assim é o lógos: uma
é belo; por manter retido aquilo que se contrapõe, é violento. Com efeito,
Heidegger assevera:
5
HEIDEGGER, M. Introdução à Metafísica, p. 137.
6
Idem, ibidem, p. 141.
7
HEIDEGGER, M. Introdução à Metafísica, p. 148.
8
Idem, ibidem.
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Ora, o que Heidegger está afirmando, na verdade, é que, enquanto
unidade retentora em si mesma, o lógos é o próprio Ser. Daí ele afirmar que
unidade entre eles. Dito de outro modo: phýsis e lógos são diferentes entre
si, mas são o mesmo em relação a uma unidade originária, onde phýsis só é
dos entes. Nesse sentido, a verdade não só não é um estado de fato, mas,
9
HEIDEGGER. M. Ser e Tempo, p.66.
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Dasein, “presença” ou “ser-aí”, que é o ente que nós mesmos já sempre
abertura. O acesso ao ente enquanto tal diz, portanto, que o Dasein é ligado
e aberto ao ser. Abertura é outro modo para se dizer verdade. Abertura, pois,
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ao defini-lo, tal como o faz a tradição, como dzôon lógon ékhon, isto é,
10
HEIDEGGER, M. Introdução à Metafísica, pp. 156-157.
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experiência grega fundamental poético-pensante (dichterisch-denkend),
dos sentidos que esse termo possui em alemão. Das Unheimliche pode
11
Idem, ibidem, p. 161.
12
Idem, ibidem, p. 165.
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consonância com o lógos (homologia), reune o que vigora e permite que este
violência, não para além e ao lado de outros, mas apenas no sentido em que
usa, com base no seu agir com violência, o poder da violência contra a
13
Idem, ibidem, p. 166.
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mais violento: agindo com violência no meio da imponência”14. Heidegger,
No fundo, o que Heidegger quer dizer é que essa violência, esse agir
cuja vontade própria é a causa da sua ação. Para Heidegger, o último estágio
animal racional, onde o que importa é apenas elevar essa racionalidade, fez
homem entendido como animal racional, que Nietzsche diz que deve ser
superado. Tal homem é designado por Zaratustra como o último homem (der
14
Idem, ibidem, p. 166.
15
Idem, ibidem.
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letzte Mensch), o mais desprezível dos homens. Ele deve ser superado para a
16
HEIDEGGER, M. Quem é o Zaratustra de Nietzsche? In: ______. Ensaios e conferências, p. 91.
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edificação não pertencem em menor grau ao vigor imponente
do que o mar, a terra e o animal. A diferença consiste
unicamente no fato de este vigorar imponentemente em torno
(umwalten) do homem, suportando-o, impelindo-o e
compelindo-o, enquanto que aquele vigora através dele
(durchwalten), impregnando-o como aquilo que o homem,
como o ente que é, tem de assumir por conta própria17.
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coisa. Ele abre-se ao Ser enquanto desvelamento sendo forte, e por isso o
pode ser aquele que reune o vigor imperante da phýsis. Ele assim assume e
17
HEIDEGGER, M. Introdução à Metafísica, pp. 172-173.
18
Idem, ibidem, p. 174.
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exerce a gerência desse vigor imponente. É a partir desse ímpeto do vigor
imponente que a palavra, o nomear “repõe o ente que se abre no seu Ser e
que sinto frio e estremeço, que pergunta, pergunta e pergunta: ‘Quem tem
coração bastante para isso? – quem deverá ser o senhor da terra? Quem dirá:
Referências bibliográficas
19
Idem, ibidem, p. 189.
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NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra, p. 304.
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______. Ser e Tempo. Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes,
2006.
NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo:
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